Capítulo 1 - Eu desejo me apaixonar neste Natal
“Com o passar do tempo, eu acho que a solidão me deixa cansado
Eu não consigo me acostumar com ela
Eu quero sorrir esse ano
Como as pessoas nos filmes debaixo de árvores de Natal bonitas
Trocando presentes e passando a noite juntos
Eu só quero me apaixonar nesse natal
O único presente que eu quero é isso, me apaixonar”
This Christmas, JYP Nation.
O aroma de café tomava conta do ambiente, misturando-se delicadamente ao cheiro de cookies recém-tirados do forno, o relógio que possuía a forma de um panda com uma toca de Papai Noel marcava quatro horas da tarde, e aquilo fez BamBam suspirar, haviam mais duas horas pela frente, seu expediente só acabava às seis.
Era dia 24 de dezembro, véspera de Natal, e no fundo ele se sentia frustrado. A única imagem que vinha em sua mente era aquela dos filmes, pessoas reunidas debaixo de uma árvore de Natal, trocando presentes e sorrindo, mas, ele sabia que estaria sozinho. Sua família estava na Tailândia, seus amigos estariam junto a suas famílias ou então junto a suas namoradas, e aquilo era outra coisa que o frustrava: Ele não possuía uma namorada. Ele sequer possuía uma garota de quem gostasse, por conta disso, seu maior desejo era se apaixonar naquele Natal, talvez ainda houvesse tempo para encontrar alguém para passar aquele dia com ele, mas, estar trancado dentro do café fazia suas esperanças diminuírem.
O garoto arrumou o avental verde que usava sobre o suéter vermelho com figuras natalinas em branco, aquilo, somado à calça social preta era o uniforme dos funcionários do café nessa época do ano, a única coisa que mudava era a estampa do suéter, além disso, havia também uma gravata borboleta, combinando com a cor do avental, mas, BamBam nunca a usava, era ridículo demais, mas, JinYoung, que agora estava no balcão com os olhos fixos no celular parecia não se importar, ele sempre ostentava aquela gravata borboleta verde como se ficasse bem com aquilo — ok, talvez ele realmente ficasse bem, mas, não seria BamBam quem admitiria isso.
O garoto suspirou outra vez e voltou a encarar o relógio, somente dois minutos haviam se passado, mas ele não suportava mais ficar ali. Nenhum cliente novo havia chegado, as pessoas que estavam ali já haviam sido atendidas e as outras mesas já estavam limpas, ele não tinha nada para fazer além de ficar ouvindo aquela música que ecoava suavemente pelos alto falantes: “Two one Two” do Urban Zakapa, enquanto observava seu hyung YoungJae na mesa mais próxima ao lado da namorada. A verdade é que ouvir aquela música melosa e ver seu amigo tão feliz ao lado daquela garota fazia ele sentir um pouco de inveja. Ele invejava que a maior parte de seus amigos estivesse em um relacionamento e ele não, ele jamais havia tido uma namorada e aquilo o frustrava, quanto tempo mais demoraria para que ele encontrasse sua alma gêmea? Ele não merecia ser feliz ao lado de alguém também?
O riso de JinYoung o trouxe de volta à realidade e então BamBam decidiu ir arrumar a estante com livros ao invés de ficar ao lado daquele outro bobo apaixonado.
O garoto seguiu até a estante que ficava em um canto do café e possuía a forma de uma daquelas cabines telefônicas britânicas, ela estava rodeada de enfeites natalinos, festões verdes, bolas vermelhas, sinos, e um visco pendurado bem no topo da porta. BamBam estava disposto a organizar os livros de lá, dessa vez por ordem alfabética, mas, assim que tirou os livros da primeira prateleira, ouviu o sino que ficava na porta anunciar que alguém estava chegando.
“O JinYoung que o atenda”, pensou. Agora ele estava ocupado.
Mas nenhum som veio em seguida, JinYoung sempre cumprimentava todos que entravam com um alto e brilhante: “Olá!”, então, por que ele não havia dito nada? A resposta veio quando BamBam encarou o balcão e percebeu que ele estava vazio.
“Onde aquele hyung havia se metido?”.
Com ainda mais mau humor ele seguiu até lá, forçando um sorriso, que ele tinha certeza, não convencia ninguém.
— Olá! Eu sinto muito a demora... — disse apressadamente, mas, se interrompeu quando parou e observou o cliente que havia entrado.
Era uma garota. Seus cabelos estavam soltos e algumas mechas caíam sobre um de seus olhos, ela sorriu e murmurou um “Tudo bem” enquanto colocava aquelas mechas atrás da orelha e deixava à mostra seu rosto. BamBam tinha certeza de que jamais havia visto um sorriso tão lindo quanto o dela, seus olhos pareciam sorrir junto e suas bochechas estavam levemente rosadas, quase do mesmo tom que o casaco de tricô pink que ela usava.
— Eu quero um chocolate quente — ela o fez voltar de seus devaneios.
— Mais alguma coisa? — ele indagou, ainda um pouco fora de si, seus olhos estavam presos na garota que agora observava os doces expostos no balcão.
— Um cupcake de chocolate — ela decidiu.
— Tudo bem, você pode ir sentar, eu levarei seu pedido em alguns minutos — ele disse sorrindo, vendo a garota sair dali e sentar em uma mesa no canto, próxima à janela, ela apoiou o cotovelo sobre a mesa e o queixo sobre sua mão, observando atentamente a neve que começava a cair lá fora. BamBam sorriu e voltou a ficar entorpecido, mas, aquilo não durou muito tempo, o sino da porta voltou a tocar e dessa vez quem entrava era YuGyeom, acompanhado de uma garota, BamBam bufou pela milésima vez naquela tarde.
“Ótimo momento para sair, JinYoung”.
— HyeJin! — ele chamou a garota enquanto entrava na cozinha — Preciso de um chocolate quente — pediu, e estava prestes a apressá-la quando percebeu que ela também parecia ocupada.
A garota encarava a forma sobre a pia com indignação, uma fumaça escura pairava sobre ela e aquele cheiro amargo de queimado preenchia a cozinha.
— Tudo bem, eu faço em um minuto, só preciso organizar isso — ela murmurou, arrumando o laço vermelho que prendia seu cabelo em um coque perfeitamente alinhado, a regra era simples: gravata borboleta para os meninos e laço no cabelo para as meninas.
— Onde está a Noona? — ele perguntou, se referindo à outra garota que trabalhava ali também e auxiliava HyeJin na cozinha.
— Ela já foi, o turno dela terminou há pouco — respondeu — Nós precisamos de mais alguém na cozinha, urgentemente — ela falou, ajustando a franja que caía acima de seus olhos e voltou ao trabalho, BamBam fez o mesmo, YuGyeom precisava ser atendido...
Ou não, o garoto estava ao lado de uma menina que BamBam não conhecia, os dois estavam parados perto da árvore de Natal, cada um com um pequeno cartão na mão e escrevendo alguma coisa enquanto riam.
A árvore de Natal era o maior atrativo do café durante o mês de Dezembro, ela estivera ali desde que o café foi aberto, 10 anos atrás. As pessoas escreviam seus pedidos em cartões e então os penduravam na árvore como se fossem enfeites. O pedido de BamBam já estava lá.
— Ah! BamBam, você poderia nos trazer dois chocolates quentes? — YuGyeom pediu ao vê-lo no balcão. O garoto acenou e voltou para a cozinha, onde HyeJin parecia ter colocado as coisas em ordem.
— O chocolate quente está aqui — ela informou colocando uma caneca com forma de boneco de neve sobre a mesa.
— Eu preciso de mais dois — BamBam informou e sorriu ao ver HyeJin encará-lo com uma expressão indignada, a garota arrumou o laço no cabelo de novo e inspirou fundo.
— Ok, em cinco minutos eles estarão prontos — informou, voltando ao trabalho.
BamBam saiu da cozinha e seguiu até a mesa onde a garota estava. Ela conversava com alguém pelo celular e mesmo que não fosse sua intenção, ele pode ouvir o que ela falava.
— Tudo bem mãe, eu prometo que vou ficar bem — disse com uma voz suave — Eu já sei de tudo isso, eu vou tomar cuidado, eu vou me alimentar bem… Ok mãe, são só cinco dias, o que pode acontecer? — ela perguntou rindo — Você anda vendo muita televisão, eu vou ficar bem… Eu amo você também, fiquem bem… Até! — e assim ela desligou o celular.
BamBam deduziu que ela era outra solitária no Natal, assim como ele.
— Aqui está! — ele colocou o chocolate quente e o cupcake sobre a mesa.
— Obrigada — ela agradeceu sorrindo.
BamBam sorriu de volta e voltou para a cozinha onde HyeJin já o aguardava com duas xícaras com formato de Papai Noel em mãos.
— O JinYoung ainda não voltou?
BamBam balançou a cabeça em negação.
— Eu vou matar aquele moleque! — HyeJin exclamou, fazendo BamBam rir, ele não poderia defender seu amigo, porque ele mesmo estava com muita raiva.
Mas mal sabia ele que sua raiva estava prestes a aumentar.
Assim que entregou as canecas para YuGyeom e a garota que estava com ele, que agora estavam em uma das mesas conversando seriamente — o que era muito estranho — ele pensou que finalmente havia criado coragem para falar com a garota, mas seus planos foram interrompidos quando o sino na porta voltou a tocar, dessa vez quem entrava era JaeBum, sozinho e com uma expressão que não era das melhores.
— Hey! — o mais velho cumprimentou, forçando um sorriso — Você pode me trazer um cappuccino?
Pela expressão dele, BamBam podia facilmente deduzir que ele estava tendo problemas com a namorada.
Ele deveria pensar positivo, pelo menos ele tinha uma namorada.
O cappuccino ele poderia fazer sem a ajuda de HyeJin — que provavelmente ainda estava ocupada limpando toda aquela bagunça — por isso ele seguiu até a máquina de café e esperou que a bebida ficasse pronta, durante aqueles minutos ele não desgrudou os olhos da garota misteriosa, tudo bem, aquele era um apelido péssimo, mas ele não pretendia usá-lo por muito tempo, assim que entregasse a bebida para JaeBum iria finalmente falar com ela e descobrir seu nome.
— Está aqui! — ele colocou a caneca, que dessa vez tinha o formato de uma árvore de natal, sobre a mesa.
— BamBam — o mais velho chamou, o garoto murmurou alguma coisa em resposta, ainda sem tirar os olhos da garota e estava prestes a ir na direção dela quando foi impedido por seu hyung — Nós podemos conversar?
BamBam o encarou com incredulidade. Ele realmente não havia percebido o que estava acontecendo? Mas a expressão de JaeBum estava tão horrível que o garoto não conseguiu negar, ele inspirou fundo e sentou na cadeira em frente à JaeBum, esperando que aquilo não demorasse tanto.
— Eu… — a palavra ficou no ar, os olhos de JaeBum não desgrudavam da caneca à sua frente e BamBam estava pronto para bater nele para que continuasse falando quando as palavras finalmente saíram de sua boca — Eu acho que eu vou terminar com ela — ele falou de uma vez e aquilo fez BamBam finalmente prestar atenção no que ele estava dizendo.
— Terminar? Por quê? Vocês dois parecem tão bem juntos — ele tentou argumentar, mesmo que soubesse que os dois já vinham tendo problemas há algum tempo.
Ainda assim, era difícil imaginá-los separados.
— Não sou eu… É ela — aquilo deixou BamBam confuso, a frase não era sempre o contrário? “Sou eu, não você”?
— O que aconteceu? — perguntou BamBam, mas imediatamente os olhos de JaeBum se fixaram na porta de entrada, BamBam seguiu seu olhar e viu a namorada dele entrando.
— Boa sorte — ele desejou com sinceridade, dando alguns tapinhas no ombro do amigo enquanto levantava e seguia para o balcão outra vez.
— Olá! Você vai querer alguma coisa? — ele perguntou para a garota, que retirava o cachecol que estava escondendo quase todo o seu rosto.
— Por agora não BamBam, obrigada — ela respondeu sorrindo, mas o sorriso sumiu quando ela se virou e seguiu na direção de JaeBum.
Agora era a hora! Esse era o momento para BamBam juntar toda a coragem que tinha e ir falar com a garota, ele encarou seu reflexo no espelho atrás de si e arrumou seu cabelo, mas, assim que estava prestes a sair do balcão ouviu o sino da porta tocar de novo.
Ele esperava que fosse JinYoung voltando, mas, era Mark, que seguia com passos apressados a namorada que vinha à sua frente, ele passou pelo balcão e murmurou um “longa história” em resposta à expressão confusa de BamBam.
“Todos os casais estão com problema hoje?” ele questionou, mas, ao ver YoungJae abraçando sua namorada, concluiu que pelo menos aqueles dois estavam bem.
BamBam ouviu a porta que levava à varanda ser aberta, provavelmente Mark e a namorada estavam lá. O dia estava terrivelmente frio e a neve voltava a cair, então, a única razão para os dois estarem lá era porque tinham alguma coisa para conversar longe de todos os outros.
Não havia nada que BamBam pudesse fazer para resolver os problemas de seus hyungs, por isso, decidiu resolver os seus próprios. Ele decidiu ir até a garota, esperando finalmente conseguir conversar com ela, mas só então percebeu que ela não estava mais na mesa.
Seus olhos percorreram todo o estabelecimento e então ele a viu, ela estava próxima à estante que ele estivera tentando organizar.
Ele se aproximou dela e percebeu que ela segurava o livro infantil “Welcome home, bear”.
— Esse é um dos meus favoritos — ele disse — Quer dizer, eu gosto das ilustrações do Il SungNa e esse livro tem algumas das melhores… é claro... na minha opinião — ele explicou, tentando não soar tão nervoso, o que claramente não funcionou, mas a garota sorriu em resposta.
— Eu também adoro as ilustrações dele… Bom, quem não gostaria? — ela sorriu outra vez, ainda folheando o livro — Mas, talvez eu seja um pouco suspeita para falar… Eu faço algumas ilustrações para livros infantis.
— Sério? — a cada minuto ele passava a gostar ainda mais dela.
— Sim, na verdade eu estou na cidade para concluir um projeto com algumas escritoras… Passar o Natal trabalhando… quem não gosta disso?
— Acredite, eu sei bem como é isso — ele concordou — Aliás, eu sou o BamBam — ele estendeu a mão para a garota que a apertou de volta enquanto dizia seu nome.
— Você é o único que está atendendo aqui nesse horário? — ela indagou, colocando o livro na estante e pegando outro.
— Na verdade não, mas, meu hyung decidiu desaparecer — ele respondeu rindo, tentando transparecer algum bom humor, mesmo que ainda estivesse odiando JinYoung.
— Essas coisas sempre acontecem nas piores horas… O café parece agitado agora — ela falou olhando para as mesas ocupadas.
— Sim, mas, esses que estão aqui são meus amigos, eles praticamente moram aqui…
O sino da porta voltou a tocar, BamBam suspirou e já estava prestes a amaldiçoar quem estava chegando quando percebeu que era Jackson, o mais velho somente acenou na direção dele e foi para a mesa mais afastada dos outros, aquilo indicava que ele não ia querer nada no momento, ele pegou o celular do bolso e após digitar o levou até a orelha, o capuz do moletom preto que ele usava por baixo do sobretudo, somado ao boné em sua cabeça, escondiam quase que completamente o seu rosto, mas BamBam sabia que a expressão que ele mantinha era séria demais e aquilo indicava problemas.
BamBam repetiu mentalmente que não havia nada que ele pudesse fazer, então voltou a atenção para a garota.
— Eu esqueci de perguntar, você quer mais alguma coisa?
— Na verdade, sim! Outro cupcake de chocolate, eles estão ótimos — ela respondeu, BamBam sorriu e seguiu para o balcão onde pegou outro cupcake.
Quando voltou, ela estava na mesa novamente.
— Você disse que está na cidade para concluir um projeto, então, não é daqui? — ele perguntou e viu a garota acenar em concordância.
—Meus pais moram em outro estado, e eu morava com eles até esse projeto aparecer, mas há poucos dias recebi uma proposta para outro projeto e já tenho convite para trabalhar como ilustradora em uma editora. No fim das contas, acho que vou ter que ficar por aqui mesmo — ela explicou mordendo o cupcake.
— Isso significa que passará o Natal sozinha?
Ela confirmou, com um semblante triste no rosto.
— Isso é estranho na verdade, eu sempre fui apaixonada pelo Natal, eu era aquela que decorava tudo, que organizava a ceia, a troca de presentes, as festas, minha família sempre se reunia… e bom… esse ano eles vão se reunir também, mas, eu não vou poder estar lá.
— Eu te entendo, minha família está na Tailândia, eu tive que ficar aqui por conta do trabalho e da universidade, mas… Acho que a pior parte é ter que ficar sozinho.
— Você tem toda razão. As outras meninas do projeto vão passar o Natal com as suas famílias e eu vou ficar sozinha, assistindo algum filme de Natal, enquanto me deprimo e como chocolate — ela respondeu e logo em seguida deixou um riso escapar — Eu sou tão patética, você não precisa ouvir minhas reclamações — ela se desculpou.
— Não, acredite… Eu vou passar essa noite da mesma forma — ele tentou consolá-la — E você não é patética… — ele queria completar aquela frase com um “você é linda”, mas não conseguiu, desde quando ele se tornara tão tímido?
A garota sorriu e voltou a morder o cupcake, BamBam percebeu que havia ficado um pouco de cobertura no canto do lábio dela, por isso pegou um dos guardanapos, segurou o rosto dela e limpou de forma delicada a cobertura.
Os olhos dele se prenderam nos dela por um momento, momento que pareceu durar uma eternidade, ele sentiu uma sensação estranha no estômago e sentiu seu coração acelerar. Foi então que ele percebeu.
A garota sorriu, se afastou dele e arrumou os cabelos de forma tímida. Seus olhos se desviaram por um momento para o lado de fora, mas, logo se voltaram para BamBam, eles brilhavam, como se ela tivesse tido uma grande ideia.
— O que você acha de os dois patéticos solitários jantarem juntos hoje? — ela pegou BamBam de surpresa — Tem um restaurante incrível aqui perto, depois nós podemos passear pelo centro para ver as luzes de Natal… Vai ser incrível!
BamBam estava prestes a aceitar e fazer planos com a garota quando ouviu o sino da porta tocar mais uma vez. Mas antes que pudesse começar a ficar irritado, viu JinYoung entrar pela porta, o sorriso que cobria o rosto do garoto ia de orelha a orelha.
— Bamie! — ele chamou, ainda sorrindo — O que acha de ir pra casa? Eu assumo daqui, obrigado por me cobrir — JinYoung falou sorrindo.
BamBam queria dizer que jamais deixaria aquilo passar em branco tão fácil, mas estava tão animado que não conseguiu sequer ficar bravo com o sumiço de JinYoung, que agora colocava o avental e ia para o balcão.
— Claro, seria incrível! — ele concordou sorrindo, e logo os dois estavam planejando o que fariam naquela noite e onde almoçariam no dia seguinte.
Ao chegar no café naquele dia ainda cedo, BamBam havia escrito em um daqueles cartões o seu pedido e o pendurado na árvore. Ele não possuía esperança alguma de que aquilo ia se realizar, mas o destino havia o surpreendido.
As letras no papel formavam a frase:
“Eu quero me apaixonar nesse Natal”.
E agora seu coração confirmava.
O desejo havia se realizado.
Capítulo 2 - Eu desejo que ela aceite sair comigo
“As estrelas no céu noturno olham para mim e riem
O vento de inverno fora da minha janela me acorda
Se você se sente sozinho durante tempos difíceis
A partir de agora segure a minha mão”
Love Love Love, After School
Os dedos de JinYoung correram sobre o teclado do celular, mas logo ele apagou aquela frase que tentava escrever há pelo menos dez minutos.
O que tornava tão difícil convidar sua melhor amiga para ir jantar com ele? Eles haviam feito isso diversas vezes, então por que agora parecia tão difícil? Ah sim! Porque ele havia decidido que hoje seria o dia para confessar seus sentimentos para ela.
A verdade é que ele já havia adiado demais aquele momento, desde a primeira vez que a vira ele teve certeza que ela era a garota certa, mas o medo de ser rejeitado o fazia sempre voltar atrás. Ele havia torcido para que ela notasse as dicas que ele estava dando sobre gostar dela, mas apesar de ser sempre direto quanto a isso, ela jamais percebera e isso fazia outra questão surgir em sua cabeça: Ela não havia entendido ou simplesmente fingia não notar porque não sentia o mesmo por ele?
JinYoung balançou a cabeça, tentando afastar aqueles pensamentos pessimistas de sua mente. Nada o impediria de confessar a verdade para ela.
Ele havia permanecido uns bons vinte minutos deitado na cama após acordar de manhã, somente pensando nisso, ele havia sonhado que estava com ela, que ela o amava de volta e aquilo fez um sentimento que ele jamais havia experimentado antes surgir, foi então que ele percebeu: Ele a amava. De uma forma gigantesca e inexplicável, aquele sentimento que ele sempre evitou sentir, de repente, parecia a melhor coisa que poderia ter acontecido com ele.
Durante toda a manhã ele pensara naquilo, talvez fosse a hora ideal para confessar seus sentimentos para ela, mas, ele sentia-se terrivelmente inseguro.
Após o almoço, enquanto seguia com passos calmos pela rua a caminho do café, ele pensara sobre como confessaria seus sentimentos para ela, ele até mesmo ensaiara uma conversa sobre como diria tudo o que sentia, mas sempre que concluía suas frases em pensamento, percebia que jamais seria capaz de conseguir falar aquilo para ela, ele sabia que ia gaguejar, misturar as palavras e no fim ela não entenderia nada do que ele estava tentando falar.
E isso o levava até aquele momento, onde ele encarava o celular com indecisão, ele sabia que assim que mandasse a mensagem pedindo para ela encontrá-lo não haveria como voltar atrás, ele digitou a mensagem mais uma vez e sorriu, finalmente satisfeito com o que havia escrito, mas, seu sorriso logo desapareceu e ele voltou a apagar tudo.
Por que era tão difícil formular uma frase tão simples?
JinYoung inspirou fundo e olhou o espaço ao seu redor, YoungJae e sua namorada estavam ali, rindo e conversando animadamente. Ele também queria aquilo, ele queria uma namorada com quem pudesse conversar sobre coisas banais, uma garota para levar até o café e apresentar para seus amigos, uma garota para abraçar em dias frios como aquele, mas não poderia ser qualquer garota, tinha que ser a sua melhor amiga, aquela que ele realmente amava.
E após poucos segundos tentando fugir da realidade em seus devaneios, JinYoung pegou o celular, decidido a escrever a mensagem, foi quando viu a tela acender com uma nova notificação. Era uma mensagem dela, perguntando se ele poderia encontrá-la na praça a dois quarteirões dali.
JinYoung sorriu, talvez o destino realmente estivesse a favor dele.
O garoto tirou rapidamente o avental e seguiu para a cozinha.
— HyeJin-ah, eu estou saindo, volto em alguns instantes — ele avisou para a garota que naquele momento estava sentada ao lado do forno com um livro em mãos. Ela murmurou qualquer coisa em concordância, JinYoung duvidava que ela realmente tivesse ouvido o que ele disse. Ele colocou seu sobretudo azul marinho que estava pendurado na parede junto ao cachecol e saiu dali com passos apressados.
Assim que colocou os pés para fora da cozinha, sentiu o vento gélido atingir seu rosto. Estava mais frio do que ele imaginava, mas ele estava lá fora por um bom motivo e não seria o clima frio que estragaria tudo.
Ele deu a volta no café, seguindo pela calçada que passava em frente ao local, e após alguns passos encontrou YuGyeom, o mais novo andava com uma garota ao seu lado, seu braço estava em torno dos ombros dela e os dois riam de alguma coisa dita por ele. JinYoung sorriu e os cumprimentou, torcendo para que em breve ele pudesse estar em uma situação como aquela.
Foram necessários apenas alguns minutos de caminhada para chegar na praça onde a garota o esperava. As árvores estavam cobertas por neve, havia uma pequena área coberta, cheia de luzes vermelhas e verdes, com alguns bancos decorados com flores vermelhas e festões verdes. Os bancos estavam vazios, com excessão de um, onde uma garota apoiava o rosto nas mãos. Ela parecia estar chorando. E JinYoung sabia que ela era a garota que o esperava.
— Ei! O que aconteceu? — perguntou, sentando ao lado da garota.
Os olhos dela encontraram os dele, ela não estava chorando, mas seus olhos entregavam que ela já havia chorado muito.
— Ele. É sempre ele — ela falou, sua voz saindo como um sussurro, mas ele podia sentir um pouco de raiva na voz dela.
JinYoung a abraçou, compreendendo tudo.
“Ele” era o ex-namorado dela — e provavelmente a maior dor de cabeça de JinYoung. Ela havia estado com ele por dois meses, tempo em que ele fez da vida dela um inferno, o garoto a ignorava, a tratava mal, saía com outras garotas e não fazia questão de esconder isso dela, por sorte, há uma semana ela finalmente havia percebido a situação em que estava e tinha terminado com ele, mas desde então ele andava atrás dela, implorando para ela voltar e JinYoung temia que ela aceitasse.
— O que aquele idiota fez dessa vez?
— Ele quer que eu volte com ele — ela disse, ainda abraçada a JinYoung, talvez porque realmente precisava de consolo, ou talvez porque não conseguia encará-lo nos olhos — Eu não aguento mais isso, eu já fiz tudo o que podia, eu tentei ignorar ele, mas nada funciona.
E aquilo fez JinYoung ter certeza de que ela estava prestes a voltar com ele.
Seus planos haviam sido jogados fora, ele havia demorado tempo demais para confessar seus sentimentos e agora havia a perdido.
— O que você disse para ele? — JinYoung perguntou, ela se aconchegou ainda mais no abraço dele e ele apoiou seu queixo no topo da cabeça dela.
— Eu disse que estava gostando de outra pessoa — ela falou e aquilo bastou para o mundo de JinYoung desmoronar. Além de um ex-namorado estúpido agora havia outro cara no meio do seu caminho.
— E como ele reagiu?
— Ele disse que era impossível — ela forçou um riso, que misturava descrença, raiva e talvez lá no fundo, um pouco de tristeza — Disse que nenhum outro cara ia me querer, que eu não sou muito bonita, nem interessante e que eu tinha sorte por ele ainda querer ficar comigo — ela parou de falar por um momento, inspirando fundo para continuar — Ele disse que eu ia ficar sozinha para sempre se não voltasse com ele.
Como ele se atrevia a dizer aquelas coisas para ela?
— Olhe pra mim — JinYoung pediu, a garota levantou um pouco, o suficiente para encará-lo nos olhos, ele segurou o rosto dela entre suas mãos e falou:
— Você é linda, provavelmente a garota mais linda que eu já conheci — ele confessou — Você é inteligente, divertida, a tua risada é linda e o teu sorriso parece ser capaz de iluminar o mundo todo — ele falou sorrindo, vendo um sorriso brotar nos lábios dela também — Eu amo cada pequena coisa sobre você, amo as piadas horríveis que você faz que por alguma razão me fazem rir, amo a sua mania insistente de ficar mordendo suas unhas e amo principalmente a expressão irritada que você faz quando percebe que arrancou todo o esmalte delas — ele riu — Eu amo a cara que você faz quando toma chá gelado, eu sei que você odeia isso, assim como eu odeio frappuccino, mas, nós dois continuamos tomando essas bebidas somente para agradar um ao outro — a expressão dela se tornou séria, ela parecia finalmente estar percebendo o que estava acontecendo — Eu amo ouvir aquelas músicas estranhas que você ouve, eu amo assistir aqueles filmes de comédia ruins que somente você vê graça, e eu amo tudo isso, porque acima de tudo eu… — ele inspirou fundo, aquele era o grande momento.
Ele sabia que estava arriscando e que não havia maneira de aquilo terminar de uma forma boa, provavelmente ao final do dia ele estaria com o coração quebrado e aquele pedido no cartão pendurado na árvore que ele escreveu assim que chegou no café naquele dia, não passava de um desejo distante que jamais se realizaria, mas,ele não conseguia mais guardar aquilo para si. Ela precisava saber. Ele precisava dizer. E ao encarar aqueles olhos que o observavam com curiosidade ele concluiu:
— Porque acima de tudo eu amo você.
Naquele momento o mundo parecer congelar.
JinYoung não ouvia mais o barulho dos carros passando na rua, não sentia mais aquele frio congelante, o vento parecia ter desaparecido de repente, ele só era capaz de ouvir uma coisa: o seu coração acelerado, parecendo ser capaz de saltar do seu peito.
Ele queria ouvir o que ela tinha a dizer, mas ao mesmo tempo não queria. E se agora, enquanto ela o encarava com uma expressão assustada, somente estivesse formulando uma maneira menos dolorosa de dizer que ela gostava de outra pessoa?
JinYoung queria correr, mas ao mesmo tempo queria ficar ao lado dela, queria falar alguma coisa, talvez dizer que aquilo tudo era brincadeira ou que ele a amava somente como uma amiga, mas ele não queria mentir, ele estava cansado de mentir, ela precisava saber da verdade mesmo que isso custasse a amizade deles.
— JinYoung — ela chamou, ele a observou com atenção, esperando — Eu não disse que estava gostando de outra pessoa somente para me livrar dele — confessou, desviando seu olhar de JinYoung para as suas mãos nuas e frias.
É claro que ela não mentiu. Ela não era capaz de fazer isso.
Ela não mentiria agora para JinYoung. Ela estava sendo sincera, iria contar que gostava de outra pessoa e que só queria JinYoung como um amigo.
— Eu sei e… esse cara tem muita sorte, eu tenho certeza que ele gosta de você também… Quem não gostaria? — ele riu sem humor — Eu espero que vocês dois possam ser muito felizes.
No fim das contas era aquilo o que importava, se ela estivesse feliz, então tudo bem para ele. Podia ser difícil agora, mas em algum momento ele iria se acostumar, e perceberia que era melhor tê-la em sua vida como sua melhor amiga, do que não tê-la.
Mas a garota o encarava com um sorriso divertido no rosto.
— Você sempre foi tão lento assim? Até onde eu me lembro, me apaixonei por um cara mais esperto — ela respondeu rindo e por um instante JinYoung entrou em choque.
— Você… Você gosta de mim? — ele perguntou ainda atônito, a garota sorriu e balançou a cabeça em concordância.
— Eu só tive medo de que você não sentisse o mesmo por mim — ela confessou — Para ser bem sincera eu só estava com ele para ver se causava ciúmes em você e fazia você acordar e confessar logo se sentia algo por mim, mas quando você não fez isso… — ela deu os ombros — eu só pensei que não gostava de mim — ela falou, ainda evitando encará-lo nos olhos.
— Como você pode ter pensado isso? É claro que eu gosto de você, eu pensei ter deixado isso bem claro, mas eu esperava que você demonstrasse algum sentimento por mim — ele confessou e os dois riram.
— Nós somos uma bagunça — ela murmurou.
— Vamos prometer somente ser honestos um com o outro a partir de agora? Nada de joguinhos nem de mensagens subliminares — ele falou rindo — Se tivermos que falar alguma coisa, vamos fazer isso — ele sugeriu e ela sorriu.
Aquela parecia uma excelente ideia.
— E estreando esse novo acordo — ele falou com uma voz séria — Eu vou fazer algo que venho planejando fazer desde que te conheci — ele inspirou fundo, arrumando sua postura — Você quer ir jantar comigo?
Ela sorriu.
— Eu iria adorar — respondeu, passando seus braços ao redor do pescoço dele, os aproximando ainda mais — E prosseguindo com esse novo acordo, acho que está na hora de fazer uma coisa que eu venho querendo fazer há muito tempo.
Ela segurou o rosto de JinYoung entre suas mãos e selou seus lábios aos dele.
— Eu estou gostando cada vez mais desse acordo — JinYoung murmurou, antes de aprofundar ainda mais o beijo.
Dez minutos depois, JinYoung estava voltando para o café, um sorriso bobo cobria seus lábios e assim que se aproximou do estabelecimento percebeu que alguém, muito parecido com Jackson, andava um pouco à sua frente, ele ouviu o garoto amaldiçoar no celular e então concluiu que realmente era seu amigo.
Ele sabia que Jackson também estava indo para o café e pensou em chamá-lo para irem juntos, mas a última coisa que precisava era dele fazendo piada sobre a expressão apaixonada que tomava conta do rosto de JinYoung.
JinYoung entrou no café e sentiu um certo cheiro de queimado pairando no ar. Não o impressionava que HyeJin houvesse queimado alguma coisa, ela estava tão concentrada naquele livro. Ele viu BamBam sentado em uma mesa próxima à janela, ele o encarava com uma expressão raivosa e ao ver uma garota sentada ao seu lado, JinYoung pode entender o porquê. Mas, nada iria estragar o seu bom humor.
—Bamie! — ele chamou sorrindo — O que acha de ir pra casa? Eu assumo daqui, obrigada por me cobrir. — ele falou, seguindo para o balcão e ignorando a cara de indignação que BamBam fez, mas logo o mais novo voltou a conversar animadamente com a garota.
No fim das contas ambos haviam ganhado.
JinYoung ouviu a porta que levava para a área externa ser aberta e logo Mark e a namorada dele saíram de lá e ocuparam os lugares em uma mesa mais afastada, JinYoung seguiu na direção deles, mas, viu Mark balançar a cabeça negativamente antes que pudesse se aproximar.
Aquele dia não estava sendo bom com todos eles e ao olhar para JaeBum e a namorada dele em uma mesa ali perto concluiu que seus hyungs estavam com problemas.
JinYoung balançou a cabeça, não havia nada que ele pudesse fazer em relação a isso, ele mesmo quando havia chegado no café estava lidando com seus próprios problemas, e isso fez ele olhar para a árvore.
Ele não costumava acreditar em magia, nem que desejos se realizavam tão facilmente, mas ao lembrar-se da frase que havia escrito em um daqueles cartões pendurados na árvore, mudou sua mente:
“Eu desejo que ela aceite sair comigo”.
Talvez Papai Noel realmente existisse e estivesse olhando por ele.
Ou talvez o destino simplesmente quisesse que eles ficassem juntos.
O vento de inverno fora da minha janela me acorda
Se você se sente sozinho durante tempos difíceis
A partir de agora segure a minha mão”
Love Love Love, After School
Os dedos de JinYoung correram sobre o teclado do celular, mas logo ele apagou aquela frase que tentava escrever há pelo menos dez minutos.
O que tornava tão difícil convidar sua melhor amiga para ir jantar com ele? Eles haviam feito isso diversas vezes, então por que agora parecia tão difícil? Ah sim! Porque ele havia decidido que hoje seria o dia para confessar seus sentimentos para ela.
A verdade é que ele já havia adiado demais aquele momento, desde a primeira vez que a vira ele teve certeza que ela era a garota certa, mas o medo de ser rejeitado o fazia sempre voltar atrás. Ele havia torcido para que ela notasse as dicas que ele estava dando sobre gostar dela, mas apesar de ser sempre direto quanto a isso, ela jamais percebera e isso fazia outra questão surgir em sua cabeça: Ela não havia entendido ou simplesmente fingia não notar porque não sentia o mesmo por ele?
JinYoung balançou a cabeça, tentando afastar aqueles pensamentos pessimistas de sua mente. Nada o impediria de confessar a verdade para ela.
Ele havia permanecido uns bons vinte minutos deitado na cama após acordar de manhã, somente pensando nisso, ele havia sonhado que estava com ela, que ela o amava de volta e aquilo fez um sentimento que ele jamais havia experimentado antes surgir, foi então que ele percebeu: Ele a amava. De uma forma gigantesca e inexplicável, aquele sentimento que ele sempre evitou sentir, de repente, parecia a melhor coisa que poderia ter acontecido com ele.
Durante toda a manhã ele pensara naquilo, talvez fosse a hora ideal para confessar seus sentimentos para ela, mas, ele sentia-se terrivelmente inseguro.
Após o almoço, enquanto seguia com passos calmos pela rua a caminho do café, ele pensara sobre como confessaria seus sentimentos para ela, ele até mesmo ensaiara uma conversa sobre como diria tudo o que sentia, mas sempre que concluía suas frases em pensamento, percebia que jamais seria capaz de conseguir falar aquilo para ela, ele sabia que ia gaguejar, misturar as palavras e no fim ela não entenderia nada do que ele estava tentando falar.
E isso o levava até aquele momento, onde ele encarava o celular com indecisão, ele sabia que assim que mandasse a mensagem pedindo para ela encontrá-lo não haveria como voltar atrás, ele digitou a mensagem mais uma vez e sorriu, finalmente satisfeito com o que havia escrito, mas, seu sorriso logo desapareceu e ele voltou a apagar tudo.
Por que era tão difícil formular uma frase tão simples?
JinYoung inspirou fundo e olhou o espaço ao seu redor, YoungJae e sua namorada estavam ali, rindo e conversando animadamente. Ele também queria aquilo, ele queria uma namorada com quem pudesse conversar sobre coisas banais, uma garota para levar até o café e apresentar para seus amigos, uma garota para abraçar em dias frios como aquele, mas não poderia ser qualquer garota, tinha que ser a sua melhor amiga, aquela que ele realmente amava.
E após poucos segundos tentando fugir da realidade em seus devaneios, JinYoung pegou o celular, decidido a escrever a mensagem, foi quando viu a tela acender com uma nova notificação. Era uma mensagem dela, perguntando se ele poderia encontrá-la na praça a dois quarteirões dali.
JinYoung sorriu, talvez o destino realmente estivesse a favor dele.
O garoto tirou rapidamente o avental e seguiu para a cozinha.
— HyeJin-ah, eu estou saindo, volto em alguns instantes — ele avisou para a garota que naquele momento estava sentada ao lado do forno com um livro em mãos. Ela murmurou qualquer coisa em concordância, JinYoung duvidava que ela realmente tivesse ouvido o que ele disse. Ele colocou seu sobretudo azul marinho que estava pendurado na parede junto ao cachecol e saiu dali com passos apressados.
Assim que colocou os pés para fora da cozinha, sentiu o vento gélido atingir seu rosto. Estava mais frio do que ele imaginava, mas ele estava lá fora por um bom motivo e não seria o clima frio que estragaria tudo.
Ele deu a volta no café, seguindo pela calçada que passava em frente ao local, e após alguns passos encontrou YuGyeom, o mais novo andava com uma garota ao seu lado, seu braço estava em torno dos ombros dela e os dois riam de alguma coisa dita por ele. JinYoung sorriu e os cumprimentou, torcendo para que em breve ele pudesse estar em uma situação como aquela.
Foram necessários apenas alguns minutos de caminhada para chegar na praça onde a garota o esperava. As árvores estavam cobertas por neve, havia uma pequena área coberta, cheia de luzes vermelhas e verdes, com alguns bancos decorados com flores vermelhas e festões verdes. Os bancos estavam vazios, com excessão de um, onde uma garota apoiava o rosto nas mãos. Ela parecia estar chorando. E JinYoung sabia que ela era a garota que o esperava.
— Ei! O que aconteceu? — perguntou, sentando ao lado da garota.
Os olhos dela encontraram os dele, ela não estava chorando, mas seus olhos entregavam que ela já havia chorado muito.
— Ele. É sempre ele — ela falou, sua voz saindo como um sussurro, mas ele podia sentir um pouco de raiva na voz dela.
JinYoung a abraçou, compreendendo tudo.
“Ele” era o ex-namorado dela — e provavelmente a maior dor de cabeça de JinYoung. Ela havia estado com ele por dois meses, tempo em que ele fez da vida dela um inferno, o garoto a ignorava, a tratava mal, saía com outras garotas e não fazia questão de esconder isso dela, por sorte, há uma semana ela finalmente havia percebido a situação em que estava e tinha terminado com ele, mas desde então ele andava atrás dela, implorando para ela voltar e JinYoung temia que ela aceitasse.
— O que aquele idiota fez dessa vez?
— Ele quer que eu volte com ele — ela disse, ainda abraçada a JinYoung, talvez porque realmente precisava de consolo, ou talvez porque não conseguia encará-lo nos olhos — Eu não aguento mais isso, eu já fiz tudo o que podia, eu tentei ignorar ele, mas nada funciona.
E aquilo fez JinYoung ter certeza de que ela estava prestes a voltar com ele.
Seus planos haviam sido jogados fora, ele havia demorado tempo demais para confessar seus sentimentos e agora havia a perdido.
— O que você disse para ele? — JinYoung perguntou, ela se aconchegou ainda mais no abraço dele e ele apoiou seu queixo no topo da cabeça dela.
— Eu disse que estava gostando de outra pessoa — ela falou e aquilo bastou para o mundo de JinYoung desmoronar. Além de um ex-namorado estúpido agora havia outro cara no meio do seu caminho.
— E como ele reagiu?
— Ele disse que era impossível — ela forçou um riso, que misturava descrença, raiva e talvez lá no fundo, um pouco de tristeza — Disse que nenhum outro cara ia me querer, que eu não sou muito bonita, nem interessante e que eu tinha sorte por ele ainda querer ficar comigo — ela parou de falar por um momento, inspirando fundo para continuar — Ele disse que eu ia ficar sozinha para sempre se não voltasse com ele.
Como ele se atrevia a dizer aquelas coisas para ela?
— Olhe pra mim — JinYoung pediu, a garota levantou um pouco, o suficiente para encará-lo nos olhos, ele segurou o rosto dela entre suas mãos e falou:
— Você é linda, provavelmente a garota mais linda que eu já conheci — ele confessou — Você é inteligente, divertida, a tua risada é linda e o teu sorriso parece ser capaz de iluminar o mundo todo — ele falou sorrindo, vendo um sorriso brotar nos lábios dela também — Eu amo cada pequena coisa sobre você, amo as piadas horríveis que você faz que por alguma razão me fazem rir, amo a sua mania insistente de ficar mordendo suas unhas e amo principalmente a expressão irritada que você faz quando percebe que arrancou todo o esmalte delas — ele riu — Eu amo a cara que você faz quando toma chá gelado, eu sei que você odeia isso, assim como eu odeio frappuccino, mas, nós dois continuamos tomando essas bebidas somente para agradar um ao outro — a expressão dela se tornou séria, ela parecia finalmente estar percebendo o que estava acontecendo — Eu amo ouvir aquelas músicas estranhas que você ouve, eu amo assistir aqueles filmes de comédia ruins que somente você vê graça, e eu amo tudo isso, porque acima de tudo eu… — ele inspirou fundo, aquele era o grande momento.
Ele sabia que estava arriscando e que não havia maneira de aquilo terminar de uma forma boa, provavelmente ao final do dia ele estaria com o coração quebrado e aquele pedido no cartão pendurado na árvore que ele escreveu assim que chegou no café naquele dia, não passava de um desejo distante que jamais se realizaria, mas,ele não conseguia mais guardar aquilo para si. Ela precisava saber. Ele precisava dizer. E ao encarar aqueles olhos que o observavam com curiosidade ele concluiu:
— Porque acima de tudo eu amo você.
Naquele momento o mundo parecer congelar.
JinYoung não ouvia mais o barulho dos carros passando na rua, não sentia mais aquele frio congelante, o vento parecia ter desaparecido de repente, ele só era capaz de ouvir uma coisa: o seu coração acelerado, parecendo ser capaz de saltar do seu peito.
Ele queria ouvir o que ela tinha a dizer, mas ao mesmo tempo não queria. E se agora, enquanto ela o encarava com uma expressão assustada, somente estivesse formulando uma maneira menos dolorosa de dizer que ela gostava de outra pessoa?
JinYoung queria correr, mas ao mesmo tempo queria ficar ao lado dela, queria falar alguma coisa, talvez dizer que aquilo tudo era brincadeira ou que ele a amava somente como uma amiga, mas ele não queria mentir, ele estava cansado de mentir, ela precisava saber da verdade mesmo que isso custasse a amizade deles.
— JinYoung — ela chamou, ele a observou com atenção, esperando — Eu não disse que estava gostando de outra pessoa somente para me livrar dele — confessou, desviando seu olhar de JinYoung para as suas mãos nuas e frias.
É claro que ela não mentiu. Ela não era capaz de fazer isso.
Ela não mentiria agora para JinYoung. Ela estava sendo sincera, iria contar que gostava de outra pessoa e que só queria JinYoung como um amigo.
— Eu sei e… esse cara tem muita sorte, eu tenho certeza que ele gosta de você também… Quem não gostaria? — ele riu sem humor — Eu espero que vocês dois possam ser muito felizes.
No fim das contas era aquilo o que importava, se ela estivesse feliz, então tudo bem para ele. Podia ser difícil agora, mas em algum momento ele iria se acostumar, e perceberia que era melhor tê-la em sua vida como sua melhor amiga, do que não tê-la.
Mas a garota o encarava com um sorriso divertido no rosto.
— Você sempre foi tão lento assim? Até onde eu me lembro, me apaixonei por um cara mais esperto — ela respondeu rindo e por um instante JinYoung entrou em choque.
— Você… Você gosta de mim? — ele perguntou ainda atônito, a garota sorriu e balançou a cabeça em concordância.
— Eu só tive medo de que você não sentisse o mesmo por mim — ela confessou — Para ser bem sincera eu só estava com ele para ver se causava ciúmes em você e fazia você acordar e confessar logo se sentia algo por mim, mas quando você não fez isso… — ela deu os ombros — eu só pensei que não gostava de mim — ela falou, ainda evitando encará-lo nos olhos.
— Como você pode ter pensado isso? É claro que eu gosto de você, eu pensei ter deixado isso bem claro, mas eu esperava que você demonstrasse algum sentimento por mim — ele confessou e os dois riram.
— Nós somos uma bagunça — ela murmurou.
— Vamos prometer somente ser honestos um com o outro a partir de agora? Nada de joguinhos nem de mensagens subliminares — ele falou rindo — Se tivermos que falar alguma coisa, vamos fazer isso — ele sugeriu e ela sorriu.
Aquela parecia uma excelente ideia.
— E estreando esse novo acordo — ele falou com uma voz séria — Eu vou fazer algo que venho planejando fazer desde que te conheci — ele inspirou fundo, arrumando sua postura — Você quer ir jantar comigo?
Ela sorriu.
— Eu iria adorar — respondeu, passando seus braços ao redor do pescoço dele, os aproximando ainda mais — E prosseguindo com esse novo acordo, acho que está na hora de fazer uma coisa que eu venho querendo fazer há muito tempo.
Ela segurou o rosto de JinYoung entre suas mãos e selou seus lábios aos dele.
— Eu estou gostando cada vez mais desse acordo — JinYoung murmurou, antes de aprofundar ainda mais o beijo.
Dez minutos depois, JinYoung estava voltando para o café, um sorriso bobo cobria seus lábios e assim que se aproximou do estabelecimento percebeu que alguém, muito parecido com Jackson, andava um pouco à sua frente, ele ouviu o garoto amaldiçoar no celular e então concluiu que realmente era seu amigo.
Ele sabia que Jackson também estava indo para o café e pensou em chamá-lo para irem juntos, mas a última coisa que precisava era dele fazendo piada sobre a expressão apaixonada que tomava conta do rosto de JinYoung.
JinYoung entrou no café e sentiu um certo cheiro de queimado pairando no ar. Não o impressionava que HyeJin houvesse queimado alguma coisa, ela estava tão concentrada naquele livro. Ele viu BamBam sentado em uma mesa próxima à janela, ele o encarava com uma expressão raivosa e ao ver uma garota sentada ao seu lado, JinYoung pode entender o porquê. Mas, nada iria estragar o seu bom humor.
—Bamie! — ele chamou sorrindo — O que acha de ir pra casa? Eu assumo daqui, obrigada por me cobrir. — ele falou, seguindo para o balcão e ignorando a cara de indignação que BamBam fez, mas logo o mais novo voltou a conversar animadamente com a garota.
No fim das contas ambos haviam ganhado.
JinYoung ouviu a porta que levava para a área externa ser aberta e logo Mark e a namorada dele saíram de lá e ocuparam os lugares em uma mesa mais afastada, JinYoung seguiu na direção deles, mas, viu Mark balançar a cabeça negativamente antes que pudesse se aproximar.
Aquele dia não estava sendo bom com todos eles e ao olhar para JaeBum e a namorada dele em uma mesa ali perto concluiu que seus hyungs estavam com problemas.
JinYoung balançou a cabeça, não havia nada que ele pudesse fazer em relação a isso, ele mesmo quando havia chegado no café estava lidando com seus próprios problemas, e isso fez ele olhar para a árvore.
Ele não costumava acreditar em magia, nem que desejos se realizavam tão facilmente, mas ao lembrar-se da frase que havia escrito em um daqueles cartões pendurados na árvore, mudou sua mente:
“Eu desejo que ela aceite sair comigo”.
Talvez Papai Noel realmente existisse e estivesse olhando por ele.
Ou talvez o destino simplesmente quisesse que eles ficassem juntos.
Capítulo 3 - Eu desejo que ela aceite ser minha namorada
“Você talvez não se sinta do mesmo jeito que eu
Talvez eu nunca mais te veja de novo
É disso que tenho medo
Não tenho coragem para te dizer
Com essa música
Deixe-me abrir meu coração para você”
Confession Song, GOT7
O papel branco na frente de YuGyeom, parecia ser incapaz de receber uma frase aceitável. Sempre foi tão difícil para ele escrever uma carta para alguém? A verdade é que ele nunca havia escrito uma carta antes, mas ao pensar nas maneiras de dizer o que sentia, aquela pareceu ser a melhor opção.
Ele poderia falar pessoalmente, é claro, mas quem disse que ele era tão corajoso assim? Ele já havia dito para ela frente a frente que gostava dela, mas o que estava prestes a fazer ultrapassava esse limite. Ele podia enviar uma mensagem de texto, talvez até mesmo ligar, mas novamente, aquilo era muito importante para ser feito dessa forma, então, o que restava era escrever uma carta, tarefa que a princípio parecia simples, mas que se tornava cada vez mais difícil. Talvez encontrá-la e falar pessoalmente fosse a opção mais fácil, mas ele não conseguiria fazer isso.
YuGyeom passou a mão pelos cabelos, sem saber o que fazer. Por quanto tempo mais ele teria que ficar ali tentando formular uma carta decente? Era tão difícil assim confessar seus sentimentos?
Mas ele sabia que não podia desistir, e após inspirar fundo, pegou a caneta novamente, escreveu o nome dela no topo e então prosseguiu:
“Eu…”
E então travou novamente, ele não conseguiria sair nem da primeira palavra?
YuGyeom amassou a folha e a arremessou no lixeiro do quarto, que a essa altura já transbordava por conta de tantas bolinhas de papel, pegou outra folha e voltou a encará-la.
Ele já havia pensado nas maneiras de começar. Na verdade, na noite passada antes de dormir, já havia planejado cada palavra que colocaria na carta, mas por alguma razão havia esquecido completamente de tudo.
Ele deveria ser direto e fazer logo o seu pedido? Ou talvez devesse começar falando sobre as coisas que gostava nela? Ele deveria ser sério ou fazer alguma piada?
Ele resmungou outra vez, jogando a caneta longe e apoiando a cabeça sobre a mesa.
Na noite passada tudo parecia tão fácil, ele até mesmo pensou em encontrá-la e confessar pessoalmente, mas agora, aquela sua decisão repentina de fazer o pedido, parecia uma bobagem, no fundo ele sabia que acabaria desistindo e que não tomaria atitude alguma, ele sabia que quando a encontrasse mal a olharia nos olhos, ele tinha medo de ser rejeitado e aquilo era o que mais o preocupava, que ela não o amasse de volta.
Ele voltou a escrever e dessa vez uma frase inteira se formou no papel, ele estava tomando cuidado, se certificando de que não houvesse nenhum erro, que não houvesse nenhuma maneira de ser mal interpretado ou de falar demais, ele costumava fazer muito isso e agora seu o receio de falar coisas que não queria dizer crescia.
Tudo precisava ser perfeito.
E após jogar outra bola de papel no lixo, ele teve certeza que não era daquela forma que conseguiria fazer isso.
***
— Olhe, eu… — ele hesitou — Eu sempre gostei de você, provavelmente desde a primeira vez que conversamos, e conforme o tempo foi passando eu fui percebendo o quanto você significava para mim, eu sentia raiva daquele teu ex-namorado, ele nunca seria capaz de te amar como você merece ser amada, mas, ao mesmo tempo eu sentia ciúmes porque eu sabia que você deveria estar ao meu lado… — ele deixou a frase no ar, passou as mãos pelos cabelos e após alguns segundos voltou a resmungar coisas sem sentido como frustração — Ei! Você acha isso engraçado? — perguntou para os olhos que o encaravam de volta, seus próprios olhos no reflexo daquele espelho em seu quarto.
Já era a quarta vez que ele repetia aquele mesmo monólogo, e também a quarta vez que o deixava pela metade.
— Você tem algum problema? — ele perguntou para si mesmo enquanto encarava seu reflexo no espelho — Você não pode falar do ex-namorado, vai estragar tudo se fizer isso — ele murmurou — Eu sei que ele era um idiota e que só fez ela sofrer, mas nós queremos trazer sentimentos bons para ela não é? — falou e por pelo menos cinco segundos ficou encarando o espelho, como se aguardasse uma resposta.
E então ele gargalhou.
Um pouco por estar falando sozinho e tentando aconselhar a si mesmo, mas a maior parte daquele riso era porque ele estava desesperado. Ele estava prestes a entrar em pânico.
— Ok, somente mais uma vez — ele falou calmamente — E dessa vez vamos fazer certo — ele disse, voltando a encarar o espelho.
— Eu… — e então sua frase foi interrompida pelo som que indicava uma nova notificação em seu celular.
YuGyeom inspirou fundo, fechando os olhos, pensando a princípio em ignorar, mas, não se conteve, logo estava sentado em sua cama, com o aparelho em mãos lendo a mensagem que ela havia enviado.
“Estou te esperando, e, por favor, se apresse porque eu estou com fome.”
Um riso quis escapar por seus lábios, ele podia imaginar a expressão dela enquanto dizia aquilo, mas a ansiedade não permitiu que ele risse, seu coração acelerou e por um momento ele se sentiu vidrado, como se sua consciência estivesse longe de seu corpo.
Como ele havia esquecido? Ele havia combinado com ela de ir até o café, depois os dois sairiam juntos para ver as luzes de Natal e em seguida jantariam juntos, como eles sempre fizeram.
Mas uma coisa naquele dia fez ele hesitar um pouco, ele queria encontrar ela, é claro, mas sabia que quando a visse não conseguiria pensar em outra coisa além do pedido que tinha que fazer, mas ao mesmo tempo sabia que não conseguiria fazer o tal pedido, pois, ficaria nervoso demais, e então o que ele deveria fazer?
O garoto afundou o rosto em suas mãos e em seguida bagunçou seus cabelos, não havia como desmarcar com ela, e ele também não queria fazer isso, então, tudo o que restava era tomar coragem e ir até lá, sem um roteiro, sem uma fala decorada, somente diria tudo aquilo que vinha ocupando a sua mente desde que a conhecera.
E havia uma grande chance disso dar errado.
***
A mão de YuGyeom, coberta pela luva, tocou a campainha.
A neve começava a cair e mesmo usando um sobretudo de lã sobre o moletom e mais um cachecol gigantesco que junto com a touca cobria quase que completamente o seu rosto, ele sentia que poderia congelar ali fora enquanto esperava.
E enquanto aguardava, ele entrou em outro dilema:
O que ele deveria dizer quando ela saísse? Ele deveria agir normalmente, é claro, mas como fazer isso quando se tem algo tão importante para dizer?
YuGyeom inspirou fundo e estava prestes a voltar a ensaiar suas falas quando a porta se abriu e uma garota sorridente — e a mais linda que ele já conhecera — surgiu na porta.
— Gwiyomi! — ela exclamou de forma animada, mas logo sua cara se fechou — Por que demorou tanto? Eu falei pra você vir depressa — ela falou forçando um tom emburrado.
— Eu já disse que não gosto que me chame assim — ele resmungou, aquele era um péssimo jeito de começar.
— Você esqueceu, não foi? — ela acusou.
— É claro que eu não esqueci, como eu ia esquecer se você ficava me lembrando disso a todo momento nas últimas três semanas? — ela sorriu em resposta, entrelaçando seu braço ao dele e os guiando para a rua que passava a ficar coberta de neve.
— Vamos logo! — ela exclamou — Precisamos chegar logo no café antes que fique ainda mais frio.
E após alguns minutos caminhando com ela, YuGyeom percebeu que sua preocupação sobre agir naturalmente havia se esvaído, sempre foi tão fácil estar perto dela? A resposta era sim! Sempre foi, e era por isso que ele estava prestes a pedir para ela ser sua namorada.
E aquilo era estranho, pedir para ela ser sua namorada, porque na verdade os dois já agiam como tal nos últimos dois meses, eles sempre andavam por aí juntos, sempre ficavam até tarde da noite trocando mensagens — que normalmente eram sobre as teorias absurdas que eles criavam sobre a série que estavam assistindo — além disso, eles sempre andavam de mãos dadas ou abraçados, era algo quase automático para eles, ele também a beijava o tempo todo e até mesmo seus amigos e suas famílias os consideravam namorados, e talvez esse fosse o grande problema.
Seus pais sempre se referiam a ela como sua namorada, mesmo que ele insistisse que eles ainda não estavam namorando, e toda vez que alguém vinha o cumprimentar quando ela estava junto com ele — normalmente algum parente distante — logo se referia a ela como sua namorada, o que a fazia corar e ficar desconfortável.
Talvez ela não gostasse de ser considerada namorada dele, ou talvez realmente quisesse que ele oficializasse o que eles tinham e honestamente... ele preferia a segunda opção.
***
Assim que entraram no café, a primeira coisa que sentiram foi a clara mudança de temperatura e YuGyeom agradeceu por isso, ele não era um grande fã do frio, ao contrário da garota ao seu lado que parecia adorar ver o vapor que saía por entre seus lábios enquanto eles estavam lá fora.
— O que você vai querer? — ele perguntou, mas antes que pudesse receber uma resposta, sentiu sua mão sendo puxada e logo estava em frente à árvore de Natal.
— Deveríamos fazer um pedido — ela falou animada, já pegando dois cartões sobre a mesa ao lado duas canetas.
— Você realmente acredita nisso?
— É claro que sim! — ela exclamou — Vamos lá, você não vai morrer por escrever qualquer coisa aí — insistiu, já colocando a caneta e o cartão nas mãos dele — Além disso, deve ter alguma coisa que você quer muito, mas que parece impossível.
E realmente havia, e foi aquilo que o convenceu a tirar as luvas e apoiar o cartão em sua própria mão, tentando de todas as formas impedir que ela visse o que ele estava escrevendo.
— Ah, qual é? O seu pedido é tão vergonhoso assim? — ela perguntou, enquanto apoiava seu cartão na mesa e escrevia, mas sua letra era tão pequena que ele sequer conseguia ler o que estava escrito.
— Feito! — ele exclamou, fechando o cartão e o pendurando na árvore, ignorando a pergunta dela.
— Feito, também — ela pendurou seu cartão ao lado do dele.
— Então, qual foi o seu pedido? — ele perguntou, esperando que o pedido dela tivesse alguma relação com ele, mas, tudo o que ela respondeu foi:
— Paz mundial.
YuGyeom a encarou por longos segundos e não demorou para vê-la explodir em uma gargalhada.
— Você realmente achou que era isso? — perguntou em meio aos risos — Desejos só se tornam realidade se forem mantidos em segredo — ela explicou de forma autoritária.
— Quem disse isso?
— Alguém muito inteligente, eu deduzo, ou talvez algum filme da Disney, mas isso não importa — ela falou sorrindo, mas logo voltou a ficar séria — E você, qual seu pedido? — Ele se aproximou, inclinando seu corpo para que sua boca ficasse bem próxima ao ouvido dela e então sussurrou.
— Se eu contar ele não se realiza — e então se afastou rindo, gritando para BamBam que estava no balcão:
— Ah! BamBam, você pode nos trazer dois chocolates quentes?
BamBam acenou em concordância e seguiu para a cozinha.
— Por que você acha que eu vou querer chocolate quente? — ela perguntou, YuGyeom sabia que era somente para implicar.
— É o que você sempre pede quando está frio.
— E se dessa vez eu quiser outra coisa?
— Ok, o que você quer? — ele perguntou, finalmente se rendendo.
— Eu quero chocolate quente mesmo — ela respondeu rindo, YuGyeom revirou os olhos — Se te deixa menos bravo, eu fico feliz que você saiba o que eu gosto, isso mostra que é o melhor amigo do mundo — ela falou sorrindo, mas, aquilo não fez YuGyeom sorrir de volta.
Amigo. Ele realmente não gostava daquela palavra.
— O que foi? Por que essa expressão séria? — ela perguntou, se pondo nas pontas dos pés, tentando ficar na mesma altura que ele e passando a mão em frente ao seu rosto, como se tentasse trazê-lo de volta a realidade.
— Nós… — ele inspirou fundo — Nós precisamos conversar — e aquelas simples três palavras fizeram a expressão dela se tornar séria também.
Os dois seguiram em silêncio até a mesa, YuGyeom acenou para YoungJae que estava sentado na mesa ao lado com sua namorada, no fundo ele desejava um relacionamento como o de YoungJae, os dois pareciam se dar tão bem, mas ele sabia que para que aquilo acontecesse precisava criar coragem e ser honesto sobre seus sentimentos para a garota que agora estava sentada à sua frente, o observando com curiosidade.
— E então? O que você tem a falar? — ela perguntou.
Ele sabia que ela estava nervosa, ela estava mexendo nos enfeites da pequena árvore de Natal que decorava a mesa e não estava mais sorrindo como antes.
YuGyeom inspirou fundo e quando estava prestes a falar sentiu alguém se aproximando da mesa deles, era BamBam que após cumprimenta-los, colocou as duas canecas com formato de Papai Noel sobre a mesa, e se retirou.
— Eu… — ele inspirou fundo mais uma vez, encarando os marshmallows que flutuavam sobre o chocolate quente, o sino na porta tocou, mas ele não se importou em olhar quem entrava, ele estava imerso em pensamentos, o monólogo formulado por ele em frente ao espelho de repente surgiu em sua cabeça, mas ele decidiu o descartar.
Ele só iria ser sincero.
— YuGyeom! — ela chamou, quase que implorando para que ele continuasse a falar.
Ele não falou.
O garoto levantou do seu lugar e sentou ao lado dela, ela tornou a chamar seu nome, mas, ele ignorou, somente pegou seu celular no bolso do casaco, seus fones de ouvido e os conectou.
A menina o observava com atenção, ainda sem entender o que estava acontecendo, o sino da porta tocou mais uma vez, duas pessoas passaram por eles rapidamente, mas nada ao seu redor importava mais, alguma coisa realmente importante estava prestes a acontecer e YuGyeom soube, no momento em que encarou os olhos dela e estendeu um dos fones de ouvido para ela, que não haveria mais como voltar atrás.
— Você perguntou qual o meu pedido, certo? — ele indagou colocando um lado do fone em sua própria orelha, vendo ela fazer o mesmo — Talvez contar realmente faça com que ele não se realize, mas essa é a única maneira de torná-lo realidade — e foi vendo a expressão confusa dela que ele pressionou a tela do celular, a voz de Lee Hi encobriu o barulho do sino que voltava a tocar, mas não foi capaz de encobrir os batimentos cardíacos acelerados de YuGyeom.
“Eu não quero muito para o Natal
Há apenas uma coisa que eu preciso
Eu não me importo com os presentes
Debaixo da árvore de Natal”
Os olhos dela buscaram os dele ansiosamente, ela sabia o que viria a seguir, a voz de Park Bom ecoou pelo fone, trazendo aquilo que ele queria dizer.
“Eu só quero você para mim
Mais do que você poderia saber
Faça o meu desejo se tornar realidade
Tudo o que eu quero para o Natal é você, você
É você”
— YuGyeom! — ela chamou, sua voz um pouco embargada.
— Por favor, só escute — ele pediu, temendo ser rejeitado, temendo perder ela para sempre.
E ela escutou, até que a última frase veio:
“Tudo que eu quero para o Natal é você”
Ele retirou seu fone de ouvido e viu ela fazer o mesmo.
— Ouça! — ele pediu, segurando a mão dela — É essa a verdade, esse é o meu pedido, eu só quero você — confessou — Durante todo esse tempo eu percebi o quanto eu gosto de você e o quanto eu preciso ter você perto de mim e a cada dia que passa eu percebo que não posso ficar longe de você, você se tornou uma parte importante de mim, uma parte essencial sem a qual eu não sou capaz de viver e eu fui um tolo por não ter dito isso antes — ele inspirou fundo, levando sua mão até o rosto dela — Eu só quero que você fique comigo — e então ele disse aquilo que desejava dizer há tempos — Eu só quero que você seja minha namorada — ele soltou a respiração, mas não foi capaz de sorrir, a apreensão tomava conta do seu corpo, e a ansiedade pela resposta dela parecia sufocá-lo.
Mas, a resposta não veio, pelo menos não da maneira que ele esperava.
De repente ela sorriu, o sorriso mais brilhante e lindo que ele já havia visto, ela se inclinou na direção dele, seus lábios encontraram os dele em um beijo suave, mas carregado de sentimentos, YuGyeom sentiu seu corpo relaxar, seus braços a envolveram em um abraço e quando suas bocas se afastaram ela escondeu o rosto na curva do pescoço dele.
— Isso… — ele começou — Foi um sim… Não foi? — ele perguntou preocupado, o que fez ela rir.
A garota sentou corretamente de novo e respondeu:
— É claro que foi um sim… Na verdade… Meu pedido de Natal também era esse — ela confessou, depositando um beijo rápido nos lábios dele e voltando a se aconchegar naquele abraço.
— Eu estava certa! — ela murmurou.
— Sobre o quê?
— Sobre os pedidos, eu falei que eles se realizavam.
E YuGyeom não pôde discordar dela.
“Eu desejo que ela aceite namorar comigo”
Essa era a frase dentro do cartão que ele pendurou na árvore. E aquilo o fez concluir duas coisas.
A primeira: talvez ele devesse acreditar mais em magia.
A segunda: Talvez contar um pedido não seja algo tão ruim assim.
Talvez eu nunca mais te veja de novo
É disso que tenho medo
Não tenho coragem para te dizer
Com essa música
Deixe-me abrir meu coração para você”
Confession Song, GOT7
O papel branco na frente de YuGyeom, parecia ser incapaz de receber uma frase aceitável. Sempre foi tão difícil para ele escrever uma carta para alguém? A verdade é que ele nunca havia escrito uma carta antes, mas ao pensar nas maneiras de dizer o que sentia, aquela pareceu ser a melhor opção.
Ele poderia falar pessoalmente, é claro, mas quem disse que ele era tão corajoso assim? Ele já havia dito para ela frente a frente que gostava dela, mas o que estava prestes a fazer ultrapassava esse limite. Ele podia enviar uma mensagem de texto, talvez até mesmo ligar, mas novamente, aquilo era muito importante para ser feito dessa forma, então, o que restava era escrever uma carta, tarefa que a princípio parecia simples, mas que se tornava cada vez mais difícil. Talvez encontrá-la e falar pessoalmente fosse a opção mais fácil, mas ele não conseguiria fazer isso.
YuGyeom passou a mão pelos cabelos, sem saber o que fazer. Por quanto tempo mais ele teria que ficar ali tentando formular uma carta decente? Era tão difícil assim confessar seus sentimentos?
Mas ele sabia que não podia desistir, e após inspirar fundo, pegou a caneta novamente, escreveu o nome dela no topo e então prosseguiu:
“Eu…”
E então travou novamente, ele não conseguiria sair nem da primeira palavra?
YuGyeom amassou a folha e a arremessou no lixeiro do quarto, que a essa altura já transbordava por conta de tantas bolinhas de papel, pegou outra folha e voltou a encará-la.
Ele já havia pensado nas maneiras de começar. Na verdade, na noite passada antes de dormir, já havia planejado cada palavra que colocaria na carta, mas por alguma razão havia esquecido completamente de tudo.
Ele deveria ser direto e fazer logo o seu pedido? Ou talvez devesse começar falando sobre as coisas que gostava nela? Ele deveria ser sério ou fazer alguma piada?
Ele resmungou outra vez, jogando a caneta longe e apoiando a cabeça sobre a mesa.
Na noite passada tudo parecia tão fácil, ele até mesmo pensou em encontrá-la e confessar pessoalmente, mas agora, aquela sua decisão repentina de fazer o pedido, parecia uma bobagem, no fundo ele sabia que acabaria desistindo e que não tomaria atitude alguma, ele sabia que quando a encontrasse mal a olharia nos olhos, ele tinha medo de ser rejeitado e aquilo era o que mais o preocupava, que ela não o amasse de volta.
Ele voltou a escrever e dessa vez uma frase inteira se formou no papel, ele estava tomando cuidado, se certificando de que não houvesse nenhum erro, que não houvesse nenhuma maneira de ser mal interpretado ou de falar demais, ele costumava fazer muito isso e agora seu o receio de falar coisas que não queria dizer crescia.
Tudo precisava ser perfeito.
E após jogar outra bola de papel no lixo, ele teve certeza que não era daquela forma que conseguiria fazer isso.
— Olhe, eu… — ele hesitou — Eu sempre gostei de você, provavelmente desde a primeira vez que conversamos, e conforme o tempo foi passando eu fui percebendo o quanto você significava para mim, eu sentia raiva daquele teu ex-namorado, ele nunca seria capaz de te amar como você merece ser amada, mas, ao mesmo tempo eu sentia ciúmes porque eu sabia que você deveria estar ao meu lado… — ele deixou a frase no ar, passou as mãos pelos cabelos e após alguns segundos voltou a resmungar coisas sem sentido como frustração — Ei! Você acha isso engraçado? — perguntou para os olhos que o encaravam de volta, seus próprios olhos no reflexo daquele espelho em seu quarto.
Já era a quarta vez que ele repetia aquele mesmo monólogo, e também a quarta vez que o deixava pela metade.
— Você tem algum problema? — ele perguntou para si mesmo enquanto encarava seu reflexo no espelho — Você não pode falar do ex-namorado, vai estragar tudo se fizer isso — ele murmurou — Eu sei que ele era um idiota e que só fez ela sofrer, mas nós queremos trazer sentimentos bons para ela não é? — falou e por pelo menos cinco segundos ficou encarando o espelho, como se aguardasse uma resposta.
E então ele gargalhou.
Um pouco por estar falando sozinho e tentando aconselhar a si mesmo, mas a maior parte daquele riso era porque ele estava desesperado. Ele estava prestes a entrar em pânico.
— Ok, somente mais uma vez — ele falou calmamente — E dessa vez vamos fazer certo — ele disse, voltando a encarar o espelho.
— Eu… — e então sua frase foi interrompida pelo som que indicava uma nova notificação em seu celular.
YuGyeom inspirou fundo, fechando os olhos, pensando a princípio em ignorar, mas, não se conteve, logo estava sentado em sua cama, com o aparelho em mãos lendo a mensagem que ela havia enviado.
“Estou te esperando, e, por favor, se apresse porque eu estou com fome.”
Um riso quis escapar por seus lábios, ele podia imaginar a expressão dela enquanto dizia aquilo, mas a ansiedade não permitiu que ele risse, seu coração acelerou e por um momento ele se sentiu vidrado, como se sua consciência estivesse longe de seu corpo.
Como ele havia esquecido? Ele havia combinado com ela de ir até o café, depois os dois sairiam juntos para ver as luzes de Natal e em seguida jantariam juntos, como eles sempre fizeram.
Mas uma coisa naquele dia fez ele hesitar um pouco, ele queria encontrar ela, é claro, mas sabia que quando a visse não conseguiria pensar em outra coisa além do pedido que tinha que fazer, mas ao mesmo tempo sabia que não conseguiria fazer o tal pedido, pois, ficaria nervoso demais, e então o que ele deveria fazer?
O garoto afundou o rosto em suas mãos e em seguida bagunçou seus cabelos, não havia como desmarcar com ela, e ele também não queria fazer isso, então, tudo o que restava era tomar coragem e ir até lá, sem um roteiro, sem uma fala decorada, somente diria tudo aquilo que vinha ocupando a sua mente desde que a conhecera.
E havia uma grande chance disso dar errado.
A mão de YuGyeom, coberta pela luva, tocou a campainha.
A neve começava a cair e mesmo usando um sobretudo de lã sobre o moletom e mais um cachecol gigantesco que junto com a touca cobria quase que completamente o seu rosto, ele sentia que poderia congelar ali fora enquanto esperava.
E enquanto aguardava, ele entrou em outro dilema:
O que ele deveria dizer quando ela saísse? Ele deveria agir normalmente, é claro, mas como fazer isso quando se tem algo tão importante para dizer?
YuGyeom inspirou fundo e estava prestes a voltar a ensaiar suas falas quando a porta se abriu e uma garota sorridente — e a mais linda que ele já conhecera — surgiu na porta.
— Gwiyomi! — ela exclamou de forma animada, mas logo sua cara se fechou — Por que demorou tanto? Eu falei pra você vir depressa — ela falou forçando um tom emburrado.
— Eu já disse que não gosto que me chame assim — ele resmungou, aquele era um péssimo jeito de começar.
— Você esqueceu, não foi? — ela acusou.
— É claro que eu não esqueci, como eu ia esquecer se você ficava me lembrando disso a todo momento nas últimas três semanas? — ela sorriu em resposta, entrelaçando seu braço ao dele e os guiando para a rua que passava a ficar coberta de neve.
— Vamos logo! — ela exclamou — Precisamos chegar logo no café antes que fique ainda mais frio.
E após alguns minutos caminhando com ela, YuGyeom percebeu que sua preocupação sobre agir naturalmente havia se esvaído, sempre foi tão fácil estar perto dela? A resposta era sim! Sempre foi, e era por isso que ele estava prestes a pedir para ela ser sua namorada.
E aquilo era estranho, pedir para ela ser sua namorada, porque na verdade os dois já agiam como tal nos últimos dois meses, eles sempre andavam por aí juntos, sempre ficavam até tarde da noite trocando mensagens — que normalmente eram sobre as teorias absurdas que eles criavam sobre a série que estavam assistindo — além disso, eles sempre andavam de mãos dadas ou abraçados, era algo quase automático para eles, ele também a beijava o tempo todo e até mesmo seus amigos e suas famílias os consideravam namorados, e talvez esse fosse o grande problema.
Seus pais sempre se referiam a ela como sua namorada, mesmo que ele insistisse que eles ainda não estavam namorando, e toda vez que alguém vinha o cumprimentar quando ela estava junto com ele — normalmente algum parente distante — logo se referia a ela como sua namorada, o que a fazia corar e ficar desconfortável.
Talvez ela não gostasse de ser considerada namorada dele, ou talvez realmente quisesse que ele oficializasse o que eles tinham e honestamente... ele preferia a segunda opção.
Assim que entraram no café, a primeira coisa que sentiram foi a clara mudança de temperatura e YuGyeom agradeceu por isso, ele não era um grande fã do frio, ao contrário da garota ao seu lado que parecia adorar ver o vapor que saía por entre seus lábios enquanto eles estavam lá fora.
— O que você vai querer? — ele perguntou, mas antes que pudesse receber uma resposta, sentiu sua mão sendo puxada e logo estava em frente à árvore de Natal.
— Deveríamos fazer um pedido — ela falou animada, já pegando dois cartões sobre a mesa ao lado duas canetas.
— Você realmente acredita nisso?
— É claro que sim! — ela exclamou — Vamos lá, você não vai morrer por escrever qualquer coisa aí — insistiu, já colocando a caneta e o cartão nas mãos dele — Além disso, deve ter alguma coisa que você quer muito, mas que parece impossível.
E realmente havia, e foi aquilo que o convenceu a tirar as luvas e apoiar o cartão em sua própria mão, tentando de todas as formas impedir que ela visse o que ele estava escrevendo.
— Ah, qual é? O seu pedido é tão vergonhoso assim? — ela perguntou, enquanto apoiava seu cartão na mesa e escrevia, mas sua letra era tão pequena que ele sequer conseguia ler o que estava escrito.
— Feito! — ele exclamou, fechando o cartão e o pendurando na árvore, ignorando a pergunta dela.
— Feito, também — ela pendurou seu cartão ao lado do dele.
— Então, qual foi o seu pedido? — ele perguntou, esperando que o pedido dela tivesse alguma relação com ele, mas, tudo o que ela respondeu foi:
— Paz mundial.
YuGyeom a encarou por longos segundos e não demorou para vê-la explodir em uma gargalhada.
— Você realmente achou que era isso? — perguntou em meio aos risos — Desejos só se tornam realidade se forem mantidos em segredo — ela explicou de forma autoritária.
— Quem disse isso?
— Alguém muito inteligente, eu deduzo, ou talvez algum filme da Disney, mas isso não importa — ela falou sorrindo, mas logo voltou a ficar séria — E você, qual seu pedido? — Ele se aproximou, inclinando seu corpo para que sua boca ficasse bem próxima ao ouvido dela e então sussurrou.
— Se eu contar ele não se realiza — e então se afastou rindo, gritando para BamBam que estava no balcão:
— Ah! BamBam, você pode nos trazer dois chocolates quentes?
BamBam acenou em concordância e seguiu para a cozinha.
— Por que você acha que eu vou querer chocolate quente? — ela perguntou, YuGyeom sabia que era somente para implicar.
— É o que você sempre pede quando está frio.
— E se dessa vez eu quiser outra coisa?
— Ok, o que você quer? — ele perguntou, finalmente se rendendo.
— Eu quero chocolate quente mesmo — ela respondeu rindo, YuGyeom revirou os olhos — Se te deixa menos bravo, eu fico feliz que você saiba o que eu gosto, isso mostra que é o melhor amigo do mundo — ela falou sorrindo, mas, aquilo não fez YuGyeom sorrir de volta.
Amigo. Ele realmente não gostava daquela palavra.
— O que foi? Por que essa expressão séria? — ela perguntou, se pondo nas pontas dos pés, tentando ficar na mesma altura que ele e passando a mão em frente ao seu rosto, como se tentasse trazê-lo de volta a realidade.
— Nós… — ele inspirou fundo — Nós precisamos conversar — e aquelas simples três palavras fizeram a expressão dela se tornar séria também.
Os dois seguiram em silêncio até a mesa, YuGyeom acenou para YoungJae que estava sentado na mesa ao lado com sua namorada, no fundo ele desejava um relacionamento como o de YoungJae, os dois pareciam se dar tão bem, mas ele sabia que para que aquilo acontecesse precisava criar coragem e ser honesto sobre seus sentimentos para a garota que agora estava sentada à sua frente, o observando com curiosidade.
— E então? O que você tem a falar? — ela perguntou.
Ele sabia que ela estava nervosa, ela estava mexendo nos enfeites da pequena árvore de Natal que decorava a mesa e não estava mais sorrindo como antes.
YuGyeom inspirou fundo e quando estava prestes a falar sentiu alguém se aproximando da mesa deles, era BamBam que após cumprimenta-los, colocou as duas canecas com formato de Papai Noel sobre a mesa, e se retirou.
— Eu… — ele inspirou fundo mais uma vez, encarando os marshmallows que flutuavam sobre o chocolate quente, o sino na porta tocou, mas ele não se importou em olhar quem entrava, ele estava imerso em pensamentos, o monólogo formulado por ele em frente ao espelho de repente surgiu em sua cabeça, mas ele decidiu o descartar.
Ele só iria ser sincero.
— YuGyeom! — ela chamou, quase que implorando para que ele continuasse a falar.
Ele não falou.
O garoto levantou do seu lugar e sentou ao lado dela, ela tornou a chamar seu nome, mas, ele ignorou, somente pegou seu celular no bolso do casaco, seus fones de ouvido e os conectou.
A menina o observava com atenção, ainda sem entender o que estava acontecendo, o sino da porta tocou mais uma vez, duas pessoas passaram por eles rapidamente, mas nada ao seu redor importava mais, alguma coisa realmente importante estava prestes a acontecer e YuGyeom soube, no momento em que encarou os olhos dela e estendeu um dos fones de ouvido para ela, que não haveria mais como voltar atrás.
— Você perguntou qual o meu pedido, certo? — ele indagou colocando um lado do fone em sua própria orelha, vendo ela fazer o mesmo — Talvez contar realmente faça com que ele não se realize, mas essa é a única maneira de torná-lo realidade — e foi vendo a expressão confusa dela que ele pressionou a tela do celular, a voz de Lee Hi encobriu o barulho do sino que voltava a tocar, mas não foi capaz de encobrir os batimentos cardíacos acelerados de YuGyeom.
“Eu não quero muito para o Natal
Há apenas uma coisa que eu preciso
Eu não me importo com os presentes
Debaixo da árvore de Natal”
Os olhos dela buscaram os dele ansiosamente, ela sabia o que viria a seguir, a voz de Park Bom ecoou pelo fone, trazendo aquilo que ele queria dizer.
“Eu só quero você para mim
Mais do que você poderia saber
Faça o meu desejo se tornar realidade
Tudo o que eu quero para o Natal é você, você
É você”
— YuGyeom! — ela chamou, sua voz um pouco embargada.
— Por favor, só escute — ele pediu, temendo ser rejeitado, temendo perder ela para sempre.
E ela escutou, até que a última frase veio:
“Tudo que eu quero para o Natal é você”
Ele retirou seu fone de ouvido e viu ela fazer o mesmo.
— Ouça! — ele pediu, segurando a mão dela — É essa a verdade, esse é o meu pedido, eu só quero você — confessou — Durante todo esse tempo eu percebi o quanto eu gosto de você e o quanto eu preciso ter você perto de mim e a cada dia que passa eu percebo que não posso ficar longe de você, você se tornou uma parte importante de mim, uma parte essencial sem a qual eu não sou capaz de viver e eu fui um tolo por não ter dito isso antes — ele inspirou fundo, levando sua mão até o rosto dela — Eu só quero que você fique comigo — e então ele disse aquilo que desejava dizer há tempos — Eu só quero que você seja minha namorada — ele soltou a respiração, mas não foi capaz de sorrir, a apreensão tomava conta do seu corpo, e a ansiedade pela resposta dela parecia sufocá-lo.
Mas, a resposta não veio, pelo menos não da maneira que ele esperava.
De repente ela sorriu, o sorriso mais brilhante e lindo que ele já havia visto, ela se inclinou na direção dele, seus lábios encontraram os dele em um beijo suave, mas carregado de sentimentos, YuGyeom sentiu seu corpo relaxar, seus braços a envolveram em um abraço e quando suas bocas se afastaram ela escondeu o rosto na curva do pescoço dele.
— Isso… — ele começou — Foi um sim… Não foi? — ele perguntou preocupado, o que fez ela rir.
A garota sentou corretamente de novo e respondeu:
— É claro que foi um sim… Na verdade… Meu pedido de Natal também era esse — ela confessou, depositando um beijo rápido nos lábios dele e voltando a se aconchegar naquele abraço.
— Eu estava certa! — ela murmurou.
— Sobre o quê?
— Sobre os pedidos, eu falei que eles se realizavam.
E YuGyeom não pôde discordar dela.
“Eu desejo que ela aceite namorar comigo”
Essa era a frase dentro do cartão que ele pendurou na árvore. E aquilo o fez concluir duas coisas.
A primeira: talvez ele devesse acreditar mais em magia.
A segunda: Talvez contar um pedido não seja algo tão ruim assim.
Capítulo 4 - Eu desejo que possamos ser felizes para sempre
“Fizemos um boneco de neve em um parque infantil,
Eu quero segurar sua mão
Sem sentir ciúmes de ninguém
Eu quero permanecer ao seu lado e caminhar nessa rua coberta de neve com você”
Snow Candy, Starship Planet.
A televisão na sala de estar da casa de YoungJae exibia “Esqueceram de mim” pela décima vez naquela semana, o garoto estava sentado no sofá enrolado em um cobertor e com um balde de pipoca em mãos, uma das coisas que mais adorava fazer na semana antes do Natal era ficar em casa, vendo filmes natalinos e comendo qualquer porcaria, mas não sozinho.
Ele pegou o celular novamente, mesmo que esse estivesse ao seu lado e ele pudesse ouvir qualquer notificação nova, mas ele queria se certificar, e ao desbloquear a tela concluiu aquilo que já sabia: Ela não havia respondido sua mensagem.
Na verdade tudo o que havia ali era uma mensagem de JaeBum, agradecendo a ajuda. Os dois tinham trocado mensagens por quase uma hora, o mais velho estava com problemas com a namorada e havia procurado YoungJae em busca de algum conselho e ele não conseguia entender a razão disso.
Seus amigos sempre olhavam para o relacionamento de YoungJae e julgavam ser perfeito, eles sempre falavam o quanto invejavam a maneira como os dois se davam bem e sempre perguntavam qual era o segredo para terem um relacionamento tão duradouro quanto o dele, mas ele nunca sabia o que responder.
É claro que ele e a namorada se davam bem, mas isso não significava que eles não tinham problemas, na verdade os dois sempre se desentendiam por besteiras, mas não faziam daquilo o maior problema do mundo, só encontravam a melhor forma de resolvê-lo e buscavam ouvir um ao outro, afinal um relacionamento é formado por duas pessoas e ambas precisam estar dispostas a fazê-lo funcionar. Pena que a maioria das pessoas não percebia isso.
Ele abriu a conversa com ela e leu a última mensagem enviada por ele:
“Quer ir ao café comigo?”
A mensagem enviada há vinte minutos ainda não tinha resposta, e pelo jeito, ela sequer tinha visto, mas quando ele estava prestes a fechar a conversa, ela começou a digitar.
“Desculpe a demora, eu estava tomando banho”
E então:
“Ir no café de novo? Nós já fizemos isso de manhã”
Ele riu e então respondeu:
“Eu sei, mas não temos nada melhor pra fazer”
“Tudo bem, em meia hora eu estou pronta”
Ele enviou uma carinha feliz em resposta e então colocou o celular sobre a mesa de café, voltando sua atenção para o filme. Até que a tela do celular dele se acendeu com uma nova mensagem, ela havia enviado vários corações em resposta.
YoungJae sorriu e abriu a galeria do celular, que agora estava repleta das fotos que eles tiraram de manhã…
***
Eram oito horas da manhã e a cidade estava em silêncio, com exceção das duas pessoas naquele parquinho — que a princípio fora construído para crianças — mas onde YoungJae e sua namorada permaneciam sentados nos balanços, em uma competição para ver quem conseguia ir mais alto.
— Esse é o mais alto que você consegue ir? — ela provocou, gargalhando, a expressão de YoungJae de repente havia se tornado assustada.
— Eu quase caí! — ele gritou em resposta — Eu pensei que eu fosse morrer! — ele confessou de maneira dramática.
— Não seja tão dramático! — ela gritou em resposta ainda rindo, tentando impulsionar mais o balanço para ir mais alto, mas sua mão coberta pela luva escorregou e logo ela estava no chão.
YoungJae correu até onde ela estava, ainda meio tonto por conta do balanço.
— Você se machucou? — perguntou preocupada.
Mas a garota continuou gargalhando
— Acho que não — respondeu, enquanto sentava no chão com a ajuda dele, ainda rindo alto.
— Eu falei que isso era perigoso.
— Não é perigoso, o problema é que você tem medo de tudo — ela acusou, uma expressão indignada cobriu o rosto de YoungJae.
— Ei! Eu não tenho medo nenhum, eu só estava com… — ele pensou um pouco, procurando a palavra certa — receio de que você se machucasse — ele pareceu satisfeito com a palavra encontrada — E foi isso o que aconteceu!
— Ou seja, você estava com medo. E além disso, eu não me machuquei — ela insistiu, voltando a sentar no balanço, ele fez o mesmo, mas dessa vez eles só ficaram lá sentados, sem nenhuma competição.
— Que horas são? — ela perguntou, havia esquecido o celular em casa, afinal, quem lembraria de pegar o celular quando seu namorado chega na sua casa às sete e meia da manhã a convidando para ir em um parquinho infantil construir um boneco de neve?
Ela ainda estava dormindo e levou uns bons quinze minutos até entender o que ele estava dizendo, ela estava sonolenta quando vestiu outras roupas ainda por cima do pijama — afinal, estava muito frio — e a prova definitiva de que não estava em si quando saiu de casa eram as meias que cobriam seus pés: uma rosa e outra azul. Elas sequer eram parecidas, então, como ela havia se confundido?
— Oito e dez — ele respondeu — Temos quase duas horas restando — completou.
Eles iriam participar da apresentação de um grupo de coral que se apresentaria na manhã seguinte na principal praça do centro. Na verdade, YoungJae era quem havia decidido participar, a voz dele era linda demais para ficar escondida do mundo — segundo ele próprio — e ela concordava com isso, mas em compensação, a voz dela não era lá grande coisa, mas ele insistiu tanto que ela teve que aceitar.
Eles tinham ensaio às dez, e antes disso, precisavam construir um boneco de neve — o objetivo principal daquele passeio — ir até o café, como sempre faziam nas manhãs de sábado e então ela precisaria voltar para casa para se arrumar, ou pelo menos para colocar um par de meias que combinasse.
— Vamos construir esse boneco de neve logo! — ela exclamou, levantando do balanço e puxando ele pela mão.
Alguns minutos depois, lá estavam eles, tentando construir o boneco de neve com o pouco de neve que tinham — sim, havia nevado de madrugada, mas não havia tanta neve assim.
Enquanto ela procurava por galhos pequenos o suficiente para serem os braços do boneco, que não tinha mais que trinta centímetros de altura, ele colocava seu próprio cachecol no boneco enquanto cantava a trilha sonora inteira de Frozen.
— Ele ficou lindo, não ficou? — YoungJae perguntou animado, enquanto tirava milhares de fotos do boneco que não parecia nada além de um cachecol sobre uma pequena pilha de neve.
— Ele ficou fofo! — ela murmurou, tentando ver o boneco da melhor forma possível.
— Vamos para o café agora? Eu estou começando a ficar com fome — ele pediu, levantando e tirando o cachecol do boneco.
— Vamos! — ela respondeu, beijando o rosto dele e colocando as luvas em suas mãos que pareciam estar congeladas, YoungJae segurou a mão dela e colocou dentro do bolso do seu casaco junto com a dele, e assim eles seguiram até o café, com passos lentos e ainda falando sobre quão incrível o boneco havia ficado, conversa que hora ou outra era interrompida por YoungJae que subitamente começava a cantar outra música de Frozen.
***
Já eram quase nove horas da manhã quando eles chegaram ao café, naquele momento o local estava vazio, mas eles sabiam que na próxima hora estaria lotado.
— Vamos fazer nossos pedidos hoje? — YoungJae perguntou, apontando para a árvore, a arrastando para lá, antes que ela pudesse discordar.
Ele pegou dois cartões e entregou um para ela. YoungJae estava visivelmente mais animado do que de costume, seu pedido podia não parecer uma coisa tão importante, mas era algo que significava muito para ele.
Após terminar de escrever ele pendurou o cartão na árvore e a observou com atenção, ela batia a caneta em um ritmo frenético na mesa em frente a eles, enquanto observava o cartão em branco.
— O que foi?
— Eu não sei o que pedir — ela confessou.
— Deve haver alguma coisa que você queira — ele incentivou, mas, ela balançou a cabeça negativamente.
— Eu acho que eu tenho tudo o que eu quero — ela falou sinceramente e ele sorriu.
— E que tal os ingressos para aquele show do Standing Egg amanhã? Você que muito eles, mas ainda não os tem— ele sugeriu, se ela tivesse prestado atenção no sorriso dele, teria percebido que ele escondia alguma coisa, mas ela estava ocupada demais observando o cartão em branco.
— Eu não estava falando sobre isso, mas… Eu tenho os meus pais, minha irmã, meus amigos… Eu tenho você — ela sorriu e ele não conseguiu evitar fazer o mesmo — Além disso, os ingressos estão esgotados, nem Papai Noel conseguiria eles pra mim.
— Não custa pedir… — ele respondeu e ela riu, como se aquela fosse a maior bobagem que ele já houvesse dito.
— Ok — ela concordou, escrevendo:
“Eu desejo ganhar os ingressos para o show do Standing Egg”.
— Não parece muito convincente. — ela falou em dúvida, após avaliar um pouco e então acrescentou:
“Eu espero realmente recebê-los, caso contrário, sequestrarei uma das suas renas” e desenhou uma carinha raivosa ao lado, o que fez YoungJae gargalhar.
— Eu acho que isso não vai convencê-lo — ele advertiu, mas, ela deu os ombros.
— Não custa tentar — ela falou, pendurando o cartão na árvore e segurando a mão dele, os guiando em direção à mesa.
YoungJae sorriu ao lembrar sobre aquela manhã e quando olhou a hora percebeu que já haviam se passado vinte minutos, ele só tinha dez para chegar até a casa dela, então levantou e seguiu correndo para o quarto.
Ele colocou um casaco preto sobre o moletom que já usava, lembrando-se de pegar uma touca, luvas e um cachecol, tendo certeza de que estava dez vezes mais frio lá fora, após isso seguiu até a cômoda ao lado de sua cama, abriu a primeira gaveta e pegou a pequena embalagem de presente e o envelope que estavam ali dentro, colocou-os no bolso do casaco junto com o celular e a carteira e saiu dali com passos apressados.
Vinte minutos mais tarde ele estava sentado na sala de estar da casa da namorada, comendo um dos cookies que a mãe dela havia servido enquanto assistia um desenho animado qualquer na TV junto com a irmã mais nova dela.
Sim, ele havia chegado pelo menos uns dez minutos atrasado na casa dela, e mais vinte haviam se passado desde que ele chegara ali, e ela ainda não estava pronta.
— Nós só vamos até o café, não é nada demais — ele argumentou ao chegar, mas ela disse que seu cabelo estava horrível e que olheiras terríveis haviam surgido em seus olhos por ter acordado tão cedo, então, ela precisava arrumar o cabelo e colocar alguma maquiagem.
Mas, aos olhos dele, ela estava linda e não precisava se arrumar, mas do que adiantava ele falar aquilo? Ela nunca o ouvia.
— Estou pronta! — ela falou surgindo na sala e colocando as mãos na cintura.
— Você está linda! — ele falou, se pondo de pé.
— Eu sei! — ela falou de maneira convencida.
E após alguns minutos eles se encontravam no café outra vez, na mesa próxima à porta, observando a neve que começava a cair do lado de fora. “Two one two” do Urban Zakapa ecoava pelos alto falantes e YoungJae cantarolava a música baixinho.
— Esses muffins são os melhores! — ela falou, enquanto dobrava o papel que anteriormente havia embrulhado o bolinho e voltava sua atenção para o que restava de latte na caneca com formato de rena à sua frente — Então, qual a programação para hoje? — ela perguntou.
— O de sempre, saímos daqui, vamos até o parque e depois jantamos juntos, mas a minha mãe quer que você passe a ceia lá em casa — ele explicou, voltando a beber mais um pouco de chocolate quente.
— Parece bom! — ela falou animada — E o que faremos amanhã à noite? Já que, a menos que aconteça um milagre de Natal , eu não vou poder ir ao show do Standing Egg? — ela indagou.
— Na verdade… — ele falou com a voz cheia de suspense.
— Na verdade o quê? — ela indagou, inclinando o corpo na direção dele.
— Talvez o seu desejo impossível se realize — ele falou com a voz animada, colocando a mão no bolso do casaco, tirando o envelope de lá.
— Ta-Dah! — ele exclamou, esticando o envelope para ela.
— YoungJae, eu… — ela falou, sentindo-se extremamente feliz.
Ela abriu o envelope, seus dedos se moveram para dentro alcançando um pedaço de papel, ela o tirou e após ver o que havia lá dentro, o sorriso que cobria seu rosto se desmanchou.
Ela esperava que fossem os ingressos, mas era um cartão, o desenho feito à mão de uma rena cobria o papel, o nariz dela havia sido feito com um pompom vermelho, seus olhos estavam fechados e ela não possuía uma boca, suas patas seguravam um cartaz envolvido por um pisca-pisca colorido e dizia:
“Acredite nos seus sonhos. Feliz Natal!”
— É… — ela pensou — Muito...fofo, YoungJae, obrigada! — ela agradeceu, mesmo que estivesse decepcionada por não ser aquilo que ela queria, ela estava feliz por ele ter pelo menos se esforçado.
Mas, YoungJae não respondeu, nos segundos seguintes ele somente encarou o rosto dela com um sorriso querendo se formar em seus lábios, o sino da porta tocou, BamBam chamou o nome de JinYoung em voz alta, mas a atmosfera entre YoungJae e a namorada ainda estava silenciosa.
— YoungJae… — ela chamou, os músculos no rosto dele se contorciam querendo rir — YoungJae! — ela chamou novamente, dessa vez mais alto.
E então ele caiu na gargalhada, por sorte as únicas pessoas no café naquele momento além deles eram BamBam, que havia acabado de entrar na cozinha, YuGyeom e a namorada dele, que estavam em torno da árvore de Natal e uma garota sentada na mesa ao fundo do café que falava no celular, por sorte eles pareciam imersos em seus próprios problemas, caso contrário pensariam que ele era louco.
— Eu achei que eu conseguiria esconder por mais tempo — ele ainda estava rindo — Você realmente achou que era esse o presente? — ele indagou gargalhando, ela não respondeu, somente cerrou os olhos, fingindo estar irritada com a situação.
— Tudo bem, o presente não era esse — ele falou sorrindo, colocando de novo a mão dentro do bolso do casaco e tirando de lá uma pequena caixa de presente — Não são ingressos pro Standing Egg, mas… — ele deixou a frase no ar.
Ela pegou a caixa, já imaginando ser outra pegadinha, mas quando a abriu, percebeu que estava enganada.
Havia um urso de pelúcia dentro da caixa, em suas pequenas patinhas ele segurava um anel prateado, e gravado no anel havia o desenho de um boneco de neve.
Os olhos dela seguiram para YoungJae que mantinha sua própria mão levantada, mostrando seu dedo indicador que possuía um anel igual ao dela.
— YoungJae…ele é… ele é lindo!
Ele sorriu, pegou a caixa da mão dela e tirou o anel.
Ela estendeu a mão para YoungJae e ele a segurou delicadamente.
— Bom, eu pensei que... Nós já temos camisetas combinando, moletons combinando, nós até compramos aquelas cases para celular combinando que nenhum de nós usa — lembrou, enquanto deslizava o anel pelo indicador dela — Além disso, nós nos conhecemos em dezembro, lembra? Em uma véspera de Natal como hoje e nossos bonecos de neve são os melhores… — ele afirmou sorrindo — E eu só quero mostrar o quanto você é importante para mim, o quanto eu quero cuidar de você… O quanto eu amo você — ele confessou, levando a mão dela até seus lábios e depositando um beijo sobre o anel.
— Eu amo você também! — ela afirmou, levantando do seu lugar e sentando ao lado dele, passando seus braços em torno do seu pescoço e selando seus lábios em um beijo calmo.
Mas então ele se afastou.
— Eu me sinto horrível — ele falou com uma expressão triste.
— Por quê? — ela perguntou preocupada.
— Eu queria ter um presente para te dar amanhã.
— Você realmente acha que precisa? Esse é o melhor presente do mundo!
— Eu não estou falando sobre isso… — ele suspirou— Eu queria deixar embaixo da árvore de Natal, acho que seria mais legal, mas… — ele levou a mão de volta ao bolso do casaco, tirando de lá outro envelope.
— YoungJae… Isso é outra pegadinha? Porque se for, eu aposto que pode ficar pra amanhã — ela falou brincando, mas assim que abriu o envelope sentiu seu corpo congelar.
— Como… Como você conseguiu isso? — ela indagou, encarando os dois ingressos com o nome Standing Egg em letras gritantes.
— Já faz um tempo que eu comprei, na verdade, eu mantive isso em segredo por tanto tempo, porque eu não consegui esperar mais um dia? — ele indagou, mas ela não se importava.
A garota voltou a abraçá-lo com todas as forças que tinha, enchendo o rosto dele de beijos, sem se importar se seu batom rosa deixaria alguma marca.
— Eu te amo tanto, YoungJae! — ela exclamou.
YoungJae a abraçou, sabendo que eram momentos como aquele que faziam tudo valer a pena, que o faziam ser tão feliz.
— Eu também amo você, meu amor!
Ele não sabia se seu desejo na árvore ia se realizar, mas, naquele momento ele tinha o pressentimento de que sim, Papai Noel ia tornar aquilo verdade.
“Eu desejo que possamos ser felizes para sempre”
Aquele era só o começo do para sempre.
Eu quero segurar sua mão
Sem sentir ciúmes de ninguém
Eu quero permanecer ao seu lado e caminhar nessa rua coberta de neve com você”
Snow Candy, Starship Planet.
A televisão na sala de estar da casa de YoungJae exibia “Esqueceram de mim” pela décima vez naquela semana, o garoto estava sentado no sofá enrolado em um cobertor e com um balde de pipoca em mãos, uma das coisas que mais adorava fazer na semana antes do Natal era ficar em casa, vendo filmes natalinos e comendo qualquer porcaria, mas não sozinho.
Ele pegou o celular novamente, mesmo que esse estivesse ao seu lado e ele pudesse ouvir qualquer notificação nova, mas ele queria se certificar, e ao desbloquear a tela concluiu aquilo que já sabia: Ela não havia respondido sua mensagem.
Na verdade tudo o que havia ali era uma mensagem de JaeBum, agradecendo a ajuda. Os dois tinham trocado mensagens por quase uma hora, o mais velho estava com problemas com a namorada e havia procurado YoungJae em busca de algum conselho e ele não conseguia entender a razão disso.
Seus amigos sempre olhavam para o relacionamento de YoungJae e julgavam ser perfeito, eles sempre falavam o quanto invejavam a maneira como os dois se davam bem e sempre perguntavam qual era o segredo para terem um relacionamento tão duradouro quanto o dele, mas ele nunca sabia o que responder.
É claro que ele e a namorada se davam bem, mas isso não significava que eles não tinham problemas, na verdade os dois sempre se desentendiam por besteiras, mas não faziam daquilo o maior problema do mundo, só encontravam a melhor forma de resolvê-lo e buscavam ouvir um ao outro, afinal um relacionamento é formado por duas pessoas e ambas precisam estar dispostas a fazê-lo funcionar. Pena que a maioria das pessoas não percebia isso.
Ele abriu a conversa com ela e leu a última mensagem enviada por ele:
“Quer ir ao café comigo?”
A mensagem enviada há vinte minutos ainda não tinha resposta, e pelo jeito, ela sequer tinha visto, mas quando ele estava prestes a fechar a conversa, ela começou a digitar.
“Desculpe a demora, eu estava tomando banho”
E então:
“Ir no café de novo? Nós já fizemos isso de manhã”
Ele riu e então respondeu:
“Eu sei, mas não temos nada melhor pra fazer”
“Tudo bem, em meia hora eu estou pronta”
Ele enviou uma carinha feliz em resposta e então colocou o celular sobre a mesa de café, voltando sua atenção para o filme. Até que a tela do celular dele se acendeu com uma nova mensagem, ela havia enviado vários corações em resposta.
YoungJae sorriu e abriu a galeria do celular, que agora estava repleta das fotos que eles tiraram de manhã…
Eram oito horas da manhã e a cidade estava em silêncio, com exceção das duas pessoas naquele parquinho — que a princípio fora construído para crianças — mas onde YoungJae e sua namorada permaneciam sentados nos balanços, em uma competição para ver quem conseguia ir mais alto.
— Esse é o mais alto que você consegue ir? — ela provocou, gargalhando, a expressão de YoungJae de repente havia se tornado assustada.
— Eu quase caí! — ele gritou em resposta — Eu pensei que eu fosse morrer! — ele confessou de maneira dramática.
— Não seja tão dramático! — ela gritou em resposta ainda rindo, tentando impulsionar mais o balanço para ir mais alto, mas sua mão coberta pela luva escorregou e logo ela estava no chão.
YoungJae correu até onde ela estava, ainda meio tonto por conta do balanço.
— Você se machucou? — perguntou preocupada.
Mas a garota continuou gargalhando
— Acho que não — respondeu, enquanto sentava no chão com a ajuda dele, ainda rindo alto.
— Eu falei que isso era perigoso.
— Não é perigoso, o problema é que você tem medo de tudo — ela acusou, uma expressão indignada cobriu o rosto de YoungJae.
— Ei! Eu não tenho medo nenhum, eu só estava com… — ele pensou um pouco, procurando a palavra certa — receio de que você se machucasse — ele pareceu satisfeito com a palavra encontrada — E foi isso o que aconteceu!
— Ou seja, você estava com medo. E além disso, eu não me machuquei — ela insistiu, voltando a sentar no balanço, ele fez o mesmo, mas dessa vez eles só ficaram lá sentados, sem nenhuma competição.
— Que horas são? — ela perguntou, havia esquecido o celular em casa, afinal, quem lembraria de pegar o celular quando seu namorado chega na sua casa às sete e meia da manhã a convidando para ir em um parquinho infantil construir um boneco de neve?
Ela ainda estava dormindo e levou uns bons quinze minutos até entender o que ele estava dizendo, ela estava sonolenta quando vestiu outras roupas ainda por cima do pijama — afinal, estava muito frio — e a prova definitiva de que não estava em si quando saiu de casa eram as meias que cobriam seus pés: uma rosa e outra azul. Elas sequer eram parecidas, então, como ela havia se confundido?
— Oito e dez — ele respondeu — Temos quase duas horas restando — completou.
Eles iriam participar da apresentação de um grupo de coral que se apresentaria na manhã seguinte na principal praça do centro. Na verdade, YoungJae era quem havia decidido participar, a voz dele era linda demais para ficar escondida do mundo — segundo ele próprio — e ela concordava com isso, mas em compensação, a voz dela não era lá grande coisa, mas ele insistiu tanto que ela teve que aceitar.
Eles tinham ensaio às dez, e antes disso, precisavam construir um boneco de neve — o objetivo principal daquele passeio — ir até o café, como sempre faziam nas manhãs de sábado e então ela precisaria voltar para casa para se arrumar, ou pelo menos para colocar um par de meias que combinasse.
— Vamos construir esse boneco de neve logo! — ela exclamou, levantando do balanço e puxando ele pela mão.
Alguns minutos depois, lá estavam eles, tentando construir o boneco de neve com o pouco de neve que tinham — sim, havia nevado de madrugada, mas não havia tanta neve assim.
Enquanto ela procurava por galhos pequenos o suficiente para serem os braços do boneco, que não tinha mais que trinta centímetros de altura, ele colocava seu próprio cachecol no boneco enquanto cantava a trilha sonora inteira de Frozen.
— Ele ficou lindo, não ficou? — YoungJae perguntou animado, enquanto tirava milhares de fotos do boneco que não parecia nada além de um cachecol sobre uma pequena pilha de neve.
— Ele ficou fofo! — ela murmurou, tentando ver o boneco da melhor forma possível.
— Vamos para o café agora? Eu estou começando a ficar com fome — ele pediu, levantando e tirando o cachecol do boneco.
— Vamos! — ela respondeu, beijando o rosto dele e colocando as luvas em suas mãos que pareciam estar congeladas, YoungJae segurou a mão dela e colocou dentro do bolso do seu casaco junto com a dele, e assim eles seguiram até o café, com passos lentos e ainda falando sobre quão incrível o boneco havia ficado, conversa que hora ou outra era interrompida por YoungJae que subitamente começava a cantar outra música de Frozen.
Já eram quase nove horas da manhã quando eles chegaram ao café, naquele momento o local estava vazio, mas eles sabiam que na próxima hora estaria lotado.
— Vamos fazer nossos pedidos hoje? — YoungJae perguntou, apontando para a árvore, a arrastando para lá, antes que ela pudesse discordar.
Ele pegou dois cartões e entregou um para ela. YoungJae estava visivelmente mais animado do que de costume, seu pedido podia não parecer uma coisa tão importante, mas era algo que significava muito para ele.
Após terminar de escrever ele pendurou o cartão na árvore e a observou com atenção, ela batia a caneta em um ritmo frenético na mesa em frente a eles, enquanto observava o cartão em branco.
— O que foi?
— Eu não sei o que pedir — ela confessou.
— Deve haver alguma coisa que você queira — ele incentivou, mas, ela balançou a cabeça negativamente.
— Eu acho que eu tenho tudo o que eu quero — ela falou sinceramente e ele sorriu.
— E que tal os ingressos para aquele show do Standing Egg amanhã? Você que muito eles, mas ainda não os tem— ele sugeriu, se ela tivesse prestado atenção no sorriso dele, teria percebido que ele escondia alguma coisa, mas ela estava ocupada demais observando o cartão em branco.
— Eu não estava falando sobre isso, mas… Eu tenho os meus pais, minha irmã, meus amigos… Eu tenho você — ela sorriu e ele não conseguiu evitar fazer o mesmo — Além disso, os ingressos estão esgotados, nem Papai Noel conseguiria eles pra mim.
— Não custa pedir… — ele respondeu e ela riu, como se aquela fosse a maior bobagem que ele já houvesse dito.
— Ok — ela concordou, escrevendo:
“Eu desejo ganhar os ingressos para o show do Standing Egg”.
— Não parece muito convincente. — ela falou em dúvida, após avaliar um pouco e então acrescentou:
“Eu espero realmente recebê-los, caso contrário, sequestrarei uma das suas renas” e desenhou uma carinha raivosa ao lado, o que fez YoungJae gargalhar.
— Eu acho que isso não vai convencê-lo — ele advertiu, mas, ela deu os ombros.
— Não custa tentar — ela falou, pendurando o cartão na árvore e segurando a mão dele, os guiando em direção à mesa.
YoungJae sorriu ao lembrar sobre aquela manhã e quando olhou a hora percebeu que já haviam se passado vinte minutos, ele só tinha dez para chegar até a casa dela, então levantou e seguiu correndo para o quarto.
Ele colocou um casaco preto sobre o moletom que já usava, lembrando-se de pegar uma touca, luvas e um cachecol, tendo certeza de que estava dez vezes mais frio lá fora, após isso seguiu até a cômoda ao lado de sua cama, abriu a primeira gaveta e pegou a pequena embalagem de presente e o envelope que estavam ali dentro, colocou-os no bolso do casaco junto com o celular e a carteira e saiu dali com passos apressados.
Vinte minutos mais tarde ele estava sentado na sala de estar da casa da namorada, comendo um dos cookies que a mãe dela havia servido enquanto assistia um desenho animado qualquer na TV junto com a irmã mais nova dela.
Sim, ele havia chegado pelo menos uns dez minutos atrasado na casa dela, e mais vinte haviam se passado desde que ele chegara ali, e ela ainda não estava pronta.
— Nós só vamos até o café, não é nada demais — ele argumentou ao chegar, mas ela disse que seu cabelo estava horrível e que olheiras terríveis haviam surgido em seus olhos por ter acordado tão cedo, então, ela precisava arrumar o cabelo e colocar alguma maquiagem.
Mas, aos olhos dele, ela estava linda e não precisava se arrumar, mas do que adiantava ele falar aquilo? Ela nunca o ouvia.
— Estou pronta! — ela falou surgindo na sala e colocando as mãos na cintura.
— Você está linda! — ele falou, se pondo de pé.
— Eu sei! — ela falou de maneira convencida.
E após alguns minutos eles se encontravam no café outra vez, na mesa próxima à porta, observando a neve que começava a cair do lado de fora. “Two one two” do Urban Zakapa ecoava pelos alto falantes e YoungJae cantarolava a música baixinho.
— Esses muffins são os melhores! — ela falou, enquanto dobrava o papel que anteriormente havia embrulhado o bolinho e voltava sua atenção para o que restava de latte na caneca com formato de rena à sua frente — Então, qual a programação para hoje? — ela perguntou.
— O de sempre, saímos daqui, vamos até o parque e depois jantamos juntos, mas a minha mãe quer que você passe a ceia lá em casa — ele explicou, voltando a beber mais um pouco de chocolate quente.
— Parece bom! — ela falou animada — E o que faremos amanhã à noite? Já que, a menos que aconteça um milagre de Natal , eu não vou poder ir ao show do Standing Egg? — ela indagou.
— Na verdade… — ele falou com a voz cheia de suspense.
— Na verdade o quê? — ela indagou, inclinando o corpo na direção dele.
— Talvez o seu desejo impossível se realize — ele falou com a voz animada, colocando a mão no bolso do casaco, tirando o envelope de lá.
— Ta-Dah! — ele exclamou, esticando o envelope para ela.
— YoungJae, eu… — ela falou, sentindo-se extremamente feliz.
Ela abriu o envelope, seus dedos se moveram para dentro alcançando um pedaço de papel, ela o tirou e após ver o que havia lá dentro, o sorriso que cobria seu rosto se desmanchou.
Ela esperava que fossem os ingressos, mas era um cartão, o desenho feito à mão de uma rena cobria o papel, o nariz dela havia sido feito com um pompom vermelho, seus olhos estavam fechados e ela não possuía uma boca, suas patas seguravam um cartaz envolvido por um pisca-pisca colorido e dizia:
“Acredite nos seus sonhos. Feliz Natal!”
— É… — ela pensou — Muito...fofo, YoungJae, obrigada! — ela agradeceu, mesmo que estivesse decepcionada por não ser aquilo que ela queria, ela estava feliz por ele ter pelo menos se esforçado.
Mas, YoungJae não respondeu, nos segundos seguintes ele somente encarou o rosto dela com um sorriso querendo se formar em seus lábios, o sino da porta tocou, BamBam chamou o nome de JinYoung em voz alta, mas a atmosfera entre YoungJae e a namorada ainda estava silenciosa.
— YoungJae… — ela chamou, os músculos no rosto dele se contorciam querendo rir — YoungJae! — ela chamou novamente, dessa vez mais alto.
E então ele caiu na gargalhada, por sorte as únicas pessoas no café naquele momento além deles eram BamBam, que havia acabado de entrar na cozinha, YuGyeom e a namorada dele, que estavam em torno da árvore de Natal e uma garota sentada na mesa ao fundo do café que falava no celular, por sorte eles pareciam imersos em seus próprios problemas, caso contrário pensariam que ele era louco.
— Eu achei que eu conseguiria esconder por mais tempo — ele ainda estava rindo — Você realmente achou que era esse o presente? — ele indagou gargalhando, ela não respondeu, somente cerrou os olhos, fingindo estar irritada com a situação.
— Tudo bem, o presente não era esse — ele falou sorrindo, colocando de novo a mão dentro do bolso do casaco e tirando de lá uma pequena caixa de presente — Não são ingressos pro Standing Egg, mas… — ele deixou a frase no ar.
Ela pegou a caixa, já imaginando ser outra pegadinha, mas quando a abriu, percebeu que estava enganada.
Havia um urso de pelúcia dentro da caixa, em suas pequenas patinhas ele segurava um anel prateado, e gravado no anel havia o desenho de um boneco de neve.
Os olhos dela seguiram para YoungJae que mantinha sua própria mão levantada, mostrando seu dedo indicador que possuía um anel igual ao dela.
— YoungJae…ele é… ele é lindo!
Ele sorriu, pegou a caixa da mão dela e tirou o anel.
Ela estendeu a mão para YoungJae e ele a segurou delicadamente.
— Bom, eu pensei que... Nós já temos camisetas combinando, moletons combinando, nós até compramos aquelas cases para celular combinando que nenhum de nós usa — lembrou, enquanto deslizava o anel pelo indicador dela — Além disso, nós nos conhecemos em dezembro, lembra? Em uma véspera de Natal como hoje e nossos bonecos de neve são os melhores… — ele afirmou sorrindo — E eu só quero mostrar o quanto você é importante para mim, o quanto eu quero cuidar de você… O quanto eu amo você — ele confessou, levando a mão dela até seus lábios e depositando um beijo sobre o anel.
— Eu amo você também! — ela afirmou, levantando do seu lugar e sentando ao lado dele, passando seus braços em torno do seu pescoço e selando seus lábios em um beijo calmo.
Mas então ele se afastou.
— Eu me sinto horrível — ele falou com uma expressão triste.
— Por quê? — ela perguntou preocupada.
— Eu queria ter um presente para te dar amanhã.
— Você realmente acha que precisa? Esse é o melhor presente do mundo!
— Eu não estou falando sobre isso… — ele suspirou— Eu queria deixar embaixo da árvore de Natal, acho que seria mais legal, mas… — ele levou a mão de volta ao bolso do casaco, tirando de lá outro envelope.
— YoungJae… Isso é outra pegadinha? Porque se for, eu aposto que pode ficar pra amanhã — ela falou brincando, mas assim que abriu o envelope sentiu seu corpo congelar.
— Como… Como você conseguiu isso? — ela indagou, encarando os dois ingressos com o nome Standing Egg em letras gritantes.
— Já faz um tempo que eu comprei, na verdade, eu mantive isso em segredo por tanto tempo, porque eu não consegui esperar mais um dia? — ele indagou, mas ela não se importava.
A garota voltou a abraçá-lo com todas as forças que tinha, enchendo o rosto dele de beijos, sem se importar se seu batom rosa deixaria alguma marca.
— Eu te amo tanto, YoungJae! — ela exclamou.
YoungJae a abraçou, sabendo que eram momentos como aquele que faziam tudo valer a pena, que o faziam ser tão feliz.
— Eu também amo você, meu amor!
Ele não sabia se seu desejo na árvore ia se realizar, mas, naquele momento ele tinha o pressentimento de que sim, Papai Noel ia tornar aquilo verdade.
“Eu desejo que possamos ser felizes para sempre”
Aquele era só o começo do para sempre.
Capítulo 5 - Eu desejo que tudo se resolva
“Embora esteja nevando entre eu e você agora
O meu caminho está cheio de passos que vagam em torno de você
Lamento muito por aquela noite de inverno, quando eu deixei você ir, mesmo sem perceber
Eu quero uma história de amor com você”.
Lately, Infinite
A música lenta ecoando pelos fones de ouvido de JaeBum somente fazia ele se sentir pior, ainda mais horrível do que ele já havia sentido na última semana, e ele sabia que aquele sentimento só iria piorar.
O quarto estava silencioso, seu corpo estava afundado na cama em meio a cobertores e travesseiros, seu quarto estava uma bagunça, assim como ele mesmo.
Ele sabia que ela estava deixando de amá-lo.
Talvez ela já nem o amasse mais, então, porque ele insistia naquilo? Por que ela fingia ainda se importar com ele quando ele mesmo notava que ambos já não estavam mais satisfeitos com aquele relacionamento?
Há uma semana, quando aquele sentimento estranho surgiu, ou melhor, quando aquele sentimento importante chamado amor começou a desaparecer, ele sugeriu que talvez eles devessem dar um tempo, mas ela negou, ela disse que jamais ia deixá-lo, que ela o amava e que estava disposta a seguir com aquele relacionamento, mas seus olhos diziam outra coisa, eles gritavam que ela também queria o término, mas sua boca não foi capaz de falar isso, assim como a boca dele não foi capaz de argumentar, ele somente acenou em concordância, eles se abraçaram fortemente, ele a beijou, e por um momento ele pensou que a ideia do término fosse uma bobagem, que ele jamais deveria ter pensado naquilo, mas agora, uma semana depois, ele sentia-se daquela mesma forma de novo: vazio.
Um lado seu dizia que ele ainda a amava, mas o outro somente apontava que eles só estavam juntos por comodidade, que ele somente não era capaz de acabar com aquele namoro para não desperdiçar os dois anos que eles passaram juntos, e naquele momento, ele acreditava mais nessa segunda opção: Comodidade, pena de jogar fora o tempo que eles estiveram juntos.
Talvez ele não amasse mais ela, somente amasse as lembranças deles juntos, ou talvez, ele só achasse estranho que os dois terminassem sem nenhum motivo aparente, sem nenhuma briga, sem nenhum problema, mas ainda havia uma hipótese, aquela que ele mais evitava pensar, pois era a que mais o confundia: No fundo ele ainda a amava, talvez a amasse até demais, por isso não podia deixá-la ir, e talvez, por amá-la tanto, pensasse que ela merecia alguém melhor.
“Você ainda a ama? Se você conseguir responder essa pergunta você consegue responder todas as outras”.
Era a mensagem enviada por YoungJae.
Afinal, por qual razão JaeBum havia pedido conselhos para ele? YoungJae parecia ter um relacionamento perfeito, eles nunca brigavam, nunca se chateavam um com o outro, eles estavam sempre lá, felizes, juntos, felizes por estarem juntos, JaeBum duvidava que eles já houvessem tido uma briga.
Você ainda a ama?
A pequena pergunta era a mesma que vinha preenchendo a sua cabeça nas últimas semanas.
Ele ainda a amava? E se a resposta fosse sim? Ela ainda o amaria de volta?
JaeBum enviou uma mensagem para YoungJae, agradecendo a ajuda — que na verdade só havia plantado ainda mais dúvidas em sua cabeça — e voltou a afundar o rosto no travesseiro, tirando os fones de ouvido e decidindo que aquilo somente estava o deixando ainda mais deprimido, mas o silêncio no quarto não o fez se sentir melhor, na verdade só fez ele pensar ainda mais nela, e aquilo o torturava…
— Você realmente precisa deixar a televisão ligada? — ele perguntou, após sair do chuveiro.
Ela estava sentada na cama, seus olhos fixos no notebook em seu colo e fones de ouvido impediam que ela ouvisse qualquer coisa, até mesmo JaeBum, mas a televisão permanecia ligada.
Ele a chamou, elevando um pouco o tom de sua voz até que ela finalmente o encarou.
— O que foi? — ela perguntou.
— A televisão — ele indicou — Porque você não desliga? Você nem está assistindo — ele seguiu para o armário onde pegou um moletom e vestiu.
— Eu só gosto do barulho — ela explicou — faz eu me sentir menos solitária.
— Mas você está com fones de ouvido — ele argumentou.
Na época ele ignorou o restante do que ela havia dito, mas isso veio à tona agora.
Será que ela se sentia solitária? Mesmo estando com ele? Seria essa a razão para ela estar se afastando? Porque no fundo acreditava que ele também estava se afastando dela? Mas isso não fazia sentido, ele sempre esteve lá por ela, sempre apoiou ela, assim como havia prometido que faria…
JaeBum acordou no meio da madrugada com um barulho vindo da rua, ele inspirou fundo e sentou na cama, pegando o copo com água que estava sobre a mesa ao lado, bebendo todo o conteúdo de uma vez, ele devolveu o copo e voltou a deitar, virando-se para o lado onde sua namorada estava deitada, ou pelo menos onde deveria estar, pois, agora o espaço estava vazio.
Seus olhos percorreram todo o quarto e ele não viu sinal algum dela, então, levantou, seguiu com passos calmos até a cozinha, mas não a viu lá também, em seguida ele foi para a sala, e graças à luz proveniente da janela pode ver a silhueta dela sentada no sofá.
—Hey! — ele chamou — O que você está fazendo aqui? — perguntou, sem perceber que estava sussurrando.
— Eu não consegui dormir — ela respondeu, sussurrando também.
— E por que está aqui? Eu fiquei preocupado quando não te vi na cama.
— Eu sinto muito — ela falou, um pouco mais alto — Não queria acordar você, por isso vim pra cá, eu sabia que se ficasse na cama ia ficar me mexendo e ia acabar te acordando — ela confessou.
— Você não deveria ter pensado isso — ele falou, seguindo até o sofá e sentando ao lado dela — Além do mais, aqui está frio e se você acabar dormindo aqui vai ter uma dor nas costas amanhã — ele a abraçou de lado — Você só deveria ter me acordado quando não conseguiu dormir.
— Eu não queria te incomodar e… não há muita coisa que você possa fazer — ela falou, passando seus braços em torno da cintura dele e afundando seu rosto na curva do seu pescoço.
— Você não é nenhum incomodo e na verdade, eu acho que há uma coisa que eu posso fazer sim — ele levantou do sofá, a orientando a seguir para o quarto enquanto ele ia para a cozinha.
Alguns minutos depois ele entrou no quarto, segurando uma caneca com chá.
— Isso sempre me faz ter sono — ele explicou, entregando a caneca para ela.
— Você sempre está com sono, JaeBum — ela acusou rindo.
— E é por isso que eu sou a pessoa certa para te fazer dormir.
— E qual o seu plano? — ela indagou.
— Só vamos conversar sobre coisas chatas até que você pegue no sono…
E aquilo havia funcionado, quinze minutos depois ela dormia calmamente nos braços dele.
Ele se perguntava, quando as coisas haviam mudado? Como coisas assim podiam mudar?
Ele inspirou fundo, pegou o celular e enviou uma mensagem para ela.
“Podemos nos encontrar no café? Tenho uma coisa importante para contar”.
Só havia uma maneira de responder aquela pergunta: Você ainda a ama?
E não era deitado ali, mergulhado naquelas memórias, que ele iria responder isso.
***
Por um momento ele se arrependeu de ter saído de casa, não pelo vento frio ou pela neve que começava a cair, mas porque sabia até onde iria, quem encontraria e qual era a sua decisão final. Ele só não sabia como encarar aquela situação nem como iria resolvê-la.
Mas uma coisa boa havia acontecido após ter saído de casa, as memórias sobre ela diminuíram, elas não haviam sumido, mas pelo menos já estavam menos frequentes.
Ele lembrava-se da primeira vez que eles haviam saído juntos na véspera de Natal, eles eram meros estranhos, desconhecidos que não sabiam nada sobre o outro, mas enquanto caminhavam, as mãos descobertas dos dois haviam se tocado…
— Ah Meu Deus! — ela exclamou — Você está com frio? A tua mão está congelando! — ela segurou a mão dele entre as suas, a diferença de temperatura entre elas era clara, mas, o calor dela não tocou somente sua mão, tocou o seu coração frio também, que até aquele momento, de certa forma, temia se apaixonar por alguém.
E agora ele se via com aquele coração gelado de novo, prestes a magoá-la, prestes a magoar a si mesmo, ele estava enlouquecendo.
No dia anterior ele havia ido até o café onde BamBam e JinYoung trabalhavam, os mais novos não notaram que ele estava diferente, que ele estava destruído, ou se notaram, preferiram não falar.
As únicas pessoas além dele mesmo que sabiam sobre aquilo eram Mark e YoungJae. YoungJae porque parecia saber como manter um bom relacionamento e deveria ter algum conselho bom para dar. Mark, porque era mais velho que ele, e no fundo JaeBum se sentia mal por pedir conselhos a alguém mais novo, mas Mark não soube o ajudar, na verdade, ele parecia estar lidando com seus próprios problemas.
No fim das contas ele percebeu aquilo que já sabia desde o início: Ele teria que resolver tudo sozinho.
Quando BamBam apontou a árvore de Natal e disse que ele poderia escrever seu pedido e então pendurá-lo, ele riu. Quem acreditaria em uma bobagem daquelas? Mas não havia mais nada que ele pudesse fazer, ninguém a quem recorrer, talvez um milagre de Natal fosse a única coisa capaz de ajudá-lo.
Quinze minutos depois ele encarava a árvore novamente, assim que entrou no café ela foi a primeira coisa que ele notou. Ele desviou o olhar, só para encontrar BamBam, de pé, parado a poucos passos dele.
— Hey! — ele o cumprimentou, forçando um sorriso que ele sabia que não era capaz de convencer ninguém — Você pode me trazer um cappuccino? — pediu, BamBam acenou em confirmação.
— Ele seguiu para uma mesa em um canto mais afastado, acenou para YuGyeom e YoungJae que estavam em mesas longe da sua, ainda forçando aquele sorriso e torcendo para que nenhum deles percebesse nada.
Enquanto esperava, seus olhos não se desviaram em momento nenhum daquela árvore.
— Está aqui! — a voz de BamBam o trouxe de volta a realidade, ele colocou a caneca com formato de árvore de natal sobre a mesa e estava prestes a sair quando JaeBum o chamou.
— BamBam — ele ouviu o garoto murmurar alguma coisa em resposta, e prosseguiu, enquanto encarava suas próprias mãos — Nós podemos conversar? — completou.
BamBam sentou na cadeira que ficava de frente para JaeBum.
— Eu… — JaeBum deixou a palavra no ar, a caneca de repente parecia ter se tornado a coisa mais interessante ali, ele não conseguia desviar seu olhar dela, mas sua mente vagava em outro lugar, em outra pessoa para ser mais exato — Eu acho que eu vou terminar com ela — ele falou de uma vez, sentindo o olhar espantado de BamBam recair sobre si.
— Terminar? Por quê? Vocês dois parecem tão bem juntos — ele argumentou, com as mesmas palavras usadas por Mark e YoungJae quando ele contara sobre os problemas.
— Não sou eu… É ela — ele sabia que aquilo era confuso, mas,não havia outra maneira de explicar.
— O que aconteceu? — BamBam indagou, mas imediatamente, os olhos de JaeBum se fixaram na porta de entrada, como se houvessem sido atraídos como um ímã até lá.
Sua namorada estava entrando e após vê-la, ele passou a duvidar de sua decisão.
— Boa sorte! — BamBam desejou sinceramente, dando alguns tapinhas em seu ombro enquanto levantava e saía dali, ele perguntou para a garota se ela queria alguma coisa, mas ela negou, com um sorriso que se desfez assim que seus olhos encontraram os de JaeBum.
— Oi — ela disse, simplesmente, ao chegar na mesa.
— Oi — ele respondeu.
Ela parecia terrivelmente frágil, seus cabelos pareciam bagunçados embaixo daquela touca preta, seu rosto estava pálido e círculos escuros se formavam em seus olhos.
Ela parecia doente e JaeBum sentia uma vontade gigantesca de abraçá-la e perguntar o que estava errado, e ele teria feito isso antigamente, em outras circunstâncias, mas não agora, quando ele sabia que a razão de ela estar daquela maneira era ele.
— Como você está? — ele perguntou, já esperando que ela respondesse da maneira que sempre respondia quando estava doente ou chateada: “Como eu pareço?”.
Mas a ironia não veio, assim como uma resposta não apareceu, ela simplesmente deu os ombros e devolveu a pergunta.
— Eu… Eu não sei — ele respondeu com sinceridade.
Sequer ele conseguia interpretar aquele amontoado de emoções que se misturavam dentro de si.
JaeBum voltou a encarar o cappuccino sobre a mesa, e só quando inspirou profundamente, percebeu que estava prendendo a respiração. Na verdade, ele só precisava que o tempo parasse por um minuto, um minuto era o suficiente para ele pelo menos decidir como começar, mas o tempo não parou, e ele teve que sentir o olhar dela, como se ela conhecesse cada um dos seus sentimentos, como se lê-se cada pensamento seu, ela sempre pareceu ter esse poder.
— JaeBum, nós já tivemos essa conversa antes — ela acusou, sabendo a razão de estarem ali — É realmente necessário que façamos isso de novo? — sua voz estava cansada, tanto quanto sua expressão.
— Nós não podemos ficar do jeito que estamos — foi tudo o que conseguiu dizer, mas ele não conseguiu olhar nos olhos dela, ele continuou encarando suas mãos, mas já podia imaginar como ela estava.
— JaeBum… — ela chamou, sua voz falha, quando ele a olhou percebeu que seus olhos estavam marejados, ele não queria vê-la chorar. Não queria fazê-la chorar.
— Você quer terminar? — ela perguntou, provavelmente a pergunta mais honesta já feita entre eles.
JaeBum esticou o braço sobre a mesa, segurando a mão quente dela.
Ela fechou os olhos, tentando gravar cada detalhe daquele momento, ele fez o mesmo, como se ambos soubessem que aquele era provavelmente o último.
Mas ele realmente queria terminar? E se ele quisesse, estaria hesitando tanto assim?
Aquilo fez outra memória invadir a sua mente...
— JaeBum! JaeBum! JaeBum! JaeBum! — ela chamava repetidamente, enquanto o balançava na cama, tentando acordá-lo.
— O que foi? — ele perguntou com a voz sonolenta, parecendo mais um murmúrio.
— Está nevando!
— E daí? Está frio, deite aqui comigo e vamos dormir mais um pouco — ele falou, passando o braço em torno dela, a forçando a deitar, ele entrelaçou as pernas dele nas dela e puxou o cobertor por cima dos dois, impedindo que ela saísse.
— JaeBum, eu quero ver a neve — ela falou da maneira que pôde, com seu rosto afundado no pescoço dele.
— Nós podemos ver mais tarde — ele respondeu, sem afrouxar o abraço.
— Eu quero fazer um boneco de neve! — ela exclamou.
E então ele lembrou, na cidade onde ela morava não costumava nevar, e ao contrário dele, ela amava o frio, então, ver a neve devia significar muito para ela.
— Tudo bem, você venceu! — ele disse com a voz mais desperta, depositando um beijo no topo da cabeça dela e permitindo que ela levantasse da cama.
Alguns minutos depois, eles estavam lá fora, o que a princípio era a ideia de montarem um boneco de neve juntos se tornou uma competição para ver quem conseguia fazer o boneco mais bonito, depois isso evoluiu para uma guerra com bolas de neve que não durou muito e terminou quando um pouco de neve caiu dentro da blusa de JaeBum, tocando as suas costas e fazendo ele ter um ataque de pânico, ela gargalhava da situação, mas se calou e começou a correr quando JaeBum se recuperou, pegou um pouco de neve e correu atrás dela, mas assim que chegou perto dela, a abraçou, os dois caíram no chão e permaneceram lá por uns bons minutos, abraçados, somente observando o sol que tentava se esquivar por entre as nuvens.
JaeBum voltou a si quando a música no alto falante mudou, e Lately do Infinite começou a tocar.
Ele inspirou fundo, acariciou a mão dela novamente, sua mente mudando de novo, e quando ele estava prestes a responder a pergunta dela, uma frase da música o atingiu:
“Embora esteja nevando entre eu e você agora, meu caminho está cheio de passos que vagam em torno de você.”
Talvez fosse aquilo, talvez eles só estivessem passando por uma nevasca que os impedia de ver com clareza seus verdadeiros sentimentos.
Ele a amava, e sabia disso agora. Jamais deixara de amar, e não queria deixá-la ir.
Ele iria lutar para tê-la de novo.
— Eu sei que eu tenho sido um idiota — ele começou, talvez não da melhor maneira, mas ela o observou com atenção — Covarde, acho que essa palavra é mais adequada, eu te evitei durante toda essa semana porque eu estava com medo, com medo de ouvir o que você tinha a dizer, com medo que você dissesse que não me ama mais, com medo de, por orgulho, dizer que eu também não te amo mais…
— JaeBum… — ela chamou.
— Por favor, me escute — ele pediu — Eu não sei se você ainda me ama, mas eu preciso que você saiba que eu te amo, eu sinto muito por não ter dito antes, mas eu espero que não seja tarde demais, você significa muito pra mim e eu seria um idiota por deixar você ir embora, eu me preocupo com você, eu quero que você seja feliz, mas acima de tudo eu quero te fazer feliz… Eu te amo, e não existe nenhum “mas” depois disso, eu só te amo — ele sorriu, tendo convicção de que cada palavra era verdadeira — Eu sinto muito por tudo o que eu fiz, pela forma que eu te evitei, mas eu quero que você saiba que eu estou disposto a me tornar alguém melhor, então, eu só peço uma chance, uma chance para poder provar o quanto eu te amo e o quanto eu quero fazer as coisas da forma certa dessa vez — ele concluiu.
A garota parecia preocupada, ele sabia que havia jogado muita coisa sobre ela e que talvez levasse um pouco de tempo até ela decidir o que deveria fazer, assim como ele havia precisado desse tempo para entender que realmente a amava, mas ela não hesitou. Ela sorriu, seus rosto triste se iluminando de repente, a tristeza que a encobria se esvaindo.
— Eu sinto muito também… — ela começou — Eu sinto por ter deixado você pensar que eu não te amava mais… Eu te amo JaeBum, eu sempre te amei e nunca tive dúvidas sobre isso, eu só, fiquei com medo de que você não sentisse o mesmo — ela falou, e de repente os dois se sentiram as pessoas mais idiotas do mundo, por tirarem conclusões precipitadas, por tentarem adivinhar o que o outro estava sentindo, sem perceber que era muito mais simples conversar e tentar resolver o problema, ao invés de evitá-lo.
— Só vamos conversar da próxima vez que tivermos alguma dúvida — ele sugeriu, ela acenou em concordância e puxou a cadeira para o lado dele.
— Não vamos desistir tão fácil… Existem algumas coisas pelas quais vale a pena lutar — ela falou, segurando a mão dele, observando os anéis iguais que ocupavam seus indicadores.
Os dois sorriram, JaeBum levou sua mão até o rosto dela, aproximando seus rostos e selando seus lábios aos dela.
Talvez a árvore tivesse ouvido ele:
“Eu desejo que tudo se resolva.”
Aquilo não poderia ter se resolvido de uma forma melhor.
O meu caminho está cheio de passos que vagam em torno de você
Lamento muito por aquela noite de inverno, quando eu deixei você ir, mesmo sem perceber
Eu quero uma história de amor com você”.
Lately, Infinite
A música lenta ecoando pelos fones de ouvido de JaeBum somente fazia ele se sentir pior, ainda mais horrível do que ele já havia sentido na última semana, e ele sabia que aquele sentimento só iria piorar.
O quarto estava silencioso, seu corpo estava afundado na cama em meio a cobertores e travesseiros, seu quarto estava uma bagunça, assim como ele mesmo.
Ele sabia que ela estava deixando de amá-lo.
Talvez ela já nem o amasse mais, então, porque ele insistia naquilo? Por que ela fingia ainda se importar com ele quando ele mesmo notava que ambos já não estavam mais satisfeitos com aquele relacionamento?
Há uma semana, quando aquele sentimento estranho surgiu, ou melhor, quando aquele sentimento importante chamado amor começou a desaparecer, ele sugeriu que talvez eles devessem dar um tempo, mas ela negou, ela disse que jamais ia deixá-lo, que ela o amava e que estava disposta a seguir com aquele relacionamento, mas seus olhos diziam outra coisa, eles gritavam que ela também queria o término, mas sua boca não foi capaz de falar isso, assim como a boca dele não foi capaz de argumentar, ele somente acenou em concordância, eles se abraçaram fortemente, ele a beijou, e por um momento ele pensou que a ideia do término fosse uma bobagem, que ele jamais deveria ter pensado naquilo, mas agora, uma semana depois, ele sentia-se daquela mesma forma de novo: vazio.
Um lado seu dizia que ele ainda a amava, mas o outro somente apontava que eles só estavam juntos por comodidade, que ele somente não era capaz de acabar com aquele namoro para não desperdiçar os dois anos que eles passaram juntos, e naquele momento, ele acreditava mais nessa segunda opção: Comodidade, pena de jogar fora o tempo que eles estiveram juntos.
Talvez ele não amasse mais ela, somente amasse as lembranças deles juntos, ou talvez, ele só achasse estranho que os dois terminassem sem nenhum motivo aparente, sem nenhuma briga, sem nenhum problema, mas ainda havia uma hipótese, aquela que ele mais evitava pensar, pois era a que mais o confundia: No fundo ele ainda a amava, talvez a amasse até demais, por isso não podia deixá-la ir, e talvez, por amá-la tanto, pensasse que ela merecia alguém melhor.
“Você ainda a ama? Se você conseguir responder essa pergunta você consegue responder todas as outras”.
Era a mensagem enviada por YoungJae.
Afinal, por qual razão JaeBum havia pedido conselhos para ele? YoungJae parecia ter um relacionamento perfeito, eles nunca brigavam, nunca se chateavam um com o outro, eles estavam sempre lá, felizes, juntos, felizes por estarem juntos, JaeBum duvidava que eles já houvessem tido uma briga.
Você ainda a ama?
A pequena pergunta era a mesma que vinha preenchendo a sua cabeça nas últimas semanas.
Ele ainda a amava? E se a resposta fosse sim? Ela ainda o amaria de volta?
JaeBum enviou uma mensagem para YoungJae, agradecendo a ajuda — que na verdade só havia plantado ainda mais dúvidas em sua cabeça — e voltou a afundar o rosto no travesseiro, tirando os fones de ouvido e decidindo que aquilo somente estava o deixando ainda mais deprimido, mas o silêncio no quarto não o fez se sentir melhor, na verdade só fez ele pensar ainda mais nela, e aquilo o torturava…
— Você realmente precisa deixar a televisão ligada? — ele perguntou, após sair do chuveiro.
Ela estava sentada na cama, seus olhos fixos no notebook em seu colo e fones de ouvido impediam que ela ouvisse qualquer coisa, até mesmo JaeBum, mas a televisão permanecia ligada.
Ele a chamou, elevando um pouco o tom de sua voz até que ela finalmente o encarou.
— O que foi? — ela perguntou.
— A televisão — ele indicou — Porque você não desliga? Você nem está assistindo — ele seguiu para o armário onde pegou um moletom e vestiu.
— Eu só gosto do barulho — ela explicou — faz eu me sentir menos solitária.
— Mas você está com fones de ouvido — ele argumentou.
Na época ele ignorou o restante do que ela havia dito, mas isso veio à tona agora.
Será que ela se sentia solitária? Mesmo estando com ele? Seria essa a razão para ela estar se afastando? Porque no fundo acreditava que ele também estava se afastando dela? Mas isso não fazia sentido, ele sempre esteve lá por ela, sempre apoiou ela, assim como havia prometido que faria…
JaeBum acordou no meio da madrugada com um barulho vindo da rua, ele inspirou fundo e sentou na cama, pegando o copo com água que estava sobre a mesa ao lado, bebendo todo o conteúdo de uma vez, ele devolveu o copo e voltou a deitar, virando-se para o lado onde sua namorada estava deitada, ou pelo menos onde deveria estar, pois, agora o espaço estava vazio.
Seus olhos percorreram todo o quarto e ele não viu sinal algum dela, então, levantou, seguiu com passos calmos até a cozinha, mas não a viu lá também, em seguida ele foi para a sala, e graças à luz proveniente da janela pode ver a silhueta dela sentada no sofá.
—Hey! — ele chamou — O que você está fazendo aqui? — perguntou, sem perceber que estava sussurrando.
— Eu não consegui dormir — ela respondeu, sussurrando também.
— E por que está aqui? Eu fiquei preocupado quando não te vi na cama.
— Eu sinto muito — ela falou, um pouco mais alto — Não queria acordar você, por isso vim pra cá, eu sabia que se ficasse na cama ia ficar me mexendo e ia acabar te acordando — ela confessou.
— Você não deveria ter pensado isso — ele falou, seguindo até o sofá e sentando ao lado dela — Além do mais, aqui está frio e se você acabar dormindo aqui vai ter uma dor nas costas amanhã — ele a abraçou de lado — Você só deveria ter me acordado quando não conseguiu dormir.
— Eu não queria te incomodar e… não há muita coisa que você possa fazer — ela falou, passando seus braços em torno da cintura dele e afundando seu rosto na curva do seu pescoço.
— Você não é nenhum incomodo e na verdade, eu acho que há uma coisa que eu posso fazer sim — ele levantou do sofá, a orientando a seguir para o quarto enquanto ele ia para a cozinha.
Alguns minutos depois ele entrou no quarto, segurando uma caneca com chá.
— Isso sempre me faz ter sono — ele explicou, entregando a caneca para ela.
— Você sempre está com sono, JaeBum — ela acusou rindo.
— E é por isso que eu sou a pessoa certa para te fazer dormir.
— E qual o seu plano? — ela indagou.
— Só vamos conversar sobre coisas chatas até que você pegue no sono…
E aquilo havia funcionado, quinze minutos depois ela dormia calmamente nos braços dele.
Ele se perguntava, quando as coisas haviam mudado? Como coisas assim podiam mudar?
Ele inspirou fundo, pegou o celular e enviou uma mensagem para ela.
“Podemos nos encontrar no café? Tenho uma coisa importante para contar”.
Só havia uma maneira de responder aquela pergunta: Você ainda a ama?
E não era deitado ali, mergulhado naquelas memórias, que ele iria responder isso.
Por um momento ele se arrependeu de ter saído de casa, não pelo vento frio ou pela neve que começava a cair, mas porque sabia até onde iria, quem encontraria e qual era a sua decisão final. Ele só não sabia como encarar aquela situação nem como iria resolvê-la.
Mas uma coisa boa havia acontecido após ter saído de casa, as memórias sobre ela diminuíram, elas não haviam sumido, mas pelo menos já estavam menos frequentes.
Ele lembrava-se da primeira vez que eles haviam saído juntos na véspera de Natal, eles eram meros estranhos, desconhecidos que não sabiam nada sobre o outro, mas enquanto caminhavam, as mãos descobertas dos dois haviam se tocado…
— Ah Meu Deus! — ela exclamou — Você está com frio? A tua mão está congelando! — ela segurou a mão dele entre as suas, a diferença de temperatura entre elas era clara, mas, o calor dela não tocou somente sua mão, tocou o seu coração frio também, que até aquele momento, de certa forma, temia se apaixonar por alguém.
E agora ele se via com aquele coração gelado de novo, prestes a magoá-la, prestes a magoar a si mesmo, ele estava enlouquecendo.
No dia anterior ele havia ido até o café onde BamBam e JinYoung trabalhavam, os mais novos não notaram que ele estava diferente, que ele estava destruído, ou se notaram, preferiram não falar.
As únicas pessoas além dele mesmo que sabiam sobre aquilo eram Mark e YoungJae. YoungJae porque parecia saber como manter um bom relacionamento e deveria ter algum conselho bom para dar. Mark, porque era mais velho que ele, e no fundo JaeBum se sentia mal por pedir conselhos a alguém mais novo, mas Mark não soube o ajudar, na verdade, ele parecia estar lidando com seus próprios problemas.
No fim das contas ele percebeu aquilo que já sabia desde o início: Ele teria que resolver tudo sozinho.
Quando BamBam apontou a árvore de Natal e disse que ele poderia escrever seu pedido e então pendurá-lo, ele riu. Quem acreditaria em uma bobagem daquelas? Mas não havia mais nada que ele pudesse fazer, ninguém a quem recorrer, talvez um milagre de Natal fosse a única coisa capaz de ajudá-lo.
Quinze minutos depois ele encarava a árvore novamente, assim que entrou no café ela foi a primeira coisa que ele notou. Ele desviou o olhar, só para encontrar BamBam, de pé, parado a poucos passos dele.
— Hey! — ele o cumprimentou, forçando um sorriso que ele sabia que não era capaz de convencer ninguém — Você pode me trazer um cappuccino? — pediu, BamBam acenou em confirmação.
— Ele seguiu para uma mesa em um canto mais afastado, acenou para YuGyeom e YoungJae que estavam em mesas longe da sua, ainda forçando aquele sorriso e torcendo para que nenhum deles percebesse nada.
Enquanto esperava, seus olhos não se desviaram em momento nenhum daquela árvore.
— Está aqui! — a voz de BamBam o trouxe de volta a realidade, ele colocou a caneca com formato de árvore de natal sobre a mesa e estava prestes a sair quando JaeBum o chamou.
— BamBam — ele ouviu o garoto murmurar alguma coisa em resposta, e prosseguiu, enquanto encarava suas próprias mãos — Nós podemos conversar? — completou.
BamBam sentou na cadeira que ficava de frente para JaeBum.
— Eu… — JaeBum deixou a palavra no ar, a caneca de repente parecia ter se tornado a coisa mais interessante ali, ele não conseguia desviar seu olhar dela, mas sua mente vagava em outro lugar, em outra pessoa para ser mais exato — Eu acho que eu vou terminar com ela — ele falou de uma vez, sentindo o olhar espantado de BamBam recair sobre si.
— Terminar? Por quê? Vocês dois parecem tão bem juntos — ele argumentou, com as mesmas palavras usadas por Mark e YoungJae quando ele contara sobre os problemas.
— Não sou eu… É ela — ele sabia que aquilo era confuso, mas,não havia outra maneira de explicar.
— O que aconteceu? — BamBam indagou, mas imediatamente, os olhos de JaeBum se fixaram na porta de entrada, como se houvessem sido atraídos como um ímã até lá.
Sua namorada estava entrando e após vê-la, ele passou a duvidar de sua decisão.
— Boa sorte! — BamBam desejou sinceramente, dando alguns tapinhas em seu ombro enquanto levantava e saía dali, ele perguntou para a garota se ela queria alguma coisa, mas ela negou, com um sorriso que se desfez assim que seus olhos encontraram os de JaeBum.
— Oi — ela disse, simplesmente, ao chegar na mesa.
— Oi — ele respondeu.
Ela parecia terrivelmente frágil, seus cabelos pareciam bagunçados embaixo daquela touca preta, seu rosto estava pálido e círculos escuros se formavam em seus olhos.
Ela parecia doente e JaeBum sentia uma vontade gigantesca de abraçá-la e perguntar o que estava errado, e ele teria feito isso antigamente, em outras circunstâncias, mas não agora, quando ele sabia que a razão de ela estar daquela maneira era ele.
— Como você está? — ele perguntou, já esperando que ela respondesse da maneira que sempre respondia quando estava doente ou chateada: “Como eu pareço?”.
Mas a ironia não veio, assim como uma resposta não apareceu, ela simplesmente deu os ombros e devolveu a pergunta.
— Eu… Eu não sei — ele respondeu com sinceridade.
Sequer ele conseguia interpretar aquele amontoado de emoções que se misturavam dentro de si.
JaeBum voltou a encarar o cappuccino sobre a mesa, e só quando inspirou profundamente, percebeu que estava prendendo a respiração. Na verdade, ele só precisava que o tempo parasse por um minuto, um minuto era o suficiente para ele pelo menos decidir como começar, mas o tempo não parou, e ele teve que sentir o olhar dela, como se ela conhecesse cada um dos seus sentimentos, como se lê-se cada pensamento seu, ela sempre pareceu ter esse poder.
— JaeBum, nós já tivemos essa conversa antes — ela acusou, sabendo a razão de estarem ali — É realmente necessário que façamos isso de novo? — sua voz estava cansada, tanto quanto sua expressão.
— Nós não podemos ficar do jeito que estamos — foi tudo o que conseguiu dizer, mas ele não conseguiu olhar nos olhos dela, ele continuou encarando suas mãos, mas já podia imaginar como ela estava.
— JaeBum… — ela chamou, sua voz falha, quando ele a olhou percebeu que seus olhos estavam marejados, ele não queria vê-la chorar. Não queria fazê-la chorar.
— Você quer terminar? — ela perguntou, provavelmente a pergunta mais honesta já feita entre eles.
JaeBum esticou o braço sobre a mesa, segurando a mão quente dela.
Ela fechou os olhos, tentando gravar cada detalhe daquele momento, ele fez o mesmo, como se ambos soubessem que aquele era provavelmente o último.
Mas ele realmente queria terminar? E se ele quisesse, estaria hesitando tanto assim?
Aquilo fez outra memória invadir a sua mente...
— JaeBum! JaeBum! JaeBum! JaeBum! — ela chamava repetidamente, enquanto o balançava na cama, tentando acordá-lo.
— O que foi? — ele perguntou com a voz sonolenta, parecendo mais um murmúrio.
— Está nevando!
— E daí? Está frio, deite aqui comigo e vamos dormir mais um pouco — ele falou, passando o braço em torno dela, a forçando a deitar, ele entrelaçou as pernas dele nas dela e puxou o cobertor por cima dos dois, impedindo que ela saísse.
— JaeBum, eu quero ver a neve — ela falou da maneira que pôde, com seu rosto afundado no pescoço dele.
— Nós podemos ver mais tarde — ele respondeu, sem afrouxar o abraço.
— Eu quero fazer um boneco de neve! — ela exclamou.
E então ele lembrou, na cidade onde ela morava não costumava nevar, e ao contrário dele, ela amava o frio, então, ver a neve devia significar muito para ela.
— Tudo bem, você venceu! — ele disse com a voz mais desperta, depositando um beijo no topo da cabeça dela e permitindo que ela levantasse da cama.
Alguns minutos depois, eles estavam lá fora, o que a princípio era a ideia de montarem um boneco de neve juntos se tornou uma competição para ver quem conseguia fazer o boneco mais bonito, depois isso evoluiu para uma guerra com bolas de neve que não durou muito e terminou quando um pouco de neve caiu dentro da blusa de JaeBum, tocando as suas costas e fazendo ele ter um ataque de pânico, ela gargalhava da situação, mas se calou e começou a correr quando JaeBum se recuperou, pegou um pouco de neve e correu atrás dela, mas assim que chegou perto dela, a abraçou, os dois caíram no chão e permaneceram lá por uns bons minutos, abraçados, somente observando o sol que tentava se esquivar por entre as nuvens.
JaeBum voltou a si quando a música no alto falante mudou, e Lately do Infinite começou a tocar.
Ele inspirou fundo, acariciou a mão dela novamente, sua mente mudando de novo, e quando ele estava prestes a responder a pergunta dela, uma frase da música o atingiu:
“Embora esteja nevando entre eu e você agora, meu caminho está cheio de passos que vagam em torno de você.”
Talvez fosse aquilo, talvez eles só estivessem passando por uma nevasca que os impedia de ver com clareza seus verdadeiros sentimentos.
Ele a amava, e sabia disso agora. Jamais deixara de amar, e não queria deixá-la ir.
Ele iria lutar para tê-la de novo.
— Eu sei que eu tenho sido um idiota — ele começou, talvez não da melhor maneira, mas ela o observou com atenção — Covarde, acho que essa palavra é mais adequada, eu te evitei durante toda essa semana porque eu estava com medo, com medo de ouvir o que você tinha a dizer, com medo que você dissesse que não me ama mais, com medo de, por orgulho, dizer que eu também não te amo mais…
— JaeBum… — ela chamou.
— Por favor, me escute — ele pediu — Eu não sei se você ainda me ama, mas eu preciso que você saiba que eu te amo, eu sinto muito por não ter dito antes, mas eu espero que não seja tarde demais, você significa muito pra mim e eu seria um idiota por deixar você ir embora, eu me preocupo com você, eu quero que você seja feliz, mas acima de tudo eu quero te fazer feliz… Eu te amo, e não existe nenhum “mas” depois disso, eu só te amo — ele sorriu, tendo convicção de que cada palavra era verdadeira — Eu sinto muito por tudo o que eu fiz, pela forma que eu te evitei, mas eu quero que você saiba que eu estou disposto a me tornar alguém melhor, então, eu só peço uma chance, uma chance para poder provar o quanto eu te amo e o quanto eu quero fazer as coisas da forma certa dessa vez — ele concluiu.
A garota parecia preocupada, ele sabia que havia jogado muita coisa sobre ela e que talvez levasse um pouco de tempo até ela decidir o que deveria fazer, assim como ele havia precisado desse tempo para entender que realmente a amava, mas ela não hesitou. Ela sorriu, seus rosto triste se iluminando de repente, a tristeza que a encobria se esvaindo.
— Eu sinto muito também… — ela começou — Eu sinto por ter deixado você pensar que eu não te amava mais… Eu te amo JaeBum, eu sempre te amei e nunca tive dúvidas sobre isso, eu só, fiquei com medo de que você não sentisse o mesmo — ela falou, e de repente os dois se sentiram as pessoas mais idiotas do mundo, por tirarem conclusões precipitadas, por tentarem adivinhar o que o outro estava sentindo, sem perceber que era muito mais simples conversar e tentar resolver o problema, ao invés de evitá-lo.
— Só vamos conversar da próxima vez que tivermos alguma dúvida — ele sugeriu, ela acenou em concordância e puxou a cadeira para o lado dele.
— Não vamos desistir tão fácil… Existem algumas coisas pelas quais vale a pena lutar — ela falou, segurando a mão dele, observando os anéis iguais que ocupavam seus indicadores.
Os dois sorriram, JaeBum levou sua mão até o rosto dela, aproximando seus rostos e selando seus lábios aos dela.
Talvez a árvore tivesse ouvido ele:
“Eu desejo que tudo se resolva.”
Aquilo não poderia ter se resolvido de uma forma melhor.
Capítulo 6 - Eu desejo que ela ainda me ame
“Você escondeu o seu coração tão bem que eu não consegui encontrar
Você escondeu o seu coração tão bem que eu não consigo entender
Por que você está apenas sorrindo? Você sente o mesmo que eu?
Você se esconde tão bem, você está escondendo seu coração”.
Hide and Seek, T-ara
Os dedos de Mark batucavam em um ritmo insistente no volante do carro, You were not the… do Miss $ tocava no rádio e aquilo não estava ajudando seu humor. Ele não tentaria mudar de estação, já havia feito isso três vezes e em todas elas só havia encontrado músicas melancólicas e sobre término, ele só estava tentando ignorar as frases cortantes que a música dizia, as frases que ele esperava que sua namorada dissesse, mas que ela nunca o fazia, ela só ficava lá, talvez com medo de magoar ele, talvez com pena de terminar, mas era sempre a mesma coisa, ela sempre se escondia.
Agora, parado em frente à casa dela a esperando, só havia uma coisa em que ele conseguia pensar: Como evitar que aquilo acontecesse. Como evitar que ela terminasse com ele. Era véspera de Natal e ele torcia para que aquele clima de harmonia tocasse o coração frio dela, e a fizesse mudar de ideia, mas no fundo, ele sabia: ela iria terminar, provavelmente ainda naquele dia, e como ele tinha tanta certeza? Era simples, aquele esconde-esconde que ela brincava sozinha era a prova máxima de que eles estavam chegando ao fim.
O tal esconde-esconde sempre existiu na verdade, mas nas últimas semanas ele havia se tornado ainda mais insistente.
Ela sempre disse que não era alguém de ficar muito próxima e que costumava ser desligada quanto aos seus relacionamentos e até mesmo com os seus amigos. Era ele quem lembrava dos aniversários, era ele quem ficava horas sem receber uma mensagem como resposta dela, era ele quem esperava ela chegar nos encontros, sempre alguns minutos atrasada, pois, estava distraída fazendo alguma coisa e então esqueceu.
No início ele entendia aquilo, afinal, um relacionamento também é sobre abrir mão de algumas coisas, mas nas últimas semanas ele não estava mais aguentando aquilo.
Ele havia comprado ingressos para uma peça de teatro que ela estava louca para ver, mas no dia ela simplesmente enviou uma mensagem, alegando:
“Não vou poder ir à peça, tenho uma prova importante amanhã à noite e preciso estudar.”
Ele respondeu que estava tudo bem, e que eles podiam se encontrar outro dia, mas no final de semana, ele havia a convidado para ir ao cinema, um filme que ela vinha falando há semanas o quanto queria ver estava sendo exibido, mas quando ele estava saindo de casa para ir buscá-la, recebeu a mensagem:
“Vou ter que ficar até mais tarde no trabalho, não vou poder te encontrar.”
E foi ali que a frustração começou a nascer.
Era sempre a mesma coisa, ela desmarcava os encontros, dizia que tinha compromissos ou com o trabalho ou com a faculdade, e sequer se dava ao trabalho de ligar para ele, somente enviava aquelas mensagens seguidas de um “sinto muito” que não possuía sentimento algum.
Ele estava frustrado? Sim! Ele estava com raiva por ela agir daquela maneira? Sim! Mas ele não era capaz de terminar. Ele ainda a amava e estava disposto a se esforçar para que o relacionamento deles não se perdesse, mas quando um dos dois desiste, não há muito que o outro possa fazer.
Já fazia quase uma semana que ele não ouvia a voz dela, ela estava se escondendo bem dessa vez, eles não se viram e somente trocaram algumas mensagens. O impressionava que ela não tivesse desmarcado o encontro de hoje, aquele que eles tinham todo ano na véspera de Natal, eles iam até o café, depois davam uma volta pelo centro da cidade e por fim jantavam juntos na casa dela, talvez aquele costume fosse tão antigo que ela se sentisse mal por quebrá-lo, mesmo que nada parecesse ser capaz de afetar ela.
— Olá! — ela exclamou de forma animada quando entrou no carro.
Ela usava um casaco vermelho sobre roupas brancas e uma bota de cano alto preta, um sorriso gigantesco ocupava seus lábios, ele havia esquecido o quanto ela adorava o Natal.
— Olá! — ele respondeu, sua voz de repente se tornando animada, aquele era o poder que ela tinha sobre ele.
A garota sorriu ainda mais, tirou a touca de Papai Noel que estava em sua cabeça e se inclinou na direção dele, selando seus lábios em um beijo rápido.
— Como foi? — ele perguntou.
Todo ano ela participava de um projeto onde eles levavam brinquedos e doces e passavam algum tempo com crianças em um orfanato na região, ele sempre a acompanhara nos outros anos, mas dessa vez, pensou que ela não o queria por perto.
— Foi incrível! — ela exclamou de forma animada — Aquelas crianças são uns amores, eu só queria que você estivesse lá, teria sido melhor — ele sentiu sinceridade na voz dela, ou talvez, fosse só o seu desejo de que aquilo fosse verdade.
— Eu queria ter ido, mas eu estava ocupado — mentira! Ele passou a tarde toda em sua casa, assistindo filmes ruins que passavam na televisão e trocando mensagens com JaeBum e Jackson.
Os dois pareciam estar em situações parecidas com a dele.
JaeBum estava pensando em terminar com a namorada e decidiu pedir conselhos para ele. “Você tem certeza sobre isso?” foi o que ele perguntou, ninguém em sã consciência pediria conselhos sobre relacionamentos para Mark, sua vida amorosa estava uma bagunça.
Jackson já havia terminado com a namorada e queria de todo jeito que Mark o ajudasse a reconquistá-la, mas ele mal estava conseguindo manter o próprio namoro, então, como poderia ajudá-lo?
“Seja sincero com ela”. Ele havia aconselhado, mas podia ouvir uma voz em sua cabeça gritando “Não seja hipócrita!”.
Como ele ousava sugerir a Jackson que fosse sincero, quando ele mesmo não conseguia ser?
Mas seu amigo concordou, e Mark esperava que aquilo funcionasse melhor para Jackson do que estava funcionando para ele.
— Eu sinto muito por ter sumido essa semana — ela se desculpou, assim que Mark deu a partida no carro — Eu queria ter te encontrado, mas nós estávamos organizando as coisas pra hoje e eu tinha algumas coisas pra fazer no trabalho, então, fiquei sem tempo, mas eu estou livre hoje e amanhã, e irei passar todo esse tempo com você — ela exclamou sorrindo, fazendo automaticamente um sorriso surgir no rosto de Mark.
Ele adorava aqueles momentos.
Momentos em que ela deixava de lado a máscara de “durona” e mostrava que tinha um coração e que se importava com ele, uma pena que tais momentos fossem tão raros, às vezes ela era doce e amável, mas na maior parte do tempo era fria e distante, e o pior de tudo era que ele amava ambos os lados dela, mas sabia que não iria aguentar aquilo por muito mais tempo.
Ele sabia como seria. Hoje e amanhã eles passariam juntos, provavelmente sairiam do café, caminhariam de mãos dadas pela cidade, depois iriam para a casa dela onde jantariam com a família dela e ficariam perto um do outro o tempo todo, mostrando para todos o quanto se davam bem e o quanto eram felizes, depois iriam para a casa dele, para a troca de presentes, onde iriam comer chocolate e brincar com os sobrinhos dele até que a meia noite chegasse.
Amanhã iriam acordar tarde, se encontrariam com os amigos dele para almoçar juntos e passariam o resto do dia deitados no sofá, envolvidos por um cobertor, com a lareira acesa, copos de chocolate quente na mão e pipoca enquanto assistiam aos filmes natalinos favoritos dela.
Mas, no dia após esse tudo mudaria, ela mal responderia a mensagem dele desejando bom dia e perguntando como ela havia dormido, os dois ficariam o dia sem se falar e ela encontraria uma desculpa para recusar o convite dele para jantarem juntos. E os dias seguintes seriam iguais.
E aquilo fazia o coração dele doer. Se ela o amava tanto como dizia agora, por que o tratava daquela maneira? E se não amava, por que ainda não havia terminado com ele?
Ele precisava de uma resposta e sabia que somente a conseguiria se fizesse aquela pergunta.
Mas, a pergunta ficou presa em sua garganta.
Quando o carro parou no semáforo ele a encarou, disposto a questionar, mas, ao vê-la cantando Jingle Bell Rock, com aquele sorriso que fazia seu coração acelerar, ele se calou e permaneceu assim até que o carro parou em frente ao café.
— Tem alguma coisa errada? — ela perguntou, após desprender o cinto de segurança, ele não olhou para ela, somente inspirou fundo.
— Por que você acha isso?
— Você esteve em silêncio o tempo todo até aqui.
— Você sabe que eu não sou de falar muito — ele lembrou, mas, aquilo a fez forçar uma gargalhada.
— Mark, você não é muito de falar com os outros, mas, comigo… muitas vezes eu tenho que pedir para você ficar quieto — ela falou, ainda rindo.
E ela estava certa.
— Vamos lá! Eu sei que tem alguma coisa errada, você pode me contar.
Ele sabia que aquele era o momento, era agora ou nunca, se ele não falasse tudo o que sentia, tinha certeza de que não teria outra oportunidade, e então ele perguntou:
— Você me ama? — aquelas simples três palavras fizeram o clima dentro do carro mudar instantaneamente, ela o encarou com uma expressão assustada.
— É claro que eu te amo, por que você acha que não? — ela indagou, como se a pergunta feita por ele fosse a mais absurda que ela já ouvira.
— Você anda estranha… — ele falou, procurando as palavras certas para continuar — Eu quero dizer… Parece que você está se escondendo de mim — ele confessou, finalmente criando coragem para encará-la nos olhos.
— Mark, isso… Que bobagem é essa? Eu não estou me escondendo, eu só tenho andado ocupada — ela tentou justificar, arrumando a trança que caía sobre seu ombro direito. Suas mãos estavam tremendo.
— É claro que você está ocupada — ele acusou com sarcasmo — Você sempre está ocupada, você encontra tempo para tudo na tua agenda, menos pra mim, você está tão ocupada que sequer percebe o que está fazendo com o nosso namoro — a voz dele de repente se alterou, a mágoa guardada durante todo aquele tempo estava finalmente vindo à tona, e ele não queria impedi-la.
A garota riu, sem humor algum, desviando o olhar e voltando a passar a mão pelos cabelos.
— Você está sendo infantil, Mark — ela acusou, saindo do carro sem dizer mais nada.
Ele a seguiu com passos apressados, ele sabia o que ela estava fazendo, ela estava se escondendo mais uma vez, mas dessa vez ele estava disposto a encontrá-la.
Ele entrou no café logo atrás dela e viu BamBam parado no balcão o encarar com um olhar confuso:
— Longa história — ele sussurrou, sua voz mal saindo.
Ela abriu a porta que dava para a varanda do café e quando estava prestes a fechá-la, ele a segurou, se esgueirando para passar pela porta.
— Eu quero ficar sozinha, Mark — ela falou com a voz baixa, puxando o capuz do casaco sobre sua cabeça e cruzando os braços em frente ao corpo, estava ainda mais frio ali fora.
Ele não respondeu, somente caminhou até ela e a abraçou por trás, envolvendo seu sobretudo em torno dela, apoiando sua cabeça no seu ombro, depositando um pequeno beijo ali.
— Eu não queria que você ficasse chateada, mas eu achei que você deveria saber como eu me sinto — ele explicou.
O café ficava na área mais alta da cidade e de lá, se podia ver uma grande parte da cidade.
Mark mantinha os olhos fixos na cidade coberta por neve lá embaixo, mas seus pensamentos vagavam pelas memórias onde ele ensaiava na frente do espelho como falaria sobre aquilo com ela, mas agora ele percebia que aquelas não eram as palavras certas.
— Eu jamais me escondi de você — ela justificou — É só que… — a voz dela falhou, ela fungou e ele soube na hora que ela estava prestes a chorar. Ela nunca chorou na frente dele — Eu sinto muito por dar prioridade ao meu trabalho e à faculdade, mas eu não sabia que isso machucava tanto você, de verdade, eu não sabia e eu sinto muito por isso — ela falou, se virando para ele, envolvendo seus braços em torno da cintura dele, ele retribuiu o abraço e eles permaneceram por alguns minutos assim.
Ele sabia que não seria tão fácil assim esclarecer as coisas, ela já havia prometido outras vezes que daria mais atenção ao relacionamento deles, mas nada mudou, então, por que ele deveria confiar nela dessa vez?
— Vamos lá pra dentro? Está mais quente do que aqui — ele sugeriu, quando percebeu que a neve voltava a cair, mesmo que fracamente.
Ela concordou e logo os dois estavam lá, sentados em um canto mais afastado, ambos encarando a pequena árvore sobre a mesa, que o fazia lembrar da árvore grande, exposta do outro lado do café.
Há uma semana, ele havia chegado ao café no mesmo momento em que BamBam e JinYoung colocavam a árvore, eles haviam explicado sobre os cartões e sobre os pedidos, Mark achou aquilo uma besteira, mas os três decidiram escrever seus pedidos e colocá-los na árvore juntos.
E foi quando escreveu a primeira coisa que veio à sua mente, que percebeu as circunstâncias em que seu relacionamento estava.
Realizando seu pedido ou não, aquela árvore pelo menos havia aberto seus olhos.
— Eu sinto muito por ter agido dessa forma — ela falou, passando o dorso das suas mãos sobre seus olhos, esperando que aquilo secasse suas lágrimas.
Ele sabia que ela já estava colocando aquela máscara de “durona” de novo, ela já estava se tornando fria novamente.
Mark viu JinYoung se aproximando, sorrindo, alheio a toda aquela situação, por isso simplesmente balançou a cabeça em negação, indicando que eles não deveriam ser interrompidos.
— Eu sinto muito por não ter percebido como eu estava agindo — ela falou, encarando suas próprias mãos.
— Está tudo bem, é só que… — ele inspirou fundo, não sabia que seria ele a dizer aquelas palavras — Talvez seja melhor darmos um tempo — ele sugeriu e no mesmo instante viu lágrimas brotarem nos olhos dela.
Ele estava prestes a ouvir protestos, ouvir ela indagando a razão disso e argumentando que tempo não resolveria nada, mas, ela somente fez uma pergunta:
— Você ainda me ama? — ele sabia a resposta para aquela pergunta, seu coração não o deixava esquecer, mas seu corpo estava tão em choque que ele demorou alguns segundos para conseguir responder:
— Sim, eu te amo! — ele afirmou, colocando suas mãos sobre a mesa e segurando as mãos dela entre as suas — Eu te amo muito e quanto mais o tempo passa eu percebo que eu te amo ainda mais e isso me machuca — ele inspirou fundo, sentindo seus próprios olhos marejarem — É por isso que eu quero um tempo, porque eu não sou capaz de manter esse relacionamento sozinho, pelo menos não mais — ele confessou.
— Você realmente quer terminar comigo? — ela perguntou com a voz falha.
— Não, mas… — ele voltou a suspirar — Eu só quero que fiquemos separados por algum tempo, talvez até você terminar a faculdade, eu sei o quanto isso é importante pra você e eu não quero ser um empecilho…
— Você nunca foi um empecilho — ela confessou — Saber que depois de uma dia estressante no trabalho, ou depois de uma prova difícil eu tinha alguém para quem correr, alguém pra me abraçar e dizer que ficaria tudo bem, alguém pra me puxar de volta quando eu esquecia da minha vida… Você sempre esteve lá por mim, Mark, mas eu nunca fiz o mesmo por você…
— Não diga isso — ele a interrompeu — Você me fez muito feliz, e eu sei que temos a tendência a nos lembrar só dos momentos ruins, mas eu tive muitos momentos bons com você — ele segurou a mão dela entre as suas — eu não me arrependo de nada.
Então, ele sentiu a presença do anel que os dois usavam no dedo indicador, ele havia prometido protegê-la e tê-la sempre ao seu lado quando lhe deu a joia, e agora ele sabia, por mais controverso que fosse, que se ele quisesse ser capaz de manter aquela promessa, teria que deixá-la ir agora.
— E se dermos um tempo e depois nos arrependermos? — ela perguntou.
— Não é um adeus definitivo. Nós ainda podemos nos ver, mas dessa vez eu não ficarei magoado com você e você não se preocupará comigo. E se nos arrependermos, sempre poderemos voltar.
Ela se manteve em silêncio, soltou suas mãos e seguiu com passos lentos para sentar ao lado dele e então observou o anel em seu indicador, sua outra mão seguiu até lá, seu polegar passou sobre a joia e quando Mark pensou que ela estava prestes a retirá-lo, ela o abraçou.
— Você vai me esperar?
— Sempre! — disse ele com convicção.
Ela se afastou, só o suficiente para poder olhar em seus olhos.
— Se terminar é a coisa certa a se fazer, por que está sendo tão difícil?
— Porque eu amo você — ele não queria dizer aquelas palavras em voz alta, mas elas simplesmente saíram.
Ela sorriu.
— Eu também amo você — ela respondeu, se aproximando dele, unindo seus lábios em um beijo profundo e apaixonado, cheio de dor, de mágoa, mas, principalmente, repleto de amor e de esperança.
Então ela se afastou. Sorriu para ele e saiu, sem dizer nada. Ela havia voltado para o esconde-esconde, ele já deveria imaginar que ela faria isso.
Quando ela atravessou a porta e saiu do café, Mark afundou seu rosto em suas próprias mãos e se permitiu chorar.
A árvore havia realizado seu desejo:
“Eu desejo que ela ainda me ame”
Mas talvez algumas coisas devessem ser quebradas, para que então, pudessem ser montadas novamente, dessa vez da maneira correta.
E ele soube que ela pensava o mesmo quando uma mensagem dela chegou em seu celular:
“Temos uma tradição a cumprir, talvez ver as luzes de Natal seja uma boa maneira de recomeçar. Espero te ver mais tarde”.
Talvez ela finalmente fosse parar de se esconder.
Você escondeu o seu coração tão bem que eu não consigo entender
Por que você está apenas sorrindo? Você sente o mesmo que eu?
Você se esconde tão bem, você está escondendo seu coração”.
Hide and Seek, T-ara
Os dedos de Mark batucavam em um ritmo insistente no volante do carro, You were not the… do Miss $ tocava no rádio e aquilo não estava ajudando seu humor. Ele não tentaria mudar de estação, já havia feito isso três vezes e em todas elas só havia encontrado músicas melancólicas e sobre término, ele só estava tentando ignorar as frases cortantes que a música dizia, as frases que ele esperava que sua namorada dissesse, mas que ela nunca o fazia, ela só ficava lá, talvez com medo de magoar ele, talvez com pena de terminar, mas era sempre a mesma coisa, ela sempre se escondia.
Agora, parado em frente à casa dela a esperando, só havia uma coisa em que ele conseguia pensar: Como evitar que aquilo acontecesse. Como evitar que ela terminasse com ele. Era véspera de Natal e ele torcia para que aquele clima de harmonia tocasse o coração frio dela, e a fizesse mudar de ideia, mas no fundo, ele sabia: ela iria terminar, provavelmente ainda naquele dia, e como ele tinha tanta certeza? Era simples, aquele esconde-esconde que ela brincava sozinha era a prova máxima de que eles estavam chegando ao fim.
O tal esconde-esconde sempre existiu na verdade, mas nas últimas semanas ele havia se tornado ainda mais insistente.
Ela sempre disse que não era alguém de ficar muito próxima e que costumava ser desligada quanto aos seus relacionamentos e até mesmo com os seus amigos. Era ele quem lembrava dos aniversários, era ele quem ficava horas sem receber uma mensagem como resposta dela, era ele quem esperava ela chegar nos encontros, sempre alguns minutos atrasada, pois, estava distraída fazendo alguma coisa e então esqueceu.
No início ele entendia aquilo, afinal, um relacionamento também é sobre abrir mão de algumas coisas, mas nas últimas semanas ele não estava mais aguentando aquilo.
Ele havia comprado ingressos para uma peça de teatro que ela estava louca para ver, mas no dia ela simplesmente enviou uma mensagem, alegando:
“Não vou poder ir à peça, tenho uma prova importante amanhã à noite e preciso estudar.”
Ele respondeu que estava tudo bem, e que eles podiam se encontrar outro dia, mas no final de semana, ele havia a convidado para ir ao cinema, um filme que ela vinha falando há semanas o quanto queria ver estava sendo exibido, mas quando ele estava saindo de casa para ir buscá-la, recebeu a mensagem:
“Vou ter que ficar até mais tarde no trabalho, não vou poder te encontrar.”
E foi ali que a frustração começou a nascer.
Era sempre a mesma coisa, ela desmarcava os encontros, dizia que tinha compromissos ou com o trabalho ou com a faculdade, e sequer se dava ao trabalho de ligar para ele, somente enviava aquelas mensagens seguidas de um “sinto muito” que não possuía sentimento algum.
Ele estava frustrado? Sim! Ele estava com raiva por ela agir daquela maneira? Sim! Mas ele não era capaz de terminar. Ele ainda a amava e estava disposto a se esforçar para que o relacionamento deles não se perdesse, mas quando um dos dois desiste, não há muito que o outro possa fazer.
Já fazia quase uma semana que ele não ouvia a voz dela, ela estava se escondendo bem dessa vez, eles não se viram e somente trocaram algumas mensagens. O impressionava que ela não tivesse desmarcado o encontro de hoje, aquele que eles tinham todo ano na véspera de Natal, eles iam até o café, depois davam uma volta pelo centro da cidade e por fim jantavam juntos na casa dela, talvez aquele costume fosse tão antigo que ela se sentisse mal por quebrá-lo, mesmo que nada parecesse ser capaz de afetar ela.
— Olá! — ela exclamou de forma animada quando entrou no carro.
Ela usava um casaco vermelho sobre roupas brancas e uma bota de cano alto preta, um sorriso gigantesco ocupava seus lábios, ele havia esquecido o quanto ela adorava o Natal.
— Olá! — ele respondeu, sua voz de repente se tornando animada, aquele era o poder que ela tinha sobre ele.
A garota sorriu ainda mais, tirou a touca de Papai Noel que estava em sua cabeça e se inclinou na direção dele, selando seus lábios em um beijo rápido.
— Como foi? — ele perguntou.
Todo ano ela participava de um projeto onde eles levavam brinquedos e doces e passavam algum tempo com crianças em um orfanato na região, ele sempre a acompanhara nos outros anos, mas dessa vez, pensou que ela não o queria por perto.
— Foi incrível! — ela exclamou de forma animada — Aquelas crianças são uns amores, eu só queria que você estivesse lá, teria sido melhor — ele sentiu sinceridade na voz dela, ou talvez, fosse só o seu desejo de que aquilo fosse verdade.
— Eu queria ter ido, mas eu estava ocupado — mentira! Ele passou a tarde toda em sua casa, assistindo filmes ruins que passavam na televisão e trocando mensagens com JaeBum e Jackson.
Os dois pareciam estar em situações parecidas com a dele.
JaeBum estava pensando em terminar com a namorada e decidiu pedir conselhos para ele. “Você tem certeza sobre isso?” foi o que ele perguntou, ninguém em sã consciência pediria conselhos sobre relacionamentos para Mark, sua vida amorosa estava uma bagunça.
Jackson já havia terminado com a namorada e queria de todo jeito que Mark o ajudasse a reconquistá-la, mas ele mal estava conseguindo manter o próprio namoro, então, como poderia ajudá-lo?
“Seja sincero com ela”. Ele havia aconselhado, mas podia ouvir uma voz em sua cabeça gritando “Não seja hipócrita!”.
Como ele ousava sugerir a Jackson que fosse sincero, quando ele mesmo não conseguia ser?
Mas seu amigo concordou, e Mark esperava que aquilo funcionasse melhor para Jackson do que estava funcionando para ele.
— Eu sinto muito por ter sumido essa semana — ela se desculpou, assim que Mark deu a partida no carro — Eu queria ter te encontrado, mas nós estávamos organizando as coisas pra hoje e eu tinha algumas coisas pra fazer no trabalho, então, fiquei sem tempo, mas eu estou livre hoje e amanhã, e irei passar todo esse tempo com você — ela exclamou sorrindo, fazendo automaticamente um sorriso surgir no rosto de Mark.
Ele adorava aqueles momentos.
Momentos em que ela deixava de lado a máscara de “durona” e mostrava que tinha um coração e que se importava com ele, uma pena que tais momentos fossem tão raros, às vezes ela era doce e amável, mas na maior parte do tempo era fria e distante, e o pior de tudo era que ele amava ambos os lados dela, mas sabia que não iria aguentar aquilo por muito mais tempo.
Ele sabia como seria. Hoje e amanhã eles passariam juntos, provavelmente sairiam do café, caminhariam de mãos dadas pela cidade, depois iriam para a casa dela onde jantariam com a família dela e ficariam perto um do outro o tempo todo, mostrando para todos o quanto se davam bem e o quanto eram felizes, depois iriam para a casa dele, para a troca de presentes, onde iriam comer chocolate e brincar com os sobrinhos dele até que a meia noite chegasse.
Amanhã iriam acordar tarde, se encontrariam com os amigos dele para almoçar juntos e passariam o resto do dia deitados no sofá, envolvidos por um cobertor, com a lareira acesa, copos de chocolate quente na mão e pipoca enquanto assistiam aos filmes natalinos favoritos dela.
Mas, no dia após esse tudo mudaria, ela mal responderia a mensagem dele desejando bom dia e perguntando como ela havia dormido, os dois ficariam o dia sem se falar e ela encontraria uma desculpa para recusar o convite dele para jantarem juntos. E os dias seguintes seriam iguais.
E aquilo fazia o coração dele doer. Se ela o amava tanto como dizia agora, por que o tratava daquela maneira? E se não amava, por que ainda não havia terminado com ele?
Ele precisava de uma resposta e sabia que somente a conseguiria se fizesse aquela pergunta.
Mas, a pergunta ficou presa em sua garganta.
Quando o carro parou no semáforo ele a encarou, disposto a questionar, mas, ao vê-la cantando Jingle Bell Rock, com aquele sorriso que fazia seu coração acelerar, ele se calou e permaneceu assim até que o carro parou em frente ao café.
— Tem alguma coisa errada? — ela perguntou, após desprender o cinto de segurança, ele não olhou para ela, somente inspirou fundo.
— Por que você acha isso?
— Você esteve em silêncio o tempo todo até aqui.
— Você sabe que eu não sou de falar muito — ele lembrou, mas, aquilo a fez forçar uma gargalhada.
— Mark, você não é muito de falar com os outros, mas, comigo… muitas vezes eu tenho que pedir para você ficar quieto — ela falou, ainda rindo.
E ela estava certa.
— Vamos lá! Eu sei que tem alguma coisa errada, você pode me contar.
Ele sabia que aquele era o momento, era agora ou nunca, se ele não falasse tudo o que sentia, tinha certeza de que não teria outra oportunidade, e então ele perguntou:
— Você me ama? — aquelas simples três palavras fizeram o clima dentro do carro mudar instantaneamente, ela o encarou com uma expressão assustada.
— É claro que eu te amo, por que você acha que não? — ela indagou, como se a pergunta feita por ele fosse a mais absurda que ela já ouvira.
— Você anda estranha… — ele falou, procurando as palavras certas para continuar — Eu quero dizer… Parece que você está se escondendo de mim — ele confessou, finalmente criando coragem para encará-la nos olhos.
— Mark, isso… Que bobagem é essa? Eu não estou me escondendo, eu só tenho andado ocupada — ela tentou justificar, arrumando a trança que caía sobre seu ombro direito. Suas mãos estavam tremendo.
— É claro que você está ocupada — ele acusou com sarcasmo — Você sempre está ocupada, você encontra tempo para tudo na tua agenda, menos pra mim, você está tão ocupada que sequer percebe o que está fazendo com o nosso namoro — a voz dele de repente se alterou, a mágoa guardada durante todo aquele tempo estava finalmente vindo à tona, e ele não queria impedi-la.
A garota riu, sem humor algum, desviando o olhar e voltando a passar a mão pelos cabelos.
— Você está sendo infantil, Mark — ela acusou, saindo do carro sem dizer mais nada.
Ele a seguiu com passos apressados, ele sabia o que ela estava fazendo, ela estava se escondendo mais uma vez, mas dessa vez ele estava disposto a encontrá-la.
Ele entrou no café logo atrás dela e viu BamBam parado no balcão o encarar com um olhar confuso:
— Longa história — ele sussurrou, sua voz mal saindo.
Ela abriu a porta que dava para a varanda do café e quando estava prestes a fechá-la, ele a segurou, se esgueirando para passar pela porta.
— Eu quero ficar sozinha, Mark — ela falou com a voz baixa, puxando o capuz do casaco sobre sua cabeça e cruzando os braços em frente ao corpo, estava ainda mais frio ali fora.
Ele não respondeu, somente caminhou até ela e a abraçou por trás, envolvendo seu sobretudo em torno dela, apoiando sua cabeça no seu ombro, depositando um pequeno beijo ali.
— Eu não queria que você ficasse chateada, mas eu achei que você deveria saber como eu me sinto — ele explicou.
O café ficava na área mais alta da cidade e de lá, se podia ver uma grande parte da cidade.
Mark mantinha os olhos fixos na cidade coberta por neve lá embaixo, mas seus pensamentos vagavam pelas memórias onde ele ensaiava na frente do espelho como falaria sobre aquilo com ela, mas agora ele percebia que aquelas não eram as palavras certas.
— Eu jamais me escondi de você — ela justificou — É só que… — a voz dela falhou, ela fungou e ele soube na hora que ela estava prestes a chorar. Ela nunca chorou na frente dele — Eu sinto muito por dar prioridade ao meu trabalho e à faculdade, mas eu não sabia que isso machucava tanto você, de verdade, eu não sabia e eu sinto muito por isso — ela falou, se virando para ele, envolvendo seus braços em torno da cintura dele, ele retribuiu o abraço e eles permaneceram por alguns minutos assim.
Ele sabia que não seria tão fácil assim esclarecer as coisas, ela já havia prometido outras vezes que daria mais atenção ao relacionamento deles, mas nada mudou, então, por que ele deveria confiar nela dessa vez?
— Vamos lá pra dentro? Está mais quente do que aqui — ele sugeriu, quando percebeu que a neve voltava a cair, mesmo que fracamente.
Ela concordou e logo os dois estavam lá, sentados em um canto mais afastado, ambos encarando a pequena árvore sobre a mesa, que o fazia lembrar da árvore grande, exposta do outro lado do café.
Há uma semana, ele havia chegado ao café no mesmo momento em que BamBam e JinYoung colocavam a árvore, eles haviam explicado sobre os cartões e sobre os pedidos, Mark achou aquilo uma besteira, mas os três decidiram escrever seus pedidos e colocá-los na árvore juntos.
E foi quando escreveu a primeira coisa que veio à sua mente, que percebeu as circunstâncias em que seu relacionamento estava.
Realizando seu pedido ou não, aquela árvore pelo menos havia aberto seus olhos.
— Eu sinto muito por ter agido dessa forma — ela falou, passando o dorso das suas mãos sobre seus olhos, esperando que aquilo secasse suas lágrimas.
Ele sabia que ela já estava colocando aquela máscara de “durona” de novo, ela já estava se tornando fria novamente.
Mark viu JinYoung se aproximando, sorrindo, alheio a toda aquela situação, por isso simplesmente balançou a cabeça em negação, indicando que eles não deveriam ser interrompidos.
— Eu sinto muito por não ter percebido como eu estava agindo — ela falou, encarando suas próprias mãos.
— Está tudo bem, é só que… — ele inspirou fundo, não sabia que seria ele a dizer aquelas palavras — Talvez seja melhor darmos um tempo — ele sugeriu e no mesmo instante viu lágrimas brotarem nos olhos dela.
Ele estava prestes a ouvir protestos, ouvir ela indagando a razão disso e argumentando que tempo não resolveria nada, mas, ela somente fez uma pergunta:
— Você ainda me ama? — ele sabia a resposta para aquela pergunta, seu coração não o deixava esquecer, mas seu corpo estava tão em choque que ele demorou alguns segundos para conseguir responder:
— Sim, eu te amo! — ele afirmou, colocando suas mãos sobre a mesa e segurando as mãos dela entre as suas — Eu te amo muito e quanto mais o tempo passa eu percebo que eu te amo ainda mais e isso me machuca — ele inspirou fundo, sentindo seus próprios olhos marejarem — É por isso que eu quero um tempo, porque eu não sou capaz de manter esse relacionamento sozinho, pelo menos não mais — ele confessou.
— Você realmente quer terminar comigo? — ela perguntou com a voz falha.
— Não, mas… — ele voltou a suspirar — Eu só quero que fiquemos separados por algum tempo, talvez até você terminar a faculdade, eu sei o quanto isso é importante pra você e eu não quero ser um empecilho…
— Você nunca foi um empecilho — ela confessou — Saber que depois de uma dia estressante no trabalho, ou depois de uma prova difícil eu tinha alguém para quem correr, alguém pra me abraçar e dizer que ficaria tudo bem, alguém pra me puxar de volta quando eu esquecia da minha vida… Você sempre esteve lá por mim, Mark, mas eu nunca fiz o mesmo por você…
— Não diga isso — ele a interrompeu — Você me fez muito feliz, e eu sei que temos a tendência a nos lembrar só dos momentos ruins, mas eu tive muitos momentos bons com você — ele segurou a mão dela entre as suas — eu não me arrependo de nada.
Então, ele sentiu a presença do anel que os dois usavam no dedo indicador, ele havia prometido protegê-la e tê-la sempre ao seu lado quando lhe deu a joia, e agora ele sabia, por mais controverso que fosse, que se ele quisesse ser capaz de manter aquela promessa, teria que deixá-la ir agora.
— E se dermos um tempo e depois nos arrependermos? — ela perguntou.
— Não é um adeus definitivo. Nós ainda podemos nos ver, mas dessa vez eu não ficarei magoado com você e você não se preocupará comigo. E se nos arrependermos, sempre poderemos voltar.
Ela se manteve em silêncio, soltou suas mãos e seguiu com passos lentos para sentar ao lado dele e então observou o anel em seu indicador, sua outra mão seguiu até lá, seu polegar passou sobre a joia e quando Mark pensou que ela estava prestes a retirá-lo, ela o abraçou.
— Você vai me esperar?
— Sempre! — disse ele com convicção.
Ela se afastou, só o suficiente para poder olhar em seus olhos.
— Se terminar é a coisa certa a se fazer, por que está sendo tão difícil?
— Porque eu amo você — ele não queria dizer aquelas palavras em voz alta, mas elas simplesmente saíram.
Ela sorriu.
— Eu também amo você — ela respondeu, se aproximando dele, unindo seus lábios em um beijo profundo e apaixonado, cheio de dor, de mágoa, mas, principalmente, repleto de amor e de esperança.
Então ela se afastou. Sorriu para ele e saiu, sem dizer nada. Ela havia voltado para o esconde-esconde, ele já deveria imaginar que ela faria isso.
Quando ela atravessou a porta e saiu do café, Mark afundou seu rosto em suas próprias mãos e se permitiu chorar.
A árvore havia realizado seu desejo:
“Eu desejo que ela ainda me ame”
Mas talvez algumas coisas devessem ser quebradas, para que então, pudessem ser montadas novamente, dessa vez da maneira correta.
E ele soube que ela pensava o mesmo quando uma mensagem dela chegou em seu celular:
“Temos uma tradição a cumprir, talvez ver as luzes de Natal seja uma boa maneira de recomeçar. Espero te ver mais tarde”.
Talvez ela finalmente fosse parar de se esconder.
Capítulo 7 - Eu desejo que ela volte
“Você está olhando para a neve caindo agora também?
Você lembra?
Nós prometemos nos encontrar quando a primeira neve caísse
O dia da promessa chegou”
Lonely Christmas, 2bic
O moletom e o sobretudo não pareciam ser capazes de conter o vento frio que se tornava cada vez mais intenso, Jackson afundou as mãos nos bolsos do casaco, encolhendo seu corpo e acelerando ainda mais seus passos, esperando chegar o mais rápido possível ao café.
Na verdade era estranho estar indo até lá sozinho, ele sempre ia com sua namorada na véspera de Natal. “Ex-namorada!” uma voz em sua cabeça fez questão de lembrar. Sim, eles não estavam mais juntos, havia sido Jackson quem pedira para eles terminarem, então, por que de repente ele se sentia tão mal?
Ele sabia a resposta para isso.
Ele se sentia tão mal porque ela havia sido seu primeiro amor, aquele amor pelo qual ele era grato, mas pelo qual ele se arrependia também.
Talvez as coisas tivessem sido mais fáceis se eles simplesmente não tivessem se conhecido, se ele não estivesse no café naquela hora, se ele não houvesse a visto, se ela não estivesse sorrindo daquela forma brilhante que fez ele se apaixonar naquele mesmo momento.
Tudo teria sido tão mais simples se ele não tivesse se apaixonado. Aqueles momentos bons, aqueles que não conseguiam se desprender da sua memória não existiriam, e ele estava disposto a sacrificá-los, eram justamente aqueles momentos que tornavam o término tão difícil, tão doloroso.
Ele lembrava da mensagem enviada por Mark mais cedo:
“Seja sincero com ela.”
Ele já havia sido sincero, e foi sendo sincero que eles acabaram terminando.
Ela ainda dizia que o amava, mas ele não era capaz de ficar com ela quando suas ações diziam o contrário. Ele deveria odiá-la, querer ela longe, mas, não! Ele não conseguia. Apesar de tudo ele ainda a amava, ele ainda a queria por perto, talvez ele gostasse de sofrer.
Jackson passou a mão sobre o rosto, ele precisava dela, precisava ao menos ouvir a voz dela, por isso, foi em frente e pegou o celular no bolso, seu histórico de chamadas só continha o número dela, ele sequer conseguiu apagar aquele número, e mesmo que apagasse, que diferença faria? Aquele número estava gravado em sua memória, assim como a imagem do rosto dela, assim como aquelas memórias que só conseguiam o machucar ainda mais.
Ele levou o celular até a orelha, e aguardou, até ouvir uma voz dizendo que a ligação estava sendo encaminhada para a caixa de mensagens.
Ele estava tentando falar com ela desde manhã, mas até agora não havia recebido resposta alguma, a caixa de mensagens de voz já estava cheia com os recados dele, ele havia tentado falar com ela de todas as maneiras que possuía, mas era como se ela tivesse desaparecido.
Ela prometeu que não desapareceria, ela disse que eles ficariam por perto, ela prometeu que eles tentariam reconstruir seu relacionamento juntos, então, por que ela havia quebrado a promessa? Além disso, aquilo não devia impressioná-lo, ela nunca cumprira promessas, mas quem era ele para julgá-la? Ele havia prometido cuidar dela, ficar sempre ao seu lado, jamais deixá-la ir, e o que ele havia feito? O exato oposto de tudo isso.
Os dois haviam errado, os dois lamentavam pelas coisas que não tinham feito, mas desde quando lamentar resolvia alguma coisa? Fugir tampouco ajudaria. E era exatamente isso o que ela vinha fazendo, ela não queria falar com ele e ele sabia o porquê, se eles se encontrassem, seu acordo desmoronaria, ele sabia por si mesmo que não seria capaz de continuar apenas como um amigo dela, ele sabia que assim que a visse imploraria para ela voltar e um lado seu, o mais otimista, dizia que ela aceitaria.
Ele abriu a porta do café, arrumou o boné que estava por baixo do capuz do moletom e logo viu BamBam sentado em uma mesa próxima dali, ele acenou para o mais novo, indicando que não ia querer nada naquele momento, sentou em uma mesa próxima à porta e voltou a ligar para a garota, ele sabia que ela não ia atender, mas ele precisava insistir, jamais se perdoaria se a deixasse ir tão facilmente, ele ia lutar por ela, até onde pudesse.
E como esperado, outra vez ela não atendeu.
Jackson inspirou fundo, ele jamais se sentira tão frustrado consigo mesmo, que ideia estúpida havia sido aquela de pedir um tempo? Ele sabia que não conseguiria ficar longe dela, então, qual a razão de ter feito aquilo?
Ele olhou a tela do celular, uma foto dos dois cobria a tela de bloqueio, ele não havia conseguido apagar aquela foto, assim como não havia conseguido apagar as tantas outras fotos com ela que ocupavam sua galeria. Apagá-las seria como admitir que ele havia a perdido, admitir que ela havia o deixado para sempre.
A foto na tela de bloqueio havia sido tirada no início daquele inverno, e ele conseguia lembrar de cada momento como se fosse uma tatuagem em sua memória, impossível de apagar...
— Deveríamos fazer alguma coisa diferente esse ano — ele sugeriu.
Os dois estavam no apartamento dele, abraçados no sofá enquanto assistiam ao dorama que havia se tornado o mais recente vício dela.
— O quê? — ela perguntou, desviando a atenção da televisão e olhando para ele.
— Deveríamos fazer alguma coisa diferente esse ano — ele repetiu e a viu rolar os olhos.
— Isso eu entendi, só não sei sobre o que você está falando.
— Sobre a primeira nevasca — ele falou, como se aquilo fosse óbvio.
Os dois tinham a promessa de sempre verem a primeira nevasca do ano juntos, e eles sempre iam até o parque no centro da cidade, faziam um boneco de neve e então iam patinar no gelo juntos.
— Sempre foi um bom programa, não sei porquê mudar.
— Nós sempre fazemos a mesma coisa, a mesma coisa na primeira nevasca, a mesma coisa na véspera de Natal, a mesma coisa no ano novo, eu já estou ficando entediado com tudo isso — ele falou em um tom dramático.
— Tudo bem — ela se rendeu — Qual a tua ideia? — indagou e logo os olhos dele brilharam, como se houvesse esperado o tempo todo por aquela pergunta.
— Lembra quando ficamos acordados a madrugada toda por conta daquele eclipse lunar? Nós só fomos dormir quando a lua havia desaparecido.
Ela balançou a cabeça em concordância, ainda sem entender qual a ligação daquilo com a primeira nevasca.
— A previsão do tempo disse que a neve vai começar a cair essa madrugada, o que acha de ficarmos acordados até tarde esperando para ver a neve caindo? — ele estava muito animado com a ideia, mas ela o encarou com incredulidade, ele parecia uma criança com aquele sorriso gigantesco e os olhos que pareciam brilhar a impediram de recusar logo de cara, mas ela não cederia fácil.
— É uma ideia maravilhosa, vamos lá, aceite — ele insistiu.
— Me obrigue! — ela desafiou e segundos depois ela se encontrava quase sem ar, as mãos de Jackson percorriam sua barriga em cócegas que faziam ela sentir que poderia morrer — Tudo bem! — ela exclamou.
— O que? Eu não ouvi direito — ele provocou ainda insistindo nas cócegas.
— Tudo bem, eu aceito, vamos ficar acordados a madrugada toda — ela se rendeu e então ele parou.
— Eu sabia que você não ia recusar essa ideia brilhante — ele falou convencido.
— Tudo bem, se vamos ficar acordados a madrugada toda, me deixe dormir um pouco agora — ela apoiou a cabeça no ombro dele, sentindo ele passar o braço em volta da sua cintura, a puxando para mais perto. Ele a beijou, antes de ambos adormecerem.
Ele sorriu ao lembrar daquilo, eles conseguiram passar a madrugada toda acordados, mas a neve não veio, já eram 7 horas da manhã quando ela o convenceu a irem dormir porque a neve não cairia tão cedo. Quando eles acordaram, cinco horas depois, tudo estava branco, a neve caiu enquanto eles dormiam e ela passou o resto dos dias após esse, contando para todos os amigos o quanto a ideia brilhante havia dado errado.
Em algum momento após esse, ela começou a ficar estranha, ela estava se afastando dele, aparentemente as prioridades dos dois eram diferentes e ele havia aguentado as diferenças até onde pôde, mas ele não conseguiu mais fazer isso e então tudo acabou.
Ele largou o celular e passou a encarar a janela ao seu lado, ele questionava se ela também estava vendo a neve cair, se ela também estava sendo tomada por aquelas lembranças, se agora, ela estava com o celular em mãos, pronta para ligar para ele, se ela estava com tanto medo quanto ele estava, e se ela ainda o amava tanto quanto ele a amava.
Jackson desviou o olhar da janela e então observou a árvore de Natal, bem à sua frente.
Ele lembrava do que JinYoung havia falado. Os cartões estavam ao lado da árvore, para que as pessoas pudessem escrever seus pedidos, mas ele havia recusado fazer aquilo. “Bobagem!” foi a palavra que ele usou para descrever, mas agora, tantas coisas haviam mudado em sua cabeça que fazer um pedido para o Papai Noel não parecia mais tão idiota assim.
Jackson levantou da cadeira, seguiu até lá, pegou o cartão e escreveu a única coisa que ele queria, a única coisa que ele precisava naquele momento, e ao pendurar o cartão na árvore, torceu, com todas as forças que tinha, para que aquilo se realizasse. Ele não saberia o que fazer se seu pedido não se tornasse real.
Mas, ele sabia que deveria tomar uma atitude, não era uma árvore de Natal que faria com que a garota viesse até ali, ou que ligasse para ele pedindo para eles voltarem, ele precisava fazer alguma coisa. Nada cai do céu e se ele não fosse atrás dela naquele exato momento, sabia que a perderia para sempre.
Então ele saiu do café, entrou em um táxi e passou o endereço dela, pedindo para o motorista ir o mais rápido que podia, enquanto isso voltou a pegar o celular, digitou o número dela e dessa vez o aparelho sequer chamou. Aquilo o deixava cada vez mais desesperado.
Os minutos seguintes pareceram uma eternidade, as mãos de Jackson estavam inquietas assim como seus pés, ele não conseguia ficar parado e cada vez que o carro parava em um semáforo ele sentia vontade de descer e seguir a partir dali correndo, mas ele se conteve, tentou controlar sua respiração que estava acelerada e ao mesmo tempo fazia parecer que ele estava sufocando.
Ele já estava prestes a desistir, mas prometeu para si mesmo, que só desistiria quando ela olhasse nos seus olhos e dissesse que não o amava mais, enquanto ela não fizesse isso, ele iria lutar.
Assim que o carro parou em frente ao prédio dela, foi como se tudo tivesse passado rapidamente, ele entregou o dinheiro para o motorista, saiu do carro apressadamente e entrou no prédio.
Ele continuou correndo e acelerou ainda mais seu ritmo quando percebeu que o elevador estava fechando, mas não conseguiu chegar a tempo de entrar, por isso, decidiu que iria pelas escadas, ele não conseguiria ficar ali parado esperando, iria enlouquecer se fizesse isso.
Ele subiu as escadas pulando de dois em dois degraus, até chegar ao quarto andar, aquele onde ela morava, e foi só quando parou em frente à porta dela que começou a sentir cansaço.
Jackson inspirou fundo, encostando-se na parede que ficava de frente para a porta dela, ele apoiou a mão nos joelhos e ficou ali parado por alguns segundos, somente tentando normalizar sua respiração, mas no fundo, sabendo que estava hesitando porque ainda tinha medo.
Ele suspirou, levantando subitamente, decidido a bater na porta, se não fizesse naquele momento, sabia que ficaria ali hesitando por mais alguns minutos até desistir, mas quando seu braço se esticou em direção à porta, ela se abriu, e a garota do lado de dentro o olhou assustada.
— Jackson? — ela indagou, como se quisesse ter certeza de que era ele ali na sua frente.
— Oi! — ele falou com a voz entrecortada por respirações falhas, não por causa da corrida, mas porque estava nervoso.
— O que você está fazendo aqui? — ela parecia em choque.
— Eu vim porque tentei falar com você, mas você não atendeu as minhas ligações, não respondeu minhas mensagens, eu fiquei preocupado — ele justificou , vendo um semblante triste tomar conta do rosto dela.
— Eu estou sem meu celular, eu o derrubei aquele dia após sair do café… — ela pareceu hesitar, ele sabia de qual dia ela estava falando, era o dia em que eles haviam terminado — Ele quebrou e desde então está no conserto — ela explicou, baixando os olhos e encarando seus próprios pés.
— Eu… — os dois falaram em uníssono, um riso sem humor escapou dos lábios dos dois, Jackson indicou que ela deveria falar primeiro.
— Eu estava indo falar com você — ela confessou e aquilo fez os batimentos de Jackson duplicarem de velocidade.
— Por quê? — ele indagou, torcendo para que ela dissesse o que ele queria ouvir.
— Porque eu acho que o que nós fizemos foi uma grande besteira — ela explicou e aquilo fez um sorriso gigantesco surgir nos lábios de Jackson.
— Eu sei! — ele exclamou — É por isso que eu estou aqui, eu jamais quis deixar você ir, eu estava prestes a enlouquecer durante essa semana sem você, eu preciso de você… Eu… Eu amo você! — ele confessou sorrindo e viu um sorriso brotar nos lábios dela ao mesmo tempo.
— Eu também amo você! — ela confessou — Eu sinto muito por ter me afastado, é que… eu não sei, eu acho que eu só estava com medo, nós estamos há tanto tempo juntos e… eu acho que eu amo você demais… — ela inspirou — Eu só pensei que esse sentimento fosse perigoso, eu só fiquei com medo de me machucar e tentando me proteger eu acho que acabei machucando você — ela concluiu.
— Eu jamais machucaria você, ouviu bem? Eu amo você e não tenho mais dúvida alguma sobre isso — ele disse, segurando a mão dela, vendo seus anéis iguais no indicador brilharem — A minha promessa ainda está de pé e… Eu só espero que você fique comigo — ele confessou.
Ela não respondeu, somente segurou o rosto dele entre as suas mãos e encostou seus lábios aos dele, as mãos dele rodearam a cintura dela, tendo certeza de que, não importando as dificuldades ou diferenças, ele ia continuar lutando por ela, e agora ele sabia, ela faria o mesmo também.
Ele estava feliz que seu pedido na árvore de Natal tivesse se realizado tão rápido:
“Eu desejo que ela volte”
Mas ele sabia que se não tivesse corrido atrás dela, talvez ela não tivesse voltado.
Milagres de Natal acontecem, mas você deve merecê-los, e mais do que isso, deve mostrar que realmente está disposto a conseguí-los.
A árvore estava lá para ajudá-los, mas no fim das contas, a realização dos desejos esteve o tempo todo nas mãos deles.
Você lembra?
Nós prometemos nos encontrar quando a primeira neve caísse
O dia da promessa chegou”
Lonely Christmas, 2bic
O moletom e o sobretudo não pareciam ser capazes de conter o vento frio que se tornava cada vez mais intenso, Jackson afundou as mãos nos bolsos do casaco, encolhendo seu corpo e acelerando ainda mais seus passos, esperando chegar o mais rápido possível ao café.
Na verdade era estranho estar indo até lá sozinho, ele sempre ia com sua namorada na véspera de Natal. “Ex-namorada!” uma voz em sua cabeça fez questão de lembrar. Sim, eles não estavam mais juntos, havia sido Jackson quem pedira para eles terminarem, então, por que de repente ele se sentia tão mal?
Ele sabia a resposta para isso.
Ele se sentia tão mal porque ela havia sido seu primeiro amor, aquele amor pelo qual ele era grato, mas pelo qual ele se arrependia também.
Talvez as coisas tivessem sido mais fáceis se eles simplesmente não tivessem se conhecido, se ele não estivesse no café naquela hora, se ele não houvesse a visto, se ela não estivesse sorrindo daquela forma brilhante que fez ele se apaixonar naquele mesmo momento.
Tudo teria sido tão mais simples se ele não tivesse se apaixonado. Aqueles momentos bons, aqueles que não conseguiam se desprender da sua memória não existiriam, e ele estava disposto a sacrificá-los, eram justamente aqueles momentos que tornavam o término tão difícil, tão doloroso.
Ele lembrava da mensagem enviada por Mark mais cedo:
“Seja sincero com ela.”
Ele já havia sido sincero, e foi sendo sincero que eles acabaram terminando.
Ela ainda dizia que o amava, mas ele não era capaz de ficar com ela quando suas ações diziam o contrário. Ele deveria odiá-la, querer ela longe, mas, não! Ele não conseguia. Apesar de tudo ele ainda a amava, ele ainda a queria por perto, talvez ele gostasse de sofrer.
Jackson passou a mão sobre o rosto, ele precisava dela, precisava ao menos ouvir a voz dela, por isso, foi em frente e pegou o celular no bolso, seu histórico de chamadas só continha o número dela, ele sequer conseguiu apagar aquele número, e mesmo que apagasse, que diferença faria? Aquele número estava gravado em sua memória, assim como a imagem do rosto dela, assim como aquelas memórias que só conseguiam o machucar ainda mais.
Ele levou o celular até a orelha, e aguardou, até ouvir uma voz dizendo que a ligação estava sendo encaminhada para a caixa de mensagens.
Ele estava tentando falar com ela desde manhã, mas até agora não havia recebido resposta alguma, a caixa de mensagens de voz já estava cheia com os recados dele, ele havia tentado falar com ela de todas as maneiras que possuía, mas era como se ela tivesse desaparecido.
Ela prometeu que não desapareceria, ela disse que eles ficariam por perto, ela prometeu que eles tentariam reconstruir seu relacionamento juntos, então, por que ela havia quebrado a promessa? Além disso, aquilo não devia impressioná-lo, ela nunca cumprira promessas, mas quem era ele para julgá-la? Ele havia prometido cuidar dela, ficar sempre ao seu lado, jamais deixá-la ir, e o que ele havia feito? O exato oposto de tudo isso.
Os dois haviam errado, os dois lamentavam pelas coisas que não tinham feito, mas desde quando lamentar resolvia alguma coisa? Fugir tampouco ajudaria. E era exatamente isso o que ela vinha fazendo, ela não queria falar com ele e ele sabia o porquê, se eles se encontrassem, seu acordo desmoronaria, ele sabia por si mesmo que não seria capaz de continuar apenas como um amigo dela, ele sabia que assim que a visse imploraria para ela voltar e um lado seu, o mais otimista, dizia que ela aceitaria.
Ele abriu a porta do café, arrumou o boné que estava por baixo do capuz do moletom e logo viu BamBam sentado em uma mesa próxima dali, ele acenou para o mais novo, indicando que não ia querer nada naquele momento, sentou em uma mesa próxima à porta e voltou a ligar para a garota, ele sabia que ela não ia atender, mas ele precisava insistir, jamais se perdoaria se a deixasse ir tão facilmente, ele ia lutar por ela, até onde pudesse.
E como esperado, outra vez ela não atendeu.
Jackson inspirou fundo, ele jamais se sentira tão frustrado consigo mesmo, que ideia estúpida havia sido aquela de pedir um tempo? Ele sabia que não conseguiria ficar longe dela, então, qual a razão de ter feito aquilo?
Ele olhou a tela do celular, uma foto dos dois cobria a tela de bloqueio, ele não havia conseguido apagar aquela foto, assim como não havia conseguido apagar as tantas outras fotos com ela que ocupavam sua galeria. Apagá-las seria como admitir que ele havia a perdido, admitir que ela havia o deixado para sempre.
A foto na tela de bloqueio havia sido tirada no início daquele inverno, e ele conseguia lembrar de cada momento como se fosse uma tatuagem em sua memória, impossível de apagar...
— Deveríamos fazer alguma coisa diferente esse ano — ele sugeriu.
Os dois estavam no apartamento dele, abraçados no sofá enquanto assistiam ao dorama que havia se tornado o mais recente vício dela.
— O quê? — ela perguntou, desviando a atenção da televisão e olhando para ele.
— Deveríamos fazer alguma coisa diferente esse ano — ele repetiu e a viu rolar os olhos.
— Isso eu entendi, só não sei sobre o que você está falando.
— Sobre a primeira nevasca — ele falou, como se aquilo fosse óbvio.
Os dois tinham a promessa de sempre verem a primeira nevasca do ano juntos, e eles sempre iam até o parque no centro da cidade, faziam um boneco de neve e então iam patinar no gelo juntos.
— Sempre foi um bom programa, não sei porquê mudar.
— Nós sempre fazemos a mesma coisa, a mesma coisa na primeira nevasca, a mesma coisa na véspera de Natal, a mesma coisa no ano novo, eu já estou ficando entediado com tudo isso — ele falou em um tom dramático.
— Tudo bem — ela se rendeu — Qual a tua ideia? — indagou e logo os olhos dele brilharam, como se houvesse esperado o tempo todo por aquela pergunta.
— Lembra quando ficamos acordados a madrugada toda por conta daquele eclipse lunar? Nós só fomos dormir quando a lua havia desaparecido.
Ela balançou a cabeça em concordância, ainda sem entender qual a ligação daquilo com a primeira nevasca.
— A previsão do tempo disse que a neve vai começar a cair essa madrugada, o que acha de ficarmos acordados até tarde esperando para ver a neve caindo? — ele estava muito animado com a ideia, mas ela o encarou com incredulidade, ele parecia uma criança com aquele sorriso gigantesco e os olhos que pareciam brilhar a impediram de recusar logo de cara, mas ela não cederia fácil.
— É uma ideia maravilhosa, vamos lá, aceite — ele insistiu.
— Me obrigue! — ela desafiou e segundos depois ela se encontrava quase sem ar, as mãos de Jackson percorriam sua barriga em cócegas que faziam ela sentir que poderia morrer — Tudo bem! — ela exclamou.
— O que? Eu não ouvi direito — ele provocou ainda insistindo nas cócegas.
— Tudo bem, eu aceito, vamos ficar acordados a madrugada toda — ela se rendeu e então ele parou.
— Eu sabia que você não ia recusar essa ideia brilhante — ele falou convencido.
— Tudo bem, se vamos ficar acordados a madrugada toda, me deixe dormir um pouco agora — ela apoiou a cabeça no ombro dele, sentindo ele passar o braço em volta da sua cintura, a puxando para mais perto. Ele a beijou, antes de ambos adormecerem.
Ele sorriu ao lembrar daquilo, eles conseguiram passar a madrugada toda acordados, mas a neve não veio, já eram 7 horas da manhã quando ela o convenceu a irem dormir porque a neve não cairia tão cedo. Quando eles acordaram, cinco horas depois, tudo estava branco, a neve caiu enquanto eles dormiam e ela passou o resto dos dias após esse, contando para todos os amigos o quanto a ideia brilhante havia dado errado.
Em algum momento após esse, ela começou a ficar estranha, ela estava se afastando dele, aparentemente as prioridades dos dois eram diferentes e ele havia aguentado as diferenças até onde pôde, mas ele não conseguiu mais fazer isso e então tudo acabou.
Ele largou o celular e passou a encarar a janela ao seu lado, ele questionava se ela também estava vendo a neve cair, se ela também estava sendo tomada por aquelas lembranças, se agora, ela estava com o celular em mãos, pronta para ligar para ele, se ela estava com tanto medo quanto ele estava, e se ela ainda o amava tanto quanto ele a amava.
Jackson desviou o olhar da janela e então observou a árvore de Natal, bem à sua frente.
Ele lembrava do que JinYoung havia falado. Os cartões estavam ao lado da árvore, para que as pessoas pudessem escrever seus pedidos, mas ele havia recusado fazer aquilo. “Bobagem!” foi a palavra que ele usou para descrever, mas agora, tantas coisas haviam mudado em sua cabeça que fazer um pedido para o Papai Noel não parecia mais tão idiota assim.
Jackson levantou da cadeira, seguiu até lá, pegou o cartão e escreveu a única coisa que ele queria, a única coisa que ele precisava naquele momento, e ao pendurar o cartão na árvore, torceu, com todas as forças que tinha, para que aquilo se realizasse. Ele não saberia o que fazer se seu pedido não se tornasse real.
Mas, ele sabia que deveria tomar uma atitude, não era uma árvore de Natal que faria com que a garota viesse até ali, ou que ligasse para ele pedindo para eles voltarem, ele precisava fazer alguma coisa. Nada cai do céu e se ele não fosse atrás dela naquele exato momento, sabia que a perderia para sempre.
Então ele saiu do café, entrou em um táxi e passou o endereço dela, pedindo para o motorista ir o mais rápido que podia, enquanto isso voltou a pegar o celular, digitou o número dela e dessa vez o aparelho sequer chamou. Aquilo o deixava cada vez mais desesperado.
Os minutos seguintes pareceram uma eternidade, as mãos de Jackson estavam inquietas assim como seus pés, ele não conseguia ficar parado e cada vez que o carro parava em um semáforo ele sentia vontade de descer e seguir a partir dali correndo, mas ele se conteve, tentou controlar sua respiração que estava acelerada e ao mesmo tempo fazia parecer que ele estava sufocando.
Ele já estava prestes a desistir, mas prometeu para si mesmo, que só desistiria quando ela olhasse nos seus olhos e dissesse que não o amava mais, enquanto ela não fizesse isso, ele iria lutar.
Assim que o carro parou em frente ao prédio dela, foi como se tudo tivesse passado rapidamente, ele entregou o dinheiro para o motorista, saiu do carro apressadamente e entrou no prédio.
Ele continuou correndo e acelerou ainda mais seu ritmo quando percebeu que o elevador estava fechando, mas não conseguiu chegar a tempo de entrar, por isso, decidiu que iria pelas escadas, ele não conseguiria ficar ali parado esperando, iria enlouquecer se fizesse isso.
Ele subiu as escadas pulando de dois em dois degraus, até chegar ao quarto andar, aquele onde ela morava, e foi só quando parou em frente à porta dela que começou a sentir cansaço.
Jackson inspirou fundo, encostando-se na parede que ficava de frente para a porta dela, ele apoiou a mão nos joelhos e ficou ali parado por alguns segundos, somente tentando normalizar sua respiração, mas no fundo, sabendo que estava hesitando porque ainda tinha medo.
Ele suspirou, levantando subitamente, decidido a bater na porta, se não fizesse naquele momento, sabia que ficaria ali hesitando por mais alguns minutos até desistir, mas quando seu braço se esticou em direção à porta, ela se abriu, e a garota do lado de dentro o olhou assustada.
— Jackson? — ela indagou, como se quisesse ter certeza de que era ele ali na sua frente.
— Oi! — ele falou com a voz entrecortada por respirações falhas, não por causa da corrida, mas porque estava nervoso.
— O que você está fazendo aqui? — ela parecia em choque.
— Eu vim porque tentei falar com você, mas você não atendeu as minhas ligações, não respondeu minhas mensagens, eu fiquei preocupado — ele justificou , vendo um semblante triste tomar conta do rosto dela.
— Eu estou sem meu celular, eu o derrubei aquele dia após sair do café… — ela pareceu hesitar, ele sabia de qual dia ela estava falando, era o dia em que eles haviam terminado — Ele quebrou e desde então está no conserto — ela explicou, baixando os olhos e encarando seus próprios pés.
— Eu… — os dois falaram em uníssono, um riso sem humor escapou dos lábios dos dois, Jackson indicou que ela deveria falar primeiro.
— Eu estava indo falar com você — ela confessou e aquilo fez os batimentos de Jackson duplicarem de velocidade.
— Por quê? — ele indagou, torcendo para que ela dissesse o que ele queria ouvir.
— Porque eu acho que o que nós fizemos foi uma grande besteira — ela explicou e aquilo fez um sorriso gigantesco surgir nos lábios de Jackson.
— Eu sei! — ele exclamou — É por isso que eu estou aqui, eu jamais quis deixar você ir, eu estava prestes a enlouquecer durante essa semana sem você, eu preciso de você… Eu… Eu amo você! — ele confessou sorrindo e viu um sorriso brotar nos lábios dela ao mesmo tempo.
— Eu também amo você! — ela confessou — Eu sinto muito por ter me afastado, é que… eu não sei, eu acho que eu só estava com medo, nós estamos há tanto tempo juntos e… eu acho que eu amo você demais… — ela inspirou — Eu só pensei que esse sentimento fosse perigoso, eu só fiquei com medo de me machucar e tentando me proteger eu acho que acabei machucando você — ela concluiu.
— Eu jamais machucaria você, ouviu bem? Eu amo você e não tenho mais dúvida alguma sobre isso — ele disse, segurando a mão dela, vendo seus anéis iguais no indicador brilharem — A minha promessa ainda está de pé e… Eu só espero que você fique comigo — ele confessou.
Ela não respondeu, somente segurou o rosto dele entre as suas mãos e encostou seus lábios aos dele, as mãos dele rodearam a cintura dela, tendo certeza de que, não importando as dificuldades ou diferenças, ele ia continuar lutando por ela, e agora ele sabia, ela faria o mesmo também.
Ele estava feliz que seu pedido na árvore de Natal tivesse se realizado tão rápido:
“Eu desejo que ela volte”
Mas ele sabia que se não tivesse corrido atrás dela, talvez ela não tivesse voltado.
Milagres de Natal acontecem, mas você deve merecê-los, e mais do que isso, deve mostrar que realmente está disposto a conseguí-los.
A árvore estava lá para ajudá-los, mas no fim das contas, a realização dos desejos esteve o tempo todo nas mãos deles.
FIM.
Nota da autora: Caro leitor que chegou até aqui esperando que a história fosse ser um romance fofinho, espero não ter lhe decepcionado com esses últimos capítulos. Escrevi “Eu Desejo” tendo em mente que todos os casais representavam o mesmo relacionamento e que cada capítulo seria uma etapa dessa relação. Então não poderia ser diferente. Mas a lição que fica é que precisamos passar por momentos ruins em nossas vidas, o que importa é a maneira como lidamos com eles. E jamais devemos esquecer os momentos bons, porque são eles que fazem a nossa vida valer a pena.
Bom, podemos não ter uma árvore de Natal mágica para realizar os nossos desejos, mas quem disse que ela era mágica realmente?
Nota da Scripter:
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Nota da Scripter: