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Prólogo - Dois meses depois


Uma semana se passou e ele conseguiu arrastar os pés até uma boate da cidade. Daquelas sujas que vemos em filmes, aquelas que não valem mais que as putas baratas. Aquelas que homens velhos e desesperados vão em busca de presentear as esposas com um par de chifres. Mas para ele é diferente. Ele é jovem, forte, rico, bem sucedido. Sozinho. Depois de tudo que passou, estava sozinho até a própria morte. Condenado.

Apoós ter conquistado tudo que anseava, percebeu que viver não passa do ato de se conformar com o que perde.

Queria poder adiar a morte, queria se matar e não se importar se o Deus - qual todos procuram - o mandaria para o inferno. Não existiria um inferno pior que a própria vida. Sua mãe lhe dissera na carta: “Seu sobrenome carrega uma maldição, por isso mantive meu nome de solteira”. Os olhos estão marejados, as lágrimas não pararam de cair nos últimos cinco dias, tudo que nunca havia chorado na vida resolvera dar as caras agora.

Se perde no corpo da mulher que dança à sua frente. Pernas grossas e saudáveis permitem que ela se pendure no mastro, girando, ficando de cabeça para baixo. Atraindo olhares sedentos pelo seu corpo, o seduzindo com tão pouca roupa. Deixando os – agora – insignificantes cabelos castanhos cair pelo seu ombro. Nesse momento não falava mais por si, bebia whisky como se fosse água, o corpo negava a própria alma.

Ele queria foder. Com a mulher rebolando em frente aos seus olhos. Já que foderam com sua vida.



Capítulo 1 - Lara Palmer


O barulho dos saltos contra o piso de madeira encanta Blaike. Sua audição, invejada por todo departamento, ficava ainda mais aguçada ao descobrir que o tilintar vinha dos pés de Arnold, fiel companheira de investigações. Algo importante estava por vir.
À sua frente apenas um copo de café frio - feito há horas atrás - e uma pilha de papéis esperando autorização de arquivo. A sala era frequentemente utilizada para reuniões entre todos os agentes, guerreiros que passaram por diversos cursos e recebem salários altos para controlar a pouca atividade criminal nos Estados Unidos. É claro que e se destacam entre os outros, o casal trabalhou junto em quarente e sete e casos e, de todos esses, quarenta colocaram os culpados atrás das grades, os outros sete, bem, colocaram os culpados sete palmos abaixo da terra.
O homem pensou que não veria a mulher novamente, após dois meses sem nem um problema ambos já pensavam em desistir da carreira.
- É a segunda vez que usa este vestido esta semana – o homem tem a voz rouca, por falta de hidratação.
- Anda reparando em mim mais que o necessário – sua resposta é acompanhada de um sorriso tímido.
Um silêncio preenche o cômodo de paredes amareladas, a mulher se dirige à máquina de café ao lado de uma larga janela, fecha as cortinas e isso é o suficiente para o loiro entender que tem algo pendente. O café toca o fundo de uma garrafa térmica e os dois tentam não manter contato visual, sabem que, para convocarem os melhores da divisão depois de meses parados, o caso não seria simples. Joe Bard adentra o lugar, a visita do senhor de setenta anos já era esperada, carrega pastas finas entre os braços e as mesmas são lançadas na mesa sem cuidado.
- Primeiro as damas.
segue com uma xícara de café e uma pontada de curiosidade no peito, pega e abre o objeto com cautela, a foto não é tão ruim quanto imaginava. Mas fica pior ao ver quem foi fotografado.
- Por Deus, é a mãe de Margaret. – Leva as mãos à boca, se lembrando da amiga, chefe da perícia dos casos especiais. – Isso é...
- Um dedo, exatamente – Joe afirma assinando o próprio nome acima do adjetivo Diretor de Departamento.
- Não posso aceitar isso – a voz feminina empurra a pasta para longe, o homem mais jovem solta uma risada.
- Isto é a coisa mais simples que já te ofereceram para investigar – assina o próprio nome. – Não é nada se comparado aos corpos mutilados naquela praia. – Ele se refere ao último caso em que trabalharam juntos.
- O que me incomoda é que a mãe de Margaret está estampada nessas páginas. – Ela fecha os olhos. – Ela nem ao menos me ligou. – Seus punhos estão fechados, Joe reconhece que está nervosa.
- Acredite em mim. – Blaike respira fundo e limpa os dedos suados na jaqueta de couro preto. – Não vou acreditar em suas capacidades se não aceitar isso, todos aqui sabem que funcionamos como uma dupla.
- Você não entende a parte de que cresci ao lado de Margaret? – Ela altera a voz e o chefe coloca a mão sobre suas costas, uma das formas que aprendeu no FBI sobre como acalmar uma pessoa. – Pare de pensar no próprio umbigo por um segundo. – O loiro tem o olhar cínico, como se não acreditasse que a agente (tão profissional) não aceitou o caso. - – Joe usa o apelido da mais nova. – Se te serve de consolo, fomos informados do caso nesta manhã...
- E já passam das três da tarde.
- Ela está em choque, acabou de perder a mãe dessa forma. Vá visitá-la, ajudar com conselhos femininos. Isso serve para você também, Blaike. – O indicador do mais velho está na direção do nariz do garoto.
- Infelizmente não posso ajudar nesse quesito, o tempo corre e tenho que achar uma nova parceira, tão boa quanto .
- . – O ar que circula entre os dois é ofegante. – Todos do departamento sabemos que Margaret tem uma queda por você. – O sorriso travesso cobre o rosto do mais novo. – Você viu essas fotos e sabe melhor do que ninguém como é perder a mãe...
- Já chega. – O loiro sai da sala, apenas após trombar de ombros com o chefe, de propósito.
Joe já estava tão acostumando quanto todos ali com a falta de educação do agente. Empurrões, piadas irônicas, risos cínicos, olhares superiores. A única pessoa para qual cedia a vantagem de sua educação era – uns dizem que é pela beleza da mulher e outros pelo vínculo que carregavam de anos lado a lado. Blaike fora assim desde que herdara o cargo do pai – que matou a mãe do agente com ajuda de uma amante. Mas o que poderiam fazer se ele era tão bom que descobria os culpados com apenas uma hipótese? Não poderiam fazer nada.
- – Joe Bard chama pela moça antes que saia da sala. – Seja mais paciente, saiba que nenhum homem nessa cidade faz por merecer sua presença. – A garota sorri fraca, a dor em seu peito é a mesma de como se tivesse perdido a própria mãe. – Mande lembranças para Margaret. – Eles trocam um aperto de mão pouco adequado para a situação.
Os corredores carregam um ar de desespero, todos os funcionários correm de um lado para o outro, dezenas de papéis espalhados pelo chão e olhares curiosos ao ver que ela e saíram da sala de reuniões no pior estado. Dezenas de pastas feitas de papel pardo estão na porta da sala de arquivos, a mulher fica em dúvida se deve entrar e pegar antigos casos para revisar, para ter certeza de que vai recusar o assassinato de sua segunda mãe.
Passa reto pela porta branca e vira o corredor, ignora a própria sala e a enorme fila de pessoas em busca do elevador, recebe um sorriso amigável de Tori, mulher de quarenta anos que esfrega o chão de porcelana todos os dias, nesse mesmo horário e nesse mesmo lugar. Muitas das vezes para e observa o quanto Tori tem as mãos cansadas, revelando alguns fios de cabelo branco tão cedo.
A jovem segue as pernas longas para as escadas, seus vinte e oito anos não a impedem de usar saltos 15 no trabalho e muito menos de descer cada degrau em milésimos de segundo até o estacionamento. O Audi prateado acende os faróis no momento em que as travas são desacionadas, a mulher abre a porta e vê que permanece no estacionamento, ele está com a cabeça encostada no volante e a mulher sente que o comentário de Bard foi como uma facada, mas é o que a vida faz, se colhe o que se planta. A chave entra na ignição e a manobra de ré é feita no tempo dos portões se abrirem, mostrando Baltimore no período da tarde, muitos carros correm pela avenida e, para os observadores, as redondezas parecem um lugar seguro.
O caminho conhecido é feito com pesar, ela mal imagina a reação da amiga quando descobriu a forma que a mãe foi assassinada. Quem teria motivos para fazer isso com uma mulher tão boa? Foi encontrada pelo marido do segundo casamento no jardim de casa, deitada na cadeira de sol vestindo o pijama com que fora dormir na noite anterior – quando tudo parecia estar bem. A morte foi rápida, pelo menos foi o que a agente entendeu pelas poucas linhas que leu dos relatos da perícia, corte na garganta, direto na jugular. O estômago embrulha enquanto tem as mãos firmes em contato com o volante. Ela se pergunta o por que de não estar chorando e logo depois sente um peso nas costas, teria convivido com assassinatos brutais por tanto tempo que deixou de valorizar os próprios sentimentos?
Quando percebe que passou algumas quadras da casa desejada pisa no freio, sente que deixou marcas no asfalto e respira fundo. Passa a mão pelo longo cabelo preto e estaciona em frente ao lugar que freou. Andar algumas quadras não lhe mataria, embora falar de morte nessas circunstâncias não seja o melhor assunto. Coloca o celular e as chaves no bolso, lembrando que a mochila que carrega nos dias de trabalho ficou no escritório, tira os saltos e caminha descalça até o portao vermelho de grades que esperava encontrar. O mesmo está aberto, escancarado como nunca esteve. Reconhece colegas de trabalho nos arredores, tirando fotos dos cantos do telhado ao rodapé da garagem.
O pastor alemão chamado Geordie fica deitado na grama, está triste como nunca esteve. Talvez apenas ele tenha visto o que aconteceu porem nunca poderá contar aos investigadores do caso.
- – um dos estagiários se aproxima da mulher com uma amostra de sangue no tubo de ensaio. – É bom saber que vai se encarregar do caso.
A verdade é que estagiários do FBI estão na casa dos vinte e três anos, ainda tem a mania de agradar os superiores e quem sabe assim conseguirem um lugar nos casos mais importantes.
- Não posso confirmar isso – ela encara os próprios pés. – Margaret está?
- No quarto, senhora. – O garoto desaparece e a mulher coloca os sapatos para entrar na casa.
Um tapete cobre o carpete da sala, a televisão está ligada em um canal de debates e uma garrafa de cerveja fica na mesa de centro, as luzes estão acesas e se lembra que é importante deixar o espaço intacto, do momento do crime até o fim da investigação se possível. As cortinas ficam fechadas, porém o fluxo de ar na sala denuncia janelas abertas. A mulher segura as próprias pernas para não caminhar até a cozinha, que a levaria para a piscina e à cena que não veria nem que dependesse da própria vida.
- Maggie? – A amiga chama pela outra e a encontra deitada sobre a própria cama, de olhos fechados e braços estendidos.
- ? – Os olhares se cruzam e ambas não sabem o que dizer.
Um abraço faz mais que o necessário, elas finalmente deixam lágrimas escaparem e alguns soluços são seguidos de profundas respirações. Margaret sente os braços da amiga a apertarem como nunca e sabe que a dor de ambas é maior que tudo.
- Foi ele. – É difícil para a ruiva dizer mais que duas palavras, ou formar uma frase. – Eu sei.
coloca a mão sobre o rosto de Maggie e faz o sinal do silêncio, mais um abraço de longos minutos impede que conversem. Duas batidas são ouvidas na porta e veem que é um dos peritos do caso.
- Senhorita Arnold, gostaríamos de saber se precisa dos relatórios agora...
- Conversem com Blaike, ele é o encarregado do caso. Eu recusei – o choque envolve todos os presentes no quarto.
- Como não? – Margaret se levanta e vê suas pernas tremerem, fazerem força para permanecer de pé.
- De toda forma, vou me retirar. Com licença. – As mulheres ouvem os coturnos baterem contra a escada.
- Maggie, não vamos falar disso agora. – Elas se sentam mais uma vez e escutam pássaros cantarem por minutos.
- Ela é como uma mãe para você. – A morena sente vontade de corrigir Margaret, passado, ela era como uma mãe. – Você tem que aceitar o caso.
não sabe o que responder e o que deve deixar coberto, seu espírito forte lhe diz que deve fazer a pergunta indelicada: “Então por que não está fazendo a pericia de sua mãe assassinada?”. Ela pensa duas vezes e vê que essa frase seria uma das que diria antes de deixar o quarto, ela não quer ser como ele.
- Simplesmente não posso.
- Você pode.
- Por que insiste tanto? – altera o tom da voz, fazendo as veias saltarem do pescoço. No mesmo momento põe em mente a atual situação. – Me perdoe, por favor. – Elas se aproximam. – Tem sido um dia difícil.
- Você não imagina. – A ruiva se encosta na cabeceira da cama.
O cômodo pertence a uma criança, garoto que não passa dos doze anos e com certeza não faz ideia do que acontece à sua volta. As paredes tem poucas partes mostrando sua cor azulada original, pôsteres de vídeo games e bandas de rock cercam o lugar, e ainda assim um ar infantil de inocência preenche o espaço. Os olhos castanho escuro analisam cada foto em cima da estante, maldita mania de investigadores, uma delas tem Maggie junto ao filho no dia de seu nascimento; ela não sorri e a explicação para isso cabe ao pai ter decidido não assumir o menino, as palavras foram "te ajudo com o dinheiro, mas ele não terá meu sobrenome". se lembra que a gravidez da amiga veio logo depois das duas conseguirem estágio no departamento de serviços secretos, o medo de perderem a chance de suas vidas as levou à possibilidade de um aborto. Hoje não imaginam o que teria acontecido caso isso viesse a ser a única solução. A cama tem tamanho infantil e um abajur simples fica na cabeceira, bonecos de super heróis enfeitam todos os lugares e livros de escola estão abertos em páginas sobre a independência dos Estados Unidos. A mulher não deixa de notar a lata de refrigerante sobre a escrivaninha de madeira e uma pequena faca de serra ao lado. A morena se lembra por alguns segundos de quando era pequena, assim como seus problemas.

A breve imagem de seus cabelos negros se misturando aos ruivos de Margaret é como um flash, as garotas estão correndo pelo enorme quintal da fazenda da família Arnold, os cães vão atrás e suas mentes tão inofensivas não se importam em eles serem pitbulls com mais de um metro de altura. Ambas chegam perto de um rio e ignoram os gritos maternos pedindo para que não se aproximem do cadáver. Sim, o cadáver que definiu o resto de suas vidas. A carcaça de um veado morto há pouco pelo pai de Maggie, o tiro certeiro pegou o animal entre os olhos. A garota mais nova se aproxima e em menos de um segundo é empurrada em direção ao sangue, como Carrie, a estranha. Margaret dá altas risadas ao ver que a amiga está suja de vermelho, o choro estridente não demora a aparecer. Pernas curtas correm o mais rápido que podem até a casa e a última coisa que tem na memoria é o rosto apavorado das mães presentes.

Margaret é deixada no quarto conversando sozinha, o ombro amigo que lhe servira há pouco foi ao banheiro, todos sabem que vomita quando fica nervosa, cheia de dúvidas na cabeça. A ruiva percebe a presença de Blaike no batente da porta, sempre vestido como um espião do FBI. Como mandava sua profissão e sua personalidade. O casaco preto de couro esta entre seus braços, a calca jeans visivelmente nova tem as barras dobradas, deixando a mostra um sapato social gasto – que Margaret desde sempre notou ser o preferido do rapaz. O típico sorriso de Blaike enfeita o próprio rosto, ele não sabe muito bem como se comportar já que está ali à trabalho e a mulher lhe encara sem reação.
- . – Ela está calma, sugestiva. – É bom te ver aqui. – Os neurônios do rapaz funcionam de modo mais ágil.
O nariz se contorce ao ouvir um barulho vindo do banheiro, duas portas à esquerda. Sim, ele já havia estudado todo o local, sabia de cada possível esconderijo.
- Sei que não está bem. – Ele afirma e caminha pelo lugar. – Tem mais alguém aqui?
- Por que a pergunta? – O homem ergue uma das sobrancelhas, mas entende que é uma das reações quando se perde alguém próximo, sempre ficar na defensiva.
- Não quero te assustar. – Ele faz sinal de que está de saída.
- Fique mais um pouco. – A mulher não troca olhares, apenas pede de maneira doce.
O homem pensa em ignorar o pedido, mas sente que há algo errado acontecendo. Margaret havia provado que era uma mulher confiante no dia em que se conheceram, ele se lembra como se fosse ontem o modo como ela o conquistara – coisa que, por incrível que pareça, é difícil – e como conseguiu levá-lo para cama em uma noite. Algo que, para a mulher, se tornou mais que uma noite, virou uma obsessão. Infelizmente o sentimento não foi correspondido, após o pai ter assassinado a própria mãe ele ainda acredita no amor, mas sabe que não merece ter o sentimento correspondido.
- Me ligue caso queira participar da investigação. – O loiro tira do bolso um cartão com apenas seu número, não seu nome.
- Tenho seu número. – As suspeitas de Blaike foram confirmadas no momento em que a voz feminina saiu em alto e bom tom, ele sorri cínico e espera não ter sido interpretado de maneira errada pela ruiva.
- Blaike. – A metade da dupla de investigadores entra no quarto. – Pensei que não viria. – O timbre de sua voz é perceptivelmente mais frágil que o da mulher que acabou de perder a própria mãe.
- Vim a trabalho, preciso montar uma equipe.
Um olhar indignado paira sobre o corpo alto masculino.
- Voce quer que Maggie faça parte da perícia? – Ela não obtém respostas, nem do homem e muito menos da amiga, paralisada. – Faça-me o favor. – Ele é empurrado com força e por pouco não agarra o braço de .
- A única pessoa despreparada é você.
- Despreparada? – O ar preenche os pulmões da agente. – Espero que consiga sem nós.
- Maggie. – deixa claro que encerrou o assunto com a outra. – Vou aguardar pela sua resposta, sei que vai aceitar.
- Quem sabe para a próxima investigação.
Todos compreendem o que ela quer dizer, muitos dos profissionais se afastam dos cargos nessas situações.
O problema era: quanto tempo Margaret conseguiria ficar afastada?


Capítulo 2 - Florence Klum


É difícil manter o carro em linha reta quando as mãos esbranquiçadas escorregam pelo volante. Blaike tem a cabeça estourando e nem passam das seis da tarde, porém o caminho que faz é conhecido, um bar local que se acostumou com a presença do jovem enquanto ainda era menor de idade, quase quinze anos frequentando o mesmo lugar e sentando-se na cadeira de frente à um espelho. Pela primeira vez em meses o homem deixou o celular descarregar por completo e ficar jogado pelo largo console do X6 recém adquirido. Ele teria um trabalho fácil se não envolvesse parte de sua família; entretanto Joe Bart sabia muito bem do que Blaike era capaz se não fosse o primeiro a ser convocado para a mais simples investigação. A vaga em que estaciona lhe favorece, não há uma alma viva pela redondeza e isso se dá ao fato do Sol brilhar mais forte como nunca. Ele encosta o sapato preto no asfalto e observa os arredores mais uma vez, como se temesse algo. Seus instintos falharam poucas vezes mas ele não descarta a duvida de que tem muito no que pensar e em como vai formular a investigação antes do novo dia surgir. Seu cérebro é mais preciso quando pensa em , pois o lado feminino da dupla sempre organizava quem seriam os melhores agentes para conseguirem desvendar o mistério em menos de horas. Ele revelava o lado feminista quando se referia a parceira.
- Pensei que tinha se aposentado – Peter diz de trás do balcão enquanto esfrega taças sem muita delicadeza.
- Se isso houvesse acontecido pode ter a certeza de que passaria meus dias inteiros por aqui. – O loiro recebe um pequeno copo com tequila, todos os funcionários sabem sua sagrada sequência de bebidas.
- – Florence, a ruiva de cabelos cacheados, exclama ao passar os braços no pescoço do mais velho. – Senti sua falta.
- Como vai a faculdade Florence? – Ele cede aos encantos da menina, como cede ao de todas as outras.
- Melhor do que imaginei. – As pérolas verdes brilham. – É uma pena esses garotos de vinte anos não serem tão interessantes quanto você.
A simples frase é suficiente para Peter mandar a filha para dentro da cozinha, ambos se encaram e o mais novo sorri simpático, de um modo que fazia para apenas duas pessoas – ele e . Um copo médio de whiskey sem gelo fica parado em sua frente, os olhos parecem estar fora de órbita observando o líquido amarelo que imperceptivelmente evapora, ele engole seco mostrando seu pomo-de-adão, característica que encanta toda mulher. achava uma pena a garota dedicar tanto do seu tempo para pensar em um relacionamento mais sério com ele, ambos sabiam que seria impossível e os motivos iam desde a diferença de idade – menos importante – até o fato de que ele já havia começado a se irritar com algumas atitudes da garota, como por exemplo as inúmeras mensagens que ela mandava em seu telefone e as incontáveis vezes em que ele era abordado por suas amigas com perguntas sobre o relacionamento dos dois e até mesmo sobre os casos de investigação. Em uma das ocasiões ele se deparou com Florence em seu escritório conversando com Joe Bart e Margaret sobre o romance dos dois e na última – e pior – delas, a ruiva estava jogada no sofá do apartamento bêbada, pois não poderia – segundo ela – “deixar o pai saber que ainda frequentava festas de fraternidade”. Dessa vez ele se sentiu extremamente irritado, nunca havia deixado qualquer de suas mulheres entrar em sua casa desse modo (nunca havia convidado qualquer uma delas), o apartamento era a personificação do seu "eu interior", se é que fosse possível. Ele chamou um táxi para a garota e a mandou para o bar do pai, fazendo com que ela prometesse – mesmo inconsciente – que o que quer que tivessem vivido acabava ali. Para ele as promessas eram sagradas e, quando não cumpridas, deixavam de merecer segundas chances. Os meses se passaram e Florence não parava de lotar a caixa de mensagens de Blaike, dormiram juntos uma vez desde o acontecido e depois disso o homem resolveu que era o fim. Definitivo. O maior problema era que até o momento ela não havia saído do encalce de .
- Dessa vez temos O problema. – O amigo afirma acrescentando uma pedra de gelo à bebida.
- Pensei que coisas como aquela nunca mais aconteceriam. – Trocam olhares cúmplices, como se um pedisse ao outro que explicasse melhor.
A observação da cena do crime o deixou intrigado, as únicas marcas de sangue estavam na área externa, o que uma mulher estaria fazendo na piscina antes do sol nascer? Onde estava o maldito John? Homem que há muito tempo recusava chamar de pai. A cena lhe lembrou vagamente a de quando encontrou a mãe morta na cozinha de casa. Tinha 18 anos quando tudo aconteceu, não foi um choque ver o corpo sem vida, já que a mulher usava cocaína desde que o garoto se entendia por gente. Foi um choque ver o próprio pai beijar a mãe de Margaret enquanto tinha as mãos cobertas de sangue; um choque ainda maior foi o pedido que o homem fez ao filho: “Não conte à ninguém, isso iria acontecer cedo ou tarde”. Burro foi o pai de pensar que o filho, recém ingressado em um curso dos serviços especiais, iria ficar de boca fechada. Em uma semana via o pai atrás das grades, assistia todos os jornalistas comentarem que o melhor detetive de Nova York matara a própria esposa com ajuda de uma amante - que não levara culpa por nada. Claramente odiava Lara - agora morta - pelo que fez com a família, mas no atual momento carregava um enorme peso nas costas por se sentir feliz com a morte dela.
- John provavelmente matou a segunda mulher. – O jovem termina o primeiro copo de whiskey, esperando pelo segundo. – Maníaco compulsivo.
- Seu pai? – O olhar mortal de à Peter faz com que o amigo se corrija imediatamente. – John Blaike?
- É uma droga não poder ter trocado esse maldito sobrenome.
Como para qualquer homem milionário e reconhecido, a prisão não é considerada uma opção. John permaneceu apenas vinte dias compartilhando cela com outros assassinos definitivamente mais perigosos. Uma fiança de poucos mais de 100 mil dólares foi paga no nome de Lara e os juízes não concordavam com o depoimento de , por mais digitais e provas que aparecessem. Felizmente o FBI aderiu as causas do rapaz e viu que suas teorias se confirmavam, infelizmente John não poderia ser preso, o sobrenome "Blaike" carregava peso desde os tempos mais remotos e não seria do dia para noite que um da linhagem entraria em cana. O pai não voltou a trabalhar, no lugar dele pegou o cargo e com apenas vinte anos já era chefe de investigações, idade em que muitos iniciavam o estágio. O loiro apenas não se conformava que, por mais que tentasse trocar o sobrenome, a mídia continuaria chamando-o por Blaike, sucessor dos melhores agentes que já passaram pelos Estados Unidos, linhagem manchada por um homem chamado John.
- Matou a amante? – Florence grita dos fundos. – Aquela mulher era ridícula de todos os jeitos, passava sempre aqui com a filha para...
- Sou o chefe deste caso, não consigo sem .
- Por que sua musa inspiradora não vai participar?
- Lara, a amante e vítima, criou como filha. – Im gole da bebida desce sua garganta, queimando como nunca.
- Recuse o caso, meu bebê. – A garota mais jovem, a mesma ruiva de cabelos cacheados, vai até onde está e coloca o rosto no vão de seu pescoço. – E recuse essa mulherzinha também. – O sussurro é suficiente para que o corpo dele mude de temperatura.
- Estou há meses sem trabalhar em algo, os jornalistas vão começar a perguntar de onde vem meu salário. – O agente tenta ignorar qualquer pedido da garota.
- Você e seu ego maldito. Não pode nunca ser notado por um defeito, as medalhas também perdem o brilho, . – Peter tira a garrafa de perto do garoto. – Você vai dirigir de volta para casa, não quero acidentes.
- Agora é tarde. – O garoto passa a mão pelo rosto, afobado. – Assinei os papéis e tenho que descobrir que herói assassinou aquela mulher.
- Cuidado com o que diz. – Peter informa ao amigo. – Se cair em ouvidos errados você pode se tornar o principal suspeito.
- Com certeza seria uma honra tirar a vida de alguém que tirou a vida de minha mãe.
- Durma antes de começar os relatórios, não quero imaginar o que escreveria se esté falando desse jeito. – Peter dá um tapa nas costas de e ele entende que ja é hora de ir.
- Meu anjo. – Florence canta ao pé de seu ouvido, antes que ele se levante. – Pode passar a noite aqui, comigo.
- Antes isso do que passar a noite com peritos.
Um beijo rápido é trocado entre os dois, se culpa internamente por fazer isso.
- Mas... – a garota adverte. – Você prefere ficar com eles e . – A frase faz com que o mais velho sorria despreocupado.
- não me daria chances.
Como em todas as ocasiões não significa nada para Blaike, mas significa uma vida para Florence. Ao sair do bar o homem escuta o sino preso a porta soar, seus passos calmos o levam até o carro e o rádio liga junto ao primeiro ronco do motor. O locutor narra o caso de Lara Palmer e em seguida diz bobagens sobre Blaike não saber onde estava se metendo, ao ter que investigar a própria família como havia feito anos atrás. Ele prefere colocar o dedo no botão de desligar e dirigir até seu apartamento, na cobertura do 56Leonard, em silêncio. Os engarrafamentos típicos da cidade são ainda piores às sete da noite. Por mais que saiba que é proibido, ele insiste em pegar o celular e conectá-lo com o cabo USB no painel do carro, logo aparecem as inúmeras mensagens de Joe Bart, ele ri a cada ponto de interrogação que vê na tela e não hesita em atender a chamada do chefe que brilha na tela.
- Onde você esté? – a voz do homem de idade invade seus tímpanos como um raio.
- Greenwich com Moorestreet, praticamente dentro de casa. – O agente tenta achar desculpas para não ter que voltar ao escritório durante a noite.
- Precisamos de você imediatamente – Joe fala apressado e Blaike ouve gritos do outro lado da linha.
Um longo suspiro é dado pelo mais novo ao ver que está no portão de estacionamento do próprio prédio e terá de dar meia volta, a vontade de entrar em um chuveiro de água fria e esvaziar a cabeça é bem maior que a necessidade de resolver esse caso simples de uma vez por todas.
- Posso tomar um banho antes? – ele pergunta ao ver que o porteiro acha estranho o homem ainda não ter colocado o carro para dentro.
- É urgente Blaike, finalmente temos algo interessante para descobrir – comenta tantando parecer calmo como nunca, ele percebe que terão de analisar muitas cenas e essa é definitivamente a melhor parte de ter este emprego.
- Chego em uma hora – aperta o botão de desligar a o portão se abre, ele não admitiria passar a madrugada inteira vestindo a mesma roupa que o dia anterior.

18h06 – Bar de Peter, vítima Florence, ruiva de cabelos cacheados.
Quem quer que esteja por trás da simples máscara preta não deixa que vejam seus olhos, apenas sua boca, é difícil identificar se é uma mulher ou um homem, uma calça preta e uma blusa de frio com capuz cobrem qualquer tentativa de descobrir. Assim que o sino anunciou a saída de também foi anunciada a entrada de um assassino. Com cuidado seus pés se movem pelo piso de madeira antiga, parece o som dos seus passos comuns, como o das pessoas normais. Se senta em uma das cadeiras no fundo do bar, de frente para um espelho e espera pela garçonete, ou melhor, pela sua vótima.
- Florence, avise que estamos fechados. – A pessoa com um canivete em mãos se prepara para o bote, seus olhos ficam virados para ter uma visão sobre tudo que acontece em sua frente, lados e costas.
- Senhor, só poderemos abrir em uma hora e... – as pupilas da garota se dilatam ao ver o que está prestes a acontecer.

20h28 – 13o andar, área de serviços secretos
- Preciso de todas as suas informações . Horários disponíveis e testemunhas. – Joe, o chefe, joga a folha conhecida pela agente em sua mesa e sai em passos largos pelo corredor.
- Ela pega o papel com indiferença a passa a mão sobre os olhos, ouve a conhecida batida de em sua porta e faz sinal de que ele pode se aproximar, o homem tira o papel de suas mãos sem pedir e coloca o mesmo sobre a máquina de cópias, em segundos ele tem mais de dez folhas iguais a que Bart deu a . Ambos ficam frente a frente e começam a preencher as lacunas.
- Ainda vai participar do caso? – A mulher pergunta como ele havia feito com ela na manhã desse mesmo dia.
- Por que eu não iria? – Ele ri confuso, ninguém faria com ele mudasse de ideia em julgar o próprio pai pela segunda vez.
- Não acredito que Joe ainda não te contou! – Ela se levanta e prende o cabelo com a ajuda de uma caneta.
- É algo simples , John matou Lara, só preciso de digitais para concluir isso.
- Não, Blaike. – Ela engole seco e ele vê que ela passou a tarde inteira chorando.
- , graças a Deus! – Bart entra no escritório acompanhado pela famosa pasta de papel pardo. – Está dispensado do caso, assume com quem estiver disposto.
- Dispensado? – O homem se levanta. – Você sabe muito bem que sou qualificado para lidar com isso, não vou envolver meus sentimentos quando falamos daquele homem que é meu pai.
- Tivemos uma segunda vítima. – é direta, nunca gostou de enrolações. – É alguém que você conhece. – Os três estão tensos.
- Se me permitem dizer – ele respira fundo – não conheço ninguém além de vocês.
- Florence Klum – a morena termina e vê o vazio nos olhos do rapaz, o chefe deixa a sala sem levar a pasta que tinha entre os braço.
Um silêncio desconfortável invade o ambiente, a mulher não sabe se deve abraçá-lo ou ficar parada esperando dizer alguma coisa. Nunca havia visto o homem chocado, ele sempre foi fechado e defensor com unhas e dentes de suas opiniões. Se pudesse classificá-lo seria certeira em dizer que era uma pessoa com apenas uma expressão facial, sério. Todas as veias do pescoço de se exaltam e ela já pensa em cobrir os ouvidos, assistindo ele estar prestes a gritar algo rude. O homem levanta o queixo e sai da sala empurrando qualquer um que estivesse a sua frente, literalmente derruba duas pessoas pelo caminho.
- Ei, Tori. – A mulher chama pela faxineira. – Pode me trazer um chá e pedir para Joe me arrumar alguns remédios de pressão?
- Sim, senhora. – O sorriso amigável da mulher mais velha mostra a que nem tudo está perdido.
Ela pega a pasta que Joe deixou na sala, são as mesmas fotos que ela recebeu por mensagem. Uma jovem ruiva com menos de vinte e dois anos caída sobre o chão com a garganta estilhaçada, um dos dedos faltando e parte do cabelo também. Ela passa a mão sobre a testa e pensa na melhor maneira de começar a investigação, talvez estejam lidando com um novo serial killer. Uma hora inteira se passa e tudo que faz é fechar os olhos e esperar por , a equipe já esta montada em sua cabeça e é preciso saber se ela terá o colega na investigação. Ela sabia que ele era um homem confiante, algo criado por ser também muito atraente, e sabia que ele não largaria fácil o osso, voltando logo logo à sala e ignorando todos os pedido de Joe para não assumir o caso. Como imaginado, o loiro entra na sala com os olhos vermelhos, Bart está logo atrás com o típico rosto de reprovação ao agente problemático. Uma caneta preta faz traços fortes no papel carbono e em minutos todos os documentos estão preenchidos, Arnold e Blaike arcariam com todas as investigações desse suposto serial killer.
- Vamos chamar Denna – ele afirma colocando a foto da investigadora no quadro, recebe aprovação da parceira. – Antony para fazer as pesquisas.
- Claro, esses papéis estão mais que óbvios. – Ela se levanta e observa a foto de todos os peritos. – Precisamos de alguém para substituir Margaret.
- Nunca gostei de trabalhar com ela, não sei por que insisti hoje mais cedo. - É claro. – dá uma risada alta. – Vocês trabalham, se beijam, depois brigam, depois trabalham.
A frase incomoda , o homem nutria por um estranho tipo de amor. Amor que não merecia receber de volta porém um amor que o manteria vivo. Ele não tinha coragem de simplesmente chamá-la para sair. Onde já se viu? O homem mais desejado de Nova Iorque ficar com medo de uma mulher que, digamos, passa 24h de seus dias ao lado.
- Ela tem algo compulsivo em relação a mim – sorri cínico.
- Casais não funcionam trabalhando juntos – a garota conclui e pega a foto de um perito novato.
- Ainda não tentamos – Blaike diz risonho e acha a atitude controversa, sendo que uma de suas affairs acabara de ser assassinada.
Uma funcionária entra no local e pega o nome dos três convocados para a investigação, avisa que em menos de uma hora pretende ter todos cientes. Não esquece de mencionar que Joe Bard os chama para a sala de reuniões. Assim que ela se retira tenta esclarecer a própria duvida.
- Ei – ela se aproxima do homem e um simples toque é capaz de fazê-lo se acalmar um pouco. – Se não quiser participar eu entendo, seu pai está envolvido, alguma de suas garotas e sabe-se lá quem mais pode morrer até amanhã...
- Você me conhece melhor do que ninguém. – Ele coloca a mão sobre o rosto gelado de , ela se afasta.
- Então podemos nos ajudar, assim como fizemos anos atrás. – Ela pega a bolsa na cadeira e ambos deixam a sala.
, enquanto encarava o parceiro de trabalho, não negava a si mesma o quanto Blaike é bonito. Tinha ombros largos, olhos escuros e cabelos sempre mal arrumados propositalmente, usava o mesmo perfume desde quando ambos se conheceram – seis anos atrás - e uma infinita coleção de camisas pretas de todos os tipos. Para ela, era uma pena ter um homem com quase trinta anos vivendo a vida como um jovem inconsequente de vinte. Ela sabia muito bem que o ditado de que "a vida nos leva a ser quem somos" se aplica ao loiro, mas sempre quis entender as partes mais sombrias de sua cabeça.
e o ex-marido da agente sempre foram extremamente amigos, se lembra que Blaike passou noites em claro ao lado dela quando soube que Artur havia se matado, ela nunca poderia pagar pela ajuda do rapaz e com o passar dos anos a presença dele se tornou indispensável, por mais que negasse.


Capítulo 3 - John Blaike


Uma larga mesa de madeira tem lugares postos para seis pessoas, copos com água gelada e cafés recém preparados ficam à disposição para durar toda a noite. Não é a primeira vez que os agentes presentes recebem ligações inusitadas sobre um possível serial killer, a maioria se acostumou com a vida corrida de trabalhar nos serviços especiais. Joe Bart esta sentado na ponta esperando por Antony arrumar seu computador sobre a mesa. O jovem é desajeitado, mas de suma importância em investigações de identidade.
- No momento em que escolheram essa profissão sabiamos os prós e contras. – O chefe dá um gole na água. – Não vou pedir desculpas por estarem aqui essa hora. – A primeira imagem aparece no projetor. - Lara Palmer foi assassinada na manhã de hoje, ou noite de ontem. Ainda não sabemos ao certo, ela foi encontrada pelo marido, John Blaike. – O olhar de todos é voltado para , ele se faz de desentendido. – John assassinou a ex-esposa com ajuda de Lara há exatos onze anos, o filho dele está trabalhando no caso ao lado de , de qualquer forma; eles são seus chefes agora. – Bart deixa a reunião para que as explicações sejam feitas.
- Lara foi encontrada com um corte na jugular, atravessou toda extensão do que chamam de garganta. – A ilustração do crime aparece, a cena não choca nenhum dos presentes. – O que nos intrigou foi o fato de o dedo mínimo da mão esquerda ter desaparecido, acredito que o assassino levou como recordação. – Todos dão uma risada abafada apos a frase de , por educação. – Florence Klum namorou nosso colega ...
- Nunca namoramos – o homem adverte chamando a atenção mais uma vez. – Prossiga, por favor.
- Eles tinham algo íntimo – a mulher intimida Blaike. – Ela foi encontrada horas atrás pelo pai, Peter Klum, os casos não teriam ligação alguma se não fosse pelo corte exatamente igual na garganta. – A foto aparece e abaixa a cabeça no mesmo instante, ele encara os próprios papéis e chega a conclusão que está trabalhando nisso por que quer, tem que fazer a coisa certa. – Sem o dedo anular.
Todos observam o modo natural como a garota caiu no chão, seus cabelos estão espalhados por todos os cantos e apenas uma mecha foi retirada, deixando uma franja curta sobre os olhos abertos. O sangue está sobre todo o piso e apenas algumas pegadas de sapatos masculinos são identificadas. A mão direita da garota segura uma caneta e a esquerda fica sobre a boca, transformando toda a região do busto em um acúmulo de sangue. Denna percebe imediatamente que o corte foi feito com pressa, conforme as fotos passam ela vê que as observa com o canto do olho, não acreditando no que lhe revelam.
- Se tiverem algo a dizer que seja agora – a voz do homem se sobressai, assim como seu corpo de pé. – Antes de qualquer coisa temos que ouvir os depoimentos, vai interrogá-los. – Os dois trocam olhares cúmplices.
- vai com Denna até a casa de Margaret quando terminarmos o interrogatório, Ana vai agora ao bar de Peter. Antony, você confere os possíveis suspeitos, itinerários e funções. Nos encontramos aqui daqui duas horas, quero ver resultados.
Todos se encaram confusos e faz as ultimas anotações em um quadro branco, cada segundo está cronometrado e um relógio no alto da parede marca nove horas da noite.
- Dispensados – o grito raivoso de ecoa por todo andar, se não por todo o prédio. – O tempo está correndo e minha paciência se esgotando.
Todos os agentes entram no elevador e esperam parar no quarto andar, onde estão as testemunhas. Os botões brilham um a um mostrando que estão cada vez mais próximos. se encara no espelho e não gosta do que vê, olheiras começam a se formar e o som de seu suspiro acompanha o barulho das portas se abrindo.

Margaret está sentada na cadeira gelada da sala de interrogações, por sua cabeça passam imagens de sua mãe morta no quintal de casa e o dia cansativo que teve até ali, sua mente lhe diz repetitivamente que deveria estar morta também, por conta do que não pode evitar. Sente no fundo do peito a imensa falta de seu filho, agora praticamente sem família alguma, o barulho da porta se abrindo faz com que ela vire e veja a amiga entrar, sempre elegante em saltos Loubotains e vestido preto justo, nunca sendo vulgar. As duas sorriem sem demonstrar felicidade e respiram fundo ao ver uma luz verde acender na câmera. Começava agora.
- Pensei que não iria se encarregar do caso.
- Quando soube de Florence todos os meus conseitos mudaram. – não mente. – Estou fazendo isto por , fiquei devendo minha vida à ele.
- Não diga bobagens. – Maggie coloca a mão sobre a da amiga. – Sabe que pode contar comigo.
- Onde estava na última noite?
- Em casa, meu filho saiu com o avô meia noite, os dois sabem que fui direto para cama.
- Ok – faz anotações mentais. – Quem te contou do assassinato?
- Por Deus. – Uma lágrima tímida escorre o rosto da mulher.
- Acredite em mim Maggie, dói tanto em mim quanto em você.

esta parado do outro lado do vidro e dá uma risada a cada frase pronunciada, todos os agentes ao seu lado estranham a atitude, por mais acostumados que estejam. O homem tenta entender o quão verdadeiras as duas são e procura em sua mente motivos para Margaret não ter usado-o como álibi, já que ele passou toda a noite com ela, deixando a casa somente ao amanhecer. Ele sabe muito bem que sempre a alertou para não avisar os outros sobre o relacionamento dos dois. Mas por que não assumia se sua inocência dependia disso?
Longos minutos se passam e Margaret não consegue parar de chorar, apenas aguarda e Blaike fica mais uma vez encantado com profissionalismo da mulher, a agente encara o outro lado do vidro e neste momento gostaria que ela pudesse enxergá-lo.
- Preciso da sua resposta Maggie, é importante.
- Foi John, ele passou a noite fora. – Um alerta vermelho acende na cabeça do loiro. John esteve lá o tempo todo, trancado no quarto com a mulher. Por isso, para , ele é o principal suspeito.
- Você andava brigando com Lara?
- Não.
- Seja mais objetiva, por favor. – Sua voz é autoritária.
- Por favor. – Margaret se levanta. – Você é tão falsa a ponto de conseguir fazer isso. – A mulher caminha até a porta, deixando claros sintomas de bipolaridade. – Não derramou uma lágrima depois que foi embora da minha casa, cansamos do seu teatro .
A porta se abre e libera toda a tensão que estava dentro da sala, Margaret encara todos os olhares assustados dos que assistiam a interrogação, Blaike permanece no modo cínico de sempre, encostado na parede esperando pela próxima oportunidade de dar o bote. A ruiva respira fundo e sai pelo corredor como um vulto, preferindo usar as escadas ao elevador. O homem caminha lentamente em direção a saída e ja consegue enxergar as pernas pálidas de Margaret sobre cada degrau.
- Eu te preguntaria o motivo pelo qual mentiu, mas sei que você vai falar.
- Foi para te proteger. Dessa vez Blaike solta uma gargalhada, a mulher está de costas para ele e ambos se analisam mentalmente. , assim como na tarde do mesmo dia, sente que há algo errado nessa situação, ele sabe que Margaret esconde algo apenas pela velocidade de sua respiração. Seu cérebro deixa isso de lado, pelo menos até analisarem mais uma vez a cena do crime. Em passos rápidos ele volta ao andar onde estava, abre a porta no momento em que o amigo Peter entra na sala e resolve ir até a cobertura do prédio, precisava pensar rápido.
- Quero acreditar que não foi – Peter Klum confessa frente à frente com , os olhos do pai estão marejados e a mulher consegue ver suas unhas sujas de sangue. Os dedos tremem sobre o colo mostrando que ele precisa de algo para segurar, uma respiração profunda é ouvida e sua testa encosta na mesa, como se fosse cair no sono. – Ele foi o último à conversar com minha filha, não há duvidas disso.
- O senhor esteve o tempo todo com os dois? – A agente engole seco, ela não acha que o parceiro seria capaz de matar alguém, nem mesmo o próprio pai, em vista que já teve a chance.
- Sim, conversamos nós três sobre Lara. – O homem fica de pé, encarando o teto. pensa em pedir para que ele mantenha o contato visual, mas vê que a reação dele pode ser pior que a de Margaret.
- O senhor sabe que é proibido conversar sobre informações criminais. – Ela tira notas disso.
- O garoto me conta tudo desde a morte da mãe, acredite em mim, sou como um pai. Só não sei por que ele faria isso com Florence, sinceramente.
- Você acredita que James Blaike é o assassino de Florence Klum? – A pergunta sai como uma faca da boca de , ela nunca imaginou ouvir isso da própria voz, o pior era não acreditar no que estava dizendo.
Peter parecia pouco convencido ao ouvir as perguntas, seus olhos não paravam de soltar lágrimas e seus pés batiam freneticamente contra o chão. A cabeça do homem balança em sinal negativo e a mulher percebe que, assim como ela, ele se nega a acreditar que o loiro era um assassino. Assim que o interrogado deixa a sala, pede para que Denna continue com as perguntas, a morena se sentia extremamente envolvida com a primeira vítima, mas não sabia se abandonar o caso em menos de um dia afetaria seu currículo exemplar.
- John Blaike, 57 anos, acusado de homicídio qualificado, vitima Melinda Blaike.
- Vejo que já passou por isso.
Denna se sai melhor que de forma gritante.
– Sei que quer sair logo daqui.
- Certo.
- Onde você estava na última noite?
- Em casa com Lara e Margaret.
- Onde estava por volta de uma da manhã? – o homem hesita em responder, a agente faz anotações.
- Tive que resolver um compromisso.
- Ficou a mais de um quilômetro da casa?
- Não passei da calçada.
- Por quanto tempo ficou do lado de fora?
- Cerca de vinte minutos, conversando com Blaike.
Todos os ouvintes procuram entender o que está acontecendo. Joe Bart faz um sinal negativo e procura pelo agente Blaike dentre os presentes, a principal dúvida do homem é saber se era um investigador ou um assassino. Vê ao longe a silhueta do rapaz surgir pelo corredor, em menos de cinco minutos os passos paralisam em frente ao vidro, o garoto cerra os olhos e analisa cada movimento do pai.
- O que aconteceu quando entrou em casa? Detalhadamente.
- Entrei e um vento frio me incomodava, a porta da varanda estava aberta e a luz da cozinha acesa, caminhei ate lá e... – no encontro de olhares, Denna analisa e confirma que o homem diz a verdade, também sente que os olhos estão tristes e sonolentos, por mais que exteriormente John não demonstre remorso. – Lara estava daquele modo. - Ja fui detetive. – A agente percebe de onde Blaike aderiu o sorriso cínico. – Sei como me comportar.
- Tinha alguma ligação com Florence Klum?
- Oras. – Ele coloca os bracos atrás do pescoço. – Eu era o sogro dela, acredito que o único. Se meu filho não tiver conseguido outra família.
altera o humor e dá um soco na parede, por pouco não transforma o vidro em cacos. Todas as veias de seus braços estão à vista e os olhos ficam vermelhos como nunca, nada se comparava à vontade de ver o pai morar na cadeia até o último dia de sua vida, nem que fosse ao lado do próprio filho.
- Eu fui o melhor detetive deste país, sem falsa modéstia. – John adere uma nova posição. – Vocês verão me acusar de todas as formas possíveis e encontrar todas as evidências possíveis para me culpar, quero que acreditem na verdade e não no ódio de um garoto mimado.
Aquele foi o momento em que o jogo inteiro mudava. Blaike não acreditava que o pai estava pedindo para que o afastassem do caso, seus passos largos o levam atá a sala de máquinas, a porta sai do batente no momento em que é fechada violentamente. Um grito de raiva ecoa pelo andar e , que assiste tudo, vê o riso no rosto de John sabendo deixou o filho nos nervos. A mulher tira os saltos e corre até onde o parceiro se encontra. É fácil ouvir barulhos de pequenos chutes dentro da sala abafada, ela empurra e porta, agora só encostada, e o agente está sentado no chão com as mãos arrancando o próprio cabelo.
- Blaike. – Ela usa a voz mais calma, que sabia ser a preferida do rapaz. – Blaike. – Pela primeira vez sente medo do homem, ele tem o nariz e olhos extremamente vermelhos, morde os lábios de modo que sai um pouco de sangue a cada dentada e um suor inexplicável desce pelo pescoço exaltado.
- Voce é uma droga . – Ele se levanta e ela da um passo para trás. – Eu nunca serei capaz de te machucar, por isso você é uma droga.
A mulher sempre soube do desejo que Blaike nutria por ela, no começo as cantadas não existiam, já que a jovem se casou cedo com um empresário da região. Os olhares eram tão discretos a ponto da mulher duvidar se ele estaria encarando-a ou apenas tentando criar coragem para puxar assunto. Quando a depressão do marido começou, tudo parecia afetá-la diretamente, as brigas em casa eram cada vez mais constantes e sentia falta de carinho, compreensão. Foi neste momento que a amizade dela com começou, os dois trabalhavam sempre juntos e as investigações deixaram de ser entediantes e passaram a ser divertidas, Blaike frequentava os almoços de domingo na casa de e um laço familiar incluiu o marido doente. Todos sentiam que isso era o que faltava. precisava de alguém que o faria se sentir vivo, precisava de alguém que a faria viver. Isso aconteceu até o dia do suicídio do marido. O mundo havia acabado para , como poderia viver sem estar completa? A solução imediata foi Blaike, o homem dormia no sofá de sua casa todos os dias durante os dois meses seguintes, os dois conversavam sobre a morte 24h por dia e a mulher ouvia todas as noites o quanto a morte da mãe machucou , ambos sentiam o que era morrer sem ao menos ter morrido. O foco se transferiu para o trabalho, todos os casos em que trabalhavam juntos era fechado com chave de ouro, eles tinham todo tipo de mérito no departamento e chegavam a receber milhões por investigações particulares. Completaram o desprovido espaço de amor com o trabalho.
- Se acalme. – As mãos delicadas cobrem o rosto do homem, como sempre fazia nas noites do passado.
- Ele quer colocar a droga da culpa em mim – as palavras são ditas de forma seca. – De novo.
- Se você sabe que não foi você. – Eles se abraçam. – Então nada mais importa.
- Você deve ter sido a primeira a perceber. – Ele afasta o próprio corpo de forma brusca, nunca havia se soltado da mulher. – Esse caso não é como os outros, . – o corpo de Blaike não fica parado, ele se move como se estivesse ficando louco. – Minha mãe, meu pai, Florence. Vocês vão encontrar minhas digitais e eu vou preso.
- Suas digitais?
- Droga, . – Ele coloca as mãos inquietas no pescoço da garota, ela não hesita pois tem medo de se machucar. – Eu estive no bar de Peter, encostei em Florence e Deus sabe que fui o último. Eu estive com Margaret, isso fez com que todos me acusem, ela me encobriu durante a confissão. Droga. – Os lábios do garoto tremem freneticamente, ele dá voltas curtas no espaço pequeno e tenta pensar em uma saída.
- Só eu posso te afastar do caso. – A porta é desencostada. – E você vai continuar nele até que eu duvide do que diz.
- Não posso investigar se eu for um suspeito – finalmente o corpo se acalma.
- Não vou deixar que você seja um suspeito, te devo uma – ela tenta sorrir, mas não consegue.
- Se fizer isso estará me encobrindo.
- Ainda acredito em você, assim como você acreditou em mim.
Como em todas as outras vezes a conexão entre os dois é visível, os olhos focam nos lábios da mulher e ele mal sabe o que faria se não tivesse a certeza de que seria ignorado. sabe que pode confiar todos os seus problemas à e isso é o que mais importa neste momento. Isso faz com que ele se apaixone cada dia mais sem ao menos terem se beijado, faz também com que ele tenha medo de tentar alguma coisa e decepcioná-la de qualquer forma, a garota era a única coisa viva que ele amava.
- , precisamos conversar – Joe Bart interrompe o momento que já aconteceu tantas vezes.
- Amanhã de manhã. – Ela confere o relógio no celular. – Para ser mais precisa, em três horas, quando o Sol nascer.
- Quero a perícia no bar. – se segura para não gritar. – Denna na casa de Margaret, preciso de todas as digitais, inclusive as minhas.
Joe não se surpreende com o pedido e os deixa a sós, a dupla caminha para o lado contrário do corredor e encontram Antony na sala de computação.
- Vou mandar por e-mail para vocês com tudo que sei sobre Florence e o pai, John e Lara.
- Também quero os dados de Margaret.
- Sim senhor. – Antony ajeita o óculos no nariz e volta o rosto às brilhantes telas disponíveis. – Vão sair agora?
- Voltamos rápido. – A mulher sorri para o funcionário. – Alguém precisa esfriar a cabeça. – Risos fracos são trocados.
A porta do elevador espera por eles, o dedo longo de Blaike aperta o botão do subsolo e nenhuma palavra é trocada durante o percurso. Na garagem apenas os carros dos dois ocupam vagas, caminha junto a ate o X6 e interrompe o homem de entrar pela porta de motorista.
- Não vou deixar que dirija nessa situação.
- Se preocupa dessa forma? Eu tenho certeza de que eu passando mal dirijo muito melhor que você no seu melhor dia.
- Seja mais feminista. – Ela arranca a chave das mãos do rapaz e entra no carro. – Você só pode estar de brincadeira.
- O que foi?
Ambos encaram uma mecha de cabelo ruivo amarrada ao volante, os olhos de estão tão assustados quanto os da mulher, porém uma certa desconfiança se forma no cérebro feminino.


Capítulo 4 - Jason Welch


Uma foto de está ligada com elástico à imagens de ambas as vítimas, a mecha de cabelo ruivo recém encontrada. A ligação que tem com os casos e muitas suposições feitas pelo próprio suspeito, ansiava a vontade de se livrar das acusações que viriam cedo ou tarde. Ao seu lado a parceira de investigações toma o segundo copo de café e Antony confere se todas as informações presentes estão corretas, o jovem vez ou outra encara o próprio chefe e tenta entender a que ponto quer chegar com toda essa bagunça, na cabeça esperta ele tem Blaike como culpado.
Denna e Ana entram na sala com a perícia das duas cenas completa. “Banho de sangue”, elas definiram ambas as cenas, levando em consideração que o assassino teria ficado encharcado nos crimes e levaria horas para tirar a pigmentação vermelha do próprio corpo, permanecendo entre as unhas por dias e até mesmo no couro cabeludo. As pegadas na primeira cena eram de tamanho 44, totalmente compatível ao pé de John Blaike, e ao mesmo tempo possíveis marcas do sapatos feitos por encomenda de , que calça 43.
- O que justifica o sumiço dos dedos? ,br> - Fetiche? – Ana argumenta e a palavra é escrita no quadro.
- Recordação?
- Interesse?
- Curiosidade? – Palavras não param de aparecer e os chefes do caso colocam-as lado a lado, tentando encontrar uma ligação.
- Significado – sussurra, algo pouco comum para ele. – Me dêem significados do que podemos fazer com dedos, rápido. – Suas mãos entram em contato com a gelada mesa de blindex, deixando os dedos esbranquiçados, com falta de sangue.
- Digitar? - Nao é algo bom para que escutemos de sua voz, meu bem – se manifesta e todos riem.
- Encontrei algo. – Antony se levanta e conecta o próprio computador ao projetor. – Podem ser algo como os planetas, cada planeta tem uma função ou algo assim.
- Acho que é muito difícil para compreendermos, quem quer que esteja por trás disso está pensando em algo mais simples.
- Como sabe disso? – uma das mulheres pergunta e ele pensa antes de responder.
- Os cortes na jugular por exemplo. – Blaike aponta para as fotos dos crimes. – Foram feitos de maneira desorganizada, ele não tem experiência com assassinatos e consequentemente não tem tempo de pensar em algo tão elaborado.
Ana é a única novata no grupo, que agora substitui Margaret. O olhar da garota parece fascinado ao ver o modo como trabalha. Todos que já tiveram o mérito de dividir um caso com o agente sentiram na pele o que era estar ao lado de alguém realmente bom no faz, o de olhos sempre parecia pensar no próximo passo, enquanto os outros queriam decifrar a ordem que os últimos passos aconteceram. A novata vê o modo como o olhar está sempre vago, buscando por alguma informação que escaparam e tirando notas da mais simples vírgula. Segundo ela, ele trabalha com hipóteses. Ela não desconfia por um segundo da inocência do chefe, em vista que ele parece tão apavorado quanto os outros para descobrir o que acontece. A garota sente também o quanto ele e trabalham com as expressões faciais, mantendo conversa que nenhum dos presentes na sala conseguiriam entender, nem mesmo Antony que é o mais esperto.
- Caso vocês tenham perdido algumas aulas na faculdade. – Blaike alarga a gravata que porta desde o começo do dia. – Os assassinos são divididos em duas categorias: organizados e desorganizados, estamos claramente trabalhando com um desorganizado e isso torna o caso mais fácil pois eles são péssimos em camuflagem.
- Tivemos alguma ordem entre os dedos? – Antony digita rápido sobre o teclado prateado.
- Mindinho de Lara, anelar de Florence. – O loiro engole seco ao pronunciar o nome da ex amante.
- Ok, temos uma sequência – Denna confirma. – Caso mais alguém morra sentiremos falta do dedo indicador.
- Preciso do significado...
- Encontramos algo – Joe Bart invade a reunião com um pacote de evidências sobre as mãos, ele entrega diretamente a , quem todos sabem ser sua funcionária preferida.
A garota demora entender o que é, já que pela quantidade de líquido vermelho parece ter sido retirado do banco de órgãos de Nova York. Quando força a vista sente um frio gelar a espinha e fecha os olhos, entregando para o que quer que fosse. O homem pega com cuidado e é mais rápido em descobrir o que se encontra no meio de tanto sangue: a aliança de noivado de , a qual ela colocara no dedo do marido antes que ele fosse enterrado, na última vez que viram o rosto sem vida.
- Como conseguiram isso? – A morena fica apavorada e seu parceiro faz anotações no quadro.
- Estava no bolso de Florence junto à uma passagem de trem para o centro, onde fica nosso escritório – Joe confirma o que disse ao ler os papéis amarelados.
- Estava tao obvio – Antony, que parecia ausente dos últimos momentos, exclama colocando a imagem no projetor. O desenho de uma mão tem setas apontando para cada um dos cinco dedos, as legendas estão em chinês e o garoto se levanta para explicar o que descobriu. Ele tira a jaqueta alaranjada que o cobria durante todo o dia e revela o braço tatuado, pouco convencional em cargos importantes como esse.
- Ok, temos aqui os cinco dedos e encontrei um site coreano que justifica a maneira simples que Blaike mencionou. – Ele prende os longos cabelos com ajuda de uma caneta. – Os polegares representam os pais, os indicadores os irmãos, o médio equivale a você mesmo, no caso de Florence o anular representa o cônjugue e no caso de Lara o mindinho representa os filhos.
- O que faz todo sentido já que Florence estava com uma aliança no bolso e Lara tinha Margaret como filha.
- Está querendo dizer que mataram Lara para ferir Margaret? – Blaike pergunta ao mais novo.
- E mataram Florence para ferir você – Joe argumenta encostado no batente da porta e tem de resposta uma leve gargalhada.
- Tinha planos com ela? – pergunta indiferente. – E com minha aliança?
- Por Deus – ele se irrita. – Eu nunca violaria aquele túmulo e nunca me casaria com uma garota de vinte anos.
- Entao o que a aliança fazia com a menina?
- Alguém pode ter colocado lá, eu não sei. – As mãos do agente vão até a cabeça e ele procura motivos para o objeto ter parado lá.
- Quero pedir as digitais do anel – aponta para Joe, sem observá-lo. - , quero te interrogar. – Os olhos se arregalam e todos percebem a pupila dilatada do rapaz. – Denna e Ana irão me acompanhar até o cemitério às dez da manha, vão para casa descansar um pouco e estejam prontas quando eu quiser que estejam. – Todos afirmam com a cabeça e deixam a sala.
- Antony – chama pelo garoto que está do lado de fora. – Quero todas as imagens de câmeras do bar.

O homem não sabe o que se passa por sua cabeça. Tinha cometido o erro de deixar desconfiar de sua inocência e sem ninguém para defendê-lo estaria perdido, todas as provas o incriminariam e o depoimento de Peter junto às declarações do próprio pai iriam contra ele no tribunal. O homem sente que deve descobrir a verdade antes que seja tarde e sabe que precisa reconquistar a confiança da parceira, se isso não acontecesse todo o caso estaria perdido. Joe Bart se pergunta os motivos para nao ter afastado do caso, ele era de longe o melhor detetive mas também era o principal suspeito. A aliança encontrada com a garota deixava o caso ainda mais intrigante e sua cabeça tentava encontrar um novo suspeito, nao acreditava que era capaz de fazer isso, mas sabia que sua presença nas investigações poderia mudar o destino do verdadeiro assassino.
- Fale tudo o que sabe olhando para mim, no fundo dos meus olhos Blaike. – O casal não está na sala de interrogações, estão na sala da mulher em um ambiente extremamente mais confortável. A câmera não deixa de fazer com que ele fique tenso e precise pensar um pouco antes de declarar:
- Eu estive com Margaret na noite do assassinato de Lara, fui embora antes de acontecer e posso provar isso com as imagens da garagem do meu prédio. – Eles assentem. – Vim direto pra cá e passamos toda a tarde juntos. Fui visitar Margaret no mesmo momento que você e depois fui ao bar de Peter, conversei com Florence. – Ele respira fundo. – Nos beijamos mesmo tendo terminado há meses, eu não sentia falta dela. Não senti até descobrir que estava morta.
- Queria se casar com ela?
- Não, de forma alguma.
- Ela mencionou casamento alguma vez?
- Nunca, falava apenas sobre a faculdade.
- Onde conseguiu o anel?
- Está me acusando? – Ele ri e sabe que não é capaz de manter a pose com . – Juro que não fui eu, eu não matei nenhuma dessas mulheres, você mais do que ninguém sabe que abomino o tipo de homem que ergue o dedo para uma mulher.
- Você tem motivos para não gostar de Lara Palmer?
- Todos os motivos. – A agente estranha tamanha autenticidade. – Ela assassinou minha mãe e nao levou culpa por isso, mas eu nunca ficaria feliz com a morte dela – mente, pela primeira vez em toda sua vida para .
- Encerramos aqui. – Ela aperta o botão de desligar e o homem relaxa as costas.
Os dois se encaram por longos minutos, o tempo parece não passar enquanto isso ocorre. tenta entender o que se passa na cabeça do rapaz e se pergunta como pôde desconfiar por um segundo, seus pensamentos femininos sobressaem os profissionais e ela vê o modo como o maxilar de é demarcado, vê também olhos que nunca lhe revelam nada e o perfume do homem a deixa extasiada, como se quisesse colocar o nariz sobre seu pescoço. A barba cresce gradativamente e de modo desregulado, fazia tempo que ele não se preocupava com a aparência, o que esquentava o interior de imediatamente. Na cabeça de Blaike ele se sente julgado pelos olhos castanhos, vê que tudo que a parceira pensa é no ódio que ele sente de Lara e tenta recriar a cena do crime com ele sendo o assassino. se sente mal por saber que a mulher que ama o acha repugnante e capaz de ter feito algo tão cruel, ele engole seco e quebra o contato visual, não querendo sentir o desgosto que sai de seus olhos.
- Ainda acredito em você – a voz feminina é ouvida antes que sua portadora deixe a sala escura.
Blaike observa as prateleiras repletas de fotos da família da parceira. A mãe ele conhecia bem; o ex marido aparecia apenas em uma, os dois sorriam no dia do casamento. Joe Bart estava em várias delas, entregando prêmios pela boa colocação da mulher, em uma delas Margaret tingia o cabelo de vermelho ao lado de , as duas estavam ainda mais jovens, nada mais que dezoito anos. Os olhos analisam cada centímetro da imagem, nem mesmo ele sabia o que se passava por sua cabeça.

caminha ao lado das outras mulheres da equipe, estão em frente ao cemitério onde o corpo do marido foi enterrado. A última vez que visitara o lugar foi há exatos três anos, quando o luto ainda remoía todas as suas partes. O coveiro reconhece sua visitante, a classificara como viúva mais contida que colocou os pés ali. Ele se aproxima de modo desajeitado, carregando uma enxada nas costas. Denna ergue o distintivo e ele nem ao menos confere se é legítimo, deixa que elas entrem e as leva ao túmulo desejado.
engole seco ao ver o nome do marido talhado no mármore, arruma os óculos escuros diante os olhos e espera para que abram o túmulo.
- Nao esperava encontrá-la nessa situação – o coveiro termina o trabalho e ela recusa o aperto de mãos.
- Alguém veio aqui? Exatamente neste lugar?
- Depois que a senhora o visitou no aniversário de morte eu não me lembro de nada.
- Aniversário de morte?
- Sim, no último mês.
- No ultimo mês você trabalhava em um caso em Manhattan – Ana confirma ao conferir os itinerários.
- Passei todo o mês fora, do dia primeiro ao dia trinta e um. – A viúva morde o próprio lábio, pensativa.
- Tem certeza de que era uma mulher? – Denna faz a pergunta que todas esperavam.
- Estava de calça de moletom e jaqueta, imaginei que fosse a senhora – ele diz a verdade.
- Foi durante o dia? – Uma das agentes estava com o gravador ligado desde que chegaram.
- No escurecer, ficou até as nove da noite.
- – Denna se agacha e coloca as conhecidas luvas cirúrgicas. – Tem um bilhete em seu nome.
- O quê? – A mulher fica perplexa, nunca se envolveu em um caso que trabalhou.
- Aqui está escrito, em letra de forma, que tudo vai ficar vermelho.
- Vermelho? – Ana se pergunta e aproxima o corpo do defunto. Ela nao encontra nada anormal, o corpo nao tem modificações diferentes das que devem estar presentes - Tem seu nome. – A parceira segura o papel no alto e mostra para a chefe, que permanecia de costas para a cena. – Para , tudo vai ficar vermelho.
- Obrigada Jared. – A chefe aterrorizada coloca a mão sobre seu ombro e evita encarar o corpo do marido, já decomposto.
- Garotas, quero que voltem ao escritório e façam relatórios. – A agente não sabe por onde começar. – Vou passar em casa e apareço por lá em uma hora, liguem para Blaike e me mandem fotos do bilhete.
Ela corre até o carro sem uma despedida mais elabora, nunca se sentiu confortável em visitar o túmulo do marido e agora os momentos seriam ainda mais tensos, sabendo que alguém manipulava sua vida pessoal. O Audi faz o caminho até o Hudson Street em pouco tempo, não existe trânsito durante a manhã na metrópole.

As chaves de casa estão entre os dedos no momento em que o elevador mostra o hall decorado com flores artificiais, era difícil encontrar tempo para manter algo vivo no apartamento. Sua paranóia começa, observa todos os cantos para ter certeza de que tudo está como deixou. Mal sabe ela se as alucinações ocorrem pelo fato de estar há 24 horas acordada ou se são consequência dos últimos acontecimentos. Corre até uma prateleira de remédios que mantém trancada, morreria de vergonha se sua família soubesse que não tem capacidade de controlar a própria mente, coloca dois comprimidos em baixo da língua e deita no sofá esperando que façam efeito.
Todos imaginam que a mulher viva como a maioria dos detetives, em lugares escuros e abafados, com poucos móveis e uma mala sempre pronta para casos de emergências. A parte da mala é verdade, as outras são desconsideradas ao verem que seu duplex tem largas paredes de blindex, deixando que a luz do Sol ou o brilho da cidade sempre mantenham o lugar bem iluminado, nos piores dias cortinas grossas de camurça cobrem qualquer oportunidade de contato com Nova York.
Assim que abre os olhos, pega o notebook deixado sobre a mesa de centro da sala, ele está aberto na página que deixara antes de ir para o escritório na noite anterior. É a página de inscrição em um curso de culinária, a única coisa que a manteria ocupada nos dias sem trabalho. Mesmo sabendo que tudo que pesquisar cai no banco de dados do FBI o nome de é digitado com pressa, o homem não mantinha nenhuma rede social, as considerava perda de tempo. As únicas informações são manchetes de jornais nacionais e internacionais, ela aperta o enter na última notícia publicada, meia hora atrás.

Vitima, assassino ou investigador? É o que Nova York se pergunta.

Blaike, 30 anos, é o detetive mais conhecido de nosso país. Seus casos ao lado de Arnolds são solucionados com mérito e isso nos leva a questionar a atual situação do casal. Eles investigam o caso de Lara Palmer – madrasta de – conectado ao caso de Florence Klum – amante do rapaz – e, caso uma terceira vítima do mesmo assassino apareça, o mesmo se encontra na zona de serial killers. Faz tempo que a América não abriga um desses.
O que nos choca é o fato do agente ser um dos principais suspeitos, tendo motivos para assassinar as duas vítimas sabendo que sairá ileso, assim como o próprio pai, John Blaike, saiu anos atrás.
Matéria por Jason Welch, para The Times.


A garota pega o celular no mesmo momento, sabe que o parceiro ficará nervoso quando ler a matéria. O número que sabe de cabeça dispensa a ida à agenda de contatos, em menos de um toque ela ouve uma voz rouca como quem acaba de acordar.
- Está tudo bem? – Ele atende realmente preocupado. – Fiquei sabendo do...
- Quero saber de você – ela afirma e ouve uma respiração pesada.
- Eu li a matéria de Jason Babaca Welch – o comentário arranca um riso fraco da agente.
- Ele nunca gostou de você.
- Pelo menos disse que resolvemos nossos casos com méritos.
- Não está nervoso? – a mulher quer uma confirmação.
- Li a notícia, dei uns gritos. – Ela reconhece que ele dá um de seus sorrisos típicos. – Caí no sono na mesa do escritório.
- Você quer ir até a casa de seu pai? Investigar...
- Elementar, minha cara Sherlock – a garota ri ao ouvir a frase.
- Eu aceitaria a referência caso tivesse sido pronunciada de modo correto.
- Como? – ele indaga perverso.
- Elementar meu caro Watson – a ligação cai antes que possa desligar.
Após um banho de água fria, a chefe dispensa o uso de maquiagem, coloca uma calça jeans e camisa social, acompanhada com um casaco vermelho. Levaria a sério o bilhete do assassino, prepara uma mochila com outro conjunto de roupas e remédios fundamentais, não saberia quando voltaria a dormir em casa. Passa pela cozinha pegando a última maçã que abastecia a geladeira.

A porta se encontra aberta com uma grande coroa de flores posta sobre a poltrona amarelada. Todas as cortinas esvoaçam conforme a força do vento invade a casa. Margaret está ao lado do filho fazendo a lição de casa, o garoto se levanta ao ver as expressões sérias dos detetives que adentram o local, hesita em dar um abraço na "Tia " ou cumprimentar o novo amigo da mãe. Em segundos pega um pedaço de biscoito posto para as visitas e sobe as escadas em direção ao quarto. Os adultos ouvem a alta batida da porta e a reprovação de Margaret.
- Não esperava encontrar vocês tão cedo. – Ela abraça , que faz esforço para não cair no choro.
- Viemos conversar com John – ergue a mão para que possa apertá-la.
- Ele está no quarto, não sai de lá desde que tudo aconteceu.
- Você parece bem melhor – a amiga diz, sem ironias.
- Tenho que estar melhor, eu perdi minha mãe e sei o tamanho da dor, não quero que meu filho passe por isso.
Todos afirmam com a cabeça.
- Mais tarde venho conversar com você, Maggie. – coloca a mão sobre o ombro ao lado. – E entregar uma coisa deliciosa para Vitor – a voz sai mais alta e brincalhona, tentando chamar a atenção do garoto.
- Infelizmente vou levá-lo até um acampamento, faremos boas duas horas de viagem e volto sozinha.
- Gostaria de poder ir, mas será bom para que esfriem a cabeça.
- Com certeza, esperem aqui, vou chamar John.
caminha até a cozinha e abre a geladeira casualmente, observa mais uma vez a área lateral e se pergunta o porque de ainda não terem mudado de casa, seu passos curtos o levam até a área da piscina e em sua mente tenta recriar a cena do crime. Há muitas paredes no caminho, o que tornaria quase impossível carregar o corpo para qualquer lugar sem deixar rastros de sangue. Ele sabe que tudo que podia ser feito, foi feito. John entra na sala e está realmente aborrecido, seu rosto porta olheiras maiores que as de qualquer um ali, e isso mudara desde sua interrogação, onde parecia razoavelmente bem. Seu corpo se senta em uma banco devagar, está do outro lado da bancada bebendo água. O loiro finge não estar ali, apenas percebe o olhar do pai sobre ele, de modo sugestivo.
- Olá John. – A mulher e ele apertam as mãos. Todos ouvem o som das botas do agente contra o piso caminharem até a piscina, ele se senta por lá e observa o céu nublado desde o começo do dia.
- Vim falar sobre Lara, se não se importa.
- Não quero irritar ninguém, de qualquer forma. – Ele lança olhares à Maggie.
- Você assassinou sua ex mulher, porém não confessou.
- Tento fazer com que acreditem que não fui eu.
- É difícil John, tudo comprova contra você.
- Sei.
- Tem algum suspeito em relação aos crimes?
- . – Após o nome ser dito, ouvem uma gargalhada, ignora.
- Acredita que isso tenha alguma relação com o suspeito? – A agente entrega à ele um papel em saco plástico, o bilhete deixado no túmulo do marido.
- Não sei, eu teria de investigar. – Ambos riem.
- Infelizmente não pode mais exercer o cargo, de qualquer forma o que faz pensar que foi seu filho?
- Florence queria se casar, o garoto foge de anéis desde que nasceu. Ele tinha motivos que você sabe quais são para assassinar Lara.
- Então por que ele não assassinou o senhor?
- Se lembra daqueles anos? – o homem pergunta e uma interrogação surge na testa da morena. – Ele teve a chance de me condenar à pena de morte e não o fez. Ainda sente algo pelo próprio pai.

Os dois deixam a casa em pouco tempo, entram no carro de já que o de está em analise, ela coloca as mãos sobre o volante e pensa em perguntar algo à Blaike, desiste sabendo das respostas curtas e mal educadas que receberia. Passam no supermercado antes de irem ao escritório, alguns jornalistas amadores se desesperam por curtas palavras e tudo que os dois mais temem é a pergunta do que aconteceria se descobrissem um terceiro caso.
- Vou pegar algumas coisas no porta malas, suba e convoque uma reunião – ela diz já na garagem do subsolo.
- Eu te ofereceria ajuda, mas acabei com meus braços.
- Não preciso.
O homem corre pelos degraus sem se importar com , ela respira fundo e abre o carro em busca de um sapato confortável, seu corpo fica gelado ao ver um vulto passar pela sua direita.
- ? – Não obtem respostas e tira os saltos dos pés.
Mais uma vez sente algo próximo e respira fundo três vezes, como seu psicólogo lhe ensinou.
- Tem alguém? – Jura para si mesma ser a última tentativa, acredita que se preguntar mais uma vez obterá respostas desagradáveis. – Não brinquem comigo.
Sente algo tocar seu ombro e antes que possa gritar, vira o rosto à 180 graus. No chão está um papel amassado, que definitivamente não estava ali quando havia chegado, pega o mesmo com cuidado e olha em volta. Seria isso algo de sua imaginação? Desdobra o papel rapidamente e um numero três está desenhado, não entende o que quer dizer e segue seu caminho até a própria sala, deixando o papel na primeira lixeira que encontra.


Capítulo 5 - Jade Edwards


A noite chega tão rápido quanto as últimas horas se passaram, a agente vira de um lado para o outro na cama tentando encontrar um modo de se livrar dos pesadelos que a assombram pela primeira vez que fecha os olhos. Os travesseiros tem lençóis de seda encharcados de suor, mal sabe ela se deve tomar um remédio para dormir ou voltar ao trabalho do qual o chefe a dispensara. Coloca os delicados pés no chão e abre a cortina do quarto, muitos carros circulam pela rua de sua casa e por mais estranho que pareça, isso a conforta. Faz com que se sinta mais segura.
No pesadelo Blaike corre atrás de Lara com uma faca, parece estranho mas é o que acontece. O homem fica ofegante e a mulher grita socorro por Margaret, que nunca aparece. Isso se repete nas três vezes que ela tenta dormir, até que desiste e faz uma ligação para quem a assombra. O telefone chama duas vezes e cai na caixa de mensagens, ela se desespera e ouve a campainha tocar.
Caminha atá lá com o 911 digitado, abre a porta e não vê ninguém, nem ao lado do vaso de plantas, o único lugar que poderiam se esconder. Engole seco e fecha a porta, trancando dos dois modos possíveis. Ouve outras duas batidas e o coração vai até a boca. Acende a luz e liga para , onde estava ele quando precisava?
Cada batida é mais forte e ela sente o estado de paranóia surgir, a cabeça se confunde mais uma vez e o suor se torna gelado, escorrendo do topo da cabeça até o busto.
- ? – Do outro lado da linha a voz está falha.
- Está ocupado? – ela pergunta.
- Vim correr um pouco, precisa de ajuda?
- Pode vir até meu apartamento? Preciso conversar com alguém.
- Chego em dez minutos.
- Não desligue – pede, sem querer que ele pergunte o porquê.
- Quer ouvir o som da minha respiração? – Uma risada fraca é ouvida.
- Preciso ter alguém na linha – Um silêncio se estabelece.
- Estou na sua rua, se quer saber.
- Corre sempre perto de mim?
- Sempre para perto de você.
A mulher sorri boba, não porque quer, mas porque é involuntário. No momento em que ouve a frase, lança o próprio olhar ao espelho, o reflexo a assusta. Passa a mão pelos longos cabelos pretos e pensa em se arrumar para quando chegar. Se policia ao pensar que não tem tempo para homens, ela e o agente não passam de amigos, colegas de trabalho.
- Seu porteiro me odeia. – O comentário é seguido do toque na campainha.
- Pode subir – ela diz ao interfone e ao celular ao mesmo tempo.
- Entrando no elevador. – Ela ouve batidas na porta.
- ?
- Estou no primeiro andar, ninguém te mandou morar tão alto.
- Tem alguém na minha porta – ela afirma e se aproxima do olho mágico, nada.
- Decimo quinto andar. – No elevador o homem passa a mão pelas pernas. - Cheguei, não tem ninguém aqui.
Ela abre a porta e encerram a ligação. A mulher se joga nos braços do rapaz como não fazia há anos, ele estranha a atitude mas passa os braços por sua cintura, sentindo que o frágil corpo treme de medo e soa frio.
- Sei que não foi você – sua voz é um sussurro. – Recebi outro bilhete.
- Por que não contou antes? – O lado profissional fala mais alto.
- Acho que estão atrás de mim.
- Quem?
- Quem quer que esteja fazendo isso...
- O que tinha escrito no bilhete?
- O numero três.
- . – Ele leva as mãos à cabeça e adentra o apartamento. – São provas.
- Claro, imaginei que fosse uma terceira vítima, mas por quê?
- . – Ele está desapontado em busca de uma cerveja no freezer. – Estão atrás de nós dois.
- O que quer dizer com isso?
- Hoje quando entrei em minha sala, o nome de Jade estava no topo dos documentos.
- Jade?
- Jade Edwards, a garota envolvida no caso da Califórnia.
- Aquela com que você se envolveu no caso da Califórnia – a mulher o corrige, se lembrando do breve romance entre ele e uma das suspeitas.
- Não me leve a mal. – Ele ri e tira o celular do bolso. – Aqui está a foto do bilhete, não encontraram digitais e Antony parece convencido que sou o autor de toda essa merda.
- É melhor conseguir um advogado – a amiga informa.
- Droga.
- Ele definitivamente te conhece, conhecia seu pai, suas namoradas, sua família.
- Tento procurar alguém para quem fiz mal.
- O que não é difícil encontrar. – Ela recebe um soco fraco no braço descoberto e logo sobe as mangas do hobby que cobre a roupa íntima.
- O cabelo, os bilhetes, as vítimas. O que ele está tentando?
- Se vingar?
- Pode ser meu pai – tenta se convencer.
- Ele tem motivos, mas estava muito mal hoje.
- Teatro.
- É engraçado o modo como vocês se julgam pelas costas.
- Vim aqui para você brigar comigo? – Uma de suas sobrancelhas se levanta.
- Veio aqui porque estou com medo. – A mulher se deita no sofá, deixando as pernas à vista do amigo.
- Não posso dizer para se afastar do caso. – Ele força o corpo à ficar distante. – E me sinto um idiota em dizer que tem que tomar seus remédios para voltar ao trabalho.
- Quando fala assim parece que eu tenho alguma doença crônica ou coisa parecida.
- Não descarte esta possibilidade – a voz masculina recebe um olhar de reprovação.
- Vamos focar no caso, se vamos passar a noite acordados temos de fazer algo útil. – A agente se levanta e tira da prateleira alta uma pasta transparente.
- Sei de outras coisas úteis para se fazer agora – o homem fala já caminhando até o escritório, ri fraco.
- Sapato 44 – Os dois engolem seco.
- Sabe qual é o meu problema? – A pergunta surge do ar. - Tudo se relaciona à mim, isso poderia ser uma investigação como qualquer outra.
- Por isso é importante te manter por perto. – Os olhos castanhos se encontram com os , causando em ambos uma espécie de êxtase.
- Os amigos por perto e os inimigos mais perto? – Ele sorri cínico.
- Somos nossos próprios inimigos. – A mulher dá uma piscadela e se concentra nos documentos.
As folhas não tem uma marca, estavam intocadas desde que Joe a chamara para o caso, lê todas as informações e por sua cabeça passam todos os homens com que poderia ter intrigas - por mais bobas que fossem. O olhar intimidador do homem sobre seu corpo não a deixa tensa, parece melhorar seu estado aflito, agora tentando exalar feminilidade. Coloca o dedo sobre a foto de Lara, exatamente na orelha de Lara, arrasta a imagem até o parceiro.
- Tem um endereço aqui. – Força a vista, tentando identificar. Tira do short de corrida o celular recém comprado, coloca o contato de Antony e é atendido em uma chamada. – Não acredito que deixaram isso passar.
- Blaike – a voz jovem ecoa pelo viva-voz.
- Pegue a foto de Lara deitada, a que pega metade do corpo – o chefe pede, ainda tentando decifrar a foto que tem em mãos.
- Ok, consegui, do que precisa?
- Amplie na orelha e você vai encontrar. – O homem espera e ouve um suspiro, sabendo que o garoto encontrou. – Me mande isso por email, é urgente.
- Más notícias. – tem as mãos na testa quando ouve. – Aqui eu tenho a data de hoje e o horário de cinco da manhã, ou seja, daqui duas horas.
- Temos algum endereço?
- California, só isso, a foto foi encaminhada.
- Avise Joe, eu e vamos pegar um voo até lá – a ligação se encerra e o casal fica confuso.
- Ele foi atrás de Jade – afirmam juntos e a mulher corre até o próprio quarto em busca de roupas.

A cabeça de está disparada, não sabe o que irá acontecer com a garota e tem certeza de que se chegarem tarde demais terão sangue derramando. Passa a mão pelo cabelo e se xinga mentalmente, pega um papel e faz uma lista de todos os casos/relacionamentos que já teve, parece ser essa a linha do assassino, exceto pelo fato de Lara, por que fizera isso com Lara? A lista passa dos quinze nomes, isso é o que lembra de imediato. Tira uma foto do papel e joga o mesmo na lixeira, devolve a garrafa de cerveja à geladeira e encontra de calça e blusa de frio, pronta para viagem, uma pequena mala está ao seu lado e ela confere a bolsa preocupada; ele não deixa de notar a respiração pesada e os pés tremendo em altos saltos vermelhos, no rosto da mulher restos de maquiagem estão ao redor dos olhos e a franja cai aos poucos, como se tivesse feito o penteado às pressas e mal soubesse para onde vai. O que não deixa de ser verdade.
O elevador já esperava no andar, ao passarem pelo porteiro ela deixa as chaves de casa na bancada. O senhor de bigode e cabelos brancos sabia que a mulher viajava muito, nunca havia se importado de checar o apartamento duas vezes por dia, como ela pedira na primeira saída que fez.
- Droga. – Ele pega o celular mais uma vez e procura um aplicativo de táxi. – Esqueci que vim sem meu carro.
- Podemos pegar o meu – ela afirma caminhando na direção contraria.
- Isso me daria mais trabalho, pegamos um taxi até meu prédio e de lá vamos para o aeroporto – concordam ao ver o carro amarelo se aproximar, a mão pintada de esmalte vermelho se ergue fazendo o motorista parar imediatamente.
- 56Leonard – a voz rouca invade os ouvidos do motorista que reconhece seus passageiros imediatamente.
- Cara, eu espero que não seja você quem está fazendo isso. – O homem de quarenta e poucos anos tem as mãos nervosas no volante, ambos ignoram o comentário e tem os olhos focados do taxímetro.
- Você pode esperar por dez minutos? – a mulher pede insegura.
- Não demorem. – Ele freia o carro em frente ao prédio e os dois saem correndo pela portaria.
Ao contrário do porteiro de , o de não estava acostumado com correrias, o morador sempre fora o tipo de pessoa que fica calmo diante qualquer problema e parece esperar que as coisas se resolvam sozinhas, Blaike só sentia a necessidade de pressa quando estava ao lado de , era como uma faísca prestes a começar o incêndio. Dentro do elevador o homem tira a camisa e o controlador das câmeras poderia esperar por uma cena interessante, se não fosse pelas portas se abrirem no mesmo momento.
A parceira fica no hall, entrara uma vez no apartamento e não recebeu aversões, apenas olhares constrangidos e respostas de maneira tímida, algo que nunca fazia, como se não quisesse sua presença lá. Não segura a vontade de esgueirar o olhar por lá, para checar como está. Um Mastiff Inglês ergue a cabeça ao ver o dono entrar, a língua salta pra fora e ele recebe um carinho na cabeça pelo homem sem camisa. não deixa de notar as costas definidas do colega, seu ponto fraco. Sem perceber morde o lábio inferior em aprovação no momento em que os olhos cruzam com os seus, um sorriso perverso surge no rosto do rapaz e ele se sente confiante, entretanto não teria tempo para fazer acontecer o que quer que pudesse acontecer.
Coloca um saco de ração ao lado do cão mas o animal não dá atenção, apenas segue o dono até uma porta que imagina ser o quarto, na sala várias latas de refrigerante estão sobre a mesa, fora isso, o apartamento parece arrumado para um homem sozinho, o sofá tem um travesseiro e uma coberta e as cortinas estão fechadas, nada é muito diferente das outras coberturas de Nova York.
- Fique quieto aí Dog. – Ele dá um beijo na testa do cachorro e a mulher derrete por dentro ao ver a ação.
O parceiro veste uma camisa preta social – que faz parte de sua coleção - e a calça jeans clara, que sabe ser a preferida de , pois ouviu da voz dela na última semana. Carrega uma mochila de couro nas costas e um notebook embaixo dos braços, o cabelo está molhado como se tivesse tomado uma ducha rápida. Fecha a porta e coloca um post-it na maçaneta, com anotações para a senhora que mantém o local arrumado.
- Preparada para cinco horas de vôo?
- Sei que podemos fazer em quatro.
Antes que percebam estão no andar térreo, correndo até o taxi.
- O aeroporto mais próximo.
- Estão fugindo do caso? – sente que o homem quer saber demais e espera por uma resposta mal educada de .
- Não – é o que ouve, nada mais. Encara o parceiro de lado, achando estranho.

Os pisos claros do aeroporto ficam amarelados enquanto o Sol fornece seu primeiro raio, muitos reconhecem o casal que corre pelos guichês em busca de um vôo imediato, na terceira tentativa conseguem um avião que já se preparava na pista, a carteira do FBI é a melhor aliada nestes momentos. Os passageiros ficam enfezados com a atitude mas são recompensados com a velocidade máxima do piloto.
Com o notebook aberto, Blaike transfere a lista para o word, percebe os olhares de sobre a tela, porém ela não pergunta nada. Ele entra no próprio perfil do FBI e vê todos os nomes de contatos mais próximos, pessoas que conversou nas últimas horas, nenhum suspeito em potencial – desconsiderando o próprio pai. Engole seco ao ver que são cinco da manhã, tira o celular do bolso e pensa em esperar dez minutos para que a notícia de morte de Jade se espalhe.
Antes de saírem ele tinha certeza de que Joe enviou uma equipe da Califórnia para o possível local do crime, mas, se o assassino deixou claro que iria matar a jovem, tinha um plano melhor que o dos investigadores, por pior que fosse confessar isso. Faltavam duas horas para pisar em terra firme e pensava o por que de não inventarem um teletransporte. A tela do celular acende a exatas 5:04, o nome do chefe é seguido da mensagem:
"Temos Jade."
Os dedos do loiro são rápidos em perguntar:
"Viva?"
"Como nunca esteve."
Bloqueia o celular tentando entender a última mensagem, ignora e fecha os olhos por alguns segundos, deveriam ter pegado um voo privado. Onde ele e estão com a cabeça?
A coca-cola gelada desce pela garganta de , finalmente havia encontrado um nome. Junior Franco, já havia sido acusado por duplo homicídio e os casos foram idênticos aos que aconteciam no presente, porém, nenhuma ligação com Blaike, isso era uma droga.
Com um chiclete na boca ela encosta as mãos sobre o ombro do parceiro, ele abre um dos olhos e sorri após se espreguiçar, se levantam antes que avião pouse e correm até a porta de saída, em minutos estão dentro do carro que os esperava na pista do aeroporto.
- Poderiam ter chegado antes...
- No avião do governo, eu sei – completa a frase do chefe. – Junior Franco pode ser um suspeito, mandei uma equipe até a casa dele.
- Imaginei que fosse fazer isso – o mais velho comenta.
- Onde está Jade? – diz o loiro realmente preocupado.
- Liberamos para que fosse para casa – com os olhos vidrados no celular, apenas o bigode tingido se mexe.
- Por que fizeram isso? – a agente se exalta e leva as mãos até a cabeça. – Tenho que ligar para ela.
- Não ligue. – A mulher coloca os dedos sobre o celular. – Isso vai ser mais um fato para te incriminar caso ela esteja morta.
- Alguém tem que ligar. – Os olhos estão fechados e a respiração pesada. – Vocês tem que ser mais inteligentes. – Um xingamento vem logo após a frase. – Sei que já passa das cinco mas se ele disse que ia matar, ele vai. Não importa como ou quando. Pensem direito! – O jovem jura para si mesmo que se o carro não estivesse em movimento deixaria os outros a sós. – Joe, aprenda a ser um chefe melhor. – Joga as costas contra o banco com força.
O motorista sobe a janela que separa a cabine dos passageiros. , acostumada com a reação do rapaz em momentos como esse, fica quieta esperando pelo sermão de Bard. Ambos se encaram e se o mais velho não soubesse como manter a calma teriam entrado em uma briga feia, é possível perceber que se agridem com olhares; como a cena de um filho emburrado com a atitude do pai.
- Margaret voltou ao caso.
- Ela nem ao menos foi chamada – ainda irritado, o agente responde.
- Você foi na casa dela chamar – a voz feminina faz com que o rapaz pense duas vezes.
- Não pensei que ela fosse aceitar. – Respira fundo. – O que eu pensei que estava fazendo?
- Me irritando? – Os olhos castanhos crescem.
- Chamando sua atenção, eu queria que focasse em outra coisa fora a morte de Lara.
- Vou ignorar isso por um tempo, temos que resolver isso logo.
- Caixa de mensagens – Joe mostra o celular com o nome da possível vítima. – Mude o trajeto para o centro da cidade. – O carro faz uma curva acentuada, jogando todos para o lado de Blaike.

7h23 – Califórnia, bairro de Tarzana, vítima Jade Edwards.
Usando o mesmo tênis surrado da noite anterior e o uniforme do emprego meio período de garçonete, a morena entra em casa ainda estressada com todos os problemas que teve de resolver na polícia. Algo relacionado aos assassinatos ocorridos em New York com o principal suspeito sendo Blaike, um antigo affair. O avô foi está fora de casa, como sempre, resolvendo negócios. Tira os sapatos e a camiseta, se jogando no largo sofá de frente para praia.
Escuta um riso nervoso em suas costas.
- Mike? – ri tímida, imaginando ser o namorado. – Pensei que não viria hoje. – Paralisa ao ver uma faca em frente ao próprio rosto. – ? – O nome surge em sua cabeça e sangue jorra de sua garganta antes que possa obter respostas.

7h56 – California, bairro de Tarzana

- Eu entro primeiro – Blaike coloca a pistola por dentro da calça e gira a maçaneta com as mãos envolvidas em um tecido.
- Por que você? – pergunta se preparando para o que viria a seguir.
- Ele é jovem , pode atirar mais rápido que nós – o mais velho adverte.
- Também sou jovem. Machistas.
- Não é hora para isso . Escutam o primeiro contato do sapato no fraco piso de madeira. A casa que conhecia de cor mudou com o passar do ano, algumas revistas espalhadas e muitas roupas separadas para lavar. As fotos nos porta retratos continuam as mesmas, ele não deixa de observar; caminha fazendo sinal para que os outros venham atrás e suspira assustado ao ver Margaret ao lado do corpo.
- Droga Margaret. – Se aproxima da mulher a cumprimentando com um aperto de mãos; que a mulher tenta transformar em um beijo no rosto. – Há quanto tempo está aqui?
- Acabei de ser avisada, assim como vocês – abraça e cumprimenta o chefe.
O homem respira fundo e pede aos céus que o corpo tenha todos os dedos, infelizmente seus pedidos não são atendidos quando vê o dedo médio, ou pelo menos o lugar vazio onde deveria estar.
- Podem nos deixar sozinhos? – o loiro pede se referindo à ele e Margaret.
- Com toda licença – a ruiva sorri fraco e acompanha o mais velho até a saída.
- A perícia está à caminho – Bard informa antes que fechem as portas.
- Vamos recriar a cena, eu sou quem quer que esteja fazendo isso. Você é Jade.
A mulher pensa em fazer alguma gracinha após a instrução, mas desiste e caminha até a porta.
- Ele entrou pela porta da frente, sabia que estava aberta.
- Ela chegou e jogou os sapatos aqui. – As unhas rosadas apontam para o canto da bancada e a mulher retira os saltos.
- Também tirou a camisa – balbucia perverso e engole seco ao que ver a seguir , que sempre fora preservada, tirar a própria blusa com naturalidade. Deixa a mostra o sutiã preto que Blaike sonhara em ver por anos. O volume de seus seios o torna inseguro, como se pudesse avançar no corpo feminino ali e agora. Mas seria rejeitado. Resolveu manter respeito pela mulher dentro dos próprios limites, usando a imaginação para se satisfazer. O homem mal percebe que fica vidrado na imagem por minutos, sem poder iniciar uma frase, fascinado com o que finalmente conseguiu, morde o lábio inferior e o motiva para que se afaste.
- Vamos pedir corpo de delito para estupro – a afirmação faz com que ele apenas concorde com a cabeça e continue o trabalho.
- Ela caiu com o rosto de frente para o chão...
- O que mostra que estava sentada no sofá – se senta em uma cadeira, já que não podem alterar as manchas de sangue ao redor do sofá.
- O sangue foi para a esquerda e as janelas estão fechadas.
- Sem ação do vento.
- Ele chegou por trás. – O timbre rouco da voz de Blaike arrepia a nuca da agente. – Acha que conversou com ela?
- Não teriam tempo para isso – a voz feminina sai falha. – Tudo aconteceu em oito minutos.
- Colocou a faca sobre o pescoço. – Os dedos gelados erguem o rosto da mulher, sem que ela hesite. – E pronto. – Pressiona o polegar com delicadeza sobre a jugular da parceira, que se deita no chão de costas para ele.
- Tirou o dedo e foi até a cozinha. – Notam os pingos de sangue em direção à uma larga bancada. – Enrolou em papel toalha, com certeza manchou o carro ou mochila. – Faz uma nota mental.
- Pode não ser um homem – diz vestida.
- Como?
- Vi o jeito que você ficou quando me viu e...
- Não me leve a mal – tenta se justificar.
- Entendo seu lado, o corpo não tem marcas de agressão. Um homem nessa situação teria ficado louco, feito coisas que com certeza passaram por sua cabeça quando me viu. – Abre as portas chamando Joe e Margaret para dentro, acompanhados de toda uma equipe.
A afirmação de deixa uma dúvida na cabeça de Blaike, com certeza um homem teria forçado a garota e deixado marcas roxas por todo seu corpo, é difícil resistir em momentos como esse, ainda mais quando se tem uma mente tão perversa. anota na própria cabeça a possibilidade de ser uma mulher, aí sim teriam inúmeras suspeitas para investigar e encontrar uma verdadeira culpada. Se assusta ao sentir o toque quente de Margaret sobre seu ombro.
- Sinto muito pelo que está acontecendo.
- Parece que querem envolver toda nossa equipe – ele sorri sem graça.
- Ou apenas uma pessoa em especial – o comentário sai de modo natural. – Temos muito o que investigar.
- Ei Maggie. – Foram poucas as vezes, fora da cama, que o homem a chamara pelo apelido. – Me avise se descobrir qualquer coisa.
- Sabe que pode contar comigo sempre. – As unhas vermelhas acariciam o rosto com barba para fazer. – E pode passar a noite comigo, se quiser.
A silhueta que desaparece é ignorada pelo rapaz, ele foca em encontrar qualquer outra mensagem no corpo de Jade e evitar que mais uma garota inocente seja assassinada. Pelos seus cálculos faltam duas garotas, assim como dois dedos.


Capítulo 6 - O Chefe


- Encontramos algo. – Margaret adentra o cubículo no qual Joe dava lições de moral em Blaike. – Por dentro do sutiã da garota temos um endereço de Nova York.
Várias fotos são lançadas sobre a mesa, mostram um papel bastante amassado, provavelmente carregado em bolsos durante dias, continha um endereço que com dez minutos de concentração descobriria quem era a próxima vítima. O loiro fica de olhos fechados e atrai a atenção de Margaret, a ruiva se perde por segundos na imagem de suas costas arqueadas e uma vontade incessável de tocá-lo se instala em seus dedos.
Blaike já havia contado à equipe sobre a lista que fazia, não queria que suspeitassem de que todos os nomes em seu bloco de notas são a sequência de quem seria a próxima assassinada. Respira fundo e tenta imaginar se o assassino leva em conta casos de apenas uma noite ou nos que ele realmente se envolveu; pensa nas garotas que conheceu na grande cidade e que podem ter ligação com o Central Park, endereço citado no bilhete.
- Precisa de ajuda? – Margaret se oferece, desistindo de seus desejos.
- Central Park? – pensa em voz alta.
- Pense bem , lá é onde a maioria dos encontros acontecem – Joe, que não se apaixona desde que tinha a idade do rapaz, dá um palpite.
- Não é lá onde corre às terças-feiras? – a mulher pergunta, tendo certeza da resposta.
- Como sabe? – Uma das sobrancelhas do mais jovem se levanta.
- Você me contou um dia desses...
- Claro – Blaike sorri cínico e em raio de segundo se lembra de quem devem proteger. – Como pude ser tão burro? Victoria Olsen, minha parceira de corridas noturnas.
- Se envolveram fisicamente? – O chefe já tem o celular em mãos.
- Você quer dizer sexo? – pergunta e recebe a afirmação. – Espero que ela tenha gostado, foram semanas maravilhosas. – A resposta jogada ao ar vem acompanhada do sorriso perverso, tudo parece ser uma deixa para que Margaret se retire.
- Preciso buscar meu filho, vamos pegar um vôo para casa em duas horas. – Respira fundo retirando as coisas da mesa. – Nos encontramos no escritório? - todos afirmam e vai apressada para fora da sala.
Uma pressão se instala na cabeça de , fica com medo de ter citado o nome errado. Pela primeira vez se sentiu amaldiçoado por ter uma vida sexual tão ativa, a ponto de não saber os nomes de suas amadas, corrige-se, amada ele tinha apenas uma. Aquela que nunca se jogaria sobre seus braços, por ser muito mulher para um moleque como ele. O que aconteceria caso não fosse Victoria? Poderia ser Brenda ou até Natalie. Uma simples afirmação pode ter mandado toda uma equipe para proteger a garota errada enquanto o assassino pode escapar e, Deus sabe quando, cometer o próximo crime. O quinto crime. Tenta manter pensamentos positivos em sua cabeça e se levanta para pegar um café, o sangue lateja forte como nunca e isso o deixa mais nervoso que o normal, algo que poucos gostam de presenciar.
Joe deixa a sala e o jovem senta na alta bancada com as informações sobre o caso de Lara - uma madrasta que fazia jus ao codinome –, tenta encontrar alguma mensagem que a pericia deixou escapar, qualquer sinal no corpo, um corte pequeno, falta de cabelo, falta de roupas ou, até mesmo... seus olhos se iluminam. Havia encontrado: não faltava nada, tinha algo a mais.
A aliança que ele reconhecia ser do casamento de , a mesma que estava no bolso de Florence e a mesma que Blaike nunca encostara as mãos. Se a aliança estava na foto em um colar atado ao pescoço de Lara, depois disso esteve no arquivo, junto a todas as outras provas. Certamente teriam nas câmeras de segurança todas as pessoas que entraram na sala de arquivo entre os dias do crime de Lara e o de Florence. Finalmente sentiu que pode solucionar o caso e sabe que isso vai acontecer mais cedo ou mais tarde.
- . – Arnolds adentra a sala no momento perfeito.
- . – Ele é mais carinhoso que o normal, atraindo a atenção da mulher. – Descobri algo, mas pode falar primeiro.
- Como sei que qualquer coisa é mais importante que o que vou te dizer agora... é melhor que eu diga primeiro. – Ela tira a folha de jornal que carregava atrás das costas, uma foto de tirada na manhã do mesmo dia mostra o melhor ângulo do rapaz, Joe Bard está logo atrás, na entrada da casa de Jade Edwards, a última vítima.
- Vou dar um palpite – usa seu timbre de voz mais masculino. – Jason Babaca Welch anda falando mais sobre mim? – ele dirige o olha à mulher, que encarava os próprios sapatos.
Como não obtém respostas corre os dedos até a página 7, que indicava ter todas as informações sobre o “assassino Blaike” ou, como meigamente apelidaram: “Ex inconformado."
- Quem diria? O New York Times fazer uma edição especial para mim. – Ergue as pernas, quase se deitando sobre a bancada. – Devo estar muito famoso.
- Os Estados Unidos e o mundo sabem quem você é.
- E, pelo que li aqui, você é minha cúmplice. – Seu riso frouxo arranca o sorriso de .
- Parceiros de crime. – Fazem um hi-five e o jovem volta a ler a matéria

Vocês ainda não viram isso!

Postei em meu blog - The Times – sobre o curioso caso que nosso “casal Sherlock” investiga. Envolve toda a família do rapaz e para você, cidadão de Nova York que acompanha minhas matérias todos os dias, acostume-se com essa minha linguagem informal durante esta matéria. Começou com a madrasta e seguiu com três de suas amantes, parece que o rapaz é um galanteador; o que acham meninas? Gostariam de se envolver com um assassino encoberto? Claro, encoberto, por que como vocês acham que ficaria a imagem do FBI ao descobrir que seu melhor agente é um ex inconformado?

É claro que o jovem não faz isso sozinho, tem ajuda de nossa American Girl, Arnolds - sua elementar Watson. O casal já foi visto várias vezes junto, discutindo em plenas luz do dia e logo depois rindo, passeando juntos pela cidade tentando entender o por que de ainda não terem tirado suas máscaras...


- Deus, não sabia que alguém era capaz de falar tanta bobeira. – O jornal vai até a lixeira logo após ser amassado.
- Sua vez de falar. – A mulher encosta na parede, bebericando o copo de suco recém preparado.
- Você sabe que tenho que falar isso. – Toda a raiva que rodeava o espírito de se transforma em compreensão. – Somos parceiros e não quero adiar o que descobri.
- Pare de enrolar, sabe muito bem que aguento qualquer coisa. O homem pigarreia após ouvir de .
- A aliança que encontramos com Florence. – Engolem seco. – Estava com Lara. – Ele se aproxima com a pasta em mãos, coloca o polegar sobre o ilustrado pescoço sangrento da mulher, com dificuldade consegue ver uma fina corrente com o anel que reconheceria à mil metros de distância.
Uma de suas mãos está sobre a boca e o copo por pouco não cai no chão, se não fossem pelas mãos de . Todos os neurônios da mulher tentam encontrar respostas para isso, tentam ligar um fato ao outro e entender o motivo de estarem atrás dela. Pelo que sabia o caso deveria envolver e suas garotas, a morena nunca fora uma delas por questões que mal ela sabia, pois tinha todas as chances do mundo. Encosta a mão sobre a cintura e sabe que não é o momento para chorar, é o momento para fazer alguma coisa, entrar no avião e correr até Nova York, pegar o maldito assassino e entender o motivo de ter tirado o anel de seu ex-marido.
Mal percebe que o braço de Blaike está em volta de sua cintura e seu rosto está contra o peito do rapaz, agradece aos céus por não ter chorado e manter uma feição confiante diante os problemas que enfrenta. O mais alto deposita um beijo quente em sua testa no momento em que Joe adentra a sala com um pigarreio.
- Com licença. – Interrompe o abraço. – O avião espera por nós, temos que sair imediatamente.
- Já tomaram conta da matéria no jornal?
- Se refere ao jornalista Jason Welch, que sempre te odiou? – pergunta o chefe. – Fizeram ligações para ele, o garoto se recusou a se desculpar publicamente, a imagem de vocês continuará manchada até que descubram quem está por trás disso.
- Vocês homens não entendem – coloca a bolsa nos ombros. – Não é um nome que está manchado, o FBI está manchado.
- Meu sobrenome nasceu manchado, queridos – vai atrás de Joe em direção à cobertura do prédio, onde o avião espera por eles.

O som das turbinas já se tornou algo comum para os três, esperam por bons dez minutos até que o som seja substituído por um ruído fraco e a alta pressão atmosférica, o casal de agentes conta ao chefe tudo que descobriu em relação à aliança e isso deixa o mais velho intrigado, também discutem sobre a possível possibilidade de uma mulher estar por trás dos crimes, algo pouco provável, porem possível.
- Se o anel estava com Lara, depois disso ele foi para o arquivo. Se esteve no arquivo, alguém teve que tirá-lo de lá e colocar no bolso de Florence – a voz rouca do mais novo é interrompida por um gole de whisky.
- Podemos conseguir as filmagens, pedi para que Antony procurasse.
- Mas mesmo assim, agentes entram e saem daquela sala o dia inteiro, seria impossível dizer quem foi. – O mais velho passa a mão pela barba. – Outra possibilidade é a entrada de um estranho no prédio, algo pouco possível na história do FBI.
- Acredito que de hoje ele não passa, – se refere ao assassino, encarando o ralo reflexo na janela do avião.
- Pode ser uma mulher, pensem bem. Uma “ex inconformada”, assim como Jason do jornal te classificou – continua a bater na tecla que foi levada pouco a sério pelos colegas.
- Não tenho motivos para deixá-las inconformadas, docinho. – Blaike pisca para a mulher, que finge ignorar, sendo que por dentro fez com que seu estômago queimasse. – Mas, falando sério – ele adota uma nova posição. – Mesmo que fosse uma mulher, ela já teria entrado em contato comigo, não acha?
- O nome de Jade estava no topo de seus documentos – a mulher checa o valioso relógio de pulso vendo que já passa da meia noite. – Ontem pela manhã; o cabelo de Florence amarrado ao volante de seu carro.
- Acho que ela tentaria um contato mais direto, se é que me entende.
- Não entendo – a companheira afirma, recebendo um suspiro raivoso como resposta.
- Ela teria me ligado, mandado uma mensagem, me chamado para sair. Todas elas sabem que não recuso esses pedidos. – Blaike nunca deixaria de responder uma dúvida de .
- Nenhuma delas manteve contato com você, durante essa semana? – Bard questiona, curioso.
A imagem de Margaret passa por sua cabeça mas ele recusa informar sobre o caso entre os dois, também recusa colocar a mulher como uma suspeita, já que era o braço direito dele e de .
- A única que vi foi Florence, depois de tempos, e vocês viram o que aconteceu.
- Quantas mais mulheres você já teve? – pergunta aflita, uma possível chance de ciúmes se passa pela cabeça do loiro.
- Não se esqueça de contar os homens – o comentário do chefe arranca risos fracos, inclusive do piloto, que acompanha a conversa pelo rádio.
- Acho que você deveria se limitar a apenas uma, seria mais fácil investigar qualquer próximo caso. – A mulher se contorce na cadeira.
- Eu tento ter apenas uma, fico esperando pela minha chance.
O comentário faz com que o silêncio se instale; recosta a cabeça sobre o banco e fecha os olhos, esperando pelo sono que há mais de 48h não consegue atingir seu corpo.
No escuro das próprias pálpebras o rosto de Florence aparece, ela está tranquila, sentada atrás do balcão usando o aparelho celular para conversar com uma amiga, o sino da porta faz barulho e seu pai pede para que se levante, lá está .
percebe que é a primeira vez que se encontram, uma chama se acende nos olhos da menina como se fosse o homem mais bonito que vira em sua vida, acabara de presenciar o amor à primeira vista – por uma das partes, é claro. coloca no rosto um sorriso típico e a menina continua encantada, lança um sorriso tímido e limpa as mãos suadas na saia de líder de torcida.
- Procura algo especial? – pergunta deixando a timidez de lado.
- Vim conversar com Peter, mas vi que tem alguém mais interessante por aqui. – A cantada não falha.
- Eu mesma vejo que o bar está vazio, quem mais poderia conversar com você? – A mordida de lábios perversa da garota é o primeiro passo para o longo romance.
- Você tem idade suficiente para beber? – Ainda de pé ele coloca a mão sobre o balcão.
- Idade suficiente para fazer o que você quiser...
- Contanto que eu não saiba – Peter completa a frase da filha deixando a cozinha e cumprimentando , o amigo de longa data. – Pegue a garrafa de whisky para nós Florence.
- Florence – sussurra perverso. – Seria uma pena se ela morresse hoje. – Agora o loiro sorri com os dentes a mostra, como nunca fez. Deixa o pai da garota sem reação, de expressão fechada e temendo olhar para trás e encontrar a filha sem vida, rugas surgem na testa de Peter e Blaike continua sorrindo de forma psicopata, seus olhos começam a ficar vermelhos e o cabelo parece hipnotizar os olhos de quem os observa, mostrando o lado mais sombrio que o homem pode ter.

- . – A mulher tem o corpo segurado com força e abre os olhos desesperada, a imagem de em seu sonho não se parece com a do preocupado na vida real. O garoto está com olhos amedrontados e feição preocupada, como se estivesse há horas tentando acordá-la. - Chegamos em casa.
Um suor frio escorre pelo corpo colado no banco de couro claro, passa as mãos pelo cabelo molhado e respira fundo, encarando o fundo dos olhos de Blaike para ter certeza de que acredita no parceiro.
- Não vou ter perguntar o motivo de ter gritado meu nome enquanto dormia. – Ele sorri ajudando-a a se levantar. – Vi que não dormia bem, mas sei que foi a primeira vez que dormiu em dias.
- Às vezes prefiro ficar acordada. – Pega a mala por cima do banco e sai do avião antes de todos.
Joe encarou toda a cena com cautela, não queria que os dois se envolvessem fora do trabalho, sabia o risco que isso traria para resolução de próximos casos. Ou o risco que isso traria para .
Na porta do aeroporto vários jornalistas tem câmeras e microfones apontados para os agentes, perguntas iam desde casos já solucionados até os casos atuais. Resolveram desde cedo ocultar as informações sobre o possível assassinato no Central Park, que poderia acontecer à qualquer momento, e seguir em frente até o carro preto que os esperava. Fazem o caminho até o departamento em menos de uma hora, uma escolta acompanha Victoria em cada um de seus passos – sem que ela desconfie – e outro grupo de policiais marca presença no parque que pode vir a se tornar a cena de um crime.
O casal entra na sala de reuniões e tem toda a equipe trabalhando, nenhum deles deixa de portar olheiras e enormes copos de café espalhados por todos os cantos. O mural de suspeitos acrescentou a foto de John Blaike e outros possíveis suspeitos – fugitivos, criminosos com crimes parecidos. A lista de namoradas do Blaike mais novo também fica em evidência, fotos de todas as suas namoradas chamam a atenção de , todas loiras ou ruivas, até mesmo cabelos de cores inconvencionais – como verde ou rosa. Nenhuma morena, como ela, a garota que tem o coração de Blaike na palma das mãos.
- Descobrimos algo? – perguntam ao mesmo tempo.
- Digitais de John foram encontradas no corpo de Lara, nada que o incrimine, a não ser que falemos sobre agressão ao cônjugue – Denna relata colocando alguns documentos sobre a mesa. – Acredito que ele vai se safar dessa, mais uma vez.
- Todos acham que vocês são os culpados, por isso achamos que de hoje não podem passar. – Antony coloca no projetor imagens sobre o que a população acha da atuação do casal. – Uma equipe especial vai ajudá-los, caso precisem. Sei que ainda é de manhã mas estejam preparados, podem chamar vocês à qualquer momento.
- Tenho um plano – , que estava pensando no próprio pai como autor dos crimes chama a atenção de todos. – Hoje é terça feira, eu sempre corro com Victoria às terças e depois passamos na casa dela para, vocês sabem. – Sorri cínico. – Paramos de fazer isso por um tempo e, se o assassino...
- Ou assassina – interrompe.
- Se o assassino deixou um recado sobre isso é porque quer me ver lá.
- Então o plano é?
- Eu vou para o parque encontrar Victoria como sempre fazemos, vou me distanciar um pouco por alguns minutos, a equipe estará escondida e, no momento em que ele aparecer, vocês dão o bote.
- É um bom plano, exceto pela parte de que faltam mais de 12 horas para executá-lo e pela parte de que vai estar escuro e o parque tem uma péssima iluminação – Antony comenta, deixando clara sua antipatia com o chefe.
- Vocês estão trabalhando para mim, portanto façam o que eu mandar. – O homem deixa a sala no mesmo instante e segue para o taxi que o espera na porta.


Capítulo 7 - Victoria Olsen


A arma fica no coldre bem escondido por dentro do short preto, largo e da marca Adidas, a preferida do agente. Tem a camisa jogada contra os ombros, deixando o corpo à mostra e todas as mentes femininas encantadas com o que observam. Afinal, qual delas não deseja um homem bem sucedido com menos de trinta anos? Faz uma parada no meio do caminho e amarra o cadarço, aproveita para trocar olhares com , escondida em uma árvore distante, com o celular em mãos, preparada para qualquer ação.
- – ouve seu nome como num sussurro e fica de pé, ofegante. Se vira e vê Victoria, não estava mal.
- Victoria. – Dá um beijo em sua bochecha, sempre mantendo o foco no que viera fazer.
- Pensei que não te veria mais. – A jovem alonga as pernas, deixando a barriga a mercê dos olhares de Blaike.
- Você deve saber o quanto minha vida anda agitada, sendo acusado de assassinatos e outras coisas.
- Se te serve de consolo. – Ela coloca a mão sobre o ombro masculino. – Eu não acho que você seja capaz daquilo tudo, além do mais é muito confiante para matar alguém.
- Muito confiante? – ele indaga, um ponto de raiva surge em sua cabeça.
- Sim, pouco se importa com o que os outros vão dizer. – Ele ri fraco após a afirmação. – Como foi o dia?
- Nada que venha ao seu interesse. – O homem respira fundo. – Coisas de trabalho o tempo todo...
- Entendo, eu mesma vi vários de seus agentes pelas ruas hoje, foi estranho – ao ouvir ele se lembra das escoltas que a acompanharam.
- Nenhuma outra pessoa estranha ao seu lado? – ouve uma aversão na escuta que tem no ouvido.
- Por que teria alguém estranho? – Ela ri e começam a caminhada. – Você precisa relaxar, . – O homem recebe uma piscadela e sente vontade de abortar a missão, realmente precisava relaxar.
- Realmente, acredita que é a primeira vez que venho aqui em meses?
- Depois de tantas semanas sem te ver pensei que tinha trocado o dia de correr. – Um sorriso tímido surge no rosto da mulher. – Cheguei a vir uma semana inteira pensando em te encontrar, nada.
- Como eu disse, andei ocupado. – Os olhos do rapaz enxergam homens de sua equipe sentados em um banco, conversando como pessoas normais.
- Anda muito distraído. – A frase surge após vários minutos de silêncio. – Sei que não gosta de conversar mas vamos trocar uma ideia, sabe que pode confiar em mim.
- Me desculpe – mente. – Só confio em uma pessoa e é uma droga saber que ela não confia em mim.
- Hm, anda apaixonado? Por isso deixou de me ver.
- Não. – Ele sorri com os dentes à mostra, como nunca fazia.
- Esse sorriso te entrega, ! – A mulher o empurra fraco, para o lado.
- Não mesmo. – A imagem de ainda está em sua cabeça, por mais que negue o quanto seu coração se acelera. – Vamos falar sobre você. – Tenta fugir do assunto e dos próprios pensamentos.
- A empresa vai bem, melhoramos muito de um mês para cá... – a voz calma continua falando e o homem deixa de escutar, para prestar atenção ao seu redor.
O parque é muito grande, foram poucas as vezes que teve disposição para dar uma volta completa. Vários animais enjaulados ficam ao seu redor, sem contar nos infinitos números de árvores e turistas que sentem vontade de ficar ao ar livre sem se importar com as horas, ou com um serial killer a solta. Os estabelecimentos familiares ao redor estão vazios e poucos casais ocupam os bancos, Blaike achava estranho admitir que queria se sentir como um deles, parte de um casal de amor recíproco.
Engole seco ao ver um movimento estranho ao redor do lago, uma pessoa sentada sozinha se levanta e fica de pé, com o corpo virado na direção de e Victoria, como se não tirasse os olhos de suas presas. pigarreia e esse é o sinal que combinaram caso algo estranho ficasse em evidência.
- O lago está bonito. – Ele não percebe ter interrompido a história da mulher sobre sua empresa bem sucedida, apenas dá uma dica para os agentes que estão com uma escuta.
- Claro, de qualquer forma vou continuar. – Ela bebe o líquido vermelho que tinha na garrafa plástica. – Meus empregados nunca...
Blaike acompanha de longe os passos cuidados de até o suspeito, quando a parceira está a menos de dez metros o sujeito começa a correr, atingindo a pista asfaltada mais rápido que a jovem. Nenhuma das pessoas presentes percebem a cena e outro agente vai ajudar a mulher tentando cercar quem quer que esteja por baixo do moletom preto. Blaike coloca uma das mãos sobre o antebraço de Victoria, intervindo-a.
- Podemos nos separar agora? Quero pegar um pouco de ar, caminhar mais depressa. – Ele usa o truque infalível de virar o corpo da mulher em direção contrária ao dele, mostrando que ela deva caminhar para outro lugar, bem longe de onde estão.
Antony, que ouvia a conversa pelos fones de ouvido, acelera os passos até o casal e corre atrás de Victoria, que concordou com a proposta de Blaike: se encontrarem na saída e seguirem para o apartamento dela. Com a possível vítima protegida e adrenalina no sangue, o loiro corre o mais rápido possível até onde o corpo de se encontra, parado na calçada e respirando todo o ar possível.
A camiseta do rapaz cai no meio do caminho porém ele não a pega de volta, todos os seus neurônios dizem para ajudar , que está sozinha em um lugar deserto do parque. Suas pernas e sua respiração não fraquejam por um segundo sequer, ele alcança a mulher quando tem o corpo suado e avermelhado.
- Você está bem? – coloca as mãos sobre as bochechas da parceira, que tem o rosto pálido e pele fria, está perturbada com algo. – o que aconteceu, por favor me fale alguma coisa, vou ficar desesperado. – Ele segura o rosto frágil com mais força e ela ergue um papel amassado em frente ao rosto.
Blaike arranca o mesmo de suas mãos antes que possa ler, não tira o olhar da mulher por um segundo, nem que precise ficar vesgo para isso. Seus olhos são rápidos em ler a frase “Não apresse a sua hora” e logo em seguida abraça a parceira, ignorando o corpo suado que ela odeia. Poderiam assassinar qualquer uma de suas garotas, exceto .
- Não vou deixar que ele faça isso. – É possível tocar a tensão entre os dois. – Para onde ele foi? - Arrasta a mulher pelo antebraço.
- Ele fugiu em uma moto, alguém foi atrás, não se preocupe.
- Como não vou me preocupar? – Exalta a voz no volume mais baixo que pode. – Como não vou me preocupar sabendo que esse cara pode ir atrás de você?
- Ele não vai – ela grita. – Já teria me matado agora, se quisesse.
- Venham até aqui, rápido – reconhece a voz de Antony dentro de seus ouvidos e enlaça o braço ao redor da cintura de , não a deixaria escapar de seu corpo tão cedo.
Caminham de modo moderado até onde imaginam estar Antony, algum lugar perto dos parquinhos, dez minutos distante do lugar onde ele e Victoria se afastaram. Respiram fundo ao ver o homem de cabelos longos com a vítima ao seu lado, a garota está viva, é isso que importa. Se aproximam e veem o braço sangrando, sendo enfaixado com a ajuda de Ana – uma das novatas.
Os olhos de Victoria estão arregalados, assustados, confusos. Seu corpo treme, não de frio, sim de medo. Um de seus pés está descalço e o outro porta uma das meias. Joe Bard faz anotações em sua caderneta e mesmo no escuro escreve com uma rapidez inquestionável.
- O que aconteceu? – tenta se soltar dos braços do parceiro, é em vão. – . – adverte e ele parece não escutar.
- Vocês podiam ter me avisado, eu teria tomado cuidado – a jovem loira diz sincera. – Eu tropecei e quando vi a faca ia passar pelo meu pescoço, Antony me empurrou e machuquei apenas o braço. – Ela agradece o garoto que a salvou com um olhar.
- Onde estão seus sapatos?
- Não faço ideia, devem estar no meio do caminho.
- Aconteceu aqui mesmo, naquele canto. – Antony aponta para uma pequena entrada na mata. – Pedi para que interditassem o local, a perícia vai ficar aqui até o Sol nascer, conseguiremos todas as informações.
- O que importa é ganharmos tempo, mandem tudo por e-mail e...
- Não deixem nada acontecer com , entenderam? – fala alto para que até mesmo os que não estão envolvidos ouçam, ele se vira e dá três passos em direção ao carro que alugou está estacionado. – Preciso de ar.
O homem está perceptivelmente de humor alterado, não apenas pelo fato de seu corpo parecer transpirar adrenalina pura, e sim pelos seus passos rápidos e largos até o veículo.
- Deixem ele – ergue os braços para impedir que supervisores tentem segurar o rapaz. – Quero dois homens com Victoria o tempo todo, de hoje para sempre. Antes que entre em seu apartamento... – o olhar é lançado para a loira. – Deixe que façam uma vistoria por lá e...
- Tem mais uma coisa – a vítima interrompe. – Ela deixou um papel.
- Ela? – A pergunta sai da boca de todos ali, fazendo com que fiquem confusos e saia vitoriosa.
- Sim, tinha unhas vermelhas, acredito que seja uma mulher.
- Por Deus, diga tudo que viu.
- Unhas vermelhas, pele branca – tenta se lembrar.
- Peso, altura? Cor dos cabelos?
- Estava com uma roupa preta, não vi nada disso.
- Passe à noite na delegacia, vai depor assim que se sentir melhor. – A agente adere a posição de chefe. – Nenhum de vocês está dispensado e não quero uma matéria de Jason Welch naquela merda de jornal, juro por mim mesma que faço dele a próxima vítima – afirma deixando-os sozinhos.

Blaike tem as mãos trêmulas no volante, pouco se importa com os sinais vermelhos que ultrapassa, pouco se importa com as multas que já levou. O celular chama pelo número de Margaret, que atende com voz baixa, delicada, amedrontada.
- Está bem? – o homem pergunta, direto.
- Acabei de colocar Vitor na cama, do que precisa?
- Não estava no parque? - O homem percebe que assim voltará ao assunto que o estressa. – Posso passar aí? – Muda o rumo da conversa.
- Estarei esperando – sua voz é perversa e a chamada finaliza.
O homem força o pé no acelerador e não demora para chegar na casa de Margaret, o portão está aberto e ele imagina que ela o esteja esperando na entrada, para não acordar John ou o próprio filho. sabe também que o clima dentro da casa não é o melhor; logo se irrita em pensar que todos os lugares que frequenta – o trabalho, o parque, a casa de Margaret, o bar de Peter – estão ligados aos assassinatos que investiga. Sendo que a próxima vítima pode ser .
Sua cabeça queria esquecer por um segundo, mas não sabe se conseguiria.
Desce do carro e deixa as chaves dentro, não demoraria ali, e a vizinhança era pouco perigosa. Afinal, o que era mais perigoso do que estar na casa do próprio assassino, John Blaike?
O pai do garoto está sentado na garagem, com as luzes acesas e um jornal em mãos. Ele lê a matéria sobre , suspeito, não acham? Abaixa o jornal e não se assusta com a presença do filho.
- Filho de peixe, peixinho é – John diz risonho.
- Esqueça sobre a parte que saí do seu maldito saco, você ficará atrás daquelas grades até que morra. – O loiro se aproxima e os donos de olhos claros se encaram, sem movimentos bruscos.
- Blaike – Margaret aparece na porta, vestido o hobbie cor de limão.
- Não façam muito barulho, . – O pai chama por ele. – Tenho viagra no armário caso...
Em questão de segundos a mão fechada do jovem entra em contato com o rosto do mais velho, por pouco não atinge o supercílio.
- Eu sei que você estava lá hoje, eu sei que foi você. Você matou minha mãe, você matou todas essas garotas, você matou Lara. Você me matou no momento em que nasci e eu nunca vou ter perdoar por isso. Juro que se encostar um dedo em te arrasto até o inferno junto comigo. – ainda sente receio em machucar o próprio pai, talvez o mais velho estivesse certo. Carregando o sobrenome Blaike ele nunca teria sentimentos humanos o suficiente.
Eles se separam e encosta as mãos firmes na cintura de Margaret, pressionando os quadris com força. A mulher arfa antes de se beijarem, tentando intervir a falta de diálogo.
- Não estou a fim de conversar hoje, quero me sentir dentro de você. – Ele coloca os dentes no lóbulo da mulher, mordiscando cada centímetro.
Pouco se importa de estar no meio da sala com apenas uma parede de porta aberta os separando do “sogro”, deita a mulher sem delicadeza, os cabelos ruivos se esvaem no chão, deixando-o hipnotizado por alguns segundos. Ela aproveita o corpo seminu do rapaz e passa suas mãos pelo abdômen definido, suado. A mulher parece fazer desenhos imaginários por toda extensão, sabe que pode ficar ali todo tempo do mundo, deitada com sobre seu corpo, a dominando como queria. As longas unhas arrepiam os pelos da nuca do rapaz, fazendo com que seus lábios esbranquiçados atinjam um tom avermelhado, liberando adrenalina.
- Senti sua falta – ela comenta no curto tempo que lhe sobra para respirar, ele ignora e parte os lábios até o busto da mulher, desatando o laço que o impedia de ver a lingerie.
Os olhos não se importam em contemplar o tecido preto transparente que o separam do corpo nu, ele sabe que ela havia se preparado para ele, infelizmente nessa noite e em nenhuma da vida de Blaike ele perderia tempo observando e contemplando o corpo vestido de uma mulher... O toque da língua quente no pescoço de Margaret faz com que ela suspire, os chupões depositados ali com certeza ficariam roxos. Movimentos circulares fazem com que o fluxo de sangue diminua em sua jugular, mordidas fortes não a incomodam e a mão que segurava seu seio com força parte para o fecho do sutiã, sem dificuldade nenhuma o retalho está jogado ao lado do sofá, deixando os lábios de a mercê do belo par de seios.
Os mamilos enrijecem quando são molhados pela saliva do rapaz, que sem cessar mal sabe o que fazer, morde forte e recebe um som de reprovação, de dor. Volta os olhos até os verdes da mulher, a mistura de raiva com desejo invade o espaço, ela hesita de medo por um segundo; noutro sente excitação.
Margaret ergue a cabeça para que troquem um beijo, ele vira o rosto e encosta os lábios sobre a barriga da mulher, segura os braços frágeis acima da cabeça e deixa clara a posição dominadora que tem. Sorri cínico ao respirar próximo de sua vagina, as pernas se contorcem quando sentem o ar quente que as rodeia, tira a calcinha vermelha da mulher com os próprios dentes devagar, sorri fraco no meio do caminho ao ver o que o tecido lhe revela. Algo que satisfazia mais a ele do que ela. Quando chega o rosto aos joelhos volta o olhar para cima. A ruiva está de olhos fechados, respira fundo deixando os seios em evidência ora sim, ora não. Ela morde o lábio inferior ao sentir a língua do rapaz em sua genitália, Blaike desde o começo fizera o uso da força, não pararia agora. Leva uma das mãos até a virilha da mulher e sorve o que tem à seu alcance.
Sente o próprio membro se enrijecer e leva mão até ele, gostava de se sentir assim. As veias do braço de destacam e escuta o primeiro gemido da mulher quando a língua encontra seu clitóris, ela tem os olhos verdes o encarando, a língua voltada para cima e uma gota de suor escorrendo pelo seu pescoço. Ele mantém o contato visual enquanto chupa com força a região da mulher, ela sente a ponta de seu nariz te tocar, não havia nada mais excitante que isso, a respiração quente em contato direto com seu corpo. Blaike sente as pernas grossas pressionarem seu pescoço e sorri a cada gemido extasiado que ouve. Ergue a mão até um dos seios e o braço da mulher tenta alcançar a calça de Blaike, na tentativa de livrar-se dela. Ele adverte mostrando que deve permanecer parada.
- Te aviso quando precisar que faça algo – ele sussurra ofegante, com a cabeça em seu pescoço. – E tudo que quero é que diga meu nome enquanto te fodo. – Passa a língua desde o queixo até o umbigo, deixando o lugar quente, molhado, arrepiado.
Ele tira a peça de roupa que revela sua cueca branca com o membro em evidência, todas as suas veias estão exaltadas, porém ainda não chegou ao ponto certo. Margaret se segura para não tocar o corpo do rapaz, quer senti-lo, quer fazer com que ele sinta prazer, nem que precise gozar em sua boca. Todos os poros da mulher se abrem ao sentir o dedo indicador do rapaz dentro de si, seus músculos endurecem em sinal de aprovação. faz movimentos lentos, está de olhos fechados sentindo o quão quente é um corpo por dentro, ele deseja saber mais e por isso coloca um segundo dedo, ouvindo o próprio nome sair baixinho da boca de Margaret.
- Não te ouvi, docinho – ele fala rouco, sabendo que a deixaria louca, ela não repete e está concentrada em sentir o rapaz dentro de si. – É melhor que repita. – Ele para o movimento e sussurra ao pé do ouvido da ruiva.
Ela repete mais alto, porém, para o rapaz, não alto o suficiente. Ele dá continuidade aos movimentos e sente o membro ficar ereto, esperando para sentir o que apenas seus dedos conseguiram. Passa a mão por todo o corpo da mulher e a deposita sobre suas costas, Margaret sente que ao contrário da saliva, o homem tem o corpo gelado, como um fantasma.
- – ergue o rosto até o ouvido do rapaz, forçando-o a retirar os dedos, ela coloca a mão sobre a cueca pouco molhada.
Sem cuidado nenhum ele a afasta, tirando a própria roupa e revelando o próprio corpo.
- Eu quero te tocar – ela fala, queimando por dentro.
- Ainda não chegou a sua hora. – Ela sente o membro encostar na parte interna de suas coxas e abre mais as pernas, dando permissão para que ele faça o que quiser.
encosta a mão pouco abaixo do umbigo e invade a mulher sem avisos, ela grita alto erguendo o corpo alguns centímetros do chão. Ele faz movimentos rápidos, sentindo o sangue circular por seu corpo, mas não se sente vivo. Morde o próprio lábio enquanto Margaret geme alto.
- Você está quente. – Ele fecha os olhos e desacelera o movimento, sem sair por um segundo do corpo da mulher. – Fale meu nome mais uma vez. - A mulher o obedece, tendo certeza de que o satisfazia

Blaike encosta uma das mãos sobre o chão e investe na mulher enquanto respira contra seus seios, não sabia descrever o que sentia ao ter uma mulher sobre suas ordens, o que era ter o próprio corpo dentro de algo tão quente quanto o corpo de uma mulher. Cada investida resulta em uma arfada mais alta, ele sente que pode gozar a qualquer momento e retira o pênis da mulher, se joga para o lado para evitar qualquer possível gravidez. Não gostava de sexo com camisinha, para ele essa fora a pior coisa que inventaram.
Margaret não perde tempo em ficar de joelhos e observar o líquido esbranquiçado sair de seu órgão, toda uma corrente de eletricidade invade o corpo da mulher que fica de pé observando jogado no chão, satisfeito com o que lhe foi proporcionado.
O que não sabia era que, enquanto deitado gozando, ou enquanto de olhos fechados dentro dela, ele imaginava o corpo de .


Capítulo 8 - Heavy Dirty Soul


entra na própria sala e fecha a porta com violência. Do lado de fora uma fila que parece ter sido feita para o concurso de Miss Universo consiste em todas as garotas com que se envolveu nos último quatro anos, elas estão impacientes e todas – sem exceção – dizem que o rapaz é inocente.  A agente dá uma mordida no pedaço de pizza fria e liga o próprio computador, não queria fazer as perguntas em uma séria sala de interrogação, precisava ser o mais amigável possível. Denna libera a primeira garota, que veio para o local ainda de pijama e maquiagem de dias atrás.
- Olá. – à cumprimenta com um aperto de mãos. – Deve saber por que está aqui.
- andou aprontando de novo? – ela ri, como se o rapaz sempre fizesse isso.
- Ele aprontou com você?
- Vivia tendo problemas com o pai. – Limpa os próprios olhos. – Terminamos por isso.
- Desculpe-me mas chegaram a namorar sério?
- Nos encontrávamos toda quarta, no Taco Bell – ri, se lembra de que o parceiro sempre se oferecia para buscar a lanche da tarde no restaurante.
- Isso foi há quanto tempo atrás?
- Paramos de conversar há uns oito meses, ele disse que tinha muito trabalho. Não poderia se dedicar à um relacionamento, eu queria algo sério. Fui boba em cair na dele.
- Acha que ele é o culpado? – a pergunta deixa a jovem pensativa, demora uns segundos para fazer que não com a cabeça e ser dispensada.
Todas as interrogações parecem seguir uma mesma linha, garotas jovens e lindas entrando na sala e dizendo como as tratava com indiferença porém fazia com que sempre quisessem ele por perto. Muitas delas diziam ser algo mais físico do que emocional e a maioria se envolveu com ele há mais de dez meses, deixando claro que a assassina buscava casos mais recentes. Victoria adentra a sala com a típica olheira, sorri para e se senta na cadeira relaxando as costas.
- Ele gosta de você – a loira diz e chama a atenção da agente. – Gosta muito.
- Me desculpe? – sorri, fingindo que não entendeu.
- nunca pediria para que me protegessem.
- Está errada quanto a isso – a morena intervém. – Ontem pela manhã pediu para que uma escolta te acompanhasse por toda a cidade.
- Não, . – Ela sorri tímida. – Ele pediu para que alguém me protegesse mas sei que nunca arriscaria a vida para me proteger, ele faria isso por você.
- Entendo. – A agente tenta controlar o lado emocional. – Mas quero falar sobre o relacionamento de vocês...
- Eu sou formada em psicologia. – A afirmação requer mais palavras. -   precisa de algo para mantê-lo atento. Percebi na primeira vez que conversamos que ele está em uma busca constante por sexo, amor ou qualquer sentimento nesse sentido. Faz sentido se pensarmos na parte em que a família dele se matou por inteiro, deixando-o sozinho para se virar. O garoto não é capaz de matar alguém, nem mesmo o próprio pai, sentiria que está matando a si mesmo, está matando o que o mantém vivo, . – Elas se encaram. – A pessoa que está fazendo isso tem a necessidade de manter vivo, quer ser importante para ele.
- Não passa da necessidade de chamar atenção – a morena completa, entendo o raciocínio.
- Exatamente. – Victoria respira fundo. – Essa mulher quer ser mais que uma noite de sexo, ela quer que Blaike sinta por ela o que ele sente por você.
- Pode deixar seu contato? Talvez precisemos de mais depoimentos seus – entrega um papel com caneta para Victoria, com dificuldade a mulher movimenta o braço machucado para escrever o próprio número no papel.
- Não posso escrever muito, mas esse número é meu – ela arrasta o papel até a agente e se levanta, deixando Denna e sozinhas na sala.
A mulher estave certa sobre , sobre o homem se sentir fora do mundo e desconcertado. Muitas das vezes em que o loiro passou noites acordado conversando com eles tratavam de assuntos profundos, o homem sempre dizia querer poder voltar no tempo e matar o próprio pai, para não ter que passar por todos os problemas. Ele queria se sentir menos sozinho e com todas essas mortes a lista de Blaike era limitada quanto em quem poderia confiar.
Uma garoa fina invade a janela, o Sol havia aparecido fazia meia hora e em pouco tempo teriam a perícia sobre o parque. A mulher abre a primeira gaveta abaixo da mesa e vê a foto que tirou uma semana antes da morte do marido, ela e sorrindo, o terceiro da foto tinha a melhor expressão que a doença o fornecia. Estavam a beira da piscina tentando passar aos que veriam a foto a imagem da felicidade, pouco presente em suas vidas. vira a foto, no verso um recado do marido escrito com a caneta preta, uma que dera para ele de aniversário, alguns anos antes.
“Não posso continuar, quero poder dizer que tenho tudo com você mas... você me ama muito e não merece meu amor. Te deixo hoje sabendo que encontrou alguém que pode te amar infinitamente mais que eu. Saiba que você consegue ser feliz sem mim e eu ficarei feliz em te ver feliz, mesmo não te fazendo feliz.”
Quando leu a frase pela primeira vez ficou sem entender – foi um dia antes do marido se matar –, pensou que ele queria terminar o casamento e se entregar à depressão. estava tão feliz, sorria por ver que o marido havia saído de casa depois de meses trancado no quarto. Tinha saído de casa para revelar a foto, que dizia ter sido a última coisa que o alegrara nos últimos tempos.
Guarda a foto e ouve duas batidas em sua porta, vê os cabelos loiros mais esvoaçados que o normal, entra e Denna se retira. Ele vê que a gaveta estava aberta e de canto de olho enxerga a foto, respira fundo e fecha a mesma, não quer que pensa negativo, logo agora que estava confiante.
- Pronta para tomar um banho? – ele pergunta colocando as pernas sobre a mesa.
- Tire as pernas – ela adverte. – Você fala comigo como se eu fosse uma criança.
- Não deixa de ser – ele ri, mais calmo. – Vamos? – a pergunta faz um ponto de interrogação surgir na testa da mulher. – Tomar um banho?
- Tomar banho juntos? – ela não entende.
- Se é o que você sugere, eu não posso recusar – o comentário é feito quando o rapaz está de pé, recebe um tapa como resposta. – Vou te levar em casa, ficou  a noite inteira trabalhando, precisa descansar um pouco.
- Posso me virar sozinha.
- Nem por cima do meu cadáver – ele sussurra, abrindo a porta para que a mulher passe.
- Meninos – trombam com Joe no meio do caminho. – Onde vão?
- Vou em casa por pouco tempo, voltamos antes da perícia terminar.
- Onde vai ? – Bard intervém mais uma vez.
- Não confio nesses agentes pervertidos vigiando , posso cuidar dela.
- Posso me virar sozinha, já disse.
- Ele tem razão, – o chefe comenta. – Você pode ser uma vítima, não te deixaremos sozinha a não ser que seja uma isca.
- Bom dia – Margaret se junta à pequena reunião, lança um olhar cúmplice para , nenhum deles percebe. – A perícia termina em meia hora, passo na sala de vocês para entregar.
- Vou acompanhar até o apartamento – é curto e grosso.
- Você realmente não precisa ir – a morena diz calma, não quer gritar com ele.
- Concordo com , tenho muito o que resolver com você – Margaret aponta para a pilha de papéis que carrega.
- Não vou te deixar ir sozinha e ponto final, acham difícil entender isso? – a frase sai de maneira ríspida, porém num tom de voz comum.
- Façam como quiser – Joe deixa o trio e caminha até a cafeteria.
- Não vou me meter em briga de casal, com licença – a ruiva sai sem expressão.
- Maggie, não é culpa minha – segura a mão da amiga, que sorri fraco se distanciando. - Parabéns . – caminha rebolando até o elevador.
- O que fiz de errado? – o loiro caminha de costas, com o rosto virado para a parceira.
- Você sabe que Maggie nutre algo por você, deveria respeitar isso.
- Respeito isso – ele afirma, na própria cabeça fazia mais que sua obrigação em passar na casa dela algumas vezes.
O casal entra no elevador e fica em silêncio, a mulher pensa em contar que estão em busca de uma assassina, falar do novo bilhete e que Victoria sabia muito sobre ele. Logo desiste, querendo se livrar do caso por algum tempo e resolvê-lo apenas quando estiver dentro do escritório. De canto de olho usa o poder feminino do disfarce para observar . Ele tem bochechas mais rosadas e o cabelo arrepiado, o forte cheiro de perfume invade seu nariz deixando a presença do rapaz mais aceitável, sem contar do cheiro natural que seu corpo exala.
- Eu dirijo. – O homem pega a chave dos dedos de e ela não argumenta, está muito cansada para enfrentar o trânsito matinal.
O congestionamento faz parte do caminho, escutam uma rádio executiva até chegarem no prédio e por dentro, ambos se perguntam o quão sérios parecem fazendo isso. Ao entrar em casa as cortinas estão abertas, o cheiro de casa limpa faz com que se jogue no sofá fechando os olhos e respirando fundo.
A cozinha do apartamento está limpa, Blaike se perde na quantidade de armários que vê, procura uma frigideira em todos eles, não se assusta ao ver que a mulher tem uma enorme quantidade delas. passa pelo rapaz e não pergunta o que ele irá fazer, apenas liga o aquecedor e sobe as escadas até o próprio quarto. Na cama vê roupas lavadas e passadas prontas para entrarem no guarda-roupa. Pega uma calça jeans clara e a blusa azul que usara poucas vezes.
Tira o cordão que prende seu cabelo e deixa que ele caia sobre os ombros, o reflexo no espelho mostra o que a maquiagem não consegue esconder, o cansaço e a dúvida. Tira as próprias roupas e coloca a água do chuveiro para aquecer, parece que o inverno havia chegado. Ouve barulho de algo caindo no chão e tenta não se preocupar. Entra na água e sente que dormiria ali mais confortável que na cama. Pensa nas garotas que interrogara durante a madrugada e todas elas a convencem de que é inocente, ela sabe que é; mas por que o cérebro insistia em duvidar disso?
Sai do chuveiro e veste roupas limpas, fica descalça e sente o carpete felpudo entrar no vão de seus dedos, algo que ela adorava desde criança. Lembra que a mãe de Margaret convencera sua mãe de colocar o carpete cor-de-rosa no quarto da casa em que moravam.
Desce as escadas ainda de cabelo molhado e sem maquiagem, sente o cheiro indescritível de calda de framboesa. O cheiro a lembra dos anos que passava as madrugadas ao lado de , na qual ele sempre se esgueirava até a cozinha para fazer panquecas melhores que qualquer outra.
- Você é o salvador da pátria. – Ela pega um prato e suco na geladeira.
- Imaginei que estivesse com fome. – O homem tem o rosto sujo, o que faz sorrir descontraída.
- Descobri o por que de você ter ficado o último ano inteiro buscando comida no Taco Bell – ela comenta dando a primeira mordida, sentia uma overdose de açúcar.
- Falou com a atendente de lá? – ele sorri, sem esconder que gostava da garota.
- Muito simpática. – A mulher passa a língua pelo prato, pedindo por mais.
- Ela é legal. – Blaike pega o prato e coloca mais comida. – O que achou das outras?
- Do que te importa? – pergunta.
- Quero saber se sentiu-se mal pela concorrência.
- Engraçado você.
- Fique tranquila, você ganha de todas elas. – O simples comentário deixa a mulher de bochechas vermelhas, ela não quer que o parceiro veja, então vira o rosto para o lado contrário, fingindo prestar atenção no noticiário.

tenta esconder a quantidade de emoções que passam pelo seu corpo,  estava linda. Queria poder chegar perto, saber se o que via era real. A pequena televisão na cozinha falava sobre o aumento de impostos, algo raro para a população.
- Vou terminar de me arrumar. – deixa o prato dentro da pia.
- Não está pronta?
- Está brincando comigo? – ela diz enquanto sobe as escadas dois degraus por vez.
O loiro se senta sobre a bancada e fecha os olhos, decide que hoje teria que resolver o assunto com Peter Klum, o pai de Florence que com certeza acredita que é o assassino. Outro de seus planos era investigar John, pois torcia para que o pai fosse preso. Ou até mesmo condenado a morte. Blaike odeia o fato de que sua mente mude de ideia repetidas vezes, nunca sabe tomar uma decisão sem antes pensar em alguém ou no que isso causaria à qualquer pessoa.
- Bom dia Nova York, aqui quem fala é Jason Welch – ele ouve o som da televisão, é uma transmissão por telefone ao vivo.
- Bom dia Jason – a mulher do programa responde animada.
- Babaca – Blaike sussurra como se o jornalista pudesse ouvi-lo.
- Fiquei sabendo do que rolou no central Park ontem à noite, espero que saibam que Blaike estava lá.
- Nos conte mais, Welch. – O homem ruivo de sotaque alemão arqueia uma das sobrancelhas.
- Não fiquei sabendo de muito, o FBI não quer mais liberar as informações. Acho que irritei Blaike, tenho que tomar cuidado para não ter minha garganta arrancada... – a televisão se desliga e ele vê com o controle em mãos.
- Agora estou pronta. – Ele a observa de cima à baixo, tem saltos brancos nos pés, sapatos de bico fino sempre traziam a tona o lado gay de , o deixava encantado.
- Gostei dos sapatos – comenta encarando o chão, envergonhado por ela ter percebido seu olhar; ele sabia que a mulher odiava esse tipo de atitude. Ser objetificada.

Joe Bard está no escritório estressado com a equipe, Antony cochila vez ou outra sobre o teclado e Ana está junto a Denna tentando ligar a perícia ao quadro de suspeitos. Nada combinava porém ele sabia que o caso não estava perdido. Como quase conseguiram pegar a assassina, acreditava que ela se afastaria por um tempo, dando alguns dias para que pudessem respirar e colocar tudo em ordem.
O mais velho observa pela janela crianças caminhando até a escola, queria que tudo fosse fácil como o que via. No corpo de Victoria haviam encontrado digitais de e Margaret, nada diferente do que imaginavam. Nem mesmo as de Blaike. Engole seco e volta a pressionar os empregados, precisavam agir logo, o tempo é precioso.
pediu para que o táxi parasse em frente ao bar de Peter, o taxista – assim como toda a população do mundo – o interrogava tentando incriminá-lo. A maldita mídia conseguia criar opiniões em massa. O jovem desce do carro e vê a enorme placa de luto, no entanto a porta do bar está aberta.
Fica parado observando a foto de Florence ao lado da placa, ela tinha seus cabelos ao vento e os olhos verdes estavam maiores que o normal, era a foto do primeiro dia da faculdade, ela descrevera para Blaike como sendo o dia mais empolgante de sua vida. Ele sorri e logo se sente culpado por não ter se apaixonado pela garota, era tão jovem, tão cheia de vida. Ele se culpou por não ter se apaixonado por ninguém, respira fundo e, mesmo que raramente acredite em Deus, pede para que ela esteja ao lado Dele, sentindo toda a paz e amor que merece.
Ele pega na maçaneta de madeira antiga e ouve o sino anunciar sua entrada. Peter coloca a cabeça para fora da cozinha e não acredita no que vê, seu olhar é de reprovação. De ódio.
- Do que precisa ?
- Por que acha que fui eu? – Se apoia no balcão e o mais velho diminui o volume da música.
- Você nem ao menos apareceu no enterro. – Uma lágrima escorre pela bochecha esquerda do amigo. – Ela te amava, não entendo como pôde fazer isso.
Blaike não consegue imaginar a dor de perder uma filha. Ainda mais quando a garota mal começara a vida, tendo tantas oportunidades pela frente. Queria enfiar uma faca em seu peito ao ser obrigado a ver Peter chorar por algo que o culpava por ter feito.
- Você pode acreditar no que sai da minha boca – Blaike inicia o discurso. – Ou pode acreditar no que dizem na televisão. Eu confesso que meu suspeito é meu próprio pai, algumas pessoas do departamento acham que foi uma mulher, você acha que sou eu. Isso é uma droga, literalmente uma porra. Me irrita saber que esse assassino não aparece, não diz o que quer. Porra. – O garoto reclama como um adolescente. – Não entendo o por que de alguém fazer isso comigo, me dói tanto quanto dói na família de cada uma dessas garotas, estou dando o maior duro para descobrir. Minha cabeça insiste em dizer que você e perdem a confiança em mim depois de tudo que faço. Você é meu pai, é a única coisa que amo nessa vida. Vocês dois são a única coisa que me sobrou e eu não suportaria perder vocês, não estou suportando ver isso acontecer diante de meus olhos e não poder fazer nada. Não posso trazer Florence de volta para você e não posso beijar e dizer a ela o quanto quero seu corpo. Mas eu posso pegar quem está fazendo isso e fazer em pedacinhos, te prometo que vou fazer isso.
- Você prefere tequila ou vodka? – o mais velho pergunta, absorvendo tudo que acabou de ouvir.


Capítulo 9 - Up at Two Lover's Point


Antony carrega a ficha de Blaike após algumas horas de pesadelos com o chefe, sabia que não era o único do departamento a ter sonhos macabros com cortando a garganta daquelas garotas; a única coisa que não entendia era o por que das mulheres se sentirem tão atraídas por ele. Vê nos papéis que o garoto nunca teve passagem pela polícia, incriminou o próprio pai antes de completar vinte anos e é considerado o melhor agente da história do FBI, um título vagamente precipitado.
Na lista de casos solucionados percebe que nos últimos trinta e seis casos ele teve a ajuda de , passando horas acordado na casa dela e criando vínculo com a família da mulher. Havia aprendido que na faculdade um assassinato – na maioria das vezes – é feito por alguém que você conhece ou por alguém que conhece você. Analisa também a ficha de John Blaike, homem acusado de matar a própria esposa e, embora comprovado ser o culpado, nunca foi preso. O único que poderia declarar pena de morte à John era , que recuou o pedido no dia do julgamento, oferecendo em troca a prisão perpétua. Foi uma pena o pedido ter sido recusado e trocado por cem anos de prisão, com a fiança avaliada em milhões; como todos sabem: dinheiro nunca foi problema para a família Blaike, fazendo com que a fiança fosse paga por Lara Palmer, sua amante, e o libertando de qualquer acusação.
O jovem amarra o longo cabelo castanho e foca no quadro de pistas, tenta interligar os dedos à Blaike e não entende o por que o garoto ter violado o túmulo do marido de . As imagens de câmera que a chefe o pedira para procurar não poderiam dizer nada. Ela, , Margaret, Joe e até mesmo Antony haviam entrado no arquivo no dia entre o assassinato de Lara e de Florence. A lista de suspeitos poderia ser infinita, mas a lista de Antony se resumia à um.
está no sofá de casa, sem sono quando se passam da meia-noite, o telefone fixo disca o número de Margaret, ela quer se desculpar com a amiga pelo que quer que tenha feito. Sabia que a ruiva sentia ciúmes de Blaike.
- John, posso falar com Margaret? – diz antes que o outro lado da linha diga “alô?”.
- Olá – ela reconhece a voz da amiga.
- Imaginei que estivesse acordada também – tenta parecer simpática.
- Minha mãe foi assassinada, quer que eu durma? – uma leve grosseria é reconhecida pela morena.
- Sinto tanto quanto você.
- Sei – o silêncio se instala.
- Minha maior dor é não poder ter ido ao velório – afirma a investigadora.
- Você nunca deixa o trabalho de lado, não é mesmo? – Margaret afirma.
- Você sabe o quanto é difícil para mim uma situação como essa. Passei as últimas noites sozinha tendo que adiar o choro pela morte de Lara, não tive com quem conversar.
- não esteve com você todo esse tempo? – a ruiva faz a pergunta que esperava.
- Não Maggie – afirma, quer esclarecer que os dois não tem nada. – Ele só vem quando chamo, o vi uma vez essa semana, fora do trabalho.
- A amizade de vocês é incrível – afirma insegura, do outro lado da linha.
- Exatamente, não passamos de amigos. Acho que devemos ser do mesmo signo. – Ambas riem fraco, não estão nos melhores dias.
- Vitor está em casa? – se refere ao filho da amiga.
- Sim, tive que leva-lo ao médico, está sempre perguntando sobre a avó.
- É normal no começo, quando ficar mais velho poderá entender.
- O problema é ele entender – a amiga lamenta. – Sabe o que significa quando alguém morre.
- É difícil crescer e não poder aceitar mentiras – ambas concordam, mentalmente.
- Quero que ele consiga se divertir, sair com os amigos, gostar de alguma garotinha na escola.
- Quem sabe não fazemos algo essa semana? Eu, você, ele, pode chamar até mesmo John.
- É estranho o fato de meu filho gostar de jogar baseball com ? – a pergunta sai do ar.
- Então faremos um piquenique, sem John e com .
- Parece que sempre teremos um Blaike para nos acompanhar - riem.
– Quero que saiba que sua amizade significa uma vida para mim.
- Somos irmãs, se lembra? – a voz da ruiva confirma.
- Para sempre - a frase é como uma despedida, anunciando o final da ligação e que estava mais uma vez sozinha em casa.
  Ela não sente vontade de fechar os olhos e ter um novo pesadelo, o resto de pizza que não fora guardado na geladeira é levado até a mesa de centro da sala. A mulher já havia se acostumado com a vida corrida da cidade, tinha sempre comida congelada na geladeira e inúmeras latas de coca-cola estocadas, sem contar das garrafas de Heineken que abastecia semanalmente. Ela liga a televisão e procura por algo que a possa distrair, passou a tarde inteira procurando significado viável para a falta de dedos e não encontrou, sua mente não pensava em outra coisa além de assassinatos, sangue, família e Blaike. Era como um ciclo vicioso que lhe causava arrepios quando sozinha em casa. Um filme do Channing Tatum traz luz aos seus olhos e ela apenas deixa que o sono lhe proporcione bons sonhos com o ator.

Blaike tornara suas corridas noturnas mais frequentes desde os últimos casos, além do mais o suor seria uma forma de eliminar todo o álcool ingerido na tarde do mesmo dia. No fone de ouvido ouve o interrogatório que a parceira fizera mais cedo com suas mulheres, sorri fraco ao se lembrar de algumas, não suporta o fato de ter conseguido manter relação com outras. No depoimento de Victoria se surpreende ao ouvi-la dizer sobre as unhas vermelhas, sobre o bilhete deixado, sobre ser uma mulher. Provavelmente, um homem não pintaria as unhas de vermelho.
Toda a narração é interrompida pela chamada de um número desconhecido, sente receio em atender, mas quem era ele para temer ligações?
- – a voz ele reconhece, é uma das que escutou minutos atrás.
- Eu.
- Onde você está?.
- Quem está falando? – a ligação cai, fazendo com que o homem sinta calafrios.
  Continua a correr pelo parque, sabe que Joe Bard mandara grampear seu telefone e teria acesso de todas as ligações, mensagens, entradas em sites pornôs e até fotos recentemente baixadas na galeria do Iphone. Respira fundo e ergue o olhar, pensa em e no fundo do peito não se sente confortável em estar sozinho num lugar tão grande. Em passos calmos alcança o próprio carro e vai até o Hudson Street.
  As luzes da cobertura estão acesas, ele se vê parado na entrada do prédio. Isso indica que ou está com medo ou está acordada. Ele pega o celular e liga para a parceira.
  - Blaike – atende, de voz sonolenta.
- . – Ele respira fundo. – Está tudo bem?
- São duas da manhã – ela resmunga.
- Só quero ter certeza de que está segura.
- Estou – ela apenas confirma, sem entender o que lhe é perguntado.
- Quer que eu durma aí? – torce para a resposta positiva.
- Eu estou dormindo, de qualquer modo.
- Está com medo? – sorri perverso.
- Vou ficar se você continuar a fala desse jeito.
- Bons sonhos , vou passar aí daqui a pouco.
- Não – a palavra sai em tom de pedido e a ligação chega ao fim.
  Blaike não estranha a atitude, apenas volta ao carro e se dirige ao prédio que mora.
Entra no apartamento recebendo carinho do cachorro, o cão está há alguns dias sem comer e adotou uma nova atividade: assistir televisão mesmo que não consiga entender o que falam. A vantagem é que o animal prefere o canal de esportes ao canal de notícias.
- Como está Dog? – nunca estranhou o fato de conversar com o próprio cão. – Prometo que amanhã te levo para dar uma volta, ok amigão? – O animal parece compreender e pula em cima do próprio dono, arrancando altas gargalhadas.
Aperta o botão da caixa de mensagens do telefone, está vazia. Sobre a mesa tem um macabro mapa sobre John Blaike e várias anotações sobre todas as vítimas. Após ouvir as interrogações teria que adicionar mulheres às suspeitas, quem sabe seria a que acabou de ligar para ele? Não o mataria, acreditava.
O fluxo de vida saudável do rapaz faz com que ele pegue a primeira fruta que encontra na geladeira, se não pudesse pagar alguém que fizesse compras semanais para ele sabia que estaria perdido. Sobe as escadas às pressas e termina de beber a lata de energético que deixara sobre a estante do quarto.
A cama king size nunca fora dividida com ninguém – nenhuma mulher, apenas o cachorro em noite de tempestade. O closet ocupa boa parte do segundo andar, seguido por um home onde passa os dias mais tranquilos assistindo filmes de época. Por incrível que pareça, o seu preferido é Hannibal. Caminha até o banheiro e escolhe tomar um banho gelado, não conseguiria dormir durante a noite, por isso ir até o escritório era uma opção viável, talvez passasse no apartamento de no caminho.
Veste a blusa social branca, aquela que sua mãe lhe dera quando ainda era viva, a calça jeans escura e uma gravata marfim acompanham o traje. Esconde a arma no espaço que sua roupa lhe proporciona e pega as chaves do carro alugado, já que o seu ficaria na perícia por muito tempo depois do incidente com o cabelo. Entra no carro e coloca na rádio que parece mais animada, ele não estava animado. Mas não queria demonstrar que estava com raiva. Estaciona o carro em frente ao prédio da parceira e o porteiro não pede autorização para que o loiro entre.
O apartamento tem a porta encostada, ele abre sem hesitar e não acredita no que vê. está deitada no sofá usando apenas a calcinha branca, tem os olhos fechados e uma respiração descompassada. Apenas isso é o suficiente para que ele sinta o membro crescer dentro de suas calças, os seios da mulher são a coisa mais bela que já viu. Sente vontade de se aproximar, de tocá-la, de senti-la, de fazê-la suspirar, de estar dentro dela em todas as formas possíveis. Fica louco ao imaginá-la gemendo seu nome, gritando para que toda cidade ouça, dominando seu corpo, tocando seu abdômen. Quer encostar as mãos em cada centímetro do que vê, quer falar que é dono dos próprios olhos. Tudo se mistura ao choque de encontrá-la nessa situação, nunca vira dessa forma, sempre soube que faria qualquer coisa para vê-la assim. Passa as mãos pelo próprio rosto, não sabe o que fazer, morde o lábio inferior até que sinta o salgado gosto de sangue. Quer tirar o pequeno tecido de renda que o separa do mais bonito. Ele nunca sentira tanto desejo. Nunca sentira a necessidade de tocar alguém.
O próprio corpo entra em estado de êxtase, o sangue circula rápido por todo espaço que pode e o coração é como o de uma pessoa prestes a desmaiar. As mãos que sempre estiveram geladas são capazes de queimar a própria pele, mas, a cima de tudo, satisfazer as vontades de . As pálpebras se fecham por um segundo, privando Blaike de algo que mal sabe se veria novamente.
Dá um passo a frente e dois atrás. Ignora os minutos que observa a forma de seus mamilos, ignora a vontade que tem de beijá-los, de sentir a ponta do próprio nariz roçar contra eles. Ignora tudo a sua volta, tenta ignorar até mesmo o pênis ereto dentro de suas calças. Aí então ouve o despertador, arregala os olhos desesperados. está afobada, os olhos castanhos desiludidos, tentando se cobrir com o que encontra pelo frente, em busca do celular perdido no meio do sofá. Blaike corre até o conhecido banheiro para visitas.
Nem mesmo toda a pressa do mundo o faria desistir do que iria fazer, abaixa as calças num segundo, deixa a arma de lado e coloca a própria mão sobre a ereção. Sentado no chão imagina nua à sua frente, pensa no corpo da mulher rebolando, o provocando de todas as maneiras possíveis, imagina o quão quente deve ser seu interior, o quão apertado seria. O quão gostoso seria fazer amor com a parceira. Sim, pode parecer brega mas ele não queria simplesmente foder como faz com todas as outras, ele queria fazê-la se sentir amada, desejada. O gosto do sangue se mistura com a saliva e movimentos lentos o fazem liberar um gemido, não liga para que escute do outro lado da porta. Imagina a própria mão tocando seus seios, com delicadeza. Os lábios distribuindo beijos por todo seu corpo, frente e costas. Pensa na mulher  respirando perto de seu órgão, pedindo por satisfação; chega sentir o corpo suado sobre o seu, tão excitado quanto o seu. Só quer que ela entre e traga tudo que imagina para realidade. Joga a cabeça para trás e sente suor escorrer por seu pescoço. Ele precisa sentir-se dentro dela, faria disso sua missão de vida. Vê o liquido branco se espalhar pelo piso de porcelana e respira fundo. Tudo culpa de .
Fica de pé e veste as calças, felizmente não ficaram sujas. Tenta dar um jeito no piso do banheiro e abre a porta. Ignora tudo que acabou de acontecer, a vida continuaria como sempre fora; adicionando o fato de que ele vira o corpo seminu da mulher de sua vida. Respira fundo e encontra a mesma com roupas de trabalho, bebendo um copo grande de café, respirando ofegante.
- Vai trabalhar agora? – pigarreia, ainda encantado.
- Não sei. – Ela parece mais tímida que o normal. – Dormi por algumas horas, acho que o suficiente.
- Estava confortável no sofá? – a pergunta é acompanhada pelo riso cínico e não obtém resposta.
- Estou cansando dessa investigação – afirma num pulo.
- Tem menos de cinco dias, vamos descobrir tudo em pouco tempo.
- Cansei de todas essas pessoas te culpando, me fazendo perguntas idiotas, cansei de não poder chorar. Quero desistir do caso – afirma encarando o parceiro nos olhos, que arqueia a sobrancelha.
- , querida – o apelido a incomoda, pelo fato do que acabou de acontecer. – Eu e você estamos juntos nessa, eu e você somos os únicos bons o suficiente para desvendar isso. Toda vez que sentir vontade de desistir do caso quero que se lembre da primeira vez que trabalhamos juntos. – Passa os dedos pelo rosto corado da mulher. – Lembra daquela criança? Ninguém acreditou quando dissemos que o menino havia matado o próprio pai, fomos atrás das filmagens e vencemos o caso. – Ela treme as pernas em ver os olhos . – Depois daquilo sabíamos que poderíamos vencer qualquer coisa, podemos ser suspeitos – faz a expressão sugestiva. – Podemos ser vítimas, investigadores, peritos – enumera nos dedos as possibilidades. – O que importa é que podemos desvendar isso.
  - Pode me dar uma carona? – ela se vira desnorteada, Blaike tinha o dom da palavra.
- Quando quiser, temos muito trabalho a fazer.
- Veremos.

  Sozinha no escritório pensa no gemido de que ouvira, mal percebe que um fogo se instala por dentro de seu corpo ao imaginar no que ele fazia no banheiro, sente-se excitada em saber que pensava nela enquanto se tocava. Qual seria a fantasia do rapaz? Qual foi a reação quando a viu sem roupa? O que sentiu vontade de fazer e não teve coragem? A mulher desabotoa o primeiro botão da camiseta, precisa de ar. Pensa no modo como as veias do rapaz estavam saltadas quando ela abriu os olhos, pensa que ele poderia utilizar tudo aquilo para...
- – Joe adentra a sala, notando algo estranho. – Está tudo bem?
- Estou ótima – mente, mantendo a postura. -  Novidades?
- O bilhete que foi entregue à Victoria pedia para que esperássemos, certo?
- Certo.
- Vamos manter a escolta com ela e continuar com as investigações.
- Sim – a garota mal sabe com o que concorda, a cabeça está bem longe dali.
- Precisamos dar continuidade à investigação, não sabemos quando ela irá agir – o mais velho prossegue com o discurso.
- Entendo, pode ser hoje ou pode ser em vinte dias.
- Antony conversou com nossos psiquiatras, eles acham que a assassina deixaria um bilhete antes do próximo crime. Como fez com você e várias vezes.
- Claro, pode informar a data e endereço.
- . – ele se senta na cadeira, sem pedir permissão. – O que aconteceu?
- Como diz? – confunde-se.
- Aconteceu algo que não quer me contar? Sabe que pode cofiar em mim, acima de tudo.
- Parece que posso confiar em todos vocês esses dias. – Respira fundo e pensa em entregar as cartas. – Acredito que seja a falta de sono.
Com certeza as três horas de sono diárias nos últimos cinco dias afetava seu humor e modo de raciocinar, o fato de ter se masturbando em seu banheiro também mudava seu metabolismo, aumentando o desejo sexual, que foi satisfeito poucas vezes desde a morte do marido. Mas ela manteria o foco, não queria se deixar levar pelo loiro, que deixou bem claro ter dormido com mulheres de toda Nova York e Califórnia.
- Não seja por isso, vamos resolver isso mais cedo ou mais tarde. Vá para casa, durma um pouco...
- O problema é que não consigo dormir, é como se estivesse voltando a época em que ele morreu e não sei mais como agir.
- E você se lembra o que a fazia dormir naquelas noites? – o mais sábio indaga, sem segundas intenções. – Se eu fosse médico te recomendaria Blaike.
- Falando de mim, como sempre – o loiro entra na sala como se tivesse sido chamado. - Aqui está a lista que me pediu. - Ignora a presença de Joe.
- O que tem aí? – o chefe pergunta.
- Nomes das garotas que moram em Chinatown, alguém de lá ligou para ontem. - A morena nota que o papel tem cinco nomes. – Devemos ir atrás delas.
- Como quiser – Blaike concorda, abrindo passagem para que Bard saia.


Capítulo 10 - Stacey I


- Eu não sabia que gostava de orientais – diz ao passarem pelo arco que indica o começo de Chinatown. – Depois de todas as garotas que vi imaginei que seu negócio consistia nas loiras.
- Loiras são fáceis – debocha e a mulher ri.
- Você é loiro.
- Não sou mulher.
- Qual o seu negócio com as loiras?
Blaike não queria confessar o medo que sentia por dentro, não queria ouvir a própria voz falar que tinha medo de se envolver com uma morena e cair de amores, assim como caíra por . Preferiu manter a desculpa ridícula que inventara mas que não deixava de ser verdade. As mulheres se atraiam por ele como ímã, só fazia sua parte em satisfazê-las. Nota que o bairro tem pouco movimento, em épocas de festa é impossível caminhar por ali ou comer yakisoba original que Jiang preparava sempre que passava por ali.
O casal não deixa de evitar olhares curiosos, os moradores da região deixam de fazer suas tarefas diárias para esgueirar os olhos nos dois, analisar cada peça de roupa de Blaike e levar em conta o corpo da mulher. Tentam manter o queixo erguido e ignorar comentários que alegam serem os assassinos; passa o braço ao redor do pescoço de e ela sente o estômago borbulhar com a variedade de comidas frescas. O homem, no entanto, percebe que seus movimentos estão sendo calculados, cada inspiração é feita em câmera lenta e alguém conta os passos para que ele faça algo criminoso.
- Anish é a primeira. – O aparelho celular indica que o número do prédio da garota é 245, que fica no meio do centro comercial. – Nome diferente.
- Ela é indiana, até conhecê-la eu achava que o “mundo oriental” era constituído por China e Japão – ouve um riso fraco.
- Amo esse lugar – a agente diz com certo brilho nos olhos.
Por sua cabeça tem imagens de quando ela e Margaret iam todas as sextas-feiras comer bananas carameladas em uma banca distante, suas mães as deixavam sozinhas e, há vinte anos atrás, a cidade não era tão perigosa. Se lembra de Lara e da própria mãe fazerem-na experimentar diversos quimonos em busca de transformá-la em uma chinesinha. O pessoal da região a conheciae e sempre a enchia de doces e mimos; infelizmente havia crescido e tudo que viam agora era a cúmplice de um serial killer.
- Chegamos – os braços firmes e pálidos de a empurram numa porta vermelha, de madeira.
Ela suspira ao ver que terá de subir escadas e tira os saltos, torce para que o andar não seja distante do mesmo modo que torceu anos atrás carregando Anish em seu colo, descontrolado. Tinha conhecido a garota ali mesmo, na porta de seu próprio prédio. Ela estava chorando pois o pai não pagaria mais o aluguel; naquela noite Blaike estava contente, tinha acabado de finalizar um caso e combinado de comemorar com a equipe em um bar da região. Ofereceu dinheiro à garota, o suficiente para que se manteasse por um ano no prédio barato ou conseguisse se mudar para uma região mais cara. Não entendeu a reação da indiana, que lhe sorriu timidamente, o convidando para entrar em um inglês de nível baixo; eles subiram e ficaram pela sala durante uma hora, a garota não sabia o nome dele e pronunciava palavras na própria língua – algo diferente, não bom. Isso se repetira duas vezes nas semanas seguintes, depois disso nunca mais haviam se falado. Até o momento.
A porta amarelada do quinto andar está encostada, no vão enxerga um bebê dormindo pelo sofá e um casal conversando em sussurros. Vê que a mulher, mesmo de pele escura, tem cabelos tingidos – fazendo valer sua teoria sobre Loiras+Blaike. Bate na porta duas vezes, como se não tivesse investigado toda a vida da mulher.
Casada há três meses, tinha um filho de três anos cujo pai não constava registro e outra menina que acabara de nascer na última semana. A mulher abre a porta, já esperava por eles. Cumprimenta o casal com um aperto de mãos e engole seco ao trocar olhares com . ri abafado ao pensar nos dois juntos.
- Sou Arnolds e imagino que você conheça Blaike – diz para que o marido da mulher ouça.
- Sou Anish, esse é Raj. Nossos filhos Sasha e Miguel – o sotaque em sua voz é marcante, sem contar o fato de as vestimentas serem de um amarelo vibrante.
- Deve saber sobre nosso serial killer. – Todos limpam a garganta. – Estamos aqui porque temos a missão de investigar toda mulher que se envolveu com e fazer curtas perguntas – ela concorda e Raj fica ao lado da esposa, com a mão sobre seu joelho.
Blaike nota que o apartamento mudara, quando esteve ali via apenas uma geladeira e um sofá, a televisão antiga fora substituída por uma moderna e no lugar onde estava o banheiro parece ter um berço. Fotos de família e fotos de pessoas antigas ocupam as paredes ao lado de estátuas de Buda e muitos incensos acesos. não iria negar que gosta do cheiro.
- Quero olhar seu celular, preciso ver as ligações que fez ontem a noite – o loiro é calmo.
- Uso o mesmo aparelho que meu marido, se não se importa. – No mesmo instante o casal de agentes descarta a possibilidade de ter sido Anish. Pegam o aparelho e veem que as últimas ligações foram feitas para contatos salvos, nenhum número parecido com o de .
A mulher interrogada responde tudo com tranquilidade, o homem ao seu lado sente pouco ciúmes e pouca desconfiança, fica claro em seus olhos que declara Blaike culpado. Outras perguntas são feitas e ambos não deixam de analisar expressões ou movimentos estranhos, até mesmo o modo que as crianças de comportam na presença de visitas, nada acusador.
- Agradecemos pelo seu tempo – se despedem. – Fiquem com meu cartão, qualquer suspeita ou ação incomum, me liguem. – Fazem sinal positivo com a cabeça e esperam pelos agente chegarem dois andares abaixo para trancarem a porta.
- Com certeza não foi ela, primeiro por que tem uma família.
- Também notei que é muito religiosa, não me procuraria numa madrugada sozinha.
- Você mesmo não disse que se garante? – pergunta perversa.
- Quer experimentar? – responde com a mesma expressão, sabendo que ficaria no vácuo. – Kazumi é a próxima, vire a esquerda.
  O homem aponta para a pequena casa numa rua sem saída. Se lembra da noite que tivera lá, pela primeira vez esteve com duas mulheres. Jurou para si mesmo que não se repetiria, foi em vão.
- Kazumi e Kioshi. – A mão quente da mulher fica sobre suas costas, ele se arrepia. – Não desmereça seu ménage. – Arranca o riso perverso do parceiro.
  Veem as duas garotas na porta, uma delas é definitivamente japonesa e a outra – pela surpresa de – loira tipicamente americana. Não estranha o fato de ter cumprimentado com um beijo demorado, encostando a língua em sua bochecha. Engoliu seco junto à Blaike, ele não queria que visse esse tipo de cena, se sentia um homem sujo.
- Vamos ser rápidos – a agente tira a caderneta da bolsa.
  - pode entrar, se quiser – o chiclete cor de rosa na boca da garota está derretendo.
- Não, obrigado – sussurra verdadeiro. – Preciso de seus celulares. – Ele tem os aparelhos em mãos de prontidão, usa seus melhores truques para descobrir as chamadas deletadas, nenhuma delas foi para seu número mas não hesita em colocar o grampo no aparelho de Kioshi, sem que ela perceba.
- Estão cientes do que acontece na cidade?
- Adoro sadomasoquismo, nunca experimentei mas estou aberta à tentativas. – clama pelo nome de Deus ao ouvir a frase, morde o lábio segurando a gargalhada.
- Teriam algum motivo para procurar por esse homem na noite passada?
- Sim – respondem rápido surpreendendo os agentes, mal imaginavam a sequência da resposta. – Gostaríamos de ter sexo inesquecível mais uma vez. – A japonesa respira fundo. – Mas ele deixou claro que não queria mais me ver, ou ver Kioshi.
  - O que quer dizer com isso? – a pergunta de é sugestiva.
- Olhe isso – pega o celular de volta e abre as mensagens, mostrando que uma delas foi enviada no dia da morte de Lara, praticamente na mesma hora que marca o atestado de óbito.
- Você tem um álibe – sussurra na orelha do rapaz. – Garotas, muito obrigada por suas respostas, recomendo que se preservem e tomem cuidado ao sair por aí, a assassina pode estar em qualquer lugar.
- Assassina? – perguntam, talvez sejam tão amigas que sincronizam as falas.
- Eu disse isso? – ri nervosa, procurando onde se esconder.
- Liguem para mim caso precisem – o loiro reformula a frase. – Caso precisem de ajuda.
- Se é assim – Kazumi inicia – Preciso de você agora. – Passa a língua ao redor dos lábios.
- Tenham um bom dia – arrasta pelo braço tentando se livrar do lugar onde estavam, ficar distante daquelas garotas.
- Juro que não são prostitutas.
- Essa ideia nem passou pela minha cabeça – a mulher soa irônica. – Onde conheceu essas garotas?
- Todas as que moram aqui, conheci aqui.
- Você não passa de um flertador.
A frase dói no peito de Blaike; obviamente ele não deixaria que essa dor transparecesse para que visse mas por dentro foi como uma faca. Era isso que finalmente pensava dele? Desde o dia em que se conheceram ele não passava de um flertador? O homem tenta encontrar o melhor sentido da palavra – poderia ser considerado bom de cama? Ter um beijo maravilhoso? Saber como conquistar uma mulher? Não encontra e isso comprova que nunca teria chances. Ela é uma mulher bonita, independente, em um cargo ocupado geralmente por homens e Blaike acreditava que ainda teria chances? Ora, ele não negaria a si mesmo as vezes que vira os olhos castanhos se esgueirarem até seu corpo, não negaria o modo como ela arfava quando o via de costas, sem camisa. Também não podia deixar de lado os suspiros aliviados que saíam da boca da mulher quando se abraçavam. Talvez não passassem de amigos.
As ruas ficam lotadas de bicicletas, os trabalhadores carregam mudas de alface nas costas e usam roupas brancas neutras, como se estivessem caminhando pela própria China. Os olhares em direção ao casal não cessam, alguns pais cochicham nos ouvidos das crianças para que entrem em casa e o agente avista de longe quem menos esperava ver. Jason Welch.
O babaca do jornal, se passou pela cabeça dele.
- É melhor que segure a onda – a morena sussurra.
-  Quero cortar a onda desse cara – Blaike range os dentes.
- A população oriental parece estar bem concentrada em nossos movimentos – observam suas laterais. – Qualquer coisa que fizer vai nos deixar na capa do New York Times.
- Quem sabe ganho outra edição especial? Ou quem sabe sou convidado para o Good Morning Nova York? Ou até mesmo façam um reality sobre nossa vida no departamento? – o tom de voz se torna agressivo. – Ou façam um filme sobre como mato garotas indefesas? Como fizeram com zodíaco.
- Vamos até lá – puxa o homem pelo braço.
- Enlouqueceu? –  se impõe. – Você mesma me mandou segurar a onda.
- Temos que ser simpáticos, ele é o responsável pela nossa imagem agora – diz e ouve um ar argumentativo.
Os saltos de verniz vão na frente, os pés parecem saber exatamente onde pisar para que não tropecem em uma rachadura da rua. Blaike não evita checar as costas da mulher. Oras, ela poderia fazer isso com ele, ele poderia fazer isso com ela. Respira fundo e arruma o casaco preto no corpo, tenta aderir seu olhar mais simpático. Talvez não funcionasse para pessoas como o jornalista Welch.
- Jason – ergue a mão, sorrindo.
- Meus preferidos. – O homem se levanta deixando o prato de Dashi sobre a mesa. – O que fazem por aqui?
- Resolveu nos perseguir? – solta o comentário recebendo uma suspensão da parceira.
- Anda irritado, Blaike? – A caneta está na orelha de Jason, vê o modo como propositalmente está, é uma câmera.
- Estamos muito focados em descobrir quem é o assassino, muito trabalho. – O profissional da a honra de um sorriso, falso. – Estamos nos Estados Unidos e aqui as coisas tem de ser resolvidas rápido.
- Entendo – a calça Capri faz um movimento para trás. – Não se sentiram incomodados com minha matéria?
- Devo confessar que...- interrompe a mulher.
- No começo sim, mas isso me motivou a focar em descobrir quem é o verdadeiro assassino.
- E quem é o principal suspeito de vocês?
congela, responderia que era o pai? Assim, de frente à uma câmera falaria que o próprio pai é o assassino qual todos temem? Cruza as pernas nervoso e encara o chão, espera que entenda o recado e responda pelos dois. Ela não o faz, apenas tem os olhos vidrados no loiro, com a mesma reação.
- Não podemos responder isso para a mídia – afirma, convicta.
- Mídia? – Jason ri, capaz de ser mais fingido que o próprio Blaike. – Só estamos nós aqui.
- Nós, milhares de pessoas que não falam nossa língua e uma câmera na ponta de sua caneta. – tira o objeto da orelha do rapaz, o deixando sem saída.
- Não passa de uma caneta. – Welch tenta tirá-la das mãos do agente, que é mais rápido em leva-la até o bolso.
- Agora é uma caneta que carrega muitas informações.
- Boa tentativa Welch, tenha um ótimo dia – se vira e deixa os dois homens trocarem olhares de raiva por alguns segundos.
sente as pernas doerem como se corresse uma maratona, invejava o próprio corpo por conseguir estar sempre em cima de saltos altos, sua mãe lhe ensinara o quanto é preciso manter a classe. Não importa a ocasião. Vê uma cadeira vazia em frente ao balcão de uma loja de sucos, faz de lá seu próximo objetivo. Ao sentar vê que o balcão tem marcas de faca e o tempo não foi generoso com muitos dos objetos da cozinha, o atendente é um senhor de setenta anos que não enxerga direito, ela olha o cardápio e pensa no mais simples que pode pedir para não complicá-lo.
- Um suco de laranja? – entona como pergunta.
- Dois – Blaike diz, de pé ao lado dela. – Aquele homem me tira do sério.
- Ele devia ser mais cuidadoso se quer te incriminar.
- Ele já me incriminou, o negócio é que a presença dele me irrita.
- Fique tranquilo, não é preciso sentir medo quando não tem culpa. – Ela coloca a boca no canudinho deixando a marca de seu batom alaranjado.
O homem repara o modo como a mulher está atenta, parece observar cada movimento dos que estão no local e mede até mesmo seu piscar de olhos. Deixa o copo de suco pela metade e fica de pé, deixando a nota amassada de vinte dólares para que alguém pegue.
- A próxima é Stacey. – Confere no bloco de notas e dão de cara com a casa 241.
Duas batidas fracas na porta são o suficiente para que um homem de terno a abra, sem ao menos observar pelo olho mágico. Ele veste roupas aparentemente de marca e porta um Rolex antigo no pulso. Sua esposa está ao lado com um vestido longo simples, vermelho; e olhos vagos como se procurassem por alguma coisa. O engravatado não hesita em levar a mão em punho no queixo de Blaike, fazendo com que ele cambaleie para trás em busca de entender o que acontece.
O agente tenta avançar e é segurado por , que está tão perdida quanto a outra mulher. O mais velho se aproxima do rosto de , mesmo com aversões da esposa.
- O que fez com minha filha? – a pergunta sai como num rosnado.
- É melhor que não responda – sussurra no ouvido do parceiro e faz com ele fique atrás dela, no cérebro de Blaike tudo está à mil por segundo.
- O que quer dizer? – a jovem agente permanece calma.
- Stacey desapareceu.
- Desapareceu? – indagam juntos, preocupados.
- Sumiu? – se aproxima, sendo interrompido.
- Como, desapareceu? Essa palavra tem algum outro sentido para vocês?
- Quando foi a última vez que a viram? – indaga, com o celular em mãos.
- Ontem a noite – a voz chorosa vem da mãe preocupada. – Ela deveria ter ligado essa manhã, é aniversário do irmão dela. – O marido passa os braços ao redor da mulher.
- Vieram procurá-la nesse momento? – percebe não ser bem recebido na conversa, mas tem que continuar, já que fala com Joe Bard pelo celular.
- Imaginamos que fosse você – o homem avança, controlado. – Você fez com ela todas as coisas que fez com as outras pobres garotas? – Suor escorre por seu pescoço.
A pergunta fica vaga, o loiro prefere não responder e todos prestam atenção nos pedidos que faz pelo telefone. A mulher mais velha tem os braços trêmulos e o marido não desfoca os olhos de Blaike, não poderiam fazer movimentos bruscos.
Estavam como predador e presa.
- Ela tinha namorado? – pergunta, curiosa.
- Não, entrou em depressão depois que...- a mãe começa e é interrompida por Rodrigo, o pai da garota.
- Ela ficou doente por culpa de . – Seu modo furioso oscila quando vê um carro da polícia se aproximar.
  Logo atrás os carros pretos do departamento trazem os companheiros do casal. Mal estacionam quando Joe Bard está de pé do lado de fora, o terno amassado indica que estava em casa na hora que foi chamado. As garotas da perícia carregam alguns papéis porém não estão vestidas para investigar, Antony apenas observa tudo que acontece, sentado no banco passageiro.
Rodrigo hesita em deixar os policiais entrarem na pequena casa, nenhum deles tem armas a mostra ou apresenta postura agressiva.
- Eles certamente não tem o celular dela em mãos, para verificarmos as chamadas – Blaike sussurra próximo à Joe Bard.
- Antony pode dar um jeito nisso – comenta, chamando pelo garoto no carro.
- Qualquer coisa suspeita dentro dessa casa é uma evidência. – lança o olhar às outras integrantes do grupo. – Tirem foto de tudo, precisamos saber se isso se trata de um sequestro ou uma fuga voluntária.
- Sim senhor – afirmam tirando as câmeras de última geração da mochila.
- Tentem acalmar os pais da menina, espero por eles na sala de depoimentos – afirma a um policial que conversa com o casal, ele assina o papel que lhe é mostrado para dar inicio à investigação.


Capítulo 11 - Stacey II


O tilintar das unhas na mesa metálica incomoda . Alguns homens engravatados caminham pela sala em busca de uma solução viável. É isso que acontece quando há um erro em uma família rica. Blaike - criado com a famosa “colher de prata*” - havia crescido envolto de pessoas preocupadas com o menor problema possível.
A gravata do pai não fora passada? Chamem o SWAT. A energia acabava e precisariam usar o gerador por dez minutos? Comprem a hidrelétrica, oras. A mãe estava morta no chão da cozinha? “Não conte nada a ninguém, filho.”
Respira fundo e chuta o pé da mesa de mogno, vê que a água dos copos balança, refletindo um grande lustre dourado a cima dos presentes. Passa os olhos ao redor e vê o pai da garota colocar uma aspirina na boca, não seria melhor um calmante? O homem se senta na cadeira de couro e fecha os olhos. Tem olheiras grandes, o que indica que passara a noite acordado. Mas fazendo o que? Sexo com a esposa não lhe traria tamanhas marcas de cansaço. Havia algo errado.
O casal recusara ser interrogado na delegacia; como Blaike pensava: pessoas ricas ditam as ordens, pouco importa à polícia se você é culpado ou inocente. A mãe da desaparecida está na sala com , as duas frente a frente, entre quatro paredes e uma câmera minúscula, quase não perceptível.
- Vejo que está nervosa. – repara as mãos trêmulas de senhora. – Qual seu nome?
- Maria – diz, com a voz tão fraca quanto o corpo.
- Maria, mãe de Stacey, esposa de Rodrigo. – A agente liga os pontos, estava tudo certo até aí. – Você disse que se viram ontem a noite?
- Exatamente.
- Onde estavam?
- Na casa dela.
- Pode me dizer o horário, o que fizeram, se seu marido ficou distante por algum segundo? – A chuva de perguntas desvia o olhar da entrevistada para um antigo quadro na parede.
- E-eu... – Na cabeça de Maria várias respostas diferentes lhe aparecem, ela sente medo de dizer a verdade. – Ficamos juntos o tempo todo.
leva o olhar ao esmalte velho nas unhas da mulher, estavam pintadas de branco apenas em sua raiz; assim como o cabelo, esbranquiçado no topo e castanho escuro nas pontas. Os olhos claros são sempre mais fáceis de transparecer sentimentos - talvez esse seja o motivo de serem tão atraentes. Maria tem os dedos entrelaçados, tremendo. O olhar distante encara a oficial, olho por olho? Este ditado era o que tinha em mente.
- Maria, me responda. O que vocês fizeram na última noite?
A pergunta fica no ar, a mulher abre a boca mais vezes para se justificar e não consegue. Está nervosa, esconde algo. E se está escondendo é porque sabe o que aconteceu com Stacey.
- Posso esperar pelo seu advogado – 3 fica de pé e caminha as longas pernas até a pesada porta de madeira.
A tensão da sala é liberada para o local onde se encontram todos os outros; Rodrigo corre até onde está a esposa e é possível ouvir um choro abafado do cômodo ao lado. Blaike esperava ansioso pela companheira. Não via a hora de deixar aquele local e as perguntas indecentes que estavam lhe fazendo. Pelo olhar de percebe que não foi um bom interrogatório, ambos haviam notado que uma peça do quebra-cabeça faltava, as vezes pensavam que tinham apenas uma peça e todas as outras se perderam.
O casal faz com que abram passagem para que cheguem até a saída; como esperado várias câmeras e microfones os aguardam do lado de fora. Jornalistas desesperados por uma matéria de primeira página realmente intrigavam Blaike, que admitia gostar de chamar a atenção. Caminham de queixo erguido até o carro que os espera, ignoram toda pergunta que lhes é dirigida mas, infelizmente, não conseguem ignorar as acusações de assassinato.
- Se fossemos nós, por que estaríamos investigando o caso? – pergunta antes de fechar a porta do Range Rover e ser levada até o departamento.

- Como era seu relacionamento com  a garota desaparecida? – A pergunta é feita numa sala lotada, apertada.
- Nós... – ri ao se lembra da menina, não tecnicamente do rosto. – Ficamos juntos, eu fui a primeira vez dela, não que isso importe.
- Para ela importou muito – afirma, usando o lado feminino do cérebro.
- Claro, vocês mulheres tem uma cisma com isso. – Revira os olhos, voltando a contar a história. – Eu não ia ficar com ela, não passou de uma noite, uma hora, para ser exato.
- Sinto que Stacey não gostou disso... – Denna faz anotações.
- Ela me ligava, me mandava mensagens – o loiro adere uma respiração pesada. – Ela me irritava e eu não encontrei nenhuma saída... Então resolvi matá-la. – A reação assustada não escapa de nenhum dos presentes.
Olhos arregalados e suor frio são as principais características dos que ouviram a última frase, Antony não pensa duas vezes em levar a mão ao coldre ocupado por uma pistola.
- Vocês caem muito fácil – o homem dá uma gargalhada alta, todo o susto dos agentes foi transformado em ódio.
- Não temos tempo para brincadeiras Blaike – dá um tapa visivelmente doído nas costas do parceiro.
- Isso não foi engraçado – Joe Bard se aproxima, colocando o dedo indicador na garganta do mais novo. – Se sua presença não fosse tão importante eu juro que...
- Jura que? Que vai me botar na rua? Vá em frente, eu sou o melhor nessa merda, ache alguém para por no meu lugar – ambos estão de pés, de olhares travados.
- O que fez com a garota? – separa os dois, trazendo calma à conversa e ignorando a possível discussão.
- Peguei a irmã dela, vocês ririam se vissem o quão irada ficou.
- Também causou depressão. – Antony checa nos relatórios. – De grau 2, monopolar. Você parece uma namorado perfeito.
- Quer tentar Antony? – Blaike percebe o quanto o garoto lhe manda indiretas nos últimos dias, estava lhe tirando do sério. – Ela ficou depressiva, nunca mais conversamos. O médico relatou que lhe faria mal.
- Conversou com o médico, antes de tentar contato?
- Ele veio até mim, me perguntou se eu estaria aberto a um relacionamento. Eu disse que fugia deles, ele disse que era melhor ficar longe, não entrar em contato e ignorar qualquer contato de Stacey.
- Dispensados – anuncia, de cabeça quente.
A mulher abre a bolsa que lhe custara metade do salário e tira de lá um de seus remédios. Faz careta ao encará-lo e vê que observa toda a cena, perspicaz.
- É melhor que tome isso – não se aproxima, permanece encostado na bancada.
- A depressão da garota... acha que foi sua culpa?
- O que posso lhe dizer querida, algumas pessoas são mais sentimentais que outras.
- Foi impressão minha ou o casal milionário escondia algumas coisas?
- Eles sabem onde a garota está, só temos que forçar um pouco.
- Eu sou a policial boa, você é o policial mal?
- Se esse é seu desejo... – a resposta é levada para uma conotação sexual, deixando as orelhas de vermelhas.
- Acho melhor você interpretar o bonzinho, eles já te odeiam o suficiente.
- Garotos. – Um secretário bate duas vezes na porta aberta. – Os advogados chegaram, com Maria e Rodrigo.
A afirmação com a cabeça é seguida por passos rápidos até o elevador, o conhecido terceiro andar se mostra mais lotado que o normal. É possível enxergar flashs atravessarem as paredes de Blindex, que mostram o lado de fora da cidade. Ao longe veem também Jason Welch, conversando com Joe que definitivamente manteria o controle da situação.
- Boa noite – adentra a sala acinzentada. – Sou Arnolds – cumprimenta o advogado que está ao lado de Rodrigo.
- Blaike.
- Tive a oportunidade de conversar com Maria, porém Rodrigo se mostrou indiferente – a afirmação faz com que o advogado sussurre algo no ouvido do cliente.
- Rodrigo, onde esteve ontem a noite?
- Em casa – a simples afirmação sana as dúvidas do casal.
- A noite inteira? – ergue uma das sobrancelhas. – E quando digo isso me refiro a todas as 12 horas consideradas noite.
- Sim, a noite inteira.
- Correto, o senhor alega que passou toda a noite em casa, com sua esposa?
- Exato, minha filha foi nos visitar.
- Sua filha foi até a casa de vocês, onde puderam conversar.
- Correto.
- Ela ficou lá até que horas?
- Dez da noite, acredito que não passamos disso. Ela se sentia...
- Não continue – o advogado intervém.
- Vocês conversaram, comeram? Se divertiram?
- Assistimos à um filme, algo que sempre fizemos.
- Entendo, logo depois ela foi para casa de carro, táxi? – Blaike dispensa os papéis em branco.
- Eu levei ela até em casa, só fui embora quando havia entrado e trancado a porta.
- Como teve tanta certeza de que a porta estava trancada? – Os olhos de se chocam com os de Rodrigo.
- O que insinua com isso? – O engravatado fica de pé.
- Dispensados, esperem por aqui. Vou precisar de mais palavras, – aponta para a porta. – Quero que Maria volte, por favor.
- Olá – a mulher está mais calma que da última vez que se encontraram.
- Tenho algumas perguntas, diferentes das que fiz à Rodrigo – afirma, se arrumando na cadeira desconfortável.
O modo frágil como a mulher se comporta faz com que o homem se lembre da própria mãe. O tipo de mulher que sempre fica avulsa às decisões do marido e, sem dúvidas, está submissa. Respeita o que quer que seja ditado por um homem e esquece de respeitar os próprios direitos. Na maioria das noites esgueira para um dos seis quartos da casa e chora, sem saber o que fez da própria vida; se lembrando de quando tinha vinte anos e pensara que havia encontrado o amor da sua vida. Um homem que jurou dar-lhe alegrias, mas percebeu que tudo não passava de falsas promessas. Logo vieram os filhos, os problemas no casamento, o excesso de dinheiro, as preocupações desnecessárias, as amantes oportunistas. Uma briga, um grito, uma faca. Era tudo que aquele casal precisava, já que amante deveria estar em cena desde o primeiro ato.
- Você ama seu marido?
- , essa pergunta é irrelevante – o advogado afirma, impedindo a resposta.
- Senhor Blaike, por favor.
- Como quiser.
- Vou reformular, a senhora ama sua família?
- Claro, por que não amaria? – não hesita em responder.
Na cabeça de ela formulou o plano que coloca em ação.
- Você mentiria por eles? – a morena indaga, com olhar caloroso, não recebe respostas. – Pelo bem deles, você mentiria?
- Claro – o advogado se afunda na cadeira ao ouvir a resposta.
- Você considera assédio sexual um mal? Pelo qual mentiria?
- Sim
- Roubo?
- Com certeza.
- Herança?
- Sim, mas não é nosso caso.
- Assassinato? – Maria engole seco ao ouvir a pergunta, afirma com a cabeça, devagar.
- Você concorda que disse que: mentiria para salvar sua filha caso ela fosse uma possível vítima de assassinato?
- Não precisa responder isso – o defensor ergue o braço na frente de Maria, que respira cada vez mais fundo.
- Foi o que imaginei – fica de pé deixando a sala logo após .

  - É claro, eles tem medo de – Joe afirma observando a foto da família feliz. – A filha ligou para Blaike, eles sentiram medo de que ele poderia matá-la, levaram a garota para longe.
- Precisamos fazer com que confessem isso – Margaret, que acabou de chegar, tenta ser útil. – Vão conseguir mais rápido através da mãe.
- Chamem-na até aqui – assume controle da situação. – Não quero voltar até a sala de interrogações, tragam a foto do assassinato de Jade Edwards e uma do machucado de Victoria. – Respira fundo, sem pensar duas vezes. – Rápido! – O grito exalta as veias do pescoço do rapaz, fazendo morder os lábios.
Os olhos se encontram com os castanhos, o homem pisca para a mulher que se faz de desentendida. Ele ri e volta a encarar os papéis, com a cabeça bem longe das investigações. O cronômetro ao lado do quadro branco indica exatas 48h sem uma ação da assassina. Nenhuma morte, nenhuma denúncia, nenhum bilhete deixado pelos cantos do prédio.
- , pode nos deixar a sós – Blaike pede educado, quando vê Maria na porta.
- Com licença – uma mulher entra e a outra sai.
O loiro coloca as fotos sobre a mesa, recebendo a reação desesperada, vê a primeira lágrima escorrer de imediato. O advogado felizmente não está presente, o que soa estranho para Blaike.
A mulher coloca as mãos em forma de prece, engole seco e parece forçar os próprios sentimentos. A ponta do nariz fica vermelha, assim como as bochechas marcadas pelo tempo.
- Por sorte essa não é Stacey. – Os dedos que cobriam os rostos das vítimas são retirados. – Mas amanhã, você e seu marido podem encontrar sua filha na primeira página do jornal.
- Isso é impossível.
- É impossível a não ser que ela esteja morta...
- Não, .
- Maria, eu sei que faria de tudo para proteger a família – o homem abusa do lado mais sentimental. – Faça isso pela sua filha, que tanto ama.
- Não sei do que está falando.
- Você sabe onde ela está – a mais velha se encolhe. – Não, não tenha medo de mim. – Ergue as mãos como refém. – Sua filha não vai ser uma vítima, ela pode ficar segura dentro de sua própria casa, trancada a sete chaves.
- Ela está segura.
- Então ela está em algum lugar. – O detetive aproxima o rosto, deixando o maxilar em evidência. – Onde ela está? – A ponta dos narizes quase se encosta.
- Eu não sei, ela desapareceu.
- Vocês tem medo de mim. – Ele coloca a pesada arma sobre a mesa. – Se você tivesse a chance de atirar em mim nesse momento. – Respira fundo, empurrando o objeto até a mulher. – Atiraria?
- Que tipo de pergunta é essa?
- É o mesmo tipo de pergunta que me faz duvidar de seus dons maternos.
- Como ousa! – Fica de pé, indo até a saída.
- O lugar mais seguro para Stacey é nos seus braços, me pergunto o por que de ela não estar ai.
O homem se joga no pequeno sofá ao lado de uma estante com livros, passa as mãos pelos cabelos e procura possíveis esconderijos para a garota. É irônico uma jovem que tanto o procurava, agora ser forçada a fugir dele. A reação de Maria fora como esperava, mãos trêmulas e respostas curtas, como faz todo bom mentiroso.

Do lado de fora o medo da família ameaçada atiça os pensamentos de Antony; agora ele não desconfiava tanto de Blaike, mas também não deixaria o homem sair inocente de tudo que acontecia. Ele era a causa de todos os crimes, ele fora o homem que namorou dezenas de garotas e, entre elas, uma psicopata. O garoto checa o perfil de Stacey, consegue alcanço até as mensagens enviadas, porém algo bloqueia a localização do celular. Isso indicava que estaria fora dos limites de cidade. Em um avião, talvez?
A última pessoa com quem a desaparecida havia conversado foi uma amiga. Dentre fotos de artistas sem camisas e áudios cantando músicas pop ele encontra o nome de . A amiga alega que vira ele no jornal, Stacey diz que sente saudade. A amiga diz para que se mantenha longe. Stacey afirma que ligou para ele. A amiga pede para que passem a semana juntas. Era disso que precisava.

Margaret enrola os cabelos ruivos entre os dedos, no celular está em busca de um presente de aniversário para o filho. A mente procura um lugar onde a garota pode ter se escondido. Como toda poderosa mente feminina, a mulher percebe o olhar de Rodrigo sobre suas pernas nuas, ela não se sente desconfortável. Se sente elogiada.
Arruma a postura no banco em que está e vira os olhos verdes para o mais velho, ele não sente a mínima vergonha em continuar encarando a ruiva e a mesma é ciente de que não é lugar e hora para isso.
Por sua mente uma dúvida é sanada: Sim, todos os homens são cafajestes, não se contentam com uma mulher só. por si era a prova viva disso.
- Margaret – Joe diz em suas costas, ela leva o olhar até ele. – Muito obrigado pelas digitais do corpo de Victoria.
- Obviamente as minhas apareceram algumas vezes, conversei bastante com a garota.
- De toda forma, foi extremamente útil para a investigação.
- Bom, parece que os problemas não acabam – ambos olham Maria se debruçar sobre o marido, tendo um dilúvio.
- Precisamos arrancar a respostas desses dois, com licença – Joe Bard deixa a mulher sozinha, mais uma vez pensando em Stacey.

A sala só não está silenciosa devido aos rosnados de . O homem tem os olhos fechados e acabou pegando no sono devido a espera. No sonho ele discute com alguém e não consegue decifrar seu rosto; a arma está entre seus dedos e parece mais pesada que o normal, como se ele temesse atirar. As pernas fraquejam ora sim, ora não; tudo está escuro, consegue escutar sirenes ao redor e vários pedidos para que se afaste, o homem protesta. Insiste em dizer que está fazendo a coisa certa, insiste em continuar de pé e atirar na pessoa.
Ouve o barulho de choro, ouve a palavra perdão. Sente algo tocar seu ombro, não consegue entender quem é. Vê os próprios olhos marejados, desacreditados. Ouve a voz de seu pai, ao longe. John Blaike diz que tudo acontecia como havia previsto, dizia que nunca seria melhor que ele.
Os homens da família Blaike nunca saberiam amar, nunca saberiam sentir.
- . – Ergue o corpo apressado, sentindo a mão da parceira sobre seus cabelos.
- Antony descobriu algo. – Passa os dedos finos pelo cabelo macio do rapaz, sentindo que poderia fazer isso por horas. - Vem comigo?
A pergunta sai de maneira que deixe a mulher parecer indefesa, o homem não sabe se sente isso porque acabou de acordar ou ela realmente usa uma voz mais doce de propósito. Ele limpa os olhos e encara o chão, percebe que tem que parar com esse amor impossível. Tem que parar de sentir qualquer coisa por qualquer pessoa. Nem ao mesmo desejo.
Via embaixo de seu nariz tudo o que desejo lhe trouxera.


Capítulo 12 - Kiss Me


O carro com capacidade para sete pessoas fica na estrada por longas horas. Todos os agentes tem laptops em seus colos e buscam por uma informação útil. Já diziam os mais espertos: quem procura, acha. Denna encosta o rosto no ombro de Margaret e acaba por pegar no sono. No exterior apenas a luz da Lua os serve de distração, algumas freadas bruscas por conta de animais na pista também divagam os pensamentos.
Nenhum veículo familiar ou caminhão carregado aparece na estrada, é como se a pista se abrisse em um imenso tapete vermelho que os levaria até Stacey. Os pais da garota vinham no carro logo atrás, sendo vigiados por Joe Bard e Antony. Toda a preocupação em descobrir onde e menina estava desapareceu quando resolveram ligar para a avó do interior, que não fazia ideia do que acontecia na cidade grande.
Crianças e idosos são realmente os seres humanos mais evoluídos, pensava Blaike. Talvez fosse porque uns pouco viveram, carregando a inocência nos olhos. Os outros viveram muito e não tinham inocência alguma.
Então era sobre isso que a vida se tratava? Inocência? Claro, pensa bem, se nunca tivesse criado afeto pela mãe – ou pai, ou qualquer pessoa – não sentiria remorso. Não sentiria vontade de se vingar do pai, não saberia o que era amar alguém; amar tanto a ponto de matar por isso. Mas cedo ou tarde acabaria descobrindo o amor, veria que é a melhor coisa que podemos sentir – em vista de que nunca teria sentido nada. Ficaria apaixonado pela vida, por viver, por ver a vida ao seu redor. Ele não era tão inocente; havia visto de tudo, sentido de tudo, provado de tudo. Sabe o que acontece quando se ama, quando se odeia, quando cria expectativas e, justamente por saber, não quer que outros passem por isso.
As placas indicando caminhos secundários para fazendas da região que começam a aparecer, com os faróis altos o motorista observa cada curva ou trevo, não poderiam se dar ao luxo de errar o caminho. “Para Hoboken entre aqui”, lê cauteloso e finalmente chegam até a cidade onde Stacey está.
- Rua 876, casa número 04 – anuncia .
- Parece que alguém resolveu brincar de Missão Impossível – se refere ao filme de Tom Cruise.
- Se me lembro bem... – resolve entrar na conversa. – No filme a garota foi sequestrada.
- Bom, vamos inventar um termo para isso. – Os olhos estão focados aos números das casas. – Auto-sequestro.
- Ótimo termo. – Ele vira o rosto para a mulher e sorri de canto da boca.
As casas parecem ser todas parecidas de quadra em quadra. Jardins grandes, terrenos mal ocupados e muitas árvores nas portas. Nenhum dos agentes identifica pontos comerciais abertos ou luzes acesas dentro das residências. Nenhum jovem bêbado tropeçando pela calçada ou prostituta se oferecendo nas esquinas. O total oposto de Nova York.
sentiu vontade de se mudar para lá, fugir de toda aquela bagunça.
- Rua 876, atenção crianças. – O motorista dobra a esquina e não veem nada de diferente. Exceto pelos olhos triplamente atentos.
- Aqui – a voz de Margaret se sobressai e o motorista freia de forma brusca. – É horrível quando não se pode ter controle da situação. – Eles entendem a frase ao verem uma jovem gritar com quem pode ser sua avó.
Como sincronizados também lançam o olhar para a caixa de correio do lugar. Casa 04. A porta do carro é aberta e saem em fila indiana, com e à frente.
- Podemos atirar logo – o homem faz a brincadeira levando a mão ao coldre, a mão de fica por cima da sua e, considerando a posição, o fez sentir arrepios.
- É melhor apertar a campainha antes de apertar o gatilho. – Os olhos castanhos estão cerrados em direção à Blaike, ele engole seco e segue as ordens da parceira.
- É melhor que não entre. – Joe coloca a mão sobre o corpo do rapaz que o encara com indiferença.
- Hm. – limpa a garganta com uma das sobrancelhas arqueadas.
- A garota vai enlouquecer com você por perto – o chefe adverte.
- Nada que nunca tenha feito. – Pisca para o mais velho, recebendo sua reprovação.
- Fique aqui – Margaret entra na conversa. – Se precisarmos de ajuda, alguém vem te chamar
- Vocês vão entrar lá sem homem nenhum? – O de olhos tenta encontrar uma desculpa.
- Antony vai conosco.
- Grande homem, esse é muito macho – o loiro revira os olhos, fingindo estar surpreso. – Nossa. – Chuta uma pedra e vai para o lado contrário da casa.
Um trio composto por Margaret, e Antony é recebido por uma senhora de roupão azul. Sua expressão é de como quem sabia que isso iria acontecer cedo ou tarde, ela passa os olhos ao redor para entender o movimento e os agentes levantam suas carteiras de identificação, logadas pelo FBI.
O portão é aberto sem intercessões e ficam confusos pelo fato da mulher não ter dito uma palavra sequer.
- Stacey está aqui? – uma das jovens pergunta cautelosa.
- Lá dentro, deem um jeito nela – a resposta sai de forma baixa.
Os olhos verdes da senhora se encontram com os de – que está distante. Ela leva as mãos a boca e dá um passo atrás. O homem vê todo o medo transparecer por seu corpo e tem vontade de converter isso. Mas sabe muito bem que não é uma tarefa fácil convencer bilhões de pessoas de que ele não é o assassino, até porque uma mulher está por trás de todos os crimes. Entretanto, poderia fazer isso se levasse o caso até o final.
As unhas vermelhas de Margaret giram a maçaneta com cuidado, a porta frágil – caindo aos pedaços – faz um barulho estridente ao ser aberta e a sala de estar da residência não se diferencia da maioria. Uma televisão antiga no canto, um conjunto de sofás de couro e várias fotos dos netos sempre mimados pela avó. Um gato descansa abaixo da mesa de centro e apenas ergue as orelhas para que confirme se está tudo bem.
A garota de calça jeans e camiseta larga chora de modo absurdo jogada pelo tapete bordado. Seus cabelos ruivo escuro estão presos em um rabo de cavalo e nos pés calça botas de montaria. Uma das mãos insiste em socar o chão repetidas vezes, como se fosse adiantar algo. E a outra segura o próprio corpo com força, evitando o fluxo sanguíneo na região.
- Stacey – a chama, atraindo os pequenos olhos verdes em sua direção. – Está tudo bem, estamos aqui para ajudar.
- Quero ver – afirma entre soluços desesperados.
- Não quer ver seus pais, primeiro? – Maggie indaga se aproximando, agachada ao lado da garota.
- Eles ferraram com minha maldita vida. – Respira fundo e encara o fundo dos olhos de . – Preciso ver .
- Tragam Blaike – a morena grita surpreendendo a garota com a capacidade vocal, uma mulher com rosto tão angelical parece não ser capaz de alterar o tom de voz nem com uma pessoa surda.
A garota limpa os próprios olhos e bebe o copo de água trazido pela avó. É assim, em todos os casos, sua família nunca te abandona, por mais que você os maltrate, grite, brigue ou até mesmo se afaste. nunca havia sentido isso.
- Sabia que precisariam de mim – o mesmo entra no local trazendo seu perfume amadeirado.
Os braços finos da jovem agarram o corpo do rapaz, sem estar surpreso ele permanece imóvel. Não a abraçaria de volta, isso poderia gerar mais distúrbios na cabeça da garota perturbada.
- Hey Stacey, pode parar – ele pede calmo, a afastando.
- Pensei que nunca mais iria te ver.
- Preferia que assim tivesse sido – o mais velho anda ao redor do local parando em frente a prateleira lotada de whiskeys.
- – ela exclama. – Eu posso te ajudar – afirma atraindo a atenção de todos da sala.
- Ajudar?
- Sei no que se envolveu, sei como ajudar.
- Tay – ele se aproxima a chamando pelo apelido, todo homem tem seus truques. – Vá para casa dos seus pais, você não está mentalmente saudável.
- adverte, escutando tudo de longe.
- Tudo bem. – A garota passa as mãos pelo próprio rosto e deixa que Blaike deposite a mão sobre sua cintura. – Vou falar com eles, mas vou falar com você também.
- De toda forma você teria que depor, então acelere as coisas para mim – usa uma voz casual. – Por que fugiu de casa?
- Minha mãe me forçou. - O gravador está escondido no bolso de Antony. – Eles sentem medo de você, mesmo que eu saiba que não é você. Eu posso ser uma vítima, de qualquer forma.
- Fique tranquila, faltam duas vítimas e uma delas sou eu – interrompe o contato físico dos dois. – A outra provavelmente é a própria assassina.
- Assassina?
- Sim...
- Stacey, minha filha – a mãe desesperada invade o local, abraçando a filha com todas as forças possíveis. – Estivemos preocupados com você, tão preocupados. – Não saem do abraço, falso por uma das partes.
- Não faça isso de novo – Rodrigo, o pai, insinua que a garota fugiu por vontade própria.
- Tarde demais – ergue a mão em direção ao casal. – Estão presos por suspeita de ocultação, se tiverem um ótimo advogado podem se livrar dessa. A fiança será avaliada de acordo com seus bens.
- Será que preciso dizer os direitos? – Blaike faz a pergunta retórica enquanto Joe Bard algema o casal confuso. – Acredito que não. – Ri debochado e deixa o local, não se sente bem com o que acontece no interior do próprio corpo.
O motivo da dor gritante em seu peito é a data; 27/11. O dia em que o pai matara sua mãe. O pior dia de sua vida, ou o dia que fez sua vida se tornar a pior de todas.
Entra no carro tirando o cantil do bolso do casaco, coloca o mesmo na boca e sente vontade de chorar. Não faria isso até chegar em casa. Não poderia ao menos passar no bar de Peter para desabafar, sentia que a amizade dos dois ainda não estava cem por cento restaurada; também não era uma boa hora para comentar sobre morte com o amigo – em vista de Florence.
A bebida é um Dalmore de 1940, uma das garrafas que valiam milhares de dólares da qual roubara do pai na flor da idade. Sabia ao certo quando bebê-la, apenas em momentos caóticos. Havia encostado o cantil nos lábios apenas nos aniversários de morte da mãe e no dia que entrara para o FBI. Sabia que não haveriam outros eventos tão importantes quanto estes.
O homem limpa o próprio nariz e encara o vazio, como fazia todos os anos. Sente vontade de chutar os bancos do veículo mas é interrompido pela entrada dos parceiros de trabalho. Esconde a bebida imediatamente e vira o rosto para o lado.
percebe que há algo errado. O nariz de Blaike está muito vermelho, seus olhos muito profundos, sua respiração – pela primeira vez – é medida ao invés de descompassada.
- Foi uma longa madrugada – Margaret comenta, ao lado de . – O que achou, Blaike? – vira os olhos verdes em direção ao parceiro, sem receber respostas. – É melhor encontrar um jeito de curar o mal humor, ok? – Coloca a mão sobre o pescoço do rapaz.
Ele não queria sexo. Não queria uma mulher.
Tudo o que precisava é amor. Mas não teria coragem de confessar a qualquer pessoa ali... exceto por , a única que percebera seu estado.
- Hey – chama pelo motorista. – Podemos fazer a viagem em meia hora? Estamos cansados. – Ela recebe o olhar de aprovação do motorista e gratidão de Blaike, algo que nunca havia imaginado em ter.
O loiro encosta a cabeça na janela e fecha os olhos, não conseguiria dormir mas conseguiria se livrar do mundo por alguns minutos.
- – a voz da mãe soava tão real. – Venha me ajudar agora.
- Não – ignorava a mãe enquanto carregava a bola de futebol abaixo dos braços.
- Nunca será um agente do FBI se não malhar esses braços, vamos, tire as compras do carro. – Ela empurra o próprio filho em direção ao porta-malas aberto.
- Não quero ser um agente – bufa o garoto, pegando a sacola mais pesada. – Pensei em me inscrever em um curso da Nasa.
- Nem pense nisso – a mãe exclama. – Vai seguir os passos de seu pai.
- Não mãe, realmente não quero isso. – Vira os olhos .
- Filho. – O pai beija a bochecha da mulher. – Você já tem 15 anos, é hora de pensar no futuro.
- Faltam bons cinco anos para pensar no que vou ser, relaxem. – A franja loira dá um tom despreocupado ao rosto do garoto. – Não vou ser um agente.
- Deixe sua mãe orgulhosa – ela agarra as bochechas do filho, fazendo-o sorrir. – Mas, vou te amar, não importa o que queira ser.

- – ele tem o corpo sacudido pelas mãos de .
Abre os olhos com cuidado e percebe que apenas os dois estão no carro, em frente ao prédio do rapaz. Se levanta devagar e deixa o veículo, seguido pelo olhar da mulher. Está pensativa.
- Estou bem – afirma tropeçando em direção à portaria. – Mande uma mensagem quando chegar em casa, para que eu saiba que está bem.
Ela sorri com a atitude preocupada e respira fundo, era melhor ficar calada. Hora ou outra ele contaria o que se passava em sua cabeça.
O motorista parte em direção ao prédio da mulher. Ela se sente intrigada com o que magoa o homem, nada nunca o afetava. Ele conhecia dois sentimentos: desprezo e raiva. Nada mais, ou talvez um pouco de ódio.
- Obrigada – diz ao descer do carro, carregando a própria bolsa.
- Tenha uma boa noite – o homem acena dando partida.
Os passos lentos até a portaria são acompanhados por finas gotas de chuva, há tempos não chovia na cidade. O porteiro não estranha a chegada da mulher, ele sorri enquanto as portas do elevador se abrem. Quando se vê no espelho sente que está cansada, respira fundo e em segundos está no hall do apartamento.
Abre a porta e corre para tomar os remédios. Encara os comprimidos por minutos e sente vontade de deixá-los de lado, porém sabe os efeitos que isso causaria.
Vê as gotas de chuva escorrerem pelo blindex e respira fundo, queria uma calma noite de sono.
Coloca as costas contra sua estante cheia de livros que nunca chegaria a ler, respira fundo e lança o olhar a garrafa de vinho sugestiva deixada sobre uma prateleira. Oras, se podia, ela poderia também.
O coração acelera quando ouve batidas fracas na porta.
Não poderia alucinar sendo que acabou de tomar os comprimidos.
Engole seco e os olhos castanhos estão no olho-mágico, Blaike está parado em frente ao espelho, de modo cansado.
A mulher da passagem para que ele entre. Uma lágrima escorre por sua bochecha.
- – sussurra com a mão sobre os ombros largos, ignora os próprios pensamentos pois não queria sentir desejo pelo corpo masculino agora.
Os braços grossos de se passam ao redor do pequeno corpo, ela sente algo molhar seus ombros cobertos por uma camisa de malha. Coloca a mão sobre o cabelo bagunçado do jovem e ele respira fundo em seu pescoço, o abraço dos dois fica cada vez mais forte. Ele precisava disso.
- Eu amava ela – ele consegue dizer entre as lágrimas.
- Stacey?
- Não, droga. – Ele passa as mãos pelo rosto vermelho. – Minha mãe.
Palavras não são necessárias para que se abracem mais uma vez, de forma que ambos se entreguem.
- Você ainda ama – ela se afasta, eles tem olhares travados.
- Eu não sei que merda meu pai pensou quando fez aquilo. Lara era uma droga ao lado dela – pensa em advertir, mas vê que não é o melhor momento. – Não importa agora, as duas tiveram o mesmo fim. Todos vamos ter o mesmo fim, pra que fazemos isso?
- Isso?
- Essa droga de vida, é melhor que todos morram de uma vez.
sente o cheiro de bebida no hálito do rapaz, embora ele não esteja bêbado. O mais alto se joga no sofá e a mulher coloca a cabeça dele sobre seu colo.
- Sabe, as vezes eu acho que nunca vou amar alguém – exclama de olhos fechados. – Ninguém nunca vai me amar, droga. Eu odeio meu pai.
- Você está confuso. – Ele abre os olhos ao ouvir a frase, os cabelos castanhos de caem sobre seu corpo, a blusa amarrotada está com um dos botões desabotoados, dando liberdade para seus olhos vejam o sutiã azul. Ela carrega o tom de preocupação através de seus olhos escuros. Os mesmos soam como luz para seu mundo.
A boca entre aberta, os dentes alinhados, a respiração inaudível, o corpo quente.
Os dedos da mulher tremem por alguns segundos, ele leva o olhar até suas mãos. Respira fundo. Estava realmente confuso, não entendia o que acontecia por dentro.
Daquele momento em diante se tornaria um homem perdido.
Ergue o rosto devagar, ela não se afasta. Encosta os lábios em seu queixo, dando-lhe um beijo.
Poderia ter parado ali, mas não fora advertido.
Beija sua bochecha, de forma calma. O toque dos lábios de fazem arfar, o modo como sua pele fria toca sua bochecha lhe traz tranquilidade, tudo o que precisa. Sente os lábios do rapaz se encostarem nos seus, algo calmo visivelmente parecido como receber o beijo de um anjo, que logo se afasta.
Ambos estão de olhos abertos, assustados. A mulher faz de tudo para ter certeza de que o que acontece é real, o homem faz questão de sentir que é real.
vê que o parceiro é incerto quanto ao que faz, os olhos ficam tão perdidos quanto os seus e centenas de perguntas são feitas sem palavra alguma. O rapaz engole seco como se pedisse pela permissão da morena, esperava por isso tanto quanto ele e aproxima o próprio rosto pelos curtos centímetros que os separavam.
Os lábios se encostam e ele é o último a fechar os olhos, não queria perder um segundo do que acontecia. Uma energia invade seu corpo, sente como se todos os poros se abrissem, todos os pelos ficassem de pé e o coração se acelera ao ponto de poder parar.
Sentiu que poderia morrer de amor.
é o primeiro a estabelecer um toque, com as mãos geladas na cintura da mulher. As línguas se encontram e ambos se completam. Não é como se travassem uma guerra em suas bocas; é o total contrário, estão selando a paz.
O homem pensa em quantas noites sonhara com isso, precisava fazer de tudo para ser perfeito, o único medo que tinha no momento era de não gostar do que acontecia.
Ambas mentes ignoram tudo que acontece no mundo real. Afinal, o beijo soava como uma realidade alternativa na qual tudo poderia ser resolvido com calma e paciência. A mão fina da mulher vai até a nuca de Blaike, trazendo seu rosto para mais perto e arrancando um verdadeiro sorriso do rapaz, que ainda não estava satisfeito.
O casal se deita e fica por cima da mulher, sem tirar as mãos de sua cintura. Ela passa a tocar seus ombros e apertar suas costas, sentia necessidade de ter o corpo do dois no maior contato possível. Precisava ter certeza de que aquilo era real.
Blaike sente o quanto a boca da mulher é quente, o quanto seu beijo é calmo. O tipo de beijo que nunca havia dado em alguém, ele sente que quer beijá-la. Poderia fazer isso por horas sem se cansar e sabia que pela primeira vez tinha uma mulher abaixo de seu corpo sem pensar em sexo ou - no termo que usaria com - fazer amor.
Toda a dor e preocupação desaparecem e deixam no lugar um estranho sentimento. Sabia o que era, sentira uma vez quando estava no ensino fundamental; identifica quando sente o estômago se embrulhar e a incapacidade de falar algo.
Está definitivamente apaixonado.

Continua...



Nota da autora: (21/11/2015) Oi meninas e meninos, eu espero que vocês estejam gostando da história porque eu fico bastante insegura em escrever algumas coisas. Haha. Quero também deixar vocês bem curiosos porque os próximos capítulos tem várias coisas que surpreendem. Muito obrigada pra beta Fer, por corrigir todos os meus erros , sem você eu não sei o que seria da fic <3 Falem comigo por aí nos comentários, falem da fanfic prazamigas e muito obrigada por lerem, espero não deixar ninguém decepcionado. Beijos. Clique aqui para ver personagens secundários




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