Última atualização: 21/01/2020



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Capítulo 10 - Feliz ano novo!

Depois de muito tempo deitada em minha cama ponderando sobre a minha vida, eu decidi que não sou exatamente o tipo de pessoa que se abre para dizer o que sente, e eu acho que não estava esperando que eu dissesse tudo que eu disse, mas ainda assim, ele deveria ter dito alguma coisa. Poderia ter me mandado calar a boca e me impedido de ter pagado aquele mico. Mas ele não disse nada. Nada! Fiquei deitada ali na solidão do meu quarto, fechava os olhos com força cada vez que sentia que estava prestes a chorar. Por que ele não me disse nada? Qualquer coisa poderia ter sido algo melhor do que isso, desde um fora até um surpreendente “Sim, eu também estou apaixonado por você”. Mas para que serve um “nada”? O que eu faço com esse “nada”? Eu deveria ter pedido para que ele dissesse algo ao invés de falar todas aquelas coisas sem parar para pensar. Não, eu deveria ter esperado um pouco mais, antes de me declarar. Suspirei profundamente ao notar o conflito em meus pensamentos. Eu deveria ter esperado o que exatamente? Não é como se ele fosse começar a gostar de mim de repente, não é? Acabei pegando no sono, mas não por muito tempo por que acordei com o barulho do meu notebook apitando. O puxei para o meu colo ajeitando meus cabelos enquanto atendia a ligação de Josh via Skype.
- Eu sabia que sentiria a minha falta, mas não achei que fosse logo. – o rosto dele apareceu na tela e ele estava feliz, pelos menos era o que parecia ou o que ele queria demonstrar.
- Meu Ano Novo não é a mesma coisa sem você. – sorri para ele.
- Como vão os preparativos? – perguntei.
- Ah, você sabe... – ele deitou de bruços na cama e sorriu. – Muita comida, família reunida. Queria que estivesse aqui.
- Podemos fazer o nosso ano novo depois, o que acha?
- Eu vou cobrar. – pisquei para ele. – Espera, o Ed está online, vou colocá-lo na conversa.
Não consegui o impedir e logo a cara do Edward estava ali na minha frente, dividindo a tela com o meu melhor amigo.
- Estão tendo um encontro virtual? – ele perguntou e eu rolei os olhos. – Antes tarde do que nunca.
- Feliz Ano Novo para você também, Edward.
- Ainda está longe da meia noite fofa.
- Se eu tiver sorte não vou ver mais a sua cara hoje.
- Quanta agressividade a essa hora da manhã. O que você fez para ela, Josh?
- Estava tudo muito bem até você entrar na conversa.
- Nossa. – ele pôs a mão no coração se fingindo de ofendido. – Então o problema é comigo? Ou você ainda está com raiva do e está descontando em mim?
- O que tem o ? – Josh perguntou. – Ele fez alguma coisa para você?
- Não fala do na minha frente. – pedi.
- Ainda com esse lance de ignorar? Você precisa de outro método para superar o canadense. – ele estava debochando da minha cara e isso só me deixava mais brava.
- Bom... Existe um limite para tudo, não é? – endureci a voz, tentando o fazer perceber que aquele assunto nem sequer deveria ter começado.
- Limites existem para serem quebrados. – Ed deu de ombros. – Olha só para a April, ela foi passar o Natal na casa do depois de todo aquele showzinho que ela deu na escola.
Fiquei encarando a cara do Edward sem reação. Eu não sabia que havia levado ela. Isso só podia significar que eles estavam mais sério do que nunca.
- Falei demais?
- Eu já disse para não falar do na minha frente.
- Não estou na sua frente, estou em Seattle.
Rolei os olhos e abaixei a tela do notebook me jogando na cama. Não era possível que eu ainda estava surpresa em saber disso. É claro que ele iria passar o natal com ela. Comigo que não seria! Notei que tinha uma parte de mim, bem lá no fundo, que ainda tinha esperanças de alguma coisa, eu só não sabia do que. Acabei pegando no sono novamente e acordei decidida ocupar a minha mente. Depois de tomar um banho maravilhoso eu me sentei no primeiro degrau da escada vendo John e tia Ivana sentados no sofá perto da lareira, aproveitando as últimas horas juntos. Estava com meu notebook no colo tentando por os pensamentos em ordem para poder começar o meu trabalho. Eu estava tentando ficar invisível nesses dias que se passaram. Isso foi o que eu fiz desde o último dia de aula. Eu tentava dizer a mim mesma que estava tudo bem. É bom não conseguirmos tudo que queremos, não é? Qual graça teria se tudo fosse muito fácil? Mas ainda assim, por que me incomodava tanto? Eu não sabia dizer se era por saber que não sentia o mesmo por mim, ou se era por tudo que ele disse para Helena. Tão indiferente com as coisas que eu o contei na noite de Halloween, como se todo o meu passado fosse motivo de chacota. Respirei fundo tentando afastar esses pensamentos e olhei para a janela, vendo a neve cair lá fora.
- Eu posso saber o motivo de não ter largado seu notebook desde que voltamos de Miami? – John apareceu repentinamente na minha frente.
O olhei duvidosa.
- É meu trabalho anual, mas não vai saber mais do que isso. – fechei meu notebook assim que ele se sentou ao meu lado.
- Nem uma espiadinha?
- Não mesmo. – neguei.
- Pode pelo menos me dizer o tema?
Suspirei sabendo que ele jamais me deixaria em paz se eu não desse o que ele queria.
- A luz e as trevas. – ele me deu um olhar curioso.
- É um assunto peculiar, não acha? – franziu o cenho.
- Não para a Trinity.
Ele sorriu para mim.
- Eu gostei. É original. Tenho certeza de que eles também irão gostar. – dei de ombros.
- Eles não param de dizer que eu devo ir para Harvard.
- Ah é? – perguntou intrigado. – E o que você acha? Você sabe que não precisa se sentir pressionada. Você vai ser muito boa, no que desejar fazer, e onde quiser fazer. – tentei sentir algum conforto com aquelas palavras. Mas eu não conseguia ver as coisas daquela forma.
- Eu andei pensando e... Acho que eu não quero ficar aqui quando terminar as aulas.
- Aqui... Em Nova York? – arqueou a sobrancelha ao sorrir.
- Nos Estados Unidos. – confessei e eu vi o sorriso dele sumir.
- Como assim, o que você quer dizer? – parecia atordoado.
- Você sabe que eu herdei a casa da vovó em Londres. Eu poderia conseguir uma bolsa em uma universidade na Inglaterra e...
- Não. – John se levantou de imediato me interrompendo.
- Você nem terminou de me escutar. – também me levantei.
- É uma ideia absurda, Brooklyn, você não vai sair dos Estados Unidos.
- Olha, é uma coisa muito comum que os jovens queiram estudar no exterior.
- Brooklyn... Não. – se virou de costa para mim.
- Por que não? – fiquei confusa.
Ele me olhou de esguelha e eu sabia que ele estava furioso.
- Eu perdi quatorze anos da sua vida, não vou perder nem mais um segundo sequer.
Ele saiu andando, batendo os pés no chão e passou reto por tia Ivana que lhe deu um olhar confuso e depois ela se virou para mim.
- O que deu nele? – me perguntou.
- Eu gostaria de saber. – a olhei. – Aonde você vai? – Notei que ela estava prestes a sair.
- Eu pensei em dar uma volta por Nova York, não é sempre que posso vir aqui. Você quer vir comigo? Parece que o clima nessa casa não está muito legal.
- Eu só vou pegar a minha bolsa. – me levantei da escada e sai correndo pelo corredor, agradecendo a tia Ivana mentalmente por me tirar daquele apartamento.

- Podemos parar para comer alguma coisa. Está com fome? – Tia Ivana questionou ao sairmos de uma loja.
- Não via a hora de falar isso. – sorri para ela e caminhamos em direção à praça de alimentação. Nos sentamos de frente para outra e pedimos dois hambúrgueres. Assim que a garçonete saiu, Tia Ivana me deu um olhar engraçado e sorriu.
- O que foi? – a olhei de esguelha ajeitando minha bolsa na cadeira do lado.
- Estou esperando você me contar as novidades, como eu não tenho uma filha, é normal eu cobrar assuntos femininos de você. – ela inclinou a cabeça para o lado abrindo ainda mais o seu sorriso. – Imagino que com o John você não se abra muito sobre essas... Essas coisas.
Eu realmente não queria falar sobre as minhas novidades, mas vendo a forma como ela me olhava cheia de expectativas, me fazia imaginar como seria se minha mãe estivesse viva.
- O que você quer saber? Por que na escola eu...
- Não, nada de assuntos chatos. Me conta, você conheceu algum garoto legal? – ela arqueou as sobrancelhas e eu notei que estava mais curiosa do que quando essa conversa começou.
- Eu conheço vários garotos. – dei de ombros.
- E nenhum te interessou? Você está na idade de se apaixonar, sabia? Quando mais nova, eu adorava sair para encontros. É melhor fase da nossa vida, quando você começa a sentir borboletas no estômago e passar noites em claro pensando em alguém... – ela suspirou.
Fiquei observando tia Ivana relembrar a sua juventude pensando em como as coisas deveriam ter sido mais fáceis para ela do que está sendo para mim.
- Tem esse garoto... – comecei dizendo e eu não fazia ideia do que estava fazendo, mas algo dentro de mim queria desabafar com alguém que saberia o que me dizer depois. – Ele é inteligente, lindo, tem um sorriso... Eu não sei, parece que o mundo para quando ele sorri e tudo perde a cor em volta dele, por que nada mais importa. Apenas o sorriso dele. Ele é seguro de si, mente aberta, me compreende, sempre me faz rir, escuta as coisas que eu nunca disse, e... – Parei de falar quando eu vi olhar dela em minha direção. Pelo visto eu tinha falado mais do que deveria. Cocei a garganta e me recompus. – Mas é apenas um garoto que eu conheci. – tentei disfarçar.
- E qual é o problema? Você parece estar apaixonada, mas não parece feliz por estar apaixonada. - eu não soube o que dizer. Eu queria esquecer e admitir que apesar de tudo, ainda havia algo nele que mexia comigo, não parecia ser o melhor jeito.
- Acho que esse é o problema. – olhei para as minhas mãos sobre a mesa. – Eu estou muito apaixonada por ele. Tipo... Muito mesmo. Completamente apaixonada. Às vezes chega ser sufocante.
- E por que não fala isso para ele?
- Ele... – eu não queria falar em voz alta que não correspondia os meus sentimentos. Eu não queria sentir esse aperto no peito cada vez que eu pensasse sobre isso. Tudo que eu queria era poder absolver toda essa situação e tentar tirar alguma coisa boa, talvez continuar sendo amiga dele como sempre fomos. Mas eu sabia que isso também não iria ser possível, nem se eu aceitasse as desculpas dele nós poderíamos voltar a sermos amigos. Não depois da minha declaração. Pisquei várias vezes tentando espantar algumas lágrimas que estavam surgindo em meus olhos. – Ele não gosta de mim... Dessa forma. – comprimi meus lábios enquanto eu sentia o olhar dela. Logo em seguida forcei um sorriso que eu sabia que não enganava ninguém.
- Quem não gostaria de você? Você é uma garota tão linda. – ela esticou o braço para tocar meu rosto carinhosamente.
- Eu acho que é melhor assim. – lembrei a mim mesma ao perceber que minha consciência sobre aquela decisão estava repensando sobre as coisas. – Eu me apaixonei por ele por que quando estamos juntos eu consigo ser eu mesma, ele me trás essa confiança. E pelo fato dele saber sobre o meu passado e ainda assim continuar ao meu lado me fazia pensar que ele poderia gostar de mim. – encarei o nada enquanto minha mente vagava nas minhas melhores lembranças com . – Claro que eu sabia que ele não sentia o mesmo. – dei um sorriso irônico. – Ele estava sempre ao meu lado, mas também estava com a April. – a olhei. – E então ele me levou para o Canadá ao invés dela e a partir desse momento eu não tive certeza de mais nada. – a lembrança do nosso “quase beijo” apareceu de supetão e eu não consegui impedir. – Eu deveria ter percebido antes que meus sentimentos se desenvolvessem, quando eu ainda podia ter mudado as coisas, eu acho que foi a incerteza que me deixou completamente confusa. – forcei outro sorriso. – E depois de confirmar a minha incerteza eu achei que essa palpitação pararia com o tempo e quando a palpitação parasse, eu achei que seria fácil seguir em frente. Porém... Eu estava enganada. Mas agora... Agora que eu ouvi as coisas que ele disse, eu não preciso mais imaginar o que ele sente em relação a mim. E eu me sinto mais aliviada.
Era completamente verdade o que eu havia dito. Por um lado eu estava triste, mas por outro eu estava leve. Era bom saber o que o sentia e não sentia por mim ao invés de ficar tentando adivinhar através das suas atitudes. Eu poderia seguir em frente a qualquer momento.
- Ah claro... – ela disse com um tom zombeteiro. – O amor platônico. É mais comum do que imagina. – o jeito que ela falou fazia parecer que gostar de alguém que não corresponde o seus sentimentos não era tão ruim assim. Não sei como seria depois que esses sentimentos passassem, mas por enquanto, parecia que eu estava vivendo os dias sem um fim.
- Nada é exatamente o fim do mundo. – ela me encarou. – Eu me confessei uma vez... Criei coragem depois de alguns meses em que eu já sabia que gostava dele. Nós éramos melhores amigos e vivíamos juntos para cima e para baixo, e eu também cheguei a pensar que ele pudesse corresponder os meus sentimentos. Arrisquei tudo. Falei cada palavra que eu achava que ele deveria ouvir para que não ficasse nenhuma dúvida. Mas eu estava completamente errada sobre os sentimentos dele. – ela fez uma pausa de alguns segundos parecendo por os pensamentos em ordem. – O mais incrível é, que depois que eu me declarei, eu senti meu coração se esvaziando aos poucos. Igual uma maré baixa, sabe? – eu concordei no mesmo instante. – E eu pensei: “Tudo bem... Acho que eu deveria me sentir dessa forma afinal.” – ela sorriu para mim. – Eu fiz tudo que eu poderia ter feito, sem arrependimentos. Então... Quando eu percebi que o meu melhor não era o suficiente para fazê-lo ficar comigo, eu entendi que não era para ser e por isso, eu não me machuquei muito. Então se você já fez o que tinha que fazer, não precisa viver um dia após o outro achando que o problema é você, por que não é. – ela pegou na minha mão. – Você certamente já leu essa frase em algum lugar, mas eu vou dizer de novo caso tenha se esquecido. – me olhou em silencio por alguns segundos. – Todo mundo vai te magoar de alguma forma em algum determinado tempo. Mas é você quem escolhe por quem vale a pena sofrer.
Eu não deveria ter achado aquela frase de Tumblr tão impactante, mas foi o que aconteceu. Eu poderia ter sentimentos pelo , mas ele não parecia ser merecedor deles, não é mesmo? Eu poderia redirecionar esses sentimentos para outra pessoa? Pensei em Josh e em todas as vezes que nossos amigos insistiam em afirmar que ele gostava de mim. E mesmo sabendo que não era correspondido, continuou ao meu lado, sendo meu melhor amigo. Nunca tentei dar uma chance para ele, não por medo de não darmos certo futuramente, mas por saber que o que eu sinto por ele jamais chegará perto do que eu sinto pelo . E consequentemente eu acabaria o machucando e eu jamais me perdoaria por isso.

- Esse não era o nosso combinado. – disse alto para que tia Ivana escutasse enquanto me encarava no espelho. Ela havia me arrastado até uma loja do shopping e passou um bom tempo escolhendo um vestido para que eu usasse hoje à noite na confraternização de ano novo, o nome era para disfarçar o real motivo de tanta gente junta em um jantar simbólico sem fazer parecer que era um jantar de negócios.
- Me deixe te mimar um pouco. – ouvi a voz dela e sorri.
- Você poderia me comprar um sorvete, já estaria ótimo. – sai do provador e eu vi o sorriso no rosto dela se engrandecer.
- Você parece uma princesa.
Rolei os olhos e depois vi as vendedoras se aproximarem de mim para ajeitar o vestido em meu corpo. Tudo por uma boa comissão.
- Eu vou procurar um sapato que combine com esse vestido maravilhoso.
Antes que eu pudesse impedi-la, ela saiu pisando no seu salto fino e carregando duas das vendedoras com ela.
Olhei-me novamente no espelho passando a mão pelo meu corpo e sentindo a textura do vestido em mim. Ele era realmente lindo, eu precisava admitir. Passei a mão em meus cabelos soltando a presilha para logo em seguida vê-los dançando pelos meus ombros e minhas costas. Joguei uma parte para frente e ajeitei minha franja. Agora eu parecia alguém que merecia usar um vestido daqueles. Flagrei uma das vendedoras me olhando e senti meu rosto esquentar no mesmo instante. Em um movimento rápido para prender meu cabelo, bati minha mão em minha orelha esquerda e senti o meu brinco cair.
- Merda. – praguejei baixinho e me agachei para procurá-lo. Depois de uns longos minutos procurando eu passei meus olhos por algo brilhoso e supus ser meu brinco. Quando estiquei minha mão vi um sapato pisar em cima. Bem em cima deles. Mordi meu lábio com forca me levantando para logo em seguida me deparar com os olhos de Thomas Carter.
- Eu te vi de longe e fiquei na dúvida se era realmente você ou alguém bem parecida. – ele olhou a sua volta. – Esse não era exatamente o seu lugar favorito.
Sorri sem graça.
- Pelo o que eu me lembro, você também não costumava frequentar um shopping. – ele arqueou a sobrancelha ao sorrir.
- É verdade. – passou a língua nos lábios ao olhar para o meu vestido. – Ficou bonito em você. Deveria levar.
- Eu... – eu não sabia o que dizer por que estava totalmente sem graça por ele ter me visto assim. - Você está pisando no meu brinco. – mudei de assunto e apontei para o chão. Vi Thomas se afastar de mim e então ele se agachou pegando o brinco e depois voltou a se aproximar. Ele estendeu a sua mão para mim e eu o olhei com receio. Mordisquei os meus lábios e me apressei em pegar o brinco, mais Thomas recuou sua mão. Minha expressão se tornou confusa no mesmo instante, mais ele não pareceu se preocupar com isso. Tanto que sorriu de lado se aproximando mais. Senti sua mão tocar meu rosto delicadamente fazendo meu corpo se arrepiar, sua mão se deslizou até meu cabelo o colocando atrás da orelha onde não tinha o brinco e então o colocou com cuidado.
- Prontinho. – sussurrou ainda muito próximo de mim.
- Brooklyn... – tia Ivana apareceu novamente com dois pares de sapatos em mão. Ela deu uma boa olhada para Thomas e depois sorriu para mim. – Não vai me apresentar o seu amigo?
- É... – me afastei dele imediatamente vendo o olhar dele em minha direção. Ele não parecia ofendido com a minha atitude, parecia estar se divertindo.
- Thomas Carter. – ele andou até ela e se apresentou. Os dois trocaram dois beijinhos estalados na bochecha e eu cocei meu rosto tentando esconder o quanto eu estava desconfortável com aquela situação.
- Ivana Henson, mas você pode me chamar de tia. – ao ouvir aquilo eu logo me apressei até o provador para poder tirar aquele vestido.
Enquanto eu estava no processo de trocar as minhas roupas, eu percebi que os dois cochichando alguma coisa que eu não conseguia ouvir, mas temi que Thomas estivesse sendo “aberto” demais e falasse sobre a nossa relação quando eu morava no Brooklyn. Apressei-me em juntar minhas coisas e sai rapidamente ao encontro deles que sorria um para o outro.
- Vamos, tia? – coloquei o cabide no vestido enquanto ajeitava minha bolsa no meu ombro e balançava minha cabeça para tentar tirar alguns cabelos soltos que eu não consegui prender.
- Por que a pressa? – ela tomou o vestido das minhas mãos. Olhou para os sapatos e depois para o vestido novamente. – Hmmm, difícil saber qual vai ficar melhor. Então eu vou levar os dois sapatos e o vestido. – ela disse e rapidamente empurrou as coisas para o colo de uma das vendedoras.
- Mas tia...
- Considere como um presente de ano novo, por favor. – nem sequer me olhou, apenas colocou a mão para dentro da bolsa retirando seu cartão de crédito. – Thomas me disse que está com dificuldades para escolher um presente para a irmã e a mãe e eu disse que você adoraria ajudá-lo.
Arqueei as sobrancelhas ao encará-la, mas ela não disse nada, ao invés disso, se aproximou de mim e puxou minha presilha soltando meus cabelos.
- Os seus cabelos realça a sua beleza, nunca se esqueça disso.
Ela me deu um sorriso e eu me segurei muito para não rolar os olhos. Depois olhei para Thomas que apenas deu de ombros ao sorrir para mim. Soltei um suspiro longo e consegui ajeitar minha bolsa em meu ombro, depois andei em direção dele que me olhava em expectativa.
- O que você tem em mente?
- Eu não faço ideia. – ele apontou para a porta da loja e juntos nós andamos em direção à saída. Virei para trás para poder olhar para tia Ivana e demonstrar a minha “felicidade” com aquela situação, ela abriu seu sorriso branco e fez sinal de joinha com os dois polegares. Rolei os olhos não acreditando que ela havia me metido nisso e quando dei mais um passo para fora da loja, me esbarrei em alguém.
- Me desculpe. – disse rapidamente tentando me recompor. Olhei para o homem na minha frente sentindo um frio esquisito na minha espinha. Uma sensação familiar me acercou rapidamente. Ele estava de boné, óculos escuros e parecia evitar olhar em minha direção. Logo em seguida eu comecei a sentir um cheiro, aquele cheiro. Era o cheiro do perfume favorito da Lucy. Ah muito tempo eu não me deparava com alguém usando o mesmo perfume que o dela. – Nos conhecemos? – perguntei por que eu estava com essa impressão, mas ele saiu andando apressadamente.
- Você está bem? – Thomas me perguntou e eu assenti ainda olhando para o lado onde o homem havia ido, sentindo uma estranha impressão de que eu já havia o visto em algum lugar. – Cara estranho. – concordei. - Enfim... Você não precisa vir comigo. – o olhei quando eu ouvi o que ele disse. – Eu sei que você só aceitou para não contradizer a sua tia. – continuou. – E eu sei que não é só por que nos conhecemos desde criança que as coisas irão voltar ao normal entre nós. Afinal se passaram quase três anos e não três meses. E eu entendo. – deu um sorriso rápido. – Só achei que seria legal me reaproximar de alguém que eu costumava ser próximo agora que moro em um lugar como Manhattan. Essa cidade pode ser cheia de pessoas, mas é muito fácil se sentir sozinho. – ele deu de ombros e sorriu novamente. – Nos vemos na escola? – Eu concordei ainda sem entender nada e ele me deu as costas e saiu andando. Eu queria me sentir feliz por não ter sido obrigada a ajudá-lo com seus presentes, mas na verdade eu me sentia culpada por que eu sabia como era estar no lugar dele. Eu daria qualquer coisa para ter alguém ao meu lado quando me mudei para Manhattan, além de John. Coloquei as mãos na cintura me sentindo confusa com aqueles pensamentos e continuei o encarando seguir o seu caminho até perceber que ele estava prestes a entrar em uma loja de lingerie. Rolei os olhos e me apressei a ponto de impedi-lo.
- Você não vai querer fazer isso, vai por mim. – o puxei pela mão o levando até uma joalheria.

- Você não pode estar falando sério. – não consegui segurar um riso ao ouvir o que Thomas havia me dito. Depois de ajudá-lo com os presentes, ele decidiu me acompanhar até em casa e eu não consegui dizer não, e eu também não queria dizer não. Ele havia conseguido me distrair todo esse tempo em que ficamos juntos e ele estava ainda mais divertido do que consigo me lembrar.
- É verdade, eu não consegui namorar ninguém depois que você foi embora.
- Nenhuma garota? – o olhei desconfiada ao enfiar minhas mãos no bolso do meu casaco.
- Alguns casinhos ali e aqui, mas nada que valha a pena lembrar.
- Eu não posso ser tão inesquecível dessa forma, posso? – ouvi a risada dele.
- Nem foi tanto você, acho que foi mais a sensação da perda. – ele parou de andar me fazendo parar também. – Claro que isso não se compara ao que você passou e eu juro que entendo o porquê você foi embora, mas ainda assim eu não quero me sentir daquela forma de novo. Quero dizer... Não quero passar por todo aquele processo de conhecer alguém legal, me apaixonar e depois perdê-la. É uma droga isso.
- Apaixonar? – perguntei em um tom zombeteiro. – Nós éramos crianças, nem sabíamos o significado dessa palavra. – Ele franziu o cenho enquanto continuava a me encarar, parecia que estava um pouco surpreso por eu ter dito aquilo.
- E nós somos o que agora? – perguntou em um tom seco.
- Não somos adultos, mas agora pelo menos temos noção do que é se apaixonar de verdade.
- Ah sim, entendo. – ele olhou para os lados parecendo um pouco frustrado e depois cruzou os braços voltando a me encarar. – Então você está apaixonada?
- O quê? – dei um passo para trás sem saber o por que.
- Bom... Que eu saiba, para você saber o que é paixão, você precisa se apaixonar, não é mesmo? Então... – ele deu dois passos em minha direção encurtando a nossa distância e ficando bem próximo a mim. – Você está apaixonada?
Engoli em seco.
- Eu poderia saber o que é paixão pela internet, livros, relatos de amigos, etc...
- E se eu te disser que tudo que eu pensei que sentia por você há três anos não mudou desde então?
Agora foi a minha vez de franzir o que cenho. O que ele queria dizer com aquilo? Arranhei a garganta ao me afastar dele novamente.
- Você quer dizer o pensamento ou o sentimento? – perguntei receosa.
- Eu quero dizer que tudo que aconteceu entre nós foi real. Pelo menos da minha parte. – pousou as mãos na cintura ao suspirar. – Eu não sei se eu era uma forma de escape para você ou se você precisava de um ombro amigo no fim do dia, mas para mim... – seus olhos estavam fixos em mim. – Para mim era tudo sobre você. E por isso foi tão difícil te ver indo embora e não ter feito nada a respeito.
Compreendi naquele momento o que ele queria dizer sobre a “sensação de perda”.
- Eu sei que deveria ter me despedido. – disse em um tom baixo. - Eu deveria e você merecia isso. No meio de toda aquela confusão que era a minha vida, você era a única coisa que não me deixava desabar. E eu preciso te agradecer por isso. – ele me olhou como se não me entendesse. – Tudo a minha volta estava uma bagunça e eu sempre me sentia confusa. Ninguém nunca se preocupava em me perguntar se eu estava bem. Você era e única pessoa. Não era nada de mais, mas aquelas palavras estranhamente me consolavam. – senti um nó se formar em minha garganta. - Quando a minha mãe morreu, eu não conseguia pensar em mais nada a não ser sumir, mas estar em Manhattan depois de tanto tempo, me fez perceber que não importa para aonde eu vá, esse sentimento continua comigo. – suspirei. – Às vezes eu consigo viver como se estivesse bem, às vezes eu consigo esquecer o que aconteceu, mas se tem uma coisa que dura para sempre é o passado e eu ainda estou tentando lidar com isso. Mas te ver novamente, depois de todo esse tempo... Me trouxe tantas lembranças. Muitas das quais eu gostaria de esquecer. E foi por isso que eu me senti reprimida na sua companhia. Todo o trabalho duro que eu tive para guardar essas memórias no meu subconsciente não serviu para nada. – eu não conseguia olhar para ele. – E por isso... Me desculpa Thomas. – voltei uns dois passos para me aproximar dele. – Me desculpa por não ter me despedido.
Ele ficou me olhando sem dizer nada e nós ficamos parados no meio daquela calçada movimentada por algum tempo, até que ele abriu um sorriso simples.
- Eu te desculpo se você fizer uma coisa por mim. – franzi o cenho no mesmo instante.
- Que coisa? – o olhei interrogativa.
- Será que você pode voltar a me chamar de Tom? Vai fazer com que eu me sinta menos estranho na sua vida. – fiquei o encarando e procurando alguma coisa nele que fosse estranha para mim, mas fora a sua altura, tudo nele me era familiar. Então eu abri um sorriso e agarrei o braço dele enlaçando ao meu.
- Não era assim que costumávamos a andar pela escola? – o olhei rapidamente e depois o puxei para que continuássemos nosso trajeto. Ele riu.
- Se vamos relembrar os velhos tempos, então eu preciso te pagar um frappuccino blended. É o mínimo depois de me ajudar com os presentes.
- Ótima ideia. Eu conheço uma Starbucks bem aqui pertinho.
- Pelo visto eu ainda te conheço muito bem, não é? – me questionou de uma forma convencida.
- Se me conhece tão bem então me prova... Ao que sou alérgica?
- A camarão. – me deu um olhar engraçado. – E a qualquer tipo de emoção humana.
- Engraçadinho.

***

Passei pela porta giratória já recebendo o sorriso de James e andei em direção a ele com o intuito de me refugiar do frio. Prometi a mim mesmo que evitaria frequentar esse prédio para tornar as coisas mais fáceis entre mim e Brooklyn, mas como nesse exato momento ela está viajando, não encontrei problemas em buscar a April para um passeio. Iriamos fazer nossas compras de ano novo juntos. Ela queria muito um daqueles moletons de casais e eu ainda não estava acreditando que concordei.
A porta do elevador se abriu e assim que ela me viu, se apressou em vir em minha direção se jogando nos meus braços. Não tive tempo de falar com James.
- Vamos? – segurei sua mão.
- É claro. – ela sorriu e depois de dois passos ela parou de andar.
- Aconteceu alguma coisa? – perguntei intrigado.
- Esqueci o meu celular no quarto, volto em dois minutos. – ela me deu um selinho e saiu em disparada até o elevador. Depois que ela sumiu da minha vista eu olhei a minha volta procurando alguma coisa de interessante para me entreter. Avistei James recebendo uma encomenda e andei até ele.
- Brooklyn Bennette? – ouvi James perguntar e a minha curiosidade apareceu. Aproximei-me sem parecer muito suspeito.
- Sim, senhor! Você pode assinar aqui, por favor? – O entregador pediu, e assim que James assinou ele foi embora. Depois de analisar a caixa parecendo curioso em saber o que tinha ali dentro, ele olhou para a entrada do prédio e sorriu da mesma forma que sorriu para mim quando cheguei. O acompanhei com o olhar até ver Brooklyn passar pelas portas giratórias. O clima de repente ficou diferente e a minha tranquilidade de um minuto atrás já não era a mesma. Era a primeira vez que eu a via desde a última vez que conversamos e ela parecia bem, na verdade, ela parecia ótima. Sorria sinceramente e todo seu rosto parecia se iluminar por conta disso. Talvez ela tivesse dado conta que seus sentimentos por mim tenha sido um equívoco e agora nós poderíamos voltar a ser amigos novamente. Aquela ideia me agradava, mas eu sabia que mesmo se ela percebesse que não está apaixonada por mim, ela não poderia esquecer as coisas que ouviu em Ottawa. Eu sentia a falta dela, mais do que eu gostaria admitir e isso era o que mais me incomodava. Dei um passo decidido a ir falar com ela, ela precisava entender que eu não quis dizer nada do que eu disse e que na verdade, tudo não passou de um mal entendido, mas um garoto entrou, estacionou ao lado dela e a abraçou pelo ombro. Ela sorriu para ele e depois voltou a conversar com James deixando que o braço daquele garoto repousasse em seu ombro. Senti o meu estômago embrulhar com aquela cena. Ela estava apaixonada por mim, mas está saindo com outro cara? Que situação embaraçosa. Escondi-me por entre as duas colunas que ficava no centro do saguão assim que notei que eles estavam vindo em minha direção. Como eu havia previsto, ela não tinha me visto ali e passou direto até o elevador com a encomenda em mãos e o garoto colado ao seu lado. Acho que não passava nem uma formiga entre aqueles dois, e eu não entendia por que precisavam andar tão próximos. Eles se despediram com um abraço e o garoto saiu por onde entrou. Como se o meu corpo tivesse vontade própria, andei em direção ao elevador decidido a tirar uma satisfação dela, mas as portas do elevador se fecharam antes mesmo de eu conseguir chegar ao seu campo de visão. Fiquei apertando o botãozinho como se aquilo fosse fazer o elevador chegar mais rápido, e depois de uma eternidade em que suas portas se abriram, April saiu de lá já me lançando um sorriso e me puxando pelas mãos. Não tive muita escolha a não ser segui-la.

***

- Eu ainda não acredito que a tia Ivana conseguiu te convencer a usar esse vestido. – Emma sussurrou ao meu lado enquanto nós recebíamos os convidados. – Sejam bem vindos.
- Convencer não é bem a palavra que eu usaria. – forcei um sorriso para as pessoas que passavam por mim. – Ela basicamente o colocou em mim a força. – puxei a saia do vestido mostrando a minha sandália nova. – Pareço alta demais?
- O suficiente para encontrar um gatinho.
Rolei os olhos.
- Não vamos ter essa conversa de novo, vamos?
- Eu pensei que, agora, mais do que nunca, você fosse querer conhecer alguém. – eu a olhei.
- Mas eu já conheço todos os moradores do prédio e se há três anos eu não consegui me interessar por nenhum, não vai ser hoje que vai acontecer, não é?
- Poderia começar conhecendo de verdade, e não vendo as fotos toda vez que o John precisa fazer uma reunião com o síndico e os moradores.
Não era nenhuma novidade que eu sempre evitei conhecer intimamente algum morador do prédio. Eles sempre parecem com pressa e atrasados para alguma coisa que me fez entender que o interesse deles em me conhecer era recíproco.
- Posso mudar de assunto e dizer que estou feliz que tenha conseguido voltar de viagem mais cedo e ter vindo à festa de ano novo que o John está promovendo?
- Só é uma festa se eu estiver presente.
- O Ed discordaria de você.
Ambas sorrimos.
- Seja bem vin... – minha frase perdeu o som quando vi parado na minha frente. Depois desses longos dias e das minhas tentativas frustradas de reagir de uma forma superior quando eu o visse, aqui estava ele, como se nada tivesse acontecido, como se ele não tivesse roubado o meu coração sem a intenção de ficar com ele. Eu sabia que eu deveria dizer algo, mas meu coração batia tão depressa que eu não conseguia pensar em nada. Ele deu um rápido aceno para Emma e depois olhou para mim.
- Oi. – me abordou fazendo meus poros se eriçarem. Até ouvir a voz dele faz meu coração palpitar. Ele abriu um sorriso simples. – Você está... – seus olhos tinham um tom diferente ao me analisar. – Linda?
Ele fez uma pergunta? Franzi o cenho.
- Estou linda? – olhei para Emma e depois para ele novamente. – Isso é bom, mas você parece um pouco surpreso. Eu não era linda antes?
O rosto dele se suavizou como se estivesse aliviado por eu não ter o mandado embora ou o ignorado como tenho feito desde a última vez em que eu me permitir olhar dentro daqueles olhos claros e hipnotizantes. Ele mencionou dizer algo, mas...
- Você chegou!
April apareceu de repente se jogando nos braços dele. Tentei disfarçar o meu desconforto ao notar que ele não tinha tirado os olhos de mim, mesmo na presença dela. April me deu uma rápida analisada e depois o puxou pela mão.
- Vem, tem algumas pessoas que eu quero te apresentar.
Ele não relutou em segui-la e eu fiquei encarando os dois desfilarem pelo saguão enquanto demonstravam para todos que eram um casal perfeito. Ela havia ganhado sem nem mesmo fazer um esforço. A verdade é que eu nunca estive na jogada. Senti a presença da Emmalyn ao meu lado, mas eu não consegui tirar meus olhos dele.
- Acho que ele está muito apaixonado por ela. – disse. – Dizem que da para ver pelo jeito que ele olha para ela quando ela não está olhando para ele. Claramente você consegue perceber quando ele deixa de sorrir com os lábios e passa a sorrir com os olhos. Exatamente como você está fazendo nesse momento.
Quando eu entendi o que ela estava querendo dizer rolei meus olhos me recompondo e balancei meus ombros para espantar a má vibração que ficou no ar.
- De repente, o que você disse sobre “encontrar um gatinho”, faz mais sentido agora.
Emma abriu um sorriso para mim.
- Quem disse que só o amor muda as pessoas? O ciúmes também.
- Do que você está falando? Não, esquece isso. Vamos nos concentrar no que é importante. Sejam bem vindos... – abortei dois casais que haviam chegado.
- Eu preciso beber alguma coisa. Se vou morrer de tédio aqui, eu preciso no mínimo estar bêbada. – Emma saiu correndo em direção ao Open Bar montado ao lado da banda de Jazz e me deixou sozinha na recepção. Naquele momento eu considerei a opção de me embebedar, só para saber como é ter um momento em que você não se preocupa com seus problemas e faz exatamente o que você quiser fazer. Balancei minha cabeça espantando aquele pensamento e voltei a minha atenção para uma moça que havia acabado de chegar.
- Bem vinda. – eu a abordei e diferente dos outros convidados, ela abriu um sorriso enorme em minha direção. Franzi o cenho, mas sorri de volta.
- Lucy? – ela disse e o meu corpo congelou.
- O que você disse? – fechei meu sorriso no mesmo instante.
- Não é esse o seu nome? – perguntou com uma voz serena.
- Na-ão. – gaguejei.
- É mesmo? Poxa, eu jurava que sim.
- Quem é você? – perguntei sem rodeios.
- Ah, que indelicadeza a minha. Eu sou Hazel Larson. – ela estendeu a mão e eu ponderei se deveria aceitar a sua formalidade.
- Brooklyn Bennette. – por fim, eu cedi.
- Bennette? – ela disse ao apertar a minha mão e a sua voz se tornou um sussurro, como se ela estivesse com dificuldades para respirar. Fiquei confusa com a sua mudança de humor drástica. – Lucy... Lucy... – ela recolheu as suas mãos colocando em sua cabeça ao se encolher. – Meu Deus, o que ela passou... O que você passou... – ela voltou a fincar seus olhos em mim. – Você precisa descobrir a verdade, só assim ela vai poder descansar em paz.
- Você está bem? – eu não conseguia compreender o que ela dizia. A moça puxou as minhas mãos com força enquanto seus olhos procuravam o meu.
- Você precisa descobrir a verdade, se não ela não vai poder seguir o seu caminho.
- Do que você está falando? – eu estava cada vez mais confusa.
- A sua mãe... – de repente ela caiu nos meus braços e com muito custo eu a impedi de cair no chão. Ela era pesada.
- Senhora Larson... Hazel? – tentei chamar a sua atenção.
- O que aconteceu? – um homem entrou e rapidamente se agachou a tomando em seus braços.
- Ela começou a dizer várias coisas sem parar, eu não consegui entender nada. Por fim, ela desmaiou no meu colo.
- Hazel. – ele a chamou. – Hazel...
- Você a conhece? – perguntei.
- Eu sou o marido dela. Estava estacionando o carro e ela decidiu entrar na frente para se encontrar com as suas amigas.
- Fred? – ela começou a despertar e o olhar dele se suavizou. – O que aconteceu? – perguntou visivelmente confusa.
- Você não se lembra? – ele perguntou e ela negou. Depois ela virou-se para mim.
- Quem é ela?
- Brooklyn Bennette. – disse na esperança de que ela terminasse o que havia começado.
- Ah sim, a filha do John Henson. Você é mais linda pessoalmente.
A sua personalidade tranquila e serena voltou.
- Você estava dizendo que...
- Por favor. – o marido dela me cortou. – Minha mulher precisa descansar.
Ele a ajudou a se levantar e a levou para algum canto qualquer do saguão e eu estava completamente desnorteada. Tentei segui-los para poder abordá-la depois que ela estivesse se sentindo melhor. Mas uma coisa me chamou a atenção. Vi e April perto dos elevadores e não pareciam estar tendo uma conversa civilizada. Não precisei me aproximar para escutar o que eles estavam dizendo.
- Quantas vezes eu preciso dizer que não aconteceu nada entre mim e a Brooklyn? – ele parecia estar sem paciência.
- Então por que ela vive se metendo entre a gente? Eu te garanto que ela não quer ser a minha melhor amiga.
- Você está confundindo as coisas.
- Me diz como se sentiria se eu fosse amiga de um cara que é apaixonado por mim. Você não iria gostar não é? – ele não a respondeu, só ficou parado com as mãos no bolso do blazer a encarando. – Você precisa escolher. A Brooklyn ou eu! Não dá para ser meu namorado e amigo dela ao mesmo tempo.
Não fiquei para ouvir a resposta.
Não precisava de mais um fora para o meu currículo. Todo esse tempo ele teve a chance de me ligar e dizer algo, mas se ele decidiu ficar em silencio, quer dizer que eu claramente não era a sua escolha.
- Brooklyn Bennette? – o marido de Hazel me abordou. – É esse o seu nome? – concordei no mesmo instante enquanto meus olhos procuravam por sua esposa. – Eu não tinha certeza, às vezes a minha mulher se confunde.
- Ela fez isso. – eu disse de imediato. – Ela me chamou de Lucy.
- E esse nome tem algum significado para você?
Mordi meu lábio pensando se eu diria sobre Lucy para um estranho.
- É como a minha mãe se chamava.
- Se chamava? – replicou e eu concordei pausadamente. Ele pareceu um pouco frustrado ao olhar para os lados. – Nós precisamos conversar em um lugar reservado.
Subimos até o segundo andar e paramos de frente a janela que dava vista para a piscina. Ele se certificou de que não tinha ninguém por perto e respirou profundamente antes de começar a falar.
- A minha mulher é sensitiva. – começou dizendo. – Ela costuma adivinhar simples coisas, às vezes só de olhar para a pessoa. Como um número, uma cor, ou um nome. Mas às vezes... – ele olhou para os lados novamente. – Às vezes quando ela tem contato físico com uma pessoa, ela consegue captar as vibrações, sentir as emoções sendo ela boa ou má. Senhorita Henson. – me chamou pelo sobrenome do John. – Há muito tempo ela não desmaiava ao tocar em uma pessoa. Eu não sei o que ela disse antes de desmaiar, mas de todos os anos em que estamos casados, ela nunca se enganou sobre alguém. Eu não tenho o direito de te dizer o que fazer, mas eu preciso te dar esse conselho. Se existe alguma coisa pendente no seu passado você precisa descobrir. Ou essa má vibração que te cerca, grudará em você e você nunca vai poder se livrar dela. – ele ficou me encarando, talvez esperando que eu dissesse algo ou reagisse sobre aquilo. Mas tudo que eu consegui fazer foi ficar estática, estava com mil pensamentos na cabeça que nem percebi quando ele saiu e me deixou ali sozinha.


***

Eu estava tão confuso com tudo que estava acontecendo. Eu tinha a absoluta certeza de que era a April quem eu gostava, mas quando ela me pediu para escolher, eu quis dizer que era a Brooklyn, eu quis escolher a Brooke. O que significava aquilo? Por que só de pensar nela eu sentia uma ansiedade estranha, como se eu quisesse vê-la ou estar com ela. Meus pés frearam quando eu a vi parada de frente para a janela do segundo andar. Ela parecia triste e meu peito se apertava com a ideia de que poderia ser por minha culpa. Fiquei a observando e pensei que eu poderia fazer isso à noite inteira. Ela olhou em minha direção como se soubesse que eu estava encarando, e ao contrário do que eu imaginei, ela começou a andar em minha direção. Subi as escadas de encontro ao dela.
- Podemos conversar? – dissemos juntos e eu soltei um sorriso sem graça. Já ela parecia ter ficado sem graça.
- Eu começo... – ela molhou os lábios e respirou fundo, como se tivesse tomando coragem para me dizer algo. – Eu não quero ter conversas superficiais com você. – começou. – Não quero que nossos diálogos sejam limitados por simples convenções sociais, não quero te tratar apenas como um conhecido qualquer, afinal, você me conhece melhor do que ninguém e sabe o caos que me habita. – no instinto eu concordei com o que ela dizia mesmo sem entender direito o que tudo aquilo significava. - Eu não quero te desconhecer só por que você não sente o mesmo que sinto por você. O fato de você não ter me escolhido, não apaga tudo o que aconteceu. Você me conheceu, me entendeu, me apoiou e por mais que eu tente fingir está tudo bem em não ser a sua escolhida, essa realidade nunca vai mudar. Eu sei como se sente, ou melhor, o que não sente. E eu respeito isso. – naquele momento eu estava muito incomodado com as batidas aceleradas do meu coração e com o fato de que a minha mente não concordava com aquelas palavras. Ela deu um sorriso fraco enquanto meus olhos não conseguiam se desviarem dela. – Uma pessoa me disse que como ela fez tudo que estava ao alcance dela, ela não tem arrependimentos. Então... – ela deu um passo em minha direção ao sustentar o meu olhar, logo em seguida colocou sua mão sobre a minha. – Obrigada por me dar a chance de fazer tudo que eu poderia ter feito. Não me arrependo de ter me apaixonado por você, você é um cara incrível de todas as formas que podem ser possíveis e qualquer garota seria sortuda por ter te conhecido da forma como eu conheci. – ela soltou a minha mão e eu quis segurá-la novamente, mas eu não conseguia me mexer. – Obrigada por ter feito de todos os nossos momentos especiais e eu prometo que assim que eu superar esse sentimento eu voltarei a te procurar e aí vamos poder retomar a nossa amizade de onde paramos. Até lá... Se cuida. – ela se afastou de mim. – Feliz ano novo, Canadá!
Com um aceno e um sorriso simples, ela passou por mim descendo as escadas e me deixando sozinho. Virei-me para ela, a vendo se misturar com as pessoas e sentindo a minha garganta se fechar. Em outra vida. Em outra época, eu a teria a impedido de ir e a teria abraçado em seguida. Ainda que eu quisesse não o fiz. Em vez disso, fiquei parado a vendo partir, com a sensação de que eu iria me arrepender por não ter feito nada a respeito.


***


Eu não queria desistir da minha amizade com o dessa forma, e depois de todo o meu diálogo com a tia Ivana, eu estava decidida a perdoá-lo para voltar a sermos amigos. Mas eu não tinha como pensar nisso agora, minha mente estava bagunçada, eu não fazia ideia do que iria fazer. A única certeza que eu tinha era que eu precisava ir atrás do meu passado. Esperei todo esse tempo por medo das respostas que eu poderia obter, mas eu não posso mais deixar para lá. Eu preciso saber da verdade. E por isso, eu não poderia me distrair por uma paixão colegial. Deixei a festa um pouco antes da meia noite e fui direto para o meu quarto ainda pensativa. Por onde eu deveria começar? Meus olhos foram diretos para a encomenda que eu havia recebido e que eu não tive tempo para abrir. Peguei a caixa e andei até a sacada sentindo a brisa gelada daquela noite e fiquei olhando para ela por alguns instantes.
- Não diz aqui quem mandou... – procurei por todo o embrulho algum nome, mas não tinha nada. Nem um cartão. Balancei a caixa tendo certeza de que tinha alguma coisa ali dentro e resolvi abrir.
Todo o meu corpo se arrepiou e não foi por conta do frio que estava ali. Aquilo não poderia ser uma coincidência, não podia ser. Ali dentro daquela caixa continha um livro: Código da Vinci.
Mas não era um simples livro.
Era o livro favorito da Lucy.


Capítulo 11 - O Passado.

Caminhei em direção à pista de corrida com nenhum pingo de vontade em praticar atividades físicas. Não sei se era por falta de disposição ou se era por esse incômodo que eu sentia a cada meio segundo, como se eu sentisse que tinha algo de errado, mas ao mesmo tempo, eu não conseguia saber o que poderia ser. Para ajudar, April não se desgrudava de mim desde a nossa última discussão em que eu quase escolhi Brooke. No fundo, eu sei bem o que eu queria, mas não tive coragem de dizer em voz alta, na verdade, eu não queria admitir. Bem lá no fundo eu também sabia que aquele fogo que April despertava em mim já havia se apagado há algum tempo, desde o momento em que Brooke se confessou para mim. Enquanto me alongava, a avistei com Ed e aquele garoto que estava com ela no outro dia. Não sabia que ele estudava aqui, deve ser aluno novo, senão, eu já teria o visto antes, se bem que ele não me é estranho, estranho mesmo foi à sensação ruim que eu senti no peito ao vê-la sorrir para ele, como se ele fosse a pessoa mais engraçada do mundo. Rolei meus olhos me sentindo enojado com aquela cena e me virei de costas tentando ignorar essa situação. Quando vi minha namorada andando em minha direção rapidamente, fui para o campo de futebol americano me aquecer juntos com os outros caras.
- Pensou na minha proposta? – o cara por quem Edward tinha uma queda começou a correr ao meu lado.
- Proposta? – franzi o cenho.
- Sim, em entrar para o time.
Ah sim.
- Não sei...
- É que na verdade... – começou a dizer quando eu ameacei correr na frente. – Eu te vi olhando para a Brooke. – parei no mesmo instante para encará-lo. – Eu sei, não sou muito discreto, bom... Você também não. – ficou de frente para mim e pela forma como transpirava, estava correndo à bem mais tempo do que eu.
- Aonde você quer chegar com essa conversa? – passei minha mão por meus cabelos me sentindo um pouco frustrado em ter sido muito óbvio.
- Você já deve saber que o Ed gosta de mim, então... Onde eu estou ele também está. Onde o Edward está, a Brooklyn está, e se você sabe somar dois mais dois, vai saber exatamente aonde eu quero chegar.
Fiquei o encarando pensando no que ele havia dito, no final, concluí que ele estava me subornando para entrar no time, em troca, eu teria umas desculpas para ver a Brooke. Se ela não estava falando comigo, era porque tinha seus motivos, e eu sabia muito bem quais eram. Ela merecia esse tempo longe de mim.
- Brooke e eu somos apenas amigos. – lhe dei um olhar firme e voltei a correr sabendo que ele me seguiria.
- Agora diga isso com mais certeza. Pra ver se consegue convencer a você mesmo.
- Cara, você nem me conhece. – parei para encará-lo novamente.
- Conheço o suficiente para notar que você gosta dela. – fiquei o encarando, não acreditando naquele papo furado. Ele deu de ombros e sorriu. – Acho que não mencionei que o Ed deixou escapar algumas coisas que aconteceu entre vocês. – franzi o cenho. – Mas não o culpe, ele estava muito bêbado. Não fazia ideia do que estava dizendo.
- E é claro, você está se aproveitando da situação para me fazer entrar no time mesmo contra a minha vontade.
- Eu sei... Eu deveria pedir “por favor”, mas implorar não é o meu lance. Além do mais, esse método sempre funciona.
Cruzei os braços não acreditando que eu estava cogitando aquela hipótese. Óbvio que eu gostaria de voltar a falar com a Brooke, mas o que mais me assustava era saber que voltar a falar com ela já não era mais o suficiente.
- Você parece indeciso, que tal eu te ajudar um pouco a se decidir. Vem comigo.
Ele sorriu de lado e saiu andando em direção à arquibancada onde estava Ed e Brooke. Olhei para os lados um pouco confuso, mas decidi segui-lo mesmo assim. Quando bem próximos, ele começou a rir do nada e a fingir que estávamos conversando, até ele trombar no Ed e eu tenho certeza de que foi de propósito.
- Meu Deus, para que serve essas coisas redondas bem no meio dessa tua cara lavada? – a esperada reação exagerada de Ed.
- Eu, obviamente, não te vi, senão teria feito questão de dar meia volta.
- Ah, é claro. Eu devo estar invisível agora. – cruzou os braços.
- Invisível não, mas com certeza não é alguém que as pessoas gostem de prestar atenção.
Olhei rapidamente para Brooke que sorria, mas não me olhava. Ainda estava me ignorando.
- Você nunca sabe a hora de calar a boca, não é? – ele pareceu ter ficado ofendido. – Nem se quer me pediu desculpas por ter esbarrado em mim.
- Estava esperando que eu dissesse o que exatamente?
- Estava esperando que inventasse uma historinha para que eu, pelo menos, pudesse te chamar de mentiroso.
- Por quê? Acha que eu esbarrei de propósito?
- Tenho certeza.
- Sabe que eu não faria uma coisa dessas... – disse em um tom sínico, mas Ed ficou quieto apenas o encarando. – O que foi?
- Estou pensando se devo ou não me fazer de idiota.
Dei dois passos para o lado e me aproximei dela bem devagar, enquanto ela continuava rindo dos garotos e só notou minha presença quando eu já estava ao seu lado. Ela abriu um sorriso simples para mim e eu sabia que apenas por isso, mesmo se ela não falasse comigo, eu havia ganhado o meu dia.
- Que tipo de relação fora de moda é essa? – tentei parecer descontraído.
- O problema é o Ed. – ela afirmou com convicção voltando a olhar para os dois que estavam perdidos no mundinho deles. – Te dou um milhão se achar alguém mais irritante.
Tentei sorrir como sempre fazia quando ela dizia algo engraçado, mas eu estava ocupado demais olhando para ela. Também aproveitei ao máximo meu tempo com eles, agradecendo que aqueles dois tinham muitas coisas sujas para dizerem um para o outro. Assim, eu tinha uma desculpa inocente para olhar Brooklyn, mesmo que ela não parecesse se importar com a minha presença.
Durante o intervalo, eu tive várias tentativas falhas de falar com a Brooke, mas ela nunca estava sozinha, sempre acompanhada por seus amigos, quando não estava com Thomas Carter na sua cola. Sim, eu me dei o trabalho de saber quem ele era e no final, acabei descobrindo mais do que eu gostaria. Soube pelo Christensen que os dois, além de estudarem juntos, foram namorados na infância. Não sei por que, mas senti meu estômago embrulhar, me senti um pouco desorientado, tonto. Talvez ser atingido por um raio devesse ser algo parecido. Ela era como uma irmã, certo? Certo! E era apenas por isso que eu não gostei de vê-la tão perto de Thomas, porque ela era como uma irmã e eu não confiava nenhum pouco naquele cara. Eu também senti uma pontada de contrariedade quando ela passou por mim como se eu não estivesse ali. Havia me acostumado a falar com ela quase o tempo todo que quase me esqueci de que não éramos mais amigos.
- O que você tem hoje? – April se agarrou ao meu braço e eu rolei os olhos.
- Nada. – respondi em um tom seco.
- Você tem certeza? – perguntou e eu respondi com um aceno positivo. – Tudo bem, mas de qualquer forma, eu só queria te falar que meus pais vão ficar a tarde toda fora, que tal irmos lá pra casa e nos livrarmos desse estresse todo?
- Tá, tanto faz.
Afastei-me quando meus pensamentos se desviaram para Brooklyn novamente. Com certeza ela não faria questão de falar comigo, agora que tinha Thomas para ocupar o lugar que antes era meu. De cara amarrada, fui para a aula de biologia prática com a minha cabeça baixa para não expressar a minha revolta.

***


- É a trigésima vez que eu te vejo lendo esse livro. – ouvi Ed tagarelar. – Será um novo recorde?
Não consegui responder, estava ocupada demais tentando achar qualquer pista sobre a pessoa que poderia ter me mandado aquele livro. Eu havia o lido umas cinco vezes desde que o recebi, sempre carregava comigo para todos os lugares tendo a chance de o folhear quando pudesse e ainda assim, não havia nada demais a não ser o fato desse livro ser o favorito dela. Da Lucy, minha mãe. Minha mente vagou na possibilidade de ser o meu pai que pudesse ter me mandado o livro, nesses últimos dias, me senti como se tivesse sendo vigiada, mas sempre que olhava para trás, não via nada a não ser a minha desconfiança de sempre. Talvez eu estivesse começando a ficar paranoica.
- Você viu como o olhava para você? – virei meu rosto rapidamente para Ed. – Aaaah, agora eu consegui a sua atenção? – rolei os olhos. – Não precisa esquentar a periquita, dessa vez eu não estou exagerando, ele estava mesmo olhando para você, nem conseguia disfarçar. E eu acho que ele nem queria isso.
- Você percebeu? Pensei que estava ocupado demais brincando de quem teve a pior educação com o Christensen. – voltei meus olhos para o livro.
- Às vezes, ser infantil em um relacionamento é saudável!
- Você não deve conhecer a definição de “relacionamento”. – sorri. – Mas se você está feliz, eu estou feliz por você. – o olhei e ele espreitou os olhos para mim.
- Para de fingir que é mente aberta. – me deu um leve empurrão. – Em breve ele vai perceber o quanto está apaixonado por mim.
- Parece que seu narcisismo é pior do que eu imaginava.
Ele arqueou a sobrancelha levemente e me deu um sorrisinho convencido.
- Que alívio, a professora ainda não chegou. – Elijah e Josh se sentaram nos seus lugares atrás de mim e Edward.
- Posso saber onde estavam? – Ed se virou para eles.
- Onde eu estava? – Josh replicou e parecia um pouco bravo. – Não tínhamos combinado que iria me ajudar com trabalho de economia na hora do intervalo?
- O Ed disse que te ajudaria? – Josh o perguntou.
- Sim, ele disse. Por quê?
- Engraçado, ele também disse que me ajudaria a estudar para a prova de física na hora do intervalo.
Os dois encararam Ed que parecia ter ficado sem graça, só parecia mesmo. No fundo, ele sequer deveria saber o que era ter vergonha na cara.
- Planejamos isso há uma semana. – Josh disse para Elijah.
- Ele confirmou comigo essa manhã.
- Ei, gente. – me virei para eles. – Antes de vocês saírem no tapa, lembrem-se que o vencedor fica com o Ed. – senti o olhar de Edward em minha direção, mas continuei olhando para os dois. – Aliás... Vocês são ótimos alunos, por que precisam de ajuda?
- Estou muito ocupado com as minhas atividades extras. – Josh me respondeu.
- E eu estou trabalhando para o meu pai depois da aula. Pensei que fosse dar conta de trabalhar e ainda tirar notas boas, mas acho que ele está certo. Sou um filhinho de papai que tem tudo na mão facilmente.
- Não tem nada de errado em ser filhinho do papai, não é sua culpa se nasceu com privilégio de não precisar trabalhar para ter do bom e do melhor. – Ed se pronunciou. – Graças à vida boa que meus pais me dão, eu consigo ter tempo para estudar e tirar ótimas notas. E meus dentes são perfeitos.
- Adoro sua humildade. – Elijah disse com sarcasmos. – Só não se esquece de que a Brooklyn ainda é a número um da escola.
- Eita, se a venera tanto deveria ter pedido ajuda a ela e não para mim.
- Eu até tentei, mas esses dias parece que a Brooke nem percebe onde ela está pisando. – ele me olhou. – Está acontecendo alguma coisa?
Os três ficaram me encarando, esperando por uma resposta. Eu não sabia o que dizer para eles. Abri e fechei a boca várias vezes até ouvi o barulho da porta se fechando. Nossa professora de história havia chegado. Ela passou direto pelas carteiras entregando uma folha para cada aluno e pela reação deles, era algo bom.
- Nós vamos para o Brooklyn? – Ed quase gritou e eu quase engasguei com o ar. Peguei minha folha rapidamente lendo atenciosamente. Era uma permissão para fazermos uma excursão no Brooklyn. – Finalmente essa aula está começando a ficar interessante. – Ed tagarelou. – Ei, Brooke, você pode ser nossa guia, o que acha?
Sorri sem graça para eles e depois virei meu rosto para o lado tentando esconder o choque que foi receber aquela notícia.


Todos conversavam animadamente enquanto eu havia perdido completamente a minha fome. Eu não deveria estar me sentindo assim, eu fui ao Brooklyn com o não tinha muito tempo e tudo havia ocorrido bem, mas eu não sabia quais seriam os limites dessa viagem, até onde iríamos visitar, o que veríamos. Eu não podia ir, não podia ir. Fiquei repetindo essa frase na minha cabeça que nem notei Thomas sentado do meu lado, conversando com os meus amigos, como se eles se conhecessem há muitos anos. Ele me olhou por alguns segundos e sorriu, depois se virou para mim e piscou duas vezes rapidamente.
- Te dou um doce pelos seus pensamentos. – ele me estendeu um bombom de chocolate e eu sorri ao pegá-lo. – Você estava aérea. – observou.
- Pensando longe. – disse sem graça.
- Eu imagino qual seja essa distância. Você está bem? – passei a língua por entre meus lábios e dei de ombros.
- Não sei o que esperar dessa viajem, e essa é a pior parte.
- Você acha que vai ser tão ruim assim voltar ao Brooklyn?
Eu não o respondi, apenas virei meu rosto para o lado e vi me encarando, eu conhecia aquele olhar. Era o olhar que eu sempre recebia quando as pessoas sentiam pena de mim, abaixei meu rosto quando ele se levantou e andou em minha direção.
- Vamos conversar.
Ele não perguntou se eu queria conversar, simplesmente puxou a minha mão, mas eu senti outra mão segurar o meu braço. Era Thomas.
- Você não precisa ir se não quiser. – disse ao se levantar e encarar .
Revezei o olhar entre os dois me perguntando como eu tinha entrado naquela situação.
- Está tudo bem, Thomas. – me soltei dele e puxei que continuava a encará-lo.
- O que você está fazendo? – April apareceu na nossa frente quando estávamos saindo, seu olhar abaixou até as nossas mãos juntas e eu pude ver faíscas saindo por seus olhos.
- Agora não, April. – ele disse com um tom autoritário e deu a volta por ela.
- Se você der mais um passo, tudo entre nós está acabado.
Ele parou de andar imediatamente.
Fiquei observando as suas costas pensando em quando a humilhação viria, quando ele soltaria a minha mão para segurar a dela e me deixaria sozinha sob os olhares de todos. Mas para a minha surpresa, ele apertou meus dedos firmando sua mão contra a minha e continuou a andar me puxando junto. Minha mente entrou em queda livre, eu não sabia o que pensar naquele momento. Ele me levou até um corredor vazio e me empurrou em direção à parede. Seus olhos estavam grudados aos meus, atento a qualquer movimento.
- Eu não me importo se não está falando comigo ou se está me ignorando, mas nesse exato momento, eu vou ficar do seu lado. – franzi o cenho não sabendo aonde ele queria chegar. – Até essa excursão acabar, você não vai sair do meu lado, enquanto eu não tiver certeza de que você está bem, eu não vou tirar os olhos de você. – respirei fundo apertando minhas mãos umas nas outras.
- Não faz isso. – pedi.
- Fazer o que? – retrucou.
- Eu te disse o que eu sentia e você deixou bem claro que não sentia o mesmo. Eu prometi que assim que eu superasse esse sentimento, nós poderíamos ser amigos, então você não pode simplesmente vir aqui e ser esse cara por quem eu me apaixonei e fingir que nada aconteceu e que está tudo bem entre nós. – o encarei firmemente.
Ele ficou me encarando sem piscar e logo em seguida depositou suas mãos na cintura.
- Céus, o que eu faço com você? – disse em meio a um sussurro. – Eu não estou fingindo que nada aconteceu, isso quem está fazendo é você. – aumentou o tom. – Você soltou a bomba em cima de mim, não me deixou pensar ou responder, simplesmente formulou na sua mente que eu não tenho sentimentos por você e saiu correndo.
O que ele estava querendo dizer?
Ele deu um passo em minha direção e eu segurei a minha respiração dando um passo para trás e prendendo meu corpo na parede. Seus olhos fixados aos meus me deixando completamente desconfortável, o que ele queria com isso? Ele se aproximou mais deixando o espaço entre nós quase nulo e foi aí que o sinal tocou fazendo com que se distraísse e olhasse para o lado, aproveitando essa chance, eu sai correndo pelo corredor sentindo meu coração querer sair pela boca. O que foi isso? Por que ele estava tão perto de mim? Por que me encarou daquela forma? Parei de correr e olhei para trás ouvindo minha respiração acelerada. O que estava acontecendo?


Minha cabeça parecia que iria deflagrar, não consegui prestar atenção um minuto sequer da aula de matemática avançada, contei os segundos para a aula acabar, eu precisava ir embora, falar com o John sobre reagendar minhas sessões com a Mariah ou eu não aguentaria essa situação sem surtar. Assim que o sinal bateu, eu juntei meus materiais rapidamente e sai arrastando a mochila pelo chão sabendo que era o alvo de fofoca dos meus amigos.
- Vocês estão do lado de quem? O primeiro amor, que volta depois de anos trazendo lembranças do passado? O amor clichê, entre o garoto popular da escola que tem namorada, mas que gosta da garota nerd e tímida? Ou o melhor amigo que sempre fica de escanteio sem fazer nada, apoiando as decisões da amada mesmo sabendo que ela está cometendo um erro em não ficar com ele?
Ed começou a narrar àquela situação de uma forma zombeteira, todos meus amigos começaram a rir.
- Eu estou do lado do Thomas. – Emma foi a primeira a tomar um partido. – Acho bonitinha essa história em que os dois se reencontram depois de anos e percebem que ainda se amam.
Rolei os olhos.
- O que? – Ed disse em um tom falso de surpresa. – Não tem nada melhor do que o velho e bom clichê em que o garoto popular reluta em dizer seus sentimentos para a garota nerd, mas no final os dois vivem felizes para sempre. – contrariou Emma.
- Vocês enlouqueceram? – Elijah disse em um tom brincalhão. – Nada é mais romântico que os dois melhores amigos descobrirem que estão apaixonados depois de ficarem com as pessoas erradas. – claramente ele estava falando do Josh. – E como você deliciosamente observou: “Ela está cometendo um erro em não ficar com ele”.
Virei-me para trás imediatamente encarando todos eles.
- Eu não sei qual de vocês eu quero que cale a boca primeiro.
Ed soltou uma risadinha e passou seu braço por meu ombro me fazendo voltar a andar.
- Só estamos tentando te ajudar a decidir o seu futuro amoroso. Para isso que servem os amigos.
- E estão chegando a algum lugar com essa conversa? – arqueei a sobrancelha.
- Me diz você. – me encarou.
Olhei para os três me sentindo um pouco nauseada e virei às costas para eles indo embora sem me despedir.


Como nos últimos dias, eu estava fazendo um caminho mais longo para minha casa, todo aquele barulho da cidade me ajudava a não pensar em coisas que eu não queria pensar, e chegar mais tarde em casa me ajudava a evitar perguntas que eu não queria responder e nem chegar a conclusões precipitadas. Queria que tia Ivana tivesse prolongado sua estadia, ela com certeza saberia o que me dizer nesse momento, e eu achava uma opção mais válida do que ir a uma psicóloga, mesmo ela sendo uma amiga antiga da família e íntima do John. Tinha certeza que os dois guardavam sentimentos um pelo outro e era exatamente por isso que eu tinha tanto receio de conversar com ela. Sorri ao notar que eu não estava pensando em ou na viagem para o Brooklyn, mas fechei meu sorriso quando notei que, para chegar àquela conclusão, eu tive que pensar nisso novamente. Parei na faixa bufando bem alto, passando minha mão de forma frustrada por meu rosto retirando alguns fios que dançavam com o vento e depois de uma tentativa falha, comecei a sacudir minha cabeça como se tivesse mosquitos zumbindo em meus ouvidos.
- Não sabia que gostava de chamar tanto atenção assim. – olhei para o meu lado me assustando ao ver ali. Ele olhou a sua volta e depois enfiou a mão no casaco. – As pessoas estão olhando. – observou.
- O que está fazendo aqui? – fui direta.
- Não finja que não escutou quando eu disse que não tiraria os meus olhos de você.
Rolei meus olhos não acreditando naquela situação.
- Eu ouvi, mas ignorei. E como você pode ver, eu estou perfeitamente bem.
- Eu não diria isso depois de presenciar esse pequeno surto que deu bem no meio da rua.
- Isso não tem nada a ver com o que está acontecendo, é que tinha um cabelo... – parei de tentar me explicar quando vi o olhar dele me minha direção. Ele estava se divertindo e por isso, por mais que eu tentasse afastá-lo, ele não iria se mover.
- Você já foi mais discreta. – disse em meio a um sorriso.
Esfreguei minhas mãos umas nas outras tentando espantar o frio do inverno e o calafrio que eu sentia na presença dele.
- Está com frio? – perguntou olhando diretamente paras minhas mãos.
- Não. – o respondi rapidamente e aproveitei que o sinal abriu para sair andando e o deixar para trás. Mas não por muito tempo.
- Aonde vai com tanta pressa? – perguntou. – Para sua casa que não é, já que o caminho que você faz geralmente não é por aqui.
- Quase tinha me esquecido que você gosta de se meter em assuntos que não são da sua conta.
- Pelo o que eu me lembro, não foi por isso que se apaixonou por mim?
Franzi o cenho com a forma como ele foi direto a esse assunto. O olhei de soslaio.
- O que? – acho que minha voz saiu falha.
- Você me pediu para não agir da forma pela qual se apaixonou por mim, mas é exatamente isso que eu quero fazer. Aliás... – puxou a ponta do meu casaco me fazendo parar de andar e ficar de frente para ele. – Você usou a frase “me apaixonei” e não “estou apaixonada”, o que aconteceu? Não gosta mais de mim?
- O que... O que é isso? – puxei meu casaco me afastando dele e apertando meus passos.
- Não vale responder a minha pergunta com outra.
- Você não parecia ter tanto a dizer quando eu me declarei. O que mudou agora?
- Eu já disse, você soltou a bomba em cima de mim e saiu correndo, estive esperando desde então a oportunidade de te fazer ficar sem palavras também.
- Só que ai você vai perceber que ficar esperando uma resposta é uma droga.
- Acontece que eu já sei a resposta. – soou convencido.
- É, eu também já sei. – disse em um tom rude me virando para ele. – Você já me deu a sua resposta, por tanto... Pare de me olhar nos olhos e não venha com palavras bonitinhas, dizendo que se importa comigo, porque eu não quero me apaixonar por você. – tentei fazer parecer que os meus sentimentos tinham ficado no passado e eu acho que consegui o convencer, porque o olhar dele parecia triste. Meu coração murchou instantaneamente.
- Pode dizer o que quiser, mas eu não vou sair do seu lado. – arqueei a sobrancelha surpresa por essa atitude, eu pensei que ele fosse me dar as costas e ir embora. – No momento em que eu percebi meus sentimentos por você, eu... Eu não soube o que fazer e por isso eu agi como um covarde. No fundo, eu já sabia o que eu sentia, mas na minha cabeça tudo era diferente. Eu não sei quando ou como, mas... Comecei a ter esses sentimentos por você sem ao menos perceber e nesse exato momento, eu estou me perguntando quando foi que tudo começou. – meu coração parecia ter despertado e estava se acelerando cada vez mais, em um ritmo frenético e confuso. – Percebi isso tão tarde que eu realmente não faço ideia de quando isso começou, mas... Se de tudo... Nesse momento, ainda conseguíssemos conversar, se a gente, por um acaso, ainda conseguisse se olhar, eu só queria me desculpar. Por ter sido um idiota ao dizer todas aquelas coisas sobre você para a Helena, por não ter me dado conta antes do que eu sinto por você e por ter demorado tanto para te dizer.
Ele estava se declarando para mim?
- Está surpresa? – perguntou. – Bem, você saberia disso se não estivesse me ignorado todo esse tempo. – ameacei abrir a boca para dizer alguma coisa, mas ele novamente me interrompeu. – Você disse tudo aquele dia que se declarou para mim e no outro dia na festa de ano novo. A agora é a minha vez. Então, por favor, não me interrompa.
- Tem mais? – perguntei surpresa.
- Em primeiro lugar, eu quero pedir desculpas novamente, você tinha toda a razão por ter me odiado quando ouviu todas aquelas coisas que eu disse para a Helena. Naquele dia, eu ainda não entendia que, na verdade, todo esse caos, mistério, essa timidez, tudo isso em conjunto fez eu me atrair por você. Além do fato de você ser uma das poucas pessoas que consegue me fazer rir constantemente, que me faz sentir a sua falta quando não está por perto, que me faz sentir em casa quando eu não conheço nem metade dos rostos que eu vejo todos os dias desde que me mudei para Nova York. – eu sabia que meus olhos estavam querendo lacrimejar, mas eu não fiz nenhum movimento involuntário. Para falar a verdade, eu não tinha ideia do que fazer. – Mas eu também fiquei confuso e assustado e isso pode soar como uma desculpa, mas foi por isso que eu demorei tanto para te dizer isso, eu tive medo de perder tudo que conquistamos desde que nos conhecemos. E pelo fato de ter demorado de perceber os meus sentimentos, você pode ter diluído os seus sentimentos por mim. E eu entendo isso. Mas se tem alguma coisa, qualquer coisa, que eu possa fazer para que possa se apaixonar por mim novamente, eu farei. – prendi a minha respiração no mesmo instante. – E eu também espero que entenda isso, porque o que eu estou tentando te dizer nesse momento é que eu estou apaixonado por você.
Ok. Eu precisava fazer alguma coisa, qualquer coisa, algum aceno constrangedor seria mais válido do que esse silêncio. Será que eu conseguiria dizer alguma coisa com nexo nesse momento? Eu precisava pensar, mas pensar no que exatamente. Ele estava aqui se declarando para mim, provavelmente esperando que eu me jogue em seus braços feliz por acreditar na frase “antes tarde do que nunca”, só que não era exatamente assim que eu me sentia, por mais que eu tivesse esperando ansiosamente por essas palavras, não parecia certo me entregar logo de cara. Ele merecia saber exatamente pelo o que passei. E foi por esse pensamento que eu dei as costas e sai pisando firme pelo chão com a expressão fechada. Ele me seguiu.
- Então você descobriu que está apaixonado por mim? – me virei bruscamente não conseguindo conter as palavras em minha boca. Ele concordou em um aceno me olhando sem piscar. – Está arrependido por ter dito todas aquelas coisas para a Helena e por ter esperado tanto tempo para dizer o que sentia quando poderia ter evitado muita coisa? – ele novamente voltou a acenar a cabeça como se estivesse respondendo há um comando direto. – Então fique sabendo que isso não é o suficiente. – meu tom tinha certa mágoa e ansiedade misturada. – Vir aqui cheio de palavras bonitas não vai ser o suficiente para me fazer mudar de ideia. Eu não vou mudar de ideia porque não é justo. Eu já tinha aceitado o fato de que você gostava da April e que nós poderíamos voltar a ser amigos um dia e agora, você estragou tudo. – não era apenas por isso, mas eu não quis admitir o quanto eu sofri para agora, ele dizer que também sente o mesmo por mim. – Você percebeu tarde demais.
- Brooklyn...
Não quis ouvir o que ele queria dizer por medo de me fazer mudar de ideia, então voltei a andar sentindo minhas pernas tremerem, mas não era frio e sim nervosismo. Parei novamente, só que dessa vez, não foi pelo que estava parado atrás de mim dizendo alguma coisa que eu não conseguia escutar, mas foi pelo fato de eu estar vendo John saindo da Starbucks Coffee com um homem idêntico ao meu Thiago. O mundo parou naquele exato momento e não tinha nada mais que eu enxergasse a não serem os dois. Meus olhos poderiam estar tão enganados?
- Pai...
Sussurrei não conseguindo controlar o tom da minha voz, mas foi como se ele tivesse me escutado, seu rosto se voltou para a minha direção e a sua expressão se tornou de surpresa, já não tinha mais nenhuma dúvida, era mesmo o meu pai.
- Brooklyn? – ouvi me chamar mais o ignorei.
Apertei meus passos na direção deles e logo em seguida John olhou em minha direção notando a minha presença, ele também havia ficado surpreso em me ver, era visível, mas no mesmo instante, ele disse algo para Thiago que acompanhou um guarda que estava parado ao lado dele até uma viatura da polícia de Nova York. Ele relutou em entrar e eu comecei a correr de encontro a ele não me importando com o sinal aberto ou os carros quase me atropelando. John veio em minha direção e quando chegou perto o suficiente, ele me segurou pela cintura me impedindo de chegar perto de Thiago.
- Pai. – disse em um tom alto e desesperado sentindo minhas lágrimas caírem por meu rosto. – Me larga, John.
- Brooke, espera. Nós precisamos conversar.
- John, é o meu pai. – eu estava ficando cada vez mais nervosa. – Por que ele está levando o meu pai? Me solta! O que está acontecendo? – debatia o meu corpo contra o dele, mas era inútil, apesar da minha enorme força em correr para os braços do Thiago.
- Brooklyn. – o choque veio quando Thiago disse o meu nome. Quantas vezes, em meu sonho, eu desejei escutar a voz dele novamente e agora, de fato, estava acontecendo. Meu corpo parou de lutar para sair dos braços de John e eu fiquei observando o guarda levar o meu pai de mim novamente, após anos sem saber se ele poderia estar vivo ou não.
- Brooke, me escuta. Brooke. – a voz do John começou distante e depois foi ficando alta e aguda. Ele estava me trazendo de volta à realidade. Por um momento eu tinha perdido a lucidez de tudo.
- O que está acontecendo? Por que não me deixou falar com o meu pai? - Virei-me para John sentindo toda a raiva crescer pelo meu corpo. – Por que ele teve que ser levado por policiais?
- É muito mais complicado do que você imagina.
- Complicado? – repliquei com uma voz cansada e chorosa. – Tudo que eu queria era encontrar o meu pai, você sabe disso. E depois de anos, eu descubro que ele está perto de mim e a minha única chance de falar com ele é tomada sem o meu consentimento. – tentei limpar algumas lágrimas em vão, em seguidas, outras desceram também sem o meu consentimento.
- Eu vou dizer tudo que precisa saber, mas antes, você precisa se acalmar. – meus ombros subiam e desciam conforme minha respiração ia ficando mais intensa. – , você pode nos dar licença?
Segurei a mão do no mesmo instante. Ele havia dito que não tiraria os olhos de mim e agora precisaria cumprir a sua palavra. Eu sentia que, a partir daquele momento, eu iria precisar mesmo do ao meu lado.
- Fale de uma vez o que está acontecendo? – não aguentava aquele suspense.
John suspirou profundamente se preparando para me dizer.
- Thiago se entregou Brooke, depois de todos esses anos, ele assumiu a sua culpa por livre e espontânea vontade. – procurei seus olhos não entendendo o que ele estava querendo dizer com “se entregou”. Nada estava fazendo sentindo naquele momento.
- John...? – me afastei quando ele mencionou tocar em meus cabelos. Ele pareceu um pouco frustrado com a minha atitude, mas eu não me importei.
- Não foi o Willy, o tempo inteiro nós tínhamos certeza que sim, mas agora... Tudo está fazendo sentindo. – ele foi rápido ao segurar meu rosto, e eu notei o quanto vermelho seus olhos estavam, como se aquela situação estivesse doendo tanto nele quanto em mim. E vê-lo me olhar daquela forma me fez acreditar que talvez fosse possível.
- Eu não estou te entendendo. – as palavras saíram junto com o choro, e John estava chorando comigo!
- Thiago, foi ele quem matou Lucy. – começou a chorar desesperadamente. – Ele quem matou sua mãe.


Capítulo 12 - Thiago Bennette!

Às vezes eu consigo ver o tempo passando por mim. Como se tudo a minha volta ficasse em câmera lenta e eu pudesse observar cada detalhe do momento, como um pingo de chuva caindo ou um pássaro sobrevoando as árvores. Outras vezes eu consigo sentir a vida passando tão rápido que ao piscar os meus olhos já é o amanhã, semana que vem, ano que vem, ou o pior dia da minha vida. Ontem, eu tive essas duas sensações impactantes. Primeiro foi a declaração do , tudo ficou pausado e eu pude ver a felicidade entrando na minha vida sem permissão e nem aviso de quando iria embora. De repente, era como se eu quisesse sorrir de orelha a orelha, mesmo que eu estivesse evitando o máximo não me entregar para , eu conseguia ouvir perfeitamente cada batida acelerada do meu coração. Mas logo em seguida minha vida foi do céu para o inferno, do dia para a noite, do amor para o ódio, do presente para o passado, como se eu estivesse andando para trás ao invés de ir para frente. Todas as informações martelavam em minha cabeça como se realmente tivesse alguém batendo em mim com um martelo. Tudo doía, cada centímetro do meu corpo fazia questão de me lembrar de cada acontecimento de ontem à tarde.
“- Thiago, foi ele quem matou Lucy, - começou a chorar desesperadamente. – Ele quem matou sua mãe.
Essa frase ecoava como desespero em minha mente, e a cada segundo que se passava ela parecia vir com mais impacto, forte, como uma bomba que a qualquer momento poderia explodir dentro de mim, era essa a forma como eu me sentia. Nada estava claro pra mim, absolutamente nada fazia sentindo. Thiago havia matado Lucy? Ele havia realmente feito isso? Por que era tão difícil de acreditar? Ele sempre dizia que nós éramos as pessoas mais importantes, mulheres da vida dele, que nada fazia sentido se não estivéssemos juntos. E veja bem, não faz! Eu não acreditava, por Deus, eu não acreditava uma palavra sequer do que John havia dito, era mentira, eu sabia que sim. Tinha que ser mentira. Mas ele não me deixou vê-lo, disse que ainda não era a hora, que eu não estava pronta para ouvir as respostas das perguntas que eu tenho comigo há três anos. Como assim eu não estou pronta? Eu vivi todo esse tempo sem saber se meu pai poderia estar vivo ou não, com uma única esperança de que eu pudesse vê-lo novamente. E agora eu era a prisioneira, não podia sair de casa para lugar algum a não ser a escola ou falar com a Mariah, tinha essa ordem até que John determinasse que eu estivesse pronta, como se fosse algo que ele saberia. Tranquei-me em meu quarto desde que voltei para casa, sentada na mesma posição fetal em minha cama, olhando a janela aberta, vendo a neve caindo sem piedade e sentindo minhas lágrimas descerem contra a minha vontade. Eu não sabia o que pensar ou imaginar, mas eu sabia que eu estava ansiando o momento em que eu pudesse correr para os braços de Thiago e confirmar o que eu já sabia. Ele não havia matado a minha mãe.
- Brooklyn... – Havia meia hora em que Nana estava batendo na porta, mesmo que eu quisesse respondê-la, eu estava estática de mais para isso. – Por mais quanto tempo vai ficar nesse quarto?
Tentei rolar meus olhos, mas eles estavam tão ardentes e inflexíveis, eu havia chorado tanto essa noite que não seria surpresa se tivéssemos um dilúvio em meu quarto. Senti a minha respiração pesada sair por minhas narinas infladas.
“Quando eu vou poder ver o meu pai?”
Pensei comigo sentindo uma raiva crescente em mim.
- Você não está com fome? Sede? Eu preparei...
- Não, obrigada! – Consegui me ouvir falar. Tive que cortá-la no mesmo instante, eu estava morrendo de fome e saber o que estava cheirando tão bem não ajudaria em nada. Também consegui ouvir a respiração de alívio dela, talvez por saber que eu não estava desmaiada ou algo do tipo.
- Eu posso ouvir seu estômago roncar. – seu tom era de preocupação. – Também consigo ouvi sua respiração de desespero. Você sabe que pode conversar comigo sobre o que quiser, eu sempre vou querer o seu bem em primeiro lugar. Por tanto, me deixe entrar e me deixe cuidar de você.
Movi meus olhos até a porta ouvindo atentamente cada palavra que ela dizia. Gostaria de poder acreditar, mas e sabia que ela também havia errado comigo. Ela sabia desde o começo toda a verdade sobre o meu pai, era cúmplice de John e, portanto, ela também estava na minha lista de pessoas que eu não gostaria de ver no momento.
Joguei-me de costas para a cama, puxando a travesseiro e o apertando contra o meu rosto, logo em seguida soltei um suspiro abafado.
- Brooklyn, meu amor, se John faz o que faz, é pro seu próprio bem! – continuou tentando me fazer abrir a porta. – Se você não quer falar comigo, tudo bem, não vou insistir, mas, por favor, desça para comer alguma coisa, o que quiser é só me dizer que eu farei.
Continuei deitada em minha cama em total silêncio ouvindo os passos dela se afastarem da porta. Soltei outro suspiro, dessa vez de frustração.
Depois de resistir por um tempo, acabei pegando no sono e eu não sei exatamente por quanto tempo eu dormi, mas acordei no mesmo instante em que ouvi alguém tentando entrar no meu quarto, eu sabia que John tinha a cópia das chaves de todas as portas dessa casa, então era só questão de tempo até que ele resolvesse entrar sem ser convidado. Ele passou pela porta me encarando seriamente, achei que fosse trazer alguma coisa para me fazer comer a força, mas ele estava de mãos vazias o que me deixou um pouco surpresa.
- Eu sei que você não quer falar comigo. – ele começou a dizer firme. – Mas há uma pessoa com quem talvez você queira conversar. – seus olhos instintivamente correram por todo meu quarto até se abaixar ao chão e então ele saiu de frente da porta e logo em seguida estava passando por ela. Meu coração disparou de uma forma estranha e inesperada, eu não havia parado pra pensar em tudo que ele me disse ontem e agora, o vendo na minha frente, eu só sentia mais vontade ainda de sumir do mundo e não voltar por um bom tempo.
- Vou deixar vocês a sós. – John me deu uma boa olhada antes de encarar e sair. o seguiu com olhos e quando ficamos enfim a sós, ele soltou um suspiro aliviado e olhou em minha direção. Aqueles malditos olhos que sempre me hipnotizavam, por que ele precisava fazer aquilo? Uma típica cena de quem quer conquistar seu coração apenas pelo olhar. Mas ele sabia que já tinha me ganhado, estava blefando comigo. Canalha.
- Por que não foi para a escola? – reparei que ele estava com o uniforme da Trinity e a essa hora, a aula ainda não havia acabado. Ótima forma de puxar uma conversa sem ser constrangedor.
- Acho que a resposta é bem óbvia. – ao contrário de mim, ele disse aquelas palavras de uma forma descontraída, olhando ao redor do meu quarto, vendo as fotos coladas em um mural em cima da escrivaninha, depois olhou para a direção a minha sacada. Verdade! Era a primeira vez dele aqui.
- Se a Trinity souber, você estará encrencado. – comprimi meus lábios, consertando a minha posição e ficando ereta.
- Não me importo. – continuou a varrer seus olhos pelo meu quarto. Suspirei.
- Por que está aqui? – fui mais direta. Era sobre meu pai ou sobre nós dois?
Ele, de repente, parou de andar e me encarou novamente, a forma como ele estava me olhando era diferente da forma como me olhou quando chegou. Era um olhar de preocupação e eu soube no mesmo instante sobre o que ele queria conversar. Logo em seguida, ele andou até mim se sentando na beirada da cama sem tirar seus olhos de mim.
- Eu imaginei que não iria para a escola, só coloquei este uniforme para a minha mãe não me encher de perguntas. Como você está?
- Não quero que se meta em encrenca por minha causa. – ignorei a pergunta dele.
deu de ombros.
- Só achei que seria mais divertido saber como era o seu quarto. – voltou a usar sua voz de descontração ao se levantar. – Imagino que estejamos em um nível diferente agora que me declarei. – acho que todo o meu rosto ficou vermelho e eu não sabia para onde olhar. – Uau, você realmente fica chocada quando eu flerto com você.
- É sobre isso que você quer falar? – tentei fazer parecer irrelevante.
- Não sei. – deu um meio sorriso. – Você prefere falar sobre nós dois ou sobre o que aconteceu depois que eu contei dos meus sentimentos para você ontem?
Apenas fiquei o encarando sem dizer nada. Era isso, eu queria ficar muda. Essa poderia ser uma opção também?
- Quando... – ele voltou a falar. – Quando estávamos em Ottawa e aconteceram todas as aquelas merdas com o meu pai e eu precisei desabafar com alguém, você estava lá por mim. – deu meia volta se sentando ao meu lado diminuindo nosso espaço quase que por completo. – Me deixa estar aqui por você também. – seu tom estava suave e calmo e isso acabou me encorajando a querer desabafar com ele.
- Meu pai está preso. – senti um nó se formar em minha garganta ao desengasgar aquelas palavras que estavam entaladas. – John disse que ele matou a minha mãe. – não consegui o encarar, ao invés disso, olhei para as minhas estrelas de neon no teto. – Mas eu não acredito!
- E por que John mentiria sobre isso? – senti um pouco de tensão na voz dele.
- Por que não é verdade, Thiago nos amava mais do que qualquer coisa. Ele não tinha motivos.
- Talvez sejam os mesmos motivos que o levou a sair de casa.
Eu sabia que estava por dentro do assunto por conta das minhas confissões na noite de Halloween, mas eu não sabia até onde ele se lembrava.
- Era só briga, , todos os casais brigam! É normal! – dei de ombros.
- Parece que não era apenas uma briga qualquer. – voltou a argumentar. – Do que se lembra?
Fiquei alguns instantes em silêncio tentando recobrar alguma lembrança de algum momento em que algo pudesse levar Thiago a fazer tal coisa, mas não me lembrei de nada, apenas das brigas!
- Não tem o que lembrar, , eles apenas brigavam, eu sei que sim! Muitas delas eu presenciei. – o olhei.
- Muitas delas... Mas não todas. – sua voz transbordava desconfiança.
- O que quer dizer? – me virei para ele com uma expressão confusa.
- Brooklyn, você era só uma criança. É normal se lembrar das brigas, mas e os motivos? – seus olhos capturaram os meus. – Quais eram os motivos?
Abri a minha boca várias vezes tentando dizer qualquer coisa que fosse a favor do meu pai, mas apenas só consegui soltar um suspiro pesado.
- Eu não sei... – comecei a sentir um desespero crescendo dentro de mim. – Droga, , eu não faço ideia do por que eles brigavam.
- Calma, Brooke. – de repente ele pousou sua mão sobre o meu ombro puxando meu corpo para o seu me dando um abraço apertado, aos poucos senti meu corpo mais relaxado. Ficamos por um tempo assim, calados. Sentindo a respiração um do outro, até que ele se afastou lentamente continuando bem próximo a mim.
- Desculpa, mas... Thiago não parece tão inocente ao meu ponto de vista. Existem muitos motivos que levam as pessoas a fazerem tal coisa. E tem mais... Ele confessou.
Senti algumas lágrimas surgirem nos meus olhos, mas eu não queria chorar.
- Eu não... Eu não consigo acreditar que ele tenha feito isso! – neguei com a cabeça.
- Então por que ele se entregaria se fosse inocente?
Mais uma pergunta que eu não conseguia responder, para falar a verdade, era uma das perguntas que eu mais tenha me feito desde então. “Por que ele havia se entregado?” De repente, ele se levantou e segurou a minha mão.
- Vamos! – me olhou com expectativa.
- Vamos aonde? – franzi o cenho.
- É uma surpresa. – arqueou a sobrancelha. – Vamos!
- Eu não posso sair desse apartamento, ordens do John.
- Na verdade... – me puxou pela mão quando viu que eu não iria levantar por conta própria. – Foi ideia dele.
- O quê...?

***



Cemitério Green-Wood – Brooklyn!


Só me dei conta onde estava me levando quando passamos pela Brooklyn Bridge. Eu quis voltar correndo no mesmo instante, mas eu sabia que isso não era uma coisa que eu deveria adiar por muito tempo. Ninguém mais além dela sabe de toda a verdade. A pessoa que mais havia sofrido com toda essa história, quem acabou pagando com a própria vida. parou o carro em frente ao cemitério e desligou o motor.
- Vou te esperar aqui, leve o tempo que precisar. – olhei para ele no mesmo instante.
- Você não vem comigo? – minha voz tinha um tom de apelo.
- Achei que fosse querer fazer isso sozinha como na última vez. – franziu o cenho ao me analisar.
- Não acho que eu consigo fazer isso. – olhei pelos vidros do carro procurando pela lápide da minha mãe, depois virei-me para agarrando a mão dele. – Vem comigo?
Ele deu um sorriso sincero com o meu pedido, eu estava dando mais uma amostra da minha confiança nele e ele sabia o quão sério era esse assunto para mim.
Saímos do carro em silêncio, mas permanecemos de mãos dadas todo o caminho percorrido até a minha mãe.
- É aqui. – mordi meu lábio apontando para lápide de minha mãe. As flores que eu havia trazido na última vez ainda estavam aí, só que secas e mortas. se abaixou depositando uma rosa vermelha que ele havia pegado de uma roseira e eu sorri ao vê-lo realizar tal ato.
- Você realmente se parece com ela. – disse ao se agachar e analisar a foto dela. Depois me olhou parecendo chegar a essa conclusão de fato.
- A minha personalidade é inteiramente dela. – coloquei um cabelo atrás da orelha e me agachei ao lado de .
- Entendi porque Thiago era completamente apaixonado por sua mãe. – ele me encarou sorrindo e eu tentei fazer o mesmo, mais não consegui.
- Talvez nem tanto. – não consegui ficar apoiada em minhas pernas, na primeira oportunidade eu tombei para o lado me sentando na grama verde, fez o mesmo.
- O que quer dizer? – me olhou de rabo e eu deitei minha cabeça em seu ombro.
- Ele confessou. – abaixei meu olhar até a rosa. – Acho que devo fazer o meu papel de garota crescida e entender isso.
- Você não precisa se fazer de forte nesse momento. – segurou minha mão com carinho.
- Não estou sendo forte, estou sendo realista. – fechei meus olhos sentindo o calor da sua mão na minha. – Eu preciso começar a encarar a verdade, não foi isso que você quis dizer? Acho que eu preciso ir atrás do meu passado também, algo me diz que esperar John me contar a verdade não vai ser uma boa opção.
- E o que pretende fazer? - levantei meu olhar até ele.
- Você verá. – me levantei o puxando comigo. – É a minha vez de te levar em um lugar.

***


Encarei a casa da senhora Holly tentando capturar qualquer sinal de vida ali dentro. Mas era tudo tão silencioso e parado que me perguntei se havia possibilidades de que alguma alma viva habitasse ali. Sem falar no cheiro e, ai meu Deus!
- Acho que não tem ninguém em casa. – Me virei para que espiava pela janela tentando encontrar algo.
- Quem supostamente deveria morar aqui? – perguntou intrigado com o lugar.
- Uma pessoa que foi muito importante pra mim. – comecei a explorar o local.
- Tem certeza de que era aqui que ela morava? – se acercou de mim ainda encarando a janela.
- Eu vinha pra cá quase todas as noites em que meus pais brigavam. Não tem como errar. Talvez ela tenha se mudado. – dei de ombros e ele me olhou de rabo.
- Ou você poderia simplesmente bater na porta. – apontou para o caminho de pedras que davam a entrada da casa onde eu passei a maior parte da minha infância.
O encarei por alguns segundos tentando convencê-lo de que não era uma boa ideia, mas ele permaneceu parado ali, bem na minha frente, com aquela postura de mandão que não cede facilmente. Então suspirei derrotada e fui até a entrada da casa passando a mão pelo cercadinho em volta, eu me lembrava de tudo como se nunca tivesse saído desse lugar. O tapete de boas-vindas ainda era o mesmo velho e sujo de sempre, a porta parecia só ter ganhado uma cor nova, por que quando bati três vezes consecutivas na madeira, ecoou um som de velharia. Aguardei algum tempo enquanto pensava no que falar, haviam se passado tantos anos, talvez ela nem se lembrasse de mim, talvez tenha morrido e a casa tenha ficado para seus filhos e eles a abandonaram, já que está um verdadeiro lixeiro esse quintal. Agachei-me olhando à minha volta. Encontrei o antigo campinho que eu brincava com eles quando criança. Sorri para mim mesma.
- É, parece que realmente não tem ninguém. – Bati minhas mãos na lateral do meu corpo me virando para que olhou a rua deserta franzindo o cenho e depois me encarou se dando por vencido.
- Vamos embora! – declarou e eu o obedeci sem reclamar. Porém meus passos foram cessados quando eu ouvi o ranger da porta se abrindo. Encarei que estava olhando um ponto atrás de mim, eu não sabia o que esperar, mas estava assustada, definitivamente!
- O que vocês querem? – Perguntou com uma voz rancorosa e um pouco acuada. Mesmo depois de anos, eu ainda reconheceria aquele tom. Meus olhos foram para o chão e eu mordi meu lábio formulando uma resposta para a sua pergunta, e as perguntas que eu faria a seguir. Virei-me para ela insegura e me sobressaltei quando vi o que ela segurava. Aquilo era uma arma?
- Senhora Holly...
- Lucy! – ela disse um pouco chocada enquanto ficava em resguarda. Pegou-me de surpresa, é claro. Eu sabia que me parecia com ela, mas não pensei que fosse algo que aparentemente alguém pudesse nos confundir.
- Não, senhora Holly, Brooklyn! – a olhei nos olhos notando a confusão se desfazer.
- Brooke. – ela sorriu abaixando a sua arma e me abraçou logo em seguida. – Você está igualzinha à sua mãe. – me soltou para afagar suas mãos em meus cabelos. – Vamos, entre!

Estava sentada no sofá olhando tudo a minha volta enquanto notava poucas mudanças feitas desde a última vez em que estive aqui. E por mais que fosse antiquado e velho, era bom, porque eu me sentia em casa. estava andando por toda a sala pegando tudo que alcançava e o estudando de forma engraçada, como se ele nunca tivesse sido pobre na vida, ou não se lembrasse como era ser um.
- Desculpem a forma como os recebi. Mas já faz muitos anos que não recebo visitas inesperadas.
- Me desculpe. – coçou a garganta enquanto a senhora Holly me entregava seu chá. – A senhora tem permissão para ter uma arma em casa? – ela deu um sorriso engraçado e depois andou até lhe entregando o chá também, que a olhou torto antes de pegar.
- São tempos difíceis meu jovem! A tecnologia pode estar avançada, mas a mente humana continua pequena. – engoliu seu chá como se tivesse engolindo pedra e ficou quieto dando toda a sua atenção da senhora Holly pra mim.
- Senhora Holly...
- Por favor, pequena Brooke, me chame de Cristina, ou Cristhy, como costumava me chamar.
- Cristina está ótima. – soltei uma risada nervosa ao dizer o seu nome. me encarou torto e depois andou até a frente da janela.
- Então, pequena Brooke, o que te trouxe aqui depois de tantos anos? Veio visitar sua mãe?
- Também. – sorri sem jeito vendo o quanto ela ainda me conhecia. – Mas eu gostaria de te fazer uma pergunta em especial.
- Tudo bem!
- A senhora sabe me dizer quais eram os motivos que me traziam a passar noites em sua casa? – tentei não parecer muito direta, mas eu não queria fazer rodeios. Ela arqueou a sobrancelha parecendo não acreditar que eu não me recordasse, já que era uma das pessoas mais envolvida.
- Seus pais discutiam muito, criança, sua mãe não gostava que você as presenciasse. – se levantou parecendo inquieta.
- E você... Sabe por que eles brigavam? – ela me olhou alguns instantes, em seguida se virou para que a essa altura já estava mais interessado em saber os motivos do que quem passava na rua.
- Thiago esteve aqui há um tempo. – contou de uma forma tranquila não fazendo ideia do transe que minha mente entrou. Senti uma pressão em mim e logo se acercou. – Ele me confessou sobre a sua mãe, sobre a raiva que tomou conta dele e do quanto estava arrependido pelo o que fez. Thiago sempre amou a sua mãe, mas a raiva, o ódio nos leva a cometer loucuras e foi por isso que eu o aconselhei a se entregar.
- O que? – perguntei de relance e desacreditada.
- Lucy tinha muitos segredos sobre o seu passado e quando eles vieram à tona, acabou prejudicando a relação dos seus pais. Mas ele a amava demais para deixá-la de qualquer maneira. Mas de todos os segredos, havia um que ele não conseguiu perdoar, então ele decidiu deixar vocês ao invés de enfrentar a situação de frente. – Ela andou até a mesa e começou a remexer em um pote que continha ali.
- Segredo? – aquela história estava ficando cada vez mais sem sentido. – Que segredo? – eu precisava saber o que era tão grande para causar discórdia entre meus pais e que também o tenha levado a matá-la.
- Um segredo que ela carregou com ela por muitos anos!
- Isso não pode ser verdade, meus pais, eles se amavam! Eu sei que sim. Eles confiavam um no outro.
- E eu nunca tive nenhuma dúvida quanto a isso pequena Brooke. – ela andou até mim notando o meu desespero. – Mas tinha um amor maior em jogo, e quando ele veio à tona, Thiago não soube lidar com ele. – ela me olhou com pena e me estendeu um objeto conhecido. – Aqui está o chaveiro de sua casa. Talvez você queira ir até lá... – soltou a minha mão para que eu a pegasse, depois eu o olhei confusa e com medo. – Eu cuidei para que tudo continuasse o mesmo.
- Você não pode ser mais específica? – pedi, sentindo vontade de chorar descontroladamente.
- Eu sinto muito pela sua mãe! – foi o que disse e depois nos deu as costas entrando em algum cômodo qualquer. Cogitei a possibilidade de ir atrás dela, mas algo me diz que ela não vai me dizer mais do que tinha dito.


O primeiro contato com a minha casa, eu precisei me apoiar em , de fato, nada havia mudado. A não ser as marcas do tempo na pintura e algumas rachaduras no muro. Mas o quintal... Estava tão verde como nunca, meu balanço ainda estava lá, junto com alguns brinquedos velhos. Eu nunca fui muito cuidadosa. segurou minha mão depois de conseguir abrir o cadeado do portão. E foi só quando senti seu toque que voltei para a realidade. O olhei nervosa e constrangida, eu não via esse lugar desde... A morte de minha mãe.
- Você tem certeza de que quer entrar? – perguntou e eu rapidamente afundei meu rosto em seu pescoço tentando cessar o choro. Ele me abraçou apertado pela cintura e mais uma vez aquela sensação de segurança me invadiu. Tudo era melhor com ele por perto.
- Vamos antes que eu me arrependa de ter vindo. – o puxei pela mão trazendo o chaveiro comigo.
Fizemos um breve caminho até a porta e eu parei bem em frente pensando duas vezes nos meus movimentos a seguir. passou seu braço por meu ombro e eu ouvi seu celular tocar, era a quinta vez desde que saímos da casa de Cristina.
- Você não precisa ficar se quiser... – me virei pra ele que me olhou confuso enquanto desligava o telefone.
- Do que você está falando? – disse incrédulo.
- Você está aqui e eu sou eternamente grata a isso. Mas talvez eu devesse seguir sozinha de agora em diante. – eu sabia que estava errada em aceitar que ele matasse aula por causa dos meus problemas pessoais. Às vezes ao olhar para, ele eu sentia que poderia deixar qualquer coisa para trás só para poder ficar com ele, mas ele sabia que a Brooklyn que ele havia se apaixonado precisava enfrentar enfim os seus pesadelos.
- Tem certeza? – arqueou uma sobrancelha enquanto eu procurava algum ponto para estabelecer meus olhos.
- S-sim. – eu não parava de piscar.
- Então, por que não consegue dizer isso olhando nos meus olhos?
- Isso não vem ao caso! – mordi meu lábio encarando chão.
- Para de birra, Brooklyn. – colocou sua mão em meu queixo. – Eu sempre vou estar ao seu lado, seja em qualquer lugar ou circunstância. – Ele olhou para um ponto abaixo dos meus olhos e ficou encarando enquanto parecia quebrar a pequena distância que estava entre nós. Meus olhos estavam praticamente se fechando quando seu celular tornou a tocar. Cocei a garganta olhando pros lados e me afastando.
- Você deveria atender, caso contrário, não vai parar de tocar! – me olhou desapontado antes de puxar o celular do bolso e andar até o portão.
- Alô...
Virei-me para a porta novamente tentando não prestar atenção na conversa, precisava colocar minha cabeça para pensar.
“- Um segredo que ela carregou com ela por muitos anos!”
As palavras da senhora Holly ecoaram em minha cabeça, fazendo-me chegar a uma conclusão de que nada fazia sentido agora, se chegou a fazer algum momento! Eu não estava pronta para encarar isso de novo, entrar ali dentro e ver tudo que era meu e foi destruído. Não estava preparada para me machucar de novo. Dei alguns passos pra trás e meu corpo colidiu com o de .
- Onde pensa que vai? – me olhou meio exaltado.
- Eu não posso fazer isso agora! – disse sentindo minha respiração ofegante.
- Eu conheço você, Brooklyn, se você voltar para Manhattan sem ao menos entrar na sua casa, você vai se arrepender amargamente.
Sutilmente ele tomou as chaves das minhas mãos e destrancou a porta. Em seguida eu senti suas mãos em minha cintura enquanto ele me empurrava para dentro da casa, quando olhei a minha volta percebi que o pesadelo só tinha começado!


- Brooke, você já pode sair agora. – vi as pernas de parar bem a minha frente enquanto meus olhos se decidiam o que olhar. Tinha o sofá que costumávamos sentar, a mesa de jantar, o quarto dos meus pais, o meu... Quarto. O encarei por mais tempo pensando no que eu encontraria se entrasse ali. se agachou para poder me ver melhor. – Vamos Brooklyn, você notou que está embaixo de uma mesa velha e empoeirada?
- Você... – parei minha frase não conseguindo terminá-la e colocando meu rosto entre minhas mãos, eu estava chorando! – Desculpa, é que é tão difícil estar aqui de novo!
- Ah, eu tô começando a achar que foi um erro ter te encorajado a isso. – mirei seu rosto e o vi se sentar ao meu lado enquanto me puxava para seu colo. Enterrei novamente meu rosto em seu pescoço enquanto estava de frente pra mim fazendo um carinho em minhas costas.
- Eu não sei lidar com isso! Achei que mais nada podia me abalar e que eu já tinha superado todos os meus fantasmas do passado, mas ele continua tão vivo quanto às lembranças e as dores.
- Eu queria estar no seu lugar, queria ser eu a estar sofrendo por você. Eu não suporto te ver assim, Brooke. – suas palavras deveriam me causar conforto, mas ver sofrendo metade do que eu estava sofrendo me machucaria mais.
- Nunca mais diga isso, nunca mais! – apertei seu corpo em mim.
- Calma, Brooke! – ele se afastou para me olhar e tirou os cabelos do meu rosto molhado por causa das lágrimas! – É o que eu sinto, ok? Da mesma forma que eu sei que você não gostaria de me ver sofrer eu também odeio te ver assim! E, por Deus, tudo que eu queria agora era te livrar de todo esse peso que está carregando sozinha. Mas não sou bom o suficiente, não é? Não sou a melhor pessoa a te ajudar a cicatrizar seus machucados, mais darei o meu melhor enquanto meu coração bater, enquanto ele bater por você. – Seus olhos não deixavam os meus se desviar, era hipnotizante olhar pra eles, e acima de tudo! Suas palavras me traziam uma calmaria sem explicação. Eu queria beijá-lo, queria muito, mas não era a hora para um romance com , eu não estava pronta para ele e eu sabia que cedo ou tarde isso só traria problemas para nós, mas do que já está trazendo.
- Não vamos ficar aqui a noite inteira, não é? – disse me fazendo dar um meio sorriso.
- Eu não sei se quero voltar para aquele apartamento agora.
- Eu sei, eu estava falando sobre ficarmos debaixo dessa mesa! – apertou meu nariz com carinho e depois se levantou me ajudando a fazer o mesmo. – Por que não explora a casa e depois toma um banho para relaxar um pouco? – apertou sua mão na minha com carinho.
Assenti para ele enquanto decidia por onde começar. Respirei fundo mais uma vez, e depois encaminhei até o quarto dos meus pais. Lembrando-me que dormia com eles todas as noites de chuvas fortes, papai me colocava entre os dois enquanto mamão cantava uma canção de ninar para mim. Sorri de lado viajando os meus olhos pelo local. Tudo continuava o mesmo, e estava tudo ótimo. Até as lembranças de que Willy também já se deitara nesta cama com minha mãe aparecer. E tudo voltou a ficar confuso e assustador. Explorei toda a casa matando saudade de cada pedacinho que eu sentia falta, respirando as minhas melhores lembranças naquela casa e me deixando relaxar um pouco durante um banho. Depois que me sequei, eu peguei algumas roupas que eram da minha mãe e que agora cabiam em mim e as vesti, deitei do seu lado da cama e fiquei encarando a janela que dava vista para o parquinho. bateu duas vezes na porta antes de entrar e se sentar ao meu lado, ele também havia tomado um banho e eu havia emprestado umas roupas velhas do meu pai para ele.
- Você está melhor? – Perguntou me puxando pra si, me apertando com seus braços.
- Relativamente, não! – sorri nervosa. – Obrigada por ter ficado do meu lado. – confessei e eu sabia que ele sorria pela forma como sua respiração batia em meus cabelos.
- Brooke...
- Sim. – me aninhei mais em seu corpo, pela janela eu conseguia ver a noite caindo de vez.
- Não quero que me veja apenas como um amigo! – quando ele começou a dizer eu me senti confusa. – Eu quero mais do que isso. – suas mãos me apertavam firme. – Não sei se essa é a hora certa para dizer essas coisas, na verdade, a hora certa já se passou, mas eu vou continuar insistindo para que não me veja apenas como um amigo... E que se possível, se apaixone por mim novamente. Porque eu já estou completamente apaixonado por você.
- ... – tentei dizer alguma coisa, mas todas as palavras fugiram da minha boca.
- Eu sei que você está passando por um momento delicado – percebi que sua voz estava tremendo e suas mãos também! – E que não está com a cabeça no lugar para pensar sobre nós dois, ou no que pode estar sentindo em relação a mim. – segurei minha respiração naquele momento. – Quero que saiba que eu sou paciente e que sei esperar, eu vou te esperar Brooklyn, pode levar o tempo que precisar, resolva todos os seus problemas e quando você estiver pronta para mim, eu estarei pronto para você.
Soltei minha respiração aos poucos sentindo as batidas aceleradas do meu coração, pisquei várias vezes completamente desnorteada com as palavras do , eu já não sabia o meu propósito ali, se eu deveria correr atrás do meu passado ou do meu futuro, do meu possível futuro ao lado o . O que eu supostamente deveria dizer ou fazer?"


- John... – falei seu nome abafado ao telefone, quando passou por mim mantendo um contato visual. Apressei-me até a janela vendo a rua deserta.
- Quando você vai voltar para casa? – observei que ele estava usando seu tom de preocupação.
- Eu não acho que conseguirei voltar para Manhattan nesse momento. –Me afastei da janela quando vi algumas pessoas passarem e puxei a cortina tampando a vista para dentro de casa, logo em seguida me virei para que estava escorado na parede com os braços cruzados e seus olhos atentos em mim. Como eu iria conseguir lidar com ele?
- Eu não sei até onde você já sabe sobre essa história, mas por favor, não se machuque muito. – aquilo era uma declaração espontânea de que John sabia de toda a verdade e nunca se preocupou em me contar. Dei um passo pra trás me chocando com a mesinha de madeira que eu costumava comer quando criança. me olhou assustado.
- Você não vai me contar, não é?
- Acho que você precisa disso. – ouvi a suspiro pesado dele. – Você precisa desse tempo com a sua antiga vida para poder entender melhor o seu passado.
Mordi meu lábio para segurar uma lágrima teimosa.
- Eu preciso ir. – não esperei ele dizer mais nada, apenas desliguei ficando um considerável tempo encarando o telefone.
- Brooklin? – me chamou e eu o olhei. – Veja isso. – estava segurando um porta-retrato e nele continha uma foto de Lucy e John!
- Eles eram muito amigos. – disse bem baixo. – Mas não me recordo dessa foto.
- Talvez John saiba de alguma coisa...
- Eu tenho certeza que sim, mas ele nunca me diria. – olhei que deu de ombros.
- As coisas são diferentes agora. – me olhou confuso.
- Acima de qualquer coisa, ele quer me proteger . E se esconder a verdade de mim for a melhor forma, acredite, ele vai esconder. – Arranquei a foto deixando o porta-retrato e a guardei em minha bolsa. John podia querer ocultar os fatos, mas eu tinha minhas chantagens emocionais.
- Agora eu estou sentindo que estou fazendo a coisa errada. – concluiu e foi minha vez de ficar confusa.
- Por quê?
- Por te incentivar a descobrir a verdade, e pior, te ajudar. – ele se sentou na poltrona antiga do meu pai e eu o segui.
- Essa é a diferença entre vocês dois. John acha que está fazendo o certo e você está fazendo o certo. – arqueei a sobrancelha.
- Boa tentativa. – ele sorriu fraco. – Mas eu ainda acho que vou me arrepender por isso.
- Eu teria vindo de qualquer forma.
- Sei disso. – respirou fundo ao segurar minha mão e me puxar me fazendo sentar em seu colo. – Eu só não queria ter que te deixar sozinha.
- Estou muito feliz que veio comigo.
Ele sorriu para mim antes de passar seu braço em volta do meu pescoço me trazendo pra si e depositando um beijo em minha testa e eu sorri.
- Por que não nos deitamos? – sugeri e vi o próprio me guiar até a cama de casal de meus pais.
- Você parece cansada. – falou se deitando e eu fiz o mesmo ao seu lado e fechando meus olhos.
- Foi um dia e tanto. – puxei o cobertor.
- Ah, foi mesmo! – concordou ao se aninhar em mim deixando um silêncio tomar conta do quarto.
- Você tem sido incrível, ! – disse depois de alguns minutos quieta. – Eu nem sei como te agradecer por estar aqui comigo. Acho que não suportaria tudo isso sozinha. – acariciei seu rosto.
- E não precisa. – seu corpo ficou rígido, abri meus olhos e o encarei. – Desde que eu cheguei a Nova York, eu só me lembro de ter estado ao seu lado, eu já entendi que é bem aqui onde eu pertenço. Não quero estar em mais lugar algum. Eu ainda me lembro de quando nos conhecemos. Você tinha um ar catastrófico, sensual e misterioso. Estava cabisbaixa, mas parecia saber exatamente o que estava fazendo parada naquele bar. Eu te achei um máximo logo de cara, eu sabia que precisava te conhecer, só que tudo que você quis de mim foi à distância. E aquilo com certeza feriu o meu orgulho, eu não conseguia simplesmente aceitar que poderia haver a possibilidade de alguém não gostar de mim. – seu tom era brincalhão, mas eu sabia que ele estava falando sério.
- Você não sabe lidar com a indiferença, é isso?
- Eu não sei lidar com o que sinto por você. – sua voz estava firme e meu coração bateu mais forte.
Ali estava ele novamente, sendo agressivamente direto e me deixando sem palavras.
- Vamos dormir, está tarde. – ele suspirou. – Boa noite, Brooke.
Eu não consegui o responder e muito menos dormir naquele momento e eu sabia que ele estava acordado também. Ficamos um tempo ali, juntos, sentindo a respiração um do outro, e desejando que aquele nosso momento durasse por mais tempo antes de termos que voltar para a realidade.


Capítulo 13 - A Confissão!

Aos poucos meus olhos foram se acostumando com a claridade que invadia o quarto que costumava ser dos meus pais, dei uma breve olhada em tudo que estava ao alcance da minha visão e tive algumas memórias sobre como éramos felizes neste lugar. Esse era o tipo de amor que eu conhecia, ou era o que eu achava que conhecia. O tipo que minha família tinha uns com os outros, antes das brigas, tudo era um dia de sol com arco-íris e um céu azulado, depois só vieram os dias de tempestades e raios. Soltei um longo suspiro ao me levantar e andar até a janela, olhei para o céu notando o dia nublado, as nuvens estavam completamente carregadas trazendo o sinal de que a chuva iria cair a qualquer hora inesperada do dia. Virei-me para trás tendo a melhor visão de todas. estava em um sono profundo e delicado, sua respiração estava calma enquanto sua cabeça repousava em seu braço esquerdo. Do que jeito que ele adormeceu, ele havia permanecido, peguei-me desejando que ele tivesse me abraçado sem sequer perceber, mas até mesmo dormindo ele respeitou o espaço que eu estava mantendo entre nós. Soltei um sorriso involuntário enquanto me deitava ao seu lado e minha mão traçava um caminho por seus cabelos escuros. Há muito tempo eu queria fazer isso, mas nunca tive coragem e nem oportunidade.
- Uma vez... Eu assisti uma série em que a personagem principal compara a sua relação amorosa com a placa de Hollywood. – disse baixinho para que ele não acordasse. – Ao mesmo tempo em que ela parece estar perto, na verdade, está muito longe. – dei outro suspiro. – É assim que eu te vejo. Mesmo se eu for até você, você está muito longe do meu alcance, só que te vendo deitado aqui do meu lado, me faz acreditar que você está perto. – Parei meus dedos quando ele se remexeu brevemente ficando de lado, bem de frente para mim. Ele não acordou, então continuei a fazer carinho nele. – Eu não faço a menor ideia de quando comecei a me apaixonar por você. Eu apenas me lembro de olhar para o seu sorriso e perceber o quanto doeria quando chegasse um dia em que eu não pudesse mais vê-lo. – Aproximei-me de seu rosto para poder sentir melhor a respiração dele. – É uma longa caminhada, eu sei... Mas um dia eu vou chegar à placa, por tanto, não desista de mim. Por mais que demore, não desista de mim.

- Está pronta? – perguntou ao abrir a porta, dei uma última olhada para a minha antiga casa sentindo a saudade das minhas memórias felizes, foi a única coisa que me permiti sentir.
- Pronta! – me virei para e dei um sorriso simples, ele estendeu a sua mão em minha direção e eu a peguei sem hesitar, essa era a melhor forma de me sentir segura. Ao lado dele.
- Você já sabe qual vai ser o próximo passo? – me perguntou enquanto íamos até seu carro.
- Eu pensei que poderíamos tomar um café da manhã, se eu ainda me lembro bem, existe uma ótima cafeteria logo na próxima rua. – ele abriu a porta do carro para mim.
- Não foi isso que eu quis dizer, mas é ótimo saber que está bem melhor. Pelo menos está sorrindo.
Ele deu a volta no carro e se sentou ao meu lado.
- Eu sei o que você quis dizer, mas no momento, eu só quero fugir um pouco disso e tentar aproveitar esse dia. – me virei para ele. – Com você.
Ele sorriu e acariciou minha mão com seus dedos longos.
- Seu pedido é uma ordem.
Conduzi pelo caminho que ele deveria seguir e rapidamente chegamos ao Breads Bakery. Tinha uma moça na entrada oferecendo torta de Cranberry para experimentar e estava realmente uma delícia, mas o sabor da torta se tornou amargo quando demos de cara com os alunos da Trinity dentro da Breads. Nem em um milhão de anos eu poderia ter premeditado essa situação. Edward se levantou rapidamente ao me notar e seu olhar desceu para as minhas mãos que ainda estavam entrelaçadas a de .
- Que babado!
- Não é o que você está pensando. – soltei a mão dele rapidamente. Senti o olhar de em mim.
- Geralmente quando as pessoas dizem isso é por que é exatamente o que a outra pessoa está pensando.
- Onde vocês estavam? – Emma perguntou ao ficar ao lado de Ed. – Brooklyn, você não apareceu na escola ontem e nem retornou as minhas ligações.
O que eu supostamente deveria responder?
- A Brooklyn não pôde ir para escola ontem porque estava passando mal, e hoje ela acordou um pouco melhor, mas quando notou que estava atrasada para a excursão, ela me ligou pedindo por uma carona. – rapidamente inventou uma desculpa.
- Isso ainda não explica por que estavam de mãos dadas. – Ed cruzou os braços e sorriu para mim. – Ou por que estão usando essas roupas. – Nos olhou de cima abaixo e eu o fuzilei.
- E como vocês sabiam que nós estávamos aqui?
Olhei para que me olhou. Estávamos entrando em um beco sem saída.
- O me ligou e perguntou para onde iriamos. – Christensen apareceu de algum lugar e se pendurou no pescoço de Ed que rolou os olhos. – Deixem o casal curtir a excursão como eles querem. – deu uma piscada para e puxou Ed que não fez o menor esforço para não ir com ele. Emma continuou parada no mesmo lugar, nos olhando. Dei uma rápida olhada para que entendeu o recado e entrou me deixando sozinha com ela.
- Vocês estão namorando? – ela foi direta. Soltei um suspiro e sentei em uma mesa vazia, próximo à entrada. Ela fez o mesmo que eu.
- Não é nada disso. – assegurei.
- Então o que é?
Eu não queria falar do Thiago para Emma, não naquele momento e muito menos ali. Eu sabia que se eu quisesse tirar o foco do real problema, eu deveria dar a ela o que exatamente ela queria ouvir.
- O se declarou para mim.
Emma tampou sua boca com as mãos expressando o quanto estava chocada.
- E... O que você disse? Como reagiu? Quando ele se declarou? Vocês estão mesmo namorando? Uau. – ela disse tudo bem rápido. Estava tão surpresa quanto eu fiquei quando ele disse que estava apaixonado por mim.
- Foi quarta, depois da aula. Eu decidi fazer uma caminhada da escola para casa e ele apareceu de repente. Como sempre, ele foi muito direto e objetivo e até agora eu não sei o que dizer para ele. – procurei com os olhos e o achei sentado com Ed, Christensen, e mais alguns alunos que eu sabia que praticavam futebol americano.
- Você tem ideia do que acabou de me dizer? – Emma disse, ainda chocada, enquanto seus olhos me intimidavam. Eu apenas olhei para as minhas mãos tentando encarar os fatos, tais seriam “Eu estou ferrada”.
- Eu... Não quero falar sobre isso. – Me levantei e fui para fora do estabelecimento, sentindo algumas atenções indesejadas se voltar para mim. Emma me seguiu, obviamente.
- Não quer falar sobre isso? Você não quer falar? Tem certeza? – Emmalyn continuou com o seu diálogo anterior, olhei para ela.
- Adianta alguma coisa se eu disser que não? – Suspirei profundamente.
- Brooklyn, você era completamente apaixonada pelo até dois dias e tudo o que você queria aconteceu, por que não está tão feliz quanto eu acho que deveria?
- É que... – eu descobri que meu pai matou a minha mãe e eu não estou pensando em nada claramente desde então. – Eu já tinha decidido que seríamos apenas amigos.
- Mas ele não quer ficar na zona da amizade, como se sente sobre isso? – a olhei pensativa por alguns segundos notando sua empolgação.
- Eu preciso de ar fresco. – Olhei a minha volta procurando qualquer caminho que me levasse para bem longe dali, mas percebi que na verdade eu estava no Brooklyn e a última coisa que me faltaria ali seria ar fresco.
- Por que eu sinto que o fato do ter se declarado não é o real problema aqui? – virei-me para ela nem um pouco surpresa por ela ter sacado a verdade, mas ainda assim, eu não estava pronta para envolvê-la nos meus problemas. – Essa não é uma cara de quem está sofrendo por amor.
Não a respondi. Apenas fiquei a encarando silenciosamente. Eu não queria mentir, e eu não faria isso.
- Tudo bem, eu desisto. – Emma cruzou os braços e sorriu. – Não me responsabilizo pelos danos que isso pode te causar.
- O quê, por exemplo? – arqueei a sobrancelha.
- Perder o para a April de novo.
Ela apontou para que estava tendo uma conversa, ao que me pareceu, bem séria com April. Desviei meus olhos quando os dele encontram os meus e mordi meu lábio tentando conter aquela sensação estranha que eu estava sentindo.
- Você está muito indiferente com essa história, não deveria ficar eternamente apaixonada?
A olhei seriamente antes de puxá-la pela mão e irmos até Ed e os outros.

***

Depois que a professora confirmou com John e com minha mãe sobre o consentimento deles a minha ida até Brooklyn com a Brooklyn, e depois de eu ter levado vários sermões e uma promessa pairada no ar de que eu estava de castigo quando chegasse em casa, a nossa turma seguiu o caminho até Williamsburg, um bairro judeu considerado a segunda maior comunidade judia ortodoxa do mundo. Era fácil perceber a mudança de cultura, idioma, religião, costumes e estilo de vida, mas eu estava mesmo era preocupado em como Brooklyn estava naquele momento. Ela estava distante e sem expressão alguma, nem mesmo Edward conseguia fazê-la rir, aquilo me desconcertava de várias maneiras. Sabia que ela estava se esforçando para não deixar transparecer seus reais sentimentos, nem mesmo para mim, mas ela não me enganava.
- Te salvei de uma hoje, hein? – Christensen, que caminhava ao meu lado há meia hora, finalmente tocou nesse assunto, eu até já sabia o que ele iria querer em troca.
- Não precisa se humilhar mais, eu vou entrar para o time. Satisfeito? – olhei para ele.
- Você está tomando a decisão certa, cara. Sabe de uma coisa? Os atletas são tipo os reis do ensino médio. Vai chover garotas nos seus pés, embora eu ache que você só queira uma.
Continuei olhando para ele silenciosamente.
- Afinal, o que rola entre você e a Brooklyn? – não o respondi, apenas continuei caminhando. – Eu me sinto no direito de te dizer que ela não é exatamente o tipo de garota que os garotos se aproximem eventualmente.
- Do que você está falando? – fiquei irritado de repente.
- Calma. – levantou as mãos para o alto. – Não é nada demais. – me abraçou pelos ombros. – Ela costumava sair com o nosso capitão antes das férias e por isso, mesmo que eles tenham terminado, ela é basicamente uma carta fora do baralho. Ninguém ousa chegar nela por causa dele.
- Está falando do Brian? – acho que fiquei mais irritado ainda só por ouvir aquele nome.
- Você já o conhece? Ótimo! Não precisa de apresentações.
- Dispenso. – não tinha nenhum interesse em conhecer Brian, e agora que eu sabia que ele fazia parte do time, não tinha interesse nenhum em entrar no time também.
- Cara, relaxa. – ele notou minha expressão fechada e pousou a sua mão sobre o meu ombro querendo passar algum tipo de conforto. – A pergunta é: quando você vai dizer a ela? – estava perdido em meus pensamentos e só depois de alguns segundos eu fui entender do que ele estava falando.
- Dizer o que? – disse firme e forte o encarando.
- As garotas são exatamente como a Beyoncé diz: Se você gosta, tem que pôr o anel – disse me fazendo engasgar com minha própria saliva.
- O que você está tentando dizer? – perguntei abismado em saber que ele conhece alguma música da Beyoncé.
- Você tem que virar homem e ir até lá e dizer o que sente. – piscou para mim. – Antes que outro faça isso por você.
- Não disse que ninguém ousa a chegar na Brooklyn?
Ele deu de ombros.
- Sempre tem uma ovelha negra no rebanho.
Não que eu estivesse preocupado que algum desses garotos poderiam estar interessados na Brooklyn, mas de repente, eu tive uma vontade repentina de ficar perto dela.
– Com licença. – pedi imediatamente. E quando aproximei o suficiente, agarrei meu braço ao de Ed que estava com o outro braço agarrado ao dela que também estava da mesma forma com Emmalyn.
Os três me deram um olhar interrogativo.
- É mais divertido andar assim do que eu havia imaginado. – brinquei para poder cortar o silêncio que ficou.
- Do que está falando? – Ed sorriu. – Eu o vi com seu amiguinho, pareciam bem íntimos.
- Christensen? – fiz uma expressão confusa. – Eu não diria que somos amigos. – rebati.
- Não foi o que pareceu hoje mais cedo, na cafeteria.
- Será que alguém está com ciúmes? – Emma disse, deixando a conversa mais suave.
- Por que eu teria ciúmes do Christensen? – disse como se tivesse ficado indignado. – Ele é mesquinho, chato e sinceramente falando, detestável.
- Ainda bem. – Emma concordou um pouco aliviada. – Não temos espaço para ele no nosso ciclo de amizade.
- Por que? – Brooklyn perguntou, dizendo algo, enfim.
- Já temos o Ed ocupando esse papel.
Eu ouvi a risada dela, aquela que eu sou completamente apaixonado e todo meu corpo vibrou em excitação.
- Detecto um sinal de arrogância?
- Desculpe, fui muito sincera?
- Podem falar o quanto quiserem, mas Christensen é muito mais babaca do que eu. – Ed me olhou de relance. – Sem ofensa.
- Tudo bem, deveria ouvir o que ele fala de você.
- Quanta agressividade logo de manhã. – Brooklyn comentou. – Por que vocês dois não vão à frente? Eu já acompanho vocês.
Ed deu uma risadinha sarcástica antes de piscar para mim e puxar Emma que também tinha um sorriso nos lábios. Antes que eles se afastassem de vez, eu podia jurar ter ouvido eles cantarem uma música romântica que eu não me lembrava do nome.
- April e eu terminamos oficialmente. – disse antes de qualquer coisa. Sabia que ela havia me visto falando com April mais cedo e eu não queria que ficasse nenhum mal entendido entre a gente.
- Eu quase sinto pena de você. – ela deu um meio sorriso e eu sabia que a minha Brooklyn sarcástica e brincalhona estava de volta, só não sabia por quanto tempo.
- Quase? – repliquei.
- É, a Helena vai ficar realmente desapontada quando souber disso.
- Não finja que não sabe que ela é “Team Brooklyn”. – brinquei.
Brooke fez uma expressão falsa de surpresa.
- Quantas revelações pra um dia só. – sorriu.
- É sempre melhor não adiar o que tem para se dizer.
- Você não tem que me dizer nada.
- Ainda na defensiva? – A vi rolar os olhos.
- Ainda está com a impressão de que me deve explicações?
- Não deveria? Estamos em um tipo de relacionamento inominável agora...
- Se eu fingir concordar com você, consigo te distrair e fugir daqui? – ela ameaçou sair, mas eu a segurei no mesmo instante a abraçando por trás e sentindo seu corpo no meu.
- Não existe mais nada entre nós dois, a não ser o que sentimos um pelo o outro. – disse em seu ouvido. – Agora é com você.
A soltei lentamente notando um sorriso em seu rosto. Mordi meu lábio tentando conter minha vontade de beijá-la e saí caminhando a sua frente, aguardando ansiosamente o momento em que todos os obstáculos em nosso caminho estivessem derrubados definitivamente.

***

O silêncio era proposital, pelo menos por mim. Eu tinha tanto a dizer para naquele momento, mas a vergonha era uma coisa visível em mim. O que eu diria? O que eu faria? Estávamos namorando? Acho que não, aliás, eu não achava mais nada. E o pior era que eu podia inventar qualquer desculpa para mantê-lo afastado de mim, mas nada seria de grande ajuda, porque no fim, não era bem isso que eu queria e muito menos ele. e eu estávamos sentados no mesmo banco do Ônibus, sem nos olhar, meu rosto virado para o chão enquanto tinha as mãos enfiadas no bolso do casaco, vez ou outra estralava os dedos ou fazia um barulho irritante com os pés. Manhattan nunca esteve tão longe do Brooklyn, e ficar ao lado dele enquanto meus amigos estavam ao nosso lado nunca foi tão constrangedor pra mim antes, e eu tinha certeza de que estava bastante inquieta.
- E o seu carro? – tentei puxar um assunto.
- Eu pedi um reboque. – ele me olhou engraçado. – Ou você queria ter voltado de carro?
Passar mais algum tempo somente e eu não seria uma má ideia.
- Então é oficial? – Ed se virou para trás e nos olhou. – Vocês estão namorando?
- Edward... – Emma o repreendeu e logo em seguida lhe deu um beliscão. Vi o olhar de Josh se direcionar para mim.
- Ai... O que? Só estou curioso, você não está?
- Somos apenas amigos. – disse rapidamente.
- Por enquanto. – completou logo em seguida e eu não soube onde enfiar a minha cara.
Ed escancarou seu sorriso e Emma já estava na mesma posição que ele, nos dando um olhar de expectativa, eu só não sabia o que ela estava esperando exatamente.
- Eu disse que ela ficaria com o . – Edward encarou Emma. – O Thomas nunca teve chance.
- Thomas? – parecia curioso.
- Querido , você não acha mesmo que é o único da Trinity que tem uma queda pela nossa Brooklyn, não é? – deu de ombros.
- Eu confio no meu taco.
Rolei os olhos ao ouvir aquela frase.
- Foi por isso que decidiu me seguir quando soube que faríamos uma excursão para o Brooklyn? – me olhou rapidamente.
- Sacarmos? – perguntou.
- Com um pouco de preocupação.
Ele sorriu.
- Aí está ela, a arrogância. – virou seu corpo completamente para mim. – Não vou dizer que senti falta, mas é bom te ter de volta.
- Mesmo depois de se declararem um para o outro, eles continuam os mesmos. – ouvi Ed tagarelar.
- Está entediando as pessoas, querido.
- Por que não pula logo para “o finalmente”? – sorriu para mim. – Essas briguinhas são apenas perda de tempo.
- Se quer um exemplo de perda de tempo, vamos começar por essa conversa.
- Se quer um exemplo de perda de tempo, vamos falar sobre a sua virgindade.
É sério, eu não sabia qual era a minha expressão naquele momento, mas eu senti todo o meu rosto esquentar. Como Ed podia fazer aquilo comigo? Bem na frente do .
- Ainda está na moda ser virgem aos 17 anos? – continuou a implicar comigo.
- Ainda está na moda fingir se hétero para os pais?
O olhar dele estava sério enquanto sua boca sustentava um sorriso congelado, no fundo, eu sabia que ele estava adorando me provocar e eu sabia que ele não se arrependia nem um pouco em ter falado sobre isso na frente do .
O ônibus parou subitamente me fazendo olhar para fora e perceber que já havíamos chegado à escola. A professora se levantou e aconselhou os alunos a saírem silenciosamente e com cuidado para ninguém se machucar. Quando voltei a minha atenção a eles, percebi que Ed ainda estava com seus olhos cravados em mim, o que me fez pensar que talvez eu tivesse passado um pouco dos limites com ele. Sustentei o olhar dele por longos segundos.
- Ok, então... – ouvi a voz da Emma e a olhei. – Eu vou esperar vocês lá fora, onde tem menos sarcasmo.
Ela se levantou rapidamente pegando suas coisas e me deu um olhar breve antes de sair do ônibus. E só então eu fui perceber que só tínhamos nós três ali dentro. , Edward e eu.
- Então? – Ed se pronunciou revezando o olhar entre mim e ... – É namoro ou amizade?
Ele realmente não sabia a hora de parar.
- É a minha vida ou a sua?

- Você pegou pesado. – se escorou no armário ao lado do meu, enquanto eu guardava alguns livros e pegava outros. Sim, nós teríamos aulas normais pelo resto da tarde. – Com o Edward.
- Foi ele quem começou. – não me importei em olhar para ele, na verdade, eu estava completamente envergonhada pelo o que Ed tinha falado.
- Tem certeza que foi pelo o que ele disse que está desse jeito? – eu o olhei, vendo seus olhos claros me encararem com carinho. – Porque se for... Realmente não tem nada demais em ser virgem aos 17 anos, é até bonitinho de certa forma.
- Ah, não. – fechei meu armário rapidamente. – Eu não vou ter essa conversa com você, não vou mesmo. – sai andando em direção oposta a dele. Mas ele me seguiu.
- O que foi? – estava sorrindo, eu podia apostar que sim. – Você não precisa ter vergonha de falar sobre isso comigo.
- É aquele papo de relacionamento inominável? – perguntei.
- O que quer dizer?
Virei-me para ele.
- Você realmente não está achando que isso. – apontei para mim e para ele. – É alguma coisa, não é? – ele pendurou as mãos na cintura e suspirou enquanto seus lábios traçavam um sorriso arrogante. Eu quis muito pular no colo dele e o beijar desesperadamente.
- Por que não seria? – arqueou a sobrancelha. – Eu sou apaixonado por você, você é apaixonada por mim. – deu um passo em minha direção abaixando seu olhar de encontro ao meu. – Nos conhecemos melhor do que ninguém. Não desgrudamos um do outro, até mesmo quando não sabíamos dos nossos sentimentos. Se isso não é um relacionamento, então o que é?
- Eu não sei. – dei de ombros fingindo não estar afetada com aquela aproximação. – Mas eu não quero parecer uma vadia aproveitadora por isso.
- Está definindo seu valor pessoal por estarmos ou não em um relacionamento? – dei de ombros novamente. – Ajuda se eu fizer um pedido formal? – continuou a se aproximar e eu não consegui me mover, e nem queria. – Isso é importante para você? – sua boca estava cada vez mais perto da minha fazendo com que minha ansiedade por aquele momento só aumentasse.
- Brooklyn?
Ouvi uma voz bastante familiar e aquilo com certeza acabou com todo o clima em que e eu estávamos. Olhei para o lado vendo John todo engomado em seu torno acompanhado de dois dos seus advogados e o diretor da Trinity. A coisa era realmente séria.
- Está na hora.
- Hora de quê? – perguntei com receio.
- Nós vamos ver o Thiago.

***

Tinha tanta gente andando para lá e para cá o tempo todo dentro daquela delegacia, telefones tocando ao mesmo tempo, vozes falando ao mesmo tempo. Eu tive que me isolar em uma bolha para não surtar enquanto John resolvia algumas coisas que eu não fazia ideia do que podia ser, eu só sabia que tinha a ver com o fato de eu estar ali. Olhei para o lado sentindo a falta de . Eu queria muito que ele tivesse ido, mas o diretor não liberou a saída dele, ainda mais pelo fato dele ter matado aula um dia anterior e por minha causa. Eu só sabia que precisava dele perto quando descobrisse a verdade, precisava dele perto quando eu estivesse chorando, precisava dele perto para todo o momento. Por mais que eu negasse, eu precisava dele agora mais do que precisei em alguma outra vez. Precisava sentir a segurança que seus braços me traziam e precisava daquele sorriso, não o que fazia qualquer dia nublado ficar ensolarado, mas aquele sorriso que me fazia ficar bem quando eu estava mal.
- Querida. – John se aproximou e eu me levantei no mesmo instante. – Está pronta?
- Estou. – o garanti, mas no fundo, eu não tinha tanta certeza assim. – Posso fazer isso sozinha? – perguntei quando notei que ele vinha em seguida.
- Infelizmente, você ainda é menor de idade e...
- Tudo bem. – entendi o recado.
Saímos da sala do delegado e desta vez, eu pude sentir um impacto em meu corpo. Eu estava estranha, sem vontade de chorar ou gritar com meu pai, eu estava ansiosa para vê-lo e feliz. Encarei Jhon do meu lado e o mesmo me olhou seriamente. Eu senti a sua proteção. Seus olhos estavam sombrios e incompreensíveis. O delegado nos encaminhou por um caminho estreito e longo, a tristeza pairava sobre aquele lugar e eu só conseguia pensar no quanto eu queria tirar Thiago dali.
E o vi pelo vidro rápidamente. Ele estava em uma espécie de sala para interrogações, sentado em uma cadeira de madeira e suas mãos estavam algemadas. Era realmente necessário? Um dos guardas que vigiava o local abriu a porta para mim e eu respirei todo ar possível antes de entrar na sala.
- Thiago... – Jhon o chamou quando percebeu que ele estava imerso demais em seus pensamentos para perceber que estávamos ali. Eu sabia que ele estava tão ansioso quanto eu para aquele momento.
Ele se levantou rapidamente ao cravar seus olhos em mim, como se somente eu estivesse ali. O guarda ameaçou reagir, mas John disse que estava tudo bem.
- Como você cresceu. – seus olhos estavam me capturando, sua voz estava mais grossa do que eu me recordava, e seus cabelos tinha leves tons grisalhos. – Está se alimentando bem? O Jhon tem sido um bom pai?
- Thiago, ela não... – meu pai olhou para Jhon, tentando entender o que ele negava, olhei para ele franzindo a minha testa, mas ele apenas me olhou arqueando a sobrancelha.
- Você está bem? – foi à primeira coisa que eu quis saber, antes de fazer um interrogatório, eu tinha tantas perguntas.
- Agora eu estou. Vendo minha princesa crescida e forte. Você está tão linda... – indicou que eu sentasse na cadeira a sua frente enquanto ele fazia o mesmo. De repente, eu não me lembrava dos motivos que me levaram até ali. Era como se só existisse eu e ele. – Parece tanto com a sua mãe. – abriu um sorriso encantador, o mesmo que me deixava aquecida. Mas tudo tornou escuro novamente quando ele citou minha mãe!
- Thiago, eu...
- Pai, me chame de pai. – ele pediu quando notou a tensão em minha voz.
- Pai. – uma lágrima caiu. – Eu preciso que me responda algumas perguntas. – Thiago encarou Jhon enquanto ele pousava sua mão sobre meu ombro.
- Tudo o que quiser, se você acha que está pronta para as respostas. – ele estava sendo tão direto e indecifrável, seus olhos me mostravam uma versão que eu acreditava que existia. Thiago, o melhor pai do mundo. Mas suas palavras transbordavam duplo sentido, como se quisesse me contar algo, mas não pudesse. Seus olhos não estavam fixos em mim, ele encarava Jhon a maior parte do tempo, como se tivesse medo dele, ou raiva. Ele estava se controlando.
- Por que foi embora de casa? – perguntei encarando qualquer ponto que não fosse ele. – E não me levou com você...
- Sua mãe e eu não estávamos nos dando bem.
- Você não a amava mais? – minha voz saiu fraca.
- Por Deus, Brooke, eu amava sua mãe como nunca amei outra mulher na minha vida.
- Então por que...
- As brigas estavam ficando mais frequentes do eu gostaria, não estávamos mais conseguindo conviver debaixo do mesmo teto sem discutir por cinco minutos. E as coisas só pioraram quando eu descobri a verdade. – meus olhos estavam no chão, e bem devagar, eu os subi encarando Thiago.
- Que verdade? – Thiago manteve seus olhos nos meus parecendo não entender a minha pergunta. Ele franziu o cenho e depois passou a língua por entre os lábios.
- A mesma que me trouxe aqui. – ele novamente encarou Jhon. – Você não contou pra ela? – sua voz se alterou enquanto se levantava. O guarda deu um passo à frente novamente, mas não fez nada mais que isso.
- Que você assassinou Lucy, sim, eu contei. – Jhon respondeu petulante.
- Jhon! – me levantei também. – Por favor... – supliquei.
Eu não estava entendendo nada. Não parecia ser John e Thiago, os melhores amigos da faculdade que estavam ali. Pareciam mais dois rivais, dois inimigos diante de mim.
- Está tudo bem, princesa...
- Por favor, diga que isso é mentira. – pedi sentindo as lágrimas salgarem minhas palavras. – Diz! – pedi o olhando, mas ele permaneceu em silencio, assumindo a sua culpa no assassinato da minha mãe. Abaixei meu rosto o impedindo de olhar para mim, de me ver chorar. Parte de mim ainda queria acreditar que era apenas um mal entendido, mas agora, depois daquela confissão em forma de silêncio, não havia mais nada que eu pudesse fazer a não ser chorar.
- Eu não sei quais foram os seus motivos. Não sei se existe algum motivo no mundo o suficiente para tirar a vida de uma pessoa, o fato de ser a minha mãe, a sua mulher, só pioram as coisas. Você nos abandonou, me abandonou, nos deixou a mercer de um canalha que apenas nos maltratava. Desde que foi embora, a minha vida só tem sido um caos atrás de outro e mesmo assim, tudo que eu sempre quis foi encontrar você. Eu poderia entender por que foi embora, eu juro, eu poderia entender se você ao menos tivesse tentado se explicar, mas o que você fez com a minha mãe... Isso eu jamais irei perdoar. – me atrevi olhar para ele, mas o mesmo estava encarando qualquer coisa que não fosse eu. – Olha para mim, olha bem para o meu rosto. Por que essa é a última vez que você irá me ver na sua vida.
Não me contive em me levantar e sair dali o mais rápido que eu poderia, eu estava começando a me sentir sufocada pelas lágrimas que eu estava segurando. Era como se eu não conseguisse respirar na frente dele. Arrependi-me no mesmo instante em ter dito aquelas coisas para ele, mas eu não iria voltar atrás. Eu nunca mais voltaria a ver Thiago depois de hoje.
- Brooklyn, onde você vai? Você está bem? – John me alcançou quando eu já estava do lado de fora da delegacia.
- Eu vou voltar para a escola, tenho aulas. – acenei para um táxi que estava passando por ali.
- Brooke, você não precisa...
- Olha, eu não sei qual é o seu segredinho com o Thiago. – me virei imediatamente para ele, o encarando seriamente. – Se você achou que eu não notei que havia algo de muito errado entre vocês, você está muito enganado. Mas eu acho que se você escondeu até agora, é porque deve ser algo realmente grande. – ele me olhou silenciosamente enquanto o táxi parava na minha frente. Eu abri a porta traseira. – Torça para eu nunca descobrir. Por que depois de todo esse tempo e oportunidades, eu não sei se seria capaz de perdoar você também.
***

Não conseguia prestar atenção na aula de biologia, eu só conseguia contar as horas para que eu pudesse ir até Brooklyn. Ela não atendia ao telefone e não respondia nenhuma das minhas mensagens, até pensei em pular algum muro, mas eu sabia que nada que acontecia naquela escola ficava escondido por muito tempo. Soltei um suspiro pesado e encarei Emma, tão tranquila enquanto lia e anotava alguma coisa em seu caderno. Ela com certeza não sabia o que se passava com a Brooke e saber que eu era o único a quem ela confiou só aumentava mais a minha preocupação. Se eu não estivesse por perto, para quem mais ela correria para poder se consolar? Minha mente rapidamente pensou em Thomas e eu percebi que eu não havia o visto na escola hoje. Ele não tinha aula? Se não tivesse, ele poderia estar disponível para ver Brooklyn. Apertei minha mão com força sobre a mesa tentando controlar meu ciúmes ou eu poderia sair daquela sala a qualquer momento com um bilhete de suspensão no currículo.
- Você está bem? – Christensen perguntou, ao notar minha inquietação. Não o respondi e me levantei imediatamente quando o sinal tocou. Corri até o meu armário decidido a pegar as minhas coisas e ir até Brooklyn sem me importar que ainda houvesse uma aula pela frente. Guardei todas as minhas coisas e joguei meu casaco sobre meu ombro, foi quando eu a vi, do outro lado do pátio. Ela estava em seu armário, séria e cabisbaixa, Emmalyn estava com ela e parecia falar sobre algo, mas ao julgar pela forma como Brooke encarava o chão, ela não estava prestando atenção em nada. Senti meu coração se partindo em vários pedaços, vê-la daquela forma era a pior coisa do mundo e como ela havia me dito uma vez, não haviam palavras no mundo que pudesse consolá-la naquele momento; se tivesse acontecido o que eu achava que aconteceu. Mas eu tinha que fazer alguma coisa. Qualquer coisa.
De repente começou a chover e todos os alunos que estavam no pátio começaram a correr, para ajudar, o sinal tocou avisando que a próxima aula iria começar e eu precisava fazer alguma coisa imediatamente. Ela abraçou seus livros no corpo e ao invés de dar a volta pelo corredor, ela decidiu atravessar pelo pátio. Corri em direção a ela não me importando nenhum pouco com a chuva grossa que finalmente resolveu aparecer. Ela parou na minha frente sem entender nada, ergueu seus olhos avermelhados para mim e franziu o cenho.
- O quão mais próximo eu devo ficar para você perceber que já chegou à placa de Hollywood? – perguntei vendo os olhos dela ficarem cada vez mais confusos. Sim, meu amor, eu estava acordado e ouvi tudo o que você me disse essa manhã. Coloquei minha mão em sua cintura a puxando para mim. – O que mais eu devo fazer para você acreditar que eu te amo?
Ela não tinha nenhuma reação diante a minha confissão e por isso, só me restava fazer uma coisa.
Então eu a beijei.
Com a minha mão livre eu segurei o seu rosto delicadamente enquanto sentia seus lábios grudados aos meus. Ela não se afastou como eu imaginei, ao invés disso, eu ouvi algo cair no chão e logo em seguida senti suas mãos rodearem meu pescoço nos aproximando mais ainda, se era realmente possível. Nosso beijo foi ficando mais intenso e apaixonado, era uma sensação maravilhosa que fazia parecer que todos os problemas a nossa volta tivessem sumido e só existisse nós dois ali e a chuva que caia em nossos corpos grudados. Foi bem ali que eu tive a certeza de que ela também me amava e que independente do que o futuro guardava para nós dois, iríamos enfrentar qualquer coisa. Juntos!


Capítulo 14 - O Casal!

Eu me lembro de quando viajei para Londres pela primeira vez, quando fiquei longe dos meus problemas, mesmo que só fisicamente. Eu me lembro de quando conheci tia Ivana e ela me fez sentir a pessoa mais especial do mundo, me lembro dos esforços de Emma para me fazer sua amiga, foi uma das poucas vezes que me senti “bem-vinda” pelas as pessoas a minha volta, mas nenhum desses momentos me deixou tão feliz quanto eu estava agora. estava com seus braços enlaçados a minha cintura enquanto seus lábios me beijavam calorosamente. Quem se importava com nossas roupas molhadas e com um possível resfriado? Quem se importava com a chuva grossa que caia sobre nós? Quem se importava com o fato de que meu pai havia matado a minha mãe? Quem se importava que John estivesse escondendo algo de mim? Quem se importava com qualquer coisa que não fosse o nosso momento ali? Foi exatamente essa sensação de “não me importo” que me fez perceber o efeito que tinha sobre mim. Estava a ponto de não me importar com nada mais que não fosse eu e ele e eu sabia que isso estava completamente errado. Queria poder ficar e dizer que também o amava, queria poder pegar em sua mão e sair correndo dali e ir para algum lugar somente eu e ele, queria poder fazer tantas coisas que eu sabia que ainda não era a hora certa. Foi por causa desse pensamento que eu me afastei aos poucos de , mesmo com a chuva grossa eu pude ver seus olhos se tornarem um grande ponto de interrogação, não era a reação que ele estava esperando depois de eu corresponder o beijo dele.
- Me desculpa!
Foi à única coisa que consegui dizer antes de pegar os livros que joguei no chão e sair correndo até o vestiário feminino e deixar completamente molhado e sozinho naquele pátio.

- Está pensativa, Bennette. – Elijah não deixou de observar que eu estava quieta enquanto os outros alunos aproveitavam a ausência da professora de música. Ele arrastou um banquinho para se sentar ao meu lado e começou a tocar algumas notas do piano que antes estava sendo tocado por mim.
- Você me assustou. – sorri.
- Desculpe, não foi minha intenção. – sorriu de lado sem tirar os olhos da partitura. – Estava pensando no que? – parecia curioso.
Olhei pela janela vendo a chuva mais fraca.
- Naquelas coisas que depois que a gente nota, não consegue mais deixar de reparar. – passei a língua por entre os lábios e me virei para ele. – É que... Eu estava... Você já gostou de alguém? – senti um pouco de vergonha por abordar esse assunto.
- Eu gosto de alguém todos os dias. – disse em um tom brincalhão.
- Você nunca gostou de alguém sério, pra valer? – encarei seus dedos deslizarem pelas teclas delicadamente. – Nunca olhou nos olhos de uma pessoa e viu ali um possível futuro juntos?
Eu sabia que ele estava sorrindo.
- Eu já me apaixonei, se é essa a palavra que está procurando. É, eu já tive minha grande estrela cruzada, acredite.
- E o que aconteceu?
Ele parou de tocar e se virou para mim. Seus olhos me analisando atentamente e então um sorriso escapou por seus lábios.
- Ela foi minha primeira namorada, foi amor à primeira vista e foi um namoro perfeito, apesar de não ter durado tanto quanto eu gostaria. Tinha todas aquelas sensações clichês de sentir a mão suar frio, o coração bater mais rápido, ficar ansioso e tudo mais... – eu podia jurar ter visto os olhos dele brilharem. – Era como se meu coração fosse sair pela minha boca toda vez que eu a beijava e eu sentia a falta dela o tempo inteiro em que ela não estava por perto. Ela conheceu um lado meu que nem eu mesmo sabia que existia.
- Pareceu intenso e lindo. Namoros assim não deveriam acabar nunca.
- Eu também achava, até o dia em que os pais dela se mudaram para outra cidade.
Eu jurava que Elijah fosse dizer que seu grande amor foi a Emma, mas eu achava que estava enganada.
- Não cogitou um namoro a distância? – perguntei curiosa.
- Na época era mais complicado fazer tudo que eu tinha vontade.
- Sinto muito...
- Não sinta, eu já não a amo mais. Quero dizer, amo e acho que sempre amarei. Ela foi meu primeiro amor, foi à pessoa que tirou o meu medo de dizer essas três e assustadoras palavrinhas e foi à pessoa com quem descobri qual era o verdadeiro sentido delas. Mas é só isso. Eu sempre vou amá-la por quem já foi um dia pra mim e por tudo que me ensinou, mas o tempo nos mudou, não de uma maneira ruim. Mas de uma forma que nos fizesse deixar de olhar pra trás e seguir em frente. Hoje em dia sei que já não daríamos certo juntos, então eu superei e agora me apaixono todo dia por alguém diferente. – deu um sorriso meigo. – Eu entendi que eu só precisava ter controle sobre os meus sentimentos em relação às pessoas, porque o que eu acreditava que o que vinha daqui. – ele apontou para o meu coração. – Na verdade, vem daqui. – e então apontou para a minha cabeça.
- Você está dizendo que não acredita no amor?
- Acredito, juro que sim. Afinal o nosso principal objetivo de vida é encontrar alguém, não é? “E Deus os abençoou e lhes disse: Sejam fecundos, multipliquem-se e encham e submetam a terra” – ele citou um versículo da bíblia. – Tudo desde o princípio foi isso. Não de uma forma desesperada, é claro. Mas foi pra isso que fomos criados. Ninguém leva nada ao pé da letra porque somos preguiçosos. Queremos a parte fácil sem sofrer por isso e queremos o prazer do sexo sem a responsabilidade de um casamento. O mundo não mudou, Brooke, fomos nós e as leis dos homens. Como a nossa mente é uma coisa incrível fica mais fácil acreditar que não é tão errado assim por ser tão bom pular as regras.
- Eu nunca tinha pensado por esse lado antes. – confessei.
- Depois que eu descobri que eu tenho controle sobre os meus sentimentos, ficou mais fácil eu me sentir auto suficiente.
- Então você nunca mais quis gostar de alguém?
- Pelo contrário, até tive alguns casos indefinidos, alguns mais duradouros que os outros. E veja que engraçado. Para algumas pessoas a saudade é letal, a fórmula da paixão. Para outras é inerte, comodista. Se acostuma tanto a ficar sem que passa a não precisar, e por que algumas pessoas conseguem sair dessa sem sofrer por isso? Eu te digo, por que nem todos aprenderam que antes de querer ser feliz com outra pessoa, precisamos ser felizes com nós mesmos. Então eu te pergunto, você é feliz com a pessoa que você é?
Por onde eu começaria a responder aquela pergunta sem contar toda a verdade para Elijah?
- Então, basicamente você acha que eu posso aprender a gostar de outra pessoa se eu quisesse? – fiquei confusa.
Pensei que talvez eu pudesse gostar do Josh, mas não sei se as coisas seriam mais fáceis ou mais difíceis do que já são.
- Eu acho tão ridículo o termo “aprender a gostar”, se tiver alguém disposto a ensinar, me diga, por favor. Mas se você passa a gostar, você não aprendeu, você descobriu algo que não estava explícito. – ele estava descontraído com aquele papo. – É por isso que é mais fácil quando você se apaixona todo dia por alguém diferente.
- Deve ser cansativo. – observei.
- É sim. – ele segurou a minha mão. – Mas evita futuros dano no coração.
- É um ótimo conselho, talvez eu devesse segui-lo. – Ambos rimos ao nos levantarmos e seguirmos até nossas carteiras.
- Não acho que a nossa situação seja parecida. – ele me olhou com cautela. – Sei que sabe que eu estou no time do Josh, mas o amor não é uma disputa e muito menos questão de escolha.
- E o que sugere? – perguntei.
- O que você tem em mente?
- Quero ficar com ele, mas tenho medo de deixar todas as outras coisas que são importantes de lado por causa disso.
- É muito natural que você desvie do seu caminho por amor ou que deixe algumas prioridades de lado, você vai fazer essas coisas sem ao menos perceber. Mas se você estiver com a pessoa certa, ela com certeza vai te ajudar a achar o caminho de volta, porque ela vai entender que todas essas coisas que franzem a sua testa, ou te deixa pensativa são coisas que fazem parte de quem você é e o terá que aprender a amar isso em você também.
O olhei com uma expressão interrogativa.
- Como você sabe que eu estava falando do ? – arqueei a sobrancelha.
- Por favor, Brooke, vocês se olham como se quisessem se beijar.
- Isso não é grande coisa, você olha pra todas as garotas como se quisesse beijar cada uma delas.
- Como percebeu, eu não sou difícil. – tentou se gabar e eu não consegui não rir dele.
- Nada de confissões, Elijah. Não quando eu não posso fazer nada a respeito.
- Gosto de mulher fácil tanto quanto qualquer um. Mas não estamos em condições de nos envolvermos no momento. – ele me deu um sorriso simples. – Acho que o gostaria de saber disso. – O encarei seriamente pensando nas palavras dele. – O que foi? – perguntou quando eu não fiz mais nada a não ser olhar para ele.
- Você não pode contar isso pra ninguém...
- Talvez só para o !
- Elijah...
- Eu estou brincando! – me deu um leve empurrão pelo ombro.
- Como eu posso ter certeza? – perguntei baixinho. – De que o é a pessoa certa para mim?
Elijah simplesmente deu de ombros deixando sua resposta pairada no ar, mas eu entendi muito bem. Ninguém nunca iria ter certeza de quem era essa pessoa certa até viver esse amor.
- Sobre o que estão falando? – Josh e Ed, que eu não falava desde que saí do ônibus, se sentaram ao nosso lado.
- Hm... – o celular dele tocou. – Acho que eu vou fazer sexo hoje. – ele abriu um sorriso enorme para nossos amigos ao se afastar.
- É a mão dele que está ligando? – Ed encarou Elijah de costas.
Josh riu!
- Não fala mal da masturbação não, tá?! É sexo com uma pessoa que eu amo.
- Adivinhem só! Temos uma festa para irmos hoje à noite. – Elijah não tardou a se aproximar novamente. – Charlie ligou, casa liberada, estamos todos convidados!
- Está falando da Charlie Simpson? Ela não está na faculdade? – Ed perguntou.
- E esse é o meu velho e cobiçado amigo, Elijah Harris. – Josh pareceu estar orgulhoso dele.
- O que houve com o Elijah que estava sentado ao meu lado dois minutos atrás? – perguntei com cinismo.
- Teve a sua cota de conselhos amorosos e não pretende aparecer nunca mais.
- Nunca mais? Poxa, isso é muito tempo. Eu até estava começando a gostar dele.
- Espero que tenha se despedido...
- Querem me contar o que está acontecendo? – Ed se intrometeu na conversa.
Eu não estava mais com raiva dele, mas isso não significa que ele não deva sentir um pouco de remorso pelo o que fez.
- Eu acho que não. – o respondi em um tom seco. – O que me lembra de que eu não estou falando com você.
- Sou eu ou você que também percebeu um clima tenso entre esses dois? – Josh perguntou para Elijah.
- E se tiver? – Ed retrucou com um tom descontraído. Ele sabia que eu não estava realmente brava,
- Eu iria perguntar o que você fez de errado.
- Por que eu estou saindo como o vilão aqui? – se defendeu. – Eu estava tentando puxar um assunto e tentando amenizar as coisas. – bufou. – Eu sei, eu errei. – ele admitiu. – Mas você também foi muita dura comigo.
- Porque dizer ser meu amigo e depois usar uma coisa que eu te confidenciei contra mim não é nada demais, não é? – ironizei.
- Está me chamando de falso? – pareceu ofendido...
- Se ela não estiver, eu estou! – Elijah exclamou. – E olha que eu nem sei sobre o que estão falando!
- Então como pode ficar do lado dela ao invés do meu? – eu sabia que Ed estava se divertindo com toda aquela situação. Ele sempre foi assim, dificilmente alguma coisa o magoa.
- Não sei se percebeu, mas você não tem uma personalidade muito boa. – Elijah se explicou.
- Eu nem sabia que ele tinha uma. – comentei um pouco ríspida. Senti o olhar dele caindo sobre mim.
- Sarcasmo? – perguntou.
- Com um pouco de desprezo.

***

Encarava o jardim pela janela da sala de Biologia prática, enquanto um milhão de pensamentos me azucrinavam, eu deveria estar dissecando um sapo, mas eu não conseguia pensar sobre isso. Tentei desabafar com Christensen, mas eu deveria saber que ele não iria conseguir me dizer algo de útil que eu pudesse botar em prática. Nem sabia por que acabei voltando para última aula até Emma se virar para trás e sorrir.
- Querem uma grana para fazer isso por mim?
Ela obviamente não estava acostumada a abrir um sapo.
- Olá, Emmalyn, é muito bom te ver também. – Christensen disse com cinismo sem tirar os olhos do que estava fazendo.
- Eu diria o mesmo, mas eu odeio falsidade. – ela alargou o sorriso.
- Não deveria ser mais gentil para alguém que está precisando de ajuda? – agora ele a encarou.
- Eu estou pagando. – exclamou.
- Tenho cara de quem precisa de esmola?
- Você quer que eu seja sincera?
- Você quer a minha ajuda ou não? – Christensen a encarou seriamente e eu senti que estava sobrando no meio dos dois.
Emma olhou para o professor que não prestava atenção a sua volta e depois se virou para nós dois por completo.
- O que você quer em troca? – arqueou a sobrancelha.
- Só uma informação. – ele se aproximou lentamente dela. – O que o Edward fala sobre mim? – fez uma tentativa falha de sussurrar, só que eu acabei ouvindo tudo. Ela soltou um sorrisinho debochado.
- Só que ele te acha um idiota. – disse de uma maneira óbvia e eu finalmente consegui sorrir e por conta disso acabei ganhando a atenção da Emma.
- E você? Por que está tão quieto? – se virou para mim.
- Ele está de luto. – Christensen respondeu antes que eu pudesse abrir a minha boca.
- Como assim? – Emma franziu o cenho.
- As esperanças dele de ficar com a Brooklyn morreram.
Rolei os olhos não achando nenhuma graça no que ele disse.
- Você não muda nunca, não é? Com essas piadinhas sem graça. Nem sei o que o Edward vê em você. – provocou.
- Ele deve ter um gosto melhor que o seu.
Emma o encarou seriamente.
- Ed tem razão, você é mesmo um idiota. – ela se levantou. – Eu te dei o que queria, agora é a sua vez, sai. – Emmalyn expulsou Christensen do lugar dele e logo em seguida o ocupou.
- O que aconteceu entre você e a Brooklyn? – foi direta e parecia preocupada.
Olhei pela janela novamente encarando o jardim.
- Nós nos beijamos. – talvez fosse ser estranho falar sobre isso com a melhor amiga da Brooke, mas ao mesmo tempo ela poderia ser a pessoa certa para me direcionar ao caminho certo.
- Vocês se beijaram!
Emma exclamou parecendo feliz com a notícia que acabara de receber.
- Eu sabia que era só uma questão de tempo até a Brooke se entregar. – ela disse com um tom de orgulho.
- Ela não parecia tão apta assim, já que saiu correndo logo em seguida. – eu estava frustrado pela reação totalmente inesperada da Brooklyn.
- Você precisa dar um tempo a ela. – me aconselhou.
- É o que eu mais tenho feito. – suspirei profundamente.
- Para ela processar o que aconteceu. – completou o conselho. – Se eu a conheço como acho que eu conheço, nesse momento ela está juntando os prós e os contra e tentando resolver o que precisa ser feito para vocês ficarem juntos de uma vez.
- Como assim? – a olhei de esguelha.
- A Brooklyn é a pessoa mais insegura que eu já conheci na minha vida, ela não é do tipo que vai cair de cabeça em algo, se ela não tiver certeza de que vai dar certo. Ainda estou tentando descobrir se isso é uma coisa boa ou ruim.
Mordi meu lábio inferior me sentindo mais frustrado ainda. Eu sabia exatamente o que estava impedindo Brooke de cair de cabeça e eu só não acho que há exatamente algo que eu possa fazer a respeito.
- Quando eu estava decidida a recrutar Brooke para o meu ciclo de amizade, eu tive que fazer muitas coisas para ela saber que eu estava sendo sincera sobre as minhas atitudes e que era realmente isso que eu queria. – continuou a falar. – Você não pode desistir agora, já chegou até aqui e também não acho que seja isso que ela queira. Essa é a parte em que você ultrapassou uma barreira importante e ela vai te assistir de longe para saber se vai conseguir fazer parte do mundo dela. – Emma sorriu como se lembrasse de algo. – Ela não diz "eu te amo" como uma pessoa normal. Ao invés disso, ela irá rir, balançar a cabeça, dar sorrisos e dizer "você é um idiota!". Se ela disser que você é um idiota... Você é um homem de sorte! – Emma me olhou nos olhos.
- How I Met Your Mother? – sorri ao perguntar.
- É uma das séries favoritas dela. Brooke me fez assistir todas as temporadas.
- É o tipo de obstáculos que tenho que ultrapassar?
- Está entendo o buraco em que você se meteu agora? – ela brincou. – É um caminho sem volta, mas depois que o ultrapassa, você começa a ver a verdadeira beleza por debaixo da casca grossa que ela possuiu.
Queria contar para Emma que ela nem imaginava o quanto eu já tinha percorrido para provar a Brooke que eu estava realmente sendo sincero sobre os meus sentimentos e que em nenhum momento a palavra “desistir” tinha passado por minha mente. Queria que Emma soubesse que Brooke confiava em mim mais do que em qualquer outra pessoa e que eu achava que isso poderia ser um empecilho entre nós. Para muitas pessoas existia uma linha tênue entre serem amigos e serem algo a mais que isso, mas eu realmente esperava que Brooke não deixasse que uma coisa dessas atrapalhe a nossa relação a fluir e esperava que ela continuasse a confiar em mim para qualquer coisa, independente do que aquele beijo significou para ela. Eu até estava disposto a dar o tempo dela e me contentar em sermos apenas amigos, mas eu percebi que a cada momento que passava, tudo que eu queria era conquistar ela e eu não iria desistir.

Depois da minha tentativa falha de esperar pela Brooklyn no colégio, eu a avistei indo para casa a pé e ao julgar pelos seus passos lerdos e sua cabeça baixa, ela estava muito pensativa. Pensei em dar a volta e deixá-la pensando sozinha, mas as palavras da Emma surgiram em minha mente e foi isso que me incentivou a parar ao lado dela e abaixar o vidro do carro lhe dando o meu melhor sorriso de apaixonado. Ela sorriu, mas também rolou os olhos.
- Eu vi isso!
Exclamei para ela, mas ela não disse nada, ao invés disso, me deu uma cara de debochada e continuou a andar.
- Carona? – comecei a acompanhá-la lentamente enquanto ela parecia fingir não notar minha presença
- Eu sei que não quer ir para casa, caso contrário, não teria voltado para escola depois que saiu com o John.
Sua expressão se tornou séria no mesmo instante e eu briguei comigo mesmo por ter tocado nesse assunto quando ela parecia estar bem.
- Eu não acredito que está me ignorando, achei que já tivéssemos superado essa fase. – tentei amenizar o clima novamente, mas ela estava completamente muda.
- Se está com ciúmes da April porque nos viu juntos...
- Pra começo de conversa...
- Você chama isso de conversa? – Franzi o cenho pra ela. – Você está fingindo que é surda.
- Desculpe, o que disse? – Ela parou para me encarar e eu fiz o mesmo. – Eu não sou fluente em mimimi.
Não contive um sorriso. Como eu amava esse lado da Brooklyn!
- Eu precisava de algum argumento pra fazê-la falar comigo.
A mesma deu de ombros.
- O ruim de você saber exatamente onde eu moro é que eu se quer posso dar uma desculpa de que já estou chegando.
Eu tive que rir de novo.
- Acho que essa foi a melhor tentativa de desculpa que já me deu.
- Como assim? – me olhou.
- Bom, você foi bem direta, mas não foi rude. Um progresso talvez?
- Ainda tem a impressão de que sou rude, Canadá?
- Normalmente sim.
Ela franziu o cenho.
- Então eu acho que você gosta da minha arrogância já que isso nunca o impediu de me deixar em paz.
- Se é isso que você quer é só me dizer. – eu aguardei a resposta dela, mas tudo que ganhei foi um olhar repleto de humor, e eu iria aproveitar isso. – Esse silêncio é sinal de que supro suas necessidades?
- Ou só estou sendo educada em não lhe responder, enquanto você cria expectativas de algo que não tem o menor fundamento? – arqueou a sobrancelha. – Já considerou?
- Pior que sim. – estacionei o carro e me virei pra ela para poder ter uma visão melhor. – Mas devido as minhas experiências em levar um fora seu, eu creio que está apenas tentando cortar o meu barato, que por sinal, não vai ser tão fácil quanto você pensa.
Ela estalou os lábios.
- Que bom que não preciso fingir que estou feliz com a sua insistência.
Debrucei-me na janela do carro.
- Como você está?
Mudei minha voz para um tom mais sério e ela se aproximou um passo de mim colocando sua mão em meu rosto.
- Se eu disser que eu estou bem, eu estaria mentindo, mas... – seus olhos capturaram os meus. – Você sempre dá um jeito de fazer com que as coisas melhorem.
- Me deixa te levar para casa? – pedi imediatamente ao colocar minha mão sobre a dela.
Ela ficou me encarando por um momento até seu celular tocar. Ela deu uma rápida olhada e depois sorriu para mim.
- Eu tenho uma ideia melhor.

***

Josh havia me mandando uma mensagem dizendo que nossos amigos iriam se reunir no Olive Garden antes de irem à festa da tal Charlie, mas eu sabia que era só uma armação para me aproximarem novamente do Edward, provavelmente eles achavam que eu estava realmente irritada com ele. Eu estava, mas foi só no momento. Não dava para ser amiga do Ed e levar as coisas que ele dizia a sério ao mesmo tempo. Mas foi sempre assim, como no dia de Halloween, Ed jurou não saber, mas ele não arrastou a mim e a Emma para comprar fantasias atoa. Era um costume que tínhamos uns com os outros, nossa amizade era mais importante que qualquer briga besta e agora... Agora eu estava bem demais para me importar se Ed tinha passado dos limites ou não. Eu também não queria ir para casa e aquele compromisso apareceu em um ótimo momento.
Terminei de responder uma mensagem para o John dizendo que eu estava bem e que não era para se preocupar e entrei no estabelecimento acompanhada pelo que parecia mais gato do que nunca. Meus amigos estavam sentados logo à direita, próximos à entrada e já estavam com seus pedidos na mesa. Emma abriu um sorriso ao me ver.
- Até que enfim! – exclamou sorridente e se arrastou para o canto para que e eu sentarmos. – Já fizemos o pedido de vocês. , eu espero que goste de lasanha primavera com frango grelhado.
- Eu adoro, na verdade. – respondeu já pegando o seu pedaço.
Eu sabia que a presença do não era uma surpresa para Elijah, Ed e Emma, mas eu conseguia perceber a inquietação do Josh em ver ali, mesmo que ele estivesse se esforçando muito para demonstrar que não estava desconfortável. Por esse motivo, eu tinha que fazer se enturmar de vez com todos eles se eu quisesse começar essa relação com o pé direito.
- Elijah e sobre essa festa... – dei uma mordida na minha pizza. – Desde quando conhece a Charlie Simpson?
- Você ficaria surpresa se soubesse quantas pessoas eu conheço. – disse convencido.
- Deveria apresentar algumas dessas pessoas para o Josh, algo me diz que ele vai precisar se distrair hoje.
Josh encarou Edward e eu pude ver suas narinas inflarem.
- Eu vou fingir que não escutei isso para continuarmos amigos. – ele o respondeu seriamente.
- Tenho certeza que ele está falando isso só por que acha que tem certo alguém interessado por ele. – Emma disse com sarcasmo.
- Se está falando do Christensen...
- O carinha do futebol americano? – Elijah perguntou.
- Ele perguntou sobre você para a Emma hoje. – disse para Ed que o olhou surpreso e depois encarou Emma.
- Por que não me disse nada?
- Porque o Christensen não gosta de você, ele gosta do fato de ter você gostando dele.
- Deixa que eu decido quem vai partir o meu coração.
- Que coração? – perguntei.
- Exatamente. – Emma me olhou. – Não é com você que eu estou preocupada, é com ele. Pode ter certeza. – ela sorriu para ele e depois encarou Elijah. – Então vamos conhecer a sua namorada hoje? – cheia de sarcasmo e eu diria que havia uma pitada de ciúmes.
- Qual delas? – ele brincou.
Emma rolou os olhos.
- Estou falando sério. – ele riu. – Ou você também está querendo concorrer a uma vaga?
O celular do tocou e ele disse baixinho para mim que era a mãe dele antes de pedir licença e se levantar,
- Achei que ela fosse à primeira da lista. – Josh implicou com Elijah.
- Me conta desse bafo ai...
- Não pode ser – Ed colocou a mão sobre a boca se divertindo.
- Não sei do que estão falando. – Elijah desconversou ao tomar um pouco de Coca-Cola.
- Vocês têm o nosso apoio.
- Nem se fosse isso...
- Que é, no caso. – Josh afirmou.
- Não, não sei. – Elijah encarou Emma que parecia ter ficado vermelha com a brincadeira dos nossos amigos. – Com certeza estamos nos dando bem melhor agora, mas nada além disso. Não é? – ele olhou para Emma que concordou no mesmo instante.
- O Elijah fazendo a linha “maduro” – Edward sorriu. – O amor realmente muda as pessoas.
- Depende. – Josh disse assim que se juntou ao grupo novamente. – Às vezes é melhor ficar solteiro do que estar no relacionamento errado.
E se levantou, enquanto os olhares de todos foram pra . Encarei Josh ir até a recepção tendo em mente que eu precisava conversar com ele antes que nossa amizade fosse afetada pela minha relação com .
- E então, sobre o que estavam falando mesmo? – perguntou.
- Que estou cheio de encontros. – Elijah abriu um sorriso enorme para ele enquanto colocava os pés sobre o colo de Emma.
- Só falta encontrar a realidade, querido.
Também sorriu enquanto retirava os pés dele do colo dela.
- Com licença. – pedi aos meus amigos assim que vi Josh sair da lanchonete e corri até ele. – Josh, espera.
Ele parou de andar na mesma hora, mas não se virou para mim.
- Eu estou apaixonada pelo . – disse em um tom alto para ele escutasse muito bem já que a avenida estava movimentada. – E eu sinto muito que as coisas não são do jeito que você queria, mas independente de tudo, você ainda é o meu melhor amigo, então... Por favor, não desconte no a raiva que está sentindo de mim.
Ele se virou imediatamente para mim e andou alguns passos para se aproximar.
- Eu não sinto raiva de você ou do . – usou um tom sério. – Eu sinto raiva de mim porque só agora, te vendo sorrindo da forma como sorri para ele, a forma como olha para ele, que eu percebi que eu perdi quando eu nem mesmo lutei por você. Eu esperava que você fosse perceber com o tempo que eu sou o cara certo para você e por isso eu deixei as coisas acontecerem. Mas enquanto eu estava sendo covarde demais para confessar os meus sentimentos, o fez o que eu deveria ter feito e não há mais nada que eu possa fazer.
Eu gostaria de dizer que tinha as palavras certas para dizer a ele, qualquer coisa que o fosse confortar, mas eu não conseguia pensar em nada. Ele soltou um suspiro pesado e sorriu.
- Acho que foi uma cena ridícula essa que acabei de fazer, me desculpe. Ainda somos melhores amigos e isso nenhum canadense bonitão vai mudar. – ele me puxou para um abraço apertado e eu enlacei sua cintura com meus braços deitando meu rosto em seu peito.
- Espero que isso seja uma promessa. – murmurei sentindo as mãos dele acarinharem meu cabelo.

Eu finalmente tinha tomado à decisão de que não deixaria mais que os meus problemas pessoais atrapalhassem a minha relação com o . Depois da tarde que tive com Thiago, eu percebi que era somente da confirmação dele que eu precisava para seguir de vez em frente, minha mãe estava morta e depois de hoje, acho que Thiago estava morto para mim também, então não havia mais nada que eu pudesse fazer a não ser viver a minha vida e eu decidi que iria vivê-la da melhor forma possível; com e sem o sentimento de arrependimento quando eu não tinha culpa dos erros dos outros. me levou para a casa dele quando entendeu que eu não queria ir para a minha casa e respeitou todo o meu silêncio durante o caminho. Era exatamente isso que eu amava nele. A forma como ele entendia quando eu precisava conversar e quando eu precisava apenas ficar em silêncio escutando os meus pensamentos e dizendo as palavras com suspiros. Seu aperto de mão significava que ele queria me dizer que as coisas iriam ficar bem, e o meu olhar significava que eu acreditava nele. Logo percebi que morava em Midtown Manhattan quando notei que não conseguia ver o topo dos prédios daquele bairro. Apesar de morar por ali, excursão turística nunca foi a minha praia.
Eu o olhei.
- Agora entendi porque trocou Ottawa por Nova York. – ele me deu um olhar torto e breve.
- Pareço mais interessante agora que sabe que moro em um bairro melhor que o seu?
Meu queixo literalmente caiu ao perceber que ele estava tentando se gabar como tentava fazer quando nos conhecemos.
- Depende do ponto de vista. – exclamei.
- De quem? – soou convencido como sempre.
- O condado de Manhattan é muito eclético, você não pude julgar algo levando em questão o seu gosto pessoal.
- Eu posso sim. – disse ainda mais convencido. – E os preços dos apartamentos nesse bairro falam por si só.
Limitei-me em rolar os olhos e aproveitar um pouco da vista daquele lugar, até que escutei ele falar novamente.
- E você está errada. – franzi o cenho ao olhar para ele. – Não foi esse bairro que me fez trocar Ottawa por Nova York. – Ele não fez questão de se explicar e nem precisava, porque eu já sabia onde ele estava querendo chegar. Um sorriso escapou por meus lábios e eu não contive em colocar a minha mão sobre a coxa dele tentando passar meu sentimento de conforto em estar ali com ele.
Ele soltou um suspiro.
- Não me provoca.
- Como assim? – fiquei confusa. Ele pisou no freio no mesmo instante e se virou para mim.
- Eu sei que para você isso pode ser um ato de inocência, mas eu estou me segurando aqui, então... Se não quer que eu vire o vilão da história. – ele tirou minha mão à coxa dele. – Não me provoca.
Não contive uma risada e foi tão involuntária que qualquer um que me visse sorrindo não poderia dizer os maus bocados que passei naquela tarde. Era aquele poder que tinha sobre mim, ele me fazia esquecer os problemas como se eles nunca tivessem existido. Eu nunca tinha parado para pensar em como eu queria que fosse a minha “primeira vez”, Willy tinha feito questão de estragar qualquer pensamento romântico sobre isso. Tudo que vinha em minha mente eram as mãos dele tocando o meu corpo e isso fez com que eu repudiasse qualquer pensamento sobre o assunto. Nem mesmo Mariah havia conseguido se aprofundar nessa questão e eu acho que nunca vou encontrar o momento certo, mesmo que eu tenha encontrado o cara certo. voltou a dirigir sem notar a tensão que havia pairado sobre mim.
- O quanto isso é importante para você... – ele me olhou confuso. – O sexo?
Eu vi o gomo dele se mexer para baixo e para cima, o que queria dizer que ele estava engolindo as palavras impulsivas para poder deixar as certas saírem.
- Eu não penso nisso agora. – disse simplesmente.
- Por quê? – fiquei curiosa, será que ele não tinha esse tipo de interesse em mim?
Ele suspirou.
- Achei que não quisesse ter esse tipo de conversa comigo.
- Você está falando sobre você, e eu não estou falando sobre mim, então está tudo bem. – ele riu.
- Me esqueci do quanto você é persuasiva.
- Então já sabe que não adianta tentar mudar de assunto.
Ele levantou as duas sobrancelhas para mim e eu fiz a minha melhor expressão de quem não iria desistir de ter aquela conversa.
- Não é a importância do sexo, é a importância da pessoa. – disse por fim. – Cada relacionamento tem a sua forma de ser relacionada. April e eu... Era como nos comunicávamos. Só conseguíamos nos entender na cama e isso não é uma coisa saudável para um relacionamento, porque na maior parte do tempo, não tínhamos nada para conversar. Fiquei alguns meses com ela, mas eu estaria mentindo se dissesse que conheço o tipo de pessoa que ela realmente é.
- E eu? – perguntei no mesmo instante. Ele parou o carro novamente e se virou para mim.
- Você... – eu pude ver os olhos dele brilharem. – É tudo diferente com você, sempre foi. Acho que é a diferença quando se está apaixonado. – passou a língua nos lábios. – Se lembra da conversa que tivemos no dia do Halloween? Eu queria saber o que você tanto queria esconder e quando eu te vi tão vulnerável e abalada eu quis beijar você, meu Deus, como eu quis fazer isso. Mas eu sabia que aquele momento não era sobre mim e o que eu queria, e sim, sobre como você se sentia e como eu poderia ajudar e respeitar. Eu não queria cruzar nenhum limite e eu o fiz até hoje, até o momento em que eu te vi no pátio depois de voltar de onde estava. Eu juro que eu tentei esperar até você ver que estava pronta, mas eu não consegui controlar a minha vontade de te beijar. Me desculpe pelo nosso primeiro beijo ter sido assim, eu...
Segurei a camisa de e o puxei no mesmo instante para mim, colando seus lábios nos meus e o beijando apaixonadamente. Era uma sensação de sentimentos irradiando pelo meu corpo, eu podia sentir todos os meus poros eriçados e minha barriga embrulhar de uma forma gostosa. retirou o meu cinto com rapidez e me colocou sobre o seu colo sem quebrarmos nosso beijo em momento algum. Minhas mãos seguravam seu rosto enquanto a dele segurava meu cabelo e me puxava para mais perto. Eu nunca tinha sentindo nada parecido com isso, era bom e... Excitante? Então ficar excitada era assim? Eu não tinha encontrado problemas em ter as mãos de sobre o meu corpo, mas uma coisa acabou voltando à minha mente, o que me fez afastar o meu rosto do dele.
- Você disse “nosso primeiro beijo”? – o olhei confusa.
- Disse. – passou seus dedos delicadamente por meus braços.
- Mas e... E sobre Ottawa?
Ele pareceu ter ficado confuso.
- O que tem Ottawa?
Acho que ele não considerou aquilo como um beijo, mas ainda assim... Ao julgar pela sua expressão, ele realmente parecia não saber sobre o que eu estava falando.
- Casa da árvore, você completamente bêbado e irritado com o seu pai... – tentei o incentivar a se lembrar sobre o que eu estava falando, mas ele continuou com a mesma expressão confusa.
- O que eu fiz?
Perguntou com um tom preocupado.
- Nós nos beijamos! – falei de uma vez. – Quero dizer, não foi exatamente um beijo, estava mais para um selinho, mas mesmo assim...
- Você está falando sério? – sua voz parecia indignada. Eu concordei com um aceno. – Como eu não me lembro disso? Brooklyn, eu... Eu não fazia ideia.
- Bom, eu nem consegui dormir aquela noite direito pensando no que tinha acontecido e estava ansiosa para conversamos sobre isso, mas então eu te ouvi falando... Falando aquilo, você sabe... Sobre mim para a Helena e então eu desistir de me declarar. Eu achava que não tinha significado nada para você.
- Meu Deus, não Brooklyn, eu não fazia ideia, eu não me lembro. – ele estava perplexo com ele mesmo. – Não tinha noção de que tinha bebido tanto assim.
- Você é engraçado quando bebe. – sorri para ele e os olhos dele centralizaram o meu rosto.
- Me desculpe por não lembrar. – usou um tom passivo. – E me desculpe de novo por ter falado aquilo, seria tudo diferente se eu me lembrasse.
- Seria? – perguntei. – Você não parecia ter sentimentos assim por mim naquele dia.
- Ai que está, geralmente quando alguém está sob o efeito do álcool, ela só faz aquilo que não teria coragem de fazer sóbrio. Para depois poder fingir que não tinha feito por querer. – a mão dele subiu até o meu rosto se encaixando na minha nuca. – Mas pelo visto, eu queria aquele beijo, e eu ainda quero.
Vi um sorriso se formar no rosto dele antes de me puxar e começar a me beijar novamente. Tanto eu e ele sabíamos que eu estava completamente entregue aquele sentimento e nenhum de nós dois queríamos que fosse de outra forma.

O quarto do tinha os mesmos aspectos que o quarto do Canadá, era um pouco menor, mas tão aconchegante quanto o outro. Dei uma bela olhada nos porta-retratos enquanto tentava fingir que eu estava muito segura na minha decisão de ter aceitado ir para a casa dele quando não havia ninguém em casa. estava no banho há alguns minutos e eu me sentei na beirada da cama ainda observando o quarto. Ele não demorou a sair me dando um olhar engraçado provavelmente notando a vergonha estampada em minha cara por estar ali. Ele soltou um sorrisinho de deboche.
- Eu sei que é difícil resistir a mim, mas só vamos ficar aqui até a minha mãe chegar. Eu não vou fazer nada com você. – ele arqueou a sobrancelha e sorriu de lado. – Nada que não queira.
- Isso nem passou pela minha cabeça. – me levantei sem jeito e andei pelo quarto novamente. – Uau , você tira mesmo proveito do dinheiro dos seus pais. – parei de frente a uma sala que ficava ao lado completamente lotada com computadores, televisão e jogos.
- Eu não uso muito, uso mais quando estou de férias.
- Para tirar férias é preciso trabalhar.
Ouvi a sua risada e logo senti a mão dele rodear a minha cintura e me puxar de volta para o quarto.
- Estou tentando saber porque eu gosto tanto quando você debocha da minha cara. Eu não costumava ser o tipo de cara que as pessoas tiravam sarro até te conhecer.
Sorri para ele e me soltei dos seus braços voltando a andar pelo quarto. Parei de frente a sua sacada vendo a cidade iluminada.
- E sobre a Charlote? – quando percebi já estava perguntando. Eu até tentei segurar a minha curiosidade, mas ela foi mais rápida que o meu senso se decência. Virei-me para ele vendo seus olhos ficarem confusos. – Qual era a importância dela para você?
permaneceu alguns segundos parado, me olhando atentamente. Até que andou até sua cama se sentando ali e gesticulou com suas mãos para que eu fizesse o mesmo. Com um pouco de receio e muito arrependimento eu fui até ele.
- O que você precisa entender é que a Charlotte foi o meu primeiro amor, não quer dizer que eu te ame menos, mas quando eu a conheci, eu estava passando por uma fase difícil com o meu pai e ela esteve do meu lado o tempo inteiro. Claro que tudo que eu vivi com ela foi intenso e bom, mas foi da nossa maneira. O que eu e você temos é completamente diferente. Você não é a Charlotte e eu não sou o mesmo que eu costumava ser quando estava com ela, por tanto, não quero que fique comparando a nossa relação com o que tive com a April, Charlotte ou quem for. Ao invés disso, vamos fazer nossos momentos dos melhores, sem arrependimentos e sem dúvidas. – passou a mão no meu cabelo. – Principalmente pelo o que eu sinto por você. – ele sorriu antes de me dar um beijo simples e gostoso.
- Eu gosto disso. – pousei minhas mãos sobre seu rosto.
- De quê? – perguntou ainda mantendo seu rosto próximo ao meu.
- Do fato de você não ter diminuído nenhuma delas para me fazer me sentir melhor. – ele engrandeceu o seu sorriso e depois me deitou na cama ficando por cima de mim. Soltei um grito de susto com seu ato.
- Sei de outra coisa que pode te fazer se sentir melhor.
rapidamente grudou seus lábios em meu pescoço fazendo todo o meu corpo formigar, ele colocou uma de suas pernas entre as minhas e foi subindo seus beijos até chegar em meus lábios e me fazer perder totalmente a linha do raciocínio. O sabor forte de menta invadiu minha boca fazendo com que tudo ficasse ainda mais prazeroso. Mergulhei minha mão em seus cabelos macios desejando que aquela tarde não acabasse nunca. quebrou nosso beijo e ficou me encarando.
- O que foi? – perguntei me sentindo frustrada por ele ter parado de me beijar naquele momento.
- E o Thomas? – perguntou.
- O que tem o Thomas? – franzi o cenho.
- O que ele significou ou significa para você?
Não contive uma risada ao ouvi o seu tom de voz sério.
- Ele é apenas meu amigo. – o respondi.
- Me disseram que vocês já foram mais que amigos. – ainda estava sério o que me fez rir mais ainda.
- Sim, na época em que eu não sabia se ficava em casa com medo do Willy fazer algo com a minha mãe ou se fugia de casa com medo do Willy fazer algo comigo. – capturei seus olhos. – Thomas era a figura mais presente na minha vida e apesar do rótulo que nos deram, eu o considerava mais como um amigo do que como um “namorado”. Ele foi importante para mim, mas eu nunca estive apaixonada por ele e nem por ninguém até você aparecer.
Seus olhos se suavizaram ao me ouvir.
- É apenas você, Canadá. – sussurrei. – Apenas você conseguiu me fazer me sentir uma boba apaixonada.
Ele me deu um selinho rápido.
- Não quero fazer a linha ciumento, mas continue olhando só para mim. – me deu outro selinho. - Porque eu só tenho olhos para você.
A ficha ainda não tinha caído de que estava mesmo apaixonado por mim e nem mesmo o ouvindo dizer aquelas coisas fazia parecer nossos momentos reais. Eu estive esperando tanto por isso que tinha medo de acordar de um sonho e perceber que nada foi real.
- !
Ouvi uma voz feminina o chamar e sorriu para mim.
- Pronta para conhecer a minha mãe?
- O quê?
segurou minha mão me ajudando a levantar da cama e se quer me deu tempo de arrumar meu cabelo porque no segundo seguinte, ele estava me arrastando escada abaixo.
- Mãe, quero que conheça a minha namorada. Brooklyn!
Namorada?
Encarei no mesmo instante sentindo minhas bochechas esquentarem rapidamente. Como assim “namorada”?
Ela me olhou rapidamente e eu notei sua expressão de angústia. Ela não parecia tão contente assim em me conhecer.
- , a sua avó... – a voz dela estava tremendo. – A sua avó faleceu.
Eu vi o sorriso do sumir completamente junto com a cor do seu rosto, ele apertou a minha mão com tanta força que eu quis gritar, mas eu sabia que a dor que ele estava sentindo nesse momento não era nada comparada com a minha. Apenas deixei que ele descontasse qualquer sentimento que estivesse sentindo em mim por que eu sabia que ele teria um final de semana e tanto pela frente.


Capítulo 15 - A Confiança!


O aspecto na casa do era bem triste e intenso, a casa estava tão cheia quanto estava no aniversário do , mas diferentemente daquele dia, ninguém estava aqui para comemorar nada. Você não conseguia ver alguma expressão diferente, todos tinham os olhos vermelhos e uma aparência abatida, aquilo me desconcertava. A mãe do estava no corredor conversando com os pais de Helena, Helena estava deitada no meu colo tentando controlar as suas lágrimas, o pai do não saía do telefone e ... Virei meu rosto tentando o encontrar, mas ele não estava em nenhum lugar que meus olhos pudessem alcançar. Queria me levantar e procurar por ele, mas eu não queria atrapalhar a Helena que finalmente tinha deixado suas lágrimas saírem e talvez era isso que ele queria, algum tempo sozinho. O corpo da senhora estava para chegar a qualquer momento e quanto mais pessoas apareciam por aqui, mais tristeza se instalava por entre a gente.
- Por que eu tenho a sensação de que todos os meus momentos com ela não foram suficientes, mesmo a vendo todos os dias? – Helena repentinamente me perguntou, com a voz trêmula e embargada pelo choro. – Eles nos deixaram preparados, disseram que ela não tinha muito tempo de vida, mas mesmo assim eu quis acreditar que ela sempre teria mais um dia e continuava a adiar a minha despedida. – ela se levantou e me encarou. – Eu não queria me despedir, não parecia ser o certo. Me diz que eu estou errada, por favor. O choro dela ficou mais alto e desesperado, fazendo com que ela tivesse dificuldades para respirar. A envolvi em meus braços sentindo uma dor enorme em meu peito. Eu sabia exatamente como ela se sentia. Não queria dizer que sentia muito, porque essa é a última coisa que alguém realmente quer ouvir. Não sou eu quem está sentindo muito nesse momento. São eles.
- Você se despediu. – eu a garanti. – Todas as vezes que a fez sorrir, que a visitou no meio do dia, que ligou só para saber como ela estava. Você pode não ter percebido, mas se despediu e se despediu da melhor forma. Pelo o que o me disse sobre sua vó, ela não iria gostar de ver vocês triste ou chorando, acho que ela gostaria de partir tendo seu sorriso como sua última lembrança.
Helena pareceu se acalmar com as minhas palavras e ao mesmo tempo passou seus braços por minha cintura deitando sua cabeça em meu ombro.
- Obrigada por ter vindo. – ela sussurrou em meio a um soluço. – Ele vai precisar muito de você nesse momento.
Depois de me certificar que só faltava um lugar para procurar por , me vi parada em frente à sua casa da árvore. Não sei porque não o procurei aqui antes, talvez eu tenha achado óbvio demais e acho que por isso ele pode ter se escondido aqui, não seria o primeiro lugar que alguém o procuraria. Subi com bastante facilidade e quando ia me aproximando, eu conseguia ouvir o choro baixo dele. Aquilo partiu meu coração em milhares de pedaços. Nunca havia visto chorar. Desde a notícia da morte da sua vó, essa era a primeira vez que o via dessa forma. Sentei-me do lado de fora e fiquei o observando de longe. Ele estava segurando uma foto dela e dizia algumas coisas em meio ao choro que eu não conseguia escutar. Do nada, algumas lembranças começaram a surgir em minha mente, sobre a morte da minha mãe e o lar adotivo, coisas que eu não havia me lembrado, até tal momento.
Estava chovendo grosso no cemitério, John estava parado ao meu lado segurando um guarda-chuva, e fora algumas pessoas curiosas, não havia mais ninguém interessado em se despedir de Lucy a não ser nós dois. Nem mesmo sua própria família estava aqui. Eu chorava silenciosamente enquanto colocava uma rosa sobre sua lápide. Quem me visse naquele momento jamais poderia imaginar que eu estava morrendo por dentro. Todos os tipos de pensamentos passaram por minha mente. Eu queria gritar, fugir, bater em algo, xingar o mundo inteiro e o que eu mais pensava era: “Por que não morri no seu lugar?”. Eu achava que as coisas teriam sido mais fáceis desde que sempre me culpei por toda desgraça em que minha família se submeteu, desde a partida de Thiago até a morte da minha mãe. Era tudo minha culpa. Tudo seria mais simples se eu não tivesse nascido, em primeiro lugar. Logo após a morte da minha mãe, eu fui enviada para um lar adotivo e comecei a conviver com pessoas que eu não conhecia, mas que eu sabia que estavam passando exatamente pelo mesmo que eu. Não fiquei por muito tempo, mas foi tempo o suficiente para entender a importância do que é ter alguém para amar e te amar, porque ficar em um lugar cujo esquecimento é inevitável não deveria ser a infância de ninguém. O pior é quando você precisa se agarrar às lembranças boas para não ficar a maior parte do tempo triste, mas em seguida você percebe que aquela lembrança boa nunca mais voltará e ficar triste também acabava sendo inevitável. Quando fui salva pelo John, eu não conseguia conversar por algumas semanas, a única maneira que eu encontrava para liberar a minha tristeza, eram as minhas lágrimas que já diziam tudo. Certa noite, John me encontrou encolhida no chão da cozinha de madrugada. Eu estava chorando de uma forma que eu nunca havia chorado, porque tive um sonho feliz com os meus pais e a saudade acabou ficando incontrolável. Ele se sentou ao meu lado e ficou me ouvindo chorar até que eu me acalmasse, e então me disse algo que eu jamais esquecerei.
“Eu não posso consertar o que aconteceu, mas eu estou aqui para te dar apoio.”
Isso significou o mundo para mim.
Foi quando eu me dei conta de que se eu não me abrisse e falasse sobre os meus sentimentos, ninguém iria entender o que eu estava passando. Eu disse a mim mesma que eu deveria deixar essa Brooklyn triste no passado e que não sofreria guardando os meus problemas só para mim. Eu tinha o John para me escutar e isso era tudo que importava naquele momento.
E agora o precisava de mim e eu queria ser essa pessoa que ele sentisse a confiança em contar sobre suas dores, felicidades, medos, sonhos... Eu sabia que nada poderia trazer a avó dele de volta, mas estar ao lado dele dando o meu apoio poderia ajudar a doer menos, porque no fim do dia a gente só quer alguém para deitar a cabeça no ombro e deixar as lágrimas saírem sem sentir vergonha por isso.
Quando acordei dos meus devaneios eu notei que estava me encarando. Eu não sabia dizer por quanto tempo eu fiquei imersa nos meus pensamentos, mas eu gostaria de saber em qual momento ele havia notado a minha presença ali. O plano era sair e o deixar sozinho novamente, até que ele viesse até mim por vontade própria, mas ver seus olhos vermelhos me encararem me fez querer abraçá-lo e o protegê-lo pelo resto da minha vida.
- Você tinha razão. – ele disse com a voz rouca, após algum tempo em que ficamos nos encarando. Eu franzi o cenho. – Quando disse que não existem palavras que sejam realmente reconfortantes. – seus olhos se desviaram de mim e se voltou novamente para a fotografia em suas mãos. Respirei profundamente, tentando controlar a minha vontade de chorar junto com ele. Eu precisava parecer forte nesse momento. – Eu só queria ir para o meio do nada agora e gritar bem alto, até perder a minha voz. Mas até mesmo nesse momento eu preciso fingir que sou corajoso, me recompor e mostrar que eu consigo lidar com essa situação. Mesmo tudo sendo uma completa mentira.
Arrastei-me até ele e fiquei sentada ao seu lado, dei uma boa olhada na foto antes de segurar a mão dele e a acariciar.
- Imagina como seria o mundo, se pudéssemos ser sinceros sobre estarmos magoados! - Falei em um tom baixo e calmo. Ele me encarou. - Se existe uma coisa que eu entendi com tudo que eu passei foi a facilidade com que é possível perder tudo que nós achamos que será para sempre. – encarei nossas mãos juntas. – Eu passei metade da minha adolescência idealizando que a melhor forma de não me machucar era não deixar as pessoas se aproximarem e foi assim por muito tempo. Até aparecer um senhor arrogante, metido a conselheiro e flertador, me mostrando que tudo fica melhor quando dividimos com outras pessoas, sejam os momentos bons ou ruins. – ele me deu um sorriso bem leve e rápido ao notar que eu estava falando dele. – Graças a você eu decidi viver sem medo do que o amanhã pode me trazer. Hoje não é um bom dia, amanhã vai ser pior ainda e não há nada que eu possa fazer para preencher esse buraco deixado em seu peito, mas se você quer gritar então grite, libere toda essa mágoa e raiva que está dentro de você, não deixe essa dor te consumir. – encarei bem seus olhos. – Admitir estar mal também requer coragem, mas todo mundo se machuca de alguma forma. E se no final isso não for o suficiente, apenas se lembre de que eu estou aqui por você. – mordi meu lábio fortemente sentindo as batidas aceleradas do meu coração. – E que eu te amo.
Seus olhos se congelaram em mim, ele havia ficado parado como uma estátua. Era a primeira vez que eu dizia essas palavras. Eu sempre tive medo de me sentir feliz dessa forma com alguém e no final perceber que era tudo passageiro, mas eu não queria dizer que eu o amava apenas para confortá-lo, eu queria dizer para que ele soubesse que eu o amo. Amo hoje, amei ontem e vou amar até que ele me permita me sentir assim, completamente feliz ao seu lado.
Ele acariciou o meu rosto e eu pude notar sua expressão mais leve, como se ele tivesse tirado um peso de suas costas.
- Você estava errada afinal. – disse para mim e até mesmo sua voz estava mais serena. – Existem palavras que podem ser reconfortantes.
Os lábios deles tocaram os meus em um selinho simples, mas cheio de significados. O mesmo selinho que demos nessa casa da árvore. Nosso “primeiro beijo”. E o meu primeiro “Te amo”.

***

Brooklyn havia conseguido me arrastar até meu quarto em uma tentativa falha de me fazer dormir. Olhei para ela deitada em meu peito em um sono profundo, ainda me sentindo extasiado pelas palavras dela. Eu sabia que ela me amava, mas ouvi-la dizer foi ainda mais gratificante do que ficar imaginando ela dizer. Brooke dormiu enquanto eu fazia carinho em seus cabelos e só então notei que ela estava tão cansada quanto eu. Mas havia muitos pensamentos perturbando minha mente e por mais que eu estivesse feliz em ouvi-la dizer que me amava, ainda tinha essa sensação horrível em meu peito que fazia questão de me lembrar do motivo de minha vinda para Ottawa. Olhei para a porta quando ouvi um barulho estranho vindo do lado de fora do meu quarto, fiquei um tempo quieto tentando silenciar meus pensamentos para que tudo ficasse mudo e eu pudesse tentar entender o que estava acontecendo. Pude perceber que era a voz do meu pai e ele parecia com raiva e parecia estar gritando. Franzi o cenho confuso e curioso com o que poderia estar acontecendo em um momento como aquele. Com muito cuidado e carinho eu retirei meu braço que estava debaixo de Brooklyn, vendo-a se virar de lado e continuar a dormir sem se incomodar em não me ter ali como travesseiro. Joguei meu cobertor sobre o seu corpo e depois de me certificar de que ela não iria acordar, saí do meu quarto fechando a porta para que ela não acordasse com os barulhos. Notei que toda a confusão acontecia no escritório do meu pai, ele e meu tio estavam brigando, mas não apenas brigando verbalmente, eles estavam montados em cima um do outro e acertando socos onde fosse possível.
- !!!
Ouvi a voz chorosa de Helena.
Ela estava aos prantos abraçada à mãe dela.
- Por favor, faça eles pararem.
Foi como se eu precisasse ouvir a voz dela para voltar aos meus sentidos e finalmente ter alguma reação. Corri até os dois, tentando desesperadamente fazer com que eles se afastassem um do outro.
- O que está acontecendo aqui? – gritei alto – Não fiquem parados aí, me ajudem! – eu pedi aos dois dos advogados que trabalhavam para a minha família e o advogado que minha avó tinha contratado de outra empresa para cuidar de seu testamento. Eles também pareciam não estar acreditando no que viam, mas logo se acercaram e me ajudaram a separar aqueles dois.
- O que vocês pensam que estão fazendo? – fiquei no meio para que evitassem qualquer outra aproximação.
- Me soltem. – Tio Augusto puxou seus braços, ajeitando seu terno e sua gravata. – Pergunta para o seu pai o que está acontecendo, ! – fora o roxo, ele tinha um olhar furioso e assustador, eu nunca o tinha visto dessa forma antes. Encarei meu pai no mesmo instante, vendo sua boca sangrar.
- E então? O que está acontecendo?
- Tudo que eu fiz foi para o bem da nossa família... Eu conhecia aquela frase, ela geralmente vinha acompanhada de algo muito egoísta e nada convincente de que era “para o bem da nossa família”, a não ser para o próprio bem dele.
- Pai, o que você fez? – fiquei de frente para ele, não tendo certeza se eu gostaria de saber.
- O advogado que a sua avó tanto escondia de nós era um amigo íntimo de Harold. – tio Augusto voltou a falar. – Enquanto todos nós estávamos preocupados que mamãe estivesse confiando em um estranho, seu pai fingia não saber de nada sem se importar em nos contar a verdade.
- Se eu tivesse contado que Rick era um amigo, as coisas teriam saído de controle. Ela não iria confiar nele e a essa altura poderíamos estar entregando a nossa casa para o jardineiro. Vocês sabem bem como mamãe era dissimulada e caridosa com todo mundo que aparenta ter menos do que realmente tem. – Papai tentou se explicar e eu só fiquei parado ali, entre os dois tentando não acreditar no que estava escutando.
- As coisas sairiam do seu controle, você quis dizer! – Augusto rebateu com muito sarcasmo. – Graças à sua aliança secreta, agora você tem tudo o que queria.
- Como assim? – olhei para meu tio.
- A Ubisoft é toda sua , assim como o escritório de advocacia. – disse novamente com tom de sarcasmo. – Parabéns, o seu pai conseguiu nos enganar direitinho.
A minha linha de raciocínio parou naquele mesmo instante, era como se tudo ficasse branco e eu não soubesse de mais nada, nem mesmo o meu nome ou onde eu estava. Eu senti meu estômago embrulhar, eu estava nauseado e tonto, parecia que eu iria desmaiar a qualquer momento, mas eu sabia que precisava permanecer firme, principalmente agora.
- Me diz que isso é mentira! – olhei para o meu pai.
- A própria Helena admitiu que não queria fazer parte dos negócios da família. – disse enquanto fazia drama. - Quando você terminar o seu ano letivo vai voltar para Ottawa e trabalhar na Ubisoft enquanto cursa advocacia na mesma faculdade em que eu estudei, e quando seu tio ou eu não formos capazes de cuidar do escritório, você tomará conta. E será assim com a sucessão da nossa família.
Eu simplesmente não estava acreditando que aquele homem estava na minha frente, cuspindo todas aquelas palavras sem ter noção do quanto ele tinha passado dos limites.
- Parece que você já traçou todo o meu futuro. – lhe dei um olhar indignado.
- Filho, é o que nós planejamos a sua vida inteira, não se lembra? Nós íamos até à casa da árvore e sonhávamos com o dia em que iríamos trabalhar lado a lado.
- Isso foi quando eu tinha 10 anos e não tinha vontade própria. – passei a língua nos lábios sentindo minha boca seca.
- Do que está falando? – ele parecia confuso, mas nem um pouco surpreso.
- Eu não quero ser advogado pai! – exclamei logo de uma vez. Admitir aquilo em voz alta e na frente da minha família foi uma coisa libertadora. – E eu não quero voltar para o Canadá e ficar no comando da Ubisoft. E nem a Helena. – olhei para o meu tio. – Será que vocês podem parar de agir como se fôssemos crianças e não soubéssemos sobre o que é melhor para a gente?
Harold deu uma longa risada antes de limpar o sangue escorrendo de sua boca e eu gostaria de saber onde exatamente estava a graça.
- Eu deveria esperar que um moleque mimado não fosse entender sobre a constituição de uma família de verdade.
- Claro que não, você nunca fez questão de me dar o exemplo. – rebati sem nem mesmo hesitar. – Estava sempre tentando me fazer parecer ser o que eu não sou para os seus amigos milionários.
- Eu não vou me desculpar por ter te ajudado a ser o melhor em tudo.
- E que tal se desculpar por ter acabado com seu casamento por pura conveniência do momento ou por ter feito nossa família de boba enquanto tramava pelas costas de todo mundo com o seu amigo Rick?!
Ele me encarou enquanto soltou um suspiro pesado.
- É essa a ideia que você tem de mim? – usou um tom magoado, como se quisesse me fazer parecer culpado pelos erros dele. – Você está me insultando.
- Acredito que agora seja a minha vez, depois de tudo que me fez passar.
- Uau, você guarda mesmo rancor. – colocou as mãos em sua cintura. - Se você fosse capaz de consertar seus problemas sozinhos eu não teria precisado tanto interferir na sua vida.
- O que isso deveria significar?
- Se não fosse por mim, você não seria quem você é hoje.
Ele tinha mesmo a total razão de que tudo o que fez foi o melhor para mim.
- E é exatamente por isso que eu demorei tanto tempo para ir atrás dos meus sonhos. – a raiva estava cada vez mais notável em mim e a vontade de falar tudo que eu sempre quis, mas não tive coragem, só aumentava. – Eu estava ocupado demais tentando ser quem você queria que eu fosse.
- E quem você acha que você vai ser sem mim? – perguntou rudemente.
- Nesse momento, eu sou só uma pessoa perdida, magoada, de luto. – mordi meu lábio inferior com força. – Mas eu quero ser ator, já que você repentinamente se interessou em saber sobre a minha vida. – ele arregalou os olhos ao me escutar. – É isso mesmo que você ouviu, quero ser ator. - eu estava começando a entender em como poderia ter sido a sensação para os negros quando a escravidão foi abolida. Não que a minha situação pudesse ser comparada, mas ainda assim... – Graças à Brooklyn, eu consegui alguns testes para teatros e quem sabe eu logo estarei fazendo algum filme? – olhei para o meu tio. – Você sabia que a sua filha canta em uma banda e ela tem a voz mais linda que eu já ouvi na minha vida? – Augusto encarou Helena, que ainda chorava nos braços da sua mãe. – Nós crescemos e mudamos, eu moro em Nova York e Helena ganha seu próprio dinheiro sem precisar do senhor. Nada disso teria acontecido, se tivessem perguntado o que queríamos antes de tirarem suas próprias conclusões.
Eu podia claramente ver a decepção estampada em seu rosto. Não deveria ser uma visão diferente para ele enquanto olhava para mim.
- , você...
A porta se abriu de repente e era a minha mãe passando por ela.
- O que vocês estão fazendo aqui? – ela parecia curiosa e confusa ao ver meu pai e meu tio com os rostos roxos. Meu pai baixou a cabeça parecendo frustrado com a interrupção. – A senhora chegou.
Eu pude literalmente sentir as batidas lentas e fortes do meu coração. Parecia que ele iria sair pelo meu peito a qualquer instante. Todos se silenciaram e começaram a sair aos poucos, exceto por Helena que começou a chorar mais alto ao cair de joelhos no chão. Acho que o choque de realidade finalmente havia chegado, mas ela era a única de nós que conseguia demonstrar o quanto estava sofrendo.
- . – a voz do advogado contratado por minha avó interrompeu meus passos até Helena, me virei para ele me perguntando o que mais ele poderia ter para dizer, depois de tudo que fez para essa família ao se juntar secretamente com meu pai. – A senhora me pediu para que te entregasse isso. – ele me estendeu um envelope marrom claro e eu o olhei confuso.
- O que é isso? Mais uma falcatrua que você e meu pai tramaram pelas costas de todos? – lhe dei um olhar interrogativo.
- Eu entendo o seu receio, mas tudo que está naquele testamento foi por vontade própria da senhora e eu tenho certeza que você entenderá melhor porquê ela fez o que fez, quando souber o que está aí dentro. – ele olhou para o meu pai e depois seus olhos se voltaram para mim novamente. – Meus pêsames. – e então se retirou.
Eu não tinha certeza se acreditava na veracidade daquelas palavras, mas uma conversa com vovó um dia depois do meu aniversário me fez ficar em dúvida se havia mesmo uma possibilidade dela ter tido consentimento daquele testamento.

***

O velório da senhora foi tão triste quanto eu achava que seria. As pessoas tinham dificuldade em se despedir, eram sempre palavras bonitas embargadas por choro e tristeza. Quando a governanta da casa disse que a senhora foi a melhor pessoa que ela já conheceu, eu facilmente pude notar a sinceridade e saudade em sua voz, o que também confirmou tudo o que contava sobre ela para mim. Isso só fez com que eu me arrependesse mais de não ter tido a oportunidade de conhecê-la quando estive aqui no aniversário do . Helena tentou dizer algumas palavras, mas ela não conseguia dizer uma frase sem cair aos prantos e depois de um culto, nós fomos para o cemitério onde ela seria enterrada junto com os outros membros da sua família. não esteve presente no velório e não esteve presente durante o enterro. A despedida estava tão próxima, mas ainda assim, ele não estava aqui. Queria saber o quão difícil estava sendo para ele, queria confortá-lo como Helena estava me permitindo fazer, queria enxugar as lágrimas dele ou talvez chorar junto com ele, queria fazer qualquer coisa que pudesse estar ao meu alcance, mas não estava aqui e aparentemente não queria ser encontrado.
- Ele vai aparecer, não se preocupe. – Helena disse para mim quando notou que eu olhava para todos os lados à procura de seu primo. Eu a encarei.
- Por que diz isso? – fiquei confusa, já que o enterro já estava acabando e ele tinha perdido o velório. Estava com medo de que à essa altura, ele já pudesse ter voltado para Nova York sem mim.
- Por que ele não está apenas magoado ou triste, ele está com raiva. – ela não conseguia olhar nos meus olhos. – É tudo minha culpa...
- Do que você está falando? – perguntei aflita. Raiva? De que? De quem?
- Eu gostaria de pedir a atenção de todos.
Ouvi a voz de e me virei imediatamente, assim como todos naquele lugar. Ele havia chorado e parecia assustado, mas também parecia determinado a fazer alguma coisa. Por favor, , não faça nada que vá se arrepender depois.
- Eu gostaria de dizer umas últimas palavras em memória à minha avó, se possível. – disse imediatamente quando Harold se aproximou dele, ele também sabia que iria aprontar. – A minha avó era a pessoa mais amável, corajosa e determinada que eu já conheci na minha vida. – abracei Helena quando começou a dizer tais palavras. – Mesmo em seus piores dias ela nunca tirava o sorriso do rosto e essa era a minha maior motivação para... – ele semicerrou os dentes e respirou profundamente. – Para não enlouquecer dentro dessa família. – sua voz endureceu e no mesmo instante eu sabia que não era coisa boa que vinha a seguir. – Mesmo em um dia como esse, meu pai e meu tio fizeram a questão de fazer desse enterro um tribunal de inquisição julgando um ao outro, atrás de qualquer erro ou culpa no cartório, cuja única punição possível é o fogo do inferno. – ele encarou seu pai e seu tio. – Vocês dois não conseguem sequer esconder o quanto não se importam com o que estamos sentindo nesse momento. Parece que só estavam esperando a primeira oportunidade para traçarem uma guerra por poder. – tinha um tom magoado, mas também possuía muita raiva em sua voz. – Vocês estão deixando de lado toda ética, formalidade, honestidade que essa mulher deixou para nós como herança e estão se provando verdadeiros fúteis, sedentos por dinheiro. Custe o que custar. – se virou para as pessoas novamente soltando outro suspiro, esse foi de lamentação. – Palavras, silêncio, olhares... Tudo machuca tanto quanto uma pancada na cabeça. – ele olhou para a lápide de sua avó. – Helena e eu fomos criados para acreditar que vivíamos em um mundo de cordialidade, onde a simpatia e a honestidade resolviam qualquer problema, porque esse era o tipo de pessoa que ela era e sempre vai ser em nossas memórias. Desculpa, vovó, eu descobri que a realidade é bem diferente. – se virou para seu pai Harold e seu tio novamente. – Hoje vocês se provaram dois adolescentes da sétima série, porque não tiveram tolerância ou sabedoria para lidarem com seus problemas pessoais e indiferenças... Hoje vocês perderam um filho e um sobrinho.
saiu andando pelas pessoas que estavam chocadas com seu discurso e eu estava estática demais para ir atrás dele ou fazer qualquer coisa.

***

Assim que o cemitério esvaziou, eu retornei para poder ter uma despedida decente com minha avó. Apenas eu, ela e todas as perguntas sem respostas que ela havia deixado para trás. Fiquei me perguntando se eu poderia ter passado dos limites, mas acho que eu nunca mais teria outra oportunidade de dizer coisas como aquelas, ou coragem o suficiente para enfrentar o meu pai. Eu me sentia menos sobrecarregado agora, mas tudo seria melhor se as circunstâncias não tivessem sido as que foram. Depois de hoje eu estava oficialmente cortado da família .
- Espero que aconteça como algumas pessoas acreditam e que a senhora esteja em um sono profundo e não vendo toda essa bagunça que aconteceu desde que nos deixou. – comecei a conversar com a foto escolhida para a lápide dela. Eu amava aquela foto. – Se... Por algum acaso, você esteja vendo tudo aí do outro lado, espero que não esteja decepcionada comigo. – tirei a carta que o Rick tinha me entregado. – Mas eu não posso ser quem a senhora quer que eu seja, eu não posso deixar todos os meus sonhos de lado, não agora que eu consegui dizer todas aquelas coisas para o meu pai na frente de tantas pessoas. – soltei um suspiro para poder segurar o choro. – Eu sinto tanto a sua falta...
- Ela também sente a sua falta. – me assustei ao ouvir a voz da Helena. – Todos os dias ela me dizia como você era parecido com ela, como era determinado e corajoso. – Helena andou até mim e se sentou ao meu lado. – Quando ela escreveu essa carta, ela tinha certeza que seria a chave para que você tirasse qualquer dúvida da sua cabeça e ela sabia que quando lesse, você iria saber qual era a coisa certa a se fazer.
- Você sabia dessa carta? – fiquei confuso e ela concordou. – Então tudo bem para você a vovó querer que eu fique na frente de tudo que também é seu por direito?
Helena encarou a foto da vovó e sorriu.
- Eu vou fazer uma pequena turnê. – ela confessou e eu fiquei mais confuso ainda. – Não é grande coisa, mas vamos ficar um ano fora, viajando e conhecendo vários países.
- Helena eu... Isso é incrível. – me senti empolgado ao ver os olhinhos dela brilharem.
- Não é? – alargou o sorriso ao me olhar. – Eu sei que parece egoísta, mas não poderia ser eu , eu não posso cuidar de uma empresa e eu não posso ser advogada porque essa nunca foi e nunca será a minha vocação.
- E por que seria a minha? – perguntei indignado.
- Você viu o que você fez hoje? Com o papai e o seu pai? Aquilo foi incrível. Você também se lembra de que enfrentava todos os garotos mais velhos que você, porque ficavam mexendo comigo? Ou se lembra de cuidar da sua mãe quando ela sofreu com a separação? Você é o mais determinado de todos nós , sempre foi. E também o mais honesto e íntegro. Nossa família não poderia estar em mãos melhores. Eu não só sabia sobre essa carta, como ajudei vovó a escrevê-la. – colocou sua mão sobre meu rosto. – Eu confio em você e eu sei que vai achar um jeito de fazer o que é certo sem abandonar os seus sonhos. Eu não quero que se sinta pressionado a fazer algo que não deseja. Mas quero que saiba que eu e vovó sabemos que você é capaz de fazer tudo o que quiser e até mesmo o que não quer. – ela se levantou e deu outro sorriso ao olhar atrás de mim. Olhei na mesma direção e vi Brooklyn vindo até nós. – A escolha é sua e de mais ninguém.
Com um simples aceno, Helena saiu andando e me deixando com mais perguntas que não tinham respostas. Eu não sabia o que fazer e aparentemente eu não tinha tempo para pensar. Minha vida toda estava em Nova York, mas eu sabia que não conseguiria partir sem resolver pelo menos metade dos problemas aqui em Ottawa. Isso significava que... Olhei para Brooklyn que ocupou o lugar que antes estava sendo ocupado por Helena, me olhando carinhosamente e meu coração se apertou com a ideia de ficar longe dela, logo agora que as coisas estavam dando tão certo para nós.
- Confesso que fiquei um pouco assustada e com medo do que poderia dizer durante o enterro. – ela começou a falar. – Mas quando te vi enfrentar o seu pai e o seu tio... Foi a coisa mais incrível que você já fez. – ela me deu um sorriso apaixonado. – Eu estou feliz, , sei que não é uma boa hora para se estar feliz, mas te ouvir dizer todas aquelas coisas me lembrou do dia do Halloween e em como, naquela noite, todos os seus sonhos estavam tão vívidos e realizáveis como agora. – ela passou um braço sobre o meu entrelaçando nossas mãos e olhou para a lápide da vovó. – Eu estou tão orgulhosa de você e eu tenho certeza de que ela também está.
Eu não sabia por onde começar. Estava com medo da reação da Brooklyn ou que ela fosse se fechar de novo para mim e pior ainda, que ela quisesse terminar o que estava apenas começando. Perder Brooklyn nem sequer passava pela minha cabeça, mas se no final ela não pudesse entender os meus motivos, eu não poderia obrigá-la a ficar do meu lado.
- Obrigado, Brooke. – disse ao me virar para ela. Ela me olhou.
- Pelo quê, exatamente? – franziu o cenho.
- Você esteve presente para mim quando eu mais precisei e estar presente quando a gente precisa, é tudo sobre o que um relacionamento é.
O rosto dela se suavizou, deixando à mostra um sorriso meigo.
- E me desculpe, mas eu não posso voltar agora. – completei, sentindo minha mente pesada e o meu coração também.
- Voltar... Para a casa do seu pai? – o rosto dela novamente ficou confuso.
- Voltar para Nova York.
Ela não pareceu entender as minhas palavras, a julgar pelo seu cenho franzido.
- Do que você está falando? – perguntou com um tom de preocupação.
- A minha avó deixou essa carta. – mostrei para ela. – É um pedido pessoal para que eu cumpra meus deveres como um membro da família aqui em Ottawa. – notei a expressão congelada dela. – Eu estou tão confuso quanto você e é por isso que eu devo ficar. Não posso partir sentindo que não é a coisa certa a fazer.
- E qual é a coisa certa a fazer? Esquecer quem você é ou o que você quer? – ela estava agoniada, e no fundo eu fiquei um pouco decepcionado por ela não me entender, mas não fiquei nenhum pouco surpreso. Eu também reagiria como ela, se estivesse em seu lugar.
- Me desculpe, mas eu não posso voltar para Nova York depois de saber que a última vontade da minha vó era que eu cuidasse do que é da nossa família. Ela só confia em mim. – tentei me explicar.
- Cuidar do que é da sua família? – ela replicou parecendo um pouco surpresa. – Então todo aquele discurso deveria significar o que?
- Você não entende, era a vont...
- E qual é a sua vontade? – ela se levantou bruscamente. – Deixar de lado seu sonho de ser ator ou sua vida em Nova York? A escola, seus amigos... Eu! – ela estava aflita. Me levantei e olhei bem em seus olhos.
- Não vai ser por muito tempo, eu prometo. Eu preciso ficar porque a minha família precisa de mim, a minha avó precisa de mim.
- A sua vó está morta . – ela disparou essas palavras e acho que ela não mediu o peso delas, mas ao julgar pela sua expressão, ela se arrependeu no segundo seguinte. – Eu não quis dizer isso, eu apenas... , eu... – ela soltou um suspiro profundo quando se perdeu em sua tentativa de se explicar.
- Eu já tomei essa decisão Brooklyn. – tentei parecer decidido, mesmo sabendo que permanecer em Ottawa e ficar longe dela era o que eu menos queria.
Vi os olhos dela se encherem de água e eu quis abraçá-la no mesmo instante, mas eu sabia que se eu fizesse isso, iria desistir de tudo o que disse até o momento.
- Eu não vou ser egoísta e pensar sobre o que é melhor para mim. – ela voltou a falar quando achei que o silêncio tomaria conta de nós. – Você sabe o que eu penso e como me sinto, e se isso não é o suficiente para te fazer ir comigo, então não há mais nada que eu possa fazer. – ela mordeu o lábio inferior quando uma lágrima caiu. – Adeus, Canadá! Ver Brooklyn me dar as costas e partir, foi a segunda pior coisa que me aconteceu nesse dia. Eu quis correr até ela e pedi-la para ficar comigo ou voltar para Nova York com ela, mas eu não podia ser egoísta por ela ou por mim, eu precisava ficar e tentar não me perder no meio de todo o caos que a família carregava.

***

Verifiquei no meu celular para ver se minha mensagem para John havia chegado. Eu estava quase chegando à Nova York e seria muito bom poder ver um rosto conhecido. Meus olhos estavam inchados e vermelhos, eu chorei toda a viagem enquanto minha playlist tocava e repetia sem parar. Eu me sentia triste, decepcionada, revoltada, mas aí eu parava e me perguntava se eu não estava sendo egoísta, se eu não estava hesitando em pensar no lado dele porque eu estava vendo apenas o meu. A essa altura, eu não estava mais pensando em quem estava certo ou errado, eu estava pensando no quanto eu não queria ficar longe dele. Acho que meu orgulho não iria me deixar comprar uma passagem de volta para Ottawa e conhecendo , ele não permitiria que eu deixasse minha vida de lado para viver a dele, assim como eu não permitiria. O jeito seria esperar dia após dia e torcer para que eles passem rapidamente.
John não estava por ali, ao invés disso, havia um homem estranho segurando uma placa escrito o meu nome. Andei até ela um pouco hesitante.
- Senhorita Bennette? – ele perguntou.
- Sou eu. – respondi.
- O senhor Henson me pediu para buscá-la, ele está em uma reunião importante e não poderá sair no momento. – abriu um sorriso gentil.
- Entendo. – olhei a minha volta. – E quem é você?
- Eu sou o novo motorista da empresa.
- E o que aconteceu com Péricles?
- Ele está de férias, senhorita.
Fiquei encarando-o por alguns segundos, pensando que Peterson ou Nana poderiam ter aparecido, mas eu também não posso esperar que todo mundo esteja disponível para mim no momento que eu quiser.
- Vamos?
Ele pegou minha mala e seguimos para o estacionamento.
- Senhorita... – ele parou em frente a um carro e abriu a porta.
- John trocou de carro? – perguntei curiosa ao entrar.
- Houveram várias mudanças, senhorita Bennette. – respondeu rapidamente.
- E eu só estive fora por dois dias. – disse alto para mim mesma, enquanto ele dirigia para a marginal.
Durante o caminho, toda a minha conversa com voltava em minha memória, fazendo questão de fazer meu coração bater forte. Me machucava não de uma forma física, mas de um jeito que fizessem com que os calafrios fossem ruins. Eu não estava ansiosa ou nervosa, estava magoada. Depois de tanto chorar, acho que eu estava sentindo o cansaço bater agora, minhas pálpebras estavam ficando pesada e o sono estava chegando junto. Será que posso fechar meus olhos só por um minuto e fugir um pouco da minha realidade nesse momento?

Memórias On:

Meu pulso ardia muito, e cada vez que eu o abria e fechava, o sangue jorrava. Eu me levantei e coloquei meu braço embaixo da torneira de água fria. A mistura do sangue com a água resultou numa cor rosada muito bonita aos meus olhos encharcados. Fui até o banheiro enrolar papel higiênico no braço para voltar à cozinha e limpar todo o sangue.
Assim que terminei, passei correndo pelo corredor e depois voltei notando a porta do quarto da minha mãe aberta, ela deitada sozinha sobre ela. Andei até a beirada e então com cuidado me deitei sobre a cama. Lucy se virou para mim e sorriu como se fosse a primeira vez em que estivesse me vendo.
- O que aconteceu com seu braço? – Lucy perguntou ao franzir o cenho. Ela começou a me analisar quando viu o sangue derreter o papel que o cobria.
- Nada – Me remexi na cama desconfortável.
- Por que você está com papel higiênico enrolado em seu braço?
- E o cortei.
- Como fez isso?
- Não sei, aconteceu e pronto.
- Aconteceu como?
Eu não queria contar para ela que Willy havia passado do limite mais uma vez, eu não queria contar que seu marido se achava o Deus da punição e, aos seus olhos, qualquer erro era um erro grave com direito à uma severa punição. Eu não aguentava mais aquela vida, não aguentava mais conviver com o Willy, não aguentava mais ser fraca e indefesa. Mas eu precisava me segurar por ela.
- Você deveria se cuidar mais, Brooklyn. – Willy apareceu na porta do quarto, se escorou no batente e tomou um gole de sua cerveja antes de voltar a falar. – Dá próxima vez, você pode se queimar.

Memórias Off
:

Acordei assustada e com frio, tinha algo duro abaixo de mim e um vento forte e gelado batia contra meu corpo. Demorei algum tempo para assimilar o lugar que eu estava e ao perceber, todo meu corpo se estremeceu. Levantei-me imediatamente sentindo minha respiração ficar falha. Como eu havia parado aqui? O que tinha acontecido? Olhei à minha volta, procurando pelo motorista de John, mas não tinha ninguém ali a não ser eu, os túmulos e a lápide de minha mãe. Eu estava no Brooklyn e havia sido trazida para cá sem meu consentimento.
- Que merda está acontecendo?

Capítulo 16: A Primeira Vez

Nada mais foi a mesma coisa desde o ocorrido no cemitério. John me ligava de meia em meia hora para se certificar de que eu estava bem. Eu precisava avisar sempre que não pudesse falar, dizer onde estava, com quem estava e o que estava fazendo. Tenho um segurança particular que me acompanhava até à escola e depois da escola, fora Nana e Peterson que, às vezes, apareciam sem avisar nos lugares que eu estava com meus amigos. John enlouqueceu por duas semanas inteiras. Descobrir quem tinha me sequestrado virou sua missão crucial. Quando percebeu que o progresso da polícia era mais lento do que esperávamos, ele resolveu voltar à sua rotina e os deixarem trabalharem no seu tempo. Confesso que no começo fiquei traumatizada e sempre achava que estava sendo vigiada, mas tinha outra coisa que me incomodava bem mais do que o fato de não me lembrar do que aconteceu naquele dia.
Desde a minha volta de Ottawa, todas as manhãs eu fazia um prévio ritual, ficando até o último momento possível no portão da escola esperando que aparecesse, mas ele nunca apareceu, e após duas semanas, acho que estava na hora de desistir. Encarei o grandalhão que me vigiava discretamente e passei direto pelo portão vendo meus amigos surpresos ao me verem. Acho que eu deveria começar a colocar em minha cabeça que não voltaria e que eu estava apenas perdendo o meu tempo em esperar por ele na escola, ou por algum sinal de fumaça de que ele estivesse bem, ou qualquer coisa que não me deixasse preocupada. Eu deveria seguir em frente assim como eu sei que ele provavelmente está fazendo. O problema era que eu não queria acreditar que havia me esquecido tão fácil assim. Mas eu precisava continuar. Apesar da saudade, apesar de me sentir pela metade. Irei continuar porque é o que resta a ser feito. Com tudo que vivi, eu facilmente aprendi que, se eu não levar a minha vida para frente, ela me leva de qualquer jeito.
Ao me aproximar deles, Emma me deu um sorriso meigo e me abraçou.
- Como você está? – perguntou.
- Decepcionada, mas não surpresa. – respondi ao respirar profundamente.
- Estou orgulhosa de você. – me abraçou mais forte.
- Nós estamos. – Ed, Josh e Elijah se acercaram de mim e me deram um abraço em grupo.
- Eu preciso me concentrar nas provas. É o nosso último ano. – sorri para eles. – Quero aproveitar cada momento com vocês.
- Então vamos começar vendo os gatinhos da natação. – Ed segurou a minha mão e me puxou quando o sinal bateu. Eu sabia que a partir de agora eles não iriam me deixar quieta. Seria uma festa aqui, social ali, compras para cá, mais festas para lá e assim vai. Meus amigos respeitaram todo esse tempo em que eu decidi esperar por , mesmo eles sabendo que eu estava apenas perdendo o meu tempo. Mas cruzar aquele portão sem olhar para trás é uma declaração óbvia de que era a hora deles agirem.
- Já nadou nua?
Ed perguntou enquanto arrancava sua camisa.
- Hm... – olhei para o vapor quente saindo da piscina. – Não, nunca. – Ele tirou os sapatos. – Você não pretende...
A risada sarcástica dele me fez entender que era essa exatamente a intenção.
Emma havia mencionado que Ed tinha descoberto que Christensen estava namorando uma garota, o que me chocou, porque eu podia jurar que os sentimentos ali eram recíprocos. Mas desde então, Ed tem montado um plano para deixar sua paixonite de lado e acho que mostrar o corpo durante a aula de natação deveria estar nos planos. Atração física. E, diga-se de passagem, que físico.
- Não vou fazer isso sozinho.
Olhou-me.
- Você tem uma tatuagem?
Perguntei nenhum pouco surpresa, mas ao mesmo tempo querendo mudar de assunto.
- A primeira de muitas.
- O que é? – Me aproximei para analisar.
- É o símbolo da clínica – explicou ele. – Achei apropriado para minha primeira tatuagem. Além disso, talvez meus pais não se zanguem muito, já que eu escolhi nosso símbolo.
- Eles ainda não viram a tatuagem? – perguntei como desculpa para continuar o distraindo.
- É claro que não, eles vão ficar uma fera quando descobrirem.
Aproximei-me da piscina e me sentei na borda ainda o olhando. A aula ainda não havia começado e estavam todos em um canto conversando. Senti a água quente em meus pés
- Você ainda não encontrou um jeito de contar a eles sobre a sua sexualidade?
Ed não costumava tocar nesse assunto. Sempre demonstrou para todos o quanto ele era seguro sobre ser gay, mas quando se tratava dos seus pais o buraco era bem mais embaixo.
- Meus pais? – Ele riu e logo se sentou ao meu lado. – Eu vou contar. Um dia. – me encarou. – Provavelmente eu vou estar bem longe daqui quando isso acontecer e quando eles forem me procurar, não irão me achar porque vou atender por Carolina Franklin, dona de uma boate gay e com as unhas de gel feitas a cada quinzena.
Não consegui ficar séria com aquela declaração. Principalmente porque era assim que eu o imaginava daqui alguns anos. Ed voltou seu olhar para a piscina e soltou um suspiro pesado. Aquilo acabou fazendo com que o clima entre nós dois mudasse.
– Eu entendo o ... – o tom dele ficou sério e ao ouvir aquele nome, o meu coração murchou. – Quando você me contou tudo que aconteceu em Ottawa eu não consegui odiar ele, por mais que eu quisesse, eu não odiei. Eu me vi nele, pude entender o lado dele e o admiro por ter sido corajoso em contar a verdade em um momento tão difícil. Ter pais como eu e ele temos não é uma tarefa fácil, principalmente se você não nasce com a mesma expectativa com que foi preparado para vir ao mundo. – ele me olhou novamente. – Eu o entendo. E eu sei que bem no fundo, você também o entende. Você sempre foi bem mais madura do que nós. Anda por aí com a aparência de quem já passou por muitas coisas e tem força para carregar isso sozinha. Eu sei que você o entende, mas está magoada e esse é um direito seu. Mas não desista dele. – seus olhos me encaravam desesperadamente. – Eu também iria querer que não desistissem de mim, mesmo se eu afastasse todo mundo.
Eu acho que essa era a primeira vez que eu levei um conselho de Edward a sério. Ele estava sendo sincero, sem piadas e sorrisinhos. Eu também senti o tom de mágoa em sua voz, como se eu tivesse desistindo dele também. Mas não era assim, eu não havia desistido do , eu havia o dado um tempo. Por mais que esse tempo estivesse demorando. Eu decidi seguir com a minha vida e enquanto eu achar que vale à pena, eu esperaria por ele e se ele quiser voltar para mim, eu estarei bem aqui.
- Eu pensei que seria fácil ignorar, fingir que estou bem e que tomei a decisão certa em não o apoiar. Eu dei as costas para ele sem sequer olhar para trás, sentindo todo o meu corpo me contrariar. Eu tentei não pensar sobre isso, esquecer o que aconteceu por que é mais fácil para seguir em frente. Como ele provavelmente está fazendo agora. – mordi meu lábio tentando controlar uma lágrima. - O que você acha que eu deveria fazer? – pedi por mais um conselho.
Ed me deu uma boa olhada antes de soltar outro suspiro.
- Pelo o que eu pude observar... Para os rapazes é mais fácil esquecer e deixar para lá essas situações delicadas e chutar a bola para frente. – eu o encarei também. - Para vocês garotas, é o que eu penso, funciona um pouco diferente. Sem o isolamento térmico em torno do coração. Vocês querem telefonar para dizer que se viram... Que se olharam simultaneamente, como se isso já não fosse bastante inegável. – ele tinha um tom tão sério. Nunca ouvi Ed soar tão maduro. – Mas o ... Eu não acho que está te ignorando ou tentando fingir algo. Acho que está sendo tão difícil para ele como está sendo para você. – ele me abraçou de lado e eu deitei minha cabeça em seu peito. – Você só precisa entender que toda história tem dois lados. Precisamos escutar os dois antes de tomar qualquer atitude. – ele acariciou meu cabelo. – Eu tenho certeza de que ele ainda é completamente apaixonado por você e nesse exato momento deve estar pensando o quanto sente a sua falta e gostaria de estar com você. – ele sorriu. – Certifique-se de que ele tenha certeza de que você ainda o ama.
- Você acha que eu deveria continuar ligando? – perguntei um pouco receosa. nunca atendeu as minhas ligações ou retornou alguma mensagem, depois de um tempo eu decidi deixar meu orgulho falar mais alto. Ele deu de ombros. – Eu fico com essa sensação de que eu deveria fazer algo, mas ao mesmo tempo eu penso que se o meu amor não foi o suficiente para fazê-lo voltar comigo, nada do que eu fizesse teria mudado alguma coisa.
Ele soltou um sorriso sarcástico.
- Eu vou te contar uma coisa que não contei a ninguém. – eu me afastei para poder ter uma visão melhor dele. Fiquei curiosa. – Christensen e eu nos afastamos por que eu finalmente me declarei para ele. Fiquei cego de ciúmes quando o vi com outra. – eu não consegui evitar minha expressão de surpresa. – Falei tudo, mas ele não levou os meus sentimentos a sério e eu tive que entender. Eu também não levo. – deu um sorriso triste. - Eu demorei entender que o problema estava na forma como eu preferia lidar com as coisas. Eu sempre achava que podia deixar para depois, que ainda tinha tempo, que não estava na hora. Agora ele está andando de mãos dadas por aí com uma caloura e vira a cara quando me vê, por que para ele é muito mais fácil me ignorar ou ignorar o que talvez ele possa estar sentindo em relação a mim. – ele segurou minha mão. – Talvez seja melhor não fazer nada, mas talvez seja melhor se arriscar e pagar pra ver. Afinal, o que você tem a perder?
Fiquei algum tempo de mãos dadas com Edward, tomando aquele conselho para mim seriamente. Depois percebi que eu não era a única sofrendo ali e que ele sempre gostou de parecer frio, mas hoje ele deixou claro que tem coração como todo mundo e que também sente as coisas que sentimentos, mesmo que não demonstre.
- Não acha que isso é mentir? – apontei para a tatuagem querendo mudar de assunto. - Quero dizer, sabia que iria fazer uma tatuagem, então por que não contou para seus pais?
Ed voltou a sorrir.
- Omissão não é mentira para mim.
- Você sempre procura ir pelo caminho mais fácil. – brinquei.
Ele atirou água nas minhas coxa e eu me estremeci.
- Então, que tal nadarmos sem roupa?
- É claro que não!
Levantei-me apressadamente quando ele ameaçou tirar a minha camisa que estava por cima do maiô.
- O que foi? Tem medo de mostrar alguma tatuagem?
Caçoou de mim.
- Você adora me provocar, não é?
- Meu objetivo de vida!
- Já pode morrer em paz.


- Idiota – Levei um susto ao ouvir a voz de Thomas soar bem próximo meu ouvido.
- O que? – o encarei.
- A Julieta. – ele apontou para o livro em minhas mãos. - Ela era uma idiota.
Eu fiquei alguns segundos sem entender nada, mas logo raciocinei. Estava lendo Romeu e Julieta durante o intervalo.
- Ah... É mesmo? – ainda estava confusa.
Romeu e Julieta era um dos maiores clássicos românticos e essa era a primeira vez que eu ouvia alguém dizer algo que desse a entender o contrário disso.
Colin deu de ombros ao se sentar ao meu lado.
- Ela se apaixonou por um garoto que não pode ter. Todos acham isso super-romântico, Romeu e Julieta o verdadeiro amor, tão triste. Mas se a Julieta foi burra o suficiente para se apaixonar pelo inimigo, beber uma garrafa de veneno e ir repousar num mausoléu, então ela teve o que merecia.
- E por que você acha isso? – mordi meu lábio. – Para você não existe emoção em um amor proibido?
- Eu acredito que... Na maior parte do tempo, o amor é uma questão de escolhas. Poderiam escolher tirar os venenos e as adagas da frente e criar o seu próprio final feliz. Você pode desperdiçar sua vida construindo barreiras e fronteiras ou então você pode viver ultrapassando-as. E aí, vai o que eu sei. – ele se virou para mim, encarando meus olhos. - Se você estiver disposta a se arriscar, a vista do outro lado é espetacular.
Colin me encarava com um sorriso de orelha a orelha, como se tivesse recebido a melhor notícia do mundo, sem saber que por mais que eu tentasse refletir o sorriso dele, eu estava arrasada por dentro.
- Eu já li isso em algum lugar. – brinquei e ele fez uma expressão falsa de que estava magoado.
- Acho que eu nunca vou conseguir te impressionar. – riu.
- Por que você iria querer me impressionar? – perguntei, me sentindo sem graça.
- Eu não desisti de você. – Tom foi direto ao ponto. Depois de semanas em que nos reencontramos, ali estava ele, dizendo aquelas palavras. Talvez achando que o fato de ter ficado em Ottawa o favorecia. – É engraçado, não é? – riu para ele mesmo, ou da minha expressão confusa.
- Thomas...
- Relaxa, eu sei quem está no seu coração nesse exato momento. – parecia descontraído, mesmo diante aquela situação. – Eu sei esperar. Estou fazendo isso há três anos.
- Pensei que estava tudo bem entre a gente, como as coisas estão agora.
Ele rolou os olhos.
- No começo até achei legal a ideia de sermos amigos. Mas eu to percebendo que a cada conversa, tudo que eu quero é reconquistar você.
Pisquei várias vezes tentando não demonstrar o quando eu estava constrangida com aquela conversa.
- Brooklyn, Thomas... – ouvi a voz de Emma e nunca fiquei tão feliz por isso. - Estou atrapalhando alguma coisa? – o tom dela mudou para algo malicioso. Ah não, você também não.
- Não, Emma. – Thomas respondeu depois de sorrir. – Bom ver você.
Ele a encarou.
- Bom ver você também. – sorriu descaradamente para ele e me encarou.
- Bom ver você... Vendo a gente ver você? – Me virei para Emma com o cenho franzido.
- O que está fazendo aqui? – Ela se virou para Tom depois de rir da minha expressão.
O sorriso dele sumiu de repente.
- Eu vim buscar o meu certificado e achei que essa seria uma boa oportunidade de falar com a Brooke, já que eu não consegui me despedir.
Eu entendi o duplo sentido naquela frase.
- Você conseguiu! – o aplaudi. – Trinity realmente não é para qualquer um.
- Eu achei que fosse morrer. – abriu outro sorriso. – Mas valeu a pena.
- Agora você sabe como eu me sinto todos os dias.
- Que nada. – o seu tom descontraído voltou. – Você me superou literalmente.
Outro duplo sentido.
Ele deu uma risada sem graça antes de voltar a falar:
- Posso saber o porquê dessa carinha triste ou vou ultrapassar outra linha imaginária?
Fiquei alguns segundos olhando para o meu livro realmente decidida a permanecer em silêncio. Acho que eu se eu falasse sobre o mais uma vez, eu iria estourar em lágrimas e isso não iria acontecer justamente na frente do Thomas.
- Tom!
Ed apareceu todo sorridente e animadinho para o lado de Thomas sendo seguido por Elijah, Josh. Adeus Edward maduro. Olá Ed de sempre.
- E aí? – eles se cumprimentaram como se fossem melhores amigos.
- Vejo que passou pela prova de fogo. – Notou o certificado nas mãos dele que nem mesma eu havia notado. Acho que ele queria me mostrar.
- Foi moleza. – se gabou.
- Não foi isso que disse há dois segundos. – Emma o desmentiu.
- Pode deixar ter o meu momento de glória por alguns minutos, por favor?
- Tá parecendo alguém que eu conheço. – Josh olhou para Ed, mas o mesmo estava encarando o outro lado do pátio. Mas especificamente em Christensen e sua nova namoradinha.
- Oh ou! Ciúmes à vista. – Elijah implicou quando Ed percebeu que nós estávamos o encarando.
- O que? Não! Nada a ver. – fingiu de desentendido.
- Então por que você não para de olhar pra ele?
Ed nos olhou sem graça e abriu um sorriso falso.
- Vocês também estão olhando, mas isso não significa que estão com ciúmes.
- Não foge do assunto. - Josh concordou com Elijah. – Eu consigo ver faíscas saindo dos seus olhos.
- Não viaja.
- Você precisa fazer alguma coisa. Ou acha que o cara vai adivinhar por si só que você está afim dele?
- Eu sei muito bem o que vou fazer.
- O que? - perguntei
- Encontrar novos amigos. – Nos olhou com deboche.
- Você era mais divertido antes do Christensen partir o seu coração! – Josh brincou.
- Hm... Brooklyn?
Ouvi Emma me chamar e eu me virei para encará-la, mas ela não olhava para mim, ela olhava para um ponto atrás de mim. Mais especificamente a entrada do colégio. Segui seus olhos e logo em seguida todo o meu mundo parou. Puta merda. Era !
Ele estava ali, depois de duas semanas inteiras, ele estava ali. Com as suas roupas super caras e seu cabelo bagunçado. Eu conseguia notar aquele sorriso arrogante que me conquistou bem no cantinho da boca dele. Ele andou em nossa direção e foi como se eu não soubesse mais como se respirava. Levantei-me rapidamente esquecendo tudo o que ele me fez passar por esses dias. Nada daquela merda importava mais, a não ser o fato de que ele realmente estava aqui. Eu podia sentir as batidas fortes do meu coração a cada passo que o deixava mais perto de mim. Abri a minha boca pronta para dizer qualquer coisa que provavelmente não fosse ser plausível, mas ele não parou. passou por mim como se eu não estivesse ali, como se eu fosse invisível, como se eu não significasse nada. Meus olhos congelaram no tempo, assim como qualquer movimento do meu corpo. Por que ele não parou? Por que ele sequer olhou para mim? Senti as mãos de alguém me puxar de forma bruta e só percebi que era Emma quando ela já havia conseguido me arrastar até a arquibancada. Eu estava tão avulsa que não fazia ideia de como havia chegado até ali.
Eu sentei na escada e ela se sentou na minha frente, seus olhos pregados em mim, me vigiando atentamente. Ela me conhecia, ela sabia que eu queria chorar e que não iria querer fazer isso na frente de todo mundo.
- Tudo bem. – ela disse quando notou que eu estava me segurando. – Tudo bem, Brooklyn, você pode chorar agora.
Eu queria chorar, eu queria liberar toda aquela sensação estranha que meu corpo estava emanando, mas eu não conseguia, não saía uma lágrima sequer do meu olho, apenas a minha respiração falha e pausada. Percebi que esse não era exatamente um momento para ficar triste, por mais que eu estivesse. Chorar não iria adiantar de nada.
- Eu não vou chorar. – a encarei vendo seu cenho franzido. – Quando ele estava em Ottawa e não respondia minhas mensagens, ele me fazia ficar completamente confusa e sem saber como agir. Mas agora que ele está aqui, perfeitamente bem e me ignorando, eu sei exatamente o que fazer. – me levantei. – Seguir em frente!
- Aonde você vai? – me perguntou quando eu desci os poucos degraus que me separavam do chão. Eu iria para a aula.
Era o que me restava fazer!
Se alguém me perguntar, eu vou responder que nós apenas superamos e quem sabe com o tempo eu não consiga sentir as veracidades em minhas palavras? Pra quê me importar se eles irão acreditar ou não enquanto eu sinto sua memória partindo o meu coração? Quando meus amigos me encararem, vou fingir que não os ouço falar, vou mudar de assunto e tentar transparecer que já não faz mais diferença. Quando eu o ver outra vez, vou esmagar todo o meu amor, morder a minha língua e fingir que eu estou bem. Vou contar os dias enquanto me pergunto quando toda aquela merda irá acabar. Me questionando porque não é fácil esquecer ele tanto quanto foi me apaixonar. Então é assim que você se sente quando tem um coração partido? Eu vou fingir que estou bem com toda essa situação, agir como se eu nunca tivesse o amado. Não vou fazer o tipo que cobra satisfação ou que pede perdão por algo que não fez. Decidi que a partir do momento em que ele resolveu fingir que eu era uma ninguém, eu também o trataria da mesma forma. Por mais quebrada que eu estivesse por dentro. Engoli o choro, fui até o banheiro e lavei o rosto. Depois me olhei no espelho e soltei alguns sorrisos falsos pra trazer de volta um pouco da expressão facial que estava antes em meu rosto. Não queria que meus amigos percebessem que meus olhos estavam vermelhos, e muito menos que desvendassem meu choro interno. Retornei para a aula tendo um pensamento em mente: Quando a gente continua se decepcionando com a mesma pessoa repetidamente a culpa não é mais dela, é nossa.

Memórias On:
- Eu confesso que nunca estive aqui antes, apesar de morar em Nova York.
Fiquei confusa quando disse que queria ir ao World Trade Center.
Nossa última parada deveria ter sido o Brooklyn, mas do nada, decidiu que queria visitar mais um lugar. O Memorial e o Museu que homenageiam as quase 3.000 vítimas e todos aqueles que arriscaram sua vida para salvar outras.
Ele me deu uma breve olhada antes de continuar a viajar seus olhos pelo local onde tinha os nomes de todas as pessoas que morreram nos atentados de 2001 e 1993, que estavam em painéis de bronze que ladeiam os espelhos d’água do Memorial.
- Eu fiquei curioso de repente. – a voz dele era calma e densa.
- Sobre o quê? – encarei seu perfil. Por que ele era tão lindo até mesmo quando não queria?
- A morte.
Ele encarou diretamente os meus olhos depois de dizer aquelas palavras. Foi com se tivesse um milhão de borboletas em meu estômago.
- E também a vida. – completou a sua frase. – Eu sei que é algo inevitável, mas ao mesmo tempo... – ele voltou a olhar os nomes. – Algumas dessas pessoas poderiam ter escolhido fugir e sobreviver... Acho que nunca podemos julgar o que se passa dentro de alguém, não é?
Eu havia o entendido. Apesar das meias palavras, eu o entendi. Não era sobre eles, era sobre a minha mãe. Soltei um suspiro e me virei para o lado.
- Podemos dizer que hoje foi o nosso primeiro encontro oficial, o que acha? – Ele mudou de assunto de repente. E o flertador estava de volta.
- Não sabia que você era o tipo de cara que sai para encontros. – o olhei rapidamente a tempo de ver um sorriso cúmplice surgir dos lábios dele.
- Estou abrindo algumas exceções desde que te conheci.
- Você não precisa se esforçar tanto, já sabe a minha resposta. – arqueei a sobrancelha.
- Eu não desisto fácil. – disse como se fosse óbvio e eu sorri. – Mas você já sabe disso. – repetiu minha expressão facial. – Nosso primeiro encontro oficial, o que acha? – replicou.
- Você tem namorada. – deixei claro.
- É uma resposta evasiva.
- Mas não é desonesta.
Ele fincou os lábios com os dentes enquanto continuava a me encarar. Depois soltou um sorriso cafajeste.
- Você sabia que eu nunca fiz isso com uma garota? – aquela clássica fala de filmes.
- Você não deve ter se preocupado em impressionar uma. – rebati.
- Nunca conheci nenhuma como você antes.
Ele estava tão sério que quase me fez acreditar que toda aquela ladainha era verdade.
- Aposto que não é a primeira vez que diz isso para alguém.
- Mas é a primeira vez que é de verdade.
Eu estava de fato impressionada. Ele parecia tão decidido a me conquistar que quase me fez trepidar. Mas me mantive firme perante àquelas palavras, apesar de sentir meu coração pulsar desesperadamente dentro do meu peito. Era engraçado porque, toda vez que ele me fazia sorrir ou rir, eu sentia uma vontade incontrolável de explicar pra ele o quanto eu o amava. Como amigo, é claro.

Memórias off.


***

Assim que passei por Brooklyn me escondi na primeira sala que encontrei sentindo meu coração querer sair pela boca. Nossa! Eu achei que ver ela depois de duas semanas seria impactante, mas não daquela forma. Eu estava morrendo de saudades e tive que me segurar desesperadamente para parecer forte. Eu consegui notar seu espanto ao me ver, mesmo querendo me fazer de desinteressado. Meu plano era apenas voltar para Nova York depois de resolver todos os problemas pendentes da minha família, mas por problemas escolares, tive que regressar muito antes do que eu queria. Eu não sabia como encarar Brooklyn depois de todo esse tempo sem nos vermos ou nos falarmos, eu não tinha como me desculpar por ter sido um idiota ou por ter a deixado partir sem nem mesmo tentar fazer as coisas de alguma outra forma. Cada dia longe dela era uma tortura sem fim e era bem nessas horas que eu tinha certeza do meu amor.
Enquanto a professora de literatura explicava uma matéria nova, eu conseguia sentir os olhos de Emma me queimando intensamente ao mesmo tempo em que Christensen falava alguma bobagem sobre a sua nova namorada. Eu realmente não me importava nenhum pouco com mais nada que não fosse inventar qualquer desculpa para me manter afastado da Brooklyn até o fim das aulas para que eu retornasse a Ottawa sem hesitar, mas todo o meu corpo gritava o quanto sentia a falta dela. O que não facilitava em nada.
O sinal bateu me trazendo de volta a realidade.
- Para a próxima aula, eu quero uma redação dentro da literatura moderna. Vocês tem livre arbítrio para escolher o tema. – a professora disse antes de deixar a sala.
- Droga. – praguejei baixo, mas não baixo o suficiente para que Christensen não escutasse.
- O que foi? Duas semanas fora e perdeu o ritmo da Trinity? – implicou. – Pode escrever sobre o seu repentino complexo de inferioridade.
- E você sobre a sua personalidade horrorosa.
- Desculpe? – ele pareceu ter ficado ofendido. – Minha personalidade horrorosa? – agora estava desacreditado. – Não fui eu quem ignorou totalmente a Brooklyn quando cheguei à escola. – e eu o encarei. – O que está acontecendo?
Eu não o respondi.
Apenas olhei para o outro lado e fiquei encarando o céu pela janela. Não iria perder meu tempo tentando explicar algo que nem mesmo eu entendia.
- Bom... – tornou a falar. Rolei os olhos. – Eu espero que se sinta bem tratando a Brooklyn como uma perfeita estranha. – começou a arrumar as suas coisas em cima da mesa. – Porque deve ser bem mais fácil do que simplesmente contar toda a verdade para ela, não é mesmo?
Ele me deu um olhar bem sério e depois se levantou fazendo dupla com outra pessoa.
Ótimo!
Até mesmo Christensen estava me julgando. Era tudo o que eu precisava no momento.
Depois da aula e de uma tentativa frustrante de chegar ao meu carro sem ser notado, eu a vi. Ela estava ajeitando a mochila em seu ombro enquanto seus amigos pareciam preocupados em lhe dar toda atenção do mundo. Ela não estava prestando atenção, eu sabia pela forma como ela olhava para qualquer coisa menos para eles e vez ou outra soltava um sorriso sem graça, querendo fingir que concordava com algo ou que achou engraçado. O que eu estranhei foi um cara mais velho e muito sério ficar a cercando o tempo inteiro, como ela não parecia desconfortável eu supus que ela já o conhecia. Quem era ele?
As coisas ficaram mais estranhas ainda quando Thomas apareceu de repente, todo sorridente e meigo. Meu estômago embrulhou ao vê-la sorrindo para ele. Eles ficaram algum tempo falando sobre alguma coisa que eu amaria saber o que é, se despediram com um abraço e ela entrou no carro o deixando para trás. Dez minutos depois eu me vi parado em frente ao elevador do prédio onde Brooklyn morava. Era para eu estar a caminho de casa, era para eu ter continuando com o meu plano de me manter afastado, mas aqui estava eu, com o coração na mão, não conseguindo ensaiar nenhuma desculpa plausível pelas minhas atitudes, eu só sabia que queria muito vê-la, mais do que qualquer outra coisa. Depois de um abraço apertado, Peterson me disse que Brooklyn havia chegado há uns cinco minutos e não parecia bem. E que todos eles, principalmente ela, sentiram a minha falta. Eu também senti a falta de todos eles, mas Brooklyn... Em relação à Brooklyn, tudo parecia ampliado. Ninguém tinha mais graça depois que eu a conheci, ser rejeitado tantas vezes nunca foi tão divertido e desafiador. Nossa relação havia chegado a um nível que não tinha com o que comparar, por que era único e era nosso, mas eu a deixei escapar pelos meus dedos e agora estava em frente ao seu saguão, esperando desesperadamente que ela me desculpasse por todo o esse tempo que eu a fiz esperar sem nem mesmo ter lhe dado uma resposta. Tudo continuava do mesmo jeito desde que eu estive aqui pela última vez. Rezei para que fosse da mesma forma em relação ao amor dela por mim.
- ? – Nana franziu o cenho ao me ver, claramente espantada com a minha presença.
Merda, até dela eu senti saudades.
- O que... – não conseguiu terminar a frase.
- Eu preciso ver a Brooklyn. – deixei transparente todo o meu desespero e arrependimento.
Ao contrário do que imaginei, a expressão dela se suavizou e ela deixou um sorriso escapar no canto dos lábios antes de dar passos apressados em minha direção e me abraçar. Antes que eu pudesse retribuir ela se afastou e me encarou.
- Você veio para terminar ou para reatar? – de repente ela se transformou na mãe protetora da Brooklyn, mas eu não tinha entendido aquela frase. Para Brooklyn, nós tínhamos terminado?
- Como posso reatar algo que eu nunca terminei? – a perguntei. – Eu quero consertar tudo Nana.
Ela soltou um suspiro. De alívio pelo o que pude notar.
Deu-me outro abraço no qual eu pude retribuir dessa vez.
- Se você a fizer sofrer mais uma vez, eu vou me certificar de que nunca vai ter filhos na sua vida. – tinha um tom descontraído, mas eu sabia que aquela promessa era bem séria. – Ela está no quarto. – nos afastamos. – Vou deixá-los a sós.
Nana foi mais compreensiva do que imaginei e estava sendo muito gentil em sair para que eu pudesse conversar com Brooklyn sem terceiros no mesmo lugar. Deduzi que John não estivesse por ali e a cada passo que eu dava em direção ao quarto dela, eu sentia minha coragem sumir. Será que ela queria me ver? Talvez não depois do que eu fiz hoje. Talvez não depois de duas semanas sem dar notícias, talvez não depois da forma como eu a deixei partir.
Parei em frente ao seu quarto tentando acalmar a minha respiração enquanto as batidas do meu coração batiam tão forte a ponto de me incomodar. Eu estava com medo. Medo dela não querer falar comigo, medo dela não me perdoar ou não querer me ver. Eu nem sabia o que falar, por onde começar, eu só sabia que...
Bati duas vezes seguidas na porta tentando me acalmar, organizar meus pensamentos e minha respiração.
- Não estou com fome Nana. Obrigada. – ela disse do outro lado da porta e ouvir a sua voz depois de dias foi o suficiente para fazer meu coração disparar novamente. Bati novamente ao invés de chamá-la. Se ela soubesse que era eu ali, talvez ela não fizesse sequer questão de abrir a porta.
- Eu já disse que... – sua voz perdeu o som quando os olhos dela se encontraram com o meu.
Ali estava ela. A minha fraqueza.
Eu não sabia o que dizer ou o que pensar. Senti-me muito intimidado sob seu olhar sombrio e confuso
- ?
Ouvir sua voz falar o meu nome foi o suficiente para me acordar do transe que fiquei e me fazer tomar alguma atitude. Eu não sabia por onde começar a falar ou me explicar, eu sabia que eu não iria desistir dela em hipótese alguma. Senti a coragem tomando conta de mim e empurrei a porta a vendo se assustar mais ainda. Ela deu alguns passos para trás no impulso e eu a puxei de volta colando seu corpo no meu. Encarei seus olhos hipnotizantes antes de beijá-la. Eu estava desesperado para sentir a boca dela na minha e no instante em que isso aconteceu foi como se milhares de fogos de artifícios explodissem dentro de mim. Ela passou seus braços por meu pescoço e eu deduzi que aquilo não era um sinal ruim ou que ela quisesse que eu parasse. Aproveitei essa chance para aprofundar nosso beijo, logo em seguida senti o toque da sua língua fazer todo o meu corpo se arrepiar. Brooklyn se afastou de repente me deixando confuso. Ela ficou me encarando enquanto respirava pela boca. Ela estava surpresa ao julgar pelos seus olhos arregalados, depois abriu ainda mais a boca mencionando falar algo, mas nenhum som saiu. Fechou os olhos com força enquanto seus ombros subiam e desciam no ritmo da sua respiração, quando eu pensei que ela fosse me mandar embora, suas mãos tocaram o meu rosto me puxando para perto novamente, inclinei meu rosto e entreabri meus lábios encostando aos dela começando uma lenta e delicada exploração. Seus lábios estavam macios e lisos, quentes e flexíveis sobre os meus. Ela estava retribuindo o meu beijo e a minha paixão por ela despertou fervorosamente. Posicionei meu antebraço na base das costas dela, pressionando as leves curvas do seu corpo. Nossas línguas se tocaram novamente criando um choque de desejo, tentei lutar para manter o ritmo lento, mas minha boca se movia por vontade própria, indo mais fundo, a beijando com mais força, curvando-a para trás, para que seu corpo arqueasse em minha direção. Já o meu corpo estava se preparando, me desafiando, por mais quanto tempo eu aguentaria sem perder totalmente o juízo. Afastei-me imediatamente me lembrando de que Brooklyn ainda era virgem e que provavelmente essa não seria a hora perfeita para ser a primeira vez dela.
- Brooklyn, eu... Eu não sei por onde começar. – passei as mãos em meus cabelos me sentindo atordoado e um pouco tenso por estar muito excitado em um momento como aquele. Não era hora, amiguinho. – Eu sou um idiota por ter deixado você partir daquela forma, não era o que eu queria... Eu... Eu achei que era o certo, mas...
Droga, , será que tem como estragar mais as coisas?
- Me desculpa, eu sinto muito mesmo, eu... – Brooklyn segurou a minha mão me fazendo para de falar e olhar para ela.
A boca estava entreaberta e rosada, suponho que tenha sido pela pressão dos nossos beijos, as bochechas levemente coradas e seus olhos estavam escuros. Quando eu achei que ela enfim fosse dizer algo, ela levantou a minha mão até seu seio esquerdo, me fazendo sentir seu coração completamente acelerado. Estava em ritmo com o meu. Ela se aproximou novamente iniciando mais um beijo e me fazendo desistir de tentar fazer o que era certo, eu só sabia que eu a queria. Eu a queria muito mesmo. E ao julgar pelo seu gesto, ela queria tanto quanto eu.
Eu a ergui em meu colo sem quebrar o beijo e com cuidado a levei até cama me deitando sobre Brooklyn sentindo ainda mais seu corpo rígido sobre o meu. Brooklyn envolveu minha cintura com as suas pernas pressionando sua intimidade contra a minha, me fazendo soltar um gemido de excitação. Desci meus beijos até seu pescoço enquanto minha mão trabalhava delicadamente em seus seios o sentindo preencher a minha mão. Brooklyn desceu suas mãos até a barra do meu uniforme e arrastou por meu corpo até tirá-la de mim, permaneci algum tempo parado dando um tempo para ela ter certeza de que era exatamente aquilo que ela queria, ela encarou os meus olhos, piscou uma vez e sorriu.
- Está tudo bem. – puxou meu rosto para perto do seu e me deu um selinho. – Eu estou pronta.
Decidi não me preocupar com o arrependimento que ela poderia ter, concluí que se ela decidiu que esse era o momento e que eu era a pessoa certa, iria fazer de tudo para que fosse perfeito.

***

Eu estava deitada em meio aos cobertores, meu rosto repousava no peito de e eu podia perceber a sua expressão fechada.
- O que foi? Posso ouvir a sua respiração de preocupação.
Tentei parecer descontraída.
Ele se remexeu um pouco desconfortável de baixo de mim e eu franzi o cenho ao me virar para ele e o ver encarando o teto.
Eu tinha perdido a minha virgindade.
Depois de anos abominando a ideia de ter alguém me tocando dessa forma, havia feito com que eu me desarmasse completamente. Ainda tínhamos muito que conversar, coisas para resolver, mas eu realmente não me importava. Ele estava ali, comigo depois de duas semanas. Eu conseguia me sentir completa de novo. ainda continuava sério.
- Lembra quando eu disse que enfrentar o seu pai e o seu tio foi a coisa mais incrível que você fez? Eu estava completamente enganada. – fiz mais um comentário descontraído, dessa vez conseguindo obter um sorriso dele.
- Você está bem? – Me encarou.
Eu não sabia bem a resposta daquela pergunta.
Na verdade, eu, de fato, me sentia estranha. Perder a virgindade sempre foi um assunto fora de questão por motivos muito pessoais, sempre tive muito medo de ser tocada dessa forma, mas fez com que tudo fosse tão especial, me deixou completamente à vontade e me fez me sentir a pessoa mais especial do mundo. Eu não sei como geralmente é para as outras pessoas, mas para mim não poderia ter sido melhor, mesmo em tais circunstâncias.
- Eu me sinto diferente. – o respondi.
- E isso é bom? – passou a sua mão delicadamente pelo meu rosto.
- Melhor do que eu achei que seria.
Era totalmente verdade.
Ele deu mais um sorriso antes de me beijar brevemente e voltar a encarar o teto. parecia ter muitas coisas para me dizer, mas também não parecia saber por onde começar. Sua expressão estava dura, ele parecia muito preocupado e talvez não quisesse estragar esse momento, mas eu precisava tentar...
- Por que não me mandou nenhuma mensagem? – arrastei aquelas palavras. – Ou atendeu os meus telefonemas...
- De repente? – me olhou rapidamente. Dei de ombros.
- Uma hora ou outra teremos que conversar sobre isso.
Ele soltou um suspiro pesado e mordeu o lábio. Estava pensando...
- Eu fiquei tão surpreso quanto você quando soube dos planos da minha vó para mim. Você sabe melhor do que ninguém que, tomar conta dos negócios da família, era a última coisa que eu queria. Mas a morte dela trouxe tantas coisas à tona... – ele ficou alguns segundos em silêncio. - Eu não podia simplesmente fechar os olhos para toda aquela merda que estava acontecendo com meu pai e meu tio por causa de dinheiro e poder. Pensei que talvez eu pudesse fazer a diferença, trazer de volta a espiritualidade que a minha família tinha quando eu era menor. Mas quanto mais tempo eu passava naquele lugar, mais infeliz eu estava. – ele me encarou. – Eu sabia que se ouvisse a sua voz, por pelo menos uma única vez, eu iria voltar correndo e deixar tudo para trás sem pensar duas vezes. Eu estava mesmo tentando ser forte por ela.
Eu queria poder brigar com ele, dizer o quanto ele me magoou em deixar que eu fosse embora daquela forma. Eu ensaiei esse discurso por todo esse tempo longe dele. Até planejei fingir que o superei ou coisa do tipo como “vamos ser apenas amigos”, mas eu o entendia. Pior, eu sabia que faria tudo da mesma forma como ele fez.
- E por que você voltou? Por que me ignorou na escola? – fiquei muito curiosa.
- A Trinity ligou para a minha mãe e disse que eu reprovaria se continuasse faltando, o ano letivo já está acabando, eu não iria conseguir uma transferência tão rápida para uma escola do mesmo nível em Ottawa, então eu tive que voltar. – ele se deitou de lado me deixando ter uma visão melhor dele. – Eu sabia que teria que voltar para o Canadá eventualmente depois dos fins das aulas, então aquela cena ridícula que eu fiz quando cheguei foi uma tentativa muito falha de me manter distante para não te machucar outra vez. Mas acho que foi exatamente isso que eu acabei fazendo. – ele entrelaçou sua mão a minha. – Me desculpe. Por tudo.
Eu me odiei por estar sendo tão compreensiva naquele momento. Um lado meu queria me levantar daquela cama e o mandar embora, mas esse não era o lado racional e nem o sentimental, era uma parte pequena em mim que eu descobri ser egoísta e possessiva quando se trata do .
- Queria dizer que eu te odeio por não ter seguido seu plano em me ignorar, por que provavelmente eu vou sofrer muito quando tiver que voltar para o Canadá. Mas ficar duas semanas sem você me fez perceber o quanto eu deveria ter aproveitado mais o nosso tempo juntos. Eu demorei me declarar, você demorou a perceber que me amava e quando as coisas pareciam dar certo... Tudo isso aconteceu.
Me aninhei em seu corpo já sentindo a falta dele só de saber que ele teria que partir de novo.
- E eu queria poder fugir, de tudo. Da escola, da minha família, das responsabilidades... Iria para qualquer lugar com você para não termos que nos separar de novo ou pensar em qualquer coisa que não seja nós dois.
Pensei no quanto aquela ideia me agradava. e eu, em qualquer lugar longe do meu passado e do presente dele. Começando uma vida juntos... De repente uma ideia muito louca começou a passar em minha cabeça.
- Que cara estranha é essa? – ele franziu o cenho, mas sorriu.
- Não é nada, apenas um pensamento louco.
- Compartilhe comigo.
- Não é nada, já disse. – lhe dei um sorriso estranho. – O que foi? – perguntei quando notei a forma como me encarava.
- Eu quero saber que pensamento é esse que te fez sorrir depois de ouvir a minha história deprimente. Gostou da ideia de saber que vou ter que voltar para o Canadá daqui alguns meses? – arqueou a sobrancelha e também sorria.
- Claro que não, eu só... – passei a língua nos lábios. – Pensei de repente, em nós dois morando juntos... Na Inglaterra. – o encarei.
Agora ele franziu o cenho.
- Gosto da ideia de morarmos juntos tanto quanto você, mas por que tão longe?
- Eu tenho uma casa lá.
- Você tem? – parecia mais confuso.
- Eu herdei da minha vó. – expliquei. – Eu tinha pensando em terminar o ano letivo e fazer a minha faculdade lá, mas tudo isso foi antes de nos envolvermos.
ficou me encarando por um tempo, não dizia nada, apenas me encarava. Será que eu o assustei?
- ...?
- Vamos para a Inglaterra!
Disse de repente, ao se sentar na cama ainda me encarando.
- O quê? – puxei a coberta sobre o meu corpo e me sentei ao lado dele.
- Você não vê? É a solução dos nossos problemas. Você quer fazer literatura inglesa e eu posso ter a chance de conhecer David Yates pessoalmente. Eu não tinha pensado nisso antes, mas... Todos os nossos sonhos começam por lá.
O sério e pensativo de antes foi trocado por um sorridente e... Esperançoso? Eu não tinha cogitado mesmo na possibilidade de realmente irmos para a Inglaterra, foi só um pensamento. Mas agora ouvindo tudo da forma como disse, aquele plano parecia perfeito. Refleti o meu sorriso ao dele antes de dizer:
- Vamos para a Inglaterra!

Capítulo 17: Inglaterra!

A primavera estava chegando trazendo dias quentinhos e felizes. Todos os meus medos pareciam se esconder em algum canto escuro e frio que ficou para trás no inverno e eu conseguia sentir as mudanças se aproximarem cada vez mais. Mudanças boas, é claro. e eu estávamos mais apaixonados do que nunca, minhas notas ainda eram as melhores, meus amigos estavam bem, John se permitiu relaxar sobre o meu “sequestro”, embora tenha se trancado com ele em seu escritório por quase um dia inteiro e eu suspeito que os dois estejam planejando alguma coisa. não lidou muito bem com essa notícia e tomou o lugar que antes era do segurança particular do John. Admito que eu gostava da ideia de ter do meu lado o tempo inteiro, embora eu saiba que a razão por trás disso não seja exatamente “eu”.
Ainda não contamos sobre a Inglaterra para ninguém. Decidimos deixar eles saberem quando o dia estivesse se aproximando. Eu sabia que John era contra e faria tudo ao alcance dele para nos impedir se ele souber antes da hora. Então por hora, todos estão felizes achando que vai voltar para o Canadá quando o ano letivo acabar e vamos tentar uma relação à distância quando me mudar para Baltimore, mesmo que a Trinity continue insistindo que eu deveria ir para Harvard.
- Olhem se não é meu casal favorito. – Ed nos avistou no corredor.
- Achei que fosse Jack e Rose. – sorri com os lábios fechados pagando algumas apostilas.
- Titanic? – perguntou. – Não sei se histórias trágicas fazem o seu tipo.
- Por que não? Eu adoraria ter alguém para pintar um quadro nu meu. – debochado.
- Você é inegavelmente vulgar. – fechei meu armário e me virei para ele.
- Bom... – ele deu a volta por mim ficando do lado de . – Me diga com quem tu andas que eu direi quem tu és.
Claro que Edward iria lembrar pelo resto da minha vida e de todas as formas possíveis que eu não era mais virgem. Maldita hora em que eu contei para ele.
- Eu diria que a má influência é você. – o encarei.
- Eu não te obriguei a transar com o , obriguei? – se fez de vítima. Algumas pessoas que estavam passando por nós o encararam.
- Isso, espalha para a escola inteira que eu quebrei a regra número um do diretor.
- Relaxa. – sorriu para mim. – Não é sexo antes do casamento se você nunca se casar. – deu uma piscadela para e saiu andando como se estivesse em um desfile da Victoria Secrets.
- Ele é inacreditável. – fechei meu armário e caminhei em direção a minha sala com ao meu lado.
riu.
- Confesso que vou sentir a falta dele quando formos embora. – ele segurou a minha mão.
- Mesmo ele tendo toda a certeza do mundo de que não vamos ficar juntos quando o ano letivo acabar?
- Não vamos culpar ele. Relacionamento a distância é realmente uma coisa complicada.
- De fato. – paramos em frente à minha sala. – Inglaterra? Levantei o meu dedo mindinho em sua direção e ele não pensou duas vezes antes de enlaçar o seu ao meu.
- Inglaterra. – sorriu para mim e me deu um beijo na testa antes de ir para a sua sala.
Aquela era a nossa promessa.
- O que tem a Inglaterra?
Josh apareceu em seguida, encarando sumir pelo corredor. Eu me assustei.
- Inglaterra? Eu... Hm... Nada. É só uma coisa minha e do . – tentei parecer bem natural, acho que ele acreditou.
- Está bom. – sorriu. – Vamos entrar?

***
- Eu ainda não sei o que quero fazer quando as aulas acabarem. – Christensen confessou enquanto preenchíamos alguns formulários para a faculdade no auditório.
- É por isso estamos respondendo essas perguntas aleatórias sobre nossos interesses pessoais. – Emma o respondeu. – Mas se levarmos em conta os seus...
- Não me diz que vai sair um comentário sarcástico daí...
- Eu sou a melhor amiga da Brooklyn, já deveria estar acostumado.
E o comentário sarcástico foi direcionado à mim.
- Essa coisa de arrogância já está saindo de moda, precisamos trabalhar no seu lado divertido, o que acha? – ele implicou.
- Engraçado, eu pensei que tivesse senso de humor.
- Só quando não está tentando rebaixar alguém com as suas piadas.
- Gosto de deixar os outros desconfortáveis.
O jeito como os dois discutiam, me lembrava vagamente dos meus esforços para me aproximar de Brooklyn. Até passou pela minha mente que, no fundo, eles estivessem interessado um no outro. Só não admitiam.
- Ela me odeia. – Christensen disse ao ver Emma se afastar de nós.
- Descobriu isso antes ou depois dela te chamar de idiota? – o encarei.
- Mas agora ela tem um motivo, se é que realmente pode chamar isso de motivo. – bufou. - Todo mundo acha que eu fiz Ed ter sentimentos por mim e que, por conta disso, eu devia estar perdidamente apaixonado por ele. Estou feliz que ele descobriu que tem um coração, mas acreditem ou não, eu não sou gay.
Soltei uma risada e permaneci quieto, mas na verdade, eu iria adorar ver Emma e Christensen tentarem entrar em uma conversa civilizada. Seria como se Batman e o Coringa estivessem tendo um jantar.
- Como estão as coisas com a Brooklyn? – franzi o cenho quando o ouvi interessado na minha vida amorosa.
- Quem quer saber? – o encarei e ele rolou os olhos.
- Você ficou todo misterioso depois que se acertaram, ficam cochichando pelos corredores e quando alguém se aproxima vocês mudam de assunto no mesmo instante. Achou mesmo que eu não tinha percebido?
- Então já deve imaginar que o que acontece entre mim e a Brooklyn não é da sua conta.
- Mas eu...
- Você é um problema seu. – o cortei tentando deixar mais óbvio que eu não iria falar sobre esse assunto. Vi Brooklyn entrar na sala e dei um passo em sua direção, logo em seguida ouvi Christensen gritar.
- Você era mais legal antes de voltar do Canadá.
Rolei os olhos e continuei meu caminho.
- Por que ele está gritando com você?
Brooke perguntou ao encarar Christensen e depois sorrir para mim.
- Ele acha que falar mais alto vai melhorar o argumento dele. – sorri para ela.
- Se inscreveu em qual? – perguntou curiosa ao apontar para as minhas folhas.
- Em nenhuma, para falar a verdade. Todo mundo acha que vou voltar para o Canadá e cursar advocacia por lá.
- Faz sentido. – sorriu fraco.
- E você? - olhei para os papéis nas mãos dela rapidamente. – Harvard? – franzi o cenho ao ver o nome de todo o tamanho escrito no papel.
Ela ficou um pouco tensa e seus olhos pararam de me encarar.
- Eu fui aceita. – ela disse em um tom baixo, mas não precisou explicar muito. Eu já havia entendido. – Eles enviaram a minha carta de admissão essa semana.
- Nossa Brooklyn, isso é... É incrível! – tentei demonstrar felicidade por ela. - Desde quando você sabe? – perguntei. – Na verdade, eu não sabia que tinha se inscrito...
- Eu acabei de ficar sabendo. – ficou ainda mais tensa. – A professora Hill quem me inscreveu, ela me chamou na diretoria e eles me deram a notícia. Mas isso não quer dizer nada, nosso plano segue firme. – seu olhar estava cheio de promessas, mas de repente eu não me sentia tão seguro da nossa decisão mais.
Eu havia me esquecido de Harvard.
Brooklyn era a grande promessa da Trinity para entrar em uma das melhores faculdades do mundo e ela iria deixar essa oportunidade para fugir comigo. Por que de repente eu comecei a me sentir um egoísta?
- O que estão fazendo? – Elijah perguntou ao se aproximar junto com os outros.
- Nada, só... – ela coçou a garganta. – Estamos avaliando as nossas opções, não é? – ela me encarou. – eu concordei calmamente.
- Ela já te contou sobre Harvard? – Ed me encarou e eu conhecia bem aquele olhar. Era de “Eu avisei”.
- Edward... – Emma lhe deu uma voz dela era de censura.
- Contou! Eu... Acabei de ficar sabendo, na verdade. – tentei colocar um tom de felicidade em minha voz. Eu sei que deveria ficar feliz por ela, mas estranhamente eu não estava.
- Você foi aceita em Harvard? – ouvi a voz de surpresa do Christensen, e ela me parecia completamente falsa. – Uaaau!
Ed bufou.
- Parabéns, nós deveríamos comemorar, o que acham? – ele olhou para os amigos da Brooklyn, mas ninguém o respondeu. – Por que estou com a leve impressão de que estou sendo intrometido? – me encarou.
- Essa é definitivamente a primeira vez que eu estou te vendo ser tão autoconsciente. – Emma disse.
- Por quê? Eu sou melhor amigo do , que namora a Brooklyn que é a melhor amiga de vocês, isso não nos faz de todos nós amigos?
- Me desculpem. – me apressei a dizer antes que a situação ficasse mais constrangedora. – Parece que o Christensen acordou mais falante do que nunca. – encarei Brooklyn. – Nos vemos depois? – ela acenou no mesmo instante e eu me afastei da roda carregando Christensen comigo.
- O que foi? – ele perguntou quando já estávamos fora de alcance dos ouvido deles.
- Deixa eu te fazer uma pergunta. Você, por um acaso está interessado na Emma? – perguntei sem rodeios. Ele arregalou os olhos.
- Cara, não seja ridículo. Como alguém iria se interessar por uma pessoa como a Emma?
Já devia esperar por isso.
- Certo. Vou fazer outra pergunta, e acho que deveria ter começado por ela: Desde quando somos amigos?



***
- Por que eu não acho que o ficou tão feliz quanto deveria? – Emma perguntou enquanto comprávamos nossa comida. – A respeito de Harvard, eu quero dizer.
- Não é óbvio? – Ed resmungou. – Ele finalmente está caindo em si que um relacionamento a distância não é exatamente uma opção. – nos sentamos na mesa mais próxima.
- Eles não vão passar muito tempo longe. O Canadá não é assim tão distante e tem as férias, os feriados, e...
- E testosteronas, garotas, carência... O é um homem, Emmalyn, você acha que eles irão durar quanto tempo no auge da faculdade. Os melhores dias de um adolescente. Festas, festas e mais festas.
- Sua arrogância não conhece limites. – ela retrucou.
- Você precisa ser muito insensível para sobreviver nesse mundo.
- E eu achando que um coração partido iria te fazer virar gente. – Eu quase sussurrei.
- Está falando do quê? – arrancou o celular do bolso e abriu o Tinder. – Esse é o meu novo investimento. Não tenho tempo para dor de cotovelo.
Emma franziu o cenho ao ver a foto de um homem, com certeza mais velho do que nós, mesmo que não mostre o rosto, sem camisa, tendo a visão do seu porte grande e sua pouca vergonha na cara por estar trocando mensagens com um menor de idade.
- Desculpa, mas sexo virtual não era o que eu tinha em mente quando te mandei virar homem.
Ele soltou uma risada irônica.
- Marcamos de nos encontrar hoje. – piscou para nós duas.
Emma e eu nos encaramos, cada uma percebendo a preocupação da outra.
Não havia a possibilidade de tentarmos o impedir de sair com uma pessoa mais velha. Ed não é exatamente do tipo que segue regras, mas eu, como amiga, pelo menos tentaria o deixar consciente sobre os riscos.
- Bem... – virei para ele. – Use camisinha. – o aconselhei.
- Por quê? A camisinha só serve para tirar toda a diversão.
- E para evitar gente como você. – Emma disse com um tom seco.
Eu sabia que ele havia respondido algo, mas a partir do momento que vi entrar no refeitório, eu não escutei mais nada. O encarei com a expectativa de que ele viesse se sentar ao meu lado, mas ele apenas me deu um sorriso fraco e sentou-se ao lado de Christensen.
- Está começando. – Ed me olhou. – E depois não diga que eu não te avisei. – e se levantou, levando sua bandeja até o lixo e despejando sua comida que sequer foi tocada, assim como a minha e de Emma.
Eu sabia que ele não estava estranho pelo nosso “relacionamento à distância” inventado, como Ed sugeria. Ele estava assim desde que soube de Harvard. Eu sei que ele deve estar confuso e se sentindo culpado por estar desistindo de Harvard para fugirmos para Inglaterra. E eu também estou. Eu não imaginava o impacto que isso teria em mim até realmente ser aceita, de repente, eu estou dentro de uma das melhores faculdades do mundo e eu não posso negar que isso é um fato que pesa na minha consciência. E na dele. E é por isso que ele ficou distante do nada e eu não podia culpá-lo.
- Ele não é um gato? – Emma perguntou interrompendo meus pensamentos.
Franzi o cenho.
- ? – perguntei.
- Nãaao! – ela riu. – Quero dizer, o canadense é lindo, mas eu estou falando do Christensen.
Fiquei mais confusa ainda.
- Eu sei que não somos muito próximos, mas... – ela suspirou. – Ele começou a estagiar na empresa dos meus pais, para a faculdade. – me encarou. – E as meninas são loucas por ele.
- Você está afim dele? – perguntei desacreditada. Os dois parecem se odiarem.
- Não, é claro que não! – parecia ofendida. – Mas... – mexeu em seu cabelo. – Não posso negar, ele é um gato.
- E você está gostando dele! – afirmei. - Está com medo de se aproximar por causa do Edward?
Ela ficou alguns segundos em silêncio, então supus que eu estivesse certa.
- Vocês já...
- Não! Quero dizer, eu não sou tão fácil quanto as meninas da empresa. Você sabe.
- E você é a chefe dele, talvez ele ache essa situação inapropriada.
- Eu gostaria que você dissesse isso quando o Christensen estivesse presente. – bufou.
- Dizer o quê?
Christensen apareceu de supetão na nossa frente, junto com . Encarei Emma que sorriu me incentivando a dizer.
- Que ela é a sua chefe. – fui direta. Ele pareceu ficar surpreso.
- Achei que não queria contar o nosso segredo.
- Não era para você contar que trabalha na minha empresa. – o corrigiu.
- Por quê?
- É por que você não parece legal quando se exibe.
Ele deu uma risada irônica.
- Você é com certeza uma pessoa com um senso de presunção inflável. Como consegue?
- Anos de prática!
Ele parecia desacreditado com a audácia dela.
Eu podia mesmo ver e eu ali. Como tudo começou entre a gente, parece que foi há tanto tempo. O encarei, mas ele parecia se divertir com Emma e seu amigo.
- Eu odiaria cortar o seu barato, mas você não é a minha chefe, os seus pais são. Quando tiver poder para me demitir, eu começo a me preocupar.
- Está demitido. – ela o ameaçou.
- Continue tentando. – e ele saiu, deixando sozinho com a gente. Pensei que ele fosse se sentar ou ao menos falar comigo, mas saiu correndo atrás de Christensen, me deixando completamente sem graça.
- Qual é o real problema, Brooklyn? Com você e ! – Emma chamou a minha atenção.
Eu não planejava contar para ninguém, mas estava começando a me sentir sufocada por causa desse segredo, talvez fosse à hora de contar para alguém.
- Eu não vou para Harvard, e o não vai voltar para o Canadá! – a olhei enchendo meu pulmão de coragem, que se foi no segundo seguinte em que eu vi a sua expressão de confusão. – Nós vamos embora para a Inglaterra.
Ela continuou me encarando com aquela expressão congelada, como se eu tivesse confessado que assaltei um banco ou matado alguém. Se fosse isso, talvez ela estivesse menos surpresa. Esperei que ela retornasse aos seus sentidos para poder contar tudo desde o começo, mesmo sabendo que havia noventa e nove por cento de chance de ela não me entender no final.

***
Eu estava no meio de uma prova de história e a única coisa que eu havia conseguido escrever era o meu nome. Tinha uma coisa me incomodando, uma sensação horrível desde que ignorei Brooklyn no refeitório. Eu não fiz de propósito, na minha cabeça talvez eu devesse dar um tempo para ela pensar melhor na proposta de fugirmos para a Inglaterra agora que ela estava praticamente com os pés dentro de Harvard. Eu não queria que ela se arrependesse de sua escolha e eu obviamente não queria me sentir culpado por tê-la feito desistir da universidade.
- Tudo bem? – Christensen perguntou quando o último sinal bateu.
Começamos a arrumar nossas coisas.
- Sim, claro. – foi uma resposta automática.
- Eu não queria ser o enxerido aqui, mas eu vi que não terminou a sua prova, o que não é normal.
- Eu já tenho notas o suficiente para passar de ano. – pegamos nossas mochilas e saímos da sala.
- Queria poder me gabar tanto quanto você. – ele sorriu. – Acho que agora vai ter mais tempo para os treinos, a final contra os Bulldogs já é esse mês e embora esteja no time, nunca está presente para jogar.
Não tive tempo de respondê-lo, o meu celular tocou bem na hora.
Era Brooklyn.
De repente meus pensamentos sumiram, eu não sabia o que fazer e quando notei, estava estendendo o celular em direção a Christensen.
Ele franziu o cenho.
- É para mim? – estava confuso.
- É a Brooklyn!
- E daí? – perguntou simplesmente.
- Eu não posso falar com ela agora, atende!
Ele ficou alguns segundos me encarando todo desconfiado, mas acho que a minha expressão de desespero acabou o convencendo.
- Brooke. – ele atendeu todo sorridente colocando no viva voz. – Pensou na minha proposta de sairmos para comemorar agora que vai para Harvard? – seu olhar era provocativo.
- Christensen? – parecia confusa. – O que está fazendo com o celular do ?
- Ele esqueceu na sala, mas eu sei que nesse exato momento ele está indo para o campo de futebol para treinar. Sei que ele irá adorar se você der uma passada. – Nossos olhos se encontraram e enquanto seu olhar mostrava diversão, tenho certeza de que o meu saía faíscas.
- É mesmo? Obrigada! – e ela desligou e só aí eu pude soltar a minha respiração.
- Me deve uma! – Jogou meu celular no meu colo e saiu em direção ao campo parecendo completamente satisfeito com a sua atitude. Quanto a mim, não tive outra opção a não ser seguí-lo contra a minha vontade.
Quando estávamos a caminho do campo, eu não pude deixar de perceber que Brooklyn não estava exatamente sozinha, seus amigos, Elijah, Josh e Emma estavam juntos. Já iria ser difícil conversar com ela apenas nós dois, imagina com Emma, Elijah, Josh e Christensen, que adora uma intriga.
- Oi. – ela disse quando se aproximou de mim.
Não consegui dizer nada além de sorrir, passar um tempo longe dela era horrível, mesmo que por somente algumas horas. Felizmente o meu sorriso era sincero.
- Viemos ver o treino. – Elijah disse.
- Espero que não se importem. – Josh nos encarou.
- Nenhum pouco, mas geralmente não tem garotas aqui nesse horário em época de provas. – Christensen começou com suas besteiras. – Espero que não se importem.
- Ah, que isso! – pelo tom do Elijah, ele estava entrando na onda do Christensen. – De vez em quando é bom ficar um pouco fora do drama feminino.
- Nem me fale. – concordou. – Além do mais, vocês sabem por que Deus não é casado? – Encarou Emma. – Por que mulher é o diabo.
E saiu correndo para o campo vestindo seus equipamentos, me deixando com o seu constrangimento. Por que eu tinha a sensação de sempre me sentir culpado quando Christensen fazia ou dizia alguma asneira.
- Qual é problema desse cara? – Josh se virou para mim.
Dei de ombros.
- Ele gosta do som da própria voz. – Emma respondeu por mim.
- Gente, eu e precisamos conversar. Tudo bem? – Brooklyn cortou a conversa fiada e foi direta ao ponto. Os três concordaram imediatamente se afastando de nós e indo se sentarem para verem o treino.
- Tudo bem com a gente? – ela perguntou no mesmo instante.
- É claro, por que não estaria? – ela sabia.
- Olha, , sobre Harvard...
- Brooke, está tudo bem com a gente. Mesmo! – e realmente estava. – Mas eu não vou te privar de ir para Harvard se é isso o que você quer e, apesar do que o Ed anda espalhando por aí, podemos tentar um relacionamento à distância.
- Mas e a Inglaterra, e os nossos sonhos?
- Você é o meu sonho. – segurei a mão dela. – E a Inglaterra não vai fugir.
- Eu nunca disse que queria ir para Harvard, você sabe disso.
- Quem não quer ir para uma das melhores faculdades do mundo? Olha... – segurei as mãos delas. – O final do ano letivo está aí, você tem alguns dias para pensar sobre isso, tudo bem? Prometo que não vou me afastar ou qualquer coisa do tipo. Mas você tem que prometer que vai pensar a respeito. – encarei seus olhos que estavam marejados. Me senti horrível. – Eu preciso mesmo ir. – falei quando ouvi Christensen me chamando.
Soltei sua mão lentamente e caminhei em direção ao campo com o coração na mão.
Eu estava forçando Brooklyn a pensar duas vezes na ideia de não ficarmos juntos. Sem ela, eu não iria para a Inglaterra e teria que voltar para o Canadá e cumpri o meu destino na família , provavelmente ficaríamos muito tempo sem nos vermos, mas eu não poderia a deixar saber que existe essa possibilidade.
Senti uma mão me puxar para trás.
- Eu não preciso pensar duas vezes sobre o que é melhor para mim.
Era Brooklyn.
- E eu tenho certeza de que você quer exatamente o que eu quero.
- Brooklyn...
- Vocês precisam parar de achar que sabem o que é melhor para mim e de vez em quando deixar que eu tome alguma decisão sozinha.
Franzi o cenho.
- O quê? – fiquei muito confuso com o seu tom de voz.
- Talvez você esteja com medo de deixar a suas pendências no Canadá e quer usar Harvard como desculpa e tudo bem, eu entendo, mas para de ficar colocando Harvard entre a gente quando essa nunca foi uma questão para mim.
- Do que você está falando?
- Estou falando de que eu vou fazer isso. Com ou sem você.
Ela saiu correndo de volta para o colégio me deixando completamente confuso.
O que havia acabado de acontecer?
Vi Emma correr atrás dela quando eu pensei fazer o mesmo, então não tive muito que fazer a não ser esperar que ela entrasse em contato comigo, já que eu não fazia ideia do que ela estava querendo aprontar exatamente.

***

- Brooklyn, onde você vai? – Emma me alcançou no portão da escola.
- Para a Inglaterra.
- Como assim? – ela me segurou pelo ombro me fazendo encarar o seus olhos. – E a escola, o John... Harvard?
- Não sei se você sabe, mas eu já passei de ano e por que todo mundo quer que eu vá para Harvard quando eu mesmo não quero? – fiquei angustiada.
- Brooklyn, você deve estar fora de si para achar que simplesmente pode fugir para a Inglaterra. – ela parecia preocupada e nem um pouco do meu lado.
Parei na calçada a procura de um táxi, eu não conseguiria chegar a tempo no meu destino se eu fosse a pé.
- Não é de repente, e eu estamos planejando isso há um tempo.
- Tenho certeza de que ele não tem tanta certeza assim desse plano.
- Escuta. – me virei para ela e segurei a sua mão. – É a primeira vez na minha vida que eu sinto que estou tomando uma decisão sozinha. Sem precisar de ninguém a não ser o apoio das pessoas que são importantes para mim por que eu não quero ir para Inglaterra sabendo que deixei pendências aqui. – ela apertou as minhas mãos.
- É exatamente por isso que estou tentando te deixar consciente da loucura que está prestes a fazer. Por que me importo com você.
Um táxi parou perto de mim e por mais que eu quisesse ficar e tentar fazê-la entender o quanto aquilo era importante para mim, eu tinha uma coisa mais importante para fazer.
- Me desculpa. – soltei a sua mão quando ela tentou me segurar.
- Brooklyn, espera. Vamos conversar...
Mas eu não podia conversar Emma, não naquele momento.
Entrei no táxi e o instrui a sua rota. Uma rota que daria direto a Thiago.
Eu tinha feito uma promessa, um promessa de nunca mais ver e falar com Thiago, mas eu não poderia partir de Nova York sem me despedir, apesar de tudo, ele ainda é o meu pai e de qualquer forma, aquela seria realmente a minha última vez o vendo e só de pensar nisso meu coração já se apertava. No final, eu estou fazendo o que sempre soube que deveria fazer: Estou seguindo em frente.
Durante o trajeto, me ligava sem parar, mas eu não o atendia. Eu não iria dar a chance para que ele conseguisse me convencer a ir para a Harvard ou pensar no assunto, tudo já estava decidido e ninguém poderá me atrapalhar.
- O que está acontecendo? – Perguntei quando percebi que o carro estava parado há algum tempo.
- Trânsito, senhorita. Temo que fique assim por algum tempo. – o motorista me olhou de relance.
Mas eu não podia esperar.
- Tudo bem, eu vou descer aqui. Quanto custa a corrida?
O paguei rapidamente, lhe permitindo ficar com o troco e comecei a andar pelos carros ouvindo algumas buzinas de motoristas intolerantes e não me importando nem um pouco com alguns gritos em minha direção. A delegacia não ficava muito longe e em alguns minutos eu estaria lá. Quando consegui ir para a calçada pensei em apertar os meus passos, mas senti duas mãos se envolverem no meu corpo. Antes que eu pudesse olhar quem era, senti um pano cobri a minha boca. Um cheiro forte de álcool me invadiu e eu não conseguia respirar. Por mais que eu tentasse me debater, meu corpo ficava cada vez mais fraco e, antes que eu pudesse apagar, eu ouvi uma risada que ficou fazendo eco enquanto perdia todos os meus sentidos.

Todo o meu corpo doía, sem nenhuma exceção. Aos poucos, eu estava recobrando a lucidez e meus olhos enxergavam um borrão escuro. Meu corpo estava mole e dolorido, não conseguia mexer nada além dos olhos ou murmurar qualquer coisa sem sentido. Também notei que estava deitava sobre um chão, um chão frio!
- Brooklyn...
Eu podia estar incapaz de me mover ou enxergar, mas reconhecia aquela voz.
- Thomas?
- Me desculpe. Eu não tive outra escolha, ele me obrigou.
- O que você fez comigo?
- Por favor, não faça perguntas. – Thomas parecia atordoado, só que não mais do que eu estava.
- Eu prometo que vou te tirar dessa, apenas confie em mim. Não faça nada para aborrecer ele. – disse calmamente enquanto amarrava as minhas mãos e em seguida os meus pés.
- Do que você está falando, ele quem...?
- Olá, Brooke! É bom revê-la depois de tantos anos!
A minha pouca respiração falhou no mesmo instante, podia sentir cada poro de meu corpo se eriçar. Os passos de mais alguém naquele lugar realçou sobre o chão, meus olho arderam, mas eu estava fraca demais para fazer qualquer coisa.
- Willy?

Capítulo 18: Memórias!


“Um, dois: Freddy te pega depois.
Três, quatro: Fecha a porta do quarto.
Cinco, seis: Reze outra vez.
Sete, oito: É melhor ficar acordado até tarde.
Nove, dez: Não durma nunca mais.”


Enquanto eu recobrava a minha consciência, conseguia ouvir Willy cantarolando essa cantiga assustadora de um filme de terror, ele estava querendo me assustar ainda mais e, com isso, as lembranças passaram como um vulto por mim, vestido de preto e macabro. Eu estava com medo, eu não sabia se tudo havia sido um pesadelo ou se eu só estava com um medo horrível. Minhas pálpebras estavam pesadas demais, então não abri meus olhos de imediato, fiquei parada ali, no chão duro, sentindo cada parte do meu corpo doer e rezando para que quando eu abrisse os olhos, fosse um maldito pesadelo. Durante o tempo que fiquei desacordada, os flashes de todos os momentos ruins que tive desde a partida de Thiago até a morte da minha mãe me rondou. Senti-me como uma menininha indefesa novamente, quando eu sempre tinha pesadelos com Willy. É ridículo, eu não deveria mais ter medo dele, mas só de pensar em seu nome, eu sentia uma enorme vontade de chorar.
Meus olhos estavam pesados demais para se abrirem, então permaneci ali, dolorida, tentando encontrar, relembrar um resquício de felicidade que tive durante esses últimos dias, mas a risada de Willy fez todo o meu corpo se estremecer.
- Seu namorado é realmente alguma coisa...
Congelei no mesmo instante.
- Tive que fazer alguma coisa para convencer todo mundo que você está bem, mas ele continua insistindo em ligar.
Reparei meu celular nas mãos de Thomas.
- Então vocês pretendiam fugir para a Inglaterra?
- Deixa o fora disso. – juntei todas as minhas forças para conseguir falar.
- Eu acho que a essa altura é exatamente isso o que ele quer.
- Do que está falando?
Willy deu um sorriso obscuro e se virou para Thomas.
- Deixa ela ver.
Thomas, que estava quieto até então, andou até mim hesitante, ele não parecia ter muita certeza sobre o que estava fazendo. Perto o suficiente ele me mostrou as mensagens em meu celular.

“Você não quer falar comigo? Está me ignorando?
Você vai para a Inglaterra sozinha? É isso que quer fazer?
Meu Deus!
Eu apenas queria que pensasse melhor sobre Harvard, mas isso não queria dizer que eu estava desistindo de nós dois como você parece estar fazendo agora.”

“Será que da para atender a porra do celular Brooklyn?”

Engoli em seco lendo a minha suposta resposta que com certeza fez parar de mandar mensagens e ligar o tempo todo.

“Me esquece. Acabou!”


- Por que você está fazendo isso comigo? – ergui meu olhar para Thomas, implorando por uma resposta. – É por que não correspondi os seus sentimentos?
- Não Brooklyn... – os olhos dele estavam vermelhos e marejados. Parecia um pouco desesperado.
- Você também se apaixonou pela Brooklyn? – Willy disse incrédulo, mas sua voz tinha um resquício de sarcasmo. – Uau, o que vocês Bennette tem de tão encantador que enlouquecem os homens? – ele me encarou. – Literalmente.
- O que você quer de mim? – o encarei de volta tentando mostrar que a garotinha medrosa e indefesa havia ficado no passado. Mas eu não estava tão confiante assim.
- O que você acha? – parou na minha frente e colocou as mãos na cintura. – A vadia da sua mãe acabou com a minha vida mesmo depois de morta. O que você acha que foi a única coisa que eu almejei tanto, que me fez sobreviver aquele inferno de prisão por todo esse tempo?
Ele queria se vingar!
- Você pode não ter tirado a vida dela com as suas próprias mãos, mas você a matou. – tentei alterar a minha voz e parecer firme. Mas eu estava muito fraca. – Você a matava aos poucos todos os dias. Quando batia nela ou quando tentava me tocar com essas mãos imundas...
Ele riu.
- Como vai o Thiago, aliás? – abaixou o seu rosto o deixando próximo ao meu.
- Cala a boca. – rangi os dentes.
- Por quê? Eu tenho que agradecê-lo por ter se entregado. Se não fosse por ele, você não estaria aqui, Brooke! – sua voz era puro sarcasmo, e eu estava dolorida demais para rebater. Então apenas virei meu rosto tentando ignorar seu rosto perto demais de mim.
- Você não quer saber por que ele fez isso? Do por que ele matou a sua mãe? Aposto que John não te contou, ele sempre foi um covarde.
- Do que você está falando? – agora ele tinha toda a minha atenção. Apesar de não acreditar em nenhuma palavra dita por ele.
- Ah, será um prazer te contar. – ele sorriu me encarando por alguns segundos e depois puxou um banquinho para se equilibrar melhor, o deixando um pouco mais alto e mais assustador. – Você merece ouvir toda a verdade antes de morrer.
Meu coração acelerou no mesmo instante, minha respiração falhou.
- Você... Você vai me matar? – meus olhos estavam lacrimejando, a dor de não poder mais ver estava rondando em mim.
- Vou, mas agora eu tenho uma história interessante pra te contar. – ele disse com desdém ignorando todo meu ataque de pânico e sorriu de lado.
- Você sabia que sua mãe era uma vadia, não é? Bem, se não sabia... – ele cruzou os braços. – Todo mundo achava que eu fazia o que fazia porque gostava de fazê-la sofrer, um pouco por isso, mas ela também merecia. Um pouco depois de ir morar com vocês, eu descobrir que Lucy me traía. – então ele parou pra pensar. – Bem, eu também a traía, mas... Enfim, você sabe, sempre tive um orgulho ferido e um pavio muito curto. Não gosto que façam minha cara de otário, Brooklyn, então eu batia nela, com toda a minha força. Sua mãe era minha, ela não tinha que abrir as pernas pra mais ninguém. – ele parou por alguns segundos me analisando. Eu não o encarava, apenas engolia aquelas palavras tentando decidir se eu acreditaria nelas, Lucy traía Thiago, então ela poderia trair Willy.
- Então, um dia, eu cheguei do bar muito bêbado, doido pra pegar a minha mulher de jeito e foder com todas as minhas forças quando eu ouvi vozes, primeira da vadiazinha da sua mãe, ela chorava. Na verdade, ela fazia isso com frequência desde que se casou comigo. Então eu ouvi uma voz de homem. Eu quis entrar lá no mesmo instante e matar o amante da sua mãe e depois a sua mãe, estava determinado, mas eu ouvi algo muito interessante. Sua mãe pedia para que ele a levasse embora daquele lugar, que não estava aguentando mais conviver comigo, que temia por vocês duas. E o seu amante escutava tudo com toda atenção do mundo. Ela implorava, sabe, dizia que não estava mais aguentando viver comigo.
- Isso não é uma surpresa. – o interrompi demonstrando meu nojo por ele.
- Ah, mas isso feriu meu orgulho, Brooke, você não faz ideia. Continuando... – Willy se levantou e começou andar de um lado pro outro. – Seu amante não parecia querer levá-la com ele, ele relutava contra essa ideia. Não estava pronto pra assumir uma relação séria com ela. E foi aí que Lucy começou a gritar com ele, dizendo que ele não tinha o direito de fazer aquilo com ela, que por causa dos sentimentos deles, o Thiago havia ido embora. E que agora, mais do que nunca, você precisava dele. – fez uma pausa ao suspirar. - Você pode imaginar a minha surpresa em ouvir isso? Por que Lucy envolveria você no meio do assunto afinal? Seu amante começou a questionar do por que Lucy estava falando sobre aquilo e então ela soltou a bomba.
Willy parou de falar me analisando, eu o encarava, institivamente.
- Você é filha dele!
- O quê?
- Então tudo começou a se encaixar. Era tão óbvio Brooklyn. Você não era filha do Thiago, e muito menos minha.
- Você está mentindo.
- Não, não estou! Mas calma, muita calma nesse momento. – Ele se sentou novamente me encarando. – A surpresa maior não foi saber que você não era filha de Thiago, por que eu já sabia que sua mãe era uma vadia, a surpresa maior foi quando eu vi seu amante, saindo consternado com a revelação. – ele me olhou com um ar de suspense. - John? Quem diria, sua mãe traia o seu pai, e a mim com o John? Você é filha do John!
O meu mundo todo parou naquele momento.
Que merda tinha acabado de falar?
John? Não pode ser verdade, certo? Ele teria me contado, ele teria... Ele teria?
- Você nunca se perguntou por que ele cuida de você? Ele não tinha obrigação nenhuma, tinha?
- Ele...
- Fez uma promessa pra sua mãe? Não seja ridícula Brooklyn, sei que é mais esperta do que isso.
- Você está mentindo. – eu não conseguia controlar as minhas lágrimas, elas desciam uma atrás da outra, dificultando a minha visão. Meu pulmão parecia se fechar, eu não estava conseguindo respirar direito e não havia uma parte sequer do meu corpo que não doía.
- Eu não conseguia mais olhar pra você do mesmo jeito sem pensar no John trepando com a sua mãe. Então comecei a maltratar você também. Durante todos esses anos, sempre que eu te machucava, eu pensava em John e sua mãe juntos.
- Você está mentindo...
- Então eu encontrei Thiago. Ele havia abandonado a sua mãe por causa das traições, sabia que você não era filha dele, mas não sabia que era filha de John, o melhor amigo dele. Ele ficou bem irritado quando eu contei. Tanto que me fez isso aqui. – ele levantou a blusa mostrando um corte do peito ao umbigo. – Mas acho que o maior dano foi feito à sua mãe. Eu não o culpo por querer matar ela. Ela era mesmo uma vadia.
- VOCÊ ESTÁ MENTINDO! – gritei desesperada, sentindo o gosto salgado das lágrimas e das suas palavras.
De repente ele começou a rir feito um lunático, o que foi me deixando com mais raiva.
- Em parte você tem razão, eu realmente escondi uma coisa de você. E acho que você tem o direito de saber toda a verdade antes de morrer. – seus olhos tentavam me colocar terror.
- Na noite em que Thiago descobriu toda a verdade, eu o escutei marcar um encontro com a Lucy. Então o segui até um galpão abandonado esperando pacientemente a minha vingança por ele ter me esfaqueado, mas fiquei muito surpreso quando ele sacou uma arma e apontou na direção da Lucy. – eu não queria ouvir a narração de como foi a morte da minha mãe, já era doloroso o bastante saber quem a matou, eu realmente não precisava saber como aconteceu exatamente. – Mas ele foi um covarde. – suspirou se sentindo decepcionado.
Franzi meu cenho confusa com sua última frase.
- Thiago não teve coragem o suficiente para matar a sua mãe. Ele até chegou a atirar, mas apenas pegou de raspão no braço dela.
- Willy, onde você está querendo chegar? – perguntei nervosa.
- Olha, eu ainda queria ver a sua mãe sofrer muito antes de morrer. Mas eu não iria desperdiçar a chance, iria?
- Willy...
- Lucy desmaiou com o susto da bala que raspou em seu braço, Thiago fugiu assustado achando que havia a matado e nem percebeu que havia deixado a arma para trás. – ele deu de ombro. – Eu tinha que terminar o que ele começou.
- Então... – eu não conseguia falar direito. – Foi realmente você quem matou a minha mãe e não o meu pai...
- Pois é... – ele riu. – Mas o otário do seu pai se entregou se sentindo todo culpado e me dando toda a liberdade para terminar aqui o que eu comecei há três anos, neste mesmo lugar.
Minhas lágrimas haviam triplicado.
Senti um misto de medo e dor com o alívio de saber que Thiago não era culpado pela morte da minha mãe.
- Está preparada para encontrar a sua mãe? Você deve estar morrendo de saudade. Gosto da ideia de saber que vou ser o responsável por esse reencontro inesperado.
- Você vai mesmo matá-la? – Thomas perguntou tenso. - Esse não era o combinado.
- Mas eu mudei de ideia. – ele se levantou brusco engrossando seu tom de voz.
- Você me disse que apenas queria contar a verdade para que ela sofresse e depois iria soltá-la bem longe de Nova York.
Uma esperança de saber que Thomas me queria viva se acendeu em mim, mas neste momento, eu não sabia se queria estar viva.
- O que você acha que ela vai fazer quando soltarmos ela? Ela vai ferrar comigo e eu não vou voltar pra prisão de novo.
Thomas me encarava silenciosamente, os braços cruzados sobre o peito e uma expressão amarga.
- Eu vou deixar vocês sozinhos, se despeça dela. – Willy andou até ele lhe dando um olhar assustador. – Não faça nada que vá se arrepender depois.
Thomas ficou um bom tempo parado me vendo chorar sem cessar. Eu mal conseguia respirar de tanto desespero. O meu mundo literalmente desabou em saber que, apesar de saber toda a verdade, não terá nada que eu possa fazer para livrar Thiago da prisão. No final, eu iria morrer como a minha mãe. Assustada e com segredos.
- Brooklyn...
- Você sabia? – perguntei entre o choro. – Que Thiago é inocente?
- Brooklyn...
- Você sabia, Thomas? Ele não disse nada, apenas abaixou a cabeça provavelmente se sentindo culpado.
- Você nunca se importou em me dizer mesmo sabendo como tudo sempre foi tão difícil para mim? Isso iria mudar completamente a minha vida, eu poderia recomeçar de alguma forma com o meu pai, mas você estragou tudo! – minhas palavras se embolaram com as lágrimas. – Tudo bem para você saber que tem um homem preso por um crime que não cometeu e não fazer nada a respeito?
- Brooke...
- Eu não quero ouvir. – fechei meus olhos o sentindo arder.
- Me desculpa. – sua voz estava embargada de choro e arrependimento falso. – Eu não sabia que ele iria chegar tão longe. Olha, talvez se você prometer não nos denunciar...
- Ele vai me matar do mesmo jeito. E depois matar você pra ter certeza de que mais ninguém ficaria entre ele e a verdade.
- Ele...
Ele engoliu o choro e ficou parado de frente a mim me encarando.
- Thomas, escute. – o encarei firme. – Se você ainda tem algum pingo de bondade dentro de você, será que pode me deixar sozinha? Eu não quero que seu rosto seja a última coisa que eu veja antes de morrer.
Ele se afastou sem tirar os olhos de mim e apesar de não o encarar, eu sabia que ele estava chorando.
- Eu realmente sinto muito.
Disse em um soluço.
- Ele está me chantageando. – comentou baixo, mas eu consegui escutar perfeitamente.
Antes que eu pudesse perguntar o que ele queria dizer, Thomas saiu me deixando sozinha.
Eu tinha muitas coisas pra recolocar em minha mente. Thiago era inocente e John era meu pai? Depois de todos esses anos e todas as oportunidades em que ele teve para me contar a verdade, ele não disse, preferiu que eu sofresse a morte da minha mãe e o abandono do Thiago, quando ele era meu verdadeiro pai. Quando ele poderia ter me dado um pouco da família que eu sempre quis ter. Eu estava chorando como se fosse o fim do mundo pra mim, bem... Era quase isso! De alguma forma, a notícia de que Thiago era inocente me confortava, mesmo estando na situação em que me encontro. Escorei minha cabeça na parede tentando pensar apenas em e o quanto ele deve estar me odiando por achar que eu fui embora sem ele. Eu deveria saber que alguma coisa daria errado, sempre dá. Eu nunca fui uma mulher de sorte, e quando eu realmente pensei que tudo iria se encaixar, a vida se tratou de me dar uma rasteira. Agora eu estou caída e machucada e não sei se serei capaz de me levantar.

***


Brooklyn não atendia as minhas ligações e eu estava me desesperando com a ideia de que ela realmente tenha ido para a Inglaterra sem mim. Resolvi passar em casa e pegar algumas coisas antes de voltar a procurá-la, mas antes que eu pudesse entrar, eu ouvi vozes.
- O que você está falando? O meu filho não seria capaz de fazer uma coisa dessas!
Minha mãe parecia alterada.
O meu celular começou a vibrar. Brooklyn?
O puxei imediatamente do bolso, mas não era ela. Era a minha mãe.
Soltei um suspiro profundo e decidi entrar para saber o que estava acontecendo.
- Mãe?
- ! – ela apertou os passos em minha direção. Parecia aliviada por me ver.
Olhei para o lado e vi que a outra pessoa com ela ali era John.
- John?
- , onde está a Brooke? – Ele estava bravo.
- Por quê? – Hesitei.
- Emma me procurou. Ela me contou que vocês planejam ir embora para a Inglaterra. Hoje!
Então ela estava falando sério mesmo?
- , isso é verdade? – minha mãe perguntou.
Eu não conseguia responder. Se John não sabia onde Brooklyn estava, era por que ela não estava em casa e se nem seus amigos sabia dela, era mesmo possível que ela tenha ido embora sem mim.
- Nós planejamos ir embora juntos. – confessei.
- ! – minha mãe desabou no sofá. – Por quê?
- Por que eu não quero voltar para o Canadá e a Brooklyn não quer ficar aqui em Nova York.
- Vocês tem ideia da falta de responsabilidade que vocês estavam prestes a fazer? – John estava incrédulo.
- Não importa mais, por que nós brigamos e ela não quer falar comigo. E a essa altura...
- A essa altura o quê? – John deu passos largos até mim. – Onde está a Brooklyn? Inspirei todo o meu ar.
- Ela não atende as minhas ligações e a última notícia que eu tive dela era que... – hesitei. – Ela queria terminar.
- O que você fez? Brooklyn é completamente apaixonada por você e eu sei que ela só terminaria se tivesse acontecido algo grave então... O que você fez?
Eu não tinha coragem e nem vontade de contar o que aconteceu, até por que nem mesmo eu havia entendido direito. Em um minuto eu apenas queria que ela pensasse sobre Harvard e no outro ela estava zangada e dizendo que... Não, Brooklyn não iria embora sozinha só porque tivemos uma discussão boba. Eu precisava continuar tentando.
- Eu preciso ir.
Dei meia volta e saí por onde entrei determinado a encontrar Brooklyn e disposto a fugirmos juntos se ainda fosse o que ela queria.

Memórias On:

- O que você está olhando? – perguntei a quando vi que estava me encarando há um tempo enquanto me acompanhava até em casa.
- Nada é que... – ele deu um meio sorriso. – Eu reparei que você nunca olha para as pessoas.
- O que está querendo dizer? – fiquei confusa.
- Estou querendo dizer que você evita tudo e todos. – parou na minha frente. – Por quê?
Dei de ombros quando eu finalmente entendi onde ele estava querendo chegar.
- Esse é o segredo: Nunca olhar!
Ele parecia confuso.
- Nunca olhar o que?
- Olhar para a vida de outra pessoa. Eu não quero ver o que está lá. Eu já tenho todos os meus problemas, não preciso da realidade de mais ninguém.
- Por que precisa ser sempre profunda nas suas repostas?
- Por que precisa ser sempre tão curioso?
- Você não gosta de falar sobre você, preciso de algo para fazê-la falar comigo.
Parei de frente para ele quando chegamos ao meu prédio e o encarei.
- Como vou falar de você para algum amigo se eu...
- Por que falaria de mim para um amigo? – arqueei sobrancelha.
Ele deu de ombros.
- Sei lá, poderíamos sair em casal, você e April podiam...
Rolei os olhos quando escutei a sua explicação.
- Não tenho nada de interessante. – o cortei no mesmo instante. - Nada que seja tão espetacularmente bom e emocionante que impressione alguém. Nada de diferente e especial que faça de toda livre-espontânea-vontade alguém pensar: “Porra, essa é a garota da minha vida”. – vi seus olhos se tornarem pontos de interrogação. – Você me conhece há um minuto, não saberia sequer por onde começar a falar sobre mim para alguém. – apertei meus lábios. – Eu preciso ir.
- Quer que eu te fale o que eu sei sobre você nesse “um minuto” que te conheço?
Ele me fez parar quando mencionei entrar.
- Você é fechada e, como eu disse antes, nunca olha demais para as pessoas. Isso quando olha, né? – me virei para ele. – Você faz o tipo tô-nem-aí e é toda tímida. Revira os olhos para alguma idiotice, geralmente as idiotices são minhas, mas até aí tudo bem. – se aproximou de mim me encarando avidamente. – Você não costuma acreditar em você mesma e muito menos dá ouvidos quando alguém tenta dizer isso. No fundo... Você sempre quer cuidar dos outros e sempre se coloca de lado, mas a verdade é que você só precisa de alguém que cuide de você, mas isso você também não admite.
Eu não sabia o que dizer depois de todas essas coisas dita por . Era como se ele me enxergasse por dentro e isso me deixava completamente vulnerável.
- Você não precisa ter medo de ser você perto de outras pessoas. – deu um meio sorriso que fez com que meu coração acelerasse. O que era aquilo? Desde quando as bobeiras ditas por possuem algum impacto em mim? Apressei-me a entrar quando senti minhas bochechas arderem, era só o que me faltava. estava me deixando vermelha.

Memórias Off


Um dia... Você vai conhecer uma pessoa que vai ser diferente de tudo aquilo que você sonhou e vai ser exatamente por isso que você vai se apaixonar. Você vai conhecer alguém que pode esquecer do mundo, mas ser tão presente pra você. E o seu mundo vai parar, você vai entender o significado de amor à primeira vista. Por que essa porra existe. Quem você ama? Você ama desde a primeira vez que viu e você sabe disso! Você, que por sua vez sonha em conhecer o mundo todo, quando ver essa pessoa sorrir, vai ter o mundo ali no seu campo de visão. Você vai sentir algo tão inexplicável quando isso acontecer que vai passar a acreditar mais em Deus (ou no que rege esse plano) só pra implorar pra que ele te dê mais uma oportunidade dessas. Sabe toda essa merda de "Pra sempre"? Isso não é nada comparado com a imensidão do que você é capaz de sentir dentro de você. era o meu pra sempre, independente do nosso tempo juntos. E era por isso que eu sabia que ele não se daria por vencido, eu sabia que aquela simples mensagem dizendo que as coisas entre nós acabaram, não iria o impedir de continuar insistindo. Nós dois sabemos como foi difícil para que finalmente pudéssemos ficar juntos e não era uma mensagem de texto que iria acabar com isso. Um cheiro forte de álcool me impregnou, meus olhos se abriram de súbito e ali estava ele, Willy, todo sorriso e dentes, agachado na minha frente, segurando uma arma, meu coração acelerou.
- Brooke, quero que conheça a arma que tirou a vida a sua mãe. – me deu um sorriso frio. – E agora a que vai tirar a sua.
Thomas deu um passo na minha direção.
- Só vamos acabar com isso logo. – ele cruzou os braços não ousando me encarar.
- Suas últimas palavras? – Willy estava sendo sarcástica.
- Vá para o inferno! – disparei sem remorso nenhum.
- Quanta originalidade. – ele rolou os olhos. – Bem, adeus Brooke. Não vou sentir sua falta.
Brincando com palito entre os dentes, ele apontou a arma na altura da minha testa, fechei meus olhos nos segundos seguintes prendendo a respiração. Era agora!
Um barulho forte soou pelo local, e meu corpo estremeceu, mas fora isso, não parecia ter mais nada de errado comigo. Eu não sentia dor alguma, talvez eu já estivesse morta! Senti duas mãos me levantarem, abri meus olhos no mesmo instante.
- Vamos! Você precisa sair daqui! – Thomas me agarrou, o encarei confusa e então vi Willy jogado ao chão.
- Você o matou? – questionei aterrorizada.
- Não, só está desacordado, não foi um golpe muito forte, ele pode acordar a qualquer instante.
- Por que está fazendo isso? – eu quase não sentia minhas pernas, elas estavam trêmulas.
- Eu não devia ter cedido a chantagem dele para começo de conversa.
Thomas abriu um portão de metal e o vento da primavera me confrontou.
- Onde estamos? – Eu não reconhecia aquele lugar.
- Em um balcão abandonado no Brooklyn – ele sacou o meu celular do bolso buscando o número de John na agenda.
- Não, ele não. – pedi, mas Thomas não me escutou.
- Desculpe Brooke, eu não sabia para quem mais eu poderia ligar e quando Willy se distraiu, eu mandei a sua localização com um pedido de socorro. Ele já deve estar a caminho. – colocou o celular no ouvido. - John, sou eu... Thomas. Brooklyn está comigo, isso. – ele me encarou. – Estamos naquele balcão. Você sabe onde é? Ótimo. E John, acione a polícia, Willy está aqui. Não, ele está inconsciente, mas eu não sei por quanto tempo. Tudo bem! Ela está bem, ela sabe de toda a verdade, John! – Thomas apertou sua mão em torno do meu braço. – Ok!
E desligou.
- Você não deveria ter feito isso.
- E mais pra quem eu ligaria? ? Precisamos nos esconder.
- Eu não posso ver ele agora, Thomas, não posso. – as lágrimas já surgiam em meus olhos.
- Brooklyn, você não é mais uma criança indefesa. Você é tão forte e sempre soube lidar muito bem com toda a bagunça à sua volta. Você pensa que não consegue lidar com isso, mas eu sei que muitas pessoas, incluindo eu, não aguentaria um terço de tudo que você aguentou. – ele suspirou me olhando casto. – É a pessoa mais corajosa que eu conheço. Inteligente, linda e única. Não é difícil se apaixonar por você, Brooklyn.
- Thomas...
- Eu sei que você nunca vai sentir o mesmo por mim.
- Thomas, é claro que eu amo você. Você foi a pessoa mais importante para mim quando eu precisei. E ainda é.
Ele pareceu se assustar com minhas palavras.
- Mesmo depois do que eu fiz?
- Você se arrependeu, não é? É isso que importa.
- Ele ameaçou a minha irmã, Brooklyn. – ele estava começando a chorar. – Eu não sabia o que fazer...
Eu o abracei.
- Vamos esperar que esse pesadelo acabe.
- John não deve demorar muito.
- Mas antes vou me certificar que vocês dois estejam mortos.
A voz de Willy soou até meus ouvidos e, em um movimento rápido, Thomas estava na minha frente.
- Thomas, não!
Tentei afastá-lo, mas eu estava fraca demais.
- Isso não tem nada haver com você, Thomas. – Willy rosnou. – Mas eu não posso perdoar a sua traição.
- Vamos lá, William, você não precisa fazer isso.
- Eu preciso, eu vivi todos esses anos trancado, pensando no prazer que teria em matar Brooklyn.
- John sabe que você está aqui, não vai sair ileso. – tentei gritar pra ele, que riu.
- Ótimo, ele vai morrer também!
- Tudo bem, Willy, é a mim que você quer. Não precisa matar o Thomas.
Fiquei na sua frente, vendo seu rosto escurecer.
- Não, Brooklyn! – ele protestou.
- Que bonitinho, olha só, como eu sou bonzinho. Os dois irão morrer juntos.
Ao longe, ouvi o barulho de pneus cantando pela estrada de chão e sirenes piscavam por toda parte. Percebi que Willy se distraiu com toda aquela polícia chegando, em um momento sem pensar, eu me joguei em cima dele o derrubando no chão. A arma caiu de sua mão, parando em uma distância considerável.
- Não, por favor, não! – implorei com o pouco da força que tinha.
- Brooklyn! – Ouvi a voz de John soar, mas eles ainda estavam muito longe.
Depois vi Thomas correr até arma, a pegando no chão. Willy estava logo abaixo de mim um pouco confuso, tentei me levantar, mas quando ele recobrou a consciência e percebeu a bagunça que estava à sua volta, me segurou forte, me jogando no chão e depois ficando em cima de mim.
- Você não vai se safar desta vez, sua vadiazinha.
- Willy, solta ela. – Thomas apontava a arma em sua cabeça.
Suas mãos escorregaram pelo meu pescoço o apertando cada vez mais forte.
- Você vai me matar, Thomas? Então vá em frente, antes que seja tarde demais.
- Thomas, não! – tentei impedi-lo.
- Brooklyn. – ele suplicou.
- N-ão! – disse mais uma vez, eu sei que ele não aguentaria a culpa de matar alguém, mas também não aguentaria a culpa ver alguém me matando e não poder fazer nada.
- Escolha Thomas, a minha vida ou a dela. Você não tem muito tempo.
Eu estava cada vez mais sem fôlego.
Um barulho de tiro ecoou, Willy gritava com muita dor, ele caiu ao meu lado e eu respirei todo o ar que pude. Ele havia atirado em sua perna esquerda.
- Eu tinha que fazer alguma coisa. – Ele estava chorando.
- Tudo bem, tudo bem! – me levantei com cautela sentindo todas as dores do meu corpo de uma só vez.
- Brooklyn! Thomas! – John corria em nossa direção e a polícia estava em seu encalce.
- Ainda não acabou. – Willy rosnou e antes que eu pudesse me virar para olhá-lo, uma pancada forte acertou minha cabeça, meu corpo caiu sobre o chão frio e tudo que eu pude ver antes de apagar, era John gritando meu nome.

Memórias On:

- Por que não gosta de falar sobre você?
- Por que eu não sou da sua conta.
Ele fechou a boca no mesmo instante, me encarando silenciosamente.
- Ta, acho que você não vai cair no meu charme.
- E você jura que alguém já caiu?

***

- Você devia parar de me fazer parecer uma garota mimada.
- E você devia parar de me olhar como se eu fosse seu amiguinho colorido. Talvez eu queira mais do que te dar conselhos.
- Você não está afim de mim. – rolei os olhos.
- E o que te faz pensar isso? – me encarou seriamente, mas seus lábios apontavam diversão.
- Qual é!
- Você é uma garota inteligente, bonita, engraçada, aparentemente cai fácil na minha lábia, eu não poderia querer mais.

***

- E eu posso saber por que estou sendo rejeitado tão friamente?
- Por que, além de você não fazer o meu tipo, você já está saindo com a April.
Ele me olhou daquele jeito desconfiado, com total confiança de que fazia o meu tipo. Assim como fazia de todo mundo.
- Você sabia que muitas garotas dessa escola adorariam estar no seu lugar?
Minha nossa, como ele era convencido.
- Ótimo! Então você não precisa de mim.

***

- Esses dois lembra me lembram você, quando te conheci.
Rolei os olhos.
- A única garota que não caiu no meu charme. – me cutucou. – No começo até achei que fosse lésbica.
- Claro. – usei um tom abusado. – Por que esse é o único motivo para alguém não se interessar por você.

***

Ele voltou a encostar-se ao assento enquanto continuava a me encarar.
- Estou esperando você perceber que está apaixonada por mim. – agora era ele quem estava sendo debochado.
- Você fala como se fosse um copo de água e eu estivesse morrendo de sede.
- E está? – eu o encarei sem o responder. – Vou tomar esse silêncio como um sim.
- Cada um se ilude da forma que acha que vai ser mais feliz.

***

- Você precisa saber a cada segundo que tem uma chance comigo. – me deu um olhar breve.
- É por isso que tem um duplo sentido em tudo que você fala?
Ele abriu um sorriso escancarado.
- É óbvio. A velha tática do “estou brincando, mas se você quiser, eu também quero”.
- E o que houve com toda aquela ladainha de fazer o que você quer pra não se arrepender depois? – arqueei a sobrancelha para ele e lhe dei um olhar interrogativo.
Ele sorriu de lado.
- Você sempre tem uma resposta na ponta da língua, não é?
- E a resposta pra essa pergunta é: Sim

***

- Você é tão clichê – declarei sem conseguir segurar o sorriso.
- Pedi para tocarem especialmente para você.
- Não cansa de impressionar, não é? – me girou duas vezes e depois me puxou fortemente para seu corpo. Não conseguir sustentar o olhar dele.
- Pelo menos disfarça esse ar de deboche. – espreitou seus olhos para mim e eu deitei minha cabeça em seu peito, jogando minhas mãos em seu pescoço, sentindo as mãos deles rodearem a minha cintura.
- Isso seria humanamente impossível. – deixei claro.

***

- Você não conseguiu perceber as infinidades de coisas que estavam estampadas na sua frente. E o que eu sinto por você era uma delas. Você deveria ter notado. – eu abracei meu corpo e olhei para os meus pés ajeitando um fio de cabelo. - Mas agora é tarde, assim como é para todas as coisas que você deveria ter feito e não fez. – suspirei ao olhar para ele. – Eu queria que isso tivesse se tornado algo, mas eu mereço coisa melhor.

***

- Oi. – me abordou fazendo meus poros se eriçarem. Até ouvir a voz dele faz meu coração palpitar. Ele abriu um sorriso simples. – Você está... – seus olhos tinham um tom diferente ao me analisar. – Linda?
Ele fez uma pergunta? Franzi o cenho.
- Estou linda? – olhei para Emma e depois para ele novamente. – Isso é bom, mas você parece um pouco surpreso. Eu não era linda antes?
O rosto dele se suavizou, como se estivesse aliviado por eu não ter o mandado embora ou o ignorado como tenho feito desde a última vez em que eu me permitir olhar dentro daqueles olhos claros e hipnotizantes.

***

- Então você descobriu que está apaixonado por mim? – me virei bruscamente não conseguindo conter as palavras em minha boca. Ele concordou em um aceno me olhando sem piscar. – Está arrependido por ter dito todas aquelas coisas para a Helena e por ter esperado tanto tempo para dizer o que sentia quando poderia ter evitado muita coisa? – ele novamente voltou a acenar a cabeça como se estivesse respondendo há um comando direto. – Então fique sabendo que isso não é o suficiente.

***

- Brooke...
- Sim. – me aninhei mais em seu corpo, pela janela eu conseguia ver a noite caindo de vez.
- Não quero que me veja apenas como um amigo! – quando ele começou a dizer, eu me senti confusa. – Eu quero mais do que isso. – suas mãos me apertavam firme. – Não sei se essa é a hora certa para dizer essas coisas, na verdade a hora certa já se passou, mas eu vou continuar insistindo para que não me veja apenas como um amigo... E que se possível, se apaixone por mim novamente. Por que eu já estou completamente apaixonado por você.

***

- Eu não sei. – dei de ombros fingindo não estar afetada com aquela aproximação. – Mas eu não quero parecer uma vadia aproveitadora por isso.
- Está definindo seu valor pessoal por estarmos ou não em um relacionamento? – dei de ombros novamente. – Ajuda se eu fizer um pedido formal? – continuou a se aproximar e eu não consegui me mover, e nem queria. – Isso é importante para você? – sua boca estava cada vez mais perto da minha, fazendo com que minha ansiedade por aquele momento só aumentasse.

***

- Então eu acho que você gosta da minha arrogância, já que isso nunca o impediu de me deixar em paz.
- Se é isso que você quer, é só me dizer. – eu aguardei a resposta dela, mas tudo que ganhei foi um olhar repleto de humor, e eu iria aproveitar isso. – Esse silêncio é sinal de que supro suas necessidades?
- Ou só estou sendo educada em não lhe responder, enquanto você cria expectativas de algo que não tem o menor fundamento? – arqueou a sobrancelha. – Já considerou?
- Pior que sim. – estacionei o carro e me virei pra ela para poder ter uma visão melhor. – Mas devido as minhas experiências em levar um fora seu, eu creio que está apenas tentando cortar o meu barato, que por sinal, não vai ser tão fácil quanto você pensa.
Ela estalou os lábios.
- Que bom que não preciso fingir que estou feliz com a sua insistência.

***

– Graças a você eu decidi viver sem medo do que o amanhã pode me trazer. Hoje não é um bom dia, amanhã vai ser pior ainda e não há nada que eu possa fazer para preencher esse buraco deixado em seu peito, mas se você quer gritar então grite, libere toda essa mágoa e raiva que está dentro de você, não deixe essa dor te consumir. – encarei bem seus olhos. – Admitir estar mal também requer coragem, mas todo mundo se machuca de alguma forma. E se no final isso não for o suficiente, apenas se lembre de que eu estou aqui por você. – mordi meu lábio fortemente sentindo as batidas aceleradas do meu coração. – E que eu te amo.

***

- ...?
- Vamos para a Inglaterra!
Disse de repente ao se sentar na cama, ainda me encarando.
- O quê? – puxei a coberta sobre o meu corpo e me sentei ao lado dele.
- Você não vê? É a solução dos nossos problemas. Você quer fazer literatura inglesa e eu posso ter a chance de conhecer David Yates pessoalmente. Eu não tinha pensado nisso antes, mas... Todos os nossos sonhos começam por lá.

***

- O quê? – ele ficou muito confuso com o meu tom de voz.
- Talvez você esteja com medo de deixar as suas pendências no Canadá e quer usar Harvard como desculpa e tudo bem, eu entendo, mas para de ficar colocando Harvard entre a gente quando essa nunca foi uma questão para mim.
- Do que você está falando?
- Estou falando de que eu vou fazer isso. Com ou sem você.

Memórias Off

A voz dele era apenas um sussurro em meu ouvido, eu sabia que o conhecia de algum lugar, meu coração se apertava apenas por vê-lo no canto do meu inconsciente, mas como saber? Todas essas lembranças, o que significam? Eu não entendo, ele está cada vez mais distante, uma luz forte e branca se apossa das minhas memórias e ele não passa de um borrão, aos poucos eu não vejo mais nada, apenas tudo branco. Um grande e enorme branco confuso. Quem era ele?
Meu consciente acordou antes mesmo de mim, eu conseguia ouvir vozes, mas não reconhecia nenhuma delas. Minha cabeça parecia querer explodir, e meu corpo parecia estar inchado. Abri meus olhos encarando o teto branco e percebendo logo em seguida que estava deitada em uma maca, com soro sob minha veia e vários olhos curiosos olhando para mim.
- Você acordou, finalmente! John, ela acordou!
Uma garota parecia feliz em me ver, e eu não fazia ideia do por quê.
- Meu Deus, Brooklyn, graças a Deus. – Um homem segurou a minha mão e parecia estar chorando. – Como se sente?
Eu não consegui respondê-lo.
- Doutor, como ela está?
O médico me olhou com cautela.
- O que está acontecendo? – consegui dizer aquelas palavras. – Quem são vocês?



Fim.



Nota da autora: Enfim... O fim! Gente, eu literalmente demorei quatro anos para terminar essa história que significa tanto para mim. Foi a minha primeira fic escrita e a única a ser terminada. Espero que tenham se divertido com os personagens que eu AMO de paixão e se querem uma continuação, encham bastante o meu saco nos comentários e recomendem para os amiguinhos. Garanto que pode ter uma parte dois beeeem inesperada. Então é isso, me despeço por aqui e até breve? HAHA!





Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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