CAPÍTULOS: [Capítulo único]





Como te conheci






Última atualização: 22/03/2017

Capítulo Único


Eu ainda não conseguia acreditar.
Não acreditava que estava atravessando metade da cidade só para ela terminar comigo. Só para eu ouvir “Me desculpe , mas eu não consigo mais”.
Cara, sei que fiz muita besteira, falei e fiz coisas horríveis, mas não precisava acabar desse jeito. Por ela eu tentaria uma, duas, três, quatro vezes, infinitas vezes, quantas vezes fossem necessárias, só para tê-la comigo.

Eu não prestava atenção em nada ao meu redor, meus pés sabiam a direção. Minha mente funcionava a mil, indeciso entre enfrentar a situação ou fugir, talvez esperar ela se acalmar para tentar tomar uma decisão mais sensata. Mas eu não podia simplesmente virar as costas e ir embora, sabia que não poderia deixá-la esperando, sabia que não poderia decepcioná-la mais uma vez.
A velocidade dos meus passos ia diminuindo na medida que mais e mais pessoas entravam na minha frente, ou esbarravam em mim. Parei de repente, preso na multidão que queria andar tão rápido quanto eu estava. Olhei ao redor, ainda faltava dois quarteirões para eu chegar no ponto de ônibus. Droga! Olhei novamente em volta, tentando traçar algum caminho alternativo, quando meus olhos passaram em frente à loja Americanas onde nos conhecemos, me lembro até hoje e de certa forma, é impossível esquecer.

FLASHBACK ON

- Cara, pra quê tantas Ruffles? Vamos gastar toda a grana só nisso aí, e as bebidas? – perguntou Jeffrey, um dos meus melhores amigos.
- Relaxa que vai dar tudo certo, temos que comer para não passar mal de tanto beber– Jared disse e riu, pegando mais um pacote.
- Ei Jay, mas é verdade, temos que comprar as bebidas também, e não podemos comer só batata. Pega só dois pacotes e podemos levar alguns chocolates, pode ser? – Jared me observou e assentiu, ele é como se fosse a mãezona do grupo, sempre quer que levamos casacos ao sair, tem que comer MUITO antes de beber, ah e nada de entrar dentro de casa com os pés molhados.
- Tudo bem – disse Jay – Pega três então, aí levamos três de cada – e sorriu, Jared e sua forma de ser justo e de sempre equilibrar as coisas.

Sai do corredor de salgados e andei um pouco procurando a de doces, por que não poderiam estar lado a lado?
Por mais bizarro que seja, os doces estavam do lado dos DVDs de filmes e séries.
Olhei os chocolates, todos pareciam iguais, só mudavam o preço e tamanho. Peguei dois chocolates solitários, eu não conhecia a marca chamada ChocoSoy, e peguei um chocolate da Lacta.
Estava saindo e notei um cheiro gostoso, provavelmente era dos chocolates, quando de repente senti alguém tocando meu ombro, me virei para ver.

- Oi moço, você por acaso é intolerante a lactose? – me perguntou uma garota de cabelos cacheados azuis, como assim intolerante?
- Não... não tenho nada contra o leite. – e ri, mas ela me olhou com uma cara confusa, acho que não era uma piada.
- Então, é que eu sou vegana, e só posso comer esse chocolate, que por acaso você pegou e aparentemente não faz a menor diferença pra você – olhei para ela, agora eu que estava confuso.
- Tudo bem, e daí? O que é “vegana”? É uma religião?
- E daí?? E daí que eu queria saber se você poderia me dar eles. E não, Veganismo não é isso, quem sabe um dia eu poderia te explicar melhor, é que estou com pressa e louca por esses chocolates – ela parecia ansiosa para receber os chocolates, e realmente para mim não fazia a menor diferença. - Ah, tudo bem mocinha – e entreguei os chocolates para ela.
- Muitíssimo obrigada – ela me olhou e sorriu de uma forma que pode acreditar se quiser, iluminou e melhorou todo o meu dia.
– Agora vou indo, até algum dia – deu as costas para mim e saiu, mas ela não sabia que tinha levado meu coração junto.

Fiquei parado por alguns minutos tentando entender o que aconteceu. Respirei fundo, olhei para a prateleira e peguei mais dois chocolates e fui de encontro dos rapazes.
Jared, que me conhece há mais tempo, basicamente nós nascemos juntos, me encarou de forma estranha.

- Ei , tá’ tudo bem? Parece que viu um fantasma.
- Ah que nada, estou bem, é que me assustei com os preços dos chocolates – e dei uma risadinha para disfarçar.
- Relaxa que só vamos ter que vender nossos fígados para pagar tudo isso. – disse Jeff, ele adora fazer piada sobre tudo.
- Vamos ter que vender você, Jeff e ainda vamos ficar devendo, ninguém entre nós tem o fígado bom – eu disse e todos rimos.

Pagamos e saimos conversando sobre a festa que teria à noite, não sei em que momento, mas acho que foi quando senti borboletas no meu estômago, que notei ao longe uma cabeleira azul entre a multidão.

FLASHBACK OFF

Na minha mente ainda vagava a lembrança e eu sentia meus pés presos ao chão. Sacudi a cabeça levemente como se isso fosse afastar esses pensamentos, continuei andando. Nada de caminho alternativo, vou chegar atrasado.
Depois de muito empurra-empurra e pedidos de desculpas por pisar no pé de alguém, cheguei ao ponto de ônibus, para a minha infelicidade havia acabado de sair um ônibus, agora só daqui meia hora para o próximo. Droga! Peguei o celular e mandei um sms para ela:

"Hey florzinha, me desculpe mesmo, mas vou me atrasar.
Me perdoa e não desiste de mim.
Vamos nos resolver e irei te recompensar, eu juro.
Do seu amor,
, s2"


Pronto, espero que ela veja e me responda o mais rápido possível.
Enquanto esperava o ônibus na minha mente passava mil formas dela terminar comigo, e em todas resultavam em um melancólico e carente ao ponto de deitar no colo de qualquer garota. Em três anos e um pouco de relacionamento é claro que ambos fizeram muita merda, teve brigas, términos temporários (no final eu sempre aparecia no apartamento dela com um buquê de rosas e um chocolate branco vegano que ela amava, ela me olhava com uma expressão desapontada, eu envergonhado, ela me convidava para entrar, pegava o buquê e o chocolate, o Mimo, seu cachorro, pulava e abanava o rabinho por causa da minha chegada. Ela o acalmava, eu entrava, sentávamos no sofá e conversávamos sobre a briga anterior. Havia promessas de nunca mais acontecer o ocorrido em questão, ela sorria. Enrolava seu cacho colorido no dedo e me beijava, sempre dizia “vou fazer pipoca, escolhe um filme”, eu ligava a TV, colocava na Netflix, escolhia qualquer filme que estava em alta. Eu ia para a cozinha, a encontrava ao lado do fogão, sorrindo para mim, eu me aproximava e a beijava. O estouro da pipoca era a mais linda trilha sonora que poderíamos ter, depois de alguns minutos separávamos nossos lábios rindo por causa do leve cheiro de queimado. Eu retornava para sala, arrumava o sofá para assistirmos o filme, ela aparecia com a pipoca e uma jarra de suco natural. O Mimo se aconchegava ao meu lado. Assistíamos o filme, às vezes ela o pausava para criticar, rir ou perguntar sobre algo. Eu ouvia tudo docilmente e respondia, ela sorria, me beijava e coloca o filme novamente. Quando o filme acabava ficavámos conversando sobre ele. Ela deitava no meu peito e pegava no sono enquanto eu acariciava seus caracóis coloridos, sempre me sentia sortudo por tê-la na minha vida. Eu a pegava no colo e a levava até o quarto, o Mimo me acompanhava. Eu a colocava na cama, ela se aninhava e fazia expressões tão lindas como a de um anjo. Eu voltava para a sala e arrumava tudo, ia até a cozinha e lavava a louça. Retornava ao quarto, me trocava e deitava ao lado dela. Sonolenta ela dizia “obrigada por ter vindo, eu te amo tanto”, sorria e eu a beijava levemente, ela adormecia ao meu lado. Eu me virava de barriga para cima e encarava o teto, com as estrelas fluorescentes brilhando, e pensava em quanto eu era sortudo por tê-la na minha vida), mas no fim o amor prevaleceu, e continuávamos a relação, aos trancos e barrancos, até agora.

De repente uma música do LetoDie começou a tocar, era um sms que havia chegado, peguei o celular e li a mensagem:

“Ok, estou te esperando.
Mande sms quando estiver chegando.
.”


Nada de emoticon ou apelidinho, é a coisa entre nós está complicada.

*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~


Graças a sorte ou o que quer que fosse, o ônibus chegou exatamente 30 minutos depois. Subi no ônibus apressado, desejando que ele fosse um jatinho ou algum outro meio de transporte mais rápido. Sentei no banco da janela e coloquei uma música do Leo Fressato para tocar no fone, o cara é um cantor que a ama escutar, independente se a melodia é alegre ou triste, sendo que ela prefere músicas tristes. Ela sempre diz: “música triste é um combustível para um coração cansado”, mesmo estando tanto tempo com ela, algumas coisas ainda são um mistério, principalmente os segredos ou pensamentos mais íntimos. Sempre que pergunto algo do gênero ela “mete o louco”, muda de assunto, começa a me beijar e elogiar, conta alguma piada sem nexo (e essas normalmente são as mais engraçadas), enfim, acho que vai ter coisas que não irei saber tão cedo.

Estou naquele momento da vida que olho para a janela e imagino que estou em um vídeo clipe, só que esse clipe é muito triste.
Ainda distraído, noto que passei em frente ao Clash Club, que foi o segundo lugar onde eu a encontrei, e talvez desde naquele tempo, algo entre nós já estava rolando.

FLASHBACK ON

Eu, Jared, Jeffrey e Misha estávamos dançando loucamente na pista de dança do Clash Club, a DJ Devochka era a atração da noite, e ela fazia jus a isso, as músicas eram de arrasar. Já estávamos quase quatro horas dançando “sem massagem”, que descobri ser uma expressão popular nas baladinhas, que significa “dançar direto, sem descanso”. Por mais que a música fosse animada e eletrizante meu corpo pedia descanso, água e uma ida ao banheiro. Gritei para os rapazes que ia ao banheiro e já voltava, eles concordaram acenando a cabeça e voltaram a dançar, queria ter o mesmo pique que eles.
Sai do meio daquela multidão e pude finalmente respirar um ar menos calorento.

Usei o banheiro e passei no bar para comprar uma bebida.
Pedi uma Skol Beats e fiquei olhando ao redor, observando as pessoas e o modo como dançavam. Peguei a bebida e dei um gole nela, eu a senti me gelar por dentro, era um gelar nada característico, mas eu estava tão bêbado que nem pude diferenciar. Até que eu senti aquele cheiro. Era uma mistura de creme e chocolate.
E então eu a vi. Seus cachos mesclavam as cores azul, rosa, roxo e um pouco de verde, transformando sua juba em uma bagunça colorida, ela usava uma saia curta azul e uma blusa preta. No seu pescoço pendia uma gargantilha com spike e um pentagrama. Nos seus lábios a cor vermelha era predominante e no seu olhar havia luxúria e desejo. Ela estava vindo em minha direção, por puro nervosismo acabei dando as costas para ela, puta atitude babaca. Ela se apoiou no balcão e disse a garçonete:

- Oi, boa noite, por gentileza, um suco natural com muita vodka. – A garçonete respondeu ela com um aceno positivo.
- Oi moça, tudo bem? – Eu disse me virando para olhar nos olhos dela.
- Oi? Tá’ falando comigo? Por acaso eu te conheço? – Me olhou com uma cara confusa, mas admito, achei uma gracinha.
- Ah, mais ou menos... Nos conhecemos em uma loja, você queria trocar os chocolates comigo, porque eu havia pego os únicos que você poderia comer. – Ela continuou me olhando, provavelmente tentando lembrar da situação.
- Ah... lembrei! Caramba, legal te reencontrar. E aí, como você está?
- Bem e você?
- Estou bem – ela respondeu e sorriu para mim, e eu soube que meu coração já era dela. A garçonete entregou a bebida a ela e continuamos a conversar.
Conversamos sobre religião, clima, política, música, cinema, arte.... sobre tudo e mais um pouco, assuntos polêmicos e irrelevantes, sobre passado, futuro... nunca havia me dado tão bem com alguém. A cada assunto novo era um copo de bebida a mais.
Eu ouvia ao longe alguém dizer meu nome, mas não dei muita importância.

- Caralho , achamos que você havia desmaiado no banheiro. O que está bebendo? Eu quero também – Meu amigo, Misha, chegou falando alto daquele jeito escandaloso que só os gays sabem fazer.
- Meu Deus Mish, eu sai faz uns quinze minutos...
- Quinze minutos?? – ele colocou a mão na cintura, fazendo pose – Estamos há quase quarenta minutos te esperando.
- Sério? – olhei espantado para ele, como assim fiquei tanto tempo conversando com ela? – Poxa, velho, me desculpe. Vamos indo então, deixa eu me despedir da moça aqui... desculpa, não sei seu nome – ela se virou para nós e olhou atentamente para o Misha.
- O Misha sabe meu nome – Ele fez uma cara de desentendido e a encarou. Ficou uns minutos assim até que acho que finalmente se lembrou dela.
- ?? MENINA DO CÉU. COMO ASSIM ENCONTREI VOCÊ NA BALADA COM ESSA CARA DE PIRIGÓTICA??
- Pois é, vinhado’ – e deu uma risadinha – Eu e o Misha estudamos Ciências Biológicas na UNIP.
- Como você conheceu o garanhão aqui? – Misha me cutucou, sorrindo maliciosamente, nunca me senti tão constrangido.
- Ah, em uma loja, eu estava comprando chocolates e vocês? – respondeu, e olhou para nós sorrindo.
- Eu, , Jared e Jeffrey estudamos juntos da pré-escola até o ensino médio, aí cada um começou os estudos em faculdades diferentes, mas nunca perdemos o contato. Eu estudo na UNIP, como a senhorita já sabe. na Unicastelo, Jared na Uninove e Jeffrey na Mackenzie.
- Uau, que legal. Boa sorte para vocês.
- E a sua namorada? Onde está?
- Putz... – estava com um olhar preocupado – ela veio comigo, mas como fiquei aqui não tenho a menor ideia de onde ela está.... Bem, vou procurá-la, Mish passa meu número para o... , certo? – eu concordei com a cabeça – Até depois rapazes – ela deu um beijo no meu rosto e abraçou o Misha. E foi em direção a multidão.
- Eu não sabia que ela namorava – eu disse um pouco desanimado, e acho que o Misha percebeu.
- Ela não costuma contar para todo mundo, mas ela é uma garota incrível. Eu sei que provavelmente seu coração bate um pouquinho mais forte por causa dela, mas não fica assim, ok?
- Tudo bem...
- Ai para , se você ficar na bad eu fico na bad. E quando estou na bad eu canto Lana Del Rey e aí ninguém mais me segura! – e deu uma risadinha, sei que ele queria me animar, mas eu me sentia tão mal – Vamos voltar para pista de dança, você vai esquecer isso já já.

Misha segurou minha mão e me levou em direção a multidão. Eu sabia que não iria esquecer tão cedo, mas não custa nada tentar.
Por causa das luzes da balada, todo mundo parecia ter o cabelo colorido, mas aquele cheiro... uma mistura de creme corporal, chocolate e bebida alcoólica era inconfundível.

FLASHBACK OFF

Ok, relembrando bem não havia nada entre nós, pelo menos não da parte dela. Depois que descobrimos ter um amigo em comum sempre que havia rolê’ o Misha a convidava, e rara as vezes sua namorada ia junto. Ela não apoiava muito as amizades da . Mas isso nunca impediu de sair conosco, ela sempre animava as saídas em grupo, fez amizade com todos os outros garotos e claro, todos adoravam sua companhia. Quando Jeffrey brigava com sua namorada ele pedia conselhos a ela, quando Jared queria arriscar com alguma garota ele pedia dicas dela, quando Misha ficava em dúvida se “x” garoto era gay ele pedia para ela perguntar. Nossa vida se tornou igual aquele depoimento do Orkut “o que dizer dessa pessoa que mal conheço e já considero pacas", ela já era integrante do grupinho.
Quanto mais a saia conosco mais sua relação com a Giovanna ia se desmoronando, até que 6 meses depois ela terminou com a Gi porque descobriu que ela estava se encontrando (e transando) com um colega de infância.

que sempre fora tão animada agora estava mais do que pura melancolia, diminuiu suas saídas conosco, começou a faltar frequentemente a faculdade quase ficando de DP na maioria das matérias. Desativou facebook, quebrou o celular, ficava basicamente o dia inteiro escutando Carne Doce, Esteban, Leo Fressato e Legião Urbana, enquanto lia livros do Dostoiévski e da Simone de Beauvoir. Ela não era mais a mesma, e todos percebiam isso, o problema era que ninguém conseguia se comunicar com ela, rara as vezes que ela nos deixava entrar no seu apartamento. Sempre dizia que estava ocupada limpando os cômodos ou estava estudando.
Diversas vezes um de nós ficávamos acampando no corredor do prédio dela, e pouquíssimas vezes vimos ela saindo de lá. Uma vez ou outra quando íamos lá ela pedia para ir na feira comprar alguns legumes e frutas, e só. Nenhuma piada, conversa ou expressão corporal, essa era apenas a sombra da sombra da nossa .
Todos estávamos desanimados por conta dela, e mais tristes ainda não por poder ajudá-la.
Até que dia 26 de agosto ela mudou a rotina.

FLASHBACK ON

Hoje eu que estava acampando no corredor do prédio dela, como não era a primeira vez que eu ficava aqui vim preparado, havia trago: brigadeiros, batata palha, ps portátil, cerveja e muita água.
Coloquei o fone no ouvido e escolhi um jogo qualquer.
Estava extremamente concentrado no jogo quando um cachorro doido e bege pulou em mim e começou a me lamber.

- Me desculpa pelo Mimo, acho que ele gostou de você. O que está fazendo aí? – mesmo com o fone consegui reconhecer o timbre da sua voz, e mesmo se eu não olhasse para cima para vê-la eu saberia que era ela por conta do cheiro singular.
- Eu estou... aqui para cuidar de você... – eu disse, envergonhado, achei que ela sabia que todos nós estávamos ficando aqui por ela.
- De mim...? Uau.. – ela realmente não sabia... – Cansei se ficar sofrendo dentro de casa, acabou a fase bad, vou em uma praça aqui perto para passear com o Mi, quer nos acompanhar?
- Claro, deixa eu pegar minhas coisas.
Levantei, peguei minhas coisas e a segui junto com o cachorro.

Caminhamos em silêncio durante uns 10 minutos até chegarmos ao tal local. A praça estava vazia, era bem arborizada, a grama estava curta e bem verde, era um local bem tranquilo. Sentamos ao lado de uma grande árvore, ela soltou a coleira do Mimo e ele correu para provavelmente explorar o lugar. Ela estava linda, usava um vestido colorido e um all star branco, seu cachos estavam azuis e verdes. E seu cheiro se misturava com o cheiro da grama úmida.

- Como conheceu esse lugar? - perguntei, quebrando o silêncio entre nós.
- Quando eu era pequena eu morava a uns km daqui e sempre vinha aqui com a minha família.
- Ah sei... e onde seus familiares estão? - Estão morando na Bahia, por mais que eu já tenha viajado quase o país inteiro eu ainda prefiro morar em São Paulo. Aí eles foram embora e deram entrada em um apartamento para mim, e desde então venho sustentando eu e o Mimo.
- Legal. - e sorri para ela - E como está quesito o ocorrido com a Gi...? - sei que o assunto era doloroso, mas ela teria que falar com alguém sobre isso, e por que não eu?
- Ah... estou melhorando... sabe, ficamos muito tempo juntas... infelizmente não é fácil para esquecer... - ela deu um sorriso cabisbaixo - Mas vamos mudar de assunto, me fale sobre você. - ela se sentou de frente para mim, pareceu se animar um pouco.
- Tudo bem, o que quer saber?
- Que tal, tudo?? Ah, qual é , nos conhecemos a tanto tempo, mas ao mesmo tempo parece que nem te conheço direito, vai me conta tudo e o que quiser.
- Claro. - me sentei melhor para ficarmos frente a frente - Bem, me chamo , sou Taurino, gosto de jogar, estudo Psicología... - ela me interrompeu.
- Calma ai, vou pegar uma coisa para deixar tudo isso mais legal. - ela pegou a bolsa atrás de si e tirou de lá um cigarro de maconha.
- Você fuma? - Perguntei surpreso, essa garota sempre tem algo novo.
- É mais fácil perguntar quando eu NÃO fumo. - e riu - E você, fuma?
- Olha, não costumo fumar, mas para você abro uma excessão. - e sorri para ela, e ela me devolveu com um sorriso mais lindo ainda.

Chegamos em um ponto que estávamos falando sobre invasão alienígena e apocalipse zumbi, o risos nunca paravam, a cada 10 palavras havia pelo menos 7 risadas. Volta e meia o Mimo voltava para ver como estávamos e continuava sua exploração. Nossos cabelos estavam cheios de folhas e grama, e nossa roupa levemente suja de terra, mas não era importante, o que realmente importava era fazer ela esquecer toda a tristeza anterior.

- Vem, quero te levar em um lugar. - ela se levantou e estendeu a mão para mim.
- Claro. - segurei sua mão e me levantei.

Fomos andando mais para o fundo da praça, lá havia um mini parquinho. Tinha duas gangorras, um balanço vermelho e um escorregador. Ela largou minha mão e saiu correndo até o balanço, ela acendeu mais um beck' e começou a se balangar. Andei até suas costas e comecei a empurrá-la, às vezes ela diminuia a velocidade para me passar o beck'. Os assuntos absurdos continuaram, como por exemplo o que fariamos se estivessemos em uma ilha deserta com uma vaca, ela faria amizade com a vaca e viveria das plantas comestíveis do lugar, mas dizia ela que a situação é totalmente extrema e irreal, já que seria quase impossível ir com um animal de grande porte nesse lugar e mesmo se ocorresse, ela não voltaria a comer carne.
Ficamos basicamente o dia inteiro na praça, posso dizer que foi um dos melhores dias da minha vida. Revezamos no balanço e fomos nos outros brinquedos, quase fiquei preso no escorregador, e ela claro, riu até a barriga doer. Fumamos mais um pouco e deitamos na grama, de barriga para cima. Ficamos observando as nuvens e falando o que elas pareciam, nossa imaginação estava tão fértil que vimos um golfinho fazendo assalto a mão armada.

- Ei ... - ela disse baixinho, rompendo o leve silêncio entre nós, porque eu ouvia e sentia a batida de nossos corações.
- Uh? O que foi?
- Obrigada por ter vindo... não teria sido tão legal sem você - e sorriu, timída.
- Disponha , sempre vou estar aqui para você. Tenho todo o tempo do mundo para você.
E então ela subiu em mim e me beijou. Meu coração havia parado por segundos, meu corpo havia congelado, eu simplesmente não conseguia acreditar nisso. Correspondi o beijo, e logo ele evoluiu para algo mais fogoso. Ela arranhava meu braços e me apertava levemente, enquanto eu passava a mão nas suas curvas e a puxava para ficarmos mais próximos, tão próximos que nossas Almas poderiam se tocar. Nos soltamos e ela se deitou ao meu lado, estavamos sem fôlego e totalmente surpresos com o ocorrido.

- Uau... o que foi isso? - ela perguntou, passando a mão pelos cachos coloridos.
- Eu acho que foi um beijo... um puta beijo. - falei e rimos, ela se virou e olhou para mim.
- Que tal repertirmos? - ela sorriu e eu selei nossos lábios novamente, juro que eu poderia ficar aqui eternamente e nem reclamaria.

FLASHBACK OFF

Ainda faltava 10 minutos para eu chegar, que porra. Estou basicamente uma hora e dez minutos atrasado, se a situação estava ruim, agora estaria péssima. Mandei um sms para ela:

"Ei amor, em 10 minutos estou ai.
Me desculpa mesmo... por tudo.
Beijos
Tas :3 "


Logo em seguida recebo uma resposta dela:

"Ok."

A insensibilidade dela quebrava o pouco que restava do meu coração, mas ela havia total direito de estar assim.

*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~


Cheguei no Prime Dog, que é uma lanchonete vegana. Ela estava sentada em uma das mesas do canto, fui ao encontro dela. Ela usava um vestido preto e seus cachos estavam apenas da cor roxa, a cor que ela mais gostava.

- Oi... - eu disse, e me sentei na cadeira que ficava de frente para ela.
- Oi.
- ... tudo bem?
- Tudo.
- Me desculpa pela demora, amor. E me desculpe por... - ela levantou a mão, pedindo para poder falar.
- Você tem ideia da gravidade da situação?
- Eu sei, me desculpe... - Me desculpe o caralho, , você acha que sou alguma adolescente?? Se fosse o contrário você aceitaria um simples pedido de "desculpa"? Me desculpe , mas eu não consigo mais.

E foi ai que o chão desapareceu sob meus pés, eu não acreditava nisso. Não poderia acabar assim. Na minha mente aparecia todos os nossos momentos alegres e todos os nossos planos, de morar junto, adotar vários animais, viajar por ai. Meu coração parecia bater tão rápido que poderia explodir a qualquer momento, minha respiração estava desregulada, eu suava frio.

- Por favor , vamos conversar, já disse que não ocorreu nada além do que você viu.
- Certo, então por favor, me lembre o ocorrido. Eu quero ouvir você falar o que fez.
- Bem... eu fui na despedida de solteiro do meu primo... e fiquei muito bêbado... acabei levando uma das garotas de lá para meu apartamento... - parei de contar e olhei para ela, basicamente implorando para não continuar, ela me olhava brava, com certeza terei que relembrar isso. - E você estava lá. Havia feito um jantar vegano para nós, comemorando três anos e seis meses... e eu estraguei tudo... Eu juro, não ocorreu nada entre eu e ela.
- Mas eu a vi agarrada no seu pescoço. Acha mesmo que vou aceitar isso numa boa?
- , por favor, não ocorreu nada. Eu nunca faria nada disso.
- Aparentemente fez... me desculpa mesmo, mas não dá mais... - ela se levantou, tirou nossa aliança e me entregou. Meus olhos se encheram de lágrimas e os delas também, eu as via escorrer pela sua bochecha - Se tiver algo seu no meu apartamente vou pedir para o Misha te entregar, e por favor, faça o mesmo. Até algum dia , foi muito bom o tempo que passei contigo.

E ela se foi. Fiquei durante muito tempo sentado, tentando aceitar a situação, ela realmente se foi e provavelmente nada que eu faça vai trazê-la de volta.
Seus cabelos coloridos desapareceram, mas eu ainda sentia seu cheiro.

Fim!



Nota da autora: (22/03/2017) Obrigada por lerem até o final <3
Primeira fic interativa que escrevo e que é postada.
Queria agradecer ao meu lindo namorado, que me deu algumas ideias e que foi a primeira pessoa a ler!
A fic é metade experiências que tive (por exemplo os locais) e metade sobre experiências que eu queria ter.
Admito que tem muito de mim e muito do meu namorado na fic, mas eu acho que isso só a deixou mais "real".
A inspiração surgiu depois que li uma fanfic do FFOBS, mas era na visão da PP e no final eles não terminavam.
A minha foi escrita em mais ou menos 2 meses, eu não queria forçar nada, escrevia apenas quando realmente achava que a ideia batia com o que eu queria.
E resultou nisso <3, admito que sou péssima com nomes e descrições, mas acho que ficou legal. Decidi colocar esse nome depois que assisti um filme com a mesma nomeação, (mas nada parecido com a fic) e achei que combinava haha.
Espero que tenham gostado e que seja mais uma de muitas fanfics postadas aqui <3
Beijihos de amora =3
- Milly.




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