Obs: Quase todos os nomes são interativos, o PP tem uma banda (foi escrita com o Mcfly, porém pode ser lida com qualquer banda.
Obs2: Fouet, é um instrumento para bater massas, muita gente já sabe, mas quem não souber eu indico que dê uma pesquisadinha rápida no Google, vou citar muuuitas vezes essa palavra, sorry.

Point Of View.

Minha vida até agora foi a melhor que eu poderia ter tido, pessoas incríveis que eu encontrei ao meio do caminho, lugares incríveis que pude visitar e coisas grandes que eu poderia ter adquirido. Tudo era bom, era leve, ainda que as vezes vazio.
Minha mente voltava vagamente para pequena cidade do Essex, a infância que passei e os amigos que tive em todos aqueles anos, ainda que em apenas um mês de toda minha infância tinha me causado um impacto, onde conheci uma garota dos cabelos claros, pensamento livre e que dançava a dança da sua terra natal, mesmo que parecesse completamente maluca.

Flashback on’
Era um dia ensolarado e minha mãe tinha me inscrito junto com a minha irmã num curso de culinária, eu não via utilidade alguma naquilo, e então meio que arrastado eu fui. Entre massas de bolos e muitos recheios um par de olhos atentos se aproximou de mim.
- Não é assim. – a garotinha que parecia ter a mesma idade que eu disse autoritária. – Tem que bater a massa de baixo para cima, para não entrar ar! – a mesma dizia com as mãos na cintura e um semblante emburrado. – mamãe!
- Querida, todos aqui são aprendizes... - a mãe da loira petulante chegou ao nosso lado. Pelo que parecia a garotinha era filha da mulher que ministrava a aula. – Por que você não auxilia esse garotinho? Qual seu nome, querido?
-, me chamo . – eu disse sorrindo breve para a mulher claramente mais alta que eu.
- , essa é minha filha .- Então a mulher empurrou o treco para as mãos da filha e indicou para que mostrasse como se faz. - Ela vai te ensinar como fazer certinho...
- Pode me passar essa tigela com ovos? – passei a tigela azul de vidro e ela pegou com maestria. – Primeiro você retira as gemas, deixando só às claras, ok?
- Mas por quê? – perguntei, ainda que não entendia o porquê de nada daquilo.
- É importante! Só tire... – ela indicou com o dedo para que eu fizesse com a outra tigela sobre a bancada. Ela ergueu seu fouet, que eu descobri que era o nome daquele treco que anteriormente tinha em mãos, fouet e não batedor de bolo. Assim que tiramos as gemas ela começou bater, em movimentos giratórios seu fouet começou transformar a clara gosmenta e transparente numa espuma branca e grossa.
- Como sabe disso tudo, ? – a questionei tentando fazer o mesmo com a minha clara que parecia não cooperar.
- Bom, acho que eu faço isso desde sempre. – ela deu um sorrisinho meio torto.
Os dias passavam com velocidade e toda quarta tinha as aulas de culinária, eu não gostava do curso, mas adorava , e talvez fosse o motivo de não ter desistido no segundo dia. Minha irmã estava cada vez mais empolgada para as quartas feiras e para fazer novos doces, e eu para ver a filha da professora. e eu tínhamos pegado uma amizade rápida desde o dia que ela me ensinou o que era um fouet e como usá-lo. Quase sempre saiamos depois das aulas para tomar sorvete, ela fazia caretas engraçadas e falava sobre a Irlanda e como amava tudo que tinha lá.
- , use a farinha! – ela gritou do outro lado da bancada me encarando séria.
- Para quê? – questionei olhando a tortilha já quase pronta, com um breve sorriso sacana na cara.
- Para polvilhar, né... – ela fez aquele velho semblante de óbvio.
- O que é polvilhar? – me fiz de desentendido, vendo a reação brava da minha amiga irlandesa.
- JOGAR POR CIMA, ! – ela semicerrou os olhos, me encarando. – esparramar!
- AAAAAH TÁ! – enfiei minha mão no saco de farinha e joguei por toda a bancada além do doce, jogando um pouco no rosto da garota.

Flashback' off


Anos seguintes...

A vida havia tomado seu curso depois do curso de culinária, provavelmente a loira havia conhecido novas terras, culturas e pessoas como sempre gostava de dizer, talvez ela tenha ensinado outro garoto que nem eu a cozinhar, ou talvez não. Certa vez num programa de mãe vi Tessa apresentar sua Tortilha de frutas, depois disso ouvi seu nome ser mencionado algumas vezes durantes os anos que se seguiram, parece que ela começou a se destacar no ramo da culinária, ainda que no primeiro ano troquei e-mails com Tessa para falar com , ao decorrer do tempo o hábito foi deixando de lado, e por fim não tive mais notícias da pequena e perversa garota irlandesa. Quanto a mim, bom, é um pouco mais comum, conheci alguns caras durante o tempo, decidi que queria entrar numa banda, comecei tocar baixo e continuei a cuidar dos meus lagartos de estimação. Consegui entrar na banda e foi quando o inferno e o paraíso começaram, meu pai abandonou nossa casa, dizia que não queria um filho músico e sim um que tivesse um futuro de verdade. Mas eu sentia que estar naquela banda era o certo. Minha vida tomou um rumo totalmente inesperado, a fama surgiu de forma gloriosa e acolhedora, afinal, eu estava ganhando dinheiro para trabalhar com o que eu mais amava e junto aos meus melhores amigos. E de repente eu não era mais um cara do Essex que o pai foi embora e carregava a responsabilidade de ajudar minha mãe, eu estava em entrevistas, capas de revista, com a minha conta bancaria crescendo gradativamente, conhecendo países e pessoas incríveis, podendo dar todo o apoio para minha mãe e irmã. Tinha conhecido várias garotas e namorado algumas, que por fim não deu certo. Foi quando conheci Kylie, ela era boa e ao mesmo tempo ela era terrível, ela parecia trazer o pior de mim. Tudo era deprimente, eu não sabia o porquê, mas tudo era sem cor, ao que parecia a depressão tinha me tomado e eu parecia não conseguir sair, a banda era incrível e os caras também, via todos querendo me dar suporte, mas eu não conseguia melhorar, a dor batia em todo meu corpo e há dias eu não queria mais me levantar da cama, as várias garrafas de álcool parecia me acompanhar em todo lugar, e a sobriedade parecia começar faltar. Durante o tempo as drogas começaram também me acompanhar, foi quando aconteceu o que eu já a tempos parecia planejar, eu não me sentia mais eu e era como se nada mais valesse a pena. Kylie terminou comigo e então o acumulo de tudo que eu já vinha sentindo, o peso, o vazio e a necessidade de me drogar, foi quando eu tentei me suicidar. Em seguida me internei numa reabilitação. Durante a estadia na clínica, eu só conseguia me recordar dos tempos bons que haviam passado, e como parecia mais inteligente do que a idade dela permitia, afinal, por onde andava pessoas como ?

Flashback' on

Broken bottles in the hotel lobby, seems to me like I'm just scared of never feeling it again. | Garrafas quebradas no lobby do hotel, me parece que eu só estou com medo de sair e sentir isso de novo.

Sentia tudo ao meu redor desmoronar e meu coração afundar, a depressão me tomava e a ansiedade também, inúmeros frascos de remédios jogados pela mesa central da sala, enquanto meu corpo estava amortecido demais para que eu conseguisse me levantar no chão imundo do meu apartamento. Na noite passada, eu estava num hotel com a banda, talvez em Tóquio ou em Luxemburgo, poderia até ser na África do Sul, de qualquer forma eu não me lembro. Afinal, eu já não conseguia mais me lembrar de nada que acontecia na minha vida recentemente.

I know it's crazy to believe in silly things, but is not that easy. | Eu sei que é loucura acreditar em coisas bobas, mas não é tão fácil assim.

Um tabloide qualquer dizia que Kylie havia me traído mais uma vez, tudo isso eu ouvia pela TV, que estava ligada do outro lado do cômodo, mas ao mesmo tempo parecia estar tão distante de mim, era como se eu estivesse alucinando, de novo.
Ainda com o corpo sem força alguma estiquei o braço para alcançar o pequeno saquinho transparente que estava próximo a mim, jogado no chão. Observei o mesmo, que antes estava cheio de pó, agora só tinha alguns farelos no fundo do recipiente, e então eu apaguei.
Foi que eu acordei mais disposto, me sentei onde anteriormente estava tacado, observando a zona ao meu redor, e tudo que eu conseguia sentir era desespero, a dor corroia todo meu peito, eu só queria sentar e tentar fazer tudo aquilo parar, apertava meus joelhos contra meu peito como se isso fosse amenizar a sensação de esmagamento e falta de ar, mas não aconteceu nada. Tinha alguns cacos de vidro pelo carpete, provavelmente alguma garrafa de gyn quebrada.

I remember it now it takes me back to when it all first started.| Eu me lembro agora, isso me leva de volta para quando tudo começou.

E então segundos antes de me drogar, talvez pela milésima vez ao dia, me lembrei, do rosto infesto por lágrimas da minha mãe, mas o que eu podia fazer? Queria gritar para ela que não era por mal, mas eu precisava daquilo pare respirar, eu não sentia parte do meu corpo e estando naquele estado era a única forma de me manter vivo. Nada mais parecia fazer meu peito arder, mas às vezes ele pegava fogo, mas era o fogo em relação a dor, há muito tempo não era pelo amor. Aí, eu me lembrei da minha mãe, mais uma vez, me lembrei da cena, de quando ela me encontrou caído e drogado na calçada de casa, eu estava na cidade apenas para fazer um show e iria visitá-la, mas mais uma vez eu não tinha consciência quando a encontrei, ou melhor, ela me encontrou. Foi aí que relembrando da minha mãe, me peguei chorando, entrando num enorme desespero.

But I've got myself to blame for it and I accept that now, It's time to left it go, go out and start again. But it's not that easy.| Mas eu só tenho a mim mesmo para culpar, e eu aceito isso agora, é hora de se libertar, sair e começar de novo. Mas não é tão fácil assim.

Queria ser um novo alguém, queria ver cor de novo, queria poder sentir as coisas boas também, não só as ruins como em anos senti, afinal, quanto tempo eu me mantive drogado? Eu não sabia ao certo, mas sabia que era muito. Quando me vi exposto pela mídia da ultima vez, sobre meu grave acidente de carro, só conseguia remoer que não havia feito direito, afinal, eu ainda estava vivo. Além dos caras e minha mãe, quase ninguém sabia o que ocorria, o nosso empresário e os próprios bandmates faziam de tudo para a mídia não desconfiar.

But I've got high hopes, It takes me back to when we started, high hopes. | Mas eu tenho grandes esperanças, elas me levam de volta para quando nós começamos, grandes esperanças.

Liguei para enquanto estava no meio do meu colapso, eu não sabia se conseguiria entender minhas palavras em meio ao desespero, sentia meu corpo me trair, amolecer, a ansiedade tomava conta de mim e minhas mãos pareciam ter Parkinson, por um momento, pensei que iria entrar em combustão.
- Dude, por favor, só... Me interna. - consegui dizer entre soluços e visão completamente turva, não conseguia me atentar para escutar o que meu amigo dizia tudo a minha volta parecia gritar, mas era apenas o silencio que estava sendo ensurdecedor.

And in my dreams I meet the ghost so fall the people who've come and gone. | E nos meus sonhos, eu encontro os fantasmas de todas as pessoas que vieram e se foram.

- Eu não aguento mais, ! Ajuda-me, por favor! - tudo a minha volta parecia estar em um momento longe demais e no outro muito perto, eu parecia gritar, mas ninguém podia me ouvir, meu celular tinha sumido e a voz do meu amigo ainda que fosse existente no ar, parecia não emitir palavra algum. Por um momento minha mente me traia e eu sentia que a campanhia tocava insistentemente, como se eu sentisse que ao abri-la fosse ver meu pai, só faltava estar ficando louco de vez. Eu só não agüentava mais tanta escuridão, por meses a fio eu jurava que iria me recuperar sozinho, iria superar e parar de usar todas aquelas drogas, mas era impossível, eu nunca conseguia me afastar. Bebia, fumava e cheirava tudo para a dor passar, mas ela nunca passava. E no dia seguinte, eu achava que fazer tudo isso iria me ajudar a superar, então eu fazia de novo, mas a dor ainda assim, permanecia, parecia que ela nunca iria me abandonar.

Memories that seems to show up so quick but they leave you far too soon. | Memorias que parecem surgir tão rápido, mas que nos abandonam muito cedo.

O tempo correu rápido, mas a minha melhora parecia estar longe ainda, os dias na clínica eram tortuosos e mesmo que eu tentasse ao máximo me distrair, me envolver em rodas de conversas, esportes e ler livros, ainda assim o tempo parecia vagar.

Naive, I was just staring at the barrel of a gun, and I do believe that. | Ingênuo, eu estava apenas olhando para o cano de uma arma, e eu realmente acredito nisso.

Durante a minha estadia conhecia alguém, talvez quem me mantivesse são em momentos de desespero. Chelsea era uma médica norte americana, tinha olhos azuis muito apagados, como se a dor do mundo já houvesse a sugado por completo, ela era uma boa pessoa, ela era quem me motivava a continuar insistindo em algo que nem eu mais acreditava. A mulher ficava no quarto ao lado e passávamos as tardes livres conversando. Com uma história de vida trágica e repleta por mortes e desgostos, Chelsea se via sem vida, o que a levou até lá, ela já não sentia nada além da apatia - e de desespero, é claro. - Sua depressão era uma das piores que eu já havia visto e perto e suas crises de ansiedade às vezes parecia que iria a matar.
Depois de ter descido para o almoço, enquanto varria meu olhar pelo local, eu vi todos os funcionários locais, hóspedes fixos e alguns poucos rostos novos, era uma clínica privada, quando cheguei estava péssimo de mais para perceber, mas eu poderia jurar que Lindsay Lohan tinha estado lá, enfim, vi tudo que sempre via, em todos os almoços, jantares e cafés, por quatro meses, e então não vi os cabelos ruivos e ondulados de Chelsea, num rompante pulei da minha cadeira. Na noite anterior ela estava tendo um de seus colapsos nervosos, estive lá, mas parecia não ajudar, ela se lembrava do acidente de carro, das mortes, dos infartos em seus braços e vidas que não pode poupar, eu tinha medo que acontecesse qualquer coisa com aquela mulher, porque bom, quando eu achei que algo péssimo iria me acontecer, quando a dor me tomava e as alucinações da abstinência pareciam reais, era ela que dividia o meu desespero e me amparava naquele quarto vago e com paredes torturantes brancas. Corri novamente escadaria acima e empurrei a porta do quarto que eu já bem conhecia, ela estava lá, viva.
Minha amiga estava jogada na soleira da porta do banheiro, enquanto por seu quarto, parecia ter passado um furacão, todas as gavetas da cômoda arregaçadas, roupas jogadas e rasgadas pelo meio do quarto, tornando tudo uma confusão, a persiana, diferente de ontem, agora estava quebrada, como se alguém houvesse tentado se jogar da janela, em passos lentos enquanto eu me aproximava dela podia ver, seus cabelos estavam embolados e bagunçados, o rosto inchado e uma marca de sangue, um ralado sobre a bochecha direita que pegava grande parte do rosto, algumas cartelas vazias a rodeavam.
- Chel, me diz o que aconteceu... - pedi em voz baixa, me abaixando até a mesma que estrava sentada.
- Dói, , o tipo de dor que eu não consigo suportar. - ela disse com os olhos quase fechados, seu rosto estava vermelho e ela parecia ter dificuldade para respirar.
- Por que não chamou os enfermeiros? - peguei em sua mão, apertando a mesma, ela começou a soluçar e o choro aparentava iniciar.
- Você sabe, sabe que eles não podem me ajudar! - a mulher disse quase gritando, mas parecia não ter força. - essa ansiedade ainda vai me matar, eu sei, eu sei que vai! Parece que eu só estou esperando um dia ou outro, para finalmente minha vida acabar, mas ela nunca acaba!
- Onde dói? - a questionei e ela parecia arfar, suas lágrimas corriam rapidamente pelo seu rosto e ela parecia desabar a cada respiração mais.
- Sinto como se estivesse algo enfincado em meu peito, o pressionando contra a parede, como se me faltasse ar, sinto o descontrole das minhas mãos. - a puxei para meu abraço, enquanto me encostava-se à parede, seu corpo todo tremia e cada vez mais se encolhia. - Dói como um soco na boca do estomago, tenho tanta tontura que as vezes estou andando e parece que vou desabar...
- Vai ficar tudo bem, confia em mim... - e então de repente seus soluços começaram ficar mais alto, igualmente seu choro, ela parecia querer gritar, e por fim eu entendia, quando a dor se instalava não sobrava nada para se agarrar e então a única coisa que por dias a fio eu quis gritar. Dois enfermeiros, com suas roupas brancas pareciam ter brotado no local, Chelsea ao vê-los começou a gritar em desespero, dizendo repetidos nãos, eles a puxaram para cima e eu tentava contestar.
- Não, não, não, ela vai ficar bem! - eu gritei, mas os enfermeiros pareciam não ouvir, minha amiga se debatia enquanto os dois de branco a seguravam bruscamente de pé, eu a via tentar se desvencilhar e então o silencio se instaurou, e ela não gritou mais, eles tinham aplicado mais uma vez um líquido que eu não tinha ideia de qual era, mas se foi o mesmo que haviam aplicado em mim, ela dormiria por quase dois dias.
- Fica quieto, se não também iremos aplicar em você. - um deles disse ríspido, a levando para fora do quarto com eles.

When it all comes to na end, and the world keep spinning, the world keep spinning around. | Quando tudo chega ao fim, e o mundo continua girando, e o mundo continua dando voltas.

{...}

Tinha saído recentemente da reabilitação, sentia meu coração mais leve e longe de toda a minha antiga escuridão, eu havia adquirido um habito bom naqueles seis meses internado: ser grato por tudo. E era o que eu me dedicava a fazer, pois bem, eu realmente era muito sortudo.
Eu tinha uma banda que fazia sucesso desde seu início, fãs dedicadas, pessoas que me apoiavam em tudo e me davam força para melhorar, tinha três amigos, aqueles que me acompanhavam desde o inicio dessa tão longa e louca jornada e que estão muito mais para irmãos, tenho a minha mãe saudável e totalmente uma mulher renovada e minha irmã terminando sua faculdade enquanto traça o rumo da sua vida, eu era grato por ainda respirar, pela reabilitação ter me ajudado a superar e por ainda desejar amar, ainda que Kylie me levasse para o fundo do poço, eu ainda tinha esperanças, e bom, acredito eu depois de tudo que eu passei, que não há nada mais valioso que ter grandes esperanças.
Tinha tido um dia ruim, fazia um mês que havia saído da reabilitação, a mídia parecia especular cada passo que eu dava, o empresário da banda tinha dito que eu estava passando umas férias no leste da Tailândia, como um retiro espiritual, e não discordei em momento algum. Sentia meu tato inquieto para fumar algo que não era legalizado, fazia muito tempo que não tocava em nada ilícito, e desde a reabilitação pretendia não tocar nunca mais, porém a vontade parecia estralar no céu da minha boca. Era isso, eu ia fumar um. Só unzinho, eu tinha um no bolso da mala de remédios que eu havia deixado lá a muito tempo atrás para emergências.
Estávamos todos hospedados no Grande Plaza Hotel, em Sydney, obviamente na Austrália. Teve um show na noite passada em Pyrmont, e como hoje seria nosso dia de folga - e aniversário do - resolvemos vir antes para Sydney - que viríamos para fazer o show só no final da mesma semana.- enfim, eu estava preso na suíte presidencial com o restante da banda, na cobertura do prédio, gargalhava alto de alguma coisa com enquanto colavam os balões por toda sala de estar e convidavam gente para a festa pelo vivo a voz.
- Falta muita coisa? - questionei torcendo internamente para que eles me mandassem buscar algo lá em baixo.
- Não, só o bolo. - respondeu dando de ombros enquanto terminava de colar os últimos balões.- Mas ficou de um funcionário da & cakes vir entregar dez minutos antes do chegar.
- Já deve estar chegando, eu espero. - disse quase inaudível colocando as garrafas de bebida alcoólica sobre a enorme bancada que dividia a sala enorme de estar do hotel da cozinha.
- Droga, eu não acredito. - resmungou num rompante.- esqueci a caixa do presente do no carro, mas se eu descer pra buscar...
- Deixa que eu pego, eu ia buscar uma coisa no carro também... - sorri pros dois que pareciam ocupados demais para se preocupar, meu corpo pedia por aquilo que eu ia buscar cada vez mais, eu sabia que devia ficar longe, afinal reabilitação seria para me livrar de tudo, e não só de um ou outro. A voz da Chelsea falando para me controlar parecia ecoar na minha cabeça. O elevador parecia demorar um século para chegar, provavelmente estava travado no 3° andar. Puxei a porta que dava para a escadaria escura e comecei a descer correndo pelo local, eram muitos degraus, mas a sede pelo meu vício me faria tranquilamente correr por todos eles.

Pov'

Adentrei pela porta principal da & Cakes, e tudo parecia o maior caos, os funcionários pareciam desesperados e corriam de um lado para o outro na parte de dentro do balcão, o local estava abarrotado de gente e todos ainda nem sequer estavam servidos. A minha intenção de ir até ali era apenas para pegar um café, mas pelo jeito eu precisava ajudar minha empresa.
A alguns anos quando me formei em gastronomia me especializando na parte artística, quis dar um salto maior, afinal, abrir uma empresa não é de um dia para o outro, mas o fiz mesmo assim. Durante a faculdade havia conhecido , uma morena dos cabelos com enormes cachos de dar inveja, a mulher tinha o riso fácil e o abraço apertado, nem preciso dizer que antes do primeiro ano de faculdade acabar, éramos indesgrudaveis. era meu braço direito em tudo, e eu o dela, éramos incríveis juntas, fundamentamos receitas novas e sensacionais, viajamos para a Índia e para o Chile a procura de conhecimento e cultura para nós inspirarmos na nossa nova linha de doces, pulamos de bungee jump, mergulhamos com golfinhos e esquiamos nos Alpes suíços, tudo isso juntas e pela nossa arte. Foi quando no último ano brincamos dizendo que seria um sucesso jogar tudo isso numa loja só nossa, e numa bobeira, fundamos a &, a empresa tinha virado um sucesso por toda a Oceania e América Central, nossa maior loja era em Sydney e de uns tempos pra cá resolvi me dedicar a esta, me mudei para a cobertura de um prédio na quadra dá frente a nossa loja, infelizmente preferiu passar o primeiro ano se dedicando a maior loja da América central, que ficava em Punta Cana.
- O que está acontecendo aqui? - perguntei em voz alta, entrando pela enorme porta da cozinha industrial do local, os funcionários pararam por um momento, o chão estava cheio de farinha e havia alguns bolos ainda incompletos.
- Senhorita , nossa gerente foi para o hospital com ataque de asma, e desde então isso aqui virou uma bagunça. - um funcionário se justificava em minha frente.
- Ah, ela também despediu ontem os três garçons que tínhamos. - uma garota se pronunciou.
- Tudo bem, isso acontece, mas nossos clientes estão com fome, vamos organizar isso aqui! - conclui obtendo a atenção de todos os presentes na cozinha. - preciso de dois no caixa, agora. Quatro na bancada para entregar os pedidos. Dois para servir as mesas, por favor. Vocês serão recompensados por estarem fazendo serviços que não são de vocês, não se preocupem. Preciso de duas pessoas nos fornos, tirando e montando a base dos bolos, como estão as encomendas?
- Atrasadas, senhora, tem uma para daqui...- a mulher olhou no relógio. - dez minutos, ainda só temos a base pronta.
- Certo, eu posso confeitar, alguém poderia me ajudar? - questionei adentrando o local, puxei um avental e luvas e os coloquei sobre a roupa formal, havia acabado de sair de uma reunião com os empresários das franquias dos outros países. Puxei o bolo que já estava recheado para próximo de mim sobre a bancada.
- Oi, sou Joan, irei te ajudar. - a moça parecia ter seus vinte anos e um sorriso cativante.
- Olá, Joan, prazer em conhecê-la, pode ir preparando as frutas frescas para colocar sobre o bolo? - a mesma assentiu com a cabeça provavelmente indo até a geladeira do depósito. Passei todo o buttercream azul naval deixando o bolo liso, apliquei a calda de chocolate branco sobre as bordas. Logo Joan chegou e a deixei trabalhar no aspecto decorativo do bolo, enquanto procurava a caixa para levar até o local. Achei a caixa grande e rosa e branco listrada com o enorme símbolo da & logo acima. Puxei até a mesa onde Joan já finalizava colocando a vela faiscante sobre o mesmo, a garota puxou o bolo o enfiando na caixa pela lateral, subi as bordas da caixa montável a finalizando com o laço branco e etiqueta da &.
- Senhorita , temos um problema, estamos sem entregador. - um homem com seu avental sujo de farinha apareceu na porta falando com um sorriso torto, como se pedisse desculpas.
- Me passe o endereço, eu mesma vou entregar. - sorri puxando a caixa sobre meus braços e caminhando até meu carro, o colocando até o banco do passageiro, o funcionário que anteriormente foi avisar que estávamos sem entregador apareceu com o endereço anotado em um papel, me entregando. - Obrigada!
E então acelerei até o local, que dizia ser o hotel, fácil! Chegaria em cinco minutos. Desci às pressas, ainda com os saltos negros que assim que adentrei o Grande Plaza começou fazer barulho pelo chão de madeira clássica. Caminhei às pressas até o elevador, torcendo para não ter estourado o prazo de entrega, apertei repetidas vezes e nada, ainda parecia estar parado no mesmo maldito terceiro andar.
- Senhorita, sinto em informar que o nosso elevador está travado, chamamos o técnico, se puder aguardar...- o porteiro dizia calmamente.
- Estou um pouco atrasada, onde teria uma escada? - perguntei dando um sorriso torto para o mesmo que apontou para a porta dos fundos. - Obrigada! - eu disse enquanto corria em direção à porta e brevemente, escadaria a cima. Droga, era o último andar, aquele prédio devia ter uns vinte andares para mais. Como eu desejava que a estivesse aqui para rirmos sobre o acontecido e darmos um jeito um tanto criativo para o problema, sem ter que correr vinte graus de escada às pressas e com um salto quinze.
O tempo passava e a escadaria parecia nunca terminar, minhas pernas pareciam queimar pela força e pressa, foi quando eu parei antes de encarar o próximo lance de escadas a cima.
Um vulto desceu correndo escadaria abaixo, só conseguia enxergar a camisa branca, minha mente só começou a processar direito quando ele esbarrou em mim, quase me fazendo cair escada a baixo.
- AI! - eu gritei alto, sentindo meu corpo se curvar para trás, merda, eu ia cair, me ralar toda escada a baixo, nada elegantemente, e de praxe por eu ser tão azarada era capaz de cair com as pernas para cima mostrando minha calcinha de bolinha totalmente infantil que eu havia decidido usar hoje, sem contar que o bolo não seria entregue. Os braços do rapaz me segurou e nós dois paramos próximos um ao outro naquele lance de escada.
- Me desculpe! Eu não sabia que alguém usaria a escada de emergência. - o loiro disse sorrindo breve, tinha algo naquele cabelo que eu conhecia de algum lugar.
- Ei, eu te conheço de algum lugar. - apontei para o mesmo, olhando com os olhos minuciosamente cerrados para o mesmo, o mesmo soltou um riso incrédulo e convencido.
- Claro que conhece, o show da minha banda esgotou os ingressos aqui em dois dias, você já deve ter me visto... - anteriormente a escadaria estava com apenas alguns feixes de luz, o que ainda a deixava escura. A luz acima de nós se acendeu rapidamente, provavelmente pelo censor.
- Ei, EU que acho que te conheço de algum lugar... - o rapaz disse sorrindo de forma simpática e por fim levando seu olhar para a enorme caixa em meus braços.

Pov'

Meu cérebro parecia formigar para processar aquela informação, os cabelos claros daquela mulher não me era estranho, mas havia milhares de loiras pelo mundo...
- Claro que conhece, o show da minha banda... - a garota debochou repetindo minha frase é gargalhando da minha cara que provavelmente foi uma careta em reprovação a frase plagiada. Aquela gargalhada eu tinha a certeza que tinha ouvido em algum lugar, e por fim, permiti-me a fitar nos olhos, e num estado tão rápido me ocorreu, era a irlandesa que num dia ensolarado apareceu no Essex e talvez mudou a minha forma de enxergar tudo - e me ensinou usar um fouet. - de repente a vontade louca de fumar tinha amenizado e eu estava tão interessado em saber o que aquela garota fazia ali, no meio da escadaria do hotel, num continente que certamente não era o seu que eu nem me importava mais com nada.
- ? Aquela garota chata e incrivelmente animada que um dia tentou fazer todos alunos da aula de culinária de Corringhan dançar o Ceilidh?
- A única. - ela deu aquela piscadela convencida em minha direção, toda a escuridão parecia ter sido iluminada, a dor ainda era presente, mas a euforia por estar com alguém que me questionei diversas vezes onde estava, que a dor parecia nada. - espero que tenha aprendido meeesmo o que é polvilhar, e que tenha cuidado bem do Grant.
- Cuidei, mas a unha dele ainda não nasceu. - dei de ombros rindo com a garota ao lado, ela tinha se lembrado da minha iguana, que memória!
- Sinto muito. - ela fez uma careta e então respirou fundo. - eu adoraria conversar horas, perguntar inúmeras e coisas e recuperar o tempo perdido, mas a minha empresa está um caos hoje e ainda tenho que entregar esse bolo...
- Meus amigos estão esperando um bolo. - eu disse a atraindo a atenção. - é para ser entregue na cobertura? - a mesma assentiu com a cabeça. - então eu subo com você, acho que o presente do que está no carro pode esperar. – Subimos os degraus faltantes e chegamos as portas dos fundos quando entramos todos se viraram para nós fazendo um ‘’shiu’’ e se abaixando novamente.
- ... – eu sabia, ele iria perguntar onde tava a bosta do presente.
- Ah, cara, te explico depois. – fiz uma careta para o mesmo. – Essa é a , minha melhor amiga de infância que eu descobri que é a dona do lugar que você pediu o bolo e...
- Prazer, . – ele sorriu dando um beijo no rosto da garota ao meu lado.
- Sou , o prazer é todo meu, e eu simplesmente adoro a sua versão acústica com o de Falling in love. – ela sorriu amplo o seguindo até a mesa onde iria o bolo.
- Ei! Você não tinha me dito que conhecia o ! – eu resmunguei atrás da mesma que riu da minha cara, abrindo a caixa e revelando um bolo artístico azul naval com branco e o colocando na mesa.
- Você não perguntou! – ela rebateu fazendo uma careta. – Ou você pensou que eu realmente não sabia, qual é tem outdoors de vocês por toda cidade!
- Achei que ela seria mais uma dessas que dizem naqueles imagines do twitter “esbarrei com ele no Starbucks e só depois percebi que ele era famoso, até tinha ouvido falar da tal banda, mas não sabia quem era ele até ele me mostrar.” – apareceu gargalhando ao nosso lado.
- Sério que você lê isso no twitter? – perguntou fazendo careta para o amigo enquanto ria. - Impossível não ler, dude. – o mesmo jogou sua mão de lado, nem ligando para o amigo que ria. – É muito bom. – ele concluiu rindo.
- Você vai ficar para a festa, né? – sorriu para a mesma. – Minha namorada adora sua confeitaria.
- Fico feliz por isso. – ela sorriu amplo. – Talvez eu possa ficar um pouquinho, sim.
- Então agacha ai, ô girl. – disse num breve riso, escondido debaixo da cadeira da mesa, não era um bom esconderijo, definitivamente não. Me enfiei atrás da cortina quando ouvi o barulho da maçaneta da porta, a puxando junto a mim.
- Acho que os caras saíram... – ele disse distraído, jogando a chave na mesa de canto que continha um abajur. Só entendi quando a cadeira caiu no chão, provavelmente porque meu bandmate ficava se mexendo na cadeira.
- SURPRESA! – gritou assim que a cadeira se destabocou no chão, e todos saíram de seu local dando um pulo e gritando animadamente: - SURPRESA!
- , casa comigo, o não te merece. – grudou nas pernas do mesmo que ria breve e observava o apartamento agora com as luzes acesas e infestado por balões.
- SAI, ! – fiz careta pro mesmo, pulando nas costas do mesmo.
- COMO EU VOU APRESENTAR MINHA NAMORADA? Eu já disse que nossos relacionamentos têm que ser segredo, meus amores! – disse rindo me abraçando e abraçando os outros dois, a musica começou tocar alto e as vozes ao redor também.
- Ok, quero que vocês conheçam minha namorada, , eu já tinha falado dela, mas aproveitando que ela está na cidade... – ele ia apresentar a mulher que estaria logo atrás, mas ela já estava abraçada com .
- Acho que a sua namorada prefere a namorada do . – fez uma careta, se sentando brevemente sobre a mesa do abajur, e passando o indicador e o polegar sobre o queixo, como se acariciasse sua barca, inexistente.
- Você tá me traindo, ? – Ele questionou semicerrando o olhar para mim, segurando o riso.
- Obviamente que não, coisa gostosa, porque eu e também não namoramos, o linguarudo do que fica colocando palavras onde não tem. – me virei e fiz a pior careta como deboche para o , rindo logo em seguida.
- Voltei. – a morena disse sorridente, provavelmente , já que ainda estava com os braços entrelaçados a .
- Bom, guys, essa é , minha namorada... – ele disse sorrindo amplo e orgulhoso, dando uma piscadinha para , que soltou uma gargalhada.
- E minha sócia! – soltou rindo, enquanto todos nós cumprimentávamos a morena e namorada do .
<>BR - Como assim sua sócia? Você que é a girl? – se virou com tamanha seriedade. – então é por você que meu homem está pedindo o divórcio? Bela escolha, dude, eu faria a mesma coisa!
- Ei, eu não sou isso. – a garota disse rindo enquanto ajeitava seu cabelo. – Somos amigos de infância, e é minha melhor amiga e fundadora da confeitaria comigo!
- Vocês são meio lerdinhos, não? O nome é &! – A morena ajeitava seus cachos ao falar com um breve riso no rosto, começou mexer as mãos para explicar a junção de uma forma completamente engraçadinha.
O restante da noite foi animado, sem contar o gerente do hotel dizendo que ia nos expulsar duas vezes por interfone, ele não expulsou, e continuamos a festar. Com o tempo a musica foi abaixando e as pessoas saindo da suíte presidencial, provavelmente indo para suas casas. Por fim, só estávamos nós de sempre e as duas proprietárias do &, nós riamos e contávamos velhas histórias.
- Olha aqui, , não ouse falar assim comigo! – disse fingindo estar séria, ainda que todos soubessem que estava segurando o riso, ela apontava dedo indicador em minha direção. – Você não tem moral pra falar que vai roubar meu homem, não ein? Pra segurar um desse tem que saber como usar muito bem um fouet.
- , A CULPA É SUA! – Gritei rindo alto. – se você não tivesse contado a historia do fouet eu estava livre desses discursinhos envolvendo fouet.
- Segura esse fouet, monamur. – soltou com uma voz afeminada, se enfiando no meio das almofadas.
- Segurando esses fouet’s que é gostar de você. – continuou, me observando revirar os olhos pro mesmo enquanto ele ria, e então joguei uma almofada na cara dele.
- Isso que dá cutucar a vara com onça curta. – disse tranquilamente enquanto enfiava um pedaço do bolo na boca e as duas garotas caiam na gargalhada.
- Você pensa no que fala? – soltou em meio a gargalhada.
Depois de muitas risadas e o sol nascendo elas decidiram ir embora, acontece que mesmo eu tendo relembrado os tempos do Essex e toda minha infância, eu tinha me esquecido de pedir o número da , pois obviamente, ela não respondia mais pelo e-mail da sua mãe. E então a garota voltou para a minha vida da mesma forma que tinha surgido: inesperadamente e de repente. Com a minha vida tão conturbada eu nem conseguia me lembrar mais do par de olhos claros que havia trombado comigo a bem mais de uma década atrás, porque a vida era assim oras, ela ia nos tirando pouco a pouco as coisas boas que faziam parte de mim, a memória falha e a rotina diária ocupavam tanto espaço que eu nem mais lembrava. Ela apareceu com o sorriso doce e a postura de mulher madura, apareceu no momento em que minha vida ainda estava conturbada demais, bagunçada ao extremo, tinha até certo receio de colocá-la em meio a toda aquela zona, tinha até medo de deixá-la entrar mais uma vez, na minha vida.
Acordei às dez da manhã, minha barriga roncava e eu sabia que naquele lugar não tinha nada pra comer, então nada seria melhor do que ir até a confeitaria da namorada do e minha antiga melhor amiga de infância comer, e quem sabe pegar o numero da mesma, já que eu tinha me esquecido na noite anterior. Andei cerca de duas quadras, me deparando com uma loja rosa de esquina, com flores na entrada e mesas do lado de fora.
- Oi, boa tarde. - eu disse sorridente ao adentrar a confeitaria parecendo da Barbie, toda rosa e cheia de frufru, observei a atendente que aguardava para anotar meu pedido. - bom, ontem eu havia encomendado um bolo aqui e acho que agora é meu favorito...
- Nós da & ficamos muito felizes por isso, senhor . - ela sorriu brevemente, me observando sentar na cadeira na beirada do balcão branquíssimo.
- Eu gostaria de falar com a e uma fatia daquele bolo de ontem. - abri um sorriso torto e amarelo, torcendo para que a moça soubesse qual era o bolo da noite anterior.
- Sinto muito, senhor, se você não souber o sabor do bolo acho difícil ainda ter anotado aqui qual foi o pedido. - ela franziu o cenho brevemente como se desculpasse pelo ocorrido. - e quanto a senhorita , ela não se encontra no momento, sinto muito.
- Você acha que ela passa aqui ainda hoje? - questionei-a logo recebendo uma confirmação com a cabeça.
- Ela sempre passa um pouco no período da manhã, tarde e noite, mas nunca em horários específicos. - ela concluiu, colocando seu bloco de notas no bolso do avental.
- Tudo bem, Jade. - sorri dizendo o nome que estava no crachá da bela moça morena. - não quero te dar muito trabalho. Vou querer dois cupcake, pode ser nozes e Nutella e um café expresso, por favor.
- Claro, logo eu trago. - a mesma sorriu indo fazer o seu trabalho, passando por outra mesa para anotar o pedido. A porta da casa de bonecas - ou a confeitaria da minha amiga de infância - foi aberta, revelando uma loira ofegante, com as roupas de corrida rosa claro igualmente a loja e mãos no joelho parecendo recuperar o fôlego.
- JOAN! Tem... como... você... preparar aquele... – a voz da saia totalmente ofegante e entrecortada, a mesma permanecia sorridente com as mãos nos joelhos e na entrada da loja recuperando a energia.
- Suco detóx que você me passou a receita esses dias? – a garota apenas concordou com a cabeça sorrindo e então se direcionando ao balcão próximo a mim, porém ela estava tão alheia, tentando recuperar sua respiração e batimentos cardíacos de forma que ambos soassem normalmente que nem percebeu enquanto eu sorria a encarando.
- Então quer dizer que você é uma dessas adeptas do suco verde, senhorita ? – ela se virou num pulinho para minha direção.
- Em minha defesa, esse suco é fico em ferro, vitamina C e ácido fólico, sem contar que é desintoxicante, você deveria experimentar, fofinho. – ela sorriu breve e confiante, se escorando no balcão.
- Que isso, nem deve ser tão bom assim... – fiz pouco caso torcendo o nariz para provocá-la.
- Tudo bem, mas quando você tiver cinquenta anos e minha pele estiver ainda impecável como agora, não reclame da sua toda flácida. – ela falou o flácida lentamente, movendo a sobrancelhas em convencimento, ri da cara da mesma.
- Tudo bem então, senhorita , passa esse suco pra cá! – eu disse puxando o copo da mesma que havia sido recém-colocado em sua frente. – Ew, isso é ruim, pode ficar, vou voltar para o meu café.
Aproveitamos que iríamos passar aquela semana em Sydney e não nos preocupamos com nada mais, apesar do gerente do hotel querer nos expulsar de verdade, ele não aguentava mais ter que gritar com um de nós correndo de cueca, para não dizer pelado pelo corredor do ultimo andar – que só tinha a suíte presidencial, porém tinha câmeras no corredor da mesma forma. – e gritando de madrugada, e quebrando acidentalmente os vasos da recepção por jogar bola, e talvez mais um punhado de coisas, além desse pequenino fato, estávamos nos sentindo em casa. e eu estávamos tão próximos quanto estaríamos se ela nunca houvesse vindo para a Oceania, e tivesse morado no Essex e não na Irlanda, enfim, você deve ter entendido o ponto de vista. já tinha se tornado parte da banda, ela sempre estava lá, tagarelando pelo meio do apartamento e fazendo o coitado do e do de escravos, mas coitado mesmo só do , o que lasque.
Era nossa ultima noite na Austrália, era para as duas terem ido ao show que teve na noite anterior, porém deu uma panei nas maquinas da empresa e elas acabaram passando a noite lá, ou seja, quando chegamos lá na loja – entramos com uma chavezinha extra, que descobrimos que ficava num dos milhares vasos cor de rosa da entrada. – as duas estavam tentando limpar e regular uma maquina de sorvete, mas o chão estava todo melado com sorvete de flocos.
Então acabamos fazendo o que fizemos naquela noite inteira, nos reuníamos e falávamos a noite inteira.
Ding dong.
Puxei a porta para quem quer que fosse e dei de cara com as duas, elas carregavam enormes sacolas de papel e vestiam pijama.
- Adorei sua pantufa de unicórnio, não é justo, eu quero uma dessa! – eu reclamei afinando minha voz, deu de ombros enfiando as compras nos meus braços. – eu to falando sério, você não vai entrar enquanto não me der essa pantufa! – coloquei as compras na mesa ao lado da porta – sim, aquela com o abajur. – e cruzei os braços em deboche para minha amiga. – você eu deixo entrar.
- Obrigada, . – ela disse rindo breve, passando e depositando um beijo em minha bochecha. – , CHEGUEI!
- eu vou tacar essa pantufa na sua cara se você não me deixar passar! – ela disse firmemente, fazendo um bico e então igualmente a mim, cruzando os braços. Ela tentou passar pelo meu lado direito, mas então a segui, impedindo sua passagem.
- Vem tacar, querida! – disse já rindo, e ela se aproximou de mim rapidamente cutucando minha cintura, me fazendo encolher com as cócegas a ponto de estar caído no chão, ela deu um espaço para que eu respirasse então a puxei para o chão revidando as cócegas.
- O que é isso? Montinho? – perguntou enquanto entrava na cozinha distraidamente e calmamente?
- MONTINHO? – gritou ainda em duvida, vindo correndo para a entrada da suíte.
- MONTINHO! – pulou de cima do sofá em minha direção e da que estávamos jogados no chão, e então veio e depois , e até a abusada da . Depois de muito tempo tentando voltar a agir como os seres civilizados que éramos, decidimos sair do chão e cada um caçar seus rumos.
- O que vocês trouxeram para o jantar? – dizia sentado em cima da bancada de mármore da cozinha.
- Farinha, leite, ovos... – dizia os ingredientes enquanto os tirava da sacola.
- Você vai cozinhar?- perguntou bocejando no canto do cômodo.
- Eu não, mas os quatro ai vão. – piscou para e então as duas deram um toque de mãos como se planejassem algo.
- A é uma péssima professora. – eu resmunguei ainda sentado em uma das cadeiras.
- Você quebrou os ovos e jogou a casca junto na receita , como quer que eu te defenda? – dizia rindo, e entregou em minhas mãos uma caixa de ovos. – vamos lá queridão, honre os ensinamentos da nossa querida e mostre que aprendeu quebrar alguns ovos.
- Certo, guys, vamos fazer panquecas. , coloque uma xícara de leite, , uma xícara de farinha e , duas colheres de manteiga. – disse sorrindo, apenas analisando nós na pia da cozinha jogando tudo numa vasilha de vidro.- , já quebrou o ovo? - assenti com a cabeça. – Então só adicionar a mistura.
- , preciso que coloque duas colheres de açúcar, , uma colher pequena de fermento e , uma colher pequena de sal. – continuou a receita. – , você vai ficar com sua parte favorita, o fouet.
- Traidora. – fiz uma careta para que ria e estendia o fouet em minha direção, peguei o mesmo o enfiando na massa, o que fez voar um monte de farinha no ar, comecei a mexer mas estava tudo uma merda.
- Podem ir colocando a frigideira para esquentar e um de vocês ajeita a mesa com os recheios, vou ter que ajudar meu aprendiz mais uma vez. – disse sorrindo e então se voltou para me observar. – Assim não, , de dentro para fora. – Ela passou o braço sobre o meu, guiando o mesmo em movimentos calmos, sua mão deslizava pelo meu braço até minha mão, sua respiração calma próxima ao meu rosto, vale mencionar só agora que eu sempre tive uma puta de uma queda por aquela garota? Acho que desde o dia em que ela apareceu toda imponente me mandando usar o fouet.
E então o tempo passou, não só para o final daquela noite que acabamos comendo panquecas queimadas pela anta do , mas para o final daquela mês, já estávamos em Londres há algum tempo, os caras sempre faziam chamada face time com as duas que permaneciam na Austrália. me ligava quase todos os dias para papear, coisa besta, as vezes coisas sobre o passado ou o mais recente possível, nesse meio tempo em ligações eu pude contar sobre tudo, sobre como tudo aconteceu rápido demais e quando vi já estava afundando nas drogas, e como submergi durante a reabilitação, ela me contou que seu pai teve câncer a alguns anos, e que faleceu no seu ultimo ano de faculdade, o que quase a levou a desistência da graduação. Era sábado a tarde e eu estava jogado no sofá da casa do , a campainha tocou mas deixei tocarem mais vezes até aquele bosta ir atender, afinal, a casa era dele.
- Adivinha quem veio fazer uma surpresa?- gritou se jogando no namorado.
- E quem veio de intrusa para tirar umas fotinhas na London Eye? – fazia uma cara animada e esticava as mãos, mexendo os dedos próximo a seu rosto, como se não bastasse ainda dava algumas piscadelas. – Eu mesma!
- ! – corri para abraçar a mesma. – eca, você ainda esta tomando aqueles sucos gosmentos, né? Porque se não tomou, tem uma meleca verde no seu cabelo! – eu disse rindo alto da mesa.
- EW! – ela gritou fazendo uma careta. – Foi aquele menino idiota que sentou do meu lado, porque a bonitona sentou na janela e eu fiquei no meio, COM UM MENINO DE SEIS ANOS SÓ FAZENDO MERDA E GRITANDO DURANTE AS ONZE ULTIMAS HORAS DE VOO. - Ela estava tendo uma crise de nervos e então começou a rir. – uau, até meu humor está sendo afetado.
- O voo demorou onze horas?- questionou ainda com a namorada nos braços.
- Vinte e duas. – disse num sorriso ainda congelado, como se lembrasse do que passou no ultimo dia. – e cinco minutos, acho que foram 16. 993,14 quilômetros, então, por favor, façam isso aqui ser o paraíso!
- Quanto tempo pretendem passar? – questionei puxando a mala da para dentro da casa e fechando a porta.
- Duas semanas, eu tinha reservado uma suíte no Four Seasons, e hoje na hora que eu desci no aeroporto parecendo que uma cambada de pombos tinha passado da minha cabeça, e eu só queria dar uma dormidinha no hotel, eles me ligaram dizendo que minha suíte foi cancelada por motivos de prioridade. – ela reclamou fazendo um bico enorme.
- Mas era mesmo prioridade, Madonna está na cidade e precisava de um hotel! – concluiu colocando sua mala de mão sobre o sofá.
- Quem é Madonna perto de mim? – ela fez uma careta e logo abriu um sorriso, se aconchegando no sofá. – Agora estou sem hotel, desabrigada e com meleca verde no cabelo.
- Vamos, você pode ficar lá em casa, e aproveita pra lavar esse cabelo. – eu disse puxando a sua mala para a porta. – Pelo jeito esses dois querem ficar sozinhos, o até já tá me tocando com a mãozinha, olha ali. – disse rindo junto a .
A semana correu e ela não tinha mais meleca verde no cabelo, ela contava que as vinte e duas horas no avião pareceram uma vida, ou um filme de terror, as primeiras onze horas antes da conexão era um idoso babão, que intercalava entre xavecar ela com gírias e cantadas dos anos sessenta, babar em seu ombro e mostrar as fotos dos netos. E os onze restante, você praticamente já sabe. Ela dormia no quarto de hóspedes, assistíamos a The Late Late Show, e quando Uria não iria cozinhar, pedíamos pizza. Quase sempre os garotos estavam em casa, mas também passávamos bastante tempo só nós dois conversando.
Era uma sexta e ela tinha saído com algumas amigas que estavam em Londres, durante o pouco tempo que ela tinha passado fora aconteceu muita coisa, Kylie apareceu falou um monte de merda, chorou e depois foi embora, fiquei estressado e meu Deus como eu sentia que precisava fumar um, mas eu era inteligente sóbrio, eu escondia geralmente fora de casa para dar tempo de alguém de atrapalhar, e foi o que aconteceu, quando corri para pegar o que eu ainda tinha no carro – sim, o mesmo da vez do presente do – Ela entrou por aquela porta, o sobretudo preto caindo sobre seu corpo logo foi retirado dando espaço para o vestido curto e branco bem moldado sobre o corpo dela.
- Ainda acordado? – ela disse se aproximando de mim.
- Acho que preciso de um baseado. – a mesma arqueou a sobrancelha em minha direção e seguiu até o sofá, retirando os saltos no inicio do carpete.
- Você sabe que não precisa. – ela disse tranquilamente se sentando em minha frente. – Acho que você tem algo para me contar, o que te deixou estressado hoje?
- Nada. – dei de ombros, tentando fugir do assunto sobre Kylie.
- Se fosse nada, não estaria correndo atrás de um baseado. - ela jogou os ombros convencida e então seguiu até a cozinha. - Vem, vou preparar um wrap para comer, quer um?
- Acho que aceito. – disse sorrindo, ela puxou uma garrafa de vinho da geladeira e puxei duas taças. Ela se remexia ao som de Wonderwall que tocava baixo no celular enquanto ela cantarolava, coloquei o líquido nas taças fazendo um brinde junto à ela. Ela virava os wraps com a mesma facilidade que virava todo o líquido do seu copo. As músicas acabavam e iniciavam-se novas, ela jogou os ingredientes numa nova vasilha.
- Mexe para mim esse molho? – concordei indo fazer o que havia sido pedido enquanto a mesma montava os wraps. Mas novamente, eu era uma negação para mexer as coisas. - Definitivamente isso não é para você.
- Pelo menos, sou bom em quebrar ovos. – Fiz um semblante galanteador para a mesma que ria, ela passou a mão firmemente sobre meu pulso.
- Tenta não mexer o braço, só o pulso. – ela disse sorrindo próximo ao meu rosto, mexi mais uma vez tentando me concentrar na merda do molho, mas os lábios dela pareciam muito mais convidativos do que aquela mistura.
- Assim? – questionei, observando o negócio criar certa cremosidade, ela terminou sua taça de vinho mais uma vez, observei-a levemente corresponder meu olhar sorrindo breve, podia ser loucura, eu podia levar um tapa, mas tinha alguma coisa me dizendo que aquilo era o certo. Acariciei o rosto da garota, colando meu corpo no seu, que estava encostado na bancada, e então ela passou sua mão para minha nuca, me puxando logo para o beijo. O mesmo evoluiu para amassos, meus beijos percorriam o pescoço da garota, que estapeou o fogão desligando o mesmo que anteriormente fervia o molho, sem se desgrudar de mim. Logo nossas roupas foram se perdendo pelo caminho até o sofá. Ficamos um tempo depois de recuperarmos nossos fôlegos, ainda no sofá conversando sobre todas as coisas.
- Meu Deus, ainda bem que você deu a ideia de fazer esses wraps. – eu disse enquanto pegava um deles e mordia, ela puxou minha camiseta do chão colocando por cima da roupa íntima.
- Ei, não come tudo! – ela resmungou sorrindo breve, e puxando o ultimo do meu prato e molhando no molho branco. – Isso aqui está queimado.
- Você que queimou. – dei de ombros me ajeitando na cadeira.
- Você que moveu todas às circunstâncias para que eu queimasse o molho, portanto a culpa é sua, bonitinho. – ela deu uma piscadela e voltou a morder deu wrap.
O nome dela era como a mesma, o significado era rainha das fadas, amável e amorosa, sem contar a velha lenda de que antigamente havia uma rainha Irlandesa que era venerada pelo seu povo. E de fato era o que a irlandesa era, ainda que longe da sua terra natal e longe da mitologia de todas as coisas, ela tinha tendência a reinar onde quer que ela esteja, de uma força inigualável e também fé. Tudo o que a , agora mulher, tocava, virava ouro, e eu me sentia como tal ao lado dela. A pequena irlandesa levava sua cultura e amor pelo seu povo por onde quer que pise, trazia a alegria e dançava o ceilidh.

Flashback'on

Era mais um dos tortuosos dias de reabilitação, corridas matinais, interação em grupo, o horário marcado com a psicóloga e toda aquela merda de rotina. Havia dias bons, tranquilos e passageiros, às vezes esses dias se estendiam para uma semana, mas então ela chegava, como a água, vinha morna e lentamente entrando por meu ser, e quando eu via, já era dominado por essa água. E a água era a dor. Nessas horas era que eu caia na maior cilada, porque porra, eu estava bem! Eu estava saudável, estava pensando claramente e amando a minha vida, mas a dor era dura, parecia nunca ser destruída. Tinha dias que logo cedo ela já levantava da cama comigo, parecendo me espancar a cada passo que eu me limitava dar, não sabia para onde ir, o que fazer, ou para onde correr, mas nesses dias eu tinha Chelsea, ela parecia maternal, sábia e um poço de calmaria, ela pegava minhas mãos enquanto por dentro de mim tudo que ocorria era um colapso, segurava-as firmemente e me olhava nos olhos, e eu não entendia o porquê, mas aquela mulher me passava todo o conforto que precisava para superar, ela era aquela a qual eu sempre ia me espelhar. Chelsea era médica, tinha seus trinta anos e o semblante sempre apático, sofria com a depressão e a ansiedade, de acordo com ela, talvez desde que havia descoberto quem era, correu milhas para longe da depressão, mas como a mesma dizia, quando se sentava no escuro para recuperar o fôlego, lá ao lado dela, a depressão estava, nunca a largava. Chel perdeu os pais num acidente de carro aos dezesseis, vinha de uma família rude e distante, observou sua irmã mais nova morrer e vomitar sangue em seus braços, e então tudo o que projetou na sua vida foi em poder salvar pessoas, o irônico disso tudo era que a única coisa que ela não queria, era se salvar.
Nós dois dividimos o próximo estágio, onde a dor não era apenas psicológica ou no nosso peito, as dores passaram a se tornar físicas e então parecia que íamos definhar.
Bati na porta três vezes, e logo fui atendido pela ruiva que sorria brevemente. A tarde passou calma, relembrando de como era bom finalmente estar longe daquele lugar. Chelsea era a única que pode me dar todo o amparo de amigo necessário nos meus piores momentos na clínica. Já no fim de tarde tudo ficou silencioso e já havia algum tempo que ela tinha ido para cozinha, segui o caminho em passos calmos e quando cheguei até a entrada pude perceber, não era um bom momento. Observei a garota com o rosto levemente inchado, os olhos pareciam apáticos e alheios a tudo, a mulher estava escorada na mesa de mármore e sua mão esquerda agarrava uma caneca com força.
- Chel? - disse enquanto me aproximava dela. - Está tudo bem?
- Tudo como sempre esteve. - sua voz saiu contida e sem representar emoção alguma. Observei pela pia logo atrás do corpo da garota algumas embalagens e potes de remédio.
- O que estava fazendo? - a mesma virou o olhar em minha direção indiferentemente.
- Você sabe, tomando cápsulas do meu paraíso diário. - ela sorriu fraco, enquanto seu olhar se perdia pelas unhas da sua mão.
- Mas você é médica, tem que estar sóbria, tem que se manter longe daquilo que te faz mal diariamente... - me aproximei da minha amiga observando que na caneca só havia água.
- Exatamente, salvo vidas o dia todo, está na hora de salvar a minha. - ela passou sua mão sobre meu braço, acariciando-o brevemente. - Você sabe, querido, uma hora nossos demônios tem que ser libertados, já os mantive preso o dia inteiro.
- Mas a clínica... Você estava tão bem durante... - ela parecia querer sorrir ironicamente, mas ao mesmo tempo parecia estar chapada demais para isso.
- Eu estava bem e continuo bem aqui fora, acontece, , que eu sinto que toda a dor ainda vai me matar. - a mulher suspirou fechando seus olhos fortemente. - eu sinto que há um vazio aqui, é que não vai se restaurar, é ilusão achar que vou me curar. Eu vi você tendo uma crise de abstinência, eu também vi você superar...
- Eu também vi você superar tudo isso, Chelsea! - disse um pouco alto de mais, porém minha amiga pareceu não se importar.
- Os remédios, , não me prejudicam. - afirmou, enquanto fitava meus olhos. - eles são o que me mantém, querido, lá na clínica eu também estava com eles, em número moderado, mas ainda estava, tinha dias que era insuportável, porque tudo parecia me corroer, era nesses dias que na clínica eu me trancava no quarto, mas tudo que eu pensava era em morrer. Os remédios me tornam quem eu sou, porque sem eles sou só o que sobrou. É só que, quando está de noite e o dia todo correu bem, sinto como se novamente eu fosse jovem, forte e inabalável, pronta para superar o que vier pela frente, mas de manhã, mais uma vez eu sou só os cacos do que nunca consegui ser. - ela suspirou largando a caneca na pia e voltando para sala junto a mim.
- Já tomei tudo que me afasta da dor, agora se me der licença, acordo só daqui dezoito horas. - ela disse como se apontasse para a porta.
- Você vai ficar bem? - questionei-a e ela abriu um sorriso me abraçando.
- Tenho certeza que sim, só me certifique que você vai se cuidar. - a mulher acariciou meu cabelo. - Você tem um futuro maravilhoso pela frente, uma vida para recomeçar, eu sei que vai encontrar alguém que vai trazer toda a ternura que você precisar.

Flashback’off.

- , , me responde! - um dos muitos repórteres gritou em meio à multidão, enquanto entravamos na premiação. entrava ao meu lado tranquilamente, ainda não tínhamos mandado nada a imprensa falando sobre nós, esclarecendo ou negando as coisas.
- Sim, meu lindo?! - disse dando uma piscadela pro repórter que havia gritado, fui até uma das barras de encontro com ele, da mesma forma que fazia com os caras da banda.
- Você está namorando ? - ele perguntou estendendo o microfone para mim.
- Namorar com ela? - fiz uma careta para o entrevistados, olhando levemente para ao meu lado e então jogando minha mão para o lado, como negação e abrindo um sorriso galanteador. - Eu estou com o !
Depois da premiação voltamos para casa, estava de volta em Londres, dessa vez por duas semanas novamente e sem nenhum garoto de meleca verde sentado ao seu lado, eu tinha decidido, eu ia pedi-la em namoro. Ela tinha chego e ido direto para a premiação me encontrar, então mal ela sabia que eu estava preparando todo o jantar, a premiação duraria no máximo duas horas, seria tempo de deixar tudo pré pronto e ainda estar fresco para assar quando voltarmos. Saímos de lá indo direto para casa, ela vestia um longo vestido preto e branco, ela se sentou e então me observou retirar a lasanha de batata do forno sorridente.
- Eu optei por batata, por que você é irlandesa, né? Achei que não iria ter erro. – eu sorri timidamente colocando sobre a mesa.
- Adoro batata. – ela concordou sorrindo. – Está com uma cara ótima, só me garanta que não vou comer casca de ovos.
- Garanto, Uria até ficou me fiscalizando, mas sem colocar a mão em nada, fiz tudo sozinho. – sorri convencido. – Bom agora que a parte difícil já foi feita, quer oficialmente namorar comigo, ? – disse rapidamente, na lata.
- Bom, se não tem mesmo casca de ovos nisso tudo, acho que eu quero sim. – ela sorriu amplamente colocando na boca a primeira garfada, enquanto eu colocava o vinho nas taças. – Uau, isso aqui está incrível!

Os dias com a pareciam até contados, já que ela sempre voltava para a Austrália, então quando ela estava fora acabava me lembrando de como tudo era antes, e como aquela garota sempre foi um gênio, quando ela se foi, antes de ir ela me disse que eu devia me permitir, aproveitar a vida, conhecer lugares, pessoas e se apaixonar pela cultura e culinária local, porque era isso que fazia a vida valer a pena, igualmente ela tinha se permitido viver em Corringhan e me conhecer, e depois de tudo o que viveu não querer mais abandonar aquele lugar. Mas então ela disse o que mais me surpreendeu, talvez não na época, mas agora revendo tudo, ela sorriu e disse calmamente, enquanto quebrava alguns ovos para seu ultimo cupcake no Essex: ‘’ Mas como na culinária, a vida sofre mutações, e só cabe a nós aceitarmos, .’’ Depois disso ela disse muito mais sobre ela ir embora, mas aquela frase se encaixava em boa parte da minha vida, onde eu tive que aceitar que a vida seguia, como quando ela se foi, quando meu pai se foi e quando tudo que eu tinha amor também se foi.
- Ei, tenho uma novidade para te contar! – ela gritou animada pelo face time. – estou me mudando para a Irlanda essa noite. NUNCA MAIS VINTE DUAS HORAS E GAROTOS DE MELECA VERDE!
- Nem velhos tentando arrumar minha namorada para os netos deles! – gritei do outro lado, compartilhando da animação da que ria alto.
- Meu voo sai em uma hora, vou terminar de empacotar as coisas para depois passar minhas ultimas vinte e duas horas. – ela disse por fim.
- Ah, amor, fui chamado para o I’m celebrity... get me out of here! – complementei animado.
- Sério? Eu adoro esse programa! Parabéns, ! – ela gritou animada. – Te vejo amanhã, ou depois de amanhã quando eu estiver em terra firme, beijos!
- Beijos, boa viagem! – sorri observando a garota acenando como uma louca pelo visor do celular.

Nosso voo até a Mykonos tinha sido calmo e um pouco infestado por fãs locais pedindo fotos ao desembarcarmos, nosso planejamento era ficar uma semana, sendo que o primeiro dia turistariamos pela ilha e no seu segundo e terceiro seria os dois dias da inauguração do & Cake versão grega. estava radiante saltitando pela escadaria branquíssima - como tudo na Grécia - do hotel, um dos funcionários vinha com as malas dela logo atrás. Bati os olhos no mar logo as minhas costas, a vista dali era perfeita, parecia uma ilusão, e então eu percebia o quanto a minha vida tinha tomado um rumo diferente em questão de alguns meses. Há algum tempo, eu estava perdido, e sinceramente achava difícil que alguém me encontrasse, afinal, nem eu mais me encontrava em meu corpo. Tempo depois, eu estava numa clínica em Londres, tentando me recuperar e pelo menos voltar a ter uma vida. E agora, eu estava com uma mulher que parecia ser o sol - e parecia o escaldante e vibrante de Mykonos. - com a não tinha tempos ruins, não tinha frio e poucas vezes eu me lembrava da dor. Ela me trazia para locais ensolarados, a conheci no verão de Sydney e na semana seguinte estávamos mergulhando no Gordon's Bay. Ela havia aparecido, em dias ensolarados do Essex, me tirou do frio e da nublada cidade britânica, e me mantinha aquecido, pois parecia que todo lugar que ia, o sol a perseguia.
No dia seguinte, depois de gargalharmos no café da manhã como loucos no hotel, tendo aproveitado a praia mais próxima no dia anterior, tinha a inauguração da sua confeitaria.
- Sim, os doces dessa coleção são todos inspirados na mitologia grega e no mar Egeu, não quero nada além do cardápio clássico e dessa nova coleção. - ela dizia ao telefone ainda de roupão e descalça, a maquiadora havia acabado de abandonar o hotel. parecia nervosa com a inauguração, parecia séria, mas toda hora que eu a encarava, tentando compreender sua seriedade, ela abria um enorme sorriso e voltava para sua ligação, pelo que parece com a gerente da confeitaria de Sydney.
- Cara, só não vai com aquela blusa rasgada... parece que você só tem aquela. - fez careta na vídeo chamada que estava aberta no notebook em cima da mesa.
- Ai, amor, me deixa! - eu disse para - ou melhor, para a câmera. - fazendo uma voz fina e batendo os olhos. Observei ainda ao telefone me observar segurando o riso. A campainha tocou. - Vou atender a campainha e ir me arrumar, querida, saudades viu, chuchu, beijinhos. - falei encerrando a chamada com coraçõezinhos feitos com as mãos sendo retribuído pelo mesmo gesto do meu amigo do outro lado do oceano.
- do céu, faz tanto tempo que a gente não se vê, como assim você está morando na Irl... - assim que eu abri a porta uma morena mais ou menos da minha altura, foi entrando na minha casa, tá não era minha, de uma vez, desembestando a falar e falar, e então ela se virou para mim que ainda estava parado na porta entre boquiaberto e sem entender nada. – Oi, sumido! Bom te ver aqui!
- ! - soltei ainda confuso, e então abrindo um sorriso voltando do meu devaneio. – Você que sumiu, bom te ver de novo. - disse direcionado para mulher em minha frente, os cabelos cacheados estavam bem arrumados e com uma flor ao lado.
- ! - o grito animado soou quase aos meus ouvidos e então correu para abraçar a amiga, pulando nela. Elas passaram algum tempo tagarelando enquanto provavelmente se arrumavam. Logo foi embora, provavelmente a veríamos de novo na inauguração.
Terminei de vestir uma camisa social branca, não a abotoando por inteira e calçando o tênis, observei correr pelo corredor do hotel, enquanto eu ainda estava sentado no sofá, ela vestia um vestido leve e branco, colocava os brincos enquanto tagarelava sobre sua ansiedade.
- Só vou pegar meus saltos e vamos, tudo bem? - ela olhou para mim sorrindo breve, como se estivesse indo para o quarto novamente, mas então ela parou com as mãos na cintura me observando.
- Sem problemas. - eu sorri em concordância, me afundando no sofá.
- Como você consegue ser essa fofurinha em pessoa? Tudo bem que você não sabe polvilhar até hoje e é péssimo em cozinhar, mas olhando assim... - ela falava rápido e sorria amplo, a mesma caminhou até mim, sentou-se do meu lado.
- Ei, eu sei cozinhar! - ela semicerrou os olhos em minha direção, afinal, ela sabia que eu não sabia cozinhar direito, mas eu até tentava. - Ok, eu não sei. - fiz uma careta. - Mas bem que uma gastrônoma lindinha aí, poderia me ensinar, né? Estou sempre aberto para novas experiências.
- Quem sabe, né? Te ensinar é muito difícil, e coitada... - ela debochou, jogando os ombros descobertos levemente para trás e sorrindo breve.
- Super difícil... - sorri em concordância, grudando nossos lábios, sua mão seguiu levemente para minha bochecha, e ela se permitiu retribuir o beijo na mesma intensidade, não era um beijo carnal, era algo mais, era como se dividíssemos nossa cumplicidade. O celular da mesma vibrou duas vezes ao meu lado no sofá e então ela se afastou, bufando brevemente e encostando a cabeça em meu ombro.
- Aposto que é a mensagem de lembrete. – ela fez uma careta, e ao olhar para o aparelho confirmei o que a mesma dizia. A mulher sorriu se levantando e colocando o salto fino e claro nos pés, ela caminhou até a porta no nosso apartamento do hotel enquanto ajeitava sua bolsa nos braços e o cabelo, o interfone tocou uma única vez e ela já o pegou. – O carro já está ai para nos levar até a loja.
O carro nos levou até o centro da ilha, onde as ruas estavam movimentadas e o pôr do sol em um tom rosado decorava o céu, descemos em frente à confeitaria prestes a ser inaugurada, a fachada em tons brancos e levemente rose, cheia de florezinhas que decoravam sua porta de entrada, quase toda com janelas enormes de vidro onde podia enxergar o interior do local. Ao descermos, nos posicionamos próximos a e o futuro gerente da loja, a enorme fita vermelha logo a frente estava prestes a ser cortada. O anunciante engravatado surgiu à frente da fita, dando as boas vindas em grego e em seguida repetiu em inglês.
- Olá, primeiramente eu gostaria de agradecer todos vocês por terem vindo prestigiar a nossa mais nova franquia do & cakes. – surgiu ao lado do anunciante anterior, o vestido floral e longo caia bem em seu corpo, a morena projetava um belo sorriso nos lábios pintados de vermelho. – E eu queria agradecer mais ainda a , que esteve ao meu lado nessa maior loucura que é a vida, me apoiando quando nosso sonho de ter nossa própria empresa parecia tão distante e me motivando quando nossos doces não saiam como o esperado, por favor , venha até aqui! Não está esperando que eu abra nossa loja sozinha, né? - A mulher riu breve, recebendo aplausos pelo seu breve discurso e ao seu lado, as duas se abraçaram.
- Boa noite, queridos, não querendo repetir o discurso da minha amiga, mas saibam que sou extremamente grata por vocês estarem aqui essa noite. – ela ampliou seu sorriso. – Espero que a nossa franquia atenda todas as esperanças de vocês, nós trabalhamos muito para que esse sonho se realizasse, corremos atrás de culturas novas, fomos a fundo na história local e vivemos por meses como se fôssemos nativas de um local para podermos criar uma nova linha, então com a abertura dessa incrível franquia, damos inicio a produção da nossa nova linha de doces e outras delicias. Está oficialmente aberta nossa coleção Greek Treasure.
- Como estava dizendo, nossa nova coleção, Greek Treasure, é toda baseada na Grécia, tanto na antiga, como na atual, nos permitimos mergulhar de cabeça nessa cultura fascinante, dando espaço tanto para os mitos, quanto para as verdades dessa terra. Eu espero que vocês, assim como nós se vejam apaixonados por nossas especiarias como igualmente nos vimos apaixonadas pela cultura de vocês. – finalizou o discurso, e então as duas se posicionaram cada uma de um lado do enorme laço vermelho sobre a fita, cada uma puxando uma das pontas, o que fez a espécie de barragem sumir. Uma salva de palmas explodiram ao meu redor e então me juntei às duas que estavam paradas em frente ao local, cumprimentando cada um que adentrava o ambiente.
- Oi de novo, , o que achou da nossa apresentação? – soltou animadamente, largando minha namorada do abraço.
- Sinceramente? Você foi até bem, mas a ... – fiz uma careta tentando não rir, em seguida abracei de lado, rindo. – Vocês duas mandaram muito bem, até me convenceram de ir até essa... – fiz sinal de como se precisasse lembrar-me do nome da loja. - essa tal de & cakes e comprar a loja inteira...
-Você é um babaca, pena que não pode vir, se tivesse vindo vocês estariam acabando com a calmaria desse local. – disso sorridente, pegou uma taça de champanhe da bandeja de um dos garçons e então bebericou.
- Desde quando você está namorando, senhorita ? – semicerrou o olhar para a melhor amiga que ria tranquilamente.
-Não estou, ao menos não ainda... – ela deu uma piscadela. – Se me dão licença... – ela disse sumindo para o interior do local. Algumas pessoas ainda passavam e nos cumprimentavam, a noite caiu tranquilamente e as luzes da cidade pareciam deixar tudo mais sereno do que de dia.
- Esqueci-me de agradecer você, por todo o apoio nesses últimos dois meses ao meu lado, por embarcar nessa loucura local comigo, ir a fundo a mitos gregos e me dar esperança... – ela sorriu, passando a mão sobre o colarinho da minha camisa branca formal. – Principalmente por permanecer comigo nos momentos de estresse, me sinto tão grata por ter você. – ela se limitou a não olhar nos meus olhos, observei seu sorriso contido e suas bochechas levemente rosadas, beijei-lhe a testa, enquanto nos envolvíamos num abraço ao som de uma música levemente animada grega.
- Amo você. – eu sussurrei brevemente sobre o ouvido dela, que abriu um amplo sorriso.

Acordei às nove da manhã, os lençóis brancos ao meu lado estavam vazios, havia um post-it Pink dizendo ‘’Fui fazer uma corrida matinal, volto logo!’’ e então me levantei preguiçosamente, indo tomar um banho e colocar uma roupa leve, talvez se eu fosse correr eu a encontraria no meio do trajeto, e caso não a encontrasse, uma corrida matinal sempre fazia bem. Depois de fazer tudo o que precisava, desci para a praia, corri cerca de dez minutos, e avistei & cakes, meu estômago já estava pedindo por alimento, então foi a minha deixa perfeita para abandonar a corrida matinal – sorry, – E ir comer. Adentrei o estabelecimento, tinha uma movimentação grande até, por ser tão cedo.
- Olá, senhor , no que posso ajudá-lo? – uma moça morena sorriu com a caderneta em mãos.
- Bom dia, hmmm... pode ser o mais pedido no café da manhã de vocês e um Mocha Latte grande. – sorri para ela, que logo sumiu do meu campo de visão, me ajeitei sobre a cadeira da bancada do local, permitindo-me observar tudo ao meu redor. Logo a garota chegou por trás beijando o meu ombro. – Bom dia para você também, senhorita .
-Bom dia, coisinha chata. – ela sorriu se sentando na cadeira ao meu lado.
Mais tarde, estávamos numa mesa no canto da & cakes, nossa mesa estava quase grudada na janela de vidro, onde batia uma claridade incrível, contava piadas e ria alto sem se importar de estar chamando atenção de um estrangeiro ou outro do local. A conversa fluía e o planejamento para o dia seguinte também, até agora a intenção para o dia seguinte era fazer uma festa num iate ou ir para Atenas. Eu conseguia me sentir completamente tranquilo perto da e também de , mas minha tranquilidade se esvaiu tão tranquilamente quanto chegou, a mensagem era do doutor Finn, o médico que me deu alta durante o tempo de clínica e de Chelsea também. A mensagem era curta e rápida, porém nada esclarecedora, o que fez meu estômago revirar. Ela dizia: Precisamos conversar sobre Chelsea, urgentemente.
- Preciso fazer uma ligação, com licença. – disse para todos na mesa sorrindo breve e saindo de lá, estava rodeada de clientes loucos para ouvir suas histórias com a procura de uma receita perfeita de como tornar um muffin tradicionalmente grego. Sai do local indo para o jardim em frente à loja já discando o número do médico, por um momento o nervosismo me corroía tanto que eu deseja muito ter um cigarro em mãos, mesmo não sentindo nada falta do maldito cheiro.
- Olá, , boa tarde, como você está? – Finn atendeu tranquilamente, como se estivesse novamente numa das consultas que ele fazia logo após um de nós sair de uma crise. Era sempre assim, a noite passada às vezes era péssima, mas no dia seguinte, lá estava o Dr. Finn, sorrindo e perguntando como estávamos.
- Boa tarde, até agora estou muito bem e você, doutor? – disse incomodado enquanto mexia numa das flores do vaso próximo a mim, minha mão estava terrivelmente inquieta.
- Temo que não tão bem, , eu adoraria saber mais sobre como está sua viagem pela ilha grega, mas isso vai ter que esperar, tenho algumas notícias para te dar e infelizmente ainda que eu queira, elas não podem esperar. – e então o médico suspirou pesadamente, como se procurasse as melhores palavras.
- Você havia dito que era sobre a Chelsea, ela está bem? Teve mais uma das suas crises ou então você suspendeu os remédios dela... Você sabe né, doutor? Que ela esta se automedicando? – minhas palavras saiam rápidas demais, como se atropelassem umas as outras.
- Bom, na noite anterior ela me ligou em meio a uma crise, eu aconselhei que viesse até meu apartamento e ela negou, queria ficar sozinha, disse que precisava reorganizar sua vida, mas pediu que eu a ajudasse, recomendasse alguns remédios mais fortes, já que os anteriores já não surtiam mais efeito. – ele disse tentando soar calmo, mas algo me dizia que não terminaria bem. – e então ela viajou até Eastbourne, você sabe, onde os pais dela morreram no acidente de carro, próximo a Beachy Head.
- Mas lá é altamente patrulhado, não iam a deixar chegar perto da beira da montanha. – eu disse sentindo meu corpo tremer com a notícia. – Lá tem pessoas para impedir qualquer coisa, Finn, por que você a deixou sozinha em casa? – No final da frase eu notei que já estava quase gritando, ainda sem saber o final, eu já o imaginava, e meus olhos pareciam começar lacrimejar.
- Eu, eu não imaginava, ... ela estava tão bem. – sua voz saiu embargada e trêmula, Finn era extremamente apegado a Chelsea, eles eram amigos de faculdade, ele a conheceu desde o princípio de tudo. – Ela convenceu um dos patrulheiros locais que ele não podia a impedir, que ela iria o fazer de qualquer forma, e que ela queria que o fizesse com dignidade num local que tanto significava para ela, as cinzas dos pais e da irmã foram jogadas lá. Ela foi com uma goPro e gravou alguns momentos antes, fazendo seus agradecimentos finais, ela disse no vídeo que deixou uma carta para você, , no apartamento dela. Sinto muito, , mas Chelsea se foi.
- A culpa é sua Finn, é sua! – minha voz saia rancorosa e pesada, em meio de todas as lágrimas que pareciam me tomar, me sentei sobre um dos degraus, ainda com o celular no ouvido. – Você tinha que ter ido até lá, tinha que cuidar dela! Você me disse que ia cuidar!
- Eu pensei o melhor dela, eu pensei por um momento que ela estava a salvo... – o médico dizia aos prantos, igualmente a mim. Não era culpa dele, eu sabia que não era, nós dois parecíamos segurar uma fina linha de esperança, para que um dia Chelsea fosse salva. Mas no fim nós sabíamos, ela não queria, e ainda que impedíssemos, ela não poderia ser salva. Meu corpo tremia, que quando senti mãos sobre meu ombro, não conseguia virar meu rosto para encarar o dono das mesmas. – Se você quiser voltar, todos do hospital faremos um memorial para ela esta noite, no jardim do London Bridge Hospital. Sinto muito por sua perca, , sinto mesmo.
- Tudo bem, Finn, obrigado por tudo! – finalizei a ligação, e mantive meus olhos fechados, os soluços tomavam conta do meu corpo enquanto as lágrimas infestavam minha camisa branca, um par de braços me segurava. Minha mente rondava, por onde eu estava enquanto ela precisava de mim. Queria culpar a viagem, mas tudo estava tão bem por aqui, por um momento eu só tinha alegrias, e larguei Chelsea lá em meio a sua escuridão para viver a minha felicidade, me senti ingrato e egoísta por estar vivendo um romance enquanto ela vivia sua solidão. Por um momento eu quis me afastar de , me impedir de continuar amando, como se isso fosse diminuir minha culpa pela morte de Chelsea, como se isso fosse recuperar o tempo que passei longe dela. A ligação encerrou e o eco passou pela minha mente, o celular permanecia em meu ouvido, ainda que sem outra pessoa na linha, todas as luzes gregas pareciam embaçadas e meu coração embasbacado. Pensei em como Chelsea havia ido, como ela havia vindo e vivido, todos da mesma forma, com o coração dolorido. Há tempos a ruiva não via uma vida em sua frente, seu olhar era pesado e a vida já havia arrancado quase todas as pessoas que amava de sua vida, ela convivia com a perda todos os dias da sua vida. Agora, eu devia ser ao menos um pouco forte como ela e conviver com a sua ida, e ser grato por todos os outros que felizmente eu ainda tinha, pois ela, não tinha.
- ? – finalmente disse, aninhei meu rosto sobre a curva do ombro dela, a mulher acariciava meu rosto calmamente. – O que aconteceu? Eu preciso que me conte.
- Chelsea, ela morreu, . – minhas palavras saíram todas confusas e perdidas em meio as lágrimas e a dor. – Eu preciso ir ver os caras e o Finn.
- Eu, eu sinto, muito amor. – ela disse baixinho e com um pesar por sua voz. – Então o que estamos esperando? Vamos agora. Eles precisam de você e você muito mais deles.
- Não, dá para esperar. – neguei ainda de cabeça baixa. – você esta no meio da sua estreia na Grécia, é uma oportunidade incrível você tem que ficar aqui.
- Eu tenho que ir onde eu sei que você vai precisar de mim. – ela me olhou firmemente nos olhos, e por um momento, no meio de toda aquela dor, eu senti que ela era o meu amor. – Eu estou com você para tudo, não vou te deixar ir sozinho para lá agora. – ela me levantou calmamente e apenas acenou para que estava dentro da cafeteria e me levou para o táxi a frente. – Por favor, para o aeroporto.
-, mas e nossas coisas? O hotel, suas roupas... – questionei-a e ela deu de ombros enquanto limpava com um lenço de papel minhas lágrimas.
- Nada disso importa agora, vamos ver sua família. – ela sorriu sem mostrar os dentes, sua mão se entrelaçou a minha e me ajeitei encostando minha cabeça no ombro dela. Ao chegarmos ao aeroporto, ela me arrastou até uma das plataformas, me afastando do tumulto de pessoas que especulavam o meu estado, me entregou meus óculos escuros enquanto aguardávamos o avião que estava pousando. - se importa se eu for buscar uma bebida? – neguei com a cabeça, e a mesma se afastou, não demorando mais de cinco minutos ela voltou com um copo como o do Starbucks. – Toma isso, vai te acalmar.
- Obrigado, por tudo. – eu sorri, depositando um beijo no canto da boca dela, que acariciou meu braço levemente, enquanto me direcionava para o avião.
- Bagagem, senhora? – um dos funcionários questionou.
- Sem bagagens. – ela respondeu breve, entregando o meu passaporte e o dela, logo estávamos voando de volta para a Inglaterra.
Mas a morte era inevitável. Ela iria bater nas nossas portas um dia, às vezes num dia que quiséssemos como Chelsea quis, e caminhou para sua, outras, ela iria bater durante uma noite de sono tranquila, ou até enquanto estivéssemos num incrível diálogo de como seria o nome dos nossos filhos. A morte nos roubava toda a esperança e a criatividade que iríamos utilizar para planejar nosso futuro, ela nos impedia de criar uma nova casa, demolir outras, conhecer o oeste da Tailândia ou de escalar o monte Everest, às vezes, como ela fez comigo, ela não nos mata, mas ela leva mais uma vez nossos pensamentos bons, nos levando a nos afundarmos na imensa dor que é a solidão. Ela nos trás a saudade de quem levou, e nós apanhamos feito sacos de pancadas.
Não cabia a eu ficar me culpando, me responsabilizando por ter a largado lá, ou por te amado em meio a todo o caos, afinal, a morte bateria a qualquer momento para Chelsea, antes mesmo dela se entregar, talvez eu pudesse estar em Londres no dia do ocorrido, e ainda assim não haveria mudado o rumo da vida dela, às vezes só piorasse ou no máximo adiasse sua morte. Mas ainda assim, no meio da noite nada a impediria que pulasse da janela do seu andar e se matasse, pois a morte era assim, quando ela queria, aparecia em forma de um inseto, em forma de cupim, comendo todo seu coração, fazendo você se coçar para que chegasse logo ao fim. Como os cupins corroíam a madeira, a dor corroeu Chelsea, por anos a fio, fazendo barulho e a machucando com cada uma das suas mordidinhas, agora só sobrava à casca do seu corpo já todo tomado pela dor. Como diria, não adiantaria colocarmos um buttercream sobre ela e jogarmos inúmeros confetes, pois era isso que fazíamos, nós a enfeitávamos enquanto ela dormia ainda com a sua dor, nós fantasiávamos que ela estava bem e saudável, mas ela não estava há muitos anos.

[N/a: Se quiser colocar Perfect. - do Ed para tocar, fique a vontade.]

Querido ,
Desculpe ter te pego de surpresa, você provavelmente estava viajando com a e por um momento eu senti que não podia mais esperar, você sabe, uma hora chega nossa hora. E essa foi a minha, sempre se lembre de que eu te amo imensamente e que você foi uma das coisas mais maravilhosas que aconteceu em minha vida, você me deu a oportunidade de ser mãe, mesmo que com problemas para ter filhos biológicos. Metade da minha herança vai para você, para que possa aproveitar a vida, conhecer lugares e se libertar daquilo que te prende, para que você procure sua felicidade, onde quer que ela esteja, e a agarre com todo o amor do mundo. O restante desse dinheiro eu gostaria que fosse fundado em uma clínica, não de reabilitação, mas de apoio, incentivo e algo que desse esperança para pessoas que não as tem mais, quero que deem o melhor para resgatar as pessoas desse mundo de solidão e dor, afinal, você sabe, não são todos que encontram uma pelo meio da vida, quero que Finn cuide dessa clinica e use todo meu nome, estudos e dinheiro que tive em vida para dar o máximo para essas pessoas que precisam.
Sei que foi tarde para eu permitir a claridade entrar, mas , você tem toda sua vida pela sua frente, tem sua mãe, sua irmã, os garotos e a . Deixe a luz do sol entrar em você, querido, eu sei, ela é radiante, você sabe de quem estou falando, você concorda com isso também. Ela tem o sol em seu coração e isso transborda pelos seus olhos, ela te faz tão bem, querido, não a deixe se afastar, ela é incrível como você.
Aproveite sua vida, querido, corra embaixo do sol, cuide dos seus lagartos e aperte o máximo a sua mãe. Eu sei que a vida foi curta para mim e dura para você, mas tudo vai ficar bem, você superou o pior, vai conseguir me superar também, estarei cuidando de você independente do local que eu esteja. Vá atrás dos seus sonhos, vista suas piores roupas e não se culpe em momento algum por minha morte, eu estou morta há tanto tempo que não sei o porquê tardei a fazer isso, estive sendo um peso para eu mesma, para ti e para outros, pois quando estamos próximo a tanta dor só conseguimos passar para os outros aquilo, mesmo se quisermos passar outra coisa. Por isso, não se afaste de , ela parece ser o sol em forma humana, ela irradia amor.
Seria loucura dizer que quando ela veio aqui, até eu senti um pouquinho do seu amor? Espero que sua vida seja incrível, meu pequeno , estarei te olhando daqui de cima. Espero que um dia eu tenha sobrinhos, e, por favor, que seja de , nunca de Kylie.
Uma das melhores decisões da sua vida foi acabar de vez com aquela mulher, eu a odeio só do que você e os garotos me contaram.
Que você saiba que eu tive a melhor vida ao seu lado, e você foi uma pessoa incrível para mim, obrigada por não ter desistido da minha pessoa em nenhum momento, e não se culpe por ter estado longe durante minha morte, foi melhor assim, eu não podia mais adiar isso, meu coração pedia há tempos, eu só o fiz. Eu te amo imensamente, , obrigada por ser o melhor filho que eu nunca tive. Por favor, cuide da sua saúde, viva sua vida, conheça lugares novos e nunca deixe que nada te leve para a escuridão novamente.
Vou sentir sua falta.

Com muito amor,
Chelsea. ?

Ao terminar de ler a carta da Chelsea eu já chorava como uma criança, relembrando de quando apresentei para Chelsea e todo tempo que passei com ela. Eu sempre soube que a vida uma hora a iria tirar de mim, mas foi tão rápido e de repente que me tirou um pouco fora dos eixos, mas eu tinha , ainda que ela estava na Austrália resolvendo algumas coisas da confeitaria naquele final de semana, ela sempre estava lá. Ela esteve presente durante todo o memorial para Chelsea, ela esteve lá quando a dor parecia me tomar, e ela sempre estaria lá.
I found a love for me, Darling, just dive right in and follow my lead. | Eu encontrei um amor para mim, querida, entre de cabeça e me siga.

simplesmente não ligava se o que eu fizesse ou pensasse era loucura, ou reviver o passado, desde que aquilo fosse me ajudar ir em frente, e ela me fazia ir em frente, estando em outro continente ou não, ela sempre estava lá. Eu resolvi abrir a carta semanas depois do memorial, quando a dor estava mais amena e eu queria algumas respostas, mas então me ligou e claro eu estava chorando, mais uma vez naquela semana.

Well, I found a girl, beautiful and sweet. I never knew you were the someone waiting for me. | Bem, eu encontrei uma garota, linda e doce. Eu nunca soube que você era quem estava esperando por mim.

- Você sabe, , a vida é assim! - ela disse firme, ainda que estivesse do outro lado do oceano parecia estar em minha frente. - é como bater a massa de bolo ao adicionar o fermento, tem que vir de dentro pra dar certo, você tem que bater de baixo pra cima, de dentro pra fora, não deixe a massa pegar ar, querido... - sua voz soou com um pesar, ainda que estivesse falando pelo telefone.
- O que você quer dizer com isso, ? Não use metáforas agora... - implorei com a voz levemente em desespero.
- Quero dizer que você tem que trabalhar o seu interior, você tem que mexer aí dentro! Mas com leveza para o fermento não perder seu efeito. Eu sei que é difícil, , mas está na hora de você se libertar. - ela disse num sussurro a última parte, e foi quando sua frase sobre fermentos e bolos começava a ficar mais clara.

‘Cause we were just kids when we fell in love, not knowing what it was. I will not give you up this time. | Porque éramos apenas crianças quando nos apaixonamos, não sabíamos o que era. Eu não vou desistir de você dessa vez.

E então uma semana depois ela voltou da Austrália, a cicatriz em meu peito parecia se fechar mais rápido com ela aqui, porque depois de um tempo eu descobri que surtia um efeito positivo sobre mim, sempre foi tão claro, não sei o porquê de só finalmente agora perceber. A garota era quem estava lá, com aquele jeitinho dela e as caretas todos os dias, ainda que fossem apenas por ligações, ela nunca se deixava abater por nada, ela trazia o sol para onde quer que fosse, pode parecer bizarro, mas quando ela se mudou para Irlanda, mesmo estando no inverno, fez sol três dias, e você sabe como é difícil fazer sol na Irlanda?

But darling, just kiss me slow, your heart is all I own, and in your eyes you’re holding mine. | Mas querida, apenas me beije devagar, seu coração é tudo o que eu tenho, e em seus olhos você está segurando os meus.

Ela me segurava nos meus piores momentos, era como se olhar para ela me fizesse lembrar-me do seu conselho quando eu ainda era pequeno, e com o coração ainda novo, que nós temos que nos adaptar as circunstâncias, e estando com ela, eu sentia que podia me adaptar a qualquer coisa. Era fato que ela com aquele sorriso calmo e dançando sua música irlandesa ao cozinhar algumas batatas, você julgaria facilmente ser só mais uma boba garota irlandesa, mas ela tinha um coração sem tamanho, tão forte como rochas, no qual nada parecia a abalar, ainda que nos piores dias ela continuava sorridente, no dia da morte do seu pai, ainda que estivesse triste, ela ainda dizia se sentir em paz.

Well, I found a woman stronger than anyone I know, she shares my dreams. I hope that someday I’ll share her home, I found a lover to carry more than just my secrets to carry love, to carry children of our own. |Bem, eu encontrei uma mulher mais forte que qualquer um que eu conheça, ela compartilha os meus sonhos. Eu espero que um dia eu compartilhe seu lar, eu encontrei um amor para carregar mais do que meus segredos, para carregar amor, para carregar nossas crianças.

Quando percebi que era ela, naquela escadaria escura de um hotel que eu nem ao menos me lembro o nome na Austrália, a primeira coisa que pensei foi: ‘’Putz, ela continua incrível, como se nada nunca a tivesse afetado, e olha eu, eu estou só os cacos de quem ainda se recupera de uma batalha.’’ Me senti completamente egoísta de a enfiar em minha bagunça pessoal, mas ela se jogou de cabeça, sem se importar com a casa bagunçada e o coração ainda dolorido, ela cuidou de cada uma das peças quebradas, com aquele jeitinho doce que ela tinha de fazer as coisas, ela ia aos pouquinhos e quando vim ela já tinha me tomado por inteiro.

When you said you looked a mess, I whispered underneath my breath. But you heart it, darling you look perfect tonigh. | Quando você disse que parecia uma bagunça, eu sussurrei baixinho, mas você ouviu querida, você está perfeita essa noite.

Quando finalmente percebi, entre risos e pizzas eu já planejava um futuro ao lado daquela mulher, que um dia eu achei que nunca mais ia encontrar. Quando ela apareceu ela fortaleceu todos os vínculos que eu tinha, comigo mesmo, com meus amigos e com a minha família, até com os meus lagartos, que agora Zukie ganhou a honra de poder andar pela casa sem nenhuma hora ser preso de volta, depois de tanto tempo me prendendo a dores, me ensinou que tudo podia ser igual Zukie, que eu deveria ser igual ele, a dor era a antiga casa, eu só volto para lá quando precisar, e que quando ocorra, seja para logo depois me reencontrar.

We are still kids, but we’re so in love, fighting against all odds, I know we’ll be alright this time. Darling, Just hold my hand, be my girl, I’ll be your man, I see my future in your eyes. | Nós ainda somos crianças, mas estamos tão apaixonados, lutando contra todas as possibilidades. Eu sei que nós ficaremos bem desta vez. Querida, só segure a minha mão, seja minha garota e eu serei seu homem, eu vejo meu futuro em seus olhos.

O tempo corria e eu não ligava em gastar todo ele com , ela continuou morando na Irlanda por mais o ano que tinha começado, o que ainda resultava em alguns voos no meio de nós. Mas nada como empresários bem capacitados, fazendo o máximo para ver seus clientes felizes, Fletch, nosso amado empresário, convenceu um amigo seu que era um investidor britânico a abrir uma & em Londres e essa foi a melhor deixa para que as duas migrassem direto para cá. ainda esta vendo apartamentos para comprar, mal ela sabe que vai ter que se mudar para minha casa quando eu fizer o pedido. Afinal, ela mudou toda minha vida, colocou tudo de cabeça para baixo, – ou no caso para cima. – talvez eu tenha o direito de dar uma viradinha na dela também, isso é claro, se ela aceitar e deixar-me colocar aquele enorme anel que está guardado escondido na minha gaveta de meias, no dedo dela.
Ah, e só para constar eu venci o I’m Celebrity... get me out of here! O melhor rei da floresta que podia ter, eu sei.

I have faith in what I see, now I know I have met na Angel in person, and she looks so perfect. I don’t deserve this, you look perfect tonight. | Eu tenho fé no que vejo, agora sei que encontrei um anjo em pessoa e ela está perfeita. Eu não mereço isso, você está perfeita esta noite.
A vida nos trazia dilemas que por ora pareciam nunca serm solucionados, mas tudo era resolvido com um sorriso e um esbarrão no meio da escada, era um casal que se juntou pelo meio dos milhares de acasos que a vida os proporcionou, e ainda que e um pouquinho – irlandeses nunca conseguem largar de vez suas superstições. – não acreditassem nessa coisa de acaso ou destino, ambos se amavam tanto que desejavam passar a vida juntinhos.



Fim!



Nota da autora: (19.06.2017) Oizinho gente, essa foi uma short que eu amei escrever do meio ao fim, eu quero pedir mil perdões se alguém achou que os problemas psicológicos dos personagens foram romantizados ou tratados de forma ‘’errada’’, minha ideia inicial era falar bastante sobre e quando eu vi estava tão mergulhada na história, já finalizando e não bati tanto quanto eu tinha planejado no assunto. Caso alguém discorda ou coisa do tipo, vem falar comigo, vamos bater um papo, sério, não deixem meu erro passar em branco! KKKKKK Eu espero de coração que vocês tenham gostado, não se esqueçam de comentar o que acharam, o que esperaram mais, o que não curtiu e etc.
Meu grupo no face é esse
E minha outra fic é Empire [Andamento/Long]
Obrigadinha por ter dado oportunidade pra essa fofurinha de shortfic! Beijinhos.



Nota da beta: Essa fanfic é fofinha! Paragéns, Geo! <3





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