Crawling Back to You

Última atualização: 09/04/2018

Prólogo

“Meu amor por essa garota aumentava cada dia mais e de uma forma inexplicável. Eu não aguentava mais ficar longe dela, não ter seu corpo perto do meu, sua boca na minha, sua risada ecoando em meus ouvidos, sua respiração baixinha quando cochilava vendo filme, seu perfume impregnado no meu apartamento. Eu abriria mão de qualquer coisa para ter isso novamente, eu correria todos os riscos que tivesse que correr, eu lutaria todas as batalhas que aparecessem no meu caminho, mas eu queria ela de volta. Eu teria ela de volta.”

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Capítulo 1

Chambersburg, Pensilvânia.
Era bom estar de volta, depois de dois anos longe, era, realmente, muito bom voltar para casa. Eu não sabia ao certo o que me esperaria naquela pacata cidade, onde todos sabem de sua vida, mas estava curiosa para descobrir. Dois anos. Era tempo demais. Era distância demais. Minhas pernas bambas me guiavam para dentro de casa, da minha casa, enquanto meu cérebro não parava um único minuto. Dois anos. Como era bom voltar.
Quando fui embora, deixei muitas coisas para trás. Minha família, minhas amigas, meu amor.
Aqueles dois homens que me amavam incondicionalmente, que dariam suas vidas por mim. Ficar longe do meu pai e do meu irmão foi horrível. Manter esse segredo deles, foi torturante.
Aquelas que eu sabia que podia contar onde quer que eu estivesse. Elas faziam meu coração se aquecer enquanto o vento gélido congelava o resto de meu corpo. Juntas éramos invencíveis.
Aquele que eu não tinha noção do quanto amava até que fui obrigada a partir. Eu o teria de volta. Era a meta que havia estabelecido ao voltar para os Estados Unidos. Mas eu tinha medo, muito medo de reencontrá-lo. Perceber que talvez ele tenha seguido sua vida. Perceber que talvez ele tenha outra pessoa, enquanto eu, tola, ainda me prendo em memórias do passado.
O cheiro de chuva entrou pela janela aberta e me fez trocar de roupa. Vesti uma calça preta de cintura alta, um suéter transparente nude com um top de renda preto e um scarpin preto também. Peguei um casaco quente, colocando-o por cima dos ombros e olhei-me no espelho. Eu estava perfeita e me perguntei o que ele acharia se pudesse me ver. Bufei e desci as escadas de minha amada casa, a fim de sair logo dali. Peguei as chaves do carro e arranquei em direção à terceira casa que mais frequentei durante o último ano que estive aqui.
O sorriso em seu rosto, o olhar espantado e a lágrima solitária que escorreu me fizeram querer chorar. Não acreditava que havia concordado em deixar tudo para trás por causa de um problema que não era meu. O abraço que recebi foi o mais verdadeiro de todos os tempos e implorei para que nunca me soltasse. Olhei no fundo de seus olhos azuis e sorri.
- Não acredito que está de volta.
- Não acredito que fui embora...
Fui puxada para dentro da casa envidraçada, sendo recebida pelo ar quente que vinha do aquecedor. Tirei meu casaco e a acompanhei até seu quarto. Tudo continuava igual, as cores, os móveis, a cama, ela. Tudo.
era a minha melhor amiga desde os meus seis anos de idade, quando se mudou para a pequena cidade de Chambersburg com seus pais e sua irmã mais nova. Tinha um cabelo castanho escuro longo e encaracolado, que contrastavam com seus olhos azuis claros, tão profundos que era impossível esconder qualquer coisa que fosse dela. Era uma das pessoas mais inteligentes que eu conhecia e possuía um coração gigante, cabendo sempre espaço para mais um. Eu sentia tanto a sua falta que doía.
- Senti tanto sua falta – ela disse, como se lesse minha mente.
- Prometo que nunca mais irei embora – sorri.
- Nem ouse.
Caminhei pelo cômodo, observando cada detalhe do qual senti saudades. O papel de parede florido, os lençóis sempre brancos, a janela imensa que ficava na frente da sua cama, o quadro com o pôster de divulgação de Fantasma da Ópera – nosso filme favorito, nossas fotos na bancada. E então uma delas me chamou atenção, aquela que sempre esteve na minha cabeceira, mas que olhá-la naquele momento fez meu coração se partir em mil pedaços. Os amigos que havia abandonado. E ele. Todos juntos. Felizes. Eu e ele. Felizes.
- Você ainda fala com ele, ?
- Você sabe que não. – Suspirou – Ele se isolou quando você partiu...
- É possível que depois de todo esse tempo eu ainda o ame?
- É possível sim.
Sorri.
- Como estão as coisas por aqui? – Sentei-me ao seu lado.
- Nada muito diferente, na verdade – respondeu tensa.
- Último ano – suspirei – Não consigo acreditar que vamos nos formar e entrar em uma faculdade.
- Assunto proibido. Estou ficando louca, se você quer saber – riu – Preciso começar as redações para as aplicações as faculdades, meus pais estão me enlouquecendo.
- Você não devia por tanta pressão em si mesma, já lhe disse.
Meus olhos buscaram a foto novamente, fazendo milhares de duvidas aparecerem na minha mente. Será que ele ainda me amava? Será que ficaria feliz ao me ver?
- O que foi?
- Nada demais – dei de ombros.
- ...
- Só quero vê-lo de novo. Preciso vê-lo de novo.
- Você devia seguir em frente – ela disse, parecendo tensa.
- O que você quer dizer com isso? – Virei-me de frente para ela.
- Nada em especial, só acho que já se passaram dois anos... Eu seguiria em frente.
Olhei em seus olhos, atônita, tentando entender o que ela queria dizer, pois as palavras saiam de sua boca, mas não soavam nada como a minha melhor amiga.
- Do que diabos você está falando?
- Nada, A. Deixe para lá, eu nem disse nada – levantou.
- Você está me deixando nervosa.
- Está tudo bem – ela hesitou, mas sorriu, fazendo um esforço para que o sorriso chegasse aos seus olhos.
Ela falhou.


Capítulo 2

Estar em casa era um sentimento inexplicável, era como se finalmente eu pudesse respirar. Ter meu quarto, meu banheiro, minhas coisas, minha vista. Ser eu. Claro que o tempo que passamos na Suécia não foi de todo ruim, conheci lugares maravilhosos, pessoas maravilhosas. Viajei para vários países nos arredores enquanto minha mãe trabalhava, aprendi novos idiomas e trouxe milhares de recordações boas. Mas estar em casa, ah, não existia nada melhor do que isso.
Meu pai estava insaciável, me abraçava quando podia e sempre dava um jeito de estar por perto, como se quisesse ter certeza de que eu realmente estava de volta. Meu irmão havia aproveitado as férias da faculdade e estava de volta, me incomodando sempre que possível.
Justin era dois anos mais velho que eu e sempre compartilhamos uma ligação muito forte, ele era meu confidente, meu protetor, meu anjo da guarda. Sempre que eu precisava, ele estava ali para mim. Sentiria saudades de tê-lo todos os dias comigo no colégio, mas morria de orgulho da sua vida na Faculdade de Direito e sempre que pudesse daria um pulinho na mesma para vê-lo. Ele viria para casa todos os finais de semana quando as aulas começassem. Éramos todos muito ligados uns aos outros. Não sabia como havia sobrevivido durante aqueles dois anos longe deles.
Mal havia entrado em casa quando meu pai me atacou, perguntando o que eu queria jantar que ele iria buscar. Tínhamos uma tradição: ninguém cozinhava nos finais de semana. Ok, às vezes nem durante a semana. Então sempre pedíamos comida fora ou jantávamos em algum restaurante.
- Japonesa, senti saudade de comer um sushi decente – ri e lhe beijei a testa.
- Senti saudade de você, pequena.
Sorri e o abracei, respirando fundo seu cheiro e vendo o quanto senti falta daquilo.

:::

Faltavam duas semanas para as aulas começarem, mas minhas amigas, exceto a , estavam viajando e voltariam somente um dia antes, ou seja, só as veria na escola. Sentia muita falta delas, éramos um quarteto inseparável, e apesar de todas estarem em relacionamentos, isso nunca nos afastou, muito pelo contrário.
Sorri para o meu reflexo enquanto terminava de me maquiar e resolvi descer para o andar de baixo, a fim de esperar o restante da minha família. Havíamos decidido que faríamos todos os nossos programas favoritos no final de semana, para matar a saudade e começar o ano letivo com o pé direito.
Justin já estava pronto no sofá, esperando pelo restante e ficamos implicando um com o outro até nossos pais descerem.
Fomos rindo de Chambersburg até Nova York, e como eu sentia falta disso.
- Você sabe que esses dois anos não foram a mesma coisa sem você aqui né – riu, me cutucando – Ir comer tailandesa não tinha a menor graça.
- Eu achei que fosse morrer de saudade. – ri – Não, agora sério, nem o ballet conseguia me distrair, era frustrante.
Eu fazia ballet desde os três anos de idade na American Ballet Theatre, em Nova York, o que me fazia uma das melhores dançarinas de minha turma. Minha mãe sempre quis que me tornasse profissional, que dançasse em companhias russas e demonstrasse todo o meu talento para o mundo. Mas, para mim, era somente um refúgio. Quando eu me sentia triste, frustrada ou decepcionada, voltava minha atenção para a dança, a fim de tirar o que estivesse incomodando de minha mente. Sempre funcionava, como um remédio. Meu próprio remédio. Mas quando eu colocava minha roupa novamente, tudo voltava à tona.
E foi assim na Suécia, consegui uma vaga na melhor academia da cidade, foram dois anos de bastante treino e dedicação, mas, sempre que a música parava, todos os problemas reapareciam. A saudade apertava e dava aquela vontade de chorar.
Quando avisei que iria embora, tanto minha treinadora quanto meu parceiro ficaram desolados e ansiavam por minha volta. Matthew Donnovan dançava comigo desde os onze anos e juntos éramos perfeitos. Foi na mesma época em que Miranda Carte assumiu nossos treinos e se empenhou em nos fazer os melhores da academia.
Assim que me viram passar pela porta principal do teatro, todos pareciam espantados em ver de volta depois de dois anos. Os abraços calorosos, a chuva de perguntas, os sorrisos felizes ao me ver. Eu me sentia em casa. Tanto Miranda quanto Matthew ficaram surpresos e me recepcionaram com vários abraços e beijos, contentes por me terem aqui novamente.
- Eu espero que essa visita seja você avisando que está de volta e nunca mais irá embora – ele disse, enquanto caminhávamos pelo corredor até nosso estúdio.
- Com certeza, não te abandono mais meu amor – sorri.
- Como foi estudar lá? – Miranda perguntou, empolgada pelas novidades.
- Foi maravilhoso. Eles têm métodos bem diferentes e rigorosos, mas foi ótimo. Acho que melhorei minha técnica, afinal, era a minha prioridade, apesar das viagens e tudo mais. Foi incrível – sorri – E você? Sentiu muito a minha falta?
- Vou te contar, foi difícil me adaptar a outra bailarina, tô acostumado a levantar bastante peso, sabe como é – gargalhou.
Sorri, me sentindo feliz de estar ali com eles e pronta para voltar a treinar. Eu cresci naquela escola, foi onde me descobri, onde aprendi, onde aperfeiçoei minha técnica. Foi onde eu renasci. Aquele lugar era o meu porto seguro.


Capítulo 3

A semana se arrastou de uma forma inexplicável, fazendo-me voltar toda a minha frustração para meus ensaios na academia. Fazia sete dias que eu havia voltado e não havia encontrado com ele em nenhum momento. Em uma cidade tão pequena quanto a nossa, era quase uma conspiração do destino isso não acontecer.
Joguei-me no sofá, irritada, fitando meu pai ler um livro na poltrona. Seu olhar estava desfocado, combinando com a ruga em sua testa, ou seja, estava lendo algum mistério. Ele tinha essa mania, sempre que lia alguma coisa envolvente, como seus mistérios favoritos, ele franzia a testa, como se lhe ajudasse a compreender melhor o que estava acontecendo no mundo literário. Coloquei os pés no colo da minha mãe e abracei uma almofada, tentando por meus pensamentos no lugar. Ela sorriu para mim e acariciou minha perna, busquei seus olhos e sorri docemente.
- O que você quer jantar, princesa?
- Italiano – sorri para ela – Podíamos pedir daquele lugar que eu gosto.
- Claro, só escolher o que você quer. Justin vai jantar com uns amigos em Nova York.
Acenei e levantei para pegar meu telefone e fazer o pedido, aproveitando para mandar uma mensagem para a , perguntando se ela queria vir dormir comigo. Sorri ao receber sua mensagem positiva e voltei para o sofá, colocando em um canal qualquer com um volume baixinho para não atrapalhar meu pai.
Me atirei na cama ao lado da morena, rindo de algo que ela havia contado, e procurei algum filme na Netflix. Eu sentia muita falta desses momentos com ela, era a melhor amiga que eu podia ter. Podia contar com ela nos momentos bons, nos momentos ruins e nos momentos banais como esse. O tempo que fiquei na Suécia, adquirimos o habito de sempre ver o mesmo filme ao mesmo tempo, para fingir que estávamos juntas, pelo menos de coração.
- Tem alguma coisa para a gente comer?
- Acho que tem umas porcarias, meu pai comprou tudo que eu gosto – ri – Vamos lá buscar, eu pego a comida e você pega as bebidas.
- Só se for Coca-Cola – saltou para fora da cama, trocando o vestido listrado pelo pijama xadrez rosa claro.
- Qual a dúvida? – Ri, acompanhando ela no pijama.
Descemos rindo no mesmo momento que meu irmão chegava do jantar, ficando feliz em nos ver. e Justin sempre se deram muito bem e eu, como uma boa romântica, sempre torci para que os dois ficassem juntos. Apesar da menina estar comprometida há um tempo, eu nunca concordei com o relacionamento que ela mantinha.
- Hey garota, que bom ver você – ele sorriu, dando um beijo na bochecha dela – Quem viajou foi minha irmã, não precisava ter sumido.
- Palhaço, você ficou a maior parte do tempo na faculdade e vem me cobrar – ela riu, dando um tapa em seu braço.
- Tudo bem, perdoada – ele sorriu, se servindo um copo de refrigerante – Tão vendo alguma coisa decente?
- Moana, quer ver? – Sorri, já sabendo a resposta.
- Com certeza!
Justin era apaixonado por desenhos, não importando o estilo, então eu sempre tinha um parceiro para ir ao cinema toda vez que saia alguma novidade e para rever também, quando amávamos muito.
Voltamos para o meu quarto com mais coisas que podíamos carregar, e com certeza, que podíamos comer, e nos jogamos na cama, uma de cada lado dele, dando play no filme.

:::

Corri para atender o celular que tocava insistentemente em cima da cama. Tinha saído do banho e estava me vestindo para almoçar com a no centro da cidade, havíamos combinado de comer no nosso restaurante favorito, e depois, irmos à Nova York aproveitar os últimos dias de férias.
- Quase pronta – atendi rindo.
- Já estou saindo de casa, cinco minutos estou aí – informou e pude ouvi-la ligando o rádio – Está muito frio na rua, que horror.
- Bom saber, vou terminar de me vestir e já desço.
Desliguei e calcei as botas de salto alto, me olhando no espelho. Havia colocado uma calca preta, com um suéter preto e um blazer de lã listrado, me enrolando numa manta gigantesca, a fim de afastar o frio. Prendi o cabelo num rabo de cavalo alto e peguei a bolsa, descendo no mesmo instante em que ouvi uma buzina. Acenei para o meu irmão, que estava atirado vendo televisão e sai porta a fora.
Assim que entrei no carro, uma terceira pessoa saltou no banco de trás, gritando “Surpresa” e quase me fazendo enfartar.
- ! Eu vou te matar, garota! – Ri, me esticando para abraçar a loira sorridente no banco traseiro.
- Tive que voltar antes, não conseguia mais ficar longe de você, sua maluca – riu – Por favor, nunca mais vá embora.
- Eu prometo – sorri para ela.
O almoço havia sido melhor impossível, poder matar a saudade das minhas amigas era uma sensação inexplicável. Se não fosse por elas, eu não teria sobrevivido a esses dois anos exilada na Suécia. Nossa , que drama. Ri em pensamento. Mas era a mais pura verdade. Elas estavam sempre ali para mim, me fazendo companhia, me atualizando de tudo.
Menos dele.
Era assunto proibido em todas as nossas conversas. Mas, de qualquer forma, também acredito que elas não gostariam de me contar que ele havia seguido em frente.
Eu não havia compartilhado com ninguém meu plano de reconquistá-lo, parecia que enquanto o mantivesse só para mim, as chances de darem certo eram maiores. E, apesar de estar na cidade há mais de uma semana, ainda não havia cruzado com ele em nenhum lugar. Isso era, de certo modo, muito frustrante. Queria vê-lo, contar que eu estava de volta e que tudo que eu havia dito não passavam de palavras ocas e sem significado. Queria tê-lo. Para nunca mais soltar.
Sorri para minhas amigas enquanto caminhávamos pelas avenidas lotadas de Nova York, tomando cafés da Starbucks e tirando uma quantidade absurda de fotos. Eu amava isso nelas, essa espontaneidade, poder ser eu mesma sem ser julgada. Posei para a quinquagésima foto e coloquei meu copo no lixo, indo em direção ao carro.
- É amanhã, primeiro último dia de aula – suspirei.
- É amanhã – responderam em uníssono, com vozes tensas.


Continua...



Nota da autora: Sem nota.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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