Capítulo Único
Quando entrou para a universidade, imaginou muitas coisas a respeito do tempo que teria que passar lá dentro. Imaginou que dividiria o alojamento do campus com um esquisitão. Imaginou também que poderia acabar tendo a companhia de uma pessoa tão ou mais falante que seu amigo Minhyuk. Até mesmo imaginou dividir com um dos atletas de algum clube de esporte.
No entanto, em seu primeiro semestre, quando viu o mural que exibia as duplas, descobriu que ficaria sozinho. Não se incomodou. Pelo contrário, comemorou, mesmo que, no fundo, quisesse dividir o quarto com um de seus amigos. Ficar sozinho era uma coisa que não acontecia muito na universidade, normalmente tinham alunos de mais, e não de menos, como naquele caso. E ele não reclamaria de ter sido logo o felizardo daquele semestre e o aproveitaria até o último segundo, já que era óbvio que no semestre seguinte ele teria um companheiro.
era um cara reservado, mas tinha lá suas manias estranhas. Ele prezava muito a privacidade e gostava de ficar sozinho na maioria das vezes, principalmente à noite, quando poderia tirar suas roupas, pegar um cobertor confortável e enrolar-se nele para ter a amada noite de sono dos sonhos. Não ter ninguém para incomodá-lo ou surpreendê-lo era sempre muito bom; podia desfrutar de sua nudez com calma e cuidado. Simplesmente não conseguia dormir de outra forma, e não ter um colega de quarto era incrível justamente por isso.
Mas como nada durava para sempre e os anos de faculdade tinham como missão principal acabar com tudo que faz o universitário feliz, o segundo semestre chegou e, com ele, seu colega de quarto também.
Seu nome era , e ele definitivamente se encaixava na categoria de esquisitões. O garoto era meio ‘fora da casinha’ e vivia rindo enquanto usava fones de ouvido e pintava as unhas de preto, o que deixava um tanto assustado sempre que passavam mais do que cinco minutos juntos. E não por ele pintar as unhas, longe disso; adorava fazer as unhas também e até conseguia ter uma conversa civilizada com o mais novo nesses momentos. O problema estava no fato de ainda ser um moleque recém-saído do ensino médio e com manias de moleque recém-saído do ensino médio.
E poderia listar com detalhes essas manias e morrer de raiva em cada uma delas, já que tudo o afetava diretamente.
Quando chegou, o veterano fez questão de explicá-lo como as coisas deveriam funcionar ali, e, no mesmo instante, tiveram um pequeno desentendimento. não era bom em obedecer regras, e não era bom em viver sem regras.
Para o mais velho, regras eram essenciais para que soubessem o que não fazer para um incomodar o outro, e, para o calouro, regras não passavam de perda de tempo, já que eram dois seres humanos que poderiam mudar de ideia a qualquer instante. As regras não eram importantes, em sua concepção artística, e ele não queria ter de dar explicações para o veterano apenas porque ele tinha regras sobre isso. Assim como também não queria ter de limpar o dormitório todas as quartas-feiras quando poderiam fazer isso no sábado depois de dormirem até às duas da tarde. As quartas de um calouro eram muito agitadas, e parecia fingir não saber ou entender; estava fazendo jogo duro por ser um veterano — e o era há apenas duas horas.
Porém, com o tempo, conseguiram entrar em um tipo acordo-não-acordado. manteve suas regras e continuou a quebrá-las, uma a uma, todos os dias, durante o semestre inteiro. Foi quando o mais velho viu que não tinha jeito e cedeu, algo que não costumava fazer; apenas cedeu e deixou que o calouro comandasse o quarto por alguns meses, pedindo para que ele apenas respeitasse seu espaço e sequer pisasse no perímetro de sua cama e seu armário.
Era só isso: tudo que queria era privacidade, já que não podia trocar de colega de quarto.
Tudo estava bem e em paz, se cumprimentavam todas as manhãs e noites, ofereciam ajuda um ao outro, arrumavam o dormitório às quartas e aos sábados, riam de piadas idiotas e memes da internet; eram até mesmo mutuals no Twitter e Instagram.
Até aquela madrugada.
Devia ser no mínimo duas da manhã quando a gritaria de acordou . Tudo bem, era fim de semana, mas estava exausto das aulas da manhã e do estágio que fazia à tarde; só queria poder dormir em paz, até mesmo havia ido para a cama antes das dez da noite. E pediu — não, implorou — por um pouco de silêncio naquela noite, mas o maldito calouro não fazia nada para facilitar a convivência. Ainda mais quando envolvia seus jogos online e toda aquela porcaria que ele tanto se dedicava — tinha certeza de que se se dedicasse à faculdade com tamanho fervor, seria um aluno de excelência.
Zonzo, com dor de cabeça e um cansaço fora do comum, jogou as cobertas para o alto e se levantou, encarando um aos risos e gritos para o computador. Até aí, tudo bem, normal; o garoto parecia ir para um universo paralelo quando colocava os fones de ouvido e começava mais uma call com os amigos. O problema da situação, para , além de ter sido acordado tão brutalmente, era mais embaixo. Literalmente.
encontrava-se sentado em sua cadeira de couro caríssima. havia trabalhado durante um mês inteiro, sem gastar uma moedinha sequer, para conseguir comprá-la. Respirou fundo e encarou o mais novo novamente. Devagar e sem ser notado, acendeu a luz do dormitório e, por um segundo, pensou que fosse desmaiar de tanto nervoso.
O calouro não só estava em sua cadeira de couro caríssima. Ele estava nu em sua cadeira de couro caríssima.
— Eu não acredito que você está pelado na minha cadeira, — foi o que o mais velho conseguiu murmurar com raiva assim que o calouro tirou os fones, totalmente confuso. — Não, não, não. Você não está fazendo isso.
— Ah, hyung, a minha cadeira quebrou e eu não pensei que teria problema em usar a sua essa noite — explicou, dando de ombros. — Você sabe, jogar pelado é mais confortável.
— Não, eu não sei! — praticamente gritou. — Eu não acredito que além de aguentar o cheiro infernal de maconha no quarto porque você é um idiota que fuma de janelas fechadas, vou ter que lidar com o fato de que você está pelado na minha cadeira de couro, que custou uma fortuna!
— Hyung, não é para tanto. Você sabe que estou em call, certo? Todos estão ouvindo seu show por causa de uma cadeira às duas e vinte da madrugada.
— Eu não me importo! Levante-se já!
— Ah, não se importa? — aumentou o tom de voz e se levantou, sem se importar com sua nudez. — Então você não se importa de eu falar que você, o aluno certinho de Economia, dono de um CR nota dez, foi pego no flagra semana passada fumando a minha maconha escondido, não é?
— É o qu–
— E não sei se percebeu, hyung, mas você também está pelado.
E perdeu toda e qualquer fala; havia sido massacrado.
O resto do fim de semana foi estranho e silencioso; não se deram o trabalho de sequer se cumprimentar. ainda se sentia ultrajado por ter sido exposto de maneira tão rude para sabe-se lá Deus quantos esquisitões iguais a – este que apenas ignorava o veterano e fingia que ele não existia. Ainda achava a rispidez do mais velho desnecessária e não iria dar o braço a torcer desta vez, além de ainda sentir-se chateado por ter perdido um baseado inteiro para ele. Erva estava cara naquela universidade, não tinha o direito de roubá-lo daquela forma.
Quando a segunda-feira chegou, saiu logo cedo, deixando o quarto todo revirado propositalmente. odiava bagunças, e acordar com aquela visão já fez com que seu humor fosse para o Inferno – lugar este que queria mandar com suas próprias mãos.
caminhava tranquilamente pelo campus ao lado de um de seus melhores amigos, Shin Hoseok, enquanto contava tudo o que havia dado errado nos últimos três dias. O loiro o escutava com atenção, segurando-se ao máximo para não interromper todo aquele monólogo para apenas xingá-lo.
— E então ele me expôs desse jeito para os amigos esquisitos dele — finalizou.
— E o garoto está errado? Não está. — Foi a primeira coisa que Hoseok disse, atraindo um olhar indignado do amigo. — Cara, por que você roubou o baseado do garoto? Não era mais fácil ter pedido?
— Eu não roubei, apenas peguei emprestado e ia colocar no lugar depois. Eu precisava relaxar, Hoseok. E pensei que ele chegaria tarde naquele dia.
— Você é muito surtado, . Sério. Além do mais, já percebeu que tudo que você pede para ele não fazer, você acaba fazendo?
— Isso não é verdade!
— Claro que é. Você invade o espaço dele. Pega roupas dele. Até rouba os baseados dele. Além de andar igualmente pelado.
— Eu não faço nada disso!
— É claro que faz! Aposto que isso é porque você não consegue aceitar que tem um colega de quarto lindo que anda pelado, mas foge completamente dos seus padrões ridículos de pessoas com quem gostaria de dormir.
— Está insinuando que estou a fim do , é isso?
— É a única explicação plausível para toda essa implicância. Você sempre, sempre arranja um jeito de tirar a pessoa que quer ficar do sério. Isso não é nem um pouco atrativo, bro.
— Eu nunca pensei que fosse dizer isso, mas… Nesse momento, eu preferiria ter o Minhyuk aqui. Ele, pelo menos, me entenderia.
— Claro que entenderia, foi assim que ele começou a namorar com o Hyunwoo. Lembra como ele implicava com o coitado? Até hoje eu não sei como Hyunwoo acabou se apaixonando também. Não faz sentido — Hoseok revirou os olhos e parou de andar, ficando na frente de para ele também parasse. — Me diga a verdade, amigo: há quantos meses você não transa?
— O que te faz pensar que estou há meses sem transar?
— O seu mau humor diário. Você está nesse estado desde o início do semestre, e só falta de sexo explica isso, porque não é possível você se importar tanto com cada mínima coisa que um garoto recém-saído do ensino médio faz.
— Não sei por que ainda sou seu amigo, sério, não faz sentido. Nada do que você fala faz sentido. A sua existência não faz sentido.
— Na verdade, você implicar tanto com o e repetir os mesmos “erros” — fez aspas com os dedos. — que ele não faz sentido. Você, , e sua forma de amar não fazem sentido. Não adianta negar, você está apaixonado e não quer aceitar.
A conversa esquisita com Hoseok fez com que perdesse sua semana quase inteira. Logo que se despediram para seguir cada um para sua aula, sua cabeça começou a trabalhar intensamente. Muito intensamente.
A verdade era que ele não queria aceitar que o amigo estava certo. Sua forma de demonstrar interesse era muito peculiar, principalmente quando a pessoa que o atraía era alguém como . Era bizarro. Seu corpo reagia em pura raiva, sua mente não funcionava e ele, como um todo, entrava em pane — e em pânico. O problema era que não tinha o que fazer a não ser esperar seu orgulho ir embora e deixar que o tesão lhe tomasse o lugar.
Porém, ainda assim, não queria que isso de fato acontecesse. Era confuso. Talvez não estivesse apaixonado, só a fim. Seria legal rolar uns beijos e, consequentemente, uma transa sem compromisso. era um garoto bonito, apesar de esquisito. Mas, para , aquilo só poderia dar merda. Eram colegas de quarto, afinal, e ele não sabia lidar com o pós-ficada. Sempre acabava confuso — deveria cumprimentar com um beijo? Fingir que nada aconteceu? Se fazer de sonso? Pedir para repetir a dose? Não sabia.
E, céus, lá estava ele surtando em antecipação. Nem sequer queria aceitar que tinha uma queda por e já estava pensando o que deveria fazer depois de dar uns amassos com ele.
Era tudo por causa de Hoseok, isso, era culpa daquele bastardo.
Quando a sexta-feira seguinte chegou, prometeu a si mesmo que se permitiria agir como um universitário comum. Saiu da última aula do dia às nove da noite e decidiu que iria direto para o bar onde Hoseok e Minhyuk estavam com outros colegas. Estava 100% disposto a tomar algumas canecas de cerveja, bater um papo descontraído e até mesmo flertar se tivesse a chance. Precisava sair um pouco da sua própria bolha cercada de regras, números e teorias de como não afundar uma empresa financeiramente.
Contudo, não imaginou que um certo garoto recém-saído do ensino médio estivesse por lá – ele ao menos tinha idade para estar naquele lugar cercado de bebidas alcoólicas (e drogas, que todos sabiam que rolavam à solta no banheiro)? Certamente, não. Mas ninguém se importava – e não deveria se importar também, porém era um tremendo ‘coração mole’ e se preocupava com o colega de quarto, além de também não querer deixar seu dormitório uma completa nojeira por conta de um porre.
— O que essa criança está fazendo aqui? — Foi a primeira coisa que sussurrou no ouvido de Hoseok após cumprimentar todos os colegas que estavam na mesa. — E ainda por cima na nossa mesa…?
— Boa noite para você também, amigo! — Hoseok exclamou. — Primeiro: ele não é uma criança e você sabe disso. Segundo: ele tem uns amigos muito bons em uns assuntos que me interessam e acabei convidando todos para se juntarem a nós. Terceiro: me agradeça amanhã, depois que vocês transarem.
— Você ficou louco de vez, é isso? — fitou o amigo. — Meu Deus, Hoseok! Não acredito que você quer dar uns amassos em algum dos amigos dele.
— Desde que o Minnie e o Hyunwoo começaram a namorar, eu fiquei na mão. Eles são monogâmicos. E o tem amigos lindos, tanto os meninos quanto as meninas. São todos maiores de idade, me dá licença? Não é porque você não transa que não vou transar também.
— Não sei por que ainda sou seu amigo — comentou. — Vou pegar uma cerveja.
— Eu sou o único que ainda te aguenta, é por isso. Pega uma pra mim também, parceiro.
— Não sou seu parceiro, Hoseok, para de falar assim.
— Vai logo, , caralho — Hoseok rebateu ao notar que um dos garotos que estava interessado vinha em sua direção.
— Eu não vou te trazer cerveja nenhuma, seu animal.
— Tudo bem, Kiki, tudo bem. Só sai logo daqui, essa sua cara mal humorada vai me atrapalhar.
ainda pensou em discutir e xingar o amigo por causa do apelido repugnante que fora chamado, mas preferiu deixar para lá e ir tomar sua cerveja em paz. Afinal, havia ido para aquele maldito bar por isso, para ser a porra de um universitário comum pela primeira vez no semestre. E não se importava se teria de acabar a noite sozinho ou com os amigos esquisitos de . Só queria se embebedar e esquecer aqueles dias insuportáveis, as conversas com Hoseok e o próprio Hoseok — queria que tudo fosse para o inferno.
Com isso em mente, ignorou tudo à sua volta e se sentou em uma das cadeiras vazias em frente ao balcão. Com um copo enorme de cerveja na mão, olhou em volta do bar esperando encontrar algo interessante, ou ao menos uma pessoa bonita para admirar de longe, já que, naquela noite, não estava tendo nenhum show. Entretanto, ao olhar para o lado direito, quase caiu do banco e quase levou seu copão junto em direção ao chão.
Em toda sua glória, cabelos penteados de um jeito despojado, roupas bonitas e cheirosíssimo, estava . Sorrindo como se fossem amigos enquanto bebericava sua própria bebida.
Ainda surpreso, ergueu uma das sobrancelhas como se questionasse o olhar zombador sobre si.
— Seu amigo está enfiando a língua na boca do meu amigo — comentou. — Achei melhor vir para cá te fazer companhia. ‘Segurar vela’ não é muito legal, hyung.
— Tenho certeza de que beber do meu lado também não é tão legal assim — revirou os olhos. — Para mim, ao menos, não é nada legal beber com você.
riu e finalizou sua bebida de uma só vez, em apenas um gole, deixando o mais velho ao seu lado um tanto quanto assustado.
— Tem razão — assentiu. — Você é muito chato, mas é a única pessoa com quem me sinto confortável aqui.
— Obrigado, mas e os seus amigos?
— Não tenho amigos, hyung. Aqueles caras são só uns colegas de turma, não gosto tanto deles.
— Então prefere ficar aqui comigo, o roommate chato?
— Definitivamente, sim — deu de ombros e pediu mais uma bebida ao barman. — Você ao menos me faz rir.
— Nós nem ao menos conversamos, garoto. Como é que te faço rir?
— Essa sua carinha emburrada — o mais novo sorriu. — É engraçadinha. Me divirto vendo você irritadinho; sei que é tudo fachada. Mas que tal a gente deixar isso de lado e beber uma cerveja juntos? Estou aqui em missão de paz.
E, diante daquele sorriso bonito e um par de olhos pidões, não conseguiu dizer não. Quando se deu conta, o bar já estava vazio e o sol nascendo — e ele sequer se lembrava de seu próprio nome.
A primeira coisa que percebeu ao acordar foi que sua cabeça parecia que ia explodir a qualquer segundo. A segunda foi que estava completamente nu. A terceira, logo que abriu os olhos, foi que não estava em sua cama. E quarta, já com o coração na boca, foi que tinha um corpo imóvel ao lado do seu. Se não fosse pelo ronco audível que o indivíduo ao lado deixava escapar, até mesmo acharia que ele estava morto.
Espera.
Tinha uma pessoa ao seu lado. Dormindo. Roncando. E ele estava nu, em uma cama desconhecida.
Uma pessoa.
Dormindo.
Ao seu lado.
Igualmente nu.
Como se nada mais importasse dentro daquele quarto – que ao menos reconheceu como seu dormitório –, deixou um grito de pavor escapar de sua garganta, fazendo com que o garoto ao seu lado pulasse de supetão, caindo sentado no chão.
— Meu Deus, o que aconteceu?! — perguntou num tom assustado e olhando em volta como se o quarto estivesse pegando fogo ou sendo invadido por alienígenas.
— O que aconteceu? — repetiu, enquanto enrolava o corpo no cobertor. — Eu que pergunto: o que aconteceu?!
— Hyung…
— Não vem com isso de ‘hyung’ pra cima de mim, ! — o cortou. — O que diabos aconteceu aqui? Por que estamos pelados?
— Você não se lembra da noite passada?
— Me lembro de ter feito a burrada de aceitar tomar umas cervejas com você, não de dormir pelado do seu lado! Pelo amor de Deus, não me diga que…
— Não! — Foi a vez de exclamar e interromper o mais velho. — Nós não fizemos nada. Você bem que tentou, mas estava bêbado demais. Chegou aqui, tirou a roupa e deitou na minha cama dizendo que não sairia dela até que eu aceitasse te beijar. E, como pode perceber, não aceitei. E você não saiu da minha cama mesmo.
sentiu o rosto inteiro corar, até as orelhas. Não queria acreditar que havia feito aquelas coisas horríveis, porém sabia que tinha a grande possibilidade de realmente ter feito tudo e mais um pouco. Era de seu feitio beber e perder a linha, agir sem pensar nas consequências e fazer milhares de besteiras — como no ano anterior, que decidiu beber com Hoseok e acabaram invadindo a casa de um professor da universidade só porque ele tinha uma piscina super legal.
— Eu jamais faria isso — murmurou, tentando negar o que escutava. — Pare de mentir pra mim. Você é um pervertido que sempre anda pelado por aqui! Deve ter sido ideia sua!
— Olha, depois da noite passada, que eu conheci o verdadeiro , eu tenho certeza de que jamais inventaria isso sobre você, e você também sabe disso. Sabe muito bem do que é capaz quando bebe, hyung. Você mesmo me contou suas aventuras.
— Mentiroso! Garoto insolente, mentiroso, babaca, idiota… — começou a murmurar enquanto andava de um lado para o outro, segurando o cobertor em volta da cintura.
— Está tudo bem, hyung, pelo menos nenhum de nós vomitou.
— Eu não acredito que dormi pelado com você.
— Veja pelo lado bom: a gente só dormiu. Mesmo. Eu juro. Jamais faria alguma coisa com você tão bêbado. Sério, você ficou louco demais, hyung. Perdeu a linha, sabe? Tentou me beijar milhares de vezes também.
— Para de ficar dizendo que tentei te beijar. Eu sei que não fiz isso. Eu não quero te beijar. Mesmo que você seja bonito e tenha uma boca igualmente bonita e atrativa. Eu não quis te beijar ontem, nem nunca. Nem quero. Nunca vou querer. Eu não quero te beijar, , pare de voltar nesse assunto. Nada de beijos, está me entendendo? Nós somos colegas de quarto e só isso. Não é porque dormimos lado a lado pelados que eu quero te beijar ou sinto algo por você. Eu só estava bêbado demais.
— De conchinha — murmurou num tom baixinho, e só quando ergueu os olhos, encontrando o mais novo tão perto que podia sentir seu cheiro. — Nós dormimos de conchinha, você fez questão. Dormimos pelados e de conchinha. E você quis me beijar; ainda quer me beijar. Eu sempre soube, e você também. Não precisamos negar isso, hyung. Não sou a criança que você tenta fingir que sou para enganar a si mesmo.
— Cala a boca — rebateu. — Você sabe que isso não é verdade. Você é um moleque insolente que rouba minhas coisas e senta pelado na minha cadeira cara. Eu não quero beijar você, nunca quis. E também não quis dormir de conchinha! Aposto que isso foi ideia sua. É a sua cara ter esse tipo de ideia maluca. Você é completamente maluco, . Eu sou o sensato aqui, tudo bem? Agora par–
não conseguiu finalizar sua fala daquela vez. Foi brutalmente interrompido pela boca bem desenhada de , que magicamente apareceu grudada à sua. Por um segundo, deixou um suspiro escapar e os olhos se fecharam automaticamente. Quando sentiu a mão do mais novo enroscar entre seus cabelos, puxando-o para mais perto, e a coberta quase cair de sua cintura, percebeu o que estava acontecendo: estava beijando . Depois de uma noite de bebedeiras. Recém-acordado. Pelado e com um cobertorzinho chinfrim enrolado na cintura.
Estava beijando !
E, de supetão, se afastou, levando a mão até à boca agora vermelha devido ao beijo demorado – quando caiu por si, já estavam com as línguas enroscadas; havia aproveitado mais do que deveria. Espera, aproveitado…?
— O que foi agora, hyung? — Charngkyun perguntou baixo, um tanto quanto risonho.
— Eu… — engoliu a seco. — Eu não escovei os dentes, me dá licença!
E saiu, simplesmente saiu, deixando um confuso, risonho e feliz para trás.
Não era segredo para ninguém que também nutria certo interesse pelo colega de quarto, mesmo que ele o importunasse dia e noite pelas coisas mais babacas possíveis. O problema é que o mais novo gostava daquilo – era peculiar a forma com que tinha de demonstrar interesse; e às vezes era até bonitinho. Ele gostava, sem mais explicações. Apenas passou a se derreter por inteiro ao ver um sorriso de . E seus olhinhos brilhando. E o rosto corado nos dias quentes ou quando estava com muita raiva ou com vergonha. E como ele parecia um bonequinho quando se enchia de roupas durante o inverno. E como ele era estudioso e inteligente. E até mesmo a forma que ele resmungava e era rabugento. E como ele xingava. E todos os outros detalhes que faziam de , o .
Quando menos esperou, estava apaixonado e sabia que era retribuído. não era burro, nem a criança que tentava acreditar que ele era. Sabia quando alguém tinha interesse nele, sabia quando e como investir. Só precisava do momento e do ambiente certos. E teve tudo de mão beijada na noite anterior, quando os colegas comentaram que iriam para um bar com alguns veteranos, incluindo o melhor amigo do colega de quarto.
Era tudo o que precisava para mostrar para que era algo além do roommate nerd que roubava sua cadeira de couro caríssima.
E ali estavam, depois de uma noite repleta de risadas e histórias contadas, num clima que ele jamais iria esquecer que rolou entre eles. estava risonho, alegre, fazendo piadas e brincando. Parecia outra pessoa. Quando chegaram no dormitório, entre risadas altas e tombos pelo caminho, apoiados um no outro, teve certeza de que era aquele cara que ele queria ao seu lado pelo resto da vida, por mais absurdo que soasse naquele momento em sua cabeça completamente embriagada. Olhar para o sorriso fácil de fazia aquilo com ele; o deixava tonto, zonzo, e ainda mais bêbado. E quando ouviu o mais velho dizer que sempre o olhou, que sempre o quis, que queria seus beijos e que não aguentava mais esperar para senti-lo, ele soube que era hora de investir. Dormir com enroscado em seu corpo, nu como veio ao mundo, e ele da mesma forma, fez com que se sentisse em casa pela primeira vez desde que se mudara para Seul. se sentiu bem, acolhido e tão apaixonado que seu coração poderia transbordar a qualquer segundo.
O som da porta do banheiro se abrindo tirou de seus devaneios e revelou um completamente bagunçado e de cabelos molhados. Ele tentou passar direto pelo mais novo, ignorando-o por completo, esperando que aquele climão todo se dissipasse – mesmo que soubesse que aquilo não aconteceria, já que tinha os olhos pidões implorando por um esclarecimento.
— Hyung. — chamou, e foi ignorado novamente. — Hyung. — Insistiu, e então o encarou.
O garoto sorriu, deu alguns passos em sua direção e o olhou nos olhos.
— Eu também gosto de você, hyung.
No entanto, em seu primeiro semestre, quando viu o mural que exibia as duplas, descobriu que ficaria sozinho. Não se incomodou. Pelo contrário, comemorou, mesmo que, no fundo, quisesse dividir o quarto com um de seus amigos. Ficar sozinho era uma coisa que não acontecia muito na universidade, normalmente tinham alunos de mais, e não de menos, como naquele caso. E ele não reclamaria de ter sido logo o felizardo daquele semestre e o aproveitaria até o último segundo, já que era óbvio que no semestre seguinte ele teria um companheiro.
era um cara reservado, mas tinha lá suas manias estranhas. Ele prezava muito a privacidade e gostava de ficar sozinho na maioria das vezes, principalmente à noite, quando poderia tirar suas roupas, pegar um cobertor confortável e enrolar-se nele para ter a amada noite de sono dos sonhos. Não ter ninguém para incomodá-lo ou surpreendê-lo era sempre muito bom; podia desfrutar de sua nudez com calma e cuidado. Simplesmente não conseguia dormir de outra forma, e não ter um colega de quarto era incrível justamente por isso.
Mas como nada durava para sempre e os anos de faculdade tinham como missão principal acabar com tudo que faz o universitário feliz, o segundo semestre chegou e, com ele, seu colega de quarto também.
Seu nome era , e ele definitivamente se encaixava na categoria de esquisitões. O garoto era meio ‘fora da casinha’ e vivia rindo enquanto usava fones de ouvido e pintava as unhas de preto, o que deixava um tanto assustado sempre que passavam mais do que cinco minutos juntos. E não por ele pintar as unhas, longe disso; adorava fazer as unhas também e até conseguia ter uma conversa civilizada com o mais novo nesses momentos. O problema estava no fato de ainda ser um moleque recém-saído do ensino médio e com manias de moleque recém-saído do ensino médio.
E poderia listar com detalhes essas manias e morrer de raiva em cada uma delas, já que tudo o afetava diretamente.
Quando chegou, o veterano fez questão de explicá-lo como as coisas deveriam funcionar ali, e, no mesmo instante, tiveram um pequeno desentendimento. não era bom em obedecer regras, e não era bom em viver sem regras.
Para o mais velho, regras eram essenciais para que soubessem o que não fazer para um incomodar o outro, e, para o calouro, regras não passavam de perda de tempo, já que eram dois seres humanos que poderiam mudar de ideia a qualquer instante. As regras não eram importantes, em sua concepção artística, e ele não queria ter de dar explicações para o veterano apenas porque ele tinha regras sobre isso. Assim como também não queria ter de limpar o dormitório todas as quartas-feiras quando poderiam fazer isso no sábado depois de dormirem até às duas da tarde. As quartas de um calouro eram muito agitadas, e parecia fingir não saber ou entender; estava fazendo jogo duro por ser um veterano — e o era há apenas duas horas.
Porém, com o tempo, conseguiram entrar em um tipo acordo-não-acordado. manteve suas regras e continuou a quebrá-las, uma a uma, todos os dias, durante o semestre inteiro. Foi quando o mais velho viu que não tinha jeito e cedeu, algo que não costumava fazer; apenas cedeu e deixou que o calouro comandasse o quarto por alguns meses, pedindo para que ele apenas respeitasse seu espaço e sequer pisasse no perímetro de sua cama e seu armário.
Era só isso: tudo que queria era privacidade, já que não podia trocar de colega de quarto.
Tudo estava bem e em paz, se cumprimentavam todas as manhãs e noites, ofereciam ajuda um ao outro, arrumavam o dormitório às quartas e aos sábados, riam de piadas idiotas e memes da internet; eram até mesmo mutuals no Twitter e Instagram.
Até aquela madrugada.
Devia ser no mínimo duas da manhã quando a gritaria de acordou . Tudo bem, era fim de semana, mas estava exausto das aulas da manhã e do estágio que fazia à tarde; só queria poder dormir em paz, até mesmo havia ido para a cama antes das dez da noite. E pediu — não, implorou — por um pouco de silêncio naquela noite, mas o maldito calouro não fazia nada para facilitar a convivência. Ainda mais quando envolvia seus jogos online e toda aquela porcaria que ele tanto se dedicava — tinha certeza de que se se dedicasse à faculdade com tamanho fervor, seria um aluno de excelência.
Zonzo, com dor de cabeça e um cansaço fora do comum, jogou as cobertas para o alto e se levantou, encarando um aos risos e gritos para o computador. Até aí, tudo bem, normal; o garoto parecia ir para um universo paralelo quando colocava os fones de ouvido e começava mais uma call com os amigos. O problema da situação, para , além de ter sido acordado tão brutalmente, era mais embaixo. Literalmente.
encontrava-se sentado em sua cadeira de couro caríssima. havia trabalhado durante um mês inteiro, sem gastar uma moedinha sequer, para conseguir comprá-la. Respirou fundo e encarou o mais novo novamente. Devagar e sem ser notado, acendeu a luz do dormitório e, por um segundo, pensou que fosse desmaiar de tanto nervoso.
O calouro não só estava em sua cadeira de couro caríssima. Ele estava nu em sua cadeira de couro caríssima.
— Eu não acredito que você está pelado na minha cadeira, — foi o que o mais velho conseguiu murmurar com raiva assim que o calouro tirou os fones, totalmente confuso. — Não, não, não. Você não está fazendo isso.
— Ah, hyung, a minha cadeira quebrou e eu não pensei que teria problema em usar a sua essa noite — explicou, dando de ombros. — Você sabe, jogar pelado é mais confortável.
— Não, eu não sei! — praticamente gritou. — Eu não acredito que além de aguentar o cheiro infernal de maconha no quarto porque você é um idiota que fuma de janelas fechadas, vou ter que lidar com o fato de que você está pelado na minha cadeira de couro, que custou uma fortuna!
— Hyung, não é para tanto. Você sabe que estou em call, certo? Todos estão ouvindo seu show por causa de uma cadeira às duas e vinte da madrugada.
— Eu não me importo! Levante-se já!
— Ah, não se importa? — aumentou o tom de voz e se levantou, sem se importar com sua nudez. — Então você não se importa de eu falar que você, o aluno certinho de Economia, dono de um CR nota dez, foi pego no flagra semana passada fumando a minha maconha escondido, não é?
— É o qu–
— E não sei se percebeu, hyung, mas você também está pelado.
E perdeu toda e qualquer fala; havia sido massacrado.
O resto do fim de semana foi estranho e silencioso; não se deram o trabalho de sequer se cumprimentar. ainda se sentia ultrajado por ter sido exposto de maneira tão rude para sabe-se lá Deus quantos esquisitões iguais a – este que apenas ignorava o veterano e fingia que ele não existia. Ainda achava a rispidez do mais velho desnecessária e não iria dar o braço a torcer desta vez, além de ainda sentir-se chateado por ter perdido um baseado inteiro para ele. Erva estava cara naquela universidade, não tinha o direito de roubá-lo daquela forma.
Quando a segunda-feira chegou, saiu logo cedo, deixando o quarto todo revirado propositalmente. odiava bagunças, e acordar com aquela visão já fez com que seu humor fosse para o Inferno – lugar este que queria mandar com suas próprias mãos.
caminhava tranquilamente pelo campus ao lado de um de seus melhores amigos, Shin Hoseok, enquanto contava tudo o que havia dado errado nos últimos três dias. O loiro o escutava com atenção, segurando-se ao máximo para não interromper todo aquele monólogo para apenas xingá-lo.
— E então ele me expôs desse jeito para os amigos esquisitos dele — finalizou.
— E o garoto está errado? Não está. — Foi a primeira coisa que Hoseok disse, atraindo um olhar indignado do amigo. — Cara, por que você roubou o baseado do garoto? Não era mais fácil ter pedido?
— Eu não roubei, apenas peguei emprestado e ia colocar no lugar depois. Eu precisava relaxar, Hoseok. E pensei que ele chegaria tarde naquele dia.
— Você é muito surtado, . Sério. Além do mais, já percebeu que tudo que você pede para ele não fazer, você acaba fazendo?
— Isso não é verdade!
— Claro que é. Você invade o espaço dele. Pega roupas dele. Até rouba os baseados dele. Além de andar igualmente pelado.
— Eu não faço nada disso!
— É claro que faz! Aposto que isso é porque você não consegue aceitar que tem um colega de quarto lindo que anda pelado, mas foge completamente dos seus padrões ridículos de pessoas com quem gostaria de dormir.
— Está insinuando que estou a fim do , é isso?
— É a única explicação plausível para toda essa implicância. Você sempre, sempre arranja um jeito de tirar a pessoa que quer ficar do sério. Isso não é nem um pouco atrativo, bro.
— Eu nunca pensei que fosse dizer isso, mas… Nesse momento, eu preferiria ter o Minhyuk aqui. Ele, pelo menos, me entenderia.
— Claro que entenderia, foi assim que ele começou a namorar com o Hyunwoo. Lembra como ele implicava com o coitado? Até hoje eu não sei como Hyunwoo acabou se apaixonando também. Não faz sentido — Hoseok revirou os olhos e parou de andar, ficando na frente de para ele também parasse. — Me diga a verdade, amigo: há quantos meses você não transa?
— O que te faz pensar que estou há meses sem transar?
— O seu mau humor diário. Você está nesse estado desde o início do semestre, e só falta de sexo explica isso, porque não é possível você se importar tanto com cada mínima coisa que um garoto recém-saído do ensino médio faz.
— Não sei por que ainda sou seu amigo, sério, não faz sentido. Nada do que você fala faz sentido. A sua existência não faz sentido.
— Na verdade, você implicar tanto com o e repetir os mesmos “erros” — fez aspas com os dedos. — que ele não faz sentido. Você, , e sua forma de amar não fazem sentido. Não adianta negar, você está apaixonado e não quer aceitar.
A conversa esquisita com Hoseok fez com que perdesse sua semana quase inteira. Logo que se despediram para seguir cada um para sua aula, sua cabeça começou a trabalhar intensamente. Muito intensamente.
A verdade era que ele não queria aceitar que o amigo estava certo. Sua forma de demonstrar interesse era muito peculiar, principalmente quando a pessoa que o atraía era alguém como . Era bizarro. Seu corpo reagia em pura raiva, sua mente não funcionava e ele, como um todo, entrava em pane — e em pânico. O problema era que não tinha o que fazer a não ser esperar seu orgulho ir embora e deixar que o tesão lhe tomasse o lugar.
Porém, ainda assim, não queria que isso de fato acontecesse. Era confuso. Talvez não estivesse apaixonado, só a fim. Seria legal rolar uns beijos e, consequentemente, uma transa sem compromisso. era um garoto bonito, apesar de esquisito. Mas, para , aquilo só poderia dar merda. Eram colegas de quarto, afinal, e ele não sabia lidar com o pós-ficada. Sempre acabava confuso — deveria cumprimentar com um beijo? Fingir que nada aconteceu? Se fazer de sonso? Pedir para repetir a dose? Não sabia.
E, céus, lá estava ele surtando em antecipação. Nem sequer queria aceitar que tinha uma queda por e já estava pensando o que deveria fazer depois de dar uns amassos com ele.
Era tudo por causa de Hoseok, isso, era culpa daquele bastardo.
Quando a sexta-feira seguinte chegou, prometeu a si mesmo que se permitiria agir como um universitário comum. Saiu da última aula do dia às nove da noite e decidiu que iria direto para o bar onde Hoseok e Minhyuk estavam com outros colegas. Estava 100% disposto a tomar algumas canecas de cerveja, bater um papo descontraído e até mesmo flertar se tivesse a chance. Precisava sair um pouco da sua própria bolha cercada de regras, números e teorias de como não afundar uma empresa financeiramente.
Contudo, não imaginou que um certo garoto recém-saído do ensino médio estivesse por lá – ele ao menos tinha idade para estar naquele lugar cercado de bebidas alcoólicas (e drogas, que todos sabiam que rolavam à solta no banheiro)? Certamente, não. Mas ninguém se importava – e não deveria se importar também, porém era um tremendo ‘coração mole’ e se preocupava com o colega de quarto, além de também não querer deixar seu dormitório uma completa nojeira por conta de um porre.
— O que essa criança está fazendo aqui? — Foi a primeira coisa que sussurrou no ouvido de Hoseok após cumprimentar todos os colegas que estavam na mesa. — E ainda por cima na nossa mesa…?
— Boa noite para você também, amigo! — Hoseok exclamou. — Primeiro: ele não é uma criança e você sabe disso. Segundo: ele tem uns amigos muito bons em uns assuntos que me interessam e acabei convidando todos para se juntarem a nós. Terceiro: me agradeça amanhã, depois que vocês transarem.
— Você ficou louco de vez, é isso? — fitou o amigo. — Meu Deus, Hoseok! Não acredito que você quer dar uns amassos em algum dos amigos dele.
— Desde que o Minnie e o Hyunwoo começaram a namorar, eu fiquei na mão. Eles são monogâmicos. E o tem amigos lindos, tanto os meninos quanto as meninas. São todos maiores de idade, me dá licença? Não é porque você não transa que não vou transar também.
— Não sei por que ainda sou seu amigo — comentou. — Vou pegar uma cerveja.
— Eu sou o único que ainda te aguenta, é por isso. Pega uma pra mim também, parceiro.
— Não sou seu parceiro, Hoseok, para de falar assim.
— Vai logo, , caralho — Hoseok rebateu ao notar que um dos garotos que estava interessado vinha em sua direção.
— Eu não vou te trazer cerveja nenhuma, seu animal.
— Tudo bem, Kiki, tudo bem. Só sai logo daqui, essa sua cara mal humorada vai me atrapalhar.
ainda pensou em discutir e xingar o amigo por causa do apelido repugnante que fora chamado, mas preferiu deixar para lá e ir tomar sua cerveja em paz. Afinal, havia ido para aquele maldito bar por isso, para ser a porra de um universitário comum pela primeira vez no semestre. E não se importava se teria de acabar a noite sozinho ou com os amigos esquisitos de . Só queria se embebedar e esquecer aqueles dias insuportáveis, as conversas com Hoseok e o próprio Hoseok — queria que tudo fosse para o inferno.
Com isso em mente, ignorou tudo à sua volta e se sentou em uma das cadeiras vazias em frente ao balcão. Com um copo enorme de cerveja na mão, olhou em volta do bar esperando encontrar algo interessante, ou ao menos uma pessoa bonita para admirar de longe, já que, naquela noite, não estava tendo nenhum show. Entretanto, ao olhar para o lado direito, quase caiu do banco e quase levou seu copão junto em direção ao chão.
Em toda sua glória, cabelos penteados de um jeito despojado, roupas bonitas e cheirosíssimo, estava . Sorrindo como se fossem amigos enquanto bebericava sua própria bebida.
Ainda surpreso, ergueu uma das sobrancelhas como se questionasse o olhar zombador sobre si.
— Seu amigo está enfiando a língua na boca do meu amigo — comentou. — Achei melhor vir para cá te fazer companhia. ‘Segurar vela’ não é muito legal, hyung.
— Tenho certeza de que beber do meu lado também não é tão legal assim — revirou os olhos. — Para mim, ao menos, não é nada legal beber com você.
riu e finalizou sua bebida de uma só vez, em apenas um gole, deixando o mais velho ao seu lado um tanto quanto assustado.
— Tem razão — assentiu. — Você é muito chato, mas é a única pessoa com quem me sinto confortável aqui.
— Obrigado, mas e os seus amigos?
— Não tenho amigos, hyung. Aqueles caras são só uns colegas de turma, não gosto tanto deles.
— Então prefere ficar aqui comigo, o roommate chato?
— Definitivamente, sim — deu de ombros e pediu mais uma bebida ao barman. — Você ao menos me faz rir.
— Nós nem ao menos conversamos, garoto. Como é que te faço rir?
— Essa sua carinha emburrada — o mais novo sorriu. — É engraçadinha. Me divirto vendo você irritadinho; sei que é tudo fachada. Mas que tal a gente deixar isso de lado e beber uma cerveja juntos? Estou aqui em missão de paz.
E, diante daquele sorriso bonito e um par de olhos pidões, não conseguiu dizer não. Quando se deu conta, o bar já estava vazio e o sol nascendo — e ele sequer se lembrava de seu próprio nome.
A primeira coisa que percebeu ao acordar foi que sua cabeça parecia que ia explodir a qualquer segundo. A segunda foi que estava completamente nu. A terceira, logo que abriu os olhos, foi que não estava em sua cama. E quarta, já com o coração na boca, foi que tinha um corpo imóvel ao lado do seu. Se não fosse pelo ronco audível que o indivíduo ao lado deixava escapar, até mesmo acharia que ele estava morto.
Espera.
Tinha uma pessoa ao seu lado. Dormindo. Roncando. E ele estava nu, em uma cama desconhecida.
Uma pessoa.
Dormindo.
Ao seu lado.
Igualmente nu.
Como se nada mais importasse dentro daquele quarto – que ao menos reconheceu como seu dormitório –, deixou um grito de pavor escapar de sua garganta, fazendo com que o garoto ao seu lado pulasse de supetão, caindo sentado no chão.
— Meu Deus, o que aconteceu?! — perguntou num tom assustado e olhando em volta como se o quarto estivesse pegando fogo ou sendo invadido por alienígenas.
— O que aconteceu? — repetiu, enquanto enrolava o corpo no cobertor. — Eu que pergunto: o que aconteceu?!
— Hyung…
— Não vem com isso de ‘hyung’ pra cima de mim, ! — o cortou. — O que diabos aconteceu aqui? Por que estamos pelados?
— Você não se lembra da noite passada?
— Me lembro de ter feito a burrada de aceitar tomar umas cervejas com você, não de dormir pelado do seu lado! Pelo amor de Deus, não me diga que…
— Não! — Foi a vez de exclamar e interromper o mais velho. — Nós não fizemos nada. Você bem que tentou, mas estava bêbado demais. Chegou aqui, tirou a roupa e deitou na minha cama dizendo que não sairia dela até que eu aceitasse te beijar. E, como pode perceber, não aceitei. E você não saiu da minha cama mesmo.
sentiu o rosto inteiro corar, até as orelhas. Não queria acreditar que havia feito aquelas coisas horríveis, porém sabia que tinha a grande possibilidade de realmente ter feito tudo e mais um pouco. Era de seu feitio beber e perder a linha, agir sem pensar nas consequências e fazer milhares de besteiras — como no ano anterior, que decidiu beber com Hoseok e acabaram invadindo a casa de um professor da universidade só porque ele tinha uma piscina super legal.
— Eu jamais faria isso — murmurou, tentando negar o que escutava. — Pare de mentir pra mim. Você é um pervertido que sempre anda pelado por aqui! Deve ter sido ideia sua!
— Olha, depois da noite passada, que eu conheci o verdadeiro , eu tenho certeza de que jamais inventaria isso sobre você, e você também sabe disso. Sabe muito bem do que é capaz quando bebe, hyung. Você mesmo me contou suas aventuras.
— Mentiroso! Garoto insolente, mentiroso, babaca, idiota… — começou a murmurar enquanto andava de um lado para o outro, segurando o cobertor em volta da cintura.
— Está tudo bem, hyung, pelo menos nenhum de nós vomitou.
— Eu não acredito que dormi pelado com você.
— Veja pelo lado bom: a gente só dormiu. Mesmo. Eu juro. Jamais faria alguma coisa com você tão bêbado. Sério, você ficou louco demais, hyung. Perdeu a linha, sabe? Tentou me beijar milhares de vezes também.
— Para de ficar dizendo que tentei te beijar. Eu sei que não fiz isso. Eu não quero te beijar. Mesmo que você seja bonito e tenha uma boca igualmente bonita e atrativa. Eu não quis te beijar ontem, nem nunca. Nem quero. Nunca vou querer. Eu não quero te beijar, , pare de voltar nesse assunto. Nada de beijos, está me entendendo? Nós somos colegas de quarto e só isso. Não é porque dormimos lado a lado pelados que eu quero te beijar ou sinto algo por você. Eu só estava bêbado demais.
— De conchinha — murmurou num tom baixinho, e só quando ergueu os olhos, encontrando o mais novo tão perto que podia sentir seu cheiro. — Nós dormimos de conchinha, você fez questão. Dormimos pelados e de conchinha. E você quis me beijar; ainda quer me beijar. Eu sempre soube, e você também. Não precisamos negar isso, hyung. Não sou a criança que você tenta fingir que sou para enganar a si mesmo.
— Cala a boca — rebateu. — Você sabe que isso não é verdade. Você é um moleque insolente que rouba minhas coisas e senta pelado na minha cadeira cara. Eu não quero beijar você, nunca quis. E também não quis dormir de conchinha! Aposto que isso foi ideia sua. É a sua cara ter esse tipo de ideia maluca. Você é completamente maluco, . Eu sou o sensato aqui, tudo bem? Agora par–
não conseguiu finalizar sua fala daquela vez. Foi brutalmente interrompido pela boca bem desenhada de , que magicamente apareceu grudada à sua. Por um segundo, deixou um suspiro escapar e os olhos se fecharam automaticamente. Quando sentiu a mão do mais novo enroscar entre seus cabelos, puxando-o para mais perto, e a coberta quase cair de sua cintura, percebeu o que estava acontecendo: estava beijando . Depois de uma noite de bebedeiras. Recém-acordado. Pelado e com um cobertorzinho chinfrim enrolado na cintura.
Estava beijando !
E, de supetão, se afastou, levando a mão até à boca agora vermelha devido ao beijo demorado – quando caiu por si, já estavam com as línguas enroscadas; havia aproveitado mais do que deveria. Espera, aproveitado…?
— O que foi agora, hyung? — Charngkyun perguntou baixo, um tanto quanto risonho.
— Eu… — engoliu a seco. — Eu não escovei os dentes, me dá licença!
E saiu, simplesmente saiu, deixando um confuso, risonho e feliz para trás.
Não era segredo para ninguém que também nutria certo interesse pelo colega de quarto, mesmo que ele o importunasse dia e noite pelas coisas mais babacas possíveis. O problema é que o mais novo gostava daquilo – era peculiar a forma com que tinha de demonstrar interesse; e às vezes era até bonitinho. Ele gostava, sem mais explicações. Apenas passou a se derreter por inteiro ao ver um sorriso de . E seus olhinhos brilhando. E o rosto corado nos dias quentes ou quando estava com muita raiva ou com vergonha. E como ele parecia um bonequinho quando se enchia de roupas durante o inverno. E como ele era estudioso e inteligente. E até mesmo a forma que ele resmungava e era rabugento. E como ele xingava. E todos os outros detalhes que faziam de , o .
Quando menos esperou, estava apaixonado e sabia que era retribuído. não era burro, nem a criança que tentava acreditar que ele era. Sabia quando alguém tinha interesse nele, sabia quando e como investir. Só precisava do momento e do ambiente certos. E teve tudo de mão beijada na noite anterior, quando os colegas comentaram que iriam para um bar com alguns veteranos, incluindo o melhor amigo do colega de quarto.
Era tudo o que precisava para mostrar para que era algo além do roommate nerd que roubava sua cadeira de couro caríssima.
E ali estavam, depois de uma noite repleta de risadas e histórias contadas, num clima que ele jamais iria esquecer que rolou entre eles. estava risonho, alegre, fazendo piadas e brincando. Parecia outra pessoa. Quando chegaram no dormitório, entre risadas altas e tombos pelo caminho, apoiados um no outro, teve certeza de que era aquele cara que ele queria ao seu lado pelo resto da vida, por mais absurdo que soasse naquele momento em sua cabeça completamente embriagada. Olhar para o sorriso fácil de fazia aquilo com ele; o deixava tonto, zonzo, e ainda mais bêbado. E quando ouviu o mais velho dizer que sempre o olhou, que sempre o quis, que queria seus beijos e que não aguentava mais esperar para senti-lo, ele soube que era hora de investir. Dormir com enroscado em seu corpo, nu como veio ao mundo, e ele da mesma forma, fez com que se sentisse em casa pela primeira vez desde que se mudara para Seul. se sentiu bem, acolhido e tão apaixonado que seu coração poderia transbordar a qualquer segundo.
O som da porta do banheiro se abrindo tirou de seus devaneios e revelou um completamente bagunçado e de cabelos molhados. Ele tentou passar direto pelo mais novo, ignorando-o por completo, esperando que aquele climão todo se dissipasse – mesmo que soubesse que aquilo não aconteceria, já que tinha os olhos pidões implorando por um esclarecimento.
— Hyung. — chamou, e foi ignorado novamente. — Hyung. — Insistiu, e então o encarou.
O garoto sorriu, deu alguns passos em sua direção e o olhou nos olhos.
— Eu também gosto de você, hyung.