Finalizada em: 30/12/2020

Capítulo Único

— Eu realmente odeio os sinos de Natal. — murmuro ao passar em frente a igreja matriz de Greenway Valley.
Como em toda semana de Natal, os flocos brancos de neve caíam tranquilamente sobre os habitantes da pequena cidade inglesa.
Pessoas passavam com sacolas e embrulhos gigantescos enquanto eu apenas procurava pelo meu melhor amigo naquela manhã tumultuada.
Por que eu odeio tanto os sinos de Natal?
Antes de mais nada, meu nome é Carol, e eu nasci no tão fatídico dia, no feriado mundial, no dia que supostamente deve nos trazer as melhores lembranças, muito amor, carinho e toda aquela merda. Sim, eu nasci na noite de Natal. Absorva bem essa informação.
Deu pra entender o meu nome agora, né?
Minha mãe, como uma boa apaixonada pela época, me deu o melhor nome de todos: Carol..., como uma homenagem à "canção dos sinos natalinos".
— Carol! — Zayn exclamou chamando minha atenção e eu me virei para dar de cara com suas covinhas e seu enorme sorriso.
— Z... — sorri singela entre seu mini abraço. — O que vai fazer hoje?
— Minha mãe quer que eu compre um daqueles bolos de Natal como sempre... — revirou os olhos. — Me acompanha?
Assenti, já que claramente não tinha coisa melhor pra fazer.
Ok, vocês talvez devem achar que sou uma infeliz arrogante que odeia o Natal.
Eu só não gosto da sensação que a época me traz.
Se pensou algo tipo, "como assim, ela é louca!", vou explicar melhor.
No Natal passado eu estava na merda. Bem na merda.
Simplificando as coisas eu quase morri e passei por um transplante de coração. Sim, eles jogaram fora minha parte mais singular, e a substituíram por outra qualquer.
A partir daí tudo mudou.
Zayn sempre foi meu melhor amigo desde a época da escola. Depois que eu fiquei doente ele tem sido minha fortaleza. Ele me obriga a caminhar e a comer vários vegetais, coisa que eu odeio.
— Espere aqui, vou entrar na fila. — avisou assim que entramos na enorme confeitaria da cidade.
Enquanto esperava, encarei a neve que cobria os bancos da pequena praça ali fora.
De longe podia ouvir o coral da igreja cantando, eu diria que pela sexta vez, Carol of the Bells.
Fiz uma careta involuntária e pensei no quão bêbada eu estaria se eu tomasse um shot pra cada vez que essa música tocasse.
Foi quando, ao olhar para um dos bancos, um rapaz tirava seu casaco gigante e se sentava.
Num frio daqueles, como ele conseguia?
Ainda encarava o moreno pela porta de vidro quando meu amigo voltou.
— Pronto... Mais um Natal com esse delicioso bolo de damasco com rum! — comentou irônico e eu voltei meu olhar em sua direção. — O que tanto olhava?
— Tem um maluco na praça sem casaco. — dei de ombros entrelaçando nossos braços ao sair.
Zayn pareceu confuso e olhando novamente, percebi que o homem não estava mais lá.
— Esquece, ele deve ter ido embora.
— Ou congelado até a morte! — dei um tapa em seu ombro rindo.
— Bobo! Agora vamos, tenho que ir pra loja agora a tarde.
...
— Ai querida, eu não consigo me decidir! Qual você mais gosta? — Donna pediu minha opinião e me segurei para não fazer uma expressão de nojo.
Sinceramente aqueles presépios não eram dos melhores da loja, isso porque em um as peças brilhavam em neon no escuro, e no outro o pobrezinho do menino Jesus parecia ter sofrido um acidente de trânsito.
— Olha Donna, dessa vez não vou poder te ajudar, os dois são perfeitos! — lábia de vendedora on. — Por que não leva os dois e reveza a decoração?
Minha mãe com certeza ficaria orgulhosa.
— Acho que é o que eu vou fazer! — a senhora respondeu alegre e eu a encaminhei até o caixa.
— Boas festas Donna! — despedi-me e a acompanhei até a porta.
Assim que ela atravessou a rua, portanto, pude ver aquele mesmo rapaz com pouco casaco em meio a neve.
Curiosa, dei uma olhada do lado de dentro para conferir se minha mãe estava cuidando dos clientes e saí abraçando meu corpo pela ventania externa.
Observando-o mais de perto pude perceber seu rosto melhor. Ele tinha uma barba por fazer, a pele clara e bem brilhante, até para um morador de Greenway Valley, um par de olhos verdes marcados e...
Talvez eu tenha olhado demais... Droga Carol, recomponha-se! Ele deve pensar que você é uma sociopata!
— Algum problema Carol? — sua voz era exatamente como eu pensei e seu olhar parecia mais brilhante ao se cruzar com o meu.
Espera, ele sabe meu nome?
— Como sabe meu nome?
Apontou para o meu crachá e só então lembrei que estava na roupa ridícula de elfo.
— Por que não está agasalhado? Como ainda não morreu de frio? — fui direto ao ponto.
— Eu aprecio os extremos. Você não consegue sentir o frio com tudo isso de casacos... E pelo. — completou com uma risadinha.
Ótimo, eu já não aguentava mais aquele trabalho com aquela roupa e agora até um estranho vai me lembrar disso.
Eu estava pronta para dar uma resposta ignorante quando ele foi mais rápido.
— Ei, o que acha de darmos uma volta?
— Você está me chamando pra sair?
Assentiu.
— Agora?
Assentiu de novo.
— Mas eu mal sei seu nome e estou no meio do expediente!
— Meu nome é Harry, e eu sei que você é a Carol, muito prazer! — estendeu a mão.
De certo modo, ele era muito sorridente e transmitia tranquilidade.
Além do mais ele não é de se jogar fora, parece simpático e gosta de passar frio, o que poderia dar errado?
— Agora eu estou no trabalho, daqui a uma hora encerro meu turno… Se você tiver paciência pra esperar.
— Certo, eu espero. — sorriu pra mim.

— Onde estamos indo? Eu só quero sentar e comer meu duplo cheddar… — resmunguei enquanto Harry me arrastava pelas ruas de Greenway Valley. Eu reclamei que estava com fome no meio do caminho e ele me esperou enquanto eu comprava um combo no Burger King.
— É essa coisa que vai te matar e não cinco minutos de caminhada… — comentou e eu revirei os olhos teatralmente. — De qualquer forma… Chegamos! — girou mostrando a paisagem.
Demorei pra absorver o cenário.
Aquele lugar fazia eu me arrepender de todas as vezes que amaldiçoei o Natal. Era um pequeno bosque, com alguns banquinhos de madeira e muitas luzes natalinas que iluminavam o pôr do sol.
— Uau… Eu até iria reclamar e te chamar de Zayn pelo sermão mas… Nossa! Que incrível!
Nos sentamos em um dos bancos e Harry ficou cantarolando algumas canções natalinas enquanto eu comia.
— Então… Quem é Zayn? — perguntou assim que eu terminei meu lanche.
— Ele é meu amigo. Meu melhor amigo na verdade… Ele vive me enchendo o saco pra comer verduras e legumes, inclusive se ele souber que eu sequer passei em frente a um BK eu tô morta! — expliquei com um sorriso mínimo no canto dos lábios.
— Ele parece ser um bom amigo. Posso perguntar por que você parece não gostar muito da vida saudável? — seus olhos fitaram os meus e respirei fundo antes de decidir explicar tudo.
— Eu normalmente não conto isso pras pessoas porque elas começam a me tratar diferente, porém surpreendentemente me sinto confortável com você e eu mal te conheço! Isso não é estranho? — ele tocou suavemente minha mão e me acalmei um pouco para contar. — No Natal passado eu quase morri. Eu fiz um transplante de coração e… Eu não sei, tudo parece tão distante. É como se eu estivesse sonâmbula e não sei como acordar. — finalizei encarando o chão.
— Ei! Tá tudo bem… — tocou meu rosto e com delicadeza encarou meu peito como se pedisse permissão. Eu não entendia o porquê de estar tão familiarizada com ele em apenas um dia, mas concordei.
Lentamente, Harry pousou a palma da mão entre meus seios, curiosamente bem em cima da minha cicatriz, protegida por várias camadas de roupa no momento. Nossos olhares se prenderam um no outro por alguns segundos, pensei que ele faria algo mas apenas se afastou.
— Eu preciso ir agora, Carol.
— Espera! — droga Carol, gritou como uma desesperada. — Eu ao menos tenho seu telefone… — contornei a situação.
— Eu não tenho um. — ergueu os ombros e eu evitei minha careta. Quem em pleno século vinte e um não tem um celular ou um telefone fixo? — Eu sei o que está pensando… Eu não estou mentindo. Mas passo em frente à loja amanhã, tudo bem?
— Tudo bem… Eu espero por você. — levantou-se do banco sorrindo de lado.
— Cuide bem do seu amigo Zayn. — disse antes de partir e uma incógnita girou pela minha cabeça.
Mal sabia eu que Harry desapareceria por dois dias inteiros.
Já era a manhã da véspera de Natal.
Minha mãe só fazia perguntar do meu desânimo, e Zayn… Bem, talvez eu tenha mandado ele se foder quando ele disse que nunca ouviu falar de Harry, e que provavelmente ele tinha me dado um bolo de qualquer forma.
Eu o esperei em frente a loja nos outros dias, perguntei se alguém havia visto um rapaz alto, sem casaco pelas ruas, mas não cheguei a nenhuma resposta.
Foi então que naquela manhã, sentada em frente ao meu notebook e quase desistindo, decidi fazer uso da tecnologia e pesquisei no Google: "Harry Greenway Valley”. O nome dele era comum, mas numa cidade daquele tamanho os resultados precisavam ser úteis.
A única coisa que eu não esperava era ver o meu Harry num site de reportagens com milhões de visualizações.

"24 de Dezembro de 2019, Greenway Valley
Caminhão perde controle e causa trágico acidente de trânsito, no portal da cidade.
Infelizmente um pedestre que passava por ali, Harry Styles, 26, não resistiu e acabou morrendo no local.
Seus órgãos foram doados ao hospital…"

E então tudo parecia fazer sentido.
Fui tomada de uma emoção tão forte que instantaneamente comecei a chorar.
Harry não era real.
Todos os momentos que passamos juntos, não foi real.
Subitamente um choque percorreu meu corpo, saindo do coração e só aí decidi encarar o passado mais uma vez.
Folheando os documentos da minha cirurgia lá estava o nome do meu doador: Harry Styles.
Voltei a chorar, sem saber se chorava por tristeza de não ter conhecido Harry melhor, ou de alegria por ter recebido um sinal.
Um sinal de que eu ganhei uma segunda chance naquele Natal graças àquele rapaz, e não iria decepcioná-lo.
— Agora eu entendo Harry… — sussurrei tocando meu coração e por um segundo ele estava lá, sorrindo pra mim. — Vou cuidar do seu coração.



Fim.



Nota da autora: Olá! Minha primeira história publicada aqui! Essa One Shot foi inspirada no filme Uma Segunda Chance para Amar. Ah gente eu chorei pra caramba assistindo e não pude perder a oportunidade de adaptar. Somente o plot principal é tirado do filme, Zayn e as circunstâncias não tem nenhuma ligação com a obra original. Feliz Natal atrasadinho pra todo mundo que deu uma chance a história da Carol! Espero que tenham gostado desse conto singelo, e que possamos aproveitar as segundas chances!



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Para saber se a história tem atualização pendente, clique aqui


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