Prólogo
Já era quase meia noite, as luzes de Natal piscavam sem parar e quase não havia mais pessoas na rua. Ao longe eu podia ouvir as músicas das melhores baladas da cidade tocando ao mesmo tempo, formando um remix não ensaiado. A neve caía, afundando ainda mais meus sapatos no colchão branco e fofo, me fazendo ter que apertar mais meu sobretudo bege contra meu corpo. Eu amaldiçoaria até a quinta geração de quando ele chegasse; isso se ele realmente viesse, afinal, mais de duas horas de atraso era um belo recorde. Ele não seria capaz de me dar o bolo na noite de Natal, seria?
Foi apenas quando meus dentes ameaçaram começar a bater que eu percebi que realmente havia tomado um belíssimo e memorável toco, na véspera de Natal.
Planejando as maneiras mais cruéis e dolorosas de acabar com a raça de enquanto ele dormia. Apertei-me ainda mais dentro do casaco e ameacei dar meu primeiro passo para bem longe dali, quando uma forte ventania em minha direção me fez fechar os olhos. Quando acreditei que a ventania havia passado, já que não sentia mais os flocos de neve contra minha bochecha, abri novamente meus olhos e quase cai para trás de susto. estava ali, meu primeiro beijo estava bem à minha frente. Eu só podia estar delirando de frio!
- Eu só posso estar sonhando - falei para mim mesma, piscando repetidas vezes. - ... você mudou, tá gostosa - falou com a mesma voz de cafajeste de sempre e tudo que pude fazer foi gritar e dar alguns passos, em puro reflexo, para trás. Aquilo não podia ser real! - Calma, amor, não tá me reconhecendo mais, não? - falava com uma naturalidade impressionante, nem parecia que estava... meio transparente.
PUTA QUE PARIU, EU TÔ FALANDO COM UM FANTASMA!!!
Sem pensar duas vezes, virei meu corpo todo para trás e comecei a correr na direção oposta a . Decidi olhar para trás, quando julguei estar longe o suficiente e constatei que ele havia desaparecido. Com a respiração mais controlada e sem mais fantasma na minha cola, comecei a reduzir a velocidade, ainda olhando para trás, com medo de voltar. Quando finalmente aceitei que ele fora embora, comecei a voltar meu olhar para frente, mas não rápido o suficiente para evitar atravessar algo.
Levantei a cabeça e logo entendi o que havia acontecido... me encarava com um sorriso pervertido nos lábios.
- Nós podemos ficar nessa de caça e caçador a noite inteira - ele parou de me encarar e começou a me analisar de cima a baixo - é bem... excitante.
- MAS QUE PORRA É ESSA? - foi tudo que consegui dizer, enquanto procurava algum jeito de fugir dali; talvez se eu virasse novamente e começasse a correr mais rápido...
- Ai, , vamos ter que fazer isso de novo? Sou - ele estendeu a mão para mim, como a achasse a coisa mais normal do mundo apertar a mão de um fantasma e pensasse que eu iria fazê-lo - Vai fingir que não me conhece agora? Pois eu posso dizer que nos conhecemos muito bem; ainda lembro daquele dia no baile... você lembra, ? Foi um boquete surreal - ele falava e caminhava em minha direção, me fazendo dar passos para trás até sentir uma parede atrás de mim e perceber que eu havia sido encurralada.
- SAI DE PERTO DE MIM, EU VOU CHAMAR A POLÍCIA!
- Pode chamar! Tudo que eles vão ver, assim como o resto do mundo, é uma garota louca falando com o nada - ele terminou de falar, com toda calma do mundo e apontou com a cabeça para uma senhora na outra calçada que me olhava assustada.
- Posso saber por quê tudo isso? - falei lentamente, enquanto tentava normalizar minha respiraçãoo, meus batimentos cardíacos e me controlar.
- E se eu estiver com saudades? - arqueei a sobrancelha para ele, como quem diz "tenta outra, porque essa não colou" - Ai, ... se eu soubesse que você ia ficar tão gostosa assim... - revirei meus olhos com força, gesto totalmente ignorado por ele - Mas vamos ao que interessa: vou te levar a um passeio - meu único gesto foi enrugar a testa, demonstrando minha confusão - um passeio em seu passado, na melhor época da sua vida, época em que você me conheceu. Ok, onde aperta para acordar? Porque aquilo só poderia ser um terrível pesadelo. Nem morta eu queria voltar ao meu passado!
- E para quê isso?
- Você se tornou uma pessoa horrível e meu chefe acha que pode ser por minha culpa. - Agora foi a vez dele de revirar os olhos - Então, serei seu guia por essa jornada ao passado. Quando eu me retirar, você vai receber mais duas visitas, a de um fantasma do seu presente e de um do seu futuro. Apenas, POR FAVOR, não faça a mesma cena que fez comigo. Essa é sua última chance de reparar seus erros, , então, por favor, leve a sério e não a desperdice.
As mãos de , que apenas agora fui perceber estarem cada uma ao lado de minha cabeça, me soltaram e ele começou a andar em direção ao lugar onde o vi pela primeira vez; logo parando ao perceber que eu me mantinha imóvel.
- Desaprendeu a andar? - foi tudo que ele disse, em tom irônico, antes de estalar os dedos e voltar a andar. De repente, eu tinha algo me empurrando em direção a , mas não podia ver, muito menos entender, o que era, apenas era forçada a andar.
Pisquei os olhos rapidamente e quando percebi o cenário à minha frente havia mudado totalmente.
Capítulo 1
Era apenas mais uma noite para muitas crianças da minha idade, mas para mim era mais uma daquelas noites, noites em que meu pai chegava tarde e bêbado em casa e minha mãe ia repreendê-lo. E lá se ia mais uma discussão noturna de horas.
Não me entenda mal, mas quando se tem 12 anos tudo que uma menina quer é acreditar nos filmes da Disney e em finais felizes, então quando você percebe que a realidade é muito diferente e cruel da dos filmes, você passa a desacreditar de leve no “felizes para sempre”.
- EU ESTOU CANSADA DISSO, DE VOCÊ E DE COMO VOCÊ CHEGA TODAS AS NOITES EM CASA. VOCÊ POSSUI UMA FAMÍLIA, ROBERT, UMA FILHA, HAJA COMO PAI E DÊ O EXEMPLO AO MENOS UMA VEZ NA VIDA. – minha mãe gritava do andar de baixo, enquanto eu enfiava meu rosto no travesseiro, lutando para não chorar.
- Não enche! – era tudo que meu pai respondia, com a voz visivelmente alterada pela bebida.
- NÃO DÁ MAIS, EU QUERO O DIVÓRCIO. – ouvi minha mãe gritar, antes de passadas duras e rápidas começarem; elas pareciam mais altas à medida que se aproximavam do meu quarto. – , querida, vou levar você para os , ok? Pegue seu material, pijama e uniforme para irmos; amanhã eu busco você lá – não cheguei a responder quando a porta se fechou e pouco tempo depois pude ouvir minha mãe ao telefone, provavelmente falando com a mãe de sobre eu passar a noite lá.
Os sempre foram como minha segunda casa, às vezes eram mais como a primeira, então eu tinha total liberdade de dormir lá quando quisesse ou fosse necessário. Além disso, eles eram uma família totalmente diferente da minha, eram o exemplo que me faziam ainda acreditar em finais felizes. E tinha o , meu melhor amigo desde sempre...
Peguei tudo que minha mãe havia dito, juntamente com meu urso de pelúcia e a escova de dente, e desci as escadas, um pouco preocupada com o que encontraria no andar de baixo, mas apenas minha mãe me aguardava à porta, com a chave do carro em mãos.
- Pronta, querida? – concordei com a cabeça e logo estávamos no carro, indo em direção à casa de .
A mãe de abriu a porta ao primeiro toque da campainha, com o filho ao seu lado. Não foi preciso dizer nada para que os braços de me alcançassem e me envolvessem em um abraço apertado e me guiassem para dentro da casa.
- , querido, leve a para cima, sim? Vou terminar a conversa com a mãe dela e já subo com as coisas dela. – ouvi a senhora dizer ao filho, que concordou com a cabeça, ainda sem me soltar.
Nós dois subimos e fomos para o quarto de jogar vídeo game. Durante todo o tempo que ficamos acordados, não tocamos no assunto – razão para eu estar ali, a mãe de certamente teria comentado algo com o filho e sabia que eu me abriria quando estivesse confortável, então o tempo passou assim. Dois amigos jogando conversa fora e vídeo game, nada além disso, nada de divórcio ou problemas que merecessem ser expostos e debatidos...
Hallstatt, Áustria - 17 de Março de 2005
Eu estava no banheiro terminando de arrumar meu cabelo quando meu celular, que estava em cima da pia à minha frente, parou a música e apitou, informando que eu havia recebido uma mensagem; devia ser algum grupo, depois eu respondia... Voltei ao prendedor, eu precisava domar a minha juba por completo se quisesse que ela durasse a noite toda, e o celular apitando, apitando, apitando, apitando... Ok! Alguém estava querendo chamar minha atenção, não era possível. Quando finalmente peguei o celular para ver quem estava morrendo, o nome <3 apareceu na tela, não me dando nem tempo de desbloquear o treco e ler as mensagens.
O celular tocou mais uma vez antes que eu atendesse.
- ATÉ QUE ENFIM. ESTAVA QUASE ARROMBANDO SUA PORTA – e lá estava o senhor me fazendo questionar a razão de sermos amigos desde sempre.
- Eita! Qual a emergência? Não posso nem me arrumar mais? – respondi fingindo indignação.
- ABRE ESSA PORCARIA DE PORTA LOGO, , EU ESTOU PRESTES A COMETER UMA LOUCURA – ok, conseguia ser mais exagerado que eu quando queria, isso porque eu era a mulher da relação.
- Ok, ok, to descendo. – encerrei a ligação antes que ele pudesse responder, olhei-me uma última vez no espelho e desci as escadas.
- Eu estou há dez minutos batendo. – protestou do lado de fora, antes que eu abrisse a porta. - Eu estava na minha luta com o cabelo, ok? Sem show, por favor. - revirei os olhos rapidamente antes de abrir a porta e dar de cara com de smooking e gravata. Obrigada entidade superior por me deixar viver para ver essa cena.
- Acho que terei o prazer de ser o par da menina mais bonita daquele baile idiota - disse, pegando minha mão e me girando logo em seguida.
- Posso dizer o mesmo, senhor - falei com uma voz meio sedutora, ao menos para mim, prendendo meu braço na dobra do de e me deixando ser conduzida até o carro.
Nunca fui fã de bailes e por mim nem teria saído de casa hoje, mas havia insistido tanto para virmos que acabei aceitando. E olhando a decoração agora, agradeço mentalmente meu melhor amigo por ter sido tão persistente e lanço-lhe um sorriso, que foi prontamente retribuído enquanto passávamos pela entrada do ginásio do colégio.
Eu não tinha a menor noção de que horas eram, pois e eu estávamos nos divertindo tanto com nossos amigos que o horário era nossa última preocupação. Estávamos todos rindo e conversando, quando Lana me puxou pelo braço para fora do cerco de amigos.
- MIGA, você viu quem não tirou os olhos de você a noite toda? - minha cara de "não to entendendo nada, traduz" deve ter sido a resposta que a precisava - - agora minha expressão estava mais para "você só pode estar louca" - vai lá, miga, agarra aquele gostoso - ela deu dois tapinhas em minhas costas antes de me deixar sozinha pensando em quão louca ela podia estar.
Sinto uma mão sobre meu ombro e me viro na hora, tomando um leve susto ao ver que era apenas .Talvez a loucura de Lana fosse contagiosa...
- Está tudo bem? - ele parece meio preocupado, mas quando concordo com a cabeça a preocupação parece passar e ele apenas me pega pela mão para dançarmos mais; dessa vez uma musica mais lenta está tocando.
Nós dois estávamos dançando e eu me lembrei dos filmes que assistia quando mais nova, sobre contos de fadas, bailes e o beijo do príncipe com a princesa. De repente eu me senti imersa em um deles.
- Eu... eu tenho que te contar uma coisa - e lá vinha a realidade me jogar um balde de água fria e lembrar que príncipes e princesas só existem nos filmes da Disney. E não, eu não estou exagerando! Parem para refletir: sempre que a pessoa vem com "eu tenho que te contar uma coisa" coisa boa não é, porque se não dispensava a introdução e já falava de uma vez.
- Conta ué - falei simplesmente, dando de ombros em seguida.
- Os meus pais vão... vão se separar - meus olhos a arregalaram na mesma hora. Os pais dele eram minha última esperança de felizes para sempre existirem. CADÊ AS CÂMERAS???
- Eu não acredito em você - respondi rindo, mais para não chorar do que por achar graça mesmo.
- Minha mãe descobriu que meu pai a traía e pediu o divórcio, nós vamos embora para a Austrália amanhã.
- Espera, espera! Nós? Austrália? - meus olhos estavam começando a ficar marejados, minha cabeça estava rodando e eu não podia acreditar no que estava ouvindo.
- Eu não consegui te contar, me perdoa, . Faz semanas que eu tento e não consigo.
- VOCÊ JÁ SABIA DISSO HÁ SEMANAS?? E AGORA QUE ME CONTA? UM DIA ANTES DE VOCÊ SE MUDAR?! SOME DA MINHA FRENTE, ! - meu coração doía, minha mente se recusava a processar o que acabei de ouvir e eu não tinha mais tantas certezas dos meus atos, até perceber que eu havia deixado para trás e estava agora em uma das salas com .
- Eu te desejei a noite toda aquele dia - o fantasma ao meu lado falou no meio da cena à nossa frente, onde nós dois nos pegávamos como se o mundo fosse acabar a qualquer momento.
- E eu ainda me arrependo de ter te beijado, você é nojento - a repulsa em minha voz era tão intensa que era quase palpável.
- Aaahh! Esse foi o melhor momento... Quem diria que você faria uma boquete tão bem, hein, ? - ele me lançou um sorriso pervertido e eu quase vomitei ali mesmo.
- Por favor, não me faça vomitar em você - fechei meus olhos com força e quando os abri novamente já estávamos de volta ao frio de Berlim.
- Quer dizer que eu fui seu estepe? Que você só me usou para descontar sua frustração pelo viadinho? Isso explica porque você nunca me ligou de volta para terminarmos o "serviço". Você partiu meu coração, - falava com a maior naturalidade e eu apenas me praguejava mais por ter feito o que fiz justo com ele . Podia ter sido qualquer um!
Me virei para trás, pronta para descobrir se eu poderia espancar fantasmas, mas já havia desaparecido. OUVI UM AMÉM, IGREJA? AMÉM!!
havia me deixado sozinha em uma pracinha, então sentei-me no primeiro banco que vi, refletindo sobre o que acabei de reviver. Eu havia me esquecido de tudo aquilo, de minha família e amigos desde que me formara no ensino médio e me mudara para Berlim para estudar, mas, acima de tudo, eu havia me esquecido de . Nunca mais o vira desde o dia do baile e nem tivera notícias suas, mas eu também não havia tido tempo para aquilo, para sentir saudade, eu precisava conciliar minha vida profissional com meus rolos semanais. Até porque se eu não trabalhasse eu não tinha grana para ir às baladas caçar boys para a semana e assim eu não poderia continuar com minha promessa de nunca me relacionar por muito tempo (mais do que uma semana, no máximo) com alguém e nunca me casar.
Continuei refletindo mais um pouco até ouvir a voz de me chamar.
- Horas de atraso, ? Você já foi melhor. Achei que estava ficando louca - disse de cabeça baixa, limpando a neve do meu sobretudo, logo me levantando e olhando para ele.
- Pronta para ver o seu presente? – foi tudo que ele me disse, antes de parar ao meu lado e me encarar.
E eu achando que tinha sido coisa da minha cabeça...
Capítulo 2
Napapiiri, Lapland, Finlândia - 24 de Dezembro de 2016
Eu não tinha a menor noção de onde estava. Tudo que eu via era , ao meu lado, e uma casa grande e bem iluminada e enfeitada para o Natal, com uma família conversando animada dentro. não falava nada, o que me fazia imaginar que provavelmente aquela parte era a hora que eu percebia e entendia as coisas por mim mesma.
Eis então que uma figura surge no cômodo que eu observava pela janela. Eu podia jurar que era a minha mãe, mas ela não estava passando o Natal no Brasil? Ou ela passou lá ano passado? Mas era alguém muito parecido!
Aproximei-me mais da janela que eu observava através anteriormente, deixando no mesmo lugar, mais atrás. Eu precisava ter certeza que ainda estava enxergando as coisas direito. Eis então que eu reconheço, eu reconheceria aquela mulher em qualquer lugar, era sem sombra de dúvidas minha mãe.
- Desde quando no Brasil neva? – perguntei para mim mesma, logo obtendo uma resposta de .
- Sua família passou o Natal no Brasil em 2010, . Estamos na Finlândia.
- QUÊ?? – meus olhos se arregalaram e apenas revirou os olhos.
- Vamos entrar - dois segundos depois de dizer isso, estava ao meu lado novamente e com a mão no final de minha lombar, me empurrando levemente para frente, em direção à parede.
- Porque não entra pela porta? – perguntei, tentando tornar aquilo tudo menos complicado.
- Claro, nós abrimos a porta e entramos e ainda dizemos “Olá família” para eles e eles vão super ver.
- Nossa, não precisa ser grosso!
- Preciso sim, pois eu devia e queria estar em outro lugar.
- Então vai, ué. Tem alguém te impedindo? Te segurando aqui?
devia ter ficado bem nervoso, pois tudo que fez foi me empurrar fortemente contra a parede, me fazendo gritar, atravessá-la e cair do lado de dentro da casa, de cara no chão. Depois as estressadas são as mulheres...
Segundos depois, atravessou a parede também, na maior pose de “não brinque com o fantasma” misturada com “pelo menos eu atravesso paredes e continuo em pé”. Idiota!
- Criançaaaas, o que acharam de nosso passeio hoje? - alguém falou do cômodo ao lado, que eu julguei ser a sala já que todos estavam sentados lá, conversando, e parecia haver um barulho de televisão ao fundo.
Caminhei em direção ao cômodo enquanto ouvia:
- Eu adorei andar de rena e conhecer o Papai Noel e a oficina dele – um menininho falou, mas eu não tinha a menor noção de quem ele era, pois nunca o vira antes na vida.
- De onde essa criaturinha surgiu? Eu hein! – falei examinando o menino de alto a baixo.
- Ele é seu primo de 5 anos, . Seria seu afilhado também se você tivesse atendido uma das 30 ligações de sua mãe para convidá-la. – mais uma vez respondeu minha pergunta retórica.
- Eu não, credo. Ser madrinha tem que dar presente caro. Como vou bancar meus próprios gastos assim? – retruquei.
- AMANHÃ NÓS VAMOS NA VILA DO PAPAI NOEL, TIA??!! – uma menininha, também desconhecida, perguntou, caminhando até minha mãe e puxando sua saia, como se quisesse chamar sua atenção.
- Vamos sim, querida, vamos só nós, um passeio em família; vamos aproveitar que estão todos aqui. – minha mãe respondeu, pegando a garota no colo e fazendo-lhe carinho.
- COMO ASSIM? É CLARO QUE NÃO ESTÃO TODOS ALI, EU NÃO ESTOU. – retruquei para , antes que ele respondesse mais uma pergunta retórica.
- Eles se esqueceram de você, , assim como você esqueceu-se deles, você ignorou-os tantas vezes que eles se cansaram. Além de que acham que sem você aqui a festa fica muito melhor, pois seu mau humor e antipatia por todos são demais para aguentarem.
- Quer dizer que agora eu sou uma estranha para eles? ISSO NÃO É JUSTO!
- Você provocou isso, , agora aceite... – parei de ouvir o sermão de quando percebi que além de minha família, a mãe de também estava ali. Será que também viera? Comecei a andar pela casa, a princípio com medo de alguém de ver, mas logo percebendo que eu era um fantasma invisível, diferentemente dos de filmes. Andei mais um pouco e encontrei uma escada, logo a subindo e encontrando vários quartos. Um deles estava com a porta entreaberta, então consegui passar entre o vão da porta e batente, entrando no quarto e encontrando ali, mais lindo que nunca, sentado na cama, com a mala aberta no chão à sua frente, e um porta retrato em mãos. Meu coração deu um leve pulo em meu peito e não pude evitar caminhar até perto dele, onde eu pudesse ver a foto que ele observava. Qual foi minha surpresa ao perceber que era uma foto nossa, no dia do baile, que tiramos na entrada. O dia que mudou tudo...
- Feliz Natal, – ele disse em um tom baixo, com uma voz meio estranha, parecia... saudade. Depois guardou o porta retrato no fundo da mala e a fechou.
- ... ... ... – eu podia ouvir meu nome ser chamado, mas jurava ser coisa da minha mente – , está me escutando? – ouvi me chamar, pelo que, provavelmente, não era a primeira vez, e olhei confusa para ele, que rolou os olhos – Vamos!
pegou meu pulso e começou a andar para fora da casa. Dessa vez não tive medo de atravessar a parede, porém, em vez de sairmos do lado de fora da casa onde minha família estava, saímos dentro de um quarto de hotel, ou melhor, eu saí, pois havia desaparecido.
Tentando adivinhar onde estava, olhei ao redor até encontrar uma toalha estendida no encosto de uma cadeira, nela estava bordado na barra ”Hotel Le Pigonnet, Provence – France”. O QUE EU ESTAVA FAZENDO NA FRANÇA? E ONDE ESTAVA ?
- Amor, isso tudo é muito lindo, eu não acredito até agora que estamos aqui. – uma garota loira apareceu no quarto, já vestida, secando o cabelo com a toalha e olhando por cima do ombro. De repente entendi porque eu estava sozinha em um quarto de hotel na França, depois de tomar um toco em plena véspera de Natal, porque apareceu logo depois, abarcando a garota por trás e depositando-lhe um beijo no pescoço. FILHO DA MÃE!
- Que bom que está gostando, amor. E ainda temos muito mais pela frente – ele soltou da garota e caminhou até o armário que só então percebi estar praticamente ao meu lado. Eu só conseguia pensar na palavra que ele usou, ”amor”, ”amor”, ”amor”... ”AMOR”.
- Como ele pode chamar ela de amor, sendo que esses dias mesmo estava COMIGO e ME CHAMAVA de amor? Filho da mãe! – falei entre dentes, me remoendo de raiva.
- Você acha que é a única que pode brincar com as pessoas, ? Usá-las e jogá-las fora depois? – havia desaparecido da cena e agora estava ao meu lado - Parece que o jogo virou não é mesmo? Acho que alguém está provando do próprio veneno... – nesse momento eu parti para cima dele, não me importava que ele fosse um fantasma, humano, o raio que os parta, eu estava com raiva; entretanto, minha tentativa de descontá-la em foi totalmente fracassada já que minha mão atravessou o rosto dele e ele parecia rir de toda a situação. Fechei os olhos com força, respirando fundo e retirando minha de dentro dele de uma só vez.
Abri o olho novamente estava sozinha mais uma vez, dessa vez de volta à pracinha onde me encontrara. Um homem muito lindo vestido de branco me observava a curta distância, nem precisava perguntar quem era.
- Deixa eu adivinhar: fantasma do futuro? – perguntei em tom irônico e ele apenas concordou com a cabeça e começou a andar, indicando que eu deveria segui-lo.
Capítulo 3
Eu segui “o cara muito lindo, porém mudo” até o que parecia ser uma igreja, visivelmente fechada. E comecei a achar que ele era louco quando ele atravessou a porta. Porque eu entraria em pleno dia 24 de Dezembro em uma igreja fechada? Porque ele é um fantasma e provavelmente te mostrará algo dentro dela, . Não seja besta!
Atravessei a porta pouco tempo depois e tive que concordar com meu eu interior quando percebi que ele queria mesmo me mostrar algo. E esse algo era meu velório, sim eu entrei na igreja para ver meu corpo em um caixão, sozinho ali; e eu estava tão velha... eca!
- Não é triste, Penélope? Ela está ai há quase um dia e ninguém veio vê-la, será que não querem se despedir? – pude ouvir duas senhoras conversarem mais ao fundo da igreja, quase cochichando.
- Ela deve ter sido uma pessoa horrível enquanto viva, Gertrude, por isso ninguém veio vê-la. Que Deus tenha piedade da alma dela – a tal Penélope respondeu, fazendo sinal da cruz logo em seguida.
Olhei para “o cara muito lindo, porém mudo” e ele apontou para uma porta mais a sua frente, caminhando em direção a ela logo em seguida. Ele poderia falar, seria bem mais simples... Caminhei em seu encalço até a porta, logo a atravessando também. Eu poderia me acostumar com essa história de atravessar as coisas, seria divertido.
Berlim, Alemanha - 13 de Maio de 2032
Dessa vez eu não saí no meu casamento igual achei que seria, já que casamento e velório eram praticamente sinônimos para mim. Eu saí em uma casa, bem bonita por sinal. Como da última vez que eu saí em uma casa eu cheguei no Natal da minha família e descobri que eles meio que me odiavam, dessa eu estava com ”um pouco” de receio do que poderia encontrar.
O fantasma caladão estava parado ao meu lado, me olhando como quem diz “vai andar, ver onde você está”, então eu obedeci. Andei um pouco pela casa até achar uma mesa com alguns porta retratos nela. Eram fotos de uma família que parecia bem feliz, porém eu não estava feliz; eram fotos da família de .
- ERA PARA EU ESTAR NESSAS FOTOS, EU. ELE NÃO TEM NOÇÃO DE COMO MEU CORAÇÃO ESTÁ DOENDO – gritei para o fantasma, que continuava no mesmo lugar, só então percebendo o que eu falava. Eu tinha sido uma daquelas garotas clichê que se apaixonou pelo melhor amigo...
“O cara muito lindo, porém mudo” ergueu uma das sobrancelhas para mim e eu entendi aquilo como “eai, o que vai fazer agora?” e eu apenas respondi:
- Eu quero voltar.
Corri até ele, enquanto o cenário à minha volta mudava, para a noite fria de véspera de Natal em Berlim. Quando cheguei até onde ele estava antes, eu já havia voltado para o frio alemão e estava agora sozinha.
Agarrei-me ao meu sobretudo, fechando com força em torno de mim mesma, enquanto corria até minha casa, quase caindo ao passo que meus pés afundavam na neve.
Depois de algum sacrifício, cheguei à minha casa. Peguei o telefone e liguei para todas as companhias aéreas, em busca de alguma passagem de última hora para a Finlândia, enquanto corria até meu quarto em busca de possíveis presentes; eu tinha um Natal em família para participar.
Eu liguei para umas 10 companhias aéreas, até finalmente achar uma passagem, por quase o triplo do preço normal, mas ok, eu estava desesperada. Peguei um taxi, cheia de sacolas, recheadas de presentes que consegui improvisar em casa, e pouco tempo depois eu já estava no aeroporto embarcando para um vôo de quase 4 horas para Napapiiri, Lapland, na Finlândia. Pelas minhas contas, eu chegaria antes do café da manhã e poderia prepará-lo para todos, junto com a entrega dos presentes.
Napapiiri, Lapland, Finlândia - 25 de Dezembro de 2016
Cheguei ao aeroporto e aluguei um carro para poder caçar onde minha família estava. Imaginei que estaria em algum chalé alugado, já que nós éramos da Áustria e não ricos o suficiente para termos uma casa de férias de inverno, então perguntei ao rapaz da loja de aluguel de carros onde a maioria dos chalés a aluguel ficava e me dirigi para lá logo depois.
Não precisei rodar muito a região para achar a casa que visitara mais cedo, afinal ela era bem acessível e fácil de localizar para quem nunca viera ao país, o caso da minha família também, imagino. Era a mesma fachada e o mesmo carro estava estacionado do lado de fora, quase coberto totalmente de neve, então pensei que tinha que ser aquela casa mesmo.
Como toda casa européia nos filmes tem uma chave reserva sobre o capacho, imaginei que essa também teria, suspirando aliviada quando percebi que estava certa. Então entrei fazendo o mínimo barulho possível, deixei os presentes sob a árvore, minha mala em alguma canto da sala e peguei minhas sacolas e me dirigi à cozinha, para preparar o café da manhã.
Eram cerca de oito e meia quando terminei de arrumar tudo e ouvi o primeiro barulho significativo vindo do andar de cima. Imaginei que fosse algum de meus parentes acordando, então corri para sentar-me no sofá da sala e fingir folhear distraidamente uma revista que ganhei no avião.
Ouvi passos na escada e tive que me esforçar muito para não olhar quem era até que a pessoa estivesse no chão, não queria causar acidente a ninguém. Porém, Gabriel, um dos meus primos parou no meio da escada, me fazendo olhar para ver se estava tudo bem. Ele estava com cara de sono e me olhava como se não acreditasse no que via, coçando o olho algumas vezes.
- Tia ? – ele perguntou receoso, com a cabeça meio inclinada para o lado. Sempre achara divertido que ele me chamasse de tia, mesmo sabendo que éramos primos.
Sorri para ele, retornando a “folhear a revista”, enquanto ele entendia a mensagem e corria para o andar de cima gritando “A TIA ESTÁ AQUI”.
A primeira pessoa a descer foi minha mãe, provavelmente sem acreditar que Gabriel falava a verdade, e, quando constatou que era realmente eu que estava ali, ficou parada no final da escada, sem saber o que fazer. Levantei-me às pressas e corri até ela, lhe abraçando apertado; ela tinha todos os defeitos, mas eu a amava muito e fora perceber isso somente hoje. Além do mais, quem não tem defeitos, não é mesmo?
Quando finalmente larguei minha mãe, vi que minha família toda já estava no andar de baixo, me olhando como se eu fosse uma aberração. Na verdade, eles me olhavam como se esperassem o meu surto. Minha ficha caiu ali: eu havia sido uma pessoa tão ruim nos últimos anos que nem minha própria família sabia mais como agir próxima a mim. Eu precisava recuperar meu erro e iria fazer isso agora:
- Bom, eu não sei muito bem como começar, mas acho que vai ser por “perdão”; porque desculpas não são suficientes para me redimir de tudo que fiz a vocês. Porém, finalmente, depois de muitos natais, eu percebi e gostaria de saber se vocês podem me perdoar. Eu realmente gostaria de ser melhor e acho que agora posso, pois hoje eu entendi o que é Natal, Natal é estar com quem você ama e quer bem, Natal deve ser nossa vida todos os dias, um dia de amor, gratidão e de aproveitar o que tem, enquanto tem. – nessa hora eu recebi um abraço em grupo. Não sei bem quem encabeçou ele, mas foi bem legal a atitude. Agradeceria a pessoa mais tarde! – Então estou perdoada? – eles concordaram com a cabeça e as crianças berraram sim - Que bom, porque se não eu levaria os presentes embora – ouvi mais gritinhos animados das crianças, enquanto me soltavam. corriam até a árvore. Aos poucos os adultos foram me soltando também, restando apenas minha mãe, que depositou um beijo em minha bochecha antes de me soltar também.
Caminhei até a árvore também e comecei a entregar os presentes um a um, deixando o de para o final, precedido apenas pelo o da senhora . Quando foi a vez de entregar o presente da mãe de , caminhei até ela meio insegura; afinal não sabia o que havia dito a ela. Porém, ela veio logo ao meu encontro e me deu um abraço apertado.
- Você não tem ideia de como sentimos sua falta – ela me soltou do abraço, pegou minhas mãos e me olhou de cima a baixo – Você está linda, minha querida.
- Obrigada – sorri e lhe estendi a sacola com seu presente – Este é para a senhora – ela sorriu e me abraçou mais uma vez, me dando um beijo na bochecha logo em seguida.
Olhei para os lados, procurando entre as pessoas na sala, que conversavam entre si sobre assuntos aleatórios, porém sem encontrá-lo.
- Ele está no quarto; ficou com medo de sua reação. Mas, querida, sabe de uma coisa? Sempre foi você – a senhora pareceu ler meus pensamentos, antes de me dar uma piscadela e ir para perto de minha mãe.
A segui apenas para dizer para minha mãe que preparara o café para todos e logo me vi subindo as escadas com um misto de nervosismo e alegria em meu estômago. Durante todo o curto caminho, fui tentando me controlar, mas quando parei à porta do quarto que vira mais cedo, eu já suava frio. Respirei fundo algumas vezes, antes de finalmente bater na porta.
Segundos depois abria a porta com cara de sono, cabelo bagunçado e vestindo apenas uma bermuda; mais lindo impossível. A surpresa de era visível, pois ele me olhava sem saber o que fazer, então eu o fiz, fiz o que eu queria fazer desde o dia do baile, eu o beijei. Sabe aquela coisa toda de sentir borboletas no estômago e baboseiras afins, eu nunca acreditei, mas era real; quando se gosta da pessoa, a sensação é real.
partiu o beijo e aprecia ainda mais perdido, mas coçou a cabeça e chacoalhou a cabeça e logo falou:
- Era eu quem devia ter feito isso, há muito tempo, por sinal.
- Nenhuma garota consegue esperar por onze anos, . – brinquei, antes de beijar mais uma vez, dessa vez por iniciativa dele. – Se bem que, eu poderia te esperado - ergui uma sobrancelha e riu gostoso; que saudade eu estava daquela risada.
- Eu acho que te devo um belo pedido de desculpas... – ele começou o discurso que tinha cara de ter sido ensaiado por anos. Mas, sinceramente, eu não estava interessada. Eu viajara ao passado, presente e futuro em algumas horas, já vira e ouvira tudo que precisava e suportava, tudo o que eu queria agora era esquecer tudo e começar do zero. Então encerrei o discurso do meu melhor amigo colocando o indicador sobre seus lábios.
- Eu também lhe devo, então que tal fazermos o seguinte: aceitamos as desculpas mútuas e começamos do zero. Eu não sou boa com recomeços, nunca quis tentar de novo, mas posso tentar – dei um sorriso torto, meio sem graça.
- Eu acho uma ótima ideia – ele sorriu e mordiscou meu dedo, que só então percebi ainda estar sobre seus lábios.
- Que tal café da manhã? – sorri feito criança, dando-lhe um selinho.
- Você quem preparou? – concordei com a cabeça, ainda sorrindo para . – Alguma razão para ficar com medo? – ele brincou, recebendo um tapa no ombro como resposta.
- Eu cozinho muito bem, ok? – fiz bico e cruzei meus braços sob o peito, como forma de intensificar meu drama.
– Você fica adorável quando “está brava”, sabia? – riu e eu rolei os olhos. – Está rolando os olhos para mim, ? Sua mãe não lhe deu educação, não? – para provocá-lo, rolei os olhos outras duas vezes. – Vou conversar com sua mãe mais tarde. Podemos descer?
- Vá você, eu preciso ligar para uma pessoa – pareceu hesitar por alguns minutos, mas dei-lhe um sorriso como quem diz “na há nada com que se preocupar” e logo ele me deixara sozinha no quarto; que eu não tinha a mínima noção de quando passara da porta para dentro.
Eu não tinha certeza que faria isso hoje, muito menos se ele me atenderá, mas se quero realmente começar do zero, ainda há algo que preciso resolver. E se há um dia melhor que hoje para resolver tudo, não sei. Por isso, peguei meu celular e disquei o número que eu tinha, torcendo para que ele continuasse o mesmo.
- Alô? – uma voz masculina que eu conhecia bem, mas não ouvia há tempos falou do outro lado da ligação.
- Pai? – tentei fazer minha voz não oscilar, mas não deu.
- ? É você, minha filha? – a voz dele oscilava também e ele parecia estar chorando.
- Sim, pai, liguei para te desejar Feliz Natal.
- Ai que saudade, minha filha. Feliz Natal!
E ai surgiu o temido “silêncio constrangedor”. Mas não é sempre assim? As pessoas ficam anos sem se falar e quando tem a oportunidade não sabem o que fazer, porque não tem mais intimidade para fazer perguntas além do “tudo bem?” ou por simplesmente considerarem não ter. Então eis minha saída de mestre:
- Pai, eu preciso desligar. Feliz Natal! – falei, enquanto mordia o lábio inferior.
- Feliz Natal, – e desligamos; não sei quem desligou primeiro, simplesmente desligamos.
- Ficar ouvindo atrás da porta é muito feio, – falei um tom mais lato, assim que vi uma sombra atrás da porta.
- Ah! Eu achei que nem ia perceber – ele fez bico, abriu a porta e caminhou até mim.
- Eu tenho olhos de águia – fiz cara de convencida e ele rolou os olhos – Quem é o sem educação agora, hein? – arqueei a sobrancelha e ele riu.
- Está tudo bem?
- Sim, foi mais fácil do que eu pensei – dei um sorriso torto e recebi um abraço de lado e sem jeito em resposta.
- Que bom, porque eu acho que ficamos sem café da manhã – ele me deu um selinho e me puxou pela mão para fora do quarto, correndo até o andar de baixo.
Sabe aquela sensação de leveza que você tem depois de resolver todos seus problemas? Meu corpo estava tão leve que eu achava que iria flutuar. Mas, acima de tudo, eu estava feliz, como nunca estivera antes, e eu não queria que essa sensação acabasse nunca.
FIM.
Outras Fanfics:
5841 [Originais, Finalizada]
Um Príncipe em Minha Vida [Originais, Em Andamento]