Capítulo 1
null null sabia que não seria fácil ir embora. Havia morado em Nashville durante todos os seus vinte e dois anos. Ali, ela descobrira o que era vida. Todas as suas primeiras vezes. Inclusive a vez em que havia se apaixonado.
E, como moradora de Nashville, era óbvio que ela conheceria todos os nomes dos jogadores do Nashville Predators e não perderia a chance de ir à Bridgestone Arena sempre que podia. Inclusive aos eventos que o clube promovia no início e final de temporada. Ela adorava poder conversar com os jogadores como se fossem pessoas normais. Ou melhor, lembrar-se que, fora um equipamento, patins, stickers e puck, eles eram apenas caras normais. Apesar da conta bancária.
Em um desses eventos, null havia conhecido null null. Ele não era nem de longe o mais bonito do time, e muito menos o seu favorito. Se perguntassem para ela quem ela preferia, sem dúvidas escolheria Roman Josi. Mas ela sabia que ele era apenas um dos crushes impossíveis dela. Ele mantinha um relacionamento sério conhecido do público há alguns meses. Uma moça bonita chamada Alanis. Mais tarde, null conheceria a garota e até escutaria algumas dicas sobre como era namorar um jogador de hockey.
No entanto, ao colocar os olhos em null null, null percebeu que o rapaz a olhava de volta. O sorriso torto com diversos dentes falsos após uma enorme janela adquirida em um jogo. Os olhos cor de mel que ela passaria os próximos meses tentando entender.
E os meses que seguiriam aqueles tentando esquecer.
null fora transferida para a sede de Chicago da empresa de advocacia que trabalhava. Ela estava lá desde a faculdade e aquela oportunidade era irrecusável, apesar dos apelos e sorrisos de null. Ele sabia que era algo importante para null, mas não tinha certeza se era seu destino.
Ele quis que eles tentassem um namoro à distância. Ele vivia viajando de qualquer forma, não era como se tivessem um namoro padrão em Nashville. Mas null recusou. Segundo ela, não poderia seguir em frente se continuasse a se prender à cidade. E, infelizmente, null a lembrava de Nashville.
null entrou no avião com destino a Chicago deixando seis palavras contra os lábios trêmulos de null null.
– I promise I’ll see you again.
Dois meses depois que ela havia se mudado, os Nashville Predators tiveram um jogo contra o Chicago Blackhawks na casa dos Hawks. Em alguns sites, aquele seria considerado uma das maiores rivalidades da NHL, apesar dos Predators serem um time jovem. null estava na arquibancada, observando todos os passos do número 51 dos Preds.
Ela ainda vestia a jersey com seu número nas costas, apesar de ter se infiltrado no meio da torcida de amarelo, em minoria na United Center. Era a coisa boa de multidões: você conseguia se esconder facilmente. E observar null de longe parecia correto. O vazio no seu peito que durara tantos meses sumia ao ver o rapaz deslizando sob o gelo.
Enquanto isso, null foi atrás dela na manhã daquele mesmo jogo. Sabia seu endereço por causa de uma caixa que recebera alguns meses antes, na qual ela devolvera as coisas dele que ficaram esquecidas em seu apartamento. A maioria desses pertences não era apenas dele, com o tempo, tinham se tornado objetos dos dois. null segurara a caixa, pensando em quando devolveria para null a corrente de ouro com um patins de gelo ou até mesmo seu livro de cabeceira favorito.
Ao longe, viu null saindo na sua tradicional bicicleta amarela. Morava perto do escritório, mas odiava andar a pé.
Em Nashville, null era conhecida como a garota da bicicleta amarela. Ela havia ganhado de presente do seu pai quando tinha 12 anos e precisaria começar a ir para a escola sozinha. Ao longo dos anos, suas distâncias aumentaram e o meio de transporte só era deixado de lado durante o rigoroso inverno, quando a neve ocupava as ruas e ficava impossível transitá-las em segurança.
Mas null não pode chamar null. Ela já estava longe demais para que o escutasse.
Eles não se encontraram. Seus caminhos teimaram em não se cruzar.
Mas aos poucos null foi se sentindo sozinha em Chicago. Era uma cidade muito grande para o seu coração.
O trabalho não a deixava animada. As baladas não eram as mesmas. E seu ódio pelo Hawks era grande demais para ir a um jogo de hockey.
Ela começou a perceber que estava se tornando uma ilha. Cada pessoa naquela cidade estava sozinha, e ela estava cansada de ficar assim. Sua rotina era ir ao escritório, chegar em casa com algum delivery de comida chinesa, ligar a netflix e fingir que não tinha que repetir tudo no dia seguinte.
Talvez fosse a hora de admitir que ali não era seu lugar. Talvez fosse a hora de voltar para Nashville. Voltar para suas origens. Voltar para os braços de null null.
Era um longo caminho de volta a Nashville. Ela sabia que não seria fácil. null null não era a mesma que havia deixado a cidade oito meses antes.
Mas null estava cansada de se esconder. Cansada de correr atrás de um sonho que não era mais o dela.
null estava em um treino como outro qualquer. Deslizava pelo gelo de um lado para o outro, tentando produzir o máximo de jogadas que poderia. Os playoffs estavam se aproximando e não seria uma competição fácil, mesmo não estando entre os favoritos.
Ele viu alguns dos seus companheiros de equipes parando e olhando para a arquibancada.
– O que foi? – null se aproximou de Roman Josi.
– Você já viu fantasmas? – null franziu a testa, tentando entender de onde o amigo tinha tirado aquela ideia. No meio do treino falar sobre fantasmas? Josi poderia ser piadista, mas aquilo extrapolava o bom senso.
– Fantasmas não existem.
– Então por que null null está sentada na arquibancada?
null não queria acreditar. Lentamente, virou o rosto.
null estava em Chicago. Havia prometido nunca mais voltar a Nashville, apesar de seus pais ainda morarem na cidade.
Porém ele não estava tendo uma ilusão. Os cabelos loiros chamavam a atenção em meio às cadeiras varias. E, mesmo que estivesse longe, null reconheceria a garota aonde quer que ela estivesse.
null, percebendo que ele a olhava, acenou. null sorriu para ela. Afinal, ela havia prometido que eles se veriam de novo.
Saindo do vestiário, null encontrou null parada na porta. Ela vestia uma calça jeans e um moletom amarelo. Sem dúvidas, amarelo era sua cor.
– Oi. – ela começou timidamente. Não fazia ideia de até onde poderia ir com ele.
– Olá.
null estava tão sem graça quanto null. Tinham mil coisas para falar, mas nenhuma delas parecia tão importante quanto a presença um do outro.
Sem pensar demais, null pulou nos braços dele, o abraçando como apenas muita saudade seria capaz de fazer. Ele então deixou externar a única pergunta que gritava em sua mente.
– O que você está fazendo aqui? – disse, abafado contra os cabelos claros dela.
– Eu estou de volta. – ela respondeu contra o pescoço dele. Seu hálito quente fez com que null se arrepiasse.
null estava de volta, e ele não deixaria que ela saísse correndo novamente.
De mãos dadas, andaram no estacionamento até o carro. null queria contar para ele que havia abandonado tudo, mas tinha medo que null fosse julgá-la.
Mas ela se esqueceu que, em grande parte das vezes, ele a conhecia melhor do que ela mesma.
Antes de entrar no carro, null a puxou pela cintura, a deixando de frente para ele. Ela o abraçou de volta.
– Você abandonou a firma, não é?
null mordeu os lábios tentando pensar em como responder. Mas não tinha outra forma a não ser falando a verdade.
– Abandonei. Não parecia mais certo, null. Eu precisava voltar para casa. Chicago não é o meu lugar. Ainda não sei o que é, mas não é lá.
– Eu sei. Fico feliz que ainda esteja aqui para te receber de volta.
– Fico feliz em ter você de volta.
null a beijou com saudade, colocou naquele beijo tudo o que havia sentido nos últimos meses. A necessidade dela na arquibancada torcendo por ele, o toque tarde da noite quando estava ansioso demais, ou apenas o som da sua risada.
Eles não haviam discutido sobre como seriam dali em diante, mas estava óbvio que estariam juntos. Eles ainda se amavam. E, talvez, as coisas não precisassem retroceder. Às vezes, alguns assuntos apenas ficam parados, esperando que possa retomá-los. E assim era null e null, um assunto que não havia chegado ao fim. Apenas um hiatus.
Fim.
Nota da autora: Sem nota.
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