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Última atualização: 29/06/2016

Capítulo 1: A Partida


Data: 1607, Londres.

Os homens aglomeravam-se no porto, alguns embarcavam, enquanto outros estavam lá apenas como curiosos. Mulheres despediam-se de seus maridos e filhos, crianças brincavam de esconde-esconde entre a multidão.
- Para o alto-mar zarparemos, rapazes, estejam preparados – Anunciou um dos marujos.- O que os senhores buscam no novo mundo?
- Eu almejo a glória – Respondeu um deles.
- Eu procuro encontrar as obras de Deus nessas novas terras. - Respondeu outro.
- Seus loucos, no fundo todos nós embarcamos nessa banheira velha atrás de encontrar o bendito ouro escondido naquelas terras férteis. - Disse o mais velho entre eles.
- Estamos no caminho certo Virgina Company, logo, nosso desejos mais profanos alcançaremos. - Voltou a dizer o primeiro entre os outros. - Não é a toa que o novo mundo é chamado de paraíso. Nenhum de nós voltará a ser escravo, todos seremos ricos e livres.

Os homens alvoroçaram em animação, enquanto isso, mais deles iam preenchendo o navio. Assim como as gaivotas que pousavam sobre as cortas. Mais abaixo, no cais do porto, um jovem rapaz que carregava uma trouxa, estava se alistando para a viagem, aparentava estar nervoso pela tremedeira que a pena fazia enquanto ele assinava seu nome. O rapaz se aproximou do navio e olhou para cima, usando a mão para proteger os olhos do sol.
- Com licença, senhores, podem me dizer se está é a Virginia Company?- O rapaz desajeitado perguntou aos marinheiros.
- Suba meu rapaz, está no caminho certo.
Segurando sua trouxa com um pouco mais de força , o rapaz atravessou a ponte de madeira que levava até a entrada do navio, que balançava por conta da agitação da água.
- Cuidado! - alguém gritou após ele ter colocado o primeiro pé. Por sorte o rapaz não foi atingido pela rede erguida, que carregava os suprimentos para o compartimento de armazenagem, que estava em seu caminho.

Lá embaixo, a mãe do rapaz observava seu filho desengonçado e secava as mínimas lágrimas que escorreram ao vê-lo se afastar de seus braços e subir na embarcação. Ela sabia que a viagem transformaria seu menino em um homem, algo que ela não poderia fazer sozinha e nem pagar alguém que o faça, já que o pai do rapaz, a muito, já havia falecido.
O jovem rapaz era ruivo, sua franja lisa, caia entre seus olhos; alto, bem mais alto que a mãe; e tinha uma pele rosada, como a de bebês, a mãe sempre o ensinou a cuidar da boa aparência, mas de nada seria útil boa aparência em alto-mar, e o jovem logo descobriria isso.
De um beco próximo, saiu um homem de estatura mediana, ombros largos, cabelos loiros bem sedosos que iam até sua nuca, olhos verdes como duas esmeraldas. Além de sua trouxa, que carregava em seu ombro, trazia consigo uma espingarda e uma espada curta.

- Prontos para içar o canhão?
- Sim. - Os marujos conversavam, mas ao verem o homem loiro sair das sombras, todos pararam o que estavam fazendo para observá-lo. - Olhem! Aquele ali não é o ? - Disse alto o marujo que se apoiava na borda superior do navio. - É ele, não há dúvida.
- Quem é ? - Perguntou o jovem rapaz ruivo.
- Ninguém mais, ninguém menos que o velho lobo-do-mar – Lhe respondeu o marujo na borda - E você, rapaz, como devemos chamá-lo?
-Hum… Eu… Eu sou , . - apoiou seu corpo na borda e olhou ao redor, procurando sua mãe lá embaixo.
- Não creio que nunca tenha escutado falar do Capitão , eu mesmo conto histórias incríveis sobre ele para meus filhos.
- Ah, desculpe meu esquecimento, e como o senhor se chama? - lembrou da educação que sua mãe lhe deu.
- , meu amigo, mas para você, apenas . - desencostou da borda e caminhou alguns passos. - Vamos, vou te ensinar a trabalhar por aqui. Sabe fazer um bom nó garoto?
- Não, senhor, no máximo um bem frouxo.

- , fará está viagem conosco? - Perguntou-o o marujo mais velho, chamado Matt.
- Claro que ele irá, seu bobão! Imagine só, uma luta contra índios sem , não seria uma luta contra índios. - Disse o marujo James Bourne.
passou entre a revoada de gaivotas que começava a subir e segurou uma das cortas do navio, que esvoaçava com o vento. Foi preciso só um pouco de impulso e ele já estava dentro da proa do navio. - Isso mesmo. Não pretendo deixar vocês se divertirem sozinhos, rapazes.
Na rua principal, uma carruagem de madeira escura, com adornos roxos e vinhos, vinha a todo vapor em direção ao porto. O cocheiro não tinha pena do podre cavalo e o chicoteava sempre que desse vontade, o animal de pelagem escura e crina cortada corria ao máximo que podia, puxando a carruagem. As pessoas que não saíssem da frente eram praticamente atropeladas.

Enquanto isso falava com os marujos:
-Desaguaremos nas praias da Virgínia. - Ele disse.
- Ouvir dizer que lá é repleto de diamantes – Completou Matt. - Desembocando rios cheios de prata e o ouro pode ser colhido em árvores.
- Não diga asneiras, Matt, sabemos que seus dizeres não passam de histórias de sonhadores. - Lhe advertiu James.
que com a ajuda de , reforçava as amarras do mastro, ouvia toda a conversa.
- O que eu quero mesmo é levar uma pepita para a Winnie.
- Quem é Winnie? - perguntou a ele.
- Minha filhinha, ela ficou muito triste pela minha partida.
- Quem sabe eu também pegue uma para minha mãe – sorriu, gostando da ideia de trazer um presente para sua mãe.
- As pepitas e tudo mais será dividido entre a Virginia Company, tenha certeza de que terá uma para você.
O navio seguia o curso para mar, deixando Londres cada vez mais minúscula no horizonte e a bandeira da Inglaterra esvoaçava no topo de seu mastro.

Capítulo 2: A Tempestade



Antes de o navio partir, havia subido nele, uma figura curiosa. Usando um chapéu roxo com uma pena azul adornada, presa por uma faixa preta; uma capa cor de vinho complementava seu uniforme, junto com a bota cano médio, que era usada para montaria; tanto o seu gibão como a camisa de colarinho e babados nas mangas longas eram da mesma cor que o chapéu. Se destacava dos outros homens do barco por ter chegado com uma horda de Housecarls em sua guarda. Junto de si trazia um buldogue inglês que era carregado em uma almofada pelo pajem.

caminhou até a popa, apoiou seu braço no mastro e cruzou uma perna sobre a outra, olhado para trás, para o que deixava. Sua expressão demonstrava felicidade, quando voltasse para Londres, traria conquistas e mais histórias que os marujos contariam a suas famílias. O vento que estava contra o barco, bagunçava o seu cabelo, cobrindo seu rosto.
A bandeira esvoaçava por conta do vento, algumas gotas tornaram o tecido mais escuro, algumas gotas molharam o cabelo de , algumas gotas se tornaram várias gotas e o céu escureceu. Não estava ficando noite, era a tempestade do Atlântico que chegou sobre a Virginia Company.

Junto com a forte chuva, chegou a vez dos relâmpagos. Os raios descarregavam-se na água, bem próximo a eles. O vento, de tão violento, fazia a bandeira da Inglaterra ricochetear e quase se partir. As ondas se tornaram tão altas que a todo momento molhavam o Convés. O navio balançava, hora mergulhando sua proa e outras vezes a popa.
- Soltar toda a âncora! - Ordenou o marujo que estava se apoiando na estrutura amadeirada da vela mestra. A preocupação era evidente no rosto de todos.
Os rapazes puxavam as grossas cordas, alguns chegavam até a calejar as mãos. Mas todos cooperavam e trabalhavam em grupo. ajudava o , Matt e James ajudavam os outros, e onde estaria ?
- Vamos, rapazes, vamos mais depressa – Ordenou novamente o marujo na vela mestra.
As roupas pesavam mais que o normal, por estarem encharcadas. Alguns demonstravam dor, outros cansaço, outros não demonstravam nada, apenas faziam seus serviços. Aos poucos e com muito esforço, eles conseguiram enrolar todas as velas, assim impedindo que a tempestade e as ondas arrastassem o navio.
- Alguém me ajude!
- Cuidado!
Mais uma vez a água invadiu o navio, arrastando os homens que não conseguiram se manter firmes.
O casco do navio tombou para a direita. As cordas pelas quais os homens se seguravam precisavam estar bem amarradas a suas bases. Os rapazes no porão faziam de tudo para tirar a água que entrava na parte interna do navio, para assim ele não afundar.
- Mais depressa.
- O navio está fazendo algo – O marujo começou a se desesperar.

O vento continuava destruidor, as ondas altas como gigantes e as profundezas lá embaixo os esperavam.
amarrava um canhão, para que este não fosse levado pela água, o rapaz segurava o objeto com toda sua força, mas as amarras não estavam bem presas e acabaram se rompendo. O canhão se movimentava pelo convés, indo para onde o movimento o levasse e levava consigo o rapaz que a todo custo tentava parar o objeto.
- - O rapaz gritou – Venha aqui embaixo! Desça dai, os canhões estão se soltando! - gritou com todo o ar de seus pulmões, ficando ofegante logo após, tanto pelo esforço sonoro como braçal.
que se segurava no mastro, arregalou os olhos e demonstrou espanto, nunca tinha ficado sob uma tempestade tão cruel. Seu corpo inteiro ficou tenso, teve que pensar rápido para ajudar antes que fosse tarde. Ele agarrou a corda mais próxima e desceu rapidamente, a velocidade fez com que suas mãos ardessem por conta da queimadura causada pelo atrito da fibra natural da corda e a pele de sua mão. Ao aterrissar suas botas no piso, a madeira abaixo de seu calçado estalou. Correu até enquanto vociferou uma ordem aos outros homens:
- Dobrar as velas da gávea!
- Sim, senhor!- foi o primeiro a obedecê-lo.
- Firme em curso - falou ao timoneiro.

Ele chegou até e juntos puxavam o canhão que se movia.
- Está tudo bem, ! Vamos conseguir amarrar.
sorriu, em meio a toda a preocupação foi seu primeiro sorriso. O capitão lhe passava esperança, um sinônimo de heroísmo, coragem e companheirismo, alguém com quem poderia contar. puxou, puxou.
- Façam suas preces, rapazes! - Um dos homens já havia enlouquecido, se pendurava na teia de cordas do navio e ameaçava se jogar na água. - São elas, as sereias, vindo buscar nossos corpos já apodrecidos.
-Cuidado!
- , cuidado... - A água os carregou alguns metros mais distantes.

A maior onda de todas chegou, engolindo tudo a sua frente, por sorte o navio deslizou por ela como um surfista em uma praia, e assim a Virginia Company consegui escapar.
se segurou e olhou para trás, havia alguns pedaços de madeira faltando na borda do navio. As mãos de tentaram se segurar, mas em instantes caiu ao mar.
- Socorro! - Foi tudo o que pode dizer antes de sua boca se encher de água. Era como se sereias o puxassem cada vez mais para longe do navio.
- Homem ao mar! - O faroleiro avisou a todos.
- Socorro! - E novamente ele afundava, este era o maior problema de , não saber nadar. Colocou os braços para cima, para avisar onde estava, mas as ondas que cobriam o rapaz impossibilitavam que sua ação fosse bem-sucedida.

O timoneiro começou a virar o timão, dando voltas.
- Mantenha o curso - Alguém o avisou.
- Mas, senhor, e o rapaz? Ele está perdido! - Seu sentimentalismo não valia de nada para seu superior.
- Não ouviu o que eu disse? Mantenha o curso ou será o próximo a nadar em ato mar, corsário.
- Socorro - Mais uma vezo rapaz teve forças para subir a superfície e implorar por ajuda.
Todos continuavam seu trabalho para sair da tempestade, como se nada estivesse acontecendo.
- Puxem os pinos. - gritou.
- Sim, senhor!
amarrou uma corda em sua cintura e correu até o buraco na borda, o vento forte junto a água gélida machucavam seu rosto, ele não parou, pulou.
- !!! Está maluco. - Ouviu a voz de James antes de mergulhar.
Nadou contra a correnteza, estava afundando, sua mão era a única parte fora da água que indicava onde estava. não saberia dizer se o rapaz se encontrava inconsciente ou não.
- Aguente, , já lhe peguei.
O pino se rompeu. James, Matt e , todos viraram na mesma hora ao ouvir o barulho de corda se partindo.
- Depressa… a corda! - avisou aos outros que junto a ele se locomoveram de suas tarefas, para segurar a corda que sustentava e na água. – Puxem - Eles puxaram juntos. - Marujos, vamos puxem! - Outros homens se juntaram a eles, puxando.
Em nenhum momento deixou os braços cederem, nem o que ajudava a manter a corda em sua cintura e nem o que segurava o rapaz.
- Puxem! Puxem! Puxem!
Eles estavam erguidos, pendurados, quase lá.
- Ponham força nisso companheiros. - motivava os rapazes. - Puxem! Puxem! - A chuva começou a diminuir, sua voz se tornava menos abafada. - Segurem.
Finalmente, pegaram e o jovem rapaz que ele trazia tremendo em seus braços, precisava assumir que a água estava congelante. Os dois foram colocados no chão. colocou a mão sobre a testa, estava ofegante e colocou toda a água para fora de seus pulmões.
- Ah, rapaz de sorte! - ajudou o amigo a levantar.
- Bem refrescante o banho de vocês imagino. - James brincou com a situação.
Você não faz ideia - respondeu se recompondo.
- E nem quero, meu caro.

tirou de seu bolso a boina encharcada de , colocando na cabeça do rapaz logo em seguida. sorriu, foi salvo e estava bem, não tinha como as coisas estarem melhores para ele.
- Garanto que se eu caísse, todos vocês teriam feito o mesmo por mim não é? - O clima entre eles começou a descontrair e o céu a clarear.
- Sim, sim. - Disse James.
- Ah, Claro- Respondeu Matt.
- Claro que faríamos. Com certeza!- falou.

Uma lamparina iluminou a sombra dos homens no chão, ao olharem para o seu portador viram nada mais, nada menos que o pajem, o cachorro e o homem de roxo.
- Problema no convés? - Sua voz cortou o ambiente.
-Governador - cumprimentou-o.
caiu no mar, senhor. - James contou o ocorrido.
- Graças aos céus foi resgatado - friamente se referiu ao rapaz. Sua expressão se mantinha rígida desde que entrou a bordo. Passou a maior parte do tempo em sua cabine. - Parabéns por salvá-lo, .
- Obrigado, senhor.

O governador se virou e andou até um canto onde pudesse ser ouvido por todos. O pajem em seu encalço carregando a lamparina:
- Não percam a esperança, rapazes. Logo chegaremos ao novo mundo. - Todos o observavam e o escutavam - E lembrem-se o que nos espera por lá. - O cachorro latiu em concordância com seu dono. - Liberdade, prosperidade, a aventura de nossas vidas. Vocês são a melhor tripulação que a Inglaterra tem a oferecer, e nada, nem vento, nem chuva, nem mil selvagens sedentos de sangue, serão obstáculo para nós. - Seu discurso havia acabado – Prossigam, homens!
Todos voltaram a se animar.
voltou a sua cabine, ao trancar a porta colocou o cachorro no chão.
- Um belo discurso, senhor. - Lhe sorriu o pajem. – Escute, os homens vibram de alegria por vossas palavras. - O pajem preparou um balde com água quente para seu senhor descansar as pernas.
- Estou ouvindo. Precisarei desses tolos mais adiante, se não todos já estariam a remar rumo ao inferno.
Por que precisa deles senhor? - Tirou as botas do governador com certa dificuldade.
Ora ora, esses camponeses irão cavar para achar meu ouro.

Finalmente e firmaram os canhões revestidos por cordas.
- Este novo mundo me parece cada vez mais excelente. - Sua animação era contagiante. - Eu vou ter um bocado de ouro, farei uma bela casa, e se algum índio tentar me impedir, acabo com ele.
riu de tudo que o rapaz disse – Acho que ainda tem água salgada em sua cabeça. - Mais um canhão estava pronto – Preocupe-se apenas com sua fortuna, . Deixe os selvagens para mim.
- Acha que eles vão dar trabalho? - James se intrometeu na conversa.
- Não mais trabalho do que o dará a eles, garanto! - Matt que estava esfregando o convés também se intrometeu. - Nós mataremos os índios.
- Acho que só consigo uns dois ou três – James pegou o esfregão de Matt e fingiu ser uma espada.
- Aos homens da Virginia Company, leais e corajosos. - abriu um dos compartimentos de vinho e os homens dividiam entre si em canecas metálicas.
Eles cantavam, bebiam, alguns até esperavam para serem os próximos a dançarem com o esfregão.
- Me siga. - chamou para subir ao topo do mastro e juntos colocarem a nova bandeira, já que a antiga ficou destruída.
- Como imagina que deve ser o novo mundo? - perguntou para se distrair, com receio de olhar para baixo.
- Suponho que seja como os outros - parou para olhar o horizonte lá de cima. - Tenho visto centenas de Novos Mundos, . O que poderia ser diferente neste?

Capítulo 3: Just Around The Riverbend


Após a espessa neblina. O novo mundo surgia, banhado pelo nascer do sol. O rio desaguava no mar e separava duas espessas camadas de terra cobertas por uma vasta vegetação nativa.
Longe de lá, seguindo o serpentear do rio rumo a sua nascente. Encontrava-se um bosque de coníferas, ao passar por este bosque e seguir mais adiante, onde as árvores são mais altas e mais antigas. Havia índios, uma horda deles que navegavam em suas canoas pelo rio. Cinco indiozinhos remando em cada canoa. Caracterizados pela pele parda, poucas vestimentas feitas de couro de animais que foram caçados, pois esse tipo de tecido aquece, pinturas feitas com tintas naturais representando sua própria simbologia, cabelos negros, lisos e densos, olhos levemente puxadinhos e de íris escuras. Embora fossem parecidos, cada rosto era um rosto, com suas próprias características.
Entre os que estavam fora da água, na tribo, carregavam instrumentos rudimentares como lanças feitas de madeira e rocha como lâmina, assopradores que dependendo do som, significavam certo recado, arco e aljavas com flechas. Entre suas vestimentas, havia saias, calças e sapatos, todos de tecido rudimentar e natural. Os indígenas preenchiam o interior do novo mundo, nos altos rochedos, entre as árvores, nas margens do rio.
Ao redor da aldeia era notável a interação com a natureza, como exemplo andar lado a lado com um cervo.
Os indígenas comemoravam a chegada daqueles que estavam nas canoas. Todos saíram de suas tarefas, como a colheita das frutas, para receber os recém-chegados.
- Rápido, vamos meninas, tragam o tambor e a flauta de cedro. - O líder religioso reunia todos ao redor das tendas onde habitavam. Todos os trabalhadores, tanto os da agricultura, caça e pesca, agora estavam reunidos na aldeia.
- Estações vem e vão e ainda não pude ir com os guerreiros. Por que, mamãe? - a tribo conversava entre si, cada qual com seu assunto.
- Olhe, filho, eles trazem um bisão. - Certamente significava que todos comeriam um pouco de boa carne esta noite.
Junto a música produzida pelos instrumentos, foram deixados cestos repletos de peixes e frutas. Pode-se dizer que estamos diante de um “banquete”. Mesmo com todo o barulho que eles causavam, lá no fundo dava para ouvir a quedas-d'água que vinha das cachoeiras da região.
- Temos esturjão para está noite – Disse um dos pescadores, abrindo as cestas e mostrando os peixes que estavam lá dentro.
- As mulheres trarão feijão.
O líder religioso ficou entre todos e rogou:
- Fomos abençoados nessa estação pela Mãe Terra, e que o Grande Espírito, que cumpriu sua promessa de proteger nossos guerreiros em sua jornada, esteja aqui hoje, ouvindo nossa canção e aceitando nossas oferendas a ele.
A idosa xamã, veio se juntar a eles, logo as crianças correram de encontro a senhora de cabelos brancos. Ela foi a responsável por acender a grande fogueira, a fumaça dançou rumo aos céus.
- Mantenham forte o fogo sagrado - Ela avisou, então os fortes homens jogaram mais lenha na fogueira.
Ele chegou, o líder, o chefe, podendo ser dito o cacique, junto ao seu cocar de belas penas. Diferenciava-se dos outros por seu cajado, manto especial e um colar. Ele andou entre seu povo, sorrindo, observando a felicidade deles, as mulheres iam atrás de seus maridos guerreiros que agora estavam de volta em casa. A alegria era plena por toda a tribo.

O chefe se encontrou com o líder religioso, ao redor da fogueira.
- É bom tê-lo de volta.
- É bom estar em casa – O chefe concordou.
Os guerreiros estavam de volta, porque ocorreu uma batalha entre eles e outros nativos chamados de massawomecks.
- Quais as novidades da batalha? - Um jovem perguntou ao seu chefe.
- Ganhamos, pela força do Grande Espírito, ganhamos. Devemos isso a nossos irmãos que juntos salvamos nossa aldeia novamente.
- Vamos começar as comemorações da vitória. - O líder religioso tocou o ombro de seu chefe.
- Espere, mas onde está minha filha? - Olhou ao redor confuso, procurando aquele rosto já a muito conhecido. - Não a vejo em nenhum lugar.
- Você conhece . Ela tem o espírito da mãe. - O líder se sentiu orgulhoso ao falar da mulher, afinal a mãe de fazia falta a todos.
Yoomee era uma mulher maravilhosa, tão gentil, sábia e bela, mas também era bastante curiosa e ingênua. Todos na tribo a adoravam, alguns chegavam até a invejá-la. Yoomee ia aonde o vento levasse, porém foi obrigada a mudar seus hábitos quando se casou, ela amava seu marido e ele a amava acima de tudo, embora ele fosse o chefe da tribo, ele era submisso aos desejos da esposa. A felicidade era constante na tribo, mas quando Yoomee engravidou da pequena nem mesmo as guerras com outras tribos conseguiam desanimá-los.

O vento soprou ao redor deles, levantando as folhas caídas pelo chão e as guiando por entre as árvores, algumas das folhas já não conseguiam acompanhar mais o vento e essas caiam sobre a água, quebrando o espelho que se formava em sua superfície e deixando turva aquela visão. Os animais estavam escondidos por entre as folhas, vivendo suas vidas naturalmente selvagens, alguns macacos apoiados nos galhos pelas caldas, ficavam de cabeça para baixo para conseguirem pegar as frutas que também se penduravam, maduras. que estava no pico de um penhasco na margem de uma das cachoeiras da região, podia observar toda aquela beleza ali de cima, o vento emaranhava as madeixas grossas de seu cabelo negro, vestia-se como de costume um vestido de pele, detalhado com pelos, com uma única alça. Lá de cima podia ver sua aldeia e as canoas chegando, estava prestes a descer quando algo um pouco mais para lá, na margem do rio lhe chamou a atenção, o objeto brilhava e reluzia quando tocado pelo sol, o objeto estava na direção contraria a de sua aldeia, poderia ser perigoso, mas sua curiosidade falava mais alto. Sabia que provavelmente seu pai a esperava, mas não poderia deixar aquela oportunidade passar. Afastou-se do rochedo focando o horizonte, dava passos para trás de costas para o caminho que percorria, tomou impulso e correu, pulando do rochedo eu direção ao rio que estava lá embaixo a esperando, a correnteza a levaria direto até o brilhante objeto. A sensação era de estar voando, os poucos segundos em que sua queda durava a fazia se sentir livre, como um pássaro, voando para onde bem entendesse. Se na época existisse a modalidade de saltos ornamentais, os técnicos diriam que sua posição esticada foi perfeita, assim como a finalização ao entrar na água. Nadou até o objeto brilhante, precisava pegá-lo.
O pegou e analisou, era lindo, dourado como o milho, só que brilhava bem mais e o feixe de luz dependia do movimento que fazia, ao redor tinha ornamentações em formato de pétalas, virou o outro lado e assustada com o que viu derrubou o objeto, a parte de vidro acabou se quebrando, ela olhou para a água e olhou para o objeto, sua face refletia em ambos, era como se a água estivesse presa naquela coisa, mais nítida, agora quebrada, alguns pedaços permaneciam presos a estrutura de ouro, então olhou ao redor procurando quem ou o que poderia ter colocado aquilo ali, não achou ninguém então tomou o pertence para si, embrulhando-o por dentro das vestes.

- ! – Uma voz conhecida a chamou, um pouco distante, correu por entre as arvores até encontrar sua amiga Tallulah – Seu pai está a te procurar.
- Vamos então – Correu novamente, em direção a aldeia, o objeto incomodava um pouco na corrida, mas não ligaria, puxava a mão da amiga que não era tão rápida quanto ela e aos tropeços, conseguiu acompanhá-la, as duas riam animadas pela volta dos guerreiros que eram seus primos, amigos, vizinhos e companheiros de aldeia, todos eram importantes para o Grande Espirito. Tallulah acabou caindo quando tiveram que passar por uma rocha escorregadia, mas estava bem. gostava do jeito desengonçado e atrapalhado da amiga, deixa ela mais divertida, embora atrapalhasse na hora do trabalho.

Chegaram na aldeia e um dos heróis de guerra contava a história do ocorrido durante o conflito com a tribo inimiga.
-... O inimigo era forte, a batalha começou ao amanhecer e terminou com as sombras da noite, tínhamos a vantagem dos guerreiros corajosos e determinados, o mais bravo entre todos foi Kaliska, atacando os inimigos como um verdadeiro coiote caçador, os guerreiros destruíam os inimigos que entravam eu seu caminho.. – Nesse momento o líder religioso colocou em Kaliska uma nova marca, uma nova pintura. Kaliska era forte, bom guerreiro e bom homem, considerado o galã da tribo. Seu pai já havia falecido, porém todas as suas ações em vida, tinha como objetivo honrar e orgulhar o espirito de seu pai. - Ele é tão lindo! – Tallulah falou corada, observando o rapaz, não era a primeira vez que ela demostrava ter apreço pelo rapaz. – O melhor de tudo é o seu sorriso raro de aparecer, precisa prestar atenção para vê-lo.
não prestava o mínimo de atenção ao que a amiga dizia, falar dos homens da aldeia não era seu hobby preferido, mesmo sabendo que com a idade vem o casamento com algum entre eles.
- Esta noite teremos um banquete para honrar Kaliska – O pai de se pronunciou. Ela esperou que ele terminasse de falar e correu até os braços do pai – Minha filha.
- Winggapo* pai – Ela lhe deu boas-vindas de volta a casa.
- Estou contente em ver você, está mais bela do que me lembro. – Aconchegou ela em seu abraço.
- O senhor está bem, isso me alegra. – Sorriu o observando, checando se havia algum machucado com o qual deveria se preocupar.
- Me acompanhe – Colocou a mão apoiada nas costas dela, a guiando e a outra segurava o seu cajado – Temos muito de que falar. – Estavam indo para a grande tenda, se destacava das outras por ser a tenda do chefe. – Me conte, o que tem feito esses dias? – Eles entraram.
- Há várias noites venho tendo o mesmo sonho estranho. Acho que é de algo que está para acontecer, algo empolgante – Ela segurou o seu cajado para que ele pudesse retirar o cocar e guardá-lo.
- É, algo empolgante está prestes a acontecer – Os olhos dela brilharam em expectativa.
- E o que é? – A curiosidade a dominava mais uma vez.
- Kaliska pediu sua mão em casamento - O pai dela estava orgulhoso por contar a ela.
- Casar com Kaliska? – A decepção em sua voz era perceptível, sabia que sua melhor amiga gostava dele, não seria nada bom quando ela descobrisse.
- Eu disse a ele que teria minha benção, agora ele está na tenda a perguntar aos espíritos se o matrimônio os agradaria. – Ele colocou as mãos nos ombros dela, para passar lhe força, se desvinculou do toque dele e lentamente saiu da tenta, ainda em choque e incrédula.
- Eu não o vejo como os outros, não o vejo como Tallulah vê.
O pai dela se aproximou por trás – Minha filha, Kaliska será um bom marido. – Eles se entreolharam – Ele é leal e forte, construirá uma boa casa de paredes firmes. Ele cuidará e protegerá você.
Ela entrou novamente na tenda.
- Não era para este caminho que meu sonho indicava. – Ela bufou.
- Eu garanto que para você este é o caminho certo.
- Mas, por que não posso escolher? – Ela amentou o tom de voz.
- , venha comigo. – Eles andaram para outro lugar – Como filha do chefe, há a responsabilidade, você precisa assumir o seu lugar entre nosso povo, todos temos um lugar junto ao grande ruim, determinado antes mesmo de nascermos. O rio segue seu caminho, forte e orgulhoso, devemos ser como ele. Ele escolhe o curso mais suave e longa vida terá, o rio é constante, como a batida dos tambores de nosso povo. – Ele tirou uma pulseira azul de dentro das vestes – Sua mãe o usou em nosso casamento – Segurou o objeto com ternura. – Agora é sua vez de usá-lo. – Ela estendeu o pulso e ele carinhosamente colocou o objeto, dando um nó no final, não muito apertado para não a machucar. – Ficou bem em você.

Minutos haviam se passado, ela se olhava no rio e mantinha o objeto reluzente em sua mão, se olhando por ele de vez em quando.
- Ele espera que eu seja como o rio, constante – Falou para os animais que se aproximavam dela, não tinham medo. – Mas ele não é tão constante assim – Sua expressão mudou de pensativa para divertida em questão de segundos. Ela se levantou e pegou um pequeno esquilo no colo – Saiba que o que eu mais gosto nos rios é que eles nunca estão iguais, nunca a mesma água em que pisei antes, pisarei novamente – Ela colocou seus pés delicadamente dentro do rio, que apresentava uma temperatura amena. Guardou o objeto novamente nas vestes. – A água sempre está mudando e fluindo. – O esquilo parecia a ouvir e compreender, ela entrou em uma canoa e se pôs a remar, o esquilo ao seu lado. – Porém pessoas não podem viver mudando e fluindo. Temos um preço a pagar e no final perdemos a chance de saber o que há depois da curva do rio? Os pássaros sabem, mas não podem me dizer. Eu espero um dia descobrir o que há além de lá. – Remava adquirindo velocidade. – E depois da costa o que que tem? Sinto que está relacionado ao meu sonho o que quer que esteja depois da curva do rio. – Ela remou até chegar à queda de água, um fino véu de água cristalina que por baixo escondia uma gruta. – Eu sinto algo me chamar, para além daqui. Talvez finalmente eu aceite um marido bonito e uma casa construída com paredes firmes, desde que ele me ame. – Passou em velocidade pelas corredeiras, deslizando por uma pequena queda de água. – Será que há algo no fim do mar? Algo para mim? - Passou por um arco íris e chegou a uma duplificação do rio, onde parou de remar. – Devo escolher o curso mais fácil e constante? – Olhou para o largo e tranquilo ramo do rio a direita. E depois para o tortuoso a esquerda – Mas, e meu sonho? – Por fim seguiu o tortuoso.

Capítulo 4: Nuvens Estranhas.


Uma árvore robusta se encontrava no meio de seu caminho, de tronco grosso, as folhas que caiam de seus galhos, formavam um verde véu. remou por entre as folhas, um grupo de pássaros se empoleirava nos galhos mais altos, localizados na copa da árvore. O ambiente se tornou escuro, afinal a árvore impedia a passagem do sol.
Havia vida naquela árvore, havia vida ao redor dela.
deixou sua canoa na margem, que estava cercada pelas raízes da grande árvore, as raízes serpenteavam pelo solo e pela superfície. Com a ajuda dessas raízes ela subiu na árvore. Seguindo o canto de uma voz conhecida.
- ? Minha amiga, venha até onde eu possa vê-la - A voz de criança a chamou, alguns galhos mais a cima.
subiu até onde ela estava, sentando-se ao seu lado. – Nechan, preciso falar com você sobre...
Nechan interrompeu sua fala, Nechan era um espírito de criança e era exatamente isso que seu nome significava. Filha do Grande Espirito, veio para trazer alegria ao povo. Pequena e esguia a menininha usava apenas uma faixa de pele para se cobrir, era sua maneira de mostrar que era igual aos outros.
- O vento veio e me disse antes de você dizer. Você não está feliz aqui não é mesmo? Tem um mundo sem fim além daquele mar, eu vi. – Nechan abre a mão e lhe mostra uma concha. Depois coloca a concha em seu ouvido. – O vento está preso aí dentro e ele fala: Que você terá um bom dia, algum dia.
- Não é que eu não esteja feliz, só não estou satisfeita. Eu quero saber o que tem além de lá, mas... Meu pai diz que nosso povo precisa de mim. Suas palavras são confusas, Nechan, tão confusas quanto esta água – Mostra o objeto brilhante, que escondia nas vestes, para a menina.
- Sou capaz de cruzar o rio e escalar a montanha com meus próprios pés e mãos, mas não sou capaz de lhe dizer o que isso significa – Mexeu no objeto de cima para baixo, de um lado para o outro – Mas não há água aqui, não há vida. – A menina olhou para e pegou seu braço, seus olhos brilharam e o sorriso que sempre carregava cresceu ainda mais – A pulseira de sua mãe!
guardou o objeto brilhante novamente – Era sobre isso que vim lhe falar. Meu pai quer que eu me case com Kaliska – Ela olhou para baixo, seu tom de voz diminuía com o decorrer da fala. – Mas ele é tão...
- Sério – A garotinha completou – E, se me lembro bem, sua amiga gosta dele.
- Sim, ela o ama. Mas meu pai acha que esse é o caminho certo para mim. Meus sonhos... Indicam o contrário e acho que...
- Conte-me sobre sonhos, eu gosto deles, já que não posso ter os meus. – Nechan deitou no colo de para prestar mais atenção. acariciou os cabelos da menininha, pareciam tão reais. – Pode começar – Olhou para cima, para o rosto de , de certo modo tão parecido com o seu.
- No sonho eu estava me vendo correr pela mata, e, de repente, algo passou rápido como uma estrela cadente, mas fui capaz de vê-la. Bem em minha frente, há uma flecha. Quando olhei para ela, ela começou a girar.
- Uma flecha que gira? – Nechan disse, animada – Nunca vi algo assim. Conta mais!
- Ela começou a girar cada vez mais rápido - Ela fez o movimento giratório com o dedo e Nechan a acompanhou - Até que, de repente, ela parou... O que você acha que pode ser?
- Bem... – Nechan abriu os braços, fechou os olhos e sentiu o vento ao seu redor, brincando com os seus fios de cabelo – Os espíritos dizem que ela... Não consigo ouvir direito... Ela pode estar indicando o seu caminho – A menina sorriu – Ou não.
- Mas então, qual é o meu caminho, Nechan? – Seu tão conhecido tom de curiosidade na voz mais uma vez estava aparente. – Como vou encontra-lo?
- Perguntas e mais perguntas – A menina queixou-se – Sempre que me vê, está cheia delas. Sua mãe era igualzinha – Começa a sumir mais alguns galhos e a segue. – Não seria estranho se eu te dissesse que ela fez a mesma pergunta. E agora te dou a mesma resposta: Você deve ouvir, você está rodeada de espíritos, amiga, e na hora certa eles irão te ajudar. – Se sentou novamente.
- Eu sei sobre eles, vivem na terra, vivem na água, vivem no céu, vivem em mim também – Estava confiante sobre suas próprias palavras.
- Você está certa, se você os ouvir, eles a orientarão pelo seu caminho. Assim como eu faço com o meu. – Sua voz a cada palavra se tornava mais um sussurro. Em um piscar de olhos Nechan não estava mais a sua frente, mas vestígios de sua voz ainda podiam ser ouvidos – Consegue ouvir o vento a lhe chamar?
- Sim.
- O que mais o Rassoum diz? – Nechan falou o nome de seu companheiro de jornada, espirito do vento.
- Eu não entendo com clareza - estava confusa e admirada ao mesmo tempo. Olhava ao redor tentando achar de onde aquela brisa gélida vinha e para onde ela a levaria. Mas tudo estava turvo, como um redemoinho de incertezas. Ela decidiu seguir seu próprio espírito, aquele que falava dentro de si. Talvez assim pudesse entender.
- Não escolha um dos dois para seguir, junte o melhor de si e o melhor do Rassoum e vai entender – Nechan já não estava mais lá para guia-la.
ainda não entendia, mas precisava arriscar, subiu e subiu mais na árvore, mas não apenas para cima, para a direita também, para onde seu coração mandava e por onde as folhas caídas indicavam que o vento soprava.

Deixe que se desmanche sobre você
Como a onda sobre a areia
Ouça com seu coração
E vai entender



- Agora eu consigo compreender o que dizem – Colocou as mão entre as últimas folhas que a separavam de ver o céu – Algo está vindo. – Olhou para o horizonte, perto do mar, algo se movia, balançava e se agitava, esse algo seguia o rumo da maré e vinha cada vez mais para perto - Nuvens Estranhas! É isso que veio.
Incredulidade, espanto, curiosidade, confusão, admiração, surpresa, medo, assombro, extasiada, choque: Todas essas palavras podiam descrever como ela se encontrava naquele momento. Se não tivesse mãos firmes e a prática de subir em árvores, com toda certeza teria caído ao ver tal ser estranho metros e metros a sua frente, mas isso não o deixava menor.

***


As grandes velas brancas estavam bem abertas, aproveitando a brisa marinha, assim conseguiam velejar mais rápido ao longo da costa. A bandeira da Inglaterra continuava erguida no topo do mastro. Ah, as gaivotas, todos os homens que flutuavam sobre os mares deveriam saber que são o sinal de terra. Embora à primeira vista sejam símbolo de esperança; posteriormente só trazem problemas, se empilham sobre as hastes do navio, fazem caca por todos os lugares e os marujos precisam limpar, não deixam que os homens durmam em paz por serem barulhentas, praticamente atacam os alimentos, entre outros motivos que fazem com que em pouco tempo, mudem de opinião sobre elas.

* * *


O Governador abriu a porta de madeira da cabine e conversava com seu servo, em sua vista a água se encontrava calma, o céu límpido e as árvores robustas.
- Todo um Novo Mundo, cheio de ouro esperando por mim. – Seus olhos brilharam em ganância.
- E há muitas aventuras esperando por nós, certo, senhor? – Seu servo balbuciou alegremente, um rapaz de pouca carne e pouca estatura, ainda era difícil entender como carregava tantas coisas em seus pequenos braços quando seu senhor lhe pedia. – Como será que são os selvagens, e quantos são?
- Pare com perguntas seu imbecil, não me dirija a palavra quando não for chamado e quando for, evite falar asneiras. - rosnou – Os selvagens que encontramos serão recebidos com uma adequada saudação inglesa e não pense que está aqui para aventuras e diversão, ande logo, traga-me o vinho. – Fechou a porta com força e sentou em sua poltrona a espera de ser servido.
- VINHO, podemos dar cestas com vinho aos selvagem, seria uma saudação adequada senhor? – Entregou-lhe a taça com o conteúdo.
fez questão de ignora-lo enquanto bebericava sua bebida – Ele veio tão bem recomendado – Dialogou sozinho com sua amargura em relação ao seu servo. – Agora entendo o porquê do valor de seus serviços ser tão barato...

Toc.Toc. Batidas na porta foram ouvidas e antes mesmo de dar a autorização, já se encontrava a sua frente.
- A água está profunda o suficiente, Governador. Podemos puxar até a praia – Usou o tom habitual de profissionalismo. Toda essa compostura apresentada em sua voz, movimentos leves com as mãos e face inexpressiva foi quebrada pelos cabelos desgrenhados cobrindo parte de seu belo rosto, mostrando que sua verdadeira natureza não era ser submisso as ordens de qualquer um, o capitão saía do estereótipo mantido pela sociedade de sua época. – Olá, pajem. – Saudou o servo com um breve aceno.
- Muito bem, então. Dê as ordens aos marujos. – Continuou com seu vinho, descansando em sua poltrona. Afinal para , tudo o que ele pudesse ver e tivesse utilidade, lhe pertencia. Assim como aquelas terras, suas terras, mesmo que na realidade fossem do rei, ele gostava de acreditar em sua própria ilusão.
- Já o fiz, senhor - sorriu vanglorioso. – Tudo está preparado, reuni os marujos e estão prontos para sair.
- Hmm - tentou esconder sua chateação por as ordens terem sido dadas antes mesmo de sua aprovação. – E quanto aos nativos, conto com você para que esses pagãos imundos não prejudiquem nossa missão.
O incômodo do servo pela escolha de palavras de seu senhor era claro. Por sorte estava atrás dele e não teria como receber uma bronca pelo seu ato. continuou:
- Bem, se forem como os selvagens com quem já lutei, não são nada que eu não dê conta. – Mais uma vez se vangloriando.
- Isso é tudo, , volte aos seus afazeres. – Esperou que ele saísse para poder continuar. – Esse sim é um bom homem, deveria seguir como exemplo. – Aconselhou a seu servo. – Os marujos gostam mesmo do , não é? – Coçou o queixo pensativo. – Ele deve ter grande valia para mim.
O pajem não se incomodou em responder, sabendo que seria criticado caso respondesse.
- Diferente dele, eu nunca fui um homem popular. – Levantou e caminhou pelo cômodo com passos largos, mantendo uma expressão de desgosto.
- Eu gosto do senhor. – Arriscou dizer “ Apesar de tudo”.
- Eu tenho meus pássaros pela cidade e por essa embarcação. Não pense que não sei o que os traidores da corte e daqui falam de mim pelas costas. – Falou tranquilamente, observando atentamente seu servo, que engoliu em seco. – Você sabe de algo? Ande fale!
- Eles...Eles dizem que... O...O senhor é... Um patético oportunista, fracassando em tudo o que tenta...
não demonstrou surpresa – Estou bastante consciente já, dizem algo a mais?
- Não que eu lembre senhor, mas... aqui no navio falam sobre ser sua última oportunidade de alcançar a glória e que o rei não financiaria mais suas loucuras. – Temendo que a raiva de seu senhor caísse sobre si, arranjou alguns afazeres pela cabine.
- Ora! Assim que ele ver os meus montes de ouro e o meu sucesso, obtido por esses camponeses idiotas – brandou – Irá manter o interesse em meus negócios. Anote o que lhe digo.

Enquanto se arrumava, os marujos desciam os botes.
- Acorde, rapaz! Sacuda as pernas. - acordou , que tirava um cochilo. - Precisam de dois homens nas pontas para controlar as costas do bote, me daria essa honra de ser meu parceiro?
se animou no mesmo instante, sua vitalidade era contagiante. – É incrível, não é? Eu não me canso de olhar para cada detalhe, do mais perto ao mais longe.
- Realmente, eu nunca vi nada igual, mas levante e venha me ajudar - estendeu a mão e o ajudou a se firmar em pé.

Matt, exaltado, se aproximou deles; trazendo um rolo de degraus em mãos.
- Não vejo nada demais, pra mim, até os calções enfeitados do Governador são mais atrativos. Eu estou louco para sair deste navio fedorento e poder parar de olhar para o mesmo pico desde que avistamos terra.
Apoiou o rolo de degraus na proa e os jogou para baixo, abrindo a escada que eles formavam. sentiu uma mão em seu ombro e se virou para trás, para descobrir quem era. E lá estava .
- Vamos, homens! – Colou o pé direito na escada, seria o primeiro a descer – Não viemos até aqui só para ficar olhando. – Carregava consigo uma espingarda e uma alforja. Logo após ele, desceu e os outros em diante.

Eles remaram nos botes, ouvindo novos sons, novos cantos de pássaros. Remavam rumo a costa. Os homens de seu bote pareciam maravilhados. Mas diferente de todos, encarava a tudo com desconfiança. A cada vez mais se infiltravam pelo desconhecido. “Onde os selvagens estão?” Alguns se perguntavam, “Quando vamos atacar?“ Perguntavam-se outros, e ainda tinha aqueles mais gananciosos, onde a única preocupação era achar o ouro. Remaram até o raso, até o bote encostar em terra, em areia.
desceu do bote com pressa, explorar era sua parte preferida nas expedições. Ele olhou para os lados, a procura de não se sabe o que. Seus olhos não conseguiam se focar em um único ponto, havia muito ali para se ver.
Quando todos os botes os alcançaram, começou uma das partes mais difícil do trabalho. Amarraram cordas ao longo do navio, e os homens em terra puxavam e puxavam, trazendo-o cada vez mais para o raso.
- Mantenham a tensão rapazes! Firmes! Firmes! – Mesmo com as mãos calejadas, não podiam parar.
- Parem, já foi o bastante – Disse . – Pronto, amarrem logo.
- Pegue, , amarre está ponta. - jogou a corda para trás de si, mas ninguém a pegou, olhou para trás - ? Onde está? – Não obteve resposta, mas o encontrou subindo um pedregulho. – O que está fazendo aí em cima?
- Quero olhar melhor – Semicerrou os olhos. E uma incrível paisagem se arremeteu a frente.
O que ele não esperava, era estar sendo observado, pelo alto de uma árvore, admirava-o. Seus traços, suas vestes, suas cores, suas armas, tudo era uma nova descoberta. sentou-se e tirou um biscoito de seu bolso, comeu-o deixando algumas migalhas caírem.
- A primeira refeição neste Novo Mundo. – Sorriu, observando os fatos – Com certeza deve ter algo de melhor gosto brotando nestas terras. – Jogou o biscoito para longe – Chega disso por mais de quatro meses.
O biscoito, foi parar mais próximo de , que se encolheu em cima da árvore. O que aquele objeto redondo seria capaz de fazer? Mas se ela o viu comendo, provavelmente não faria nenhum mal. Ela desceu da árvore e foi até o biscoito, enquanto isso já voltava para junto dos outros homens.
pegou o biscoito e o provou, até que o gosto lhe agradou.
- ! Venha logo para cá. O governador está vindo para a praia. - chamou ele.

***



Bem perto dali os índios estavam reunidos. Fumaça saia da fogueira e fofocas, sobre o que viram, rolavam soltas.
- Viu a pele deles? Pálida e doentia.
- Eles têm pelos no rosto, como cães.
- Meus irmãos – O chefe chamou a atenção de todos, batendo seu cajado no chão – Temos de saber mais sobre esses visitantes. O que os espíritos dizem?
A velha se aproximou do fogo e de dentro de suas vestes tirou o pó que incendiaria. O fogo se elevou e a fumaça se transformou, imagens surgiram dançantes. A primeira trazia os homens armados e de armadura.
- Esses não são homens como nós... – A chama crepitou, como um tiro – São feras estranhas com corpos que brilham como o sol, suas armas cospem fogo e trovões. – Outro crepitar aconteceu, amedrontando os que viam. A imagem mudou, a seguinte trazia lobos feitos de sombras e fumaça atacando os índios – Eles vagam pela terra como lobos vorazes. Consumindo tudo em seu caminho.
- Conduzirei nossos guerreiros ao rio e atacaremos. – Se intrometeu Kaliska – Vamos destruir esses invasores como destruímos os massawomecks. – Deu um passo à frente, se destacando do grupo, suas feições demostravam bravura e determinação.
- Kaliska! Naquela batalha sabíamos como lutar contra os inimigos – Disse o pai de . – Esses visitantes caras-pálidas são estranhos para nós. Leve alguns homens para o rio e os observe. Esperamos que eles não pretendam ficar.

Continua...



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