Última atualização: 06/04/2018

Capítulo 1


sabia que não seria fácil ir embora. Havia morado em Nashville durante todos os seus vinte e dois anos. Ali, ela descobrira o que era vida. Todas as suas primeiras vezes. Inclusive a vez em que havia se apaixonado.
E, como moradora de Nashville, era óbvio que ela conheceria todos os nomes dos jogadores do Nashville Predators e não perderia a chance de ir à Bridgestone Arena sempre que podia. Inclusive aos eventos que o clube promovia no início e final de temporada. Ela adorava poder conversar com os jogadores como se fossem pessoas normais. Ou melhor, lembrar-se que, fora um equipamento, patins, stickers e puck, eles eram apenas caras normais. Apesar da conta bancária.
Em um desses eventos, havia conhecido . Ele não era nem de longe o mais bonito do time, e muito menos o seu favorito. Se perguntassem para ela quem ela preferia, sem dúvidas escolheria Roman Josi. Mas ela sabia que ele era apenas um dos crushes impossíveis dela. Ele mantinha um relacionamento sério conhecido do público há alguns meses. Uma moça bonita chamada Alanis. Mais tarde, conheceria a garota e até escutaria algumas dicas sobre como era namorar um jogador de hockey.
No entanto, ao colocar os olhos em , percebeu que o rapaz a olhava de volta. O sorriso torto com diversos dentes falsos após uma enorme janela adquirida em um jogo. Os olhos cor de mel que ela passaria os próximos meses tentando entender.
E os meses que seguiriam aqueles tentando esquecer.
fora transferida para a sede de Chicago da empresa de advocacia que trabalhava. Ela estava lá desde a faculdade e aquela oportunidade era irrecusável, apesar dos apelos e sorrisos de . Ele sabia que era algo importante para , mas não tinha certeza se era seu destino.
Ele quis que eles tentassem um namoro à distância. Ele vivia viajando de qualquer forma, não era como se tivessem um namoro padrão em Nashville. Mas recusou. Segundo ela, não poderia seguir em frente se continuasse a se prender à cidade. E, infelizmente, a lembrava de Nashville.
entrou no avião com destino a Chicago deixando seis palavras contra os lábios trêmulos de .
I promise I’ll see you again.
Dois meses depois que ela havia se mudado, os Nashville Predators tiveram um jogo contra o Chicago Blackhawks na casa dos Hawks. Em alguns sites, aquele seria considerado uma das maiores rivalidades da NHL, apesar dos Predators serem um time jovem. estava na arquibancada, observando todos os passos do número 51 dos Preds.
Ela ainda vestia a jersey com seu número nas costas, apesar de ter se infiltrado no meio da torcida de amarelo, em minoria na United Center. Era a coisa boa de multidões: você conseguia se esconder facilmente. E observar de longe parecia correto. O vazio no seu peito que durara tantos meses sumia ao ver o rapaz deslizando sob o gelo.
Enquanto isso, foi atrás dela na manhã daquele mesmo jogo. Sabia seu endereço por causa de uma caixa que recebera alguns meses antes, na qual ela devolvera as coisas dele que ficaram esquecidas em seu apartamento. A maioria desses pertences não era apenas dele, com o tempo, tinham se tornado objetos dos dois. segurara a caixa, pensando em quando devolveria para a corrente de ouro com um patins de gelo ou até mesmo seu livro de cabeceira favorito.
Ao longe, viu saindo na sua tradicional bicicleta amarela. Morava perto do escritório, mas odiava andar a pé.
Em Nashville, era conhecida como a garota da bicicleta amarela. Ela havia ganhado de presente do seu pai quando tinha 12 anos e precisaria começar a ir para a escola sozinha. Ao longo dos anos, suas distâncias aumentaram e o meio de transporte só era deixado de lado durante o rigoroso inverno, quando a neve ocupava as ruas e ficava impossível transitá-las em segurança.
Mas não pode chamar . Ela já estava longe demais para que o escutasse.
Eles não se encontraram. Seus caminhos teimaram em não se cruzar.
Mas aos poucos foi se sentindo sozinha em Chicago. Era uma cidade muito grande para o seu coração.
O trabalho não a deixava animada. As baladas não eram as mesmas. E seu ódio pelo Hawks era grande demais para ir a um jogo de hockey.
Ela começou a perceber que estava se tornando uma ilha. Cada pessoa naquela cidade estava sozinha, e ela estava cansada de ficar assim. Sua rotina era ir ao escritório, chegar em casa com algum delivery de comida chinesa, ligar a netflix e fingir que não tinha que repetir tudo no dia seguinte.
Talvez fosse a hora de admitir que ali não era seu lugar. Talvez fosse a hora de voltar para Nashville. Voltar para suas origens. Voltar para os braços de .
Era um longo caminho de volta a Nashville. Ela sabia que não seria fácil. não era a mesma que havia deixado a cidade oito meses antes.
Mas estava cansada de se esconder. Cansada de correr atrás de um sonho que não era mais o dela.

...


estava em um treino como outro qualquer. Deslizava pelo gelo de um lado para o outro, tentando produzir o máximo de jogadas que poderia. Os playoffs estavam se aproximando e não seria uma competição fácil, mesmo não estando entre os favoritos.
Ele viu alguns dos seus companheiros de equipes parando e olhando para a arquibancada.
– O que foi? – se aproximou de Roman Josi.
– Você já viu fantasmas? – franziu a testa, tentando entender de onde o amigo tinha tirado aquela ideia. No meio do treino falar sobre fantasmas? Josi poderia ser piadista, mas aquilo extrapolava o bom senso.
– Fantasmas não existem.
– Então por que está sentada na arquibancada?
não queria acreditar. Lentamente, virou o rosto.
estava em Chicago. Havia prometido nunca mais voltar a Nashville, apesar de seus pais ainda morarem na cidade.
Porém ele não estava tendo uma ilusão. Os cabelos loiros chamavam a atenção em meio às cadeiras varias. E, mesmo que estivesse longe, reconheceria a garota aonde quer que ela estivesse.
, percebendo que ele a olhava, acenou. sorriu para ela. Afinal, ela havia prometido que eles se veriam de novo.

Saindo do vestiário, encontrou parada na porta. Ela vestia uma calça jeans e um moletom amarelo. Sem dúvidas, amarelo era sua cor.
– Oi. – ela começou timidamente. Não fazia ideia de até onde poderia ir com ele.
– Olá.
estava tão sem graça quanto . Tinham mil coisas para falar, mas nenhuma delas parecia tão importante quanto a presença um do outro.
Sem pensar demais, pulou nos braços dele, o abraçando como apenas muita saudade seria capaz de fazer. Ele então deixou externar a única pergunta que gritava em sua mente.
– O que você está fazendo aqui? – disse, abafado contra os cabelos claros dela.
– Eu estou de volta. – ela respondeu contra o pescoço dele. Seu hálito quente fez com que se arrepiasse.
estava de volta, e ele não deixaria que ela saísse correndo novamente.

De mãos dadas, andaram no estacionamento até o carro. queria contar para ele que havia abandonado tudo, mas tinha medo que fosse julgá-la.
Mas ela se esqueceu que, em grande parte das vezes, ele a conhecia melhor do que ela mesma.
Antes de entrar no carro, a puxou pela cintura, a deixando de frente para ele. Ela o abraçou de volta.
– Você abandonou a firma, não é?
mordeu os lábios tentando pensar em como responder. Mas não tinha outra forma a não ser falando a verdade.
– Abandonei. Não parecia mais certo, . Eu precisava voltar para casa. Chicago não é o meu lugar. Ainda não sei o que é, mas não é lá.
– Eu sei. Fico feliz que ainda esteja aqui para te receber de volta.
– Fico feliz em ter você de volta.
a beijou com saudade, colocou naquele beijo tudo o que havia sentido nos últimos meses. A necessidade dela na arquibancada torcendo por ele, o toque tarde da noite quando estava ansioso demais, ou apenas o som da sua risada.
Eles não haviam discutido sobre como seriam dali em diante, mas estava óbvio que estariam juntos. Eles ainda se amavam. E, talvez, as coisas não precisassem retroceder. Às vezes, alguns assuntos apenas ficam parados, esperando que possa retomá-los. E assim era e , um assunto que não havia chegado ao fim. Apenas um hiatus.




Fim.



Nota da autora: Sem nota.





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