Na moeda.
Era assim que a noite deles ia ser definida.
Se ele ganhasse, realizaria o desejo que tirava seu sono há seis anos; se perdesse não sabia se teria a coragem de tentar outra vez.
Ela, por sua vez, não tinha muito a perder, a satisfação da noite não dependia exclusivamente daquilo e talvez ela nunca deixasse que dependesse.
A menina escolheu cara, levada a tomar essa decisão pela impressão que tinha de já ter lido algo sobre uma mínima porcentagem de chance a mais de ganhar dessa forma. Ou será que era sobre o dinheiro americano? Não se lembrava.
Ele jogou a moeda, e enquanto o objeto parecia fazer em câmera lenta sua sequência de giros em desaceleração até chegar ao que seria o ponto máximo do gráfico numa aula de física, pensava no que o levara até ali.
...4 horas antes...
Ela o esperava na entrada do shopping, passando a vista por todos que entravam e saíam, cismada pela sua pequena obsessão em não encontrar gente conhecida, a possibilidade de ele não vir a apavorava, mesmo sendo remota e ela não entendendo o porquê.
Ele fora seu "namorado" na infância, mas a inocência do que era quase brincadeira deixou marcas nos dois que os faziam ficar com sensação de "precisamosfazer alguma coisa sobre isso".
O garoto apareceu com seu sorriso contido e os braços abertos para abraçar a pequena. Seu plano era o mais simples e básico da história: cinema. Não tinha como errar... Se não fosse ela.
Objetivo dela era ver o filme, o dele, impedi-la de fazer isso.
Mão estendida, cabeça no ombro, sussuros e provocações. Nada. Com ela só funciona se ela está no comando, e era isso que ele não tinha entendido.
Chamou-o para caminhar. Quem sabe em alguma loja ela sentisse a privacidade que tanto prezava, e deixava o garoto conseguir o que queria? Azar, era sábado. Cada metro quadrado ocupado por desocupados.
Ela, fingindo que uma peça de roupa era mais interessante que a outra, contava no relógio os minutos que iam passando enquanto o enrolava, e ele conatava as lojas em que passavam, lembrando-a da dívida que ia se acumulando enquanto fazia graça para tentar convencê-la.
Numa última ideia, ele sugeriu o estacionamento, compreendendo que a menina não queria olhos, principalmente conhecidos, sobre ela, sobre eles.
- Vamos apostar. Cara ou coroa? - falou tirando uma moeda de um Real do bolso de trás de sua calça jeans.
Ela não pensou muito, no fim, queria o mesmo que ele, e aquela aposta seria a desculpa perfeita para não dar o braço a torcer.
- Justo. Quero cara.
Afobado, a moeda caiu em sua primeira tentativa, e ela a tomou de suas mãos, sugerindo uma "melhor de três".
A menina lançou o objeto para o alto, pegou, e o virou na mão, para constatar que a primeira rodada havia sido ganha por ela. Aquilo que sentiu era uma pitada de decepção?
No segundo lançamento, foi ele quem comemorou, e o nervosismo se abateu no estômago dos dois.
Era a hora da decisão.
A garota olhou mais uma vez para a moeda, posicionada estrategicamente sobre a sua unha impecavelmente pintada da cor de sangue, suspirou profundamente e a lançou mais uma vez, repetindo o processo anterior, mas fazendo um suspense maior do que o necessário antes de retirar a mão que cobria o objeto.
Coroa.
Nota da autora: (10.02.2016) Olá! Bem, muito pequena história inspirada em vida real. Espero que gostem e julguem :)