CAPÍTULOS: [Capítulo Único]





Can I Have Your Number?






Capítulo Único


O movimento no bar estava mais intenso que o normal e por mais que fosse chegando gente a cada minuto, ele parecia que nunca ia chegar em sua capacidade máxima. A maior parte das pessoas eram alunos da faculdade que tinha apenas alguns quarteirões de distância, a outra eram os engravatados que tinham acabado de sair dos seus trabalhos em que ganhavam milhões, e o restante eram os frequentadores assíduos do lugar: meus amigos, eu e alguns velhos que gostavam de ficar lá para ver os jogos na televisão enorme.
Nós nunca sentávamos em uma mesa, pois sempre aparecia um grupo de garotas procurando lugar e acabávamos cedendo o nosso para elas. Tinha também as vezes em que elas estavam a fim de apenas um de nós e os outros tinham que ficar conversando com uma pessoa muito nada a ver só para o amigo se dar bem.
Eles começaram a conversar sobre o lançamento de uma pinga com mel ou coisa do tipo, e meu cérebro passou a automaticamente ignorar o som de suas vozes. Fiquei olhando para um grupo de garotas em uma mesa no canto do bar, mais especificamente a que estava revirando os olhos para praticamente tudo o que falavam para ela.
- Quem chamou sua atenção? – Rony perguntou sobre o meu ombro e me virei para ele.
- Ninguém. – virei todo meu uísque, sentindo minha garganta queimar em seguida.
- Você estava olhando para alguém... resta saber quem. – ele disse malicioso e revirei os olhos – estava de olho em alguma gata daquele lado. – ele apontou sem sequer tentar disfarçar – Quem dali faz o tipo dele.
Deixei que eles tentassem adivinhar, o que eu esperava que fosse sem sucesso. Eles tinham a mania de tentar me arrumar alguém, não precisava ser uma namorada ou sexo casual, era só alguém que conseguisse me tirar de casa quando eles não conseguissem.
- A . – Timothy disse com um sorriso vitorioso – A é o tipo dele.
- Só pode ser ela. – Hugo disso.
- Por que ela? – perguntei curioso.
Eu não tinha um tipo. Nunca tive um na verdade. Para mim se a mulher conseguia manter uma conversa bacana para mim já era suficiente. Não precisava ter cabelos longos em uma cor especifica, muito menos o corpo mais escultural do planeta. Ela precisava apenas conseguir manter uma conversa legal e pronto. Seus dotes sexuais era outra coisa e eu também não costumava ser exigente como meus amigos.
- Ela parece ser do tipo que vai te dar uma fora só de você se aproximar. – Timothy disse.
- Só por isso? – arqueei a sobrancelha e ele deu de ombros.
- E é a mais bonita da mesa.
- Isso não é muito legal da parte de vocês, sabiam?
- Eu não falei que elas são feias. – ele riu – Só disse que é a mais bonita.
- Duvido que você consiga o número dela. – Rony me olhou desafiador.
- Por que você não vai?
- Porque você gostou dela, é toda sua, .
- Se eu conseguir, o que eu ganho?
- Nós pagamos sua conta. – Hugo riu.
- Não, fica muito fácil. Vocês dividem em três e pronto. – cocei a barba – Cada um vai me comprar uma garrafa do uísque mais caro da loja de bebidas perto da minha casa. E eu sei qual é.
- Você está tentando entrar em coma alcoólico? – Rony riu – Tudo bem. Se você perder, vai ter que comprar uma garrafa desse uísque para cada um de nós.
- Tudo bem. – assenti.
- Você vai ficar pobre. – Timothy gargalhou – Nós vamos ter que pagar sua conta pelo resto da sua vida.
Respirei fundo e caminhei até a mesa dela. Eu tinha acabado de me meter em uma roubada. Era óbvio que ela não ia me dar o telefone dela. Ela era realmente a mais bonita da mesa e eu tinha certeza de que ela sabia daquilo. Eu não seria o primeiro e muito menos o segundo a aparecer na sua mesa no meio da noite pedindo seu número, ela já devia ter até uma tática especial para dispensar.
- Boa noite, moças. – sorri tenso para elas – Será que... que você pode me dar seu telefone? – falei olhando diretamente para os olhos incrivelmente dela – Meus amigos apostaram comigo... – sorri de lado
- Isso é sério? – ela falou entediada.
- Sim. – assenti – Não precisa ser seu número de verdade, é só anotar qualquer coisa no guardanapo e pronto. – falei tentando parecer convincente – Eles estão ali. – apontei para eles.
- Hum. – ela mordeu o lábio de um jeito muito convidativo – Tudo bem. – ela sorriu.
Ela pegou um guardanapo no centro da mesa e uma caneta na bolsa. Ela rabiscou algo no papel e me entregou com um sorriso e assenti em agradecimento.
- Muito obrigado. – sorri – Você me salvou.
Caminhei de volta até eles com um sorriso enorme nos lábios. Eles iam me pagar três garrafas do melhor e mais caro uísque por um número falso.
- Pronto. – mostrei o guardanapo para eles que me olharam surpresos.
- Não. – Hugo pegou o papel da minha mão e ficou olhando – Foi fácil demais. Como você conseguiu?
- Você precisa ensinar isso para gente, cara. – Rony me deu um tapinha no ombro – Você é meu herói.
- Eu sei, eu sei, crianças. – falei convencido – Espero meu uísque em casa essa semana.
Eles passaram o restante da noite sem acreditar que eu tinha conseguido o telefone dela fácil assim. Eu tinha quase certeza que se eu não tivesse pedido por um número falso, ela jamais aceitaria, não importava o quanto eu implorasse. Não podia negar que tinha sido bastante inteligente da minha parte fazer isso, mas eu ia levar essa mentira para o túmulo comigo.
Por mais que eu não tivesse bebido muito naquela noite, cheguei em casa destruído e querendo muito dormir até domingo.
Tirei minha roupa e joguei minha calça no cabideiro, vendo o guardanapo com o número ir lentamente para o chão. Peguei-o e fiquei analisando os nove números. Ela não tinha anotado o nome, apenas colocou “garota do bar”.
Digitei os números no celular sem qualquer expectativa, apenas para saber se aquele era o número de alguém ou foi algo apenas aleatório. Quando ouvi o último toque e estava prestes a desistir, alguém atendeu.
- Alô? – falei surpreso.
- Quem fala? – ouvi a voz dela do outro lado da linha.
- Ah... sou eu... o cara que pediu seu telefone falso hoje à noite. – falei meio envergonhado.
Por que eu estava envergonhado de ter ligado? Ela me deu o telefone, eu pedi por um falso, apenas liguei para confirmar que não era dela.
- Ah, oi. – pude ouvi-la rir.
- Eu achei que esse não fosse seu número.
- Mas é. – ela riu – Eu achei fofo.
- O quê?
- Você pedir por um número falso. Não é a primeira vez que amigos idiotas fazem esse tipo de aposta tentando conseguir meu telefone.
- Não?
- Não. É muito comum isso, sabia? É mais fácil e barato do que você chegar na garota, perder tempo conversando, gastar dinheiro com uma bebida.
- Essa foi a primeira vez que eu vi isso. – falei rindo – E por que você deu o número de verdade?
- Porque você não insistiu. Você poderia ter falado mil coisas, mas não. Você falou que era uma aposta e ainda disse que podia ser um número falso.
- Posso ficar feliz com isso?
- Claro que sim. – ela riu – Você pode conseguir o telefone de várias garotas desse jeito.
- Eu não costumo fazer isso.
- Isso o quê? Pedir telefones alheios?
- É.
- Entendi. E o que vocês apostaram?
- Cada um dos três teria que pagar uma garrafa do uísque mais caro de um lugar perto de onde eu moro.
- O quão caro é esse uísque?
- Muito caro.
- Não beba tudo de uma vez então. – ela riu – Eu preciso desligar, tenho que terminar muitas coisas do trabalho.
- Ah, tudo bem.
- Boa noite.
- Boa noite.... Você não me disse seu nome.
- . Você é....?
- .
- Vou anotar. do bar. – ela riu – Tchau.
Ela desligou a ligação e fiquei ouvindo o toque repetitivo que indicava que a ligação foi finalizada até voltar para a vida real.
.
Era um nome muito bonito, combina com ela... eu acho.
Não podia negar que fiquei bastante surpreso por ela ter me dado seu número verdadeiro e não qualquer coisa aleatória que tivesse vindo na mente. Anotei o telefone nos contatos como do bar” e me peguei rindo sozinho ao lembrar que ela disse que era assim que anotaria o meu.

Segunda-feira era o dia da semana que eu mais odiava. A oficina lotava de carros e meu pai e eu ficávamos atolados de serviço o dia todo. Parecia que todo mundo decidia levar o carro para arrumar na segunda, praticamente no mesmo horário: logo que abríamos a oficina as sete da manhã.
Quando finalmente tive um tempo livre no fim da tarde, digitei uma mensagem para perguntando se ela tinha planos para hoje à noite.
“Desculpa, tenho reunião de pais hoje”.
Se eu tinha qualquer fio de esperança com ela, isso tinha sido acabado agora. Ela podia ser casada, mas ela não daria seu telefone de verdade para um desconhecido, e mesmo que não fosse casada, ela tinha um filho e mães geralmente são bastante exigentes com relação aos caras que elas saem. Precisaria ser o tipo responsável e que tivesse jeito com crianças, ela não ia colocar dentro da sua casa um idiota que odiava crianças.
“Estou livre amanhã. Tudo bem para você? “
“Claro”.
“Ok. Até amanhã”.

Eu não sabia nem mais o que fazer depois daquilo. Levar para jantar ou tomar algo em algum lugar, fazer um jantar no meu apartamento ou qualquer coisa que fosse agradá-la. Não tinha o porquê eu querer agradá-la, eu apenas queria. Ela pareceu ser legal e é bonita... muito bonita. Era óbvio que eu precisava agradá-la de algum jeito.
Meus amigos eram três idiotas que não faziam ideia de como agradar uma mulher e minha única esperança era meu pai, um senhor de sessenta e poucos anos que preferia as coisas a moda antiga.
- Pai. – chamei-o.
- Quê? – ele saiu do escritório mais sujo de graxa do que eu.
- Eu acho que tenho um encontro amanhã...
- Bom. – ele sorriu – Eu conheço ela?
- Não, é uma garota nova.
- E você gosta dela? – ele arqueou a sobrancelha.
- Ãn? Quê?
- Você gosta dessa garota?
- Pai, eu a conheci na sexta. – revirei os olhos – Falei com ela cinco minutos pessoalmente e depois mais cinco no telefone, eu nem sei se a acho legal.
- Hum. – ele murmurou – E você a chamou para sair mesmo assim?
- Eu te chamei porque quero ajuda, não responder um questionário.
- Tudo bem, tudo bem. – ele gargalhou rouco – No que seu velho pode te ajudar?
- Não sei o que fazer. Eu perguntei se ela tinha planos hoje e ela disse que não porque ela tinha reunião de pais, mas disse que amanhã estava livre e eu não sei o que fazer. – suspirei – Estou em dúvida de onde levá-la.
- No meu primeiro encontro com a sua mãe eu a levei para jantar em um restaurante bem chique que tinha perto de onde ela morava. – ele falou meio aéreo. Ele sempre ficava assim quando começava a falar dela.
- Eu não vou casar com ela, pai, muito menos ter filhos. – bufei – É só para sairmos e nos conhecermos melhor.
- , no meu tempo a gente convidava a pessoa para um jantar se fosse para se casar com ela...
- Isso foi há mil anos. Esquece, eu vou perguntar para a mãe.
Dirigi até a casa dos meus pais assim que fechamos a oficina, e meu pai foi falando durante o caminho as coisas que ele fazia para minha mãe quando eles namoravam.
Assim que estacionei o carro na frente da casa, pude ver minha mãe olhando para a rua pela janela aberta da sala.
- Oi, querida. – meu pai caminhou até ela e beijou sua testa.
- Oh, Bertie. – ela disse apaixonada – Como foi o trabalho?
- Foi bem, querida, foi bem. – ele se sentou na mesa de centro.
- Oi, mãe. – beijei sua bochecha – Como a senhora está?
- Estou bem. – ela sorriu.
- Oi, . – Amber apareceu na sala com uma bandeja em mãos – Seu jantar está pronto, Margaret.
- Obrigada. – ela olhou tensa para Amber – Quem é ela? – ela sussurrou para mim.
- Mãe, essa é a Amber, filha da sua amiga Betty, ela cuida de você quando o pai está fora, lembra? – acariciei seu ombro e ela ficou encarando Amber como se tentasse lembrar.
- Está tudo bem, Margaret. – ela sorriu carinhosa para minha mãe – Ela já tomou os remédios, agora só precisa tomá-los a noite antes de dormir.
- Tudo bem. – meu pai sorriu carinhoso.
- Eu vou indo. – ela pegou sua bolsa perto da porta e caminhou até minha mãe – Boa noite, Margaret, a gente se vê amanhã, ok? – minha mãe assentiu – Tchau, . Tchau, senhor .
- Tchau, Amber, obrigado. – meu pai disse.
Ele a acompanhou até a porta e fiquei olhando minha mãe enquanto ela comia.
- Bertie. – ela chamou pelo meu pai que veio correndo até ela.
- O que foi, querida? – ele se abaixou até ela.
- Nós podemos visitar meus pais esse fim de semana, o que você acha? – ela perguntou contente e meu pai a olhou preocupado – Você vêm conosco, ?
- Sim. – assenti – Ela vai ficar feliz em nos ver.
- O que você acha, Bertie? – ela olhou para o meu pai.
- Tudo bem, nós vamos. – ele disse triste e voltou para cozinha.
Fui até ele e o encontrei debruçado na pia e chorando baixinho. Ele tentava ser forte, mas ele não conseguia. Era horrível para ele ver a mulher que tanto amava daquele jeito, e o mesmo era para mim.
- Ela vai ficar bem, você sabe disso. – abracei-o.
- Eu não gosto de ter que mentir para ela, filho. – ele choramingou – Por mais que ela vá esquecer logo, eu não gosto. Nós nunca mentimos um para o outro, nunca.
- Pai, é melhor você mentir para ela e ela logo esquecer, do que você falar a verdade e ela começar a chorar. De qualquer jeito ela vai esquecer, mas é melhor que seja sem lágrimas.
- Eu não gosto disso, filho, não gosto. – ele limpou o rosto – Hoje de manhã ela acordou primeiro que eu e foi fazer café. Acordei com ela chamando você dizendo que você ia se atrasar para a escola.
- Você acha que... ela vai começar a esquecer de mim? – perguntei preocupado e ele assentiu – Mas ela se lembra de mim agora.
- Sim, mas as vezes ela esquece que você não mora mais com a gente. – ele suspirou – O médico disse que isso pode acontecer. Ela pode esquecer de você... de mim.
- E quando isso acontecer? O que a gente vai fazer?
- Não sei, filho. Mas eu estou cansado de mentir para ela. Eu vou cuidar da sua mãe até meu último suspiro, ou o dela, mas eu não quero mais ter que mentir para ela.
- Tudo bem. – dei de ombros – Eu faço.
- ...
- Eu não vou falar para ela que a única família que ela tem agora é eu e você. Não vou contar que os pais e os irmãos dela já morreram. – falei irritado – Se você não quer mentir é só se esquivar das perguntas dela, pai, mas e não vou falar a verdade para ela.
Deixei-o sozinho na cozinha e me sentei na sala junto com ela.
Eu odiava essas conversas sobre a minha mãe. Ela já estava no estágio intermediário do Alzheimer e não tinha nada que pudéssemos fazer. Os remédios não estavam ajudando muito na perda de memória e isso acabava com meu pai. O maior medo dele era que ela se esquecesse de nós dois e esse também era o meu.
- , querido, como foi a faculdade hoje? – ela perguntou do nada.
- Eu já terminei, mãe. – sorri.
- Como? Bertie, nós perdemos a formatura do . – ela gritou com os olhos lacrimejados.
- Não, mãe. – corri até ela – Vocês foram. Tem uma foto de vocês ali. – apontei o porta retratos ao lado da televisão – Você não perdeu nada. – acariciei sua bochecha.
- E porque eu não me lembro? – ela disse triste.
- Você se lembra da minha formatura do ensino médio? – ela assentiu – Foi a mesma coisa, só tinha mais pessoas.
- Não é a mesma coisa.
- Claro que é. – insisti – Eu saí de lá com um diploma na mão igual no ensino médio.
- Não é a mesma coisa. – ela cruzou os braços.
- O que importa é que você foi, tudo bem? Você foi nas duas. Na do ensino médio e na da faculdade. Olha as fotos ali, uma do lado da outra.
- Tudo bem. – ela assentiu.
- , conte para sua mãe sobre amanhã. – meu pai se sentou ao lado dela.
- O que tem amanhã? – ela me olhou curiosa.
- Ele tem um encontro.
- Você tem um encontro, querido? – ela falou contente – Com quem?
- Uma garota que eu conheci semana passada. – dei de ombros – Nada demais.
- Ele queria sua ajuda para onde levá-la amanhã.
Minha mãe abriu o maior sorriso do mundo ao ouvir que alguém queria a ajuda dela. Quando descobrimos o Alzheimer ela ficou sem ter muito o que fazer, já que ela costumava cozinhar, limpar a casa e passear pelo bairro com as vizinhas. Se você queria vê-la feliz, era só mostrar que ela podia ajudar em algo.
- O que você está pensando em fazer?
- Eu não sei. Pensei em levar ela para jantar ou beber alguma coisa.
- O que você prefere?
- Não faço ideia. – suspirei.
- Qual você acha que você e ela vão gostar mais?
- Beber algo? – semicerrei os olhos e ela assentiu – Tudo bem. – sorri – Está decidido.

Eu não sabia o porquê, mas estava muito ansioso para minha noite com . Acabei perguntando para ela o que preferia e ela disse que adoraria ir comer comida mexicana, então foi isso o que combinamos. Iriamos nos encontrar em um restaurante no centro da cidade por volta das seis e meia, e sai da oficina quase duas horas antes.
Chegamos praticamente juntos, e ela sorriu contente ao me ver. Fiquei igual um idiota olhando-a dos pés à cabeça. O jeans colado, a camisa de botões branca por baixo de um casaco azul, tênis e óculos. Aquela não era o tipo de roupa que as mães que eu conhecia usavam.
- Achei que ia chegar atrasada. – ela riu – Não tive nem tempo de passar em casa.
- Está tudo bem. – sorri.
Nos sentamos em uma mesa na parte mais escura e calma do lugar, e eu tinha quase certeza de que aquela parte era onde os casais iam para ter seus jantares românticos.
A maior parte da conversa foi sobre nossos amigos. Os meus idiotas e das amigas dela achando graça quando pedi seu número. Eu queria muito perguntar sobre o filho dela ou coisa do tipo, mas não sabia se ia ser extremamente estranho da minha parte.
- E você trabalha com o quê? – ela perguntou.
- Na oficina do meu pai.
- Sério? – ela me olhou surpresa – Meu avô tinha uma oficina. Eu achava muito engraçado quando eles levantavam os carros, sempre queria ficar dentro. – ela riu.
- Estou tentando te imaginar fazendo isso. – falei rindo.
- Eu dizia para o meu avô que queria trabalhar junto com ele, mas ele dizia que isso era profissão de homem. Acabou que agora eu sou professora, super feminina. – ela revirou os olhos.
- Você é professora? – perguntei surpreso e ela assentiu.
- Por isso eu não pude sair ontem. Era dia de reunião de pais, e por mais que tenha um horário para acabar, sempre tem algum pai que aluga a gente para falar sobre como é minha obrigação fazer isso e aquilo. – ela riu.
Então ela não tinha filho coisa nenhuma, apenas teria que trabalhar. O fiozinho de esperança se tornou uma corda e eu me agarrei nela com força. Ela não era casada, não tinha filho, e se estava ali comigo só podia significar que também não tinha um namorado.
- Minha mãe fazia isso. Ela adorava ficar conversando com os professores nas reuniões, mas ela não dizia para eles o que fazer, apenas falava mal de mim mesmo.
- Os pais dos meus alunos são todos muito simpáticos, mas sempre tem um ou dois que adoram ser chatos e achar que se o filho deles tirou um F é por minha culpa. – ela bebeu um pouco do refrigerante.
- Tecnicamente é. – encolhi os ombros e ela riu.
- Claro que não. Eu sou professora de história da terceira série, nada do que eu ensino ali é mais difícil do que matemática. – ela disse rindo – Eu faço de tudo para que eles consigam ir bem nas provas.
- Então você é a professora legal?
- Sim. – ela assentiu – Se eu expliquei uma vez e eles não entenderam, é minha culpa, mas se eu expliquei mil vezes a mesma coisa de diferentes jeitos, eu não acho que o problema seja eu.
- Tudo bem, talvez você esteja certa, mas só porque história era minha matéria favorita tanto na escola quanto na faculdade.
- Você estudou o quê?
- Direito. – suspirei – Cheguei até a me graduar.
- Você é formado em Direito e nunca pensou em ganhar milhões? – ela me olhou surpresa.
- Eu não gostava muito na verdade.
- E por que você não mudou ou desistiu?
- Me faço essa pergunta todos os dias. – sorri.
- Os meus pais quiseram me matar quando eu disse que seria professora. Acho que eles ainda querem.
- Por quê?
- Em uma família cheia de pessoas formadas em Direito e Medicina, ser professora era pior do que não querer fazer nada. – ela deu de ombros.
- Podia ser pior.
- Como? – ela arqueou a sobrancelha.
- Você podia ter gastado milhões estudando Direito para no final ser mecânico.
Ela começou a rir e fiquei feliz por isso. Tinha grandes chances daquela noite não ter dado certo de diversos jeitos, mas eu tinha feito ela sorrir a todo momento e não teve um segundo sequer em que ficamos em um silêncio constrangedor.
- Pelo menos seu pai está orgulhoso de você já que seguiu a mesma profissão que ele.
- Sim. – assenti – Ele nem se importou muito na verdade, apenas quis que eu fizesse o que eu achava que era melhor para mim.
- E a sua mãe?
- Não sei. – dei de ombros.
- Como assim não sabe? – ela me olhou séria – Vocês não se falam mais ou... ela faleceu? – ela perguntou tensa e eu comecei a rir da expressão dela.
- Não. – neguei com a cabeça – Eu nunca perguntei porque eu acho que ela nem se lembra que eu trabalho com meu pai.
- Ela provavelmente deve não se importar assim como o seu pai. Apenas quer que você seja feliz.
- Sim. Ou ela vê que foi dinheiro jogado no lixo e não quer discutir.
- Também. – ela riu – Seus amigos sabem?
- O quê? Que eu me formei na faculdade?
- Não. Que a gente está aqui? – ela me encarou e eu neguei com a cabeça – Você devia se gabar disso, sabia? Quem sabe você ganha mais uma garrafa de uísque.
- Talvez. – sorri para ela.
Acompanhei-a até sua casa e eu estava quase criando expectativas de que ela me chamaria para entrar, mas acabou que nos despedimos rapidamente, pois ela tinha que acordar cedo no dia seguinte.
Fiquei pensando nela durante todo o caminho para minha casa e em como a noite tinha sido boa. Conversamos sobre nossas vidas pessoais, ela contou que era solteira e também que o último namorado dela era o filho de um sócio da mãe dela que só a usava como acessório em eventos sociais.
Trocamos mensagens de texto durante toda a semana e esperei acabar encontrando-a no bar sexta à noite, mas ela disse que tinha algumas lições para corrigir e ficar ocupada pelo fim de semana inteiro.
Eu não conseguia tirar ela da minha cabeça de forma alguma. O jeito que ela sorria, a forma como mordia os lábios, quando ajeitava os óculos que segundo ela só eram usados no trabalho. Não consegui tirar o sorriso do rosto quando contei para o meu pai sobre o jantar e ele também percebeu que eu estava sorrindo feito um idiota.

Meus amigos estavam em casa para assistirmos ao jogo de futebol americano enquanto eles bebiam a garrafa de uísque que compraram para mim.
Estava quase no fim do terceiro tempo quando meu celular começou a tocar e Hugo o pegou antes de mim.
- Quem é ? – ele me mostrou o celular, mas não entregou quando eu tentei pegar – está de namoradinha e não fala nada para os amigos.
- Não é ninguém, dá aqui. – tentei pegar novamente e ele jogou para Timothy.
- Se não é ninguém, por que o desespero? – Timothy gargalhou – Quem é , ? Você está nos traindo, é isso?
- Deixem de ser crianças, vocês vão perder o jogo. – apontei a televisão.
- Falta um minuto, eles não vão ganhar o jogo agora. – Rony disse – Fala para gente, , quem é?
- É uma garota, só isso. – peguei o celular da mão de Timothy e quando fui atender ele parou de tocar. – Idiotas. – o coloquei no balcão.
- Você nunca escondeu garota nenhuma da gente. Quem é essa? Aquela gatinha que cuida da sua mãe?
- Aquela é a Amber, Rony. – Hugo disse – Diz para gente...
O celular começou a tocar e nós quatro corremos para pegar, mas Timothy o pegou primeiro. Ele atendeu o telefone e fiquei olhando-o furioso como se aquilo fosse obrigá-lo a entregar o aparelho para mim.
- O está aqui sim, eu vou chamá-lo. – ele disse rindo – , querido, é sua namorada.
- Vai se foder. – rosnei.
Peguei o celular da sua mão e entrei no banheiro para eles não me ouvirem.
- Oi, tudo bem? – falei.
- Mais ou menos. – ela disse rindo – Eu ia sair de casa e o pneu do meu carro magicamente furou, ai fiquei pensando se eu conhecia alguém que trabalhava com isso e tal, mas eu não conheço, ai queria saber se você conhece alguém.
- Estou indo aí.
- Você não está ocupado? Eu não quero te atrapalhar.
- Está tudo bem, daqui uns vinte minutos estou aí.
Assim que abri a porta vi os três me encarando curiosos.
- Quê? – perguntei.
- Quem é , senhor ? – Rony perguntou.
- Ninguém. – dei de ombros.
Fui até o meu quarto e peguei a jaqueta com os três me seguindo para todo canto.
- Você vai deixar a gente vendo o jogo sozinho? – Timothy disse indignado.
- Vocês são grandinhos, papai confia que vocês não vão fazer nada de errado. – dei um tapinha em seu ombro – Não bebam todo meu uísque.
- , você não pode sair, é um jogo importante.
- Não é nem a final ainda, cara. – revirei os olhos – Quando for o Super Bowl ai sim vocês podem ficar indignados de eu sair.
- É bom que você transe, porque se você estiver deixando a gente e o nosso jogo para não transar com a maior gata do universo... não vai ter perdão.
Dirigi até a casa de e quando cheguei pude vê-la deitada na rede da varanda. Ela estava lendo um livro e nem percebeu quando me aproximei.
- Oi. – sorri. Ela deu um gritinho e começou a rir descontroladamente.
- Você me assustou. – ela se levantou e ficou passando a mão no vestido tentando arrumá-lo – Obrigada por ter vindo. – ela caminhou até a garagem – Eu estava indo para a casa dos meus pais e ai acontece essa bosta. – ela riu – Eu já não queria ir, na realidade nem vou mais, mas eu vou precisar usar o carro uma hora. – ela abriu o porta-malas.
- Você tem todas as coisas para trocar um pneu e não sabe trocar? – arqueei a sobrancelha e ela sorriu.
- Eu até que sei, mas quando eu fui na oficina para trocar os pneus eles apertaram tanto que eu não consigo.
- É por isso que nós fazemos isso. – peguei o macaco e o coloquei embaixo do carro – Para vocês ligarem para gente. – dei uma piscadela e ela riu – Qualquer homem faz isso na verdade. – comecei a bombear e pude sentir ela ficar me analisando.
- Por quê?
- Para vocês precisarem da gente. – dei de ombros.
- É complexo de inferioridade? – ela riu – Vocês precisam que a gente necessite de vocês para que vocês possam se sentir úteis na vida?
- Como você descobriu? – olhei para ela por cima do ombro e ela sorriu.
ficou me olhando o tempo todo enquanto eu trocava o pneu e quando terminei, olhei para ela e a vi me encarando, o que fez com que ela ficasse com as bochechas vermelhas.
- Espero que você não tenha apertado muito, porque agora eu sei o segredo de vocês. – ela colocou as mãos na cintura.
- Acho que agora você vai conseguir trocar, madame. Pelo menos esse você consegue. – indiquei o pneu novo.
- Quero só ver. – ela se aproximou.
- Dessa vez eu não vou cobrar, porque eu não trabalho de fim de semana, mas dá próxima quem sabe se você sair comigo. É um ótimo pagamento. – me aproximei dela.
- Vou pensar. – ela deu uma risadinha.
Nossos rostos estavam muito perto um do outro, eu podia sentir sua respiração, poucos centímetros me separavam dela e quando eu estava prestes a beijá-la, a merda do telefone começou a tocar e ela se afastou.
- Já volto. – ela correu para dentro.
Quem ainda tinha telefone fixo em casa quando se podia ter um celular para você usar em qualquer canto do planeta? Aquela merda não devia nem tocar, mas porque estávamos prestes a se beijar, ele resolveu funcionar.
Ela ficou uns cinco minutos lá dentro e quando voltou estava com um moletom e sua bolsa.
- Droga, minha mãe insiste que eu vá até lá. – ela revirou os olhos – Você acredita que ela ia mandar alguém vir me buscar? – ela falou indignada.
- Seus pais têm motoristas?
- Não. – ela riu – Eles são ricos e meio metidos as vezes, mas nem é para tanto.
- A gente se vê então. – cocei a nuca e ela assentiu.
- Semana que vêm. Na sexta. – ela abriu a porta do carro.
- Oi?
- A gente se vê na sexta no bar.
- E se eu quiser te ver antes?
- Eu trabalho bastante em casa. Corrigir provas, preparar aulas. – ela mordeu o lábio – Mas se você quiser eu tenho uma hora e meia de almoço as quartas.
- Tudo bem. – assenti – Eu te ligo.
- Vou esperar. – ela sorriu e entrou no carro.
Quando cheguei em casa os três ainda estavam lá e tinha duas garrafas de uísque intactas em cima do balcão. Eles ficaram me encarando enquanto fui para o quarto e voltei, e assim continuaram até que eu me irritasse.
- Onde você foi? Com quem você estava? – Hugo perguntou.
- Vocês são minha mãe agora? – arqueei a sobrancelha.
- Você é nosso bebê, precisamos cuidar de você. – Timothy acariciou minha bochecha – Vai, , deixa de graça. Quem é a garota que ligou?
- Na sexta vocês vão conhecer ela.
- Você está namorando? – Rony perguntou empolgado.
- Não. – neguei com a cabeça – É só uma garota que eu estou saindo.
- E você vai apresentá-la para nós?
- O que tem?
- Nós somos seus melhores amigos, a gente sabe coisas terríveis sobre você e você tem certeza disso? – Timothy disse – Você só apresenta para os melhores amigos garotas que você tem pretensão em namorar e que queiram namorar você.
- Por quê?
- Por que muitas garotas fogem ao saber a verdade sobre outros caras?
- Eu não tenho culpa se a namorada de vocês fugiu quando descobriu verdades de vocês. – falei rindo – E se eu tiver pretensão em namorar ela?
- Timothy, o tem duas etapas. – Hugo disse – Ele precisa apresentar para os amigos e depois para a mãe, então tá tudo bem ele apresentar ela para gente.
- Calma, eu não disse que vou apresentar ela para vocês.
- Mas...
- Eu disse que vocês vão ver ela, não falar com ela. – encarei os três.
- Então você vai no bar com a gente e quando sua garota chegar você vai ignorar a gente?
- Exatamente, Rony. – sorri – Eu não vou deixar três gorilas perto dela, muito menos perto das amigas dela.
- Amigas? – ele falou empolgado – Você não começa a ser mesquinho agora, . Pode apresentar as amigas dela.
- Se vocês se comportarem. – encolhi os ombros – E a gente nem tem nada ainda.
- Viu que bonitinho? – Timothy riu – Ele quer ter algo com ela.
- Eu nunca disse que não queria. – me defendi.
- Nosso está crescendo. – Hugo gargalhou – Mas nós precisamos avaliá-la primeiro.
- Eu vou dar um soco em você. Eu juro por Deus. – falei impaciente – Eu ainda não estou namorando, nem sei se estarei, e caso isso aconteça eu vou contar para vocês, ok? É só uma garota, não é como se eu estivesse me preparando para casar.
- Nunca se sabe. – ele riu.
- Sai da minha frente antes que eu enfie a mão em você, por favor. – revirei os olhos.
- Ah, antes que eu me esqueça. – Rony me olhou rindo – Nosso time ganhou.
- Ótimo. – suspirei – Quero minhas vinte pratas perto do meu uísque.
- Você anda ficando muito ganancioso, . – ele riu.
- Não é minha culpa que vocês apostam contra o melhor.
Eles decidiram ir para o bar comemorar, mas acabei indo para a casa dos meus pais. Ir para lá era o único lugar que eles não insistiam para que eu não fosse. Meus pais eram minha área protegida. Eles não faziam gracinhas ou qualquer coisa do tipo do mesmo jeito que eu fazia com os pais deles.
Cheguei junto com minha mãe e Amber que estavam voltando de uma caminhada pelo bairro e ela ficou toda contente ao me ver.
- Esse é o meu filho , Amber. – minha mãe me apresentou para ela.
- A gente se conhece, mãe, a Amber cuida de você. – falei.
- Mas eu não preciso que cuidem de mim...
- É companhia, Margaret, apenas se expressou mal. – ela sorriu – Eu faço companhia para a senhora quando o Bertie está trabalhando.
- Ah. – ela disse indiferente – Vamos entrar, vou fazer o café da tarde para nós.
Ajudei-a a subir as escadas e ela insistiu em ajudar Amber a preparar algo.
Fui até o escritório do meu pai e o vi lendo atentamente alguns papeis.
- Oi. – falei.
- Oi, . – ele falou sem nem me olhar – Sua mãe já chegou?
- Sim. Ela está fazendo café da tarde com a Amber.
- Bom, bom. – ele suspirou.
- O que foi?
- Nada, só estou lendo sobre os novos remédios que o médico receitou. – ele disse preocupado.
Fiquei observando-o com atenção enquanto ele lia os papéis e ele parecia muito preocupado com algo, o que acabava me deixando preocupado também.
- Você está preocupado. – falei – O que aconteceu?
- Esses novos remédios. – eles jogou os papeis em cima da mesa – Eu pedi para a Amber procurar os preços para mim, mas eles são caros em todos os lugares.
- Pode pedir para ela comprar, eu pago.
- Não. – ele negou com a cabeça.
- Pai, você não tem obrigação de pagar todas as coisas sozinho.
- , não precisa. – ele negou – Eu tenho minha aposentadoria e também o dinheiro da oficina.
- E mesmo assim você acha caro. – peguei os papeis em cima da mesa – Ela é minha mãe, eu tenho obrigação de pagar para ela qualquer coisa que for necessário.
- ...
- Pai, não vou falar de novo. – falei firme – Eu vou pagar esses novos remédios e pronto.
- Mas e as suas coisas, filho? – ele veio até mim.
- Que coisas? – falei rindo – Eu não tenho filhos e nem ninguém além de mim para sustentar. O que eu ganho dá para eu pagar as minhas coisas e até sobra, e qualquer coisa eu sempre posso voltar para cá e trabalhar em algum escritório.
- Você nem gosta de escritório, . – ele segurou meus ombros.
- Pai, eu não vou ficar vendo você se matar de trabalhar para comprar esses remédios sendo que eu posso te ajudar.
- Tudo bem. – ele suspirou derrotado – Mas eu não vou te deixar voltar para um escritório trabalhar no que você odeia.
- A gente vê isso mais para frente. – dei um tapinha em seu ombro.
- E a sua namorada? Como ela está? – caminhamos para a sala.
- Ela não é minha namorada. – suspirei.
- Por enquanto? – ele me olhou.
- Isso. – sorri.

Esperei ansiosamente por quarta-feira para que eu pudesse ver novamente. Nós trocávamos mensagens todos os dias e conversávamos sobre diversos assuntos. Era completamente estranho aquilo, eu sentia como se estivesse me apaixonando por ela em uma quantidade tão pequena de tempo e vendo ela pouquíssimas vezes.
Saí da oficina uma hora antes do horário de almoço para que eu pudesse ir para casa e tirar toda a graxa do meu corpo.
Tínhamos combinado de nos encontrar em um lugar perto da escola onde ela trabalhava e cheguei lá vinte minutos antes dela sair para o almoço. Eu não tinha nem como negar que estava extremamente ansioso para vê-la de novo.
- Boa tarde, senhor. – ouvi uma voz forçada atrás de mim e me virei, encontrando com sua melhor caracterização de professora.
- Você realmente usa óculos? – apontei a armação grossa em seu rosto.
- É claro que eu uso. – ela riu – Mas eu uso só no trabalho, me deixa com cara de séria. – ela me olhou de um jeito extremamente excitante.
- Você não olha para os alunos assim, né?
- Por quê? – ela riu.
- É meio... – gesticulei tentando achar uma palavra que não a ofendesse – Sexual demais.
- Ai, meu Deus. – ela riu – Não, , eu não olho para eles assim.
- Fico mais tranquilo.
- Vamos entrar. – ela entrelaçou seu braço no meu e senti um arrepio na espinha com o toque da sua pele na minha.
Nos sentamos em uma mesa e ficamos escondidos atrás do cardápio enorme. me surpreendeu pedindo hambúrguer com batata-frita e milk-shake de chocolate. Não que eu esperasse que ela pedisse salada, mas também não imaginava que ela ia pedir tudo aquilo. Onde toda aquela comida ia?
- Não era para você estar usando um macacão e ter graxa até a alma? – ela olhou para minha camiseta e a bermuda.
- Existe uma coisinha chamada água e sabão, você conhece? – arqueei as sobrancelhas e ela riu.
- Ok, essa eu mereci. – ela sorriu – Quando eu vou te ver de macacão e todo sujo?
- É fetiche? – perguntei rindo e ela assentiu – Quem sabe quando seu carro precisar de algum reparo.
- Deixa eu ver sua mão. – estendi a mão para ela.
Ela ficou passando a ponta do dedo pela palma da minha mão e analisou atentamente minhas unhas.
- Você deixa todo o trabalho para o seu pai, né? – ela me olhou.
- Por quê?
- Você é muito limpinho, . – ela gargalhou – Meu avô não conseguia por nada tirar a graxa das unhas.
- Minha mãe nunca gostou muito que meu pai ficasse com as unhas sujas, aí eu sempre limpo bem as mãos. – dei de ombros – Virou meio que um costume não deixar resíduos do trabalho no corpo.
- Eu ainda estou com a minha camisa cheia de giz. – ela apontou para o lado esquerdo de sua blusa cinza que estava cheia de manchas brancas.
- E depois falam que nós homens somos porcos. – falei rindo.
- Vocês são. – ela encolheu os ombros – Essa blusa vai para a roupa suja hoje, mas se fosse com vocês ela estaria boa para uso amanhã.
- Talvez. – sorri.
Ela segurou meu queixo e ficou virando meu rosto atrás de algo.
- Caramba, nenhum pouquinho de graxa. Nem na barba. – ela riu.
- Você só pode ter fetiche com mecânicos.
- É que desde que você falou que trabalhava com isso, fiquei tentando te imaginar todo sujo de graxa e com aqueles macacões que tem seu nome escrito. – ela disse envergonhada.
- Ele não tem meu nome.
- Então você usa um macacão. – ela disse empolgada.
Deixamos de lado o fetiche secreto dela por mecânicos e ela me contou sobre um novo aluno que tinha autismo e as crianças deixavam ele de lado. Ela dizia com bastante raiva o quão absurdo ela achava isso que as crianças faziam, mas ela sabia que isso era culpa da educação que os pais estavam dando.
comeu seu hambúrguer enorme sem nem reclamar, e foi impossível não rir quando ela se recostou na cadeira e respirou fundo depois de ter terminado de comer.
- Isso foi bem sexy, sabia? – olhei em seus olhos e ela riu.
- Eu me sinto grávida. – ela passou a mão na barriga – Minha mãe odiava isso.
- Que você comesse bastante?
- Que eu comesse muito na frente dos outros. – ela bebeu o resto de seu milk-shake – Segundo ela é muito indelicado comer bastante em festas e essas coisas. Se ela descobrir que eu fiz isso na frente de um homem ela provavelmente vai ter um infarto.
- Você fala da sua mãe e eu fico imaginando aquelas mulheres milionárias de filme que tem um sininho para chamar a emprega.
- Verdade, né? – ela riu – Perto da família minha mãe ainda mantêm sua alma de pobre, mas na frente dos outros ela adora demonstrar que tem dinheiro. Acho que é meio que vingança, sabe? Para mostrar que um dia ela foi uma das pessoas que serviam eles e agora ela é como eles.
- Então seus pais nem sempre tiveram dinheiro?
- Mais ou menos. Meu pai sim, mas a minha mãe não. Minha avó era empregada doméstica e meu avô mecânico. – ela pegou um guardanapo e começou a dobrar ele – Meus avós paternos são médicos, por isso a grana. – ela deu uma risadinha – Ai, minha mãe se formou em Direito e conheceu meu pai, o resto você já deve imaginar.
- E seus avós? Os pais dela?
- Eles ainda moram na mesma casa de sempre e levam a mesma vida de antes. – ela sorriu – Minha mãe tentou fazer eles se mudarem para cá, mas eles não quiseram.
- Então sua mãe não é nada do tipo milionária esnobe de filme?
- Não. – ela riu – De primeira ela pode até parecer, mas ela não é.
- Não faz sentido ela não gostar de você ser professora.
- Eu sei, no inicio meu pai odiava, ficamos um tempo sem conversar, mas depois ele entendeu. Acho que ela esperava que eu trabalhasse com algo que desse mais dinheiro assim eu e os futuros netos dela não fossem passar as mesmas necessidades que ela. – ela me entregou o guardanapo que agora era um cisne.
- Inteligente, bonita, sabe trocar pneu furado e agora origamis. O que mais você tem aí? – encarei-a e ela encolheu os ombros.
- Na faculdade eu era a melhor em beber cerveja de cabeça para baixo. – ela falou envergonhada.
- Isso é sério? – perguntei rindo e ela assentiu – Você tem ideia do quão incrível você é? Eu mal conseguia ficar um minuto virado bebendo e você... Você era a melhor nisso.
- Eu tenho uma foto em casa. – ela riu – Minha mãe ficou chocada quando encontrou. Foi como se ela descobrisse que eu traficava órgãos no mercado negro.
- Eu preciso ver essa foto.
- Quem sabe quando eu te ver sujo de graxa e de macacão. – ela pediu a conta.
Peguei minha carteira e lhe entreguei um cartão da oficina.
- Se você quiser passar lá algum dia para eu desapertar os outros parafusos. – sorri para ela.
- E se eu chegar lá e você estiver limpo?
- Eu prometo que você vai me encontrar mais imundo que o Tom Hanks em Naufrago.
- Quero só ver. – ela sorriu maliciosa.
Ela insistiu que dividíssemos a conta e ela entrelaçou seu braço no meu para irmos juntos até a saída.
- Aquele é o lugar que tira meu sono. – ela apontou a escola no final da rua.
- Às vezes eu fico imaginando você ensinando sobre a independência dos Estados Unidos para as crianças. – falei rindo – Você não se sente mal em escrever um F em vermelho na prova deles?
- Eu sou a professora legal, lembra? – ela me olhou com um sorriso – As notas ruins eu coloco em verde limão e as boas em azul.
- Então escrever em verde limão te faz sentir melhor? – arqueei a sobrancelha e ela assentiu.
- Ainda coloco um recadinho. Estude mais, quem sabe na próxima. Você se esforçou, mas tente um pouquinho mais.
- Como você dorme a noite?
- Qual é, eu não vou colocar um F em vermelho e falar para a criança que ela tinha que se esforçar do contrário não iria para uma boa faculdade com aquelas notas. – ela riu.
- Você é um monstro. – encostei-me no capô do meu carro.
- Não seja malcriado ou vou te dar um A menos. – ela levantou o indicador.
- Então no momento eu sou um garoto A mais?
- No momento você é só A. – ela olhou para os nossos pés com um sorrisinho no rosto.
- E o que eu tenho que fazer para aumentar minha nota, professora ?
- Não sei. – ela me olhou.
Passei as mãos pela sua cintura e trouxe seu corpo para perto do meu. Sua respiração se misturou com a minha e ela olhou em meus olhos. Acariciei sua bochecha e segurei seu rosto, juntando minha boca na dela.
Meu coração foi ficando acelerado a medida em que nossas línguas se tocavam e apertei seu corpo contra o meu. Ela passou seus braços pelo meu pescoço e embrenhou seus dedos em meu cabelo. Nos afastamos um pouco, ambos ofegantes e ela sorriu de lado quando seus olhos encontraram os meus.
- A. – ela disse rindo.
- O beijo ou minha nota geral? – sussurrei.
- Os dois. – ela sorriu – Estude mais, quem sabe na próxima. – ela riu.
- Talvez eu precise de aulas particulares. – falei enquanto ia beijando sua bochecha até chegar em seu ouvido.
- Tenho que ver se arrumo um horário para você na minha agenda. – ela gemeu baixo quando beijei sua orelha – Você não vai querer fazer isso aqui. – ela sussurrou.
- Isso o quê?
- Me deixar excitada. – ela se afastou.
- Qual o problema? – sorri de lado.
- Eu preciso trabalhar daqui uns dez minutos.
- Posso fazer muita coisa em dez minutos. Quer ver?
- Eu adoraria. – ela colocou as mãos em meu ombro – Mas hoje não dá. – ela riu.
- Tudo bem. – encolhi os ombros – Na próxima vez a gente pega só um milk-shake e depois vamos para outro lugar.
- Ou a gente não pega nada e vai direito para outro lugar. – ela mordeu o lábio.
- É melhor você ir antes que eu te faça me dar uma advertência por mal comportamento.
- A gente se fala assim que eu sair, ok? – ela me deu um selinho e eu assenti.
- Boa sorte com seu novo aluno.
- Obrigada. – ela sorriu.
Nos beijamos rapidamente e ela foi embora, sempre olhando para trás com um sorriso no rosto. Meu coração não estava mais acelerado, mas parecia difícil fazer ele voltar aos seus batimentos normais depois de beijá-la.
Quando cheguei na oficina, lembrei-me dela ao trocar de roupa e pelo restante do dia. Meu pai ficou curioso querendo saber o que tinha acontecido para eu estar todo sorridente, mas apenas disse que não tinha acontecido nada. Na cabeça dele, aquele beijo já era quase um pedido de casamento levando em conta que ele beijou minha mãe no dia em que a pediu em namoro.
Faltava uns quarenta minutos para fecharmos a oficina e o último carro tinha ido embora, então meu pai e eu ficamos sentados em um banco na calçada comendo pão de mel de uma menininha que passava por lá todos os dias com a mãe.
Um carro estacionou na entrada da oficina e vi descer dele. Ela abriu um sorriso tímido ao me ver e meu pai se levantou para ir atendê-la, mas falei que eu ia. Pedi para ela colocar o carro para dentro e meu pai continuou lá fora achando que era apenas mais uma cliente normal.
- Então você realmente usa um macacão e se suja de graxa. – ela falou rindo.
- Sim. – sorri.
- Aquele é o seu pai? – ela apontou com a cabeça para a frente da oficina e eu assenti – Vocês se parecem só um pouquinho.
- Falam que eu pareço mais com a minha mãe. – dei de ombros – Eu realmente não esperava que você viesse hoje.
- Por que não? – ela se encostou no carro e comecei a desapertar os parafusos dos pneus.
- Você disse que ia estar ocupada hoje à noite.
- Sim, mas a minha mãe quer que eu vá até lá hoje e aí resolvi passar por aqui. – ela sorriu.
Ela ficou vendo eu arrumar parafusos e quando terminei ela cruzou os braços e ficou me encarando de um jeito sensual.
- O quê? – perguntei rindo.
- Você fica muito gato desse jeito. – ela falou envergonhada.
- Acho que agora você vai ter que me mostrar aquela foto da faculdade.
- Sim. – ela riu – Quanto tenho que te pagar pelos serviços prestados? – ela mordeu o lábio.
- Por conta da casa. – coloquei as mãos no bolso.
- Vou ficar mal-acostumada desse jeito. – ela sorriu.
- Não me importo. – me aproximei dela.
- Posso te beijar ou vocês têm alguma regra de não beijar clientes? – ela perguntou com um sorrisinho de lado e encolhi os ombros.
- Não acha melhor descobrir sozinha?
Ela aproximou seu rosto do meu e nos beijamos rapidamente.
- Sonho realizado. – ela riu – Já posso tirar ‘beijar um mecânico’ da minha lista.
- Fico feliz em ter ajudado. – cocei a nuca.
- Eu vou indo. – ela sorriu – Até sexta então.
Esperei que ela saísse com o carro e fui até meu pai que estava olhando a rua por onde foi embora.
- Que sorrisinho é esse, garoto? – meu pai perguntou rindo.
- Nada. – neguei com a cabeça e ele ficou me analisando.
- Sei. – ele disse desconfiado.
- É ela.
- O quê?
- A garota que estou saindo. – porque eu estava com um sorriso idiota no rosto?
- Sério? – ele me olhou surpreso – Não acha que ela é muita areia pro seu caminhãozinho? – ele riu.
- Acho. – suspirei – Mas o que eu posso fazer se tenho o dom de atrair garotas boas demais para mim. – falei rindo.
- E por que você não a apresentou?
- A gente nem namora ainda, pai.
- E qual o problema?
- Ela sabe quem é você. – revirei os olhos – Só não tinha necessidade de eu apresentá-la agora. Não faz nem um mês que a gente está saindo.
- Você pretende apresentar ela para sua mãe e eu algum dia? – ele arqueou a sobrancelha.
- Claro. Se a gente começar a namorar.
Ele continuou questionando sobre e tentou arrancar de mim o máximo possível de informações sobre ela. Contei que ela era professora, o pai era médico e a mãe advogada, e ele ficou curioso querendo saber se eu tinha contado para ela sobre meus pais.
Cheguei em casa e fui direto para o chuveiro, e quando saí vi várias mensagens e ligações de Timothy e Rony me convidando para sair, tomar algo. Ignorei eles dois e passei o restante da noite assistindo televisão e pensando em .
Aquilo não podia ser normal. A gente se conhecia tinha umas duas semanas e eu já estava apaixonado por ela e sem conseguir tirá-la da minha cabeça.
Já estava na cama quase dormindo quando ela me enviou uma mensagem.
“O que você está fazendo?”
“Só estou deitado, e você?”
“Também :) “
“Como foi com seu novo aluno?”
“Horrível. Semana que vem tem uma apresentação dos alunos e vou conversar com os pais”.
“O que você acha que eles vão falar?”
“Não faço a mínima ideia, mas espero que eles entendam que isso que os filhos deles estão fazendo não é nada legal”.
“Acho que você devia bater neles rsrs”.
“Você não disse isso kkkk” “A- para você, ”.
“Quando vou ter minhas aulas particulares? Tenho certeza que posso melhorar minha nota com a sua ajuda”.
“Semana que vem. Amanhã termino de corrigir as provas e já planejei as aulas desse mês com antecedência”.
“Algum motivo especial para isso?”
“Não. Apenas quis ficar livre caso alguém queira me convidar para sair ;D”
“Tem alguém em mente? “
“Hoje fui em uma oficina e tinha um mecânico muito gato lá, todo sujo de graxa, quem sabe ele me convide”.
“Quem sabe”.
“Vou ficar esperando” “ Preciso dormir, meus pais me cansaram hoje. Boa noite”.
“Boa noite”.

Eu não queria criar expectativa nenhuma, mas havia grandes chances de estar a fim de mim. Podia não ser na mesma intensidade que eu, mas ela não trocaria mensagens comigo todos os dias e ainda apareceria na oficina se ela não estivesse interessada em algo mais que amizade.

Timothy, Hugo e Rony estavam extremamente ansiosos para saber quem era a garota que eu estava saindo. Eles concordaram em se comportar perto dela e não falar nenhuma baboseira, mas eu sabia que eles não aguentariam.
Eles não eram os únicos ansiosos para que chegasse. Eu já estava no bar fazia quarenta minutos e ela tinha me confirmado a tarde que iria para lá, mas até o momento não tive qualquer sinal dela. Fiquei a todo o momento olhando para a porta esperando que ela entrasse e nada. Queria muito mandar uma mensagem perguntando se estava tudo bem, mas eu não era namorado dela e também não queria parecer mais desesperado do que eu já estava.
Senti alguns cutucões no ombro e me virei para ver quem era, dando de cara com . Ela estava muito linda, comecei até a acreditar que ela tinha passado horas se arrumado apenas para me ver. Ela estava sem óculos e com uma saia preta na altura da cintura e uma camisa branca por dentro. Olhei-a dos pés à cabeça, desde seu coturno vermelho vinho até seus cabelos que estavam apenas com um lado preso.
- Oi. – falei contente.
- Desculpa a demora, minha melhor amiga terminou com o namorado e precisei ficar com ela um pouco para garantir que ela não fosse fazer nada estúpido. – ela mordeu o lábio.
- Sem problemas.
- Esses são seus amigos? Os da aposta? – ela olhou por cima do meu ombro e eu tinha quase certeza que os três a estavam encarando descaradamente.
- Sim. – me virei para eles e os três ficaram me olhando com sorrisinhos maliciosos – Esse é o Timothy, Rony e Hugo. Essa é a .
- É um prazer conhecer vocês. – ela disse empolgada.
- Não foi essa garota que você pegou o telefone duas semanas atrás? – Rony perguntou e eu assenti – Você é rápido mesmo, . – ele riu.
- A gente disse que ela era seu tipo. – Timothy riu – Você quer beber algo? – ele perguntou para .
- Guinness. – ela sorriu.
Senti sua mão passar pelas minhas costas e ela aproximou seu corpo do meu, abraçando-me de lado.
- Hoje é tudo por conta do . – Rony riu.
- Eu não convidei vocês, sabe? – peguei minha cerveja e bebi um gole.
- Você vai ver uma hora que ele é bastante ingrato com a gente. – ele disse – Se não fosse por nós, você não teria ido falar com ela.
- Isso é verdade e você não pode negar. – Hugo falou e riu.
- Pode até ser. – ela disse – Mas se ele não tivesse pedido meu número falso, eu não estaria aqui. – ela encolheu os ombros.
- É bem a sua cara. Você sempre dá um jeitinho para tudo, né? – Timothy entregou a garrafa para .
Não importava quantas vezes eu pedisse para eles se comportarem, eles simplesmente não conseguiam. Ficaram toda hora perguntando coisas sobre e falando coisas sobre mim como se fossem meus pais e estivessem orgulhosos do filho namorar.
Era quase meia-noite e decidi que estava na hora de irmos embora, apenas porque eu tinha outros planos para essa noite.
- Você veio de quê? – perguntei para ela assim que saímos do bar.
- Táxi e você?
- De carro. Eu te levo para sua casa. – abracei-a de lado.
Estava tudo correndo como planejado. Ela veio de táxi e eu iria levá-la embora. Se as coisas estivessem ao meu favor, ela iria me convidar para entrar.
Acompanhei-a até a porta de sua casa e ficamos um tempo apenas um olhando para o outro.
- Eu já vou indo.
- Tudo bem. – ela sorriu.
Segurei seu rosto e a beijei com fervor. Suas mãos foram para o meu pescoço e ela o acariciava enquanto nos beijávamos. Encostei-a contra a porta e pude ouvi-la tatear algo. Ela empurrou a porta com o pé e segurou minha camisa, puxando-me para dentro.
acendeu a luz e a peguei no colo, olhando rapidamente pelo cômodo a procura do sofá. Caminhei com cuidado até ele, separando nossos lábios por poucos segundos para recuperarmos o fôlego. Ela me empurrou para me sentar e jogou para o lado sua jaqueta e camisa.
Observei seu peito subir e descer rapidamente conforme ela respirava ofegante. Toquei a pele de sua barriga com calma, sentindo a maciez de seu corpo e ela fechou os olhos. Tirei minha blusa e ela se levantou para tirar sua saia e abaixar minha calça. Meu pênis latejou de excitação quando ela se sentou no meu colo e rebolou um pouco antes de começar a beijar meu pescoço.
Ela estava com as mãos nas costas para desabotoar seu sutiã quando o telefone começou a tocar. Ela o ignorou uma vez, mas a pessoa insistiu em continuar ligando.
- Droga. – ela disse entredentes – Espera aqui.
Suspirei frustrado quando ela se levantou e correu até o telefone perto da televisão. Ela agachou de um jeito tão sensual que me deixou até sem fôlego.
- Oi. – ela disse irritada – Tiffany, se acalma, ok? Não é o fim do mundo. – ela olhou para mim e sorriu triste – Eu não posso ir agora, eu estou ocupada... Eu prometo que vou ai amanhã, mas agora eu realmente não posso... Tiff, eu sei que você é minha melhor amiga, mas isso é importante... Não, ninguém da minha família está morrendo... Merda, tudo bem, eu estou indo aí e para de pensar em se matar. Foi só um término, não é o fim do mundo, você vai sobreviver.... Eu não vou achar nenhum lugar aberto agora.... Daqui a pouco estou aí. – ela colocou o telefone no suporte com força e se sentou frustrada no chão.
- Está tudo bem? – perguntei.
- Não. – ela respirou fundo – Minha amiga que está dizendo que vai se matar porque ela terminou com o namorado sem motivo aparente. – ela disse com raiva – Ela ainda tem a audácia de pedir que eu compre sorvete para ela. – colocou a cabeça entre as pernas.
Não sabia que palavra de apoio lhe falar. Eu sentia que se eu abrisse a boca a única coisa que ia sair era eu implorando para que ela não fosse e deixasse a amiga esperando.
Ela caminhou magoada até mim e se sentou ao meu lado, entrelaçando nossos dedos.
- Desculpa. – ela sussurrou.
- Sem problemas. – tentei não passar qualquer tipo de emoção no meu tom de voz.
- Eu prometo que vou te recompensar...
- , está tudo bem. – segurei seu rosto – Ela é sua amiga e precisa de você.
- Mas você também precisa de mim. – ela mordeu o lábio.
- Ela precisa mais. – coloquei seu cabelo atrás da orelha.
- Você não está bravo?
- Bravo não, mas um pouquinho desapontado. Esse telefone parece que não quer a gente juntos, é a segunda vez que ele nos atrapalha. – falei rindo e ela abaixou a cabeça envergonhada.
- Eu sinto muito. – ela me beijou.
Peguei minhas coisas no chão e me vesti com pressa apenas para ter tempo de apreciar seu corpo enquanto ela rebolava para passar a saia pelo quadril.
Fomos juntos até seu carro e nos despedimos com um beijo, sem falar nada um para o outro. Ela parecia estar bastante triste em ter que ir e não fez questão alguma de esconder.
Joguei-me no sofá de casa assim que cheguei e nem fiz esforço algum para tentar chegar ao meu quarto.
Eu devia ter trazido ela para minha casa, além de ser mais perto, não teria nada que fosse nos interromper. Eu não era o único que tinha segundas intenções para aquela noite, mas parecia que desde o início o tal término da amiga estava fadado a estragar nosso encontro já que várias vezes teve que responder alguma mensagem que ela tinha mandado.
Deixei o celular no silencioso para que nada me acordasse, já tinha sido interrompido muitas vezes e queria dormir o suficiente para acabar com a maldita frustração do quase sexo.
As coisas estavam indo rápido demais entre nós dois. Fazia pouco mais de duas semanas que nos conhecíamos e parecia loucura o quão rápido eu estava me apaixonando por ela. Não podia negar que fiquei extremamente frustrado por termos sido interrompidos, mas o que mais importava para mim fora a noite ótima que tivemos juntos.

Passei a maior parte do meu sábado esperando por alguma mensagem ou ligação de igual um cachorrinho, e a outra parte foi empurrando um carrinho pelo supermercado enquanto ajudava Amber com a compra do mês dos meus pais.
Quando estávamos saindo do supermercado, vi e uma garota saindo do carro dela, talvez a amiga que terminou com o namorado e estragou nossa noite. Continuei empurrando o carrinho para o estacionamento e acenando a cabeça para qualquer coisa que Amber falasse, pois eu só conseguia prestar atenção em e seus cabelos balançando com a brisa junto de seu vestido.
No momento em que ela me olhou, tudo pareceu estar em câmera lenta. Ela sorriu de lado olhando direto nos meus olhos, mas segundos depois ela adotou uma expressão triste e abaixou a cabeça, murmurando algo para a amiga.
- Oi. – falei assim que nos aproximamos.
- Oi. – ela colocou o cabelo atrás da orelha e sorriu falso – Tiffany, vai indo que vou logo atrás.
- , vamos logo. – a garota disse chorosa e revirou os olhos.
- Dois segundos, ok?
- Tá. – ela bufou e saiu andando.
- Eu te encontro no carro. – Amber disse para mim e começou a empurrar o carrinho.
- Tudo bem? – perguntei.
- Sim. – ela assentiu.
- Eu meio que fiquei esperando você me dar notícias ou coisas do tipo. – cocei a nuca envergonhado.
- Estava ocupada. – ela indicou a cabeça na direção que sua amiga saiu.
- Ela está melhor?
- Não, acho que ela só quer um pouquinho de atenção, mas logo ela fica bem novamente. – ela encarou seus pés.
- Está tudo bem com você mesmo? – perguntei preocupado.
- Está tudo ótimo. – ela disse sarcástica e me encarou – Eu preciso ir.
Ela começou a caminhar em direção a entrada do supermercado, mas segurei seu braço e ela me olhou com uma expressão entediada.
- Posso... te ligar mais tarde?
- Não sei, depende de quão ocupado você estará com a sua amiga. – ela puxou o braço com força e entrou.
Fiquei parado olhando ela sumir da minha vista igual a um adolescente idiota. Que merda tinha acontecido ali? Ela estava com ciúmes de mim, era isso mesmo que estava acontecendo ou era só coisa da minha mente perturbada?
Amber estava encostada no carro mexendo no celular com o carrinho ao lado. Como eu não tinha percebido que ela não ia conseguir guardar nada sendo que a chave estava comigo? Que diabos tinha que conseguiu me fazer esquecer do mundo ao meu redor e prestar atenção somente nela?
- Foi mal. – falei assim que abri o porta-malas e ela riu.
- Quem era? – ela foi me entregando as sacolas de papel com as compras – Ela é linda.
- É uma garota que estou saindo, ou estava. – sacudi a cabeça.
- Por que estava?
- Não sei. Vocês mulheres são meio complicadas, sabia? – falei rindo e ela me deu um soquinho no ombro.
- Claro que não. Nós mulheres nos entendemos muito bem, vocês homens que esperam que tudo seja fácil para vocês do mesmo jeito que vocês.
- Ei, eu não sou fácil. – fingi estar ofendido.
- Aham. – ela murmurou.
Não parei de pensar em por um segundo sequer no caminho até a casa dos meus pais e muito menos quando cheguei lá.
Eu queria ligar para ela e saber o que estava acontecendo, mas eu estava com muito medo de ela falar que não queria mais me ver ou coisa do tipo.
- ? – minha mãe me chamou.
- Oi. – falei aéreo.
- Por que você está assim? O que aconteceu?
- Nada, mãe. – sorri.
- Eu te carreguei por nove meses na minha barriga e te conheço a vinte e dois anos, acha mesmo que eu não sei quando tem algo de errado com você? – ela se sentou ao meu lado no sofá.
- É uma garota. – suspirei – Eu acho que ela está brava comigo e eu nem sei o que fiz.
- Já tentou conversar com ela?
- Mais ou menos. – deitei a cabeça no encosto do sofá e encarei o teto.
- Liga para ela, tenta resolver isso.
- Não acho que ela vá me atender.
- Por que não?
- Porque se eu tivesse puto com um cara, a última coisa que eu faria era atender uma ligação dele.
- Vai até a casa dela.
- Ela provavelmente não estará lá. – suspirei.
- Você realmente quer resolver isso que está te angustiando?
- Quero. – olhei para ela que estava me encarando de um jeito sério.
- Então por que só estou ouvindo desculpas e não um jeito de consertar as coisas? – ela arqueou a sobrancelha e sorri de lado.
Eu ia sentir falta desses momentos com a minha mãe quando sua doença infelizmente ficasse pior e os estágios de demência se iniciassem.
- Tudo bem. – sorri – Eu vou até a casa dela. Vai ser sua culpa se ela me matar ou coisa do tipo.
- Assumo total responsabilidade por tentar fazer meu filho ser feliz. – ela beijou minha bochecha.
Despedi-me dela e ela pediu que eu ligasse para lhe contar o que aconteceu, mas era provável que quando chegasse no carro ela já teria esquecido de tudo.
Liguei duas vezes para durante o caminho até sua casa, mas ia direto para a caixa postal. Estacionei em frente da casa dela e vi que seu carro não estava na garagem e não tinha nenhuma luz acesa também. Ela devia estar na casa da amiga ainda ou nos seus pais.
Desci do carro e me sentei na cadeira da varanda, olhando para os dois lados da rua sempre na esperança de que ela se materializasse ali.
Tentei ligar para ela mais algumas vezes e sempre caixa postal. Já estava quase desistindo quando dois faróis apareceram no fim da rua e segundos depois um carro entrou na garagem.
desceu do carro e pegou sua bolsa e algumas sacolas no banco de trás. Ela me olhou confusa e caminhou até mim tentando segurar tudo em uma mão só para abrir a porta.
- O que você está fazendo aqui? – ela disse enquanto tentava abrir a porta.
- Eu te ajudo. – peguei a chave de sua mão e abri.
- Obrigada. – ela disse envergonhada.
Ela colocou as coisas ao lado da porta e depois veio até mim, encarando-me séria e com as mãos na cintura.
- Que você veio fazer aqui?
- Falar com você.
- Sobre? – ela arqueou a sobrancelha e cruzou os braços. Eu não podia negar que ela ficava linda desse jeito meio mandona.
- A gente.
- Não tem nada sobre a gente, . – ela descruzou os braços e suspirou.
- Eu esperei que você me desse alguma notícia hoje ou coisa do tipo.
- Não tenho que te dar satisfações da minha vida, não sou sua namorada. – ela disse irritada.
- De onde veio essa grosseria toda? – perguntei frustrado – A gente estava numa boa e agora você está assim.
- Assim como? – ela colocou as mãos na cintura e me olhou brava.
- Não sei, , parece até que você está com ciúmes. – baguncei os cabelos frustrados.
- Você não é meu namorado, não tem porque eu ficar com ciúmes de você. – ela deu de ombros.
- Essa é a segunda vez que você fala sobre isso.
- Estou falando a verdade. Você não é meu namorado, pode ir no mercado fazer compras como um casalzinho com quantas garotas você quiser.
- Sabia que você estava com ciúmes. – falei rindo.
- Claro que estou. – ela deu um soco no meu braço – A gente está saindo e eu achei que éramos meio que... exclusivos, e foi só você não conseguir me comer que você corre pra outra.
- Ei, calma aí. Eu não sou esse tipo de cara, ok? – falei ofendido.
- Então quem era ela? Não vem me dizer que é sua irmã porque você nunca falou de irmã alguma. Na verdade, você quase nunca fala da sua família para mim. – ela pegou as coisas do chão e deu as costas para mim.
- Ela não é minha irmã. – entrei atrás dela e fechei a porta com o pé.
- Isso melhora muita as coisas. – ela caminhou até a cozinha e colocou as sacolas no balcão – Quer saber, não vou discutir com você. – ela respirou fundo – Meu dia já está sendo uma grande merda e discutir com você só vai piorar.
- Vim aqui para gente conversar, não para discutir. – segurei seu braço.
- Desculpa. – ela suspirou – Tiffany choramingou o dia todo, depois resolveu discutir com o namorado e ficou chorando, minha mãe e eu discutimos, e depois eu vi você com outra mulher no mercado e.... que inferno. – ela se debruçou no balcão – Você deve estar achando que eu sou uma louca bipolar. – ela choramingou.
- A única coisa que eu achei era que você estava com ciúmes de mim, e agora eu acho que você deve estar de TPM. – acariciei seus ombros e ela se virou para mim.
- Eu meio que fiquei com ciúmes. – ela falou envergonhada – Eu me senti uma idiota por isso. A gente não namora, só nos conhecemos há duas semanas e nem tinha porque ficar assim. Acho que fiquei com medo.
- Do quê?
- Olha para ela e depois olha para mim. – ela falou rindo – Aquela garota é linda e pareceu ser super simpática, enquanto eu estava lá toda desarrumada e com cara de rabugenta.
- Ela também te achou linda e você não precisa se achar feia para eu dizer que você é linda. – acariciei sua bochecha e ela revirou os olhos.
- Eu não sou daquelas que fala que é feia para receber elogios, ok? – ela riu – Eu tenho meus dias de autoestima baixa e hoje é um deles.
- Você é linda e não precisa ficar com ciúmes de mim. E também não precisa ficar jogando na minha cara que a gente não namora.
- Foi mal. – ela deu uma risadinha – Só para confirmar, você e ela...
- Não. – neguei com a cabeça – Somos só amigos, nós crescemos juntos, só isso.
- Nem um beijinho ou coisa assim? – ela arqueou a sobrancelha.
- Não que eu me lembre. – falei rindo e ela revirou os olhos.
- Então você é meio que o bom samaritano que troca pneus e leva para fazer compras quando as pessoas precisam?
- Quando a garota é bonita... – sorri de lado e ela gargalhou.
- Você é muito galinha, sabia?
- Claro que não. – me defendi – Nós fomos fazer compras para os meus pais.
- Então ela conheceu seus pais.... – ela segurou minha jaqueta e abaixou os olhos.
- Sim. – dei de ombros.
- Você quase nunca fala deles. O máximo que você fala é do seu pai e só.
- Acho que nunca surgiu algo.
- Eu já falei várias coisas sobre os meus. – ela me olhou – Tudo bem que eu mais falo da minha mãe porque ela vive me tirando do sério, mas mesmo assim. Essa garota deve saber mais da sua vida do que eu.
- Nós crescemos juntos e.... ela meio que trabalha para gente ou coisa do tipo.
- Como assim? Você contratou uma mocinha para ser empregada doméstica dos seus pais só para ver ela desfilando pra lá e pra cá?
- Quando ela limpa a casa eu infelizmente não estou lá. – falei rindo.
- Safado. – ela riu.
- Ela cuida da minha mãe, a maior parte doméstica quem faz é meu pai. – coloquei seu cabelo atrás da orelha – Não tem como eu ficar olhando ela com a minha mãe por perto. – sorri de lado.
- Cuida da sua mãe? – ela perguntou curiosa – Você raramente fala dela. Agora me deixou curiosa.
- Minha mãe tem Alzheimer, aí ela fica com a minha mãe enquanto meu pai trabalha.
- Você nunca me contou isso. – ela disse surpresa.
- Eu acho que nunca ia contar se o assunto não aparecesse. – encolhi os ombros – Não falo isso para as pessoas.
- Por que não?
- Sei lá. – dei de ombros – Não sei se é para as pessoas não sentirem dó ou só imaginar ela como uma senhora doente. Eu simplesmente não falo sobre isso.
- É por isso que você não fala muito dela?
- Acho que sim. É uma coisa que eu converso mais com meu pai ou com a Amber, falo disso com meus amigos quando eles perguntam como ela está e só.
- Por isso que você disse que ela nem devia se lembrar que você trabalha com seu pai. – ela falou surpresa – Ou sobre a faculdade.
- Hoje ela disse que me conhecia há vinte e dois anos. – falei rindo – Já passei dessa idade tem bastante tempo.
- Ela já está em um estágio avançado? – ela perguntou preocupada.
- Por enquanto não. – neguei com a cabeça – Ela ainda se lembra de mim, acho que é mais na época em que eu estava na faculdade. Meu pai disse que outro dia ela ficou me chamando para eu ir para a escola.
- Agora estou meio mal por ter sido uma megera com você por causa do meu ciúme. – ela me abraçou com força.
- Está tudo bem. – segurei seu rosto – Você não precisa ficar mal só porque te contei isso.
- Mas eu fico. – ela murmurou – Eu sou assim.
- Vamos mudar de assunto então. – enrolei uma mecha do seu cabelo no meu dedo – Como foi com a sua amiga?
- Um horror. – ela riu – Se você está tentando amenizar a situação falar sobre meu péssimo dia não vai dar certo.
- Então vamos falar sobre o meu. – dei de ombros – Eu fiquei quase o dia todo esperando que você me ligasse, depois fiquei um tempão no mercado escolhendo frutas, ai eu encontrei uma gatinha quando eu estava saindo. – falei malicioso e ela riu – Mas ela estava irritada comigo, ai depois fui para casa dos meus pais e minha mãe disse que se eu queria saber porque a gatinha estava emburrada comigo era para eu ir na casa dela.
- E você descobriu?
- Sim. – assenti – Ela ficou morrendo de ciúmes de mim. Deve ter pensado que eu deixava essa outra garota me ver todo sujo de graxa e usando macacão.
- Idiota. – ela deu um soquinho no meu ombro – Ela já deve ter te visto assim várias vezes.
- Muitas vezes. – falei malicioso – Mas ela não tem fetiche com isso, acho que você é a única esquisita.
- Não era fetiche, era só curiosidade.
- Relaxa, gata, não vou te julgar. – sorri.
- Esse é um lado seu que eu nunca conheci. – ela riu.
- Você me conhece apenas a duas semanas, ainda vai conhecer vários lados meus e várias coisas minhas. – puxei seu corpo de encontro ao meu e ela arfou.
- Eu não vou transar com você depois dessa cantada barata. – ela colocou as mãos no meu peito.
- Em minha defesa isso não foi uma cantada e eu não queria transar com você... hoje... eu acho.
- Ótimo, porque você não vai. – ela riu – Você está com fome? Eu comprei algumas coisas hoje, posso fazer algo para gente comer se você quiser.
- Você está tentando me levar para cama. – gargalhei e ela revirou os olhos – Está tentando fazer isso me conquistando pela barriga.
- Para vocês homens tudo é sexo. – ela se afastou e começou a tirar as coisas da sacola – Não vou fazer nada para você.
- Vai mesmo me deixar com fome? – fiz biquinho e ela riu.
- Vou pensar sobre isso enquanto eu faço algo.
- Quer que eu te ajude?
- Você sabe cozinhar? – ela perguntou sarcástica e eu assenti.
- Eu moro sozinho, . Se não soubesse cozinhar eu não teria esse corpo todo. – falei convencido e ela riu.
Ajudei-a a fazer macarrão com queijo, que segundo ela era sua especialidade e a única coisa que ela sabia fazer direitinho e sem errar. Comemos de frente um para o outro no balcão enquanto ela contava sobre como sua amiga Tiffany estava arrependida de ter terminado o namoro e suas falhas tentativas de fazer com que sua amiga parasse de chorar.
Depois que terminamos de comer, colocou um filme para assistirmos, mas eu estava prestando mais atenção nela do que no filme.
Pensei nas várias vezes em que ela deu ênfase no fato de não sermos namorados e se aquilo significava que ela queria que a pedisse em namoro ou não. Queria perguntar para ela sobre isso, mas eu não sabia como reagir caso ela falasse que não tinha significado algum e que não era uma mensagem escondida dizendo para eu pedi-la em namoro.
- Por que você está me encarando? – pausou o filme e me olhou.
- Não estou encarando. – dei de ombros.
- Eu posso sentir seus olhos em mim, . – ela riu – Estou suja de macarrão?
- Eu quero te perguntar uma coisa, mas eu meio que estou com medo da resposta. – mordi o lábio e ela virou o corpo de frente para mim.
- Pergunta, não vou te morder.
- Quando você disse repetidas vezes sobre não sermos namorados, tinha alguma coisa ali?
- Alguma coisa?
- Você estava falando aquilo só para ressaltar que não somos namorados, ou estava falando aquilo porque você quer que a gente seja um casal? – falei apreensivo e ela mordeu o lábio.
- Não sei. – ela deu de ombros – Eu estava ressaltando só... eu acho.
- Então você não quer...
- Você não acha que é muito cedo? A gente se conhece há duas semanas e eu não acredito em amor à primeira vista. – ela deitou a cabeça no encosto do sofá.
- Entendi. – assenti.
- Você acredita? – ela me encarou.
- No quê?
- Amor à primeira vista.
- Sei lá. – dei de ombros – Eu nunca amei nenhuma garota de verdade.
- Como assim? – ela riu – Isso é sério? – assenti – Eu não consigo acreditar. Então você nunca namorou?
- Já, mas não sei se eu amei a garota.
- Como não? – ela perguntou surpresa – Eu amava meu ex-namorado, mas sei lá, não era um amor romântico, sabe?
- Não. – neguei rindo – Essa conversa ta muito estranha.
- Está mesmo. – ela riu – Mas eu também nunca amei ninguém de verdade. Já cheguei a achar que amava, mas não era.
- Por que ele era um babaca?
- Você pode amar um babaca, mas eu meio que não sentia falta dele. Eu acho que amava quando ele era legal comigo e não me tratava como um acessório, mas só isso. – ela suspirou – Eu não sei te explicar, mas eu nunca pensei em ter um futuro com ele, só fui empurrando as coisas com a barriga até um momento que eu não aguentei mais.
- Talvez quando você amar de verdade você vai perceber.
- Talvez. – ela sorriu.
Ela voltou o filme, fiquei encarando as imagens e pensando no que conversamos. Ela achava que era muito cedo para namorarmos, o que ela acharia se eu dissesse que tinha quase certeza de que estava apaixonado por ela?
Assim que o filme acabou, disse a ela que precisava ir embora, pois tinha que acordar cedo no dia seguinte, mas a verdade era que eu só queria ficar sozinho para pensar sobre a minha vida e sobre ela, e foi o que eu fiz quando cheguei em casa. Repassei todas as nossas conversas e as vezes em que ficamos juntos, as vezes em que nos beijamos e também sobre quando não nos beijamos, hoje era um deles.
Nenhum dos dois fez qualquer menção de que ia beijar ou queria ser beijado e ficou naquilo. Dei um beijo em seu rosto e fui embora pensando que grande idiota eu tinha sido. Havia grandes chances de eu estar apaixonado por ela e eu não aproveitava as oportunidades para beijá-la.

No domingo não tive qualquer sinal de . Mandei algumas mensagens para ela perguntando como estavam as coisas, mas ela não respondeu e lá pela hora do almoço eu comecei a me sentir um idiota por ter tentando conversar com ela várias vezes, porém foi uma surpresa quando eu acordei na segunda e encontrei uma mensagem dela.
“Desculpa não ter respondido ontem, estava na casa dos meus pais e acabei ficando sem bateria. Como estão as coisas? Beijos”.
“Sem problemas. Estou indo trabalhar, e você? ”
respondi.
“Estou na sala dos professores comendo brownies e esperando a hora da minha aula”.
“Você comendo brownies e os alunos desesperados porque tem aula. Parabéns”.
“Obrigada ;)” “Você quer fazer algo hoje? ”
“Tipo? ”
“Sei lá, ir ao cinema ou coisa assim”
segundo Rony, cinema era um programa de casal e dificilmente você iria ver um filme apenas você e uma amiga. pelo visto não sabia dessa teoria idiota do meu amigo mais idiota ainda.
“Tudo bem. Tem algum filme que você quer assistir? “
“Desde quando você é do tipo planejador? A gente pode chegar lá e pegar qualquer sessão, o que você acha? ”
“Ok, desorganizada. Que horas? ”
“Apenas me avise quando você já tiver saído do trabalho e estiver livre de graxa”.
“Ok! ”

Não consegui conter minha ansiedade o dia todo. Eu não lembrava quando tinha sido a última vez que fiquei daquele jeito, muito menos quando fiquei tão energizado sem beber café ou coisa do tipo.
Meu pai perguntou várias vezes o motivo de eu estar daquele jeito e contei a verdade. Eu ia sair com a garota que eu achava que estava a fim para fazer algo que segundo Rony era programa de casal. Nós não éramos um casal então talvez o motivo da minha ansiedade fosse esse, fazer algo como se fossemos um.
Considerei sair mais cedo do trabalho para poder ir para casa me arrumar, mas provavelmente já sabia que horário nós fechamos a oficina e ela ia perceber que saí mais cedo. Eu ficaria surpreso se ela não percebesse que eu estava ansioso.
“Estou pronto, você quer que eu passe na sua casa? ” enviei para ela.
“Sim” ela respondeu quase dez minutos depois.
Mal tive tempo de estacionar o carro em frente à casa dela, porque já estava me esperando na varanda. Ela veio até o carro toda sorridente e me surpreendi quando ela me beijou depois de entrar.
- Pensei em usar um look de professora especialmente para você. – ela riu.
- Tomara que a gente encontre algum aluno seu lá. – provoquei – Eles vão ficar pensando o que diabos a professora faz fora da escola.
- Eles me chamam de Senhorita . – ela sorriu.
- Essa coisa está ficando melhor a cada dia que passa. – sorri.
Eu devia ter percebido que aquela noite seria cheia de surpresas quando ela entrou no carro e me beijou. Enquanto caminhávamos até a bilheteria do cinema, entrelaçou nossos dedos e senti meu peito se aquecer e meu sorriso se alargar igual a um idiota.
As surpresas continuaram quando assim que começou o filme, deitou a cabeça em meu ombro e ficou acariciando minha mão. Percebi que as vezes ela me olhava por uns dez segundos e depois voltava sua atenção para o filme.
- Você quer ir comer em algum lugar? – perguntei para ela assim que saímos da sessão.
- Estou pensando em algo, mas não é muito saudável. – ela falou rindo.
- Não foi você que comeu hambúrguer com milk-shake na semana passada? – provoquei.
- Vamos no drive-thru do McDonalds. – ela disse empolgada.
- Sério?
- Sim. É melhor do que ter que sentar em uma mesa perto de várias pessoas e aí ter que ficar escolhendo coisas do cardápio. McDonalds é um lugar que você nasce sabendo o cardápio.
Dirigi até o primeiro McDonalds e o que era para ser rápido, levou uns vinte minutos só para conseguir fazer o pedido. Parei o carro no estacionamento e comemos nossos lanches por lá mesmo.
- Isso é muito bom. – disse rindo.
- Eu nem tinha percebido que estava morrendo de fome até morder o lanche.
- Nem eu. – disse com a boca cheia – Meu pai quase nunca me deixava comer fast food quando criança.
- Por isso que agora você come como se o mundo fosse acabar? – perguntei rindo e ela assentiu.
- Coisa de médico. – ela deu de ombros – Não é saudável e blá, blá, blá.
- Todo pai fala isso, até mesmo os que amam fast food.
- Isso é verdade. – ela riu – É uma coisa tão boa. Mil vezes melhor que meu macarrão.
- Não vou negar, mas também não vou concordar.
- Ei, eu posso falar mal da minha comida, você não. – ela deu um soquinho no meu ombro.
- Você até que cozinha bem.
- Vou fingir que acredito. – ela revirou os olhos – Sabe o que eu andei pensando?
- O quê?
- Eu nunca fui na sua casa, mas você já foi na minha várias vezes. – ela jogou o papel do lanche no saco pardo.
- Não foram tantas vezes assim.
- Mais vezes que eu fui na sua casa. – ela me encarou.
- Você está se convidando para ir na minha casa? É isso? – arqueei a sobrancelha.
- Talvez. – ela deu de ombros – Ainda é oito horas, eu durmo as onze. Tenho bastante tempo para conhecer sua casa.
- Ok, você está se convidando. – girei a chave na ignição – Eu moro numa mansão, você vai ficar surpresa.
- Espero que seja maior que a casa dos meus pais. – ela riu.
- Acho que vou te desconvidar.
- Mas você nunca me convidou. – ela piscou para mim com um sorriso no rosto.
foi me provocando durante todo o caminho sobre como ela esperava que meu apartamento fosse todo bagunçado e cheia de garrafas de cerveja pelos cantos. Era estranho levar alguma mulher para lá, já que eu acabava preferindo ir para a casa delas, pois era mais fácil para mim e para elas caso fossemos dispensar depois do sexo.
Fiz a maior enrolação para abrir a porta e pegou as chaves da minha mão e ela mesma a abriu, passando na minha frente com rapidez.
- Ok, seu apartamento é mais organizado que o meu. – ela disse olhando ao redor.
- Eu só durmo aqui.
- Você não traz ninguém aqui? – ela arqueou as sobrancelhas.
- Meus amigos vêm assistir aos jogos aqui as vezes, mas além deles e as vezes meus pais, eu sou a única pessoa que vem aqui. – me sentei no sofá e a puxei para se sentar ao meu lado.
- Devo me sentir honrada?
- Acho que pode. – dei de ombros – Mas você se convidou, então não fique tão metida.
- Ei, só me convidei porque se dependesse de você eu nunca viria aqui. – ela cruzou os braços.
- Claro que iria. – me defendi – Se um dia a gente namorasse ou casasse.
- Sem casamento. – ela me empurrou.
- Qual é, vai falar que você é daquelas pessoas que repudiam o casamento?
- Não, só que foi cedo, extremamente cedo para você falar sobre isso.
- Não é como se eu fosse te pedir em casamento agora, né, não sou tão louco. – falei rindo.
- Ótimo. – ela suspirou aliviada.
- Agora vou ter que devolver aquele anel de noivado que eu comprei. – bufei – Obrigado.
- Idiota. – ela me empurrou até eu deitar no sofá.
tirou sua blusa e engatinhou para cima de mim até seu rosto ficar perto do meu. Ela brincou com meus lábios e depois me beijou com pressa. Minhas mãos foram para sua cintura e desabotoei sua calça, tirando primeiro seu tênis e depois a calça.
- Você está com muita roupa. – ela sussurrou contra minha boca.
Tirei minha camiseta com rapidez e depois ficamos os dois brigando para desabotoar minha calça até que desistiu e deixou que eu a tirasse juntamente da boxer.
Ela colocou as mãos nas costas e depois retirou seu sutiã de um jeito gracioso, libertando seus seios do tecido. Virei nossos corpos deixando-a por baixo e comecei a trilhar beijos desde seu pescoço até sua barriga. Passei os dedos pelo elástico de sua calcinha e fui puxando ela lentamente sem tirar os olhos de .
Massageei seu clitóris com o polegar e ela suspirou alto, rebolando lentamente quando enfiei dois dedos dentro dela sem parar com meus movimentos em seu clitóris. Beijei o interior de sua coxa e segurou meus cabelos com força quando acelerei os movimentos. Subi para cima dela e beijei seu pescoço, fazendo-a gemer baixinho.
- ? – ela gemeu meu nome.
- Oi. – sussurrei contra a pele do seu pescoço.
- Camisinha. – ela suspirou.
- Tá. – assenti.
Peguei a carteira no bolso da calça e procurei por alguma maldita camisinha, mas elas tinham magicamente sumido dali.
- Droga. – resmunguei.
- O que foi? – ela me olhou apreensiva.
- Vem comigo. – levantei-me trazendo-a junto comigo e a peguei no colo.
- O que você vai fazer? – ela perguntou rindo.
Caminhei com ela até o quarto e a deitei na cama, ficando por cima. Ela passou a ponta dos dedos pelo meu pênis ereto e depois o envolveu em sua mão, masturbando-me enquanto eu tentava me concentrar para achar a merda da camisinha no criado-mudo.
- Achei. – ergui a embalagem e me deitei ao seu lado.
Ela pegou da minha mão e abriu sem tirar os olhos dos meus. Como eu disse, aquela noite estava cheia de surpresas, pois a colocou na boca e desceu até minha cintura, colocando quase todo meu pênis em sua boca. Não consegui esconder minha expressão de surpresa ao ver aquilo.
- Não estou acreditando. – falei perplexo.
- O quê? – ela sorriu maliciosa.
- Eu preciso de alguns segundos pra ficha cair. – falei rindo.
- Vou te ajudar com isso.
segurou meu pênis e o colocou na boca novamente, chupando-o lentamente e olhando da forma mais maliciosa possível para mim. Aquilo não era real, aquela mulher na minha frente não podia ser real. Puxei-a para cima e ela me posicionou em sua entrada, soltando seu peso enquanto eu entrava lentamente dentro dela. Segurei sua cintura com força e se movimentava em cima de mim.
Estávamos os dois gemendo alto e o barulho da cama se mexendo estava quase mais alto que nós dois, era quase certeza que um desses barulhos os vizinhos conseguiam ouvir e eu não estava nem aí para eles, a única coisa que importava naquele momento era e eu.
Ela se deitou e me puxou para ficar por cima, entrelaçando suas pernas em minha cintura. Fiz rápidos movimentos de vai e vem, sem nunca sair por inteiro de dentro dela. Seus olhos estavam fechados e ela gemia meu nome, deixando-me mais excitado ainda.
Aumentei a velocidade de meus movimentos e cravou suas unhas nas minhas costas, arranhando-me com força assim que seu corpo começou a tremer embaixo do meu e seus gemidos aumentaram. Fechei meus olhos com força e me movimentei com mais rapidez, fazendo-a gemer alto.
- ... ... – ela gemeu meu nome e não consegui mais me segurar.
Soltei um gemido rouco quando cheguei ao meu máximo e me olhou com um sorriso enorme no rosto. Joguei-me derrotado ao seu lado e ficamos os dois tentando normalizar nossas respirações extremamente ofegantes.
Fui até o banheiro me livrar da camisinha e quando voltei, ainda estava deitada na mesma posição com um sorriso no rosto e o peito subindo e descendo rapidamente.
- Não lembro qual foi sua última nota, mas você acaba de ganhar um A mais. – ela se apoiou em um braço e olhou para mim.
- Obrigado, senhorita . – puxei o edredom para nos cobrirmos – Eu quero muito saber sobre essa história de camisinha com a boca, mas estou com medo da resposta.
- Faculdade. – ela sorriu maliciosa.
- Ok, não preciso saber mais. – olhei para o teto e ela gargalhou.
- Uma amiga me ensinou. – ela segurou meu queixo e me fez olhar para ela.
- Como? – perguntei curioso – Ela tinha...
- Não. – ela riu – Tem professores de educação sexual que ensinam com a banana.
- Então foi assim?
- Sim.
- Ufa, pelo menos não foi a resposta que eu tinha em mente. – falei aliviado.
- Eu não saí praticando isso no pinto de todo mundo do campus, tá? – ela riu.
- Vamos parar de falar disso antes que eu comece a imaginar quantos caras tiveram você fazendo isso.
- Tudo bem. – ela se deitou ao meu lado – Mas eu não iria de falar de qualquer jeito.
- Sério mesmo? – me apoiei no cotovelo e fiquei encarando ela – Foram quantos mais ou menos?
- . – ela me olhou com um sorriso no rosto.
- Dois?
- , não.
- Sete?
- Caramba. – ela riu – Você está achando que eu sou a Linda Lovelace agora?
- Eu fiquei curioso. – me defendi.
- Quatro.
- Eu sou o quarto? – arqueei a sobrancelha e ela começou a gargalhar.
- Na faculdade foram quatro. – ela disse rindo – Depois da faculdade foi uns três ou mais. Não me lembro. – ela deu de ombros.
Fiquei encarando-a perplexo sem conseguir pensar em nada para falar. Eu devia estar com a expressão mais hilária do mundo porque ela começou a gargalhar.
- Eu estou brincando. – ela me beijou – Você é o segundo.
- Não sei se eu fico aliviado com isso. – confessei – Eu podia dormir sem essa.
- Você quem quis saber. – ela deu de ombros.
- Tudo bem, eu mereci. – suspirei – Mas ainda estou surpreso.
- Você não sabia que isso era possível?
- Óbvio que não. Já é horrível colocar isso com a mão. – olhei para ela – Geralmente são as garotas que colocam a camisinha para mim, então. – provoquei-a e ela revirou os olhos.
- Você falhou em tentar se vingar de mim. – ela sorriu maliciosa.
- É que eu sou muito bonzinho, por isso. – falei inocentemente e ela mordeu o lábio.
- Não sei se vou acreditar nessa. – ela subiu em cima de mim e beijou meu pescoço – Que horas são? – ela sussurrou em meu ouvido – Preciso ir para casa.
- Você quer... passar a noite aqui hoje? – perguntei de forma cautelosa.
Eu queria que ela falasse que sim para podermos dormir juntos e no dia seguinte poder acordar ela com café na cama e levá-la ao trabalho. Coisas de casal que nós, um não-casal não devíamos fazer.
- Tenho que acordar cedo amanhã. – ela sorriu carinhosa – Planejei essa noite muito mal.
- Como assim planejou? – arqueei as sobrancelhas.
- Eu deveria ter feito isso em uma sexta-feira porque aí estaríamos os dois livres no dia seguinte para sermos preguiçosos, e não na segunda.
- Então quando você me chamou para sair você já tinha segundas intenções, ? – falei malicioso e suas bochechas coraram.
- Na verdade eu estou com segundas intenções desde sábado, mas não achei que seria um bom momento te levar para conhecer meu quarto depois de toda aquela conversa de amor. – ela colocou o cabelo atrás da orelha e me encarou – Ai eu lembrei do telefone de casa sempre interrompendo a gente e pensei que a melhor alternativa seria vir para o seu apartamento.
- Eu devia ter trazido você para cá na sexta.
- Devia mesmo. – ela sorriu.
- Então essa noite foi mais pelo sexo? O cinema e o lanche eram só para você me trazer para minha casa e abusar do meu corpo?
- E também porque eu queria passar um tempo com você. – ela segurou meu queixo e me beijou – Por favor, nunca tire essa barba.
- Se não estivesse tão cansado, eu te mostraria o poder mágico dela.
- Estou quase pensando em aceitar passar a noite aqui. – ela riu.
] - Então fica, eu prometo que te levo para sua casa amanhã cedinho. – fiz bico e ela sorriu carinhosa.
- Tudo bem. Mas você tem que prometer que não vai insistir para eu ficar mais uns vinte minutinhos quando acordar.
- Eu tenho certeza que as crianças me agradeceriam. – sorri.
- Não tenho dúvidas disso. – ela me beijou carinhosamente.

Não conseguia lembrar quando tinha sido a última vez que acordei tão bem-disposto daquele jeito. Não sabia se tinha sido o sexo, dormir com ou as duas coisas, mas eu sabia que era por causa dela que eu estava daquele jeito.
Acordei uma hora e meia antes do que o horário no celular dela marcava – queria que fosse tudo certinho então fucei apenas no seu alarme para saber que horas ela acordava – e tomei um banho rápido e fiz ovos mexidos com bacon e suco para ela. Peguei nossas roupas na sala e deixei as dela no quarto, e depois levei o café para ela.
- O que é isso? – ela me olhou apenas com um olho aberto.
- Café na cama sem café. – dei de ombros e ela sorriu.
- Vai ser sempre assim toda vez que eu vier aqui? – ela puxou o lençol para cima e se sentou.
- Você está novamente se convidando para vir no meu apartamento?
- Depende. – ela mordeu o lábio – Vai ter café na cama sempre?
- Talvez sim, talvez não. Você vai precisar vir aqui para descobrir.
- Tudo bem, eu faço esse esforço. – ela riu.
Foi naquela manhã enquanto tomávamos café na cama juntos que eu percebi que a amava. O jeito que ela colocava o cabelo atrás da orelha, como molhava os lábios, até quando ela piscava... tudo nela me encantava.
Senti uma pontada no peito quando nos despedimos depois que a deixei em casa e fiquei agoniado esperando que ela me mandasse alguma mensagem, qualquer que fosse. Meus batimentos ficaram acelerados quando meu celular vibrou com a chegada de uma nova mensagem e o nome dela estava ali no visor.
“Estou aplicando uma prova sobre os presidentes americanos, mas meu pensamento está nos ovos com bacon do café da manhã”.
“Devia ter te alimentado melhor”.

Ela me ligou no seu horário de intervalo e conversamos por uns dez minutos até que precisei desligar para atender um cliente. Meu pai ficou me olhando de um jeito curioso o dia todo, como se soubesse o que tinha acontecido, mas esperava que eu falasse isso para ele. Acabei falando e ele apenas disse que já imaginava o que tinha acontecido para eu estar todo feliz.
Cheguei da oficina bastante cansado e sem qualquer vontade de ir até a cozinha para fazer algo. Eu queria muito me encontrar com , mas o cansaço não deixaria e ela provavelmente corrigiria as provas, então teria que me contentar com ligações.
Mal tive tempo de me trocar quando sai do banho porque a campainha começou a tocar descontroladamente e já podia imaginar que era Timothy, pois ele sempre fazia isso. Atendi a porta ainda enrolado na toalha e fiquei surpreso ao ver na minha frente.
- Oi. – ela falou com um sorriso enorme nos lábios.
- O que... uau. – falei surpreso.
- Que? – ela deu uma risadinha.
- Sei lá. – dei de ombros – Imaginei que você fosse estar ocupada hoje por causa da prova.
- Estou, mas... eu meio que queria ver você, então. – ela disse envergonhada – Acho que você imaginou que eu viria. – ela indicou a toalha com o queixo.
- Se tivesse chegado alguns minutos antes ia poder me encontrar todo sujo.
- Droga. Que timing ruim o meu. – ela fez careta.
- Entra. – abri espaço para ela passar – Eu só vou me trocar e já volto.
- Tudo bem. – ela sorriu.
Meu cansaço tinha magicamente sumido ao ver ela. O meu corpo estava energizado, como se eu tivesse aplicado adrenalina na veia.
Coloquei uma boxer e bermuda e voltei para sala correndo para aproveitar o máximo de tempo juntos.
Assim que cheguei a vi com seu Macbook no colo e os óculos de grau no rosto, lendo atentamente algo na tela. Encostei-me na parede e fiquei olhando-a de um jeito tão apaixonado que fez com que me sentisse muito patético.
Me senti um completo idiota quando ela me viu olhando para ela com um sorriso besta. Suas bochechas coraram e ela acenou com a cabeça para eu me aproximar.
- O que você está fazendo? – sentei-me bem perto dela.
- Me preparando para corrigir as provas. – ela falou sem tirar os olhos da tela – Antes que você pense em perguntar, eu sou multitarefas, consigo passar um tempo com você e trabalhar. – ela me olhou rapidamente.
- Quer que eu coloque uma camisa para não tirar sua concentração? – falei convencido e ela deu um riso fraco.
- Não precisa, não me desconcentro tão fácil assim. – ela disse rindo.
- Agora me senti ofendido. – choraminguei.
- Se você ficar de cueca pode ser que eu tenha que parar um pouquinho para dar uma olhadinha. – ela me olhou maliciosa.
- Não, você acabou com a minha moral. – deitei-me no sofá e fiquei olhando para ela.
- Para com isso, não acredito que você vai se deixar abalar porque eu não vou ficar toda ofegante com você sem camisa. – ela colocou o Macbook na mesa de centro e se deitou ao meu lado.
- Claro que vou. Se tenho esse físico é para fazer as mulheres ficarem ofegantes, do contrário ele não serve para nada.
- Então você vai para academia apenas com esse intuito? – ela passou a unha pelo meu abdômen e meu corpo se arrepiou.
- Eu não vou para academia, tudo isso é natural, gata. – provoquei e ela riu.
- Melhor ainda. – ela subiu em cima de mim – Por mais que eu queira continuar essa história... – ela passou a unha com força pela minha pélvis e senti meu pênis se enrijecer um pouco – ... eu preciso corrigir as provas.
- Tudo bem. – respirei fundo – Vou deixar você se concentrar, vai que você acaba escrevendo “ é muito gato” na prova de algum aluno.
- Muito obrigada. – ela me deu um selinho e se sentou novamente.
Foi só ela começar a corrigir as provas que o cansaço voltou e senti minhas pálpebras começarem a ficar pesadas. Tentei fazer o máximo de esforço para permanecer acordado, mas não consegui e acordei com um barulho na cozinha.
Sentei-me meio sonolento e vi de cabelos molhados usando apenas uma camiseta minha. Ela estava se mexendo lentamente de um lado para o outro como se estivesse dançando alguma música e parecia muito atenta no que estava cozinhando.
Caminhei quase na ponta dos pés até a cozinha e passei meus braços por sua cintura, fazendo-a dar um gritinho assustado.
- Caramba. – ela colocou a mão no peito – Nem percebi que você tinha acordado.
- Dormi muito? – perguntei beijando seu pescoço e ela soltou um gemido fraco.
- Só um pouquinho. – ela se virou para mim – Sabia que você sorri dormindo?
- Sério? – perguntei surpreso e ela assentiu.
- É bonitinho. – ela sorriu envergonhada – Sim, eu fiquei te olhando dormir.
- Nada que eu não faria se estivesse no seu lugar. – beijei seu queixo – O que você está fazendo?
- Carne moída com bacon e ovos cozido. – ela falou orgulhosa.
- Não acredito. – falei rindo – Minha mãe fazia isso para mim quando eu era mais novo.
- Eu gosto de conquistar pelo estômago. – ela piscou e se virou para o fogão.
- Percebi. – beijei seu ombro – Que cheiro bom.
- Significa que não estraguei a comida ainda.
- Ah, a comida também está com um cheiro bom, mas eu estava falando de você. – toquei sua barriga por baixo da camiseta.
- Você vai me fazer queimar a carne, . – ela riu.
- Não foi você que disse que era multitarefas? – provoquei.
- E eu sou, mas você está me obrigando a perder a concentração. – ela me empurrou com o quadril.
- Tudo bem. – me afastei – Se a comida estragar desse momento em diante a culpa é totalmente sua. – sentei-me no balcão.
- Já terminei. – ela me olhou vitoriosa por cima do ombro – Agora você pega os pratos.
- Sim, madame.
Arrumei o balcão para comermos e ficou me encarando preocupada quando coloquei a comida na boca. Levantei os polegares para ela que abriu um sorriso enorme e começou a comer. Ela limpou o balcão quando terminamos e ficou encostada na pia olhando-me lavar as louças.
- Prontinho. – coloquei a última louça no escorredor e me virei para ela – Você pode passar a noite aqui hoje... se você quiser. – cocei a nuca e ela sorriu envergonhada.
- É claro que vou, já estou até de pijama. – ela apontou para a camiseta – Eu achei um moletom da universidade de Yale no seu guarda-roupa. – ela mordeu o lábio.
- Hum. – murmurei.
- Você não vai falar nada? – ela me deu um soquinho no ombro.
- O que você quer que eu diga? – segurei sua cintura.
- Caramba, , é Yale. – ela segurou meu rosto com as duas mãos.
- Como você consegue desperdiçar um diploma de Yale? – fiz uma voz afetada e ela deu risada – É só uma faculdade igual as outras.
- Você devia ser muito nerd para ser aceito lá. – ela cutucou minha barriga – Nem eu consegui.
- Agora você me animou. – puxei seu corpo para perto do meu – Sou mais inteligente que você.
- Não. – ela negou com a cabeça – Eu sou uma professora, eu sou mais inteligente.
- Vou concordar para te fazer feliz. – beijei sua testa – E eu não era um nerd.
- Quantas faculdades você foi aprovado?
- Algumas. – dei de ombros.
- Quantas? – ela insistiu.
- Sete.
- Sete de quantas?
- Das sete. – suspirei – Eu não era nerd? Só era bom aluno.
- Você se inscreveu para sete faculdades e foi aprovado em todas. – ela disse surpresa – Eu fui aceita em duas de cinco.
- Eu sou mais inteligente. – falei convencido e ela gargalhou.
- Tudo bem, você é. – ela deu de ombros – Mas pelo menos eu uso meu diploma.
- Ouch.
- Você se graduou entre os melhores da turma?
- Não é para tanto. – revirei os olhos – Eu fui o terceiro.
- Ai, meu Deus. – ela falou rindo – Eu estou saindo com um nerd. Estou super me sentindo agora. – ela jogou os cabelos para trás.
- E você estudou onde, senhorita ? Se graduou como a pior da turma? – provoquei.
- Estudei aqui em Boston mesmo e fui a melhor da turma.
- Depois eu sou o nerd. – a peguei no colo – Como você tinha tempo de estudar e beber cerveja de ponta cabeça? – caminhei até meu quarto.
- Quem pode, pode. – ela riu.
Sentei-a na cama e fui me deitando por cima dela, seus olhos fixos nos meus e sua respiração começando a ficar ofegante. Nos beijamos calmamente e coloquei minha mão por baixo da camiseta, passando lentamente pela lateral de seu corpo até chegar em seu seio já rígido.
- . – ela ofegou – Eu meio que...
- O quê? – sussurrei contra seus lábios.
- Eu meio que estou menstruada. – ela disse envergonhada.
- Mas ontem...
- Veio hoje.
- Pelo menos isso prova que você veio aqui por mim e não pelo sexo. – falei tentando descontrair o clima que estava quase ficando tenso.
- Eu vim pela comida. Você disse na mensagem que devia ter me alimentado melhor.
- E consegui. – beijei seu queixo – Você terminou de corrigir as provas.
- Sim. – ela assentiu – Eu não sou uma professora tão má igual você pensa, minhas provas tem só dez questões.
- Por que só isso?
- Porque eles são crianças. Eu não vou dar uma prova com cinquenta questões e fazer eles se matarem de estudar para a prova. Eles têm outras atividades para fazer. A maior parte deles fazem algum esporte ou tem aula de música depois da escola.
- Queria que minhas professoras tivessem esse seu pensamento. – me deitei ao seu lado e a puxei para cima de mim – Faltei várias vezes no futebol para estudar para provas gigantescas.
- Você jogava futebol? – ela perguntou com os olhos brilhantes e assenti – Cada minuto que passa você fica mais e mais interessante. – ela riu – Estudou direito em Yale, terceiro melhor da turma, aprovado em todas as faculdades, jogava futebol.
- O que você diria se eu te contasse que entrei na faculdade com bolsa por causa do futebol?
- Sério? – ela perguntou surpresa e comecei a rir.
- Não, eu não jogava na escola.
- Por que não?
- Porque na escola eles só tinham futebol americano e eu não queria.
- Ainda continua interessante. – ela beijou meu pescoço – A gente não precisa ficar sem fazer nada se você não quiser. – ela sussurrou em meu ouvido.
- O que você tem em mente? – arqueei uma sobrancelha.
- Eu posso... – ela passou a mão pelo meu peito até chegar no meio das minhas pernas – Te mostrar outras coisinhas que eu sei fazer com a boca.
- Parece extremamente convidativo, mas eu não vou fazer nada sozinho.
- Quem vai fazer será eu. – ela riu.
- Você entendeu. Não sou tão babaca a esse ponto. – passei a mão pela sua coxa.
- Tudo bem, você que sabe. – ela beijou meu pescoço.
- Vou me contentar em só dormir de conchinha. – ergui um pouco a camiseta dela.
- Que fofinho. – ela sorriu – Ele gosta de dormir de conchinha.
- Foram raras as vezes que isso aconteceu. – me defendi – E você está com um cheiro gostoso, por isso.
- Vou fingir que acredito. – ela se deitou ao meu lado – Vai apagar as luzes que estarei aqui prontinha para fazer conchinha.
Dei um selinho nela e corri para apagar as luzes da sala e cozinha. Quando voltei, estava embaixo do edredom olhando ansiosa para a porta. Enfiei-me junto dela e passei a mão pela sua cintura, trazendo seu corpo para perto do meu.
Apaguei a luz do quarto e deixei acesa apenas a do abajur para que pudéssemos nos enxergar. Ela tinha um sorrisinho no rosto e ficou me olhando sem dizer nada. Acariciei sua cintura e pude sentir ela se arrepiar com meu toque.
Senti uma súbita vontade de dizer o que eu estava sentindo por ela, mas tinha certeza de que aquilo acabaria totalmente com o momento. Ela provavelmente se assustaria com isso e ia me afastar da vida dela aos poucos por ter me apaixonado por ela em tão pouco tempo. Eu podia estar errado sobre isso, mas não arriscaria abrir a boca.
- O que você está pensando? – ela sussurrou.
- Em você.
- No quão bonita você é. – menti. Eu queria muito falar o que eu realmente estava pensando.
- Mentiroso. – ela soltou um riso fraco – Eu não sou tão bonita assim, sabia?
- Para mim é. – acariciei sua bochecha.
- Você também não é de se jogar fora. – ela sorriu maliciosa.
- Muito obrigado. – falei rindo – Aumentou minha autoestima.
- Disponha. – ela me beijou – Eu não vou falar que você é lindo.
- Por que não? É verdade.
- Você vai ficar convencido. – ela sussurrou – Então vou dizer que você é bonitinho.
- Tudo bem, eu sei o que você quer dizer com bonitinho.
- Sabe? – ela arqueou a sobrancelha e eu assenti.
- Você quer dizer que eu sou o cara mais lindo que você já teve o prazer de conhecer, beijar, transar e dormir de conchinha. – ri.
- Caramba, ficou difícil respirar agora com o tamanho desse ego. – ela riu – Talvez seja verdade, você nunca vai saber. – ela suspirou.
- Agora fiquei curioso. – fiz biquinho e ela me beijou.
- Quem sabe um dia. Agora cadê a conchinha que foi prometida?
- Primeiro um beijo de boa noite.
- Você é inacreditável. – ela riu.
Segurei seu rosto e toquei seus lábios com os meus, chupando seu lábio inferior lentamente e aprofundando o ato em um beijo calmo. passou sua mão pelo meu pescoço e brincou com meus cabelos enquanto nos beijávamos. Desci minha mão pelo seu braço e segurei sua cintura com força na medida que o beijo ia ficando mais quente do que o esperado. Já podia sentir meu pênis começar a enrijecer e eu não queria que ela percebesse.
- Hora de dormir. – sussurrei.
- Sim. – ela arfou – Boa noite.
- Boa noite. – beijei-a rapidamente.
- Vai ter café na cama amanhã? – ela perguntou com um sorriso infantil nos lábios.
- Depende se eu conseguir acordar primeiro que você.

Dois meses. Hoje completava exatos dois meses que e eu estávamos juntos, se é que eu podia chamar o que estávamos tendo assim.
Nós dois praticamente morávamos um na casa do outro, quando eu não estava na casa dela, ela estava no meu apartamento. Algumas roupas dela estavam no meu guarda-roupa no meio das minhas e as minhas no dela. Foi só depois de alguns dias que percebemos isso e também a escova de dente a mais no armário do banheiro.
Comecei a comprar coisas que ela gostava de comer e a geladeira dela que antes só tinha vinho, agora guardava várias garrafas de cerveja. A estante da sala que era repleta de action figures abriu um espacinho para os livros dela. Ela colocou na casa dela uma prateleira para colecionar as garrafas de cervejas artesanais que compramos em uma feira de bebidas.
Ela não ia em casa nos dias de jogo porque sabia que meus amigos estavam lá assistindo e ela não queria atrapalhar, mas sempre aparecia meia hora depois que acabava para ver eles e conversarem. Ela me avisava quando as amigas apareciam de surpresa na casa dela para terem uma noite de mulheres e nas poucas vezes em que elas apareceram enquanto eu estava lá, elas me proibiram de sair do quarto de se não fosse para ir ao banheiro. Elas não me expulsavam de lá, até achavam engraçado me manter em cárcere com um pacote de salgadinhos e água enquanto elas fofocavam.
Não a apresentei para os meus pais e ela também não, pois segundo ela nós não éramos um casal então não tinha necessidade.
Nós estávamos tendo algo por dois meses, não éramos um casal, mas todos os nossos amigos achavam que éramos. Não que eu não quisesse, mas eu tinha medo de falar que a amava ou pedi-la em namoro e ela não aceitar, ou pior, ficar comigo por dó.
Encontrei Amber no corredor de produtos de limpeza lendo o rótulo de um amaciante de roupas e empurrei o carrinho até ela.
- É tudo a mesma coisa. – falei.
- Não é não. – ela riu – Tenho que ver se não tem um tal negócio nele porque seu pai está com alergias.
- Por causa do amaciante? – arquei a sobrancelha.
- Não, é um produto que algumas marcas usam e o dermatologista disse que seu pai está com alergia por causa dele.
- Para mim é tudo a mesma coisa.
- Por isso que seu pai pede para eu fazer as compras e não você. – ela colocou a embalagem no carrinho.
Continuei empurrando o carrinho atrás dela e quando entramos na parte de hortifrúti, vi e sua mãe conversando enquanto selecionavam as frutas. Eu sabia que era a mãe dela por causa das fotos em sua casa, mas nunca pensei que eu fosse encontrar ela algum dia, pelo menos não enquanto eu não soubesse como sua filha iria me apresentar.
Amber caminhou em direção a elas e começou a pegar alguns tomates e senti meu estômago afundar quando me viu. Eu estava morrendo de medo do que ela pudesse fazer e eu esperava que ela não me apresentasse para sua mãe.
- Não é aquela garota que você estava saindo? – Amber sussurrou para mim e eu assenti – Você não vai falar oi?
- A mãe dela está com ela. – falei baixinho.
- Vocês ainda estão saindo? – assenti – Então agora você deve ir falar com ela, .
- Não...
- Oi. – se aproximou de nós dois.
Olhei a mãe dela pelo canto do olho e ela parou o que estava fazendo para nos observar. Ela tinha uma expressão neutra no rosto, mas que estava me dando medo. O que ela falaria se soubesse que eu estava saindo com sua única filha?
- Você é a Amber, né? – ela perguntou sorridente.
- Sim. – Amber respondeu animada – ? – ela me chamou.
- Oi. – falei tenso e as duas ficaram me encarando – Ah, tá. Amber, essa é a , e você já conhece ela.... Eu vou pegar o papel higiênico e já volto.
- Você já pegou. – Amber deu um tapinha no pacote e sorriu para mim.
- falou muito bem de você. – puxou assunto e eu só conseguia prestar atenção na mãe dela.
- Sério? – Amber disse surpresa.
- Sim. – assentiu – ? – ela estalou o dedo em frente ao meu rosto.
- Quê? – perguntei aéreo – Vamos indo, está na hora dos remédios da minha mãe e....
- Seu pai está com ela. – Amber disse irritada – O que você tem?
- Nada. – neguei com a cabeça – A gente pode ir?
- Minha mãe não vai te matar. – sussurrou com um sorriso divertido nos lábios – Eu não vou te apresentar para ela se você não quiser.
- Ótimo. – suspirei aliviado – Te vejo mais tarde, vamos, Amber.
- , relaxa. – ela apertou meu ombro – Finge que somos só dois amigos que se encontraram no mercado, tudo bem? – assenti.
- Ela ainda está olhando para cá? – abaixei a cabeça.
- Não. – ela riu – Se você continuar assim eu vou te apresentar para ela.
- Não. – falei exasperado.
- Então se acalma, minha mãe não vai tentar te matar aqui no mercado cheio de testemunhas. – ela provocou e eu revirei os olhos – Ele é sempre assim? – ela perguntou para Amber.
- Primeira vez e não vou negar que estou adorando. – ela riu.
- , vamos? – a mãe dela disse calma.
- Sim. – ela respondeu – Foi um prazer te conhecer, Amber.
- O prazer foi meu. – ela sorriu.
- Te vejo em casa? – ela sussurrou e eu assenti.
Ela se virou de costas e foi até sua mãe. As duas entraram conversando em um corredor e fiquei imaginando se a mãe dela tinha perguntando sobre mim.
- Que papel ridículo, . – Amber gargalhou.
- O quê?
- Não acredito que você ficou assim por causa da mãe dela.
- Essa é a primeira vez na minha vida que eu vejo ela, nem sabia o que ela falaria se me apresentasse para ela.
- Que você é um amigo.
- Por que um amigo? – perguntei ofendido.
- Porque vocês não namoram e não tem porque ela falar “olha, mãe, esse é o cara que estou dando uns pegas”.
- A gente não dá uns pegas, Amber. Quantos anos você tem? – revirei os olhos.
- Mas também não namoram. – ela provocou.
Aquilo ficou na minha cabeça pelo restante da tarde. Nós não dávamos uns “pegas”, mas também não namorávamos e aquilo me incomodou bastante.
E se eu quisesse que ela me apresentasse? Ela ia realmente dizer que eu era um amigo? Será que ela não iria pelo menos mentir que éramos namorados, pois seria isso que eu faria no lugar dela.
Quando entrei em sua casa depois de ir embora dos meus pais, encontrei sentada no sofá encarando com uma expressão séria uma caixa toda enfeitada em cima da mesa de centro. Ela nem percebeu que eu tinha entrado até me sentar ao seu lado.
- O que é isso? – passei o braço por cima de seus ombros e a trouxe para perto.
- Convite de casamento.
- Numa caixa?
- Sim, e tem biscoitos também se você quiser. – ela me olhou.
- E por que você está encarando ela como se fosse destruí-la só com o olhar, Ciclope?
- Sei lá. – ela deu de ombros.
- Quem das suas amigas vai casar?
- Nenhuma delas. – ela suspirou – É a irmã do meu ex-namorado.
- Qual deles?
- Eu não te falei sobre nenhum outro ex-namorado que não fosse o último, . – ela riu.
- Erro meu. – sorri de lado – Agora me diz o porquê você queria destruir a caixa mentalmente, Xavier.
- Você vai ficar me dando o nome de todos os X-Men mesmo?
- Até você me contar.
- Eu meio que não quero ir. – ela mordeu o lábio.
- Então não vá. – dei de ombros – Assina no convite que você não vai comparecer.
- Mas eu tenho que ir. Minha mãe é sócia dos pais dela e nós duas sempre nos demos muito bem, ela não tem culpa do irmão dela ter sido um idiota.
- Já não estou entendendo mais nada.
- Eu não quero ir por causa dele, não quero encontrar ele lá, mas ela vai ficar magoada por eu não ter ido por causa do irmão. – ela suspirou – Que droga, o que eu faço?
- Come um biscoito. Eles são do quê?
- Amanteigados. – ela riu.
Abri a caixa e peguei o saco transparente com os biscoitos decorados e em forma de um casal. Peguei um deles e coloquei na boca dela e depois comi um.
- Isso aqui é muito bom. – falei com a boca cheia.
- A gente está comendo eles.
- Eles são gostosos.
- São mesmo. – ela riu.
- Te ajudou a decidir?
- Você quer ir comigo? – ela perguntou e eu comecei a tossir – , é sério.
- Seus pais vão estar lá. – falei exasperado.
- E qual o problema? – ela arqueou a sobrancelha.
- Que são seus pais.
- E. Qual. O. Problema? – ela falou pausadamente.
- A gente não namora. – me levantei irritado – Não se leva amigos como acompanhantes. Quando eles escrevem do acompanhante no convite é sobre um namorado ou marido, não um amigo.
- Tudo bem. – ela deu de ombros – Então namora comigo. – ela me olhou sério.
- Você bebeu, garota? – falei assustado.
- O quê? – ela riu.
- Você acha que eu sou fácil assim que vou aceitar seu pedido do nada? Cadê as flores no chão, a caixa de bombons importados, o jantar à luz de velas.
- Quem teria que fazer isso era você, a tradição é o homem pedir em namoro, não o contrário.
- Sim, mas quem me pediu em namoro foi você.
- Pedi porque você está surtando. – ela revirou os olhos.
- Eu não estou surtando. – me defendi.
- Tudo bem, então retiro meu pedido. – ela deu de ombros.
- Ótimo. – me joguei no sofá ao seu lado – Será que vai ter coisas gostosas lá igual esses biscoitos?
- É óbvio que vai. – ela apoiou a cabeça no meu ombro – Então... Você vai comigo?
- Estou indo mais pelas comidas. – beijei sua testa – E só um pouquinho por você.
- Obrigada. – ela subiu em cima de mim e começou a beijar meu pescoço – Mal posso esperar para te ver todo arrumadinho de terno e gravata. – ela sussurrou em meu ouvido.
- Tem isso ainda. – suspirei.
Ela desceu suas mãos pelo meu peito até chegar na barra da minha camiseta e a tirou com rapidez, olhando-me maliciosamente.
- Calma, antes quero saber se sua mãe falou alguma coisa sobre mim. – segurei seus braços apenas com uma mão e ela deu uma risadinha.
- Não. – ela deu de ombros e tentou se soltar.
- Jura?
- Ela só perguntou quem era. – ela tentou puxar os braços.
- O que você falou?
- Que era um carinha que eu estava tendo algo. – ela se soltou – Feliz agora?
- Tendo algo? – questionei.
- Sim, não sei se tem um nome para isso que estamos tendo e minha mãe não é idiota, , ela deve ter percebido que estamos transando, ou pelo menos tentando. – ela deu uma risadinha maliciosa.
- E o que ela disse sobre isso?
- Caramba. – ela bufou – Você devia ter deixado eu te apresentar para ela se vai ficar questionando. – ela tirou sua blusa e jogou no chão junto com a minha – Ela só falou que você é bonito, só isso. – ela cravou as unhas no meu queixo e começou a beijar meu maxilar – Não começa a se achar. – ela deu uma risadinha e mordiscou minha orelha.
- Você quem manda. – desci meus dedos pela sua barriga e desabotoei sua calça.
Assisti ela se levantar e se livrar de suas peças de roupa restantes, depois vir até mim e tirar meus sapatos e calça com pressa.
Ela pegou minha carteira no bolso do jeans e tirou de lá uma tira com três camisinhas. Observei ela destacar um e depois abrir a embalagem sem tirar seus olhos do meu. se agachou na minha frente e segurou meu pênis com uma mão, colocando-o inteiro na boca. Soltei todo o ar de meu corpo quando ela começou a chupá-lo sem parar de me olhar maliciosamente. Joguei a cabeça para trás e enrolei seus cabelos na minha mão, guiando-a enquanto ela me chupava.
- . – falei rouco e tirou-me de sua boca.
Seus dedos delicados passaram por toda a extensão de minha ereção e ela colocou a camisinha com cuidado, subindo em cima de mim em seguida e colocando-me dentro dela lentamente. Eu a sentia se pressionar contra meu pênis à medida que ela subia e descia em cima de mim, fazendo-me gemer baixo.
Ela me olhava com desejo e malicia, mordendo os lábios e gemendo meu nome com prazer. Apertei sua cintura com uma mão, ajudando-a em seus movimentos e segurei seu seio com a outra, massageando-o.
Já podia sentir meu gozo se aproximar, mas ela parecia estar bem longe do seu.
Passei minhas mãos pelas suas costas e virei ela no sofá, deixando meu corpo por cima do seu e penetrando-a com força. Desci uma mão até seu clitóris, masturbando-a lentamente sem deixar de me movimentar dentro dela. Beijei seu pescoço com fervor e gemi fraco quando ela arranhou minhas costas com força.
- Ah, – ela gemeu.
Senti meu pênis se contrair por dois segundos e gemi alto quando cheguei ao meu máximo. Acelerei o movimento do meu dedo nela e continuei entrando e saindo rapidamente.
- ... Ah... Mais rápido. – ela gemeu em meu ouvido – Vai.
Penetrei-a o mais rápido que meu cansaço permitiu e logo se contraiu contra mim e gritou meu nome com vontade. Seu peito subia e descia rapidamente e ela me olhou com as pupilas dilatadas e um sorriso malicioso nos lábios. Passei meu polegar que a masturbava por eles e ela o chupou com vontade, sentindo seu próprio gosto.
O toque de seu celular nos interrompeu do nosso pequeno momento de transe e peguei ele em cima da mesa sem sair de dentro dela. O nome do seu pai estava na tela e entreguei o aparelho para ela.
- Oi, pai. – ela disse olhando para mim – Estou bem, e você? – fiz sinal para ela que já voltava e fui para o banheiro.
Era muito estranho aquilo para mim. Eu tinha acabado de transar com a filha dele e agora ela estava conversando com ele no telefone, mas podia ser pior. Ele podia ter aparecido e aí sim seria estranho.
Quando voltei poucos minutos depois, ela estava sentada no sofá com os pés na mesa de centro cutucando a caixa. Vesti minha cueca e me sentei ao seu lado, recebendo uma piscadela enquanto ela ouvia o que seu pai dizia.
- Eu tinha acabado de chegar em casa quando o entregador trouxe o convite. – ela olhou rapidamente para mim – Sim, eu vou... Eu falei para mãe que não estava muito a fim de ir, mas não confirmei nada para ela... Eu sei que não devo o deixar interferir na minha amizade com ela... Pai, porque você está insistindo nisso? Já falei que vou, não precisa me dar um sermão sobre amizade, ok? ... Não posso ir jantar com vocês hoje... Eu tenho visita... Tudo bem, vou ver se dou uma passada aí amanhã.... Também te amo, tchau.
Ela respirou fundo umas duas vezes e deitou a cabeça no meu colo. Acariciei seus cabelos e ela se virou para mim.
- O que foi? – perguntei curioso.
- Minha mãe disse para o meu pai que eu não ia no casamento, mas eu só falei para ela que não estava com vontade de ir e ela correu dizer para ele que eu não ia.
- Então ele ligou para te convencer?
- Exatamente. – ela se levantou – Odeio quando ela faz isso. – ela começou a vestir suas roupas intimas – Ela fica tentando fazer ele me convencer das coisas, é um saco.
- Pais são assim. – encolhi os ombros.
- Os seus pais não. – ela se sentou ao meu lado – Eles parecem ser tão legais.
- Você mal conhece eles. – falei rindo.
- Pelas coisas que você fala, seu besta. – ela deu um soquinho no meu ombro – Posso te pedir uma coisa?
- Você já me pediu em namoro, para ir em um casamento com você e agora tem mais?
- Eu queria conhecer sua mãe. – ela disse envergonhada.
- Por quê?
- Porque é a sua mãe. Eu meio que conheço seu pai, já vi ele uma vez, mas a sua mãe foi só em fotos.
- Eu vi sua mãe uma vez e seu pai também foi só em fotos. – dei de ombros.
- Mas você vai conhecê-lo, tem até uma data marcada para isso.
- Vou pensar.
- Por que pensar? – ela perguntou indignada.
- , a minha mãe... Ela...
- Ela vai perguntar quem eu sou várias vezes e eu vou responder sem problema algum cada vez que ela me perguntar. – ela cruzou os braços – Eu sei como é Alzheimer, , mas eu queria conhecê-la. Quero saber coisas sobre você, coisas que você não vai me contar.
- Tipo?
- Coisas da sua infância. De você colocando fogo na casa, esse tipo de coisa.
- Por que você pode saber esse tipo de coisas sobre mim e eu não posso sobre você? – perguntei rindo.
- O que você quer saber? – ela cruzou as pernas e me olhou atentamente.
- O mesmo que você quer saber sobre mim.
- E você quer ouvir isso da boca da minha mãe? – ela arqueou as sobrancelhas.
- Você quer saber isso da minha mãe, nada mais justo que eu ouvir isso pela sua.
- Você todo tenso hoje só por ter visto a minha mãe. Vai precisar uns mil anos até você conseguir conversar com ela sem sentir medo. – ela riu.
- Claro que não. – neguei.
- Tudo bem, quando você vê-la pode perguntar sobre a minha infância chata. – ela revirou os olhos – E então, você vai me levar para conhecer sua mãe?

Enrolei por três semanas e só desisti quando esqueci o porquê de não querer atender o pedido dela. Quando cheguei a sua casa e falei que íamos almoçar com meus pais, ela saiu correndo para o seu quarto atrás de algo para vestir. Esperei na sala por exatos trinta minutos até que ela apareceu com um vestido de malha branco de linhas e meia calça de um cinza quase transparente. Ela tinha um coturno preto nós pés e vestia um casaquinho laranja e seus óculos. Fiquei olhando maravilhado para ela por um bom tempo e ela sorriu envergonhada quando percebeu.
- Está bom assim? – ela passou a mão pela saia do vestido – Não fiquei meio infantil?
- Você está linda. – fui até ela.
- Se eu estivesse feia você falaria? – ela perguntou preocupada.
- Eu não falaria que está feia porque você está sempre linda. – segurei seu rosto e acariciei sua bochecha.
- Saco... – ela bufou – Se a roupa não estivesse legal, você falaria?
- Eu acho que sim.
- Você não está ajudando, . – ela respirou fundo – Eu vou trocar, sua mãe vai achar que eu tenho uns dezesseis anos. – ela tentou voltar para o quarto, mas segurei seu braço.
- Já falei que você está linda. Não está infantil, ok? Você está linda demais e você não precisa se importar com o que minha mãe vai achar da sua roupa.
- Mas eu quero que ela goste de mim. – ela choramingou.
- Ela não vai gostar de você pela sua roupa, mas pelo que você é.
- Tudo bem. – ela respirou fundo – Vamos logo então. – ela entrelaçou sua mão na minha.
O caminho até a casa dos meus pais foi totalmente silencioso. Ela ficou prestando atenção na rua e percebi que ela ficou cutucando as unhas, coisa que ela só fazia quando estava nervosa. Ela me olhou preocupada quando estacionei o carro em frente à casa e desci correndo para abrir a porta para ela. Caminhamos até a porta de mãos dadas e a olhei sério antes de entrarmos.
- A gente pode ir embora se você quiser. – segurei seus ombros e ela negou com a cabeça.
- Eu nunca conheci os pais dos meus namorados assim. Os pais do meu ex-babaca são sócios da minha mãe, então não foi desse jeito. – ela mordeu o lábio.
- Bom para você, porque não somos namorados. – beijei sua testa – Agora relaxa, eles vão gostar de você.
- Como você vai me apresentar para eles?
- Meu pai sabe quem é você, e vou falar para minha mãe que você é minha amiga, tudo bem para você?
- Sim... Eu acho. – ela respirou fundo.
Eu devia ser honesto do mesmo jeito que ela foi com a mãe dela dizendo que nós dois estávamos saindo, e fiquei pensando nisso até o momento de apresentá-la. Segurei sua mão com força e a guiei para dentro da casa. Pela primeira vez eu pude notar o monte de fotos minhas que tinha pela sala. Aquilo seria um prato cheio para ela que queria saber sobre a minha infância.
- . – meu pai nos recebeu – Tudo bem?
- Tudo sim. – o abracei – Ah, pai, essa é a .
- A sua namorada. – ele alargou o sorriso.
- Mais ou menos. – cocei a nuca.
- Que bom te conhecer. – ele a abraçou – falou de você algumas vezes.
- Coisas boas, eu espero. – ela sorriu envergonhada.
- Com certeza. – ele riu – Venham, sua mãe está fazendo torta de maçã sem ajuda de ninguém. – ele disse orgulhoso.
O seguimos até a cozinha e encontrei minha mãe encostada na mesa colocando a massa da torta em uma assadeira. Ela parecia bastante entretida no que fazia e nem percebeu que estávamos ali.
- Olha quem está aqui. – meu pai tocou seu ombro e ela olhou para nós.
- . – ela sorriu e veio até mim – Que bom te ver, meu amor, quanto tempo. – ela passou a mão pelos meus cabelos – Você tem que vir nos ver mais vezes, mas tudo bem, você não pode deixar os estudos para viajar para cá, eles são mais importantes. – ela beijou minha bochecha – É sua namorada? – ela sussurrou para mim.
- Mais ou menos. – dei de ombros. Eu não precisava mentir, mas também não precisaria negar – O nome dela é e ela está ansiosa para ouvir a senhora contar sobre a minha infância. – soltei da mão dela.
- É um prazer conhecê-la, senhora . – ela disse envergonhada.
- O prazer é meu, querida, e pode me chamar de Margaret, por favor. – ela acariciou a bochecha dela – Vocês vão ficar para o almoço? Querem comer algo em especial?
- Sim, mas é melhor terminar sua torta primeiro e depois eu te ajudo a fazer o almoço.
- Que torta? – ela me olhou sem entender.
- A torta de maçã, mãe. – apontei para a assadeira.
- Ah. – ela disse aérea – Tudo bem. – ela assentiu e caminhou até a mesa.
Meu pai ficou na cozinha com a minha mãe e levei até meu antigo quarto. Ela pareceu maravilhada quando eu abri a porta para entrarmos.
- Eu não imaginava que seu quarto fosse assim. – ela riu – O seu quarto atual não tem quase nada e esse é cheio de coisas.
- Não levei nada daqui além das roupas e quando terminei a faculdade fui direto para o meu apartamento. – me sentei na cama.
- Isso tudo é quadrinhos? – ela apontou para a estante e eu assenti – Acho que essa é a maior coleção pessoal que já vi na vida. – ela passou os dedos por eles – Você leu todos?
- Mas é claro. – falei indignado – Eu guardava o dinheiro do lanche para comprar eles, mas ai minha mãe descobriu que eu não estava comendo na escola e começou a comprar para mim.
- Você tem action figures na sua casa, mas eu nunca imaginei que você fosse tão fã assim. – ela olhou para a outra estante com miniaturas – Um típico quarto nerd. – ela riu – Olha isso, até a roupa de cama. – ela se sentou ao meu lado.
- Se essa roupa de cama do Star Wars tivesse em tamanho de casal, pode ter certeza que teria um no meu quarto atual. – passei o braço pelo seu ombro e beijei seus cabelos.
- Sabe o que eu estou pensando? – ela me olhou maliciosa.
- No quê? – perguntei com um sorriso.
- Com quantas garotas você transou nesse quarto nerd. – ela riu.
- Algumas. – dei de ombros.
- Você tinha coragem de trazer as garotas aqui? – ela perguntou surpresa.
- Claro. Eu tenho orgulho das minhas coisas, ok?
- Não acredito nisso, . – ela gargalhou – Você só pode estar brincando comigo.
- Elas gostavam de ser assistidas pelos Vingadores. – beijei seu pescoço – Estou imaginando o seu quarto. Deve ser todo rosa com cama com dossel e pôster do Backstreet Boys na parede. – apertei sua coxa.
- Meu quarto é azul bebê e os pôsteres são das Spice Girls, mas você acertou na cama. – ela riu.
- Sempre quis transar em cama com dossel. – comecei a erguer seu vestido e ela segurou minha mão.
- , seus pais. – ela me olhou séria.
- Eles não vão vir aqui. – segurei sua cintura e a puxei para perto.
- Não. – ela colocou a mão no meu peito – Eu não vou transar com você quando seus pais estão aqui do lado e com esse monte de brinquedo olhando. Eu não gosto de ter público. – ela se levantou.
- Tudo bem. – suspirei – Mas agora eu fiquei com vontade de conhecer o seu quarto.
- Quem sabe um dia, agora vamos.
Durante o almoço tive que lembrar minha mãe duas ou três vezes que era minha mais ou menos namorada e fiquei surpreso em como ela não se importou em ter que ser apresentada várias vezes. As duas conversaram sobre a minha infância e ficou extremamente contente em saber que eu ficava pelado em casa o dia todo até meus seis anos. Minha mãe lhe mostrou fotos de quando eu era criança e contou histórias sobre elas, mas ela não soube explicar sobre algumas fotos mais atuais como as minhas formaturas ou meu aniversário de vinte e um.
Passamos a tarde toda lá com eles e ficou triste quando disse que já estava na hora de ir. Foi como falar para um filho que nós tínhamos que ir embora do parquinho. No caminho para sua casa ela ficou falando sobre como ela adorou meus pais e principalmente a torta de maçã que minha mãe fez.
- Agora é sua vez. – falei para ela.
- Você vai conhecer meus pais no casamento. – ela falou antes de descer do carro.
Segui-a para dentro da casa e nós dois tomamos um susto quando encontramos uma sacola de papel no balcão da cozinha. a abriu e tirou de lá um vestido azul marinho.
- O que é isso? – perguntei.
- Meu vestido para o casamento. – ela falou olhando para a peça – Minha mãe quem trouxe.
- Ela tem a chave daqui?
- Sim. – ela me olhou – Por quê?
- Quais são as chances de ela aparecer aqui quando eu estiver? – perguntei preocupado.
- Ela trabalha das sete até as quatro, e você só sai da oficina as seis, ela vai aparecer aqui entre as quatro e seis. – ela deu de ombros.
- E aos fins de semana?
- , relaxa, ela não vai pegar a gente transando no sofá. – ela riu – Minha mãe liga antes, e quando não liga, ela toca a campainha.
- Ufa. – falei aliviado.
- Você quer que eu vá com você comprar sua roupa? – ela colocou a sacola no balcão e veio até mim.
- É mais fácil você falar que quer ir escolher minha roupa. – segurei sua cintura – E se é isso que você quer, então tudo bem.
- Já estou tendo várias ideias. – ela passou a mão pelo meu peito – Nada de ir combinando comigo.
- Qualquer coisa que você quiser. – lhe dei um selinho.

Quando e eu saíamos, ela levava uma meia hora entre tomar banho e escolher a roupa, mas dessa vez estava sendo muito mais de meia hora.
Ela passou a tarde no salão com a mãe dela fazendo cabelo e maquiagem, e quando cheguei na sua casa uma hora e meia atrás, ela estava trancada no quarto se arrumando. O cabelo e a maquiagem estavam prontos, a única coisa que faltava era colocar o vestido, mas estava tomando mais tempo do que o necessário.
Estava prestes a ir no seu quarto para ver se ela ainda estava viva quando ela apareceu. Ela caminhou em minha direção e foi como se ela estivesse em câmera lenta. Os cabelos balançando a medida que ela andava, o vestido colado nas curvas de seu corpo e seus lábios vermelhos sorrindo para mim. Pude sentir meus batimentos se acelerarem conforme ela se aproximava de mim e aproveitei para olhá-la dos pés à cabeça, dando bastante atenção para o decote.
- Fecha a boca para não entrar mosca. – ela tocou meu queixo – O que você achou?
- Estou pensando em alguma palavra para descrever o quão maravilhosa você está, mas caramba, mulher, você me deixou sem fala. – segurei na sua mão e ela deu uma voltinha.
- Você já está pronto? – ela sorriu para mim.
- Faz uma hora e meia que estou pronto.
- Demorei tanto assim? – ela mordeu o lábio e eu assenti.
- Mas tudo bem, vou perdoar porque você está linda demais.
- Você está me deixando envergonhada. – ela disse com as bochechas coradas.
- Queria tanto te beijar, mas não quero que você chegue lá sem batom nenhum. – aproximei nossos corpos.
- Se for um rapidinho não vai fazer estrago. – ela sussurrou contra minha boca.
Apertei seu corpo contra o meu e beijei-a levemente, tomando cuidado para não aprofundarmos o beijo e estragar seu batom.
- Agora vamos, quero te apresentar para os meus pais antes da cerimônia.
Para minha sorte, os pais dela chegaram um pouco atrasados e ela os cumprimentou rapidamente. A cerimônia e festa aconteceriam na casa de praia dos pais da noiva, e fiquei imaginando se já tinha passado as férias ali com o idiota do ex-namorado.
Ficamos de mãos dadas durante toda a cerimônia e notei que ela me olhou de um jeito meio apaixonado quando os noivos se beijaram.
Comecei a ficar nervoso quando nós dois saímos para ir até onde aconteceria a festa. Os pais dela tinham saído primeiro, o que me deixou feliz, mas eu não conseguiria evitar falar com eles a noite inteira. Já nem sabia mais o porquê eu estava tão nervoso. Eu queria namorar com , e se isso acontecesse, eu eventualmente acabaria conhecendo os pais dela, então era melhor que acontecesse agora para que as coisas não fossem estranhas mais para frente.
Encontramos seus pais conversando com um moço que devia ter mais ou menos a minha idade. O pai dela olhou para nós dois com um sorriso, enquanto sua mãe nos olhou com sua expressão neutra que me dava mais medo do que se ela estivesse com raiva.
- Coelhinha. – o pai dela a abraçou com força – Você está linda. – ele a segurou pelos ombros e ela sorriu, envergonhada.
- Nossa filha é linda, Anthony. – a mãe dela sorriu carinhosa e meu medo dela foi passando aos poucos.
- Mãe. – ela revirou os olhos, envergonhada.
- Oi, . – o cara que conversava com os pais dela a cumprimentou e pela expressão de tédio que fez, percebi que só podia ser ele o ex-namorado idiota.
- Oi, Tyler. – ela disse entediada.
- Você está lin...
- Você deve ser o . – a mãe dela o cortou – Elise, é um prazer conhecê-lo finalmente. – ela sorriu para mim e me estendeu a mão.
- O prazer é meu. – cumprimentei-a.
- Pai, esse é o , meu namorado. – ela disse orgulhosa e vi o tal Tyler nos olhar perplexo.
- Anthony. – ele me cumprimentou.
- Vocês se conheceram onde? – Tyler perguntou.
- Por que a pergunta? – ela lhe perguntou irritada e ele deu de ombros.
- Curiosidade.
- Será que você pode nos dar licença, por favor, Tyler? – lhe fuzilou com os olhos e ele assentiu.
- A gente... Pode conversar depois?
- Sim, agora, tchau. – ela acenou com a mão e ele saiu olhando para trás a todo o momento.
- Agora fiquei curioso. – o pai dela coçou o queixo – Onde vocês se conheceram?
- No mesmo lugar que nós dois. – a mãe dela deu uma risadinha – Vamos, Anthony, nós precisamos conversar com os Johnson’s. – ela deu um tapinha no ombro dele e olhou para nós – Vocês não sumam e não vá embora logo, .
- Tudo bem, mãe. – ela suspirou entediada.
Ela esperou que os dois sumissem por entre os convidados para olhar para mim com um sorriso enorme no rosto.
- Prontinho.
- Ok, na minha cabeça isso seria estranhamente constrangedor para mim, mas seu ex-namorado conseguiu fazer ser para ele. – abracei-a.
- Ele é um idiota. – ela revirou os olhos.
- Sobre o que você acha que ele quer conversar?
- Agora que ele viu você, com certeza é para falar que você não me merece e que eu tenho que voltar com ele. – ela deu uma risadinha – Você não vai sair do meu lado nem por um segundo essa noite.
- Pode deixar, namorada. – sorri orgulhoso.
- Falei que seus pais eram mais legais. Quando você me apresentou, eles abriram uma brecha para você desconversar sobre sermos um casal. – ela ajeitou minha camisa – Você fica bonito de gravata borboleta. – ela sorriu carinhosa.
- Obrigado.
- Você não se incomodou por eu ter dito que somos namorados, né? - ela me olhou preocupada e eu neguei com a cabeça.
- Por mim está tudo bem se estiver bem para você, . – acariciei sua bochecha.
Nós nos sentamos na mesa com os pais de e alguns conhecidos deles, mas eu podia sentir o olhar de Tyler sobre nós dois mesmo distante. Fiquei pensando no que ele queria conversar com ela e se era realmente sobre eles voltarem. Eu não me lembrava se ela já tinha dito para mim alguma vez há quanto tempo eles não estavam mais juntos, mas eu deduzi que já fazia algum tempo. Ela não voltaria com ele, do contrário ela não teria sido meio estúpida com ele, mas não saia da minha cabeça as coisas idiotas que ele falaria sobre mim apenas para tentar reconquistá-la.
Os pais dela ficaram conversando com seus amigos durante um bom tempo até que eles saíram e a conversa se direcionou para nós dois. Era claro que eles perguntariam sobre mim, o que eu fazia e essas coisas. Qualquer pai faria isso com o namorado da sua filha, mas senti um frio na barriga com o que eles poderiam pensar sobre mim. Agora eu entendia o porquê ela ficou preocupada com o que minha mãe acharia dela, ela queria que gostassem dela e a achassem boa para mim, e agora eu estava em seu lugar.
- disse que você trabalha com o seu pai na oficina dele. – a mãe dela me olhou com um sorriso – Meu pai tinha uma, adorava ficar lá quando criança.
- Já entendi porque estão juntos. – o pai dela deu uma risadinha – Seu avô vai adorar saber disso.
- Não começa. – ela revirou os olhos – Eu não estou com ele só por isso, mas porque ele é muito inteligente. – ela olhou para mim com um sorriso e já imaginei onde aquilo pararia.
- Espero que seja mais inteligente que uns e outros. – o pai dela mexeu sua taça de vinho.
- Tyler e namoraram, e Anthony nunca gostou muito dele. – a mãe dela disse tensa – O importante é que você faça nossa filha feliz, .
- É o que eu mais quero, senhora . – sorri para ela.
- Elise, por favor. – ela sorriu.
- É bom que faça mesmo. – o pai dela me encarou com um sorriso divertido – Eu sou médico, conheço várias formas de acabar com você se magoá-la. – ele gargalhou e finalmente toda a tensão foi embora.
- Não acredito que você disse isso, pai. – o olhou indignada.
- Estou brincando, Coelhinha. Olha para o Tyler, ele te magoou e ainda está vivo, infelizmente.
- Coelhinha? - olhei para ela que apenas revirou os olhos.
- Olha o que você fez, pai. Ele vai me chamar assim para sempre. – ela choramingou.
- Quando ela tinha por volta de uns dez anos, ela ficou pulando pelo quintal com uma fantasia de coelho que ela adorava, ai ela não viu um buraco na grama e pulou em cima e acabou quebrando o pé. – o pai dela falou rindo.
- Desde esse dia o apelido pegou e agora ela é nossa Coelhinha. – a mãe dela sorriu carinhosa.
- Nem todo mundo nasce um gênio como você, garoto prodígio. – ela sorriu para mim – Vocês vão adorar saber que o é o filho que vocês queriam ter. – ela entrelaçou sua mão na minha.
- Você não é uma filha tão ruim assim, Coelhinha.
- Por quê? - a mãe dela perguntou curiosa.
- Ele foi para Yale, mãe, igual a você. – ela falou orgulhosa – Passou nas sete faculdades que se inscreveu e ainda se formou como o terceiro melhor da turma. – ela sorriu para mim.
- Sério? - ela perguntou surpresa – E você cursou o quê?
- Direito. – respondi.
- E você nunca sentiu vontade de trabalhar com isso? - o pai dela perguntou.
- Na verdade eu escolhi bem mal o que fazer na faculdade, porque eu não queria muito trabalhar com isso. – cocei a nuca.
Agora sim as coisas estavam se encaminhando para o lado errado. Eles veriam o grande perdedor que eu era e que não poderia dar a filha deles o futuro que eles gostariam que ela tivesse. Parabéns, !
- Eu também não gostava muito de medicina, mas depois comecei a entender que eu não me via fazendo outra coisa que não fosse aquilo. – o pai dela me olhou – O que importa é que agora você faz algo que gosta.
- Onde estava esse discurso motivacional quando eu disse que queria ser professora de história? - falou entediada.
- Na época suas atitudes te fizeram não merecer um, mocinha. – a mãe dela disse séria – Não pense que você está totalmente perdoada.
- Viu como eles me amam? – ela sorriu para mim – O que importa é que agora eu sou uma ótima professora. – ela disse orgulhosa.
- Pelo menos isso, porque não era uma aluna tão boa assim na escola. – o pai dela gargalhou – Hoje não é seu dia de tentar argumentar conosco, Coelhinha, principalmente com seu namorado perto. Sua mãe e eu vamos acabar queimando seu filme.
Eu não podia negar que estava gostando de ser seu namorado por um dia, por mais que quando saíssemos dali voltaríamos a ter a mesma coisa de sempre sem ser um casal.
Os pais dela me contaram sobre como ela tinha sido uma péssima aluna por muito tempo e de como ela chorou quando não foi aceita em todas as faculdades que se inscreveu. Sem querer acabei descobrindo que ela e Tyler tinham terminado há quase dois anos e que não importava quanto tempo passasse, ele sempre tentaria convencê-la a voltar quando se encontravam.
Mesmo quando foi cumprimentar a noiva, me levou junto. Ela me apresentou para a amiga como seu namorado e ela ficou bastante feliz em saber que estava namorando alguém depois de tanto tempo.
Por várias vezes na noite Tyler tentou se aproximar e conversar, mas ela sempre arrumava alguma desculpa e dizia que depois. Perguntei se ela queria que eu fizesse o namorado possessivo e agressivo, mas ela disse que não era necessário, pois Tyler era só um garotinho rico e mimado que não conseguia entender quando perdia seu brinquedo.
Era uma da manhã quando as pessoas começaram a ir embora e disse que também já deveríamos ir, pois tínhamos ficado por mais tempo do que ela queria.
Eu tinha acabado de apertar o alarme do carro quando o ex-namorado idiota apareceu e pediu para conversar.
- Tyler, eu estou cansada, a gente se fala outro dia. – ela disse entediada.
- Você vive me evitando, . Eu disse que não ia à sua casa ou ficaria ligando para você, mas quando terminamos você disse que poderíamos continuar a ser amigos, mas você está sempre evitando. – ele disse irritado.
- Eu menti. – ela falou alto – Não dá certo esse negócio de terminar e continuar a amizade, ainda mais quando se é um idiota igual a você.
- Eu não sou tão idiota igual você diz para as pessoas, sabia? – ele veio para cima dela e me coloquei na frente dele.
- Você não entendeu ainda o que ela disse? – falei rude e ele me olhou da cabeça aos pés com um olhar superior – Ela não quer falar com você.
- Sai da minha frente, idiota.
- Vamos embora, , ele não consegue entender as coisas. – ela segurou a minha mão – Ah, e só para você saber, esse seu olharzinho superior foi um dos motivos pelo qual eu terminei aquela merda de namoro. Você não é melhor que ninguém, Tyler.
- Por que você não pode me dar uma chance de conversarmos?
- Porque eu não quero. Pode ter certeza que se eu quisesse já teríamos conversado há muito tempo. – ela me puxou em direção ao carro e ele segurou o braço dela.
Senti meu sangue ferver quando ele a segurou. Olhei para ele com raiva e me puxou para trás e se soltou dele.
- Você nunca vai encontrar alguém como eu, . – ele gritou – Esse cara nunca vai te fazer feliz. Nós tivemos momentos ruins, não vou negar, mas também tivemos ótimos momentos juntos.
- Sim, nós tivemos, mas os momentos ruins eram mais frequentes que os bons. A melhor coisa que vai me acontecer é nunca encontrar alguém como você. – ela foi para cima dele – Eu guardei seu segredo, seu idiota. Eu nunca contei para ninguém que você me bateu porque eu não me comportei do jeito que você queria quando você estava colocando todo mundo para baixo só porque você nasceu em berço de ouro. – ela deu um soco em seu peito.
- Você também era assim, ...
- Mais eu cresci. – ela gritou.
- Vamos embora. – segurei em seu braço e ela se soltou.
- Você é um idiota covarde. Tem coragem de olhar na cara dos meus pais depois de ter batido em mim. – ela socou seu peito novamente.
Fiquei atento a qualquer sinal de que ele fosse bater nela para que eu pudesse acabar com ele, mas o idiota apenas ficou parado apanhando e ouvindo verdades.
- O que você acha que eles vão dizer se descobrirem isso? O que seus pais vão dizer? – ela o empurrou – Nunca mais chega perto de mim. Hoje foi a gota d’água. Estou cansada de não ir aos lugares para não te encontrar, porque é sempre a mesma coisa. Você sempre insiste em conversar, mas não muda seu discurso. – ela gargalhou – É sempre a mesma coisa. Eu não vou encontrar alguém melhor que você, nós tivemos momentos bons e blá, blá, blá. Vai se foder, seu lixo.
Ela segurou na minha mão e me puxou para o carro. Olhei por cima do ombro e ele ainda estava parado no mesmo lugar olhando para nós dois. entrou no carro e respirou fundo algumas vezes. Olhei para ela preocupado e ela prendeu os cabelos e jogou os sapatos no banco de trás.
- Está tudo bem? – perguntei preocupado e ela assentiu.
- Só quero ir embora. – ela sorriu carinhosa – Acho que fiquei bêbada de tanto champanhe. – ela deu uma risadinha.
Eu não tinha colocado uma gota de álcool na boca. Não beberia na frente dos pais dela e depois levaria a filha deles embora, pelo menos não em lugares que eles também estivessem. Em compensação, aceitava qualquer coisa com álcool que aparecia.
- Você nem bebeu. – ela fez biquinho – Por quê?
- Por causa dos seus pais. – falei querendo terminar aquele assunto e perguntar o que estava me incomodando – Por que você não me contou que ele te agrediu?
- Eu não contei para ninguém. – ela deu de ombros.
- E por que não? – questionei.
- Ele só fez isso uma vez, uns três meses antes de terminarmos.
- Você devia ter contado isso, . Não para mim, mas pelo menos para os seus pais. – falei preocupado – E se ele fizesse algo pior com você?
- Mas ele não fez. – ela bufou – eu não contei porque fiquei com medo da minha mãe fazer algo e depois eles acabarem a sociedade por minha causa. E se eles não acreditassem em mim?
- A sua mãe certamente acreditaria em você, . – insisti.
- Eu sei, mas ela contaria para os pais dele e eles não acreditariam. – ela disse brava – O Tyler é um idiota, ele não bate em ninguém, não sei como ele te enfrentou ali. Ele morria de medo dos outros garotos na escola, ninguém acreditaria que ele me agrediu.
- Eu quero muito voltar lá e bater nele até ficar irreconhecível. – rosnei.
- Também quero, mas é melhor esquecer esse idiota e focar na gente. – ela me beijou.
- Não vou esquecer isso tão cedo, .
- Não precisa esquecer. – ela sorriu carinhosa – É só não fazer igual.

Não dava para acreditar que seis meses tinham se passado desde que peguei o número “falso” de . Eu tinha a mulher perfeita ao meu lado e fazia questão de deixar que ela soubesse o quão incrível ela é. Pouquíssimas brigas que na maior parte eram discussõezinhas bobas, sexo no carro ou em qualquer lugar que tivéssemos vontade, nada de frescuras entre nós dois, porém faltava algo.
Quem diria que a garota que surgiu por causa de uma aposta, ainda estava comigo. Meus amigos podiam ser os maiores idiotas do mundo, mas essa foi à melhor coisa que eles já fizeram por mim. Seis meses e ainda falávamos para os outros que estávamos apenas tendo algo, mas eu queria mais que do isso, queria poder chamá-la de minha, minha namorada. Queria que fosse um pedido especial, e nenhum lugar era melhor para fazer esse pedido do que no exato lugar onde tudo começou.
Pela primeira vez eu estava me arriscando. Havia grandes chances de ela recusar, afinal, nós nunca tínhamos dito um para o outro que nos amávamos, exceto eu nas vezes em que me declarava para ela enquanto ela estava dormindo ao meu lado.
Fiquei o dia todo sem dar notícias para ela e ignorei todas as suas mensagens. Pedi que suas amigas a levassem para o bar e não falassem que era um pedido meu, e também não contei para elas nada do que tinha em mente para aquela noite. Queria que fosse perfeita, mas para isso precisava que somente eu soubesse de todos os detalhes.
Pensei em fazer algo grande, que parasse todo o bar, mas odiava ser o centro das atenções e era bem provável que ela dissesse ‘sim’ apenas porque estava sendo assistida.
Pedi para que alguma delas me avisassem quando já tivessem chegado e para que não me procurassem. Sentei com meus amigos em uma parte escura do bar e eles podiam perceber que eu estava ansioso para algo, mas neguei todas as vezes que eles perguntaram o que eu tinha.
“Já chegamos. Estamos em uma mesa perto da saída. Ela está muito brava com você, o que você aprontou? ” Tiffany me enviou.
Eu já imaginava que ela ficaria um pouco brava comigo, afinal, ela mandou várias e várias mensagens perguntando se tinha acontecido algo até que lá pelas seis da tarde ela desistiu de entrar em contato. Talvez ela fosse recusar meu pedido por estar brava, mas esse era um risco que eu precisava correr.
Menti para os meus amigos que ia pedir mais uma rodada de cerveja e fui até a mesa delas. estava sentada olhando para o celular e apenas assentindo para algo que falavam para ela. Sua cara não estava das melhores, ela parecia bastante irritada com algo e comecei a ficar com medo de que meu plano fosse dar errado.
- Boa noite, moças. – falei olhando diretamente para ela que apenas me olhou de um jeito superior, mas um pouco surpresa – Meus amigos apostaram comigo que eu não conseguiria namorar alguém tão linda, inteligente e maravilhosa como você, mas eu resolvi arriscar. – falei envergonhado e ouvi suas amigas falarem ‘own’ com vozinhas apaixonadas. Pelo menos ela eu tinha conquistado.
- Sério? – ela arqueou a sobrancelha e cruzou os braços.
- Na verdade eles não apostaram, só que eu venho esperando por alguns meses o momento perfeito para dizer para você que te amo. – cocei a nuca.
- Hum. – ela mordeu o lábio.
- E então? – perguntei nervoso.
Uma voz idiota ficava o tempo todo dizendo na minha cabeça que ela não ia aceitar e eu estava começando a acreditar.
- A gente pode conversar lá fora? – ela perguntou e eu assenti.
- ... – Tiffany a chamou.
- Nós já voltamos. – ela se levantou brava e começou a se enfiar no meio das pessoas.
- O quão brava ela está comigo? – olhei para elas nervoso.
- Em uma escala de um a dez? – Ava perguntou – Onze. – ela disse sem graça.
Eu precisava admitir que estava começando a dar muito errado. Caminhei em direção a saída do bar e a encontrei encostada em uma placa de sinalização.
- ...
- Por que você me ignorou hoje o dia todo? – ela me olhou magoada.
- Eu fiquei com medo de meio que te fazer perceber que eu estava escondendo algo. – falei nervoso.
- Mas eu fiquei preocupada, . – ela veio até mim – Pensei que tinha acontecido alguma coisa com você.
- Se tivesse acontecido algo, você seria a primeira pessoa que eu pediria para avisarem. – segurei seu rosto – Eu sinto muito por ter te deixado preocupada, eu só queria que fosse o pedido perfeito.
- Desculpa por ter estragado. – ela disse sem graça.
- Você estragaria se tivesse recusado vir hoje. – coloquei seu cabelo atrás da orelha.
- Eu quase não vim. – ela deu uma risadinha – Queria ficar em casa esperando que você aparecesse, porque se você não fizesse isso eu ia até a sua casa.
- Preciso agradecer a elas por terem te convencido.
- Sabe... Eu não sou maravilhosa. – ela me olhou envergonhada – Posso até ser inteligente e bonitinha às vezes, mas não sou maravilhosa.
- Para mim você é. – sorri – Para mim você é a mulher mais incrível do mundo, , e eu quero estar ao seu lado todos os dias para te mostrar isso.
- Você realmente me ama? – ela perguntou com as bochechas coradas e eu assenti.
- Eu acho que te amo desde a primeira vez que te vi, e eu sei que você não acredita em amor à primeira vista, mas é a verdade. – confessei – Faz meses que eu venho esperando o momento certo para te dizer isso, mas eu fiquei com medo de você não sentir o mesmo por mim.
- E por que você acha que eu não sentiria? – ela riu.
- Sei lá. – dei de ombros – Talvez você achasse que eu não sou suficiente para você e que tudo não passava de sexo e um pouco de carinho.
- Nunca foi só sexo para mim, . – ela disse séria – O que nós dois temos, eu nunca tive com mais ninguém. Eu não consigo imaginar a minha vida sem você. – ela confessou – Eu levei mais tempo que você, mas faz um mês inteirinho que eu venho esperando você me pedir em namoro. – ela deu uma risadinha – Eu te amo, . Pode não ter sido à primeira vista, mas você sem querer me fez ficar perdidamente apaixonada.
- Então você aceita namorar comigo? – sussurrei contra os seus lábios.
- E você teve alguma dúvida de que eu não iria aceitar? – ela sorriu apaixonada.



Fim



Nota da autora: (29.11.2016) Espero do fundo do meu coração que vocês gostem dessa história e me perdoem pelas cenas de sexo caso elas tenham ficado meio bléh, é meio traumatizante escrever esse tipo de cena sabendo que sua melhor amiga da qual você vê pessoalmente vai ler a história e quem sabe te imaginar escrevendo aquilo, hahaha
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Nota da beta: Esse pp é tão gentil, todo preocupado se ela aceitaria namorar ele. E a história da aposta? Matei-me de rir aqui enquanto betava, o começo de um relacionamento completamente longe do clichê que nós estamos acostumados a ver. Eu amei demais rs!
Enfim, eu já te disse uma vez e não me canso de repetir que suas fanfics são as melhores. Eu as amo, e essa não seria diferente. Parabéns, Jamile, e que nesse próximo novo ano eu possa betar mais um monte de fanfics suas <3





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