CAPÍTULOS: [prólogo] [1]





Crashes of Heaven


última atualização: 05/12/16





Prólogo


Arkheiu. Vladimir. Dreock. Monstair. Nialla. Neclon. Waller. Tristo. Blaskein.
Agora . Eu.
O décimo demônio convencido a ir até sua morte. Nada disso iria resolver. Nada disso iria ser realmente real, minha existência rondaria o nada diante da morte.
Silver. Uma simples garota que tivera a alma prometida mesmo antes de nascer: seu pai vendeu a alma de sua primogênita em troca de riqueza. Luxo. Uma vida longa e cheia de todo o tipo de prazer e pecado.
Mas, tão podre fora sua existência, que quando seu pagamento chegara ao mundo, nascera com o pior dom que alguém pode ter.
podia ver demônios. E sua alma era tão inocente que trazia os próprios demônios ao fim do poço. Trazia os próprios demônios à morte.
Um anjo inocente que não tinha noção de nada ao seu redor.
Fora internada ao informar para todos que via demônios, numa festa da família e com toda a sociedade próxima. Informou quantos demônios estavam ali e quem iria para o inferno. Disse todos os pecados de cada um e fez Neclon se matar naquela própria noite. Neclon era o demônio enviado para trazer sua alma de volta ao inferno. Sexto enviado. Sexto de sua linhagem.
Pigarreei, encarando minha forma humana no espelho e estreitando os olhos para aquelas madeixas humanas, pendiam nos ombros e tinham um formato escurecido. Duas batidas na porta e uma doce voz veio até mim, dizendo que eu podia entrar.
– Bom dia. – Saudei, segurando minha prancheta com cuidado enquanto fingia examinar suas informações lá. – Silver, não é?
– Bom dia. – Os longos cabelos loiros estavam desengonçados, embaraçados por completo e ela parecia que não os lavava há tempos. Seus olhos tinham um quê escuro e eu sentia cheiro de sangue no ar, mais precisamente, do meio de suas pernas, já que sua camisola branca estava tingida de vermelho no local. – Novo médico?
– Sim. – Tentei não reagir a sua imundice, me mantendo quieto. – Você quer tomar um banho antes de conversamos?
– Um demônio é meu novo médico? – Seus olhos pararam em mim. – Nunca vieram como médicos, essa é nova. Já tive amigos, serve? – Gargalhou, a insanidade beirando em suas palavras. – O cheiro de sangue incomoda?
– Não sei por que faz perguntas que já sabe as respostas. – Retruquei, colocando a prancheta de lado e rolando os olhos, aquilo já era previsível.
– Veio buscar minha alma, ? – Se esticou na cama, apoiando a cabeça nas mãos e melando ainda mais a cama com seu sangue podre. Ela não usava calcinha e eu podia ver claramente sua vagina completamente suja de sangue, alguns pedaços mais escuros e coagulados presos a sua virilha.
– Com um banho antes, talvez.
– Oh. – gargalhou tão alto que eu estreitei os olhos em sua direção, ajeitando a roupa que me protegia da nudez. – Isso vai ser divertido.

Capítulo 1


Em todas as contradições possíveis, não era a pessoa mais privilegiada daquele lugar. Seu pai doava uma ótima quantidade de dinheiro para o manicômio todo mês, garantindo que eles tratariam ela da pior forma possível – talvez o homem quisesse vê-la morta mais depressa. Seu quarto era mais que precário, além de fedido; tinha uma cama de solteiro, feita de uma alvenaria bem gasta; paredes com tinta gasta e descascada; o chão um piso reto, sem polir ou esbranquiçar, um tanto avermelhado; um simples bebedouro; armário pequeno que só cabia meia dúzia de peças de roupa. E não havia banheiro. Ela tinha que tomar banho com os outros pacientes. Não duvidava que sua comida vinha com boa parte estragada.
A vida da menina era um inferno.
– Eu estou com sede. – resmungou, tombando a cabeça e olhando em minha direção como se esperasse que eu me levantasse para buscar sua água.
– Você tem duas pernas. Faça bom uso delas. – Respondi de forma categórica, mudando meu olhar para cima dela apenas por alguns segundos, voltando minha atenção para todo seu histórico. Estava ali, detalhado de toda as formas possiveis. bufou, levantando em seguida com passos pesados e teimosos. Enquanto andava eu podia perceber o sangue escorrendo por toda sua perna. – Vai sujar o chão assim.
– Eu estou fazendo bom uso de minhas pernas. – Sorriu infame em minha direção, unindo os lábios num sorriso falso. Bebericou a água rapidamente e voltou para a cama, mexia nas unhas dos pés com os dedões das mãos, parecia tentar arrancar. – Porque vocês não têm nomes normais? – Parei de ler por um segundo e olhei em direção a mais uma vez. – Quer dizer, ? Qual o problema de quem batiza vocês? Acho que você combina com Luke.
– Mudo meu nome para Luke se você me der sua alma. – Estalei a língua, rolando os olhos com sua gargalhada.
– Acho que essa foi a melhor proposta que já recebi. – Riu mais uma vez e eu voltei a ignorar sua existência.
A verdade era que: nunca éramos mandados realmente para trazer a alma de como pagamento. Basicamente éramos seus demônios da guarda. Impedíamos o suicidio, já que a alma estaria podre e assim não seria recebida da forma correta. Matá-la também não era uma opção que podia ser considerada, deixou de ser uma opção quando a menina fizera 5 anos. Ela, de alguma forma, sempre conseguia convencer os outros a se matarem, fez isso com nove demônios antes de mim e a linhagem de mortos acabaria ali. Todos que me antecederam tiveram a eternidade negada graças a existência de Silver.
Isso acabaria ali.
– Qual o lance do absorvente? – Indaguei, tentando esconder a curiosidade em minha voz.
– Como? – Olhou em minha direção com uma interrogação no rosto e logo depois entendeu o que eu queria dizer. – Eles não me dão absorvente. Eu prefiro ficar nua, mas como eu tive que receber meu mais novo demônio e melhor amigo, a camisola foi o mais plausível. Não vou sujar minhas calcinhas com sangue. Possível que elas joguem fora dizendo que ele é amaldiçoado também. – nunca pareceu tão sã quanto naquele momento. Seu tom de voz estava num tom correto e até mesmo sua postura diante do fato tirava toda a armadura de insanidade forjada em cima de si. – Sabe quando eu fui autorizada a usar xampu? No meu aniversário. Eu nem lembro quando foi meu aniversário! Eu tenho piolho, feridas na cabeça e tanta sujeira que eu tenho certeza que existem vermes em meu cérebro.
– Todas essas coisas são ordens de seu pai, certo? – Eu tinha que ter a mínima confirmação possível. Por mais que um dia, ela morresse por culpa das ações dele, o homem poderia pelo menos dar uma boa vida à menina.
– Ele não gosta de lidar com a verdade, apenas isso. – Nenhuma emoção soava em seu tom de voz e eu pude sentir o vazio em seu olhar.
– Ninguém gosta, não é mesmo? – Levantei uma sobrancelha e dei de ombros, sentindo o cheiro do sangue não tão forte quanto antes. – Sua vida é uma mentira, . Eu sou supostamente seu médico, mas vim aqui te matar. Nove antes de mim fizeram isso. Você nasceu com o propósito de um pagamento. Às vezes a verdade não é a melhor coisa a se lidar.
começou a gargalhar, voltando a soar alta e escandalosamente. Ajeitou o corpo na maca e levantou as pernas, deitando o tronco na cama e deixando os pés pendurados na parede amarelada, manchando com o pouco sangue que não estava seco em seus dedos.
– Você é engraçado, . – Ria mais que antes, agora limpando lágrimas nos cantos dos olhos. – Eu nasci em meio às mentiras, é claro que eu não dou a mínima para isso. A diferença entre as pessoas não gostarem da verdade e eu é que eu sempre soube de toda a verdade. Nunca dei a mínima para ela, também. – Gargalhou uma última vez antes de começar a gesticular com as mãos. – Eu só aceito o que eu vejo. O que eu tenho certeza absoluta que é real. Esse é o problema das pessoas, meu caro demônio, elas acreditam nas coisas porque alguém disse. – Seu corpo virou bruscamente em minha direção e eu pude ver toda a loucura que estava presente em seus olhos naquele momento. Deitada na cama, as pernas tortas contra a parede e a cabeça apoiada nas mãos, uma posição torta do pedaço pensante de si e lábios ressecados. Eu nunca teria certeza se Silver era totalmente maluca ou sã demais para o próprio bem. – Se uma única pessoa discorda do que foi proposto por anos em anos na sociedade, todos vão julgar, podem até concordar, mas não vão assumir sua opinião por medo de não serem aceitos.
– Então, diz que as pessoas devem acreditar apenas no que está diante dos seus olhos?
– Digo que as pessoas devem parar de ser robôs dos antepassados! – Gritou, levantando da cama com veracidade e andando em círculos pelo quarto. – Um daltônico não vê vermelho ou verde! Não vê de jeito nenhum! Mas por que ele sabe que as cores existem? – Ela estalou o dedo em minha direção e seu sorriso próximo demais me permitiu sentir um hálito ruim vindo dela. – Porque alguém disse! Mas ele, ainda assim, é obrigado a dizer que acha que, coisas que nunca viu na vida, são reais para não o chamarem de louco!
– Tecnicamente, o daltonismo é uma doença...
– Ver demônios também é sinal de esquizofrenia... – Crispou os lábios e sentou na cama, mexendo na crista que ela chamava de cabelo. – Mas você é real, não é?
Só naquele momento percebi o desespero de sua voz. O fiasco que era o fio que a separava de toda a única insanidade que conhecia. Hipocrisia, essa era a palavra certa para definir o momento. Uma situação incerta, onde passara anos ouvindo que tudo o que ela via eram coisas que sua mente havia criado. Era chamada de louca. Doente. Mandada para um manicômio porque insistia que tudo ao seu redor era real.
E era. Tudo ao redor da garota era sim real.
Só que nem mesmo ela sabia a que ponto havia chegado.
Virei meu rosto para o espelho e me assustei ao perceber que eu parecia um tanto triste. O fato da criação dela parecia me abalar, nem que fosse da mínima forma possível.
tossiu e me olhou, havia algo penetrante em seu olhar que parecia chegar ao fundo de mim. Assim que meus poucos sentimentos expressos pela face chegaram ao seu conhecimento, um sorriso satisfatório foi aberto em seus lábios e ela começou a rir.
Não como antes.
Não como uma maluca que vive há anos num manicômio.
Como uma pequena sociopata, emergindo aos poucos para a superfície em que a boa garota vitimizada se escondia. Sua risada era tão diabólica que por pouco eu não perguntei se aquela era Lilith.
– Vê como é fácil? – veio em minha direção e passou os dedos ásperos em meu rosto, a barba rala arranhando sua pele. – Uma história triste e vocês são tocados da forma mais profunda. Um olhar desolado e confuso e todos sentem pena da pobre garota que foi jogada aqui pelo papai malvado... – havia um sarcasmo em sua voz que eu não tinha ouvido até agora. Seus lábios estavam formados num bico manhoso e os olhos refletiam poder. Os olhos daquela menina refletiam tudo o que ela era. – E ainda me perguntam como eu matei nove demônios. – Deu as costas para mim e foi até o armário, tirando a camisola e jogando-a no chão, procurando por algo. – Não seja tão fácil, . Assim você deixa o jogo sem graça.

Continua...



Nota da autora: sem nota. (12/11/2016)




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