Ad Perpetuam Memoriam - Love Story

Última atualização: 14/08/2023

Prólogo

Aberdeen, Escócia. Abril de 1838

Jesse caminhou em direção à saída de sua loja para observar o movimento da rua. Tudo corria perfeitamente normal.

Para o início da temporada, a cidade não parecia muito diferente de qualquer outra, mas mesmo que as ruas estivessem cheias de carruagens e pessoas, nenhum único cliente havia entrado na sua joalheria naquele dia.

Apesar da decepção, Jesse não estava surpreso, afinal, era apenas o seu primeiro dia ali. A placa era recém-colocada e ele quase não tinha mostruário, era natural que ainda não tivesse clientes. As mulheres da alta sociedade costumavam ser muito desconfiadas num primeiro momento.

Fazia um dia agradável, Jesse constatou. Fazia um pouco de frio e por isso as mulheres se protegiam com casacos de pelo de animal, mas também fazia sol. Não havia uma nuvem no céu azul e, apesar da baixa temperatura, o movimento na rua era normal.

Jesse não estava esperando, mas simplesmente aconteceu. Ele os viu, ele a viu.

Caminhando pela calçada, um homem caminhava com sua esposa, dois rapazes idênticos e duas meninas muito parecidas.

O homem usava um paletó azul marinho, era alto, tinha pele clara e cabelos cor de fogo na altura dos ombros, sua beleza se destoava de qualquer outro cavalheiro que por ali passasse. Sua esposa, que parecia não ter mais do que 35 anos, era baixa e tinha cabelos castanhos claros. Ou talvez loiro escuro, Jesse não conseguia identificar àquela distância, mas podia ver que os dois rapazes, gêmeos, que pareciam ter acabado de chegar à idade adulta, tinham a mesma cor de cabelo dela. Já as garotas pareciam versões femininas do pai, possuíam cabelos vermelhos que Jesse reconheceria a quilômetros de distância.

Diana não deveria ter mais do que 11 ou 12 anos, era apenas uma menina e Jesse se consideraria um doente se sentisse qualquer atração por uma criança. A amou em sua vida anterior quando ela era adulta, mas agora estava apenas muito feliz por revê-la, mesmo que com tão pouca idade, parecia ser uma menina adorável. Jesse suspirou, sentia falta da sua Diana, a que teve que deixar ir quase meio século atrás e que ainda doía mais do que tudo.

Entretanto, tinha algo a mais naquela família, mais uma pessoa, uma outra menina muito parecida com Diana. Quem era ela? Não eram idênticas, mas claramente eram gêmeas. A outra garota era um pouco mais alta, mas as duas pareciam ter a mesma idade.

Jesse estava curioso, pois sabia que Diana nunca teve uma irmã. Na primeira vida era apenas ela e , depois veio Damon e agora tinha aquela garota que levou um sermão da mãe naquele instante por gesticular demais. Quem quer que fosse, Jesse sabia que deveria ficar de olho, afinal, a maldição era muito clara e Lorde Rodwell havia dito que outros viriam pelo caminho. Talvez aquela menina fosse alguém em potencial.

Ele foi afastado de seus pensamentos quando a família atravessou a rua e foram parar na calçada do estabelecimento dele. Jesse continuou os observando até que eles chegassem perto demais, o suficiente para ser notado por eles. A menina que Jesse não sabia o nome viu a placa da joalheria e seus olhos se iluminaram no mesmo instante.

- Papai, olha! Uma joalheria nova! - ela disse contente, apontando, e recebeu um tapinha na mão.

- Louise! - a mulher mais velha repreendeu. - Eu já lhe disse que não se deve apontar! Especialmente uma dama como você.
- Se me permite dizer, senhora, ela é a primeira pessoa a notar meu humilde estabelecimento - Jesse falou alto, para ser notado pelos seis, que olharam para ele. Ele fez uma mesura. - Sou Jesse Birdwhistle, o novo joalheiro da cidade. É um prazer conhecê-los.
- O prazer é nosso, senhor Birdwhistle - o homem ruivo respondeu com jovialidade, retribuindo a mesura. - Sou o visconde Ramsay Blackwood, esta é a minha esposa, Lady Margareth Blackwood e meus filhos: , Damon, Diana e Louise.
Os quatro filhos fizeram uma reverência educada para Jesse, que os observou bem. e Damon eram exatamente como ele se lembrava, com uma semelhança impressionante entre os dois. Louise era uma novidade, mas Diana ele conhecia muito bem. A menina o encarou com certa curiosidade e uma inocência infantil que até então ele não conhecia. É claro, ele conheceu uma mulher adulta e agora ela estava ali, uma criança que não fazia ideia da verdade sobre quem era.

- Podemos entrar um pouquinho? Eu queria tanto um colar novo! - Louise choramingou, segurando o braço do pai, que riu com a cara pidona dela. - Por favor, papai.
- Uma outra hora, minha querida, ainda és muito jovem para ostentar joias por aí.
- Ora, mas eu também confecciono joias infantis, milorde - Jesse se adiantou. Estava ansioso para fazer sua primeira venda.
- Você não entende, ela tem vários colares - Damon disse, um tanto entediado. Adolescentes eram adolescentes em qualquer época.
- E só um pescoço - acrescentou, satisfeito com a própria piada, mas recebeu um revirar de olhos do irmão e uma feição furiosa de Louise, que parecia ser uma garota de personalidade. - E não adianta me olhar com essa cara, sabes que é verdade, irmãzinha. Eu mesmo lhe dei um colar uns meses atrás.
- Mas aquele colar é de criança, ! Eu já sou uma dama!
- Não. - Lorde Blackwood colocou a mão no ombro de Louise. - Ainda é a minha garotinha, nem pense em crescer antes da hora.
- Ramsay, não a trate como criança ou nunca terá uma filha socialmente aceita. - Lady Margareth afastou a mão dele do ombro da menina.
- Bem, ela sempre será aceita por mim - ele respondeu de maneira afável, colocando a mão de volta no ombro de Louise. A outra mão foi para o ombro de Diana. - Elas sempre serão.

Diana pareceu visivelmente tocada com o gesto do pai e no instante seguinte, se atirou nele, abraçando sua cintura. Margareth estava a ponto de cavar um buraco no chão e se enfiar dentro.

- Eu te amo tanto, papai! - disse a menina, o apertando. - Obrigada!
- Também te amo, Ana. Agora me solte ou sua mãe irá explodir. - Ele riu enquanto afastava Diana, então olhou para Jesse. - Voltaremos em breve, senhor Birdwhistle. Tenha um ótimo dia e ótimas vendas.

Fizeram mesuras educadas e seguiram caminho, mas então Diana se virou para Jesse e acenou alegremente.

- Tchau, senhor Birdwhistle!

Jesse retribuiu com gentileza o aceno de Diana, e logo em seguida ela foi repreendida por Margareth enquanto caminhavam. Ele não precisou se esforçar muito para entender que os filhos claramente preferiam o pai, Lady Margareth não parecia ser uma pessoa ruim, apenas levava a sério demais as etiquetas sociais.

E aquela foi a única vez que Jesse viu a família Blackwood completa, a única vez que ele pôde conversar com o visconde Ramsay Blackwood, pois na vez seguinte que os viu, o título já havia sido passado para seus filhos. O visconde morreu no dia seguinte ao cair do cavalo em sua propriedade, deixando seus quatro filhos órfãos e sua esposa viúva.

Jesse havia deixado a religião para trás havia muito tempo, ficou na França com todo o seu passado, mas ele se pegou rezando algumas vezes pelos Blackwood, e, principalmente, por aquelas duas meninas, que pareciam precisar muito mais do que qualquer um.


Capítulo 1

Diana coçou a garganta e respirou fundo. Observou seus dedos, que tremiam conforme se aproximavam das teclas do piano. O olhar avaliador de sua mãe logo atrás de si era intimidador. Ela tinha que ser perfeita. Sem margem de erro, relembrou do primeiro acorde da partitura, logo à sua frente, e começou a tocar uma boa sequência de acordes. Estava confiante, daquela vez iria conseguir, e provaria que ela podia tocar piano lindamente, provaria que tinha qualidades especiais que sua mãe pudesse exibir para as outras mães.

Mas tinha um problema. O início da temporada social significava que seu debute também estava muito próximo e dentro de alguns dias, Diana e sua irmã Louise seriam oficialmente vistas pela alta-sociedade escocesa como mulheres adultas prontas para encontrarem um marido. Como Diana poderia buscar um marido se seu coração já estava preenchido?

- Ora, tenha paciência! - Lady Blackwood grunhiu quando Diana errou um acorde. Ela se assustou e afastou as mãos do instrumento.
- Me desculpe, mamãe, eu confundi os acordes. - Diana abaixou a cabeça, não queria que um olhar de desprezo fosse lançado em sua direção.
- Diana, quantas vezes já não ensaiou esta simples partitura? O que te impede de aprender algo tão simples?
- Talvez meus melhores talentos não estejam atribuídos à música, mamãe. - Ela olhou para a mulher, que jogou a cabeça para trás enquanto ria exageradamente. Diana se sentiu repentinamente estúpida, como se o que tivesse acabado de dizer fosse uma grande idiotice.
- Diana, minha querida filha, como pretende ter uma fila de pretendentes em nossa porta se não sabes tocar uma simples partitura? Se não tens a mínima capacidade de tecer uma linha em um simples bordado?
- Talvez eu ainda não esteja pronta para debutar, tenho apenas vinte anos.
- Não seja boba, está atrasada. Damas muito mais jovens que você também irão debutar este ano, ouvi dizer, inclusive, que Lady Caroline Campbell, com seus poucos dezessete anos, é a favorita desta temporada. De forma alguma posso aceitar isto! Tenho duas filhas para apresentar e, ao final de novembro, você e Louise serão as moças mais bem casadas desta cidade.
- Por que Louise e eu devemos nos casar primeiro? Por que não Damon e ? Eles já possuem idade o suficiente para se casarem.
- Não seja tola. Damon e são ainda muito jovens e, caso tenha esquecido, estão recebendo a melhor educação possível em Cambridge, não voltarão até a próxima temporada, onde, com toda a certeza, se casarão com as mais belas debutantes do próximo ano.
- E se nenhum rapaz se interessar por mim?
- Você terá a próxima temporada para buscar um marido, mas não se preocupe, isto não vai acontecer. Agora continue até não errar mais.

Lady Blackwood deixou o aposento, mas Diana não voltou a tocar. Ela espremeu os olhos quando os sentiu molhados, não podia chorar ali.

Diana temeu aquele momento por muitos anos. Teve incontáveis pesadelos onde, ao se apresentar, tropeçava em seu vestido, ou o tecido rasgava, ou seu sapato saía do pé... em todas as situações, ela se via humilhada perante todas aquelas pessoas que podiam lhe julgar com maldade. Ela própria sabia que não tinha todos os atributos que uma boa esposa deveria ter. Tinha uma língua afiada, se interessava por política, questionava a religião, amava ler e aprender novos idiomas, era considerada insuportavelmente inteligente por sua rigorosa mãe. Além disso, era péssima com uma agulha na mão, não se interessava por moda e tinha dificuldade em tocar o piano. Não podia se esquecer de seus cabelos ruivos, que eram considerados antiquados e fora de moda, mas o que ela poderia fazer? Herdou os fios de seu pai, e adorava a cor de seu cabelo, mas até nisso se sentia inadequada. Juntando tudo mais o fato de que não queria se casar e muito menos ser mãe tão jovem, Diana sentia que jamais seria compreendida pelas pessoas ao seu redor.

Talvez Louise entendesse, ela certamente era uma mulher à frente de seu tempo, mas, além de Louise, apenas uma outra pessoa a compreendia melhor do que ninguém. Ela não tinha medo de compartilhar seus receios com Jesse, ele sempre a tranquilizava com palavras de conforto, exaltando as suas qualidades e amenizando o que eram considerados defeitos pelas outras pessoas.

Diana sentia falta dele, mas pensou que o único ponto positivo do começo de temporada era que logo ele visitaria sua casa, com as mais belas joias da cidade, para que ela pudesse escolher, Diana sentia como se fossem feitas exclusivamente para ela.

E de fato eram.

...

Thomas olhava pela janela da carruagem a paisagem verde ganhar as formas arquitetônicas da cidade. Aberdeen não era uma cidade grande, mas mesmo assim exalava beleza em suas ruas antigas, e Thomas gostava disso. Seus anos estudando em Edimburgo finalmente haviam terminado, e ele agora poderia voltar definitivamente para sua cidade natal. Não gostava da agitação da cidade grande, preferia a calma de sua querida Aberdeen.

Ele sentiu seu coração se aquecer ao avistar sua casa ao longe. Para Thomas, o lar era onde o coração estava, estava ansioso para rever sua família e saber das novidades. Quando desceu da carruagem, correu pelos portões até a entrada, e mal esperou que lhe abrissem a porta; ele próprio empurrou as portas pesadas e se deparou com a recepção vazia. Claro, não sabiam que ele voltaria naquele dia, ele queria fazer uma surpresa.

Thomas subiu os lances de escada até o andar de cima e parou perante a porta da sala de estar. Aproximou o ouvido para que pudesse checar se havia alguém ali. Ouviu risadas femininas, e, então, de maneira repentina, abriu a porta.

- Eu gostaria de rir também.
- Irmão! - Lady , a caçula, saltou do sofá e correu para abraçá-lo. Thomas ergueu sua irmã no ar e a girou em um abraço apertado.
- , estou surpreso, você cresceu desde minha última visita? - Ele a colocou no chão, e ela revirou os olhos.
- Bem, se eu fosse mais alta, pareceria mais velha, talvez assim mamãe concordasse em me deixar debutar este ano. - olhou para sua mãe, que apenas riu enquanto negava com a cabeça ao se aproximar deles.
- Não se preocupe, querida, sua hora vai chegar. - Lady Arkley se aproximou de Thomas e recebeu um beijo na bochecha de seu filho mais velho, o futuro conde. - Olhe só para você, meu filho, está tão lindo! Senti tanto a sua falta!
- Também senti sua falta, mamãe, mas cá estou e agora de forma definitiva. Poderei acompanhar a senhora nesta temporada quando papai não estiver disposto.
- Sendo assim, vamos tirar suas medidas e providenciar novos trajes, certamente precisará - ela respondeu com bom-humor, e os três riram. - Com licença, querido, vou avisar seu pai e William que você já está aqui.

Ela deixou o cômodo, Thomas e ficaram sozinhos. A jovem pareceu repentinamente desanimada, virando as costas para o irmão e indo se sentar onde estava antes de ele chegar. Thomas percebeu e decidiu se aproximar.

- O que te aborrece, irmã?
- Tenho completos dezenove anos e mamãe ainda não quer que eu me apresente, ela diz que não estou pronta. - suspirou. - Será que é tão difícil assim?
- Mais do que imagina. , você ainda é tão jovem, aproveite os anos que lhe restam.
- Mas e se, quando for minha vez, eu não encontrar um bom marido? E se ele não me amar? - ela choramingou, e Thomas sorriu para ela.
- Será impossível, eu estarei lá para garantir que isto não irá acontecer. Se depender de mim e de William, você terá o casamento que sempre sonhou.

O maior sonho de era ter um bom casamento, um marido que a amasse e uma casa cheia de filhos. Ela era gentil, educada, inocente e sabia como administrar sua casa na ausência de sua mãe. Passou os últimos anos se preparando para o seu grande momento, mas sua mãe dizia que ainda era muito jovem e não estava pronta, mesmo que fosse a personificação da etiqueta escocesa.

- Tommy. - ajeitou sua postura, endireitando os ombros e estufando o peito. - Quero que me ajude em uma coisa.
- É claro.
- Convença mamãe a me deixar debutar no próximo ano.
- ...
- Eu estou pronta, irmão, eu sinto que está na hora. Não quero ser como Alicia MacGregor que debutou aos vinte e três, ou como as irmãs Cooper que se casaram apenas em sua quarta temporada. Não quero ser mal falada como elas.
- Eu conheço o marido de Anne Cooper, e posso lhe assegurar que ele não se importa nem um pouco com este mero detalhe. Ele a amou no instante em que a viu pela primeira vez no primeiro baile daquela temporada, foi ele quem me disse isso, sabia? Além disto, eu jamais permitiria que minha irmã fosse mal falada por todas essas pessoas esnobes.
- São estas pessoas que me convidarão para seus bailes, Tommy... por favor, me prometa que você irá conversar com nossa mãe.
- Vamos fazer um acordo: se dentro de alguns meses você ainda quiser muito, eu prometo que você irá debutar na próxima temporada, falarei com a nossa mãe. Enquanto isso, pedirei a ela que te leve aos eventos sociais desta temporada para que você veja como é. Aparentemente, serei convidado para alguns bailes e te levarei comigo se ela assim permitir. Se você se sentir pronta depois disto, irei convencê-la de seu debute.
- É uma ideia maravilhosa, irmão, obrigada! - sorriu, maravilhada com aquela proposta. Nunca tinha ido a um baile, apesar da idade, queria saber como os casais se conheciam para que quando fosse sua vez, pudesse fazer igual. - Agora me diga, como foi a universidade? É divertido?
- De certa forma. Houveram dias em que eu pude me divertir, mas na maior parte do tempo estava estudando para a minha formação. Precisava haver um equilíbrio.
- Eu queria poder frequentar uma universidade. - O olhar de pareceu perdido pela sala por um instante, mas logo ela olhou para ele novamente. - Será que não há uma exceção para as mulheres? Quero dizer, é claro que meu maior sonho é me casar por amor e ter muitos, muitos filhos, mas... um pouco de conhecimento não faria mal a ninguém.
- Você tem toda a razão, irmã. Não posso lhe enganar e dizer que há uma exceção, mas acredito que em breve as mulheres terão este direito tanto quanto os homens. Trouxe comigo meus livros de história, vou colocá-los na biblioteca e você pode lê-los quando quiser. Não é um curso completo, mas vai te dar muito conhecimento.
- Você é o melhor irmão do mundo, Tommy, obrigada.
- Eu ouvi isto, Arkley.

e Thomas se viraram para a porta quando ouviram a voz de William. O mais velho se levantou para cumprimentar o irmão do meio, que também havia voltado para a casa havia poucos dias, mas, que diferente de Thomas, voltaria para seus estudos em poucos meses.

- Papai precisou sair, mas garantiu que estaria de volta até o jantar. É muito bom te ver, irmão, temos que colocar as notícias em dia - William deu uma palmadinha no ombro de Thomas, que concordou. - Você sabe, assuntos masculinos.
- William! - Lady Arkley, Deborah, o advertiu. - Não toque nestes assuntos na presença de sua irmã!
- Não se preocupe, mamãe, eu não pretendia - William riu. - Vamos, Thomas, vou lhe contar as novidades enquanto caminhamos pelo jardim.
- Com licença. - Thomas acenou para sua mãe e sua irmã, então acompanhou William para fora do cômodo. - O que seria tão urgente que praticamente me arrastou para fora da presença de nossa irmã?
- Acho que cometi um erro, Thomas. - William descia as escadas em espirais rapidamente, Thomas ia atrás tentando acompanhar o mais novo.
- O que houve? Está com problemas financeiros?
- O problema não é dinheiro, está longe disso, não sou um irresponsável como nosso pai, sei que um dia terei filhas para casar. Não é isto.
- Então o que é?

William não respondeu, ao invés disso, acelerou ainda mais seus passos, para que logo estivessem no imenso jardim da propriedade. Apenas quando estavam se aproximando do gazebo, ele se virou de repente, fazendo com que Thomas esbarrasse nele.

- Eu cedi.
- Como assim?
- Eu cedi à pressão das pessoas, mais especificamente à pressão de meus colegas estudantes. Eles me convenceram de que... - William hesitou, se sentia envergonhado por contar aquilo em voz alta. - Minhas necessidades masculinas deveriam ser preenchidas antes que eu me casasse, pois isto ainda vai levar algum tempo.
- Oh, Will... - Thomas sentiu uma repentina pena por ouvir aquilo, mas ao mesmo tempo, ficou constrangido.
- Eu sei que fizemos um acordo no qual não cometeríamos os mesmos erros de nosso pai, que não magoaríamos nossas futuras esposas e seríamos diferentes dos outros rapazes de nossa idade, mas eu... eu não me contive. Peço que me perdoe, irmão, eu falhei com nossa promessa.
- Quando aconteceu?
- Há alguns meses... em uma sexta-feira feita à noite, após as aulas, os rapazes e eu decidimos ir até o teatro assistir uma peça. Com sorte, estive na primeira fila, e... ela era tão bela, que quando me dei conta, estava na porta de seu camarim a desejando. Eu apenas precisei me apresentar e... bem... em questão de horas nós...
- Não cabe a mim julgar mulheres artistas, Will, mas lhe garanto que você não feriu a honra dela.
- Mas feri a minha. Sei que nada vai mudar, mas eu precisava lhe contar isto, eu me sinto péssimo.
- Está tudo bem, Will, não se culpe por isto. - Thomas lhe lançou um olhar bondoso. - Todos cometemos erros, mesmo que sejam carnais... eu também cometi este erro... confesso que eu não pretendia contar, mas fui convencido de que não poderia tomar minha esposa sem ter experimentado antes com outras mulheres, e... eu não sou perfeito como as pessoas esperam, você também não precisa ser.
- Por que não me contou?
- Tive vergonha de mim mesmo. - Ele encolheu os ombros. - Meus colegas asseguraram de que era comum e eu estava certo, mas eu me senti mal, fosse por mim ou por aquela pobre mulher... jurei que não faria novamente até que me casasse, independentemente do tempo que fosse levar. Espero que me perdoe também, mas gostaria de saber de uma coisa? Somos homens, somos adultos, apenas desta vez, vamos nos aproveitar de nossos privilégios e esquecer disto, está bem?
- Certo... obrigado, Thomas, eu me sinto melhor em compartilhar isto com você.
- Somos irmãos, é melhor que compartilhe comigo do que com outras pessoas que não pensam como nós. Vamos voltar, estou cansado da viagem e gostaria de descansar um pouco antes do jantar.

...

Louise observava seu reflexo "masculino" em frente ao espelho. As roupas de Damon obviamente ficaram largas em seu corpo, mas ela adorou a sensação de vestir calças. Sua mãe a mataria se visse sua preciosa filha vestindo roupas masculinas, mas ela estava disposta a correr o risco para que tivesse um pouco de diversão em meio à sua vida tão pacata de moça se preparando para ser inserida na sociedade.

- O que acha deste? - Ela se virou para Diana, que estava sentada na cama, lendo distraidamente um livro pequeno.
- Hum... acho que está muito parecida com Damon. - Diana viu um sorriso se formar nos lábios de Louise, pensou que ao menos uma delas estava se divertindo. - Eu os confundiria se ele estivesse aqui certamente.
- Ora, mamãe, não pode privar as meninas para sempre! - Louise engrossou a voz, colocando as mãos na cintura para imitar o seu irmão mais velho. Diana gargalhou. - Venha, Diana, vou lhe explicar como pegar barriga e outras coisas mais.
- Eu não esperaria esta explicação de outra pessoa que não fosse nosso querido irmão. - Diana continuava a rir, pois por mais que fosse uma brincadeira, Damon de fato havia explicado aquilo para as duas sem à ciência de sua mãe. - Eu gostaria que ele estivesse aqui... seria mais cômodo para mim que um de nossos irmãos nos acompanhasse aos bailes do que nossa mãe. Damon jamais disse uma palavra que fizesse eu me sentir inferior.
- Sei que você não quer isto, mas... - Louise se aproximou e sentou ao lado dela na cama. - Estaremos juntas. Não me empolga a ideia de me casar com um velho asqueroso, então será do meu jeito, isto eu posso assegurar. Acho que deves fazer da sua forma também.
- Não comparecendo?
- Infelizmente não é uma opção, mas no mínimo você tem o direito de dançar com alguém que pareça menos propenso a fracassar quando estiver te tornando uma mulher na noite de núpcias. - Louise deu uma risadinha juvenil. Nunca esteve com nenhum homem, mas não era nem um pouco inocente. - Escolha bem com quem você irá dançar e tudo ficará mais fácil.
- O mesmo para você.
- Ora, Diana. - Louise se levantou e, exagerando uma valsa, continuou a falar: - Será muito mais provável que eu escolha o meu marido do que ele escolha a mim e...
Antes que Louise pudesse concluir sua ideia, a porta do quarto se abriu. Lady Blackwood entrou no quarto e se chocou com as roupas de sua filha, que parou de dançar no mesmo instante.

- Louise Blackwood, eu espero que tenhas uma explicação muito, muito razoável para me dizer o que está acontecendo aqui.
- Mamãe. - Louise ajeitou seus cabelos bagunçados, enquanto Diana escondia o livro ao se sentar sobre ele. - Eu... eu estava...
- Louise sabe o quanto estou nervosa com os bailes, mamãe, por isso ela decidiu se vestir como um homem para me mostrar como devo me comportar perto de um possível pretendente.
- Não sorria demais, homens não gostam de mulheres que sorriem à toa, e mantenha a coluna ereta - Louise disse autoritariamente para a irmã, tentando entrar no personagem.
- Oh. - Margareth arqueou as sobrancelhas com curiosidade. - Este não é um método convencional, mas admito que pode ser útil. Entretanto, Louise, como pode saber como um homem se porta se não conhece nenhum?
- Observei durante as últimas duas temporadas, mamãe, em cada baile que fomos. Estou apenas reforçando regras básicas de etiqueta com Diana. Depois, ela irá fazer o mesmo comigo.
- Sim, eu vou.
- Terminamos por aqui, irmã, está ficando melhor a cada dia. Com licença, irei pôr meu vestido novamente.

Louise saiu rapidamente do quarto, enquanto Diana continuou no mesmo lugar, não podia se levantar para não exibir o exemplar de Lady London que estava lendo. Sua mãe não tinha ideia de que ela era uma grande fã dos ideais de Elizabeth Bennet.

- Mamãe, será que podemos visitar o senhor Birdwhistle? Estive pensando que talvez eu não tenha joias boas o suficiente para o baile e... hm... eu gostaria de causar uma boa impressão.
- Vá se arrumar, querida. - Ela lhe deu um sorriso bondoso e virou as costas para deixar o quarto.
Diana se levantou rapidamente, escondeu o livro debaixo de seu travesseiro e chamou por sua aia, alto o suficiente para que ela ouvisse de outro cômodo.

- Sim, senhorita Diana? - a mulher um pouco mais velha do que ela disse, esbaforida, quando chegou.
- Será que você poderia fazer um penteado diferente em meu cabelo? Acho que estou cansada deste laço infantil. - Diana puxou o fitilho rosa que prendia suas madeixas.
- É claro, senhorita.
- Me dê apenas um minuto, vou procurar por outro vestido, este é muito simples. Qual você acha mais bonito? O azul com rendas ou o rosa claro e liso?
- Os dois são lindos, senhorita Diana, seja qual for sua escolha, ficará muito bonita.
- Oh, por favor, Christine! Estou pedindo sua opinião mais sincera, não diga isto apenas para me agradar.
- Então o azul.
- Obrigada. Me ajude a vesti-lo, por gentileza.

Com a ajuda da aia, Diana trocou de roupa, e também de penteado. Christine fez um coque chignon na altura da nuca e decorou com um adereço, que imitava uma flor prateada. Diana costumava utilizar penteados que valorizassem seus cabelos compridos, mas em sua maioria eram penteados para meninas mais novas. Se queria ser notada pelo joalheiro, tinha que parecer mais adulta, afinal, Jesse era um homem na casa dos trinta e poucos anos, e dizia ser viúvo desde que chegou na cidade, oito anos antes.

- O que é tudo isso? - Margareth perguntou quando Diana desceu as escadas do saguão, já pronta.
- Pedi para que Christine experimentasse em mim este penteado que vi em uma modelo outro dia. Caso estivesse apresentável, gostaria de ir ao baile com este. O que a senhora acha?
- Devo reconhecer o talento de Christine para o embelezamento. - Ela rodeou a filha para poder avaliar. - Está aceitável.
- Me desculpem o atraso, não conseguia encontrar minha tiara de sair! - Louise desceu as escadas correndo. Chegou ofegante ao saguão, e só então percebeu que Diana estava diferente. Ela sorriu. - O que temos aqui?
- Sua irmã está abraçando a ideia de debutar, Louise, sugiro que faça o mesmo.
- Mas eu quero debutar, mamãe! É o meu sonho desde menina! - Louise exagerou uma animação, enquanto caminhavam para fora em direção à carruagem. - Eu apenas serei seletiva com os rapazes com quem irei dançar, afinal, a senhora não gostaria de ver eu me casar com alguém com menos poder aquisitivo ou classe do que os Blackwood, correto?
- Certamente não. - Percebendo que perdeu a discussão, Margareth virou as costas. Diana e Louise trocaram olhares e risadinhas silenciosas.

...

Jesse estava em seu ateliê caseiro, trabalhando em uma peça nova. Tinha viajado para longe apenas para conseguir aquela pedra preciosa, mas a viagem valeu a pena. O colar de diamantes que estava forjando era chamativo, mas ao mesmo tempo delicado, passava uma imagem de poder sem afastar quem o usava dos demais. Ele até podia imaginar em qual pescoço aquele colar caberia perfeitamente.

- Senhor Birdwhistle, Lady Blackwood e suas filhas estão aqui para vê-lo - um de seus criados disse após abrir a porta, fazendo com que Jesse se sobressaltasse do banco em que estava sentado. - Peço desculpas, senhor, não sabia que estava concentrado.
- Nunca estou ocupado para uma Blackwood, Armie, diga a elas que estarei lá em um instante.

Enquanto o rapaz saía para dar o recado, Jesse vestiu seu colete e casaco rapidamente, então saiu apressado corredor afora, subiu as escadas do saguão e virou em alguns corredores, até chegar na sala de visitas, onde as três mulheres o aguardavam.

- Me perdoem, eu não esperava receber clientes hoje. Senhora, senhoritas. - Fez uma reverência educada para as três, que retribuíram. - Ao que devo a honra de vossa visita?
- Senhor Birdwhistle, como já é de seu conhecimento, minhas filhas irão ao baile de debutantes em alguns dias, e Diana sugeriu que ela e sua irmã usassem joias novas para isto. O senhor teria algo à pronta entrega ou que possa ser feito em poucos dias?
- É um trabalho muito árduo, milady, minha boa reputação não é em vão. - Jesse observou rapidamente Diana, vendo que ela parecia diferente, estava ainda mais bonita do que podia se lembrar. - Entretanto, posso lhes mostrar o que já tenho pronto, e consigo entregar antes do baile caso precisem de ajustes.
- Adoraríamos, Jesse. - Louise sorriu, mas recebeu um olhar de repreensão de sua mãe. - Digo, senhor Birdwhistle, se não for um incômodo.
- De forma alguma. Com licença, eu vou buscar e já volto.

Jesse voltou para o seu ateliê rapidamente. Conferiu sua maleta para verificar o que tinha pronto, não eram suas melhores joias, mas talvez pudesse fazer algum ajuste que ficasse pronto a tempo. Olhou o colar de diamantes e hesitou em pegar ou não, mas acabou levando também, afinal, queria ver como ficava no pescoço de Diana.

- Confesso que não tenho tantas peças disponíveis, mas posso fazer alguns ajustes, caso as senhoritas gostarem de alguma - Jesse disse ao voltar, abrindo a maleta no sofá. - Por favor, fiquem à vontade para escolher o que desejarem.

As três mulheres se aproximaram e começaram a olhar, mesmo sem encostarem as mãos, pois tinham medo de que estragasse.

- Que lindo este colar de diamantes! - Louise exclamou, admirada. - Diana, você deveria experimentar, tenho certeza de que vai ficar esplêndido em você!
- Admito que não consigo tirar os olhos do colar de esmeralda e dos brincos - Diana disse, um tanto sem graça. - Mas creio que não há problema algum em apenas experimentar outros.
- A senhorita tem razão. - Jesse pegou o colar inacabado com cuidado, e hesitou ao perceber que teria que colocá-lo no pescoço dela. - O colar está inacabado e é muito frágil, peço a sua permissão para que possa colocá-lo em seu pescoço, pois apenas eu sei como manusear.
- É claro que pode, querido - Margareth respondeu antes de Diana. - Eu, com estas luvas escorregadias, jamais teria a sua habilidade.

Diana afastou os fios de cabelo que soltavam do penteado da nuca enquanto Jesse se aproximou por trás, fazendo seu coração acelerar. A peça gelada tocando a sua pele lhe causou um arrepio agonizante, mas não tanto quanto sentir, mesmo que de maneira sutil, os dedos dele tocando a sua nuca. Diana tentou não demonstrar, mas talvez fosse perceptível que perdeu o fôlego por um instante. Jesse, tentando ser respeitoso, foi breve. Se afastou rapidamente, de mãos atadas, como se tivesse medo que Margareth ou Louise pudessem ver com maus olhos.

- O que a senhorita achou? - ele perguntou, enquanto pegava um espelho de mão que estava na mala e entregava para ela.
- É realmente encantador, senhor Birdwhistle, estou verdadeiramente encantada. - Diana via o reflexo de seu pescoço no espelho. Tinha amado a peça, mas não tanto quanto o colar e os brincos de esmeralda. - Seu talento é realmente admirável.
- Obrigado. - Ele sorriu sem jeito, fazendo uma reverência desajeitada e torta para ela, que riu, achando adorável.
- Eu gostaria também de experimentar o colar e os brincos de esmeralda, caso não se importe. Por outro lado, acredito que este colar combine mais com minha irmã do que comigo. Experimente, Louise.

Margareth se apressou em tirar o colar do pescoço de uma filha para colocar em outra, enquanto Jesse novamente ajudava Diana. Ela esperou que ele fechasse o colar para que ela colocasse os brincos.

- Imaginei que iria gostar, a senhorita sempre gosta das joias de esmeralda - ele comentou atrás dela, tendo dificuldades com o encaixe do fecho.
- Tens razão, é a minha pedra favorita. - Diana sorriu, mesmo que não pudesse vê-lo. - Quando criança, papai comparava meus olhos à esmeraldas, e desde então guardo esta lembrança comigo. Ver esmeraldas é como ouvir meu pai dizendo isto novamente.
- Ele estava certo... - Jesse finalmente conseguiu, e, ao perceber que tinha dito aquilo em voz alta, se afastou. Diana se virou para ele. - Quero dizer... hum.... têm quase a mesma cor, de fato, e combinam com a sua personalidade gentil.

Diana sorriu, envergonhada, e pretendia responder à altura, quando Louise chamou a atenção para si, dizendo que havia amado o colar tanto quanto Diana. E de fato havia combinado mais com ela do que com sua irmã.

- Acho que deveria levá-lo, irmã, será a debutante mais bonita do baile com este colar - Diana disse com sinceridade, fazendo Louise sorrir.
- Não tanto quanto a donzela dos olhos de esmeraldas. - Louise retribuiu o elogio, tinha ouvido a conversa entre os dois. - Você realmente não se importa se eu ficar com este colar?
- De forma alguma! Pretendo ficar com este que estou usando.
- Bom, então parece que já terminamos por aqui. Senhor Birdwhistle, quanto devemos lhe pagar? - Margareth perguntou, dando um fim definitivo à conversa.

...

A volta definitiva de Thomas Arkley para a cidade causou uma certa euforia entre as mães que esperavam casar suas filhas naquela temporada. A família Arkley havia se mudado para a cidade havia apenas cinco anos, querendo uma vida tranquila e afastada da movimentada capital Edimburgo, mas aqueles cinco anos foram o suficiente para criarem raízes e se estabelecerem na alta-sociedade local, afinal, o Marquês de Broxburn e Conde de Livingstone, pai de Thomas, era um homem poderoso. Por isso, era de se esperar que ele fosse um dos homens solteiros mais disputados do momento, embora ele próprio ainda não houvesse manifestado publicamente o desejo de se casar em breve, mesmo que a ideia lhe passasse pela cabeça.

Em seus primeiros dias de volta à cidade, dedicou todo o seu tempo para estar com sua família, especialmente com seus irmãos, que estavam tão crescidos quanto podia se lembrar, como , que já não era mais uma criança e expressava a todo momento o quanto queria debutar o mais rápido possível.

Thomas estava na biblioteca revisitando suas histórias favoritas quando e William adentraram pela porta. A mais nova parecia excessivamente animada, enquanto o irmão do meio parecia impaciente por isso. Thomas ergueu os olhos para os dois, e já podia imaginar do que se tratava.

- Deixe-me adivinhar: o pequeno William irá ocasionalmente aos bailes da temporada e está animada para que ele corteje algumas moças mesmo ele não pretendendo?
- Mamãe quer que eu passe o tempo inteiro acompanhando , para ter certeza de que ela não irá debutar por conta própria. - William rolou os olhos enquanto se sentava no confortável sofá ao lado da janela. - Será que não podes fazer isto por mim, irmão?
- Por que isto te aborrece? Afinal, você sempre expressa preocupação quanto ao futuro da nossa irmã.
- Diga para ele o que está pensando, . Vá em frente.
- É a oportunidade perfeita para que vocês encontrem suas esposas também! Desta forma, quando for minha vez, na próxima temporada, apenas os melhores rapazes terão olhos para mim se vocês dois se casarem com as mulheres certas!
- Eu não quero me casar agora! Por favor, entenda isto de uma vez por todas, . Estou terminando meus estudos, não posso deixar minha esposa sozinha por aqui enquanto estou longe por muito tempo. Thomas, por favor, explique isto para ela.
- Talvez William tenha razão, , ele ainda não pode se casar. - Thomas fechou o livro, mas percebeu que murchou ao ouvir aquilo. - Não fique triste, irmã, eu já lhe assegurei que terás o casamento dos seus sonhos.
- Mas você pode se casar. - se sentou na cadeira, de frente para ele.
- Irei me casar quando me sentir preparado e encontrar a mulher certa.
- Por que te preocupas tanto com isto, ? Não há o que temer, Thomas e eu jamais permitiríamos que você não tivesse um bom casamento, mas sua preocupação excessiva nos cansa. Ainda és jovem, não irá debutar este ano, com o que estás se preocupando?
- Caso não tenhas notado, irmão, eu não tenho o direito de estudar, viajar o mundo ou simplesmente optar por não querer me casar agora. Sou uma mulher, a vida inteira fui preparada para este momento! Se não tenho os mesmos direitos que vocês, então exijo, no mínimo, que eu possa me casar por amor, pois não sou capaz de imaginar minha vida em um casamento para fins de negócio. Não sou um animal que pode ser negociado. - se levantou. - Mas é claro que não entendem, nunca saberão como eu me sinto porque são homens.

Um silêncio pairou na biblioteca, pois Thomas e William achavam que ela tinha razão. Por vezes, a insistência de em se casar era irritante, ela falava por horas e horas sobre como imaginava seu grande dia ou em como sonhava que seu marido fosse gentil e amoroso, mas de fato, ela não havia recebido a mesma educação que eles, jamais seria incentivada a estudar e trabalhar como eles foram.

- Desculpe. - William encarou os próprios sapatos. - Tens razão, jamais saberei como é a sensação, mas, mesmo assim, não posso me casar até a próxima temporada, que é quando terminarei meus estudos. Sinto muito.
- Darei início à minha busca por uma esposa nesta temporada. - Thomas se levantou também. - Mas não posso garantir a você que irei me casar em breve. Se eu não me interessar por nenhuma jovem debutante, então esperarei mais um pouco até o momento certo.
- Não podes estar falando sério, irmão. Não me diga que fará isso porque está sugerindo.
- Ela tem razão quando diz que um casamento bem-sucedido, meu ou seu, será bom para ela. Sou o primogênito, então devo agir como um, cuidando dos meus irmãos mais novos, especialmente de minha irmã. - Ele olhou para ela, que estava com os olhos brilhando por isso. - , você conhece todas as jovens que irão debutar nesta temporada, correto? Quero que me ajude nesta busca.
- É claro! Ó, meu Deus, sim! Não se preocupe, irmão, estarei com você nesta busca até o último momento possível. Ouvi dizer que as irmãs Blackwood podem se destacar, afinal, não são todos os anos que temos gêmeas na temporada. Já as vi algumas vezes pela cidade e trocamos breves palavras, são belíssimas, e, claro, Blackwoods, com certeza terão um dote que papai ficará interessado. Isto vai ser tão divertido! Só não pense em cortejar Lucinda Smith, está me ouvindo?
- Quem é Lucinda Smith? Daquela família Smith que papai está sempre reclamando do Lorde e mamãe questionando as vestes da Lady?
- Exato. Lucinda debutou no ano passado e foi um verdadeiro fiasco! Ela é desajeitada, não sabe dançar, não tem senso de humor, um péssimo gosto para vestidos e penteados, ainda por cima dizem que a família está falida... não é surpresa que nenhum rapaz tenha se interessado por ela, não quero que você seja o primeiro.
- Tudo bem, apenas me mostre quem é e eu passarei bem longe dela. - Thomas riu, enquanto rolava os olhos. - Obrigado pelos conselhos, irmã, procurarei saber mais sobre as irmãs Blackwood, se isto te agradar.
- É claro que me agrada, qualquer uma das duas, na verdade. Não se preocupe, faço questão de apresentá-las a você.
- Esplêndido! Então temos mais um acordo? - Thomas estendeu a mão para ela, a fim de fechar negócio.
- Sim, nós temos, e é sempre ótimo negociar com você. - retribuiu e apertou a mão dele.
- Particularmente, me sinto excluído. - William se levantou de seu lugar e se aproximou deles.
- Não se sinta, irmão, entendo que não podes se casar agora. - olhou para ele, que assentiu, balançando a cabeça.
- Pensarei nisto na próxima temporada, está bem? Digamos que irei debutar junto com você - ele descontraiu, fazendo ela rir também. - Apenas tenha certeza de que essas jovens estão à altura de seu irmão mais bonito, está bem?
- Isto é uma afronta - Thomas protestou. - Diga a ele a verdade, .
- A verdade é que será muito difícil achar duas mulheres à altura dos homens mais bonitos e elegantes da cidade, mas eu vou me esforçar para isso. - Ela envolveu seus dois braços ao redor do braço de cada um deles. - Vamos caminhar pela cidade, quem sabe já teremos sorte logo no primeiro dia de busca?

...

Diana conferiu uma última vez seu reflexo no espelho. Usava as joias compradas com Jesse alguns dias antes, e seu vestido era verde claro, com mangas de tule em um tom de verde um pouco mais escuro, luvas brancas e compridas e, para finalizar, uma tiara discreta que descansava no topo de sua cabeça, o coque alto enfeitado com flores finalizando o seu visual. Por mais que estivesse deslumbrante, Diana teve certeza de que jamais fora tão infeliz em toda sua vida.

Toda a pressão para que tudo saísse perfeito era sufocante para ela. Era imensamente agradecida por pular a apresentação na corte da rainha Vitória, afinal, a monarca se encontrava em Londres e não havia a necessidade de fazer uma viagem. Ao invés disso, sua estreia seria "apenas" para a alta-sociedade local, um grupo seleto de famílias de poder aquisitivo imensurável, incluindo os Blackwood. Após isso, Diana tinha alguns meses para se mostrar digna de se casar, com um homem de família tão bem relacionada quanto a sua, e isso era a verdadeira definição de inferno para ela.

Queria chorar, mas isso denunciaria que ela estava usando maquiagem, um pó que uniformizava a sua pele, algo imoral em sua época, porém feito às escondidas por ordem de sua mãe para que ela parecesse perfeita. Contra a sua vontade, Diana engoliu o choro, dispensou as criadas que lhe ajudavam e então saiu do quarto, ao mesmo tempo em que Louise também surgia no corredor vinda de outra porta.

Louise, como sempre, estava magnífica em seu vestido bege, luvas brancas iguais às de sua irmã, o colar de diamantes e uma tiara de flores no cabelo. Seu rosto não denunciava vontade de chorar, mas ela também parecia desconfortável. Elas se entreolharam com compaixão uma pela outra, não tinham escolha senão aceitar seu destino.

- Podemos nos sabotar, viramos duas solteironas e fugimos para uma vila no interior da Itália, o que me diz? - Diana sugeriu, fazendo Louise rir e quase soltar algumas lágrimas.
- Ficarei solteira pelo tempo que precisar e não tenho nenhuma vergonha em dizer isto, você também não deve temer nada.
- Apenas temo ser infeliz por causa desta obrigação social estúpida. Se ao menos pudéssemos escolher o amor antes dos deveres, eu me sentiria aliviada por escolher me casar com alguém que amo de verdade.
- O que quer dizer com isto, irmã? Está apaixonada por alguém?

Por mais que Louise fosse sua confidente mais íntima, Diana não se sentia preparada para confessar seus sentimentos por Jesse para ninguém, nem mesmo para ela. Por mais que o joalheiro fosse dono de uma propriedade local considerada um palacete, sua linhagem era desconhecida, e ele não possuía qualquer título de nobreza, era viúvo e muito mais velho do que ela, além de ser um aristocrata "que tinha um emprego", embora já tivesse dito um milhão de vezes que trabalhava por diversão. Para Diana, eram meros detalhes, ela não se importava com nada daquilo. Jesse era gentil, respeitoso e divertido, sempre tinha algo bonito e encorajador para lhe dizer, jamais a julgou por pensar diferente.

- Não - Diana afirmou sem hesitar. - Seria apenas uma suposição maravilhosa.
- Eu entendo. Quem sabe seja assim mesmo esta noite? - Louise ofereceu o braço para ela. - Vamos encontrar a mamãe antes que ela pense que desistimos, algo que já está muito perto de acontecer.

...

O primeiro baile da temporada de 1846 seria organizado pelos McFarlane, que eram quase a corte do lugar. Tinham orgulho de dizer que eram a família mais antiga da região, além de suas riquezas imensuráveis e propriedades por todo o Reino Unido. Por mais que os Blackwood fossem tão tradicionais quanto, ainda precisariam se esforçar mais um pouco caso quisessem dar o primeiro baile da temporada. Por enquanto, o segundo baile ainda era a realidade da família.

A casa dos McFarlane estava muito bem decorada desde a entrada, onde uma trilha de tochas indicavam o caminho que as carruagens deveriam seguir e onde deveriam parar. Logo na entrada, as meninas pegaram seus cartões de dança com o cerimonialista, enquanto sua mãe cumprimentava a anfitriã, que recebia a todos na entrada.

- As senhoritas estão... - Lady McFarlane olhou Louise e Diana de cima a baixo, se prolongando nos fios vermelhos das garotas. Sua filha mais velha também iria debutar naquele baile, e ela queria que tudo fosse perfeito, mas no fundo sabia que a jovem talvez não tivesse a presença natural que as irmãs Blackwood possuíam. - Belíssimas, devo dizer. Lady Blackwood, a senhora fez um ótimo trabalho.
- Obrigada, Lady McFarlane! - Margareth sorriu amarelo enquanto puxava suas filhas pelos braços. Até mesmo para ela aquela mulher era irritante. - Com licença, preciso preparar minhas filhas para a apresentação. Vamos, meninas.

Apressadamente, passaram pelo salão principal, que estava começando a encher. Evitaram ao máximo chamar a atenção, precisavam ir para um cômodo no andar de cima onde mães e filhas aguardariam serem chamadas.

- Escutem - ela disse ao puxar as meninas para um canto da sala, para que ninguém pudesse ouvir o que ela tinha a dizer. - Lady McFarlane fará de tudo para que a filha dela seja o destaque deste baile, o que não irá acontecer se depender de mim. Portanto, estejam sempre perto dela e juntas caso eu não esteja por perto, assim as pessoas olharão para vocês primeiramente. Além disto, não peguem nenhum doce ou comida, não duvido de que ela os tenha batizado, não queremos um acidente, estou certa? Caso um cavaleiro lhes ofereça um refresco, sempre peçam para que peguem um para eles também e aguardem que tomem o primeiro gole. Entre uma dança e outra, descansem por 5 minutos sem saírem do lugar e aceitem todas as danças, mesmo que o cavaleiro em questão não seja de vossos agrados. Estão me entendendo?
- Sim, mamãe - Diana e Louise disseram juntas e trocaram olhares. Seu plano de evitar danças inconvenientes foi por água abaixo, acharam que seria melhor dançar do que contrair uma dor de barriga incontrolável.
- Ótimo! Conheço minhas filhas e sei que as criei para serem as melhores de sua temporada, não tenho dúvidas de que todos os cavaleiros implorarão por uma dança. - Ela sorriu orgulhosa, apertando as mãos das meninas, que sorriram amarelo. - Com licença, vou olhar as outras para ver a concorrência. Evitem conversar com outras pessoas enquanto não estou aqui.

Margareth se afastou para cumprimentar as outras mães e filhas que estavam na sala, enquanto Diana e Louise se isolaram em um canto, onde a luz não iluminava tão bem.

- Não sei se sou capaz de aguentar a noite inteira dançando, estes sapatos já estão me matando! - Louise resmungou aborrecida, cruzando os braços por insatisfação.
- Faremos um novo acordo: dançaremos até completar o cartão, logo em seguida você irá fingir um mal estar e então poderemos ir embora. - Diana descruzou os braços da irmã e amarrou o cartão dela no pulso com um fitilho azul.
- Por que eu?
- Porque se eu fingir, mamãe irá desconfiar. Ela pensa que você está mais animada do que eu para este teatro. Como não posso ficar sozinha, será uma desculpa perfeita para irmos embora.
- Tudo bem, não será tão difícil. - Louise também a ajudou. - Podemos pedir ao Jesse para que dance conosco, ele com certeza irá nos ajudar.
- Sim. - Diana sorriu, a possibilidade de dançar com o joalheiro fez ela relaxar um pouco. - É uma ótima ideia.

...

Por uma repentina indisposição, Deborah Arkley optou por não comparecer ao baile. Sendo assim, permitiu que fosse, embora devesse estar acompanhada de Thomas e William o tempo inteiro. não tinha muitas amigas, mas conhecia várias meninas presentes no baile, então pretendia fugir da vista deles vez ou outra para que pudesse interagir com as pessoas.

No mezanino do salão, os três aguardavam a apresentação das debutantes para que o baile começasse oficialmente. estava ansiosa enquanto os rapazes evitavam ao máximo chamar a atenção, não queriam ser abordados por mães histéricas ou homens para falar sobre negócios.

- Evite ficar na ponta, fique entre nós, está bem? - William puxou a mais nova quando ela se debruçou no mezanino para olhar o térreo.
- Will! - choramingou. - Eu quero ver as meninas que estão chegando!
- As pessoas podem te confundir com uma delas, evite.
- Irmão, você está muito tenso. Fique tranquilo, não precisa dançar se não quiser. - Thomas colocou sua mão no ombro de William, que suspirou.
- Você irá dançar e eu ficarei de olho em .
- O que acha que pretendo fazer? Pegar um cartão de dança? Sei me comportar, por incrível que pareça, William.
- Por favor, parem, estão me deixando tonto com tamanha discussão!
- Thomas se virou para eles. - Temos todos um acordo, certo? Então iremos cumpri-lo. Tenho certeza de que não levará à noite inteira.

Apenas quando todos haviam chegado e o salão estava cheio, o cerimonialista pediu a palavra e, no topo da escada, começou a chamar as debutantes uma a uma, a primeira, é claro, sendo a filha da anfitriã.

- Senhorita Anne McFarlane.

Enquanto a jovem descia as escadas acompanhada de sua mãe e atraindo todos os olhares, esticou o pescoço para ver as outras meninas e o que vestiam, pois havia achado o vestido lilás de Anne um tanto quanto antiquado, o exemplo perfeito do que não vestir. Porém, de seu lugar, quase não conseguia ver nada, a não ser a próxima da fila e assim sucessivamente.

Thomas, por sua vez, observava cada jovem que descia as escadas. Não que aparência fosse um ponto crucial em sua busca, mas como não sabia absolutamente nada sobre aquelas garotas, tudo o que podia fazer era avaliar se achava-as ou não bonitas o suficiente. William também observava, talvez fosse um pouco mais exigente do que seu irmão, nenhuma havia chamado sua atenção.

No fim da fila, Margareth reclamava sobre a posição de suas filhas, sabia que havia sido de propósito, afinal, no fim das apresentações as pessoas já estavam entediadas o suficiente, quase já não prestavam atenção nas meninas e em suas mães descendo as escadas. Diana e Louise, por sua vez, estavam aliviadas, quanto menos pessoas as olhassem, significava que menos homens lhes sufocariam com seus inúmeros pedidos de dança.

- A viscondessa-viúva Blackwood e suas filhas, as honoráveis Diana e Louise Blackwood.

A estratégia da Lady McFarlane falhou. O sobrenome Blackwood sempre era sinônimo de curiosidade, todos os olhares se voltaram para Diana e Louise, deixando Margareth satisfeita. A taxa de natalidade de gêmeos não era alta, então era comum que as pessoas questionassem Margareth sobre como ela havia conseguido sobreviver a dois partos naturais de gêmeos. e Damon poderiam não estar presentes, mas nunca deixavam de ser mencionados.

Thomas e William, que já estavam entediados, se aproximaram da beira do mezanino para observarem as duas. Eram gêmeas, porém tinham suas diferenças. Imediatamente, algo diferente cresceu dentro de William, quase como se estivesse em combustão. Ele queria saber quem era aquela moça alta de cabelos cor de fogo e olhos amendoados, seria o primeiro a dançar com ela, não deixaria nenhum outro homem passar em sua frente. Sem dar explicações, se afastou dos irmãos, desceu a escada alternativa e se colocou na primeira fila de rapazes que aguardavam pacientemente. Ouviu alguns comentários, e isso apenas o incentivou ainda mais.

Thomas, por sua vez, parecia congelado em seu lugar, nem sequer havia notado que William desceu do mezanino. A beleza de Diana era estonteante, mas não apenas isso, tinha algo de diferente nela, era quase como se já a conhecesse. Estava hipnotizado por aquela garota, precisava ao menos de uma dança.

- Estas são as irmãs Blackwood. Pelo visto William mudou de ideia, já está pronto para dançar. - apontou para o irmão no meio dos homens. - Bem, é de se esperar, elas realmente são muito belas, não achas?
- Com toda a certeza. - Thomas engoliu a seco, até estava com calor. - Quem é a de verde?
- Diana. Ela é muito tímida, nem posso imaginar o quão constrangedor isto deva ser para ela, todos olhando assim... falei com ela apenas algumas vezes, e...
- Preciso dançar com ela.
- Tommy...
- Eu preciso dançar com ela. - Thomas olhou para , ela viu o quanto ele estava falando sério. - Por favor, vá para algum lugar onde ninguém possa vê-la desacompanhada.
- Você está atrasado. - apontou para a moça, que estava cedendo uma dança para o joalheiro Jesse Birdwhistle, deixando Thomas frustrado.

No térreo, vendo todos aqueles homens postos como urubus prestes a atacar, William se apressou, e, antes que Louise sequer o visse, ele se aproximou dela, fazendo-a se assustar.

- Peço desculpas por te assustar, senhorita, mas eu precisava lhe pedir a honra de uma dança. - Ele fez uma reverência, de forma que Louise quase não conseguia ver seu rosto. - Lorde William Arkley, a teu dispor.

Quando William ergueu o olhar para ela, Louise perdeu o fôlego. Nenhum rapaz naquele salão era tão bonito quanto William, tinha olhos castanhos esverdeados e cabelos castanhos claros, além de bochechas naturalmente rosadas. Alto e de bom porte físico, William estava muito elegante em seu traje, chamando a atenção de mães e moças próximas, mas ele só tinha olhos para ela.

- Louise Blackwood. - Ela também o reverenciou discretamente. - E eu adoraria dançar com o senhor.

William lhe estendeu o braço, no qual Louise segurou, e a guiou para a pista de dança, que começava a popular. Gentilmente, repousou a mão em suas costas e evitou proximidade, embora tudo o que quisesse naquele momento fosse saber qual era a sensação de dançar colado com Louise. No ritmo da música, começou a guiá-la.

- Nunca te vi por aqui, Lorde William. - Louise começou a puxar assunto, sendo incapaz de olhar para outro lugar que não fosse os olhos dele. - És da região?
- Não. Nasci em Edimburgo, mas há alguns anos minha família se mudou para Aberdeen, estou na capital estudando, isto justifica minha ausência.
- Ah... é claro, estudando. - Louise sorriu sem jeito, isto significava que ele não estava disponível no momento. - O que estudas?
- Direito, mas espero que isto não seja um empecilho para que eu reserve mais uma dança com a senhorita. Não somente neste baile mas em todos os que eu comparecer nos próximos meses.
- Então irás ao baile de minha família na próxima semana?
- Se for para vê-la novamente, com certeza eu irei. - Ele a rodou uma vez, e trocaram de par por um instante conforme a dança pedia, mas logo Louise estava de volta. - Permita-me dizer, senhorita Blackwood, que estou estonteado com sua beleza.
- O senhor não é o único encantado por aqui - Louise respondeu, no mesmo tom convicto e galante. Sua mãe, que observava satisfeita de longe, jamais permitiria que sua filha falasse desta maneira com um homem, mas William gostava da postura dela.
- Gosto de mulheres com opinião como você.
- Não sou uma mulher qualquer. - Louise girou novamente e trocou de par, se encontrando com Jesse. - Quem eu queria ver! Está gostando da dança? Diana pisou em seu pé?
- Diana é uma ótima dançarina, para sua informação. A senhorita, pelo visto, está muito bem entretida.
- Não sei quem é este homem, Jesse, mas tem algo de diferente e eu quero muito descobrir - ela disse por fim, voltando para William. Diana voltou para ele.
- Aquele rapaz com quem Louise está dançando é um ótimo dançarino, devo admitir, quase perdi o ritmo. - Diana riu, e Jesse concordou.
- Não tenho dúvidas disto, faço as joias da família Arkley desde que chegaram na cidade, Lorde William é um rapaz extraordinário, eu até diria que... que ele é perfeito para a Louise. - E então Jesse entendeu tudo. William e Louise não estavam nas vidas passadas, mas claramente seriam afetados pela maldição devido à ligação com seus irmãos e o repentino interesse um no outro. Ele perdeu o ritmo por um instante, pisando no pé de Diana. - Mil desculpas, Diana! Eu... eu...
- Está tudo bem, não precisa se desculpar. Posso lhe pedir um favor? - Trocaram de pares novamente, para a frustração de Jesse, que mal conseguia se manter no ritmo, e, que para seu azar, seu par agora era Anne McFarlane, tão esnobe quanto sua mãe.
- Tenha cuidado, sou filha da anfitriã, joalheiro! - ela ralhou, irritada.
- Então dance com a sua mãe, senhorita, não comigo. - Se separaram, e Jesse voltou para a Diana. - Céus, esta Anne jamais arrumará um marido decente sendo tão esnobe.
- Minha mãe está disposta a derrotar a mãe dela, e é por isso que eu preciso do seu favor. - Diana riu da irritação dele.
- Qualquer coisa que me pedir, Diana.
- Reserve mais uma dança comigo e duas com Louise, por gentileza.
- Sabes que isto não é visto com bons olhos, não sabes?
- Sei e não me importo, apenas queremos preencher o cartão, não precisa necessariamente dançar, apenas escreva seu nome no cartão.
- Tudo bem, mas seria um problema para você dançar comigo duas vezes? Sou tão ruim assim?
- É claro que não, Jess, dançaria a noite inteira com você, se fosse possível.

Jesse sentiu as pernas tremerem, era o que ele mais queria. Não pretendia dançar com nenhuma outra mulher a não ser Diana, e faria o favor para Louise com muito bom grado, mas ele poderia virar a noite dançando com Diana, trazendo-a para perto. Diana exalava um cheiro agradável de água de rosas que fazia Jesse se sentir tonto. Ele queria, mais do que nunca, confessar seus sentimentos por ela de uma vez por todas, mas já havia avistado Thomas Arkley no mezanino, olhando para ela. O destino já estava traçado e ele não tentaria impedir como em Montpellier, já tinha aceitado que Diana jamais seria sua.
- Por favor, seja discreta, preciso lhe contar uma coisa que reparei - Jesse disse após Diana voltar para ele novamente.
- Devo me preocupar?
- Muito pelo contrário. No mezanino está o irmão de William, o nome dele é Thomas Arkley, os dois são filhos do Marquês de Broxburn, e também o Conde de Livingstone. Ele está atrás de mim junto com uma menina de vestido azul, aquela é a irmã dele, Lady . Ele está olhando para cá, irá pedir uma dança.
- Jess...
- Apenas aceite, não irá se arrepender.
- Mas...
- Não se preocupe, estarei observando, mas não tem com o que se preocupar. Lorde Livingstone acabou de voltar para a cidade, estava estudando junto com o seu irmão. Dance com ele, de todos os homens aqui, ele é o melhor.
- Melhor do que você?
- Melhor do que eu. - Jesse sorriu para esconder a repentina tristeza que lhe preencheu. - Não confias em mim?
- É claro que confio. Está bem, dançarei com este rapaz uma vez, mas ainda não o localizei, e... achei.

Mesmo na troca de pares, Diana mal prestou atenção com quem estava dançando, havia avistado Thomas no mezanino e seus olhos se encontraram com os dele. Ela perdeu o ritmo, mas foi resgatada por Jesse, que não disse uma palavra; permitiu que ela olhasse para ele por todo o tempo que precisasse, sabia que Diana estava tendo não apenas um Déjà-vu de vidas passadas, mas também um encontro de almas.

Uma alma que não era dele.

- O que achou dele?
- Eu o conheci - Diana disse de maneira inconsciente. - Foi em... hum... eu não consigo me lembrar, mas já o conheci, tenho certeza.
- Isto é impossível, minha querida, Lorde Livingstone acabou de voltar para a cidade. Ele pode ser familiar, mas você não o conhece. Não se preocupe, ele é um ótimo rapaz, com certeza sua mãe o apresentaria para ele de qualquer forma. É instruído, inteligente e de uma boa família. A mãe dele é uma mulher adorável, assim como a irmã que ainda não debutou.
- Jess, eu... - Diana estava sem fôlego, fosse pela sensação que o déjà-vu lhe causou ou pela dança difícil. Quando a música acabou, ela se afastou e o reverenciou. - Obrigada pela dança, eu gostei muito de dançar com você.
- Não hesite em me chamar, caso precise de ajuda. - Jesse segurou o cartão dela e o preencheu duas vezes, lhe garantindo a quinta dança. - Quer que eu peça a Lorde Livingstone que lhe convide para dançar?
- Sim, por favor.

Jesse se afastou e foi em direção às escadas, enquanto Diana observava o salão ao redor, procurando sua mãe ou Louise para não ficar sozinha, mas Louise estava esperando que William assinasse seu cartão de dança.

- Dançarei com a senhorita novamente na última música, e não estou pedindo sua permissão para isto - ele disse baixo, enquanto escrevia seu nome na décima linha.
- Esplêndido, eu o obrigaria a dançar novamente, caso o senhor não quisesse. - Louise abriu o seu leque, o abanando de maneira sugestiva. William baixou o olhar, sabia todos os movimentos do leque e aquele era um convite para mais, um claro sinal de interesse. - Até a próxima dança, Lorde William, eu preciso descansar um pouco.

Louise se afastou sem tirar os olhos de William, que a observava, mas ela acabou esbarrando com alguém. Assustada, porém aliviada, viu que era sua irmã, que parecia igualmente cansada.

- Venha, preciso lhe contar uma coisa. - Louise a puxou para fora da pista antes que outro homem (Thomas), se aproximasse para pedir uma dança à Diana. Levou a irmã para duas cadeiras livres. - Diana, eu... eu...
- Se acalme, respire fundo. - Diana segurou as mãos da irmã, e juntas praticaram um exercício de respiração para que Louise se acalmasse, ela parecia agitada. - Por que estás assim, irmã?
- Eu conheci o homem mais... mais... mais perfeito do mundo inteiro! Ele se chama William Arkley. Lorde William Arkley e... ah, Diana! Foi incrível! Ele quer dançar comigo novamente na última dança e eu aceitei. Ele foi tão gentil, mas ao mesmo tempo tinha um olhar tão... ardente, se esta for a palavra que posso descrever sem que me julgue.
- Jamais, entendo a sua euforia.
- Ele é tão bonito, Diana, tão forte!... seu único defeito é que está na cidade apenas visitando a família, ele estuda na capital, mas mesmo assim não pude evitar em me sentir tão eufórica... não quero dançar com mais ninguém.
- Bem, Jesse garantiu que irá dançar com você duas vezes para que possamos ir embora logo, espero que não seja um problema para você.
- De forma alguma! - Ela olhou ao redor, procurando por ele, e o viu acompanhando uma moça loira de vestido azul. - Quem é ela?
- É a irmã dele, não se preocupe... - Diana deu de ombros.
- Como você sabe?
- Ahn... bom... eu... enquanto dançava com Jesse, ele me disse que Lorde William tem um irmão chamado Thomas e que ele estava olhando para mim do mezanino, usou ela como referência, por isso sei.
- E por que você ainda não está dançando com ele? Se ele tiver o mesmo olhar que o irmão dele tem... céus, eu preciso me recompor! - Louise começou a se abanar com o leque para se refrescar.
- Ele está vindo para cá. - Diana tentou disfarçar a sua surpresa ao vê-lo, mas talvez fosse tarde demais.
- Com licença, senhoritas, eu gostaria de pedir a honra de uma dança. - Ele as reverenciou educadamente. - Thomas Arkley, a teu dispor.
- Sou Louise Blackwood, e esta é minha irmã, Diana. Ela adoraria dançar com o senhor.
- Podemos? - Thomas lhe ofereceu o braço, e, por mais que Diana quisesse muito, estava exausta.
- Lorde Livingstone, eu agradeço muito o seu convite, estou honrada! Mas eu gostaria de descansar alguns minutos até minha próxima dança, se não se importar.
- Compreendo, peço desculpas pela minha inconveniência, senhorita, eu não sabia.
- Não é um problema. Por favor, assine o meu cartão, eu lhe prometo a próxima dança. - Diana lhe estendeu o braço, onde o cartão estava pendurado em seu pulso.
- A senhorita está me devendo duas danças. - Thomas riu enquanto assinava. Louise arqueou as sobrancelhas, talvez ele e William fossem parecidos. - A última dança, se importa?
- De forma alguma, dançarei com o senhor duas vezes. - Diana sorriu, e viu ele preenchendo a segunda e a décima linha. Aliviada com quatro danças, Diana achava que aquela noite não poderia ser tão ruim assim.
- A propósito, se não for um problema, meu irmão, Lorde William, também gostaria de uma dança. Ele não veio pedir pessoalmente porque precisa acompanhar nossa irmã caçula e me perguntou se eu poderia assinar seu cartão por ele.
- Ela aceita! - Louise disse imediatamente, antes mesmo de Diana reagir. - Por favor, coloque o nome dele.
- Pronto, mal posso esperar, mas leve o tempo que precisar para recuperar o fôlego. - Thomas se afastou e olhou para Louise. - Senhorita Louise, eu poderia...
- Sim, o senhor pode. - Louise estendeu o braço para ele assinar o seu cartão. Tinha cinco danças programadas, iria atrás das outras cinco para finalmente dançar com William de novo.
- Obrigado. Com licença, senhoritas, foi um prazer conhecê-las.

Thomas se afastou das meninas, que começaram a conversar entre si, e voltou para junto de seus irmãos. William estava negando o convite de para dançar, enquanto ela pedia insistentemente.

- Thomas, graças a Deus! - disse aliviado. - Não vai dançar com a moça?
- Vou dançar na próxima, ela pediu para descansar. Também dançarei com a senhorita Louise e você com ela, assinei seus cartões com nossos nomes.
- Por que fez isto?
- Porque reconheço de longe uma moça em situação desconfortável. Se uma debutante não estiver histérica como está, então quer dizer que ela está desconfortável. Além disto, a senhorita Louise praticamente implorou para que você dançasse com a irmã dela e aceitou meu convite.
- Elas querem preencher o cartão rapidamente. - William finalmente pareceu compreender, mas não entendia como Louise poderia estar desconfortável enquanto abanava o leque na frente dele.
- Exato, além disto, eu poderei saber um pouco mais de Louise para você, assim como você saberá um pouco mais de Diana para mim. Coloquei nossos nomes de forma que não fique sozinha, conte três danças até sua vez de convidar Diana.
- Não sei o que seria de mim sem você, irmão.
- Estão ouvindo isto? - perguntou misteriosamente, levando uma mão ao ouvido. Thomas e William procuravam, mas os únicos sons no ambiente eram pessoas conversando e músicos tocando. - São os sinos da igreja, tem dois casamentos a caminho.
- Eu seria capaz de me casar com aquela moça imediatamente - William confessou, não se contendo, e deixando surpresa. - Seria capaz de fazer qualquer coisa para que eu possa... - O olhar furtivo de Thomas o fez perceber que ele estava perto de dizer algo impróprio, então William se virou para a mais nova. - Quero que seja amiga dela.
- O quê?
- Se aproxime dela, faça amizade... , eu preciso saber mais sobre esta mulher. - Ele a segurou pelos ombros, suplicando. - Não se esqueça de que eu faria o mesmo por você.
- Tudo bem, Will, tentarei me aproximar de Louise e Diana por vocês, só tenho uma condição.
- Certo, vamos dançar. - Thomas lhe estendeu o braço, e, satisfeita, aceitou, sendo guiada pelo irmão para a pista de dança.

...

Thomas estava cansado e com calor após a dança com , mas mal teve tempo de descansar, pois, ao terminar, esticou o pescoço para procurar por Diana. Encontrou ela em um canto, conversando com sua irmã e com uma mulher que ele julgou ser a mãe delas, pois eram parecidas. Um pouco tenso, se aproximou delas.

- Com licença novamente, senhoritas, espero não estar sendo impertinente. Lady Blackwood - Ele reverenciou a mulher mais velha, que o reconheceu como um Arkley. - Conforme prometi, estou aqui para convidar a senhorita Diana para uma dança.
- Diana, vá - a mulher praticamente obrigou. Contendo a vontade de rir, Diana aceitou o braço oferecido pelo rapaz.
- Obrigada, mil vezes obrigada, Lorde Livingstone! Minha mãe queria me apresentar a outro senhor, mas eu não podia aceitar, não quando lhe deixei assinar meu cartão.
- Uma donzela em apuros? Meus contos preferidos! - Thomas riu enquanto começavam a dançar. Diana olhou para ele com curiosidade.
- O senhor se interessa por contos de fadas?
- Apenas aprecio boas histórias, senhorita Blackwood, posso me considerar um amante da literatura.
- Eu também! Amo literatura! - Diana disse empolgada, mas então se lembrou das instruções rigorosas de sua mãe. - Quero dizer, eu... eu costumo ler às vezes, mas...
- Está tudo bem, você não precisa fingir ser alguém que não é. Vou ouvir tudo o que você tem a dizer. - Ele sorriu gentilmente, fazendo Diana suspirar. - A propósito, já nos conhecemos? A senhorita me parece familiar.
- Tive a mesma sensação, mas acredito que não, eu não costumo ir à muitos eventos, minha mãe não permite.
- Compreendo. Estive em Edimburgo nos últimos quatro anos estudando, minha família mora aqui em Aberdeen há apenas cinco anos, então não tive tempo de conhecer muito da cidade até os dias atuais.
- É uma cidade realmente encantadora, mas me diga: o que estudou enquanto esteve na capital?
- Contabilidade. Meu irmão e eu estamos nos preparando para quando assumirmos a posição de meu pai em nossa família. Ele está cursando direito atualmente. Quero dizer, eu assumirei, sou o próximo na linha de sucessão, mas não vejo problema em dividir alguns afazeres com o meu irmão.
- Acredite, compreendo totalmente. - Ela sorriu, compreensiva. - Meus dois irmãos mais velhos são viscondes, conseguiram uma exceção no parlamento para dividirem o título de meu falecido pai. Atualmente, eles estudam em Cambridge. As universidades parecem mesmo serem lugares fascinantes! Uma pena que eu, como mulher, jamais terei a oportunidade.
- Eu não diria jamais, vejo que um movimento de mulheres querendo o direito de frequentar universidades está ganhando força na Inglaterra, acredito que seja uma questão de tempo até que se torne realidade.
- O senhor é a favor das mulheres frequentarem a universidade?
- É claro, não vejo motivos para que não possam estudar também.

Diana sorriu entre um tempo e outro da dança, pois jamais tinha ouvido de um homem além de Jesse aquelas palavras. Além da sensação familiar que Thomas lhe causava, ele era educado, gentil e aparentemente não enxergava as mulheres como um objeto de troca. Ele era o que Diana considerava aceitável caso se casasse algum dia com alguém.

Ela própria afastou este pensamento quando percebeu que estava exagerando. Era apenas uma dança, não conhecia aquele homem, e se ele estivesse apenas dizendo aquelas coisas para agradá-la?

- A propósito, não estou dizendo isto apenas para te agradar. Se eu fosse tão conservador assim, acho que não teria a capacidade de tocar em um assunto liberal de maneira espontânea - ele disse, como se pudesse ler os pensamentos dela.
- Fico aliviada por saber disto, Lorde Livingstone. Pode parecer uma coisa pífia, mas é de extrema importância para mim.
- Não é uma coisa pífia.
Em um canto do salão, conversando com alguns homens, Jesse observava Diana dançando com Thomas. Ele disse algo que a deixou sem palavras, e ela sorriu sem jeito; de uma forma que ele conhecia muito bem. Jesse suspirou derrotado, ele não tinha a menor chance, mas pelo menos ela parecia feliz. Este Thomas continuava o mesmo de sempre: um grandíssimo cavalheiro. Diana jamais iria ser infeliz com Thomas, e isso confortava Jesse de certa forma.


Capítulo 2

Louise já havia trocado seu traje de festa por suas vestes de dormir. Estava radiante quando girou algumas vezes, como se ainda estivesse dançando, e em seguida caiu na cama, sorrindo como uma menina boba.

Ela sempre temeu o dia em que seria apresentada à sociedade, mas diferente do que imaginou a vida toda, não foi tão ruim quanto esperava. É verdade que teve que dançar até completar seu cartão, mas valeu a pena quando dançou novamente com Lorde William. Ainda podia sentir seu corpo balançando de um lado para outro e como ficou sem fôlego quando, em um movimento rápido, ficou de costas para ele, o queixo dele próximo ao seu ombro. Podia sentir a respiração pesada de William. Será que ele também se sentia daquela forma? Ela esperava que sim.

- Lorde William, preciso confessar que esperei a noite inteira para voltar a este momento. Odiei dançar com outros cavaleiros. Claro que não me refiro ao seu irmão ou ao meu amigo, Jesse Birdwhistle, mas todos os outros... - Ela girou e parou próxima dele. - São uma lástima.
- Por favor, me chame de Will - ele pediu em voz baixa. - Admito que também esperei por isso, não dancei com outras mulheres além de sua irmã, que devo dizer, agradou muito ao meu irmão, ele parece satisfeito com ela.
- Seu irmão está buscando uma esposa?
- Está. Não abertamente, é claro, ou as mães fariam fila em sua frente, mas acredito que sua irmã seja uma candidata em potencial.
- Diana é uma mulher extraordinária e merece um marido à altura. - Então ela está em seu dia de sorte. Mas e a senhorita? Está aqui apenas para agradar sua mãe, estou certo?
- Este baile não está sendo tão ruim quanto previ, milorde, ao menos não este momento. As pessoas estão nos olhando e eu estou gostando disto.
- Sabes que não estão olhando com bons olhos, não sabe?
- Sei e não me importo.
- Uma mulher de opinião.
- Já lhe disse que não sou qualquer mulher, Lorde William.
- Will. Deixe as formalidades de lado, eu não me importo com isto.
- Então com o que se importa?
- Em saber quando irei vê-la novamente.
- Em minha casa, na semana que vem, quando minha família organizará um baile de verdade. Imagino que Lady Broxburn tenha recebido o convite.
- De fato que sim. Eu não pretendia frequentar todos os bailes, mas se for para te ver, então irei. Suponho que a senhorita também irá ao baile de minha família ao final da temporada.
- Eu lhe garanto que sim - Louise girou novamente e voltou de costas para ele.

O breve contato corpo a corpo com ele lhe tirou o fôlego, o queixo de William próximo ao seu ombro lhe causavam uma sensação diferente de euforia, podia sentir a respiração dele batendo contra o seu ombro. Louise fechou os olhos, girou novamente e parou de frente para ele.

- Particularmente, este é o meu passo de dança favorito, sabia? Trazer a parceira para perto por um instante e apreciar o momento, como deveria ser.
- É de extrema importância que eu saiba que não sou uma exclusividade e que você, Will, diz palavras bonitas para qualquer mulher.
- Discordo, pois como a senhorita mesma disse, a senhorita não é qualquer mulher.
- Me chame de Lou.
- Lou... pode não parecer, mas não sou o tipo de homem libertino que estás pensando que sou, apenas falo o que penso.
- Então és conservador?
- Se for o caminho para que nossas conversas ultrapassem danças em um salão populoso, então sim, eu sou.
- Está sugerindo que quer me cortejar?
- Estou. Imagino que ainda seja muito cedo para que eu lhe faça uma visita, mas garanto que no próximo baile, quarta-feira, estarei em sua casa no horário marcado.
- Estarei aguardando... Will.

E de fato, Louise aguardaria. Contaria os próximos 7 dias como se fossem 7 anos, de tamanha ansiedade que estava para ver aquele rapaz novamente. William era diferente da visão que Louise tinha sobre a maioria dos homens, ele tinha algo de diferente que deixava-a louca, estonteada, sedenta por mais. Ela respirou fundo e se sentou na cama, precisava se controlar, pois sabia que, logo no dia seguinte, receberia visitas indesejadas em sua casa, mas o que lhe confortava era saber que sua rigorosa mãe parecia tão interessada em Lorde William Arkley quanto ela.

Louise foi afastada de seu devaneio quando Diana bateu sutilmente na porta, pedindo para entrar. Louise lhe deu permissão, e a garota entrou sem fazer barulho, pois já deveria estar dormindo, mas simplesmente não conseguia. Ainda estava agitada por conta da noite.

- Se lembra de quando éramos crianças, dividíamos a cama para dormir e contávamos histórias umas para as outras? - Diana perguntou, se sentando ao lado dela. - Penso que hoje é dia de histórias, principalmente suas. Me diga, o que achou de Lorde William?
- Diana, eu estou sem palavras! Will é diferente de tudo o que eu achava sobre os homens! É educado, mas não entediante. Não é um libertino de moral duvidosa e sua beleza... ele é tão bonito! Certamente nunca vi um homem tão bonito assim, eu poderia passar a noite inteira olhando para ele, Diana!
- Ahn... Will? - Diana arqueou as sobrancelhas com desconfiança.
- Ele pediu para que eu o chamasse assim... ouviu apenas isto?
- Não, é claro que não, estou feliz que tenhas gostado tanto de alguém.
- Ele disse que gostaria de me cortejar, mas que ainda é cedo. Por isso, virá ao nosso baile e dançaremos novamente. Diana, sei que estou me precipitando, mas não consigo evitar! Nunca sonhei com homem nenhum, mas Will... ele... ele...
- Tudo bem, eu entendo, e tens todo o meu apoio - Diana sorriu compreensiva.
- Obrigada, irmã. Agora me conte sobre você, o irmão de Lorde William parecia muito interessado em te ver novamente.
- Admito que Lorde Livingstone é um perfeito cavalheiro, é muito gentil e bonito. - Ela sorriu envergonhada, e Louise deu uma risadinha. - Mas... ainda é cedo para dizer alguma coisa, ele foi discreto ao dizer que gostaria de me ver mais vezes, talvez ele não seja tão espontâneo quanto Lorde William, mas acredito que nós os veremos novamente. - Para quem temia este dia, você se saiu muito bem.
- Acho que sim, não foi tão ruim assim... - Diana se levantou. - Bem, estou muito cansada, meus pés doem e eu gostaria de dormir agora.
- Eu também, vamos dormir e nos prepararmos para dispensar todos os homens do mundo, pois aparentemente não podem competir com os irmãos Arkley.

Diana concordou com a cabeça enquanto ajudava a preparar a cama. Elas se deitaram em lados opostos, mas Diana estava pensativa. Lorde Livingstone era realmente o sonho de qualquer jovem de sua cidade, mas tinha um problema:

Ele não era Jesse.
...

Thomas acordou no dia seguinte com o corpo dolorido e exausto, como se quase não tivesse dormido. Era de se esperar que estivesse cansado, afinal, não era acostumado a frequentar bailes e muito menos a dançar, mas ao menos podia dizer que foi uma noite agradável.

Inevitavelmente se lembrou de Diana, e das duas danças que compartilhou com ela. Era nítido que ela havia ensaiado aqueles passos, hora ou outra perdia o ritmo, mas ele não se importou com aquilo, achou a garota fascinante, além de muito bonita, mais do que qualquer outra ali. Ela era inteligente, sensível, amigável e com um senso de justiça aguda. Ele pensou que poderia passar horas conversando com ela que não iria se cansar.

E foi com esse pensamento que ele se levantou, se vestiu e deixou seu quarto para se juntar à família no café da manhã. Aparentemente, não era o último a chegar, ainda faltava William.

- Bom dia, mãe. Bom dia, . - Cumprimentou as mulheres e se sentou no lugar ao lado da matriarca.
- Bom dia, querido.
- Se sente melhor, mãe?
- Sim, estou muito melhor, obrigada. Como foi o baile? disse que dançaste duas vezes com uma Blackwood.
- Sim, de fato, eu dancei. A senhorita Diana Blackwood é encantadora, devo admitir.
- Temos uma candidata?
- Possivelmente, mas ainda é cedo para afirmar qualquer coisa. Irei ao próximo baile na casa da família dela e assim sucessivamente até que eu me sinta pronto para visitá-la, ou perceba que ela queira o mesmo.
- Ela quer, não tenho dúvidas! - se virou para a mais velha. - Mamãe, prometi aos meninos que me aproximaria da família Blackwood, para que eu possa ser amiga das senhoritas Diana e Louise. Já ouvi dizer que elas costumam passear pelo parque às quintas, podemos ir hoje?
- Ainda pergunta? - Deborah limpou a boca com um guardanapo. - Depois do café, vá se arrumar, vamos ao parque.

Thomas riu enquanto William entrava na sala de jantar. Estava com cara de sono, como se não tivesse dormido à noite. Diferente de Thomas, ele havia se divertido com algumas bebidas além da dança. Estava com dor de cabeça, para piorar a sua situação.

- Bom dia. Por favor, não gritem, agradeço a compreensão - ele disse baixo ao se sentar.
- Will, mamãe e eu vamos ao parque nos encontrarmos com as Blackwood.
- Mande saudações à senhorita Louise por mim, por favor, aquela mulher é... - William esfregou os olhos e bocejou, percebeu que sua mãe olhava desconfiada para ele. - Bela e encantadora.
- Querido... - Deborah pareceu momentaneamente preocupada. - Entendo sua afeição pela senhorita Louise, mas você voltará para Edimburgo no fim da temporada, ainda é muito jovem e ela pode criar alguma expectativa de que você faça um pedido esta temporada, e...
- Não vou pedir, mamãe, não nesta temporada. Se a senhorita Louise estiver solteira na próxima temporada, pedirei com toda a certeza.
- Dificilmente isto acontecerá, Will, pois ela com certeza será um dos destaques da temporada junto com a irmã. Se tiver sorte, pode ser que aconteça.
- Ela será uma Arkley, mãe, não tenha dúvidas disto.
- Will está apaixonado! - cantarolou, fazendo o mais velho grunhir de dor.
- Não podes se apaixonar por alguém que acabou de conhecer. O que Will está sentindo não é amor - Thomas disse, como se fosse óbvio para ele.
- Então o que é? - a mais nova perguntou inocentemente. Com as melhores palavras, Thomas tentou explicar.
- Uma imensa vontade física de estar perto dela. - Ele olhou para sua mãe, que concordou discretamente. Deborah, apesar de não ser rigorosa, prezava pela honra de sua filha, algo que não conseguiu fazer com seus filhos.
- Chamem do que bem quiserem, não me importo. Tudo o que sei é que pretendo ir ao baile dos Blackwood na próxima semana e não irei sozinho. - William olhou para Thomas, que concordou. Ele não perderia a oportunidade de ver Diana novamente.

...

Pela manhã, Diana e Louise receberam visitas de pretendentes, como o esperado. Rapazes com títulos de nobreza ou muitas posses lhes traziam as flores mais caras e bonitas, eram educados e respeitosos, mas não era o suficiente para prender a atenção das irmãs. Em conversas breves, elas os dispensavam, o que deixou sua mãe frustrada, pois ela podia ver negócios lucrativos, que ou elas não viam ou não estavam interessadas.

O passeio ocasional no parque deixou de ser um passeio para se tornar um aconselhamento da matriarca, que tentava explicar para suas filhas que nem tudo era sobre amor. As irmãs, que já ouviram tudo aquilo dezenas de vezes antes, aprenderam que a melhor forma de lidar era ouvir e concordar, pois Margareth não era uma pessoa que costumava dar o braço a torcer facilmente.

Caminhavam distraidamente, sem perceber que, na direção contrária, e sua mãe Deborah caminhavam estrategicamente ao encontro delas.

- Ainda me pergunto como Lady Blackwood pôde se casar tão bem... Ela é tão... quero dizer, ela é dedicada aos filhos e foi muito devotada ao seu marido, o falecido visconde Blackwood, mas... - Deborah procurava as melhores palavras. - Ela é tão entediante! Não sei se serei capaz de sustentar cinco minutos de conversa.
- Lembre-se que isto é por Thomas e William, mamãe - cochichou, e a mais velha concordou, pois estavam próximas delas.
- Lady Blackwood, olá! - Deborah abriu um sorriso ao pararem uma de frente para a outra. - Não esperávamos encontrá-las por aqui.
- Lady Broxburn, Lady - Margareth as cumprimentou educadamente. - Costumamos visitar o parque às quintas-feiras. Lady Broxburn, não a vimos no baile de ontem, a senhora está bem?
- Estive indisposta ontem, milady, mas estou melhor agora, obrigada. Ao invés de mim, meus filhos foram em meu lugar, e ouvi dizer que dançaram com as debutantes mais bonitas, estou certa? - Olhou para as meninas, que sorriram timidamente, sem mostrar os dentes.

E enquanto Deborah começou a falar desenfreadamente sobre seus dois filhos, a fim de impressionar Margareth, se aproximou das gêmeas discretamente.

- Ela pode falar sobre eles o dia todo - ela cochichou novamente, chamando a atenção delas, mas depois ergueu o tom de voz. - Mamãe, posso continuar a caminhada?
- Não vá sozinha. - Deborah mal olhou para ela, voltou para o assunto rapidamente.
- Tudo bem, nós te acompanhamos. - Louise rapidamente a puxou pelo braço, entrelaçando o seu ao dela. Puxou Diana antes que ela ficasse para trás. - Então és a irmã de Will? Quero dizer, Lorde William?
- Sim, eu sou - riu, pois percebeu que ela claramente estava interessada. - Não tem problema chamá-lo de Will perto de mim, imagino que ele tenha pedido para chamá-lo assim. A propósito, sou Lady Arkley, mas podem me chamar apenas pelo nome, se quiserem.
- Ótimo. , ele lhe disse alguma coisa sobre mim? Qualquer coisa, por favor, eu gostaria muito de saber.
- Louise, não seja tão invasiva - Diana aconselhou, mas recebeu um olhar furtivo da irmã.
- Não haja como se não estivesse muito interessada em saber sobre Lorde Livingstone.
- Louise!
- Está tudo bem. Thomas e William falaram de vocês, se é o que desejam saber. - riu ao ver que imediatamente elas pararam de discutir. - Will parece até que está apaixonado, lhe fez vários elogios. Tom é modesto, mas eu o conheço, ele adorou dançar com você, e... bem, não sei quais são suas pretenções, mas ele acredita que você possa ser uma pretendente em potencial.

Enquanto Louise enchia de perguntas animadamente, Diana ficou em silêncio, pois ela não esperava ouvir aquilo.

Lorde Livingstone tinha muitas qualidades que lhe agradaram, e isso era verdade, mas como poderia cogitar a possibilidade de se casar com um homem que mal conhecia enquanto seu coração batia forte por outro? Diana queria desesperadamente que fosse Jesse, mas sabia que aquilo jamais seria possível, pois ele claramente não sentia nada além de amizade e companheirismo por ela. Diana sabia que jamais passaria daquilo, pois Jesse era um homem mais velho, já havia se casado antes e garantiu que não o pretendia fazer de novo. Ela queria dizer o que sentia, mas não queria ser rejeitada, preferia tê-lo como amigo do que não ter nada.

- , por favor, eu lhe imploro para que tenha certeza de que seu irmão irá ao baile em minha casa!
- Ele vai, não se preocupe, todos nós vamos e, se conheço meu irmão, ele dançará com você em todas as vezes que tiver a oportunidade. Nunca vi Will tão interessado em alguém desta forma, e... ah, meu Deus. - arregalou os olhos quando viu, perto dali, seus irmãos próximos ao lago caminhando. Sua inocência não era aplicada aos seus irmãos, sabia que eles estavam ali por interesse. - Bem, vejam vocês mesmas.

Diana e Louise avistaram Thomas e William juntos. Enquanto Louise parecia preocupada em estar apresentável, Diana inconscientemente deu um passo para trás, quase se escondendo atrás de sua irmã, de certa forma não queria que Thomas a visse.

- Com licença, eu já volto. - soltou o braço de Louise e caminhou em passos rápidos até os rapazes. Viu William pegar uma pedrinha no chão e atirar no lago ao perceber que ela os tinha visto. - Por que tenho a impressão de que isto não é uma coincidência?
- Porque não é - Thomas respondeu com naturalidade, olhando por cima dos ombros da irmã mais nova para avistar as gêmeas ao fundo.
- E então? Como está sendo o passeio com a sua futura cunhada Louise? - William perguntou, olhando diretamente na direção das irmãs, especificamente a de seu interesse. - Ela perguntou sobre mim?
- É claro que perguntou, Will, mas vocês não deveriam estar aqui agora. Mamãe está conversando com a mãe delas e eu estou tentando fazer amizade com elas por vocês. Podem, por gentileza, não nos atrapalhar?
- Tens razão, não vamos nos prolongar. Vamos embora, Will, precisamos preparar o seu casamento! - Thomas disse com ironia, eles realmente deram as costas para irem embora, mas não sem antes passarem pelas garotas, que aguardavam. Fizeram um aceno de cabeça discreto para elas, mas não pararam de caminhar enquanto corria atrás.
- Eu sabia que eles fariam isso, eu sabia! - ela disse esbaforida. - Me desculpem.
- Pelo que exatamente? Eles foram educados, está tudo bem - Diana disse compreensiva, mas o olhar de Thomas para ela a deixou envergonhada de um jeito bom. - Veja a Louise, ela também gostou.
- Ele é tãããão bonito! - Louise deitou a cabeça no ombro da irmã, sonhando acordada. - Como serei capaz de esperar até a próxima quarta-feira?

riu, mas estava gostando da situação. O interesse excessivo de Louise em William fazia ela questionar a si mesma se um dia alguém despertaria esta euforia nela, ao ponto de contar os dias para vê-lo novamente.

...

Na quarta-feira seguinte, toda a família Arkley iria ao baile na casa dos Blackwood, conforme o previsto. Seguindo o código de vestimenta, já estava pronta em seu vestido rosa, bem claro e com luvas da mesma cor, além de fitas e flores enfeitando o cabelo. Aguardava o restante da família, lendo um livro na sala. Até poderia imaginar o motivo de William e Thomas estarem demorando tanto. Até trajes novos eles haviam comprado naquela semana, além de terem cortado os cabelos e aparado totalmente qualquer barba que estivesse nascendo. Ela pensava que nem mesmo ela, que era mulher, se preocupava tanto com a aparência quanto eles.

- Já está pronta, querida? - Deborah perguntou, surpresa ao entrar na sala com seu marido e encontrar sua filha lendo.
- Bem, estou no horário, acredito que Tom e Will é que estejam atrasados - ela riu enquanto fechava o livro.
- Thomas e William falaram sobre estas damas a semana inteira, espero que não espantem as pobres moças - Wilhelm, o marquês de Broxburn, disse com bom-humor.
- Já conseguiram me espantar - Deborah respondeu, e os dois riram juntos.

sorriu ao vê-los felizes. Sabia que durante anos, o casamento deles não foi bom, especialmente porque seu pai cometia muitos erros, embora sempre tivesse sido um bom pai para ela e seus irmãos. Aos poucos, o relacionamento entre eles começava a melhorar, e se alegrava com isso, era como se estivessem fazendo o caminho inverso, mas pelo menos estava dando certo.

Logo em seguida, Thomas e William entraram na sala, e estavam radiantes; como se fossem carruagens recém-lavadas e sabiam disso, pois se exibiam para os outros ali.

- Isto é perfume? - sentiu o cheiro de fragrância no ar. - Vocês tomaram banho?
- Irmã, quando estiver sendo cortejada, entenderá. - William se certificou de que não havia qualquer amassado ou mancha em sua roupa.
- Eu disse para Will que era um grande exagero, mas admito que já fazia muito tempo que eu não me sentia tão bem sendo eu mesmo - Thomas disse, se colocando ao lado dos pais. - Isto é mais divertido do que eu pensei que seria.
- Divertidos serão os dotes que iremos receber, meus filhos. - Wilhelm deu palmadinhas no ombro do filho mais velho. - E então? Quando planeja visitar a senhorita Blackwood?
- Não posso ser apressado, meu pai, quero ter tempo de escolher a mulher certa. - Thomas tentou soar sincero, mas não o estava sendo de fato, nem lhe passava pela cabeça conhecer outras jovens, pois gostaria de conhecer Diana com calma.
- Respeitamos sua opinião, querido, mas sugiro que nos apressemos, pois estamos atrasados - Deborah disse, já caminhando em direção à porta.

...

O salão de baile dos Blackwood era ligeiramente maior do que os do McFarlane, por consequência poderiam convidar mais pessoas. Havia quem pudesse dizer que o salão dos McFarlane era menor, porque apenas as melhores famílias eram convidadas para o primeiro baile da temporada. Já os Blackwood, achavam apenas uma mera coincidência; não era uma competição para ver quem tinha o maior salão.

Louise caminhava sozinha pelo salão enquanto sua mãe recebia os convidados na entrada, e Diana ainda não estava pronta. Ela estava impaciente, olhava de um lado para o outro procurando um rosto conhecido, estava ansiosa para finalmente vê-lo novamente, mas conforme as pessoas iam chegando, Louise começou a se questionar se William cumpriria com sua promessa.

- Louise - Jesse, que havia acabado de chegar, a cumprimentou, fazendo uma reverência.
- Olá, Jess, é muito bom te ver, obrigada por ter vindo - Louise respondeu sem olhar para ele, estava olhando para a recepção.
- Sua agitação tem título, nome e sobrenome, estou certo? - ele percebeu, e olhou para a mesma direção.
- E se ele não vier? Ele me prometeu que viria! - respondeu angustiada, e em seguida suspirou.
- Gostastes dele realmente, eu entendo sua vontade de vê-lo - Jesse disse de maneira compreensiva.
- De fato, gostei muito dele... sabes quando alguém tem algo diferente? Eu não sei como lhe explicar isto, mas Will... ele...
- É diferente de todos os homens que já viste antes e sentes um desejo físico crescente dentro de si... eu entendo.
- E se ele não pensar da mesma forma que eu?
- Ele sente, Lou... bom, esta casa é toda sua e eu imagino que você conheça todos os cômodos, especialmente onde tenha mais privacidade... - Jesse disse de maneira sugestiva. Conhecia Louise o suficiente para saber que ela era muito esperta e não tão inocente assim.
- Leve-o ao quarto de hóspedes no terceiro andar e, se minha mãe perguntar por mim, diga que volto em um instante - ela disse por fim, virando as costas e indo em direção às escadas.

Jesse não conseguia entender porque Louise e William eram afetados pela maldição se não estavam presentes em Londres em 1666. Talvez tivessem participação direta no que viria pela frente, e por isso foram escolhidos, mas ele não entendia todas as regras, não entendia porque dois jovens que se apaixonaram à primeira vista tinham que pagar por algo que não tinham a menor culpa.

Jesse foi afastado de seus pensamentos quando avistou os Arkley passando pela entrada. Como sempre, parecia deslumbrada com a decoração, William e Thomas pareciam novinhos em folha e por fim o casal, Deborah e Wilhelm. Ele tomou a iniciativa e foi até os três irmãos, que caminhavam lado a lado.

- Boa noite - os reverenciou antes de falar. - Lorde William, poderia me acompanhar um instante, por favor? É sobre a senhorita Blackwood.
- De certo que sim. Aconteceu algo com ela? - William perguntou, já se afastando em passos rápidos. Não eram amigos, mas William sabia que Jesse era o joalheiro local. Por isso, não se surpreendeu que ele a conhecesse.
- Sim, está tudo bem, ela apenas estava receosa que o senhor não viesse.
- Eu não tenho um motivo grave para não estar aqui hoje, pelo contrário, todos os meus motivos estão aqui - disse enquanto subiam as escadas rapidamente. - Onde ela está?
- Suba o próximo lance de escadas e vire à direita, ela está na última porta do corredor, esperando-o. Não posso acompanhá-lo até lá, mas se fores sozinho, não chamarás atenção.
- Por que estás fazendo isto? Ajudando Louise?
- Louise e Diana são amigas próximas, elas são especiais. Jamais permitiria que qualquer uma das duas fosse infeliz. Se é o senhor que a faz feliz, então quero facilitar o caminho para ela. Vá, vocês não têm muito tempo.
- Hum... obrigado, senhor Birdwhistle.

William subiu o próximo lance de escadas e se deparou com um andar totalmente vazio. Virou à direita, conforme Jesse orientou, e seguiu até o final do corredor, mas se deparou com uma porta à esquerda e outra à direita, não fazia ideia de qual deveria abrir.

- Senhorita Blackwood? - chamou baixo, caso Louise não fosse a pessoa que procurava, mas não obteve retorno. Hesitante, bateu nas duas portas, e não levou um segundo para que Louise abrisse a porta da esquerda.
- Você veio! - Louise sorriu de orelha à orelha, o chamando para entrar antes que fossem vistos. Em seguida, ela trancou a porta.
- Eu lhe prometi que viria e admito que estou surpreso, eu não esperava poder ter algum tempo a sós com você, mas estou satisfeito com a sua agilidade em providenciar um plano. - Ele também sorriu, percebendo que ainda não tinha sorrido muito na presença dela.
- Eu... hum... eu... - Louise não sabia o que dizer, toda a sua coragem havia sumido. Não iriam dançar e estavam sozinhos, inevitavelmente ela se sentiu tímida. - Eu queria apenas poder vê-lo sem uma multidão de pessoas ao nosso redor.
- Isto não é apropriado... nós dois sozinhos sem ninguém por perto para nos vigiar pode lhe causar problemas.
- E por acaso te importas com isso? Pois eu não, é proposital.
- Não, não me importo. Só me importa poder conhecê-la para além de danças bobas. Eu... - William parecia hesitante. Por mais que Louise fosse uma mulher de atitude e personalidade forte, ele ainda assim não queria soar desrespeitoso e a desonrar. Talvez ela não estivesse esperando pelo que ele gostaria de fazer. - Eu tenho um pressentimento muito bom sobre nós, sei que nos conhecemos há pouquíssimos dias, mal conversamos desde então, mas não consegui parar de pensar na senhorita estes dias todos, e não apenas nas nossas danças, se é que me compreende, mas eu não posso fazer qualquer coisa que a desonre se eu não tiver a permissão apropriada para tocá-la.
- Esta é a coisa mais gentil que já ouvi. - Louise sorriu e deu um passo à frente. - Will, está tudo bem, ninguém está olhando e eu nunca me sentiria desonrada estando com você. Senti algo diferente quando o vi pela primeira vez, algo que eu mesma não sei explicar, apenas sei que é intenso. Eu fico sem fôlego, minhas pernas tremem e sinto uma necessidade incontrolável de...
- De...? - William se aproximou, queria que ela dissesse com as próprias palavras antes que ele tomasse qualquer atitude.
- De saber como é estar com o senhor fisicamente.
- Se me permitir, posso lhe mostrar. - Ele tocou o rosto dela, afastando a mecha de cabelo solta do penteado, e percebeu que Louise arfou.
- Eu não poderia esperar a possibilidade mínima de um casamento para saber como é.

Louise envolveu seus braços ao redor do pescoço dele quando William a trouxe para perto e, gentilmente, a beijou. A princípio, foi um beijo desajeitado, afinal, Louise jamais esteve com homem nenhum, mas William não se importou com isso.

- Deves me achar patética! - Louise interrompeu o beijo e afastou o rosto; estava envergonhada como nunca.
- Por que eu acharia? - Ele olhou para ela com curiosidade.
- Eu nunca fiz isto e... bem... eu... eu não sei como...
- Não se preocupe, você irá aprender. Não pense que eu sou muito mais experiente do que você, porque não sou.
- Então não se importas?
- Eu não me importo nem um pouco - William disse por fim, beijando-a novamente.

Na segunda vez pareceu mais fácil, Louise relaxou e permitiu-se sentir o momento, sendo muito melhor do que imaginou, e foi dela a iniciativa de intensificar. Manteve os olhos fechados quando ele beijou seu pescoço, e logo depois bateu as costas contra a porta, fazendo um barulho um pouco alto, mas não se importou e retomou o beijo até ficar sem fôlego. Só então William se afastou, ajeitando o paletó amassado nos ombros.

- Imagino que temos uma dança para dançar agora. Como serei capaz de fingir que nada aconteceu eu não sei, mas se importa de ir na frente?
- Não pense que não voltarei aqui ainda esta noite. - Louise sorriu, e, após alisar o vestido com as mãos e conferir sua imagem no espelho, deixou o cômodo para que pudesse chegar ao salão sozinha.

...

Thomas deu uma olhada ao redor do salão, procurando por Diana, mas não a encontrou em lugar nenhum. Pensou que talvez ela ainda não havia chegado ou que simplesmente não iria, e de certa forma isso o frustrou, mas não o suficiente para deixar sozinha, visto que William ainda não havia voltado.

- Por que ele está demorando tanto? Será que Louise está bem? - ela perguntou preocupada, e Thomas sorriu. - O que foi?
- Ainda és muito nova para entender, irmã. - Thomas lhe ofereceu o braço para caminharem.
- Entender o quê?
- Me acompanhe, quero um refresco antes de dançar.
- Tommy! - ela insistiu, mas o acompanhou até o cômodo ao lado. - Por que não quer me contar?
- Não é uma conversa apropriada para você. Entendo a sua curiosidade, mas há certas coisas que é melhor que não saiba ainda.
- Eles estão juntos em algum lugar, não é? Tudo bem, eu não sou tão avoada quanto vocês pensam, mas espero que Will saiba que isto pode comprometer a honra dela caso alguém saiba.
- Não seja boba, eles estão apenas conversando, Will não faria algo assim - Thomas desconversou e deu um gole em seu refresco. - Ele não a desonraria desta maneira.
- Tens razão, que estupidez a minha pensar isto - riu, acreditando no que ele disse.

Eles voltaram juntos para o salão, que parecia ter enchido mais naqueles breves minutos. Thomas olhou ao redor novamente procurando por Diana, mas de novo não a encontrou. Estava frustrado e acreditando que ela não viria mais.

- Sua querida pretendente chegou - disse, olhando para o topo da escada. - E está deslumbrante.
- Ela não é minha...

Mas Thomas não terminou sua frase quando viu Diana. Ela usava um vestido rosa um pouco mais escuro que o de , mas ainda sim era claro, com luvas brancas, e também usava uma tiara dourada e brilhante no cabelo, preso atrás com flores pequenas enfeitando o penteado. Para Thomas, Diana parecia ainda mais bonita do que podia se lembrar do baile anterior.

Diana desceu as escadas, tentando ignorar todos os olhares em sua direção, caso contrário se esqueceria do simples movimento de andar, mas era difícil ignorar esses olhares quando, de um lado, Jesse lhe fez um sinal de positivo, sinalizando que ela estava bonita, enquanto do outro lado, o olhar intenso de Thomas em sua direção era difícil de não retribuir. Ela não entendia porque ao mesmo tempo em que gostaria de dizer para Jesse tudo o que sentia, queria também ser convidada por Thomas para uma, duas, quantas danças ele lhe oferecesse.

Ela não entendia porque estava tendo aquela dúvida.

Quando chegou no piso, olhou ao redor, procurando os mesmos rostos conhecidos, e viu vindo em sua direção.

- Diana, estás belíssima! - ela disse admirada.
- Obrigada, , você também está - Diana sorriu gentilmente para a garota. - Podes me acompanhar? Eu gostaria de falar com o Jess... quero dizer, o senhor Birdwhistle, mas não posso ir sozinha.
- É claro. Eu não sabia que o apelido dele era Jess, vocês são amigos?
- Melhores amigos, eu diria, ninguém me conhece como ele... bem... perto dele posso ser eu mesma sem receio de ser julgada.
- Sua mãe não se importa que tenhas amizade com um homem?
- Se ela soubesse, com certeza se importaria - Diana riu, e então parou na frente de Jesse.
- Ora se não são as senhoritas mais bonitas do baile. - Jesse se deu conta da presença delas e fez uma mesura educada.
- E usando as joias do melhor joalheiro da Escócia - Diana acrescentou, fazendo-o rir. - Obrigada por ter vindo, Jess.
- E eu perderia a chance de assinar o seu cartão? De forma alguma! Vamos, me dê para eu assinar.
- Não se esqueça de que são duas. - Diana estendeu o braço com o cartão pendurado no pulso.
- Hum... creio que não seja uma boa ideia, não quero que fiques mal falada, querida - Jesse disse enquanto preenchia a terceira linha. - Mas não se preocupe, caso precise que alguém te socorra de um péssimo dançarino, eu irei correndo.
- É gratificante saber que sempre posso contar com você.
- Sempre pôde e sempre poderá. - Jesse a olhou nos olhos por um instante. Diana ficou ligeiramente sem jeito. - Agora, por que não vão dançar? Já está na hora.
- Eu não posso dançar - disse aborrecida. - Não até a próxima temporada, no mínimo.
- Jess, você que és um quebrador de regras, daria a honra de uma dança para ela na biblioteca? - Diana sugeriu ao ver o quanto ela queria.
- É claro que sim, é uma ideia maravilhosa, de fato. - Jesse pareceu curioso e satisfeito. - Lady ? - Lhe ofereceu o braço. Natalie pareceu hesitante por um segundo, mas aceitou.
- Eu os acompanharei até lá, vamos.

Diana acelerou os passos, pois ainda precisaria encontrar um parceiro para a primeira dança. A biblioteca ficava no cômodo ao lado, onde parte da mobília do salão estava amontoada, mas ainda havia algum espaço para se mexer.

- Acredito que dê para ouvir a música daqui quando começar. Com licença, eu preciso encontrar um parceiro - Diana disse por fim, fechando a porta e deixando-os sozinhos.

Para Jesse, aquela era a oportunidade perfeita para conhecer a daquela vida. Já ela parecia receosa e defensiva, mas ele compreendeu, afinal, ainda não se conheciam o suficiente e ela respeitava as regras, provavelmente nunca havia ficado sozinha com homem algum.

- Está tudo bem se não quiser dançar, milady, eu respeito a sua decisão.
- Não é isto, é claro que eu aceito dançar com o senhor, é muita gentileza de sua parte. - sorriu educadamente, olhando ao redor para conhecer o lugar. - Posso lhe perguntar uma coisa, senhor Birdwhistle?
- É claro.
- Por que tenho a impressão de que já o conhecia antes? Quero dizer, desde que minha família chegou na cidade, o senhor faz as minhas joias e as de minha mãe, mas... eu não sei, sempre tive a impressão de que já o conhecia, és familiar para mim. Até parece que o senhor não é daqui.
- De fato, não sou de Aberdeen, eu sou francês. - Jesse se sentiu aliviado por dizer aquilo depois de tanto tempo, às vezes se esquecia de sua origem e de seu nome verdadeiro. - Sei que deve estar se perguntando como vim parar aqui e... bem, eu decidi deixar a França depois que minha querida esposa faleceu, e quis criar raízes em um novo lugar, cheguei na cidade na mesma época em que sua família.
- Sinto muito pela sua esposa, parece que o senhor a amava muito.
- Sim... - Jesse suspirou, pareceu distante por um momento. - Bem, isto é passado e eu estou feliz aqui.
- Eu fico feliz pelo senhor. - Ela sorriu, e então voltou a reparar no lugar, agora em uma mesa perto da janela onde havia um retrato e uma lamparina antiga.

Apenas por curiosidade, pegou o retrato para ver, pois era fascinada pela ideia de registrar momentos de forma visual. Ela própria ainda não tinha um retrato de si, mas aquele onde a família Blackwood inteira era... familiar?

Ela reconheceu Margareth, Diana e Louise, além dos dois rapazes idênticos, tinha certeza de que os conhecia. Sabia que as meninas tinham irmãos gêmeos estudando na Inglaterra, mas nunca os viu... bem, até aquele momento. Natalie se sentia confusa, era quase como se fossem pessoas conhecidas que ela sentia falta, mas tinha certeza de que jamais havia visto aqueles dois rapazes.

- Lady , está tudo bem? - Jesse perguntou após observá-la, para captar suas reações.
- Sim, eu apenas... - saiu de seu rápido transe, mostrando o retrato em suas mãos. - São os irmãos de Diana e Louise?
- Sim, eles estão fora do país, mas terminarão seus estudos em breve e voltarão. - Jesse se aproximou para ver também. - Os viscondes Blackwood. O da direita é Damon, e ele é um rapaz bem divertido, segundo Louise. O da esquerda é , ele...
- ... - repetiu em um sussurro, quase inaudível. A sensação da pronúncia daquele nome era similar a de tê-lo chamado muitas vezes antes.

Jesse sabia o que estava acontecendo, sabia que estava tendo um dejavu. Ele sabia que era questão de tempo até que ela encontrasse e, provavelmente, dentro de alguns meses ou um ano no máximo, se apaixonassem se ele voltasse para a cidade. A reação dela era um forte indício de que as coisas ocorreriam conforme ele e John previram.

- Se Diana ou Louise se casarem com seus irmãos, tenho certeza que a senhorita terá a oportunidade de conhecê-los - Jesse comentou quando percebeu o silêncio dela.
- Se depender de meu irmão Will, ele se casaria com Louise aqui mesmo. - devolveu o retrato para a mesa e riu. - Acho que ele está apaixonado.
- E Lorde Livingstone? - ele perguntou por impulso, mas então se deu conta de que não tinha qualquer intimidade com nenhum Arkley para soar tão invasivo. - Me desculpe, eu não quis parecer um enxerido.
- Sei que és amigo de Diana, senhor. - Ela sorriu compreensiva. - E quer o melhor para ela.
- De fato, quero que ela seja feliz.
- Eu lhe asseguro de que se Diana der uma chance ao meu irmão, ela não irá se arrepender. Thomas é o homem mais gentil e educado de que já ouvi falar. Muitas vezes cuidou de mim quando meu pai esteve ausente, me ensinou coisas que nem minha mãe ousou ensinar, me acalmou quando eu tinha medo de tempestades quando éramos crianças... ela sempre estará amparada estando com ele.
- Eu sei. - Jesse sorriu de canto. Realmente sabia, e somente por isso não ficava preocupado, sabia da índole de Thomas, apesar de nunca terem se dado bem na vida passada dele.
- Senhor Birdwhistle, acha que podes convencer Diana disto? Quero dizer, nós estamos criando uma amizade, senti afeição por ela no primeiro momento que a vi, até parece que somos amigas há muitos anos! Mas mesmo assim, não quero parecer que estou me aproximando apenas para promover o meu irmão, seria muito rude de minha parte, mas o senhor é amigo dela há algum tempo, talvez ela o ouça.
- Sim, de fato, ela me ouviria. É uma coisa que posso colaborar, senhorita, mas se a conheço de verdade, sei que não vou precisar fazer muito esforço. - Jesse ouviu a música começar a tocar ao fundo. Era um som baixo, mas dava para ouvir o suficiente para saber o ritmo. - Venha, a senhorita precisa ser a melhor dançarina da próxima temporada. Está ansiosa para debutar?
- O senhor não faz ideia - suspirou enquanto davam os primeiros passos de uma dança difícil. - Eu sinto que deveria ser este ano, mas mamãe disse que ainda não estou pronta. Não acho que isto seja verdade, então pedi para Thomas convencê-la a me deixar debutar no ano que vem. Não quero ser uma solteirona.
- A senhorita não será uma solteirona, ano que vem está de ótimo tamanho. Tenho certeza de que irá ter um bom casamento.
- Eu também espero que sim, é o meu maior sonho me casar por amor, mas às vezes duvido de que isto seja possível.
- É claro que é possível! Acredite em mim, é mais do que possível, sei que a senhorita encontrará exatamente o que está buscando.
- Como podes ter certeza disto?
- Apenas sei. E acredite, raramente estou errado.
...

Thomas não foi rápido o suficiente para convidar Diana para sua primeira dança da noite. Ela educadamente aceitou o convite de um barão, então ele se limitou a esperar sua vez, ficando próximo de onde ela dançava. Olhou ao redor e viu que Louise e William tentavam entrar de penetras na roda de dança, mas eram péssimos em disfarçar. Thomas não queria interferir, mas pensou que talvez ele precisasse ser a pessoa que deveria aconselhar William, pois o mais novo claramente não estava pensando direito.

Ele esperou pacientemente pelo final e, para sua sorte, Diana o avistou, e foi em sua direção assim que dispensou o rapaz com quem dançava.

- Aparentemente, cheguei atrasado. - Ele riu enquanto Diana se sentava. Manteve distância, não queria que olhassem para eles.
- Não tive coragem de dizer não ao barão, caso contrário minha mãe ficaria furiosa - Diana disse ofegante, se abanando com seu leque. - Imagine só, recusar um convite para dançar com alguém importante. A propósito, ele é um péssimo dançarino e pisou no meu pé duas vezes.
- Bem, se me der a honra, prometo ser cauteloso.

Diana sentiu como se estivesse tremendo, mesmo não estando. A simples presença de Thomas lhe causava essa estranha sensação, mesmo que ela não sentisse nada além de um afeto amigável por ele. Era instruída o suficiente para saber que ele estava investindo, mas não tinha coragem de dispensá-lo. Ele era gentil e divertido, não lhe enxergava como um objeto de troca e isso fazia Diana se sentir confortável na presença dele.

- É claro. - Sorriu de canto e se levantou. Estava cansada, mas podia fazer um esforço para dançar com ele. Foi até o centro da pista de dança e segurou a mão estendida dele. - Tenho que admitir que és o único com quem me sinto confortável em dançar para além de meu amigo Jesse.
- Fico feliz em saber que não sou entediante - ele respondeu com bom-humor, repousando a mão na cintura dela enquanto Diana ria. - Nem um pouco, Lorde Livingstone. Se me permite dizer, és uma ótima companhia para conversar e dançar.
- Obrigado, a senhorita também. Com licença, posso me aproximar mais um pouco? Esta distância entre nós está exagerada até mesmo para esta dança. - Eles riram quando perceberam que os passos não fluíam porque estavam muito afastados um do outro, o braço de Thomas exageradamente esticado para alcançar a cintura dela.

Diana assentiu e ele deu um passo à frente. Seu perfume era bom e Diana o inalou, contendo um suspiro. Inevitavelmente imaginou por um segundo como seria ser envolvida em seus braços para além da dança, talvez compartilhando um abraço ou até mesmo encarando os olhos verdes dele. Thomas era tão atraente que Diana pensou que naquele mesmo instante ela poderia...

Escorregar?

Ela pisou na barra de seu próprio vestido, escorregando para frente e atrapalhando os casais que dançavam ao redor. Thomas, em um reflexo rápido, a segurou, e giraram para fora da pista para que ela não caísse.

- Está tudo bem? - ele perguntou preocupado, sem se dar conta de que algumas pessoas olhavam com maus olhos suas mãos agarrando a cintura dela.

Diana estava sem fôlego, fosse pelo susto ou por se encontrar na situação em que se pegou imaginando. Percebendo que ainda não tinha respondido, acenou positivamente com a cabeça, então se afastou.

- Obrigada, se não fosse pelo seu bom reflexo, eu poderia ter me machucado. Com licença. - O reverenciou e virou as costas, subindo as escadas rapidamente.
- Diana... - Thomas a chamou, mas não obteve resposta.

Diana ouviu, mas continuou subindo, mesmo sentindo o coração bater mais forte ao ouvir seu nome sendo pronunciado por ele. Ela subiu até o terceiro andar, onde ficava o seu quarto, e trancou a porta. Respirou fundo algumas vezes para se acalmar, não entendia o motivo de estar tão nervosa e muito menos de ter fugido daquela maneira.

Thomas não merecia aquela repentina reação depois de ter impedido que ela fosse envergonhada na frente de todos, mas ela não pôde evitar. Diana nutria sentimentos por Jesse, sempre era ele em seus sonhos durante a noite e quando estava acordada também. Sempre se imaginava sendo tomada por Jesse nos braços, mas por que a imagem dele estava sendo substituída pela de Thomas, que ela mal conhecia?

Aquilo não lhe parecia certo, nem sequer sabia se deveria confiar nele. O fato de ele ter tantas qualidades era mais um motivo para que ela desconfiasse, afinal, poderia estar apenas fingindo bons modos apenas para impressioná-la. Diana já tinha ouvido de seus irmãos mais velhos que não deveria acreditar totalmente em seus pretendentes, pois mentiam ou aumentavam as coisas, precisava seguir o conselho à risca e sem exceções.

Thomas não podia ser uma exceção.

Ele, por sua vez, teve certeza de que jamais se sentiu tão envergonhado em toda a sua vida. Se afastou da pista de dança e procurou por em todos os lugares, encontrando a irmã deixando a biblioteca.

- O que estava fazendo lá dentro? - perguntou impaciente.
- Me perdi - mentiu. Não queria que ele entrasse, visse Jesse e pensasse algo que não deveria. - O que houve, Tom?
- Vamos embora, diga à mamãe que se sente mal para que eu possa acompanhá-la.
- O quê? Eu não quero ir. O que está acontecendo?
- Eu faço tudo por você, então agora faça isso por mim - Thomas suplicou. - Vamos embora.

concordou, entrelaçou seu braço ao dele e procurou por sua mãe ou seu pai, encontrando-os e dizendo que se sentia mal com o calor e que Thomas a levaria embora em segurança. Perguntaria novamente apenas quando ele estivesse mais calmo, pois percebeu que ele claramente queria ir embora o mais rápido possível.

- Tem a ver com Diana? - perguntou quando já estavam do lado de fora, ela quase não conseguia acompanhar os passos dele.

Thomas parou de andar e respirou fundo, mas antes que pudesse responder, ouviram William os chamando, vinha correndo logo atrás com Louise.

- O que aconteceu? Por que estão indo embora? - perguntou ofegante, se apoiando nos joelhos por um instante para respirar.
- não se sente bem, me pediu para acompanhá-la até em casa - Thomas respondeu sem emoção, e fingiu um gemido de dor que logo William reconheceu como falso.
- Por que parou de dançar? Por que Diana subiu as escadas? - William perguntou de uma vez, mas pelo olhar do mais velho, ele entendeu que Thomas se chateou. - Sinto muito, Tom... eu vou com vocês. - Olhou para Louise. - Me desculpe, eu preciso ir.
- Vou ver se Diana está bem. - Louise sorriu compreensiva e olhou para Thomas, percebendo o quanto ele estava chateado. - Precisará de um pouco mais de paciência com minha irmã, Lorde Livingstone, Diana sempre foi e sempre será assim... com licença, irei falar com ela. Tenham uma ótima noite e uma boa volta para a casa, os vejo na próxima semana.
- Com toda a certeza que sim - William respondeu, lançando-lhe um olhar flamejante que fez Louise sorrir discretamente para ele, então ela virou as costas e entrou novamente, deixando os irmãos a sós. - Bem, é melhor irmos, a caminhada será longa.





Continua...



Nota da autora: Eu NUNCA tive personagens tão apressados, juro! Mas entendo totalmente e foi um desafio enorme pensar com uma mentalidade antiga e muito diferente da minha para conseguir escrever, mas prometo que as coisas não serão tão apressadas quanto parecem, o que acontece é que não existia o termo “namoro” em 1846 ahahahah



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