Beyond Competition

Última atualização: 19/10/2024

Capítulo 1

Flashback ON - Março de 2020.

! — o professor exclamou, animado.

Merda. Ele tinha ganhado. De novo.
Bufei, saindo do local, mesmo que meu nome tenha sido chamado logo após o dele. Fui correndo para a biblioteca, frustrada, com ódio.
Não importa quanto eu tentasse, sempre era melhor do que eu em algo que eu não esperava. Eu havia passado noites e noites estudando para essa merda de olimpíada de matemática para aquele desgraçado conseguir me passar, assim, como se não fosse nada. O segundo lugar não era tão importante e aplaudido como o primeiro.
Ainda mais quando o primeiro era .

— De novo, ? Achei que tinha estudado mais.

Era só o que me faltava.

— Sério, ? — falei, entediada.

Ele não deu tempo nem de comemorar direito para vir atrás de mim e jogar na minha cara.

— Sinto muito, .. Dá próxima, se esforça mais… Quem sabe você consegue chegar lá, né? — ele riu, se virando e saindo.

Antes que ele passasse pela porta, peguei meu estojo e atirei em sua cabeça. Ouvi um “Ai, porra!” e sorri, pegando minhas coisas, passando por ele e dando um tchauzinho.

Dias atuais - Agosto de 2023.

— Não, . Eu vou estar estudando, já disse.
— Que saco, garota! Um pouco, vai, vamos nos divertir!
! Chega, filha.. Eu não vou.
— Você é uma careta chata aos 18 anos. Qualé! Acabou de ficar maior de idade e vai se enfiar nos livros. Nem vai comemorar?

Rolei os olhos. Estava no telefone com , minha melhor amiga, festeira que só Deus e insistente que só a porra. Eu estava estudando para uma prova que definiria meu penúltimo termo na escola. Eu queria ir incrivelmente bem, assim como nos outros termos, já que mês que vem eu estaria aplicando para a faculdade e em outubro eu estaria fazendo a HSC.

HSC (Higher School Certificate) era a prova que talvez definiria minha vida. É uma das provas que os jovens australianos que querem aplicar para uma faculdade fazem, para aumentar seu ATAR (Australian Tertiary Admission Rank) que é um sistema onde classificam os alunos em relação ao seu desempenho acadêmico no último ano do ensino médio. Ele é calculado com base nas minhas notas durante o terceiro ano e nos exames finais, que é onde entra o HSC. É um sistema também de pontuação, quanto maior, mais chances de entrar em cursos concorridos. A pontuação era de 0 a 99.95.

E eu iria tirar 99.95. Eu queria ser médica. Desde pequenininha sempre foi meu sonho, bem distante de tudo o que minha família é. Minha mãe tem uma grande e consideravelmente conhecida marca de roupas enquanto meu pai é comediante. Meu irmão gêmeo, , era capitão do time de futebol da escola.

Uma família de estrelas, eu arriscaria dizer. E tem eu, , dezoito anos, quero ser médica — pediatria, até então. — estudo que nem louca e gosto de praticar arco e flecha. É uma das coisas que me fazem sentir viva tendo uma rotina de estudos tão cansativa. Às vezes sinto que meu cérebro vai desmoronar de tanta informação que eu enfio nele durante o dia, até que eu pego no meu arco e esqueço de tudo, só foco em acertar aquele bendito número 10. Mas é claro que aquele animal do também era obcecado pelo esporte.

— Esse definitivamente não é um momento que eu quero comemorar minha vida, . — bufei. — Na verdade, queria me desviver. Você sabe como é difícil entender a tabela periódica e saber que, se um elemento não tiver os elétrons de valência certos, ele pode formar ligações totalmente diferentes? É assim que eu me sinto.
— Sim, gata. Não entendi uma palavra. — ouvi ela rir e dei uma leve risadinha junto.

odiava tudo o que envolvia exatas e era incrivelmente boa em biológicas. Mas, ela já tinha uma carreira a seguir; era modelo.

— Obrigada de novo, amiga. Mas o HSC tá chegando e eu não posso ter distrações. Já basta o você-sabe-quem me estressando todos os dias na escola, não quero ter a chance de ver ele nesse jogo. — falei, já me estressando só de pensar. — Além do mais! Meus pais vão estar e eu não quero que eles me usem de quadro para comparar o sucesso de .

Eu amava meu irmão, ele era tudo para mim. Meu gêmeo, minha outra metade, mas, nossos pais me enchiam a porra do saco e ele entendia quando eu não estava afim de ver um de seus jogo. E esse nem era tão importante.

— Tá, tá. — se rendeu. — Só não vai passar o resto da noite na biblioteca, é esquisito.
— Claro que não, . Bobinha.

Eu já estava lá há algum tempo.

— Você já está aí há quanto tempo, ? — ela disse, me descobrindo e me tirando uma risadinha.
— Algumas horas… Mas eu vou para casa, não se preocupa. Já já começa a gritaria de qualquer forma.
— Então tá, amiga. Espero te ver amanhã, sua maluca obsessiva.
— Tchau, Jen. Sim, também te amo. — nós duas rimos e eu desliguei.

Eu já tinha acabado de estudar, só estava dando uma enroladinha por pura preguiça.

Até eu lembrar que tinha que falar com meu treinador sobre a competição de arco e flecha semana que vem.

Juntei minhas coisas e comecei a correr, visto que talvez ele já teria ido embora pelo horário. Passei por alguns alunos que estavam chegando para o jogo e alguns que nem haviam ido embora ainda. Quando me dei conta, estava no chão com um joelho sangrando, uma dor insuportável no mesmo e minhas coisas espalhadas pelo chão. Eu havia tropeçado em algo no meio do caminho e acabei nem percebendo minha queda, porque corria que nem uma maluca.

— Tinha que ser, né.

Tinha que ser. Pois é.

— Obrigada pela ajuda, . Tão fofo da sua parte. — o olhei feio.

Ele então se abaixou ao meu lado, olhando para o meu joelho com uma careta.

— Ih, isso aí vai doer pra caralho. E ainda vai ficar marcado. — ele disse, juntando minhas coisas. Estranhei.
— O que você tá fazendo?
— Ajudando, ué. — ele respondeu, erguendo uma das sobrancelhas. Estreitei os olhos.
— Você não vai ganhar pontos extras por isso, . Pode ficar em paz.
— Talvez eu ganhe se o Senhor Lee passar por aqui. — ele olhou para os lados, como se procurasse alguém. — Merda, ele já deve tá indo pro asilo que ele mora. — rolei os olhos por sua fala.

O Senhor Lee era o meu professor favorito e eu era sua aluna favorita. Era um sentimento mútuo de muita admiração, ele era quase como um pai. Só que ele era bem, bem, bem velhinho, eu nem sei como ainda dava aulas; devia amar demais a profissão.

— Não fala assim dele. — bufei e tentei me levantar,, só aí que senti como meu joelho estava doendo. — Que merda é essa? Foi só um ralado. — me apoiei na parede.
— Você caiu por cima dele, óbvio que ia ser algo mais dolorido. Tem que ir para enfermaria fazer um curativo. — eu o olhei, com dor demais para falar algo. — Que foi? Vai ficar com o joelho sangrando por aí, doida? Vai que acham que eu te empurrei. — ele deu uma risadinha.
— Como se você conseguisse, frangote.

Ele definitivamente não era frangote. era magro e alto, mas mesmo assim, ele tinha uns músculos à mostra. E eram bem definidos. Bem definidos.
Ele riu, pegando minha mochila e jogando ela em suas costas. Ele começou a andar na frente e eu, sem entender nada, peguei um bloco de notas que se perdeu no chão e finalmente levantei com dificuldade até perceber que estava mancando.

— Que isso agora? — bufei.
Ele soltou um arzinho pelo nariz, virando para trás.
— Cuidado aí, perninha de pau. E vem logo.

Fui atrás dele, mancando e reclamando de dor. Estava ardendo bastante pelo rasgo e bem dolorido por uma provável torção. Realmente estava bem difícil de andar. deve ter notado, pois parou para me ajudar no meio do caminho, colocando uma mão sobre minha cintura e deixando meu braço apoiado em seu ombro. Eu dei uma gelada, nunca tive o costume de ter aquele contato com ele e nem sabia o que ele queria com toda aquela ajuda, mas, coisa boa não era. De qualquer forma, seu braço passava por as minhas costas sem muito problema e sua mão, consideravelmente grande, preenchia um lado da minha cintura. Merda. Eu estava tentando focar na dor do meu joelho, mas aquela mão grande e quente em mim estava dissipando todos os meus pensamentos.

Sem querer, passou na minha cabeça que se estivéssemos em outro cenário e não fossemos quem éramos, eu talvez iria gostar muito de tê-lo assim de novo.

— E então, por que da maratona no meio da escola? — ele perguntou enquanto me carregava.

— Não é da sua conta, .

Ele riu, parecendo se divertir.

— Eu ainda posso te deixar aqui com esse joelho todo sangrento.

Rolei os olhos e o olhei feio.

— Eu estava indo atrás do treinador para falar sobre a competição semana de arco e flecha semana que vem, — admito, fazendo uma cara de dor ao sentir meu joelho latejar.
— Vai competir com a perna engessada, imagina? — ele riu, e eu ri também, desacreditada.
— Seria horrível para você ser o destaque do time, né?
— Eu já sou, . — seu tom era firme. Ele era detestavelmente confiante.
— Cuidado para não ser o próximo a cair sonhando alto desse jeito, idiota. — bufei e ele quase que gargalhou.
— Eu sou bonito, cativante.. — ele disse, orgulhoso. — E talentoso. Óbvio que sou o destaque do time! Sou tipo o Michael B. Jordan do arco e flecha.

Eu ri e dei um empurrãozinho em seu braço, ainda apoiada nele.

— Confiança demais se torna egoísmo, . Você pode ter ganho duas olimpíadas de matemática — ele me olhou, interessado no que estava por vir. — Mas, nunca ganharia numa competição de arco e flecha.
— Nem vem usar essas olimpíadas como parâmetro, não. Você nem estava tão interessada em ganhar, tinha um dos sete monstrinhos ocupando sua mente. — ele disse e eu fiz uma careta, confusa, parando de andar para o encarar.
— Um o que, ?
— Um dos sete monstrinhos, ué. — ele deu de ombros, me puxando devagar para voltarmos a andar. — Você tava caidinha pelo Levi, lembra não?

Como caralhos ele lembrava daquilo.

Soltei uma risada alta, chamando atenção dos outros para nós dois. Ele pareceu confuso, erguendo uma de suas sobrancelhas.

— Vai se foder, ! Esse menino nem deve existir mais. — respondi, ainda achando graça do apelido.

Quando chegamos na enfermaria, a enfermeira perguntou o que houve e eu expliquei, com me cortando em alguns momentos para explicar o que ele viu. Insuportável. A enfermeira fez algumas perguntas e mexeu um pouco no meu joelho, por fim dizendo que estava tudo ok, provavelmente foi uma lesão pequena, visto que eu já não sentia mais tanta dor. Ela mandou eu não me esforçar muito com a perna machucada e se possível, evitar correr de novo por aí. Concordei.

ainda estava ali, apoiado na parede com minha mochila roxa nas costas. Era engraçadinho.

— Por que tá aqui ainda? — perguntei, enquanto a enfermeira se preparava para fazer o curativo.
— Tô ajudando. — ele respondeu, entediado.
— Eu já tô bem.
— Eu sei, mas ainda tá mancando. — deu de ombros.
— Que bicho te mordeu?
— O treinador, se você não puder aparecer na competição semana que vem porque caiu de novo tentando andar e machucou o joelho de verdade. — ele finalmente me olhou e eu franzi o cenho.. — Nem fodendo que você sai daqui sozinha e eu levo a culpa por ter deixado uma manca por aí.

Rolei os olhos. Óbvio que era por interesse próprio.

— E eu não iria perceber a chance de ver a dona Rose. — ele olhou para enfermeira com um sorrisinho charmoso. Fiz uma cara de nojo.

Rose era uma senhora de uns setenta anos. Ela deu risada, parecia se divertir com nossa pseudo conversa e com o sorriso descarado de . Que cá entre nós, era muito bonito. Ele tinha uma aparência tão… calma. não era um Deus grego, entretanto, era muito charmoso e sabia usar sua personalidade extravagante ao seu favor. Ele tinha os cabelos castanhos escuros caindo sobre a testa, as laterais eram moderadamente curtas se ajustando ao formato de seu rosto que tinha traços bem delicados e marcantes, como sua mandíbula bem definida, seu nariz rechonchudinho na ponta e seus olhos escuros, levemente amendoados. Ele era muito agradável de se olhar, se não fosse um pé no meu saco.

, eu sou muito velha pra você, querido. — ela falou em tom de brincadeira e ele fingiu decepção. — Mas vocês dois dariam um casal e tanto, ein?

Eu e trocamos brevemente um olhar. Ele não parecia ter ficado bravo com o comentário; parecia até mesmo… Pensativo. Contudo, não demorou muito para ele sacudir a cabeça como se estivesse afastando alguns pensamentos e desviar o olhar, dando de ombros.

— Eu prefiro comer vidro.

Foi a última coisa que ele disse antes de eu atacar em sua direção o bloquinho de anotações que ainda estava na minha mão.




Continua...



Nota da autora: Oi, gente! Aqui é a Juli. Espero que vocês se apaixonem por essa história tanto quanto eu me apaixonei enquanto a planejava e escrevia! (ainda estou, inclusive) Fiquem à vontade para enviarem feedbacks e o que estão achando nos comentários, é muito importante ouvir opiniões de fora. Um beijo! <3



Nota da scripter: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.

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