E se for ele?

Última atualização: 11/11/2024

Capítulo 1

As mãos trêmulas de Rosana seguravam o aparelho que continha a chave para o seu futuro. Um futuro com o qual ela sonhava desde pequena, enquanto acompanhava o pai na plantação. Claro que uma criança ainda não entendia como o café tão apreciado pelos adultos tinha início em uma fazenda administrada por sua família há gerações. A graciosa garotinha de cinco anos, ao invés de brincar de bonecas com outras garotas, implorava a seu pai que a levasse para a fazenda, onde ela caminhava pelo cafezal ao seu lado. Enquanto seus olhos brilhavam, Gumercindo olhava para a filha orgulhoso, antes de explicar:
— Sabe, Rosana, meu avô veio de Portugal há muito tempo, em busca de uma vida melhor aqui no Brasil, ele chegou, com nada além da roupa do corpo e um sonho: ficar rico. Mesmo nunca tendo plantado uma muda de café na vida, ele conheceu um fazendeiro aqui em São Paulo que o deu um trabalho e o acolheu. Logo, seu bisavô já era dono das próprias terras, terras estas que, com o trabalho duro dele, prosperaram e passaram para as mãos do meu pai, que depois passou para mim e um dia quem sabe, se você merecer…
A menina, que tinha os cabelos presos por uma maria chiquinha, respondeu sorridente:
— Não se preocupe papai, vou fazer por merecer!
— Eu sei que vai, minha filha. Mas, é muita responsabilidade, porque agora ela é muito mais do que uma fazenda: um negócio. Pessoas do Brasil inteiro e até de outros países, tomam o café feito com os grãos saídos daqui e moídos nas minhas inúmeras fábricas espalhadas por aí. Os olhos da garotinha se arregalaram em admiração.
— As pessoas de outros países também tomam café, papai?
O empresário passou as mãos pelos cabelos cobertos de gel, enquanto deixava escapar uma risada.
— Claro que sim, minha filha! Bom, em alguns lugares menos, em outros mais. Contudo, posso te garantir é que quem experimenta o nosso café nunca mais quer saber de outro!
—- Porque o nosso é o melhor! — A pequena exclamou se agarrando às pernas do pai.
— Isso mesmo, minha menina! Quem sabe se você me provar seu valor eu não te dou a chance de me mostrar que consegue continuar produzindo?
Desde aquela época, tudo que Rosana desejava era deixar o pai orgulhoso, afinal, mesmo ele não admitindo, no fundo era evidente que o empresário queria muito ter tido um filho homem, para cuidar dos negócios. Um pensamento que a aborrecia, mas deixava passar, afinal, sabia que a mente teimosa e irredutível do grande Gumercindo Pereira estava presa no século dezenove.
Apesar do patriarca nunca ter negado a possibilidade de passar o negócio da família para as mãos de Rosana, a jovem sempre teve que trabalhar duro a fim de mostrar sua capacidade. Na adolescência, ela passava os finais de semana ajudando na plantação da maneira que podia, fosse colhendo, regando e sempre perguntava no que mais poderia ser útil. Quando completou dezessete, seu pai deixou que se tornasse responsável por uma das fábricas e o acordo era: Se a fábrica em questão dobrasse a produção e o faturamento em um mês, ele pagaria para Rosana um curso de administração em Harvard, faculdade esta para qual ela havia entrado, e quando ela voltasse, teria seu lugar na presidência.
A jovem deu seu máximo para fazer a fábrica funcionar a todo vapor, mas mesmo assim seus pés teimavam em tremer enquanto entrava no escritório de seu pai.
— Ah, Rosana, minha filha, você chegou! Pode se sentar.
Sentindo o coração bater descontrolado, a jovem, de maneira tímida, obedeceu, enquanto segurava sua planilha.
— Muito bem minha filha. Como você sabe, esse mês eu fiquei muito apertado. — Começou Gumercindo gesticulando as mãos como de costume.
— É, eu sei pai, o senhor teve que cuidar de negócios no exterior e dar atenção a Angélica.
A pequena e doce Angélica havia nascido muitos anos depois de Rosana, era uma menina adorável.
— Sim, não é fácil para ela crescer sem uma mãe.
Infelizmente, a vida de Angélica havia custado a vida de dona Maria de Socorro, conhecida como a primeira dama do café. A aspirante a empresária possuía inúmeras boas lembranças com a mãe, por exemplo, uma vez em que ela demitiu uma empregada porque o filho da mulher havia puxado o cabelo de sua preciosa Rosana, ou quando a filha contava sobre seu sonho de um dia assumir a fazenda, sua mãe sempre deu um chá e uma palavra de incentivo.
— Filha, tenho certeza que você vai conseguir! Continue sonhando grande!
A garotinha ria enquanto se aconchegar no abraço da matriarca da família.
Desde a morte da mãe, Rosana mesmo sendo uma pré adolescente, colocou como meta para si mesma: se tornar uma empresária tão boa quanto seu pai, ou até melhor. Um caminho que se tornou muito mais difícil com a ausência de Maria do Socorro, porém Rosana precisava ser forte, pelo seu sonho e por sua irmãzinha, Angélica, a mesma sem culpa alguma do acontecido.
— Eu sei, e está fazendo um ótimo trabalho. — Elogiou na tentativa de amolecer aquele coração duro. — Mas, eu trouxe aqui as planilhas com os resultados da fábrica no tempo em que ela ficou sob minha responsabilidade.
Com as mãos trêmulas, a garota colocou a pasta na mesa do mesmo jeito que um aluno entrega aquela prova impossível de matemática sem saber o resultado.
O barulho do passar das páginas e o olhar concentrado de Gumercindo sob as folhas faziam a jovem sentir como se o tempo tivesse parado. Mesmo batendo os pés na tentativa de se distrair, seu olhar continuava concentrado, tentando decifrar através da ruga na testa do pai, o que passava em sua mente.
Depois do que na sua perspectiva foram horas, o empresário suspirou antes de começar a falar:
— Rosana. — Sua voz saiu fria, mas isso não significava nada já que era seu tom de voz habitual, outra vez ela tentou encontrar alguma pista de seu futuro nas feições de Gumercindo, mas para seu azar, o pai era muito bom em esconder as emoções. Um réu em julgamento provavelmente estaria menos nervoso.
— Sim, pai! — Soltou de maneira automática.
O neto de fazendeiro a fitou por alguns segundos antes de continuar:
— Você não dobrou o faturamento como tínhamos combinado.
A jovem engoliu seco. Sua voz saiu trêmula e fraca quando indagou.
— Não?
— Não. Você simplesmente o triplicou.
A fala sem expressão foi o suficiente para fazer um sorriso surgir nos lábios de Rosana e ela não fez questão de esconder.
— É sério? — Ela puxou a pasta das mãos do pai sem pensar em mais nada.
— Devo dizer que estou impressionado, nem eu consegui tamanho feito quando tinha a sua idade. Para ser sincero, a primeira vez em que dobrei o faturamento da pequena fazenda do meu pai eu tinha vinte e oito anos . Você, minha filha, é uma potência.
Nada era mais satisfatório para Rosana do que ouvir um elogio saindo da boca de seu pai, afinal, esse evento era mais raro do que um eclipse.
Como combinado, a herdeira arrumou suas malas e passado quatro anos se formou com louvor em uma das faculdades mais renomadas do mundo.
Ao retornar para o Brasil, sua mente estava aberta, cheia de novas ideias para modernizar a empresa e fazê-la lucrar ainda mais. Certa noite, ela decidiu compartilhá-las com seu pai.
Em meio a uma sala escura, com nada além da luz de um data show brilhando, a garota expunha seu ponto de vista com confiança.
— Resumindo, no dia de hoje, as pessoas estão precisando mais de ficar bêbadas do que acordadas. Por isso, expandir nossa gama de produtos e investir em vinhos colocaria nossa empresa em outro nível. — Afirmou, antes de acender as luzes e encarar o pai com nervosismo.
Gumercindo fitou a filha de cima a baixo, como se ela tivesse acabado de fazer algo errado e ele estivesse pensando no melhor castigo. Rosana já estava acostumada a esse olhar, por isso ainda mantinha esperanças de que sua ideia poderia ganhar a aprovação do empresário.
— Minha filha, você sabe que o consumo de café no Brasil ainda é muito maior do que o de vinho, não é? E que, para investir na plantação de uvas teríamos que adquirir, algumas terras específicas no sul e isso custaria dinheiro. — Começou o patriarca fazendo a garganta de Rosana coçar em nervoso.
— Eu estou ciente de tudo isso, meu pai. Mas, se você consultar os dados, o mercado de vinhos está crescendo atualmente. Pensa bem. O café é algo que as pessoas relacionam a ficar acordadas, para trabalharem, já o vinho se relaciona ao momento de lazer, descanso. Essa é a visão que eu gostaria de trazer. Além de que os vinhos são mais caros, tendo a chance de um lucro ainda maior. — Ela se calou, enquanto observava o pai cruzar os braços sem esboçar nenhuma reação.
— É o seguinte, Rosana. — Gumercindo pigarreou — Meu avô, o seu bisavô, como você sabe, veio de portugal sem nunca ter visto uma muda de café na vida, mas ele se esforçou, deu a sorte de encontrar um patrão generoso e aprendeu como produzir o melhor café deste país. O que eu quero dizer é: o café sempre foi a nossa marca, a tradição da nossa família. Seu bisavô reviraria no túmulo com a ideia de começarmos a investir em outro produto.
Rosana abaixou a cabeça, não gostando do rumo que a fala do pai estava tomando.
— Porém… — Os olhos da garota se levantaram outra vez em esperança. — Mesmo sendo difícil de acreditar, eu não sou tão cabeça dura como ele. Por isso vou te dar uma chance.
Sem acreditar, a jovem suspirou aliviada.
— Sério, pai?
— Sim. Eu te mandei para uma das melhores faculdades do mundo, é hora de eu ver se meu investimento valeu a pena. É o seguinte: eu estava mesmo querendo tirar umas férias daquele lugar, sabe como é? Durante um mês, eu vou te nomear presidente interina. Você poderá elaborar esse seu projeto dos vinhos melhor e apresentar aos acionistas, se convencê-los e os custos não forem tão exorbitantes, eu vou te deixar na presidência permanentemente.
O sorriso no rosto de Rosana brilhava em euforia.
— Muito obrigada, pai! Não vai se arrepender!
— Porém, se os acionistas não aprovarem dentro de um mês, eu tomo o controle de volta, pois meu investimento terá sido em vão. Estamos entendidos?
A jovem de cabelos castanhos ondulados engoliu seco, ela sabia que o pai não estava blefando, pois era um homem de palavras. Aquela era a chance que sempre desejou, se tivesse sucesso, seu sonho de assumir os negócios da família se tornaria realidade, mas se falhasse, o mesmo estaria arruinado para sempre. O que fazer? Como havia aprendido, com seus antepassados e com o pai, a vida era feita de riscos.
— Certo, eu aceito!
Dias depois, lá estava ela, prestes a apresentar o projeto aos acionistas da empresa. Gumercindo dizia que eles eram como lobos, sempre esperando o momento certo para atacar sua presa. Porém, Rosana não se intimidava, afinal, aquele grupo de engravatados não iria ficar em seu caminho.
Contudo, ela não podia evitar sentir um certo frio na barriga. Era a primeira que falaria na frente de tantas pessoas importantes e, além do mais, seu maior sonho estava em risco. O corretivo abaixo dos olhos disfarçava as olheiras, resultado de noites em claro na companhia de livros sobre vinhos e negócios. Foram dias de trabalho duro, onde em sua cabeça não havia espaço para mais nada. O resultado estava ali na sua frente, os slides que havia montado tão cuidadosamente, cada letra, cada palavra, calculados milimetricamente para convencer os acionista de que aquele era o melhor caminho.
Além das olheiras, outro resultado das madrugadas em claro, eram seus constantes bocejos, estes resolvidos com um copo de café. Enquanto revisava o trabalho de sua vida, Rosana deu um gole na bebida, porém quase a cuspiu quando viu um erro drástico de ortografia, logo na introdução.
— Ah, meu Deus, como deixei isso passar depois de tantas revisões?
Ela olhou a hora, faltavam cinco minutos para a reunião que definiria seu destino. Apressada, ela começou a digitar ao mesmo tempo em que bebia café. O tempo estava contra ela, precisava revisar os slides pela última vez o mais rápido possível. Enquanto digitava e engolia o café, apressada, não percebeu quando sua mão esbarrou no copo e todo o líquido quente caiu no teclado de seu computador, fazendo seu trabalho desaparecer.
— Ai não, que droga, não faz isso comigo!
Desesperada sentindo o coração sair pela boca, Rosana começou a apertar as teclas ininterruptamente, porém era inútil, seu computador havia morrido.
— Seu café estúpido, por isso mesmo quero investir em outros produtos além de você! — Berrou, jogando o copo assassino no lixo.
Devastada, Rosana abaixou a cabeça, tentando disfarçar as lágrimas que em alguns segundos escorreram por sua bochecha. Seu sonho, tudo pelo qual havia trabalho a vida inteira, sua chance arruinada pela falta de um computador e por um estúpido copo de café. Quanta ironia.
Perdida em sua tristeza, ela nem queria ir a reunião, não permitiria que os acionistas a vissem derrotada daquela forma. O jeito era voltar para casa e encarar o sermão de seu pai.
Porém, quando ela estava prestes a fazer um movimento de desistência, uma voz masculina suave atingiu seus ouvidos.
— Signorina, stai bene?
O sotaque estrangeiro a fez levantar a cabeça e se deparar com um desconhecido, mas belo rosto sorridente.



Capítulo 2

Rosana fitou, hipnotizada, o homem misterioso de cabelos castanhos perfeitamente cortados, barba rala por fazer e olhos verdes seduzentes. Seria um anjo que a havia vindo dizer que realmente sua chance estava arruinada? Porque ele era bonito demais para ser real e aquele sotaque sem nenhum esforço fez os pelos se seus braços se arrepiarem inteira.
A jovem, ao longo de sua adolescência, nunca teve muito tempo para ir à festas, paquerar e tentar encontrar alguém, afinal, estava concentrada demais em provar ao seu pai que era capaz de assumir a empresa algum dia, uma missão quase impossível. Nos Estados Unidos, ela até conheceu alguns garotos interessantes na faculdade, mas nenhum que a fizesse se encantar como aquele homem misterioso havia feito em apenas um segundo.
A aspirante a empresária precisou de alguns segundos para se recompor e tentar formular uma frase decente sem se distrair com a visão do paraíso.
— É… sim, eu estou bem, quer dizer, não. — Admitiu-se, de alguma forma, sentindo confiança no estranho angelical.
— O que aconteceu, signorina? — Ele olhou fundo nos seus olhos como se pudesse ler sua alma.
Após a segunda fala, Rosana conseguiu identificar que seu sotaque era italiano.
— Bom, eu estou desastrada do jeito que sou, acabei derrubando café e estragando o meu computador. Tinha algo muito importante nele, que claro, eu salvei na nuvem, mas não tem outro… tem como porque não tem outro… — A cabeça da herdeira ainda se encontrava tonta por tanta beleza.
Conputatore en la oficina?
Rosana arregalou os olhos confusos.
— Oficina? Mas, não dá tempo…
O estranho angelical deu uma risada charmosa parecendo exibir sua voz sexy.
— Me dispiace, sino qui in Brasile ha poco tempo, non parlo partoguesse molto bene. Credo, que chi si chiama sala di riunione.
— Ah, sim. Nossa, eu já devo estar atrasada, mas não importa, sem a minha apresentação…
Segnorina, scusa, ma mio padre sempre dice che non importa como facciamo algo, ma come facciamo, capito. A questão da união é importante. Va! O resto se resolverá.
As palavras do estranho eram gentis e como em um passe de mágicas, deram a Rosana o incentivo que ela precisava. Quem diria que a vida traria um consolo através de um italiano gato. Ela realmente estava animada para começar a frequentar o escritório, assim teria a chance de conseguir seu telefone.
– Tem razão. Eu vou conseguir!
— Isso, segnorina!
— Obrigada, quer dizer, grazie! Preciso ir. — Ela correu, ainda se perguntando quem era o charme em pessoa e como o seu pai não a havia falado de um italiano novo no escritório? Ainda mais ele sendo tão atraente!
Depois de uma passada no banheiro para se recompor, Rosana entrou na sala de reuniões com as bochechas coradas pelos olhares voltados a ela, um deles em particular chamou a atenção. O italiano que era a razão para estar ali a encarava exibindo o mesmo sorriso hipnotizante de alguns minutos atrás Como assim? Ele era parte do comitê avaliador? Definitivamente ela precisava ter uma conversa com o senhor Gumercindo.
Me disparate… Digo, me desculpem pelo atraso, eu tive um pequeno problema.
— Sabe o quanto prezamos pela pontualidade, senhorita Rosana. — reprimiu um dos acionistas mais velhos, provavelmente pensando que Gumercindo deveria estar louco por ter dado uma chance.
A garota engoliu em seco, pelo visto não havia causado uma incrível primeira impressão, como desejava.
— Eu sei e prometo que não irá se repetir.
— Muito bem, então vamos começar logo para não perdermos mais tempo. — Comentou um outro membro do comitê com idade para ser seu avô.
— Certo. — É, muito bem, senhores, hoje vou falar sobre uma proposta capaz de mudar o futuro dessa empresa para melhor…
Por sorte, a jovem batalhadora havia ensaiado tanto que sabia a apresentação de cor e salteado. Assim sendo, expôs seus argumentos sem precisar de nenhum slide. Os acionistas a encaravam atentos, mas não esboçaram nenhuma reação.
Ignorando a revolução que acontecia em sua barriga e as pernas trêmulas, Rosana concluiu sua apresentação sem gaguejar uma única vez e com um sorriso orgulhoso no rosto. Como queria que seu pai estivesse ali.
— Muito bem, senhores, era o que eu tinha para falar, espero que considerem a ideia, afinal, investindo no vinho, tenho certeza que essa empresa crescerá ainda mais. Obrigada.
O membro mais antigo do comitê a encarou de cima a baixo quase fazendo com que a torrada que havia tomado de café da manhã voltasse ali mesmo.
O coração de Rosana batia forte como se ela estivesse no meio de um julgamento, bom, não deixava de ser, afinal aqueles homens velhos e carrancudos que, por algum motivo, possuíam a confiança de seu pai, julgariam se ela realizaria o seu sonho ou não.
Para a surpresa de Rosana, antes da votação, o italiano misterioso se pronunciou erguendo o braço.
— Sim, Matteo, o que quer falar? — Indagou o membro mais velho cruzando os braços e revelando o nome do galã: Matteo.
Si. signore. Bom, é Rosana, non é? A senhorina non ha trazido ninguno dado relevante, solo ha parlato sobre il vino, non preocupou em trazer uma presentazione.
Rosana quis voar em seu pescoço. Como alguém tão bonito podia ser tão cafajeste? Ele sabia muito bem o que havia acontecido, como teve coragem de a expor dessa forma? Ainda mais depois de tê-la encorajado e dado forças para estar ali. Pelo jeito, aquele italiano não era angelical e sim “maledeto”.
Segnori. – continuou Matteo sem nem ter a coragem de a olhar nos olhos como havia feito antes. — Il caffè è una tradizione di questa compagnia e di questo paese, iniziano a produrre il vino, tutto esso si perderá. Anche, I giovanne non beven tanto vino. Um dado que li outro dia em um artigo, ma que la signorina no há trago e deveria tê-lo acrescentado, afinal signori, os geovanes son importante consumitori ainda mais considerando que entram todos os giornos nel mercado de trabalho.
Rosana sentiu sua voz sair fraca ao rebater:
— Sim, mas como eu disse às pessoas com mais de 40 ainda são…
Contudo antes que ela pudesse terminar seu raciocínio, o italiano continuou a interrompendo de forma grosseira.
Posso essere qui a poco tempo, Ma io valorizzo la tradizione e il Mercato giovanne. Scusa, ma la tua proposta non è buona, in verità, è una piada, como dizem aqui.
A jovem nunca havia se sentido tão humilhada em toda a sua vida, nem mesmo quando trabalhava nas fazendas como uma simples empregada.
Tudo piorou quando a maioria dos acionistas votou contra seu projeto. Provavelmente, influenciados pela fala do italiano maldito de olhos brilhantes.
Depois da contação dos votos, o chefe dos acionistas, cruzou as pernas e deu a sentença: — Eu sinto muito Rosana, mas seu projeto foi negado.
Rosana engoliu seco vendo seu sonho escapar de seus dedos por causa de um italiano maldito com um sorriso perfeito
Tentando conter as lágrimas, Rosana correu para o lugar mais confortável daquela empresa, a copa, onde havia a velha máquina de café que os funcionários usavam antes da abertura da lanchonete. Sem pensar muito, ela pegou um pequeno copo e o mexeu com a bebida da qual ela queria se orar.
— É, café, parece que você venceu…
Enquanto ela sentia o quente da bebida descer por sua garganta, escutou uma voz familiar.
Io sinto muito signorina, ma il yup projeto non era buono. — Afirmou Matte antes de continuar. — Ma saiba que non é nada pessoal.
Lutando para não se perder naquela voz sedutora, Rosana deu um suspiro enquanto se lembrava de que quando alguém atacava o trabalho de sua vida, era sim, pessoal.
— Matteo, não é? — Começou se aproximando do italiano de cabelo impecável.— Bom, já que gosta tanto de café, porque não toma um pouco?
Em um impulso ela virou o copo em sua mão em cima do cabelo de Matteo que segundos depois estava ensopado pela bebida quente.
— Também não é nada pessoal! — Zombou.
Antes de conseguir ouvir as reclamações em italiano, a herdeira saiu pisando forte e não se preocupando em esconder a feição zangada.
A herdeira entrou em casa batendo a porta e se jogando no sofá sem cumprimentar ninguém. Como Rosana era sempre gentil e alegre, logo, até mesmo Gumercindo estranhou o comportamento da filha.
— Boa tarde, Rosana! — Exclamou tirando os olhos de seu jornal.
A garota deu um suspiro enquanto estava colocava os pés sob a mesa de centro da sala.
— Rosana, o papai já cansou de falar que não gosta que coloquemos o pé ai. Geralmente sou eu quem faço isso. O que deu em você, minha irmã? — O tom inocente de Angélica sempre fazia seu coração se acalmar.
— Me desculpe, meu docinho. — Rosana Começou envolvendo irmãzinha em seus braços. — É que a apresentação do meu projeto não saiu como eu esperava… Ele não foi aprovado. — Declarou já aguardando o olhar fuzilante do pai. Contudo, ao invés de julgá-la, ele continuou lendo seu jornal.
— Pai, como o senhor não me disse que no comitê avaliador teria um italiano cabeça dura e grosseiro?
Gumercindo mais uma vez desviou o olhar das folhas que segurava para encarar a filha.
— Grosseira.
— Tudo estava indo bem. — Declarou ocultando a parte do problema com o computador. — Eu apresentei minha próspera e todos os acionistas pareciam interessados, até aquele italiano de olhos brilhantes pedir a palavra e estragar tudo.
— Olhos Brilhantes? — Angélica cruzou as pernas se aproximando curiosa.
Percebendo o erro, Rosana sentiu sua bochecha queimar. Droga, sua irmãzinha não deixava passar nada.
— Esquece o que eu falei, docinho. Enfim, você tinha que ter me contado sobre a presença de um novo acionista. Afinal, quem é ele?
Gumercindo murmurou algumas palavras para si mesmo enquanto largava seu jornal na mesa para começar a explicar.
— Matteo chegou de surpresa há apenas alguns dias, exigindo seu lugar de diretor acionista. Eu não pude recusar.
— Mas, como assim? Aquele italiano parece ser um pé rapado.
— Mas, tem olhos brilhantes. — Zombou Angélica.
— Docinho, os adultos estão conversando — reprimiu a herdeira.
— Odeio quando me trata feito criança. — Angélica Cruzou os braços.
— Mas, o nosso cinema ainda está de pé?
Em meio a cara emburrada, a adolecente abriu um sorriso. A tradicional ida ao cinema de toda sexta com sua irmãzinha era um momento muito especial para Rosana e, naquela noite em especial, seria bom tentar se distrair não só por causa do projeto, mas também para tentar tirar um certo par de olhos brilhantes de sua mente.
— Está sim!
Angélica exibiu um belo sorriso antes de subir para o seu quarto deixando os adultos a sós.
— O Matteo é filho de um antigo amigo meu, Bartollo, que faleceu há pouco. Agora, ele veio assumir o lugar do pai como acionista.
Rosana ouvia atenta, o pai já havia relatado da temporada que passou na Itália, mas nunca dessa forma, ela nem sabia sobre esse suposto melhor amigo.
— Mas, eu não entendo, porque o filho do seu amigo italiano tem direito a ser acionista da nossa empresa?
Gumercindo suspirou enquanto tirava os óculos.
— Porque o Bartollo não era só o meu amigo, era também meu sócio. — Revelou fazendo Rosana arregalar os olhos.
— Como é? O senhor teve um sócio?
— Foi há muito tempo, antes de você nascer, eu tinha acabado de assumir a fazenda do seu avô, mas eu na época, por mais que ele tivesse me ensinando, eu não tinha segurança para cuidar de um negócio, por isso decidi passar uma temporada na Itália, lá eu conheci o Bartollo, um jovem que trabalhava em um mercadinho e queria crescer, a namorada tinha acabado de descobrir que estava grávida. Ele se ofereceu para me ajudar. Eu o trouxe para o Brasil e, juntos, nós expandimos a empresa. Tudo ia bem, até que brigamos feio. Você não se lembra porque era bebê.
— E qual foi o motivo da briga?
— Eu descobri que ele estava me roubando, pegando dinheiro da empresa sem eu saber, o coloquei para fora no mesmo instante. — Revelou, não escondendo a dor que as lembranças o causavam.
— Que horror! E o senhor vai deixar o filho dele na nossa empresa? — Rosana levantou o tom de voz indignada.
— Minha filha, o Bartollo nunca mais tinha dado notícias, agora, esse filho apareceu. O Italiano ameaçou ir na justiça se eu não o fizesse, ele tem provas de que o pai foi responsável por ajudar no crescimento da empresa, ou era isso ou teremos que ceder metade do nosso patrimônio para aquela família maldita.
— Tudo bem. Você tem razão.
— Ótimo, então eu não quero mais saber de você jogando café nele.
Rosana arregalou os olhos incrédulos.
— O que? Como o senhor…?
— Eu sei de tudo que se passa na minha empresa, Rosana, já devia saber disso. Eu estou decepcionado. Jogar café em um dos acionistas, mesmo que na copa da empresa não é atitude de uma presidente, mas sim de uma criança mimada. Eu esperava mais de você, Rosana, não investi em Havard para isso. — Declarou.
Rosana queria explicar que o italiano maldito era um traidor, que segundos antes da reunião a havia encorajado para depois humilha-la diante de todos os outros acionistas. Queria gritar, que se, em seu lugar estivesse o filho homem que Gumercindo tanto queria, ele não teria dito aquelas palavras tão duras e já teria nomeado presidente de forma permanente, mas em nome de seu futuro, guardou todas essas queixas para si mesma se limitando a responder.
— Certo, me desculpe, pai, não vai mais acontecer.
— Assim espero. Porque caso contrário, não poderei mais confiar a presidência a você.
Rosana cruzou os braços enquanto mentalmente amaldiçoava aquele italiano charmoso que havia arruinado sua vida.
Em meio ao cheiro de pipoca, Rosana tentava se distrair encarando os cartazes pendurados no cinema do shopping. Havia alguns títulos interessantes, uma nova comédia romântica que ela estava louca para assistir, contudo Angélica havia optado pelo filme da Youtuber da qual era fã.
Rosana não gostava de contrariar a irmãzinha que já havia sofrido tanto crescendo sem uma mãe e com um pai frio. Além do mais, comédias românticas eram uma bobagem, que só serviam para iludir as garotas, já que os homens da realidade eram todos uns traidores, chegaram de mansinho com seus sorrisos hipnotizantes e palavras de encorajamento, para depois de apunhalar pelas costas, e não, ela não estava falando de ninguém em a particular, pelo menos era o que repetia para si mesma.
— Ai, a fila está muito grande, desse jeito vamos perder o começo do filme e eu ainda quero pipoca. — Reclamou Angélica.
— Fica calma, docinho.Vamos fazer o seguinte, você vai comprar as pipocas eu fico aqui na fila dos ingressos pode ser?
— Jura que não vai comprar os ingressos para aquela comédia romântica boa que você queria ver ao invés do filme da Lisa Belinha?
Rosana riu.
— Eu juro, pode ir!
— Você é a melhor do mundo! — A pequena abraçou a irmã mais velha.
Rosana jogou um beijo de longe enquanto a irmã caminhava em direção ao balcão de lanches. A fila realmente estava longa, mas depois de alguns minutos, Rosana finalmente era a próxima. Mas, então, um homem alto de cabelos marrons entrou na sua frente, que grosseria. Era só o que faltava e a situação ficou ainda pior quando ela conheceu a voz do fura fila.
— Um ingresso para Lisa Belinha, per favore.





Continua...



Nota da autora: Sem nota.



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