Capítulo Único
Assim que abriu os olhos, soube que algo não estava certo. Esperava estar com uma forte ressaca, mas não sentia nem mesmo uma leve dor de cabeça. Olhou para o lado e se assustou, tinha um homem em sua cama. Um homem que ela não fazia a menor ideia de quem era.
O homem se virou e os olhos dela se arregalaram ainda mais. estava em sua cama. Como isso tinha acontecido? Eles não se falavam há uns três anos ou mais… não se lembrava de ter tido sequer companhia no bar na noite anterior. Tentou refazer seus passos em sua mente, precisava lembrar como estava ali antes que ele acordasse.
O bar não estava cheio e a temperatura lá dentro era bem melhor que a temperatura do lado de fora. Lembrou-se de passar por um grupo de amigos que bebiam empolgados e falavam alto e um grupo de mulheres que festejavam uma despedida de solteiro. Havia sentado sozinha em frente ao balcão e pedido várias doses de uísque ao longo da noite.
tinha sido vítima de suas próprias palavras, tinha sido honesta em uma entrevista e agora vinha sendo atacada como autora hipócrita. Ela havia publicado duas séries incríveis de romance e tinha estado no topo dos mais vendidos por bastante tempo, mas quando questionada, confessou que não acreditava no amor. E isso tinha virado seu mundo de cabeça para baixo. Suas vendas caíram drasticamente e ela vinha sendo atacada nas redes sociais.
E era por isso que ela tinha saído para beber na noite anterior. Lembrava-se claramente disso. Mas lembrava-se também de ter ido embora antes de que precisasse de ajuda para isso. A última coisa que ela queria naquele momento era algo que prejudicasse ainda mais a sua imagem. estava perto de casa e, apesar do frio, decidiu voltar a pé. Refez o trajeto do bar ao seu apartamento em sua mente. Nada de . Nem mesmo por mensagem. Ela só havia topado sem querer com uma senhora ao virar a esquina de onde morava, uma senhora que parecia perdida e que havia segurado seu braço e lhe dito coisas sem sentido e seguido como se nada tivesse acontecido.
se levantou com cuidado, não queria acordar . Mas tinha uma reunião online com a sua editora e não queria se atrasar. Fechou a porta do banheiro silenciosamente, mas um barulho estranho saiu de sua boca ao se olhar no espelho. Ela vestia um pijama que tinha certeza de ter doado no final do anterior. E mais preocupante, ela tinha as mechas loiras que só usou uma vez, três anos atrás.
— O que está acontecendo? — perguntou a si mesma encarando seu reflexo.
Parecia um sonho, mas ela sabia que estava bem acordada. Seu cérebro parecia dar voltas e mais voltas tentando entender o que tinha acontecido e a voz da senhora ecoou em sua mente.
“Você tem uma chance de mudar algo do passado. Apenas vinte e quatro horas. Uma única mudança pode fazer toda a diferença no futuro.”
Ela não tinha voltado no tempo. Essas coisas não aconteciam, certo?
Saiu do banheiro e foi direto à mesa de cabeceira para pegar o celular. Suas mãos tremiam. O que ela faria se visse que o celular marcava fevereiro de 2017? Aquilo era loucura. Mas sua boca se abriu em choque antes mesmo de pegar o aparelho. Era seu celular antigo, ela havia trocado por um mais novo no ano anterior. Desbloqueou constatando o óbvio. Não fazia o menor sentido e ela não fazia ideia de como tinha acontecido, mas ela tinha acabado de voltar no tempo.
— Bom dia. Está tudo bem? — perguntou, espreguiçando-se e trazendo-a de volta.
— Bom dia. — tentou sorrir. — Está sim.
— Você parece preocupada. — Insistiu.
— Eu achei que tinha uma reunião hoje. — Disse vendo seu calendário completamente vazio e ele riu.
— Por que você teria uma reunião domingo? — franziu a testa. estava diferente. — Você não tem mais uns vinte dias de férias antes de começar o próximo livro?
— Pois é, devo ter sonhado com alguma coisa e acordei achando que tinha essa reunião hoje. — Inventou, tentando lembrar dos acontecimentos para não falar nada mais absurdo para o piloto.
Pelo comportamento dele, entendeu que ele estava vivendo a linha do tempo normal, ou seja, só ela tinha voltado.
— Ainda está cedo. Volte para cama. — Ele chamou e o celular apitou na mão dela no mesmo instante. — Ah, você vai tomar café com a Sophie.
— Vou? — Respondeu rapidamente, se dando conta em seguida do que tinha acabado de fazer.
— Tem certeza de que está se sentindo bem? — perguntou preocupado. tinha falado desse encontro com Sophia mais de uma vez no dia anterior.
— Estou sim. Eu só… preciso de um banho. — Voltou ao banheiro e trancou a porta.
Desbloqueou o aparelho, vendo que era mesmo uma mensagem de Sophie, sua melhor amiga, avisando que se atrasaria meia hora para encontrá-la no café. Respondeu que estaria lá e abriu uma página de internet, buscando seu próprio nome no google.
estava falando a verdade. Ela tinha acabado de publicar o terceiro livro de sua primeira coleção. E, de acordo com sua agente, precisava enviar o começo da quarta história só no próximo mês para a editora. Parecia incrível a ideia de saber exatamente como seriam suas próximas histórias e não precisar se preocupar com eventuais bloqueios criativos, mas se o que estava acontecendo tinha a ver com a senhora na rua, ela viveria somente vinte e quatro horas no passado e não teria tempo para escrever nenhuma história.
Entrou no chuveiro repetindo as palavras na sua mente. Mudar uma única coisa do passado. A única coisa que ela gostaria de mudar era a sua resposta na entrevista da semana anterior. Era a única coisa que ela se arrependia de ter feito e gostaria de ter feito diferente. Mas era algo que tinha acontecido na semana anterior, então por que ela tinha voltado três anos? Não fazia o menor sentido.
Quando saiu do banheiro a cama estava vazia e arrumada e o apartamento em silêncio. Sabia que tinha ido embora. Era assim a relação deles. Eram praticamente fixos, mas não eram namorados. Sempre que podia ele ia até Frankfurt e eles passavam um tempo juntos, geralmente na cama.
Ele sendo um piloto, passava grande parte do ano viajando, o que não colaborava para um relacionamento sério. E ela simplesmente não acreditava no amor. Escrevia histórias de amor e era realmente boa nisso, mas para ela, histórias daquele tipo eram exatamente isso, histórias. Talvez acreditasse nisso quando era criança ou até mesmo no começo da adolescência, mas assim que entendeu sobre o casamento dos próprios pais, passou a se questionar sobre o assunto e não conhecia ninguém que de fato tivesse vivido uma linda história de amor. Então era muito mais fácil manter as coisas sem sentimentos. E funcionava para ambos.
Dirigiu até o café e riu sozinha ouvindo as músicas que estavam em alta no rádio do carro. Pensou sobre contar ou não para a melhor amiga o que estava acontecendo e ainda não tinha se decidido. tinha aprendido que não adiantava insistir muito com , mas ela sabia que Sophie não deixava as coisas de lado tão facilmente e bastaria um comentário estranho para que a amiga a pressionasse a dizer a verdade.
As duas haviam chegado juntas no café e não conseguiu disfarçar a surpresa com o visual de Sophie.
— Não me lembrava desse cabelo curto. — A escritora sorriu ao cumprimentá-la.
— Como não!? — Sophie franziu a testa. — Você foi comigo ao salão no começo da semana.
— Me esqueci. — abanou a mão.
— Estranho…
— Por quê?
— Porque você não esquece de nada, . — Sophie rolou os olhos para implicar com ela. — Você tem uma memória irritante.
— Vamos pedir logo, estou faminta. — mudou de assunto, já que sua boa memória não se lembrava desse dia no passado.
— Faminta, hum? — Sophie segurou um sorriso safado. — Isso me diz muito sobre a sua noite com o . — Ergueu as sobrancelhas sugestivamente.
— E como foi a sua noite com o… — se calou de repente, Sophia não namorava com Michael há três anos.
— Thomas. — A arquiteta rolou os olhos. — Eu sei que você não foi com a cara dele, mas não precisa exagerar. Ele é legal.
— E como foi a noite com ele? — refez a pergunta.
— Foi legal, mas ele já quer me apresentar para a família dele e eu estou achando que é cedo demais para isso. — Fez uma careta, pegando seu pedido no balcão.
— Vocês estão se vendo há quanto tempo mesmo? — A escritora perguntou no tom mais banal possível enquanto pegava a própria bandeja, mas a pergunta não passou despercebida por Sophie, que a olhou novamente com a testa franzida.
— Pouco mais de um mês. Nos conhecemos na minha viagem de Ano Novo. — Ela respondeu, mas agora, sentadas frente a frente, Sophie percebia que algo não estava certo.
— Ah, é mesmo. — Bebeu um gole do seu frappuccino.
— Ok, você está estranha mesmo. Você só bebe café expresso quando estamos aqui.
se amaldiçoou mentalmente. Seu problema com a cafeína era mais recente e antes disso ela era movida a café puro. Sempre.
— Me deu vontade de experimentar algo novo. — Ela deu de ombros, mostrando que não era nada demais, mas Sophie não se convenceu. — Mas o que você queria falar comigo?
— Eu? — A arquiteta riu. — Eu não quero falar nada.
— É que a gente costuma tomar café da manhã aqui quando você tem algo para contar.
— Foi você quem marcou esse encontro, . — O sorriso tinha dado lugar a uma expressão preocupada. — O que está acontecendo? Essa não é você.
— Nada. — Negou com a cabeça.
— Eu sou sua melhor amiga, . Tem algo estranho desde que te vi na calçada.
mordeu o lábio inferior, tentando pensar em uma saída. Aquilo tudo era loucura e contar para alguém só comprovaria isso.
— , eu estou ficando preocupada. — Chamou a atenção da amiga. — Você sabe que pode confiar em mim.
— Você vai achar que eu estou louca. — Falou num tom de voz mais baixo.
— Eu sempre achei isso. — Ela brincou, mas não riu. — Nada que você disser pode me assustar. — Garantiu.
— Eu voltei no tempo. — falou num sussurro.
— Como assim?
— Eu dormi em 2020 e acordei em 2017.
— Simples assim? Dormiu num ano e acordou em outro? — Permaneceu séria e confirmou com a cabeça. Sophie a encarou por alguns instantes e então gargalhou alto. — Ai, … Você quase me enganou. — Enxugou o canto do olho e notou que permanecia séria.
— Sabia que isso ia acontecer… — A escritora murmurou.
— Me fala alguma coisa que aconteceu então. — Pediu sem levar a sério.
— Que diferença faria? — deu de ombros. — Você não tem como saber se é verdade ou não.
— O que eu vou te dar de aniversário?
— Um final de semana num spa. — Ela respondeu de imediato e Sophie abriu a boca, surpresa.
— Como você sabe? Eu não… — Se calou. — Você não está mentindo. — Sua expressão entregava o quanto ela estava assustada com aquilo.
— Claro que não, você sabe que eu sou uma péssima mentirosa. — repetiu o que ouvira sua vida toda.
— Mas como aconteceu? Como isso é possível? — Sophie tentava acreditar na amiga, mas era surreal.
— Eu não faço ideia. Parece coisa de filme mesmo. Esbarrei com uma senhora na rua, ela falou umas coisas sem sentido e acordei exatamente três anos atrás. — Contou o que se lembrava.
— Que senhora?
— Não faço ideia. — repetiu. — Eu nunca a vi na vida. Estava voltando do bar para a minha casa e nos trombamos na esquina. Não faz sentido. Talvez eu realmente esteja louca.
— Eu não sei o que pensar. — Sophie falou depois de alguns segundos.
— Bem-vinda ao meu cérebro.
— Ok, vamos pensar. O que foi que ela disse que não fez sentido?
— Eu não lembro as palavras exatas, mas foi algo como ter uma oportunidade de mudar uma única coisa no passado, para mudar alguma coisa do futuro.
— Que loucura! — Sophie se sentia muito confusa.
— Eu sei. Não julgo se você não acreditar em mim. — Ela respirou fundo.
— E você sabe o que é que precisa mudar?
— Eu não sei.
— Você perdeu a memória? — negou.
— Só não lembro dos detalhes desse dia. Levei um susto acordando com o na minha cama. — Confessou e Sophie riu.
— Espera aí, vocês não ficaram juntos? — A escritora negou com a cabeça. — E nem eu com o Thomas. — Não era uma pergunta, mas negou novamente. — Por isso você não falou o nome dele naquela hora.
— É, eu sabia que ainda não era o Michael, mas não lembrava exatamente quem era.
— E quem é Michael? — Sophie apoiou os cotovelos sobre a mesa.
— Eu acho que não posso te contar.
— Como não? É sobre a minha vida.
— Eu só posso mudar uma coisa, e provavelmente não é a sua vida amorosa. — não queria ser grossa com ela.
— Eu estou tentando fazer isso soar normal, mas continua parecendo muita loucura.
— Deixa isso pra lá. — terminou de comer seu pedaço de bolo.
— Claro que não. Se você realmente voltou é porque tem um motivo. E se você não sabe qual é eu posso tentar te ajudar.
— Não custa tentar. Você pelo menos sabe o que está acontecendo. — Sophie riu.
— Veja pelo lado bom… — A escritora a olhou. — Se você não conseguir mudar nada, vai estar tudo igual no futuro. — Ela sorriu, otimista.
— E se eu mudar a coisa errada e alterar todo o futuro?
— É… Não tinha pensado por esse lado. — Sophie ficou pensativa novamente. — Quantos livros você já publicou no futuro?
— Sete. Por quê? — não tinha acompanhado o pensamento da amiga.
— Curiosidade. Nossa! Você podia aproveitar e me contar como serão as histórias.
— Acho que isso não altera o futuro. — Sophie concordou rapidamente, era curiosa e estava louca para saber como terminaria a coleção.
Ficaram bastante tempo lá. contou como tinha sido o trabalho com cada livro e Sophie estava achando incrível. Para ela era como se a amiga tivesse tido uma avalanche de ideias e era fascinante. Passaram um tempo tentando avaliar o que poderia ser a mudança, mas não conseguiram e como Sophie iria almoçar com a família, se despediram, combinando de se falar ao final da tarde.
— Mãe?! — não esperava encontrá-la em sua casa.
— Não pareça tão surpresa em me ver, . Nós combinamos que eu traria o almoço. — Se abraçaram e ela percebeu como sentia falta da mãe depois que ela se mudara para o interior.
— Sim, mas você já está aqui dentro. E se eu estivesse com alguém? — A desafiou.
— Eu toquei a campainha antes. — Justificou terminando de colocar os talheres na mesa.
A refeição tinha sido tranquila e para a sorte de , sua mãe não tinha tocado em nenhum assunto que a colocasse em risco de não se lembrar. Estavam na sala, assistindo o programa de competição culinária, o favorito de sua mãe, mas a mente dela estava longe. Tanto no passado quanto no futuro sua relação estava ótima com sua mãe e com sua amiga e não via onde uma mudança poderia ser feita.
— O que te aflige, filha? — deu um pulo no sofá, sendo trazida de volta dos seus pensamentos.
— Besteira. — Tentou desconversar.
— Eu te conheço, . E você costumava amar os meus conselhos. — Ela olhou atentamente para a mãe, aquelas palavras tinham lhe dado esperança.
— Certo. — Falou organizando os pensamentos. — Uma amiga está com problemas.
— Uma amiga. — Sua mãe repetiu tentando se manter séria.
— Sim, uma amiga. Ela foi parar no topo das listas de leitura por causa de seus livros de romance, mas acabou falando em uma entrevista que não acreditava no amor e as vendas dela caíram e ela tem sido atacada nas redes sociais.
— Hum… — Sua mãe ficou pensativa.
— Eu não sei como ajudá-la.
— Bom, ela podia arrumar um namorado. — Deu de ombros como se fosse uma ideia óbvia.
— Um relacionamento falso. — Um sorriso começou a surgir.
— Não era exatamente isso que eu tinha em mente.
— Não. Você está certa. Pessoas famosas fazem isso o tempo todo, certo? — olhava para a mais velha, mas conversava sozinha.
— Eu acho que teria que ser um relacionamento real, .
— Não existem relacionamentos reais, mãe. — Respondeu séria e ela rolou os olhos.
— Se descobrirem que o relacionamento é falso, ao invés de resolver um problema, vai criar um muito maior.
— Droga! — reclamou.
— Talvez a sua amiga não seja tão avessa a relacionamentos… — Deixou no ar e mordeu o lábio para não se entregar.
— Talvez…
— Sabe, . — A mais velha sentou-se de lado, ficando de frente para a filha. — O que aconteceu entre seu pai e eu foi péssimo e eu não desejo que ninguém passe por isso, mas eu passaria por tudo de novo se precisasse, porque se não fosse isso, não teria você.
— Isso é loucura, mãe. — negou com a cabeça. — Meu pai tinha duas famílias ao mesmo tempo e nos enganou por anos. Não sei como você ainda consegue olhar para a cara dele.
— Por respeito, . Meu amor por você é enorme e isso me faz deixar o passado para trás. Talvez você precise se permitir viver um amor para realmente saber como é. Se permita apaixonar…
— Mãe… — disse num tom sofrido e foi salva pela campainha. — ? — Soou mais surpresa do que gostaria.
beijou seus lábios brevemente, notando a expressão de pânico no rosto dela, ele se afastou e então viu que outra pessoa estava no apartamento.
— Ou talvez você já tenha achado alguém. — Disse em tom sugestivo e queria se esconder.
— Desculpa, eu não sabia que a estava com visita. — Sorriu simpático, como sempre era.
— Imagina! — Abanou o ar e pegou a bolsa no balcão. — Eu já estava de saída. Foi um prazer…
— . — Ele estendeu a mão que ela estendera. — Igualmente.
— Aproveitem a noite. — Ela disse fechando a porta atrás de si.
— Por acaso era a sua mãe? — perguntou com um sorriso divertido.
— Por acaso sim. — Escondeu o rosto com as mãos.
— Por que não me falou que ela estaria aqui? Eu teria vindo mais tarde. — passou os braços em volta da cintura dela.
— Eu não me lembrei. Mas você veio mais cedo também. — se lembrava que ele chegava sempre a noite e o sol nem tinha se posto ainda.
— Eu pensei que poderíamos fazer algo diferente hoje. — Ele disse ao mesmo tempo em que a guiava para o próprio quarto.
— Diferente? Indo direto para a minha cama? — Ela riu quando sentiu as costas no colchão e os lábios dele nos dela.
— Eu queria te levar para jantar. — disse quando romperam o beijo.
— Por quê? — o olhou desconfiada.
— Nós sempre nos vemos no seu apartamento ou no meu quarto de hotel. Achei que seria legal. — Ele deitou e ela apoiou o queixo nele.
— E se alguém nos ver? — perguntou e se assustou, percebendo que havia entendido tudo.
O seu dia todo havia sido estranho, mas ali com era como se ela realmente estivesse vivendo aquele dia. Era a única coisa natural e real que tinha sentido o dia todo. E mais importante, ela se lembrara do que aconteceria a seguir. Sairiam para jantar. Iriam a um restaurante italiano e seria uma noite agradável, até ele mencionar que gostaria que ela fosse com ele para a Suíça, onde ele morava. E ela negaria, aquele era o sinal de que ele começava a ter sentimentos e o combinado era que era algo apenas físico. iria embora chateado e eles nunca mais se falariam...
arregalou os olhos. Sentia como se as peças de um quebra-cabeças se encaixassem e sorriu sozinha.
— O que foi? — perguntou confuso.
— Eu já volto. — Ela deu um selinho nele e se fechou no banheiro. Ela precisava pensar e não queria parecer louca na frente dele.
Andando de um lado para o outro começou a pensar na fala da senhora. Ela tinha vinte e quatro horas para mudar alguma coisa. O dia já estava acabando e ela não tinha se deparado com nenhuma oportunidade de fazer uma mudança, a não ser dizer sim à ao invés de não. Ela não amava , sabia disso. Mas gostava muito da pessoa que ele era, de sua companhia e dos momentos que passavam juntos.
E seria quase como a solução que sua mãe havia previsto. Se ela estivesse num relacionamento ela não teria falado aquilo na entrevista e alteraria a única coisa que ela não gostava sobre o futuro. Se olhou no espelho e gostou do que viu. Ela estava feliz e sabia o que faria. Naquela noite, quando fizesse o convite para viajarem juntos, ela diria sim.
acordou com a claridade entrando pela janela. Espreguiçou e notou que apesar de estar em uma cama de casal, não estava no seu apartamento. No entanto, sentia que conhecia aquele lugar como a palma de sua mão. Teria sido tudo um sonho antes ou agora?
Viu um vulto na janela e foi até lá. Afastou a cortina e viu a senhora se afastando. sentiu certo pânico, mas voltou a ficar em paz quando ela olhou para trás e sorriu, e no instante seguinte não estava mais lá.
A escritora coçou os olhos, percebendo o anel em sua mão. Ela estava casada e ao pensar naquilo todas as lembranças vieram à sua mente. A noite em que pedira sua mão, o dia do seu casamento. Sentia-se tão completa e tão feliz. Correu para o celular e buscou o próprio nome na internet, estava em 2020, com a mesma quantidade de livros publicados, seguia no topo dos mais lidos da Alemanha. Foi para a aba de notícias e clicou no link mais recente.
Hastings confessou em entrevista que, apesar de escrever romances, não acreditava de fato no amor até o terceiro livro de sua primeira série. “O casamento dos meus pais não foi uma boa referência e eu não via motivos para me relacionar.” Disse a autora. Segundo ela, foi depois de ouvir um conselho de sua mãe que resolveu dar uma chance ao piloto tetracampeão mundial de Fórmula 1, . Casados a pouco mais de um ano, o casal espera a primeira filha…
Outra avalanche de memórias ocupou sua mente. Lembranças de sua gravidez, do nascimento de Eileen e de tudo que ela e tinham construído juntos. Abriu a galeria de fotos, constatando que as memórias eram reais e que ela tinha, de fato, vivido tudo aquilo, mesmo que parecesse um pouco nebuloso.
Caminhou até o quarto do lado e entrou sem fazer barulho. Eileen dormia em seu berço tranquilamente e ficou ali, admirando a filha. Agora ela entendia o que sua mãe queria dizer com sentir um amor que justificava tudo o que ela tinha passado e como uma única mudança podia ter feito tanta diferença em seu futuro.
— Não canso de admirá-la. — falou, fazendo-se notar e sorriu, concordando. — Bom dia. — Ele beijou sua testa. — Fiz o café.
— Vou escovar os dentes e já vou.
Pegou o celular novamente, foi para o final da galeria, passando por algumas fotos e constatando que ela se lembrava de ter vivido todos aqueles momentos ao lado dele. A última viagem deles antes do nascimento da filha, os problemas de 2019 na Ferrari que o levou a terminar o campeonato em quinto lugar. Os aniversários, outras viagens, os segundos lugares consecutivos nas temporadas de 2017 e 2018.
— Nossa, estamos comemorando alguma coisa? — Perguntou receosa vendo uma mesa incrível posta.
— Três anos do primeiro sim que você me disse e que mudou todas as nossas vidas. — levou as mãos ao rosto do piloto e colou os lábios aos dele, dando início a um beijo apaixonado.
— Obrigada por ser essa pessoa incrível que você é. — Ela sorriu, dando mais um selinho nele antes de se sentarem para comer.
— Não seria metade disso sem você. — Pegou a mão dela sobre a mesa e fez um carinho. — Você já imaginou como teria sido nossa vida se você tivesse dito não a três anos atrás? — Perguntou enquanto servia o café e se engasgou com o suco.
— Acho que teríamos focado totalmente nas nossas carreiras profissionais. — Ela disse depois de tossir algumas vezes.
— Ainda bem que não foi o que aconteceu. — Ele sorriu.
A senhora apareceu na janela atrás de e acenou com a cabeça, voltando a desaparecer no instante seguinte.
— Ainda bem mesmo.
E era por isso que ela tinha saído para beber na noite anterior. Lembrava-se claramente disso. Mas lembrava-se também de ter ido embora antes de que precisasse de ajuda para isso. A última coisa que ela queria naquele momento era algo que prejudicasse ainda mais a sua imagem. estava perto de casa e, apesar do frio, decidiu voltar a pé. Refez o trajeto do bar ao seu apartamento em sua mente. Nada de . Nem mesmo por mensagem. Ela só havia topado sem querer com uma senhora ao virar a esquina de onde morava, uma senhora que parecia perdida e que havia segurado seu braço e lhe dito coisas sem sentido e seguido como se nada tivesse acontecido.
se levantou com cuidado, não queria acordar . Mas tinha uma reunião online com a sua editora e não queria se atrasar. Fechou a porta do banheiro silenciosamente, mas um barulho estranho saiu de sua boca ao se olhar no espelho. Ela vestia um pijama que tinha certeza de ter doado no final do anterior. E mais preocupante, ela tinha as mechas loiras que só usou uma vez, três anos atrás.
— O que está acontecendo? — perguntou a si mesma encarando seu reflexo.
Parecia um sonho, mas ela sabia que estava bem acordada. Seu cérebro parecia dar voltas e mais voltas tentando entender o que tinha acontecido e a voz da senhora ecoou em sua mente.
“Você tem uma chance de mudar algo do passado. Apenas vinte e quatro horas. Uma única mudança pode fazer toda a diferença no futuro.”
Ela não tinha voltado no tempo. Essas coisas não aconteciam, certo?
Saiu do banheiro e foi direto à mesa de cabeceira para pegar o celular. Suas mãos tremiam. O que ela faria se visse que o celular marcava fevereiro de 2017? Aquilo era loucura. Mas sua boca se abriu em choque antes mesmo de pegar o aparelho. Era seu celular antigo, ela havia trocado por um mais novo no ano anterior. Desbloqueou constatando o óbvio. Não fazia o menor sentido e ela não fazia ideia de como tinha acontecido, mas ela tinha acabado de voltar no tempo.
— Bom dia. Está tudo bem? — perguntou, espreguiçando-se e trazendo-a de volta.
— Bom dia. — tentou sorrir. — Está sim.
— Você parece preocupada. — Insistiu.
— Eu achei que tinha uma reunião hoje. — Disse vendo seu calendário completamente vazio e ele riu.
— Por que você teria uma reunião domingo? — franziu a testa. estava diferente. — Você não tem mais uns vinte dias de férias antes de começar o próximo livro?
— Pois é, devo ter sonhado com alguma coisa e acordei achando que tinha essa reunião hoje. — Inventou, tentando lembrar dos acontecimentos para não falar nada mais absurdo para o piloto.
Pelo comportamento dele, entendeu que ele estava vivendo a linha do tempo normal, ou seja, só ela tinha voltado.
— Ainda está cedo. Volte para cama. — Ele chamou e o celular apitou na mão dela no mesmo instante. — Ah, você vai tomar café com a Sophie.
— Vou? — Respondeu rapidamente, se dando conta em seguida do que tinha acabado de fazer.
— Tem certeza de que está se sentindo bem? — perguntou preocupado. tinha falado desse encontro com Sophia mais de uma vez no dia anterior.
— Estou sim. Eu só… preciso de um banho. — Voltou ao banheiro e trancou a porta.
Desbloqueou o aparelho, vendo que era mesmo uma mensagem de Sophie, sua melhor amiga, avisando que se atrasaria meia hora para encontrá-la no café. Respondeu que estaria lá e abriu uma página de internet, buscando seu próprio nome no google.
estava falando a verdade. Ela tinha acabado de publicar o terceiro livro de sua primeira coleção. E, de acordo com sua agente, precisava enviar o começo da quarta história só no próximo mês para a editora. Parecia incrível a ideia de saber exatamente como seriam suas próximas histórias e não precisar se preocupar com eventuais bloqueios criativos, mas se o que estava acontecendo tinha a ver com a senhora na rua, ela viveria somente vinte e quatro horas no passado e não teria tempo para escrever nenhuma história.
Entrou no chuveiro repetindo as palavras na sua mente. Mudar uma única coisa do passado. A única coisa que ela gostaria de mudar era a sua resposta na entrevista da semana anterior. Era a única coisa que ela se arrependia de ter feito e gostaria de ter feito diferente. Mas era algo que tinha acontecido na semana anterior, então por que ela tinha voltado três anos? Não fazia o menor sentido.
Quando saiu do banheiro a cama estava vazia e arrumada e o apartamento em silêncio. Sabia que tinha ido embora. Era assim a relação deles. Eram praticamente fixos, mas não eram namorados. Sempre que podia ele ia até Frankfurt e eles passavam um tempo juntos, geralmente na cama.
Ele sendo um piloto, passava grande parte do ano viajando, o que não colaborava para um relacionamento sério. E ela simplesmente não acreditava no amor. Escrevia histórias de amor e era realmente boa nisso, mas para ela, histórias daquele tipo eram exatamente isso, histórias. Talvez acreditasse nisso quando era criança ou até mesmo no começo da adolescência, mas assim que entendeu sobre o casamento dos próprios pais, passou a se questionar sobre o assunto e não conhecia ninguém que de fato tivesse vivido uma linda história de amor. Então era muito mais fácil manter as coisas sem sentimentos. E funcionava para ambos.
Dirigiu até o café e riu sozinha ouvindo as músicas que estavam em alta no rádio do carro. Pensou sobre contar ou não para a melhor amiga o que estava acontecendo e ainda não tinha se decidido. tinha aprendido que não adiantava insistir muito com , mas ela sabia que Sophie não deixava as coisas de lado tão facilmente e bastaria um comentário estranho para que a amiga a pressionasse a dizer a verdade.
As duas haviam chegado juntas no café e não conseguiu disfarçar a surpresa com o visual de Sophie.
— Não me lembrava desse cabelo curto. — A escritora sorriu ao cumprimentá-la.
— Como não!? — Sophie franziu a testa. — Você foi comigo ao salão no começo da semana.
— Me esqueci. — abanou a mão.
— Estranho…
— Por quê?
— Porque você não esquece de nada, . — Sophie rolou os olhos para implicar com ela. — Você tem uma memória irritante.
— Vamos pedir logo, estou faminta. — mudou de assunto, já que sua boa memória não se lembrava desse dia no passado.
— Faminta, hum? — Sophie segurou um sorriso safado. — Isso me diz muito sobre a sua noite com o . — Ergueu as sobrancelhas sugestivamente.
— E como foi a sua noite com o… — se calou de repente, Sophia não namorava com Michael há três anos.
— Thomas. — A arquiteta rolou os olhos. — Eu sei que você não foi com a cara dele, mas não precisa exagerar. Ele é legal.
— E como foi a noite com ele? — refez a pergunta.
— Foi legal, mas ele já quer me apresentar para a família dele e eu estou achando que é cedo demais para isso. — Fez uma careta, pegando seu pedido no balcão.
— Vocês estão se vendo há quanto tempo mesmo? — A escritora perguntou no tom mais banal possível enquanto pegava a própria bandeja, mas a pergunta não passou despercebida por Sophie, que a olhou novamente com a testa franzida.
— Pouco mais de um mês. Nos conhecemos na minha viagem de Ano Novo. — Ela respondeu, mas agora, sentadas frente a frente, Sophie percebia que algo não estava certo.
— Ah, é mesmo. — Bebeu um gole do seu frappuccino.
— Ok, você está estranha mesmo. Você só bebe café expresso quando estamos aqui.
se amaldiçoou mentalmente. Seu problema com a cafeína era mais recente e antes disso ela era movida a café puro. Sempre.
— Me deu vontade de experimentar algo novo. — Ela deu de ombros, mostrando que não era nada demais, mas Sophie não se convenceu. — Mas o que você queria falar comigo?
— Eu? — A arquiteta riu. — Eu não quero falar nada.
— É que a gente costuma tomar café da manhã aqui quando você tem algo para contar.
— Foi você quem marcou esse encontro, . — O sorriso tinha dado lugar a uma expressão preocupada. — O que está acontecendo? Essa não é você.
— Nada. — Negou com a cabeça.
— Eu sou sua melhor amiga, . Tem algo estranho desde que te vi na calçada.
mordeu o lábio inferior, tentando pensar em uma saída. Aquilo tudo era loucura e contar para alguém só comprovaria isso.
— , eu estou ficando preocupada. — Chamou a atenção da amiga. — Você sabe que pode confiar em mim.
— Você vai achar que eu estou louca. — Falou num tom de voz mais baixo.
— Eu sempre achei isso. — Ela brincou, mas não riu. — Nada que você disser pode me assustar. — Garantiu.
— Eu voltei no tempo. — falou num sussurro.
— Como assim?
— Eu dormi em 2020 e acordei em 2017.
— Simples assim? Dormiu num ano e acordou em outro? — Permaneceu séria e confirmou com a cabeça. Sophie a encarou por alguns instantes e então gargalhou alto. — Ai, … Você quase me enganou. — Enxugou o canto do olho e notou que permanecia séria.
— Sabia que isso ia acontecer… — A escritora murmurou.
— Me fala alguma coisa que aconteceu então. — Pediu sem levar a sério.
— Que diferença faria? — deu de ombros. — Você não tem como saber se é verdade ou não.
— O que eu vou te dar de aniversário?
— Um final de semana num spa. — Ela respondeu de imediato e Sophie abriu a boca, surpresa.
— Como você sabe? Eu não… — Se calou. — Você não está mentindo. — Sua expressão entregava o quanto ela estava assustada com aquilo.
— Claro que não, você sabe que eu sou uma péssima mentirosa. — repetiu o que ouvira sua vida toda.
— Mas como aconteceu? Como isso é possível? — Sophie tentava acreditar na amiga, mas era surreal.
— Eu não faço ideia. Parece coisa de filme mesmo. Esbarrei com uma senhora na rua, ela falou umas coisas sem sentido e acordei exatamente três anos atrás. — Contou o que se lembrava.
— Que senhora?
— Não faço ideia. — repetiu. — Eu nunca a vi na vida. Estava voltando do bar para a minha casa e nos trombamos na esquina. Não faz sentido. Talvez eu realmente esteja louca.
— Eu não sei o que pensar. — Sophie falou depois de alguns segundos.
— Bem-vinda ao meu cérebro.
— Ok, vamos pensar. O que foi que ela disse que não fez sentido?
— Eu não lembro as palavras exatas, mas foi algo como ter uma oportunidade de mudar uma única coisa no passado, para mudar alguma coisa do futuro.
— Que loucura! — Sophie se sentia muito confusa.
— Eu sei. Não julgo se você não acreditar em mim. — Ela respirou fundo.
— E você sabe o que é que precisa mudar?
— Eu não sei.
— Você perdeu a memória? — negou.
— Só não lembro dos detalhes desse dia. Levei um susto acordando com o na minha cama. — Confessou e Sophie riu.
— Espera aí, vocês não ficaram juntos? — A escritora negou com a cabeça. — E nem eu com o Thomas. — Não era uma pergunta, mas negou novamente. — Por isso você não falou o nome dele naquela hora.
— É, eu sabia que ainda não era o Michael, mas não lembrava exatamente quem era.
— E quem é Michael? — Sophie apoiou os cotovelos sobre a mesa.
— Eu acho que não posso te contar.
— Como não? É sobre a minha vida.
— Eu só posso mudar uma coisa, e provavelmente não é a sua vida amorosa. — não queria ser grossa com ela.
— Eu estou tentando fazer isso soar normal, mas continua parecendo muita loucura.
— Deixa isso pra lá. — terminou de comer seu pedaço de bolo.
— Claro que não. Se você realmente voltou é porque tem um motivo. E se você não sabe qual é eu posso tentar te ajudar.
— Não custa tentar. Você pelo menos sabe o que está acontecendo. — Sophie riu.
— Veja pelo lado bom… — A escritora a olhou. — Se você não conseguir mudar nada, vai estar tudo igual no futuro. — Ela sorriu, otimista.
— E se eu mudar a coisa errada e alterar todo o futuro?
— É… Não tinha pensado por esse lado. — Sophie ficou pensativa novamente. — Quantos livros você já publicou no futuro?
— Sete. Por quê? — não tinha acompanhado o pensamento da amiga.
— Curiosidade. Nossa! Você podia aproveitar e me contar como serão as histórias.
— Acho que isso não altera o futuro. — Sophie concordou rapidamente, era curiosa e estava louca para saber como terminaria a coleção.
Ficaram bastante tempo lá. contou como tinha sido o trabalho com cada livro e Sophie estava achando incrível. Para ela era como se a amiga tivesse tido uma avalanche de ideias e era fascinante. Passaram um tempo tentando avaliar o que poderia ser a mudança, mas não conseguiram e como Sophie iria almoçar com a família, se despediram, combinando de se falar ao final da tarde.
**
— Não pareça tão surpresa em me ver, . Nós combinamos que eu traria o almoço. — Se abraçaram e ela percebeu como sentia falta da mãe depois que ela se mudara para o interior.
— Sim, mas você já está aqui dentro. E se eu estivesse com alguém? — A desafiou.
— Eu toquei a campainha antes. — Justificou terminando de colocar os talheres na mesa.
A refeição tinha sido tranquila e para a sorte de , sua mãe não tinha tocado em nenhum assunto que a colocasse em risco de não se lembrar. Estavam na sala, assistindo o programa de competição culinária, o favorito de sua mãe, mas a mente dela estava longe. Tanto no passado quanto no futuro sua relação estava ótima com sua mãe e com sua amiga e não via onde uma mudança poderia ser feita.
— O que te aflige, filha? — deu um pulo no sofá, sendo trazida de volta dos seus pensamentos.
— Besteira. — Tentou desconversar.
— Eu te conheço, . E você costumava amar os meus conselhos. — Ela olhou atentamente para a mãe, aquelas palavras tinham lhe dado esperança.
— Certo. — Falou organizando os pensamentos. — Uma amiga está com problemas.
— Uma amiga. — Sua mãe repetiu tentando se manter séria.
— Sim, uma amiga. Ela foi parar no topo das listas de leitura por causa de seus livros de romance, mas acabou falando em uma entrevista que não acreditava no amor e as vendas dela caíram e ela tem sido atacada nas redes sociais.
— Hum… — Sua mãe ficou pensativa.
— Eu não sei como ajudá-la.
— Bom, ela podia arrumar um namorado. — Deu de ombros como se fosse uma ideia óbvia.
— Um relacionamento falso. — Um sorriso começou a surgir.
— Não era exatamente isso que eu tinha em mente.
— Não. Você está certa. Pessoas famosas fazem isso o tempo todo, certo? — olhava para a mais velha, mas conversava sozinha.
— Eu acho que teria que ser um relacionamento real, .
— Não existem relacionamentos reais, mãe. — Respondeu séria e ela rolou os olhos.
— Se descobrirem que o relacionamento é falso, ao invés de resolver um problema, vai criar um muito maior.
— Droga! — reclamou.
— Talvez a sua amiga não seja tão avessa a relacionamentos… — Deixou no ar e mordeu o lábio para não se entregar.
— Talvez…
— Sabe, . — A mais velha sentou-se de lado, ficando de frente para a filha. — O que aconteceu entre seu pai e eu foi péssimo e eu não desejo que ninguém passe por isso, mas eu passaria por tudo de novo se precisasse, porque se não fosse isso, não teria você.
— Isso é loucura, mãe. — negou com a cabeça. — Meu pai tinha duas famílias ao mesmo tempo e nos enganou por anos. Não sei como você ainda consegue olhar para a cara dele.
— Por respeito, . Meu amor por você é enorme e isso me faz deixar o passado para trás. Talvez você precise se permitir viver um amor para realmente saber como é. Se permita apaixonar…
— Mãe… — disse num tom sofrido e foi salva pela campainha. — ? — Soou mais surpresa do que gostaria.
beijou seus lábios brevemente, notando a expressão de pânico no rosto dela, ele se afastou e então viu que outra pessoa estava no apartamento.
— Ou talvez você já tenha achado alguém. — Disse em tom sugestivo e queria se esconder.
— Desculpa, eu não sabia que a estava com visita. — Sorriu simpático, como sempre era.
— Imagina! — Abanou o ar e pegou a bolsa no balcão. — Eu já estava de saída. Foi um prazer…
— . — Ele estendeu a mão que ela estendera. — Igualmente.
— Aproveitem a noite. — Ela disse fechando a porta atrás de si.
— Por acaso era a sua mãe? — perguntou com um sorriso divertido.
— Por acaso sim. — Escondeu o rosto com as mãos.
— Por que não me falou que ela estaria aqui? Eu teria vindo mais tarde. — passou os braços em volta da cintura dela.
— Eu não me lembrei. Mas você veio mais cedo também. — se lembrava que ele chegava sempre a noite e o sol nem tinha se posto ainda.
— Eu pensei que poderíamos fazer algo diferente hoje. — Ele disse ao mesmo tempo em que a guiava para o próprio quarto.
— Diferente? Indo direto para a minha cama? — Ela riu quando sentiu as costas no colchão e os lábios dele nos dela.
— Eu queria te levar para jantar. — disse quando romperam o beijo.
— Por quê? — o olhou desconfiada.
— Nós sempre nos vemos no seu apartamento ou no meu quarto de hotel. Achei que seria legal. — Ele deitou e ela apoiou o queixo nele.
— E se alguém nos ver? — perguntou e se assustou, percebendo que havia entendido tudo.
O seu dia todo havia sido estranho, mas ali com era como se ela realmente estivesse vivendo aquele dia. Era a única coisa natural e real que tinha sentido o dia todo. E mais importante, ela se lembrara do que aconteceria a seguir. Sairiam para jantar. Iriam a um restaurante italiano e seria uma noite agradável, até ele mencionar que gostaria que ela fosse com ele para a Suíça, onde ele morava. E ela negaria, aquele era o sinal de que ele começava a ter sentimentos e o combinado era que era algo apenas físico. iria embora chateado e eles nunca mais se falariam...
arregalou os olhos. Sentia como se as peças de um quebra-cabeças se encaixassem e sorriu sozinha.
— O que foi? — perguntou confuso.
— Eu já volto. — Ela deu um selinho nele e se fechou no banheiro. Ela precisava pensar e não queria parecer louca na frente dele.
Andando de um lado para o outro começou a pensar na fala da senhora. Ela tinha vinte e quatro horas para mudar alguma coisa. O dia já estava acabando e ela não tinha se deparado com nenhuma oportunidade de fazer uma mudança, a não ser dizer sim à ao invés de não. Ela não amava , sabia disso. Mas gostava muito da pessoa que ele era, de sua companhia e dos momentos que passavam juntos.
E seria quase como a solução que sua mãe havia previsto. Se ela estivesse num relacionamento ela não teria falado aquilo na entrevista e alteraria a única coisa que ela não gostava sobre o futuro. Se olhou no espelho e gostou do que viu. Ela estava feliz e sabia o que faria. Naquela noite, quando fizesse o convite para viajarem juntos, ela diria sim.
**
Viu um vulto na janela e foi até lá. Afastou a cortina e viu a senhora se afastando. sentiu certo pânico, mas voltou a ficar em paz quando ela olhou para trás e sorriu, e no instante seguinte não estava mais lá.
A escritora coçou os olhos, percebendo o anel em sua mão. Ela estava casada e ao pensar naquilo todas as lembranças vieram à sua mente. A noite em que pedira sua mão, o dia do seu casamento. Sentia-se tão completa e tão feliz. Correu para o celular e buscou o próprio nome na internet, estava em 2020, com a mesma quantidade de livros publicados, seguia no topo dos mais lidos da Alemanha. Foi para a aba de notícias e clicou no link mais recente.
Hastings confessou em entrevista que, apesar de escrever romances, não acreditava de fato no amor até o terceiro livro de sua primeira série. “O casamento dos meus pais não foi uma boa referência e eu não via motivos para me relacionar.” Disse a autora. Segundo ela, foi depois de ouvir um conselho de sua mãe que resolveu dar uma chance ao piloto tetracampeão mundial de Fórmula 1, . Casados a pouco mais de um ano, o casal espera a primeira filha…
Outra avalanche de memórias ocupou sua mente. Lembranças de sua gravidez, do nascimento de Eileen e de tudo que ela e tinham construído juntos. Abriu a galeria de fotos, constatando que as memórias eram reais e que ela tinha, de fato, vivido tudo aquilo, mesmo que parecesse um pouco nebuloso.
Caminhou até o quarto do lado e entrou sem fazer barulho. Eileen dormia em seu berço tranquilamente e ficou ali, admirando a filha. Agora ela entendia o que sua mãe queria dizer com sentir um amor que justificava tudo o que ela tinha passado e como uma única mudança podia ter feito tanta diferença em seu futuro.
— Não canso de admirá-la. — falou, fazendo-se notar e sorriu, concordando. — Bom dia. — Ele beijou sua testa. — Fiz o café.
— Vou escovar os dentes e já vou.
Pegou o celular novamente, foi para o final da galeria, passando por algumas fotos e constatando que ela se lembrava de ter vivido todos aqueles momentos ao lado dele. A última viagem deles antes do nascimento da filha, os problemas de 2019 na Ferrari que o levou a terminar o campeonato em quinto lugar. Os aniversários, outras viagens, os segundos lugares consecutivos nas temporadas de 2017 e 2018.
— Nossa, estamos comemorando alguma coisa? — Perguntou receosa vendo uma mesa incrível posta.
— Três anos do primeiro sim que você me disse e que mudou todas as nossas vidas. — levou as mãos ao rosto do piloto e colou os lábios aos dele, dando início a um beijo apaixonado.
— Obrigada por ser essa pessoa incrível que você é. — Ela sorriu, dando mais um selinho nele antes de se sentarem para comer.
— Não seria metade disso sem você. — Pegou a mão dela sobre a mesa e fez um carinho. — Você já imaginou como teria sido nossa vida se você tivesse dito não a três anos atrás? — Perguntou enquanto servia o café e se engasgou com o suco.
— Acho que teríamos focado totalmente nas nossas carreiras profissionais. — Ela disse depois de tossir algumas vezes.
— Ainda bem que não foi o que aconteceu. — Ele sorriu.
A senhora apareceu na janela atrás de e acenou com a cabeça, voltando a desaparecer no instante seguinte.
— Ainda bem mesmo.
FIM
Nota da autora: Oi, oi! Eu nunca imaginei que seria tão difícil escrever uma fic com alguém que eu gostasse, mas Vettel provou que é possível. Hahaha
Amei essa ideia de voltar ao passado e espero que tenham gostado também!
Beijinhos e até mais!
O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.
Nota da Scripter: Essa história faz parte do projeto Drive To Survive, um união entre várias autoras que escrevem sobre Fórmula 1. Clicando aqui, você irá para a página onde todas as histórias estarão hospedadas permanentemente.
Essa fanfic é de total responsabilidade da autora, apenas faço o script. Qualquer erro, somente no e-mail.
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