Capítulo Único
“A dor lancinante irradiava do meu estômago aos membros do meu corpo; a ferida, causada pela maldição em mim, sangrava enquanto eu sentia minhas forças esvaindo-se pouco a pouco. O carro de Kiyotaka estava em chamas enquanto sua figura encontrava-se inconsciente às minhas costas; meu telefone havia se perdido e não havia meios de chamar reforços, teria de enfrentar a maldição sozinha, mesmo que isso custasse a minha vida…”
Despertei num solavanco, minhas mãos tateando a cicatriz inconscientemente. Fazia meses desde a última vez que tive um pesadelo, então ainda respirava com dificuldade quando despertava deles. O meu futuro como Feiticeira Jujutsu havia se findado após aquele acidente, passei meses num leito de hospital até acordar de um coma; a reabilitação fora a pior das fases de recuperação. Gojo fora extremamente cuidadoso, embora não tivéssemos o mesmo relacionamento de agora; aceitar um novo estilo de vida fora algo devastador, o processo de aceitação demorou mais do que o esperado. Todo o tempo Gojo esteve ao meu lado, suas piadas sem graça, suas brincadeiras de tirar-me do sério e suas extravagâncias foram me puxando da escuridão para a luz. Pude enxergar muito além da superfície graças a essa proximidade, pouco a pouco fui o desvendando enquanto ele mesmo ia invadindo minha vida e tomando todos os meus pensamentos…
— Quem é você? — A porta do quarto se abriu num rompante, as orbes turmalinas me encaravam repletas de hostilidade.
— O que você está perguntando? — O questionei confusa, não compreendia o porquê dele estar daquela forma.
— Onde está ? — Gojo se aproximou rápido, com suas passadas largas.
— O que você está dizendo? Sou eu Satoru! — Exclamei na defensiva.
— Não, não é! Minha garota não fede a enxofre, seja lá o que você fez com ela, irá se arrepender!
Com essas palavras, a escuridão tomou forma, fui arrastada à inconsciência para então despertar afoita numa maca. Havia talismãs espalhados por todo meu corpo e maca, meus membros estavam atados por cordas. Não havia qualquer iluminação ou passagem de ar, era como estar numa câmara escura e fria. Ouvi sons de lutas não muito distante do local em que estava, o som de algo pesado caindo e sendo arrastado ficou mais próximo até que um brilho índigo iluminou uma figura. Fossem lá os feitiços dos talismãs, algo me impedia até mesmo de pronunciar algo. A figura foi se aproximando cautelosa; sua face ainda era encoberta pela escuridão. Seus pés não faziam qualquer ruído, me deixando cada vez mais nervosa conforme sua aproximação. Quando alcançou a maca sua mão, com a chama índigo, se elevou e uma explosão de cores iluminou o local.
— Eai, -chan! — A face descontraída de Akemi iluminou-se com a explosão de cores.
— Akemi?! — A surpresa e o alívio espalharam-se pelo meu corpo em ondas de conforto.
— Vamos te tirar daqui. — Ela me ofereceu um sorriso, desfazendo as amarras e talismãs em segundos.
— Embora estivesse aqui, ainda assim havia parte de mim em minha rotina cotidiana. — A confusão estava presente em minha voz, enquanto Akemi me ajudava a sair daquela câmara.
— É uma técnica de meu irmão, ele a nomeou de Espelhamento refratário. — Ela nos esgueirava pelos corredores e salas, buscando ser discreta. — Não faço ideia como ele realiza isso.
— Como foi que soube de que eu estava aqui? — A indaguei ainda desconfiada.
— Não tenho ideia de quanto tempo estou presa aqui, mas enquanto estava inconsciente eu conseguia ouvir as conversas ao meu redor. — Ela parou, apoiando meu corpo na parede, seguindo para a janela e verificando se estava trancada.
— Seu irmão entrou em contato outra vez? — Questionei testando o funcionamento dos meus membros que até aquele instante formigavam.
— Está mais para me tirar de circulação… — Havia uma tristeza pungente em sua voz enquanto abria a janela encarando o horizonte. — Sou apenas uma variável de risco em seus planos, por isso fui tirada de circulação para não arruinar sua conquista. — Ao me lançar um olhar, era perceptível como Akemi estava decepcionada e magoada. — Mas não vamos nos concentrar nisso, você foi colocada aqui como uma isca para Gojo. — Ela estendeu sua mão, me ajudando a passar pelo beiral da janela. — Geto precisa neutralizar Satoru para obter o que almeja.
Devagar, fomos descendo pelas trepadeiras. Estávamos apenas no segundo andar mas Akemi parecia enxergar algo que meu atual estado não via. Sua mão estava sempre presente, me dando equilíbrio; embora ela fosse mais nova, naquele momento parecia que era anos mais velha e mais sábia. As circunstâncias da vida moldaram sua atual versão, tal como Gojo ela era obrigada a carregar um fardo que não lhe pertencia, olhares de julgamento e discriminação vieram após seu desenvolvimento absurdo e pirou com a deserção de Geto.
Ela teve de enfrentar umas maldições em diferentes níveis conforme avançávamos; enquanto me protegia, os efeitos dos talismãs ainda eram sentidos mesmo após a destruição deles. Akemi seguia me guiando atingindo uma área relativamente segura.
— Há quanto tempo será que estivemos presas naquele lugar? — Akemi olhou em volta, secando o suor de sua fronte, seus olhos carregavam as aflições não ditas.
— Eu não faço ideia. — Havíamos corrido os últimos quilômetros, embora as minhas forças estivessem retornando aos poucos.
— A área em que estamos não fica muito distante da estação de metrô. — Ela refletiu abandonando o assunto. — Como está o Gojo? — Akemi me indagou com um sorriso tranquilizador.
— Ele ainda acha que é o responsável pelo que houve. — A respondi sabendo exatamente sobre ao que ela se referia.
— Ele não me escuta, embora já houvesse lhe dito tantas vezes que ele não tem culpa. Essa merda de conselho de anciões só o pressiona cada vez mais… — Ela suspirou andando em um ritmo que eu pudesse acompanhá-la. — Satoru não tem culpa de ser poderoso, e, que ele não me ouça, eu admiro a força dele. — O brilho no olhar dela era puro, como uma Aprendiz admirando o mestre. — Ele é uma das minhas inspirações e é por isso que não posso deixar Gojo carregar esse fardo sozinho, ele é humano antes de ser a porra de um feiticeiro! Eu odeio aqueles inúteis que supõem conhecer a verdadeira natureza dele.
— Quando foi que você cresceu tanto Akemi?! — A puxei para os meus braços. Ela costumava vir ao meu encontro todas as vezes em que estava triste ou com problemas. Geto e Gojo eram uma dupla inseparável até aquele incidente... A mulher que Akemi se tornou foi forjada à força, porque apesar de tudo ela ainda permanecia sendo a menina dos olhos brilhantes. — Eu não queria que você tivesse passado por tudo aquilo! Se houvesse uma forma de amenizar o peso no ombro de vocês dois!
Akemi riu como a jovem mulher que era, sua face relaxada mostrava o quão jovem era. Ela prosseguiu me levando entre ruelas e avenidas e com certa dificuldade conseguimos um táxi, apesar do horário havia um fluxo intenso de pessoas e veículos.
— Poderia me dizer o que está acontecendo na cidade? — Indaguei ao motorista que dirigia cantarolando uma música natalina.
— Há um festival de Natal hoje. — Ele me respondeu evasivo.
Levou algum tempo até que ele nos deixasse em frente ao meu restaurante, Akemi ficou do lado de fora enquanto eu entrava, atrás do dinheiro para o táxi. Embora tivesse sido rápida em procurar a casa, o restaurante estavam uma bagunça sem precedentes, Akemi entregou o dinheiro com um olhar desagradável ao motorista, para então me seguir.
— O que houve com esse lugar?! — A surpresa dela era um misto de revolta e indignação. Assim como Gojo, ela tendia a ser protetora com aqueles que amava.
— Eu não sei, mas iremos descobrir em breve. — A figura de Gojo surgiu, adentrando a sala pela varanda. Sua venda estava em suas mãos, enquanto, seus olhos turmalinos com traços de ametista, me analisavam de cima a baixo.
— Você já sabe quem foi o responsável. — Akemi se pronunciou quebrando a tensão no ambiente.
— Akemi-chan! — O lado bobo e espalhafatoso de Gojo tomou forma, seguindo em passadas largas e a erguendo do chão como uma criança.
— Não sou um espelhamento de Geto, Satoru! — Ela o repreendeu com um olhar de irritação.
— Estava apenas averiguando. — Ele piscou para ela antes de me lançar um olhar saudoso.
— Se você não estiver bem, -chan, diga a esse cara aí para te levar a um especialista. — Akemi lançou um olhar de zombaria a Gojo.
— Aonde você pensa que vai Akemi?! — Gojo utilizou um tom sério, enquanto se aproximava de mim, seus braços automaticamente me envolveram enquanto sua face ainda mantinha-se direcionada a Akemi. — Você não irá a lugar algum, Geto é o seu irmão, mas não posso deixar você arriscar sua vida e desaparecer outra vez.
— Ele é o meu irmão, eu não irei desistir dele mesmo que tenha me abandonado uma vez, você terá que me parar para que eu não vá atrás dele. — Akemi se apoiou contra a parede, sua face fora escondida pelos fios de seu cabelo. — Ele poderia ter me machucado, mas ainda assim não o fez.
— Você não pode agir sozinha, ele não pode mais ser alcançado. — Gojo apoiou seu queixo sobre a minha cabeça.
— Eu ainda tenho esperanças… — Ela ergueu sua face, revelando os olhos marejados, mas sem ter derrubado nenhuma lágrima.
— Eu sei, por conta disto você se torna um alvo fácil para ele. — Gojo a lembrou.
— Eu não me importo se sou apenas uma variável ruim, eu tenho que tentar trazer meu irmão de volta! — Ela exclamou com firmeza. Mesmo seus olhos estando marejados, ela conseguia exprimir sua determinação.
— Eu não vou perder você também. — Havia uma determinação tácita na voz de Gojo, era como se Akemi e ele disputassem um cabo de guerra invisível.
— Você não vai. — Havia uma diversão junto a confiança nas palavras de Akemi, seu olhar não vacilou em nenhum momento ao sustentar o de Satoru.
— Não vamos discutir sobre isso, deixemos esse assunto para amanhã! — Os lembrei de que não estavam sozinhos.
— -chan, mas eu preciso… — A silenciei com um olhar enquanto saía dos braços de Satoru.
— Esse assunto por hoje está encerrado, nada se sucederá se apenas girarem em círculo! — Os lembrei enquanto seguia em direção a cozinha. — Se vão ficar discutindo e se vigiando, porque não arrumam ao menos a mesa para que possamos desfrutar de uma ceia de Natal?!
Não fiquei muito tempo ali, apenas ouvia alguns xingamentos e provocações enquanto averiguava o que havia em minha cozinha. Satoru não saiu do lado de Akemi, mas ao mesmo tempo se manteve o mais perto que poderia de mim - sua venda havia sido recolocada. Naquela noite, os mantive num acordo de paz forçado. Embora fosse possível enxergar o quanto se importam um com o outro, Akemi relatou tudo o que havia visto e ouvido, e Gojo acompanhava seu discurso desfrutando da refeição.
Após organizada parte da bagunça, Gojo alertou Akemi com avisos e “ameaças”. Antes que ele seguisse em direção ao meu quarto, Gojo indicou o outro cômodo explicando o que havia acontecido durante o caminho. Ajeitei o local para Akemi passar a noite, e enquanto estava ocupada parecia que Nanami havia ligado para Gojo, os encontrei discutindo outra vez.
— Você não pode deixá-lo sem saber que está bem. — Gojo repreendeu Akemi de um modo que nunca havia visto antes.
— Eu não irei, você fará isso no meu lugar. — Akemi, embora estivesse surpresa, o respondeu sem pestanejar.
— Ele precisa te ver, Akemi! Palavras soam vazias sem provas reais! — Gojo retomou o controle, parecia um irmão mais velho tentando colocar algum juízo na figura mais jovem.
— Deixo vocês dois sozinhos por alguns minutos e já estão discutindo outra vez! — Decidi interromper a discussão que se prolongaria infinitamente, já que ambos não desistiriam tão fácil.
— -san… — Os olhos de Akemi brilhavam banhados em lágrimas não derramadas.
— Você não poderá resolver nada enquanto não recuperar suas forças. — Sequei a teimosa lágrima que caiu de seus olhos. — Descanse e então retomaremos esse tópico.
Ela deixou o ambiente com um sorriso sem vida, suas passadas silenciosas eram firmes e rápidas. Meu olhar encontrou o de Satoru assim que Akemi deixou o local, ele se aproximou me pegando em seu colo, seus braços esmagavam meus músculos num abraço apertado.
— Estive entre a loucura e a razão todo o tempo em que esteve desaparecida. — Ele admitiu num sussurro.
— Agora estou em casa. — O lembrei com afeto, minhas mãos afagando as costas de Gojo.
— Cuide dela até que eu retorne, estarei de volta o mais rápido que eu puder. — Ele deixou um beijo de despedida antes de sair.
Gojo havia me levado até o cômodo que utilizaria como quarto até que o meu antigo fosse restaurado, a postura dele havia relaxado enquanto saía com o sorriso confiante. Depois de refletir por algum tempo, resolvi verificar Akemi, não a deixaria sozinha com seus pensamentos pessimistas.
|•=•=•=•=•=•=•=•=•=•=•=•=•|
Lábios suaves, sussurros em uma voz aveludada e toques gentis foram os responsáveis por me despertar. Gojo estava deitado ao meu lado enquanto dedilhava os fios de meu cabelo, seus olhos me observavam com um olhar afetuoso. Deveria ter caído no sono enquanto confortava Akemi; procurei distraí-la e em determinado momento adormeci sem perceber.
— Nunca me canso de observá-la dormir. — Ele sorriu com tranquilidade, se inclinando em minha direção, plantando um doce selar de lábios.
— Quando retornou? — O questionei, despertando aos poucos.
— Com o nascer do sol. — Ele afagava minha bochecha com um olhar carinhoso.
— Akemi… — Ele me interrompeu com um breve mas suave beijo.
— Ela está com Nanami, ela seguirá até Suguru em algum momento. — Ele suspirou frustrado enquanto fechava os olhos, puxando-me para mais perto. — Ela odeia despedidas, me pediu para cuidar de você direito, como se ela possuísse qualquer autoridade! — Havia um senso quase paternal em sua voz ao exprimir sua indignação e afeto ao mesmo tempo.
— Ela já é uma mulher adulta, Gojo. — Toquei a face dele observando-o abrir os olhos calmamente. — Você sabe que há poucas coisas que podem derrotar aquela garota!
— Vamos parar de falar dessa pirralha insolente! — Ele se sentou, me erguendo junto. Suas mãos envolveram meu rosto antes de tomar os meus lábios nos dele, havia um saudosismo misturado à intensidade de sentimentos. — Minha vida só tem sentido com você, .
— Eu também te amo, Satoru. — Acabei rindo, deitando-nos outra vez…
Naquele dia, demonstrei a intensidade de meus sentimentos enquanto era presenteada com sua reciprocidade; não perderia qualquer oportunidade de me expressar. Roupas encontraram o tatame enquanto calores se misturaram entre sussurros e arquejos…
Meu presente sempre seria ele!
Despertei num solavanco, minhas mãos tateando a cicatriz inconscientemente. Fazia meses desde a última vez que tive um pesadelo, então ainda respirava com dificuldade quando despertava deles. O meu futuro como Feiticeira Jujutsu havia se findado após aquele acidente, passei meses num leito de hospital até acordar de um coma; a reabilitação fora a pior das fases de recuperação. Gojo fora extremamente cuidadoso, embora não tivéssemos o mesmo relacionamento de agora; aceitar um novo estilo de vida fora algo devastador, o processo de aceitação demorou mais do que o esperado. Todo o tempo Gojo esteve ao meu lado, suas piadas sem graça, suas brincadeiras de tirar-me do sério e suas extravagâncias foram me puxando da escuridão para a luz. Pude enxergar muito além da superfície graças a essa proximidade, pouco a pouco fui o desvendando enquanto ele mesmo ia invadindo minha vida e tomando todos os meus pensamentos…
— Quem é você? — A porta do quarto se abriu num rompante, as orbes turmalinas me encaravam repletas de hostilidade.
— O que você está perguntando? — O questionei confusa, não compreendia o porquê dele estar daquela forma.
— Onde está ? — Gojo se aproximou rápido, com suas passadas largas.
— O que você está dizendo? Sou eu Satoru! — Exclamei na defensiva.
— Não, não é! Minha garota não fede a enxofre, seja lá o que você fez com ela, irá se arrepender!
Com essas palavras, a escuridão tomou forma, fui arrastada à inconsciência para então despertar afoita numa maca. Havia talismãs espalhados por todo meu corpo e maca, meus membros estavam atados por cordas. Não havia qualquer iluminação ou passagem de ar, era como estar numa câmara escura e fria. Ouvi sons de lutas não muito distante do local em que estava, o som de algo pesado caindo e sendo arrastado ficou mais próximo até que um brilho índigo iluminou uma figura. Fossem lá os feitiços dos talismãs, algo me impedia até mesmo de pronunciar algo. A figura foi se aproximando cautelosa; sua face ainda era encoberta pela escuridão. Seus pés não faziam qualquer ruído, me deixando cada vez mais nervosa conforme sua aproximação. Quando alcançou a maca sua mão, com a chama índigo, se elevou e uma explosão de cores iluminou o local.
— Eai, -chan! — A face descontraída de Akemi iluminou-se com a explosão de cores.
— Akemi?! — A surpresa e o alívio espalharam-se pelo meu corpo em ondas de conforto.
— Vamos te tirar daqui. — Ela me ofereceu um sorriso, desfazendo as amarras e talismãs em segundos.
— Embora estivesse aqui, ainda assim havia parte de mim em minha rotina cotidiana. — A confusão estava presente em minha voz, enquanto Akemi me ajudava a sair daquela câmara.
— É uma técnica de meu irmão, ele a nomeou de Espelhamento refratário. — Ela nos esgueirava pelos corredores e salas, buscando ser discreta. — Não faço ideia como ele realiza isso.
— Como foi que soube de que eu estava aqui? — A indaguei ainda desconfiada.
— Não tenho ideia de quanto tempo estou presa aqui, mas enquanto estava inconsciente eu conseguia ouvir as conversas ao meu redor. — Ela parou, apoiando meu corpo na parede, seguindo para a janela e verificando se estava trancada.
— Seu irmão entrou em contato outra vez? — Questionei testando o funcionamento dos meus membros que até aquele instante formigavam.
— Está mais para me tirar de circulação… — Havia uma tristeza pungente em sua voz enquanto abria a janela encarando o horizonte. — Sou apenas uma variável de risco em seus planos, por isso fui tirada de circulação para não arruinar sua conquista. — Ao me lançar um olhar, era perceptível como Akemi estava decepcionada e magoada. — Mas não vamos nos concentrar nisso, você foi colocada aqui como uma isca para Gojo. — Ela estendeu sua mão, me ajudando a passar pelo beiral da janela. — Geto precisa neutralizar Satoru para obter o que almeja.
Devagar, fomos descendo pelas trepadeiras. Estávamos apenas no segundo andar mas Akemi parecia enxergar algo que meu atual estado não via. Sua mão estava sempre presente, me dando equilíbrio; embora ela fosse mais nova, naquele momento parecia que era anos mais velha e mais sábia. As circunstâncias da vida moldaram sua atual versão, tal como Gojo ela era obrigada a carregar um fardo que não lhe pertencia, olhares de julgamento e discriminação vieram após seu desenvolvimento absurdo e pirou com a deserção de Geto.
Ela teve de enfrentar umas maldições em diferentes níveis conforme avançávamos; enquanto me protegia, os efeitos dos talismãs ainda eram sentidos mesmo após a destruição deles. Akemi seguia me guiando atingindo uma área relativamente segura.
— Há quanto tempo será que estivemos presas naquele lugar? — Akemi olhou em volta, secando o suor de sua fronte, seus olhos carregavam as aflições não ditas.
— Eu não faço ideia. — Havíamos corrido os últimos quilômetros, embora as minhas forças estivessem retornando aos poucos.
— A área em que estamos não fica muito distante da estação de metrô. — Ela refletiu abandonando o assunto. — Como está o Gojo? — Akemi me indagou com um sorriso tranquilizador.
— Ele ainda acha que é o responsável pelo que houve. — A respondi sabendo exatamente sobre ao que ela se referia.
— Ele não me escuta, embora já houvesse lhe dito tantas vezes que ele não tem culpa. Essa merda de conselho de anciões só o pressiona cada vez mais… — Ela suspirou andando em um ritmo que eu pudesse acompanhá-la. — Satoru não tem culpa de ser poderoso, e, que ele não me ouça, eu admiro a força dele. — O brilho no olhar dela era puro, como uma Aprendiz admirando o mestre. — Ele é uma das minhas inspirações e é por isso que não posso deixar Gojo carregar esse fardo sozinho, ele é humano antes de ser a porra de um feiticeiro! Eu odeio aqueles inúteis que supõem conhecer a verdadeira natureza dele.
— Quando foi que você cresceu tanto Akemi?! — A puxei para os meus braços. Ela costumava vir ao meu encontro todas as vezes em que estava triste ou com problemas. Geto e Gojo eram uma dupla inseparável até aquele incidente... A mulher que Akemi se tornou foi forjada à força, porque apesar de tudo ela ainda permanecia sendo a menina dos olhos brilhantes. — Eu não queria que você tivesse passado por tudo aquilo! Se houvesse uma forma de amenizar o peso no ombro de vocês dois!
Akemi riu como a jovem mulher que era, sua face relaxada mostrava o quão jovem era. Ela prosseguiu me levando entre ruelas e avenidas e com certa dificuldade conseguimos um táxi, apesar do horário havia um fluxo intenso de pessoas e veículos.
— Poderia me dizer o que está acontecendo na cidade? — Indaguei ao motorista que dirigia cantarolando uma música natalina.
— Há um festival de Natal hoje. — Ele me respondeu evasivo.
Levou algum tempo até que ele nos deixasse em frente ao meu restaurante, Akemi ficou do lado de fora enquanto eu entrava, atrás do dinheiro para o táxi. Embora tivesse sido rápida em procurar a casa, o restaurante estavam uma bagunça sem precedentes, Akemi entregou o dinheiro com um olhar desagradável ao motorista, para então me seguir.
— O que houve com esse lugar?! — A surpresa dela era um misto de revolta e indignação. Assim como Gojo, ela tendia a ser protetora com aqueles que amava.
— Eu não sei, mas iremos descobrir em breve. — A figura de Gojo surgiu, adentrando a sala pela varanda. Sua venda estava em suas mãos, enquanto, seus olhos turmalinos com traços de ametista, me analisavam de cima a baixo.
— Você já sabe quem foi o responsável. — Akemi se pronunciou quebrando a tensão no ambiente.
— Akemi-chan! — O lado bobo e espalhafatoso de Gojo tomou forma, seguindo em passadas largas e a erguendo do chão como uma criança.
— Não sou um espelhamento de Geto, Satoru! — Ela o repreendeu com um olhar de irritação.
— Estava apenas averiguando. — Ele piscou para ela antes de me lançar um olhar saudoso.
— Se você não estiver bem, -chan, diga a esse cara aí para te levar a um especialista. — Akemi lançou um olhar de zombaria a Gojo.
— Aonde você pensa que vai Akemi?! — Gojo utilizou um tom sério, enquanto se aproximava de mim, seus braços automaticamente me envolveram enquanto sua face ainda mantinha-se direcionada a Akemi. — Você não irá a lugar algum, Geto é o seu irmão, mas não posso deixar você arriscar sua vida e desaparecer outra vez.
— Ele é o meu irmão, eu não irei desistir dele mesmo que tenha me abandonado uma vez, você terá que me parar para que eu não vá atrás dele. — Akemi se apoiou contra a parede, sua face fora escondida pelos fios de seu cabelo. — Ele poderia ter me machucado, mas ainda assim não o fez.
— Você não pode agir sozinha, ele não pode mais ser alcançado. — Gojo apoiou seu queixo sobre a minha cabeça.
— Eu ainda tenho esperanças… — Ela ergueu sua face, revelando os olhos marejados, mas sem ter derrubado nenhuma lágrima.
— Eu sei, por conta disto você se torna um alvo fácil para ele. — Gojo a lembrou.
— Eu não me importo se sou apenas uma variável ruim, eu tenho que tentar trazer meu irmão de volta! — Ela exclamou com firmeza. Mesmo seus olhos estando marejados, ela conseguia exprimir sua determinação.
— Eu não vou perder você também. — Havia uma determinação tácita na voz de Gojo, era como se Akemi e ele disputassem um cabo de guerra invisível.
— Você não vai. — Havia uma diversão junto a confiança nas palavras de Akemi, seu olhar não vacilou em nenhum momento ao sustentar o de Satoru.
— Não vamos discutir sobre isso, deixemos esse assunto para amanhã! — Os lembrei de que não estavam sozinhos.
— -chan, mas eu preciso… — A silenciei com um olhar enquanto saía dos braços de Satoru.
— Esse assunto por hoje está encerrado, nada se sucederá se apenas girarem em círculo! — Os lembrei enquanto seguia em direção a cozinha. — Se vão ficar discutindo e se vigiando, porque não arrumam ao menos a mesa para que possamos desfrutar de uma ceia de Natal?!
Não fiquei muito tempo ali, apenas ouvia alguns xingamentos e provocações enquanto averiguava o que havia em minha cozinha. Satoru não saiu do lado de Akemi, mas ao mesmo tempo se manteve o mais perto que poderia de mim - sua venda havia sido recolocada. Naquela noite, os mantive num acordo de paz forçado. Embora fosse possível enxergar o quanto se importam um com o outro, Akemi relatou tudo o que havia visto e ouvido, e Gojo acompanhava seu discurso desfrutando da refeição.
Após organizada parte da bagunça, Gojo alertou Akemi com avisos e “ameaças”. Antes que ele seguisse em direção ao meu quarto, Gojo indicou o outro cômodo explicando o que havia acontecido durante o caminho. Ajeitei o local para Akemi passar a noite, e enquanto estava ocupada parecia que Nanami havia ligado para Gojo, os encontrei discutindo outra vez.
— Você não pode deixá-lo sem saber que está bem. — Gojo repreendeu Akemi de um modo que nunca havia visto antes.
— Eu não irei, você fará isso no meu lugar. — Akemi, embora estivesse surpresa, o respondeu sem pestanejar.
— Ele precisa te ver, Akemi! Palavras soam vazias sem provas reais! — Gojo retomou o controle, parecia um irmão mais velho tentando colocar algum juízo na figura mais jovem.
— Deixo vocês dois sozinhos por alguns minutos e já estão discutindo outra vez! — Decidi interromper a discussão que se prolongaria infinitamente, já que ambos não desistiriam tão fácil.
— -san… — Os olhos de Akemi brilhavam banhados em lágrimas não derramadas.
— Você não poderá resolver nada enquanto não recuperar suas forças. — Sequei a teimosa lágrima que caiu de seus olhos. — Descanse e então retomaremos esse tópico.
Ela deixou o ambiente com um sorriso sem vida, suas passadas silenciosas eram firmes e rápidas. Meu olhar encontrou o de Satoru assim que Akemi deixou o local, ele se aproximou me pegando em seu colo, seus braços esmagavam meus músculos num abraço apertado.
— Estive entre a loucura e a razão todo o tempo em que esteve desaparecida. — Ele admitiu num sussurro.
— Agora estou em casa. — O lembrei com afeto, minhas mãos afagando as costas de Gojo.
— Cuide dela até que eu retorne, estarei de volta o mais rápido que eu puder. — Ele deixou um beijo de despedida antes de sair.
Gojo havia me levado até o cômodo que utilizaria como quarto até que o meu antigo fosse restaurado, a postura dele havia relaxado enquanto saía com o sorriso confiante. Depois de refletir por algum tempo, resolvi verificar Akemi, não a deixaria sozinha com seus pensamentos pessimistas.
Lábios suaves, sussurros em uma voz aveludada e toques gentis foram os responsáveis por me despertar. Gojo estava deitado ao meu lado enquanto dedilhava os fios de meu cabelo, seus olhos me observavam com um olhar afetuoso. Deveria ter caído no sono enquanto confortava Akemi; procurei distraí-la e em determinado momento adormeci sem perceber.
— Nunca me canso de observá-la dormir. — Ele sorriu com tranquilidade, se inclinando em minha direção, plantando um doce selar de lábios.
— Quando retornou? — O questionei, despertando aos poucos.
— Com o nascer do sol. — Ele afagava minha bochecha com um olhar carinhoso.
— Akemi… — Ele me interrompeu com um breve mas suave beijo.
— Ela está com Nanami, ela seguirá até Suguru em algum momento. — Ele suspirou frustrado enquanto fechava os olhos, puxando-me para mais perto. — Ela odeia despedidas, me pediu para cuidar de você direito, como se ela possuísse qualquer autoridade! — Havia um senso quase paternal em sua voz ao exprimir sua indignação e afeto ao mesmo tempo.
— Ela já é uma mulher adulta, Gojo. — Toquei a face dele observando-o abrir os olhos calmamente. — Você sabe que há poucas coisas que podem derrotar aquela garota!
— Vamos parar de falar dessa pirralha insolente! — Ele se sentou, me erguendo junto. Suas mãos envolveram meu rosto antes de tomar os meus lábios nos dele, havia um saudosismo misturado à intensidade de sentimentos. — Minha vida só tem sentido com você, .
— Eu também te amo, Satoru. — Acabei rindo, deitando-nos outra vez…
Naquele dia, demonstrei a intensidade de meus sentimentos enquanto era presenteada com sua reciprocidade; não perderia qualquer oportunidade de me expressar. Roupas encontraram o tatame enquanto calores se misturaram entre sussurros e arquejos…
Meu presente sempre seria ele!
FIM
Nota da autora: Sem nota.
Outras Fanfics:
» A primeira parte dessa história: Não tenha medo esta noite
» História do mesmo universo: E se eu me importar?
Nota da beta: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Outras Fanfics:
» A primeira parte dessa história: Não tenha medo esta noite
» História do mesmo universo: E se eu me importar?
Nota da beta: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.