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Finalizada em: 28/12/2020

Capítulo 1

Dia dos namorados.
Ah, como nós mulheres adoramos essa data...
Ei, homens que estão lendo este pequeno post, não fiquem aí rindo e negando com a cabeça, achando que esse é só mais um texto voltado para o universo feminino, onde falarei de como é bom ganhar um par de Louboutins caros. Não! O dia dos namorados é muito mais do que isso, aliás, vocês são meu "público alvo" de hoje.
Vocês, homens, não vivem por aí se perguntando o que nós mulheres realmente queremos? Pois aí vai a resposta, e ela é bem simples: Atenção. Sim, é apenas isso mesmo. Nada é mais lindo para uma mulher que receber uma atençãozinha de seu parceiro de vez em quando, sabe? Quando ela está louca para contar o que aconteceu no trabalho, e a amiga dela não atende o celular. Escute-a, a olhe diretamente nos olhos, pare tudo o que estiver fazendo por míseros cinco minutos. A elogie quando ela não estiver toda produzida, liste as qualidades dela além de seus atributos físicos! Garanto que isso vai deixá-la nas alturas! Ah, e se ela ficar envergonhada, aproveite e diga o quão linda ela fica quando está vermelha.
É isso rapazes, me agradeçam depois. É nesse clima de romance que eu me despeço, para curtir o dia mais romântico do ano com o maravilhoso buquê de flores e os chocolates que ganhei.


Point of View
Maravilhoso? Ops! Acho que não se pode dar qualidade para algo que não existe.
Eu e minha fértil imaginação tentávamos fingir que ali, em cima de minha mesa, tinha um grande buquê de rosas vermelhas. Mas a cruel realidade veio rapidamente até nós, berrando sem parar a palavra "iludida" em meu ouvido, despertando-me de minha fantasia como um despertador que te acorda na melhor parte do sonho.
Levantei-me de minha cadeira saindo de minha sala e atraindo olhares pelo vasto escritório, indo em direção à cafeteria, minha salvação para dias melancólicos como o que eu estava vivendo.
Era dia dos namorados e eu tinha que sorrir e suspirar como todas do escritório, fingir que ganhei presentes e que , mais tarde, me levaria para jantar num restaurante chiquérrimo francês. Stacey estava por lá também, tirando minha vontade de tomar um café e jogar o conteúdo de minha xícara na cara dela, minha insuportável colega de trabalho tinha passado a manhã inteira se vangloriando do lindo buquê de flores que havia ganhado de Jeremy, o coitado que se casou com ela. sequer me deu um beijo, e se eu quisesse sair para jantar, ele com certeza me levaria para comer um Hot Dog na pracinha perto de casa.
Mas eu, como sempre, inventei uma de minhas pequenas mentirinhas para as garotas no banheiro feminino. Stacey Hemmings e eu tínhamos uma espécie de rivalidade, tudo começou quando assumi o cargo dela. Bom, não tinha sido proposital, mas ela não ligava para aquele detalhe. Escrever melhor que ela nunca esteve em minha lista de prioridades, simplesmente aconteceu.
Era impressionante a rapidez com o que tudo mudou, eu , a garota que não gerava expectativas em ninguém, que nunca foi levada a sério nem pelos pais, não somente trabalhava, mas também tinha uma sala própria dentro de uma das maiores revistas de moda da atualidade: Desire Magazine. Hemmings havia tirado sua licença maternidade, e nem ela ou eu, sabíamos o que tinha por vir.
Desde muito cedo eu já sabia o que queria fazer e, após aguentar os resmungos de meus pais dizendo que jornalismo não dava dinheiro, fiz o que havia feito a vida toda, ignorei a opinião deles e me joguei de cabeça na faculdade. Assim que estava terminando o curso recebi uma proposta de estágio na revista, e foi como ganhar na loteria! Eu realmente amava todo aquele universo, e era exatamente o que eu queria fazer para vida toda. Depois de algum tempo arquivando documentos e levando cafézinho para o chefe, finalmente sai da sombra de secretária e pude ter meus cinco minutos de fama.
Era um 23 de dezembro horrível para mim, havia passado o fim de semana inteiro em casa chorando e me lamentando, pensando em como eu passaria meu primeiro natal sozinha, sem minha família, e sem .
Quando cheguei na revista meu chefe estava quase infartando por conta da falta de uma das colunistas que postava diariamente no site. Ele estava tão desesperado que saiu da sala berrando aos quatro ventos, que não importava quem fosse o filho de Deus que tivesse escrito, mas que queria um post sobre o Natal em sua mesa até o fim do dia.
Aquele lugar se transformou em uma completa bagunça, nós, estagiários, estávamos em uma verdadeira guerra, afinal não tínhamos feito faculdade de jornalismo para ficar servindo cafézinho, não é mesmo? Havia passado o dia todo tentando ter uma ideia inovadora e original, mas no fim da tarde o desespero bateu, eu não havia escrito nada. Resolvi então fazer um desabafo mostrando como o Natal poderia ser uma merda, quando não se tinha ninguém para comemorar.
Horas agonizantes depois, o Sr. Johnson reuniu todos ali, e disse que tinha gostado muito do que haviam lhe apresentado, mas ainda não estava satisfeito, que precisava pensar mais um pouco. O que fazer para satisfazer o editor chefe da Desire? Só uma entrevista com Michael Jackson depois da morte nos daria algum crédito com um homem tão importante e exigente como ele. Minutos desanimadores depois, o homem havia mandado uma de suas secretárias me chamar. Lembro-me bem da minha tremedeira, e do tenebroso pensamento que rodeava minha cabeça: Demissão.
Eu havia me deixado levar pelo desespero quando, praticamente, fiz a página de diário, chorando minhas pitangas e desabafando. Entrei na sala dando de cara com Noah, o filho do chefe, não sabia ao certo o que ele fazia ali, mas aquilo só aumentava minha vergonha ao ser dispensada na frente dele, não daria nem para chorar e implorar diante daquele par de olhos azuis. Nunca havia entendido de matemática, mas, mesmo assim, somava mentalmente as contas que eu tinha para pagar todo mês. Eu sinceramente não estava em condições de raciocinar direito naquele momento, então nunca de fato saberei qual foi resultado da minha 'soma mental' naquele dia. A única certeza que eu tinha ali, de frente com meu chefe e seu sucessor, era a de que eu estava ferrada.
Mas, para a minha surpresa, a vida sorriu para mim. E é com essa frase, ridícula e clichê, que lhe informo que sim, eu consegui um lugar no site onde hoje posto textos diários sobre diversos assuntos. No começo era temporário, mas fiquei fixamente após ter um ótimo feedback vindo das leitoras. O Sr. Johnson me disse tantas coisas, e eu só conseguia pensar no quão bêbado ele deveria estar naquele dia, porque na minha cabeça não era possível o meu texto ter sido escolhido dentre tantos outros! Quando o questionei sobre isso, meu chefe arrumou o bigode e foi claro com suas palavras, dizendo-me o quão diferente minha proposta havia sido, e que havia adorado a forma como eu tinha retratado algo ruim com bom humor.
Aquela foi a primeira (e única, devo ressaltar) vez que meu pessimismo me ajudou em algo.
Mas eu sonhava ainda mais alto, apesar de fazer sucesso entre o público feminino, eu não era reconhecida. Não estou falando de parar para dar autógrafo como uma celebridade, estou falando de ter o meu rosto estampado na revista uma mísera vez, nem meu nome aparecia em meus posts, os assinava como . Mas eu não poderia reclamar se quisesse subir na vida, eu tinha muitas ambições e elas apenas representavam os diversos degraus nessa minha longa subida até o topo. Uma delas é realmente poder fazer parte do time, poder ser a dona da coluna principal da revista impressa. Assinaria com meu nome, pelo menos, os leitores poderiam tentar me pesquisar no Google e saber quem eu era.

[...]



- Até amanhã, Jeff! - exclamei saindo do táxi, o senhor já de cabelos brancos acenou sorridente, antes de dar partida no tradicional carro amarelo e sumir de minha vista ao virar a esquina.
Táxi era um luxo necessário, eu só não ia para casa de ônibus para não causar burburinhos na revista. Havia sido pura sorte conhecer Jeff, ele era um anjo que tinha caído do céu motorizado, o único taxista homem o bastante para ir para aquelas bandas da cidade, e com um ótimo preço. Ele sempre estranhou toda a confusão que era minha vida, porém nunca questionou. Jeff era daquelas pessoas que não se metia na vida alheia, e eu sabia que podia contar com ele, uma raridade nos dias de hoje.
Suspirei enquanto ajeitava melhor a Chanel em meu ombro, Lexi me mataria se algo acontecesse com aquela bolsa, e pelo preço dela, acho que me suicidaria antes dela me encontrar. Após andar um pouco, finalmente cheguei em casa, subi as escadas e destranquei a porta adentrando meu cantinho. Não, não era um apelido carinhoso, a minha casa era, literalmente, 'um canto', o diminutivo era para destacar o tamanho do cômodo. Não havia conseguido coisa melhor por um preço que cabia em meu bolso, e aceitar ajuda financeira dos pais nunca esteve em meus planos. O local era, digamos assim... Ajeitado. Um guarda roupas simulava uma parede, que dividia o quarto da cozinha, os móveis tinham sido as únicas coisas com que gastei, apesar de simples demais, era a minha casa.
Baby, I'm preying on you tonight, hunt you down eat you alive. Just like animals, animals…
- Fala, . - atendi, sentando-me na cama e tirando meus sapatos. Meu corpo doía, e eu precisava urgentemente de um banho.
O dia havia sido longo com o fechamento da edição do dia dos namorados, todos da revista estiveram envolvidos na reunião, inclusive eu que nada tinha a ver, já que escrevia para o site, e não para a revista física. Ah, como eu odiava aquela data comemorativa! Aliás, qualquer data comemorativa era detestável para mim depois de virar colunista, lembro-me de quando era uma mera secretária e apenas assistia o circo pegar fogo. Hoje em dia, eu estava dentro do circo em chamas.
- Nossa! Para que essa ignorância toda! - exclamou rindo do outro lado da linha, mordi o lábio rindo fraco. No meio do caos que era minha vida, havia . Meu melhor amigo era um pouco de calmaria e descontração. - Já está em casa? - indagou como quem não queria nada. Revirei os olhos, ele queria algo, eu o conhecia bem. Murmurei um sim enquanto me jogava de costas na cama. - Ok, tô indo aí. - retirei o celular do ouvido assim que constatei que ele havia desligado na minha cara.
- Oh, claro , a propósito, tchau. - falei sozinha com o telefone, sendo sarcástica. Levantei-me e fui em direção ao banheiro, me despindo de meu uniforme de mulher maravilha para, depois do banho, voltar a ser a desengonçada que ninguém da Desire conhecia.
Quem precisa usar Chanel para cozinhar? Bom, elas precisavam. Para manter minha identidade secreta tive a ajuda de um certo anjo da guarda, para minha sorte eu tinha muitos em minha vida, Lexi Laurent, era dona de uma loja de grife localizada no centro da cidade. Nunca soube ao certo o que Lexi viu em mim, para me ter em seu extenso e glamouroso círculo de amigos, mas eu era mais do que agradecida a ela por todos os descontos e roupas emprestadas.
- Isso, se troque com a porta destrancada, se um tarado entrasse aqui eu não te salvaria. - estreitei os olhos rindo, o observando entrar. Eu sabia que não mesmo, e aquilo, machucava de leve meu coração idiota. Suspirei, tentando espantar meus pensamentos enquanto terminava de abotoar minha blusa, conjunto do pijama um tanto infantil que eu usava. - Aliás, sinto te informar, mas eu sou o tarado. - engrossou a voz, vindo até mim e agarrando-me pela cintura, arrancando uma gargalhada minha.
Distribuiu beijos por toda extensão de meu pescoço, causando-me arrepios. Passei meus braços em volta de seu pescoço, e emaranhei meus dedos em seu cabelo castanho, fechando os meus olhos e apenas sentindo a sensação de ter seu corpo tão próximo ao meu. Merda, esquecia-me, por diversas vezes, de excluir meus sentimentos daquela nossa relação complicada. Tesão e amor eram coisas completamente diferentes, e às quais eu não conseguia deixar de sentir com relação a . Eu não deveria apreciar as sensações que ele me causava, deveria apenas me satisfazer e dizer um incerto “até logo” ao mesmo tempo em que vestia minhas roupas e seguia em frente. Homens fazem isso com uma facilidade assustadora.
Abri meus olhos rapidamente, sentindo as mãos ágeis, e nem um pouco bobas, de descerem pelo meu tronco e começarem a desabotoar minha blusa.
- Eu sinceramente não sei por que você se vestiu, se eu iria tirar tudo de novo. - sussurrou contra meu ouvido. Sorri mordendo meu lábio inferior, sua boca veio de encontro com a minha, iniciando um beijo de tirar o fôlego. O empurrei levemente pelos ombros, desgrudando nossos lábios.
- Espere, tenho algo para você... - sai de seus braços e corri até onde tinha deixado minha bolsa, voltei para ele com o embrulho entre as mãos, lhe estendendo. suspirou e, após tentar rejeitar, pegou o presente nas mãos, abrindo-o. Seus olhos azuis brilharam ao mirarem a linda chuteira que eu havia passado meu almoço escolhendo. Sorri feliz ao ver que o tinha agradado.
- , eu... Olha, eu realmente adorei, são lindas e tudo mais... Mas... - meu sorriso se desfazia ao mesmo tempo em que sua face demonstrava o quão sem graça ele estava. Aquele “mas” eu conhecia, era um velho amigo, fazia um tempo que eu não o ouvia. Fazia tempo que eu não tentava. - Por que esse presente agora? Digo, não somos um casal... - franziu a testa, era nítido o esforço dele em falar aquilo para mim de maneira que eu não me sentisse rejeitada mais uma vez.
Amava aquele medo dele de me magoar, ele só não sabia o quão inútil era temer algo que já havia feito sem ao menos perceber.
- Ah... Eu não comprei por isso. - ri nervosa, mexendo os ombros. Evitava o olhar nos olhos para não denunciar minha mentira, apesar de já ter ficado expert em mentir. - Vi na vitrine hoje, achei a sua cara e... - fui interrompida por seus braços me envolvendo inesperadamente. Engoli minha vontade de chorar e retribui o abraço, apertando-o contra mim.
- Me desculpe . - soltou-me encarando meus olhos. Franzi a testa perguntando-me o que eu teria que desculpar, a culpa era minha, eu tinha me apaixonado e quebrado nossa promessa inicial. - Não posso te dar isso, o que você tanto quer e sonha, não posso ser seu namorado, não sou o seu cara certo. Sei que vai achá-lo por aí, quando estiver andando pelos bairros chiques por onde passa. Sou só o , seu melhor amigo. - encolheu os ombros sorrindo fraco, secando a lágrima solitária que havia caído sem que eu ao menos percebesse. - E... Não tenho nada aqui para te dar em troca.
- Eu não preciso de nada além da sua presença. - murmurei sorrindo. Me inclinei, beijando sua bochecha.
- Não tem mais clima para sexo, né? - disse, fingindo estar cabisbaixo após minutos de silêncio.
, sempre quebrando o gelo, ou no caso, o iceberg.
- Seu bobo! - desferi um tapa em seu braço. Ele sorriu, me puxando e beijando de leve minha boca. - Hum... - murmurei durante o beijo chamando sua atenção. - Tô’ com fome. E sabe o que seria bom? Um macarrão com queijo que uma certa pessoa sabe fazer muito bem. - arqueei as sobrancelhas. riu, se levantando e logo depois estendendo a mão para mim.
- Eu podia dormir aqui hoje. - comentou no pequeno trajeto até a 'cozinha'. Ele era daquele jeitinho desde sempre, curto e grosso, um pouco folgado também.
Conhecemo-nos desde a faculdade e, há cerca de um ano, mantemos essa nossa amizade com benefícios. obviamente havia ficado com os benefícios, para mim, sobraram os malefícios, que é apenas uma palavra estranha para: Fodeu, estou apaixonada.
- Acho justo, eu dou a casa e você faz a comida. - falei, cruzando os braços, dando indícios de que não o ajudaria a cozinhar.
- Justo? Onde? - exclamou incrédulo, fazendo-me gargalhar. - A escravidão já acabou, para o seu governo.
- Você é tão dramático... - zombei, bagunçando seus cabelos.

[...]




Capítulo 2

- O que achou? - mordi meu lábio, encarando meu reflexo no grandioso espelho do provador.
- Prada! Você precisa de uma Prada! - exclamou com a voz afetada, correndo para fora do provador. Ri de sua afobação. Lexi levava tudo aquilo a sério demais, também pudera, moda era a vida dela. Eu já não poderia afirmar o mesmo de mim, adorava meu trabalho na Desire, mas o que eu amava era escrever. Minha área era comportamento, e eu estava muito feliz em não ter que falar de roupas e tendências esquisitas o tempo todo. - Aqui. - estendeu a carteira prata, a posicionei junto ao Hervé Léger preto que usava. - Está linda! Como sempre.
- Obrigada, é melhor eu estar mesmo, o pessoal da revista está uma pilha de nervos com esse evento! Todas as representantes da Desire terão que estar deslumbrantes. - comentei, dando uma olhada na parte de trás do vestido que eu cuidaria com minha vida, já que ele valia mais que ela. Aquele era um modelo exclusivo, e eu não me sentia especial por usá-lo, apenas torcia para que o evento beneficente chegasse, e acabasse logo, minha preocupação com as roupas emprestadas chegava a me tirar o sono.
Cheguei na revista atrasada. Conversar com Lexi e esquecer das horas era uma rotina que eu não quebrava por nada. No elevador, ajeitava meus cabelos, aproveitando-me do espelho que ali havia, sentia falta do jeito que era antes, tive que mudar porque não era o corte que estava na moda, e estar na moda ajudava na minha farsa. Argh!
Queria tanto poder escrever sobre isso, mostrar para as leitoras que elas não precisavam seguir o que revistas, como a Desire, e as passarelas, ditavam. Que elas poderiam ser como elas eram, independentemente do corte do cabelo, peso, ou da cor do batom e esmalte. Mas eu, com certeza, seria censurada.
As portas de metal se abriram e eu caminhei até minha sala. No trajeto, Dan me abordou me convocando para a reunião de pauta e, Deus, como ele era lindo! Por dentro, me derretia levemente com seu sorriso, enquanto por fora, eu me mantinha impassível, e apenas concordava com a cabeça pensando em como a garota que beijava seu pescoço e sentia aquele perfume amadeirado mais de perto era sortuda. E, claro, no quanto eu era azarada por ser “comprometida”.
Outra desgraça que havia vindo de brinde com minha mentira. Todos achavam que meu bom humor e romantismo nos textos, minha coisa de ser uma mulher “bem sucedida”, eram resultados de um homem em casa satisfazendo-me sexualmente. Ok, a última parte eles não costumam expor assim, desse jeito. Afinal, era um pensamento completamente idiota, minha felicidade pessoal e profissional, não dependiam da presença de um homem, principalmente se esse homem for , que às vezes some, às vezes aparece, de vez em quando quer ser seu irmão mais velho, mas sempre quer te levar para a cama, e você ainda tem que decifrá-lo.
Ele realmente não era considerado o motivo de minha felicidade, e sim, de minhas dores de cabeça. Apesar dos pesares, era meu cúmplice, claro que sem saber. No dia em que Stacy me irritou ao ponto de me fazer dizer que tinha namorado para não parecer encalhada, eu simplesmente não consegui olhar no rosto de e comunicá-lo de que ele estava namorando, só que não sabia ainda.

A reunião rolava de forma descontraída, logo que Liam finalizou, me despedi das garotas e me dirigi até minha sala, era hora de escrever, e eu não fazia ideia do que postar. Relaxei na cadeira giratória, colocando minha cabeça para funcionar, após um tempo pensando milhões de coisas idiotas e temas desastrosos para escrever. Finalmente tive uma ideia, infelizmente, não para o post. Fui dar uma volta, ir até o banheiro, espairecer.
- Boa tarde, . - dei um pulo ao levantar minha cabeça e encontrar Hemmings, carregando no rosto o mesmo sorrisinho despretensioso de sempre. Ela sabia o quanto eu detestava aquele nome.
- Agora não mais tão boa assim, Stacy. - murmurei sarcástica, indo até a pia e lavando minhas mãos. Amber adentrou o banheiro feminino e disfarçou ao perceber a cara de quem comeu e não gostou de Stacy, que se posicionou em frente ao espelho retocando o batom vermelho.
- Ai, , que texto fofo aquele de ontem! - exclamou a loira, que ao contrário de minha rival, tinha o cabelo natural. Sorri em resposta, eu era péssima ao reagir a elogios. - Quando cheguei em casa, meu marido preparou um jantar e fez o que você instruiu, perguntou como foi meu dia e prestou toda atenção do mundo em mim! - continuou. Ri satisfeita com seu relato, era uma novidade ouvir aquilo, uma ótima novidade.
- Que bom, Amber! Fico feliz que tenham se acertado. - me referi à crise no casamento dela, já que ela andava pela revista cabisbaixa nos últimos dias.
- Eu também , você é uma verdadeira fada madrinha. - riu da própria piada, fazendo-me encarar Stacy com uma certa superioridade. - Parabéns , fazia muito tempo que não recebíamos atenção do público masculino, e eu não estou falando na minha relação amorosa, e sim da revista.
Meu coração deu pulos de alegria ao saber daquilo. Era incrível saber que eu atraía homens de alguma forma, não da forma que eu queria, mas quem sabe um dia, não é?
- É, parabéns . - Stacy se preparava para dar o bote e eu parecia sempre prever aquilo. - Aliás, o que fez no dia dos namorados? - dito e feito. Ela nunca iria engolir a história de amor que eu havia criado em cinco segundos naquele dia. Vivia jogando indiretas, e perguntado sobre .
- Fiquei sabendo que você e Jeremy foram jantar naquele restaurante maravilhoso. - Amber entrou na conversa, fazendo-me agradecê-la via pensamento por me livrar de mais um interrogatório de Hemmings.
- Sim, ele conseguiu reservas de última hora, sabe como Jeremy é, cheio de contatos. - revirei os olhos, ninguém daquela revista aguentava mais aquele blá, blá, blá... Jeremy é isso, Jeremy é aquilo, a única coisa que tenho certeza de que ele é, é louco por se casar com ela. Estava pronta para sair pela tangente, quando Stacy resolveu me dar mais uma dose de seu veneno. - Não vai me responder ? Ou não comemorou nada? Aliás, você ainda tem namorado? - virei-me para ela, segurando minha vontade de matá-la. Respirei fundo, cansada de toda aquela palhaçada de piadinhas sobre meu suposto namoro.
Pensei num programa mais glamouroso e romântico que o La saveur e não achei.
- Claro que comemorei, e do melhor jeito possível. me pediu em casamento. - nem eu acreditava a que ponto havia chegado a minha habilidade de mentir descaradamente daquele jeito. Stacy arregalou os olhos, Amber soltou gritinhos altos, e eu continuei sorrindo vencedora. Eu a havia deixado sem fala, e aquilo era impagável.
- E onde está a aliança? - indagou rindo e fazendo meu sangue ferver. - Vocês noivaram onde? No sofá de casa? - gargalhou, maldosa.
- Não preciso de um diamante para provar que tenho o coração dele, aliás, o diamante fica para o casamento, no altar. - respondi, a fazendo assentir impressionada com a resposta rápida e inteligente, na verdade, eu me surpreendi comigo mesma. - Quanto ao pedido você acertou, foi em casa mesmo, onde deveria ser, afinal é lá que vamos viver juntos. - murmurei. Amber já tinha os olhos marejados enquanto sorria abobada. - Foi algo simples e romântico, o que faz bem o estilo dele.
Risadas, por favor! não era assim nem aqui, nem na China. Eu havia caprichado ao falar dele para minhas colegas de trabalho, havia inventado até uma profissão para ele! era um advogado requisitado. Na situação que eu tinha arrumado, a profissão fictícia perfeita para seria carpinteiro, porque assim só ele poderia reconstruir a minha cara de pau quando ela caísse se descobrissem minha farsa.
A aparência era a única coisa que eu não havia mentido, nem inventado sobre ele, era realmente lindo e gostoso, como eu o havia descrito.
- Oh, meu Deus! - senti meu corpo ser arrastado para fora do banheiro, eu simplesmente não fazia ideia do que Amber iria armar ali. - Pessoal, está noiva! - se soubesse, teria fugido. Todos do escritório pararam o que estavam fazendo e se levantaram, batendo palmas e vindo me parabenizar.
Eu queria tanto ser atriz o bastante ao ponto de conseguir fingir um desmaio.
- Parabéns, Srta. . - Sr. Johnson me abraçou, enquanto meu rosto já doía de tanto que eu sorria. Respondi o mais gentilmente que pude, afinal, era meu chefe!
- Felicidades, . - sorri verdadeiramente para o monumento que havia parado em minha frente, Noah. - Poderíamos tornar isso público, recebemos milhares de comentários de leitoras que amam a , ou seja, que te amam. Aposto que elas ficariam felizes com a notícia também! - sugeriu, animado.
Mordi meu lábio inferior com a força que gostaria que minha mão acertasse seu lindo rosto. Sr. Johnson concordou e disse adorar a ideia, na verdade, eu queria socar a família toda, a revista inteira e, principalmente, Amber Stevens.

[...]



- Você o quê?! - Lexi praticamente gritou. Ela andava de um lado para o outro com as mãos no rosto, incrédula. - , você sempre soube o que eu penso sobre as suas mentiras, mas isso já foi longe demais!
Ela nunca havia gostado daquilo, mas em nome de nossa amizade me ajudava. Ela vivia me dizendo que eu não precisava fingir ser o que não era, mas para ela era fácil falar, já que era tudo o que eu fingia ser, rica e bem sucedida. Ninguém aceitaria conselhos amorosos de uma encalhada, muito menos daria credibilidade para uma garota que morava em um cômodo, no subúrbio.
- Eu sei, eu sei! Mas foi involuntário! A Stacy me irritou de uma forma que me deixou possessa. - exclamei, já vermelha de raiva. - É só por algum tempo ok, logo eu chego na revista despenteada e com a cara de choro, invento que o flagrei com outra, e saio dessa melhor do que entrei, solteira e ainda como vítima da história. - contei meu plano que, na minha cabeça, era perfeito para a resolução do problema que eu mesma havia me criado. Lexi ponderou a ideia, encarando-me ainda brava. Esperei uma bronca, mas me surpreendi com sua reação.
- Até que esse plano é bom... - murmurou, fazendo-me sorrir orgulhosa. - Mas você tem que parar de dar ouvidos para louca da Stacy, daqui a pouco vai inventar que está grávida! - eu estranharia se ela não me repreendesse.
- Só se eu furasse a camisinha! não me quer nem como namorada, imagine como mãe dos filhos dele! - respondi, rindo de minha desgraça junto dela, que se sentou no divã da loja ao meu lado.
- Que ironia, tão boa nos romances e tão ruim na vida amorosa... - suspirei, ouvindo-a zombar de mim. - Falando em romances... Vou enviar seu manuscrito para um amigo meu, sabe, ele trabalha na Editora Style. - cutucou minha barriga, fazendo-me encolher meu tronco.
- Ah, você de novo com essa história Lexi. Eu já enviei meu trabalho para a New Era e rejeitaram! Você só pode estar drogada por acreditar que a Style, a maior delas, vai publicar meu livro! - ri, sem humor.
- Rejeitaram porque, na certa, nem devem ter lido! Ele conhece o dono , não desista e nem perca essa oportunidade! - juntou as mãos, fazendo cara de cachorro que caiu da mudança. Respirei fundo.
- Está bem, envie. - cedi, a observando comemorar. - Mas fique sabendo que nunca mais te deixo ler nada meu! - fingi estar brava, sem sucesso.
- Ah, amiga, você ainda vai me agradecer por isso. - falou, abraçando-me de lado. E eu tinha que agradecê-la, não somente pelas roupas e favores, mas simplesmente por existir em minha vida.

[...]



- Meus parabéns, ! Quero ser convidado para o casório, hein! - arregalei meus olhos ao ouvir Jeff me parabenizar do banco do motorista. Merda, merda! Era apenas nove da manhã e eu já estava me ferrando, o dia já tinha começado ruim.
- Ah, obrigada, Jeff. - sorri amarelo. - A propósito, como soube?
- Uma de minhas clientes dondocas, sem ofensas, . - o mais velho riu fraco. - Ela estava com uma revista, e quando saiu, a deixou no carro. Vi que era onde você trabalha e a folheei. - me estendeu um exemplar da Desire que tinha Gigi Hadid na capa. O encarei assustada, havia me esquecido de quando as revistas impressas iam para as bancas. - Aliás, bela foto.
Abri a revista praticamente rasgando-a, procurando o que eu temia, para assim saber o tamanho da catástrofe que eu criaria se algum conhecido da família lesse aquilo. Para a minha sorte, mamãe, papai e todos os caipiras do interior nunca nem haviam ouvido falar sobre a Desire.
Na página final, onde geralmente ficavam os e-mails e tweets de leitoras, estava minha foto, uma retirada de meu instagram, e que era acompanhada por um pequeno texto assinado por toda a equipe Desire, dando a notícia às fiéis seguidoras de e não fazendo nenhuma questão de deixar eu, , no anonimato. Divulgaram meu Instagram, Twitter e até desenterrariam o Orkut se pudessem, só para falarem o meu perfil.
Rapidamente liguei meu celular, já descarregando, e logo recebi milhares de notificações de minhas redes sociais. Eu, , já passava de vinte mil seguidores e contava com milhares de comentários em minhas fotos. Era felicidades para cá, parabéns para lá... É, eu realmente deveria ser parabenizada, por ganhar o concorrido prêmio de mentirosa do ano.



Capítulo 3

@UnboxAngie: CARAMBA! o post de ontem da @AdamsOlly foi incrível! Parecia que ela estava me descrevendo! #girlpower
@lookEmmy: Essa garota está maravilhosa! Aliás, a @AdamsOlly É maravilhosa!
@AlanaLewis: Ela está arrebentando! A @AdamsOlly já é a nova dona da @Desiremagazine!

Sorria desacreditada a cada comentário que lia, era tudo aquilo que eu sempre quis, ser reconhecida pelo meu trabalho! E tudo estava indo tão bem que me fazia até ficar paranoica achando que algo poderia dar errado de repente. O post do dia já estava devidamente em seu lugar no site, levantei da cadeira bocejando, não tinha dormido bem na noite anterior.
resolveu atrapalhar minha querida noite de sono, e infelizmente, não era porque havíamos transado a noite toda, era a mensagem estranha que ele me enviou perto da meia noite."Precisamos conversar." Duas palavras simples, mas se juntas, numa única frase, poderiam tirar o sono e a sanidade de alguém. Sem beijos, um ‘eu te amo’, ou até um boa noite no final, pior ainda. estava frio comigo ultimamente, e a última vez que ele havia ficado daquele jeito ele estava...
- Saindo com uma garota? - cruzei os braços, o encarando.
- Sim, Sandy é o nome dela.
- Hum... Mas que ótimo, ! Olha, desejo muitas felicidades ao casal. - sorri cínica, enquanto ele bufava passando as mãos pelos cabelos.
Estávamos na sala da casa dele. Após chegar da revista, fui diretamente até lá, e eu queria desesperadamente ir embora dali. Não deveria ter ido, deveria ter ignorado seu chamados e todas as chances de contato com ele, assim, esquecê-lo seria mais fácil. Mas minha maldita curiosidade me levou até lá.
- Sei que está brava, e que eu deveria ter contado, mas...
- Ah, mas por qual razão eu ficaria brava mesmo, ? Ah, deve ser porque transamos há dias, há semanas atrás, e estamos nessa há exatos 12 meses, sabe o que isso totaliza, ? Um ano! E você sempre me vinha com o papo de que não poderia ter nada mais sério comigo! - berrei chorosa, socando repetidamente seu peitoral.
- , eu acho que ela é a minha garota certa. - disse calmamente, quando finalmente conseguiu agarrar meus pulsos. - Você é muito melhor do que isso, é a minha melhor amiga.
Eu sinceramente, não sabia dizer qual o propósito dele ao dizer uma baboseira daquelas. parecia não saber o peso daquelas palavras quando simplesmente as jogou para fora, acertando em cheio meu coração, esmagando-o. Doía tanto ouvi-lo me chamar de amiga, quando o que eu mais queria era ser mais que aquilo.
- Você não é obrigado a me amar , mas eu, como sua melhor amiga, acho que tinha o direito de saber antes. - falei magoada, soltando-me. - Suas atitudes, sua frieza quando ia me responder, e até quando eu ia te dar um simples abraço! - exclamei ressentida, relembrando o comportamento dele nos últimos dias. - Se for para mudar o modo como me trata, não me procure mais, pois eu não quero apenas , eu quero o meu Boo, com direito a cócegas e aos abraços de sempre.
Deixei claro minhas condições para que tudo ficasse bem entre nós novamente, claro que iria sentir falta dos beijos e do corpo dele sob o meu, mas o que eu sentiria ainda mais falta era do meu melhor amigo. Sai de lá secando as poucas lágrimas que havia derramado, indo em direção ao meu apartamento. Meu receio de que algo desse errado não era uma mera bobagem. E, infelizmente, eu não havia me preparado para aquilo.

[...]



O despertador berrava em meus ouvidos, piorando ainda mais meu mau humor matinal, aliás, como ele era mal educado, ao invés da música animada, eu só conseguia ouvir uma voz dizendo-me o quão idiota e mentirosa eu era.
Levantei-me tropeçando no fio do carregador de meu notebook, era uma mania minha deixar tudo no chão, minha bolsa, roupas usadas, minha dignidade, e também o que havia sobrado da minha autoestima.
Após tomar um banho, vesti um Prada simples e preto, juntamente com sapatos pretos e bolsa da mesma coloração. Quem reparasse em mim, claramente iria pensar que eu havia perdido alguém especial. Mas o meu luto era realmente por uma perda, tinha perdido a esperança que havia cultivado por um ano, a esperança de me pedir em namoro. Idiota, não?
Cheguei na revista, e assim que entrei no elevador encontrei Dan, que sorriu para mim assim que percebeu minha presença. Retribui, o xingando por não saber o quão lindo era, e o quanto seu sorriso era matador. Meu celular bipou três vezes seguidas, sorri amarelo em sua direção, disfarçando. Mais alguns bipes.
- Uau, parece que você é a novidade da Desire. Aliás, parabéns pelo noivado. - comentou sorrindo, o imitei quando o que mais queria era chorar. Eu estava recebendo reconhecimento, mas me sentia péssima pelo rumo que as coisas tomaram, seria tudo tão melhor se todos parassem de pensar que eu estava noiva, sendo que eu havia acabado de levar um belo de um pé na bunda. - Até mais futura Sra... - murmurou, saindo e se virando para mim.
- . - ri fraco, antes que a porta se fechasse.
Respirei fundo, mordendo meu lábio com força, me auto impedindo de desabar. Afinal, ao passar por aquela recepção chiquérrima, eu deixava a pobretona, chata e solitária para trás, dando lugar a . Uma mulher segura de si, bem sucedida, e agora, noiva do homem dos sonhos.
tem motivos de sobra para sorrir, e é isso que fiz ao caminhar pelo escritório naquela manhã. Eu usava um batom vermelho, salto alto, óculos escuros, e uma grande armadura revestida do aço mais impenetrável em meu coração. Sim, ele já se encontrava quebrado, mas era só para proteger de danos futuros.
Assim que adentrei minha sala, tratei de fazer minhas obrigações. Após tirar os óculos escuros, e checar o inchaço de meus olhos, iniciei meu notebook. Ao abrir a página do word, me deparei com uma imensa vontade de colocar minha tristeza para fora por meio da escrita, as leitoras não iriam desconfiar da mentira do noivado, afinal, eu sabia enganar a todos sem que eles menos percebessem.
E não era algo que eu poderia usar para me vangloriar. Encarei o teclado, tentando arranjar um jeito de começar aquele post, quando meu celular vibrou sob minha mesa, despertando-me de meus devaneios. O nome de minha melhor amiga aparecia na tela.
- Ainda bem que ligou, preciso tanto desabafar... - confessei cabisbaixa, sem ao menos deixá-la falar.
- O que houve? Essa sua voz está me deixando preocupada. - indagou, fazendo-me sorrir fraco.
- Nada que eu não sobreviva, te conto hoje quando for buscar o vestido. Olha, eu nem te deixei falar, pode dizer o que é tão urgente que você não conseguiu esperar minha hora de almoço chegar.
- E é muito importante, ! - exclamou com a voz esganiçada, provocando um pequeno riso meu. - Também acho que melhoraria seu dia se eu dissesse que alguém da editora Style quer se reunir com você!
Dei um pulo da cadeira, arregalando meus olhos. Uma incrível sensação de alegria tomava conta de mim, eu queria gritar de felicidade, chorar de emoção. Meu sonho parecia não ser tão alto assim após eu receber aquela notícia, a editora que eu mais venerava, possivelmente publicaria meu livro! Ou não?
- Olha, Lexi, não vamos criar expectativas. Vamos ficar com os pés no chão, e ver o que acontece...
- Que mané ficar com os pés no chão! , essa é uma oportunidade única, não me venha com esse seu pessimismo. - ouvi batidas na porta e tive que finalizar a ligação, mas não antes de prometer passar na loja dela mais tarde.

[...]



- , nem eu, nem , mentimos para você. Pelo contrário, sempre deixamos tudo bem claro desde o começo. Sei que não posso transformar a amizade colorida de vocês em um triângulo amoroso, me incluindo desse jeito nele, mas eu sempre te alertei sobre isso, que ele achava que estava tudo bem para os dois, e que não sentia nada por você além de amor de irmão. Ele também nunca disse nada sobre compromisso, foi honesto com você.
Suas mãos seguravam as minhas enquanto Lexi falava, de algum jeito, me confortando com suas palavras. Mordi meu lábio, refletindo. Pior que ela estava certa, e não havia sensação pior que estar errada numa situação daquela, eu agora havia achado a vilã da história. Era eu mesma, cheia de egoísmo, e esquecendo-me dele.
- Está certa, eu que estraguei tudo.
- Ainda é a melhor amiga dele, te ama, e não abriria mão de te ter por perto. Só que você deve se preparar para conhecer Sandy. - torci o nariz diante da ideia. - E ser amiga dela também.
- Ok, você venceu, vou tentar. Prometo. - suspirei ao vê-la encarar-me, esperando uma resposta.
- Tentar não, você vai conseguir! - sorriu, beijando minha testa. Fiz careta com o ato, Lexi era quatro anos mais velha que eu, porém, às vezes tentava suprir a falta de minha mãe. - Venha, você tem um jantar importante hoje. - me puxou, fazendo-me levantar. Assustei-me enquanto era praticamente arrastada até o provador.
- H-Hoje à noite? M-Mas já? - exclamei, a vendo virar as costas para mim e voltar com alguns vestidos lindos nos braços. - E você me avisa agora!
- Sim, não falei por telefone porque não queria te deixar nervosa. - os pendurou enquanto falava.
- Ah, é? E como acha que estou agora? - exclamei, incrédula.
- Vai dar tudo certo, ! - segurou-me pelos ombros. - Agora, comece logo a provar essas maravilhas que te esperam. - saiu, deixando-me sozinha.
Eu só precisava relaxar, não havia por que ter pânico, eu só precisava me sair perfeita naquele jantar, que fiquei sabendo horas antes, e nem tive tempo de me programar!
Acabei escolhendo um Dior incrível que ali havia, tinha sido paixão à primeira vista. Logo saía da loja carregando o vestido. Iria para a revista terminar meu trabalho, e depois correria para casa, a pontualidade não era lá uma qualidade minha, mas teria que ser naquela noite.

Após um banho rápido na água fria, saí do banheiro espalhando velas pelo cômodo. A luz havia acabado, e eu me perguntava se, com um azar daqueles, era seguro sair de casa, porque era capaz de um avião cair sobre a minha cabeça. Mesmo com a pouca iluminação, me arrumei e finalizei meu look com uma corrente de prata que mamãe havia me dado, a usava todas as vezes que eu tinha algo decisivo a resolver, tinha a usado em minha entrevista na Desire. Após chamar Jeff, o esperei buzinar um tempo depois. Logo eu estaria no restaurante.
Paguei meu amigo taxista pela corrida e entrei no local. Já havia ouvido falar sobre o restaurante, muito bem aliás. Também já havia estado em muitos lugares chiques, mas aquela decoração impecável era única, e havia me deixado boquiaberta. Fui guiada por um funcionário até o bar do local, onde ficaria até que meu acompanhante chegasse. Eu havia adorado a ideia, simplesmente odiava ficar sentada na mesa sozinha, todos te olham pensando no toco que você levou de seu acompanhante.
Aliás, falando em acompanhante, o meu tinha um nome diferente, , . Tinha um ótimo cargo na editora, segundo informações dadas por Lexi.
Com o atraso de , decidi ligar para alguém especial, e também nunca mais chegar adiantada em meus compromissos, ficar esperando já era um saco, imagina esperar com pessoas em volta tomando drinks incríveis, e ter que pedir uma água por causa da seriedade com que eu estava tentando encarar aquilo. Seu número estava em discagem rápida junto com o de Lexi e de mamãe, levei o celular ao ouvido, orando para que o preguiçoso não tivesse dormido mais cedo. Depois de muito chamar, alguém finalmente atendeu.
- Alô? - engoli a seco ao ouvir aquela voz feminina. Respirei fundo, tentando apagar a pequena chama de ciúmes que se acendia, eu devia ter me enganado de número.
- está? - indaguei, com a voz trêmula.
- está no banho... - respondeu confirmando minha suspeita, era ela?
- Quem está falando?
- Olha, se quiser deixar recado é só...
- Só... Me diga o seu nome, droga! - exclamei, atraindo olhares. Me controlei, sentindo lágrimas brotarem de meus olhos.
- Me chamo Sandy, mas... - finalizei a ligação, já aos prantos.
Eu tinha prometido a Lexi que iria tentar ser amiga dela, porém, acho que era só mais uma de minhas mentiras, e olhe só como eu já mentia sem querer. Eu não conseguiria ser amiga dela se, só de ouvir sua voz atendendo o celular dele, já me matava um pouco. Imagine como iria doer vê-los juntos.



Capítulo 4

Point of View.
- Cara, olha isso aqui! - simplesmente brotou do chão, fazendo-me pular da cadeira de susto. Desviei minha atenção dos documentos importantes que meu pai insistia em me fazer assinar e o encarei bravo, não depois de lançar um olhar rápido para os papéis que ele havia praticamente jogado em minha mesa.
- Não me interessa , não está vendo que estou ocupado? - arqueei minhas sobrancelhas. - Esqueceu como se bate na porta?
- Foi mal, . - ergueu as mãos em sinal de rendição, soando completamente debochado. - Então eu mesmo vou ter que terminar de ler o manuscrito de , ou eu deveria chamá-la de ? - pegou a pilha de papéis, o impedi de imediato, puxando de volta numa velocidade assustadora até para mim. Li o título já intrigado, sob o olhar sarcástico de . - Está caidinho por ela e ainda nem a conhece, pior ainda é saber que ela está noiva. - zombou.
era meu amigo desde a infância, sempre foi de uma classe inferior à minha. Eu, ao contrário dele, havia crescido numa casa grande e sempre tive tudo o que quis. Apesar de não possuir parentesco algum comigo, sempre demonstrou interesse em seguir os passos de meu pai. Já eu, fui mais teimoso, e quis resistir àquela responsabilidade de ter que assumir a presidência da editora algum dia, porém, o gosto pela leitura me levou a adorar o ramo. Desde então trabalhávamos lado a lado ali, claro que eu estava acima dele por ser o herdeiro do império Style, mas aquilo era apenas um detalhe para nós.
- Grande merda. A faço desistir desse casamento em apenas uma noite. - desdenhei, o encarando. sorriu desafiador em minha direção.
- Não se eu chegar primeiro, . - piscou, fazendo-me franzir a testa confuso. - Por ser o único que leu o livro, estou encarregado de jantar com a bela dama hoje à noite, sabe? Para falarmos de negócios. Se você tivesse me tratado melhor quando entrei, eu talvez pudesse ceder meu lugar. - encolheu os ombros.
- Não está falando sério, está?
- Claro que não! Vou sair com a Abby hoje, é toda sua. Aliás, tenho que concordar com você cara, a escrita dela é incrível. - caminhou até a porta a abrindo. Ri, negando com a cabeça diante do erro cometido por meu melhor amigo.
- Ela é incrível. - o corrigi, vendo-o gargalhar e sair, deixando-me a sós com o fruto da imaginação da mulher que invadia meus sonhos, nas mãos.
Sem ao menos saber, tinha um admirador dentre as várias mulheres que liam seus posts. Ao ver a notícia de seu noivado, finalmente pude ver o rosto por trás da mulher que escrevia maravilhosamente bem, e que me encantava a cada dia que passava. Eu nunca havia sido do tipo que se encantava daquele jeito. Mas , definitivamente, tinha algo que me prendia.
Ao ver suas fotos nas redes sociais, pude apenas confirmar o que meus sonhos mais sujos e excitantes me diziam, como era linda. Seu corpo fazia-me desejar tocá-la imediatamente, sentir o seu gosto, e levá-la para a minha cama. Mesmo que fosse pela tela do celular. Eu faria de tudo para tê-la, nem que fosse por uma mísera noite, em meus braços.

[...]



Adentrei o restaurante mais do que familiar para mim, e logo cumprimentei Phillip, que já me conhecia por minha frequência ali. Aquele era o lugar mais caro de toda a Londres, aclamado pelos mais famosos críticos gastronômicos, porém, eu não dava a mínima para aquilo, minhas acompanhantes sim ligavam, e era por aquele motivo que eu sempre as levava até lá. Não havia uma mulher que não se jogava aos meus pés ao jantar num lugar maravilhoso como aquele. E eu esperava que não tardasse a cair também, mas com ela seria diferente, eu a pegaria no colo e a levaria para minha cama.
E depois de fazer tudo o que sempre quis fazer com ela, iria atrás de saber o que aquela mulher tinha para me deixar daquele jeito. Quando amanhecesse, faria questão de acordar primeiro só para poder velar seu sono pela manhã. E quem sabe, tocar seu rosto para comprovar se era real, ou uma mera miragem.
Andei nervoso até o bar, onde provavelmente a encontraria. Nunca havia ficado tão ansioso para conhecer uma mulher antes, só de pensar em vê-la, já ficava extasiado. A avistei, sentada numa das banquetas, deslumbrante como eu a imaginava naquele vestido, tão linda que me tirava o fôlego. Aproximava-me a medida em que seus olhos brilhosos me acompanhavam no trajeto que eu fazia até ela, não era possível esquecer-me daqueles olhos castanhos e cabelos curtos e escuros, realmente era ela.
- Boa noite, Srta. . - murmurei, embriagando-me com seu perfume doce. Com o rosto bem próximo do seu ouvido, sorri satisfeito, assistindo seus pelos do braço se eriçarem.
- B-Boa noite Sr. . - apressou-se para se levantar, e acabou quase caindo ao tentar se equilibrar. - Ops! - gargalhou do próprio deslize. A encarei, admirando seu sorriso, que superava o de qualquer outra com quem eu já havia estado. Ela era engraçada. Outra característica notável em , era o desastre que ela parecia ser, ou será que ela havia bebido?
- Vamos até a mesa? - a convidei, pegando sua mão e espantando-me com a temperatura de sua pele gélida. Ela se limitou em assentir e me acompanhar.
- Então, ...
- Me chame de , por favor. - se adiantou, interrompendo-me. - Falando meu nome assim, você parece até estar me dando uma bronca. - apoiou o cotovelo na mesa e o rosto sob as mãos. Seus olhos estavam brilhosos, e em nosso pequeno trajeto até a mesa, ela soltou risos sem motivo, demonstrando sua situação de embriaguez leve. - A propósito! - exclamou, assustando-me. - Como quer que eu te chame?
- De , . - sorri, a observando arregalar os olhos.
- ? Oh, meu Deus, você é filho do dono da editora! - falou alto ao ser surpreendida pela minha resposta, atraindo olhares de casais que jantavam a nossa volta. Ri, fazendo sinal para que ela ficasse quieta. - Que honra! - sussurrou desacreditada.
A encarei, sério. Ela era a primeira, e por que não dizer única, a realmente ligar para o que eu e minha família havíamos construído ao longo dos anos, e não apenas ouvir a frase "filho do dono" e já pensar em ser a mãe do futuro filho do dono, apenas pelo dinheiro.
- Então, ... Posso te perguntar uma coisa? - a mulher assentiu, prestando atenção no que eu falava. - Você, por acaso, bebeu?
- Bebi? - repetiu em voz alta para si mesma. - Oh, meu Deus, eu bebi! - tapou a própria boca com as mãos, ficando pálida de uma hora para outra. - Ah... Me desculpe, eu não deveria! E-Eu preciso ir ao banheiro lavar o rosto, e tentar ficar sóbria. - falou desesperada, enquanto se levantava com dificuldade por conta do salto que usava. - Quer saber? Eu não preciso disso agora. - abaixou-se, mexendo em algo debaixo da mesa e logo ficou de pé. - Cuide deles para mim, tá? - mostrou-me o par de sapatos antes de deixá-los sob a própria cadeira, ainda atraindo olhares. Segurei minha vontade de gargalhar, assim como o desejo de beijá-la.
A assisti sair correndo até a área dos sanitários, parecia até uma criança. Phillip, que passava por ali, se limitou em negar com a cabeça, desaprovando os modos de e fazendo-me ficar desconfortável. Ela só havia bebido um pouco além da conta, que mal tinha naquilo?
Após uma singela demora, vinha em direção à mesa, estava séria e levemente envergonhada.
- V-Você ainda está aí. - murmurou baixo, analisando-me ainda de pé.
- E por que eu não estaria? - indaguei com a testa franzida. - Sente-se. - ela apenas fez o que eu pedi, em silêncio.
- Porque eu estraguei tudo! Bebi justo no jantar mais importante de minha vida! Eu não costumo beber assim. - respondeu suspirando, com as mãos sob a cabeça.
- Posso lhe assegurar de que está errada, nunca me diverti tanto num jantar! E acredite, vou em muitos jantares. - mordeu o lábio inferior me observando, parecia mais calma, porém incerta com o que eu dizia. - Mas qual é o motivo da bebedeira? Problemas com o noivo? - seus olhos desviaram de meu rosto, e ela apenas pegou o cardápio.
- Não, na verdade, minha vida amorosa está melhor do que nunca. - respondeu distraída, com os olhos colados sob o cardápio. - E creio que viemos aqui apenas para fins profissionais, aliás, acho minha vida amorosa não lhe interessa, Sr. . - uau, direta. Sorri diante a irritação dela, que ficava ainda mais linda quando brava daquele jeito.
- Ser uma pessoa pública tem seus desencantos , só estou comentando o que ouvi por aí. - fiz o mesmo com o meu, o folheando com tédio por simplesmente já ter decorado cada prato dali. Cheguei até a procurar alguma novidade, ou quem sabe perguntar ao garçom se ali servia , porque com aquela rebeldia dela, só em comida mesmo. - E acho que não tem nada de profissional em ficar bêbada num jantar de negócios. - disse de maneira despretensiosa, e a observei abrir a boca em total descrença.
- Escuta aqui, rei do mundo, eu não vim até aqui para te ouvir me insultar. - fechou o cardápio, praticamente jogando o livreto em cima de mim. Arregalei os olhos assustado. - Acha que só porque é filho do dono da editora, só porque tem esses olhos verdes, e esse cabelo sedoso... - arquei as sobrancelhas, segurando o riso. - Ai, eu nem sei mais o que estou falando, ainda devo estar bêbada, porque só assim para você ser digno de elogios!
Levantou-se atrapalhada e saiu andando restaurante afora, descalça, esbarrando em mesas e se desculpando até com o ar. Fiquei estático, ainda processando em minha cabeça o que havia acabado de acontecer ali, ela tinha mesmo me deixado? Philip, que estava parado em algum canto, soltou um riso. Larguei o cardápio e daquela vez não deixei gorjeta, o que era um belo de um castigo pela risadinha fora de hora do garçom. Andei rapidamente até a saída, a encontrando sentada na escadaria do estabelecimento.
- Não se rejeita , garota burra. Você poderia se tornar uma escritora best-seller, mas está desperdiçando a oportunidade. - sentei-me junto dela, sussurrando próximo de seu rosto. encolheu os ombros, indicando que havia se arrepiado. Porém, se levantou bruscamente, encarando-me com raiva.
Sentiu uma coisa, fez outra, ela era dura na queda.
- Que tipo de garota você pensa que eu sou para aceitar uma proposta absurda dessas? - exclamou com os olhos brilhosos, como se segurasse lágrimas. Abri a boca uma, duas, três vezes, nada saiu. é o tipo de garota incrível, o tipo inteligente, que não se deslumbra com coisas caras, também pudera, ela tinha o próprio dinheiro ao julgar pelas roupas que vestia e, ao que parecia, não deixava um babaca endinheirado como eu tentar comprá-la ou diminuí-la. - Você é um imbecil. - praguejou, antes de sair pela calçada. A observei entrar em um táxi, e sumir assim que o veículo dobrou a esquina.

Point of View.
Acordei no outro dia com uma ressaca infernal, eu não podia ouvir uma pena cair que já sentia minha cabeça latejar. Eu quase nunca bebia, mas quando acontecia, sofria no dia seguinte.
E como toda dor de cabeça pode piorar, tinha ficado encarregado daquela tarefa, me ligando logo cedo, perguntando se eu havia ligado para ele. Imediatamente neguei, fazendo-me de desentendida. Tínhamos conversado por um tempo, e apesar de estarmos nos falando e zombando um do outro como sempre fazíamos, eu ainda sentia falta de seu abraço. Menti por diversas vezes naquele telefonema, primeiro quando ele me perguntou se eu estava bem, e depois quando ele indagou se não havia problema para mim, se eu fosse jantar com eles. Isso mesmo, ele e sua nova namorada.
Recordava-me da noite passada e tinha vontade de bater em . Aquele imbecil achou mesmo que eu estava tão desesperada para ser publicada, que aceitaria fazer um teste do sofá?
Sim, eu estava desesperada, aliás, desespero era muito pouco para rotular minha situação. Mas aquilo já era demais! Ele era lindo, não dava para negar, apesar da minha embriaguez poderia me recordar daquele par de covinhas se destacando quando ele sorria malicioso, mas nem por isso eu dormiria com ele assim, tão de repente. Eu mal o conhecia! E pelo pouco que conheci, a melhor coisa que fiz foi recusá-lo.
Após passar a tarde jogada no sofá comendo besteiras, fui tomar banho, me preparando para o que viria. Me arrumei e saí de casa, indo até a residência de meu melhor amigo. Aquele caminho eu já sabia de cor, e só ali, de frente à casa de , havia me dado conta de que tínhamos passado dias sem nos ver, e aquilo nunca acontecia. Senti um aperto no peito, não queria perdê-lo, era a única pessoa que eu tinha ali, perto de mim.
- Entre. - murmurou assim que abriu a porta, sorrindo para mim. Tentei retribuir e fiz o que ele pediu, adentrando a casa. Eu me sentia estranha estando ali outra vez, estava completamente deslocada. - Senti sua falta. - Virei-me, encarando o par de olhos azuis que eu tanto amava. Logo seus braços estavam em volta de mim, fazendo-me lembrar de tudo o que havíamos vivido ali, naquela sala, cozinha ou no quarto, quando nossos corpos costumavam se juntar, fazendo-me sentir em casa novamente.
- Eu também senti saudades. - falei de olhos fechados, enquanto emaranhava meus dedos em seus cabelos castanhos.
- Então você é a famosa ! - abri os olhos de imediato, reconhecendo aquela voz. se separou de mim e senti como se faltasse uma parte de meu coração.
A analisei de cima à baixo, observando-a se aproximar. Sandy tinha longos cabelos castanhos, olhos verdes, e um sorriso amigável. Vestia roupas de liquidações, completamente fora de moda, e que com certeza não eram seu tamanho certo. Freei meus próprios pensamentos maldosos sobre o jeito de se vestir dela. Estava passando tempo demais naquela revista fútil. A verdade era que Sandy era tão linda, que eu me sentia na necessidade de tentar diminuí-la para me sentir superior. Ela era superior, ela o tinha, e não havia nada que eu pudesse fazer para vencê-la naquele quesito.
- Uau, ela realmente é linda. - elogiou, encarando-me sorridente. Fiquei sem fala. Olhei para , que me pedia silenciosamente para que falasse alguma coisa.
Algo que não fosse "devolva meu homem".
- É, sou eu. - obriguei minha voz a sair e agradeci a Deus por ela não ter falhado. - Obrigada Sandy, você também é muito bonita. - infelizmente, eu não estava mentindo daquela vez.
- Vejo que tem um bom gosto. - comentou, rindo. - Ah! Tenho que tirar o frango do forno. Licença. - falou de repente, afobada, e saiu da sala.
- Não acredito que contou para ela. - passei as mãos pelo rosto. O que eu menos queria era aquele clima pesado, ou que Sandy começasse a me olhar estranho, desconfiando de que eu estaria planejando ter de volta. E ela não teria razão para agir assim, afinal de contas, eu tinha chegado primeiro. E, tecnicamente, eu realmente o queria de volta.
- Eu não tinha por que mentir. - deu de ombros. - Sabe que eu odeio mentiras. - disse, me olhando nos olhos. Por um momento o observei e pensei ser uma indireta bem direta para mim.
"Não seja idiota, !".
É, só por um momento. não teria como saber de minhas mentiras, e nem que estava metido em uma delas. Era como aquela expressão que sempre usamos em discussões, a carapuça havia servido direitinho, era apenas o destino, e Deus, usando outra pessoa para esfregar em minha cara o quão errada eu era, só para variar.
- Sei, lembro-me de que uma vez menti para você. Fingi estar doente para não sair com você e sua "amiga". - fiz aspas com os dedos e o vi revirar os olhos. - Ficou sem falar comigo por uns dois dias.
- Ela realmente era apenas uma amiga, de novo essa história, ! - rimos juntos.
- Eu também sou sua amiga, e já transamos o quê... Umas mil vezes? - falei com naturalidade, espantando-me após terminar e refletir sobre o que minha voz tinha pronunciado. riu sem graça, enquanto eu me perguntava o que havia mudado. Desde quando nossas piadas internas sobre sexo entre amigos não tinham mais graça? - Por falar nela, aonde Sue se meteu? - tentei contornar a situação, mudando de assunto.
- Não faço a mínima ideia, depois que nós dois começamos a... Você sabe, ela se distanciou. - respondeu normalmente, balançando os ombros.
Um aperto enorme atingiu meu peito, me perguntava se, agora com uma namorada, nós deixaríamos de ser "nós", para virarmos apenas dois amigos que se distanciaram. Se falaria da perda de contato comigo com a mesma naturalidade, sem nenhum resquício de saudade. Duvidei do que Lexi havia me assegurado em nossa conversa, ele realmente se empenharia para me ter sempre perto dele?



Capítulo 5

Point of View.
Cheguei no local da festa beneficente, posei para algumas fotos junto de meu pai, e sozinho. Após me livrar de todos aqueles fotógrafos e flashes que me cegavam, adentrei o amplo salão cheio de pessoas influentes e celebridades. Mas o que me levava até aquele evento era ela, todos os anos a Desire comparecia em peso no evento. Minha doação já havia sido feita, mas eu tinha saído aquela noite no intuito de encontrá-la novamente, e quem sabe alcançar meus objetivos com , tê-la por uma noite. Mas, caso ela negasse novamente, e nada saísse como o planejado, não ligaria nem um pouco. Eu estava adorando aquele jogo, e estava completamente intrigado com a resistência que tinha com relação a se entregar para mim.
Fui até o bar buscar algo para beber, qualquer coisa que me ajudasse a aguentar aquela festa monótona e cheia de pessoas egoístas, que uma vez por ano fingiam se importar com quem precisava ser ajudado e, nos outros 364 dias, apenas ignoravam a existência da palavra caridade. Soltei uma risada baixa ao avistá-la sentada no bar, parecia até um déjà vu, a mesma cena se repetindo diante de meus olhos, e meu coração batendo na mesma velocidade acelerada.
- , que prazer em revê-la! - sorri cordial para a mulher loira que estava ao seu lado. - Prazer, .
- Prazer, Amber Stevens. - sorriu de volta. Como de costume, notei uma aliança em sua mão esquerda.
Não que ela me interessasse, naquela festa nenhuma outra mulher me interessava além de , era apenas algo que eu fazia involuntariamente. De repente, algo me veio à cabeça, lembrava-me que na noite em que me encontrei com pela primeira vez, fiquei tão desconcentrado com sua beleza, que nem ao menos tinha reparado em sua mão, ou talvez fosse porque eu já sabia. A mulher que eu mais desejava estava noiva.
- Bom, vou deixá-los a sós, meu marido me chama. - saiu em direção ao salão.
- Enfim, sós. - murmurei, a analisando. estava um verdadeiro pecado naquele vestido vermelho longo, que continha uma fenda deixando sua perna a mostra. Eu não sabia, e nem ligava, para quanto havia custado aquele vestido. Nem ao menos de qual grife era, só queria rasgá-lo o quanto antes possível.
- Infelizmente, sós. - corrigiu-me, virando o banco para me ver melhor.
- Onde está seu noivo? Aliás, onde foi parar sua aliança? - indaguei, vendo-a fechar ainda mais a cara.
- Está vendo mais alguém aqui? - arqueou as sobrancelhas. Neguei com a cabeça, sentindo falta da resposta de minha outra pergunta. Será que haviam brigado?
- Então acho que posso ficar e te fazer companhia. - sentei-me no banco ao lado, a ouvindo bufar.
- Não, obrigada. - murmurou friamente, enquanto chamava o barman com um aceno de mão. - Vem cá, não tem algo mais forte, não? - indicou o copo já vazio em cima da bancada. Segurei o riso, assistindo a reação do homem, que assentiu assustado, indo preparar outro drink, dessa vez ainda mais concentrado. me encarou, brava ao ouvir minha risada. - Qual é a graça?
- Nada. Pensei que não costumava beber. - zombei.
- Não costumo, só quando minha vida está uma merda. - murmurou. O barman entregou o copo, e logo foi atender outra pessoa. A mulher ao meu lado virou o copo praticamente de uma vez, assustando-me com o ato. - Mais um, por favor. - pediu, enquanto limpava a boca com as costas da mão.
- Acho melhor ir com calma... - aconselhei, sendo ignorado. Ela era diferente de qualquer outra daquela festa, as mulheres dali chegavam a dar sono. Ou eram casadas, ou requintadas demais para beber qualquer coisa que não fosse champanhe. - Seu noivo não vai gostar nada de te ver chegando em casa bêbada.
- Se for ficar aqui, não toque nesse assunto. - falou séria.
- Te achei! Seu pai está te procurando para participar do leilão. - chegou, me distraindo. Assenti, me levantando e indo com ele, dando uma última encarada em , que não ligava para nada além de seu copo.

O leilão se encerrou um tempo depois, fugi de meu pai e fui novamente até o bar, a encontrando da mesma forma, só que mais, digamos assim, embriagada.
- Você de novo, . - murmurou com a voz arrastada. - Não desgruda de mim, hein? - reclamou. - Queria que fizesse isso... - riu amargurada, encarando o copo vazio.
- Quem é ? Seu noivo? - indaguei, esquecendo-me da condição que havia imposto para eu ficar ali.
- Sim, mas ele também é namorado da Sandy. - pronunciou o nome com nojo. - Ele a ama, e o pior de tudo é que ela é linda, inteligente e engraçada. Você precisava ver o jeito que ele olha para ela. - minha confusão aumentava a cada palavra dita por , que chorava de cabeça baixa.
- Ele foi louco? Para te trair? - exclamei incrédulo. Que espécie de idiota esse tal de era, para trair uma mulher como ? Era incômodo vê-la chorando por ele.
- Trair? Mas não tínhamos nada! Pelo menos para ele. - comecei a ligar os pontos, ela não tinha aliança e ele não a havia acompanhado para a festa. mesma estava confirmando minha suspeita de que nunca esteve noiva. - Mas, para mim, nós tínhamos. , eu o amo. - levantou a cabeça, encarando-me com seus olhos escuros transbordando em lágrimas. Algumas pessoas ali em volta a olhavam de um jeito estranho, outras até cochichavam entre si, rindo de seu estado.
- Venha. Vou te tirar daqui. - a peguei pela mão e a puxei dali. Saímos do prédio o mais discretamente possível, pois não queria comprometê-la. Entramos em meu carro, e parei, a encarando. - Ok, onde você mora?
- Enfield. - respondeu, enquanto abria e fechava o porta luvas de um jeito irritante. Girei a chave na ignição, mas logo que me toquei e a encarei, esperando uma risada, afinal, só poderia ser uma piada, ou um efeito da bebida.
- Sério , onde você mora?
- Eu já disse! - exclamou. - Olha se não for me levar, eu posso muito bem pedir um táxi. - ri da fala dela. Estava num altíssimo grau de embriaguez.
- Não irá achar um táxi tão facilmente a essa hora da madrugada. - disse, a observando tentar, sem sucesso, abrir a porta, que por precaução eu havia travado.
- É aí que você se engana, bonitão. - pegou meu queixo, aproximando seu rosto do meu, fazendo-me estremecer por um segundo. - Eu tenho meus contatos. - piscou.
- Não precisa de seus contatos. - fiz uma voz arrastada para imitá-la. - Eu vou te levar. - me inclinei sobre ela, colocando o cinto de segurança, enquanto sentia seu olhar em mim.
- Está louco para me beijar. - cantarolou, bagunçando meus cabelos. Soltei um riso, voltando ao meu lugar. Preferi calar minha boca para não a responder e acabar entregando minhas intenções, da última vez não deu certo.
Saí do estacionamento e segui para Enfield, duvidando se era aquele mesmo o endereço dela, e tentando me lembrar de algum bairro nobre com um nome parecido. Não era possível alguém tão requintado, morar num fim de mundo daqueles.
- Yeep! Chegamos! - comemorou, levantando os braços. O trabalho que eu havia tido com ela durante o trajeto irá me fazer pensar muito bem antes de ingerir alguma bebida alcoólica, agora eu sei o quão chato ficamos quando bebemos. parecia uma criança, pressionava o botão e subia e descia o vidro do carro, tentou ligar o rádio e só sossegou quando gritei com ela. Ao notar a dificuldade dela em desafivelar o cinto, a ajudei, apertando a parte vermelha e a libertando. - Obrigada, .
- É só isso o que eu ganho? Nunca mais ajudo ninguém... - praguejei, destravando as portas e a esperando sair. Encarava a rua escura em minha frente quando fui surpreendido com o toque de seus lábios em minha bochecha. Sorri fraco, não era aquilo que eu queria, mas já era um começo.
- Ainda estou no clima da festa. Preciso ser caridosa. - sussurrou em meu ouvido, fazendo-me encará-la confuso.
Seus lábios acertaram o alvo daquela vez. Movimentamos nossas bocas com habilidade, ela parecia ter sido feita especialmente para mim, era um encaixe perfeito. Seu beijo era doce, divino e lento, proporcionando-me um deleite prolongado de seus lábios. Nos separamos pela falta de oxigênio, e eu xingava o ar por ter que nos fazer parar. me encarava sorridente, ao mesmo tempo que eu me via preso em minha própria confusão.
O que significava aquilo tudo que eu estava sentindo? Era realmente ela a mulher certa? Aquele arrepio era completamente desconhecido por mim, já tinha estado com tantas e, com apenas um beijo, havia me dado o paraíso. E eu adoraria experimentar tudo aquilo novamente.
- Eita, está na minha hora. - sorriu, saindo do veículo. Suspirei, a esperando entrar em casa. Olhei em volta, notando o quão perigoso parecia ser aquele lugar, pelo menos era o que falavam. Os muros pichados, e casas com dezenas de trancas como a de , comprovavam o nível de marginalidade dali. Ela continuava na porta, se atrapalhou com as chaves e as derrubou no chão. Preocupado, desci do carro, indo até ela. Subi as escadas e peguei a chave, destrancando a casa. - Eu até te chamaria para entrar, mas provavelmente seu carro seria roubado. - falou, baixinho. Mordi meu lábio inferior, checando o movimento da rua sem muita iluminação.
- Mas eu nem estava pensando em demorar muito... - falei, encolhendo meus ombros como quem não queria nada. - De quanto tempo estamos falando? - apoiei uma de minhas mãos na porta ainda fechada, a prendendo ali.
- Uma noite inteira, mais ou menos. - balançou os ombros, com um falso desdém. Não tinha mais nem o que pensar, aquele era o tipo de proposta irrecusável.
- Dane-se o carro. - a beijei com rapidez, prensando-a contra a porta. me empurrou levemente e abriu a porta, puxando-me para dentro pela gravata. - O seguro cobre. - murmurei contra sua boca e, antes de fechar a porta, estiquei o braço para fora da casa, apertando o botão e ativando o alarme do carro, sabe, só para prevenir.
Adentramos a residência aos beijos e amassos, as mãos dela tatearam a parede em busca do interruptor. Assim que o achou, tentou acender as luzes, sem êxito. Não tive tempo de estranhar aquilo, já caminhávamos às cegas pela casa. Bati meu braço em algo e arranquei uma gargalhada dela.
- Cuidado com a parede! - murmurou. Toquei novamente o local da batida, e apesar de não enxergar nada, tinha a certeza de que aquilo não era uma parede.
Ignorei aquilo e após alguns passos para trás, havíamos chegado na cama. Não sabia quantos passos tínhamos dado para chegarmos até o quarto, eu estava tão absorto na atmosfera que havíamos criado ali, que não saberia dizer meu próprio nome. já terminava de desabotoar minha camisa e já a retirava, meu terno se encontrava perdido pela casa, a gravata então, nem se fala. Eu estava cada vez mais despido, e aquilo me causava uma certa desvantagem. Procurei pelo fecho do vestido, e quando o achei, tratei de abri-lo com uma certa urgência, quase rasgando-o.
- Ei! Não se rasga um Hérve Léger, ! - repreendeu-me, tirando minhas mãos e empurrando-me sob a cama. Caí sobre o colchão ainda sorrindo, extasiado. Vi a silhueta dela, e apesar da falta de iluminação, suas curvas me excitaram cada vez mais, havia descido o vestido e finalmente estava seminua.
Senti sua aproximação e logo suas mãos me tiravam as calças. Apesar de inesperado, o escuro estava deixando as coisas mais... Interessantes. Puxei seu corpo, sentando-a em meu colo e beijando toda a extensão do pescoço e colo de , distribuindo chupões e mordidas, lhe arrancando suspiros. Em minha imaginação já era bom, mas estava tornando tudo tão maravilhoso que superava todas as expectativas que eu havia criado. Saber que não era mais um de meus sonhos fazia tudo ficar melhor.
Sentir seu toque, estar dentro dela, ser preso entre suas pernas, colar meu corpo suado ao dela... Era surreal abrir os olhos e encontrar a mulher dos meus sonhos ali, embaixo de mim, e melhor, gemendo meu nome enquanto arranhava minhas costas, quase me matando de prazer. A assistindo estremecer e desfalecer em meus braços.

Acordei sem nem me lembrar a que horas cai no sono, e antes dela, como eu havia planejado. Encarei a mulher que ressonava ao meu lado, coberta até a cintura com um cobertor marrom, deitada de bruços. Passei a ponta de meus dedos por toda a extensão de suas costas, sentindo sua pele macia. Sorri, pensando num jeito de acordá-la. Eu meio que não sabia o que fazer, também pudera, nunca havia acontecido de eu ficar, sempre dava meu jeito de ir embora antes que a mulher com quem passei a noite despertasse, e eu havia ficado bom naquela coisa de sair despercebido dos lugares.
Finalmente levantei meu olhar e me assombrei com o que vi, eu realmente não havia me chocado contra a parede, e sim contra um guarda roupas, que pelo visto, era como se fosse uma. Saí da cama, vestindo minha cueca antes de ir ver o que tinha por trás do armário de . Encontrei uma cozinha-sala, os móveis não eram nem um pouco sofisticados, se comparados com as roupas da dona. Voltei para o que eu chamaria de quarto e a observei se remexer na cama. Fui até ela, sentando-me ao seu lado. mantinha os olhos fechados enquanto se preparava para levantar, assim que os abriu, me encarou assustada, soltando um grito que poderia ser ouvido da China.
- O que faz aqui? - indagou. Antes mesmo que eu abrisse minha boca para respondê-la, se atreveu a espiar o que tinha debaixo do cobertor. Na verdade, o que não tinha. - Ah, meu Deus. Não! Não! - se lamentava. Arqueei as sobrancelhas, intrigado. Curioso, ela era a primeira a ter aquela reação. - Seu... Seu tarado! Se aproveitou da minha embriaguez! - acusou-me, se levantando e levando o cobertor marrom consigo, cobrindo o próprio corpo.
- Quem se aproveitou aqui foi você, e foi da minha boa vontade. Eu te trouxe para casa, e você me convidou para entrar, ou por acaso não se lembra? - me defendi, vendo-a suspirar frustrada.
- Não interessa! Você tinha que ter recusado! Não viu que eu estava bêbada? - acusou novamente. Ri, negando com a cabeça. Eu nunca recusaria , e justamente ela não sabia daquilo. - E-Eu sou uma mulher comprometida! - cruzei meus braços, a observando mentir na cara dura.
- Comprometida? Ah, eu tinha me esquecido de que você está noiva! - respondi cinicamente. - Do , não é? Aquele seu amigo que namora uma tal de Sandy. Engraçado ele ter duas mulheres. - completei com sarcasmo. estava vermelha de raiva, parecia a ponto de explodir a qualquer momento.
- Como sabe de tudo isso? - indagou, baixando a guarda.

- Você me contou ontem enquanto gemia em meu ouvido. - ri, enquanto ela me encarava com os olhos arregalados.
- S-Sério?
- Não. Te encontrei bêbada no bar do evento. Sabe, , você não deveria beber tanto em festas com seus colegas de trabalho. Me contou tudo sobre sua farsa, imagine se fosse outra pessoa? - virei-me, olhando em volta mais uma vez. - E, pelo visto, o noivado falso não era sua única mentira. Você mora em Enfield?
- Chega! - ouvi sua voz trêmula e arfei. Ela não estava chorando, estava? - Já conseguiu o que queria, dormiu comigo, o que mais você quer para me deixar em paz? - virei-me, a encontrando sentada, com o rosto molhado de lágrimas. Senti como se alguém estivesse pisando em meu coração. Odiava ver uma mulher chorando, e quando era ela, meu ódio triplicava.
- Me desculpe, não era minha intenção zombar de você, muito menos te fazer chorar. - fui até ela, me abaixando na altura da cama onde ela estava sentada. soluçou.
- Você não precisaria zombar de mim, olhe para mim , eu sou uma piada! - falou com a voz embargada.
- Não sei se já te disse, mas vou repetir todas as vezes que precisar, você é incrível. - peguei sua mão, depositando um beijo no dorso. - E eu estou me perguntando qual a razão para todas essas mentiras.
- Quem seguiria as dicas amorosas de uma encalhada, ? Uma mulher que nunca consegue ficar com quem se apaixona? E quem da Desire daria crédito a alguém de Enfield? Que, aliás, mora num único cômodo! - respondeu, deixando mais lágrimas caírem. Me aproximei, secando seu rosto e atraindo seu olhar para o meu. - O que ainda quer de mim, ? Por que ainda está aqui, ao invés de ir checar se seu carro ainda está lá fora? Se ele ainda estiver inteiro, vá e volte para sua casa.
- Eu seguiria suas dicas. Eles são idiotas por ligarem para coisas banais como seu endereço, ou se você fez amor com alguém na noite anterior. Te forçam a mentir para poder fazer parte do meio sujo deles. Eu não ligo para nada disso , pois sei que quando se põe a escrever, e se tornam apenas uma, independente das farsas ou máscaras vestidas, você coloca a mais pura sinceridade em suas palavras, não é o ato que faz o sucesso que é.
- As que eu escrevo, ou as que eu falo entre gemidos durante a transa? - murmurou, rindo sem humor. - Quer saber , esquece aquele jantar, por favor me devolva Attraction, vou enviar para outra editora, alguma que eu não tenha que me sentir culpada por ter conseguido apenas por ter dormido com o filho do dono. - falou, de forma fria.
- Não posso... - levantei-me, indo procurar minhas peças de roupa. - Está com o meu pai. - respondi, vestindo a calça.
- Meu Deus, o dono da editora Style está lendo um manuscrito meu. - a ouvi sussurrar para si mesma, desacreditada. Soltei um riso baixo enquanto abotoava a camisa branca amassada.
- E se isso te deixa tranquila, quero que saiba que entreguei para ele na mesma noite em que jantamos. - coloquei as mãos nos bolsos, a observando se levantar.
- Mas... Por quê? Eu fui uma estúpida naquela noite, estava embriagada, e ainda por cima te dei um fora...
- Detalhes adicionais desnecessários. - murmurei. Eu me lembrava do fora, ela não precisava refrescar minha memória. - , não é mais segredo que eu acho sua escrita maravilhosa, não há um texto que você escreveu para Desire que eu não tenha lido e adorado. Independentemente de tudo, eu sei do seu talento e, apesar de só te conhecer embriagada, e discutir com você há apenas duas noites, sei o quão importante isso é para você, e o quanto você merece.
- Eu não sei se te bato, ou se te abraço. - falou com um pequeno sorriso no rosto, desmontando a minha pose profissional.
- Acho que prefiro a segunda opção, considerando o fato de você estar brava por eu ter dormido com você na base de álcool. Uma surra não seria algo legal. - opinei, a observando vir em minha direção. riu fraco passando um dos braços em volta de meu pescoço, já que usava o outro para segurar o cobertor. Ah, como eu torcia para que ele caísse. Ela se afastou, beijando minha bochecha. Meu celular tocou, despertando-me do transe em que me encontrava ao olhar seu rosto tão de perto. - Bom, acho que essa é minha deixa. Tchau, .
- Tchau, . - respondeu, sorrindo sem graça. Fui até a porta, mas logo parei, virando-me para ela.
- Ah, seu segredo está seguro comigo. - dei uma piscadela, saindo porta afora. Ao descer as escadas fiz uma análise em meu carro preto, checando se estava inteiro. - Graças a Deus. - suspirei aliviado, entrando e dando partida.

[...]



Era segunda feira, e como todo ser humano normal, eu odiava aquele dia da semana. O dia prometia, e com certeza ficaria um bom tempo no meu pé querendo saber detalhes de minha noite com . Ah, e que noite, inesquecível devo dizer, e mais... Se eu tinha um top 10 de melhores transas, havia deixando até a primeira colocada no chinelo. Havia me pegado pensando nela enquanto estava preso no trânsito e me perguntava se deveria parar com aquilo.
- Como foi com a ? - indagou , sentando-se na cadeira em frente à minha mesa. Revirei os olhos, nem um pouco surpreso com aquela pergunta.
Resolvi então dar um pequeno resumo de tudo o que havia acontecido entre as, literalmente, quatro paredes da casa de . Éramos homens, então não entraria em muitos detalhes, fui direto ao ponto e soltei a única informação que lhe interessava...
- Nós transamos. - murmurei, sorrindo abertamente. riu, negando com a cabeça enquanto me encarava desacreditado.
- E eu que pensei que era vacinada contra cafajestes... Vejo que me enganei com ela, parecia até um anjo! Ou você a corrompeu?
- E ela é um, . - afirmei, me levantado de meu lugar.
- Mas sexo no segundo encontro... - teimou em fazer pose de pai decepcionado.
- Ela estava bêbada.
- Álcool! Agora sim está explicado. - concluiu sorridente, lhe dei um tapa na cabeça. - Ah, qual é , aparenta ser toda certinha, ela nunca iria dar confiança para um cara como você.
- Eu sei... - murmurei, cabisbaixo. - E o pior de tudo, é que mesmo sabendo, eu continuo querendo.
- A não ser que você se esforce e a agrade. - balançou os ombros. Se estivéssemos em um desenho animado, uma lâmpada se acenderia sobre a minha cabeça. Eu havia acabado de ter uma ideia de como fazer o que havia sugerido. - Mas claro, vai ter que se esforçar muito para limpar a imagem que ela tem de você.
É, ele tinha razão, e apesar de não ser sempre, eu odiava quando ele estava certo sobre algo. Era estranho, e completamente novo para mim, criar uma maluquice daquelas. Um plano para conquistar .



Capítulo 6

Point of View.

A semana mal havia começado e eu desejava desesperadamente que ela acabasse. Usava óculos escuros como se eles fossem de grau e essenciais para que eu enxergasse bem, eles eram minha única opção, apesar do corretivo ter feito mágica apagando minhas olheiras. Após quase cochilar em uma das reuniões, sai para tentar espairecer um pouco.
- Amiga do céu! Não acredito que foi para cama com ele no primeiro encontro! - exclamou, incrédula. Uma senhora que passava ao nosso lado na rua me encarou assustada.
- Cale a boca! - a repreendi. Era por aquele motivo que eu preferia milhões de vezes ficar na loja, Lexi não era a pessoa mais discreta do mundo. Mas como era meu horário de almoço, tivemos que ir para rua procurar algum lugar para comer. - E foi no segundo! – corrigi, enquanto mordia meu hot dog, se Stacy me visse comendo aquilo, iria usar contra mim durante a vida inteira.
- Ah, tanto faz! Ele deve ser mesmo irresistível. – comentou, pensativa. Olhei para seu rosto e notei seu olhar perdido.
- Pare de tentar imaginar ele! - lhe bati no braço, despertando-a. - Fura olho!
- Não sou não! Você nem gosta dele pelo que me contou!
- Não mesmo. - afirmei com convicção.
Minha mente maligna logo começou a me contrariar, e meu coração me traiu, batendo mais forte assim que imagens daquela noite se repetiam em minha cabeça. era uma tentação, portanto, as sensações que ele me causava eram totalmente justificáveis.
- Não vou nem perguntar o que está imaginando. Ou melhor, relembrando - desferi outro tapa em seu ombro. - Ai! – exclamou, me encarando incrédula.
Depois de passar uma hora inteira com Lexi, comendo e conversando coisas que me deixaram completamente estranha, voltei para revista, afinal, o trabalho me chamava. Assim que entrei em minha sala, avistei alguém ocupando meu lugar na cadeira giratória. Tossi propositalmente e vi virar-se com o seu famoso sorriso sarcástico.
- O que faz aqui? – indaguei, de braços cruzados.
- Esqueceu isso no meu carro. - mostrou-me a carteira que eu havia levado para a festa. Fui até ele na intenção de ter o que era meu, bom, de Lexi no caso, de volta. – Chanel, hein? Aposto que ninguém de Enfield usa uma dessas. - levantou a bolsa no alto, fazendo-me esticar o braço para tentar pegar, sem sucesso.
- Isso não te interessa!
- Olha, não vá gritar, o que as pessoas lá fora vão pensar? - respirei fundo, tentando manter a calma.
- Vou perguntar de novo, , e desta vez, você irá me responder. – falei, ameaçadora. - O que realmente te traz aqui? Porque não engulo essa desculpa de que veio devolver a bolsa.
- Vim me desculpar pelo meu comportamento no restaurante. - falou com uma sinceridade aparente. - Sei que nós, homens, temos fama de mentirosos, mas eu realmente estou arrependido. Uma mulher como você não deveria ser tratada daquela forma. - disse. Franzi a testa, eu já havia ouvido aquilo antes... - Sei também que errar quinhentas vezes e pedir desculpas é fácil demais para mim, e cansativo demais para você me ouvir. Por isso, eu prometo que essa é a última vez que te peço desculpas por algo que fiz, e sim, vou cumprir essa promessa, afinal de contas, vou fazer de tudo para não te magoar novamente.
Eu o encarava de braços cruzados encostada em minha mesa, ouvi as palavras que eu mesma tinha escrito e simplesmente adorei o som de sua voz rouca pronunciando cada uma delas. Eu estava admirada com aquilo, e meu sorriso transparecia tudo. Ele era meu primeiro leitor, depois de Lexi, é claro, mas ela não contava, ela era minha melhor amiga e seria incapaz de me magoar sendo sincera se algo estivesse ruim.
- Vejo que realmente leu Attraction. – murmurei, ainda impressionada.
- Só o começo, e gostei tanto que nem ao menos me importei de ficar sem saber o resto da história de Lily e Thomas, antes de mostrar ao meu pai. - mordi meu lábio, o observando dar passos em minha direção. - Li apenas os dois primeiros capítulos, e posso até arriscar dizer que já decorei todas as falas. – assenti, afirmando silenciosamente que sim, havia decorado. - E pode parecer idiota, mas até me identifiquei com Thomas.
- Vendo agora, não é que são mesmo parecidos. - observei. Não falávamos do aspecto físico, mas sim da personalidade deles. Apesar de ser um mero personagem, alguém que era um fruto de minha imaginação e um desejo de meu subconsciente, Thomas e tinham muito em comum. - Seguro de si, se garante pela boa fama com as mulheres, tem dinheiro do pai à disposição, mas não quer só ganhos, mas também responsabilidades, trabalhar para chegar onde quiser sozinho. - listei tudo aquilo o olhando nos olhos e vendo-o assentir, concordando com cada frase minha.
- E você, , tem algo parecido com Lily? - neguei com a cabeça de imediato, ela era totalmente o contrário de mim, tímida e calada, havia sido proposital escrever sobre uma garota diferente de mim. - Nem o fetiche por chefes?
- Lily e eu realmente somos completamente diferentes nesse aspecto, digamos que o Sr. Johnson não é o tipo de chefe que arranca suspiros de secretárias como o próprio Thomas faz. – ri, explicando a ele. O chefe não, mas o filho sim, com certeza.
- Nunca entendi direito esses fetiches femininos, o que vocês veem de excitante em um escritório?
- Ah, tem todo um contexto, a quebra de profissionalismo, a mesa cheia de papéis que poderia, na pressa, virar uma ótima cama... E sem contar a adrenalina, o fato de ser proibido deixa tudo melhor, Thomas é comprometido, então ninguém do escritório poderia ouvi-los.
- Acho que estamos na mesma situação, . - pegou minha nuca, puxando-me para um beijo, retribui apenas pela indescritível sensação que se apoderava de meu corpo toda vez que tinha seus lábios sob os meus.
Suas mãos foram até minhas coxas, dando impulso para que eu pudesse me sentar sobre a mesa, com ele entre minhas pernas. Seus ágeis dedos já tentavam desabotoar minha camisa enquanto eu beijava seu pescoço. O telefone tocou, despertando-me. Separei nossos lábios, o atendendo.
- A-Alô - , que começava a beijar meu pescoço, riu por eu ter gaguejando e denunciado minha situação. Tapei sua boca e tive que aguentar ser observada por aquele par de esmeraldas. - Sim, estou bem, por que não estaria? - ri nervosa, ainda ofegante. - Ok, já estou indo. - respondi rápido, finalizando a ligação. - Precisam de mim na sala de reuniões. - suspirei.
- Vou indo, mas antes, queria te convidar para o jantar que meu pai irá dar nesse fim de semana.
- Olha, por mais incrível que seja conhecer o grandioso John , eu vou ter que recusar. – respondi, desconfortável. - Não me leve a mal, , mas eu simplesmente me sinto incomodada com reuniões familiares, e também iria me sentir uma intrusa.
- Ah, mas não será minha família, apenas mais uma reunião de amigos de meu pai, com os donos das maiores editoras da atualidade, alguns olheiros, críticos literários, autores de best-sellers, e só... – murmurou, enquanto arrumava a camisa que eu havia amarrotado.
- Que horas começa mesmo? - o interrompi, arrancando uma gargalhada dele, pelo meu desespero, acho. Também, não havia como não ficar animada com aquilo, era uma oportunidade única de conhecer pessoas que eu tanto admirava.
- Esteja pronta às nove. - roubou-me um selinho, saindo da sala após estar devidamente arrumado.
Depois de me recompor, saí indo até onde me chamavam. Trabalhar em uma revista tinha suas vantagens e desvantagens também, como a constante agitação em que vivíamos, estar de olho em tendências, falar sobre comportamento, tudo o que a Desire fazia era para agradar o vasto número de leitores que havia conquistado ao passar dos anos, a revista já tinha seus 30 anos no mercado do entretenimento, e era a queridinha das mulheres, fazendo todo aquele esforço valer a pena, afinal, todos sabem como é difícil agradar uma mulher. Após mais uma reunião, aparentemente interminável, finalmente pude sentar em frente a meu computador e começar a digitar meu post do dia.
[...]

Saí do banheiro molhando tudo por onde passava, havia esquecido a toalha e não tinha minha mãe para berrar, eu sentia saudades das reclamações dela. Bom, pelo menos tinha água, então eu não poderia reclamar muito. Me sequei assim que encontrei uma, e logo depois me enrolei nela, iria começar o questionamento de todos dos dias: o que vestir. Mordi meu lábio, encarando meu guarda roupa aberto, e cheguei à conclusão de que não tinha o que vestir. Ouvi batidas na porta e fui abri-la, esquecendo-me do que vestia, ou melhor, do que não vestia. adentrou o cômodo, embriagando-me com seu perfume.
- Ai, ainda bem que é você. - murmurei aliviada, poderia ser algum vizinho. Apesar de conhecer há alguns dias apenas, ele já havia me visto com muito menos pano do que uma toalha. - Me diz, o que eu devo vestir?
- Olha, eu acho que deveríamos esquecer esse jantar e não vestir nada, ali, na sua cama. - o encarei de braços cruzados e feição séria. - Tá bom, vista o que quiser! Você fica linda de qualquer jeito e sabe que eu penso isso. – murmurou, puxando uma cadeira da pequena mesa que havia entre minha sala-cozinha e sentou-se.
Pior que eu sabia de toda aquela admiração, não fazia questão de esconder. Mas mesmo tendo conhecimento, não deixava de estranhar aquilo, e ao mesmo tempo, gostar da situação, ter um homem lindo e extremamente gostoso como te desejando, era uma das melhores sensações já sentidas, e às vezes, eu até duvidava daquilo, por que eu simplesmente não sabia o que ele havia visto em mim.
- Me ajuda! Se eu te pedi opinião, é porque eu queria ajuda! – exclamei, ouvindo-o bufar e vir até mim, parecíamos dois idiotas parados apenas olhando as roupas separadas por cabides.
- Onde arranja tanta roupa cara?
- Lexi, uma amiga minha, ela me empresta e às vezes me dá descontos na loja dela. – respondi, procurando entre os cabides.
- ? - ouvi aquela voz conhecida e fui até a cozinha, ele não via , que parecia entretido com as roupas sendo tampado pelo guarda roupas. - Já disse que tem que trancar a porta quando estiver se trocando. - repreendeu-me, parecendo meu pai falando.
Quando bate a saudade, tudo parece conspirar para te fazer lembrar.
- Fique tranquilo, , nenhum tarado vai entrar mais aqui. - joguei a indireta, vendo um sorriso sem graça se formar em seu rosto.
- Me chamaram? - arregalei meus olhos ao ouvir a voz de , que vinha ao nosso encontro. - Prazer, sou , você deve ser , não é mesmo? - assentiu, apertando a mão de , enquanto eu assistia a cena desconfortável. estava sério como nunca, fazendo até eu me sentir intimidada com seu tom de voz.
- Vejo que estou atrapalhando. Volto mais tarde, . - murmurou, indo até a porta e sorrindo maliciosamente.
- Ei, . - chamou, fazendo-o se virar para encará-lo. - Acho melhor não voltar mais hoje, vai passar a noite fora. - meu melhor amigo gargalhou, saindo de casa. Eu cerrava meus punhos furiosa. - O que foi? – indagou, confuso ao olhar para meu rosto, que devia estar vermelho de raiva.
- Você ainda pergunta? Ele riu, ! Achou divertido o fato de ter outro cara comigo! - sentei-me na cama, sentindo uma enorme vontade de desabar.
- Queria o quê? Que ele sentisse ciúmes? - exclamou, bufou irritado ao me olhar nos olhos e se abaixou diante de mim, como da última vez que esteve em minha casa.
Eu não entendia toda aquela atenção que recebia dele, nunca havia imaginado que alguém tão bonito como fosse olhar para mim! Bom, já havia acontecido com Tomlinson, mas uma sorte dessas, não temos duas vezes na vida, é apenas uma, e eu não tinha ficado com Tomlinson, quem sabe não é a vida me dizendo que há outros homens além dele no planeta Terra.
- , não faria sentido ele se enciumar se disse que não queria mais ficar com você. – explicou, fazendo-me assentir quando o que eu mais queria era chorar. - Agora venha, você tem um jantar para ir, e não deveria deixar que ele, nem ninguém atrapalhasse seu sonho. Essa é sua chance, . - puxou-me pela mão. Procuramos algo e logo fui empurrada para o banheiro. Depois de vestida, finalmente saímos em direção ao carro dele que, pasmem, ainda não tinha sido roubado.


Capítulo 7

- ... – chamei, ao perceber que o carro reduzia a velocidade enquanto ele estacionava, me encarou após desligar o veículo. - Se eu quisesse voltar para casa, você me levaria? – indaguei, receosa.
- Não. , não tem o que temer! Eles vão te adorar, tenho certeza. - se inclinou sobre mim, tirando meu cinto de segurança, coisa que eu, nervosa como estava, parecia impossibilitada de fazer. - Principalmente o meu pai, ele quer muito conhecer a nora dele. - arregalei os olhos.
- Você não...
- Não, não falei nada, só estou brincando com você. - lhe bati, enquanto ele ainda ria. desceu do carro, o contornando e abrindo a porta do passageiro para mim, puxando-me pela mão. - Vem, vamos logo! Como pode escrever sacanagem e não ter coragem de falar com os outros. - o estapeei durante caminho que fizemos do jardim até a casa.

(...)

Dias haviam se passado após aquele jantar incrível, e eu havíamos saído algumas vezes, mas sem beijos ou carícias, o que havia deixado Lexi desconfiada. Éramos apenas bons amigos que começaram de um jeito mais... íntimo. Eu já havia misturado amizade com amor e sabia muito bem no que resultava, portanto já estava decidido: Amigos não se beijam, não transam e nem flertam, apesar desse último caso não ser válido para , que vez ou outra me paquerava na maior cara de pau.
Havia assinado um contrato com a editora Style e estava soltando fogos de artifício de tão feliz que estava por, finalmente, realizar meu grande sonho. Queria poder correr até ele, contar para , porém, não poderia, a distância ainda machucava, ele morava na rua ao lado, mas pareciam milhas e milhas de distância.
Era oficial, ele e Sandy eram um casal, estavam num restaurante e ele simplesmente lhe pediu em namoro, segundo minhas fontes, foi assim que aconteceu. Eu estava parecendo a mulher traída no meio daquela história melosa de amor. Assistia a um filme jogada no sofá, animações eram a melhor opção para o meu caso, não havia romance, casais ficando juntos e nem sempre os finais felizes acabavam com um casamento. Era um tanto estranho como uma mulher de vinte e dois anos poderia facilmente ser confundida com uma criança de onze, que nada sabe sobre o amor, apenas o sente, e que tenta fugir de todos os problemas inventando histórias e vendo desenhos.
Ouvi batidas na porta e me levantei de má vontade, dei de cara com , arrumado e preparado para o jantar que tínhamos combinado, mas que não iria acontecer. Era depressivo ver casais juntos e até assistir a pedidos de namoro, como houve com e Sandy.
- Ué, não está pronta? - perguntou com a testa franzida ao notar minhas vestimentas, eu usava um pijama, o mais maduro que eu tinha, composto por uma blusa sem desenhos ou estampas, e uma calça xadrez.
- Desculpa, , mas não estou com ânimo para nada. – murmurei, o deixando entrar, ele vestia seu típico jeans escuro e justo, e uma camisa com os primeiros botões abertos, deixando à mostra suas tatuagens.
Estava lindo, como sempre. Acho que tenho um leve ataque cardíaco por homens tatuados, apesar de que os vários desenhos espalhados pelo corpo de e não serem lá muito másculos.
- O que o fez dessa vez? – indagou, suspirando, como se já estivesse cansado daquilo.
É, e ele não era o único, meu coração estava dando seus últimos sinais de aviso, logo ele pararia de tentar ter o de . E era melhor assim, eu havia cansado de sentir a falta dele.
- Pediu Sandy em namoro. - mordi meu lábio, segurando minhas lágrimas. Eu decidia algo, mas meu corpo simplesmente não obedecia, chorar a cada vez que o novo casal dava mais um passo havia ficado inevitável. E falar aquilo em voz alta machucava ainda mais.
- , olha, eu não quero brigar, muito menos te magoar. – disse, passando as mãos pelos cabelos. - Por isso já vou indo. - assenti de cabeça baixa, sem conseguir olhá-lo nos olhos.
deu passos até mim e beijou minha testa, segurando-me firmemente pela cintura. Quando ele saiu, parecia que havia tirado algo de mim, um vazio imenso me atingiu, fazendo-me desabar em choro. Ele não havia me dito nada, mas só por saber o que ele pensava, e pior, que ele estava certo, tinha me atingido em cheio.
Um tempo depois, levantei-me, indo tomar um banho, precisava dormir até recuperar minhas energias, para, talvez, conseguir fugir do bloqueio que estava tendo. Após sair do banheiro, já vestida, fui até a sala desligar os aparelhos, parei ao ouvir batidas em minha porta. Estranhei. Quem poderia ser? Após destrancar a porta, o encarei, confusa.
- Em Attraction, Lily só se animava com sorvete. E eu pensei, será que também não se animaria? Fui até o mercado e comprei dois potes. - o assistia, encostada no batente da porta, tinha consigo duas sacolas.
- Você não existe. – falei, sorrindo fraco, dando-lhe espaço para entrar.
- Ia dormir? Está cedo. – indagou, ao ver praticamente tudo desligado. Assenti, indo até a cozinha, pegando colheres.
- Bom, não vou mais. - sentei-me no sofá, o esperando. Liguei a TV, zapeando alguns canais, parando em Friends, eu amava aquela série.
- Gosta de Friends... – murmurou, observador.
- E quem não gosta? - enchi uma colher, levando-a até a minha boca. - Estou ansiosa para a quarta temporada, onde Chandler e Mônica ficam juntos. Sempre torci para o casal.
- Por quê? - encarou-me, parando de remexer seu sorvete napolitano.
- Ah, ele era um dos melhores amigos dela e a conhecia como ninguém. Ele era o cara certo dela. - respondi com um sorriso sem graça ao me lembrar de . – Mas, vamos mudar de assunto? - indaguei, coçando minha nuca.
simplesmente assentiu, sem perguntar nada, talvez porque ele já soubesse, afinal, estava quase escrito em minha testa " Tomlinson, eu te amo". Só não era visível para o próprio, talvez houvesse algum erro de ortografia, ou faltasse algo como "mas não como amiga, idiota!" no final de frase. Eu adorava aquilo em , a maneira como ele se importava comigo e com meus sentimentos. Deitei em seu colo e engatamos num assunto de interesse em comum: Livros. comentou que havia retomado a leitura de Attraction depois que o pai terminou de ler, falamos, falamos e falamos, ele parecia não se cansar de me ouvir, o que me fazia duvidar seriamente de sua existência.
Acordei no dia seguinte, confusa, assim que abri meus olhos e olhei em volta vi que estava em minha cama, onde eu não me lembrava de ter adormecido. Levantei-me e, após escovar meus dentes e lavar o rosto, fui até a cozinha, avistando um encolhido no sofá. Neguei com a cabeça, ele era louco, em plena quinta-feira dormiu fora de casa, somente para me fazer companhia. O toquei suavemente, chamando-o baixinho. Seus olhos verdes se abriram devagar e suas covinhas na bochecha apareceram quando ele sorriu para mim.
- Bom dia, . – murmurei, indo fazer o café. Depois de me desejar o mesmo, foi até o banheiro, quando voltou quase me fez perder o ar.
- Tem ferro de passar? – perguntou, mostrando-me o estado de sua camisa branca.
Eu tentei olhar para ela, juro, mas sua barriga e as várias tatuagens no peito praticamente imploravam por atenção. Meu pobre coração quebrado não merecia aquilo logo de manhã. Assenti desconcertada e fui buscar o que ele havia me pedido e, sinceramente, não havia nada que ele me pedisse sem camisa que eu não faria. Eu sabia que ele era um simples amigo - muito bom de cama, devo acrescentar -, mas eu não era cega, oras!
deixou minha casa sem café da manhã e nem nada, disse que estava atrasado para o trabalho e que comeria algo no caminho. Me arrumei e liguei para Jeff, o avisando que já estava pronta. Eu era a primeira passageira do dia dele, meu taxista favorito. Seria eternamente grata a Jeff por não precisar andar de ônibus e ser incomodada pelos tarados que utilizavam o transporte coletivo.
Cheguei em minha sala após passar por mais uma prova de fogo, que era um jeito dramático de dizer que eu havia passado no banheiro feminino e sido interrogada sobre meu noivado. Mas daquela vez, por incrível que pareça, não menti, apenas ocultei o nome de meu parceiro, disse que havia ficado em casa no sofá com ele, com direito a sorvete e a filme. Elas acreditaram e se derreteram com apenas aquilo.
Liguei meu computador e fiquei encarando a grande tela, sem saber o que digitar, eu não conseguia pensar nem em um tema decente para escrever. Ouvi Animals tocar abafado, abri minha bolsa, atendendo meu celular sem ao menos me dar ao trabalho de ver quem era.
- , querida, é você? - estranhei ao ouvir a voz de tia Carmen.
- Sim, tia. Aconteceu alguma coisa? – perguntei, já ficando apreensiva, ninguém nunca me ligava, só poderia ser algo ruim. Senti meu coração se apertar enquanto a ouvia suspirar do outro lado da linha.
- Aconteceu sim, seu pai teve um ataque cardíaco. - arregalei meus olhos, assustada, logo senti um enorme nó na garganta. - Sua mãe não sabe que eu liguei, ela não deu permissão a ninguém para ligar, disse que não era para te incomodar. Eu só achei que você devesse saber.
- O-Obrigada por avisar, tia. – murmurei, ao secar uma lágrima. - Me mantenha informada, tá bom? - a ouvi confirmar. - Tenho que desligar. Beijos.
Peguei minha bolsa, indo em direção a sala do Sr. Johnson, eu precisava sair e tinha que avisá-lo. Após explicar a situação e ter sua permissão, peguei um ônibus para casa, não queria incomodar Jeff.
Incomodar. Como minha mãe pode ser capaz de achar que me incomodaria saber sobre a saúde de meu pai? Ela sempre me disse que eu era fria, distante, mas nunca fui imaginar que ela achava que eu não tinha coração também!
Corri até a conhecida rua, batendo na porta de por diversas vezes, ninguém me atendia e aquilo só aumentava meu desespero. Sentei-me no meio fio já com o rosto molhado por lágrimas, liguei para ele repetidamente e sempre dando de cara com a caixa postal. Eu não sabia o que fazer. De repente, uma ideia me veio à cabeça, ou melhor, alguém.
Tive que ligar para Jeff e estragar o horário de almoço dele, que, como sempre, atendeu ao meu chamado sem perguntas. Desci do veículo e encarei a fachada imponente do arranha-céu em minha frente. Incerta, entrei e pedi para recepcionista que me anunciasse, torcendo para que não tivesse saído ou estivesse ocupado. Assim que minha entrada foi liberada, adentrei a sala com os olhos cheios de lágrimas novamente, quando me viu, ficou confuso e o sorriso foi sumindo aos poucos.
- O que houve? - indagou. Minha reação imediata foi fazer o que eu mais queria e precisava fazer, o abracei o mais forte possível, e fui correspondida, para o aumento do meu choro. sentou-se em uma grande cadeira giratória colocando-me em seu colo. - O que o ... - começou a falar, bravo. O interrompi rapidamente.
- É o meu pai... Ele teve um ataque cardíaco, . - seus braços envolta de mim puxaram-me ainda mais para perto. sim era amigo de verdade, aquele que te dá colo e que te consola quando você mais precisa. Aquele que sempre está lá para você.
- Vai visitar ele? - indagou após ver que eu havia me acalmado e meu choro cessado. Solucei enquanto afastava minha cabeça de seu ombro, encarei seu rosto e percebi que não tinha uma resposta imediata para aquela pergunta.
- N-Não sei, as coisas com minha família são tão complicadas, eu já te contei, você sabe. Não quero ter que encará-los.
- E se eu for com você? - sugeriu. O olhei com desconfiança. Ele faria aquilo por mim? - , você não pode fugir deles, eles são sua família. E você sabe mais do que ninguém que esse mundo que você construiu aí dentro... - apontou o para minha cabeça. - É incerto, que um dia vão descobrir suas mentiras, e quando isso acontecer, só as pessoas que realmente te amam vão ficar do seu lado. - entortei a boca, o olhando nos olhos. falava com convicção, e a relação de cumplicidade que ele tinha com o pai me dava certeza de que ele estava certo. - A nossa família é a única coisa certa que temos na vida. - depositou um beijo na ponta de meu nariz vermelho por conta do choro.
- Obrigada.
- Sabe que não precisa agradecer. - nos levantamos e caminhamos até a porta, que só foi aberta após eu me recompor. - Então, partiremos pela manhã. Hoje tenho que resolver algumas coisas com meu pai. – assenti, mordendo meu lábio. Me despedi dele, caminhando em passos lentos pelo corredor que dava para a recepção. Virei-me assim que ouvi sua voz atrás de mim. - Ei, vai ficar tudo bem. - colocou a cabeça para fora da sala, sorri fraco, concordando.
Ou melhor, confiando nele.

Capítulo 8

O medo. Um sentimento que afeta a todos nós, seres humanos. Algumas pessoas têm medo de cobras, outras da morte, mas o que eu mais temia era o que estava prestes a fazer.
Não era daquela maneira que eu tinha planejado voltar naquela casa, assim como meu pai também não tinha planejado ter um ataque cardíaco, nada daquilo havia sido planejado, aliás, nada de ruim que acontece nas nossas vidas é. Há quem diga que, às vezes, algo ruim acontece para que algo bom venha depois. Eu sinceramente nunca acreditei nisso, coisas ruins nunca virarão coisas boas no futuro, é como perder alguém que se ama, a saudade não é um bom sentimento.
Dar valor enquanto tem, é nisso que acredito, infelizmente não pratico muito o que prego, afinal de contas, me encontrava dentro de um carro seguindo viagem até a casa de meus pais apenas depois de receber uma má notícia. E se eu não tivesse atendido a ligação? Estaria na Desire trabalhando como sempre, sem ao menos passar por minha cabeça a imagem de meu pai. Foi preciso quase perdê-lo para que as lembranças dele voltassem em minha memória.
Infelizmente, a única lembrança ruim que tinha dele foi justamente minha última. Lembro-me de seus gritos, seu rosto vermelho de raiva e das lágrimas que escorriam pelo rosto de minha mãe, que parada aos prantos ao lado de meu furioso pai, assistiu o táxi em que eu estava seguir em frente e dobrar a esquina. Além de meus sonhos e roupas, eu carregava medo, arrependimento, via com a visão embaçada as tão conhecidas casas da vizinhança passarem praticamente voando pela janela do veículo que me levava para longe daquela cidade caipira, senti tanto remorso, tanta vontade de descer e correr de volta para casa. Irônico seria dizer que nada havia mudado, os mesmos sentimentos habitavam o meu ser, e o medo de revê-los era o maior de todos.

Descemos do carro e enquanto tirava minha pequena mala junto da sua, eu contemplava meu verdadeiro sinônimo da palavra lar. Batemos na porta e aguardamos, permanecia impassível, ao contrário de mim, que tremia da cabeça aos pés. Eu não imaginava qual seria a reação deles, mas algo me dizia que não seria das melhores.
- O que faz aqui? - mamãe atendeu a porta, encarando-me, séria.
A analisei por um instante, cabelos presos numa trança lateral, estava de vestido, como sempre, e o avental florido indicava que ela estava cozinhando. Quis abraçá-la, acariciar seus cabelos que já começavam a ficar grisalhos, e chorar tudo o que havia guardado, tudo o que havia me feito sofrer, em seu ombro. Eu tinha sofrido tanto longe daquele abraço. Mas óbvio que nem eu, nem ela, movemos um dedo.
- Vim ver o meu pai. - ela suspirou, nos dando espaço para entrar.
- Não precisava vir, ele está ótimo. – resmungou, de braços cruzados, nos observando adentrar a sala de estar com nossas malas.
- Preferi vir checar, já que ninguém nunca me dá notícias. - joguei a indireta, a encarando com as sobrancelhas arqueadas. respirou fundo, desconfortável, por prever que estava próximo de presenciar uma discussão familiar. Mal sabia ele que aquilo era frequente naquela casa.
- O sujo falando do mal lavado. – riu, amarga. - Nunca liga, não deve me cobrar algo que você mesma não faz. - rebateu, jogando meu erro em minha cara.
Infelizmente ela estava certa, eu nunca ligava para casa, nem quando precisava, muito menos quando não precisava. Eu era orgulhosa demais para discar o número e completar a ligação, orgulhosa demais para admitir meus fracassos para meu pai. Eles nem sonhavam que eu havia me mudado para Enfield, um bairro tão horrível que sua má fama chegava até naquela cidadezinha chinfrim.
- ? Oh, meu Deus, há quanto tempo! - sorri com os olhos marejados para Tessa, que descia as escadas apressada e sorridente. Pelo menos uma recepção calorosa. - Ouvi sua voz e pensei estar louca. – comentou, abraçando-me, retribui morta de saudades de minha irmã mais nova. - E você, quem é? Meu cunhado? - arregalei os olhos, minha família era levemente inconveniente na maioria das vezes, e aquilo me envergonhava um pouco.
- Ah, esse é , um amigo meu. - respondi por ele, ao notar um pequeno sorriso maldoso escapar de seus lábios. - Ah... Cadê sua barriga? – indaguei, assustada ao notar a falta de volume em seu ventre, era para ela estar de oito meses! Ou eram nove?
- Summer está lá em cima, aquela pequena dorminhoca. – assenti, magoada. Poxa minha primeira sobrinha nascia e ninguém me avisava? Quando eu saberia da existência dela? No convite do baile de 15 anos? - Irá ficar quanto tempo? – perguntou, em expectativa.
- Esse fim de semana apenas, não podemos demorar aqui. - o sorriso que Tess carregava no rosto murchou. - E então, como ele está?
- Papai está descansando agora. - disse. - Vem, vamos lá para cima, vocês precisam se acomodar. - nos chamou. Peguei a alça de minha mala enquanto fazia o mesmo com a sua, e fomos em direção às escadas.
- Não vá acordar seu pai, principalmente se for com . Vou conversar com ele primeiro. - mamãe se pronunciou da ponta da escada, parei no degrau em que estava, processando o que eu havia acabado de ouvir. Ela praticamente insinuou que eu poderia agravar o quadro dele, e olhe só, ela tinha razão novamente. Do jeito que fui embora, seria compreensível se ele nunca mais quisesse me ver, nem pintada de ouro. - Desçam depois para almoçar.
- Sabe onde fica seu quarto. - minha irmã murmurou ao ouvirmos um choro estridente vindo de um dos quartos. Me surpreendi ao ver a porta tão familiar para mim. A abri, encontrando tudo em seu devido lugar.
- Tudo aqui tem a sua cara. - comentou ao olhar em volta, fechei a porta atrás de nós, em busca de privacidade. As paredes roxas, os recortes de revista, o meu mural de fotos do colegial, os ursos de pelúcia que eu tanto amava.
- E eu que pensei que não teria mais nada disso aqui. – murmurei, baixinho. - , eu fui praticamente banida da família. - o olhei com os olhos já marejados.
- Não fale assim, , eles te amam e você sabe disso.
- Se me amassem, entenderiam que meu lugar não é aqui, que eu nunca seria feliz aqui. - neguei com a cabeça. me abraçou forte enquanto eu pensava em como seria vê-lo novamente.
- Talvez eles não sejam felizes sem você. - se afastou, secando minhas lágrimas. - Você poderia tentar ter mais contato com eles. - colocou uma mecha fujona atrás de minha orelha. – assenti, concordando.
- Obrigada, por tudo. - o olhei nos olhos, vendo o costumeiro brilho.
Ele era incrível, e claro que o próprio já sabia daquilo. beijou minha testa, arrancando um sorriso meu. Logo em seguida, depositou outro na ponta de meu nariz, sua boca desceu, passando bem próxima da minha, e beijou meu queixo. Estávamos ali, a centímetros de distância de nos beijarmos novamente após tanto tempo apenas sendo amigos.
- Olha a tia ali. - a porta foi aberta, demos um pulo de susto e disfarçamos o quanto pudemos. Me recuperei ao bater meus olhos na pequena criatura que me encarava, curiosa, nos braços de Tessa. Sorri indo até ela, chegando mais perto da pequena. - Pegue-a. - estendeu-me o bebê, a acomodei em meus braços, trêmula. Summer parecia que iria se quebrar a qualquer momento, de tão frágil que era.
- Olá, meu amor. – sussurrei, sem parar de sorrir, a bebê apenas me encarava com aquele par de olhos azuis que havia herdado do pai. Vez ou outra mexia os bracinhos. Dei passos até , que também tinha suas atenções voltadas à minha sobrinha. Summer sorriu ao focá-lo e segurou firme o dedo indicador de entre os seus. - Parece que ela gostou de você, quer pegá-la? - ele olhou, incerto, para Tess, que assentiu, o incentivando, e logo a tomou em seus braços, que com certeza eram mais aconchegantes que os meus.
- , seu pai quer falar com você. - mamãe apareceu no batente da porta.
encarou-me, sério, e sussurrou um desejo de boa sorte, logo voltou a brincar com a pequena. Assenti e passei por ela, que observava, sorrindo, a neta com o mais novo amigo dela. Em passos lentos e receosos, cruzei o corredor e adentrei o quarto de meus pais.
- Quando sua mãe me disse que estava aqui, pensei ser até um sonho. - ouvi sua voz, que foi uma dose de calmaria para meu turbulento coração. Virei-me após fechar a porta, o fitando, ele estava bem, para o meu alívio, estava de cama, apenas de repouso.
- Oi, pai, o senhor está bem? - agradeci a Deus por minha voz não ter falhado, sentei-me na poltrona perto da cama, o fitando.
- Vai ficar apenas dois dias, não é? Já era de se esperar. – riu fraco, ignorando minha pergunta. - Você nunca gostou daqui mesmo, acha que somos um bando de caipiras pobres, não acha?
- P-Pai, eu não...
- Não ouse mentir para mim, sei muito bem o que pensa. - interrompeu-me, fazendo-me abaixar a cabeça por alguns instantes.
- Não acha que já chega de me julgar por correr atrás dos meus sonhos? O que eu poderia fazer aqui? Hã? A faculdade mais próxima fica na cidade ao lado, não tem um emprego decente para mim aqui, por Deus, pai, eu não poderia simplesmente ficar sonhando acordada, vendo minha vida passar diante de mim, presa nesse lugar patético. – desabafei, vendo sua feição mudar, eu havia colocado tudo para fora, e ele também tinha esse direito, apesar de ter sido escutada sem interrupções. Minha vontade era correr dali antes mesmo que ele abrisse a boca.
Porque eu sabia que ele estaria certo, e sabia o peso que suas palavras tinham sobre mim. Iria doer. Machucar. Magoar.
- Olhe só para você, nem faz tanto tempo que se foi e já está agindo como eles, os engravatados rudes e esnobes da cidade grande. Me responde mal, veste roupas caras, e ainda por cima, critica meu ganha pão. Esse seu "nem trabalho que preste" te alimentou por anos, então seja menos mal agradecida. E não venha me falar de sonhos, pois eu também tinha os meus quando sua mãe engravidou de você, eu os larguei por você, e vejo que tudo foi em vão, você não fez o mesmo por mim. - eu soluçava, sentindo meu coração morrer aos poucos. Ouvir tudo aquilo era como levar tiros no peito, e papai parecia descarregar uma metralhadora em mim, pois a cada palavra, eu me sentia atingida por uma bala. - Eu vi minha vida passar diante de meus olhos, vi a sua também, assim como te vi me dar as costas e ir embora. Imagina como me sinto agora? - se levantou da cama para me confrontar, fiz o mesmo, o encarando, ainda chorosa.
- E eu? Como me sinto? Ninguém jamais pensou no meu lado? Eu quero um futuro melhor para mim, isso é um direito meu! Acha que eu iria querer ter filhos aos dezenove anos como a Tessa? Iria me casar aos dezoito somente porque não iria arranjar um homem melhor por aí? Pai, eu quero muito mais do que trabalhar na loja com o senhor, quero muito mais do que um homem que me engravida e vai para rua procurar uma para... - senti meu rosto formigar, cai sentada na poltrona, incrédula. Seus dedos com certeza estavam gravados em minha bochecha.
- Não fale de sua irmã! Ela sempre esteve aqui, diferente de você, que foi para cidade para ganhar dinheiro fácil! - arregalei meus olhos ao ouvi-lo insinuar que eu seduzia homens para ganhar a vida, na verdade, seduzir foi o termo mais leve que consegui encontrar para não pensar que ele realmente havia me chamado de vadia.
A porta foi aberta abruptamente, e logo mamãe entrava juntamente de e Tess. As duas correram até meu pai, o sentando na cama e o contendo, já veio até mim, pegando-me com delicadeza pelo braço e me tirando dali. Eu não sabia para onde íamos, estava tudo embaçado por conta das lágrimas, e tudo ao meu redor parecia estar girando, eu estava ofegante e tremia da cabeça aos pés. Fui sentada na cama, soluçando sem parar. O barulho dos disparos ainda atormentavam minha cabeça, e o cheiro de pólvora adentrava minhas narinas. É, meu coração tinha sido atingido em cheio.
- , calma, respira, calma. - me abraçou forte, enquanto meu abdômen subia e descia rapidamente, eu simplesmente não conseguia parar de chorar, meu coração batia num ritmo frenético. - Eu estou aqui, shh... - acariciava meus cabelos e costas, e como resposta, eu apenas encharcava sua blusa.
devia estar pensando onde se metera, se xingando por ter vindo, aliás, eu não o julgaria, eu mesma estava pensando aquilo.
- N-Nós... Nós não deveríamos te-er vindo. - eu soluçava, gaguejava, na verdade, nem eu mesma sabia o que fazia. - Temos que ir embora... - sai do calor de seus braços, tropeçando pelo quarto e indo até as malas.
- Não vamos a lugar algum. Você vai se resolver com seu pai ou não me chamo ! – ordenou, me puxando de volta para a cama. Fitei o chão, como se ele tivesse muita importância. - Você veio para cá porque recebeu uma ligação, ele está bravo porque você se mudou para longe, mas sabe o que eu vejo? – suspirei, o encarando. - Vejo um pai cheio de saudades da garotinha dele, e uma filha preocupada. eu te recebi em meu escritório, vi como você ficou desnorteada quando soube que ele não estava bem. Vocês dois são teimosos demais, orgulhosos! Se querem realmente se acertar estão fazendo isso muito errado, , jogar na cara, brigar, gritar, bater! Tudo isso não resolve e nunca resolveu nada. - mordi meu lábio.
Era engraçado como todos sempre estavam certos, e eu sempre errada, sempre fui toda errada mesmo.
- Então, como eu faço para ter o meu pai de volta? – murmurei, com a voz rouca, baixinho, como se estivesse contando um segredo. E era um, a verdade é que eu não queria que ninguém soubesse o quão perdida eu estava, logo eu, a espertalhona que saía de saias justas mentindo, sem saber o que fazer.
- Ué, cadê aquela garota linda que conheci há um tempo? , ou qualquer outro apelido dado a ela, aquela que é confiante, que tem milhares de seguidoras e leitoras, aquela que escreve muito bem? Aquela que é criativa e segura de si? Onde ela está?
- Sabe que não sou ela. - funguei.
- Não fale dela como se ela existisse. Você é ela , e não precisa estar atrás de uma tela de computador para assumir a personalidade forte dela. Coloque a cara a tapa e vá falar com seu pai. - a porta se abriu, revelando mamãe, que entrou depressa.
- Deixe-me ver.
Virei o rosto do lado onde havia recebido o tapa. Trinquei minha mandíbula, mordendo minha língua para não brigar, eu sabia o que ela diria. O famoso eu te avisei, e pior que ela tinha mesmo avisado para eu não ir falar com ele. Mas, como sempre, eu não a escutei. Para minha surpresa, senti seus braços ao meu redor, mamãe abraçou-me e, como sempre fazia, acariciou o local do tapa, foi como se tudo melhorasse. Quando criança sempre fui muito levada, e eu sempre corria para os braços de minha mãe após levar algumas palmadas de meu pai.
- Vamos descer, devem estar famintos. – comentou, me soltando. e eu a seguimos pela casa. Enquanto descíamos, podíamos sentir o cheiro da comida. Ah, como eu tinha sentido falta daquilo.

[...]

Capítulo 9

Era domingo. O dia anterior havia sido conturbado e parecia não ter fim. Mas teve, e o que também estava perto do fim era nossa estadia em casa. Encarava o teto de meu quarto em busca de soluções para meus problemas, como fazia em minha adolescência, ele havia me ajudado tanto a refletir naqueles tempos, pena que o efeito não era duradouro, pois eu adoraria saber o que fazer com relação a meu pai.
A respiração quente de batia em meu pescoço, causando-me pequenos arrepios. O fitei, sorrindo, estávamos espremidos em uma cama de solteiro, minha antiga cama e o lugar exato onde eu havia perdido minha virgindade com um namorado da escola. Gargalhei, tentando abafar minha risada com as mãos, lembrar de nossas primeiras experiências sempre gerava risadas, relembramos o que estávamos sentindo naquele dia, o que estávamos vestindo, do desespero de não saber o que fazer, da inocência de achar que cada sensação nova era algo tão extraordinário que parecia que nunca mais sentiríamos tal coisa. O que era um grande erro, senti as mesmas coisas com , e, por mais estranho que parecesse, com as sensações triplicavam e até novas surgiam. Vai ver ele era só bom de cama.
- O que foi? - indagou, com os olhos entreabertos, sorri com a cena, seus cabelos estavam desgrenhados assim como os meus. Mas aquela voz ao amanhecer... Por que ele tinha que falar tão sexy, por que ele tinha que ser tão sexy? Cara, até a respiração dele era sexy. Ri novamente com meus pensamentos. - Anda, fala!
- Nada! É que... Essa cama tem muitas histórias pra contar. - murmurei, gargalhando. negou com a cabeça, encarando-me e sorrindo maliciosamente. - Inclusive, ela presenciou a primeira de todas. - completei, sussurrando.
- Você perdeu sua virgindade aqui? - exclamou, arregalando os olhos, tapei sua boca rapidamente.
- Espere todos acordarem, aí sim você espalha para romundo ouvir! - murmurei, sarcástica. - Quer que meus pais te ouçam?
- Não. Quero te propor uma reinauguração. - não tive outra reação a não ser rir daquilo.
Lágrimas saiam de meus olhos enquanto eu gargalhava de olhos fechados, houve uma pequena movimentação na cama. Assim que abri meus olhos, o encontrei praticamente em cima de mim, diminui minhas risadas.
- Eu posso fazer o papel dele, olhe só, posso fingir que não sei o que fazer. - ri mais uma vez, sentindo beijos em meu pescoço, seus lábios tocaram os meus e apesar de minha confusão e do riso preso na garganta, retribui. - Oh, e agora? O fecho do sutiã é atrás ou na frente? Que dúvida cruel. - recitou em meu ouvido, fazendo graça, fiquei séria assim que senti seus dedos tocando suavemente meu abdôme, proporcionando-me arrepios, suas mãos subiram até meu busto, encaixando-se em meus seios, massageando-os.
Soltei um gemido e o puxei pelo pescoço, emaranhando meus dedos em seus cabelos macios, o beijando. Nossos pijamas foram espalhados pelo quarto na mesma velocidade em que as coisas esquentavam entre nós, minha pele estava arrepiada e minhas pernas entrelaçadas na cintura de , que dava estocadas cada vez mais rápidas.
Minhas unhas pretas faziam desenhos desconexos em suas costas com arranhões que deixariam marcas enquanto sua boca colava-se a minha na tentativa de abafar os gemidos cada vez mais incontroláveis e altos. Logo, caía ao meu lado exausto e suado, assim que percebeu que era observado, olhou-me de volta com seus cabelos castanhos grudados em seu rosto por conta do suor.
Com a coberta cobri meus seios, eu odiava o fato deles serem tão pequenos, virei-me para o lado oposto, odiava também os meus olhos, e a maneira como eles me traiam e transpareciam coisas e sentimentos que minha boca era incapaz de pronunciar. Odiava tudo em mim, principalmente meu cérebro e meu coração, que viviam em constante guerra por território. Meu coração teimava em dizer que e eu estávamos fazendo amor, mas meu cérebro era do contra, respondia dizendo que amigos não faziam aquilo e relembrava o quanto eu tinha sofrido na última vez que o coração havia vencido a discussão.
- , eu... Eu sabia! - me cobri mais ainda ao ver Tessa parada na entrada de meu quarto, minha irmã mais nova abriu um sorriso malicioso ao nos contemplar assustados e descabelados na cama. - Não tinha engolido aquela história de que eram amigos! Quem é apenas amiga de um gato desses? - exclamou, como se tivesse descoberto a América. - Claro que também cogitei a possibilidade de ele ser gay. Como esses homens da cidade grande são, vai saber né...
- Acho que o que acabou de acontecer nessa cama acaba com suas dúvidas sobre minha masculinidade. - respondeu rápido, fazendo-me querer cavar um buraco e ir para o andar debaixo sem usar as escadas. Lhe bati no braço. - Ouch!
- Fique tranquila, , eu sei muito bem o que fizeram. Acha que Summer veio de cegonha? - riu, indo até a porta. Suspirei aliviada assim que a porta foi fechada, corri em direção ao banheiro para tomar um banho. Não arriscaria ser pega no flagra por um de meus pais.
Após esperar sair do banho, descemos para o café da manhã, papai estava sentado à mesa, para minha surpresa, já que desde que minha chegada ele não participava das refeições à mesa.
- Gostei dele, e tem mais, aprovo vocês juntos. - quase deixei um dos pratos em minha mão cair. e papai haviam trocado algumas palavras durante o jantar, logo depois, sentaram-se no sofá e falaram sobre futebol e assuntos masculinos enquanto mamãe e eu arrumávamos a cozinha.
- Que isso, mãe! Somos só amigos. - murmurei, sentindo meu rosto esquentar. Ela parou o que fazia para cruzar os braços e me encarar com as sobrancelhas arqueadas. - Tessa te contou! - exclamei, incrédula. Eu ia matar ela.
- Não, nem precisou. Digamos que ouvi alguns "barulhos". - fiquei boquiaberta. Ok, talvez eu me matasse de vergonha. - Não perca seu tempo tentando me enganar filha, a louça na pia te espera.
Eu lavava, ela secava, como fazíamos na minha infância, quando eu amava lavar a louça e, para eu não correr o risco de quebrar todos os pratos e copos da cada, mamãe me colocava de joelhos em uma cadeira e me deixava lavar.
- Só criança mesmo para ver algo de divertido nisso. - comentei, rindo. Relembrávamos coisas da minha infância enquanto fazíamos as coisas. Mamãe estava menos arisca e eu agradecia a Deus por pelo menos aquilo.
- Ei, quer fazer torta holandesa? - sugeriu.
- Papai e eu amamos torta holandesa. - respondi sem ao menos pensar. Em minha cabeça, imagens de eu e meu pai lambuzados de torta passavam, fazendo-me sentir saudades.
- Por isso mesmo. - me deu uma piscadela, deixando-me sozinha e confusa no cômodo ao ir até a dispensa buscar ingredientes.

[...]


Após o almoço, subi para escovar os dentes e colocar meu celular para carregar, quando retornei à cozinha, não havia ninguém. Procurei pela casa toda, tirando os banheiros e o quarto onde meu pai estava, claro, e não os achei. Dei de ombros, descendo novamente para a cozinha, parei assim que o vi sentado à mesa com sua costumeira xícara de café pela tarde, pensei em fugir, subir e esperar que os outros viessem, mas também pensei em ficar e resolver aquilo de uma vez por todas.
- Mamãe e eu fizemos torta holandesa. - murmurei, passando por ele e abrindo a geladeira, tirando a sobremesa e colocando-a na mesa. Cortei duas fatias e sentei-me ao lado dele, empurrando devagar um dos pratos até ele, que ainda não tinha se pronunciado e me deixava nervosa por não abrir a boca. Comi um pedaço, o observando fazer o mesmo, pelo menos da torta ele tinha gostado. - Se lembra daquele dia em que mamãe me negou um pedaço e eu fiquei doente? Eu estava de castigo e o senhor me levou torta no meio da noite, escondido dela, devoramos tudo sozinhos, num completo silêncio. Como agora. - falei baixinho. Papai parecia impassível, encarava a janela aberta que dava para o quintal, praticamente ignorando-me. - Você sempre foi o culpado por eu ser tão mimada assim, tudo o...
- Chega. Eu não quero ouvir. - disse com frieza, pegando seu prato.
Engoli a seco, segurando minhas lágrimas.
- Não vá. - peguei em seu braço, encarando-o de pé. Estava sendo difícil engolir meu enorme orgulho, que praticamente me sufocava a cada tentativa minha, era humilhante falar e ser ignorada.
- Por que eu deveria ficar se você não fez o mesmo quando eu pedi?
- Pai, chega de acusações, de discussões. Eu te amo e quero voltar a ter o seu carinho, então, por favor, podemos sentar e conversar civilizadamente?
- Quem ama mesmo não vai para longe, sua irmã sim me ama. - meus olhos lacrimejaram enquanto eu me segurava para não chorar de novo na frente dele.
- Eu, sinceramente, duvido que Tess seja uma filha perfeita, e muito menos que te ame mais que eu, sua caçula, sua garotinha. Ela nunca foi a mais próxima do senhor, eu é que era sua melhor amiga, sempre fui.
- Não é mais. Minha menininha não faria isso, minha adorava essa cidade e amava ajudar a trabalhar na loja. Eu não te reconheço mais.
- O senhor não pode simplesmente esquecer de minha existência apenas porque eu não fiz o que você sonhou para mim, pai. Se me amava tanto como diz, deveria ter me deixado ir, pois quem ama quer ver o outro feliz. Mas parece que minha felicidade não conta, não é?
- Claro que conta. Você não tem ideia de quantas noites eu passei em claro preocupado com as notícias que via na televisão, quantas refeições fiz pensando se você já havia comido. A vida lá é difícil, eu não queria que uma de minhas meninas sofresse, e o pior, sozinha.
- Se é isso que te aflige, fique tranquilo, pai, tenho trabalho e uma casa para morar. - ocultei detalhes, claro. - Tenho uma estabilidade lá que nunca imaginei ter! - não era lá uma maravilha morar num mísero cômodo, mas só de conseguir realizar meus sonhos, aquele lugar virava uma tremenda mansão.
- Então por que não vai embora logo? Ande, pegue sua mala e vá para a sua casa. Não sei nem o que veio fazer aqui. - resmungou.
- Essa é a minha casa, pai. Mas eu não posso largar tudo o que tenho lá para ser infeliz aqui. - argumentei, atraindo seu olhar para mim. Pelo menos ele olhava na minha cara. - Eu vim porque estava preocupada com o senhor.
- Então eu terei que ficar doente para você se lembrar que eu existo? - fez birra. Ri fraco, entendendo o real motivo daquela raiva toda, e daquela resistência em me perdoar.
- Não, mas terá que ligar. Se é isso que te magoa, podemos fazer um trato. - propus, enquanto ele me analisava. - Eu posso ligar e vir passar o natal aqui, e o senhor, voltar a ser o meu pai, porque eu não suporto saber que machuquei o meu herói. - seu abraço era reconfortante. Me senti aliviada ao ouvi-lo me chamar de minha menina. As coisas voltavam a ser como sempre foram.

- Adeus, mamãe. - a abraçei forte, gravando cada detalhe, e principalmente o cheiro de seus cabelos. Fui até Tess, beijando a testa dela e aproximando-me do pequeno rostinho de Summer, enchendo-a de beijos. - Se cuidem, hein. - sorrimos. colocava as malas no carro e eu não me sentia pronta para ir, queria saber onde estava meu pai. Virei-me, dando de cara com ele. - Acho que chegou a hora de ir. De novo.
- Eu sempre quis que vocês fossem felizes, e minha filha, se a cidade grande te faz feliz, seu lugar é lá. - disse durante o abraço. Assenti, beijando sua bochecha. - Volte logo.
- Fique tranquilo, pai, eu sempre vou voltar para vocês. - sorri, entrando no carro junto de , que deu partida no veículo, saindo pela rua.
Pelo retrovisor os via acenar, e pela janela via tudo sendo deixado para trás, era como um flashback do dia em que fui embora, só que daquela vez, eu sentia que tudo estava certo. Lágrimas fujonas escorreram pelo meu rosto, encarou-me, sorrindo enquanto eu as secava.

[...]


Sai do táxi de Jeff, me despedindo, saltitante. Era tão bom respirar o ar poluído da cidade grande, ouvir as buzinas no trânsito quilométrico e o falatório das pessoas que iam e vinham pelas ruas de Londres. Ok, não era não, mas eu era completamente apaixonada pela agitação dali, não conseguiria sequer pensar em viver novamente onde nasci, com toda aquela calmaria de cidade pacata.

Entrei feliz em minha sala após voltar da presidência, onde tinha conversado com meu chefe. Liguei meu computador, temendo o terrível bloqueio que me acompanhava desde que e eu havíamos saído para ir à casa de meus pais. ... Imagens daquela manhã de domingo invadiam minha cabeça, fazendo-me arrepiar meu corpo inteiro. Sem ao menos perceber, já digitava num novo documento do word.
"Sentir o corpo nu da pessoa que você ama junto ao seu. Sabe, pele com pele, mordidas, beijos, gemidos contidos, pernas entrelaçadas.
Adormecer ouvindo o som mais delicioso do mundo, a batida do coração que já te pertence. Saber que é a principal causa para ele bater tão rápido. E, ao amanhecer, acordar e ter braços envolvendo seu corpo te protegendo do frio que às vezes faz pela manhã, ou ter olhos ternos velando seu sono.
Tem coisa melhor? Sentir a respiração dele bater levemente contra sua nuca ao acordar. Como se dissesse "fique tranquila, eu ainda estou aqui, durma mais um pouco, eu te protejo dos pesadelos." Sempre é incrível saber que pode-se dormir mais um pouco, não é? Tá, brincadeira. Incrível mesmo é ter alguém que prefere você quando tem milhares na dele, que ele prefere aguentar suas loucuras, esquisitices, manias feias e ainda assim querer ficar contigo na cama quando você desperta no dia seguinte, e fora o susto que ele não leva ao te ver sem maquiagem e descabelada. Mentira, ele sempre vai te achar linda e sempre vai querer um segundo, terceiro ou quarto round da noite passada. Afinal de contas, homens adoram sexo pela manhã... Na verdade, também pela tarde, noite, madrugada... Para eles, não importa a hora. Mas para nós, mulheres, também. Tem coisa melhor do que acordar já fazendo amor? Começar o dia se sentindo amada."

Postei, relaxando na cadeira. Era ótima a sensação de alívio que se apoderava de mim ao conseguir escrever novamente. Eu ficava a ponto de enlouquecer se passasse dias e dias sem escrever. Um tempo depois, sai para o meu merecido almoço, no caminho checava minhas redes sociais, rindo alto com os comentários do Twitter. Minhas leitoras insinuavam coisas, diziam que a noite havia sido boa e que, como as coisas andavam, talvez eu subisse ao altar já grávida. Ou seja, elas não prestavam, e aquilo me divertia.

Capítulo 10

Fui para a editora, deixando avisado na revista que tinha uma reunião importante. Lexi me ligou no caminho, xingando-me de traíra, fazendo seu drama, dizendo que eu estava trocando-a por , e não perdeu a oportunidade de zombar de mim. Na verdade, eu não tinha ido lá necessariamente para vê-lo, tinha uma reunião marcada para decidir detalhes de Attraction. Era animador ver meu maior sonho se moldando aos poucos. Assim que a reunião teve seu fim, despedi-me de John e fui até a sala de , ver o que ele aprontava. Bati na porta, esperando para ser convidada a entrar.
- Ah, é você. - murmurou assim que eu entrei. Cruzei os braços, o encarando com as sobrancelhas arqueadas. parecia absorto do mundo, enquanto tinha papéis em frente ao rosto, não pude deixar de notar o quão sexy ele ficava quando estava sério e concentrado.
- Sim, é só a garota que escreveu o que você está lendo. - desdenhei, irônica, atraindo seu olhar para mim. - Em que parte está? - mordi o lábio em expectativa.
- Na parte em que eles estão na piscina, na casa de Thomas. - murmurou. Sorri, lembrando-me de quando escrevi aquela parte.
Escrever era, sem dúvidas, a melhor coisa do mundo. Eram tantas possibilidades! Criar personagens com diversos tipos de personalidade, imaginar situações que provavelmente nunca passarei ou poder me inspirar em algo que já vivi. O melhor de tudo era a sensação nostálgica de me lembrar de tudo o que eu estava sentindo na hora de escrever cada frase e tudo vir à tona em toda vez que relemos.
- Chique ele, né, tem piscina e tudo. - comentei, jogando-me na cadeira em frente da mesa dele.
- Eu tenho piscina em casa. Poderíamos ir até lá. - ri em deboche.
- Até parece né, ! Eu entrar na piscina da sua casa, aí do nada dou de cara com seus pais.
- Mas quem disse que moro com meus pais? - indagou, sorrindo. Levantou-se, vindo em minha direção, franzi a testa sem nada entender. - Vamos? - finalmente me cumprimentou com um beijo estalado na bochecha. Arregalei os olhos.
- A-Agora? - indaguei, desacreditada. Eu nunca havia deixado meu trabalho de lado, não gostava de quebrar regras, desde a escola quando me chamavam para matar algumas aulas, eu sempre dizia não.
- Claro! - talvez eu pudesse variar um pouco minhas respostas, afinal, dizer um sim não doeria nada, e fazia calor naquela tarde.
Peguei sua mão estendida e fomos rápido até o estacionamento onde o carro de estava. As pessoas da editora nos olhavam como se fôssemos loucos, correndo pela empresa de mãos dadas. Eu só sabia rir de tudo aquilo. No caminho silencioso eu aproveitava para olhar as pessoas que andavam apressadas pelas calçadas, era bom sair da rotina, parar um pouco de correr contra o tempo e ficar sem fazer nada. Relembrei meus tempos de estagiária, quando eu apenas via, de fora o circo pegar fogo.
- Chegamos. - adentramos o local após passar pela portaria enquanto eu permanecia boquiaberta, eu estava em um dos condomínios mais luxuosos da região.
manuseou o pequeno controle, abrindo a garagem da imponente casa de fachada branca, adentrando o quintal com o veículo. Descemos do carro e eu fiz o que sempre fazia ao ir na casa de alguém pela primeira vez, o segui para onde quer que ele fosse. Após entrar para guardar alguns papéis, voltou, puxando-me pela mão até a parte de trás da casa. Uma grande piscina cheia nos esperava, e eu não via a hora de me deliciar com a água. Mas, havia um pequeno problema...
- ... - o chamei, ao vê-lo tirar a camisa. - Eu não tenho roupas de banho.
- Em “Attraction” Lily também não tinha. - arregalei os olhos. Em meu livro, o casal em questão nadava nu na piscina da casa dele.
- Sem chance, .
- Quer ajuda? - ele arqueou as sobrancelhas, sorrindo maliciosamente.
Tentei correr, mas fui pega, seus braços agarraram-me pela cintura enquanto eu gargalhava, logo suas mãos desciam o zíper do meu Gucci, meu vestido lindo e preto, desceu pelo meu corpo indo direto para o chão, revelando minha lingerie rosa. O estapeei e senti uma de suas mãos agarrar minhas pernas, enquanto a outra se posicionou em minha cintura, fui tirada do chão e já previa o que aconteceria. Só tive tempo de gritar antes de cair na água. Emergi, ofegante, com os olhos irritados por conta da água. O ouvi rir e tirar as calças, descendo as escadas e adentrando a piscina, como pessoas normais faziam.
- Seu idiota! - joguei água em seu rosto. Engasguei-me quando ele revidou sem me dar tempo de fechar a boca, resultando em risadas vindas dele. E assim se resumiu nossa tarde. Brincadeiras na água. Risadas e idiotices. Havia semanas que eu não me sentia daquele jeito, leve.

No outro dia, cheguei na revista mais relaxada, sentei-me e me pus a escrever para o site. Estava mais feliz do que nunca, bom, pelo menos na parte profissional estava. Parecia que alguém, em uma época muito distante e em algum lugar do mundo havia determinado que não se poderia existir alguém com sorte no amor e no trabalho ao mesmo tempo, infelizmente ou se tem um, ou outro. Fui até o refeitório da revista, tomar um pouco de café e jogar um pouco de conversa fora com minhas colegas de trabalho, para o meu azar, Stacy era uma delas. E como eu era muito sortuda, a encontrei por lá. Dei meia volta, tentando sair despercebida.
- , querida, aí está você! - revirei os olhos antes de me virar para elas, sorrindo amarelo. - Eu estava mesmo querendo falar contigo.
Primeiro ela me chamava de querida, e depois estava à minha procura? Parecia que havíamos entrado em uma espécie de universo paralelo, onde nada, absolutamente nada, fazia o mínimo sentido.
- Estava falando para as meninas do terapeuta de casais que estará sexta à noite na cidade. Meu marido conseguiu marcar com ele num evento... - quase tornei a revirar os olhos, ouvi-la falar e falar daquele marido dela era tão zzz. - E pensei: Quem sabe a não quer testar a afinidade com o futuro marido? Vamos com a gente! Aí eu aproveito e conheço o tal .
Eu também havia pensado em algo, mas estava mais para: Quem sabe a Stacy não quer levar um tapa bem dado na cara? Mas não o fiz, tinha que parecer civilizada e segurar minhas garras afiadas que estavam morrendo de vontade de penetrar a pele cheia de escamas daquela cobra.
Ok, acho que já chega de ver Animal Planet.
- Ah, é ocupado, não vai querer ir. - desconversei, rindo sem o menor humor. - Chame a Jéssica e o marido dela. - sugeri, torcendo para que Stacy ainda não tivesse feito o convite.
- Não vamos poder ir, o que é uma pena. - lamentou. - O tal terapeuta parece ser muito bom. E apesar de estar bem com o meu marido, sei que precisávamos disso. - era impressionante como ela era negativa. Se o casamento não estava dando certo, não iria ser um terapeuta patético que resolveria, um advogado ou um matador de aluguel sim seriam boas soluções. - Aliás, acho que você deveria ir.
- É, , vamos! - exclamou a loira oxigenada, é eu sei, apelido clichê, Stacy era tão insignificante que eu nem fazia questão de ter criatividade para dar apelidos a ela. - Já sei! Ligue para ele, vou tentar convencê-lo.
Ferrou.
- Não precisa. - respondi rapidamente. - Vou falar com ele hoje, já que insiste. Agora preciso ir. - sai dali praticamente cuspindo fogo de tanta raiva. Hemmings parecia existir apenas para me irritar. Fui até a minha sala e liguei para a única pessoa a quem poderia recorrer, que eu tinha certeza de que receberia ajuda. Após falar com a secretária antipática, finalmente fui direcionada a ele. - ... - choraminguei.
- Oi para você também, . - atendeu o telefone, sarcástico.
- Preciso de você...
- É só pedir.
- Quero que finja ser por uma noite. - fui direta, falando o mais rápido possível.
- Tudo, menos isso, . É mais um fetiche louco seu? Porque se for, terá que achar outro cara, aliás, você tem que esquecê-lo, já está mais do que na hora. - suspirei.
- Não, , você não está me entendendo. Stacy me arranjou mais uma armadilha para me pegar em minha própria mentira. Convidou eu e para um evento. Tenho tudo, roupas, sapato, maquiagem, agora só me falta o noivo. - era minha única esperança, principalmente pelo fato de ele ser um deus grego, o que calaria de vez a boca daquela cobra.
E, também, por Stacy nunca tê-lo visto, no evento beneficente ela havia tirado folga por causa do filho e ainda não tinha esbarrado em na Desire, na primeira e única vez que ele me visitou no trabalho.
- Não seja exagerada, , ela sequer sonha que está mentindo. E outra, já está mais do que na hora de você parar com isso. - mordi meu lábio, segurando um palavrão. - Não me peça isso, não me peça para ser ele. - suspirou do outro lado da linha.
Meus olhos se enchiam de lágrimas e eu me encontrava vermelha, de raiva. Sim, de raiva, não entendia o quão importante era aquilo para mim? Ele iria mesmo me deixar na mão por uma mera besteira, só por que tem uma queda idiota por mim? Era só fingir! Era tão fácil! Era pedir muito?
- Obrigada por nada, . - finalizei a ligação antes mesmo de obter alguma resposta dele, joguei o celular sob a mesa enquanto me levantava da cadeira, passando as mãos pelo cabelo, brava. É, eu teria que encarar sozinha.

[...]


Encarei a porta, cabisbaixa, dei passos para trás, decidida a ir embora, mas me auto impedi. Eu estava nervosa, minhas pernas tremiam e não era de frio, até porque estava fazendo calor naquela noite. Ajeitei minha saia preta e respirei fundo, num súbito de coragem, empurrei a porta branca que me revelou uma grande sala repleta de casais.
Merda. Parecia o dia dos namorados se repetindo, meu pior pesadelo. Estar sozinha e segurar vela de casais já não era novidade para mim, mas naquela noite, eu não estava apenas me sentindo deslocada, eu estava sentindo raiva. Eu mataria na próxima vez que visse aquele rosto bonito dele. Claro que tudo poderia ficar pior, principalmente se tratando de minha vida, avistei Stacy se aproximar, de mãos dadas com o marido, Jeremy.
- Ué, veio sozinha. - a loira segurou o riso, o marido dela me encarou, sério, cumprimentando-me com um aceno de cabeça. Ele não parecia ter nenhum tipo de retardado mental, muito menos parecia um louco foragido de um manicômio. Olhei de relance para as mãos de alianças, entrelaçadas. Jeremy era um homem normal, charmoso até, ele só havia cometido o erro de ter se casado com uma cobra.
- Meu noivo. - filho da puta. - É um homem muito ocupado... - Muito filho da puta. - E, infelizmente...
- Chegou atrasado. - senti um par de mãos grandes envolver minha fina cintura, eu conhecia aquelas mãos e toda aquela firmeza.
Era para eu me sentir aliviada, e de fato, eu até me sentia, mas havia uma parte de mim que queria matá-lo lentamente na frente daquele grande grupo de pessoas, porém, ponderei, me controlando. Eram muitas testemunhas oculares.
- Me desculpe, amor, é que o trânsito estava infernal. - respirei fundo, assentindo de má vontade. inclinou-se, depositando beijos em meu pescoço enquanto me abraçava ainda mais por trás. Soltei um sorriso sem graça ao notar os olhos azuis de Stacy sobre nós.
- Olhe só, Jeremy, mal brigaram e já fizeram as pazes. - zombou a loira, cutucando o marido levemente com o cotovelo.
Por falar em cotovelo, fui tão solidária com ela que até senti sua dor ao observar me soltar, e assim poder vê-lo de corpo inteiro. O olhou dos pés à cabeça, o marido pouco se importou, nem ao menos percebeu na baba da mulher escorrendo no que era meu. Wow! Meu? Ok, talvez eu estivesse levando tudo aquilo tão a sério que quis ser convincente o bastante para convencer a mim mesma.
- Noivos são assim mesmo. - riu o grisalho. - Esqueçam desse amor todo quando forem casados. - levou um beliscão de Stacy, nos dando um exemplo involuntário do que estava falando. - Nem fizemos as devidas apresentações. Prazer, sou Jeremy.
- Prazer, sou . - apesar de ainda estar de costas para ele, pude perceber o tom de sua voz, que demonstrava seu ódio, também o senti se remexer desconfortável atrás de mim.
- Finalmente o conheci, , já estava até duvidando de sua existência. - disse, encarando-me, arqueei as sobrancelhas me segurando para não voar nos cabelos dela. - Sou Stacy Hemmings, trabalho com , como já sabe. - não pude deixar de suspirar triste ao ouvir aquela informação. - Bom, vamos procurar um lugar para sentar, o terapeuta já vai começar. - anunciou ela, já nos dando as costas e indo em direção contrária a nossa. Fui fazer o mesmo, porém, fui impedida por uma mão puxando a minha.
- Não vai me cumprimentar, amor? - sussurrou, trazendo-me para perto de si. O olhei nos olhos, não havia brilho algum, e também, não havia um sorriso em seu rosto, muito menos humor em sua fala.
- Não, já encenamos o reencontro perfeito, com direito até a uma reconciliação. - falei séria.
- Culpa sua, primeiro fecha a cara para mim, e agora me nega um beijo. Seja mais convincente, . - sorriu malicioso, agarrando-me pela cintura e colando nossos corpos. Sussurrei um "me solta" que foi ignorado. Eu não poderia gritar, afinal de contas, o que eu iria alegar? Que meu noivo estava me agarrando? Seria patético demais, até para mim. - Me beije, . - ordenou.
Quando eu estava prestes a colidir minha macia mão no lindo rosto de , vi de relance Stacey nos procurar de pé, já perto do marido sentado e com dois lugares vagos ao lado. Suspirei, irritada, e selei meus lábios nos dele, e ali fiquei. Parecia um daqueles beijos patéticos que víamos em séries da Disney, um selinho demorado até demais. Me separei dele espalmando minhas mãos em seu peito. A cara de descrença dele era impagável e eu lutava para que meu falso sorriso bobo não se transformasse numa sonora gargalhada. Sua boca estava mais rosada que o normal, passei o dedo tirando meu batom vermelho de seus lábios enquanto ele ainda insistia em me abraçar pela cintura.
- O que eles perderam aqui? - resmungou .
- Somos jovens e apaixonados, o contrário deles, que já estão casados, somos a atração da noite, . - me soltei dele e logo lhe agarrei a mão, entrelaçando-as. - Seja romântico, dear future husband… - cantarolei o trecho da música de Meghan Trainor, rindo.
- Vai ficar me devendo essa. - falou, bravo, próximo ao meu ouvido, fazendo meu corpo estremecer. Eu não sabia o porquê, mas toda aquela braveza e autoridade estavam mexendo comigo, me deixando excitada. Agora eu sei o que Anastasia sentiu com o Grey.

Capítulo 11

- Boa noite, pessoal, bom, menos para quem já é casado. - gargalhamos diante da piada. - Para quem ainda está noivo, eu só tenho uma coisa a dizer: Aproveite enquanto pode ser feliz. Temos noivos essa noite? - encarou-me e eu o encorajei a levantar a mão, Stacy apontou para nós e Brian finalmente nos notou. - Bom, boa sorte. - ri junto a , éramos observados por todos da sala, discretamente peguei sua mão e coloquei em meu colo, de forma que parecesse que ela estava repousada ali há algum tempo. - É, pessoal, sei que devem estar se perguntando quem sou eu para zombar do casamento alheio, vou lhes responder: Ninguém. Eu não sou ninguém para falar sobre relacionamentos, não sei o porquê de minha boa fama, na verdade, já fui casado três vezes e só agora achei a mulher da minha vida, para vocês verem o quão boa ela é em se esconder.
Após algum tempo, me vi surpreendida ao notar o quão bom era ouvir alguém tão bem humorado e tão sábio ao mesmo tempo. Confesso que nunca havia acreditado quando o mencionavam como salva vidas de casamentos, mas Brian Singer com certeza sabia do que estava falando e me fez mudar de ideia sobre ele ser mais um velho cuja a real profissão era ator, que arrancava dinheiro de casais destruídos.
Senti um súbito medo ao ouvi-lo contar sobre seus casamentos anteriores, e sem ao menos perceber, segurava firmemente a mão de , que me encarou, confuso. Meu receio era justamente não achar o homem da minha vida, passar por vários e acabar sozinha. Antigamente, vivia falando e falando sobre essa coisa de garota certa, eu sempre achei uma tremenda bobagem, e mesmo sem acreditar tentava fazê-lo entender que eu era a garota certa dele.
Porém, hoje eu acredito no que ele dizia, afinal, era a mais pura verdade. E não era só ele que falava sobre, minha avó dizia algo parecido, algo ligado a religião, uma teoria de que Deus havia nos criado não apenas com propósitos, mas também para nos amarmos. Segundo ela, Ele criou alguém para cada um de nós, como se fosse um par, uma pessoa que sabia que iria nos fazer sentir felizes e completos, que nos amaria até mesmo quando estivesse sentindo ódio, e que nos acharia maravilhosos mesmo desarrumados, alguém que nunca, mas nunca mesmo, iria nos abandonar, nem mesmo depois da morte. Alguns chamam isso de alma gêmea, outros de metade da laranja, tampa da panela... Mas me ensinou a chamar isso de garoto certo, e não há nada que eu queira mais do que encontrar o meu. E, talvez eu tenha percebido que não era essa pessoa.
- Isso, venham vocês dois. - fui dispersada de meus devaneios por , que me puxava pela mão e ia em direção a Brian. Fui com ele sem entender direito o que acontecia. - Vamos começar pelo casal apaixonado, primeiro temos que arranjar uma cadeira para a moça. - no centro da sala onde estávamos, só havia uma.
- Luz, câmera, ação. - ouvi sua voz rouca e senti seu hálito quente bater contra minha nuca exposta por conta de meu cabelo preso. Senti suas mãos me puxarem para baixo e logo eu estava sentada em seu colo. As mulheres do local suspiraram achando a cena fofa, sorri amarelo.
- Olhem só que adoráveis. - zombou o terapeuta. - Vamos começar com o básico. Como se conheceram? - todos aqueles pares de olhos nos analisando, ficou sem fala e sobrou para mim responder a aquela pergunta, afinal, eu era a mentirosa da história.
- Em uma balada.
- Olhem só, que modernos, não sabia que se dava para arranjar um noivado num lugar desses. - soltei uma risada nervosa. - E como foi o pedido, futuro marido?
Fodeu.
O encarei com os olhos arregalados, num pedido mudo de silêncio. Aquela resposta, Stacy sabia, e não. Se ele inventasse algo, eu estaria ferrada.
- Em casa mesmo, no último dia dos namorados. sempre foi muito prático e romântico, decidiu aproveitar a data, não é, amor? - entrelacei meus braços em volta de seu pescoço.
- É, é super romântico... - murmurou, assentindo.
- Agora minha pergunta é para o noivo. - encarou-me, sorrindo, assenti nervosa, entendendo o recado. - Quais foram suas primeiras impressões sobre ela? Seja sincero, hein! - o encarei, também esperando sinceridade, apesar de estar ciente de que estávamos apenas encenando algo.
- Eu... Na balada estava um pouco escuro, mas eu consegui enxergá-la de longe. - franzi a testa com toda aquela enrolação. Qual é, ? vamos melhorar nas mentiras! Era só inventar uma história. - Ela estava de costas, linda com aquele vestido, que desenhava seu corpo como nunca. Quando tomei iniciativa notei que ela estava um pouco bêbada... - risadas tomaram conta do local, puxei levemente seu cabelo por trás, sem que ninguém percebesse. - E depois de tentar algo com ela, levei um fora. Minha primeira impressão não foi das melhores, eu imaginei que fosse uma daquelas várias outras garotas que bebem para esquecer os problemas e vão para a cama com o primeiro que lhes abordam por estar bêbada. - engoli a seco, ainda o encarando, tinha um maldito sorriso sarcástico no rosto, sorriso esse que eu desejava fazer desaparecer. - Mas depois eu vi que não, é muito mais que uma garota bêbada em um balcão de um bar. E, também, minha mãe a adora, por isso vamos nos casar. - algumas mulheres e até homens presentes ficaram assustados ao lerem as entrelinhas, havia acabado de insinuar que o motivo de estarmos noivos era a falsa adoração da mãe por mim.
- E você, , quais foram as suas e qual o segredo para conquistar a sogra? - risadas ecoaram.
- E-Eu... - Stacy cobria a boca, escondendo um riso. Aquela filha de uma... Respirei fundo. Eu não deixaria me envergonhar daquele jeito. Iria me fazer de vítima, a garota que estava casando por amor, o papel de vilão ficaria para , já que o próprio quis assim. - Foi amor à primeira vista. estava insuportável naquela noite e estar bêbada foi meu único alívio para aquilo. - sorri enquanto eles riam. permanecia com a cara fechada, era apenas uma pequena vingança minha. O olhei nos olhos e novamente os vi apagados. Abaixei meu tom de voz ainda o encarando. - Mas, na segunda vez que o vi, com mais clareza, percebi que ele era muito mais do que um babaca que se gabava pelo dinheiro que tinha, que ele não era apenas um galinha bonitão. E com o passar dos dias vi em seus olhos verdes não apenas luxúria, mas também sinceridade, em tudo o que ele fazia havia sinceridade, até mesmo na hora de brincar comigo. Enxerguei além da beleza, enxerguei o homem que me ajudaria em tudo. Não importava o que eu pedisse, ele faria. Vi em... não apenas o homem da minha vida, mas também meu melhor amigo. - travou a mandíbula, desviando seu olhar do meu. - E quando ele me pediu em casamento, nada me impediria de dizer sim. - encolhi meus ombros.
Todos pareciam estar totalmente convencidos com meu pequeno teatro. Que não era tão composto de inverdades assim.
Me sentia estranha, por mais que estivesse fazendo algo que tinha costume e mudando os fatos de minha história com , meu coração batia forte, era como se eu não estivesse mentindo sobre tudo. Suspirei, engolindo a seco e me remexendo desconfortável no colo de um sério. Ele estava estranho, eu sabia que estava bravo, mas parecia muito mais do que bravo, furioso.
Singer deu continuidade ao pequeno questionário e logo sugeriu um teste para nós, dizia querer ver se realmente nos conhecíamos, testar nossa afinidade. As respostas de me decepcionavam cada vez mais, ele fazia tudo com uma má vontade, errava coisas que eu tinha certeza que ele sabia sobre mim. - E, por último você, . Por que aceitou se casar com esse homem? - me fez a mesma pergunta que fez a ele. Por que eu me casaria com ?
- Eu não sei... - dei de ombros. - Talvez o fato de ele estar sempre lá quando ninguém mais está, de ele se preocupar comigo quando ninguém se preocupa, pelo fato de ele saber me consolar como ninguém. Me colocar para cima sempre. Acreditar em mim até quando eu mesma duvido de minha capacidade. Eu disse sim porque além desse pacote completo, ainda vi que tinha um bônus, que eram esses olhos, esse sorriso, cabelo e essa voz que me arrepia todas as manhãs.
E novamente senti aquela estranha sensação, aquele aperto estranho no peito. Alguém parecia querer arrancar meu coração da caixa torácica, coloquei minha mão no local, massageando levemente enquanto, sendo seguida por , me dirigia a meu lugar. Algo de ruim parecia prestes a acontecer e eu já sentia um choro sem motivo aparente entalado em minha garganta.
Stacy nunca foi muito eficiente, não era lá muito esforçada em ajudar as pessoas, mas quando o assunto era completar minha desgraça, ela era a pessoa perfeita para aquilo. O projeto de dragão me inventou de nos convidar para ir ao shopping, jogar boliche. Depois de muita insistência da parte dela, aceitamos ir, e eu não havíamos trocado palavras em seu carro no caminho, e eu mordia minha língua para não reclamar por sua estupidez, afinal de contas, eu não poderia, ele estava fazendo um favor e tanto pra mim.
Eu tentei ao máximo controlar minha mão para não errar a direção e acertar o rosto de Stacy com a bola, mas ela simplesmente estava pedindo para sair machucada. Logo depois, a loira nos arrastou para uma boate próxima ao shopping. Arrependimento era pouco para descrever o que eu estava sentindo, eu estava relembrando minha adolescência, onde eu ia arrastada por mamãe para casamentos e ficava agoniada apenas torcendo para ir logo embora. A última palavra que descreveria o estado de ali era sóbrio, tinha bebido demais e não pude controlá-lo.
- O que pensa que está fazendo, ! - o puxei pela camisa ao vê-lo seguir uma ruiva até a porta do banheiro feminino. - Quer me dar fama de corna? - esbravejei próximo ao ouvido dele.
- Vamos dançar um pouco, noivinha. - fui puxada para a pista contra minha vontade, mas parece que todos haviam combinado de não dar a mínima para minha opinião naquela noite terrível. Bufei assim que paramos em um canto no meio daquele amontoado de pessoas suadas de tanto dançar.
Cool for the Summer tocava quase me ensurdecendo, olhei para uma das mesas e lá estava ela, nos encarando. Merda. Stacy parecia estar nos vigiando, esperando uma falha minha para me desmascarar. Mexi meu corpo na batida da música, afastando-me de um bêbado, que estava cada vez mais próximo de mim. Suas mãos grandes enlaçaram minha fina cintura me colando a ele com força, fazendo-me sentir cada músculo de seu corpo e o volume em sua calça. Seus lábios tomaram os meus de forma brusca, assim que ele me permitiu respirar, tratei de me soltar.
- Já chega disso, vamos embora.
- Só acaba quando eu quiser, e não quero ir agora. A noite é uma criança, , e eu ainda terei minha recompensa. - ouvi sua voz abafada por conta da música alta. Bufei, frustrada.
- Estamos indo embora, gente. , foi um prazer te conhecer, até mais, . - me limitei a acenar com a cabeça com um me agarrando por trás. Ele fez o mesmo, se despedindo do casal, que a cada passo que dava em direção à saída, aumentava meu alívio.
Eu havia conseguido passar por aquilo praticamente ilesa, se não fosse pela falta de talento em mentir de .
- , por favor, vamos! - o puxei pelo braço.
- Não, está cedo ainda. - se soltou, fazendo-me respirar fundo para não dar uma de louca e simplesmente ir embora só. - Vou buscar mais bebidas. - arregalei os olhos. Ainda cabia mais um pingo de álcool ali? Grunhi de raiva.
Não sabia se o impedia de beber mais ou se o incentivava a entrar em coma alcoólico. Considerando o tanto que ele havia bebido, a segunda opção seria mais fácil, além de anular minha mentira do noivado. Se ele batesse as botas, eu ficaria conhecida como a viúva que nem ao menos chegou ao altar.
Credo, aquela música alta estava realmente me enlouquecendo.
- Está sozinha, linda? - ouvi uma voz masculina atrás de mim. Continuei parada, não poderia ser comigo, não mesmo. Se fosse um bêbado eu o mataria, já me bastava . - Estou falando com você, gracinha. - pegou meu braço, forçando-me a virar.
- Não. Estou com um... Amigo. - respondi com má vontade, encarando aquele par de olhos cor de mel, que parecia fazer contraste com seus cabelos negros como o céu a noite. Eu sei, péssima comparação.
- Então acho que seu amigo não se importaria se você fosse embora comigo. - arqueei minhas sobrancelhas. Não havia escutado um convite e sim havia sido intimada. - Minha cama é bem macia, sabe? - meu sangue subiu.
Me preparava para virar minha mão no rosto dele e acabar de vez com aquele sorriso prepotente, porém, quando vi, ele já se encontrava no chão. Alguém havia chegado antes de mim, e ao invés de um simples tapa, socou o homem, com tal força que lhe arrancou sangue do nariz.
- Quem é esse imbecil? - esbravejou ele, se levantando com uma certa dificuldade. Meu coração batia frenético e minhas mãos tremiam. Todas as vezes que presenciava uma confusão ficava daquele jeito, paralisada.
- Eu sou o noivo dela. - o empurrou. Nem , nem eu esperávamos o que estava por vir, um dos amigos do homem apareceu na confusão, na verdade, todos da boate estavam lá, formando uma roda em nossa volta. - E ela não é nenhuma vadia para ir pra sua cama. - gritei ao vê-lo apanhar, depois daquilo, não via quase nada.
Estava tudo girando e eu parecia estar apanhando. Decidi enfrentar meu medo e parar aquilo. Gritei para o brutamonte largar , porém, ele não me escutou. Tadinho, devia ter problemas de audição, nada que não pudesse ser resolvido. Lhe acertei com um soco certeiro. Não deu para derrubá-lo, porém o deixei desorientado, o que libertou , que partiu para cima do outro novamente. Eu tive vontade de ajudar o homem a bater nele, depois de todo o esforço que eu tinha feito para tirar um deles de cima de , ele ia lá e continuava.
- Chega, vocês dois! - puxei , quase caindo no chão. Tornei a puxá-lo, e quando consegui separá-los, entrei na frente de , determinada a parar aquilo. - Chega! Acabou! Vamos embora, e isso é uma ordem! - berrei, sentindo minha garganta doer enquanto chegava com o rosto perto do dele, o confrontando.
Saímos do bar com uma certa dificuldade, por conta do alvoroço que nós mesmos havíamos causado. Caminhamos calados até o estacionamento, eu abraçava meu próprio corpo ainda tremendo, com o choro entalado na garganta, tentando me acalmar. Já , apenas caminhava atrás de mim, estava um pouco escuro, mas pelo que eu tinha visto, seu lábio estava sangrando e seu olho já começava a ficar roxo.
Por um milésimo de segundo, pensei na possibilidade de ir a pé, na situação em que se encontrava, até eu dirigiria melhor, e olha que nem o carro do lugar eu sabia tirar.
- , dá para ir devagar? - bufei, pela milésima vez. Eu já havia prendido o cinto de segurança, segurava nas laterais do banco e teve uma curva que quase me obrigou a começar uma oração. Ele, daquela vez, finalmente atendeu ao meu pedido.
Chegamos inteiros em casa, bom, eu e o carro, não poderia dizer o mesmo de , que estava machucado. Descemos do veículo e subimos as escadas que davam para minha porta, calados, lhe dei espaço para entrar e fui acender as luzes. E advinha só, que beleza! Elas não se acenderam!
Eu odiava quando a luz faltava, não só por sentir medo do escuro, mas também por necessitar de alguma iluminação à minha volta para ver claramente tudo. Detestava ter que pisar em ovos, insegura se dar um passo adiante não me faria tropeçar em algo e cair. E eu não estava mais falando sobre a falta de energia elétrica, talvez fosse sobre tudo o que aconteceu desde que entrou de forma rápida em minha vida. Ele me fazia bem, mas eu tinha medo, temia o dia em que ele se cansasse de mim, ou arranjasse uma Sandy da vida.
Com a lanterna do celular iluminei meu caminho até o armário, de onde tirei velas para clarear o cômodo. Logo voltava para sala com o pequeno kit de primeiros socorros que tinha em casa.
- Olhe, isso vai arder um pouco. - avisei enquanto me ajoelhava em sua frente.
Comecei a limpar o sangue que tinha em sua boca, murmurou algo, reclamando de dor, ignorei seus protestos, continuando a limpar e já vendo o corte superficial que ali tinha. Me aproximei de seu rosto, soprando para amenizar o ardor do remédio que havia passado ali.
Era inevitável não desejá-lo, e ele estava ali, tão próximo de mim, encarando-me com aquele par de esmeraldas com apenas a luz fraca das velas iluminando o seu rosto sério, porém, sereno, nem parecia o mesmo que brigava minutos atrás. Selei meus lábios aos dele levemente, de forma carinhosa, repetindo meu ato, uma, duas, três vezes. Logo ia com o algodão em direção ao ferimento novamente.
- Já chega, pare com isso, por favor. Está me machucando... - murmurou, fechando os olhos com força, negando com a cabeça.
- , temos que cuidar diss....
- Não estou falando disso. - afastou minhas mãos. - Estou falando de seus beijos. - franzi a testa sem entender, abri a boca uma ou duas vezes, sem emitir som algum.

Capítulo 12

- Ultimamente tudo o que tem feito é me machucar. - murmurou com amargor.
- Do que está falando, ?
- De hoje, de ontem, anteontem, de todos os dias que passei ouvindo você dizer o quanto ama o . Como acha que me senti a noite inteira sendo chamado de ? Ouvindo você falar coisas românticas como se fossem frases tiradas de um de seus textos, como se ele realmente estivesse ali. Quer saber, ? Eu cansei.
Se levantou, trôpego, esbarrando na caixa de remédios, levando-a ao chão fazendo-me encolher meu corpo, assustada.
- Cansei de te dizer a verdade e ser ignorado, você parece enfeitiçada! Sabe que ele não te ama e mesmo assim chora quando vê que ele está seguindo com a vida sem você! Pois eu vou te falar, pela milésima vez, não está nem ai para você. Está pouco se importando, simplesmente te abandonou, enquanto o trouxa, o idiota aqui, te consolou, te apoiou! Eu levei socos por sua causa, faria isso por você? – berrou, se aproximando de meu rosto.
Eu estava sem fala, amedrontada, apesar de saber que, mesmo bêbado, seria incapaz de me fazer mal. Quero dizer, não fisicamente.
- Acho que não. - respondeu a si mesmo. - Não sei como você consegue ser tão estúpida, viver morrendo de amores por um cara que nem ao menos sente sua falta. - se afastou de mim, indo na direção da porta. Eu finalmente entendia do que ele falava. Sentia uma grande angústia ao prever o que viria a seguir.
- , espera. - falei entre soluços. Dei passos até ele, que sequer se deu o trabalho de olhar para trás. - Você está bêbado, não pode dirigir nesse estado, para com isso, está machucado. Me deixa cuidar de você. - parei em sua frente, pegando em seu rosto.
- Chega de mentiras, ! Não finja que se importa comigo. - livrou-se de minhas mãos antes de seguir seu caminho até a porta. Cai no chão ao esbarrar na caixa branca, e quando fiz menção de me levantar, o que ele disse fez minhas pernas fraquejarem. - Não sei como eu posso te amar. – riu, amargurado, enquanto cruzava a porta.
Levantei-me e desci as escadas aos tropeços atrás dele, chamando seu nome, o pedindo para ficar. Ele parecia não ouvir, aliás, não queria ouvir, simplesmente entrou no carro e saiu cantando pneus. Sentei-me no degrau, sentindo as lágrimas geladas molharem o meu rosto após ver que nada poderia fazer a não ser esperar que ele chegasse em casa bem. Ou, que talvez se arrependa e tenha coragem de me pedir desculpas.
- ? O que foi isso? - ouvi uma voz feminina.
Tirei a mão do rosto, enxergando o dela, Sandy me encarava preocupada. Balancei a cabeça sem saber o que dizer e envergonhada por estar numa situação daquelas. O vento bateu em meus cabelos, jogando-os sob meu rosto e fazendo meu corpo inteiro estremecer.
- N-Nada. Vou para casa, está frio aqui fora. - passei as costas das mãos em meu rosto, secando as lágrimas, porém, era tudo em vão, já que novas surgiam. Abracei meu próprio corpo e dei as costas para ela, subindo as escadas.
- , vamos, vou te deixar na casa do . Você não está bem e não pode ficar sozinha nesse escuro. - ignorava sua voz, esperando que ela se calasse, estava no penúltimo degrau quando a ouvi continuar a falar. - Ah, e sei que não é uma boa hora para te falar isso, mas cortaram sua energia elétrica. - Ótimo, era só o que me faltava para completar minha desgraça!
Eu esperava ansiosamente o momento em que um apresentador idiota iria aparecer anunciando a pegadinha da história. Parei onde estava sentido a enorme vontade de gritar, extravasar minha raiva, bater em algo, sei lá. Segurei-me no corrimão, tornando a me sentar enquanto o choro sôfrego vinha à tona novamente. Eu era uma derrotada, uma perdedora, uma idiota, eu conseguia ser a pior pessoa do mundo sem precisar me esforçar para isso. Tudo o que eu fazia, afastava as pessoas de mim, talvez minhas mentiras fossem a grande causa de meu azar desenfreado.
- Vamos. - suas mãos quentes pegaram as minhas e logo seu braço estava em minhas costas, Sandy me ajudava a andar, fazendo-me perguntar a mim mesma como eu pude, um dia, odiá-la.
Ela era incrível, e não mereceria menos que aquilo. Me sentia suja, nojenta, escrota, ao me dar conta do quão invejosa eu fui por vê-la com ele. Fui com ela após trancarmos a casa, mal enxergava o caminho por conta das lágrimas acumuladas em meus olhos, mas sabia que Sandy estava realmente certa, eu não poderia ficar só. Eu não queria ficar só.
- Ok, agora você poderia me contar o que aconteceu? - estava sentada sob o sofá preto da casa de , enquanto o próprio, já de pijama e sentado na mesinha de centro, me interrogava, preocupado.
Mordi meu lábio inferior, tentada a inventar mais uma de minhas mentiras. Havia tomado um banho quente e vestia roupas dele, como fazia quando dormia ali após uma noite ao seu lado. Lembrei-me daquilo e, por incrível que pareça, não senti nada. Nem mesmo a velha sensação nostálgica, a falta daquele tempo que talvez não voltaria. Nada.
- Sandy me disse que ouviu gritos, com quem estava brigando?
- Com . - respondi baixo.
- Aquele garoto... - murmurou para si mesmo. - Não quer me contar nada? - ergueu a sobrancelha, sugestivo. Neguei com a cabeça, insegura. - Ah, por favor, . Não gosto de te ver assim, me dói te ver chorar. - sentou-se próximo de mim, acariciando meu rosto e enxugando meu choro repentino.
- E-Eu não tenho muito para contar, ... - minha voz começou trêmula, ao mesmo tempo, meus ombros se encolheram. - Na verdade, não quero falar sobre isso. Está doendo, não sei por que, mas está. - seus braços envolveram meu corpo em um abraço aconchegante. Minutos depois, já sentia minhas pálpebras pesarem a medida em que a mão de acariciava meus cabelos.

[...]


Olhava Londres através da grande vidraça no calor de minha sala, o tempo lá fora estava congelante, chovia fraco, parecia que os céus haviam se comovido com minha situação. Eu não tinha mais lágrimas, mas as gotículas que o céu derramava representavam elas.
Um mês havia se passado, o mais difícil deles. Nas primeiras semanas, eu tinha tentado seguir em frente, fingir como sempre que tudo ia às mil maravilhas. Mas Lexi com seus conselhos crismados colocou uma ideia em minha cabeça. Sim, a mesma ideia fixa de que eu estava apaixonada por .
Infelizmente, ela parecia estar certa. Eu parecia mais um viciado em drogas ou em qualquer outra substância viciante, estava passando pelo difícil estágio de negação. Eu havia acabado de me livrar do que sentia por e esperava um tempo para me recuperar da droga de sensação de estar apaixonada. Mas parece que nada saiu como eu queria, tanto que eu nem havia me dado conta.
Aquilo martelou em minha cabeça por muitos dias. Noites até. Às vezes acordava de manhã sentindo a falta de sua respiração batendo em meu pescoço, logo percebi que tinha ficado dependente dele sem ao menos me dar conta. Desde os incentivos e seu silêncio quando eu lhe contava algo, até a incrível sensação de ter seu corpo colado ao meu. A verdade é que eu tinha um resquício de esperança, ainda esperava o dia em que ele fosse passar pela minha porta com um pote de sorvete nas mãos. Faríamos as pazes, melhor, faríamos amor, e ficaria tudo bem.
Aliás, eu andava esperando muito dos outros. E tinha a certeza de que as pessoas também esperavam de mim, mas como sempre, eu não correspondia. Eu nunca era suficiente. Não era corajosa o suficiente para ir atrás dele.
Me pegava pensando nele e me punia por ser tão idiota ao ponto de só dar valor a depois de tê-lo perdido. Não tem pior sentimento do que o de perda. Pior ainda, vê-lo com outra. Aquilo foi como se alguém estivesse pisando em meu coração. Que tola eu, achava que nada mais doeria depois de ver e Sandy, me vi surpreendida comigo mesma quando vi, de modo inesperado, ele abraçando outra.
Lembro-me claramente da dor que senti, do modo como corri até o banheiro e enfiei meu corpo em uma das cabines, caindo em um choro desenfreado, como uma adolescente rejeitada. Desde aquele dia nunca mais o havia visto, também não me atrevi mais a ir até a editora. Talvez, mas só talvez mesmo, eu pudesse começar a considerar a ideia de esquecê-lo.
Respirei fundo, observando a cidade fria de Londres pela janela do aconchegante táxi. Jeff estava no volante, é claro. A caminho da casa de Lexi, me pegava pensando em como eu havia me tornado influenciável, digo, não em minhas escolhas e tudo mais, mas simplesmente pelo fato de minha vida ficar pior por conta de atitudes de terceiros.
Todas as manhãs eu me levantava e olhava a minha volta, dentro daquele cômodo horroroso e minúsculo, via Enfield pela pequena janela enquanto bebericava meu café, algumas pessoas liam o jornal, mas eu não precisava ler para saber dos crimes da cidade, eu já morava em um lugar onde a criminalidade estava escancarada. Me conformava com aquele lugar, tomava um banho e vestia minha fantasia de . Fora de casa, na espera de Jeff, criava minhas expectativas do dia, e me pegava animada apenas por me lembrar de cada pessoa que eu convivia, e claro, ansiosa para ver cada uma delas.
Ria sozinha imaginando que idiotice Lexi me contaria na loja e até a cor de gravata bizarra do meu chefe. Mas sem para completar o time de pessoas estranhas e especiais que me rodeavam, não tinha como criar expectativas. Os dias se arrastavam, e às vezes eu não desejava sair de minha casa.
- Ah, amiga. Não gosto de te ver assim. - respirei fundo, mordiscando meu lábio inferior, ela me encarava da mesma forma que , com pena. A única diferença, era que ela sabia o que estava acontecendo. - Olha para você, está acabada! - soltei um riso, me jogando em seu sofá fofo.
- É que eu trabalho, sabe? Ao contrário de certas pessoas... - fingi checar minhas unhas, levando uma almofada no rosto.
Minha amiga estava de férias e havia passado a me ameaçar de morte se eu não a fosse visitar como fazia todos os dias na loja.
Tinha um papo estranho de que eu não podia ficar muito tempo sozinha. Me perguntava se ela não tinha medo de eu ter pensamentos suicidas, o que claro não iria rolar, dar minha vida por um homem estava fora de cogitação, mesmo se esse homem fosse . Isso é tão patético que acho que nem me daria o trabalho de me matar, pediria para alguém fazê-lo por mim apenas por ter tido uma ideia dessas.
- E aí, como anda o coração? – indagou, abrindo os armários da grande cozinha revestida em preto e vermelho em busca de pratos. Aquela pergunta havia sido tão clichê que resolvi responder à altura.
- Batendo...
- Nossa, depois que você o viu com aquela loira peituda, seu humor anda péssimo, hein! – suspirei, olhando para os meus seios minúsculos. - Ah, meu Deus. E eu que achei que você era dramática nos tempos do ... - sorri fraco, apoiando meu queixo nas mãos.
- Vai ao lançamento? - mudei de assunto, me levantando e indo até o fogão, onde a comida exalava um cheiro maravilhoso, que com certeza não havia sido preparada por Lexi, e sim pela governanta. Minha amiga não sabia nem preparar macarrão instantâneo, acreditem, não é muito bom quando ele queima.
- Mas é claro! Amiga estou tão feliz por você! – exclamou, me abraçando. - Pelo menos algo bom no meio disso tudo, né? – concordei, sorrindo, sentindo meu coração acalmar-se levemente. Attraction era a única coisa boa que eu havia feito, e eu esperava que nada mudasse com relação a forma com que tudo estava dando certo. - Quando vai ser?
- Neste sábado. – sorri, ansiosa, assistindo toda a empolgação de minha melhor amiga, que parecia estar em meu lugar, prestes a lançar um livro.
Me perguntei o motivo de eu não me sentir daquele jeito nas últimas semanas, qual é! Era para eu estar pulando de felicidade! Mas não, tudo o que eu sentia era angústia, a cada vez que a animação me subia à cabeça, eu me lembrava que não iria tê-lo ao meu lado para partilhar aquele momento tão incrível. Justo ele, que havia sido um dos grandes responsáveis da minha conquista. Também meu grande incentivador.
- Você tem que estar maravilhosa neste dia, , será o seu dia! – exclamou, me dispersando de meus pensamentos sôfregos.
Respirei fundo, a encarando com um meio sorriso e com um completo lutando para se formar em meus lábios. Ela tinha razão. Eu nunca havia tido sorte no amor mesmo, e por mais que doesse, eu tinha que deixar de pensar nele e focar em mim.

Capítulo 13

Minhas mãos tremiam a cada autor conhecido que chegava até o local do evento, alguns de meus escritores favoritos haviam comparecido ao meu lançamento! Aquilo era tão surreal que eu havia perdido as contas de quantos beliscões Lexi havia me dado para me provar que eu não estava sonhando. O pai de tinha feito tudo como o combinado, na verdade, tinha superado qualquer expectativa criada por mim. Nada estava fora de seu lugar, estávamos praticamente lotando a grande livraria de Londres.
- Está perdida com toda essa gente, não é? - riu o grisalho, expondo seu par de covinhas nas bochechas, algo que o filho havia herdado dele, algo que me lembrava .
E era o que eu estava evitando naquela noite. Nunca pensei que fosse fácil esquecê-lo, e realmente não era, funcionava muito bem por um tempo, mas sempre havia alguma coisa, algum detalhe, um cheiro, um livro, que trazia à tona todas as minhas lembranças dele.
- Não se preocupe, já está vindo. - colocou uma de suas mãos em meu ombro. Franzi a testa, confusa, não poderia estar lá. Ou poderia?
Ele provavelmente devia estar me odiando em algum lugar da cidade, provavelmente na companhia da loira misteriosa. O pior era saber que se ele estivesse mesmo ali, seria por pura obrigação, já que o pai devia ter solicitado sua presença na festa. O aperto no meu peito se afrouxava quando eu pensava na possibilidade de vê-lo de novo.
- Parabéns, , o lançamento está incrível. Tenho certeza de que vai longe.
- Obrigada, Sr. . – sorri, emocionada ao ouvir aquilo daquele homem tão importante no ramo literário.
Assim que ele se distanciou de mim, encarei a porta, na expectativa de vê-lo passar por ela. Porém, quase caí para trás ao notar duas pessoas adentrarem a livraria. Um casal. Duas pessoas que poderiam destruir meus planos. Para ser mais precisa, eram e Sandy. Perdi o fôlego e arregalei os olhos ao perceber passos sendo direcionados até onde eu estava.
- Caramba, ! - exclamou, dando-me um abraço de urso, praticamente me tirando do chão. Eu estava sem fala e assim que fui solta, engoli a seco, ajeitando o vestido, vendo a confusão que eu havia me metido.
- Parabéns! Por que não nos contou? - Sandy sorriu genuinamente.
Ambos falavam alto e se mostravam animados. Pensei em como iria mandar o casal embora sem ser rude ou mandar expulsá-los sem ter que acusá-los de furto. Ponderei a ideia de deixá-los ficar, seria bom ter um amigo além de Lexi por perto, principalmente em um momento tão importante como aquele.
No meio de meu raciocínio, encarei o rosto de e sorri. Nunca pensei que ele fosse incapaz de cobrir o buraco que havia em meu coração como naquela noite, que , um dia, não fosse a causa de meus suspiros e que ele fosse desaparecer de meus pensamentos. Mas estava acontecendo, aliás, já tinha acontecido.
Eu não havia sido feita para ele, talvez Sandy fosse, ou também não. Mas minha grande conclusão era a de que ele não era o meu cara certo, por mais que tenha sido alguém importante, estava se tornando apenas um amigo para mim. Não sentia mais a falta de seus beijos, talvez de seus abraços, mas nós nos reaproximaríamos com o tempo. Eu o amava, porém não tanto como eu amava . E perceber isso tarde demais me custou a perda dele.
- Desculpe, achei que não iriam querer vir. - sorri amarelo. Aquilo não era uma grande mentira, sempre odiou lugares muito luxuosos lotados de pessoas chiques e cheias de frescuras. - Como ficaram sabendo?
- Li na Desire e mostrei a , não poderíamos deixar de vir! – assenti, arqueando as sobrancelhas.
Sempre havia achado que Sandy nunca tinha sequer pego um exemplar de revista de moda nas mãos, e não era implicância minha, afinal, era só olhar para o que ela vestia. De longe, vi Lexi me chamar com um aceno. Quando viu meus amigos, arregalou os olhos, fazendo-me rir fraco.
- Tenho que ir, fiquem à vontade. – falei, me afastando dos dois, que mais pareciam penetras, vestidos feito mendigos. Sandy vestia um jeans surrado e um moletom duas vezes maior que seu tamanho, que lhe dava a aparência de uma adolescente fugida de casa, e o namorado não estava diferente. - E não falem com estranhos! - ouvi a risada de e lhes dei as costas, imaginando o motivo do riso. Não havia sido uma piada.
- Está na hora do seu discurso. - cantarolou Lexi, fiz careta, negando com a cabeça. - Ah, ! Não me venha com essa de que é tímida, de tímida você não tem nada! - arregalei os olhos, fazendo-me de ofendida.
- Ok, agora vamos ouvir a anfitriã da noite, a brilhante , ou, , como Londres toda a conhece. A autora de Attraction. - ouvi a voz de John e suspirei, nervosa.
Eu odiava falar em público, principalmente com uma plateia daquelas, onde tinham tantos escritores e pessoas do ramo literário. Se eu dissesse uma palavra errada, ririam de mim a vida toda! Aposto que eles sabiam até conjugar o verbo "coisar". As palmas ecoaram em meus ouvidos à medida em que Lexi me empurrava até o pequeno degrau que havia atrás da mesa de autógrafos.
- Então... Boa noite, pessoal. – murmurei, nervosa. Olhei para todos ali presentes, inclusive para Stacy, que parecia ter brotado do chão. Antes de começar a pensar no que dizer, mordi meu lábio em um claro sinal de nervosismo. - Peço desculpas desde já se eu travar, ok? - ri fraco, encolhendo os ombros. - É que escrevendo as palavras saem com mais facilidade, naturalidade. Já falando, é mais difícil, impossível até. Às vezes não consigo me expressar direito na frente de estranhos. Acho que essa característica minha me fez começar a escrever, sabe? Sempre fui aquele tipo de adolescente antissocial na frente dos outros e super comunicativa com meus amigos. Mas eu sempre tinha algo a falar, então eu pensei: Por que não escrever? E, bom, aqui estou eu, lançando meu primeiro livro.
Lexi soltou um assovio, chamando a atenção das pessoas.
- Mas claro que nada disso se concretizou sozinho. Esse meu sonho aqui só se tornou possível graças a pessoas incríveis que fazem parte da minha vida. - sorri com o livro em mãos.
Olhei para a porta que balançava sozinha, ouvi murmúrios, e assim que passei os olhos pelas pessoas, pude vê-lo parado ao lado do pai, que cochichava coisas em seu ouvido. Prendi a respiração, mantendo minhas atenções voltadas apenas para ele. Gaguejei duas vezes antes de continuar e cheguei a ficar tonta assim que seus olhos verdes focaram-se em mim, em uma intensidade arrepiante. Sua expressão era vazia, o que me fazia lembrar daquela tarde na editora, daquela mulher.
Será que ele ainda pensava em mim? Se não, como conseguiu se esquecer tão rápido? Meus olhos ardiam e o que eu mais queria era sair correndo dali.
- Queria agradecer a Lexi, minha quase irmã, por ter me incentivado, por ter enviado o manuscrito para a editora. - ri de sua expressão pré choro, ela abanava o rosto para que a maquiagem não borrasse com as lágrimas que caiam. - Ao senhor , pela grande oportunidade, e a alguém muito especial... Que foi praticamente um anjo, entrando em minha vida e tirando tudo de ruim dela, alguém que me ajudou e muito a chegar até aqui. Alguém que eu am... - meu coração doeu tanto, mas tanto, que senti minhas pernas fraquejarem.
A loira cruzava a porta, e se equilibrando em seu belíssimo par de saltos, foi até , o abraçando de lado. Piscar foi o meu grande erro naquele momento, a lágrima desceu solitária pela minha bochecha e outras surgiram, inundando minha linha d'água e transbordando por meus olhos.
- M-Me desculpem, eu... – solucei, dando passos para trás.
- Canalha! - me assustei ao ouvir o berro de Stacy, que ia em direção a , raivosa. Arregalei os olhos, já prevendo no que aquilo ia dar. - Não acredito que está traindo a com essa mulherzinha! - todos estavam boquiabertos com o que ouviam.
Olhei desesperada para Lexi, que apenas devolveu o olhar. Minha amiga era mais frouxa que eu, me surpreendi ao ver que Stacy estava me defendendo. Ela não me odiava? Estava tudo tão estranho que naquela altura do campeonato imaginei se alguém havia colocado vodka no copo de água que eu havia pedido.
- Stacy, escuta, eu...
- Não estou mais falando com você, , agora minha conversa é com essazinha. - interrompeu , ainda gritando.
Uma roda se formou em volta deles, tentei chegar até lá, porém os curiosos não deixavam. Ouvi gritos e quando pude ver o que acontecia, me assustei. Stacy havia agarrado os cabelos da loira que estava com e os puxava sem dó. Cobri a boca com as mãos e corri atrás do segurança. Se fosse em outra ocasião, eu até faria uma pipoca para assistir a briga de minhas duas inimigas, mas como muita coisa estava em jogo, tive que separá-las.
- ? - e Sandy indagaram em uníssono.
- O que está acontecendo aqui, ?- John interviu, fazendo-me suspirar aliviada.
- ? Mas o nome desse traidor é ! - Hemmings berrou enquanto ainda tinha a loira nas mãos.
- Eu sou o .
- E eu a namorada dele. Deve estar havendo algum engano aqui, e são apenas amigos. - explicou Sandy.
Todos os olhares se voltaram para mim. Diminui meus passos, querendo desesperadamente desaparecer da face da terra. Eu sabia que aquele dia iria chegar, o dia em que eu iria ser pega. Mas eu não imaginava que seria tão humilhante ao ponto de tanta gente presenciar. Não sabia que eu não aguentaria todos aqueles pares de olhos me acusando silenciosamente. A adrenalina corria em meu sangue enquanto meu coração batia num ritmo frenético.
- Stacy, quero te apresentar meu melhor amigo, . E esse aqui é . - indiquei , trêmula, seus olhos verdes encaravam-me brilhosos, e eu podia ver em seu rosto aquela expressão de dó. - Bom, eu não sei mais o que somos, mas ele fingiu ser o naquela noite.
- Então você não estava noiva?
- Eu menti. – admiti, com a voz embargada. – Aliás, eu sou uma mentira. A maior mentirosa de todas. Não sou como você, Stacy, nem como todas as funcionárias grã-finas da Desire...
- Não faz isso, ... - me interrompeu, piedoso. Neguei com a cabeça, sentindo as lágrimas caírem. Não atenderia àquele pedido. Chega de mentiras.
- Tenho dias difíceis, desde às vezes ter que comer menos para comprar uma roupa que engane vocês, até andar na rua fugindo de assaltantes, por que, eu não sei se eu já mencionei, mas eu moro em Enfield. - soltei um riso amargurado quando vi a descrença estampada no rosto de Stacy. – O que foi, Hemmings? Uma garota pobre que mora em um único cômodo e é encalhada, não pode trabalhar em uma revista daquelas? Não teria capacidade de ter roubado seu cargo? Acho bom parar de subestimar os que você acha que estão abaixo de você, porque o mundo dá voltas e eu não iria deixar de realizar meu sonho por culpa de gente preconceituosa como você e eles, que acham que dinheiro é tudo na vida. - coloquei tudo pra fora, tudo o que sempre quis jogar na cara dela.
Um silêncio incômodo se instalou ali e, de repente, ouvi palmas. Começou com uma pessoa solitária, Lexi sorria orgulhosa do barraco que eu havia armado e conseguiu puxar aplausos de todos ali presentes, menos das pessoas envolvidas na confusão. pegou a namorada pela mão e foi na direção da porta. Corri atrás do casal, a garoa caia, como se os céus estivessem chorando mais uma vez, mas eu não me importei, estava lutando para não perder todos da minha vida.
- , espera!
- O que foi? Tem mais alguma mentira? - recuei assim que ele se virou, bravo. Neguei com a cabeça. - , você me decepcionou tanto! Sabe o quanto eu odeio mentiras.
- Me desculpa, eu...
- Não acredito que pôde inventar uma coisa dessas, . - até Sandy me fazia sentir mal.
- Eu nem sei mais quem é você. - ele negou com a cabeça, abrindo a porta do carro e entrando junto com a namorada.
Fiquei parada, sentindo as gotas geladas molharem meu corpo. Cobri meu rosto com as mãos, soluçando, me acolhi no abraço da pessoa que me recolheu do meio da calçada e me abrigou na pequena fachada da livraria. Apoiei meu queixo no ombro desnudo de minha amiga. tinha razão, somente minha família ficaria comigo quando tudo desmoronasse, e Lexi era minha família ali.
- Venha, vamos entrar. - me guiou até a porta, que foi aberta abruptamente.
- Eu a levo. - ouvia sua voz rouca e simplesmente não conseguia acreditar que ele ainda estava ali, que ainda queria falar comigo.
- Não, obrigada. Vou levá-la para dentro. - respondeu rude, tentando me afastar dele.
- Com todas aquelas pessoas lá? Acho que ela já foi bastante humilhada por hoje. - senti seu toque gelado em minhas costas descobertas pelo vestido e um arrepio surgiu.
Como eu sentia falta daquilo. Estendeu o casaco por cima de minha cabeça, abraçando-me de lado, fazendo-me sentir aquele perfume amadeirado. A porta do carro foi aberta para mim, e me acomodei no macio estofado do veículo.

Capítulo 14

I figured it out
I figured it out from black and white
Seconds and hours
Maybe they had to take some time
I know how it goes
I know how it goes from wrong and right
Silence and sound
Did they ever hold each other tight, like us?
Did they ever fight, like us?


Acompanhava com os olhos o trajeto das gotículas de chuva pelo vidro da janela enquanto me segurava para não derramar mais lágrimas.
Não o encarava, não conseguia.
Além de não saber o que se passava na cabeça dele, eu temia o que veria em seus olhos. Não daria para saber o que eles me mostrariam. Doeu tanto ver que, após aqueles intermináveis trinta dias, só tinha conseguido sentir pena ao me ver novamente. Eu queria ver outra coisa em suas esmeraldas, desejava me encantar novamente com o brilho que havia ali antes, ou contemplar a luxúria estampada neles, mais do que isso, voltar a observá-los se fechar e acompanhar seu despertar pela manhã, quando eles ficavam ainda mais claros e irresistíveis.
O silêncio era uma tortura. E o pior é que eu tinha tanta coisa para falar.
Queria, antes de tudo, tomar coragem de olhar em seu rosto, enfrentar uma possível rejeição e dizer a ele o quanto eu o amava. Bancar a idiota, praticamente implorar uma reconsideração, porque eu não queria mais ficar sem ele. Nem sorvete me animava mais, pois até aquilo me lembrava o quão tola eu havia sido ao procurar tanto, implorar tanto, e até mudar meu jeito de ser por , quando eu tinha tudo o que precisava ali, diante de mim. Mas minha voz parecia ter sido esquecida na livraria, juntamente com o restante de minha dignidade que havia ficado no chão.
Pensar no que tinha acabado de acontecer ali, naquele momento tão importante para mim, me fazia querer dormir e não acordar mais, ou, quem sabe, despertar sendo outra pessoa. Qualquer uma. Menos eu mesma, ou até . Me sentia vazia, incompleta. Tinha vontade de simplesmente desaparecer com a mesma facilidade de Harry Potter com seu manto de invisibilidade, ou melhor, entrar no meu guarda roupas e ir numa mudança sem volta para Nárnia.
Se bem que, como as más notícias - para não dizer fofocas - correm rápido, até mesmo Aslan iria me chamar de mentirosa.
Aquilo, por incrível que pareça, não me preocupava tanto, não tanto quanto o fato de eu estar sozinha outra vez, exatamente como eu estava no dia em que tinha pisado em Londres pela primeira vez. Só tinha Lexi ao meu lado, e apesar de estar ao meu lado no sentido literal da frase, não saberia dizer se também estava. E não o julgaria se não estivesse. Eu tinha sido tão estúpida. Tão idiota e egoísta.
Ninguém iria querer uma mulher que colecionava defeitos ao invés de sapatos ou bolsas.
Nem mesmo , que parecia ter se dado conta disso e partiu para outra. Muito melhor do que uma descabelada. Ensopada. Desempregada. E, consequentemente, mais pobre do que o normal, como eu.
O carro foi diminuindo a velocidade e, quando dei por mim, me deparei com o jardim e o enorme quintal da casa de . Franzi o cenho, confusa. O que estávamos fazendo ali?
— O que... — minha voz saiu falha e logo eu me vi sozinha no interior do veículo abafado.
Suspirei enquanto já dava a volta e vinha em minha direção. Assim que sua mão tocou a maçaneta, uma melodia foi ouvida e seu celular se acendeu no bolso traseiro da calça. Seus dedos largaram o carro e logo sua voz era o único som que eu escutava.
Era uma garota, aliás era A garota, Emma era o nome dela. Ele se desculpou por tê-la deixado lá. Ele disse que precisava resolver algumas coisas. Então ele queria dizer que eu era um problema e que cabia a ele resolver? E então minha respiração começou a falhar. citou algo que me fez estremecer. Era o lugar que eu mais temia que ele fosse, não mais do que o cemitério, claro.
Aeroportos são palcos de muitas despedidas e eu não queria ter que vê-lo partir, ir para longe de mim. Me recusava a deixá-lo ir. Mas, infelizmente, aquilo não estava sob o meu controle, e talvez ele realmente tivesse me esquecido. Seguido em frente sem mim como todos sempre fazem com uma facilidade absurdamente assustadora.
Então era aquilo? Ele iria mesmo embora com ela? Sinceramente, minha vida não tinha como piorar mais.
Com isso me veio o súbito instinto de fuga. Eu também poderia fugir dali, de tudo o que me fez chorar, me esconder entre os braços de minha mãe. Voltar para a casa dos meus pais. Iria ver Summer crescer e ensiná-la a nunca mentir, papai provavelmente me sufocaria de tantos abraços e com certeza teria algo para fazer na loja. Despertando-me de meus planos, a porta do carro foi aberta. Desembarquei rapidamente, seguindo até a escadaria que dava acesso para entrada da casa, a porta foi destrancada e eu entrei sem me importar de estar molhando o chão.
— Vou embora. — me surpreendi com a firmeza presente em minha voz. Ele, que subia as escadas, apenas parou por um instante, se virou para mim e murmurou um "amanhã você vai", voltando a subir. Fui novamente atrás dele, xingando o pedreiro infeliz que havia construído aquela casa cheia de escadas. Após subir ofegante mais alguns degraus, encontrei em um dos quartos. — Vou embora de Londres. Me leve para a minha casa. — exigi, mantendo minha postura ereta, tentando não demonstrar a verdade, que tudo estava desmoronando sob a minha cabeça.
— Você não vai a lugar algum, , deixe de ser teimosa e fique aqui pelo menos essa noite. — soltou a toalha sob a cama e caminhou até mim. Solucei, recuando. — Pare de ser precipitada. Tudo vai ficar bem. — Aquilo só me atiçava a rir, só poderia ser uma piada, e de muito mal gosto.
Falar daquele jeito era fácil, moleza, me perguntava se ele iria passar por tudo aquilo comigo, porque, aí sim, ele poderia falar aos quatro ventos que tudo ficaria bem.
— Não, não vai. Agora é você quem está mentindo. — apontei, o encarando com a visão turva. — Você estava lá, você viu tudo! Aliás, você e mais trezentos, não é? Aquela droga de livraria estava lotada de pessoas que agora devem estar me odiando e julgando sem ao menos me conhecer. — quando me dei conta, já gritava em meio ao choro. — Era o dia mais importante da minha vida, , e eu mesma fui capaz de destruí-lo em questão de segundos. — tropecei em meus próprios pés, e quando vi, já estava no chão.
Não sentia dor física, mas também, se tivesse me machucado, não faria diferença, estava tudo ferrado mesmo! Me deixei ficar ali, apenas me sentei, ainda aos prantos. veio até mim, preocupado, perguntava se eu estava bem. SE EU ESTAVA BEM? Ah, mas eu estava ótima! Aliás, ótimo é pouco para descrever meu estado.
Eu queria bater naquele idiota, mas eu também queria me jogar em seus braços. , como sempre, conseguiu me acalmar, escolhendo em meu lugar o que viria a seguir. Fui envolvida em seus braços fortes e aos poucos meu choro desenfreado foi cessando.
— O que eu fiz com minha vida? — indaguei num sussurro quase que inaudível, meus olhos ardiam por conta do rímel e eu tinha a certeza de que ele havia escorrido pelo meu rosto. E ainda diziam que era à prova d'água. Depois eu era a mentirosa da história. — E-Eu estraguei tudo. Enganei pessoas que confiavam em mim, que se importavam comigo. Eu sou um monstro, .
— Não, você não é. Vai dar tudo certo, confie em mim. — fechei meus olhos em expectativa ao notar seu rosto tão próximo ao meu. Um beijo era tudo o que eu precisava, como um doente à procura de um remédio. Era a calmaria que eu buscava incessantemente. O meu pequeno passaporte para me tirar daquele inferno e me levar ao paraíso.
— Para! Não vai ficar nada bem, as coisas não vão voltar para seus lugares. Não tenho mais amigos, não devo mais nem ter um emprego! — exclamava, nervosa. — Não tenho mais... Você. — seus olhos focaram-se nos meus enquanto eu sentia a saudade apertar ainda mais meu coração entre suas garras.
Eu sei, estava ali, parado na minha frente, não estava me referindo a saudade apenas física. Era a saudade de seus beijos, de seu corpo, de ser amada por alguém. E esse alguém TINHA que ser ele, porque meu corpo, minha alma e meu coração estavam completamente viciados em , e a possibilidade de entrar em uma abstinência, me fazia querer morrer.
— E sabe o que mais dói? É ver que você já está em outra, que não me am...
— Nunca mais fale isso. Não duvide disso. — assegurou-me após desgrudar seus lábios dos meus. — Não há outra, só você. Não sei de onde tirou essa maluquice, , você é a única mulher que eu quero, a única que eu desejo, a única que domina meus pensamentos. — distribuiu beijos por toda extensão de meu rosto, fazendo-me sorrir fraco.
— E Emma?
— Emma ? Minha prima? — falou, gargalhando.
O encarei, irritadiça. Como eu era boba! Era muita beleza para uma só pessoa, só poderia ser fruto daquela genética!
— Isso responde sua pergunta? — arqueou as sobrancelhas. Mordi meu lábio, sem graça, e logo fui despertada por seus lábios sob os meus.
— Então não vai embora com ela?
— Sabia que é feio ouvir a conversa alheia? — suspirei, derrotada. — Vou apenas levá-la no aeroporto amanhã cedo. — beijou meu pescoço. — Ei, você precisa de um banho. — comentou. Me fiz de ofendida enquanto ele ria. Encarei sua mão estendida para mim e não hesitei em agarrá-la.
Fomos juntos em direção ao banheiro aos beijos, matando e assassinando a maldita saudade que tanto nos agoniava. Suas mãos ágeis encontraram o fecho do meu vestido com rapidez, enquanto eu apenas me preocupava em despi-lo, beijando cada local, observando sua pele arrepiar-se junto da minha. Suas mãos me agarravam e me marcavam a pele, seus dedos estavam gravados em minhas coxas, seios, e já poderia imaginar as marcas em meu pescoço no dia seguinte.
Não deixei barato, reforçando os arranhões que eu havia feito na última vez que fizemos amor. Ali, debaixo do chuveiro, demos fim àquela espera torturante, e acabamos de vez com o vazio de nossos corações. A água lavou todas as mentiras e mágoas, levou embora todas as minhas preocupações. Eu sabia que nada lá fora se resolveria sozinho, mas, por hora, ter o corpo de colado ao meu me trazia uma maravilhosa sensação de paz.
Como se tudo estivesse em seu devido lugar.
Deitamos sob a cama cansados e extasiados. Seu corpo cobriu o meu e de repente já não sentia mais frio por estar vestindo apenas sua camisa. Minhas pálpebras pesaram e eu adormeci, torcendo para que o que havia acontecido naquele banheiro, não se passasse apenas de um sonho. E se tivesse sido um, que eu nunca acordasse dele.

I see what it's like
I see what it's like for day and night
Never together
'Cause they see things in a different light
Like us
They never tried, like us


Acordei assustada. Havia rolado meu corpo pela cama e ido parar de cara no chão. Um ótimo jeito de se despertar, não é mesmo? Esperava colidir com o corpo quente de , e não encontrar a cama vazia. Levantei-me tonta e andei rapidamente até as escadas, encontrando malas próximas ao sofá. Meu coração se apertava só de imaginar que, dentro delas, as roupas de poderiam estar.
Sentia-me tão sortuda por ele não ter desistido de mim, tão agradecida por ter me acolhido na noite passada quando poderia muito bem ter me ignorado. Sentia que não merecia tanto, e muito menos um homem assim. O que será que ele havia visto em mim? Independentemente do que fosse, eu me via na obrigação de corresponder seus sentimentos de todas as formas possíveis. E que obrigação maravilhosa eu tinha, hein! Amar tinha se tornado a melhor coisa do mundo para mim, e pensar que eu cheguei a negar esse sentimento... Que tola eu fui.
— Bom dia. — murmurou assim que apareci no corredor. Caminhei até a bancada e me sentei ali, encolhendo-me de frio. Observando-o preparar o café da manhã. — O que faz fora da cama, e ainda por cima a essa hora? — suas mãos enlaçaram minha cintura. Choquei meus lábios contra os dele.
— Senti sua falta na cama... — balancei os ombros, assentiu com a cabeça e estava prestes a se afastar, porém o puxei pelo braço. — Todos os dias. — sussurrei próximo ao ouvido dele, que me beijou a bochecha enquanto sua mão esquerda fazia um leve carinho em minhas costas por debaixo da camiseta.
— Um mês é muito tempo, não é? — comentou, trazendo à tona um assunto que eu queria abordar, minha curiosidade me corroía. Tínhamos voltado a ficar juntos, mas nada estava esclarecido ainda.
— O que fez durante esses trinta dias? — franzi a testa.
— Trabalhei, como um louco. Larguei o projeto de Attraction nas mãos do meu pai e comecei a ajudar Emma com a filial de Nova Iorque, já que ela veio pedir algumas dicas. Fiz de tudo para não pensar mais em você, mas ontem meu pai exigiu minha presença. — levantei minha cabeça, que tinha se abaixado diante daquelas palavras. Eu o entendia, mas não queria dizer que não me magoaria. — E você?
— Também me dediquei à revista. Ajudei a escrever uma matéria. Quando voltava para casa, via TV o tempo todo, me entupia de sorvete. Mas, nem sequer um segundo, deixei de pensar em você. E precisei praticamente me desdobrar para não deixar transparecer nem nos posts, nem para o pessoal que eu não estava bem. — sorri fraco, disfarçando meus olhos marejados. — Então quer dizer que se não fosse por seu pai... — respirei fundo, controlando meus sentimentos. — Não nos veríamos mais? Realmente tinha desistido de nós? — o olhei nos olhos.
— Você nunca nos nomeou com um 'nós', éramos só , e . Ele sempre esteve no meio de tudo, como uma enorme cratera.
— E quando ela se fechou, não percebi que só havia restado você. E que eu estava apaixonada por você, que eu conseguia te amar duzentas vezes mais do que eu um dia pensei amar . Só que era tarde demais. Você se cansou.
— Cansei de todas as mentiras. De você não, acho que isso está fora de cogitação. — passou as mãos por minhas bochechas, secando minhas lágrimas.
— Quem se cansou fui eu, . Toda minha vida eu quis ser uma pessoa que eu nunca fui, quis ser perfeita, ter as roupas perfeitas, o namorado perfeito e viver uma vida perfeita. Só que eu nunca, nem sequer uma vez, dei olhos para a minha vida real, nem para tudo de bom que há nela. — funguei, sorrindo, chorosa. — Até bater os olhos em você. Não preciso ter nada daquilo que eu inventava, só preciso das pessoas que eu amo junto de mim. Então, de agora em diante, nada de mentiras. — tomei uma importante decisão.
Precisei perder praticamente tudo para finalmente ver o quão prejudicial aquilo era para mim. Seria difícil parar com um hábito que eu cultivava desde criança, mas valia todo aquele esforço. Ele arqueou as sobrancelhas, surpreso, sorri ainda com os olhos molhados.
— Eu prometo. — sussurrei. — Eu te amo, e não vou ficar mais um mês sem você por culpa de uma mania feia minha.
— Eu também te amo. Desde antes de te conhecer. E estou orgulhoso da sua escolha. — encolheu os ombros, beijando minha testa. Sua boca veio de encontro com a minha, selando minha promessa e nosso novo começo.
A urgência com que sua boca tomava a minha, deixava visível o desejo presente em nós. Meu corpo já havia sido debruçado sob a bancada e permanecia colado ao dele, que de pé, beijava deliciosamente meu pescoço, proporcionando arrepios em toda a extensão de meu corpo. Suas unhas curtas arranhavam de leve minhas coxas envolvidas em seu tronco; em contrapartida, as minhas grandes unhas pintadas num vermelho vivo lhe arranhavam sem dó, nem piedade, as costas por baixo do pijama. já desabotoava a camisa em meu corpo, quando de repente...
— Que cheiro é esse? — funguei repetidamente, sentindo um insuportável cheiro, parecia algo queimando.
— Ah, não, ! — soltou-me, indo em direção ao fogão enquanto eu ria do desespero dele.
Minha vida podia não estar nos eixos, mas uma coisa estava certa: o meu lugar. Que obviamente era ao lado dele.

'Cause you and I
We don't want to be like them
We can make it 'till the end
Nothing can come between
You and I
Not even the God's above
Can separate the two of us
No, nothing can come between
You and I
We can make it if we try
You and I

Capítulo 15

I'm hurting baby, I'm broken down. I need your loving, loving. I need it now …
Chegava a ser covardia colocar Maroon 5 como toque do despertador, não dava para sentir raiva ao acordar com a voz do maravilhoso Adam Levine soando em meus ouvidos.
Este efeito não surtia em , que resmungava estressado ao ser despertado de seu sono pesado. Estava enfrentando problemas com o pai, John queria se aposentar, mas não queria assumir a presidência da empresa. Não se achava capaz de ter toda aquela responsabilidade para si.
Apesar de achar totalmente o contrário, não me meti, afinal de contas, a vida era dele, e eu já havia me metido em coisa demais por apenas alguns meses juntos. A casa dele poderia ser a coisa principal delas, eu meio que tinha invadido a residência de .
Começou com nós dois alternando em que casa ficaríamos em nossas horas vagas, eu sempre tinha horas vagas após ter me afastado do trabalho através de uma carta de demissão via e-mail por conta da vergonha que tinha passado. Sempre ia recebê-lo em casa após um dia de trabalho, e depois de meses assim, minha frequência em minha própria casa foi diminuindo, afinal de contas, o colchão de era bem mais macio que o meu, se é que me entendem. E, convenhamos, a casa dele era bem maior que a minha. Aliás, qualquer lugar era maior que aquele cômodo.
Me mudei, receosa, não gostava nem um pouco da ideia de depender de . Não financeiramente, devo acrescentar, Lexi havia me dado um bom cargo em sua loja, porém, ainda me pegava chorosa e cabisbaixa pelos cantos por conta da saudade que tinha do meu antigo ofício. Mas, pelo menos até que eu arranjasse um emprego no ramo, - se é que alguém iria querer me contratar depois do escândalo na livraria - aquilo me distrairia. Apesar do meu trabalho temporário me ocupar a metade da tarde, ainda ficava sozinha quando o dia estava no fim, então esperava chegar, com o jantar já feito.
Parecíamos casados. O que era, no mínimo, estranho para um casal que apenas estava namorando. E olhe lá! não havia feito um pedido oficial nem nada, apenas disse a um amigo que encontramos no supermercado há um tempo atrás quando me apresentou como sua namorada. Ele parecia se sentir confortável com o que tínhamos, e eu também, era ótimo só aproveitarmos um ao outro. Estávamos felizes e era somente aquilo que importava.
— Bom dia. — inclinei-me sob seu corpo deitado de bruços e distribui beijos por suas costas nuas, sentindo o cheiro de seu cabelo, mais sedoso que o meu, que se espalhava pelo travesseiro que se encontrava por cima de sua cabeça.
o tinha deixado crescer, no começo eu odiava, sentia falta dos fios mais curtos, mas logo comecei a reparar no quão sexy ele ficava quando o jogava para trás.
Me arrastei para fora da cama, indo em direção ao banheiro, tropecei em alguns móveis por conta de uma leve tontura, provavelmente ocasionada pelo sono. Lavei meu rosto e enquanto escovava meus dentes, encarava meu reflexo no espelho. Meus olhos castanhos analisaram cada detalhe de meu rosto, depois o pescoço, onde havia uma pequena mancha vermelha, um rastro que tinha deixado após a noite anterior, soltei um leve riso com a escova de dentes vermelha entre os dentes.
Mas ao abaixar mais o olhar, notei que algo estava diferente, e por que não dizer, maior? Encarei meus seios um pouco perplexa e feliz, afinal de contas, nunca tinha gostado do tamanho deles. Não que eles fossem minúsculos, mas o que custaria eles crescerem só mais um pouquinho? Bom, pelo visto nada custou. Quando voltei meu olhar ao espelho, dei de cara com encarando-me estranho.
— Bom dia. — murmurou, observando-me melhor, mas era óbvio que ele não notaria nada, afinal de contas, ele era homem.
Terminei de escovar os dentes, deixando-o sozinho na pia. Adentrei o box do banheiro, já me despindo do meu pijama. Encolhi meu corpo debaixo da água, acostumando-me com sua temperatura, e aos poucos deixei de sentir frio, me aquecendo ainda mais quando senti duas mãos grandes agarrarem minha cintura. Soltei um pequeno riso quando seus lábios beijaram meu pescoço, causando-me cócegas.
Encolhi meus ombros enquanto ouvia sua risada, ele adorava aquele controle que tinha sobre mim, aquele poder de me arrepiar com apenas um toque, mesmo depois de tanto tempo juntos, eu ainda me surpreendia ao me dar conta do quanto ele me conhecia, cada expressão minha, cada olhar, e principalmente, cada detalhe de meu corpo, assim como eu também conhecia o dele.
Tomávamos banho juntos todos os dias, mesmo naqueles momentos em que estávamos querendo afogar um ao outro debaixo do chuveiro, acordávamos no mesmo horário e poupávamos tempo na hora de nos arrumarmos para o trabalho. Era nosso melhor momento juntos, melhor até do que na cama. Não que nunca tivéssemos feito amor ali, dentro do box, mas porque eram os minutos que parávamos tudo apenas para nos olharmos, para brincar um com outro, tarar, agarrar, beijar, e principalmente, conversar.
— Ansiosa com amanhã? — indagou, virando-me para si. Mordi meu lábio inferior, encarando o teto.
— Nervosa seria a palavra certa, aterrorizada, aliás. — suspirei, ouvindo sua risada.
Ele me achava dramática, e eu concordava plenamente com ele. Mas era tão difícil de explicar, me dizia que não havia nada a temer, porém falar era muito fácil. Era como aquelas madames com seus poodles raivosos alegando que eles só querem brincar quando na verdade eles querem mais é arrancar nossa pele.
Eu tremia só de pensar em pisar os pés na Desire novamente, depois de tudo o que aconteceu, ou melhor, de como aconteceu. Eu queria simplesmente nunca ter pertencido à equipe da revista. Stacy era a única que eu preferia nunca ter conhecido, nunca ter entrado em seu caminho.
A loira, na semana seguinte do acontecido na livraria, retornou ao seu posto de colunista do site com um texto completamente humilhante contando a todas as minhas leitoras quem era a mulher por trás de , uma grande mentirosa, segundo o que ela relatou. Depois de ler aquilo, prometi a mim mesma que não colocaria os pés naquele lugar novamente, a humilhação em plena rede mundial foi demais para mim.
Eu sei, estou sendo covarde, muito covarde, extremamente para falar a verdade. Mas quem foi o idiota que disse que fugir não resolve nada? Seja quem for, estava redondamente enganado, pois comigo funcionou, e muito. Por meses ignorei comentários de leitoras me pedindo para voltar, e também fingia não ver os xingamentos que me eram dirigidos, afinal de contas, eu merecia aquilo, aliás, não só aquilo mas também uns tapas. Mas graças a Deus elas nunca tinham cruzado comigo pelas ruas de Londres. Ainda bem.
Apesar de parecer muito contraditório, Attraction foi e ainda era um sucesso de vendas, o que realmente me pegou de surpresa. Eu estava explodindo de felicidade com as últimas notícias que havia me trazido da editora, o meu livro já estava sendo traduzido para o português e o espanhol, e em breve seria vendido em vários países.
— Você sabia que teria que enfrentá-los mais cedo ou mais tarde. — murmurou, distraído, enquanto se ensaboava. Parei por um segundo, pisquei umas três vezes e me permiti rir daquela ironia, que nem mesmo , que a havia soltado, não tinha se dado conta da existência dela.
— Olhe só quem fala, me diz pra enfrentar todas aquelas pessoas que provavelmente devem estar me odiando, mas tem medo de assumir a diretoria da Style e enfrentar tudo.
O cérebro humano é algo extremamente imprevisível, idiota devo dizer, se fosse uma pessoa ele com toda certeza seria daquelas bem babacas que fala tudo sem parar para pensar nas consequências. Só pude calcular o perigo do terreno onde eu havia pisado quando vi em seus olhos a raiva.
Engoli a seco querendo, sinceramente, dar meu endereço às leitoras para que elas me batessem um pouco. Porque eu realmente estava merecendo por ser tão idiota. Aquilo vinha magoando há meses! E, como sempre consegue a proeza de terminar de estragar tudo, lá fui eu abrir a minha matraca.
— Uma coisa não tem nada a ver com a outra, e... — veio na defensiva, disparou a falar, e eu realmente não estava nem um pouco a fim de começar uma briga. Elas quase nunca aconteciam e eu estava imensamente satisfeita assim.
— Desculpa, ok. Falei sem pensar. — juntei as mãos embaixo da água morna que caía do chuveiro e as enchi, molhando meu rosto, a fim de aliviar a tensão que acabara de se formar ali.
Não ouvi sua voz me dizer que estava tudo bem. Encarei seu rosto à procura de um sorriso. Não o encontrei. Bufei, irritada. Qual é! Não acredito que ficaria fazendo charminho por algo que eu soltei na hora da raiva, eu já havia pedido desculpas. Ele já devia estar mais do que acostumado com meus deslizes. Aquele era apenas o meu jeito estourado de lidar com algumas coisas, algumas, talvez todas.
Sai dali estressada, ou melhor, tentei. Depois de dar dois passos para longe de meu namorado com tensão pré-menstrual aguda minha visão ficou turva, parecia que eu havia bebido todas as garrafas de vinho caras que os tinham na sala só para enfeite. Tudo girava e eu apenas tinha tido tempo de me segurar no box, fazendo um barulho enorme e assustando , que naquele momento se esqueceu de fingir que tinha esquecido da minha existência... Deu para entender?
— Está tudo bem? — ouvi sua voz rouca em meu ouvido, tirei suas mãos de minha cintura e assenti, saindo do banheiro, apoiando-me nas paredes. — Quer ir ao médico? — me analisou após sair do banheiro, logo atrás de mim.
— Está tudo bem, foi apenas uma tontura. Deve ser nervosismo por conta de amanhã. — murmurei, já de toalha, sentada sob a cama.
Observei seu corpo seminu caminhar até o closet e por ali fiquei de cabeça baixa por um tempo. Não conseguiria cronometrar por quanto tempo mantive minha posição, só fui me tocar de que tinha que ir trabalhar na loja com Lexi quando vi retornar já vestido e com as chaves do carro nas mãos. Ele demorava anos para se aprontar, parecia até que iria se casar!
— Estou atrasada! — exclamei, levantando-me da cama.
— Ei, ei! Nada disso mocinha! — empurrou-me levemente pelos ombros, cai sentada com a testa franzida. Afinal, o que havia de errado com aquele ser? Primeiro me responde mal, depois vem dar uma de preocupado? Só pode ser culpa da bipolaridade que ele insiste em dizer que não tem. — Estou mandando mensagem para Lexi dizendo que está doente.
— Eu não estou doente! — reclamei, incrédula, ainda vendo-o digitar no celular. — Você a preocupou à toa, ! — fui ignorada com sucesso. — , pare já com isso!
— Eu também te amo. — roubou-me um selinho e simplesmente saiu andando porta afora com seu par de botas mais velho que a minha, a sua, e todas as avós do mundo.

[...]


— O seu maridinho me disse que não tomou seu café da manhã. — veio até a cama com uma bandeja repleta de alimentos, suspirei, a encarando. Se fosse um dia normal eu adoraria todo aquele banquete, mas naquele dia em especial, eu só conseguia olhar para aquilo e sentir meu estômago se revirar.
— Acho melhor falar baixo sobre esse meu marido, vai que o escuta. — murmurei, fazendo-a rir.
— Calma, amiga, um dia ele deixa de ser frouxo e toma iniciativa. — neguei com a cabeça, rindo junto. Eu duvidava. — Mas não dá para o casamento rolar se você morrer antes, né. — revirei os olhos. Exagerada.
Remexi a comida e tomei coragem para dar a primeira mordida na torrada, peguei a xícara, esperando sentir o sabor do delicioso chocolate quente, mas o que senti mesmo foi uma imensa vontade de colocar até o que eu tinha comido mês passado para fora.
— Meu Deus. Tire isso de perto de mim. — empurrei a xícara vermelha em suas mãos enquanto fazia uma gigantesca careta de reprovação.
— Sua mal agradecida! Fechei a loja para vir cuidar de você e é esse o agradecimento que recebo?
— Me desculpe, Lexi, e-eu não sei o que está acontecendo comigo hoje! — passei as mãos pelos cabelos, exasperada. — Vai ver é algum vírus novo, talvez tenha razão, eu devia ir ao médico mesmo. — fui até o banheiro lavar minha boca e me livrar daquele gosto ruim.
— Aham, o vírus da gravidez, isso sim. — parei onde estava, tendo que me apoiar em algo para não despencar no chão, mais precisamente na soleira da porta do banheiro. — Você realmente tem que ir ao médico ou fazer um teste. — olhei em seu rosto a procura de algum resquício de ironia ou sarcasmo, também varri o cômodo com o olhar para me certificar se não havia nenhuma câmera escondida por ali.
Pensei até na possibilidade de sair de debaixo da cama, rindo da minha cara apavorada. Mas não, ela estava séria como nunca esteve antes.
— Será que... Não, não é possível, Lexi! Eu não posso estar grávida! não me pediu nem em namoro ainda, como eu posso chegar e dizer que estou grávida? — exclamava enquanto andava de um lado para o outro do quarto, visivelmente nervosa e preocupada. Meu coração se acelerava a cada vez em que a palavra "gravidez" vinha em minha cabeça.
— Falando, oras! , você não fez sozinha! — pegou-me pelos pulsos e me sentou sob a cama, sem nenhuma delicadeza, devo acrescentar. Mordi meu lábio inferior, já sentindo meus olhos marejarem. — Espera, vamos com calma, sentiu tontura e enjôo. — listou, concentrada. Assenti freneticamente. Apesar do meu nervosismo, fiquei com uma vontade de perguntar onde minha amiga havia se formado em medicina, mas deixei quieto. — O que mais notou de diferente em seu corpo?
— Meus seios, estão maiores. — um silêncio incômodo se instalou no quarto e aquilo me deu uma pequena, uma minúscula parcela de esperança de que aquilo tudo não passasse de um mísero engano. Iríamos rir daquilo, rir muito por termos pensado nessa possibilidade, e Lexi com certeza imitaria minha reação por milhares de vezes dizendo-me que eu estava realmente hilária.
Mas não foi bem um riso que soltei quando a observei, sem sequer conseguir falar, sair do cômodo anunciando que iria até uma farmácia atrás de um teste de gravidez.

"...Alimentação adequada durante a gravidez..."
Zap!
"... Os bebês precisam se..."
Zap!
"... Vamos conversar agora com o especialista em acidentes de trânsito..." — suspirei, aliviada, recostando-me sob o sofá. Lexi estava demorando e a programação da TV parecia querer me deixar louca de vez. Larguei o controle remoto de lado, prestando atenção nas dicas que o tal especialista dava sobre a segurança no trânsito. — " E para quem tem filhos, a cadeirinha é..."
Desliguei o aparelho, querendo arremessá-lo janela afora.
Passei as mãos pelos cabelos e meu desespero teve um fim assim que ouvi a porta ser aberta. Um fim não, afinal, aquele era apenas o começo, o início da minha correria até o banheiro para fazer o tal teste, e no momento em que visse o resultado negativo, eu poderia deixar o desespero.
Fiz o procedimento indicado na caixinha cor de rosa do teste enquanto Lexi me aguardava do lado de fora do banheiro. Sentei-me sob a tampa do vaso sanitário, esperando o tempo determinado. Com o rosto apoiado nas mãos, torcia para que não houvesse um bebê se formando ali, dentro de meu ventre. Com o coração dolorido, claro, afinal, eu sempre havia imaginado como seria ser mãe.
Mas não, aquele não era o momento certo, e eu não tínhamos estabilidade para tal coisa, e não seria por conta de problemas financeiros, claramente. Ia muito além do dinheiro. Eu o amava muito, e tinha plena certeza de que ele me correspondia com a mesmíssima intensidade, mas... Não tínhamos um compromisso firmado. E eu não tinha certeza se estava pronto para ser pai tão cedo!
Ouvi batidas na porta e a abri, observando a loira entrar correndo no banheiro e ir até o teste. Achei melhor ela conferir, era capaz de eu ver errado do jeito que aquilo tinha parecido complicado para mim. Seus olhos claros se voltaram para mim e encheram-se de lágrimas, franzi a testa sem entender aquele sorriso enorme se formando em seu rosto. Eu estava grávida? Não estava grávida? Aquela reação poderia ser a resposta das minhas únicas duas perguntas.
— Parabéns, mamãe. — ouvir aquela palavra foi como um soco, e falo no sentido literal, tão literal que cheguei a ficar tonta, como se eu realmente tivesse sido nocauteada. A ouvi rir da minha reação enquanto era guiada de volta para o vaso, onde fui sentada após minha tontura momentânea.
— O-O que eu faço agora, Lex? — minha voz finalmente saiu, embargada.
Recebi um abraço, que devo frisar que não resolveu meu problema. Mas nada resolveria. Ah, mas tudo bem, né? Eu sou , o que eu poderia esperar? Uma vida de sorte? Um problema acompanhado de uma solução facílima? Até parece!
— Vamos dar os parabéns ao papai! — sussurrou, sorrindo, seu rosto já se encontrava seco enquanto o meu mais parecia uma cachoeira de lágrimas.
— Não, olha, eu não sei como ele vai reagir, Lexi. E eu tenho muito medo! — confessei com a voz trêmula.
— Não seja idiota, amiga! Não há como esconder uma gravidez! — ah, se não estivéssemos num momento tão dramático, eu a estapearia por dizer coisas tão óbvias e estar tão calma assistindo ao meu sofrimento. Só faltava a pipoca e a tela grande de cinema. — Você tem que contar! — teimou.
— E eu vou!... Só que, não agora. — talvez quando a barriga começar a crescer.
Isso! Talvez fosse melhor esperar até que se deparasse com sua pseudo-namorada com uma certa saliência de uns oito meses na barriga, aí ele poderia ligar os pontos e descobrir por si próprio. Porque eu não fazia a mínima ideia de como eu contaria.
— Quando então? — cruzou os braços, desafiadora.
Ouvi um barulho conhecido. Corri até a janela, vendo o portão da garagem se abrindo e o carro de ali. Meu coração quase saiu pela boca. Olhei para a loira em minha frente, assustada, ela não estava diferente de mim, apavorada. Corremos para o banheiro e escondemos tudo o que havíamos usado para fazer o teste, na sacola plástica da farmácia mesmo. Na mesma velocidade, saímos do quarto e descemos as escadas. Lexi tinha que levar aquilo embora consigo, se visse aquela embalagem no lixo, só pioraria a reação dele.
— A-Amor? O-O que faz aqui tão cedo? — indaguei, ofegante. Estávamos encurraladas no fim da escada, onde fomos pegas no flagrante. Com as mãos para trás, tentei passar a sacola para Lexi.
— Estava preocupado. Meu pai me autorizou a sair mais cedo... — respondeu, largando as coisas sob a mesinha de centro e vindo até mim, beijando o topo da minha cabeça. — Está melhor? Está pálida.
Ouvi o barulho de algo cair no chão e arregalei os olhos ao ver a sacola ali. Droga de falta de coordenação motora!
— O que é isso? — suas mãos foram mais ágeis que as nossas, deve ser porque as nossas temiam. Engoli a seco, o que eu falaria?
— É-É da Lexi. — soltei assim que o observei pegar a caixinha e ler o rótulo. A loira me encarou, incrédula. Sei que tinha prometido parar de mentir, mas era minha única saída.
— Caramba, parabéns, Lexi! — exclamou, impressionado. A puxou para um abraço caloroso. Ele realmente parecia feliz por ela, o que me deu um incentivo para desmentir aquilo. — É tão cedo, né? Você e o Leonard acabaram de começar o namoro... — fechei minha boca assim que o ouvi continuar. Suspirei baixinho, segurando algumas lágrimas. Aquilo não daria certo. — Mas já que já aconteceu, que venha com saúde e que seja nosso afilhado, não é mesmo, ? — senti seu braço me envolver num abraço de lado. Assenti, fingindo um sorriso e concordando.
— Obrigada, . — disse, séria, encarando-me, brava. — Leonard e eu estamos muito felizes. Já vou indo, com licença. — puxou a sacola das mãos dele e nos deu as costas, saindo porta afora e pisando forte.

[...]


Naquela noite tinha passado mal, foi quase que impossível colocar tudo para fora sem soltar nenhum ruído que acordasse . Estava tensa e pensava a todo momento em como eu contaria aquilo para . Não era algo simples como: "Olhe, , estou grávida de um filho seu, você vai assumir sim, e se reclamar, vão ser gêmeos." Ele não queria um filho e estava estampado em sua cara desde quando Lexi saiu de casa.
Ele havia ficado pensativo sobre como minha amiga e o namorado com apenas quatro meses de relacionamento iriam formar uma família assim, de repente. Mal sabia ele que deveria se colocar no lugar de Leonard, que aliás, já era dele.
Já de manhã fui acordada pelo despertador e o desliguei, desejando estar morta. Afundei a cabeça no travesseiro e senti o colchão afundar ao meu lado, pelo menos tinha disposição. Meu corpo foi puxado e de repente um par de mãos me virou de barriga para cima na cama. Sorri, ainda de olhos fechados enquanto sentia seus beijos se espalhando pelo meu pescoço, desceu numa trilha pelo vão entre meus seios e foram parar em minha... Barriga!
Levantei-me num pulo, o assustando, corri até o banheiro e ali me tranquei com uma enorme vontade de chorar. A gravidez devia estar mexendo com meu emocional, ou toda aquela sensação de estar na bad era culpa por ter quebrado uma promessa e mentido.
— Está tudo bem mesmo? — assenti, já me livrando do cinto de segurança do carro, que se encontrava estacionado em frente a Desire, o que me fazia querer simplesmente sair dali correndo. havia cismado que eu tinha passado mal hoje novamente, e por esse motivo, estava todo preocupado.
— Está. Eu só estava nervosa.
— Não fique. Vai dar tudo certo. — pegou minha mão, beijando-a, sorri instantaneamente, abrindo a porta do carro. — Qualquer coisa me liga que eu venho correndo. Te amo. — assenti. E ele falava sério quanto a coisa de correr, a editora Style ficava só a algumas ruas de distância da Desire.
— Também te amo.
Passar por aquela recepção e ouvir os murmúrios das duas moças rebocadas de maquiagem só me serviu de incentivo para andar cada vez mais rápido até o elevador, que para a minha sorte, estava vazio. O local estava como sempre esteve, cheio de gente apressada e falando alto, indo de um lado para o outro, e para a minha falta de surpresa, todos me encaravam, riam e cochichavam entre si.
Levantei a cabeça e, num ato totalmente involuntário, levei uma de minhas mãos à minha barriga. Parecia uma espécie de instinto, eu estava me sentindo acuada por estar enfrentando o julgamento de tantas pessoas – meus ex-colegas de trabalho -, e tudo o que eu pensava era tirar o meu corpo e, consequentemente, meu filho de perto de toda aquela gente.
Fui até o banheiro, estava suando frio, precisava parar por um minuto e extravasar a minha fraqueza, mas longe dos olhares dos outros. Apoiei-me na pia, encarando meu reflexo no grandioso espelho em minha frente, respirei fundo duas vezes, mas parei ao ver alguém que tinha acabado de sair de uma das cabines estava parada atrás de mim. Jéssica encarava-me, boquiaberta, me virei, a olhando de volta, esperando um insulto talvez.
— Você voltou! — me senti aliviada ao receber um abraço apertado.
— Aí, aí, cuidado aí! — soltei uma pequena risada, me soltando dela e consequente afastando seu corpo saltitante de minha barriga.
— Jessie, você... — eu infelizmente conhecia bem aquela voz. Logo Stacy saiu de dentro do outro box. Assim que me viu, a oxigenada fechou a cara.
Me perguntei se ali, naquele banheiro feminino, não existia uma espécie de passagem secreta para o inferno, porque se tivesse uma, alguém deveria avisar a Lúcifer que tinha gente fugindo. Era um problema muito sério que deveria ser resolvido imediatamente, o pior dos prisioneiros dele havia escapado e agora estava ali, infernizando a minha vida novamente. Alguém poderia, por favor, mandar um e-mail para ele, ou sei lá, uma carta para que ele pudesse vir levá-la para o lugar dela?
— Ora, ora, ora... O que temos aqui, a mentirosa do ano. — cruzou os braços, me confrontando. — Posso saber quem foi que te chamou aqui, ?
— O seu chefe, mas o perdoe por ele não ter te contado! Deve ser porque você é apenas mais uma funcionária. Que não pode e nem deve ter o direito de controlar quem entra ou deixa de entrar aqui. — seus pulsos se fecharam e eu não recuei, com a mão sob o meu ventre, não me deixei intimidar.
— Provavelmente é a sua demissão, que está aí esperando ser assinada há meses. Mas você foi muito covarde para vir aqui, não é mesmo? Agora que todo mundo sabe o quanto você é pobre. — uma tontura me atingiu, porém ela nada tinha a ver com a minha gravidez, era de ódio, minhas mãos chegavam a tremer. Decidi sair dali, aquilo não parecia fazer bem ao bebê, muito menos para mim. Lhe dei as costas, caminhando para fora. — Aliás, onde conseguiu essas roupas? Se está aqui para mendigar um emprego, deve ser porque está desempregada, ou até mesmo, passando fome! — falou, boquiaberta, num gesto explícito de cinismo. Engoli meu choro e a encarei pela última vez naquela manhã.
— Não, Stacy, não estou passando fome, estou vivendo muitíssimo bem, aliás... — respondi com a voz firme e agradeci a mim mesma por isso. — E não que isso seja da sua conta, mas eu tenho um trabalho e ao contrário de você, não me casei com um homem rico para ser bancada por ele. Paguei o que estou vestindo com o meu suor.
— Ah, se casou! Dessa vez foi real?
— Não me casei, só durmo ao lado do homem que eu amo e o pai do filho que eu estou esperando. Mas agora me dê licença, preciso ir lá mendigar um emprego ao sr. Johnson . — a tontura ainda acompanhava, a cada passo dado, mais turva ficava minha visão.
Encostei-me numa das paredes que me levariam até a sala afastada das outras do senhor Johnson, esperando que aquilo acabasse logo. Disquei o número da única pessoa que poderia me ajudar, a única que sabia de meu segredo.
— Lexi... M-Me ajuda.
? Você está bem? — estreitei meus olhos, tentando enxergar algo. — Onde você está?
— Na Desire... — murmurei com a voz arrastada antes de perder de vez a consciência.
Despertei, confusa, quando abri meus olhos tudo o que eu conseguia ver era o rosto de...? ele estava debruçado sobre mim, esperando uma reação minha. Tentei me levantar, mas fui impedida por suas mãos encostando-me de volta na grande poltrona do senhor Johnson. Aquilo não poderia ficar mais estranho do que já estava.
— Lexi me ligou. Você me assustou. — disse, se abaixando ao meu lado e acariciando meus cabelos. — Aliás, está me deixando com medo, muito medo de te perder. Amor, se estiver doente temos que ir ao médico e...
— Não estou doente, . — interrompi, já com lágrimas caindo sob meu rosto.
— Não seja teimosa, ! Você vai ao médico sim, nem que seja arrastada. Temos que saber o que você tem. — aquilo não estava dando nada certo. Respirei fundo, pronta para colocar para fora o que eu escondia. Peguei suas mãos, que secavam minhas lágrimas, e as segurei firmemente antes de olhá-lo diretamente nos olhos.
— Eu sei o que tenho. Eu estou grávida. — suas esmeraldas se arregalaram e, como eu previa, não havia um sorriso em seus lábios rosados.
— M-Mas a Lexi, ela...
— Eu menti. — senti a falta de suas mãos entre as minhas, havia se levantado.
Fiz o mesmo, chamando seu nome assim que o vi saindo porta afora. Peguei minha bolsa, indo atrás dele. Ao sairmos da sala, pude ouvir os murmúrios, Jessie fez menção de falar comigo, mas eu a impedi, tinha que falar com ele. Tentei pegar o mesmo elevador, mas dei de cara com a porta de metal. Resolvi, por fim, ir pela escada, corria o máximo que meus saltos e meu estado me permitiram, ou seja, eu andava um pouco mais rápido do que uma tartaruga.
Cheguei até o térreo, vendo-o passar pela porta com passos largos, corri novamente até ele, repensando meus conceitos sobre correr atrás de quem se ama, porque haja paciência viu!
, espera, por favor. Me deixe explicar! — lancei meu corpo sob o capô de seu carro. Com as mãos me apoiava, tentando normalizar minha respiração ofegante. Se eu já era sedentária daquele jeito, imagine com a barriga de nove meses?
— Só não ligo esse carro e faço uma loucura por causa do meu filho. — se fosse em outra situação, eu desataria a rir, afinal, blefava muito mal.
— Obrigada pela parte que me toca, .— brinquei com a sorte, o observando descer do veículo e vir até mim. O acompanhei quando sua mão entrou em contato com meu braço, tirando-me da frente e colocando-me dentro do carro.
Durante o trajeto, não recebi olhares de , e aquilo parecia ser proposital, já que ele não devia estar querendo muito olhar para a minha cara. Tentei algo, claro, peguei em sua mão, mas fui afastada friamente.
, eu...
— Desça do carro. — interrompeu-me na minha mais nova tentativa de resolver tudo aquilo. Estávamos parados na garagem de casa.
Tirei meu cinto de segurança e fiz o que ele me pediu, entrei em casa e parei diante da porta, por onde entrou um tempo depois. Ele soltou um suspiro, cansado, passando as mãos pelos cabelos.
— Não consigo imaginar uma razão plausível para você voltar a mentir. — sua voz estava mais calma, mas eu sabia que aquilo era só uma fachada, que, por dentro, ele estava explodindo de raiva. Eu cheguei à conclusão de que eu preferia ouvi-lo gritar, aquela voz mansa me amedrontava.
— Você não entende, , acha que seria fácil para mim chegar e falar que, com apenas dez meses juntos, eu estava grávida?
— Você prometeu! — acusou, já aumentando o tom. Solucei, abaixando a cabeça. — Você não tinha o direito de esconder isso de mim!
— Eu pensei que você não queria! Um filho agora só pioraria as coisas, eu estou praticamente desempregada e você está para assumir a diretoria da editora. E o que nós temos? Moramos juntos? Quer dizer, eu moro de favor! , o que as pessoas vão pensar de mim? Vão falar que sou uma interesseira, que estou usando um filho para conseguir pegar o seu dinheiro.
— Foda-se os outros, ! Nós nunca tivemos que provar nada a ninguém. Você não mora de favor, essa casa é tão minha quanto sua, te trouxe para cá para te dar conforto e para te ter por perto e você sabe disso! — solucei, atraindo ainda mais sua atenção, suspirou, negando com a cabeça, desaprovando o que eu tinha feito. — Como poderia pensar que eu recusaria um filho? Independentemente de nossa situação, se fôssemos casados, namorados, ou seja lá o que for, essa criança será amada como nenhuma outra será. — seu tom era mais baixo e ao olhar em seus olhos, vi lágrimas acumuladas.
— Me desculpa, eu iria desmentir tudo, mas o que você disse para Lexi... Eu apenas tive medo.
— Não há o que temer, e se tiver, é para isso que eu estou sempre aqui, para você dividi-los comigo. — senti um alívio enorme ao sentir meu corpo se aconchegando nos braços dele. — Não só os medos, mas também alegrias. — disse, se abaixando diante de mim.
Levei as mãos até a boca, reprimindo meu choro, seus lábios entraram em contato com minha pele gélida após levantar minha camiseta. Acariciei seus cabelos enquanto tinha seus braços abraçando minha cintura.
— Ei, será que sua mãe aceita se casar comigo? — indagou para minha barriga, fazendo meu coração se acelerar. O encarei, boquiaberta, abaixando-me também e o beijando como uma forma de resposta.

[...]


"7 meses. EU. ESTOU. ENORME! Bom, diz que estou linda, claramente para me agradar e ganhar um desconto mínimo na hora de ter que ir buscar alguma guloseima que eu desejo, sempre nas madrugadas. Meus pés estão inchados e minhas peças de roupas preferidas já não me servem mais. Mas, quer saber? Que sentimento confuso é esse meu durante a gestação, lembram-se daquele post onde eu relatava a sensação maravilhosa de acordar de manhã e ver que a minha pequena cresce a cada vez mais? Então, ela está voltando, mesmo com todas essas reclamações minhas, eu ainda sorrio ao contemplar minha barriga cada dia maior.
Estou tão ansiosa para ver o rostinho dela! Aliás, nós estamos, mesmo já tentou imaginar como ela seria milhares de vezes apenas fazendo combinações físicas nossas. Quero tanto tê-la em meus braços e poder chorar de emoção por saber que ela, mesmo tão pequenina, simboliza algo tão grande, não somente o meu mundo, mas também o meu amor com .
PS: Depois de muita disputa, a escolha dos padrinhos foi feita, e Lexi, obrigada por todo o apoio que vocês tem nos dado. Ah, e e Sandy, vocês perderam mas serão os titios mais babões deste universo."

Relaxei sob o sofá, deixando o notebook de lado após mais um post contando minhas aventuras de mamãe de primeira viagem. Depois de muita conversa com o senhor Johnson, fui convencida a voltar. Ok, a quem eu estava querendo enganar, eu estava ficando louca de tantas saudades de escrever e voltei na hora para o meu antigo posto.
E Stacy? Bom, ela trabalhava na concorrente, pelo o que eu havia ficado sabendo ela escrevia para um dos jornais da cidade. Nada que me interessasse muito. Eu havia voltado graças as minhas leitoras, que pediram pela minha volta.
Aos poucos fui conseguindo "consertar" todos os erros cometidos e ganhar a confiança das pessoas novamente. Resumindo, eu estava sendo feliz, com o que eu tinha. Sem precisar mentir ou esconder nada de ninguém. Apenas sendo eu mesma.



Fim!



Nota da autora: Muito obrigada por terem acompanhado até aqui, essa é uma história minha escrita láá em 2015 e eu gosto tanto dela que resolvi postá-la aqui, não me arrependo, tive comentários maravilhosos. Estou muito feliz que gostaram de tudo, sou muito grata pelo incentivo e, claro, grata a Lala por ter betado a história tão bem! Muito obrigada pela parceria, você é tudo! Bom, é isso, até logo! Posto outras histórias por aqui, caso se interessem. Beijos, se cuidem!



Nota da beta: Eu nem acredito que Basic chegou ao fim! Essa foi a primeira fic que recebi como beta, e eu gosto TANTO dessa história! Estou muito feliz com o final deles, esse Harry é simplesmente INCRÍVEL! Sa, você é maravilhosa, sua ideia foi perfeita e eu fico muito feliz de ter betado essa história. Espero que venham muitas outras, eu que agradeço pela parceria, você é demais e eu espero que possamos nos encontrar de novo! Conta comigo, viu???? Parabéns pela história, mesmo <3

Qualquer erro nessa atualização ou reclamações somente no e-mail.


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