PRÓLOGO
Acho que esse é realmente o nosso fim. Não sei o porquê você escolheu não me responder, afinal, foram várias cartas e mensagens nos quatro anos que passaram, e nenhum sinal seu. E eu não queria parar de amar você, , mas é necessário quando precisamos seguir em frente, certo? Seguir em frente... Acho que você já seguiu há muito tempo, mas acho que no fundo eu sempre soube, só não queria acreditar.
Você dizia que me amava tanto que chegava a doer. O que aconteceu com esse amor, ? Eu apoiei você em cada momento. Quando você disse que desejava cursar uma grande faculdade em outro país, eu aceitei. Eu aceitei mesmo que estar longe de você significasse me destruir. Mas você disse que nada mudaria, que voltaria para mim no final de tudo. Você prometeu. E agora, eu me pergunto o que houve com aquela garota que eu conheci, aquela que jamais quebraria suas promessas, porque você prometeu voltar, , mas até hoje não há nenhum sinal seu.
Eu só precisava de uma resposta, era pedir muito? Você precisava apenas dizer que não queria mais nada comigo, doeria, mas eu entenderia. Mas tudo o que eu sinto por dentro é dor ao saber que você demonstrou jamais se importar com o que eu sentia. E eu acho engraçado, porque por um momento, eu cheguei a acreditar que você realmente seria a garota certa para mim.
Quando tínhamos oito anos, você prometeu que no momento certo, se casaria comigo. Aos treze anos, demos o nosso primeiro beijo, e foi a melhor sensação do mundo. Com dezesseis anos, eu disse que te amava, e você respondeu que me amava também. Fomos para faculdades diferentes aos dezoito anos e prometemos que manteríamos contato todos os dias. Porém, você não cumpriu sua parte nos planos, e agora eu sou o cara com o coração partido que é obrigado a seguir em frente.
Essa é a última carta que envio a você, porque, no final, acho que o problema nunca esteve comigo.
.”
Quando você partiu, de alguma maneira, eu parti com você. As histórias compartilhadas, os segredos guardados, a proteção exageradamente feita por ambos, partiram junto com você. Eu planejei um futuro para nós, como você não percebeu? Quando você partiu, eu desejei que você houvesse se lembrado de mim e me convidado para ir com você. Como você ignorou tudo o que eu senti? Quando você partiu, meu sorriso tornou-se triste, meu olhar perdeu o brilho e minhas lembranças tornaram-se punhais contra o meu coração.
E agora, tudo parece um eterno cinza. Como você pode roubar toda a cor existente do meu mundo? Quando você partiu, eu achei que você iria voltar. Você prometeu que voltaria. O que aconteceu para que quebrasse sua promessa? Quando você partiu, eu me sentei na varanda de casa e fechei meus olhos imaginando que você ainda estava ao meu lado, como costumávamos fazer.
Quando você partiu para o seu próprio mundo, você me obrigou a partir para o meu também. Acredita quando eu digo que ele não tem graça sem você? Se eu soubesse que um dia você iria partir, eu imploraria para que houvesse partido antes. Você acha que doeria menos se fosse assim?
Você me ensinou como amar alguém, e agora eu aprendi como é ser machucado por essa mesma pessoa. Quando você partiu, pensou em mim por apenas um minuto? Por que você não se lembrou de todos os momentos que tivemos quando se foi? Quando você partiu, eu prometi que esperaria você voltar, mas você nunca voltou. Eu não fui o suficiente?
Eu te dei todos os motivos para ficar e mesmo assim, você foi. Quando você partiu, você não disse adeus, isso foi apenas para me dar falsas esperanças ou você pretendia voltar e algo dera errado? Eu cuidei de cada ferida sua, e porque agora, me parece que elas foram transferidas para mim? Quando você partiu, eu chorei, acredita? E você que dizia que eu nunca chorava fora o motivo.
Eu dedilho meus dedos sobre nossos nomes escritos sobre a árvore e me pergunto se um dia você voltará para lê-los. Você disse que eu sempre seria o único no seu coração, mas substituiu o meu nome pelo dele. Quando você partiu, me doeu tanto, que eu tranquei a porta por onde você saiu e nunca mais abri, para ninguém.
Quando você partiu, tudo o que me restou foram cacos quebrados de um coração.
Capítulo 1
“,
Hoje eu estava na praça com Ryan, e um gatinho passou por mim. Eu me lembrei do , lembra-se dele também? Eu espero que sim. Não sei porque você não respondeu minhas mensagens ou atende meus telefonemas, então me sugeriram escrever uma carta. Lembro-me de como você acha romântico esses atos, então pensei ser uma boa ideia. Como está a faculdade? Você fez novos amigos? Está se dando bem com os professores? Me desculpe tantas perguntas, mas eu realmente sinto sua falta. Quando você estiver com um tempo livre, nem que seja apenas para me responder dizendo que está bem, pode me mandar uma mensagem, em qualquer hora, me deixará muito aliviado.
Com amor, .”
Eu pedalo o mais rápido que posso. Minhas mãos apertam firme o guidom da bicicleta. Quando dobro a esquina da rua, de longe já posso avistar parada em frente à calçada de sua casa. Ela me olha e acena euforicamente sorridente. Por que eu sinto essas coisas na barriga toda vez que ela sorri? É estranho. E isso me faz lembrar de perguntar ao papai quando chegar em casa.
Pulo da bicicleta largando-a no chão e se aproxima.
— Você veio rápido! — coloca uma mecha de seu cabelo atrás da orelha. Por que ela sempre mexe no cabelo quando me vê? É estranho! — Eu preciso te mostrar uma coisa, meus pais estão na cozinha, então não faz barulho. — ela me puxa para dentro de sua casa, onde murmúrios podem ser ouvidos, provavelmente dos seus pais.
— O que você precisa me mostrar? — sussurro subindo as escadas. — Pode ser rápido? Mamãe vai fazer almôndegas para o jantar.
— É rapidinho, ! — fala baixo entrando no seu quarto. — Pode entrar! — ela me dá espaço.
Eu entro e faço uma careta. É tudo tão organizado, livros na prateleira, a cama arrumada, um enorme pôster de um homem que provavelmente deve ser um ator, não sei o nome.
— Tá, e o que você precisa me mostrar? — pergunto olhando ao redor ainda constrangido. Mamãe diz que no futuro talvez eu ganhe uma irmãzinha, se ela tiver o quarto como o de , não sei se dará muito certo.
sorri caminhando até seu guarda roupa, ela se agacha enquanto pega algo. Estico o meu pescoço para olhar o que é, mas não consigo ver. Ela coloca uma caixa de sapato em cima da cama, e eu observo confuso.
— Ele é lindo! — sorri largo abrindo a caixa.
— Você quer me mostrar um sapato? — pergunto ficando irritado. Perdi o café da tarde só para ver o que ela queria, e ela quer me mostra um sapato? Eu estou começando a achar que deveria ter chamado Ashley, e não eu.
— Não, seu bobo! — ela gargalha. — É um gatinho.
— Um gatinho? — fico curioso e chego mais perto quando ela retira-o da caixa. Ele é muito pequeno, com seus pêlos branco e manchas pretas pelo corpo. — Por que ele está escondido dentro do seu armário?
— Porque o bebê tem alergia a pêlos. — refere-se a Tedd, seu irmão. — E com certeza papai e mamãe não deixariam eu ficar com ele, mas olha como ele é lindinho! — coloca o gato na minha cara.
Seguro o gato olhando diretamente para seus olhos. É verdade, ele é lindinho! Quando ele fecha os olhos bocejando, dou um sorriso observando a cena.
— Qual o nome dele? — pergunto, acariciando-o.
— Eu pensei em um, mas não tenho certeza... — murmura. — Encontrei ele enquanto voltava da escola, ele estava do lado de um lixeiro.
— Que horror! — falo chocado. — Quem faria isso com um gatinho?
— Você ainda pergunta? — me olha óbvia.
— Adultos! — respondemos juntos. — Mas que nome você pensou em dar a ele? — pergunto.
— Eu pensei em ...
— ? Que tipo de nome é esse? — faço uma careta. — Você tem que dar um nome de menino para ele!
— Mas mamãe me disse uma vez que existem nomes que meninos e meninas podem usar. — explica. — E é a junção da primeira sílaba do seu nome com a primeira do meu.
— Ah! — murmuro tentando entender o porquê ela ter decidido isso. Às vezes, tenho grande curiosidade em saber de onde ela tira tantas ideias.
[...]
— , desça para o jantar! — tia Mandy grita da escada.
— Eu já estou indo, mamãe! — grita colocando o gato novamente dentro da caixa.
— E traga junto! — arregalo os olhos. — Eu vi a bicicleta dele na entrada. — fico vermelho. Fui tão apressado que joguei minha bicicleta de qualquer jeito. Ainda bem que tia Mandy não se importa quando venho aqui.
— Você tá vermelhinho! Como um tomate! — ri da minha cara.
— Eu não estou não! — me defendo. — É melhor eu ir para casa, hoje irá ser almôndegas!
— Mas você não quer comer aqui? — agora parece chateada. Ela não estava rindo agora há pouco? Não gosto quando ela fica chateada, então acabo cedendo.
— Bom... — murmuro. — Se você quiser muito, eu posso ficar.
— Eu quero! — sorri animada e me empurra rumo as escadas. Por que eu fico feliz quando ela está feliz? Isso é tão estranho. Nunca me senti assim antes de conhecer ela, na verdade não me lembro muito do que eu sentia, era muito pequeno.
Quando entramos na cozinha, o cheiro está simplesmente maravilhoso! A comida da tia Mandy é a minha segunda preferida no mundo, só perde para o da minha mãe, é claro. Tio Robin termina de preparar a mesa e me olha.
— E aí, garoto? — sorri sentando-se. — Se eu não te conhecesse, você certamente levaria bala por estar no quarto com a minha filha.
— Robin! — Mandy repreende-o, enquanto fica vermelha, e eu mais ainda. Talvez ele não queira mais que eu venha aqui, penso. Mas o que foi que eu fiz? Papai disse que eu só serei uma ameaça para as garotas depois dos quinze anos e eu nem entendi o porquê.
— É brincadeira, ! — ele gargalha. — Sente-se filho, vamos comer.
Assinto, me sentando afastado de . Às vezes tenho medo de ficar muito perto dela, eu só não sei o motivo, mas é porque me arrepio e isso é estranho pra mim.
[...]
No dia seguinte, uma furiosa chuva cai enquanto observo da janela. Estou feliz, porque assim talvez eu não precise ir para escola. Papai entra no meu quarto e viro-me para olhá-lo.
— Por que ainda não está pronto? — me olha desconfiado. — Desse jeito você vai se atrasar para a aula.
— Mas está chovendo! — lamento enquanto me sento na beirada da cama.
Papai senta-se ao meu lado dando tapinhas nas minhas costas.
— Essa é a vantagem de ter um carro, filho — sorri. — Ontem sua mãe disse que você estava estranho quando ela te buscou na casa da . Aconteceu alguma coisa?
— Não... — nego. — Mas papai, eu queria perguntar uma coisa para você...
— E o que seria? — me olha curioso.
— Quando a mamãe sorri, você fica feliz? — olho-o curioso. Ele parece surpreso com a pergunta, mas logo sua expressão volta ao normal.
— É claro que sim! — responde sorridente.
— Por que? — tenho a necessidade de perguntar.
— Porque eu a amo. — ele dá de ombros. — Quando a gente ama alguém, o sorriso dessa pessoa passa a ser o nosso também. Você deseja que a pessoa seja feliz, porque isso faz com que você também seja. Como você. Eu e sua mãe te amamos muito, e quando você sorri, tudo vale a pena. — um sorriso surge nos meus lábios quando ouço-o. — Mas posso saber o motivo dessa pergunta?
— Não é nada — dou de ombros. — Eu só tive curiosidade.
— Sei... — se levanta e caminha até a porta. — Pode se apressar, não pense que vai faltar a escola não! — afasta-se e me deixa resmungando.
[...]
— Hoje, eu quero um texto de dez linhas com o seguinte tema, “O que eu quero ser quando crescer”. — a professora Jones escreve o título no quadro. Eu gosto muito dela e de suas aulas, porque na maioria das vezes, são coisas legais para fazer. — Quero todos os textos concluídos na minha mesa até o final da aula. Podem começar!
Pego o meu lápis e uma folha do meu caderno pronto para escrever.
— ! — Ryan me cutuca atrás. Viro-me para ele curioso.
— O que foi? — pergunto baixo para que ninguém além dele ouça.
— Você pode escrever que quer ser o Bob Esponja quando crescer! — sorri.
— Eu quero ser o Homem-Aranha! — murmuro chateado. Por que eu seria o Bob Esponja? Ele não tem poder algum.
— Mas se você for o Bob Esponja, eu posso ser o Patrick. — explica.
— Ah! — sorrio largo. — Por que você não disse antes? Então eu vou ser o Bob Esponja!
Ryan sorri assentindo. Ser o Bob Esponja talvez não seja uma má ideia, ele mora em um abacaxi! Morar em um quando eu crescer parece uma ótima ideia! E o Patrick é melhor amigo do Bob Esponja, assim como Ryan é o meu.
— ... — se vira para trás. — Você vai ser o Homem-Aranha, certo? É seu herói favorito! — ela sorri. — Eu vou ser a Marie Jane, tudo bem? Assim, talvez quando a gente crescer, você sabe... — fica vermelha.
— Mas a Marie Jane é namorada do Homem-Aranha! — digo olhando-a. — Você não é minha namorada, ! Namorados são nojentos! E eu disse para o Ryan que vou ser o Bob Esponja!
— Esquece! Como você é burro! — fala brava e vira-se pra frente. Seguro meu lápis confuso. Por que ela ficou tão irritada? O que foi que eu falei?
— Menos conversa! — diz a professora Jones. — O tempo está passando, apressem-se!
[...]
— Posso me sentar aqui? — pergunto segurando o meu lanche. levanta o olhar e assente. — Me desculpe, eu não sei o porquê você está brava comigo. Eu só disse que a Marie Jane é namorada do Homem-Aranha.
— Tudo bem, . — morde sua maçã.
— E que namorados são nojentos! — faço uma careta.
— Não são nojentos! — nega. — É romântico. Como nos contos de fada. — suspira. — Você acha seus pais nojentos?
— É claro que não! — digo. — Eles são casados, é diferente.
— Bom... — dá mais uma mordida na sua maçã. — Talvez quando a gente crescer, vire um também. Escutei mamãe dizer isso pro papai.
— Ela disse? — pergunto curioso. Me lembro do que o papai falou sobre como nos sentimentos feliz quando a pessoa que amamos sorri. Eu adoro ver o sorriso da . Será que eu amo ela? Eu só sabia que amava o papai e a mamãe, é tão confuso.
— Uhum... — assente. — E que você cuidaria muito bem de mim, e me protegeria sempre. O papai concordou dizendo que gosta de você e que você seria um bom... Como ele disse mesmo? Genro!
— Poxa! — murmuro surpreso. — Então um dia você vai querer se casar comigo?
— Eu vou sim! — ela sorri tímida. E isso por algum motivo faz com que eu sorria também. — Um dia eu vou me casar com você, , eu prometo.
Meu coração nesse momento acelera e sei que estou envergonhado. Eu acho que gosto dela, mas apenas acho.
Capítulo 2
Eu espero que você realmente esteja bem. Eu enviei tantas cartas e mensagens, mas você parece me ignorar. Foi algo que eu fiz ou disse? Por favor, me dê apenas um sinal de que não se esqueceu de mim. Você se sente incomodada comigo? Não sei quantas cartas enviei, já foram duas por dia nos últimos oito meses. Se você não quer mais nada comigo, eu entendo, mas por favor, não precisa agir como se fossemos estranhos.”
narrando — Aos 13 anos.
— Por que você está irritada? — tento acompanhar os passos de , mas ela é mais rápida enquanto caminha com seus livros na mão. As pessoas continuam andando pelo corredor sem se importar com qualquer coisa ao seu redor. — O que eu fiz, ?
— Não me chame de ! — grita. Quase esbarro nela quando para de repente. — Por que não vai dar apelidos carinhosos para sua nova amiguinha?
Ergo a sobrancelha. Ela estava se referindo à nova aluna que chegou na sala?
— Eu só estava sendo educado, . — explico. Não sei o porquê devo alguma explicação, mas sinto a necessidade de fazer. — Ela não conhece ninguém e estava perdida.
— Posso ver! — sorri. Mas não é o seu sorriso normal. É um sorriso irônico. — Já pode arranjar um emprego como guia escolar, hm?
— O que? — digo confuso. Penso por um instante em sua reação e um sorriso surge em meu rosto, enquanto um pensando me atinge. — Você está com ciúmes, ?
— Ciúmes? — gargalha. — Você acha que eu ficaria com ciúmes de você com aquela garota? Só porque o cabelo dela é bonito? Ou porquê ela uma mochila de rodinhas? Oh! Ou quem sabe pelo modo que ela ficava sorrindo para você?
Ainda com um sorriso no rosto, cruzo os braços vendo-a confessar de certa maneira seu ciúme. E não me incomodo por estar feliz, pois como ela, algumas vezes, eu não posso evitar sentir o mesmo.
— Você fica tão fofa com ciúmes! — digo. — Suas bochechas ficam rosadas, e dá uma imensa vontade de apertar!
— ! — bato o pé ficando vermelha. Gargalho abraçando-a de lado.
— Você sempre vai ser a minha garota favorita. — admito. Porque é a verdade, não importa quantas meninas eu conheço ou ainda irei conhecer, sempre será a minha favorita.
— Marquei de tomar sorvete com a Ashley. — se afasta tímida depois de escutar o que eu falei. — Falo com você depois.
Assinto vendo-a se afastar rapidamente. Sorrio caminhando rumo ao meu armário.
[...]
— ! — minha mãe grita enquanto pauso o jogo do Super Mário. Me levanto da cama e corro até as escadas. — está aqui! Vou pedir para ela subir.
Surpreso por não saber que ela viria hoje, corro para o meu quarto pegando minhas meias sujas em cima da cama e colocando-as embaixo dela. A roupa dobrada em cima do armário me lembra que esqueci de guardá-las quando minha mãe mandou, então apenas jogo tudo dentro do guarda-roupa.
— ? — entra no quarto. — Eu sei que você estava tentando limpar o seu quarto, você não me engana!
— Eu não estava não! — minto sentando-me. — Por que está aqui?
— Você não queria que eu viesse? — seu olhar agora está triste. Me arrependo de ter parecido rude. Odeio quando pareço ser grosso com ela quando isso é a última coisa que eu pretendo.
— Eu só não sabia que você iria vir. — explico. — Mas estou feliz que veio. Quer jogar Mario Bros?
— Não... — murmura sentando-se na beirada da cama. — Eu quero falar com você sobre uma coisa...
— Tudo bem — digo. — O que aconteceu?
— Quando eu fui tomar sorvete com a Ashley, ela me disse uma coisa... — enrola um fio de cabelo em seus dedos. Olho-a confuso. Ela quer fofocar comigo?
— Que coisa? — Não posso deixar de perguntar, pois agora estou curioso.
— Ela disse que estava andando de bicicleta com o Tony — refere-se ao menino da escola um ano mais velho que a gente. — E que quando ela caiu, ele ajudou ela.
— Mas ele fez certo! — falo perdido. — Ele a ajudou, o que tem de errado nisso?
— Espera eu terminar de falar! — se irrita.
— Desculpe! — peço. — Pode continuar.
— Como eu ia dizendo, ele estava ajudando ela... — olha seus dedos. — E ela disse que ele acabou beijando ela.
— Beijando ela? — sussurro espantando. — Na...
— Uhum! — assente. — Na boca.
— Poxa! — murmuro surpreso. Ashley ficou com um menino mais velho que ela, com certeza todo mundo irá comentar na escola quando souberem. — Mas porque você está me dizendo isso?
— Porque eu queria saber uma coisa... — me olha tímida. Eu adoro quando fica envergonhada, porque suas bochechas são gordinhas e a deixa extremamente fofa. — Você não tem curiosidade?
— Sobre o quê? — não entendo sobre o que ela está falando.
— Você sabe... — dá de ombros. — Em saber como é beijar.
Penso por alguns instantes. Meu pai me disse que beijar é normal quando se gosta de alguém, mas acho que nunca parei para pensar sobre isso. Jogar vídeo game sempre me pareceu mais interessante.
— Não! — sou sincero. me encara e sua expressão parece mudar. — Mas se fosse para beijar alguém, eu gostaria que fosse alguém que eu gosto. — admito.
— Sério? — sorri. — Quem, por exemplo? — questiona ao me olhar.
— ! — respondo referindo-me a aluna nova. — Ela é muito bonita!
— Ah, ! Eu também beijaria vo... ? — se levanta rápido. — ? — cruza os braços. — Bom, eu espero que quando você beijar a , ela escove os dentes para não te passar bactérias, seu bobão! — grita quando ao sair do meu quarto. Ainda confuso, observo a porta se bater.
Mas o que eu fiz dessa vez para irritá-la? Sei que ela sente ciúmes, mas eu não pensei nisso no momento em que falei, e agora me arrependo.
— Querido? — minha mãe abre a porta e impulsiona seu rosto para dentro. — Está tudo bem? parecia chateada quando saiu.
— Eu não sei! — confesso. — Ela me fez uma pergunta, e quando eu respondi, saiu brava.
— E eu posso saber qual pergunta foi? — encosta-se na porta.
Começo a explicar para ela desde a chegada de até sua partida. Sobre como ela fica quando menciono a aluna nova ou qualquer outra pessoa e o beijo.
— Sabe o que eu acho, querido? — aproxima-se e senta ao meu lado. — Acho que a gosta de você.
— Eu também gosto muito dela. — sorrio, sincero.
— O gostar que eu falo é aquele andar de mãos dadas — me olha. — Assim como eu e o papai.
— Você acha? — pergunto surpreso.
— Eu acho — minha mãe sorri. — E acho que você também gosta dela da mesma maneira.
— Eu não sei... — murmuro brincando com os meus dedos. — Sim, acho que gosto! — admito envergonhado quando paro para pensar sobre o assunto.
Nunca parei para pensar na forma que eu gostava de , tudo o que eu sabia era que gostava. Tudo nela me deixa feliz. Eu gosto de sua gargalhada exagerada, o modo que ela fica vermelha, ou quando desvia o olhar em momentos que está envergonhada. Gosto até mesmo quando ela me faz brincar de “tarde do chá” com ela, pois quando ela sorri, eu não sei o porquê, mas me faz sorrir também.
— Vocês dois ainda são novos. — acaricia meus cabelos. — Mas quando há amor de verdade, é apenas uma questão de tempo.
Assinto, refletindo sobre suas palavras. — Obrigado, mamãe.
— De nada, meu amor. — beija o topo da minha cabeça. — Agora vamos descer, o almoço está pronto.
[...]
— Você precisa somar o x. — tento explicar a tarefa para antes do sinal bater. Ela entrar na metade do período não fora uma boa ideia, porque agora precisaria se esforçar para acompanhar o ritmo da turma. — Se você começar agora, talvez dê tempo de terminar até a professora chegar.
— Eu realmente não entendo muito de matemática. — lamenta. — Obrigada pela ajuda, . — sorri. — Você é um garoto muito legal.
— Sem problemas. — dou de ombros. — Se você ainda não entender, pode pedir ajuda para o meu amigo Ryan, ele é fera em matemática.
sorri empolgada. — Eu vou falar com ele, sim! O sinal está demorando para bater...
— Às vezes, ele dá problema e acaba que ninguém escuta quando ele bate. — o lápis que segura cai. Me agacho para pega-lo, mas não vejo quando ela faz o mesmo.
— Peguei! — digo quando o lápis já está sobre minhas mãos, mas acaba colocando sua mão sobre a minha, e nesse instante, a sala é invadida por muitos alunos que nos encaram antes de gritar.
— Estão namorando! Estão namorando! e são namoradinhos! Quando estou prestes a dizer que não, vejo me encarar e algo dentro de mim para, porque a conheço o suficiente para saber que o modo que ela me olha mostra como está chateada. Ashley está ao seu lado, e quando sai apressada da sala, sua amiga faz menção de acompanhá-la, mas impeço-a dizendo que eu irei atrás dela.
E eu vou. Sigo até o pátio da escola chamando por seu nome, mas ela parece não me ouvir, ou se ouve, me ignora.
— ! — chamo-a. — Espera, !
— o quê? — grita parando bruscamente. — O que você quer? Não deveria estar com a sua namorada? — cruza os braços.
— Ela não é minha namorada! — nego. — Eu só estava ajudando-a com a tarefa de matemática!
— Com a mão na dela? E desde quando você se tornou professor? — questiona. — Uhum, eu vi! Mas quer saber? Eu também não me importo!
— Ah, não? — sorrio parando bem à sua frente. — Então porque você parece irritada?
— Porque você é um idiota, bobão! — bate o pé irritada. — Você é como todos os meninos, burro!
— O quê? — os meninos não são burros. — Eu não sou burro! Por que você está falando isso?
— Viu? — revira os olhos. — Deixa pra lá!
— Eu sei porque você ficou assim — digo. — Você gosta de mim...
— É claro que gosto... Você é meu amigo — murmura começando a ficar vermelho. Meu Deus! Como eu adoro-a envergonhada.
— Não! — nego.
— Você não é meu amigo? — seus olhos agora estão marejados. Ah, não! Ver chorar é pior do que perder para Ryan no meu jogo favorito.
— O que eu quero dizer, é que você gosta de mim para namorar. — arrisco. pisca sem reação. — Quer dizer... Tudo bem você gostar de mim assim... Sabe? — engulo em seco. — Porque eu também gosto de você para namorar.
— Gosta? — sussurra. Apenas assinto colocando minhas mãos atrás das costas e olhando-a. — Mas o quanto você gosta?
— O suficiente para isso! — toco meus lábios no dela. Eu fico com os olhos abertos, sem saber o que fazer direito, mas fecha os olhos. Ela pousa sua mão no meu ombro e seus lábios parecem se encaixar no meu. É estranho, e ao mesmo tempo novo, então fecho os meus olhos apenas para aproveitar o momento.
Quando se afasta, seu rosto está totalmente vermelho, e acho que o meu provavelmente está da mesma maneira ou pior.
— Você gostou? — sussurro.
— Gostei muito... — ela assente, sorrindo tímida.
— Então vamos tentar de novo — sugiro. solta uma risadinha e então concorda voltando a me beijar. É realmente uma sensação maravilhosa. E agora eu entendo porque as pessoas costumam fazer tanto.
Capítulo 3
“,
Hoje eu estava na sua antiga casa. Sabe o que eu vi? Nosso nome gravado na velha árvore do seu quintal. Ainda está intacto, apesar de todos esses anos. Ryan me diz que eu devo parar de escrever, porque você não quer mais saber de mim. E apesar de no fundo concordar com ele, sinto que eu ouvir isso vindo de você, . Você não quer mais saber de mim? Por favor, eu só quero que você me responda, mesmo que seja para terminar com tudo.”
— Esse é o meu namorado! — ouço o grito de da arquibancada logo após eu marcar uma cesta. Viro-me na direção dela e jogo um beijo vendo algumas garotas ao redor revirarem os olhos. Mas eu não me importo, porque no mesmo instante minha garota finge pegar o beijo no ar e leva a mão até o coração.
Volto para o meio da quadra e Ryan passa por mim batendo no meu ombro.
— Bela cesta! — grita agora longe. Eu sorrio fazendo sinal de positivo para ele e o jogo reinicia.
No final, acabamos ganhando, mas a diferença fora pequena. Levantando a barra da minha camisa para enxugar meu suor, noto alguns olhares sobre minha barriga. desce da arquibancada e caminha até mim entrelaçando seus braços ao redor de meu pescoço.
— Belo jogo! — sorri elogiando-me.
— Eu estou fedendo! — aviso ao segurar sua cintura com uma das mãos e segurar seu rabo de cavalo com a outra. — Você era a torcedora mais bonita da arquibancada — sorrio beijando sua bochecha.
— Jura mesmo que você não notou as outras torcedoras? — me olha divertida.
— Aquelas loiras ao seu lado gritando meu nome? — brinco. — Eu juro que não notei!
— Bobo! — bate no meu ombro. — Eu vou te esperar na saída, tudo bem? — me dá um rápido selinho.
Concordo vendo-a se afastar para a saída e caminho até o vestiário, onde alguns do meu time ainda estão. Pegando minha toalha na mochila, seco o meu rosto e retiro meu uniforme.
— ! — Ryan sai do banho. — Hoje à noite tem uma festa na casa de Brad. — refere-se a um dos jogadores do time. — Você vai?
— Não posso! — nego entrando no banho. — Os pais de vão sair, e eu vou ficar com ela esta noite.
— Hm. — Ryan sorri malicioso. — Só vocês dois? Já até imagino!
— Como você é idiota! — reviro os olhos prendendo o riso. — Vamos cuidar do irmão mais novo dela. — digo, apesar de não dever explicação alguma. Não gosto da maneira como acham que precisa ter necessariamente uma relação sexual quando duas pessoas estão juntas. Elas estão porque se gostam, não precisam necessariamente de algo a mais para que isso seja colocado em evidência. Eu e nunca discutimos sobre isso, mas eu conheço-a o suficiente para saber que ela não está pronta, e nem eu. Irá acontecer no momento certo e sei que isso nos levará para um nível ainda mais íntimo.
— Tudo bem! — Ryan fala enquanto passo o sabonete pelo meu corpo. — Falando nisso, eu queria te falar uma coisa.
— Estou ouvindo! — grito por conta do barulho do chuveiro.
— Acho que estou interessado na Ashley... — desligo a água só para que Ryan repita novamente.
— Como? — abro o box encarando-o. Ele agora está vestido e sentado em um dos bancos.
— A gente vem conversando há alguns dias. — dá de ombros. — Ela é uma garota legal!
— Sim, ela é! — confirmo. — E também é melhor amiga da minha namorada — lembro-o. — Então se você magoar ela... — faço uma careta. — Você está ferrado!
— Que horror, ! — parece ofendido. — Até parece que uso alguém, principalmente garotas! — diz. Me arrependo de ter falado isso, porque ele tem razão. Ryan não é do tipo que acha que precisa ter várias namoradas para se dar bem, ele na verdade raramente sai com alguém, acho que é por isso um dos principais motivos de nossa amizade, eu o conheço o suficiente para entender como ele funciona, e ele me conhece o suficiente para saber como eu sou.
— Tá, legal! — suspiro. — Só espero que essas meninas não me venham com ideia de encontro de casal — reclamo.
— Deus me livre! — levanta-se fazendo uma careta. — Já sou obrigado a aguentar você todos os dias na escola e na minha casa, preciso de uma folga!
— Há, há, há. — forço uma risada pegando minha toalha. — Como você é engraçado!
[...]
Quando encontro na saída, ela conversa com uma garota que está de costas para mim, ao me aproximar, percebo que é e isso me surpreende, porque geralmente não ousa ficar perto dela.
— Olá meninas! — interrompo a conversa. me olha com uma expressão aliviada, e acho que está feliz que eu tenha atrapalhado a conversa.
— ! — sorri. — Eu estava falando para o quanto você jogou bem, parabéns pela vitória!
— Obrigado, ! — agradeço. Puxo para o meu lado abraçando-a de lado. — Como vai o seu pai?
— Bem melhor. — suspira. Eu sabia que ele estava enfrentando um câncer em estado avançado. Era apenas e seu pai, e me deixava triste saber que ela poderia perder a única pessoa que tinha há qualquer momento. — Mas acho que não há mais nada para fazer.
— Entendo, — assinto. me aperta e sei que ela está desconfortável. — Bem, nós vamos indo. Até segunda! — me afasto enquanto entrelaço minha mão com a de .
— Até! — sorri. — Tchau, !
— Tchau! — não se vira ao menos para se despedir. Não sei porque ela implica tanto com , apesar de já ter deixado claro várias vezes que eu gosto e quero apenas ela.
— Na próxima vez, você poderia ser menos grossa. — sugiro, depositando um beijo nas costas de sua mão.
— Eu não fui grossa! — defende-se. — Eu apenas não consigo fingir ser algo diante de quem eu não gosto. Você sabe disso!
— Eu sei! — abraço seu pescoço enquanto caminhamos até o estacionamento. — Mas educação não mata ninguém, baby.
— Cala a boca! — se esquiva irritada. Eu rio, porque eu gosto desse jeito dela, mas não confesso, porque isso lhe daria moral demais. — Seus pais sabem que você vai passar à noite lá em casa?
— Sim, senhora! — afirmo. — Minha mãe está trazendo minha mochila, e nos levará até sua casa.
confirma abraçando-me pela cintura. Seu queixo se firma contra o meu ombro enquanto acaricio suas costas. Eu adoro seu cheiro de jasmim, espero que ela jamais mude sua flagrância. De longe, posso avistar Ryan e Ashley conversando, e prendo o riso com a cara boba que ele transmite.
— Do que você está rindo? — levanta o rosto para me olhar.
— Eu não estou rindo! — nego segurando seu pescoço.
— , eu te conheço! — morde minha bochecha. — Me diga porque está rindo!
— Eu só acho engraçado, eu e você. — dou de ombros. — Ryan e Ashley.
dá um largo sorriso. — Eles não são fofos? Isso me lembra a gente no começo, quando percebemos que gostávamos um do outro. Você foi muito lerdo!
— Lerdo? — bufo. — Eu estava me fazendo de difícil! — brinco.
— Aham! — gargalha ao me beijar. — Você foi muito difícil, amor! Isso me faz pensar em algo...
— Em que? — questiono curioso.
— Encontro de casais! — grita animada. Ah, não! É tudo o que eu menos queria ouvir.
[...]
— Obrigado pela carona, mãe! — viro-me para olhá-la. Ela sorri e inclina-se para me dar um beijo.
— Obrigada, tia Pattie. — sai do carro e para na calçada para me esperar.
— Sem problemas, crianças! — sorri. — Se precisar que eu venha te buscar, ligue-me. — me encara, e então dá uma olhadinha para . — E comportem-se... solta uma risadinha envergonhada e encara seus pés, eu fico do mesmo jeito ao sair do carro.
— Não se preocupe, mãe. — ajeito a mochila sobre meu ombro. Ela acena e então acelera sumindo de nossas vistas. Viro-me para e encontro a mesma me observando com seus grandes olhos. — Tudo bem? — questiono me aproximando.
— Tudo ótimo! — ela sorri colocando os braços em volta do meu pescoço. — Estou apenas feliz que você esteja aqui.
— E onde mais eu poderia estar? — sorrio beijando seus lábios. é tão independente sobre tudo, que quando ela se mostra vulnerável, é a chance que eu tenho para demonstrar o meu sentimento. agarra minha nuca e me beija rapidamente antes de se afastar. Posso ver em seus olhos um brilho que faz minhas pernas bambearem. E é nesse momento em que eu sei que não posso perder essa garota, porque perde-la significaria perder uma parte de mim. — Eu amo você, . — suspiro.
morde os lábios hesitante antes de abrir um largo sorriso. — Eu também, . Eu também...
Capítulo 4
Eu pisco atordoado quando ouço suas palavras. Por um momento, minha garganta seca e fico sem reação. olha para o chão como se estivesse envergonhada.
— Por quê? — é tudo o que consigo formular. Por que ela precisa cursar uma faculdade do outro lado do país? Nós temos uma faculdade bem aqui!
— Eu quero conhecer o mundo, . — murmura. — Quero sair dessa pequena bolha onde vivemos e ver como são as coisas em lugares diferentes.
Por um lado, entendo sua visão das coisas. A cidade em que moramos é pequena, e a maioria dos jovens quando tornam-se adultos decidem saírem daqui. Mas isso nunca foi algo que me disse. Nunca.
— ... — suspiro bagunçando meus cabelos. — Isso é tão ferrado! Não estamos falando de meia hora de distância. São horas! E por quanto tempo? Três anos?
— Quatro... — revela. Me sento na beirada da minha cama sem saber o que lhe dizer. Como posso falar que não quero isso? Como posso dizer que estar longe dela é como uma faca cravada no meu coração? Como posso magoá-la desse jeito, e o mais importante, que tipo de pessoa eu seria se impedisse-a de realizar seus sonhos? Não é isso o que devemos fazer, apoiar quem amamos?
— Eu vou sentir sua falta. — murmuro. — Eu vou sentir sua falta pra caralho!
— Vai dar tudo certo, baby. — se aconchega no meu colo. — Eu vou te ligar todos os dias enquanto estiver longe. Será como se eu nunca tivesse partido.
— Você promete? — deito minha cabeça em seu peito. Fecho os meus olhos sentindo seu cafuné.
— Eu prometo. — sei que ela está sorrindo. — Você não vai me esquecer, certo?
Rio baixo com sua pergunta estúpida.
— Como se eu fosse capaz disso. — respondo sincero.
Aperto contra mim e ela deixa sua cabeça sobre a minha. A parte egoísta dentro de mim quer trancá-la no meu quarto e não deixá-la sair nunca mais. Quero acordar todos os dias da minha vida ao seu lado e lembrá-la o quanto é amada. Não sei como será a vida escutando apenas sua voz.
— Eu poderia te pedir para ir comigo... — começa. — Mas sabemos que isso não acontecerá.
Não digo nada, pois é verdade. Na mesma intensidade que eu a amo, também amo o lugar onde nasci e fui criado. Não posso abandonar meus planos. Ir para a faculdade local, me tornar um professor, quem sabe, e cuidar dos meus pais.
— O que acontecerá se você não quiser voltar, ? — levanto o rosto para olhá-la, porque preciso saber disso. E se ela não voltar mais?
— Se isso acontecer... — acaricia meu rosto. — Significa que eu fui estúpida o bastante para te perder e que você não me merece. — beija a ponta do meu nariz. — Se eu não voltar, , nunca me perdoe por isso. Siga em frente e encontre alguém que jamais te deixará por motivo algum.
Suas palavras não me confortam. Não sei o porquê ela diz isso, mas não falo nada. Tudo o que consigo pensar é como sobreviverei a isso.
[...]
— Bom, é o último ano de vocês. — o professor Graham nos observa. — Gostaria que cada um de vocês escrevesse uma carta. Escrevam sobre o que esperam do futuro ou como estão se sentindo. Ou vocês podem falar tudo o que desejam, mas nunca tiveram coragem. — batuco minha caneta na mesa.
— Até mesmo dos professores que não gostamos? — alguém pergunta no fundo da sala atraindo risadas.
— Sim, Matt! — o professor revira os olhos. — Vocês irão me entregar as cartas dobradas, e eu as guardarei.
— E qual é o motivo disso? — minha garota questiona.
— Faremos uma cápsula do tempo? — pergunta confusa.
— Iremos nos basear em uma, — o professor responde e logo olha . — O objetivo disso, , é que vocês não se percam. Se um dia, algum de vocês não souber o que fazer da vida, ou questionar sobre suas escolhas, poderão voltar aqui e ler a carta que escreveram. Talvez isso os ajudará a voltar para o caminho que estavam.
Acho a ideia uma baboseira, mas não digo nada. Ryan parece pensar a mesma coisa, pois está quase dormindo enquanto Ashley acaricia suas costas.
Quando acabo de escrever minha carta, dobro-a em quatro partes e levanto para deixá-la sobre a mesa do professor. No caminho de volta até a minha, passo pela carteira de e posso ver apenas o desenho de um coração com o nome de seu pai dentro. Isso me deixa triste.
perdeu o pai para o câncer no verão passado. Ela agora vivia com uma tia, mas todos viam a diferença em seu comportamento. simplesmente vive sem existir. Ela não sorri mais ou dá aqueles risinhos que atraem a atenção da sala toda fazendo-a se envergonhar. Então direciono meu olhar para , que ainda escreve sua carta e me pergunto se também perderei a alegria quando ela partir. E percebo que isso é uma droga fodida quando me sento em minha cadeira. Eu entendo você, Abby.
[...]
— Quando éramos pequenos, nossos pais sempre estavam ali para nos guiar. — meus olhos alcançam diretamente os meus sentados em uma das fileiras. — Eles estão ali para nos amar, proteger e nos ensinar a viver para o mundo um dia. — sorrio vendo minha mãe tentando evitar de chorar. — Eles quase nunca sabem se estão fazendo um bom trabalho ou não. — todos prestam atenção em mim. — E perdem a cabeça quando fazemos besteira. — atraio risadas. — Vejam bem, meu melhor amigo Ryan. — aponto para o cara de beca. — Apostou uma vez comigo se eu teria coragem de comer um rolo de papel higiênico. É claro que eu não consegui comê-lo inteiro, e isso resultou em uma noite no hospital. — sorrio com a lembrança negando com a cabeça. — Acho que meus pais só não me mataram porque estavam mais preocupados no dia — digo. — Mas aquilo nos ensinou que nunca mais deveríamos fazer isso. Certo, Ryan?
— É isso aí, cara! — grita e a plateia gargalha.
— O que eu quero dizer, é que iremos errar muitas vezes. Haverá dias em que tudo ficará confuso e seremos testados na vida. — suspiro. — Nós podemos nos perder no caminho, ou seguir um errado. Podemos esquecer para onde estamos indo, ou talvez ainda não saber. Mas no final, encontraremos um que nos levará exatamente onde será necessário. E vocês foram essenciais para quem somos hoje. — aponto para os meus pais. — Obrigado por nos tornarem quem somos. E boa sorte para nós, formados 2016! — jogo minha beca sendo acompanhado pelos outros formandos e com uma salvação de palmas.
[...]
— Seu discurso foi tão incrível! — me beija apaixonada. Aperto sua cintura saboreando seu gosto. — Você tem ideia de como estava sexy naquele palco?
— Eu tenho um pouco, sim. — brinco beijando seu pescoço. Ela dá uma risadinha fazendo meu coração aquecer. Céus, como sentirei falta dela!
— Eu sei o que você está pensando. — segura meu rosto e me encara. — Somos apenas nós esta noite, . — fica na ponta dos pés e encosta sua testa na minha. — Eu quero lembrar de hoje para sempre.
— Você não entende o quanto preciso de você. — sussurro contra sua boca. — Vou sentir tanto a sua falta.
— Eu estou aqui agora. — agarra meu pescoço. — Eu estou aqui dando tudo de mim pra você, . Preciso que faça o mesmo.
E eu faço.
Passo a língua sobre os lábios e abro o zíper de seu vestido que se encontra em suas costas. Ela cheira meu pescoço enquanto deixo cair seu vestido no chão. não tem nada por baixo. Nada. Prendo o ar admirando-a. Ela é tão bonita em todas as malditas coisas. Como posso ficar sem isso?
— Não pense sobre isso. — sussurra. — Por favor, não pense sobre isso agora. Apenas me dê tudo de você. — me ajuda a tirar o meu terno. Quando estou totalmente despido, ela cola seu corpo ao meu. É tão bom sentir sua pele em contato com a minha, que por um momento me perco e abraço-a querendo que esse momento dure para sempre.
— Eu sempre dou, amor, eu sempre dou... — deito-a na cama vendo-a abrir suas pernas para me receber.
— Eu não tenho uma camisinha aqui comigo. — digo lembrando-me agora.
— Não se preocupe, há uma na primeira gaveta — sorri tímida. Arqueio uma sobrancelha.
— É bom saber que você está preparada. — vou até a cômoda e abro a gaveta encontrando a camisinha.
— Bom… é que... Você sabe... — ela fica vermelha. — Eu esperava por nós... que acontecesse… Você sabe!
Sorrio com sua tentativa de explicar.
— Tudo bem, amor. — rasgo a embalagem. — O que importa é o agora. — inclino para beijá-la e desço para acariciar seu colo. — Só o agora. Promete que sempre teremos um ao outro? — sussurro.
— Eu prometo. — beija o meu ombro.
Mas ela nunca cumpriu...
Capítulo 5
É estranho estar de volta ao lugar em que passei minha vida inteira. Eu amava essa pequena cidade, e por muito tempo, ela fora o motivo da minha felicidade. Mas agora, enquanto observo a casa que cresci, tudo parece me corroer por dentro. Não que eu esteja infeliz em estar aqui, mas quando lembranças que você quer apagar mais que tudo insistem em voltar, tudo parece se tornar horrível demais para suportar.
A porta da frente se abre e meus olhos logo encontram com o da minha mãe que, apesar das circunstâncias, me recebe com um sorriso no rosto.
— Ah, querida! — desce as escadas da varanda sorridente e me abraça. — Eu falei que você não precisava se preocupar.
Aperto-a em torno de mim fechando os meus olhos. — Mamãe... — sussurro baixo. Me sinto horrível por não visitá-la em tantos anos. Me sinto horrível por fazê-la achar que eu não me importava mais com a minha família. Me sinto horrível por estar aqui por um motivo tão desastroso, e não porque a amo. — Eu sinto muito. — engasgo em um soluço.
— Tudo bem, amor. — afaga meus cabelos. — Tudo bem...
Então eu desabo em lágrimas, porque sei que mais uma vez, eu estou prestes a perder tudo de novo.
— Eu sinto tanto, mamãe. — soluço enquanto ela segura meu rosto entre suas mãos. — Eu não queria abandonar nenhum de vocês. — nego. — Mas foi tão difícil... Tão difícil!
— Shh. — encosta sua testa na minha. — Você sempre será minha garotinha, , eu sei que você deve ter seus motivos para fazer o que fez, jamais culparia você por algo.
— Eu senti sua falta. — digo. — Todos os dias.
Ela sorri, mas posso ver em seus olhos a tristeza. E isso é algo que eu nunca me perdoarei, ter escondido as coisas das pessoas quando elas poderiam ter dividido a dor comigo também, porque sei que faria parte da vida delas.
— Vamos entrar. — me puxa para a varanda. — Seu pai irá chegar do trabalho logo e Teddy está no vídeo game. Eles sentem sua falta.
Reprimo o choro mais uma vez. — Eu também senti falta deles.
Quando entramos em casa, um flash me atinge. Sei que é a mesma casa, mas tudo está diferente. A sala não é mais da mesma cor, e os móveis parecem novos e modernos. Olho ao redor buscando algo que eu lembre, mas não há. Tudo mudou, e me pergunto o quanto.
— Vocês reformaram a casa. — observo. — Ficou bonito.
— Obrigada, querida. — sorri. — Nós não saberíamos fazer isso, foi . Ela se tornou uma decoradora. Lembra-se dela?
Assinto levemente. — Ela fez um belo trabalho. — admito, apesar de nunca ter gostado dela. Talvez fosse implicância boba.
— E ela não cobrou nada por isso! — fala animada. — Você está com fome? A viagem foi longa, você deve estar cansada. — caminha até a escada. — Teddy! — grita. — Desça aqui!
— O professor che.... — Teddy para ao me ver. — ? — sussurra.
Olho para o meu irmão mais novo com admiração. Ele mudou completamente. Está quase da minha altura, e as feições de um adolescente. Com certeza faz sucesso entre as meninas, porque sua beleza é indiscutível.
— Hey! — sorrio fraco. — Você não vai me dar um abraço? — questiono sorridente.
Ele caminha relutante até mim. Sei que deve estar confuso, já que a última vez que nos falamos fora por telefone há muito tempo. Teddy para na minha frente e dou um passo abraçando-o.
— É… Bom ver você. — sussurra baixo.
— É bom ver você também. — bagunço seus cabelos. — Você cresceu! Mais uns anos e estará maior que eu.
— Você só vai saber se não for embora de novo. — diz.
— Teddy! — mamãe o repreende.
— Está tudo bem. — digo para ela, porque sei que ele não fez de propósito.
— Vou para o meu quarto. — ele olha para mamãe. — Quando o professor chegar, pode pedi-lo para subir?
— É claro, querido. — sorri. — Vou preparar um lanche para vocês.
[...]
A cozinha também está diferente. Parece que estamos em um programa de culinária da televisão, porque é moderno demais. Sentada no balcão, olho ao redor tentando lembrar-me de como era antes.
— fez isso também? — questiono para minha mãe enquanto ela prepara o café.
— Sim! — ferve a água. — Ela faria apenas a sala, porque queríamos um ambiente mais aconchegante, mas seu pai gostou tanto, que pediu para ela decorar a casa toda.
— Entendo... — confirmo. — Por que Teddy precisa de um professor particular?
— Ele está mal em uma matéria e quer entrar pro time de basquete da escola. — explica. — Precisa tirar um B na próxima prova, e então o professor que também é treinador do time se ofereceu para ajudá-lo.
— Foi gentil da parte dele. — sorrio.
Mamãe apenas assente enquanto termina o café. Mordo meus lábios enquanto balanço minhas pernas observando-a. Sei que preciso confrontá-la sobre sua saúde, e sobre como ela se sente. Quero saber o que os médicos falaram, e se ela está se tratando. Dizer que ela não precisa se preocupar com o dinheiro, porque eu cuidarei de tudo. E acima de tudo, quero dar a ela uma explicação do porquê parti sem nunca voltar, mas não sei se ela ainda está pronta para isso. Ou talvez seja apenas uma desculpa, porque no fundo, quem pode não está pronta sou eu.
— Sei o que você está pensando, querida. — cruza os braços. Olho para ela como se acabasse de ser pega de uma travessura. — Você acabou de chegar, apenas vamos deixar esse assunto para mais tarde, tudo bem?
— Tudo bem, mamãe. — sussurro incapaz de contradizê-la.
Ficamos por alguns segundos em silêncio observando uma a outra. Quando os olhos dela piscam em lágrimas, um aperto no coração me atinge.
— Você não pode mais fazer isso, . — nega. — Eu e seu pai morríamos um pouco mais a cada dia com você longe. — suspira. — Uma ligação há cada dois meses? Você realmente acha que isso era o suficiente? — pergunta. Fico em silêncio porque não sei como começar a explicar. — Você é nossa filha. Nós te amamos, não houve um dia em que nosso sentimento tenha mudado. Mas eu preciso que você me diga, você vai estar aqui para o seu pai e seu irmão? Porque eu preciso que alguém cuide deles, .
— Eu vou, mamãe. — fungo. — Eu prometo. Nunca mais vou sair do lado de vocês.
Ela assente. Sei que pode estar duvidando da minha palavra, mas farei de tudo para mostrar que dessa vez eu estou aqui para ficar. E sei o quanto doeu nela me perder por tanto tempo, porque compartilho da mesma dor.
— Como vai as coisas por aqui? — pergunto tentando mudar de assunto. — Você tem notícias de Ashley?
— Ela se casou dois anos depois que se formou — sorri. — É mãe de dois meninos. Às vezes, encontro-a fazendo compras, é uma mulher feliz.
Sorrio fraco feliz por ela. — Com quem ela se casou?
— Ryan — diz. — Ele abriu uma empresa de contabilidade e ajuda seu pai com as contas da oficina. É um bom rapaz. Amanhã é aniversário dele, fomos convidados.
— Estou feliz por eles. — sou sincera. — Eles merecem.
Minha mãe fica em silêncio. — Por que ele não veio? — pergunta.
Fico confusa com sua pergunta, até perceber do que se trata.
Henry.
— Ele... — engulo em seco. — O pai dele está se candidatando para o segundo mandato da campanha, e ele precisou estar junto.
Mamãe assente. — Você nunca fala muito sobre ele. — me encara. — E nunca trouxe-o para nos conhecer.
Puxo uma lufada de ar tentando não entregar minha dor ao falar sobre ele. — Ele não tem muito tempo, mamãe. — dou de ombros. — Você sabe, com o pai senador, ele precisa ficar perto sempre. Mas ele sabe sobre vocês. — afirmo. — Eu sempre disse.
— Bom. — assente. — Você sabe, por um minuto achei que você tinha vergonha de nós.
— Não é nada disso! — nego.
Ah, mamãe! Se você soubesse que no fundo eu tenho vergonha de mim mesma não falaria uma coisa dessas, penso. Se você soubesse o que me tornei, as coisas que fiz, você seria a única a se envergonhar.
— Agora que você diz, eu sei. — ela sorri. — Mas antes, eu não sabia. — me olha. — Quando você irá se abrir, ? Quando irá contar o que realmente aconteceu?
— Eu não posso, mamãe. — sussurro. — Dói ainda, entende? — afago o meu peito. — E por mais que eu saiba que preciso falar disso com vocês, há uma pessoa que merece ser o primeiro a saber.
— Se você está falando de , preciso que saiba de algo, . — começa. Apenas a menção em seu nome faz meu corpo tremer. Eu sabia que não podia evitar nada em relação sobre ele assim que colocasse os pés de volta nessa cidade, mas pensar como seria e sentir, é completamente diferente.
— Como... — respiro fundo. — Como ele está?
— Eu não sei se devo dizer. — me olha desculpando-se. — Não tenho o direito de falar sobre a vida dele assim, depois do que você fez.
— Por favor, mamãe. — imploro. — Eu só preciso saber se ele está bem, por favor!
Ela me olha com pena antes de assentir. — Ele está bem. — confirma.
— Ele tem outra pessoa? — dói perguntar isso, mesmo que eu não tenha nenhum direito mais sobre ele e imaginando o quanto ele deve me odiar por tudo.
— , não vou mais responder nada, me desculpe. — nega. — Se você quer saber, vá até ele e pergunte.
— Eu não posso! — grito.
— Por que? — questiona.. — Por que você não pode?
— Porque eu sei que o destruí. — choro. — Eu sei que ele nunca vai me perdoar, mamãe, não importa o quanto eu diga que sinto muito. Eu posso implorar pelo perdão dele, mas no fim, não importa o que eu faça, nada mudará o que fiz. — digo. — Mas como eu podia dizer a ele que o que fiz me tornou um monstro? Eu poderia ter voltado como se nada tivesse acontecido, mas ainda assim, iria me corroer por dentro esse segredo. — fungo. — Se eu contar, eu vou destruí-lo de novo, mamãe — abaixo a cabeça. — Não posso fazer isso. — nego. — Não posso.
— Você nunca vai saber se não disser. — minha mãe se aproxima e segura minhas mãos. — Aquele menino te amou desde que você era uma garotinha, . Você não estava aqui para vê-lo quando partiu, mas eu estava. Ele parecia apenas existir, mas não vivia mais, entende? — me olha. A imagem de um sofrendo por minha causa me assombra. — Eu vi aquele menino passar dia após dia pela frente da minha casa com a esperança que você estivesse de volta. Eu vi ele com os olhos vermelhos de tanto chorar, e vi quando apenas em escutar o seu nome fazia-o querer morrer. — suspira. — Se você precisa dizer algo a ele, apenas diga, , e deixe-o decidir se quer perdoá-la ou não.
— Ele não vai me perdoar. — fungo. — Como ele poderia mamãe, quando nem eu consigo me perdoar?
— Deixe-o decidir isso. — limpa minhas lágrimas.
O som da campainha ecoa fazendo-me dar um pulo de susto.
— Acho que é o seu pai. — sorri.
— Pode deixar que eu atendo. — tento mudar minha expressão e desço do balcão ansiosa para vê-lo.
Corro até a porta da frente e abro com um enorme sorriso que logo se desfaz. O homem à minha frente está olhando seu relógio no pulso, mas logo que levanta o rosto para me olhar, parece estar em choque.
— ... — sussurro. Quero pular nos braços dele e dizer que não deixei de pensar nele um minuto sequer.
— É o seu pai, Sele... — minha mãe surge atrás de mim. ainda está me olhando, e não sei dizer o que se passa em sua cabeça. — Olá, . — pigarreia. Ele olha para ela e de volta para mim.
— Diga para Teddy que não poderei ajudá-lo com a matéria hoje, Sra. . — passa as mãos pelo seu cabelo enquanto dá um passo para trás, me ignorando completamente, como se eu nunca existisse, então ele vai.
Mas não antes que eu enxergue a dor em seu rosto e a aliança em seu dedo. E é quando eu sei, que não importa o quanto eu me arrependa das escolhas que eu fiz, nada jamais será como antes ou parecido. Porque eu o perdi no dia em que matei nosso bebê e escolhi deixá-lo para sempre.
Capítulo 6
Há momentos na vida em que absolutamente tudo o que você formula é dominado pelo “e se”. Quando a pessoa que mais amei me deixou, o “e se” passou a fazer parte de todos os meus questionamentos. E se ela se apaixonar por outro homem, o que eu farei? E se ela ficar doente do outro lado do país, quem cuidará dela? E se eu morrer antes de ligar e dizer que a amo? E se ela perceber que não me ama mais? Mas havia uma pergunta que me assombrava mais que qualquer outra. E se ela nunca mais voltar?
Então, nos primeiros dias, recusei-me a deixar que essas perguntas me amedrontassem. Na primeira semana que ela parou de me responder, busquei desculpas para ela. Dizia a mim mesmo que ela deveria estar ocupada com a faculdade, estava tentando se adaptar em um novo lugar, buscando manter a cabeça lúcida longe da família. Porém, minhas desculpas para ela cessaram-se depois de um ano. Fora o pior da minha vida. Tentei usar nossas lembranças mais felizes para me convencer que não havia acabado. Não aceitei que ela pudesse ser totalmente o avesso do que eu acreditava que era. A garota que eu conhecia jamais me deixaria sem respostas. Mas ela deixou.
Quatro anos.
Esse fora o tempo que passei escrevendo para ela, dia após dia, na esperança de uma resposta, mesmo que fosse uma simples palavra. Mas não aconteceu. Eu vi minha vida ruir. Veja bem, eu não estava morto, mas existir sem ela parecia apenas uma obrigação. Não era viver.
Todos me disseram para seguir em frente. Supere-a. Eles falavam. Mas como você supera algo tão grande como este? Como você aceita viver sem aquilo que o fazia se sentir único no mundo? Ela não vai voltar. Diziam. Eles acham que eu não sabia disso todo santo dia, quando corria até a caixa de correio e não havia nada dela?
No dia em que finalmente entendi que havia a perdido, eu chorei. Chorei por tudo o que nunca teríamos. Eu não me casaria com ela na pequena Igreja da cidade, e nem a veria carregar meu bebê. Não seria o rosto dela que eu veria todos os dias ao acordar. Eu não faria uma surpresa para ela no dia do nosso casamento, e não veria seus olhos brilharem ao falar que a amava. Não faríamos sexo de reconciliação depois de uma briga, e nem abriríamos juntos os presentes de Natal.
Então eu simplesmente aceitei. Foi simples assim. Parei de olhar para o passado e me recusei a deixar que minha vida fosse guiada por lembranças que não voltariam mais. Eu decidi que não viveria mais em base dos “e se”. Até essa manhã, quando ela abriu a porta de casa e me olhou como se me conhecesse. Quando olhei em seus olhos e percebi que ela ainda era a mesma garota que eu conheci. E apesar de sentir que quero saber o porquê ela voltou, sei que não me importa mais, porque mesmo vendo em seus olhos que nada mudou, para mim, tudo havia mudado sim.
— Você sabia que está de volta? — entro no confortável escritório de Ryan. Ele levanta o rosto para me encarar, parece confuso, então julgo que ele ainda não sabe.
— está de volta? — confirma minhas suspeitas. — Eu não sabia de nada, , eu juro.
Suspiro puxando a cadeira para trás e me sentando. — Ao que tudo indica, sim. — confirmo. — Cheguei para as aulas extras de Teddy e ela simplesmente abriu a porta! Dá pra acreditar, Ryan? Porra! Ela ainda me olhou como se...como se...
— Como se? — me incentiva.
— Como se nada houvesse mudado, Ryan. — nego com a cabeça. — Que cara de pau!
— ... — Ryan me encara. Ele parece pensar bem antes de prosseguir. — A verdade é que vocês precisam conversar. — olho-o cínico. — Você sabe disso! Vocês precisam colocar um ponto final nisso.
— Esse ponto final foi colocado a partir do dia em que ela escolheu me tirar da vida dela, Ryan. — lembro-o. — Não acho que temos mais o que falar depois disso.
— Olha... — suspira. — Eu não estou dizendo que o que ela fez foi certo, muito pelo contrário. Eu vi como você ficou sem ela, eu vi como Ashley ficou sem ela! Mas e se houver mais? E se houver um motivo que ela nunca contou? — pressiona.
— Como o que? — altero minha voz. — O que de tão grave a fez simplesmente jogar tudo pro alto e abandonar as pessoas que mais a amavam? — me levanto irritado. — Eu não preciso de um motivo quando ela mostrou-o com atitudes. — Você tem razão, ! — Ryan assente. — Eu só não quero que aquele sem vontade de viver retorne.
— Ele não irá! — garanto. — Porque agora sim eu tenho uma vida Ryan. Eu tenho alguém que jamais me deixará e que eu sei que precisa de mim tanto quanto eu preciso dela. — ele concorda.
— Você vem para meu aniversário, certo? — me olha. — Ashley fará sua torta preferida.
Sorrio. — É claro que irei! — confirmo. — Agora eu preciso ir, minha mulher não pode ficar sem sua torta de limão.
Ryan gargalha. — Ainda bem que já passei por essa fase. — brinca. — Mande um beijo para ela.
— Um beijo, não. — rio. — Um abraço, quem sabe.
— Ciumento! — ouço-o quando saio da porta. Mas não me preocupo em discordar.
[...]
Quando chego em casa, sou recebido por um silêncio. Coloco a torta de limão que carrego na cozinha e subo as escadas indo para o quarto principal. Entro e vejo-a sobre a cama, respirando pausadamente agarrada a um travesseiro. Sorrio com a imagem. Retiro meus sapatos e subo na cama, abraçando-a por trás.
— ? — sussurra sonolenta.
— Estou aqui, baby. — beijo seu ombro. — Volte a dormir.
— Você trouxe minha torta de limão? — boceja.
— Você acha que eu iria esquecer? — afundo meu rosto em seus cabelos, que cheiram a hortelã. — Agora durma mais um pouco.
— Dorme comigo. — pede baixinho. Sei que ela já está caindo no sono mais uma vez.
— Eu não vou a lugar nenhum.
— Ponto de Vista.
— Por favor, Ashley! — imploro quando ela fecha a porta na minha cara. Volto a socar a porta, numa maneira de chamar sua atenção. — Por favor, deixe-me explicar!
Sei o quanto ela deve me odiar por ter sumido. Mas quero minha amiga de volta, preciso que ela saiba os motivos que me levaram a fazer o que fiz, e que possa ao menos me perdoar. A porta se abre em um estrondo e dou um passo para trás assustada.
— As crianças estão dormindo, se elas acordarem porque você está socando a porta, eu soco sua cara! — me fuzila.
— Tudo bem. — sussurro. — Só me deixe falar com você.
Ela me olha furiosa, mas sei que também está curiosa e confusa. Então ela se afasta, dando-me espaço para entrar. Quando entro, estou um pouco sem jeito. Sei que tudo mudou, mas espero que ela ainda possa ser minha melhor amiga.
— Seja rápida! — fecha a porta. — E eu não são tão rancorosa, pode se sentar.
Assento sentando-me no sofá. O ambiente é agradável, apesar de vários brinquedos estarem espalhados pela sala.
— É uma bela casa. — elogio olhando ao redor.
— Obrigada. — sorri orgulhosa. — Você se lembra de ? Foi ela que decorou. Ficou maravilhoso! Acho que combina comigo.
Tento reprimir uma irritação. — Parece que ela andou decorando muitas coisas. — murmuro.
— Ela é ótima no que faz. — Ashley se senta distante de mim. — Então, o que você faz aqui?
— Me desculpe. — olho em seus olhos. — Eu sei o quanto você deve me odiar.
— Não! Eu não odeio! — nega veemente. — Não somos mais adolescentes. Eu tenho uma família, não tenho tempo para odiar os outros.
Suspiro. — Eu só preciso que você saiba que eu não quis fazer nada disso. — ela me olha curiosa. — Mas eu estava tão perdida. — nego. — Eu não queria voltar depois do que aconteceu. Eu não podia olhar para as pessoas e vê-las me encararem como se eu fosse uma pessoa boa, porque eu não sou mais.
— Do que você está falando, ? — diz confusa. — Apenas diga o que precisa e eu decido se posso ou não perdoar você por ter sumido da face da terra! Por ter abandonado seus amigos, sua família, o cara que faria tudo por você e uma cidade que te adorava.
Lágrimas começam a se formar em meus olhos. Porque sim, eu tinha tudo isso e agora restava apenas a mágoa e decepção das pessoas sobre mim.
— É uma história longa. — sussurro.
— Sorte a sua que eu tenho tempo. — se recosta no sofá.
Então eu começo a contar tudo. Detalhadamente. Desde o dia em que fui para faculdade. Contei sobre minhas decisões, meus medos, as escolhas que julguei que talvez pudesse ser o melhor para todos, mas que acabaram não sendo. Compartilhei minha dor, meus arrependimentos e a maneira como nunca consegui parar de me culpar. Confessei sobre como me tornei uma pessoa horrível, e como isso afetou tudo ao meu redor. Quando terminei, Ashley me olhava com uma expressão que eu não sabia decifrar. Eu só esperava que ela não me expulsasse.
— Ah, garota! — me puxou para um abraço apertado. — Você não deveria ter passado por isso sozinha. — um soluço acaba escapando e é inevitável segurar as lágrimas quando ela afaga meus cabelos. — Eu senti sua falta, . Senti falta da minha melhor amiga todos os dias.
— Eu também senti a sua. — choro. — Me desculpe, Ashley.
— Agora eu entendo. — seca minhas lágrimas. — Meu Deus! Eu não consigo me imaginar no seu lugar, e ainda mais sozinha. Sem as pessoas que te amam para te apoiar, sem o homem que você amava.
— Ele vai me odiar. — fungo dizendo a mim mesma que ainda preciso reunir coragem para falar com ele. — Você não viu, Ashley. Mas ele me olhou como se eu nem existisse, doeu tanto.
— ... — suspira. — O que você conheceu não é mais o mesmo. — diz. Olho-a confusa, buscando uma explicação. — Quer dizer, ele ainda é o mesmo, mas ele seguiu em frente. — me olha com pena. — Quanto antes vocês resolverem o que precisam, mais rápido poderão colocar um ponto final nessa relação.
[...]
Depois de ficar horas conversando com Ashley e buscar colocar em dia tudo o que aconteceu durante todos esses anos, finalmente tomei coragem e pedi o endereço de Justin, para onde eu estava dirigindo no momento. Eu não sabia como falaria com ele e nem como começaria a explicar o que precisava, mas eu estava determinada a fazê-lo me ouvir. Eu não pude evitar sorrir quando percebi que ele escolheu morar uma rua depois dos pais, ele sempre fora atencioso com eles e isso de certa forma não me surpreendeu.
Estaciono a Picape do meu pai na calçada, observei a casa que ele morava e algo que me atingiu. Uma casa bonita, com uma enorme varanda e um belo jardim na frente. Nesse momento, eu não me importei se tinha alguém ou não, eu só queria a chance de esclarecer as coisas e convencê-lo de que não houve um dia em que não pensei nele.
Caminho apressada e subo as escadas da varanda batendo na porta. Escondo minhas mãos no bolso de meu moletom e espero. Sei que ele está em casa, porque há um carro na garagem. Bato na porta mais uma vez, e quando estou prestes a bater novamente, aparece com a cara um pouco amassada.
— O que você faz aqui? — pergunta irritado. Abro a boca tentando formular uma resposta, mas nada me sai. — Eu vou repetir. O que você faz aqui? — questiona pausadamente.
— Eu preciso falar com você. — digo.
— Você não acha que essa conversa deveria ter acontecido há seis anos? — ruge. — Vá embora!
— , por favor. — peço. — Vamos conversar. Você não era assim!
— Eu não era assim? — ri cínico. — Você não sabe de nada, . Faça esse favor a você mesma, dê o fora daqui!
— Não! — grito irritada. — Você precisa me ouvir!
— Eu não preciso ouvir nada. — nega. — Vá embora, ou eu chamo a polícia.
Olho para ele chocada, duvidando se ouvi mesmo isso. — Desde quando você se tornou um idiota? — me enfureço.
— Quem está na porta, querido? — meu corpo gela quando ouço uma voz atrás dele.
— Volte para dentro, amor. — sua voz muda, ele fala com ela gentilmente. — Sua torta de limão está na cozinha.
— Eu ouvi gritos — ouço ela dizer. Sua voz agora está perto, e sei que ela está se aproximando. Uma parte de mim quer vê-la, quer entender porque ele é gentil com ela e porque me machuca perceber o amor em sua voz. Mas outra parte diz para mim ir embora antes que eu a veja e não deixe a imagem dele com outra pessoa ser gravada em minha memória. me olha como se desse tempo para que eu fosse. Porém não vou. Não. Mesmo que isso me faça egoísta, mesmo que me torne mais horrível do que já sou. Quero vê-la, quero que ela saiba que eu sempre serei a única para ele. Que não importa o que aconteça, eu fui a primeira em tudo.
A porta se abre mais, e dá espaço para que ela apareça. Então eu a vejo. O cabelo castanho preso despojadamente. Os olhos azuis me olhando timidamente. Ela está vestida com uma camiseta que julgo ser dele. Ela é familiar. Sei que a conheço e a resposta vem quase imediata.
É .
— Olá, . — sussurra. Eu vejo apertar a mão dela e encará-la preocupado, e meu Deus, isso é como uma faca me atingindo por dentro, porque ele a olha exatamente como costumava me olhar, cheio de amor e ternura. Mas nada me atinge mais quando as mãos dela se movem protetoramente até sua barriga, é quando eu percebo. Eles terão um bebê.
Capítulo 7
Ainda estou parada observando-os. O modo protetor que os braços de a envolvem me lembra como ele costumava me segurar. A maneira como eu me sentia protegida, acolhida e segura. Eu me lembro de como poderia morrer em seus braços, e estaria feliz. Então, como? Como eu deixei isso simplesmente perder-se?
— Você quer entrar? — quebra o silêncio. Pisco surpresa e posso ver fazer o mesmo.
— Não acho uma boa ideia... — ele começa. — já estava indo, não é mesmo? — me olha insistente. Não sei o que responder, porque ao mesmo tempo que desejo ir embora e não ver o homem que sempre amei com outra, sinto que preciso deixá-lo saber de tudo.
— Deixe-a entrar, querido. — sorri para ele.
Odeio seu tom de voz! Quero odiá-la por ser carinhosa com ele. Por ter mudado a casa dos meus pais completamente e feito com que eles a adorassem. Quero odiá-la por ter ocupado o meu lugar de melhor amiga de Ashley, e acima de tudo, quero odiá-la por estar no lugar que eu sonhava em estar. E só Deus sabe, o quanto eu odeio que ela esteja carregando um bebê de , quando isso deveria ter sido o meu papel, apenas o meu!
solta uma respiração e sei que ele não irá discordar dela. Eles então entram, e os sigo hesitante. É uma bela casa por dentro também, e tenho certeza de que foi que decorou tudo. Um bile se forma na minha garganta quando ela me convida para sentar.
Por que ela está sendo gentil comigo? Lembro-me de como costumava tentar evita-la sempre na escola. O modo como ela olhava para , e eu sabia! Sabia que tinha algo a mais naquele olhar.
— Você deseja um café, ? — pergunta-me. está com os braços cruzados encostado na parede.
— Um café seria bom. — assinto. Mas eu só quero que ela vá para que eu possa falar com em paz.
olha para mais uma vez, eles parecem conversar pelo olhar, e eu odeio isso! E então, ela desaparece no corredor.
Engulo em seco quando estou a sós com ele. Levanto o rosto para olhá-lo, e posso vê-lo me analisar com curiosidade. Respirando fundo, me levanto e dou alguns passos até a instante, onde há várias fotografias.
— Você tem uma bela casa. — digo observando as fotos. Há e pescando em uma, em outra eles estão em um churrasco com Ashley e Ryan. Eles parecem contentes em todas, com um sorriso sempre no rosto. Quando paro em outra, que está no canto, sinto raiva. Eles estão com Tedd em seu aniversário de quinze anos. Reprimo um rosnado, dizendo a mim mesma que são apenas fotos. Muitos casais não são realmente felizes, eles tentam passar isso para os amigos, mas dentro de casa as coisas podem não ser como nas fotos. Eu entendo bem disso. Sim! Sei exatamente como é viver por aparência com alguém. Isso me traz um certo alívio, mesmo fazendo-me egoísta.
— Vá direto à porra do assunto, ! — diz baixo. — Não ache que eu estou feliz com você dentro da minha casa, mas só Deus sabe o que eu não faria pela minha mulher, então vá direto ao assunto!
— J-ustin... — engasgo nas palavras. — Por que... Por que você me trata assim?
— Você está brincando comigo? — ri irônico. — Sim, você só pode estar brincando comigo!
— Eu só quero a chance de consertar as coisas — sussurro. — Eu quero minha vida de volta, ! Odeio como tudo mudou.
— Você não pode tê-la, . — nega suspirando fraco. — Por anos eu desejei uma resposta. — me olha. Vejo em seu rosto a dor que causei, e isso me destrói. — Eu dizia a mim mesmo que isso ia passar, sabe? A dor. — dá de ombros como se estivesse lembrando.
— E passou? — pergunto. Me aproximando dele. — Porque eu ainda a sinto, . Todos os dias!
Ele não me responde, apenas desvia o olhar como se eu pudesse lê-lo como costumava fazer, e isso me faz querer chorar, porque eu não posso mais. Solto uma longa respiração e me sento no braço do sofá buscando um ponto fixo para olhar.
— Isso não importa mais. — ouço-o. Olho para ele esperando que continue. Ele dá de ombros. — Nós mudamos, . Eu não sou mais quem eu era com você, e tenho certeza de que você também não é.
— E se você estiver errado? — questiono.
Ele ri discordando. — Eu parei de usar o termo se há muito tempo quando se trata de nós. Porque se fosse mesmo real tudo o que tínhamos, você teria voltado.
— Como você pode falar isso? — grito. — Era real! Sempre foi!
— Não grite dentro da minha casa, porra! — se irrita.
— Você não tem o direito de falar essas merdas! — retruco-o. — Você sabe tão bem quanto eu, o que tínhamos sempre foi real, . Foi a melhor coisa do mundo.
— Acho que está na hora de você ir embora. — caminha até a porta. — Isso não irá nos levar a lugar algum. — abre-a. — Adeus, !
— Eu vim aqui para falar com você! — bato o pé. — Não vou sair até me ouvir!
Quando está prestes a falar algo, entra na sala com uma bandeja de café. O rosto irritado de desaparece ao caminhar até ela.
— Por que você não me chamou, baby? — tira a bandeja das mãos dela e coloca no centro da mesa. — Você poderia ter se queimado!
revira os olhos sorridente. — Eu já disse que não sou uma inválida! — ela me encara acariciando sua barriga. — é protetor demais. — ri. Sim, eu sei. Ele costumava ser assim comigo. — Fico feliz que esteja de volta à cidade, . — sorri.
— Eu também — digo estreitando os olhos. Não consigo parar de olhar para a sua barriga quando serve um café, e acho que ela percebe.
— É uma menina — diz alegre. — Anne .
Rá! Algo que ela não é boa, escolher nomes! O primeiro defeito da lista.
— Um nome... diferente. — digo para não falar besteira.
— Foi que escolheu — fala. Apago seu defeito da lista mentalmente. — É uma junção de nossos nomes. Não foi fofo?
Sinto um ódio surgir dentro de mim. E isso me lembra . O gato que encontrei na rua quando era pequena e dei a ele o nome que também era a junção do meu com o de . Acho que ele acaba pensando o mesmo, porque me olha engolindo um seco.
— Sim, muito fofo! — digo com um gosto amargo na boca.
— Ofereça a ela um café, ! — ela beberica o dela. — Que bom que você veio, . Não posso beber café todos os dias, então é uma desculpa para fazer.
me serve. E um sorriso brota em meus lábios quando percebo que ele não se esqueceu de como gosto do meu café.
— De quantos meses você está? — pergunto curiosa.
— Entrei no oitavo mês essa semana. — fala animada. Minha barriga estaria desse tamanho também aos oito meses? Pergunto-me. — Mal posso esperar para pega-la em meus braços!
— Eu imagino — penso no meu próprio bebê e sinto meu peito se apertar. Nunca soube se seria um menino ou menina. Não houve tempo de descobrir.
Dou um gole do meu café reprimindo um soluço. Se eu tivesse feito as coisas diferentes, seria eu carregando o bebê de , quero dizer. Seria eu nessa maldita casa, sendo a esposa dele e carregando seu sobrenome. E percebo que apenas sinto a necessidade de odiar porque queria o lugar que é dela. Me sinto tão egoísta quando entendo isso, mesquinha e pequena.
— É legal você ter vindo visitar, — olha-o. — Não é, querido?
— Sim... — diz sorrindo para ela, mas sua expressão muda ao me encarar.
De repente, é demais estar aqui. Sinto que não posso fazer isso.
— Preciso ir. — me levanto. — Obrigada pelo café. — coloco de volta a xícara na bandeja apressada.
— Já? — pergunta. — Você acabou de chegar.
— Ela deve ter compromissos, baby. — esfrega os ombros dela.
Você não perde uma chance para me mandar embora, certo ? Quero gritar para ele. Idiota, maldito! Mas não ache que eu estou desistindo, não aceito ficar no escuro para sempre.
— Sim, ele está certo. — finjo um sorriso. — Não precisam me acompanhar até a porta, e mais uma vez, obrigada pelo café.
Não dou tempo para que eles falem qualquer coisa, simplesmente saio em disparada. Mas eu não vou recuar. Só preciso de um tempo para formular o que farei.
[...]
Cinco dias se passaram desde que fui até a casa de . Quando cheguei em casa naquele dia, tudo o que consegui fazer foi chorar. Eu sabia que não tinha direito algum, mas ainda assim, parecia tudo tão injusto. Como eu tinha tudo, e de repente, nada?
Agora estou sentada na pequena lanchonete da cidade pensando o que farei da minha vida. Eu não tenho uma casa, apesar de saber que meus pais não se importarão comigo junto deles. Não tenho dinheiro, um emprego, e nem uma maldita formação!
— Seu milk-shake, . — Tom coloca-o em cima da mesa.
— Obrigada — agradeço. Ele continua parado, me encarando. — Algum problema, Tom?
— Não... — ele discorda a cabeça e abre um sorriso. — Você sabe, você fez falta menina. Espero que fique bastante tempo.
— Pode ter certeza de que irei, Tom. — sorrio. — Será que seu milk-shake ainda costuma ser como antes? — brinco.
— Ah, menina! Pode ter certeza que sim — ri. Dou uma sugada no canudo sentindo o gosto de chocolate.
— Maravilhoso! — sou sincera. — É exatamente como me lembro.
Tom sorri. — Esse é por conta da casa — se afasta.
— Não, Tom! — discordo. — Deixe-me paga-lo por isso!
— Pode esquecer. — fala atrás do balcão. — O próximo você pode pagar. — pisca. Rio, porque sei que é um motivo para que eu volte.
O sino da porta se abre anunciando um cliente que acabara de entrar. Suspiro e continuo bebendo meu milk-shake quando uma mão pousa no meu ombro. Congelo, em pânico nos poucos segundos que se seguem.
— ? — respiro aliviada quando percebo que é .
— Você me assustou! — quase grito.
— Desculpe. — sorri tímida. — Você está bem? — me olha confusa.
— Estou. — assinto tentando parar de tremer. — Você me assustou, só isso.
— Sinto muito, . — senta-se à minha frente. — Desculpe, acabei não perguntando se poderia sentar aqui.
— Tudo bem — minto.
— Com essa garota ficando cada vez maior, fico cansada há todo instante — sorri colocando a mão na barriga. Apenas assinto, sem dizer nada. — Eu sei que você não gosta de mim.
Arregalo os olhos ao ouvi-la. — O quê?
— Tudo bem — ri. — Eu sei disso há bastante tempo já — dá de ombros.
— Hmm — murmuro.
— Quer dizer, você não gostava de mim na época da escola, isso não deve ter mudado, certo? — questiona. Tom nos interrompe quando sorri para .
— O mesmo de sempre, querida?
— Com certeza, Tom! — sorri para ele. — Eu e minha garotinha não trocamos seu suco de abacaxi por nada!
Tom ri alegre. Sério? Até ele lambe o chão que ela pisa? — Fico feliz em saber disso. E como está a pequena ?
— Inquieta. — resmunga brincalhona. — Ela me chuta durante a noite toda, e só parece querer saber do pai — bufa.
— Parece que já temos uma garotinha do papai. — concorda sorridente.
Fico apenas ali, sendo uma plateia enquanto eles entram em uma animada conversa. Até que finalmente Tom nos deixa a sós.
— Parece que ele gosta muito de você — digo.
— E eu dele — ri. — Afinal, é o Tom!
Assinto, porque acho o mesmo. — Então... Acho que já vou indo.
— Eu queria conversar com você, prometo não tomar muito do seu tempo — pede. Por dentro me contorço, não quero estar no mesmo ambiente que ela.
— Tudo bem — cedo. — E sobre o que seria?
— Sei que você ainda ama .— arregalo os olhos com suas palavras. — Tudo bem, , não precisa fazer essa cara. — ri negando.
— Eu... — engulo o seco. Será que é adequado ter essa conversa com ela?
— Olhe, não estou querendo te atingir ou nada disso. — olho em seus olhos e sinto que é sincera. — Eu realmente entendo, sabe? É fácil amá-lo — sussurra. — Como não poderia ser? Ele é... — dá de ombros.
— Sim, ele é... — não preciso que ela diga para que eu entenda. — Só não entendo porque estamos tendo esse tipo de conversa.
— Porque eu vi no exato momento em que você estava na porta da minha casa que ainda não acabou o que vocês tiveram. — diz. — E acho que vocês precisam colocar um ponto final nisso.
— Você realmente está falando isso? — questiono. Essa garota precisa ter algum defeito, porque estou ficando entediada dessa perfeição toda. — Você não deveria, sei lá, me dizer para ficar longe do seu marido?
ri. — E você ficaria se eu pedisse?
— Não. — sou sincera. Ela assente pensativa. — Mas ele não quer falar comigo, então isso não importa muito.
— é teimoso! — bufa. — Mas uma hora ele cede.
Eu não me lembro dele ser assim, então acho que preciso aceitar o que ela diz.
— Você não tem medo? — encaro-a. — De perdê-lo?
— Todos os dias. — sorri triste. — Mas eu estava lá quando você foi embora. — diz firme. — Eu o vi destruído, . E você nunca vai saber como era, porque só entenderia se o visse. — diz. Mas eu entendo sim, porque eu estava da mesma maneira. — E eu o amo desde que eu me lembro, . Como eu disse, é tão fácil amá-lo, não é? — assinto. — Eu respeitava vocês dois juntos. Tentei nunca demonstrar meus sentimentos, e mesmo que isso acontecesse, eu sabia que não mudaria nada. Ele amava você acima de tudo. Como eu poderia competir? — sussurra. — Então você partiu, e não ache que isso me deixou feliz, porque não deixou. — continua falando enquanto apenas a ouço. — Eu sabia como era perder alguém que você ama. — fala. Lembro-me de seu pai, que morreu de câncer quando ela ainda era jovem. — Então, eu apenas estive lá por ele.
— E vocês acabaram juntos. — digo cética.
— No primeiro ano, ele dizia seu nome enquanto dormia, sabia? — funga. — Será que ele não iria te esquecer? Eu me perguntava. Valia a pena lutar por um homem que não conseguia esquecer o primeiro amor? Mas então, eu percebi, . — me olha. — Eu não deveria tentar ocupar o seu espaço, eu deveria tentar criar o meu. — dá de ombros. — Quando percebi isso, tudo começou a fazer sentindo. Fiz de tudo para que criássemos nossa própria história, não pense que falarei isso para te magoar, porque não é, mas eu o convenci de que jamais o abandonaria.
Isso é como um tapa no rosto. E faz todo sentindo do mundo. Ele queria alguém que jamais o deixasse, e ela o provou que nunca seria como eu.
— Ele me odeia, . — digo com dor. — Vocês terão um bebê, e parecem felizes, não acho que isso seja algum ponto a favor para mim.
— Esse é o seu problema. — diz. — Você desistiu dele, e mesmo que eu não saiba o motivo, sei que você poderia ter lutado. — me olha. — Então, pare de continuar desistindo, . Porque se você ama, você luta.
Ela realmente estava me aconselhando a lutar pelo marido dela? — Você está praticamente me jogando para cima do seu marido, sabe disso, certo?
— Não — sorri negando. — Se você ama, você luta, . É isso que estou fazendo.
Então, percebo sua jogada. E tenho que admitir, ela é mais inteligente do que pensei.
— Você está dando a ele o poder da escolha. — afirmo, enquanto eu venho fazendo totalmente o contrário. Eu o pressiono para falar comigo, quando isso precisa partir dele. Agora começo a entender porque eles parecem dar certo.
Ela sorri. — É muito mais que isso. Estou oferecendo a ele o poder de ser feliz, . — diz. — Nós teremos um bebê em pouco tempo, e só Deus sabe como eu odiaria saber que ele está comigo apenas por obrigação. — suspira acariciando sua barriga. — Quero que ele esteja comigo porque aprendeu a me amar com o tempo, não porque sou a segunda opção. E eu sei que ele fará qualquer coisa por mim, assim como vem feito durante todo esse tempo. — sorri. — Mas eu o quero por completo, e não pela metade.
Assinto. — Ele vai ser um bom pai — sussurro. — Basta ver a maneira que ele te trata. — afirmo. Não posso deixar de me perguntar se ele agiria assim comigo também enquanto eu carregava o seu bebê.
Tom volta com o suco de e ela o agradece. Quando ele nos deixa a sós, observo-a bebericar um gole do suco e algo dentro de mim contorce. Será que eu a odeio? Não. Acho que não, acho que de alguma maneira, odiá-la se torna mais fácil pra mim, porque assim, terei alguém para colocar a culpa que é minha.
Sou egoísta. Sim, acabo percebendo isso. Porque essa mulher, grávida do homem que eu sempre amei, me diz para lutar por ele, mesmo que isso a destrua, e preciso dizer que ela é corajosa, porque se eu estivesse no seu lugar, faria de tudo para segura-lo.
— Você acha que ele me odeia? — pergunto. Seus olhos castanhos me observam. é bonita. Ela tem um certo rosto angelical, e acho que acabo entendendo porque se encantou por ela.
— Não — nega brincando com a borda do copo. — Acho que ele passou todos esses anos ressentido. Mas ódio é uma palavra muito forte, o que vocês tiveram foi grande demais, não acho que ele simplesmente tenha substituído isso.
Engulo em seco. — Você o faz bem, sabe? — é duro admitir isso. — Ele parece feliz com você.
— É porque somos, . — afirma. — E é por isso que estou nesse momento aqui, sentada na sua frente e falando que você não deve desistir dele, mesmo me doendo por dentro. Porque eu confio nele, entende? — me olha. — E porque, se for para ele realmente estar comigo, que seja sem a sua sombra o acompanhando a todo instante.
Confirmo com a cabeça, entendendo o que ela diz. E preciso dizer, uma parte de mim se alegra em saber que ele ainda parece pensar em mim. se levanta e coloca uns trocados na mesa.
— Diga a Tom que deixei um abraço. — se afasta.
— Eu digo. — falo. me olha mais uma vez.
— E ? — ajeita a sua bolsa no ombro. — Se ele resolver te escolher... — sua voz vacila. — Não o quebre novamente como você fez.
Pisco tentando não deixar que ela perceba meus olhos enchendo de lágrimas. — Não era minha intenção — nego. — Nunca foi.
Ela assente. — Eu sei. — sorri gentilmente. — Mas às vezes a gente pode quebrar alguém, mesmo que seja sem querer. E outra pessoa poderá estar lá para juntar os cacos quebrados.
Então, ela abre a porta e se vai. Porém, pela primeira vez, começo a pensar mais afundo. E se o problema não for me odiar? E se problema for que ele simplesmente seguiu em frente e não sinta mais nada por mim?
Capítulo 8
— Não se esqueçam do trabalho na próxima semana. — lembro meus alunos, que parecem eufóricos esperando o sinal bater. — Ele valerá um ponto para a prova, e sei que a maioria de vocês precisa desse ponto.
Digo e meu olhar para em Teddy, que parece perceber e engolir em seco. O sinal informando que a aula acabara toca e os alunos levantam-se pegando suas mochilas e correndo para fora enquanto acenam e se despedem de mim. Teddy pega sua mochila e espera todos saírem da sala para falar comigo.
— Tudo bem? — olho-o mexer suas mãos nervosamente.
— Eu só queria saber se você ainda irá me ajudar com a matéria. — murmura envergonhado. Teddy sempre fora um garoto inteligente, eu sabia disso, ele simplesmente era preguiçoso em certas matérias, e isso o prejudicava.
— Mas é claro! — confirmo. — O time exige boas notas, você sabe disso.
— Eu sei! — confirma. — Mas agora que minha irmã voltou...
— Sua irmã não interfere em nada, Teddy. — suspiro. — Minha única preocupação é você. — ele assente, mas sei que ainda tem algo a dizer. — Pode falar o que você está pensando, garoto. Você sabe que estou aqui para te ajudar.
— Eu encontrei minha irmã olhando para uma foto onde tinha vocês dois. — murmura. Engulo em seco tentando não deixar meus sentimentos transparecerem.
— Olha, Teddy. — respiro fundo. — Eu e sua irmã nos conhecemos há muito tempo, foi apenas isso. — digo mais a mim mesmo do que a ele. — Não se preocupe com isso, tudo bem?
Ele sorriu. — Obrigado, professor.
Dou um tapa de leve nas costas dele. — Sem problemas! Vá com cuidado.
— Irei! — caminha em direção a porta e desaparece sob meus olhos.
Logo após arrumar meu material de trabalho, jogo minhas pastas dentro do carro e sigo em direção à casa, mas não antes de parar em meus pais. Não importa quanto tempo passe ou o que aconteça, algo em mim sempre se sente seguro ao estar com eles. A sensação de aconchego é absurdamente grande, e eu só espero que minha preciosa filha se sinta do mesmo modo em relação a mim e .
— Querido! — minha mãe me recebe com um enorme sorriso assim que atravesso a cozinha.
— Hey, mãe! — abraço-a forte. Há menos de uma semana eu estive aqui, mas não consigo deixar de sentir falta de casa em alguns momentos. — Tudo bem por aqui?
— Tudo ótimo! — sorri largo. — Acabei de colocar seu bolo favorito no forno.
— Hm, dona Pattie. — passo a língua sobre os lábios. — Você está tentando me matar, só pode!
— Longe disso, querido! — ri. — Como estão as coisas? E onde está ?
— Está tudo bem. — sorrio fraco. — Eu a deixei hoje de manhã em uma cliente, mais tarde irei buscá-la.
Eu adorava o fato de que mesmo com a gravidez já avançada, fazia questão de manter seu trabalho ativo. Tentei convencê-la durante algum tempo a dar uma pausa para a saúde dela e do bebê, mas como seu trabalho não exigia esforço físico, o médico acabou revelando que não haveria mal algum. Eu, claro, fiquei à espreita nos primeiros meses para ver se realmente não afetava . Porém, ela continuava com seu sorriso no rosto e a cada consulta, nossa bebê parecia crescer cada vez mais e tornar-se saudável.
— Estou fazendo um casaquinho de crochê para minha neta. — minha mãe sorri orgulhosa e me leva para a sala. — E seu pai comprou uma roupinha para ela que diz “vovô babão”.
Não consigo evitar rir. — É bom saber que ela terá os avós para mimá-la. — digo sentando-me.
— Quem pode nos culpar? — senta-se na poltrona ao meu lado. — É nossa primeira neta! E espero que seja a primeira de muitas.
— Sua neta nem nasceu ainda e você já pensa em outros? — um riso escapa. — Vá com calma, mãe!
Ela dá de ombros, como se fosse permitido esses pensamentos, então não contesto, porque e eu sempre falamos em mais de um filho. Minha mãe faz um som com sua garganta e volto sua atenção para ela curioso.
— Eu andei conversando com Mandy... — começa. Solto um suspiro, porque sei onde essa conversa acabará chegando e não sei se estou disposto a tê-la.
— Como ela está? — não deixo de perguntar. Eu sempre nutri um carinho enorme por Mandy. Ela era como uma segunda mãe quando eu era mais novo.
Mamãe sorri triste. — Ela está mal. — informa. — Mesmo que ela negue, há coisas que não tem como esconder.
Assinto. — Deve ser difícil.
— Ela me contou que está de volta há alguns dias. — murmura.
— Sim? — digo não me importando. No fundo, não sei realmente se isso me atinge ou não.
— Meu filho... — coloca sua mão sobre meu joelho. — Mandy me contou que te procurou, mas você não foi muito atencioso com ela.
— Sério, mãe? — ironia está em minha voz. — Quer dizer, depois de tudo, eu devo simplesmente abrir a porta da minha casa para ela?
A verdade é que sei que algum dia serei obrigado a ter uma conversa com ela, tentar entender se posso ou não agir como se o passado não existisse mais. Porém, toda vez que penso sobre isso, não há como apagar as memórias que me rodeiam. Não há como esquecer os dias que pareciam um inferno quando ela se foi. Tentei entendê-la. Fui paciente. E a apoiei quando ela decidiu que queria estudar há milhares de quilômetros de mim. Me convenci de que o amor que sentíamos um pelo outro era o suficiente para que a distância não nos separasse. E então quando percebi que ela não voltaria mais, me questionei o que eu fiz que a levou a me abandonar dessa maneira.
Por que eu não fui o suficiente? Meu amor não fora grande o bastante?
Há algum tempo, isso me destruiria completamente, mas parei de agir com pena de mim mesmo e não olhar para trás.
— , você sabe o tamanho dessa cidade? — me olha. — Se ela está de volta para ficar, a chance de vocês se encontrarem é grande. Você não acha que uma conversa para resolver todas as questões que deixaram para trás está na hora? — aperta meu joelho.
Penso em suas palavras. — Não é como se fossemos ser amigos, mãe. — digo. — Você sabe o quanto foi difícil... O quanto foi difícil ficar sem ela? — sussurro. — Eu não posso...
Minha mãe me olha suavemente e sei que ela está entendendo o que sinto. — Você tem medo dela entrar de novo na sua vida e destruir você mais uma vez. — não é uma pergunta.
— Não posso correr esse risco, mãe. — coloco minha cabeça entre minhas mãos. — Por que ela não podia ter ficado onde estava?
Sinto minha mãe afagar minhas costas. — Você já pensou na possibilidade dela querer dar as respostas para todas as suas perguntas?
Confirmo com minha cabeça. Ao mesmo tempo que busquei por uma resposta durante todos esses anos, também tenho medo de ouvi-la.
— Minha mulher vai ter um bebê, mãe. — levanto meu rosto para olhá-la. — Não posso ter essas merdas de sobre mim. Não vou trair, , seja a maneira que for.
Ela me olha feio, sei que foi por causa da palavra merda. Mas acho que acaba dando-me um desconto por isso. — Querido, ouvir não significa trair . Muito pelo contrário.
— Como assim?
— Você já conversou com sobre como ela se sente sobre ? — pergunta. — Talvez colocar um ponto final com seja assegurar também.
Analiso suas palavras. — foi na minha casa. — começo. Minha mãe ergue a sobrancelha para que eu continue. — Acho que ela queria falar comigo, mas ficou surpresa ao ver .
— E como elas agiram? — pergunta.
— a convidou para entrar e até ofereceu um café. — digo, porque a gentileza da minha mulher sempre fora maior que qualquer outra coisa.
— Isso não me surpreende — minha mãe sorri, mas logo desfaz o sorriso. — E ?
— Ela disse que queria a vida dela de volta... — falo lembrando-me sua expressão. — parecia tão...
— Tão...? — me incentiva.
— Quebrada — sussurro recordando a expressão em seu rosto. — E agora eu percebo o quanto isso me incomoda.
— Por que você ainda ama ela? — reflito.
— Não... — nego. — Talvez. — engulo em seco. — Apenas não é como antes. Eu não espero mais nada dela e ela não tem o direito de exigir nada sobre mim. Mas sei que o olhar de tristeza em me incomodou, porque foi o que ela fez também comigo.
E então percebo que me afeta o fato de saber como é estar quebrado. Sei exatamente como é a dor de ter seu coração estraçalhado.
— Você sabe que tem sorte, querido? — minha mãe acaricia meus cabelos. — Porque eu vi você em seu pior estado. O quanto você sofreu sem ela. — reprimo um soluço que se forma em minha garganta. — Mas apenas a escute. Perdoe-a se você achar que é capaz, mas se não for, tudo bem também. Só não viva com a incerteza de como teria sido se não a escutasse, querido.
— Eu amo . — preciso falar isso em voz alta, porque de maneira alguma estou jogando para escanteio tudo o que tenho. — Não quero que ela fique chateada por qualquer coisa, mãe.
— Eu sei, meu querido — sorri gentil. — Mas é a garota mais doce que conheço. Ela te ama, sabe disso? — concordo. — E não há nada que me faça agradecê-la o suficiente por ter curado você.
Sim, me curou. Ela podia ter simplesmente desistido quando eu era nada além de um trapo de cara. Andando por aí com o semblante triste, incapaz de sorrir por qualquer coisa ou voltar a ser quem eu era antes. Mas então, ela me convenceu de que eu deveria me amar em primeiro lugar. Ela era sozinha, morava com uma tia que não era próxima o suficiente para fazê-la se sentir amada. Eu sabia que ela gostava de mim, isso era explícito em seus olhos. Mas como eu poderia seguir em frente com ela se eu ainda era amargurado em relação ao passado? Então, ela esperou. não exigiu nada e não me pressionou. Ela sabia que eu precisava de um tempo para me recuperar, e eu percebi que precisava de alguém ao meu lado que não me fizesse sentir medo de uma relação. Com , parecia que eu estava pisando em ovos há todo instante.
No dia em que escrevi a última carta para , foi o dia que eu fui liberto e segui minha vida. Suspiro pensando o que teria sido da minha vida se nunca tivesse intervido. Eu ainda seria o cara com coração partido? Onde eu estaria? Quem eu seria?
Essas perguntas não podem deixar de passar pela minha cabeça quando a porta da frente se abre, e sei que é o meu pai que acabara de chegar.
[...]
Quando estaciono na frente de casa, saio do carro retirando a chave e travando-o. Preciso buscar em algumas horas e isso me dá tempo para tomar um banho e refletir sobre algumas coisas. Mas quando olho para a garota sentada nas escadas da varanda da minha casa, o meu coração se agita. Ela está com os braços em volta de seus joelhos e cabeça baixa, mas parece perceber quando está sendo observada, porque seu rosto se levanta para me olhar. Seus olhos piscam rápido e parecem receosos.
Sei que mais cedo ou mais tarde, isso precisa acontecer, mas eu não esperava que fosse tão cedo.
Reunindo toda a força que tenho, suspiro fundo, incerto, mas caminho em direção a ela em silêncio e me sento ao seu lado. parece confusa com meu ato, mas brinca com suas mãos nervosamente enquanto mexo as chaves em minhas mãos.
— Me desculpe vir sem avisar. — sussurra.
— Tudo bem. — digo. Porque o quanto mais cedo termos essa conversa, mais rápido as coisas voltarão para seu devido lugar.
— Eu sei que você provavelmente me odeia, e não quer me ver, mas eu realmente preciso ter essa conversa com você. — ela parece não fazer uma pausa para falar. — E eu...espera. — me olha confusa. — Você não está bravo por eu estar aqui?
— Não — respondo suspirando. — Se é importante para você o que tem a dizer, então ouvirei.
Ela parece surpresa, como se estivesse preparada para algum tipo de luta.
— Bom. — morde os lábios. — Isso não foi como imaginei. — passa as mãos pela cabeça.
— Eu fui um pouco rude, certo? — sorrio envergonhado.
— Um pouco? — bufa. — Eu acho que meio que estava esperando por isso, na verdade. Você tinha esse direito.
Concordo voltando a mexer nas chaves que estão em minhas mãos. Não sei se devo convidá-la para entrar, apesar de já ter feito isso uma vez, sinto que é errado quando ela não está aqui.
— Não precisa se preocupar com isso. — diz. Olho-a confuso. — Sobre me convidar para entrar, posso dizer o que preciso aqui mesmo.
Limpo minha garganta. — Desculpe. — não sei apenas o porquê peço.
— Tudo bem, . — dá de ombros. — É sério! Você é fiel à sua mulher, e sinceramente, acho que sinto um pouco de inveja disso.
— O quê? — falo confuso. — Seu marido não foi fiel a você?
Sua expressão muda de repente. — Como você sabe sobre ele? — sussurra.
— Quem não sabe? — pergunto irônico.
Chega até a ser engraçado a maneira que ela age, como se eu a estivesse traído de alguma maneira quando segui em frente minha vida, quando ela fora a primeira a fazer isso.
— Você sabe que não tem como fazer hot-dog sem a salsicha, não sabe? — bufo empurrando o carrinho pelo corredor com Ryan ao meu lado.
— Mas eu não gosto de salsicha. — responde como se fosse óbvio. — Desse modo eu posso obter apenas o pão e talvez Ashley faça algum molho.
— Você é um idiota. — reviro os olhos. — Desde quando se faz uma noite de hot-dog se você não o come?
— Foi ideia da minha esposa. — explica. — E como faz tempo que você não aparece lá em casa, é a maneira que encontramos de você sair do seu casulo.
— Eu estudo muito. — murmuro chegando ao caixa. Há apenas uma pessoa na fila, e começo a descarregar o carrinho para colocá-lo na esteira.
— Você sempre diz isso. — fala.
— Bem, porque é verdade. — dou de ombros. Sei que ela não acredita, mas não me importa muito. Ryan para ao meu lado do caixa enquanto esperamos o homem da frente terminar de embalar suas coisas. Mas quando vou falar com Ryan, ele me olha como se acabasse de ver um morto-vivo.
— O que foi? — pergunto preocupado. Ele pisca rapidamente e então desvia o olhar. — Ryan? — volto a perguntar, então me viro para saber o que ele olhava. Atrás de mim há uma pequena banca com alguns jornais, nada demais. Porém, quando meus olhos passeiam detalhadamente, sei o porquê de sua expressão. Pego a revista e encaro a capa como se fosse algum erro da minha visão. Mas não é.
“Henry Boyer, filho de senador, se casa em LA.” Diz o título. Na imagem, há um homem sorrindo, mas o que me chama atenção é suas mãos em volta dela. Ela sorri para a câmera, como se estivesse vendo uma velha amiga. Eu sinto tudo ao meu redor parar. Eu perdi.
— Foi um erro. — murmura. — Um grande erro! — fala me trazendo de volta ao presente. Observo-a.
— Sinto muito. — sou sincero. Porque da mesma maneira que aprendi a amar , talvez ela tenha amado o cara.
— Não sinta. — ri sem humor. — Foi a melhor decisão que fiz na vida, me separar. — não digo nada. — Você a ama? — seu olhar se volta para mim.
Sei que é inevitável escapar dessa pergunta, e também sei que no final não importa minha resposta, alguém sairá ferido.
— Ela é minha esposa. — digo como se fosse uma resposta óbvia.
— ... — o desespero em sua voz é nítido. — Eu sei que não tenho direito de perguntar nada, mas... — sua voz vacila. — Mas por favor, . — seus olhos se enchem de lágrimas. — Eu acho que só preciso ouvir isso da sua boca.
— Assim como eu precisava que fosse você a dizer que tudo estava acabado? — não consigo deixar de questionar, isso a machuca, e me arrependo. — Desculpe.
— Por favor... — implora baixinho. — Sobrou algo por mim? Por menor que tenha sido?
Minhas mãos passam sobre meus cabelos e minha garganta se fecha. É o momento que busco responder isso o mais sincero que posso, porque não posso mentir sobre isso para ela, e principalmente, para mim mesmo.
— Você foi o amor da minha vida. — digo vendo seus olhos brilharem com lágrimas. — Mas , ela é minha alma gêmea.
Capítulo 9
Eu vejo seu rosto se contorcer em uma expressão de dor quando termino de dizer aquelas palavras, e, de alguma maneira, me sinto triste por ela. Porque mesmo que no fundo eu busque odiá-la por suas ações, sei que ela sempre será aquela garota por quem eu fui apaixonado na infância e o motivo de tantos momentos de felicidade.
— Me desculpe. — suspiro. nega com a cabeça e dobra seus joelhos abraçando-os.
— A última pessoa culpada por alguma coisa é você, . — sussurra olhando para um ponto fixo. — Mas é tão difícil... — vira seu rosto para me encarar. Vendo seus grandes olhos cheios de lágrimas, tenho vontade de confortá-la, mas não o faço. — Ver alguém vivendo uma vida que deveria ser minha, e eu sei que não tenho direito algum de sentir raiva. — coloca uma mecha de seu cabelo atrás da orelha. — Mas eu sinto, porque deveria ser eu. — seus olhos não desviam dos meus. — Em cada maldito momento que ela te tocou, deveria ser eu. Aquela aliança que ela carrega? — ri sem emoção. — Era para estar no meu dedo!
— ... — interrompo-a. — Acho que já passou da hora de se martirizar. — murmuro. — O que foi feito, foi feito. — olho para frente. Minha vizinha está cuidando do jardim do outro lado da rua e quando me pega observando-a, acena. Sorrio fraco devolvendo o cumprimento. — Essa é a minha vida, . — volto a encará-la. — E eu sou feliz com ela.
Ela não fala nada, mas sua dor transparece, e eu sinto uma falta de fôlego por isso.
— O que aconteceu com a gente? — coloco minha cabeça entre minhas mãos frustrado. — Por que, ? — minha voz suplica. — Por que eu não fui o suficiente para você?
— Você foi! — choraminga e sua mão rapidamente para em meu joelho. — Você foi tudo o que eu sempre desejei, . Você é tudo, sempre será.
— Então porque você me deixou? — estou desesperado para entendê-la. — Por que você partiu e não olhou para trás, ? Por que você se foi e me deixou aqui, lutando para sobreviver sem você todos os dias da minha vida? — sinto que posso chorar a qualquer momento, mas não quero. Não quero descobrir que ainda a amo e que todo aquele sentimento que tentei ignorar ainda está ali, e eu sei que, com certeza, não quero voltar a me sentir como antes.
E enquanto estamos sentados na escada de minha varanda, penso como podemos acabar com os sonhos de alguém apenas afastando essa pessoa de nossa vida. Quando aperta o meu joelho, sou obrigado a admitir que para realmente seguir em frente, é preciso enfrentar o passado.
— Eu era tão estúpida... — escuto-a sussurrar. Sua mão ainda está sobre meu joelho e sinto ela apertar forte. Olho-a, mas é como se ela não estivesse mais ali. — Eu tinha um plano. — fala. — Eu iria para a faculdade, tiraria boas notas, me formaria com honras e depois eu voltaria para casa. — assente convicta. — Para você. — apenas ouço. — Mas já fazia um mês que eu estava lá, e era completamente insano, tudo era diferente. O estilo de vida, as pessoas, os lugares. — ela parece agora em transe. — Minha colega de quarto, Andy, era totalmente diferente de mim. — nega. — Nós brigávamos o tempo inteiro porque ela simplesmente não entendia que precisávamos chegar em um acordo sobre como viver juntas. Mas... Eu poderia aguentar, eu sei que eu podia. Eu estava sendo forte, sabe? Porque eu não tinha ninguém lá. O que eu não poderia aguentar foi o que veio depois... — sua voz desaparece aos poucos e ela retira a mão dos meus joelhos colocando-a sobre o coração. — Um bebê.
Meus olhos se arregalam enquanto compreendo suas palavras. O choque me atinge quando percebo sobre o que ela está falando.
— Você engravidou? — minha voz falha. apenas encontra meu olhar e está em seu rosto a resposta. — De quem? — é a primeira coisa que me vem à cabeça.
— Eu não dormi com ninguém além de você.
Algo dentro de mim se agita. — Nosso bebê? — sussurro. soluça enquanto concorda. Não entendo o motivo, mas nesse momento, só quero entender o que está acontecendo. Ela teve um bebê e está dizendo que é meu. Meu? Não poderia ser meu. — Onde ele está, ? — quando percebo já estou de pé. — Por que você não veio até mim antes? Por que eu nunca soube disso? Como isso é possível? — nego. Algo parece muito errado nessa história. — Me leve até ele! — preciso vê-lo para acreditar.
— ... — nega. — Não dá.
— O que? — rio não acreditando. — , me leve até ele! — grito.
Ela abaixa a cabeça enquanto seus ombros sacodem. Por um momento acho que ela está gargalhando, e isso me deixa mais nervoso ainda, mas seus soluços incontroláveis me trazem de volta a realidade.
— Ele está morto... — funga. — Eu matei nosso bebê, . Eu matei... Matei... — abraça seus joelhos enquanto se balança para frente e para trás.
A dor é quase sufocante. E sei que mesmo sem nunca ter o conhecido, eu já tenho a ideia de amá-lo. Eu o perdi antes que eu mesmo pudesse tê-lo, mesmo sem saber se ele realmente era meu. Penso automaticamente em , minha pequena garotinha crescendo saudável dentro de e meus olhos lacrimejam. Me sinto traído pela vida e culpado. Por que, dentre todas as pessoas do mundo, justo comigo?
— Como? — procuro forças para perguntar. Minha cabeça já forma imagens de um garoto parecido comigo quando pequeno, e começo a imaginar todas as coisas que nunca farei com ele, ou com ela. E isso me destrói. O rosto de está molhado de tantas lágrimas, mas preciso que ela me tire do escuro. — , como? — grito desesperado.
— Eu o odiava no começo. — sua voz falha. — Eu ouvi falar sobre uma garota do campus que descobriu que estava grávida e foi abandonada pelo namorado. — funga. — Você não faria isso, eu sei, mas quando eu descobri, eu fiquei apavorada. O que eu faria? Voltaria grávida para casa e me tornaria alguém que eu nunca sonhei? Eu não podia... — nega. — Eu não podia ter aquele bebê. — soluça. — Eu tinha tanto medo.
Meu peito se rasga com sua confissão. Me recuso a acreditar nela.
— Não... — caio de joelhos sobre o degrau da escada. — Você... — tento falar, mas não consigo. — O que você fez, ? — sou dominado pela raiva. — Você fez de propósito?
O choro é inevitável. Quem é essa ? A garota que eu conheci jamais teria feito algo assim. A garota que eu conheci teria achado uma benção carregar um bebê. E então, percebo que essa é a dura realidade, não era mais alguém que eu conhecia. Ela não passava de uma estranha.
— Minha colega de quarto, Andy, me colocou contra a parede uma semana depois que eu descobri. Ela falou que conhecia um lugar. — sussurra. — Que eles iriam resolver o problema.
Minhas lágrimas agora caem compulsivamente a ouvindo se referir ao nosso bebê de problema.
— Então, eu fui. — continua. — Eu só preciso que você entenda, . — me olha suplicando. — Eu estava morrendo de medo. E estava sozinha, sem saber o que fazer.
— Você tinha a mim! — acuso. Mesmo que aquele bebê não fosse meu, ela sempre teria a mim! Como ela poderia não lembrar disso? — Você sempre tinha a mim! E como achou que eu não teria feito tudo por vocês? Você não me conhecia o suficiente para saber disso?
— Eu conhecia sim! — lamenta. Seus olhos encontram os meus e sei que ela sabe. Ela sabe, que mais uma vez, ela me destruiu. — Mas eu descobri que não conhecia a mim mesm, . E isso me apavorou de todas as formas. — morde os lábios. — Então, eu estava sentada naquele lugar, e havia outras garotas lá. Quando a primeira saiu, ela parecia tão desolada, que comecei a me perguntar se eu realmente queria aquilo. Eu pensei em você, . — chora. — E pela primeira vez eu pensei no bebê, e não em mim. Imaginei nós três, juntos. — engole um soluço. — Quando chamaram o meu nome, eu sabia que não poderia fazer aquilo, então voltei para o alojamento.
— Você desistiu? — quase não consigo ouvir minha própria voz.
— Sim! — afirma convicta. — Eu voltei aquele dia para o alojamento e comecei a fazer minhas malas. Mas só tinha voo para o dia seguinte, então fiquei no aeroporto esperando. — ela parece estar se lembrando de momentos que a machucam agora. — Eu acordei de madrugada sangrando. — vejo seus olhos encherem mais uma vez de lágrimas. — Os próprios funcionários do aeroporto me ajudaram.
Uma imagem de sozinha, de madrugada, precisando de ajuda se forma em minha mente.
— Eu acho que foi uma punição. — revela. — Acho que nosso bebê sentiu que eu não queria, e quando eu me arrependi, foi tarde demais. — lamenta. — Foi tarde demais para ele me perdoar...
Ainda tentando absorver suas palavras, me sinto aliviado no fundo por saber que ela não foi capaz de seguir em frente com seus planos. Me sinto aliviado por saber que talvez, não fosse culpa dela. Eu ainda estava destruído por dentro. Todos esses anos, ela me deixou sozinho no escuro, achando que a culpa havia sido minha por ela ter me deixado. Procurando o que tinha de errado comigo, o porquê ela me deixou sem nenhuma explicação. E ainda agora, não consigo compreender, mas acho que já é um caminho para isso.
— Você devia ter me dito. — não me conformo. — Você devia.
Ela não discorda. — Acho que uma parte de mim não queria te decepcionar desse jeito. — revela. — Eu me senti tão culpada, que absorvi tudo para mim. Depois daquele dia, eu não tive coragem de pegar aquele avião e voltar para você. Eu até mesmo pensei em nunca te contar. — ri não acreditando. — Mas em algum momento, tudo isso voltaria à tona, e acabaria com a gente. Então, eu simplesmente voltei para o meu alojamento, me tornei alguém que eu não queria ser, e fiz coisas que jamais poderei desfazer. — dá de ombros. — Talvez viver com isso para o resto da minha vida seja o meu castigo.
— Você desistiu. — engulo em seco. — Não foi culpa sua.
Ela me analisa por alguns segundos. — Eu sei que no fundo você quer acreditar nisso, porque você é bom. Mas se eu tivesse... — suspira. — Eu vi, sabe? O modo que fala com a barriga ou como ela apenas parece ter uma conexão com sua filha antes mesmo que ela nasça. — coloca sua cabeça entre as mãos. — Se eu ao menos tivesse deixado o medo de lado e apenas o amado, talvez nada disso teria acontecido. E agora eu nunca vou me perdoar, porque meu bebê partiu sem saber que eu o amava.
Meu coração se parte. Me pergunto quantas vezes alguém pode ser destruído e continuar de pé? chora encolhida e parece que está longe de parar, mas eu não a culpo, porque a qualquer momento sinto que eu farei o mesmo. E no fundo, bem lá no fundo, desejando que a culpa seja dela, não posso ser egoísta. Me sento ao lado dela e a puxo para os meus braços.
O grito de é agoniante enquanto ela chora. Não me lembro de alguma vez a ter visto chorar cheia de tanta dor. Dor que agora eu sinto.
— Eu amava o meu bebê. — soluça desesperada sobre mim. Aperto-a firme. — Eu juro que o amava.
— Eu sei — sussurro contra seus cabelos. — Eu sei.
[...]
Levou algum tempo para que se recuperasse. Quando ela finalmente parou de chorar, percebi que ela pegou no sono. Agora estava deitada no meu sofá, enquanto esfrio minha xícara de chá observando-a. Como isso foi acontecer? Como acabamos nessa situação, onde a garota que eu idolatrava o chão que pisava, não era nada mais além do que alguém que eu conheci?
Outra parte começa a se questionar sobre a história de . O olhar dela parecia tão quebrado, que eu não duvidei uma só vez de suas palavras. Mas seria real tudo o que ela disse ou apenas uma desculpa que inventou? E se a verdade é que ela apenas se cansou de mim e resolveu que iria viver sua vida? Talvez ela tenha se arrependido e voltado com essa desculpa. Talvez...
Porém seu olhar parecia transmitir tanta certeza. Ela realmente acreditava naquilo que estava dizendo. Um pensamento me atravessa. Sim, e se realmente por um curto período de tempo carregou um bebê? Pela maneira que ela parecia destruída, não dava para negar isso. Mas e se...
E se ela tivesse engravidado de outro cara? E se ela se arrependeu e viveu com isso todos esses anos, então agora inventou essa história para que eu a perdoasse?
Minha cabeça estava prestes a explodir. É incrível como eu criei expectativas no exato momento em que ela contou tudo, como realmente imaginei meu bebê e de . Mas tão certo como o céu é azul, eu sabia que era impossível.
Uma parte de mim se sente injustiçado. Eu obedecia meus pais, rezava antes de dormir, entregava meus trabalhos da escola em dia e sempre comia verduras e frutas. Quando eu cresci, nunca voltei para casa depois do horário ou fui imprudente. Nunca usei drogas ilícitas, me meti em brigas ou fui desrespeitoso com uma garota. Sempre tentei seguir os valores que meus pais me ensinaram, ser simpático, humilde e buscar ajudar as pessoas. Então, porque isso estava acontecendo comigo?
Olhando deitada na sala da minha casa, me pergunto o que realmente aconteceu. Ela se remexe confortável no sofá enquanto beberico meu chá. Sou atraído pela porta que se abre e revela . Arrependimento me atinge quando percebo que deveria ter ido buscá-la na cada de seu cliente. Ela sorri para mim, aquele sorriso que ela nunca tira do rosto.
— Você nos esqueceu — acusa. Sua sobrancelha se levanta, e sei que ela ainda não viu .
— Me desculpe, querida. — minha voz soa agonizada. Ela dá de ombros e enquanto caminha para se sentar, percebe quem está deitada no sofá antes que eu consiga alertar.
— Ah... — murmura. Seus olhos encontram os meus e imagino tantas coisas passando pela sua cabeça. — Agora entendi o porquê.
— Não é isso o que você está pensando. — me apresso em dizer. — Não é nada disso!
Ela apenas assente engolindo em seco e começa a subir as escadas. — Eu preciso de um banho. — se vira para me olhar. Ela sorri, mas vejo a dor em seus olhos. — Não é todo dia em que encontramos a ex que o marido amou dormindo no sofá.
Frustrado e irritado pela situação, vejo desaparecer no andar de cima, e a vontade de me dar um soco na cara é enorme. Mas preciso que acorde. Deus, preciso que acorde logo e me conte a verdade, realmente a verdade, porque isso está me matando. Observando-a pela última vez, subo as escadas correndo e entro no quarto principal. A porta do banheiro está encostada e posso escutar o chuveiro ligado.
Quando entro, está de costas acariciando sua barriga. É um grande alivio saber que essa mulher ama minha filha e será uma mãe leoa, e que em momento algum a colocará em perigo.
— Ela logo virá. — me debruço sobre o balcão. não se vira para me olhar como costumava fazer. — , olhe para mim, querida. — ela continua sem se virar. — Por favor. — suplico baixinho. Ela se vira lentamente, suas lágrimas se misturando com a água. — Não, querida! — pegando a toalha pendurada, abro o boxe a envolvo em meus braços. Ela soluça quando beijo todos os cantos de seu rosto.
— Me desculpe. — funga. — Você me esqueceu. — soluça. — E então eu chego e vejo o porquê, e... — engole um seco.
— Shh! — acaricio suas costas. Me sinto o maior idiota de todos por fazer minha mulher se chatear dessa maneira. — Não foi nada disso que você está pensando. — seguro o rosto dela entre minhas mãos. Beijo seu nariz vermelho. — Eu nunca faria isso com você.
— Eu sei — sussurra se contendo. — Eu só... É besteira minha.
— Não, não é. — nego. — Tudo o que você sente é importante para mim. — digo a vejo abrir um pequeno sorriso. — Eu amo o seu sorriso.
— Por que ela está deitada no nosso sofá? — encosta sua cabeça no meu peito. Passo as mãos sobre seus fios molhados e então eu começo a contar tudo. Desde o momento em que falou que estava grávida, até o final. Contei sobre ela afirmar não ter dormido com ninguém além de mim e sobre seus medos. E contei sobre a maneira que ela disse ter perdido ele. Quando termino, levanta sua cabeça para me olhar. Sei o que ela está pensando, porque é o mesmo pensamento que não sai da minha cabeça.
— Isso parece uma loucura, . — acaricio sua barriga lembrando-me de todo o processo que eu e passamos. — Como ela pode ter tido o seu bebê...
— Se eu não posso ter filhos. — termino sua frase, porque é o que eu preciso descobrir também.
Capítulo 10
Meus olhos se abrem assustados. Pisco algumas vezes para me adaptar à claridade e sento-me olhando ao redor. Estou na casa de , especificamente em seu sofá. Não me lembro de ter adormecido, mas isso não me importa agora. Lembranças me vem à mente quando me lembro do que aconteceu.
Oh meu Deus! Escondo meu rosto entre minhas mãos sentindo um pânico se iniciar. agora sabia de tudo. Ele me culparia por matar nosso bebê, e com razão. Um soluço escapa quando penso que não posso recriminá-lo por isso. Ele vai me odiar e terá toda razão do mundo. Por que ele não o faria?
Os passos da escada me alertam automaticamente.
— Você acordou. — cruza seus braços e me encara. Ele está com os cabelos molhados, então julgo que tomou um banho. Sempre adorei sua visão assim.
— Eu... — engulo em seco. — Desculpe. — sussurro.
Ele nega como se não fosse nada. — Acho que precisamos terminar nossa conversa. — assinto. — Mas agora, está terminando de se vestir... — me olha como se quisesse que eu adivinhe o que ele está pedindo. Quando ele percebe que não entendi, ele suspira. — Será que você poderia ir?
Isso dói. Ele me expulsando da casa dele dessa maneira. Sei que eu não tenho direito de ficar magoada, mas mesmo assim fico. — Tudo bem. — sussurro, me levantando. Encaro-o por um tempo, enquanto ele faz o mesmo. Por um momento, gostaria de ter o dom de ler seus pensamentos. Será que ele está me crucificando em seus pensamentos? Será que ele imagina como nosso bebê teria sido? Ele estaria empolgado como está com ? Ela sequer existiria se eu tivesse feito as coisas de forma diferente. Não! Ela só um bebê. Não é culpa dela, digo a mim mesma. Uma parte de mim se corrói por pensar isso, mas outra parte, a parte que ainda está em luto pelo meu bebê, deseja que ela nunca existisse.
— . — suspira e para na minha frente. — Eu não estou expulsando você. — diz como se entendesse o que eu penso. — Mas eu não quero... — parece escolher suas palavras. — Eu não quero você dentro da minha casa, perto da minha mulher ou da minha bebê. — diz. É como um tapa na minha cara.
— Você acha que porque matei nosso bebê, eu poderia ferir o seu? — digo chocada. Eu jamais faria isso com ele. Jamais o faria passar por essa dor, novamente.
— Não! —— nega veemente. — Eu não quis dizer isso! — me olha chocado. — Mas como você acha que deve ser para ter você tão próxima assim? Por mais que ela seja compreensiva, , ela não é de ferro.
— Se você acha que ela tem motivos para se incomodar. — penso. — Talvez seja porque você ainda tenha...
— Não! — nega suspirando. — Pare de colocar palavras na minha boca, — me acusa. — Você percebeu que quando faz isso, coloca tudo a perder?
— Me desculpe. — estou esgotada. Cansada de sempre pedir desculpas.
— Apenas vá, tudo bem? — segura meu ombro. Meu corpo formiga com seu toque, quero mais. Quero que ele ainda queira me tocar. Céus! Eu faria tudo por isso. — Conversaremos melhor em outro momento.
Assinto, me afastando. Sei que seus olhos estão sobre minhas costas, então giro a maçaneta e abro a porta, mas não antes de virar e perguntar. — Você me odeia, ? — sussurro o suficiente para que ele ouça.
Seus olhos estão fixos nos meus, e por um momento, tenho medo de sua resposta. — Eu achei que sim, — ele passa a língua sobre os lábios. — Eu achei que sim.
Então eu saio, com um pequeno alívio no meu coração.
[...]
Quando faço a curva para entrar na rua de casa, sou impedida de deixar o carro estacionado na rua, pois outro está ocupando o lugar. Não me lembro de alguém com esse carro, então saio do meu ligando o alarme e entro em casa.
— Mãe, cheguei! — fecho a porta. Escuto vozes vindo da sala e me aproximo. Minha respiração parece falhar enquanto meu coração acelera.
— Olha quem veio te visitar, querida. — mamãe sorri alegre. Meus olhos fixam em meu ex marido, que me olha com uma expressão curiosa em seu rosto, mas então se levanta e sorri.
— Olá, querida. — caminha em minha direção. Meus pés parecem não obedecer, porque não me movo quando ele me abraça. — Vim para levá-la de volta para casa.
Meus olhos se enchem de lágrimas. Quero me afastar dele, mas sou impedida por seus braços fortes. Preciso me afastar... preciso me afastar...
— Brandon! — grito enfurecida. — Solte-me! — me agito na cama, meus pulsos ardem devido as cordas que me amarram. — Solte-me, Brandon! — imploro.
— Shh! — ele tira os fios de cabelo que insistem em cair sobre meu rosto. — Você sabe que precisa tomar os remédios, querida. — acaricia meu rosto. Viro bruscamente de lado para que ele não o faça. — Qual foi o nosso acordo? Hm? — me pergunta.
— Brandon... — imploro. — Deixe-me ir, por favor!
— Qual o nosso acordo, ? — insiste.
— Se eu for uma boa menina, você será um bom marido. — soluço.
— Isso mesmo. — sorri orgulhoso. — Então, você tomará seus remédios, e posso pensar em soltar você por alguns minutos. Certo?
Assinto desesperada para que minhas mãos sejam livres. Brandon pega dois comprimidos e abro minha boca, cedendo. Engulo com dificuldade. Ele analisa para certificar-se de que o fiz, e sorri.
— Agora solte-me! — peço.
— Calminha... — desamarra as cordas dos meus pulsos. Sento-me com minhas mãos acariciando uma a outra, minha pele vermelha com a marca da corda. Mas não quero pensar nisso. Só quero respirar ar livre.
— Posso ir? — peço-o.
Brandon olha o relógio em seu pulso. — Você tem 20 minutos.
Então eu pulo da cama e corro. Abro a porta indo para o corredor e nenhum dos seguranças me impedem. Desço as escadas apressada, mas com cuidado para não tropeçar e chego a entrada principal. Dois seguranças se metem na minha frente.
— Vinte minutos — declaro. Eles não parecem acreditar.
— Liberem-na! — Brandon comanda do topo da escada. Os seguranças o obedecem na hora e dão passagem para que eu saia.
Um sorriso brota em meu rosto quando vejo o sol iluminando-me. Liberdade, suspiro e aproveito-a.
— Estava dizendo que atencioso foi da parte de Henry nos visitar. — mamãe me olha. Nunca a vi sorrir como está fazendo. — Deve ser difícil arranjar tempo na sua agenda, querido.
— Realmente é. — ele a encara sorridente e me abraça de lado, me impedindo de sair de seus braços. — Agora com meu pai se reelegendo, tudo fica mais complicado. Mas eu precisava conhecer quem trouxe essa bela mulher ao mundo. — ele sorri para mim. Quero vomitar.
— Eu não sabia que você viria... — sussurro. — Se eu soubesse, teria preparado algo especial. — minto. Teria fugido.
— Besteira! — ele me aperta. — Você é mais do que suficiente.
— Por favor, ! — Brandon termina de ajeitar sua gravata. — Você sabe como esse jantar é importante para o meu pai. Não faça nada para aborrecê-lo.
Reviro os olhos e passo minhas mãos sobre o tecido do meu vestido. — Eu já entendi, Brandon! Não sei porquê você sempre tem a necessidade de impressionar o seu pai.
— Você deveria agradecer. — rebate. — O luxo que você vive hoje é graças a ele.
— Pois eu preferia morar debaixo da ponte! — sei que minha língua é afiada. Mas não tenho nada mais a perder.
Ele suspira e segura meu queixo. — Por que você não pode ser uma boa esposa? — questiona.
Olho em seus olhos. — Porque a missão da minha vida é fazer da sua um inferno — sussurro presunçosa.
— Você não consegue ver, não é? — suspira. — Eu nunca viverei no inferno enquanto você for minha — me beija. Não correspondo. Ele me solta frustrado. — Um dia você vai entender que tudo o que eu faço é para o seu bem. Nada além disso, !
— Isso nunca vai acontecer. — deixo claro. — Você arruinou minha vida!
— Eu salvei sua vida! — ele grita sem paciência. — Quando você vai reconhecer isso, ? Eu te tirei do nada, e olha agora. — aponta para tudo ao redor. — Onde você estaria se não fosse eu? Eu fiz tudo por você, fiz mais que minha obrigação!
— Eu nunca pedi nada a você... — sussurro me recusando a chorar.
— Não. — ele nega. — Mas como eu poderia deixar você como estava? — olha em meus olhos. — Você precisava de mim.
Essa é a grande questão. Brandon sempre age como se eu fosse a única que precisa dele pra algo. Mas essa não é a verdade. No fundo, ele era o único que precisava de mim.
— Eu te dei tudo , sempre darei. — puxa meu corpo para perto do seu.
— Menos a minha liberdade — digo óbvia.
— Sua liberdade virá quando você estiver pronta para isso. — passa a mão sobre meus cabelos. — Conversamos sobre isso inúmeras vezes, .
— Eu quero ir pra casa, Brandon. — sussurro. — Quero ver meus pais, meu irmão...
— — revira os olhos. — Eu não sou tolo!
— Quando ele descobrir a verdade, mal olhará na minha cara. — o desapontamento me atinge. Por um momento, minhas mãos tocam minha barriga sem querer, e não sinto nada além de vazio. Saber que por um momento eu carreguei o bebê de me atinge automaticamente.
Brandon chama minha atenção ao estender sua mão com dois comprimidos dentro. — Aqui, engula.
— Eu preciso tomá-los hoje? — fico triste.
Mas Brandon assente. — Especialmente hoje.
— O que você acha, ? — sou trazida de volta ao presente.
— O que? — pergunto confusa recebendo toda a atenção. Atenção que eu jamais quis.
— Sobre eu ficar alguns dias aqui. — Brandon sorri. — Você sabe, será um prazer conhecer tudo sobre sua antiga vida.
Tudo o que eu consigo pensar é que retornei ao inferno, e dessa vez, duvido muito que conseguirei sair.
— Por que você não o instala em seu quarto, ? — mamãe pergunta. — Brandon deve estar cansado da viagem.
— Seria ótimo! — ele agradece e sobe as escadas puxando o meu braço como se fosse dono do lugar. Brandon sempre age como se mandasse em tudo e todos. Ele cresceu numa família de prestígios, em uma geração de políticos que conseguem tudo o que querem, e ele não é diferente. Sempre com seu lado dominador, tentando controlar meus passos.
— É aqui. — digo entrando no meu quarto. É diferente do luxo que ele está acostumado. — Não tem muito luxo. — digo. — Não é como você vive.
— Nem você. — diz olhando ao redor. — É exatamente como eu imagino. — para ao lado da estante e vê um porta retrato de quando eu era jovem com . Brandon não fala nada, apenas o abaixa.
— O que você está fazendo aqui, Brandon? Achei que fosse o meu tempo livre! — acuso-o.
— Seu tempo livre acabou há exatamente uma semana! — me repreende. Brandon suspira segurando firme em meu rosto. — Você tem noção de como senti sua falta?
Ele encosta os lábios em minha testa, como se eu fosse a única pessoa no mundo que ele deseja estar. E sei que é sincero, mas não pelos motivos certos. Brandon gosta apenas do desafio, do fato de poder me manipular como bem entendesse. Eu sempre fui a esposa fantoche, que ele poderia facilmente controlar. No começo, acho que não quis me importar com isso. Brandon me encontrou no momento em que tudo parecia não fazer sentido, onde eu estava tão perdida em minha dor, que nada parecia me atingir mais. Por mais estranho que pareça, o que ele me causava foi por muito tempo minha salvação, porque eu poderia me concentrar apenas nele e suas ações em vez de pensar em ou na perda do meu bebê.
Mas agora, eu sou forte o suficiente para travar minhas próprias batalhas e escolher o que eu quero para minha vida. E dessa vez, eu só espero que Brandon não me impeça de nada como sempre fez.
Capítulo 11
Minha cabeça ainda está a mil. Pensamentos desconexos passam por ela, sem o meu controle. A conversa com mexeu comigo de formas que eu nunca esperei. Como ela poderia ter engravidado? O médico foi específico na consulta quando disse que e eu não poderíamos ter um filho de maneira tradicional. Quando optamos pela inseminação artificial, sabíamos que poderia ser difícil. E foi. nos alegrou com sua chegada depois da terceira tentativa. Quando as duas primeiras deram errado, e eu nos sentimos arrasados. Mas a gente não desistiria.
Agora, saber que diz que teve um bebê meu e que o perdeu me atinge de formas inexplicáveis. Não sei como me sentir. Não sei como devo me sentir. Eu quero poder sofrer pelo luto, quero poder chorar e gritar. Mas tudo o que disse foi realmente real?
E se ela foi um milagre? Minha mente lateja. Sim, pode ter sido um caso raro, digo a mim mesmo. Se isso aconteceu, preciso de confirmação.
Pego as chaves do meu carro no centro da mesa. que está deitada no sofá lendo uma revista sobre bebês me olha. Mordo os lábios nervoso. Não quero que ela ache que serei um homem diferente com ela por causa de . Não quero que ela ache que tudo o que eu sinto está a prova, porque não está.
— Preciso resolver isso. — não quero magoá-la. Céus! É tudo o que menos quero. E espero que entenda que preciso colocar um ponto final nisso, porque se ela pedir que eu não vá, eu com certeza não irei, e isso nos assombrará para sempre.
— Eu odeio essa situação. — sussurra fechando os olhos. Minha garganta seca enquanto engulo um seco. — Mas para isso terminar, sei que você precisa de um final. Então vá. — abre os olhos me encarando. Ela coloca a mão sobre sua barriga e acaricia. — Eu espero que você volte...
— Eu vou voltar! — garanto a interrompendo. Me ajoelho na frente dela o suficiente para beijar seus lábios e colocar a mão em cima da sua sobre a barriga. acaricia meu rosto com sua mão livre. — Eu te amo, . É você, apenas você. — sussurro contra seus lábios.
— Eu amo você. — afirma. — Sempre. Agora vá. — me dá um beijo rápido. — Quando mais cedo você ir, mais cedo você volta.
Assinto me levantando e saindo de casa indo em direção ao carro.
No caminho para a casa de , penso em mil maneiras diferentes de abordá-la. Não quero acusá-la de algo sem saber dos detalhes antes, mas também não posso deixá-la me enganar. Ela me destruiu uma vez e tudo o que menos preciso é que ela faça novamente, mesmo quando ela parece ter poder o suficiente para isso.
Quando chego em frente à casa dela, deixo meu carro estacionado do outro lado da rua. Saio fechando a porta e travo o carro colocando a chave no meu bolso. Respirando fundo, atravesso a rua e subo as escadas da entrada de dois em dois degraus. Toco a campainha sentindo meus nervos à flor da pele. Quando a porta se abre, Sra. me olha com uma expressão curiosa.
— Que surpresa vê-lo aqui, ! — exclama. Mas logo abre um sorriso no rosto. — Teddy não está. Vocês marcaram algo?
— Na verdade não, Sra. . — nego. — Eu... Eu preciso falar com a sobre algo importante, será que poderia chamá-la?
— Eu até poderia, mas ela está no banho. — me olha como se estivesse escolhendo suas próximas palavras. — Olha , eu gosto muito de você. Mas acho que não é um bom momento para conversarem.
Olho-a curioso. — Por que não seria?
— Mandy, você sabe me dizer porque o forno não liga? — alguém pergunta atrás dela. Quando observo por cima de seu ombro, vejo um cara com uma caneca na mão. Eu o reconheço. Apesar de tê-lo visto apenas uma vez, na capa de um jornal ao lado de , eu não esquecia. É o ex-marido dela. Mas para ele estar aqui, imagino que não seja ex.
— Eu sempre me esqueço que precisa ligá-lo na tomada de baixo, a de cima não funciona. — vejo Mandy envergonhada com a situação. — Brandon, esse aqui é o , ele é...
— Não se preocupe, Mandy, eu sei quem ele é. — se aproxima da porta, me encarando. Não consigo decifrar o que ele pensa em fazer, mas no minuto seguinte ele está estendendo a mão para me cumprimentar.
— Você pode pedir para descer? — ignoro-o olhando para Mandy. Sei que ela está nervosa com a situação.
— Se você não se importar, Mandy. — ele toca o ombro dela. — Gostaria de conversar em particular com o . Depois, se ele quiser falar com a , você pode chamá-la.
Ergo a sobrancelha. O que raios ele precisa falar comigo?
— Tudo bem... — assente ainda incerta olhando Brandon e depois eu. Ela volta para dentro da casa e Brandon sai fechando a porta e me encarando.
— Sempre tive curiosidade em saber o que você tem que deixou minha mulher louca. — me encara de cima embaixo cruzando seus braços. — E sinceramente? Eu não vejo nada.
— Fale o que você tem que falar logo, porra! — me irrito. — Eu não dou a mínima para o que você pensa.
— Fique longe dela! — me fuzila. — Ela não chegou até aqui para você deixá-la destruída mais uma vez! não precisa disso!
— Você não sabe de nada! — me esforço para não gritar. — Você por acaso é o dono dela? O cara que manda em quem a mulher pode ou não ver? Achei que vocês de cidade grande tivessem a mente mais aberta. — ironizo.
— Quando a pessoa ameaça a integridade da minha mulher, pode acreditar, eu interfiro! — avisa. — Você não tem mesmo a mínima noção do que aconteceu com ela, não é? — bufa.
— Por que você acha que eu estou aqui? — questiono. — Eu só preciso saber a verdade. Nada além disso. Eu tenho uma esposa e tenho uma filha, e tudo o que eu menos preciso é o passado voltando para me atormentar.
Ele parece relaxar quando cito e . Talvez seja apenas um cara inseguro.
— Se eu te contar a verdade, você vai deixar em paz? — me olha desconfiado.
— Sim! — respiro aliviado. — Eu não quero nada com ela. Nunca mais.
Ele parece acreditar em minhas palavras, porque assente.
— Quando meu pai estava visitando um hospital para atrair eleitores, ele me levou junto, você sabe, a imagem de família atrai o público. — dá de ombros. Não sei onde tudo isso irá levar. — Quando ele estava cercado de fotógrafos, eu resolvi dar uma volta pelo hospital. E pelo segundo andar, eu pude ver uma garota no jardim. Ela estava com os cabelos bagunçados e as roupas um trapo, carregando uma mala, e mesmo assim, eu enxerguei beleza nela. — fala como se estivesse se lembrando do momento. — Eu nem pensei duas vezes. Desci as escadas correndo e fui até ela. Ela chorava muito, não queria me deixar tocá-la e não parava de falar sobre o bebê. — meus sentidos surgem. Então era verdade, havia um bebê? — Eu chamei os enfermeiros e eles a levaram imediatamente. Acho que ajudou o fato de quem eu era filho. — diz.
— Então ela estava mesmo grávida. — sussurro.
— Eu me ofereci para comunicar a família dela, mas ela recusou. — continua. — Ela não tinha plano de saúde, então eu paguei a conta do hospital. Quando o médico veio falar comigo, falei que eu namorado dela. Ele não ia me dizer nada se eu fosse um estranho. — me olha. — Então ele me falou sobre o que estava acontecendo, e eu resolvi que não poderia deixá-la sozinha a partir daquele dia.
Estou tentando processar suas palavras. Mas nada até agora tem importância para mim. Não quero saber como eles se casaram ou como se conheceram, só preciso saber do bebê. Porém, não posso deixar de me questionar sobre o porquê ela se casou com ele se estava tão devastada.
— Ela perdeu o bebê e resolveu se casar com você? — pergunto. — Foi o que? Uma troca de favores?
— No começo, sim. — assente. — Meu pai estava em campanha, e se eu fosse visto como um homem de responsabilidade, o ajudaria ainda mais.
— E o que você ela ganhou em troca? — faço a pergunta, sem a certeza se quero a resposta. não teria vendido seu corpo, não é? Não. Ela não teria.
— Em troca, eu pagaria o tratamento dela sem ninguém saber. — diz.
— Tratamento? Ela estava doente?
— Ela estava louca, . — revela. — achava que não, até hoje ela acha que não estava louca, que foi tudo real. Mas ela precisava de ajuda, a mente dela estava perturbada.
— Ela ficou louca depois de perder o bebê? — me engasgo.
— Não havia bebê nenhum. — nega. — Foi tudo criação da cabeça dela.
Nesse momento, dou um passo para trás. Olho para ele buscando mentiras, mas não encontro. Não existiu bebê. Ela mentiu o tempo todo. Eu não acredito que fui estúpido o suficiente para cair.
— Sabe... — começo cansado de tantas mentiras dela. — Por um momento, eu cheguei a acreditar nela, sabe? — ri negando com a cabeça. — Buscando um motivo para perdoá-la. — bagunço meu cabelo. — E eu quase fiz isso.
Brandon suspira. — Você tem que entender. — me olha. — Na cabeça dela, ela realmente estava grávida. Ela teve todos os sintomas como uma mulher normal.
— E como isso poderia ter acontecido? — questiono, porque é a primeira vez que ouço falar sobre isso.
— Segundo o médico, acontece quando a mulher acha que pode segurar o marido assim, quando ela quer muito engravidar ou até mesmo quando tem temor da gravidez. — dá de ombros. — Tudo o que eu sei é que tinha surtos na maioria das vezes. Ela chegou a fugir de casa e sequestrar uma criança no parque. — arregalo os olhos. Porra! E eu ainda deixei ela perto de . — Foi quando medidas mais drásticas foram necessárias.
Suspiro. É tanta informação para processar, me sinto enjoado.
— Preciso ir. — digo quase inaudível. Preciso ir para casa, abraçar e nunca mais soltá-la.
Desço as escadas perdido, ainda tentando entender como tudo chegou a esse ponto.
— ? — Brandon chama. Me viro para trás para encontrá-lo me olhando sério. — Se você realmente se importa com a , mesmo que você ache que não, você a convencerá a voltar comigo quando ela te procurar. — fala. — não vai encontrar a ajuda que precisa aqui.
Eu não respondo sobre isso. Em vez disso, resolvo perguntar sobre outras coisas. — As cartas estão com você, não estão?
Brandon concorda. — Ela nunca as leu.
Assinto e atravesso a rua em direção ao meu carro. Quando eu entro, ligo o carro mas não saio do lugar. Em vez disso, deixo que as lágrimas escorram pelo meu rosto enquanto encosto a testa no volante. Esse é finalmente o momento em que sinto que estou liberto. Quando olho para a casa, vejo pela janela do andar de cima secando o cabelo, ela não me vê. Eu quero gritar de dor, porque agora finalmente eu tenho a verdade. Depois de todos esses anos, sinto que que a cela que eu estava aprisionada é aberta. E é o sentimento mais poderoso quando o escolhemos, o perdão.
Capítulo 12
Eu desembaraço meus cabelos enquanto observo meu reflexo no espelho. Faço um rabo de cavalo nele com uma das mãos e com a outra passo o pente pelas pontas desfazendo os fios de cabelo embaraçados.
O som da porta batendo não tira minha concentração. Posso ver pelo espelho Brandon pensativo enquanto se senta na beirada da cama. É desconfortável tê-lo aqui, no lugar que eu automaticamente julguei ser o mais provável que ele não iria atrás. Mas eu estava enganada. Ele veio. No fundo, não sei porque ainda me surpreendo com suas atitudes, não é como se eu não passasse a conhecer o homem que me casei.
— Tudo bem? — questiono ao vê-lo pensativo. A verdade é que não me importo se ele está bem ou não, mas sou vencida pela curiosidade.
— Tudo ótimo! — me olha fixo. — Acho que já passou da hora de voltar para casa, .
— Eu estou em casa. — afirmo.
— A nossa casa. — corrige.
Paro de pentear meus cabelos e me viro de frente para onde ele está sentado, apoiando-me contra a penteadeira.
— Por quê? — sussurro. — Por que você não pode aceitar que eu quero estar aqui?
Me sinto agoniada. Algo dentro de mim parece que estará sempre preso a Brandon. A sensação de não poder tirá-lo da minha vida é sufocante. Tudo o que eu quero é que ele entenda que não damos certo. Não podemos dar certo. Brandon suspira passando as mãos pelo cabelo, ele está ficando irritado, o conheço o suficiente para saber disso.
— Você não queria estar aqui antes. — grunhe. — Ele está casado, ! Vai ter uma filha. É sério que você voltou para acabar com uma família? Para tentar fazer uma criança crescer longe do pai?
— Não faça isso! — grito. — Não comece com isso, Brandon. Meu Deus! É sempre sobre eu e como sou uma pessoa horrível!
— Do que você está falando? — se levanta abrindo os braços. — Que porra você está falando?
— É sempre sobre o fato de que a culpa é minha, não é? — o acuso. — Você sempre faz isso! Você faz eu me sentir louca, faz eu me sentir culpada. Eu fiquei sofrendo.
— Você estava sofrendo e eu cuidei de você! — fala. — Eu estava lá quando você caiu, . Você estava caindo, porra! E eu te levantei com toda a força que eu tinha! Por que você ignora isso? Por que você me faz parecer o monstro? — ele anda de um lado para o outro no quarto com as mãos entrelaçadas na nuca. — Eu fiz tudo o que eu podia por você, eu me joguei no desconhecido. E sabe tudo o que eu recebi em troca? — para e me encara. — Ingratidão.
— Não... — nego abraçando o meu próprio corpo. — Eu nunca fui ingrata a você, Brandon. E não era sua obrigação, mas você fez mesmo assim. Sou grata por isso, mas como você não pode ver o mal que fazemos um ao outro?
— O que nos faz mal é sua obsessão por aquele homem, ! — me acusa. — Você não enxerga que está louca? Isso não pode ser normal! Não é normal!
— E o que me torna diferente de você? — atiro. — Você diz que eu estou obcecada por ele, mas o que você sente por mim é o que Brandon?
— É amor! — grita me assustando ao se aproximar. Ele segura meu rosto com suas duas mãos e aperta me puxando para perto. — Eu te amo, ! Nunca vou deixar você ir!
Lágrimas acumulam nos meus olhos. Porque eu sei que é verdade, ele nunca me deixará ir. E o nunca é tempo demais para que eu possa suportar.
— Nós somos horríveis juntos. — soluço sentindo o nariz dele esfregar contra o meu rosto.
— E nós somos piores ainda separados. — percebe que eu estou chorando. — Não... — sussurra limpando minhas lágrimas. — Não chore, querida. — beija a ponta do meu nariz. — Não chore!
— Isso é tão doentio, Brandon. — lamento. — Nós não temos mais conserto. — algo dentro de mim morre no momento.
Há algo sobre Brandon que sempre acontecia enquanto eu estava com ele. Brandon me matava por dentro. E eu tenho medo de nunca recuperar as partes que ele danificou. Medo de nunca encontrar todos os cacos quebrados que ele espalhou.
— Eu sei que você vai me amar, . — sussurra no meu ouvido e beija meu pescoço em seguida. — Você pode achar que não vai, mas eu sei que sim.
Não consigo responder nada quando ele se afasta e olha em meus olhos. Procuro vestígios do homem que um dia conheci. Gostaria que o Brandon que me amparou no momento de dor no hospital voltasse. O homem que aceitei me casar para ajudar o pai a se reeleger. O Brandon que me abordou da forma mais gentil e carinhosa mesmo sendo uma estranha. Que me ajudou nos piores momentos.
Me sinto tão estúpida quando percebi que esse Brandon nunca existiu. Tudo o que sempre importaria para ele era sua reputação e o que o pai achava dele. Mas eu ignorei quem ele se transformou. Me culpei por pensar em um homem que não era ele todos os dias da minha vida. E até comecei a pensar que tudo foi realmente culpa minha. Deveria ser uma punição meu sofrimento. Se eu tivesse sido mais forte, tudo poderia ter sido diferente.
Se eu tivesse escolhido voltar para casa naquela época e para , nós teríamos nos acertado e viveríamos nossas vidas juntos como deveria ter sido desde o início. Não era justo. Simplesmente não era justo que tudo terminasse assim para nós. Merecíamos muito mais que isso.
Quando Brandon começa a acariciar minha cintura em busca de atenção, tudo o que passa pela minha cabeça é aquelas duas crianças descobrindo o amor. Eu fecho os meus olhos e volto para o tempo em que eu tinha oito anos e prometi me casar com .
Você se lembra disso, querido? Pergunto na minha mente como se pudesse escutar. Você se lembra quando demos nosso primeiro beijo aos treze anos? Seus lábios eram tão macios, era quase como beijar algodão. E quando chegamos aos dezesseis anos, você disse que me amava. Você tem noção do que fez comigo naquele dia? Você apenas arrebatou o meu coração. Então tudo começou a desandar nos anos seguintes. Eu estraguei tudo, não foi? Eu quebrei seu coração mais vezes do que posso contar. Prometi jamais te abandonar, mas o fiz mesmo assim. Agora quando te vejo, tudo o que enxergo em seu olhar é uma incurável dor. Se eu tivesse ao menos uma chance para tentar consertar.
— Você está chorando outra vez? — Brandon para de me tocar. — Porra! — resmunga suspirando.
Eu não percebo até ele falar. E realmente estou chorando.
— Me desculpe. — sussurro. Estou pedindo desculpas por chorar? Em quem eu me transformei?
— Você sabe que eu odeio essas merdas quando estamos próximos. — reclama indo se deitar na cama.
Brandon tinha problemas com o passado. Tudo o que eu sabia era que ele presenciou o pai fazer algo com a mãe quando era pequeno. Ele escutava os choros dela, mas não podia fazer nada para ajudá-la. Brandon ainda tem problemas com isso até hoje, mesmo que eu nunca tenha perguntado o que realmente aconteceu, faço uma vaga ideia do que possa ser. Sinto pena dele no fundo, mas não é desculpas para quem ele escolheu ser.
— Eu vou beber água. — murmuro saindo apressada do quarto. Desço as escadas e acendo a luz. Abro a geladeira e pego uma garrafa com água. Quando fecho a geladeira dou um pulo para trás assustada. — Que susto, Teddy! — respiro rápido.
— Me desculpa. — ri. — Eu queria água também. — explica, me encarando.
— Certo! — assinto pegando dois copos no armário e enchendo os copos. Entrego um copo para Teddy, que bebe tudo de uma vez enquanto dou pequenos goles. — Então, como vai a escola? — pergunto.
Ele me olha por um instante, como se estivesse procurando as palavras certas para dizer. — Não precisa fazer isso, . — nega. — De verdade.
— Fazer o quê? — pergunto confusa o vendo colocar seu copo na pia. Ele suspira se apoiando nela com as duas mãos antes de me encarar.
— Fingir que se importa. — dá de ombros. Pisco processando suas palavras.
Ual! Isso dói. Realmente dói, porque vejo que ele não diz por mal. É o que ele sente. Ele acha que eu realmente não dou a mínima para ele.
— Teddy... — tento explicar. —
Não, , é sério! — diz. — Você sabia que eu só te reconheci quando voltou por causa das fotos? — me olha. — Eu nem lembrava mais como você era, nem do som da sua voz. — suas palavras me ferem. Mas como posso discordar? — Você nem morava mais aqui, mas ainda assim, parecia um fantasma entre nós. — sussurra. Teddy pisca tão rápido que demoro a notar seus olhos cheios de lágrimas. — Eu queria que você estivesse lá quando eu fui chamado para o time da escola. Queria tomar sorvete com você nos finais de semana ou só ter brigas idiotas de irmãos. — suas lágrimas escorrem, mas ele as limpa rapidamente. Meu coração se aperta. — Eu precisava dos seus conselhos quando quis chamar uma garota para o meu primeiro baile, ou quando a mamãe ficou doente e o papai cuidou dela, mas ninguém cuidou de mim. — ele soluça. Então eu sou quebrada, porque quando eu parti, não me dei conta de que no final, todos tinham alguém para serem consolados, ao que parece menos Teddy. — Eu não era como você, . Não era fácil fazer amigos, e quando eu fazia, sentia que eles poderiam sumir como você a qualquer momento. — revela.
— Teddy... — sussurro desolada. Esse garoto é o meu irmãozinho. Por um momento eu me esqueci de , Brandon, ou do passado que me atormentava. Teddy deveria ser protegido. O quanto ele suportou quando todos os ignoravam, mesmo que fosse sem querer?
— Eu fui atropelado aos doze, quando achei que era você do outro lado da rua. — continua. — E eu só precisava de você. — funga. — Uma ligação seria o suficiente. Só uma ligação...
Então eu puxo Teddy para um abraço. Ele estranha no início, mas acaba cedendo ao chorar no meu colo. É como se eu voltasse no passado e cuidasse dele como eu costumava fazer quando meus pais precisam sair. Teddy me aperta e seus soluços me destroem.
Mesmo que eu tenha mandado todos os equipamentos que ele precisava para o time da escola. Ou quando mesmo de longe, contratei uma limusine para que ele pudesse levar a garota que gostava ao baile. Até mesmo quando eu o mandei de férias para Disney com um grupo de crianças para que ele não precisasse assistir quando minha mãe ficou doente. Mesmo que de longe eu garantisse que ele estava bem, agora percebo que tudo o que ele precisava era de mim.
— Me desculpe, Teddy. — acaricio os seus cabelos. — Me desculpe, me desculpe...
Os ombros dele sacodem compulsivamente, e no primeiro momento até parece que está gargalhando, mas é seu choro. Ele só precisava disso.
— Eu te amo, . — soluça. — Por favor, não me deixe mais. Por favor!
Então eu faço uma promessa baixinha, ali mesmo. Eu prometo, Teddy.
Capítulo 13
Sabe a sensação de finalmente ter respostas que você buscou durante tanto tempo? Imagino que seja como finalizar um livro para um escritor. Ter a música que escreveu tocando em todas as rádios para um compositor ou cirurgia bem-sucedida para um médico. Mas porque a sensação parecia não ser o suficiente para mim? Como se eu descobrisse o que finalmente estava formado no quebra-cabeça e ainda assim, parecesse faltar peças.
É claro que eu estava aliviado, mas, algo dentro de mim insistia em não estar feliz por finalmente saber a verdade. E eu não sabia o quanto isso poderia mexer com a minha cabeça.
Eu tentei me sentir alheio à presença do marido de . Não é como se eu tivesse o direito de qualquer coisa, mas porque meu coração parecia não se convencer disso? Por que eu não gostava do modo possessivo que ele se referia a ela? Como se ela fosse um objeto pertencente unicamente a ele.
— Deixa eu ver se entendi. — Ryan segura a garrafa de cerveja na mão. — Quer dizer que a disse para você que engravidou, mas perdeu o bebê, mas na verdade, ela achou que engravidou e o bebê que ela disse que perdeu nunca existiu? — me encara.
— Se você ir para o lado detalhado, é basicamente isso. — concordo tomando um gole da minha cerveja.
Depois da conversa com o marido de , resolvi que eu precisava espairecer um pouco. Contei tudo a Ryan, detalhe por detalhe, porque além de meu melhor amigo, ele sabe o inferno que foi minha vida nos anos que se passaram.
— Cara, isso é uma merda! — nega se encostando na poltrona. Ashley, sua mulher, levou as crianças para visitarem a avó, o que nos permitiu um tempo para conversar. — Já ouvi falar de pessoas assim, mas nunca imaginei que fosse uma. — fala pensativo. — Quer dizer, pra mim ela é perfeitamente normal.
— O mais estranho é que eu concordo com você. — respondo. — Na hora, eu confesso que acabei acreditando em tudo o que ele disse. Mas é muito estranho...
— O que você acha estranho? — pega o controle para colocar a televisão no mudo.
— Se ela estava realmente com problemas de saúde. — digo. — Os médicos não seriam obrigados a chamar a família? Quer dizer, mesmo que ele fosse o noivo, ele não tinha poder legal sobre ela.
— Isso faz sentido. — Ryan faz uma careta. — Eu vou te falar a verdade, , eu não conheço esse Brandon, mas não confio nem um pouco nele.
— Por que você diz isso? — questiono curioso.
— Você sabe, a fruta nunca cai muito longe do pé. — dá de ombros. — E ele é filho de um político, o talento deles é mentir.
Olho fixamente para minha garrafa de cerveja. Eu estava tão atormentado por uma resposta, que quando eu a consegui, não questionei sua veracidade. Apenas a aceitei e fui embora. Mas agora quase me arrependo disso. Minha mãe me ensinou a ser crítico em relação a tudo o que era dado. Não aceitar apenas por aceitar, mas saber a importância daquilo.
Me sinto envergonhado agora. Eu deveria ter me comportado melhor e não aceitar merda nenhuma que vinha com aquele cara.
— Por que você simplesmente não admite, ? — Ryan me tira dos meus pensamentos. Meu olhar agora está nele.
— Admitir o quê? — pergunto confuso.
— Que você está mexido com tudo isso. — explica.
Engulo em seco. — É claro que eu estou! Primeiro eu descubro que quase tive um filho, para depois descobrir que ele nunca existiu. Isso mexe com qualquer pessoa, hm?
— Não, cara! — nega bebericando sua cerveja. — Você não pode me enganar, . Eu vi você amar aquela garota durante toda a sua vida, e agora você quer que eu acredite que está simplesmente tudo bem? Que você não está mexido com ela?
De repente, quero levantar e ir embora. Por que estou tentando evitar essa conversa, afinal? No fundo eu sei a resposta, só não posso admiti-la.
— Você está errado, Ryan. — discordo. — Não há nada que me faça voltar a ser aquele menino estúpido de novo. Olhe pra mim. — dou de ombros. — Eu sobrevivi. Encontrei uma pessoa que me ama e que me coloca em primeiro lugar no seu mundo.
— Mas e você, ? — me olha. — Você coloca em primeiro lugar?
— Do que você está falando? — me irrito.
A menção de que eu não fazia o suficiente por poderia me enlouquecer. Eu faria tudo o que eu pudesse e até o impossível por aquela mulher. Ela sempre seria a mulher que curou o meu coração quando ele foi quebrado de formas que achei que jamais poderia ser recuperado. Ela me fez sorrir, ela me fez ter esperança, e ela com certeza me deu uma família.
— Eu não estou insinuando que você não a ame. — explica me fazendo relaxar na poltrona. — Mas e se você estiver a amando da maneira errada, ? Como você pode viver sabendo que o amor verdadeiro, aquele que te faz perder o fôlego escapou entre suas mãos porque você escolheu seguir o orgulho em vez do coração?
— Ryan...
— Não! — levanta a mão me pedindo para ficar em silêncio. — Você é como um irmão, apenas me escute, tudo bem? — quando eu não respondo, ele continua. — Eu vi você cair para o amor, . O verdadeiro amor. Nada era capaz de derrubar você quando tinha aquela garota. — ele não citar o nome para eu saber de quem está falando. — Quando você a tinha, você tinha o mundo, se lembra? — solto uma respiração ao ouvi-lo. — Então ela te magoou. Sim, , ela realmente quebrou o seu coração. Mas você jogou tudo sobre ela, como se o seu lado fosse inocente na história.
— O quê? — bufo. — O que de tão errado eu fiz? Amei ela demais?
— Você deveria ter ido atrás dela! — joga pra mim. — Ter descoberto o que estava errado, cara. Se você a amava, você não teria desistido tão fácil da garota que você dizia ser a mulher da sua vida. Você já pensou, , se tivesse ido até lá, hoje poderia ser a como sua esposa?
— Ela não me queria mais! — rebato. — O que eu iria fazer, Ryan? Obrigá-la a voltar comigo?
— Você julgou o que ela queria! — diz. — Nunca ouviu isso dela, não é? Você simplesmente aceitou, . Para um cara que dizia que a amava tanto, você deixou ela ir fácil demais.
— Ela me quebrou, Ryan! — falo óbvio. — Isso foi o suficiente para que eu não fosse atrás dela, porra! Se Ashley destruísse tudo o que você sonhou um dia para vocês dois, você simplesmente iria esquecer e ir correndo até ela, como se nada tivesse acontecido?
— Com certeza não... — murmura.
— Bom, obrigado! — resmungo.
— Mas sabe o que eu faria, ? — continua. — Eu daria uma chance a ela, isso não significa que eu esqueceria o passado, significaria seguir em frente. Porque é assim que funciona, . Você é machucado, você sofre, cai e fica lá por um tempo, mas no final, você segue em frente, porque é assim que deve ser a vida, .
— Você não entende, Ryan. — sussurro, negando, apertando a garrafa da cerveja em minha mão . — Simplesmente não entende.
— Então me explica, cara! Abre o jogo! — pede. — Porque eu realmente não estou afim de ver o meu melhor amigo ferrar a vida dele porque foi covarde demais para admitir que não pode parar de amar aquela garota.
— Eu não posso ser quebrado de novo. — fecho os meus olhos me lembrando da sensação. Como é sentir seu mundo desabar. — Foi demais para mim, Ryan, você estava lá! — digo. — Eu sempre achei que era um exagero quando alguém se afogava nas bebidas ou se trancava em casa por causa de mulheres. Mas Ryan, parecia que o meu coração tinha sido arrancado de mim. Por ela. Por ela, Ryan. — abro meus olhos novamente para encontrá-lo com as mãos em forma de oração enquanto me observa. — poderia me pedir para ir ao inferno e eu faria de bom grado. Eu faria qualquer coisa por aquela garota, qualquer coisa.
— Você sempre vai amar aquela garota, . — fala baixo. — Mas é escolha sua se decide realmente seguir em frente. Sem enrolações, sem ressentimentos, sem jogá-la na forca a todo instante. Porque não importa o que aconteça, ela sempre será o amor da sua vida.
— Sim... — estou dizendo em voz alta o que eu tanto temi. — Está satisfeito, Ryan? — olho-o. — Sim, porra! Sim, eu amo ! Sim, eu sempre amarei! A verdade é que ela poderia ter me jogado na frente de um caminhão e se eu sobrevivesse, ainda assim a amaria, a perdoaria quantas vezes fosse preciso! Era isso o que você queria ouvir, Ryan? Que no fundo do meu coração eu queria que ela tivesse o meu bebê? Que eu não acredito nem por um minuto sequer que ela não tenha carregado ele?
— Então porque você continua mentindo para si mesmo, ? — questiona enquanto coloco a garrafa de cerveja na mesa de centro. — Vocês todos estão se colocando em segundo lugar, quando deveriam estar primeiro, acorda! — se irrita. — Você é meu irmão, cara! Você merece estar com alguém que você ama até o último suspiro, e sim, errou, ela não é santa, mas da mesma maneira que eu assisti seu amor por ela, também vi o dela por você. — me lembra. — E não importa o quanto você diga que ama , , ela sempre será a segunda opção. Você não acha que ela merece alguém que a coloque como primeira?
As palavras de Ryan me atingem inexplicavelmente. É como um soco bem no meio da minha cara. Algo para me acordar para a realidade. O que eu estou fazendo com a minha vida? O que eu estou fazendo com a vida das pessoas que eu amo? Sim, é verdade. Eu amo , realmente amo. Mas no fundo, Ryan está certo. Ela seria a segunda melhor, e ela não merecia isso. Ela é a última pessoa que merece isso! E de alguma maneira, eu também não mereço. Não mereço estar com alguém quando meu coração sempre acelerará por outra pessoa. Alguém que me faz parecer um adolescente com borboletas no estômago. E eu tentei evitar a todo custo não sentir mais isso, mas parece um teste do destino quando tudo o que eu consigo pensar é que eu sempre vou amar aquela garota que prometeu se casar comigo aos oito anos.
— Cheguei! — Ashley entra com as crianças. Quando ela me vê, sorri surpresa. — Hey, !
— Ei, amor! — Ryan sorri para ela. As crianças correm para o quarto.
— Garotos, banho! — ela vai atrás dele, mas não antes de se virar para mim. — Fica para o jantar, ?
— Não. — nego com um sorriso. — Obrigado pelo convite, Ash, mas já está na minha hora.
— Tudo bem. — sorri. — Mas vê se aparece mais.
Sorrio concordando e ela some pelo corredor. Meu sorriso desaparece quando me viro para Ryan.
— Você é um merda — resmungo ainda relembrando sobre a conversa.
Ele dá de ombros. — Eu tive com quem aprender, certo? — ri. Ryan me acompanha até a porta. — Pensa no que eu falei, . — fala antes que eu saia. — Eu odiaria ver você se arrepender de ter perdido o que movia o seu mundo.
Apenas assinto e me despeço dele. Enquanto caminho em direção ao meu carro, não consigo parar de repassar a conversa com Ryan em minha cabeça. Eu havia admitido em voz alta meus sentimentos. E agora não sei como prosseguir com isso, porque será como andar sobre ovos. Alguém sairá com o coração partido, e eu sei que, de alguma forma, eu poderia ter evitado isso há muito tempo. Eu apenas torcia para que ninguém mais se machucasse ao tentar recolher tantos cacos quebrados.
Quando entrei no carro, meu telefone começou a vibrar insistentemente. Olhando no visor, encontro a foto de brilhando na tela. Havia outras duas ligações perdidas. Droga! Eu havia esquecido de tirar a opção do silencioso.
— , já estou no caminho para casa. — digo ligando o carro. Mas não é sua voz do outro lado da linha.
— ? — ouço a voz irreconhecível de .
— ? — estou perdido. — Por que está me ligando do celular de ?
— Ela tentou te ligar, mas não conseguiu falar com você. — explica. — Então ela achou que você estava na minha casa e ligou para lá. tropeçou na escada e está no hospital da cidade, .
Minha respiração parece ceder quando coloco no viva voz e piso no acelerador com força.
— Como ela está, ? — pergunto aflito tentando me concentrar no trânsito. — E ? Minha filha está bem?
— Eu sinto muito, ! — sussurra do outro lado da linha. Meu coração parece se partir. — Só venha até aqui, tudo bem? Ela precisa de você.
Então o telefone é desligado enquanto dirijo tentando manter toda a concentração que não tenho. E pela primeira vez em muito tempo, eu começo a rezar baixinho.
Capítulo 14
Parecia surreal os acontecimentos das últimas horas. Em um momento, eu estava fazendo as pazes com Teddy e tendo um momento de irmãos e no outro, eu estava com o telefone nas mãos com perguntando se ainda estava na minha casa e se eu poderia chamá-lo. Ela parecia aflita demais, antes de questionar o porquê ela achava que estaria ali, perguntei se estava tudo bem.
Tudo o que me lembro é que no momento seguinte estava gritando de dor, então pensando o mais rápido que eu pude, liguei para a emergência enquanto dirigia para a sua casa. Eu teria chamado , mas eu obviamente não sabia o seu número, e se ele não estava atendendo ela, com certeza não me atenderia também. O caminho até a casa de e era pequeno, cheguei enquanto ela era colocada na ambulância e decidi acompanhá-la.
Por que eu resolvi acompanhá-la? É o que estou me perguntando nesse exato momento enquanto espero na sala de espera. Eu realmente estava ajudando a mulher que possuía absolutamente tudo o que eu mais queria? Sim, eu realmente estava. Tudo o que eu conseguia pensar é na sensação horrível de perder um bebê, e mesmo que eu não fosse a pessoa que mais admirava , eu não desejaria isso para ela. Eu não poderia viver sabendo que eu poderia fazer alguma coisa para ajudar e simplesmente ignorei porque preferi agi infantilmente.
não merecia perder seu bebê também. . Sua pequena garotinha merecia a chance de vir ao mundo. E imaginar que ela seria meia-irmã do meu bebê me traz algo que não sei identificar. Dor talvez, pelo fato de que nunca terão uma chance de conviver.
— ! — surge veloz. Ele caminha em minha direção apressado, como se sua vida dependesse disso.
— ... — sussurro com o coração partido ao ver o estado que ele se encontra. Sou surpreendida quando a primeira coisa que ele faz é me abraçar forte. Em qualquer outra situação, eu teria saltado de alegria, mas sei que é porque ele está sensível.
— Alguma notícia de ? — pergunta ao se afastar. — E ? Como elas estão?
— Eu não sei, eles não podem dar nenhuma informação para quem não é da família. — explico envergonhada. Ele assente como se entendesse e vai em direção ao balcão de informações. Volto a me sentar observando-o de longe.
Ele é tão lindo. Até mesmo quando parece todo desgrenhado. Me sinto estúpida por ter esses pensamentos enquanto ele está sofrendo por sua mulher e filha.
— Ela disse que o médico vai aparecer logo para dar notícias. — suspira, se sentando ao meu lado e abaixando a cabeça enquanto passa as mãos pelo cabelo. — Eu juro que não lembrei que meu celular estava no silencioso. — lamenta. — Droga!
— A culpa não foi sua. — murmuro tentando acalmá-lo. — Poderia ter acontecido com você lá ou não. — explico.
— Mas se eu estivesse lá, poderia ter a ajudado — resmunga. — Que marido de merda eu sou!
— Não, não é! — digo engolindo um seco. Não posso falar mais nada porque estou magoada. Não com ele, eu acho. Mas com o fato de me lembrar mesmo sem querer, que é marido dela.
Ficamos em um silêncio constrangedor pelos próximos minutos. Eu quero poder falar alguma coisa, mas sei que tudo o que sairá da minha boca é o quanto o amo e como quero saber tudo o que se passa em sua cabeça.
— Obrigado, . — sussurra. Eu viro o meu rosto para encará-lo e ele decide fazer o mesmo. Por um momento, me perco em seus olhos. — Obrigado por ter ajudado ela.
Concordo. — Ela teria feito o mesmo por mim. — digo a verdade.
— Sim, ela teria. — concorda baixinho.
É tão estranho estar em uma sala de estar esperando para ter notícias sobre a mulher e filha de . E mais estranho ainda o fato de que eu realmente me importo. Me importo se elas ficarão bem ou não, e de certa maneira, me sinto aliviada por isso. Porque no fundo, sinto que eu não sou uma pessoa egoísta e isso parece tirar um grande peso de cima dos meus ombros.
— Com licença? — o homem que julgo ser o médico aparece. Ele é bonito e tem um sorriso simpático. — Vocês estão acompanhando Linsay ?
— Eu sou marido dela! — se afoba ao falar. Ele levanta da cadeira nervoso. — Como ela está? E meu bebê?
— Senhor , sou o Doutor Garrel — o médico perde o sorriso e o encara sério, mas parece não perceber, ou não dá importância. — Sua esposa chegou aqui com um sangramento. Como a gravidez já estava na reta final, chegamos à conclusão que seria melhor induzir o parto. Sua filha nasceu com dois quilos e setecentas gramas. E é uma garota saudável a julgar pelo choro forte que ela tem.
Um suspiro sai da minha boca ao ouvi-lo. respira fundo ao meu lado piscando rapidamente. Ele está com os olhos cheios de lágrimas.
— Obrigado! — ele abraça o médico que não parece contente com a ação, mas dá um tapinha nas costas dele. — Obrigado!
— É o meu trabalho, senhor . — sorri fraco. — Se o senhor desejar, pode ver sua esposa por alguns minutos. Sua filha está no berçário, mas logo será levada para a amamentação.
— Sim... Sim, é claro! — assente eufórico. O médico se despede e me dá um pequeno sorriso antes de sumir pelo enorme corredor. se vira para me olhar e não consigo decifrar sua expressão. — Muito obrigado, ! — segura a minha mão. — Obrigado!
Eu dou tudo de mim para não desabar quando sinto o seu toque. Quero abraçá-lo e me confortar em seus braços, dizer que estou feliz por ele. Porém, estou acabada. Não porque ele agora realmente tem sua própria família, mas porque não é comigo. E acho que a realidade é a pior coisa quando ela nos atinge.
— Vai lá! — sorrio fraco. — deve estar esperando por você.
Por um segundo, acho que falará mais alguma coisa quando me encara, mas ele acaba concordando e indo em direção à sua mulher. Tudo o que eu posso fazer é assistir enquanto ele caminha para longe, eu apenas fico no mesmo lugar e torço para que não seja longe de mim, para sempre.
— Hey, garota! — a moça que está no balcão me chama. Olho para ela confusa. — Se você quiser saber, o berçário é no fim da linha amarela. — aponta para o chão, que contém uma linha amarela e outra vermelha.
— Eu não quero ir no berçário. — digo confusa. Não sei o porquê de sua fala.
— Apenas se quisesse saber — ela pisca dando de ombros e volta ao que estava fazendo.
Ainda estou confusa quando olho a linha amarela no chão. Olho para os lados não sabendo o que devo fazer. Será que gostaria que eu fosse embora? E se ele precisar de mim? Mordo os meus lábios, indecisa sobre o rumo que devo tomar.
[...]
Não sei o motivo que resolvi fazer isso, mas o fiz mesmo assim. No momento em que estou em frente ao berçário, descubro que eu não deveria ter vindo. É como se meu coração parasse de bater e voltasse várias e várias vezes. Há tantos bebês aqui. E eu não quero chorar, porque todos eles são lindos e tudo o que fazem são arrancar suspiros, mas não consigo parar de pensar no meu.
Eu grudo minha testa sobre o vidro os observando. Há um bebê chutando as perninhas no ar enquanto sua mão está na boca. Ele é extremamente adorável, e por um momento, meus olhos se fecham imaginando como seria o meu em meus braços. Sua pele macia e seus pequenos dedinhos se fechando em torno do meu, a sensação de tê-lo em meus braços e como eu o protegeria.
— Por quê? — sussurro com os meus olhos fechados. — Por quê? — acho que é uma pergunta para a vida.
— Anne está sendo levada para a mãe amamentar. — escuto a enfermeira dizer para a outra. Ela sai do berçário empurrando o berço hospitalar.
— Com licença... — murmuro chamando sua atenção.
— Pois não? — ela sorri para mim.
— Eu... — engulo em seco. — Será que eu posso vê-la? Eu... — procuro as palavras certas. — Estou acompanhando os pais.
— Claro! Acho que não tem problemas você vê-la por um instante. — sorri.
Eu ando lentamente indecisa. Não sei se é certo, mas no momento, tudo o que eu sinto é que devo olhá-la. Então eu me aproximo e paro, o berço está em uma altura em que eu consiga olhá-la facilmente. está enrolada em uma manta lilás.
Solto uma respiração sem saber que eu estava segurando. Ela é pequena e delicada, sua pele ainda está um pouco rosada, mas tudo parece exatamente perfeito nela. é perfeita. Perfeita em cada detalhe. Eu sei que dizem que os bebês são pequenos demais para se parecer com alguém, mas eu consigo enxergar em vários traços dela.
— Ela é linda. — sussurro encantada. Com cuidado, levo meu dedo e acaricio uma das bochechas dela. Então seus olhos se abrem e ela resmunga balbuciando algo. Meu peito quer explodir de amor quando sua mãozinha agarra o meu dedo.
— Acho que alguém já gostou de você! — a enfermeira ri. — Agora preciso levá-la.
— É claro... — concordo ainda admirando essa pequena garotinha.
Quando a enfermeira leva , tudo o que consigo imaginar é como e Abby são abençoados, e como ela também será, porque a maior certeza que eu tenho é que essa será a garota mais amada que já conheci. Olhando ao redor, percebo que estou sozinha. É assustador perceber isso, mas não há mais nada que eu possa fazer. Eu perdi. Esse era o veredito final. E talvez há algum tempo atrás eu provavelmente estaria surtando sobre isso ou entrando em descontrole. Mas não hoje. Não quando eu ajudei uma pequena garotinha a vir ao mundo, o bebê do homem que eu amo e que eu só desejo que seja feliz. Eu queria ser como essas pessoas que seguem em frente facilmente. Mas a verdade é que eu não sei como se segue em frente depois de perder alguém como . Como eu posso me contentar com qualquer outra coisa quando eu tive a melhor parte?
Chegando à conclusão de que não há mais nada que eu possa fazer nesse lugar, eu caminho em direção a saída sem a certeza do que eu farei. Há tanto para conquistar ainda, e muito para reconquistar também. Ainda existe Brandon e o fato de que eu preciso tomar um rumo. Tentar algo novo, talvez. Eu não sei. Tudo o que eu tenho nesse exato momento é a incerteza, e eu acho que ela me acompanhará por algum tempo.
Quando as portas automáticas se abrem, dou o primeiro passo antes de escutar a voz de .
— ! — chama. Me viro para trás, pronta para ouvir mais agradecimentos da sua parte. — Espera um pouco. — pede.
— Ei, ! — sorrio fraco. — Eu acabei vendo , ela é linda! — digo com toda a sinceridade.
— Sim, ela é! — fala animado. É nítida a felicidade em sua voz. — Ela é perfeita, ! Tudo nela, meu Deus, é insano! — diz bobo.
— Você e fizeram um bom trabalho. — engulo em seco. — Eu preciso ir agora...
— Espera um pouco, eu queria te falar que...
— Que você está muito agradecido. — completo sua frase dando de ombros. — Pode parar de me agradecer, , é sério!
— Eu sei , mas é que... — tenta falar.
— Qualquer pessoa no meu lugar teria feito a mesma coisa. — continuo. <
— Porra! Será que você pode ficar em silêncio por um instante? — fala alto atraindo olhares. Quando ele percebe, se envergonha. — Me desculpe!
— Tanto faz! — me irrito. — Eu preciso ir. — me viro para partir.
— ! Droga! — resmunga e então avança na minha direção. Arregalo os olhos assustadas, mas tudo em mim amolece quando sinto suas mãos segurando o meu rosto e me puxando para um beijo.
Não consigo raciocinar de imediato. Eu acho que estou em um sonho muito estranho, só pode ser essa a resposta. Mas se o sonho é meu, então tenho o direito de fazer o que eu quiser, certo? Porque tudo o que consigo pensar é em segurar a nuca de e retribuir o seu beijo. Faz tanto tempo, que quase me esqueci de como era a sensação de seus lábios sobre o meu. E nesse momento, tudo parece perfeito.
Com a exceção de que eu acho que estou sonhando, penso, mas acho que na realidade acabei dizendo a frase em voz alta.
— Você não está sonhando. — responde colocando sua testa na minha.
— Eu definitivamente estou sonhando. — murmuro ainda de olhos fechados, com medo de que tudo desapareça.
— Olhe para mim, querida. — pede. Demoro alguns segundos, mas abro os meus olhos e está me encarando com um sorriso. — Não é um sonho!
É quando eu percebo que realmente não é, e eu não sei se questiono o que ele está fazendo ou se começo a beija-lo mais uma vez, então decido a segunda opção, porque a primeira eu posso deixar para depois.
Capítulo 15
Eu entro no quarto que está, eufórico. Não consigo conter a empolgação de saber que ela e estão bem. Meu peito se enche de amor ao pensar em e que a terei em meus braços em alguns minutos. A minha pequena garotinha.
— ! — exclamo aliviado ao vê-la sorridente conversando com a enfermeira.
— ! — sorri maior ainda para mim quando caminho na direção dela e beijo sua testa por um longo tempo. — , nós finalmente a temos! — diz, com os olhos enchendo de lágrimas. — Nossa menina!
— Sim, nós a temos! — respondo alegre. — Me desculpe não ter chegado a tempo. Eu juro que queria estar com você para ver nascer. Eu fiquei tão preocupado! — suspiro e vejo a enfermeira nos deixar a sós.
— Tudo bem, ! — segura minha mão e aperta firme. — Eu sei mais do que ninguém que você daria qualquer coisa para estar aqui, não se preocupe com isso.
— Eu sei. — murmuro ainda chateado. — Mas não muda o fato de que eu não estava.
apenas aperta minha mão firme quando a porta se abre. Um misto de emoções me atinge quando vejo outra enfermeira entrando com .
— Hora de alguém mamar. — ela sorri, se aproximando com o berço hospitalar. — Você gostaria de pegá-la antes, papai? — me questiona.
Eu engulo em seco, sentindo meu coração acelerar. — Eu posso? — meu olhar vagueia da enfermeira para , afinal, talvez ela não tenha pegado o suficiente ainda.
— Vá em frente! — incentiva, sorridente.
Nervoso, eu me aproximo do berço hospitalar e a enfermeira me orienta como pegar . Ela está enrolada em uma manta, parece quase uma pequena boneca, com exceção de que ela se movimenta. Quando ela está aconchegada no meu colo, tudo parece se encaixar na minha vida. pisca ao olhar para mim, e então um pequeno sorriso se forma em seus pequenos lábios.
De repente, eu estou chorando. Eu consigo entender o verdadeiro significado do amor incondicional. É diferente de qualquer amor que eu já senti em toda a minha vida. Eu sinto que poderia me jogar em frente de um caminhão por essa menina. Ela é tão pequena, mas capaz de causar sentimentos tão grandes em mim. Quando começa a balbuciar algo, eu sorrio feito um bobo.
Minha mãe sempre me dizia quando eu era mais jovem que só iria entender ela quando eu me tornasse pai. E agora sinto que sei do que ela está falando. é apenas uma criança, mas eu já tenho medo em relação à tudo por ela. Se me perguntassem se eu sonhava em ter uma filha, eu provavelmente diria não, porque eu não fui um garoto perfeito. Quando eu era mais jovem, fiz piadas estúpidas sobre algumas garotas. Piadas que hoje eu sei que talvez as machucaram. Se eu tivesse a mente que tenho hoje em dia, eu com certeza não teria feito. Mas não posso mudar o passado, tudo o que eu posso tentar fazer é proteger essa garotinha que sorri em meus braços e um dia olhará para mim como se eu fosse seu herói. Eu não conseguiria perdoar quem ousasse machucá-la. Foda-se essas brincadeiras estúpidas que garotos fazem quando estão na puberdade, eu ensinaria minha menina a se defender e o ponto certo para acertar um belo chute neles.
— Ela parece tão perfeita em seus braços, . — os olhos de se enchem de lágrimas quando ela diz. — Ela é tão linda!
— Sim, ela é! — sorrio bobo. Mas logo meu sorriso desaparece e assumo uma expressão séria. — Eu estou com tanto medo, ! Céus! Apenas em pensar nela machucada me faz querer guardá-la em um potinho para sempre.
— Eu me sinto do mesmo jeito! — suspira roendo as unhas. — Você acha que seria demais ter uma arma em casa? — pergunta. — Apenas no caso de alguém machucá-la e nós precisarmos fazer algo em relação à isso.
— É uma ideia fantástica! — concordo.
— Você sabe, . — revira os olhos sorridente. — Eu estou apenas brincando!
— Mas eu não! — nego olhando minha garotinha. — Talvez eu devesse providenciar uma realmente.
— Não, você não vai! — gargalha. — Me dê ela um instante, quero amamentá-la pela primeira vez! — exclama animada.
— Tudo bem. — concordo depositando com cuidado um beijo na bochecha de . — Você é a garotinha do papai. — sussurro para ela.
A enfermeira que apenas assistia tudo com um pequeno sorriso, orientou de como amamentar . Mas acho que ela parecia simplesmente ter o dom para isso, porque pareceu não ter dificuldades. Quando sugou pela primeira vez o seio de , ela fez uma careta que parecia de dor.
— Dói? — pergunto preocupado observando-as.
— É apenas estranho no começo. — responde acariciando a cabeça de . — Estou tão aliviada de que nada ruim aconteceu. — suspira fechando os olhos. — Eu realmente me assustei, sabe? — sussurra.
— Eu deveria ter estado lá. — lamento. Saber que as duas poderiam estar em perigo e eu não podia fazer nada me assustava.
— Pare de se martirizar, . — abre os olhos para me encarar. — realmente foi um anjo. Ela está lá fora ainda?
— Eu acho que está. — confirmo.
Ficamos em um silêncio enquanto ainda mamava. abre a boca para falar alguma coisa, mas desiste algumas vezes antes de seguir em frente.
— Você sabe que nós precisamos conversar, não é? — pergunta. — Nós precisamos resolver isso, e quanto mais rápido, melhor!
— Você realmente quer falar sobre isso agora? — suspiro. Eu sei que eu preciso dessa conversa tanto quanto . Principalmente depois de minha conversa com Ryan, que me fez abrir os olhos para muitas coisas. Apenas é difícil fazer isso sem magoar , que é demasiadamente importante para mim.
— Não tem momento melhor para falar sobre isso, . — encara , que parece longe de estar satisfeita. — Você nunca parou de amá-la. — não cita nomes, mas não precisa ser um gênio para adivinhar sobre quem ela está falando.
— Não. — confirmo. apenas assente e é impossível não sentir um pouco de culpa com isso.
Mesmo que meu coração venha pertencendo a desde que eu me lembre, de alguma maneira, ele também foi de , porque ela se esforçou para ganhar um lugar nele. Eu estaria mentindo se dissesse que era fácil admitir tudo isso, porque realmente não era. Se eu fosse qualquer outro homem, eu teria amado da maneira que ela deveria ser amada. Não que meu sentimento por ela não fosse verdadeiro, ele simplesmente não era do jeito que ela merecia.
Se me perguntassem se eu pudesse escolher alguém para amar, eu provavelmente teria escolhido ela, sem dúvidas alguma. Mas acontece que isso não é possível. E a verdade é que não importa o que aconteça, meu coração pertenceria a para sempre. E parte disso me assustava, porque se ela me quebrasse mais uma vez, então eu estaria estragado para o resto da minha vida.
— Eu deveria te odiar, sabia? — começa. — Fazer o que essas mulheres com dor de cotovelo fazem para se sentirem melhor. Quebrar o seu carro, talvez. — pensa. — Ou rasgar todas as suas roupas.
— Você provavelmente deveria. — não discordo.
— Mas acontece que eu não consigo te odiar. — nega dando de ombros. — Porque eu sabia desde o início a quem pertencia seu coração, . — me encara. — Eu entrei nisso achando que eu poderia conquistá-lo de alguma maneira, só que acontece que seu coração nem seu é. — sorri fraco. — Ele é dela. — revela.
Suspiro me sentindo horrível ao escutá-la dizer isso, mas aliviado ao mesmo tempo, porque eu já fui longe demais negando.
— Eu provavelmente sou um masoquista. — bufo revirando os olhos.
— Não, você é um idiota! — sorri. — Porque se você tivesse admito isso antes, nenhum de nós passaria por isso. — reclama. — Mas... — ela me olha no fundo dos olhos. — Se você tivesse admitido isso antes, então nós não teríamos . — sussurra olhando para a garotinha que agora adormece em seu colo. — E em toda a minha vida, , ela é tudo o que realmente importa. — seus olhos brilham de lágrimas. — Então obrigada, porque foi você que me deu ela, e eu vou te amar para o resto da minha vida por isso.
— ... — minha voz falha. Me aproximo da maca sentando-me na beirada e a abraçando com cuidado para não machucar . — Você me salvou, sabe disso, certo? Se não fosse por você, eu não sei o que teria acontecido comigo.
— Você também me salvou, . — garante com a voz falha. — Quando eu perdi o meu pai, eu achei que tudo iria desmoronar para mim. Mas você me ajudou também. Nós estamos quites.
— Não foi uma obrigação. — nego. — Nunca, !
— Eu me sinto do mesmo jeito. — garante. — Eu sei que foi de verdade, . Se fosse em circunstâncias diferentes, talvez tivesse dado certo.
— Talvez. — é a única resposta que eu posso dar.
— Pelo amor de Deus, ! — bufa. — O que ainda está fazendo aqui que não foi atrás dela?
— Mas você e ... — balbucio.
— Eu e ficaremos bem. — garante. — Acho que ela vai dormir por um tempinho, até lá você pode ir! — incentiva. — Mas ao menos, me busque depois! É o mínimo! — revira os olhos.
— Posso falar com ela depois. — digo incomodado. Eu não queria deixar na mão logo depois de parir nossa filha. E se ela precisasse de ajuda?
— Eu te amo, . — fala óbvia. — Mas às vezes você é tão lerdo! Vai logo!
— Tudo bem, tudo bem. — me rendo revirando os olhos e beijando sua testa, louco para ir atrás de . — Obrigado, . — encaro-a. — Você sabe, por tudo.
— Procure um advogado para resolver sobre o divórcio. — diz. Apenas assinto. — E ?
— Sim? — respondo-a.
— Certifique-se de que goste de crianças. — me fuzila. — Porque se minha filha tiver uma madrasta horrível, eu vou culpar você. E você não vai gostar nada disso, além de ser obrigado a me pagar uma bela pensão!
Eu prendo o riso, vendo tentar parecer perigosa. Acho que os instintos de mãe estão começando a aflorar sobre ela e eu realmente a entendo, porque meu instinto de proteção parece ter subido em um nível que explodiria qualquer termômetro.
Olhando com , eu sei que minha filha não poderia ter uma mãe melhor. Sei que independente do que aconteça entre e eu, ela jamais fará algo que prejudicasse meu relacionamento com a minha garotinha, assim como me apoiaria em qualquer decisão. Quero dizer a ela que eu realmente a amo, não da maneira que deveria, mas amo. Que ela foi importante em cada passo da minha vida nos últimos anos e que teríamos uma ligação para sempre. Tudo o que eu mais desejava era que fosse feliz, porque dentre todas as pessoas que eu já conheci, ela com certeza era a que mais merecia.
— ... — engulo em seco buscando palavras que não saem.
Ela suaviza seu olhar, como se pudesse enxergar dentro da minha alma. — Eu sei, , — sussurra, lutando contra as lágrimas. — Eu sei.
Apenas assinto antes de beijar sua testa por um tempo. Beijo a bochecha macia de e digo o quanto a amo, então eu saio do quarto indo atrás da mulher que eu quero pertencer.
Quando eu chego na sala de espera, não está mais ali.
— Droga! — resmungo olhando para todos os lados. Mas minha atenção vai para a garota que está prestes a passar pelas portas de saída. Eu a reconheceria em qualquer lugar. — ! — a chamo. Ela se vira surpresa ao me ver. — Espera um pouco. — peço — me aproximo dela.
— Ei, ! — sorri fraco. — Eu acabei vendo , ela é linda! — fala e sei que está sendo sincera.
— Sim, ela é! — falo bobo ao lembrar da minha garotinha. — Ela é perfeita, ! Tudo nela, meu Deus, é insano! — digo ainda extasiado.
— Você e fizeram um belo trabalho — sua voz falha e eu entendo o porquê. — Eu preciso ir agora...
— Espera um pouco, eu queria te falar que...
— Que você está muito agradecido. — interrompe minha fala. A verdade é que eu estava sim, mas não era isso que eu pretendia falar. — Pode parar de me agradecer, , é sério!
— Eu sei, , mas é que... — quero explicar.
— Qualquer pessoa no meu lugar teria feito a mesma coisa — continua.
— Porra! Será que você pode ficar em silêncio por um instante? — peço exasperado. Quero dizer que eu sou louco por essa mulher e ela não deixa em momento algum. Quando eu percebo que atraímos alguns olhares, me desculpo envergonhado de minha grosseria. — Me desculpe!
— Tanto faz! — agora parece irritada. — Eu preciso ir! — se vira pronta para partir.
Não tão fácil, penso. Eu já deixei que ela fosse uma vez, isso não estaria mais acontecendo. Nunca mais.
— ! Droga! — resmungo sobre sua teimosia, então eu avanço em sua direção, a vendo arregalar os olhos. Eu não sei o que passa pela sua cabeça, mas sei o que está passando na minha. Tudo o que eu quero é agarrá-la e não deixá-la sair de meus braços novamente. Eu seguro seu rosto com minhas mãos vendo-a apreensiva e a beijo.
Só Deus sabe como eu senti falta desses lábios. Ela parece não entender no começo, mas logo se entrega quando sinto suas mãos segurando minha nuca e retribuindo. Quando eu paro o beijo, posso escutá-la sussurrar que está sonhando.
— Você não está sonhando! — garanto a ela encostando minha testa na dela.
— Eu definitivamente estou sonhando. — murmura ainda de olhos fechados.
— Olhe para mim, querida. — peço sorrindo. Demora alguns segundos, mas ela faz o que pedi. — Não é um sonho!
Ela parece me encarar, pensando ainda. E quando ela parece ter certeza de que realmente é real, ela me beija mais uma vez. Eu nunca poderia me cansar de beijar essa mulher. A fome que eu sentia dela era grande demais para me alimentar apenas nesse instante. saberia que eu estava disposto a esquecer o passado, apenas para ter um futuro ao lado dela. Se ela ainda me quisesse, é claro. E então eu passaria o resto da vida recompensando todo o tempo que passamos longe um do outro.
— O que você está fazendo, ? — sussurra perdida. — Você vai acabar se arrependendo disso. — murmura triste.
— Eu estou fazendo o que eu deveria ter feito há muito tempo, . — entrelaço nossas mãos e deposito um beijo na ponta de seus dedos. — Eu estou admitindo que não importa o que eu tente fazer, não posso viver sem você, . É você. — dou de ombros. — Sempre será você.
Ela pisca, tentando conter as lágrimas. — ...
— Eu venho mentindo para mim mesmo, . Mas eu não estou mais fazendo isso, chega de fingir uma coisa que é real. — passo a língua umedecendo meus lábios. — Eu amo você e se não for você, . — dou de ombros. — Então não será mais ninguém.
— ! — os olhos de aglomeram lágrimas. — Tudo o que eu mais quero na vida é ficar com você. — sussurra soluçando. — Eu achei que você me odiasse. — fala com pesar na voz.
— Eu queria te odiar. — lamento esfregando o nariz contra sua testa. — Mas eu prefiro me arrepender daquilo que eu fiz do que nunca tentei, . — sou sincero. — Meu coração pertence à você e ele não tem devolução.
— Tudo o que eu quero é cuidar dele para sempre. — seus olhos brilham ao encostar a cabeça no meu peito. Acaricio seus cabelos e a levo em direção ao estacionamento, procurando o meu carro. — , estou com o carro do meu pai. — revela.
— Eu posso buscar depois. — asseguro. Ela apenas assente antes de entrar no meu carro e eu faço o mesmo. Quando estou colocando o cinto, percebo certa insegurança em . — Está tudo bem? — pergunto preocupado.
— Está sim. — responde olhando para os seus dedos. — ... — repreendo-a. — É hora para falar a verdade. Você não quer estar comigo, é isso? Eu...Eu posso entender se for isso — digo.
— Não, ! — nega. — Tudo o que eu quero é estar aqui! — segura a minha mão. — Mas eu estou confusa. Sua filha com nasceu hoje, isso é estranho! — admite em voz baixa. — Eu não quero ser a culpada por uma criança crescer sem o pai. — murmura. — Você não merece perder mais uma. — sua voz é dolorosa. Por um momento, meu coração se parte ao escutá-la falar isso. Sei que em algum momento, teremos que abordar o assunto do bebê mais uma vez.
Mas meu ombro relaxa um pouco com sua confissão, e percebo um sorriso brotar em meu rosto em seguida quando percebo preocupada com o bem-estar de . Isso com certeza é importante para mim.
— Você não está afastando pai nenhum de ninguém. — nego apertando sua mão. — Minha filha vai crescer rodeada de amor, . Ela vai saber que ela foi desejada mais do que qualquer coisa, e que os pais dela vão se respeitar e torcer para a felicidade um do outro sempre. Mas isso não significa que eles precisem estar juntos. — digo. — O mais importante para e eu é que veja o quanto nós a priorizamos.
— é uma mulher muito legal. — fala baixo. — Eu entendo porque você se casou com ela, de certa forma.
— Bom. — concordo me lembrando de algo. — Isso é algo que você também precisa resolver.
— O quê? — questiona confusa.
— Seu casamento. — digo com certo ciúme. Sei que eu não tenho direito algum de me sentir assim, porque da mesma maneira que eu escolhi me casar com uma pessoa, decidiu o mesmo. É difícil para mim entender, mas eu faço um esforço.
— Isso é complicado, . — ela diz nervosa mordendo os lábios. — Não é algo fácil de se fazer.
— Como assim? — viro o meu corpo para encará-la melhor. — Você não quer se separar dele? — travo com essa possibilidade. — Eu sei que eu não sou rico como ele, . Não tenho um carro potente ou uma mansão, e muito menos saio no jornal da cidade. Mas eu posso dar o meu melhor para você.
— ! — me olha chocada. — É claro que eu quero me separar dele! É tudo o que eu mais quero! — exclama. — E eu não me importo se você tem dinheiro ou não , porque ele pode ser o cara mais rico que eu conheço, mas ele nunca foi capaz de me dar o que você dava. — ela funga. — Eu teria feito tudo para que fosse sempre você. — lamenta. — Mas não há nada que podemos fazer para mudar o passado.
— ... — falo lentamente não gostando do rumo que essa conversa está indo. — Ele machucou você, de algum modo? — questiono. Ela me olha nervosa. — Sem mais mentiras, . Se queremos que isso dê certo, não pode haver mais segredos. Ele te machucou?
— Algumas vezes. — sussurra fechando os olhos. Dor me invade quando penso que ela estava esse tempo todo desprotegida. Eu deveria ser o único a cuidar dela, e falhei. Esse sentimento logo é substituído pela raiva. Ele a tinha, e a machucou. Meus pensamentos estão a todo vapor. Que porra ele fez com ela?
— Eu vou te levar para a minha casa. — digo firme, saindo com o carro do estacionamento. — E você vai me contar tudo o que ele fez, . — peço, mesmo que ouvir sobre o que ela passou traga dor.
E então eu assumiria o que viria a acontecer, porque Brandon iria aprender que eu sou bom em ser um cara legal, mas eu sou melhor ainda sendo um cara ruim.
Capítulo 16
É realmente oficial. Eu serei uma mulher divorciada em pouco tempo. Não sei se isso realmente me incomoda, o fato de ser uma mãe solteira. É claro que será um pai presente e eu não tenho dúvidas de que ele sempre estará lá por mim e caso precisarmos de qualquer coisa. Isso me alivia, porque eu não tenho muitas pessoas no mundo para me amparar.
O que me incomoda é o fato de que eu não devia ter forçado algo que não era para acontecer. Mas como convencer uma garota apaixonada, que achava que nunca teria uma chance com o garoto dos seus sonhos, a desistir dele? Eu sonhava com desde pequena, quando me mudei com o meu pai para essa cidade. Ele era atencioso, gentil e não me tratava diferente de ninguém. Eu sabia que ele e eram apaixonados um pelo outro, então me mantive afastada o suficiente para jamais interferir entre eles. Não importa o quanto eu o amasse, eu não fui criada para prejudicar qualquer pessoa.
Meu pai me ensinou que a coisa mais preciosa que uma pessoa poderia carregar são seus princípios. Me lembro de sentar para jantar com ele no sofá, porque a pequena casa que tínhamos não era tinha espaço o suficiente para uma mesa, e como ele me contava como fora seu dia no trabalho, e eu contava o meu na escola.
Nós não tínhamos muito, mas ter um ao outro era o suficiente. Quando ele morreu, eu fiz uma promessa de que onde ele estivesse, o faria se orgulhar de mim. Eu não era a menina mais inteligente do mundo, então passava os momentos que eu tinha livre na biblioteca da escola, estudando o máximo que eu podia. Consegui entrar na faculdade com minhas notas e batalhei para ter aquilo que eu sei que ele queria para mim.
Quando eu olho para em meus braços, um nó se forma em minha garganta tentando evitar as lágrimas. Ela nunca terá a chance de conhecê-lo. Saber como ele foi incrível e como fez tudo o que podia para me criar, mesmo após a morte da minha. Ele nunca contaria a ela as histórias que me contou e isso parte o meu coração, porque ele merecia viver. Ele merecia a chance de me ver crescer, ver quem me tornei e participar da minha vida, assim como da vida da sua neta.
Eu me sinto triste porque não sei se algum dia terei o que e possuem. Alguém que irá me amar desesperadamente, que perderá o ar ao me olhar ou fazer o impossível para estar comigo. E tenho medo de nunca conhecer esse tipo de amor, porque eu vi meu pai o ter com minha mãe, mesmo por pouco tempo, e seus olhos sempre brilhavam ao falar sobre isso. Não importa o quanto tenha me amado, não foi da maneira certa, e eu jamais o culparia por algo assim, porque o amor não é algo que podemos exigir, ele precisa ser espontâneo e da maneira mais bonita possível.
— Eu amo tanto você! — sussurro para , que me encara com seus pequenos olhos. Com o dedo indicador, passeio meu dedo por sua testa. — Você é tudo o que sempre importará. — digo. Meu amor por ela é inexplicável. Tudo o que eu faço agora parece ser para ela.
Eu seria grata a para sempre por me dá-la, porque eu podia ter perdido todos que eu já amei, mas ela era o motivo que me faria seguir em frente. Então eu decido que não há tempo para sofrer por algo que não estava no meu controle, decido que tudo o que eu farei é me manter firme e continuar minha vida da maneira mais incrível que eu puder.
— Com licença, mamãe! — o médico entra. É a primeira vez que o vejo depois que foi atrás da sua felicidade. Eu não sei bem o porquê, mas ele me causa sensações estranhas demais. — Como vai as minhas duas pacientes mais bonitas?
— Muito bem. — murmuro envergonhada por seu elogio. Ele é bonito demais, impossível não notar isso. Mas seu sotaque é o que torna tudo melhor. — O senhor já sabe quando serei liberada? — questiono, louca para ir para casa com a minha filha. Isso era algo que eu precisava resolver com também, quem ficaria com a casa, porque caso contrário, eu precisava arranjar um lugar urgente.
— Já quer se livrar de mim? — arqueia a sobrancelha com um bico se formando em sua boca. Engulo em seco e só consigo desviar quando se contorce em meus braços com sono. Ela acordou faz pouco tempo e já está com sono de novo? Nego sorridente a olhando.
— Não é nada disso, você é muito atencioso, doutor. — respondo. Atencioso até demais, ao que me parece. Me questiono se ele é assim com todas as pacientes ou apenas comigo.
— Não é todo dia que tenho uma paciente bonita assim. — dá de ombros pegando a prancheta que carregava e folheando algumas páginas. — Acho que amanhã você estará livre, .
Um arrepio passa pelo meu corpo ao escutá-lo dizer o meu nome. Por que estou me sentindo assim de repente? Eu acabei de me separar!
— Você não é americano, é? — minha curiosidade vence quando pergunto.
Ele dá um largo sorriso. — Não, eu não sou! Sou francês! — responde.
— Isso é incrível! — sorrio empolgada. — Quando eu era mais jovem, sempre tive curiosidade em conhecer a França. Eu deveria ter adivinhado que seu sobrenome não é americano.
— Não, não é! — ele parece se divertir. — Meu primeiro nome é François.
— François Garrel. — digo avaliando o som de seu nome em minha boca.
— ... — ele fecha os olhos colocando os dedos sobre suas têmporas.
está adormecida em meus braços mais uma vez. Não tenho vontade de soltá-la nunca mais.
— Sim? — o olho apreensiva.
— Jante comigo! — me encara.
Arregalo os meus olhos surpresa. — Você quer jantar comigo? — questiono ainda sem saber como agir.
— Eu quero! — concorda me avaliando.
— Mas... — engulo um seco. — Eu acabei de ter uma filha. — digo óbvia. Quem em sã consciência convidaria uma mulher que acabou de ter um bebê para um encontro?
— Eu não me importo! — nega. — Se você quiser, pode até levá-la junto também. — sorri mencionando .
Isso amolece o meu coração um pouco. Porque ele é realmente um cara bonito e gentil, além de parecer interessante. Mas se importar com a minha filha é realmente o que o faz ganhar muitos pontos.
— Você conversou com o meu marido. — preciso testá-lo.
— Por que seu marido estava na saída beijando outra mulher? — fala alto. Quando ele percebe o que disse, arregala os olhos. — Caralho!
— Não fale palavrão no mesmo ambiente que minha filha, doutor! — o fuzilo com os olhos. — E ele não estava me traindo. — trato de falar. — Quer dizer, pela lei sim, mas na minha visão não. Que complicado! — digo perdida ao tentar explicar.
— Quer dizer então que você sabe do relacionamento dele com outra? — pergunta confuso.
— Nós estamos nos separando! — revelo. — Com quem ele se envolve não me diz mais respeito.
— E nem com quem você se envolve. — um sorriso surge em seu rosto.
Abro minha boca tentando dizer algo, mas nada sai. Eu acabei de me divorciar do homem que eu mais amei, não acho que sair com outro cara de repente fosse uma boa ideia. Mas outra parte minha dizia que eu não tinha mais nada a perder, que eu deveria me jogar de cabeça e encarar os riscos ao menos uma vez.
— Eu não tenho certeza, sabe. — falo nervosa. — Não acho uma boa ideia...
— Apenas pense sobre isso, então, tudo bem? — me olha gentil. Se eu olhasse por mais tempo em seus olhos com certeza eu falaria sim para qualquer coisa que ele me perguntasse. — Eu estava na lanchonete quando algo me passou pela cabeça, aquela garota que seu ex-marido beijou. — enfatizou o ex-marido. — Ela não era casada com o filho do senador Boyer?
— Ela era sim! — digo. Mas me arrependo na mesma hora. — Espera! Não...Tenho certeza que não! — desconverso. Não iria falar nada sem saber o motivo antes. — Por que você está me perguntando isso? — questiono ansiosa. Ele estava me chamando para sair para saber mais sobre ? Caramba! — Olha só, eu não sou nenhuma fofoqueira! — digo chateada.
— Não! — nega veemente. — Não é nada disso! Eu só achei que ela era muito familiar, ela me lembra uma paciente que tive no início da carreira. — revela. — Nada demais!
— E porque essa paciente é tão importante? — quero saber. — Você é algum médico maníaco? — pergunto me sentindo apreensiva.
— Se eu fosse, eu te falaria? — sorri.
— Eu acho que não... — penso sobre isso. — Mas se você quer sair comigo para saber dela, saiba que minha resposta é não! — afirmo. — Ela pode ser a mulher da vida do meu ex-marido, mas eu não sou uma pessoa que prejudica as outras de forma alguma.
Ele suspira. — É por isso que eu quero ainda mais sair com você. — revela. Minhas bochechas agora devem estar rosadas, e acerto quando ele fala a seguir. — Você é tão linda envergonhada! — ri.
— Pare com isso! — murmuro nervosa. — Você ainda não me respondeu o porquê essa paciente foi tão importante assim para você. — digo curiosa. balbucia algo enquanto dorme e recebe minha atenção.
— Antes de pedir transferência para esse hospital, eu fiz residência em um hospital da Califórnia. — dá de ombros.
— Isso é do outro lado do país! — falo surpresa. Por que ele sairia da Califórnia e viria para uma cidade como Kent? Não havia nada de interessante por aqui.
— Meu amigo mais próximo se mudou para cá. — explica. — Quando eu consegui transferência também, não havia nada me prendendo naquele lugar, então eu vim.
— E sua família?
— Está na França! — ele larga a prancheta nos meus pés, em cima da maca.
François Garrel era um homem sozinho. Isso me atingiu de certa maneira, porque eu conhecia essa sensação.
— Eu estava de plantão quando essa paciente apareceu. — continua. — Ela estava tão alterada que, depois que ela foi embora, ficou conhecida no hospital como A morena do bebê.
— A morena do bebê? — engulo em seco. Isso não podia estar acontecendo. — Por quê? O que aconteceu com ela?
— Ela chegou tendo um aborto espontâneo. — revela. Meu coração se parte. Olho para a minha menina dormindo em meus braços e sofro apenas em pensar perdê-la. — Ela era uma garota jovem, próximo de seus dezoito anos, talvez. — ele parece voltar as lembranças. — Eu estava no início da minha residência, então era difícil para mim separar o lado emocional do racional. — fala. — Foi horrível ver como ela ficou. Todos falaram que de todas as pacientes que já passaram por ali pelo mesmo motivo, ninguém foi como ela. Ela realmente estava devastada.
— Eu nem imagino como dela deve ter se sentido. — sussurro.
François assente. — Ela realmente parecia desejar aquele bebê. — diz. — O namorado dela era filho do senador Boyer, ou algo parecido. — continua. Meus olhos se arregalam quando percebo as coincidências que começam a se formar. Não pode ser! Será? — Ele acabou fazendo aquelas informações nunca saírem do hospital, acho que ele não queria que o pai dele soubesse ou algo assim. — dá de ombros. — O que foi uma coincidência, porque o pai dele estava fazendo campanha no mesmo dia lá.
— François? — chamo-o pelo primeiro nome, por algum motivo, me sinto íntima para isso no momento.
— Gosto do som do meu nome na sua voz. — ele sorri. Eu me ruborizo toda, droga! Ele é quente!
— Há quanto tempo foi isso? — quero saber, porque se for verdade o que está passando pela minha mente, então tudo faria sentido.
Ele parece pensar, como se estivesse fazendo as contas mentalmente. — Há mais ou menos seis anos, eu acho. — coça a cabeça. — Mas é impossível ter sido a garota que te trouxe, não é? — me olha. — Seria coincidência demais!
— Sim, muita coincidência... — concordo, ainda perdida em pensamentos.
Meu coração parece acelerar quando começo a raciocinar direito. Eu entrei na faculdade há seis anos, o que significa que foi o mesmo período de tempo que se mudou para a Califórnia e começou a universidade. Tudo parecia conectado demais para ser real. Minha cabeça estava à todo vapor, e no momento, eu só tinha certeza de duas coisas na minha vida.
precisava saber dessa história o mais rápido possível e François Garrel me olhava como se quisesse me agarrar, e talvez uma parte minha, que eu não sabia quanto, gostava desse olhar.
Capítulo 17
Eu estou nervosa quando entro na casa de o acompanhando. Não sei o motivo, mas parece que vou acordar desse sonho a qualquer minuto e ele terá evaporado. Estou ansiosa para conversar com , porém, ao mesmo tempo, há coisas que eu apenas gostaria de adiar. Lembranças que nunca teriam ocorrido se eu tivesse escolhido apenas seguir o meu coração e acreditar no homem que eu amo.
Minhas mãos estão tremendo e acho que acaba percebendo isso, ele sempre foi bom em me ler.
— Você está bem? — pergunta jogando as chaves do carro sobre a mesa de centro. Ele me encara ansioso. — Não precisa ficar nervosa, . Sou apenas eu!
— É exatamente por isso que estou nervosa. — murmuro. — É você!
Ele parece não entender o que digo, porque me olha confuso.
— Como assim? — questiona querendo saber.
— Estar com você me causa um frio na barriga. — dou de ombros tímida. — Sempre foi assim e parece que nada mudou. Você é o único capaz de trazer essas sensações.
Um sorriso largo se abre no rosto de . Eu poderia olhar ele sorrir por horas seguidas, sem parar. Ele tinha o tipo de sorriso que fazia você sorrir junto, mesmo nos seus piores dias. Quem sorria desse jeito? Capaz de desmontar você inteira? Esse homem sempre foi tudo o que eu sonhei. Como eu consegui sobreviver todos esses anos longe dele? Parando para pensar agora, parece a coisa mais difícil do mundo. era tudo o que mais importava para mim, eu nunca mais quero perdê-lo de novo, não queria sentir tudo outra vez, aquele sentimento horrível de dor.
— Eu acho que talvez isso se chama amor. — ele sorri se aproximando de mim e tomando meu rosto em suas mãos.
— Talvez? — arqueio minha sobrancelha em questionamento.
Ele apenas ri antes de juntar seus lábios aos meus. Eu aprofundo o beijo colocando minhas mãos por cima da sua. É insano como todos os sentimentos parecem nunca terem sido dissipados, muito pelo contrário, parecem cada vez mais forte, dominando cada parte minha.
— Nós precisamos conversar. — sussurra contra minha boca. Não quero soltá-lo, mas sei que realmente precisamos ter uma conversa, então me afasto. — Vem aqui! — me puxa para sentar ao seu lado no sofá. passa um de seus braços ao meu redor e eu me aconchego em seu peito. Só consigo pensar em como senti falta de estar assim com ele.
Brinco com a barra da camiseta de não querendo ser a primeira a falar, acho que ele percebe, como sempre percebia quando as coisas parecem vagar pela minha mente.
— Eu sei que é difícil falar sobre isso. — começa pigarreando. — Mas nós precisamos resolver a situação. — fala.
— Sim, eu sei. — concordo com ele. — É apenas doloroso. — sussurro. Doloroso voltar ao passado, quando não tinha nada de atraente nele nos últimos anos da minha vida.
— Você não precisa falar nada que não queira, . — diz. — Eu jamais obrigaria você à isso.
— Eu sei, . — sussurro emocionada. Isso era uma das coisas que eu mais amava nele. não pressionava a fazer as coisas, ele me deixava fazê-las no tempo que eu julgava ser o certo. — Não sei nem por onde começar — suspiro.
faz carinho em meus cabelos me esperando continuar. — Quando eu conheci Brandon, ele era alguém diferente do que se tornou depois. — começo. — Eu estava fora de mim, acho que aceitaria fazer qualquer coisa na situação que eu estava. — digo. — Então, quando Brandon propôs o casamento, parecia um escape, entende? — digo baixinho, mas não espero sua resposta. — Uma maneira de tentar seguir minha vida sem constantemente sofrer. — nego quando me lembro de meus pensamentos. — Eu fui tão estúpida! Eu quis tanto que a dor fosse embora, que tudo o que eu fiz foi contribuir para que ela aumentasse.
Sinto beijar o topo da minha cabeça e isso é mais que um incentivo para que eu continue falando.
— No começo, ele começou a querer que eu mudasse o jeito que me vestia, falava, agia. — fecho os olhos tentando não me deixar levar pelas lembranças. — Você se lembra dos meus sanduíches de atum? — questiono . Eu sempre fazia esses sanduíches para depois que ele treinava na escola.
— Eram os melhores do mundo. — fala como se estivesse se lembrando.
— Para Brandon, eram horríveis — sussurro me encostando mais em . — Tudo o que eu fazia não era o suficiente para ele. Se eu tentasse preparar o jantar, ele sempre dava um jeito de dizer que não estava bom. Quando eu comprava roupas para tentar agradá-lo, ele insinuava que mulheres casadas não deveriam se vestir daquele jeito. — pisco os meus olhos tentando controlar as lágrimas. É tão doloroso voltar nisso, mas meu coração se derrete quando sinto me apertar. — Nada que eu fazia era bom para ele, a pessoa que eu era não parecia boa o suficiente. Parecia que eu era apenas um fantoche enquanto ele comandava os fios.
— Você sempre foi boa o suficiente, ! — retruca. — Céus! Você não tinha que mudar nada, nada! , você deve ser amada pelo seu jeito, se alguém não pode lidar com a pessoa que você é, então o problema não é com você.
— Eu sei disso. — assinto. — Eu sei disso e o motivo é você. — digo. — Você me amava, não importava os defeitos que eu tinha, você os aceitava. Com você, eu sempre queria ser uma pessoa melhor, mas se eu não fosse, tudo bem, porque você me aceitava como eu era. Com ele, eu simplesmente não queria nada. — dou de ombros. — Ele não fazia borboletas rodopiarem no meu estômago ou meu coração acelerar, eu não desejava nada com ele. Acho que quando ele percebeu isso, tudo piorou. — sussurro.
— ... — a voz de agora está séria. — Ele te machucou? — pergunta. — Eu não quero que você tente me poupar de nada, porque se ele te machucou ...
— ! — chamo sua atenção. — Nada do que ele fizesse tinha mais efeito sobre mim. — revelo. — Eu não me importava mais com o que acontecia.
— Ele te machucou, ? — volta a perguntar.
— Algumas vezes. — admito fechando meus olhos.
Sinto ficar rígido no mesmo instante e quase me arrependo de ter revelado. Mas ele tem razão, não podemos mais esconder nada um do outro, e se dependesse de mim, isso jamais voltaria a acontecer.
— Continue. — é tudo o que posso ouvi-lo falar.
— Havia vezes em que ele ficava tão ciumento em relação a quem se aproximasse de mim, que ele me mantinha presa no quarto. — minha voz parece sair em um fiapo. — Às vezes ele concordava em me deixar sair no jardim por alguns minutos. — engulo em seco. ainda está em silêncio e me parte o coração a ideia de que ele se sinta culpado, porque ele não era. era diferente de Brandon de todas as maneiras e, graças a Deus, era para melhor. — Estava tudo bem, . — sussurro tentando confortá-lo. — Eu aprendi a conviver com ele.
— Essa é a questão, ! — grunhe furioso. — Você não precisava ter lidado com ele, porra! A minha vontade é de quebrar todos os dentes que ele tem. Fazê-lo sangrar por ter machucado você!
— Não, ! — exclamo nervosa. — Você precisa ficar longe de tudo que envolva ele. Eu prometo que vou dar um jeito nisso, mas por favor, mantenha-se afastado dele.
Eu não temia por Brandon, mas sim por , porque o medo dele ser prejudicado era grande.
— Não me peça isso, . — fala com dor. Eu levanto meu rosto para encará-lo e encontro uma expressão de tortura. Acaricio sua bochecha e deposito em seguida um beijo em seu pescoço.
— Eu não quero que você seja prejudicado, . — digo chateada. — Você tem uma filha agora, seria horrível se algo acontecesse com você. — tremo apenas em imaginar essa hipótese.
— Ele vai te deixar em paz, ! — afirma. — E se ele não fizer isso por bem, eu sinto muito, mas será por mal.
— ...
— Eu não vou encostar em um fio de cabelo dele, . — me assegura. — Não será preciso. — fala pensativo.
Isso começa a me preocupar. O que estava se passando pela cabeça dele?
— Do que está falando, ? — pergunto nervosa.
— Ponto de Vista
Quando termino de explicar para o que eu venho pensando, ela me olha com os olhos arregalados parecendo assustada com o que falei. Tudo o que eu quero é que ela se sinta segura, assegurá-la que eu não deixaria ninguém a machucar, nunca mais. E eu faria o que fosse preciso para garantir isso, porque eu falhei uma vez e isso não aconteceria de novo.
— , isso é muito perigoso. — ela começa saindo de meus braços e se virando para me encarar melhor. — Eu não sei... — murmura insegura. — Vai cair tudo sobre mim, ! Não sei se estou pronta para isso.
— . — seguro as mãos dela. — Você foi a vítima em toda essa situação. A culpa não foi sua. — asseguro-a. Eu já havia lido sobre como mulheres que passam pela situação que passou se sentem culpadas por isso, mas eu faria de tudo para que ela perceba que não era a errada. — Esse cara é louco, . — continuo. — Ele precisa ser detido. E se cair tudo sobre você, eu vou te segurar.
— Ele é rico, . — lamenta. — Não acontece nada com pessoas assim, elas conseguem tudo o que querem.
— Pode ser. — assinto. — Mas tem uma coisa que eu sei, .
— O quê? — me olha curiosa.
— Não há nada que eu não faria por você. — declaro, olhando em seus olhos. — Eu não me importo quem ele é, , ou o que ele tem. Ele vai pagar por tudo o que fez por você, e eu só vou sossegar quando vê-lo bem longe de você, e de preferência, atrás das grades, onde é o lugar dele!
Eu sei que está assustada sobre tudo o que eu falei, mas se há uma maneira de fazer justiça, então eu lutarei por isso.
— ... — fala indecisa.
— , preste atenção em mim, amor. — peço segurando seu rosto. — É preciso de um ponto final nisso. Quantas garotas ele já não deve ter ferido e se safado? Quantas outras ele pode ferir?
Sinto que isso atinge , porque ela me olha triste. — Você tem razão, . — sussurra com os olhos enchendo de lágrimas. — Sim, você tem razão! Céus, quantas outras ele pode machucar? — soluça. Meu coração parece se partir vendo-a nesse estado, então a puxo para sentar no meu colo enquanto afasto seus cabelos de seu rosto.
— Olhe para mim, amor. — apelo, beijando a ponta de seu nariz. limpa suas lágrimas com as costas de sua mão antes de me encarar. — Eu amo você, ! — declaro. — E eu não vou deixar nada e nem ninguém te machucar outra vez, é uma promessa.
— Eu amo você! — exclama antes de atacar minha boca. Minha língua invade a sua e minhas mãos descem para a sua cintura apertando-a firme. — Eu senti tanto a sua falta! — murmura contra minha boca passeando suas mãos por baixo da minha camisa. me encara mordendo seus lábios, o que me faz querer sua boca em cada parte de mim.
— Tem certeza? — questiono quando ela começa a abrir o zíper da minha calça.
— É tudo o que eu mais quero, . — sussurra beijando o meu pescoço e mordendo-o de leve. — Me faça esquecer tudo essa noite. — sua respiração contra minha pele me deixa duro. — Quero lembrar apenas de você.
Capítulo 18
— ... — meu sussurro saiu em forma de gemido quando ela acaricia meu membro por baixo do tecido. Eu subo minhas mãos até a barra de sua blusa e ela levanta os braços me permitindo retirá-la. Perco o ar quando vejo que ela está sem sutiã.
— Essa blusa não foi feita para ser usada com um. — murmura segurando em meus ombros. Essa ação faz seus seios se inclinarem contra meu rosto e, sem pensar duas vezes, chupo o bico de um dos seus seios, arrancando um gemido de . Isso serve apenas como incentivo para continuar e circulo-o com a minha língua.
afunda seus dedos em meu cabelo tombando a cabeça para trás. Meu pau lutava dentro da minha boxer para se conter, mas parecia impossível com a bela visão dela. Sua calça não possuía zíper, o que apenas facilitou quando escorreguei minha mão por dentro, encontrando sua intimidade. Minha visão encontrou mordendo os lábios e voltei meus dedos, fazendo-a chupa-los.
Depois que ela os umedeceu, voltei meus dedos até sua intimidade acariciando-a de leve.
— ... — geme se contorcendo em meus dedos. Estou tão duro por ela, mas tudo o que consigo pensar é em satisfazê-la no momento.
— Você gosta dos meus dedos em você, ? — pergunto puxando o bico do seio dela com a outra mão.
— Uhum... — suspira mordendo os lábios. — Mas eu prefiro seu pau.
Um sorriso brota em meu rosto quando escuto sua resposta.
— Eu estou tão duro por você. — revelo mordiscando seu pescoço.
Os olhos de vão para baixo e ela sorri maliciosa. — Eu posso resolver isso. — sussurra.
— Eu aposto que pode. — aperto sua cintura. — Cavalgue em mim, querida. — peço em súplica. — Quero sentir meu pau indo fundo em você. — solto um gemido quando ela pressiona sua intimidade contra mim.
Em uma ação rápida, se desfaz do restante de sua roupa enquanto eu retiro minha calça, em seguida da boxer que visto. Meu membro está ereto esperando por .
— O preservativo, . — me lembra.
— Há um dentro da minha carteira. — pego minha calça do chão e tiro a carteira do bolso, encontrando a camisinha. o tira de minhas mãos rasgando a embalagem e se posicionando ajoelhada para colocá-la em meu membro. Quando ela termina o trabalho, seus olhos me encaram cheio de desejo e tudo o que posso pensar em fazer é puxá-la de volta para o meu colo.
— Céus! Como eu quero montar em você. — geme guiando meu membro até sua entrada. Solto um gemido quando ela senta lentamente, afundando-me nela.
— Porra! — suspiro colocando cada uma de minhas mãos em sua bunda e pressionando-a mais contra mim. Distribuo beijos pelo corpo de enquanto ela faz lentos movimentos subindo e descendo em mim.
— ... — geme, arranhando minhas costas. Subo minhas mãos até seu rosto e a beijo enquanto seu cabelo forma uma cascata sobre nossos rostos. começa a rebolar no meu pau, fazendo meu corpo se contrair.
— Isso! — sussurro contra sua boca, sentindo meu membro pulsar. — Porra! Que gostoso, ! — solto um gemido quando ela rebola me fazendo ir mais fundo.
— Caralho! — ela grunhe puxando meus cabelos. Eu me perco dentro dela, quando seus movimentos começam a entrar em um ritmo sem controle. — ...eu estou chegando lá — continua esfregando-se cada vez mais em mim.
— Sim! — seguro sua cintura. — Jorre tudo no meu pau, querida! — belisco seu mamilo.
choraminga e sinto seu ápice chegar quando meu pau se encharca com seu líquido. — Oh, ! Que gostoso! — geme se contorcendo lentamente sobre mim.
Minha língua passeia pelo seu pescoço quando sinto meu pau pulsar. sente o que ocorre e começa a quicar com velocidade em mim. — ! — seguro minha respiração sentindo espasmos pelo meu corpo. Seguro seu rosto entre minhas mãos e a beijo sentindo seus movimentos contra o meu corpo. — Porra! Porra! — solto quando chego ao meu limite.
encosta sua testa na minha e nossas respirações parecem se tornar uma só. Só Deus sabe como eu senti falta dessa garota, e só Ele sabe como foi difícil tentar convencer a mim mesmo que eu poderia viver sem ela. Eu até poderia, mas não queria.
— Eu te amo, ! — murmura afagando meus cabelos. Eu ainda estou dentro dela quando a mesma aconchega seu rosto na curvatura de meu pescoço. — Eu te amo tanto!
— Eu te amo, querida. — sussurro, sentindo o perfume de seus cabelos. Eu seria capaz de ficar nessa posição para o resto da vida. — É tão bom estar dentro de você. — suspiro.
Sinto o sorriso de sobre o meu pescoço. — Senti falta de você dentro de mim. — admite.
— Eu também, querida. — fecho os meus olhos aproveitando o momento. — Eu também.
A palma da minha mão sobre o lado do corpo de . É viciante sentir sua pele sobre a minha, quase como respirar. Isso me lembra de quando eu e nos entregamos um ao outro pela primeira vez. Éramos jovens e apaixonados um pelo outro, com o desejo à flor da pele. Mas confiávamos o suficiente um no outro para viver o momento que sempre seria lembrado.
Vou dedilhando meus dedos pela lateral do corpo dela e sinto ela depositar um beijo em meu pescoço. Quando meus dedos estão perto de sua barriga, a sinto estremecer.
— Tudo bem? — questiono preocupado.
— Sim... — nega voltando seu rosto para me encarar. Ela morde os lábios apreensiva. — É só que... — suspira. — Esquece!
— Você pode me dizer qualquer coisa, . — garanto. Ela afasta uma mecha de seu cabelo e coloca atrás da orelha.
— Eu queria que você pudesse ter tocado minha barriga quando eu carreguei seu bebê. — sua confissão me desata. Meus olhos se fecham tentando controlar a dor que sinto ao lembrar disso.
O cretino de Brandon havia me dito que tudo não passara de invenção da cabeça de . Que em alguns casos, era até comum mulheres imaginarem a gravidez. Na hora, eu confesso que infelizmente me passou pela cabeça que ele poderia estar sendo sincero. Fiquei desapontado quando ele contou. Mas agora, com essa mulher em meus braços, tão devota de seu amor por mim, fico desapontado comigo mesmo.
Desapontado por chegar a pensar que tudo teria sido imaginação de . Não. Eu não acreditava nem por um segundo que ela havia mentido para mim.
— Tudo o que eu queria era ter estado lá, querida. — sou sincero.
Me passa pela cabeça como nosso bebê seria. Se seus cabelos seriam negros como de ou castanhos como o meu. Ele seria contemplado com o olhar penetrante que ela carrega?
— ... — seus olhos encontram o meu quando suas mãos se apoiam em meu ombro. — Por que achou que você estava na minha casa? — pergunta.
Suspiro. — Eu fui atrás de você. — digo. — Mas Brandon acabou interferindo.
— Você foi atrás de mim? — repete surpresa.
— Sim, eu fui! — afirmo. — Eu queria poder conversar melhor com você sobre o que você disse. Quando eu cheguei lá, ele intercedeu.
— O que ele fez? — pergunta preocupada. — Ele machucou você?
— Não. — nego. Penso em contar para o que ele disse, mas ele já a prejudicou tanto que evito que ela fique chateada por culpa dele mais uma vez. — Ele queria que eu me afastasse, foi isso.
— Ele é um idiota! — grunhe. — Céus! Como eu o odeio!
Tudo o que eu posso fazer é afagar os braços dela enquanto ela o insulta. Ela não precisaria se preocupar com ele nunca mais depois que eu executasse o que estava planejando. Eu o faria se arrepender de ter se aproximado dela, e isso jamais voltaria a acontecer de novo.
— Que nome você teria dado ao nosso bebê? — quero puxá-la das lembranças ruins.
Ela pausa por um instante e um pequeno sorriso se abre em seu rosto. — Eu sempre gostei de Noah. — fala tímida.
Sorrio, nada surpreso. — Não é de se admirar. Você nomeava Noah todos os namorados das suas bonecas. — rio.
— Você se lembra! — diz chocada. — Mas...como? Quer dizer, faz tanto tempo!
— É simples. — dou de ombros. — Eu me lembro de tudo sobre você.
Os olhos dela piscam tentando conter as lágrimas e a puxo para um beijo. — Você é tudo para mim! — sussurra quando se afasta. Seu dedo indicador contorna minha sobrancelha. — Nosso bebê teria orgulho de você.
Minha respiração entra em descompasso com sua fala.
— ... — digo sentindo meu peito se encher de ternura.
— É a verdade. — fala baixinho. — E eu sei que você vai ser o melhor pai do mundo para — seus olhos estão se enchendo de lágrimas. — Ela é abençoada por ter você — diz. — Você e . — completa.
— Você também vai ser parte da vida dela. — a lembro. — vai adorar você!
— E se ela me odiar? — seus olhos estão cheio de medo. — Ela pode me culpar por não ter os pais juntos, . — fala apavorada. — Eu não quero que sua filha me odeie, ela é parte de você.
O simples pensamento não entra na minha cabeça. Era impossível odiar alguém como . Essa ideia simplesmente estava fora de cogitação.
— , tire essas coisas da sua cabeça. — peço. — Ela verá como o pai dela é completamente e incondicionalmente apaixonado por você — acaricio seu rosto. — E como você o faz feliz. Só isso é o suficiente para que ela também te ame — digo. — Ela vai amar você também, — garanto. — Porque são assim que os bebês são programados a vir ao mundo, se você os ama com todo o seu coração, eles te amarão também.
Ela sorri boba. — Quando você se tornou um especialista em bebês? — faz piada.
Revivo os olhos escondendo o meu sorriso. — Querida, só os números de livros que eu li sobre bebês, seria capaz de me tornar um mestre na área.
solta uma risada divertida. — Nosso bebê teria nascido com o seu humor. — brinca.
— Se ele tivesse puxado sua beleza e inteligência, então tudo bem. — garanto.
As bochechas de ficam rosadas e ela se ajeita em meu colo, fazendo um gemido escapar de meus lábios. Eu ainda estou dentro dela, mas ninguém pode me culpar, é a melhor sensação do mundo.
— Você vai querer fazer bebês comigo algum dia? — sua pergunta me pega desprevenido. Eu pisco rápido, porque me lembro que ela não sabe sobre meu complicado problema para engravidar uma mulher.
— É tudo o que eu mais vou querer. — beijo a ponta de seu nariz. — Pode ser apenas difícil.
— Por quê? — me olha confusa.
Eu explico a ela sobre o meu problema de infertilidade e como foi o processo para engravidar. Ela escuta atenta quando repito as palavras que o médico me disse na época.
— É por isso que você insinuou se o bebê era seu? — questiona.
— Sim! — suspiro arrependido. — Me desculpe por isso, querida.
— Eu entendo. — afirma. — No seu lugar, eu provavelmente estaria com a mesma dúvida. — confessa me olhando. — Mas , eu quero que você saiba que eu nunca menti para você sobre isso. — nega. — Era real. Nosso bebê foi real.
— Eu sei, querida. — concordo sincero.
— Tudo foi real. — continua. Seus olhos se fecham e então lágrimas caem pelo seu rosto. — Foi real... — sussurra. — Ele não tinha nem o coraçãozinho formado. — soluça. — O médico disse que era cedo demais, que poderia acontecer com qualquer gravidez até os três meses. — diz. — Mas eu sinto que não é verdade. — nega fungando. — Ele se foi porque achava que eu não o amava. Meu bebê achava que eu não o amava! — grita tentando sair do meu colo, porém, não permito. Não vou deixá-la passar por isso sem mim. Eu a agarro enquanto ela chora compulsivamente em meu colo.
— Tudo bem, querida. — falo, tentando manter a tranquilidade, mas por dentro isso me quebra. — Pode chorar. — aperto-a em meus braços.
— Eu o amava. — fala. — Eu juro, eu juro, eu juro! — seus ombros sacodem com seu choro.
Eu permaneço a segurando em meus braços. Sei que a dor dela não vai passar, mas eu espero do fundo do meu coração que a culpa se vá algum dia. Porque eu sei que se não for, ela continuará acordando todos os dias e se culpando por algo que não estava no seu controle. Não há como comparar uma dor, mas percebo agora que, para , tudo foi mais duro. Ela era apenas uma garota, estava longe de tudo o que conhecia e de todos que a amavam. Eu fui quebrado apenas escutando o que havia acontecido, mas , ela sentiu. Ela sentiu nosso bebê partir de dentro dela.
Se um dia eu sentisse partir do jeito que sentiu nosso bebê ir, eu sabia que seria um homem tão quebrado como ela estava.
— Nosso bebê sabe que você o amou, . — a conforto. — Ele sabe.
— Como ele saberia, ? — soluça. — Como? — pergunta desesperada por uma resposta.
— Porque você chora por ele. — limpo com cuidado suas lágrimas. — Você lutou por ele.
— Eu lutei! — afirma. — Quando eu percebi que estava o perdendo, eu fiz de tudo para que ele não fosse.. — dói escutá-la dizer isso, porque me quebra não ter estado lá quando ela precisou.
— Talvez apenas não fosse para ser, querida. — digo com cuidado. — Talvez apenas não fosse para ser...
volta a chorar deitando a cabeça em meu pescoço. Sinto suas lágrimas escorrerem sobre minha pele, mas não me incomodo. Tudo o que eu faço é abraçá-la apertado e garantir que eu jamais a deixarei passar por qualquer coisa sozinha.
— ? — me chama. Imagino que ela já esteja com sono, porque sua voz está fraca.
— Sim, querida? — encorajo-a.
— Eu acho que sei porque nosso bebê se foi. — fala baixo. Não digo nada, sei que ela continuará quando estiver pronta. parece pensar por um tempo. — Porque no final, você sempre foi meu.
Não entendo o que ela quer dizer. — Do que você está falando, ? — questiono confuso.
— No final, eu tenho minha família, meus amigos e tenho você. — seu rosto levanta do meu ombro e ela está olhando em meus olhos agora. — Meu bebê se foi para não deixar sozinha. — continua. — Ele se foi para existir.
Isso me pega de surpresa. Eu entendo o que ela está falando. Se ela tivesse voltado, grávida ou não, eu teria ido para ela imediatamente. não teria existido porque eu não teria casado com . Eu não teria dado chance à mulher nenhuma com ao meu lado e isso me atinge.
— ... — não sei o que falar depois disso.
— Tudo bem, ! — sorri fraco. — Se meu bebê se foi para você ter , então eu aceito. Eu aceito. — volta a me abraçar.
Ainda estou sem fala quando tomo dimensão do que ela acabou de dizer, porque ela não compreende a dimensão da importância que tem para mim suas palavras.
— ? — digo finalmente.
— Sim, amor? — sussurra.
— Ele foi nosso milagre. — luto contra as lágrimas. — Porque os médicos podem dizer que eu não posso ter um filho de maneira tradicional, mas querida, ele foi nosso milagre. E você sabe por quê?
— Por quê, ? — sei que ela está se controlando para chorar de novo.
— Porque ele conhecia nossos corações. — respiro com dificuldade. — E que nós jamais o esqueceríamos.
Então os papéis se invertem quando eu desabo no choro, e dessa vez, me segura.
Capítulo 19
— Eu não acredito que essa coisinha linda tem DNA do . — Ryan falava com uma voz fina enquanto segura . Reviro meus olhos para a sua piada e vejo choramingar.
— Você irritou minha filha! — acuso tirando-a do colo dele e a ajeitando no meu. apenas assiste com um sorriso nos lábios enquanto termina de arrumar seus pertences. Ela e serão liberadas hoje e mal posso conter minha empolgação.
— Você sabe que Cole e tem um ano e meio de diferença, certo? — se refere ao seu filho caçula.
Uma carranca se forma em meu rosto imaginando onde Ryan quer chegar com isso.
— E o que importa isso? — pergunto mantendo a tranquilidade enquanto agarra o meu dedo.
— Que sua filha provavelmente se apaixonará pelo meu menino. — sorri orgulhoso. Meus olhos deixam por um instante e encaro Ryan com um olhar sério.
Ele estava louco se achava que seu filho seduziria a minha garotinha.
— Pode esquecer! — falo firme. — Mantenha seu filho longe da minha menina, Ryan! — esbravejo. Ryan gargalha e é acompanhado por . Meu olhar retorna para que boceja.
Eu estava em perfeita harmonia com o mundo. Parecia que cada detalhe parecia se encaixar em seu lugar, como se cada gaveta estivesse organizada quando se abrisse. O dia anterior havia sido um dos melhores em muito tempo. Nada se comparava ao fato de ter junto a mim. Tê-la parecia o suficiente, como se fosse o combustível que eu precisava para enfrentar qualquer coisa.
Me doeu ter que deixá-la essa manhã, mas eu sabia que isso não seria por muito tempo, eu resolveria toda a situação.
— Você trouxe a cadeirinha, ? — questiona quando termina de arrumar a sua mala e de . — Não podemos sair com ela sem uma cadeirinha.
— Eu trouxe! — assinto, passando para o seu colo e pegando as malas cada uma em uma mão.
Ryan desapareceu antes mesmo que eu pedisse ajuda com as malas. Esperto! segura em seus braços quando saímos do quarto e vamos em direção ao corredor. Estou empolgado para aprender a cada dia mais sobre , mas confesso que um medo de apodera de mim. Por mais que eu tenha lido vários livros sobre bebês, sinto que eu posso cometer um deslize a qualquer minuto.
Depois que demos baixa na recepção, uma voz grita quando estamos prestes a passar pela saída.
— ! — me viro no mesmo instante que ela, observando o médico que a atendeu se aproximar.
Ele carrega um sorriso no rosto ao olhá-la e minha sobrancelha se ergue no mesmo instante. Quando volto meu olhar para , vejo sua pele atingir um tom rosado. Imediatamente sei que algo está acontecendo, apenas não sei exatamente o quê.
— Olá, François. — murmura. — Quer dizer... — pigarreia. — Doutor Garrel!
— Sem formalidades. — ele revira os olhos todo sorridente para ela. — Você recebeu alta, não precisa mais me chamar de doutor. — dá de ombros. — Apenas François está bom.
se remexe ajeitando em seu colo parecendo nervosa. Meu olhar fica entre ela e o médico quando finalmente resolvo me pronunciar.
— Então. — atraio a atenção de ambos, mas encaro ele. — Algum problema? Está tudo bem com elas? — pergunto curioso.
— De forma alguma, as duas parecem ótimas. — sorri. Ele encara por alguns segundos fixos antes de continuar. — Você já tem minha resposta? — cruza os braços.
No mesmo instante entendo o que está acontecendo. Ele está flertando com e ela parece boba com a situação. Se eu fosse qualquer outra pessoa, eu ficaria irritado por ver minha futura ex-mulher com outro homem, mas eu não era. Essa era , a mulher que abria mão de tudo se fosse preciso pela felicidade dos outros, a mulher de coração mais puro que eu já conheci. Se existia alguém que merecia a felicidade, sem dúvidas era ela.
— Eu vou levar as malas para o carro. — aviso para dar algum tempo a eles. Em algum momento, consigo enxergar o agradecimento na face do médico e então apenas assinto. está corada quando eu saio do hospital e vou rumo ao estacionamento.
Quando abro o porta-malas, jogo as duas bolsas que eu carregava dentro e o tranco. O bebê conforto rosa com ursinhos marrom está pronto no banco de trás, então eu apenas aguardo e com o meu coração batendo em ritmo descompassado. Seria tudo diferente agora. Não teríamos qualquer enfermeira sanando nossas dúvidas quando precisássemos. Agora, e eu éramos pais, e não importava o quanto tentamos nos preparar para isso, acho que ninguém consegue estar totalmente.
A única coisa que eu desejo mais que tudo é não decepcioná-la, ser o melhor pai possível e estar lá em todos os momentos para ela. não tem a mínima noção do tamanho do meu amor por ela, mas eu faria questão de provar todos os dias da minha vida.
surge em minha visão quando ela está do lado de fora do hospital, o médico ao seu lado toca o ombro dela e sussurra algo em seu ouvido. Posso ver ela ruborizar enquanto se despede dele. Quando chega até o carro, me seguro para não soltar algum comentário. Sei que ela falará quando achar ser o momento ideal.
— Tudo bem? — questiono, ajudando-a a colocar no bebê conforto. Ela estranha no primeiro momento, mas depois parece relaxar quando se senta no banco de trás e começa a entretê-la.
— Tudo bem! — confirma quando eu acelero o carro e começo a dirigir. — Ele me convidou para um jantar. — revela depois de alguns minutos. Encaro-a pelo retrovisor e vejo que ela está me olhando também.
— Isso é ótimo... — digo, cuidando com as palavras. — Quer dizer, se você quiser ir. — conforto-a.
— Eu não sei. — murmura negando. — Não seria estranho? Acabamos de nos separar e eu tive um bebê, só acho que é cedo demais. — seu olhar deixa o meu e vai para .
Eu entendo o que ela quer dizer. tinha apenas o pai por um longo tempo, e depois a mim. Ela é a pessoa que se certifica de que a outra realmente estará para valer em sua vida, porque tem medo de se apegar e ser deixada. E isso me quebra um pouco, porque foi o que eu fiz de certa maneira, mesmo sem a mínima intenção.
— Ele só quer um jantar, . Não está te pedindo em casamento. — dou de ombros. — Se você quiser se divertir uma noite, você sabe, ver se realmente gosta dele, então vá em frente. — falo.
— Sério? — me pergunta sorridente.
— É claro! — garanto, retribuindo o sorriso. — Não há problemas nenhum nisso, querida.
— Obrigada, . — estica sua mão e coloca-a sobre o meu ombro. Com a mão livre, eu coloco a minha por cima da dela.
— Eu sempre estarei com você para o que precisar. — sou sincero. — Você é importante para mim, . Só porque não estamos mais juntos, não significa que não faça mais parte da minha vida.
— Eu sei, . — sussurra piscando, contendo as lágrimas. — Eu me sinto da mesma maneira.
— Bom. — assinto, voltando a prestar atenção no trânsito sentindo uma verdadeira paz interior.
[...]
— Nós deveríamos voltar ao hospital! — afirmo nervoso, enquanto assisto tentar fazer parar de chorar. — Isso não pode ser normal! — digo andando de um lado para o outro sem saber como agir.
— Bebês choram, . — tenta me confortar. — É claro que é normal! — embala , que agora abre um berreiro mais alto ainda. — Tenta você, !
— Tudo bem... — digo nervoso, pegando com cuidado enquanto ela chora compulsivamente. Arrumo-a em meu peito, segurando-a com cuidado.
— Relaxa! — pede. — Ela sente quando estamos nervosos.
— Tudo bem... — sussurro, acariciando as costas dela com cuidado. — O papai têm você. — murmuro, caminhando com ela pela sala. aos poucos para de chorar e começa um resmungo. — Eu tenho você, querida. — continuo acariciando suas costas. O tom de sua pele, que antes estava vermelha por conta do choro, começa a voltar ao normal.
— Se antes tínhamos alguma dúvida de que ela seria a garota do pai, — sorri. — Acho que agora não temos mais.
Um pequeno sorriso brota no meu rosto ao escutá-la. com certeza seria a minha garotinha para sempre, eu não tinha dúvida alguma em relação a isso. Minha garotinha pisca sonolenta e aos poucos começa a se render ao sono. Eu assisto-a dormir em meu colo admirado com sua perfeição.
— Ela é tão linda. — sussurro apaixonado.
— Sim, ela é. — concorda baixinho. — Acho melhor colocá-la no berço, ir acostumando-a já.
Concordo. — Eu vou colocá-la. — digo subindo as escadas com cuidado com ela em meu colo. Entro no quarto de e vejo o enfeite de ursinhos marrons. É agradável e acolhedor, então coloco-a com cuidado no berço e fico alguns minutos para ter certeza de que ela não vai acordar e chorar novamente.
Depois de verificar que ela realmente está dormindo, checo sua respiração apenas para ter certeza de que tudo está realmente bem.
— Tudo bem, acho que está tudo bem. — sussurro para mim mesmo saindo do quarto dela e voltando para a sala. Encontro jogada no sofá com as mãos cobrindo seu rosto. Penso se eu deveria dizer a ela o que fiz nesse sofá com na noite anterior, e acabo achando melhor deixar isso passar.
Ela nota minha presença e me olha pensativa quando decide sentar-se.
— Precisamos conversar. — revela suspirando.
— Se for sobre a casa, saiba que eu não me importo de sair... — tento dizer, mas ela me interrompe.
— Não! — nega. — Podemos resolver isso depois, mas é algo que eu realmente acho importante você saber.
Me sento ao lado dela preocupado. — Aconteceu alguma coisa? — pergunto. — Você está doente? — arregalo os olhos nervoso. — É ?
— ! — exclama. — Respira e me escuta! — pede.
Respirar, penso. Sim, eu posso tentar fazer isso.
— Tudo bem, pode dizer. — incentivo-a.
— O François. — começa. — Quer dizer, o doutor Garrel — pigarreia corando. — Ele fez residência na Califórnia antes de pedir transferência para cá — diz. Apenas assinto, não sabendo onde ela realmente quer chegar. — Então, ele e eu estávamos conversando, e ele comentou sobre uma paciente. — olha seus dedos nervosa. — Foi ele, .
Olho confuso. — Foi ele o quê, ? — pergunto sem entender.
— Foi ele que atendeu a . — fala baixo. — Quando ela perdeu o bebê.
Meu coração parece estar em uma corrida, porque acelera sem que eu possa fazer nada para detê-lo. É como se todo o ar fosse sugado de meus pulmões, e de repente, se torna difícil respirar.
— Você tem certeza? — é tudo o que consigo questionar. Parece coincidência demais que seja o mesmo médico.
— Tudo se encaixa, . — assente. — Ele sabia até sobre o marido dela, a data também bate com o tempo que ela estava lá, e faz sentido. — explica.
— Ele mentiu para mim. — a raiva começa a me dominar. — Aquele... — fecho os olhos com tanta força que, quando os abro novamente, tudo parece rodar. — Ele olhou nos meus olhos, . — digo. — Ele olhou nos meus olhos e disse que não havia bebê. Que era tudo invenção da cabeça dela. — minhas mãos estão fechadas em punho. Tudo que eu quero é estar na frente dele e esmurrá-lo. Esfolar cada parte dele, e ainda assim, não seria o suficiente por tudo o que ele causou.
— , violência não vai resolver nada numa situação como essa. — fala calma. — Ele tem dinheiro, poderia fazer você ficar um bom tempo na cadeia. — me lembra.
Suspiro frustrado. — Ele precisa pagar, . O que ele fez com ela... — meu coração parece se partir. — Céus! Eu o odeio! O que ele fez ela passar...
toca o meu ombro tentando me acalmar, mas parece uma falho. — Ele machucou o que você mais ama, . — suspira. — Eu entendo. Mas o que você tem que fazer é retribuir sendo superior — diz. — No fundo, você sabe o que precisa fazer, certo?
— O pai dele está em campanha. — murmuro pensativo. — Seria um escândalo se soubessem o que filho do senador Boyer fez com a mulher.
— Você vai expor ele. — não é uma pergunta, ela sabe.
— Eu vou expor ele, ! — digo categórico. — Eu vou destruir a reputação dele, eu vou manchar a imagem que ele tem, e eu vou me vingar pela .
— ...
— E no final, eu ainda vou assistir nos noticiários ele indo parar na cadeia! — afirmo.
— ...
— Eu sei o que você vai falar, . Acha que vingança é besteira, mas eu vou até o fim se isso significa tirá-lo da vida de . — assumo.
— Na realidade, eu ia dizer que minha prima é jornalista do New York Time. — dá de ombros. — Se você vai expô-lo, precisa ser para o máximo de pessoas possíveis. — sorri.
— Isso é perfeito! — falo sincero. — Tenho certeza de que ela vai adorar uma exclusiva, apenas preciso conversar com sobre isso. — suspiro. — Talvez seja difícil para ela.
concorda. — Mas no final, o que importa é que vocês farão o certo, e estarão livres dele.
Porra! Era tudo o que eu mais queria, começar a viver minha vida com , sem dramas, interrupções ou o passado nos assombrando.
Quando meu telefone toca, retiro-o do bolso vendo a imagem de Teddy no visor e atendo animado.
— Ei, garoto! — chamo-o. Eu adorava Teddy, sempre foi um ótimo garoto e nunca me deu problema como aluno.
— ! — sua voz parece falha do outro lado da linha. — Você acha que pode chegar aqui em dez minutos?
— O que aconteceu? — a preocupação é nítida em minha voz.
— É o marido da . — fala nervoso. — Ele está indo embora.
Solto uma respiração aliviado. — Finalmente!
— Você não entendeu, . — Teddy exclama do outro lado da linha. — Ele está indo e está levando com ele.
Capítulo 20
Eu mal conseguia descrever o sentimento que me apoderava. A noite passada havia sido a melhor da minha vida. Era como se fosse o único com poder de apagar todas as lembranças ruins que eu já carreguei. Com ele, eu poderia ser sempre eu mesma, não precisava ter medo de falar qualquer coisa ou fazer. tinha o poder de me fazer acreditar que tudo daria certo, e eu gostava dessa sensação.
Mas nem tudo seria tão simples assim. Eu sabia que seria uma longa batalha até tirar Brandon de nosso caminho. Ele nunca fez nada na minha vida se tornar fácil, e dessa vez, não seria diferente.
— Onde você passou a noite? — é a primeira coisa que fala quando me vê entrar no quarto. fora para o hospital buscar e que ganhariam alta. Eu enxergava a felicidade em seu rosto por conta da filha, e isso me fazia feliz também.
— Eu passei a noite com Ashley. — minto. Não gosto disso, mas sei que é preciso.
Brandon me encara por alguns instantes e coloca a mão no queixo pensativo.
— Engraçado. — começa. — Pedi para sua mãe ligar para Ashley e perguntar de você, ela disse que você não apareceu por lá, . — cruza os braços. Minhas mãos começam a tremer quando Brandon se aproxima de mim. Automaticamente, dou alguns passos para trás.
— Brandon... — sussurro receosa.
— Estava boa a noite com ele, ? — ele enrola suas mãos em meu cabelo e me puxa para mais perto. — Será que você gostou da maneira que ele te tocou? — pergunta próximo ao meu ouvido.
Meus olhos se fecham com a dor que ele está causando em meu couro cabeludo. — Você está me machucando! — choramingo, tentando me desvencilhar.
— Me responde, ... — afrouxa a mão sobre meus cabelos. — Será que ele te comeu na cama que divide com a esposa? Eu nunca achei que você servisse como amante, se eu soubesse disso...
Suas palavras não deveriam me machucar, mas machucam. Não consigo entender o porquê ele não pode aceitar me deixar e seguir em frente.
— Sabe o que eu acho, ? — acaricia a minha bochecha com sua outra mão. Eu inclino meu rosto para trás, tentando me livrar de seu toque. — Eu acho que tudo isso é você querendo minha atenção.
— Não, Brandon! — contesto. — Pare com isso, por favor! — digo. — Eu não quero chamar sua atenção, eu só quero que você me deixe ir. — peço.
— Você quer que eu te deixe ir para correr para os braços dele, não é? — me solta bruscamente. — , você deveria saber que eu não abro mão do que é meu.
— Eu não sou sua, Brandon — nego. — Quando você vai entender? Eu não sou a sua mãe! — soluço.
Ele parece ser atingido por minhas palavras, porque suas mãos agora estão fechadas em punho e ele me encara raivoso. Me arrependo na hora das palavras que eu disse.
— O que você pensa que está falando, ? — questiona. Luto contra as lágrimas e abraço meu próprio corpo. — Me responde, porra!
— Eu sei que você acha que no fundo é igual ao seu pai. — sussurro. — Você acha que deve fazer as mesmas coisas que ele fez. — continuo. — Mas eu não sou sua mãe, Brandon. — nego. — Então, por favor, pare de me fazer sofrer o que sua mãe sofreu.
— Você não sabe do que está falando... — o olhar dele agora parece perdido.
— Você amava a sua mãe. — arrisco. — Como foi ficar atrás da porta escutando-a chorar enquanto ele a machucava? — pergunto. Brandon se senta na beirada da cama como se lutasse contra suas próprias memórias. — Como foi, Brandon? Não poder fazer nada por ela?
— Ele disse que ela merecia. — fala baixo. — E se ela não servia como esposa, seria tratada como uma qualquer. — sua cabeça cai para o chão. — Ela me amava...
Uma parte minha sofre pelo Brandon garotinho, que foi obrigado a presenciar tudo isso e não era capaz de fazer nada. Ele deveria ter sido protegido de tudo isso. Mas outra parte também o culpa. O culpa porque era escolha dele quem se tornaria no futuro. Ele poderia ter escolhido não ser como o pai, ele poderia ter escolhido fazer nenhuma mulher passar pelas mesmas coisas que sua mãe, mas ele não escolheu, e agora, eu sou a única a pagar por isso.
— Você me lembra ela, . — seu olhos encontram o meu. — Tão delicada... — se levanta parando bem à minha frente.
— Eu não sou ela, Brandon! — insisto. — Eu nunca vou ser.
— Mas você ainda não entendeu, não é? — sorri. — Você não é como minha mãe, mas eu sou exatamente como o meu pai.
Isso me destroça, porque tenho medo de que ele nunca vá me deixar em paz. Não com o poder que ele tem.
— Por favor... — imploro.
Por favor, me deixe ir. Por favor, você ainda pode escolher um caminho diferente. Por favor, se mate e livre o mundo da sua presença.
Peço mentalmente, mas nunca as reproduzo essas palavras em voz alta.
— Minhas malas estão prontas. — pigarreia. — Eu estou voltando para a casa.
Meu coração acelera com suas palavras, e ao mesmo tempo, minha mente vagueia perdida. Ele estava indo embora?
— Eu não entendo. — murmuro confusa.
— Deixe-me esclarecer então, querida — sorri. — Nós estamos voltando para casa.
— Não... — nego. — Eu não vou, Brandon!
Ele não poderia me colocar à força em um avião e me manter calada por horas em um voo.
— Você vai sim! — grunhe. — Porque, se você quer que sua família fique em segurança aqui, você vai me obedecer, .
— Você não faria nada com eles. — medo começa a me dominar. — Isso estaria ligado a mim, Brandon, todos iriam saber sobre minha família, lembra? A que você lutou para esconder dos seus amigos, do seu pai e dos eleitores dele.
— Droga! Odeio como você é inteligente, querida. — sorri dando de ombros. — Mas se não for a sua família, então acho que será a do . — ele sabe que me tem em suas mãos a partir do momento que revela isso. — Sabe, ouvi falar que não é raro bebês de até um ano morrerem por causas naturais. — diz pensativo. — Seria uma pena se o perdesse mais um filho, não é?
Lágrimas transbordam pelo meu rosto ao ouvi-lo. Como ele seria capaz de tal monstruosidade? Ele estava ameaçando um bebê inocente, tudo por causa de sua loucura.
— Tudo bem. — me dou por vencida, começando a aceitar que talvez eu não mereça a felicidade. — Só prometa que não fará nada com eles, Brandon! Prometa!
— Eu dou a minha palavra, docinho. — segura o meu queixo e me gira encostando seus lábios em minha testa. Sinto vontade de vomitar com seu toque, mas não faço nada. Quando vejo a porta em meu campo de visão, percebo que há uma fresta nela e dois olhos me encarando cheio de emoções. Teddy. — Você não precisa arrumar nada, tudo o que você precisa ainda está na Califórnia. Diga adeus para sua família, , porque é a última vez que você pisa nesse lugar.
Tudo o que me importa é tentar dizer a Teddy para ir antes que Brandon o veja, mas ele faz exatamente o contrário.
— Você não vai levar minha irmã à lugar nenhum! — Teddy invade o quarto me puxando para perto.
— Teddy... — tento acalmá-lo.
— Foi você, não foi? — me ignora encarando Brandon que está o fuzilando com os olhos. — Você a afastou de casa. Eu precisava dela, e você a tirou de mim! — grita. — Você não vai levá-la de novo, não vai!
— Teddy, por favor! — digo com medo por ele. Brandon não poupava ninguém, e eu sentia medo de que ele acabasse fazendo algo para machucar meu irmão.
— E eu posso saber o que você vai fazer? — Brandon ri. — Chamar seus amigos de berçário?
— Você não vai levá-la! — é tudo o que Teddy grita, com todo o seu pulmão antes de sair do quarto transtornado.
— Teddy! — tento ir atrás dele, mas Brandon me impede.
— Chega, ! Estamos indo agora! — segura minha mão e me leva em direção as escadas. Quase tropeço com a velocidade que ele caminha.
— Brandon! — grito assustada. Escuto meus pais rirem de algo na cozinha e me mantenho em silêncio não querendo chamar a atenção deles. Brandon me arrasta até a porta da frente e abre-a me empurrando para fora. — Brandon! Pare!
Mas ele simplesmente ignora meus pedidos. Eu tento me desvencilhar de sua mão que segura meu pulso, mas falho miseravelmente. Um carro dobrando a esquina chama nossa atenção. Ele está em alta velocidade e para em frente à casa de meus pais, derrapando. O medo começa a me dominar como um todo quando noto que é o carro de e ele está saindo com um olhar fulminante.
— Olha quem chegou! — Brandon ri e aperta meu pulso ainda mais. agora está próximo e parece se mover como um raio. Tudo o que consigo ver é o estalo de seu punho socando o rosto de Brandon e suas mãos automaticamente soltarem meu pulso quando cambaleia para trás.
— Seu filho da puta! — grita, puxando-o pela roupa e o jogando no chão. — Você achou que iria levá-la depois de tudo o que você fez? — nunca vi tão transtornado como está agora. Meu rosto está molhado de tantas lágrimas e tudo o que faço é assistir quando Brandon coloca a mão sobre o nariz e depois vê o sangue que começa a escorrer.
— Você é um grande merda, . — Brandon ri se levantando do chão. — O quê? Não consegue aceitar que a mulher que dizia que seria sua para sempre me pertence?
— Você é doente! — encara-o enojado. — No fundo, tudo o que eu sinto é pena por você.
A porta de casa é aberta estrondosamente e meus pais surgem com expressões assustadas.
— O que está acontecendo? — meu pai questiona. Seu olhar encontra primeiro o meu, como se estivesse buscando qualquer coisa errada comigo, então ele olha para Brandon com o rosto sangrando e seu olhar termina em . — O que você fez, ?
— Eu ainda não fiz nada perto do que ele merece! — resmunga furioso.
— Oh, Deus! — minha mãe coloca a mão sobre a boca e nos olha chocada. — O que está acontecendo? , você bateu no marido de ?
Abro minha boca pronta para contar tudo aos meus pais. Eles precisam saber que não é o monstro da história e que ele apenas estava tentando me proteger. Mas Brandon é mais rápido.
— Ele é um louco! — grita. — Como um homem desses tem condições de criar uma filha ainda? — seu olhar chega até mim. Um arrepio passa pelo meu corpo quando me lembro de suas ameaças, de como ele poderia machucar e isso me quebra. — Ele não consegue aceitar que me escolheu! E que ela está voltando para casa comigo!
— Isso é verdade, ? — meu pai me olha buscando uma resposta.
Sinto vontade de desabar no choro. Se eu mentir, então Brandon me levará e eu estarei condenada para sempre ficando ao lado de alguém como ele. Mas se eu relevar a verdade, e ele machucar e , ou qualquer outra pessoa que eu me importo, eu nunca me perdoaria. Eu olho para , que me olha confuso, como se não entendesse minha demora para responder.
— É... — minha voz sai tão baixa que mal consigo ouvi-la. Dói como o inferno quando me olha decepcionado, como se eu estivesse traindo-o mais uma vez, e de certa maneira, eu estou. Mas eu faria qualquer coisa por ele e se significa deixá-los em segurança.
— Vamos, querida! — Brandon coloca as mãos em volta a minha cintura. Ele encara meus pais antes de prosseguir. — Vou no hospital levar pontos no nariz, estaremos de volta pela noite.
— Podemos te acompanhar, querido — minha mãe sugere.
Eu sabia que Brandon arranjaria uma desculpa para que eles não fossem, porque sua verdadeira intenção não era ir para hospital algum, mas sim direto para o aeroporto.
não me olha. Ele simplesmente encara o chão como se estivesse pensando em algo. Quero correr para os braços dele e me jogar, dizer que ele sempre será o único capaz de me fazer feliz, mas o aperto de Brandon em minha cintura me lembra o risco que eu o colocaria se fizesse isso.
— Não precisa! — Brandon sorri falsamente. — Eu quero aproveitar um momento a sós com a minha esposa, faz um tempo que não ficamos sozinhos juntos.
— Tudo bem, mas nos liguem caso precisarem. — meu pai assente. — E . — chama-o. — Precisamos ter uma conversa... — apenas assente, ainda magoado e sem me olhar.
— Vamos, querida! — Brandon me puxa e desço os degraus da varanda lutando contra as lágrimas. — Não faça nenhuma cena! — sussurra baixinho para que ninguém seja capaz de escutar.
Me detenho para não virar para trás. Se eu virar e encontrar o olhar de sobre mim, sou capaz de desistir na hora. Brandon abre a porta do carro e eu paro olhando-o fixamente.
— Eu te odeio! — murmuro estridente.
Ele apenas sorri, como se eu tivesse acabado de me declarar. Quando estou prestes a entrar no carro, paro ao ouvir Teddy gritar.
— Ela não vai com você! — me viro para trás encontrando-o descendo a varanda correndo. Meus olhos se arregalam ao vê-lo carregar a velha espingarda de papai e apontar para Brandon. Teddy não vacila quando a destrava. — Deixe-a em paz!
— O que você está fazendo, Teddy? — minha mãe grita.
— Solta essa espingarda, garoto! — meu pai ordena.
Mas Teddy parece alheio a qualquer um deles. Ele ainda está com Brandon em sua mira e parece não estar disposto a voltar atrás.
— Garoto, você não quer fazer nenhuma besteira e depois se arrepender, certo? — Brandon parece confiante demais.
— Você a machucou! — Teddy exclama. — E fez com que ela não voltasse para casa. Agora quer levá-la de novo! — nega. — Ela não vai com você!
— Ela é minha mulher! — Brandon o lembra. — Ela quer ir comigo.
— não quer ir com você! — Teddy grita irritado. — Por que você não a deixa em paz?
Por cima de seu ombro, posso ver se aproximando dele e colocando a mão em suas costas.
— Abaixe essa arma, Teddy — pede. — Se a não quisesse ir com ele, ela diria. — seus olhos finalmente me encontram.
Eu abro minha boca diversas vezes, mas não sai nada.
— Ela não quer ir com ele, eu sei disso! — Teddy resmunga. — Certo, ? Você prometeu que nunca mais me deixaria. Você prometeu! — seus olhos se enchem de lágrimas quando me encara.
Encaro o meu irmãozinho e sou inundada de sentimentos. Eu prometi a ele que não iria nunca mais. Eu prometi. Céus! Não posso mais fazer isso. Minhas forças para continuar fingindo parecem se esgotar. Eu não quero deixá-los nunca mais, não posso mais fazer isso, simplesmente não consigo.
— Eu não quero... — desabo em lágrimas. — Eu não quero ir com ele!
respira aliviado e me puxa para os seus braços. — Porra! Eu sabia que você não faria isso, querida. — seca minhas lágrimas.
— , você vai comigo sim! — Brandon se ira. — O que você pensa que está fazendo? — questiona irritado. Seu celular começa a tocar, mas ele ignora.
— Eu acho melhor você atender, cara. — sorri. — Seu papai não vai gostar de ser ignorado!
— Do que você está falando? — Brandon pergunta confuso e tira o celular do bolso. — Como você sabia que era... — atende à ligação. — Oi, pai! — diz. Ele parece ficar pálido na hora, porque toda a cor de seu rosto se esvai. — O que? Porra! Eu juro que não fiz isso, pai!
me abraça apertado acariciando meus cabelos. Meus pais se aproximam confusos com toda a situação e encaram Teddy, enchendo-o de perguntas sobre estar apontando uma espingarda para alguém. Eu sei que ainda terei muito o que explicar a eles.
— Pai, eu não posso voltar agora! — Brandon está no telefone nervoso. — O quê? Não, eu não vou assinar nada! Porra! — passa as mãos no cabelo. — Tudo bem! Tudo bem! Eu entendi. — ele desliga o celular e encara . — O que você fez?
— Eu? — pergunta confuso. Levanto o meu rosto para encará-lo e ele tem um sorriso estampado na face. — Eu não fiz nada...
— Isso não vai ficar assim! — Brandon aponta o dedo na cara dele. — Pode pagar para ver!
— Você quer que eu pague em dólares? Porque eu não curto a mesma fruta que você... — dá de ombros.
Não entendo o que ele está falando, mas os olhos de Brandon se arregalam e ele fuzila antes de me encarar. — Você vai se arrepender de não ter me escolhido, !
Eu não respondo nada. Apenas assisto quando ele entra em seu carro e some do meu campo de visão pela rua. Os braços de estão sobre mim e me traz uma enorme paz em saber disso.
— Você vai me explicar o que foi isso? — questiono confusa.
— Mais tarde, querida. — beija os meus lábios.
— Você acha que ele foi embora?
— Eu acho que ele não vai nos atormentar mais, e fique de olho na sua caixa de correio, os papéis do divórcio podem chegar a qualquer momento. — revela.
Pisco os meus olhos, perdida por sua revelação. O que ele havia feito? Eu estava respirando aliviada pela primeira vez em muito tempo, e isso era tudo o que me importava.
— , eu quero que você me explique essa história direitinho! — minha mãe me avisa. — E Teddy, porque você apontou uma espingarda para uma pessoa? Você vai ficar de castigo por bastante tempo, mocinho!
— , isso mesmo que sua mãe falou! — meu pai repete e seguro a vontade de rir. — E Teddy, escutou sua mãe! Mas espera... — meu pai diz pensativo. — Aquela espingarda não funciona há anos.
— Eu sei disso, papai. — Teddy sorri e pisca para mim. — Eu sei disso… Mas ele não sabia.
Céus! Eu amo esse garoto, pensei, antes de sair dos braços de e abraçar Teddy o mais forte que consigo. Eu nunca esqueceria o que ele fez por mim, a forma que ele me defendeu, e se dependesse de mim, Teddy não precisaria correr mais esse risco nunca mais.
— Mas espera! — encaro sorridente. — E se eu tivesse ido com ele?
Um sorriso se abre no rosto dele ao me responder. — Então eu te buscaria, . — dá de ombros. — Eu vou até o fim do mundo por você, te deixei ir uma vez, mas isso não irá acontecer novamente. Meu peito se enche de amor e finalmente eu agradeço por tudo começar a dar certo.
Capítulo 21
— O filho do senador Boyer, Brandon Boyer, acaba de ser preso em sua residência em LA. A polícia iniciou as investigações depois de uma série de denúncias onde mulheres o acusaram de agressão. No escritório de Boyer, foram encontrado milhares de fotos pornográficas, entre ele e outros amantes. Segundo nota da polícia, ele também mantinha relacionamentos com outros homens e os ameaçava, caso a notícia viesse a público. O senador Boyer ainda não se pronunciou sobre os últimos acontecimentos em relação ao filho, mas pesquisas revelam que ele despencou nos votos para a reeleição de seu segundo mandato. As revelações vieram à tona depois de uma reportagem do jornal New York Times, onde incluiu o depoimento de algumas das vítimas. Os advogados da família Boyer anunciaram que irão recorrer ao juiz. Ressaltamos que a assessoria de Brandon publicou há algumas semanas o divórcio dele, mas sua ex-mulher permanece com o paradeiro desconhecido. Sou Suzie Denvy da CNN e voltarei com mais informações a seguir.
Eu pego o controle e desligo a televisão sem vontade alguma de continuar a escutar sobre esse cara. Finalmente a justiça seria feita. Mesmo que Brandon Boyer ficasse por pouco tempo na cadeia, com o poder e o dinheiro que possuía, isso serviria de lição para ele. está ao meu lado com uma expressão chocada quando me encara. Foi há exatamente três semanas que ele tentou levá-la, mas falhou. ainda não me perguntou sobre o que eu havia feito, porém, eu tinha a leve impressão de que, por dentro, ela estava se roendo de curiosidade.
— Eu simplesmente não consigo acreditar! — afirma ainda olhando a televisão, que está desligada. — Quer dizer, eu não deveria ficar surpresa, mas não deixo de ficar.
— Ele teve o que mereceu. — digo, segurando a mão dela e depositando um delicado beijo.
Estamos no apartamento que eu aluguei após deixar a casa para . Era localizado em um bom bairro, além de ser perto o suficiente do trabalho e de , que ficaria essa noite comigo, já que resolveu que aceitaria sair em um encontro com o médico. Ela ainda estava receosa sobre isso, mas fiz questão de assegurar que tudo daria certo, e que se ela precisasse, bastava me ligar e eu a buscaria onde estivesse.
dormia no meu apartamento na maioria dos dias, era quase como se ela morasse comigo, e não posso negar que essa ideia me atrai bastante. Ela parecia nervosa hoje, e eu sabia exatamente o porquê. Apesar de garantir para ela que não via problema algum que ela ficasse perto de , parecia não acreditar. Isso era algo que me preocupada, a forma como ela se apresentava distante de todas as vezes em que se viram nas últimas vezes.
— Você não vai me falar o que você fez, não é? — pergunta, com uma expressão curiosa.
— Tecnicamente, eu não fiz nada... — dou de ombros, risonho, quando começo a lhe contar sobre aquele dia.
Eu sinto que sou capaz de explodir em qualquer momento. Por que cederia ir com Brandon tão facilmente? Simplesmente não fazia sentido! Eu sabia que ela não faria isso comigo. não me abandonaria mais uma vez, eu arriscaria minha cabeça nessa afirmação. Ela me ama, meu subconsciente gritava. Algo estava muito errado e eu precisava chegar a ela o mais rápido possível.
— O que aconteceu? — me olha assustada enquanto procuro a chave do carro.
— Teddy disse que ele está levando-a. — me enfureço revirando o sofá. — Onde está a maldita chave? Droga! — me irrito.
— ... — morde os lábios e busca alguma coisa na cozinha. Eu estou tão nervoso que nem notei que a chave do carro estava sobre a mesa de centro. Quando estou prestes a gritar para dizendo que estou indo, ela volta com um papel na mão.
— Esse é o número da minha prima do New York Time, . — me entrega. — Ligue para ela no caminho, conte tudo! Ela com certeza vai saber o que fazer.
— Obrigado, ! — agradeço, saindo às pressas. — Te dou notícias!
Tudo o que escuto é um “se cuide” enquanto corro para o carro. Eu pego o telefone e digito o número que me deu e coloco no viva voz, dirigindo para a casa de .
— Alô? — uma voz fina do outro lado da linha atende.
— Caroline Linsay? — questiono afobado, mas prestando atenção no trânsito. — Eu sou , não sei se irá lembrar de mim.
— É claro que eu lembro! — ri do outro lado. — Eu estava no seu casamento com a minha prima...espera! Aconteceu algo com ela?
— Não, ela está bem! — me apresso em falar, parando no semáforo. — Mas ela me disse que você trabalha para um importante jornal, e eu realmente acho que tenho uma história que possa te interessar.
— Bem, eu tenho tempo... — ela comenta. — Sobre o que seria?
Tento contar a ela tudo sobre o que Brandon Boyer fez em questão de minutos. Parece que eu mal respirei enquanto contava seus podres. A maneira que ele tratava e como deve ter feito muitos acreditarem que ela tinha algum problema psicológico, dizendo que havia sido invenção da cabeça dela a gravidez. Quando termino de contar tudo, ela murmura algo inaudível do outro lado antes de prosseguir.
— ... — começa. — Eu realmente acho que estávamos destinados a nos conhecer. — diz. Não tenho tempo para perguntar o porquê, porque ela continua. — A nossa equipe vem investigando o senador Boyer há alguns meses. Encontramos algumas fraudes ilícitas e contribuição contra lei para sua campanha, mas o que temos sobre o filho dele com certeza é o melhor... Brandon Boyer mantinha caso com dezenas de mulheres, e todas que encontramos o descreveram com as mesmas características. Agressivo e extremamente doente. Ele as obrigava a gravarem enquanto ele tinha relações sexuais com outros homens, às vezes até mandava elas se tocarem assistindo. A equipe achou alguns desses caras, e bem, a coisa fica séria.
— Séria como? — pergunto, achando que não posso ficar menos chocado. Esse cara só poderia ser doente. Por que ele insistia em querer quando ele certamente tinha outros?
— Ele gostava de dominar os homens na relação. — revela. — E fazia questão que os caras usassem uma máscara do pai dele enquanto isso acontecia.
Eu sinto que vou vomitar a qualquer momento. Esse cara só poderia ser um maldito doente e ter sérios problemas psicológicos. Lembrar que estava com ele todo esse tempo me enfurece, pensando no que poderia ter acontecido de mais grave a ela.
— Céus! — pisco, tentando assimilar tudo. Já estou na metade do caminho até a casa de e espero que não seja tarde demais quando eu chegar lá.
— Suas acusações só me fizeram ter mais certeza sobre publicar essa reportagem. Eu posso incluir o que você me disse, , mas eu adianto que seria bom se preparar. O país inteiro vai saber disso, e todos os jornalistas estarão na porta de sua casa quando a merda cair no ventilador — diz.
Eu não tinha nem pensado nessa hipótese! É claro que isso aconteceria, provavelmente seria perseguida por isso.
— O que eu faço, Caroline? — bato no volante. — O que eu faço?
— Apenas esteja pronto. — pede. — Eu só preciso de alguns minutos para destruir a reputação dos Boyer, e acredite em mim, , eles merecem.
— Eu não acredito que fiquei esse tempo todo ao lado de um homem louco! — endurece ao meu lado. — Isso é tão insano! Sempre achei que essas coisas só aconteciam em filmes. E você, . — ela se vira para me encarar. — Francamente...
— O quê? — questiono, sem entender. sorri e segura o meu rosto beijando os meus lábios.
— Você é o homem mais incrível que eu já conheci. — esfrega o seu nariz contra o meu. Eu seguro a cintura dela quando a mesma senta-se no meu colo. — Eu te amo! Acho que nada nunca poderá mudar isso.
Um largo sorriso se forma em meu rosto. — Eu só quero ser o melhor homem para você. — acaricio o seu rosto. — Nada que eu faça por você será o suficiente perto do que você merece, . — contorno os lábios dela com meu dedão. — Você é a mulher da minha vida.
Ela suspira, enlaçando seus braços ao redor do meu pescoço. — Eu não mereço você. — sussurra. Ameaço protestar, mas ela me interrompe. — Mas eu vou fazer de tudo para provar que vai valer a pena, . — fala. — Eu não quero mais viver sem você, e espero que daqui para frente, nossas vidas caminhem no rumo certo.
— É claro que você me merece! — contradigo, atacando os seus lábios. intensifica o beijo acariciando o meu peitoral por baixo da camisa que visto. — Querida... — sussurro entre os beijos. — Eu adoraria levar você para a minha cama. — abaixo uma das alças de sua blusa e deposito um beijo em seu ombro arrancando um suspiro dela. — Mas a qualquer momento pode aparecer com . — lembro-a.
Ela suspira colocando sua alça de volta no lugar. — Pelo menos bebês não tem a mínima noção do que os adultos fazem. — dá um sorriso tímido. — Acho que já vou indo então. — parece pensar.
— Eu achei que você dormiria aqui essa noite. — ergo a sobrancelha. — Faz cinco dias que você não vai para casa, por que hoje? — arrisco perguntar. Mas a verdade é que desejo que me diga qual é o problema. Ela não quer ficar no mesmo lugar que ? Preciso saber.
— ... — murmura. — Eu me sinto uma intrusa entre você e sua filha. — revela, desviando o olhar do meu. — Não quero que ela me veja como alguém que a separou do pai, eu já te disse isso.
Era isso o que estava passando pela cabeça dela?
— Querida, eu já te disse para tirar esses pensamentos da sua cabeça. — cutuco-a. — Você acha que e eu já não conversamos sobre isso? Nós não faríamos nada que soubéssemos que poderia prejudicar nossa filha. — tranquilizo-a. — também concorda que não existe problema nenhum em você criar uma relação com , muito pelo contrário.
— Você acha? — morde os lábios apreensiva. Me seguro para não agarrá-la mais uma vez.
— É claro! — afirmo. — Você, por acaso, pensa em magoar de alguma maneira?
— Não! — me olha como se a ideia fosse absurda. — Eu jamais faria isso, ! Ela é sua filha, eu a amo apenas por isso. Tudo o que eu quero é que ela seja amada e protegida. — diz.
Sorrio com o meu peito se enchendo de amor. — Isso só prova o quanto você será importante para ela, . O fato de você amá-la e se preocupar com seu bem-estar só mostra como você será incrível para a minha menina.
sorri como se minhas palavras fossem o incentivo que ela precisasse. — Tudo bem, então eu fico.
— Boa garota! — comemoro, antes de escutar o som da campainha. — Acho que são elas! — se levanta do meu colo e senta-se no sofá enquanto eu caminho até a porta. Quando a abro, encontro um homem alto segurando o bebê conforto e incrivelmente linda ao seu lado, corando de algo que ele provavelmente falou.
— Doutor Garrel. — aceno com a cabeça.
— Apenas François, . — pede dando de ombros enquanto passa o bebê conforto para as minhas mãos. Pego com cuidado, sorrindo para os olhos mais bonitos que já conheci.
— Ei, boneca! — está com uma das mãozinhas em sua boca, algo que vem se tornando um hábito para ela.
— Aqui estão as coisas dela, . — coloca a bolsa de apoiada em um dos meus ombros. — Eu tirei bastante leite, mas como você sabe que ela dorme a noite toda, acho que não vai precisar — sorri.
— Sem problemas! — sorrio contente. — Ela vai ficar bem.
— Eu sei... — ela suspira antes de se inclinar para ver a filha. — Mas não posso deixar de ficar nervosa, você sabe... — pigarreia. Eu sei que no momento, o assunto não é mais , e sim sobre o que irá acontecer essa noite. Porém, parece que François Garrel também entende o que ela quis dizer, porque ergue a sobrancelha encarando-a.
— Vamos ficar bem! — tento acalmá-la. — Vá se divertir um pouco, você merece!
— Escutou? — François a encara. — Até seu ex-marido acha que você precisa se divertir, e eu já provei que não sou nenhum maníaco.
engole em seco olhando para ele e apenas assentindo. Posso sentir a tensão sexual de longe entre eles, então pigarreio chamando a atenção de ambos. No mesmo instante, surge atrás de mim na porta.
— Você está demorando... — para de falar ao ver e François. Ela sorri tímida. — Olá!
— Como vai, ? — a cumprimenta. François apenas a olha acenando com a cabeça, lembrando-me sobre o fato dele saber sobre o que aconteceu com anos atrás. Eu espero um dia ter a oportunidade de falar com ele sobre isso, mas não nessa ocasião.
— Eu vou bem! — sorri. — Você está bonita!
fica vermelha com o elogio. Ela não lida facilmente com eles. — Obrigada! Cuide bem deles! — pisca antes de dar um passo para trás pronta para partir.
— Eu vou cuidar... — a voz de muda, como se estivesse fazendo uma promessa e isso por algum motivo, aquece o meu coração.
François e se despedem e em seguida se vão. Eu entro com cuidado e coloco o bebê conforto sobre a mesinha de centro enquanto me olha curiosa. Posso escutar fechando a porta em seguida.
— Pronta para dormir no papai, hoje? — me agacho, tirando-a do bebê conforto e ajeitando-a em meu colo. começa a balbuciar algo, como se desejasse engatar em uma conversa comigo. — Como você está hoje, boneca? — pergunto. Ela volta a colocar sua pequena mão na boca e eu solto uma risada. — Com fome, talvez?
Sinto se aproximando e segurando o meu ombro para ver melhor. — Ela nem estranhou nada! — ri.
— Ela sabe que está no colo do pai dela. — dou de ombros. — Ela não precisa ter medo de nada. Não é? — olho para a minha garotinha e um pequeno sorriso parece surgir em seu rosto. Me derreto assistindo-a, como me derreto com qualquer coisa que ela faz.
— Com certeza uma garotinha do papai! — bufa fazendo graça.
Sorrio bobo, não discordando. — Segure-a um pouco — peço.
— Tudo bem! — eu passo para o colo de com cuidado, mas ela parece saber exatamente tudo o que fazer. — Olá, princesa. — sorri acariciando a bochecha dela. — Você é tão bonita...
Para qualquer outra pessoa, poderia ser uma cena comum, mas nesse exato momento, para mim, era o significado de tudo o que eu possuía de mais importante na vida. As duas garotas que eu mais amava, as únicas que fazem o meu coração se encher de amor e ternura, capazes de me querer desejar ser um homem melhor todos os dias. parece incrivelmente confortável no colo de e isso apenas me alegra.
Quando eu olho para o passado e o longo caminho que percorremos até o lugar onde estamos, percebo que tudo foi necessário para chegar até onde estamos. Todo o sofrimento, mágoa e decepção foram precisos para nos encontrarmos nesse exato momento como pessoas maduras o suficiente para levar uma vida juntas. Parece loucura pensar nisso dessa forma, mas eu realmente acho que tudo o que e eu passamos nos tornaram melhores e apenas intensificou os nossos sentimentos.
Eu amei quando eu não sabia ao menos o que significava o amor, e agora que eu conheço, sei que continuarei amando-a para o resto da minha vida. era o meu final feliz e nós não precisávamos de um conto de fadas para provar isso, precisávamos apenas um do outro.
— ... — me chama baixinho, tirando-me dos meus pensamentos. — Ela dormiu!
— Vou colocá-la no quarto. — digo, pegando , que está totalmente adormecida, e caminhando com cuidado até o quarto dela.
fez a decoração do quarto de todo, afinal, ela era uma excelente decoradora e sempre sabia o que fazer. Antes de colocar no berço, deposito um beijo em sua testa.
— Eu amo você, bebê. — sussurro, olhando-a dormir. Apago as luzes e vou para a sala à procura de , mas não a encontro. Passo pela cozinha e ela também não está lá. Quando entro no meu quarto, ela já está deitada na cama me esperando.
— Achei você! — sorrio jogando-me ao lado dela e puxando-a para colocar a cabeça sobre o meu peito. — Com sono, querida?
— Apenas um pouquinho... — boceja sonolenta. Ficamos assim, abraçados alguns minutos enquanto aproveitamos o silêncio, mas é a primeira a interrompê-lo. — Seu coração está batendo rápido agora. — comenta.
— É por sua causa. — revelo. Sei que ela está sorrindo agora, então continuo. — Mas é por outra coisa também.
— O quê? — levanta o rosto do meu peito para me encarar.
— Case comigo! — solto. Droga! Não era para sair dessa maneira, eu planejava fazer algo melhor que isso, lamento mentalmente quando fecho os olhos.
— O quê? — volta a repetir, arregalando os olhos. — ... — sussurra.
— Quero que você case comigo, — digo. — Eu quero você do meu lado, em cima, atrás de mim, quero você em todos os lugares. — sussurro engasgando. — Eu quero isso com você, , desde que eu era apenas um garoto. Ninguém jamais terá o meu coração como você.
— ... — ela pisca, tentando conter as lágrimas. — Você realmente quer se casar comigo? Você acabou de se divorciar, eu também, as pessoas vão comentar... — fala.
— , eu não me importo com o que as pessoas dizem! — afirmo. — Se eu quero me casar com você? — pergunto. — Isso é tudo o que eu quero! É o que eu desejo há tanto tempo.... Espere um pouco! — levanto da cama apressado e caminho até o meu armário, abrindo-o e encontrando a caixa que venho guardando há anos. Pego o papel dobrado que se encontra dentro dela e volto para a cama. — O professor Graham se aposentou há alguns anos. — digo mencionando o nosso professor do colegial. — Mas antes dele ir, pedi uma coisa para ele. — ergo o papel.
— O que é isso? — senta-se na cama de frente para mim.
— Lembra da cápsula do tempo? — sorrio. — A carta que fizemos para ela? Ele disse na época que se um dia nos perdêssemos na vida, deveríamos ler as cartas que escrevemos e voltar para o caminho que queríamos.
— Por que você vai ler a sua? — me olha confusa.
— Eu nunca li ela até hoje. — dou de ombros. — Mas eu vou ler para você ter certeza de uma coisa, . — desdobro o pedaço de papel encontrando minha caligrafia e lendo-a em voz alta. — O professor Graham acha que estamos em algum filme, onde voltaremos vários anos depois para ler essa carta, mas tudo bem. Eu não sei o que o futuro me espera. Não sei se terei a vida dos meus sonhos, filhos ou um bom emprego. — presta atenção em cada palavra que digo. — Porém há uma coisa que eu tenho certeza. Uma única coisa. Ela se chama . Enquanto escrevo, não posso deixar de olhar para essa garota algumas vezes e agradecer. Porque em dez, quinze, vinte anos, eu posso me perder na vida, posso cometer erros, me decepcionar ou magoar alguém, mas aqui vai uma certeza, eu continuarei amando para sempre. Ela foi o começo, meio, e será o fim. Não há nada depois dela, nada que faria minha vida ter sentido. Então, se eu estiver lendo essa porcaria de carta no futuro, tenho apenas algo para dizer: Se for sua, , nunca a deixe ir. Se por acaso algo deu errado e você a perdeu, lute para trazê-la de volta. Apenas tenha a ela, porque isso significa que você terá tudo. — os soluços de são preenchidos pelo quarto quando termino de ler. Ela se joga em meu colo. — Sempre foi você, , e sempre será você!
— Sim! Eu me caso com você, ! — soluça. — Eu amo você, não importa o que aconteça, você é tudo o que preciso. — declara, encostando sua testa na minha e respirando com dificuldade por conta do choro.
Limpo suas lágrimas sorrindo feito bobo. — Eu e você, para sempre? — pergunto.
— Para sempre, . — assente. — Para sempre!
— Isso é uma promessa? — sorrio segurando seu rosto entre minhas mãos antes de beijá-la rapidamente.
— Uma promessa! — garante acariciando o meu rosto. — Quando eu tinha oito anos, prometi que no momento certo, me casaria com você. Aos treze anos, demos o nosso primeiro beijo, e , foi incrível! Com dezesseis anos, você disse que me amava, e eu disse que te amava também. Aos dezoito anos... — suspira me abraçando. — Aos dezoito anos, eu achei que poderia suportar ficar longe de você, mas a verdade é que não suportei. E mesmo nos casando com pessoas diferentes aos vinte e quatro anos, eu sou grata por ela ter cuidado de você quando eu não estava lá para fazer isso. E sou grata por ela ter dado a você a coisa mais importante que alguém pode ter, mas ? — minha visão está embaçada com suas palavras.
— Sim, querida? — ofego quando as lágrimas transbordam sem minha permissão.
— Não importa que idade temos agora ou que ainda iremos ter. — sorri. — Porque todos os dias da minha vida serão ao seu lado. Isso é uma promessa, e espero que você saiba que será mantida para sempre.
— Eu te amo! — sussurro contra sua boca. — Eu te amo! — tiro a blusa dela. — O passado que tivemos juntos foi incrível, — digo deitando-a na cama. — Mas nada será como o futuro maravilhoso que nos espera.
E agora, nesse exato momento, quem estava fazendo uma promessa era eu, e agradecendo porque todos os cacos quebrados que um dia o meu coração espalhou, finalmente estão montados e encaixados no lugar que eles sempre deveriam estar. uma vez quebrou o meu coração, e mesmo que tenha sido sem querer, ela voltou para garantir que o consertaria. Se me perguntassem por quem eu escolheria me apaixonar todas as vezes se pudesse, eu insistiria na mesma pessoa sempre, minha resposta sempre seria , porque éramos o para sempre um do outro.
Capítulo Epílogo
Escuto o impacto da porta de trás do carro e sorrio para a garota com uma expressão emburrada que acabara de entrar.
— Olá, boneca. — saúdo-a, acelerando o carro. — O cinto!
— Oi, papai... — murmura entortando a boca e obedecendo ao meu pedido. Encaro-a pelo retrovisor desconfiando de sua expressão, algo não estava certo.
— Aconteceu alguma coisa, querida? — pergunto, estacionando o carro no acostamento e virando-me para trás para olhá-la. Vejo os olhos da minha garotinha se encherem de lágrimas e meu peito se contrai com a cena. — Alguém machucou você, boneca? — pergunto. — Você sabe que pode falar qualquer coisa para o papai, certo?
assente, limpando as lágrimas com as costas de sua mão. — Eu dividi meu sanduíche com o Colin, papai. — soluça, se referindo ao caçula de Ryan, um garoto que provavelmente me daria trabalho com . Estremeço apenas em pensar nisso. — E ele deu para outra menina!
— Tenho certeza de que ele fez isso para ajudá-la, querida. — tento tranquilizá-la.
me olha curiosa. — Você acha, papai? Ele disse que fez isso porque ela estava chorando quando deixou cair o dela.
— Viu só? — sorrio, esticando-me para cutucá-la. — Ele só estava sendo gentil, boneca. Colin adora você! — sou sincero. Aquele garoto só faltava lamber o chão que minha filha pisava, e eu com certeza prestava atenção em suas ações.
Anne era a garota mais preciosa do mundo. Eu havia sido abençoado de todas as maneiras. Ela era simplesmente perfeita. Apesar de ser apenas uma garotinha, sua inteligência era admirável, assim como o seu coração era cheio de amor. Eu faria tudo por essa garota, se ela me pedisse para saltar de um carro em plena estrada, eu provavelmente faria sorrindo por ela.
dormia apenas os finais de semana na minha casa, mas eu a buscava todos os dias na escola e a levava comigo, deixando-a na casa de quando chegava a noite. Eu a alimentava, ajudava com as tarefas da escola e é claro, tentava responder as inúmeras perguntas que ela fazia em todos os momentos.
— Por que não veio me buscar também? — pergunta curiosa quando volto a dirigir em direção a nossa casa.
— Ela anda muito cansada ultimamente, boneca. — sorrio ao respondê-la. — Seu irmão está crescendo rápido demais. — digo contente.
já estava na reta final da gravidez, motivo o suficiente para me assustar toda vez que ela emitia qualquer som que eu julgava ser diferente. Mas cada momento era precioso para nós dois. e eu aproveitávamos cada minuto, todos se tornavam únicos e especiais para nós. E imaginar que em poucas semanas meu filho estaria em meus braços, me causava uma enorme sensação de completude.
Quando estaciono o carro na garagem de casa, saio do carro e abro espaço para que minha garotinha salte para fora arrastando sua mochila da Frozen. sobe a varanda correndo me fazendo revirar os olhos.
— Sem correr, boneca! — alerto e vejo-a reduzir a velocidade. — Boa garota! — elogio, abrindo a porta da frente e observando-a passar apressada, soltando a mochila na entrada. O que me chama atenção é uma caixa envelopada jogada na varanda, pego-a vendo estar endereçada para .
Quando entro em casa, minha bela esposa está deitada no sofá enquanto acaricia a barriga e um sorriso se forma automaticamente em meu rosto, deixo a caixa sobre a estante, que se encontra no início.
— Você não foi me buscar hoje, ! — acusa chateada.
— Me desculpe, boneca. — pede, sorrindo fraco. — Seu irmão vem me dando trabalho. Ele não para de me chutar! — suspira e seu olhar chega até onde estou. — Oi, querido. — sorri.
— Ei, garota bonita. — me aproximo e deposito um beijo em seus lábios, tocando sua barriga ao mesmo tempo. Sinto o movimento e é impossível segurar um riso. — Ele está chutando forte hoje! — comento.
— Sim, ele está! — bufa, sorrindo boba.
— Posso sentir ele? — pisca seus olhos, imaginando que essa ação facilitaria o pedido.
— É claro, boneca! — a chama com a mão e observo quando minha garotinha sobe em cima do sofá e deita sua cabeça sobre a barriga de . Minha esposa acaricia os cabelos de enquanto embalam em uma conversa. — Como foi na escola hoje?
— Eu dividi o meu sanduíche com Cole. — murmura. — E ele deu para outra garota!
— Não! — fala chocada. Bufo revirando os olhos para a conversa, mas continuo prestando atenção, atento à tudo o que diz. — Tenho certeza de que ele teve um motivo para isso, boneca. Ele adora você!
— O papai disse a mesma coisa que você. — ri se envergonhando. — ...
— Sim, boneca? — continua a brincar com as madeixas de , que levanta seu rosto da barriga de para encará-la.
— Mamãe disse que quando a gente quer namorar uma pessoa, muitas borboletas pousam na nossa barriga — revelou.
— Sua mãe está coberta de razão! — assente. — Elas ficam na nossa barriga voando, as vezes nos causam até cócegas.
— Você acha que Cole tem borboletas na barriga dele por mim? — pergunta atingindo um tom de vermelho em seu rosto e eu dou tudo de mim para me manter tranquilo.
Eu faria Cole Butler sofrer muito ainda na minha mão antes de deixá-lo se engraçar com a minha filha. Não importa que ele seja meu afilhado, quando se trata de , eu com certeza esqueceria esse detalhe.
— Eu acho que muitas e muitas borboletas voam no estômago de Cole por você, boneca. — afirma. Vejo a expressão da minha filha ficar toda sorridente.
— Você tem borboletas no seu estômago pelo papai? — questiona curiosa.
Não importa o quanto eu ache que já esgotou o seu estoque de perguntas, ela sempre surge com mais.
— Todos os dias, boneca. — sorri e seu olhar vagueia rapidamente para mim. Meu peito se aquece com sua declaração.
— E a mamãe pelo Gary. — diz, referindo-se a François. Conforme começava a falar, ela encontrou dificuldades em dizer o nome de algumas pessoas, então ganhou o apelido de , e François Garrel de Gary. O fato do nome dele ser francês dificultava o processo, portanto e eu decidimos que ela começaria a aprender o idioma no próximo ano, assim faria com que ela encontrasse uma ligação com ele. e eu queríamos que se sentisse sempre confortável com e François, e que ela entendesse que os dois apenas adicionavam amor a ela.
Quando se formou há dois anos em artes plásticas e mostrou todo o seu talento para a pintura, a assistia durante horas no ateliê. E é impressionante como ela se mostra flexível com relação a todos. Ela entende que eu sou o pai dela e a mãe, e que nada pode tirar nossas posições em relação à isso. Mas também entende que e François são uma parte importante para e eu, e consequentemente, para ela, o que tornou nossas relações mais harmônicas.
— E sua mãe pelo Gary! — afirma. — Você é uma menina muito inteligente, Anne .
— Anne Garrel Linsay , ! — corrige. Isso me faz rir, porque treinava todos os dias para lembrar os nomes e as sequências deles. É claro que era algo que apenas ela dizia, mas isso mostrava como ela não esquecia de cada um e o quanto e François são sua família também.
— Eu me esqueço desse detalhe, boneca. — ri achando graça.
— É hora de você ir para o banho, mocinha. — me pronuncio, dirigindo-me à .
— Poxa, papai! — faz uma careta se levantando do sofá e caminhando em minha direção. — Pode ser na sua banheira hoje? — abraça minhas pernas.
— É claro que pode! — sorrio, beijando o topo da cabeça dela. — Vai indo que eu já irei em seguida. — ela assente, iniciando a correria, mas para abruptamente ao me escutar. — Sem correr! — grito vendo-a desaparecer nas escadas.
apenas ri me olhando. — Ela tem você na palma das mãos. — acha graça. — E sabe o melhor?
— O quê? — pergunto erguendo a sobrancelha.
— Ela sabe disso, querido. — dá de ombros. — Ela sabe...
— Ela acha que me tem na palma das mãos. — reviro os olhos tentando acreditar no que eu mesmo digo. — Chegou essa caixa para você. — lembro-me de pegar a caixa e entrego para ela. olha a correspondência confusa olhando a caixa.
— O que será? — murmura pensativa.
— Eu não sei, querida. — beijo-a rapidamente. — Vou dar banho nela e já volto, tudo bem?
— Certo! — sorri, fazendo bico. Rio, beijando-a mais uma vez porque eu nunca me canso de manter minhas mãos por volta dessa mulher.
Subo as escadas de dois em dois degraus e caminho até o banheiro do meu quarto, encontrando esperando sentada dentro da banheira com um olhar impaciente.
— Você demorou, papai. — resmunga enquanto abro a torneira jorrando uma enorme quantidade de água na banheira.
— Eu estava verificando a , boneca. — pego os sais e espumas para banheira e jogo-os na água, que agora está no nível ideal. ri fazendo bolhas de sabão e assoprando-as. Sento-me no chão, ao lado da banheira enquanto a banho.
— Papai? — me chama. — Posso te contar um segredo?
— É claro, boneca! — afirmo. — Você sabe que não precisa esconder nada do papai, tudo bem? — incentivo-a.
Ela assente, mordendo os lábios como se estivesse nervosa, e então, suspira. — Eu prometi uma coisa ao Cole.
Minha sobrancelha se ergue em confusão. — E o que você prometeu a ele?
— Eu prometi que quando a gente for grande o suficiente, eu vou me casar com ele. — sussurra como se fosse o segredo mais importante do mundo.
Eu provavelmente deveria ficar uma fera nesse momento. Minha garotinha dizendo que vai se casar com aquele mini Butler, mas não consigo disfarçar um pequeno sorriso que surge em meu rosto ao perceber como isso me leva de volta ao passado, onde prometeu o mesmo para mim mesmo que fossemos jovens o suficiente para não entender o que falávamos.
— Quer dizer que as borboletas em seu estômago são pelo Cole, hum? — questiono lavando os cabelos dela. — Eu achei que o papai e o Gary eram os homens da sua vida. — finjo que estou chateado com a situação. tem seus olhos fechados para não cair shampoo sobre eles, enxaguo sua cabeça dela o suficiente para ter se dissipado todo o sabão. — Pode abrir os olhos, boneca… — peço vendo-a obedecer.
— Mas você e o Gary são os homens da minha vida, papai. — solta uma risadinha. — Tio Teddy também.
— Tio Teddy também, é? — pergunto, achando graça quando pego a toalha para enrolá-la.
era completamente apaixonada por Teddy, o irmão de . Ele era o tio que fazia todas as vontades dela sem protestar e ainda sugeria mais loucuras ainda para fazerem. Toda vez que ela o encontrava, ficava boba de animação. Isso não vinha acontecendo com muita frequência ultimamente, já que ele fora selecionado para jogar basquete em uma universidade de prestígio quando completou dezoito anos.
Teddy vem para casa nos feriados, que é quando ele é liberado do time e da faculdade, mas ainda assim, em alguns dias, ele ficava treinando e mostrando serviço como capitão do time. fica louca de ciúmes quando ele traz a namorada, uma garota que não parecia o tipo dele, mas que fazíamos questão de respeitar quando estava em nossa presença.
— Sim, papai! — responde quando termino de enxuga-la e levo-a para o quarto que ela possui, deixando-a escolher o que deseja vestir.
— ! — o grito de ecoa pela casa, assustando tudo dentro de mim. — ! — o volume da voz parece rasgar a garganta de , então tudo o que eu faço é olhar para minha filha que carrega uma expressão assustada e dizer-lhe para não sair do quarto.
— O papai já volta, boneca. — saio correndo, quase ignorando os degraus da escada. — ?
Encontro-a no sofá, do mesmo jeito que estava quando eu subi com , mas agora ela abriu a correspondência que chegou para ela.
— ... — soluça. Meu peito parece se encolher com o seu choro e me aproximo perdido sobre o que está havendo.
— O que aconteceu, querida? — me sento atrás dela no sofá e começo a afagar seus cabelos. Passo minhas mãos por suas costas tentando acalmá-la.
— São as cartas... — funga. — Meu Deus, todas elas! Eu não consigo acreditar nisso...
— Que cartas, querida? — pergunto confuso.
— As cartas que você me escreveu, . — limpa o rosto. — Todas elas.
Choque me atinge quando percebo do que ela está falando. As cartas que enviei durante quatro anos. Todas elas estão na correspondência. Não sei ao certo o sentimento que me domina no momento, porque essa era uma parte do passado que parecia estar adormecida para nós. Quando eu criei coragem para dizer a sobre as cartas anos atrás, ela chorou durante todo o dia se lamentando por nunca ter lido-as.
Mas como essas cartas estavam aqui? A última vez que eu me lembro, Brandon Boyer, o maior filho da puta que já conheci, havia dito que estava com elas. Ele havia pegado uma sentença de quinze anos, mas quando cumprisse oito, já estaria livre, o que simplesmente me consumiu de ódio.
— Eu não consigo entender como... — suspiro assistindo-a passar algumas cartas.
— , são milhares de cartas aqui. — diz chocada. — Você disse que escreveu uma todos os dias, mas eu achei que fosse tantas... — gagueja.
— Durante oito meses, foram duas por dia. — digo envergonhado.
Ela pega a primeira carta e abre-a passando os olhos por ela.
— Pela data, eu acho que foi a primeira — sussurra. Beijo seu ombro enquanto acaricio sua barriga. — Eu sinto tanto, ! Tanto...
— Não foi culpa sua, querida. — asseguro, esfregando o meu nariz em sua nuca, causando a ela arrepios. Eu sorrio por ainda ser capaz de fazê-la se sentir assim.
— Você pode pegar uma caneta e um papel? — pergunta.
— Tudo bem! — respondo confuso e me levanto indo atrás do que ela pediu. Quando encontro, retorno entregando a ela. — O que você vai fazer?
— Eu não fui capaz de responder suas cartas na época. — me olha cheia de sentimentos. — Então irei respondê-las agora.
— Querida... — nego sentido por suas palavras. Mas eu sabia que haveria milhares de cartas ali, mesmo que ela respondesse várias por dia, ainda levaria um tempo. — Você não precisa fazer isso, , está tudo bem. — asseguro.
— Eu quero, ! — me conforta. — Quero responder cada palavra que você me enviou, escrever que eu te amo todas as vezes que você me disse também, acho que isso ainda é pouco perto da vida maravilhosa que você me dá!
Me agacho na altura dela e a beijo sentindo-a agarrar o meu rosto. — Eu te amo!
— Eu também te amo! — sussurra esfregando o seu rosto no meu. — Agora eu tenho um homem apaixonado para responder.
— Papai? — está no topo da escada com os olhos assustados. Ela provavelmente ficou com medo ao escutar o grito de e ver minha garotinha assustada acaba comigo. Me levando de onde eu estava e vou até a escada erguendo os meus braços para ela.
— Ei, boneca — sorrio tentando mostrar a ela que não há nenhum problema. — Vem aqui!
Ela desce as escadas apressada se jogando em meus braços. — Fiquei com medo. — sussurra com o rosto escondido na curvatura de meu pescoço.
— Está tudo bem, filha. — afago seus cabelos. — só queria me mostrar uma coisa, certo querida? — pego , que entrelaça suas pernas ao meu redor enquanto caminho até .
— Eu estou bem, princesa. — levanta seu rosto para olhá-la. — Me desculpe ter assustado você.
— Achei que você tinha se machucado, — desce do meu colo e sobe no sofá. — O que você está fazendo?
sorri genuinamente para . — Você quer ouvir uma história, querida? — ela deixa as cartas de lado e pousa as mãos em sua barriga.
assente animada com os olhos brilhantes. — Eu quero! O papai também quer, não é papai? — me olha ansiosa.
— Eu adoraria! — rio tirando ela do sofá e me sentando, depois puxo para o meu colo.
— Bom... — me olha cheia de amor antes de encarar . — Quando eu era pequena, eu prometi que me casaria com um homem...
Então eu ouço a história que conheço detalhe por detalhe e não posso deixar de tirar um sorriso do rosto a cada palavra que eu escuto de . está completamente entretida com a história. Escuto quando narra cada trajetória nossa, e isso me faz pensar em tudo o que passamos até chegar onde estamos. Hoje, prefiro pensar que a vida não me tirou por alguns anos, ela apenas me deu a oportunidade de amadurecer e melhorar como homem, para que, quando chegasse esse momento, tudo fosse perfeito para nós.
Escuto um bocejo de quando ela encosta a cabeça no meu peito. — Hora de encontrar a mamãe. — beijo o topo da cabeça dela.
assente coçando os olhos com a mão e se inclinando para frente beijando o rosto de . — Você pode terminar a história amanhã, ?
— Eu com certeza posso, boneca. — ela sorri. deposita um beijo na barriga de e se despede do irmãozinho.
— Depois que você terminar, eu posso contar uma história também? — murmura sonolenta e eu pego-a no colo me levantando do sofá. me ajuda pegando a mochila da escola de , que deixa a cabeça em meu colo.
— E sua história vai ser sobre o quê? — pergunto, enquanto caminho para o carro com e me acompanha.
Abro a porta do carro e levanta o rosto para me olhar. — Vai começar com Cole, eu e Cobby. — sorri tímida. — Quando Cole achou um passarinho com a asa quebrada no quintal da casa dele e pegou para cuidar.
— O nome dele é Cobby? — pergunto curioso quando a coloco no carro e passo o cinto sobre ela. já está do lado do motorista com o cinto ao seu redor também quando entro e faço o mesmo.
— Sim! — responde com a voz sonolenta. — Ele disse que é o nome dele com o meu.
— Sabe, ... — segura minha mão livre quando eu dirijo rumo a casa de . — Acho que eu já sei como termina a história de .
— Você acha? — pergunto sorridente, quando na verdade eu deveria estar com uma carranca.
Mas eu entendo o que está falando, porque Anne não é apenas a garotinha do papai, parece que ela está começando a viver também a mesma história que eu.
Fim.
Para quem quiser me acompanhar no twitter, é explainliam. Fiquem a vontade para me chamarem lá e bater um papinho <3