Capítulo Único
estava sentada no metrô. Olhou para o relógio do celular e desejou ter acordado cinco minutos mais cedo, talvez assim ela não tivesse perdido o metrô anterior e não correria o risco de chegar atrasada na faculdade.
— Fazer o quê, né. — ela suspirou para si mesma.
Era de se esperar que depois de quatro meses ela teria se acostumado com o fuso horário de Seul, mas a garota ainda perdia a hora todos os dias, especialmente quando ia dormir tarde da noite, estudando para provas.
Como tinha sido o caso de ontem.
— Sim, eu tive uma boa desculpa para dormir tarde e acordar mais tarde ainda. Nada a ver com o fato de ainda estar com o fuso horário de São Paulo. — disse para si mesma de novo.
Algumas pessoas perto dela a olharam torto por estar falando sozinha. tentou dar um sorriso simpático, mas se as pessoas a retribuíram, ela jamais saberia. Era muito comum pessoas usarem máscaras em Seul, em toda a Coréia e em toda a Ásia, por conta da poluição aérea. Então não era raro encontrar pessoas usando máscaras de tecido, enfeitadas e coloridas, nas ruas e em transportes públicos. Como era o caso da maioria dentro do metrô naquela manhã.
Para disfarçar o constrangimento, pegou uma revista de dentro da bolsa e passou a folheá-la. Não, ela não entendia coreano, pelo menos não muito. A garota tinha o básico do idioma, mas mal entendia metade das coisas que estavam escritas nos livros da faculdade. Sorte sua que as aulas eram todas em inglês, então não tinha dificuldades em acompanhar o que era ensinado. Para treinar o pouco de coreano que ela sabia, portanto, a garota tinha o hábito de comprar revistas teens, que costumavam ter um vocabulário limitado e matérias curtas, falando do dia a dia dos idols.
forçou a visão e aproximou mais a revista dos olhos, mas nem isso a fez entender o que estava escrito.
— Aish. — reclamou.
Sua atenção, contudo, deixou as palavras que não entendia, para olhar para o garoto que a encarava no banco da frente, próximo à porta de saída. Ele olhava para ela com curiosidade, tinha os olhos estreitos, como se também tentasse ler o que tinha na capa que ela segurava. E quando foi pego no flagra, o garoto arrumou a postura na hora, mostrando-se muitíssimo desconfortável ter sido visto encarando-a.
Estaria ele envergonhado?
O garoto ainda a olhou outras vezes, mas sempre desviava os olhos, claramente incomodado — talvez pelo fato de não ter parado de olhá-lo nem por um segundo. E diferente dele, que tinha uma máscara cobrindo metade do seu rosto, a garota não tinha nada para esconder as bochechas coradas.
Ela, então, enfiou o rosto nas páginas da revista novamente, só levantando os olhos vez ou outra para confirmar que o garoto ainda a olhava. Em determinado momento ele pareceu até mesmo assustado com alguma coisa, com medo, talvez. pensou em perguntar a ele se tinha algum problema com ela, mas sabia que os coreanos não eram muito adeptos da famosa “puxada de conversa” que os brasileiros adoravam.
Ela nem teve tempo de pensar no assunto, contudo. Assim que o metrô parou, o garoto levantou-se com pressa e desceu. E ao voltar os olhos para onde o garoto estava anteriormente, ela viu um celular caído no chão.
Aigo, ela pensou, estava com tanta pressa que deixou o celular para trás?
deixou o pensamento de lado quando viu que um grupo de garotos mal encarados, todos usando uniformes escolares, olhavam para o aparelho no chão e faziam comentários. Ela não entendeu o que eles falavam — primeiro, porque não conseguia ouvir o que eles diziam, e segundo porque o seu coreano não era dos melhores — mas sentiu que aqueles meninos não pareciam ter boas intenções.
Ela, então, correu até onde o celular estava no chão, pegou-o e colocou no bolso do moletom. O grupo de garotos pareceu não gostar do fato dela ter chego ao aparelho antes deles, mas ela não se importou. E assim que as portas se abriram na próxima estação, ela desceu do metrô, acelerando os passos para chegar a tempo na aula. Levaria o celular do estranho do metrô em uma delegacia assim que sua aula acabasse.
— Annyeonghaseyo. — ela cumprimentou algumas pessoas no corredor. — Hello. — cumprimentou outras.
Antes mesmo de sentar no seu lugar de sempre — perto da janela, na terceira carteira, tendo suas amigas, Yuna e Nina, sentadas à sua frente e do seu lado, respectivamente — o celular no bolso do seu moletom começou a tocar.
— Ei! — Yuna chamou sua atenção.
— Esqueceu de desligar? — Nina perguntou.
Era proibido deixar que celulares tocassem na sala de aula. já nem se lembrava dos sons do seu aparelho, já que desde que chegara na Coréia não o tirou mais do silencioso.
— Esse celular não é meu. — ela explicou às amigas, mas não pôde responder às suas dúvidas, já que a professora chegou naquela hora, dando bom dia à turma.
tratou de colocar o celular do estranho do metrô no silencioso e de guardá-lo no bolso traseiro da calça jeans, antes da aula começar. E quando o segundo período começou, ela guardou o seu celular e o do estranho dentro da mochila, sendo que este último já tinha seis chamadas perdidas.
Perguntou-se se o estranho era muito popular para ter tanta gente ligando para ele daquele jeito, ou se ele finalmente havia se dado conta de que perdera o aparelho. De qualquer forma, ela não tinha tempo para se preocupar com isso no momento, já que estava prestes a iniciar a primeira prova da semana. E como ela havia estudado muito para ir bem naquela avaliação, não deixaria que algumas ligações perdidas, em um celular que ela resgatara no metrô, a distraísse.
Quando o terceiro período chegou, e as amigas foram para o laboratório de artes da faculdade para montarem o projeto que tinham feito na semana passada, projeto este que iria valer metade da nota. As garotas realmente haviam se esforçado para montar aquela maquete, usando somente materiais recicláveis.
Uma única coisa as atrapalhavam na montagem do projeto, contudo.
— Caramba, , por que você não desliga isso? — Nina perguntou quando o telefone do estranho do metrô já tocava pela décima segunda vez. — Você não disse que levaria na delegacia mais tarde, de qualquer forma?
— Afinal, de quem é esse celular? Você tentou mexer nele? — Yuna perguntou curiosa.
Nina e Yuna eram as melhores amigas de no intercâmbio. Apesar de Yuna ser coreana, nascida em Busan, a garota foi criada no Brasil pela família materna, e estava passando uma temporada na casa do pai, em Seul, para concluir a faculdade. Nina, por outro lado, era espanhola, e se orgulhava muito do seu português enrolado, pois dizia que havia aprendido ouvindo as amigas fofocarem.
— Eu até tentei, mas está bloqueado por senha.
— E você não tem ideia de quem possa ser o dono? — Yuna perguntou.
sentiu as bochechas corarem ao se lembrar da troca de olhares constrangidos com o estranho do metrô.
— Não. — ela respondeu.
A tela se acendeu na mão dela de novo, no que deveria ser a quinquagésima ligação daquela manhã.
— Não é possível que esse cara tenha tantos amigos! — ela reclamou.
Yuna e Nina se olharam, com a testa franzida.
— Ou, talvez, apenas seja o dono do celular tentando falar com você.
— É, pode ser…
A garota estava prestes a atender a ligação quando o professor chegou. Imediatamente, guardou o aparelho dentro da sua mochila, e se esqueceu dele pela próxima hora, enquanto ela e suas amigas apresentavam seu trabalho. No final da aula, elas tinham quase certeza de que tinham conseguido nota máxima.
— Nós deveríamos almoçar alguma coisa gostosa para comemorar. — Yuna comentou, esperando que as amigas concordassem com qualquer desculpa para não comerem no refeitório da faculdade de novo.
Mas Nina tinha que ir para casa terminar um trabalho para o dia seguinte, e precisava ir a delegacia levar o celular do estranho do metrô, que já contava com mais de vinte e cinco ligações perdidas.
— Esse cara deve estar muito desesperado mesmo. — ela comentou com as amigas.
Elas ainda ficaram alguns minutos conversando no portão da faculdade. tinha o celular do estranho nas mãos, esperando que ele ligasse novamente, já que agora as aulas do período da manhã tinham finalmente acabado e ela poderia atendê-lo. Mas ele não ligou novamente.
— Talvez ele tenha desistido. — Nina disse.
— Ou ele acha que o celular foi roubado. — Yuna falou.
E isso deixou preocupada. Se o dono do aparelho fosse à polícia e buscasse pelo celular por algum aplicativo de rastreio, e chegasse até ela, poderia se meter em problemas.
— Vou à delegacia agora e almoço depois. — ela disse decidida. — Yuna, quer ir comigo?
Seria realmente muito bom se a amiga parte coreana fosse junto com ela para explicar aos policiais o que houve. Mas ela disse que o pai havia acabado de lhe mandar uma mensagem, dizendo que ela deveria ir almoçar em casa com ele.
— Desculpe. — ela lamentou.
— Tudo bem, amiga, sem problemas.
Mas não estava tudo tão bem assim. estava preocupada com o seu coreano básico, e por isso ela acabou escrevendo algumas frases no seu caderno e as traduziu para o coreano. Se não conseguisse falar, ou se ficasse muito nervosa, iria entregar o celular e a folha do caderno, com a explicação. Esperava que fosse suficiente.
Mas antes que a garota pudesse terminar de dobrar a carta que havia escrito aos policiais, o celular em suas mãos começou a tocar de novo. Era um número diferente das ligações anteriores, mas ela não hesitou em atender.
— Yeoboseyo.
— Ah, finalmente alguém atendeu! — um rapaz disse do outro lado. — Quem está falando? Esse celular é meu.
franziu a testa, tendo dificuldades em entender o que ouvia, já que o garoto falava rápido demais.
— Alô? Você está me ouvindo?
— Ne. — ela concordou. — Estou ouvindo. Eu, hm… Encontrei o seu celular no metrô hoje mais cedo. Estava levando para a delegacia agora.
Ela esperava que o seu coreano estivesse minimamente correto. Falou devagar, pensando no uso de cada palavra, e as pronunciou com cuidado. Aparentemente, funcionou, porque o rapaz do outro lado pareceu ficar desesperado com a ideia de levar o celular para os policiais.
— Eu vou buscá-lo. Onde você está?
A garota chegou a abrir a boca para responder, mas não o fez. Pensou, por um instante, no quão insano era passar a sua localização para um estranho buscar um celular que, para todos os efeitos, poderia ser roubado. Afinal, por qual outro motivo ele não iria querer que ela procurasse a polícia?
Mas então pensou que se combinasse de se encontrar com o estranho em um lugar público, com vários olhares e muito movimento, ela estaria segura, e ainda seria poupada de se envergonhar na frente de vários policiais que, provavelmente, não entenderiam uma palavra do que ela iria dizer.
— Podemos nos encontrar no restaurante de bibimbap, próximo à universidade de Seul. — ela respondeu.
O estranho levou alguns segundos para pensar.
— Certo. Posso encontrá-la em meia hora.
— Combinado. — ela já estava pronta para desligar, quando ele falou de novo:
— Espera, como vou saber quem é você?
— Ah… — ela pensou por alguns instantes. — Estou usando uma boina vermelha. — ela respondeu, esperando que fosse a única garota no restaurante que estivesse usando uma toca vermelha, ou então eles teriam problemas.
— Certo. Te vejo em meia hora, então. Annyeong.
— Annyeong.
Depois que se despediram, mandou uma mensagem às amigas, informando que iria encontrar o dono do celular e mandou o endereço do restaurante onde ocorreria o encontro.
“Se eu não chegar para as aulas da tarde chamem a polícia, pois provavelmente fui sequestrada”.
“Brincadeirinha”, ela mandou logo em seguida.
“Não, é sério. Liguem para a polícia. Amo vocês. A gente se vê daqui a pouco.”
E sem esperar pela resposta das amigas, foi para o restaurante combinado, aproveitando o tempo que teria antes do encontro para almoçar e pediu o prato de bibimbap tradicional da Coréia.
Ao terminar de almoçar, viu que ainda tinha pelo menos cinco minutos até o encontro com o estranho do metrô — isto é, se ele chegasse na hora combinada — então passou a ler a mesma revista teen de mais cedo para se distrair. E a distração realmente funcionou, tanto, que ela se assustou quando a cadeira da frente foi arrastada, e um rapaz alto, usando máscara, sentou-se.
— Yeoboseyo. Sou o dono do celular esquecido no metrô hoje cedo.
não poderia ter se assustado mais. Estava tomando água quando o estranho se sentou à frente dela, e quase engasgou com a surpresa.
— Ah, desculpe. Acho que deveria ter anunciado a minha chegada. — ele pareceu culpado.
— Ah, não… Não tem problema. — ela se apressou a dizer. — Mannaseo bangabseubnida. Me chamo .
A garota estendeu a mão para ele. O rapaz não hesitou em cumprimentá-la.
— Ah, sim, prazer em conhecê-la também. — ele respondeu, mas não disse o seu nome. — Então… Onde está o meu celular?
estreitou os olhos, desconfiada. Primeiro ele chega de fininho, depois ele não se apresenta. Ah, é claro, tinha também o fato dele ainda estar usando máscara, mesmo estando dentro do restaurante, longe da poluição aérea do lado de fora. Aquilo tudo era muito estranho.
— Ok… — ela pensou rápido, procurando as palavras certas. — E como eu vou saber que você é mesmo o dono do celular?
Ainda que o estranho, ainda sem nome, tivesse uma máscara escondendo quase o seu rosto inteiro, ela pôde reparar na surpresa dele, quando o rapaz ergueu ambas as sobrancelhas.
— É sério?
— Muito sério.
Até porque, ela tinha dito que levaria o aparelho até a delegacia mais próxima, iria explicar o ocorrido, e deixaria que os policiais locais encontrassem o dono do celular. Mas ele foi bastante enfático ao dizer a que eles deveriam se encontrar pessoalmente e que ela não deveria ir até à delegacia.
Suspeito, muito suspeito.
Apenas por precaução, a garota deu uma olhadinha em volta do restaurante, apenas para se certificar de que estava mesmo cheio de gente e que ela teria a quem pedir por socorro a qualquer sinal de que o estranho a atacaria. Mas ele apenas revirou os olhos, e aproximou-se mais dela, sobre a mesa.
— Escuta, esse celular é meu. E se você não me devolver, vou precisar denunciá-la por furto.
Foi a vez de ficar surpresa.
— Ótimo. Assim nós dois vamos à delegacia. O que acha disso?
O estranho voltou a encostar as costas na cadeira. Ficou em silêncio por um tempo, e pensou tê-lo visto engolir em seco. O rapaz olhou para baixo, e fixou os olhos na revista que a garota estava lendo quando ele chegou. Ergueu os olhos para ela de novo, e poderia jurar que o ouviu soltar um “Aish”, em tom de reclamação. Ele então olhou em volta, como a garota fizera segundos antes, e garantindo que não tinham olhares curiosos sobre eles, o rapaz tirou a máscara do rosto.
Esperou por uma reação de , qualquer reação, mas a garota continuou o olhando desconfiada, esperando que ele provasse, de alguma forma, ser o dono do celular deixado no metrô.
— E então? — ela o incentivou a falar alguma coisa.
O rapaz, por outro lado, estava perplexo. Tinha o queixo caído e a boca levemente aberta e piscava sem parar, como se não acreditasse no que ouvia.
— Você olhou bem para mim? — ele perguntou aproximando o corpo da mesa de novo. — Deu uma boa olhada?
ainda não entendia o que ele queria dizer. Tudo bem, ele era muito bonito, é verdade. Mas isso deveria significar alguma coisa para ela? Tipo, garotos bonitos não furtavam celulares e nem atacavam garotas brasileiras em restaurantes de bibimbap? Ela não iria cair nessa.
Apesar de que aquele rapaz não lhe era estranho...
— Estou olhando neste exato momento. E daí? A gente se conhece?
Ela se pegou pensando nos seus colegas de turma na faculdade. Com certeza não era o caso, pois se lembraria dele.
— Bem, você deve me conhecer. — ele respondeu meio debochado.
franziu a testa. Será que ele era um dos alunos mais velhos da faculdade que davam aula de monitoria para intercambistas? A garota chegou a ter a ajuda de um no início do ano, quando iniciou as aulas, mas tinha quase certeza de que aquele garoto na sua frente não era mais um estudante de arquitetura da Universidade de Seul.
— Não me recordo de onde.
E então, como se estivesse cansado daquela conversa, e totalmente sem paciência, o rapaz pegou a revista de de cima da mesa e mostrou a capa para ela.
A garota ficou alguns segundos olhando para a capa, tentando entender o que ele queria lhe dizer. Talvez seu coreano fosse pior do que ela imaginava, e ela não estivesse entendendo realmente o que ele queria lhe dizer, porque aquilo não fazia sentido. Mas então ela olhou para cima, para o rapaz que a encarava com uma sobrancelha erguida, e ela entendeu.
— Oh! Você…
— Shiu! — ele se apressou a tapar a boca dela com a mão.
Mas não precisava falar alto para demonstrar sua surpresa. Ali, na sua frente, encontrava-se um idol teen, daqueles que faziam as garotas gritarem na rua e escrever cartazes apaixonados em casa.
Mas qual era o nome dele?
— Bom, agora que você já sabe quem eu sou, pode devolver o meu…
— Qual o seu nome? — ela perguntou, interrompendo-o.
O rapaz, que estava já estava colocando a máscara de volta no lugar, com medo de ser reconhecido, ficou paralisado por um instante. Ele deu um sorriso de lado, irônico, perguntando:
— Você estava lendo uma matéria sobre mim logo que cheguei e não sabe quem eu sou?
— Eu nem reparei que a matéria era sobre você, estava apenas tentando entender as palavras. Eu não sou coreana, sabe.
— É, deu para perceber. — ele deu uma risadinha, voltando a colocar a máscara. — Sou , mannaseo bangawo.
E finalmente havia se apresentado a ela. Por algum motivo, se perguntou se ele realmente achava que era um prazer conhecê-la, como ele havia dito.
— Agora você já sabe quem eu sou e o meu nome. Pode me devolver o meu celular, por favor?
colocou a mão dentro do bolso do moletom e pegou o aparelho. O colocou em cima da mesa e estava quase entregando-o ao seu suposto dono, quando algo lhe ocorreu.
— Como vou saber que você é mesmo o dono desse celular?
não precisava que estivesse sem máscara para ver a expressão de surpresa no rosto dele.
— Jinjja? Sério mesmo? Ah, fala sério!
Apesar dele estar quase se divertindo com aquela garota — afinal, não era todo dia que ele não era reconhecido na rua, nem que não tinha alguém pedindo para tirar uma foto com ele ao encontrá-lo — começou a ficar preocupado com a atenção que poderiam estar chamando ao ver uma mesa, próxima a eles, com um grupo de garotas que acabara de chegar. Elas apontaram para eles e começaram a fazer comentários sobre como eram fofos juntos.
Não, e não eram um casal. Mas se aquele grupo de garotas começasse a acreditar nisso, iriam continuar olhando para eles, e eventualmente ele seria descoberto. O rapaz não poderia deixar isso acontecer.
Fez, então, a única coisa que ele poderia fazer para provar ser o dono do seu próprio celular.
— Ei!
ignorou a reclamação de e puxou o aparelho para si. Desbloqueou a tela e colocou a senha de acesso.
— Viu só? Se eu não fosse dono, não saberia como desbloquear.
pareceu satisfeita com a prova dele.
— Bem, então já que estamos resolvidos, não precisa agradecer. — ela disse com um sorriso satisfeito. — Apenas agi com decência e educação.
estava confuso.
— Do que está falando?
fechou a cara e tombou o pescoço para o lado.
— Estou falando do favor que fiz a você ao guardar o seu celular e protegê-lo de qualquer pessoa que pudesse querer roubá-lo.
O garoto deu outra risadinha, se divertindo novamente com ela.
— Gamsahabnida. — ele agradeceu, recebendo um aceno de mão de , como se dissesse, “que isso, fiz nada de mais”.
O assunto entre eles estava, então, oficialmente encerrado. conseguira o que havia ido buscar, e já havia tido a sua refeição e se livrado de uma dor de cabeça. Mas o rapaz não queria ir embora ainda. Quer dizer, é claro que ele não queria ser visto e nem reconhecido, e ficar ali, em um restaurante tão movimentado, no centro da cidade e próximo a uma universidade, não era a melhor forma de se manter escondido. Por outro lado, ele não queria ir embora porque sentia que a conversa entre ele e ainda não havia acabado. Ou, pelo menos, ele não queria que acabasse.
Espera, de onde tinha vindo aquele pensamento?
— Preciso retribuir o favor. — ele disse, estalando a língua, esforçando-se a não dar um significado maior do que o necessário, afinal, ele apenas se sentia em dívida com aquela garota. — Por isso, vamos almoçar juntos, eu pago.
Ele já estava pronto para tirar o casaco grosso para se sentir mais a vontade, quando respondeu:
— Eu já almocei.
ficou parado no meio da ação, o casaco meio colocado, meio tirado do corpo. Voltou a vesti-lo.
— Certo. Então… Vou lhe pagar o café. Vamos.
Novamente ele não esperou uma resposta dela, mas apenas começou a reunir suas coisas para se levantar, quando foi impedido por .
— Eu não tomo café. — ela tinha um sorrisinho sem graça nos lábios. — Mas não se preocupe, você não me deve nada, de verdade.
O grupo de meninas ali perto estava prestando mais atenção neles agora, algumas meninas davam risadinhas envergonhadas, e outra tinha o aparelho celular nas mãos. ficou com medo de ter sido descoberto, e pareceu entendê-lo imediatamente.
— Acho melhor irmos embora. — ela sugeriu.
— Ne, é melhor mesmo.
Juntos, eles levantaram. colocou sua revista teen dentro da mochila, pegou o próprio celular e colocou no bolso traseiro da calça. Caminharam até o lado de fora, a garota preocupada com o horário e com a possibilidade de se atrasar de novo, dessa vez para a aula do período da tarde, já ele estava conferindo as notificações que recebera no celular durante toda a manhã.
E por estarem distraídos, nenhum dos dois esperava encontrar o tempo como ele estava.
— Oh, está chovendo. — ela comentou com um gemido. Não havia nada pior do que pegar ônibus debaixo de chuva.
apertou a roupa de frio mais forte contra o corpo e virou-se para se despedir de .
— Tchau, foi um prazer conhecê-lo. — a garota curvou levemente o corpo, com ambas as mãos do lado do corpo.
mal teve tempo de dar dois passos em direção ao ponto de ônibus, contudo.
— Espera. — ele a chamou. Andou até onde ela estava, e parou do seu lado. — Como você vai embora?
franziu a testa.
— De ônibus. Tenho aula daqui a pouco.
pareceu pensar por um instante.
— Eu te levo.
A surpresa da garota não poderia ter sido maior.
— Não há necessidade, o ponto de ônibus é logo aqui… — e ela só pegaria o ônibus porque não queria andar na chuva, caso contrário, voltaria a pé para a faculdade, já que era realmente bem próxima.
— Olha, eu apenas quero agradecê-la pelo que fez por mim hoje. Não pude pagar o seu almoço e nem o café. Deixe-me te dar uma carona, pelo menos.
estava pronta para recusar de novo, mas o vento gelado espirrou gotinhas da chuva em quem estava na calçada. A garota se encolheu ainda mais nas suas roupas de frio.
— Você está de carro?
— Sim.
— Então vamos. — ela disse.
Seguiu até o final da rua, sempre andando atrás dele, próximos à parede e tentando se esconder nas marquises das lojas e dos restaurantes. Também não parou para pensar no que estava fazendo. Quer dizer, provavelmente não era uma boa ideia aceitar a carona de um desconhecido, especialmente em outro país, com uma língua estrangeira que ela não dominava. E se precisasse pedir por socorro? E se tivesse que fazer uma ligação de emergência ao ser sequestrada?
Apenas por via das dúvidas, a garota deixou algumas frases prontas escritas no bloco de notas do celular, caso precisasse usá-las em caso de emergências.
destravou o carro e abriu a porta para ela. agradeceu, ao mesmo tempo em que entrava correndo para não se molhar. O rapaz deu a volta no carro, também correndo e tampando o rosto, e sentou no banco do motorista.
— Aish, está muito frio. — ele reclamou. não poderia concordar mais.
Assim que ele ligou o carro, também ligou o aquecedor.
— Muito melhor, não é?
A garota deu uma risadinha, e por mais que concordasse com ele, não respondeu nada. Estava meio constrangida por estar no carro de um (não tão) desconhecido. Mas ei, momentos desesperados, atitudes desesperadas, certo?
— Onde você estuda?
— Na Universidade de Seul. — ela respondeu. — É bem perto na verdade. Eu poderia ir a pé se não estivesse chovendo. — tentou se justificar.
não respondeu nada, apenas balançou a cabeça em sinal de concordância. Ele também não tirou a máscara que usava. pensou que a preocupação seria vê-lo dentro do carro com uma mulher desconhecida. Isso geraria algumas boas fofocas e várias manchetes de revistas teen.
— Então… O que você faz? — ele perguntou, tentando puxar assunto para não deixar que o clima no carro ficasse tenso.
— Arquitetura. Na verdade eu estudo em São Paulo, no Brasil.
— Brasil, hm? Hm… América Latina?
— Isso. — ela respondeu com uma risadinha. — Estou aqui fazendo um intercâmbio.
pareceu achar interessante a história dela.
— E está gostando?
— Bastante. As aulas são todas em inglês, então são fáceis de entender. Meu coreano não é dos melhores, como você pôde perceber.
estalou a língua, virando uma rua. À frente, ele já conseguia ver os portões da faculdade.
— Seu coreano não é dos piores. — ele respondeu com um sorrisinho que ela não pôde ver. Mas viu quando a garota corou.
Apenas mais um semáforo, e então eles estariam na Universidade de Seul. já tinha até pego a sua mochila, pronta para descer correndo para fugir da chuva. Mas quando parou o carro próximo aos portões da universidade, e virou-se para agradecê-lo pela carona, ela foi pega de surpresa.
— Ei, hm… — ele começou. — Você poderia me passar o seu número?
precisou de alguns segundos para entender o que estava acontecendo.
— O quê?
Foi a vez dele ficar sem jeito, e apenas desejou que a máscara pudesse cobrir toda a sua bochecha corada.
— Eu ainda preciso te pagar uma refeição, como forma de agradecimento.
— Ah, não é necessário…
— Mas eu quero.
Sim, ele queria. Queria sair para comer com ela, queria ter uma hora de almoço ou de jantar para agradecer e também, por que não, conversar com ela e conhecê-la um pouco mais. Era interessante estar junto de uma pessoa que não o conhecia e, por causa disso, não lhe fazia milhares de perguntas. Ele queria poder fazer as perguntas à ela, pois nunca havia conhecido alguém do Brasil. E nem alguém interessante como .
Talvez estivesse interessado nela. Na história dela. Ou apenas ele quisesse retribuir a ela um favor. Quer dizer, o motivo não era relevante. Ele apenas queria… Queria ter mais um tempo com .
— Hm… Ok. — a garota tirou uma folha do seu caderno e anotou o seu número de celular, além de colocar seu nome, em português e em coreano, embaixo. Entregou a folha a ele, se despediu e agradeceu novamente à carona.
— Eu vou te ligar! — ele gritou antes que ela fechasse a porta.
lhe deu um sorriso doce, mas desacreditado.
— Claro, vou ficar esperando.
Mas ela não o iria, pois sabia que aquela ligação jamais aconteceria.
— Fazer o quê, né. — ela suspirou para si mesma.
Era de se esperar que depois de quatro meses ela teria se acostumado com o fuso horário de Seul, mas a garota ainda perdia a hora todos os dias, especialmente quando ia dormir tarde da noite, estudando para provas.
Como tinha sido o caso de ontem.
— Sim, eu tive uma boa desculpa para dormir tarde e acordar mais tarde ainda. Nada a ver com o fato de ainda estar com o fuso horário de São Paulo. — disse para si mesma de novo.
Algumas pessoas perto dela a olharam torto por estar falando sozinha. tentou dar um sorriso simpático, mas se as pessoas a retribuíram, ela jamais saberia. Era muito comum pessoas usarem máscaras em Seul, em toda a Coréia e em toda a Ásia, por conta da poluição aérea. Então não era raro encontrar pessoas usando máscaras de tecido, enfeitadas e coloridas, nas ruas e em transportes públicos. Como era o caso da maioria dentro do metrô naquela manhã.
Para disfarçar o constrangimento, pegou uma revista de dentro da bolsa e passou a folheá-la. Não, ela não entendia coreano, pelo menos não muito. A garota tinha o básico do idioma, mas mal entendia metade das coisas que estavam escritas nos livros da faculdade. Sorte sua que as aulas eram todas em inglês, então não tinha dificuldades em acompanhar o que era ensinado. Para treinar o pouco de coreano que ela sabia, portanto, a garota tinha o hábito de comprar revistas teens, que costumavam ter um vocabulário limitado e matérias curtas, falando do dia a dia dos idols.
forçou a visão e aproximou mais a revista dos olhos, mas nem isso a fez entender o que estava escrito.
— Aish. — reclamou.
Sua atenção, contudo, deixou as palavras que não entendia, para olhar para o garoto que a encarava no banco da frente, próximo à porta de saída. Ele olhava para ela com curiosidade, tinha os olhos estreitos, como se também tentasse ler o que tinha na capa que ela segurava. E quando foi pego no flagra, o garoto arrumou a postura na hora, mostrando-se muitíssimo desconfortável ter sido visto encarando-a.
Estaria ele envergonhado?
O garoto ainda a olhou outras vezes, mas sempre desviava os olhos, claramente incomodado — talvez pelo fato de não ter parado de olhá-lo nem por um segundo. E diferente dele, que tinha uma máscara cobrindo metade do seu rosto, a garota não tinha nada para esconder as bochechas coradas.
Ela, então, enfiou o rosto nas páginas da revista novamente, só levantando os olhos vez ou outra para confirmar que o garoto ainda a olhava. Em determinado momento ele pareceu até mesmo assustado com alguma coisa, com medo, talvez. pensou em perguntar a ele se tinha algum problema com ela, mas sabia que os coreanos não eram muito adeptos da famosa “puxada de conversa” que os brasileiros adoravam.
Ela nem teve tempo de pensar no assunto, contudo. Assim que o metrô parou, o garoto levantou-se com pressa e desceu. E ao voltar os olhos para onde o garoto estava anteriormente, ela viu um celular caído no chão.
Aigo, ela pensou, estava com tanta pressa que deixou o celular para trás?
deixou o pensamento de lado quando viu que um grupo de garotos mal encarados, todos usando uniformes escolares, olhavam para o aparelho no chão e faziam comentários. Ela não entendeu o que eles falavam — primeiro, porque não conseguia ouvir o que eles diziam, e segundo porque o seu coreano não era dos melhores — mas sentiu que aqueles meninos não pareciam ter boas intenções.
Ela, então, correu até onde o celular estava no chão, pegou-o e colocou no bolso do moletom. O grupo de garotos pareceu não gostar do fato dela ter chego ao aparelho antes deles, mas ela não se importou. E assim que as portas se abriram na próxima estação, ela desceu do metrô, acelerando os passos para chegar a tempo na aula. Levaria o celular do estranho do metrô em uma delegacia assim que sua aula acabasse.
— Annyeonghaseyo. — ela cumprimentou algumas pessoas no corredor. — Hello. — cumprimentou outras.
Antes mesmo de sentar no seu lugar de sempre — perto da janela, na terceira carteira, tendo suas amigas, Yuna e Nina, sentadas à sua frente e do seu lado, respectivamente — o celular no bolso do seu moletom começou a tocar.
— Ei! — Yuna chamou sua atenção.
— Esqueceu de desligar? — Nina perguntou.
Era proibido deixar que celulares tocassem na sala de aula. já nem se lembrava dos sons do seu aparelho, já que desde que chegara na Coréia não o tirou mais do silencioso.
— Esse celular não é meu. — ela explicou às amigas, mas não pôde responder às suas dúvidas, já que a professora chegou naquela hora, dando bom dia à turma.
tratou de colocar o celular do estranho do metrô no silencioso e de guardá-lo no bolso traseiro da calça jeans, antes da aula começar. E quando o segundo período começou, ela guardou o seu celular e o do estranho dentro da mochila, sendo que este último já tinha seis chamadas perdidas.
Perguntou-se se o estranho era muito popular para ter tanta gente ligando para ele daquele jeito, ou se ele finalmente havia se dado conta de que perdera o aparelho. De qualquer forma, ela não tinha tempo para se preocupar com isso no momento, já que estava prestes a iniciar a primeira prova da semana. E como ela havia estudado muito para ir bem naquela avaliação, não deixaria que algumas ligações perdidas, em um celular que ela resgatara no metrô, a distraísse.
Quando o terceiro período chegou, e as amigas foram para o laboratório de artes da faculdade para montarem o projeto que tinham feito na semana passada, projeto este que iria valer metade da nota. As garotas realmente haviam se esforçado para montar aquela maquete, usando somente materiais recicláveis.
Uma única coisa as atrapalhavam na montagem do projeto, contudo.
— Caramba, , por que você não desliga isso? — Nina perguntou quando o telefone do estranho do metrô já tocava pela décima segunda vez. — Você não disse que levaria na delegacia mais tarde, de qualquer forma?
— Afinal, de quem é esse celular? Você tentou mexer nele? — Yuna perguntou curiosa.
Nina e Yuna eram as melhores amigas de no intercâmbio. Apesar de Yuna ser coreana, nascida em Busan, a garota foi criada no Brasil pela família materna, e estava passando uma temporada na casa do pai, em Seul, para concluir a faculdade. Nina, por outro lado, era espanhola, e se orgulhava muito do seu português enrolado, pois dizia que havia aprendido ouvindo as amigas fofocarem.
— Eu até tentei, mas está bloqueado por senha.
— E você não tem ideia de quem possa ser o dono? — Yuna perguntou.
sentiu as bochechas corarem ao se lembrar da troca de olhares constrangidos com o estranho do metrô.
— Não. — ela respondeu.
A tela se acendeu na mão dela de novo, no que deveria ser a quinquagésima ligação daquela manhã.
— Não é possível que esse cara tenha tantos amigos! — ela reclamou.
Yuna e Nina se olharam, com a testa franzida.
— Ou, talvez, apenas seja o dono do celular tentando falar com você.
— É, pode ser…
A garota estava prestes a atender a ligação quando o professor chegou. Imediatamente, guardou o aparelho dentro da sua mochila, e se esqueceu dele pela próxima hora, enquanto ela e suas amigas apresentavam seu trabalho. No final da aula, elas tinham quase certeza de que tinham conseguido nota máxima.
— Nós deveríamos almoçar alguma coisa gostosa para comemorar. — Yuna comentou, esperando que as amigas concordassem com qualquer desculpa para não comerem no refeitório da faculdade de novo.
Mas Nina tinha que ir para casa terminar um trabalho para o dia seguinte, e precisava ir a delegacia levar o celular do estranho do metrô, que já contava com mais de vinte e cinco ligações perdidas.
— Esse cara deve estar muito desesperado mesmo. — ela comentou com as amigas.
Elas ainda ficaram alguns minutos conversando no portão da faculdade. tinha o celular do estranho nas mãos, esperando que ele ligasse novamente, já que agora as aulas do período da manhã tinham finalmente acabado e ela poderia atendê-lo. Mas ele não ligou novamente.
— Talvez ele tenha desistido. — Nina disse.
— Ou ele acha que o celular foi roubado. — Yuna falou.
E isso deixou preocupada. Se o dono do aparelho fosse à polícia e buscasse pelo celular por algum aplicativo de rastreio, e chegasse até ela, poderia se meter em problemas.
— Vou à delegacia agora e almoço depois. — ela disse decidida. — Yuna, quer ir comigo?
Seria realmente muito bom se a amiga parte coreana fosse junto com ela para explicar aos policiais o que houve. Mas ela disse que o pai havia acabado de lhe mandar uma mensagem, dizendo que ela deveria ir almoçar em casa com ele.
— Desculpe. — ela lamentou.
— Tudo bem, amiga, sem problemas.
Mas não estava tudo tão bem assim. estava preocupada com o seu coreano básico, e por isso ela acabou escrevendo algumas frases no seu caderno e as traduziu para o coreano. Se não conseguisse falar, ou se ficasse muito nervosa, iria entregar o celular e a folha do caderno, com a explicação. Esperava que fosse suficiente.
Mas antes que a garota pudesse terminar de dobrar a carta que havia escrito aos policiais, o celular em suas mãos começou a tocar de novo. Era um número diferente das ligações anteriores, mas ela não hesitou em atender.
— Yeoboseyo.
— Ah, finalmente alguém atendeu! — um rapaz disse do outro lado. — Quem está falando? Esse celular é meu.
franziu a testa, tendo dificuldades em entender o que ouvia, já que o garoto falava rápido demais.
— Alô? Você está me ouvindo?
— Ne. — ela concordou. — Estou ouvindo. Eu, hm… Encontrei o seu celular no metrô hoje mais cedo. Estava levando para a delegacia agora.
Ela esperava que o seu coreano estivesse minimamente correto. Falou devagar, pensando no uso de cada palavra, e as pronunciou com cuidado. Aparentemente, funcionou, porque o rapaz do outro lado pareceu ficar desesperado com a ideia de levar o celular para os policiais.
— Eu vou buscá-lo. Onde você está?
A garota chegou a abrir a boca para responder, mas não o fez. Pensou, por um instante, no quão insano era passar a sua localização para um estranho buscar um celular que, para todos os efeitos, poderia ser roubado. Afinal, por qual outro motivo ele não iria querer que ela procurasse a polícia?
Mas então pensou que se combinasse de se encontrar com o estranho em um lugar público, com vários olhares e muito movimento, ela estaria segura, e ainda seria poupada de se envergonhar na frente de vários policiais que, provavelmente, não entenderiam uma palavra do que ela iria dizer.
— Podemos nos encontrar no restaurante de bibimbap, próximo à universidade de Seul. — ela respondeu.
O estranho levou alguns segundos para pensar.
— Certo. Posso encontrá-la em meia hora.
— Combinado. — ela já estava pronta para desligar, quando ele falou de novo:
— Espera, como vou saber quem é você?
— Ah… — ela pensou por alguns instantes. — Estou usando uma boina vermelha. — ela respondeu, esperando que fosse a única garota no restaurante que estivesse usando uma toca vermelha, ou então eles teriam problemas.
— Certo. Te vejo em meia hora, então. Annyeong.
— Annyeong.
Depois que se despediram, mandou uma mensagem às amigas, informando que iria encontrar o dono do celular e mandou o endereço do restaurante onde ocorreria o encontro.
“Se eu não chegar para as aulas da tarde chamem a polícia, pois provavelmente fui sequestrada”.
“Brincadeirinha”, ela mandou logo em seguida.
“Não, é sério. Liguem para a polícia. Amo vocês. A gente se vê daqui a pouco.”
E sem esperar pela resposta das amigas, foi para o restaurante combinado, aproveitando o tempo que teria antes do encontro para almoçar e pediu o prato de bibimbap tradicional da Coréia.
Ao terminar de almoçar, viu que ainda tinha pelo menos cinco minutos até o encontro com o estranho do metrô — isto é, se ele chegasse na hora combinada — então passou a ler a mesma revista teen de mais cedo para se distrair. E a distração realmente funcionou, tanto, que ela se assustou quando a cadeira da frente foi arrastada, e um rapaz alto, usando máscara, sentou-se.
— Yeoboseyo. Sou o dono do celular esquecido no metrô hoje cedo.
não poderia ter se assustado mais. Estava tomando água quando o estranho se sentou à frente dela, e quase engasgou com a surpresa.
— Ah, desculpe. Acho que deveria ter anunciado a minha chegada. — ele pareceu culpado.
— Ah, não… Não tem problema. — ela se apressou a dizer. — Mannaseo bangabseubnida. Me chamo .
A garota estendeu a mão para ele. O rapaz não hesitou em cumprimentá-la.
— Ah, sim, prazer em conhecê-la também. — ele respondeu, mas não disse o seu nome. — Então… Onde está o meu celular?
estreitou os olhos, desconfiada. Primeiro ele chega de fininho, depois ele não se apresenta. Ah, é claro, tinha também o fato dele ainda estar usando máscara, mesmo estando dentro do restaurante, longe da poluição aérea do lado de fora. Aquilo tudo era muito estranho.
— Ok… — ela pensou rápido, procurando as palavras certas. — E como eu vou saber que você é mesmo o dono do celular?
Ainda que o estranho, ainda sem nome, tivesse uma máscara escondendo quase o seu rosto inteiro, ela pôde reparar na surpresa dele, quando o rapaz ergueu ambas as sobrancelhas.
— É sério?
— Muito sério.
Até porque, ela tinha dito que levaria o aparelho até a delegacia mais próxima, iria explicar o ocorrido, e deixaria que os policiais locais encontrassem o dono do celular. Mas ele foi bastante enfático ao dizer a que eles deveriam se encontrar pessoalmente e que ela não deveria ir até à delegacia.
Suspeito, muito suspeito.
Apenas por precaução, a garota deu uma olhadinha em volta do restaurante, apenas para se certificar de que estava mesmo cheio de gente e que ela teria a quem pedir por socorro a qualquer sinal de que o estranho a atacaria. Mas ele apenas revirou os olhos, e aproximou-se mais dela, sobre a mesa.
— Escuta, esse celular é meu. E se você não me devolver, vou precisar denunciá-la por furto.
Foi a vez de ficar surpresa.
— Ótimo. Assim nós dois vamos à delegacia. O que acha disso?
O estranho voltou a encostar as costas na cadeira. Ficou em silêncio por um tempo, e pensou tê-lo visto engolir em seco. O rapaz olhou para baixo, e fixou os olhos na revista que a garota estava lendo quando ele chegou. Ergueu os olhos para ela de novo, e poderia jurar que o ouviu soltar um “Aish”, em tom de reclamação. Ele então olhou em volta, como a garota fizera segundos antes, e garantindo que não tinham olhares curiosos sobre eles, o rapaz tirou a máscara do rosto.
Esperou por uma reação de , qualquer reação, mas a garota continuou o olhando desconfiada, esperando que ele provasse, de alguma forma, ser o dono do celular deixado no metrô.
— E então? — ela o incentivou a falar alguma coisa.
O rapaz, por outro lado, estava perplexo. Tinha o queixo caído e a boca levemente aberta e piscava sem parar, como se não acreditasse no que ouvia.
— Você olhou bem para mim? — ele perguntou aproximando o corpo da mesa de novo. — Deu uma boa olhada?
ainda não entendia o que ele queria dizer. Tudo bem, ele era muito bonito, é verdade. Mas isso deveria significar alguma coisa para ela? Tipo, garotos bonitos não furtavam celulares e nem atacavam garotas brasileiras em restaurantes de bibimbap? Ela não iria cair nessa.
Apesar de que aquele rapaz não lhe era estranho...
— Estou olhando neste exato momento. E daí? A gente se conhece?
Ela se pegou pensando nos seus colegas de turma na faculdade. Com certeza não era o caso, pois se lembraria dele.
— Bem, você deve me conhecer. — ele respondeu meio debochado.
franziu a testa. Será que ele era um dos alunos mais velhos da faculdade que davam aula de monitoria para intercambistas? A garota chegou a ter a ajuda de um no início do ano, quando iniciou as aulas, mas tinha quase certeza de que aquele garoto na sua frente não era mais um estudante de arquitetura da Universidade de Seul.
— Não me recordo de onde.
E então, como se estivesse cansado daquela conversa, e totalmente sem paciência, o rapaz pegou a revista de de cima da mesa e mostrou a capa para ela.
A garota ficou alguns segundos olhando para a capa, tentando entender o que ele queria lhe dizer. Talvez seu coreano fosse pior do que ela imaginava, e ela não estivesse entendendo realmente o que ele queria lhe dizer, porque aquilo não fazia sentido. Mas então ela olhou para cima, para o rapaz que a encarava com uma sobrancelha erguida, e ela entendeu.
— Oh! Você…
— Shiu! — ele se apressou a tapar a boca dela com a mão.
Mas não precisava falar alto para demonstrar sua surpresa. Ali, na sua frente, encontrava-se um idol teen, daqueles que faziam as garotas gritarem na rua e escrever cartazes apaixonados em casa.
Mas qual era o nome dele?
— Bom, agora que você já sabe quem eu sou, pode devolver o meu…
— Qual o seu nome? — ela perguntou, interrompendo-o.
O rapaz, que estava já estava colocando a máscara de volta no lugar, com medo de ser reconhecido, ficou paralisado por um instante. Ele deu um sorriso de lado, irônico, perguntando:
— Você estava lendo uma matéria sobre mim logo que cheguei e não sabe quem eu sou?
— Eu nem reparei que a matéria era sobre você, estava apenas tentando entender as palavras. Eu não sou coreana, sabe.
— É, deu para perceber. — ele deu uma risadinha, voltando a colocar a máscara. — Sou , mannaseo bangawo.
E finalmente havia se apresentado a ela. Por algum motivo, se perguntou se ele realmente achava que era um prazer conhecê-la, como ele havia dito.
— Agora você já sabe quem eu sou e o meu nome. Pode me devolver o meu celular, por favor?
colocou a mão dentro do bolso do moletom e pegou o aparelho. O colocou em cima da mesa e estava quase entregando-o ao seu suposto dono, quando algo lhe ocorreu.
— Como vou saber que você é mesmo o dono desse celular?
não precisava que estivesse sem máscara para ver a expressão de surpresa no rosto dele.
— Jinjja? Sério mesmo? Ah, fala sério!
Apesar dele estar quase se divertindo com aquela garota — afinal, não era todo dia que ele não era reconhecido na rua, nem que não tinha alguém pedindo para tirar uma foto com ele ao encontrá-lo — começou a ficar preocupado com a atenção que poderiam estar chamando ao ver uma mesa, próxima a eles, com um grupo de garotas que acabara de chegar. Elas apontaram para eles e começaram a fazer comentários sobre como eram fofos juntos.
Não, e não eram um casal. Mas se aquele grupo de garotas começasse a acreditar nisso, iriam continuar olhando para eles, e eventualmente ele seria descoberto. O rapaz não poderia deixar isso acontecer.
Fez, então, a única coisa que ele poderia fazer para provar ser o dono do seu próprio celular.
— Ei!
ignorou a reclamação de e puxou o aparelho para si. Desbloqueou a tela e colocou a senha de acesso.
— Viu só? Se eu não fosse dono, não saberia como desbloquear.
pareceu satisfeita com a prova dele.
— Bem, então já que estamos resolvidos, não precisa agradecer. — ela disse com um sorriso satisfeito. — Apenas agi com decência e educação.
estava confuso.
— Do que está falando?
fechou a cara e tombou o pescoço para o lado.
— Estou falando do favor que fiz a você ao guardar o seu celular e protegê-lo de qualquer pessoa que pudesse querer roubá-lo.
O garoto deu outra risadinha, se divertindo novamente com ela.
— Gamsahabnida. — ele agradeceu, recebendo um aceno de mão de , como se dissesse, “que isso, fiz nada de mais”.
O assunto entre eles estava, então, oficialmente encerrado. conseguira o que havia ido buscar, e já havia tido a sua refeição e se livrado de uma dor de cabeça. Mas o rapaz não queria ir embora ainda. Quer dizer, é claro que ele não queria ser visto e nem reconhecido, e ficar ali, em um restaurante tão movimentado, no centro da cidade e próximo a uma universidade, não era a melhor forma de se manter escondido. Por outro lado, ele não queria ir embora porque sentia que a conversa entre ele e ainda não havia acabado. Ou, pelo menos, ele não queria que acabasse.
Espera, de onde tinha vindo aquele pensamento?
— Preciso retribuir o favor. — ele disse, estalando a língua, esforçando-se a não dar um significado maior do que o necessário, afinal, ele apenas se sentia em dívida com aquela garota. — Por isso, vamos almoçar juntos, eu pago.
Ele já estava pronto para tirar o casaco grosso para se sentir mais a vontade, quando respondeu:
— Eu já almocei.
ficou parado no meio da ação, o casaco meio colocado, meio tirado do corpo. Voltou a vesti-lo.
— Certo. Então… Vou lhe pagar o café. Vamos.
Novamente ele não esperou uma resposta dela, mas apenas começou a reunir suas coisas para se levantar, quando foi impedido por .
— Eu não tomo café. — ela tinha um sorrisinho sem graça nos lábios. — Mas não se preocupe, você não me deve nada, de verdade.
O grupo de meninas ali perto estava prestando mais atenção neles agora, algumas meninas davam risadinhas envergonhadas, e outra tinha o aparelho celular nas mãos. ficou com medo de ter sido descoberto, e pareceu entendê-lo imediatamente.
— Acho melhor irmos embora. — ela sugeriu.
— Ne, é melhor mesmo.
Juntos, eles levantaram. colocou sua revista teen dentro da mochila, pegou o próprio celular e colocou no bolso traseiro da calça. Caminharam até o lado de fora, a garota preocupada com o horário e com a possibilidade de se atrasar de novo, dessa vez para a aula do período da tarde, já ele estava conferindo as notificações que recebera no celular durante toda a manhã.
E por estarem distraídos, nenhum dos dois esperava encontrar o tempo como ele estava.
— Oh, está chovendo. — ela comentou com um gemido. Não havia nada pior do que pegar ônibus debaixo de chuva.
apertou a roupa de frio mais forte contra o corpo e virou-se para se despedir de .
— Tchau, foi um prazer conhecê-lo. — a garota curvou levemente o corpo, com ambas as mãos do lado do corpo.
mal teve tempo de dar dois passos em direção ao ponto de ônibus, contudo.
— Espera. — ele a chamou. Andou até onde ela estava, e parou do seu lado. — Como você vai embora?
franziu a testa.
— De ônibus. Tenho aula daqui a pouco.
pareceu pensar por um instante.
— Eu te levo.
A surpresa da garota não poderia ter sido maior.
— Não há necessidade, o ponto de ônibus é logo aqui… — e ela só pegaria o ônibus porque não queria andar na chuva, caso contrário, voltaria a pé para a faculdade, já que era realmente bem próxima.
— Olha, eu apenas quero agradecê-la pelo que fez por mim hoje. Não pude pagar o seu almoço e nem o café. Deixe-me te dar uma carona, pelo menos.
estava pronta para recusar de novo, mas o vento gelado espirrou gotinhas da chuva em quem estava na calçada. A garota se encolheu ainda mais nas suas roupas de frio.
— Você está de carro?
— Sim.
— Então vamos. — ela disse.
Seguiu até o final da rua, sempre andando atrás dele, próximos à parede e tentando se esconder nas marquises das lojas e dos restaurantes. Também não parou para pensar no que estava fazendo. Quer dizer, provavelmente não era uma boa ideia aceitar a carona de um desconhecido, especialmente em outro país, com uma língua estrangeira que ela não dominava. E se precisasse pedir por socorro? E se tivesse que fazer uma ligação de emergência ao ser sequestrada?
Apenas por via das dúvidas, a garota deixou algumas frases prontas escritas no bloco de notas do celular, caso precisasse usá-las em caso de emergências.
destravou o carro e abriu a porta para ela. agradeceu, ao mesmo tempo em que entrava correndo para não se molhar. O rapaz deu a volta no carro, também correndo e tampando o rosto, e sentou no banco do motorista.
— Aish, está muito frio. — ele reclamou. não poderia concordar mais.
Assim que ele ligou o carro, também ligou o aquecedor.
— Muito melhor, não é?
A garota deu uma risadinha, e por mais que concordasse com ele, não respondeu nada. Estava meio constrangida por estar no carro de um (não tão) desconhecido. Mas ei, momentos desesperados, atitudes desesperadas, certo?
— Onde você estuda?
— Na Universidade de Seul. — ela respondeu. — É bem perto na verdade. Eu poderia ir a pé se não estivesse chovendo. — tentou se justificar.
não respondeu nada, apenas balançou a cabeça em sinal de concordância. Ele também não tirou a máscara que usava. pensou que a preocupação seria vê-lo dentro do carro com uma mulher desconhecida. Isso geraria algumas boas fofocas e várias manchetes de revistas teen.
— Então… O que você faz? — ele perguntou, tentando puxar assunto para não deixar que o clima no carro ficasse tenso.
— Arquitetura. Na verdade eu estudo em São Paulo, no Brasil.
— Brasil, hm? Hm… América Latina?
— Isso. — ela respondeu com uma risadinha. — Estou aqui fazendo um intercâmbio.
pareceu achar interessante a história dela.
— E está gostando?
— Bastante. As aulas são todas em inglês, então são fáceis de entender. Meu coreano não é dos melhores, como você pôde perceber.
estalou a língua, virando uma rua. À frente, ele já conseguia ver os portões da faculdade.
— Seu coreano não é dos piores. — ele respondeu com um sorrisinho que ela não pôde ver. Mas viu quando a garota corou.
Apenas mais um semáforo, e então eles estariam na Universidade de Seul. já tinha até pego a sua mochila, pronta para descer correndo para fugir da chuva. Mas quando parou o carro próximo aos portões da universidade, e virou-se para agradecê-lo pela carona, ela foi pega de surpresa.
— Ei, hm… — ele começou. — Você poderia me passar o seu número?
precisou de alguns segundos para entender o que estava acontecendo.
— O quê?
Foi a vez dele ficar sem jeito, e apenas desejou que a máscara pudesse cobrir toda a sua bochecha corada.
— Eu ainda preciso te pagar uma refeição, como forma de agradecimento.
— Ah, não é necessário…
— Mas eu quero.
Sim, ele queria. Queria sair para comer com ela, queria ter uma hora de almoço ou de jantar para agradecer e também, por que não, conversar com ela e conhecê-la um pouco mais. Era interessante estar junto de uma pessoa que não o conhecia e, por causa disso, não lhe fazia milhares de perguntas. Ele queria poder fazer as perguntas à ela, pois nunca havia conhecido alguém do Brasil. E nem alguém interessante como .
Talvez estivesse interessado nela. Na história dela. Ou apenas ele quisesse retribuir a ela um favor. Quer dizer, o motivo não era relevante. Ele apenas queria… Queria ter mais um tempo com .
— Hm… Ok. — a garota tirou uma folha do seu caderno e anotou o seu número de celular, além de colocar seu nome, em português e em coreano, embaixo. Entregou a folha a ele, se despediu e agradeceu novamente à carona.
— Eu vou te ligar! — ele gritou antes que ela fechasse a porta.
lhe deu um sorriso doce, mas desacreditado.
— Claro, vou ficar esperando.
Mas ela não o iria, pois sabia que aquela ligação jamais aconteceria.
Fim?
Nota da autora: Voltei a assistir doramas depois de um tempão e eu não conseguiria dormir se não escrevesse uma fanfic com o amor da minha vida, Lee Min-ho. Espero que tenham gostado, porque é o típico clichê que toda fanfiqueira gostaria de viver, haha.
Espero que vocês tenham gostado <3 Recomendem a fanfic para as amigas e deixem um comentário cheio de amor no final.
LEIAM A CONTINUAÇÃO: Message to You.
Beijos de luz
Angel
Outras Fanfics:
Finalizada:
Ainda Lembro de Você
Em andamento:
It’s Always Been You
Shortfics:
21 Months ● Accidentally in Love I ● Accidentally in Love II ● Ainda Lembro de Nós ● Babá Temporária ● Beautifuly Delicious ● Because of the War ● Café com Chocolate ● Elemental ● Give Love a Try ● O Amor da Minha Vida ● O Conto da Sereia ● O Garoto do Metrô ● Reencontro de Natal ● Refrigerante de Cereja ● Rumor ● She Was Pretty ● Sorry Sorry ● Suddenly Love I ● Suddenly Love II ● Welcome to a new word ● When We Met
Ficstapes:
02. Cool ● 05. Paradise ● 05. The Man Who Never Lied ● 06. Every Road ● 06. Love Somebody ● 07. Face ● 10. Sol Que Faltava ● 10. What If I ● 11. Woke Up in Japan ● 12. Epilogue: Young Forever ● 15. Does Your Mother Know
MVs:
MV: Change ● MV: Run & Run ● MV: Hola Hola
Como se não fosse suficiente eu já ser doida pelo Siwon, você me escreve uma shortfic com o Minho, Angel? Sabe o pior? Eu conseguia vê-lo em cada ceninha, meu Deus do céu. Como sempre amiga, você arrasou. Parabéns! ♥
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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21 Months ● Accidentally in Love I ● Accidentally in Love II ● Ainda Lembro de Nós ● Babá Temporária ● Beautifuly Delicious ● Because of the War ● Café com Chocolate ● Elemental ● Give Love a Try ● O Amor da Minha Vida ● O Conto da Sereia ● O Garoto do Metrô ● Reencontro de Natal ● Refrigerante de Cereja ● Rumor ● She Was Pretty ● Sorry Sorry ● Suddenly Love I ● Suddenly Love II ● Welcome to a new word ● When We Met
Ficstapes:
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MVs:
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