Capítulo Único
...
- vamos ! Aposto que você vai amar! Eles são tão engraçados! – a minha melhor amiga, , tentava me convencer a ir ao teatro com ela, jurando que isso ia me tirar da fossa.
- Sério, ? O fato de você estar pegando um dos caras da peça não tem nada a ver com isso? – ela sorriu – me deixa aqui no meio do chocolate e da pizza só mais hoje, juro que amanhã volto a ser uma pessoa agradável!
- Pra começar, você nunca foi agradável, ! E nada disso, você já esta nessa bad há uns 15 dias – ela se jogou na cama afastando um prato de brigadeiro – o Marcelo te traiu com sua prima, você botou ele pra fora e já chorou tudo que podia! Eu me recuso a deixar você se afundar aqui! Levanta essa raba linda da cama, toma um banho e vamos sair!
- Puta merda ! Eu só quero ficar aqui! Porra! – falei me enfiando de baixo das cobertas de novo, as lagrimas brotaram mais uma vez – ele foi meu primeiro namorado, sabe o que são 10 anos? Foi esse o tempo que aquele babaca me fez perder!
- E quanto tempo mais você vai deixar ele tomar de você? – ela falou puxando minha cabeça pro colo dela e fazendo carinho no meu cabelo, que estava um caos, refletindo o caos que estava o resto da minha vida – você só tem 24 aninhos bebê, vocês moraram quatro anos junto e eu imagino a quantidade de memorias que você tem, mas tá na hora de recomeçar... Não é justo que ele esteja vivendo a vida tão bem com aquela piranha e você ai comendo Nutella enfiada em casa.
- Se eu for com você hoje, você promete que me deixa em paz? – falei me rendendo.
- Só se você topar o pacote completo – olhei pra ela com uma das sobrancelhas erguida – pacote completo sim senhora! Teatro e jantar!
- Só nós duas? Sem garotos? – foi a vez dela de erguer a sobrancelha – ok, ok, pacote completo. Fique ciente que eu te odeio ! – ela gargalhou enquanto eu me levantava e me obrigava a ir pro banho.
***
Tomei um banho demorado e foi estranho o modo como isso me fez bem, quase me senti animada de sair e ver gente. É claro que em algum lugar na minha cabeça eu sabia que a estava certa, mas eu não sei se estava com clima pra ver ela e o tal boy – cujo nome eu não me lembro – todo fofos enquanto eu me sentia a assassina do romance. Enrolei-me na toalha e sai do banho, nem me surpreendi quando vi que ela já tinha escolhido uma roupa pra mim.
- É serio isso? Tubinho preto e salto alto? Estamos indo pro teatro ou pra boate? – gritei do quarto já sabendo que ela provavelmente estaria assaltando minha geladeira.
- Veste logo essa bagaça e vamos querida. A peça começa às 21h e temos que chegar antes pra entrar pela coxia – ela falou de boca cheia.
- Por onde? – perguntei sem entender direito o que ela havia dito de boca cheia.
- Pelos fundo , pelos fundos! Faz de burra não e acelera nenê – ela disse vindo pro quarto, com meu pote de nutella na mão e uma colher na outra, ela sorriu grande quando me viu vestida – meu Deus me dá uma metabolismo igual ao dessa filha da puta, que ta vivendo de pizza e brigadeiro a quinze dias e não ganhou nem 100g! Amém!
Ri alto disso, fui pra frente do espelho tentando ser imaginativa, fiz um rabo de cavalo bem desarrumado, delineei bem os olhos coloquei um batom vinho matte. Não tava incrível, mas era o que tinha pra hoje.
- Pronto , me leve pro abate! – falei e ela revirou os olhos – tá bom, atitude positiva né? – ela assentiu rindo – vamos pro teatro, ê!
- Para vai, vamos logo! O Thiago disse que eles já estão chegando lá! – ela falou me puxando porta a fora.
Eram 20:30 quando chegamos ao teatro. Não vou mentir, era impressionante a quantidade de pessoas que estava lá na fila, esses caras deviam ser realmente muito bons. Passamos por todo esse povo e entramos em um corredor, no fim dele havia uma porta escrito “Camarim”.
- Onde as moças pensam que vão? – o segurança que aparentemente brotou do chão perguntou. Nessa mesma hora um cara abriu a porta.
- Pode deixar montanha, elas estão comigo! – ela se jogou nele e eles se cumprimentaram com um selinho, obviamente esse era o boy – nem acredito que finalmente vou te conhecer, a fala muito de você – ele disse fechando a porta e me estendendo a mão – prazer, Thiago ventura!
- Prazer Thiago Ventura, sou a , só – ele riu alto e eu o acompanhei.
- Bem que você falou que ela era legal hein morena! – foi caminhando na direção de mais dois caras que estavam próximo a uma mesa – ai seus cuzão – eles dois olharam e sorriram pra nós - essa aqui é a amiga da , esse são o Marcio e o Diih, só ta faltando o Afonso, mas já ja ele chega. A gente vai ali ver se ta tudo ok, fiquem a vontade.
Os meninos nos cumprimentaram com um beijo no rosto e acompanharam o tal Thiago.
- Ele é bem legal , vocês combinam – ela sorriu pra mim, com cara de apaixonada – mas ai, qual é a dos caras?
- Ah, eles são bem legais, me tratam super bem e vão fazer o mesmo com você, tenho certeza – ela me puxou pro sofá que tinha ali e nos sentamos.
Ficamos conversando ate que de repente um cara com um coque samurai muito mal feito entrou correndo.
- Tô atrasado, porra! – ele jogou a mochila em um canto e só então notou a gente – oi meninas, juro que cumprimento vocês direito depois.
Do mesmo modo que ele entrou, ele saiu pela mesma porta que os meninos haviam saído.
- E ai? O que você achou? Gatinho né? – ela falou com uma cara que eu conhecia bem.
- O coque dele me deu agonia, deu vontade de falar “fio, deixa a tia arrumar?” – ela riu alto – e pode parar com esse negócio de “gatinho”, sei o que você ta fazendo e nem inventa, pelo amor de Deus!
- Só falei que o cara é gato – ela falava rindo – você que ta ai, toda na defensiva...
Quando eu ia responder, soou uma sirene que anunciava que a peça estava pra começar, ela ligou um telão que havia bem na frente desse sofá, e mesmo o que o estéreo da sala fosse muito bom, ainda dava pra escutar eles direto do palco sem muito esforço.
“Senhoras e Senhores, eu sou Thiago Ventura e serei seu mestre de cerimônias essa noite. Sejam muito bem vindos! E cachorro solto de quebrada, começa agora o show dos 4 amigos, recebam com uma calorosa salva de palmas meus irmãos Marcio Donato, Diih Lopes e Afonso Padilha!”
Só pelo jeito dele de falar eu já estava rindo, odeio dar razão pra ela, mas realmente isso estava me fazendo bem. Depois da abertura eles começaram a voltar e se revezavam no palco. Assim que o Afonso voltou ele fez exatamente o que havia prometido.
- , tá bonitona hein – ele falou a abraçando – tava com saudade de você pô, só te vejo aqui!
- Toda vez que vou lá no apê, a estrelona ta viajando – ela respondeu e eles riram – deixa eu te apresentar, essa aqui é , minha amiga de infância.
- Opa, prazer , sou o Afonso – ele me ofereceu a mão e eu cumprimentei.
- Prazer te conhecer Afonso – respondi e ele sorriu.
- Sempre que tiver umas amigas bonitas pode trazer viu , ajuda a dar uma inspiração – meu rosto queimou e isso aparentemente o divertiu.
- moça, liga não, esse idiota é meio sem filtro – o cara baixinho, Márcio eu acho, falou fazendo todos nós rirmos alto.
- Oxi, a moça é bonita, falo mesmo! – ele falou afrouxando a gravata vermelha que estava usando – não tenho culpa que vocês são todos comprometidos e não podem falar!
- Obrigada Afonso – falei em tom um pouco mais baixo, tentando disfarçar a vergonha que tava sentindo – não mereço, mas agradeço!
Mais uma vez todos riram alto e nos ajeitamos no sofá e cadeiras que haviam ali. O show foi incrível, ri horrores a ponto de perder o ar. Quando acabou eles foram pra parte de fora do teatro e atenderam todos aqueles que queriam foto ou abraço, e eu achei isso o máximo, esse nível de humildade sempre mexeu comigo.
Era quase meia noite quando finamente estávamos saindo de lá, chegando no estacionamento começou uma longa discussão sobre onde iriamos comer, a esposa do Diih e a namorada do Marcio chegaram e também entraram no debate. Pela cara deles isso devia ser muito comum, me arrisco a dizer que era assim todo sábado. Aparentemente eu era a única que só queria que a noite acabasse pra ir pra casa, deixei que eles brigassem a vontade, só encostei-me ao meu carro – por que sim, além da me obrigar a vir ainda tive que usar meu carro – joguei minha cabeça pra trás e fiquei de olhos fechados.
Senti meu celular dar sinal de mensagem, o peguei e era mais uma - das milhões – que o Marcelo estava me mandando nos últimos dias. Ainda não tava com estrutura pra responder nenhuma delas então me limitava a ignorar e engolir o choro. Fechei meus olhos novamente e tentei não pensar em nada, só que fui interrompida por uma voz.
- Cansada moça? – abri meu olhos e vi que era o Afonso, ele também parecia alheio a discussão – vai me dizer que trabalhou hoje?
- Cansada não é bem a palavra, de saco cheio da vida é um pouco mais próximo do que to sentindo – ele esbugalhou os olhos e eu sorri dando de ombros – e trabalhar? Não, to de férias, graças a Deus!
- Você parece meio nova pra estar tão de saco cheio da vida – ele falou divertido – o que te aconteceu de tão ruim?
- Você não ia querer saber - falei ainda sorrindo – é uma historia longa, chata e cheia de drama... Não ia poder usar nem pra escrever piada.
- Experimente, vai que né? – eu ri alto e acabei chamando a atenção dos demais.
- E ai gente? Vamos pra minha casa e pedimos pizza – o Thiago falou e todos concordaram.
- Sério que ficaram tudo isso de tempo pra ir pra casa? – falei pro Afonso e ele sorriu assentindo – é cada amigo que a arruma.
- Você não viu nada, esses caras são completamente malucos – o pessoal começou a se organizar nos carros e eu vi na cara da que ela queria ir com o Thiago, aparentemente o Afonso também notou – deixa o casal vinte ir junto e ai tu me da uma carona. Pode ser?
- Porque não? Não tenho como fugir mesmo – falei indo pro lado do motorista e destravando a porta pra ele entrar – você sabe onde é? Odeio me perder...
- Sei sim, moro lá também – assenti e fui seguindo os outros carros - e ai? Vai me contar a historia? Temos uns 20 minutos ate em casa... – estávamos passando pela cancela da saída do estacionamento, eu o olhei e ele parecia tão genuinamente interessado que resolvi contar, é muito improvável que eu veja ele de novo, então por que não aproveitar pra desabafar.
- Quer a versão de cinema ou dvd duplo com entrevistas? – ele gargalhou e eu me permitir fazer o mesmo.
- Você é bem engraçada sabia? Pode ser a de cinema, não preciso dos detalhes sórdidos – pegamos a avenida e me comecei a falar.
- A historia é mais ou menos a seguinte, eu me “casei” com meu namorado da escola – fiz aspas quando paramos no farol – e ele me traiu com a minha prima que estava hospedada na nossa casa, fim...
- Que? Como assim? - ele me olhava indignado, isso me fez rir – acho que quero o dvd duplo, essa historia parece interessante
- Ok, você que sabe – liguei o som do carro, e estava tocando raça negra – nós ficamos 10 anos juntos no total, o conheci na 8ª serie. Quando fiz 20 anos, comprei meu apartamento e ele veio morar comigo – ele escutava sem nem piscar, como se eu tivesse contando a melhor historia da terra – ficamos nessa por 4 anos e íamos nos casar no fim desse ano... Bom, pra encurtar a historia, um pouco antes do natal minha prima veio ficar na minha casa porque estava fazendo uns trabalhos pra cá e no primeiro dia do ano eu sai e quando voltei eles estavam atracados na minha cama. Fim. Satisfeito? – foi estranhamente bom me abrir com um estranho, sorri involuntariamente e o olhei.
- Diz pra mim que você fez barraco igual nas novelas, colocou fogo na cama – eu ri alto da pergunta dele – você parece ser gente boa, não merece passar por coisas assim.
- Mas infelizmente a gente não tem que merecer né? Vai ficar tudo bem, sabe? – parei na frente de um prédio antigo, bem no meio da paulista – um dia ele para de me ligar e ai isso vai ser só uma historia engraçada...
- Até lá você se cerca de amigos que te façam rir, tipo eu e os meninos – senti meu rosto corar e ele riu – bora? Temos mais uma longa discussão sobre o sabor da pizza pela frente.
- Obrigada, foi estranho e bom falar com você – falei descendo do carro e sendo acompanhada por ele.
- Se acostume a falar comigo, por que ate você ficar bem vai ter que me aturar.
Sorri com isso, quase sentindo como se tivesse feito um novo amigo e o acompanhei pra dentro do prédio.
***
- Não acredito que você leu todos esses livros, é impressionante – falei olhando idiotizada pra estante de livros, os casais estavam na sala fazendo uma enorme zona e nós dois conversávamos no quarto dele.
- Não ta nem metade aqui, na casa da minha mãe la em Curitiba tem o dobro – ele falou aparentemente procurando algo de especifico na estante, ficamos em silencio por um tempo, mas não era aquele silencio constrangedor, era um silêncio gostoso – aqui! Achei!
- Achou o que meu bem? – falei e ele sorriu – ah, não liga não, falo assim com todo mundo – ele riu alto.
- Que pena, já tava me sentindo especial – ri alto e ele também – achei esse livro aqui, ganhei ele tem um tempo, acho que ele pode te ajudar muito – estiquei a mão meio receosa, se fosse um livro de 10 passos ou coisa do tipo eu jogaria ele o livro pela janela.
O titulo era “a sutil arte de ligar o foda-se” e é claro que comecei a rir na hora.
- E como esse livro pode me ajudar senhor comediante intelectual? – falei e ele riu.
- Ele é razoavelmente grosso, se a leitura na ajudar taca ele na cabeça do João – ergui a sobrancelha sem entender – é, o seu ex, o João.
- Mas ele não se chama João, Afonso – falei rindo – o nome dele é...
- Agora é João, não quero saber o nome desse pau no cu – enquanto nós gargalhávamos a bateu na porta.
- A pizza chegou – fui andando na frente pra sair do quarto, mas pude escutar ela dizer pra ele – obrigada por isso, faz muito tempo que não escuto ela rir assim...
- Não foi nada, ela é uma guria legal – sorri com esse elogio tão simples e adiantei o passo pra chegar na sala.
Sentei-me e comi a pizza rindo muito, eles eram todos tão legais que era impossível ficar na bad, naquele momento, ali com eles, eu quase esqueci o caos que minha vida estava.
7 meses depois
"Senhores passageiros do voo destinado a Curitiba-Paraná, favor se dirigir ao portão de embarque numero três."
- Bora feiosa? - tirei meu fone e encarei a criatura que interrompia minha playlist de "pagode das antigas" do Spotify.
- Tudo isso é ansiedade, Taradilha? - ele revirou o olho pro apelido ridículo que o Diego havida dado pra ele em um vídeo, agora a galera só o chamava assim - não sei por que tanta emoção, você só ta indo gravar seu fuking especial de comédia pra mil pessoas na Opera de Arame - falei levantando da cadeira.
- Ah claro, nada de mais né? - ele deu uma puxadinha no meu cabelo e eu mostrei a língua pra ele, somos muito maduros - vamos logo que o pessoal tá esperando a gente lá perto da casa de câmbio.
- Eles sabem que o Paraná é no Brasil né? - ele revirou os olhos e eu ri alto - eu definitivamente deveria fazer Stand Up, sou muito engraçada.
- Tu ia morrer de fome - do nada o Guilherme brota do meu lado fazendo o Afonso engasgar de rir.
- Te cuido tanto e você me fala uma grosseria dessas? Que pessoa horrível você é, senhor Gui Preto - falei indignada e eles ainda riam da minha cara.
Continuamos andando pelo aeroporto ate encontrar o pessoal, quando chegamos no portão de embarque a fila se formou e eu, por pura distração, acabei ficando bem no fim da fila junto com o Gui. Por algum motivo que eu desconheço a fila deu uma travada, então eu peguei meu celular e comecei a olhar as redes sociais ate que senti um cutucão.
- Quando você vai da a letra pra ele? - olhei pra cara do Gui com uma sobrancelha levantada.
- Da o que? Pra quem? - perguntei e ele riu.
- Ah preta, para vai… - o encarei e ele riu de novo - quando é que você vai falar pro Afonso que ta a fim dele?
- Oi? - gargalhei de puro nervoso - você realmente deveria fumar menos maconha Gui, ta falando muita merda!
- Você pode enganar ate a , mas vai mentir pra mim? Seu pretinho do poder? - apoiei minha cabeça no ombro dele e suspirei, não imaginava que isso estava ficando evidente, ele fez carinho no meu cabelo e a fila começou a andar.
- Eu nunca vou contar pra ele Gui, ele é uma das melhores pessoas da minha vida e eu não posso e não quero estragar isso - ele se manteve quieto ate entrarmos no avião.
- Acho que você ta errada e que ta perdendo uma chance gigante de ser feliz - foi minha vez de revirar os olhos - mas isso não é da minha conta, vai lá pro seu lugar que o Taradilha te espera.
Continuei caminhando pelo corredor ate encontrar o meu lugar.
- Me deixa ficar na janela? - pedi e um Afonso de cara feia me olhou.
- Pede pro Guilherme - cruzei os braços e o encarei, ele bufou e me deu o lugar - você é insuportável, sabia?
- Sabia sim, e você é um cú de pessoa, por isso a gente se dá tão bem! - por algum motivo ele estava putinho, então coloquei um lado do fone e decidi ignora-lo ate essa crise passar.
O avião decolou, e fiquei observando São Paulo ficar pequenininha pela janela, depois de uns 10 minutos de voo escutei o Afonso respirar bem fundo e esticar a mão, coloquei a minha por cima entrelaçando nossos dedos, um dos tantos hábitos construído nesses meses de amizade.
- Tô muito orgulhosa de você - falei e ele sorriu, um sorriso que ele dá que mostra os quase 30 que ele tem - e to muito feliz de estar participando disso tudo.
- Você virou um pedaço muito importante da minha vida, - sorri pra ele, aquele sorriso que só ele consegue arrancar de mim, aquele sorriso que eu só descobri que tinha depois que ele entrou na minha vida - eu que to feliz por você estar aqui - deitei em seu ombro, ele depositou um beijo no alto da minha cabeça e ficou alisando minha mão, eram essas pequenas atitudes e esses momentos que me faziam acreditar que talvez algo entre nós ultrapassasse a amizade - você sabe que o Gui namora né?
- Jura? - falei irônica - Se você não me falasse...
- Só tô falando por que vocês estão muito próximos e vai que né - respirei fundo e ergui a cabeça para olha-lo - Deus me livre ter amiga talarica.
- Afonso, me poupa, ok? - ele me encarou - eu jamais faria esse tipo de coisa, é claro que eu sei que o Gui namora e quer saber? O que porra você tem com isso?
- Tenho nada com isso , nada mesmo. Mas vocês tem passado muito tempo juntos, cheios de conversinha… - ele desviou o olhar, começou a mexer no celular e ele sabia que isso me irritava ao extremo.
- Você quer discutir aqui dentro do avião, Afonso? Sério? - ele continuou olhando a tela do celular, respirei fundo e já que ele quer brincar de irritar eu fiz a minha parte, decidi fazer uma coisa que abalava a estrutura dele: colei minha boca no ouvido dele e sussurrei de um jeito que vi ele se arrepiar todo - já vou logo avisando que não tenho namorado dim dim dim pode dar em cima de mim - ele respirou bem fundo e me encarou - tá com ciúme? Pega na mão e assume.
- Para de ser louca , eu com ciúme? - ele disse sem me olhar nos olhos.
- Então para de show! Guarda o espetáculo pra mais tarde - falei e ele sorriu fraco em resposta.
- Da pro casal parar de treta ai? To tentando dormir, ô caralho - Thiago falou da poltrona de trás, nos dois olhamos ao mesmo tempo.
- Casal teu cu, Thiago! - falamos juntos e rimos alto.
- Ridícula - ele falou me puxando pra perto, eu ri e me aconcheguei mais nele, a gente vivia tretando, mas nunca durava nem cinco minutos.
- Idiota - encostei meu nariz no seu pescoço e senti seu perfume, ele cheirava a Malbec, e esse cheiro desgraçava a minha cabeça - por que a gente briga? - falei bem baixinho e ele deu uma risadinha.
- Se descobrir a resposta me conta! - ficamos assim em silencio até chegar em Curitiba.
Assim que desembarcamos começou a correria, ele, o pessoal da produção, Thiago, Marcio, Diego, Nando e o Gui pegaram a vã alugada e foram direto para o teatro. Sobrou somente eu e , pegamos o Uber e fomos pro hotel. Chegando lá a recepção me informou que não existia uma reserva no meu nome e que também não havia quartos disponíveis, na hora fiquei puta, a moça me deixou subir pro quarto da e do Thiago temporariamente ate eu resolver a situação.
- E agora ? Que eu faço? A cidade ta lotada pro show do Afonso e eu to sem saber pra onde ir - ela riu alto e isso ligou minha versão furiosa - vou querer saber porque a princesa ta rindo?
- Afonso não fez sua reserva, – a olhei com fogo saindo dos meus olhos - ele vai te levar pra casa da sogrinha, e ele não te contou antes por que sabia que você ia dar defeito.
- Odeio o Afonso por ele me conhecer tão bem, aff - me joguei na cama - que vergonha meu Deus, a mulher nem me conhece – ela estava rindo da minha cara de um jeito que eu estava preste a jogar ela pela janela - ah e sogrinha é tua cara - ela jogou uma toalha em mim.
- Eu já cansei de te falar isso, mas acho realmente que vocês ficariam lindos juntos, ele te olha de um jeito tão fofo e fala de você com um carinho tão grande - fechei os olhos por um momento imaginando isso que ela disse.
- Pena que só você e o Gui enxergam isso, né? - olhei as horas e já passava das 16h, pelo que havíamos combinado precisávamos estar no teatro as 18h pra primeira sessão - vou tomar banho, fica ai com esse romance de novela acontecendo na sua cabeça.
- , ele não é o Marcelo - nem me virei pra responder.
- Eu sei, ele é absurdamente melhor - entrei no banheiro e antes de fechar a porta terminei minha resposta - por isso ele é inalcançável.
***
Já passava das 22h quando a segunda sessão acabou, depois do encerramento ele voltou para o palco para os agradecimentos, me ajeitei na cadeira da 1ª fila para ouvir.
- Não parece, mas eu sou tímido - ele disse claramente constrangido e toda a plateia riu alto, eu o olhei e pisquei e ele sorriu - gostaria de agradecer a essa noite foda a toda equipe da produção, vocês são demais e tudo ficou magico graças a vocês - ele sentou no banquinho, que era o único elemento de cenário no palco - agradecer a todos os meus amigos incríveis que vieram pra dividir o palco comigo, a minha família que tá ali na primeira fila e a todo mundo que de algum modo fez um corre pra que esse terceiro especial acontecesse, e por fim mas não menos importante - confesso que senti um leve arrepio descer pela minha espinha, ele me olhava sem piscar - quero agradecer ao pessoal que conseguiu arrumar esse lugar incrível, que eu nunca pude visitar e hoje to aqui com tanta gente da hora! Obrigada de verdade!
Aplaudi de pé, não só por que ele é incrível, mas por que ele é a melhor pessoa que eu já conheci, confesso que achei vãmente que ele ia falar de mim - não por me sentir digna, só porque ele estava me encarando - e juro que tentei guardar minha frustração pra mim.
Depois que ele e os meninos atenderam todos os fãs lá no hall, nós fomos jantar em um restaurante bem próximo a Opera, todos estavam entrando no restaurante quando eu senti uma mão no meu braço.
- Você tá bem? - o olhei e sorri - aconteceu alguma coisa?
- Claro que tô doido, só tô só cansada da viagem - ele me encarou, sabia que eu tava mentindo - e com vergonha de ir pra casa da sua mãe.
- Não é só isso , eu te conheço - o abracei forte, isso sempre fazia ele calar a boca.
- Hoje é a sua noite Afonso, para de se preocupar comigo - soltei o abraço, me afastei um pouco, mas permanecemos com as mãos dadas – você reuniu 1950 pagantes em um lugar histórico pra "Espalhar a Palavra", todas essas pessoas estão aqui por que te amam, olha o orgulho no rosto deles - ele olhou a galera pela janela e sorriu de lado, respirou bem fundo e voltou a me olhar - quem é a na fila do pão? - falei rindo, ele começou a encarar algo atrás de mim, me calei e esperei ele falar algo.
- Dona Maria Cecilia- me virei e dei de cara com a mãe dele, pude sentir meu rosto queimar de vergonha, eles se abraçaram e logo se voltaram pra mim – essa aqui é a , , essa é minha veinha.
- Então você é a namorada que o Afonso não admite ter? - ele riu alto e ela também – Prazer enorme te conhecer - ela me puxou pra um abraço e eu fiquei sem ação.
- O prazer é todo meu – falei sentindo meu rosto ficar cada vez mais vermelho - mas acho que a senhora ta falando dos 50 corações partidos que seu filho já deixou por ai - ela gargalhou e ele revirou os olhos - eu sou só a mala sem alça que ele carrega por ai, as vezes...
- Então tem outra , Afonso? – o olhei sem entender nada – por que você tinha me falado que...
- Mãe, bora comer? - o olhei com uma sobrancelha erguida, ela riu alto.
- Espero vocês lá dentro - disse saindo e eu continuei o olhando.
- Minha mãe é louca, não leva ela em consideração - revirei os olhos - vamos?
Ele me ofereceu a mão e eu peguei, caminhamos em silencio ate a mesa imensa onde todos – amigos, família e equipe – estavam acomodados. Era uma churrascaria linda e simples, e obviamente havia sido fechada para nós - afinal, que tipo de rodizio ainda funciona depois da meia noite? - ficamos por ali ate umas 2h, logo nos despedimos de todos, eles iriam para SP amanhã, e eu ia ficar ate segunda com o Afonso - ele me informou disso durante o jantar, filho da mãe.
Enquanto eles conversavam de um lado esperando o Uber, eu e a ficamos juntas um pouco afastada deles.
- , você tá quieta demais - ela falou e eu sorri - fala comigo!
- Tá tudo bem , só preciso ajustar esse monte de coisas que eu to sentindo - respirei fundo e ela também - tem hora que eu queria não ter ido ao teatro aquela noite... Seria melhor sabe? Eu teria me curado do Marcelo sem entrar num problema enorme
- Eu até te entendo amor, mas ele te faz tão bem - olhamos juntas na direção deles, eles riam e falavam alto, éramos as ultimas pessoas na rua, a família do Afonso já havia ido pra casa - você tem certeza que não vale a pena tentar?
- Tentar como ? Pra que? Sou esperta o bastante pra saber que se um dia a gente ficar, vai ser só isso da parte dele, no dia seguinte a amizade continua - primeiro Uber havia chego e o pessoal da produção foi nele, e os meninos que sobraram estavam vindo na nossa direção - e eu vou estar destruída... Acho que como um grande sábio que eu conheço sempre fala, "melhor deixa, né?"
- melhor deixa o que? - ele disse rindo e me erguendo pela cintura e raspando a barba no meu pescoço, me arrepiei inteira com a proximidade, coisa que tem acontecido muito ultimamente.
- É morena, do que vocês estavam falando? - sorri constrangida e fiquei esperando dona dar alguma resposta para o grupo que agora estava ao nosso redor nos olhando curiosas.
- Nada que seja da conta de vocês, queridas - ela disse e rimos alto, logo o segundo Uber chegou e nós começamos a nos despedir pela milésima vez - , te cuida tá?
- Relaxa , não é como se a gente nunca tivesse passado o fim de semana todo junto - ela revirou os olhos e eu ri - mas te ligo se eu surtar.
- Liga mesmo! - ela soltou de mim e foi na direção do Afonso enquanto eu me despedia do Marcio, Diego e do Nando, mesmo rindo com os meninos consegui escutar ela falar pra ele - cuida da minha amiga ok? Se ela voltar faltando um fio de cabelo eu mato você! - eles ficaram abraçados mais um tempo conversando e eu fui me despedir do Thiago e do Gui.
- Ai Maloca, vou estar o fora o fim de semana todo vê se não engravida minha amiga - ele riu alto e me abraçou - tô falando sério, Thi!.
- Não prometo nada, meu sonho é ter um filho com a morena - soltei o abraço e ele veio bem perto do meu ouvido - pra você pegar ali só falta o seu sim, por que o maluco ta de quatro!
- Vai dormir Thiago, o ar de Curitiba ta bagunçando sua cabeça - falei rindo e fui pro Gui - vê se se cuida viu preto, e manda um beijo pra muié.
- Se cuida você e vê se não deixa as oportunidades passarem - ele disse me abraçando e indo pro carro.
- Tá pai, pode deixar! - eles entraram no carro e ficamos eu e o Afonso na calçada, ele passou o braço pelo meu ombro e ficamos olhando eles irem - e agora senhor comediante, nós vamos a pé? – falei já imaginado a dor que sentiria se isso fosse verdade, afinal estava de salto 15cm, ele riu alto.
- Claro que não, ia ser quase uma hora de caminhada, doida - rimos - o Jean levou minha mãe, o Lincoln e a minha sobrinha, meu carro ta ali - ele disse apontando pra um HB20 azul.
- Sério que não é um Celta? - ele riu alto – Meu Deus, Afonso Mendes Padilha é uma mentira – gargalhamos igual dois idiotas no meio da rua.
- Chegar lá em casa você vai ver o celta na garagem - fomos caminhando ate o carro, assim que entramos ele ligou o ar quente e foi como se a temperatura me abraçasse, o lugarzinho frio viu, ligou o radio e deu partida - bora conhecer Pinhais?
- Vai ser uma honra, conhecer a terra do mito - falei com um sotaque afetado e ele riu - vamos ouvir o que?
- Pagode né , quero te mostrar minha playlist de favoritos - ele foi dirigindo sem pressa e fomos cantando e rindo, ficou claro quando saímos da metrópole, a cara da cidade foi mudando radicalmente, paramos em um sinal e começou o toquinho de uma musica - viado, escuta essa musica, é perfeita!
Tá chegando a hora de te encontrar
E a ansiedade vai chegar ao fim
Tô com medo, mesmo assim vou perguntar
Pois o não já tenho, agora eu quero o sim
Se já percebeu esse desejo em meu olhar
Vou ser mais sincero e pra você me declarar
Sonho em ter você, deixa eu te amar
Sou seu confidente, não vai ser pecado
Seu melhor amigo virar namorado
Pode ser estranho, mas vai perceber
O quanto eu gosto de você.
Quando me dei conta de qual musica era senti um turbilhão de coisas passando pela minha cabeça, meus olhos se encheram e eu o olhei, ele cantava animado prestando atenção no caminho, uma lagrima escorreu pelo meu rosto enquanto eu sorria igual uma idiota pra aquela cena, ele canta mal - muito mal - mas a animação era tão genuína que fazia ficar bonitinho. Peguei o celular dele, desbloqueei a tela, abri o Instagram e comecei a gravar um storie e coloquei a legenda “you’re my person ♥” e postei.
Logo ele parou o carro em frente à uma casa, olhei para o lado e vi o celta, antes de me virar de volta pra ele sequei o rastro das lágrimas que haviam escorrido.
- Você vai me contar por que ta chorando? – o olhei e ele me encarava
- Acho que não – ele cruzou os braços e continuou me olhando – vamos?
- Ainda não, eu preciso falar com você – o olhei e ele parecia bem sério – eu preciso te falar umas coisas e não sei bem como e nem por onde começar...
- Experimenta começar pelo início meu bem – toquei seu rosto e ele segurou minha mão lá – você sabe que pode me dizer qualquer coisa.
- É aí que fica o problema – ele coçou a barba e se ajeitou no banco, sinal claro que ele estava enrolado com as palavras, coisa rara – você entrou na minha vida igual um furacão , entrou pra me tirar da zona de conforto, pra me provar que eu precisava sim de uma amiga mulher pra me por nos eixos – mais uma vez senti as lágrimas se acumularem, ele beijou a palma da minha mão e continuou segurando ela – e me mostrou que eu posso ser um amigo homem quase decente... Te agradeço tanto por isso, você é aquela guria que ri das minhas piadas ruins, você sempre tá lá quando tudo da errado e eu preciso de colo, você não tem medo de me falar umas verdades mesmo sabendo que eu vou ficar ultra puto...
- Não sei o que falar, Afonso – ele sorriu.
- Me deixa terminar, matraca – rimos alto – lá no palco eu tive muito medo de te agradecer por tudo isso em público – ele suspirou e eu senti o nó da minha garganta aumentar – por que de todo mundo que tava lá, você é a única pessoa que eu sinto que pode ir embora em algum momento, e eu não ia suportar assistir e ver que fui idiota o suficiente pra deixar você sair da minha vida – nessa altura eu já tinha desistido de secar as lágrimas – você é a melhor pessoa da minha vida e eu fodi com tudo...
- Em português Padilha, se não eu vou acabar me perdendo no caminho – falei tentando entender o que ele queria dizer.
- Tô irritantemente apaixonado por você – o meu choque foi instantâneo, meu queixo caiu deixando minha boca em um perfeito ó – e tem tanto tempo que não me sinto assim que demorei pra entender por que eu queria tanto te ver bem, o porquê cada vez que você me dizia que aquele pau no cu do seu ex ia lá buscar alguma coisa eu largava tudo e ia pra lá...
- Não, pera, para tudo! – meu coração batia mais rápido que o de um cavalo de corrida - Afonso, você ta me falando que ta apaixonado por mim? – ele assentiu como se eu tivesse algum tipo de retardo – por que demorou tanto? – disse com a voz trêmula enquanto ele se aproximava.
- – ele falou quando nossas testas estavam coladas e nossas bocas a centímetros de distância – se eu te beijar agora a gente não vai pode voltar a trás, Deus sabe o quanto eu quero te virar do avesso – rimos baixo – mas a sua amizade é maior que qualquer outra...
E eu o beijei – afinal ele tinha feito toda a parte difícil – e honestamente não sei se existe uma palavra no vocabulário para explicar o quanto o beijo dele era bom.
É claro que nos primeiros momentos o beijo foi delicado, mas aos poucos – conforme nossas bocas iam se “conhecendo” – a delicadeza foi dando espaço para um clássico amasso no carro, é bem provável que amanhã eu ostente algumas marcas.
- Calma ai ouw – falei me afastando alguns centímetros e respirando ofegante, ele ria – sabe que to enferrujada né?
- sabe que não parece? Certeza que não andou pegando ninguém por ai? – dei um selinho nele e ri.
- Quando Afonso? Se quando não to trabalhando, tô com você – falei rindo, ele me puxou pra perto e nos beijamos de novo – não fico assim desde o colegial.
- assim como? – ele falou enquanto beijava meu pescoço de um jeito que tava me deixando louca
- Assim ué – falei apontando para mim mesma sentada no colo dele tentando ajeitar minha perna na alavanca do cambio e rindo do meu próprio insucesso - deve ter alguma lei que proíbe gente velha de fazer isso – gargalhamos.
- tem lei que proíbe todo mundo, né gênio – revirei os olhos e ele riu – tá tão bom isso aqui, mas é melhor a gente entrar, afinal tamo na Osasco de Curitiba, se bobear jaja alguém vem aqui e rouba “nóis” – ri alto saindo do seu colo e voltando pro banco do passageiro.
- ainda to morrendo de vergonha de ir pra casa da sua mãe – falei enquanto tentava ajeitar o cabelo e o vestido.
- ela adorou você – o olhei e ele sorriu – disse ate “finalmente uma que não tem cara de puta, hein Afonso” – gargalhei, porque realmente, ele tinha o péssimo habito de pegar umas meninas assim.
- vou encarar isso como um elogio – falei divertida e ele me olhou sorrindo.
- vindo de dona Maria Cecilia é um elogio e tanto – ele me puxou e demos mais um beijo logo – vamos?
Descemos do carro e fomos atingidos pelo vento congelante, entramos no quintal tentando falhamente fazer silêncio, mas como somos retardados ficamos dando risadinhas até ele conseguir abrir a porta. A luz da sala estava apagada e a casa em absoluto silêncio. Ele olhou pros lados e me encostou na porta e reconheçamos de onde tínhamos parado no carro, mas fomos interrompidos por uma voz vinda de algum outro cômodo da casa. - eu te falei Lincoln – separamos assustados - que eles tavam namorando.
- mãe, deixa eles – o irmão mais velho dele respondeu rindo – onde a senhora vai?
- vó, volta aqui – Sabrina, a sobrinha que ele venera, disse rindo alto.
Afonso já estava segurando o riso olhando pra minha cara vermelha escarlate enquanto escutávamos passos cada vez mais próximos de onde estávamos.
- não precisa ficar vermelha não – ela disse acendendo a luz rindo – fiquei esperando vocês chegarem pra ajeitar vocês pra dormir, a casa é simples, não repara.
- muito obrigada por me acolher dona Ciça, não se preocupa comigo que eu me ajeito em qualquer canto – falei enquanto o Afonso tirava o sapato e colocava em algum lugar próximo ao sofá.
- quem tá lá no meu quarto, mãe? – ele falou abraçando ela de lado e dando um beijo no alto da sua cabeça, achei o gesto tão lindo que sorri involuntariamente.
- tem ninguém lá, o Jean deixou a gente aqui e foi pra casa da Tamires – essa eu conheci assim que cheguei no teatro, era a namorada extremamente bonita do irmão mais novo dele – o Lincoln e a Sabrina tão comigo lá no meu quarto.
- então a gente fica lá mesmo – ele me olhou – né?
- o que vocês acharem melhor – a única coisa que passava pela minha cabeça era “ai meu Deus, vocês acabam de se beijar pela primeira vez e você já vai dormir na casa da mãe dele!”.
- vou pegar as coisas no carro – ele saiu me deixando sozinha com a mãe dele, ela me encarava de um jeito que era impossível adivinhar o que pensava.
- ele gosta mesmo de ti – sorri em resposta – ele nunca trouxe ninguém aqui, nem a namorada do fondue.
- sério? – ela assentiu sorrindo – seu filho é realmente um cara incrível, e eu gosto muito dele também.
- tá na sua cara, desde a hora que vi você olhando pra ele no palco – ela riu – bom, eu vou deitar por que já são quase 4h e tenho todos vocês pra alimentar amanha.
- boa noite dona Ciça, obrigada por tudo – mais uma vez ela me abraçou de supetão.
- obrigada você por aquele sorriso idiota na cara do Afonso – rimos juntas e ela voltou pelo corredor de onde tinha vindo.
Logo o Afonso entrou na sala com a mala dele e a minha mochila, com uma cara de quem estava carregando uma tonelada de peso, fui ate ele e peguei a minha revirando o olho.
- até parece que tá pesado assim, né Afonso – ele riu.
- claro que tá, você ta carregando um cadáver ai, só pode – engoli a risada por medo de acordar as pessoas – cadê a véia?
- ela foi dormir, adorei ela, de verdade – ele sorriu caminhando em direção ao corredor comigo atrás dele.
- que bonitinha, babando a sogra – ele disse entrando no quarto e jogando a mochila no canto, imitei seu gesto e coloquei a minha do lado, ele se virou pra mim e veio na minha direção, me prensou na parede e acertou meu ponto fraco, beijo no pescoço – onde a gente tava mesmo? – ele falou bem baixinho
- sua familia tá no quarto do lado Afonso – falei baixinho também, lutando mais comigo mesma pra ser forte do que com ele.
- é só a gente fazer silencio – ele estava com a mão na barra do meu vestido pronto para que ao meu sim ele o arrancasse.
- meu bem, a gente não vai transar na casa da sua mãe, tira esse cavalinho da chuva – ele me abraçou rindo de pura frustração – foi você que quis me trazer pra cá.
- quem esperou sete meses espera mais uns dias – ele disse rindo - vamos dormir, mas a cama é de solteiro.
- como se a gente nunca tivesse dividido a cama, Padilha - ele riu se afastando.
Permaneci onde estava recuperando o fôlego enquanto ele se trocava, ele colocou uma bermuda e uma camiseta e se jogou na cama. Assim que ele terminou eu fucei minha mochila pra procurar um pijama, peguei uma camisola de ursinho - não me julgue, eu não esperava dormir acompanhada - e por um breve momento me esqueci que ele estava lá. Ergui o vestido e o arranquei-o.
- esse é com certeza o tipo mais baixo de tortura, puta que pariu - ele falou mais pra si mesmo do que pra mim, me virei de volta rindo.
- quer que eu saia? - ele revirou os olhos - achei mesmo que não, vai, se encolhe ai!
Terminei de ajeitar a camisola e me deitei ao lado dele, assim que nossos corpos se encostaram uma onda de leves choques atravessou minha pele, ele ergueu a mão e apagou a luz e depositou um beijo na minha nuca, ficamos assim de “conchinha” só sentindo a presença um do outro, quando eu já estava quase pegando no sono ele, que parecia estar quase dormindo também, me abraçou mais apertado.
- tem noção de quantas vezes eu imaginei isso? – sorri – é claro que na minha versão a gente usava um pouco menos de roupa...
- Afonso! – rimos baixinho – eu também imaginei isso muitas vezes...
- somos dois idiotas – ele disse bem próximo ao meu ouvido - perdemos tanto tempo...
- o tempo tava concertando a gente, isso aqui, seis meses atrás ia acabar em tragédia, certeza – bocejei e ele me acompanhou, assim abraçados pegamos no sono e eu dormi em paz como a um bom tempo eu não dormia.
***
Domingo 13h00
- bom dia! – abri os olhos e ele estava sentado na beira da cama com uma cara de quem ainda não tinha acordado completamente.
- Bom dia – respondi sonolenta e ele sorriu – que horas são? – perguntei tentando lembrar onde tinha largado meu celular.
- cedo demais – eu ri puxando a coberta pro meu rosto – somos os primeiros a acordar – ele levantou e vestiu um a calça de moletom que estava num canto – se agasalha, ta um frio do caralho.
- você viu meu celular? – ele me olhou com uma sobrancelha erguida – não lembro onde deixei.
- tá aqui, com 6 ligações perdidas do Marcelo e duas da sua mãe – esbugalhei os olhos – eu ate pensei em atender, mas...
- tá com ciume, Padilha? – ele me olhou e cruzou os braços.
- desde sempre, mas esse babaca não tem jeito – ri da cara dele – liga pra sua mãe vai, dona Vera deve ta loca já. Vou no banheiro.
Ele me jogou o celular rindo e saiu do quarto. Levantei e separei meu kit de higiene, troquei minha camisola por um conjunto de moletom que o Afonso sempre reclamava quando eu usava – talvez por ele ser da Disney? Ou por ele parecer de criança? Quem sabe – prendi o cabelo em um coque bem mal feito, coloquei um chinelo e fui pro celular. Disquei de cara o numero da minha mãe.
Ligação On
Mãe: da pra avisar quando for viajar? – ela já atendeu me xingando, segurei o riso – tive que ligar pra Jennifer, aquele namorado maluco dela atendeu e me disse que você estava em Curitiba , Curitiba?
Eu: oi mãe, também to com saudade – ela gargalhou – to passando o fim de semana com o Afonso, estou bem, estou viva e acabei de acordar.
Mãe – Afonso? – ele entrou no quarto como se ela tivesse chamado ele – ai filha, adoro ele, mas usa camisinha.
Meu celular era meio alto, ele escutou e começou a rir.
Eu: mãe! – eles riram e meu rosto queimava – ta doida é?
Mãe: juizo ai, me liga quando voltar! Te amo!
Eu: tchau mãe, segunda to de volta.
Ligação off.
- que foi? – ele ainda ria escorado na porta – para de rir!
- como? Sua mãe é a melhor pessoa – foi minha vez de gargalhar.
- cala a boca vai, me mostra o banheiro – levantei e fui direção dele rindo, quando estava do lado dele ele me puxou.
- sabe por que eu odeio esse moletom? – fiz que não com a cabeça – não consigo parar de olhar pra sua bunda quando você ta com ele – ri olhando pra ele.
Ainda rindo ele me mostrou onde ficava o banheiro, fui ate lá tentando não fazer barulho no piso de madeira, me tranquei la e fiz minha higiene matinal, mandei mensagem pra : “miga, mil coisas boas! Te ligo mais tarde!”, tentei ajeitar o meu cabelo e sai do banheiro dando de cara com a Sabrina.
- bom dia Tia – ela disse rindo – bença.
- menina, sou nem dez anos mais velha que você, pode parar hein – falei rindo alto e ela me acompanhando – mas Deus te abençoe mesmo assim.
- finalmente uma tia hein tio Afonso – ela gritou entrando no banheiro – eles estão lá na cozinha, se prepara que a zoeira é problema da genética.
- obrigada Sabrina, vou me armar – falei rindo e indo na direção da cozinha.
Tomamos café – ou lanhe da tarde, afinal era mais de 16h quando saímos da mesa - rindo muito, eles eram incríveis e sim, todas as coisas que o Afonso fala da mãe dele são reais! Escutei umas dez vezes a frase “meus fio tão tudo criado” e ri cada uma delas.
***
22h
- Vamos sair pra comer? – estávamos jogados no sofá a horas vendo “La Casa de Papel” com o Jean e a Tamires, a mãe dele já tinha ido trabalhar e o Lincoln e a Sabrina tinham ido embora.
- vou sair nesse frio não, viado – Jean respondeu do outro sofá onde estava agarrado com a namorada de um jeito que iam precisar de cirurgia pra separar.
- e quem disse que é contigo, guri? ele ta falando com a – ela disse e todos nós rimos alto – né Afonso?
- adoro essa minha cunhada – Jean jogou uma almofada nele – precisa nem se arrumar, vamos no dogão. Topa?
- comer? Claro! – levantamos do sofá num pulo e fomos pra garagem – tchau ai pra vocês
Entramos no carro e ao invés de dar partida ele pegou o celular e abriu a câmera.
- que você vai fazer? – perguntei enquanto ele juntava nossas mãos e colocava sobre a alavanca do cambio, aquelas poses bem tumblr.
- vou responder as perguntas que estão me fazendo desde ontem depois de um certo vídeo – só então me lembrei que eu tinha gravado e postado, ele digitou bem rápido e voltou a me olhar – posso te marcar?
- o famoso aqui é você nenê, faz o que quiser – respondi rindo, seria só mais uma foto nossa dentre as tantas que já tínhamos, no mesmo instante meu celular notificou a marcação e ele ligou o carro.
- vamos? – assenti ainda sem coragem de abrir a notificação.
Fomos conversando ate chegar no tal “dogão” e tenho que confessar, não perdia em nada pros de Osasco, nos sentamos em uma mesa no canto e ele se levantou e disse que ia ao banheiro. Aproveitei a ausência dele e resolvi ver a tal foto.
“Se uma mulher for incrível, você tem que cuidar dela;
Se ela cozinhar bem, você tem que valorizar ela;
Se ela beijar bem, você é um cara de muita sorte;
Se ela te fizer rir, você ganhou na loteria;
Mas se a filha da puta citar Grey’s Anatomy... Ah meu amigo
Gruda nela e não solta mais.
@ALipaSouza ♥ You’re my person"
Sorri olhando ele voltar pra mesa, tendo certeza que esse idiota ia fazer de mim a mulher mais feliz e sortuda do mundo.
E foi assim que me apaixonei, perdida e irremediavelmente por ele.
Bônus
GRU – SP
- Afonso do céu, to morta! – falei assim que desembarcamos em Guarulhos, ele me deu a mão e fomos em direção ao local de retirar as malas – esse negócio de andar de avião cansa demais.
- e você fala que sou exagerado quando reclamo – ele respondeu de péssimo humor, afinal eram só 7h da manhã – você tem mesmo que ir trabalhar hoje?
- ainda não enjoou de mim, Padilha? – perguntei rindo, ele me puxou e beijou no meio do aeroporto, minha cara queimou na hora.
- não, e acho que nem vou, não tão cedo – gargalhei – odeio pessoas com empregos formais!
- claro ne? Todo mundo deveria fazer StandUp – pegamos as malas rindo e fomos esperar o Uber – a gente se vê mais tarde, nem precisa morrer de saudade!
- vou pra casa dormir então né? – entramos no carro.
- isso, o senhor vai pra casa, deve ter muitas ameaças de processo pra você ler no e-mail – ele me olhou e eu ri.
Fomos assim rindo e falando besteira ate a frente do meu prédio, assim que o carro parou ele se dirigiu ao motorista.
- amigão, aguarda ai um pouquinho que só vou deixar essa doida dentro do prédio – descemos do carro e fomos ate o hall, ele cumprimentou o porteiro de quem ele já era parça – a gente se vê mais tarde mesmo? Não quer descansar?
- depende, qual sua proposta? – falei só pra ver a cara dele, já tinha a ideia pronta na minha cabeça.
- ah, sei lá. Nunca saí com ninguém que eu quisesse ver de novo – gargalhei – Jantar?
- vamos fazer assim, vem pra cá umas 20h, traz pizza e a gente vê um filme – ele sorriu me puxando para um beijo – topa?
- , a gente fez isso semana passada – ele disse rindo da obviedade da afirmação, o puxei pra perto e encostei meus lábios no seu ouvido.
- só que dessa vez você não vai embora depois do filme – rimos cumplices e uma vizinha passou olhando e rindo.
- até as 20h, pizza de que? – ele disse me soltando e sorrindo.
- calabresa, sem cebola e com – ele me interrompeu.
- muito queijo, ok, até! – demos mais um beijo e ele saiu sorrindo me deixando com cara de idiota.
- Dona – me virei pro porteiro, estava tão atordoada que nem me lembrava que ele estava lá assistindo a tudo isso.
- Tudo bom, Ramon? como foi o Fim de semana? – olhei o relógio do hall, e já eram quase 8h, torci para que ele fosse breve.
- foi tudo bem dona , mas o Seu Marcelo teve aqui – meu coração pulou uma batida – fiz como a senhora mandou, entreguei aquelas duas caixas e não deixei subir, disse que tinha trocado a chave e as caralha tudo – ri do jeito dele de falar, ele devia ter uns 19 anos e ainda não tinha desenvolvido o filtro pra esse tipo de recado.
- Muito obrigada Ramon, você é um cara bacana – sorri e fui pro elevador.
Cheguei em casa e não tem como negar, não importa aonde você esta, não tem lugar melhor que o nosso lar. Joguei minha mochila no quarto de hospedes, tomei um banho correndo, vesti um jeans preto, camisa branca e salto alto, fiz um rabo de cavalo, peguei a bolsa, celular e chave do carro e sai correndo.
Cheguei no prédio as 10h, meia hora antes do meu horário só pra poder tomar café com a na cafeteria do prédio onde eu era recepcionista de uma nutricionista e ela tinha um centro de estética na porta de frente.
- me conta tudo! Com todos os detalhes! – foi a primeira coisa que ela me disse assim que nos sentamos.
- foi tão lindo que eu nem sei explicar – contei tudo pra ela, desde a hora que saímos do restaurante ate o momento que ele me deixou na porta do meu prédio hoje – e foi isso... Estamos juntos, eu acho.
- nossa que fofura, nunca imaginei o Afonso romântico – tomei um gole do meu café e dei uma mordida no pão de queijo – si bem que pra se dar contigo tem que ser né? Imagina se ele faz igual o Ventura “Gata, preciso beijar essa boca”.
- ia levar um block na certa – falei rindo – melhor a gente subir, Dra. Júlia já deve estar pra chegar e tenho que ajeitar as coisas.
- to feliz que você esteja feliz amiga, você merece – a abracei de lado na cadeira e sorrimos – o amor te cai bem, tá até com a pele mais bonita – ela disse maliciosa, o que me fez rir alto, me levantei da cadeira deixando o dinheiro pra pagar na mesa e me virando de volta pra ela.
- sei o que você tá pensando, e não, eu não transei – ela levantou rindo escandalosa e fazendo barulho de foca – quem sabe hoje.
- eita, que pelo tempo que tá sem vai derrubar o apartamento – revirei os olhos entrando no elevador e ela ainda rindo da minha cara.
- melhor parar de pensar nisso, preciso de concentração, agenda cheia hoje – disse rindo quando chegamos ao nosso andar, ela foi pra porta dela enquanto eu procurava a minha chave na minha bolsa – almoço as 15h?
- vou ficar só ate as 14h hoje, tenho a tarde livre ai vou com o Thiago na fisio – assenti achando a chave.
- é verdade né, e o joelho dele, já tá bom? – perguntei, me lembrando de que ele ainda estava se recuperando da cirurgia do menisco, ela sorriu, sempre sorria quando falava dele.
- tá quase bom pra ele fazer merda de novo – nos despedimos – aguardo noticias!
- Cala a boca – entrei na sala e dei um tchau pra ela rindo cada vez mais alto.
***
16h
- – Dra. Julia apareceu na minha mesa me assustando e riu disso – tenho mais alguém hoje?
- Não, Jú, a paciente de quatro e meia desmarcou – falei enquanto confirmava na agenda do notebook.
- E sua viagem? Gostou de Curitiba? – ela perguntou sentando-se na cadeira a minha frente e sorrindo de modo meio maternal, ela era muito amiga da minha mãe e como trabalho com ela a quase 5 anos, se tornou minha também.
- foi tudo maravilhoso, Jú – sorri me lembrando – pena que fiquei pouco tempo, da próxima vez vou nas férias!
- e aquela postagem com o seu “amigo”? – meu rosto queimou e ela riu alto – sua mãe me ligou eufórica por que você finalmente estava com um cara decente.
- minha mãe é louca Jú – rimos – mas sim, ele é incrível e vamos ver no que dá né – a tela do meu celular acendeu dando sinal de mensagem.
- que tal a gente ir embora? – ela disse se levantando e indo em direção a sala dela – as crianças estão me deixando maluca e exausta!
- Crianças? – ela riu alto enquanto eu desligava o notebook e juntava minhas coisas.
- eles são meus bebes, não é por que já tem quase 20 anos que deixaram de ser, pergunte a sua mãe – rimos enquanto apagávamos as luzes e saiamos.
Me despedi dela na recepção e fui finalmente pro meu carro – que de uma modo geral era a extensão da minha casa – assim que fechei a porta lembrei-me que havia uma mensagem pra ler, procurei o celular na bolsa e pra minha surpresa a mensagem era do Marcelo.
Criei coragem e abri
Mensagem on
Marcelo:
to tentando te esquecer por que sei o quanto te machuquei, finalmente fui buscar as únicas coisas minhas que ainda estavam na sua casa – exagero da sua parte me mandar o jogo de lençol e o cobertor – mas ainda assim obrigada por não ter jogado tudo pela janela!
Eu fui um idiota e daria qualquer coisa pra voltar naquele dia e desfazer tudo... Queria ter visto antes o quanto você era incrível e o quanto eu precisava de você. Queria ter notado tudo isso antes de te ver nos braços de um cara infinitamente melhor que eu. Espero que o Afonso te faça feliz e prometo que não vou mais te procurar! Obrigada pelos melhores 10 anos da minha vida e me perdoa por ter jogado tudo fora. Te amo!
Mensagem off
Confesso que precisei de uns minutos respirando fundo pra poder assimilar tudo que tinha lido. Decidi que não ia responder essa mensagem, pelo menos não ainda, por que na realidade não havia nada que eu quisesse dizer pra ele, ou melhor, não havia nada da minha parte que eu já não tivesse dito.
Liguei o motor do carro e fui dirigindo sem pressa pra casa, cantando as musicas que tocavam no radio e rindo com as lembranças do fim de semana. Mesmo com o transito caótico de São Paulo antes das 18h estava no conforto do meu apartamento.
Tomei um banho daqueles bem demorados, sabe aqueles que se fossem na adolescência sua mãe iria aparecer do nada e gritar “EU LÁ TENHO CARA DE SÓCIA DA ELETROPAULO?”, passei alguns cremes que tenho por estimação e me vesti confortável – sem camisola de bichinho dessa vez – coloquei um short jeans bem rasgado, uma camiseta com estampa do Mario e chinelo e meia também do Mario, prendi meu cabelo em um rabo de cavalo e saí do quarto.
Olhei as horas e depois de tudo isso ainda faltavam quase 20 minutos para as 20h, liguei a tv e o Xbox e coloquei pra logar na netflix, enquanto isso resolvi dar uma ajeitada na cozinha e guardar algumas coisas que havia comprado na volta do trabalho, antes da tv fazer o famoso “TUNDUM” a campainha tocou, corri atender.
- quem é? – perguntei por puro habito já abrindo a porta.
- tá esperando mais alguém? – sorri ao vê-lo de bermuda e chinelo com a pizza na mão.
- tô sim – falei e ele revirou os olhos e isso me fez rir alto – entra ai vai seu chato! – ele entrou e já colocou a pizza na mesinha de centro da sala, virou-se de volta pra mim e me puxou pra um beijo, meu DEUS QUE BEIJO! – eu nunca vou me acostumar com isso...
- besta – fui em direção a cozinha e ele me acompanhou, sentou-se em uma banqueta e ficou me observando – e ai? Como foi teu dia?
- bem normal até – respondi pegando copos e pratos no armário – e o seu?
- dormi até as seis – nós rimos alto – que a gente vai assistir? – perguntou pegando as coisas da minha mão e levando pra sala.
- ah, não sei, pode escolher – ele sentou no sofá depois de depositar as coisas ao lado da caixa da pizza – vou pegar o suco.
Ele ficou escolhendo o filme e eu voltei pra cozinha, abri a geladeira e por um breve momento me peguei pensando que - talvez- não fosse certo não falar sobre a mensagem do Marcelo pro Afonso, ele é meu melhor amigo acima de qualquer coisa, não é? Voltei pra sala e ele tinha escolhido um filme de ação e já estava jogado no sofá. Sentei-me ao lado dele, tomei coragem, desbloqueei a tela do celular e dei na mão dele.
- que isso? – ele disse antes de ler.
- algo que recebi hoje, não queria que parecesse que eu tô escondendo algo de você – falei enquanto ele lia, e pela demora, relia algumas vezes.
- mas e ai dona – ele disse me devolvendo o celular e me encarando – o que isso muda? Entre a gente, eu quero dizer...
- entre a gente? – ele sustentava o olhar e eu abri um meio sorriso e sentei no colo dele – só me faz ter certeza que vou levar o cara certo pra cama!
Não precisei falar mais nada, ele juntou nossos corpos sem delicadeza nenhuma e nos beijamos com intensidade. Segurou a barra da minha camiseta como se pedisse permissão para tira-la e eu sorri em resposta, ele a retirou e eu retribui o favor erguendo a dele e jogando em algum lugar do outro lado da sala. Como explicar que ele me deixou maluca?
Ele me deitou no sofá e passou a distribuir beijos no meu pescoço, colo, barriga ate chegar a beira do meu short, abriu o botão e o ziper sem pressa nenhuma e me olhou.
- você tem certeza disso? - o olhei e gargalhei.
- se você perguntar sobre certeza mais uma vez Padilha, eu vou dar na sua cara – ele riu e puxou meu short, se levantou e tirou a dele, revelando uma cueca boxer preta que contrastava com a pele absurdamente branca dele – quer ir pro quarto?
- não, vamos começar por aqui mesmo – ele se deitou sobre mim sorrindo com a cara mais safada do mundo – a noite é longa!
***
03h00
- to com fome - falei levantando da cama, vesti a calcinha e coloquei a camiseta dele, o olhei e ele sorria também me olhando – que foi?
- nada, só que eu poderia passar o resto da vida aqui na cama te olhando de camiseta e calcinha – sorri sentindo minha cara queimar – sério que você vai ficar vermelha depois de... na casa toda
- transar Afonso, essa é a palavra – gargalhei – vou demorar a acostumar com a gente.
- vai nada, eu não vou te largar mais – ele se levantou e me prensou na parede, me deixando toda mole – nunca mais.