Prólogo
Em filmes de romance em que dois personagens se encontram depois de longos anos sem contato, existem alguns cortes de cena muito especiais. Jogos de luz em que um personagem está iluminado em uma cor fria e outro quente. Cortes de câmera com foco nas expressões. A lenta mudança de ângulo onde o todo vira somente os dois protagonistas para representar o quão presos estão na atmosfera um do outro.
É lindo. Romântico. E absurdamente falso.
Quando vi Tanaka pela primeira vez após três anos sem contato algum, eu quis me jogar na frente de um caminhão e mudar para sempre o curso de vida dele. Simples assim.
Essa é a parte engraçada sobre guardar rancor: você pode passar uma vida toda sem dar a mínima para aquilo que te magoou. Mas, basta uma gota. Um simples sorriso. E todas as lembranças retornam como um maldito tsunami, pronto para te levar por completo e deixar somente restos que levarão anos para retornar ao seu estado normal.
Eu era apaixonado por ele, sabia? Anos e anos dedicados à uma fantasia alimentada por livros e mais livros, acreditando que em algum momento ele me veria como algo além. Tentando compreender sinais que nunca de fato existiram. Sempre colocando ele em primeiro lugar em qualquer aspecto da minha vida.
Acho que isso era o esperado, de qualquer forma. Duas crianças que haviam sido criadas juntas como consequência da proximidade de seus pais. Nós éramos uma tragédia. E eu estava fadado a viver uma vida inteira me lembrando de cada um dos erros que resultaram no nosso fim. Mas, para que minhas palavras façam sentido, eu preciso voltar alguns anos no tempo.
Senhoras e senhores, minha história com Tanaka começou assim:
Capítulo Um
I call you up when I know he's at home
I jump out of my skin
When he picks up the phone
(Eu te ligo quando sei que ele está em casa
Eu fico nervoso
Quando ele atende o telefone)
Best Friends Brother, Victoria Justice
Nova York, NY
Antes
As primeiras notas de alguma música do Ne-Yo invadiram meus ouvidos, me fazendo dar um pequeno pulinho de susto. Sebastian estava viciado na música e, quando estava junto com seus amigos, fazia questão de explodir os tímpanos de qualquer pessoa na casa junto com ele. Revirei os olhos, colocando meus fones com isolamento de ruído, voltando minha atenção para a tela do computador novamente.
Eu estava focado em resolver um bug que estava impedindo que meu personagem fosse capaz de atacar um maldito mob sem flutuar pela tela pelas últimas três semanas e tinha quase certeza de que, a qualquer momento, eu iria ter um ataque de raiva e atravessar minha mão em meu próprio monitor. Senti meu celular vibrar em minha mesa, respirando fundo antes de pegá-lo e ler a mensagem que aparecia na tela.
Sabe se está com ele?
Franzi o cenho, encarando a tela por vários segundos. Que Sebastian estava em casa, isso não era dúvida. Agora, se o acompanhava, isso era algo que merecia a minha atenção. Tanaka . Ou , como eu costumava chamá-lo, era o irmão de Summer e, como consequência, o melhor amigo do meu irmão. E, diferente dele, era uma visão. Um dos garotos mais bonitos e inteligentes que eu já conheci.
Com seus quase um e oitenta de altura, cabelos pretos que escorriam até pouco acima das orelhas em uma franjinha adorável e um sorriso ridiculamente alinhado, ele havia capturado meu coração desde que eu aprendi a diferenciar o que eram sentimentos.
E esses sentimentos também eram completamente unilaterais, já que era dois anos mais velho que eu e dificilmente me olharia de uma forma diferente de amor fraternal, principalmente quando crescemos juntos.
Mesmo assim, eu ainda me lembrava de cada pequena coisa que ele já havia feito em todos estes anos. Como quando eu menstruei pela primeira vez e ele fez questão de me emprestar roupas dele para que eu não ficasse com as machadas. Ou quando ele me apoiou logo que me assumi quanto não binário, ou quando ele me levou, junto com Sebastian, para renovar meu guarda-roupas para algo menos feminino do que eu sempre tive.
Ponderei por alguns segundos antes de tirar os fones de ouvido e me levantar, colocando meu celular no bolso da bermuda antes de prender meus cabelos no topo de minha cabeça e ajustar a camiseta larga que usava. Sai do quarto, fechando a porta atrás de mim antes de andar pelo corredor até o quarto de Seb. Bati na porta duas vezes, sabendo que ele não iria escutar antes de abrir e colocar somente minha cabeça para dentro de seu quarto.
— Ei, Seb. - gritei, chamando sua atenção - SEBASTIAN!
— Jesus! - ele murmurou, pegando o celular e abaixando o volume da música - Que foi?
— Summer quer saber se o tá aqui. - eu justifiquei, tirando o celular do bolso e mostrando a mensagem - Não sei o porquê, ela não disse mais nada.
— Estou. - a voz de invadiu meus ouvidos - Acabei me distraindo e não vi a mensagem dela. - ele se levantou da cadeira, parando ao lado da porta de braços cruzados com um sorriso de canto, que não mostrava uma unidade dos dentes ridiculamente alinhados - Você não sabe cumprimentar as visitas?
— Nós dois sabemos que você deixou de ser uma visita e se tornou um hospedeiro nessa casa. - franzi uma das sobrancelhas, cruzando os braços assim como ele.
— Justo. - ele deu de ombros - Mas, acho que mereço um abraço pelo menos, não? - ele sorriu com todos os dentes à mostra e foi como se uma corrente elétrica passasse por cada centímetro do meu corpo. Merda.
— Claro. - eu sorri, andando até ele para abraçá-lo. Ele retribuiu de imediato, me tirando do chão por alguns segundos antes de bagunçar meus cabelos. O cheiro do seu perfume invadiu meu olfato e eu resisti ao impulso de fechar os olhos e esconder meu rosto contra a curva de seu pescoço. Por Deus, ele era ridiculamente bonito. - Okay, okay, já chega. - eu ri, me afastando o suficiente para voltar a arrumar meus cabelos - Só vim pra confirmar se você estava aqui. Vou voltar para minha caverna.
Eu balancei a cabeça, desbloqueando o telefone e saindo do quarto de Sebastian enquanto digitava a resposta para Summer.
Os dois estão.
Acho que estão estudando.
Ok, mamãe queria saber se ele viria para o jantar, mas acho que não.
Summer:
Aliás, posso ir até aí? Posso voltar com ou levar roupas para passar a noite.
Preciso de ajuda com alguns termos para o exame de espanhol.
Ponderei por alguns segundos. Eu estava tentando focar no meu pequeno projeto, mas algo me dizia que ele não seria muito produtivo. E também não seria realmente uma prioridade, se eu considerasse que ainda teria mais dois ou três anos para finalizá-lo. Me sentei em minha cadeira, encostando-me contra o estofado da cadeira quando duas batidas na porta chamaram minha atenção. Me apressei em responder Summer.
Sim, pode vir.
Traz roupas e comida, a gente pode assistir algo.
E traz as coisas de cabelo, preciso de você pra fazer algo nele.
— Pode entrar. - murmurei, antes de colocar o celular na mesa e voltar a focar em achar o erro nas linhas de código.
— Ainda está tentando achar o erro? - se aproximou, apoiando-se entre a minha mesa e o encosto da minha cadeira. Os dedos longos com as veias saltadas no topo de sua mão me deixando desconcentrado por alguns segundos. Puberdade maldita.
— Sim. - cruzei as pernas em cima da cadeira, passando as mãos pelo meu rosto. - Eu juro que a qualquer momento eu vou atravessar minha mão nesse monitor e nunca mais mexer com design de jogos novamente. Eu vou mudar minha carreira e desistir dessa bosta.
— Estamos sendo um pouco dramáticos hoje, não estamos? - ele soltou um risinho, me encarando sem que o sorriso deixasse seus lábios. - Vamos lá, boy wonder, qual é o problema? - ele se levantou, puxando minha cadeira para o lado e pegando o banquinho ao lado da minha mesa para sentar ao meu lado.
— Você não tinha que estar estudando com Sebastian?
— Ele disse que você estava estressado com os códigos há algum tempo e que todo o tempo que você tem livre, você está preso no quarto tentando resolver. - ele justificou - E que ele já não aguenta mais te ver estressado e a ponto de cometer um assassinato. Seb me pediu para dar uma olhada e te dizer o que está errado.
— E você aceitou?
— Claro, eu gosto. - ele deu de ombros - e você tem uma curva melhor de aprendizagem que a porta do seu irmão, mas não conta pra ele.
— EU OUVI ISSO, SEU BABACA. - Sebastian gritou do outro lado do corredor.
— ERA A INTENÇÃO. - ele gritou de volta, me encarando - Voltando ao ponto, pode me mostrar o erro?
— Certo. - eu concordei - Summer está vindo pra cá, aliás. Você vai passar a noite aqui?
— Não tinha planos de fazer isso, mas quem sabe. - ele deu de ombros, enquanto observava o personagem flutuar pela tela com a falta de gravidade.
— Nem fodendo. - ele começou a rir - Essa merda está parecendo um balão de hélio, puta merda. - ele jogou a cabeça para trás, fechando os olhos em meio ao processo e eu o observei. O maxilar marcado, a sobrancelha falhada graças à uma queda de skate quando ele tinha quatorze anos, os cabelos escorrendo para trás e a veia levemente saltada em seu pescoço. E o seu maldito perfume invadindo meus sentidos. Por favor, Deus, me deixe beijar este garoto e eu juro nunca mais cometer qualquer pecado. Por favorzinho.
— É, eu tenho plena noção que está ridículo - eu forcei um suspiro, sabendo que era mais por ele ser tão bonito quando ria do que por cansaço - Por favor, não faça piadas.
— Okay, okay. - ele balançou a cabeça - Já cometi um erro semelhante. Geralmente deve ter faltado algo de pontuação ou uma linha de comando que você esqueceu de adicionar, fica tranquilo. Posso? - ele apontou para o computador.
— Fique à vontade.
Ele assentiu, pegando o mouse e o teclado para revisar os comandos. Não levou mais que alguns minutos para que ele identificasse o erro e escrevesse uma linha de comando extra antes de colocar o script para rodar novamente. Simples assim, o jogo voltou a ser funcional e com gravidade enquanto o personagem conseguia pular de um ponto a outro sem flutuar para o meio da tela. Eu encarei, sem palavras.
— Eu poderia te beijar agora em agradecimento. - eu murmurei, testando os controles do personagem, que estavam perfeitamente funcionais. - Obrigado, . - eu o encarei enquanto ele sorria orgulhoso, como se tivesse acabado de descobrir a cura para o câncer.
— Sem beijos, ia ser meio esquisito. - ele me soltou uma piscadela, bagunçando meus cabelos - Agora, você pode focar em desenvolver ele e tentar aplicar para o programa de verão da UCLA no próximo ano ou no seu último ano. As vagas são acirradas, mas eu passei nele esse ano e consigo te ajudar com os requisitos, se precisar.
— Você passou pro programa da UCLA? - eu pausei o jogo, o encarando - Quando ficou sabendo?
— Faz uns dois dias, eu acabei esquecendo de comentar e só lembrei agora. - ele deu de ombros, como se aquilo fosse um mero inconveniente e não como se fosse um dos seus maiores sonhos, depois de entrar na MSU. Como se eu não tivesse escutado ele falar sobre isso pelos últimos três anos.
— Você precisa começar a deixar as coisas anotadas em um quadro em algum lugar visível para começar a se lembrar das coisas, .
— Eu funciono bem assim.
— Você esquece até de ir ao banheiro quando está focado em programar alguma coisa, eu sei porque já vi acontecer. Você precisa disso.
— Já te disseram que às vezes você parece mais velho que o seu irmão? - ele cutucou minhas costelas, me fazendo rir. - Vou lembrar disso.
— Não vai, não. Mas, fica tranquilo porque seu aniversário está chegando e vou arrumar um pra você. - eu sorri, batendo em seu ombro. - Vou ajudar Summer a estudar para o exame de espanhol que temos na segunda. Você vai ficar pra ajudar?
— Vou voltar pro meu projeto. - ele bocejou - Preciso terminar isso antes de dormir.
— Então, você vai dormir aqui.
— Não sei, depende do quão cansado vou ficar depois de acabar. Seu pai disse que ia ficar no trabalho até mais tarde hoje resolvendo algumas entregas que eles precisam fazer para um cliente estrangeiro, então, acho que vou acabar ficando pra evitar que vocês comam qualquer coisa esquisita que Bash possa tentar cozinhar.
— Certo. Se precisar de algo, me avise. - eu sorri de canto e ele apenas assentiu, se levantando do banquinho antes de bagunçar meu cabelo mais uma vez.
— O mesmo vale pra você.
Ele me mandou um sorriso de canto, saindo do quarto no exato momento em que Summer me avisou que havia chegado. Eu me levantei da cadeira, saindo do quarto e descendo as escadas do apartamento para abrir a porta de entrada para a caçula dos s.
Summer estava mexendo no celular quando eu abri a porta e ela me abraçou. Seus cabelos estavam soltos e caiam sobre seus ombros com as pontas pintadas em rosa.
Ela carregava uma mochila em suas costas e algumas sacolas cheias de comida e coisas de cabelo.
— Minha mãe disse que está a ponto de comprar um apartamento no seu prédio porque nós ficamos mais aqui do que em casa.
— Seria uma boa ideia.
— Não é? Mas, acho que ela está evitando fazer isso porque em três anos vamos estar em Michigan.
Ela entrou, encostando a porta atrás de si antes de me acompanhar até meu quarto enquanto tagarelava sobre odiar ter uma dificuldade tão grande com o espanhol quando sua segunda mãe era argentina. Eu soltei uma risada sincera enquanto entrávamos em meu quarto.
— Calma, você vai aprender. Você lembra da dificuldade que foi quando eu comecei a aprender japonês, não lembra?
— E hoje você só não fala melhor que eu porque eu viajo todo o ano pra lá. - bufou, jogando as coisas em cima da minha cama. - Eu trouxe sneakers, milky way, algumas balas de goma e salgadinhos. O que você tem aqui?
— Depende… - eu sorri enviesado antes de fechar a porta atrás de mim - Meu pai comprou algumas bebidas novas para o bar, podemos furtar uma garrafa. A menos que você queira ficar tomando suco.
— Olha bem pra minha cara, , você acha mesmo que eu quero beber suco na sexta-feira? - ela me pegou pelos ombros, me chacoalhando.
— Amanhã temos a festa de aniversário da Daisy, de qualquer forma. Vamos beber de qualquer jeito. - murmurei, pegando as coisas de cima de casa e tirando-as da sacola, organizando tudo no centro da cama.
— Justo.
Ela sorriu, sentando-se no chão e tirando o iPad, canetas e um caderno de dentro da bolsa. Summer digitou algo no iPad antes de abrir a folha de exercícios e me passar.
— Essas são as coisas que vão cair no exame de espanhol.
— Okay. - eu peguei o aparelho, estudando as questões. Em teoria, eram coisas simples. Artigos definidos e indefinidos, artigo neutro Lo e contração de artigo. Eu compreendia a dificuldade de Summer. Eram temas complicados quando não havia equivalências nas línguas maternas de Summer.
— Se eu falar em espanhol, você vai me entender?
— Sim. - ela assentiu - Consigo falar e compreender, só não consigo entender a lógica por trás desses pontos.
— Certo. Bueno, vamos a empezar con los artículos definidos e indefinidos, ¿eh?
— Vale.
Summer murmurou e eu peguei minhas anotações digitais para explicar com mais facilidade. Me sentei ao lado dela e comecei a explicar, tentando ao máximo dar exemplos ridículos porque eu sabia que assim, as chances de Summer memorizar as pequenas regrinhas eram maiores que apenas explicar a definição.
Após longas três horas, Summer foi capaz de diferenciar cada um dos pontos e fazer os exercícios de revisão com facilidade, sorrindo orgulhosa quando eu corrigi todos os exercícios, a parabenizando por acertar todos eles após algumas tentativas.
— Puedes decir lo que quieras, pero aunque tome un poco de tiempo, tengo un flujo de aprendizaje buenísimo, eh? - ela se gabou, jogando os cabelos rosa-choque no ar. - Aliás, o que você tá querendo fazer no cabelo?
— Claro que tem, Sum. - eu sorri - Estava pensando em pintar a nuca de azul. O que acha?
— Eu acho uma boa, ficaria bonito. - ela se levantou, depois de organizar os materiais da escola em sua mochila - Eu tenho um azul índigo aqui que sobrou da primeira vez que pintei. O que acha? - ela pegou a caixinha levemente manchada, me mostrando. - Mas, ainda acho que deveríamos marcar de fazer isso em um salão.
— Não, fazer no banheiro da minha casa me parece mais confortável. - dei de ombros, pegando a caixinha de sua mão e a analisando com atenção. - Aceito esse. Podemos pintar a nuca e fazer uns fios na laterais, o que acha?
— Oh, meu bem, depois que você passar por essas mãos, este cabelo nunca mais vai ser o mesmo.
Summer deu pulinhos de alegria, pegando a sacola e me arrastando até o banheiro com uma alegria que somente ela seria capaz de oferecer.
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¹ Bom, vamos começar com os artigos definidos e indefinidos, sim?
² Pode falar o que quiser, mas ainda que leve tempo, eu tenho um fluxo de aprendizagem bem bom, né?
Capítulo Dois
“It’s all about the “he says, she says” bullshit’”
(É tudo sobre essa merda de “diz que me diz”)
— Break Stuff, Limp Bizkit
Nova York, NY
Antes
— E então, ela me puxou para um dos armários de limpeza e me deu o melhor boquete que já recebi em toda a minha vida. O. Melhor. Boquete. - Sebastian sussurrou, gesticulando animadamente contra a superfície de metal enquanto eu procurava o livro de álgebra III em meu armário.
Sebastian estava saindo com alguma garota da turma dos seniores que eu não havia feito questão de pegar o nome e, pelas palavras de animação e detalhes que eu tampouco fazia questão de me inteirar, eu estava certo em ignorar boa parte das palavras que saiam da boca de Sebastian Romero .
— Quer um cartão de “parabéns” ou algo assim? - o encarei, colocando o livro em minha bolsa antes de fechar o armário e trancar a porta - Honestamente, você deveria tomar um pouco mais de cuidado com as palavras, não é como se as fofocas nesses corredores não tomassem proporções estrondosas a troco de nada, né?
Eu murmurei, deixando a mochila cair contra minhas costas enquanto andávamos pelos corredores até a sala que teríamos o próximo horário. Eu brincava com o amarrador de cabelos como se minha vida dependesse disso. O corredor lotado e barulhento me deixava ansioso ao ponto de me fazer sentir dores físicas com o som de metal sendo batido contra si mesmo diversas vezes. Ainda assim, isso não impediu Sebastian de soltar uma risadinha. Me limitei a balançar a cabeça negativamente. Não precisei dar mais detalhes quando a história ainda estava fresca.
Rumores na Horace Mann tomavam proporções gigantescas desde que havíamos entrado no colégio, ainda crianças. Nos primeiros anos de fundamental, já haviam rumores de alunos do penúltimo ano saindo do estado para ter abortos legalizados em segredo quando, na realidade, haviam tido uma cirurgia de remoção de apêndice. v No ano anterior, havia sido alvo de um rumor que envolvia a professora da eletiva de música e toques que nem de longe seriam considerados aceitáveis considerando a idade dos envolvidos. O rumor tomou proporções absurdas depois de um aluno ter alegado que havia visto ambos se abraçando e a professora em questão dar um beijo na bochecha de durante o recesso de verão em um shopping.
O que, de fato, seria uma interação suspeita se a mulher não fosse a tia de e Sebastian e eles não estivessem em um almoço de família.
As consequências do rumor acabaram em uma suspensão de três dias. Tudo porque Sebastian caçou o responsável por espalhar o rumor como uma caça às bruxas e, quando descobriu, fez questão de resolver isso de forma muito madura. Ele provocou uma fratura exposta na perna de Joshua Miller durante uma partida de futebol no interclasse.
— Se eu não contar pra alguém, vou explodir. - ele riu - Não consigo guardar segredos, . Eu conto pra você porque assim eu não preciso sair contando pra qualquer outra pessoa.
— Uma cruz que eu não tenho a mínima vontade de carregar. - eu balancei a cabeça negativamente, vendo Summer e do outro lado do corredor conversando animadamente.
havia pintado seus cabelos de azul na noite passada e ainda tinha algumas manchinhas de cor em sua nuca. Ele ria animadamente sobre algo que Summer havia dito antes de fechar o rosto completamente quando a imagem de Braeden Smith se materializou há poucos metros dos dois.
Braeden Smith era um babaca e havia ficado pior após perder o posto de capitão do time de futebol da Horace para Sebastian. Ele era absolutamente todos os estereótipos de atleta escolar, do bullying até a forma como ele se parecia. Eu nutria uma piada interna com Sebastian de que ele provavelmente batia punheta para o hino nacional dos Estados Unidos e ficava de pau duro sempre que via uma águia-de-cabeça-branca. Ele era um merda e havia nutrido um interesse especial em Summer e eu nos últimos meses. As provocações começaram leves, uma bolinha de papel ou bilhetes jogados em minha cabeça durante as aulas. Uma marcação agressiva e carrinhos nos treinos.
E nas últimas semanas, haviam escalado para empurrões e xingamentos, quando ele finalmente percebeu que as provocações leves não eram o suficiente para me tirar a paciência. Logo depois, ele resolveu que Summer seria uma boa forma de me desestabilizar e começou a fazer da vida dela um inferno.
Observei a interação, colocando o braço em frente a Sebastian e impedindo-o de andar, somente para apontar para o grupinho que estava ao fim do corredor.
— Se ele chegar perto dos dois, eu vou dar fim nisso. - Seb ralhou, encarando.
— Não. Vai dar merda se o capitão do time estiver socando o vice-capitão.
— Que se foda, . Braeden está enchendo minha paciência faz meses. Você não quer lidar com isso na base da violência? Beleza, direito seu. Mas, ele já cruzou limites quando começou a fazer isso com Summer. E se ele sonhar em falar qualquer merda para o , eu vou trucidar as chances dele conseguir uma bolsa de atleta em qualquer universidade, assim como fiz com Joshua.
Sebastian me encarou e eu respirei fundo. Eu poderia ter acabado com essa merda na primeira vez em que ele havia me provocado, mas prometi a mim mesmo que seria alguém melhor esse ano e não iria voltar para a pessoa que era logo que as coisas com Danielle acabaram.
— Ele sabe que está fora dos limites, ele não é estupido, Sebastian.
— Acho que é, porque nessa altura do campeonato Summer e são a mesma pessoa.
Sebastian apontou com a cabeça para o irmão, que rolava os olhos e fechava o punho com força contra a alça de sua mochila, como se aquilo fosse a única coisa o impedindo de pular em cima de Braeden. E Braeden não foi inteligente o suficiente para entender o recado implícito em . As coisas após isso escalaram em níveis estratosféricos segundos depois.
Braeden disse algo para Summer assim que se aproximou dela, apoiando-se com a mão espalmada contra a cabeça de minha irmã de forma em que ela se encolheu contra o armário, mas não sem antes me encarar com um sorriso cínico. No momento seguinte, eu larguei minha mochila no chão e corri em direção a Summer, ao menos avisando Sebastian e apenas sentindo meu coração palpitando de adrenalina e mandando para o inferno toda a paciência que eu havia construído.
, entretanto, tinha um fio de paciência muito menor que o meu. E antes mesmo que eu pudesse alcançá-los, ele tomou as rédeas da situação e deu o primeiro empurrão em Braeden, afastando-o de Summer antes de jogar sua mochila no chão e avançar em direção à Braeden.
— Quem caralhos você pensa que é?
A voz estridente de invadiu meus ouvidos junto com o barulho de corpos batendo contra armários. havia pego Braeden pelo colarinho e o jogado com força contra a superfície de metal. tinha apenas cinco centímetros de diferença na altura de Braeden, mas a fúria em seus olhos denunciavam que ele estava próximo de ter um ataque de raiva.
— Tira as mãos de mim, spic. - Braeden cuspiu, empurrando .
deixou um sorriso brincar em seus lábios antes de dar o primeiro soco no nariz de Braeden, que começou a jorrar sangue instantaneamente.
— E BRAEDEN SMITH ESTÃO BRIGANDO! - um dos calouros gritou e um círculo começou a se formar ao redor do corredor enquanto os alunos gritavam como animais em favor da briga.
Braeden tirou a mão do rosto e avançou para cima de , acertando um soco em seu supercílio direito e um outro em seu olho. O sangue começou a jorrar, escorrendo pelo rosto de , que revidou com um chute no joelho lesionado de Braeden. Ele caiu no chão e ao menos teve tempo de reagir quando chutou sua costela e subiu em cima dele, desferindo socos em seu rosto.
Decidi que já havia visto demais quando empurrei as pessoas que estavam à minha frente e puxei um furioso pela cintura.
— ME SOLTA, EU VOU ACABAR COM ESSE ESCROTO. ME LARGA. - se debatia contra meu peito, gritando com a voz rouca.
— , sou eu. Se acalma, você vai matar o Braeden se continuar assim, se acalma, caralho.
Ele continuou se debatendo por alguns segundos, finalmente se dando conta de quem havia o segurado ao parar de se mexer e finalmente me deixar tirá-lo de perto de Smith. Seu rosto estava coberto com o sangue do corte em sua sobrancelha e suas roupas estavam com respingos.
— O que está acontecendo aqui? - uma das professoras, Sra. Bower, cortou entre os alunos, vendo Smith se levantando com dificuldade no chão antes de ver a imagem ensanguentada de contra meu corpo. - Smith, Tanaka e Romero, vocês vão para a enfermaria imediatamente e depois diretamente para a sala do Sr. Coleman.
encarava o teto com um saco de gelo contra sua têmpora enquanto sentávamos na sala de espera do diretor Coleman. Ele balançava os pés ansiosamente contra o piso, mordendo o lábio enquanto ouvíamos as vozes abafadas dentro da sala do diretor. Nossos pais haviam sido chamados graças à briga. Agora os senhores Smith, e discutiam calorosamente.
— Isso é um absurdo! - a voz de minha mãe invadiu meus ouvidos - Meus filhos estavam sendo vítimas de bullying há meses! MESES, JORDAN. - minha mãe se referiu ao Sr. Coleman. Era estranho vê-la se referir a ele com tanta informalidade, mesmo sabendo que eles haviam se conhecido durante a faculdade. Mas, novamente, era realmente uma surpresa quando o mesmo acontecia com a maioria dos pais dos alunos da Horace?
— Eu compreendo, Connie. Entretanto, a Horace Mann tem um código de conduta contra violência que eu não posso simplesmente ignorar.
— Certo. E bullying não entra neste código? Nossos filhos têm sido vítimas do senhor Smith por alguns meses e, até agora, nada foi feito para resolver o problema. Meu filho voltou pra casa com um olho roxo no mês passado. O que é exatamente você fez para evitar que isso acontecesse?
— Isso aconteceu? - o encarei.
— Sim. - ele enrubesceu - Foi no último dia das aulas de verão e você já estava no Japão para passar as férias.
— Por isso você não quis aceitar minhas chamadas de vídeo? - eu franzi minhas sobrancelhas - Por que você escondeu isso de mim?
— Eu consigo resolver meus problemas, . Viu? - ele piscou em minha direção e apontou para o olho que começava a tomar uma tonalidade roxa e eu apenas rolei os olhos.
— Aconteceu fora dos limites escolares, não havia nada que eu pudesse fazer.
— Ah, compreendo. Muito bom, Jordan. Muito bom mesmo. - Liam riu, amargo - Ele estava apenas se defendendo. Todos os alunos que você interrogou disseram que não deu o primeiro soco. Como exatamente você justifica que ele pegue uma suspensão maior que o responsável por ter começado a briga?
— A sua filha quebrou duas costelas e deslocou o joelho do meu filho. Isso parece como um comportamento de uma vítima para você? - Sr. Smith ironizou e eu tive que juntar toda a minha força de vontade para não invadir a sala e fazer com que Ferdinand Smith saísse pelos portões da Horace em uma ambulância da mesma forma que seu filho.
— Não confunda a reação de com violência gratuita quando ele está há meses reclamando dos episódios de agressão verbal que o seu filho provocou. E eu sugiro que escolha muito bem suas palavras, Ferdinand, porque eu tenho dois FILHOS. não é uma garota e isso já deveria ter sido esclarecido há muito tempo. Mas, creio que eu não deveria esperar muito de você, visto a criação que deu ao seu filho, certo?
— Ele realmente disse ‘’Direitos Trans’’, huh? - sussurrei em direção à , empurrando-o levemente com o cotovelo. Ele soltou uma risadinha.
— E se o pai do Braeden continuar, meu pai vai sair daqui com pelo menos três processos abertos contra ele. - riu - Me desculpa.
— Por?
— Por isso. - ele apontou ao redor - Meio que poderia ter sido evitado se eu não tivesse sido impulsivo. Você nem fez nada e agora está correndo risco de ser suspenso também.
— Relaxa, . - eu o tranquilizei, apertando levemente seu ombro - Se você não tivesse agido antes de mim, eu estaria aqui de qualquer forma. Eu estava atravessando o corredor pra acabar com isso de uma vez quando você acertou o primeiro soco.
— Mesmo assim - ele se encostou contra a parede - Eu me sinto mal. Você não deveria ser penalizado pelas minhas ações e vou me certificar de deixar claro caso eles tentem te suspender.
— Eu não te mereço, sabia? - eu escorreguei minhas mãos por cima da dele, tomando cuidado para não tocar os nós machucados de seus dedos - E eu definitivamente não preciso que você lute minhas batalhas por mim, idiota.
— E o que mais eu faria? Seus bracinhos de macarrão não conseguiriam dar um bom soco nem se sua vida dependesse disso. - sorriu, me cutucando com seu cotovelo.
Mesmo quando ele estava completamente machucado depois da briga, ainda sorria como se tudo não passasse de um mero inconveniente. Eu senti meu peito errar algumas batidas quando o sol passou pelas janelas e atingiu seus rosto, transformando seus olhos âmbar em uma cor muito semelhante à um pote de mel. Ele era lindo. E a porra de uma ameaça, ao mesmo tempo.
— Eles estão começando a crescer, olha. - eu flexionei meus músculos contra a manga da camisa social branca - Ficarei maior que você logo, logo.
— Assim espero, é sua obrigação moral visto que seu corpo produz algo que o meu não produz. - ele respondeu, rolando os olhos antes de encarar o teto novamente - Minha mãe vai me matar quando ela descobrir.
— Não acho que vá. Paola é bem compreensiva e, como seu pai costuma dizer…
— Legítima defesa é legítima defesa, então nunca dê o primeiro soco. - repetiu, sorrindo momentaneamente - Advogados.
— Advogados de merda.
Eu concordei ao entrelaçar meu mindinho contra o dele. Um pequeno hábito que havia surgido entre nós desde que éramos crianças. quem havia começado. A primeira vez que tive que me despedir do meu pai antes que ele se mudasse para o Japão graças ao trabalho dele como CEO de uma marca de cosméticos, entrelaçou seus dedos contra os meus enquanto eu chorava e ele me dizia que tudo ficaria bem. E que poderia ver meu pai durante as férias e feriados prolongados.
A segunda vez que fizemos isso, foi quando ele decidiu que era hora de contar aos pais dele que na realidade, ele era trans. Seus pais não levaram isso da melhor forma possível de início e ele passou uma semana na minha casa enquanto evitava falar com seus pais. Sebastian, Summer, e eu passamos todo o tempo dormindo juntos até que Paola e Liam entendessem que ele não estava passando por uma fase rebelde. Ou que ele era jovem demais para saber o que identidade de gênero era.
Eu escutei o barulho da porta finalmente sendo aberta e virei minha cabeça para ver minha mãe, Liam e Ferdinand Smith saindo da sala com Sr. Coleman em seu encalço. O pai de se abaixou, analisando seu rosto para ter certeza de que somente o tratamento da enfermaria do colégio seria o suficiente para os machucados em seu rosto, ao mesmo tempo em que minha mãe se sentava ao meu lado.
— Oi, mãe. - eu sorri quando ela passou seus braços ao meu redor em um abraço apertado - O que foi isso?
— Eu só estou feliz que você está bem. - ela sorriu, antes de se inclinar em direção a - Mas, nós vamos conversar sobre isso mais tarde, tudo bem? Nós quatro.
— Tudo bem, tia. - olhava para baixo como se estivesse completamente envergonhado de suas ações. Mas, eu o conhecia o suficiente para não confiar em suas habilidades de atuação. O mesmo acontecia com a expressão irritada que tomava conta do rosto de minha mãe.
— Já que estamos todos aqui, Braeden Smith será suspenso de suas atividades escolares durante a semana e terá que participar da detenção por duas. Ele também perderá seu posto como Vice-Capitão do time de futebol da Horace para servir de exemplo aos outros estudantes de que o bullying não será tolerado no perímetro escolar. - Sr. Coleman encarou o Sr. Smith - Quanto a Sr. e Sr. , vocês serão liberados das aulas de hoje, visto que não estão em condições para participar delas sem que isso cause um alvoroço nos demais alunos e mais uma semana de detenção a partir de amanhã. Esse prazo pode ser estendido de acordo com seu comportamento, mas visto que vocês são alunos exemplares e essa foi a primeira violação do código de conduta escolar, creio que não vamos ter mais problemas, certo?
— Não, senhor. - e eu concordamos em uníssono.
— Ótimo, vocês estão dispensados.
O Diretor Coleman nos deu as costas e voltou para a sua sala. Ferdinand Smith ao menos se importou em olhar para trás enquanto pisoteava com força para longe da sala do diretor.
Nós seguimos o mesmo caminho logo após para o interior do carro dos , em completo silêncio pela viagem toda até a casa de . Eu permaneci com meu mindinho entrelaçado no dele, esperando que a bomba estourasse no mesmo segundo em que sentamos contra o sofá e nossos pais pararam em nossa frente, nos encarando.
— Eu poderia dizer que estou muito desapontada com as ações de vocês dois hoje. - Minha mãe começou, mas um pequeno sorriso foi aos poucos se formando em seus lábios - Mas, eu estaria mentindo. E eu me conheço bem o suficiente para saber que eu tive minha quantidade de brigas escolares na idade de vocês e que seria uma questão de tempo até que vocês trouxessem isso para a discussão, caso eu comentasse algo. Então, eu vou deixar isso para Paola.
— Exatamente. - Liam concordou - Mas, ainda assim, eu preciso dizer que fiquei preocupado. Quando a secretária do colégio entrou em contato com a gente dizendo que um dos alunos havia sido encaminhado para o hospital, nós esperamos o pior. E, como vocês bem sabem, quando chegamos vocês ainda estavam na enfermaria então ficamos bem apreensivos. Eu estava preparado para ligar para os meus sócios para começar a juntar evidências para o processo contra Smith.
— Meu deus, pai. - murmurou - Você é muito dramático.
— Um dia, quando você tiver filhos, vai saber do que estou falando. - Liam rebateu.
— Então, vocês não estão bravos? - eu encarei minha mãe.
— Não. - ela sorriu - Um pouco preocupados em como isso pode influenciar em seu histórico acadêmico? Sim. Mas, não estamos bravos. Só precisamos que vocês não arrumem mais brigas daqui pra frente.
— Exato, conseguimos tirar vocês de uma suspensão por ser a primeira infração de vocês, mas vai ser complicado repetir o feito se isso virar um hábito. - Liam cruzou os braços.
— Nós não iremos. - se certificou em tranquilizá-los - Me desculpa, tia. Não queria que tivesse sido penalizado por isso, ele só separou a briga.
— Não precisa se desculpar. - minha mãe sorriu - Eu hoje em dia não aprovo condutas violentas, mas Deus sabe o quanto aquele garoto mereceu os bons socos que você deu nele.
— E ainda que eu também não ache que isso tenha sido a melhor forma de lidar com a situação, eu estou orgulhoso que você defendeu seus amigos dessa forma, tenho certeza que Connie compartilha do mesmo sentimento. - o pai de concordou.
— Isso. - minha mãe sentou ao lado de - Agora, quanto a Paola e seu pai. - ela me encarou.
— Eu sabia que isso iria chegar nesse ponto. - murmurou - Ela vai me matar.
— Nós conversamos sobre isso no caminho até a Horace e decidimos que estamos de acordo em não comentar isso com Paola e Daizen se vocês prometerem que isso não vai se repetir. Foi apenas uma infração menor que pode nem entrar no histórico escolar de vocês, então é possível que eles não tenham acessos a esses registros se não contarmos. - Liam se sentou ao meu lado.
— Não vai se repetir. - eu me certifiquei em dizer - Prometo não deixar as coisas escalarem nesse nível caso algo similar volte a acontecer.
— Duvido muito que alguém vá tentar algo depois do que aconteceu com Braeden. - concordou - Ele virou um exemplo, as coisas na Horace não são esquecidas tão facilmente.
— Eu quem o diga.
Liam concordou. Não era segredo que ele havia sido um aluno da Horace há bons anos atrás. Havia um mural com todas as conquistas dos alunos através dos anos e Liam estava em pelo menos cinco fotos emolduradas como atleta olímpico de futebol, assim como Sebastian.
Mas, antes esse fosse o único feito de Liam durante seus anos estudantis. Como consequência da maioria dos alunos do colégio serem legados de estudantes, não era difícil saber dos rumores relacionados à época de ouro da Horace. Daizen e Liam haviam sido responsáveis por criar a lista dos seniores que era repetida ano após ano no colégio. Uma lista que envolvia desde boquetes nos armários de limpeza até menáges com garotas da faculdade.
Era um acordo silencioso entre Sebastian e eu nunca de fato deixarmos claro para nossos pais o quanto sabíamos do histórico deles. Entretanto, isso não impedia que Sebastian tivesse acesso a lista e começasse a trabalhar para que ela fosse completada até o fim daquele ano letivo, quando iríamos para Michigan.
— Com isso resolvido, vou até a galeria. Tenho algumas exposições para organizar com minha agente e eu saí no meio de uma reunião para ir até a Horace. - minha mãe se levantou - Você se importaria de ficar de olho neles, Liam? Acho que ambos sabemos que Summer e Sebastian ficarão ansiosos se chegarem e não estiver aqui.
— Pode ir. Mas, não garanto que ficarei o dia todo, preciso voltar para o escritório para resolver alguns trâmites relacionados à vinda da MSFT para os Estados Unidos.
A MSFT ou MISFIT, era a empresa de cosméticos em que papai e Paola dividiam sociedade. A mãe de era a principal engenheira de produtos da marca e meu pai, era seu CEO. Como consequência, ambos haviam se mudado para o Japão e desde então haviam começado a tramitação para trazer a marca para os Estados Unidos, assim eles finalmente poderiam voltar para as suas famílias e nós poderíamos deixar de vê-los somente duas vezes ao ano.
— Quer uma carona? É caminho, tenho certeza que eles vão se comportar enquanto estiverem aqui. - minha mãe pegou a bolsa, alisando seu vestido.
— Provavelmente vamos voltar para o projeto de programação de . - eu confirmei.
— Então, irei aceitar a carona. - Liam sorriu, pegando a maleta em cima da mesa de centro antes de depositar um beijo no topo da cabeça de . Minha mãe fez o mesmo comigo - Até mais tarde, se comportem.
— Nós vamos. Até mais, pai.
se despediu e eles saíram do apartamento. Ele permaneceu por alguns segundos, como se estivesse considerando um mundo de opções antes de me encarar.
— Mario Kart?
— Eu vou te trucidar.
Eu respondi, antes de me levantar com e irmos diretamente para a sala de jogos. Eu me apressei em arrumar tudo enquanto enchia algumas tigelas com salgadinhos e pegava duas latas de refrigerante na geladeira para deixar próximos dos puffs.
Nos sentamos e eu passei o controle para ele ao mesmo tempo em que pegava a lata de Coca-Cola e a deixava ao meu lado. Eu selecionei o Bowser como meu personagem enquanto escolheu Yoshi.
— Então - puxei assunto enquanto o jogo iniciava e esperávamos a largada -, o que Braeden disse pra vocês?
— Nada demais, não vale a pena repetir. - ele deu de ombros, acelerando quando foi dada a largada.
— .
— .
— Eu tô falando sério. - murmurei, focando em pegar o primeiro item disponível na tela. Eu sorri satisfeito quando o item de bomba de tinta apareceu em meu inventário.
— Não foi nada, é sério.
— Você não teria aquela reação se tivesse sido nada. - eu pausei o jogo, forçando sua atenção para mim - Qual é, achei que contássemos tudo um para o outro.
— Ele disse que poderíamos fazer um a três. E que eu só era esquisito daquele jeito porque não tinha provado um pau ainda. - me encarou e eu senti a raiva voltar a se acumular em meu corpo.
— Eu vou matar aquele desgraçado.
— Não vai, não. Fizemos uma promessa de não criar problemas de novo e eu não quero ter que lidar com o esporro da minha mãe.
— Eu prometi não criar problemas no ambiente escolar. Fora dele, já é outra história. Sr. Coleman disse que ele não pode fazer nada fora do perímetro escolar.
— Eu juro por deus que vou me matar na sua frente, . - disse com seriedade - Esquece isso, eu já resolvi o problema, tá tudo bem.
Ele voltou a encarar a tela, esperando silenciosamente para que eu tirasse a pausa do jogo. tinha só quinze anos, a mesma idade de Summer. E Braeden tinha dezoito. Uma diferença não muito grande, mas incômoda suficiente para que os alarmes soassem em minha cabeça. Por que caralhos nós éramos cercados por esse tipo de gente?
— Olha, , o que ele fez merece bem mais do que só uma surra. Ele assediou vocês, isso é sério pra caralho, Braeden precisa ser expulso.
— Eu sei. - bufou - Eu sei de tudo isso, . Mas, não é como se eu pudesse falar muita coisa, né? Quase fui suspenso por bater nele, se eu disser que foi porque ele me assediou, vão dizer que estou perseguindo ele e que passei dos limites. Nós dois sabemos como as pessoas me veem naquele lugar, eu não estou afim de jogar mais palha na fogueira. Não conta nada pro Sebastian, tá legal?
— Não posso prometer isso, . - eu o encarei - Ele merece o mesmo tratamento de Joshua. E eu não vou passar pano pra uma merda dessas de novo.
— Como foi com Danielle?
Eu pausei. Danielle era um assunto complicado desde o último ano e raramente conversávamos sobre ela. não sabia metade das coisas que ela havia feito, apenas pequenos rumores aqui e ali. Ele havia me visto ficar completamente apaixonado e depois me viu completamente destroçado por ela.
Eu evitava citar seu nome ou até mesmo pensar nela, porque isso me levava a lugares em que eu não gostaria de lembrar ou estar. Era uma espiral de merda que eu ainda estava lutando para sair. E que havia sido esfregada na minha cara no exato momento em que as palavras saíram da boca de .
— É, exatamente como foi com ela. - eu murmurei, voltando minha atenção para a tela. suspirou, tirando o controle de minhas mãos para chamar minha atenção.
— .
— O que foi?
— Olha pra mim. - ele pediu e eu obedeci - Passei dos limites aqui, me desculpa. O que eu queria dizer é que eu não quero que vocês se metam mais do que já estão nessa história. Eu não sou você e ele não é Danielle. Vou me certificar de que ele não saia sem consequências disso, tá? A história com a Danielle não vai se repetir, mesmo que eu não saiba de tudo. Isso eu posso prometer.
— Você é só uma criança.
— Temos dois anos de diferença e os mesmos contatos. - ele sorriu de canto -, Não queima a cabeça com isso. Você precisa garantir que vai estar na MSU no próximo ano e eu também. E pra isso acontecer, precisamos ficar longe de problemas.
— Okay. - eu assenti, me dando por vencido - Mas, tem que me prometer que isso não vai te afetar.
— Prometo. - ele me garantiu - Mas, você sabia que o Braeden fuma maconha embaixo das arquibancadas durante os intervalos das aulas? Seria uma pena se alguém tivesse contado isso para o Sr. Coleman.
Três semanas depois, a notícia de que Braeden Smith tinha sido transferido para um colégio na Inglaterra tomou os corredores. Ninguém sabia ao certo o que havia acontecido e algumas teorias diziam que ele tinha sido expulso depois de ser pego em condutas sexuais com uma professora do corpo docente.
Entretanto, quando passei por e ele me deu uma piscadela, eu sabia que ele tinha cumprido com sua promessa de não deixar com que mais uma Danielle andasse pelos corredores de uma Universidade com seu histórico e futuro intactos.
E, por um segundo, eu me senti um pouco melhor do que já havia me sentido no último ano.
Capítulo Três
“Favorite friend
And nothing’s wrong when nothing’s true
I live in a hologram with you”
(Amigo favorito
E nada está errado quando nada é verdade
Eu vivo em um holograma com você)
— Buzzcut Season, Lorde
Nova York, NY
Antes
Após o inferno das semanas anteriores e da expulsão de Braeden, eu me sentia como se pudesse finalmente respirar novamente e voltar aos meus hábitos.
Acordar de manhã, revisar os conteúdos das aulas e voltar a programar o jogo que seria responsável por me colocar no programa de verão da UCLA. Eu estava ansioso, de certa forma. A cada dia que passava, era um a menos até que eu finalmente pudesse ir para a Universidade Estadual do Michigan e deixar todo o inferno do ensino médio para trás. Começar minha vida do zero, como uma folha em branco.
— Ei, ouviu a novidade?
Summer parou ao meu lado no armário enquanto eu pegava meu livro de biologia e checava minhas anotações para a prova que aconteceria ao fim do período. Eu iria aproveitar para fazer uma revisão durante meu horário de almoço, mas algo dizia que Summer estava animada demais para alguém que planejava estudar.
— Não realmente, o que aconteceu?
— Temos uma aluna nova, começou hoje e estamos dividindo algumas disciplinas.
— Acho que vou me arrepender da pergunta, mas como isso está relacionado comigo? - a encarei.
— Ela é a filha do Peter Jones. - Summer sorriu, animada - O Peter Jones.
— O marido da Savannah Carter?
Summer conseguiu capturar minha atenção e pareceu bastante satisfeita com isso. Savannah Carter e Peter Jones foram nossas obsessões por toda a sexta série. Eu havia descoberto Savannah em uma playlist aleatória e entrei em uma toca de coelho para saber tudo sobre ela. Foi uma surpresa agradável quando, alguns anos depois, eles assumiram seu relacionamento de forma pública com uma demonstração de amor que subiu meus parâmetros de relacionamento de forma irreversível. Eles tinham talento, química e beleza. E, enquanto eu era completamente obcecado por Savannah, minha melhor amiga mantinha o mesmo nível de obsessão por Peter e sua banda, a Rowdy.
— , precisamos ser amigos dela. - Summer murmurou, enquanto andávamos em direção ao refeitório - Tipo, sério. Nós seríamos um trio incrível e eu divido algumas cadeiras com ela, então temos coisas em comum.
— Você acha mesmo que metade da escola não pensou a mesma coisa? Eles são famosos pra caralho, não é como se ninguém quisesse ser amigo dela também.
Entrei na fila da cantina para comprar meu almoço e após avaliar as opções, decidi ir na opção de pizza de brócolis e suco de morango. Fizemos nosso caminho em direção a nossa mesa e nos sentamos.
— Ela parece meio perdida, na real.
Summer mexeu com a cabeça em direção à Cassandra Jones, que estava parada no meio da cantina decidindo onde iria se sentar. Ela parecia perdida e isso foi o suficiente para que Summer levantasse seu braço para chamar sua atenção em um convite para que ela se sentasse conosco. A novata lhe deu um sorriso de canto e começou a se dirigir em nossa direção, mas não sem antes ser parada por Daisy Moreau.
— Acho que você perdeu essa, Sum. - eu ri, dando uma mordiscada na pizza.
— Ou não.
Poucos segundos depois, Cassandra estava se sentando ao lado de Summer na mesa com sua bandeja que trazia uma maçã, duas fatias de pizza de brócolis e uma garrafa de suco de abacaxi.
— Obrigado por isso, eu estava meio perdida. - Cassandra agradeceu, timidamente.
— Relaxa, já tive meu primeiro ano de aulas em um lugar novo também. - Summer a tranquilizou - Esse é , a pessoa que comentei com você hoje mais cedo na aula de artes.
— Oi, eu sou Cassandra Jones. Mas, pode me chamar de Cassie, todo mundo me chama assim. - ela riu fraco, estendendo sua mão em minha direção. Eu retribui o cumprimento.
— , é um prazer conhecer você. - eu sorri em sua direção. De perto, Cassie parecia incerta em como exatamente prosseguir com uma interação - Só por curiosidade, você realmente é a filha do Peter?
— Sim. - ela riu fraco - Mas, por favor, não precisa me tratar como se meu pai fosse aparecer aqui e surtar caso você faça uma brincadeira. Eu juro que tive pelo menos quatro pessoas me perguntando se meu pai colocou algum segurança para me acompanhar.
— Ele colocou? - eu provoquei e ela abriu um sorriso divertido.
— Talvez ele esteja me esperando na sala do diretor caso as coisas fiquem tumultuadas. - Cassie me respondeu - Vocês são fãs?
— é mais fã de Savannah do que da banda. - Summer explicou e eu concordei - E eu espero que você nunca visite o meu quarto porque senão eu vou ter que tirar os posteres da Rowdy da parede.
— Relaxa - Cassie riu, balançando a cabeça - Eu não vou usar isso contra vocês, meus pais são bem fodões mesmo. Aliás, quais matérias vocês fazem? Seria bom ter um rosto conhecido aqui.
— Além das disciplinas que compartilhamos, acho que você vai ter aulas com o .
— Você faz álgebra III, Biologia II e Literatura? - questionei. — Sim. Mas, também tenho História Mundial II, Espanhol III e Japonês I. — Vamos compartilhar boa parte das disciplinas, menos Japonês I. - eu concordei - História Mundial e Espanhol você vai ter com o meu irmão. - expliquei - Ele deve aparecer aqui daqui a pouco, geralmente almoçamos juntos. Posso te apresentar pra ele, assim você não fica sozinha. Álgebra III nós estamos juntos com o irmão da Summer. Geralmente escolhemos as mesmas cadeiras porque assim é mais fácil quando estudamos.
— Vocês estão salvando minha vida, sério. - Cassie sorriu, mordiscando sua pizza - Você está na eletiva de música? Summer comentou sobre e eu estava pensando em adicionar na minha grade, tenho até o fim da semana para informar a secretária.
— Sim, podemos fazer juntos.
— Perfeito, obrigado. - agradeceu.
— Eu juro que eu estou próximo de me matar na frente do treinador. - Sebastian se sentou ao meu lado e fez o mesmo. - Ele atrasou meu almoço de novo.
— Bom dia, Sebastian. - eu o encarei - Você poderia não assustar a novata com seu drama?
Sebastian encarou Cassie com um sorriso envergonhado antes de roubar um pedaço da minha pizza.
— Eu sou Sebastian, irmão do e aquele ali é o . - ele apontou - E você é?
— Cassandra Jones, pode chamar de Cassie. - ela sorriu - Acho que vamos dividir algumas disciplinas.
— Seu nome é familiar. E seu rosto também. - comentou, abrindo seu suco de morango.
— É, eu sou a filha do vocalista da Rowdy. - Cassie murmurou.
— Legal, a empresa do meu pai fez uma colaboração com a Rowdy uns dois anos atrás. - fez o seu melhor para que Cassie não se sentisse tão desconfortável.
— Qual delas? Meu pai fez algumas colaborações nos últimos anos. - Cassie franziu o cenho.
— UN/DN, a linha de esmaltes e maquiagens.
— Eu me lembro dessa! É a MSFT, né? A marca japonesa.
— Exato. - concordou - Summer e ficaram malucos e completaram a coleção dos esmaltes.
— E ainda estamos esperando pelas novas cores. - Summer concordou.
— Meu pai estava decidindo a nova paleta junto com o tio Donnie essa semana. Ele me pediu algumas opiniões.
— Você já está em casa, então. - Sebastian sorriu - Se qualquer um te encher o saco, me avise que eu cuido disso pra você, tá? - meu irmão lhe deu uma piscadela e eu pude jurar que vi Cassie começar a corar.
— Vou me lembrar disso. - ela sorriu - Então, o que exatamente eu perdi nesse semestre?
— Oh, meu bem. - Summer sorriu, enviesada - Vamos precisar de horas para te atualizar em todas as fofocas desse lugar. Então, o que exatamente você tem planejado depois do horário da detenção?
Estar em uma casa de músicos não era novidade para mim. Estar na casa de Savannah Carter e Peter Jones, entretanto, era.
A decoração da casa dos Carter-Jones era muito melhor do que eu havia sonhado nos meus sonhos mais distantes. Logo que entramos na cobertura, fui recebido pelos prêmios de ambos, categorizadamente organizados no topo de uma estante com diversos livros. Uma estatueta de Oscar marcava o nome de Melhor Soundtrack Original do ano de 2021 por Judas e o Messias Negro, com guitarras penduradas em ambas as paredes ao redor da estante e um enorme piano de calda branco no centro da sala.
— Se eu estiver vivendo um sonho, por favor, não me acorde. - eu murmurei e Cassie soltou uma risadinha.
— Você vai desmaiar se eu chamar minha mãe para conhecer vocês? - ela me encarou.
— Eu não prometo nada.
Eu fui honesto enquanto Sebastian, Summer e analisavam cada aspecto da decoração junto comigo. Eu ainda me lembrava de sofrer ao som de Hard Place como se fosse ontem.
Cassie balançou a cabeça, rindo ao deixar a mochila em cima do sofá e adentrar algum cômodo que não fiz questão de acompanhar. Minha atenção estava completamente desviada para a Stratocaster customizada com vitrais da Fender que havia sido utilizada por Savannah na adaptação musical de Bela e a Fera.
— Mãe, pai, gostaria de apresentar meus novos amigos. - eu ouvi Cassie falar e minha atenção foi carregada para a presença imponente do casal mais ridiculamente bonito que eu já havia visto.
Savannah Carter e Peter Jones estavam ao lado de Cassie e sorriam alegres ao nos encarar. Ele usava uma regata branca, calças de moletom pretas e um converse da mesma cor. Os cabelos loiros caiam por seu rosto junto com a barba por fazer. E Savannah Carter tão bonita pessoalmente quanto das vezes em que havia ido em seus shows. Mais bonita, até. Seus cabelos estavam soltos e ela trazia óculos de grau arredondados em seu rosto. Ela usava um conjunto de moletom cinza e um par de jordans clássicos. E, eu sentia que estava próximo de ter um ataque quando meu coração batia descontrolado contra o meu peito.
— Esses são e Sebastian - Cassie apontou em nossa direção - E esses são e Summer Tanaka.
— É um prazer conhecê-los. - Savannah sorriu, se aproximando o suficiente para nos dar um abraço. Quando ela me envolveu em seus braços, eu senti como se tivesse morrido e alcançado os céus. - É bom saber que Cassie já fez novas amizades, era um medo nosso.
— Uma dúvida, vocês são filhos do Daizen? - Peter questionou, encarando Summer e .
— Isso. - Summer concordou.
— Imaginei, ele tem fotos de vocês quatro espalhadas pelo escritório dele em Tóquio. Foi ele quem me recomendou a Horace quando decidimos vir para Nova Iorque e disse que Cassie estaria menos sozinha se vocês estivessem lá. - Peter comentou - Ele também disse que os eram ótimas pessoas e que minha filha iria se dar bem com , algo como vocês terem gostos semelhantes.
— Nós temos. - Cassie concordou - Estamos dividindo boa parte das aulas.
— Isso é ótimo, filha. - Pete sorriu, tão amavelmente que eu não conseguia imaginar como metade das coisas que os sites de fofoca diziam eram reais.
— Mãe, gosta muito do seu trabalho. - Cassie me denunciou e eu repentinamente me senti como se estivesse próximo de uma síncope - Ele faz a eletiva de música comigo.
— Sério? - Savannah sorriu - Você toca?
— Um pouco. - eu finalmente consegui responder - É mais um hobby que qualquer outra coisa, pretendo seguir na carreira de desenvolvedor.
— Sério? Acredita que considerei isso antes de ir estudar música na Julliard? - ela pareceu animada.
— Nós perdemos esse. - Summer brincou.
— Não é? - Cassie riu - , você pode nos encontrar no estúdio depois, se quiser.
— Não, eu não quero incomodar. - eu neguei.
— Não incomoda, eu adoro falar sobre. - Savannah riu - Vou fazer algo para vocês comerem enquanto ficam confortáveis e levo quando for levar as comidas, se estiver tudo bem por ele.
— Posso te ajudar. - eu concordei e meus amigos simplesmente acompanharam Cassie até o estúdio com Peter logo atrás.
— É por aqui.
Savannah liderou o caminho e eu apenas a segui, ainda observando cada aspecto da decoração até o caminho para a cozinha.
— Você comentou que toca, é guitarra ou algum outro instrumento?
— Eu toco alguns, mas eu sou melhor no baixo. É o que eu comecei e estudo com mais frequência. - eu expliquei.
— Eu comecei com o piano por conta da minha mãe. - disse - Podemos tocar algo se você estiver com tempo. Pode sentar.
— Obrigado - eu obedeci - Eu juro que não sou um fã maluco, tá?
— Relaxa - ela riu -, se te fizer sentir melhor, eu tive essa mesma reação quando a Halsey disse que poderíamos trabalhar em algo juntas e ainda fico assim quando conheço artistas que sou fã.
— Me sinto menos pior.
— É normal, sério. - Savannah me tranquilizou, pegando um bolo e cortando algumas fatias para colocar em um prato. - Então, você não pretende seguir carreira na música?
— Não - balancei a cabeça - Eu gosto de música, mas sempre tive mais afinidade com programação. Eu produzo algumas coisas, mas só Summer sabe. e Sebastian são muito emocionados e acho que fariam um tumulto. E eu gosto de poder ter um hobby sem compromissos.
— Eu te entendo bem. - Savannah pausou - Eu já tinha alguns anos trabalhando como roadie quando comecei a trabalhar como performer, mas acho que você já sabia disso.
— Pode me contar como se eu não soubesse, eu realmente não me importo. - eu ri e Savannah retribuiu.
— Bom, eu costumava compor uma coisa ou outra, mas isso tudo começou mesmo por um hábito que eu tinha com a Cassie. Vira e mexe, antes de eu começar a me relacionar com o Pete, eu era a pessoa que cuidava dela. Então, eu ajudava ela a praticar no piano quando o pai dela estava trabalhando. E aqui é a parte onde as coisas ficam interessantes. - ela sorriu, pegando algumas frutas na geladeira e cortando contra a tábua - Eu tinha medo de palco e não cantava com frequência para outras pessoas por alguns motivos. Mas, quando Cassie me pedia? Eu corria para agradá-la, porque eu sempre fui completamente manipulável por aqueles grandes olhos e sorriso fofo. - Savannah riu, separando as frutas em algumas tigelas - De começo eu fazia isso porque tinha medo de ser demitida, não vou mentir. Mas, acabei gostando.
— Ela é realmente muito legal, nós a conhecemos hoje e eu sinto como se já nos conhecêssemos há anos. - eu disse.
— Cassie tem esse poder sobre as pessoas. E ela é tão ridiculamente inteligente. - Savie suspirou -, Enfim, em uma das vezes em que eu cantei pra ela, Peter acabou vendo e eu juro, esse homem fez da minha vida um inferno por meses. Meses! - Savannah encostou contra a bancada - Pete não é conhecido por ser uma pessoa que desiste fácil das coisas e ele encheu tanto meu saco para ajudar no Bloom que em determinado momento, eu só cansei de negar. Ele me ganhou pelo cansaço.
— Esse é um dos meus álbuns preferidos da Rowdy, só perde para o Hotel Diablo. O que vocês fizeram nesse álbum foi histórico, de verdade.
— Obrigada - Savannah sorriu - Eu tenho um puta orgulho desse álbum, nós fizemos ele durante a pandemia e tivemos que nos isolar juntos para que ele saísse. Eu fiquei com medo de acabar brigando com todos eles na época, mas eu saí dele uma pessoa diferente e três anos depois eu e Peter nos casamos, então acho que isso foi algo bom.
— Sim, foi - eu concordei, sorrindo -, mas eu acho que teria medo disso também. Sebastian e eu brigávamos feito gato e rato nessa época. - eu balancei a cabeça, me lembrando das brigas -, foi bem difícil para o papai.
— Eu imagino. - Savannah sorriu -, Sebastian é o mais alto, certo? Desculpa, ainda não me adequei com os nomes, Peter teve mais contato com seus pais do que eu.
— Isso, ele é o careca alto. Ele é meu irmão mais velho.
— Vocês não tem uma diferença muito grande, né?
— Não. Sebastian e são do mesmo ano. Sebastian faz dezoito no começo de novembro e faz em setembro. São dois anos e alguns meses de diferença, eu faço dezesseis em dezembro, junto com Summer. Nós nascemos no mesmo dia.
— Isso é legal. Eu sou a segunda mais velha entre a Rowdy, perdendo para o Tommy por seis meses.
— Como é ser a irmã mais velha?
— Irmã? Por Deus, eu quase pareço mãe daqueles cavalos. - Savannah riu - Eu tive que dar banhos neles mais vezes do que eu poderia contar, em ambas as mãos, quando ainda trabalhava como roadie. E isso inclui Peter também.
— Eu te deixo cinco minutos sozinha e você começa a me expor para o novo amiguinho de Cassie? - Peter entrou na cozinha, depositando um beijo na bochecha de Savannah, que abriu o sorriso mais brilhante do universo - Precisa de ajuda?
— Você fala como se eu não soubesse que você fez o mesmo. - ela riu - Pega o suco pra mim, por favor.
— Fui pego no pulo. - ele balançou a cabeça, puxando andando até a geladeira - Então, , Savannah já te traumatizou o suficiente?
— Não, de maneira alguma - eu ri -, ela me contou como foi o processo de produção de Hotel Diablo e como foi estar em isolamento para a produção dele.
— Oh, essa época foi complicadinha. - Peter concordou, pausando por um tempo - Vocês têm preferência de suco?
— Sem preferências, mas é alérgico à abacaxi.
— Okay, então o de abacaxi vai para a Cassie. - Peter pegou o de abacaxi e mais três de cores diferentes - Aqui, estrelinha.
— Obrigado, Raio de Sol - Savannah agradeceu -, voltando ao ponto. É bom que você tenha o apoio deles, fez uma diferença imensa pra mim ter os meninos e Sabrina quando eu comecei. Se você achar que é uma boa, tenho certeza que eles vão te apoiar, mesmo que insistam como Peter fez.
— Não sei exatamente qual era o assunto, mas concordo com Savie. Ela geralmente sabe do que tá falando.
— Obrigado. - eu sorri - Eu ainda sou bem novo, então pode ser que as coisas mudem daqui pra frente. Mas, por agora, vou continuar estudando para entrar na MSU no meu último ano.
— Você vai sozinho? - Peter puxou a cadeira para se sentar ao meu lado.
— Sebastian e estarão lá, eles receberam as cartas de admissão para o semestre de outono. Nós sempre quisemos ir para a MSU porque foi onde nossos pais conheceram nossas mães. Somos alunos legados. - expliquei - Mas, vamos todos para cursos diferentes, com exceção de e eu.
— O que planejam estudar? - ele questionou.
— Eu e vamos para design de jogos e mídias visuais, Summer vai Bioquímica e Sebastian vai seguir os passos do meu pai e ir para Direito. Ele quer abrir uma firma junto com Gianna, a irmã mais velha dos . Acho que você chegou a conhecer ela, ela é a advogada responsável pelos contratos das colaborações da MSFT.
— Alta, ruiva e com olhos verdes?
— Ela mesmo. - concordei - Ela puxou mais a mãe do que o tio Daizen.
— Acho que eles vão fazer uma boa dupla. Sebastian estava discutindo com Summer sobre como ele achava que a professora de química estava dando em cima de algum colega de turma e ele teve argumentos bem convincentes.
— Meu deus. - eu ri, balançando a cabeça - Por favor, ignorem o meu irmão. Ele tem dessas de criar teorias malucas que não fazem o mínimo sentido e fica defendendo a ideia até alguém provar que ele está errado.
— E ele geralmente está? - Savannah arqueou uma sobrancelha.
— Vocês não têm nem ideia do quanto.
Eu ri e eles me acompanharam. Depois de conversar um pouco com ambos, eu pude notar que eles eram tão normais quanto qualquer casal na faixa dos trinta e poucos anos. Era visível o quanto eles gostavam um do outro, quase como se eles vivessem em um mundo só deles, mesmo quando estavam cercados por outras pessoas. E eu me peguei invejando cada segundo da relação deles, secretamente rezando para poder ter exatamente o que eles tinham.
— Eu acho que já tomei tempo o suficiente. - eu ri, me levantando - Quer que eu leve as coisas?
— Fica tranquilo, posso levar e Peter me ajuda, você é uma visita, afinal.
Eu assenti, deixando que o casal me guiasse pela cobertura enorme até o estúdio. Não levou muito tempo e, quando cheguei, Cassie chorava de rir com algo que Summer dizia. apenas balançava a cabeça negativamente, observando tudo como se estivesse presenciando um podcast ao vivo.
— Nós trouxemos algumas coisinhas para vocês. - Savannah sorriu, colocando uma bandeja com frutas, bolo e alguns salgadinhos em cima da mesa de centro do estúdio enquanto Peter colocava os sucos em cima do porta-copos.
— Obrigado, mãe. - Cassie sorriu em agradecimento e se esticou para pegar o suco de abacaxi.
— Nos avisem se precisar de mais alguma coisa.
Peter sorriu, entrelaçando seus dedos nos de Savannah enquanto eles saiam para fora do estúdio, fechando a porta atrás de si. Eu desenhei meu caminho até , pegando duas garrafas do que pareciam ser suco de morango e entregando uma para ele quando me sentei ao seu lado.
— Pode me falar sobre o que eles estão conversando? - murmurei.
— Summer estava contando de quando nós tomamos aquela chuva durante um dos jogos do time e você voltou pra casa parecendo um monstro de filme de terror. - ele sorriu, abrindo a garrafa.
— Obrigado.
— E então, como foi com Savannah?
— Foi incrível. - eu sorri, me sentando de frente para para encará-lo - Ela é muito legal e nós conversamos sobre música, sobre irmãos e um pouco sobre o processo de gravação do Hotel Diablo. Foi realmente bem legal. Como foi com o Peter?
— Eu acho que eu posso estar apaixonado pelo cara, honestamente. - riu - Ele é super divertido e deu algumas risadinhas com os absurdos que o Sebastian estava falando. Ele genuinamente é o adulto mais legal que já conheci.
— Sim. - concordei.
— Então, Mitch - Cassie chamou minha atenção e eu a encarei - Qual é a história por trás de Braeden Smith? Summer disse que preferia que você contasse.
— Essa é uma longa história, mas tudo começou há uns dois meses, depois que o Sebastian pegou o posto de capitão do time de futebol.
Continua...
E, como o fanboy que sou, eu tinha que colocar o Alex tendo um pequeno surto ao conhecer a ídola dele e, mais ainda, vendo que ela é tão normal quanto ele. Eu queria poder trazer um pouco mais desse lado maternal da pp de The Roadie, sabe? Como alguém que é muito empática, era esperado que a nossa estrelinha adotasse jovens LGBTs e os colecionasse como se ela fosse o Thanos com suas joias do infinito.
Com toda a sinceridade do mundo: eu estava bem ansioso para que vocês conhecessem o Benjamin.
Primeiramente porque a visão que ele tem de si próprio é diferente da visão do Alex. E segundo porque, quando comecei a desenvolvê-lo, eu pensei nas coisas que fariam uma pessoa ser completamente apaixonante e ele foi surgindo como se já estivesse lá há muito tempo, somente esperando para aparecer.
Obrigado por acolherem ATC e pelos comentários positivos, fico feliz pra caramba de saber as opiniões de vocês.
Espero que tenham gostado e até a próxima att, besties.
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