Capítulo Único
O batom vermelho sangue escorregava de maneira harmônica pelos lábios de Teri enquanto a garota se olhava no espelho. A voz de sua mãe dizendo que Noah Firmam, o herdeiro da maior rede de tecnologia do país, adorava a cor ecoava em sua cabeça como instruções para uma reunião de negócios e não um encontro romântico.
Tentando se conformar com a ideia de se abrir novamente para o amor, a jovem de dezoito anos modulava seus cachos dourados de maneira deslumbrante, o oposto do seu coração. Enquanto forçava um sorriso, seus olhos visualizaram bem na penteadeira o seu gloss brilhante rosa, uma cor muito infantil para a ocasião, mas perfeita aos olhos daquele que, por mais que ela tentasse negar, ainda era dono do seu coração.
Teri sempre pensou que encontraria o amor em um dos inúmeros country clubes que frequentava, ou em uma das festas ou restaurantes chiques da cidade, mas, por ironia, o destino quis que ela o encontrasse usando o uniforme da famosa franquia de lanches comandada por seu pai. Na ocasião, Bob Forman pediu à filha que fosse à lanchonete do shopping a fim de verificar como estava o atendimento. Claro que, também a pedido do pai, a herdeira não revelou sua verdadeira identidade. Na ocasião, o cheiro de hambúrguer dava náuseas, mesmo sabendo que os lanches gordurosos eram os grandes responsáveis pela fortuna que um dia estaria em suas mãos.
Esperar em uma fila também era algo a que a jovem nascida em berço de ouro não estava acostumada. Enquanto batia os pés, ela tentava se acalmar, lembrando a si mesma que aquele bando de gente não saudável e de classe média estava colocando dinheiro em seu bolso, ainda que não soubessem. Por fim, sua vez chegou. Como se recusava a colocar um hambúrguer na boca, ela se limitou a pedir um milkshake. A atendente, com um sorriso, pediu que esperasse em uma das mesas. Sem ter escolha, a loira obedeceu. Alguns minutos depois, uma voz masculina suave, até mesmo atraente, chamou sua atenção quando disse:
— Aqui está o seu milkshake, senhorita, eu só vou colocá-lo aqui e...
Contudo, antes que ela conseguisse segurar a bebida calórica, o garçom desastrado tropeçou, a sujando com o chantilly. Sua blusa rosa de marca, arruinada. Teri não se conteve.
— Olha só o que você fez, seu incompetente! — Berrou sem desviar os olhos do estrago.
— Me desculpe, senhorita, eu sou mesmo muito desastrado. Eu posso limpar, se quiser.
— Não, essa blusa é de marca.
— É, eu reparei. É da Versace, né? Muito bonita inclusive.
Teri arregalou os olhos. Como um garçom conhecia sua marca favorita?
Reparando no espanto da jovem, o garoto completou:
— Eu já trabalhei em uma lavanderia e lá tive que aprender sobre todos os tipos de roupas que chegavam para serem lavadas. Bom, eu tenho muita experiência e sei exatamente como tirar essa mancha, se me acompanhar até a cozinha.
Teri suspirou enquanto tentava não pensar em como o sorriso do garoto de uniforme era fofo.
— Tudo bem, eu aceito, mas se eu sair daqui fedendo a gordura, eu te processo! — Ameaçou, ignorando o fato de o estabelecimento ser de seu pai.
— Confie em mim! — O garoto exibiu novamente aquele sorriso que faria qualquer garoto dos country clubes morrer de inveja. Mesmo com sua blusa manchada, Teri não deixou de perceber que tirando aquele boné e a blusa vermelha padrão da franquia, o garoto simpático era bem fofo.
Com os pés tremendo, ela o acompanhou até a cozinha com a cabeça baixa, afinal, não queria dar bandeira sobre quem realmente era.
— Muito bem, um pano húmido vai resolver isso rapidinho. — Exclamou o garoto com os olhos vidrados na pia. Apenas alguns segundos depois ele pediu licença e começou a esfregá-lo pela blusa de Teri. O gesto os fez ficar tão próximos que ela pôde sentir sua respiração. O pior, no entanto, era poder ver aqueles olhos tão brilhantes de perto. Como um príncipe daqueles podia estar escondido em uma das lanchonetes de seu pai sem que ela nunca tivesse reparado?
— Obrigada, você foi muito gentil... — Ela desviou o olhar para o uniforme onde finalmente descobriu o nome do garoto de sorriso fofo. — Marvin.
— Imagina. É meu dever, e eu sinto muito mais uma vez. Ainda bem que eu não sujei o seu rosto, seria uma pena sujar algo tão bonito.
O elogio fez as bochechas de Teri corarem de maneira involuntária; nunca alguém havia sido tão gentil. Claro que ela já havia conhecido alguns garotos em sua vida, mas nenhum tão atencioso. Marvin, sem dúvidas, era único.
— Está quase na hora amiga, e então? Animada? — Briana entrou no quarto, arrancando a herdeira de suas doces lembranças.
— Sim, já estou pronta, o que você achou da minha maquiagem? — Teri não se preocupou em fingir ânimo.
— Está linda, mas ficaria melhor se você desse um sorriso.
A constatação fez um suspiro sair da boca de Teri.
— Ai, amiga, você sabe muito bem que eu só aceitei esse encontro porque meus pais insistiram muito, mas eu não consigo parar de pensar no Marvin. — Ela se jogou na cama, aliviada por poder desabafar.
— Ah, não, Teri, você vai sair com o herdeiro de uma das maiores empresas de tecnologia, que ainda por cima é um gato, e está pensando no garçom da lanchonete?
— Você sabe que o Marvin é muito mais do que isso. — Ela defendeu o amado.
— Desculpa, eu não quis ofendê-lo, é só que... Poxa, você é herdeira do lugar onde ele trabalha e de muitos outros. Você é Teri Forman, filha de Bob Forman, não pode se contentar com pouco. Desde pequena, você sempre sonhou com o príncipe encantado, não é?
Era verdade. Teri era o tipo de garota sonhadora e romântica, e por mais que não gostasse de demonstrar, sempre imaginou para si um romance de contos de fada, onde um príncipe a levaria para morar em seu castelo. Mal sabia ela que os príncipes podiam vir de várias formas diferentes.
— Você me conhece desde pequena, não preciso nem confirmar. — Se limitou a responder.
— Então. Eu te garanto que esse príncipe não serve hambúrgueres, por isso você tem que continuar procurando. Como sua melhor amiga, eu estou aqui para lembrar que o garoto com quem você vai sair hoje é o sonho de consumo de muitas, inclusive o meu, por isso, pelo menos tenta parecer feliz.
— Eu sei que o meu pai está... — Retrucou enquanto as memórias do recente escândalo voltavam à sua mente.
Ela e Marvin estavam saindo há algumas semanas, tudo estava perfeito. Mesmo com todas as oportunidades, dinheiro e viagens, Teri nunca havia estado tão contente. Porém, sua felicidade foi arrancada quando uma noite chegou em casa e encontrou seu pai com as sobrancelhas franzidas, o que não era um bom sinal.
— Justamente quem eu estava esperando. — O empresário cruzou os braços.
Teri sentiu seu coração sair pela boca.
— Oi, pai, aconteceu algo? — Indagou enquanto engolia seco.
— Você pode me explicar o que significa isso? — Bob Forman jogou com fúria uma cópia de um jornal na mesa.
— Ah, ninguém mais lê essa coisa velha!
Bop, no entanto, não gostou do comentário.
— Não me venha com gracinhas, Teri. Olha a primeira página!
Os dedos trêmulos da garota seguraram as folhas de papel e, ao ver uma foto sua com Marvin de mãos dadas estampadas na primeira página, a jovem entendeu a fúria de seu pai.
A legenda, era ainda pior.
“A princesa do hambúrguer parece ter se tornado a princesa dos garçons”.
Por mais que quisesse, ela não conseguia falar.
— Teri, como você pôde? — Sua voz soava como se a filha tivesse cometido o pior dos crimes.
A garota respirou fundo e reuniu toda sua coragem para responder:
— Como eu pude o quê? Sair com alguém de quem eu gosto?
Bob Forman mais uma vez não teve tolerância e deu um murro barulhento na mesa de jantar antes de continuar.
— Você entendeu muito bem...
A garota precisou respirar fundo e reunir toda sua coragem antes de responder novamente:
— Como eu pude sair com alguém que eu gosto? O Marvin é incrível, eu realmente gosto dele.
Bob Forman colocou as mãos na cabeça, como se tivesse escutado a frase mais tola do mundo.
— Minha querida, você ainda é muito inocente para entender. Um dia você será a dona de uma das redes de fast food mais importantes do país e precisará ter ao seu lado alguém de renome, não um garçom.
— Mais pai... — A loira tentou argumentar com lágrimas nos olhos.
— Eu entendo, já fui como você, mas lembre-se, minha filha: o seu príncipe encantado ainda está por aí para te ajudar a comandar o império que eu construí, e você precisa esquecer todas essas distrações para encontrá-lo. Entendido?
O que seu pai não entendia era que Marvin não era apenas uma distração e sim seu grande amor, mas seu pai não deixava de ter razão. Esse relacionamento não teria futuro. Afinal, como Marvin iria nos futuros eventos chiques com ela? Como se comportaria nos restaurantes e o que diria às pessoas quando perguntassem sobre o seu passado? Os investidores aceitariam bem um ex-garçom ao lado da presidente? Por mais que doesse, ela sabia muito bem a resposta, podia não ser uma gênia dos negócios como seu pai, mas tinha idade suficiente para saber como esse mundo funcionava. Não tinha como, Teri não podia ser egoísta de sacrificar tudo que seu pai havia construído, nem mesmo por um grande amor. No mesmo instante, seu coração se partiu em mil pedaços ao perceber o que precisava ser feito e não havia se reintegrado desde então.
— A campainha! Deve ser o Noah! — Mais uma vez, Briana a trouxe de volta ao presente.
Teri forçou um sorriso enquanto descia as escadas, seus dedos frios tocaram a maçaneta sem empolgação, já que a pessoa que ela realmente queria ver nunca passaria por aquela porta.
Do lado de fora, Noah, com seus cabelos castanhos incrivelmente penteados e sua jaqueta de marca, segurava um buquê de flores vermelhas.
— Oi, Teri, boa noite, você está linda.
— Obrigada! — A loira respondeu sem demonstrar nenhum pingo de alegria visível em seu rosto. Ela recebeu as flores vermelhas e mais uma vez não demonstrou empolgação.
— Bom, a limusine nos aguarda! — O garoto lançou um olhar para trás onde um veículo gigante branco estava estacionado. Claro que Teri já havia andado em várias como aquelas, mas o melhor passeio de sua vida foi feito em uma bicicleta velha, durante seu primeiro encontro com Marvin.
Ele a esperava naquela mesma porta, e por estar acostumada a sair com garotos ricos, Teri olhou para trás e indagou onde estava o carro.
Marvin, com uma mão no bolso e um riso sem graça, apontou para uma bicicleta preta que parecia estar caindo aos pedaços. À primeira vista, Teri arregalou os olhos em espanto.
— Ah, não, você não espera que eu suba nessa coisa, não é?
— Eu sinto muito por isso, mas é o único veículo que eu tenho, é com ela que vou para o trabalho todo dia. — Explicou Marvin de maneira paciente.
— Nossa, que coragem.
— Até que eu aprendi a gostar, sabe? Dá uma sensação de liberdade.
— Eu duvido. — Teri cruzou os braços, sinalizando que não mudaria de opinião.
— Você já andou de bicicleta alguma vez?
Teri deu uma risada.
— O quê? É claro que já. — Ela afirmou, deixando claro que não sabia mentir.
Marvin deu risada da situação antes de indagar:
— Mesmo?
— Sim.
De alguma forma, os olhos penetrantes de Marvin tinham o poder de fazê-la dizer a verdade, mesmo que não quisesse.
— Tudo bem, eu só andei quando era bem pequenininha, mas como tinha um carro com motorista para me levar onde eu quisesse, acabei esquecendo. Que vergonha, você deve estar me achando uma idiota.
Marvin levantou as sobrancelhas e lançou seu irresistível sorriso.
— Por não saber andar de bicicleta? Imagina, eu mesmo aprendi há pouco tempo.
Teri se surpreendeu.
— Sim, e não é tão difícil, quer ver? É só você segurar bem firme e me ajudar a pedalar. O que acha?
— E se eu cair?
— Eu não vou deixar, confia em mim! — Marvin estendeu as mãos, a entregando um capacete.
Por algum motivo, Teri sabia que ele nunca a faria mal ou a deixaria se machucar, por isso, aceitou o convite e subiu na bicicleta. Suas mãos apertaram firmemente a cintura de Marvin, o que o fez se sentir desconfortável. Que vergonha. Sentir o vento em seus cabelos enquanto pedalava era uma sensação incrível de liberdade. Marvin a havia explicado como fazer e logo ela pegou o jeito e girava os pés como se tivesse andado de bicicleta a vida toda.
Depois de alguns minutos, Marvin fez sinal de que iria parar em uma barraca de milkshake. Teri torceu o nariz.
— Você quer mesmo parar aqui? Quer dizer, se formos na lanchonete, teremos lanche de graça! — Argumentou enquanto tirava o capacete.
— Está brincando? Eu sinto o cheiro daquele hambúrguer e fico até enjoado. Além do mais o milkshake daqui é o melhor de todos, você vai ver.
Teri decidiu dar um voto de confiança ao garoto e quando colocou o primeiro gole na boca, realmente a bebida parecia ter sido feita pelos deuses.
— E então? — Marvin a fitava curioso.
— Nossa, isso aqui é incrível. Desculpa, pai, mas esse aqui deixa o milkshake da lanchonete no chinelo.
Marvin deu risada.
— Estou falando sério, nem lembro a última vez que eu tomei um desses, mas valeu super a pena, obrigada!
— Imagina.
Ao olhar encantado para a jovem de cabelos dourados, Marvin percebeu que ela estava com o canto da boca sujo de chocolate.
— O que foi? — Ela indagou sem graça.
— Nada, só que tem um pouco de...
— Ah, meu Deus, que vergonha. Eu geralmente não sou assim. Está muito feio?
— Não, espera, deixa eu só...
Marvin colocou um dos dedos perto dos seus lábios, mas não o suficiente. Seu toque de algum modo a fazia ganhar vida e ela queria sentir mais.
— Agora sim! — Ele exclamou afastando os dedos, para a tristeza de Teri.
— Que bom, agora só preciso... — A jovem herdeira, pela primeira vez enquanto estava com um garoto, pegou em sua bolsa o gloss rosa que tanto gostava e começou a esparramá-lo pelos lábios de forma elegante.
— Ei, a minha irmãzinha tem um igual a esse.
— Pois é, né? Eu sei que esse tipo de gloss labial é infantil para alguém da minha idade, mas eu gosto tanto dele.
— Não, desculpe, não foi isso que eu quis dizer, é que essa cor ficou linda nela, mas ficou ainda mais em você.
Teri sentiu seu coração disparar. Sempre que que ia a algum encontro com os garotos ricos do country clube, ela precisava escolher outro batom, mas com Marvin ela podia ser ela mesma, e isso era uma sensação tão libertadora.
— Você falou isso só para eu me sentir melhor... — Argumentou.
— Não é sério, apesar de que seus lábios são tão lindos que eu aposto que qualquer cor ficaria linda neles.
O coração de Teri parecia uma bomba dentro de seu peito, ela nunca havia se sentido dessa forma; era algo tão novo e tão maravilhoso. De repente, ela percebeu que os lábios de Marvin também pareciam muito atraentes vistos daquele ângulo. Então, em um ato de coragem que não costumava ter, ela começou:
— Bom, o que eu mais gosto nesse gloss é o cheiro, ele é mesmo muito bom, você deveria sentir.
Entendendo a indireta, Marvin afastou os fios dourados que cobriam o rosto da garota e juntou seus lábios aos dela. Realmente o cheiro do gloss era muito bom, mas o garoto era muito melhor.
A alegria de Teri, no entanto, foi roubada quando Noah a chamou de volta para o mundo real.
— E então, vamos?
Forçando um sorriso, ela fez que sim, embora seu coração clamasse pelo contrário.
Dentro da limusine, Teri olhava para a janela fingindo estar entretida com os prédios e as ruas, porém tudo que a garota desejava era que Noah não percebesse sua tristeza. Por mais que estivesse se esforçando, as memórias de Marvin continuavam a invadir sua mente.
Por alguns minutos, ela teve sucesso em seu plano. Contudo, quando viu a barraca do primeiro encontro, as lágrimas teimaram em escorrer.
— Teri. — chamou Noah, a obrigando a se virar com mais um sorriso falso no rosto
— Está tudo bem?
A garota passou as mãos no rosto tentando disfarçar o inchaço.
— Claro, por que não estaria? Eu só estava pensando se não poderíamos parar naquela barraca de milkshake.
O coração de Teri saiu pela boca enquanto Noah a encarava.
— É uma brincadeira, né? Claro que é. Imagina se você, Teri, trocaria um jantar no restaurante mais chique da cidade por uma bebida barata de barraca.
— Óbvio, imagina, foi uma piada. Hahaha. — Ela forçou o riso.
Ao avistar o restaurante onde já havia jantado milhares de vezes com os pais, Teri cruzou as pernas enquanto ajeitava o cabelo. Não havia mais volta, afinal, ela mesmo havia tomado essa decisão, foi ela quem encontrou Marvin no estacionamento do shopping.
Na ocasião, ela o esperava com as mais no bolso enquanto andava de um lado para o outro impaciente. Por fim, lá estava ele, acenando enquanto exibia aquele sorriso fofo. Seria mais difícil do que Teri poderia imaginar. Mesmo sentindo o coração quebrado doer dentro de seu peito, fez o que era preciso. Um Marvin devastado ficou pelo caminho. Na volta para casa, a herdeira prometeu a si mesma que, embora estivesse em prantos naquele instante, ela iria superar, afinal, era para o seu próprio bem.
O soar do violino enquanto o garçom de bigode e gravata colocava os inúmeros talheres que a loira havia aprendido a usar desde pequena não era suficiente para fazer a jovem se divertir por um segundo sequer, mesmo tendo à sua disposição pratos premiados internacionalmente. Tudo que ela queria era uma guloseima engordurada, acompanhada de um certo alguém cujo nome ela estava lutando para esquecer
— Eu vou querer o salmão grelhado ao ponto com molho tinto, e você, Teri?
— Um hambúrguer. — As palavras saíram de maneira automática.
Noah a encarou como se fosse um ser de outro planeta.
— Eu estou brincando, é claro. — A jovem afirmou, tentando acreditar nas próprias palavras.
A risada sofisticada de Noah a fez suspirar de alívio.
— A Teri é tão engraçada.
— Pois é, até parece que eu gosto de hambúrguer, hahaha. Eu vou querer o fetuccine ao cogumelo.
— Perfeito.
Para evitar um silêncio constrangedor, Noah começou a balançar os dedos no rótulo da sinfonia de Beethoven que ecoava pelo local.
— Eu amo essa música. Teri, você quer dançar comigo? — Noah esticou os braços fazendo as pernas de Teri tremerem.
Tudo que ela queria era poder aproveitar a noite ao lado de um garoto rico, mas, de repente, seus pensamentos transformam o som clássico do violino nas notas de uma guitarra elétrica. Automaticamente Teri se lembrou de quando estava espremida no meio de uma plateia, contudo se sentia muito mais confortável do que em sua cama queen, afinal, se encontrava aconchegada nos braços de Marvin. Antes de conhecer o jovem de sorriso fofo, Teri não sabia aproveitar as coisas simples da vida. Com ele, aprendeu que todos os momentos e lugares poderiam ser maravilhosos, até mesmo uma barraca de rua ou a cozinha fedorenta de uma lanchonete.
As memórias a deixaram tonta.
— Me desculpe, Noah, eu preciso ir ao banheiro.
Mesmo de salto, ela correu o mais rápido que pôde. Para sua sorte todas as cabines estavam vazias, o que a fez permitir que as lágrimas caíssem. Não importava o status ou o dinheiro do garoto que a esperava, pois ela já havia encontrado seu príncipe, alguém capaz de a fazer rir e que a aceitava como era. Porém, o havia perdido para sempre. Não adiantaria seguir com aquele encontro estúpido, ou continuar procurando em country clubes ou reuniões de negócios. A pessoa perfeita que ela tanto procurava era Marvin.
Tentando se conformar com a ideia de se abrir novamente para o amor, a jovem de dezoito anos modulava seus cachos dourados de maneira deslumbrante, o oposto do seu coração. Enquanto forçava um sorriso, seus olhos visualizaram bem na penteadeira o seu gloss brilhante rosa, uma cor muito infantil para a ocasião, mas perfeita aos olhos daquele que, por mais que ela tentasse negar, ainda era dono do seu coração.
Teri sempre pensou que encontraria o amor em um dos inúmeros country clubes que frequentava, ou em uma das festas ou restaurantes chiques da cidade, mas, por ironia, o destino quis que ela o encontrasse usando o uniforme da famosa franquia de lanches comandada por seu pai. Na ocasião, Bob Forman pediu à filha que fosse à lanchonete do shopping a fim de verificar como estava o atendimento. Claro que, também a pedido do pai, a herdeira não revelou sua verdadeira identidade. Na ocasião, o cheiro de hambúrguer dava náuseas, mesmo sabendo que os lanches gordurosos eram os grandes responsáveis pela fortuna que um dia estaria em suas mãos.
Esperar em uma fila também era algo a que a jovem nascida em berço de ouro não estava acostumada. Enquanto batia os pés, ela tentava se acalmar, lembrando a si mesma que aquele bando de gente não saudável e de classe média estava colocando dinheiro em seu bolso, ainda que não soubessem. Por fim, sua vez chegou. Como se recusava a colocar um hambúrguer na boca, ela se limitou a pedir um milkshake. A atendente, com um sorriso, pediu que esperasse em uma das mesas. Sem ter escolha, a loira obedeceu. Alguns minutos depois, uma voz masculina suave, até mesmo atraente, chamou sua atenção quando disse:
— Aqui está o seu milkshake, senhorita, eu só vou colocá-lo aqui e...
Contudo, antes que ela conseguisse segurar a bebida calórica, o garçom desastrado tropeçou, a sujando com o chantilly. Sua blusa rosa de marca, arruinada. Teri não se conteve.
— Olha só o que você fez, seu incompetente! — Berrou sem desviar os olhos do estrago.
— Me desculpe, senhorita, eu sou mesmo muito desastrado. Eu posso limpar, se quiser.
— Não, essa blusa é de marca.
— É, eu reparei. É da Versace, né? Muito bonita inclusive.
Teri arregalou os olhos. Como um garçom conhecia sua marca favorita?
Reparando no espanto da jovem, o garoto completou:
— Eu já trabalhei em uma lavanderia e lá tive que aprender sobre todos os tipos de roupas que chegavam para serem lavadas. Bom, eu tenho muita experiência e sei exatamente como tirar essa mancha, se me acompanhar até a cozinha.
Teri suspirou enquanto tentava não pensar em como o sorriso do garoto de uniforme era fofo.
— Tudo bem, eu aceito, mas se eu sair daqui fedendo a gordura, eu te processo! — Ameaçou, ignorando o fato de o estabelecimento ser de seu pai.
— Confie em mim! — O garoto exibiu novamente aquele sorriso que faria qualquer garoto dos country clubes morrer de inveja. Mesmo com sua blusa manchada, Teri não deixou de perceber que tirando aquele boné e a blusa vermelha padrão da franquia, o garoto simpático era bem fofo.
Com os pés tremendo, ela o acompanhou até a cozinha com a cabeça baixa, afinal, não queria dar bandeira sobre quem realmente era.
— Muito bem, um pano húmido vai resolver isso rapidinho. — Exclamou o garoto com os olhos vidrados na pia. Apenas alguns segundos depois ele pediu licença e começou a esfregá-lo pela blusa de Teri. O gesto os fez ficar tão próximos que ela pôde sentir sua respiração. O pior, no entanto, era poder ver aqueles olhos tão brilhantes de perto. Como um príncipe daqueles podia estar escondido em uma das lanchonetes de seu pai sem que ela nunca tivesse reparado?
— Obrigada, você foi muito gentil... — Ela desviou o olhar para o uniforme onde finalmente descobriu o nome do garoto de sorriso fofo. — Marvin.
— Imagina. É meu dever, e eu sinto muito mais uma vez. Ainda bem que eu não sujei o seu rosto, seria uma pena sujar algo tão bonito.
O elogio fez as bochechas de Teri corarem de maneira involuntária; nunca alguém havia sido tão gentil. Claro que ela já havia conhecido alguns garotos em sua vida, mas nenhum tão atencioso. Marvin, sem dúvidas, era único.
— Está quase na hora amiga, e então? Animada? — Briana entrou no quarto, arrancando a herdeira de suas doces lembranças.
— Sim, já estou pronta, o que você achou da minha maquiagem? — Teri não se preocupou em fingir ânimo.
— Está linda, mas ficaria melhor se você desse um sorriso.
A constatação fez um suspiro sair da boca de Teri.
— Ai, amiga, você sabe muito bem que eu só aceitei esse encontro porque meus pais insistiram muito, mas eu não consigo parar de pensar no Marvin. — Ela se jogou na cama, aliviada por poder desabafar.
— Ah, não, Teri, você vai sair com o herdeiro de uma das maiores empresas de tecnologia, que ainda por cima é um gato, e está pensando no garçom da lanchonete?
— Você sabe que o Marvin é muito mais do que isso. — Ela defendeu o amado.
— Desculpa, eu não quis ofendê-lo, é só que... Poxa, você é herdeira do lugar onde ele trabalha e de muitos outros. Você é Teri Forman, filha de Bob Forman, não pode se contentar com pouco. Desde pequena, você sempre sonhou com o príncipe encantado, não é?
Era verdade. Teri era o tipo de garota sonhadora e romântica, e por mais que não gostasse de demonstrar, sempre imaginou para si um romance de contos de fada, onde um príncipe a levaria para morar em seu castelo. Mal sabia ela que os príncipes podiam vir de várias formas diferentes.
— Você me conhece desde pequena, não preciso nem confirmar. — Se limitou a responder.
— Então. Eu te garanto que esse príncipe não serve hambúrgueres, por isso você tem que continuar procurando. Como sua melhor amiga, eu estou aqui para lembrar que o garoto com quem você vai sair hoje é o sonho de consumo de muitas, inclusive o meu, por isso, pelo menos tenta parecer feliz.
— Eu sei que o meu pai está... — Retrucou enquanto as memórias do recente escândalo voltavam à sua mente.
Ela e Marvin estavam saindo há algumas semanas, tudo estava perfeito. Mesmo com todas as oportunidades, dinheiro e viagens, Teri nunca havia estado tão contente. Porém, sua felicidade foi arrancada quando uma noite chegou em casa e encontrou seu pai com as sobrancelhas franzidas, o que não era um bom sinal.
— Justamente quem eu estava esperando. — O empresário cruzou os braços.
Teri sentiu seu coração sair pela boca.
— Oi, pai, aconteceu algo? — Indagou enquanto engolia seco.
— Você pode me explicar o que significa isso? — Bob Forman jogou com fúria uma cópia de um jornal na mesa.
— Ah, ninguém mais lê essa coisa velha!
Bop, no entanto, não gostou do comentário.
— Não me venha com gracinhas, Teri. Olha a primeira página!
Os dedos trêmulos da garota seguraram as folhas de papel e, ao ver uma foto sua com Marvin de mãos dadas estampadas na primeira página, a jovem entendeu a fúria de seu pai.
A legenda, era ainda pior.
“A princesa do hambúrguer parece ter se tornado a princesa dos garçons”.
Por mais que quisesse, ela não conseguia falar.
— Teri, como você pôde? — Sua voz soava como se a filha tivesse cometido o pior dos crimes.
A garota respirou fundo e reuniu toda sua coragem para responder:
— Como eu pude o quê? Sair com alguém de quem eu gosto?
Bob Forman mais uma vez não teve tolerância e deu um murro barulhento na mesa de jantar antes de continuar.
— Você entendeu muito bem...
A garota precisou respirar fundo e reunir toda sua coragem antes de responder novamente:
— Como eu pude sair com alguém que eu gosto? O Marvin é incrível, eu realmente gosto dele.
Bob Forman colocou as mãos na cabeça, como se tivesse escutado a frase mais tola do mundo.
— Minha querida, você ainda é muito inocente para entender. Um dia você será a dona de uma das redes de fast food mais importantes do país e precisará ter ao seu lado alguém de renome, não um garçom.
— Mais pai... — A loira tentou argumentar com lágrimas nos olhos.
— Eu entendo, já fui como você, mas lembre-se, minha filha: o seu príncipe encantado ainda está por aí para te ajudar a comandar o império que eu construí, e você precisa esquecer todas essas distrações para encontrá-lo. Entendido?
O que seu pai não entendia era que Marvin não era apenas uma distração e sim seu grande amor, mas seu pai não deixava de ter razão. Esse relacionamento não teria futuro. Afinal, como Marvin iria nos futuros eventos chiques com ela? Como se comportaria nos restaurantes e o que diria às pessoas quando perguntassem sobre o seu passado? Os investidores aceitariam bem um ex-garçom ao lado da presidente? Por mais que doesse, ela sabia muito bem a resposta, podia não ser uma gênia dos negócios como seu pai, mas tinha idade suficiente para saber como esse mundo funcionava. Não tinha como, Teri não podia ser egoísta de sacrificar tudo que seu pai havia construído, nem mesmo por um grande amor. No mesmo instante, seu coração se partiu em mil pedaços ao perceber o que precisava ser feito e não havia se reintegrado desde então.
— A campainha! Deve ser o Noah! — Mais uma vez, Briana a trouxe de volta ao presente.
Teri forçou um sorriso enquanto descia as escadas, seus dedos frios tocaram a maçaneta sem empolgação, já que a pessoa que ela realmente queria ver nunca passaria por aquela porta.
Do lado de fora, Noah, com seus cabelos castanhos incrivelmente penteados e sua jaqueta de marca, segurava um buquê de flores vermelhas.
— Oi, Teri, boa noite, você está linda.
— Obrigada! — A loira respondeu sem demonstrar nenhum pingo de alegria visível em seu rosto. Ela recebeu as flores vermelhas e mais uma vez não demonstrou empolgação.
— Bom, a limusine nos aguarda! — O garoto lançou um olhar para trás onde um veículo gigante branco estava estacionado. Claro que Teri já havia andado em várias como aquelas, mas o melhor passeio de sua vida foi feito em uma bicicleta velha, durante seu primeiro encontro com Marvin.
Ele a esperava naquela mesma porta, e por estar acostumada a sair com garotos ricos, Teri olhou para trás e indagou onde estava o carro.
Marvin, com uma mão no bolso e um riso sem graça, apontou para uma bicicleta preta que parecia estar caindo aos pedaços. À primeira vista, Teri arregalou os olhos em espanto.
— Ah, não, você não espera que eu suba nessa coisa, não é?
— Eu sinto muito por isso, mas é o único veículo que eu tenho, é com ela que vou para o trabalho todo dia. — Explicou Marvin de maneira paciente.
— Nossa, que coragem.
— Até que eu aprendi a gostar, sabe? Dá uma sensação de liberdade.
— Eu duvido. — Teri cruzou os braços, sinalizando que não mudaria de opinião.
— Você já andou de bicicleta alguma vez?
Teri deu uma risada.
— O quê? É claro que já. — Ela afirmou, deixando claro que não sabia mentir.
Marvin deu risada da situação antes de indagar:
— Mesmo?
— Sim.
De alguma forma, os olhos penetrantes de Marvin tinham o poder de fazê-la dizer a verdade, mesmo que não quisesse.
— Tudo bem, eu só andei quando era bem pequenininha, mas como tinha um carro com motorista para me levar onde eu quisesse, acabei esquecendo. Que vergonha, você deve estar me achando uma idiota.
Marvin levantou as sobrancelhas e lançou seu irresistível sorriso.
— Por não saber andar de bicicleta? Imagina, eu mesmo aprendi há pouco tempo.
Teri se surpreendeu.
— Sim, e não é tão difícil, quer ver? É só você segurar bem firme e me ajudar a pedalar. O que acha?
— E se eu cair?
— Eu não vou deixar, confia em mim! — Marvin estendeu as mãos, a entregando um capacete.
Por algum motivo, Teri sabia que ele nunca a faria mal ou a deixaria se machucar, por isso, aceitou o convite e subiu na bicicleta. Suas mãos apertaram firmemente a cintura de Marvin, o que o fez se sentir desconfortável. Que vergonha. Sentir o vento em seus cabelos enquanto pedalava era uma sensação incrível de liberdade. Marvin a havia explicado como fazer e logo ela pegou o jeito e girava os pés como se tivesse andado de bicicleta a vida toda.
Depois de alguns minutos, Marvin fez sinal de que iria parar em uma barraca de milkshake. Teri torceu o nariz.
— Você quer mesmo parar aqui? Quer dizer, se formos na lanchonete, teremos lanche de graça! — Argumentou enquanto tirava o capacete.
— Está brincando? Eu sinto o cheiro daquele hambúrguer e fico até enjoado. Além do mais o milkshake daqui é o melhor de todos, você vai ver.
Teri decidiu dar um voto de confiança ao garoto e quando colocou o primeiro gole na boca, realmente a bebida parecia ter sido feita pelos deuses.
— E então? — Marvin a fitava curioso.
— Nossa, isso aqui é incrível. Desculpa, pai, mas esse aqui deixa o milkshake da lanchonete no chinelo.
Marvin deu risada.
— Estou falando sério, nem lembro a última vez que eu tomei um desses, mas valeu super a pena, obrigada!
— Imagina.
Ao olhar encantado para a jovem de cabelos dourados, Marvin percebeu que ela estava com o canto da boca sujo de chocolate.
— O que foi? — Ela indagou sem graça.
— Nada, só que tem um pouco de...
— Ah, meu Deus, que vergonha. Eu geralmente não sou assim. Está muito feio?
— Não, espera, deixa eu só...
Marvin colocou um dos dedos perto dos seus lábios, mas não o suficiente. Seu toque de algum modo a fazia ganhar vida e ela queria sentir mais.
— Agora sim! — Ele exclamou afastando os dedos, para a tristeza de Teri.
— Que bom, agora só preciso... — A jovem herdeira, pela primeira vez enquanto estava com um garoto, pegou em sua bolsa o gloss rosa que tanto gostava e começou a esparramá-lo pelos lábios de forma elegante.
— Ei, a minha irmãzinha tem um igual a esse.
— Pois é, né? Eu sei que esse tipo de gloss labial é infantil para alguém da minha idade, mas eu gosto tanto dele.
— Não, desculpe, não foi isso que eu quis dizer, é que essa cor ficou linda nela, mas ficou ainda mais em você.
Teri sentiu seu coração disparar. Sempre que que ia a algum encontro com os garotos ricos do country clube, ela precisava escolher outro batom, mas com Marvin ela podia ser ela mesma, e isso era uma sensação tão libertadora.
— Você falou isso só para eu me sentir melhor... — Argumentou.
— Não é sério, apesar de que seus lábios são tão lindos que eu aposto que qualquer cor ficaria linda neles.
O coração de Teri parecia uma bomba dentro de seu peito, ela nunca havia se sentido dessa forma; era algo tão novo e tão maravilhoso. De repente, ela percebeu que os lábios de Marvin também pareciam muito atraentes vistos daquele ângulo. Então, em um ato de coragem que não costumava ter, ela começou:
— Bom, o que eu mais gosto nesse gloss é o cheiro, ele é mesmo muito bom, você deveria sentir.
Entendendo a indireta, Marvin afastou os fios dourados que cobriam o rosto da garota e juntou seus lábios aos dela. Realmente o cheiro do gloss era muito bom, mas o garoto era muito melhor.
A alegria de Teri, no entanto, foi roubada quando Noah a chamou de volta para o mundo real.
— E então, vamos?
Forçando um sorriso, ela fez que sim, embora seu coração clamasse pelo contrário.
Dentro da limusine, Teri olhava para a janela fingindo estar entretida com os prédios e as ruas, porém tudo que a garota desejava era que Noah não percebesse sua tristeza. Por mais que estivesse se esforçando, as memórias de Marvin continuavam a invadir sua mente.
Por alguns minutos, ela teve sucesso em seu plano. Contudo, quando viu a barraca do primeiro encontro, as lágrimas teimaram em escorrer.
— Teri. — chamou Noah, a obrigando a se virar com mais um sorriso falso no rosto
— Está tudo bem?
A garota passou as mãos no rosto tentando disfarçar o inchaço.
— Claro, por que não estaria? Eu só estava pensando se não poderíamos parar naquela barraca de milkshake.
O coração de Teri saiu pela boca enquanto Noah a encarava.
— É uma brincadeira, né? Claro que é. Imagina se você, Teri, trocaria um jantar no restaurante mais chique da cidade por uma bebida barata de barraca.
— Óbvio, imagina, foi uma piada. Hahaha. — Ela forçou o riso.
Ao avistar o restaurante onde já havia jantado milhares de vezes com os pais, Teri cruzou as pernas enquanto ajeitava o cabelo. Não havia mais volta, afinal, ela mesmo havia tomado essa decisão, foi ela quem encontrou Marvin no estacionamento do shopping.
Na ocasião, ela o esperava com as mais no bolso enquanto andava de um lado para o outro impaciente. Por fim, lá estava ele, acenando enquanto exibia aquele sorriso fofo. Seria mais difícil do que Teri poderia imaginar. Mesmo sentindo o coração quebrado doer dentro de seu peito, fez o que era preciso. Um Marvin devastado ficou pelo caminho. Na volta para casa, a herdeira prometeu a si mesma que, embora estivesse em prantos naquele instante, ela iria superar, afinal, era para o seu próprio bem.
O soar do violino enquanto o garçom de bigode e gravata colocava os inúmeros talheres que a loira havia aprendido a usar desde pequena não era suficiente para fazer a jovem se divertir por um segundo sequer, mesmo tendo à sua disposição pratos premiados internacionalmente. Tudo que ela queria era uma guloseima engordurada, acompanhada de um certo alguém cujo nome ela estava lutando para esquecer
— Eu vou querer o salmão grelhado ao ponto com molho tinto, e você, Teri?
— Um hambúrguer. — As palavras saíram de maneira automática.
Noah a encarou como se fosse um ser de outro planeta.
— Eu estou brincando, é claro. — A jovem afirmou, tentando acreditar nas próprias palavras.
A risada sofisticada de Noah a fez suspirar de alívio.
— A Teri é tão engraçada.
— Pois é, até parece que eu gosto de hambúrguer, hahaha. Eu vou querer o fetuccine ao cogumelo.
— Perfeito.
Para evitar um silêncio constrangedor, Noah começou a balançar os dedos no rótulo da sinfonia de Beethoven que ecoava pelo local.
— Eu amo essa música. Teri, você quer dançar comigo? — Noah esticou os braços fazendo as pernas de Teri tremerem.
Tudo que ela queria era poder aproveitar a noite ao lado de um garoto rico, mas, de repente, seus pensamentos transformam o som clássico do violino nas notas de uma guitarra elétrica. Automaticamente Teri se lembrou de quando estava espremida no meio de uma plateia, contudo se sentia muito mais confortável do que em sua cama queen, afinal, se encontrava aconchegada nos braços de Marvin. Antes de conhecer o jovem de sorriso fofo, Teri não sabia aproveitar as coisas simples da vida. Com ele, aprendeu que todos os momentos e lugares poderiam ser maravilhosos, até mesmo uma barraca de rua ou a cozinha fedorenta de uma lanchonete.
As memórias a deixaram tonta.
— Me desculpe, Noah, eu preciso ir ao banheiro.
Mesmo de salto, ela correu o mais rápido que pôde. Para sua sorte todas as cabines estavam vazias, o que a fez permitir que as lágrimas caíssem. Não importava o status ou o dinheiro do garoto que a esperava, pois ela já havia encontrado seu príncipe, alguém capaz de a fazer rir e que a aceitava como era. Porém, o havia perdido para sempre. Não adiantaria seguir com aquele encontro estúpido, ou continuar procurando em country clubes ou reuniões de negócios. A pessoa perfeita que ela tanto procurava era Marvin.
FIM.
Nota da autora: Sem nota.
Nota da beta: E cadê o final feliz desse casal? Vou pedir revisão. Chama o VAR!
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Nota da beta: E cadê o final feliz desse casal? Vou pedir revisão. Chama o VAR!