Quando eu te conheci, você estava fumando um cigarro no show do The Kooks. Eles cantavam Naive e você murmurava a música pelo canto da boca, com o outro ocupado pelo cigarro.
Você estava com seus amigos com cores de cabelo estranhas e piercings. Estava frio. Você usava uma calça jeans apertada, botas de motoqueiro, e um casaco pesado. Sua franja caía em cima do olho e seu batom era vermelho. Não conseguia ver a cor dos seus olhos.
Quando seu cigarro caiu, você xingou baixinho e eu vi a oportunidade perfeita para me aproximar.
- Precisa de outro? – eu perguntei e você me olhou com uma sobrancelha erguida. Talvez você estivesse um pouco chocada com a minha ousadia de se aproximar, já que ninguém havia tentado nada com você desde o início da noite.
- Isso faz mal, sabia? – você disse cheia de ironia e eu ri baixo. Sua voz era roca e bonita, assim como seus olhos. Você riu junto comigo e eu vi seus dentes um pouco grandes demais, em contraste com seus lábios bem vermelhos. Vi a argola em seu nariz e a verdadeira cor do seu cabelo pela raiz. Preto. Mas naquele momento estava pintado de azul. Minha cor favorita, mas você ainda não sabia.
Eu te estendi o cigarro e você aceitou, mesmo tendo mais dentro do casaco. Você queria que eu ficasse e eu queria ficar.
Eu acendi o cigarro com meu isqueiro e você deu uma tragada profunda.
- Qual o seu nome?
- Você pode me chamar de Arabella. – aquele não era seu nome verdadeiro, eu sabia, mas combinava com você. Com suas botas cheias de personalidade e com as tatuagens em seus dedos. Eu ainda não sabia o que elas significavam, mas logo descobriria cada uma delas.
- Está gostando do show? – foi uma pergunta estúpida, mas você não disse nada. Apenas acenou e deu outra tragada.
- Eu sou Alex, a propósito.
- Muito prazer. – nós continuamos conversando e a cada coisa nova que eu descobria, me encantava mais. Naquela noite você só queria alguém para beijar e esquecer os problemas, mas naquela noite você ganhou um cara completamente apaixonado.
No final do show eu te chamei pra beber alguma coisa. Você deu de ombros e se despediu dos seus amigos.
Fomos no meu carro para o meu bar favorito da cidade. Descobri que você tinha vinte e quatro anos, fazia publicidade e vinha do outro lado do mundo para estudar. Gostei muito de você.
Você me contou que gostava de filmes de terror, rock dos anos 70, mas que amava artes modernas e Salvador Dali.
Eu também te contei sobre mim. Te contei que tinha 26 anos. Contei que trabalhava com animação e você me chamou de nerd. Te contei que tinha uma irmã mais velha e que não falava muito com meus pais. Falei que também gostava de filmes de terror e que preferia rock alternativo.
Tomamos algumas bebidas e conversamos mais. Te levei pra casa. Você morava sozinha em um prédio antigo de nome estranho. Na porta de entrada eu te beijei com a boca aberta. Coloquei a minha língua na sua boca que parecia o céu. Seus lábios pareciam as beiradas de uma galáxia. Você colocou a mão por dentro do meu casaco e eu agarrei a sua bunda. Não conseguia me desgrudar de você. Você gemeu e eu também. Poderia te beijar pela eternidade. Queria que você me chamasse pra subir, mas ao invés disso, você se desgrudou de mim com um sorriso.
Eu batom estava borrado, seus olhos brilhavam e suas bochechas vermelhas, mas você não poderia estar mais linda.
- Não vai me dizer seu nome de verdade? – você apenas me deu uma piscadela e subiu.
Eu já estava apaixonado por você.
No dia seguinte eu voltei. Fiquei esperando você sair por três horas e quando você finalmente apareceu, meu coração disparou. Você estava ainda mais bonita a luz do dia. Sem batom e com o cabelo bagunçado.
Você me deixou acompanha-la ao supermercado. Conversamos ainda mais. Descobri que você gostava de pizza, Star Wars e clássicos em preto e branco. Curtia também música indie e tocava guitarra. Você ficava cada segundo mais bonita.
Voltei com você pra casa, você fez o jantar e assistimos a um filme juntos. Não lembro nada sobre o filme porque fiquei olhando para você durante as duas horas que se seguiram.
- Está tudo bem? – você perguntou baixinho quando os créditos começaram a rolar e você me pegou te encarando.
- Eu quero beijar você.
- Então beije. – e eu fiz isso. Beijei você de novo. E você deixou. Continuamos nos beijando, deitados no sofá. Você com a mão no meu cabelo e eu com a mão na sua cintura, tocando sua pele por debaixo da blusa. Sentindo seu calor e a sua respiração ritmada com a minhas. Você tinha cheiro de morango. Eu disse isso e você riu, mas voltou a me beijar. Eu me afastei de novo.
- Qual o seu nome? – você riu mais uma vez. – Preciso saber disso antes de continuar.
- Jenny. – era lindo, mas Arabella combinava mais com você.
Eu tirei sua roupa e você tirou a minha. Fizemos amor no tapete da sala.
Depois você me levou para o seu quarto e fizemos amor de novo. Eu sempre disse o quanto amava beijar você. E tocar você. E te abraçar. Fazer carinho no seu cabelo. E observar você dormir. E cantar letras de canções no seu ouvido, enquanto você chamava pelo meu nome.
Ficamos juntos no dia seguinte inteiro. Dentro da sua casa. Eu amei como você me deixou ficar. Como você me deixou fazer tudo que eu imaginava fazer com você.
Depois você disse que precisava estudar. Eu te levei até a faculdade e te dei um beijo de despedida. Não queria te deixar ir, mas combinamos de nos ver no dia seguinte. Não dormi naquela noite pensando em você. Escrevendo músicas sobe você. A minha Arabella. Planejando o dia seguinte com você. Tudo que iríamos fazer. O resto das nossas vidas, na verdade.
Eu te levei para um parque. Fazia frio e você vestia seu casaco pesado de novo. Seu cabelo estava rosa. Estava ainda mais bonita. Eu beijei você muitas vezes naquele dia. Te contei o quanto estava apaixonado por você. Você disse que também estava. Rimos do quão bobos nós éramos. Falamos aquilo muitas vezes naquela noite. Nos perdemos um no outro.
Dias foram passando, semanas e meses. Eu estava cada vez mais apaixonado por você. Como pode alguém amar da maneira e com a intensidade que eu te amava?
Eu nunca tinha amado alguém daquele jeito. Você sabia que eu não era uma pessoa muito aberta. Nunca havia namorado ninguém sério e que sempre fui chamado de covarde por ter medo de amar. Nunca acreditei que encontraria alguém com quem gostaria de dividir toda a minha vida, mas isso mudou quando te conheci. Com seu hálito de tabaco, seu cheiro de morango, suas tatuagens nos dedos e na costela. Você mexeu comigo de uma maneira diferente me fez acreditar que tudo era possível.
Eu estava com você quando você chorou ao saber que seus pais iam se separar. Você dormiu no meu ombro, com os olhos vermelhos naquela noite.
Eu estava com você quando sua menstruação atrasou e você pirou. Eu disse que tudo ficaria bem e também estava quando você suspirou aliviada quando o teste da farmácia deu negativo.
Eu estava com você quando você ficou doente, vomitando a cada três minutos.
Eu estava com você no lançamento dos seus filmes de terror favoritos. Fiquei com você nas filas por intermináveis horas, observando você roer o esmalte das unhas, de ansiedade.
Eu segurei sua mão quando você tatuou um coração perto do peito. Você me disse que era a sua maneira de provar que eu estaria com você para sempre.
Quando brigamos pela primeira vez foi porque uma garota deu em cima de mim em um bar e eu não disse nada. Você ficou muito brava e gritou comigo. Eu pedi desculpas e você me xingou. Estávamos ambos muito bêbados e chapados.
Eu te segui para casa e você não me deixou entrar.
- Vá embora! – você gritou e eu continuei esmurrando a porta.
- Eu já disse que sinto muito!
- E eu já disse que quero que você vá embora.
- Por favor, Jenny, me deixa entrar.
- Eu odeio você! – você não me deixou entrar. Eu fui pra casa com raiva de você. E de mim. Mas meu amor ainda era maior do que tudo. Eu senti sua falta naquela noite. Não consegui dormir. Mandei mensagem e tentei ligar. Você continuou me ignorando.
No dia seguinte seu cabelo estava roxo. Eu bati na porta e você me deixou entrar. Eu pedi desculpas e você também. Nos beijamos e ficamos bem. Eu te levei para ver um filme e comer chinês.
Continuou tudo bem. Fomos no karaokê, descobri o quão ruim você cantava Rolling Stones, fomos ao cinema várias vezes, fomos no italiano e no tailandês. Fomos visitar a sua mãe e a minha irmã.
Sua mãe gostou de mim e você implicou com a minha irmã. Depois vocês se resolveram e você compreendeu que ela só estava bancando a irmã mais velha e tentando me proteger.
Você fez as pazes com seu pai e fomos visitar ele também.
Eu fiz muitas músicas para você no meu velho violão e te ensinei a tocar baixo. Você tocava guitarra muito bem.
O inverno passou e chegou o verão. Fomos na praia, viajamos para a Irlanda nas nossas férias. Dormimos sob as estrelas, cantamos I see the sun do The Kooks, a nossa música favorita com todo o nosso fôlego, enquanto eu dirigia para as montanhas.
Brigamos outras vezes. Por ciúmes seus e pelos meus. Mas tudo sempre ficava bem. Sempre terminávamos na sua cama ou na minha, comigo perdido nas profundezas da sua boca. Em seu cheiro de morango e na sua pele macia.
Eu sempre sussurrava o quanto te amava e o quanto queria ficar com você para sempre. Você também dizia a mesma coisa e eu me sentia invencível. Você me dava poder e força. Você era tudo e talvez esse tenha sido nosso erro. Nos acostumarmos em ser a metade um do outro e nunca mais conseguir sermos inteiros novamente. Eu gostava de beijar as suas tatuagens e dizer o quanto você era especial pra mim. O quanto eu precisava de você ao meu lado para o resto da minha vida.
Nós estávamos bem há muito tempo. Até aquele dia. Me lembro muito bem.
Tocava Carry On, do Fun no fundo. Eu tinha saído com alguns amigos, mas sentia muito a sua falta. Naquele dia você apareceu na porta do bar com as suas amigas de cabelo colorido como você. Não tinha notado até você sentar do outro lado do bar, rindo e falando alto, como você gostava de fazer. Seu cabelo estava azul. Eu havia pedido para você pintar de novo porque eu adorava você com a minha cor favorita no cabelo.
Você entrou e não falou comigo. Nem olhou na minha direção. Não sabia se você estava chateada ou o que tinha acontecido. Eu achei que estávamos bem. Tínhamos se visto no dia anterior. Continuei bebendo e me divertindo, te observando de longe.
Percebi que tinha algo de errado quando um homem se aproximou para falar com você e você não o mandou sair. Você o deixou pagar uma bebida para você. O deixou tocar nas suas costas e falar no seu ouvido. Eu fiquei com muita raiva de você naquele momento.
Deixei minha cerveja em cima do balcão e fui ver o que estava acontecendo.
- Posso saber o que está acontecendo aqui? – eu estava alterado por causa da bebida e pelos seus olhos vermelhos percebi que você também estava alta pelos seus cigarros orgânicos.
- Não te interessa, cara. Cai fora. – o homem com você disse e você me olhou de maneira cínica.
- Isso mesmo, Alex. Cai fora. – eu fiquei enfurecido com você e te agarrei pelo braço com força, te arrastando dali. Eu estava magoado e confuso. Não sabia o que estava acontecendo. – Me solta!
- O que você está fazendo? Ficou louca? – eu gritei pra você, te soltando.
- Cansou da sua vadiazinha e veio atrás de mim? – você também estava com raiva de mim. Pude notar na sua voz a mágoa e a dor.
- Do que você está falando?
- Eu vi, Alex. Ela se esfregando em você e você deixando.
- Eu odeio o seu ciúme. – você riu com escárnio.
- Eu não estou com ciúme, Alex. Eu vi. Se você está cansado desse relacionamento, não precisa mais fingir.
- Vamos para casa. Precisamos conversar. Você sabe que eu nunca te trairia.
- Eu não sei de nada, Alex. – você sempre fazia isso. Enxergava coisas onde não tinha. Sua insegurança e paranoia me deixavam maluco. Eu sempre relevava, mas naquele dia estávamos ambos alterados. Fomos imprudentes e impulsivos.
Você começou a andar de volta para o seu lugar. Eu te chamei e você mandou eu ir me foder.
Eu queria me explicar. Dizer que eu tinha dito a garota que estava se esfregando em mim que eu tinha uma namorada e não queria nada com ela. Que o sorriso que eu dei para ela foi de pena e não de desejo, mas você não quis ouvir. Você saiu com o homem que ainda te esperava no balcão e eu fiquei ainda mais irritado.
Peguei qualquer garota no bar e levei pra casa. Eu estava com tanta coisa na cabeça e tão alto que não lembrei de nada que aconteceu naquela noite. Só conseguia pensar em você e no quanto eu estava com raiva de você. No quanto eu sentia sua falta.
Eu acordei na manhã seguinte me sentindo como um lixo. A garota ao meu lado não era você. Vomitei no banheiro enquanto a garota ainda dormia na minha cama. Na cama que eu dividi com você por tanto tempo. Eu estava mais arrependido do que nunca. Queria que o tempo voltasse e que eu pudesse não ter sido tão idiota com você. Mas eu não podia.
Quando bateram na minha porta e eu descobri que era você, queria morrer pela maneira que você me olhou. Você estava arrependida, vi em seu olhar. Vi em seu olhar também que você nunca teria tido coragem de dormir com outro enquanto estava comigo. Mas também vi em seu olhar a mágoa e a raiva quando a garota da noite anterior apareceu no corredor vestindo apenas uma calcinha. Vi seus olhos se encherem de lágrimas e nada no mundo poderia doer mais do que aquilo.
- Arabella, eu... – você fechou os olhos e balançou a cabeça. Você voltou a olhar pra mim e eu gelei. Você e a sua personalidade forte não me aceitariam de volta depois daquilo. Você estava muito magoada comigo. Eu também estava magoado comigo mesmo.
- Não precisa falar nada.
- Eu sinto muito. – eu tentei dizer.
- Eu também sinto, Alex. Eu vim aqui te pedir desculpas pela cena de ontem. Te dizer que estava irritada com o trabalho e que havia acabado de brigar com o meu pai. E que dispensei aquele homem ontem assim que saímos do bar. Eu vim dizer que estava disposta a deixar o meu ciúme e a minha desconfiança. Mas obrigada por ter me poupado a humilhação. Obrigada por se mostrar quem era de verdade depois de dois anos de relacionamento. – então você virou as costas e foi embora e eu não tive forças para ir atrás de você.
Isso já faz cinco meses e eu sinto sua falta como se um pedaço de mim estivesse faltando. Mas um pedaço de mim está faltando. Eu soube que você voltou para a cidade. Depois de todo esse tempo eu criei coragem de ir procurar por você. Ir atrás da minha metade, porque eu não sei mais ser inteiro sem você.
Não pode existir Alex sem a sua Arabella. Eu sinto sua falta e te amo. Não consigo dormi sem você. Não consigo viver. Malmente estou sobrevivendo. Tudo doe. Eu quebrei seu coração e quebrei o meu também.
Mas eu finalmente estou disposto a fazer de tudo para tê-la de volta. Não vou desistir do nosso amor.
***
Enviado: 04 de setembro de 2016 [00:21]
Lido: 04 de setembro de 2016 [01:43]
Fim
Nota da autora:Playlist: Naive, Arabella, I see the sun, Carry On, Gone, gone, gone. : Sabe quando você escuta uma música e imagina toda uma história para ela? Foi assim como Arabella. Espero que tenham gostado da história do mesmo jeito que eu amei escrevê-la. A continuação se chamará Knee Socks e espero que todos tenham a oportunidade de lê-la. Fiquem ligados nas atualizações do site para saber quando ela vai sair. XXO