CAPÍTULOS: [CAPÍTULO ÚNICO]





Christmas Miracle






Capítulo Único


01, novembro, 2015 – 04H32 AM.

- Doces ou travessuras?
O sorriso cheio de segundas intenções no rosto do calouro da Universidade de Stanford fez querer lhe empurrar naquela piscina às suas costas, que nesse momento parecia tão propícia para jovens bêbados tarados.
No entanto, cometer um assassinato em seu segundo ano na faculdade não parecia uma boa ideia. Seu futuro currículo para o hospital de Johns Hopkins certamente não carregaria um bom título para uma psicóloga com antecedentes criminais...
- Um chute nisso que tem no meio das pernas. É valido?
O loiro típico de olhos azuis gargalhou e fez uma careta simulando dor.
- Tem quem queira...
- Bom pra você. Vá atrás delas então. – Um sorriso sarcástico escapou por seus lábios e ela passou depressa, não deixando de esbarrar com força em seu ombro, ouvindo um belo xingamento destinado a si.
E ela estava muito preocupada em ser odiada pelo novo favorito de Standford. Oh, é claro.
só queria encontrar o maldito do seu namorado, que havia feito o favor de desaparecer junto de sua fraternidade imbecil de engenharia.
A maldita música eletrônica cheia de onomatopeias ambulantes fazia sua caixa torácica vibrar como um consolo dos mais baratos que se encontram em sexshops de quinta categoria. E isso a deixou ainda mais irritada.
- Tyler! – gritou, ao avistar um dos amigos de . O prodígio estudante de engenharia havia muito provavelmente trocado a quantidade de sangue em suas veias por puro e exorbitante álcool, tamanha era sua confusão ao tentar reconhecer a garota à sua frente. Ela rolou os olhos, bufando resignada. Tinha de servir. – Você viu o meu namorado irresponsável?
- Ah... – entreabriu os lábios, enquanto tentava pensar. Seu estado vegetativo provavelmente o impedia de fazer tal genialidade. – Da última vez que o vi, estava com as mãos espertas dentro da saia daquela loira maravilhosa do quarto ano!
cruzou os braços e ergueu uma das sobrancelhas. Como havia achado que podia confiar num dos amigos idiotas de nem que fosse por um segundo? Ainda mais quando seu teor alcoólico era provavelmente mais alto do que um ser humano responsável comum é capaz de aguentar sem que desmaie por longas, longas horas.
A ideia da piscina não lhe parecia tão ruim agora...
Ela estreitou os lábios e riu de si mesma, dando tapinhas no ombro do outro.
- Você é ridículo, Tyler. E não vai passar do quarto semestre...
Ele cerrou os olhos, tentando compreender as intenções das palavras da mulher à sua frente. Mas era tão complicado. A ruiva gostosa atrás da namorada de também não colaborava com a situação, já que fazia questão de olhá-lo como se o quisesse tanto quanto ele a queria.
- Tudo bem... – Franziu o cenho, em dúvida.
rolou os olhos novamente e apressou os passos até o próximo ambiente da festa. Algumas teias de aranha falsas embrenharam em seus cabelos e ela as arrancou da parede sem qualquer sentimento de arrependimento. Um dos estudantes de enfermagem lhe atirou uma injeção com sangue falso e a garota jurou esfolar sua cara nos antigos e clássicos tijolos se Standford quando o visse cruzando os corredores da Universidade como se fosse o mais estudioso dos alunos. Babaca.
- Mas que merda, seu filho da mãe! – Estendeu o dedo do meio, como se aquilo fosse realmente ofendê-lo.
Ela respirou fundo, tentando manter o que restava de sua paciência e ergueu o corpo, ficando na ponta dos sapatos, tendo uma visão ampla do local.
Encontrou o que queria.
Da pior forma que gostaria.
Uma morena cheia de curvas - com uma fantasia absurdamente justa e curta com referência ao exercito - tinha o cotovelo apoiado no ombro do seu namorado, enquanto sorria descaradamente para o rapaz – que parecia rir de sua tentativa falha de sedução.
também riu, balançando a cabeça em clara negação. A Universidade era para ser a melhor época de sua vida, não era? Essa frase nunca fizera sentido, afinal.
Com passos lentos e cansados a garota caminhou até a cena digna de um pornô desqualificado. A soldada safada seduzindo o Capitão América.
usava uma camiseta com a estampa do escudo do Capitão América, e acreditava que aquela fantasia já era o suficiente para a festa de Halloween das fraternidades de sua faculdade.
- Ei, Capitão – disse, cutucando suas costas com o dedo indicador.
A morena lhe lançou um olhar mortífero e sua reação só foi gargalhar, incrédula. Definitivamente a qualidade do público que participava daquelas festas havia despencado desde o ano passado.
- Você não está vendo que estou com ele?!
Ah.
A piscina ainda estava lá, não estava?
- Na verdade, Lessa...
Haviam trocado nomes. trincou o maxilar e deixou as mãos cruzadas atrás de seus quadris, inspirando e espirando. Ela não era uma namorada ciumenta, mas não tinha sangue de barata para aguentar aquela... Garota.
- Está com ela, ?
- Amor... – disse, virando-se para encará-la com um sorriso sarcástico e bêbado figurando seu rosto. – Lessa, essa é , minha namorada. E acho melhor você procurar outro...
Antes que o rapaz terminasse a frase, a morena bonita balançou a cabeça e sorriu de modo desafiador antes de sair, analisando de cima abaixo, como quem iria mata-la enquanto dormia. A garota jurou que seu corpo inteiro tremeu de medo. É claro.
Seu acompanhante colocou as mãos nos bolsos, rindo da pose não abalada da soldada ao marchar para outra vítima. Ele olhou para a mulher à frente e a vislumbrou.
- Pra que esses olhos tão grandes?! – brincou, remetendo ao conto e à fantasia de Chapeuzinho Vermelho da namorada.
- Se eu fosse você ficava quieto...
- Para, minha chapeuzinho. Estava te procurando! – apontou, com o dedo em riste. Ela assentiu, sorrindo sarcástica enquanto olhava para os lados. Não sabia como se conseguia procurar alguém enquanto bebia e conversava com uma estudante provocante.
- Só vamos embora, ok?
- Mas ainda é cedo, !
- Claro que é. Tenho certeza de que dá tempo de levar os pães para o café da manhã.
- Viu porque não ficamos juntos nas festas? Você fica insuportável!
- Você me deixou sozinha conversando com aquela imbecil da Cindy! – exclamou, levando as mãos à cintura. rolou os olhos, dando um gole na bebida em seu copo. – Aquela garota precisa urgentemente de uma terapia. Sabe, todos os assuntos do mundo não se resumem a ela...
- Oh, sim. Da próxima vez que eu vê-la vou falar para passar no seu dormitório, psicóloga .
A garota mordeu o lábio e assentiu, passando uma das mãos brevemente nos olhos, espantando os resquícios de lágrimas contidas ali. Odiava quando ele a tratava assim.
Ainda mais porque nos últimos meses havia sido tratada dessa forma por ele.
- Se alguém aqui precisa de uma consulta é você, senhor -dupla-personalidade.
Ele riu sem demonstrar humor, colocando o copo que carregava num dos degraus da escada ao seu lado.
- Você quer ir embora? Vamos embora. – Buscou sua mão, mas ela logo fez questão de escondê-la. As coisas não funcionavam assim. Ele bufou irritado e procurou as chaves de seu carro nos bolsos, com certa dificuldade.
- Como quer dirigir assim? Está bêbado!
- Não estou! – gritou, gesticulando assiduamente com as mãos. franziu o cenho, estranhando sua reação completamente distinta. Distinta do que conheceu, e não do rapaz que agora lhe parecia tão distante daquele. – Noventa por cento dessa festa mal consegue ficar em pé. Não estou nem tonto, se quer saber.
- Não preciso querer saber. Estou vendo, seu grosso.
- Amor da minha vida, minha pequena e doce , - juntou as palmas das mãos, levando-as à frente de seus lábios, que carregavam um sorriso falsamente carinhoso – só vamos logo, tudo bem?
inspirou fundo e assentiu, saindo na frente com passadas apressadas. Precisava sair dali o mais rápido possível, para então poder deitar em seu dormitório e chorar o quanto pudesse. Relembrar de quando era o homem que sempre idealizou. O homem que lhe mostrou o que é, e o quão profundo podia ser o amor.
O homem que conheceu antes de entrar na concorrida Universidade de Standford e sofrer uma terrível lavagem cerebral.
Outro bêbado esbarrou em si e quando ia afastá-lo, fez o trabalho em seu lugar, olhando-o feio.
- Está tudo bem. Vamos.
O rapaz assentiu brevemente e segurou sua mão, mostrando a todos que aquela não estava sozinha. fez uma careta, odiava quando ele vestia a personalidade de macho-alfa. Ela já era grandinha e sabia se defender muito bem sozinha, assim como havia feito anteriormente, quando havia sido abandonada naquela festa com uma loira egocêntrica.
O carro do namorado finalmente pôde ser visto por seus olhos e ela suspirou aliviada.
Chega de Halloween.

observou as casas daquele bairro convencional enquanto dirigia calado todo o percurso desde que haviam entrado naquele carro. O silêncio a incomodava profundamente, ainda mais porque as viagens que faziam ali sempre eram recheadas de risadas, música alta na rádio e um interrompendo o outro para disputarem quem conseguia ter mais assunto. O empate era certeiro.
Uma dúvida preencheu seus pensamentos e ela mordeu a ponta da unha do dedo polegar, respirando fundo antes de criar coragem para questioná-lo.
- Você ficaria com aquela garota se eu não tivesse chegado ou estivesse lá?
sorriu sarcástico encarando a estrada vazia naquela noite de sábado. Como ela podia ter dito aquilo? Seu relacionamento definitivamente não estava na melhor fase, mas ele jamais seria capaz de traí-la.
Ou, pelo menos, era o que preferia pensar.
- Não vou nem me dar ao trabalho de responder essa pergunta...
- Eu não te reconheço mais! Quando está com aqueles idiotas dos seus amigos você se torna alguém completamente diferente, e sabe disso!
- Isso é mentira! Só dou atenção para eles... Assim como você dá atenção à psicologia.
- É o meu sonho, seu egoísta! – Bateu uma das mãos contra o porta-luvas, sentindo a garganta secar e a conhecida vontade de chorar se apossar de seu corpo. – E é o que você deveria fazer também. Amo ir à festas, . Mas não todos os finais de semana!
- É a nossa juventude, ! Já temos 22 anos, se não o fizermos agora, quando faremos?!
- Você definitivamente não entende o que falo! Qual é o seu problema?
- Qual é o seu problema?!
E antes que fosse capaz de responder à altura, uma buzina ao lado direito do carro soou e um clarão os cegou. segurou o volante como se a sua vida dependesse daquilo – e, literalmente, dependia – tentou girá-lo na direção oposta, contudo, foi inútil. O grito desesperado de sua namorada foi a última coisa que conseguiu ouvir, antes do completo choque do outro carro contra o seu, e, consequentemente, o escuro tomar seus olhos.


13, junho, 2011 – 00H57 AM.

- É chato, não é?
Uma voz feminina disse ao meu lado esquerdo e virei o rosto para encará-la, logo após dar a ultima tragada em meu cigarro. Uma garota... Ela era linda. Seu rosto estava levemente corado pelo excesso de bebida e seus olhos semicerrados, provavelmente irritados pela luz das lâmpadas nas laterais do fumódromo na boate. Um sorriso divertido e ligeiramente alcoolizado repuxou seus lábios, deixando-os ainda mais atraentes.
E então percebi que, antes da minha pequena pausa para observá-la, ela havia dito algo.
- Desculpa... – Franzi o cenho, sorrindo do modo mais simpático que conseguia no momento.
- Ficar aqui, enquanto os amigos se divertem... – Ela riu, dando os ombros, sem muita preocupação. – Vou confessar, não consigo parar de pensar que se descobrem que falsifiquei meu RG para entrar aqui...
Eu ri, assentindo e me virando para encarar a garota.
- Me avise se eles estiverem por perto, então, porque eu também fiz isso.
A desconhecida bonita escancarou a boca de um modo que me fez rir mais alto. Ela me encarou de cima abaixo e tive que fazer o mesmo. O que estava errado?
- Você também não tem vinte e um?! – sussurrou de forma exagerada, arregalando os olhos. Quê olhos...
- Não! – arregalei os olhos também, enquanto continuava a rir. – Dezoito. Culpado.
- Você é de que mês?
- Fevereiro, por quê? E você?
- Você é mais velho do que eu então por... – olhou para as mãos, enumerando nos dedos. – Quatro meses! E que bom que não é capricorniano. Dizem que capricornianos são... Chatos.
- Sou aquariano. – estendi as palmas das mãos, em sinal de inocência. Nisso, pelo menos, eu era inocente.
- Aquarianos são bons. – Ela sorriu carinhosa e se aproximou. Contudo, a direção de sua visão passou do meu rosto para minha mão que carregava o prodígio de cigarro que tinha nas mãos. – Mas você não deveria fumar... Faz mal.
- Tudo bem, senhora agente de saúde. – Joguei o que restava do cigarro no lixo à minha frente e ela sorriu orgulhosa. – Mas bebida também faz...
A garota entortou os lábios, fazendo uma careta resignada. A culpada dessa vez era ela. Eu sorri.
- É meu aniversário e não passei para a faculdade que queria. Meus amigos me trouxeram pra cá e não consigo me divertir tanto quanto deveria...
- Oh... – murmurei. Isso era difícil. Eu também estava tentando entrar na Universidade e aparentemente meus esforços diários não eram o suficiente. – Entendo isso. Meus amigos também estão se divertindo bastante... – ri, olhando para o interior da boate por alguns segundos. – E, feliz aniversário! – Gesticulei com as mãos, sorrindo confuso. Eu podia falar isso, não era?
- Ah, muito obrigada. – Suas bochechas tomaram um tom mais rosado, e dessa vez acho que não era pela bebida. – . – Ela estendeu o braço, me entregando sua mão. Sorri, assentindo e segurando-a. Ela era realmente muito linda.
- . Muito prazer.


01, novembro, 2015 – 14H23 PM.

As luzes brancas e arredondadas estampadas no teto do quarto do Standford Health Care o cegaram brevemente quando o rapaz abriu os olhos, num suspiro de vida. Ele tentou virar o rosto para analisar o local, no entanto, não conseguiu. Uma tipoia em seu pescoço o impedia de tal feito. A cabeça doía e o corpo parecia ter sido atropelado por um caminhão.
O que havia acontecido?
fechou os olhos por alguns segundos e então o choque de realidade apareceu em sua memória. A festa de Halloween. Mais uma briga. Um carro vindo à direção do seu, ao lado de ... .
Onde estava ?
Ele se esticou em sua cama e apertou o botão da enfermaria. Ninguém apareceu nos próximos cinco segundos e o homem tornou à apertá-lo. Nada. Outra vez. Assiduamente.
Um médico e uma enfermeira finalmente adentraram no ambiente e ele tentou se sentar, mas foi impossível. O médico lhe estendeu a palma da mão, num pedido mudo para que ele não se movesse.
- Como está se sentindo?
- Onde está a ?
- , você fraturou algumas costelas e teve poucas luxações, mas...
- Onde. Está. A. ?! – sibilou, já perdendo a paciência. O coração apertava e pulava em seu peito e ele tinha certeza de que não era pelo acidente.
O doutor olhou para a enfermeira ao seu lado e inspirou fundo, dando alguns passos em sua direção. engoliu em seco e sentiu a respiração acelerar, a temperatura do corpo cair bruscamente e um arrepio tomar seus membros.
- Onde está a minha namorada, doutor? – sua voz saíra mais fraca do que se lembrava em muito tempo. Seus olhos embaçaram-se pelas lágrimas contidas e então o homem à sua frente entreabriu os lábios.
- estava sem cinto de segurança. O carro veio em sua direção ela sofreu algumas fraturas. Uma de suas costelas perfurou o pulmão e seu corpo foi arremessado pelo vidro frontal...
sentiu quando uma lágrima escorreu por sua face, e isso foi a única coisa que sentiu pelos próximos segundos. Seu corpo estava anestesiado. Toda aquela ladainha médica estava o deixando ainda mais apreensivo. o chamaria de impaciente e ele riria. Mas não estava ali para fazer analises psicológicas de seu estado, porque tinha seu estado clinico descrito pelo médico que agora estava à frente de seu namorado tão temeroso.
- Você pode, por favor, me dizer se ela vai sobreviver?
O doutor suspirou pesadamente.
- Ainda é difícil dizer, . Ela está na Unidade de Terapia Intensiva, e estamos fazendo o possível... Seu corpo está aguentando bravamente. Ela é nova, saudável, e está lutando.
Sua grande guerreira em corpo de menina. desviou o olhar do médico e deixou que as lágrimas caíssem sem interrupção. Ela ia sobreviver. Ela tinha que sobreviver!
não podia deixá-lo ali, quatro anos depois de ter entrado em sua vida e formado moradia em seu coração, sem sequer uma despedida digna ou ouvir um pedido sincero de desculpas sobre ele ter sido o pior namorado de todos durante um ano e alguns meses, quando entrou para Standford, e consequentemente, para a fraternidade de engenharia.
Se ela... Se ela ousasse abandoná-lo, ele não saberia o que seria de sua existência. Havia sido sua culpa. Tinha a vida da pessoa que mais amava no mundo nas mãos, e havia a colocado aos olhos de um destino traiçoeiro. havia pedido para ele não dirigisse embriagado... E então e ele o fez. A desafiou, desafiou as leis e aos próprios valores.
Um vazio machucou seu peito assim que o médico saiu de seu quarto, alegando que voltaria em breve para trazer mais notícias. Seus olhos se fecharam sem que notasse e sua cabeça se apoiou nos confortáveis travesseiros da cama.
precisava sobreviver.
Ou então ela o levaria consigo.


25, outubro, 2011 – 18H40 PM.

- Eu sou muito boba por chorar nesse filme, não sou? – questionou, enquanto saíamos da sala de cinema. Seus olhos derramavam algumas lágrimas, e sua risada alta me confundia sobre suas emoções. E ela só conseguia ficar ainda mais linda daquela forma.
Hoje seria um grande dia e aquela situação só fez com que todo o nervosismo aumentasse. Eu já... a amava? Talvez. Fazia somente quatro meses que a conhecia, mas quatro intensos meses. Ela era provavelmente a garota mais inteligente, atraente, engraçada e companheira que eu já havia conhecido.
- Depende do ponto de vista... – brinquei, vendo-a me olhar erguendo uma das sobrancelhas. – Se você é mulher, vai chorar...
Seus lábios se entreabriram em incredulidade e eu ri, me preparando para o tapa que receberia nos ombros. Alguns segundos se demoraram e então sua mão estalou contra minha pele. Ela odiava quando eu a tratava como macho-alfa. E eu amava quando ela se irritava daquela forma.
- Isso é tão machista! – Cruzou os braços, rolando os olhos. Continuei rindo. - Não é porque sou mulher que tenho que chorar com tudo. E não é porque você é homem que tem que ser um babaca insensível – retrucou e eu assenti, colocando as mãos para trás. Ela me analisou por um pequeno espaço de tempo com os olhos semicerrados e eu travei os lábios, segurando o riso. Outro tapa estalou em meu ombro quando ela pareceu entender o real ponto. – É brincadeira, não é? – Mordi o lábio e a encarei, assentindo. Ela começou a rir e eu a acompanhei. O som de sua risada era música para meus ouvidos.
- Sei o quanto defende o feminismo, amor. Pode ficar tranquila – disse, e a vi corar ao ouvir o apelido carinhoso. – E aquele ator, hein? Você não o acha muito parecido comigo?
- O Chris Evans?! – zombou, e me fiz de ofendido. – Ah, por favor... Você é muito melhor do que ele. – Abanou o ar e então eu pude gargalhar com vontade, puxando-a para um abraço apertado. – Você gostou do filme?
- É bom. – Dei os ombros, indiferente. – Qual é o meu número? – remeti ao filme que havíamos assistido, Qual Seu Número?, e ela riu, abraçando minha cintura enquanto andávamos.
- Três. – Sorri satisfeito, olhando para frente, aproximando-a ainda mais de mim, através do meu braço enlaçado ao seu ombro. – E para você, qual é o meu número, senhor--fodedor?
Arregalei os olhos e a olhei, ela ria alto, como a mais inocente das humanas.
- Cinco.
- Então você só esteve com duas pessoas além de mim? – assenti, estalando os lábios. – É um bom número. Cinco... Ímpar. Simbólico.
- Concordo plenamente – disse, enquanto saíamos do cinema. O vendedor de rosas estava no mesmo local de costume e agradeci por isso. – Espera um minuto – pedi, deixando com uma feição confusa.
Caminhei até o vendedor e pedi por todas as rosas que estavam em sua mão. Eram dez no total. Quando voltei a olhar para a minha garota, ela já havia visto a surpresa em minhas mãos e sorriu, levando as mãos aos olhos, fingindo tapá-los. Rolei os olhos e me aproximei. Ela destampou o rosto e mordeu o lábio, me dando um beijo rápido.
- Viu? Chris Evans não chega aos seus pés... Aposto que ele nunca comprou flores para sua garota enquanto saíam do cinema! – riu, aceitando minhas rosas.
- Você é minha garota, então?
Uma pausa se estendeu pelos próximos momentos e então ela fez uma careta, que só complementou o rubor de suas bochechas.
- Não queira me deixar com vergonha, .
- Não estou. – Meu sorriso se fechou um pouco, e pigarreei, tentando usar o melhor tom sério que conseguia. – Eu quero que seja minha garota. – Respirei fundo, sentindo minhas mãos suarem. – , você quer namorar comigo?
O sorriso no rosto dela fez com que todo o nervosismo valesse a pena. Seus olhos arregalaram-se num primeiro momento, seguido de um entreabrir de lábios, e então um sorriso carinhoso e surpreso.
- Ainda se pedem em namoro hoje em dia? – disse, e quem fez uma careta fui eu. E tenho certeza de que minhas bochechas tomaram um tom avermelhado, também.
- ...
- Estou brincando! – riu alto, passando a colocar os braços em volta do meu pescoço. Ela roçou nossos lábios, ainda com aquele sorriso que, definitivamente, eu amava. – É claro que quero ser sua namorada – sussurrou, subindo o olhar para meus olhos. – Eu te amo.
Sorri verdadeiramente, sentindo o alívio percorrer meu corpo. Levei uma das mãos à sua nuca e embrenhei os dedos em seus cabelos, finalmente juntando nossos lábios.
É.
Eu a amava também.


05, novembro, 2015 – 11H28 AM.

- Grace! – chamou, avistando a mãe de na sala de espera do Hospital. Sua respiração estava ofegante e a boca seca. A sensação de corpo trêmulo e o suor excessivo nas mãos não havia saído de seu corpo desde o dia primeiro. – Vim o mais rápido que consegui. O que aconteceu?
- Fique calmo, ... Você também está machucado. – Ele balançou a cabeça em negação e engoliu em seco, umedecendo os lábios. – O estado de se estabilizou, segundo o médico... – a mulher tinha os olhos inchados e a voz baixa, falha. – Ela continua em coma, mas aparentemente não corre mais risco de vida. – Um pequeno sorriso sem vida ocupou seus lábios e ela viu o exato momento em que o genro se sentou, levando as mãos ao rosto, finalmente respirando aliviado.
sorriu por de trás das mãos e sentiu os olhos encherem-se de lágrimas novamente. Havia chorado mais nesses quatro dias do que durante a vida, podia jurar. não corria mais risco de vida, e isso fazia seu mundo ao menos voltar a se estabilizar. Ainda não chegava nem perto do fim daquele pesadelo, mas já era um passo. Um pequeno e lento passo.
Mas conhecia sua . Sabia do que era capaz. E tinha certeza absoluta de que logo esse passo se tornaria a corrida de uma maratona.


27, novembro, 2013 – 13H19 PM.

- Amor, amor, amor!
entrou em meu quarto como um furacão, e não tive outra reação a não ser rir, com os olhos arregalados. Abaixei a tela do meu notebook e me levantei, caminhando até ela.
- O que aconteceu?!
- Sua mãe abriu a porta para mim. Desculpa pelo susto, mas eu... – desenfreou a falar, interrompendo a si mesma. Continuei rindo, passando a olhar para o celular que ela carregava nas mãos. O que havia acontecido?
Seu sorriso estonteante me contagiou, e quando ela estendeu o celular para que eu pudesse observar a tela mais precisamente, senti um orgulho que não coube em mim. Mordi o lábio, subindo o olhar para o dela.
Minha garota.
Minha futura estudante de psicologia em Standford.

“Querida ,
Parabéns! O comitê de admissão junta-se a mim na parte mais gratificante do meu trabalho! Oferecendo-lhe a admissão à Universidade de Stanford e convidando-a a se juntar à nossa classe de 2014.”

tinha os olhos cheios de lágrima e a única coisa que consegui fazer no momento foi abraça-la com força, erguendo-a do chão. Ela gargalhou, apertando os braços em volta do meu pescoço.
Eu sentia tanto orgulho! O sonho dela era aquele e, finalmente, após três anos tentando assiduamente, havia conseguido. Eu sabia o quanto minha namorada havia batalhado por aquilo. Quantas noites havia passado em claro. Quantas festas com amigos havia recusado. Quantas vezes havia me perdido desculpa por não me dar toda a atenção necessária... Eu não me importava. Estava com ela durante todos esses momentos, ajudando-a com o que estava ao meu alcance, e agora... Seu sorriso. Seu sorriso já havia feito tudo valer a pena.
- Isso é incrível, ! – sorri, distribuindo beijos apressados em seu pescoço. Ela continuava rindo, enquanto afagava meu cabelo. Eu amava aquilo. – Parabéns. Parabéns, parabéns!
- É inacreditável, meu amor!
- Não é inacreditável! – Como ela podia dizer aquilo?! A coloquei no chão, colocando seu rosto entre as mãos, olhando em seus olhos. – Você batalhou arduamente por essa qualificação. Merece mais do que qualquer outra pessoa. Estou tão, tão orgulhoso – sussurrei, depositando um beijo lento em seus lábios. Eu, certamente, não poderia estar mais orgulhoso do que aquilo. em Standford, cursando o que sempre quis...
- Obrigada – sua voz falhou e eu franzi o cenho. Não queria vê-la chorar. Mesmo que fosse de alegria... Não. – Você me ajudou tanto! Eu nem sei como te agradecer...
Balancei a cabeça em negação, observando-a. Eu realmente merecia alguém como aquela mulher?
Fiz uma breve retrospectiva da minha vida e não conseguia encontrar nada tão ruim para que pudesse ser recompensado com .
Nunca havia repetido o ano no colégio, já havia tido uma namorada e havia sido bom para ela, assim como ela havia sido para mim. Tinha uma família bem construída e cheia de amor...
Liv.
A melhor amiga que me obriguei a esquecer assim que saí de seu enterro. Suspirei, abraçando minha namorada. Havia conhecido Liv aos sete anos, a primeira amiga que fiz na escola. E então a perdi nove anos depois, num acidente de carro.
O motivo do inicio do meu vicio em nicotina.
No entanto, a vida havia me recompensado com uma namorada incrível, que se tornava muito mais do que o simples título amoroso. Ela era minha melhor amiga, minha companheira...
- Você me agradece todos os dias, .
A ouvi sorrir alto, passando as mãos em minhas costas, num carinho.
- No próximo trimestre vamos comemorar juntos, em Standford – ela disse, desfazendo nosso abraço, passando a olhar para meu rosto. – Ou acha que vou aguentar aquela Universidade sem você?!
- Não acho que seria capaz, realmente...
riu, batendo em meu peito.
- Esse e-mail será destinado à você, meu futuro engenheiro de Standford.
- É isso mesmo. Soube que em Standford é a faculdade com maior taxa de estudantes atraentes... – inventei, carregando um tom irritado. Ela riu, balançando a cabeça divertidamente.
- Sinal claro de ciúmes e insegurança...
Entreabri o lábios, olhando-a desafiador. Ela já estava me tratando como seu futuro paciente?! A peguei no colo pelos quadris, colocando-a pendurada em meu ombro.
- Hoje não, psicóloga !
Sua gargalhada ecoou pelo ambiente e eu não pude deixar de rir junto, jogando-a em minha cama e colocando-a entre minhas pernas, passando a fazer cócegas em seu corpo.
Standford que a esperasse.
A futura psicóloga teria que esperar. Era hora de ser somente a minha namorada.


16, novembro, 2015 – 10H32 AM.

Nada mais nos longilíneos corredores de Standford parecia fazer sentido. Todos o olhavam como se ele fosse o ultimo órfão dentre as crianças já adotadas. E aquilo o estava incomodando profundamente.
estalou o pescoço, atravessando a ala de medicina da Universidade, deixando os olhos baixos. Tudo o que queria era chegar logo em seu dormitório e tentar dormir por mais de quatro horas, como estava ambientado desde a fatídica noite do acidente.
- !
O rapaz ouviu seu nome ser chamado atrás de si e apertou os olhos, arrependendo-se de não ter andando mais depressa. Ele inspirou fundo e tentou colocar no rosto o sorriso mais convincente que podia. Virou-se devagar, encontrando um dos estudantes de psicologia, colegas de .
- Como está a ? – seu tom era carregado de falsa angustia e notou. Ele sabia que ninguém se importava de verdade.
- Na mesma. – Sorriu sem humor, dando os ombros, enquanto colocavas as mãos nos bolsos da calça jeans. – Ela continua em coma... – o outro entreabriu os lábios para dizer algo, mas ele o interrompeu: – E não. Não há previsão de quando ela acordará. – Deduziu, vendo-o assentir, parecendo não se sentir muito confortável. também não estava.
Estava exausto de pessoas perguntando sobre o estado de saúde de , somente para descargo de consciência. Eles não se importavam realmente. Ou, pelo menos, não o necessário para que viessem questioná-lo.
Ele também não sabia.
Não havia tido sequer alguma melhora em dias, nenhum sinal vital que fosse. parecia ter parado de lutar naquele dia quatro, quando saiu da Unidade de Terapia Intensiva.
Era a história de Liv acontecendo de novo. E isso estava o matando.
- Ela era uma garota tão cheia de vida... – murmurou, torcendo os lábios. riu, mas novamente não havia sequer um pingo de felicidade em seu riso, pelo contrário. Seus olhos passaram a encarar as enormes torres dos prédios de Standford, que lhe pareciam terminantemente mais agradáveis àquela hora. – Deve estar sendo muito difícil para você... Caso queira conversar, temos alunos em níveis avança...
- Não. – O interrompeu, voltando a encará-lo, agora com boa carga de incredulidade em seu olhar. Aquilo era ridículo. – Acho que não preciso de mais psicólogos na minha vida – disse, batendo falsa continência e virando-se de costas, voltando a andar em direção aos dormitórios.
A única psicóloga que poderia lhe ajudar estava em uma cama de Hospital, em coma.
E ela nem precisaria de uma consulta para fazê-lo... Bastava abrir os olhos. E então todo o mundo voltaria a fazer sentido e o chão voltaria a tocar seus pés.


14, maio, 2014 – 01H59 AM.

- Não, olha, olha! Você está olhando?! – me chamou a atenção, enquanto segurava seu quinto shot de tequila. Arregalei os olhos, rindo inconscientemente. Ah, a vida... A vida regada a álcool de festas de Universidade era estupidamente melhor! – Quem é a melhor futura psicóloga de Standford?! – questionou. E, por favor... Quem era melhor do que ela?! Lhe fiz minha melhor cara de “não estou vendo mais ninguém aqui”, e ela virou o quinto shot, satisfeita.
Sua amiga chacoalhou sua cabeça assiduamente e ela gargalhou, arregalando os olhos logo em seguida, me encarando assustada. Por Deus, eu quase havia me esquecido do quão linda ela ficava quando estava bêbada! Suas bochechas rosadas, seus lábios inchados, seu cabelo bagunçado e sua roupa desarrumada... É. Eu queria transar.
E não via problema em que aquilo acontecesse na frente de todos.
Noventa por cento do publico da festa mal se lembraria do nome no dia seguinte... Não era?
Empurrei contra o balcão do bar e ela me sorriu maliciosamente. Ah, minha doce, inteligente, e safada namorada. Aquele pescoço... Ele estava me chamando, não me resta dúvidas. Aquele pedaço tão atrativo de pele, feito exatamente para meus lábios. Assim como todo o resto de seu corpo. Principalmente os lábios. Todos eles.
Ri sozinho e um liquido dourado no copo de shot atrás da minha garota, no balcão, chamou minha atenção. Eu amava Open Bar, com certeza. Virei a bebida sem receio e a maldita tequila queimou minha garganta, fazendo o calor do ambiente só aumentar.
chacoalhou minha cabeça por fim e a tontura quase me fez cair. Foi engraçado. Bem engraçado, na verdade. Até porque a risada em câmera lenta da minha namorada deixou a situação ainda mais hilária.
A alça da blusa dela escorregou pelo seu ombro e pude recuperar a consciência. E quais eram minhas intenções anteriormente. A prensei ainda mais contra o balcão, fazendo-a interromper o riso para soltar um gemido abafado. É. O homem que inventou que bebidas alcoólicas eram broxantes com certeza nunca havia estado com . Graças a Deus.
Seus lábios puxaram o meu inferior; e minhas mãos se espalmaram em sua bunda. Eu amava aquilo. Só não mais do que seus seios... Olhei na direção do meu pedaço favorito de seu corpo e guiei uma das mãos até ele, por baixo de sua blusa. Aquele calor... A maciez. embrenhou os dedos em meus cabelos e me beijou.
Apoiei as mãos no balcão e investi meu quadril contra o dela duas vezes, sentindo o incomodo dos tecidos entre as partes que tanto ansiávamos tocar. Seus lábios se separam dos meus por alguns segundos, para que ela pudesse suspirar e me olhar daquele modo que me fazia querer fodê-la ali, no próximo segundo. Sua boca voltou a encontrar a minha e dessa vez fui eu quem senti. Eu amava aquela língua. Definitivamente, talvez aquela fosse a parte si que mais me deixava feliz. Fosse quando estava na minha boca, ou quando estava no meu p...
- Eu amo essa música! – seus lábios desgrudaram-se do meu sem que eu pudesse recorrer, e seus olhos tomaram um ar inocente que não cabia na situação. Seu sorriso, pelo contrário, me dizia o quanto ela queria tanto aquilo quanto eu...
Maldito DJ.
- Não faz isso... – implorei, com os olhos semicerrados e a voz alterada. Sim. Eu precisava urgentemente de mais álcool se quisesse aguentar aquela noite sem agarrá-la em qualquer canto.
Minha namorada pareceu se animar ao ver meu sofrimento, pois não se demorou a espalmar uma das mãos em meu peito, afastando meu corpo do seu alguns centímetros. O sorriso carregado de segundas intenções continuava ali e minha vontade de sequestra-la para um dos quartos ou banheiros da mansão de um dos alunos de Standford, aumentou.
olhou brevemente para o lado e encontrou uma de suas colegas da fraternidade de psicologia em cima do balcão, enquanto derramava a garrafa de tequila na boca dos calouros. Ergui uma das sobrancelhas, a desafiando.
Ela não faria aquilo.
- Me ajuda! – ela disse, com a voz embolada, enquanto subia num dos bancos. Entreabri os lábios, questionando-a. Talvez não fosse uma boa ideia...
Olhei os calouros e veteranos ao meu lado e dei os ombros. Tudo bem, ela era minha, de qualquer forma.
Ergui sua cintura com cuidado, e ela conseguiu finalmente subir no balcão. Pegou uma garrafa de vodka e a ergueu, como se fosse um troféu. As pessoas ao meu redor gritaram em comemoração
Me afastei um pouco para observá-la e um sorriso orgulho tomou meu rosto, eu tenho certeza.
Aquela era a minha garota, e eu não podia ser mais sortudo.
No próximo trimestre eu também faria parte daquela faculdade, e consequentemente, daquelas festas.
Minha namorada dançava provocante em cima do balcão. A música continuava alta, mas a única coisa que eu conseguia prestar atenção era em sua gargalhada, e no quanto estava feliz.
Me aproximei dela novamente e abri a boca, esperando a dose de vodka. Ela se abaixou brevemente, com certo desequilíbrio, me fazendo segurá-la pelas pernas. riu, derramando o liquido transparente em minha garganta. Engoli com certa dificuldade, fazendo uma careta. Minha garota se levantou depressa, voltando a erguer a garrafa, comemorando sua agilidade.
- , , , !
O coro de alunos se iniciou e ela fez uma pose, beijando o vidro da garrafa.
Minha garota.
Definitivamente, minha.


02, dezembro, 2015 – 00:21.

- A fraternidade de engenharia é mais divertida, não é?
ouviu a voz feminina atrás de si, enquanto observava os veteranos e calouros comemorando o final de mais um trimestre. Ele logo a reconheceu; Belize, uma das melhores amigas de . Um sorriso esforçado estampou seus lábios e enquanto ele dava os ombros, sem muito se importar.
- Acho que nada para mim é divertido, no momento...
Belize sorriu fraco, suspirando. Ela lhe entregou um copo de bebida, e o rapaz assentiu em agradecimento.
- Fui no hospital há dois dias. É tão triste ver a daquele jeito...
O rapaz deu um gole na vodka em seu copo e piscou longamente, levando uma das mãos inquietas para o bolso. Pelo menos as palavras daquela estudante não era fingida como a dos outros, que lhe paravam nos corredores todos os dias para perguntarem sobre o estado de saúde da namorada.
- Ela parece estar... morta – sussurrou mais para si do que para a outra, que abaixou a cabeça por alguns segundos.
- não está morta, . Pense naquilo como um sono profundo, sim?
- E quando é que ela vai acordar, Belize?! – seu tom de voz aumentou e sua expressão corporal se intensificou; a garota notou.
- Hoje. Amanhã. Em meses... Não dá para tentar adivinhar. Uma hora seu corpo estará bom o suficiente para voltar, e então acontecerá. vai superar isso! E você também. Já se passou um mês, e você está aguentando bravamente. Até vir ajudar na nossa festa de fim ano, você veio... – Sorriu.
apoiou o corpo na parede atrás de si, sem realmente encarar a estudante.
- Existem comas que duraram mais de quinze anos... E não adianta, Belize. – Voltou a olhá-la, mas não carregava expressão alguma. – Sua psicologia não vai funcionar comigo.
- Não estou o atendendo, ! Pelo amor de Deus! Você não pode querer afastar todos que tentam te ajudar, sofrer sozinho dói demais. E pode ficar tranquilo, não é a psicóloga Belize que está falando, mas sim, a melhor amiga da . E, acredite, ela jamais gostaria de vê-lo assim...
- Então me diz: o que ela faria no meu lugar? Porque, acredite, – repetiu no mesmo tom que a garota à sua frente – estou há um mês tentando descobrir o que me diria numa situação como essa, e simplesmente não consigo. – Belize percebeu a embargues de sua voz e sua feição se fechou, trocando-a por um semblante triste. - Não consigo...
- Eu também não sei. – Passou as mãos nos próprios braços, a brisa fria da madrugada começava a esfriar seu corpo. E a música alta na pista há alguns metros só a fazia ter certeza de que aquele não era o momento certo para o nível de profundidade que aquela conversa necessitava. – Mas, certamente, mesmo não vendo o que está acontecendo aqui, ela ficaria orgulhosa em vê-lo hoje nos ajudando.
voltou a dar os ombros, resignado.
- Sei o quanto ela ajudava... – se interrompeu, sorrindo sem qualquer resquício de alegria. – Ajuda – corrigiu-se – nessas festas, e como hoje ela não pôde estar presente...
- Os estudantes agradecem. – Apontou, onde os alunos bebiam e dançavam como se não houvesse amanhã.
- Pois é. Acho que é aquilo de “só dar valor ao perder” – confessou, jogando seu copo no lixo próximo. – Eu não estava sendo um bom namorado, ultimamente. Na verdade, acredito que não chegava nem perto do aceitável...
Belize riu, cruzando os braços. Definitivamente, ele não podia estar mais certo.
- Conheci você no ano passado quando entrou em Standford, , e... Me desculpe, mas acho que nunca te vi sendo esse bom namorado que insistia. – O rapaz ergueu as sobrancelhas, rindo da sinceridade dela. – Sejamos sinceros...
- Você tem razão. Acho que mereço o título de pior namorado do ano. Mas eu já fui um cara legal... Acho que é aquilo tudo de novo lugar, novas pessoas... Novas experiências. – Ele abaixou a cabeça, passando a olhar para os tênis, como se fossem muito interessantes.
- sabia disso. – Belize sorriu compreensiva, e subiu o olhar, franzindo o cenho. – Ela sempre me contava sobre as coisas que você fazia para ela, antes de entrar em Standford. O quão carinhoso e divertido era. Eu não acreditava muito nisso... – fez uma careta, e ele voltou a rir, agora mais verdadeiramente. – Mas ela sim. Ela acreditava que tudo não passava de uma fase... Uma longa fase, mas que tudo ficaria bem.
- E ficará, não é?
- Ficará. E então você poderá se redimir e compensá-la. São quatro anos de namoro, ! Quem aguenta ficar tanto tempo assim com alguém?! – brincou, vendo-o sorrir.
Tudo ficaria bem.
Tudo precisava ficar bem.


10, outubro, 2014 – 02h47

- Ele é um babaca! – Tyler disse, enquanto me entregava o isqueiro.
- Da próxima vez que eu cruzar com ele... O rosto daquele desgraçado nunca mais será o mesmo. – Jason ameaçou e eu ri, acendendo meu cigarro.
Eu, definitivamente, amava a minha fraternidade.
- E estamos aqui pra te ajudar, seu filho da mãe – disse, tragando a primeira dose de nicotina. Ah, aquilo sempre me acalmava... Principalmente quando minha querida namorada fazia questão de se trancar em seu dormitório para mais uma noite de estudos. Ah, qual é? É final de semana!
- Quem ele pensa que é para se meter comigo? Ele beijou a minha garota! Na minha frente! Eu vou quebrar o Matthew – reforçou a ideia inicial, e eu assenti, deixando a fumaça do cigarro se desfazer pelo ar.
- Tenho certeza de que hoje ainda ele atravessará o nosso caminho, e se eu fosse ele... Ligaria para o dentista. Não vai sobrar nada – Tyler riu, dando um gole em sua cerveja.
Eu concordava totalmente com aquilo.
Se alguém beijasse na minha frente... Ah. Esse alguém não precisaria ligar para o dentista, mas sim, para a funerária.
- Que bom que sentiu a minha falta, amor.
Ouvi a voz conhecida nas minhas costas e meus amigos rirem à minha frente. Estavam chapados. E, aparentemente, não eram os únicos.
- Ops – murmurei, virando o rosto para encará-la. Era engraçado. Eu estava pensando nela há um minuto. Não estava?
Ela arrancou o cigarro da minha mão e passou para seus próprios lábios. Espera. O quê?
- Não faz isso – repreendi, me levantando.
- chegou para botar ordem, Tyler... – Jason zombou, e eu quis rir. Mas não deveria. Não enquanto minha doce e gentil fumava.
Ela rolou os olhos e tossiu logo após outra tragada. Tirei o cigarro de suas mãos e ela me olhou feio. Foda-se.
- Qual é, ? Vai ser empata? – reclamou, imitando uma voz masculina. Provavelmente a minha... Franzi o cenho, ela não fazia sentido.
prestou atenção em meu rosto por um minuto, e então sua feição se transformou. Merda.
- Está drogado – constatou, e eu pude ouvir meus amigos disserem em uníssono um “uh”. Arregalei os olhos, e a vontade de rir voltou. Porra. Ela ia me matar.
- Não estou, não...
me olhou de um modo decepcionado, e tenho certeza de que pude ver lágrimas em seus olhos brilhantes. Mas ela não podia agir assim! Só havia sido uma vez. E ela havia me trocado pela psicologia... Eu estava certo.
- Parabéns, . Troféu babaca do ano pra você. – Bateu palmas, virando-se de costas e saindo. Suspirei, exausto daquela mesma ladainha dos últimos meses. Eu só estava me divertindo! Era meu primeiro ano em Standford e eu devia aproveitar!
- Deu ruim, hein, ? – Tyler sussurrou e dessa vez eu não quis rir. Pelo contrário.
Estava irritado.
Por que ela se tinha que comportar daquela forma?
- ! – chamei, caminhando depressa até ela. E tenho quase certeza de que minha voz saiu mais lúcida dessa vez.
- Você é ridículo!
- Por que fumei maconha?! – zombei. Todos fumavam!
- Não. Porque é um prodígio de homem que não consegue ter personalidade própria e vai pelo que os outros dizem. Você se tornou um grande babaca desde que chegou em Standford, !
- Não queria que eu estivesse aqui, então?
Oh, as coisas estavam tomando ouro rumo...
- Não tente mudar de assunto alegando um argumento totalmente adverso! Seja mais centrado, quem sabe assim voc...
- Para de me tratar como minha mãe, cacete!
deu um passo para trás diante à minha explosão, mas não se intimidou.
É.
Eu devia conhecer a minha namorada.
- Então pare de agir como uma criança!
Franzi o cenho, incrédulo. Eu não estava agindo como uma criança. Estava sendo o calouro de Standford.
- Por que não volta pro seu quarto, e vai estudar mais um pouco? Eu estava muito bem aqui sem você.
- Você não entende, não é, seu imbecil? Eu só quero o seu bem, mas parece que você não se importa... Então que se foda. – Deu os ombros, sorrindo sarcástica. Ela não poderia estar mais certa: que se foda!
- Não enche a porra do meu saco – sibilei, dando as costas para ela. Ouvi sua surpresa em um ofego e cerrei os punhos, voltando para os meus amigos.
Eles não eram responsáveis durante todo o tempo, pelo menos.
- Caso for dispensar, pode passar pra cá, !
Jason disse, e ao seguir a direção de seu olhar, o encontrei observando a bunda da minha namorada, que caminhava em direção à saída. Ri displicente, balançando a cabeça.
Ele não havia falado aquilo.
E também não havia a olhado como que a quisesse comer na primeira oportunidade que tivesse.
E eu iria quebrar a cara dele.
Trinquei o maxilar, cerrei os punhos e andei em sua direção. Levei meu punho ao seu queixo, erguendo-o. O babaca voou da cadeira, caindo desajeitado no chão.
Ouvi Tyler se afastar, gritando sobre o quanto eu estava sendo ridículo. Foda-se. De novo.
Jason ergueu o rosto, com o queixo apoiado nas mãos. Sua boca sangrava e um sorriso orgulhoso surgiu em meus lábios.
- Era brincadeira, seu desgraçado! – Se levantou. – Mas você acaba de tornar essa briga realidade!
E, no próximo segundo, havia voado contra mim, retrucando o soco que havia lhe dado de forma fenomenal, mas, dessa vez, no meu olho. O empurrei e ele caiu no chão, passei por cima de seu quadril, e lhe dei outro soco, agora na bochecha.
Ouvi a voz de e quando a olhei, num momento de total reflexo, Jason se levantou, chutando minha costela.
- Filho da puta! – xinguei, tentando levantar meu tronco. Acabei recebendo outro soco, agora, sim, na boca. Belo gancho de esquerda.
se aproximou, tentando chutar meu ex-amigo, na vã tentativa de afastá-lo. Finalmente Tyler havia voltado, agora com reforço. Ele e mais um amigo conseguiram tirar Jason de cima de mim, mas eu não estava satisfeito. Corri até ele, no entanto, segurou meu braço com força. Eles tomaram certa distância, caminhando até a saída.
- Para! Chega! – gritou, e eu jamais a havia visto tão enfurecida quanto naquele momento. Ofeguei, franzindo o cenho. – Não é o suficiente por uma noite?! – sua voz estava embargada, e eu finalmente parei de andar, encarando-a. Por que ela ia chorar? Eu estava bem!
É claro que eu já podia sentir meu olho acertado começar a inchar e o sangue da minha boca escorrer pelo queixo. Minhas costelas doíam, mas eu estava bem... O quanto fosse possível, para o momento, pelo menos.
- Não me machuquei tanto, calma...
desviou o olhar do meu, levando as mãos para a nuca, bagunçando os cabelos. Consegui ver uma lágrima brilhar em sua bochecha e juntei as sobrancelhas. A culpa começava a aparecer...
- Bebidas alcóolicas sem qualquer limite, drogas, brigas na Universidade... Qual vai ser a próxima?!
- Não exagera. Eu só estava defendendo a sua honra. – Ela voltou a me encarar, seus olhos beiravam o nível máximo de incredulidade. – Jason havia dit...
- Eu não preciso que defenda a porra da minha honra! – seu tom de voz cresceu algumas oitavas, e eu rolei os olhos. Só precisava de um bom banho e de um remédio... – Deixe que esses babacas falem o que quiserem, olhem o que quiserem! Você não conhece esse tipo?! – Lá vinha a estudante de psicol... – E não me venha dizer algo sobre a porra de psicologia! – avisou. Ops. – E, é, você não conhece, porque está a cada dia mais se tornando um deles! A porra de um veterano de Standford! – exagerou, e quem desviou o olhar do seu dessa vez, fui eu. – Vamos. – A ouvi engolir em seco, passando as palmas das mãos pelos olhos. – Acho que tenho uma maleta de primeiros-socorros no meu dormitório.
- Não precisa di...
estendeu o dedo indicador contra os lábios, pedindo silêncio. Bufei, dando os ombros. Quem podia competir com aquela mulher, afinal?
- Chega de decisões de hoje – ordenou, caminhando à minha frente.
- Não vai nem perguntar se preciso de ajuda para and...
- Cala. A. Porra. Da. Boca.
Mandou pela última vez e eu tive que reclamar mentalmente.
O que eu podia fazer?
Ela estava com a razão.
Dessa vez.


14, dezembro, 2015 – 23h28 PM.

As pessoas caminhavam apressadas pelo Campus de Standford, provavelmente indo para a festa de final da Universidade, antes do recesso de fim de ano. tragava o terceiro cigarro daquele dia, enquanto apoiava o corpo no batente da parede, observando o movimentar dos calouros e veteranos.
Outra festa.
Outra festa sem que participasse, nem que fosse somente para reclamar do comportamento dos abutres de engenharia; como a própria diria, ou para se divertir, assim como agia em oportunidades que fazia questão de guarda-las perfeitamente em sua memória.
Jason passou ao seu lado, cumprimentando-o com um aceno de cabeça e um sorriso fraco. o imitou, enquanto tragava mais nicotina.
Só aquilo era capaz de acalmá-lo agora... Lidar com a falta e a angustia estava se tornando quase insuportável. Doía, literalmente. fechou os olhos por um breve momento, sentindo o torpor do cigarro tomar seu corpo. Há cerca de um ano não sentia aquilo. Desde a catastrófica briga com Jason e a discussão com que ele não levava qualquer tipo de fumo aos lábios. No entanto, havia se tornado impossível não fazê-lo.
Ele precisava daquilo.
E, qual era o problema, afinal? não estava ali para julgá-lo.
não estava ali para lhe dizer o que era certo ou errado.
não estava ali para discutir sobre o quão mal aquilo fazia à saúde.
, simplesmente, não estava ali.
Seus olhos se abriram ao ouvir Tyler lhe perguntar se ele realmente não iria à festa, recebendo somente um balançar negativo de cabeça em resposta. O colega deu dois tapinhas em seu ombro, saindo logo em seguida.
riu sem humor, apagando seu cigarro. Quase conseguia ouvir dizer: “Eu te avisei... Eles não são seus amigos de verdade. Na primeira oportunidade, vão cair fora. Principalmente nos momentos difíceis...”
Ela estava certa. De novo.
Mas quando é que estava errada?
As lágrimas contidas voltaram a embaçar seus olhos e engoliu em seco, erguendo o olhar.
Já era quase Natal.
Os pinheiros ao redor dos dormitórios se iluminavam com pisca-piscas. O campus era todo pintado por vermelho e dourado. E ele só havia se dado conta disso agora.
Para si, o tempo havia parado no Halloween. Mas já havia passado quase dois meses... Dia após dia sua rotina se resumia em se levantar, ir para suas aulas e visitar através do vidro de seu quarto – pois não tinha coragem de passar por a barreira de sua porta, para encontra-la num sono que já durava exatamente 44 dias.
E ele estava cansado de ver seus olhos fechados, seu corpo totalmente inerte e seus lábios sem se moverem, nem que fosse para xingá-lo.
Exausto era o que estava, se fosse sincero consigo mesmo.
cerrou o punho e o levou com força à parede de tijolos ao seu lado, fazendo os ossos de seus dedos trincarem, tamanha à força depositada no soco.
Não havia doído, contudo.
Seu corpo e mente estavam anestesiados há dias.
- Mas que merda, ! – seu tom era carregado de angustia e raiva. Ele encostou a testa à parede fria, fechando os olhos. – Quando é que você vai acordar? – sussurrou, batendo a cabeça contra os pequenos e antigos tijolos da Universidade de Standford.
As lágrimas escorreram por seu rosto e ele apertou os olhos. Estava cansado daquela mesma ladainha dos médicos lhe dizendo que não haviam tido nenhum avanço. Estava cansado de todos o olhando com pena. Estava cansado de sentir pena de si mesmo. Estava cansado de um pesadelo que parecia não ter fim.
Estava, terminantemente, desesperado.
Já era praticamente Natal e não iria participar de sua época favorita do ano.
Ele precisava de um milagre. Urgentemente.
Ou então enlouqueceria.


24, dezembro, 2014 – 20h19 PM.

- Eu não acredito que aquele cachorro maldito puxou todos os pisca-piscas! – disse, enquanto terminava de colocar a estrela logo na ponta do falso pinheiro, em sua sala.
Eu ri, me esticando para ligar o pisca-pisca na tomada atrás da árvore.
- Olha lá, Max, acho que alguém ficará sem ceia hoje à noite... – brinquei, coçando as orelhas do Golden Retriever.
- Não vai, não... – fez careta, esticando a língua destinada a mim. O cachorro derrubava a árvore e quem tinha que arcar com as consequências era eu?! – Foi muito feio o que fez, Max. Que isso não se repita, ouviu, cachorro mau? – colocou o dedo em riste, como se o cachorro realmente a entendesse. E talvez, somente talvez, ela estava certa; pois Max abaixou o focinho, deitando-se em seus pés. Ela riu baixinho, passando a mão em seus pelos. – Está tudo bem.
Sorri, sentando ao seu lado no sofá. esticou as pernas em meu colo. Alguns fogos já eram ouvidos pela janela de seu apartamento.
- É, . Quarto Natal juntos. – comentei, passando as mãos por suas pernas descobertas. A lateral de seu rosto estava encostada no sofá, enquanto um sorriso carinhoso ocupou seus lábios. Por que mulheres amavam quando lembrávamos datas?!
- Mereço o quádruplo de presentes, então... Te aguentar não está sendo uma tarefa fácil ultimamente, senhor fraternidade. – Riu, erguendo o tronco, roçando nossos lábios. Me aproximei dela e levei uma das mãos à sua nuca, puxando-a para um beijo. Ela se afastou brevemente, num selinho rápido.
Ah, é. Pais em casa... Mesmo quando ela já tinha vinte e um anos. Rolei os olhos, olhando a TV à minha frente. O clássico de Natal de Macaulay Culkin em Esqueceram De Mim me fez sorrir nostálgico.
- ?
- Oi? – virei o rosto para encará-la.
somente sorriu com os lábios fechados, se aproximando de mim novamente. Ela passou os dedos pelas laterais dos meus cabelos, num afago carinhoso, e então eu sorri.
- Eu amo o Natal... – disse simplesmente, numa ingenuidade que me fez querer rir. – E amo saber que mesmo depois de um ano tórrido e difícil, continuamos aqui. Nesse mesmo sofá, vendo esse mesmo filme. Me dá a impressão de que nada mudou, desde que tínhamos dezoito anos.
- Mas mudou... – eu disse, vendo a confusão em seu olhar. – Amadurecemos, tomamos caminhos diferentes, ficamos mais bonitos... – seu sorriso voltou, e ela desviou nossos olhares. – Você se tornou uma mulher forte, inteligente, mais madura do que toda a população de Standford...
Ela mordeu o lábio, num sorriso tímido. Seus olhos encontraram os meus, e suspirou profundamente, como se enxergasse algo além.
- Tudo o que faço e falo é porque eu te amo. E nunca, em qualquer hipótese, quero vê-lo machucado. Fisicamente, ou não. – Riu baixo, e entendi a referência há um mês, quando briguei com Jason. – Será um bom ano.
- Será.
Lhe dei um beijo rápido, e ela voltou a sua posição inicial no sofá, assistindo ao filme.

“Vem pra Standford! Open de tudo o que imaginar. Acho que nunca ri tanto. O Alex está vestido de Papai Noel.”
Visualizei a mensagem quando o filme está próximo do fim, e a gargalhei alto ao ver a foto que Greg havia me enviado.
me questionou e lhe entreguei o celular, mostrando a imagem. Ela riu, daquele modo que me fazia parecer uma criança imatura por estar gargalhando de uma besteira como aquela.
Mas era engraçado. Muito.
E eu queria estar lá...
“Tá esperando o quê?! Está perdendo a melhor festa que Standford já viu. Ho ho ho”
Outra mensagem chegou e voltei a rir, a lendo. Greg já devia estar louco àquela hora.
“MELHOR. NATAL. DE TODOS.”
“Luke se pendurou num dos Pinheiros! ESSA UNIVERSIDADE VAI NOS EXPULSAR! RINDO ALTO”
“É o melhor ano das nossas vidas, e você está perdendo! Vamos guardar um copo de vodka para você.”
“ESTAMOS TE ESPERANDO, LÍDER!”
“Olha a Amber. Ela se enrolou em três pisca-piscas. Vou morrer de rir, é sério.”
A foto de uma das garotas da nossa fraternidade vinha em anexo e eu não pude deixar de rir ainda mais.
suspirou pesadamente ao meu lado, e eu franzi o cenho, olhando para a tela do celular.
- Quem está te mandando tanta mensagem, ?
- O Greg, Tyler, Fred, até o Jason. – Eu ri. Era irônico, afinal. respirou fundo, tirando as pernas do meu colo. Me preparei para o monólogo que estava próximo e escorreguei contra o sofá, brincando com Max.
- Eles querem que você vá até lá?
- É. Parece estar sendo incrível. O melhor Natal de todos – disse, num tom desanimado propositalmente.
- E você quer ir?
Seu tom de voz calmo estava me assustando, e então passei a encará-la.
- Quero.
balançou a cabeça, desviando o olhar para a televisão, mas não prestava atenção no que realmente passava. Era como se somente pensasse.
- Vai pra Standford.
- O quê?
- Se prefere estar lá, deve estar lá. Não vou te obrigar a estar num lugar que não deseja. Não sou sua dona.
- Não é isso, ...
- É isso sim, ! – sorriu, de um jeito magoado. Voltei a me sentar no sofá. – Você quer estar com a sua fraternidade hoje, assim como quer estar com ele todos os dias, líder – ironizou, e eu fui obrigado a rolar os olhos. Ela falava como se não me trocasse pela psicologia em todos os momentos possíveis, também.
- Eu não vou, está bem?
- Quem agora quer que você vá, sou eu. – Franzi o cenho. Aonde ela queria chegar? – Passou o dia comigo, é justo que se divirta de verdade agora, não é?
- Estou me divertindo com você, linda...
- Ah, que se dane, . – Se levantou. É, ela estava puta. Grace, sua mãe, perguntou se estava tudo bem, da cozinha, e ela respondeu com afirmação. – Você pode ir logo, por favor? Não importa, ok? É o quarto ano que passamos juntos, afinal. Acho que posso lidar com isso.
- Eu... Eu volto antes das 2h, ok?
- Não. – Passou as mãos nos cabelos, enquanto inspirava fundo. – Não precisa voltar hoje. Você vai beber e o que menos quero é um acidente. Durma lá e amanhã, se quiser, pode vir para o almoço.
Analisei suas feições por alguns segundos, tentando encontrar suas reais intenções. Eu não conseguia.
Mas ela parecia tranquila... Então assenti, sorrindo. Ah, eu ia encontrar meus amigos! Eu tinha a melhor namorada do mundo!
- Você é incrível, ! – ri, me levantando e a abraçando. Ela pareceu não gostar muito da ideia. – Está tudo bem mesmo, não é?
Minha garota assentiu, apontando para a porta. Fiz menção a ir à cozinha me despedir dos seus pais, mas ela me impediu.
- Eu explico para eles depois. Feliz Natal.
Assenti, sorrindo fraco. Depositei um beijo cuidadoso em seus lábios e corri até a porta.
O melhor Natal de todos!


24, dezembro, 2015 – 22h16 PM.

A margem da porta do quarto de , a qual tinha criado uma barreira invisível. Ele respirou fundo uma vez, sentindo a vontade de chorar voltar a se instalar em seu peito, e, consequentemente, fazendo com que aquele nó em sua garganta se alargasse ainda mais, quase tapando sua respiração.
Um passo.
Ele o fez.
Ao olhar para a cama, a encontrou do mesmo modo que a via através do vidro. sentiu o queixo tremer e passou as costas das mãos pelos olhos, tentando controlar as lágrimas frouxas. Seu rosto estava pálido, os cabelos perfeitamente penteados como a enfermeira havia os deixado naquela manhã; o peito subia e descia tranquilamente, como se ela estivesse num sono profundo.
tocou seu rosto, e sentiu o calor de sua pele; fazendo-o comprovar que, apesar de tudo, ela continuava viva. Seu sangue ainda corria por suas veias, bombeando para o coração – que batia como de costume.
Diferentemente do dele, que estava mais acelerado do que se lembrara em toda a vida. Seus olhos percorreram por todo o corpo dela, e a outra mão segurou a sua, que estava ao lado de seus quadris.
O nó em sua garganta se desfez assim que um soluço alto escapou por seus lábios, fazendo-o apertar os olhos. Sentia tanta falta da sua garota.
Da sua doce, inteligente, e madura .
Mas que sabia muito bem ser divertida.
E ele havia se esquecido disso por todos os meses dos quais havia estado em Standford. A havia feito sofrer, a magoado... A deixado acreditar que, por algum minuto que fosse, seus amigos eram mais importantes do que ela.
Eles nunca seriam. Nunca chegariam nem perto disso.
ficaria orgulhosa em ver o quanto esses quase dois meses haviam amadurecido seu infantil e arrependido namorado.
- Eu sinto tanto, ... – sussurrou, e jurou jamais ter ouvido a sua voz tão fraca quanto naquele momento. – Queria poder voltar no tempo para mudar tudo... Tudo o que aconteceu no momento em que conheci aqueles abutres, como você mesma diria. – Ele riu em meio ao choro, passando o polegar por sua bochecha. – Andei pesquisando, e dizem que mesmo em coma, os pacientes conseguem nos ouvir... Não sei se acredito nisso, mas... É válido, não é? Então, se estiver me ouvindo, eu quero pedir, com todo o meu coração que te ama tanto, que me perdoe. Me perdoe por ter sido esse babaca, por ter te feito pensar que você não é a prioridade da minha vida. – Apertou os olhos, colocando o polegar sob os lábios, enquanto respirava fundo. – Eu estava pensando outro dia, e me lembrei da última conversa que tivemos antes desse maldito acidente. Você me perguntou qual era o meu problema, e eu retruquei, questionando qual era o seu. – Ele riu sem humor, subindo uma das mãos o inicio de seus cabelos, deslizando os dedos ali. – O seu problema era eu. E o meu problema, era a imaturidade. Até desacordada você é capaz de me ajudar, não é? Eu daria tudo para uma sessão de analise sua agora, amor. – Sua voz voltou a falhar e ele se afastou, colocando o rosto entre as mãos. – É Natal, ! Provavelmente está passando Esqueceram de Mim na TV e você não está aqui para assistir comigo. Era para ser o quinto ano. É ímpar. Simbólico, não é? – sorriu tristonho, lembrando-se do dia em que a pediu em namoro. – Você precisa acordar... – sussurrou, voltando a se aproximar dela. Ele se ajoelhou ao seu lado, entrelaçando seus dedos. – Sua mãe está na sala de espera, e deixou que eu ficasse com você essa noite porque a própria não tem coragem de ficar aqui, no Natal. Todos estão sofrendo, meu amor. Todos precisamos de você. Tanto, tanto...! – apoiou a cabeça numa das mãos, depositando um beijo suave sobre as costas da mão da namorada. – Não importa se você acordar em um mês ou em dez anos. – decidiu, subindo o olhar para seu rosto. – Eu vou estar aqui, te esperando... Para que possamos continuar de onde paramos. E pode ficar tranquila, – riu fraco – esse que conheceu há um ano e meio, não existe mais. Ele morreu naquele mesmo acidente que levou parte de você. E no dia em que acordar e eu poder ouvir a sua voz novamente, ver seu sorriso... Esse vai ser o dia mais feliz da minha vida. Acredite nisso, . Tudo o que eu fizer, de hoje em diante, será para você. Por você. Para que quando acordar, independente de quando seja, tenha orgulho de mim. O mesmo orgulho que senti de você, durante esses quatro anos que estamos juntos. – Ergueu o corpo, prensando levemente os lábios em sua testa, num beijo delicado e carinhoso. – Eu te amo.
fechou os olhos, arrependendo-se de não ter dito tão frequentemente aquelas três palavras tanto quanto as merecia ouvir. Ele soltou sua mão com cuidado, colocando-a em cima de sua barriga, e então se sentou na poltrona no canto do quarto. Ligou a televisão, e, como rotineiramente, o filme de Macaulay Culkin passava. Um sorriso fraco foi inevitavelmente dado, enquanto o rapaz começava a prestar atenção no filme.

Os créditos começaram a rolar sobre a tela preta da televisão, afirmando o final do filme. sorriu abertamente, espreguiçando-se. Podia assistir àquela comédia milhares de vezes, e sempre riria como da primeira. Ele olhou para por um segundo, e seu sorriso se fechou no mesmo instante que o fez. Sua mão estava ao lado do seu quadril.
Mas ele a tinha colocado em sua barriga.
O rapaz sentiu a respiração faltar por alguns segundos, e então se levantou, caminhando devagar até ela. Acompanhou quando seu dedo indicador se moveu, e então parou de andar; piscando assiduamente. Aquilo realmente tinha acontecido?
voltou a andar em sua direção, e ao chegar ao lado da cama, seus olhos prestaram atenção em seu rosto. E podia jurar que algo estava diferente. Talvez fosse a esperança pelo mínimo gesto de melhora, mas... Também havia algo.
O rapaz pensou em chamar algum enfermeiro, mas, quando tocou no aparelho, pôde ver o exato momento em que os olhos de se abriram devagar, acostumando-se à claridade.
Ele soltou a campainha, por reflexo. Seus lábios se entreabriram e as lágrimas voltaram aos seus olhos. O coração, que antes parecia acelerado, agora já poderia ser comparado ao de um esportista logo após correr uma maratona.
Seus olhos.
Abertos.
Os olhos o quais havia sentido tanta falta.
As luzes de sua vida pareceram se acender novamente, principalmente no momento em que a viu inspirar fundo, como se, de fato, voltasse à vida.
Seu estado de choque continuava firme, pois nenhum musculo sequer era capaz de se mover, temia que tudo não passasse de um sonho.
pareceu o encontrar com os olhos, e então o mundo parou. Ou voltou ao eixo normal. Ela sorriu fraco, reconhecendo-o.
Seu sorriso.
Seu motivo para colocar um sorriso no próprio rosto.
havia acordado.
O mundo parecia mais colorido. A felicidade tomou conta de si, como jamais havia.
A vida havia voltado a fazer sentido.
Um milagre.
O milagre que necessitava. O milagre de sua existência. O milagre que a trouxe para a sua vida, há quatro anos. O milagre que a trouxera de volta, há segundos.
Os olhos de guiaram-se para a mínima arvore de Natal no canto de seu quarto, e ela abriu a mão, num pedido mudo pela dele. , ainda estático, voltou a entrelaçar seus dedos. E dessa vez pôde a sentir apertando a sua em resposta.
Era real.
Seu milagre...
Seu milagre de Natal.

“Quando o impossível prevalece, é que o milagre acontece”



Fim!



Nota da autora:(28/12/15) Primeiro: vamos fazer uma pausa para que eu pegue o meu lencinho, porque as coisas não estão fáceis aqui. Sou uma autora emotiva com as próprias (????) histórias. Pois é, vai entender. Hahahahahha. Oi meus amores! Tudo bom?! Eu mal sei como começar essa nota, porque me envolvi completamente nessa shortfic. Fiquei bem orgulhosa com o resultado, e espero que gostem também! Fiquei imensamente feliz em ser uma das autoras convidadas à escrever para o Especial do FFOBS (mesmo! <3), e, a animação foi tanta, que no mesmo dia em que recebi o e-mail, toda a ideia e roteiro da short apareceram na minha cabeça, quase mágica mesmo. Hahaha. Para quem não sabe, escrevo Ironm4x, e, para quem lê, sabe o quão complexa aquela história é! Hahah. Então Christmas Miracle - apesar de toda a carga emocional - foi um modo de me fazer espairecer. E acabei me apaixonado completamente pelos personagens principais. A história deles, em si. É tão comum, afinal, não é? Quem não conhece algum casal inseparável, que após o inicio da faculdade, acabou se separando? Ou, ao menos, se afastando? É a vida, infelizmente. E retratar isso, ainda mais desse modo, foi incrível para mim. Mas eu quero saber de vocês!!! Não deixem de comentar, me contarem o que acharam, suas opiniões... Não sei, o que quiserem! Vou ficar muito feliz em ler tudo! <3
E, para finalizar essa Nota que está quase maior do que a história, quero desejar à todas as minhas leitoras – e às que não são também! Hahahah –, um ótimo Natal, cheio de comida gostosa e união da família. Ou, o que lhes fizerem mais feliz. E, claro, um ano novo incrível! Cheio de realizações, conquistas, sucesso, e felicidade! Que 2016 seja um dos melhores anos das suas vidas! Um beijo, e obrigada por ter lido! <3 <3




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