Capítulo 1 - O Problema
Já era a sexta combinação de roupa que eu experimentava e ainda assim estava insatisfeita. Meu cabelo também não era algo que agradava naquela manhã e já era a terceira vez que Gertrudes me chamava para tomar café antes de ir à escola, informando que já estava atrasada.
Andar no horário era algo totalmente incomum para . Todos os dias, eu chegava a escola pelo menos 20 minutos atrasada, mas hoje, era o dia que nada me agradava. O período menstrual era algo que me tirava dos eixos.
Por fim, acabei escolhendo a roupa mais normal que possuía: uma saia curta de pregas cor de rosa, uma blusa de manga curta branca, e o casaquinho que fazia parte do conjunto com a saia. Coloquei a meia branca 3/4 e o saltinho rosa com pompom rosa. Prendi a parte da frente do cabelo para trás e retoquei o rímel (já que estava a com a maquiagem intacta feita pós-banho).
Dei um beijo em Lilith, a Yorkshire mini que havia ganhado em meu aniversário de 16 anos. Rapidamente desci as escadas e fui até a cozinha, onde um prato com minhas frutas favoritas (morango, abacaxi e kiwi) estavam picadas e com um garfo ao lado do prato prontas para serem devoradas.
Meu papi, naturalmente estava com um dos três celulares que usava em mãos, enquanto falava com alguém por outro aparelho, minha mami lia atentamente algum livro voltado a psicologia, e meu irmão Nico, jogava um jogo qualquer em seu tablet.
— Bom dia, família! — sentei-me à mesa, colocando a primeira garfada de fruta na boca.
— Você está atrasada — disse Leonor, sem tirar os olhos do livro. — O que houve?
— Ah, mami, não estou me sentindo bem hoje — disse fazendo bico, enquanto os olhos dela agora eram voltados para mim. — TPM e suas desvantagens desde sempre!
— Coisa de meninas! — meu irmão menor falou, enquanto mexia em seu tablet. Mostrei a língua para ele.
— Hoje você irá comigo — mami fechou o livro, guardou na bolsa e tomou mais um gole de café. — Aparentemente o colégio recebeu um aluno complicado e pediram para que eu faça um rápido atendimento.
— Amor, acho que não vou voltar hoje — finalmente papi se pronunciou, colocando os celulares na mesa. — Vou levar o Nico para o colégio e vou pedir para que Durval o traga para casa ao fim da tarde. Surgiu um imprevisto, terei que ir até o Rio. Preciso assinar alguns papéis na filial e em seguida eu prometo que iremos fazer nossa viagem, tá bom? — mami sorriu e segurou sua mão. — , não sei se comentamos com você, mas um sobrinho meu está passando por algumas dificuldades e decidi convida-lo para passar um tempo aqui. Ele irá estudar no Paulo da Cunha. Quando você chegar lá, sua mãe irá apresentá-los.
— Eu não o conheço, né?
Achei um tanto estranho, pois o colégio é mega caro e se o garoto fosse estudar lá, significava puramente que Ângelo também estaria pagando seus estudos.
— Não — papi voltou os olhos para mami, que apenas assentiu.
— Ok — sorri e voltei a devorar as frutas.
Já dentro do carro, mami buscava ouvir uma rádio tranquila pela manhã, sempre a mesma rotina, sem nos falarmos. Estava muito acostumada com a vida boa, mas o trânsito de São Paulo definitivamente era algo que entrava para a lista de "odeios".
Ao chegar no colégio, peguei a bolsa cor de rosa e abri o carro, assim como mami fez ao pegar sua bolsa de mão. Enquanto ela caminhava para a direção, eu ia até o pátio, encontrando as minhas amigas logo na entrada.
— Você não vai acreditar — Tati caminhou em minha direção, trabalhada em branco. — Tem uma garota nova em nossa turma.
— E desde quando isso é uma grande novidade? — perguntei passando o dedo mínimo pelas sobrancelhas.
— Desde que a garota é uma loser! — Cami completou, fazendo meu sorriso se abrir. — Todos sabem do seu apego por losers, ! E outra, esse é o nosso último ano!
Dei de ombros. Ela tinha razão, eu gostava de transformar a vida desses losers. Eu via potencial neles.
Nós três andamos em direção à primeira aula, atrasadas, claro. O professor já estava em sala, mas ainda não havia começado nada. Sentei-me em meu lugar por direito: na primeira carteira do meio e as outras duas amigas ao lado. Tiramos todo o material perfeitamente organizado de dentro da bolsa, já que eu achava um absurdo não ter armários na escola assim como na escola da minha prima, nos Estados Unidos.
— Nós iremos retomar do assunto que paramos na semana passada — o professor falou olhando o diário enorme em cima de sua mesa. — Afinal, Capitu traiu ou não Bentinho?
Muitos se irritaram e gritaram que não, enquanto um ou outro falavam que sim e muitos burburinhos tomavam conta da sala. Aquele era o tipo de assunto que deixava muita gente fora de si, de todas as histórias de Machado de Assis; era como perguntar se Ross realmente traiu Rachel (o que claramente eu concordava que sim), mas sinceramente não sabia opinar muito sobre Dom Casmurro, afinal, nem havia começado a ler. Não era do tipo que lia muitas coisas.
— Acalmem-se, pessoal — pediu o professor, em meio a risos. — Vamos aos fatos: quem concorda que sim, fiquem de mãos levantadas — ele observou e riu. — Certo, chegaremos aos pontos finais. A primeira versão que fora publicada em 1899 tinha uma visão completamente de um homem traído, trazendo à tona a imagem do adultério, o que era um grande pecado na época.
Enquanto o professor prosseguia, a porta foi aberta e entrou uma garota com os cabelos pretos escorridos, toda vestida de preto e um outro garoto logo atrás, usando jeans rasgado, um tênis qualquer e blusa de frio com touca. Caminharam direto para o fundo da sala, mas senhor Ramiro não deixou passar e parou-os.
— Acredito que estejam atrasados, senhor e dona Silva — quando ele mencionou o sobrenome da garota, todos riram. Não entendi a graça e passei a encara-los.
O garoto tinha um olhar perdido, estava com a alça da mochila segura pela mão e era bem alto. Acredito que daria dois de mim facilmente. A menina era bem mais baixa e tinha os olhos azuis que destacava a maquiagem preta, ou vice-versa.
Enquanto eu colocava o fundo do lápis na boca para observá-los, ele me encarou. Seus olhos focaram em mim e por mais que eu quisesse tirar dali, não conseguia. Hipnotizada, a única coisa que desviou minha atenção fora a voz dele respondendo o professor Ramiro.
— — disse, lambendo os lábios. Desviei os olhos e fiquei encarando a lousa branca. Senti meu corpo reagir aquele garoto e isso só poderia ser a maldita TPM.
— Suelen Silva — a menina respondeu, quando Ramiro perguntou seus nomes e pediu para se apresentarem.
Eu não lembro qual foi o seguimento da aula, pois eu estava mais preocupada em tirar certas imagens da minha cabeça, a começar pelas traiçoeiras que meu cérebro criou com ele.
💖
Antes de sair da aula, eu fui atrás da novata e tive que correr alguns metros com aquele saltinho. Ela não parecia nenhum pouco com vontade de conversar, mas consegui convencê-la a fazer o trabalho sobre Dom Casmurro. A mudança dela começaria ali!
— Podemos fazer na minha casa — disse, já com ideias bem preparadas em minha cabeça. — Fazer alguns lanchinhos, e...
— Tanto faz, patricinha — a garota falou, colocando-se para fora da escola, deixando-me um tanto incomodada com sua frieza em me afastar.
Bufei e andei até a parte da direção, onde mami aguardava depois da aula. Finalmente iria conhecer o sobrinho de Ângelo. Não estava nenhum pouco contente com as novidades, mas tudo bem, iria superar aquilo e acreditava que poderia sobreviver com um garoto dentro de casa.
Porém todas as chances se reduziram a 0 assim que avistei o estranho da sala ao lado de mami. Ele não tinha uma cara muito diferente da que havia entrado em sala pela manhã e mesmo que falasse algumas coisas para ele, o garoto apenas balançava a cabeça.
— Mami, podemos ir? — chamei atenção assim que me aproximei e ela sorriu para mim.
— , esse é o , sobrinho do Ângelo — ele voltou os olhos para mim, o que me deixou com um pouco de vergonha. — , essa é minha filha , . Ela é um pouco difícil, mas no fundo é gente boa — virou-se para mim arregalando os olhos. — Seja legal, sim!?
Mami andou na frente enquanto eu e ele ainda nos encarávamos. Eu estava MUITO ferrada e meu cérebro já começava uma brincadeira sem graça com meu corpo. Minhas mãos suavam e pareciam pedras de gelo. Ele já aparentava ter percebido essas sensações, pois sorriu de lado.
— Para você é — tratei de demonstrar minha aversão por ele e demarcar meu território, mostrando até onde ele tinha direito a chegar.
— Fica tranquila, boneca — abaixou um pouco para falar em meu ouvido. — Tente controlar seus hormônios dentro do seu corpo, sua respiração forte está te entregando.
Andar no horário era algo totalmente incomum para . Todos os dias, eu chegava a escola pelo menos 20 minutos atrasada, mas hoje, era o dia que nada me agradava. O período menstrual era algo que me tirava dos eixos.
Por fim, acabei escolhendo a roupa mais normal que possuía: uma saia curta de pregas cor de rosa, uma blusa de manga curta branca, e o casaquinho que fazia parte do conjunto com a saia. Coloquei a meia branca 3/4 e o saltinho rosa com pompom rosa. Prendi a parte da frente do cabelo para trás e retoquei o rímel (já que estava a com a maquiagem intacta feita pós-banho).
Dei um beijo em Lilith, a Yorkshire mini que havia ganhado em meu aniversário de 16 anos. Rapidamente desci as escadas e fui até a cozinha, onde um prato com minhas frutas favoritas (morango, abacaxi e kiwi) estavam picadas e com um garfo ao lado do prato prontas para serem devoradas.
Meu papi, naturalmente estava com um dos três celulares que usava em mãos, enquanto falava com alguém por outro aparelho, minha mami lia atentamente algum livro voltado a psicologia, e meu irmão Nico, jogava um jogo qualquer em seu tablet.
— Bom dia, família! — sentei-me à mesa, colocando a primeira garfada de fruta na boca.
— Você está atrasada — disse Leonor, sem tirar os olhos do livro. — O que houve?
— Ah, mami, não estou me sentindo bem hoje — disse fazendo bico, enquanto os olhos dela agora eram voltados para mim. — TPM e suas desvantagens desde sempre!
— Coisa de meninas! — meu irmão menor falou, enquanto mexia em seu tablet. Mostrei a língua para ele.
— Hoje você irá comigo — mami fechou o livro, guardou na bolsa e tomou mais um gole de café. — Aparentemente o colégio recebeu um aluno complicado e pediram para que eu faça um rápido atendimento.
— Amor, acho que não vou voltar hoje — finalmente papi se pronunciou, colocando os celulares na mesa. — Vou levar o Nico para o colégio e vou pedir para que Durval o traga para casa ao fim da tarde. Surgiu um imprevisto, terei que ir até o Rio. Preciso assinar alguns papéis na filial e em seguida eu prometo que iremos fazer nossa viagem, tá bom? — mami sorriu e segurou sua mão. — , não sei se comentamos com você, mas um sobrinho meu está passando por algumas dificuldades e decidi convida-lo para passar um tempo aqui. Ele irá estudar no Paulo da Cunha. Quando você chegar lá, sua mãe irá apresentá-los.
— Eu não o conheço, né?
Achei um tanto estranho, pois o colégio é mega caro e se o garoto fosse estudar lá, significava puramente que Ângelo também estaria pagando seus estudos.
— Não — papi voltou os olhos para mami, que apenas assentiu.
— Ok — sorri e voltei a devorar as frutas.
Já dentro do carro, mami buscava ouvir uma rádio tranquila pela manhã, sempre a mesma rotina, sem nos falarmos. Estava muito acostumada com a vida boa, mas o trânsito de São Paulo definitivamente era algo que entrava para a lista de "odeios".
Ao chegar no colégio, peguei a bolsa cor de rosa e abri o carro, assim como mami fez ao pegar sua bolsa de mão. Enquanto ela caminhava para a direção, eu ia até o pátio, encontrando as minhas amigas logo na entrada.
— Você não vai acreditar — Tati caminhou em minha direção, trabalhada em branco. — Tem uma garota nova em nossa turma.
— E desde quando isso é uma grande novidade? — perguntei passando o dedo mínimo pelas sobrancelhas.
— Desde que a garota é uma loser! — Cami completou, fazendo meu sorriso se abrir. — Todos sabem do seu apego por losers, ! E outra, esse é o nosso último ano!
Dei de ombros. Ela tinha razão, eu gostava de transformar a vida desses losers. Eu via potencial neles.
Nós três andamos em direção à primeira aula, atrasadas, claro. O professor já estava em sala, mas ainda não havia começado nada. Sentei-me em meu lugar por direito: na primeira carteira do meio e as outras duas amigas ao lado. Tiramos todo o material perfeitamente organizado de dentro da bolsa, já que eu achava um absurdo não ter armários na escola assim como na escola da minha prima, nos Estados Unidos.
— Nós iremos retomar do assunto que paramos na semana passada — o professor falou olhando o diário enorme em cima de sua mesa. — Afinal, Capitu traiu ou não Bentinho?
Muitos se irritaram e gritaram que não, enquanto um ou outro falavam que sim e muitos burburinhos tomavam conta da sala. Aquele era o tipo de assunto que deixava muita gente fora de si, de todas as histórias de Machado de Assis; era como perguntar se Ross realmente traiu Rachel (o que claramente eu concordava que sim), mas sinceramente não sabia opinar muito sobre Dom Casmurro, afinal, nem havia começado a ler. Não era do tipo que lia muitas coisas.
— Acalmem-se, pessoal — pediu o professor, em meio a risos. — Vamos aos fatos: quem concorda que sim, fiquem de mãos levantadas — ele observou e riu. — Certo, chegaremos aos pontos finais. A primeira versão que fora publicada em 1899 tinha uma visão completamente de um homem traído, trazendo à tona a imagem do adultério, o que era um grande pecado na época.
Enquanto o professor prosseguia, a porta foi aberta e entrou uma garota com os cabelos pretos escorridos, toda vestida de preto e um outro garoto logo atrás, usando jeans rasgado, um tênis qualquer e blusa de frio com touca. Caminharam direto para o fundo da sala, mas senhor Ramiro não deixou passar e parou-os.
— Acredito que estejam atrasados, senhor e dona Silva — quando ele mencionou o sobrenome da garota, todos riram. Não entendi a graça e passei a encara-los.
O garoto tinha um olhar perdido, estava com a alça da mochila segura pela mão e era bem alto. Acredito que daria dois de mim facilmente. A menina era bem mais baixa e tinha os olhos azuis que destacava a maquiagem preta, ou vice-versa.
Enquanto eu colocava o fundo do lápis na boca para observá-los, ele me encarou. Seus olhos focaram em mim e por mais que eu quisesse tirar dali, não conseguia. Hipnotizada, a única coisa que desviou minha atenção fora a voz dele respondendo o professor Ramiro.
— — disse, lambendo os lábios. Desviei os olhos e fiquei encarando a lousa branca. Senti meu corpo reagir aquele garoto e isso só poderia ser a maldita TPM.
— Suelen Silva — a menina respondeu, quando Ramiro perguntou seus nomes e pediu para se apresentarem.
Eu não lembro qual foi o seguimento da aula, pois eu estava mais preocupada em tirar certas imagens da minha cabeça, a começar pelas traiçoeiras que meu cérebro criou com ele.
Antes de sair da aula, eu fui atrás da novata e tive que correr alguns metros com aquele saltinho. Ela não parecia nenhum pouco com vontade de conversar, mas consegui convencê-la a fazer o trabalho sobre Dom Casmurro. A mudança dela começaria ali!
— Podemos fazer na minha casa — disse, já com ideias bem preparadas em minha cabeça. — Fazer alguns lanchinhos, e...
— Tanto faz, patricinha — a garota falou, colocando-se para fora da escola, deixando-me um tanto incomodada com sua frieza em me afastar.
Bufei e andei até a parte da direção, onde mami aguardava depois da aula. Finalmente iria conhecer o sobrinho de Ângelo. Não estava nenhum pouco contente com as novidades, mas tudo bem, iria superar aquilo e acreditava que poderia sobreviver com um garoto dentro de casa.
Porém todas as chances se reduziram a 0 assim que avistei o estranho da sala ao lado de mami. Ele não tinha uma cara muito diferente da que havia entrado em sala pela manhã e mesmo que falasse algumas coisas para ele, o garoto apenas balançava a cabeça.
— Mami, podemos ir? — chamei atenção assim que me aproximei e ela sorriu para mim.
— , esse é o , sobrinho do Ângelo — ele voltou os olhos para mim, o que me deixou com um pouco de vergonha. — , essa é minha filha , . Ela é um pouco difícil, mas no fundo é gente boa — virou-se para mim arregalando os olhos. — Seja legal, sim!?
Mami andou na frente enquanto eu e ele ainda nos encarávamos. Eu estava MUITO ferrada e meu cérebro já começava uma brincadeira sem graça com meu corpo. Minhas mãos suavam e pareciam pedras de gelo. Ele já aparentava ter percebido essas sensações, pois sorriu de lado.
— Para você é — tratei de demonstrar minha aversão por ele e demarcar meu território, mostrando até onde ele tinha direito a chegar.
— Fica tranquila, boneca — abaixou um pouco para falar em meu ouvido. — Tente controlar seus hormônios dentro do seu corpo, sua respiração forte está te entregando.
Capítulo 2 - Sob o Mesmo Teto
O silêncio reinou dentro do carro até chegarmos em casa. O banco de trás parecia confortável, pois quase não ouvia a respiração do novo morador da minha casa. Mami parecia muito confortável com aquele desconhecido entre nós e seguiu o caminho como sempre fazia: bem atenta ao trânsito. Eu por outro lado, agora tentava não pensar muito na cólica que estava sentindo, pois quanto menos eu pensasse, menos eu sentiria.
Em casa foi bem estranho, pois enquanto Mami tomou seu caminho para seu escritório, eu corri para o meu quarto e ficou largado na sala. Ouvi minutos depois sua voz no corredor, quando Gertrudes estava lhe apresentando o quarto de hóspedes, que seria dele dali para frente.
Depois de tomar meu banho, consegui me acalmar. Nada como banho com sais de camomila e muita espuma. Coloquei um vestido cor de rosa e desci para o almoço que estava com um cheiro muito bom, mas eu não me daria ao luxo de comer tanto; coloquei algumas azeitonas, salada e tomates. Um pequeno pedaço de frango com queijo e coloquei o suco de uva em meu copo. Enquanto comia de pernas cruzadas, dando atenção unicamente a minha comida, o silêncio que me agradava tanto acabou quando o novo morador desceu as escadas parecendo uma cavalaria.
Ele estava de cabelos molhados e usava uma bermuda com uma regata. Puxou um prato e começou a fazer a montanha de comida. Era arroz, feijão, frango com queijo (muito inclusive) e catou um garfo. Sentou na parte da mesa a minha frente, colocou o suco e deu a primeira garfada, lotando a boca de comida. Antes mesmo que acabasse, colocou mais e fechou os olhos saboreando. Ok que a comida da Gertrudes era maravilhosa, mas ele estava se comportando como um ogro!
— Que foi, boneca? — perguntou ao abrir os olhos. — Incomodada?
— Sim! — exclamei com toda razão. — Coma direito, por favor.
— Boneca — engoliu e já preparava outra colher —, isso está uma delícia! É que você não come, né? — apontou meu prato e eu olhei rapidamente para o mesmo. — Então não tem como saber.
— Eu preciso manter...
— A forma, né? — deu de ombros e engoliu novamente.
— Sim, é isto — fiz cara de nojo ainda olhando. — Perdi o apetite — falei empurrando o prato mais para o centro da mesa e ele revirou os olhos.
— Você é uma chata.
Ignorei-o apenas e levantei-me da mesa, andando até a sala de TV, onde eu passei a maioria do meu restante de dia. Lilith estava o tempo todo deitada ao meu lado e vez ou outra ia até o hall de entrada tomar água. Não haviam deveres, mas eu já estava nervosa em pensar em ler Dom Casmurro. Não tinha o hábito de leitura e seria difícil para mim.
Por fim, no final da tarde mami mandou uma mensagem falando que teria que viajar às pressas. Nico ficaria na casa de um amigo e eu ficaria em casa, cuidando de tudo junto com o novo morador. Ela quis que Gertrudes ficasse o final de semana inteiro caso precisássemos de alguma coisa, mas falei que não precisava, que podia libera-la. Éramos grandinhos o suficiente para ficarmos em casa sem companhia.
Quando estava subindo as escadas, novamente a cavalaria estava descendo. Ele estava novamente de cabelo molhado, usava calças jeans e um moletom qualquer. Usava lápis de olho, o que eu achei bem diferente referente a sua personalidade.
— Mami pediu para avisar que terá que viajar, então estamos responsáveis pela casa — alertei, começando a subir outros degraus.
— Quanto tempo? — sorriu de lado e cerrei os olhos.
— Se você está pensando em trazer alguma garota, pode parando — levantei um dos dedos. — Precisamos passar confiança para mami e papi.
— Beleza, boneca, mais tarde estou de volta — piscou, e voltou a descer os degraus. — Não morra sem mim e se ouvir barulho, não ande em direção à ele, é assim que morre a patricinha em filmes de terror.
E com essa péssima frase de efeito ele deixou a nossa casa; não sei a horas que retornou, mas olhei no relógio e já eram quase 0h quando fui dormir e não havia sequer um sinal dele.
💖
Depois de escolher um conjunto vermelho de saia e colete para usar com minhas novas sandálias, desci as escadas em direção à sala de jantar para tomar meu café da manhã. Não havia muita coisa na mesa, apenas frutas, pois Gertrudes sabia que eu não comia nada além disso; os frios e pães deveria ser para o , que não demorou descer.
Ele usava jeans, camiseta branca e um colete acolchoado preto. Sentou-se de frente para mim e pegou um dos pães, abrindo e colocando os frios. Rasgou o pão com a boca, e depois de tomar um gole de suco, subiu os olhos amendoados cobertos com lápis preto e deu um sorriso falso, mostrando parte da comida que comia. Revirei os olhos e voltei a atenção para meu celular e minhas frutas.
Eu não ia aguentar viver com aquele cara. Só poderia ser um pesadelo e eu não via a hora de mami e papi chegarem logo, para colocar esse garoto na linha.
— ? — ouvi Gertrudes vindo da cozinha e parei de comer, virando-me para ela. — Como Ângelo e Leonor não estão, vocês terão que ir à escola com Durval. O carro já está pronto aguardando vocês terminarem.
Espera aí: ser vista na escola com ele, não estava dentro dos meus planos. Acredito que minha cara fez todo o trabalho de aversão à notícia, pois Gertrudes tratou de fazer uma careta para mim, que revirei os olhos e voltei a ficar de frente para aquela coisa, com os braços cruzados e o maior bico que eu poderia fazer.
Eu não queria chegar no colégio e ser vista com ele, afinal, nem cheguei a contar para as meninas que tinha agora um novo morador em minha casa, porém parecia algo inevitável. Eu não tinha outros meios de ir à escola, pois ainda não havia tirado a CNH, afinal, eu nem idade para isso tinha.
Apenas levantei e peguei minhas coisas. O carro estava parado em frente de minha casa e antes que eu pudesse dar o primeiro passo para entrar, o garoto trombou em mim, passando reto ainda comendo um dos pães. Ele entrou no banco da frente e fechou a porta. Abriu o vidro e colocou a cara para fora:
— Vamos, boneca, você vai se atrasar!
Eu não sei aonde ele tinha arrumado aqueles óculos escuro em dois minutos, mas ele estava diferente. Entrei no banco traseiro e puxei meu celular, olhando a mensagem das meninas que estavam no pátio me esperando.
Quando chegamos numa esquina antes da escola, Durval parou o carro e saiu. Fiquei meio confusa, mas antes de sair andando, ele gritou pela janela:
— Estou evitando ser visto com você!
Confesso que essa frase feriu meu ego; quem não queria ser vista com ele era eu, mas não imaginava que minha ilustre companhia pudesse incomoda-lo. Mesmo um pouco emburrada, desci do carro quando parou em frente à escola e segui em direção ao pátio.
O meu "primo" — se é que posso chamá-lo assim — já estava com um grupinho em uma das mesas. Aquele grupo em questão era cobiçado por todas as garotas — menos eu — da escola. Antony Peres, o famoso Tony era líder do Grêmio estudantil, Ricardo Amaral era filho do diretor e Daniel Novaes era o novato que chegou roubando vários corações.
— Ah, e não é só ele que roubou os corações não, viu? — Tati riu, apontando pra . — Parece que as meninas estão caidinhas por aquele ali também.
Então, sobre essa parte: não contei para as minhas amigas sobre , porque não queria realmente que ninguém soubesse sobre ele na minha casa. Se elas tivessem perguntado quando descêssemos juntos do carro, eu iria dizer que ele era o novo aluno que pediu carona e com pena, dei carona. Ainda bem que ele não esperou por isso, o que facilitava para mim.
— Ah, falando em novatos — lembrei-me da Suzana. Suzana? Era esse o nome dela? Enfim, tanto faz. — A novata vai lá em casa para darmos início à um trabalho.
— Hoje eu não poderei ir — Cami falou olhando ainda para o celular. — Minha mãe inventou de fazer compras e eu vou ter que ir junto.
— Eu também não irei — Tati disse em seguida e me senti um pouco insegura. Não vivia sem minhas amigas e não estava tão acostumada a fazer algo sem elas. — Meu pai pediu para que eu fosse até o hospital hoje.
— Tudo bem — respondi, mas não está nada bem.
— ? — escutei alguém gritando atrás de mim e virei para ver uma garota que eu nunca vi, vindo em minha direção. — Que horas irá começar a festa?
Festa?
— Festa? — perguntei confusa.
— Tá rolando um boato que hoje à noite, a festa será em sua casa!
Em casa foi bem estranho, pois enquanto Mami tomou seu caminho para seu escritório, eu corri para o meu quarto e ficou largado na sala. Ouvi minutos depois sua voz no corredor, quando Gertrudes estava lhe apresentando o quarto de hóspedes, que seria dele dali para frente.
Depois de tomar meu banho, consegui me acalmar. Nada como banho com sais de camomila e muita espuma. Coloquei um vestido cor de rosa e desci para o almoço que estava com um cheiro muito bom, mas eu não me daria ao luxo de comer tanto; coloquei algumas azeitonas, salada e tomates. Um pequeno pedaço de frango com queijo e coloquei o suco de uva em meu copo. Enquanto comia de pernas cruzadas, dando atenção unicamente a minha comida, o silêncio que me agradava tanto acabou quando o novo morador desceu as escadas parecendo uma cavalaria.
Ele estava de cabelos molhados e usava uma bermuda com uma regata. Puxou um prato e começou a fazer a montanha de comida. Era arroz, feijão, frango com queijo (muito inclusive) e catou um garfo. Sentou na parte da mesa a minha frente, colocou o suco e deu a primeira garfada, lotando a boca de comida. Antes mesmo que acabasse, colocou mais e fechou os olhos saboreando. Ok que a comida da Gertrudes era maravilhosa, mas ele estava se comportando como um ogro!
— Que foi, boneca? — perguntou ao abrir os olhos. — Incomodada?
— Sim! — exclamei com toda razão. — Coma direito, por favor.
— Boneca — engoliu e já preparava outra colher —, isso está uma delícia! É que você não come, né? — apontou meu prato e eu olhei rapidamente para o mesmo. — Então não tem como saber.
— Eu preciso manter...
— A forma, né? — deu de ombros e engoliu novamente.
— Sim, é isto — fiz cara de nojo ainda olhando. — Perdi o apetite — falei empurrando o prato mais para o centro da mesa e ele revirou os olhos.
— Você é uma chata.
Ignorei-o apenas e levantei-me da mesa, andando até a sala de TV, onde eu passei a maioria do meu restante de dia. Lilith estava o tempo todo deitada ao meu lado e vez ou outra ia até o hall de entrada tomar água. Não haviam deveres, mas eu já estava nervosa em pensar em ler Dom Casmurro. Não tinha o hábito de leitura e seria difícil para mim.
Por fim, no final da tarde mami mandou uma mensagem falando que teria que viajar às pressas. Nico ficaria na casa de um amigo e eu ficaria em casa, cuidando de tudo junto com o novo morador. Ela quis que Gertrudes ficasse o final de semana inteiro caso precisássemos de alguma coisa, mas falei que não precisava, que podia libera-la. Éramos grandinhos o suficiente para ficarmos em casa sem companhia.
Quando estava subindo as escadas, novamente a cavalaria estava descendo. Ele estava novamente de cabelo molhado, usava calças jeans e um moletom qualquer. Usava lápis de olho, o que eu achei bem diferente referente a sua personalidade.
— Mami pediu para avisar que terá que viajar, então estamos responsáveis pela casa — alertei, começando a subir outros degraus.
— Quanto tempo? — sorriu de lado e cerrei os olhos.
— Se você está pensando em trazer alguma garota, pode parando — levantei um dos dedos. — Precisamos passar confiança para mami e papi.
— Beleza, boneca, mais tarde estou de volta — piscou, e voltou a descer os degraus. — Não morra sem mim e se ouvir barulho, não ande em direção à ele, é assim que morre a patricinha em filmes de terror.
E com essa péssima frase de efeito ele deixou a nossa casa; não sei a horas que retornou, mas olhei no relógio e já eram quase 0h quando fui dormir e não havia sequer um sinal dele.
Depois de escolher um conjunto vermelho de saia e colete para usar com minhas novas sandálias, desci as escadas em direção à sala de jantar para tomar meu café da manhã. Não havia muita coisa na mesa, apenas frutas, pois Gertrudes sabia que eu não comia nada além disso; os frios e pães deveria ser para o , que não demorou descer.
Ele usava jeans, camiseta branca e um colete acolchoado preto. Sentou-se de frente para mim e pegou um dos pães, abrindo e colocando os frios. Rasgou o pão com a boca, e depois de tomar um gole de suco, subiu os olhos amendoados cobertos com lápis preto e deu um sorriso falso, mostrando parte da comida que comia. Revirei os olhos e voltei a atenção para meu celular e minhas frutas.
Eu não ia aguentar viver com aquele cara. Só poderia ser um pesadelo e eu não via a hora de mami e papi chegarem logo, para colocar esse garoto na linha.
— ? — ouvi Gertrudes vindo da cozinha e parei de comer, virando-me para ela. — Como Ângelo e Leonor não estão, vocês terão que ir à escola com Durval. O carro já está pronto aguardando vocês terminarem.
Espera aí: ser vista na escola com ele, não estava dentro dos meus planos. Acredito que minha cara fez todo o trabalho de aversão à notícia, pois Gertrudes tratou de fazer uma careta para mim, que revirei os olhos e voltei a ficar de frente para aquela coisa, com os braços cruzados e o maior bico que eu poderia fazer.
Eu não queria chegar no colégio e ser vista com ele, afinal, nem cheguei a contar para as meninas que tinha agora um novo morador em minha casa, porém parecia algo inevitável. Eu não tinha outros meios de ir à escola, pois ainda não havia tirado a CNH, afinal, eu nem idade para isso tinha.
Apenas levantei e peguei minhas coisas. O carro estava parado em frente de minha casa e antes que eu pudesse dar o primeiro passo para entrar, o garoto trombou em mim, passando reto ainda comendo um dos pães. Ele entrou no banco da frente e fechou a porta. Abriu o vidro e colocou a cara para fora:
— Vamos, boneca, você vai se atrasar!
Eu não sei aonde ele tinha arrumado aqueles óculos escuro em dois minutos, mas ele estava diferente. Entrei no banco traseiro e puxei meu celular, olhando a mensagem das meninas que estavam no pátio me esperando.
Quando chegamos numa esquina antes da escola, Durval parou o carro e saiu. Fiquei meio confusa, mas antes de sair andando, ele gritou pela janela:
— Estou evitando ser visto com você!
Confesso que essa frase feriu meu ego; quem não queria ser vista com ele era eu, mas não imaginava que minha ilustre companhia pudesse incomoda-lo. Mesmo um pouco emburrada, desci do carro quando parou em frente à escola e segui em direção ao pátio.
O meu "primo" — se é que posso chamá-lo assim — já estava com um grupinho em uma das mesas. Aquele grupo em questão era cobiçado por todas as garotas — menos eu — da escola. Antony Peres, o famoso Tony era líder do Grêmio estudantil, Ricardo Amaral era filho do diretor e Daniel Novaes era o novato que chegou roubando vários corações.
— Ah, e não é só ele que roubou os corações não, viu? — Tati riu, apontando pra . — Parece que as meninas estão caidinhas por aquele ali também.
Então, sobre essa parte: não contei para as minhas amigas sobre , porque não queria realmente que ninguém soubesse sobre ele na minha casa. Se elas tivessem perguntado quando descêssemos juntos do carro, eu iria dizer que ele era o novo aluno que pediu carona e com pena, dei carona. Ainda bem que ele não esperou por isso, o que facilitava para mim.
— Ah, falando em novatos — lembrei-me da Suzana. Suzana? Era esse o nome dela? Enfim, tanto faz. — A novata vai lá em casa para darmos início à um trabalho.
— Hoje eu não poderei ir — Cami falou olhando ainda para o celular. — Minha mãe inventou de fazer compras e eu vou ter que ir junto.
— Eu também não irei — Tati disse em seguida e me senti um pouco insegura. Não vivia sem minhas amigas e não estava tão acostumada a fazer algo sem elas. — Meu pai pediu para que eu fosse até o hospital hoje.
— Tudo bem — respondi, mas não está nada bem.
— ? — escutei alguém gritando atrás de mim e virei para ver uma garota que eu nunca vi, vindo em minha direção. — Que horas irá começar a festa?
Festa?
— Festa? — perguntei confusa.
— Tá rolando um boato que hoje à noite, a festa será em sua casa!
Capítulo 3 - Festa?
Juro que não sei dizer o momento em que eu desmaiei, mas alguém me segurou e me levou para a enfermaria. Me fizeram cheirar álcool e bateram em meu rosto; estava sentindo minhas bochechas queimarem.
Quando dei por mim, estavam as meninas e o novato a minha volta. Todos me olhando com olhos esbugalhados esperando uma reação. Céus, eu deveria estar horrível.
Sentei e coloquei a mão na testa, enquanto assimilava as informações que havia recebido antes do meu apagão.
Festa? Minha casa? Meu Deus, aquilo só poderia ser uma grande brincadeira!
Antes de responder qualquer pergunta corri pelo colégio, tentando me equilibrar sobre meus saltos. E ao chegar no corredor principal, vi entrando no banheiro. Corri mais um pouco, olhando para todos os lados possíveis. Ninguém poderia ver aquilo que eu estava prestes a fazer.
Abri a porta do banheiro masculino e fechei atrás de mim. se sobressaltou com o estrondo e tenho certeza que iria falar alguma coisa, mas fui mais rápida que ele:
— Festa? — quase gritei, vendo em pé em frente ao mictório.
— O que está fazendo aqui? — perguntou olhando para mim e para frente. — Você está ficando maluca, boneca?
— Guarda isso — apontei para a torneirinha que ele segurava. — Precisamos conversar!
Ele revirou os olhos, terminou o que tinha de terminar e fechou as calças virando para mim. Levantei as sobrancelhas indicando a pia e ele riu, passando por mim, ameaçando me tocar. Quando finalmente lavou as mãos, cruzei os braços e ele se virou apoiando na pia.
— Não vai me explicar? — exigi e ele riu. — Para de rir!
— Quantos anos você tem, boneca? — perguntou e eu pisquei confusa.
— Dezessete.
— Eu tenho dezenove, quase vinte — fiquei surpresa, não imaginava que ele era tão... velho. — É de lei; os pais saem, os ratos fazem a festa. E como você não tem irmão mais velho, posso fazer esse... papel. Afinal, não mudaria muita coisa — estranhei, mas logo voltou os olhos para mim. — Enfim, boneca, você será a anfitriã e ninguém vai saber sobre nós.
Nesse mesmo momento alguém abriu a porta e antes que eu pudesse se quer pensar, já estava dentro de uma cabine, junto com . Ele trancou e ficamos em silêncio. A outra pessoa abriu a cabine do lado, mas parou na frete da nossa. Senti os braços de me pegando pelas pernas e me levantando. Enlaçou minhas pernas em sua cintura e eu quis brigar com ele, mas ele só fez cara feia e mexeu a boca mandando eu "ficar quieta". A pessoa ficou uns minutos parada na frente da nossa porta e vi sua sombra mexendo. Ele estava tentando olhar por baixo da porta? Em seguida entrou no banheiro do lado. Fez xixi, saiu da cabine, lavou as mãos e saiu do banheiro cantarolando.
No mesmo momento, suspirei e joguei as mãos mais tranquila pelos ombros do . Sua respiração estava batendo em minha bochecha e sua mão apertou minha cintura. Voltei os olhos para os seus e nossos narizes se encostaram. Aquele banheiro era realmente pequeno, precisava aumentar um pouco; e tudo parecia mais quente. Meu Deus, e o ar-condicionado do banheiro?
pigarreou, me colocando no chão em seguida. Lambi os lábios e suspirei enquanto abria a cabine que estávamos. Até que aquele banheiro masculino não fedia tanto.
— Eu vou sair primeiro e depois você sai — disse já abrindo a porta principal do banheiro.
— Ei, não me deixa aqui! E se alguém me ver saindo do banheiro masculino? — perguntei aflita, e ele apenas riu. — E sobre a festa? Você trate de espalhar que não acontecerá!
— Pensa como seria estranho: você há dois minutos atrás, ia dar a festa; depois desistiu — ele analisou, o que me deixou confusa. — Como ficaria sua reputação na escola como a estraga prazeres? Ah, boneca, se você fizer essa festa, você vai ser ainda mais popular, pensa só? Detalhe: sem organizar a festa maravilhosa que será, porque eu estou organizando. Ninguém irá saber e ainda vai levar todo o crédito.
Eu não queria ser conhecida na escola como a estraga prazeres, afinal minha reputação eu tinha a zelar. Mesmo um pouco contrariada, concordei que aquilo aumentaria minha popularidade na escola, se não, na cidade! Isso me soava bem aos ouvidos, por isso, balancei a cabeça e riu, já abrindo a porta.
Não foi tão difícil sair do banheiro masculino, porém dentro de cinco segundos que eu estava do lado de fora, o sinal tocou e todos os alunos saíram das salas, indo para a segunda aula do dia.
Na saída da escola, me despedi das meninas e na porta de entrada a novata estava me esperando. Mascava um chiclete e os olhos azuis me encararam. Durval já estava me esperando e abriu a porta para entrarmos. Quando sentei no banco, ela já jogou um livro em minhas pernas, o que me deixou confusa e só então me dei conta de ser Dom Casmurro quando virei o livro.
— Você precisa ler, patricinha — bateu a porta do carro e jogou a mochila no colo. — Se vamos trabalhar juntas, não quero trabalhar com uma burra.
Fiquei ofendida. Não era porque eu não gostava de ler que eu era uma burra, ou que eu não sabia fazer alguma outra coisa; eu ia muito bem em matemática. Era uma das melhores alunas da sala. Só não tinha o hábito de ler, mas ainda assim eu não ia deixar aquela garota me menosprezar e provaria a ela que leria.
Assim que chegamos em casa, Gertrudes já arrumava a mesa para o almoço. Sua comida estava muito cheirosa e tenho certeza que havia feito guloseimas deliciosas para nós.
— Ger, essa é a... minha colega da escola — falei, tentando lembrar o nome dela, mas não conseguindo.
— Tudo bem, mocinha? — perguntou e a novata sorriu. Acredito que muito sincera, nunca vi aquela cara nela.
— Sim — ficou em pé. — Prazer, Suelen.
Elas começaram a conversar sobre comida, enquanto eu devorava minha salada e tomava um pouco do meu suco. A porta principal foi aberta e antes que eu pudesse correr e impedir , ele já estava na sala, pronto para comer. Cumprimentou Gertrudes com um beijo e parou quando me viu com a novata logo ao lado. Ela ficou vermelha e ele sorriu.
Eu estava nervosa; não queria que ninguém soubesse dele ali e tenho certeza que uma grande incógnita surgiu na cabeça dela. Ela devorava um prato de comida e parou assim que se fez presente.
— Oi, Suelen — cumprimentou-a, depois pegou um prato, começando colocar sua comida. — Está sendo torturada, huh?
— Vocês... — ela apontou para nós dois fazendo uma careta — Vocês são irmãos?
— Claro que não! — resmunguei exaltada. — Ele está morando aqui de favor. Na verdade, ele é sobrinho do meu papi que eu nem sequer conhecia.
— Jamais imaginaria — ela arregalou os olhos e voltou a comer.
— Suelen, não comenta com ninguém — pediu , comendo mais devagar do que o que ele estava acostumado. — Não quero ter a fama de viver com ela.
— Qual problema comigo? — larguei o garfo dentro do prato, cruzando os braços irritada.
— Nenhum, boneca, mas você é muito... — ele fez uma careta — você.
Queria relevar e dizer que aquilo não me chateava, mas eu sempre olhava minhas atitudes e perguntava aonde eu havia errado para merecer esse tratamento. Confusa, levantei da mesa e subi para o meu quarto. Precisava de ao menos cinco minutos sozinha, mas nem Lilith deixava. Feliz pela minha chegada, ela pulava animada nas minhas pernas e então tirei as sandálias de salto e finalmente coloquei meus chinelos, coisa que eu raramente usava. Aquilo me levava de volta à infância, mas não gostava de ficar tão vulnerável assim. Se é que um chinelo tinha todo esse poder.
Minutos depois, Suelen entrou no quarto sem ao menos pedir licença, com a camiseta toda molhada de suco. Estava um pouco irritada por isso.
— Posso te arrumar uma camiseta — fiquei em pé, entrando no closet. Ela veio junto a meu encalço e escolhi uma babylook rosa claro, escrito "feminist". — Se quiser tomar um banho... — entreguei uma toalha. — Pode ficar à vontade, usar a banheira, meus produtos, não me importo!
ESSA ERA A MINHA CHANCE!
Ela só balançou a cabeça e agradeceu. Se trancou no banheiro e pelos próximos trinta minutos, foi lá que ela ficou. Peguei finalmente o livro para ler e mesmo que a linguagem fosse bem difícil eu tentava entender. O começo parecia tão confuso e ainda estava na página cinco!
— ? — ouvi a voz de Suelen fora do banheiro. — Onde eu posso colocar a toalha molhada?
— Pode deixar no cesto do banheiro, que no final da tarde eu desço para Gertrudes lavar — cruzei as pernas em cima da cama e a minha nova colega sentou-se em frente, agora com os cabelos molhados, minha camiseta e ainda com sua calça.
— Não liga para a forma que o falou com você. Garotos não batem muito bem — ela disse e eu me senti estranha. Quando as pessoas me magoavam, não tinha ninguém que chegasse e me falasse que estava tudo bem e me consolasse.
— Tudo bem. Posso secar seus cabelos? — pedi um pouco ansiosa e ela revirou os olhos, mas ficou de costas para mim.
Enquanto eu passava o secador pelos fios negros dos seus cabelos, ela comentava sobre algumas cenas do livro, algumas partes importantes que deveríamos incluir no nosso trabalho e coisas do tipo. Quando terminei, não pensei duas vezes em levá-la até a penteadeira e enquanto ela digitava o trabalho, eu passava maquiagem em seu rosto. Éramos da mesma cor e a base era sensacional em nós duas.
— Não sei porque está fazendo tudo isso — ela disse finalizando mais um parágrafo, estralando os dedos.
— Hoje teremos a festa aqui em casa, lembra? — pisquei, colocando-a para ver seu rosto.
A maquiagem que eu havia passado era bem clara, diferente do lápis preto que ela usava, diferente do cabelo escorrido — que agora tinham ondas leves — e também bem diferente do batom vermelho sangue, estava um batom rosado espalhado por seus lábios.
— E antes mesmo que você fale que não tem roupa, eu posso emprestar alguma coisa aqui — voltei correndo para o meu closet e encontrei uma saia curta de lantejoulas que nunca havia usado, pois não servia em mim, era um tanto mais larga. — Esse ficará ótimo! E com essas botas ficará lindo!
— Botas Louis Vuitton? — ela arregalou os olhos e eu assenti. Não usava muito as botas, mas poderia emprestar sem problema algum. — Você deve estar muito doida!
— Eu vou tomar um banho também e começar me organizar, preciso de tempo — disse, já pegando caminho para o banheiro. — Caso precise de algo, Gertrudes pode ajudar, basta apertar o 9 no telefone da cabeceira.
Feliz, apenas entrei no banheiro e demorei meus longos minutos lá dentro, questão de lavar os cabelos direito e fazendo vários nadas na água morna do chuveiro. Passei uma máscara para diminuir a oleosidade da pele e sai do banheiro com o roupão de banho no corpo e a toalha de rosto na cabeça. Suelen estava vendo na minha coleção de Barbies, que ficava na parte vertical da escrivaninha, fechada. Era mais de cem bonecas, todas em perfeito estado, com roupas bem estilosas e cuidadas.
— Por isso te chama de boneca? — ela perguntou e eu fiquei pensativa. Apenas dei de ombros e comecei a pensar na roupa que usaria.
— Acredito que não — comentei, separando a roupa e pegando o sapato também. Ainda era pouco mais de 18h, mas queria estar pronta para quando todos chegassem. — Ele está morando aqui tem dois dias e nunca entrou nas dependências do meu quarto. Também não entendo o motivo de me tratar da forma que ele me trata.
— Ele parece ser uma pessoa tão legal — ela continuava deitada, como se fôssemos melhores amigas até tal ponto.
Dei de ombros, afinal, não queria falar de enquanto escolhia as cores da minha maquiagem.
— Em meu quarto só tem ursos de quando eu era criança — Sue falou sentada no meu puf de salto.
— Eu tenho alergia a pelúcias — comentei espalhando um corretivo nos meus olhos. — Quando eu era pequena vivia no hospital e mami teve que doar todos.
— Aí você fez uma coleção de Barbies? — perguntou rindo e eu apenas dei de ombros; não gostava quando ironizavam minha coleção.
Base, sombra marrom, rímel, blush e finalizei com um gloss labial avermelhado, bem simples. Meus cabelos já estavam secos — já que Suelen insistiu para retribuir o favor — e apenas finalizei com um reparador de pontas.
Era mais de 20h quando finalmente terminei de me vestir. Tive que ajudar Suelen organizar sua roupa, já que a camiseta estava um pouco sem estilo para o seu jeito despojado e mesmo amando a blusinha, dei a liberdade de corta-la e fazer um cropped. Coloquei o vestido que tanto pelejei para usar: um vestido preto de couro da John John. E a minha incrível sandália de pelinhos da Manolo. Estava me sentindo linda. Uma grande mulher. Maravilhosa!
— Eu queria ter tanto dinheiro assim, para jogar para o alto — disse Suelen. — E ainda dizem que não traz a felicidade...
Apenas ignorei, afinal estava muito animada já podia ouvir a música das caixas de som da área da piscina. Abri a porta do quarto e percebi que a casa estava silenciosa.
Descemos as escadas e assim que saímos pela porta da cozinha, tranquei a porta com chave para que ninguém invadisse e fizesse besteiras. Caminhamos em direção ao salão da piscina, onde grande parte da escola já estava. Realmente, falou que organizaria tudo e estava tudo muito iluminado e cheio de pufs pelo gramado. Quando cheguei, bateram palmas e logo encontrei minhas amigas no centro do salão, chamando atenção de vários garotos da escola.
— Meninas, Sue, Sue, Tati e Cami! — apresentei e todo mundo se cumprimentou.
Andei até o bar e pedi uma Pina colada. Não demorou para o barman contratado entregar para a anfitriã. Ainda não havia visto o meu "parceiro" de crime, mas sabia que deveria estar por aí correndo, pois, organizar festas não era nada fácil, nem mesmo para ele.
— Ficou tão incrível — Cami falava enquanto eu voltava para a roda. — Amiga, como conseguiu organizar isso tudo tão rápido?
— Ah... — não sabia o que responder. — A deve conseguir tudo — uma voz masculina falou logo atrás de mim, mas não quis me virar para ver quem estava falando. — Mexe alguns pauzinhos e puf, tudo pronto!
— , esse é o meu irmão mais velho — disse a minha nova colega. — Dani, essa é a , minha mais nova amiga.
E então ele sorriu.
Quando dei por mim, estavam as meninas e o novato a minha volta. Todos me olhando com olhos esbugalhados esperando uma reação. Céus, eu deveria estar horrível.
Sentei e coloquei a mão na testa, enquanto assimilava as informações que havia recebido antes do meu apagão.
Festa? Minha casa? Meu Deus, aquilo só poderia ser uma grande brincadeira!
Antes de responder qualquer pergunta corri pelo colégio, tentando me equilibrar sobre meus saltos. E ao chegar no corredor principal, vi entrando no banheiro. Corri mais um pouco, olhando para todos os lados possíveis. Ninguém poderia ver aquilo que eu estava prestes a fazer.
Abri a porta do banheiro masculino e fechei atrás de mim. se sobressaltou com o estrondo e tenho certeza que iria falar alguma coisa, mas fui mais rápida que ele:
— Festa? — quase gritei, vendo em pé em frente ao mictório.
— O que está fazendo aqui? — perguntou olhando para mim e para frente. — Você está ficando maluca, boneca?
— Guarda isso — apontei para a torneirinha que ele segurava. — Precisamos conversar!
Ele revirou os olhos, terminou o que tinha de terminar e fechou as calças virando para mim. Levantei as sobrancelhas indicando a pia e ele riu, passando por mim, ameaçando me tocar. Quando finalmente lavou as mãos, cruzei os braços e ele se virou apoiando na pia.
— Não vai me explicar? — exigi e ele riu. — Para de rir!
— Quantos anos você tem, boneca? — perguntou e eu pisquei confusa.
— Dezessete.
— Eu tenho dezenove, quase vinte — fiquei surpresa, não imaginava que ele era tão... velho. — É de lei; os pais saem, os ratos fazem a festa. E como você não tem irmão mais velho, posso fazer esse... papel. Afinal, não mudaria muita coisa — estranhei, mas logo voltou os olhos para mim. — Enfim, boneca, você será a anfitriã e ninguém vai saber sobre nós.
Nesse mesmo momento alguém abriu a porta e antes que eu pudesse se quer pensar, já estava dentro de uma cabine, junto com . Ele trancou e ficamos em silêncio. A outra pessoa abriu a cabine do lado, mas parou na frete da nossa. Senti os braços de me pegando pelas pernas e me levantando. Enlaçou minhas pernas em sua cintura e eu quis brigar com ele, mas ele só fez cara feia e mexeu a boca mandando eu "ficar quieta". A pessoa ficou uns minutos parada na frente da nossa porta e vi sua sombra mexendo. Ele estava tentando olhar por baixo da porta? Em seguida entrou no banheiro do lado. Fez xixi, saiu da cabine, lavou as mãos e saiu do banheiro cantarolando.
No mesmo momento, suspirei e joguei as mãos mais tranquila pelos ombros do . Sua respiração estava batendo em minha bochecha e sua mão apertou minha cintura. Voltei os olhos para os seus e nossos narizes se encostaram. Aquele banheiro era realmente pequeno, precisava aumentar um pouco; e tudo parecia mais quente. Meu Deus, e o ar-condicionado do banheiro?
pigarreou, me colocando no chão em seguida. Lambi os lábios e suspirei enquanto abria a cabine que estávamos. Até que aquele banheiro masculino não fedia tanto.
— Eu vou sair primeiro e depois você sai — disse já abrindo a porta principal do banheiro.
— Ei, não me deixa aqui! E se alguém me ver saindo do banheiro masculino? — perguntei aflita, e ele apenas riu. — E sobre a festa? Você trate de espalhar que não acontecerá!
— Pensa como seria estranho: você há dois minutos atrás, ia dar a festa; depois desistiu — ele analisou, o que me deixou confusa. — Como ficaria sua reputação na escola como a estraga prazeres? Ah, boneca, se você fizer essa festa, você vai ser ainda mais popular, pensa só? Detalhe: sem organizar a festa maravilhosa que será, porque eu estou organizando. Ninguém irá saber e ainda vai levar todo o crédito.
Eu não queria ser conhecida na escola como a estraga prazeres, afinal minha reputação eu tinha a zelar. Mesmo um pouco contrariada, concordei que aquilo aumentaria minha popularidade na escola, se não, na cidade! Isso me soava bem aos ouvidos, por isso, balancei a cabeça e riu, já abrindo a porta.
Não foi tão difícil sair do banheiro masculino, porém dentro de cinco segundos que eu estava do lado de fora, o sinal tocou e todos os alunos saíram das salas, indo para a segunda aula do dia.
Na saída da escola, me despedi das meninas e na porta de entrada a novata estava me esperando. Mascava um chiclete e os olhos azuis me encararam. Durval já estava me esperando e abriu a porta para entrarmos. Quando sentei no banco, ela já jogou um livro em minhas pernas, o que me deixou confusa e só então me dei conta de ser Dom Casmurro quando virei o livro.
— Você precisa ler, patricinha — bateu a porta do carro e jogou a mochila no colo. — Se vamos trabalhar juntas, não quero trabalhar com uma burra.
Fiquei ofendida. Não era porque eu não gostava de ler que eu era uma burra, ou que eu não sabia fazer alguma outra coisa; eu ia muito bem em matemática. Era uma das melhores alunas da sala. Só não tinha o hábito de ler, mas ainda assim eu não ia deixar aquela garota me menosprezar e provaria a ela que leria.
Assim que chegamos em casa, Gertrudes já arrumava a mesa para o almoço. Sua comida estava muito cheirosa e tenho certeza que havia feito guloseimas deliciosas para nós.
— Ger, essa é a... minha colega da escola — falei, tentando lembrar o nome dela, mas não conseguindo.
— Tudo bem, mocinha? — perguntou e a novata sorriu. Acredito que muito sincera, nunca vi aquela cara nela.
— Sim — ficou em pé. — Prazer, Suelen.
Elas começaram a conversar sobre comida, enquanto eu devorava minha salada e tomava um pouco do meu suco. A porta principal foi aberta e antes que eu pudesse correr e impedir , ele já estava na sala, pronto para comer. Cumprimentou Gertrudes com um beijo e parou quando me viu com a novata logo ao lado. Ela ficou vermelha e ele sorriu.
Eu estava nervosa; não queria que ninguém soubesse dele ali e tenho certeza que uma grande incógnita surgiu na cabeça dela. Ela devorava um prato de comida e parou assim que se fez presente.
— Oi, Suelen — cumprimentou-a, depois pegou um prato, começando colocar sua comida. — Está sendo torturada, huh?
— Vocês... — ela apontou para nós dois fazendo uma careta — Vocês são irmãos?
— Claro que não! — resmunguei exaltada. — Ele está morando aqui de favor. Na verdade, ele é sobrinho do meu papi que eu nem sequer conhecia.
— Jamais imaginaria — ela arregalou os olhos e voltou a comer.
— Suelen, não comenta com ninguém — pediu , comendo mais devagar do que o que ele estava acostumado. — Não quero ter a fama de viver com ela.
— Qual problema comigo? — larguei o garfo dentro do prato, cruzando os braços irritada.
— Nenhum, boneca, mas você é muito... — ele fez uma careta — você.
Queria relevar e dizer que aquilo não me chateava, mas eu sempre olhava minhas atitudes e perguntava aonde eu havia errado para merecer esse tratamento. Confusa, levantei da mesa e subi para o meu quarto. Precisava de ao menos cinco minutos sozinha, mas nem Lilith deixava. Feliz pela minha chegada, ela pulava animada nas minhas pernas e então tirei as sandálias de salto e finalmente coloquei meus chinelos, coisa que eu raramente usava. Aquilo me levava de volta à infância, mas não gostava de ficar tão vulnerável assim. Se é que um chinelo tinha todo esse poder.
Minutos depois, Suelen entrou no quarto sem ao menos pedir licença, com a camiseta toda molhada de suco. Estava um pouco irritada por isso.
— Posso te arrumar uma camiseta — fiquei em pé, entrando no closet. Ela veio junto a meu encalço e escolhi uma babylook rosa claro, escrito "feminist". — Se quiser tomar um banho... — entreguei uma toalha. — Pode ficar à vontade, usar a banheira, meus produtos, não me importo!
ESSA ERA A MINHA CHANCE!
Ela só balançou a cabeça e agradeceu. Se trancou no banheiro e pelos próximos trinta minutos, foi lá que ela ficou. Peguei finalmente o livro para ler e mesmo que a linguagem fosse bem difícil eu tentava entender. O começo parecia tão confuso e ainda estava na página cinco!
— ? — ouvi a voz de Suelen fora do banheiro. — Onde eu posso colocar a toalha molhada?
— Pode deixar no cesto do banheiro, que no final da tarde eu desço para Gertrudes lavar — cruzei as pernas em cima da cama e a minha nova colega sentou-se em frente, agora com os cabelos molhados, minha camiseta e ainda com sua calça.
— Não liga para a forma que o falou com você. Garotos não batem muito bem — ela disse e eu me senti estranha. Quando as pessoas me magoavam, não tinha ninguém que chegasse e me falasse que estava tudo bem e me consolasse.
— Tudo bem. Posso secar seus cabelos? — pedi um pouco ansiosa e ela revirou os olhos, mas ficou de costas para mim.
Enquanto eu passava o secador pelos fios negros dos seus cabelos, ela comentava sobre algumas cenas do livro, algumas partes importantes que deveríamos incluir no nosso trabalho e coisas do tipo. Quando terminei, não pensei duas vezes em levá-la até a penteadeira e enquanto ela digitava o trabalho, eu passava maquiagem em seu rosto. Éramos da mesma cor e a base era sensacional em nós duas.
— Não sei porque está fazendo tudo isso — ela disse finalizando mais um parágrafo, estralando os dedos.
— Hoje teremos a festa aqui em casa, lembra? — pisquei, colocando-a para ver seu rosto.
A maquiagem que eu havia passado era bem clara, diferente do lápis preto que ela usava, diferente do cabelo escorrido — que agora tinham ondas leves — e também bem diferente do batom vermelho sangue, estava um batom rosado espalhado por seus lábios.
— E antes mesmo que você fale que não tem roupa, eu posso emprestar alguma coisa aqui — voltei correndo para o meu closet e encontrei uma saia curta de lantejoulas que nunca havia usado, pois não servia em mim, era um tanto mais larga. — Esse ficará ótimo! E com essas botas ficará lindo!
— Botas Louis Vuitton? — ela arregalou os olhos e eu assenti. Não usava muito as botas, mas poderia emprestar sem problema algum. — Você deve estar muito doida!
— Eu vou tomar um banho também e começar me organizar, preciso de tempo — disse, já pegando caminho para o banheiro. — Caso precise de algo, Gertrudes pode ajudar, basta apertar o 9 no telefone da cabeceira.
Feliz, apenas entrei no banheiro e demorei meus longos minutos lá dentro, questão de lavar os cabelos direito e fazendo vários nadas na água morna do chuveiro. Passei uma máscara para diminuir a oleosidade da pele e sai do banheiro com o roupão de banho no corpo e a toalha de rosto na cabeça. Suelen estava vendo na minha coleção de Barbies, que ficava na parte vertical da escrivaninha, fechada. Era mais de cem bonecas, todas em perfeito estado, com roupas bem estilosas e cuidadas.
— Por isso te chama de boneca? — ela perguntou e eu fiquei pensativa. Apenas dei de ombros e comecei a pensar na roupa que usaria.
— Acredito que não — comentei, separando a roupa e pegando o sapato também. Ainda era pouco mais de 18h, mas queria estar pronta para quando todos chegassem. — Ele está morando aqui tem dois dias e nunca entrou nas dependências do meu quarto. Também não entendo o motivo de me tratar da forma que ele me trata.
— Ele parece ser uma pessoa tão legal — ela continuava deitada, como se fôssemos melhores amigas até tal ponto.
Dei de ombros, afinal, não queria falar de enquanto escolhia as cores da minha maquiagem.
— Em meu quarto só tem ursos de quando eu era criança — Sue falou sentada no meu puf de salto.
— Eu tenho alergia a pelúcias — comentei espalhando um corretivo nos meus olhos. — Quando eu era pequena vivia no hospital e mami teve que doar todos.
— Aí você fez uma coleção de Barbies? — perguntou rindo e eu apenas dei de ombros; não gostava quando ironizavam minha coleção.
Base, sombra marrom, rímel, blush e finalizei com um gloss labial avermelhado, bem simples. Meus cabelos já estavam secos — já que Suelen insistiu para retribuir o favor — e apenas finalizei com um reparador de pontas.
Era mais de 20h quando finalmente terminei de me vestir. Tive que ajudar Suelen organizar sua roupa, já que a camiseta estava um pouco sem estilo para o seu jeito despojado e mesmo amando a blusinha, dei a liberdade de corta-la e fazer um cropped. Coloquei o vestido que tanto pelejei para usar: um vestido preto de couro da John John. E a minha incrível sandália de pelinhos da Manolo. Estava me sentindo linda. Uma grande mulher. Maravilhosa!
— Eu queria ter tanto dinheiro assim, para jogar para o alto — disse Suelen. — E ainda dizem que não traz a felicidade...
Apenas ignorei, afinal estava muito animada já podia ouvir a música das caixas de som da área da piscina. Abri a porta do quarto e percebi que a casa estava silenciosa.
Descemos as escadas e assim que saímos pela porta da cozinha, tranquei a porta com chave para que ninguém invadisse e fizesse besteiras. Caminhamos em direção ao salão da piscina, onde grande parte da escola já estava. Realmente, falou que organizaria tudo e estava tudo muito iluminado e cheio de pufs pelo gramado. Quando cheguei, bateram palmas e logo encontrei minhas amigas no centro do salão, chamando atenção de vários garotos da escola.
— Meninas, Sue, Sue, Tati e Cami! — apresentei e todo mundo se cumprimentou.
Andei até o bar e pedi uma Pina colada. Não demorou para o barman contratado entregar para a anfitriã. Ainda não havia visto o meu "parceiro" de crime, mas sabia que deveria estar por aí correndo, pois, organizar festas não era nada fácil, nem mesmo para ele.
— Ficou tão incrível — Cami falava enquanto eu voltava para a roda. — Amiga, como conseguiu organizar isso tudo tão rápido?
— Ah... — não sabia o que responder. — A deve conseguir tudo — uma voz masculina falou logo atrás de mim, mas não quis me virar para ver quem estava falando. — Mexe alguns pauzinhos e puf, tudo pronto!
— , esse é o meu irmão mais velho — disse a minha nova colega. — Dani, essa é a , minha mais nova amiga.
E então ele sorriu.
Capítulo 4 - Festa + Problemas
O álcool fazia um efeito muito rápido em meu organismo, por isso decidi que deveria deixar de lado meu terceiro drink ou estragaria meu Manolo novo de alguma forma.
Daniel ainda estava parado me olhando intensamente com aqueles olhos incrivelmente azuis e curiosos. Aquilo me deixava sem jeito, mas logo as meninas trataram de nos deixar a sós. Será que rolou um clima e elas perceberam e deram o fora? Porque eu era muito ruim para entender qualquer sinal, ainda mais vindo de um garoto tão lindo.
Se juntasse nossos genes, nossos filhos seriam lindos; louros escuros, de olhos indecisos entre verdes ou azuis e a pele clara, quase com tom de neve.
Mas... Gente eu estava pensando em casar com ele? Tão logo?
— Parabéns pela festa — disse, me tirando do transe e apenas abri um sorriso curto. — Está ótima, a cerveja é boa e os petiscos são uma delícia.
— Obrigada! — ri sem graça, me engasgando logo em seguida, arrancando um fio de preocupação dele. — Estou bem, tenho asma! — foi a desculpa que eu consegui dar de imediato e ele ficou um pouco surpreso.
— Sei bem como é, também tenho — ele deu de ombros e começou a andar em direção ao jardim, mas eu tentava pisar nas pedras próprias para não pisar na grama. Não queria meu Manolo atolado na terra. — Por que não se livra dos seus saltos por alguns minutos?
— Ah, não acho uma boa — falei sem graça e ele deu de ombros, sorrindo. — Me sinto bem de salto.
— O tempo todo? — perguntou e eu estranhei. Logo suas bochechas ficaram vermelhas e ele mordeu o lábio. — Eu percebi isso na escola, esse lance do salto.
— Ah — ri sem graça. Olhei para o lado e percebi que no fundo do quintal alguns garotos usavam drogas, pois conseguia ver a ponta da algo aceso. — Alguém está usando alguma coisa ali!
— Não acha melhor deixar para lá? — sugeriu Dani e eu apenas neguei, já andando cautelosamente até o local.
O cheiro de algo queimando estava muito forte e não parecia ser cigarro. Em meio aos meus passos, eles perceberam e trataram de apagar as pontinhas acesas. Quando dei por mim, um com olhos vermelhos e pesados vinha em minha direção um tanto sorridente. Ele era um dos que estava usando alguma coisa que eu não sabia dizer o que era??
— Oi, boneca — passou as mãos pelos bolsos e eu tentei ver quem estava junto com ele. Era Ricardo, Antony e mais dois garotos que eu não lembrava ser da escola.
— ? — segurei seu braço e entrei na parte detrás do salão, enquanto deixava os outros meninos para trás. — O que está fazendo?
— Me divertindo? — respondeu olhando-me de cima abaixo e levantou as sobrancelhas fazendo um bico. — E você? Como consegue se divertir em cima desses saltos?
— , para de fugir do assunto — voltei seus olhos para os meus, segurando seu rosto. Estavam completamente vermelhos. — O que você está usando?
— Jura que você não conhece o cheiro de maconha, boneca? — passou a língua pelos lábios e sorriu.
— Se tivesse mencionado que teria uso de drogas, nada disso estaria acontecendo — reclamei um pouco irritada por ele ter zombado o fato de eu nunca ter sentido cheiro de maconha e me fazer sentir bobinha.
— Você é muito careta, boneca! — revirou os olhos, voltando-se para mim. Tirou uma parte de um baseado do bolso e um isqueiro, voltando a acender sem dificuldade. — Que tal dar uma relaxada, hein?
— Isso é muito errado — senti o álcool atingir mais uma vez minha consciência e o cheiro da maconha voltou a entrar pelo meu nariz. — Pelo amor de Deus, tenha cuidado para que ninguém veja, porque se mami e papi descobrem que teve uma festa, vou tomar um castigo, mas se descobrirem sobre as drogas, capaz de eu ter que me mudar para Itália, para um colégio interno de freiras.
— Você não faz o tipo de garota que viraria freira, boneca — ironizou, revirando os olhos.
Sua mão direita encostou na parede que estava atrás de mim e o cheiro de seu perfume me deixou um pouco desnorteada. Era cítrico e cada vez mais eu me sentia... Não sei dizer, mas acho que estava me dando dor de barriga, pois sentia um grande aperto no pé de minha barriga. Sua outra mão levantou o baseado para a boca e antes que pudesse sugar a fumaça, ele sorriu.
— Boneca — ele me encarou. Seus olhos estavam rentes aos meus e tudo que eu conseguia ver, era o quão vermelho eles estavam.
Colocou o baseado entre os lábios e sugou o máximo possível. Segurou a fumaça por alguns segundos e soltou para o lado, enquanto eu só conseguia observar. Ele riu divertido e eu estava um pouco tonta só pelo cheiro tão próximo. Sua mão subiu pela minha coxa e levantou na altura de sua cintura. Me prendeu ainda mais em direção à parede e senti alguma parte do seu corpo tocar o fundo da minha calcinha, o que me fez morder o lábio.
— Você quer? — ofereceu-me o baseado, mas apenas neguei.
Ele então puxou mais um pouco e mais uma vez soprou para o lado, empurrando-se ainda mais em direção ao meu corpo, mas eu estava perdida. Apenas empurrei-o um pouco, abaixando a minha perna e ajeitando meu vestido. Eu precisava sair dali!
— Cuidado com... Isso — apontei para o cigarrinho e caminhei pelo outro lado do salão, pronta para entrar no banheiro.
Foi quando achei o banheiro do SPA que estava incrivelmente limpo. Entrei e me sentei na privada. Estava com o corpo quente ainda e acho que havia feito um pouco de xixi na calcinha, mas não era aquilo que pareceu quando eu abaixei a minha calcinha. Já havia acontecido uma ou outra vez, mas não tão... TÃO.
Por fim, usei o banheiro e voltei para a festa. Onde encontrei Sue beijando um cara qualquer, Tati estava com outras meninas conversando e Cami estava dan... CAMILA ESTAVA DANÇANDO EM CIMA DA MESA!
Eu precisava salvar minha amiga de tamanha vergonha!
Por isso corri até onde ela estava e insisti para que ela descesse, porém ela fingia não ouvir. Peguei uma de suas mãos e puxei sem força, apenas para ela abaixar. Gritei em seu ouvido mandando ela parar com aquilo, mas pouco se importou e continuou. Por fim não insisti, já que minutos depois ela desceu e jogou-se no gramado.
Percebi uma movimentação estranha na frente a minha casa, pessoas correndo para os fundos do quintal, pulando as cercas de arbustos e sumindo. Caminhei até onde conseguia ver o enorme portão principal e pude ver alguns carros de polícia estacionados. Eles já estavam entrando na nossa propriedade com aval do porteiro e então eu gelei. Ali parada, fiquei até que eles chegassem em mim.
— Senhorita ? — perguntou e eu assenti amedrontada. Estava ferrada! — Recebemos algumas denúncias da sua festa, música alta, uso de álcool e drogas.
— Drogas? — coloquei as mãos para frente e as juntei. Atrás do policial que falava comigo, tinha mais quatro, o que me deixou mais nervosa ainda. — Não há ninguém usando nenhum tipo de droga.
Menti. Até eu deveria estar com cheiro de maconha.
— Podemos fazer uma vistoria? — indicou com os olhos a parte do salão. — Visto que a maioria é menor de idade, nem deveriam consumir bebidas alcoólicas.
— Claro, a vontade.
Caminhei logo atrás deles, mas desfiz meu caminho quando lembrei de Cami jogada no gramado. Ela estava completamente bêbada e não poderia deixar minha amiga ali para ser vista pelos policiais e consequentemente ser levada para o hospital.
Com muita dificuldade e meus saltos entrando dentro da terra, levantei minha amiga — que agora resmungava — por um dos braços. Corri por trás da casa, pegando as chaves da cozinha dentro do meu decote. Abri a porta e entrei com uma Cami quase morta. A primeira dificuldade foi subir as escadas com aquele peso morto e com meus saltos — que agora deveriam estar quase fracassados.
Entrei no quarto e coloquei minha amiga dentro do chuveiro, em água gelada, mas de nada adiantou. Tirei suas roupas, sequei seu corpo e cabelos com a toalha e por fim coloquei um dos meus pijamas. Larguei-a na cama e desci correndo para o andar debaixo, pronta para voltar ao salão, mas a luz da sala estava acesa e alguns policiais estavam ali.
Caminhei até o centro da sala e a parede que cobria o resto da visão acabou. O sofá estava completamente cheio, assim como havia algumas pessoas sentadas pelo chão.
— Os papais já foram acionados e estão a caminho para buscar os filhos mal criados — disse o policial que parecia ser o responsável pela "missão".
No sofá eu podia ver Sue, Tati, uma menina que eu não conhecia, Antony, Ric, Dani, Liz, Fabio, mais alguns que eu não lembrava o nome no chão e no canto de um dos sofás, estava , ao lado do policial que se achava. Ele estava encostado, com a face completamente tranquila, enquanto todos pareciam nervosos com a situação. Percebi que ele tinha uma parte do lábio machucada e nem por isso desmanchava a tranquilidade no rosto.
— Onde você estava? — perguntou o policial que estava ao meu lado. Ele era enorme, tinha a barba bem feita, os braços grandes e o corpo todo musculoso. Seus olhos azuis estavam focados em mim desde que eu havia chego, o que me deixava um tanto incomodada.
— Eu... — não podia falar que Cami estava no andar de cima. — Vomitaram nos meus Manolos e eu fui lavar — olhei junto com ele para as minhas sandálias agora molhadas, mas por conta do banho que dei em minha amiga. Eu não acredito que fiz isso com minha sandália.
Ele apenas me olhou de canto e piscou um dos olhos, o que me deixou desconfortável. Procurei algum lugar para me sentar e encontrei os olhos de fincados no policial ao meu lado.
Na mesma hora, a campainha tocou e abri a porta para os pais de Antony. Ele parecia furioso com o garoto e quase arrancou suas orelhas quando o policial o liberou. Sentei-me ao lado de e foi então que percebi que ele estava algemado. De todos, ele era o único.
— Ei! — protestei com o policial e arregalou os olhos, apenas balançando a cabeça para mim, negando. — Por que ele está algemado? — olhei todos os outros e não encontrei ninguém da mesma forma.
— Acontece que o boyzinho aqui é maior de idade — disse o policial. — Como todos são menores, os pais estão vindo limpar a barra, mas o garotão não tem esse privilégio, além do mais, encontramos ele usando drogas com outros menores de idade e uma certa quantidade de maconha.
— Mas...
— Boneca, não piora — disse . Ele apenas fechou os olhos e tombou a cabeça para trás. Seu tom tinha sido carinhoso, não o presunçoso de sempre.
Depois disso, eu fiquei quieta. Não queria complicar as coisas e ele não parecia querer minha ajuda, se bem que eu não poderia fazer muita coisa. Apenas abracei meus braços e deitei minha cabeça em seu ombro, o que fez ele se mexer ao meu lado.
Sue e Dani acabaram indo embora juntos, pois pasmem: ela era maior de idade e estava responsável pelo Dani. Quando todos foram embora e sobraram apenas eu e , os policiais começaram a se organizar para sair de casa.
— Fica em pé, princesinha — o grandão de olhos azuis falou, com uma fitinha de náilon na mão.
— Vocês disseram que menores de idade teriam a barra limpa — ficou em pé em minha frente. Ele era bem maior que eu, quase da altura do policial.
— Barra limpa com os pais! — respondeu ele, voltando os olhos para mim e puxando meu braço.
— Ei, você está machucando ela — interviu, empurrando o cara com as duas mãos, voltando a ficar em minha frente.
— Você quer tomar outra porrada, garoto? — um policial que estava do outro lado falou, rindo junto com outro. — Você vai pegar uns 4 anos de jaula.
— Tudo bem, mas deixem ela aqui! Em casa, segura — ele olhou para mim e seus olhos não pareciam nada contentes com a situação. — Ela não sabe lidar com isso.
Ele sabia muito bem, pelo visto.
A porta foi escancarada no mesmo momento e pude ver papi entrando em casa com outros caras atrás dele. Estava aparentemente nervoso e mami vinha logo atrás. Eu havia estragado a viagem a trabalho; realmente, eu não consigo ficar sozinha.
— Façam o favor de tirar as algemas dele agora — apontou para e voltou-se para o policial mais perto de mim —, e se afaste da minha filha.
Os policiais seguiram as ordens e me dei conta de ser o delegado amigo de papi ao seu lado. Tiraram as algemas de e logo ele estava massageando os pulsos.
— Acredito que o nosso trabalho acabou por aqui — o delegado disse sério, chamando com as mãos seus policiais.
Todos fizeram uma fila e saíram de dentro de casa. Mami apenas fechou a porta e jogou as chaves no aparador, enquanto papi andava de um lado para o outro na sala. Ele estava furioso com toda a situação e mami parecia desapontada.
— O que vocês tinham na cabeça? — perguntou de início e apenas ficamos quietos. — , qual seu problema? Deixar a organizar uma festa?
— Na verdade eu quem organizei — papi encarou ele surpreso. — Pois é, a bo... não teve culpa. Ela até tentou impedir e eu manipulei ela.
— Que ideia de adolescente foi essa? Você tem dezenove anos! E ainda ser pego com drogas? Em uma festa com menores de idade? Pego fumando com eles? — papi gritava mais, enquanto mami apenas observava atrás dele. — , você não acha que tem problemas demais para fazer outros?
— Ah qual é, Ângelo! — ele se exaltou, ficando em pé. — Você nunca se importou e quer se importar agora? Pelo amor de Deus — ele revirou os olhos.
— Acontece que sou seu responsável legal — disse papi, apontando o dedo em seu peito. — Será a última vez que pago sua fiança. E você percebeu que quase colocou... em problemas?
pareceu se incomodar agora. Ele virou-se em minha direção e sorriu de lado. Eu deveria estar com a cara mais de tacho impossível, porque ele fazia uma cara engraçada ao me olhar.
— Desculpa, — falou sincero. Mesmo de longe eu poderia ver que sua pele estava quente. — Não vai mais acontecer, mas você deveria parar de acreditar tanto nas pessoas.
Papi pareceu ficar ainda mais furioso, mas não se importou e subiu as escadas de casa em um único pique para seu quarto. Aquele aviso tinha sido sobre ele?
— Você usou maconha? — papi perguntou e eu neguei nervosa. — Ótimo. Já para o seu quarto! Está de castigo por uma semana.
Obedeci, começando a subir as escadas e olhando a desgraça que aconteceu com os meus Manolos, mas acho que meus pais não perceberam que eu ainda não havia sumido e começaram a conversar.
— Eu realmente não sei o que fazer com ele, Leonor — papi jogou-se em uma das poltronas. — Desculpe pelo que ele está causando com .
— Amor, nós daremos um jeito — mami afagou o peito de papi e ele sorriu. — Ele ainda irá superar Gabriel.
Daniel ainda estava parado me olhando intensamente com aqueles olhos incrivelmente azuis e curiosos. Aquilo me deixava sem jeito, mas logo as meninas trataram de nos deixar a sós. Será que rolou um clima e elas perceberam e deram o fora? Porque eu era muito ruim para entender qualquer sinal, ainda mais vindo de um garoto tão lindo.
Se juntasse nossos genes, nossos filhos seriam lindos; louros escuros, de olhos indecisos entre verdes ou azuis e a pele clara, quase com tom de neve.
Mas... Gente eu estava pensando em casar com ele? Tão logo?
— Parabéns pela festa — disse, me tirando do transe e apenas abri um sorriso curto. — Está ótima, a cerveja é boa e os petiscos são uma delícia.
— Obrigada! — ri sem graça, me engasgando logo em seguida, arrancando um fio de preocupação dele. — Estou bem, tenho asma! — foi a desculpa que eu consegui dar de imediato e ele ficou um pouco surpreso.
— Sei bem como é, também tenho — ele deu de ombros e começou a andar em direção ao jardim, mas eu tentava pisar nas pedras próprias para não pisar na grama. Não queria meu Manolo atolado na terra. — Por que não se livra dos seus saltos por alguns minutos?
— Ah, não acho uma boa — falei sem graça e ele deu de ombros, sorrindo. — Me sinto bem de salto.
— O tempo todo? — perguntou e eu estranhei. Logo suas bochechas ficaram vermelhas e ele mordeu o lábio. — Eu percebi isso na escola, esse lance do salto.
— Ah — ri sem graça. Olhei para o lado e percebi que no fundo do quintal alguns garotos usavam drogas, pois conseguia ver a ponta da algo aceso. — Alguém está usando alguma coisa ali!
— Não acha melhor deixar para lá? — sugeriu Dani e eu apenas neguei, já andando cautelosamente até o local.
O cheiro de algo queimando estava muito forte e não parecia ser cigarro. Em meio aos meus passos, eles perceberam e trataram de apagar as pontinhas acesas. Quando dei por mim, um com olhos vermelhos e pesados vinha em minha direção um tanto sorridente. Ele era um dos que estava usando alguma coisa que eu não sabia dizer o que era??
— Oi, boneca — passou as mãos pelos bolsos e eu tentei ver quem estava junto com ele. Era Ricardo, Antony e mais dois garotos que eu não lembrava ser da escola.
— ? — segurei seu braço e entrei na parte detrás do salão, enquanto deixava os outros meninos para trás. — O que está fazendo?
— Me divertindo? — respondeu olhando-me de cima abaixo e levantou as sobrancelhas fazendo um bico. — E você? Como consegue se divertir em cima desses saltos?
— , para de fugir do assunto — voltei seus olhos para os meus, segurando seu rosto. Estavam completamente vermelhos. — O que você está usando?
— Jura que você não conhece o cheiro de maconha, boneca? — passou a língua pelos lábios e sorriu.
— Se tivesse mencionado que teria uso de drogas, nada disso estaria acontecendo — reclamei um pouco irritada por ele ter zombado o fato de eu nunca ter sentido cheiro de maconha e me fazer sentir bobinha.
— Você é muito careta, boneca! — revirou os olhos, voltando-se para mim. Tirou uma parte de um baseado do bolso e um isqueiro, voltando a acender sem dificuldade. — Que tal dar uma relaxada, hein?
— Isso é muito errado — senti o álcool atingir mais uma vez minha consciência e o cheiro da maconha voltou a entrar pelo meu nariz. — Pelo amor de Deus, tenha cuidado para que ninguém veja, porque se mami e papi descobrem que teve uma festa, vou tomar um castigo, mas se descobrirem sobre as drogas, capaz de eu ter que me mudar para Itália, para um colégio interno de freiras.
— Você não faz o tipo de garota que viraria freira, boneca — ironizou, revirando os olhos.
Sua mão direita encostou na parede que estava atrás de mim e o cheiro de seu perfume me deixou um pouco desnorteada. Era cítrico e cada vez mais eu me sentia... Não sei dizer, mas acho que estava me dando dor de barriga, pois sentia um grande aperto no pé de minha barriga. Sua outra mão levantou o baseado para a boca e antes que pudesse sugar a fumaça, ele sorriu.
— Boneca — ele me encarou. Seus olhos estavam rentes aos meus e tudo que eu conseguia ver, era o quão vermelho eles estavam.
Colocou o baseado entre os lábios e sugou o máximo possível. Segurou a fumaça por alguns segundos e soltou para o lado, enquanto eu só conseguia observar. Ele riu divertido e eu estava um pouco tonta só pelo cheiro tão próximo. Sua mão subiu pela minha coxa e levantou na altura de sua cintura. Me prendeu ainda mais em direção à parede e senti alguma parte do seu corpo tocar o fundo da minha calcinha, o que me fez morder o lábio.
— Você quer? — ofereceu-me o baseado, mas apenas neguei.
Ele então puxou mais um pouco e mais uma vez soprou para o lado, empurrando-se ainda mais em direção ao meu corpo, mas eu estava perdida. Apenas empurrei-o um pouco, abaixando a minha perna e ajeitando meu vestido. Eu precisava sair dali!
— Cuidado com... Isso — apontei para o cigarrinho e caminhei pelo outro lado do salão, pronta para entrar no banheiro.
Foi quando achei o banheiro do SPA que estava incrivelmente limpo. Entrei e me sentei na privada. Estava com o corpo quente ainda e acho que havia feito um pouco de xixi na calcinha, mas não era aquilo que pareceu quando eu abaixei a minha calcinha. Já havia acontecido uma ou outra vez, mas não tão... TÃO.
Por fim, usei o banheiro e voltei para a festa. Onde encontrei Sue beijando um cara qualquer, Tati estava com outras meninas conversando e Cami estava dan... CAMILA ESTAVA DANÇANDO EM CIMA DA MESA!
Eu precisava salvar minha amiga de tamanha vergonha!
Por isso corri até onde ela estava e insisti para que ela descesse, porém ela fingia não ouvir. Peguei uma de suas mãos e puxei sem força, apenas para ela abaixar. Gritei em seu ouvido mandando ela parar com aquilo, mas pouco se importou e continuou. Por fim não insisti, já que minutos depois ela desceu e jogou-se no gramado.
Percebi uma movimentação estranha na frente a minha casa, pessoas correndo para os fundos do quintal, pulando as cercas de arbustos e sumindo. Caminhei até onde conseguia ver o enorme portão principal e pude ver alguns carros de polícia estacionados. Eles já estavam entrando na nossa propriedade com aval do porteiro e então eu gelei. Ali parada, fiquei até que eles chegassem em mim.
— Senhorita ? — perguntou e eu assenti amedrontada. Estava ferrada! — Recebemos algumas denúncias da sua festa, música alta, uso de álcool e drogas.
— Drogas? — coloquei as mãos para frente e as juntei. Atrás do policial que falava comigo, tinha mais quatro, o que me deixou mais nervosa ainda. — Não há ninguém usando nenhum tipo de droga.
Menti. Até eu deveria estar com cheiro de maconha.
— Podemos fazer uma vistoria? — indicou com os olhos a parte do salão. — Visto que a maioria é menor de idade, nem deveriam consumir bebidas alcoólicas.
— Claro, a vontade.
Caminhei logo atrás deles, mas desfiz meu caminho quando lembrei de Cami jogada no gramado. Ela estava completamente bêbada e não poderia deixar minha amiga ali para ser vista pelos policiais e consequentemente ser levada para o hospital.
Com muita dificuldade e meus saltos entrando dentro da terra, levantei minha amiga — que agora resmungava — por um dos braços. Corri por trás da casa, pegando as chaves da cozinha dentro do meu decote. Abri a porta e entrei com uma Cami quase morta. A primeira dificuldade foi subir as escadas com aquele peso morto e com meus saltos — que agora deveriam estar quase fracassados.
Entrei no quarto e coloquei minha amiga dentro do chuveiro, em água gelada, mas de nada adiantou. Tirei suas roupas, sequei seu corpo e cabelos com a toalha e por fim coloquei um dos meus pijamas. Larguei-a na cama e desci correndo para o andar debaixo, pronta para voltar ao salão, mas a luz da sala estava acesa e alguns policiais estavam ali.
Caminhei até o centro da sala e a parede que cobria o resto da visão acabou. O sofá estava completamente cheio, assim como havia algumas pessoas sentadas pelo chão.
— Os papais já foram acionados e estão a caminho para buscar os filhos mal criados — disse o policial que parecia ser o responsável pela "missão".
No sofá eu podia ver Sue, Tati, uma menina que eu não conhecia, Antony, Ric, Dani, Liz, Fabio, mais alguns que eu não lembrava o nome no chão e no canto de um dos sofás, estava , ao lado do policial que se achava. Ele estava encostado, com a face completamente tranquila, enquanto todos pareciam nervosos com a situação. Percebi que ele tinha uma parte do lábio machucada e nem por isso desmanchava a tranquilidade no rosto.
— Onde você estava? — perguntou o policial que estava ao meu lado. Ele era enorme, tinha a barba bem feita, os braços grandes e o corpo todo musculoso. Seus olhos azuis estavam focados em mim desde que eu havia chego, o que me deixava um tanto incomodada.
— Eu... — não podia falar que Cami estava no andar de cima. — Vomitaram nos meus Manolos e eu fui lavar — olhei junto com ele para as minhas sandálias agora molhadas, mas por conta do banho que dei em minha amiga. Eu não acredito que fiz isso com minha sandália.
Ele apenas me olhou de canto e piscou um dos olhos, o que me deixou desconfortável. Procurei algum lugar para me sentar e encontrei os olhos de fincados no policial ao meu lado.
Na mesma hora, a campainha tocou e abri a porta para os pais de Antony. Ele parecia furioso com o garoto e quase arrancou suas orelhas quando o policial o liberou. Sentei-me ao lado de e foi então que percebi que ele estava algemado. De todos, ele era o único.
— Ei! — protestei com o policial e arregalou os olhos, apenas balançando a cabeça para mim, negando. — Por que ele está algemado? — olhei todos os outros e não encontrei ninguém da mesma forma.
— Acontece que o boyzinho aqui é maior de idade — disse o policial. — Como todos são menores, os pais estão vindo limpar a barra, mas o garotão não tem esse privilégio, além do mais, encontramos ele usando drogas com outros menores de idade e uma certa quantidade de maconha.
— Mas...
— Boneca, não piora — disse . Ele apenas fechou os olhos e tombou a cabeça para trás. Seu tom tinha sido carinhoso, não o presunçoso de sempre.
Depois disso, eu fiquei quieta. Não queria complicar as coisas e ele não parecia querer minha ajuda, se bem que eu não poderia fazer muita coisa. Apenas abracei meus braços e deitei minha cabeça em seu ombro, o que fez ele se mexer ao meu lado.
Sue e Dani acabaram indo embora juntos, pois pasmem: ela era maior de idade e estava responsável pelo Dani. Quando todos foram embora e sobraram apenas eu e , os policiais começaram a se organizar para sair de casa.
— Fica em pé, princesinha — o grandão de olhos azuis falou, com uma fitinha de náilon na mão.
— Vocês disseram que menores de idade teriam a barra limpa — ficou em pé em minha frente. Ele era bem maior que eu, quase da altura do policial.
— Barra limpa com os pais! — respondeu ele, voltando os olhos para mim e puxando meu braço.
— Ei, você está machucando ela — interviu, empurrando o cara com as duas mãos, voltando a ficar em minha frente.
— Você quer tomar outra porrada, garoto? — um policial que estava do outro lado falou, rindo junto com outro. — Você vai pegar uns 4 anos de jaula.
— Tudo bem, mas deixem ela aqui! Em casa, segura — ele olhou para mim e seus olhos não pareciam nada contentes com a situação. — Ela não sabe lidar com isso.
Ele sabia muito bem, pelo visto.
A porta foi escancarada no mesmo momento e pude ver papi entrando em casa com outros caras atrás dele. Estava aparentemente nervoso e mami vinha logo atrás. Eu havia estragado a viagem a trabalho; realmente, eu não consigo ficar sozinha.
— Façam o favor de tirar as algemas dele agora — apontou para e voltou-se para o policial mais perto de mim —, e se afaste da minha filha.
Os policiais seguiram as ordens e me dei conta de ser o delegado amigo de papi ao seu lado. Tiraram as algemas de e logo ele estava massageando os pulsos.
— Acredito que o nosso trabalho acabou por aqui — o delegado disse sério, chamando com as mãos seus policiais.
Todos fizeram uma fila e saíram de dentro de casa. Mami apenas fechou a porta e jogou as chaves no aparador, enquanto papi andava de um lado para o outro na sala. Ele estava furioso com toda a situação e mami parecia desapontada.
— O que vocês tinham na cabeça? — perguntou de início e apenas ficamos quietos. — , qual seu problema? Deixar a organizar uma festa?
— Na verdade eu quem organizei — papi encarou ele surpreso. — Pois é, a bo... não teve culpa. Ela até tentou impedir e eu manipulei ela.
— Que ideia de adolescente foi essa? Você tem dezenove anos! E ainda ser pego com drogas? Em uma festa com menores de idade? Pego fumando com eles? — papi gritava mais, enquanto mami apenas observava atrás dele. — , você não acha que tem problemas demais para fazer outros?
— Ah qual é, Ângelo! — ele se exaltou, ficando em pé. — Você nunca se importou e quer se importar agora? Pelo amor de Deus — ele revirou os olhos.
— Acontece que sou seu responsável legal — disse papi, apontando o dedo em seu peito. — Será a última vez que pago sua fiança. E você percebeu que quase colocou... em problemas?
pareceu se incomodar agora. Ele virou-se em minha direção e sorriu de lado. Eu deveria estar com a cara mais de tacho impossível, porque ele fazia uma cara engraçada ao me olhar.
— Desculpa, — falou sincero. Mesmo de longe eu poderia ver que sua pele estava quente. — Não vai mais acontecer, mas você deveria parar de acreditar tanto nas pessoas.
Papi pareceu ficar ainda mais furioso, mas não se importou e subiu as escadas de casa em um único pique para seu quarto. Aquele aviso tinha sido sobre ele?
— Você usou maconha? — papi perguntou e eu neguei nervosa. — Ótimo. Já para o seu quarto! Está de castigo por uma semana.
Obedeci, começando a subir as escadas e olhando a desgraça que aconteceu com os meus Manolos, mas acho que meus pais não perceberam que eu ainda não havia sumido e começaram a conversar.
— Eu realmente não sei o que fazer com ele, Leonor — papi jogou-se em uma das poltronas. — Desculpe pelo que ele está causando com .
— Amor, nós daremos um jeito — mami afagou o peito de papi e ele sorriu. — Ele ainda irá superar Gabriel.
Capítulo 5 - Especulações
Gabriel.
Aquele nome havia me perturbado a noite inteira e não consegui dormir direito. Tive que passar algumas camadas de corretivo na manhã seguinte para amenizar minhas olheiras.
Não havia descido para o café da manhã, na realidade não estava com muita fome. Ouvi barulho de água vindo do meu banheiro, então com certeza Cami estava tirando resquícios de ressaca.
Revirei na cama e fiquei de barriga para baixo. Peguei meu celular e comecei ver as postagens da festa; até que foi legal apesar do fechamento de ouro que tivemos com papi e mami furiosos com e consequentemente comigo.
Havia uma foto de Cami completamente louca em cima da mesa, de Sue beijando o garoto pelos cantos, Tati e Dani fazendo desafio Pong Beer (o famoso jogo dos copos com cerveja, quem acertar bebe), Antony e Ric com e outros garotos nos fundos do quintal, e uma de .
Ele estava de olhos fechados, soltando fumaça de maconha pelos lábios e uma mão feminina estava em seu pescoço, como se o estivesse enforcando. O que dava noção de aquela garota estar sentada em seu colo e o pior: era a poltrona que havia no quarto de hóspedes.
Quando a porta do meu banheiro abriu, levei um pequeno susto, mas continuei olhando aquela foto com muita atenção. Era muita cara de pau daquele garoto.
— Você não vai acreditar, Cami — comecei agora bloqueando a tela do celular e me virei para conversar com a minha amiga. Mas não era ela. — O que você está fazendo no meu quarto?
— O chuveiro do meu banheiro queimou — estava apenas com a toalha embolada por cima da torneirinha e o resto do corpo nu.
Ele tinha algumas tatuagens espalhadas pelos braços e era a primeira vez que eu conseguia ver, porque ele sempre estava de jaqueta cobrindo os desenhos. Um dos braços era fechado, tatuagens coloridas e pretas cobriam, enquanto o outro ainda estava intacto e havia uma grande tatuagem no peito com asas de anjo e um número em algarismos romanos entre as asas.
— Garoto! — lembrei que estava de calcinha shorts rosa e camiseta de pijama. Puxei o cobertor para cima de mim. — Como você é petulante! Tem o banheiro do corredor se você não sabe!
— Eu queria saber como é usar os produtos de Barbie — ele deu as costas, indo para a porta.
Gente, aquele era o paraíso; ou o inferno!!! Porque que bunda mais sexy! Por incrível que pareça, ele não tinha pelos no bumbum e as pernas eram cobertas de pelos finos, não muito exagerados. Dos lados do bumbum dele, tinham entradinhas e no final das suas costas, dois furinhos.
— Limpa a baba, boneca! — ele disse assim que saiu porta a fora.
O único protesto que fui capaz de fazer, foi pegar meu Manolo que estava ao meu lado e tacar em suas costas.
💖
Ainda sobre Gabriel: eu precisava saber quem era essa pessoa, e porque ela mexia tanto com .
Será que foi algum namorado?
Eu não acho que seja gay, mas poderia ser bissexual.
Não poderia perguntar para papi e nem para mami, assim como não ia chegar diretamente e conversar com sobre isso, porém eu não imaginava outra forma de descobrir. Ele é sobrinho do papi, mas nunca tivemos contato com sua família, eu nem se quer o conhecia antes de morar conosco.
Se eu realmente queria descobrir alguma coisa, teria que arrumar alguma forma e por isso, fazer amizade com ele era a única opção mesmo a contragosto.
O final de semana seria de castigo. Mami nem se quer deixou Cami ficar em casa e pediu para Durval levá-la assim que terminou o café da manhã. Eu estava sentada na sala de TV assistindo um filme, quando papi passou completamente arrumado e mami vinha atrás em seus saltos finos.
— Teremos um evento para ir e como você e estão de castigo ficarão em casa sob os cuidados de Gertrudes — papi disse, ele estava bem sério, não ia contrariá-lo de forma alguma. — Se eu sonhar com outra festa ou algo do tipo, você estará encrencada!
Lilith estava no meu colo quentinha, completamente sonolenta enquanto assistíamos um filme qualquer e eu estava quase caindo no sono, mas ouvi alguns acordes musicais que não vinham do filme é sim do escritório do papi.
Ele não usava o piano havia alguns anos; parou de praticar quando... quando mami sofreu um acidente.
Era uma noite chuvosa, mami estava voltando de sua viagem de Minas Gerais, um congresso de psicologia sexual; antes dela sair, eles brigaram, pois papi estava suspeitando que mami estava tendo um caso com colega de trabalho — foi tudo que consegui ouvir aos meus 12 anos — e claro que ela negava. Dizia que era coisa de sua cabeça, que jamais faria isso com ele e que iria pensar sobre o relacionamento durante a viagem e orientava que ele fizesse o mesmo. Por fim, fiquei em casa e papi se embebedou e começou a tocar músicas e músicas durante os dias que mami estava fora. E naquela última noite da sua vinda, um caminhão desgovernado bateu em seu carro e amassou o lado do passageiro, deixando mami intacta. Papi arrumou meios, trouxe mami para o melhor hospital de São Paulo e alguns dias depois, ela já estava muito bem, inclusive disposta a não desperdiçar nada em sua vida, inclusive a paz. Depois disso, nunca mais vi meus pais brigando nem por uma azeitona.
Caminhei até o escritório e conseguia ouvir perfeitamente a música Shallow da Lady Gaga com o Bradley Cooper. Espiei pela fresta da porta e tinha os dedos em ação, enquanto sentia a música de olhos fechados.
Abri um pouco mais a porta e entrei no local. Ele me observou andar, mas não parou de tocar, apenas voltou os olhos para as teclas. Seus olhos estavam carregados de sentimentos desconhecidos e confusão, isso eu pude perceber e sentir. Seu sentimento atravessou por mim, me deixando um tanto triste por vê-lo daquela forma e meu coração ficou acelerado. Eu não sabia o que estava sentindo ou porque estava sentindo.
Coloquei os dedos sobre as teclas e comecei tocar a música junto com ele, mas logo ele tirou seus dedos e deixou que eu tomasse conta da música.
I'm off the deep end, watch as I dive in
I'll never meet the ground
Crash through the surface, where they can't hurt us
We're far from the shallow now
Cantei suavemente, sentindo a música aos poucos sair de mim. Eu nem sabia ao certo se estava cantando corretamente, mas estava gostando do que estava fazendo.
In the shallow, shallow
In the shallow, shallow
In the shallow, shallow
We're far from the shallow now
Ele cantou comigo e eu sorri surpresa, porque se tinha uma coisa que ele parecia fazer muito bem, era cantar. Toquei algumas últimas notas, apenas tirei os dedos das teclas e virei-me para ele.
— Não sabia que você cantava assim tão bem — comentei e ele deu de ombros. — Nem que tocava. Nem que tinha tatuagens...
— Há muita coisa sobre mim que você não sabe, boneca — ele piscou e passou as mãos pelos cabelos.
— Quero saber o motivo de me chamar de boneca — pedi ficando em pé e ele fechou a proteção das teclas do piano.
— É óbvio! — revirou os olhos. Eu pulei para me sentar na calda do piano, fazendo-o observar todos os meus movimentos. — Você é toda popular, uma patricinha, rica e tem tudo sob o seu controle, porque querendo ou não, é poderosinha. Fala sério, não vai concordar?
— Isso é colocar estereótipos sobre uma pessoa, você sabe? — disse e ele manejou a cabeça.
— Dentro de todos os seus apelidos, boneca é o meu favorito, sabe por quê, boneca? — neguei ansiosa. — Porque só eu te chamo assim.
Quando dei por mim, já estava debruçada sobre o piano, com o rosto próximo ao de , que estava sentado no banco em frente as teclas. Meus olhos captaram os dele rapidamente, assim como os seus encaravam os meus olhos e lábios. Nossos narizes se tocaram, mas a porta se abriu e nos separamos rapidamente, enquanto Gertrudes trazia suco e torradas para comermos.
💖
O final de semana havia passado tão rápido que mesmo de castigo, não havia percebido. Havia muita coisa do colégio que não havia feito, então tomei atitude de finalizar tudo.
O café da manhã foi um tanto estranho. havia simplesmente sumido, enquanto mami e papi estavam em seus mundos fechados. Quando ele desceu, ia passando direto para a porta, mas papi percebeu e chamou.
— Você pode pegar o Renegade para ir para escola — entregou-lhe as chaves, deixando o outro confuso. — Sua responsabilidade é levar e trazer , ir aonde ela quiser.
Não sabia se ficava revoltada por ter uma babá ou se ficava agradecida por ter alguém disponível para fazer o que eu quisesse, quando eu quisesse.
— Achei que iria ser apenas escola — ele colocou os óculos escuros sobre os olhos e continuou o caminho pela porta. — Você vem ou não, ?
Estranho. Me chamando de ? Essa era nova.
Larguei minhas frutas para trás, pois percebi que ele não queria trocar palavras com papi, nem o mesmo ambiente.
De uma coisa era certa: carro automático + , não era uma boa combinação. O carro dava trancos fortes e quando ele freava, o cinto me enforcava.
— Você é péssimo — falei quando paramos mais uma vez em um semáforo, depois de uma quase decapitação.
— Nunca nem se quer peguei em um carro automático, boneca — ele revirou os olhos, ligando o som do carro. — Você deveria agradecer, pois agora tem um motorista particular, somente seu.
— Por que me chamou de ? — notei. Ele desviou os olhos e então acelerou, e o carro deu uma bela arrancada. — Por causa do papi?
— Aconteceu que eu e seu papi, não nos damos muito bem — frisou a palavra, e suspirou.
— E porque está morando conosco? — sondei curiosa. Curiosíssima!
— Isso não vem ao caso, dona — piscou, virando a esquina antes da escola e parando o carro. — Você poderia descer e evitar que fôssemos vistos juntos?
Abri a boca chocada. Não acredito que ele estava fazendo isso! O carro dos MEUS pais, e ele pedindo para eu descer? Quem tinha que estar com vergonha dele era eu!
— Brincadeirinha! — ele voltou dirigir o que me deixou carrancuda. — Ah, desfaz o bico, boneca! Você fica linda assim, mas não quero chegar na escola e perguntarem o que aconteceu.
Fiquei um pouco incomodada com o comentário dele, mas logo estava na frente do colégio, liberta de ouvir suas asneiras.
Observei que todos olhavam para saindo do carro e muitas garotas já estavam completamente carrancudas porque me viram saindo do mesmo carro que ele. Felizmente (ou não), agora todos sabiam que alguma coisa entre nós rolava — mas eu precisava dar um jeito logo de desmentir qualquer boato sobre eu e ele estarmos juntos e comecei contando a história para minhas amigas, que quase me bateram por não ter contado antes sobre o "novo morador".
Antes de entrar no corredor das salas, olhei para trás e ele andava conversando com Suelen. Ela estava com um sorriso radiante para ele e usava uma blusinha que havia lhe dado antes da festa. Primeiro ponto marcado: a loser usando a blusinha que eu havia dado!
Mais do que satisfeita entrei para a aula de literatura, onde já começava me culpar por nem se quer ter começado a ler Dom Casmurro.
— Capitu era maravilhosa! — comentou Suelen lá do fundo da sala. — Um fato muito importante, foi o poder feminino da época, a mulher e sua inteligência, até porque naquela época, o costume era mulher calada e serva. Capitu foi bem ousada e querendo ou não, os olhos de cigana oblíqua até hoje encantam.
— Dona Suelen fez uma ótima leitura de Capitu em poucas palavras! — o professor andava de um lado para o outro. — E sobre Bentinho, alguém tem algo a dizer?
— Bentinho era o típico garoto mimado, que não aceitava questionamentos e quando percebeu o hino de mulher que era Capitu, sentou na graxa — um garoto da sala falou, recebendo aplausos do resto da sala.
Eu realmente precisava ler aquele livro.
Depois de toda uma releitura do livro e algumas aulas básicas de geografia, fomos liberados para ir para casa. Fiquei cerca de 30 minutos esperando em frente ao carro e quando ele finalmente apareceu, estava com a novata.
— A gente pode adiantar alguma coisa do trabalho hoje? — ela perguntou nervosa, olhando de rabo de olho e eu estranhei. — Não vou ter tanto tempo livre assim.
Apenas concordei e entrei no banco do passageiro. Peguei meus fones cor de rosa de dentro da minha mochila e conectei em meu celular. Não queria ouvir a voz dele nos próximos 15 minutos da minha vida.
Gertrudes havia preparado hambúrgueres para quando chegássemos e fez o meu favorito de lentilha que eu tanto amava. Devoramos e corremos para o quarto dar continuidade no trabalho, porém comentamos mais sobre a festa do que sobre o trabalho.
— Fiquei com um garoto na festa, que eu nem se quer sei o nome dele — disse, jogando-se na cama. — Só sei que ele era extremamente viciante.
— E como vamos achar ele? — me animei, ficando de joelhos na cama. — Podemos... Desfilar amanhã pela escola completamente...
— Ok, princesa, vamos com calma — ela disse levantando a mão, apontando um dos dedos para mim e eu ri. Observei atentamente sua mão com alguns anéis de prata. — Qual roupa sua podemos provar hoje?
Quase ia me esquecendo de pensar, porque aquele anel na mão dela me lembrava alguma coisa, parecia que eu já o tinha visto em algum local, mas apenas dei de ombros e fiquei em pé para ir procurar uma roupa e seguir com a missão "faça da loser uma winner".
Não havia descido para o café da manhã, na realidade não estava com muita fome. Ouvi barulho de água vindo do meu banheiro, então com certeza Cami estava tirando resquícios de ressaca.
Revirei na cama e fiquei de barriga para baixo. Peguei meu celular e comecei ver as postagens da festa; até que foi legal apesar do fechamento de ouro que tivemos com papi e mami furiosos com e consequentemente comigo.
Havia uma foto de Cami completamente louca em cima da mesa, de Sue beijando o garoto pelos cantos, Tati e Dani fazendo desafio Pong Beer (o famoso jogo dos copos com cerveja, quem acertar bebe), Antony e Ric com e outros garotos nos fundos do quintal, e uma de .
Ele estava de olhos fechados, soltando fumaça de maconha pelos lábios e uma mão feminina estava em seu pescoço, como se o estivesse enforcando. O que dava noção de aquela garota estar sentada em seu colo e o pior: era a poltrona que havia no quarto de hóspedes.
Quando a porta do meu banheiro abriu, levei um pequeno susto, mas continuei olhando aquela foto com muita atenção. Era muita cara de pau daquele garoto.
— Você não vai acreditar, Cami — comecei agora bloqueando a tela do celular e me virei para conversar com a minha amiga. Mas não era ela. — O que você está fazendo no meu quarto?
— O chuveiro do meu banheiro queimou — estava apenas com a toalha embolada por cima da torneirinha e o resto do corpo nu.
Ele tinha algumas tatuagens espalhadas pelos braços e era a primeira vez que eu conseguia ver, porque ele sempre estava de jaqueta cobrindo os desenhos. Um dos braços era fechado, tatuagens coloridas e pretas cobriam, enquanto o outro ainda estava intacto e havia uma grande tatuagem no peito com asas de anjo e um número em algarismos romanos entre as asas.
— Garoto! — lembrei que estava de calcinha shorts rosa e camiseta de pijama. Puxei o cobertor para cima de mim. — Como você é petulante! Tem o banheiro do corredor se você não sabe!
— Eu queria saber como é usar os produtos de Barbie — ele deu as costas, indo para a porta.
Gente, aquele era o paraíso; ou o inferno!!! Porque que bunda mais sexy! Por incrível que pareça, ele não tinha pelos no bumbum e as pernas eram cobertas de pelos finos, não muito exagerados. Dos lados do bumbum dele, tinham entradinhas e no final das suas costas, dois furinhos.
— Limpa a baba, boneca! — ele disse assim que saiu porta a fora.
O único protesto que fui capaz de fazer, foi pegar meu Manolo que estava ao meu lado e tacar em suas costas.
Ainda sobre Gabriel: eu precisava saber quem era essa pessoa, e porque ela mexia tanto com .
Será que foi algum namorado?
Eu não acho que seja gay, mas poderia ser bissexual.
Não poderia perguntar para papi e nem para mami, assim como não ia chegar diretamente e conversar com sobre isso, porém eu não imaginava outra forma de descobrir. Ele é sobrinho do papi, mas nunca tivemos contato com sua família, eu nem se quer o conhecia antes de morar conosco.
Se eu realmente queria descobrir alguma coisa, teria que arrumar alguma forma e por isso, fazer amizade com ele era a única opção mesmo a contragosto.
O final de semana seria de castigo. Mami nem se quer deixou Cami ficar em casa e pediu para Durval levá-la assim que terminou o café da manhã. Eu estava sentada na sala de TV assistindo um filme, quando papi passou completamente arrumado e mami vinha atrás em seus saltos finos.
— Teremos um evento para ir e como você e estão de castigo ficarão em casa sob os cuidados de Gertrudes — papi disse, ele estava bem sério, não ia contrariá-lo de forma alguma. — Se eu sonhar com outra festa ou algo do tipo, você estará encrencada!
Lilith estava no meu colo quentinha, completamente sonolenta enquanto assistíamos um filme qualquer e eu estava quase caindo no sono, mas ouvi alguns acordes musicais que não vinham do filme é sim do escritório do papi.
Ele não usava o piano havia alguns anos; parou de praticar quando... quando mami sofreu um acidente.
Era uma noite chuvosa, mami estava voltando de sua viagem de Minas Gerais, um congresso de psicologia sexual; antes dela sair, eles brigaram, pois papi estava suspeitando que mami estava tendo um caso com colega de trabalho — foi tudo que consegui ouvir aos meus 12 anos — e claro que ela negava. Dizia que era coisa de sua cabeça, que jamais faria isso com ele e que iria pensar sobre o relacionamento durante a viagem e orientava que ele fizesse o mesmo. Por fim, fiquei em casa e papi se embebedou e começou a tocar músicas e músicas durante os dias que mami estava fora. E naquela última noite da sua vinda, um caminhão desgovernado bateu em seu carro e amassou o lado do passageiro, deixando mami intacta. Papi arrumou meios, trouxe mami para o melhor hospital de São Paulo e alguns dias depois, ela já estava muito bem, inclusive disposta a não desperdiçar nada em sua vida, inclusive a paz. Depois disso, nunca mais vi meus pais brigando nem por uma azeitona.
Caminhei até o escritório e conseguia ouvir perfeitamente a música Shallow da Lady Gaga com o Bradley Cooper. Espiei pela fresta da porta e tinha os dedos em ação, enquanto sentia a música de olhos fechados.
Abri um pouco mais a porta e entrei no local. Ele me observou andar, mas não parou de tocar, apenas voltou os olhos para as teclas. Seus olhos estavam carregados de sentimentos desconhecidos e confusão, isso eu pude perceber e sentir. Seu sentimento atravessou por mim, me deixando um tanto triste por vê-lo daquela forma e meu coração ficou acelerado. Eu não sabia o que estava sentindo ou porque estava sentindo.
Coloquei os dedos sobre as teclas e comecei tocar a música junto com ele, mas logo ele tirou seus dedos e deixou que eu tomasse conta da música.
I'll never meet the ground
Crash through the surface, where they can't hurt us
We're far from the shallow now
Cantei suavemente, sentindo a música aos poucos sair de mim. Eu nem sabia ao certo se estava cantando corretamente, mas estava gostando do que estava fazendo.
In the shallow, shallow
In the shallow, shallow
We're far from the shallow now
Ele cantou comigo e eu sorri surpresa, porque se tinha uma coisa que ele parecia fazer muito bem, era cantar. Toquei algumas últimas notas, apenas tirei os dedos das teclas e virei-me para ele.
— Não sabia que você cantava assim tão bem — comentei e ele deu de ombros. — Nem que tocava. Nem que tinha tatuagens...
— Há muita coisa sobre mim que você não sabe, boneca — ele piscou e passou as mãos pelos cabelos.
— Quero saber o motivo de me chamar de boneca — pedi ficando em pé e ele fechou a proteção das teclas do piano.
— É óbvio! — revirou os olhos. Eu pulei para me sentar na calda do piano, fazendo-o observar todos os meus movimentos. — Você é toda popular, uma patricinha, rica e tem tudo sob o seu controle, porque querendo ou não, é poderosinha. Fala sério, não vai concordar?
— Isso é colocar estereótipos sobre uma pessoa, você sabe? — disse e ele manejou a cabeça.
— Dentro de todos os seus apelidos, boneca é o meu favorito, sabe por quê, boneca? — neguei ansiosa. — Porque só eu te chamo assim.
Quando dei por mim, já estava debruçada sobre o piano, com o rosto próximo ao de , que estava sentado no banco em frente as teclas. Meus olhos captaram os dele rapidamente, assim como os seus encaravam os meus olhos e lábios. Nossos narizes se tocaram, mas a porta se abriu e nos separamos rapidamente, enquanto Gertrudes trazia suco e torradas para comermos.
O final de semana havia passado tão rápido que mesmo de castigo, não havia percebido. Havia muita coisa do colégio que não havia feito, então tomei atitude de finalizar tudo.
O café da manhã foi um tanto estranho. havia simplesmente sumido, enquanto mami e papi estavam em seus mundos fechados. Quando ele desceu, ia passando direto para a porta, mas papi percebeu e chamou.
— Você pode pegar o Renegade para ir para escola — entregou-lhe as chaves, deixando o outro confuso. — Sua responsabilidade é levar e trazer , ir aonde ela quiser.
Não sabia se ficava revoltada por ter uma babá ou se ficava agradecida por ter alguém disponível para fazer o que eu quisesse, quando eu quisesse.
— Achei que iria ser apenas escola — ele colocou os óculos escuros sobre os olhos e continuou o caminho pela porta. — Você vem ou não, ?
Estranho. Me chamando de ? Essa era nova.
Larguei minhas frutas para trás, pois percebi que ele não queria trocar palavras com papi, nem o mesmo ambiente.
De uma coisa era certa: carro automático + , não era uma boa combinação. O carro dava trancos fortes e quando ele freava, o cinto me enforcava.
— Você é péssimo — falei quando paramos mais uma vez em um semáforo, depois de uma quase decapitação.
— Nunca nem se quer peguei em um carro automático, boneca — ele revirou os olhos, ligando o som do carro. — Você deveria agradecer, pois agora tem um motorista particular, somente seu.
— Por que me chamou de ? — notei. Ele desviou os olhos e então acelerou, e o carro deu uma bela arrancada. — Por causa do papi?
— Aconteceu que eu e seu papi, não nos damos muito bem — frisou a palavra, e suspirou.
— E porque está morando conosco? — sondei curiosa. Curiosíssima!
— Isso não vem ao caso, dona — piscou, virando a esquina antes da escola e parando o carro. — Você poderia descer e evitar que fôssemos vistos juntos?
Abri a boca chocada. Não acredito que ele estava fazendo isso! O carro dos MEUS pais, e ele pedindo para eu descer? Quem tinha que estar com vergonha dele era eu!
— Brincadeirinha! — ele voltou dirigir o que me deixou carrancuda. — Ah, desfaz o bico, boneca! Você fica linda assim, mas não quero chegar na escola e perguntarem o que aconteceu.
Fiquei um pouco incomodada com o comentário dele, mas logo estava na frente do colégio, liberta de ouvir suas asneiras.
Observei que todos olhavam para saindo do carro e muitas garotas já estavam completamente carrancudas porque me viram saindo do mesmo carro que ele. Felizmente (ou não), agora todos sabiam que alguma coisa entre nós rolava — mas eu precisava dar um jeito logo de desmentir qualquer boato sobre eu e ele estarmos juntos e comecei contando a história para minhas amigas, que quase me bateram por não ter contado antes sobre o "novo morador".
Antes de entrar no corredor das salas, olhei para trás e ele andava conversando com Suelen. Ela estava com um sorriso radiante para ele e usava uma blusinha que havia lhe dado antes da festa. Primeiro ponto marcado: a loser usando a blusinha que eu havia dado!
Mais do que satisfeita entrei para a aula de literatura, onde já começava me culpar por nem se quer ter começado a ler Dom Casmurro.
— Capitu era maravilhosa! — comentou Suelen lá do fundo da sala. — Um fato muito importante, foi o poder feminino da época, a mulher e sua inteligência, até porque naquela época, o costume era mulher calada e serva. Capitu foi bem ousada e querendo ou não, os olhos de cigana oblíqua até hoje encantam.
— Dona Suelen fez uma ótima leitura de Capitu em poucas palavras! — o professor andava de um lado para o outro. — E sobre Bentinho, alguém tem algo a dizer?
— Bentinho era o típico garoto mimado, que não aceitava questionamentos e quando percebeu o hino de mulher que era Capitu, sentou na graxa — um garoto da sala falou, recebendo aplausos do resto da sala.
Eu realmente precisava ler aquele livro.
Depois de toda uma releitura do livro e algumas aulas básicas de geografia, fomos liberados para ir para casa. Fiquei cerca de 30 minutos esperando em frente ao carro e quando ele finalmente apareceu, estava com a novata.
— A gente pode adiantar alguma coisa do trabalho hoje? — ela perguntou nervosa, olhando de rabo de olho e eu estranhei. — Não vou ter tanto tempo livre assim.
Apenas concordei e entrei no banco do passageiro. Peguei meus fones cor de rosa de dentro da minha mochila e conectei em meu celular. Não queria ouvir a voz dele nos próximos 15 minutos da minha vida.
Gertrudes havia preparado hambúrgueres para quando chegássemos e fez o meu favorito de lentilha que eu tanto amava. Devoramos e corremos para o quarto dar continuidade no trabalho, porém comentamos mais sobre a festa do que sobre o trabalho.
— Fiquei com um garoto na festa, que eu nem se quer sei o nome dele — disse, jogando-se na cama. — Só sei que ele era extremamente viciante.
— E como vamos achar ele? — me animei, ficando de joelhos na cama. — Podemos... Desfilar amanhã pela escola completamente...
— Ok, princesa, vamos com calma — ela disse levantando a mão, apontando um dos dedos para mim e eu ri. Observei atentamente sua mão com alguns anéis de prata. — Qual roupa sua podemos provar hoje?
Quase ia me esquecendo de pensar, porque aquele anel na mão dela me lembrava alguma coisa, parecia que eu já o tinha visto em algum local, mas apenas dei de ombros e fiquei em pé para ir procurar uma roupa e seguir com a missão "faça da loser uma winner".
Capítulo 6 - Quebrando Regras
Cami e Tati estavam ao meu lado enquanto víamos Sue andar de botas coturno e um conjunto azul de listras que eu tinha no guarda roupas, porém nem usava. Seus cabelos estavam com cachos largos e usava uma maquiagem mais leve, que eu mesma havia feito dentro do banheiro em poucos minutos.
Os garotos a olhavam surpresos e as meninas com um pouco de inveja, eu acho. Quem não queria ser amiga de ? Todos queriam.
Seguimos Sue, indo todas juntas para a sala de aula onde o professor de matemática já nos aguardava. Nessa aula eu prestava muita atenção, sabia várias coisas e ainda ajudava as pessoas que não iam tão bem.
— Oi, meu nome é Louise — uma garota me abordou quando saí da sala. Parecia um pouco envergonhada de conversar comigo, mas sorriu. — Eu sou nova na escola, não estou acostumada ainda. Vi que você é muito boa em matemática, poderia me ajudar algum dia desses?
Ela tinha a pele negra e usava trancinhas cor de rosa em todo o cabelo. Tinha alguns piercings e olhos escuros. Usava jeans rasgados e um cropped amarelo. Achei muito interessante seu estilo.
— Prazer, sou a — falei primeiro abrindo um sorriso. — Quer tentar alguma coisa hoje?
A aula seguinte era de educação física e eu não gostava muito. Coloquei meus shorts preto e uma blusa rosa. Peguei minhas polainas rosa escuro e depois coloquei meu tênis preto. Era dia de vôlei!
O professor dividiu dois times mistos e então entregou uma bola de futebol, mandando os líderes escolherem campo ou bola. Foi então que entendi: mudança de planos, a aula seria sobre futebol.
Eu não acompanhava tanto futebol, mas papi era viciado e corintiano roxo, o que me irritava, pois em dias de jogos ele gritava com os amigos dele até a casa quase cair. Fora que ele e mami brigavam por causa de alguns jogos, na qual ela queria ver o Palmeiras jogar, mas ele estava dono demais da televisão.
Eu era do contra: não acompanhava futebol, por isso, não torcia para nenhum time, e nem sabia jogar.
Fiquei no time contra e Sue, enquanto Cami e Tati sempre estavam comigo e chamei Louise para jogar conosco. Roubaram a minha bola algumas vezes e fizeram alguns gols com meus erros, o que deixava os meninos da sala irritados com a minha "agilidade".
Quase no final do jogo, perdendo de 7 a zero para o time adversário, um garoto do meu time simplesmente pegou a bola dos meus pés e me empurrou, o que me fez cair de bunda no chão. Doeu muito e quando percebi, estava com um pouco de falta de ar pela pancada.
Dani correu em minha direção e começou a conversar comigo, instruindo como eu deveria respirar e outras pessoas começaram a se aglomerar ao nosso redor. A professora interrompeu o jogo e levou o garoto até o diretor e pediu para que alguém me acompanhasse até a enfermaria. Não achei necessário, por isso com ajuda das meninas fui em direção ao vestiário. No meio do caminho, vi que apenas olhava de longe enquanto mantinha algum diálogo com Sue do outro lado da quadra.
💖
Estávamos concentradas fazendo nosso trabalho em meu quarto, quando Gertrudes trouxe nossos lanches. As meninas amavam as comidas de casa e dessa vez não resisti em comer o sanduíche que ela havia feito, nada light por sinal.
Acabei convidando Louise para se juntar à nós e Sue achou uma ideia muito legal, diferente de Cami e Tati. Segundo elas, de "novata" já bastava a Suelen.
— Vocês viram que amanhã a festa é na casa do Antony? — Tami perguntou, fechando o próprio caderno.
— Disseram que a casa dele é sensacional — Cami continuou escrevendo qualquer coisa no caderno. — Nós vamos, né?
— Estou de castigo até domingo, não posso sair de casa — falei vendo as meninas fazerem bico. — Mas vocês podem ir!
— Claro que você irá, ! — Sue falou. — também está de castigo e já me disse que irá.
Ela e eram amigos a ponto de se conversarem assim? Combinar de ir juntos aos lugares e sair escondidos? Eu não podia acreditar que ele também queria roubar minha nova amiga.
— Acho que meus pais não estarão em casa — pensei: eles viajavam muito. — Acho que por hoje chega, não é, meninas?
— Acho que sim! — Cami ficou em pé, terminando de organizar sua bolsa. — Nos vemos amanhã na escola, . Tati, quer uma carona?
— Quero sim! — elas saíram juntas do meu quarto.
Sue ficou terminando de guardar seus livros, enquanto eu organizava a mesa do computador novamente. Estava uma zona. Louise estava bem entretida mexendo no celular.
— Acho que as meninas ainda não se acostumaram com a minha presença entre vocês — Sue riu e eu estranhei. — Elas me trataram como um zero à esquerda.
— E eu nem se fala, né? — Louise bloqueou o celular e ficou de pernas cruzadas em cima da minha cama.
Fiquei um pouco pensativa. Meu objetivo era apenas transformar Sue em uma popular assim como eu e que ela fizesse parte do nosso grupo, mas acabei realmente gostando da amizade dela. Não sei se as meninas compartilhavam desse mesmo sentimento, mas quando estávamos apenas nos três, elas agiam diferentes.
Não podia falar sobre Louise, que conheci ainda hoje e chamei ela para vir até em casa para estudarmos um pouco de exatas.
— É questão de costume, meninas — caminhei até a porta do quarto. — Se você quiser, posso pedir para Durval te deixar em casa, Sue. A Louise ainda vai estudar um pouco comigo.
— Ahn, não precisa — ela riu, saindo do meu quarto. — Pode ficar no seu quarto, eu já sei o caminho de saída!
Dei de ombros e voltei para o meu quarto, fechando a porta depois de ver Sue descer os primeiros lances de escada. Não era nem 17h ainda e peguei o caderno indo até a cama para explicar a matéria desde o início para a minha nova colega.
Algumas horas depois ela resolveu que estava na hora de ir embora e a acompanhei até a porta. Voltei para o quarto e liguei minha televisão para reVER Friends. Fiquei com Lilith em meu quarto até a hora do jantar, que Gertrudes gritou para que descesse.
Papi estava com um semblante um tanto estranho e mami não estava nenhum pouco diferente. Alguma coisa tinha acontecido e eles estavam tentando esconder. Percebi que não havia sinal de por nenhuma parte da nossa casa desde que chegamos da escola, o que me deixou preocupada.
— O que houve? — perguntei chamando atenção dos meus pais, que me olhavam confusos. — Aconteceu alguma coisa com o ?
— Não que eu saiba — papi se interessou. — Por quê? Ele aprontou mais uma?
— Não sei, eu não o vi depois que chegamos da escola — sentei-me em um dos lugares da mesa ao lado de mami.
— Estamos tendo alguns problemas com... com...
— A empresa — mami completou a frase de papi. Estranho.
— É, mais uma vez vamos ter que viajar a trabalho — ele suspirou olhando mami e depois para mim. — Parece que algumas documentações estão dando erro na vistoria e precisamos resolver. O ruim é que é na filial do Rio.
— Então iremos mais uma vez passar o final de semana longe — mami não tinha uma cara boa. Algo sério estava acontecendo. — Você e ficarão em casa, mas não queremos que aprontem, por favor.
— Poxa, quando eu poderei ir? — perguntei esperançosa.
— Dessa vez vai ser muito cansativo, bebêzinha — disse papi, e eu sorri pelo apelido carinhoso. — Mas na próxima, quem sabe?
Quando ele terminou a frase, entrava pela porta principal. Ele estava com um jeans e uma blusa de moletom com gorro. Fiquei curiosa para saber onde ele estava, mas ele não parecia a fim de dividir um tempo conosco. Pelo menos não com meus pais.
— , venha jantar — papi falou com a voz firme, o que fez ele parar no meio do caminho. Poderia jurar que ele bufou irritado, e contrariado andou até nós. — Onde você estava?
— Eu fui resolver alguns trabalhos da escola com o pessoal do meu grupo — disse, pegando um dos pratos em cima da mesa. — As meninas estavam aqui, não quis atrapalhar.
— Gentil da sua parte — mami disse, e ele apenas assentiu. — Ah, tem suco de uva que você adora!
— Obrigado, Leonor — ele sorriu de canto, e sentou-se ao meu lado. Seu cheiro cítrico era muito gostoso. — Tudo bem, ?
— Sim e você? — voltei a atenção para o meu prato com algumas verduras.
— Tudo. Depois poderíamos... — ele olhou para os meus pais que já nem prestavam mais atenção em nós. — Conversar?
— Claro, mas sobre o que? — perguntei curiosa e ele revirou os olhos, olhando para os meus pais e eu assenti. — Desculpa.
Depois que terminei de jantar, falei que iria para o quarto e já não gostava de ficar na presença do meu papi, mas com mami ele era tranquilo. Acho que ela o compreendia melhor.
Peguei Lilith no colo depois de quase me atacar por ter atrapalhado seu sono magnífico, e achei que falaria comigo naquele momento, mas apenas ouvi a porta de seu quarto ser trancada e só fui vê-lo na tarde de sexta-feira, quando abriu a porta do meu quarto me assustando um pouco.
Ele usava uma camiseta preta, calças pretas e coturnos. Os cabelos estavam ainda com aparência molhada, muito bem penteados para trás e usava um lápis borrado nos olhos e alguns anéis nos dedos. Ele estava lindo.
Ele fechou a porta e eu rapidamente fiquei curiosa. Ele queria falar comigo desde o dia anterior, mas deixou para última hora. Eu sentei na cama e ele caminhou até poder se sentar à minha frente.
Lilith era realmente cadelinha dele, porque assim que ele chegou, ela começou a latir e abanar o rabinho por atenção.
— Então, sobre hoje à noite — ele começou pegando ela no colo e recebendo várias lambidas no rosto. — O que foi?
— Sobre fugirmos de casa e ir na festa do Marcos? — ele assentiu. — Achei que fosse algo realmente sério, . Basta pular a varanda.
— Olhando pelo lado que estaremos muito ferrados caso seus pais descubram que fugimos no castigo, eu acho algo sério — ele deu de ombros. — Além do mais, Gertrudes vai dobrar o cuidado sobre nós e já que você dorme de porta aberta, tenho que pensar por dois, né? — colocou Lilith na cama e puxou uma embalagem do bolso. — Enfim, vou trancar a porta do meu quarto e iremos montar minha boneca inflável para deixar aqui no seu quarto.
— Espera — comecei rir, enquanto ele tirava de um plástico a boneca. — Você tem aquelas bonecas infláveis que alguns caras usam para...
— Até que para uma santinha você é bem inteligente, hein? — ele riu, e eu fiz cara feia. — Mas não, não uso para isso. Comprei para zoar com o Antony na festa, mas temos uma emergência maior, né? Agora que tal parar de fazer perguntas e me ajudar a encher, huh?
— , eu estou terminando de me arrumar e me desculpe, mas não imaginei que tocaria o corpo de uma mulher em uma situação na qual ela não tem vida — expliquei, fazendo-o revirar os olhos para mim, enquanto já começava a encher o balão.
Depois de uns cinco minutos, ele tinha terminado de encher e eu fui até o closet para escolher as roupas que iria usar, mas nem isso eu podia fazer em paz, já que entrou procurando a roupa que eu usaria.
Por fim, não achei uma má ideia, já que ele escolheu um vestido cor de rosa rodado e minhas sandálias Clarita 100 nude. Me vesti no banheiro e precisei de sua ajuda para subir o zíper e então estava pronta para então irmos até a festa.
— Agora a parte mais importante: descermos pelas escadas do seu quarto — ele disse depois de arrumar a cama com a boneca inflável e ligarmos a TV na primeira temporada de Friends. — Eu vou descer primeiro e se por um acaso precisar de ajuda, vou estar lá para te ajudar.
E assim fizemos. Me despedi de Lilith, deixando-a na ponta da cama aconchegada ao meu cobertor e ele desceu sem dificuldades alguma. Eu, no entanto, pensei em tirar o salto, mas já estava na metade da escada. Não podíamos fazer barulho algum, porque Gertrudes estava na cozinha e então era tudo sussurrado.
— Vai logo, boneca! — ele disse e eu mais uma vez me irritei com ele me apressando e olhei para baixo. Aquele descarando estava o tempo todo olhando minha bunda pelo vestido e simplesmente se aproveitando da vulnerabilidade. Terminei de descer os degraus e no último pulei em seu colo, que me segurou com um pouco de dificuldade.
— Você estava o tempo todo olhando minha bunda, — reclamei, e ele revirou os olhos.
— Eu estava olhando seus pés, por que que burrice foi essa de descer de salto? — ele abriu caminho na cerca do vizinho e logo estávamos na rua. — Eu juro que não estava de olho na sua bunda.
Ele deixou o assunto de lado e pediu um uber. Disse que não teria como irmos de carro para Gertrudes não desconfiar e porque ele iria beber, não queria causar acidentes.
A casa de Antony ficava do outro lado da cidade, Zona Norte de São Paulo. A casa era realmente bonita como algumas pessoas falavam e claro, espaçosa. Muitas pessoas já estavam lá e assim que chegamos, os meninos estavam perguntando a se ele havia levado o "esquema". Entregou um plástico para os meninos que saíram de lá, falando que estariam no jardim de inverno da casa.
— Boneca, você já pode ir encontrar suas amigas — ele disse quando os meninos nos deixaram a sós por alguns minutos.
— , você trouxe maconha? — perguntei cruzando os braços. — Na boa, já fugimos de casa e não seria legal papi descobrindo novamente que você está usando esse tipo de coisa. Tenta colaborar, por favor? — Relaxa, boneca — ele riu, tirando do bolso um brigadeiro todo amassado pela metade. Ele mordeu um pedaço e estendeu o outro para minha boca. — Relaxa, não tem droga. Gertrudes fez alguns e roubei uns.
Segurei sua mão e comi o doce entre seus dedos, chupando todo o doce dali. Ele suspirou olhando meus lábios e eu o encarei. Suas pupilas estavam dilatadas enquanto ele sorria de canto.
— Consigo ver Cami e Tati daqui — disfarçou apontando, então eu olhei na mesma direção. — Vou falar com os caras e a gente se encontra depois, tá bom?
Assenti, andando em direção às minhas amigas que bebiam um martine com uma azeitona dentro e vários caras tentavam falar com elas.
— Oi, meninas — cumprimentei e elas bateram palmilhas.
— Fugiu com o estranho do quarto ao lado? — perguntou Cami, que riu junto com Tati.
— Sim — respondi, pedindo uma bebida para mim também. — Se meus pais descobrem, eu estou frita!
— Ah, o Dani já está perguntando de você pela festa — Cami comentou. — Parece que você deixou o outro novato caidinho por você, !
Eu estava meio perdida na festa. Não sabia ao certo o que estava fazendo ali. Eu senti uma enorme vontade de voltar para casa, mas voltei a conversar com as meninas e elas falavam do boy que estavam a fim.
— Olha a Sue e a Lou — Tati apontou e as meninas vieram até nós. Sue estava com a boca bem vermelha, assim como os olhos.
— Tudo bem, meninas? — perguntou, andando até a mesa de comida. Ela pegou um prato e separou algumas coxinhas, alguns salames e pediu um copo de refrigerante.
— Ahn, sim! — Cami perguntou olhando-a comer tudo aquilo. — E com você?
— Sim! — sentou-se no banco próximo ao balcão. — O Dani está procurando você, .
Olhei ao redor e consegui ver Dani. Ele estava realmente como se estivesse procurando alguém, então o meu coração acelerou. Será que ele realmente estava a fim de mim?
Caminhei em sua direção, mas fui puxada para o lado por um meio em choque que acabava de desligar o celular. Ele parecia estar bem, seus olhos não estavam vermelhos, mas ele tinha muito cheiro de maconha.
— O que houve? — perguntei confusa e ele apenas balançou a cabeça. — , está tudo bem?
Caminhei para um local mais vazio e ele não respondia nada. Peguei um copo de água e dei para de beber e depois passei a mexer em seus cabelos. Depois de alguns minutos fazendo isso, ele finalmente suspirou e abriu os olhos.
— Não foi nada, só me deu uma crise de ansiedade — ele falou e então eu arregalei os olhos. Poderia ser algo muito grave!
— Vamos para o hospital agora então! — fiquei em pé e ele logo pediu que eu sentasse novamente.
— Não precisa, boneca — ele suspirou mais calmo. — Você foi a única pessoa que eu... encontrei no meio do caminho e conhecia.
— Não é mais fácil você ir a um psicólogo? — perguntei um pouco preocupada.
— Na verdade eu não tenho muito dinheiro para ir — ele deu de ombros e então eu me senti um pouco culpada, porque a minha mesada pagaria algumas sessões e sobraria dinheiro.
Estávamos em um lugar bem mais reservado, onde ninguém tinha visão de nós dois. Suspirou fundo fechando os olhos e apoiou a mão na parede, segurando minha cintura com a outra mão.
Antes que eu pudesse falar alguma coisa, seus lábios se juntaram aos meus e eu fiquei um pouco surpresa. Jamais imaginava que era desses de beijar assim e... Tão bem. Arfei em seus braços, sentindo sua língua quente com gosto de erva enlaçar a minha. Seus dedos apertavam a minha cintura e cada vez mais, parecia que eu estava sem ar, pois ele me apertava ainda mais ao seu corpo.
Quando consegui respirar, ele desceu as mãos para minha bunda até que, por um estalo eu parti nosso beijo. Aquilo não poderia acontecer.
— , acho que...
— Relaxa, boneca, eu jamais faria algo sem sua permissão — ele disse se aproximando novamente e selando nossos lábios com carinho. — Volte para a festa e depois a gente se vê.
E ele saiu como se nada tivesse acontecido.
Os garotos a olhavam surpresos e as meninas com um pouco de inveja, eu acho. Quem não queria ser amiga de ? Todos queriam.
Seguimos Sue, indo todas juntas para a sala de aula onde o professor de matemática já nos aguardava. Nessa aula eu prestava muita atenção, sabia várias coisas e ainda ajudava as pessoas que não iam tão bem.
— Oi, meu nome é Louise — uma garota me abordou quando saí da sala. Parecia um pouco envergonhada de conversar comigo, mas sorriu. — Eu sou nova na escola, não estou acostumada ainda. Vi que você é muito boa em matemática, poderia me ajudar algum dia desses?
Ela tinha a pele negra e usava trancinhas cor de rosa em todo o cabelo. Tinha alguns piercings e olhos escuros. Usava jeans rasgados e um cropped amarelo. Achei muito interessante seu estilo.
— Prazer, sou a — falei primeiro abrindo um sorriso. — Quer tentar alguma coisa hoje?
A aula seguinte era de educação física e eu não gostava muito. Coloquei meus shorts preto e uma blusa rosa. Peguei minhas polainas rosa escuro e depois coloquei meu tênis preto. Era dia de vôlei!
O professor dividiu dois times mistos e então entregou uma bola de futebol, mandando os líderes escolherem campo ou bola. Foi então que entendi: mudança de planos, a aula seria sobre futebol.
Eu não acompanhava tanto futebol, mas papi era viciado e corintiano roxo, o que me irritava, pois em dias de jogos ele gritava com os amigos dele até a casa quase cair. Fora que ele e mami brigavam por causa de alguns jogos, na qual ela queria ver o Palmeiras jogar, mas ele estava dono demais da televisão.
Eu era do contra: não acompanhava futebol, por isso, não torcia para nenhum time, e nem sabia jogar.
Fiquei no time contra e Sue, enquanto Cami e Tati sempre estavam comigo e chamei Louise para jogar conosco. Roubaram a minha bola algumas vezes e fizeram alguns gols com meus erros, o que deixava os meninos da sala irritados com a minha "agilidade".
Quase no final do jogo, perdendo de 7 a zero para o time adversário, um garoto do meu time simplesmente pegou a bola dos meus pés e me empurrou, o que me fez cair de bunda no chão. Doeu muito e quando percebi, estava com um pouco de falta de ar pela pancada.
Dani correu em minha direção e começou a conversar comigo, instruindo como eu deveria respirar e outras pessoas começaram a se aglomerar ao nosso redor. A professora interrompeu o jogo e levou o garoto até o diretor e pediu para que alguém me acompanhasse até a enfermaria. Não achei necessário, por isso com ajuda das meninas fui em direção ao vestiário. No meio do caminho, vi que apenas olhava de longe enquanto mantinha algum diálogo com Sue do outro lado da quadra.
Estávamos concentradas fazendo nosso trabalho em meu quarto, quando Gertrudes trouxe nossos lanches. As meninas amavam as comidas de casa e dessa vez não resisti em comer o sanduíche que ela havia feito, nada light por sinal.
Acabei convidando Louise para se juntar à nós e Sue achou uma ideia muito legal, diferente de Cami e Tati. Segundo elas, de "novata" já bastava a Suelen.
— Vocês viram que amanhã a festa é na casa do Antony? — Tami perguntou, fechando o próprio caderno.
— Disseram que a casa dele é sensacional — Cami continuou escrevendo qualquer coisa no caderno. — Nós vamos, né?
— Estou de castigo até domingo, não posso sair de casa — falei vendo as meninas fazerem bico. — Mas vocês podem ir!
— Claro que você irá, ! — Sue falou. — também está de castigo e já me disse que irá.
Ela e eram amigos a ponto de se conversarem assim? Combinar de ir juntos aos lugares e sair escondidos? Eu não podia acreditar que ele também queria roubar minha nova amiga.
— Acho que meus pais não estarão em casa — pensei: eles viajavam muito. — Acho que por hoje chega, não é, meninas?
— Acho que sim! — Cami ficou em pé, terminando de organizar sua bolsa. — Nos vemos amanhã na escola, . Tati, quer uma carona?
— Quero sim! — elas saíram juntas do meu quarto.
Sue ficou terminando de guardar seus livros, enquanto eu organizava a mesa do computador novamente. Estava uma zona. Louise estava bem entretida mexendo no celular.
— Acho que as meninas ainda não se acostumaram com a minha presença entre vocês — Sue riu e eu estranhei. — Elas me trataram como um zero à esquerda.
— E eu nem se fala, né? — Louise bloqueou o celular e ficou de pernas cruzadas em cima da minha cama.
Fiquei um pouco pensativa. Meu objetivo era apenas transformar Sue em uma popular assim como eu e que ela fizesse parte do nosso grupo, mas acabei realmente gostando da amizade dela. Não sei se as meninas compartilhavam desse mesmo sentimento, mas quando estávamos apenas nos três, elas agiam diferentes.
Não podia falar sobre Louise, que conheci ainda hoje e chamei ela para vir até em casa para estudarmos um pouco de exatas.
— É questão de costume, meninas — caminhei até a porta do quarto. — Se você quiser, posso pedir para Durval te deixar em casa, Sue. A Louise ainda vai estudar um pouco comigo.
— Ahn, não precisa — ela riu, saindo do meu quarto. — Pode ficar no seu quarto, eu já sei o caminho de saída!
Dei de ombros e voltei para o meu quarto, fechando a porta depois de ver Sue descer os primeiros lances de escada. Não era nem 17h ainda e peguei o caderno indo até a cama para explicar a matéria desde o início para a minha nova colega.
Algumas horas depois ela resolveu que estava na hora de ir embora e a acompanhei até a porta. Voltei para o quarto e liguei minha televisão para reVER Friends. Fiquei com Lilith em meu quarto até a hora do jantar, que Gertrudes gritou para que descesse.
Papi estava com um semblante um tanto estranho e mami não estava nenhum pouco diferente. Alguma coisa tinha acontecido e eles estavam tentando esconder. Percebi que não havia sinal de por nenhuma parte da nossa casa desde que chegamos da escola, o que me deixou preocupada.
— O que houve? — perguntei chamando atenção dos meus pais, que me olhavam confusos. — Aconteceu alguma coisa com o ?
— Não que eu saiba — papi se interessou. — Por quê? Ele aprontou mais uma?
— Não sei, eu não o vi depois que chegamos da escola — sentei-me em um dos lugares da mesa ao lado de mami.
— Estamos tendo alguns problemas com... com...
— A empresa — mami completou a frase de papi. Estranho.
— É, mais uma vez vamos ter que viajar a trabalho — ele suspirou olhando mami e depois para mim. — Parece que algumas documentações estão dando erro na vistoria e precisamos resolver. O ruim é que é na filial do Rio.
— Então iremos mais uma vez passar o final de semana longe — mami não tinha uma cara boa. Algo sério estava acontecendo. — Você e ficarão em casa, mas não queremos que aprontem, por favor.
— Poxa, quando eu poderei ir? — perguntei esperançosa.
— Dessa vez vai ser muito cansativo, bebêzinha — disse papi, e eu sorri pelo apelido carinhoso. — Mas na próxima, quem sabe?
Quando ele terminou a frase, entrava pela porta principal. Ele estava com um jeans e uma blusa de moletom com gorro. Fiquei curiosa para saber onde ele estava, mas ele não parecia a fim de dividir um tempo conosco. Pelo menos não com meus pais.
— , venha jantar — papi falou com a voz firme, o que fez ele parar no meio do caminho. Poderia jurar que ele bufou irritado, e contrariado andou até nós. — Onde você estava?
— Eu fui resolver alguns trabalhos da escola com o pessoal do meu grupo — disse, pegando um dos pratos em cima da mesa. — As meninas estavam aqui, não quis atrapalhar.
— Gentil da sua parte — mami disse, e ele apenas assentiu. — Ah, tem suco de uva que você adora!
— Obrigado, Leonor — ele sorriu de canto, e sentou-se ao meu lado. Seu cheiro cítrico era muito gostoso. — Tudo bem, ?
— Sim e você? — voltei a atenção para o meu prato com algumas verduras.
— Tudo. Depois poderíamos... — ele olhou para os meus pais que já nem prestavam mais atenção em nós. — Conversar?
— Claro, mas sobre o que? — perguntei curiosa e ele revirou os olhos, olhando para os meus pais e eu assenti. — Desculpa.
Depois que terminei de jantar, falei que iria para o quarto e já não gostava de ficar na presença do meu papi, mas com mami ele era tranquilo. Acho que ela o compreendia melhor.
Peguei Lilith no colo depois de quase me atacar por ter atrapalhado seu sono magnífico, e achei que falaria comigo naquele momento, mas apenas ouvi a porta de seu quarto ser trancada e só fui vê-lo na tarde de sexta-feira, quando abriu a porta do meu quarto me assustando um pouco.
Ele usava uma camiseta preta, calças pretas e coturnos. Os cabelos estavam ainda com aparência molhada, muito bem penteados para trás e usava um lápis borrado nos olhos e alguns anéis nos dedos. Ele estava lindo.
Ele fechou a porta e eu rapidamente fiquei curiosa. Ele queria falar comigo desde o dia anterior, mas deixou para última hora. Eu sentei na cama e ele caminhou até poder se sentar à minha frente.
Lilith era realmente cadelinha dele, porque assim que ele chegou, ela começou a latir e abanar o rabinho por atenção.
— Então, sobre hoje à noite — ele começou pegando ela no colo e recebendo várias lambidas no rosto. — O que foi?
— Sobre fugirmos de casa e ir na festa do Marcos? — ele assentiu. — Achei que fosse algo realmente sério, . Basta pular a varanda.
— Olhando pelo lado que estaremos muito ferrados caso seus pais descubram que fugimos no castigo, eu acho algo sério — ele deu de ombros. — Além do mais, Gertrudes vai dobrar o cuidado sobre nós e já que você dorme de porta aberta, tenho que pensar por dois, né? — colocou Lilith na cama e puxou uma embalagem do bolso. — Enfim, vou trancar a porta do meu quarto e iremos montar minha boneca inflável para deixar aqui no seu quarto.
— Espera — comecei rir, enquanto ele tirava de um plástico a boneca. — Você tem aquelas bonecas infláveis que alguns caras usam para...
— Até que para uma santinha você é bem inteligente, hein? — ele riu, e eu fiz cara feia. — Mas não, não uso para isso. Comprei para zoar com o Antony na festa, mas temos uma emergência maior, né? Agora que tal parar de fazer perguntas e me ajudar a encher, huh?
— , eu estou terminando de me arrumar e me desculpe, mas não imaginei que tocaria o corpo de uma mulher em uma situação na qual ela não tem vida — expliquei, fazendo-o revirar os olhos para mim, enquanto já começava a encher o balão.
Depois de uns cinco minutos, ele tinha terminado de encher e eu fui até o closet para escolher as roupas que iria usar, mas nem isso eu podia fazer em paz, já que entrou procurando a roupa que eu usaria.
Por fim, não achei uma má ideia, já que ele escolheu um vestido cor de rosa rodado e minhas sandálias Clarita 100 nude. Me vesti no banheiro e precisei de sua ajuda para subir o zíper e então estava pronta para então irmos até a festa.
— Agora a parte mais importante: descermos pelas escadas do seu quarto — ele disse depois de arrumar a cama com a boneca inflável e ligarmos a TV na primeira temporada de Friends. — Eu vou descer primeiro e se por um acaso precisar de ajuda, vou estar lá para te ajudar.
E assim fizemos. Me despedi de Lilith, deixando-a na ponta da cama aconchegada ao meu cobertor e ele desceu sem dificuldades alguma. Eu, no entanto, pensei em tirar o salto, mas já estava na metade da escada. Não podíamos fazer barulho algum, porque Gertrudes estava na cozinha e então era tudo sussurrado.
— Vai logo, boneca! — ele disse e eu mais uma vez me irritei com ele me apressando e olhei para baixo. Aquele descarando estava o tempo todo olhando minha bunda pelo vestido e simplesmente se aproveitando da vulnerabilidade. Terminei de descer os degraus e no último pulei em seu colo, que me segurou com um pouco de dificuldade.
— Você estava o tempo todo olhando minha bunda, — reclamei, e ele revirou os olhos.
— Eu estava olhando seus pés, por que que burrice foi essa de descer de salto? — ele abriu caminho na cerca do vizinho e logo estávamos na rua. — Eu juro que não estava de olho na sua bunda.
Ele deixou o assunto de lado e pediu um uber. Disse que não teria como irmos de carro para Gertrudes não desconfiar e porque ele iria beber, não queria causar acidentes.
A casa de Antony ficava do outro lado da cidade, Zona Norte de São Paulo. A casa era realmente bonita como algumas pessoas falavam e claro, espaçosa. Muitas pessoas já estavam lá e assim que chegamos, os meninos estavam perguntando a se ele havia levado o "esquema". Entregou um plástico para os meninos que saíram de lá, falando que estariam no jardim de inverno da casa.
— Boneca, você já pode ir encontrar suas amigas — ele disse quando os meninos nos deixaram a sós por alguns minutos.
— , você trouxe maconha? — perguntei cruzando os braços. — Na boa, já fugimos de casa e não seria legal papi descobrindo novamente que você está usando esse tipo de coisa. Tenta colaborar, por favor? — Relaxa, boneca — ele riu, tirando do bolso um brigadeiro todo amassado pela metade. Ele mordeu um pedaço e estendeu o outro para minha boca. — Relaxa, não tem droga. Gertrudes fez alguns e roubei uns.
Segurei sua mão e comi o doce entre seus dedos, chupando todo o doce dali. Ele suspirou olhando meus lábios e eu o encarei. Suas pupilas estavam dilatadas enquanto ele sorria de canto.
— Consigo ver Cami e Tati daqui — disfarçou apontando, então eu olhei na mesma direção. — Vou falar com os caras e a gente se encontra depois, tá bom?
Assenti, andando em direção às minhas amigas que bebiam um martine com uma azeitona dentro e vários caras tentavam falar com elas.
— Oi, meninas — cumprimentei e elas bateram palmilhas.
— Fugiu com o estranho do quarto ao lado? — perguntou Cami, que riu junto com Tati.
— Sim — respondi, pedindo uma bebida para mim também. — Se meus pais descobrem, eu estou frita!
— Ah, o Dani já está perguntando de você pela festa — Cami comentou. — Parece que você deixou o outro novato caidinho por você, !
Eu estava meio perdida na festa. Não sabia ao certo o que estava fazendo ali. Eu senti uma enorme vontade de voltar para casa, mas voltei a conversar com as meninas e elas falavam do boy que estavam a fim.
— Olha a Sue e a Lou — Tati apontou e as meninas vieram até nós. Sue estava com a boca bem vermelha, assim como os olhos.
— Tudo bem, meninas? — perguntou, andando até a mesa de comida. Ela pegou um prato e separou algumas coxinhas, alguns salames e pediu um copo de refrigerante.
— Ahn, sim! — Cami perguntou olhando-a comer tudo aquilo. — E com você?
— Sim! — sentou-se no banco próximo ao balcão. — O Dani está procurando você, .
Olhei ao redor e consegui ver Dani. Ele estava realmente como se estivesse procurando alguém, então o meu coração acelerou. Será que ele realmente estava a fim de mim?
Caminhei em sua direção, mas fui puxada para o lado por um meio em choque que acabava de desligar o celular. Ele parecia estar bem, seus olhos não estavam vermelhos, mas ele tinha muito cheiro de maconha.
— O que houve? — perguntei confusa e ele apenas balançou a cabeça. — , está tudo bem?
Caminhei para um local mais vazio e ele não respondia nada. Peguei um copo de água e dei para de beber e depois passei a mexer em seus cabelos. Depois de alguns minutos fazendo isso, ele finalmente suspirou e abriu os olhos.
— Não foi nada, só me deu uma crise de ansiedade — ele falou e então eu arregalei os olhos. Poderia ser algo muito grave!
— Vamos para o hospital agora então! — fiquei em pé e ele logo pediu que eu sentasse novamente.
— Não precisa, boneca — ele suspirou mais calmo. — Você foi a única pessoa que eu... encontrei no meio do caminho e conhecia.
— Não é mais fácil você ir a um psicólogo? — perguntei um pouco preocupada.
— Na verdade eu não tenho muito dinheiro para ir — ele deu de ombros e então eu me senti um pouco culpada, porque a minha mesada pagaria algumas sessões e sobraria dinheiro.
Estávamos em um lugar bem mais reservado, onde ninguém tinha visão de nós dois. Suspirou fundo fechando os olhos e apoiou a mão na parede, segurando minha cintura com a outra mão.
Antes que eu pudesse falar alguma coisa, seus lábios se juntaram aos meus e eu fiquei um pouco surpresa. Jamais imaginava que era desses de beijar assim e... Tão bem. Arfei em seus braços, sentindo sua língua quente com gosto de erva enlaçar a minha. Seus dedos apertavam a minha cintura e cada vez mais, parecia que eu estava sem ar, pois ele me apertava ainda mais ao seu corpo.
Quando consegui respirar, ele desceu as mãos para minha bunda até que, por um estalo eu parti nosso beijo. Aquilo não poderia acontecer.
— , acho que...
— Relaxa, boneca, eu jamais faria algo sem sua permissão — ele disse se aproximando novamente e selando nossos lábios com carinho. — Volte para a festa e depois a gente se vê.
E ele saiu como se nada tivesse acontecido.
Capítulo 7 - Encontro Na Capital Paulista
— A gente precisa ir — falou em meu ouvido algumas horas depois de termos nos separado.
Peguei o celular para ver o horário e então concordei, já eram quase 5h e logo Gertrudes iria acordar para preparar o café da manhã de sábado.
Cami e Tati já estavam esperando o motorista para ir embora, já que muita gente já havia saído para outras festas ou ido para alguma balada ou bar na Avenida Paulista.
Estava sentindo um pouco de frio, já que não havia levado jaqueta ou coisa do tipo. Precisava me policiar mais com as intervenções que estava fazendo na minha vida, para evitar coisas realmente drásticas.
— Vamos, boneca — ele jogou sua jaqueta de couro pelos meus ombros e segurou minha mão. — Vou chamar um uber para você e vê se não faz muito barulho quando chegar em casa.
— Aonde você vai? — perguntei curiosa, passando os braços em frente ao meu corpo.
— Tenho que resolver algumas coisas — ele respondeu olhando para o celular e depois levantando os olhos para mim.
— Foi aquela ligação que você recebeu?
— É, sobre, um amigo meu — ele lambeu os lábios um pouco nervoso.
Estranho, um amigo... Será que ele ia encontrar algum "amigo"? Talvez... O GABRIEL! Será que ele estava indo encontrar o Gabriel e não queria falar porque ele não tinha superado o garoto?
— , você é bissexual? — joguei na lata e ele estreitou os olhos, me olhando curioso.
— Sem filtros, por isso gosto de você — ele comentou sorrindo, depois deu de ombros. — Sim, por quê? — respondeu com tranquilidade.
Ok, aquilo era realmente uma novidade. Suspeitar da sua sexualidade era algo normal, mas ouvir dele que também ficava com homens, era algo realmente... Realmente.
— Ah, não! Não estou indo encontrar algum cara, se bem que independente do contexto... — ele riu, voltando os olhos para o celular e depois olhou para o final da rua de onde vinha um carro. — Seu uber está chegando.
Então ele estava indo encontrar uma garota e só não quis deixar aquilo explícito. Antes que entrasse no carro, tirei sua jaqueta e estendi para ele com meio sorriso no rosto. Até que morar na mesma casa que ele e tentar manter uma amizade, não parecia de todo ruim.
— Acho que você irá precisar mais do que eu, afinal, estou indo para minha cama quentinha — não respondeu nada mas pegou a jaqueta também sorrindo.
Quando cheguei em frente à minha casa, entrei pelo quintal do vizinho, da mesma forma que eu havia saído. Como era um condomínio fechado de casas, nenhuma casa tinha portão ou muro, porém minha casa tinha câmeras na parte da frente e a última coisa que eu queria era meus pais vendo minha fuga e retorno logo pela manhã.
Subi as escadas do meu quarto com a mesma dificuldade em que desci e então tirei os saltos e o vestido para finalmente relaxar. A boneca inflável estava intacta aonde havíamos colocado e o sol já invadia o meu quarto àquela hora da manhã.
Não tomei banho, nem se quer coloquei pijama. Apenas entrei embaixo da coberta e relaxei até o sono chegar.
💖
Naquela mesma noite, mami e papi voltaram para casa e nos liberaram do castigo. Se eles soubessem da fugida que demos para uma festa, talvez teriam deixado durante mais duas semanas e sem televisão.
Não tenho certeza a hora exata que o chegou em casa, mas quando acordei por volta das 15h, ele já estava lá e conversava animado com Gertrudes, comendo uma macarronada preparada por ela. Seus cabelos estavam molhados e seus olhos pareciam mais suavizados.
Na verdade tinha uma beleza típica dos anos 90 e ele lembrava muito o Joey de Friends em um dos primeiros episódios. Seu cabelo sempre grande e de preferência molhado, suas camisas variavam entre branca, preta e cinza e usava calças jeans ou calças pretas. A jaqueta era de couro ou jeans. Os tênis preto ou branco. Perfume cítrico, nunca amadeirado.
Eu, por outro lado, gostava de muita cor. Usava qualquer cor, todos os modelos possíveis de roupas da moda e sempre fazia combinações de roupa com acessórios. Ser homem, em questões de roupas era algo bem mais fácil, mas ser mulher era uma delícia. Se maquiar, usar saltos, roupas diferentes e estilosas... Deve ser por esse motivo que muito homem se montava e se apresentava como Drag Queen!!!
— Estou sentindo o cheiro dos seus neurônios queimando daqui! — falou virando em minha direção e eu arregalei os olhos, voltando a andar até a bancada da cozinha.
Gertrudes colocou um prato em minha frente, com a minha quantidade de salada para o almoço, mas olhei o prato de e me deu muita vontade de comer macarrão.
— Ger? — chamei e ela voltou para ver se tinha algo errado. — Você poderia colocar um pouco de macarrão para mim? Me deu vontade!
Ela estranhou mas não demorou a colocar outro prato a minha frente. Comecei a comer, e nossa, fazia muito tempo que não experimentava um macarrão como aquele.
— Ainda prefere comer alface do que essas maravilhas preparadas pela Ger? — apertou meu nariz e eu bati em sua mão para que parasse de invadir meu espaço. — Seria uma delícia comer um lanche enorme, cheio de queijo e bacon, não?
— Muitas calorias! — falei enrolando mais uma garfada de macarrão e colocando na boca, ele observava meus movimentos. — Que foi? Não tem nada para fazer se não ficar olhando eu comer?
— Na verdade... Não — ele riu e eu tive que rir junto. — Você topa?
— O que, ? — revirei os olhos engolindo minha comida, largando o garfo para olhar para ele.
— Comer um lanche enorme, boneca! Eu conheço um lugar muito legal — ele disse, ficando com o rosto apoiado em suas mãos.
— Você acabou de comer um prato enorme de macarrão, não tem fundo não? — perguntei deixando de lado meu resto de macarrão.
— Definitivamente me pergunto isso todos os dias — ele ficou em pé e então estendeu a mão para mim. — Estou esperando você!
Mesmo que eu não quisesse ir, não resisti ao convite, afinal, seria melhor do que ficar em casa olhando para o teto.
— Preciso me trocar e colocar algum salto em que eu me sinta mais confor...
— Você está deslumbrante, vamos! — e então eu estava sendo arrastada por ele.
Por mais que eu protestasse falando que não apareceria como uma mal arrumada onde ele nos levaria, mais forte ele me puxava para o carro, até que me colocou no banco da frente e me prendeu com o cinto, fechando a porta por fora.
— Não estou bem vestida! — protestei mais uma vez, olhando meu slide Fenty by Rihanna de pelinhos cor de rosa em meus pés. — Estou de vestido de ficar em casa!
— Qual a marca desse vestido? — perguntou saindo com o carro da garagem, pronto para sair do condomínio.
— Esse é... — cocei a garganta um pouco incomodada. — Um Ralph Lauren.
Era um vestido envelope bem soltinho no corpo e era florido com vários tons de rosa.
— Isso deve ter custado muito caro para você simplesmente falar que é um vestido de ficar em casa — colocou os óculos escuros e abriu o teto solar do carro, abrindo também as janelas. — E o lugar que vamos não será tão chique assim.
Minutos depois entendi o que ele queria dizer, pois estávamos estacionados em frente ao mercado municipal de São Paulo. Se ele estava pensando que eu comeria aquele lanche enorme de mortadela com pão — essa era definitivamente a ordem correta —, ele estava muito enganado! Eu nem se quer gostava daquele tipo de comida processada.
Quando entramos no mercado, íamos nos desviando de várias pessoas. Estava cheio o local, pois se tratava de um sábado à tarde! Não poderia deixar de ser diferente. Passávamos por várias lojinhas com uma diversidade de produtos diferentes; barracas de frutas, de peixe, de queijo e milhares de coisas mais.
Paramos em frente a algo como um "boteco" do seu Lipo e então ele puxou uma cadeira de metal para que eu me sentasse. Não hesitei e então ele sentou-se à minha frente, sorridente.
— Sabe, boneca, as vezes é legal sair do mundinho que você vive para saber como é viver de coisas mais simples como isso — ele olhou ao redor, agora tirando os óculos. — Você está acostumada apenas com coisa de granfino, mas tem um mundo tão grande para você conhecer do portão do seu condomínio para cá!
Ele falava com os olhos brilhantes, como se ele realmente me quisesse ali com ele. Antes que eu pudesse responder, fomos interrompidos.
— ? — perguntou um senhor que estava com uma boina na cabeça e com um pano de prato jogado no ombro. — Bambino mio! Quanto tempo!
— Quanto tempo, seu Filippo! — ele ficou em pé abraçando o senhorzinho que estava muito contente em vê-lo. — Que saudade daqui!
— Ah, bambino! Sinto tua falta correndo por este lugar! — disse o senhor, depois virando para mim. Ele tinha um sotaque italiano extremamente forte. — E essa bella ragazza, huh? Tua fidanzata?
— Não, seu Filippo, ela não é minha namorada — ele riu voltando-se para mim. — Boneca, esse é o seu Filippo. Minha mãe trabalhou com ele aqui durante alguns anos enquanto eu ainda era moleque. E essa é a boné... ! Isso, essa é a , filha do meu... tio.
— Muito prazer, bambola — ele ironizou o "boneca" em italiano, beijando a minha mão.
— Tudo bem, seu Filippo? — cruzei as pernas, olhando para o balcão de comidas. — O que você tem que não seja muito calórico no seu restaurante?
— Seu Filippo, não precisa ouvir ela — revirou os olhos. — Por mais que seu Filippo seja italiano, o restaurante dele é bem brasileiro. Então seu Filippo, pode fazer aquele que eu amo? Faz dois. Porque ela vai amar.
— Per ora! — o senhor saiu para a cozinha do lugar, falando com alguns outros clientes.
olhava ao redor, acredito que ele lembrava da sua infância por ali e por um momento me senti estranha. Não conseguia ver uma criança pequena indo trabalhar junto com a mãe e isso me deu uma dorzinha no coração.
Quando ele olhou para mim, tinha um sorriso largo estampado em seu rosto e seus olhos demonstravam a mesma alegria. Por mais que aquilo fosse algo bem humilde, as lembranças traziam felicidade a ele.
Aquilo me fez rever meu passado, onde só havia creches e escolas integrais caríssimas pela cidade de São Paulo e poucos momentos com meus pais. Ah, e muitas babás também.
— São tantas lembranças boas que tive aqui — ele quebrava um palito de dentes que pegou de um paliteiro da mesa. — Minha mãe, algumas amizades, meu primeiro beijo.
— Primeiro beijo? — perguntei rindo confusa.
— Sim — ele apontou para uma garota que estava atrás do balcão. Aparentemente ela não tinha visto ainda. — Eu e ela estudávamos juntos. Estávamos na quinta série quando aconteceu. Geralmente fazíamos dever de casa nessa mesa que estamos sentados — ele passou a mão sobre a superfície da mesa, como se estivesse organizando os materiais. — E aí que terminamos e fomos brincar. Por fim, acabamos em um lugar mais vazio, ela disse que gostava de mim e nos beijamos. Foi meio babado, dentes batidos.
— E você gostava dela? — perguntei e ele riu tímido.
— A gente se dava bem — deu de ombros e voltou os olhos para ela. — Aí que minha mãe parou de trabalhar aqui porque a casa que morávamos no Brás ficou muito cara, então fomos morar na Freguesia do Ó. Perdemos o contato e depois de muito tempo que eu voltei aqui. Sempre que dá, eu venho.
— Vocês ainda se gostam?
Não sei como me senti, ainda mais recebendo olhares fulminantes da tal garota do balcão. Acho que o fato de eu estar ali sentada com o enquanto ela trabalhava, a incomodava.
— Não, — ele respondeu sorridente.
Depois ela pegou uma bandeja e veio andando em nossa direção, então presumi que aquele deveria ser o que comeríamos — ou ao menos o que eu tentaria comer.
— Quanto tempo você não aparece aqui, — ela colocou meu pratinho em minha frente e arregalei os olhos em ver um pão redondo recheado e com queijo derretido transbordando. — Como cê tá?
— Estou bem, Rê — ele pegou logo os talheres e praticamente gemeu ao ver o prato a sua frente. — Muitas novidades. E você?
— A mesma vida pacata de sempre — ela puxou uma cadeira e sentou-se ao lado dele. Ficando debruçada na mesa e me ignorando. — Te falei que ia começar a faculdade da última vez que você veio aqui, né?
— Sim, veterinária, não é? — ele perguntou e ela balançou a cabeça eufórica. — Fico feliz por você. Eu estou terminando o último ano do Ensino Médio ainda.
— Logo termina e você vai querer voltar — ela riu acariciando a mão dele. Eu estreitei os olhos. Estava sendo ignorada para ela flertar com ele? — Sábado que vem eu vou estar livre. A gente poderia ir naquele museu que a gente adorava, não é?
— Podemos marcar sim, Rê — ele disse e ela ficou em pé. — Anota seu número para mim?
— Rê? — Filippo chamou da cozinha. — Preciso de você aqui, bambina!
— Pronto! — ela falou depois de anotar seu número em um guardanapo. — Depois a gente se fala!
E então saiu, me deixando com cara de tacho. Olhei para e ele já devorava aquele lanche enorme, enquanto eu ainda não havia nem se quer tocado.
Não gostei dela simplesmente me ignorar para flertar com . Nós nos beijamos na noi... EU ESQUECI DESSE FATO!
A gente se beijou na festa e nem se quer lembrava disso! Mas aquilo não vinha ao caso; o que vinha ao caso era: eu odiava ser ignorada e ainda mais por causa de homens!
— Mais uma vez neurônios queimando! — riu e eu voltei os olhos para ele. De fato, se fosse uma animação, apareceria aquele balãozinho dos meus pensamentos e agora eles estourariam. — Não vai comer?
Eu não respondi.
— É uma delícia, boneca. Tem molho de tomate, pepperoni, azeitona, queijo, bacon, mais queijo, um pouco mais de queijo e para finalizar: queijo — ele levantou e cortou um pedaço do meu, enrolando o queijo no garfo. — Come.
estava tão animado em estar ali, que eu coloquei na boca só para não desanimá-lo. Porém era realmente uma delícia! Segurei meu garfo e comecei a cortar outro pedaço, só lembrando como seria para eliminar todas as calorias que eu estava comendo com tanto gosto.
Até que sobrou metade do meu lanche, porque eu não conseguia mais comer, porém também comeu e no final pediu uma Coca-Cola. Ele pagou a conta, mesmo eu pedindo para pagar, mas ele disse que da próxima eu podia pagar e ele escolheria o lugar mais caro.
Nos despedimos do pessoal e seguimos pelo outro lado que não havíamos andado ainda. Me deparei com uma enorme bancada de morangos e não tardou pedir por um para o dono da banca, que sorridente cedeu um dos frutos.
— Abre a boca — disse, quase empurrando o morango na minha cara e eu ri, mas mordi a ponta.
Logo em seguida ele selou nossos lábios. Okay, eu nunca havia feito nada tão íntimo em público e aquilo era estranho. e eu? Não tinha chance de acontecer, eu acho.
Antes que ele pudesse prolongar o beijo no meio do tanto de gente, eu roubei o morango da sua mão e comi o restante, andando em direção à saída enquanto ele vinha correndo atrás de mim.
Peguei o celular para ver o horário e então concordei, já eram quase 5h e logo Gertrudes iria acordar para preparar o café da manhã de sábado.
Cami e Tati já estavam esperando o motorista para ir embora, já que muita gente já havia saído para outras festas ou ido para alguma balada ou bar na Avenida Paulista.
Estava sentindo um pouco de frio, já que não havia levado jaqueta ou coisa do tipo. Precisava me policiar mais com as intervenções que estava fazendo na minha vida, para evitar coisas realmente drásticas.
— Vamos, boneca — ele jogou sua jaqueta de couro pelos meus ombros e segurou minha mão. — Vou chamar um uber para você e vê se não faz muito barulho quando chegar em casa.
— Aonde você vai? — perguntei curiosa, passando os braços em frente ao meu corpo.
— Tenho que resolver algumas coisas — ele respondeu olhando para o celular e depois levantando os olhos para mim.
— Foi aquela ligação que você recebeu?
— É, sobre, um amigo meu — ele lambeu os lábios um pouco nervoso.
Estranho, um amigo... Será que ele ia encontrar algum "amigo"? Talvez... O GABRIEL! Será que ele estava indo encontrar o Gabriel e não queria falar porque ele não tinha superado o garoto?
— , você é bissexual? — joguei na lata e ele estreitou os olhos, me olhando curioso.
— Sem filtros, por isso gosto de você — ele comentou sorrindo, depois deu de ombros. — Sim, por quê? — respondeu com tranquilidade.
Ok, aquilo era realmente uma novidade. Suspeitar da sua sexualidade era algo normal, mas ouvir dele que também ficava com homens, era algo realmente... Realmente.
— Ah, não! Não estou indo encontrar algum cara, se bem que independente do contexto... — ele riu, voltando os olhos para o celular e depois olhou para o final da rua de onde vinha um carro. — Seu uber está chegando.
Então ele estava indo encontrar uma garota e só não quis deixar aquilo explícito. Antes que entrasse no carro, tirei sua jaqueta e estendi para ele com meio sorriso no rosto. Até que morar na mesma casa que ele e tentar manter uma amizade, não parecia de todo ruim.
— Acho que você irá precisar mais do que eu, afinal, estou indo para minha cama quentinha — não respondeu nada mas pegou a jaqueta também sorrindo.
Quando cheguei em frente à minha casa, entrei pelo quintal do vizinho, da mesma forma que eu havia saído. Como era um condomínio fechado de casas, nenhuma casa tinha portão ou muro, porém minha casa tinha câmeras na parte da frente e a última coisa que eu queria era meus pais vendo minha fuga e retorno logo pela manhã.
Subi as escadas do meu quarto com a mesma dificuldade em que desci e então tirei os saltos e o vestido para finalmente relaxar. A boneca inflável estava intacta aonde havíamos colocado e o sol já invadia o meu quarto àquela hora da manhã.
Não tomei banho, nem se quer coloquei pijama. Apenas entrei embaixo da coberta e relaxei até o sono chegar.
Naquela mesma noite, mami e papi voltaram para casa e nos liberaram do castigo. Se eles soubessem da fugida que demos para uma festa, talvez teriam deixado durante mais duas semanas e sem televisão.
Não tenho certeza a hora exata que o chegou em casa, mas quando acordei por volta das 15h, ele já estava lá e conversava animado com Gertrudes, comendo uma macarronada preparada por ela. Seus cabelos estavam molhados e seus olhos pareciam mais suavizados.
Na verdade tinha uma beleza típica dos anos 90 e ele lembrava muito o Joey de Friends em um dos primeiros episódios. Seu cabelo sempre grande e de preferência molhado, suas camisas variavam entre branca, preta e cinza e usava calças jeans ou calças pretas. A jaqueta era de couro ou jeans. Os tênis preto ou branco. Perfume cítrico, nunca amadeirado.
Eu, por outro lado, gostava de muita cor. Usava qualquer cor, todos os modelos possíveis de roupas da moda e sempre fazia combinações de roupa com acessórios. Ser homem, em questões de roupas era algo bem mais fácil, mas ser mulher era uma delícia. Se maquiar, usar saltos, roupas diferentes e estilosas... Deve ser por esse motivo que muito homem se montava e se apresentava como Drag Queen!!!
— Estou sentindo o cheiro dos seus neurônios queimando daqui! — falou virando em minha direção e eu arregalei os olhos, voltando a andar até a bancada da cozinha.
Gertrudes colocou um prato em minha frente, com a minha quantidade de salada para o almoço, mas olhei o prato de e me deu muita vontade de comer macarrão.
— Ger? — chamei e ela voltou para ver se tinha algo errado. — Você poderia colocar um pouco de macarrão para mim? Me deu vontade!
Ela estranhou mas não demorou a colocar outro prato a minha frente. Comecei a comer, e nossa, fazia muito tempo que não experimentava um macarrão como aquele.
— Ainda prefere comer alface do que essas maravilhas preparadas pela Ger? — apertou meu nariz e eu bati em sua mão para que parasse de invadir meu espaço. — Seria uma delícia comer um lanche enorme, cheio de queijo e bacon, não?
— Muitas calorias! — falei enrolando mais uma garfada de macarrão e colocando na boca, ele observava meus movimentos. — Que foi? Não tem nada para fazer se não ficar olhando eu comer?
— Na verdade... Não — ele riu e eu tive que rir junto. — Você topa?
— O que, ? — revirei os olhos engolindo minha comida, largando o garfo para olhar para ele.
— Comer um lanche enorme, boneca! Eu conheço um lugar muito legal — ele disse, ficando com o rosto apoiado em suas mãos.
— Você acabou de comer um prato enorme de macarrão, não tem fundo não? — perguntei deixando de lado meu resto de macarrão.
— Definitivamente me pergunto isso todos os dias — ele ficou em pé e então estendeu a mão para mim. — Estou esperando você!
Mesmo que eu não quisesse ir, não resisti ao convite, afinal, seria melhor do que ficar em casa olhando para o teto.
— Preciso me trocar e colocar algum salto em que eu me sinta mais confor...
— Você está deslumbrante, vamos! — e então eu estava sendo arrastada por ele.
Por mais que eu protestasse falando que não apareceria como uma mal arrumada onde ele nos levaria, mais forte ele me puxava para o carro, até que me colocou no banco da frente e me prendeu com o cinto, fechando a porta por fora.
— Não estou bem vestida! — protestei mais uma vez, olhando meu slide Fenty by Rihanna de pelinhos cor de rosa em meus pés. — Estou de vestido de ficar em casa!
— Qual a marca desse vestido? — perguntou saindo com o carro da garagem, pronto para sair do condomínio.
— Esse é... — cocei a garganta um pouco incomodada. — Um Ralph Lauren.
Era um vestido envelope bem soltinho no corpo e era florido com vários tons de rosa.
— Isso deve ter custado muito caro para você simplesmente falar que é um vestido de ficar em casa — colocou os óculos escuros e abriu o teto solar do carro, abrindo também as janelas. — E o lugar que vamos não será tão chique assim.
Minutos depois entendi o que ele queria dizer, pois estávamos estacionados em frente ao mercado municipal de São Paulo. Se ele estava pensando que eu comeria aquele lanche enorme de mortadela com pão — essa era definitivamente a ordem correta —, ele estava muito enganado! Eu nem se quer gostava daquele tipo de comida processada.
Quando entramos no mercado, íamos nos desviando de várias pessoas. Estava cheio o local, pois se tratava de um sábado à tarde! Não poderia deixar de ser diferente. Passávamos por várias lojinhas com uma diversidade de produtos diferentes; barracas de frutas, de peixe, de queijo e milhares de coisas mais.
Paramos em frente a algo como um "boteco" do seu Lipo e então ele puxou uma cadeira de metal para que eu me sentasse. Não hesitei e então ele sentou-se à minha frente, sorridente.
— Sabe, boneca, as vezes é legal sair do mundinho que você vive para saber como é viver de coisas mais simples como isso — ele olhou ao redor, agora tirando os óculos. — Você está acostumada apenas com coisa de granfino, mas tem um mundo tão grande para você conhecer do portão do seu condomínio para cá!
Ele falava com os olhos brilhantes, como se ele realmente me quisesse ali com ele. Antes que eu pudesse responder, fomos interrompidos.
— ? — perguntou um senhor que estava com uma boina na cabeça e com um pano de prato jogado no ombro. — Bambino mio! Quanto tempo!
— Quanto tempo, seu Filippo! — ele ficou em pé abraçando o senhorzinho que estava muito contente em vê-lo. — Que saudade daqui!
— Ah, bambino! Sinto tua falta correndo por este lugar! — disse o senhor, depois virando para mim. Ele tinha um sotaque italiano extremamente forte. — E essa bella ragazza, huh? Tua fidanzata?
— Não, seu Filippo, ela não é minha namorada — ele riu voltando-se para mim. — Boneca, esse é o seu Filippo. Minha mãe trabalhou com ele aqui durante alguns anos enquanto eu ainda era moleque. E essa é a boné... ! Isso, essa é a , filha do meu... tio.
— Muito prazer, bambola — ele ironizou o "boneca" em italiano, beijando a minha mão.
— Tudo bem, seu Filippo? — cruzei as pernas, olhando para o balcão de comidas. — O que você tem que não seja muito calórico no seu restaurante?
— Seu Filippo, não precisa ouvir ela — revirou os olhos. — Por mais que seu Filippo seja italiano, o restaurante dele é bem brasileiro. Então seu Filippo, pode fazer aquele que eu amo? Faz dois. Porque ela vai amar.
— Per ora! — o senhor saiu para a cozinha do lugar, falando com alguns outros clientes.
olhava ao redor, acredito que ele lembrava da sua infância por ali e por um momento me senti estranha. Não conseguia ver uma criança pequena indo trabalhar junto com a mãe e isso me deu uma dorzinha no coração.
Quando ele olhou para mim, tinha um sorriso largo estampado em seu rosto e seus olhos demonstravam a mesma alegria. Por mais que aquilo fosse algo bem humilde, as lembranças traziam felicidade a ele.
Aquilo me fez rever meu passado, onde só havia creches e escolas integrais caríssimas pela cidade de São Paulo e poucos momentos com meus pais. Ah, e muitas babás também.
— São tantas lembranças boas que tive aqui — ele quebrava um palito de dentes que pegou de um paliteiro da mesa. — Minha mãe, algumas amizades, meu primeiro beijo.
— Primeiro beijo? — perguntei rindo confusa.
— Sim — ele apontou para uma garota que estava atrás do balcão. Aparentemente ela não tinha visto ainda. — Eu e ela estudávamos juntos. Estávamos na quinta série quando aconteceu. Geralmente fazíamos dever de casa nessa mesa que estamos sentados — ele passou a mão sobre a superfície da mesa, como se estivesse organizando os materiais. — E aí que terminamos e fomos brincar. Por fim, acabamos em um lugar mais vazio, ela disse que gostava de mim e nos beijamos. Foi meio babado, dentes batidos.
— E você gostava dela? — perguntei e ele riu tímido.
— A gente se dava bem — deu de ombros e voltou os olhos para ela. — Aí que minha mãe parou de trabalhar aqui porque a casa que morávamos no Brás ficou muito cara, então fomos morar na Freguesia do Ó. Perdemos o contato e depois de muito tempo que eu voltei aqui. Sempre que dá, eu venho.
— Vocês ainda se gostam?
Não sei como me senti, ainda mais recebendo olhares fulminantes da tal garota do balcão. Acho que o fato de eu estar ali sentada com o enquanto ela trabalhava, a incomodava.
— Não, — ele respondeu sorridente.
Depois ela pegou uma bandeja e veio andando em nossa direção, então presumi que aquele deveria ser o que comeríamos — ou ao menos o que eu tentaria comer.
— Quanto tempo você não aparece aqui, — ela colocou meu pratinho em minha frente e arregalei os olhos em ver um pão redondo recheado e com queijo derretido transbordando. — Como cê tá?
— Estou bem, Rê — ele pegou logo os talheres e praticamente gemeu ao ver o prato a sua frente. — Muitas novidades. E você?
— A mesma vida pacata de sempre — ela puxou uma cadeira e sentou-se ao lado dele. Ficando debruçada na mesa e me ignorando. — Te falei que ia começar a faculdade da última vez que você veio aqui, né?
— Sim, veterinária, não é? — ele perguntou e ela balançou a cabeça eufórica. — Fico feliz por você. Eu estou terminando o último ano do Ensino Médio ainda.
— Logo termina e você vai querer voltar — ela riu acariciando a mão dele. Eu estreitei os olhos. Estava sendo ignorada para ela flertar com ele? — Sábado que vem eu vou estar livre. A gente poderia ir naquele museu que a gente adorava, não é?
— Podemos marcar sim, Rê — ele disse e ela ficou em pé. — Anota seu número para mim?
— Rê? — Filippo chamou da cozinha. — Preciso de você aqui, bambina!
— Pronto! — ela falou depois de anotar seu número em um guardanapo. — Depois a gente se fala!
E então saiu, me deixando com cara de tacho. Olhei para e ele já devorava aquele lanche enorme, enquanto eu ainda não havia nem se quer tocado.
Não gostei dela simplesmente me ignorar para flertar com . Nós nos beijamos na noi... EU ESQUECI DESSE FATO!
A gente se beijou na festa e nem se quer lembrava disso! Mas aquilo não vinha ao caso; o que vinha ao caso era: eu odiava ser ignorada e ainda mais por causa de homens!
— Mais uma vez neurônios queimando! — riu e eu voltei os olhos para ele. De fato, se fosse uma animação, apareceria aquele balãozinho dos meus pensamentos e agora eles estourariam. — Não vai comer?
Eu não respondi.
— É uma delícia, boneca. Tem molho de tomate, pepperoni, azeitona, queijo, bacon, mais queijo, um pouco mais de queijo e para finalizar: queijo — ele levantou e cortou um pedaço do meu, enrolando o queijo no garfo. — Come.
estava tão animado em estar ali, que eu coloquei na boca só para não desanimá-lo. Porém era realmente uma delícia! Segurei meu garfo e comecei a cortar outro pedaço, só lembrando como seria para eliminar todas as calorias que eu estava comendo com tanto gosto.
Até que sobrou metade do meu lanche, porque eu não conseguia mais comer, porém também comeu e no final pediu uma Coca-Cola. Ele pagou a conta, mesmo eu pedindo para pagar, mas ele disse que da próxima eu podia pagar e ele escolheria o lugar mais caro.
Nos despedimos do pessoal e seguimos pelo outro lado que não havíamos andado ainda. Me deparei com uma enorme bancada de morangos e não tardou pedir por um para o dono da banca, que sorridente cedeu um dos frutos.
— Abre a boca — disse, quase empurrando o morango na minha cara e eu ri, mas mordi a ponta.
Logo em seguida ele selou nossos lábios. Okay, eu nunca havia feito nada tão íntimo em público e aquilo era estranho. e eu? Não tinha chance de acontecer, eu acho.
Antes que ele pudesse prolongar o beijo no meio do tanto de gente, eu roubei o morango da sua mão e comi o restante, andando em direção à saída enquanto ele vinha correndo atrás de mim.
Capítulo 8 - Decepção
Ainda não consigo entender pessoas que gostam de domingos. Será que existe essa população específica? Porque com todas as minhas forças, eu odiava!
Domingo foi o dia de refletir sobre o sábado que eu havia tido. Acho que fazia tempo que eu não tinha um dia tão divertido quanto ontem. Realmente, havia tanta coisa fora dos muros que eu costumava viver entocava, que não havia oportunidade de conhecer muita coisa.
E então lembrei daquele beijo da festa. Do quão sexy estava, parecia simplesmente enviado para me seduzir, coisa que parecia funcionar e muito bem com meus hormônios, o que gerou uma longa pesquisa durante a madrugada de domingo e se estendeu para a parte da tarde.
Eu podia sentir todo o efeito que ele tinha sobre mim e depois daquele beijo, parece que meu corpo agia de uma forma diferente só de lembrar que ele estava no quarto da frente.
Eu nunca tive experiências sexuais, mas tinha lido que o auto toque era uma forma de liberação da tensão e eu queria tentar. Porém em meio ao ato, eu acho que eu dormi e sonhei. De alguma forma, entrou no meu quarto com todo aquele ar misterioso de quem não quer nada, mas poderia arrancar sua calcinha com os olhos. Comecei primeiro tirando a toalha de meu corpo, acariciando meus seios. Eu podia sentir que ele estava ali, apertando-os com seus dedos grandes. Não sei se era uma boa minha primeira tentativa pensar em um garoto, mas eu não conseguia arrancá-lo dos meus pensamentos.
Fui descendo a mão para a minha... é, que já estava molhada a esse ponto, só em pensar em , na sua língua e... em outras partes do seu corpo. Por mais que eu fosse virgem, me excitava ao pensar, me deixava louca querendo sentir seus toques.
Acariciei toda a minha intimidade, enfiando um de meus dedos no buraquinho que parecia ser muito apertado. Eu tinha visto algumas dicas de como fazer aquilo e comecei colocar para fora e para dentro, até que eu senti necessidade de mais. Enfiei mais outro dedo curvado para cima, bombeando a parte de dentro, fazendo um fogo subir pelo meu corpo. Eu estava muito molhada, sentia que a lubrificação pingava no colchão da cama. Tirei os dedos e logo toquei o meu ponto de prazer, esfregando-o assim como li nas indicações. Senti uma onda gostosa e continuei, pois aquilo parecia muito certo a se fazer.
Até que ouvi um barulho da porta sendo aberta. Me assustei e parei o que estava fazendo, pronta para sumir de vergonha, mas então vi o sorriso no rosto de . Ele estava ali parado, sem camisa e vestia apenas um calção branco folgado, que mostrava completamente seu... é. Ele estava sem cueca? — O que você estava fazendo, boneca? — ele perguntou curioso, enquanto eu tentava esconder meu corpo na toalha. — Eu não acredito que você estava fazendo o que eu realmente vi. Você me surpreende, sabia?
— O que está fazendo aqui?
— Eu ouvi alguns gemidos baixinhos, achei que estivesse tendo um sonho ruim, mas pelo contrário, você estava simplesmente se tocando — ele disse, olhando fixamente para minha toalha e o que ela tentava cobrir. — Você está tão molhada! E nem se quer conseguiu terminar o que fazia.
— Na verdade, eu... Ahn, terminei sim — ajeitei mais a toalha e ele balançou a cabeça em negação.
— Você só estava fazendo carinho, a melhor parte você não chegou — ele disse me deixando sem palavras. Eu não estava conseguindo pensar direito. — Se você quiser, posso te ajudar a chegar lá, posso te ensinar.
Hesitei. Ele não poderia estar falando sério, mas suas pupilas estavam dilatadas e eu conseguia ver aquilo com a claridade do pôr do sol que entrava pela janela do meu quarto. Claramente era bem mais experiente nisso, e só de pensar nele vendo tudo, um arrepio subia pela minha coluna.
Balancei a cabeça, e então ele subiu as mãos pelos meus tornozelos, acariciando minhas pernas. Soltei a toalha que eu prendia com tanta força e abri minhas pernas. Suas mãos voltaram para as suas coxas, e ele olhava minha vagina com adoração.
— Volte os movimentos sobre seu clitóris, boneca — pediu, e eu desci os dedos um pouco trêmulos, olhando para ele. Até aquela altura, com toda certeza eu já estava ainda mais lubrificada. — Agora você vai fazer movimentos circulares, não precisa ser rápido, mas se precisar, pode aumentar a velocidade.
Ouvir sua voz me ensinando, me deixava ainda mais excitada. Tudo que eu queria era que ele encostasse em mim, e ao invés de eu apenas pensar nele, ele mesmo fazer algo.
— Agora você vai colocar seus dedos dentro, e fazer o vai e vem — ele mostrou dois de seus dedos e senti um espasmo ao imaginar ele me tocando.
Eu obedeci sua instrução e senti ainda mais a lubrificação. Ele fez movimentos com os dedos que eu copiei e senti minha perna ficar mole. E então tirei o dedo, voltando a fazer o circular em meu clitóris.
— Isso, boneca, faz mais rápido. Sente o que você mesma pode fazer com o seu corpo, o quão incrível você é, e o prazer que você pode sentir sozinha — ele disse, mas sua voz parecia cada vez mais além. — Continua, boneca, consigo ver você contraindo já, pronta para ter um orgasmo.
— Me toca — pedi, e ele sorriu balançando a cabeça em negação. — Por favor.
— Não, boneca, hoje não. Você precisa fazer isso sozinha — repetiu, e eu comecei sentir dor. Eu precisava muito gozar, mas estava segurando ao máximo. — Na próxima, eu vou te chupar tão gostoso, que você vai esquecer de onde estaremos.
— Por favor! — implorei sentindo um aperto no pé da barriga.
— Use a outra mão, coloque dois dedos dentro de você é não pare de massagear — obedeci, sentindo que estava muito próximo. — Isso, boneca, que delicia, olha o quão apertadinha você está! Agora é só liberar — eu continuei os movimentos, e ele continuava olhando. — Goza, boneca, vem! Eu quero experimentar seu sabor.
Em dois segundos eu explodi. Minhas pernas tremiam, minha vagina apertava meus dedos e meu clitóris ficara escorregadio. Assim que terminei, fiquei parada daquele mesmo jeito, com as pernas abertas, mas mãos em cima da barriga, e a cabeça no mundo da lua.
Senti as mãos de em volta do meu pulso, e quando menos esperei, estava sentada em seu colo. Os bicos dos meus seios estavam eriçados devido ao vento em meu corpo quente.
— Você foi incrível — ele disse, segurando minhas mãos. — Da próxima, eu vou querer chupar cada pedacinho da sua buceta, e tocar partes que você ainda não conseguiu tocar.
Quando menos esperei, ele colocou meus dedos dentro de sua boca e os chupou. Aquilo me fez ficar excitada novamente e roçar minha intimidade ainda molhada no seu membro coberto apenas pela bermuda fina. Ele estava muito duro, muito quente.
— Até mais, minha boneca. Você foi incrível.
E lá estava eu deitada na cama da mesma forma, usando a toalha que eu havia tomado banho e suando. Meus batimentos cardíacos ainda estavam descompassados e eu sentia o corpo cansado. Eu... Isso realmente aconteceu? Ele realmente aconteceu?
💖
Era tarde de segunda-feira e mais uma vez estávamos fazendo o trabalho de literatura em meu quarto. Confesso que cheguei na décima página de Dom Casmurro!!! Isso era uma grande evolução para uma garota que não tem hábitos literários, então, eu estava me sentindo muito orgulhosa!
Depois de tanta gente falar mal do Bentinho, que ele era meio "doido", eu comecei lendo com essa resistência e de verdade estava sendo difícil.
Estávamos na quinta página, sendo que precisávamos de dez. E depois dessas dez, resumiríamos para uma frente e verso. Então eu não via necessidade alguma em fazer as dez, se poderíamos fazer uma. Mas Sue era nerd demais e queria seguir as regras. Por fim, ela disse que iria tomar água e que continuássemos fazendo.
— Sabe com quem eu fiquei na última festa? — Cami riu e eu pulei na cama para saber quem era o sortudo. — Com o Antony!
— QUE? — eu e Tati gritamos surpresas.
— Gente, ninguém pode saber! — falou Cami se jogando na cama, fazendo com que eu e Tati fizéssemos o mesmo, na maior cara de apaixonada. — Vocês sabem que eu sempre gostei dele e de verdade, não achei que um dia ficaríamos.
— Ah, estou tão feliz por você, amiga! — fal
ei abraçando Cami e Tati nos abraçou. — O Antony é um anjo! Ele realmente era. Não era o tipo de garoto que ficava com várias garotas da escola, mas também não era tão santo, porque depois que o chegou na escola, ficou meio... "desandado". Mas não seria isso que faria eu desgostar do Antony.
— E você, ? — Sue perguntou referente ao seu irmão. Eu não gostava de expor tanto, mas realmente precisava falar o que tinha rolado na noite da festa. Não só com seu irmão.
— Então...
— Ah, calma! Momento da Cami! — Tati interrompeu e eu fiquei com vergonha. — E vocês... é... fizeram alguma coisa? — perguntou curiosa.
— Não, Tati! Não mesmo! — Cami pareceu nervosa e então ela sentou-se. — Acho que ainda sou muito nova para isso.
— Você tem dezesseis, Cami — Tati acrescentou, o que achei estranho. — Não que isso signifique algo.
— Tati, você ainda é virgem? — perguntei. Eu costumava ser direta com as pessoas, o que era duas uma: ou ela gaguejava (que significava verdade), ou ela negava e morria a história.
— Nossa, ! — ela riu nervosa. — Que pergunta?
— Tati, se não for, ok — falei e ela mordeu o lábio nervosa. — Ninguém aqui irá te julgar e na verdade, nós somos amigas!
— Eu não sou — ela confessou e olhou bem para nós, para ver nossa reação e o que fizemos foi olhar com cara de segundas intenções para ela. — Parem! Parem já! — ela riu e então jogou-se na cama. — Aconteceu no último verão. Foi com um primo meu, quando fui passar férias na casa de praia da minha avó.
— E como foi? — perguntei curiosa, me aproximando. Estava curiosa. Só.
— Bom — ela simplesmente respondeu. — Todo mundo coloca tanta expectativa, mas na verdade não é tão legal assim, pelo menos a primeira vez. As próximas passam a ser gostosas, porque você começa a sentir realmente prazer.
— Eu quero sentir isso! — Cami revirou os olhos, o que nos fez rir. — Será que Antony já...?
— Eu duvido que não! — falou Tati. — A maioria desses garotos já passou a cobrinha deles por aí. Inclusive a do seu morador, deve estar caindo agora mesmo.
— Que? — perguntei confusa porque ela olhava fixamente para mim. — A Sue está demorando muito, ou seja, deve estar em algum cômodo da sua casa, perdida com o seu priminho — Tati riu e eu engoli seco.
Não sei porque a hipótese me deixou incomodada. Não que não pudesse viver a vida dele, muito pelo contrário, Sue era a minha amiga e ele não podia simplesmente viver a vida dele enganando uma amiga minha. Que ele não presta, eu sempre soube!
— Vou atrás da Sue — coloquei meus chinelo slide de pelinhos e comecei andar em direção à saída do quarto.
— Se ela realmente estiver em algum momento íntimo, ? — Louise andou até a mim falando mais baixo e ignorando minhas amigas. Ela mordeu o lábio tensa e eu suspirei nervosa. — Você vai simplesmente assistir, atrapalhar? Não é melhor deixar para lá?
— Não.
Então saí do meu quarto, fechando a porta em seguida. A primeira coisa que fiz foi abrir a porta do quarto de que estava escorada. Não havia ninguém lá dentro e ainda assim entrei para conferir o banheiro.
O quarto de era uma zona. Havia roupas espalhadas pelo chão e pela cadeira da mesa que em cima tinha várias anotações, cadernos e havia um porta retrato. Um único porta retrato em pé no meio de toda aquela zona. Era uma mulher entre dois garotos e um deles era . Estavam todos sentados em um sofá simples, na qual o garoto usava uma camisa do Palmeiras, a mulher do São Paulo e do Corinthians. Provavelmente ele deve ter herdado esse amor pelo time por causa do papi que é tio dele.
E mais uma vez fugi do foco principal. Encontrar Sue.
Meu coração estava apertado e eu não sabia porquê. Deve ser o suspense de ver algo ilícito! Certeza que sim!
Caminhei para a porta novamente e desci as escadas em silêncio. Será que eu estava em um filme de terror? "A patricinha sempre morre no começo" era o que meu cérebro gritava, mas FOCO! A casa estava em silêncio e não havia sinal de ninguém por ali.
Andei até a sala e nada, vazia, televisão desligada. Fui até a cozinha e a luz estava acesa, mas sem ninguém ali também. Encostei-me na mesa, pensando em ir até a piscina. Com certeza Sue estava lá e não estava em casa.
Me preparei para ir até a porta dos fundos até que ouvi barulhos de estalos vindos da lavanderia, cômodo após a cozinha, que tinha a porta. Andei um pouco mais adiante e então de relance vi que Sue estava sentada em cima da máquina de lavar que estava funcionando e estava encaixado entre as pernas dela, já sem camisa, apenas de calças jeans.
Sue estava usando suas calças pretas, mas já estava sem camiseta, apenas de sutiã e parte das calças abertas. Eles se beijavam tão... ferozes, que eu fiquei um pouco constrangida. Deveria ter ouvido minhas amigas e não simplesmente ignorado. Poderia evitar ver esse tipo de coisa e...
Droga!
Senti meu braço tocar em alguma coisa e então ouvi o barulho da moringa de cristal da mami espatifar pelo chão da cozinha. Me escondi atrás da geladeira onde ninguém iria me ver e então pude ouvir que os dois pararam de fazer aqueles malditos estalos.
— Quem será? — ouvi Sue perguntar, mas não ouvi a resposta.
— ? — ? Ele nunca me chamava assim! Aonde foi parar o "boneca"? — Alguém?
— Será que alguém viu a gente? — ela riu baixinho e ele acompanhou o riso, saindo da lavanderia e entrando na cozinha.
Tentei me esconder, me apertar ainda mais em direção à parede, mas a única coisa que eu fiz, foi fazer a geladeira se mexer e os dois ficarem em silêncio. Não queria que eles me vissem de forma alguma!!! Seria como... a vergonha do século.
— Eu vou recolher essa bagunça e tenho certeza que a Leonor vai ficar um pouco chateada pela moringa — ele disse, voltando para a lavanderia e vi que ele jogou a camiseta para Sue.
— Acho que eu já vou embora — ela falou, percebi que estava um pouco sem graça. — Deixei minhas coisas aqui embaixo, você pode avisar para a ?
— Posso.
Ela simplesmente deu um "tchauzinho" de longe e então foi até a sala pegar sua bolsa, fechando a porta logo em seguida.
Agora eu precisava de uma maneira de sair dali despercebida, mas eu precisava esperar terminar de pegar do chão, os cacos de cristal que eu havia quebrado. Se eu corresse quando ele estivesse dentro da lavanderia? Será que daria tempo de ele não me ver? Será que eu não faria barulho demais?
— Pode sair de trás da geladeira, boneca — ele disse e eu fiquei espantada. Como? — Eu sei que você está aí! — Meu Deus, agora tudo que eu queria era que o chão abrisse e então eu sumisse para o centro da terra. — ? Por favor, não sejamos infantis.
Suspirei e fiz o que ele estava falando. Ele estava em pé em frente ao armário, segurando a vassoura e a pá. Ele estava sem camisa, revelando suas tatuagens absurdamente lindas e o botão da sua calça aberto, deixando o jeans caído e mostrando sua cueca branca.
— O que você estava fazendo aqui? — perguntou escorando na vassoura. Ele não parecia nervoso, apenas tinha um semblante exausto.
— Eu vim tomar água e ouvi o que vocês estavam fazendo — engoli seco, cruzando os braços em frente aos meus seios. — Inclusive muito inapropriado.
— Olha, boneca...
— — frisei o meu nome. Não queria que ele me chamasse daquele jeito depois do que vi e ouvi. — Foi assim que você acabou de me chamar.
— Sério, boneca — insistiu —, desculpa pelo que você viu aqui — ele falou sem graça, passando a mão esquerda pelo cabelo, bagunçando-o. — Ainda mais com uma amiga sua, e...
— Não quero suas explicações, — suspirei, virando de costas para ele. — E para você é , como eu disse no primeiro dia que te conheci. Odeio que me chame de boneca.
E então mais uma vez engoli um bolo de coisas com dificuldade. Já conseguia sentir meu nariz arder, mas ainda não entendia tamanha angústia dentro de mim.
A sala do papi era o local mais apropriado para mim agora, por isso foi lá que me tranquei e foi lá que fiquei durante resto do dia, dedilhando algumas notas no piano, tentando manter minha cabeça ocupada.
Domingo foi o dia de refletir sobre o sábado que eu havia tido. Acho que fazia tempo que eu não tinha um dia tão divertido quanto ontem. Realmente, havia tanta coisa fora dos muros que eu costumava viver entocava, que não havia oportunidade de conhecer muita coisa.
E então lembrei daquele beijo da festa. Do quão sexy estava, parecia simplesmente enviado para me seduzir, coisa que parecia funcionar e muito bem com meus hormônios, o que gerou uma longa pesquisa durante a madrugada de domingo e se estendeu para a parte da tarde.
Eu podia sentir todo o efeito que ele tinha sobre mim e depois daquele beijo, parece que meu corpo agia de uma forma diferente só de lembrar que ele estava no quarto da frente.
Eu nunca tive experiências sexuais, mas tinha lido que o auto toque era uma forma de liberação da tensão e eu queria tentar. Porém em meio ao ato, eu acho que eu dormi e sonhei. De alguma forma, entrou no meu quarto com todo aquele ar misterioso de quem não quer nada, mas poderia arrancar sua calcinha com os olhos. Comecei primeiro tirando a toalha de meu corpo, acariciando meus seios. Eu podia sentir que ele estava ali, apertando-os com seus dedos grandes. Não sei se era uma boa minha primeira tentativa pensar em um garoto, mas eu não conseguia arrancá-lo dos meus pensamentos.
Fui descendo a mão para a minha... é, que já estava molhada a esse ponto, só em pensar em , na sua língua e... em outras partes do seu corpo. Por mais que eu fosse virgem, me excitava ao pensar, me deixava louca querendo sentir seus toques.
Acariciei toda a minha intimidade, enfiando um de meus dedos no buraquinho que parecia ser muito apertado. Eu tinha visto algumas dicas de como fazer aquilo e comecei colocar para fora e para dentro, até que eu senti necessidade de mais. Enfiei mais outro dedo curvado para cima, bombeando a parte de dentro, fazendo um fogo subir pelo meu corpo. Eu estava muito molhada, sentia que a lubrificação pingava no colchão da cama. Tirei os dedos e logo toquei o meu ponto de prazer, esfregando-o assim como li nas indicações. Senti uma onda gostosa e continuei, pois aquilo parecia muito certo a se fazer.
Até que ouvi um barulho da porta sendo aberta. Me assustei e parei o que estava fazendo, pronta para sumir de vergonha, mas então vi o sorriso no rosto de . Ele estava ali parado, sem camisa e vestia apenas um calção branco folgado, que mostrava completamente seu... é. Ele estava sem cueca? — O que você estava fazendo, boneca? — ele perguntou curioso, enquanto eu tentava esconder meu corpo na toalha. — Eu não acredito que você estava fazendo o que eu realmente vi. Você me surpreende, sabia?
— O que está fazendo aqui?
— Eu ouvi alguns gemidos baixinhos, achei que estivesse tendo um sonho ruim, mas pelo contrário, você estava simplesmente se tocando — ele disse, olhando fixamente para minha toalha e o que ela tentava cobrir. — Você está tão molhada! E nem se quer conseguiu terminar o que fazia.
— Na verdade, eu... Ahn, terminei sim — ajeitei mais a toalha e ele balançou a cabeça em negação.
— Você só estava fazendo carinho, a melhor parte você não chegou — ele disse me deixando sem palavras. Eu não estava conseguindo pensar direito. — Se você quiser, posso te ajudar a chegar lá, posso te ensinar.
Hesitei. Ele não poderia estar falando sério, mas suas pupilas estavam dilatadas e eu conseguia ver aquilo com a claridade do pôr do sol que entrava pela janela do meu quarto. Claramente era bem mais experiente nisso, e só de pensar nele vendo tudo, um arrepio subia pela minha coluna.
Balancei a cabeça, e então ele subiu as mãos pelos meus tornozelos, acariciando minhas pernas. Soltei a toalha que eu prendia com tanta força e abri minhas pernas. Suas mãos voltaram para as suas coxas, e ele olhava minha vagina com adoração.
— Volte os movimentos sobre seu clitóris, boneca — pediu, e eu desci os dedos um pouco trêmulos, olhando para ele. Até aquela altura, com toda certeza eu já estava ainda mais lubrificada. — Agora você vai fazer movimentos circulares, não precisa ser rápido, mas se precisar, pode aumentar a velocidade.
Ouvir sua voz me ensinando, me deixava ainda mais excitada. Tudo que eu queria era que ele encostasse em mim, e ao invés de eu apenas pensar nele, ele mesmo fazer algo.
— Agora você vai colocar seus dedos dentro, e fazer o vai e vem — ele mostrou dois de seus dedos e senti um espasmo ao imaginar ele me tocando.
Eu obedeci sua instrução e senti ainda mais a lubrificação. Ele fez movimentos com os dedos que eu copiei e senti minha perna ficar mole. E então tirei o dedo, voltando a fazer o circular em meu clitóris.
— Isso, boneca, faz mais rápido. Sente o que você mesma pode fazer com o seu corpo, o quão incrível você é, e o prazer que você pode sentir sozinha — ele disse, mas sua voz parecia cada vez mais além. — Continua, boneca, consigo ver você contraindo já, pronta para ter um orgasmo.
— Me toca — pedi, e ele sorriu balançando a cabeça em negação. — Por favor.
— Não, boneca, hoje não. Você precisa fazer isso sozinha — repetiu, e eu comecei sentir dor. Eu precisava muito gozar, mas estava segurando ao máximo. — Na próxima, eu vou te chupar tão gostoso, que você vai esquecer de onde estaremos.
— Por favor! — implorei sentindo um aperto no pé da barriga.
— Use a outra mão, coloque dois dedos dentro de você é não pare de massagear — obedeci, sentindo que estava muito próximo. — Isso, boneca, que delicia, olha o quão apertadinha você está! Agora é só liberar — eu continuei os movimentos, e ele continuava olhando. — Goza, boneca, vem! Eu quero experimentar seu sabor.
Em dois segundos eu explodi. Minhas pernas tremiam, minha vagina apertava meus dedos e meu clitóris ficara escorregadio. Assim que terminei, fiquei parada daquele mesmo jeito, com as pernas abertas, mas mãos em cima da barriga, e a cabeça no mundo da lua.
Senti as mãos de em volta do meu pulso, e quando menos esperei, estava sentada em seu colo. Os bicos dos meus seios estavam eriçados devido ao vento em meu corpo quente.
— Você foi incrível — ele disse, segurando minhas mãos. — Da próxima, eu vou querer chupar cada pedacinho da sua buceta, e tocar partes que você ainda não conseguiu tocar.
Quando menos esperei, ele colocou meus dedos dentro de sua boca e os chupou. Aquilo me fez ficar excitada novamente e roçar minha intimidade ainda molhada no seu membro coberto apenas pela bermuda fina. Ele estava muito duro, muito quente.
— Até mais, minha boneca. Você foi incrível.
E lá estava eu deitada na cama da mesma forma, usando a toalha que eu havia tomado banho e suando. Meus batimentos cardíacos ainda estavam descompassados e eu sentia o corpo cansado. Eu... Isso realmente aconteceu? Ele realmente aconteceu?
Era tarde de segunda-feira e mais uma vez estávamos fazendo o trabalho de literatura em meu quarto. Confesso que cheguei na décima página de Dom Casmurro!!! Isso era uma grande evolução para uma garota que não tem hábitos literários, então, eu estava me sentindo muito orgulhosa!
Depois de tanta gente falar mal do Bentinho, que ele era meio "doido", eu comecei lendo com essa resistência e de verdade estava sendo difícil.
Estávamos na quinta página, sendo que precisávamos de dez. E depois dessas dez, resumiríamos para uma frente e verso. Então eu não via necessidade alguma em fazer as dez, se poderíamos fazer uma. Mas Sue era nerd demais e queria seguir as regras. Por fim, ela disse que iria tomar água e que continuássemos fazendo.
— Sabe com quem eu fiquei na última festa? — Cami riu e eu pulei na cama para saber quem era o sortudo. — Com o Antony!
— QUE? — eu e Tati gritamos surpresas.
— Gente, ninguém pode saber! — falou Cami se jogando na cama, fazendo com que eu e Tati fizéssemos o mesmo, na maior cara de apaixonada. — Vocês sabem que eu sempre gostei dele e de verdade, não achei que um dia ficaríamos.
— Ah, estou tão feliz por você, amiga! — fal
ei abraçando Cami e Tati nos abraçou. — O Antony é um anjo! Ele realmente era. Não era o tipo de garoto que ficava com várias garotas da escola, mas também não era tão santo, porque depois que o chegou na escola, ficou meio... "desandado". Mas não seria isso que faria eu desgostar do Antony.
— E você, ? — Sue perguntou referente ao seu irmão. Eu não gostava de expor tanto, mas realmente precisava falar o que tinha rolado na noite da festa. Não só com seu irmão.
— Então...
— Ah, calma! Momento da Cami! — Tati interrompeu e eu fiquei com vergonha. — E vocês... é... fizeram alguma coisa? — perguntou curiosa.
— Não, Tati! Não mesmo! — Cami pareceu nervosa e então ela sentou-se. — Acho que ainda sou muito nova para isso.
— Você tem dezesseis, Cami — Tati acrescentou, o que achei estranho. — Não que isso signifique algo.
— Tati, você ainda é virgem? — perguntei. Eu costumava ser direta com as pessoas, o que era duas uma: ou ela gaguejava (que significava verdade), ou ela negava e morria a história.
— Nossa, ! — ela riu nervosa. — Que pergunta?
— Tati, se não for, ok — falei e ela mordeu o lábio nervosa. — Ninguém aqui irá te julgar e na verdade, nós somos amigas!
— Eu não sou — ela confessou e olhou bem para nós, para ver nossa reação e o que fizemos foi olhar com cara de segundas intenções para ela. — Parem! Parem já! — ela riu e então jogou-se na cama. — Aconteceu no último verão. Foi com um primo meu, quando fui passar férias na casa de praia da minha avó.
— E como foi? — perguntei curiosa, me aproximando. Estava curiosa. Só.
— Bom — ela simplesmente respondeu. — Todo mundo coloca tanta expectativa, mas na verdade não é tão legal assim, pelo menos a primeira vez. As próximas passam a ser gostosas, porque você começa a sentir realmente prazer.
— Eu quero sentir isso! — Cami revirou os olhos, o que nos fez rir. — Será que Antony já...?
— Eu duvido que não! — falou Tati. — A maioria desses garotos já passou a cobrinha deles por aí. Inclusive a do seu morador, deve estar caindo agora mesmo.
— Que? — perguntei confusa porque ela olhava fixamente para mim. — A Sue está demorando muito, ou seja, deve estar em algum cômodo da sua casa, perdida com o seu priminho — Tati riu e eu engoli seco.
Não sei porque a hipótese me deixou incomodada. Não que não pudesse viver a vida dele, muito pelo contrário, Sue era a minha amiga e ele não podia simplesmente viver a vida dele enganando uma amiga minha. Que ele não presta, eu sempre soube!
— Vou atrás da Sue — coloquei meus chinelo slide de pelinhos e comecei andar em direção à saída do quarto.
— Se ela realmente estiver em algum momento íntimo, ? — Louise andou até a mim falando mais baixo e ignorando minhas amigas. Ela mordeu o lábio tensa e eu suspirei nervosa. — Você vai simplesmente assistir, atrapalhar? Não é melhor deixar para lá?
— Não.
Então saí do meu quarto, fechando a porta em seguida. A primeira coisa que fiz foi abrir a porta do quarto de que estava escorada. Não havia ninguém lá dentro e ainda assim entrei para conferir o banheiro.
O quarto de era uma zona. Havia roupas espalhadas pelo chão e pela cadeira da mesa que em cima tinha várias anotações, cadernos e havia um porta retrato. Um único porta retrato em pé no meio de toda aquela zona. Era uma mulher entre dois garotos e um deles era . Estavam todos sentados em um sofá simples, na qual o garoto usava uma camisa do Palmeiras, a mulher do São Paulo e do Corinthians. Provavelmente ele deve ter herdado esse amor pelo time por causa do papi que é tio dele.
E mais uma vez fugi do foco principal. Encontrar Sue.
Meu coração estava apertado e eu não sabia porquê. Deve ser o suspense de ver algo ilícito! Certeza que sim!
Caminhei para a porta novamente e desci as escadas em silêncio. Será que eu estava em um filme de terror? "A patricinha sempre morre no começo" era o que meu cérebro gritava, mas FOCO! A casa estava em silêncio e não havia sinal de ninguém por ali.
Andei até a sala e nada, vazia, televisão desligada. Fui até a cozinha e a luz estava acesa, mas sem ninguém ali também. Encostei-me na mesa, pensando em ir até a piscina. Com certeza Sue estava lá e não estava em casa.
Me preparei para ir até a porta dos fundos até que ouvi barulhos de estalos vindos da lavanderia, cômodo após a cozinha, que tinha a porta. Andei um pouco mais adiante e então de relance vi que Sue estava sentada em cima da máquina de lavar que estava funcionando e estava encaixado entre as pernas dela, já sem camisa, apenas de calças jeans.
Sue estava usando suas calças pretas, mas já estava sem camiseta, apenas de sutiã e parte das calças abertas. Eles se beijavam tão... ferozes, que eu fiquei um pouco constrangida. Deveria ter ouvido minhas amigas e não simplesmente ignorado. Poderia evitar ver esse tipo de coisa e...
Droga!
Senti meu braço tocar em alguma coisa e então ouvi o barulho da moringa de cristal da mami espatifar pelo chão da cozinha. Me escondi atrás da geladeira onde ninguém iria me ver e então pude ouvir que os dois pararam de fazer aqueles malditos estalos.
— Quem será? — ouvi Sue perguntar, mas não ouvi a resposta.
— ? — ? Ele nunca me chamava assim! Aonde foi parar o "boneca"? — Alguém?
— Será que alguém viu a gente? — ela riu baixinho e ele acompanhou o riso, saindo da lavanderia e entrando na cozinha.
Tentei me esconder, me apertar ainda mais em direção à parede, mas a única coisa que eu fiz, foi fazer a geladeira se mexer e os dois ficarem em silêncio. Não queria que eles me vissem de forma alguma!!! Seria como... a vergonha do século.
— Eu vou recolher essa bagunça e tenho certeza que a Leonor vai ficar um pouco chateada pela moringa — ele disse, voltando para a lavanderia e vi que ele jogou a camiseta para Sue.
— Acho que eu já vou embora — ela falou, percebi que estava um pouco sem graça. — Deixei minhas coisas aqui embaixo, você pode avisar para a ?
— Posso.
Ela simplesmente deu um "tchauzinho" de longe e então foi até a sala pegar sua bolsa, fechando a porta logo em seguida.
Agora eu precisava de uma maneira de sair dali despercebida, mas eu precisava esperar terminar de pegar do chão, os cacos de cristal que eu havia quebrado. Se eu corresse quando ele estivesse dentro da lavanderia? Será que daria tempo de ele não me ver? Será que eu não faria barulho demais?
— Pode sair de trás da geladeira, boneca — ele disse e eu fiquei espantada. Como? — Eu sei que você está aí! — Meu Deus, agora tudo que eu queria era que o chão abrisse e então eu sumisse para o centro da terra. — ? Por favor, não sejamos infantis.
Suspirei e fiz o que ele estava falando. Ele estava em pé em frente ao armário, segurando a vassoura e a pá. Ele estava sem camisa, revelando suas tatuagens absurdamente lindas e o botão da sua calça aberto, deixando o jeans caído e mostrando sua cueca branca.
— O que você estava fazendo aqui? — perguntou escorando na vassoura. Ele não parecia nervoso, apenas tinha um semblante exausto.
— Eu vim tomar água e ouvi o que vocês estavam fazendo — engoli seco, cruzando os braços em frente aos meus seios. — Inclusive muito inapropriado.
— Olha, boneca...
— — frisei o meu nome. Não queria que ele me chamasse daquele jeito depois do que vi e ouvi. — Foi assim que você acabou de me chamar.
— Sério, boneca — insistiu —, desculpa pelo que você viu aqui — ele falou sem graça, passando a mão esquerda pelo cabelo, bagunçando-o. — Ainda mais com uma amiga sua, e...
— Não quero suas explicações, — suspirei, virando de costas para ele. — E para você é , como eu disse no primeiro dia que te conheci. Odeio que me chame de boneca.
E então mais uma vez engoli um bolo de coisas com dificuldade. Já conseguia sentir meu nariz arder, mas ainda não entendia tamanha angústia dentro de mim.
A sala do papi era o local mais apropriado para mim agora, por isso foi lá que me tranquei e foi lá que fiquei durante resto do dia, dedilhando algumas notas no piano, tentando manter minha cabeça ocupada.
Capítulo 9 - Seguindo Em Frente
— Bom dia! — cumprimentei todos que estavam à mesa e sentei em meu lugar.
Nico comia o cereal com leite enquanto jogava em um tablet. Meu pai olhava o celular, minha mãe lia um livro e só comia.
As frutas que eu mais gostava já estavam cortadas em meu prato, junto com algumas torradas e requeijão. Ninguém ali parecia se importar com a presença de ninguém, por isso finalizei meu café da manhã e andei até a sala, onde eu havia deixado minha bolsa.
— Papi, vou com Durval a partir de hoje, ok? — avisei já dando as costas para a saída.
— Espera aí, mocinha — ele parou de olhar para o celular e mami também estava com a atenção voltada para mim, assim como . — E o que conversei com você sobre ficar com o carro e vocês irem juntos?
— Não acho que seja mais uma boa — fiz bico em uma falsa mentira. — Prefiro Durval, papi. O não dirige muito bem, eu quase vomitei no Jeep semana passada por isso.
— É mentira! — protestou, mas papi não ia acreditar nele. Ele sabia disso.
— Acho que poderia continuar com o Jeep, não me importo que ele use, mas prefiro Durval — por favor, papi, não me faça implorar mais uma vez!
— Tudo bem, meu amor — ele levantou-se para me dar um beijo e eu aproveitei para abraçá-lo.
— Tchau, mami. Amo vocês — disse beijando sua bochecha.
Caminhei para a saída de carros e entrei no carro com Durval. Era a coisa certa a fazer: manter distância de . Não queria ter que lidar com ele nunca mais em toda a minha vida.
Cheguei na escola no horário de sempre e caminhei pelo pátio, onde a maioria dos alunos já estavam. Tati e Cami sentaram em uma das mesinhas do centro, onde outros garotos aproveitavam para conversar.
Antony ficou em pé ao lado de Cami, mas não tinha nenhuma demonstração de carinho; Tati falava mais do que o homem da cobra com todos da mesa, como sempre. Me juntei a eles e percebi que até Dani estava sentado em uma das pontas, trocando papo com o pessoal.
— A rainha do Paulo da Cunha chegou! — Ric, o cara mais chato da turma, que não largou do meu pé durante dois anos seguidos falou e eu apenas sorri falsa.
— Você sumiu ontem, — Tati falou um pouco cautelosa. — O que houve?
— Papi pediu um favor no escritório e eu fui fazer, só que estava morrendo de sono e acabei dormindo — dei de ombros, colocando meus materiais em cima da mesa.
— falou mesmo que você tinha se trancado no escritório e que Sue tinha ido embora — Cami mexi no celular, mas prestava atenção em tudo.
Antes que eu pudesse me sentar, entrou pelos portões da escola, fazendo com que várias meninas olhassem para ele. Realmente ele era um cara de tirar o fôlego, pois era mais velho, usava roupas descoladas e era extremamente bonito.
O sonho de todas era ver ele jogando futebol sem camisa, mas ele não dava esse tipo de brechas. Deixava cada uma com mais vontade ainda de presenciar aquele corpo escultural.
Ele estava como sempre: usava as típicas calças pretas, all star, camiseta branca, jaqueta de couro e uma bandana vermelha pendurada no bolso detrás. Seus cabelos estavam molhados, tinha lápis de olho borrado e andava completamente despretensioso pelo pátio, até chegar a nossa mesa.
Cumprimentou todos com toques de mão, e parou ao meu lado. Ele sempre com aquele maldito cheiro cítrico como se tivesse acabado com o frasco de perfume em um uso apenas.
— Vocês não vinham juntos? — perguntou Antony, apontando para mim e para .
— Sim — ele passou o braço pelo meu ombro. — Mas a boneca decidiu que não queria mais caronas e prefere vir com o motorista, não é, boneca? — ele acariciou minha bochecha com seus dedos.
— Tira a mão de mim, — empurrei seu braço e andei para outra direção, mas ele segurou-me encurralando para que nossos amigos não conseguissem ouvir nossa conversa. — O que você quer? Da para me deixar em paz?
— Eu já pedi desculpas por ontem, boneca.
— E o que eu já disse sobre me chamar assim? — apenas tirei sua mão de meu braço e ele parou sobre uma das pernas.
— Você nunca se incomodou — disse fazendo uma careta. — Nunca se incomodou com meu toque e nem com o apelido, achei até que gostasse.
— Novidade, : eu odeio! — bati palma no ar, querendo fugir dele.
— Ei, espera aí — ele abriu um sorriso e eu o encarei perdida. — Você está com ciúme! Não, só pode ser!
— Ciúme? Ah, faça-me o favor, — irritei-me ainda mais, se é que era possível. — Eu com ciúme de você! Há!
— Boneca, nós não estamos em um relacionamento sério, ok? Não precisa ficar com ciúme, só...
Por mais que fosse verdade, aquilo me chateou. Me livrei dele, deixei que falasse sozinho. Contornei a mesa e fiquei de frente para Daniel, que agora parava de conversar com os outros meninos e olhava para mim, parada a sua frente. Muitas pessoas começaram a observar e então eu encarei , que com dúvida observava meus movimentos.
Não que eu estivesse fazendo alguma coisa para provar para ele, mas eu estava a fim de beijar Daniel e aquela parecia a oportunidade perfeita, além de humilhar o egocentrismo de .
Passei as mãos pelos cabelos de Daniel e antes que ele pudesse fazer qualquer pergunta, colei nossos lábios, pedindo passagem com a língua. Comecei a ouvir gritos e senti as mãos do garoto segurando com firmeza minha cintura.
Ele tinha gosto de melancia. Não era meu sabor favorito, mas que ele beijava muito bem, isso de fato era verdade. Depois de mais gritarias, me separei dele e então ajeitei meu cabelo. Ele sorriu estourando uma bola com seu chiclete. Passei os dedos sob meus lábios e ele fez o mesmo em sua boca, com um sorriso lascivo.
Peguei minhas coisas que estavam em cima da mesa antes que algum inspetor visse o que eu havia acabado de aprontar e então segui em direção ao corredor de salas. ainda estava parado no mesmo local e passei esbarrando de propósito.
— Acho que isso não é atitude de uma garota com ciúme, é? — pisquei, voltando a andar em direção às salas, deixando ele ali com cara de tacho.
💖
As aulas não demoraram a passar. Matemática era como sempre a minha parte favorita e eu tinha planos de cursar economia. Seria legal poder tomar as rédeas da empresa de papi e então continuar seu império. Acho que ele ficaria orgulhoso da minha atual ideia!
Fiquei esperando Durval por cerca de trinta minutos, mas ele não apareceu. Sempre que eu chegava no portão ele estava ali, mas hoje não havia acontecido isso; o que me deixou preocupada.
O tempo não estava muito quente apesar de fazer sol; o vento gelado batia nas minhas bochechas, o que tenho certeza que estava deixando-as mais ressecadas. Quando chegasse em casa eu iria lavar o rosto com um sabonete hidratante e passar algum creme também hidratante para evitar que ficasse com uma aparência estranha.
— Boneca? O que está fazendo aqui ainda? — perguntou passando por mim. Ele estava segurando uma das alças da sua mochila que estava jogada nas costas.
— Não sei, Durval ficou de me buscar, mas está atrasado tem meia hora — disse olhando novamente para a hora em meu celular. — Será que aconteceu alguma coisa grave?
— Não sei, mas eu posso te levar para casa, se você quiser — ele disse, ficando de costas para a rua.
Eu poderia aceitar a carona, mas eu não queria ficar no mesmo ambiente que . Muito menos em um ambiente tão pequeno quanto um carro. Olhar para ele me trazia lembranças muito quentes, então era algo que eu tinha que evitar. Mas ficar ali na frente da escola, sem saber o que aconteceu com Durval, parecia pior. E se ele por algum motivo não viesse?
— ? — ouvi outra voz vindo atrás de mim e virei-me reconhecendo Daniel.
Não tinha falado com ele depois da cena do pátio. Acho que precisávamos conversar sobre aquele ato exibicionista, mas eu não sabia como falar para ele.
— Você está indo para casa? — perguntou e eu virei para encarar que estava agora olhando para ele. — Poderíamos bater um papo? Claro, se não for te atrapalhar em nada.
— Pode ser — ajeitei minha bolsa no ombro. — , depois eu ligo para o Durval me buscar ou peço um uber, tá? Pode levar meus cadernos para casa?
— Beleza — respondeu pegando as coisas das minhas mãos e saindo de onde eu estava em direção ao estacionamento da escola.
— Quer ir aonde? — comecei caminhar ao lado de Dani, não sei exatamente para onde estávamos indo.
— Que tal se fôssemos assistir algum filme? — perguntou desconfiado e eu ri. — Ou então algum parque? Eu não sei. Fazia tempo que eu não chamava uma garota para sair.
— Então isso é um encontro? — perguntei rindo mas de nervoso.
— Consideravelmente se você quiser, sim — ele sorriu e então me estendeu a mão.
Pegamos um ônibus quase em frente à escola que eu não fazia ideia de onde ir, mas alguns minutos depois paramos no início da Avenida Paulista e entramos no parque do Trianon.
Eu não sabia que os ônibus de São Paulo eram cheios daquela forma e Dani ainda disse que eram mais cheios em horários de "pico" e aconteciam brigas por espaço. Assustador.
O parque era muito arborizado, mas também com tantas construções em volta, o mínimo era manter aquele espaço um pouco verde.
Sentamos em um banquinho que tinha mais próximo da entrada e então ficamos conversando sobre trivialidades de São Paulo que eu não fazia o mínimo que acontecia. Em que estado eu morava?
Eu não sabia que tinha tantas linhas de trem e metrô que iam para tantos lugares diferentes e demoravam horas. Tinha uma linha que ia até o aeroporto de Guarulhos!!!
Nem sempre estudar em uma escola particular durante a vida inteira, te faz uma pessoa cem por centro inteligente; se você vive apenas dentro dos muros que são criados ao seu redor e não faz o mínimo esforço para sair, você está conhecendo o mundo errado, igual eu conheço; na verdade conheço só o meu próprio mundo.
— Na próxima oportunidade, vou te levar até lá — Dani falou, assim que comentamos sobre o Beco do Batman. — Você vai adorar!
— Certo! — me escorei em seu ombro, juntando as mãos nas pernas. — Acho que deveríamos voltar, não quero que fique tão tarde.
— Ah, beleza! — Dani se levantou primeiro, estendendo sua mão para mim. — Acabamos falando de tantas coisas que não falamos sobre nós — ele riu e eu fiquei tensa. — Eu te acho linda e gosto de você, . Não vou te pedir em namoro, até termos certeza dos nossos sentimentos. Se os seus sentimentos não forem como os meus por você, eu quero saber, assim como eu vou te dizer.
Não respondi, apenas fiquei de ponta de pés para juntar nossos lábios. Dani era um garoto maravilhoso, não tinha do que reclamar e tenho certeza que meus pais iriam adora-lo.
Pedi para que Durval fosse nos buscar e em questão de vinte minutos ele chegou. Primeiro deixou Dani, depois nos levou para casa.
Era quase 17h quando chegamos e a primeira coisa que eu fiz foi subir para o meu quarto. Havia alguém usando meu banheiro e só de ver a porta do quarto da frente aberta, eu sabia quem era.
— ! — gritei e empurrei a porta do banheiro.
Ele estava na minha banheira com uma toalha enrolada na cabeça, uma meleca branca na cara e pepinos nos olhos. Tinha uma taça de champanhe em mãos e velas acesas na beirada da banheira.
— O que você está fazendo de novo aqui? — perguntei confusa, escorando no batente da porta. — O papi mandou consertar seu chuveiro pelo que bem me lembro.
— Eu não tenho uma banheira e queria relaxar dentro de uma — disse tomando o líquido da sua taça. — Fora seus produtos que são ótimos!
— , você está usando meu creme de pepino? — peguei a embalagem quase vazia. — Isso é caríssimo! Você não precisa disso.
— Nem você, com essa pele de pêssego — ele continuava relaxado na banheira, como se quem não quisesse sair.
— Se eu tenho pele de pêssego, é porque eu uso ele, né? , faça o favor? Eu preciso tomar banho! — tirei a tiara que eu usava no cabelo e coloquei em cima do balcão.
— Pode entrar, ainda está quente a água — ele sentou-se melhor, como se estivesse me dando passagem para compartilhar o banho com ele.
— Para de ser maluco, ! — cruzei os braços na frente do corpo. — Se você não sair nesse momento da banheira, eu vou gritar a Gertrudes e acho que ela não vai gostar de ver você aqui!
Ele tirou os pepinos dos olhos e largou a taça no suporte do lado da banheira, ficando em pé com as mãos na cintura. Ele estava completamente pelado, na minha frente.
Fechei os olhos querendo gritar, mas tentei evitar o máximo, mandando ele se cobrir logo ou eu iria definitivamente gritar por ajuda.
— Se você pegar a toalha que está ao seu lado, eu posso até pensar em esconder alguma coisa — provocou e eu abri apenas um olho, puxando a toalha.
Caminhei até ele para lhe entrega a toalha e esperei que ele levantasse a mão para pagá-la, mas ele não fez nenhum movimento, ficou apenas em silêncio.
Abri meus olhos e ele estava com a máscara branca no rosto, tentando não rir de mim. Segurou a toalha e saiu de dentro da banheira, enrolando em volta de seu quadril, tampando da cintura para baixo.
— Como foi o encontro? — perguntou penteando os cabelos na frente do espelho, perguntando como se não importasse, mas eu sabia que ele estava curioso. Começou a lavar o rosto, tirando todo o creme que havia passado.
— Normal — eu respondi o necessário e ele riu. O que eu falei de tão engraçado? — O que foi?
Percebi que ele tinha algumas marcas nas costelas e algumas tatuagens cobriam. Estranhei, porque aquilo não estava ali quando eu o vi quase pelado da última vez.
— Nada — colocou o pente de volta na bancada.
— , o que é isso na sua costela? — toquei o roxo que havia visto e ele se encolheu, reclamando de dor. — Você se meteu em alguma briga? — Claro que não — ele cruzou os braços tentando esconder. — Eu bati, não é nada de mais.
— ? — segurei seus braços, querendo ver novamente e ele segurou minhas mãos. — Você apanhou de alguém! Foi da escola? Se foi podemos dar um jeito, a pessoa não pode ficar em pune assim.
— , não foi nada — falou novamente. — Você pode ficar fora disso? Você nem se importa comigo assim para dar chilique!
Seus olhos estavam perdidos e então balançou a cabeça reprovando minha atitude. Qual delas eu não sei. E então se retirou do meu banheiro e do meu quarto, trancando-se na porta da frente.
Havia alguma coisa errada acontecendo, e algo me dizia que não era nada bom.
Nico comia o cereal com leite enquanto jogava em um tablet. Meu pai olhava o celular, minha mãe lia um livro e só comia.
As frutas que eu mais gostava já estavam cortadas em meu prato, junto com algumas torradas e requeijão. Ninguém ali parecia se importar com a presença de ninguém, por isso finalizei meu café da manhã e andei até a sala, onde eu havia deixado minha bolsa.
— Papi, vou com Durval a partir de hoje, ok? — avisei já dando as costas para a saída.
— Espera aí, mocinha — ele parou de olhar para o celular e mami também estava com a atenção voltada para mim, assim como . — E o que conversei com você sobre ficar com o carro e vocês irem juntos?
— Não acho que seja mais uma boa — fiz bico em uma falsa mentira. — Prefiro Durval, papi. O não dirige muito bem, eu quase vomitei no Jeep semana passada por isso.
— É mentira! — protestou, mas papi não ia acreditar nele. Ele sabia disso.
— Acho que poderia continuar com o Jeep, não me importo que ele use, mas prefiro Durval — por favor, papi, não me faça implorar mais uma vez!
— Tudo bem, meu amor — ele levantou-se para me dar um beijo e eu aproveitei para abraçá-lo.
— Tchau, mami. Amo vocês — disse beijando sua bochecha.
Caminhei para a saída de carros e entrei no carro com Durval. Era a coisa certa a fazer: manter distância de . Não queria ter que lidar com ele nunca mais em toda a minha vida.
Cheguei na escola no horário de sempre e caminhei pelo pátio, onde a maioria dos alunos já estavam. Tati e Cami sentaram em uma das mesinhas do centro, onde outros garotos aproveitavam para conversar.
Antony ficou em pé ao lado de Cami, mas não tinha nenhuma demonstração de carinho; Tati falava mais do que o homem da cobra com todos da mesa, como sempre. Me juntei a eles e percebi que até Dani estava sentado em uma das pontas, trocando papo com o pessoal.
— A rainha do Paulo da Cunha chegou! — Ric, o cara mais chato da turma, que não largou do meu pé durante dois anos seguidos falou e eu apenas sorri falsa.
— Você sumiu ontem, — Tati falou um pouco cautelosa. — O que houve?
— Papi pediu um favor no escritório e eu fui fazer, só que estava morrendo de sono e acabei dormindo — dei de ombros, colocando meus materiais em cima da mesa.
— falou mesmo que você tinha se trancado no escritório e que Sue tinha ido embora — Cami mexi no celular, mas prestava atenção em tudo.
Antes que eu pudesse me sentar, entrou pelos portões da escola, fazendo com que várias meninas olhassem para ele. Realmente ele era um cara de tirar o fôlego, pois era mais velho, usava roupas descoladas e era extremamente bonito.
O sonho de todas era ver ele jogando futebol sem camisa, mas ele não dava esse tipo de brechas. Deixava cada uma com mais vontade ainda de presenciar aquele corpo escultural.
Ele estava como sempre: usava as típicas calças pretas, all star, camiseta branca, jaqueta de couro e uma bandana vermelha pendurada no bolso detrás. Seus cabelos estavam molhados, tinha lápis de olho borrado e andava completamente despretensioso pelo pátio, até chegar a nossa mesa.
Cumprimentou todos com toques de mão, e parou ao meu lado. Ele sempre com aquele maldito cheiro cítrico como se tivesse acabado com o frasco de perfume em um uso apenas.
— Vocês não vinham juntos? — perguntou Antony, apontando para mim e para .
— Sim — ele passou o braço pelo meu ombro. — Mas a boneca decidiu que não queria mais caronas e prefere vir com o motorista, não é, boneca? — ele acariciou minha bochecha com seus dedos.
— Tira a mão de mim, — empurrei seu braço e andei para outra direção, mas ele segurou-me encurralando para que nossos amigos não conseguissem ouvir nossa conversa. — O que você quer? Da para me deixar em paz?
— Eu já pedi desculpas por ontem, boneca.
— E o que eu já disse sobre me chamar assim? — apenas tirei sua mão de meu braço e ele parou sobre uma das pernas.
— Você nunca se incomodou — disse fazendo uma careta. — Nunca se incomodou com meu toque e nem com o apelido, achei até que gostasse.
— Novidade, : eu odeio! — bati palma no ar, querendo fugir dele.
— Ei, espera aí — ele abriu um sorriso e eu o encarei perdida. — Você está com ciúme! Não, só pode ser!
— Ciúme? Ah, faça-me o favor, — irritei-me ainda mais, se é que era possível. — Eu com ciúme de você! Há!
— Boneca, nós não estamos em um relacionamento sério, ok? Não precisa ficar com ciúme, só...
Por mais que fosse verdade, aquilo me chateou. Me livrei dele, deixei que falasse sozinho. Contornei a mesa e fiquei de frente para Daniel, que agora parava de conversar com os outros meninos e olhava para mim, parada a sua frente. Muitas pessoas começaram a observar e então eu encarei , que com dúvida observava meus movimentos.
Não que eu estivesse fazendo alguma coisa para provar para ele, mas eu estava a fim de beijar Daniel e aquela parecia a oportunidade perfeita, além de humilhar o egocentrismo de .
Passei as mãos pelos cabelos de Daniel e antes que ele pudesse fazer qualquer pergunta, colei nossos lábios, pedindo passagem com a língua. Comecei a ouvir gritos e senti as mãos do garoto segurando com firmeza minha cintura.
Ele tinha gosto de melancia. Não era meu sabor favorito, mas que ele beijava muito bem, isso de fato era verdade. Depois de mais gritarias, me separei dele e então ajeitei meu cabelo. Ele sorriu estourando uma bola com seu chiclete. Passei os dedos sob meus lábios e ele fez o mesmo em sua boca, com um sorriso lascivo.
Peguei minhas coisas que estavam em cima da mesa antes que algum inspetor visse o que eu havia acabado de aprontar e então segui em direção ao corredor de salas. ainda estava parado no mesmo local e passei esbarrando de propósito.
— Acho que isso não é atitude de uma garota com ciúme, é? — pisquei, voltando a andar em direção às salas, deixando ele ali com cara de tacho.
As aulas não demoraram a passar. Matemática era como sempre a minha parte favorita e eu tinha planos de cursar economia. Seria legal poder tomar as rédeas da empresa de papi e então continuar seu império. Acho que ele ficaria orgulhoso da minha atual ideia!
Fiquei esperando Durval por cerca de trinta minutos, mas ele não apareceu. Sempre que eu chegava no portão ele estava ali, mas hoje não havia acontecido isso; o que me deixou preocupada.
O tempo não estava muito quente apesar de fazer sol; o vento gelado batia nas minhas bochechas, o que tenho certeza que estava deixando-as mais ressecadas. Quando chegasse em casa eu iria lavar o rosto com um sabonete hidratante e passar algum creme também hidratante para evitar que ficasse com uma aparência estranha.
— Boneca? O que está fazendo aqui ainda? — perguntou passando por mim. Ele estava segurando uma das alças da sua mochila que estava jogada nas costas.
— Não sei, Durval ficou de me buscar, mas está atrasado tem meia hora — disse olhando novamente para a hora em meu celular. — Será que aconteceu alguma coisa grave?
— Não sei, mas eu posso te levar para casa, se você quiser — ele disse, ficando de costas para a rua.
Eu poderia aceitar a carona, mas eu não queria ficar no mesmo ambiente que . Muito menos em um ambiente tão pequeno quanto um carro. Olhar para ele me trazia lembranças muito quentes, então era algo que eu tinha que evitar. Mas ficar ali na frente da escola, sem saber o que aconteceu com Durval, parecia pior. E se ele por algum motivo não viesse?
— ? — ouvi outra voz vindo atrás de mim e virei-me reconhecendo Daniel.
Não tinha falado com ele depois da cena do pátio. Acho que precisávamos conversar sobre aquele ato exibicionista, mas eu não sabia como falar para ele.
— Você está indo para casa? — perguntou e eu virei para encarar que estava agora olhando para ele. — Poderíamos bater um papo? Claro, se não for te atrapalhar em nada.
— Pode ser — ajeitei minha bolsa no ombro. — , depois eu ligo para o Durval me buscar ou peço um uber, tá? Pode levar meus cadernos para casa?
— Beleza — respondeu pegando as coisas das minhas mãos e saindo de onde eu estava em direção ao estacionamento da escola.
— Quer ir aonde? — comecei caminhar ao lado de Dani, não sei exatamente para onde estávamos indo.
— Que tal se fôssemos assistir algum filme? — perguntou desconfiado e eu ri. — Ou então algum parque? Eu não sei. Fazia tempo que eu não chamava uma garota para sair.
— Então isso é um encontro? — perguntei rindo mas de nervoso.
— Consideravelmente se você quiser, sim — ele sorriu e então me estendeu a mão.
Pegamos um ônibus quase em frente à escola que eu não fazia ideia de onde ir, mas alguns minutos depois paramos no início da Avenida Paulista e entramos no parque do Trianon.
Eu não sabia que os ônibus de São Paulo eram cheios daquela forma e Dani ainda disse que eram mais cheios em horários de "pico" e aconteciam brigas por espaço. Assustador.
O parque era muito arborizado, mas também com tantas construções em volta, o mínimo era manter aquele espaço um pouco verde.
Sentamos em um banquinho que tinha mais próximo da entrada e então ficamos conversando sobre trivialidades de São Paulo que eu não fazia o mínimo que acontecia. Em que estado eu morava?
Eu não sabia que tinha tantas linhas de trem e metrô que iam para tantos lugares diferentes e demoravam horas. Tinha uma linha que ia até o aeroporto de Guarulhos!!!
Nem sempre estudar em uma escola particular durante a vida inteira, te faz uma pessoa cem por centro inteligente; se você vive apenas dentro dos muros que são criados ao seu redor e não faz o mínimo esforço para sair, você está conhecendo o mundo errado, igual eu conheço; na verdade conheço só o meu próprio mundo.
— Na próxima oportunidade, vou te levar até lá — Dani falou, assim que comentamos sobre o Beco do Batman. — Você vai adorar!
— Certo! — me escorei em seu ombro, juntando as mãos nas pernas. — Acho que deveríamos voltar, não quero que fique tão tarde.
— Ah, beleza! — Dani se levantou primeiro, estendendo sua mão para mim. — Acabamos falando de tantas coisas que não falamos sobre nós — ele riu e eu fiquei tensa. — Eu te acho linda e gosto de você, . Não vou te pedir em namoro, até termos certeza dos nossos sentimentos. Se os seus sentimentos não forem como os meus por você, eu quero saber, assim como eu vou te dizer.
Não respondi, apenas fiquei de ponta de pés para juntar nossos lábios. Dani era um garoto maravilhoso, não tinha do que reclamar e tenho certeza que meus pais iriam adora-lo.
Pedi para que Durval fosse nos buscar e em questão de vinte minutos ele chegou. Primeiro deixou Dani, depois nos levou para casa.
Era quase 17h quando chegamos e a primeira coisa que eu fiz foi subir para o meu quarto. Havia alguém usando meu banheiro e só de ver a porta do quarto da frente aberta, eu sabia quem era.
— ! — gritei e empurrei a porta do banheiro.
Ele estava na minha banheira com uma toalha enrolada na cabeça, uma meleca branca na cara e pepinos nos olhos. Tinha uma taça de champanhe em mãos e velas acesas na beirada da banheira.
— O que você está fazendo de novo aqui? — perguntei confusa, escorando no batente da porta. — O papi mandou consertar seu chuveiro pelo que bem me lembro.
— Eu não tenho uma banheira e queria relaxar dentro de uma — disse tomando o líquido da sua taça. — Fora seus produtos que são ótimos!
— , você está usando meu creme de pepino? — peguei a embalagem quase vazia. — Isso é caríssimo! Você não precisa disso.
— Nem você, com essa pele de pêssego — ele continuava relaxado na banheira, como se quem não quisesse sair.
— Se eu tenho pele de pêssego, é porque eu uso ele, né? , faça o favor? Eu preciso tomar banho! — tirei a tiara que eu usava no cabelo e coloquei em cima do balcão.
— Pode entrar, ainda está quente a água — ele sentou-se melhor, como se estivesse me dando passagem para compartilhar o banho com ele.
— Para de ser maluco, ! — cruzei os braços na frente do corpo. — Se você não sair nesse momento da banheira, eu vou gritar a Gertrudes e acho que ela não vai gostar de ver você aqui!
Ele tirou os pepinos dos olhos e largou a taça no suporte do lado da banheira, ficando em pé com as mãos na cintura. Ele estava completamente pelado, na minha frente.
Fechei os olhos querendo gritar, mas tentei evitar o máximo, mandando ele se cobrir logo ou eu iria definitivamente gritar por ajuda.
— Se você pegar a toalha que está ao seu lado, eu posso até pensar em esconder alguma coisa — provocou e eu abri apenas um olho, puxando a toalha.
Caminhei até ele para lhe entrega a toalha e esperei que ele levantasse a mão para pagá-la, mas ele não fez nenhum movimento, ficou apenas em silêncio.
Abri meus olhos e ele estava com a máscara branca no rosto, tentando não rir de mim. Segurou a toalha e saiu de dentro da banheira, enrolando em volta de seu quadril, tampando da cintura para baixo.
— Como foi o encontro? — perguntou penteando os cabelos na frente do espelho, perguntando como se não importasse, mas eu sabia que ele estava curioso. Começou a lavar o rosto, tirando todo o creme que havia passado.
— Normal — eu respondi o necessário e ele riu. O que eu falei de tão engraçado? — O que foi?
Percebi que ele tinha algumas marcas nas costelas e algumas tatuagens cobriam. Estranhei, porque aquilo não estava ali quando eu o vi quase pelado da última vez.
— Nada — colocou o pente de volta na bancada.
— , o que é isso na sua costela? — toquei o roxo que havia visto e ele se encolheu, reclamando de dor. — Você se meteu em alguma briga? — Claro que não — ele cruzou os braços tentando esconder. — Eu bati, não é nada de mais.
— ? — segurei seus braços, querendo ver novamente e ele segurou minhas mãos. — Você apanhou de alguém! Foi da escola? Se foi podemos dar um jeito, a pessoa não pode ficar em pune assim.
— , não foi nada — falou novamente. — Você pode ficar fora disso? Você nem se importa comigo assim para dar chilique!
Seus olhos estavam perdidos e então balançou a cabeça reprovando minha atitude. Qual delas eu não sei. E então se retirou do meu banheiro e do meu quarto, trancando-se na porta da frente.
Havia alguma coisa errada acontecendo, e algo me dizia que não era nada bom.
Capítulo 10 - Hospital
O final de semana foi silencioso dentro de casa. Papi estava o tempo todo ocupado em seu escritório e mami não havia saído de seu consultório. Aparentemente seus clientes estavam dando mais trabalho do que ela imaginava.
Eu tentava a todo custo me concentrar na leitura de Dom Casmurro, mas parecia que pensamentos surgiam a todo o momento e eu não conseguia me concentrar em uma única página por completo. O hóspede do quarto da frente era um grande motivo para isso acontecer.
Falando nele, tinha sumido. Confesso que sentia falta dele alguns momentos, mas dentro do quarto ele ficou e não ouvi saindo durante o resto da noite e nem durante o dia de sábado.
Gertrudes estava preocupada. Não sei o que esse garoto tinha feito com ela para que ela gostasse tanto dele a ponto de perguntar a todo minuto e falar dele sempre que me via. Até que ela não aguentou e em meio ao meu almoço sagrado decidiu que iria até o quarto dele, mas sem sucesso, não foi atendida.
— Você poderia tentar conversar com ele e ver se ele come alguma coisinha, né, ? — disse ela pegando uma bandeja.
— Ger, não me mete nessa — revirei os olhos. — Se ele não falou com você, quem diria comigo?
— Você poderia ao menos tentar?
Eu não conseguia negar nada a ela e por isso peguei a bandeja com o prato de comida bem saudável que ela havia feito e subi as escadas em direção ao quarto dele. Bati duas vezes e nada.
— Você bem que poderia ser um pouco legal e abrir a porta, né? — parei sobre um dos pés e nenhuma resposta. — A Ger tá bem preocupada.
Até que parei de falar e tentei girar a maçaneta, que estava incrivelmente aberta. Ele nunca deixava aberta. Algo errado estava acontecendo, por isso entrei no quarto que estava completamente escuro. Com as mãos, procurei a mesa do quarto e deixei ali em cima a bandeja.
Por conta do silêncio, conseguia ouvir a respiração de vindo da cama e então ao invés de ligar a luz, abri uma parte da cortina.
Ele estava deitado de bruços, aparentemente muito coberto para um dia que não estava muito frio. Me aproximei e toquei suas costas, vendo que sua temperatura estava muito elevada.
— O que foi, boneca? — sua voz estava rouca e eu me assustei.
— Você está muito quente.
— As meninas costumam dizer isso — ele riu sínico e eu bufei.
— É sério, o que você tem? Está trancado aqui desde ontem à tarde, não está comendo — sentei-me na ponta da cama e ele se remexeu para olhar para mim. — A Ger está bem preocupada.
— Só não estou muito disposto — ele abriu um sorriso tímido. Seus olhos estavam inchados de sono, assim como seu rosto estava marcado do travesseiro. — Quando eu ficava assim, mami sempre me levava ao médico — falei ficando em pé. — Eu vou te levar no médico. Me ajude!
— Médico? — ele jogou-se mais uma vez na cama. — Não mesmo, .
Liguei a luz e peguei uma camisa que estava jogada em cima da cadeira do computador. Andei até a cama e o puxei pela mão. Em meio a reclamações ele ficou sentado e eu passei a blusa pela sua cabeça e os braços com sua ajuda.
— Suas calças? — perguntei olhando em minha volta e encontrando uma calça de moletom no canto. — Acho que você pode vestir sozinho.
— Boneca, sem chance de irmos ao hospital — ele disse. — Não tem nada de mais, beleza? Eu só...
— Você apanhou, não vou insistir em como, de quem, ou porquê. Só quero que você fique bem e olha — apontei para ele — você não está nada bem. Só faz o que eu tô te pedindo? E por favor, para de andar ou mexer com o que for que te cause isso?
— Você está preocupada, boneca? — ele ficou em pé e andou em minha direção. Segurou minhas mãos e entrelaçou nossos dedos. — Queria poder... Vamos para o hospital se é importante para você.
Ele pegou sua blusa de moletom e colocou um tênis qualquer e então segurou as chaves do carro entre os dedos. Descemos sem que Gertrudes percebesse e pegamos o Jeep na entrada de carros. Ele foi dirigindo, insistiu que estava bem para se manter acordado e em menos de cinco minutos estávamos no hospital onde eu ia quando não estava bem.
— A consulta deve ser uma fortuna, boneca, acho melhor irmos em um público — ele falou parando na recepção do hospital.
— Você precisa de atendimento rápido, , e eu não quero que espere muito para isso — andei até a moça da recepção. — Oi, é... Ele não está se sentido bem, com febre.
— Convênio?
— Particular — falei entregando meu documento do hospital. — Pode colocar na conta do meu papi.
— Vou ter que entrar em contato com ele pedindo autorização — ela falou pegando o telefone.
Aguardamos uns minutos e papi quase surtou do outro lado perguntando se havia algo de errado comigo, por fim, ele liberou para passar no médico, mas não parecia muito preocupado.
Ele foi examinado, mandado para uma tomografia por conta dos hematomas espalhados pelo seu corpo e foi constatado que uma de suas costelas estava trincada e inflamada, por isso a febre alta. O médico passou alguns remédios, mandou ter repouso e que não se metesse em "brigas de adolescentes" nos próximos dias, ou pioraria sua situação.
— Se precisar de alguma ajuda por conta da fratura, pode me chamar — falei na porta do meu quarto segurando a maçaneta, vendo ele no meio do corredor.
— Você já fez muito por mim hoje, boneca — encostou-se no batente da minha porta. — Desculpa pelo modo que falei ontem com você. Só acho que você não merece estar envolvida na minha vida complicada.
— Acho que eu já sou uma das complicações — falei rindo e ele me acompanhou.
— Você não faz ideia do quanto.
💖
Segunda feira era um dia feliz para mim, afinal, vinha de um dia tedioso que era domingo e então eu me sentia reiniciada em uma nova semana. Não entendo pessoas que não gostam desse dia em específico.
Escolhi uma saia curta jeans e uma camiseta mais larga. Coloquei meu saltinho médio e peguei minhas coisas. Meus óculos espelhados azuis estavam na minha cabeça e meu cabelo loiro estava solto com algumas ondulações nas pontas.
Tomei um café bem tranquilo ouvindo mami falar com alguns funcionários do seu consultório e papi falar sobre a empresa e que teria um grande evento dali há um mês.
Até que ele apareceu. Se aquele garoto não era um deus grego, não sei que tipo de entidade ele era.
Seus cabelos estavam secos, perfeitamente lisos e penteados. Usava uma blusa preta de mangas 3/4 com botões até a metade do peito, e gola V. Usava calças pretas e o famoso all star.
— Bom dia! — sentou-se ao meu lado, parecendo muito melhor do que o dia anterior.
— Bom dia, querido! — mami cumprimentou e ele sorriu. — Como você está?
— Graças à , estou bem — disse piscando para mim e papi reprovou o gesto. Ele não estava com cara de bons amigos, muito menos parecia feliz em ver que estava bem. — Obrigado, boneca.
Ele abriu um sorriso gostoso para mim, na qual tenho certeza que qualquer garota se derreteria, mas eu não era desse tipo de garota. Eu não sabia se ainda estava com raiva dele, sei lá, fiquei realmente com pena de ver ele ontem doente; mas eu... Confesso que não sabia sobre o que eu sentir em relação à cena do sextape dele com a Suelen.
— Boneca? — papi quase gritou do começo da mesa, olhando ele irritado. Eu quase pulei da cadeira, porque minha mente estava em outra dimensão. — Quem te deu o direito e a intimidade de falar assim com a ?
— Papi, calma — eu falei, mas na realidade eu não sabia o que dizer.
O que eu ia dar como desculpa? Não tinha motivo para ele me chamar desse jeito, se não fosse a intimidade que eu dei a ele, mesmo que no fim, por estar com raiva dele, pedi para que não me chamasse daquele jeito. E também porque eu estava acostumada com isso.
— Tranquilo, Ângelo — tomou a frente e eu fiquei atenta. Queria saber qual desculpa ele daria. — Eu só chamo a assim, porque ela realmente se parece com uma Barbie. Sem intimidade, afinal, você sabe como eu sou, né?
Papi não estava nenhum pouco feliz com a sua ousadia e eu também não estava nenhum pouco calma. Mami estava assim como eu: apenas observando e rapidamente capitei que por mais que estivesse vivendo conosco, papi estava sendo obrigado por algum motivo a "suportar" ele ali.
E como o é? Fiquei pensando. Até que ele me chamou, disse que estava indo para escola e que daria uma carona se eu quisesse; por isso, antes que papi falasse algo, eu fiquei de pé e sai da mesa.
Aquele dia parecia muito estranho, porque ele estava tão quieto quanto eu, e o som do carro estava desligado. gostava de ouvir alguns rocks e amava programas de futebol, mas parecia aéreo.
Eu não queria puxar assunto, para mim estava tudo ok. Decidi respeitar seu espaço até chegarmos à escola, e ele parar na frente sem desligar o carro.
— Você não vem? — perguntei curiosa, já tirando o cinto de segurança.
— Preciso resolver umas coisas — respondeu colocando os óculos escuros. — Se precisar, me liga.
Apenas balancei a cabeça. Quis voltar e pedir para que ele tomasse cuidado, mas ele já não estava mais lá parado; podia ver o Jeep no final da rua, dobrando a esquina.
Eu precisava descobrir em que estava metido, pois boa coisa não era e se precisasse, eu iria envolver papi na história, porque eu sabia que ele podia ajudar.
Voltei meus passos em direção à escola, tentando organizar a saia do meu conjuntinho desatenta. Havia uma faixa de aviso na qual muitos alunos olhavam e falavam sobre algo.
PAULO DA CUNHA APRESENTA:
LEILÃO BENEFICENTE
Mais informações na reunião geral as 10h no auditório no dia 15/03.
Eu estava muito curiosa para saber qual era a novidade que a escola estava trazendo para nós, e então mal consegui me concentrar na aula de matemática, e quando deu 10h, eu já estava no auditório com as minhas amigas.
— Bom dia, Paulo da Cunha! — a diretora falou do palco, enquanto mais jovens chegavam e se acomodavam pelo auditório. — Nós estamos com um novo projeto para a chegada do inverno, que consiste em ajudar pessoas carentes. Colocaremos uma caixa no pátio para a campanha do agasalho. Por fim, faremos um leilão! Um leilão de encontros!
— Encontros? — ouvi varias vozes perguntando dentro do auditório.
— Calma, eu vou explicar — ela acalmou o alvoroço que virou. — Alguns estudantes vão se candidatar e faremos o dia do leilão, lembrando que é para garotos e garotas, viu? Quem der o maior lance, irá ter um encontro com a pessoa, com tudo pago pelo Paulo da Cunha. Ah, e todo valor arrecadado será revertido para o abrigo que temos aqui perto da escola, que auxilia pessoas carentes e moradores de rua.
— Esse evento é muito machista! — gritou uma garota da ponta.
— E não toleramos nenhum tipo de preconceito! Estamos organizando esse evento para animar a escola, inclusive o terceiro ano que se forma logo no final do ano, e também por uma boa causa, que é ajudar o próximo! — a diretora complementou, e eu olhei para as minhas amigas que pareciam muito animadas. — Preciso de alguns voluntários para organização. Quem pode ficar responsável pela lista de inscrição?
— Eu! — fiquei em pé e gritei. Foi quando me surpreendi. Eu?
— ficará responsável pela inscrição dos alunos do que terão um encontro leiloado, então procurem ela! — a diretora me entregou uma prancheta junto com uma ficha. — Quem será responsável pela organização do evento? Preciso de 5 pessoas.
E a reunião continuou enquanto a diretora organizava os grupos para organizar o evento, como decoração, música comida, e afins. Eu amava essa escola e ainda mais eventos para ajudar pessoas carentes, por mais estranho que fosse leiloar um encontro.
Na saída da escola, me despedi das minhas amigas e peguei meu celular, em dúvida se deveria ligar para o ou se deveria falar com Durval para me buscar. Depois de mandar uma mensagem para o meu "inquilino", guardei o celular e comecei a pensar no evento que estávamos organizando.
Eu tentava a todo custo me concentrar na leitura de Dom Casmurro, mas parecia que pensamentos surgiam a todo o momento e eu não conseguia me concentrar em uma única página por completo. O hóspede do quarto da frente era um grande motivo para isso acontecer.
Falando nele, tinha sumido. Confesso que sentia falta dele alguns momentos, mas dentro do quarto ele ficou e não ouvi saindo durante o resto da noite e nem durante o dia de sábado.
Gertrudes estava preocupada. Não sei o que esse garoto tinha feito com ela para que ela gostasse tanto dele a ponto de perguntar a todo minuto e falar dele sempre que me via. Até que ela não aguentou e em meio ao meu almoço sagrado decidiu que iria até o quarto dele, mas sem sucesso, não foi atendida.
— Você poderia tentar conversar com ele e ver se ele come alguma coisinha, né, ? — disse ela pegando uma bandeja.
— Ger, não me mete nessa — revirei os olhos. — Se ele não falou com você, quem diria comigo?
— Você poderia ao menos tentar?
Eu não conseguia negar nada a ela e por isso peguei a bandeja com o prato de comida bem saudável que ela havia feito e subi as escadas em direção ao quarto dele. Bati duas vezes e nada.
— Você bem que poderia ser um pouco legal e abrir a porta, né? — parei sobre um dos pés e nenhuma resposta. — A Ger tá bem preocupada.
Até que parei de falar e tentei girar a maçaneta, que estava incrivelmente aberta. Ele nunca deixava aberta. Algo errado estava acontecendo, por isso entrei no quarto que estava completamente escuro. Com as mãos, procurei a mesa do quarto e deixei ali em cima a bandeja.
Por conta do silêncio, conseguia ouvir a respiração de vindo da cama e então ao invés de ligar a luz, abri uma parte da cortina.
Ele estava deitado de bruços, aparentemente muito coberto para um dia que não estava muito frio. Me aproximei e toquei suas costas, vendo que sua temperatura estava muito elevada.
— O que foi, boneca? — sua voz estava rouca e eu me assustei.
— Você está muito quente.
— As meninas costumam dizer isso — ele riu sínico e eu bufei.
— É sério, o que você tem? Está trancado aqui desde ontem à tarde, não está comendo — sentei-me na ponta da cama e ele se remexeu para olhar para mim. — A Ger está bem preocupada.
— Só não estou muito disposto — ele abriu um sorriso tímido. Seus olhos estavam inchados de sono, assim como seu rosto estava marcado do travesseiro. — Quando eu ficava assim, mami sempre me levava ao médico — falei ficando em pé. — Eu vou te levar no médico. Me ajude!
— Médico? — ele jogou-se mais uma vez na cama. — Não mesmo, .
Liguei a luz e peguei uma camisa que estava jogada em cima da cadeira do computador. Andei até a cama e o puxei pela mão. Em meio a reclamações ele ficou sentado e eu passei a blusa pela sua cabeça e os braços com sua ajuda.
— Suas calças? — perguntei olhando em minha volta e encontrando uma calça de moletom no canto. — Acho que você pode vestir sozinho.
— Boneca, sem chance de irmos ao hospital — ele disse. — Não tem nada de mais, beleza? Eu só...
— Você apanhou, não vou insistir em como, de quem, ou porquê. Só quero que você fique bem e olha — apontei para ele — você não está nada bem. Só faz o que eu tô te pedindo? E por favor, para de andar ou mexer com o que for que te cause isso?
— Você está preocupada, boneca? — ele ficou em pé e andou em minha direção. Segurou minhas mãos e entrelaçou nossos dedos. — Queria poder... Vamos para o hospital se é importante para você.
Ele pegou sua blusa de moletom e colocou um tênis qualquer e então segurou as chaves do carro entre os dedos. Descemos sem que Gertrudes percebesse e pegamos o Jeep na entrada de carros. Ele foi dirigindo, insistiu que estava bem para se manter acordado e em menos de cinco minutos estávamos no hospital onde eu ia quando não estava bem.
— A consulta deve ser uma fortuna, boneca, acho melhor irmos em um público — ele falou parando na recepção do hospital.
— Você precisa de atendimento rápido, , e eu não quero que espere muito para isso — andei até a moça da recepção. — Oi, é... Ele não está se sentido bem, com febre.
— Convênio?
— Particular — falei entregando meu documento do hospital. — Pode colocar na conta do meu papi.
— Vou ter que entrar em contato com ele pedindo autorização — ela falou pegando o telefone.
Aguardamos uns minutos e papi quase surtou do outro lado perguntando se havia algo de errado comigo, por fim, ele liberou para passar no médico, mas não parecia muito preocupado.
Ele foi examinado, mandado para uma tomografia por conta dos hematomas espalhados pelo seu corpo e foi constatado que uma de suas costelas estava trincada e inflamada, por isso a febre alta. O médico passou alguns remédios, mandou ter repouso e que não se metesse em "brigas de adolescentes" nos próximos dias, ou pioraria sua situação.
— Se precisar de alguma ajuda por conta da fratura, pode me chamar — falei na porta do meu quarto segurando a maçaneta, vendo ele no meio do corredor.
— Você já fez muito por mim hoje, boneca — encostou-se no batente da minha porta. — Desculpa pelo modo que falei ontem com você. Só acho que você não merece estar envolvida na minha vida complicada.
— Acho que eu já sou uma das complicações — falei rindo e ele me acompanhou.
— Você não faz ideia do quanto.
Segunda feira era um dia feliz para mim, afinal, vinha de um dia tedioso que era domingo e então eu me sentia reiniciada em uma nova semana. Não entendo pessoas que não gostam desse dia em específico.
Escolhi uma saia curta jeans e uma camiseta mais larga. Coloquei meu saltinho médio e peguei minhas coisas. Meus óculos espelhados azuis estavam na minha cabeça e meu cabelo loiro estava solto com algumas ondulações nas pontas.
Tomei um café bem tranquilo ouvindo mami falar com alguns funcionários do seu consultório e papi falar sobre a empresa e que teria um grande evento dali há um mês.
Até que ele apareceu. Se aquele garoto não era um deus grego, não sei que tipo de entidade ele era.
Seus cabelos estavam secos, perfeitamente lisos e penteados. Usava uma blusa preta de mangas 3/4 com botões até a metade do peito, e gola V. Usava calças pretas e o famoso all star.
— Bom dia! — sentou-se ao meu lado, parecendo muito melhor do que o dia anterior.
— Bom dia, querido! — mami cumprimentou e ele sorriu. — Como você está?
— Graças à , estou bem — disse piscando para mim e papi reprovou o gesto. Ele não estava com cara de bons amigos, muito menos parecia feliz em ver que estava bem. — Obrigado, boneca.
Ele abriu um sorriso gostoso para mim, na qual tenho certeza que qualquer garota se derreteria, mas eu não era desse tipo de garota. Eu não sabia se ainda estava com raiva dele, sei lá, fiquei realmente com pena de ver ele ontem doente; mas eu... Confesso que não sabia sobre o que eu sentir em relação à cena do sextape dele com a Suelen.
— Boneca? — papi quase gritou do começo da mesa, olhando ele irritado. Eu quase pulei da cadeira, porque minha mente estava em outra dimensão. — Quem te deu o direito e a intimidade de falar assim com a ?
— Papi, calma — eu falei, mas na realidade eu não sabia o que dizer.
O que eu ia dar como desculpa? Não tinha motivo para ele me chamar desse jeito, se não fosse a intimidade que eu dei a ele, mesmo que no fim, por estar com raiva dele, pedi para que não me chamasse daquele jeito. E também porque eu estava acostumada com isso.
— Tranquilo, Ângelo — tomou a frente e eu fiquei atenta. Queria saber qual desculpa ele daria. — Eu só chamo a assim, porque ela realmente se parece com uma Barbie. Sem intimidade, afinal, você sabe como eu sou, né?
Papi não estava nenhum pouco feliz com a sua ousadia e eu também não estava nenhum pouco calma. Mami estava assim como eu: apenas observando e rapidamente capitei que por mais que estivesse vivendo conosco, papi estava sendo obrigado por algum motivo a "suportar" ele ali.
E como o é? Fiquei pensando. Até que ele me chamou, disse que estava indo para escola e que daria uma carona se eu quisesse; por isso, antes que papi falasse algo, eu fiquei de pé e sai da mesa.
Aquele dia parecia muito estranho, porque ele estava tão quieto quanto eu, e o som do carro estava desligado. gostava de ouvir alguns rocks e amava programas de futebol, mas parecia aéreo.
Eu não queria puxar assunto, para mim estava tudo ok. Decidi respeitar seu espaço até chegarmos à escola, e ele parar na frente sem desligar o carro.
— Você não vem? — perguntei curiosa, já tirando o cinto de segurança.
— Preciso resolver umas coisas — respondeu colocando os óculos escuros. — Se precisar, me liga.
Apenas balancei a cabeça. Quis voltar e pedir para que ele tomasse cuidado, mas ele já não estava mais lá parado; podia ver o Jeep no final da rua, dobrando a esquina.
Eu precisava descobrir em que estava metido, pois boa coisa não era e se precisasse, eu iria envolver papi na história, porque eu sabia que ele podia ajudar.
Voltei meus passos em direção à escola, tentando organizar a saia do meu conjuntinho desatenta. Havia uma faixa de aviso na qual muitos alunos olhavam e falavam sobre algo.
LEILÃO BENEFICENTE
Mais informações na reunião geral as 10h no auditório no dia 15/03.
Eu estava muito curiosa para saber qual era a novidade que a escola estava trazendo para nós, e então mal consegui me concentrar na aula de matemática, e quando deu 10h, eu já estava no auditório com as minhas amigas.
— Bom dia, Paulo da Cunha! — a diretora falou do palco, enquanto mais jovens chegavam e se acomodavam pelo auditório. — Nós estamos com um novo projeto para a chegada do inverno, que consiste em ajudar pessoas carentes. Colocaremos uma caixa no pátio para a campanha do agasalho. Por fim, faremos um leilão! Um leilão de encontros!
— Encontros? — ouvi varias vozes perguntando dentro do auditório.
— Calma, eu vou explicar — ela acalmou o alvoroço que virou. — Alguns estudantes vão se candidatar e faremos o dia do leilão, lembrando que é para garotos e garotas, viu? Quem der o maior lance, irá ter um encontro com a pessoa, com tudo pago pelo Paulo da Cunha. Ah, e todo valor arrecadado será revertido para o abrigo que temos aqui perto da escola, que auxilia pessoas carentes e moradores de rua.
— Esse evento é muito machista! — gritou uma garota da ponta.
— E não toleramos nenhum tipo de preconceito! Estamos organizando esse evento para animar a escola, inclusive o terceiro ano que se forma logo no final do ano, e também por uma boa causa, que é ajudar o próximo! — a diretora complementou, e eu olhei para as minhas amigas que pareciam muito animadas. — Preciso de alguns voluntários para organização. Quem pode ficar responsável pela lista de inscrição?
— Eu! — fiquei em pé e gritei. Foi quando me surpreendi. Eu?
— ficará responsável pela inscrição dos alunos do que terão um encontro leiloado, então procurem ela! — a diretora me entregou uma prancheta junto com uma ficha. — Quem será responsável pela organização do evento? Preciso de 5 pessoas.
E a reunião continuou enquanto a diretora organizava os grupos para organizar o evento, como decoração, música comida, e afins. Eu amava essa escola e ainda mais eventos para ajudar pessoas carentes, por mais estranho que fosse leiloar um encontro.
Na saída da escola, me despedi das minhas amigas e peguei meu celular, em dúvida se deveria ligar para o ou se deveria falar com Durval para me buscar. Depois de mandar uma mensagem para o meu "inquilino", guardei o celular e comecei a pensar no evento que estávamos organizando.
Capítulo 11 - Gabriel
Cheguei em casa um pouco mais cedo junto com Louise e joguei minhas coisas no canto da sala. Depois eu organizaria e então subiria para o meu quarto estudar; minha fome era maior do que tudo naquele momento. Vozes vinham da cozinha e assim que entrei fiquei surpresa em ver Sue ali, junto com e Gertrudes. Tentei não parecer tão vermelha, porque diziam que era como eu ficava quando nervosa e então sorri.
Por mais que eu não quisesse, eu sorri.
Sue estava sentada ao lado de na bancada da cozinha e compartilhavam de um almoço junto com Gertrudes, que ao me ver ficou de pé abandonando seu prato, totalmente disposta a me atender.
— ! — ela sorriu carinhosa e eu me aproximei, dando um abraço apertado nela. — Trouxe a mesma mocinha daquele dia? Como está? — perguntou para Louise, que lhe respondeu sorridente. — O que vocês vão querer comer?
— Ah... O que você fez? — perguntei abrindo as panelas e ela veio atrás de mim.
— Fiz carne de panela — ela abriu uma das tampas e o cheiro maravilhoso subiu pelo meu nariz. — pediu para que eu fizesse e acabo de descobrir que é o prato favorito da sua amiga.
Amiga? Sue estava há quase uma semana sem falar comigo.
— Eu vou querer. Vamos fazer os pratos, Lou — abri o armário pegando dois pratos e entregando um para a garota.
— Me lembrou a comida da minha avó — minha nova amiga disse assim que chegou perto do fogão.
Pedi para Gertrudes voltar a comer que eu mesma me organizaria fazendo meu prato. Puxei o celular e comecei a abrir e fechar vários APPs como se estivesse fazendo alguma coisa muito interessante enquanto aguardava Louise terminar.
— É... ? — ouvi a voz de Sue e então a encarei, esperando o que ela iria dizer, mas provavelmente seria algumas desculpas ruins. — Tudo bem se fizermos mais um pouco do trabalho hoje?
— Preciso estudar com a Lou — respondi. — Se quiser, podemos fazer depois — pisquei.
E com o prato feito, fomos comer na mesa da sala de jantar. Depois do almoço, tentei organizar minha escrivaninha, mas em vão, estava tudo um caos. Abrimos os cadernos e começamos revendo alguns exercícios que o Professor Manuel havia passado para então fazermos os exercícios da apostila.
Alguns minutos depois, Sue entrou no quarto e estava falando com alguém no celular. No final mandou um "tchau, maninho", e piscou para mim.
— Meu irmão está com saudades — ela avisou guardando o celular no bolso da frente da bolsa e sorri.
Ainda não sei como me sinto sobre o que vi de e Sue, mas não consigo trata-la mal. Pareceu algo tão errado e ainda é algo que me incomoda muito, o que me deixa um tanto frustrada, pois não sei o motivo de sentir isso.
Falando no Dani, eu não havia o visto desde o dia em que saímos, nem mesmo batemos papo sobre o que estava acontecendo. Acho que não tinha necessidade sobre isso em nosso pseudo relacionamento. Primeiro, eu tinha um trabalho para finalizar e só de pensar me dava dor de cabeça.
— Será que conseguimos finalizar hoje o trabalho? — perguntei sentando no meu puf de salto.
— Não sei, acho que ainda não — falou tirando seu caderno da mochila. — As meninas vão desistir do trabalho?
— Não — pensei por alguns minutos. — Por quê?
— Porquê estamos fazendo o trabalho sozinhas, só nós três — tentei lembrar as vezes que fizemos o trabalho e ela tinha razão. — E eu não acho justo colocar o nome delas sem fazer nada.
— Mas elas sempre estão em meu grupo! — protestei, porque é realmente verdade.
— Você sempre faz os trabalhos sozinha?
Então parei para pensar e sim, fazia sentido. Eu faço os trabalhos e no fim as meninas corrigem e mandam de volta. Mas nunca entendi o tipo de correção que elas faziam, pois aparentava ser a mesma coisa.
— Pelo jeito sim e elas se aproveitam — Louise respondeu suspirando antes que eu respondesse alguma coisa.
— Porém dessa vez será diferente, Barbie — Sue acrescentou. — Nós não vamos colocar o nome delas e terão uma surpresa no dia de entrega!
— Não sei se é certo, Sue. Elas são minhas amigas!
— Elas NÃO são suas amigas, Barbie. Elas estão usando você é isso que não é certo! — ela me encarou derrotada e sentou-se na cadeira da escrivaninha. — Eu sei que nós não somos grandes amigas, mas eu gosto de você.
Não respondi.
Talvez ela estivesse errada, talvez ela tivesse razão, mas eu não estava preparada para admitir certas coisas. A vida estava muito simples para isso, portanto apenas balancei a cabeça e fiquei de pé, indo até a mesa e abrindo minhas anotações.
Finalmente conseguimos concluir o trabalho. Ficamos mais tempo em silêncio do que conversando e depois apenas juntamos as nossas ideias, que deu um texto até que bom.
Sue era muito boa, Louise nem se fala!
— Só tenho dificuldades com cálculos, mas nada de muito grave — Sue disse depois que a elogiei.
— Você sabia que a barbiezinha aí é um gênio, né? — comentou Louise. — Estou conseguindo entender graças a ela.
Elas estavam me ajudando muito com o trabalho de literatura, não seria ruim oferecer ajuda com os números, já que eu era muito boa. E ajudar uma amiga era bom, pensei. Mas também pensei nela e no . Poxa, por que logo ela? E mais uma vez aquele sentimento estranho cresceu em mim. Aquilo não era algo normal em , jamais. Eu nunca me senti assim antes e só de perder o "controle" da minha vida, me dava vontade de comer minhas unhas.
— Eu posso ajudar se quiser — suspirei, tentando me apegar ao fio de sanidade e ela então confusa, abriu um sorriso. Talvez até pensasse o mesmo, mas talvez não quisesse incomodar.
— Sério mesmo? — perguntou e eu assenti. — Então vou querer sim. Quando podemos começar?
— Ah, eu não sei, talvez...
Até que eu ouvi uma gritaria vindo do lado de fora do meu quarto. Parecia ser a voz de papi e , mas eles não costumavam nem se falar, quem dirá um gritar com o outro!
Abri a porta do quarto no mesmo momento em que ele bateu a porta em frente à minha, que tenho certeza que quase derrubou o batente. Papi estava na ponta do corredor passando as mãos pela cabeça, extremamente nervoso. Eu nunca o tinha visto daquela forma e ele parecia fora de si, começando pelo seu tom de voz. Desceu as escadas rápido e eu continuei ali parada tentando entender o que tinha acontecido.
— Acho melhor eu ir — Sue falou atrás de mim, já com a mochila nas costas. — Nos falamos depois, pode ser?
— Acho que eu também vou — Louise falou. — Minha mochila está lá embaixo, né?
Continuei durante uns cinco minutos escorada no batente da minha porta e pensei entre descer e falar com papi ou bater na porta da frente, mas percebi que estava destrancada e entrei o mais silenciosamente possível, fechando atrás de mim.
estava no banheiro. Ele xingava baixo enquanto a água da torneira se esvaia pelo ralo. Puxou uma toalha e saiu com o rosto molhado, com alguns hematomas e sangue. Pousou seus olhos em mim e em seguida bufou.
— O que você quer, ? — jogou-se na cama, secando o rosto e ao mesmo tempo reclamando de dor.
— O que houve? — perguntei me aproximando. — Papi quem fez isso?
Ele não respondeu.
— Não quero falar sobre isso — disse sem emoção alguma.
Deitei-me ao seu lado, respeitando o espaço que havia entre nós. Eu não sabia o que deveria dizer, mas ainda permaneci encarando ele.
— Esses dias eu vi aquela foto de cima da escrivaninha — apontei, trocando de assunto. Ele olhou para onde eu indiquei e não desviou os olhos. — É a sua mãe?
Antes que me respondesse, ele pensou. O silêncio era o que mais me incomodava, mas era algo que eu precisava respeitar caso eu quisesse me aproximar o suficiente de .
— Sim, minha mãe e meu irmão, Gabriel.
Gabriel?
Gabriel!
Então ele era irmão do e segundo a conversa que meus pais tiveram aquele dia, precisava supera-lo. O que ele havia feito? Ou o que poderia ter acontecido com ele?
Acho que começou a sair fumacinha da minha cabeça pensante, pois me encarava esperando que eu falasse alguma coisa, mas eu não havia pronunciado nada.
— Pelo que bem te conheço, você deve estar se perguntando o que aconteceu e afins. Mas não quero falar sobre isso, boneca — ele suspirou, e tive vontade de abraçá-lo. — Acho que você deveria ir para seu quarto, porque seu pai não vai ficar contente se te ver aqui e não quero tomar outro soco.
Senti vontade de chorar. Papi não poderia ter feito aquilo com e eu não queria sair dali, porque tudo que eu mais queria era ficar... ali! Me aproximei e aconcheguei-me em seu corpo, encaixando meu rosto em seu pescoço. Passei uma das minhas pernas pelas suas pernas e meu braço pelo seu peitoral. Senti sua mão envolver minha cintura e me puxar para mais perto.
— Meu irmão tinha tudo para virar jogador profissional, sabe? — falou, chamando minha atenção. Achei que tivéssemos finalizado esse assunto por hora. — Ele tinha apoio da minha mãe e até apoio do nosso pai, mas ele se meteu com quem não deveria e acabou perdendo chances — suspirou. — Se eu pudesse mudar tudo, eu mudaria, mas tudo é tão confuso, boneca. Queria poder fazer melhor e olha quem eu estou me tornando.
Não quis falar nada, assim como ele preferiu ficar quieto, eu iria respeitar os limites dele por mais curiosa que eu estivesse. Ficar ali no calor dos seus braços era simplesmente uma delícia e assim, acabei adormecendo.
Capítulo 12 - Leilão
A lista de nomes para o leilão crescia cada dia mais e os nomes mais requisitado para participação eram de Antony, Daniel, Ricardo e ninguém menos que . A escola inteira parecia participar por conta deles e quem não se inscrevia, perguntava deles.
Os meninos estavam aceitando participar "por uma boa causa" — diziam eles. Eu ainda tentava constantemente convence-lo a participar e me ajudar, mesmo que falasse para todas as garotas (e alguns garotos) que ele iria estar presente e seria um dos cobiçados a disputa.
Por fim, chegou o grande dia do leilão, e as pessoas responsáveis pela organização e decoração, buffet, limpeza, música e arte estavam correndo para finalizar tudo antes do horário que havia sido marcado.
Eu não estava diferente: estava organizando as plaquinhas com nomes das pessoas que participariam do leilão — um total de 10 pessoas. Nem todo mundo quis participar, pois era cobrado a taxa de inscrição de R$100,00 por participação, mas pelo menos seria menos dinheiro gasto das arrecadações.
Quando terminamos tudo, os alunos começaram a chegar e aproveitei a oportunidade para retocar minha maquiagem, ajeitar o vestido e respirar fundo, pois eu iria apresentar o leilão!
Eu usava um vestido Skazi branco de frente única até a metade das coxas. Ele fazia um laço em frente ao pescoço, dispensando uso de colares. Meu cabelo estava dividido ao meio, e liso escorrido atrás das orelhas, e brincos de argola completavam meu look junto com uma Jimmy Choo com uma pérola em cima dos dedos.
Voltei para o ginásio de esportes e muitas pessoas já estavam me aguardando na mesa do leilão. Entreguei a placa para alguns candidatos que já haviam chego, que eram cinco garotas e cinco garotos. E entreguei a placa de "comprei" para as pessoas que iam dar os seus lances e uma folha de regras que eu havia produzido junto com Sue.
— Lembrando que só serão válidos lances autorizados pelos pais em cima do valor de mensalidade da escola, ok? — avisei cada um que pegava uma das plaquinhas.
— Ei, organizadora — olhei para trás encontrando .
Como sempre ele estava perfeito. Camisa branca, calças pretas, botas e jaqueta de couro. O cabelo muito bem alinhado e lápis de olho. Agora tinha uma novidade: um piercing na cartilagem da orelha e um brinco de cruz. Quando ele tinha furado a orelha?
— Pode me dar minha plaquinha? — pediu e eu apenas sorri.
— Obrigada por fazer isso, é muito importante para a caridade — agradeci prendendo a placa em sua camisa branca. Por mais que eu tivesse pagado a inscrição dele, ainda assim me sentia agradecida.
— Tenho quase certeza de que não irá dar muito dinheiro — ele deu de ombros organizando a roupa depois que voltei a me sentar. — Mas vale a tentativa.
Depois de 1h, quando o ginásio já estava consideravelmente cheio, pedi para que alguém me substituísse na mesa para que eu desse início às boas vindas. Peguei um dos microfones e subi no palco improvisado.
— Olá, alunos do Paulo da Cunha! — falei recebendo vários gritos de volta. — Sejam muito bem-vindos ao nosso leilão beneficente! Todos os valores que forem arrecadados, serão destinados ao lar de acolhimento de crianças carentes. O que estão achando até agora?
Mais gritos puderam ser ouvidos e tentei dar uma descontraída com as pessoas sobre a comida estar uma delícia e coisas do tipo.
— Vamos lá, agora falando sobre o leilão: varia no valor de R$50,00 à R$1.000,00. Esses foram os valores autorizados pelos seus pais e então depositados a quantia para a escola, lembrando do valor de mensalidade; isso está escrito no papel que eu entreguei para vocês: tem seu nome, com as informações necessárias para que você saiba o quanto pode gastar e claro, ser estrategista. Se houver um empate, teremos que fazer dois encontros, ou três, quem sabe? — alguns riram e eu pigarreei. — Agora vou apresentar os leiloados, começando pelas meninas!
Quatro das cinco garotas entraram no palco formando uma fila e ficaram todas viradas para a plateia, porém eu estranhei. Cami. Tati. Duda. Liz.
— Cadê a Suellen? — sussurrei para as minhas amigas e elas reviraram os olhos.
— Ela foi barrada — Cami respondeu risonha. — Ela se inscreveu, mas não pagou a taxa.
— Por quem? Quem está organizando isso aqui sou eu — estava a ponto de surtar, mas respirei fundo e voltei para o microfone. — Parece que uma das participantes desistiu, pessoal, então teremos apenas quatro garotas! Começando por Camila, que ama animais e quer fazer veterinária! — ela acenou para as pessoas que variam palma. — Segunda, Tatiana, que quer prestar vestibular para medicina! — essa também acenou. — Eduarda ou Duda, que sonha em ser uma blogueira de sucesso — ela jogou beijos para a plateia. — E por último, mas não menos importante Liz, que sonha em fazer sucesso com sua banda de rock!
Todos receberam as garotas bem e logo em seguida anunciei que era a vez dos meninos e a gritaria foi ainda maior, pois as meninas os aguardavam ansiosamente.
— Antony, que não sabe o que vai fazer! — todos riram, mas ainda assim aplaudiram. — Dani tem o sonho de ser astronauta ainda! — rimos e batemos palma. — Ricardo quer seguir os negócios da família! — mais gritos. — Guigo, quer ser advogado! — esperei cessar os gritos. — E por último: ! Ele ainda não sabe o que a vida espera, mas ele acredita que tudo pode ser mutável!
As meninas gritavam eufóricas, enquanto ele apenas sorria apertado pelo canto da boca. Ele estava tímido e isso o deixava vermelho.
— Enfim, garotada! Vou dar início ao leilão e não esqueçam das regras!
E por fim, comecei anunciando Antony, que foi leiloado por R$200 de uma menina do oitavo ano. Depois Cami, que foi por R$300 de um garoto nerd do terceiro ano, que ela não gostou nenhum pouco. Dani saiu por R$350, afinal ele era um pedaço de mal caminho, até tentei dar um valor, mas fui desbancada por uma garota de outra turma. Tati recebeu uma proposta de R$200 de Antony e todos gargalharam, mas ele quem arrematou. Duda foi vendida apenas por R$100 que era o único valor que a namorada dela tinha e outros não quiseram interromper o romance. Ricardo foi vendido por R$300, o que deixou todo mundo em choque quando duas garotas brigavam de 50 em 50 e tinham a mesma quantidade de dinheiro, resumindo dois encontros. Liz era bisexual, por isso foi vendida por um rapaz e uma garota, totalizando R$700 reais a briga. Guigo foi arrematado apenas por R$100, por uma garota do nono ano.
— E finalmente, ! — eu segurei a mão dele e levei até o meio do palco onde todos ficaram quando foram anunciados. — Quem dá R$100?
— 100! — gritou Suelen do canto direito e eu fiquei confusa. Ela não tinha como pagar a matrícula, o que estava fazendo?
— Alguém da mais? — perguntei.
— 300! — uma menina do nono ano falou.
— 400! — um garoto falou do fundo e sorriu.
— Mil reais! — a menina do nono ano repetiu e todos bateram palmas.
— Ofereço o mesmo! — o garoto cruzou os braços, voltando-se para o palco. — Acho que temos um empate, .
— Cinco mil! — ouvindo do fundo do salão, em seguida um burburinho por conta do valor alto e encontrei uma mulher loira caminhando até o palco. – Dou-lhe uma, dou-lhe duas... Acho que você é meu!
Ela era linda! Tinha a cintura fina, pernas longas e busto avantajado igual a bunda. Eu estava um pouco surpresa, porque 5 mil de uma mulher mais velha pelo ? E realmente ela havia arrematado ele, afinal, ele é maior de idade!
— Vendido — falei ainda um tanto chocada.
— Isso é injusto, honey — o garoto falou embaixo do palco. — Acho que também merecemos o encontro!
Olhei pra e ele apenas sorriu, dando de ombros. Meu estômago fez um barulhinho. Acho que era fome, afinal, eu não me importava também e por isso anunciei que por conta de imprevistos, seria o encontro triplo. Ele não estava nenhum pouco incomodado em sair três vezes, a produção também não.
Por fim, a festa seguiu e eu poderia ter me divertido mais, porém as meninas estavam com outros caras por aí e acabei sozinha, próximo à mesa de inscrição. Pelo menos eu estava satisfeita por tudo ter saído perfeito, como havia planejado. Estava um pouco cabisbaixa; todo mundo parecia se divertir completamente, com suas amigas, com seus namorados, crush's ou não sei, e eu estava ali sozinha. Será que eu era uma pessoa ruim? Ninguém nunca reclamou de mim, e acho que isso estava me afetando, por mais que nunca veio incomodar.
💖
Desci do carro na garagem de casa. Meus pais haviam saído mais cedo do leilão, e eu fiquei — mesmo que sozinha — um pouco mais. Não sei para onde eles tinham ido, mas o carro não estava na garagem.
Terminei de organizar os valores, os encontros e arrumei as datas. Iria divulgar no dia seguinte através de mensagens pelo WhatsApp e Instagram.
estava pegando a jaqueta no banco de trás e trancou o carro. Ele olhou para mim e sorriu, colocando o celular e a chave no bolso.
— Bom, dever cumprido? — parou ao meu lado, olhando-me ansioso.
— Sim, arrecadamos um bom valor — joguei o cabelo para trás e olhei para ele. — Você nos fez lucrar muito.
— Ninguém resiste, né? — revirei os olhos e comecei andar para a entrada de casa. Senti sua mão segurar minha cintura e ele ficou em minha frente. — Inclusive você, boneca.
— Você é muito presunçoso, — me desvencilhei dos seus braços e abri a porta de entrada.
A casa estava toda escura, sinal que só estávamos nos dois ali. fechou a porta atrás dele e jogou-se no sofá da sala. Decidi ir para o quarto e tomar um banho para me livrar de toda maquiagem que havia usado.
Tirei a toalha do meu corpo e dos meus cabelos e fiquei em pé. Procurei pela minha camisola cor de rosa, e coloquei meus chinelos da Fenty. Penteei meus cabelos molhados e suspirei na frente do espelho.
Tentei a todo custo dormir, mas eu sentia um calor fora do normal. Lembrei que tinha sorvete na cozinha e não pensei duas vezes antes de ir comer.
Desci as escadas com a lanterna do celular e liguei a luz da cozinha, indo direto para a geladeira. Tinha sorvete de morango, flocos e por fim, escolhi meu favorito de cookies da Ben e Jerry's. Abri a tampa e peguei uma colher, sentando nos bancos do batente da cozinha americana.
Entrei no Facebook e comecei a ver alguns vídeos engraçados, até perceber que não estava mais sozinha na cozinha e estava dividindo o mesmo cômodo.
— Insônia? — ele abriu a porta da geladeira de costas para mim.
Usava um shorts preto e chinelos da Adidas. Os cabelos estavam bagunçados e o colarzinho que ele sempre usava estava brilhando no seu tronco, destacando as suas tatuagens. Eu quis morrer, porque no mesmo momento, algo dentro de mim pareceu ativar e aumentar o calor que eu estava sentindo.
— Calor — respondi colocando outra colher de sorvete na boca, enquanto ele pegava um copo.
— Realmente — colocou a água no copo e tomou tudo. — Dias difíceis, Barbie.
— , você estava morando na Freguesia antes de vir para cá? — perguntei lembrando do dia que fomos para o Mercadão.
— Sim.
— Com sua mãe?
— Minha mãe é empregada doméstica em uma casa de família, então ela quase não vai para casa — sentou-se ao meu lado e eu me afastei para conseguir olhá-lo. — Estávamos devendo o aluguel, recebi a proposta de vir morar com o Ângelo e aproveitar que ela não estava parando em casa, né?
— E o Gabriel? — questionei curiosa e ele sorriu.
— O Gabriel é assunto para outra hora, senhorita curiosa — ele bateu o dedo indicador em meu nariz. — Me dá um pouco desse sorvete aí?
Peguei a colher, enchi de sorvete e coloquei em sua boca. Ele mastigou e engoliu, olhando para o porte.
— É muito bom, me dá mais!
— Ei, o sorvete é meu! — falei puxando o pote, e ele riu. Jogou seu corpo por cima do meu, e eu suspirei com a aproximação.
Senti seu peitoral encostar em meus seios e roçar com o tecido da minha camisola. Subi os olhos para e ele estava sentindo a mesma coisa que eu.
— O que você está fazendo comigo, boneca? — falou baixo olhando para o meu corpo, mas logo voltou os olhos para meu rosto.
— Eu não sei — falei.
Seus lábios juntaram com os meus, compartilhando o doce que estávamos comendo. Larguei o pote e a colher em cima do balcão e joguei as mãos pelo pescoço dele, sentindo suas mãos agarrarem minha cintura.
Eu não sei explicar a sensação que ele me causava, que eu causava nele, mas a energia que eu recebia dele era algo muito louco. Meu corpo todo acendia com o toque dele.
Suas mãos subiram por dentro da minha camisola e seus dedos tocaram meus seios. Gemi baixo entre o beijo quase pedindo por mais, porém ele entendia tão bem os sinais que meu corpo emitia, que abaixou a parte da frente da blusinha.
Seus lábios desceram pelo meu pescoço com carinho, até chegar nos bicos dos meus seios que logo estavam dentro da boca dele.
— ! — passei as mãos pelos seus cabelos. Ele parou e me deu um selinho.
— O que você acha de a gente tomar um pouco de sorvete, hein? — ele pegou o pote e colocou uma colherada na minha boca e depois repetiu o ato na dele.
Seus lábios voltaram para os meus seios e quase gritei com a sensação térmica que ele expôs meu corpo, sentindo a região formigar de excitação. Suas mãos apertaram pela primeira vez a minha bunda, olhei em seus olhos misteriosos que estavam mais escuros e com as pupilas dilatadas.
— O que você quer, boneca? — ele perguntou baixo, olhando para minha boca.
— Você.
Abri às pernas e ele se encaixou entre elas, onde senti o volume do seu pênis em atrito com a minha vagina através da samba-canção.
— Não acredito nisso, boneca — partiu o beijo e eu nem consegui perguntar o que, porque ele desceu as mãos pelas minhas pernas e subiu a saia da camisola, vendo que eu estava sem calcinha. — Qual era seu objetivo de ficar sem calcinha?
— Às vezes eu prefiro dormir sem.
Ele me pegou com firmeza pela cintura e sentei em cima do balcão com seu corpo no meio das minhas pernas. Suas mãos corriam pelo meu tórax e em seguida ele empurrou meu tronco para trás.
Fiquei deitada com as pernas abertas. Senti seu dedo pela minha intimidade e suspirei fechando os olhos. Depois senti suas mãos em meus glúteos e algo molhado entrar em contato com minha vagina. Abri os olhos e vi que ele estava abaixado, porque estava me chupando!!!
Mas ele parou e olhou para mim sorridente, colocando um de seus dedos em mim e me fez gemer.
— Se doer, você me avisa — disse enfiando mais fundo e eu apoiei meus pés em seus ombros.
Continuou naquela movimentação deliciosa, até que tirou o dedo de mim e segurou minhas pernas, abrindo-as em direção à bancada com os joelhos quase rentes à minha barriga. Então ele começou a me chupar novamente, olhando dentro dos meus olhos e subindo e descendo a língua.
Largou uma das pernas e com o ombro forçou uma delas, enfiando seu dedo novamente na minha abertura, dando atenção na parte de cima com a sua língua. Acredito que ele não achou um dedo suficiente e colocou outro, o que me fez tampar a boca para não gritar.
Senti minhas pernas vacilarem e ele continuar sem parar. Uma sensação ainda mais gostosa tomou conta de mim e eu segurei um grito, jogando meu corpo sobre a bancada novamente.
— Isso foi um orgasmo, boneca — disse em meu ouvido, colando seu corpo quente no meu. — Você tem um gosto tão bom, que eu poderia jurar que é néctar das deusas.
Voltei a me sentar e acariciei seu abdômen, pensando que deveria retribuir o que ele havia me feito já que estava bem excitado, mas ele negou e segurou minha mão. Entrelaçou nossos dedos e beijou a ponta de cada um. Não consegui não sorrir.
Até que ouvimos o barulho da porta de entrada. Ele correu para o outro lado do balcão e eu cruzei as pernas pegando meu pote de sorvete.
— Faz alguma coisa — sussurrei, pois ele estava simplesmente parado ali.
— Tipo o que? — perguntou aflito.
— Não sei, se vira.
Meus pais entraram na cozinha enquanto eu cutucava com a colher o pote de sorvete. Eles falavam sobre alguma coisa que foi cortada assim que viram nós dois na cozinha: eu tomando sorvete sentada na bancada, do outro lado tomando outro copo d'água da garrafa que ele não tinha guardado.
— O que ainda estão fazendo acordados uma hora dessas e na cozinha? — mami perguntou confusa, olhando para mim. — E com essas roupas?
— Eu estava com muito calor e lembrei que tinha meu sorvete favorito — levantei o pote, colocando uma colherada na boca.
— E eu estava pronto para dormir, mas acordei com sede. Não sabia que a estava na cozinha — ele andou até a geladeira, guardou a garrafa e ficou de costas olhando dentro.
— Bom, estamos exaustos — disse papi. — Subam para os quartos, que amanhã é um novo dia!
Meus pais subiram as escadas e chegou ao meu lado. Ele riu e me abraçou pelo pescoço, colando nossos lábios com carinho.
— Difícil foi conseguir esconder o quão animado você me deixa.
E com essa simples frase ele subiu as escadas e se trancou no quarto. O que me restou, foi o pote de sorvete e a colher.
Me joguei na cama e voltei a pensar na minha vida e em como mudou desde que ele tinha chego. Coisas boas e coisas ruins aconteceram, e eu tinha medo de que outras coisas pudessem acontecer.
E depois de colocar um episódio de Friends, me aconcheguei. Essa série tinha o poder de me tirar de momentos ruins, ou tristes, e não foi diferente naquele momento.
💖
Era sábado à noite; eu não queria ficar em casa. Por isso, peguei meu celular e mandei uma mensagem para Daniel; não demorou responder falando que poderíamos nos encontrar no bairro da Liberdade.
Tomei um banho quente e procurei um jeans no armário. Coloquei uma espadrille da Santa Lolla e uma camisetinha branca de babados. Passei um gloss, um pouco de rímel e peguei minha bolsa com meus documentos.
Sai do quarto e desci rápido em direção à saída, até que papi me interceptou, vindo direto da sala de televisão.
— Aonde a senhorita pensa que vai? — perguntou curioso e eu apenas revirei os olhos.
— Vou ir com meu amigo dar uma voltinha, papi — desviei dele até a porta.
— ? — ouvi a voz de mami. — Aonde você está indo?
— Eu só vou sair com meu amigo, prometo não demorar, tá? — abri a porta.
Chamei um uber para me levar até o bairro da Liberdade, que não era muito longe. Cheguei em questão de vinte minutos e encontrei Daniel próximo à ponte. Ele estava usando calça de moletom camuflada e camiseta branca. Seus cabelos estavam despenteados, com os cachos caindo descontrolados. Ele era lindo.
— Olá — falei cumprimentando com um beijo e ele segurou minha cintura. Seu perfume tomou conta e senti minhas pernas tremerem com a aproximação.
— Senti sua falta — sussurrou assim que nos separamos. Um sorriso simples estava estampado em seus lábios. — Você está linda, . Estou me sentindo um maltrapilho.
— De forma alguma, você está... peculiar — ele estreitou os olhos e segurou minha mão, para então começarmos a andar. — Eu gosto desse seu estilo.
— Obrigado — ele beijou minha mão. — E aí, o que você quer comer? Aqui tem uma variedade de comida asiática.
— Eu não sei — respondi olhando diversos restaurantes em nossa volta. — Você escolhe!
— Você assistia Naruto? — balancei a cabeça negando e ele fez uma careta. — Não sei ainda porque gosto tanto de você. Não assistir Naruto é um crime!
— Ei!
— Tudo bem, criminosa — ele riu e eu acompanhei. — Vamos comer a tão sonhada comida que o Naruto comia. Basicamente uma sopa de macarrão com uns matinhos, ovo cozido... A não ser que você prefira sushi.
— Não! — ele parecia um pouco apreensivo pelas escolhas. — O que custa eu experimentar? Se eu não gostar, você come o meu e eu procuro alguma outra coisa.
Aceitou e logo estávamos dentro de um restaurante, sentados em uns sofás bem confortáveis com a mesa a nossa altura entre nós. Ele fez o pedido e estávamos aguardando. Parecia que tinha ido ali várias vezes, porque já era amigo de um dos garçons e ficavam comentando sobre séries, e essas coisas que eu não entendia muito bem.
Assim que o pote — sim, servido em um pote, acredito que igual no anime — chegou até a nossa mesa. Estranhei. Não era algo visivelmente apetitoso, mas estava cheiroso e não hesitei em experimentar.
— E aí? — ele perguntou chupando um macarrão e riu. — O que você achou?
— É, gostosamente peculiar — comentei e ele estranhou. — Igual você, ué.
Ele quase engasgou com a frase, e começou a tossir. Foi quando eu entendi o que havia falado e comecei a rir. Tentei explicar em meio às gargalhadas, mas não era possível.
Depois que terminamos de comer, saímos na rua e tirei foto embaixo das luminárias, ele comprou um colar novo, me girou no meio da avenida e assim que chegamos novamente perto da ponte.
Senti um arrepio pela nuca e minha cabeça parecia que ia explodir. Não sei dizer sobre esse efeito que Daniel causava, mas era unicamente dele, assim como fazia.
Pedi um uber para voltar para casa e aproveitei e coloquei o endereço de Daniel para pegar uma carona. Nos despedimos com um selinho e eu ainda fiquei no carro.
Assim que o motorista estacionou em frente de casa, percebi que estava sentado na calçada de casa com Maurício. Entreguei-lhe o dinheiro e antes de sair do carro, vi Maurício avançar e beija-lo.
Senti um incômodo em ver aquela cena, mas apenas abri a porta e desci do uber. Acho que o barulho fez eles se separarem e olharem para minha direção.
— ? — Maurício perguntou confuso. — O que você está fazendo aqui?
— Eu moro aqui — disse simplesmente, já dando passos até a entrada de casa, pronta para abrir a porta.
— Situação complicada de explicar — consegui ouvir a voz de antes de fechar a porta de entrada.
Os meninos estavam aceitando participar "por uma boa causa" — diziam eles. Eu ainda tentava constantemente convence-lo a participar e me ajudar, mesmo que falasse para todas as garotas (e alguns garotos) que ele iria estar presente e seria um dos cobiçados a disputa.
Por fim, chegou o grande dia do leilão, e as pessoas responsáveis pela organização e decoração, buffet, limpeza, música e arte estavam correndo para finalizar tudo antes do horário que havia sido marcado.
Eu não estava diferente: estava organizando as plaquinhas com nomes das pessoas que participariam do leilão — um total de 10 pessoas. Nem todo mundo quis participar, pois era cobrado a taxa de inscrição de R$100,00 por participação, mas pelo menos seria menos dinheiro gasto das arrecadações.
Quando terminamos tudo, os alunos começaram a chegar e aproveitei a oportunidade para retocar minha maquiagem, ajeitar o vestido e respirar fundo, pois eu iria apresentar o leilão!
Eu usava um vestido Skazi branco de frente única até a metade das coxas. Ele fazia um laço em frente ao pescoço, dispensando uso de colares. Meu cabelo estava dividido ao meio, e liso escorrido atrás das orelhas, e brincos de argola completavam meu look junto com uma Jimmy Choo com uma pérola em cima dos dedos.
Voltei para o ginásio de esportes e muitas pessoas já estavam me aguardando na mesa do leilão. Entreguei a placa para alguns candidatos que já haviam chego, que eram cinco garotas e cinco garotos. E entreguei a placa de "comprei" para as pessoas que iam dar os seus lances e uma folha de regras que eu havia produzido junto com Sue.
— Lembrando que só serão válidos lances autorizados pelos pais em cima do valor de mensalidade da escola, ok? — avisei cada um que pegava uma das plaquinhas.
— Ei, organizadora — olhei para trás encontrando .
Como sempre ele estava perfeito. Camisa branca, calças pretas, botas e jaqueta de couro. O cabelo muito bem alinhado e lápis de olho. Agora tinha uma novidade: um piercing na cartilagem da orelha e um brinco de cruz. Quando ele tinha furado a orelha?
— Pode me dar minha plaquinha? — pediu e eu apenas sorri.
— Obrigada por fazer isso, é muito importante para a caridade — agradeci prendendo a placa em sua camisa branca. Por mais que eu tivesse pagado a inscrição dele, ainda assim me sentia agradecida.
— Tenho quase certeza de que não irá dar muito dinheiro — ele deu de ombros organizando a roupa depois que voltei a me sentar. — Mas vale a tentativa.
Depois de 1h, quando o ginásio já estava consideravelmente cheio, pedi para que alguém me substituísse na mesa para que eu desse início às boas vindas. Peguei um dos microfones e subi no palco improvisado.
— Olá, alunos do Paulo da Cunha! — falei recebendo vários gritos de volta. — Sejam muito bem-vindos ao nosso leilão beneficente! Todos os valores que forem arrecadados, serão destinados ao lar de acolhimento de crianças carentes. O que estão achando até agora?
Mais gritos puderam ser ouvidos e tentei dar uma descontraída com as pessoas sobre a comida estar uma delícia e coisas do tipo.
— Vamos lá, agora falando sobre o leilão: varia no valor de R$50,00 à R$1.000,00. Esses foram os valores autorizados pelos seus pais e então depositados a quantia para a escola, lembrando do valor de mensalidade; isso está escrito no papel que eu entreguei para vocês: tem seu nome, com as informações necessárias para que você saiba o quanto pode gastar e claro, ser estrategista. Se houver um empate, teremos que fazer dois encontros, ou três, quem sabe? — alguns riram e eu pigarreei. — Agora vou apresentar os leiloados, começando pelas meninas!
Quatro das cinco garotas entraram no palco formando uma fila e ficaram todas viradas para a plateia, porém eu estranhei. Cami. Tati. Duda. Liz.
— Cadê a Suellen? — sussurrei para as minhas amigas e elas reviraram os olhos.
— Ela foi barrada — Cami respondeu risonha. — Ela se inscreveu, mas não pagou a taxa.
— Por quem? Quem está organizando isso aqui sou eu — estava a ponto de surtar, mas respirei fundo e voltei para o microfone. — Parece que uma das participantes desistiu, pessoal, então teremos apenas quatro garotas! Começando por Camila, que ama animais e quer fazer veterinária! — ela acenou para as pessoas que variam palma. — Segunda, Tatiana, que quer prestar vestibular para medicina! — essa também acenou. — Eduarda ou Duda, que sonha em ser uma blogueira de sucesso — ela jogou beijos para a plateia. — E por último, mas não menos importante Liz, que sonha em fazer sucesso com sua banda de rock!
Todos receberam as garotas bem e logo em seguida anunciei que era a vez dos meninos e a gritaria foi ainda maior, pois as meninas os aguardavam ansiosamente.
— Antony, que não sabe o que vai fazer! — todos riram, mas ainda assim aplaudiram. — Dani tem o sonho de ser astronauta ainda! — rimos e batemos palma. — Ricardo quer seguir os negócios da família! — mais gritos. — Guigo, quer ser advogado! — esperei cessar os gritos. — E por último: ! Ele ainda não sabe o que a vida espera, mas ele acredita que tudo pode ser mutável!
As meninas gritavam eufóricas, enquanto ele apenas sorria apertado pelo canto da boca. Ele estava tímido e isso o deixava vermelho.
— Enfim, garotada! Vou dar início ao leilão e não esqueçam das regras!
E por fim, comecei anunciando Antony, que foi leiloado por R$200 de uma menina do oitavo ano. Depois Cami, que foi por R$300 de um garoto nerd do terceiro ano, que ela não gostou nenhum pouco. Dani saiu por R$350, afinal ele era um pedaço de mal caminho, até tentei dar um valor, mas fui desbancada por uma garota de outra turma. Tati recebeu uma proposta de R$200 de Antony e todos gargalharam, mas ele quem arrematou. Duda foi vendida apenas por R$100 que era o único valor que a namorada dela tinha e outros não quiseram interromper o romance. Ricardo foi vendido por R$300, o que deixou todo mundo em choque quando duas garotas brigavam de 50 em 50 e tinham a mesma quantidade de dinheiro, resumindo dois encontros. Liz era bisexual, por isso foi vendida por um rapaz e uma garota, totalizando R$700 reais a briga. Guigo foi arrematado apenas por R$100, por uma garota do nono ano.
— E finalmente, ! — eu segurei a mão dele e levei até o meio do palco onde todos ficaram quando foram anunciados. — Quem dá R$100?
— 100! — gritou Suelen do canto direito e eu fiquei confusa. Ela não tinha como pagar a matrícula, o que estava fazendo?
— Alguém da mais? — perguntei.
— 300! — uma menina do nono ano falou.
— 400! — um garoto falou do fundo e sorriu.
— Mil reais! — a menina do nono ano repetiu e todos bateram palmas.
— Ofereço o mesmo! — o garoto cruzou os braços, voltando-se para o palco. — Acho que temos um empate, .
— Cinco mil! — ouvindo do fundo do salão, em seguida um burburinho por conta do valor alto e encontrei uma mulher loira caminhando até o palco. – Dou-lhe uma, dou-lhe duas... Acho que você é meu!
Ela era linda! Tinha a cintura fina, pernas longas e busto avantajado igual a bunda. Eu estava um pouco surpresa, porque 5 mil de uma mulher mais velha pelo ? E realmente ela havia arrematado ele, afinal, ele é maior de idade!
— Vendido — falei ainda um tanto chocada.
— Isso é injusto, honey — o garoto falou embaixo do palco. — Acho que também merecemos o encontro!
Olhei pra e ele apenas sorriu, dando de ombros. Meu estômago fez um barulhinho. Acho que era fome, afinal, eu não me importava também e por isso anunciei que por conta de imprevistos, seria o encontro triplo. Ele não estava nenhum pouco incomodado em sair três vezes, a produção também não.
Por fim, a festa seguiu e eu poderia ter me divertido mais, porém as meninas estavam com outros caras por aí e acabei sozinha, próximo à mesa de inscrição. Pelo menos eu estava satisfeita por tudo ter saído perfeito, como havia planejado. Estava um pouco cabisbaixa; todo mundo parecia se divertir completamente, com suas amigas, com seus namorados, crush's ou não sei, e eu estava ali sozinha. Será que eu era uma pessoa ruim? Ninguém nunca reclamou de mim, e acho que isso estava me afetando, por mais que nunca veio incomodar.
Desci do carro na garagem de casa. Meus pais haviam saído mais cedo do leilão, e eu fiquei — mesmo que sozinha — um pouco mais. Não sei para onde eles tinham ido, mas o carro não estava na garagem.
Terminei de organizar os valores, os encontros e arrumei as datas. Iria divulgar no dia seguinte através de mensagens pelo WhatsApp e Instagram.
estava pegando a jaqueta no banco de trás e trancou o carro. Ele olhou para mim e sorriu, colocando o celular e a chave no bolso.
— Bom, dever cumprido? — parou ao meu lado, olhando-me ansioso.
— Sim, arrecadamos um bom valor — joguei o cabelo para trás e olhei para ele. — Você nos fez lucrar muito.
— Ninguém resiste, né? — revirei os olhos e comecei andar para a entrada de casa. Senti sua mão segurar minha cintura e ele ficou em minha frente. — Inclusive você, boneca.
— Você é muito presunçoso, — me desvencilhei dos seus braços e abri a porta de entrada.
A casa estava toda escura, sinal que só estávamos nos dois ali. fechou a porta atrás dele e jogou-se no sofá da sala. Decidi ir para o quarto e tomar um banho para me livrar de toda maquiagem que havia usado.
Tirei a toalha do meu corpo e dos meus cabelos e fiquei em pé. Procurei pela minha camisola cor de rosa, e coloquei meus chinelos da Fenty. Penteei meus cabelos molhados e suspirei na frente do espelho.
Tentei a todo custo dormir, mas eu sentia um calor fora do normal. Lembrei que tinha sorvete na cozinha e não pensei duas vezes antes de ir comer.
Desci as escadas com a lanterna do celular e liguei a luz da cozinha, indo direto para a geladeira. Tinha sorvete de morango, flocos e por fim, escolhi meu favorito de cookies da Ben e Jerry's. Abri a tampa e peguei uma colher, sentando nos bancos do batente da cozinha americana.
Entrei no Facebook e comecei a ver alguns vídeos engraçados, até perceber que não estava mais sozinha na cozinha e estava dividindo o mesmo cômodo.
— Insônia? — ele abriu a porta da geladeira de costas para mim.
Usava um shorts preto e chinelos da Adidas. Os cabelos estavam bagunçados e o colarzinho que ele sempre usava estava brilhando no seu tronco, destacando as suas tatuagens. Eu quis morrer, porque no mesmo momento, algo dentro de mim pareceu ativar e aumentar o calor que eu estava sentindo.
— Calor — respondi colocando outra colher de sorvete na boca, enquanto ele pegava um copo.
— Realmente — colocou a água no copo e tomou tudo. — Dias difíceis, Barbie.
— , você estava morando na Freguesia antes de vir para cá? — perguntei lembrando do dia que fomos para o Mercadão.
— Sim.
— Com sua mãe?
— Minha mãe é empregada doméstica em uma casa de família, então ela quase não vai para casa — sentou-se ao meu lado e eu me afastei para conseguir olhá-lo. — Estávamos devendo o aluguel, recebi a proposta de vir morar com o Ângelo e aproveitar que ela não estava parando em casa, né?
— E o Gabriel? — questionei curiosa e ele sorriu.
— O Gabriel é assunto para outra hora, senhorita curiosa — ele bateu o dedo indicador em meu nariz. — Me dá um pouco desse sorvete aí?
Peguei a colher, enchi de sorvete e coloquei em sua boca. Ele mastigou e engoliu, olhando para o porte.
— É muito bom, me dá mais!
— Ei, o sorvete é meu! — falei puxando o pote, e ele riu. Jogou seu corpo por cima do meu, e eu suspirei com a aproximação.
Senti seu peitoral encostar em meus seios e roçar com o tecido da minha camisola. Subi os olhos para e ele estava sentindo a mesma coisa que eu.
— O que você está fazendo comigo, boneca? — falou baixo olhando para o meu corpo, mas logo voltou os olhos para meu rosto.
— Eu não sei — falei.
Seus lábios juntaram com os meus, compartilhando o doce que estávamos comendo. Larguei o pote e a colher em cima do balcão e joguei as mãos pelo pescoço dele, sentindo suas mãos agarrarem minha cintura.
Eu não sei explicar a sensação que ele me causava, que eu causava nele, mas a energia que eu recebia dele era algo muito louco. Meu corpo todo acendia com o toque dele.
Suas mãos subiram por dentro da minha camisola e seus dedos tocaram meus seios. Gemi baixo entre o beijo quase pedindo por mais, porém ele entendia tão bem os sinais que meu corpo emitia, que abaixou a parte da frente da blusinha.
Seus lábios desceram pelo meu pescoço com carinho, até chegar nos bicos dos meus seios que logo estavam dentro da boca dele.
— ! — passei as mãos pelos seus cabelos. Ele parou e me deu um selinho.
— O que você acha de a gente tomar um pouco de sorvete, hein? — ele pegou o pote e colocou uma colherada na minha boca e depois repetiu o ato na dele.
Seus lábios voltaram para os meus seios e quase gritei com a sensação térmica que ele expôs meu corpo, sentindo a região formigar de excitação. Suas mãos apertaram pela primeira vez a minha bunda, olhei em seus olhos misteriosos que estavam mais escuros e com as pupilas dilatadas.
— O que você quer, boneca? — ele perguntou baixo, olhando para minha boca.
— Você.
Abri às pernas e ele se encaixou entre elas, onde senti o volume do seu pênis em atrito com a minha vagina através da samba-canção.
— Não acredito nisso, boneca — partiu o beijo e eu nem consegui perguntar o que, porque ele desceu as mãos pelas minhas pernas e subiu a saia da camisola, vendo que eu estava sem calcinha. — Qual era seu objetivo de ficar sem calcinha?
— Às vezes eu prefiro dormir sem.
Ele me pegou com firmeza pela cintura e sentei em cima do balcão com seu corpo no meio das minhas pernas. Suas mãos corriam pelo meu tórax e em seguida ele empurrou meu tronco para trás.
Fiquei deitada com as pernas abertas. Senti seu dedo pela minha intimidade e suspirei fechando os olhos. Depois senti suas mãos em meus glúteos e algo molhado entrar em contato com minha vagina. Abri os olhos e vi que ele estava abaixado, porque estava me chupando!!!
Mas ele parou e olhou para mim sorridente, colocando um de seus dedos em mim e me fez gemer.
— Se doer, você me avisa — disse enfiando mais fundo e eu apoiei meus pés em seus ombros.
Continuou naquela movimentação deliciosa, até que tirou o dedo de mim e segurou minhas pernas, abrindo-as em direção à bancada com os joelhos quase rentes à minha barriga. Então ele começou a me chupar novamente, olhando dentro dos meus olhos e subindo e descendo a língua.
Largou uma das pernas e com o ombro forçou uma delas, enfiando seu dedo novamente na minha abertura, dando atenção na parte de cima com a sua língua. Acredito que ele não achou um dedo suficiente e colocou outro, o que me fez tampar a boca para não gritar.
Senti minhas pernas vacilarem e ele continuar sem parar. Uma sensação ainda mais gostosa tomou conta de mim e eu segurei um grito, jogando meu corpo sobre a bancada novamente.
— Isso foi um orgasmo, boneca — disse em meu ouvido, colando seu corpo quente no meu. — Você tem um gosto tão bom, que eu poderia jurar que é néctar das deusas.
Voltei a me sentar e acariciei seu abdômen, pensando que deveria retribuir o que ele havia me feito já que estava bem excitado, mas ele negou e segurou minha mão. Entrelaçou nossos dedos e beijou a ponta de cada um. Não consegui não sorrir.
Até que ouvimos o barulho da porta de entrada. Ele correu para o outro lado do balcão e eu cruzei as pernas pegando meu pote de sorvete.
— Faz alguma coisa — sussurrei, pois ele estava simplesmente parado ali.
— Tipo o que? — perguntou aflito.
— Não sei, se vira.
Meus pais entraram na cozinha enquanto eu cutucava com a colher o pote de sorvete. Eles falavam sobre alguma coisa que foi cortada assim que viram nós dois na cozinha: eu tomando sorvete sentada na bancada, do outro lado tomando outro copo d'água da garrafa que ele não tinha guardado.
— O que ainda estão fazendo acordados uma hora dessas e na cozinha? — mami perguntou confusa, olhando para mim. — E com essas roupas?
— Eu estava com muito calor e lembrei que tinha meu sorvete favorito — levantei o pote, colocando uma colherada na boca.
— E eu estava pronto para dormir, mas acordei com sede. Não sabia que a estava na cozinha — ele andou até a geladeira, guardou a garrafa e ficou de costas olhando dentro.
— Bom, estamos exaustos — disse papi. — Subam para os quartos, que amanhã é um novo dia!
Meus pais subiram as escadas e chegou ao meu lado. Ele riu e me abraçou pelo pescoço, colando nossos lábios com carinho.
— Difícil foi conseguir esconder o quão animado você me deixa.
E com essa simples frase ele subiu as escadas e se trancou no quarto. O que me restou, foi o pote de sorvete e a colher.
Me joguei na cama e voltei a pensar na minha vida e em como mudou desde que ele tinha chego. Coisas boas e coisas ruins aconteceram, e eu tinha medo de que outras coisas pudessem acontecer.
E depois de colocar um episódio de Friends, me aconcheguei. Essa série tinha o poder de me tirar de momentos ruins, ou tristes, e não foi diferente naquele momento.
Era sábado à noite; eu não queria ficar em casa. Por isso, peguei meu celular e mandei uma mensagem para Daniel; não demorou responder falando que poderíamos nos encontrar no bairro da Liberdade.
Tomei um banho quente e procurei um jeans no armário. Coloquei uma espadrille da Santa Lolla e uma camisetinha branca de babados. Passei um gloss, um pouco de rímel e peguei minha bolsa com meus documentos.
Sai do quarto e desci rápido em direção à saída, até que papi me interceptou, vindo direto da sala de televisão.
— Aonde a senhorita pensa que vai? — perguntou curioso e eu apenas revirei os olhos.
— Vou ir com meu amigo dar uma voltinha, papi — desviei dele até a porta.
— ? — ouvi a voz de mami. — Aonde você está indo?
— Eu só vou sair com meu amigo, prometo não demorar, tá? — abri a porta.
Chamei um uber para me levar até o bairro da Liberdade, que não era muito longe. Cheguei em questão de vinte minutos e encontrei Daniel próximo à ponte. Ele estava usando calça de moletom camuflada e camiseta branca. Seus cabelos estavam despenteados, com os cachos caindo descontrolados. Ele era lindo.
— Olá — falei cumprimentando com um beijo e ele segurou minha cintura. Seu perfume tomou conta e senti minhas pernas tremerem com a aproximação.
— Senti sua falta — sussurrou assim que nos separamos. Um sorriso simples estava estampado em seus lábios. — Você está linda, . Estou me sentindo um maltrapilho.
— De forma alguma, você está... peculiar — ele estreitou os olhos e segurou minha mão, para então começarmos a andar. — Eu gosto desse seu estilo.
— Obrigado — ele beijou minha mão. — E aí, o que você quer comer? Aqui tem uma variedade de comida asiática.
— Eu não sei — respondi olhando diversos restaurantes em nossa volta. — Você escolhe!
— Você assistia Naruto? — balancei a cabeça negando e ele fez uma careta. — Não sei ainda porque gosto tanto de você. Não assistir Naruto é um crime!
— Ei!
— Tudo bem, criminosa — ele riu e eu acompanhei. — Vamos comer a tão sonhada comida que o Naruto comia. Basicamente uma sopa de macarrão com uns matinhos, ovo cozido... A não ser que você prefira sushi.
— Não! — ele parecia um pouco apreensivo pelas escolhas. — O que custa eu experimentar? Se eu não gostar, você come o meu e eu procuro alguma outra coisa.
Aceitou e logo estávamos dentro de um restaurante, sentados em uns sofás bem confortáveis com a mesa a nossa altura entre nós. Ele fez o pedido e estávamos aguardando. Parecia que tinha ido ali várias vezes, porque já era amigo de um dos garçons e ficavam comentando sobre séries, e essas coisas que eu não entendia muito bem.
Assim que o pote — sim, servido em um pote, acredito que igual no anime — chegou até a nossa mesa. Estranhei. Não era algo visivelmente apetitoso, mas estava cheiroso e não hesitei em experimentar.
— E aí? — ele perguntou chupando um macarrão e riu. — O que você achou?
— É, gostosamente peculiar — comentei e ele estranhou. — Igual você, ué.
Ele quase engasgou com a frase, e começou a tossir. Foi quando eu entendi o que havia falado e comecei a rir. Tentei explicar em meio às gargalhadas, mas não era possível.
Depois que terminamos de comer, saímos na rua e tirei foto embaixo das luminárias, ele comprou um colar novo, me girou no meio da avenida e assim que chegamos novamente perto da ponte.
Senti um arrepio pela nuca e minha cabeça parecia que ia explodir. Não sei dizer sobre esse efeito que Daniel causava, mas era unicamente dele, assim como fazia.
Pedi um uber para voltar para casa e aproveitei e coloquei o endereço de Daniel para pegar uma carona. Nos despedimos com um selinho e eu ainda fiquei no carro.
Assim que o motorista estacionou em frente de casa, percebi que estava sentado na calçada de casa com Maurício. Entreguei-lhe o dinheiro e antes de sair do carro, vi Maurício avançar e beija-lo.
Senti um incômodo em ver aquela cena, mas apenas abri a porta e desci do uber. Acho que o barulho fez eles se separarem e olharem para minha direção.
— ? — Maurício perguntou confuso. — O que você está fazendo aqui?
— Eu moro aqui — disse simplesmente, já dando passos até a entrada de casa, pronta para abrir a porta.
— Situação complicada de explicar — consegui ouvir a voz de antes de fechar a porta de entrada.
Capítulo 13 - Bar + Problemas
Terminei de ler Dom Casmurro e tudo que eu sentia era uma sensação de dever cumprido. Eu sentia como se tivesse concluído algo muito importante por ser meu primeiro livro e não ser muito fã da literatura, mas acho que dali para frente muitas coisas poderiam mudar.
Coloquei o livro dentro da minha bolsa de couro cor de rosa e passei pelo braço, organizando novamente minha saia rodada. A porta do quarto da frente estava aberta e em seguida saiu com a roupa de sempre e os cabelos bagunçados e cheiroso, extremamente cheiroso e gostoso.
— Oi — ele disse e eu apenas sorri. — Também acordou atrasada?
— Não, mas não vou tomar café da manhã, não estou com muita fome hoje.
Descemos as escadas juntos e caminhamos até a porta de saída não encontrando ninguém pelo caminho de casa, nem mesmo Nico. Ir até a escola foi tranquilo mesmo que ele não quisesse conversar; curiosamente, respeitei seu espaço e seu momento, coisa que eu não estava muito acostumada a fazer.
O dia foi mais tranquilo que o esperado, poucas cobranças dos professores, todos os alunos estavam em silêncio absoluto e atenciosos nas aulas. Entretanto, a aula de literatura deu o que falar, afinal, era o dia da entrega do trabalho. Eu segurava em mãos o livreto encadernado que tinha apenas o meu nome, de Suelen e Louise. Havíamos finalmente decidido juntas que as meninas não mereciam ter o nome em nosso trabalho, pois não haviam feito muita coisa e mesmo que com o coração partido não achei justo que minhas novas colegas também as levassem nas costas.
O professor então fez a pergunta final, questionando se Capitu realmente havia traído Bentinho e dessa vez a maioria da sala havia concordado que não e que ao meu ver era apenas charme dele para declarar seu ciúme no “toco” que havia levado da protagonista, que não estava nada menos que certa. Homem com ego ferido era ridículo.
Pensando nisso, antes de entregar o trabalho tive a ideia de chamar as meninas e falar sobre a entrega. Elas estavam bem ocupadas conversando com os garotos ou mascando chicletes grudentos, pareceram não se importar com o que eu tinha para falar.
— Ficou lindo o trabalho, acho que vamos tirar 10! — Cami falou batendo palminhas e senti o estômago revirar.
— Não sei nem como agradecer mais uma vez, amiga — Tati falou.
— Na verdade, meninas... Eu, a Sue e a Lou não achamos correto colocar o nome de vocês — as duas me encararam assustadas e depois se olharam. — Achei muito injusto o fato de vocês não terem se esforçado para ajudar com o trabalho. Eu sempre fiz por vocês, mas não seria justo com a Suelen e com a Louise, então...
— E você não avisou antes? — Tati parecia completamente irritada com minha atitude.
— Vocês nem se quer se lembraram de quem eu era nos últimos dias! — justifiquei usando realmente a verdade. — Eu sinto muito, mas não me pareceu justo.
— Você se junta com aquelas fedelhas e ignora as suas amigas de verdade, mas você está certa, — Cami finalizou se afastando com Tati.
Aquele assunto me deixou mal durante o restante do dia. Eu não queria perder minhas amizades de anos como a das meninas; de todo modo, eu só estava tentando ser justa e sincera. Acho que ler esse livro me fez abrir os olhos para outras vertentes do mundo e acho que isso é muito bom apesar de um pouco assustador.
No final do período, encontrei no portão apenas esperando para ir embora para casa. Não falei nada, apenas agradeci por ter aberto a porta do carro e colocado minhas coisas no banco de trás. Parecia bem calmo e dirigia com cuidado pelas ruas que passava, acredito que numa velocidade até baixa demais para quem estava acostumado a ser com o Renegade. estava diferente, parecia mais tranquilo do que nos dias anteriores e isso me deixava com o coração quentinho. Não era fácil ver toda aquela confusão que ele tinha com o papi e não saber o que realmente estava acontecendo, mas tudo indicava que ele estava sofrendo com essas mudanças.
Não sei em que momento isso aconteceu, mas senti um forte calor em ficar observando ele dirigir. Suas mãos apertavam o volante e por um momento desejei que as mãos estivessem em minhas coxas, apertando-as com vontade. Seu lábio inferior estava preso em seus dentes e tudo que eu queria era que os meus estivessem no lugar.
— Eu daria tudo para saber o que se passa na sua cabecinha — olha por cima dos óculos para o retrovisor, arrumando o cabelo. Garanto que ele amaria meus pensamentos, era uma pessoa de pensamentos sujos.
— Estou um pouco chateada com a aula de literatura de hoje — confessei o que estava me incomodando além da vontade de beijá-lo. — Eu tirei o nome das meninas do meu trabalho, porque elas realmente não fizeram nada. Sei que não fiz errado, mas ainda assim me sinto mal.
balançou a cabeça em forma de que tinha entendido o que tinha acontecido. Não falou nada, acho que estava pensando em alguma coisa que poderia confortar ou me fazer sentir menos pior, não sei se tinha essa opção, mas apenas suspirei e voltei os olhos para o lado de fora.
— Boneca, eu não acho que você tenha feito errado — ele disse dando de ombros. — Eu vi que você, a Sue e a novata deram duro para esse trabalho sair perfeito, enquanto elas mal estavam com vocês! Então assim, eu acho que foi o mais sensato que você fez, não se culpe por isso — ele segurou minha mão com carinho. — Você poderia ter conversado com elas antes, mas já foi. Fora que elas são suas amigas, acredito que irão entender mais para frente.
— Espero que sim.
Chegamos em casa em poucos minutos, indo direto para a cozinha devido ao cheiro de comida fresca de Gertrudes. Estava espetacular o almoço, ela era realmente incrível e eu não conseguia ver a minha vida sem ela. Na verdade, eu já parei tardes para observar ela fazer algumas receitas, pois acho inadmissível eu não saber fazer nada. Não era tão difícil; até consegui fazer um bolo de chocolate uma vez e ele tinha ficado bem saboroso junto à cobertura espessa de brigadeiro e o enfeite com uvas verdes sem caroço.
No fundo, Ger era a pessoa que eu tinha mais próxima de mim fora os meus pais. Meus avós moravam em outro estado — tanto parte de papi quanto de mami — e não tínhamos tanto contato quanto eu gostaria. Era raro irmos visita-los, talvez tivéssemos ido a última vez há dois anos, não sei bem dizer. Como vocês já perceberam, meus pais são extremamente ocupados e não tem muito tempo para esses programas familiares.
Ainda um pouco chateada, encontrei a paz junto com uma Lilith bem animada e feliz ao me ver assim que cheguei no quarto. Peguei ela no colo e recebi alguns lambeijos, coisa que ela amava fazer. Tomei um banho e voltei para cama para assistir, já que não tinha nenhum dever ou que estudar alguma coisa.
abriu a porta do quarto e fechou atrás dele, pulando em minha cama e se acomodando embaixo do meu cobertor. Já tínhamos intimidade, estávamos em um nível mais elevado e não ia questionar o motivo dele estar ali; apenas aproveitei e aconcheguei em seu peito.
Seus dedos acariciavam meu ombro e sua respiração batia em meu cabelo e por um momento, desejei que aquele carinho não acabasse, que aquele momento durasse talvez pela vida toda, mas algo me dizia que era pedir demais e que não aconteceria facilmente.
— Tive uma ideia para hoje — ele falou tirando a atenção da série, uns minutos depois que já estávamos juntos.
— Então divide suas ideias comigo — pedi, fazendo-o rir. Ele se ajeitou na cama, ficando sentado enquanto olhava para mim.
— O que você acha de irmos em um bar hoje à noite? — perguntou ele e eu apenas ri. Esse garoto tinha cada ideia doida.
— Você esquece que eu tenho só dezessete, né? — perguntei revirando os olhos. — Sem chance de ir, . Eles nunca me deixariam entrar.
— Boneca, você acha que está falando com quem? — fez algumas cócegas em mim e eu pedi para ele parar. — Eu dou meu jeito para você entrar. Até parece que alguém vai negar alguma coisa para mim.
— Tudo bem, que horas?
— Às 22h eu passo aqui. Coloca uma calça e jaqueta, você vai precisar — ele levantou e caminhou para porta. — A gente se vê.
Saiu do meu quarto me deixando um pouco extasiada e esparramada na cama. O sorriso fácil era fácil demais, ele me causava tantas sensações que eu já tinha passado do estágio de garotinha boba para a garota que sabia que nada daquilo daria certo. Meus pais nunca iriam gostar de um relacionamento entre nós dois e sabíamos disso perfeitamente. O momento que eles descobrissem, seria um divisor de águas, muita coisa viria à tona e não saberíamos lidar.
Próximo a hora de sairmos, eu já estava completamente pronta. Usava calças jeans folgadas com um cinto preto, uma camiseta preta de alças, tênis da Schutz da mesma cor e uma jaqueta da Golden Goose de couro. Fiz uma maquiagem leve, apenas base, rímel, blush e gloss. Coloquei um colar de couro preto e penteei os cabelos divididos ao meio, que escorriam lisos até o meio das costas.
Abri a porta do quarto e encontrei encostado na parede adjacente. Usava jeans, all star, blusa branca e também uma jaqueta de couro. Seus olhos estavam pintados com lápis de olho e os cabelos estavam bem penteados molhados para trás.
— Por pouco a gente não combina roupa, huh? — brincou. Ele observava cada detalhe em mim, ficando cada vez mais perto. — Você está tão linda. Estou me controlando para não te beijar nesse exato momento, acabar com sua maquiagem e talvez estragar nosso rolê sem nem ao menos sair de casa — disse juntando nosso nariz. Ele tinha o dom de me fazer arrepiar apenas com as suas palavras sem nem precisar me tocar. — Seus pais estão em casa, então acho melhor a gente sair mesmo, vamos.
Saímos de casa caminhando. A portaria não ficava muito longe e ainda assim ultrapassamos andando. Isso me fazia questionar com qual meio de transporte a gente iria até o tal bar. Não fiquei surpresa quando chegou desativou o alarme do Renegade.
— Não acredito que você trouxe o carro para não dar pinta que estávamos saindo — ele já estava abrindo a porta do carro para eu entrar.
— Seus pais surtariam se ouvissem o barulho do carro agora.
Apenas acelerou e começou a cortar as ruas adiante. Ele pilotava rápido demais para meu gosto e não pude deixar de me agarrar ao cinto de segurança. Uns trinta minutos depois ele parou no meio fio próximo a um bar. Várias pessoas estavam na rua e tinha uma placa de neon escrita "Verona's Bar", que parecia ser o único daquela rua.
Me senti em um filme americano, parecia que eu era a mocinha e ele um gângster que levava ela ao pecado e a vida promíscua — não que eu fosse uma santa, mas já conseguia formar a fanfic na cabeça.
Havia uma fila para entrada onde o segurança olhava todos os documentos, mas nós apenas chegamos na porta e fomos liberados. cumprimentou os caras e segurando minha mão, começamos a subir as escadas. Assim que alcançamos o andar de cima, pude ver o quão grande era aquele lugar — que ainda parecia estar bem vazio. Era todo decorado com espelhos, tinha muita iluminação vermelha, roxa e azul, mesas com sofás, luzes amareladas e aconchegantes, uma ótima pista de dança e no centro um pequeno palco com um pole dance. Nas extremidades tinham alguns suportes com piso, onde algumas mulheres já estavam de calcinhas de cintura alta e uma espécie de X no bico do peito com fita isolante.
— Isso é um clube de strip? — perguntei assim que senti a mão de me puxar.
— Alguns dias sim — ele estranhou, apertando minha mão. — Não sabia que hoje era um desses dias. Acho melhor a gente ir embora.
— Não — protestei agora, saindo direto ao bar. — Já vi coisa pior do que isso, tipo você e a Suelen.
Seus passos pararam de vir atrás de mim e percebi que ele havia parado estático no meio do caminho. Balançou a cabeça desconsertado. Acho que aquele assunto não incomodava somente a mim, mas aparentemente incomodava ele também.
— Aquilo não foi nada — ele tratou de explicar, mas apenas revirei os olhos. Não sei porque eu tinha entrado nesse assunto.
— Tem certeza? — falei sentando em um dos bancos, vendo que não tinha ninguém livre para nos atender. Agora ele me olhava assustado, como se tivesse procurando palavras.
— Acontece que eu e ela tivemos uma coisa carnal — disse. Aquele assunto me fazia suar as mãos e nem sei porquê. — Não sei explicar.
— Inexplicável então — ironizei levantando as sobrancelhas com deboche.
O atendente chegou até nós e pedi um suco de morango, pediu uma cerveja. Logo o rapaz se retirou para buscar os pedidos enquanto ainda estávamos em silêncio. A música estava baixa, haviam poucas pessoas pelo local, mas já estava sentindo o clima esquentar um pouco devido ao local ser fechado.
— Você não está com ciúme, está? — eu ri achando a maior graça possível. — Porque não faz sentido você se sentir assim em relação a Sue.
— Não faz? Então qual é a sua, hein? — fiquei de frente para ele, onde minhas pernas ficaram dentro das suas. — Um dia você está com a língua dentro da boca dela e no outro está com a língua em partes ilícitas do meu corpo. Eu e ela somos só duas peças do seu tabuleiro de xadrez?
— Eu não disse isso, fora que não estou mais ficando com ela — ele retrucou, assim que o barman colocou nossos copos em nossa frente. Ele pegou a garrafa de cerveja e tomou alguns goles.
— Isso tem o quê? Dois dias? — ironizei. Meu suco estava muito bom por sinal, suguei mais um pouco pelo canudinho.
— Não precisa ter ciúme, boneca — ele disse. Revirei os olhos, porque eu não queria que ele tivesse essa leitura do meu comportamento por mais que fosse verdade! — Eu não sou o cara certo para a Sue, mas somos amigos. Eu também não sou o cara certo para você, inclusive estou muito longe disso, mas quem disse que eu consigo ficar longe de você, ? Não sei o que você tem de diferente, mas não consigo parar de te querer.
Ele olhou para mim de uma forma tão sincera, que eu não consegui sustentar seu olhar e voltei para o meu copo. Acho que tudo que eu expus ali, o meu ciúme velado, minha insegurança — mesmo sem ser vinculado a um relacionamento —, ele acabou apaziguando com suas palavras. Porém, em contrapartida ele abria espaços para outras dúvidas, outros sentimentos e mais uns milhares de medos e inseguranças sobre nós. Se é que poderia existir um nós.
— Você acha que a gente um dia poderia dar certo? — perguntei nervosa. Sentia meu corpo inteiro arrepiar.
— Não, boneca — ele riu um pouco chateado. — A gente não tem chance juntos. Seus pais jamais aceitariam, eu não conseguiria ser o cara que te faria feliz, muito menos o cara dos seus sonhos.
— Também não vejo um futuro com você — repliquei mesmo chateada, mas era uma frase sincera.
— Mas a gente pode aproveitar o presente juntos, não acha? — perguntou passando o dorso da mão pela minha bochecha. — Enquanto a gente der certo, podemos ficar juntos.
— Sem outras pessoas envolvidas? — perguntei lambendo o canudo, chamando a atenção dele para o movimento da minha boca. — Exemplo, você fica comigo, eu fico com você e ambos não ficamos com ninguém mais?
— Um namoro escondido, você quer dizer? Parece tentador, eu topo. — disse sorridente. — Acho que esse é o tipo mais próximo de relacionamento sério que vou ter.
— E eu mal acredito que acabei de propor isso a alguém — falei tomando o restante do meu suco. — E se a gente envolver sentimento?
— Boneca, a gente já tem um sentimento muito forte um pelo outro — ele respondeu calmo e não parecia tão verdade assim. — Além de toda tensão sexual que tem entre nós... a gente se gosta.
Mais uma vez ignorei essa parte, não acho que poderíamos ter um sentimento assim tão rápido um pelo outro, ainda mais eu que tive tanto ranço dele desde o começo. Acho que era apenas atração mesmo, vontade de beijar e por ele ser tão estupidamente gostoso. Eu estaria beijando ele, satisfazendo essa minha vontade e estaria intacta com sentimentos. Porém não queria decepcionar ele assim.
Continuamos conversando sobre a galera, sobre a família e sobre nós — não muita coisa, apenas gostos peculiares, preferências etc. Eu conhecia tão pouco que a cada coisa nova que ele contava era uma surpresa diferente.
Pedimos mais algumas bebidas — e eu não saí do suco —, dançamos algumas músicas e me senti em um encontro de verdade. Não sei qual tinha sido o objetivo dele, mas eu estava me divertindo muito. Algumas horas depois, me dei conta que já eram quase 3h da manhã. Estava um pouco cansada e dei a ideia de irmos embora.
— Eu estou bem para pilotar, mas para garantir vou tomar esse copo de água e esperar uns minutos, acho melhor — ele disse e não pude discordar.
O bar já estava cheio a essa altura do campeonato. Muitas pessoas dançando, muitas outras bebendo e algumas se beijando em alguns cantos mais escuros. estava terminando o copo quando esbravejou ao ver algo no meio do salão. Vasculhou os bolsos e largou cerca de duas notas de cem no balcão, pedindo para que o atendente ficasse com o troco. Sua mão agarrou a minha e não tive nem se quer a oportunidade de terminar meu suco, porque em questão de segundos estávamos chegando até a porta do bar de tão rápido que ele andava.
Senti um puxão em meu cabelo, o que quase me fez cair. Soltei a mão de e bati com o corpo da pessoa que me segurava pego cabelo. Levei as mãos até o braço do cara que parecia um armário e tentei arranhar, mas ele não parecia sentir dor.
— Por que está indo embora tão rápido, mauricinho? — perguntou o cara que logo afrouxou seu aperto, mas não me soltou.
— Deixa ela em paz — pediu ainda longe.
— Só quando você chegar mais perto, aí eu solto ela — disse.
— O que está acontecendo? — perguntei confusa, olhando para o cara e depois olhando para .
— Vai para o carro — foi a única coisa que ele conseguiu falar colocando as chaves em minha mão.
Fomos forçados a sair do bar e no lado de fora, os caras passaram a empurrar ele, que tentava se defender com socos e inúteis pontapés. Corri até o carro e entrei do lado do motorista, tentando a todo custo colocar a chave na ignição. Nunca tinha tido aulas de volante na autoescola, mas acho que tinha uma noção pelo que via meus pais dirigindo a vida toda. Voltei os olhos para a porta da boate e vi que a briga já estava formada com no chão sendo chutado. Os caras se afastaram por alguns minutos e pude ver ele encolhido.
— Se o meu dinheiro não estiver completo em minha mão em até uma semana, as coisas vão ficar ruins para você — o cara gritou, o que me deixou assustada. Dinheiro? Com o que ele estava envolvido?
Antes deles voltarem a agredir , dei uma arrancada com o carro, o que fez um dos caras bater no capô do carro e cair no chão. aproveitou para abrir a porta do passageiro, já gritando:
— Acelera, acelera!
E eu acabei sentindo dificuldade porque passei com o carro por cima do corpo inerte de um dos agressores. Olhei pelo retrovisor e eles estavam com armas apontadas, atirando e errando a mira, porque se tinha uma coisa que eu era péssima, era com a direção. Estávamos andando em zigue zague no meio de uma rua deserta. Eu estava nervosa a ponto de ter um ataque de pânico, mas não conseguia tirar os olhos da rua, por mais que as lágrimas implorassem para sair dos meus olhos.
Não sei até que ponto eu dirigi, mas não dizia nada. Voltei meus olhos para ele, diminuindo a velocidade do carro e seus olhos estavam focados em mim. Tinha a sobrancelha cheia de sangue, talvez tivesse um corte ali que eu não conseguia nem ver com a escuridão.
— Me desculpa por isso, não queria que você presenciasse esse tipo de coisa — falou se ajeitando no banco.
— A gente precisa ir ao hospital — falei observando seus machucados.
— Não, a gente não pode — disse fazendo algumas caretas de dor. — Tem um posto logo ali na frente. Você pode comprar um pouco de soro, gase e pomada? Talvez um curativo?
Obedeci, parando no posto à frente. Entrei na farmácia um pouco menos nervosa e pedi as coisas que ele tinha indicado. Pedi também alguns calmantes naturais, porque esses eu quem iria tomar.
Já no carro, coloquei a sacola com medicamentos em seu colo e dei partida novamente seguindo para casa. Não sei como iria chegar em casa sem fazer alarde, mas estacionei na rua de qualquer jeito e andamos até a entrada sem fazer barulho.
tomou um banho na banheira do meu quarto e entreguei alguns analgésicos para ele. Aproveitei para jogar uma água no corpo no chuveiro do quarto dele e quando voltei no roupão, estava sentado de toalha na beirada da cama.
Peguei os medicamentos e espalhei pela cama. Abri o antisséptico e limpei o machucado da sobrancelha, passando uma pomada e depois colocando a fita curativa. Passei também uma pomada para escoriações aonde já estava começando a ficar roxo, pela sua costela e braços.
— Ainda não consigo acreditar que eu atropelei um homem — falei e riu. — É sério. E se ele estiver morto?
— Não está, boneca.
Depois de cuidar dos seus machucados, me sentei ao seu lado e passei as mãos pelos seus ombros. Abaixei os olhos para seus lábios e juntei nossas bocas enquanto ele gemia em aprovação. Se eu pudesse escolher um momento para que o tempo parasse, seria esse. era tudo que eu mais queria e tudo que eu mais desejava.
Suas mãos passavam pela lateral do meu corpo com desejo e força, enquanto eu só conseguia gemer pedindo por mais. Me inclinei para chegar mais perto de seu corpo, encostando os bicos dos seios – que ainda estavam escondidos pelo tecido da blusa fina – em seu peito quente, quase implorando para que ele acabasse com aquela excitação toda o mais breve possível.
— , você tem certeza que vamos fazer isso? — perguntou ainda com os olhos fechados. — Eu não vou aguentar muito tempo.
Observei seus lábios, seu corpo e sua expressão. Ali parado, sem camisa e usando apenas a toalha de banho, eu tive certeza que era o que eu queria, de que era ele, que eu gostava dele de verdade.
Tirei o roupão que eu usava por cima da roupa de dormir e balancei a cabeça vendo o seu sorriso aumentar enquanto ele me colocava em cima da cama e ficava por cima de mim. Subiu as mãos pelos meus tornozelos, acariciando minhas pernas, ficando apoiado apenas nos braços. Sua língua alcançou minha boca e seus lábios cobriram os meus, me fazendo apertar seus braços com um pouco de força até ouvir uma reclamação de dor.
— Está doendo um pouquinho — disse fazendo uma careta.
— Isso que dá se meter em briga de bar — brinquei, fazendo-o rir.
— Acontece — respondeu beijando meus seios por cima da blusa. — O que você quer que eu faça? Você pode escolher.
— Me toca — mordi o lábio com um pouco de vergonha, recebendo um olhar surpreso dele. — Por favor.
Ele deitou-se ao meu lado e ficou apoiado no braço, enquanto sua mão percorreu meu corpo e entrou pelo meu shorts. Seus dedos abriram minha intimidade e acariciou com cautela, acostumando novamente aquela sensação deliciosa. Abri um pouco mais as pernas e senti os dedos dele deslizando para baixo próximo a minha entrada. Ele me penetrou devagar e respirei fundo.
— Você é tão gostosa, — ele disse, colocando mais um dedo para dentro, agora tirando e colocando devagar.
Seus dedos iam e vinham com facilidade porque eu estava muito lubrificada. Seu polegar acariciava meu clitóris calmamente me dando espasmos no corpo. Cada vez mais eu abria as pernas pedindo por mais, sentindo-o ir a fundo, preenchendo-me com os dedos curvados, meu coração batia com mais frequência, focado nos arrepios que me causava enquanto mantinha os lábios colados em meu rosto e vez ou outra largava uma palavra sussurrada para que eu pudesse ouvir. Quando estava quase à beira de um orgasmo, ele removeu os dedos, me fazendo gemer e rebolar eu sua direção.
Não perdoou e voltou a atenção apenas ao meu clitóris, fazendo movimentos circulares. Em dois segundos eu explodi sentindo minhas pernas tremerem, minha vagina contrair e meu clitóris ficar escorregadio ao toque. Fiquei parada daquele mesmo jeito e a cabeça no mundo da lua.
Senti a mão de em volta do meu pescoço me puxando para um beijo delicioso. Passei as mãos pelos seus ombros e subi para os cabelos, puxando-os levemente. Desci a língua pelo seu pescoço e beijei seu peitoral, lambendo de leve os mamilos para então descer um pouco mais.
— Hoje não, — ele disse juntando nossos lábios mais uma vez, subindo na cama e ficando escorado na cabeceira. — Eu não vou aguentar se você fizer — sorri maliciosa, voltando a sentar sobre suas coxas. — Mas podemos tentar fazer a penetração se você quiser — concordei com a cabeça, começando a ficar nervosa. — Vem!
tirou a toalha que usava, revelando pela primeira vez seu pênis. Era um tanto grosso, não sei dizer se era grande porque nunca tinha visto um na vida, nem mesmo em filmes adultos (N/A: lembrete de que você deve parar de ver pornografia).
Removi a blusinha e o shorts que faltava e larguei pelo chão, subindo na cama e sentando em suas coxas com as pernas uma de cada lado de seu corpo. Seus dedos pescaram um preservativo em cima da mesa, colocando em seu membro com calma. Observei como ele fazia, acho que para estar pronta a próxima vez.
— Certo — ele falou assim que terminou —, agora você pode ficar ajoelhada aqui — obedeci. Ele pincelou a ponta do seu membro em mim, de cima abaixo me fazendo suspirar. — Agora você senta — ele riu, achando graça da forma que falou e acompanhei a risada. — Aí você controla o quanto você acha que "cabe".
Obedeci, colocando seu membro na minha entrada e aos poucos colocando-o para dentro, sentindo arder ao entrar devido a grossura. Assim que entrou até o final, suspirei colocando os braços em volta do pescoço de , que agora estava de olhos fechados.
— Vai sangrar? — perguntei preocupada com a dor.
— Depende, boneca. Cada um tem organismo de uma forma diferente, algumas mulheres sangram, outras não, assim como algumas sentem dor e outras não — ele suspirou sentindo meu sexo abraçar o seu. — Algumas mulheres não gozam na primeira vez por causa da dor e tudo que envolve perder o hímen. Outras mulheres têm orgasmos múltiplos.
Balancei a cabeça demonstrando entendimento, levantei com a ajuda dos joelhos em cima da cama e sentei novamente, deixando um suspiro escapar pelos meus lábios a cada vez que repetia o movimento um pouco mais rápido.
Suas mãos tomaram minha cintura, alongando a cada investida com mais força, aumentando o ritmo dos nossos quadris. Eu aproximei nossos corpos, colando meus seios em seu peito, aumentando o nosso ritmo, ouvindo ele gemer em meu ouvido enquanto eu tentava não fazer o mesmo tão alto.
— Deita de costas para mim — pediu se retirando de mim e ficando deitado de lado.
Não demorei a fazer o que ele pediu, sentindo sua mão levantar minha perna pela coxa e logo seu membro entrar de novo em mim. Gemi um pouco surpresa pela posição que ele sugeriu, mas passei a segurar meus seios pelos bicos, apertando-os de leve.
Ele me penetrava com vontade, com força e eu sentia que estava próximo de me desmanchar em seus braços. Sua mão abandonou minha perna e ainda assim permaneci com ela no ar, sentindo ele passar o dedo pelo meu clitóris para acelerar meu orgasmo. Virei meu rosto e começamos um beijo meio desajeitado devido ao ritmo de movimentos e quando menos esperei, estava gozando. Fechei as pernas involuntariamente, enquanto ele ainda pirraçava meu clitóris com os dedos e se enfiava em mim mais algumas vezes para buscar seu prazer que não demorou a chegar.
encostou a testa em minhas costas enquanto minhas pernas ainda tremiam e deixou um beijo calmo por ali. Antes que eu pudesse me mexer, ele se retirou de dentro do meu corpo, se livrou do preservativo e puxou o cobertor sobre nós, me envolvendo em seus braços com carinho.
— De longe o melhor sexo de toda minha vida — resmungou em meu ouvido, beijando meu pescoço de leve. — Você tem um toque especial, com toda certeza.
Capítulo 14 - Papparazzi
Dormir aquela noite foi a coisa mais fácil que eu já tive que fazer na vida. O braço quente de segurava minha cintura como se fosse a coisa mais importante que fizesse. Sua respiração estava em meu pescoço, ainda pesada porque dormia confortável.
Aquela foi a primeira vez que tinha me entregado para alguém e por mais que eu achasse que seria estranho, foi uma sensação maravilhosa. O cuidado, o carinho que tinha pareceu coisa de outro mundo, nunca imaginei que ele pudesse ser tão... prestativo. E aquela manhã eu estava me sentindo uma princesa, que teve a oportunidade de finalmente se deleitar com seu príncipe.
Quis me deliciar ainda em seus braços e poder dormir novamente, mas ouvi a maçaneta da porta girar e ser aberta rapidamente. Puxei o cobertor até a cabeça, fazendo acordar com o movimento rápido e ficar sentado na cama.
— Você não toma vergonha na cara mesmo, hein!? — ouvi a voz de papi através do cobertor. Eu não podia emitir nenhum som. — Trazendo as vagabundas que você fica para dentro de uma casa de família na qual não é sua!?
— Ângelo, acho que isso não diz respeito a você — respondeu simples. — Não era esse o tipo de homem que você sempre quis que eu fosse?
Conversa estranha, mas compreensível. Papi deve ter sido aquele tipo de tio chato que enche o saco dos sobrinhos, mas agora ele era diferente, porque comigo ele era o melhor pai do mundo!
— Mande a ir embora de uma vez, não quero esse tipo de comportamento dentro dessa casa! — quase gritou antes de bater a porta.
respirou fundo e deitou-se novamente na cama. Ouvi uma música começar a tocar, acredito que veio do seu celular. Continuei da mesma forma que estava, até sentir sua mão subir pela minha bunda nua e fazer um carinho delicioso. Tirei o cobertor de cima de mim e pude vê-lo sorridente, ainda sem camisa, apenas de cueca branca para minha felicidade plena.
Seus dedos estavam quentes e agora subiam pelas minhas costas, fazendo meu corpo arrepiar quase por completo. Seus olhos intensos acompanhavam minhas feições e quando eu sorri, eles pareceram dilatar.
— Não era esse tipo de bom dia que eu queria te dar — disse simples, enquanto voz e violão saiam simples do celular. Logo reconheci ser uma música do John Mayer.
Estávamos em um momento muito íntimo e eu me sentia extremamente exposta não por estar nua, mas sim pela situação de conexão que estávamos tendo. Não sei se isso era certo, ele era meu primo e aqui estávamos.
Bom, ficar com primo não me parece errado. Ainda mais quando o tal se trata de , pelado e respirando fundo, gemendo em meu ouvido, enquanto ele se enterra em mim mais uma vez e outra, e outra.
Abri os olhos depois de relembrar de tudo que tinha acontecido na noite anterior. Ele apenas sorriu e levantou-se para ir ao banheiro dando uma visão do seu bumbum arrebitado e branco todo marcado com o lençol da cama.
Olhei no relógio e constatei que estava quase no horário de ir para escola. Abri a porta para ver se papi ainda estava ali pelo corredor, mas nem havia sinal dele. Corri para meu quarto, tomando um banho curto e quente, ainda sentindo as sensações que havia causado em meu corpo.
Assim que consegui me arrumar, desci as escadas para tomar café da manhã, onde encontrei apenas mami. Ela estava com um dos celulares em mãos, parecia que escrevia nervosamente alguma coisa.
desceu as escadas correndo logo atrás de mim. Suas mãos tocaram meus ombros e um sorriso sedutor passou pelos seus lábios antes de finalmente nos sentarmos.
— Bom dia! — falei para mami, que largou o celular de lado e sorriu.
— Bom dia, meu bem! — disse, sorrindo. — Bom dia, querido. Como você está?
— Tudo bem, obrigado — ele agradeceu o carinho segurando uma de suas mãos. — Onde está Ângelo?
— Ele saiu há pouco tempo — ela respondeu. — Ele disse que você estava acompanhado...
— Acabei dispensando a garota — mentiu na cara dura. — Não sei aonde estava com a cabeça. Peço desculpas desde já, Leonor.
Ele estava sendo o mais falso possível e tudo que eu queria era morrer de rir. Apenas ignorei e continuei a comer minhas frutas enquanto mami voltava a conversar sobre assuntos aleatórios.
Quando chegamos na escola, todos tinham os olhos voltados para mim. Era algo extremamente natural, eu até gostava dessa fama que eu tinha e das impressões que eu passava para as pessoas, mas começou a ficar estranho quando vi que olhavam para celulares e depois olhavam para mim e falavam de .
As meninas ainda não estavam falando comigo, então não recebi notícias de primeira mão. Só quando Suellen parou em minha frente mostrando a tela do seu celular, eu congelei.
Peguei o aparelho em mãos e sem acreditar, pude ver a imagem na qual eu e estávamos grudados na parede do salão de festa de casa. Ele estava segurando minha perna na altura de sua cintura e um cigarrinho de maconha na outra mão, se apertando contra mim. Era uma cena extremamente sensual e se não fosse todo o nervoso que eu estava passando, poderia sentir novamente as mesmas sensações desse dia e da noite passada.
Quando levantei os olhos para tentar falar alguma coisa, vi mami caminhar com a diretora e no encalço.
Papi vinha logo atrás.
Ferrada, essa era a palavra.
Nunca tinha imaginado como poderia ser o dia da minha morte, mas definitivamente esse não seria uma forma de acontecer. Porquê:
1. Eu nunca tinha pensamentos em ficar com o meu próprio primo;
2. Eu nunca achei que chegaria a ponto de me envolver dessa forma com alguém;
3. Não achava que meus pais estariam envolvidos a minha morte.
Não foi fácil seguir para a sala da coordenadora Gisele com todos os olhares voltados para nós, mas logo estávamos dentro do carro em direção a nossa casa. estava estralando os dedos a cada 5 minutos inutilmente; mami e papi não haviam me dirigido a palavra até então o que me deixava ainda mais nervosa. Ele tinha apenas ligado para alguns contatos, solicitando o banimento daquela foto de todas as redes, por mais que soubéssemos que seria uma coisa ultracomplicada.
— Vocês podem começar se explicando, por favor — pediu papi que ostentava olhos com olheiras e estavam aparentemente cansados.
apenas suspirou, olhando para mim. Ele não sabia o que falar e quem teria que inventar a mentira, seria eu.
— Eu estava muito bêbada naquela festa aqui em casa — menti. — Acontece que estávamos brigando por conta da droga e ficamos muito perto um do outro, nada demais.
— Quem tirou essa foto queria nos ferrar e acabou conseguindo — deu de ombros.
Papi estava andando de um lado para o outro na sala, apenas respirando fundo. Eu sabia que ele estava muito bravo, que se pudesse esfregaria nossa cara no chão, mas eu esperava fielmente que eles acreditassem nessa história ridícula que contei.
Nico desceu de seu quarto assustado com a gritaria, parando no último degrau da escada e olhando-nos atônito.
— O que está acontecendo aqui? — perguntou olhando para nós.
— Nico, suba para seu quarto — mami pediu, andando em sua direção. — Prometo que assim que tudo resolver, vou conversar com você — ele assentiu, me olhando assustado. — Vamos, suba. Sem ouvir da escada, estou te vendo.
— Eu sinceramente não sei o que fazer com você! — gritou papi, nos fazendo pular do sofá assim que meu irmão fechou a porta do quarto. — Você é um irresponsável, simplesmente demente! Quantas vezes eu preciso falar que não é para você!? Eu disse que essa família era algo proibido para você, !
— Que se foda! — ele gritou ficando em pé, completamente fora de si. — Eu estou cansado de você querer controlar a merda da minha vida sempre e cansado de ver as mentiras que você conta. Exausto de ver você querer fazer o certo de um lado, mas ferrando com os outros! Você é um merda, Ângelo, um merda! — ele explodiu, apontando na cara de papi e eu nem fazia ideia do porquê dessa reação dele. Eu estava chocada, não sabia o que fazer.
— A gente precisa se acalmar e tentar resolver de alguma outra forma — mami tentou intervir, mas eles não paravam de se encarar.
— Por que não conta tudo para a da sua vida, pai?
Um silêncio se instaurou na sala. Papi não parava de encarar , que tremia feito vara verde apesar dos punhos fechados e postura decidida do que estava fazendo. Naquele momento eu tive medo, mas não por mim, porque papi parecia ter sangue nos olhos diante dele.
Não demorou para papi se atracar com no chão da sala, enche-lo de socos e tirar sangue de seu nariz. Por mais que eu e mami gritássemos que ele deveria parar, ele continuava da mesma forma, até quando lhe socou no queixo com força, fazendo com que ele cambaleasse para longe e ali ficasse. Me joguei em sua frente, para que ele não avançasse mais sobre o mais novo.
— Não vai adiantar de nada vocês se baterem — gritou mami nervosa. — Precisamos entender tudo que está acontecendo e buscar resolver esse mal-entendido todo! — bufou irritada.
— Por que o chamou você de pai? — perguntei para papi, que estava desnorteado com o soco que havia tomado. Eu podia sentir meu estômago queimar e a vontade de vomitar vir em minha boca. — Vocês podem me explicar essa história?
— Isso não te diz respeito, — papi respondeu ríspido, crucificando com os olhos . Eu não me lembro de um dia ele ter falado daquele jeito comigo, o que me deixou com raiva.
— Não?! Como não? Eu estou transando com meu meio irmão, é isso? — quase gritei. Aí percebi que a merda estava feita.
Eu deveria guardar mais as coisas ou pelo menos pensar antes de falar. Eu só estava jogando gasolina na fogueira sem ao menos medir as consequências.
— Você...? — gritou papi, indo mais uma vez para cima de , continuei a frente dele e o impedi. estava em minhas costas, nossos corpos colados. Acho que papi não o tocaria enquanto eu estivesse ali, eu espero. — Eu vou matar você, seu merda! Maldito o dia que eu te chamei para morar aqui, maldito o dia no qual eu resolvi assumir ser seu pai!
— Assumir? — riu sarcástico bem atrás de mim. — Você simplesmente abandonou minha mãe com duas crianças! Você nos largou para viver sua vida de barão — ele tinha lágrimas pelos olhos, sem hesitar em deixar cair. — Leonor — chamou mami, que chorava copiosamente —, me desculpa. Sei que você não tem culpa de nada disso, da irresponsabilidade desse idiota...
— Vocês podem explicar essa merda? — gritei confusa.
Todos ficaram em silêncio, me deixando atônita olhando para todos.
— Desde o começo, minha boneca — frisou, dessa vez voltando-se para mim.
"Ângelo, é o meu pai. Fomos criados por ele até meus dois anos de idade e não tínhamos uma vida fácil. Era difícil, porque todo dinheiro que ele tinha, ele apostava ou investia, enquanto mamãe colocava comida na mesa e sustentava a todos com um salário mísero de faxineira. Até que uma das apostas dele deu certo e resolveu nos abandonar, simples assim. Durante minha infância foi complicado; as vezes ele entrava em contato com a gente, as vezes nos via, mas não tinha muito contato não, era coisa de cinco minutos por mês. Depois de um tempo ele estava casado, com uma família feita e cada vez mais rico — riu ironicamente. — Você era o pequeno tesouro dele junto com Leonor. Isso fez com que ele esquecesse minha família inútil e desse atenção apenas para vocês, mas eu não as culpo — tranquilizou a mim e mami —, vocês são inocentes a certo ponto, eu acho. Nisso, meu irmão se envolveu com drogas e álcool, começou a trabalhar no meio do tráfico, com gente errada. O Ângelo ficou sabendo e internou ele em uma clínica para reparar seus erros, mas não contou para nós aonde ele está. No final de tudo, os caras que meu irmão trabalhava estavam atrás dele e de grana; sobrou para mim: eu me envolveria nessa merda toda ou colocava em risco a vida da minha mãe. Eu não pude negar. Por isso, acabei entrando na mesma merda que meu irmão; vendo drogas, estou envolvido em muita merda e o que você viu naquele dia — o dia do bar, lembrava muito bem!!! — é uma porcentagem do que acontece na minha vida. Eu de verdade sinto muito por tudo isso que você está passando, nunca quis isso! Eu sinceramente, não queria me envolver com você da forma que nos envolvemos, eu sabia que boa coisa não seria, podia imaginar que muita coisa viria à tona e não demorou muito — lamentou, tentando alcançar minhas mãos, mas fui rápida o suficiente para puxa-las. — É isso, boneca. Essa é a história semi-completa sobre a minha vida."
Eu não sabia o que dizer. Eu só conseguia sentir um vazio enorme dentro de mim, apenas em pensar que meu papi era esse tipo de pessoa; que ele teve a coragem de fazer isso tudo e esconder tudo isso por tanto tempo. Como mami pode ser tão tola e aceitar isso tudo?!
Suspirei e me joguei em seus braços. Ele precisava de um abraço, assim como eu precisava também. Os meus pensamentos estavam extremamente confusos, mas em meio a tudo isso voltei a recordar que a gente tinha um vínculo antes do que criamos.
— Você não está brava comigo por nunca ter contado? — ele perguntou abafado em meu pescoço e apenas neguei com a cabeça. Aquilo nem havia passado pela minha cabeça.
— Então nós somos oficialmente meio irmãos?
Um silêncio se instaurou na sala, na qual consegui ouvir apenas as respirações de todos e o choro leve de mami aumentar gradativamente. Olhei para ela com atenção, os olhos arregalados e marejados, mas logo ela balançou a cabeça em negação, jogou-se no peito de Ângelo e chorou copiosamente.
Voltei os olhos para confusa. Ele tinha o semblante amargurado e acariciou minhas mãos com carinho. Seus olhos abaixaram para essa conexão e engoliu em seco.
— Não acho que a gente seja irmão e irmã — ele disse simples. — Mas essa parte da história sua mãe vai ter que contar, não cabe a mim.
E lá se vai mais uma leva de mentiras.
Quando acabaria?!
Capítulo 15 - Adivinha Quem Vem Para o Jantar?
Quando eu tinha cinco anos, eu tinha crises fortes de bronquite e asma. Vivia mais dentro do hospital do que em casa graças às pelúcias que eu comecei a colecionar ainda bebê. Mami teve que doar a maioria deles ou eu não poderia viver em uma casa um dia.
Quem mais ficava no hospital comigo enquanto eu estava internada era Gertrudes, porque mami estava terminando a graduação, mas todos os dias passava no hospital para me ver e vez ou outra dormia comigo. Acho que eu era uma criança muito compreensiva, afinal, quem gosta de hospital? Pior: sem os pais.
Papi por outro lado, tinha que continuar os negócios da empresa, mas ele ligava todos os dias quando estava em viagem e quando não estava viajando, passava a maior parte do tempo possível comigo, em sua maioria atendendo ligações de negócios.
Por mais que meus pais não tivessem tanto tempo para mim quanto eu gostaria que tivessem, eu sabia o quanto eles me amavam e faziam o possível para que eu ficasse bem logo, não era a toa que estava internada no hospital mais caro de São Paulo.
Minha infância foi muito boa, eles conseguiram mais tempo para passarmos juntos e fazermos algumas viagem de férias. Visitamos alguns lugares no Brasil e outros fora do país, como Disney, Paris, Nova Iorque e Londres. Eu tinha tudo e mais um pouco.
Minha adolescência até então era tranquila; voltaram a trabalhar mais, mami formada tinha o tempo razoável, pois trabalhava em minha escola alguns dias da semana e papi tentava fazer alguns trabalhos em casa para ficar mais tempo conosco.
— , eu posso explicar — mami falou se aproximando, enquanto eu a olhava confusa.
Antes disso, ela havia pedido um momento e feito uma ligação. Sem entender e ainda próxima a , tentava a todo custo entender o que estava acontecendo. Silenciosamente, observei seus machucados e me ofereci para limpar, mas ele se negou dizendo que eu precisava apenas ser forte.
— Eu nunca quis que você descobrisse dessa forma, mas acho que foi um erro enorme que eu cometi — fungou chorosa. — Seu pai biológico não é o Ângelo, na verdade o nome dele é Denis.
Primeiro eu ri achando graça nas suas palavras, só poderia ser uma brincadeira de muito mal gosto ou algo do tipo, mas quando olhei para mami, ela chorava copiosamente. Então senti como se uma bigorna tivesse caído sobre minha cabeça, como se estivesse realmente vivendo em um cartoon, porque aquela vida que eu estava naquele momento, não podia ser real. Não podia.
— Eu e seu pai, namorávamos desde o final do ensino médio. Descobri que estava grávida já no início da graduação, mas ele não soube disso, porque eu decidi mudar de cidade e era melhor que a gente ficasse separado. A vida que seu pai levava, não era das melhores e eu não ia deixar ele te envolver nisso tudo — suspirou fundo, tomando mais um gole de coragem. — E então saí de todas as redes sociais, perdemos completamente o contato. Porém, ele descobriu recentemente sobre você e vem tentando manter contato, mas nós estávamos arrumando a melhor forma de te passar essa notícia o mais saudável possível.
Suspirei confusa. Então tudo que eu tinha vivido até ali, era uma grande mentira? A pessoa que acostumei a chamar de pai, na verdade não era meu pai. Ele tinha outros filhos além de mim e Nico, mas não parecia dar a mínima para eles, diferente de nós que tínhamos o mundo aos meus pés! Eu vivia uma mentira!!!
— Você tomou todas essas decisões pensando em mim? — questionei completamente abalada. — Só que você tirou uma parte da minha vida e encaixou-me onde você queria!
— , peço que entenda o que eu fiz — ela pediu se aproximando e me afastei, obviamente. Não queria contato algum com ela naquele momento.
— Nico é filho dele? — perguntei apontando Ângelo e ela concordou. Então e Nico eram irmãos, mas eu era filha apenas dela. Como eu nunca percebi a semelhança entre eles? Eu era muito estúpida, fútil.
— Eu de verdade, sinto muito — mami chamou atenção. — Não queria que fosse assim, na verdade jamais imaginei que aconteceria como aconteceu!
Tentei pensar, mas era difícil. Eu precisava respirar e com eles ali não seria possível, eu precisava fazer alguma coisa. Eu precisava fugir daquilo tudo pelo menos por algumas horas.
Não pensei duas vezes antes de correr para fora de casa, sair pela porta como se nada pudesse me impedir. Sei que andando eu não podia ir muito longe, mas corri o máximo possível a fim de ninguém me ver entrando na casa da Senhora Tereza, no final da rua e me hospedar na casinha da árvore de sua neta.
E ficar ali noite adentro, chorando e pensando na merda que minha vida tinha se tornado em menos de 3 meses foi um alívio.
💖
Eu não fazia a mínima ideia de onde poderia ter se metido, mas não consegui deixar ela simplesmente sumir enquanto Ângelo tentava me desferir todo ódio possível falando que eu era a culpa de tudo aquilo etc. era típico dele me culpar por todas as merdas que ele fazia.
Depois de tentar apaziguar as coisas dentro de casa e finalmente ver que Leonor havia parado de chorar e de dizer que tinha estragado tudo, decidi sair para encontrar .
Corri pela vizinhança, porque daquele condomínio ela não tinha saído. Depois de alguns minutos, lembrei da casa de árvore da Dona Tereza que ela tinha me falado quando estávamos no bar, bebendo deliberadamente.
Subi pela escada de madeira e a encontrei apenas iluminada pela luz do poste que tinha perto. Fungando e mexendo nas unhas.
O que mais me doía nem era os socos que eu tinha levado na cara do meu pai, mas sim de ver ela daquele jeito, naquele estado. Aquela não era a minha boneca. Ela percebeu que eu estava na porta no susto, achando que era alguém para fazê-la mal, mas ficou tranquila quando me identificou.
— Não queria que fosse assim, boneca — falei ainda na porta de entrada, pronto para adentrar a casinha. — Se eu pudesse, tiraria toda dor que você está sentindo só para te ver bem. Realmente, problemas familiares são difíceis, agora você sabe o quanto — fiz uma pausa e me aproximei. Limpei as lágrimas do seu rosto com dificuldade, porque tinha muita água por ali. — Você precisa ser forte, porque você ainda vai descobrir mais coisas não muito agradáveis.
— Mais? — questionou e concordei. — Você sabia? — prendeu um soluço e me senti mal. Me senti realmente mal, mas balancei a cabeça afirmando.
— Sim, eu sabia — falei, fazendo-a chorar mais um pouco. — E antes que você me questione, eu não contei porque eu não tenho que me meter nisso. Sempre achei que sua mãe e m... e Ângelo devessem ter te contado. Inclusive, na minha última briga com ele, aquela do corredor, toquei nesse assunto. Por isso ele ficou possesso.
— E agora, ? O que eu vou fazer? — perguntou se afastando, coisa que me deixou chateado. Queria poder segurá-la e garantir que estávamos bem, por mais que aquilo não era algo que eu deveria me preocupar no momento. — Eu não quero voltar para casa.
— Boneca, você precisa voltar para casa. Você precisa conversar com seus pais, até mesmo com o Denis — segurei seus dedos finos e gelados. — Você está gelada, precisa se agasalhar. Não quero que fique doente, por favor, vamos? Juro que não saio do seu lado.
— Promete?
— Eu juro — apertei seus dedos em minha palma da mão e beijei ali. — Vem — tirei minha jaqueta de couro e joguei sobre seus ombros. — Temos que ir para casa, porque sua mãe está preocupada. Não tome atitudes que possam te fazer se arrepender sem conversar primeiro, boneca.
O caminho de volta para casa foi tranquilo, mas percebi que ela andava devagar para postergar o que possivelmente estaria por vir. Denis chegaria dali alguns minutos e ela estaria frente a frente com ele. Não sei se é algo que eu devo me meter novamente, mas se algo estivesse machucando ela, eu não ia deixar, de forma alguma.
— Só para que você não se surpreenda, sua mãe ligou para o Denis, o seu pai mesmo — apertei seus dedos com carinho. — Ele já deve ter chego, estamos a quase 1h desde que tudo aconteceu. Estou com você, estou do seu lado.
— ... — ela chamou e apenas encorajei a continuar falar. — Ele era realmente muito ruim com vocês?
Não queria manchar a imagem que ela criou de Ângelo, por isso suspirei e olhei para qualquer outro lugar que não fosse seus olhos; ela sabia ler os meus como ninguém antes soubera. Entretanto, Ângelo conseguia fazer isso por si só uma pessoa ruim, não queria ser o responsável por trazer um sentimento ruim aquele momento.
— Já te expliquei um pouco sobre minha mãe e meu irmão, mas nunca falei sobre meu pai — respondi cautelosamente. — Como falei há alguns minutos atrás, acho que ele nunca realmente se importou com a gente, até porque na primeira oportunidade que ele teve, simplesmente saiu de casa. Dava sinal de vida vez ou outra, um real vez ou outra… Mamãe sempre zelou por nós, cuidou de mim e de Gabriel com toda dedicação. Mesmo que não pudesse ficar tanto tempo conosco por causa do trabalho, sempre teve carinho e amor. Não estou querendo dizer que sua mãe não vale nada — tratei de deixar claro —, só estou dizendo que todos temos problemas com nossos genitores e te mostrando que você vai superar, você é mais forte do que pensa.
Balançou a cabeça em negação. Daria tudo para saber seus pensamentos, mas apenas segurou minha mão e entrelaçou nossos dedos. Eu estava quente, mesmo sem jaqueta; ela estava gelada, mesmo com a jaqueta. Meus olhos saíram da estrada e se encontraram com os dela. Pude sentir a nossa conexão, mesmo que por pouco tempo, pois precisei voltar os olhos para a rua.
Quando chegamos em casa, realmente já tinha um carro parado que imaginei ser de Denis. Afaguei um de seus ombros e depois passei um dos braços, enquanto ela cruzava os braços para dissipar o frio.
Abri a porta e dei passagem. A casa estava quente e silenciosa. Conseguimos ouvir apenas barulhos de vidro batendo sobre a mesa de centro, com certeza vindos da sala. me olhou antes de seguir caminho para lá, encontrando sua mãe, Ângelo e Denis em pé.
Ele tinha cabelo grisalho, braços fortes cobertos de tatuagem e uma estatura um pouco menor que a minha, ainda assim maior que . Seus olhos extremamente azuis como os dela eram um pouco puxados e nariz arrebitado.
Eles suspiraram fundo quando ela apareceu no arco da sala, mas Ângelo não estava nenhum pouco contente comigo na companhia dela naquele momento. Leonor parecia aliviada, mas ao mesmo tempo tinha culpa em seu olhar, não era para menos.
— Graças à Deus você está de volta, minha filha! — ela correu de encontro a nós, me obrigando a soltar a mão gélida de . — Eu sinto muito por você ter descoberto assim, acho que precisamos muito conversar e colocar os pingos nos i's, aproveitando que Denis está aqui.
Eles se encararam. Denis parecia estar com o semblante cansado porém lívido. Ficou de pé e sem saber o que dizer, apenas se aproximou e estendeu sua mão para a filha, que demorou a aceitar por talvez não saber o que fazer depois daquilo.
— Como você já sabe, meu nome é Denis — sorriu gentil, pigarreando em seguida. — Uma forma meio estranha de conhecer o pai, mas acho que esse é o nosso destino.
Eu não fazia ideia do que poderia se passar pela cabeça dela, mas deve ser algo como passei quando era criança ao ver meu pai uma vez na vida e outra na morte.
— Desculpa — pediu quando começou chorar novamente e soltou sua mão, voltando-se para mim.
— Eu acho que a precisa descansar — eu tomei a frente e com um pequeno sorriso ela agradeceu. — Acredito que tenha sido muito para ela o dia de hoje e precisa relaxar.
— , você pode por favor não se intrometer? — Ângelo se pronunciou completamente ignorante do outro lado da sala. — Acho que esse assunto não lhe cabe e sabemos o que é melhor para a .
— Sinto muito, mas hoje não consigo — ela pronunciou para Denis, ignorando o que Ângelo tinha falado. — Eu realmente preciso de um banho, de um chocolate quente e dormir — virou-se para mim. — Você pode ver se a Ger faz para mim?
Encostei meus lábios em sua testa e tudo que eu mais queria era ficar ali, parado naquele momento apenas apoiando-a em frente a tudo aquilo. Com isso, ela deu as costas e subiu as escadas, deixando todos ali em silêncio.
Gertrudes não estava mais na cozinha, talvez já estivesse em sua casa. Larguei minhas coisas sobre a mesa e abri os armários. Localizei uma panela consideravelmente boa, peguei o chocolate e um pouco de leite e coloquei tudo dentro. Liguei o cookie top e esperei esquentar o leite. O cheiro era bem gostoso. Separei em duas xícaras, mas duvidava que ela conseguisse tomar o líquido.
Antes que eu pudesse sair da cozinha, vi que Ângelo estava em pé na porta, observando o que eu fazia. Não estava pronto para discutir com ele naquele momento, mas voltei as xícaras para a bancada. Eu iria ouvir de qualquer forma, então preferia que fosse agora.
— O que você está pensando que está fazendo? — perguntou cético.
— Chocolate para a ? A Gertrudes não está, então acho que sobrou para mim — levantei as sobrancelhas cínico.
— Quantas vezes eu falei que quero você longe dela? — ele aproximou-se, me deixando desconfortável. — Ela não é uma garotinha qualquer que você simplesmente traça. Fora que sua vida é uma droga, você deveria considerar mais e pensar no melhor para ela!
— Ângelo, na boa, não estou em clima para ouvir seus sermões — peguei minhas coisas de cima da mesa e coloquei nos bolsos. — Acho muito válido sua preocupação com a , mas ela não é sua filha e por culpa sua e da Leonor, olha como ela está! Então por favor, antes de criticar sobre como eu trato a , pense em como você a tratou por quase 17 anos: mentindo.
— A não é para o seu bico! — ele avançou em minha direção e me prensou contra a parede. Segurou meu queixo. — Você não se atreva a fazer qualquer coisa com ela, ou eu vou acabar com o resto de vida que você tem!
Suspirei fundo para não socar a cara dele, porque era tudo que eu mais queria naquele momento; juntar toda a raiva que eu sentia dele por tanto tempo e descontar.
— Você é sem caráter — repliquei o empurrando, completamente transtornado e com a respiração falhada. — O que você fez com a , não é nada diferente do que você fez com a mamãe, com o Gabriel e comigo! Gabriel está na situação que está e a culpa é sua. Eu sou assim, por sua culpa! E sinto muito, mas eu gosto demais da para deixar você estragar a vida dela.
Dei as costas para ele e peguei as xícaras de chocolate quente. Passei por ele como se não tivesse falado nada, mas na verdade, para mim realmente não importava. Tudo que ele tinha soltado, era simplesmente descartável.
O tipo de pai que ele é, não é ser pai.
Abri a porta do quarto de e ela estava com uma toalha nos cabelos, enrolada em outra toalha branca. Hesitei, não queria ser evasivo e percebi que ela estava um pouco envergonhada. Por que eu não bati na porta? Como posso ser tão burro?
— Desculpa, eu deveria ter batido — falei ainda olhando para ela. Estupido! Vire de costas pelo menos! Virei.
— Acho que tudo bem, pode virar — falou e voltei a olhar para ela ainda um pouco hesitante e entreguei a xícara. — Obrigada.
— Espero que esteja gostoso — experimentei o meu e confirmei que estava. — A Ger não está mais, acho que foi para casa.
— Esqueci completamente — ela revirou os olhos e experimentou. — Está delicioso. Obrigada!
— Bom, estou indo — apontei para a porta. — Caso precise, estou na porta da frente. Se cuida, boneca.
Ela andou em minha direção e colou seu corpo no meu; passou a mão pelos meus fios de cabelo. Ficou de pontas de pés e colou nossos lábios, apenas um selinho, sem intenção alguma. Suspirei confuso e ela sorriu.
— Obrigada por tudo.
💖
Domingo era para ser um dia agradável em família, mas não era bem assim, pelo menos não mais. Minha vontade era de ficar o dia inteiro trancada, finalmente lendo meu livro novo, mas nem nisso eu conseguia concentrar.
Mais cedo, alguém bateu na porta do quarto, porém eu apenas ignorei. Provavelmente achou que eu dormi e desistiu da ideia de me incomodar. Entretanto, eu estava com fome e não poderia ficar mais um dia sem comer porque não faria bem para minha dieta. Tomei banho, me arrumei e desci para o andar debaixo.
Quando apareci na ponta da sala, eles pararam de conversar para me observar. Mami estava sentada ao lado de Ângelo, enquanto Denis estava na poltrona na frente deles.
— ? — ouvi a voz de mami. Por mais que eu não quisesse interagir, eu entendia que precisava. — Acho que precisamos conversar.
Realmente eu precisava resolver isso, mas algo me dizia que não seria fácil e muito menos rápido. Eu precisava liderar aquela conversa, por isso sentei-me e aguardei que todos fizessem o mesmo. Mami e Ângelo se encaravam apreensivos, enquanto Denis parecia relaxado.
— Certo, preciso saber de tudo — pedi juntado as mãos, olhando para todos. — Desde o começo e sem cortar partes, por favor.
— Acho que eu devo fazer isso — mami segurou a mão de Ângelo e olhou para mim. — Eu conheci o Denis ainda no Ensino Médio. Nós éramos o típico casal favorito da escola e demos certo além da escola, no entanto, dois anos depois estávamos morando juntos. Nossos pais não gostavam da ideia sem o casamento, mas aprenderam a aceitar. Tivemos muita dificuldade, porque comecei trabalhar em uma empresa de telemarketing e bom, seu pai trabalhava em um estúdio de tatuagem.
Arregalei os olhos e virei para Denis. Ele sorriu e eu percebi que era algo que ele gostava muito. Ainda assim, achei que ele tinha pouca tatuagem para dono de estúdio.
— Os dois primeiros anos foram bons, mas depois, parecia que tudo ia de água a baixo, pois começamos a brigar muito e decidimos que seria melhor cada um seguir sua vida, voltei para casa dos seus avós e assim foi — mami terminou e pigarreou.
— Ela só esqueceu de me falar que estava grávida — Denis disse e eu olhei para ele.
— Denis, não foi bem assim — suspirou apreensiva. — Enfim, . Sim, descobri que estava grávida já no quinto mês. Eu não sentia diferença, minha menstruação atrasava algumas vezes e resolvi ir ao ginecologista regular meu ciclo, pois eu finalmente arrumei um cargo melhor onde eu trabalhava e podia pagar as consultas. Em momento algum passou pela minha cabeça abortar, jamais. Te amei desde o primeiro momento — ela começou chorar e senti vontade de fazer o mesmo, mas eu precisava ser forte. — Nisso, eu já estava namorando com Ângelo. Ele me deu todo apoio que eu precisava, mas eu não queria voltar ao meu passado para procurar Denis. Ângelo disse que teria você como filha, que não se importava e não pensei duas vezes. Não estou dizendo que seu pai não prestava, mas ele não me fazia bem e eu não queria trazer isso para perto novamente. Ainda assim, decidi ir atrás dele, achei que ele merecia saber sobre você.
— Você fala como se eu te agredisse, maltratasse, Leonor — Denis falou e parecia ser sincero. — Você sabe muito bem que nós dois não nos fazíamos bem.
— Eu procurei seu pai — falou mami e voltei a atenção à ela. — Só que ele estava morando em outro país, ganhando dinheiro com o que ele gostava de fazer e não achei justo incomodá-lo e fazer o sonho dele parar.
— A nunca seria incômodo! — protestou ele, passando as mãos sobre os cabelos. — Você sempre soube do meu sonho de ter um filho! Você não podia ter feito isso, Leonor.
— De toda forma, eu e Ângelo criamos você até que Denis descobriu e quis te conhecer — mami disse, chamando a atenção novamente. — Mas , eu estava pensando em você! Não queria bagunçar a sua vida, minha filha. Achei que estaria te protegendo de alguma forma...
— E estava me prejudicando — falei, e ela balançou a cabeça chateada. — Eu estou perdida, mami. Não sei o que pensar sobre vocês, as pessoas que mais confiei na vida! E Denis — virei-me para ele —, sinto muito por isso. Eu realmente preciso ingerir isso tudo, não consigo... Não sei o que dizer, fazer...
— Tudo bem, — ele disse, segurou minhas mãos entre as suas. — Lembre-se que você nunca seria um peso em minha vida.
— Você fala isso agora, Denis — Ângelo resolveu falar. — Mas você viajou o mundo, duvido muito que teria feito isso se estivesse presente ou se ao menos assumiria paternidade e desistiria do seu sonho.
— Eu não vou cair em sua provocação, Ângelo — Denis falou. — Sei que você não é boa gente — depois de falar isso, voltou-se para mim. — A gente podia marcar um almoço, não sei?!
— Podemos sim.
— Então, preciso ir — disse ficando em pé, estendendo a mão para mim. — Posso te ligar?
— É... Sim, claro! — respondi ainda confusa, caminhando com ele até a porta. — Será um pouco difícil me adaptar, mas espero que entenda.
— Sem problemas, no seu tempo — ele riu e em seguida estendeu-me a mão e apertei. — Até mais então.
Voltei para dentro de casa, observando meus pais que pareciam nervosos. Apenas balancei a cabeça, indicando que não queria conversar com eles naquele momento e eles respeitaram. Andei até a cozinha e peguei uma maçã, depois subi para o quarto comendo.
Quem mais ficava no hospital comigo enquanto eu estava internada era Gertrudes, porque mami estava terminando a graduação, mas todos os dias passava no hospital para me ver e vez ou outra dormia comigo. Acho que eu era uma criança muito compreensiva, afinal, quem gosta de hospital? Pior: sem os pais.
Papi por outro lado, tinha que continuar os negócios da empresa, mas ele ligava todos os dias quando estava em viagem e quando não estava viajando, passava a maior parte do tempo possível comigo, em sua maioria atendendo ligações de negócios.
Por mais que meus pais não tivessem tanto tempo para mim quanto eu gostaria que tivessem, eu sabia o quanto eles me amavam e faziam o possível para que eu ficasse bem logo, não era a toa que estava internada no hospital mais caro de São Paulo.
Minha infância foi muito boa, eles conseguiram mais tempo para passarmos juntos e fazermos algumas viagem de férias. Visitamos alguns lugares no Brasil e outros fora do país, como Disney, Paris, Nova Iorque e Londres. Eu tinha tudo e mais um pouco.
Minha adolescência até então era tranquila; voltaram a trabalhar mais, mami formada tinha o tempo razoável, pois trabalhava em minha escola alguns dias da semana e papi tentava fazer alguns trabalhos em casa para ficar mais tempo conosco.
— , eu posso explicar — mami falou se aproximando, enquanto eu a olhava confusa.
Antes disso, ela havia pedido um momento e feito uma ligação. Sem entender e ainda próxima a , tentava a todo custo entender o que estava acontecendo. Silenciosamente, observei seus machucados e me ofereci para limpar, mas ele se negou dizendo que eu precisava apenas ser forte.
— Eu nunca quis que você descobrisse dessa forma, mas acho que foi um erro enorme que eu cometi — fungou chorosa. — Seu pai biológico não é o Ângelo, na verdade o nome dele é Denis.
Primeiro eu ri achando graça nas suas palavras, só poderia ser uma brincadeira de muito mal gosto ou algo do tipo, mas quando olhei para mami, ela chorava copiosamente. Então senti como se uma bigorna tivesse caído sobre minha cabeça, como se estivesse realmente vivendo em um cartoon, porque aquela vida que eu estava naquele momento, não podia ser real. Não podia.
— Eu e seu pai, namorávamos desde o final do ensino médio. Descobri que estava grávida já no início da graduação, mas ele não soube disso, porque eu decidi mudar de cidade e era melhor que a gente ficasse separado. A vida que seu pai levava, não era das melhores e eu não ia deixar ele te envolver nisso tudo — suspirou fundo, tomando mais um gole de coragem. — E então saí de todas as redes sociais, perdemos completamente o contato. Porém, ele descobriu recentemente sobre você e vem tentando manter contato, mas nós estávamos arrumando a melhor forma de te passar essa notícia o mais saudável possível.
Suspirei confusa. Então tudo que eu tinha vivido até ali, era uma grande mentira? A pessoa que acostumei a chamar de pai, na verdade não era meu pai. Ele tinha outros filhos além de mim e Nico, mas não parecia dar a mínima para eles, diferente de nós que tínhamos o mundo aos meus pés! Eu vivia uma mentira!!!
— Você tomou todas essas decisões pensando em mim? — questionei completamente abalada. — Só que você tirou uma parte da minha vida e encaixou-me onde você queria!
— , peço que entenda o que eu fiz — ela pediu se aproximando e me afastei, obviamente. Não queria contato algum com ela naquele momento.
— Nico é filho dele? — perguntei apontando Ângelo e ela concordou. Então e Nico eram irmãos, mas eu era filha apenas dela. Como eu nunca percebi a semelhança entre eles? Eu era muito estúpida, fútil.
— Eu de verdade, sinto muito — mami chamou atenção. — Não queria que fosse assim, na verdade jamais imaginei que aconteceria como aconteceu!
Tentei pensar, mas era difícil. Eu precisava respirar e com eles ali não seria possível, eu precisava fazer alguma coisa. Eu precisava fugir daquilo tudo pelo menos por algumas horas.
Não pensei duas vezes antes de correr para fora de casa, sair pela porta como se nada pudesse me impedir. Sei que andando eu não podia ir muito longe, mas corri o máximo possível a fim de ninguém me ver entrando na casa da Senhora Tereza, no final da rua e me hospedar na casinha da árvore de sua neta.
E ficar ali noite adentro, chorando e pensando na merda que minha vida tinha se tornado em menos de 3 meses foi um alívio.
POV
Eu não fazia a mínima ideia de onde poderia ter se metido, mas não consegui deixar ela simplesmente sumir enquanto Ângelo tentava me desferir todo ódio possível falando que eu era a culpa de tudo aquilo etc. era típico dele me culpar por todas as merdas que ele fazia.
Depois de tentar apaziguar as coisas dentro de casa e finalmente ver que Leonor havia parado de chorar e de dizer que tinha estragado tudo, decidi sair para encontrar .
Corri pela vizinhança, porque daquele condomínio ela não tinha saído. Depois de alguns minutos, lembrei da casa de árvore da Dona Tereza que ela tinha me falado quando estávamos no bar, bebendo deliberadamente.
Subi pela escada de madeira e a encontrei apenas iluminada pela luz do poste que tinha perto. Fungando e mexendo nas unhas.
O que mais me doía nem era os socos que eu tinha levado na cara do meu pai, mas sim de ver ela daquele jeito, naquele estado. Aquela não era a minha boneca. Ela percebeu que eu estava na porta no susto, achando que era alguém para fazê-la mal, mas ficou tranquila quando me identificou.
— Não queria que fosse assim, boneca — falei ainda na porta de entrada, pronto para adentrar a casinha. — Se eu pudesse, tiraria toda dor que você está sentindo só para te ver bem. Realmente, problemas familiares são difíceis, agora você sabe o quanto — fiz uma pausa e me aproximei. Limpei as lágrimas do seu rosto com dificuldade, porque tinha muita água por ali. — Você precisa ser forte, porque você ainda vai descobrir mais coisas não muito agradáveis.
— Mais? — questionou e concordei. — Você sabia? — prendeu um soluço e me senti mal. Me senti realmente mal, mas balancei a cabeça afirmando.
— Sim, eu sabia — falei, fazendo-a chorar mais um pouco. — E antes que você me questione, eu não contei porque eu não tenho que me meter nisso. Sempre achei que sua mãe e m... e Ângelo devessem ter te contado. Inclusive, na minha última briga com ele, aquela do corredor, toquei nesse assunto. Por isso ele ficou possesso.
— E agora, ? O que eu vou fazer? — perguntou se afastando, coisa que me deixou chateado. Queria poder segurá-la e garantir que estávamos bem, por mais que aquilo não era algo que eu deveria me preocupar no momento. — Eu não quero voltar para casa.
— Boneca, você precisa voltar para casa. Você precisa conversar com seus pais, até mesmo com o Denis — segurei seus dedos finos e gelados. — Você está gelada, precisa se agasalhar. Não quero que fique doente, por favor, vamos? Juro que não saio do seu lado.
— Promete?
— Eu juro — apertei seus dedos em minha palma da mão e beijei ali. — Vem — tirei minha jaqueta de couro e joguei sobre seus ombros. — Temos que ir para casa, porque sua mãe está preocupada. Não tome atitudes que possam te fazer se arrepender sem conversar primeiro, boneca.
O caminho de volta para casa foi tranquilo, mas percebi que ela andava devagar para postergar o que possivelmente estaria por vir. Denis chegaria dali alguns minutos e ela estaria frente a frente com ele. Não sei se é algo que eu devo me meter novamente, mas se algo estivesse machucando ela, eu não ia deixar, de forma alguma.
— Só para que você não se surpreenda, sua mãe ligou para o Denis, o seu pai mesmo — apertei seus dedos com carinho. — Ele já deve ter chego, estamos a quase 1h desde que tudo aconteceu. Estou com você, estou do seu lado.
— ... — ela chamou e apenas encorajei a continuar falar. — Ele era realmente muito ruim com vocês?
Não queria manchar a imagem que ela criou de Ângelo, por isso suspirei e olhei para qualquer outro lugar que não fosse seus olhos; ela sabia ler os meus como ninguém antes soubera. Entretanto, Ângelo conseguia fazer isso por si só uma pessoa ruim, não queria ser o responsável por trazer um sentimento ruim aquele momento.
— Já te expliquei um pouco sobre minha mãe e meu irmão, mas nunca falei sobre meu pai — respondi cautelosamente. — Como falei há alguns minutos atrás, acho que ele nunca realmente se importou com a gente, até porque na primeira oportunidade que ele teve, simplesmente saiu de casa. Dava sinal de vida vez ou outra, um real vez ou outra… Mamãe sempre zelou por nós, cuidou de mim e de Gabriel com toda dedicação. Mesmo que não pudesse ficar tanto tempo conosco por causa do trabalho, sempre teve carinho e amor. Não estou querendo dizer que sua mãe não vale nada — tratei de deixar claro —, só estou dizendo que todos temos problemas com nossos genitores e te mostrando que você vai superar, você é mais forte do que pensa.
Balançou a cabeça em negação. Daria tudo para saber seus pensamentos, mas apenas segurou minha mão e entrelaçou nossos dedos. Eu estava quente, mesmo sem jaqueta; ela estava gelada, mesmo com a jaqueta. Meus olhos saíram da estrada e se encontraram com os dela. Pude sentir a nossa conexão, mesmo que por pouco tempo, pois precisei voltar os olhos para a rua.
Quando chegamos em casa, realmente já tinha um carro parado que imaginei ser de Denis. Afaguei um de seus ombros e depois passei um dos braços, enquanto ela cruzava os braços para dissipar o frio.
Abri a porta e dei passagem. A casa estava quente e silenciosa. Conseguimos ouvir apenas barulhos de vidro batendo sobre a mesa de centro, com certeza vindos da sala. me olhou antes de seguir caminho para lá, encontrando sua mãe, Ângelo e Denis em pé.
Ele tinha cabelo grisalho, braços fortes cobertos de tatuagem e uma estatura um pouco menor que a minha, ainda assim maior que . Seus olhos extremamente azuis como os dela eram um pouco puxados e nariz arrebitado.
Eles suspiraram fundo quando ela apareceu no arco da sala, mas Ângelo não estava nenhum pouco contente comigo na companhia dela naquele momento. Leonor parecia aliviada, mas ao mesmo tempo tinha culpa em seu olhar, não era para menos.
— Graças à Deus você está de volta, minha filha! — ela correu de encontro a nós, me obrigando a soltar a mão gélida de . — Eu sinto muito por você ter descoberto assim, acho que precisamos muito conversar e colocar os pingos nos i's, aproveitando que Denis está aqui.
Eles se encararam. Denis parecia estar com o semblante cansado porém lívido. Ficou de pé e sem saber o que dizer, apenas se aproximou e estendeu sua mão para a filha, que demorou a aceitar por talvez não saber o que fazer depois daquilo.
— Como você já sabe, meu nome é Denis — sorriu gentil, pigarreando em seguida. — Uma forma meio estranha de conhecer o pai, mas acho que esse é o nosso destino.
Eu não fazia ideia do que poderia se passar pela cabeça dela, mas deve ser algo como passei quando era criança ao ver meu pai uma vez na vida e outra na morte.
— Desculpa — pediu quando começou chorar novamente e soltou sua mão, voltando-se para mim.
— Eu acho que a precisa descansar — eu tomei a frente e com um pequeno sorriso ela agradeceu. — Acredito que tenha sido muito para ela o dia de hoje e precisa relaxar.
— , você pode por favor não se intrometer? — Ângelo se pronunciou completamente ignorante do outro lado da sala. — Acho que esse assunto não lhe cabe e sabemos o que é melhor para a .
— Sinto muito, mas hoje não consigo — ela pronunciou para Denis, ignorando o que Ângelo tinha falado. — Eu realmente preciso de um banho, de um chocolate quente e dormir — virou-se para mim. — Você pode ver se a Ger faz para mim?
Encostei meus lábios em sua testa e tudo que eu mais queria era ficar ali, parado naquele momento apenas apoiando-a em frente a tudo aquilo. Com isso, ela deu as costas e subiu as escadas, deixando todos ali em silêncio.
Gertrudes não estava mais na cozinha, talvez já estivesse em sua casa. Larguei minhas coisas sobre a mesa e abri os armários. Localizei uma panela consideravelmente boa, peguei o chocolate e um pouco de leite e coloquei tudo dentro. Liguei o cookie top e esperei esquentar o leite. O cheiro era bem gostoso. Separei em duas xícaras, mas duvidava que ela conseguisse tomar o líquido.
Antes que eu pudesse sair da cozinha, vi que Ângelo estava em pé na porta, observando o que eu fazia. Não estava pronto para discutir com ele naquele momento, mas voltei as xícaras para a bancada. Eu iria ouvir de qualquer forma, então preferia que fosse agora.
— O que você está pensando que está fazendo? — perguntou cético.
— Chocolate para a ? A Gertrudes não está, então acho que sobrou para mim — levantei as sobrancelhas cínico.
— Quantas vezes eu falei que quero você longe dela? — ele aproximou-se, me deixando desconfortável. — Ela não é uma garotinha qualquer que você simplesmente traça. Fora que sua vida é uma droga, você deveria considerar mais e pensar no melhor para ela!
— Ângelo, na boa, não estou em clima para ouvir seus sermões — peguei minhas coisas de cima da mesa e coloquei nos bolsos. — Acho muito válido sua preocupação com a , mas ela não é sua filha e por culpa sua e da Leonor, olha como ela está! Então por favor, antes de criticar sobre como eu trato a , pense em como você a tratou por quase 17 anos: mentindo.
— A não é para o seu bico! — ele avançou em minha direção e me prensou contra a parede. Segurou meu queixo. — Você não se atreva a fazer qualquer coisa com ela, ou eu vou acabar com o resto de vida que você tem!
Suspirei fundo para não socar a cara dele, porque era tudo que eu mais queria naquele momento; juntar toda a raiva que eu sentia dele por tanto tempo e descontar.
— Você é sem caráter — repliquei o empurrando, completamente transtornado e com a respiração falhada. — O que você fez com a , não é nada diferente do que você fez com a mamãe, com o Gabriel e comigo! Gabriel está na situação que está e a culpa é sua. Eu sou assim, por sua culpa! E sinto muito, mas eu gosto demais da para deixar você estragar a vida dela.
Dei as costas para ele e peguei as xícaras de chocolate quente. Passei por ele como se não tivesse falado nada, mas na verdade, para mim realmente não importava. Tudo que ele tinha soltado, era simplesmente descartável.
O tipo de pai que ele é, não é ser pai.
Abri a porta do quarto de e ela estava com uma toalha nos cabelos, enrolada em outra toalha branca. Hesitei, não queria ser evasivo e percebi que ela estava um pouco envergonhada. Por que eu não bati na porta? Como posso ser tão burro?
— Desculpa, eu deveria ter batido — falei ainda olhando para ela. Estupido! Vire de costas pelo menos! Virei.
— Acho que tudo bem, pode virar — falou e voltei a olhar para ela ainda um pouco hesitante e entreguei a xícara. — Obrigada.
— Espero que esteja gostoso — experimentei o meu e confirmei que estava. — A Ger não está mais, acho que foi para casa.
— Esqueci completamente — ela revirou os olhos e experimentou. — Está delicioso. Obrigada!
— Bom, estou indo — apontei para a porta. — Caso precise, estou na porta da frente. Se cuida, boneca.
Ela andou em minha direção e colou seu corpo no meu; passou a mão pelos meus fios de cabelo. Ficou de pontas de pés e colou nossos lábios, apenas um selinho, sem intenção alguma. Suspirei confuso e ela sorriu.
— Obrigada por tudo.
'S POV
Domingo era para ser um dia agradável em família, mas não era bem assim, pelo menos não mais. Minha vontade era de ficar o dia inteiro trancada, finalmente lendo meu livro novo, mas nem nisso eu conseguia concentrar.
Mais cedo, alguém bateu na porta do quarto, porém eu apenas ignorei. Provavelmente achou que eu dormi e desistiu da ideia de me incomodar. Entretanto, eu estava com fome e não poderia ficar mais um dia sem comer porque não faria bem para minha dieta. Tomei banho, me arrumei e desci para o andar debaixo.
Quando apareci na ponta da sala, eles pararam de conversar para me observar. Mami estava sentada ao lado de Ângelo, enquanto Denis estava na poltrona na frente deles.
— ? — ouvi a voz de mami. Por mais que eu não quisesse interagir, eu entendia que precisava. — Acho que precisamos conversar.
Realmente eu precisava resolver isso, mas algo me dizia que não seria fácil e muito menos rápido. Eu precisava liderar aquela conversa, por isso sentei-me e aguardei que todos fizessem o mesmo. Mami e Ângelo se encaravam apreensivos, enquanto Denis parecia relaxado.
— Certo, preciso saber de tudo — pedi juntado as mãos, olhando para todos. — Desde o começo e sem cortar partes, por favor.
— Acho que eu devo fazer isso — mami segurou a mão de Ângelo e olhou para mim. — Eu conheci o Denis ainda no Ensino Médio. Nós éramos o típico casal favorito da escola e demos certo além da escola, no entanto, dois anos depois estávamos morando juntos. Nossos pais não gostavam da ideia sem o casamento, mas aprenderam a aceitar. Tivemos muita dificuldade, porque comecei trabalhar em uma empresa de telemarketing e bom, seu pai trabalhava em um estúdio de tatuagem.
Arregalei os olhos e virei para Denis. Ele sorriu e eu percebi que era algo que ele gostava muito. Ainda assim, achei que ele tinha pouca tatuagem para dono de estúdio.
— Os dois primeiros anos foram bons, mas depois, parecia que tudo ia de água a baixo, pois começamos a brigar muito e decidimos que seria melhor cada um seguir sua vida, voltei para casa dos seus avós e assim foi — mami terminou e pigarreou.
— Ela só esqueceu de me falar que estava grávida — Denis disse e eu olhei para ele.
— Denis, não foi bem assim — suspirou apreensiva. — Enfim, . Sim, descobri que estava grávida já no quinto mês. Eu não sentia diferença, minha menstruação atrasava algumas vezes e resolvi ir ao ginecologista regular meu ciclo, pois eu finalmente arrumei um cargo melhor onde eu trabalhava e podia pagar as consultas. Em momento algum passou pela minha cabeça abortar, jamais. Te amei desde o primeiro momento — ela começou chorar e senti vontade de fazer o mesmo, mas eu precisava ser forte. — Nisso, eu já estava namorando com Ângelo. Ele me deu todo apoio que eu precisava, mas eu não queria voltar ao meu passado para procurar Denis. Ângelo disse que teria você como filha, que não se importava e não pensei duas vezes. Não estou dizendo que seu pai não prestava, mas ele não me fazia bem e eu não queria trazer isso para perto novamente. Ainda assim, decidi ir atrás dele, achei que ele merecia saber sobre você.
— Você fala como se eu te agredisse, maltratasse, Leonor — Denis falou e parecia ser sincero. — Você sabe muito bem que nós dois não nos fazíamos bem.
— Eu procurei seu pai — falou mami e voltei a atenção à ela. — Só que ele estava morando em outro país, ganhando dinheiro com o que ele gostava de fazer e não achei justo incomodá-lo e fazer o sonho dele parar.
— A nunca seria incômodo! — protestou ele, passando as mãos sobre os cabelos. — Você sempre soube do meu sonho de ter um filho! Você não podia ter feito isso, Leonor.
— De toda forma, eu e Ângelo criamos você até que Denis descobriu e quis te conhecer — mami disse, chamando a atenção novamente. — Mas , eu estava pensando em você! Não queria bagunçar a sua vida, minha filha. Achei que estaria te protegendo de alguma forma...
— E estava me prejudicando — falei, e ela balançou a cabeça chateada. — Eu estou perdida, mami. Não sei o que pensar sobre vocês, as pessoas que mais confiei na vida! E Denis — virei-me para ele —, sinto muito por isso. Eu realmente preciso ingerir isso tudo, não consigo... Não sei o que dizer, fazer...
— Tudo bem, — ele disse, segurou minhas mãos entre as suas. — Lembre-se que você nunca seria um peso em minha vida.
— Você fala isso agora, Denis — Ângelo resolveu falar. — Mas você viajou o mundo, duvido muito que teria feito isso se estivesse presente ou se ao menos assumiria paternidade e desistiria do seu sonho.
— Eu não vou cair em sua provocação, Ângelo — Denis falou. — Sei que você não é boa gente — depois de falar isso, voltou-se para mim. — A gente podia marcar um almoço, não sei?!
— Podemos sim.
— Então, preciso ir — disse ficando em pé, estendendo a mão para mim. — Posso te ligar?
— É... Sim, claro! — respondi ainda confusa, caminhando com ele até a porta. — Será um pouco difícil me adaptar, mas espero que entenda.
— Sem problemas, no seu tempo — ele riu e em seguida estendeu-me a mão e apertei. — Até mais então.
Voltei para dentro de casa, observando meus pais que pareciam nervosos. Apenas balancei a cabeça, indicando que não queria conversar com eles naquele momento e eles respeitaram. Andei até a cozinha e peguei uma maçã, depois subi para o quarto comendo.
Capítulo 16 - Bebedeira e Confusão
O último shot que eu lembro de ter tomado foi o de número 9. Depois disso, só ladeira a baixo.
Ensopada de suor e com cabelos colados nas costas, eu dançava descalça todas as músicas possíveis das boates do centro de São Paulo. Eu sentia a música tocar dentro do meu corpo, na minha cabeça e acelerando ainda mais meu coração.
Começou uma nova música e gritei jogando as mãos para cima, sendo acompanhada por outras pessoas. Fui arrastada até o palco para dançar alguma música qualquer e mesmo falando que não queria, lá estava eu em pé. O álcool estava me dando coragem até demais!
Me remexi junto com outras pessoas em cima do palco e acabei descendo depois de tanto dançar, extremamente exausta. Não lembro como consegui entrar naquela balada, mas lá estava eu agora encostada em uma das paredes em frente a um ventilador, completamente bêbada.
Estava triste já em imaginar como seria minha ressaca no dia seguinte, mas suspirei e tomei mais um gole da bebida em meu copo. Arrumei minha camiseta e tomei atitude de voltar para pista de dança, mas fui impedida por algumas trancinhas coloridas que eu bem sabia de quem poderia ser.
— ?! — ouvi a voz de Louise e abri os olhos com mais força para enxergar melhor. — O que você está fazendo aqui? Está sozinha?
— Lou? Oi!!! Sim, estou sozinha! — respondi tomando mais bebida.
— Não vou nem questionar o que está fazendo aqui sozinha — ela riu chamando alguém, mas não consegui acompanhar o movimento. — Fiquei sabendo sobre a foto que divulgaram sua. Faz ideia de quem pode ter sido?
— Não faço ideia — dei de ombros. — Na verdade não importa, quem não tinha que ver acabou vendo de primeira mão, no caso meus pais.
— Você sumiu da escola depois disso — ela acariciou meu braço, me deixando mais confortável.
Por que estávamos tendo aquela conversa dentro de uma boate? Eu não conseguia nem somar 2+0 se fosse necessário, porque estava bêbada de uma forma estrondosa.
Começou a tocar uma música qualquer que era muito dançante e não demorei a puxar Louise para a pista e deixar de conversa mole. Eu precisava me divertir e esquecer todos os problemas possíveis, mas nem tudo estava ao meu favor.
— Lou, quase não consigo te achar — gritou Maurício por cima da música. Depois olhou em minha direção e sorriu. — ? Tudo bem, darling?
— Sim! — gritei de volta para ele. Ainda não tinha decidido se gostei de ser chamada de "darling" e soltei um sorriso amarelo. — Vocês frequentam sempre aqui?
— Não exatamente — respondeu Louise. — Na verdade, gosto muito daqui. É uma balada onde todo mundo pode se beijar sem preconceitos e encheção de saco.
— Vocês dois estão ficando? — perguntei curiosa. Não sabia que eram amigos, nunca os vi junto na escola. Na verdade, eu não tinha muito o que reparar no Maurício e Louise.
— Não! — Maurício riu, segurando meus ombros. — Eu sou gay, darling. Há possibilidades de beijar uma garota tipo a Louise, mas não é muito a minha praia, sabe?
Quis responder que sim, mas eu não sabia qual era a sensação. Todas as bocas que um dia eu beijei, pertenciam a um garoto. Por quê? Será que era algo que eu deveria experimentar?
Sem pensar duas vezes, juntei a minha boca com a de Louise, que surpresa ainda continuou de olhos abertos até eu sentir sua língua entrar na minha boca. Me aproximei mais, sentindo suas mãos rodearem minha cintura.
Subi as mãos para seu pescoço, não lembrava mais onde estava o copo que estava usando. Podia falar que estava gostando muito, mas não parecia a mesma sensação que causava em meu corpo. Com ele eu tinha vontade de tirar a roupa, de expor todos os meus pensamentos, fazer coisas que nunca havia feito, de passar dias em sua companhia, de não sei... dizer coisas que eu nunca disse...
Meu Deus.
Parei de beijar Louise. Separei nossas bocas e a encarei como se algo muito sério tivesse acontecido. E tinha. Segurei seus braços, ainda confusa pisquei para evitar chorar na frente dela e de outras trocentas pessoas em volta.
— ? Está tudo bem? — ela perguntou
Eu precisava ir para casa. Comecei andar por entre as pessoas, pedindo licença e empurrando alguns, passando entre outros, até que cheguei na porta e sai. Respirei ar puro, consegui sentir o silêncio que era estar do lado de fora, longe da música, longe de gritaria e de muvuca.
Algumas pessoas estavam fumando do lado de fora, enquanto outras estavam se pegando e conversando em grupo. Olhei para os lados sem saber o que fazer, quase desistindo de tudo quando vi ele em sua melhor pose, usando as roupas de sempre.
Mas tinha um grande detalhe: ele era uma das pessoas que estava se agarrando. Maurício aproveitava para beijá-lo e tocar seu corpo que eu tanto queria tocar novamente. separou os beijos e passou a mão pelo lábio, sorrindo para Maurício. Foi quando ele me viu ali parada, totalmente perdida e sozinha.
Deve ter inventado alguma coisa e caminhou em minha direção, mas eu queria sair dali mesmo que nem tivesse forças para me mexer sozinha. Seus braços me tomaram como nunca fizeram antes e a única coisa que fui capaz de fazer foi afastá-lo. O empurrei e tudo que eu havia ingerido estava voltando. Vomitei em minhas sandálias extremamente caras da Yves Saint Lauren e também sob as botas desgastadas de .
— Acho que a noitada já deu, boneca — ele disse segurando meus cabelos e acariciando meu braço com uma das outras mãos. — Vou te levar para casa.
Não sei o que aconteceu até chegar em casa porque eu dormi, inclusive babei na camiseta branca de e senti apenas vergonha de mim mesma. Eu deveria me controlar mais, porém eu precisava extravasar de alguma forma e essa foi a forma mais rebelde que eu consegui.
Ele jogou minhas sandálias no canto do quarto, tirou o vestido que eu usava e me colocou sentada dentro da banheira. Jogou água com o chuveirinho em mim, mesmo que eu protestasse por estar gelado e com sono.
— As vezes acho que você se esquece que não posso estar metido nessas boates, boneca — disse simples, enquanto passava shampoo em meus cabelos.
Mas quem havia chamado ele lá? Será que ele estava me rastreando? Não seria possível. não parecia fazer esse tipo de pessoa. Apenas pisquei confusa, sentindo o sabão escorrer pelo meu rosto, enquanto a água continuava gelada.
— Como você sabia que eu estava lá? — questionei sonolenta. — Vai me dizer que estava me seguindo?
— Maurício avisou que a minha "irmãzinha" estava muito bêbada, já tinha dançado até no palco e que alguém precisava ajudá-la a ir embora — respondeu ele rindo. — Espero que tenha valho a pena a ressaca que você terá amanhã...
Apenas balancei a cabeça. Já estava menos pior que antes, conseguia entender o que estava acontecendo. Quando ele terminou de me "dar banho", enrolou meus cabelos em uma toalha e me deu o roupão. Tirei as roupas íntimas, coloquei uma camiseta grande e me joguei na cama daquele jeito, acompanhada por ele que ficou sentado ao meu lado.
— Tome esse remédio, vai ajudar amanhã — entregou o comprimido com água. Não hesitei em fazer o que ele tinha pedido. — Como se sente?
— O quarto está girando — falei pela primeira vez, o que fez ele rir. — , fica aqui comigo?
Me olhou terno, com carinho e apenas sorriu. Deitou-se ao meu lado e desligou a luz, deixando apenas o abajur aceso. Me aconcheguei em seu braço, sentindo a quentura de seu corpo.
— Eu estava pronto para dormir quando o Maurício me avisou que tinha te visto na LGV — contou, mexendo em meus dedos das mãos. — Pelo jeito, você não conseguiria chegar em casa sozinha, não é?
— Provavelmente, não — ri fraco, sentindo vontade de beijar ele. Com certeza era culpa da bebida, meu Deus. Preciso controlar meus hormônios de uma forma melhor. — Mas a festa estava muito boa.
Ele apenas suspirou, ficando em silêncio. Acho que ele queria dormir, mas eu estava sem sono algum, queria conversar. Acho que isso era efeito do energético que havia tomado misturado com Vodka.
Virei para o lado dele, vendo seus olhos abrirem automaticamente. Ele sorriu calmo e ficou me encarando, enquanto eu só conseguia suspirar e admirar sua beleza. Por trás daquelas íris escuras, agora eu entendia que havia um garoto frágil, quebrado e corrompido pela própria família.
— Como você está? — perguntei sussurrando. primeiro riu, aquela risada gostosa que eu poderia ouvir até o último dia da minha vida, que parecia música aos meus ouvidos.
— O mundo caindo em cima da sua cabeça e você perguntando se está tudo bem comigo — ele disse, tirando uma mecha do meu cabelo do rosto. — Estou bem, boneca. E você?
— Estou zonza — respondi a verdade, rindo em seguida. — Quando fecho os olhos parece que estou em um buraco sem fim e quando abro, o teto está girando como em um filme de ficção científica paranormal.
— Profunda comparação — gracejou, fazendo carinho em meu pescoço, nossa única conexão até então.
Diversas coisas me surgiam na cabeça para perguntar, mas eu não sabia por onde começar. Acho que era a primeira vez que passávamos juntos assim, tão próximos e tão íntimos. Ele parecia tão leve, tão tranquilo...
Aí eu lembrei do beijo que eu havia dado em Louise. Depois lembrei do beijo que vi Maurício e se deliciando e automaticamente quis vomitar. Não parecia justo me sentir com ciúme, uma vez que a gente não tinha nenhum relacionamento e nem teríamos, afinal.
O enjoo veio bem forte, mas deu tempo de chegar apenas até a pia do banheiro, onde despejei toda a bebida que eu havia tomado — espero que toda mesmo. veio atrás de mim e me amparou, colocando a mão em minhas costas.
— Depois desse porre, você nunca mais vai querer encher tanto a cara — brincou e eu apenas encarei ele nada contente. Ele desfez o riso no mesmo momento e me ajudou a fazer um enxágue bucal.
— Realmente, bebi tanto que acho que estava vendo até o que não deveria — falei ácida, ele apenas estreitou os olhos confuso.
— Como por exemplo...
Apenas neguei, voltando a sentar na cama e sendo acompanhada por ele. O silêncio se instaurou, mas não era nenhum pouco incômodo. Por incrível que pareça, até em silêncio era bom ficar com ele.
— Posso te fazer uma pergunta? — sussurrei minutos depois.
— Já fez uma, você tem outra chance — brincou e eu só consegui sorrir.
— Quando você descobriu que gostava de garotos? — perguntei apreensiva, mas aguardando sua resposta ansiosa.
— Você me surpreende a cada pergunta nova que faz, fico impressionado — piscou orgulhoso. — Quando eu era mais novo, talvez uns 16, minha mãe trabalhava em uma casa de família na zona leste. Eu ajudava ela a limpar essa casa, já que era uma mansão extremamente grande e acabava ganhando por isso também. Se tratava de um casal de médicos, eles ficavam a maioria do tempo fora de casa. O filho mais velho deles tinha 20 anos e a mais nova 11 que ficava com uma babá.
"Certo dia, eu estava limpando o quarto do garoto que era o último cômodo que faltava para mim. Sempre fui apaixonado pela coleção de carros esportivos que ele tinha em uma prateleira planejada que tinha no meio do quarto enorme, que separava a cama da escrivaninha e o banheiro. Ele chegou um pouco antes que eu finalizasse e puxou assunto, conversou sobre os carros, sobre as viagens que tinha feito e onde havia adquirido cada um deles. Entramos em um assunto de horas, no qual até minha mãe perguntou se eu já iria embora com ela, mas neguei falando que ficaria mais um pouco.
Conversamos por horas, sobre diversas coisas e quando percebi, estávamos nos beijando em cima de sua cama, aos suspiros e com muito tesão. Mas era algo extremamente novo para mim, porque nunca tinha ficado com um cara, apenas com algumas meninas da escola. Não era virgem, já tinha transado com algumas também, mas ainda assim nunca tinha estado com um homem antes, o que me fez ter um pouco de preconceito e quebrar o beijo.
Fui embora aquela noite com a consciência pesada de que estava fazendo algo de errado e que não deveria de forma alguma levar aquilo adiante, por mais que os sinais que meu corpo dava ao lembrar da cena fosse o mais sincero possível. Não tinha como o corpo reagir de uma forma extremamente excitante, sem ter desejo.
Na semana seguinte, voltamos lá. Enquanto minha mãe estava responsável por limpar a cozinha que era mais demorada, eu encontrei o cara novamente em seu quarto. Dessa vez ele estava apenas de cueca assistindo um filme, pedi desculpa porque não queria atrapalhar, mas fui impedido de sair daquele quarto. Seu cheiro tomou conta do meu olfato e eu vendo seus lábios, quis prová-los.
E me perdi em seus lábios, seu corpo. Parecia que estávamos lutando — riu —, porque ambos estávamos descontrolados de desejo um pelo outro e convenhamos que a força masculina é bem... você sabe. Enfim, transamos. Quer detalhes da transa? — balancei a cabeça negando. — Ok. Foi algo muito louco, que eu jamais me imaginei fazendo, mas no final, todo aquele desejo que eu estava sentindo, finalmente havia saído apenas da minha cabeça. Conversamos horas a fio, ele contou que estava se descobrindo e eu contei a ele que tinha sido a primeira vez que eu havia feito algo do tipo com um cara e ele riu, era muito natural.
Não vou mentir para você que cogitei ter um relacionamento sério com ele, porque eu queria. Eu era jovem, bobinho, queria muito poder ter alguém e estava vivendo uma nova experiência. Os pais dele nunca aceitariam que ele ficasse com um cara, por isso acabei caindo fora. Hoje em dia, ele é casado com uma mulher, tem filhos, mas não sei se ele é feliz, espero que sim."
— E depois dele você passou a ficar com outros caras? E sua mãe?
— Sim, fiquei com vários outros, assim como as garotas também — respondeu. — A minha mãe é maravilhosa. Ela entendeu completamente o que estava acontecendo comigo, pelo que eu estava passando e me apoiou sempre, nunca me julgou por ser bixessual.
— Nossa — suspirei, ainda tentando digerir aquela história toda. Não vou mentir que fiquei agoniada e com uma parcela de ciúme por aquele relato tão... expressivo. — O Ângelo sabe?
— A opinião dele não importa — riu, passando os braços pelos meus ombros. — Mais alguma dúvida, senhorita? Algum motivo para esse questionamento?
Confusão era tudo que eu estava sentindo. Não sei se gostei de beijar Louise, a chama não acendeu como funcionava com . Será que ele havia me quebrado para as demais bocas? Tinha grande possibilidade.
— Eu beijei Louise — contei um pouco envergonhada. Não sabia se deveria mesmo falar, mas logo recebi um sorriso em troca.
— E o que você sentiu? — perguntou curioso.
— Na verdade, senti como se estivesse dando um mero beijo na boca — dei de ombros. Ele me observava, aguardava um complemento. — Não sei se gosto de meninas.
— Hmmm, mas será que você não beijou no momento errado? Afinal, você estava muito bebada — sugeriu. Eu me senti mal por ele falar comigo assim, porque achava que ele reagiria com ciúme, mas pelo contrário, ele queria que eu falasse o que estava sentindo.
— A verdade é que... — suspirei. Eu ia falar, precisava falar. — Eu acho que você me quebrou.
Ele olhou confuso, sem saber o que dizer. Apenas piscou algumas vezes, achando estranho minha declaração.
— Como assim quebrei, boneca? Tá doidinha? — me abraçou pelos ombros novamente. Fiquei de frente para ele, no meio de suas pernas, apoiando as mãos em suas coxas.
— Eu não consigo me imaginar beijando mais ninguém além de você — respondi, simples. — Beijar outras pessoas parece chulo perto de beijar sua boca. Quando beijei a Louise, parecia apenas um beijo normal, assim como quando fiquei com Daniel ou qualquer outro cara — ele balançou a cabeça compreensivo. — Mas quando beijo você, meu corpo parece se acender em chamas e eu tenho certeza que se pudesse entraria em combustão. Talvez até explodir de tanto desejo.
Ele não demorou a puxar meus lábios para os seus, tomando-os com vontade. Me acendeu automaticamente, meus braços ficaram arrepiados. E lá estava eu: a que parecia pertencer completamente a .
— Eu... — ele quebrou o beijo, colando nossas testas. — Você não tem noção do quanto mexe comigo, boneca. Sinto todas essas sensações quando te vejo, não preciso nem ao menos te tocar. Ainda assim, ficaria te beijando para o resto da minha vida.
— Você também sente isso quando beija o Maurício? — deixei escapar a curiosidade, fazendo rir.
— Você está com ciúme? — perguntou acariciando minha bochecha e eu por um momento quis socar ele por jogar isso na minha cara tão de primeira.
— Não, né? — respondi rápido. — É que vi vocês dois juntos aquela hora, né? Não sei, acho que seria legal você se envolver com alguém, né? E o Maurício parece um ótimo rapaz, né?
— Entendi — ele me abraçou, puxando-me para sentar em seu colo. Senti sua excitação na lateral da minha bunda e não pude deixar de suspirar. — Você me deixa extasiado, boneca. Posso beijar diversas bocas, mas você mexe com todo meu sistema corporal. Sistema muscular, sistema respiratório, sistema circulatório, sistema nervoso e principalmente sistema reprodutor e límbico. Você está em tudo na minha vida, boneca.
Juntei nossos lábios novamente, dessa vez parecia que o mundo estava girando em uma órbita diferente. Se tudo acabasse naquele momento, com aquele beijo e aquela sensação prazerosa, eu morreria feliz.
Mas ele parou de me beijar. Passou a mão na minha bunda com carinho e suspirou com calma. Ele estava um pouco cabisbaixo, eu havia percebido desde que tivera perguntado se estava tudo bem, mas trocamos tanto de assunto que até me perdi.
— Acho que a senhorita deveria tentar dormir.
— Não consigo — respondi de pronto, deitando do meu lado da cama. — Acho que tomei muito energético.
— Então a senhorita vai velar meu sono, porque estou extremamente cansado — respondeu deitando novamente, se aconchegando ao meu lado.
— O que você fez hoje? — perguntei curiosa.
— Arrumei minhas coisas — ele fechou os olhos, parecia esconder alguma coisa por ali ou pelo menos não queria me ver. — Amanhã vou voltar para casa.
Meu mundo parou. Arrumar coisas? Voltar para casa? COMO ASSIM?
— Como assim? — faltei gritar igual fiz em minha cabeça.
— Ângelo me deu um ultimato — ele suspirou, abrindo os olhos agora. Estavam marejados, mas me olhavam com toda sinceridade do mundo. — Ele disse que eu tenho até amanhã para dar o fora daqui, que vai quitar as dívidas do Gabriel e tentar tirá-lo de onde ele está com saúde.
— Ele está fazendo isso para nos afastar — sussurrei desacreditada. — Para onde você vai?
— E ele não está errado, boneca — disse baixo, suspirando em seguida. — Vou morar temporariamente na casa dos fundos da minha tia, mas isso não é assunto para agora.
Me aninhei em seus braços, senti seu calor, seu cheiro e ali descansei. Não imaginava que essa seria uma das últimas vezes que teríamos compartilhado um momento tão terno e íntimo, mas a minha vida não era um conto de fadas.
Capítulo 17 - Lindo Adeus
Acho que eu não estava preparada para viver esse momento, mas era extremamente previsível não ter a presença de naquela casa ao decorrer dos meses.
Quando ele chegou, eu odiava sua presença e nem queria nem ser vista com ele. As coisas mudaram de uma forma tão drástica, que ter acordado na minha cama sem ele dilacerou meu coração. Ter aberto a porta do quarto naquela manhã de sábado e ver a porta do quarto de hóspedes aberta, tudo arrumado e sem um rastro sequer de que ele esteve ali por alguns meses, foi desesperador.
Nico estava confuso com os últimos acontecimentos dentro de casa e não estava nenhum pouco animado para ir à aula de futebol, coisa que as vezes fazia com ele. Muitas coisas iriam mudar em nossas vidas, incluindo a dele agora com um novo irmão.
Eu estava acabada, chorava copiosamente durante horas dentro do meu quarto enquanto Lilith apenas me encarava confusa, tinha até esquecido a ressaca que estava tendo. Era algo que iria acontecer e estávamos cientes desde o primeiro dia, mas ainda assim aquilo me engoliu.
Eu conseguia sentir apenas o seu cheiro impregnado em meu travesseiro e sentir seu perfume na camisa que eu estava vestindo. Não queria nada além de poder abraçá-lo ou ao menos saber que ele estaria no andar debaixo tomando café e me esperando para irmos juntos a escola.
Mas não, ele não estava ali. O motorista estava pronto com o carro em frente de casa e eu estava sozinha diante a mesa comendo minhas frutinhas.
A escola estava cheia e todos estavam no pátio esperando o horário de cada um ir para sua classe e seguir com a vida monótona como sempre por ali. Estávamos chegando ao fim do ano letivo, eu estava prestes a me formar e finalmente ter que decidir alguma coisa que eu pretendia fazer de faculdade, mas eu me sentia uma inútil por não saber o que gostaria de fazer além de me maquiar, me vestir e ajudar os outros a fazerem o mesmo.
Depois da aula, percebi que todos estavam se dirigindo para o campo de futebol onde aconteceria o último jogo da temporada. Ainda não tinha conversado com as meninas para talvez nos acertarmos, então estava andando sozinha pelo colégio. Aquele lugar estava começando me sufocar e eu sabia que a qualquer momento eu iria surtar.
Quando cheguei no campo percebi a movimentação dos times, encontrando aqueles olhos escuros e cheio de lápis de olho no meio da multidão. Seus cabelos esvoaçavam com o vento e sua pele brilhava com o sol quente que estava fazendo naquela tarde.
Não fazia ideia do porque ele estava ali, mas tudo que eu queria era poder correr em sua direção e abraçá-lo, talvez nunca mais soltar, mas me contive: precisava manter a classe naquele momento e deixá-lo ganhar o jogo.
E assim foi, aquele monte de testosterona chutando uma bola murcha para um lado e para o outro, enquanto as meninas eufóricas gritavam nome de seus namorados ou de caras que admiravam da escola. era um dos principais nomes, o que quase me fazia revirar os olhos.
Quase no final do jogo, percebi que as coisas não estavam muito boas dentro de campo. Eles estavam se estranhando e se encaravam irritados, afinal o time de Daniel estava perdendo, mas ninguém queria aceitar essa derrota.
Foi quando vi que estava frente a frente com Daniel e ambos gritavam um na cara do outro. Algumas pessoas começaram a rodear e querer segurar ambos e quando vi que as coisas pareciam realmente ficar sérias, corri pelo gramado até chegar lá e ver Daniel tomar um soco vindo de .
Entrei no meio dos dois, a ponto de tomar um soco ou levar um empurrão, mas espalmei as mãos no peitoral de ambos e gritei para pararem, porque sinceramente, pareciam um bando de crianças mimadas. Os olhos escuros de caiu sobre mim e percebi que estava surpreso, aposto que não tinha me visto por ali.
— O que vocês pensam que estão fazendo? — quase gritei, olhando de um para o outro. — Vocês querem ser expulsos do colégio?
— Esse cara é muito sem noção, como você consegue suportar ele? — perguntou Daniel apontando para o outro, que quase voou sobre mim para soca-lo mais uma vez, mas o empurrei com mais força.
— Tem como você parar? — falei ríspida com , o que o fez relaxar. Parecia um tanto decepcionado.
— Ele falou coisas ridículas sobre...
— Não importa — cortei-o sem pestanejar. — Isso não te da o direito de socar alguém. Olha a cara dele! — apontei para Daniel. — Você já não está metido o suficiente em confusão?
— Que se dane — ele tirou minha mão de seu peito. — Eu não tenho mais nada a perder.
Deu as costas e saiu correndo pelo gramado em direção ao vestiário. Quis ir atrás dele e saber para onde ele estava indo, o porque estava tão puto, mas fui puxada por Daniel. Ele estava com o nariz sangrando, parecia sentir muita dor e não pude negar ir até a emergência da escola com ele.
Depois fomos ao hospital acompanhado da vice-diretora e descobrimos que ele não tinha quebrado nada, apenas foi um soco bem dado que rompeu uma veia nasal, mas que estava tudo bem.
— Obrigado de verdade por tudo, — Daniel falou mais uma vez e apenas assenti. — Você sempre muito prestativa. Espero poder um dia retribuir tudo isso.
Bom, agora é a hora da verdade. Não posso mais postergar para falar sobre isso, sobre o “nós” que não existe.
— Daniel, eu... — suspirei, olhando fixamente para ele. — Eu não acho que daríamos certo. Eu estou tão confusa ultimamente, não sei o que esperar da minha vida, tenho lidado com muitas decepções e... Me desculpa, mas não posso fazer isso com você — pedi segurando sua mão e ele apenas apertou a minha em compreensão.
— Você realmente gosta daquele cara, não é? — perguntou sereno e me assustei por ver que pessoas fora da bolha estavam pensando isso.
— Eu não sei dizer — gaguejei, mas não fui sincera. Eu sabia sim, eu estava perdidamente... perdida pelo . — Estou perdida, mas preciso me encontrar sozinha. Preciso me afastar um pouco, tentar recuperar algumas perdas que eu tive ao longo da última semana e... não sei.
— Fica tranquila, — ele apertou meu braço com carinho. — Você está amadurecendo e sinceramente? Está se tornando uma mulher incrível.
— Me desculpa, mais uma vez! Não quis te magoar, nunca quis ser assim com você, eu...
Ele balançou a cabeça entendendo e em seguida me abraçou. Ficamos alguns segundos naquela posição e recebi um beijo na testa, ficando sozinha no banco de trás.
Senti alívio ao resolver essa parte com ele, parecia que o peso das minhas costas havia diminuído. Acho que eu estava finalmente entendendo como as coisas funcionavam, como a vida adulta era e sinceramente? Eu queria poder voltar atrás, voltar a minha vidinha medíocre de adolescente rica que não tem com o que se preocupar.
Mas tinha muitas coisas que eu precisava organizar na minha vida. Realmente eu precisava recuperar o tempo "perdido", e por isso saquei meu celular, abrindo aquele grupo no WhatsApp que nunca mais havia aberto.
"Meninas, acho que precisamos conversar e resolver algumas coisas. Será que poderíamos marcar alguma coisa?"
Enviei para Tati e Cami, mas nenhuma das duas responderam de imediato. Aproveitei para enviar a mesma mensagem para Sue, que apenas me mandou um joinha, só um joinha. Nada mais. Louise pareceu animada.
Cami e Tati demoraram para responder, mas concordaram e perguntaram o que iríamos fazer. Pensei e apenas falei que passava na casa delas na sexta-feira à noite.
— Durval? — me joguei entre os bancos para falar melhor com o meu motorista, que essa altura já estava quase perto de casa. — Você sabe onde o mora?
— Não exatamente, , mas sei o bairro onde é a casa da tia dele — respondeu olhando pelo retrovisor. — O que você vai aprontar?
— A gente pode dar uma passadinha por lá, por favor? — pedi, vendo sua expressão facial nada contente. — Durval, preciso falar com ele e não faço ideia de como encontrá-lo!
— Ângelo não vai gostar de nada disso, , acho melhor você deixar as coisas como estão, não acha? — perguntou parando em um farol.
— Durval, ele não é meu pai e não vai ficar sabendo se não contarmos! — quase esperneei, fazendo beicinho em seguida. — Por favor, faz essa pela baixinha!
Citei o apelido que ele me chamava quando era pequena, arrancando um suspiro e um balançar de cabeça, fazendo a manobra para o endereço de . Quase gritei quando finalmente ele topou, mas aí comecei a ficar ansiosa. Eu estava querendo vê-lo, porque ficar longe dele estava sendo uma tortura nos últimos dias.
O bairro não era nada parecido com o que eu já tinha visto. Haviam crianças jogando bola na rua, garotos soltando pipa com as calças quase caídas no chão, algumas garotas dançavam funk em uma calçada enquanto tomavam sorvete e haviam algumas mulheres sentadas na calçada conversando.
— Essa é a rua dele, mas não sei dizer em qual casa é — Durval falou. — Não consigo passar daqui, a rua é um pouco estreita e o carro é bem grande. Mas posso te esperar aqui se não tiver problemas...
— Vou perguntar se alguém conhece ele — falei.
Desci do carro e pisei em falso num buraco com as minhas sandálias cravejadas da René Caovilla. Maldito dia para ter colocado elas; já sobreviveu a uma briga em um gramado, uma enfermaria, um hospital e agora uma rua esburacada. Ajeitei minha mini-saia floridinha da Paço Rabanne e minha blusinha de seda branca.
Todo mundo parecia me observar ali, mas não me deixei intimidar. Caminhei decidida até onde as mulheres estavam sentadas na calçada e perguntei se alguém conhecia o , mas elas apenas me olharam de cima para baixo e informaram que não.
— Oi, meninas — cheguei nas garotas que dançavam funk animadas. — Vocês conhecem o ? Ele é um rapaz alto, sorriso bonito? Sabem onde ele mora?
— Ah, o ? — uma delas jogou o cabelo por cima do ombro e cruzou os braços. — Quem é você e o que quer com ele?
Um cara de moto passou por mim, quase me atropelando e buzinando mais do que tudo. Senti o vento levar meus cabelos e me aproximei mais das meninas, extremamente nervosa.
— Sou uma... amiga — dei de ombros desconfortável.
— Ele começou estudar naquele colégio de bacana e olha o nível de garota que ele conhece — zombou uma das meninas.
Antes que eu pudesse responder, senti uma mão segurar a minha cintura e talvez até tivesse me sentido invadida e com medo, se não conhecesse o perfume que havia chego junto com o toque.
— O que você está fazendo aqui? — perguntou me olhando curioso, olhando ao redor.
Ele estava usando uma camiseta preta e uma bermuda da mesma cor com chinelos de dedos. Seus cabelos estavam molhados e não usava lápis de olho nos olhos, parecia relaxado.
— Vim com o Durval — tranquilizei-o. — A gente precisa conversar, .
— Aqui não é um bom lugar, — suspirou tenso. — Ângelo não pode nem sonhar que você esteve aqui, vou te levar até o Durval para você voltar para casa.
— , por favor? — pedi, olhando para trás dele, onde pude ver na porta da casa a mulher dos porta-retratos de sua escrivaninha.
— Oi, tia Lana! — gritou a menina atrás de mim, acenando para a mulher. — Você já conhece a namoradinha do ?
— Cala boca, Vitória! — esbravejou para a menina, que apenas deu de ombros e voltou-se para mim. — Ela é minha prima insuportável. Você quer entrar? Tomar uma água, suco?
Balancei a cabeça afirmando. Ele me ajudou a ir até a casa com cuidado para não cair na rua esburacada, segurando minha mão com carinho e rindo daquela situação que eu tinha me metido.
— Mãe, essa é a — ele me apresentou para ela e foi quando senti medo.
Nunca havia conhecido nenhuma mãe de algum cara que eu tinha ficado. Muito menos a mulher na qual meu "pai" havia trocado pela minha mãe. Ela com toda certeza iria me odiar, porque eu era parte da vida do ingrato do ex marido dela, que havia a abandonado com dois filhos pequenos para cuidar.
percebeu a minha hesitação e apertou minha mão com força, demonstrando que estava ali comigo, que não precisava ter medo ou vergonha, mas era complicado.
— Oi, querida — ela abriu o portão para que eu entrasse. — Como você está grande!
— Ah sim — sorri um pouco apreensiva. Ela com certeza já tinha me visto quando era pequena, mas eu não lembrava dela. — Como a senhora está?
— Senhora não, por favor me chame de você! — exigiu, colocando-nos para dentro da casa.
Era uma casa humilde, mas tudo estava em seu devido lugar. Os móveis eram lindos de madeira escura, o sofá era marrom e tinha um tapete felpudo onde um cachorrinho descansava. A cozinha também era bem ajeitada, nada luxuosa, mas muito bem feita, com utensílios até demais para mim — mas acho que é porque eu nem cozinhava.
— Quer bolo de chocolate? — perguntou já colocando um prato em minha frente e pegando um pedaço de bolo. — ama esse bolo, é o preferido dele.
— Obrigada! — tirei um pedaço e provei. — Está maravilhoso, acho que também será meu preferido.
— Acho que vou levar um pedaço para a Rita — ela abaixou procurando um potinho dentro do armário. — Vou deixar vocês conversarem, porque pelo jeito que esse garoto chegou aqui mais cedo, o problema era bem grande.
Quando menos esperei, ela tinha saído da cozinha nos deixando sozinhos. tomava um copo com água e eu terminava minha fatia de bolo.
— O que aconteceu durante o jogo? Por que você estava daquele jeito? — questionei enquanto ele pegava meu prato e lavava na pia.
— Só perdi a cabeça mesmo — respondeu tranquilo, apenas dando de ombros.
— , vamos por partes, ok? — me encostei no balcão da pia. — Você estava fazendo o que no jogo?
— Era o último jogo, os caras conversaram com o diretor e eu pude jogar — explicou secando as mãos. — Mesmo que eu não esteja mais matriculado na escola, pude jogar.
— Você fechou a matrícula já? — perguntei sabendo que ainda faltavam dois meses para o final do ano letivo.
— Sim, o Ângelo pagou uma quantia a mais para que eu conseguisse me formar no colégio e fiz uma prova também — jogou o pano por cima dos pratos do escorredor de louças.
— Certo. E o que você vai fazer a partir de agora? — puxei uma cadeira para sentarmos diante da mesa.
— Não sei — ele se acomodou a minha frente. — Preciso arrumar um emprego agora, resolver todos os b.os do Gabriel, cuidar da minha mãe...
— Ângelo não ia resolver isso para aqueles caras te deixarem em paz? — esbravejei. Como ele podia ser ótimo comigo e com o próprio filho ser assim?
— Eu prefiro resolver as coisas, boneca — disse acariciando minha mão em cima da mesa.
Eu entendia ele. Ângelo não parecia ser essa pessoa horrível que se mostrara nos últimos dias em relação a ; ele o colocou para fora de casa, sem suporte algum e com a sorte de que não fosse morto por caras da pesada que viviam atrás dele.
Eles haviam sigo abandonados, trocados por outra família e novamente ele tinha sido abandonado pelo pai dele. Não que ele tivesse confiado novamente, mas eu estava começando a sentir algo novo dentro de mim ao me colocar no lugar dele; eu conseguia me solidarizar com aquela situação e aquilo era muito real para mim.
— O mauricinho ficou bem depois que eu soquei a cara dele? — perguntou rindo, mas eu não gostei nada do tom.
— Sua sorte que ele não quebrou nada! — bufei dando-lhe um tapa na mão. — Os pais dele poderiam te processar, seu doido. E qual foi hein? O que ele falou?
— Ele falou umas coisas que me deixaram muito puto.
— O que ele falou? — insisti mais uma vez e ele bufou.
— Ele falou algumas coisas de você, coisas bem sujas — revirou os olhos. — E aí que eu não ia deixar aquele idiota sair por cima assim, né?
— Aí você ficou com ciúme? — fiquei em pé e apertei seus ombros em uma massagem gostosa. Ele deitou a cabeça com os olhos fechados.
— Não fiquei com ciúme, porque eu sei que você não está mais na dele — respondeu convencido. — Só fiquei puto, porque tenho certeza que ele não falaria nada daquilo para você. Ele estava usando para me desconcentrar — defendeu-se.
— Você estava mais uma vez se arriscando por minha causa? — apertei seu pescoço e ele riu com a dor que causei. — Da próxima vez, eu que vou te socar.
Suas mãos ágeis seguraram meu quadril e com a movimentação acabei sentada em seu colo. Ele espalmou as mãos pelas minhas coxas, colando seus lábios em meu ouvido e distribuindo alguns beijos.
— Você tem que ir embora, antes que eu cometa uma loucura aqui na cozinha, a ponto da minha mãe entrar e ver toda a cena — ele disse, me fazendo derreter. Literalmente derreter.
Não resisti rebolar em seu colo, sentir suas mãos subirem um pouco mais minha saia, mas também não demorei ouvir a voz da mãe dele mais próxima da porta. Tomei a atitude, a difícil atitude de me levantar respirar muito fundo e ver ele excitado ainda sentado na cadeira.
— Quando a gente vai se ver de novo? — perguntei um pouco ansiosa.
— Boneca, a gente não pode se ver — ele riu, segurando minha mão e levantando-se agora. — Sua mãe proibiu tudo que pudesse nos envolver. Durval te trouxe aqui e talvez seja esse o momento da nossa despedida.
— Então você está... — suspirei fundo. Eu não podia chorar ali. — Você está terminando o que a gente tem?
Ele não respondeu, apenas ficou me encarando.
— E aí, meninos? — a mãe dele entrou na cozinha toda sorridente. — Quer mais bolo, querida?
Aquilo estava realmente acontecendo. Todos os filmes de romance que eu tinha assistido algum dia não tinham razão: ninguém tem um final feliz, com corações, bolos e felicidades.
Ali eu percebi que estava loucamente apaixonada e entregue a ele, ao cara que eu não ia viver junto. Ao cara que não seria o meu namorado e nada mais além de uma simples ficada de "verão". Pior é que, ele também estava se sentindo assim; seus olhos me contavam, eu conseguia lê-los de uma forma que ele nunca havia deixado que o fizesse.
Mas eu senti. Todo o amor que ele tinha por mim, eu senti naquele momento. Não consegui me conter, mas também não queria chorar ali na frente deles.
Por isso eu saí correndo de dentro da cozinha, abri a porta e corri pela rua. Começava uma garoa grossa e mesmo de salto naquela rua irregular, tentei me afastar o máximo possível dele, daquela vida, daquele sentimento que eu nunca iria conseguir sentir por mais ninguém.
Ele realmente tinha me estragado para todos os outros que viriam dali em diante, porque eu não ia superar. Não ia.
Quando ele chegou, eu odiava sua presença e nem queria nem ser vista com ele. As coisas mudaram de uma forma tão drástica, que ter acordado na minha cama sem ele dilacerou meu coração. Ter aberto a porta do quarto naquela manhã de sábado e ver a porta do quarto de hóspedes aberta, tudo arrumado e sem um rastro sequer de que ele esteve ali por alguns meses, foi desesperador.
Nico estava confuso com os últimos acontecimentos dentro de casa e não estava nenhum pouco animado para ir à aula de futebol, coisa que as vezes fazia com ele. Muitas coisas iriam mudar em nossas vidas, incluindo a dele agora com um novo irmão.
Eu estava acabada, chorava copiosamente durante horas dentro do meu quarto enquanto Lilith apenas me encarava confusa, tinha até esquecido a ressaca que estava tendo. Era algo que iria acontecer e estávamos cientes desde o primeiro dia, mas ainda assim aquilo me engoliu.
Eu conseguia sentir apenas o seu cheiro impregnado em meu travesseiro e sentir seu perfume na camisa que eu estava vestindo. Não queria nada além de poder abraçá-lo ou ao menos saber que ele estaria no andar debaixo tomando café e me esperando para irmos juntos a escola.
Mas não, ele não estava ali. O motorista estava pronto com o carro em frente de casa e eu estava sozinha diante a mesa comendo minhas frutinhas.
A escola estava cheia e todos estavam no pátio esperando o horário de cada um ir para sua classe e seguir com a vida monótona como sempre por ali. Estávamos chegando ao fim do ano letivo, eu estava prestes a me formar e finalmente ter que decidir alguma coisa que eu pretendia fazer de faculdade, mas eu me sentia uma inútil por não saber o que gostaria de fazer além de me maquiar, me vestir e ajudar os outros a fazerem o mesmo.
Depois da aula, percebi que todos estavam se dirigindo para o campo de futebol onde aconteceria o último jogo da temporada. Ainda não tinha conversado com as meninas para talvez nos acertarmos, então estava andando sozinha pelo colégio. Aquele lugar estava começando me sufocar e eu sabia que a qualquer momento eu iria surtar.
Quando cheguei no campo percebi a movimentação dos times, encontrando aqueles olhos escuros e cheio de lápis de olho no meio da multidão. Seus cabelos esvoaçavam com o vento e sua pele brilhava com o sol quente que estava fazendo naquela tarde.
Não fazia ideia do porque ele estava ali, mas tudo que eu queria era poder correr em sua direção e abraçá-lo, talvez nunca mais soltar, mas me contive: precisava manter a classe naquele momento e deixá-lo ganhar o jogo.
E assim foi, aquele monte de testosterona chutando uma bola murcha para um lado e para o outro, enquanto as meninas eufóricas gritavam nome de seus namorados ou de caras que admiravam da escola. era um dos principais nomes, o que quase me fazia revirar os olhos.
Quase no final do jogo, percebi que as coisas não estavam muito boas dentro de campo. Eles estavam se estranhando e se encaravam irritados, afinal o time de Daniel estava perdendo, mas ninguém queria aceitar essa derrota.
Foi quando vi que estava frente a frente com Daniel e ambos gritavam um na cara do outro. Algumas pessoas começaram a rodear e querer segurar ambos e quando vi que as coisas pareciam realmente ficar sérias, corri pelo gramado até chegar lá e ver Daniel tomar um soco vindo de .
Entrei no meio dos dois, a ponto de tomar um soco ou levar um empurrão, mas espalmei as mãos no peitoral de ambos e gritei para pararem, porque sinceramente, pareciam um bando de crianças mimadas. Os olhos escuros de caiu sobre mim e percebi que estava surpreso, aposto que não tinha me visto por ali.
— O que vocês pensam que estão fazendo? — quase gritei, olhando de um para o outro. — Vocês querem ser expulsos do colégio?
— Esse cara é muito sem noção, como você consegue suportar ele? — perguntou Daniel apontando para o outro, que quase voou sobre mim para soca-lo mais uma vez, mas o empurrei com mais força.
— Tem como você parar? — falei ríspida com , o que o fez relaxar. Parecia um tanto decepcionado.
— Ele falou coisas ridículas sobre...
— Não importa — cortei-o sem pestanejar. — Isso não te da o direito de socar alguém. Olha a cara dele! — apontei para Daniel. — Você já não está metido o suficiente em confusão?
— Que se dane — ele tirou minha mão de seu peito. — Eu não tenho mais nada a perder.
Deu as costas e saiu correndo pelo gramado em direção ao vestiário. Quis ir atrás dele e saber para onde ele estava indo, o porque estava tão puto, mas fui puxada por Daniel. Ele estava com o nariz sangrando, parecia sentir muita dor e não pude negar ir até a emergência da escola com ele.
Depois fomos ao hospital acompanhado da vice-diretora e descobrimos que ele não tinha quebrado nada, apenas foi um soco bem dado que rompeu uma veia nasal, mas que estava tudo bem.
— Obrigado de verdade por tudo, — Daniel falou mais uma vez e apenas assenti. — Você sempre muito prestativa. Espero poder um dia retribuir tudo isso.
Bom, agora é a hora da verdade. Não posso mais postergar para falar sobre isso, sobre o “nós” que não existe.
— Daniel, eu... — suspirei, olhando fixamente para ele. — Eu não acho que daríamos certo. Eu estou tão confusa ultimamente, não sei o que esperar da minha vida, tenho lidado com muitas decepções e... Me desculpa, mas não posso fazer isso com você — pedi segurando sua mão e ele apenas apertou a minha em compreensão.
— Você realmente gosta daquele cara, não é? — perguntou sereno e me assustei por ver que pessoas fora da bolha estavam pensando isso.
— Eu não sei dizer — gaguejei, mas não fui sincera. Eu sabia sim, eu estava perdidamente... perdida pelo . — Estou perdida, mas preciso me encontrar sozinha. Preciso me afastar um pouco, tentar recuperar algumas perdas que eu tive ao longo da última semana e... não sei.
— Fica tranquila, — ele apertou meu braço com carinho. — Você está amadurecendo e sinceramente? Está se tornando uma mulher incrível.
— Me desculpa, mais uma vez! Não quis te magoar, nunca quis ser assim com você, eu...
Ele balançou a cabeça entendendo e em seguida me abraçou. Ficamos alguns segundos naquela posição e recebi um beijo na testa, ficando sozinha no banco de trás.
Senti alívio ao resolver essa parte com ele, parecia que o peso das minhas costas havia diminuído. Acho que eu estava finalmente entendendo como as coisas funcionavam, como a vida adulta era e sinceramente? Eu queria poder voltar atrás, voltar a minha vidinha medíocre de adolescente rica que não tem com o que se preocupar.
Mas tinha muitas coisas que eu precisava organizar na minha vida. Realmente eu precisava recuperar o tempo "perdido", e por isso saquei meu celular, abrindo aquele grupo no WhatsApp que nunca mais havia aberto.
"Meninas, acho que precisamos conversar e resolver algumas coisas. Será que poderíamos marcar alguma coisa?"
Enviei para Tati e Cami, mas nenhuma das duas responderam de imediato. Aproveitei para enviar a mesma mensagem para Sue, que apenas me mandou um joinha, só um joinha. Nada mais. Louise pareceu animada.
Cami e Tati demoraram para responder, mas concordaram e perguntaram o que iríamos fazer. Pensei e apenas falei que passava na casa delas na sexta-feira à noite.
— Durval? — me joguei entre os bancos para falar melhor com o meu motorista, que essa altura já estava quase perto de casa. — Você sabe onde o mora?
— Não exatamente, , mas sei o bairro onde é a casa da tia dele — respondeu olhando pelo retrovisor. — O que você vai aprontar?
— A gente pode dar uma passadinha por lá, por favor? — pedi, vendo sua expressão facial nada contente. — Durval, preciso falar com ele e não faço ideia de como encontrá-lo!
— Ângelo não vai gostar de nada disso, , acho melhor você deixar as coisas como estão, não acha? — perguntou parando em um farol.
— Durval, ele não é meu pai e não vai ficar sabendo se não contarmos! — quase esperneei, fazendo beicinho em seguida. — Por favor, faz essa pela baixinha!
Citei o apelido que ele me chamava quando era pequena, arrancando um suspiro e um balançar de cabeça, fazendo a manobra para o endereço de . Quase gritei quando finalmente ele topou, mas aí comecei a ficar ansiosa. Eu estava querendo vê-lo, porque ficar longe dele estava sendo uma tortura nos últimos dias.
O bairro não era nada parecido com o que eu já tinha visto. Haviam crianças jogando bola na rua, garotos soltando pipa com as calças quase caídas no chão, algumas garotas dançavam funk em uma calçada enquanto tomavam sorvete e haviam algumas mulheres sentadas na calçada conversando.
— Essa é a rua dele, mas não sei dizer em qual casa é — Durval falou. — Não consigo passar daqui, a rua é um pouco estreita e o carro é bem grande. Mas posso te esperar aqui se não tiver problemas...
— Vou perguntar se alguém conhece ele — falei.
Desci do carro e pisei em falso num buraco com as minhas sandálias cravejadas da René Caovilla. Maldito dia para ter colocado elas; já sobreviveu a uma briga em um gramado, uma enfermaria, um hospital e agora uma rua esburacada. Ajeitei minha mini-saia floridinha da Paço Rabanne e minha blusinha de seda branca.
Todo mundo parecia me observar ali, mas não me deixei intimidar. Caminhei decidida até onde as mulheres estavam sentadas na calçada e perguntei se alguém conhecia o , mas elas apenas me olharam de cima para baixo e informaram que não.
— Oi, meninas — cheguei nas garotas que dançavam funk animadas. — Vocês conhecem o ? Ele é um rapaz alto, sorriso bonito? Sabem onde ele mora?
— Ah, o ? — uma delas jogou o cabelo por cima do ombro e cruzou os braços. — Quem é você e o que quer com ele?
Um cara de moto passou por mim, quase me atropelando e buzinando mais do que tudo. Senti o vento levar meus cabelos e me aproximei mais das meninas, extremamente nervosa.
— Sou uma... amiga — dei de ombros desconfortável.
— Ele começou estudar naquele colégio de bacana e olha o nível de garota que ele conhece — zombou uma das meninas.
Antes que eu pudesse responder, senti uma mão segurar a minha cintura e talvez até tivesse me sentido invadida e com medo, se não conhecesse o perfume que havia chego junto com o toque.
— O que você está fazendo aqui? — perguntou me olhando curioso, olhando ao redor.
Ele estava usando uma camiseta preta e uma bermuda da mesma cor com chinelos de dedos. Seus cabelos estavam molhados e não usava lápis de olho nos olhos, parecia relaxado.
— Vim com o Durval — tranquilizei-o. — A gente precisa conversar, .
— Aqui não é um bom lugar, — suspirou tenso. — Ângelo não pode nem sonhar que você esteve aqui, vou te levar até o Durval para você voltar para casa.
— , por favor? — pedi, olhando para trás dele, onde pude ver na porta da casa a mulher dos porta-retratos de sua escrivaninha.
— Oi, tia Lana! — gritou a menina atrás de mim, acenando para a mulher. — Você já conhece a namoradinha do ?
— Cala boca, Vitória! — esbravejou para a menina, que apenas deu de ombros e voltou-se para mim. — Ela é minha prima insuportável. Você quer entrar? Tomar uma água, suco?
Balancei a cabeça afirmando. Ele me ajudou a ir até a casa com cuidado para não cair na rua esburacada, segurando minha mão com carinho e rindo daquela situação que eu tinha me metido.
— Mãe, essa é a — ele me apresentou para ela e foi quando senti medo.
Nunca havia conhecido nenhuma mãe de algum cara que eu tinha ficado. Muito menos a mulher na qual meu "pai" havia trocado pela minha mãe. Ela com toda certeza iria me odiar, porque eu era parte da vida do ingrato do ex marido dela, que havia a abandonado com dois filhos pequenos para cuidar.
percebeu a minha hesitação e apertou minha mão com força, demonstrando que estava ali comigo, que não precisava ter medo ou vergonha, mas era complicado.
— Oi, querida — ela abriu o portão para que eu entrasse. — Como você está grande!
— Ah sim — sorri um pouco apreensiva. Ela com certeza já tinha me visto quando era pequena, mas eu não lembrava dela. — Como a senhora está?
— Senhora não, por favor me chame de você! — exigiu, colocando-nos para dentro da casa.
Era uma casa humilde, mas tudo estava em seu devido lugar. Os móveis eram lindos de madeira escura, o sofá era marrom e tinha um tapete felpudo onde um cachorrinho descansava. A cozinha também era bem ajeitada, nada luxuosa, mas muito bem feita, com utensílios até demais para mim — mas acho que é porque eu nem cozinhava.
— Quer bolo de chocolate? — perguntou já colocando um prato em minha frente e pegando um pedaço de bolo. — ama esse bolo, é o preferido dele.
— Obrigada! — tirei um pedaço e provei. — Está maravilhoso, acho que também será meu preferido.
— Acho que vou levar um pedaço para a Rita — ela abaixou procurando um potinho dentro do armário. — Vou deixar vocês conversarem, porque pelo jeito que esse garoto chegou aqui mais cedo, o problema era bem grande.
Quando menos esperei, ela tinha saído da cozinha nos deixando sozinhos. tomava um copo com água e eu terminava minha fatia de bolo.
— O que aconteceu durante o jogo? Por que você estava daquele jeito? — questionei enquanto ele pegava meu prato e lavava na pia.
— Só perdi a cabeça mesmo — respondeu tranquilo, apenas dando de ombros.
— , vamos por partes, ok? — me encostei no balcão da pia. — Você estava fazendo o que no jogo?
— Era o último jogo, os caras conversaram com o diretor e eu pude jogar — explicou secando as mãos. — Mesmo que eu não esteja mais matriculado na escola, pude jogar.
— Você fechou a matrícula já? — perguntei sabendo que ainda faltavam dois meses para o final do ano letivo.
— Sim, o Ângelo pagou uma quantia a mais para que eu conseguisse me formar no colégio e fiz uma prova também — jogou o pano por cima dos pratos do escorredor de louças.
— Certo. E o que você vai fazer a partir de agora? — puxei uma cadeira para sentarmos diante da mesa.
— Não sei — ele se acomodou a minha frente. — Preciso arrumar um emprego agora, resolver todos os b.os do Gabriel, cuidar da minha mãe...
— Ângelo não ia resolver isso para aqueles caras te deixarem em paz? — esbravejei. Como ele podia ser ótimo comigo e com o próprio filho ser assim?
— Eu prefiro resolver as coisas, boneca — disse acariciando minha mão em cima da mesa.
Eu entendia ele. Ângelo não parecia ser essa pessoa horrível que se mostrara nos últimos dias em relação a ; ele o colocou para fora de casa, sem suporte algum e com a sorte de que não fosse morto por caras da pesada que viviam atrás dele.
Eles haviam sigo abandonados, trocados por outra família e novamente ele tinha sido abandonado pelo pai dele. Não que ele tivesse confiado novamente, mas eu estava começando a sentir algo novo dentro de mim ao me colocar no lugar dele; eu conseguia me solidarizar com aquela situação e aquilo era muito real para mim.
— O mauricinho ficou bem depois que eu soquei a cara dele? — perguntou rindo, mas eu não gostei nada do tom.
— Sua sorte que ele não quebrou nada! — bufei dando-lhe um tapa na mão. — Os pais dele poderiam te processar, seu doido. E qual foi hein? O que ele falou?
— Ele falou umas coisas que me deixaram muito puto.
— O que ele falou? — insisti mais uma vez e ele bufou.
— Ele falou algumas coisas de você, coisas bem sujas — revirou os olhos. — E aí que eu não ia deixar aquele idiota sair por cima assim, né?
— Aí você ficou com ciúme? — fiquei em pé e apertei seus ombros em uma massagem gostosa. Ele deitou a cabeça com os olhos fechados.
— Não fiquei com ciúme, porque eu sei que você não está mais na dele — respondeu convencido. — Só fiquei puto, porque tenho certeza que ele não falaria nada daquilo para você. Ele estava usando para me desconcentrar — defendeu-se.
— Você estava mais uma vez se arriscando por minha causa? — apertei seu pescoço e ele riu com a dor que causei. — Da próxima vez, eu que vou te socar.
Suas mãos ágeis seguraram meu quadril e com a movimentação acabei sentada em seu colo. Ele espalmou as mãos pelas minhas coxas, colando seus lábios em meu ouvido e distribuindo alguns beijos.
— Você tem que ir embora, antes que eu cometa uma loucura aqui na cozinha, a ponto da minha mãe entrar e ver toda a cena — ele disse, me fazendo derreter. Literalmente derreter.
Não resisti rebolar em seu colo, sentir suas mãos subirem um pouco mais minha saia, mas também não demorei ouvir a voz da mãe dele mais próxima da porta. Tomei a atitude, a difícil atitude de me levantar respirar muito fundo e ver ele excitado ainda sentado na cadeira.
— Quando a gente vai se ver de novo? — perguntei um pouco ansiosa.
— Boneca, a gente não pode se ver — ele riu, segurando minha mão e levantando-se agora. — Sua mãe proibiu tudo que pudesse nos envolver. Durval te trouxe aqui e talvez seja esse o momento da nossa despedida.
— Então você está... — suspirei fundo. Eu não podia chorar ali. — Você está terminando o que a gente tem?
Ele não respondeu, apenas ficou me encarando.
— E aí, meninos? — a mãe dele entrou na cozinha toda sorridente. — Quer mais bolo, querida?
Aquilo estava realmente acontecendo. Todos os filmes de romance que eu tinha assistido algum dia não tinham razão: ninguém tem um final feliz, com corações, bolos e felicidades.
Ali eu percebi que estava loucamente apaixonada e entregue a ele, ao cara que eu não ia viver junto. Ao cara que não seria o meu namorado e nada mais além de uma simples ficada de "verão". Pior é que, ele também estava se sentindo assim; seus olhos me contavam, eu conseguia lê-los de uma forma que ele nunca havia deixado que o fizesse.
Mas eu senti. Todo o amor que ele tinha por mim, eu senti naquele momento. Não consegui me conter, mas também não queria chorar ali na frente deles.
Por isso eu saí correndo de dentro da cozinha, abri a porta e corri pela rua. Começava uma garoa grossa e mesmo de salto naquela rua irregular, tentei me afastar o máximo possível dele, daquela vida, daquele sentimento que eu nunca iria conseguir sentir por mais ninguém.
Ele realmente tinha me estragado para todos os outros que viriam dali em diante, porque eu não ia superar. Não ia.
Capítulo 18 - Novos Ares
Nunca imaginei que um dia podia chegar no fundo do poço que eu tinha chego dentro da última semana. Nem passava pela minha cabeça que eu podia ter gostado tanto de alguém no auge dos meus quase 18 anos e tudo ter acabado da maneira que havia acabado.
Eu mandava mensagem, tentava ligar, conversar, mas ele nunca estava lá. Ele não via, não recebia e muito menos respondia minhas tentativas de conversar e de manter um contato.
Foi na conclusão de que nós não teríamos mais nenhum contato, que resolvi colocar um pouquinho de lado a minha vida amorosa e tomar coragem de juntar algumas pontas soltas da minha vida: precisava conversar com as minhas amigas. Precisava de um tempo para respirar e colocar tudo no lugar. Ou quase tudo.
Sobre minha mami, já tínhamos conversado, mas para mim nada resolvido. Eu continuava muito magoada — apesar de ter perdoado —, mas ainda precisava de um tempo dela. Eu não conseguia ficar muito tempo no mesmo ambiente, porque o tempo todo ela tentava me aproximar e forçar algo que eu não queria.
Ângelo eu não suportava olhá-lo e tenho certeza que isso o deixava muito mal, porque fomos criados como pai e filha, mas a forma que ele rejeitou e que tratou durante o tempo que ele esteve aqui, me fez repensar muita coisa sobre as pessoas que eu estava dando meu amor e que não mereciam.
Eles contaram tudo que tinha acontecido para Nico, o que fez ele dormir comigo na noite anterior. Disse que estava com medo que eu fosse embora e queria garantir que eu não iria. Depois que deitou ao meu lado, ele perguntou se eu iria continuar sendo a irmã dele, quase me fazendo chorar.
O clima da casa estava tenso e isso afetava os empregados, como por exemplo Gertrudes. Ela sentia tanta falta de assim como eu sentia; era estranho para ela não preparar o prato favorito dele, poder cuidar de mais um adolescente e tratá-lo como o neto que ela não tinha. Durval também foi afetado, porque vivia dirigindo um carro na qual a passageira só sabia chorar desde a visita que tinha feito a casa de no meio da chuva.
Por outro lado, eu estava um pouco animada para o jantar que teria na casa de Denis e já estava na frente do closet escolhendo alguma coisa para vestir.
Optei por um vestido de tricô preto da Paço Rabanne e coloquei meus Manolos de tiras nos dedos. Isso me fez pensar se eu estava exagerando, mas lembrei que não tinha nada mais básico no meu guarda-roupas.
Desci as escadas o mais rápido que pude para que ninguém me interrompesse no caminho, mas foi em vão; encontrei mami na sala, ela lia um livro antes de olhar para mim com a mão na maçaneta da porta. Nico correu até a porta, abraçando meu corpo.
— Onde você vai? — mami perguntou.
— Não vai embora, por favor — ele pediu, apertando seus braços ainda mais em mim
— Eu não vou embora, Nico — passei as mãos pelo seu cabelo liso e dei um beijo em sua bochecha. Ele pareceu mais calmo, até me soltou. — Estou indo jantar com o Denis— avisei já abrindo a porta.
— , não é porque você está com raiva de mim que você não me deve explicações de onde vai — ela disse, andando em minha direção. — Você precisa conversar sobre o que vai fazer, porque se acontecer alguma coisa, saberei onde você está!
— Ok, estou indo para casa do Denis — abri a porta para sair.
— Se divirta — abriu um sorriso que eu teria abraçado ela se estivéssemos em outras situações, mas apenas dei as costas.
Denis estava hospedado bem perto de casa, então não demorei para chegar até lá. Ele morava temporariamente em um apartamento com a namorada e o cachorro, pelo que tinha me dito. Não era nada luxuoso, mas era muito bonito do lado de fora.
Durval disse que iria em um mercado ali perto e que me buscaria quando eu ligasse. Pedi para que o porteiro me anunciasse e entrei no elevador até o 10 andar, respirando fundo antes de entrar naquela nova vida.
Ele atendeu animado e fui recebida por fungadas de um cachorro enorme que parecia animado com a nova visita. Era estranho estar ali com uma pessoa que eu sabia que teria criar um vínculo, que não cheguei a conhecer, mas que era meu pai biológico.
— Entra! — ele pediu, segurando a porta ainda para que eu entrasse. — Pan! Para de pular nela
— Ei, Pan! — afaguei os pelos do cachorro, vendo-o ficar ainda mais feliz.
— Estou feliz que você topou o jantar — fechou a porta e me ajudou colocar o casaco no cabideiro. — Vem, estamos terminando o jantar na cozinha.
Ele foi andando para a cozinha animado e eu segui. Haviam algumas panelas no fogão e um mulher no balcão cortando legumes. Ela sorriu assim que me viu e pude perceber que parecia ser uma pessoa legal. Denis beijou sua bochecha assim que chegamos e parou ao lado dela.
— , essa é a Eve, minha namorada — apresentou e demos um beijinho de bochecha. — Ela é francesa, mas sabe falar inglês.
— Prazer! Ouvi falar muito de você — ela disse em inglês com muito sotaque.
— Sério?! Fico feliz em conhecê-la! — respondi também em inglês. — Denis não tinha falado muito sobre você, mas disse que gostaria de você.
— Vamos nos dar bem! — ela disse, finalizando o corte dos legumes e colocando em uma panela no cooktop ao lado. — Espero que goste da minha comida também, já que seu pai é uma negação em tudo que é de cozinha. Inclusive, desistimos de tentar aprender, porque ele já colocou fogo na semana passada.
— Até parece! — respondi irônica, vendo ele levantar as mãos em defesa.
— Acontece! — ele rebateu, abraçando Eve pela cintura e dando-lhe mais um beijo. — Como estão as coisas em casa?
Não esperava tratar esse assunto tão rápido, mas de qualquer forma, em algum momento falaríamos sobre isso. Apenas suspirei e sentei no banco do lado do balcão que Eve não usava. Mexi nas unhas desconfortável, era difícil falar, ainda mais com eles que estavam entrando tão de repente em minha vida.
— Ainda não está tudo bem — fui sincera. — Estou muito chateada com a mami e com o Ângelo... Consegui perdoar, mas não significa que teremos a mesma conexão que tínhamos. Acho que não vamos mais chegar a esse ponto e isso me deixa muito chateada, não vou negar — ri um pouco sem graça, dando de ombros em seguida. — O jeito que ele trata os filhos dele, como as coisas aconteceram... É assustador ainda para mim.
— Entendo — disse sincero, agora debruçado sobre a bancada. — Se você precisar da gente, estaremos te apoiando.
— Obrigada — sorri desejando muito mudar de assunto. — Vocês moraram aonde antes de vir para o Brasil!?
— Eu conheci essa mulher incrível, quando fui fazer uma tour de tatuagem pela Europa — explicou, começando a organizar o balcão e guardar as coisas na geladeira. Eve começou a sorrir e piscar para mim indicando Denis com as sobrancelhas. — Passamos por Londres, Holanda, Berlin, Roma e por fim: Paris.
— A cidade do amor — ela brincou e ele mostrou-lhe a língua. — Nos conhecemos em frente a Torre Eiffel, enquanto ele tentava tirar uma foto "segurando" a torre e pisou em mim, caindo por cima.
— Nunca passei tanta vergonha em toda minha vida — Denis falou enquanto pegava três taças a uma garrafa de vinho no balcão embaixo da bancada. — Pior é que ela me xingou, quase me bateu e aceitou um jantar de desculpas naquela mesma noite.
— Óbvio que eu deveria ficar muito brava com você — ela acrescentou. — Depois fui fazer tatuagem com ele, nos beijamos, fizemos mais algumas coisas — ela riu e ele arregalou os olhos com seu discurso enquanto despejava vinho nas taças. — E aqui estamos nós! Eu passando um tempo com ele no Brasil.
Não sei explicar o que eu estava sentindo, mas ver a felicidade de Denis era gostoso. Não nos conhecíamos direito, aquele era o nosso segundo encontro, mas eu já conseguia sentir o quão feliz ele estava por ter Eve e acredito que por eu estar ali também.
Sentia uma pontinha de inveja de ter aquela conexão. Queria que o meu garoto estivesse ali, queria que estivéssemos jantando juntos, mas era simplesmente impossível e...
, foco. Você precisa tirar isso da cabeça! Engoli um pouco de vinho assim que Denis entregou a taça na minha frente, fazendo uma careta. Comemos alguns petiscos de queijo e conversamos sobre a viagem para Europa e como tudo aconteceu.
Eu já havia viajado diversas vezes para Europa, realmente tinha assunto para conversarmos a noite inteira, até mesmo sobre gastronomia — formação de Eve. Ela amava cozinhar e também falar sobre as comidas ao redor do mundo.
— Eu sou vegetariana, mas acabo cozinhando tudo, né? — ela comentou. — Hoje vou fazer um ratatouille, espero que você goste! Resolvi investir em um prato vegetariano e francês!
— Pode ter certeza que vou amar — falei animada, porque realmente gostava de comer legumes e verduras, fazia parte da minha dieta diária.
— O filho do Ângelo ainda está morando lá? — perguntou Denis, tomando mais um pouco de vinho, parecia desinteressado, mas algo me dizia que de desinteressado mesmo, não tinha nada.
— Não, ele voltou morar com a mãe dele — rodei a taça de vinho entre os dedos.
— Sua mãe me contou tudo que aconteceu, do envolvimento de vocês... — ele parou de cortar um alho, me encarando. — Acho que se afastar foi uma das melhores coisas que pode ter sido feita.
— Vocês tem uma visão tão deturpada do , mas nunca pararam para conversar com ele, saber da vivência e de tudo que ele tem para contar — defendi, sabendo que não adiantaria muito falar. — Ele é muito mais do que vocês podem ver, é só querer conhecer.
— Você está certa — Denis pareceu realmente arrependido pelas suposições anteriores. — Julgamos por atitudes, mas não sabemos sobre a pessoa se não conversarmos.
O jantar não demorou ficar pronto e a gente se servir. Comemos ali na bancada mesmo, acompanhado de vinho e muita conversa boa. Eve contou sobre sua família, sobre o restaurante que planejava abrir no centro de Paris e também sobre como havia sido difícil todas as conquistas até ali.
Denis não ficou para trás e contou tudo que tinha vivido desde que tinha separado de minha mãe. Havia aproveitado para viajar, se especializar ainda mais com os desenhos e se entregou a uma vida de artista muito intensa, onde viajava para participar de eventos de tatuagem e até mesmo separar um dia para tatuar gratuitamente com tinta removível em ONGs e casa de idosos em vários países diferentes.
Por fim, ele tinha montado um estúdio em Paris, em cima do futuro restaurante da namorada. Os dois tocavam os negócios separadamente, mas compraram o prédio em conjunto, estavam bem animados com a inauguração do restaurante dali alguns meses.
Denis contava que tinha tatuado jogadores importantes do PSG e de outros times Europa a fora, e que também já tinha mesas reservadas na inauguração do La Brasilenses, nome do restaurante de Eve.
— Atualmente viemos ao Brasil para que Eve se especialize em gastronomia brasileira e eu vim te procurar — ele disse, colocando mais legumes em meu prato. — Fiquei sabendo há não muito tempo, quis ir atrás de você. Foi meio complicado ter que lidar com Leonor e Ângelo, mas no final vc por mais doloroso que foi para você, estamos aqui.
Não queria magoa-lo e nada do tipo, mas aquilo estava sendo o momento mais complicado da minha vida e se pudesse ter o controle da minha vida, nunca teria escolhido essa parte, essa "troca" de vida que eu tinha tido.
— E quando pretendem ir embora? — perguntei curiosa. Eu queria poder passar mais tempo com ele, não queria que ele já tivesse data prévia para ir embora.
— Ainda não temos tanta certeza, mas até o final deste mês acho que voltaremos para Paris — explicou ele. Tenho certeza que seu sentimento era o mesmo que o meu, porque fez uma cara não muito boa. — Vamos inaugurar o restaurante logo no começo.
Terminamos o jantar e lavamos a louça. Eve parecia muito animada para que eu soubesse mais sobre seu restaurante, querendo mostrar fotos de como ficaria e como estava a finalização da obra.
De cara eu amei, era um rústico bem sofisticado. Entretanto, tinha muitos detalhes brasileiros e tenho quase certeza que era obra do Denis. Depois ele mostrou o seu estúdio, explicou como trabalhava e já ganhou uma cliente para quando eu fosse visita-lo.
— Acho que está na hora de eu ir. Daqui a pouco minha mãe começa a ligar — avisei, já ficando em pé.
— A gente pode marcar de fazer mais alguma coisa antes de ir embora, querida? — perguntou ele ansioso. Ainda ficava tenso comigo.
— Claro! Podemos sim — abracei ele, tranquilizando-o. — Foi muito bom passar um tempinho aqui com vocês. Muito obrigada! — falei indo abraçar Eve. — Eu amei o jantar, prazer imenso te conhecer!
— Obrigada! — ela segurou minha mão enquanto íamos para porta. — Não vemos a hora de você poder ir com a gente visitar Paris!
— — Denis falou por último, me fazendo parar na porta de entrada —, o que você acha de passar um tempo com a gente em Paris? Vamos ficar muito felizes!
Era só o que me faltava.
Capítulo 19 - Bolo e Acertos
As meninas estavam me esperando no quarto enquanto eu terminava de me arrumar para a festa que pais haviam organizado pra comemorar meus 18 anos, mas eu não estava nenhum pouco animada. Logo eu, a pessoa que mais adorava bagunças...
As coisas estavam diferentes agora, eu não era mais a mesma garota de antes e nunca mais seria. Meus pais sabiam disso, muitas coisas foram reveladas e agora estávamos bem, acertamos algumas diferenças, mas ainda precisava de um espaço para conseguir curar a mágoa que haviam em meu coração.
Suspirei mais uma vez olhando meu reflexo no espelho do banheiro, trajando aquele vestido cor de rosa de mangas bufantes e saia transpassada com decote em V da TVZ. Aquela não era mais eu, não estava mais satisfeita com aquele luxo todo, com todas as coisas que eu tinha em mãos e tudo que meus pais podiam me oferecer.
Saí do banheiro encontrando as meninas sorridentes. Balancei a cabeça e descemos para o andar debaixo, onde a festa já tinha começado e estava com a música estourando os ouvidos alheios.
Quando eu descia as escadas, as pessoas começaram bater palmas e vibrar levantando suas taças de champanhe. A alta sociedade que meus pais gostavam de se misturar estava concentrada ali em casa e eu não fazia ideia de quem era cada um deles, mas precisava ser legal, sorrir e acenar.
— Você está divina — mami disse, passando uma das mãos em meus cabelos. — Nem parece que você já está completando 18 anos, o tempo passou muito rápido!
Ela estava maravilhosa usando um vestido vinho longo, cabelos presos em um penteado elaborado e joias das mais caras possíveis. Reconheço que tínhamos passado por diversas coisas, mas eu a amava mais que tudo e não pude deixar de abraçá-la. Acho que ela estava esperando por isso há muito tempo, porque segurou-se para não derramar-se em lágrimas.
Ângelo se juntou a nós e senti meus músculos se congelarem. Por mais que ele tenha me criado, tenha me dado amor, ele não estava sendo justo com o e isso me quebrava em pedacinhos. Apenas sorri, dando as coisas para eles e indo em direção aos meus amigos.
Agora Cami estava de mãos dadas com Antony na frente de todos, finalmente assumindo um relacionamento. Eu podia ver a felicidade nos olhos da minha amiga, assim como Tati parecia bem mais próxima da Louise, porque não paravam de se falar desde que se encontraram no meu quarto mais cedo.
Daniel estava tranquilo em uma das mesas enquanto comia ao lado de Sue e tomava uma taça com suco e observava ao redor. Fiquei feliz por eles conseguirem se formar no Colégio Paulo, seria algo muito grandiosos em qualquer rumo que eles quisessem tomar na vida dali em diante.
Depois de falar com todos os meus amigos, peguei uma taça de champanhe e fiquei andando de um lado para o outro no salão enorme de casa. Pude ver Denis chegar, cumprimentar minha mami e Ângelo. Ele não estava muito confortável e Eve já tinha mais classe, parecia mais habituada.
— ! Você está maravilhosa! — ela me abraçou e eu sorri verdadeiramente.
— Obrigada, Eve! Você também — falei olhando para ela com um vestido azul magnífico. — Denis, obrigada por vir.
— Imagina, querida, não poderia deixar de vir — ele acariciou minha bochecha e eu me senti diferente, me senti como se estivesse... me senti familiarizada e incrivelmente bem. — É um momento importante para mim também. E trouxemos presente, espero que goste!
— Com certeza! — abracei-os novamente. — Obrigada.
Me afastei e voltei a me sentir deslocada em minha própria festa. Na verdade, era estranho estar ali, porque aqueles eventos e festas chatas que íamos obrigadas pelos pais cercado de gente chata e rasa que ficava falando sobre a sua aparência, o tanto que você cresceu e coisas do tipo.
Caminhei em direção ao jardim, longe das pessoas que estavam por ali. Precisava respirar um pouco, tomar as decisões dali para frente e principalmente decidir o que eu ia querer da minha vida.
A proposta de morar com Denis e Eve era tentadora, mas minha vida era aqui, não tinha possibilidades de deixar tudo aqui e morar em outro país, mas talvez passar as férias seria bom. Talvez tudo mudasse dali para frente.
Ouvi alguns galhos quebrando atrás de mim e fiquei em pé, virando para ver qual era a ameaça que tinha antes de tentar correr em cima da minha sandália cor de rosa da YSL.
Mas eu paralisei ainda com o coração acelerado. Estava estática observando aquele cara parado na minha frente com seus cabelos penteados para trás, o lápis de olho meio borrado dentro de um smoking bem ajustado que caía perfeitamente em seu corpo. Usava até mesmo uma gravata borboleta rente ao pescoço e na mão tinha uma caixinha vermelha de veludo.
Senti meu corpo inteiro se ativar a sua presença e não pude negar o sorriso mais sincero daquela noite. Me aproximei em passos rápidos e abracei-o pelo pescoço, ficando de pontas de pé, sendo aparada pelas suas mãos em minha cintura.
— Ei, boneca! — ele riu na curva do meu pescoço. — Não recebi um convite, resolvi entrar de penetra.
— Você sabe que não precisa de convite — respondi soltando-o, ficando agora no tamanho normal bem mais baixa que ele. — O que fez você, sei lá... vir?
— Boneca, é o seu dia! — respondeu tirando uma mecha do meu cabelo do rosto. — Sei que falei que a gente não ia se ver mais, talvez seja a última vez, mas sou egoísta o suficiente para aparecer no seu dia e saciar minha vontade de te ver.
— Você não tem noção do quanto me fez bem — abracei-o novamente, passando meus braços pelo seu tronco. Se dependesse unicamente de mim, nunca mais sairia dali. — Eu adoro você.
Me afastei um pouco, segurando suas mãos com carinho. Ele sorriu se aproximando, colando nossos lábios em seguida. Seu beijo continuava a mesma coisa, ainda me trazia a mesma felicidade, as mesmas sensações. Me deliciei com seus lábios, com suas mãos, seu corpo, até ele partir nosso beijo risonho.
— Ei — riu apertando minha bochecha. Em seguida estendeu-me a caixinha aveludada. — Trouxe esse presente, é bem simples, mas é com todo meu coração que estou te dando.
Abri a caixinha e pude ver uma correntinha de prata com as letras G e B penduradas. Era uma das coisas mais lindas que eu já tinha ganho de alguém. Peguei o colar e pedi para ele colocar em mim, afastando os cabelos para o lado. Recebi um beijo no pescoço e virei para ele, olhando o colar em meu pescoço.
— Eu amei — falei segurando as letrinhas. — Muito obrigada. Vamos entrar? Tem comida, bebida, docinhos...
Ele segurou minhas mãos e beijou-as com carinho. Senti como se não existisse nada além de nós em kms de distância, mas a sensação que aquele gesto dele trazia, não era muito boa.
— Não posso, boneca. Preciso ir embora, não daria certo encontrar com o... com o Ângelo — ele fez um careta e rimos. — Boa festa, se cuida.
Demos um último abraço e fiquei observando ele sair pelos fundos da casa, do mesmo jeito no dia que fugimos para festa. Bom, pelo menos minha noite tinha melhorado um pouco e eu estava agora com as energias recarregadas.
Pensei algumas vezes ainda em sei lá, seguir ele e largar aquela festa, mas era loucura. Não ia cometer esse tipo de coisa, não quando ele já estava totalmente decidido sobre nós e eu estava começando a aceitar essa ideia.
Nós nunca daríamos certo. Infelizmente a nossa história começou de uma forma conturbada e sem sentido. Quem me dera as coisas fossem mais simples, fosse um verdadeiro desconhecido que não fosse filho do cara que eu jurava ser meu pai a vida inteira.
Mas ali, em pé e com as letrinhas daquele colar dançando sobre os meus dedos, tive certeza de algo que nem tinha se passado pela minha cabeça anteriormente: eu estava loucamente apaixonada por aquele garoto! Entretanto, teria que enterrar esse sentimento, deixar tudo para trás com muita tristeza.
Respirei fundo, tentando conter aquela louca vontade de chorar e caminhei de volta para dentro de casa, sendo recebida pelos meus amigos novamente que estavam animados o bastante para curtir a festa em meu lugar. Ainda assim, consegui aproveitar muito, mas precisava acertar algumas coisas.
Aproveitei que a festa organizada por pais para adolescentes e que ninguém bebia sem autorização deles; meus amigos estavam todos sóbrios.
Chamei Tati e Cami para a mesa de doces mais afastada, tirando forças para conseguir falar tudo que eu precisava e que eu estava sentindo naquele momento.
— Estou devendo essa conversa com vocês tem um tempo já — sorri um pouco sem graça, colocando os cabelos atrás das orelhas. — Nesses últimos tempos sei que não tenho sido uma boa amiga — elas balançaram a cabeça em compreensão. — Apesar de tudo queria me desculpar por me afastar, por ter ignorado vocês em algum momento e também por fazer coisas que eu não estava acostumada a fazer com vocês... Acho que isso faz parte de quem eu sou agora. Minha vida mudou drasticamente e não foi por causa do , mas vocês sabem toda a situação com meus pais e tal — elas apertaram minhas mãos que eu nem tinha percebido que seguravam. — Enfim, eu ainda estou tentando me recuperar de tudo, preciso de um tempo para mim. Não está sendo nada fácil, mas queria o apoio de vocês.
— , você pode contar com a gente sempre — Tati respondeu chorosa. — Também não fomos boas amigas, deixamos muitas coisas em sua responsabilidade e não demos muita assistência quando você mais precisou de nós.
— Saiba que estamos com você nessa nova fase da sua vida, estamos dispostas a evoluir com você, — Cami sorriu, abraçando-me com carinho. Não demorou Tati fazer o mesmo.
— Eu amo vocês — resmunguei naquele abraço esquisito.
💖
Depois de deixar as meninas lá na mesa de doces, caminhei pelo salão em busca de Sue, mas não conseguia encontrá-la aquela altura do campeonato. As pessoas pareciam que nunca iriam embora enquanto tinha comida e bebida de graça, o que dificultava minha busca.
Acabei encontrando Louise antes dela, aproveitei para tentar bater um papo tranquilo com ela sobre o acontecido do nosso beijo, parece que algumas coisas em mim ficaram confusas e eu não queria que ela pensasse que eu a estava usando.
— Lou, queria me desculpar por aquele dia, minhas atitudes e comportamentos... — falei assim que ficamos sem assunto. — Talvez eu tenha errado em experimentar algo sem antes te consultar… Acho que pelo fato de gostar de outra pessoa, não consigo ter muita conexão com as outras.
— Pode ficar tranquila, , não levei a mal — ela respondeu sorridente como sempre foi. — Eu na verdade acho que você deveria experimentar em outro momento na sua vida.
— É, talvez — respondi concordando, acho que todo mundo conseguia observar a conexão que eu tinha com o , mesmo de longe.
Aquela festa parecia mais um acerto de contas, porque mais tarde encontrei Suellen sozinha na mesa de doces e tivemos uma conversa sincera sobre o que seria da nossa amizade dali em diante. Por mais que ela tenha se envolvido com o cara que eu gosto, eu também tinha um carinho muito grande e construímos uma amizade muito boa. Não acho que deveríamos ser inimigas, até porque o era passageiro em minha vida, assim como foi na vida dela.
Acho que antigamente não teria pensado assim e isso me deixou orgulhosa. Estou realmente me tornando uma mulher com responsabilidades e visão de futuro!!!
— ! — ouvi a voz de Nico do meu lado, puxando a barra do meu vestido. — Vamos comigo na mesa de doces? Preciso conversar com você!
Estranhei mas acompanhei ele até lá, que andava na frente pulando serelepe. Por mais que Nico fosse meu meio irmão, eu tinha um carinho extremamente grande por ele. Por mais que fosse uma criança irritante algumas vezes, eu amava aquele garoto.
— Adivinha quem eu vi? — perguntou com 4 brigadeiros enfiados na boca. Dei de ombros sem saber responder. — O . Ele estava lá fora!
— Você contou para o Ângelo? — perguntei de primeira. Ele não podia saber que ele estivera ali.
— Claro que não, né? — revirou os olhos. — Eu sei de toda história, ouvi tudo do meu quarto aquele dia. Sei que você não é filha dele e que nos somos só um pouco irmãos, mas você sabe que eu não ligo, né? Que eu te amo do mesmo jeito!
— Ai, Nico! — abaixei para abraçar meu irmão, que já me fazia chorar. — Sim, eu sei. Te amo muito também! Nada vai tirar o que a gente sente um pelo outro, tá bom?
— Tudo bem — ele disse também querendo chorar, se segurando. — Eu estou feliz que agora eu tenho dois irmãos que eu gosto muito! O disse que sempre vai me apoiar em tudo.
— Eu também vou, meu amor.
Fiquei alguns minutos ali com ele, conversando e abraçando aquele garotinho. Por mais que ele me irritasse algumas vezes, era a criança que eu mais gostava nesse mundo.
Depois de alguns minutos, ouvi alguns amigos da mami perguntando o que eu faria de faculdade e coisas do tipo, ela desconversou, porque até eu não sabia o que queria do meu futuro acadêmico. A faculdade era um grande problema, porque eu não sabia o que queria estudar. Seguir psicologia igual mami? Administração igual Ângelo?
Eram opções muito boas, mas não era eu. Não era algo que eu realmente gostava. As vezes acho que sempre fui a adolescente fútil que veste roupas caras e faz combinação com os sapatos, mas fora isso, nada mais parecia interessante. Hoje eu consigo perceber que, quando mais me aproximo da minha essência, da verdadeira , fui fútil durante anos. E agora, isso está sendo um problema para mim, para as minhas decisões do futuro.
Eu sei que meus pais gostariam muito que eu fizesse o que eles sempre sonharam para mim e podem e irão pagar tudo que estiver ao alcance deles, mas o que eu quero?
As vezes acho que precisava de mais um choque de realidade para tomar decisões sobre a minha vida.
As coisas estavam diferentes agora, eu não era mais a mesma garota de antes e nunca mais seria. Meus pais sabiam disso, muitas coisas foram reveladas e agora estávamos bem, acertamos algumas diferenças, mas ainda precisava de um espaço para conseguir curar a mágoa que haviam em meu coração.
Suspirei mais uma vez olhando meu reflexo no espelho do banheiro, trajando aquele vestido cor de rosa de mangas bufantes e saia transpassada com decote em V da TVZ. Aquela não era mais eu, não estava mais satisfeita com aquele luxo todo, com todas as coisas que eu tinha em mãos e tudo que meus pais podiam me oferecer.
Saí do banheiro encontrando as meninas sorridentes. Balancei a cabeça e descemos para o andar debaixo, onde a festa já tinha começado e estava com a música estourando os ouvidos alheios.
Quando eu descia as escadas, as pessoas começaram bater palmas e vibrar levantando suas taças de champanhe. A alta sociedade que meus pais gostavam de se misturar estava concentrada ali em casa e eu não fazia ideia de quem era cada um deles, mas precisava ser legal, sorrir e acenar.
— Você está divina — mami disse, passando uma das mãos em meus cabelos. — Nem parece que você já está completando 18 anos, o tempo passou muito rápido!
Ela estava maravilhosa usando um vestido vinho longo, cabelos presos em um penteado elaborado e joias das mais caras possíveis. Reconheço que tínhamos passado por diversas coisas, mas eu a amava mais que tudo e não pude deixar de abraçá-la. Acho que ela estava esperando por isso há muito tempo, porque segurou-se para não derramar-se em lágrimas.
Ângelo se juntou a nós e senti meus músculos se congelarem. Por mais que ele tenha me criado, tenha me dado amor, ele não estava sendo justo com o e isso me quebrava em pedacinhos. Apenas sorri, dando as coisas para eles e indo em direção aos meus amigos.
Agora Cami estava de mãos dadas com Antony na frente de todos, finalmente assumindo um relacionamento. Eu podia ver a felicidade nos olhos da minha amiga, assim como Tati parecia bem mais próxima da Louise, porque não paravam de se falar desde que se encontraram no meu quarto mais cedo.
Daniel estava tranquilo em uma das mesas enquanto comia ao lado de Sue e tomava uma taça com suco e observava ao redor. Fiquei feliz por eles conseguirem se formar no Colégio Paulo, seria algo muito grandiosos em qualquer rumo que eles quisessem tomar na vida dali em diante.
Depois de falar com todos os meus amigos, peguei uma taça de champanhe e fiquei andando de um lado para o outro no salão enorme de casa. Pude ver Denis chegar, cumprimentar minha mami e Ângelo. Ele não estava muito confortável e Eve já tinha mais classe, parecia mais habituada.
— ! Você está maravilhosa! — ela me abraçou e eu sorri verdadeiramente.
— Obrigada, Eve! Você também — falei olhando para ela com um vestido azul magnífico. — Denis, obrigada por vir.
— Imagina, querida, não poderia deixar de vir — ele acariciou minha bochecha e eu me senti diferente, me senti como se estivesse... me senti familiarizada e incrivelmente bem. — É um momento importante para mim também. E trouxemos presente, espero que goste!
— Com certeza! — abracei-os novamente. — Obrigada.
Me afastei e voltei a me sentir deslocada em minha própria festa. Na verdade, era estranho estar ali, porque aqueles eventos e festas chatas que íamos obrigadas pelos pais cercado de gente chata e rasa que ficava falando sobre a sua aparência, o tanto que você cresceu e coisas do tipo.
Caminhei em direção ao jardim, longe das pessoas que estavam por ali. Precisava respirar um pouco, tomar as decisões dali para frente e principalmente decidir o que eu ia querer da minha vida.
A proposta de morar com Denis e Eve era tentadora, mas minha vida era aqui, não tinha possibilidades de deixar tudo aqui e morar em outro país, mas talvez passar as férias seria bom. Talvez tudo mudasse dali para frente.
Ouvi alguns galhos quebrando atrás de mim e fiquei em pé, virando para ver qual era a ameaça que tinha antes de tentar correr em cima da minha sandália cor de rosa da YSL.
Mas eu paralisei ainda com o coração acelerado. Estava estática observando aquele cara parado na minha frente com seus cabelos penteados para trás, o lápis de olho meio borrado dentro de um smoking bem ajustado que caía perfeitamente em seu corpo. Usava até mesmo uma gravata borboleta rente ao pescoço e na mão tinha uma caixinha vermelha de veludo.
Senti meu corpo inteiro se ativar a sua presença e não pude negar o sorriso mais sincero daquela noite. Me aproximei em passos rápidos e abracei-o pelo pescoço, ficando de pontas de pé, sendo aparada pelas suas mãos em minha cintura.
— Ei, boneca! — ele riu na curva do meu pescoço. — Não recebi um convite, resolvi entrar de penetra.
— Você sabe que não precisa de convite — respondi soltando-o, ficando agora no tamanho normal bem mais baixa que ele. — O que fez você, sei lá... vir?
— Boneca, é o seu dia! — respondeu tirando uma mecha do meu cabelo do rosto. — Sei que falei que a gente não ia se ver mais, talvez seja a última vez, mas sou egoísta o suficiente para aparecer no seu dia e saciar minha vontade de te ver.
— Você não tem noção do quanto me fez bem — abracei-o novamente, passando meus braços pelo seu tronco. Se dependesse unicamente de mim, nunca mais sairia dali. — Eu adoro você.
Me afastei um pouco, segurando suas mãos com carinho. Ele sorriu se aproximando, colando nossos lábios em seguida. Seu beijo continuava a mesma coisa, ainda me trazia a mesma felicidade, as mesmas sensações. Me deliciei com seus lábios, com suas mãos, seu corpo, até ele partir nosso beijo risonho.
— Ei — riu apertando minha bochecha. Em seguida estendeu-me a caixinha aveludada. — Trouxe esse presente, é bem simples, mas é com todo meu coração que estou te dando.
Abri a caixinha e pude ver uma correntinha de prata com as letras G e B penduradas. Era uma das coisas mais lindas que eu já tinha ganho de alguém. Peguei o colar e pedi para ele colocar em mim, afastando os cabelos para o lado. Recebi um beijo no pescoço e virei para ele, olhando o colar em meu pescoço.
— Eu amei — falei segurando as letrinhas. — Muito obrigada. Vamos entrar? Tem comida, bebida, docinhos...
Ele segurou minhas mãos e beijou-as com carinho. Senti como se não existisse nada além de nós em kms de distância, mas a sensação que aquele gesto dele trazia, não era muito boa.
— Não posso, boneca. Preciso ir embora, não daria certo encontrar com o... com o Ângelo — ele fez um careta e rimos. — Boa festa, se cuida.
Demos um último abraço e fiquei observando ele sair pelos fundos da casa, do mesmo jeito no dia que fugimos para festa. Bom, pelo menos minha noite tinha melhorado um pouco e eu estava agora com as energias recarregadas.
Pensei algumas vezes ainda em sei lá, seguir ele e largar aquela festa, mas era loucura. Não ia cometer esse tipo de coisa, não quando ele já estava totalmente decidido sobre nós e eu estava começando a aceitar essa ideia.
Nós nunca daríamos certo. Infelizmente a nossa história começou de uma forma conturbada e sem sentido. Quem me dera as coisas fossem mais simples, fosse um verdadeiro desconhecido que não fosse filho do cara que eu jurava ser meu pai a vida inteira.
Mas ali, em pé e com as letrinhas daquele colar dançando sobre os meus dedos, tive certeza de algo que nem tinha se passado pela minha cabeça anteriormente: eu estava loucamente apaixonada por aquele garoto! Entretanto, teria que enterrar esse sentimento, deixar tudo para trás com muita tristeza.
Respirei fundo, tentando conter aquela louca vontade de chorar e caminhei de volta para dentro de casa, sendo recebida pelos meus amigos novamente que estavam animados o bastante para curtir a festa em meu lugar. Ainda assim, consegui aproveitar muito, mas precisava acertar algumas coisas.
Aproveitei que a festa organizada por pais para adolescentes e que ninguém bebia sem autorização deles; meus amigos estavam todos sóbrios.
Chamei Tati e Cami para a mesa de doces mais afastada, tirando forças para conseguir falar tudo que eu precisava e que eu estava sentindo naquele momento.
— Estou devendo essa conversa com vocês tem um tempo já — sorri um pouco sem graça, colocando os cabelos atrás das orelhas. — Nesses últimos tempos sei que não tenho sido uma boa amiga — elas balançaram a cabeça em compreensão. — Apesar de tudo queria me desculpar por me afastar, por ter ignorado vocês em algum momento e também por fazer coisas que eu não estava acostumada a fazer com vocês... Acho que isso faz parte de quem eu sou agora. Minha vida mudou drasticamente e não foi por causa do , mas vocês sabem toda a situação com meus pais e tal — elas apertaram minhas mãos que eu nem tinha percebido que seguravam. — Enfim, eu ainda estou tentando me recuperar de tudo, preciso de um tempo para mim. Não está sendo nada fácil, mas queria o apoio de vocês.
— , você pode contar com a gente sempre — Tati respondeu chorosa. — Também não fomos boas amigas, deixamos muitas coisas em sua responsabilidade e não demos muita assistência quando você mais precisou de nós.
— Saiba que estamos com você nessa nova fase da sua vida, estamos dispostas a evoluir com você, — Cami sorriu, abraçando-me com carinho. Não demorou Tati fazer o mesmo.
— Eu amo vocês — resmunguei naquele abraço esquisito.
Depois de deixar as meninas lá na mesa de doces, caminhei pelo salão em busca de Sue, mas não conseguia encontrá-la aquela altura do campeonato. As pessoas pareciam que nunca iriam embora enquanto tinha comida e bebida de graça, o que dificultava minha busca.
Acabei encontrando Louise antes dela, aproveitei para tentar bater um papo tranquilo com ela sobre o acontecido do nosso beijo, parece que algumas coisas em mim ficaram confusas e eu não queria que ela pensasse que eu a estava usando.
— Lou, queria me desculpar por aquele dia, minhas atitudes e comportamentos... — falei assim que ficamos sem assunto. — Talvez eu tenha errado em experimentar algo sem antes te consultar… Acho que pelo fato de gostar de outra pessoa, não consigo ter muita conexão com as outras.
— Pode ficar tranquila, , não levei a mal — ela respondeu sorridente como sempre foi. — Eu na verdade acho que você deveria experimentar em outro momento na sua vida.
— É, talvez — respondi concordando, acho que todo mundo conseguia observar a conexão que eu tinha com o , mesmo de longe.
Aquela festa parecia mais um acerto de contas, porque mais tarde encontrei Suellen sozinha na mesa de doces e tivemos uma conversa sincera sobre o que seria da nossa amizade dali em diante. Por mais que ela tenha se envolvido com o cara que eu gosto, eu também tinha um carinho muito grande e construímos uma amizade muito boa. Não acho que deveríamos ser inimigas, até porque o era passageiro em minha vida, assim como foi na vida dela.
Acho que antigamente não teria pensado assim e isso me deixou orgulhosa. Estou realmente me tornando uma mulher com responsabilidades e visão de futuro!!!
— ! — ouvi a voz de Nico do meu lado, puxando a barra do meu vestido. — Vamos comigo na mesa de doces? Preciso conversar com você!
Estranhei mas acompanhei ele até lá, que andava na frente pulando serelepe. Por mais que Nico fosse meu meio irmão, eu tinha um carinho extremamente grande por ele. Por mais que fosse uma criança irritante algumas vezes, eu amava aquele garoto.
— Adivinha quem eu vi? — perguntou com 4 brigadeiros enfiados na boca. Dei de ombros sem saber responder. — O . Ele estava lá fora!
— Você contou para o Ângelo? — perguntei de primeira. Ele não podia saber que ele estivera ali.
— Claro que não, né? — revirou os olhos. — Eu sei de toda história, ouvi tudo do meu quarto aquele dia. Sei que você não é filha dele e que nos somos só um pouco irmãos, mas você sabe que eu não ligo, né? Que eu te amo do mesmo jeito!
— Ai, Nico! — abaixei para abraçar meu irmão, que já me fazia chorar. — Sim, eu sei. Te amo muito também! Nada vai tirar o que a gente sente um pelo outro, tá bom?
— Tudo bem — ele disse também querendo chorar, se segurando. — Eu estou feliz que agora eu tenho dois irmãos que eu gosto muito! O disse que sempre vai me apoiar em tudo.
— Eu também vou, meu amor.
Fiquei alguns minutos ali com ele, conversando e abraçando aquele garotinho. Por mais que ele me irritasse algumas vezes, era a criança que eu mais gostava nesse mundo.
Depois de alguns minutos, ouvi alguns amigos da mami perguntando o que eu faria de faculdade e coisas do tipo, ela desconversou, porque até eu não sabia o que queria do meu futuro acadêmico. A faculdade era um grande problema, porque eu não sabia o que queria estudar. Seguir psicologia igual mami? Administração igual Ângelo?
Eram opções muito boas, mas não era eu. Não era algo que eu realmente gostava. As vezes acho que sempre fui a adolescente fútil que veste roupas caras e faz combinação com os sapatos, mas fora isso, nada mais parecia interessante. Hoje eu consigo perceber que, quando mais me aproximo da minha essência, da verdadeira , fui fútil durante anos. E agora, isso está sendo um problema para mim, para as minhas decisões do futuro.
Eu sei que meus pais gostariam muito que eu fizesse o que eles sempre sonharam para mim e podem e irão pagar tudo que estiver ao alcance deles, mas o que eu quero?
As vezes acho que precisava de mais um choque de realidade para tomar decisões sobre a minha vida.
Capítulo 20 - Finalizando Ciclos
É estranho chegar até aqui, olhar para trás e ver a evolução que eu tive. Não era mais a mesma garota, não era mais a que todos achavam bobinha e sem conteúdo. Demorei para perceber que as coisas eram muito diferentes e que eu queria seguir caminhos também diferentes dos que eu naturalmente faria.
Durante os últimos dias, acertei minhas contas com as minhas amigas, os meus amigos e por fim com a mami. Eu ainda estava muito magoada com os acontecimentos, não tinha como não estar, mas pelo menos agora eu conseguia voltar a olhar para ela. Não tinha o que fazer: ela é humana e comete erros, e aparentemente estava bem arrependida de tudo.
Minha relação com Ângelo foi basicamente reduzida a nada, ele passou a sentir os efeitos e suas consequências com suas variações de humor. Vivia mais cabisbaixo e também nervoso; tudo era motivo para que ele tivesse um ataque de nervos envolvendo o trabalho. Por indicação de mami, estava fazendo acompanhamento com remédios e também com um psicólogo.
De toda forma, ele havia feito o mínimo: ele quitou as dúvidas com os caras que estavam atrás do , colocou o Gabriel em outra clínica de tratamentos mais avançados e eficazes próximo à casa deles na Zona Leste. Lana, a mãe deles fez questão que ele apenas resolvesse tudo com os meninos, porque ela não queria nada que envolvesse ele. Preferia continuar morando de favor em um fundo de quintal do que depender da ajuda dele depois de ter criado os dois meninos basicamente sozinha. E eu não tirava sua razão.
A relação com Denis melhorava a cada dia. Fazíamos jantares, almoços e ele sempre muito disponível para que nos déssemos bem. Era legal estar com ele e Eve, eles estavam fazendo de tudo para que eu me sentisse da melhor forma possível e por isso, depois de tanto pensar em sua proposta, propus um almoço em um restaurante um pouco afastado do centro, para finalmente dizer que:
— Eu vou passar um tempo em Paris com o Denis.
Todos ficaram em silêncio e olhando para mim, enquanto eu tentava manter a pose e parar de tremer as mãos. Denis e Eve foram os primeiros a comemorar e me abraçarem, mas mami largou os talheres dentro do prato, nervosa.
— De forma alguma! — disse ficando de pé. — Eu não autorizo! , você tem todo um futuro aqui, tem estabilidade, tem tudo! Nós sempre te demos tudo que você precisava.
— Mami, essa é a questão! Não quero mais nada de mão beijada, preciso ir atrás do que eu quero e acho que ficar um tempo em outro país, com outros costumes e culturas diferentes, vai ser bom! — tentei explicar. — Também quero passar um tempo com o meu... com meu pai. Acho que precisamos disso. Ele está disposto a cuidar de mim por lá, não que eu ainda demande cuidados, agora tenho 18!
— ... — ela choramingou, vindo me abraçar dessa vez. — Estou tão feliz pela mulher que você se tornou, por tudo que está passando e por sua busca de ter o que precisa... Acho que não estou preparada para te deixar ir…
Meus amigos ficaram chateados, afinal, eu também não estava contente em deixá-los para trás por pouco tempo. Acho que seria dois ou três meses apenas, mas ainda assim sentiria saudades todos os dias.
— Você vai voltar, ? — Nico perguntou ao meu lado e eu o abracei com força.
— Claro que sim, pivete! — baguncei seus cabelos encaracolados. — Te amo demais para te deixar aqui sozinho, né?
Percebi que uma movimentação estranha estava acontecendo na porta do restaurante, alguns homens começaram a entrar rapidamente, ignorando a recepcionista que já acionava o segurança.
Reconheci eles no mesmo momento, eram os caras do bar! Inclusive o atropelado estava mancando, talvez tenha sido a roda que eu passei por cima dele. Quando os olhos deles bateram em mim, senti um frio por todo meu corpo, ainda mais quando começaram a andar em minha direção a passos pesados.
Os caras fizeram uma barreira em volta da mesa, enquanto o cara que havia começado bater em no bar tirava a arma de dentro da jaqueta e apontava para mim. Eu não conseguia me mexer e já conseguia ouvir os gritos das pessoas a nossa volta, totalmente assustadas com aquela cena.
— Onde ele está? — o cara perguntou baixo em meu rosto. Seus olhos grandes me assustavam, assim como seu nariz enrugado puxava o ar pesadamente na minha frente. — Não vou perguntar novamente, onde está o playboyzinho?
— Eu... Eu não sei — respondi a verdade, não sabia onde ele estava. — Ele não mora mais com a gente, ele...
— Beleza — o cara me puxou pelo pescoço e prendeu o braço pela minha garganta, destravando o gatilho da arma e apontando ela na minha têmpora esquerda. Minha mãe gritou ainda mais, meus amigos começaram a xingar alguma coisa, enquanto eu mal conseguia pensar de tanto medo que sentia. — Se o garoto não aparecer dentro de 1h, ela morre.
Senti uma onda de gelo passando pelo meu corpo enquanto aquele cara me agarrava pelo pescoço. Percebi que por mais que ele estivesse armado e fazendo todo aquele circo, ele estava nervoso porque tremia com a arma. Acho que nunca havia feito aquele tipo de coisa com tanta gente em volta, tanta plateia.
Ele apontou a arma para uma pessoa que estava próximo de nós dentro do restaurante e atirou no aparelho de celular que ela estava em mãos.
— Sem ligações, sem vídeos — ordenou, fazendo os gritos aumentarem. — Fechem as portas do restaurante, ninguém sai! Só uma pessoa pode entrar, o nome.
Os outros capangas começaram a rondar pelo restaurante empunhando suas armas, observando cada refém que estava ali. Ninguém se arriscava a sequer sair da risca, porque poderia acabar tomando um tiro.
O cara que mancava chegou perto de mim e passou a mão pela minha bochecha, me fazendo tremer de medo e nojo, porque me olhava de uma forma estranha, um sorriso sujo.
— Ele não está aqui para te proteger dessa vez, barbiezinha — ele disse, arrastando o dedo mais uma vez pela minha pele. — Será que ele vai mesmo vir? Ou você ficou sozinha novamente?
Enquanto eles riam, meus pais e amigos só sabiam chorar e tremer, enquanto eu não conseguia expressar nada além da cara de assustada que eu provavelmente tinha estampada.
Muitas coisas começaram a passar pelos meus olhos e pela minha cabeça e a única coisa que eu conseguia pensar era em como havia chego aquele momento. Eu de verdade não merecia passar por tudo aquilo que estava acontecendo nas últimas semanas, mas ali estava eu, com uma arma apontada para a cabeça e sendo ameaçada de morte.
Nunca em toda minha vida imaginei uma cena dessas. Parecia coisa de filme de máfia, aqueles tantos que eu já tinha visto na televisão.
Devido ao barulho vindo da rua, a imprensa já estava do lado de fora assim como a polícia com suas sirenes ensurdecedoras. Depois de longos minutos, a porta principal foi aberta e passos pesados invadiram o ambiente. O brutamontes me virou junto com seu corpo e pude ver parado ali com as mãos ao lado do corpo e um capacete em uma delas.
Seus olhos estavam flamejantes, seus cabelos completamente bagunçados e sua roupa toda amarrotada. Ele largou o capacete no chão e começou caminhar em nossa direção, mas quando o cara que me segurava levantou a arma de novo para minha cabeça, travou.
— Cadê o restante da grana?
— A gente tinha combinado que eu daria até o final do mês — ele explicou, levantando as mãos. — Ela não tem nada a ver com isso, deixa ela ir, por favor.
— Que graça teria se eu fosse embora daqui com uma promessa infundada sua, seu idiota? — ele quase grita em meu ouvido, até fecho os olhos para não ter que ver aquele cano na minha cabeça.
— Cara, você vai acabar machucando ela — pede levantando as mãos na frente do seu corpo. — Solta ela, conversamos em outro lugar...
— Só se for para acabar com a sua cara de mauricinho! — o outro grita do lado.
— Não! — grito involuntariamente. — Por favor, não façam nada com ele. Ele não em culpa de nada.
Um minuto de silêncio percorreu o local. Dentro de mim só havia medo por nós dois, por toda aquela situação. Eu sabia que se ele pegasse , ele ia realmente matá-lo, não pode perdê-lo assim. Toda aquela tensão foi quebrada pela gargalhada do nojento no meu ouvido.
— O que você fez com ela, hein, ? — o brutamonte junta o rosto ao meu. — A garota está praticamente se entregando para que a gente não te mate, olha isso! Realmente, ela te ama. Meu Deus, que clichê adolescente dos anos 90!
suspirou com as mãos na cintura. Apesar de aparentar tranquilidade, eu sei que estava tão apreensivo quanto eu, não tinha como não estar.
— Eu tenho uma parte — ele levantou um bolo de notas, não sei dizer quantidade, mas parecia muito. — Me deixem conseguir o restante até o final da semana, eu prometo que consigo.
— Ele não te ama igual você ama ele — o cara disse em meu ouvido. Fechei os olhos nervosa, com medo.
— Pelo amor de Deus, eu pago! Eu pago o que for preciso — ouvi minha mãe gritar ao fundo, caminhando até nós. — Quanto vocês precisam?
— Tem certeza, minha senhora? Vai gastar seu dinheiro por causa desse moleque? — perguntou o cara apontando a arma para .
— Me diga quanto precisam! — ela disse novamente, agora pegando o celular. — Vou fazer a transferência agora mesmo, mas por favor, deixem eles em paz!
Antes mesmo que mami terminasse de falar, a porta foi arrombada e vários policiais entraram apontando as armas para todos os lados e ouvi a voz de alguém atrás do cara que me segurava.
— Solte a garota, me entregue a arma, agora! — ordenou.
Senti o braço me largar e a arma ir para longe do meu corpo. Sem pensar duas vezes eu corri para , abracei-o como se fosse a última coisa que faria por um bom tempo. Senti seu corpo relaxar em meus braços e comecei chorar. Era tanta pressão, que eu não conseguia pensar direito, apenas queria ficar naquele momento para sempre, abraçando-o.
— Ei, minha boneca. Está tudo bem agora, amor — ele disse, passando os dedos pelos meus olhos cheios de lágrimas. — Estamos bem.
A polícia já estava lá dentro rendendo os outros caras, algemando-os para levar para a delegacia. Meus pais estavam me abraçando, logo meus amigos também estavam em minha volta, correndo para ver se eu estava bem.
Depois de quase morrer de pânico, eu estava me sentindo melhor e ainda não conseguia parar de chorar depois de tudo aquilo, porque ainda estava em choque.
— Você é o ? — um policial se aproximou de nós, olhando com uma das sobrancelhas levantadas em desconfiança. — De acordo com algumas denúncias anônimas e as confirmações pelos capangas que acabamos de prender, você também será preso por tráfico de drogas.
— O quê? — perguntei desacreditada. — Não, vocês não podem levar ele.
— Acho que você não deveria falar mais nada, viu, mocinha? — o policial começou a algema-lo. — Isso pode prejudicar ele ainda mais.
E foi assim que observei ser levado pelos policiais até um carro da polícia do lado de fora. Muitos policiais e curiosos estavam ali, também tinha algumas redes de televisão ali esperando por uma entrevista, até fui abordada por um deles, mas ignorei todos.
Denis tentou me segurar em seus braços, mami também falava para que eu ficasse com ela, mas não pude deixar de ir atrás de . Ver ele sendo preso era a última coisa que eu achava que aconteceria, não podia ser verdade.
— ! — gritei indo atrás dele, segurei sua mão. Um policial tentou me afastar, mas insisti. — Por favor, preciso falar com ele uma última vez, por favor!
O policial revirou os olhos, sentou ele no banco de trás da viatura e fechou a porta, deixando apenas o vidro aberto para que eu conseguisse falar com ele. Me abaixei ainda em lágrimas, segurando seu rosto nas mãos, olhando aqueles belos olhos, lindos olhos que eu tanto amava.
— Acontece, boneca, que eu já sabia — ele sorriu de canto, os olhos dele brilhavam ainda mais. — Eu soube que me apaixonaria perdidamente desde o momento que pus meus olhos em você. Eu sabia que seria intenso, que seria como uma montanha russa — passei meus dedos pelos seus cabelos úmidos, vendo-o fechar os olhos com o carinho. — E eu também sabia que você seria minha heroína, meu vício — fez uma pausa e percebi que lágrimas caíam dos seus olhos. — Boneca, eu não sou bom para você, nunca fui — balancei a cabeça negando aquela afirmação —, nós dois sabemos disso, ainda assim, sou muito grato pelo paraíso que você me deu. E sinto muito pelo inferno que te causei, mas você precisa viver. Você não nasceu para ficar com um vagabundo como eu, porque seu destino... Seu destino é qualquer um outro, você não merece isso, mas também não merece ninguém que te trate por menos do que você merece.
— , eu vou tentar te tirar dessa. Vou conversar com o Ângelo, vou fazer de tudo para ele te livrar dessa! Ele não pode te negar isso, eu...
— Ei, boneca, está tudo bem! — ele sorriu triste. — Fica tranquila, está tudo bem.
— Eu te amo, te amo muito — chorei, vendo seus olhos encherem ainda mais de lágrimas. — Eu nunca vou te esquecer.
Durante os últimos dias, acertei minhas contas com as minhas amigas, os meus amigos e por fim com a mami. Eu ainda estava muito magoada com os acontecimentos, não tinha como não estar, mas pelo menos agora eu conseguia voltar a olhar para ela. Não tinha o que fazer: ela é humana e comete erros, e aparentemente estava bem arrependida de tudo.
Minha relação com Ângelo foi basicamente reduzida a nada, ele passou a sentir os efeitos e suas consequências com suas variações de humor. Vivia mais cabisbaixo e também nervoso; tudo era motivo para que ele tivesse um ataque de nervos envolvendo o trabalho. Por indicação de mami, estava fazendo acompanhamento com remédios e também com um psicólogo.
De toda forma, ele havia feito o mínimo: ele quitou as dúvidas com os caras que estavam atrás do , colocou o Gabriel em outra clínica de tratamentos mais avançados e eficazes próximo à casa deles na Zona Leste. Lana, a mãe deles fez questão que ele apenas resolvesse tudo com os meninos, porque ela não queria nada que envolvesse ele. Preferia continuar morando de favor em um fundo de quintal do que depender da ajuda dele depois de ter criado os dois meninos basicamente sozinha. E eu não tirava sua razão.
A relação com Denis melhorava a cada dia. Fazíamos jantares, almoços e ele sempre muito disponível para que nos déssemos bem. Era legal estar com ele e Eve, eles estavam fazendo de tudo para que eu me sentisse da melhor forma possível e por isso, depois de tanto pensar em sua proposta, propus um almoço em um restaurante um pouco afastado do centro, para finalmente dizer que:
— Eu vou passar um tempo em Paris com o Denis.
Todos ficaram em silêncio e olhando para mim, enquanto eu tentava manter a pose e parar de tremer as mãos. Denis e Eve foram os primeiros a comemorar e me abraçarem, mas mami largou os talheres dentro do prato, nervosa.
— De forma alguma! — disse ficando de pé. — Eu não autorizo! , você tem todo um futuro aqui, tem estabilidade, tem tudo! Nós sempre te demos tudo que você precisava.
— Mami, essa é a questão! Não quero mais nada de mão beijada, preciso ir atrás do que eu quero e acho que ficar um tempo em outro país, com outros costumes e culturas diferentes, vai ser bom! — tentei explicar. — Também quero passar um tempo com o meu... com meu pai. Acho que precisamos disso. Ele está disposto a cuidar de mim por lá, não que eu ainda demande cuidados, agora tenho 18!
— ... — ela choramingou, vindo me abraçar dessa vez. — Estou tão feliz pela mulher que você se tornou, por tudo que está passando e por sua busca de ter o que precisa... Acho que não estou preparada para te deixar ir…
Meus amigos ficaram chateados, afinal, eu também não estava contente em deixá-los para trás por pouco tempo. Acho que seria dois ou três meses apenas, mas ainda assim sentiria saudades todos os dias.
— Você vai voltar, ? — Nico perguntou ao meu lado e eu o abracei com força.
— Claro que sim, pivete! — baguncei seus cabelos encaracolados. — Te amo demais para te deixar aqui sozinho, né?
Percebi que uma movimentação estranha estava acontecendo na porta do restaurante, alguns homens começaram a entrar rapidamente, ignorando a recepcionista que já acionava o segurança.
Reconheci eles no mesmo momento, eram os caras do bar! Inclusive o atropelado estava mancando, talvez tenha sido a roda que eu passei por cima dele. Quando os olhos deles bateram em mim, senti um frio por todo meu corpo, ainda mais quando começaram a andar em minha direção a passos pesados.
Os caras fizeram uma barreira em volta da mesa, enquanto o cara que havia começado bater em no bar tirava a arma de dentro da jaqueta e apontava para mim. Eu não conseguia me mexer e já conseguia ouvir os gritos das pessoas a nossa volta, totalmente assustadas com aquela cena.
— Onde ele está? — o cara perguntou baixo em meu rosto. Seus olhos grandes me assustavam, assim como seu nariz enrugado puxava o ar pesadamente na minha frente. — Não vou perguntar novamente, onde está o playboyzinho?
— Eu... Eu não sei — respondi a verdade, não sabia onde ele estava. — Ele não mora mais com a gente, ele...
— Beleza — o cara me puxou pelo pescoço e prendeu o braço pela minha garganta, destravando o gatilho da arma e apontando ela na minha têmpora esquerda. Minha mãe gritou ainda mais, meus amigos começaram a xingar alguma coisa, enquanto eu mal conseguia pensar de tanto medo que sentia. — Se o garoto não aparecer dentro de 1h, ela morre.
Senti uma onda de gelo passando pelo meu corpo enquanto aquele cara me agarrava pelo pescoço. Percebi que por mais que ele estivesse armado e fazendo todo aquele circo, ele estava nervoso porque tremia com a arma. Acho que nunca havia feito aquele tipo de coisa com tanta gente em volta, tanta plateia.
Ele apontou a arma para uma pessoa que estava próximo de nós dentro do restaurante e atirou no aparelho de celular que ela estava em mãos.
— Sem ligações, sem vídeos — ordenou, fazendo os gritos aumentarem. — Fechem as portas do restaurante, ninguém sai! Só uma pessoa pode entrar, o nome.
Os outros capangas começaram a rondar pelo restaurante empunhando suas armas, observando cada refém que estava ali. Ninguém se arriscava a sequer sair da risca, porque poderia acabar tomando um tiro.
O cara que mancava chegou perto de mim e passou a mão pela minha bochecha, me fazendo tremer de medo e nojo, porque me olhava de uma forma estranha, um sorriso sujo.
— Ele não está aqui para te proteger dessa vez, barbiezinha — ele disse, arrastando o dedo mais uma vez pela minha pele. — Será que ele vai mesmo vir? Ou você ficou sozinha novamente?
Enquanto eles riam, meus pais e amigos só sabiam chorar e tremer, enquanto eu não conseguia expressar nada além da cara de assustada que eu provavelmente tinha estampada.
Muitas coisas começaram a passar pelos meus olhos e pela minha cabeça e a única coisa que eu conseguia pensar era em como havia chego aquele momento. Eu de verdade não merecia passar por tudo aquilo que estava acontecendo nas últimas semanas, mas ali estava eu, com uma arma apontada para a cabeça e sendo ameaçada de morte.
Nunca em toda minha vida imaginei uma cena dessas. Parecia coisa de filme de máfia, aqueles tantos que eu já tinha visto na televisão.
Devido ao barulho vindo da rua, a imprensa já estava do lado de fora assim como a polícia com suas sirenes ensurdecedoras. Depois de longos minutos, a porta principal foi aberta e passos pesados invadiram o ambiente. O brutamontes me virou junto com seu corpo e pude ver parado ali com as mãos ao lado do corpo e um capacete em uma delas.
Seus olhos estavam flamejantes, seus cabelos completamente bagunçados e sua roupa toda amarrotada. Ele largou o capacete no chão e começou caminhar em nossa direção, mas quando o cara que me segurava levantou a arma de novo para minha cabeça, travou.
— Cadê o restante da grana?
— A gente tinha combinado que eu daria até o final do mês — ele explicou, levantando as mãos. — Ela não tem nada a ver com isso, deixa ela ir, por favor.
— Que graça teria se eu fosse embora daqui com uma promessa infundada sua, seu idiota? — ele quase grita em meu ouvido, até fecho os olhos para não ter que ver aquele cano na minha cabeça.
— Cara, você vai acabar machucando ela — pede levantando as mãos na frente do seu corpo. — Solta ela, conversamos em outro lugar...
— Só se for para acabar com a sua cara de mauricinho! — o outro grita do lado.
— Não! — grito involuntariamente. — Por favor, não façam nada com ele. Ele não em culpa de nada.
Um minuto de silêncio percorreu o local. Dentro de mim só havia medo por nós dois, por toda aquela situação. Eu sabia que se ele pegasse , ele ia realmente matá-lo, não pode perdê-lo assim. Toda aquela tensão foi quebrada pela gargalhada do nojento no meu ouvido.
— O que você fez com ela, hein, ? — o brutamonte junta o rosto ao meu. — A garota está praticamente se entregando para que a gente não te mate, olha isso! Realmente, ela te ama. Meu Deus, que clichê adolescente dos anos 90!
suspirou com as mãos na cintura. Apesar de aparentar tranquilidade, eu sei que estava tão apreensivo quanto eu, não tinha como não estar.
— Eu tenho uma parte — ele levantou um bolo de notas, não sei dizer quantidade, mas parecia muito. — Me deixem conseguir o restante até o final da semana, eu prometo que consigo.
— Ele não te ama igual você ama ele — o cara disse em meu ouvido. Fechei os olhos nervosa, com medo.
— Pelo amor de Deus, eu pago! Eu pago o que for preciso — ouvi minha mãe gritar ao fundo, caminhando até nós. — Quanto vocês precisam?
— Tem certeza, minha senhora? Vai gastar seu dinheiro por causa desse moleque? — perguntou o cara apontando a arma para .
— Me diga quanto precisam! — ela disse novamente, agora pegando o celular. — Vou fazer a transferência agora mesmo, mas por favor, deixem eles em paz!
Antes mesmo que mami terminasse de falar, a porta foi arrombada e vários policiais entraram apontando as armas para todos os lados e ouvi a voz de alguém atrás do cara que me segurava.
— Solte a garota, me entregue a arma, agora! — ordenou.
Senti o braço me largar e a arma ir para longe do meu corpo. Sem pensar duas vezes eu corri para , abracei-o como se fosse a última coisa que faria por um bom tempo. Senti seu corpo relaxar em meus braços e comecei chorar. Era tanta pressão, que eu não conseguia pensar direito, apenas queria ficar naquele momento para sempre, abraçando-o.
— Ei, minha boneca. Está tudo bem agora, amor — ele disse, passando os dedos pelos meus olhos cheios de lágrimas. — Estamos bem.
A polícia já estava lá dentro rendendo os outros caras, algemando-os para levar para a delegacia. Meus pais estavam me abraçando, logo meus amigos também estavam em minha volta, correndo para ver se eu estava bem.
Depois de quase morrer de pânico, eu estava me sentindo melhor e ainda não conseguia parar de chorar depois de tudo aquilo, porque ainda estava em choque.
— Você é o ? — um policial se aproximou de nós, olhando com uma das sobrancelhas levantadas em desconfiança. — De acordo com algumas denúncias anônimas e as confirmações pelos capangas que acabamos de prender, você também será preso por tráfico de drogas.
— O quê? — perguntei desacreditada. — Não, vocês não podem levar ele.
— Acho que você não deveria falar mais nada, viu, mocinha? — o policial começou a algema-lo. — Isso pode prejudicar ele ainda mais.
E foi assim que observei ser levado pelos policiais até um carro da polícia do lado de fora. Muitos policiais e curiosos estavam ali, também tinha algumas redes de televisão ali esperando por uma entrevista, até fui abordada por um deles, mas ignorei todos.
Denis tentou me segurar em seus braços, mami também falava para que eu ficasse com ela, mas não pude deixar de ir atrás de . Ver ele sendo preso era a última coisa que eu achava que aconteceria, não podia ser verdade.
— ! — gritei indo atrás dele, segurei sua mão. Um policial tentou me afastar, mas insisti. — Por favor, preciso falar com ele uma última vez, por favor!
O policial revirou os olhos, sentou ele no banco de trás da viatura e fechou a porta, deixando apenas o vidro aberto para que eu conseguisse falar com ele. Me abaixei ainda em lágrimas, segurando seu rosto nas mãos, olhando aqueles belos olhos, lindos olhos que eu tanto amava.
— Acontece, boneca, que eu já sabia — ele sorriu de canto, os olhos dele brilhavam ainda mais. — Eu soube que me apaixonaria perdidamente desde o momento que pus meus olhos em você. Eu sabia que seria intenso, que seria como uma montanha russa — passei meus dedos pelos seus cabelos úmidos, vendo-o fechar os olhos com o carinho. — E eu também sabia que você seria minha heroína, meu vício — fez uma pausa e percebi que lágrimas caíam dos seus olhos. — Boneca, eu não sou bom para você, nunca fui — balancei a cabeça negando aquela afirmação —, nós dois sabemos disso, ainda assim, sou muito grato pelo paraíso que você me deu. E sinto muito pelo inferno que te causei, mas você precisa viver. Você não nasceu para ficar com um vagabundo como eu, porque seu destino... Seu destino é qualquer um outro, você não merece isso, mas também não merece ninguém que te trate por menos do que você merece.
— , eu vou tentar te tirar dessa. Vou conversar com o Ângelo, vou fazer de tudo para ele te livrar dessa! Ele não pode te negar isso, eu...
— Ei, boneca, está tudo bem! — ele sorriu triste. — Fica tranquila, está tudo bem.
— Eu te amo, te amo muito — chorei, vendo seus olhos encherem ainda mais de lágrimas. — Eu nunca vou te esquecer.
Epílogo
O ar estava gélido naquela manhã francesa. Não se ouvia os passarinhos que cantavam há uns meses atrás e se você olhasse para fora, era só neve. Não era muito típico ter neve, acontecia uma ou duas vezes no inverno, mas já teve anos que não nevou.
De todo modo, muitas coisas tinham mudado, a decisão de cursar moda foi muito fácil assim que coloquei os pés em Paris há cinco anos atrás junto com meu pai e Eve. Ela havia finalmente inaugurando seu restaurante enquanto Denis tocava o seu estúdio de tatuagem como um dos maiores desenhistas pela cidade.
Ainda colocando algumas roupas na mala, pensei o quanto a minha vida tinha mudado. Olhando no espelho relembrei meu último corte de cabelo no pescoço e agora as tatuagens que cobriam um de meus braços: uma Barbie pequena, a constelação do meu signo, a carinha da Lilith — que estava no Brasil — e uma garota, onde cobria os olhos com uma das mãos e a outra mão segurava uma rosa simples, todas muito significativas.
Cantarolando uma música qualquer, desci as escadas do apartamento onde morava com meu pai e Eve, não encontrando-os por ali, mas sentindo o cheiro maravilhoso do almoço que Eric estava preparando.
Cheguei por trás dele e deixei um beijo em seu ombro, abraçando seu corpo em seguida. Eu tinha tanto carinho por ele, que era incapaz de descrever.
Nos conhecemos pouco tempo depois de que cheguei do Brasil a França e nos tornamos amigos assim que me matriculei na faculdade. Era uma delícia poder estar com ele, me tirava de momentos de angústia e solidão e meses depois estávamos ficando. As coisas simplesmente aconteceram de uma forma que eu não conseguia imaginar e lá estava eu, namorando um cara bacana que me adorava. Meu pai adorava ele, tinham uma bela amizade construída com várias tatuagens.
Ainda não morávamos juntos oficialmente, mas já fazia um tempo que ele quase não saía da nossa casa, ainda mais que seus pais morassem no interior e ele semi dividia um apartamento com um colega da faculdade.
Não tinha como as coisas darem errado mais. Ainda que mami pedisse várias vezes para eu voltar, não sentia que deveria; Paris pareceu ser realmente o meu lugar. Para falar a verdade, me encontrei aqui e não, eu não queria mais morar aonde eu morava antes.
De toda forma, o natal estava chegando e depois de tanta insistência, iria finalmente visita-la. Depois de quase cinco anos que não a via além de vídeos e fotos, estava ansiosa para nosso reencontro e também que ela conhecesse Eric pessoalmente. Se por vídeos ele a conquistou, pessoalmente não seria diferente. Ele era realmente um amor.
— O que você está fazendo de tão bom? — perguntei.
— Aquela comida brasileira que você tanto ama com creme... Não lembro o nome — ele era a coisa mais graciosa falando em francês, eu não podia estar mais apaixonada.
— Strogonoff? — disse espiando a panela que ele tanto mexia.
— Isso, amor — beijou minha bochecha, desligando o fogo. Ele virou-se para mim e segurando-me pela cintura. — Acho que estou ansioso para viajar com você.
— Faltam poucas horas! — abracei seu pescoço, colando nosso nariz. — Está animado para conhecer pessoalmente minha mãe?
— Sim — falou tranquilo. — O Nico também. Acho que suas amigas e amigos brasileiros também.
Íamos viajar para São Paulo e passar o natal com a minha mãe, conhecendo a cidade que nasci e depois combinamos de ir para o Rio de Janeiro com meus amigos curtir o Réveillon em Copacabana. Queria mostrar para ele a mágica cidade maravilhosa, já que em Paris ele me apresentou.
Ainda assim, estava um pouco nervosa. Fazia tanto tempo que eu não me reunia com meus amigos; não sei se passar a noite bebendo como era de costume na adolescência seria tão interessante, esperava que eles tivessem mudado tanto quanto eu para conseguirmos bater um papo e falar sobre tantas mudanças que tinham acontecido de quase cinco anos pra cá.
Depois do almoço, aproveitei para finalizar minhas malas enquanto Eric tomava banho. Aproveitei o recesso de natal e ano novo para finalmente fazer essa viagem, até porque próximo ano eu já começaria como modelista de uma revista parisiense, então estava mais do que pronta para uma nova rotina, duplamente feliz!
Meu pai chegou com Eve para nos levar ao aeroporto, estavam de viagem marcada dali alguns dias, mas dessa vez iriam conhecer a Grécia. Tinham planejado muito tempo essa viagem, seria meio que uma lua de mel, até porque eles não tiveram após se casarem em Las Vegas há uns meses atrás.
A viagem foi tranquila, sem muitas emoções — graças a Deus —, e logo estávamos em solo brasileiro. Minha mãe estava extremamente animada quando me viu e não parou de me beijar ou abraçar.
— Meu Deus como você está diferente, querida! — ela disse passando as mãos em meu rosto, segurando meus braços e parou assim que visualizou as minhas tatuagens. — Seu pai é fogo mesmo!
— Mami — abracei novamente, tanto porque estava com saudades quanto para despistar suas críticas novamente sobre minhas tatuagens. — Que saudade! Esse aqui é o Eric, meu namorado — segurei sua mão. — Baby, essa é a Mami. Dona Leonor.
— Sem Dona! — exigiu, abraçando agora meu namorado. — Prazer te conhecer, querido.
— Fico feliz em finalmente poder ver você! — ele disse em um inglês bem enrolado, tadinho.
— Mas vamos — mami chamou atenção andando a nossa frente. — Seu irmão está para ter um treco. Esse menino não para de falar de você tem mais ou menos umas duas semanas.
E realmente, tudo que ele tinha era saudade, porque assim que me viu correu para os meus braços e não me soltou durante uma hora completa. Eu também sentia tanto a sua falta, que não me importei com sua proximidade. Lilith que parecia sempre a mesma preguiçosa; ela me deu algumas lambidas e depois foi deitar como a boa senhora que tinha virado.
Ângelo estava mais presente em casa pelo que mami dizia nas ligações, e com o tempo passei a olhá-lo de outra forma. Foi complicado tudo que passamos, mas se mami dizia que ele estava mudado, eu era obrigada a acreditar que sim, e quando o vi realmente pareceu.
Usava menos roupas sociais, sua atenção estava voltada para meu irmão e eles estavam cozinhando juntos o almoço e fazendo os planos para receber a família na noite de véspera de natal. Tenho certeza que meus avós iriam, meus primos, Gertrudes — que estava de férias — e todos os parentes que moravam em São Paulo, afinal, ficaram sabendo que eu estaria de volta e queriam me ver antes do meu retorno para Paris. Espaço e piscina a casa tinha, era só reunir as pessoas.
Depois do almoço, resolvemos curtir o sol na piscina, coisa que Eric não era nenhum pouco acostumado nessa época do ano. Passei muito protetor solar nele para que não se queimasse, afinal, a pele pálida do europeu que resolvi arrastar pro Brasil não aguentaria dois minutos ali.
Brincamos o dia todo na piscina, ficando todos exaustos na parte da noite, parando apenas para comermos uma pizza e dormirmos.
Eu quarto ainda continuava o mesmo; toda aquela áurea cor de rosa, puffs, telefones e a escrivaninha cheia de bichinhos... Mami não mexeu em absolutamente nada, nem mesmo em meu notebook que ainda estava ali, talvez ainda com os trabalhos do ensino médio salvos na tela inicial.
— Nossa, tantas coisas aconteceram aqui — falei me jogando na cama enquanto Eric entrava e fechava a porta atrás de si. — As festas do pijama, os trabalhos, as fugas para as festas...
— Foi realmente uma adolescência muito animada a sua, hein? — ele riu, deitando-se ao meu lado. — Vai me dizer que também fugia pela janela?
Automaticamente meu cérebro me levou para aquela noite, aquele momento no qual eu descia as escadas para ir escondido para a maldita festa noturna que meus amigos inventaram. A sensação de liberdade, de excitação e a sensação de ter... ele por perto.
Convenhamos que anos haviam se passado, mas ainda posso afirmar que aqueles meses foram os melhores que eu já vivi. Acho que a única parte da minha vida que possa ter ao menos chego perto e tudo, foi quando decidi morar em Paris.
Experimentei do bom e usufrui do melhor; não tinha como ter experiências tão boas quanto as que eu tinha vivido entre os meus 17 e 18 anos. Só que isso era uma coisa que eu guardava unicamente para mim e não tinha interesse algum em compartilhar.
Inclusive, tinha até medo de sair com meus antigos amigos e acabar desenterrando memórias, lembranças e sentimentos que não deveriam ser revelados.
— Ei, ainda está ai? — Eric riu da minha reação quando estalou os dedos sobre meus olhos.
— Sim, estava relembrando de algumas coisas — suspirei, ficando de lado e abraçando-o. — Sim, eu fugi pela janela uma vez, mas pelo amor de Deus não deixe minha mãe saber disso ou vou tomar uma bronca, porque na época eu estava de castigo.
— Não conto — ele disse, beijando minha boca por alguns segundos. — Que tal se a gente fizer alguma coisa hoje? Não sei, me mostre como é a noite Paulista!
— Você jura que quer ir para balada aqui em São Paulo? — perguntei vendo sua confirmação. — Não sei se é uma boa, estamos em quase véspera de natal e tudo está muito cheio.
— Cheio quanto!?
— É bem diferente do cheio francês, amor — expliquei, porque realmente era diferente. — É tipo, uma pessoa em cima da outra. Literalmente.
— Acho que ficar nessa cama com você é bem mais gostoso — ele disse ficando por cima de mim na cama, enquanto espalhava beijos por todo meu pescoço e busto.
💖
Deixamos a cama na manhã do dia 24 bem mais cedo do que o planejado, porque mami não parava de gritar no corredor para levantarmos e ajudarmos a arrumar a casa para a ceia de natal.
Nico avisou de antemão que eu e ele montaríamos a nova árvore de natal, já que era uma tradição antes de ir para Paris. Começamos separar as bolas de natal e alguns outros enfeites das caixas dos anos anteriores e depois de longas duas horas naquele trabalho, identificamos que os picas estavam queimados.
— Eu vou sair para comprar mais piscas, mami — falei pegando a chave do carro.
Não encontramos nenhuma lojinha pelas redondezas, então acabando indo para o shopping nas lojas de utensílios. Era natal, então com certeza lá teria luzes de natal.
Nico foi o primeiro a entrar na loja e se infiltrar nos corredores lotados aquela altura do dia. Procurei o que precisávamos e depois começamos andar pelas pessoas, encontrando mais algumas decorações que poderíamos usar.
— Não estou tão acostumado com festas natalinas, minha família não tem essa tradição — Eric falou atrás de mim.
— Você vai adorar, pode apostar — segurei sua mão dei-lhe um selinho enquanto continuávamos andando. Virei-me e bati de frente com outra pessoa, quase derrubando o que ele tinha na cesta de compras. — Desculpas! Eu...
Aqueles malditos olhos grudaram nos meus e senti como se minha alma estivesse deixando meu corpo. Parece que toda a sensação da primeira vez que nos vimos na escola estava se apossando do meu corpo novamente.
Não pude deixar de perceber que agora ele tinha uma barba, mas os cabelos estavam da mesma forma, sempre do jeito de ser. Os olhos não tinham mais lápis de olho escuro e parecia até um pouco mais alto.
Depois de varrer meu corpo com os olhos, direcionou para trás de mim, vendo Eric ali. Seu semblante não mudou nenhum pouco quando seus olhos variavam de mim para meu namorado. Depois dessa torta de climão, ele seguiu seu caminho e eu teria ficado ali parada se não fosse Eric me empurrando para andar.
— Que cara idiota — reclamou. — Precisamos encontrar Nico para irmos ao caixa.
Dali em diante eu só andei automaticamente sendo guiada por Eric e Nico, não sei nem como consegui dirigir até chegar em casa. Cheguei tomando um banho para tirar toda aquela sensação estranha, mas foi inevitável. Parecia que eu ainda tinha partes dele grudadas em mim e isso não me deixava feliz, muito pelo contrário, porque eu achava que essa parte da minha vida havia sido superado alguns anos atrás.
Desci para finalizar a decoração de natal e também receber os primeiros convidados da noite. Gertrudes estava ajudando mami com a comida e não pude deixar de ficar feliz em vê-la depois de tanto tempo.
— Como você está linda, minha menina — ela disse depois de me abraçar umas três vezes. — Como essa casa ficou vazia sem você!
— Também senti saudades, Ger — falei ainda abraçando-a. — Nenhum lugar no mundo vai existir comida melhor do que a sua, os cozinheiros de Paris não chegam aos seus pés!
— Gentileza sua, meu amor — ela beijou minha bochecha com carinho.
Sentia tanta saudade daquele cuidado que Ger tinha comigo desde pequena, que acho que sentia mais do que falta da minha mami. Era diferente, eu sentia como se ela cuidasse de mim como uma avó cuida da neta primogênita, mesmo eu sabendo que ela tinha netos pequenos. Sorte a deles.
Deixei-as na cozinha terminando o jantar, enquanto organizava a mesa da sala para a ceia de natal. Meus tios e primos começaram chegar e alguns parentes de Ângelo. Todos se acomodaram na sala enquanto mami os servia com canapés e também com sucos naturais.
Quando finalmente acabei de arrumar a mesa junto com Eric e Nico colocou a última bolinha de enfeite na árvore, batia 22h do dia 24 de dezembro. Nossos familiares e todos que haviam sido convidados estavam se deliciando nas entradas e bebidas que mami tinha preparado junto com Ângelo e Ger.
O clima parecia bem leve, todos estavam descontraídos e só aguardando dar 0h para comermos e passarmos o restante da noite conversando — ou dormindo para quem quisesse dormir.
A campainha tocou mais uma vez e acabei indo atender porque estava mais próxima da porta, sentada no braço do sofá enquanto contava para os meus tios como estava a nova vida em Paris.
Assim que abri a porta congelei no lugar. Parecia que o chão estava faltando assim como o ar não parecia entrar em meus pulmões.
Lana estava parada na porta de casa, ao seu lado Gabriel e atrás dos dois estava , bem mais alto que a mãe e também que o irmão. Pareciam um pouco desconcertados em estarem ali, mas eu não conseguia me mexer. Mami se colocou ao meu lado sorridente, pedindo para que eles entrassem e se sentissem a vontade.
Voltei como um robô para o sofá ao lado de Eric, que automaticamente percebeu que não estava tudo bem e lançou o olhar para os novos convidados, deduzindo que aquele era o mesmo cara que me deixou desconfortável na loja mais cedo.
— O que eles estão fazendo aqui? — perguntei para mami assim que tive oportunidade.
— Eles são parte da família, — ela disse simples, parando de fazer tudo que tinha que fazer para então me explicar. — Nico, e Gabriel são irmãos. Não posso negar a convivência para eles assim... Fora que Ângelo está tentando consertar tudo, entende? Ele buscou ajudar os meninos, livrou eles de tudo que podia ser ilícito, tirou o daquele lugar e está auxiliando em seus estudos. Não sei em qual momento a chave virou, mas que bom que virou e ele está se tornando uma pessoa melhor.
— Ele fez tudo isso? — perguntei sentindo meu coração bater mais forte e ela afirmou. — Quanto tempo?
— Assim que foi preso, você foi embora... — suspirou me olhando com carinho. — Acho que tudo foi um choque para ele, perder de certa forma os três filhos dele... Ele está realmente tentando.
Eu estava com o peito apertado, parecia faltar ar em todo aquele ambiente. Minha vontade era de novamente sair dali, voltar para nossa casa em Paris e viver longe de toda aquela bagunça. O pior era Eric estar metido nisso tudo, sendo que ele era um cara incrível e a última coisa que eu queria era decepciona-lo.
De toda forma, não conseguia mais ficar ali dentro e por isso saí pela porta da cozinha nos fundos para tomar um ar, talvez chorar e ver que depois de cinco anos continuo com a única parte da minha vida que não consegui superar, só passei por cima.
Estava prestes a derramar muitas lágrimas, a me xingar quando vi que não estava sozinha ali. O meu problema estava ali, com os mesmos olhos perdidos de quando o vi pela primeira vez. Tinha apenas um copo de cerveja na mão e estava sentado no beiral do jardim.
Seus olhos me analisaram de novo igual quando me viu mais cedo na loja do shopping, e mais uma vez eu me senti tocada. Só podia ser brincadeira toda aquela sensação que ele causava, não podia ser real.
— Fiquei sabendo que você foi morar com o Denis em Paris — falou antes que eu desse meia volta para dentro de casa. — Fico feliz que tenha conseguido se formar, achar seu caminho, de verdade.
Eu ainda não conseguia decidir o que falar. Estava apenas apreciando seu novo tom de voz, parecia mais aveludado, mais forte e calmo. Afinal, foram cinco anos e não cinco meses, mas ainda assim ele parecia o mesmo.
— Você fez tatuagens! — ele riu, observando cada parte do meu corpo. — O cabelo está mais curto, combinou com você!
— O que você quer? — cortei rápido. — , qual foi seu objetivo vindo aqui, hein?
— Acho que sua mãe contou o que aconteceu... — disse passando uma das mãos pelo cabelo. — Ângelo resolveu ser meu pai depois de anos, finalmente — riu sem humor, levantando as sobrancelhas. — Por isso vim com o Gabriel, minha mãe... Mas acho que já estou de saída.
Ele ficou em pé, ainda longe. O corpo estava mais musculoso, mais encorpado e também com um estilo de roupas diferenciado do que costumava usar. Já eu, não conseguia sair do lugar, porque minhas pernas pareciam que eram gelatinas.
— Acho que estou de saída — deixou a lata de cerveja em cima da mureta. — Bom, feliz natal. Desejo tudo de bom para você, o seu namorado. Espero que você seja feliz, boneca.
Foi nesse momento que tudo quebrou como vidro dentro de mim. Senti falta de ar, senti que meu coração pararia a qualquer momento e que cairia como uma idiota ali mesmo.
— Não! — falei rápido. — Não precisa ir embora, eu... Você tem direito de ficar tanto quanto eu, e... por favor, a família também é sua e eu não posso simplesmente ser ridícula assim.
Ele suspirou cansado e olhou para o céu. Não pude deixar de também levantar meus olhos e observar o que tanto ele olhava, mas eram apenas estrelas. As mais lindas; fazia tempo que não presenciava um céu tão bonito quanto aquele.
Eu só conseguia ouvir o barulho do lado de dentro de casa e também das nossas respirações. O vento batia nas árvores do jardim tranquilamente, fazendo pequenos barulhos uma folha na outra.
— Sei que as coisas não acabaram bem entre a gente, que tudo foi muito louco... — ele interrompeu o vento. — Mas em toda minha vida, com todas as experiências, nunca vivi tão bem quanto no tempo que tivemos juntos. Duvido que vá acontecer de viver novamente tudo isso, que eu consiga superar tudo aquilo — ele abaixou os olhos, encarando o chão. — A verdade é que, lembro até hoje que você disse que eu havia te quebrado, mas boneca, você juntou cada pedacinho dentro de mim e remontou... você me reviveu de uma forma que eu achava que não poderia mais existir. Nunca mais ninguém vai fazer por mim tudo que você fez. Coloquei sua vida em risco diversas vezes e no final você ainda estava do meu lado.
começou a chorar, simplesmente se debulhar em lágrimas na minha frente. Nunca em toda minha existência medíocre eu ia imaginar que um dia ele se derreteria igual ele estava fazendo ali agora.
— Eu sinto muito por tudo, eu juro. Juro por mim, por Deus! — ele segurou minha mão entre as suas. — Eu era louco, inconsequente...
— , acho que não cabe mais essas desculpas. Está tudo bem, nós evoluímos — falei para tranquiliza-lo. — Você pode viver sua vida em paz.
— Será que eu posso te dar um abraço? — pediu cauteloso e abri um sorriso concordando.
Quando ele se aproximou, senti meu corpo congelar e também uma onda de ansiedade passar por mim. Um frio na barriga, uma dorzinha no coração que eu não sentia há um tempo.
O restante da noite para mim foi monótono. A troca de presentes não teve graça, os comes e bebes também não e muito menos as brincadeiras que a família havia feito. Eu simplesmente não estava conseguindo ficar feliz no mesmo ambiente que ele, por isso tentava ficar mais afastada o possível, o que chamou a atenção de Eric.
— Por que você está agindo assim? — perguntou quando eu fui para cozinha fazer nada.
— Não é nada — disfarcei comendo uma azeitona.
— Você estava bem e do nada ficou agindo estranho — ele reclamou. — Fiz alguma coisa de errado? Você acha que fizemos errado em vir?
— Não, você não fez nada errado, por Deus! — segurei seus braços com carinho. — Só estou exausta.
— Não vou mentir que também estou e que estou ainda mais ansioso para ir para cama com você — ele beijou meus lábios com uma falsa inocência. — Que tal se eu fizer aquela massagem que você adora?
— Hmmm — murmurei passando meus braços pelo seu pescoço. — Acho que não sou capaz de negar.
O restante da noite foi tranquilo e não fazia ideia de qual horário tinham ido embora, uma vez que eu subi para dormir com Eric por volta das 3h. No dia seguinte ajudamos a limpar a casa e fomos até o churrasco com meus amigos.
Estava tudo tão diferente, mas ainda assim me senti de volta ao ensino médio.
Tati estava maravilhosa, ainda não tinha se formado em medicina e estava namorando com ninguém menos do que Louise. Elas eram mais fofas pessoalmente do que através de uma câmera. Cami e Antony estavam de casamento marcado para o próximo ano — provavelmente isso ia me custar outra vinda ao Brasil — e ambos estavam trabalhando juntos em uma advocacia que haviam aberto juntos. Suelen não estava tão bem quanto esperávamos, até porque recentemente havia descoberto que estava com HIV e estava ainda tentando digerir essa nova condição, novos hábitos e não seria fácil. Queria poder estar mais por ela naquele momento, ainda assim tinha que voltar para meu emprego. Daniel, seu irmão havia ido morar no Chile dois anos atrás e estava namorando com uma médica mais velha que conheceu ainda no Brasil, mas que ficou pouco tempo por aqui.
Era uma delícia ver a evolução dos meus amigos e também suas conquistas. Eu ficava muito feliz e com coração cheio de boas energias. Afinal, não foi de todo ruim vir para o Brasil.
Depois que voltamos e começamos organizar as coisas, pude perceber que por mais que eu trocasse de país, meus coração sempre estaria ali com meus amigos, minha família, mas todos os momentos colecionados eu levaria comigo. Seria uma boa bagagem a ser carregada, algo que eu teria que guardar dentro de mim.
Estava voltando com um único pensamento: viver meu presente, pensar no futuro e com carinho, recordar do passado. Assim como disse, foram os melhores meses de toda minha vida, mas viriam ainda outros, inúmeros. E foi assim de cabeça erguida que entrei no avião com destino a Paris.
Até ouvir um bipe de mensagem que vinha do meu celular alojado no bolso do meu casaco.
De todo modo, muitas coisas tinham mudado, a decisão de cursar moda foi muito fácil assim que coloquei os pés em Paris há cinco anos atrás junto com meu pai e Eve. Ela havia finalmente inaugurando seu restaurante enquanto Denis tocava o seu estúdio de tatuagem como um dos maiores desenhistas pela cidade.
Ainda colocando algumas roupas na mala, pensei o quanto a minha vida tinha mudado. Olhando no espelho relembrei meu último corte de cabelo no pescoço e agora as tatuagens que cobriam um de meus braços: uma Barbie pequena, a constelação do meu signo, a carinha da Lilith — que estava no Brasil — e uma garota, onde cobria os olhos com uma das mãos e a outra mão segurava uma rosa simples, todas muito significativas.
Cantarolando uma música qualquer, desci as escadas do apartamento onde morava com meu pai e Eve, não encontrando-os por ali, mas sentindo o cheiro maravilhoso do almoço que Eric estava preparando.
Cheguei por trás dele e deixei um beijo em seu ombro, abraçando seu corpo em seguida. Eu tinha tanto carinho por ele, que era incapaz de descrever.
Nos conhecemos pouco tempo depois de que cheguei do Brasil a França e nos tornamos amigos assim que me matriculei na faculdade. Era uma delícia poder estar com ele, me tirava de momentos de angústia e solidão e meses depois estávamos ficando. As coisas simplesmente aconteceram de uma forma que eu não conseguia imaginar e lá estava eu, namorando um cara bacana que me adorava. Meu pai adorava ele, tinham uma bela amizade construída com várias tatuagens.
Ainda não morávamos juntos oficialmente, mas já fazia um tempo que ele quase não saía da nossa casa, ainda mais que seus pais morassem no interior e ele semi dividia um apartamento com um colega da faculdade.
Não tinha como as coisas darem errado mais. Ainda que mami pedisse várias vezes para eu voltar, não sentia que deveria; Paris pareceu ser realmente o meu lugar. Para falar a verdade, me encontrei aqui e não, eu não queria mais morar aonde eu morava antes.
De toda forma, o natal estava chegando e depois de tanta insistência, iria finalmente visita-la. Depois de quase cinco anos que não a via além de vídeos e fotos, estava ansiosa para nosso reencontro e também que ela conhecesse Eric pessoalmente. Se por vídeos ele a conquistou, pessoalmente não seria diferente. Ele era realmente um amor.
— O que você está fazendo de tão bom? — perguntei.
— Aquela comida brasileira que você tanto ama com creme... Não lembro o nome — ele era a coisa mais graciosa falando em francês, eu não podia estar mais apaixonada.
— Strogonoff? — disse espiando a panela que ele tanto mexia.
— Isso, amor — beijou minha bochecha, desligando o fogo. Ele virou-se para mim e segurando-me pela cintura. — Acho que estou ansioso para viajar com você.
— Faltam poucas horas! — abracei seu pescoço, colando nosso nariz. — Está animado para conhecer pessoalmente minha mãe?
— Sim — falou tranquilo. — O Nico também. Acho que suas amigas e amigos brasileiros também.
Íamos viajar para São Paulo e passar o natal com a minha mãe, conhecendo a cidade que nasci e depois combinamos de ir para o Rio de Janeiro com meus amigos curtir o Réveillon em Copacabana. Queria mostrar para ele a mágica cidade maravilhosa, já que em Paris ele me apresentou.
Ainda assim, estava um pouco nervosa. Fazia tanto tempo que eu não me reunia com meus amigos; não sei se passar a noite bebendo como era de costume na adolescência seria tão interessante, esperava que eles tivessem mudado tanto quanto eu para conseguirmos bater um papo e falar sobre tantas mudanças que tinham acontecido de quase cinco anos pra cá.
Depois do almoço, aproveitei para finalizar minhas malas enquanto Eric tomava banho. Aproveitei o recesso de natal e ano novo para finalmente fazer essa viagem, até porque próximo ano eu já começaria como modelista de uma revista parisiense, então estava mais do que pronta para uma nova rotina, duplamente feliz!
Meu pai chegou com Eve para nos levar ao aeroporto, estavam de viagem marcada dali alguns dias, mas dessa vez iriam conhecer a Grécia. Tinham planejado muito tempo essa viagem, seria meio que uma lua de mel, até porque eles não tiveram após se casarem em Las Vegas há uns meses atrás.
A viagem foi tranquila, sem muitas emoções — graças a Deus —, e logo estávamos em solo brasileiro. Minha mãe estava extremamente animada quando me viu e não parou de me beijar ou abraçar.
— Meu Deus como você está diferente, querida! — ela disse passando as mãos em meu rosto, segurando meus braços e parou assim que visualizou as minhas tatuagens. — Seu pai é fogo mesmo!
— Mami — abracei novamente, tanto porque estava com saudades quanto para despistar suas críticas novamente sobre minhas tatuagens. — Que saudade! Esse aqui é o Eric, meu namorado — segurei sua mão. — Baby, essa é a Mami. Dona Leonor.
— Sem Dona! — exigiu, abraçando agora meu namorado. — Prazer te conhecer, querido.
— Fico feliz em finalmente poder ver você! — ele disse em um inglês bem enrolado, tadinho.
— Mas vamos — mami chamou atenção andando a nossa frente. — Seu irmão está para ter um treco. Esse menino não para de falar de você tem mais ou menos umas duas semanas.
E realmente, tudo que ele tinha era saudade, porque assim que me viu correu para os meus braços e não me soltou durante uma hora completa. Eu também sentia tanto a sua falta, que não me importei com sua proximidade. Lilith que parecia sempre a mesma preguiçosa; ela me deu algumas lambidas e depois foi deitar como a boa senhora que tinha virado.
Ângelo estava mais presente em casa pelo que mami dizia nas ligações, e com o tempo passei a olhá-lo de outra forma. Foi complicado tudo que passamos, mas se mami dizia que ele estava mudado, eu era obrigada a acreditar que sim, e quando o vi realmente pareceu.
Usava menos roupas sociais, sua atenção estava voltada para meu irmão e eles estavam cozinhando juntos o almoço e fazendo os planos para receber a família na noite de véspera de natal. Tenho certeza que meus avós iriam, meus primos, Gertrudes — que estava de férias — e todos os parentes que moravam em São Paulo, afinal, ficaram sabendo que eu estaria de volta e queriam me ver antes do meu retorno para Paris. Espaço e piscina a casa tinha, era só reunir as pessoas.
Depois do almoço, resolvemos curtir o sol na piscina, coisa que Eric não era nenhum pouco acostumado nessa época do ano. Passei muito protetor solar nele para que não se queimasse, afinal, a pele pálida do europeu que resolvi arrastar pro Brasil não aguentaria dois minutos ali.
Brincamos o dia todo na piscina, ficando todos exaustos na parte da noite, parando apenas para comermos uma pizza e dormirmos.
Eu quarto ainda continuava o mesmo; toda aquela áurea cor de rosa, puffs, telefones e a escrivaninha cheia de bichinhos... Mami não mexeu em absolutamente nada, nem mesmo em meu notebook que ainda estava ali, talvez ainda com os trabalhos do ensino médio salvos na tela inicial.
— Nossa, tantas coisas aconteceram aqui — falei me jogando na cama enquanto Eric entrava e fechava a porta atrás de si. — As festas do pijama, os trabalhos, as fugas para as festas...
— Foi realmente uma adolescência muito animada a sua, hein? — ele riu, deitando-se ao meu lado. — Vai me dizer que também fugia pela janela?
Automaticamente meu cérebro me levou para aquela noite, aquele momento no qual eu descia as escadas para ir escondido para a maldita festa noturna que meus amigos inventaram. A sensação de liberdade, de excitação e a sensação de ter... ele por perto.
Convenhamos que anos haviam se passado, mas ainda posso afirmar que aqueles meses foram os melhores que eu já vivi. Acho que a única parte da minha vida que possa ter ao menos chego perto e tudo, foi quando decidi morar em Paris.
Experimentei do bom e usufrui do melhor; não tinha como ter experiências tão boas quanto as que eu tinha vivido entre os meus 17 e 18 anos. Só que isso era uma coisa que eu guardava unicamente para mim e não tinha interesse algum em compartilhar.
Inclusive, tinha até medo de sair com meus antigos amigos e acabar desenterrando memórias, lembranças e sentimentos que não deveriam ser revelados.
— Ei, ainda está ai? — Eric riu da minha reação quando estalou os dedos sobre meus olhos.
— Sim, estava relembrando de algumas coisas — suspirei, ficando de lado e abraçando-o. — Sim, eu fugi pela janela uma vez, mas pelo amor de Deus não deixe minha mãe saber disso ou vou tomar uma bronca, porque na época eu estava de castigo.
— Não conto — ele disse, beijando minha boca por alguns segundos. — Que tal se a gente fizer alguma coisa hoje? Não sei, me mostre como é a noite Paulista!
— Você jura que quer ir para balada aqui em São Paulo? — perguntei vendo sua confirmação. — Não sei se é uma boa, estamos em quase véspera de natal e tudo está muito cheio.
— Cheio quanto!?
— É bem diferente do cheio francês, amor — expliquei, porque realmente era diferente. — É tipo, uma pessoa em cima da outra. Literalmente.
— Acho que ficar nessa cama com você é bem mais gostoso — ele disse ficando por cima de mim na cama, enquanto espalhava beijos por todo meu pescoço e busto.
Deixamos a cama na manhã do dia 24 bem mais cedo do que o planejado, porque mami não parava de gritar no corredor para levantarmos e ajudarmos a arrumar a casa para a ceia de natal.
Nico avisou de antemão que eu e ele montaríamos a nova árvore de natal, já que era uma tradição antes de ir para Paris. Começamos separar as bolas de natal e alguns outros enfeites das caixas dos anos anteriores e depois de longas duas horas naquele trabalho, identificamos que os picas estavam queimados.
— Eu vou sair para comprar mais piscas, mami — falei pegando a chave do carro.
Não encontramos nenhuma lojinha pelas redondezas, então acabando indo para o shopping nas lojas de utensílios. Era natal, então com certeza lá teria luzes de natal.
Nico foi o primeiro a entrar na loja e se infiltrar nos corredores lotados aquela altura do dia. Procurei o que precisávamos e depois começamos andar pelas pessoas, encontrando mais algumas decorações que poderíamos usar.
— Não estou tão acostumado com festas natalinas, minha família não tem essa tradição — Eric falou atrás de mim.
— Você vai adorar, pode apostar — segurei sua mão dei-lhe um selinho enquanto continuávamos andando. Virei-me e bati de frente com outra pessoa, quase derrubando o que ele tinha na cesta de compras. — Desculpas! Eu...
Aqueles malditos olhos grudaram nos meus e senti como se minha alma estivesse deixando meu corpo. Parece que toda a sensação da primeira vez que nos vimos na escola estava se apossando do meu corpo novamente.
Não pude deixar de perceber que agora ele tinha uma barba, mas os cabelos estavam da mesma forma, sempre do jeito de ser. Os olhos não tinham mais lápis de olho escuro e parecia até um pouco mais alto.
Depois de varrer meu corpo com os olhos, direcionou para trás de mim, vendo Eric ali. Seu semblante não mudou nenhum pouco quando seus olhos variavam de mim para meu namorado. Depois dessa torta de climão, ele seguiu seu caminho e eu teria ficado ali parada se não fosse Eric me empurrando para andar.
— Que cara idiota — reclamou. — Precisamos encontrar Nico para irmos ao caixa.
Dali em diante eu só andei automaticamente sendo guiada por Eric e Nico, não sei nem como consegui dirigir até chegar em casa. Cheguei tomando um banho para tirar toda aquela sensação estranha, mas foi inevitável. Parecia que eu ainda tinha partes dele grudadas em mim e isso não me deixava feliz, muito pelo contrário, porque eu achava que essa parte da minha vida havia sido superado alguns anos atrás.
Desci para finalizar a decoração de natal e também receber os primeiros convidados da noite. Gertrudes estava ajudando mami com a comida e não pude deixar de ficar feliz em vê-la depois de tanto tempo.
— Como você está linda, minha menina — ela disse depois de me abraçar umas três vezes. — Como essa casa ficou vazia sem você!
— Também senti saudades, Ger — falei ainda abraçando-a. — Nenhum lugar no mundo vai existir comida melhor do que a sua, os cozinheiros de Paris não chegam aos seus pés!
— Gentileza sua, meu amor — ela beijou minha bochecha com carinho.
Sentia tanta saudade daquele cuidado que Ger tinha comigo desde pequena, que acho que sentia mais do que falta da minha mami. Era diferente, eu sentia como se ela cuidasse de mim como uma avó cuida da neta primogênita, mesmo eu sabendo que ela tinha netos pequenos. Sorte a deles.
Deixei-as na cozinha terminando o jantar, enquanto organizava a mesa da sala para a ceia de natal. Meus tios e primos começaram chegar e alguns parentes de Ângelo. Todos se acomodaram na sala enquanto mami os servia com canapés e também com sucos naturais.
Quando finalmente acabei de arrumar a mesa junto com Eric e Nico colocou a última bolinha de enfeite na árvore, batia 22h do dia 24 de dezembro. Nossos familiares e todos que haviam sido convidados estavam se deliciando nas entradas e bebidas que mami tinha preparado junto com Ângelo e Ger.
O clima parecia bem leve, todos estavam descontraídos e só aguardando dar 0h para comermos e passarmos o restante da noite conversando — ou dormindo para quem quisesse dormir.
A campainha tocou mais uma vez e acabei indo atender porque estava mais próxima da porta, sentada no braço do sofá enquanto contava para os meus tios como estava a nova vida em Paris.
Assim que abri a porta congelei no lugar. Parecia que o chão estava faltando assim como o ar não parecia entrar em meus pulmões.
Lana estava parada na porta de casa, ao seu lado Gabriel e atrás dos dois estava , bem mais alto que a mãe e também que o irmão. Pareciam um pouco desconcertados em estarem ali, mas eu não conseguia me mexer. Mami se colocou ao meu lado sorridente, pedindo para que eles entrassem e se sentissem a vontade.
Voltei como um robô para o sofá ao lado de Eric, que automaticamente percebeu que não estava tudo bem e lançou o olhar para os novos convidados, deduzindo que aquele era o mesmo cara que me deixou desconfortável na loja mais cedo.
— O que eles estão fazendo aqui? — perguntei para mami assim que tive oportunidade.
— Eles são parte da família, — ela disse simples, parando de fazer tudo que tinha que fazer para então me explicar. — Nico, e Gabriel são irmãos. Não posso negar a convivência para eles assim... Fora que Ângelo está tentando consertar tudo, entende? Ele buscou ajudar os meninos, livrou eles de tudo que podia ser ilícito, tirou o daquele lugar e está auxiliando em seus estudos. Não sei em qual momento a chave virou, mas que bom que virou e ele está se tornando uma pessoa melhor.
— Ele fez tudo isso? — perguntei sentindo meu coração bater mais forte e ela afirmou. — Quanto tempo?
— Assim que foi preso, você foi embora... — suspirou me olhando com carinho. — Acho que tudo foi um choque para ele, perder de certa forma os três filhos dele... Ele está realmente tentando.
Eu estava com o peito apertado, parecia faltar ar em todo aquele ambiente. Minha vontade era de novamente sair dali, voltar para nossa casa em Paris e viver longe de toda aquela bagunça. O pior era Eric estar metido nisso tudo, sendo que ele era um cara incrível e a última coisa que eu queria era decepciona-lo.
De toda forma, não conseguia mais ficar ali dentro e por isso saí pela porta da cozinha nos fundos para tomar um ar, talvez chorar e ver que depois de cinco anos continuo com a única parte da minha vida que não consegui superar, só passei por cima.
Estava prestes a derramar muitas lágrimas, a me xingar quando vi que não estava sozinha ali. O meu problema estava ali, com os mesmos olhos perdidos de quando o vi pela primeira vez. Tinha apenas um copo de cerveja na mão e estava sentado no beiral do jardim.
Seus olhos me analisaram de novo igual quando me viu mais cedo na loja do shopping, e mais uma vez eu me senti tocada. Só podia ser brincadeira toda aquela sensação que ele causava, não podia ser real.
— Fiquei sabendo que você foi morar com o Denis em Paris — falou antes que eu desse meia volta para dentro de casa. — Fico feliz que tenha conseguido se formar, achar seu caminho, de verdade.
Eu ainda não conseguia decidir o que falar. Estava apenas apreciando seu novo tom de voz, parecia mais aveludado, mais forte e calmo. Afinal, foram cinco anos e não cinco meses, mas ainda assim ele parecia o mesmo.
— Você fez tatuagens! — ele riu, observando cada parte do meu corpo. — O cabelo está mais curto, combinou com você!
— O que você quer? — cortei rápido. — , qual foi seu objetivo vindo aqui, hein?
— Acho que sua mãe contou o que aconteceu... — disse passando uma das mãos pelo cabelo. — Ângelo resolveu ser meu pai depois de anos, finalmente — riu sem humor, levantando as sobrancelhas. — Por isso vim com o Gabriel, minha mãe... Mas acho que já estou de saída.
Ele ficou em pé, ainda longe. O corpo estava mais musculoso, mais encorpado e também com um estilo de roupas diferenciado do que costumava usar. Já eu, não conseguia sair do lugar, porque minhas pernas pareciam que eram gelatinas.
— Acho que estou de saída — deixou a lata de cerveja em cima da mureta. — Bom, feliz natal. Desejo tudo de bom para você, o seu namorado. Espero que você seja feliz, boneca.
Foi nesse momento que tudo quebrou como vidro dentro de mim. Senti falta de ar, senti que meu coração pararia a qualquer momento e que cairia como uma idiota ali mesmo.
— Não! — falei rápido. — Não precisa ir embora, eu... Você tem direito de ficar tanto quanto eu, e... por favor, a família também é sua e eu não posso simplesmente ser ridícula assim.
Ele suspirou cansado e olhou para o céu. Não pude deixar de também levantar meus olhos e observar o que tanto ele olhava, mas eram apenas estrelas. As mais lindas; fazia tempo que não presenciava um céu tão bonito quanto aquele.
Eu só conseguia ouvir o barulho do lado de dentro de casa e também das nossas respirações. O vento batia nas árvores do jardim tranquilamente, fazendo pequenos barulhos uma folha na outra.
— Sei que as coisas não acabaram bem entre a gente, que tudo foi muito louco... — ele interrompeu o vento. — Mas em toda minha vida, com todas as experiências, nunca vivi tão bem quanto no tempo que tivemos juntos. Duvido que vá acontecer de viver novamente tudo isso, que eu consiga superar tudo aquilo — ele abaixou os olhos, encarando o chão. — A verdade é que, lembro até hoje que você disse que eu havia te quebrado, mas boneca, você juntou cada pedacinho dentro de mim e remontou... você me reviveu de uma forma que eu achava que não poderia mais existir. Nunca mais ninguém vai fazer por mim tudo que você fez. Coloquei sua vida em risco diversas vezes e no final você ainda estava do meu lado.
começou a chorar, simplesmente se debulhar em lágrimas na minha frente. Nunca em toda minha existência medíocre eu ia imaginar que um dia ele se derreteria igual ele estava fazendo ali agora.
— Eu sinto muito por tudo, eu juro. Juro por mim, por Deus! — ele segurou minha mão entre as suas. — Eu era louco, inconsequente...
— , acho que não cabe mais essas desculpas. Está tudo bem, nós evoluímos — falei para tranquiliza-lo. — Você pode viver sua vida em paz.
— Será que eu posso te dar um abraço? — pediu cauteloso e abri um sorriso concordando.
Quando ele se aproximou, senti meu corpo congelar e também uma onda de ansiedade passar por mim. Um frio na barriga, uma dorzinha no coração que eu não sentia há um tempo.
O restante da noite para mim foi monótono. A troca de presentes não teve graça, os comes e bebes também não e muito menos as brincadeiras que a família havia feito. Eu simplesmente não estava conseguindo ficar feliz no mesmo ambiente que ele, por isso tentava ficar mais afastada o possível, o que chamou a atenção de Eric.
— Por que você está agindo assim? — perguntou quando eu fui para cozinha fazer nada.
— Não é nada — disfarcei comendo uma azeitona.
— Você estava bem e do nada ficou agindo estranho — ele reclamou. — Fiz alguma coisa de errado? Você acha que fizemos errado em vir?
— Não, você não fez nada errado, por Deus! — segurei seus braços com carinho. — Só estou exausta.
— Não vou mentir que também estou e que estou ainda mais ansioso para ir para cama com você — ele beijou meus lábios com uma falsa inocência. — Que tal se eu fizer aquela massagem que você adora?
— Hmmm — murmurei passando meus braços pelo seu pescoço. — Acho que não sou capaz de negar.
O restante da noite foi tranquilo e não fazia ideia de qual horário tinham ido embora, uma vez que eu subi para dormir com Eric por volta das 3h. No dia seguinte ajudamos a limpar a casa e fomos até o churrasco com meus amigos.
Estava tudo tão diferente, mas ainda assim me senti de volta ao ensino médio.
Tati estava maravilhosa, ainda não tinha se formado em medicina e estava namorando com ninguém menos do que Louise. Elas eram mais fofas pessoalmente do que através de uma câmera. Cami e Antony estavam de casamento marcado para o próximo ano — provavelmente isso ia me custar outra vinda ao Brasil — e ambos estavam trabalhando juntos em uma advocacia que haviam aberto juntos. Suelen não estava tão bem quanto esperávamos, até porque recentemente havia descoberto que estava com HIV e estava ainda tentando digerir essa nova condição, novos hábitos e não seria fácil. Queria poder estar mais por ela naquele momento, ainda assim tinha que voltar para meu emprego. Daniel, seu irmão havia ido morar no Chile dois anos atrás e estava namorando com uma médica mais velha que conheceu ainda no Brasil, mas que ficou pouco tempo por aqui.
Era uma delícia ver a evolução dos meus amigos e também suas conquistas. Eu ficava muito feliz e com coração cheio de boas energias. Afinal, não foi de todo ruim vir para o Brasil.
Depois que voltamos e começamos organizar as coisas, pude perceber que por mais que eu trocasse de país, meus coração sempre estaria ali com meus amigos, minha família, mas todos os momentos colecionados eu levaria comigo. Seria uma boa bagagem a ser carregada, algo que eu teria que guardar dentro de mim.
Estava voltando com um único pensamento: viver meu presente, pensar no futuro e com carinho, recordar do passado. Assim como disse, foram os melhores meses de toda minha vida, mas viriam ainda outros, inúmeros. E foi assim de cabeça erguida que entrei no avião com destino a Paris.
Até ouvir um bipe de mensagem que vinha do meu celular alojado no bolso do meu casaco.
FIM!!
Nota da autora: e aí galera, vocês esperavam de um final desses? Com um epílogo desses? Ahhhhh, estava ansiosa para finalizar e enviar tudo. Sinceramente, foi uma história não muito fácil de escrever, até porque o Gael é um personagem que eu sempre quis ter, que sempre me conquistou, sem masculinidade frágil e muito bonzinho apesar de ter “pinta” de ser bad boy. A Babi, o que falar dela, né? Doidinha ‘as cheia de boas intenções, carismática e amor para dar.
Enfim, eu sou suspeita a dizer, mas a evolução da Babi foi algo que eu quis enfatizar e acho que surpreendeu muitas pessoas que leram. Ela não é aquela bobinha de sempre, muito pelo contrário, ela se tornou a melhor versão dela.
Obrigada por acompanhar, não tenho palavras.
Até a próxima (ou pelo menos um capítulo extra vindo aí) hahahaha. Não esqueçam de entrar no grupo do Facebook para ficarem antenados! Beijo, Hels.
Nota da scripter: Eu ainda não estou preparada para dizer adeus a esses dois, o tanto que me apaixonei por eles não está escrito. Foram oito meses acompanhando a história deles, vendo a Babi amadurecer e se apaixonar pelo Gael, este que só fez bem para ela, a fez crescer e abrir os olhos para o mundo.
Hellem, DUAR é uma história maravilhosa, sofri junto com os personagens durante cada reviravolta e torci muito para os dois tivessem um final feliz, juntos é claro.
Obrigada por ter confiado sua história a mim, pode ter certeza que trabalhei nela com todo o carinho e dedicação que ela merecia.
Irei senti saudades desses dois! Beijo e até a próxima.
Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Enfim, eu sou suspeita a dizer, mas a evolução da Babi foi algo que eu quis enfatizar e acho que surpreendeu muitas pessoas que leram. Ela não é aquela bobinha de sempre, muito pelo contrário, ela se tornou a melhor versão dela.
Obrigada por acompanhar, não tenho palavras.
Até a próxima (ou pelo menos um capítulo extra vindo aí) hahahaha. Não esqueçam de entrar no grupo do Facebook para ficarem antenados! Beijo, Hels.
Nota da scripter: Eu ainda não estou preparada para dizer adeus a esses dois, o tanto que me apaixonei por eles não está escrito. Foram oito meses acompanhando a história deles, vendo a Babi amadurecer e se apaixonar pelo Gael, este que só fez bem para ela, a fez crescer e abrir os olhos para o mundo.
Hellem, DUAR é uma história maravilhosa, sofri junto com os personagens durante cada reviravolta e torci muito para os dois tivessem um final feliz, juntos é claro.
Obrigada por ter confiado sua história a mim, pode ter certeza que trabalhei nela com todo o carinho e dedicação que ela merecia.
Irei senti saudades desses dois! Beijo e até a próxima.