Cornerstone







Era noite, por volta das onze e quarenta. As luzes da avenida principal se mantinham firmes, com exceção à do Battleship Bar, que piscava de um modo atraente. As imagens Dela não saíam de sua cabeça quando ele cruzou a porta do estabelecimento - seu sorriso, seu olhar, o modo com que ele a pegou o traindo. Balançou a cabeça e afastou esses pensamentos para longe, se aproximando do balcão e pedindo uma cerveja qualquer em seguida. Se apoiou na bancada de mármore e sondou o local rapidamente com o olhar e, entre bêbados e prostitutas, achou que poderia tê-la visto ao fundo, abaixo do aviso luminoso dos banheiros. Se aproximou e, a cada passo que dava, percebia que era outra pessoa, mas haviam semelhanças entre a mulher e Ela, como se tal fosse algum tipo de fantasma. Chegou a dois palmos da moça e se apresentou.
- Prazer, . - Seu sorriso falso alargava seu maxilar, de um modo surpreendentemente verdadeiro.
- Alora, o prazer é meu. - Falou, se levantando e ficando um pouco mais perto. Uma taça de bebida vermelha relaxava sobre três de seus dedos, dando a entender que poderia cair a qualquer momento. A risada desta era escandalosa, apesar da mesma parecer recatada. Não era a melhor das opções, mas com certeza era uma válida. Então ele, em um suspiro torto, perguntou se poderia a chama-la pelo nome Dela. Alora, chocada, lançou-lhe a mão no rosto e se afastou. O garçom o encontrou, após muito procurar, e o entregou a cerveja. O homem pagou e deixou a garrafa alí, sem dono, saindo do lugar o mais rápido possível e desolado.
As ruas estavam vazias e o vento era forte, avisando que uma chuva estaria por vir. Virou uma esquina e a situação era a mesma, poucos carros, ruas vazias, com exceção à calçada do Rusty Hook. Decidiu entrar, sóbrio, alcoolicamente falando, porém atordoado mentalmente. Se direcionou ao balcão, este feito completamente de vidro, e desta vez foi específico, pediu uma garrafa da mais famosa cerveja preta que o local possuía. Andou por entre pernas e pensou ter visto Ela novamente, sentada próxima a uma mesa, mas ao alcançá-la, percebeu que se tratava de outra pessoa. Todo o tempo que perdeu com Ela veio a tona e ele não pensou duas vezes e nem quis saber quem era a mulher, apenas tomou um gole de sua bebida e a beijou. Perdeu longos minutos até parar de devanear e se concentrar no momento, separou os lábios dos da dama que o segurava com força e baixou a vista. "Elanor" era o que havia escrito em um colar que pairava sobre o peito magro em sua frente e, ao olhá-lo, mais uma vez se deixou levar. Olhou a desconhecida nos olhos, elogiou seu nome, a fez sorrir, e então perguntou educadamente se podia a chamar pelo nome Dela. Elanor levantou e se afastou quase que instantaneamente, o deixando sentado na cadeira que a pouco ocupava.
- ? - Collin, um colega antigo, apareceu em sua frente.
- Olá.
- Você parece acabado. – Riu.
- Eu estou. - Respirou fundo, com tom de sarcasmo. - Acho que já vou para casa, são só algumas quadras.
- Deixa disso! Vamos comigo para um lugar, subir essa sua bola, depois eu te dou uma carona! - Ele ponderou por alguns segundos, pensando que não tinha nada a perder e então, após um sorriso fraco, aceitou, sabendo que isso o faria demorar cada vez mais a chegar em casa e lembrar de tudo novamente. Seguiu para o carro do amigo, que estava do outro lado da rua, sem uma gota de ânimo. Terminou a bebida que comprara, jogou a garrafa em um amontoado de sacos de lixo e entrou no veículo. De algum modo, o cheiro Dela estava alí - no banco, no cinto, nos encostos - e trouxe de volta todas a memórias que ele se forçava a esquecer. Então tentou conversar com Collin, falando o máximo possível, para aliviar a mente.
Os pingos de chuva caiam no capô do carro e faziam sons compassados. Já passara das duas da manhã e as únicas cores nas avenidas do bairro que estavam eram as do letreiro neon do Parrot's Beak, um bar clássico e um tanto destruído da cidade. O automóvel foi estacionado e os dois saíram em direção à entrada e depois para o barman.
- Uma cerveja normal para mim e algo diferente para o meu amigo aqui! - O outro pediu. - Se divirta, ! Tem tanta coisa boa para evitar esse rosto triste! - Então pegou seu copo e partiu para o meio das pessoas dançantes. O Barman entregou uma cerveja preta ao homem, que riu sem humor ao ver que era a mesma que tomara a pouco. Decidiu não tentar mais nada e só beber, até que achou que viu Ela, mais uma vez, agora no fim do balcão de bebidas. Deu dois passos e percebeu que era outra pessoa, uma bela mulher fumando um cigarro longo bem abaixo do detector de fumaça. Se adiantou até ela e notou que seu braço direito estava quebrado e seus lábios marcados de batom vermelho.
- Olá! - Gritou, pois a música eletrônica ruim que ressoava estava em um volume absurdo.
- Oi! - Ele não a ouviu, mas conseguiu ler seus lábios.
- Como você está? - Outro grito. A mulher tentou responder mas, desta vez, nem os lábios ele conseguiu decifrar, então pegou uma caneta na bolsa e escreveu em um guardanapo.
"Estou ótima"
Pelo visto, ela era canhota. Ele riu com a constatação e continuou a conversa no pequeno pedaço de papel. Os minutos correram e esta parecia ser a melhor companhia da noite. Falaram sobre bandas, filmes e teatro e ele se colocou próximo ao rosto dela. Percebeu que as paredes atrás da mesma estavam molhadas devido à chuva forte lá fora e as infiltrações do local, e que o cheiro de nicotina era forte nos seus cabelos. Parou por um segundo e a observou, tirou o cabelo de seu ouvido e em seguida falou perto do mesmo que seu nome, Nyla, era lindo e perguntou se poderia a chamar pelo nome Dela. Nyla pegou o guardanapo com força e escreveu em letras garrafais uma única frase antes de sair, desapontada e com raiva.
"Não, você não pode me chamar pelo nome Dela"
Ele começou a se perguntar o porque de estar vendo Ela em todos os rostos e onde Ela realmente estaria. Se estaria pensando nele, assim como ele pensa Nela. "Claro que não", assumiu para si. Ela havia o traído e ele ainda pensava em outras chances. Queria esquecer Dela, de seu rosto, mas não queria, ao mesmo tempo. Ele se aproximou de Collin, que já estava com uma moça de cabelos ruivos.
- Você acha que eu estou imaginado coisas, Collin? Eu vejo Ela em todo lugar.
- Não, cara, você só precisa relaxar. - A voz de um homem bêbado foi a que chegou a seus ouvidos. - Acho melhor te deixar em casa. - Falou e ele concordou. Os dois, e a ruiva à tiracolo, foram para o carro. O cheiro dos bancos o inebriou novamente e ele não via a hora de chegar em sua rua.
O motorista não estava em seus melhores momentos e a mulher no veículo chamava mais sua atenção que a via, então ele decidiu pedir para parar uma quadra antes e ele andaria até seu lar. Collin aceitou na hora, afinal, tinha coisas melhores a fazer. Os dois se despediram e desceu do carro. A chuva havia cessado mas o asfalto ainda estava molhado. Seguiu balbuciando alguma canção para si mesmo até que viu alguém na esquina de sua rua, encostada em um pilar. Desta vez, não era Ela, e sim sua irmã, . Estava sozinha em um telefone público e, na proporção que se aproximava, ia percebendo que ela tentava falar com o telefonista.
- Merda. - Colocou o aparelho no gancho abruptamente. Os traços da garota não pareciam com os da irmã, apesar dos poucos anos de diferença. tinha uma beleza jovial e Ela tinha uma mais madura. Enquanto Ela era uma mulher de poucas palavras, a irmã tinha um espírito indomável, o que não deixava ele curioso a respeito de a encontrar no meio do nada às quatro da manhã.
- Oi.
- ?
- . – Sorriu.
- O que faz aqui a essa hora?
- Noite péssima, voltando para o lar.
- Somos dois. - Seu cabelo caia sobre o rosto e ela tentava o prender. - Mas eu não sei bem onde estou.
- Esse é a rua da minha casa. - Riu leve, coçando a nuca, sem entender o modo que estava agindo.
- Ah. - Então, ao olhar em seus olhos, ele pensou por um momento que ela entenderia ele. De todos os modos. Apesar de isso ser irracional e provavelmente efeito da bebida. - Eu queria ver o por do sol.
- O por do sol? - Deu um passo em direção à ela e colocou um sorriso bobo no rosto.
- O nascer, desculpa. Estou meio perdida na lógica também.
- Você podia ver comigo, na minha casa. - Ele se arrependeu logo depois de falar, foi apenas um impulso.
- É... - A moça visou o chão, corada. - Eu não sei...
- Me desculpa. Eu não queri...
- Sabe de uma coisa? – Interrompeu. - Eu perdi muito tempo não aproveitando as oportunidades que tenho. Que mal podia haver? Eu te conheço há tanto tempo. - Estava incerta, um pouco tonta e cansada, mas tinha que tomar essa decisão.
- Sério? - Alargou o sorriso. - Mas antes... - O homem sabia que esta pergunta estragaria tudo, mas tinha que a fazer. - Eu posso te chamar pelo nome Dela?
suspirou e, com os olhos fechados, respondeu.
- Eu realmente não deveria, mas... Sim, você pode me chamar do que quiser.
Ao ouvir estas palavras, o mundo parou e ele soube que ela era a certa, para tudo, e que ele podia a ajudar e ser ajudado por ela. Ele quis alongar o caminho para casa. Ele quis que o cheiro no cinto de segurança fosse seu. Ele quis que fosse o rosto dela que ele visse em todo lugar. Por mais que fosse coisa de momento, do álcool ou do cansaço, ele sabia que não deveria, mas não quis chamá-la pelo nome Dela.
Quis chamá-la pelo nome dela.
.



Fim.



Nota da autora: (31/01/2016) Primeira fanfiction enviada, espero que alguém (qualquer um kkk) goste!






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