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As 7 Coisas Que Eu Odeio Em Você


Última atualização: 29/07/2016

Capítulo 1


Há muito tempo eu tinha prometido para mim mesma que não escreveria mais para você ou sobre você, mas essa sempre foi minha atividade favorita. Digo, minha atividade favorita sempre foi escrever, não necessariamente escrever sobre você, mas admito que nossa história me rendeu alguns bons textos. Pelo menos para isso nossa relação deu certo, não é mesmo? O que acontece é que tem tanta coisa ainda que não relatei em palavras, mais especificamente sete coisas. E são bem essas sete coisas que eu vou eliminar da minha mente literária nesse momento, tirar de uma vez o que está preso dentro de mim, e espero que você leia e entenda também, porque aqui vão as sete coisas que eu odeio em você.

———


Lembra quando nos conhecemos? Você estava lá em sua roda de amigos, também babacas, ao meu ver na época, no parque da cidade, tocando seu violão e conquistando suspiros de todas as minhas amigas. Sim, todas elas. Se bem que minhas amigas suspiravam tanto por você quanto por seus amigos, o que eu sinceramente nunca entendi, já que eu conseguia ver que todos vocês tinham a palavra “encrenca” estampada na testa.
, acorda, estamos indo lá com os garotos - uma das minhas amigas, Sam, me cutucava, tirando-me do meu próprio mundo, já que estava perdida nas palavras de “O Amor É um Cão dos Diabos”. Ela e suas duas outras amigas, as quais eu não considerava muito e só andava com elas por causa de Sam, que era minha única amiga de verdade do grupo, tinham sorrisinhos animados nos rostos de garotas bobas apaixonadas. Eu apenas revirei meus olhos, peguei minha camisa jeans, que eu usava de travesseiro para não ficar com a cabeça doída depois e levantei, seguindo elas que pareciam que estavam indo até os Ramones e, se fosse esse o caso, o que infelizmente não era, eu entenderia a animação. Mas claro que se fossem os Ramones eu seria a única animada.
Nós quatro fomos na direção do seu grupinho e, quando estávamos mais próximas, a atenção de todos vocês vieram para nós quatro com sorrisos perfeitos estampados nos rostos rebeldes de cada um.
— Hey! - Você cumprimentou, analisando cada uma de nós com aquele seu sorriso de conquistador que sempre me irritou. Por último vi sua atenção cair sobre mim e provavelmente percebendo minha cara fechada, vi um semblante de dúvida estampado em seu rosto e eu quase ri. Quase. Não iria te dar esse gostinho de me ver rindo de você. Logo, seu sorriso aumentou, ainda olhando para mim, piscou. Sim, isso mesmo, você piscou para mim, numa tentativa barata de conquista que eu já vira em muitos filmes e lera em muitos livros. A diferença na nossa situação era que, nos filmes, as mocinhas caem de amores pelo garoto nesse momento, e eu comecei a sentir repulsa de você por ser apenas mais um conquistador barato.
Obviamente minhas amigas me olharam, chocadas por alguns segundos, mas logo me esqueceram e voltaram a atenção totalmente para vocês, rindo que nem bobas. O quê, bem, elas são.
— Desculpem se estamos incomodando, mas vimos vocês tocando e resolvemos nos aproximar, sei lá - uma das garotas, Grace, falou, tentando usar o papel de boa moça meio envergonhada por atrapalhar os garotos cobiçados do parque. Mas é claro que era apenas de faixada, já que de boa moça envergonhada Grace nunca teve nada.
— Sem problema, gata. Podem sentar aqui conosco, é sempre bom ter um público tão bonito - um de seus amigos disse e, se me lembro bem, foi o Matthew. Logo todos vocês deram espaço na rodinha para nós nos sentarmos e eu não conseguia acreditar que estava mesmo ali enquanto poderia estar na minha, tranquila, fazendo qualquer outra coisa que não fosse interagir com vocês. Sam, Grace e Ellie sentaram-se animadas, logo engatando uma conversa e jogando o charme delas sem poupar esforço. Eu apenas me encostei na belíssima árvore, não entrando na roda, mas logo atrás e abri meu livro, agradecendo mentalmente por não ser obrigada pelas garotas que eu chamo de amigas a me “enturmar” também.
Só que era meio óbvio que meu pequeno paraíso seria interrompido mais cedo ou mais tarde, assim como sempre acontece. Logo vi o vulto de alguém sentando-se ao meu lado e, de princípio, não movi um dedo para descobrir quem era, mas logo a pessoa chamou minha atenção para si. Você chamou minha atenção para si.
— Então, , né? - perguntou-me, fazendo com que eu desviasse os olhos dos belíssimos poemas de Bukowski para encontrar seu par de olhos cinzas. Gostaria de adicionar uma nota aqui dizendo que você foi a primeira pessoa de olhos tão cinzas quanto nuvens de tempestade que eu conheci, e a única até então. E infelizmente você me fez gostar dessa cor incomum de olhos.
— Como sabe? - devolvi com uma pergunta, sem paciência para ser um pouco mais agradável. Em todo o tempo que ficamos juntos, que me recuso a colocar números aqui pois não preciso me lembrar os inúmeros meses gastos nessa relação, deve ter chegado uma hora em que você percebeu que eu odeio ser interrompida com coisas inúteis quando estou lendo. E, bem, naquele momento, você era uma coisa inútil.
— Suas amigas. - Você respondeu simplesmente enquanto possuía um sorriso estampado no rosto. Eu sinceramente nunca entendi como você consegue sorrir tanto. — Sabe, você não é como elas.
— Nossa, o quê te levou a chegar nessa conclusão tão genial? - perguntei sarcástica. E você riu. Justo você riu do meu sarcasmo enquanto todo mundo o desprezava.
— Primeiro que elas estão lá se jogando em cima dos caras e você tá aqui, lendo Bukowski - apontou para capa do meu livro enquanto sorria, como sempre. - Segundo que você não se veste ou age que nem elas. - Você fez uma pausa enquanto me analisava - Terceiro é que eu gostei de você e não delas.
Lembra de todo o esforço que tinha feito antes para não rir de você? Naquele momento foi por água abaixo e eu ri, e muito. Ri da sua cantada barata, da sua tentativa de me conquistar. Se você tivesse percebido mesmo que eu era diferente delas, não teria dito isso. Bem, talvez você esperava que pelo menos isso eu tivesse em comum com as outras garotas. Mas, pela feição do seu rosto, vi que eu te decepcionei com isso e eu até pediria desculpas; se eu tivesse mesmo arrependida.
— O que te faz acreditar que vai conseguir alguma coisa comigo falando isso? - perguntei, ainda sem me recuperar inteiramente da minha crise de risos, e eu vi você ficando um pouco envergonhado. Talvez aquela tenha sido a única vez que eu te vi envergonhado.
— Quem disse que ‘tô tentando alguma coisa com você, hein? - devolveu com uma pergunta, a mais estúpida possível, já que seus interesses estavam claros.
— Tudo bem então, não está mais aqui quem falou. E se você me der licença, eu tenho coisa melhor para fazer do que jogar conversa fora - disse balançando o livro em minhas mãos e abrindo-o de novo em seguida, voltando para minha leitura.
— Você nem perguntou meu nome.
— Talvez porque eu não esteja interessada, mas só talvez - rebati, sendo honesta. Uma única coisa se passava em minha mente: “Quem esse garoto pensa que é?”
, meu nome é - e, com isso, você voltou para sua roda de amigos e me deixou em paz. Bem, pelo menos naquele momento, pois eu nunca iria imaginar que mais tarde, no meio da noite, meu celular vibraria com uma mensagem sua.

“Gostei de você, garota do Bukowski”


Aqui vai a primeira coisa que eu odeio em você: suas tentativas inúteis de me conquistar, que, no final deram certo.



Capítulo 2


Sabe, , quando nos conhecemos eu não faria ideia que você fazia esse tipo de garoto: o que corre atrás de uma mesma garota que te dá um fora atrás do outro - mas claro que pegando outras 5 numa noite. Ponto pela persistência.
Você estava sempre lá me mandando alguma mensagem, tentando me fazer sair com você algum dia ou seja lá o que fosse e eu, obviamente, sempre negava. Entenda meu lado, : eu não gostava de você. Nem um pouquinho. Na verdade, você chegava a me irritar com sua prepotência e toda essa sua auto-confiança. Só que, como não conseguia me convencer a sair com você por mensagem, em um belo domingo de sol você apareceu na porta da minha casa. E eu nunca te odiei tanto quanto naquele momento.
Meus pais tinham saído e eu, como sempre, não fiz a questão de ir junto, então fiquei na sala, enrolada numa coberta e lendo um livro qualquer ainda não lido da minha estante. De repente a campainha tocou e eu, mesmo surpresa, fui até a porta, perguntando quem era e, quando ouvi sua voz respondendo, eu tive vontade de te dar um soco. Abri a porta com a minha maior cara de ódio para te ver lá, parado, com seu cabelo bagunçado, sua jaqueta de couro de sempre e o sorriso branco demais estampado no rosto.
— Que cara é essa? Não está feliz em me ver, docinho? - perguntou-me com a maior cara de pau do mundo, me fazendo revirar os olhos.
— O que você está fazendo aqui, ?
— Vim te buscar para passar a tarde mais maravilhosa da sua vida! Tire esse pijama e vamos logo que o dia é curto - era muito estranho essa sua confiança toda em que eu iria com você, que não receberia uma resposta negativa. Mas, sabe o que é mais estranho ainda? Eu fui.
Deixei espaço para você entrar e fechei a porta assim que o fez, indo para meu quarto. O dia estava razoavelmente quente - nunca entendi como você estava sempre com sua jaqueta de couro, faça chuva ou faça sol. Coloquei um shorts jeans qualquer, meu all star todo preto, uma camiseta listrada preta e branca e meu tão querido chapéu preto. Voltei para sala e peguei meu óculos de sol de cima da mesinha de centro e parei na sua frente do sofá, que me olhava sorrindo.
— Vamos logo, antes que eu mude de ideia - e assim saímos pela porta, você ainda com um sorriso estampado no rosto. Parecia verdadeiramente empolgado por ter me convencido a sair com você.
Você abriu a porta do seu carro para eu entrar, como o completo cavalheiro que, bem, você não é. Eu não sabia nada sobre você além de seu primeiro nome. Não fazia ideia da sua idade, apesar de que descobri que você era de maior por dirigir, não sabia seus gostos e quem dirá seu último nome. Até onde eu sabia você poderia muito bem ser um psicopata e, bem, se fosse, eu estaria ferrada, pois ali estava eu, indo com você para onde quer que fosse. Eu me perguntava o que tinha dado em mim por ter aceitado aquilo.
— Então, , conte-me mais sobre você - pediu enquanto dirigia, sem tirar os olhos da estrada.
— O que você quer saber? - perguntei simplesmente.
— Vamos começar pelo básico então: quantos anos você tem? - eu não conseguia acreditar que você realmente estava fazendo isso, . Eu nunca consegui acreditar que você queria mesmo me conhecer de verdade, porque, afinal, você só queria me levar pra cama como todas as outras, certo?
— Dezoito - respondi automaticamente.
— Cinco anos mais nova… Gosto de garotas mais novas - falou rindo, o que me fez revirar os olhos. Você sempre comentou que eu tenho muito essa mania, de revirar os olhos, mas saiba que ela começou quando você entrou na minha vida.
Impressionantemente, você continuou com o questionário e com as mais variadas perguntas: onde eu nasci, minha cor favorita, minha banda favorita, coisas do tipo, e, sempre que eu respondia, você me contava sobre você também. Por mais que eu não goste de admitir, foi aí, nesse momento em que você tentava realmente me conhecer melhor, que você subiu pouquinho no meu nível - só um pouquinho, juro.
Depois de mais algum tempo com você dirigindo, percebi que estávamos do outro lado da cidade, onde você estacionava em frente de uma lanchonete com o maior estilo anos 50, nada que eu esperava vindo de você. Bem, para ser bem honesta, naquele momento eu não sabia o que esperar de você, mas eu pensava que você fazia o mesmo tipo dos outros garotos, os mesmos lugares sem graça e sem cor, só que você me impressionou. Sim, , naquele nosso primeiro encontro (não que eu o tenha considerado bem um encontro, já que eu não estava nem um pouco afim da sua pessoa) você já havia me impressionado o pouquinho que fosse.
— Espero que goste daqui, é um lugar especial - você disse quando saímos do carro, entrando em seguida na lanchonete. O lugar por dentro era tão retrô quanto por fora, o chão quadriculado preto e branco, as mesas com sofás de couro vermelho… Tudo no lugar parecia ser mais antigo e eu havia amado. Eles até tinham uma daquelas Jukebox que eu sempre quisera ver pessoalmente! E é aqui que eu jogo a pergunta que eu sempre quis fazer à você, : como você sabia que eu gostaria tanto daquele lugar? Eu me recusei a acreditar que havia sido sem querer, uma pura coincidência, você deveria saber previamente de algum modo que aquele lugar era como se fosse meu sonho.
— É lindo aqui - fui sincera. Eu não poderia soar muito empolgada, porque não queria que você pensasse que teria uma chance comigo, mas também não poderia ignorar o fato daquele lugar ser completamente maravilhoso. Você sorriu para mim, parecendo verdadeiramente contente com o fato de eu ter gostado da lanchonete, e nos dirigiu até uma mesa em um dos cantos, sentando em minha frente. Ponto pra você, de novo, . Sempre odiei caras que teimassem em sentar do meu lado, não tem posição pior para conversar com alguém. Uma garçonete logo chegou para tirar nossos pedidos e eu mal tinha reparado no cardápio, mas você já pedia para nós dois.
— Um milkshake de morango e outro de chocolate e dois hambúrgueres clássicos da casa, por favor - pediu a moça loira que mascava um chiclete, tendo um semblante um tanto quanto entediado. Logo ela se retirou, sem dar uma palavra, e te olhei confusa, querendo saber o porquê de ter pedido por mim. Nunca entendi como, mas você sempre foi bom em interpretar meus olhares.
— Vai por mim, não tem melhor aqui - você disse, com um sorriso de canto. “Esse garoto está sempre sorrindo” eu pensava. E até hoje você continua assim.
— Espero que prefira o milkshake de morango, porque eu gosto mais de chocolate - falei, com um sorriso brincando em meus lábios.
— Que bom que acertei então, você tem cara de quem gosta mais de chocolate - e naquele momento você me deixou surpresa por ter adivinhado algo sobre mim assim, tão facilmente. Não falei nada e apenas me limitei a assentir e sorrir levemente.
Impressionantemente a conversa sempre fluiu naturalmente entre nós dois, coisa que eu jamais esperaria. Tínhamos mais ou menos o mesmo gosto para bandas, você, apesar de não gostar muito de ler, já tinha lido alguns de meus livros favoritos, e a tarde seguiu assim, conversas normais entre duas pessoas que estavam se conhecendo. Você ainda era um idiota aos meus olhos, sabia muito bem da sua famosa reputação entre minhas amigas, mas de repente não era mais tão idiota assim, um pouquinho legal. E, de pouquinho em pouquinho, você acabou se tornando uma pessoa interessante e eu não percebi que isso tinha acontecido até ser tarde demais.
Sabe, , você era tudo o que eu não procurava em um cara. Tudo mesmo. Eu costumava a pensar que, se eu tivesse um tipo, não seria você, mas de alguma maneira você conquistou minha amizade pelo menos e isso já me deixava chocada demais, então imagina o que teria acontecido se alguém falasse para a do passado tudo o que ainda aconteceria entre a gente? Bom, eu riria, com toda a certeza do mundo, e mandaria a pessoa voltar a realidade, porque eu era eu e você era você, como água e óleo, não devíamos nos misturar. Mesmo com as poucas semelhanças que tínhamos em gostos, naquela tarde já percebi que, acima de tudo, éramos muito diferentes, e isso me fazia ter mais certeza de que nada aconteceria entre nós.

E aqui vai a segunda coisa que eu odeio em você: como você sempre bagunçou todas as minhas certezas, mostrando que, mesmo tudo dizendo que não, poderíamos dar certo sim.


Capítulo 3


Depois daquele nosso primeiro encontro, se é que posso chamar assim já que não tive muita escolha, você continuou me mandando mensagens e, algumas vezes, até me ligava. Meus pais, que nunca prestaram tanta atenção em mim assim, vieram me perguntar se eu estava saindo com alguém. Obviamente eu respondi que não, que você era só um amigo, sendo que mal isso eu te considerava na época, mas seria meio complicado explicar-lhes tudo, afinal sempre fomos assim, não? Complicados demais.
— Amanhã às dezenove eu passo para te buscar, ok? - você disse do nada durante uma das suas ligações aleatórias.
— O que te faz acreditar que vou dizer sim? E se eu tiver outros planos? - brinquei. Era óbvio que eu não tinha mais nada para fazer, já que minhas adoráveis amigas só sabiam falar sobre você quando saíamos e acreditavam que estávamos tendo um caso e eu só não queria contar para elas. Inclusive eu ouvia elas conversando entre si o que diabos você teria visto em mim quando eu não estava tão perto assim e, claramente, isso acabou me afastando delas, já que eu não queria ouvir a mesma ladainha dia após dia.
— Por favor, , eu sei que você vai gostar - implorou, o que me fez rir. Sabe, mesmo não admitindo, além de continuar te achando alguém irritante, eu gostava de você. Claro que não amorosamente, ainda não chegamos nesse ponto da história, mas caso não gostasse de maneira nenhuma eu não teria topa ir à esse lugar misterioso, muito menos teria aceitado da primeira vez.
O outro dia chegou e, como você apenas tinha pedido para eu me vestir casualmente, mas não moletom-casualmente, apenas coloquei um shorts preto, uma regata preta, minha camisa xadrez verde escura e meus amados coturnos. E você apareceu em minha porta às dezenove como tinha dito, pontual como sempre (vale acrescentar que meus pais ainda estavam duvidando do fato que você era apenas meu amigo). Você, como sempre, estava com sua jaqueta de couro, mas parecia mais bonito do que o normal (sim, eu já te achava lindo na época, mas nunca admitiria isso em voz alta). Cumprimentou-me com um beijo no rosto, o qual eu aceitei, e me guiou até seu carro, abrindo a porta para mim como da última vez. Prestando bem atenção agora, enquanto revivo esse dia em minha mente, percebo que eu deveria ter notado que as coisas desandariam pelo simples fato que eu deixei você me dar um beijo no rosto. Aparentemente meu alerta mental não estava funcionando muito bem naquela noite.
— Não vai me falar aonde vamos? - perguntei, vendo ele negar com um gesto de cabeça.
— Não quero estragar a surpresa, mas não vai demorar para chegarmos, prometo - você disse e, em um movimento corajoso da sua parte, tirou uma das mãos do volante e apertou a minha, que estava sobre meu colo. Claro que o movimento corajoso foi o ato de tocar na minha mão, não de tirar a sua do volante, e podemos perceber de novo que a noite tinha tudo para ir na direção que eu não queria, já que meu consciente não reparou seu gesto até que suas mãos já estivessem de volta no volante, como se não fosse nada demais. Só que para mim era como se você tivesse ultrapassado mais uma das minhas barreiras, e eu tentava desesperadamente construí-las de novo. Só agora percebo que era tarde demais para isso.
Uma meia hora depois de muita conversa jogada fora chegamos em uma famosa casa de shows da cidade, o que me deixou mais curiosa ainda. Saímos do carro e você tentou me abraçar pela cintura, mas eu não daria esse gostinho a você - eu ainda tinha esperanças de que as poucas barreiras que me restavam seriam mantidas. A entrada do lugar já estaca aberta e você mostrou dois ingressos para os seguranças, que liberaram nossa passagem. Consegui pegar um dos ingressos da sua mão, arrancando uma risada sua, e li o nome da banda que veríamos, mas não conseguia acreditar direito. A banda estava na minha lista mental de favoritas e os ingressos para esse show haviam sido esgotados antes mesmo que eu pudesse tentar comprá-los. Você sorria e me encarava, enquanto eu deveria estar com a cara mais boba do mundo.
— Como você conseguiu? Esses ingressos esgotaram há muito tempo! - exclamei sem conseguir parar de sorrir.
— Eu conheço algumas pessoas que me ajudaram com isso, não foi tão difícil - você explicou. Em um segundo de total insanidade eu te abracei, surpreendendo você e também eu mesma, mas não demorou muito para que seus braços estivessem em torno da minha cintura, me abraçando de volta.
— Obrigada - sussurrei em seu ouvido e vi você se arrepiar. Talvez tenha sido maldade, eu sei, mas não resisti e dei um beijo de leve em seu pescoço, vendo-o arrepiar ainda mais do que ainda, saindo dos seus braços em seguida.
— Ah, , não me provoca desse jeito - você reclamou, me fazendo rir.
— Vamos tentar ir mais perto do palco - falei mudando de assunto, já te puxando pelo braço, tentando passar entre as pessoas.
Logo o show começou e eu cantava junto com a cantora em todas as músicas e você, ao meu lado, também. Eu não sei dizer bem como e nem quando mas, em um momento enquanto eu dançava e cantava, você me virou, fazendo-me fitar seu rosto. Suas mãos estavam em minha cintura e as minhas em seu peito e eu podia ver seus olhos brilharem e um sorriso começar a brotar em seu rosto, enquanto eu deveria estar com uma expressão mais surpresa. Eu vi você se aproximando e eu simplesmente congelei. Talvez isso signifique que, no meu subconsciente, eu também queria isso mas, quando seu nariz estava encostado no meu e nossas bocas tão próximas, eu não consegui me mover quando você disse que, se eu não impedisse, você me beijaria. Assim, com uma das minhas bandas favoritas de fundo, aconteceu nosso primeiro beijo e, mesmo que eu não gostasse muito de admitir na época, o primeiro de muitos.

Aqui te entrego a terceira coisa que odeio em você: como você conseguiu me desarmar por completo com apenas um beijo.



Capítulo 4


Naquela dia do show você me levou para casa, mas diferente da última vez que saímos, a noite terminou com alguns (talvez vários) beijos de despedida. Quando entrei em casa já era quase meia-noite e meus pais estavam no mais profundo sono possível. Logo, eu mesma segui o exemplo deles, mas não antes de ver a mensagem que você tinha me mandado instantes antes: “Devíamos fazer isso mais vezes.”
Sabe, , eu acho que nem se eu tivesse tentado mais eu teria conseguido impedir o que aconteceu entre nós por todo esse tempo. Era como se nos completássemos de uma maneira totalmente desajeitada, bem a nossa cara. Você, impressionantemente, não era mais visto com outras garotas além de mim, o que fez as pessoas da cidade especularem cada vez mais sobre um suposto relacionamento entre nós, mas não tinha como definir nossa relação, nunca teve. Não éramos namorados, mas ficávamos só um com o outro, e também não era só amigos. Por mais que incomum que isso soe, essa preocupação de ter um rótulo definindo o que tínhamos nunca passou pela minha cabeça, ao contrário do que você deve ter pensado.
Em uma tarde, algumas semanas depois do show que você havia me levado, recebi uma mensagem sua me convidando para passar a tarde em seu apartamento e eu senti que você nunca tinha recebido alguma garota lá em um horário que não fosse para uma de suas aventuras noturnas, e logo você mesmo me confirmou isso, dizendo que era mesmo sua primeira vez. E eu fui, dando aos meus pais a desculpa que sairia com alguma amiga para o shopping. Você, que já era maior de idade, morava sozinho, mas tinha um apartamento bem organizado para um cara que não pagava ninguém para cuidar do local em seu lugar.
— Oi! - você me cumprimentou sorrindo quando eu cheguei. Na época eu juro que não entendia a maneira como me olhava, e acho que você também não. Seus olhos brilhavam mais, seu sorriso alargava, e eu tenho certeza que eu mesma não ficava muito diferente. — Pensei que não vinha mais - falou brincando enquanto me abraçava forte e fechava a porta atrás da gente.
Lembro muito bem daquela tarde, . Ficamos vendo algum filme aleatório que passava na televisão e, apesar da minha memória ser normalmente muito boa, o filme é um borrão em minha mente, já que mal o assistimos. Foi nessa tarde que eu comecei a perceber o que estava acontecendo conosco, o nível que tínhamos chegado. E, mesmo assim, eu continuei ali. Engoli meu medo de chegar no ponto que te desse meu coração de vez e fiquei, pois não queria ir embora. Eu nunca quis. Seus beijos sempre me fizeram sentir coisas que outros caras nunca foram capazes, e ainda não são, pois só você conseguiu ter esse efeito sobre mim. Eu sempre fui tão sua que, até hoje, depois de quase seis meses que não nos vemos ou nos falamos, eu continuo sua, continuo te procurando em outros caras, mesmo sabendo que nunca acharei, e isso me destrói aos poucos todos os dias.
Naquela mesma tarde lembro de ter adormecido no seu sofá, em seus braços, e você, ao invés de me acordar, ficou ali comigo, mesmo sem dormir, como você havia me dito mais tarde. Você simplesmente ficou. Foi ali que eu também percebi que não só eu tinha mudado, mas você também, e, quando eu acordei horas depois com beijos seus, eu vi que era tarde demais para qualquer um dos dois voltarem atrás.

A quarta coisa que eu odeio em você é como tínhamos tudo para dar certo, mas você conseguiu fazer com que fossemos para o caminho errado.


Capítulo 5


No dia que mencionei anteriormente eu tinha percebido o que acontecia entre nós, mas você não. Você ainda acreditava que não tinha se entregado, que eu era qualquer uma e, meu bem, você sabe que não era bem assim, que nunca foi.
Eu estava com você quando a verdade veio à tona e como eu queria não estar. Já faziam meses que estávamos juntos, quase um ano, mesmo que nem havíamos percebido o tempo passar. Mas o desastre começou com a festa da Kelli, a qual você havia sido convidado e queria que eu fosse junto, alegando que não teria tanta graça se eu não estivesse lá. E eu fui.
Naquela noite você foi me buscar e meus pais ainda não tinham ouvido das nossas bocas que estávamos juntos, mas eles sabiam, já que era sempre você que aparecia por lá. Como sempre me cumprimentou com um beijo no rosto, guardando o de verdade para quando estivesse somente eu e você, não na frente dos meus pais.
Chegamos juntos na festa, obviamente, e as pessoas nem estranhavam mais o fato depois de tantos meses nos vendo um ao lado do outro. Eu não conhecia muita gente ali, e acredito que você também não. Logo estávamos numa mesa com alguns dos seus amigos, que já acabaram virando meus amigos também, ou pelo menos mais ou menos, e ficamos todos bebendo e conversando, mesmo com a música alta que tocava pelos amplificadores. Eu não sabia o quanto eles já haviam bebido, mas provavelmente estavam num nível diferente do nosso, já que começaram a tocar no assunto do nosso “relacionamento”. Vamos deixar isso bem claro aqui, : eu sabia que você ainda não tinha se tocado que o que tínhamos não era nada do que você pensava. E eu sabia que isso seria um choque grande demais pra você, que nunca cogitou a ideia de ter um relacionamento de verdade com alguém, mas eu nunca, repito: nunca, imaginei que sua reação seria tão extrema.
— Aí, cara, como você arrumou uma namorada tão bacana? Ela não é pro teu caminhãozinho não - um deles disse rindo e os outros acompanharam, concordando. Quando ouvi a palavra “namorada” fiquei meio sem graça, porque eu não era nada disso, mas eu sabia que você não ia gostar. Uma coisa é ouvir de estranhos essas especulações, outra bem diferente é ouvir dos próprios amigos.
— Não somos namorados - você disse e, sem nenhuma outra palavra, se afastou da mesa, indo para o bar. Fui atrás de você logo em seguida e pude ouvir você pedindo uma dose de vodka. Foi ali que percebi que as coisas não acabariam bem, já que sempre soube que, apesar de você gostar muito de bebidas alcóolicas, vodka nunca foi uma delas.
— Não liga pra isso - falei alto o suficiente para poder ser ouvida mesmo com a música extremamente alta. Você me encarou, os olhos frios e confusos. Eu pude ver que você tinha um misto de sentimentos dentro de você, que estava começando a perceber tudo agora e que o baque tinha sido forte demais, como bater de frente em uma parede de neve enquanto esquiando: é fria, dura e, ainda por cima, queima.
— Por que eu ligaria? Não é como se tivéssemos alguma coisa de qualquer maneira - sua voz estava mais seca e você não conseguia mais olhar dentro dos meus olhos enquanto falava. Uma coisa que eu nunca devo ter dito foi que, apesar de querer negar, aquelas palavras me magoaram. Sei que não sou uma pessoa muito sensível, sei que muitas vezes pareço te odiar, que não sou tão fácil de lidar, mas você não faz ideia do quanto eu gostava de você, . Que inferno, eu te amava, ou melhor, eu ainda te amo, mas não é como se isso valesse de alguma coisa já que você nunca precisou dos meus sentimentos por você. Acredito que essa é a primeira vez que você ouviu a verdade, a verdade de que eu te amo como nunca amei ninguém, e é uma pena que tenha que ser dessa forma, eu realmente sinto muito por isso.
— Se é o que você pensa, tudo bem então - eu disse e virei as costas, indo o mais longe que pudesse de você, tentando voltar a aproveitar aquela noite.
Eu não queria fazer com que aquela noite fosse desperdiçada, então apenas dancei, e muito, até meus pés doerem e eu precisar descansar. Nisso já passava da uma da manhã, não lembro exatamente, só sei que fui ao bar, atrás de alguma bebida e um espaço mais ou menos tranquilo pra sentar e descansar o corpo. Mas era óbvio que a história não iria acabar por aqui, não é mesmo? Não demorou muito para eu ver você, , com outra garota, aos beijos. Para ser bem honesta vocês estavam quase se comendo no bar. A garota estava de costas para mim, então não consegui ver seu rosto, mas não foi complicado de perceber que ela era meu oposto. A pele bronzeada ao extremo, cabelo quase platinado e roupas curtíssimas. Depois de segundos - que pareceram minutos - encarando aquela cena, vocês se separaram. E você me viu ali. Sabe como eu sei disso? Porque do jeito mais canalha possível você me olhou nos olhos e piscou um deles, sorrindo sacana.
O barman estava parado na minha frente, tentando chamar minha atenção, mas sem sucesso. Apenas levantei do meu lugar e caminhei para a saída da festa. Tínhamos vindo juntos, então a solução mais lógica seria eu pegar um táxi, mas eu não estava com cabeça pra ficar naquele lugar por mais cinco minutos que fossem, então simplesmente saí andando.
Acho que nunca te contei isso, , mas, naquela noite meus olhos derramaram lágrimas o caminho inteiro até quando eu cheguei na minha cama, e eu não sabia o porquê naquela altura. Eu ainda não queria admitir para mim mesma o quanto gostava de você, parecia loucura. Você foi o primeiro pelo qual me apaixonei e o primeiro cara por quem chorei, apesar de odiar admitir isso até hoje. E, bom, você continua sendo o único. Eu, que sempre fui muito racional, havia me deixado envolver justo com você, a pior pessoa por quem alguém poderia desenvolver algum tipo de sentimento.

E aqui vai a quinta coisa que eu odeio em você: o fato que, desde que você entrou na minha vida, meu coração decidiu se entregar para você, mesmo contra a minha vontade.


Capítulo 6


Você passou quase dois meses sem me dar notícia, lembra? A única coisa que eu sabia era que você tinha voltado a ser quem era antes de me conhecer: o garanhão da cidade, visto toda noite com uma garota diferente.

Sabe qual era a pior coisa nessa situação toda? Eu me importava com isso. É difícil para mim admitir, mas, porra, eu me importava demais com o fato de você correr para os braços de qualquer uma e me deixar sozinha. Todos os dias chegava em meus ouvidos um nome diferente de uma garota nova que foi vista com você e cada vez mais eu desejava que você nunca tivesse entrado na minha vida, que nunca tivesse cruzado meu caminho. Sabe o que mais? Eu morri de raiva de você, , e também morri de raiva de mim mesma. De você, por me fazer de boba, de brincar comigo como brincou. E de mim por ter acreditado, por ter deixado você entrar e fazer essa bagunça enorme na minha vida.

Chegou um dia que eu, finalmente, não ligava mais - ou pelo menos conseguia fingir que não. Depois desses dois meses sem nem sequer um sinal de fumaça seu eu aprendi a viver com a sua ausência. É muito engraçado que, antes de uma pessoa ter uma certa intimidade conosco, não ligamos para a presença dela ou não. Mas basta ultrapassar essa barreira de intimidade que, mesmo em pouco tempo, a pessoa acaba se tornando essencial no nosso dia a dia, isso sem que nós sequer percebamos.

Nesse tempo sem você eu cheguei a conhecer outros caras por aí, cada um com uma história diferente para contar, com uma personalidade diferente, mas eu não consegui sentir nada por nenhum deles. Pois é, , eu que antes não tinha um tipo, agora tinha. Em todos os outros caras eu procurava um pouquinho que fosse de você, para tentar suprir o peso da sua ausência em minha vida. Só que chegou um ponto que eu percebi que, não importava se um tivesse o mesmo gosto musical que você, ou que outro tivesse seus olhos, pois o pacote inteiro importava, e nenhum deles chegou aos pés do que você já me fez sentir apenas com um olhar, do que significou para mim.

Que inferno que estava minha vida, , por que você teve que bagunçar tudo desse jeito? Você foi como um furacão que tirou tudo do lugar, fazendo com que eu ficasse mais perdida do que nunca. Aliás, sabe por que não demos certo? Porque, mesmo sem admitir, eu me entreguei para você por completo, dei minha alma e meu coração, mergulhei de cabeça. E você, enquanto isso, amava muito a si mesmo para ter espaço para amar qualquer outra pessoa.

Acho que você sabe o que vem a seguir, você sabe o que irei descrever agora. Eu te pergunto uma coisa: por quê? Por que você teve que reaparecer depois de tanto tempo, quando eu estava, finalmente, direcionando minha vida para o caminho certo novamente?

Em uma tarde fria de outono a campainha da minha casa tocou. Eu estava sozinha no lugar e, contra minha maior vontade, que era de ignorar e ficar na cama, fui ver quem era. Olhei pelo olho mágico da porta, obviamente não abrindo sem nem fazer ideia de quem fosse, e vi você, ali, parado. Eu não ia abrir, não mesmo, até que ouvi sua voz.

, eu sei que você está aí. Por favor, eu preciso falar com você - só com essas palavras um nó já tinha sido criado em minha garganta e eu engoli em seco a vontade de chorar. Mas que inferno, , até com poucas palavras você conseguia balançar minha vida de novo.

Abri a porta cuidadosamente, deixando apenas uma fresta aberta, não dando espaço para você pisar dentro da minha sala, e te encarei de fato pela primeira vez em dois meses. Meu coração quebrou ao ver suas olheiras, seus olhos opacos, que antes eram cheios de vida, sua aparência cansada. Queria te tomar em meus braços e dizer que tudo ficaria bem, seja lá o que fosse que tivesse te abalado tanto, mas eu não podia, é claro. Eu não podia te receber de braços abertos na minha vida novamente depois da bagunça que você criou, você tem que entender isso.

— Eu te dou cinco minutos - falei com a voz fraca, não conseguindo alcançar a força que precisava para parecer mais segura.

— Eu sei que eu fui um filho da puta com você, só Deus sabe o quanto isso tem passado pela minha cabeça nos últimos meses. Naquele dia daquela festa infernal eu… surtei. Tudo entrou em estado de choque dentro de mim porque o Eric me fez perceber o que eu não tinha conseguido sozinho em todo tempo que ficamos juntos, me fez perceber que eu queria que você fosse minha namorada, que eu tinha sim sentimentos por você. E, bem, isso nunca aconteceu antes. Nunca na minha vida eu cogitei me apaixonar, sempre achei que esse negócio de sentimentos não era pra mim, mas você mudou isso de vez quando nossos caminhos se cruzaram.

“Eu fiquei com medo de tudo que estava sentindo, tudo que veio com força total dentro de mim e, como um covarde, eu fugi. Sabia que eu não poderia controlar aqueles sentimentos e eu nunca fui muito bom em lidar com coisas que eu não pudesse controlar, talvez seja por isso que eu nunca fui muito bom em lidar completamente com pessoas. Fiquei esse tempo todo pulando de garota em garota, tentando voltar à minha vida antiga, voltar a ser quem eu era antes de te conhecer, mas, como podemos ver, não deu muito certo. Acabei percebendo, talvez tarde demais novamente, que em todas elas eu procurava você. Sei que isso é ridículo, você é diferente de todas, isso eu sempre soube, o que acaba tornando meu ato ainda mais estúpido já que sempre fora óbvio para mim o quão única você é. Eu vim aqui tentar acabar com essa merda de dor que eu sinto no meu peito todos os dias e te pedir desculpas por tudo que causei, por ter fugido dessa maneira do que sentia.”

No fim do seu discurso eu já não conseguia mais conter as lágrimas que desde o começo queriam escorrer - que engraçado, não? Eu que quase nunca chorava acabei virando uma manteiga derretida por sua causa. Pude ver a esperança no fundo dos seus olhos e também lágrimas que ameaçavam a cair.

— Você não sabe o quanto me dói ter que dizer isso, então eu já peço desculpas por isso, mas você não é mais uma criança para fugir dos problemas quando tem medo de enfrenta-los - respondi, sem conseguir olhar uma última vez nos seus olhos, fechando a porta entre nós dois. Encostei minhas costas na parede da sala e me deixei escorregar, caindo no chão e abraçando minhas pernas, chorando silenciosamente.


Apresento agora a sexta coisa que odeio em você: a maneira que desapareceu da minha vida novamente, depois de ter quebrado os poucos pedaços inteiros que restavam dentro de mim.


Capítulo 7


Notícias suas continuaram chegando até mim por mais uns dois meses e meio, depois de ter te visto aquela vez em minha casa e, quando a leva de comentários sobre você pararam, eu não pude ficar mais agradecida. É muito mais fácil tentar superar alguém quando essa pessoa não está mais presente na sua vida, não importa de que forma.
Acabei começando a frequentar outros bares, outros clubes e até mesmo outros shoppings - ponto positivo de morar em cidade grande. Só queria me desprender de todas as lembranças que você me trazia, afinal, foi um bom tempo que passamos juntos, não? Cada canto que costumávamos ir acabavam trazendo memórias demais para mim e eu só queria me desprender de tudo isso. Acabei fazendo novos amigos - já estava mais do que na hora - e esses não conheciam seu nome ou seu rosto e, todo o pouco que sabiam de você, foi a história resumida do nosso relacionamento que eu contei para eles.
Eu também mudei tanto nesse tempo sem você. Meu cabelo ficou mais curto, minha pele menos pálida, meu sorriso mais frequente. Então até que posso te agradecer por desencadear todas essas mudanças em mim; acabou que alguma coisa do nosso relacionamento eu pude tirar no final.
, vamos logo! - Ramona, minha atual melhor amiga, me chamava. Nos conhecemos um pouco menos de um mês depois da última vez que nos vimos, em um bar da cidade que eu nunca tinha ido antes e que acabou virando meu ponto de encontro com meus novos amigos que fizera ali. Uma desse grupo de amigos era a Ramona e, meu Deus, queria ter conhecido-a antes. Se você a conhecesse saberia na hora porque somos amigas, de tanto gosto em comum que nós temos.
Estávamos indo, naquela noite, para um novo bar que havia aberto na cidade esses dias, e que tinha uma grande quantidade de críticas positivas, o que havia nos deixado extremamente curiosas.
— Só mais dois segundos - disse enquanto descia as escadas da casa dela, que me esperava na porta de entrada. Iríamos encontrar dois outros amigos nossos no lugar, que já deviam estar esperando por nós, então logo saímos, com Ramona dirigindo, já que era a única das duas que tinha um carro.
— Uma semana pra você se mudar, já ‘tô planejando sua festa de boas-vindas naquele apartamento - ela comentou, sorrindo. Eu, finalmente, me mudaria da casa dos meus pais - lembra das vezes que te disse que era o que eu mais queria? - para um apartamento pequeno no centro da cidade, o que já estava maravilhoso para mim.
— Você planeja festa em qualquer lugar - comentei rindo, o que era totalmente verdade.
Depois de muito papo jogado fora no carro, chegamos ao tal bar e, de fora, o lugar já parecia promissor. Depois de encontrar um lugar para estacionar, entramos no local, procurando nossos amigos. A música que tocava era extremamente agradável, o que acabou me deixando mais animada ainda - vamos combinar que é meio difícil encontrar um lugar que cumpra os três tópicos mais importantes de: música boa, ambiente bom e comida boa. Sem muita demora, encontramos Lucca e Finn numa mesa perto do balcão de bebidas, o nosso local favorito, que conversavam animadamente.
— Minhas vadias favoritas! - Lucca nos cumprimentou animado, rindo, quando percebeu nossa presença, nos fazendo rir também.
— Pensei que não viriam mais! - Finn disse — Se eu recebesse um bolo das duas garotas mais gatas da cidade ficaria muito chateado, hein.
Era muito engraçado o quão próximos todos éramos em tão pouco tempo de amizade. Desde o começo foi como se nos conhecêssemos por séculos, o que era incrível, já que eu só tinha sentido isso com uma pessoa antes: você.
Engatamos em uma conversa qualquer sobre assuntos da faculdade e eu acabei pedindo para o barman um coquetel qualquer que parecia interessante pelo cardápio de bebidas do lugar, não querendo ficar sem nada. Ramona já estava trocando olhares com um cara, que aparentava mais velho, de uma mesa não tão longe da outra. Sempre me impressionei com o quão rápida ela é, nunca perde tempo para flertar - sério mesmo, nunca - e, admiravelmente, sempre consegue conquistar o alvo da noite. No meio de uma piada que eu e os meninos fazíamos sobre ela não conseguir aquietar nunca, eu ouvi sua voz. Obviamente eu pensei que estava confundindo, ouvindo coisa onde não tinha nada, mas eu sempre pareci ter um radar para você, nunca confundiria sua voz. Automaticamente procurei a fonte daquele som que, mentalmente, eu torcia para não ser você mesmo, e logo te achei. Era óbvio que você estaria no novo bar badalado da cidade, como não tinha pensado nisso antes, eu me pergunto até hoje. Quando vi seu rosto, meu coração parou de bater como sempre e acelerou loucamente. Que merda, hein, coração? Nem para ser mais controlado. Você parecia continuar o mesmo, os cabelos negros bagunçados, os olhos cinzas brilhantes que eu sempre amei, o sorriso radiante no rosto… Era como se todos esses meses longe um do outro nunca haviam existido, pois me sentia - e ainda me sinto - da mesma maneira que antes, eu não podia negar. Eu sentia uma saudade imensa de você, , que eu me deixei sentir naquele momento que te vi de novo, já que nos últimos meses eu simplesmente ignorava tudo o que tinha o menor sinal de ser relacionado com você.
, você está bem? Parece que viu um fantasma - Finn perguntou e eu percebi que os três agora me encaravam, preocupados.
— Mais ou menos isso. Eu preciso tomar um ar - falei, simplesmente, e Ramona olhou para a direção que eu olhava antes, a sua direção, e uma feição de compreensão passou pelo rosto dela, que logo se levantou comigo, indo para fora do lugar, sem dar nenhuma palavra aos meninos. Apenas me encostei da parede do estabelecimento e fechei os olhos, querendo que aquilo fosse apenas um pesadelo.
— Como você soube que era ele? - perguntei a ela, ainda sem abrir meus olhos.
— Única pessoa que poderia ter esse efeito sobre você e, sem contar, que ele bate a descrição que você me deu quando contou a história - ela falou, colocando a mão sobre meu ombro. Abri os olhos e encarei ela, que me já me olhava.
— Será que eu estou destinada a ficar presa nele, Ramona? Eu não aguento mais isso. Toda vez que tudo parece ir bem ele aparece de novo - desabafei.
— Ai, … Eu mal sei o que falar sobre isso. Não adianta eu simplesmente te falar para esquecer, porque eu posso ver que não é nem um pouco fácil. Só o tempo pode curar isso, eu acho. Ou talvez vocês ainda voltem um pro outro - ela disse e eu agradeci mentalmente por não ser recebida por um mar de mentiras que me agradassem. Essa era uma das coisas que eu mais gostava na Ramona, ela falava a verdade não importava o preço que a custasse, e isso era maravilhoso.
Por um momento fiquei pensando como seria se ficássemos juntos de novo, se dessa vez daria certo, mas nunca saberei. Depois dessa conversa com ela, fomos de volta para sua casa, onde eu dormiria, depois de ter me despedido brevemente dos meninos, tentando ter certeza que você não me veria lá de forma alguma. E, naquela noite, antes de dormir, eu fiquei pensando em você, em todos os momentos bons que passamos juntos. Pode ser considerado um ato masoquista, mas eu não ligava, eu precisava daquelas lembranças de nós dois, pelo menos naquele momento de fraqueza.

Chegamos finalmente na sétima e última - pelo menos dessa lista - coisa que eu odeio em você: como você conquistou meu coração e nunca o devolveu.



Capítulo 8


Então é isso, . Agora eu acho que acabou de vez.
Passamos por tantas coisas juntos, não é mesmo? Tantos momentos maravilhosos em tantos meses que você era meu e eu sua - mesmo que nenhum dos dois admitisse isso. Com essa carta eu te entrego todos esses momentos, essas lembranças que há tanto tempo ficaram no modo “repetir” em minha mente. Chegou a hora de me despedir de tudo isso.
Queria poder dizer aqui com toda a certeza do mundo que eu te superei totalmente, mas, como você sabe, eu não sou boa com mentiras, então ainda não posso pronunciar ou escrever essas palavras. No fundo eu acho que isso nunca irá acontecer, que sempre terá um pedacinho de você em mim, no meu coração. É como dizem: o primeiro amor a gente nunca esquece - e você sabe que não foi só meu primeiro amor. Mas eu tenho esperanças que, colocando tudo no papel, me ajude a deixar todos esses sentimentos que me aprisionam em você irem embora, nem que seja aos poucos.
Mal sei se você chegará ao final dessa carta, - sei que nunca gostou muito de ler -, mas espero que sim. Espero muito que você leia cada palavra escrita aqui, que meu tempo transferindo o peso do meu coração para essas folhas de papel não tenha sido em vão. Também espero que você seja muito feliz. Não quero amaciar seu ego, mas você é uma pessoa maravilhosa - por favor, não se gabe por isso - e merece encontrar alguém que você ame de verdade e que também te ame de verdade - talvez, se for possível, até mais do que eu amei.
Torço para que você consiga realizar todos aqueles sonhos malucos que compartilhou comigo - desde aprender a pilotar um avião à ter uma banda. Não significa que, comigo seguindo em frente com a minha vida, deixarei de depositar alguns pensamentos positivos em você, não sou desse tipo de pessoa que, só porque você me magoou, desejarei seu mal - ambos sabemos que a culpa do nosso relacionamento não ter dado certo não foi só do seu lado, é óbvio, já que é sempre um acumulo de acontecimentos que, em algum ponto, transbordam.
Espero que seu coração esteja tão leve quanto o meu nesse momento - você sabe que eu sempre tive essa conexão com as palavras, de me conseguir me expressar por elas.
Por um lado não queria terminar essa carta, até enrolei um pouquinho, por não querer me desapegar totalmente de você, como eu quero que aconteça após te mandar todo esse relato, mas eu sei que _é para o melhor - o meu melhor e, quem sabe, até o seu. Então eu vou terminar apenas dizendo: apesar dessas sete coisas que eu odeio em você, tem mais algumas que eu sempre amei em você - e não, eu não citarei números para não te deixar mais convencido. Obrigada por todos os momentos bons e até mesmo alguns dos ruins, já que eles me fizeram mudar de uma maneira que eu nunca esperei e que acabou sendo muito bom para mim mesma.
É isso… Adeus, .

Com amor,

.


FIM!



Nota da autora: Gente do céu, que dor no coração de ter que enviar o último capítulo aaaaaaa
Essa fic é meu amorzinho vocês não têm noção e eu to muito muito grata por todos vocês que leram, acompanharam e comentaram. A resposta foi tão positiva que me deixou sem palavras.
No último “notas da autora” eu havia dito que iria propor uma coisa no último capítulo e que, se vocês topassem, trabalharia nisso. É o seguinte, pensei em escrever uma continuação, também shortfic, mas do ponto de vista do PP no caso, o que vocês acham? Demoraria um pouquinho pra sair também, porque estou em reta final de terceirão e me preparando pro vestibular, aí fica complicado, mas por favor, deixem suas opiniões nos comentários, ficaria muito feliz sz
Então aqui me despeço de vocês, xuxus, mas isso vai ser só um “até logo”.
Beijão da tia Lê




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