Bittersweet

Última atualização: 25/08/2017

Prólogo

Chandler, AZ - 23 de julho de 1994

estava tão animada com toda a premissa da comemoração de seu aniversário logo após a aula que mal conseguiu se concentrar em suas tarefinhas de primário.
Sua mãe havia prometido que a levaria ao McDonald's junto com seu pai para comemorarem seus seis aninhos, então era de enorme compreensão que estivesse tão ansiosa, afinal, nunca havia ido ao McDonald's ou passado muito tempo com seu pai.
Ewan, mais conhecido pela loirinha como papai, passava muito tempo fora e quando estava em casa sempre era muito barulhento e falava palavras feias que mamãe a proibia de repetir. Quando ele ficava barulhento demais sua mãe ligava a tv do quarto no volume mais alto e a trancava para dentro. Podia ouvir o som das coisas quebrando por sobre o som do aparelho, mas sabia que quando tudo se acalmasse mamãe voltaria e deitaria ao seu lado por toda noite.
Não compreendia porque mamãe sempre chorava e a apertava tanto depois que papai fazia barulho, só sabia que depois que ele fazia isso demorava a voltar pra casa outra vez.

Eram quase quatro e meia da tarde e ainda esperava sua mãe sentada nos degraus da entrada do colégio ao lado da diretora. Todos seus amigos já haviam ido embora há tempos, então restava à enfadada senhora Madden escutar toda sua euforia sobre a ida ao McDonald’s.
Reconheceu o velho carro azul de sua avó virando a esquina e ficou em pé em um pulo, se despedindo rapidamente da diretora e correndo para a calçada até onde o carro pararia.
Tão logo ele parou a porta foi escancarada e vovó surgiu ao volante lhe parecendo um tanto murcha.
— Vovó! — a cumprimentou animada, se jogando para dentro do carro e fazendo seu melhor para se livrar da mochila antes de fechar a porta e atacar um beijo no rosto da senhora. — Cadê a mamãe?
Vovó deu um suspiro antes de dar a ignição e seguir em direção a sua casa.
— Mamãe não vem hoje, meu amor. — respondeu batendo as unhas curtas contra o volante, parecendo nervosa.
— Nem o papai? — se sentiu murchar também. Havia esperado o dia todo para comemorarem seu aniversário e agora a largaram com a vovó Penny.
— Nem o papai, florzinha. — lhe ofereceu um sorriso triste antes de voltar a encarar a rua vazia a sua frente — Mas a vovó fez um bolo e chamou a Tess para vocês assistirem filme no meu quarto, que tal?
— A mamãe prometeu que ia me levar com o papai no McDonald's. — rebateu rabugenta encarando a avó.
Vovó Penny fungou e percebeu ela apertando firme contra o volante. Era uma criança esperta, reconhecia quando a manha venceria alguma coisa e no momento não era o caso.
— Eu sei que sua mãe prometeu, meu amor, mas agora ela está… Ocupada. E seu pai também. Mas a Tess está te esperando lá em casa e amanhã nós três podemos ir juntas nessa lanchonete.
não pareceu convencida, mas também não se opôs. Comeu muito bolo com refri, uma taça de sorvete e assistiu a fita VHS de A Bela e a Fera que tinha ganhado de presente com Teresa, a filha da vizinha de sua avó, que por acaso também era sua amiga. Não fez mais perguntas sobre a mãe até a hora que Penny a mandou para cama, chorou no colo da avó porque nem mamãe e nem papai passaram seu aniversário com ela.

Sua mãe só apareceu dois dias depois com o lado direito do rosto tão cheio de hematomas que seu olho mal podia ficar aberto e o braço engessado. Abraçou a filha tão forte que a pequena ficou quase sem ar.
Depois desse dia passaram a morar com Penny e Ewan sumiu em algum lugar do mundo, não dando mais notícias.
Até completar dez anos chorava toda vez que via alguma imagem do Ronald McDonald, o culpando por o pai ter a abandonado.

Chicago, IL - 25 de março de 1996

Tinham, no mínimo, duzentas pessoas no salão de festas infantil mais badalado de Chicago, todos reunidos para prestigiar os seis anos de Quinn, a filha mais nova do então prefeito da cidade. A decoração temática de Alice no País das Maravilhas estava impecavelmente espalhada por todos os lados, assim como os inúmeros animadores de festa brincando com as crianças enquanto os adultos tomavam seus coquetéis e conversavam sobre banalidades.
estava bicuda dentro de seu vestidinho azul de Alice, observava a distância seus amiguinhos e outras crianças que nunca havia visto na vida correndo e gritando pelo salão. Tudo que ela havia pedido para sua mãe era que o gato de Cheshire estivesse ali, pois de todo o filme era o único personagem que realmente gostava.
— Princesa, vamos brincar com as outras crianças. — sua mãe disse ao se ajoelhar ao seu lado, passando a mão por seus cabelos carinhosamente.
virou o rosto para o outro lado ainda mais bicuda, cruzou os bracinhos em sua melhor pose de irritação.
Sua mãe estava preocupada com ela enfurnada no canto da festa sem interagir com as outras crianças. Tinha medo que a pequena estivesse assim porque seu pai não poderia chegar a tempo para a festa devido a uma viagem de emergência que teve que fazer.
— Você está triste por que o papai não está aqui, princesa? Daqui a pouco ele vai chegar, não precisa ficar assim. — arriscou tentando virar a filha, mas a mesma só bufou em irritação, rolando os olhinhos azuis para a mãe.
— Você prometeu que o gato de Cheshire estaria aqui, mamãe.
Diana abriu e fechou a boca sem saber o que responder. Não havia conseguido ninguém com a fantasia e esperava que não notasse a ausência do único personagem que estava faltando.
— Eu odeio essa festa estúpida. — gritou encarando a mãe com sua maior cara de nojo — Eu odeio você e todo mundo que está aqui. Papai arrumaria o gato para mim.
— A mamãe vai consertar tudo, princesa. — Diana disse rapidamente ficando em pé, tentando abafar o escândalo da menor, olhando ao redor procurando por uma solução — Se você ficar quietinha a mamãe vai comprar o que você quiser de presente.
levantou a sobrancelha desconfiada, mas resolveu testar até onde iria à vontade da mãe de fazê-la se animar.
— O que eu quiser? — perguntou, tendo como resposta um aceno positivo da mãe. Pensou por curtos dois segundos antes de disparar novamente — Eu quero um pônei.
Diana respirou fundo e concordou brevemente e esticou a mão para a menor a chamando para o meio da festa novamente.
— Amanhã seu pônei estará lá em casa, princesa.
A loirinha aceitou a mão que a mãe ofereceu e a seguiu contragosto, ainda que toda orgulhosa de sua nova aquisição. Avisou todas as amiguinhas que teria seu tão sonhado cavalinho, esquecendo rapidamente de sua birra por causa do gato.
Na manhã seguinte um pônei malhado estava em seu quintal trotando graciosamente e começou a perceber que podia tirar o que quisesse das pessoas se jogasse direito com elas.



Capítulo 1

O grande salão do Palmer House fora milimetricamente adornado para aquele dia, resultado de um planejamento exaustivo que se seguia desde o ano anterior, quiçá desde o nascimento da herdeira caçula dos Quinn.
O resultado não poderia ser nada menos que a perfeição que se encontrava, e se havia algo que nenhum dos quase trezentos convidados poderia negar era que Quinn tinha um tremendo bom gosto. Pois era disso que a família de Warren Quinn era feita: bom gosto e manipulação. E apesar do sorriso encantador e dos olhos doces lhe darem toque mais inocente do mundo, não era nada diferente do pai. North Side sabia que a filha do governador era mais uma riquinha maldosa atrás de um rosto bonito que tinha um talento incomum para manipular e pisar nos outros.
Contudo, nem mesmo toda sua predisposição genética ao poder a tornou imune a crise de ansiedade que a acometeu, impedindo-a de dar seu parecer sobre a decoração faraônica feita no Grand Ballroom.
Havia passado a chave no quarto que estava se trocando assim que a maquiadora e a hairstylist saíram levando consigo as madrinhas e sua mãe, não poderia tolerar mais dez segundos de bajulação sem ter que controlar o impulso de agredir fisicamente alguém.
Era possível ver a olho nu todas as suas certezas se esvaindo conforme o ponteiro dos minutos corria para fechar a hora.
Apertou os olhos frustrada por não poder se jogar na enorme cama sem correr o risco de estragar seu cabelo perfeitamente alinhado e em um urro fez o vaso em cima da cômoda ao seu lado voar ao chão para se espatifar. Não lhe trouxe nenhum conforto, mas o som de coisas quebrando evocava alguma memória de infância que a fazia se sentir menos pior.
Um casamento como aquele era sua garantia de uma vida rica e confortável para sempre, assim como a bela aliança política que traria para seu pai.
Se ela ao menos conseguisse considerar a ideia de ficar ao lado de um homem que não a amava.
Sabia perfeitamente como esse tipo de história terminava, havia crescido em um relacionamento assim. Estava acostumada a ver sua mãe sorrir e acenar, dançando conforme Warren tocava a música. Diana era o troféu valioso na prateleira mais alta que jamais receberia a mesma atenção e disposição que fornecia. Ela era só um artifício do sonho americano e sentia que traçava seu caminho na mesma direção.
— Dez minutos! — a voz da cerimonialista reverberou pela porta, fazendo ondas de gelo se espalhar por seu corpo por conta do nervosismo.
O coração batia em seus ouvidos e ela podia jurar que desmaiaria a qualquer segundo. A única vez que sentiu algo do tipo foi quando decidiu fazer uma tatuagem com Trish, sua melhor amiga, mas a mera visão da agulha nas mãos do tatuador fez seus joelhos vacilarem e a cor do seu rosto sumir. O pânico a cegou de tal maneira que mesmo Patricia segurando firme em sua mão não a acalmou, quando deu por si já estava dentro do carro se sentindo ridícula.
Definitivamente não tinha a coragem insana de Trish, era o lado esperto da dupla. Ela era a garota que sabia dar um nó como ninguém, não a que pulava de bungee jump. Não era nem de longe Patricia e em dez minutos seria a Sra. Rhodes se não fizesse nada. Seiscentos segundos a separavam de ser Diana Quinn em uma casa maior com um marido um pouco menos pior.
Sua realidade a atingiu como um tijolo tão forte que perdeu o ar e mesmo contra todas as previsões, por alguns minutos ela foi Patricia Abernathy, quando em um rompante de coragem cega pegou sua bolsa de viagem e abriu a porta do quarto para correr até alcançar o elevador com as portas abertas no final do corredor.
Seus dedos bateram insistentes em vários botões do painel, na esperança que as portas se fechassem logo. Quando as mesmas finalmente cerraram pode vislumbrar a cerimonialista indo a sua porta novamente, entretanto dessa vez ela não saberia quantos minutos ainda tinha. Só sabia que finalmente estava livre da sensação horrível em seu estômago.
Doze andares abaixo um bellboy embarcou com o carrinho de malas, obrigando a se apertar no canto.
— Moça, esse é o elevador de serviço, o elevador dos hóspedes é o dourado. — apontou desconfiado.
Sua boca abriu sem deixar sair algum som. Ser pega no flagra pelo rapaz das malas não estava em qualquer parte do seu não-plano. Ainda bem que distrair e manipular os outros era uma arte que dominava.
— Tem uma mancha no meu vestido, vê? — apontou rapidamente para um lugar aleatório no vestido, logo o escondendo com a mão — Estou indo escondida na lavanderia ver se alguém pode me ajudar. — estalou a boca e o encarou com olhos de filhote que conquistaria até o mais sem coração dos homens, logo completou — Por favor, não diga a ninguém que me viu aqui, minha mãe ficaria doente só de pensar em me ver casando com um Vera Wang sujo.
O bellboy ainda tinha os olhos apertados em direção a mulher, mas não a contestou. Se tinha uma coisa que tinha aprendido em seus longos seis meses no emprego era que os ricos tinham um sério problema com a aparência. Logo, era bem provável que uma pequena mancha que ao menos lhe era visível poderia causar um estrago danado no dia perfeito da noiva estranha.
Querendo ser prestativo e amenizar o clima, avisou quando pararam quatro andares abaixo que aquele era o piso que ela queria. Entretanto a loira ao menos se deu ao trabalho de responder um obrigada, apenas saiu e pegou o celular de dentro da bolsa para fazer uma ligação.
O rapaz deu ombros quando as portas se fecharam novamente, era só mais uma garota irrealisticamente bonita e dolorosamente superficial. Nada novo sob o sol.
Encostada na parede, esperava pacientemente sua melhor amiga atender ao telefone e quase se jogou no chão quando ouviu seu alô desconfiado.
— Trish, eu vou morrer. — soltou dramaticamente — Eu não consigo fazer isso. Eu não quero fazer isso! Eu finalmente fiz uma obra Abernathy, na pior hora possível. Foi incrível, mas… — seu discurso foi cortado pelo tom ríspido e falsamente contido de Patricia.
— Se acalme, sua cretina! — ela soava abafada do outro lado da linha, talvez por sua mão estar cobrindo a boca tentando disfarçar o desespero na frente de quase trezentas pessoas.
— Patsy, você precisa vir me ajudar.
— Pra começo de conversa, não ouse me chame de Patsy! É uma péssima ideia pra quem precisa de ajuda. — apesar de não poder vê-la, sabia perfeitamente que a loira havia rolado os olhos — Onde diabos você está, ?
“É a ?”, a garota ouviu a voz de Declan, seu amigo, falar logo ao lado de Trish. Também ouviu o som do ar escapando de sua boca quando a amiga provavelmente o acertou com o cotovelo e resmungou um breve “Não se meta” antes de voltar sua atenção para .
— Na lavanderia do hotel.
— O que você… — não teve a chance de terminar sua pergunta, Declan arrancou o celular de sua mão da forma mais delicada que pode.
, você está bem?
— Declan, me deixe falar com Trish! Eu estou bem, só preciso que alguém venha me buscar na lavanderia.
— O que você está fazendo na lavanderia?!
“Era o que eu ia perguntar, gênio. Devolve meu celular.”, Patricia resmungou ao lado. sabia que Declan só estava fazendo aquilo para irritar a loira, mas de qualquer forma, toda ajuda seria bem vinda em seu resgate.
— Longa história, tempo curto. Você busca o carro e nos espera na saída dos empregados, Trish vem me buscar e me tirar daqui estilo serviço secreto, ok?!
— Não ok!
— Declan, por favor! — suplicou no alto de seu desespero — Quando você precisou de ajuda pra sair escondido da casa da Fiona Tate fui eu quem te ajudou. E nem fiz perguntas, você pediu e eu fui.
— Não foi bem assim…
Trish recuperou o celular antes que o rapaz pudesse contestar e repetiu seu pedido que foi atendido de pronto pela garota, arrastando Declan junto.
Em menos de dois minutos Patricia apareceu esbaforida dentro de seu vestido rosa espalhafatoso, em seu encalço o mesmo bellboy que havia encontrado.
— O que diabos aconteceu, Quinn?!
— Nós temos que ir, eu te explico no caminho. — grunhiu e a puxou para irem em direção ao final do corredor. Contudo, antes de conseguirem dar dois passos o bellboy pigarreou chamando sua atenção — O que agora?! — reclamou se virando para o rapaz.
— A saída de serviço é pelo outro lado. — suspirou dando ombros — Por lá vocês saem pela garagem.
Sua sobrancelha arqueou desconfiada com as palavras do rapaz, logo se virando para a negra ao seu lado.
— Eu paguei pra ele me tirar escondida de dentro do hotel. — resmungou — Você, por acaso, pretendia se esconder atrás de alguma samambaia pelo lobby do hotel?
resmungou um tanto faz e seguiu o rapaz até a porta que escondia uma escada no extremo oposto da onde estava seguindo. Ele as orientou a descer até o último andar e então sair pela área dos funcionários, onde os paparazzi não estariam. Com um sorriso plástico elas agradeceram o mais novo e desceram desajeitadas em seus saltos.
Quis beijar Declan quando o viu dentro carro atravessado no meio do pátio, seus olhos levemente puxados olhando desconfiados ao redor, mas se contentou em agarrar a barra do vestido e correr até estar dentro do carro com a respiração pesada. Trish foi no banco da frente ao lado do moreno e logo o apressou para saírem.
Já estavam na avenida principal quando Declan arriscou olhar para a loira no banco de trás, apertada com o vestido volumoso.
— E então, o que aconteceu?
Pode ouvi-la tomar fôlego e mirar para fora da janela, ignorando seu olhar pelo retrovisor. A linha em sua testa enrugada e os grandes olhos azuis tristes acusaram que hoje ele não teria uma resposta.
— Não quero falar sobre isso agora. — resmungou se desfazendo dos grampos que prendiam seu cabelo em um coque.
— Tudo bem. — prosseguiu sem insistir — Vamos para onde então?
finalmente o olhou pelo espelho com os olhos arregalados. Na pressa de sair do hotel ela havia se esquecido de todo o resto da pintura, sentiu como se suas ações estivessem mordendo seus calcanhares agora. Aonde iria e o que faria, afinal?
— Você pode ir pra minha casa, mas vai ser o primeiro lugar que vão te procurar. — ele disse dobrando uma esquina e seguindo sem destino.
— Lá em casa também. — Trish concordou.
— Todo mundo que eu conheço está lá dentro, não tenho ninguém para pedir asilo. — deixou-se cair contra o banco — Meu pai vai me matar! — chegou a conclusão em pânico.
Patricia tinha o celular em mãos correndo por todos os contatos tentando achar uma solução para a amiga. Ela sabia muito bem como era a sensação de estupidez depois de um ato inconsequente, nunca julgaria a amiga, ainda mais depois de abandonar Milo no altar. Ela merecia era uma salva de palmas e não um fuzilamento contra o muro como Warren pretendia lhe dar assim que descobrisse sua arte.
— Podemos falar com Maggie Smith. — o moreno arriscou.
— Ela me odeia. — soltou categórica.
— Nós somos os únicos que não te odiamos, . — cantarolou baixo voltando-se para o trânsito.
— Amém a isso. — Trish concordou rindo alto. — Rosie Gibbs?
— Eu odeio ela!
Patricia rolou os olhos, a lista deveria ser ridiculamente curta se contasse somente com pessoas que não tinham um relacionamento de ódio no meio. Então um nome cruzou em sua tela e ela estalou os dedos animada.,br> — Eu sei quem pode nos ajudar! Você não vai gostar, mas é seguro e ele está em casa, tenho certeza.
— Ele? — repetiu sem entender nada.
— Um amigo meu. Declan, pro centro!
O prédio não era exatamente horrível ou pessimamente localizado, mas definitivamente não era nada com que estivesse acostumada.
Era charmoso com seus três andares, fachada com tijolinhos a vista e grandes janelas brancas. Uma inocente escada de incêndio no lateral do prédio e algumas árvores na calçada logo a frente. Agradável e familiar demais para que a garota simpatizasse, uma vez que estava acostumada com sua grande mansão no norte da cidade ou as coberturas luxuosas de seus amigos.
Declan não deixou de reparar que Trish ao menos precisou procurar pelo número no painel do interfone antes de apertá-lo, como se estivesse mais que habituada a frequentar o local. Franziu o nariz e pensou em provocá-la, contudo a voz rouca que saiu do aparelho o calou antes mesmo de falar. A voz e Trish trocaram breves cumprimentos e logo a porta estava sendo destrancada. A suas costas, resmungava que escadas eram a coisa mais vil do mundo, ele até queria ter tido a opção de respondê-la, mas era difícil formar sentenças com o traseiro da senhorita Abernathy movendo-se apertado contra o vestido a cada degrau que subia.
Podiam não ter o melhor relacionamento e Patricia certamente sabia como ser irritante além do suportável, entretanto seria hipocrisia negar que nunca havia imaginado um cenário onde os dois terminavam nus e ofegantes. E ele, elegantemente, detentor da última palavra enfim.
Não que já tivesse tido uma chance, mas você não pode negar a um homem o direito de sonhar.
Quando alcançaram o andar a noiva já estava sem ar, apertada dentro do vestido e arrependida até o último fio de cabelo de ter pedido socorro a sua amiga. A porta no fundo do corredor estava entreaberta e a loira no vestido rosa seguiu direto para ela e entrou como se fosse a dona. Logo atrás dela, Declan e seguiram desconfiados.
— Na cozinha! — gritou a voz grossa em resposta ao ‘olá’ que Trish deu para a sala vazia. — Já vou aí.
A sala era branca e simples, sem muitos móveis ou decoração exclusiva. contentou-se em sentar no sofá de três lugares e ocupá-lo quase inteiramente, obrigando seu amigo a amassar o vestido contra ela para ter um lugar. Patricia sentou em uma das três poltronas confortáveis ao redor da mesinha de centro e estava só sorrisos, o que deixou sua amiga ainda mais desconfiada.
— Todo seu agora.
A voz rouca finalmente veio acompanhada de uma face e nenhuma camiseta. Ele era levemente bronzeado, com a barba por fazer e olhos ridiculamente verdes. O sorriso que vinha em seu rosto desapareceu lentamente ao perceber a presença das outras duas pessoas no cômodo. Seus olhos se apertaram para Trish.
— Que merda você fez agora, Patricia? — o sorriso tinha ido embora e em seu lugar uma carranca séria. Cruzou os braços se aproximando da loira que apenas sorria para ele.
— Eu salvei uma noiva.
Ele apenas sacudiu a cabeça, insistindo no olhar sério, contudo Trish apenas alargou o sorriso como se o olhar de pitbull não a afetasse.
— Você pensa o pior de mim só porque me tirou da cadeia uma ou duas vezes, — deu ombros — mas dessa vez eu sou mesmo inocente.
— Das outras você estava mentindo?
— Shhh, não troque de assunto. — apontou para sua amiga amuada no sofá — precisa de um asilo diplomático por um tempo, ela meio que fugiu do próprio casamento e o papai dela meio que é fora da casinha, então…
O rapaz se virou em direção a loira a avaliando brevemente, sem realmente lhe dar alguma importância, o que fez se remexer desconfortável ao lado do amigo. Ele tornou a apertar os olhos para Patricia como se não acreditasse no que saia de sua boca.
— Por favor, . Só até o Sr Quinn esfriar a cabeça.
— Quinn? — repetiu desconfiado — Quinn igual ao governador Quinn?
A garota assentiu e uma careta tomou conta de seu rosto.
— Não depende de mim, você sabe. Não posso trocar um copo de lugar sem ter o aval de , imagine colocar alguém pra dentro da casa dela.
, que até então se mantia calada ao lado do amigo, se pôs em pé rapidamente e deu um passo em direção aos dois no meio da sala.
— Não vou ficar mais que uma semana e posso muito bem dar uma ajuda em dinheiro pela minha estadia. Eu sei que meu pai vai ficar uma fera comigo e não quero ter que enfrentá-lo agora… Quero dizer, preciso colocar minha cabeça no lugar, deixar ele esfriar a dele e… — o homem a sua frente ainda não tinha mudado a expressão para pena e ela soube que teria que jogar a carta da vítima com mais vontade — Ele é doente, você não o conhece! Se eu voltar agora ele vai me obrigar a casar com aquele… Monstro! — lágrimas vieram aos seus olhos e ela colocou a mão na boca afogando um falso soluço — Me desculpe.
Deu meia volta com as mãos no rosto e os ombros chacoalhando com os soluços do choro, Trish veio a seu encontro a abraçando desajeitadamente, tentando a acalmar.
! — a loira sibilou para o homem que ainda estava estático no lugar as observando com uma careta perdida. Sua resposta foi coçar a nuca e dar um passo em direção às duas.
— Eu não sei seu nome ainda.
. — soltou com a voz trêmula.
pode ouvi-lo suspirar alto em desistência, como se tivesse perdido uma batalha para o olhar sério de Trish ao seu lado. A suas costas ele voltou a falar após quase um minuto calado.
— Vou tentar conversar com , mas não posso te garantir nada. — disse se virando até a mesinha no canto da sala com seu telefone sem fio, o pegando e indo para a cozinha novamente. — É melhor terem outra carta na manga! — gritou da cozinha.
Os soluços e as lágrimas cessaram no mesmo momento que percebeu que o rapaz já estava longe. As mãos em seu rosto escorregaram até encontrarem as da amiga em seus ombros e então lançou um sorriso maldoso a Declan, que a encarava impassível. Trish se afastou e um sorriso semelhante nasceu em seu rosto ao ver sentar no sofá como uma rainha com sua maquiagem toda escorrida.
— Você faz isso parecer tão fácil. — disse em um sussurro.
— É como tirar doce de uma criança. — concordou em uma risadinha — Agora vamos torcer para que se desmanche fácil com lágrimas também. — soltou com desdém.
O rapaz voltou, dessa vez com uma camisa, avisou que logo estaria de volta e poderiam conversar. só lhe estendeu um sorriso amigável e trocou um breve olhar com Trish.
Ela já sabia que aquela jogada estava ganha de qualquer jeito.
Ninguém consegue dizer não para Quinn.



Continua...




Nota da autora: (25/08/2017) Sem nota.

Qualquer erro nessa fanfic e reclamações somente no e-mail.




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