Finalizada em: 05/12/2018

Capítulo Único

― Você não entende, não é? Eu sempre te amei. Eu te amo. Eu não me importo se você também me ama do mesmo jeito ou não, isso não me faz te amar menos.
Ela já parecia estar descontrolada ao falar isso, mas tentava ao máximo manter o tom de voz baixo e a postura de calma que costumava ter, mesmo que aos poucos estivesse se tornando levemente agressiva, como se ela tivesse vontade de enfiar aquilo na cabeça dele de qualquer jeito. A agressividade aparecia para mascarar sua tristeza, ela não queria chorar por aquele motivo de novo. Não na frente dele.
― Se você não se importa, por que isso continua te incomodando tanto? ― como oposto a garota de cabelos longos na sua frente, seu tom de voz era tão apático que chegava a incomodar, simplesmente porque não conseguia entender o sentido de todo aquele rancor sobre aquele assunto.
A garota parou de andar de um lado pelo outro no escritório e levantou o olhar em direção ao rapaz sentado em uma das cadeiras giratórias, lhe observando de costas para o computador que continha o documento aberto do que ele escrevia. Como ele conseguia escrever aquilo, sabendo os sentimentos que ela tinha por ele…? Como ele conseguia não se incomodar em imaginar um mundo alternativo onde eles estavam juntos, quando ele mesmo a rejeitava no mundo aonde estavam vivendo…?
― Como você se sentiria se amasse tanto alguém a ponto de sentir doer? ― o tom de voz dela mudou completamente. Se tornou um magoado, quase sufocado, enquanto uma de suas mãos iam até entre seus seios, sinalizando onde doía. Não recebeu resposta alguma dele, que continuava lhe encarando. ― Como você iria se sentir se tudo te lembrasse essa pessoa que você ama tanto? ― a mais nova abaixou a cabeça, sentindo os olhos começarem a se encher de lágrimas. ― Você não ficaria magoado se algumas coisas que essa pessoa te diz são como esfregar na sua cara que ela nunca vai te amar? Todo dia… Eu não quero que você me ame de volta, mas você não acha que é cruel sempre reafirmar que isso não vai acontecer…? Como você acha que eu fico pensando que amanhã você pode encontrar alguém que ame de outra forma e eu… Você vai me esquecer.
O silêncio como resposta fora mortalmente desconfortável para ela, que mantinha a cabeça abaixada para esconder que as lágrimas desceram sem permissão alguma por suas bochechas. Tentava não fungar e nem mesmo respirar mais fundo, não queria que ele ouvisse nada mais do que própria respiração. Não seria uma fraca. Não mais do que já era. Bastava não conseguir lidar com sua própria dor, bastava ter estragado toda a amizade que um dia tiveram, não conseguir se manter indiferente quanto àquilo, como queria ser.
Ele apenas suspirou e girou a cadeira até ficar de costas para ela, voltando a encarar a tela do computador com tantas palavras espalhadas em uma página só metade branca. Para ele, era como se o assunto tivesse se encerrado ali. O que poderia responder para aquilo? Já havia falado antes que não a esqueceria do dia pra noite e que era mais fácil ela encontrar outra pessoa.
Mas era óbvio, mesmo que nunca tivesse dito, que ele não a amava daquele jeito, na verdade seu amor por ela não chegava nem perto daquilo. Não passava de algo fraternal, como sempre fizera questão de tratá-la: uma irmã mais nova. Pensava que falar isso diretamente acabaria a magoando mais, porém se esquecia que ela já sabia…
― Eu te contei sobre o sonho que eu tive ontem?
A voz do garoto se manifestou após longos minutos, não só pela tortura psicológica que ela impunha a si mesma, como também por terem ficado mais de vinte minutos naquela situação, onde só se escutava o barulho das teclas. Ele também não se deu ao trabalho de virar o rosto para trás para olhá-la, continuou observando o teclado de forma focada, se surpreendendo ao ouvir apenas o som da porta batendo após a sua pergunta, lhe fazendo respirar fundo e parar de digitar para apoiar os cotovelos na escrivaninha e cobrir o rosto com ambas as mãos, esfregando o mesmo.
― Só não vá fazer nenhuma besteira…

❥❥❥❥❥

Sentia a água quente começar a esquentar todo o seu corpo ao se deitar naquela banheira. Não se importava se as roupas que estava usando começavam a pesar por absorverem o líquido, também não se importava de deixar a garrafa meio vazia de álcool cair de sua mão e ir contra o chão, fazendo o restante da bebida escorrer e molhar o tapete branco, manchando-o de marrom.
A temperatura ao qual estava antes de entrar pelo frio do lado de fora do banheiro começava a se elevar, mas ela não desligara nenhuma das duas torneiras, nem a de água quente e nem de gelada. Em sua mente, não passava mais nada além das imagens que havia criado sozinha com as poucas informações que tinha. Imaginava-o antes de ter entrado na sua vida, quando aparentemente ele era feliz. Sentia as palavras entaladas em sua garganta, lhe sufocando cada vez mais, mas não entendia porque se já havia falado tudo o que sentia.
Fechou seus olhos e respirou fundo, os flashes de imagens que ela pensava sobre como ele havia beijado quem quer que fosse e estavam borrados em sua mente, todas as vezes que tivera certeza de que nada conseguiria lhe machucar mais que aquilo. Todas as vezes que tivera certeza de que ele nunca a amaria e de que era apenas alguém que estava ali momentaneamente. Alguém que não faria falta alguma em sua vida.
Mas a única coisa que conseguia pensar era que mesmo com tudo isso, no final, ainda o amava. Mesmo não querendo, sabendo que aquele amor a estava matando por dentro. Sabia que doía mais dessa forma do que se a estivesse matando por fora, mas não adiantava em nada… Porque ainda o amava.





Fim!



Nota da autora: Sem nota.



Nota da beta: Lembrando que qualquer erro nessa atualização e reclamações somente no e-mail.


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