Capítulo Único
(Mais rápido do que um milhão de quilômetros por hora)
Trying to catch my breath some way, somehow
(Tentando recuperar o fôlego de algum jeito)
Down to Earth
(Pés no chão)
It's like I'm frozen, but the world still turns
(É como se estivesse congelado, mas o mundo ainda gira)
Stuck in motion, but the wheels keep spinning 'round
(Preso no movimento, mas as rodas continuam girando)
Moving in reverse with no way out
(Me movendo ao contrário, não há como fugir)
Eu começava perder as esperanças.
Porque estávamos cada vez mais lotados de trabalho, sobrecarregados e preocupados.
Apesar de amar com todo o coração cada hora investida no meu trabalho, também sabia que parte dele não dependia apenas de mim e começava a sentir o peso dessa responsabilidade.
Uma das formas que vimos de driblar a crise foi diminuir a quantidade de ração para os cachorrinhos mais novos, mas mantê-los mais entretidos gastando energia com brincadeiras.
O canil estava com as contas no vermelho há semanas e começamos tirar dinheiro do nosso bolso para mantê-los confortáveis no frio do inverno que começara mais cedo desta vez.
Algumas vezes, sequer arrumava a cama que montei atrás da recepção do balcão de lar de cães, porque sabia que precisaria voltar mais cedo que o esperado para monitorar os cães idosos em observação.
Pensando bem, era uma ótima escapatória das contas de casa que consequentemente abaixavam o preço, me dando a possibilidade de investir no que faltava para os bichinhos.
Era uma guerra diária. E nem sempre vencíamos as batalhas.
No entanto, se me perguntassem se eu faria tudo isso de novo, eu nem pensaria duas vezes.
As crianças que nos visitavam renovavam nossas esperanças mesmo que não adotasse algum dos nossos “hóspedes”, mas também não saíam sem deixar uma contribuição simbólica. Era gratificante rever o brilho no olhar dos mais novos, porque era este mesmo brilho que me incentivou desde adolescente a me dedicar à causa.
Meus quarenta anos recém completos e a falta de um diploma de nível superior fecharam algumas portas e janelas no meio do caminho. Algumas organizações preferiam colaborar com pessoas do ramo e que poderiam pagá-los com o próprio trabalho, se precisasse.
Eles não levavam em consideração a causa em si, estavam cegos de ambição e o único pagamento que queriam era aquele que multiplicavam seus números no banco.
Éramos nós, por nós mesmos.
Minha sorte era fazer parte de um quarteto de amizade formado há anos, e que não se assustava facilmente pelas dificuldades.
— Já olhou o e-mail hoje? - Perguntei à Ellen, que tinha os olhos focados na tela de seu celular.
— Sim e não temos nenhuma novidade, . - Suspirou audível. Estávamos aguardando respostas positivas de empresas interessadas na causa animal.
— Estamos ficando sem opções...
— E se organizarmos uma comemoração para o Dia da Independência? - Lily propôs, ajustando os óculos de grau ao rosto.
— Entre nós quatro? - Helena, se espantou com a possibilidade, desviando a atenção do pente-garfo com o qual aumentava o volume do seu cabelo black-power.
— Mal conseguimos nos desdobrar no dia-a-dia entre os cães mais novos e os idosos. Imagina com uma festa? - Ellen expôs.
— Os filhos de vocês não conseguem participar? - Arrisquei, mordendo o lábio inferior com a imagem dos pré-adolescentes em minha mente, enquanto as mulheres se entreolhavam. — Ainda pedem aquelas redações do feriado na escola? Porque podemos usar essa festa de arrecadação como um pretexto de trazê-los pra cá e terem, finalmente sobre o que escrever.
— Eu definitivamente não me atrevo à propor nada para aquelas pestes! Não mesmo! - Lena negou-se inúmeras vezes, fazendo-nos rir com suas caras e bocas, voltando para seu pente-garfo.
— Sinceramente, eu duvido dos gêmeos da Ellen, mas Cadance me ama, Lena!
— Você vai falar com ela? - Helena me analisou, com olhar desafiador.
— Com certeza!
— Se é assim... Boa sorte!
Cadance é uma adolescente empoderada e cheia de discursos quando começávamos a falar sobre as porcentagens de negros nas universidades renome. Apesar de cheia de gênios e manias, a peguei no colo assim que nasceu, antes mesmo que seu pai o fizesse, já que Wallace achara uma boa ideia viajar dois dias antes com o único time de futebol masculino da cidade.
— Oh! Podemos nos engajar nas redes sociais! - Ellen levantou-se rápido da cadeira que estava sentada, tamanho fora seu entusiasmo com sua própria ideia.
— Começando pelo evento de arrecadação! - Lily completou-a e ambas fizeram um hi-five desajeitado.
— Vamos gravar um vídeo! - Fora a vez de Lena complementar a novidade.
— O que vamos falar? Precisamos deixar clara a real ideia da arrecadação.
— Hello?! - Lena estalou os dedos à frente do meu rosto, chamando minha atenção. — Você vai falar no vídeo.
— Vocês não?
— Jamais! - Ellen se limitou.
— Deus me livre! - Lily também se recusou.
—... O Lar para Cães K-9 conta com colaboração de vocês, porque estamos todos de coração aberto para recebê-los. - Sorri para a câmera do celular de Cadance, que sinalizou com um jóinha que eu poderia sair da posição que combinamos para que ela pudesse filmar parte das acomodações.
A ideia fora formulada em pouco tempo e em quase tempo recorde já tínhamos em mãos o que planejávamos entre decoração e alimentação. Um orçamento também fora pensado, junto da meta mínima que cobriria os gastos que tivemos e o que conseguiríamos custear com o valor arrecadado. Uma semana nos separava de tudo isso. Cadance estava à todo vapor e não aceitou a possibilidade de que os gêmeos de Ellen não participassem por pura birra e estava no meu encalço quando fui visitá-los.
A carranca da pré-adolescente me assustava e não gostava nem de pensar no que aconteceria com os garotos se recusassem minha proposta. O que não aconteceu, já que nem hesitaram ao ouvir sobre a ideia da redação escolar.
Os dias correram mais rápido do que queríamos e entre ajustes em paredes descascadas e pinturas mal acabadas, a casa estava quase pronta.
Uma ansiedade começou me percorrer dois dias antes, quando finalizamos as mínimas reformas nas paredes, pintando-as para o grande dia.
Minhas costas doíam, assim como os joelhos e apesar das reclamações, corríamos contra o relógio.
Os mais novos estavam responsáveis pela decoração, num misto de Dia da Independência com conscientização da causa animal. Enquanto brigávamos entre nós enquanto folheávamos o único livro de receitas que achamos, para segui-las à risca.
Eu queria conseguir dormir, mas se tornou das tarefas mais difíceis, mesmo com a tranquilidade de encarar a lista de tarefas, completa.
Estávamos há poucas horas da nossa salvação e eu tinha um bom pressentimento sobre isso.
— Vamos! Vamos! Vamos! - Lena buzinava incansáveis vezes em frente de casa, aos gritos animados de Lily e Ellen nos bancos traseiros.
Precisava confessar... A ansiedade aumentou um pouco mais. E a culpa era dos adolescentes, que fizeram um trabalho incrível na decoração que não tinha nada de espetacular, mas continha a criatividade das pessoas que acreditaram em mim desde que abracei o projeto: com todas as falhas e acertos.
Nos dividimos entre as tarefas, como quem ficaria responsável pelo tour nas instalações, com quem falar em caso de interesse de parceria, adoções, gincanas e etc.
Estávamos apostos e aguardando pelo público.
A caixa de som logo na entrada tocava uma música que não fazia ideia de quem era, mas Cadance, a responsável pela playlist me garantiu que era a nova princesa do pop, Dua Lipa.
O movimento fora gradativo.
Quem viu as poucas crianças que se animaram ao adentrar o local logo pela manhã, talvez não colocasse fé na fila que se formou ao logo do dia assim que a notícia de adoção se espalhou, trazendo maiores interessados.
Apesar de atarefada até o último fio de cabelo, me era essencial tirar ao menos vinte segundos para encarar o sonho que se tornava realidade.
Eu explodia de felicidade e de nada seria possível se não pudesse contar com meus amigos.
— ?
Fui tirada de um devaneio, para cair em outro tão profundo quanto o anterior.
Após poucos e bons anos, ele estava ali. Bem na minha frente.
— ? - Não havia playlist pop, no mundo, que me prendesse neste momento, porque eu não conseguia ouvir nada além de sua voz. — V-Você voltou?
— Na verdade, nem eu sei. - Riu fraco, colocando as mãos nos bolsos dianteiros da calça jeans que vestia. — Eu vi o vídeo que postou sobre o evento e não vi motivo para não vir.
— Eu adoraria poder falar mais, mas estamos nos dividindo para conseguir dar conta!
— Nos...?
— Eu, Ellen, Lily e Lena, com os filhos delas. - Dei de ombros. — Todas as nossas fichas estão apostadas nesse evento.
— Você está responsável pelas parcerias?
— Sim. Mas sinceramente? Não tenho visto muito resultado.
— Depois que me mudei, recebi uma proposta de uma empresa em cima da minha tese de mestrado. Queriam comercializar o produto que patenteei justo para animais domésticos.
— Você não...
— Sim, serei a sua nova parceria.
McCrown era meu vizinho há bons anos atrás. Vizinho para não dizer noivo. E noivo para não dizer o único amor que tive em minha vida.
O homem é gentil, atencioso e de um coração gigantesco, fazendo com que no meio de todas essas qualidades eu me apaixonasse perdidamente, até saber que era recíproco. Eu não tinha dúvidas sobre os sentimentos que supria pelo homem, muito menos pelos dele por mim, mas me custava dormir sempre que o ouvia falar sobre a vontade de filhos, quando em mim, diversos motivos me faziam não sequer cogitar a ideia. Sendo motivo suficiente para que terminássemos.
O cargo de empresário lhe dava a segurança de oferecer um patrocínio que contava com veterinários de tempo integral no lar de cães, assim como adestradores e até auxiliares de administração que colocariam os números do projeto nos eixos. Sua proposta contava com a participação majoritária dos produtos da empresa nas instalações e suportes visíveis para propagandas nos eventos de adoções.
Eu estava no céu e , sem surpresa alguma, era grande responsável por tal.
As despesas médicas eram o principal motivo das nossas angústias e estavam em boas mãos agora.
ocupou-se em tudo que pôde durante o dia: entre gincanas, tour pelas instalações, quitutes e até arriscou ficar ao lado de Lena que era responsável pelas adoções. Logo Lena, que largou tudo para percorrer todo o local e fofocar com as outras duas sobre meu ex-noivo que retornara, segundo ela, ainda mais irresistível.
Wallace, no entanto, não gostou de todos os adjetivos que a esposa usou para descrever , mas não tinha escolha, também estava ocupado com parte dos quitutes.
Quando a noite caiu, nos reunimos, felizes da vida, porque nossa meta fora concluída com sucesso. Orgulhosos, apesar de cansados e imensamente agradecidos.
pediu alguns minutos para anunciar as novidades que trazia, provando de sua eficiência ao apresentar o corpo de veterinários que trabalhariam conosco daqui em diante.
Ainda era um tanto difícil de acreditar!
As novidades, no entanto, não eram boas o suficiente para calar as perguntas repetitivas das mulheres.
— Ele faz academia? - Ellen sussurrou, assim que adentramos a sala que denominamos para as gincanas, nos apressando em organizá-la.
— Ele está rico, ? - Fora a vez de Lena perguntar, sem medir o tom de voz, de maneira que poderia jurar ter ouvido o eco de sua pergunta soar pelo cômodo.
— Vocês vão voltar? - Lily segurou minhas mãos, impedindo que eu dobrasse a toalha de mesa, encarando-me.
— Ele não está aqui para isso. - Me limitei.
— Mas você quer? - Lena, estranhamente, sussurrou.
— Ainda não consigo suprir as expectativas dele.
— Você não pode se culpar pelo resto da vida por um erro, . - Ellen repreendeu, com seu olhar cerrado sobre mim.
— Eu sei. Só não consigo esquecer... O que será que aconteceu? Ela está viva? Com uma boa família? - Reviver essas perguntas apenas me faziam lembrar os dias cheios de dúvidas que vivi. Os dias em que não tinha ninguém com quem contar, além de mim mesma e fiz o que foi possível.
— Eu sei que vocês devem ter muito assunto pendente, já que estavam separadas boa parte do dia. - Wallace se pronunciou na entrada da sala.
— Oh! Não queira saber das nossas fofocas! - Lena o encarou, cruzando os braços, assim que o homem abraçou sua cintura.
— Só vim avisar que quer apresentar aos veterinários os cães em observação e precisa de uma de vocês. - Repassou o recado. — Você não. - Sussurrou ao pé do ouvido da esposa, mesmo que nós três pudéssemos ouvi-lo.
Nos encaramos, saindo as três da sala para que o casal aproveitasse como bem entendesse, mesmo que Lena já estapeasse o marido enquanto o questionava sobre respeito.
Fui até o balcão da recepção, buscando pelas planilhas individuais dos nossos velhinhos que tinham medicamentos controlados, no meio do controle de respostas aos remédios.
— Bom, eu pedi para que uma de vocês nos acompanhasse porque vocês conseguem nos dizer com certeza o que tem funcionado com eles. - disse, indicando à mim e a veterinária ao seu lado enquanto andávamos até os cachorros idosos e sob observação. — Esta é , ela é chefe da equipe veterinária que trouxemos.
— me explicou sobre o projeto e nossa equipe não precisou pensar duas vezes ao ver o rosto desses anjinhos. - Sorriu amigável. — Mas antes de qualquer coisa precisamos estudar o histórico deles. Conhecê-los é tão importante quanto cuidar deles.
— Apesar de termos ganhado uma boa visibilidade hoje, os adotados foram filhotes e um ou outro de médio porte. Temos alguns mais velhos com problemas de saúde que precisam de cirurgia, mas também temos velhinhos saudáveis e tentamos o máximo para deixá-los confortáveis nos seus últimos dias.
— O inverno não tem colaborado muito, não é? - arriscou, encarando o pitbull que teve as patas dianteiras amputadas por seu antigo dono, infestando-o com uma infecção que se espalhou por boa parte de seu corpo.
e ouviram por longos minutos os históricos detalhados de cada bichinho que estava sob nossos cuidados, mesmo após Ellen, Lena e Lily irem embora, finalizando suas tarefas. Suas sugestões pareciam suprir nossas necessidades e o contrato assinado provava a quão ansiosa e feliz eu estava por ver aquilo, finalmente acontecer.
Two steps far from you (A apenas dois passos de você)
— Eu sei que quando terminamos, foi porque não tínhamos as mesmas ambições, ... - começou, hesitante nas palavras e eu o encarei, não entendendo, já que ainda estava ao seu lado.
— Não vamos tocar nesse assunto agora, . - Engoli em seco, voltando minha atenção ao tour que fazíamos.
— Eu sei sobre a sua filha. - Ele despejou de uma vez. Minha boca secou e me faltaram palavras, ao mesmo tempo que me faltou ar. Percebendo minha reação se afastou um pouco, observando um dos cachorros mais à frente, o qual nem consegui me atentar à qual.
(Deitada, acordada, esperando que estivessem bem)
I never counted all of mine
(Eu nunca contei as minhas noites)
If I tried, I know it would feel like infinity
(Se tentasse, iria parecer uma eternidade)
Infinity, infinity, yeah
(Eternidade, eternidade)
Infinity
(Eternidade)
— E como sabe? E-eu nunca...
— Eu sei que você se arrepende, . Eu sei que você até se culpa... E isso não é justo.
— Deus... Como você sabe disso? - Proferi da melhor forma que me fora possível, já que o nó na minha garganta se apertava cada vez mais.
— Ellen, Lily e Lena me contaram toda a história.
— Desculpe! - A voz de Lena ecoou alta assim que ele as mencionou. Olhei para trás, vendo-as abraçadas no final do corredor, como quem nos assistia.
— O Lar de Cães foi um dos motivos pelo qual eu voltei, mas história vai muito além disso, porque nós podemos recomeçar, ...
— Eu não consigo.
— O que te impede?
— Você não entende, ! - Desisti de segurar as lágrimas, não seria capaz de segurar por muito mais tempo de qualquer forma. — Ela era um bebê! Meu bebê! E-eu... Eu a dei para a adoção e hoje eu não sei nem se ela está viva. Como posso conviver com isso?
— Não precisa carregar esse peso sozinha, meu amor... - Senti sua mão quente tentar secar as lágrimas que umedeciam meu rosto, mas era inútil, eu não conseguia controlá-las. O ouvi fungar, assim como também o fazia. Não entendia o que estava acontecendo e não pretendia fazê-lo, porque daquilo nada adiantaria. Nada daquilo tiraria minha dor. Nada daquilo a traria de volta. — Apenas me diga que aceita recomeçar comigo. - O ouvi sussurrar, quando me abraçou e toda a saudade fez o choro se tornar livre.
— Eu quero, mas...
— Eu. Você. E a . - Me desvencilhei para encará-lo, já que em minha mente havia apenas perguntas sem respostas.
— O quê...?
— é a sua filha, .
A prancheta na mão dela caiu no chão no momento que a encarei. Os olhos, mesmo que tomados por lágrimas eram doces e tinham a mesma saudade que os meus, era inquestionável.
Abracei-a como sempre sonhei em fazer.
E apenas o abraço dela já supria minhas expectativas sobre ela.
Senti outros abraços sobre nós e as vozes de Lena, Lily e Ellen soarem tão chorosas quantos nós duas.
Eu sabia, finalmente, qual era a sensação da felicidade porque eu a sentia plenamente neste momento, exatamente com as pessoas que me completavam.
(Olhos não podem brilhar)
Unless there's something burning bright behind
(A não ser que haja algo queimando forte à sua frente)
Since you went away, there's nothing left in mine
(Desde que você se foi, não há nada restante nos meus)
Fim
Nota da autora: Hello, hello! ;D Vocês estão bem? Espero que sim! Porque eu estou maravilhosamente bem e o motivo é o finalzinho dessa fic que deixou meu coração quentinho, principalmente após a minha onda de dramas que tenho escrito.
Espero que gostem como eu gostei, porque Infinity, na verdade, merece um filme, mas como não consigo fazê-lo, dei o melhor de mim em uma fic <3 Feliz 10 anos da 1D pra nós!
XOXO.
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Espero que gostem como eu gostei, porque Infinity, na verdade, merece um filme, mas como não consigo fazê-lo, dei o melhor de mim em uma fic <3 Feliz 10 anos da 1D pra nós!
XOXO.