Fanfic finalizada.

Prólogo

Junho de 2018


entrou sorrateiramente no escritório de seu pai. Ele precisava de algo para poder chantageá-lo. Qualquer coisa seria o suficiente para chantagear o grande Reynold , que era o dono da Inc., a maior e mais prestigiada empresa farmacêutica da cidade alta e uma das mais bem avaliadas na bolsa de valores, além de ser um político de grande influência, uma brilhante figura pública, muito respeitado em seu meio. O sujeito amava manter sua imagem limpa, como um homem honesto, pai de família, político e empresário bem sucedido, onde empunhava uma bela esposa ao seu lado e dois filhos lindos, os quais tentava sempre manter na linha, com grande dificuldade quando o problema estava sempre com eles. Ele tinha uma imagem a zelar e odiava ver seu sobrenome manchado nos tabloides. A sujeira era sempre varrida para baixo do tapete com perfeição e Reynold fazia de tudo para assim continuar sendo. Por sorte, seus filhos odiavam aparecer na mídia e qualquer tipo de imprensa, eles gostavam de sua privacidade. Assim como sua mãe, eles só apareciam juntos em eventos particulares e ainda assim evitavam ser fotografados, detestavam ser ligados à Reynald, pois sabiam que ele não era quem aparentava ser, e quando ele resolvia agir, a sujeira poderia resvalar neles. Ninguém queria ser envolvido com o tal, mesmo que suas vidas fossem ligadas.
O garoto então se sentou no chão e com um grampo e muita avidez, destrancou uma das gavetas. Começou a mexer nos papéis ali e não achou nada de relevante. Então foi para a próxima rapidamente, pois seu pai poderia chegar a qualquer momento. Também não achou nada. Então pulou para a última gaveta, e quando a abriu, ela travou. uniu suas sobrancelhas, achando aquilo estranho. Colocou sua mão dentro dela, procurando o que estava a prendendo e seus dedos acharam uma pequena alavanca na parte superior, ele a puxou e a gaveta se abriu. Começou a mexer nos papéis ali, achando algumas coisas bem interessantes que poderia usar. E quando acabou de tirar tudo, percebeu que aquela gaveta era mais rasa que as outras. De forma curiosa, suas mãos a puxaram mais, a tirando do lugar e colocando em seu colo. A sacudiu, ouvindo que tinha algo ali dentro. Um fundo falso. Tentou tirar, mas não conseguiu, então a virou de cabeça para baixo, puxou a parte de trás dela com força e finalmente o fundo saiu, revelando uma pasta fina de papel ali. pegou a pasta e a abriu sobre a gaveta virada, vendo que tinha documentos antigos dentro dela. Certidões de nascimento, casamento e óbito já amareladas com o tempo.
— O que é isso? — se questionou, olhando a certidão de óbito de uma mulher a qual não fazia ideia de quem era. — Para que meu pai guarda isso? — começou a olhar as outras.
Encontrou sua própria certidão de nascimento e não tinha o nome de seu pai, apenas o de sua mãe. Achou estranho e pegou a outra certidão. Era de , seu irmão mais velho, e nela tinha o nome de seu pai, mas o nome da mãe… Seus olhos não podiam estar acreditando no que viam. O nome na certidão que estava em sua mão era o mesmo do papel de óbito. , de forma desesperada, começou a revirar aqueles papéis, achando um outro documento, esse era de adoção, que continha seu próprio nome, o de sua mãe e o de Reynold .
O garoto parou e ficou olhando aquilo, tentando digerir as informações, achando que aquilo não podia ser verdade. Ele não era filho de Reynold e não era filho de Christine . Eles não eram irmãos. Suas mãos começaram a tremer e ele não sabia como reagir. Pegou o celular e ligou para no mesmo instante, mas caiu direto no correio de voz.
— Que inferno, ! Tem como você parar de palhaçada só por um segundo? — soltou, puto da vida, encerrando a ligação e tentando de novo. Novamente, não conseguiu. — Inferno!
Tirou fotos dos documentos e guardou tudo como estava antes, já se levantando e saindo dali rapidamente, sem fazer barulho. Sua mão passou em seu cabelo, o bagunçando um pouco, e tentando mais uma vez ligar para seu irmão, só que não conseguia, caía sempre no correio de voz e ele não quis deixar nenhuma mensagem pedindo para retornar a ligação nem nada do tipo, porque sair que não o faria. precisava falar com ele de qualquer forma, pois não poderia contar por mensagem o que tinha acabado de descobrir. Aquilo mudaria totalmente suas vidas.


***


Cross your Mind

Março de 2017


De presente de 18 anos, pedi uma viagem para meu pai. Nada extraordinário. Também seria só um final de semana porque estávamos em aula. Eu só queria ir para qualquer lugar com meu irmão sem que ninguém nos conhecesse e que o nosso sobrenome não quisesse dizer nada. Apenas nós dois, sendo somente e . Escolhi o destino o qual sabia que ninguém nos reconheceria. Brasil. Lá teria um festival exatamente no dia do meu aniversário e iria umas bandas que eu curtia demais, então achei que seria perfeito. Ainda não tínhamos visitado o país, e como falavam que era bonito, achei que seria divertido e perfeito para nós.
Cheguei ao quarto do meu irmão com as duas passagens nas mãos, junto aos nossos passaportes e autorização para sairmos do país sem nossos pais. Pulei ao seu lado na cama sorrindo e contei a ele o que tinha conseguido, feliz da vida por podermos sair daquela maldita prisão que era ser a merda de um .
adorou a ideia e foi arrumar suas coisas. Fiquei deitado, abraçado com seu travesseiro, sentindo seu cheiro nele enquanto o olhava escolher que roupa iria levar. Seu sorriso estava me preenchendo de uma maneira que fazia meus olhos ficarem sobre seu rosto com mais intensidade, sentindo como meu coração ganhava batidas mais fortes e aceleradas. Adorava ver meu irmão feliz daquele jeito e nunca me cansaria disso. Se pudesse, faria todos os seus dias serem assim, nunca perderia minha paciência e jamais brigaria com ele, o faria rir e sorrir mais vezes. Céus, como queria ter o poder para fazer aquilo.
Por um momento, ele parou de mexer em suas coisas e me encarou, seus olhos pegaram os meus no flagra o admirando e não me importava com isso, só fazia tudo dentro de mim ficar ainda mais acelerado. Desejei tocar sua pele naquele momento, beijar seus lábios e pedir mais daquele sorrisos. Eu queria tanto o abraçar forte e sentir seu cheiro, mas não podia. Não tinha uma boa desculpa para isso, não tinha bebido nada ou consumido qualquer tipo de droga para poder culpar aquela minha vontade. E eu odiava me esconder atrás daquilo para poder mentir para mim, e principalmente para , sobre como realmente me sentia. Droga, eu não deveria gostar do meu irmão, não assim. Era tão errado. Algo que nunca poderia ser real.
E aquilo me fez fechar os olhos, apertando seu travesseiro contra meu corpo, tentando me afastar da maldita beirada. Eu queria tanto pular. Tanto. Mas isso nunca aconteceria. nunca pularia comigo porque aquilo era insano demais até para nós dois. De todas as coisas estúpidas que vivíamos fazendo, aquela sempre seria a pior delas. Aquilo seria a única coisa que sempre me mataria. seria sempre minha vida, mas também a minha morte. E aquilo fazia meu peito se apertar como se não houvesse ar para respirar.
Então apenas soltei tudo e me levantei, avisando que iria arrumar minhas coisas também. Entrei em meu quarto e tranquei a porta, porque sabia que meu irmão viria atrás de mim por saber que tinha alguma coisa de errado comigo. Não queria que me visse me desfazendo daquele jeito, porque eu detestava ver em seus olhos o quanto sentia muito por aquilo tudo também. Odiava machucar nós dois com algo que nunca seria real.
Liguei meu som e me sentei na frente da minha cama, deixando minhas pernas dobradas com meus braços apoiados em cima dela, olhando para a porta enquanto ouvia a música que tentava me tomar, mas só fazia tudo ficar pior. Avistei uma sombra por baixo da soleira e logo a maçaneta foi abaixada, mas esta não se abriu como ele desejava. Por favor, só me deixa sozinho. Foi o que quase saiu da minha boca enquanto meu peito se partia. Sabia que era o único que podia fazer aquela dor dentro de mim parar, mas eu precisava sangrar para poder recuar. Era preciso, por ele, por mim, por nós.
Fechei meus olhos e joguei minha cabeça para trás, não querendo ver se ele iria permanecer ali ou iria embora. Deixei a música me acertar.

This light is a paradox
You're the only one who saw the real me, yeah
This love is a paradox
You're the only thing that almost killed me

Yeah, you kiss me when
I'm down and you suck the poison out
Then you make me sick again
'Cause you've got the medicine


Ele sempre seria meu remédio. Sempre. E eu queria que me beijasse agora e levasse todo aquele veneno embora. Então ardeu como se aquilo estivesse em minhas veias, me arranhando por dentro, querendo sair. Minhas mãos se fecharam com força e eu quis gritar bem alto. Quis também abrir a porta e o puxar para dentro. Quis que visse o quanto o desejava. Quis que nada importasse a não ser nós dois.
E fiquei ali a noite toda, não saí daquele chão mesmo quando a governanta me avisou que o jantar estava pronto. Eu não desci, porque meus olhos ainda transbordavam aquele sentimento intenso que me tomava totalmente. viria e aposto que meus pais também. Estava começando a ficar cada vez mais difícil de esconder e isso tornava tudo ainda mais perigoso. Deveria me afastar, mas nunca conseguiria ficar longe de meu irmão.
Não sei quando apaguei, mas acordei aleatoriamente, de madrugada, sentindo meu estômago doer de fome. Desci sem fazer barulho, mas encontrei minha mãe na cozinha fazendo um chá. Ela me olhou com seus belos olhos castanhos, então sorriu de forma preocupada.
— Você anda abatido, querido. — comentou, enquanto eu me sentava ao balcão e abaixava minha cabeça, cruzando meus braços embaixo dela. — Não quis comer hoje e se alimentou pouco no almoço. — Sua mão delicada passou em meu cabelo, fazendo um carinho bom. — Quer me falar o que está acontecendo? — meus olhos se fecharam.
— Se eu pudesse, contaria. — Sussurrei, sentindo meu peito se apertar. — Você já amou alguém de forma errada? — meus olhos se abriram, vendo um sorriso se formar em seu rosto.
— Seja quem for, não se machuque achando que não deve amar, apenas ame. O sentimento não vai ficar menor só porque você está lutando contra ele. — Seus dedos acariciaram meu rosto. — O amor é para ser sentido, .
— Ele me assusta às vezes, outras me machuca, mas é bom, me acalma, me faz sentir bem, como se a minha parte que estivesse faltando tivesse sido colocada de volta no lugar. Ele me completa. — Meus olhos se fecharam com força por terem começado a queimar. — Mas sei que é melhor que eu seja incompleto… — do que o perder de vez por causa disso. Doeu falar aquilo, doeu muito, doeu tanto que meus olhos não aguentaram segurar as lágrimas.
— Ela tem sorte. — Comentou, e isso me fez retrair os lábios. — Porque te ter completo é algo maravilhoso. Você é uma pessoa muito especial, espero que ela te dê valor e que te mereça.
— Ela me dá valor, só que merece alguém melhor. — As lágrimas escorriam pelo meu rosto, o cortando lentamente. — E mesmo assim, eu não posso amá-la dessa forma.
— E por que não? — seus dedos apanhavam minhas lágrimas.
— Porque nós nunca vamos poder ficar juntos. Não nesse mundo. Nessa realidade. É impossível. — Tudo dentro de mim se torceu com muita força, me fazendo chorar ainda mais por estar contando aquilo.
— Não fale assim. Não sabemos o que o destino nos reserva. Ele pode mudar a realidade em um piscar de olhos e tornar tudo possível. — Ela afagou meu cabelo, então a olhei, vendo um sorriso pequeno em seus lábios. Minha mão se abaixou para ficar da mesma altura de meus olhos. — Não desista de algo tão bonito, meu amor. Mesmo que pareça impossível. Lute pela sua felicidade, porque o mundo não vai lutar. — Apenas a puxei para um abraço.
Me desfiz nos braços de minha mãe. Chorei até minha cabeça doer, até não ter mais lágrimas dentro de mim. Perdi a fome e voltei para o quarto. Ela deitou lá comigo e eu apaguei, a ouvindo cantar para que eu me acalmasse. Não era a voz de , mas me fez dormir. Quando acordei, minha mala já estava feita e minha mãe me olhava com um sorriso nos lábios e uma bandeja de café da manhã nas mãos.
— Como eu não irei te ver no seu aniversário, pensei que poderíamos ter um café da manhã juntos antes de você viajar. — Disse, e se sentou na ponta da cama.
— Acho perfeito. — Me sentei na cama.
Tomamos café da manhã juntos, mesmo que eu não estivesse com muita fome, mas me obriguei a comer. Depois fui me arrumar, porque o nosso voo seria dali a três horas. Olhei minha mala para ver se tudo que eu queria estava ali e coloquei mais algumas coisas lá dentro. Encarei meu rosto no espelho e eu estava com uma olheira péssima, então enfiei um óculos escuros na cara e segui o baile, fingindo que nada tinha acontecido.
Quando desci, nossa mãe estava abraçada com na porta de casa, certamente nossas coisas já estavam no carro. Ele me olhou, seu sorriso morreu um pouco e seus braços ao redor dela se afrouxaram. Me aproximei e abracei os dois, apoiando minha cabeça no ombro dela. Suspirei de forma pesada antes de soltá-los, mas beijamos sua bochecha, um de cada lado.
— Cuidem um do outro. — Nossa mãe disse, colocando suas mãos no rosto de cada um. — E não briguem. — Me lançou um olhar bravo e depois outro para o . — Não provoque seu irmão.
— Não irei. — deu um riso fraco e o olhei na mesma hora. — Não estou debochando. Juro. — Ergueu as mãos, como se estivesse se rendendo.
— Anda, vamos logo. — O empurrei pelo ombro para ir andando.
— Tão delicado. — Rebateu, e pudemos ouvir a risada da nossa mãe.
— Não provoca. — Resmunguei, ouvindo meu irmão dando uma risada.
Entramos no carro e Carlitos nos levou para o aeroporto. Não falei nada no caminho, não queria conversar muito e às vezes sentia o olhar de em mim. Então só pedi mentalmente que não perguntasse nada e parecia que tinha ouvido meus pensamentos, já que não disse uma palavra sequer. Nós éramos assim, sentíamos as coisas no ar e às vezes nem precisávamos olhar no olho do outro para isso.
A viagem para o Brasil foi do mesmo jeito, mas no caso passei a maior parte dela dormindo mesmo, o que nos poupou um pouco. E quando chegamos ao apart hotel, eu apenas me joguei na minha cama de casal, que era enorme, enquanto foi tomar banho reclamando do calor que estava fazendo e que estava todo suado. Eu também estava e até passou por minha cabeça entrar no banheiro e tomar banho com ele, mas apenas fiquei deitado esperando que saísse. Então enfiei minha cara no travesseiro e berrei.
?
— O quê? — perguntei, erguendo a cabeça.
— Está surtando por quê? — e apareceu pelado na porta do banheiro. Fiquei olhando para ele por longos segundos. Ele estava me provocando! Vai se foder!
— Vai tomar banho, infeliz! — mandei, levantando da cama na mesma hora e indo pegar meu cigarro. — Anda logo porque eu quero tomar também.
— Toma comigo, então. — Ouvi seu riso e apenas dei o dedo do meio, pegando o cigarro e indo para a varanda.
Me sentei à uma mesa que tinha ali e fiquei fumando um cigarro atrás do outro enquanto minha perna balançava de nervoso, querendo entrar naquela porra de banheiro e agarrar aquele desgraçado, entrando embaixo do chuveiro, sentindo seu corpo molhado no meu... Puta que pariu. Aqueles pensamentos estavam começando a me deixar duro. Caralho! . Pra que ele foi aparecer pelado na porta do banheiro? Só para me fazer querê-lo mais ainda? Ah, só podia ser. Acendi o quarto cigarro, o tragando com vontade, olhando a selva de pedra na minha frente. Porra! ! Porra! Puxei a fumaça ainda com mais força para dentro.
— Pode ir tomar seu banho, irritadinho. — A voz do meu irmão me fez levar um pequeno susto.
Não o olhei, porque era capaz de estar pelado de novo. Terminei de fumar e entrei, não vendo por ali. Certamente, deveria estar pedindo algo para comermos. Tomei um banho demorado e quando saí, meu irmão estava deitado na cama, dormindo apenas enrolado com uma toalha em sua cintura. Meus dedos coçaram querendo tocar na pele expostas de suas costas, meus lábios queriam tocá-lo, marcá-lo, sentir seu calor. Chega!
Ouvi alguém bater à porta e tive que vestir uma bermuda para atender. Era mesmo do serviço de quarto trazendo a comida. Pedi para deixar as coisas no balcão e segui até o quarto. Chamei , mas ele não acordou, deveria estar muito cansado. Não resisti e me abaixei, dando um beijo em seu ombro e deixei minha mão alisar suas costas, ainda tentando acordá-lo.
— Acorda. — Sussurrei, ainda muito perto dele, mas não se mexeu, apenas respirou fundo. — A comida chegou. — Avisei, porque sabia que tinha acordado.
Então me afastei e fui para a cozinha. Esperei um pouco, mas meu irmão não veio. Então comi um pouco, escovei meus dentes e me deitei na minha cama, tentando dormir, mas passei a maior parte do tempo me remexendo sem sono. Merda. Meus pensamentos só me levavam até o tempo inteiro, às vezes fazendo meu corpo queimar, outras apenas me acalmando. Mas acabei cochilando uma hora, até ouvir o celular do meu irmão despertar. Abri meus olhos rapidamente, batendo a mão no iPhone sobre a mesa de cabeceira que tinha entre nossa, camas, fazendo ele parar de berrar.
— Levanta. — falei, com um pouco do meu humor péssimo.
Fui para o banheiro tomar um banho. Fiquei lá dentro o maior tempão, tentando apenas me acalmar. Quando achei que conseguia sair dali sem surtar, terminei meu banho, me enrolei na toalha e saí. Mas parei na porta vendo sentado na cama dele, com o seu violão no colo. Uni as sobrancelhas por ter ficado distraído ao ponto de não ter percebido que o havia trazido. Meu irmão me encarava sério e logo seus olhos voltaram para o violão.
I figured it out I figured out from black and white seconds and hours — começou a cantar, roubando meu fôlego, fazendo tudo dentro de mim parar. — Maybe they had to take some time.
Meu coração começou a ficar tão acelerado que não achei que eu conseguiria ficar de pé muito tempo. Segurei na maçaneta da porta, não conseguindo desviar o olhar de nem por um segundo.
I know how it goes I know how it goes from wrong and right — e naquele momento, eu quase arranquei o violão de sua mão e o beijei. — Silence and sound — seus olhos se encontraram com os meus e tudo dentro de mim começou a queimar. — Did they ever hold each other tight, like us? Did they ever fight, like us? — eu não estava mesmo acreditando que estava cantando para mim, ainda mais tocando. Aquilo era tão raro, mas tão raro, que eu não conseguia reagir. Só conseguia sentir como ele acertava cada parte dentro de mim com muita força. — You and I we don't want to be like them. We can make it 'till the end — meus olhos se fecharam, eles queimaram. — Nothing can come between You and I — sussurrei aquela parte junto com meu irmão, com o ar entrando cortado em meu peito. — Not even the gods above can separate the two of us — mordi meus lábios, tentando conter as coisas, mas tudo já estava uma tremenda bagunça dentro de mim. — No, nothing can come between you and I.
Eu só abri meus olhos e fui em sua direção, tirando o violão de sua mão quando subi na cama e me sentei em cima dele, o abraçando com muita força, deixando as lágrimas descerem do jeito que elas queriam. Amava tanto , tanto. Ele não fazia ideia do quanto! Minhas mãos apertavam com força suas costas e meus lábios foram de encontro a pele de seu ombro, beijando, subindo até seu pescoço e parando em sua bochecha, deixando meu nariz passar pela lateral do seu, agarrando tudo dentro de mim para não o beijar.
— Feliz aniversário. — sussurrou, com uma voz baixa e rouca que mexeu ainda mais comigo.
Me afastei e olhei seus olhos, o agradecendo por aquilo. Por ser tão perfeito. Suas mãos subiram até meu rosto, o secando, mas as segurei, levando até meus lábios e as beijando. Aquilo tinha sido melhor do que qualquer coisa cara que poderia ter comprado. Eu tinha amado. Muito mesmo. Eu nunca esqueceria aquilo. Então apenas sorri, deixando mais lágrimas descerem. Estava feliz por ter meu irmão. Ele era o meu melhor presente.
— Obrigado. — disse, sorrindo enquanto ainda tentava me fazer parar de chorar.
— Não precisa agradecer. — falou, sorrindo também.
— Eu adoro quando sorri. — Passei meu polegar pelo seu rosto. — A gente precisa se arrumar.
— Daqui a pouco. — Rebateu, e voltou a me abraçar.
Fiquei sentado em cima do meu irmão abraçado nele por longos minutos que podiam ter sido eternos para mim. Logo bateram na porta do quarto e deixei que ele fosse atender enquanto me vestia. Assim que cheguei à copa, tinha um puta café da manhã. Aquilo me fez sorrir ainda mais e consegui finalmente comer direito. Comemos até não ter mais tempo e tivemos que sair correndo para terminarmos de nos arrumar. Calcei um vans preto e eu já tinha colocado minha calça preta com os joelhos rasgados, vesti uma regata preta com as laterais bem abertas e amarrei um blusão xadrez preto e branco na cintura. Deixei meu cabelo solto, coloquei meu chapéu e por fim meu óculos escuros. estava gato pra caralho com aqueles óculos escuros e com aquela camisa preta da MTV meio destonada e larga, com as mangas bem curtas, com uma calça toda rasgada e com um par de coturno preto fosco. Em sua cintura, tinha um blusão amarrado também. Seu cabelo jogado para o lado, já que as laterais estavam raspadas. Puta que pariu! Ele estava sexy pra porra! E isso só fez a minha vontade de tê-lo ficar ainda maior. Ele não ajudava mesmo sendo lindo daquele jeito.
— Porra, mas se me der mole, eu pego fácil. — comentei, com um sorriso de lado.
— Mas eu estou te dando mole. — Colocou pilha, me olhando de um jeito safado.
— Claro que está. — Rebati, rindo um pouco. — Vamos. — Acenei com a cabeça, ouvindo sua risada.
Saímos do apart e de repente olhei para meu irmão, tendo uma ideia. Porra, a gente podia ser quem quisermos. Segui até a recepção e pedi informação para a recepcionista de como chegava no Lollapalooza de metrô. Ela me explicou e eu fui anotando no celular rapidamente, agradecendo por fim. Voltei até , pegando o celular de sua mão e cancelando o uber.
— Vamos de metrô. — falei, rindo.
— Você pirou de vez. A gente nem sabe andar de metrô. — disse, rindo um pouco.
— Vamos aprender. — Soltei, e peguei sua mão, o puxando comigo.
Saímos andando pela rua, enquanto eu olhava o maps no meu iPhone para onde deveríamos ir e logo conseguimos achar a estação. Estava lotado e aquilo me fez rir demais. Por um dia, estávamos sendo normais e não achei que isso poderia ser possível. Comprei duas passagens e descemos para a área dos vagões. Tinha uma galera vestida como se fosse para o festival, então era fácil, bastava seguir.
Entramos no vagão lotado e me encostei na porta, rindo. me encarava e acabava rindo também por causa do nosso aperto. Até que alguém começou a puxar a letra de The Middle dentro do trem e isso me arrancou mais uma risada. Comecei a mexer meu corpo com a galera cantando.
So pull me closer — cantei junto com a galera, puxando a cintura de meu irmão para perto, quase fazendo nossos corpos se colarem. — Why don't you pull me close? — soltei, o sentindo me pegar também e realmente me levar para perto daquele jeito bruto que eu adorava. — Why don't you come on over? — passei a língua pelos meus lábios, querendo beijá-lo de novo. Aquele desejo iria acabar comigo até o final do dia. — I can't just let you go — neguei com a cabeça, fazendo uma cara de dor.
Oh baby, why don't you just meet me in the middle? — cantamos juntos bem alto, me arrancando uma boa risada enquanto minhas mãos dançavam pela lateral de seu corpo, o agarrando. — I'm losing my mind just a little — e nessa parte cheguei bem perto dele, quase juntando nossos lábios. Eu amava o fato de poder estar fazendo aquilo no meio de pessoas que não tinham ideia de quem éramos. — So why don't you just meet me in the middle? In the middle! — berramos juntos e joguei minha cabeça para trás, rindo.
Poderíamos mesmo fazendo um acordo e acabar com tudo aquilo, poderíamos ficar juntos e foda-se o mundo! Foda-se! Foda-se nosso sobrenome! Foda-se nossa família! Foda-se tudo! Só nós dois. Mordi meu lábio, olhando para meu irmão, e agradeci por estarmos de óculos escuros. Porque sabia que estava me desejando da mesma forma que eu, porque suas mãos estavam presas por baixo da minha camisa, tocando minha pele com pressão, assim como sua respiração que estava pesada querendo se embolar com a minha. Cheguei perto dele e beijei o canto de sua boca, porque era o mais perto que podíamos chegar. Suas mãos me apertaram com mais força e sinceramente eu não queria saber se aquilo era uma advertência onde dizia que eu não deveria fazer aquilo em público ou se estava apenas tentando se segurar também.
Por fim, apenas sorri para ele e o puxei para que me abraçasse enquanto eu segurava o nosso peso para não caíssemos quando o vagão parasse nas estações. Fiquei sentindo seu corpo junto ao meu e isso era bom demais. Poderíamos ficar assim o dia todo que eu acharia perfeito.
Demorou um pouco para chegarmos ao evento, mas quando chegamos foi ótimo. Seguimos de mãos dadas até uma tenda para comprar bebida. Começamos com cerveja porque estava calor e fomos assistir um show do Jimmy Eat World que já estava começando. Ficamos sentados na grama, bebendo e curtindo a música. As pessoas passavam e nos olhavam, até mesmo algumas vinham pedindo para ficar com a gente e eu dispensava uma atrás da outra. Não estava afim de ficar com ninguém, estava afim de curtir o festival com meu irmão e também sua boca era a única que eu queria beijar.
— Porra, ! — soltou, do nada, me fazendo olhar para ele. — Sério que você dispensou aquela garota? — dei de ombros.
— Não estou afim de ficar com ninguém. Quero curtir o dia contigo, cada segundo. — falei, dando um sorriso e meu irmão ficou me encarando por alguns segundos. — Para de me olhar assim. — o empurrei e ele caiu de lado.
— Bruto pra caralho! — reclamou, voltando a se sentar direito.
Bebi mais e disse que ia comprar mais. Logo que voltei, tinha uma garota sentada em cima do e eles estavam se engolindo. Aquilo me fez morder a boca por dentro. Eu não podia sair um segundo mesmo de perto dele que era isso! Me aproximei e sem querer querendo deixei um pouco de cerveja cair em cima do cabelo dela. A menina me olhou na mesma hora puta da vida.
— Some. — Mandei, e ela continuou ali sem entender nada, enquanto me sentava ao lado do meu irmão. — Como fala na sua língua mesmo? Ah sim, vaza. — Pareceu que entendeu, e se levantou logo dali.
— Que porra foi essa, ? — perguntou, parecendo um pouco irritado.
— Nada. — Rebati, levemente puto ainda. — Toma, bebe. — Entreguei a cerveja dele, a mesma que tinha deixado cair um pouco na menina.
não disse nada e foi melhor assim. Comecei a beber mais rápido ainda e até mesmo pensei realmente em ficar com alguém para ver se aquela minha vontade passava, mas não dava, eu não conseguia. Isso era uma merda! Então só tentei abstrair. Já estava começando a entardecer e vi que iria começar o show do Catfish and The Bottlemen, eu estava louco para ver. Adorava demais eles. Peguei meu irmão pela mão, sua cara ainda não estava boa, mas estava nem aí, a minha também não estava das melhores. Descemos o gramado e entramos na galera, não estava tão cheio e dava para ficar no meio de boas. O sol começava a descer e não estava tão forte. Tirei meus óculos, os colocando para cima, prendendo meu cabelo e coloquei meu chapéu em , rindo um pouco com a cara que ele tinha feito por causa daquilo. Foda-se, eu já estava alto mesmo, não estava mais ligando para muita coisa. Ele tirou os óculos dele e o sol que ficava mais baixo batia fraco em seu rosto, fazendo seus olhos ficarem mais claros. Tão lindo. Amava demais seus olhos. Sorri para ele e pude ver um sorriso saindo fraco em seus lábios. Ótimo, ele estava melhorando.
And all I wanna know is just how far you wanna go — cantei, levando minhas mãos até seu pescoço, o acariciando, olhando para seu rosto, seus detalhes. — I wanna make it my business. — Ele jogou a cabeça para trás, cantando também, segurando o chapéu e logo meus lábios foram até seu pescoço, que ficou exposto para mim, o beijando de leve, sentindo seu cheiro que eu tanto amava. — I wanna tolerate drunk you, honey — continuei, agora me afastando um pouco, olhando dentro de seus olhos quando ele fez o mesmo e desci minhas mãos para seus braços, os segurando, puxando para mais perto, fazendo nossos peitos se juntarem. — I wanna make you my problem — berrei a letra. Queria que ele fosse o meu problema. Queria que fosse meu! Todo meu.
Eu não aguentava mais, não dava. Sentia que meu mundo iria acabar se eu não fizesse isso. Apenas subi minha mão esquerda até sua nuca e o beijei com vontade. Puxando seu ar, trazendo seu corpo para perto, levando minha outra mão até sua cintura, o tendo só para mim como eu queria o tempo inteiro. Nossas línguas se tocaram ferozmente, me fazendo soltar um pequeno gemido em meio do prazer que sentia por estar fazendo aquilo. Porra, o queria tanto. Meus lábios passavam por cima dos seus rapidamente, como se os nossos segundos estivessem sendo contados. Tive que nos separar.
— Fica comigo. — Pedi, ofegante, juntando nossas testas e ele concordou com a cabeça, tentando respirar também. — Para sempre? — perguntei.
— Para sempre.
mesmo foi quem juntou nossos lábios novamente, em outro beijo que fazia tudo de nós queimar.

It's your world I wanna live in
It's your ocean I wanna swim in
It's your show and I'm just watching
Losing you is not an option


***


Janeiro de 2018


Gemi alto, não me importando se alguém escutaria, porque todo o meu corpo fervia, queimava por causa do que fazia comigo. Meu coração estava disparado demais, o álcool e o prazer turvavam minha mente de uma forma que me deixava totalmente tonto, mal conseguindo respirar e pensar era algo que quase não conseguia fazer. Me torci naqueles lençóis, os agarrando, torcendo em meus dedos neles enquanto ofegava, sentindo que iria explodir a qualquer segundo se meu irmão continuasse me tocando daquele jeito tão delicioso. Porra! Joguei minha cabeça para trás, fechando meus olhos com mais força ainda, gemendo, levantando meu quadril, querendo mais.
— Olha para mim. — Ele pediu, com a voz cheia de prazer, e eu neguei com a cabeça, levemente perdido com o que fazia. — Me deixa ver. — sussurrou, em meu ouvido, intensificando seus movimentos.
Então virei meu rosto, abrindo meus olhos e deixando que visse a forma como me sentia naquele momento. O quanto estava entregue ao meu irmão naquele momento, o quanto era dele, o quanto o amava e o queria para mim. Todo para mim. Cada pedaço seu. Juntei nossos lábios em um beijo apertado, puxando sua língua com a minha de forma feroz, gemendo abafado com seus movimentos que estavam tão deliciosos. Mas ele nos separou e sabia o motivo daquilo, eu estava quase gozando e queria olhar dentro dos meus olhos quando isso acontecesse. Gemi novamente, mais alto dessa vez, virando o rosto, mas ele o puxou de volta. Tentei beijá-lo, mas sua mão me impediu, me fazendo arfar. Eu já o havia feito gozar bem gostoso enquanto olhava dentro de seus olhos, agora ele queria fazer o mesmo comigo, mas sentir que meu coração iria atravessar meu peito de tão forte que estava batendo. E não era só por causa do prazer enorme que estava sentindo, era muito além disso, só conseguia me fazer sentir daquela maneira. Era forte, era intenso, era puro demais. Ele era a única pessoa que conseguia me alcançar daquela forma, ninguém mais tinha tanto poder sobre mim. Meu irmão não fazia só meu corpo queimar quando me tocava, fazia também meu peito se aquecer quando via seu sorriso, iluminava sempre meus dias, especialmente os mais sombrios deles.
. — Segurei seu corpo com força, gemendo mais alto, sentindo meu pau latejar e eu finalmente gozei, sentindo uma onda enorme de prazer que me causou espasmos leves. — Porra, . — Soltei, me sentindo mole.
Caralho, era tão bom ficar com o . Me sentia tão completo. Era como se o mundo não existisse lá fora e nós dois ali fosse a coisa mais certa que poderia ter. Eu o queria só para mim e nada importava.
Desde que voltamos do Brasil, as coisas ficaram ainda mais intensas e eu não conseguia não pensar em meu irmão. E todas as noites imaginava como seria se a gente fugisse para um lugar só nosso, onde ninguém saberia nossos nomes verdadeiros. Onde poderíamos ser quem quiséssemos. Um lugar no qual poderia tê-lo de verdade. Que pudesse segurar sua mão na rua, beijar seus lábios quando sentisse vontade. Dizer o que sentia sem ter medo. Era o que eu mais queria. Porra! Eu o queria só para mim para sempre! Aquele pensamento me fez rir, lembrando do dia do festival. Feliz. Podendo beijar no meio daquelas pessoas todas. Foi a melhor sensação que já tinha sentido. Foi libertador demais ter ele para mim ali, naquele momento, sem me importar com mais nada.
Me virei e deixei meus dedos tocarem seu rosto, fazendo um carinho ali, chegando mais perto e beijando seus lábios com vontade. Os prendendo com força. Suspirei, o puxando para mais perto. Meus dedos deslizavam por sua pele. Eu amava o tom dele, como era macia, como era minha. Ele soltou um pequeno gemido que me deixou arrepiado, me fazendo querendo ouvir mais dele. Tão gostoso. Meus olhos subiram até os dele, deixando um sorriso vir. Era tão bom ter aqueles momentos com . Sorri em seguida e fez o mesmo. Deixei meus lábios vagarem por sua bochecha e dei uma mordida de leve ali, fazendo meus dentes rasparem em sua pele.
— Pegando a minha mania? — perguntou, me puxando para perto, lambendo meu queixo, me fazendo gemer baixo com aquele contato de sua língua em minha pele, até chegar em meus lábios, passando por eles com tanta vontade, que fez o fogo dentro de mim reaparecer.
— Talvez. — Soltei, com um tom de voz rouco. — Você fode fácil comigo. — falei, apertando sua cintura ainda mais.
— Me morde mais. Me morde todo. — O desgraçado me provocou. Mordi seu pescoço agora, o beijando, sugando sua pele com meus lábios, passando a língua por ali, enquanto meu quadril ia um pouco para frente, se esfregando nele de um jeito gostoso. — Você também me fode fácil. — Seu quadril veio agora de encontro com o meu, se esfregando de volta, me deixando doido e jogou sua cabeça para trás.
— Você quer me deixar excitado de novo? Não vou te deixar sair desse quarto, . — Aquilo me fez rir contra sua pele e minha língua deslizou por ela.
— Então não deixa. — Minha voz saiu rouca com o tesão que começava a me tomar de forma feroz.
Nós éramos dois fodidos, mas amava ser o fodido dele. Era perfeito. Gemi de leve com seu quadril se esfregando de novo contra no meu daquele jeito delicioso, sentindo que já estava ficando duro de novo. Como caralhos ele conseguia isso tão rápido? Fui subindo, parando com meus lábios quase colados nos dele, então sua língua começou a me provocar, passando pelos meus lábios, brincando comigo. Tão gostoso.
— Nós precisamos descer. — falei, mas nem ao menos me movi para que aquilo fosse feito.
Nós estávamos em uma festa na casa do Ryan e tínhamos nos escondido em um dos quartos, bêbados, rindo horrores. Começamos a nos pegar loucamente ali. Era tão bom, não queria ir embora e sabia que ele também não apenas pela forma como respirava.
— Não quero descer. Quero você. — Porra, ele me pegava de um jeito que ficava difícil respirar até.
— Não quero descer também. E te quero tanto. Todos os dias. Todas as horas. — Sussurrei, passando meus lábios nos dele enquanto falava.
— E você me tem todas essas horas, sabia? — disse, de volta, com seus lábios passando sobre os meus.
— Tenho? — perguntei, totalmente inebriado, passando minha língua pelos lábios dele.
— Tem, sim. — pegou minha língua e a chupou, me fazendo gemer.
Minha mão deslizou por suas costelas, as dedilhando, até que o segurou com mais força, fazendo seu peito quente colar no meu. Passei meu nariz pela lateral do seu. Então me impulsionei para frente, o beijando. Nos beijamos como se nada tivesse acabado de rolar, daquele jeito que matava a nossa saudade um da boca do outro. Gemi de leve com a puxada em minha cintura, fazendo ela bater na sua de forma deliciosa. Caralho, aquilo era muito bom. O nosso beijo era daquele jeito intenso que sempre fazíamos. Mas não deixei durar muito, ou começaríamos tudo de novo. A gente realmente precisava descer.
Seus dedos vieram até meu cabelo. Então deixei meus olhos fechados, sentindo como era gostoso seu carinho. Puta merda, . Como você conseguia? Sério! Era bom demais. Muito bom mesmo. Abri meus olhos a tempo de pegar um pouco daquele sorriso dele que me matava demais. Nossa, cara. Tão lindo. Tão meu. Sorri de volta para ele.
— Esse sorriso… — sussurrou, me deixando levemente mole.
Seu sorriso. — O corrigi. Porque meu sorriso era dele. Eu era dele. Todo dele. Cada parte minha.
— Meu. — falou, de um jeito tão bom que me fez fechar os olhos e sorrir.
Eu era dele. Nada importava. Eu queria sair por aí e berrar. Sou do , foda-se vocês! Foda-se o mundo. Era isso. Eu era dele. Então por que realmente não podia ser? Abri meus olhos no mesmo instante.
— A gente podia ir para outro lugar. — Comecei com minhas loucuras. — Fugir e nunca mais voltar. — Eu podia estar bêbado, mas era tudo o que mais queria. Fugir com ele.
— Qualquer lugar da face da terra seria perfeito se tivesse seu sorriso. — Mas aquela resposta não era a que eu queria. Sabia que não fugiria mesmo comigo.
— Que hora são? — decidi mudar de assunto.
Virei para pegar meu celular que estava ali jogado e ver a hora. Apanhei o iPhone, que estava caído na cama no meio da nossa roupa, e liguei a tela, me sentando porque minha cabeça estava tonta. Senti as pontas dos dedos de acariciarem minhas costas e aquilo foi bom, me arrancou um arrepio que me fez sorrir. Droga, por que tinha que ser tão bom? Mas aquilo tudo sumiu diante de mim. Nada mais parecia fazer sentido. Eu estava me sentindo perdido. Muito perdido. Eu quis sentir de novo seu toque em minhas costas para saber o que era real, mas não o tive mais. Doeu. Me arrastou direito para baixo, levando tudo junto. O sorriso em meus lábios sumiu e meu coração parou naquele instante que vi o protetor de tela. Não era o meu aparelho, era do , e tinha uma foto dele com uma menina. Apaguei a tela na mesma, hora sentindo meus olhos queimarem. Meu peito doeu de forma intensa, foi mais forte do que qualquer palavra estúpida que já tenha me falado. Eu sabia o que era aquilo. Eu sabia. Mas precisava ouvir da boca dele.
— O que significa isso? — perguntei, levantando o aparelho por cima de meu ombro para que entendesse do que eu estava falando.
Queria saber o que significava para ele para estar ao ponto de ser a porra do seu protetor de tela! não me respondeu, apenas levantou apressado e começou a pegar suas coisas, vestindo sua roupa. Em um rompante, me levantei também, me vestindo na mesma hora, não iria ficar ali com cara de idiota.
— Está tudo errado, . Tudo errado. — Disparou a falar, e aquilo me doeu. Meu peito se encheu com força.
— Errado? Errado? — o segundo saiu de forma rasgada de minha garganta, mas meu irmão não me olhava. — Errado! — soltei, mais alto, e agarrei seus pulsos para que parasse de se vestir e me olhasse na porra dos meus olhos.
— Me solta, ! — berrou comigo, de um jeito que nunca havia feito antes, tentando puxar seus pulsos, ele estava muito irritado.
— Não! — esbravejei com ele, não querendo fazer aquilo, mas o jeito que estava puto estava me deixando nervoso. — Para de fugir e me encara, porra! — mandei, eu queria olhar na droga dos seus olhos para ter certeza de que eu estava errado esse tempo todo. Que era só eu que estava entregue naquilo, que para não passava de uma curtição de fim de festa.
— Não! Eu não quero! — se negou em me olhar. E isso me fez travar o maxilar. — Me fala que você não acha errado? Olha na porra dos meus olhos e fala se não é? Se fosse certo, a gente não precisaria da porra do álcool pra fazer isso. — Aquilo doeu pra caralho.
— Não! Eu não acho que é errado! — gritei, com ele, olhando dentro dos seus olhos, sentindo as lágrimas descendo pelo meu rosto. — Eu não acho. — Sussurrei, com o nó na garganta. Não era errado amar ele, não era. Eu repetia isso para mim mesmo, tentando acreditar naquilo, tentando fazer se tornar real e não deixar que suas palavras me cortassem mais. — Eu nunca precisei de beber ou me drogar para te desejar, ou para querer ficar contigo, para sentir essa vontade louca de te beijar, . — Confessei, baixinho, achando que a música lá fora poderia ter abafado aquilo. — O álcool só me serve como limite, ou eu simplesmente não conseguiria me controlar. — Contei, sentindo as lágrimas descerem mais. — Me desculpa. Me desculpa se pareceu isso. Por favor, me desculpa. — Pedi, sentindo meu peito se rasgando inteiro.
Ele não podia fazer isso comigo. Ele não podia ir. Não podia me deixar porque achava que eu só o queria quando estava chapado. Eu o queria sempre, o meu desejo nunca diminuía quando estava lúcido, só se tornava maior. Sempre maior. O sentimento que tinha pelo ficava mais intenso conforme os dias passavam. Eu o amava lúcido, eu o amava chapado. Eu simplesmente o amava.
— Você acha sim, . Eu sei que você acha. — Ele sussurrou, e eu neguei com a cabeça. Não era errado. Não éramos errados. — Pareceu sim, pareceu demais. — E as lágrimas só desciam ainda mais. Estava doendo muito ouvir falar que parecia que eu o pegava só quando estava bêbado. Não era isso. — Eu também sempre tive vontade, mas também tive medo de não poder ter a desculpa no outro dia e você nunca mais querer ficar comigo. — Eu sabia que estava sendo sincero, porque era o mesmo medo que eu tinha as vezes. — Viu? É errado demais, tão errado que você usou isso como um limite. O que acontece se nosso pai pega a gente dessa forma? Não quero te perder, ! Não consigo viver sem você! — também chorava e isso me matava. Minhas mãos se afrouxaram um pouco em seus pulsos, eu estava ficando sem forças. — Não me peça desculpas, por favor.
— Então só me fala. — Pedi, olhando dentro dos seus olhos, sentindo as lágrimas descerem, vendo como sua respiração estava pesada igual a minha. — O que ela significa para você? — e percebi que só precisava dessa resposta, ela seria capaz de responder todas as outras. Ela daria um basta em tudo aquilo.
Eu sentia o ar tão pesado que mal conseguia respirar, o desespero invadia meus pulmões como se estivesse prestes a ter um ataque de pânico o qual nunca tive, mas senti que poderia ter.
— Me solta, . — pediu, gemendo baixinho me fazendo ficar ainda pior.
— Por favor, . Me fala. — Implorei, de forma desesperada, segurando seus pulsos com mais força, mas não era para machucá-lo, era para me segurar de pé, porque sentia que iria desmoronar se o soltasse.
— Eu sou dela agora, . — As palavras simplesmente saíram de sua boca.
Tudo dentro de mim foi jogado contra a parede com extrema força, me deixando sem ar. Eu realmente não conseguia respirar naquele momento. Meu coração tinha parado. Ele tinha sido arrancado de meu peito enquanto meus olhos molhados estavam vidrados nos de , com as lágrimas descendo sem que eu piscasse, elas estavam rasgando minha pele. Tudo sangrava. Não conseguia parar de olhá-lo com todas as minhas forças se esvaindo. Eu não queria sair daquele quarto sem ele. Quem seríamos sem ter o outro? Quem eu seria sem o ? A resposta era simples. Nada.
Não conseguia reagir por mais que quisesse. Meus dedos soltaram seu pulso lentamente, sentindo que tinha acabado de perder tudo, absolutamente tudo. Eu preferia que ele tivesse me machucado de outra forma. Que me xingasse. Que falasse o quão merda eu era. Mas aquela única frase... Foi como um tiro certeiro em meu peito. Aquilo não era justo. Pelo o que eu tinha lutado? Pelo que estava lutando todos os dias? Por nada. Para ele simplesmente encontrar alguém de verdade e dar seu sorriso para ela. não era meu, nunca tinha sido. Era mentira. Tudo. Era. A. Porra. De. Uma. Mentira!
— O para sempre nunca existiu. — Sussurrei, muito baixo, tão baixo que talvez só meus lábios tivessem se movido de forma muda acabando de me enterrar.
— Ele existiu em outra vida porque nesta é impossível. — E aquela foi a punhalada final, me deixando tonto.
Nada nunca existiu. O nós nunca existiu. Fechei meus olhos, sentindo mais lágrimas descendo. Puxei o ar pelo nariz, que entrou queimando. Isso me machucava de um jeito que parecia que minha alma estava sendo arrancada.
Então simplesmente peguei minha camisa, que era a única peça que me restava para vestir, e saí daquele quarto. Não conseguia ficar ali. Não conseguia encarar a porra de um sonho quebrado. Na verdade, um sonho que sonhei sozinho.
Minhas pernas falharam e tive que me segurar na parede do corredor para não cair de joelhos no piso frio, chorando, chorando mais do que já estava, mordendo meu lábio inferior com força, tentando conter aquilo. Sentindo o gosto de ferro embebendo minha boca. Dor. Todo meu corpo estava doendo demais. E nada iria parar aquilo. Sabia disso. Nem se eu bebesse até não aguentar mais. Nem se eu cheirasse até meu nariz sangrar e tudo virar um borrão preto. Porque eu sabia que quando abrisse os olhos, tudo estaria no mesmo lugar.
Minha mão apertou a parede com força. Eu precisava continuar andando, não podia ficar ali parado. Ninguém podia me ver daquele jeito. Então arranquei forças de algum lugar esquecido e vesti minha camisa, passei a mão em meu rosto com força e continuei andando. Levantando a cabeça, sentindo meu corpo inteiro tremendo e gelado. Eu não sabia como era o outro lado sem ele, mas iria ter que descobrir.

I want you
There's no line
I'll love you
Or die trying


***


Uma semana depois


Quando a merda estourou na minha cara e pude claramente entender qual era a minha realidade, eu simplesmente não aguentei viver nela. Não dava. Até tentei por uns dias, mas as horas foram como tortura. A agonia de ver e saber que ele não era mais meu me rasgava inteiro, saber que não poderia mais tocá-lo arrancava pedaços meu, saber que tudo tinha sido mentira e era apenas a porra do álcool falando mais alto por conta do tesão da adrenalina do momento… Isso me queimava tanto. Nunca foi o álcool para mim, nunca. Ele era só a bosta do controle para que eu não avançasse o sinal e fizesse algo que meu irmão realmente não queria. E agora percebi que ele nunca me desejou, não como eu, era sempre o perigo do momento que o fazia querer brincar. O errado o excitava, fazia o seu pau ficar duro pra caralho, não era por minha causa, nunca tinha sido. Era só isso. E eu tinha sido a droga do seu brinquedo todo aquele tempo.
Era difícil de respirar quando pensava nessas coisas. Era impossível conseguir olhar para o meu irmão sem sentir a faca em meu peito torcendo e retorcendo, de um lado para o outro. E não adiantava, poderia implorar para puxar a faca e ele até o faria. Mas a dor? Não, a dor continuaria me devorando de forma voraz, fazendo com que me torcesse inteiro por causa dela e pedisse só para acabar logo com aquilo, para um ato de misericórdia. Doía tanto que eu não conseguia ter raiva o suficiente para poder fazer nada contra mim, era só ela me tomando, arrancando minhas forças.
Nos primeiros dias, me recusava a sair do quarto, coloquei meu colchão perto das enormes janelas de vidro e fiquei lá deitado olhando para o céu. Vendo as nuvens passando, as formas que tomava, via os pássaros voando e para onde iam, via as estrelas, elas aparecendo quando a noite vinha e sumindo quando o dia chegava. Horas após horas, longas demais para serem contadas. Espaçadas demais entre o som do motor do carro de entrando na garagem e saindo dela. Ele saía para ficar com a garota e só voltava muito tempo demais. Cada hora que se passava sem meu irmão em casa, parecia ser o próprio inferno. Meu coração se torcia por inteiro e quando finalmente voltava, era quando ele se acalmava um pouco e suas batidas não eram tão sufocantes, mas nunca durava muito. quase não ficava mais em casa. Ouvir sua voz ao longe me fazia ficar totalmente encolhido e geralmente era quando ia para o banho e tentava me livrar daqueles sentimentos. Ficava lá por muito tempo, chorando, deixando que a água escondesse minhas lágrimas, então quando não restava mais nenhuma, voltava para meu colchão e tentava dormir.
. — Minha mãe sempre tentava falar comigo várias horas do dia. — Você tem que comer, querido. Abra a porta, por favor. — Mas eu nunca respondia. — Me deixe ver como você está, querido. — E eu continuava calado. — , já tem uma semana que você não sai, que não comeu praticamente nada, por favor, abre essa porta. — Quando a fome vinha, o que era bem raro, eu pegava alguma coisa da bandeja de comida que minha mãe sempre deixava do lado de fora da porta. — … — eu tampei meus ouvidos para não escutar mais, mas ouvi batidas e meu pai esbravejando do outro lado.
— Me deixem em paz! — berrei, e as batidas pararam.
Aos poucos aliviei a tensão em minhas orelhas e só tinha o silêncio. Me encolhi um pouco em meio dos edredons e tentei dormir. Até consegui, mas eu só sonhava com meu irmão o tempo inteiro. Às vezes algumas lembranças boas ou até mesmo as ruins, outras cenários que nunca existiram, o vendo ir embora com uma garota, ela sempre mudava, nunca era a mesma, e sempre estava feliz com ela e eu sempre estava para trás, sozinho. Dessa vez, ele estava se casando e tinha me pedido para ser padrinho. Não aceitei, mas não consegui não ir, precisei ver com meus próprios olhos que ele gostava mesmo daquela garota, e no momento em que sorriu quando a viu entrando na igreja, aquele sorriso que só dava para mim… Nada mais dentro de mim fazia feito sentido, tudo tinha acabado de ser destruído, não restou qualquer coisa que pudesse dizer que ainda pudesse me sentir vivo. Então eu apenas corri para longe daquele lugar, daquelas pessoas, para o mais longe que pude do meu irmão. Corri tanto que meus pulmões queimavam, pedindo por ar de forma desesperada. Parei quando cheguei em um campo cheio de dente de leão, todo branco e verde. Entrei no meio deles, vendo os seus flocos se levantarem e dançarem no ar. O cheiro de mato e terra invadiu meu nariz enquanto as lágrimas desciam. Caí de joelhos e apanhei um dente de leão, o levando até a frente do meu rosto e o soprei.
— O para sempre era uma mentira. — Sussurrei, enquanto sentia que estava morrendo.
Olhei para baixo e vi minha camisa branca molhada com sangue e vinha do meu peito. Doía demais e eu sentia que minhas forças estavam indo embora. Fechei meus olhos, deixando que aquilo me levasse para longe e logo meu corpo não aguentou e caiu também. Abri os olhos, encarando o céu azul. E, naquele último momento, eu queria ter visto os olhos de .
Acordei puxando o ar com força, colocando a mão em meu peito, o apalpando várias vezes e olhando para minhas mãos. Não tinha sangue. Eu estava vivo… ainda. Estava suado, a roupa toda molhada, e me sentia enjoado com minha cabeça latejando. Levantei, tomei um banho, me arrumei e abri a porta do quarto, quase pisando na bandeja de comida. Passei por cima dela, deixando a porta aberta e saí. Era de tarde ainda e só minha mãe deveria estar em casa. Passei pelo seu quarto e não a vi, mas isso me fez passar pela porta do quarto de , não precisei olhar para saber que estava vazio também. A dor já tinha sido torcida de qualquer forma, eu não precisava fazer com que ficasse pior. Desci as escadas e vi minha mãe na sala, ela me olhou e logo seus olhos se arregalaram um pouco, apenas me virei e continuei andando.
, meu Deus. — Ela soltou, e veio correndo atrás de mim, parando na minha frente. — Meu filho. — Seus olhos se encheram d’água e sua mão tocou meu rosto. — Você está magro demais. — Aquilo me fez engolir em seco. — Vem, vamos comer alguma coisa.
— Não. Eu vou sair. — falei, dando um passo para trás e fazendo sua mão sair de meu rosto. — Eu como na rua. — A tranquilizei.
— Você vai para onde? — quis saber, enquanto se mantinha no lugar.
— Só dar uma volta, preciso respirar um pouco. — Avisei, e ela concordou com a cabeça.
— Não me espera, tá? — pedi, e seus olhos me encararam com atenção. — Eu vou voltar. — Garanti.
— Está bem. Qualquer coisa me liga. — Deu um pequeno sorriso.
— Ligo. — disse, e dei um beijo em sua testa.
Saí de casa a pé, porque não queria usar meu carro, não queria que ninguém me achasse, assim como também não pedi o uber e eles poderiam tentar ver para onde havia ido. Eu só queria ficar longe de tudo que me lembrasse meu irmão. Só isso. Avistei um táxi passando depois de um tempo e fiz sinal para ele, que parou logo mais na frente. Então pedi para que me levasse para a baixa da cidade, lá tinha pessoas que não me conheciam e ninguém me procuraria naquele lugar quando não era o tipo de ambiente que o pessoal da nossa classe frequentava, a não ser quando precisavam de drogas. O motorista parou em uma rua e me olhou.
— Aqui é o máximo que poderei te deixar. — Me olhou pelo retrovisor de forma preocupada.
— Tudo bem. — Paguei a corrida no dinheiro, até porque só tinha levado ele, nada de documento e cartão, então desci.
Caminhei pelo lugar com as mãos no bolso, olhando para os lados, vendo as lojas que tinham ali. Então entrei em um brechó, eu não podia ficar andando que nem a porra de um riquinho na parte baixa, ou seria assaltado em um piscar de olhos, precisava parecer como eles. Comecei a mexer nas araras, achando algumas peças interessantes. Achei uma camisa velha preta de baseball da NY de botão e era bem grande. Ficaria boa em mim. Uma calça jeans clara com a lavagem gasta por uso. Então fui para a parte dos calçados.
— Tentando fugir da polícia? — uma voz arrancou meus pensamentos do lugar e olhei para o lado, vendo uma garota que tinha um tom de pele muito bonito, seus cabelos eram negros e seus olhos castanhos.
— Sim. — Respondi, e ela riu me olhando por inteiro. — Você trabalha aqui?
— Trabalho. E você não é daqui. É da parte alta? — quis saber.
— Não. Sou de outra cidade e estou fugindo da polícia. Você me ajudaria? — fiquei encarando para ver qual seria a sua reação.
— É o que fazemos por aqui. Ajudamos quem precisa. — Deu de ombros. — Se você quer ajuda, eu te ajudo. — Sorriu e estendeu a mão em minha direção. — Sou Candice.
— Fabricio. — Segurei sua mão e ela ergueu uma sobrancelha.
— Você precisa de outro nome. Fabricio não vai colar. — Riu um pouco.
— Me dê outro nome, então. — Sugeri, e ela colocou um indicador no queixo enquanto olhava bem para meu rosto.
— Eu te daria o nome de algum Deus. Loki ficaria perfeito em você... — aquilo fez um pequeno sorriso querer vir em meus lábios. — Mas não iria colar, precisa ser algo mais real. — ficou pensativa por algum tempo. — . Aí posso te chamar de .
— Sou . — Estendi a mão para ela, que riu e a pegou, dando um aperto de leve. — O que você tem aí que acha que vai ficar bom em mim?
— Vem. — disse, soltando minha mão e saiu andando pelo meio das araras.
Ela começou a pegar várias peças e foi colocando elas em seu ombro, as vezes parava, me olhava e voltava a andar. Pegou alguns pares de tênis também, até que me puxou para o provador, jogando tudo em cima de mim, me cobrindo com as roupas. Entrei e comecei a me vestir. Candice pedia para ver, então eu saía e ela me arrumava do jeito que queria. Mexia no meu cabelo e puxava as roupas enquanto ria. Certamente, eu era novidade para aquela garota, mas ela estava conseguindo distrair minha cabeça um pouco. Quando as roupas acabaram, escolhi a camisa do NY para usar, junto com uma calça caramelo e um all star de bota. Candice prendeu meu cabelo de um jeito bagunçado e arrancou meu relógio, pulseiras e anéis, mas não deixei que levasse meu cordão de cruz.
— Ok, ele até te dá um charme. Mas você acredita em Deus? — sua pergunta me fez encará-la.
— Não sei mais no que acreditar. — Levantei um pouco meus ombros. — Preciso de um lugar para ficar.
— O Malaquias tem um apartamento para alugar em cima da confeitaria da esquina. Posso te levar lá. — Concordei com a cabeça e seguimos para o caixa.
Ela empacotou todas as roupas e paguei em dinheiro. Ela ficou me olhando por alguns segundos e me deu o troco depois. Avisou alguém que iria sair e foi comigo até o tal Malaquias. Era um velho mexicano que era dono da confeitaria e tinha um sobrado logo em cima. Ele nos levou até lá. Era pequeno. O meu banheiro era maior do que aquele lugar, mas aceitei. Já estava mobiliado. O pagamento era por semana e tive que pagar por duas adiantado. Sabia que ali ninguém me acharia então estava ótimo. Tinha uma cama para deitar, um ar condicionado que deveria fazer mais barulho do que realmente gelava. Um banheiro pequeno, com a fiação elétrica para fora, eu só não esperava levar um choque. E uma cozinha com um balcão pequeno. Candice ficou me olhando enquanto eu mexia nas coisas, certamente tentando descobrir de onde eu era. Até que meu iPhone começou a tocar. Aquilo me fez respirar fundo. Puxei ele do bolso e vi que era . Desviei a chamada e coloquei em modo avião.
— Já estão procurando o riquinho? — Candice perguntou, rindo um pouco e se jogando no sofá de dois lugares.
— Depois de ter roubado um banco, a família quer saber se ainda estou vivo. — Rebati, ouvindo a risada da morena. — Mas é melhor eles não saberem de mim.
— E você roubou quanto? — quis saber, com um olhar bem curioso.
— Não sei, ainda não contei. Escondi o dinheiro, depois vou buscar. — Contei, de forma despreocupada.
— Você é engraçado. — disse, rindo um pouco. — Está com fome? Minha barriga está roncando.
— Pode ser. — respondi, mesmo não sentindo fome.
Deixei as coisas ali e saímos. Fechei as cinco trancas que tinha na porta e achei que ali tinha mais segurança do que a minha casa. Seguimos a pé pela rua enquanto Candice falava e acenava para os outros, então paramos em uma lanchonete bem antiga. Eu não diria que era retrô, porque as coisas ali eram realmente velhas, mas o cheiro da comida estava bom, fez meu estômago reclamar. Pedimos hambúrguer com batata e coca-cola. Logo algumas pessoas apareceram, amigos dela, e ficaram puxando papo comigo. Conversei com eles sem ser grosso, porque eu não estava na minha área. Se eu fosse babaca ali, acabaria com terra na boca no dia seguinte, se bobear nem isso, seria no minuto seguinte mesmo. Mas a galera ali não era idiota e estúpida como a gente que me circulava, eles eram realmente legais, tinham uns papos interessantes. E isso me fez pensar no motivo de nunca ter conhecido pessoas daquela classe. Eles eram bem mais divertidos e até conseguiam me fazer rir com coisas realmente engraçadas. Não eram fúteis, não estavam querendo me agradar por mero interesse, até porque não tinham ideia de quem eu era. Estavam sendo apenas eles. Percebi em pouco tempo que aquela galera tinha conseguido ser mais humana comigo do que eu fui em toda a minha vida com os outros. A não ser com , com ele tudo sempre era diferente. Mas me proibi de pensar nele.
Quando saímos da lanchonete, fomos para a casa do Jack jogar jogos de tabuleiro. E porra, eu estava vendo um detetive antigo! Mano! Aquilo foi foda. Nunca tinha visto um de verdade sem ser em filmes. Minha vida toda eu tinha jogado video game e era sempre os lançamentos. Não sabia como era jogar jogos de tabuleiro e como era realmente divertido. No final, estávamos brincando de pique-esconde na rua. Estava me sentindo criança de novo. Aquilo tudo me fez esquecer da minha vida e sinceramente não tive vontade de voltar para ela, não quando doía tanto.
Eu realmente fiquei ali. Vivendo aquela vida que não era minha. Ia para casa às vezes para pegar mais dinheiro e falar para a minha mãe que estava tudo bem, mas não contava onde estava quando me pedia para saber disso, não queria que ninguém imaginasse. Sempre que eu ia para lá, era como se tudo voltasse, como se não tivesse ido embora nem um dia sequer. Doía. Doía tanto ficar naquele lugar e lembrar de tudo. Ficar me matava e eu não queria morrer. Não fui às festas que meu pai me mandava ir. Não queria fazer parte dos mais. Sabia que iria e eu não conseguia olhar para ele. Não dava. Não era porque eu não queria. Eu realmente queria. Olhar para ele, tocar seu rosto, respirar o mesmo ar que meu irmão, mas não podia, não mais, não sem doer de forma que me fazia querer implorar para que fizesse o mesmo, para fazer aquela dor insuportável parar. Eu o amava demais. Esse era o problema. O amava como nunca deveria ter feito.
Então fugi da melhor forma que consegui. Dele e da minha vida. Eu só queria ser o menino da cidade baixa que não tinha família, que era sozinho e a única preocupação era se eu seria encontrado pela polícia ou não. Então eu vivi sendo o por meses. A dor ficava menor quando estava sendo outra pessoa.

***


Maio de 2018


Encarei o céu estrelado acima de nós enquanto meu pé esquerdo estava na água. Nós tínhamos ido para a cidade média e invadimos uma casa que tinha piscina, já que parecia que os donos tinham viajado. Estava quente aquela noite. Candy estava deitada com a cabeça em meu ombro enquanto girávamos no colchão inflável dentro da piscina. Minha mão mexia em seus fios negros, fazendo um carinho leve. Eu pensava em tudo naquele momento. Em como minha vida seria mais fácil se realmente fosse o , se eu gostasse daquela garota na mesma forma que gostava de mim e não existisse o que roubava tudo de mim, que me fazia ser dele mesmo não o vendo mais. Como que seria se eu não fingisse que tudo estava bem o tempo inteiro e me permitisse ser feliz de verdade, mas isso nunca aconteceria. Se eu fechasse meus olhos naquele momento, poderia sentir como se meu irmão quem estivesse ali do meu lado. Aquilo fazia meu coração feliz se fosse a verdade, mas não era. Era mentira. Eu ousaria dizer que tinha sido substituído, mas não dava para ser substituído se nunca tivesse tido naquele lugar antes. Sempre dei tudo de bom que tinha dentro de mim para ele e teria dado tudo para ser dele de verdade, tudo. Queria saber onde tinha errado, mas eu sabia. Ele era meu irmão. Era esse o ponto que tornava tudo errado. Precisava seguir em frente, mas não sabia como.
— Imagina se nós fôssemos donos dessa casa. Seríamos tão felizes. — Candice disse, baixinho se virando e olhando para o lado, então fiz o mesmo, passando meu braço esquerdo por sua cintura.
— Não seríamos felizes nela. — Contei, como se fosse um segredo.
— E por que não? Ela é linda. Como não ser feliz em um lugar como esse? — questionou, se virando e me encarando.
— Porque a felicidade nem sempre está nos lugares que são bonitos, grandiosos, e cheios de fortuna. — disse, olhando dentro dos seus olhos, que estavam mais escuros agora. — Não são lugares que nos fazem felizes, são as pessoas. — Alisei sua cintura com calma. — Nós somos felizes onde estamos agora, mas se não estivéssemos nele, tenho certeza de que não seríamos. — Suspirei, fechando meus olhos, porque eu não estava feliz de verdade em lugar nenhum. — Quando se muda a realidade ao seu redor, você também muda. — Senti sua mão em meu rosto.
— Você fala como se soubesse como é o outro lado. — Eu sabia perfeitamente como era. — Quem é você de verdade, ? — perguntou, de um jeito baixo e totalmente inocente. — Me mostra.
— Você já conhece o de verdade. — falei, mas não abri meus olhos. — Me beija, Candy. — Pedi, porém não cheguei perto.
— Por que você não me beija? — quis saber e isso me fez abrir os olhos. Nós nunca tínhamos ficado, mas eu sabia que ela queria, só que eu nunca tinha conseguido beijá-la. — Você quer realmente que eu te beije? — respirei fundo.
— Você quer me beijar. — Foi o que respondi.
— Não quero saber o que eu quero. Quero saber o que você quer. — Uniu as sobrancelhas de leve e ninguém nunca tinha me perguntado o que eu realmente queria. — Diz, . O que você quer?
— Eu quero alguém que nunca vou poder ter. E só preciso que você me ajude a esquecer disso. — Passei as pontas dos meus dedos pelo seu rosto, colocando uma mecha de cabelo para trás.
— Não seja egoísta. — Aquilo foi um tapa na minha cara. — Você não quer me beijar, quer que eu tampe um buraco o qual não você mesmo não consegue tampar. — E isso foi mais um tapa, bem forte. — Não importa o que eu sinto por você, nunca vou querer ser a pessoa a qual usa para esquecer outra. — Tirou minha mão de seu rosto e se sentou. — Eu não mereço pedaços ou metade.
— Candy… — ela já se virou e agarrou na escada, saindo do colchão. Fui atrás dela e segurei sua mão. — Não vai embora. — Sua mão saiu da minha com força. — Estou te pedindo. Por favor, não vá. — E aquilo doeu, porque eu precisava daquela garota para não me afundar ainda mais.
— O que eu sou para você, ? — se virou para mim, me encarando com raiva. — Me responde, merda. — Empurrou seu peito e segurei seus pulsos, a puxando para perto.
— Você é quem estava impedindo que eu me perca mais! — soltei, nervoso, olhando dentro dos seus olhos. — Eu preciso de você, merda. Ainda não entendeu? — aquilo me fazia sangrar. Nunca imaginei que pediria isso para alguém que não fosse , mas eu estava desesperado, precisava tentar qualquer coisa, ou o meu próximo passo seria a porra da cocaína e sabia como aquilo iria terminar. — Fica.
— Então me faça querer ficar.
Então a beijei com vontade. Aquela vontade que eu queria beijar o , mas não era ele. Não era seus lábios, não era a sua língua tocando a minha, não era seu gosto. Não era nada parecido com beijar meu irmão. Não chegava nem perto. Não fazia meu coração disparar. Não fazia meu ar faltar. Não era nada do que um simples beijo. Mas tentei, tentei a beijar com mais vontade, tentei colocar algo de mim que fosse real ali, só que eu não conseguia. Não parava de pensar em nem por um segundo. Então me afastei, encostando a minha testa na de Candice enquanto engolia em seco.
— Eu não posso ficar se você mesmo não consegue fazer isso. — Sussurrou, abraçando meu pescoço. — Mas eu posso ser sua amiga. — E isso me fez abraçar sua cintura.
— Obrigado. — Dei um pequeno beijo em sua testa.

***

Daydreaming 'bout where your lips been
Pull my heart right out my chest, drive a train through
Still get up and forgive you


Junho 2018


Pensar em começava a ser menos difícil quando eu não ia mais para casa e sacava a grana em qualquer caixa eletrônico na cidade alta. Certamente, estavam achando que eu estava por lá. Meu celular vivia em modo avião, mas eu às vezes tirava dele para mandar mensagem para minha mãe ou ligar, avisando que estava bem. Com isso, vinham sempre as mensagens do meu irmão. Às vezes não lia ou ouvia na hora, relutante em me deixar envolver de novo depois de tudo e logo quando parecia menos ruim, mas eu não conseguia. A saudade acabava comigo e eu precisava ouvir nem que fosse a sua voz, saber que estava bem. Não tinha como mentir que sempre acabava um pouco comigo, mas era melhor do que não ter nada. Às vezes respondia ele vagamente, monossilábico, apenas para saber como estava. Sempre que ele tentava aprofundar a conversa depois do “Oi, tudo bem? Sim, e você? Bem.” eu pegava e parava de responder e colocava em modo avião de novo. Não queria que ele me puxasse para perto de novo. Não queria mais chegar perto dele. tinha feito as escolhas dele e tinha me machucado fundo demais daquela vez, então teríamos que aprender a lidar com as consequências por mais que doesse. E doía demais, muito mesmo, não ter ele comigo. Ninguém nunca teria noção de como eu sangrava todos os dias por causa dele. Ninguém. Eu ainda chorava antes de dormir sentindo sua falta, sentindo suas palavras daquela noite me cortando. “Ele existiu em outra vida porque nesta é impossível.” Aquilo sempre ecoava dentro de mim, fazendo a ferida aumentar, porque era a única coisa que me fazia parar às vezes de querer ir ao seu encontro. Sabia que poderia estar machucando a forma como o afastava, mas, como ele mesmo disse, tudo estava errado. Nós éramos errados para ele. Nunca iria forçá-lo a me amar, a me querer do jeito que eu o queria. Então fim. Era tudo o que eu tinha a dizer. Não existia mais nós.
Naquele momento, estava sentado no sofá velho no porão de Jack, fumando e bebendo cerveja, com Candy sentada entre minhas pernas, com a mão em minha coxa, enquanto ríamos de Jonah fazendo uma mímica enquanto desenhava algo escroto no quadro de giz. Estávamos jogando imagem e ação e ele tentava fazer com que eu adivinhasse que caralho era aquilo, mas eu só conseguia rir como os outros. Era bom distrair minha cabeça com coisas tão simples, fazia parecer que o mundo era mais fácil assim. Deixava a dor mais leve. Às vezes ainda imaginava como seria se meu irmão estivesse ali comigo. Apostava que ele estaria rindo horrores comigo, aquele sorriso… Me recusei a pensar naquilo.
— Janela? — soltei, vendo a cara de irritado que já estava me olhando. — Isso é um quadrado! Não, é um cubo. Não, é uma janela! É o quê? — Candice jogou a cabeça para trás, rindo. — Me ajuda. — disse, empurrando seu ombro para o lado.
— Não posso! — ela riu ainda mais.
— Porra, Jonah! Você deveria entrar em uma aula de desenho! — falei, levando o cigarro até meus lábios.
— Acabou o tempo! — Charli berrou, rindo também. — O que era, Jonah?
— Gelo! Era a porra de um gelo, ! — ele girou comigo, passando a mão em seu cabelo claro.
— Aquilo era um gelo? Por que não desenhou um floco de gelo? — questionei, fazendo o pessoal rir mais ainda.
— Eu não sei desenhar um floco de gelo, caralho. — Se sentou no chão, cruzando os braços, me fazendo rir e soltar a fumaça para cima.
Ouvimos um barulhão vindo da parte de trás do porão e logo Kevin saiu de lá tossindo horrores porque estava todo sujo de poeira e ele trazia algumas coisas na mão. Passei minha perna por cima de Candy para me sentar direito no sofá e ver o que ele trazia. O garoto colocou em cima da mesa de centro, mesmo sobre o tabuleiro do jogo e abriu um mapa antigo do país que tinha uma rota desenhada, cruzando isso.
— Era do seu avô, Jack? — o ruivo perguntou.
— Sim. É a rota até a Califórnia. A gente fazia quando eu era criança. — explicou, e Candy arrancou o mapa da mão dele.
— Vamos? — soltou, do nada, me olhando com uma cara engraçada.
— Vamos o que, Candy? Tá doida. — Sammy, sua amiga, falou. — Temos nem carro para isso, muito menos dinheiro.
— O carro eu posso arranjar. O dinheiro… Talvez a gente possa economizar. Não precisamos de muito, podemos comprar coisas para comer e acampamos no caminho. — Sugeri, e Candice me encarou feliz da vida. — Não custa nada tentar. — Levantei um pouco meu ombro.
— Vamos, então! — Charli já pulou do sofá, toda empolgada, com seu cabelo trançado. — Eu tenho umas coisas que posso vender que não uso mais, aposto que vai render algo.
— Eu posso pedir para a minha avó fazer a comida. — Jonah já comentou, todo empolgado.
— Eu ajudo com a comida e com a grana. — Candy sugeriu, toda empolgada também.
— Eu arranjo o carro. — Ergui minha mão, rindo. — E posso assaltar um banco também. — Eles riram com aquilo, já que era a história que Candice sempre contava de mim.
— Eu dirijo. — Jack teve a cara de pau de falar. — Ok, eu posso arranjar alguma grana, acho que tenho alguma coisa guardada. — Eu queria falar que ninguém precisava gastar seu dinheiro suado, que eu bancaria todos, mas isso seria suspeito demais.
— Ok! O que eu não faço por vocês! — Samira se jogou em cima de mim e de Candy, apertando o rosto de sua amiga. Tive que levantar a mão para não queimar ela com o cigarro. — Eu posso ajudar na comida também.
— Eu serei o copiloto. E não preciso ajudar em nada porque achei o mapa. — Kevin fez uma pose de convencido e isso me fez lançar uma almofada nele.
— Ah, sai daí, Kevin! — falei, rindo um pouco. — Se vira, vai ajudar também.
— Fechado! Quando vamos? — Charli perguntou, fazendo uma dancinha de um lado para o outro.
— Assim que conseguirmos a grana e o o carro. — Candy avisou, e eu concordei. — Ai, nem acredito que vou ter as férias dos meus sonhos! — jogou seus braços ao redor do meu pescoço e deu um beijo em minha bochecha, me fazendo rir.
— Hey, a ideia foi minha! Por que é o quem ganha abraço? — Kevin reclamou, cruzando os braços, fazendo uma careta.
— Ah, ciumento! — soltei, com uma risada. — Não posso fazer nada se ela me prefere. — Puxei a menina para perto e dei um beijo na bochecha dela, olhando para Kevin, que estreitou os olhos e me deu o dedo do meio, arrancando uma risada de todo mundo.
— Não provoca, . — Candy pediu, mas também não parava de rir.
Continuamos jogando e acabou que pedimos uma pizza. Ficamos ali a noite toda, bebendo, fumando, conversando e planejando a viagem. Ainda assim às vezes pensava como seria ter naquela viagem e isso me fazia sorrir, porque ele iria adorar. Meu irmão sempre gostava dessas coisas e sabia o quanto amava a praia enquanto sempre odiei, mas ia com ele apenas para vê-lo feliz. Porém isso não seria real. Nunca seria. Eu era ali e o não podia existir na vida dele.

No dia seguinte, saquei mais dinheiro, comprei uma kombi velha de um senhora na cidade média e a arrumei todinha por dentro. Por sorte a pintura por fora estava boa, então só precisei encerar e polir para ficar do jeito que eu gostava. Nunca tinha imaginado que aquilo daria tanto trabalho, sempre quem fazia aquilo era meus empregados, mas tinha sido divertido, tinha levado meu tempo e era disso que eu precisava, fazer o tempo passar sem que pensasse em a todo momento.
Quando mostrei a kombi para o pessoal, eles piraram. Candy pulou em cima de mim, quase me derrubando, e isso me fez rir. Ela era boa comigo e eu queria ser bom com ela, de verdade, mas sabia que isso não aconteceria nunca. A morena me olhava com aqueles olhos tom de mel de um jeito que poderia fazer com que me apaixonasse por ela se meu coração já não tivesse sido roubado. Então apenas a abracei, mesmo que odiasse dar abraços.
Dois dias depois, logo pela manhã, partimos. Jack foi dirigindo com Kevin como copiloto e era engraçado como o garoto não sabia nem pegar no mapa direito. Charli estava na frente com eles, berrando com os dois, falando que eles eram péssimos e que nos perderíamos rapidamente se os deixasse no comando sozinhos. Aquilo arrancava umas boas risadas nossas.
Estava sentado no banco perto da janela, olhando a vista bonita do campo que eu tanto adorava, com a mão para fora, sentindo o vento fresco batendo dela, me deixando um pouco leve. Até que Candice apoiou um braço dobrado em cima de meu ombro e passou o outro por trás do meu pescoço, alcançando minha mão lá fora, e ficou brincando com meus dedos, tirando um sorriso meu. Tombei minha cabeça de leve para o lado, encostando na dela. Quem conhecesse o nunca acreditaria naquilo que estava vendo. O escroto babaca sendo “legal” com uma garota. Mas Candy era uma pessoa legal, ela puxava também meu lado “bom” para fora.
Virei meu rosto um pouco para o lado do dela, que estava bem próximo. Seus olhos encontraram os meus e por um momento pensei em beijá-la, mas não era o certo. Então só a puxei para que se sentasse naquele banco duplo comigo. Ela pulou por cima dele e se sentou ali, encostando a cabeça em meu ombro. Ficamos olhando para o lado de fora juntos.
Na nossa primeira noite, paramos em um campo e fizemos uma fogueira. Ficamos comendo marshmallow e salsicha enquanto tocávamos e cantávamos, na verdade, eu não cantei, mas levei meu ukulele e toquei um pouco. Não era algo que eu costumava fazer porque não era um instrumento que meu pai iria aprovar que eu tivesse, mas aprendi assim mesmo e tocava sempre escondido em meu quarto e agora ali com aquele pessoal. Toquei Let’s Fall In Love, do Finneas, e as meninas cantaram a letra enquanto os garotos batucavam na parte de trás dos violões, me fazendo rir. Tinha sido ótima a nossa performance.
Quando bateu o sono, fomos dormir. Eu me deitei dentro da Kombi e peguei meu celular, tirando do modo avião e vendo se tinha alguma mensagem do meu irmão e da minha mãe. Sorri vendo que tinha dos dois. Respondi ela primeiro, falando que estava viajando, que não precisava se preocupar. E no momento que fui responder , quase mandei um: sinto tanto sua falta. Seguido de um: queria que você estivesse aqui comigo. Mas tudo o que falei foi um: estou bem. Espero que esteja bem também. Progresso para quando eu mandava só uma palavra. Mas não esperei por sua resposta porque sabia que iria ceder. Coloquei em modo avião e me virei para o lado, tentando dormir, porém fiquei virando de um lado para o outro, impaciente. Porra, eu não conseguia dormir. Levantei-me com o celular na mão e saí andando, atravessei a estrada, me sentando do outro lado dela. Então liguei para , precisava ouvir sua voz, mas caiu na caixa postal.
— Já tem um tempo que… Eu só… — mordi meus lábios, olhando para baixo, vendo a terra entre meus pés. — Só liguei para falar oi. — Não podia falar nada. Não queria que me ouvisse me rastejando atrás dele. — Oi. — falei, rindo fraco que nem um idiota por aquilo.
Desliguei ou sabia que acabaria falando demais e não teria como apagar aquilo. Me joguei para trás na grama e quis gritar. Meu celular vibrou em minha mão e o ergui, vendo que era . Meu dedo seguiu até a tela para arrastar para a lateral e atender, mas apertei apenas o botão para apagar a tela e a ligação foi desviada. Coloquei em modo avião em seguida e voltei para o acampamento. Foi difícil de dormir, mas eu consegui cochilar quando estava quase amanhecendo.
Seguimos viagem e acabamos nos perdendo. Charli berrava com os meninos enquanto eu me acabava de rir. Tomei o mapa da mão deles e vi que estava de cabeça para baixo. Deus, eles eram perdidos demais. Me sentei no banco, olhando as coordenadas e vendo a placa do KM que estávamos. Então fui falando para Jack para onde seguir. Até que paramos em uma lanchonete na beira da estrada para usar o banheiro. Avistei um telefone público e aquilo me fez sorrir por causa da nostalgia. Queria ter alguém para ligar… Eu tinha alguém para ligar. Corri até lá, fechando a porta e pegando algumas moedas, a colocando no telefone. Peguei meu celular e olhei o número de , então disquei para ele de forma impulsiva, porque eu era assim.
— Alô. — Uma garota que atendeu e eu olhei para o visor do telefone e depois para a tela do meu iPhone, vendo se tinha discado certo. — Oi. Tem alguém aí? — eu não tinha digitado errado.
— Oi. — falei, por fim. — Queria falar com o . — Pedi, para ver se tinha realmente ligado para ele.
— Ele está ocupado agora. Liga depois. — Aquilo me fez morder a bochecha por dentro, era a porra da sua namorada.
Então apenas desliguei, batendo com a merda do telefone no gancho, puto comigo por ter sido um idiota e ligado para meu irmão. Senti meus olhos queimarem, eu queria chorar de raiva mesmo, queria quebrar aquele telefone e bater minha cabeça naquela parede de vidro até uma delas rachar. Ouvi um barulho atrás de mim e me virei, vendo Candice. Ela fez uma careta que arrancou um riso fraco meu, então uniu as sobrancelhas e entrou na cabine, fechando a porta atrás de si e cruzando os braços, me encarando.
— Você está preso. — Fez uma arminha com a mão e apontou para mim. — Coloque as mãos onde eu possa ver. — Segurei um riso que quis sair e ergui as mãos.
— Pelo que estou sendo preso? — Quis saber, ousando chegar mais perto. Eu sabia o que estava fazendo, era a minha raiva e não eu agindo.
— Roubo de órgãos. — Contou, rindo um pouco enquanto ia a encurralando contra a porta.
— E qual que eu roubei? — perguntei, deixando meu rosto parar na frente do dela, fazendo nossos narizes se tocarem.
— Ah! Eu sabia! — Charli esmurrou a lateral da cabine, fazendo nós dois pularmos de susto. — Shippo, porra! — berrou, e saiu correndo, deixando a gente rindo ali dentro.
— Ela é idiota. — Candy disse, rindo e eu neguei com a cabeça. — Vamos, estão nos esperando.
Ela se virou e saiu da cabine, me fazendo ir logo atrás. Voltamos para a Kombi sem comentar nada e caímos na estrada. Charli toda hora nos olhava com uma cara engraçada e fazia uns sinais idiotas com a mão. Eu revirava os olhos e ria, a Candy já mandava a amiga dela mesmo tomar no cu. Então tivemos que parar quando o motor do carro esquentou demais e começou a sair uma fumaça horrível. As meninas ficaram apavoradas achando que a Kombi ia pegar fogo e começaram a tirar tudo lá de dentro. Eu e os garotos nos acabamos de rir do desespero delas, mas não conseguimos falar que o carro não iria explodir, apenas deixamos. A sorte é que paramos perto de um ar. Então explicamos para elas o que estava acontecendo, ajudamos a colocar as coisas dentro do carro novamente e fomos para o bar passar o tempo enquanto o motor esfriava.
Ficamos jogando baralho, sinuca e dardos, até que anoiteceu e tivemos que acampar onde a Kombi estava mesmo. A sorte era que tínhamos andado bastante e agora faltava pouco para chegar à praia.
Durante a noite, fiquei pensando em meu irmão, na garota que atendeu o seu telefone como se fosse dela também e como aquilo pareceu realmente ser sério, o lance deles. Estavam realmente namorado e aquilo me doía demais. Caralho, eu era muito trouxa mesmo. Ele estava com outra, tinha seguido em frente e eu ainda pensava nele, ainda o queria mais do que antes. O meu desejo por ele sempre ficava maior, sempre. E sabia que poderia passar cem anos, tudo só aumentaria. Como me odiava por amar tanto ele daquele jeito. Nossa. Abracei o travesseiro com força e afundei meu rosto nele, deixando as lágrimas saírem de forma silenciosa. Eu queria que tivesse sido diferente de mim, mas ele não era, era exatamente igual. Pegava as pessoas, as usava como queria e depois descartava quando não queria mais. Aquilo era tão previsível, que eu deveria saber desde o começo que era só isso, só curtição. Mas eu o levei a sério, o quis de verdade e ninguém me importou. Teria parado de ficar com os outros se tivesse me pedido, teria feito qualquer coisa mesmo. Estava tão cansado daquilo, daqueles pensamentos. Precisava dominar a minha mente, mas era tão difícil. E eu ainda desejava voltar no tempo para tentar procurar em que ponto eu havia falhado com ele, onde tinha o perdido para outra pessoa. Deus, aquilo era tão doloroso. Apertei o edredom contra meu peito com força, ele doía. Eu só precisava fazer minha mente ir para longe, fantasiar qualquer vida onde eu era feliz… com ele. Era a única coisa que acalmava meu coração e me deixava dormir quando ficava difícil demais de lidar. Só precisava mentir para mim mesmo.
O sol bateu em meu rosto quando alguém abriu a porta da Kombi. Era Charli, com seu cabelo todo bagunçado. Ela fez uma careta para mim e um gesto para sair do caminho dela. Me sentei, enrolado no edredom, e ela se sentou ao meu lado, fechando a porta, então se deitou encolhida onde eu estava antes e eu fiquei olhando para aquela garota sem entender nada.
— Seu colchonete é melhor que o meu. — comentou, abrindo os olhos e me encarando. — Você e a Candy realmente estão ficando? — perguntou, e só neguei com a cabeça. — Hm, mas deveriam. Você são fofos juntos. — E aquilo me fez rir, porque nunca ia imaginar ouvir aquilo de alguém quando eu estava relacionado na frase. — Estou falando sério. — Ela me chutou e eu segurei sua canela fina.
— Não começa com seus coices. — Mandei, e ela fez um bico. — Candice precisa de alguém de verdade, ela não precisa de mim. — falei logo, para ver se ela tirava aquela ideia de cabeça.
— Ah, agora você é de mentira, ? Me poupe. Você a faz sorrir de um jeito lindo. Deveriam ficar juntos, mesmo. Não estou zoando.
O lance começava errado quando aquele nem era meu nome e Candy sabia disso, por isso que às vezes me afastava, ela tinha ciência que um dia eu sumiria do mesmo jeito que apareci em sua vida. De forma misteriosa e sorrateira. Sem deixar rastros, sem parecer que um dia tinha existido. Não falaria para não se apegar, porque era tarde demais. Ela já tinha feito isso e de certa forma eu também. A considerava minha amiga, como aqueles outros ali. Eu não os merecia, real. Eles eram boas pessoas e nunca poderia levar nenhum deles para a minha vida verdadeira, eles infelizmente nunca seriam aceitos e isso doía. Aquela gente de merda que me cercava. Eu odiava ser a porra de um .
Sami apareceu na porta e olhou pela janela, então entrou ali também. Não demorou muito para todo mundo acordar e seguirmos até a praia. Em poucas horas, finalmente chegamos. O vento, o cheiro da maresia, a areia, as ondas, tudo naquele lugar me lembrou o . Droga. Eu era tão dele. Eu seria para sempre dele. Meu peito se apertou. Foda-se, precisava falar com meu irmão. Ele ainda era meu, ainda precisava ser. Aquilo tudo precisava ser mentira. Tirei do modo avião e recebi uma mensagem de voz, depois ouviria, precisava falar com ele primeiro.
Liguei e caiu direto na caixa postal. Tentei de novo, e de novo. Não deixei recado. Não queria falar com a bosta de uma gravação, caralho. Enviei mensagem, mas não chegou. Que inferno! Quando eu quero falar com ele não consigo! Então peguei a mensagem de voz para ver se era dele pelo menos, sua voz me acalmaria um pouco.
— Me perdoa, . Eu tentei por meses te encontrar nos braços de outra pessoa. Juro que tentei porque sabia que era o melhor para nós dois. Não queria te perder, não queria mesmo. — Meu coração doeu demais ouvir aquilo e senti meus olhos arderem. Sua voz estava embargada e cortada. O que eu fiz com ? — Eu via como você me olhava, eu vi e senti como você ficou naquela noite antes de viajarmos. Não aguentava mais te machucar. Não aguentava mais te ver ferido por causa do que sentia. — As lágrimas começaram a descer e eu queria desligar aquela bosta e tentar falar com ele de verdade, porque aquilo parecia a porra de uma despedida. , por favor, não tenha feito merda. Por favor. Meu corpo todo estava tremendo. — Eu nunca vou conseguir ser de ninguém como eu sou seu. Droga, , eu tentei de verdade ser de outra pessoa. Tentei ser apenas seu irmão, mas eu nunca vou conseguir ser só isso. — Ouvi algo caindo e tive que me sentar na areia, ou sentia que iria cair ali ouvindo ele falando tudo aquilo. Eu estava começando a ficar desesperado. O meu ar começava a faltar. Não tenha feito nada de errado! Por favor! — We are buried in broken dreams. We are knee-deep without a plea — e quando começou a cantar, tudo dentro de mim foi se desfazendo. Não faça isso, por favor. Fechei meus olhos, chorando ainda mais. Não se despeça de mim. — I don't want to know what it's like to live without you. Don't want to know the other side of a world without you — sua voz começou a falhar de tanto que ele chorava, fazendo seu tom se perder e eu me perdi junto. Não, por favor, . Não.
— Não. Não. Não. . Não. — falei, repetidas vezes, desesperado, olhando para o celular e vendo que a mensagem tinha acabado. — Por favor. Não. — Liguei para minha mãe na mesma hora. — Mãe... — soltei, e parei quando vi que ela estava chorando. — Me fala que meu irmão tá bem, por favor.
… — ela não conseguia falar. — Vem para casa, por favor. — Foi a única coisa que pediu e meu coração estava disparado demais.
— Mãe. — Sussurrei, chorando apavorado demais. — Me fala que ele está bem.
— Eu preciso de você, . Vem para casa. — pediu, chorando demais.
— Estou indo. Agora. — disse, já me levantando, sentindo minha cabeça muito tonta.
— Está bem. Te amo, filho. — Sussurrou.
— Também. — Foi tudo o que consegui falar antes de desligar.
Guardei o celular no bolso do short jeans e fui caminhando de volta para a Kombi, tentando secar meu rosto. A sorte era que estava com óculos de sol, dava para esconder melhor. O pessoal estava na água e isso facilitava as coisas. Peguei minha mala e coloquei tudo meu dentro dela o mais rápido que conseguia, sentindo minhas mãos tremendo demais. I don't want to know what it's like to live without you. Don't want to know the other side of a world without you. A voz de cantando aquela parte não saía da minha cabeça. As lágrimas não paravam de descer de forma desesperada, por mais que as segurasse. Eu só precisava ir embora.
, o que você… ? — Candice parou do meu lado. — O que foi? — sua voz estava extremamente preocupada.
— Preciso ir. — Foi tudo o que falei.
— Ir para onde? . — Ela segurou meu pulso, tentando me fazer parar, mas o puxei de volta rapidamente. — Você está chorando. Me fala o que está acontecendo! — pediu, desesperada.
— Desculpa, Candy. Não posso. — Apenas dei um beijo em sua testa. — Fica bem. Se cuida.
— Eu nunca mais vou te ver, não é? — neguei com a cabeça. — Não vá. — pediu.
— Tudo o que eu queria era ficar aqui com você, com eles. Eu juro. Queria ser o seu . — Aquilo doeu. — Mas eu não sou e nunca vou poder ser. Me desculpa. — Fui dando uns passos para trás, vendo as lágrimas descerem pelo seu rosto. — Não chore por mim.
— Não estou. Estou chorando por mim mesma. Por ter gostado de alguém que não existe. — E aquilo doeu em mim, roubando meu ar. — Mas foi bom. — Deu um sorriso pequeno em meio às lágrimas. — Você foi um incrível e eu nunca vou esquecer. — Veio correndo em minha direção e me abraçou com força.
— Obrigado por tudo. — Soltei minha mala e a abracei de volta com força. — Eu nunca vou te esquecer. Nunca. Você é a garota mais maravilhosa que já conheci.
— Ah, eu sei disso. Ninguém me supera. — brincou, rindo um pouco, e eu a acompanhei mesmo chorando. Ela nos separou e tirou meus óculos. — Eu só precisava ver seus olhos uma última vez. — Acariciou meu rosto, o secando. — Me promete que você vai ficar bem?
— Prometo tentar. — E estava falando a verdade, porque talvez fosse ser impossível.
— Então me promete que será feliz. — pediu, sorrindo triste. — Feliz de verdade.
— Talvez um dia. — disse, levantando um pouco meus ombros.
— Você será feliz um dia. — Candice sorriu e colocou meu óculos em meu rosto. — Quando for roubar um banco de verdade, me chama.
— Vou te chamar para fugir comigo. — brinquei com ela, rindo um pouco. — E seremos ricos juntos. — Sua risada me deixou melhor.
— Seria ótimo. — falou, com um sorrisinho. — Vai, eu invento qualquer coisa para eles.
— Obrigado de novo.
— Por nada, . — Piscou para mim.
Me virei e saí andando rapidamente, chamando um uber para me levar direto para o aeroporto. Logo o motorista apareceu e me levou. Eu fiquei ouvindo a mensagem de repetidas vezes sem parar, sentindo as lágrimas descerem. Aquela poderia ser a única vez que ele falava comigo e aquilo me matava. Não podia viver em um mundo onde aquele babaca não existia mais. Deus, por favor, se você existe e está me ouvindo, não tenha levado o . Por favor! É tudo que eu peço. Por favor. Não o leve de mim. Prometo que não vou deixá-lo mais. Eu prometo. Só não leva ele.
O motorista já me olhava preocupado pelo retrovisor de tanto que eu chorava de desespero, no banco de trás, ouvindo a mesma mensagem de voz repetidas vezes, cantando junto com meu irmão baixinho como se ele pudesse ouvir minha voz. Não saberia o que fazer se não pudesse mais escutar me chamando, me irritando como adorava fazer, ou ver seu sorriso lindo novamente, olhar dentro de seus olhos que sempre ficavam mais claros conforme o tempo mudava. Eu estava perdido. Muito perdido. Juro que me mataria se ele tivesse feito aquilo. Não iria pensar duas vezes. Não podia viver sem ele. Não podia.
O carro parou na frente do aeroporto e já saí correndo dele o mais rápido que consegui, indo direto para o primeiro guichê, cagando para qual companhia aérea que era. Comprei a próxima passagem que me levaria direto para casa e saía em meia hora. Fiz o check-in voando e não precisar despachar a mala, porque dava para levar na mão. Corri pelo aeroporto até a área de embarque, desesperado para chegar lá a tempo. Entrei no avião quando a porta estava prestes a fechar.
Meu peito doía demais e não era por causa da corrida. Aquela foi a viagem mais longa da minha vida. Sentia que teria um treco a qualquer segundo se aquela bosta não pousasse logo. E quando isso aconteceu, eu fui o primeiro a correr para fora, atropelando quem estivesse na minha frente, pegando a porra do primeiro táxi que apareceu. Eu odiava o trânsito que tinha na cidade alta e desejei andar na porra do helicóptero do meu pai naquele momento. Assim que o carro parou na frente de casa, joguei qualquer dinheiro para o cara e corri para dentro, jogando minha mala em qualquer canto.
— Mãe! — berrei, desesperado, e ela veio da sala. Seu rosto vermelho, sem maquiagem, todo inchado de tanto chorar. — Mãe. — A abracei com força e ela fez o mesmo, agarrando minha camisa com tudo. — Cadê ele? Me fala. — Ela só chorava, fazendo meu pânico ficar maior. — Cadê o ?
— Ele está em coma, sofreu um acidente de carro. — Sussurrou, e aquilo me acertou muito forte, me fazendo cair no chão e levar ela junto. — Ele está muito mal, . Muito. — O fato dele estar em coma não fazia os fatos ficarem menos ruins. — Ele não está reagindo. — Sua voz quase não saía.
— Eu preciso ver ele. — disse, chorando desesperadamente, sentindo meu corpo tremer todo.
Ela concordou, então nos levantamos com dificuldade. O nosso motorista nos levou até o hospital e naquele momento foi a única vez que gostei de ser a porra de um , porque eu pude entrar e ver meu irmão. Quando entrei na sala e vi o jeito que estava, eu só consegui me culpar ainda mais. Chorei, como eu chorei. Andei até ele e segurei sua mão, abaixando do lado da cama, me ajoelhando ali.
— Fica comigo. — Sussurrei, entrelaçando os nossos dedos. — Não importa como. Só fica. Eu juro nunca mais chegar perto se esse for o problema. — As palavras quase não saíam de meus lábios. — Eu só preciso de você. Só de você. — Fechei meus olhos com força. — When the night has come and the land is dark and the moon is the only light we'll see — comecei a cantar sua música favorita, lembrando de como ele dançava na sala com a nossa mãe enquanto sorria. Eu o queria de volta. — No, I won't be afraid. Oh, I won't be afraid just as long as you stand stand by me — continuei, cantando mais alto dessa vez, querendo que ele me ouvisse, querendo que acordasse e cantasse comigo. — So, darlin', darlin', stand by me. Oh, stand by me. Oh, stand, stand by me. Stand by me — respirei fundo, tentando fazer minha voz sair mais firme, apertando seus dedos nos meus. Fique comigo, . — If the sky that we look upon should tumble and fall or the mountain should crumble to the sea I won't cry, I won't cry. No, I won't shed a tear — as lágrimas voltaram a cair com força. — Just as long as you stand stand by me — e, de repente, a máquina que contava seus batimentos soltou um único bipe ininterrupto. Abri meus olhos, olhando para cima. — Não. Não. Não. Não. , para com isso. — Berrei, com ele. — Não! ! Não! Você não vai me deixar aqui sozinho! — os médicos começaram a entrar rapidamente, os enfermeiros tentavam me tirar dali, mas eu me debatia. — Você prometeu! Você não pode fazer isso! — gritei, desesperado, sentindo minhas pernas não terem mais força e eu fui para o chão, ouvindo o barulho do desfibrilador. Tampei meus ouvidos. — Para sempre. — Murmurei, para mim mesmo. — Você disse que iria ficar comigo para sempre.
Eu não conseguia me mexer, meu corpo tremia demais. Meu coração estava totalmente apertado. As lágrimas desciam grossas em meu rosto. O ar não entrava mais. Minha visão foi ficando escura e meus ouvidos se taparam, fazendo tudo ficar longe. Meu corpo pesou e tudo sumiu. De alguma forma, eu tinha apagado.
Abri meus olhos, vendo o teto branco acima de mim. Me mexi, sentindo algo em meu braço e estava tonto demais. Olhei para o lado, vendo um soro enfiado em minha veia. Interno. Peguei aquilo, pronto para arrancar fora, mas uma mão me impediu e vi que era minha mãe.
— Deixa. É para te manter calmo. — Sussurrou, e minha mente estava lenta demais para entender. — Dorme, querido. — Passou a mão em meu rosto e realmente dormi logo depois.

***


Setembro de 2018


As lágrimas desciam sem que eu conseguisse controlar. Tudo estava doendo tanto tempo que eu não sabia mais como não era ter aquilo dentro do meu peito. A dor que achei que melhoraria se eu voltasse para casa, não melhorou, ela só ficou maior mesmo que não achasse que fosse possível. Olhar para e falar para mim mesmo que ele era só o meu irmão arrancava meu coração do peito com força, era como se eu o esmagasse com meus dedos e visse o sangue escorrendo. Me tirava o ar. Me tirava o chão. Eu queria olhar para ele e sorrir como sempre fiz, queria ser o que sempre fui com ele, mas não podia mais, porque eu não era mais o do . Nunca mais seria. E ver como meu irmão estava também, o quão quebrado tinha ficado depois daquele acidente, arrancava o resto da vida que ainda me restava.
Era tudo minha culpa. Eu havia começado aquilo tudo. Eu que dei o primeiro beijo. Juntei nossas bocas com força em um momento de raiva apenas para irritá-lo. E no segundo que sua língua tocou na minha pela primeira vez, daquele jeito feroz, foi quando percebi que sempre tinha precisado daquele beijo e não sabia. Foi a primeira vez que meu coração saltou em meu peito, cheio de vida, levando algo para todo o meu corpo que eu não fazia ideia de que poderia sentir e nunca imaginei que havia algo tão intenso dentro de mim como aquela sensação. Outras vieram depois, porque sempre conseguiu me fazer sentir algo novo. Um frio em minha barriga se preencheu e uma euforia enorme tomou conta de mim naquela noite dentro daquele banheiro. Então eu o beijei com mais vontade, sentindo como se seus lábios se passavam sobre os meus de forma tão deliciosa que nunca achei que alguém poderia fazer, tão macios e quentes assim como todo seu corpo sempre era, e tinha o tamanho perfeito, ele sabia como deslizar eles por cima dos meus na hora certa, totalmente perfeito. Era como se tivéssemos acabado de nos conectar. Eu amei a forma como me beijou, como amei. E soube instantaneamente que seus lábios seriam meu vício, minha doce tortura e levaria à minha morte porque eu iria querer mais, mais e mais. E assim foi, e assim era.
Ainda conseguia sentir a sensação de janeiro, de seus lábios nos meus, a forma como meu corpo ficava com o dele colado ao meu, o jeito como era fácil sorrir quando estava ao seu lado. Nada mais disso existia, eu havia enterrado embaixo da minha dor. Era o melhor para nós dois. Ele era meu irmão. era o meu irmão mais novo. Era isso que deveria ser. Nunca poderia se a pessoa que me apaixonei e desejava ter ao meu lado, acordar todos os dias e poder beijar aqueles lábios, ver aquele sorriso, apreciar seus belos olhos .
Aquilo me deixou fraco e precisei me segurar no parapeito. O vento soprava gelado meu rosto, fazendo também meu cabelo se torcer no ar, deixando os fios embolados. As lágrimas riscavam de forma fria meu rosto, me dando calafrios, todo o meu corpo tremia. Era frio e o vazio que me rasgava inteiro. Seria mais fácil terminar com aquilo de uma só vez. Subi no parapeito e me sentei ali, deixando minhas pernas para fora, olhando lá para baixo. Eu morreria antes de chegar ao chão. Tinha ciência disso. A pressão me esmagaria. Iria doer? Quanto tempo será que levaria para chegar até o concreto? Um segundo? Dez? Meio minuto? Não fazia ideia. Mas sabia que seria rápido. Me arrependeria no meio da queda ou assim quando saltasse? Eu me arrependeria mesmo? Talvez me sentisse aliviado também. Acabaria com tudo pelo menos. Mas deixar para trás não era uma opção. Suspirei, fechando os olhos, e levantei a cabeça, deixando o vento acariciar meu rosto.
— Pensando em pular? — ouvi a voz de atrás de mim, mas não o respondi. — Porque se você pular, eu pulo também. — Então ele se sentou do meu lado.
— Pensei. — Respondi, porque eu estava cansado de esconder as coisas dele. — Mas não sem você. — Completei, e o encarei bem sério. — Te deixar de novo não é uma opção. — Segurei sua mão, que estava apoiada no mármore ao lado da minha, e deixei nossos dedos se intercalarem.
— Não gosto de te ver assim. — seus dedos se apertaram com os meus e meus olhos desceram para a cidade abaixo de nós.
— Vai passar. — Sussurrei, para o vento.
— Quando? — quis saber e isso me fez suspirar.
— Um dia. — Respondi, e forcei um sorriso fraco para ele. — Quando você vai ficar bem também?
— Um dia. — Jogou de volta, me fazendo chegar um pouco mais perto e apoiar minha cabeça em seu ombro. — Dorme comigo hoje? — seu pedido me fez fechar os olhos, porque dormir com ele era o que eu mais queria.
— Eu vou sair. — Usei aquilo como desculpa. Não iria, mas agora precisava.
— Pode ser quando voltar. — se remexeu, um pouco incomodado.
— Está bem. — Menti, por fim, mesmo não querendo fazer aquilo. — Vem comigo. — O chamei, porque não queria que ficasse na cobertura sozinho. — Como nos velhos tempos. — Pedi, erguendo minha cabeça e o encarando. — Por favor.
— Ok. — Sorriu de leve para mim, me acalmando um pouco enquanto o vento batia em nossos rostos.
Em seus olhos havia algo. Alguma coisa que eu não sabia o que era, mas que meu irmão escondia de mim. Aquele acidente havia mexido com ele. Era isso que eu queria pensar, mas sabia que tinha algo por trás daquilo. Como suas palavras tinham sido ditas na noite do acidente. Não acreditava que só a bebida tinha feito com que falasse tudo aquilo, que nos aceitasse tão fácil daquela forma. Não sei o que era, mas tinha mudado de algum jeito, eu senti isso antes mesmo que batesse o carro. Em seu tom de voz, na urgência de suas palavras, como se quisesse me falar algo mais. Só que ele nunca falou. Nunca voltamos ao assunto da mensagem e nem em nenhum outro que nos remetia envolvidos de outra forma que não fosse de irmãos. Aquele era o nosso limite.
Era isso o que sempre seríamos. Irmãos.

Love the way you hurt me
And it doesn't even cross your mind (oh)
Tell me that you love me
But I know you're out there running wild (oh)
Give me all the pain, give me everything
Don't hold back, don't hold back
Leaving me in pieces, but I swear it's worth it every time
And it doesn't even cross your mind


FIM



Nota da autora: Oi, gentis. Então... Não me matem! Pls! Assim, então. Para quem ficou na dúvida, o nunca contou para o que eles não eram irmãos de verdade e fica para vocês se um dia ele irá contar ou não, se eles voltaram a se pegar como antes ou nunca mais aconteceu nada. Espero que tenham gostado da fic. Me falem o que acharam e tudo mais. E quero dar um agradecimento especial à Sereia Laranja. Ela me ajudou com essa história, até porque o é um personagem dela e eu o amo demais, então o peguei um pouco emprestado. Essa Sereia linda fez a maioria das falas do para sabermos exatamente como iria acontecer, como ele iria reagir, para ficar bem fiel ao personagem. Portanto, muito obrigada, amiga! Você é ótima. Faz personagens lindos e maravilhosos! Sempre me apaixono por todos eles. Obrigada! Te amo, viu?! Ah, leiam as fics dela que estão no site também! São perfeitas! Vocês vão amar. Só procurar por Sereia Laranja.
Obrigada a todas vocês que leram também. Até a próxima. Beijinhos de trevas.



Outras Fanfics:
Girassóis de Van Gogh [Harry Styles - Shortfic]
PCH [Cantores - Harry Styles - Em Andamento]

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