Última atualização: 10/04/2018

Capítulo 1


Dublin, Irlanda.
2012.

jogou seu corpo no sofá, cansada de toda a discussão com o noivo. Já sentia sua cabeça pesar por terem entrado, mais uma vez, no assunto da proposta que ela havia recebido para treinar em uma academia em Las Vegas. Enquanto a jovem não conseguia acreditar em como o noivo conseguia ser tão egoísta ao ponto de negar apoio ao seu sonho, Ethan não conseguia entender os motivos da moça querer embarcar naquela aventura.
Ela não queria jogar na cara dele tudo que havia aberto mão para que os dois chegassem aonde estavam, mas era sempre um tópico necessário quando a conversa entrava no sonho de em participar do UFC.
Ethan não conseguia acreditar como era possível sua noiva querer fazer parte de algo tão bruto e que era nada mais do que pagar duas pessoas para apanhar. Ele não entendia e nem considerava aquilo um esporte. Muito menos queria ver sua noiva fazendo parte.
Quando eles se mudaram para Dublin e ela ingressou na luta, ele acreditava que poderia ser um simples meio de defesa pessoal para ela e uma nova forma de passar o tempo, já que eram recém-chegados na cidade e ainda não conheciam ninguém. Porém, com o passar dos anos, ele percebeu que ela estava levando a sério demais aquela coisa de luta e passou a não gostar mais de vê-la envolvida nisso.
, por outro lado, se apaixonava cada dia mais. Quando era pequena, fazia aulas de Jiu Jitsu, mas a paixão pelo esporte acabou esquecida quando ela ingressou na faculdade e começou a trabalhar. A vida corrida demais em Liverpool fez com que ela se esquecesse da paixão que tinha pela luta. Mas, com a mudança para Dublin, o fato de ter muito tempo livre e a descoberta de uma pequena academia próxima do apartamento que dividia com Ethan foram capazes de trazer toda a paixão de volta. Parecia que ela nunca havia saído do tatame.
Com isso, decidiu investir ainda mais em si: fez aulas de Kickboxing, Boxe e Taekwondo; e começou a participar dos pequenos eventos de Mixed Martial Arts que a academia participava pela cidade. Em um ano, conseguiu um cartel¹ positivo de lutas: 4 vitórias e 2 derrotas. Era considerada em ascensão e recebeu um convite para treinar em uma academia em Las Vegas, estando bem mais próxima de um passo maior para sua carreira: entrar para o UFC.
, você sabe que eu amo você, mas eu não posso te apoiar em um sonho desses. Não tem como eu largar a empresa por algum tempo apenas porque você recebeu a chance treinar numa academia maior. – ele riu, desacreditado. – Eu não posso e nem vou te apoiar nisso. É algo bobo. – Ethan ouviu suspirar, mas continuou a falar. – Agora, podemos voltar a ser um casal tranquilo sem essas brigas diárias por causa dessa proposta? Você pode continuar treinando na academia daqui, se quiser. Eu não ligo.
– Essa é uma grande oportunidade, Ethan. Sabe-se lá quando eu vou conseguir uma outra como essa. – encarou os olhos castanhos do homem à sua frente e respirou fundo, pensando na decisão que havia tomado desde a última briga do casal sobre aquele assunto. Havia renunciado a muita coisa por seu amor por Ethan e pelo relacionamento dos dois, por sempre ter tido a ideia de que, quando fosse necessário, ele seria capaz de fazer o mesmo por ela. Estava errada. – E se você não pode me apoiar nisso, eu vou sozinha.
Ethan piscou algumas vezes, completamente surpreso com o que havia acabado de ouvir. A mulher à sua frente, sua noiva, parecia tão segura de si, de uma forma que ele nunca havia visto antes em todos os seis anos de relacionamento. Ele suspirou, balançando a cabeça de maneira negativa e encarou a noiva mais uma vez.
– Você vai jogar nosso noivado fora por causa disso? Tem certeza? – questionou, ainda um tanto quanto pasmo com a decisão dela. Em sua mente, ainda estava a mera possibilidade de estar blefando como havia feito algumas vezes quando queria realizar algo e ele não apoiou no primeiro momento. Mas, dessa vez, era diferente. Ele não ia mudar de ideia e não ia dar apoio para algo que ele não acreditava.
– Eu tenho certeza do que estou fazendo. – suspirou, levantando-se do sofá para ficar quase da mesma altura que o noivo. – Se você não quer me apoiar, é uma pena. Eu serei a única que vai acreditar em mim. – ela deu os ombros. – Eu vou para Las Vegas e vou atrás dessa oportunidade. Eu vou ser campeã do UFC.
– Boa sorte. – o moreno respondeu com total desdém no tom de voz e rolou os olhos no primeiro momento. – Estarei aqui quando você não conseguir nem entrar para o UFC.
– Amanhã, quando você estiver na empresa, eu passo aqui para pegar minhas coisas. – anunciou, retirando o anel que tinha em seu dedo e esticando a mão para colocá-lo na palma da mão de seu, agora, ex-noivo. Pegou sua bolsa ao lado do sofá e seguiu em direção à porta do apartamento, mas parou antes que pudesse abrir a mesma e virou-se para encarar Ethan mais uma vez. – Pode deixar que eu te mando um ingresso da minha primeira luta pelo cinturão. Eu vou fazer questão de ver você na primeira cadeira, me vendo ser campeã de algo que nunca acreditou. E ainda vou agradecer o fato de você não ter acreditado em mim... Meio que me impulsionará a dar o máximo de mim em cada luta. – sorriu, acenando com a mão antes de virar-se para abrir a porta e sair do apartamento que fora sua casa por tantos anos.
Em algum momento de seu relacionamento com Ethan, pensou em como se sentiria se, por algum motivo, os dois terminassem. Em todos os seus devaneios, ela se imaginava chorando ou completamente acabada por ter acabado com o homem que amava e que havia passado tantos anos junto. Mas aquilo não condizia com a realidade. Ela se sentia aliviada e, talvez, até revigorada, por ter colocado um ponto final na história dos dois. Sua vontade de ir para Las Vegas e se tornar o maior nome do UFC feminino tinha ultrapassado o topo. Ela mal podia ver a hora em que isso ia acontecer.

x


Las Vegas, Estados Unidos.
2014.

tentava se concentrar totalmente em seu treino, mas naquele dia, especificamente, estava mais difícil que o normal. Desde que John Kavanagh, um de seus técnicos, havia anunciado pela manhã que iria para uma conversa com os organizadores do UFC para tratar melhor do desafio que ela havia feito após sua última luta, essa era a única coisa que ocupava sua mente no dia.
Desde que saiu de Dublin, tudo corria de forma positiva para ela. Havia conseguido um cartel de 10-1 nas lutas e conseguiu dar o primeiro passo em direção ao seu grande sonho: assinou um contrato de múltiplas lutas com o UFC. Já fazia um ano que ela havia entrado para a categoria peso galo² e havia conseguido um cartel muito positivo até aquele momento, eram oito vitórias e nenhuma derrota.
Por isso, após sua última vitória contra Miesha Tate, ela não viu outra forma de anunciar para Dana White o que queria, a não ser falando no microfone da arena quando foi dar sua entrevista pós luta ainda no octógono: uma luta com Rounda Rousey, a detentora do cinturão da categoria.
estava mais do que certa de que aquele era seu momento de mudar a história, vencer a invicta e o maior nome da categoria feminina até aquele momento. Estava mais do que preparada para encarar Ronda.

– Foco, ! – James, seu técnico e irmão de John, chamou sua atenção e a moça balançou a cabeça, fazendo uma leve careta na direção dele. Encarou o relógio próximo a saída do octógono em que eles treinavam, que mostrava o tempo que restava de treino, e sentiu o cansaço lhe dominar. Ainda faltavam mais de meia hora para o fim daquela sessão de treinos e ela não estavam nem um por centro concentrada.
Suspirou, passando o antebraço pela testa numa falha tentativa de secar o suor, e piscou algumas vezes, tentando trazer de volta toda a sua atenção para seu treino com James. Sabia que, para uma profissional, ela estava sendo um pouco displicente naquele momento, mas não se julgou por muito tempo. Apenas respirou fundo mais algumas vezes e voltou toda a sua atenção para a sequência de cruzados que James havia começado a fazer.
De um dos cantos de sua academia, assistia atentamente ao treino da inglesa e fazia algumas anotações mentalmente sobre os pequenos erros que ela cometia no treino com James. Ainda conseguia lembrar-se de quando o técnico chegou com a notícia de que havia assistido a algumas lutas de uma nova promessa feminina. Enquanto John não quis acreditar muito no que o irmão dizia, preferiu ir ver com os próprios olhos o que James afirmava ser uma das melhores que ele já havia visto e com um cartel positivo de lutas. E ele não estava errado.
não pensou duas vezes antes de procurar saber mais sobre a moça e enviar um convite para que ela viesse para Las Vegas realizar uma série de treinos com a equipe dele e na academia dele. A resposta demorou uma semana e, quando o lutador acreditava que a moça havia desistido, ela o surpreendeu aparecendo na porta da academia já preparada para seu primeiro treino.
De lá para cá, ele, junto com os irmãos Kavanagh, havia embarcado no projeto de tornar o novo nome da categoria peso galo do UFC.
Eles preparavam não só a parte física dela, mas também a psicológica, para lidar com toda a pressão que ela poderia sofrer no caminho até o topo. Enquanto tentava passar para ela um pouco de seu jeito duro e canastrão de ser, não podia negar que acabava se encantando um pouco com o jeito doce que a lutadora tinha fora do octógono.
O som do alarme anunciando o fim da sessão de treino trouxe o irlandês de volta à realidade e ele focou seu olhar em James e saindo do octógono. A moça caminhou em direção à cadeira em que sua toalha estava depositada e a pegou para secar o rosto de todo o suor causado pela sessão de treinos. Ela pegou a garrafa, dando um longo gole na água, e caminhou em direção a um dos cantos acolchoados da academia para descansar.
sentiu seu celular vibrar em sua perna e o retirou do bolso. Viu o nome de John brilhar na tela e desbloqueou o celular para checar a mensagem que o técnico havia mandando há poucos segundos. Sorriu abertamente com o conteúdo antes de voltar a bloquear o celular e guardá-lo no bolso da calça. Com um sorriso no rosto, o rapaz caminhou em direção ao canto em que estava sentada com a respiração ainda pesada pelo intenso treino de que havia acabado de sair.
– Cansada? – questionou com um sorriso brincalhão nos lábios e levantou a cabeça na direção do irlandês. As conversas entre eles haviam se tornado bastante comuns nos últimos meses e ela tentava não enfiar nenhuma caraminhola na cabeça. Tentava segurar-se ao fato de que o lutador estava apenas sendo simpático por ela ser a mais nova lutadora da equipe.
– Um pouco. – ela respondeu, dando mais um gole na água e concordou com a cabeça.
– Logo agora que precisaremos intensificar ainda mais os treinos? – o lutador coçou o queixo e prendeu a risada ao ver o rosto confuso da mulher à sua frente. – John me enviou uma mensagem para dizer que o Dana aceitou seu pedido. Você vai ser a desafiante da Rousey no UFC 193. Eles vão anunciar hoje ainda.
ergueu os braços, agradecendo silenciosamente antes de levantar-se e pular para abraçar . O lutador se assustou primeiro com o ato da moça, mas acabou abraçando-a de volta para comemorar que ela estava a um passo de seu sonho.

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¹Cartel: é o “currículo” de um lutador. O primeiro número simboliza as vitórias e o segundo, o número de derrotas.
²Peso Galo: categoria do UFC que vai até 61kg.

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UFC 193 – Melbourne, Austrália.
2014.

O vídeo da preparação das duas lutadoras do evento da noite aparecia no telão do Ethihad Stadium e servia como uma preparação do público para a luta. Logo, a imagem de Ronda Rousey treinando pela última vez antes da luta, uma sequência de cruzados, tomou conta do telão e levou o público australiano ao delírio. Quando a de preparando suas mãos com fitas para poder colocar as luvas apareceu, rendeu uma sequência de vaias que arrancou risadas de na plateia do evento.
Todos os fãs presentes no local ainda consideravam como um golpe de sorte por ser a desafiante contra a grande Rousey, mas ela não se importava muito com o que falavam. havia deixado muito claro nas últimas semanas sobre o quanto era importante se fechar para o que as pessoas fora do círculo da academia e sua equipe lhe diziam. Segundo ele, apenas as palavras de seu coach eram importantes.
– Senhoras e senhores, esse é o momento que vocês estavam esperando! Esse é o evento principal da noite! – a voz de Bruce Buffer³ tomou conta do estádio e o público foi a loucura com a saudação do apresentador das lutas. – Lutando do lado vermelho do octógono, a desafiante. Diretamente de Liverpool, Reino Unido, !
Bad Reputation, de Joan Jett & The Blackhearts, começou a ecoar no estádio e soube que aquele era seu momento. Com a bandeira do Reino Unido colocada sobre seus ombros e com James e John – além de outros membros da equipe – atrás, ela começou a fazer o caminho em direção ao octógono, sentindo todos os pelos de seu corpo se arrepiarem por antecipação. A câmera da transmissora acompanhava cada passo da lutadora até o centro de onde ocorreria a luta e mostrava todas as suas feições pelo telão.
parou em frente ao árbitro auxiliar e balançou a bandeira na frente da câmera antes de entregá-la para James. Tirou a camisa de sua patrocinadora, assim como seus chinelos e a calça preta que usava, entregando tudo para James. Cumprimentou os irmãos Kavanagh com um breve abraço e fez o mesmo com , que estava sentado próximo a entrada do lado vermelho do octógono. Todos os três disseram palavras de incentivo para a moça antes que ela se virasse para o árbitro auxiliar para que ele checasse se ela estava pronta para entrar no octógono.
A lutadora acenou para o público e ficou na área destinada para ela, ficando de costas para o centro do octógono e tendo a última conversa com seus técnicos antes da luta iniciar.
– E, lutando do lado azul, ela, a atual detentora do cinturão do peso galo. Ronda Rousey! – a gritaria do público foi quase ensurdecedora e teria rolado os olhos se fosse em outro momento. Na verdade, como havia aprendido com , estava até gostando do público indo contra ela e torcendo por Rousey. “Dá mais vontade de ganhar”, podia ouvir a voz de repetindo isso em sua mente. Era assim que ela se encontrava: com sede de vitória.
Herb Dean convocou as duas lutadoras para o centro do octógono para passar as últimas instruções quanto aos golpes das duas e solicitou que elas tocassem as luvas para que pudesse dar início ao primeiro round.
teve certeza de que sorriu largamente quando a viu não tocar luvas com Ronda, e sim dar três passos para trás já pronta para que o round começasse.
Nos primeiros minutos, as duas ainda estavam conhecendo o tipo de luta que cada uma usaria naquele momento. se concentrava em escutar os gritos de John ao pé do octógono e em manter sua guarda alta para evitar que Ronda acertasse um soco em seu rosto. Seu primeiro movimento foi um direto na direção da loira, que conseguiu se esquivar do golpe e revidou com um chute na altura da costela, que quase acertou .
Os cinco minutos passaram depressa e nenhuma das duas conseguiu muita coisa no primeiro round. podia sentir seu supercílio sangrando por um golpe de Ronda, mas a atual campeã também tinha alguns cortes no rosto provocados por golpes da desafiante. Inspirando e respirando fundo, a inglesa sentou-se no banco no corner e esperou as palavras de John, enquanto James colocava uma sacola de gelo em suas costas.
– Você está muito área, . Precisa focar nesta luta! Ela tem um chute perigoso, sempre que estiver distante fique atenta para uma defesa de perna. Tente levá-la para o clinch. – a moça tentou absorver o máximo de informações que a adrenalina permita no momento e agradeceu quando o técnico jogou um pouco de água no rosto dela. Logo, os trinta segundos passaram e ela se levantou para ir para o segundo round da luta.
Ela manteve a guarda alta para evitar que Ronda tentasse algum golpe em seu rosto e, em um momento oportuno, ergueu sua perna direita para um chute mais baixo. Porém, para sua surpresa, a loira ergueu a perna para se defender do chute da outra, causando um choque da canela de contra a sua. Foi questão de segundos para que a inglesa estivesse no chão do octógono e que a americana estivesse correndo pelo mesmo para comemorar quando Herb Dean fez o sinal de que a luta havia terminado.
sentia sua perna doer de uma forma que nunca havia sentido antes e tinha quase certeza de que havia quebrado algum osso, mas apenas se recusava a acreditar e até mesmo a olhar para a sua perna direita. O choro ficou preso em sua garganta e o medo dominava seu corpo naquele momento, principalmente quando conseguiu ver de relance as expressões negativas dos irmãos Kavanagh quando se abaixaram próximo a ela.
praticamente pulou de seu assento quando viu caída no chão. Não foi puro instinto, ele sabia muito bem, mas a preocupação de ver a moça caída no chão logo no início da luta. Não hesitou em entrar no octógono assim que as portas se abriram para que os paramédicos entrassem para atendê-la, e, quando se aproximou, pode ter uma pequena visão da gravidade da lesão dela.
– Ei... – sussurrou, em meio a toda aquela tensão. Pela primeira vez na noite, o estádio todo estava em silêncio e até Rousey havia parado sua comemoração quando percebera que a lesão da oponente havia sido mais grave. – Está tudo bem. – assegurou à , passando a mão para retirar os cabelos caídos na testa da moça, e deu o melhor sorriso que tinha naquele momento.
não soube explicar como ouvir as palavras do lutador naquele momento havia a ajudado. Sorriu fraco, porque a dor não permitia que ela sorrisse da maneira que gostaria para , mas logo sua perna fora imobilizada pelos paramédicos e ela foi colocada em uma maca para ser retirada do estádio.
Na saída do octógono em direção aos bastidores, quando os aplausos do público se fizeram presente, sentiu seus olhos se encherem de lágrimas e levou a mão, ainda protegida pela luva, na direção de seu rosto para que ninguém mais pudesse ver o choro copioso dela. Sentia-se levemente humilhada por estar saindo de seu primeiro desafio daquela maneira e, por um segundo, parou para pensar em Ethan na plateia. Tinha certeza que, se o ex-noivo houvesse aceitado o ingresso que ela lhe enviara, ele estava sentado e com um sorriso nos lábios por vê-la se ferrar como ele sempre havia dito que poderia acontecer.

– Foi uma lesão na tíbia e na fíbula. Você precisará de cirurgia para consertar e o tempo máximo de recuperação para voltar a andar sem muletas é de seis meses. Para voltar a lutar, eu lamento, mas você precisará ficar até um ano e meio afastada do octógono. Por tanto, serão quase dois anos de tratamento. – o médico anunciou o diagnóstico e abaixou a cabeça, sentindo a vontade de chorar tomar conta de si mais uma vez na noite. Estava exausta física e psicologicamente e ainda recebia uma notícia daquelas. Dois anos longe do octógono era demais para ela conseguir pensar no que fazer e em como se recuperar.
– Não há como antecipar isso? – questionou, recebendo um olhar de reprovação vindo de , mas não se importou muito.
– Você vai cumprir esse prazo, . – não deixou que o médico respondesse a pergunta da lutadora e a encarou com um semblante sério. – Você vai ficar dois anos ou quanto tempo for necessário se recuperando e, quando você retornar, nós vamos seguir na ideia de te tornar o maior nome do UFC feminino. Não tenha medo. – o irlandês piscou na direção dela, com um leve sorriso nos lábios, e John virou-se para agradecer ao médico, saindo do quarto junto com ele para saber mais detalhes sobre como seriam os próximos meses da moça.
... – a morena chamou a atenção do lutador, que checava algo no celular, e, quando seu olhar se encontrou com o dela, pôde ver um pequeno sorriso se formar nos lábios dela. – Obrigada.
– Não há de que. – ele balançou a cabeça, também sorrindo. – Eu quero que você não pense em nada a não ser se recuperar logo. Não pense na luta, na Ronda ou em adiantar o processo de recuperação. Pense em levar o tempo necessário para ficar cem por cento para que possamos retornar à nossa série de treinos. Ainda temos um trabalho a ser feito com você e nós não iremos desistir por uma lesão boba dessas. Combinado? – sorriu, concordando com a cabeça e encarando os olhos do lutador a sua frente.
Algumas batidas na porta acabaram com a troca de olhares entre os dois e, logo, James entrou na sala sendo seguido por Edith e Robert – os pais de . A senhora caminhou apressadamente na direção da cama para abraçar a filha enquanto Robert se dirigia ao outro lado para segurar na mão dela. Os dois estavam no estádio para acompanhar a luta e foram levados até o hospital por James, que havia ficado responsável por levá-los até lá.
– Como você está, querida? – Edith perguntou, após se afastar da filha, mas ainda segurando na mão dela, igual ao marido.
– Estou bem, mãe. – garantiu a mais nova, dando um de seus melhores e mais forçados sorrisos na direção dos pais. – Fraturei a tíbia e a fíbula. Serão até dois anos de recuperação.
– Você vai retornar para Liverpool? – Robert questionou, demonstrando sua preocupação, mas a filha negou com a cabeça.
– Não. O afirmou que eles vão esperar o tempo necessário para que eu me recupere e possa voltar a lutar. E vocês sabem que eu não vou desistir desse cinturão tão fácil... – a moça riu, fazendo com que seus pais rissem junto da persistência tão conhecida dela.
– Não acha que, pelo menos, uns meses em Liverpool pudessem te fazer bem? Se afastar um pouco de todo esse ar de luta e ficar sob os cuidados de seus pais... – Robert ergueu a sobrancelha e ficou tentada com a proposta, mas seu coração dizia que ela deveria permanecer nos Estados Unidos.
– É uma boa proposta, pai. – riu fraco. – Mas eu vou ficar por aqui. Posso contratar alguma enfermeira para me ajudar e vai ser mais fácil para fisioterapia, exames e todas essas coisas.
Robert concordou com a cabeça e se curvou para depositar um beijo na testa da filha.
– Você sabe o que é melhor para você. – sorriu. – Bom, vou até a cantina procurar um café. Você vem comigo, Edi? – a mulher olhou para a filha e, quando recebeu um aceno positivo dela, também depositou um beijo em sua testa e saiu do quarto, acompanhando o marido em busca de café. sabia que a noite também havia sido estressante para eles.
Suspirou, encarando o teto branco do quarto do hospital e pensando um pouco na luta. Havia sido tão movimentado o pós luta que ela nem conseguiu pensar no evento em si. Não podia negar que estava com uma certa curiosidade para saber como seu golpe havia dado errado se tinha treinado tanto ele com James e John semanas antes. Mas também sabia que, se perguntasse a qualquer um dos três, era capaz de levar uma leve bronca por estar se preocupando com a luta ao invés de sua recuperação.
Voltou seu olhar para a porta do quarto quando a mesma fez um barulho e se deparou com Ethan adentrando seu quarto. Teve que piscar algumas vezes antes de focar seu olhar no ex-noivo com uma expressão que misturava dúvida e surpresa.
– Como está? – Ethan questionou, colocando as mãos nos bolsos do jeans e encarando a ex-companheira deitada na cama do hospital.
– Não finja que se importa, Ethan. – ela respondeu, sem medo algum de parecer grossa. apenas odiava quando as pessoas fingiam se preocupar com as outras. Ethan tinha deixado claro que não gostava da ideia de ela ser lutadora, então era mais do que óbvio que ele estava um pouco contente de ver que o sonho dela havia acabado daquela maneira. Talvez tivesse sido a energia negativa dele presente no estádio.
... – ele suspirou, balançando a cabeça de forma negativa e voltando a encarar a moça a sua frente. – Por mais que eu não acreditasse em você, eu não seria capaz de desejar seu mal, mas você pode admitir que eu sempre disse que isso poderia acontecer. Você sabe como isso é perigoso, . Hoje, foi sua perna. Na próxima luta pode ser o que? Uma concussão?
riu desacreditada com tanta bobagem que Ethan falava e levou a mão ao rosto. Não era possível que ele conseguisse realmente acreditar nas coisas absurdas que falava.
– Ethan, por favor. – ela ergueu a mão, em um singelo sinal de que já era suficiente e o engenheiro parou de falar.
– Eu só estou dizendo que você pode voltar atrás ainda, . Esquece essa loucura e volta comigo para Dublin. Eu prometo que nós podemos viver como se nada desse seu sonho louco tivesse acontecido. – ela suspirou, negando com a cabeça.
– Não. Não há porquê eu desistir disso se eu mal comecei, e muito menos há motivos para eu retornar para Dublin. Eu não dependo mais de você e eu não quero mais ver meus sonhos sendo desmerecidos por você, Ethan. – ela sorriu, sentindo finalmente a coragem de dizer tudo que havia guardado para si sobre o ex-noivo. – Eu não amo mais você.
– Você... Você o que? – foi a vez de ele rir desacreditado e esfregar as mãos pelo cabelo. – É ele, não é? Aquele lutador irlandês que te convidou para vir para a academia dele?
?! – riu, negando com a cabeça. – Ele não tem nada a ver com a nossa história. Suas atitudes tiveram, e elas me fizeram passar a amar você cada dia menos até o dia em que você não foi capaz de me apoiar da mesma forma que eu te apoiei quando você precisou. Foi isso que aconteceu. Não precisei de ninguém para perceber que eu ia cometer um erro se eu me casasse com você.
– Isso não pode ser verdade, . Eu amo você.
– Mas eu não. – ela disse, firme. – Sai daqui, por favor. E não me procure mais.
...
– Ethan, por favor. – indicou a porta com a mão erguida e o homem não se importou com o pedido dela. Ethan caminhou para aproximar-se da cama e rolou os olhos com a teimosia do rapaz.
– Algum problema por aqui? – a voz de chamou a atenção dos dois e Ethan encarou a porta do quarto com um sorriso irônico no rosto.
– Ora, se não é o grande coach da ! – ele cantou num tom de voz mais alto e da forma mais irônica possível, recebendo um olhar negativo por parte do irlandês. Ethan se virou, mais uma vez, para e pôs o dedo em riste. – Na próxima vez que se machucar e estiver no hospital, eu não virei, . Caso mude de ideia, você sabe onde me encontrar... Só não demore muito para cair na real quanto ao seu sonho. soltou o ar quando Ethan saiu do quarto e fechou a porta do mesmo, encarando a lutadora.
– Tudo bem? – questionou, visivelmente preocupado.
– Eu só acabei de descobrir que meu ex-noivo é um merda. – deu os ombros, fazendo rir levemente com a frase da moça.

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³Bruce Buffer: é o locutor do UFC e é bem conhecido por suas falas animadas antes do evento principal.

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UFC 202 – Las Vegas, Estados Unidos.
2015.

Após quase um ano, estava de volta a uma arena de UFC, mas ainda não para lutar. Ela havia trocado suas sessões de treino por de fisioterapia e estava indo bem melhor que o esperado. A cirurgia havia sido um sucesso e, com as sessões de fisioterapia, ela já conseguia fortalecer seus ossos – ainda não o suficiente para andar sem a ajuda de muletas, mas ela estava quase lá.
Suas idas à academia de e dos Kavanagh haviam se tornado um passatempo. Ela acompanhava os treinos de e dos outros lutadores, conversava com todos e participava das preparações para as lutas deles. Achava estranho estar afastada do que mais gostava de fazer, mas agradecia a John por deixá-la bem próxima do clima de preparação e de luta.
No último ano, ela não sabia se era sua lesão que havia a deixado mais sensível ou se era apenas uma ilusão sua, mas parecia mais próximo dela que o normal. O irlandês fazia questão de acompanhá-la em algumas sessões de fisioterapia e, quando ele ficava para treinar até mais tarde, pedia que ela ficasse também para poder observá-lo – sempre a levando em casa à noite.
Em uma dessas noites, pôde conhecer uma face de que nunca tinha visto em todo o seu tempo em Las Vegas: o lado carinhoso dele. O lutador contou sobre sua vida em Crumling e sobre sua família, falando também sobre como havia superado a morte de sua ex-namorada e da pose de canastrão que sustentava no UFC.
A inglesa não conseguia acreditar que, por trás daquele homem que aparecia sempre com seus ternos impecáveis e caríssimos e óculos escuros, existia um homem carinhoso e cuidadoso que era capaz de surpreendê-la. Não podia negar que havia algo em que a encantava mais do que ela pudesse explicar e, nos últimos meses, aquilo estava se aflorando.
As luzes da arena se apagaram e a imagem de Bruce Buffer apareceu no telão para anunciar que era o momento de a luta principal da noite começar. sorriu, sentindo-se completamente ansiosa para assistir no octógono.
caminhou em direção ao octógono, sob fortes aplausos e gritos do público, carregando a bandeira da Irlanda em suas costas e bancando sua temida cara de sério por todo o percurso, com John e James o seguindo. A moça não deixou de gritar e aplaudir o lutador.
Nate Diaz entrou pouco tempo depois e recebeu uma forte boas vindas do público, mas percebeu que a torcida para havia sido mais forte. Riu fraco, desejando que ele conseguisse ganhar o cinturão do peso meio-médio do americano.
A luta durou os cinco rounds. Era a primeira vez que o irlandês lutava fora de sua categoria de origem, peso pena, e ele havia subido de peso para conseguir lutar contra Nate – tudo na busca para se tornar o primeiro a ter dois cinturões de categorias diferentes – e entendia o porquê da luta ter sido tão dura, mas ainda sim acreditava que conseguiria ganhar, mesmo que na decisão dos jurados. Ele havia dado mais golpes e levado o adversário mais ao chão do que o contrário. Para ela, não havia dúvida de quem seria o campeão.
Após alguns minutos, os dois lutadores ficaram no centro do octógono, separados pelo árbitro, que aguardava Bruce Buffer – que tinha em suas mãos o resultado dos jurados e anunciaria em poucos segundos o vencedor da luta.
uniu as mãos, como se fosse rezar, e respirou fundo na pura expectativa de ouvir o nome de sendo anunciado pelos juízes.
– ... E o vencedor é – Buffer fez uma pausa para causar um leve suspense entre os presentes. – , THE NOTORIOUS⁴!
se levantou em pulo de sua cadeira e não pensou duas vezes antes de caminhar, o mais rápido que sua lesão e as muletas a permitiam, até a entrada do octógono. Subiu pela pequena escada e, assim que o lutador, que ainda era abraçado por seus técnicos, a viu, não pensou duas vezes antes de correr até ela para abraçá-la. A moça deixou as muletas que a acompanhavam caírem no chão e passou os braços pelo pescoço do lutador enquanto ele a envolvia pela cintura em um abraço apertado.
se afastou um pouco do abraço e encarou a lutadora à sua frente, soltando um suspiro seguido de um sorriso por ela estar presente naquele momento. Estava a um passo de colar seus lábios nos dela quando John deu leves tapinhas em seu ombro e apontou que estava no momento de dar sua entrevista sobre a luta.
Ele depositou um beijo na bochecha de e virou-se antes de vê-la suspirar pelo ato para falar sobre como havia sido a luta.
James ajudou a moça a pegar suas muletas novamente e ela abraçou os irmãos Kavanagh, parabenizado os dois também pela vitória de . Era uma vitória tanto do lutador quanto da equipe, que tinha feito um trabalho incansável para ajudá-lo a subir de categoria e vencer aquela luta.

– Vamos tirar uma para o meu Instagram! – ela anunciou, entregando o celular para James e cruzando as pernas. deu o cinturão para que ela segurasse e passou o braço pelos ombros dela enquanto esticava o outro pelo sofá em que estavam sentados. Os dois sorriram na direção de James e logo o flash do celular foi disparado na direção dos dois.
devolveu o cinturão para ele e pegou o celular das mãos de James para checar como havia ficado a foto. Ela estava com uma cara bem boba ainda, não só pela vitória de , mas pelo fato de ele ter quase a beijado dentro do octógono, na frente de milhares de pessoas. A moça ainda não conseguia se decidir se acreditava que ele poderia estar querendo ter algo a mais com ela ou se foi apenas a emoção do momento.
Os seus sentimentos, no entanto, estavam claros para ela. Gostava de até mais do que gostou de Ethan, embora odiasse comparar os dois. O irlandês a apoiava e a ajudou nos momentos mais difíceis dela até então. Sem contar que era completamente diferente longe das câmeras e por trás daquela fama de mau que havia ganho no mundo das lutas. Ele conseguia ser um homem divertido, com ótimas histórias para contar e bastante atencioso.
O lutador virou o rosto para o lado, tirando a atenção da roda de conversa que estava tendo com outros membros da academia, e percebeu que a mulher o encarava com uma cara pensativa. Riu fraco quando viu as bochechas dela corarem levemente por ter sido pega no flagra.
sorriu, sem graça, voltando a atenção para o celular, que a essa altura já tinha bloqueado a tela. Desbloqueou a mesma usando a digital e a foto dela com o lutador voltou a aparecer.
– Você fica bem segurando o cinturão. – comentou ao seu ouvido e ela fingiu que não percebeu os pelos de seu corpo se arrepiando com o ato do irlandês. – Em breve, vai segurar o seu.
soltou o ar, fechando os olhos, e contou mentalmente até cinco. Os dois estavam naquele joguinho de conversas há meses, mas, além de ser carinhoso com ela, não havia tentado nada até então. Ela não entendia o sinal que ele tentava passar, mas já estava de saco cheio disso.
O lutador balançou a cabeça, confuso com a reação da mulher, e esperou que ela abrisse os olhos para perguntar o que estava acontecendo.
– O que há de errado? – questionou. As outras pessoas próximas aos dois estavam ocupadas demais em suas próprias rodas de conversas e bebidas para se preocuparem com eles.
– Você. – a moça respondeu em um sussurro mais ríspido. – Me explica o que você está querendo comigo, porque eu ainda não consegui entender, . Em um dia nós conversamos, no outro nós mal nos falamos e hoje você quase me beija. Está tentando me deixar louca ou o que?
A primeira reação dele foi rir, surpreso com as palavras de , mas, assim que ela o encarou com uma cara nada boa, ele percebeu que era o momento errado para dar risada. A mulher estava falando sério com ele.
... – ele suspirou, aproximando-se um pouco mais da moça. – Ok. Eu estou apaixonado por você, pronto. E eu não posso esperar para estar do seu lado quando você ganhar seu cinturão. – sorriu, aproximando seu rosto do da moça.
Em questão de segundos, os dois estavam com os lábios colados um no outro e parecia que só havia os dois no local. levou suas mãos para a cintura da mulher, apertando-a levemente e ela colocou os braços ao redor do pescoço dele, deixando-se levar totalmente por aquele momento que ela havia esperado.
Alguns gritos e aplausos foram ouvidos e os dois se afastaram, rompendo o beijo lentamente e contra suas vontades. sorriu para a moça antes de virar o rosto e ver os irmãos Kavanagh, além dos outros amigos da academia, comemorando o fato de o casal ter finalmente se resolvido. O lutador rolou os olhos, mas acabou rindo quando John se aproximou para dar tapinhas em seu ombro.
sorriu sem graça, encarando mais uma vez, depositando um beijo na bochecha dele e sentindo-se até mais leve por ter resolvido essa pequena situação entre os dois.
Ela gostava dele e era recíproco. Ela nem conseguia acreditar.

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⁴The Notorious: em tradução livre, “o notório”, apelido do no UFC.

x


UFC 183 – Las Vegas, Estados Unidos.
2017.

Tudo o que ela passou nos últimos anos tinha a levado para aquele momento. podia sentir todo o sangue de seu corpo pulsando em pura antecipação para a luta contra Amanda Nunes, a atual detentora do cinturão que ela tanto queria.
Sua recuperação havia sido lenta, mas sentia que estava mais do que cem por cento melhor do que antes. Tinha aprimorado seu cartel 13-0, a única que tinha um cartel melhor naquele momento era justamente a Leoa⁵, que tinha duas vitórias a mais do que ela. estava com sangue nos olhos por aquele cinturão.
James terminava a tala com fitas na mão da lutadora e ela escutava as últimas palavras de seus dois técnicos e de seu namorado. Ela ainda não conseguia esconder a leve careta que fazia quando parava para pensar que ela estava realmente namorando . Ainda achava engraçado vê-lo todo canastrão durante eventos do UFC e como ele perdia todo o personagem que criava quando eram apenas os dois treinando na academia ou em seus momentos mais românticos. Quem diria que poderia ser romântico? Nem ela mesmo acreditava.
– Ok, . Foco. – John chamou sua atenção enquanto James a ajudava a calçar as luvas. – Não tenha medo da sua perna. Foque em levá-la para o chão nesse primeiro round e na trocação para cansá-la. No segundo round, vamos em busca do clinch e do nocaute. Ok? – ela concordou com a cabeça, absorvendo todas as palavras do coach, e deu um sorriso em resposta.
Fez uma pequena prece após estar totalmente preparada para a luta e viu os irmãos Kavanagh saírem da sala de preparação onde estavam. deu uma leve risada ao perceber que estava sozinha com e não perdeu a oportunidade de brincar com o namorado.
– Você sabe que sexo só depois da luta, não é? – questionou num tom brincalhão e viu rolar os olhos em resposta enquanto caminhava na direção da namorada.
– Sexo da vitória é sempre melhor. – o lutador rebateu, dando uma leve risada ao ver as bochechas da mulher ficarem vermelhas. – Relaxa, James e John não estão aqui.
– Como você consegue me deixar assim? – suspirou, colocando as mãos cobertas pelas luvas no rosto e tentando se recuperar de sua leve vergonha, ouvindo seu namorado gargalhar alto.
– Eu me pergunto o mesmo sobre você todos os dias. – ele sorriu, dando os ombros. Já tinha parado de buscar resposta para aquela pergunta. Só sabia que o fazia sentir de uma maneira que ele nunca tinha se sentido antes. Era diferente, era especial. Ela conseguia despertar o lado mais tranquilo e romântico de . – Enfim... Eu sei que o John já te passou todas as instruções, mas eu queria falar com você. Eu sei que você ainda está com o medo de se lesionar, da sua perna não aguentar os golpes da Nunes e tudo isso, mas tente não ficar com isso na sua cabeça. Quando você entrar naquele octógono, eu quero que você não pense em nada além de derrubar a Nunes e tirar esse cinturão dela. Você consegue e você é capaz de fazer isso, caso ainda esteja em dúvida. Eu acredito em você. – ele sorriu, afirmando com a cabeça, e selou os lábios dos dois. – Quando eu te encontrar após a luta, nós vamos unir os nossos cinturões.
– Pode deixar. – ela sorriu, dando mais um beijo no namorado, e passou os braços pela cintura da moça, aproveitando para abraçá-la por alguns minutos.
manteve as palavras de em sua mente durante todo o caminho até o octógono. Ela não só era capaz de retirar o cinturão de Nunes, como iria conseguir aquele feito e os dois seriam o primeiro casal de campeões do UFC. Ela já podia sentir isso.
Não se importou que os gritos foram mais fortes para Nunes e nem se a torcida não estava ao seu lado. Ela precisava apenas focar nela, em tudo que havia treinado e estudado sobre a adversária. Precisava focar no cinturão.
Mario Yamasaki⁶ solicitou que as duas lutadoras tocassem as luvas, mas não se importou em fazer o gesto com Nunes. Só queria que aquela luta terminasse logo e que ela fosse consagrada a nova campeã.
Ela seguiu à risca o que John havia dito nos primeiros minutos do primeiro round e, quando deu o primeiro chute na perna de Nunes, tudo o que havia dito para ela pareceu ter dado um gás a mais. focou apenas em derrubar a adversária logo no primeiro round e tentar acabar com ela no Jiu Jitsu.
Não foi fácil, afinal, Nunes também era faixa preta no esporte, mas as duas deram uns bons golpes no chão do octógono, causando o delírio da torcida por uma luta tão boa entre as duas.
O fim do primeiro round soou e Yamasaki afastou as duas para que fossem para seus respectivos corners. sentou-se no banco e viu os irmãos Kavanagh se aproximarem para ajudá-la a se recuperar para mais cinco minutos de luta.
– Muito bem. Muito bem. – John falou, animado, enquanto o cutman limpava o rosto um pouco coberto de sangue da lutadora. – Agora é só levá-la para o clinch. Essa luta já é sua! – sorriu, mostrando o protetor dental, e os irmãos saíram do octógono, tomando seus postos do lado de fora para observar a luta.
A luta recomeçou e ela não deu nem tempo para a brasileira pensar. Fez o double-leg, abraçando as duas pernas da adversária, fazendo com ela perdesse o equilíbrio e fosse ao chão. se posicionou o melhor que pôde, conseguindo manter Nunes no chão e ergueu o corpo, na tentativa de prender o braço esquerdo da lutadora.
Enquanto a campeã tentava dar socos na região da costela, a inglesa conseguiu passar o braço por debaixo do pescoço da brasileira, levando consigo o braço esquerdo esticado dela em um perfeito Katagame. Usou toda a força que tinha para manter Amanda presa em seu golpe.
se levantou no momento exato que conseguiu encaixar o Katagame, já pronto para comemorar, porque era quase certo que a adversária não conseguiria escapar de toda a pressão que a outra estava fazendo e, quando viu Mario Yamasaki erguendo os braços e separando as duas lutadoras, indicando o fim da luta, pôde soltar o grito que estava preso em sua garganta.
Ele abraçou os irmãos Kavanagh e, assim que a porta do octógono foi aberta, correu para dentro do local para abraçar a namorada, que já olhava para os lados a sua procura. uniu os lábios aos dela, pouco se importando em deixar o seu lado romântico aparecer e acabar com a fama de canastrão que ele tinha conquistado.
partiu o beijo, um pouco sem ar pelo mesmo e pela euforia. Abraçou John e James antes de vestir a blusa da patrocinadora para ir ser declarada pelo árbitro a campeã da luta e a mais nova detentora do cinturão do peso galo do UFC.
Enquanto aguardava seu braço ser erguido por Mario Yamasaki, a inglesa pode sentir as lágrimas tomando conta do seu rosto e o alívio tomando conta de todo o seu corpo. E, quando suas mãos tocaram o cinturão que estava sendo posto em sua cintura, ela percebeu que tinha dado o passo final que tanto havia sonhado. Ela era a nova campeã do UFC.
Sorriu, ainda pensando estar vivendo um sonho, e sentiu as mãos de em sua cintura. Ao seu lado, seu técnico e namorado estava com seu cinturão no ombro e um enorme sorriso no rosto ao vê-la, finalmente, sendo consagrada como queria.
abraçou o amado mais uma vez. Era muito além de ter ganho um cinturão, era ter ganho a coragem de ir em busca de seu sonho, ter aberto mão de quem não acreditava nela para fazer se fazer acreditar e, além disso, ter encontrado alguém para não só ajudá-la a alcançar seus sonhos, mas também ficar feliz por isso.
Era muito mais do que um sonho bobo, como diziam.
Agora, era realidade.

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⁵The Lioness: tradução livre, “a leoa”, apelido de Amanda Nunes no UFC.
⁶Mario Yamasaki: árbitro do UFC conhecido como “árbitro do coraçãozinho”.




Fim.



Nota da autora: Mais uma para o Nós Existimos! Confesso que essa estava guardada por muito tempo e finalmente consegui dar um fim nela! meu sonho de princesa!! Me conte o que achou nos comentários.
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