Daddy's Girl

Última atualização: 05/03/2018

1. Dream a little dream of me

- Você não precisa ficar me ligando todo dia pra saber com eu estou, man. – respondeu ao atender no celular.
- Eu sei, vadia. – Ela pode sentir revirando os olhos do outro lado da linha. – Tô te ligando porque acho que encontrei algo.
- Acha?
- Eu encontrei algo. – sorriu levemente ao ouvir o tom de voz de , o barulho dos papeis voando e a música que tocava diminuir. – Fui num Roadhouse e conheci uma garota que tá na trilha de um ninho de Kitsunes.
- E daí?
- E daí que pode ser o ninho do seu pai, pequeno animal.
- Ah. Me manda o número dela por SMS.
- Ok, te cuida.
- Tá, tchau.
Desligou o celular e voltou a prestar atenção no filme que passava no motel. Era algum filme de terror e ela adorava ver as verdades e mentiras escondidas nesse tipo de filme, mas era tão ruim que não conseguiu prestar atenção e para completar, era sobre vampiros. A única coisa que vinha a sua cabeça era quando foi sequestrada por Patrick e... Sam a salvou.
Fazia um mês que não tinha notícias de Sam e ela não era hipócrita o bastante para dizer que isso não a afetava. A última vez que se viram foi no enterro de Dean e naquele dia as coisas estavam tão ruins e confusas que ela se limitou a dizer um simples ‘Tchau’ antes de sair e voltar para Lawrence com .
E depois tudo começou a acontecer rápido. A vidente da cidade, chamada Missouri, visitou e e soltou a dica que seu pai ainda estava vivo e isso iniciou uma caçada atrás dele. Depois de uma boa discussão, acabou deixando e caiu de volta na estrada.
Mas dessa vez tinha algo estranho, parecia que por ser próxima dos Winchesters, todo o tipo de monstro gostava de ir atrás dela. Foram dois vampiros, um ghoul, e acabava de exorcizar um demônio antes de voltar para o motel e atender .
Bufou, definitivamente não dava para ver esse filme.
Desistiu de vez e resolveu dormir, afinal, ia voltar para a estrada no outro dia cedo graças as informações que tirou do tal demônio. Não estava cansada o bastante, então se permitiu a pensar em Sam... Até que caiu no sono e acabou sonhando com ele. E para uma Kitsune – ou meio Kitsune –, isso significava sonhar com ele.

O sonho começou perfeito aos olhos de . Estava num parque em Lawrence, com um pacote de pipoca e usava a mesma roupa que estava antes, e caminhava sorridente por lá.
Não foi difícil encontrar ele, estava usando suas famosas camisas xadrez, uma calça jeans e conversava sorridente com uma mulher loira, que estava acariciando o cabelo castanho de Sam. A cena estava tão pessoal que se sentiu intimidada, mas agora que estava lá só ia poder sair quando acordasse.
Já que não atrapalharia o momento de Sam com a tal loira – que ela supôs que seria Jess – decidiu se sentar não muito longe, mas também não tão perto dos dois. Estava pensando na vida até que seu celular tocou, e Sam reconheceu a música no mesmo instante e virou-se para ela.
Parecia que todo o oxigênio tinha sumido. teve que se obrigar a respirar e sentiu um calafrio já conhecido ao ver os olhos verdes a fitando tão intensamente. Sam deixou Jess de lado e se levantou, indo até e ela não pode controlar o sorriso que apareceu nos seus lábios.
- Veio me ver? – Ele perguntou, se sentando ao lado dela.
- Te garanto que não foi por querer. – Ela sorriu desconfortável.
- Então tava pensando em mim antes de dormir?
- Nossa, Sam. Você pode ser tão convencido quanto o seu irmão, sabia? – Disse sem pensar e só reparou no que tinha dito quando viu o semblante de Sam, que antes sorria, se fechar numa careta dolorosa. – Desculpa.
- Relaxa.- Sam respirou fundo e franziu a testa. – Sinto falta dele.
- Imagino. – Ela alisou o rosto dele, e Sam fechou os olhos instantaneamente. – Sinto sua falta.
- Eu também. – Ele sussurrou, enquanto se perguntava o que tinha dado errado. Eles eram tão bons juntos, porque teve que se meter com Ruby? Só foi pensar nela – e no que fazia - que num reflexo se afastou de . Sorriu um pedido de desculpas e logo voltou a falar. – E seu pai?
- Nada. – Ela colocou as mãos sob suas coxas, desconfortável. – me ajuda com informações, mas são só isso... Informações.
- E como ela tá?
- Uma merda. – sorriu fraco. – Mas ela é orgulhosa demais pra mostrar.
Continuaram se olhando por algum tempo e ela se perguntou se seu coração também estava uma merda. A resposta veio num flash, e Sam sorriu como se lesse a mente dela. Suspirou. – Bom, Sam. Hora de acordar. – Deu um beijo na bochecha do Winchester e, com a arma que estava no cós de sua calça, atirou na testa do rapaz e em segundos acordou na cama do motel que ela estava.
Olhou o relógio e resmungou, era hora de cair na estrada.


Anna Williams afiava seu punhal de prata enquanto cantarolava baixinho a música que saia do seu som no carro. Estava entediada, e por estar sem caso algum decidiu seguir uma caçadora – a mesma caçadora que havia lhe perguntado coisas estranhas sobre um ninho de Kitsunes. Ninguém era tão específico assim sem ter algum motivo estranho e Anna não era o tipo de mulher que confiava numa desculpa qualquer, que foi exatamente o que a tal caçadora deu.
E por isso fitava a tal mulher dos cabelos cacheados – que disse se chamar – lavar a louça.
Estava fazendo isso a meia hora quando finalmente terminou de afiar o punhal. Desviou o olhar por alguns segundos e pegou o facão na mochila que estava no banco do copiloto, e quando voltou a olhar para a janela arfou de susto, a mulher tinha sumido.
- Quê vei? – Resmungou e pegou uma pistola, saiu do carro e foi percorrer o perímetro da casa. Passou perto de uma janela menor - que provavelmente era o banheiro e riu fraco ao reconhecer o barulho do chuveiro. Voltou para o carro e guardou a pistola. – Que mulher tediosa. – Resmungou.
- Você nem me conheceu ainda. – respondeu, enquanto encostava o cano da sua beretta no pescoço de Anna. – Olá, por que está me vigiando?
- Porra! – Anna se assustou. – Você é boa, . – Anna admitiu. – Até deixou o chuveiro ligado.
- Obrigada, mas você não me respondeu. – aplicou pressão no pescoço dela.
- Achei as perguntas que você me fez meio estranhas.
- E por isso decidiu me seguir até Lawrence? Por causa de umas perguntas?
- É.
- Mentirosa. - engatilhou a beretta.
- Ok, ok! Calminha! – Anna se assustou. – É porque ouvi de um demônio sobre você. Agora pode tirar sua arma do meu pescoço?
- Não. Demônio falando de mim?
- É, e , as namoradinhas dos Winchesters.
sentiu seu coração parar por alguns segundos, então nem pensou em mais nada. – SAI DAQUI, OUVIU? – Ela apontou a arma para a janela aberta e atirou, acertando uma árvore. Anna gritou de susto.
- CACETE!
- ME OUVIU? SE QUER VIVER, SÓ VAZA! – E saiu do carro, voltando correndo para casa.
- Que temperamental. – Anna cochichou. Aumentou o som e saiu da casa de .
Estava na rodovia quando ouviu seu celular tocar.
- Alô?
- Anna Williams?
- Yep.
- Aqui é a , me contaram que você tá atrás de um ninho de kitsunes, é verdade?
- Yep.
- Onde te encontro?
- Quem disse algo sobre trabalhar juntas?
- Ninguém. Só quero informações.
- Ok, te ligo quando chegar numa cidade. – E desligou o celular. e no mesmo dia? Nossa.

***


Passaram dois dias desde o telefonema de Anna e a esperava, ansiosa, num bar qualquer em uma das várias cidades pequenas do Kansas. Acabara de ler a décima mensagem de e estava na segunda cerveja, quando viu uma mulher dos cabelos longos e castanhos entrar na espelunca que estava. O olhar dos marmanjos foi instantaneamente em cima dela e riu, fraco.
- Aqui. – Ela acenou, e Anna deu um sorrisinho besta.
- Então você é a tal da ? – Anna se sentou na sua frente.
- Tal da ?
- É. – Ela pediu uma cerveja. – A amiguinha da , que namorou o Winchester mais novo e tudo mais. – Murmurou um ‘obrigada’ e tomou um gole. – E toda aquela treta com a Lilith e tudo mais.
- Como você sabe disso? – perguntou, tentando se livrar da bola que surgia na sua garganta.
- Um demônio aí me contou. – Deu de ombros. – Enfim, o que quer saber?
- O que mais você sabe? – Ignorou a pergunta e, inconscientemente, se inclinou chegando mais perto de Anna.
- Que o Dean tá no inferno, fritando, ou seja lá o que rola naquele lugar. Enfim, ! – Bateu a garrafa na mesa e sorriu forçado. – Quer saber dos Kitsunes, certo?
- Yep. – Suspirou. – Onde tem um ninho?
- Em muitos lugares. – Ela riu sozinha. – Mas cê sabe, ou pelo menos se você for uma caçadora decente vai saber, que a maioria dos Kitsunes são mulheres, certo?
- Sim. – Sentiu um alívio surgir, então ela não sabia da sua... Condição.
- Mas tem um ninho perto de uma cidade no Michigan... Ypsilon? Ypsilanti? Algo assim... Lá tem um ninho com um homem como chefe.
O estômago de se embrulhou. – Sério?
- Yep. Se você for lá, é só perguntar pelo estábulo abandonado.
- Sempre no estábulo abandonado. – riu. – Só isso?
- “Só isso?” Te dei altas informações, ingrata!
- Sim! Mas queria saber se tem algo mais...
- Não. – Anna terminou sua cerveja. – Er, posso perguntar alguma coisa?
- Pode, ué.
- Por que o interesse?
- Eles... Foi um Kitsune macho quem matou meus pais. – Mentiu, e agradeceu mentalmente pela mentira ter vindo tão normalmente.
- Ah. – Anna fez uma careta. – Quer ajuda?
- Não, é algo que eu tenho que fazer sozinha. – Teve essa mesma conversa com e fez uma careta.
- O quê?
- Nada, nada. – Tomou um gole. – Mas e aí, o que mais me conta de bom?
- Nada. Não tem nada de bom. E você?
- O quê?
- Quer me contar sobre a treta dos Winchesters e o porquê da sua amiga ter surtado e atirado na janela do meu carro?
- Não. – Ela disse, séria. – Bom, Anna, muito obrigada. Você não tem ideia de como me ajudou.
- Por nada. – Anna sorriu e se levantou. – Qualquer coisa, tu tem meu número.
- Digo o mesmo. – E viu a mulher sair do bar. ‘Que vadia’, ela pensou. ‘Nem pagou a cerveja.’ Só foi a porta do bar se fechar que seu celular começou a tocar. Bufou, irritada.
- O que você quer, ?
- E quem disse que é a ? – Sam brincou, e os costumeiros arrepios subiram pelas costas de . – Por que achou que era ela?
- Porque ela já me mandou umas vinte mensagens e eu estou ficando irritada. – Bufou.
- Ah. – Silêncio.
- Então, Winchester. Ligou-me por quê?
- Eu... Er, estava com saudades.
Não adiantava nem tentar segurar o sorriso que surgiu nos lábios dela, ele era tão grande que ela se sentia como o Coringa. Mas aí, ouviu uma voz ao longe e o sorriso morreu na mesma hora que sua testa se franziu, confusa. Uma voz feminina.
- Bom saber. – Ela disse, e não se preocupou em tirar a amargura da voz. – Tenho umas coisas pra fazer, Sam. Te vejo por aí.
Desligou sem esperar resposta. Pagou a cerveja e entrou direto no carro. Tinha mais de mil quilômetros para andar e um pai para matar.



2. Somebody that I used to know

Sam andava de um lado para o outro, agoniado. Não sabia o que Ruby fazia dentro do galpão com o tal demônio, mas sabia que a qualquer momento ela apareceria para chamá-lo e ele fazer aquilo. E para conseguir fazer o que queria, precisava de mais sangue de demônio. Insatisfeito e finalmente reparando que andar não adiantaria nada, se encostou no Impala e se sentou no para-choque, respirando fundo. O “sonho” que teve com ainda não saíra da sua cabeça, e ao conversar com ela – na verdade, só vê-la já tinha feito o trabalho – se sentiu culpado por estar com Ruby. Era como trair o irmão e...
Estava para finalizar esse pensamento quando Ruby apareceu na porta do galpão, com um sorriso no rosto.
- Ele já está todo pronto pra você. – Ela disse, e Sam se levantou rápido.
Era a pior parte do treinamento. Sua cabeça doía como se estivessem enchendo-a com ferro líquido. Como se estivessem mergulhando seu cérebro em ácido sulfúrico. Queimava, mas era um mal necessário. Ele ia vingar o irmão. Ele acabaria com Lilith nem que fosse a última coisa que fizesse.
O demônio sorria, e Sam nem se preocupou em perguntar o seu nome.
- Ruby? Se aliou ao último Winchester sobrevivente? – Disse, com o sorriso prepotente no rosto. – Quando o chefe descobrir, você estará frita. – O sorriso aumentou mais. – Literalmente.
Automaticamente, Sam deu um soco no rosto do demônio.
- Protegendo a namorada, Sammy?
- Sam, o ignore. Tá na hora de fazer. – Ruby disse, e Sam assentiu.
Tentou se concentrar em algo na sua cabeça, mas não sabia o que era. E aí sim, sua cabeça começou a doer de verdade. Tentou se focar no poder, mas a imagem de sorrindo na sua frente não saía da sua cabeça. Sentia falta dela.
- Sam? – Ela disse, e ele se obrigou a voltar a pensar nos poderes. E só nisso, sem lembrar de todos os outros que também já tiveram aquele sangue correndo nas suas veias. Esticou o braço e canalizou o poder no demônio, que ria da situação... Até se engasgar. Continuou tossindo até que a nuvem espeça negra começou a sair de sua boca. Sam sorriu de lado, mas ainda não era hora de parar. Continuou fazendo força e sentia como se fosse estourar alguma veia da sua cabeça, até que a nuvem toda saiu e foi direto para o inferno.
O corpo sem vida de quem estava possuído deu um último silvo de ar e morreu, e Sam se sentiu culpado mais uma vez.
- Não consigo fazer isso.
- Por quê não? – Ruby perguntou.
- Eu sempre mato o humano! Eu preciso treinar mais, Ruby.
A demonia sorriu. – Mais tarde. – E o puxou para um beijo.
Claro que Sam correspondeu o beijo. Estavam nisso há semanas, e a verdade é que Sam gostava. Seu lado negro – o mesmo lado que ansiava pelo sangue de demônio – gostava de beijar Ruby, era como se a parte de Azazel tomasse controle por um segundo, e nada parecia tirar o desejo que ele sentia.
Continuaram se beijando, até que finalmente Ruby se afastou para cortar o próprio braço. Foi instantâneo, Sam o segurou com força e começou a tomar o líquido vermelho. A cada gole, se sentia mais forte, como se pudesse enfrentar o próprio Lúcifer. Mas aí, apareceu em sua cabeça. Parou de tomar instantaneamente.
- O quê?
- Nada. – Ele respondeu, logo depois de limpar a boca com as costas da mão. Deixou Ruby – que estava completamente confusa – e voltou para o Impala, e sem pensar duas vezes ligou para ela.
- O que você quer, ? – Ela atendeu, irritada.
- E quem disse que é a ? Por que achou que era ela?
- Porque ela já me mandou umas vinte mensagens e eu estou ficando irritada. bufou e Sam segurou uma risada.
- Ah. – Sam se limitou a dizer. Tinha tantas coisas se passando por sua cabeça e agora nenhuma palavra parecia explicar exatamente o que ele queria dizer pra ela. Ele queria contar o que andou fazendo, mas não adiantaria nada. Isso só a afastaria mais.
- Então, Winchester. Me ligou por quê? – Ela o tirou de seus pensamentos. Sorriu, e decidiu que podia dizer pelo menos uma das coisas que ele realmente queria.
- Eu... Er, estava com saudades. – Disse sentindo seu rosto corar instantaneamente. E sabia que os lábios de se abriam num sorriso. A garota estava prestes a falar algo quando Ruby o chamou. ‘Droga’
- Bom saber. – Pareciam agulhas pinicando seu braço, ouvir ela dizer tal frase com tanta amargura. – Tenho umas coisas pra fazer, Sam. Te vejo por aí.
Não deu tempo nem de se despedir, sua garota desligou antes disso. Bufou, com raiva, e se segurou para não jogar o celular pela janela.
- Quem era? – Ruby perguntou.
- Ninguém. – Aproveitou a raiva que sentia e puxou Ruby para outro beijo. Descontou toda a sua irritação no demônio e conseguiu privar sua mente de , pelo menos por outros minutos.

***

- Que dor de cabeça. – resmungou e pegou o pote de remédio que ficava no porta luvas de sua Escallade. A conversa com Sam, na noite passada, não saía de sua cabeça e não adiantava, o ódio de Ruby só aumentava.
Tomou dois comprimidos de uma vez e ligou o som, não dando a mínima para a música que tocava ou como sua cabeça pulsava no ritmo da batida. Pelo menos isso espantava os demônios de sua cabeça. Mas não o suficiente.
Ligou para e só foi tocar uma vez que ela atendeu.
- , exuzinho do meu coração.
- Quê?
­- QUE TAL ABAIXAR A MÚSICA?
- Ah. – Abaixou o som e soltou uma risada. – Pronto.
- Diga, exuzinho do meu coração. O que foi?
- O Sam está com a Ruby, . – Ela ameaçava chorar. – E eu estou indo pra Michigan com um medo que eu nunca senti antes.
- Medo?
- É. – Ela suspirou. – Medo de acabar morrendo.
- Vê se para com isso, . Você é a melhor caçadora que eu conheço, além de mim, claro. – Soltou uma risada. – Enfim, , você vai matar o desgraçado do seu pai e depois vai voltar aqui pro Kansas pra gente sair por essas estradas, ok?
- Queria saber o que você tem que consegue me acalmar. – riu. – Tô com saudade.
- Eu sei, e também tô. Assim que chegar lá em Ypsilanti me liga.
- Te amo.
- Se cuida.
Desligou o celular e bocejou. Pelo menos falar com fez sua dor de cabeça passar, mas, mesmo assim, ainda estava com sono e faltavam alguns quilômetros para chegar. Dirigiu até encontrar um motel e agradeceu à Castiel (ou qualquer entidade assim) quando viu a placa ‘Bates Motel’ no acostamento da rodovia.
Sentiu um calafrio. Que tipo de pessoa doente colocava o mesmo nome do motel de Psicose? Ainda ficou levemente agoniada, mas se ela era capaz de matar vampiros e demônios, conseguiria acabar com um psicopata. Parou o carro e pegou suas malas – Uma de roupa, uma de armas e foi até a recepção.
Não deu nem cinco minutos e ela já estava jogada na cama com os fones de ouvido tocando Guns n’ Roses.

Faltava minutos para amanhecer e Sam ainda não havia conseguido pregar o olho. Culpava a alta dosagem de demon blood no seu sangue, mas era óbvio quem realmente era culpada dessa e muitas outras noites de insônia. E como se não fosse suficiente, o contato de Ruby com o seu corpo o irritava. Nada parecia estar certo, e por mais que ele tentasse arrumar as coisas tudo parecia se desandar cada vez mais.
Finalmente o sol amanheceu e ele não precisava mais se conter naquela cama. Sem se importar se acordaria ela ou não, levantou-se de uma vez e já foi vestindo sua roupa.
- Sam?
- Se veste, temos que cair na estrada.
- E por acaso você sabe pra onde vamos?
Deu de ombros. – Só preciso sair daqui.
Ruby revirou os olhos, mas saiu da cama. – Sei de um demônio que ajudava Lilith com os acordos.
- Onde?
- Numa cidade em Michigan.
- Então vamos. – Pegou a chave do Impala e a apertou. As coisas simplesmente não pareciam melhorar.

***

Após a terceira noite mal dormida e mais alguns muitos quilômetros rodados numa velocidade absurda, finalmente chegou em Ypsilanti. Estava acabada, e acordada na base de energéticos ruins e cafés ainda piores e por isso foi direto para o motel fora da cidade e caiu no sono quase instantaneamente.
O sonho começou estranho. Não tinha ideia de onde estava, parecia um estábulo, mas era mais arrumado e menos sujo. E ao mesmo tempo não era. A estrutura lembrava um, mas por dentro era quase uma casa de luxo. Alguma coisa tinha acontecido com sua cabeça, ela não conseguia ligar o que via com o que sabia. Até que sentiu um calafrio que a obrigou olhar pra trás.
Era uma mulher loira, bonita, usando um terninho preto. Ela combinava com o lugar que estava, e algo nela era estranhamente familiar. O olhar superior... Ela já tinha visto ele em algum lugar.
No espelho.
- Você sabia que nos sonhos a gente pode fazer o que quiser? – Ela deu um passo e de repente um banco apareceu. – Tipo ler pensamentos? Ou fazer surgir um banco confortável. – Ela se sentou. – Enfim, . É, eu sou sua irmã. Pula esse medinho aí e essa surpresa e vamos para o que interessa.
- Irmã?
- Ué, achou que só a era sua irmã? Ou melhor, a única meia-irmã kitsune? – Soltou uma risada. – Você não tem nem ideia, garota, de como nosso pai é um merda.
- O que você tá falando, caralho?
- Ai, você é burra mesmo. – Ela fez aparecer uma taça de Martini na mão. – Eu tô te dizendo que você tem mais irmãs por aí. E que elas vão defender o nosso daddy.
- Ao contrário de você?
- Eu? Eu não sei de nada. – Deu de ombros. – Eu não estou nem aqui em Ypsilanti. Estou em Las Vegas, darling, mas achei que deveria te avisar.
- Ah, então você é uma kitsune boazinha?
- Não. – Ela revirou os olhos. – Só odeio ele tanto quanto você.
levantou as sobrancelhas.
- Vai deixar todo o trabalho sujo pra mim, então?
- Claro. – Ela sorriu, formando com os lábios um sorriso levemente diabólico. – Boa sorte. Espero que não morra.

Não percebeu quando acordou, mas viu que repassava a visita da sua irmã na sua cabeça. De algum jeito, isso só a motivou mais para ir atrás daquele desgraçado. Ela não tinha ideia do que dizer, ou de como agir ou como devia se sentir. Na verdade, fazia tempo que ela sentia algo bom. Depois de Dean... Era só dor. Dor e ódio e aquela sede de vingança que nunca acabava. De repente desejou que estivesse aqui, mas saberia que não mudaria nada. Se bobear, a amiga a levaria para um poço ainda mais fundo. Seu coração pesou, não importava o tanto que tentava fingir que estava tudo bem, sempre se sentia com medo da explosão que a qualquer momento aconteceria.
- O jeito é tomar vergonha na cara. – Ela disse, mais para do que para si mesma e se levantou. Meia hora depois já estava pronta na lanchonete mais próxima do motel.
Ouvindo Smiths e pesquisando sobre qualquer morte estranha para saber onde procurar. Apesar de já estar com o endereço do tal estábulo, queria ter certeza. Qualquer coisa errada podia chamar atenção dele, seja lá onde ele estiver. Achou uma série de notícias de cadáveres sem o cérebro e sorriu de leve, tomou um gole do seu café e já foi fechando o notebook e indo atrás de suas armas. Dessa vez ela terminaria isso de vez.




3. Time to dance

A cabeça de Sam rodava, sentindo falta da sua droga. Ele odiava ter abstinência disso, mas o que podia fazer, certo? Precisava acabar com Lilith. Precisava saciar a sede de vingança que sentia desde que seu irmão partiu. Ele só... Precisava.
Evitava pensar no que Dean diria ao ver ele com Ruby, mas ele precisava dela. Precisava daquela dose deliciosa de... você sabe. E precisava do conforto que ela dava, já que tinha o deixado de vez. Era um substituto fraco, mas era o que tinha.
Estava na estrada fazia um pouco mais que um dia, e por isso sabia que a qualquer momento poderia dormir e a abstinência não ajudava. Ruby pareceu perceber, e até chegou a oferecer seu braço de bom grado ao caçador, mas Sam recusou. Queria – tentar – limitar a quantidade, tomando só quando necessário ou quando simplesmente não aguentasse mais.
- Sam, não há nada de errado nisso. Você sabe.
Ele se limitou a ficar calado.
- Estamos perto?
- De Ypsilanti? Sim. Não sei quanto falta, mas devemos chegar em algumas horas.
- Ótimo. – Pisou no acelerador e foi como se o sono estivesse sumido.

Algo a deixava sem ar. Não sabia se era por causa de estar, finalmente, perto do seu pai ou a tensão que pairava naquele celeiro abandonado. Não só a tensão, ela se sentia observada... Poderia até estar, na verdade. Não duvidaria que sua irmã estivesse ali, observando-a, analisando cada movimento. Era difícil tomar a coragem que faltava para continuar andando até a porta. Com seu punhal na mão, e outros dois escondidos um no cós da calça e outro no tornozelo, continuou andando com a sensação que a qualquer momento tudo poderia mudar. Sem querer, desejou que e os Winchester estivessem ali com ela. Não adiantaria muito, mas a solidão só aumentava a cada passo que ela dava.
Ligou a lanterna e tentando fazer menos barulho possível, abriu a porta do celeiro. Escondeu a faca na manga da blusa que usava e caminhou, sem ter certeza do que encontraria. Até que sentiu o cheiro podre de cadáveres. Instantaneamente viu as carcaças do que algum dia já foram pessoas. Qualquer um se enjoaria com o cheiro e vomitaria, mas não . Não uma caçadora.
Respirando pela boca, continuou andando até que viu algo em cima de um dos oito corpos. Com toda a leveza de uma raposa¹, chegou perto o bastante para abordar seja lá o que fosse que se alimentava. Estava prestes a atacar quando a menina levantou o rosto, mostrando os olhos amarelos e a boca vermelha de sangue. Sorriu, como se debochasse de e o choque foi tanto que a caçadora quase esqueceu como andar.
Estava prestes a atacá-la com a faca quando tudo ficou escuro.

Ruby deixava as coisas no quarto enquanto Sam lia o jornal ainda sentado no Impala. Uma dentre as muitas notícias chamou sua atenção. Nove pessoas estavam desaparecidas, e a primeira havia sumido há quatro semanas. Era fora do comum algo assim acontecer numa cidade pequena como Ypsilanti, então decidiu procurar na internet mais casos parecidos. E achou. Aconteceu o mesmo em uma cidade a 204 milhas, em Indiana. Lá, foram 13 pessoas que sumiram, todas elas pessoas que quase ninguém se importaria se desaparecesse de uma hora pra outra. Por isso, a polícia julgou o caso como se essas 13 pessoas tivessem fugido da cidade. E, como os corpos não foram encontrados, nada contrariava essa teoria. Continuou a procurar e achou mais um caso, dessa vez numa cidade no interior de Minessota, o jornal era datado de quatro meses antes.
Era difícil descobrir o que poderia ser sem analisar os corpos, e ainda mais difícil saber se tinha realmente algo sobrenatural acontecendo. Mas, decidiu investigar mesmo assim, já que Ruby ainda precisava localizar o tal demônio que sabia sobre Lilith. Logo após planejar tudo para o dia seguinte, entrou no quarto e dormiu.
Como todas as noites, sonhou com . E até achou que era ela, quando acordou com um peso em cima do seu corpo. Mas não, era Ruby. Isso foi o suficiente para ficar de mau humor.
- Bom dia. – Ruby disse.
- Não sabia que demônios dormiam.
- E não dormem. Deixei o corpo dela aqui e fui passear.
- Ah. – Ele se levantou, calado. – Vou investigar uns desaparecimentos enquanto você acha o demônio.
- Que desaparecimentos? Algo relacionado com a Lilith?
- Não sei. Suponho que não. – Ele disse enquanto fechava a porta.
Ruby revirou os olhos. Não era preciso ser vidente para saber que ele sonhou com ou qualquer coisa relacionada a ela. Na verdade, Ruby nem ligava. Ela só tinha que aguentar isso por mais algum tempo. Não muito, e ela seria recompensada. Tinha de ser recompensada. Depois de todo o esforço, toda a traição aparente, ela merecia se sentar do lado do trono de Lucifer. E nada menos que isso. E por isso foi resolver seu outro problema.

Apesar de já estar consciente a algum tempo, continuava fingindo que estava desmaiada. A dor de cabeça era imensa, e ela podia sentir o frio na nuca do sangue que escorreu. Ela tinha que ir num médico.
Mas antes, tentava entender o que acontecia. Sabia que estava amarrada numa cadeira, e que além dela parecia ter outras sete pessoas naquele lugar. Ainda cheirava como o celeiro, mas agora parecia que estava mais abafado que antes.
- O que pretende fazer com ela? – Alguém perguntou.
- Nada de bom. – Disse uma voz grossa. Só foi ele abrir a boca que a bile de subiu. Finalmente seu pai estava a poucos metros de distância. A sede de vingança quase a fez sair de lá e enfiar as unhas dele. Arrancar aquele coração podre com as próprias mãos. – Isso mesmo, . Eu sei que você tá acordada. Eu sei que você tá me ouvindo. Abre os olhos, filha.
nunca sentiu tanto ódio quanto sentia agora. Parecia que ela ia entrar em combustão espontânea. Suas veias bombeavam fogo. Seu coração já nem batia mais, martelava.
- Demorou, demônio.
- Eu estava ocupada. – Outra voz estranha soou no quarto, e , no meio do surto de ódio, sentiu um calafrio como se soubesse quem fosse. – Tenho meus problemas pra lidar também, Andrew. O cara estava me irritando. Ô, zinha, abre o olho.
Fez o que a mulher dizia e abriu os olhos, encarando direto seu pai. Ela nem acreditava que era ele, e ele não era como ela imaginava quando era pequena. Ele parecia alguém normal, apesar de estar cercado de raposas e agora esse demônio. Tinha o cabelo no mesmo tom de , e na verdade essa era a única semelhança entre os dois. O olhar tinha algo animal, e seu nariz era alongado, e a ironia era que lembrava um focinho de raposa. Ele era muito contrastante com o lugar, principalmente por usar um blazer verde-musgo por cima da calça num lugar velho e sujo como esse.
- Oi, filha.
- Não me chame assim, seu merda. – não se atrevia a levantar a voz. Por mais afetada que estivesse, ela não mostraria de jeito nenhum.
- Você tem a mesma atitude que sua mãe, . – Ele deu um passo se aproximando dela. – O mesmo rosto também. Mas, isso não vem ao caso. Eu fiquei sabendo o que aconteceu naquela cabana em Albuquerque. Você matou sua irmã, minha filha. – Ele sussurrava, deixando o ambiente ainda mais tenso. – E agora, eu vou matar você.
- Boa sorte tentando, papai.
Nem ela e nem ele sabiam de onde tanta força saiu assim, mas não conseguiu só arrebentar a corda que a prendia na cadeira, mas também quebrar a cadeira. Num reflexo, pegou um pedaço da madeira e tentou enfiar no seu pai, mas Andrew era rápido. Na verdade, ele era mais ágil do que qualquer outro ser sobrenatural que tinha visto. Eles ficaram na luta corpo a corpo, e ocasionalmente acertava algum soco, e dava para ver como Andrew pegava leve. Isso só a deixou mais assustada.
Estava prestes a acertar outro chute quando alguém a segurou por trás.
- ME SOLTA!
- Não. – A menina, a mesma que achou, sorria com o mesmo sorriso debochado. – Eu gostava da . Ela não merecia morrer.
- Não fui eu quem a matou! – gritou tentando se desvencilhar da garota. – E ela nem era ela mesma mais! A me salvou matando aquela kistune! – Ela nunca diria isso se não fosse numa situação tão absurda como estava agora.
- Não foi você? – Seu pai aproximou. – Então precisamos da aqui.
- DEIXA ELA EM PAZ.
- Olha só, acho que atingi num ponto fraco. – Andrew sorriu. Mostrou sua garra e arranhou o braço de , deixando um corte profundo. Sua risada foi abafada pelo grito agonizante e, sem que ela visse, o demônio tirou uma foto. – Ei, scumbag, leva isso pra . Duvido que ela não venha correndo pra cá. Mas mande ela vir rápido. – O sorriso de Andrew se abriu ainda mais. – Se não, não vai ter mais zinha pra salvar.

¹Kistunes são demônios raposas na mitologia japonesa.




4. Crossroad Blues

A vida de era tudo menos agitada, e ela estava mais do que satisfeita com isso. Trabalhava num bar na cidade como garçonete, o que a dava acesso livre para tomar quantas doses ela queria. Ocasionalmente, quando nenhum caçador estava na cidade, ela trabalhava em algo, mas nada tão absurdo. Ela queria se afastar ao máximo disso, ou pelo menos tentar. Mas era só chegar em casa que sua garganta fechava. Tomava um banho e se enrolava na jaqueta de Dean que roubara quando ainda estavam juntos. Mesmo três meses depois, ainda existia um resquício do cheiro dele, e isso era a única coisa que ela podia fazer para se sentir mais perto.
Era mais uma noite dessas, regada a AC/DC, Led Zepellin e whisky quando as luzes começaram a piscar.
- De novo não... – Ela resmungou, fechando a jaqueta enquanto ia atrás de sua água benta. O cheiro de enxofre subiu e uma mulher apareceu.
- Só vim te entregar isso, . – A loira sorriu, deixou um envelope na mesa e sumiu.
Com as mãos trêmulas pelo estresse, foi até a mesa e pegou o envelope. Demorou mais que o necessário para abrir, e quando viu as fotos dentro sentiu instantaneamente seu estômago embrulhar. Depois de tudo que já viu, era esperado que nada a afetasse desse jeito. Mas ao ver sua amiga assim, sangrenta e machucada, a sensação ruim de todo o ano passado a atingiu e por pouco não vomitou. Não era possível que mesmo depois de fugir o máximo disso, ainda a puxavam de volta nesse inferno que existia na Terra.
Ainda meio trêmula, pegou seu celular e inconscientemente ligou para Dean.
Após chamar três vezes, a voz de Sam apareceu.

- Sam aqui.
- Sam? Ah...- Ela suspirou. O desespero foi tão grande que por um breve momento se esqueceu de Dean. – Oi.
- ?! Quanto tempo...
- Agora não, Sam. Tem algo acontecendo com a . – Ela foi falando enquanto se vestia.
- Quê?
- Me deixaram umas fotos dela sendo torturada, Sam. Onde você tá?
- , explica devagar o que tá acontecendo!
- Você acha que eu sei o que tá acontecendo, Winchester? - Ela ia jogando armas e munição dentro da sua mala velha. - Um demônio apareceu aqui em casa e me mandou fotos da sendo torturada. Acho que é o pai dela.
- Ela o encontrou!?
- Sei lá! Ela tá em Ipsilanti, tô indo pra lá agora.
- Eu to em Ipsilanti, . - Sam, nervoso, passou a mão nos cabelos. - Eu acho ela, não precisa...
- Há, boa tentativa Sam. - Ela riu, irônica. - Nem o seu irmão conseguiria me deixar de fora dessa. Espere-me chegar.
-
- Até daqui a pouco, Winchester.

Sam estava no seu notebook quando o celular de Dean tocou. Toda vez que aquele barulho soava, ele sentia um aperto estranho no coração. Sempre eram pessoas que Dean tinha ajudado, e ao falar que ele tinha morrido fazia Sam reviver um pedaço da dor que sentiu naquele dia. Deixou o notebook de lado e atendeu ao telefone.
- Sam aqui.
- Sam? Ah... - Ele reconheceu a voz de instantaneamente. A última vez que falara com ela foi no enterro de Dean, e ele estremeceu ao sentir a dor na voz rouca dela. – Oi.
- ?! Quanto tempo...
- Agora não, Sam. Tem algo acontecendo com a . – Ela logo o cortou e ao ouvir o nome de , entrou em modo alerta. Algo havia acontecido.
- Quê?
- Me deixaram umas fotos dela sendo torturada, Sam. Onde você tá?
- , explica devagar o que tá acontecendo! - Ele fechara seu notebook e já ia pegando suas coisas quando o interrompeu.
- Você acha que eu sei o que tá acontecendo, Winchester? - Se não fosse à situação crítica que estava, ele até daria um sorriso com isso. sempre fora brigona. - Um demônio apareceu aqui em casa e me mandou fotos da sendo torturada. Acho que é o pai dela.
- Ela o encontrou!?
- Sei lá! Ela tá em Ipsilanti, to indo pra lá agora.
- Eu tô em Ipsilanti, . - Disse, nervoso, se perguntando onde diabos estava Ruby. Era melhor nem sonhar que a demônia estivesse com ele. - Eu acho ela, não precisa...
- Há, boa tentativa, Sam. - Ele ouviu a risada irônica da velha amiga.- Nem o seu irmão conseguiria me deixar de fora dessa. Espere-me chegar. - ‘Maldita’, pensou. Usar Dean era golpe baixo.
-
- Até daqui a pouco, Winchester. - desligou o telefone e Sam o jogou na cama. Maldita insistente! Ela até o lembrava de Dean. Não importava o que fosse, ele sempre fazia o que queria e a garota era do mesmo jeito.
Pegou o celular e mandou uma mensagem para Ruby. Outra garota - demônia - incontrolável. Suspirou e voltou ao notebook, tentando descobrir o máximo sobre o que acontecia.

Após 12 horas seguidas no volante, o dia já estava amanhecendo quando chegou à cidade. Ela não queria nem pensar no que poderia ter acontecido com , e na verdade ela não pensava em nada a não ser as fotos que marcaram sua mente. Sentia dor ao lembrar-se do sangue da amiga, mas respirou fundo e mandou uma mensagem para Sam.
Já Sam estava ocupado demais para dormir. Continuou procurando sobre os desaparecimentos, sua intuição dizia que tinha algo relacionado à . Ruby não apareceu pelo resto da noite, e ele não se importou muito. Contanto que ela encontrasse o tal demônio ligado à Lilith, Ruby podia ficar onde ela bem quisesse.
Só foi receber a mensagem no celular que Ruby apareceu.
- Hey. - Ela sorriu, com um copo de café na mão. - Pensei que talvez estivesse com fome.
- Estava atrás do demônio? - Sam perguntou e pegou o café de sua mão, sem olhar no seu rosto.
- Sim. - Ela se sentou na cama. - E você, sentiu minha falta?
- A está na cidade. - Ele logo a cortou.
- Vou ter que me esconder da viúva? - Ruby brincou e logo se arrependeu. Droga, ela tinha que se fingir de boa moça! E ao ver o semblante de Sam, se arrependeu na hora. - Desculpe, é porque ela não vai com a minha cara e…
- Você vai ter que ficar em outro lugar por enquanto. - Ele tomou o café e jogou o copo no lixo. O gosto metálico de sangue misturado ao doce amargo do café o deixou enjoado. - A também está na cidade, e tá precisando de ajuda.
- O quê? - Se fingiu de surpresa. Ela sabia muito bem onde a zinha estava. - Ela está bem? - Ruby até merecia um óscar.
- Não. E está vindo.
- Ok, ok! - Ela sumiu e minutos depois se ouviram batidas na porta.
Sam respirou fundo e tentou guardar tudo o que sentiria ao vê-la. Abriu a porta e a garota estava pior do que a última vez que havia a visto. Olheiras profundas, estava mais magra do que antes, mas ainda existia o brilho voraz nos olhos. Isso nunca mudaria.
Ao ver que a porta abriu, segurou a respiração. Sam Winchester, o cara que foi de um completo estranho, a melhor amigo, a quase cunhado e agora era só algo que a fazia lembrar de coisas que gostaria de esquecer. Usava uma camisa xadrez e tinha o mesmo jeito que se lembrava, contido, tentando não fazer nada que pudesse se arrepender depois. E lembrou-se de tudo isso ao simplesmente abrir a porta.
- Oi. - Sam disse, e sorriu. Apesar de todos os apesares, era bom vê-la.
- Ai, Sam. - correu para os braços do Winchester mais novo. Não chorou, já fazia tempo que não chorava, mas foi bom receber o abraço de volta. Ela precisava mais disso do que pensava. - A tá tão encrencada, e eu tô tão preocupada que tô quase matando alguém.
- Você chegou rápido.
- Dirigi a noite toda. - Deu de ombros e pegou as malas. - Estava nervosa demais pra não fazer isso.
Sam assentiu. - Então cochila enquanto eu termino de pesquisar as coisas.
- Mas…
- Sem mais, . Você precisa descansar.
- Tão chato quanto o seu irmão.
- Alguém precisa ser.
riu e se jogou na cama. Em minutos já havia pegado no sono. Sam soltou uma risada abafada e voltou ao notebook.
Não era a fome que a incomodava, nem o mau cheiro do celeiro, e muito menos as risadas altas de suas “irmãs”. O que a incomodava era a dúvida. Será que vinha? Não, isso era óbvio. Será que ela chamaria Sam? Outra resposta óbvia. A única pergunta que ela não tinha resposta era onde diabos estava sua ‘irmã’ metida?
Inferno, odiava ficar em desvantagem.
Ouviu passos até que seu pai apareceu no quarto.
- Ué, achei que sua amiga já teria aparecido.
- Ela é mais esperta do que isso.
- Será? - Ele sorriu, astuto. - Veremos. Agora, vamos nos divertir?
Todas as risadas pararam, a única coisa que foi ouvida foi o grito de agonia de .



5. Bad to the bone

- Você tem certeza de que a tá aqui? - perguntou. Algo fazia seu estômago revirar.
- É o único lugar afastado o suficiente. Além disso, tem uma história sobre esse celeiro ser mal-assombrado. Algo sobre choro de crianças e visões.
- Eu sempre achei essa palavra estranha. - riu, tentando diminuir a tensão do lugar. - Será que existe um lugar “Bom-assombrado”? Tipo com o gasparzinho?
- Talvez. - Sam riu e carregou a arma.
“Se existem meio-anjos nessa porra de mundo, deve existir um fantasma bom”, pensou. Soltou uma risada, mas seu estômago ainda revirava. Tinham acabado de sair do carro quando um grito fino ressoou por todo o espaço que estavam. Era fisicamente impossível um humano gritar tão alto e fino assim, e todo o corpo de Sam e estremeceram com o som. Sem nem precisarem olhar um para o outro, e Sam saíram correndo. Os dois tentando não pensar no pior - e falhando totalmente. não aguentaria perder outra pessoa assim.
Sam atirou na maçaneta trancada sem mais nem menos e todo o efeito surpresa que eles tinham foi pro espaço. Eram dez kitsunes, de todas as idades, e todas elas voaram em cima de Sam e . Com sua shotgun, acertava as meninas sem nem pensar no que elas poderiam ser, sem dó nem piedade. Elas tinham mexido com a nefilim errada.
Esperou Sam se afastar e sair do seu campo de visão para, finalmente, usar todo o poder que possuía. Não era muito, mas era suficiente para que fizesse com que as últimas kistunes dormissem. Nem pensou duas vezes e atirou no coração das duas, enquanto dormiam. O sangue até espirrou no seu rosto, mas ela não ligou. De anjo, ela só tinha os poderes. Hoje ela agiria igual um demônio.
Só foi entrar no outro cômodo da casa que Sam levou um soco na cara. Esquecera como esses monstros eram fortes, mas logo ele pegou o ritmo e mesmo sem sua arma, conseguiu torcer o pescoço da kitsune que lutava com ele. Estava indo matar uma que aparentemente dormia quando sentiu o arranhão em suas costas, e grunhiu de ódio. Ainda bem que tinha tomado sangue de Ruby, sentia a força nos seus músculos e até se sentia mais ágil. Distribuiu socos, levou socos das duas kitsunes, mas no final conseguiu alcançar sua arma e atirou nos monstros, e sorriu. Se o visse desse jeito, se assustaria. Mas esse pensamento nem passou por sua cabeça.

- Olha só, - Disse Andrew ao ouvir o barulho do tiro. - acho que sua querida amiga chegou.
, mesmo com o rosto todo sangrando, sorriu.
- Eu sabia que ela vinha. - sorriu. - E agora não preciso me fingir de fraca mais.
Num movimento só, conseguiu não só rasgar a corda que a prendia, mas também quebrou a cadeira onde estava sentada. Ela se mexeu tão rápido que logo estava em cima de seu pai, socando o rosto dele. Sentiu até suas unhas aumentarem, e arranhou o rosto de Andrew enquanto ele socava sua barriga. A adrenalina era tanta que nem isso ela sentia, até que deu um último soco e o corpo desacordado caiu no chão.
Ofegante, se sentou no chão. Não tinha ideia do que acontecia nos outros cômodos, mas sabia que finalmente isso estava para acabar. Era até estranho, na verdade. A sensação de missão completa começava a deixar meio dormente.
- ? - Sam entrou no quarto, pronto para atacar, mas se surpreendeu com a menina sentada no chão.
- Me dá sua faca. - Ela pegou a faca no cós da calça de Sam e, se lembrando do filme de terror que fazia assistir quando eram menores, cortou acima dos calcanhares de Andrew. Assim ele não fugiria.
- ! - Sam se assustou ao ver. Ela estava tão diferente, parecia ter uma aura bestial em volta. A garota que ele gostava estava tão… Parecida com ele. Estremeceu.
- O quê? Me deixa em paz, Sam. - resmungou e jogou a faca para o lado. Com sua força do demônio da raposa, pegou Andrew pelos braços e o deitou na cama, o amarrando com o que achou perto. Agora era só esperar ele acordar.
- Ei. - apareceu na soleira da porta, limpando o rosto.
- Se eu não estivesse tão ocupada agora, eu juro que iria te bater, . - grunhiu.
- O que houve?
- Eu não acredito que você contou pro Sam! - gritou, irritada. - Que ódio!
- Claro que eu ia contar, você estava sozinha num ninho de monstros e queria que eu te deixasse assim, sem mais nem menos? Você tá doida, .
- Ele não tinha nada a ver com isso! - Claro que ele tem a ver com isso! - Sam gritou. - Eu e Dean - estremeceu. - prometemos que iriamos cuidar de vocês duas, então não adianta nada você gritar assim, . Eu não vou sair daqui tão cedo.
- AAAAAAH! - urrou de raiva e socou a parede, abrindo um buraco onde havia acertado. Estavam os três em silêncio quando ouviram um assobio.
- Ué… - O demônio de mais cedo finalmente tinha aparecido. , aproveitando sua raiva, correu para socá-lo, mas esqueceu dos poderes sobrenaturais que a criatura tinha. Foi lançada para o outro lado da sala e a demônia loira a prensou contra a parede. - O que houve?
- Eu juro que quando você me soltar, vou fazer você mesma se exorcizar.
- , você não respondeu minha pergunta. - Ela riu. - O que aconteceu com o Andrew?

No quarto onde Andrew estava amarrado, Sam e conseguiam ouvir tudo. Trocaram um rápido olhar e Sam saiu pela janela, enquanto já carregava sua shotgun com balas carregadas de sal. Apareceu já atirando e sorriu ao ouvir o demônio grunhir, mas logo ela estava presa na parede junto com .
- Olha só, estão juntas de novo? - Perguntou e teve a sensação de que conhecia quem estava possuindo a pobre moça loira. - Talvez você consiga me dizer, . O que aconteceu com Andrew?
- Bite me, bitch.
- Oh, tão parecida com o Dean.
estava pronta para revidar quando Sam apareceu na porta, apontando para a moça. franziu a testa, o que diabos ele estava planejando? Só foi ela se perguntar que Sam começou a franzir a testa, enquanto apontava sua mão para a demônia. A loira, que sorria, começou a se engasgar e logo tossiu um pouco de fumaça preta. e o encaravam aterrorizadas, mas isso foi o suficiente para que a loira soltasse as duas. ia começar a recitar o exorcismo quando percebeu que o nariz de Sam estava sangrando, e automaticamente foi para o lado dele.
Sam ainda tentava exorcizar o demônio com a mente, mas não tinha forças. A dor do corte nas suas costas o distraia e logo sentiu seu nariz sangrar. Gemeu de dor e caiu no chão, irritado consigo mesmo. A sensação de que nem pra isso servia.
- Exorcizamus te, omnis immundus spiritus… - aproveitou a fraqueza do demônio para tentar o mandar de volta para o inferno.
A loira sorriu. - Te vejo mais tarde. - Disse antes de fugir e deixar o corpo da moça desacordado no chão.
- Ok, você tem muito o que explicar, Sam.

Para , a cena era cômica demais para ser verdade. O celeiro estava com o cheiro forte de ferrugem, Sam tentando estancar o sangue que saía de seu nariz, , com a blusa tão rasgada que parecia um top e Andrew amarrado na cadeira. E ela, meio-anjo, tentando ajudar Sam. Parecia o começo de uma piada sem graça.
- Não tem nada o que explicar, .
- Me poupe, se poupe e nos poupe, Winchester. - Ainda com as garras afloradas, ela coçava as próprias mãos, inquieta. - Não bastava eu, você também é um monstro?
-
- Nah, não me venha com ‘’, já passamos da fase das meias palavras. E falando em fases, onde está sua querida Ruby?
- Meu Deus, . Você quase morreu e ainda está encucada com a Ruby?
- Só responde, Winchester.
fingiu não reparar quando saiu de fininho. Só fitava Sam, sentindo a raiva queimar por dentro.
- Eu meio que… Consigo exorcisar demônios com a minha mente.
- Você o quê?!
- Não me faz repetir,
- Puta que pariu. - se exaltou. - Desde quando? E que porra? Meu Deus, se o Dean soubesse disso…
- É, mas ele não está por aqui pra saber. - Comentou, sério. - E você, essas garras…
- Essas garras podem te matar em um minuto se você não me contar direito o que aconteceu.
Suspirou e começou a contar desde o começo. Contou o que fez depois do enterro de Dean, contou das milhares de vezes que tentou fazer um acordo com um demônio da encruzilhada, seja qual fosse. Contou sobre as caçadas sem-fim em busca de Lilith, contou até das noites regadas a bebida e sexo, dignas de seu irmão.
Mas não contou sobre Ruby. E percebeu.
- E onde a cretina entra nisso tudo?
- Ela tá me ajudando a lidar com… isso.
- Com o quê?
- Os poderes. Com a Lilith. Ela tem uma coisa que me deixa mais forte.
- Que coisa, Sam?
- Você não vai querer saber.
- Só fala.
- É sério. - Sam franziu a testa e sentiu uma dor de leve no fundo de sua alma. Essa cara séria sempre a deixava mole e excitada.
- O quê?
- Sangue de Demônio.
- O QUÊ?
- É.
- Você virou a porra de um vampiro, Sam?
- Não.
o fitou por alguns segundos e caiu na risada. - Meu Deus do céu. Que porra! Quê… Nossa! Que merda!
- …?
- Não, cale a boca! Olha isso! - Ela se jogou numa cadeira qualquer. - Não basta eu ser filha de kistune, com essa porra de raposa e o caralho a quatro. Não, tem que ter a neflim metida a punk e o winchester vampiro! Meu Deus! O mundo não faz sentido.
- O mundo nunca fez sentido.
- É, aparentemente não. - suspirou. - Meu Deus, até minha raiva passou.
- Er, eu não queria atrapalhar, - apareceu na soleira da porta. - Mas Daddy is up*.

* O papai acordou.



6. Daddy’s girl

Os três encaravam o homem que estava amarrado na cadeira. Ninguém conseguia definir exatamente o clima daquela sala, se sentia estranha ao ver o pai de sua amiga ali tão perto. Já Sam o olhava com um ódio estranho nos olhos. sentia seu interior ferver de ódio.
- Vão ficar os três aí me encarando ou vão fazer alguma coisa? - Andrew disse, e cuspiu sangue no chão. - Não sei nem pra quê essas cordas já que vocês fizeram o favor de cortar meus tendões.
- Meu Deus do céu, cale essa boca, Andrew! Você não tá em posição pra ficar tagarelando assim, idiota. - revirou os olhos.
- É tão irônico você dizer isso, . - Ele sorriu, perverso. - Seu Deus, né? Como anda o Castiel?
sentiu seus braços tremerem. - Mata esse merda logo, . Vou esperar lá fora. - Não esperou a amiga responder e foi embora, com raiva, para o seu carro.
nem percebeu a amiga sair. Só fitava seu pai, preso, e sentia toda a raiva que a enfurecia sempre ir dissipando aos poucos.
- Eu nem acredito que depois desse tempo todo você tá aqui, na minha frente. - começou. - Desde quando o maldito do Chuck entrou na minha vida, eu sabia que essa vida toda de ser caçadora não acabaria tão cedo, e isso só ficou mais claro quando eu soube de você. Até eu ver você assim, - Ela se abaixou e ficou da altura dele. - Totalmente a minha mercê, eu não teria como deixar toda essa merda pra trás. - Ela pegou a arma e apontou pra ele. - Quem sabe agora eu posso. Ou não, não me importa. Eu finalmente vou ter a minha vingança, Andrew. Você não se salva hoje.
- Você acha que essa pose de durona engana alguém? - Andrew disse, e soltou uma risada. - HÁ! Você é covarde, . Por que acha que eu venho tentando te matar desde sempre? Você, garota, é a prova viva do meu fracasso. Meu único fracasso! Eu…
Ela não esperou ele continuar falando. Pegou a faca que estava no cos da sua calça e sem nenhuma delonga a cravou no coração de Andrew. O gemido de dor dele a fez rodar a faca. Era quase sádico ver torturando ele desse jeito, e por isso, no meio do urro de dor, sorriu. - Era isso que eu queria ver. - Ele tossiu. - Talvez… você não seja tão diferente de mim.
- AH!!!!!!! - Pegou o facão da mão de Sam e sem nem pensar duas vezes, usou toda a sua força para cortar a cabeça de Andrew de uma vez só. Foi tão fácil que ela até se assustou, e por segundos esqueceu que a explicação disso era sua força de Kitsune.
Ofegante, ela continuou encarando o corpo - agora sem cabeça - de Andrew e finalmente sentiu um alivio. O peso - de Dean, de , de Sam e até mesmo de - saiu de suas costas e ela se sentia livre. Livre de tudo o que já prendeu nessa situação… Nessa vida.
Cansada, sentou-se no chão e respirou fundo. Até se esqueceu que Sam estava lá do seu lado.
- Finalmente.
- Finalmente. - Ele concordou, fazendo-a se assustar. - Como você está?
- Realizada. E levemente estranha. - Ela respondeu, ofegante. - Não acredito que acabou. Tanto tempo que eu perdi procurando a e esse desgraçado… Eu só… Sei lá.
- Teve momentos bons.
- E outros bem ruins. - Ela comentou. - É, acabou. - Suspirou, se levantou e caminhou até o corpo de Andrew. Pegou a faca do coração dele e, usando suas unhas, carvou ‘Daddy’s Girl’ na parte de madeira na faca.

What never should be
Will remain in the dark
Poor little girl
There is no one
You can trust in the world
In the darkness of the night


estava apoiada no seu carro, com o som no volume mais alto possível. A música que tocava era Daddy’s Girl, do Scorpions, e ela não teve como não se deliciar com a ironia. No final das contas, eles eram só quatro pirralhos com problemas com os pais.
Quatro não, três.
Sentiu um calafrio e logo tentou se distrair com outro cigarro. Num piscar de olhos, o rapaz moreno dos olhos azuis que assombrava seus sonhos apareceu.
- Inferno! - Ela se assustou tanto que derrubou o cigarro recém aceso. - Puta que me pariu, Castiel. Já falei pra não fazer isso!
- Chegou a hora. - Ele a ignorou, como normalmente fazia. - Você sabe, não sabe?
- Eu não sei de nada, angel-face. - Ela revirou os olhos.
- Você não consegue mentir pra mim, eu sou um Anjo.
- Grande bosta, Castiel. - Ela puxou outro cigarro do bolso e acendeu.
- Eu sei que você tá sentindo. Essa sensação estranha. É um efeito do que está acontecendo no céu.
- Já te disse. Grande bosta. Eu não quero saber.
- Eu sei. Mas isso não faz diferença. - Ele a fitou. - Seus poderes vão despertar de verdade quando ele voltar.
- Ele quem?
- Daqui dois meses, . Se prepara. Deus tem planos pra você.
Entre todas as coisas que a irritava no mundo, Castiel e seu discurso sempre ficavam em primeiro lugar.
- Vá pra puta que pariu, Castiel. - Ela jogou o cigarro nele, com raiva, mas antes que o cigarro pudesse o acertar ele já tinha desaparecido. - Inferno.
Não demorou muito para e Sam saírem do celeiro. De longe, pode ver os dois andando pertos um do outro e, antes de chegar até o carro, os dois se viraram de costas e fitaram de frente o celeiro.
- Pronta pra queimar o passado? - Ele disse, e o duplo sentido era palpável. Ela nunca ficaria pronta pra queimar e esquecer o passado dos dois, e muito menos colocar ele pra trás.
- Sempre. - Mentiu. Acendeu o pacote de fósforos do motel que estava e jogou na porta do celeiro. Em instantes toda a madeira estava incandescente e laranja. Um ponto de luz no meio da escuridão que fazia ali.
Era até uma boa metáfora para a vida, pensou. Mas logo afastou isso de sua cabeça. Seu ponto de luz tinha sido consumido pelas trevas. Sam estava caminhando em cima do limite do certo e errado. Essa história de sangue de vampiro era demais para ela aguentar. Mas, mesmo assim, a sensação dessa ideia - de Sam ser seu ponto de luz - a esquentou mais do que o celeiro em chamas que estava na sua frente. Decidiu que, dessa vez, ela merecia fechar os olhos para a escuridão que estava em volta dela e, por isso, pegou na mão de Sam.



7. Love will tear us apart

O caminho para o motel que estava hospedada foi silencioso. Passou o percurso inteiro pensando se fez o certo ao beijar Sam antes de entrar no carro e, em todo minuto, olhava pelo retrovisor para conferir se os faróis do Impala ainda estavam a seguindo. E todas as vezes que ela olhou, ele estava.
Assim que terminou de observar o celeiro pegar fogo, os dois - ainda de mãos dadas - foram até e contaram o que aconteceu. se limitou por levantar os ombros e isso foi o suficiente para perceber que tinha algo de errado. murmurou um ‘te conto depois’ com um sorriso fraco no rosto e deu um abraço desajeitado nos dois. Disse um ‘tchau’ e entrou no carro. Assim que os faróis do Oldsmobile de sumiu, Sam apertou a mão de e a puxou para um beijo. Um daqueles beijos dignos dos sonhos.
Era nesse beijo que estava pensando quando estacionou o carro. A sensação das mãos ásperas de Sam no seu braço e os lábios dele ainda formigavam na sua pele. Ao mesmo tempo em que tudo nela gritava para fugir, ela foi, passo a passo, até o quarto dela, ouvindo ele em seu encalço.
Não era necessário conversar, os dois sabiam disso. Por isso, assim que Sam fechou a porta do quarto, correu na direção dele e o beijou ainda mais ardentemente do que o beijo deles no celeiro.
Foram despindo um o outro e caminhando até a cama.
- Sam, a gente tá muito sujo. - comentou no meio do beijo. E percebeu que só com ele ela se sentia confortável o suficiente para dizer algo desse tipo. Era natural até demais.
- Banho?
se limitou a sorrir e o puxou para o banheiro.

***


Eram quatro horas da manhã quando acordou. Estava enroscada a Sam, com a cabeça escondida no vão do pescoço dele. Respirou fundo e sentiu que poderia ficar ali para sempre, mas ela sabia que não era verdade. Não tinha como continuar ali, depois de tudo que aconteceu. Durante a noite, a garota se sentiu feliz como nunca. Ela, no final das contas, tinha finalmente terminado toda a sua saga que começara quando e saíram de Lawrence atrás do responsável pelo sumiço de sua melhor amiga. Depois de tantas indas e vindas, foi difícil resistir ao que Sam a fazia sentir. E por isso ela ficou a noite toda pensando como tudo o que acontecia vinha com gostinho de adeus.
Enquanto estavam ocupados, ouviu o celular dele tocar não uma, mas várias vezes e ela soube quem era na mesma hora. E isso foi o necessário para colocar sua mente de volta ao ponto. Sam não era totalmente seu, e tinha uma grande demônia no meio dos dois.
Delicadamente, se levantou e foi catando suas coisas, e assim que se vestiu, agradeceu mentalmente por não ser como e ter deixado todas suas coisas bagunçadas pelo quarto. Pegou o que estava de fora de sua mala e, sem olhar para trás, fechou a porta do quarto.

And were changing our ways,
Taking different roads
Then love, love will tear us apart again






Fim!?



Nota da autora: Gente, cabei! Demorou, mas foi hahahaah!
Agora vou me dedicar de verdade a Carry On 2, e vejo vocês lá <3 beijos!
ps: Caso alguém tenha algum interesse, aqui estão as músicas que eu usei nos nomes dos capítulos:
1- Dream a Little Dream of Me - The mamas and the Papas
2- Somebody that I used to know - gotye ft. Kimbra
3- Time to Dance - Panic! At the disco
4- Crossroads Blues - Robert Johnson
5- Bad to the bone - George Thorogood and the Destroyers
6- Daddy's Girl - Scorpions
7- Love will tear us apart - Joy Division

Quem quiser, tem o grupo das minhas fics (mas já aviso que ele é meio morto por motivos de faculdade)
bejos! qualquer coisa, manda um tt no meu twitter também e é nois <3






Nota da beta: E terminou essa pequena short, tô super, mega ansiosa para Carry On 2 <3 <3 porque essa fic só aguçou mais minha curiosidade!

Lembrando que qualquer erro nessa atualização e reclamações somente no e-mail.
Para saber quando essa fic vai atualizar, acompanhe aqui.


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