Aquela floresta outrora foi um lugar de peregrinação e fé, onde muitos iam dar graças aos objetivos alcançados durante o ano. A capela era viva, respirava. Era um lugar de culto, sagrado e místico. Não mais. Agora era nada além de uma construção em ruínas guardada por um monstro imperfeito. Ele.
Único dos seus, último de sua linhagem, esquecido naquele lugar que desabava sem poder partir e sem ter mais desejo de ficar.
Ele não tinha escolha, pois esta não lhe pertencia, estava nas mãos de um humano, um humano que tivesse uma alma bondosa o bastante para dar-lhe sua liberdade. Um humano iluminado pelas divindades do mundo.
Não tinha esperanças sobre isso, por mais de décadas não havia mais nenhum deles por perto, o mundo tinha mudado e aquele lugar sagrado foi perdido no esquecimento desse mundo novo. E ele estava preso em seu próprio corpo e naquela terra, sem poder ir para longe e sem querer ficar.
Ele era escravo da ruína ao redor e desejoso de uma liberdade impossível. Estava condenado, e nem ao menos podia lamentar. Era um monstro, dos mais antigos e teria que continuar vivendo naquela condição por que sua salvação era um sonho distante nessa era surpreendente. Suho era uma gárgula, e assim ficaria até o fim do mundo...
Por que a única coisa que poderia libertá-lo era um humano puro de coração que chamasse por seu nome? Mas quem naquela era, conheceria seu nome original?

E ele chama por mim...

Lay queria esganar seu chefe, simples assim, porque não acreditava que tinha sido enviado para aquele fim do mundo, no coração da floresta velha, só para encontrar aquela tal planta rara que ele buscava como se sua vida dependesse disso.
Quem foi que disse que teria uma delas ali? Ele não acreditava, nem um pouco. A tal planta não iria ser tão boazinha e surgir a sua frente para facilitar a sua vida... Não, com certeza seu chefe só queria se ver livre dele naquele natal. Simples assim.
Todo ano era a mesma coisa, “Lay, seu lerdo, vai para casa, vai comemorar, pare de trabalhar!”.
Como se ele fosse realmente voltar para seu lar natal algum dia, tinha sido expulso de lá, condenado por sua opção sexual, nunca voltaria. Ele era quem era e não ia mudar por pessoa nenhuma no mundo, jamais. Preferiria viver para o trabalho, porque ao menos nele, ele era respeitado por ser quem era, mesmo que fosse apenas um pesquisador júnior de medicina alternativa. Não importava, no laboratório, ele se sentia livre, se sentia realizado e feliz.
Respirou fundo, arrumou a mochila pesada em suas costas e sorriu tentando incentivar a si mesmo. Procuraria por toda aquela montanha, se no fim do dia não achasse, paciência, tiraria algumas fotos provando que esteve ali e voltaria para casa. Simples e prático. Havia um yakisoba gelado lhe esperando na geladeira do seu minúsculo apartamento, seria um pecado desperdiçar.
“Triphyophyllum Peltatum, se eu te encontrar por um milagre, Kris terá que me pagar uma semana de almoço, assim, facilite minha vida e apareça!”
Pensou, rindo de si mesmo, porque claro que ia encontrar um Peltatum dando mole por ali, claro que sim...
A primeira coisa que denunciou que algo de estranho e atípico acontecia, foram os sons de uma voz doce alcançar seus ouvidos.
Seu peito, envolto em uma capa grossa de pedra, mas que ainda assim batia lento e vivo debaixo daquele casulo diurno, disparou em frenesi.
Era um humano. Ele não se lembrava mais da face daqueles seres, nem do cheiro, mas se lembrava claramente do som das vozes, e da língua que falavam. Um humano vinha até ele, um humano que falava consigo mesmo em um tom animado.
Suho não podia expressar em seu rosto monstruoso de gárgula, sua surpresa ou assombro, mas por dentro, ele estremecia de curiosidade. Esteve por tantos anos sozinho naquela terra esquecida que só de ouvir algo que não fosse as vozes da floresta em si, já o deixava trêmulo. Um humano... Criaturas divergentes e muito das quais interessantes de observar, um humano... Há quantos anos não apreciava a visão de um deles atravessar seus olhos aprisionados?
Eram tão frágeis, tão misteriosos, tão diferentes, de tantos tipos, cores, línguas, uma das criaturas mais belas em sua opinião e um deles, finalmente vinha para ele.
Se pudesse sorrir naquele momento, faria, mas infelizmente, apenas pôde observar em sua prisão de pedra e em seus olhos fixos, ele vir até sua linha de visão meio que aos tropeços, enquanto carregava uma grande sacola nas costas.
Ele era lindo, alvo, esguio, de olhos negros formosos e de sorriso gentil. Parecia cansado e se ele pudesse se mover agora, levaria aquele ser belo, até o poço atrás da capela, contudo, infelizmente dependia da noite para se movimentar, assim, apenas ficou ali, tentando influenciá-lo com sua mente enferrujada para que circulasse a construção que se desfragmentava, e então, pudesse encontrar a fonte de água fresca. Não obteve êxito. Estava de fato sem prática e fraco. Suspirou internamente.
– Eu estou ficando velho... Como essa montanha pode acabar comigo assim? Acho que Kris tem razão, eu deveria fazer mais trabalho de campo...
Suho viu ele olhar ao redor e então arregalou os olhos ao se deparar com sua figura imensa.
Ele sabia qual a imagem que tinha em seu corpo de pedra. Dois metros de assustadora forma bestial, lapidada nos ínfimos detalhes para que fosse o mais verossímil possível, era um guardião dos humanos, um vigia noturno, protetor dos homens servente aos deuses, servo dos anjos e escravo do sol. Era uma criatura mística, nem vivo, nem morto, entre o mundo real e o mundo mágico, último dos guardiões da magia encantada daquela floresta velha. Ele era um imortal cansado, cansado de esperar sua liberdade, ele queria apenas ganhar o direito de envelhecer e morrer, já tinha cumprido seu propósito, aquele templo já não era mais um templo, já não era mais coisa alguma, ele queria poder partir, mas quem chamaria por seu nome...? Seu nome já estava há muito tempo esquecido na mente humana.
Assistiu o pequeno humano vir até ele e tocar um de seus braços com surpresa curiosa. Suho fechou seus olhos, embora externamente não fizesse o movimento. Ser tocado era um dos prazeres a que mais valorizava, por ser simplesmente raro e nos últimos séculos. Ele não sabia precisar o tempo exatamente, foi apenas inexistente.
Quem tocaria uma gárgula horrenda? E quando ele tomava a forma humana, não havia humanos por perto, era noite, hora de repouso e ele nunca poderia se afastar dali por muito tempo, ou definharia e agonizaria, sem claro, óbvio, morrer.
E o humano continuou a tocá-lo como se estivesse enfeitiçado por sua presença. Ele podia sentir que dentro daquela casca de pedra acinzentada, havia uma criatura viva? Ele poderia sentir? Ou seria apenas curiosidade mundana? Sua aparência deveria e sempre foi para assustar, nunca enfeitiçar, quem era aquele mortal? Por que seu toque o deixava fraco, desesperado por mais? Por que seus dedos o percorriam tão lentamente? E por que o sol não partia logo para que ele pudesse tocar no outro também? Ele desejava o humano como nunca desejou nada no mundo até agora... Como aquilo podia acontecer?
Lay não acreditava que no meio daquele nada, na entrada de uma construção em ruínas, fosse se deparar com uma gárgula tão perfeita e em estado tão bom de conservação.
Ele era um amante de esculturas, sempre as amou desde garoto, mas nunca podia tocá-las nos museus, nunca. Até agora.
Não estava em museu, estava em uma terra perdida, ali ele podia fazer o que sempre desejou e nunca pôde. Apreciar a beleza de uma estátua tão bem lapidada. Quem foi ao artesão? Por que era tão real? Lindo em sua feiura grotesca. Parecia de fato uma criatura assustadora que poderia criar vida sobre seus dedos, era impressionante.
– Vamos, Lay, você tem um trabalho a fazer, não pode ficar aqui... Mesmo querendo muito.
Disse a si mesmo, sem, no entanto, abandonar aquela criatura perfeita. Ele tocou seu rosto e quase podia sentir a gárgula respirar... Sorriu, sua mente era tão fértil...
Por fim, suspirou e se afastou hesitante. Precisava encontrar aquela planta...
Olhou mais uma vez ao redor e sorriu de si mesmo. Um botânico naturalista, vegetariano, atrás de uma planta carnívora rara... Tão irônico...
– Venha para mim, Peltatum, vamos, bebê, apareça e facilite a minha vida, sim?
Resmungou suspirando. Por que aquela planta teimosa só não brotava na sua frente?
– Peltatum, Peltatum, venha para mim, Peltatum, Peltatum, não seja assim!
Cantarolou meio brincando, meio resmungando, começando a caminhar de volta para a floresta mesmo que se sentisse quase triste por isso... Queria a gárgula, queria ficar com ela... E não abandoná-la ali, perfeito e rodeado por pedras em ruínas que não faziam jus a sua beleza...
Então uma mão segurou seu braço e ele congelou. Havia mais alguém naquele lugar...? Impossível.
Ele se voltou amedrontado para a pessoa que tinha seu braço sobre os dedos e sentiu que tudo girava em segundos. Ali, ao seu lado, a gárgula tomava vida, era apenas uma escultura de pedra imensa segurando seu braço. Mas os olhos... Os olhos eram vivos e o encaravam atordoados.
– Você me chamou... Chamou meu nome... Quem é você, além de ser tão belo como os elfos? Quem é o meu salvador?
Lay sabia que estava prestes a desmaiar, assim apenas sussurrou seu nome para a criatura, antes de cair para a escuridão. Podia estar louco, mas seria sempre um louco educado.
Suho segurou o pequeno humano sorrindo por ele ser tão delicado. Seu humano... Aquele homem tinha libertado sua existência e agora precisava que apenas a noite reinasse nos céus para que ele tomasse sua forma humana pela última vez. Nunca mais seria pedra de novo, nunca mais ficaria aprisionado e inerte enquanto outras criaturas aproveitavam a luz do dia, ele agora era mortal, poderia ir aonde quisesse, aonde seus pés o levasse, estava livre... Livre graças aquele humano. Como poderia agradecer?
Lay... Aquele era seu nome. O que aquele humano desejaria? O que Suho poderia fazer por ele para ao menos saldar um fragmento da sua dívida?
Carregou o corpo suave até a cripta abaixo da capela que mantinha em bom estado para que a usasse nas noites mais frias. Ali, uma cama de pele era um dos únicos luxos que se permitiu manter e sobre ela colocou o jovem humano com cuidado. Voltou para fora e pegou as coisas estranhas que ele carregava, aquela sacola era pesada... Como ele a carregava sem se ferir?
Voltou para o lado do belo humano e sorriu. Qual seria o desejo daquele homem? Ele se sentia tão feliz que realizaria qualquer coisa que outro lhe pedisse... Qual quer coisa.
Lay se sentia quente e excitado. Como aquilo já tinha se tornado comum, a primeira coisa em que pensou era que de fato estava sozinho por muito tempo e precisava urgentemente de um namorado, por que não era do tipo de ter relacionamentos fúteis e a verdade era que encontrar um homem para compromisso sério estava difícil, logo passava boa parte lidando sozinho com os próprios desejos.
Assim, só imaginou, com a mente ainda envolta pelo sono, que aquele era apenas mais um dos seus típicos sonhos eróticos que tinha se tornado frequentes nos últimos tempos. Mãos tocavam seu corpo e por onde passava, deixavam um rastro de lava que o consumia. Ele queria tirar as roupas e sentir as mãos em sua pele nua, mas não conseguia pensar com racionalidade, porque o prazer ofuscava suas ações e suas mãos apenas garravam as cobertas quentes abaixo de si. Então, seus desejos foram atendidos e ele sentiu aquelas mãos macias e quentes tirar suas roupas com uma lentidão desesperadora.
Ele gemeu frustrado... As mãos se tornaram mais rápidas, ele sorriu.
Logo estava sem nada que o aprisionasse e tinha as mãos sobre si da maneira que queria, até que uma boca pecaminosa começou a participar também daquela tortura deliciosa em seu corpo. A boca desceu pela lateral do seu corpo, enquanto as mãos arranhavam suas pernas e seus quadris. Então a boca alcançou seu membro, já desesperado por ela e abocanhou tudo com uma fome desconhecida. Lay mordeu os próprios lábios para não gritar. Estava se superando, seus sonhos nunca eram tão bons daquele jeito.
E então a pequena parte da sua mente racional foi mandada para o espaço, quando a boca passou a se movimentar intensa, quase furiosa por seu membro tirando gemidos roucos e gritos impossíveis de conseguir controlar. Ele se tornou um insano em busca daquele estranho e maravilhoso prazer desconhecido. Era o melhor sexo oral da sua vida e sabia que era apenas um sonho... Queria gritar de frustação, mas sentia prazer demais para se preocupar com aquele detalhe.
Então sentiu dedos em sua entrada e gemeu por mais, como um alucinado, se movia, se abria mais para o intruso e gemia coisas que nem tinha noção do que era. Mas que sabiam ser obscenas, porque jamais falaria daquela forma se estivesse acordado.
– Por favor... Eu quero, não, eu preciso, por favor...
E a boca o abandonou para que o corpo pesado o invadisse. Senhor, ele era grande, muito grande.
Sentiu-se ser invadido lentamente, quase dividido ao meio e ainda assim, era ensandecidamente bom, do tipo que se fosse real, provavelmente não andaria por uma semana, mas de novo, quem estava preocupado com detalhes? Era tudo um sonho, um sonho assustadoramente real e erótico, mas um sonho, apenas.
E ele foi penetrado, fundo, forte, intenso, como implorava para ser e então os movimentos passaram a ser ora rápidos, ora lentos, alternando em fazê-lo gritar, pedir, implorar até que se reduzisse a uma massa de sensações sem controle buscando o prazer como buscava o ar.
Quando finalmente alcançou o orgasmo, e o alcançou, sem mais nenhum estímulo além daquele macho grande dentro de si, foi tão violento que sentiu que se estivesse em qualquer outra posição que não fosse aquela em que não precisava se movimentar, teria desmaiado. O corpo acima de si o seguiu em segundos, o penetrando uma última vez tão fundo que tirou mais um gemido seu, rouco, estremecido. Estava com um deus do sexo. Quando tinha refinado seus sonhos eróticos daquela forma?
– Isso é delicioso, como vivi tanto tempo sem isso?
Oi?
Lay saiu da letargia em choque. Um homem o cobria, tipo, um homem real, de verdade. Não era um sonho. E quando o tipo se ergueu o suficiente para que ele visse seu rosto a luz de velas... Sim, porque estavam em um quarto escuro iluminado por alguns velas grossas que davam um ar mais misterioso a tudo aquilo, e bem... O homem era divinamente lindo, maravilhoso, sexy e desorientador. Teve o melhor sexo da sua vida, meio dormindo com um estranho? Podia ficar mais louco? Sim, claro que podia, ele tinha agido como um ninfomaníaco. Senhor Amado... O que tinha acontecido?

E eu me entrego a ele

Suho olhou para os olhos do humano aflito, atordoado e ainda com resquícios de prazer. Lambeu os lábios se sentindo ainda muito quente e maravilhosamente atraído por aquele ser esguio.
Já tinha voltado a sua forma humana algum tempo, e esperava ao seu súbito salvador despertar, quando ouviu palavras desconexas e viu as mãos do mesmo percorrer seu corpo aflito.
Ele se dispôs a ajudá-lo ao que fosse que o perturbava e então, tudo saiu do controle quando seu próprio corpo tomou as rédeas de suas ações e passou a realizar o que a voz do outro pedia.
Agora se sentia fascinado. Fascinado por seu corpo reagir ao do outro com tanta força e paixão, fascinado pelas respostas deliciosas do mais alto, fascinado em como eles se encaixavam perfeitamente.
Ele se sentia mortal, agora, contudo, sabia que ainda tinha um pouco dos poderes que recebera ao ser enviado para aquele mundo... E de posse ainda deles, soube que tinha se vinculado aquele humano, tinha acabado de fazer, inconscientemente.
Aquele humano era seu... Mas como explicar ao dono daqueles olhos atordoados e dóceis? Como explicar que ele acabara de tomar posse do seu coração, até então, aprisionado por séculos e séculos em um corpo de pedra?
Assistiu, ainda fascinado, já que era o sentimento maior que o dominava, ele, tentar sair de perto do seu corpo, em busca de suas roupas. Suho não permitiu. Deitou mais uma vez sobre ele e sussurrou em eu ouvido.
– Não há roupas agora, sinto muito, Elsien, eu as rasguei.
– C-como... Por que... Quem você é?
Ele tremia e gaguejava, Suho achou lindo essa forma confusa do outro.
Sorriu para si mesmo, tudo o que ele fazia o interessava, então era aquilo que a ligação fazia aos seres da sua espécie? Ele estava bem com isso, gostava do sentimento.
– Meu nome comum é Suho, mas meu nome original é Peltatum, você me chamou pelo meu nome original e me libertou de minha forma de pedra diurna, me libertou do meu aprisionamento a essa terra, e eu sou eternamente grato a você por essa graça. Te trouxe aqui porque as noites nessa época são muito frias... Está tudo bem? – Suho notou que confirme falava, ele arregalava ainda mais os olhos. No fim, parecia pálido e assustado. Suho apenas cercou o corpo esguio com seus braços e o cariciou com cuidado, não queria machucar aquela pele alva e tão bonita. – Não fique assustado, eu jamais te machucaria, você agora é minha vida. Eu vou protegê-lo até morte.
Lay não conseguia pensar direito com aquele corpo esculpido sobre o seu.
O cheiro dele era a coisa mais deliciosa que já sentiu e seu corpo respondia como um desesperado, tinha acabado de ter sexo intenso e já queria de novo...
Entretanto, seu ouvido continuava em excelente funcionamento e as palavras do outro repercutiam em seu cérebro brutalmente assombrosas.
A gárgula tomando vida e o tocando. Foi real... Ele era a gárgula?
Olhou atentamente para aqueles olhos e viu que sim, por mais absurdo que fosse, por mais insano que parecesse, aquele deus lindo e sexy, nu sobre seu corpo que só faltava rastejar por mais do outro, aquele homem era... A sua gárgula bestial e grotescamente perfeita.
Se sentiu fraco, sem ar, indefeso abaixo dele e ainda assim loucamente feliz pelas palavras do outro. Professar de forma tão séria e profunda, quase em tom rouco e pecador. “Você agora é minha vida. Eu vou protegê-lo até morte”.
Aquele era seu presente de natal? A realização dos seus desejos mais obscuros e silenciosos? Tão internalizados que nunca sequer parou para analisá-los? Estava tão sedento por companhia dessa forma que ganhara dos céus um exemplar magnífico de todos os seus desejos mais obscenos? Talvez.
Mas sempre foi um cientista que acreditava no impossível, no irreal. Kris o perturbava por isso, mas ali, naquele porão de pedra escuro, no meio do nada, na escuridão de uma floresta antiga, ali ele sabia que tudo era real.
– Isso, tranquilize seu coração. Eu vou mantê-lo seguro.
O outro continuou dizendo ao seu ouvido.
Lay rolou os olhos, droga, estava sem controle, sabia, mas não queria, por tudo o que fosse mais sagrado, ele não queria parar a si mesmo. Ele queria mais daquele homem, ele queria tudo, mesmo que no dia seguinte ele voltasse a ser gárgula.
Mas então, seu corpo deu o ar da graça e sua natureza humana o forçou a voltar para a realidade. Ele riu, saindo de cima de si e se sentando na beirada da estreita cama.
– Você está com fome, desculpe-me, Elsien, eu vou caçar para você...
– Eu não como carne.
Sussurrou também, se sentando sobre as peles. Notou que o lugar era relativamente espaçoso e limpo. E o que ele disse era verdade, suas roupas estavam em tiras ao redor da cama. Mas sua mochila, graças aos céus, estava ali. E como o corpo do outro não tão perto, ele começou a sentir o frio, que deveria ser intenso do lado de fora. Será que já nevava?
O tal Suho se levantou, foi até um pequeno baú e tirou de lá outra pele que trouxe para si, o cobrindo por inteiro. Lay adorou o gesto silencioso do outro. Era de certa forma, fofo.
– Vou buscar folhas e frutas então. Só fique aqui e durma mais um pouco se quiser...
– Eu tenho barras de cerais na bolsa, fiquei tranquilo.
– O que são barras de cerais?
Ele o olhou curioso e Lay sorriu, senhor! Aquele homem viveu ali até hoje... De repente, quis bater em si mesmo, é claro que viveu seu idiota, ele não conhecia nada do mundo moderno... Sorriu.
– São grãos prensados em um bloquinho que é fácil de carregar para comer. Nada tão elaborado perto de outras coisas, mas mata a fome.
– Carne mata a fome... Por que não come carne, Elsien?
– Não gosto – e deu de ombros, realmente nunca gostara de carne na vida, fazer o quê. – O que significa Elsien?
– Significa minha vida, em língua mágica. Você me libertou e eu pretendia agradecer e fazer o que pudesse para você antes de te ajudar a voltar para casa, mas agora... Agora meu corpo se ligou ao seu, e minha alma à sua, não posso mais me afastar de você, Lay, agora se tornou meu Elsien... Isso o assusta?
Lay encarou aqueles olhos misteriosos e mordeu seu lábio inferior sabendo que estava para fazer a maior loucura da sua vida... Contudo, o que era racional ou não?
Quem podia julgá-lo? Ele nunca mudaria por ninguém, aquele era seu lema de vida e o outro era que deveria agarrar as boas coisas da vida, que inclusive, eram raras nas mãos, antes que outro fizesse em seu lugar, não importava se aquele homem não soubesse o que era barra de cereais, ou que fosse gárgula, ou que fosse invenção da sua mente, ele desejava o ser da mesma forma, e ele queria ser a vida de outro, porque nunca foi nada para ninguém até ali, e se sentia muito necessitado daquilo.
Necessitado de afeto, de necessidade de outro, de calor humano, mesmo que este não fosse. Se os deuses resolveram presenteá-lo daquela forma, por que julgaria ou negaria? Seria idiota. Seria loucura, muito mais loucura do que se negar ao impossível.
– Suho... Esse é seu nome comum?
Perguntou sem desviar os olhos daqueles negros graciosos e curiosos. Ele assentiu.
– Eu gosto de como soa em sua voz, tem uma voz tão bonita e doce...
Ele falou voltando para perto de si e tocando seu pescoço com delicadeza. Lay fechou os olhos e pendeu a cabeça para o lado para receber o carinho gostoso. Era tão bom... Era tão certo.
– E eu gosto de como sua pele toca a minha, é bom.
– Eu tocarei a sua pele sempre que desejar, é só pedir... Mas agora precisa comer.
E Lay evitou fazer um bico quando ele se afastou colocando roupas de couro sobre sua pele para obviamente sair. Era rente a pele branca como uma segunda pele, era sexy e perturbador, meu Deus... Lay ia ter problemas, pois aquele homem era muito excitante para sua paz de espírito.
– Você também não está com fome? Ou não come?
O outro riu.
– Sim, eu sinto fome como você, mas como carne. Não se preocupe, Elsien, coma suas barras de cereais até eu voltar, e não saia daqui, já está nevando lá fora.
– Mas... Você vai sair na neve? – perguntou preocupado, o outro riu baixo.
– Não se preocupe, eu sou muito resistente.
E ele subiu as escadas de pedra estreitas e Lay suspirou.
Tinha um namorado... Havia ganhado um namorado extremamente gostoso de natal! Kris ia morrer de inveja...

Um ano depois...

Lay foi acordado como sempre pela boca do outro em seu corpo.
Deveria ter se acostumado, mas nunca se acostumaria... Porque Suho era muito talentoso em inovar. E ele era totalmente fraco diante do namorado, ou marido, ele não precisava rotular, afinal aquele ser que trouxera vida, cor e intensidade a sua existência, passava muito tempo junto dele, com ele, em sua casa, em sua vida, em todos os seus momentos. Ele também tinha se transformado em seu Elsien.
– Bom dia, amor.
Suho sussurrou em seu ouvido antes de terminar de despi-lo.
Foi uma batalha fazê-lo à apenas o despir ao invés de rasgar suas roupas, porque o ex gárgula, gostava de tê-lo nu o máximo que podia e a fora rasgar suas roupas, Lay não tinha problema algum com aquilo.
Já se habituara a ficar seminu pela casa, mas estava frio noite passada, assim optara por dormir vestido. Óbvio que Suho ia despi-lo, porque era seu passatempo preferido, depois de fazê-lo gemer, é claro.
O menor gostava de sua voz, assim fazia com que ele sempre estivesse falando, gemendo, ecoando pelas paredes do pequeno apartamento. Mas de novo, Lay não tinha nenhuma reclamação. Nenhuma mesmo...
Sentiu o outro descer a boca por seu corpo e ansiou pelo prazer que Suho era capaz de fazê-lo sentir, aquele homem o deixava louco, o transformara em um viciado por sexo que não conseguia ficar um dia sem tê-lo dentro de si... Lay era escravo daquele macho exigente, mas jamais reclamaria. Nunca, porque nunca foi tão feliz, nunca...
– Ahhh! Mais Elsien, mais...
Gemeu quando Suho o tomou pela boca de forma quase profana. Aquela criatura um dia ia matá-lo, ele sabia. Lay já sentia que ia começar a perder a mente quando o seu celular tocou.
– Vou quebrar essa coisa.
Suho resmungou ainda com seu membro na boca causando ainda mais estremecimento em seu corpo. Lay gemeu de novo, mas teve de atender, fazia parte do seu trabalho. Era seu chefe.
– Kris... Falou entre ofegos, seu chefe resmungou do outro lado da linha.
– Mas que droga, Lay, toda vez que preciso te ligar, você está gemendo. Um dia eu vou socar você por me fazer passar vontade, seu idiota.
Lay riu.
Kris era um homem sexualmente muito ativo, tinha mais amantes do que podia dar conta, mas nunca estava satisfeito. E simplesmente odiava ver que Lay estava feliz com um único homem, aliás, Suho era muito territorial, então não era como se ele ousasse sequer pensar na hipótese de outro, o que não aconteceria, lógico, porque depois de trazê-lo para casa um ano antes, teve a certeza que foi sua melhor escolha. Nada se comparava ao amor que o outro lhe dava, nada, entretanto, mesmo ele nunca nem pensando em olhar para outro, só em sair na rua com seu Elsien, já era um sinal vermelho para os demais. Uma vez um homem esbarrou nele sem querer e Suho, ao seu lado, só faltou arrancar a cabeça do estranho fora. Suho era forte, muito forte, embora fosse menor que ele.
Talvez seu chefe precisasse de um Elsien em sua vida, sorriu.
– Desculpe, Kris, mas é que você tem um time impressionante e... Suho...
Gemeu desesperado quando o outro invadiu seu corpo com a língua, enquanto substituía a boca em seu membro com a mão forte e exigente. Lay respirou fundo, Kris resmungou seu longo repertório de palavrões...
– Que seja, olha, só estou avisando que vou precisar ficar for por uns dias, vou visitar a minha avó, assim, seja racional e saia um pouco dessa maldita cama e vá verificar se tudo está bem no laboratório até eu voltar, entendeu?
– Sim... Claro. Tudo vai ficar certinho... Mesmo... Suho, droga! Me fode logo, pelo amor de Deus!
– Lay seu maldito... Um dia vou me vingar!
E Kris desligou o telefone, enquanto Lay imediatamente ignorou a explosão do chefe e se perdeu nas sensações que seu Elsien causava em si.
E Suho fez, como sempre, o que ele tinha pedido fazendo Lay se sentir nas nuvens, afinal, tinha o homem mais perfeito na sua cama e na sua vida, o que podia desejar mais?

Nota da autora: (08.03.15) Sem Nota.