A Única Exceção

Última atualização: 12/01/2018

Prólogo


Quando eu era criança, eu presenciei a separação dos meus pais. Eu vi o meu pai chorar e amaldiçoar o amor. Desde então, eu comecei a me questionar sobre tal sentimento. Eu prometi para mim mesmo que nunca iria me entregar até eu conseguir provar que o amor é um sentimento real, e por muitas vezes me privei de sentir seja lá qual for o tipo de sentimento, mas sempre há alguma exceção. Na verdade, houve a única exceção.
Não tinha como eu adivinhar que ela seria a minha exceção, como também não tive como adivinhar que acordaria em uma certa manhã e encontraria o seu lugar na cama vazio. Eu me vi confuso, mas a carta que ela me deixou clareou tudo e eu soube que, sim, ela havia partido, e eu fiquei sozinho com o meu coração aos pedaços.
"Querido Harry, eu sinto em ter que fazer isso, eu juro que eu tentei inúmeras vezes conseguir te falar isso sem ser por meio de um bilhete. Eu lutei para que isso demorasse a acontecer, como eu lutei, mas eu não tive sucesso; eu precisei ir. Eu sei que o que estou fazendo é cruel, eu sei o quanto você me pediu para não te magoar e destruir o seu coração. Eu não sou perfeita, pelo contrário, eu sou a mulher mais defeituosa existente. Eu sinto em ter que te dizer adeus, mas é preciso, e eu te peço desculpas, eu só precisei ir. Com amor, Ká"
Quando terminei de ler aquela carta, eu já não conseguia mais segurar as minhas lágrimas. Talvez eu já soubesse que o amor nunca dura, e o recente acontecimento me fez acreditar que, de fato, nunca dura mesmo, e temos que procurar outras maneiras.


Capítulo 1


– Harry, cara, você tem que sair dessa fossa pós-término de relacionamento. – meu amigo, Dylan, falava, enquanto eu tomava cerveja jogado no sofá do meu apartamento. – Que tal sairmos para esquecer tudo isso? Podemos ir a algum pub, pegar muitas gatas e você esquece essa garota de vez.
– Acho que eu nunca irei superar a Karine. – eu falei olhando para o nada.
O que não é uma mentira, eu nunca iria superar a partida dela, eu nunca me confirmaria em tê-la perdido.
– Desencana dessa, cara. Já estou cansado de ver você lamentando esse término pelos cantos desse apartamento. Daqui a pouco você entra em uma depressão e morre.
– Dylan, eu não estou afim de sair. Deixa para uma próxima.
– Deixar para uma próxima? Você me fala isso sempre que venho aqui tentar te ajudar a sair dessa merda que você está. – ele estava certo, eu sempre inventava inúmeras desculpas para não sair de casa.
Já fazia algumas semanas desde que a Ká havia partido, mas eu ainda tinha esperanças de que, em qualquer momento, a porta se abriria e ela entraria por ela, e tudo ficaria bem novamente.
– Cara, é sério, eu não estou animado para sair. Não hoje.
– Harry, seu merda, você vai levantar a bunda desse sofá e vai comigo para seja lá qual for o lugar, nem que eu precise te levar no colo.
– Aff, meu Deus, tudo bem, vamos sair. – relutar contra o Dylan estava fora de cogitação, pelo menos agora.
Já fazia algum tempo que ele tentava me arrastar para algum lugar com ele, porém eu sempre desconversava e sempre adiava essa saída. Talvez seja até bom para eu ir a algum lugar e tentar esquecer tudo, ou seria uma obsta total, mas vamos ver o que essa noite me traz. Ou eu saio da fossa, ou eu me afundo de vez nela.
– Isso aí, cara. Quero o Harry de sempre de volta, você está irreconhecível. Agora levanta daí e vai se arrumar para a melhor noite da sua vida. – ele falou, deu tapinhas nos meus ombros e saiu me empurrando até o meu quarto.

***

Quando o Dylan falou que eu teria a melhor noite da minha vida, eu não esperava que fosse tão terrível assim. Estávamos em um pub que ficava a alguns quarteirões do apartamento em que eu morava. Já tinham se passado algumas horas desde que chegamos e o Dylan já desapareceu com alguma garota. Eu estava sentado no bar do pub e até agora nada me interessou aqui.
Por mais que eu tente me distrair, não consigo parar de relacionar qualquer ambiente em que eu estou sem ser com ela. Aquela garota levou meu coração junto com ela, e por mais que eu tente, eu não consigo superar a sua partida. Já tentei arrumar argumentos que justificassem ela ter me deixado, mas ficou tudo muito confuso para mim. Ela apenas sumiu do mapa, não deixou nenhum vestígio. Karine Silva era um problema matemático e eu nunca fui muito bom nessa matéria.
– Por qual motivo um cara tão interessante se encontra cabisbaixo nesse bar? – uma garota com umas cinco cores no cabelo apareceu ao meu lado, pegando o copo que antes eu tomava whisky e bebendo todo o líquido que ainda havia nele.
Fiquei olhando-a sem responder nada. Ela tinha um olhar marcante e seus cabelos exóticos a deixava sexy. Posso jurar que, se o Harry de um tempo atrás ainda estivesse presente dentro de mim, eu não deixaria essa mina passar. Mas o problema era que eu não queria outra garota, eu só queria uma garota, e essa eu não fazia ideia de onde estava.
– Nossa, educação mandou lembrança. – ela voltou a pronunciar-se quando viu que eu não soltei nenhuma palavra.
– Desculpa, estava pensando.
– Percebi. Problemas com o coração? – ela perguntou enquanto chamava o barman para pedir sua bebida. – Digamos que não é normal encontrar um cara como você em um bar, com várias garotas na pista.
– Nem sei mais que cara sou eu. – falei enquanto brincava com as pedras de gelo do meu copo.
– Um problema com identidade? – ela perguntou, agora tomando sua própria bebida rosa.
– Não é bem isso.
– Então o que é?
– Algo pessoal que eu não quero compartilhar.
– Tudo bem, eu acho que devíamos dançar para você esquecer esse problema pessoal que está te consumindo, gato. – ela colocou o seu copo em cima do balcão e me puxou em direção à pista de dança.
Não tive tempo de questionar tal ato, quando vi já estava na pista, e ela estava remexendo-se na minha frente.
– Não perguntei o seu nome, qual seria? – ela falou um pouco alto por causa da música alta que tocava no pub.
– Harry. Prazer. – eu disse no mesmo tom de voz.
– O prazer é todo meu. Me chamo Megan, mas você pode me chamar de Meg. – ela piscou e voltou a remexer-se no ritmo da música.

***

Não sei como aconteceu ou quando aconteceu, só sei que no outro dia acordei com uma ressaca danada e uma Megan completamente pelada ao meu lado na cama. Não lembro de nada, exatamente nada do que aconteceu ontem depois da dança; sei que bebi muito, até porque estou com uma ressaca danada. Fazia tempos desde que eu não saia para curtir uma noite assim, e apesar de não ter sequer uma lembrança do que ocorreu ontem a noite, eu me sinto aliviado. Não fazia planos de sair de casa, no fundo eu tinha esperanças dela voltar.
Não demorou muito para que Megan despertasse e rapidamente fosse embora, contestando que estava atrasada para o trabalho. Falou que a noite fora incrível, e eu fiquei sem graça justamente por não poder dizer o mesmo. Ela parecia ser uma boa pessoa, e deve ser muito constrangedor saber que o cara que você dormiu não lembra de nada que vocês fizeram durante a noite.
Fiquei jogado na cama, pensando no quanto eu tinha mudado. Nunca fui um cara parado, pelo contrário. Eu era muito soltinho, digamos assim, até eu conhecer a mulher que me mudou por completo. Sim, a mesma que me destruiu por completo.
“ – Cara, eu não posso falar agora, estou no meio do meu almoço nada saudável – falei para o Dylan, que insistia em me ocupar com o seu conto erótico vivido na noite passada.
– Cara, você precisa conhecer ela, não estou falando bobagens.
– Eu sei, claro que eu quero conhecê-la, preciso saber se ela é tudo isso que você está falando. Mas eu preciso comer agora, ainda tenho muito trabalho por hoje. Consegui essa folguinha para almoçar e não posso desperdiçar com você, né.
– Você é muito insensível, irmão. Eu aqui precisando expor toda a minha noite para você, e tu só pensa em comida.
– Meu caro, eu não preciso ouvir as suas histórias, eu prefiro vivê-las, se é que você me entende. Agora eu realmente preciso desligar. – e assim fiz.
Não esperei o Dylan falar mais nada e finalizei a ligação. Pelo que eu conhecia, meu amigo não pararia de falar tão cedo, e eu realmente preciso me alimentar.
Adentrei na lanchonete mais próxima que encontrei perto do escritório. Era uma filial nova por ali, não era essas coisas, mas daria para comer algo e matar minha fome. Peguei uma mesa no final do extenso corredor, e logo vi uma das atendentes vir em minha direção e me entregar o cardápio. Ela ficou na minha frente esperando que eu me decidisse. Não demorei para escolher um sanduíche que podia me satisfazer, e logo tratei em repassar o pedido para a tal garota que estava lá esperando. E foi aí que eu me perdi por completo no olhar daquela moça.
Eu não tinha reparado, mas ela era muito linda. Ela me olhava de um jeito que jorrava para todos os lados o quando ela estava entediada ou insatisfeita em estar ali. Não sei quanto tempo levei olhando-a, mas fui tirado do meu devaneio quando ela pigarreou.
– Qual o seu pedido, senhor? – ela falou, e meu Deus, que voz.
– Hum, pode me trazer a especialidade da casa. – eu já não sabia mais o pedido que eu tinha escolhido, apenas soltei a primeira coisa que me veio em mente.
– E para beber? – ela voltou a pronunciar-se, anotando em seu bloquinho o meu pedido.
– Um suco de uva. – disse, e ela assentiu, escrevendo novamente em seu bloquinho. – De sobremesa, eu vou querer a atendente. – eu voltei a falar e ela semicerrou os olhos para mim.
– Desculpa, mas eu não estou inclusa no cardápio. – falou, e tratou de sair com o seu bloquinho em direção ao balcão.
Eu apenas sorri, agora eu tinha planos de voltar aqui sempre.”

Depois daquele dia, aquela lanchonete passou a ser meu ponto de refeição favorito, não só por ter um sanduíche maravilhoso, mas também por ter a intenção de conseguir algo a mais com aquela garota. Eu só não esperava que eu fosse me envolver além da conta com ela; nunca imaginei que iria chegar ao ponto de me apaixonar perdidamente por aquela mulher. Karine me conquistou de imediato e me fez quebrar a minha maior promessa, que era justamente não chegar ao ponto de amar alguém. Tudo isso para me largar, destruir meu coração e sumir completamente.
O decorrer do dia não foi diferente dos outros em que eu havia vivido, um pacato domingo como os outros. A única coisa que o tornava diferente era a ressaca que eu tinha adquirido por causa de ontem à noite. Até agora o Dylan não me contatou para descrever como foi a sua noite ou até mesmo para me perguntar se eu estou bem. Provavelmente ele está em coma.
É inevitável me sentir sozinho às vezes. Minha vida se resumia a ela, mas ela não está aqui, não mais. Eu só queria ter força de vontade para seguir, deixar tudo que aconteceu no passado e enfim conseguir ser feliz. Não me enganar e não deixar o estúpido amor me atingir outra vez. A partir de agora, o velho Harry vai voltar.


Capítulo 2


4 MESES DEPOIS, LONDRES – UK

Hoje era o grande dia para o meu primo Logan. Chegou o tão esperado dia que ele se amarra a uma mulher que ele ama, ou acha que ama, não vou julgá-lo. A única pessoa que tenta não acreditar no amor sou eu. De toda a família, de toda a roda de amigos, eu estou aqui firme e forte no meu antigo pensamento sobre o tão sentido sentimento. Acho que está sendo inútil tentar impor tais conclusões sobre, pois eu achava que sentia, e talvez eu ainda o sinta, e isso é o que me dá raiva. Então, eu prefiro me moldar a tudo que vinha comigo há 5 meses atrás, antes de toda essa tempestade começar a cair sobre minha vida.
Depois do dia em que eu falei que daria um basta na merda que eu estava, eu tentei; eu tentei sair por aí, aliás eu não só tentei como eu fiz. Dormi com inúmeras mulheres, mas nenhuma, nenhuma, pareceu ser boa o suficiente para mim, nenhuma delas era a que eu realmente queria, nenhuma delas era a minha única exceção.
“– Harry, nós vamos acabar atrasando-nos caso você não levante dessa cama agora. – ela falava enquanto abria todas as janelas do quarto.
– Karine, hoje é minha folga, deixe-me dormir mais um pouco.
– Suas folgas mudaram de dia? – ela perguntou já dentro do banheiro.
– Não, hoje é terça feira, o dia da minha folga.
– Esqueci completamente que suas folgas eram nas terças. – ela colocou a cabeça para fora. – Nós podemos marcar o jantar com o seu primo e a noiva dele para hoje.
– Eu estava pensando em algo só para nós dois.
– Harry, faz um tempo que você adia esse jantar, parece até que não quer que ele aconteça. – ela nem fazia ideia que essa era a minha intenção.
Logan estava noivo fazia um mês, e desde o pedido, ele vem com uma ideia de ter esse tal jantar. Eu sei que coisa boa não vem.
– Talvez eu não queira mesmo. – falei ainda jogado na cama.
– Se você quer ou não, isso não importa, esse jantar tem que acontecer e vai ser hoje.
– Eu tenho alguma escolha?
– Você sabe que não. – ela falou deixando o banheiro já vestida. – Estou indo para a lanchonete agora, te vejo mais tarde. – E assim me selou e se foi.
Eu mal sabia que aquela noite seria a nossa última noite.”

Se eu ao menos tivesse ideia que ao acordar no dia seguinte ao daquele jantar ela não estaria mais ali, eu o teria evitado só para passar mais tempo com ela, ao lado dela. Talvez eu nem tivesse dormido, se isso fosse evitar a sua partida. Eu queria ao menos ter desconfiado de alguma coisa, a mudança de seu comportamento ou algo do tipo, mas ela sempre me pareceu tão normal, tão doce, tão atenciosa. Eu me pergunto todos os dias o que eu realmente fiz para que ela me deixasse sem explicações, mas eu nunca consigo chegar a uma conclusão. Ela só se foi e me deixou no escuro.
– Harry, cara, vamos logo. Quem costuma se atrasar é a noiva, e não o noivo. – Logan invadiu a sala do meu apartamento todo arrumado.
– Quem estava demorando era você.
– Na verdade, era você que estava aí voando, enquanto eu estava tentando chamar a sua atenção.
– Tudo bem, agora estou despertado.
– Sim, podemos ir agora?
– Podemos. Cara, você está patético.
– Não venha com os seus argumentos para arruinar o meu casamento, eu não irei desistir.
– Não falarei nada, deixarei tudo acontecer naturalmente.
– Você não muda. Achei que a Karine tinha mudado seus conceitos.
– Talvez ela só tenha me estragado de vez.
– Cara, eu sinto muito por isso. Eu colocava muita fé no relacionamento de vocês dois.
– Acho que todos faziam isso, mas não ela. – disse, pegando as chaves do carro e o seguindo até a porta.
Não falamos mais nada até chegarmos no elevador.
– A Danielle a convidou para o casamento. – Logan soltou, entrando no carro.
– Ela vai estar lá? – perguntei, entrando no banco do carona.
– Não faço ideia, foi um convite por e-mail, Danielle falou que ela não encontrou o seu endereço.
– Ela se mudou, não me pergunte para onde, ela não responde meus e-mails.
– Ela respondeu o de Danielle.
– O problema sou eu, não a Danielle.
– Não pense assim cara.
– Não tem o que pensar, são fatos constatados.
Logan não falou mais nada até chegarmos na igreja. O fato de agora eu saber que ela poderia estar naquela igreja me deixava receoso e ao mesmo tempo ansioso. Ver ela seria bom, eu tentaria entender os motivos dela, seja lá qual foram. Eu queria ser forte para suportar seja lá qual fosse o motivo, mas eu sei que no fundo nada vai justificar o que ela fez, e eu vou ficar ainda mais chateado e com o coração partido. Pior ainda será quando eu descobrir que ela está em outro relacionamento, ou que esse foi o motivo para ela me deixar. Estaria ela apaixonada por outro cara, e eu apenas um iludido ainda sofrendo pelo término precoce de nosso relacionamento?

***

A cerimônia aconteceu como todas as outras, e eu esperei muito, como em todos os outros casamentos que eu já fui, para que alguém levantasse na hora do “fale agora ou cale-se para sempre”, mas como sempre nada aconteceu, e meu primo enfim se casou. Durante todo o casório, eu a procurei, vasculhei cada canto da igreja tentando encontrar o seu rosto, seus cachos castanhos, mas não encontrei nada, nem uma pessoa parecida para acender aquela chama. Ela não veio, como eu imaginei. Ela afastou todas as pessoas que eram comuns no nosso ciclo de amizades, tudo que me envolvia foi deixado por ela, igualmente a mim.
– Não pensei que te encontraria em um casamento. – olhei para a pessoa ao meu lado e encontrei a Megan.
Sim, a mesma garota da balada que o Dylan me arrastou há alguns meses.
– Não é o evento mais legal que costumo ir, mas você sabe como é, coisas de família.
– Você é parente da noiva?
– Do noivo, sou primo do noivo. Mas, o que a senhorita está fazendo aqui? – perguntei, dando um gole no champanhe que estava sobre a mesa em que eu me encontrava.
– Trabalhando. – apontou para o uniforme que eu só percebi agora. – Faço alguns bicos nas horas livres.
– Ah, saquei. Faz um tempo desde que não nos víamos.
– Uns quatro meses para ser exata. – ela disse sorrindo. – Podemos marcar uma saída casual se você estiver disposto.
– Claro, irei adorar. – falei olhando-a anotar algo no guardanapo.
– Toma, me liga. – ela me estendeu o papel com seu número. – Preciso voltar a trabalhar agora. Espero te ver em breve, gato.
– Pode deixar. – ela piscou e se dirigiu para onde estavam mais duas garotas com o mesmo uniforme que ela usava.

***

Confesso que fiquei muito decepcionado. Eu, de alguma forma, esperava encontrá-la na cerimonia, mas não, ela nem apareceu. Já era de se esperar, provavelmente ela sabia que eu estaria lá, por isso resolveu nem aparecer. Eu só queria ao menos reencontrar ela para pelo menos ter alguma resposta; resposta do motivo pelo qual ela me deixou. É difícil de entender, muito difícil. Eu já tentei várias vezes buscar um propósito para tudo isso, mas eu não consigo enxergar algum problema no nosso relacionamento, não vejo por qual motivo ela me fez isso.
O pior é que eu posso tentar de várias formas esquecer ela, mas eu não consigo. Todo santo dia me pego imaginando como seria se estivéssemos juntos. Fico o tempo todo esperando uma mísera mensagem ou até mesmo uma ligação. Cheguei até a sonhar com ela batendo em minha porta e eu enfim podendo tê-la novamente em meus braços, mas parece que isso só vai ficar nos meus sonhos, porque Karine estava completamente sumida, e por mais que eu queira, eu não consigo descobrir o seu paradeiro. Nessa altura do campeonato, ela provavelmente deve estar com outra pessoa. Talvez ela tenha seguido em frente e eu esteja sendo trouxa em insistir nessa história.


Capítulo 3


1 ANO DEPOIS, LONDRES – UK

“– Eu estou muito apaixonado por você.
– Bom saber, achei que você não fosse desses de se apaixonar.
– Eu confesso que achava uma droga tudo isso de amor, paixão, essas coisas, mas isso foi até eu conhecer você. – eu falei abraçando-a no sofá.
Já fazia algumas semanas desde que a pedi em namoro.
– Sempre soube que toda aquela história não tinha fundamento. – ela sorriu, aquele sorriso me deixava doido. – Também estou muito, muito apaixonada por você, Harry Sullivan.
– Promete que nunca vai destruir meu coração? – zelei-a. – Eu nunca mais serei capaz de voltar atrás quanto ao amor se isso acontecer.
– Eu prometo, mas você que tem que me prometer isso, afinal o galanteador aqui é você. Pode me trocar por qualquer vagabunda que aparecer na sua frente. – fez bico.
– Eu prometo que isso nunca vai acontecer. Você mudou tais princípios de galanteador, eu tenho olhos para uma mulher só e ela é você. – beijei-a e foi o melhor beijo do mundo, um beijo que transmitia todo o meu sentimento por aquela mulher. – Eu te amo. – falei, cortando o beijo e encostando minha testa na dela ainda de olhos fechados.
– Eu também te amo, Harry. E muito. – falou e voltou a me beijar.
E assim terminamos a noite. A melhor noite da minha vida.”

Eu, mais uma vez, estava pensando nos momentos em que passamos juntos. Eu não me conformo como alguém consegue arrasar outra pessoa desse jeito. Lembro que ela sempre citava uma passagem de um livro que ela adorava. Ela me dizia que, ao contrário dos personagens do livro, ela era a garoa e eu o furacão, e eu concordava. Mas agora eu acho que estamos meio ao contrário, eu virei a garoa e ela o furacão.
Eu havia prometido a mim mesmo que o Harry de antes iria voltar, mas eu acho que esse Harry se perdeu pelo caminho. Eu não consigo voltar a ser como antes, eu não consigo deixar de gostar dela, e o que eu realmente não consigo é entender toda essa história. Quantas e quantas vezes eu já pedi para que isso fosse apenas um sonho, mas não é. Não consigo nem trabalhar direito, e a cada dia que passa me sinto mais triste e solitário. Eu sinto tanta saudade dela, da companhia dela, de tudo dela. Ela levou uma parte do meu ser, a minha melhor parte. Eu não sei mais quanto tempo eu vou aguentar viver sem a Karine na minha vida.
– Harry, passe-me o número da sua amiga Megan. – Dylan entrou no meu escritório todo sorridente e tirando-me de total pensamento.
– Posso saber para quê?
– Achei ela bonita, talvez role algo, não sei. Se você não aproveita, eu tenho que aproveitar.
– Eu não vou te passar o número da Megan.
– Deixa de ser egoísta, Harry.
– A questão não é ser egoísta.
– Então é questão de quê?
– Não posso permitir que a Meg se relacione com alguém como você, ela é muito legal para você.
– Palhaço, para de enrolar e me passa esse número logo. Você nem sai com a mina mesmo.
– Talvez porque ela é minha amiga, só talvez mesmo.
– Não importa cara, eu preciso do número dessa garota, de verdade.
– Vou pensar se você merece mesmo. – fazia um tempo que o Dylan me enchia atrás da Megan.
Não sei de onde surgiu esse interesse todo nela, mas ele vinha tendo esses surtos de ir atrás da Megan já há algum tempo, pena que ela nunca dava bola para ele. E quando a gente saía, era uma comédia. Ele recebia tantos foras que eu já estava com pena, mas o Dylan não é um cara que desiste fácil.
– Se catar, Harry. Passe-me a merda desse número logo, se não... – Dylan foi interrompido pelo telefone do escritório, que me salvou de vez.
Provavelmente ele iria me fazer alguma ameaça e eu iria ceder logo. Não que eu não fosse dar o número para ele, eu só precisava fazer ele sofrer mais um pouco. Ver o Dylan desesperado era algo tão legal.
– Alô. – atendi o telefone, e ouvi o Dylan resmungar algo coisa.
– Senhor Sullivan, a Sr.ª Karine Silva está aqui na recepção, posso mandá-la subir? – a recepcionista falou, e o meu mundo parou. Aquele nome, eu não podia acreditar no que eu estava ouvido. Karine Silva, a minha Karine, ou não tão minha assim, mas a Karine que me deixou desolado há um ano e quatro meses. – Sr. Sullivan? – eu ouvia a recepcionista falar, mas eu não sabia o que dizer. Não sabia nem reagir, e isso já estava aparente, pois o Dylan me observava com um olhar curioso e meio interrogatório.
– Sim, desculpa, pode mandá-la subir. – ouvi a Carla responder para a Karine subir, e enfim desligar o telefone.
Coloquei o telefone no gancho e olhei para o Dylan totalmente desesperado, e ele percebeu isso, porque me olhou da mesma forma.
– Cara, o que aconteceu pelo amor de Deus? – ele falou quando viu que eu não conseguia falar nada.
– A Karine. – eu respondi, ainda sem fazer muito sentido.
– O que tem, ela morreu? – ele me olhou assustado.
– Não, ela está aqui. Para ser mais exato, está subindo neste exato momento para esse escritório.
– Puta merda, cara. Como assim, ela voltou?
– É o que parece. – ela tinha voltado ou estava só de passagem, não sei nem o que pensar.
Depois de tanto tempo longe, ela resolve voltar logo agora.
– Vou sair daqui antes que ela chegue. – Dylan disse e foi indo em direção a porta.
– Não sei se quero ficar sozinho com ela nessa sala. – eu falei meio que fitando a porta, esperando ela se abrir e mostrar a pessoa que eu mais amei e que mais me fez sofrer.
– Deixa de ser marica, Harry. Fui. – ele disse e assim fez, abriu a merda da porta e saiu por ela sem nem se importar com o amigo que estava sem noção de nada nesse momento.
Não demorou muito para eu ouvir as batidas na porta, o que mais demorou foi a minha ficha cair e eu acordar para falar alguma coisa. Acho que ela parecia mais confusa do que eu, ou eu não sei. Na verdade, eu não sei nem no que eu estou pensando, não tenho a mínima ideia do que é real ou o que é da minha imaginação, estou completamente perdido. Mas, nessa altura do campeonato, acho que isso de um sonho já virou pesadelo. Vocês podem pensar que eu não falo coisa com coisa, pois é a verdade, eu não sei mesmo o que estou fazendo, e nem o motivo de ainda não ter falado para ela entrar.
Não sei quantos minutos eu passei nessa noia, mas só fui me tocar quando ouvi mais batidinhas na porta. Chegou a hora de enfrentar a mulher que me deixou louco, e dessa vez não será em mais um dos meus sonhos, dessa vez é realidade. Pelo menos, eu acho.
– Pode entrar. – eu falei, sem total certeza de que ela podia entrar mesmo.
– Licença. – e então lá estava ela, e se eu não a conhecesse tão bem, poderia jurar que aquela pessoa não era a minha Karine, ela estava completamente mudada.
Seus cabelos, que antes eram loiros e lisos, agora estavam totalmente castanhos e com cachos, estava mais linda ainda. Ela me encarava e eu estava encarando ela também. O choque foi tão grande que não tive nem bons modos para mandar ela se sentar. Era uma mistura de felicidade e ódio ao mesmo tempo, não sei explicar.
– Pode sentar. – indiquei as cadeiras que havia na frente da minha mesa e ela assim fez. Sentou-se e respirou fundo. – Então? – eu não sabia o que falar e nem como agir, eu estava surpreso, com raiva; era uma mistura louca de sentimentos.
– Ah, é. Desculpa, eu... Na verdade eu nem sei o que falar, acho que te devo um pedido de desculpas.
– Um pedido de desculpas?
– É, Harry, por eu ter ido embora. Eu te devo explicações, e eu estou aqui para isso. Se você quiser, é claro.
– Você tem noção de quanto tempo já se passou? De quanto tempo eu esperei você voltar e me explicar tudo?
– Eu tenho noção, sim. Eu sei que já se passou um ano, mas eu espero que me entenda, de verdade. Eu só queria poder explicar, e se você me permitir eu posso, sei lá.
– Se você não sabe, imagina eu. Karine, o que eu mais pedi foi para você não me decepcionar, e o que você fez? Você fez exatamente isso. Eu não sei qual será a sua desculpa, mas sinceramente eu não quero ouvir, eu esperei muito tempo. Eu tentei te encontrar, mas você simplesmente sumiu do mapa.
– Eu sei, Harry, desculpe-me. Por favor, eu posso explicar tudo. Eu sei o que eu fiz, e pode acreditar, eu não queria ter feito nada disso, mas meus motivos foram maiores.
– Sinceramente, eu não sei o que pensar, nem o que fazer. – e eu realmente não sei, estou perdido nisso. – Eu não entendo por que só agora você veio aparecer, depois de tanto tempo. Você podia ter me ligado, existem tantos meios de contrato.
– Eu sei, mas eu não podia, eu achei que fosse fazer você sofrer.
– E você fez, e continua fazendo.
– Desculpe-me, de verdade. Eu posso me explicar, eu sei que você vai entender.
– Eu não sei se eu vou entender. Eu pedi tanto para esse dia chegar, daí ele chega e eu me arrependo totalmente de ter pedido isso.
– Se você não quiser me ouvir, tudo bem, eu te entendo, mas eu preciso que você saiba de tudo, tudo que aconteceu nesse um ano que eu passei longe. – ela falou tirando uns envelopes de dentro de sua bolsa e me estendeu todos eles. – Eu escrevi isso durante esse tempo. Eu meio que queria te enviar, mas me faltou coragem. Eu só espero que você possa ler, e se quiser, pode me contatar, tem meu novo endereço na última carta.
Eu nem sequer estendi a mão para receber as tais cartas dela, ela só colocou todas sobre a mesa e tratou de sair da minha sala. Está difícil para eu aceitar tudo isso. Era ela, a Karine, e pelo que parece ela estava de volta e disposta a explicar-me tudo, mas eu não sei o que eu quero nesse momento. Eu passei tanto tempo tentando superá-la, para agora ela voltar e me desestruturar por completo. Não que eu tenha conseguido superar tudo, mas agora eu não sei se eu consigo perdoá-la.

***

Já eram 4:00 PM e eu não consegui pregar os olhos, não consegui tirar a imagem dela da mente nem sequer um segundo após a sua saída. Já me peguei olhando para cada envelope que ela me entregou e sentindo-me sem coragem para ver o conteúdo deles. Dylan me ligou várias vezes, mesmo assim eu não tive ânimo para atendê-lo. Eu estou um desastre, não tomei banho, não fiz nada, nem comer. Se a intenção dela era me deixar louco, acho que ela estava conseguindo.
Eu não sei como eu deveria ter agido pela tarde. No fundo eu queria sim uma explicação, mas o meu medo foi maior, e continua sendo, porque eu tenho todas as respostas em minha mão, mas não sei como vou reagir depois de ler todas essas cartas. Mas, por um lado, isso é a única coisa que me resta fazer, pelo menos para saber o novo endereço dela.
Depois de uns minutos pensando, eu abri o primeiro envelope. Pela data ela escreveu isso dois dias depois que foi embora.


Brasil, 14 de julho de 2016

Olá, Harry,
Não sei como você está, não sei como você reagiu a tudo isso, e eu sinto muito mesmo por ter feito isso. Como você sabe, eu sou Brasileira, e meu visto de estudante não serviria para sempre. Como você também sabe, eu terminei a minha faculdade no inicio desse ano, e eu até vi que demorou muito para eles descobrirem isso. Eu tive que voltar para o Brasil.
Eu sei que fui idiota, que eu poderia ter te falado tudo isso, mas no fundo eu sabia que você ficaria ainda mais frustrado se não conseguisse, de alguma forma, ajudar-me, por isso eu estou escrevendo essa carta. Não sei nem se terei coragem de te enviar, talvez você nem queira me ver pintada de ouro, ou até receber alguma notícia minha.
Foram alguns dias de luta contra tudo isso. Para ser mais exata, foram meses. Eu sinto muito por ter feito isso, sinto ainda mais por ter quebrado a minha promessa, mas eu estava sem muitas opções. Só queria que você soubesse que eu te amo, e eu não sei se deixarei de amar algum dia.
Beijos, Karine.


Então era isso. O visto dela tinha vencido e ela simplesmente resolveu voltar para o Brasil sem me falar nada. Não entendo o motivo de tal atitude, nós dois sabíamos que isso iria acontecer, já até tínhamos conversado sobre isso. Mesmo assim, ela tentou resolver tudo sozinha e apenas me largou sem notícias alguma. Posso até estar sendo egoísta, mas não acho que isso tenha sido motivo suficiente para alguém fazer o que ela fez.


Brasil, 23 de setembro de 2016

Hei, Harry,
Já faz dois meses que eu te deixei, e eu estou tão mal por isso. Sinto tanto a sua falta, meus dias não são o mesmo sem você. Como eu já previa, eu não tive coragem de enviar a primeira carta, talvez nem tenha coragem de enviar essa também e você fica aí, sem notícias minhas. Você deve estar me odiando, eu estaria fazendo o mesmo se estivesse em seu lugar. Eu só peço desculpas por tudo que eu estou te fazendo passar, você não sabe o quanto isso está me matando.
Eu estou lutando, meu amor, estou lutando para conseguir um visto permanente e poder voltar de vez para você. Consegui um emprego em uma filial da H&S aqui no Brasil, quem sabe a gente não se esbarre em alguma conferência por aí. Eu iria amar te ver, nem que fosse de longe. Acho que você deve estar me odiando, só espero que você possa me perdoar algum dia.
Com amor, Karine.


Como assim ela estava trabalhando em uma filial da H&S no Brasil? Nós trabalhávamos para a mesma empresa, e mesmo assim eu nunca fiz ideia do paradeiro dela. Eu sabia sim que havia uma grande possibilidade de ela ter voltado para o Brasil, eu não queria arrancar todas as minhas esperanças de reencontrar ela.
Para vocês verem como a vida é cheia de ironias, o que eu mais queria há um dia era reencontrar a Karine; já hoje eu nem sei se eu realmente quero encontrar com ela. Eu esperava uma justificativa mais convincente. Se ela quisesse, a gente teria dado um jeito no visto vencido dela, mas no final estou achando que essa história do visto só foi mais um pretexto para ela me deixar.


Brasil, 12 de novembro de 2016

Harry,
Hoje é o grande dia para o seu primo Logan. Lembro como se fosse hoje você não querendo ir no jantar que ele tanto insistia para termos, foi engraçado aquele dia.
Sabe, às vezes me pego pensando em como estaria sendo se eu ainda estivesse aí, afinal já se passaram quatro meses desde que eu parti. Não está sendo fácil para mim, creio que para você também não. Tenho notado que você está sumido das redes sociais, também não vejo fotos suas com seus amigos. Eu sinto tanto em ter te feito sofrer. Eu sei que fui muito egoísta, eu vou até entender se você me odiar para sempre, eu mereço mesmo. Mas saiba que eu te amo com todas as minhas forças, e esse sentimento só cresce dentro de mim.
Eu estou morrendo de medo, por isso que não consegui enviar as outras cartas que escrevi para você. Eu sei que estou complicando tudo, mas está sendo realmente difícil eu conseguir voltar para aí. Talvez seja melhor você seguir sua vida, se já não tiver seguido. Por mais que eu te ame, eu quero que você seja feliz, e eu não sei se isso será possível ao meu lado, até porque eu nem sei se voltarei a te ver algum dia.
Eu sinto tanta sua falta, passo noites em claro imaginando como você está, e me sinto tão culpada por não ter decidido lutar ao seu lado. Quem sabe as coisas seriam mais fáceis. Eu estou em pedaços, o meu coração ficou aí com você e isso está me matando. Eu espero te rever em breve. Te amo muito, Harry. Perdoe-me.
PS: Talvez essa seja mais uma carta que eu não terei coragem de te enviar, então se você estiver lendo isso, espero que possa me entender e realmente me perdoar. Beijos, te amo.
Karine.


Nesse momento, eu já estava encharcando o papel em minhas mãos. Eu estava tão confuso, sem saber nem formar uma opinião sobre tudo isso. Ela também sentia a minha falta, e saber que ela estava passando a mesma coisa que eu me deixava desolado.
Eu não sei quais proporções tomaram meus sentimentos por essa mulher, eu só sei que, apesar de todos os dias que eu passei sofrendo por estar longe dela, agora eu não conseguia me imaginar distante. Minha vontade era pegar meu carro e sair a sua procura. Eu amei muito a Karine, e talvez eu a ame muito mais agora.


Brasil, 25 de maio de 2017

Querido Harry,
Como previsto, eu não enviei nenhuma cartar sequer, mas eu sei que um dia você vai estar lendo todas elas. Eu gostaria de te pedir desculpas, eu vacilei. Eu sei que isso pode parecer estúpido, mas eu só pensei em você no momento, Harry; eu fiquei com um cara, não passou de uma mísera noite. Espero que você possa me desculpar, na verdade eu nem sei se existe mais alguma coisa entre a gente, mas para mim nunca deixou de existir. Eu estava bêbada, foi na festa de aniversario de uma colega de trabalho. Eu me arrependo tanto disso, eu não deveria nem ter ido para essa festa.
Eu estou tão confusa, já faz dez meses, quase um ano e eu não consigo te tirar da cabeça. Eu estou sofrendo muito mesmo, e a culpada de tudo isso sou eu, eu fui uma estúpida, eu não deveria ter te deixado aí sem saber de nada. Não aguento mais nada disso, se eu pudesse voltaria neste exato momento para Londres, iria te procurar, abraçar-te, beijar-te, entregar-me em seus braços, porque aí é o meu lugar. Sinto-me incompleta sem você, Harry, e só em pensar que você já pode ter seguido sua vida me deixa desesperada. Eu sei que é egoísta torcer para que você não encontre alguém, você merece ser feliz, mas eu espero com todo meu coração que você esteja me esperando e que me perdoe por todas as medas que eu te fiz passar.
Com muito amor, da sua Karine.


Irônico seria culpá-la por ter ficado com outro alguém, até porque eu fiz o mesmo não só uma vez, mas algumas. Não vou mentir, que em todas elas eu só pensei em uma pessoa, e isso não é novidade para ninguém. Eu já chorei, já bebi, já estou sem condições de até ler mais alguma coisa, mas minha vontade é de continuar. Continuar até chegar na última carta e encontrar enfim o endereço dela, para eu poder então ir encontrá-la.


Londres, 23 de dezembro de 2017

Olá, Harry,
Agora provavelmente você está lendo, sim, essa carta. Pois é, eu enfim estou de volta, depois de um ano e quatro meses, para ser mais exata. Se você está lendo isso, é porque muito provavelmente não me ouviu quando fui te procurar no seu escritório. Espero que você tenha mudado de opinião de acordo como foi lendo todas essas baboseiras que eu escrevi. Não brinque, que não menti em nenhuma delas, só falei verdade. E quando eu falo que sinto muito por ter ido embora, eu realmente sinto.
Eu sei que você deve me odiar por tudo isso, e se você não quiser me perdoar eu irei entender. Se você estiver com alguém eu também irei entender, apesar de ficar tristemente decepcionada. Eu te amo muito, Harry, e vai doer muito saber que você seguiu sua vida sem mim.
Estou tão ansiosa para te rever, para poder te abraçar, sentir o seu cheirinho. Eu sinto sua falta todos os dias, e esperei muito por isso, por te reencontrar. Se você conseguir me perdoar, por favor encontre-me no Hotel Schopenhauer, quarto 129. Eu estarei a sua espera.
Karine.


Eu pensei que isso não fosse acontecer, mas estava agora, nesse momento, dentro de um carro indo direto para o Hotel Schopenhauer. Talvez no fundo eu já soubesse que isso fosse acontecer, só não tinha total certeza de que eu seria capaz de fazer realmente. Eram exatamente 4:30 PM e ela provavelmente estava dormindo, sei lá, mas eu já esperei demais e não vou perder mais tempo.

***

Já fazia um tempo que eu tocava a campainha do quarto 129 e nada dela aparecer para abrir a merda dessa porta. Eu já bati, já chamei, e nada. Estou a ponto de sentar aqui na porta e esperar amanhecer, porque não vou sair daqui por nenhum motivo. Demorei muito para reencontrar a mulher da minha vida, e não vai ser agora que eu vou desistir. A Karine foi a única mulher que eu já amei, ela foi e ainda é minha única exceção.
Toquei a companhia mais umas nove vezes, e na última ela atendeu. Ela abriu a porta com cara de sono e um roupão de seda. Era tão comum encontrar ela andando pelo apartamento assim, que as lembranças me tomaram e eu fiquei apenas observando-a, feito um pateta.
– Harry? – ela falou e esfregou os olhos como se isso fosse acordar ela de algum modo.
– Não diga nada, eu li suas cartas.
– Você leu? – ela sorriu, e meu Deus, como eu senti falta desse sorriso.
– Eu li, e eu estou aqui para dizer que eu te amo. Eu te amo, Karine, e nunca vou deixar de te amar..
Eu nem tive tempo de raciocinar direito, porque ela me puxou para dentro do quarto e me beijou. Como eu senti falta dos seus toques, do seu beijo, do cheiro dela, que não havia mudado nada. Agora, nesse momento, eu me senti completo. Eu estava completo e feliz, completamente feliz, com a mulher da minha vida em meus braços.
– Eu te amo tanto. – ela disse quando finalizou o beijo. – Perdoa-me por tudo?
– Não fala nada, eu amo você e é isso que importa. – disse e a zelei
– Eu prometo nunca mais te deixar.
– Eu não deixarei você me deixar.
– Não precisaremos fazer isso. – sorriu.
– Sim, não precisaremos.
– Eu te amo, Harry Sullivan
– Eu também te amo, Karine Silva. – disse e voltei a beijá-la, porque para mim só um beijo era insuficiente pelos 510 dias que passamos longe um do outro.
Eu não poderia estar mais feliz nesse momento. Eu, Harry Sullivan, posso dizer que tive meu final feliz. Ainda há muita coisa por vir, mas nesse momento eu estou com a minha garota em meus braços, e não há nada mais importante para mim.
Às vezes a gente tem, sim, que abrir o nosso coração, deixar as nossas exceções acontecerem. Eu não sei o que seria da minha pessoa se o furacão Karine não tivesse passado na minha vida. Ela me mudou por completo e deixou a sua marca registada em cada parte do meu corpo, na minha alma. Eu quebrei todas as barreiras que criei em relação ao sentimento, eu sou um homem melhor e isso eu devo a ela.
Não é sempre que a gente encontra alguém que nos faz bem, e de fato o amor é maior que tudo, maior que todo mundo. E a tristeza, a dor, o sofrimento; tudo isso se vai quando a pessoa é especial. Hoje eu posso dizer que acredito no amor, porque eu pude ter a sorte de aprender a amar, e eu devo tudo isso a apenas uma pessoa. A Karine mudou a minha vida, e mudou de vez, para melhor.




Fim.



Nota da autora: Sem nota.



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