CAPÍTULOS: [1] [2]








01


This dream is all that I need, 'cause it's all that I ever had (Work - Iggy Azalea)


ALABAMA

- Será que dá para você anotar logo meu pedido, garota?!
- Claro, senhor. Desculpe...
estava acostumada com sua vida pacata e meio miserável.
Com seus dias que mais se pareciam réplicas um do outro, tamanha a obviedade e semelhanças fixadas em cada um.
Seus dedos ávidos rabiscavam com pressa o pedido do mal humorado cliente do diner de sua mãe, por mais que seus olhos se distanciassem cada vez mais do que estava fazendo. Sua mente, então, vivia do outro lado do país, em um lugar onde o chão era mais limpo, as pessoas mais bonitas - por dentro e por fora - e os sonhos muito mais brilhantes.
Era no que ela acreditava com veemência, pelo menos.
Suspirou aliviada ao entregar o último pedido da noite ao cozinheiro, seguindo para a cozinha, onde uma pilha gigantesca de pratos a esperava. nunca foi de reclamar da vida, era mais o tipo de garota que prefere agradecer o fato de estar respirando ao invés de praguejar sobre como a vida não era nada justa. Sobre como o mundo estava todo errado e a magia responsável por realizar sonhos alheios repudiava todo o Alabama.
Vivia no Alabama desde sempre, com sua mãe e alguns outros parentes, como sua tia Carrie Ann, que vivia as custas dos fazendeiros milionários da região.
se recordava com pavor na espinha da proposta que recebera de um daqueles homens no dia em que estava no centro da cidade comprando um vestido de festa com Carrie.
Ugh, ela não queria um sugar daddy!
Apesar da frustração, ela ainda tinha caráter. E não deixaria que seus sonhos fossem financiados em troca de sexo.
era virgem, se quer saber. Mas ela preferia que isso não dissesse respeito a ninguém, pois não via no pedacinho de hímen que tantos glorificavam uma solução para qualquer um dos seus problemas. Era só mais uma coisa que estava no lugar errado, mas na hora certa.
Ela tinha um sonho. Um sonho que nutria desde que se lembrava ser capaz de sonhar, e de alimentar esses tais sonhos, repletos de tentações e perigos constantes a mente humana. queria ser uma atriz famosa, mundialmente conhecida. Queria ter uma estrela na calçada da fama em Hollywood. Queria ver seu rosto em cartazes de filmes super premiados e de bilheterias exorbitantes. Queria contracenar com os mais belos e másculos rostos do mundo do cinema. Queria um closet maior que a pequena casa onde vivia com a sua mãe, e então lotá-lo com os mais variados tipos de sapatos caríssimos.
Mas, antes de tudo isso, ela queria ser amada. Amada por quem era, pelo que fazia, pela sua perseverança e pela coragem que teve ao se arriscar tanto.
Coragem que ainda não havia se manifestado em seu âmago, infelizmente.
Mas o dia estava próximo, podia sentir com eletricidade fluindo ao redor.

A garota suspirou pesadamente assim que terminou de secar o último prato, afastando alguns fios de cabelo e abanando o próprio rosto com um guardanapo, pois o calor naquela época do ano era brutal. Às vezes, se sentia na soleira da porta para o inferno, e não apenas pelo clima ridiculamente quente, mas também porque via nos olhos daquelas pessoas, que se fingiam tão gentis, coisas que não lhe agradava em nada. Queria fugir dali o mais rápido possível. No entanto, não sabia como fazer isso sem abandonar Claire, sua mãe. A melhor pessoa do mundo, a mulher que a criou sozinha e, apesar das condições ligeiramente precárias e os trancos e barrancos que cruzaram seu caminho, soube fazê-la feliz e passar bons ensinamentos a . Aliás, ela se sentia mal agradecida por pensar em fugir do Alabama, justamente agora que Claire não andava muito bem de saúde.
O alívio veio certeiro quando se deu conta de que já estava na hora de ir embora. Recolheu sua pequena bolsa amarela e se despediu da mãe com um beijo estalado no rosto, saindo às pressas do diner. Como morava perto dali, não se importava em ir caminhando.
A vegetação sulista se expandia mais ao longe, o vento quente se entrelaçava pelos seus fios de cabelo e a fazia se sentir em um videoclipe melodramático e de muito baixo orçamento. Seus passos apertaram quando um frio na boca de seu estômago a fez perceber que não havia uma única alma pura vagando por ali, além da sua.
Quer dizer, havia outra alma, mas de pureza ela não tinha absolutamente nada.
Olhou desconfiada para trás, soluçando assustada quando percebeu que uma caminhonete lustrosa se aproximava sorrateira e uma música country do século passado irrompia de dentro da mesma. apertou ainda mais o passo, se arrependendo de estar usando salto alto e um vestido que esvoaçava demais quando ela se atrevia a correr.
- Vem, sobe aqui. - Ryan, filho de um fazendeiro riquíssimo da região, disse cheio de segundas intenções, postando seu braço de forma interesseira para fora da lataria da caminhonete. Por mais que já fosse noite, a garota conseguia enxergar o brilho malicioso que revestia suas íris negras.
- Não, obrigada. - ela foi assertiva, voltando a caminhar. Droga, a caminhonete estava se movimentando de novo. - Nasci com pernas por algum motivo... Preciso usá-las!
Ryan soltou aquela risada que fazia se encolher, pois não soava nada agradável. O homem era mais velho que ela, beirava os vinte e cinco. As duas entradas nas laterais de sua cabeça alertavam a calvície precoce que Ryan estava condenado a ter, o que lhe arrancava ainda mais o pouco charme que tinha.
- ! - Ryan a chamou, mais severamente dessa vez. Ela parou de andar, fechando os olhos durante a fração de segundo em que o viu deixar a caminhonete e se perguntou a respeito de ter algo pontiagudo guardado em sua bolsa. - Deixa de frescura e aceita logo a minha carona, garota! Eu não vou te estuprar ou coisa parecida. - Ryan encolheu os ombros, acreditando que suas palavras seriam muito, muito tranquilizantes. Era mesmo um babaca.
- Ah, como isso me conforta... - utilizou da impecável ironia que carregava consigo desde sempre, soltando um riso debochado e pronta para se livrar do homem de uma vez por todas. Se ele tentasse pressioná-la outra vez, ela gritaria. - Boa noite, Ryan, eu sei me virar perfeitamente bem sozinha. - disse confiante, mas sentiu seu braço ser segurado com certa força ao arriscar um mísero passo. Grunhiu irritada, desesperando-se enquanto tentava se soltar.
- Você vem comigo, e não seja mal criada, porque eu não gosto nada disso. - o tom ameaçador presente na voz de Ryan fez o sangue de gelar. Seu coração batia tão rápido no peito que a garota ia perdendo o ar conforme seus olhos apavorados piscavam rápido e sua mente a mil trabalhava na busca incessante por um meio de evitar o pior. Porque não confiava nele.
- E eu não gosto de violência, mas vou ser obrigado a usá-la agora.
sentiu cada resquício de pavor do seu corpo sendo progressivamente removido ao ouvir aquela voz. Voz que soou como uma adorável música aos seus ouvidos.
Em um segundo, Wyatt estava a alguns metros de distância de , mas em tempo recorde o garoto de cabelos encaracolados e camisa de flanela surgiu feito um furacão a frente de Ryan, o acertando com um soco que fez a garota dar um pulinho assustado para trás.
- Wyatt... - tentou proferir sem parecer tão assustada, determinada a convencer seu amigo a não sujar as mãos por besteira.
- Não chega perto da de novo, seu filho da puta! Fui claro ou vou ter que marcar mais alguns hematomas nessa sua cara feia para conseguir isso?! - Wyatt desafiou com os braços erguidos a altura de suas costelas, as mãos espalmadas em pose de desafio.
Em silêncio, Ryan cobriu a área atingida do rosto e, pouco antes de olhar furioso para os dois, se afastou, correndo até sua caminhonete estacionada próxima. se sentiu em um filme. Um daqueles filmes que um dia sonhava protagonizar.
- Meu herói! - cantarolou para o garoto de covinha na bochecha, que demonstrou preocupação e ficou mais perto dela, beijando sua testa de surpresa.
- Só porque você merece um, . - Wyatt disse gentil, enfiando as mãos nos bolsos da calça, disposto a acompanhá-la até sua casa e evitar qualquer outro problema.
não se sentia forte o bastante para puxar qualquer diálogo com ele, o que só agravava ainda mais toda a apreensão que Wyatt nutria dentro de si. Era difícil estar ao lado da garota que gostava tanto e não poder fazer o que queria, como abraçá-la apertado e beijá-la. Já teve essa chance no passado, mas o presente não estava disposto a colaborar com ele.
A garota colocou um ponto final no relacionamento dos dois logo em seu início, pois não queria iludir Wyatt e fazer o garoto acreditar que nutriam sentimentos semelhantes.

- Está entregue. - ele disse sorridente ao cessar os passos, observando a casa simples em que sua ex-namorada vivia. - Posso guardar minha capa ou você ainda vai precisar dos meus serviços de herói? - soltou a brincadeira de forma despretensiosa, fazendo rir levemente, controlando-se um pouco para não deixar transparecer o incômodo que ainda sentia perto dele. Não era fácil vê-lo e saber que o coração do garoto batia ferido por sua causa.
- Assumo daqui em diante, meu lindo. - ela prometeu, aproximando-se para depositar um beijo carinhoso sobre a bochecha corada dele. Wyatt se deixou empolgar por um instante, uma ação perigosa o bastante para espantar , que arregalou os olhos ao tentar ser beijada na boca, e então se despediu com um olhar culpado, correndo feito louca até a porta, por onde desapareceu segundos mais tarde.
Após um longo suspiro frustrado, Wyatt foi embora.

olhou ao redor e percebeu estar sozinha. Ao contrário do esperado, ela não se sentia triste pela solidão, pois era quando a oportunidade de perder um pouquinho da sanidade lhe batia a porta. Ali, e somente ali, na segurança e privacidade do seu lar, podia fingir ser quem bem quisesse. A atriz glamourosa que habitava seus pensamentos e anseios mais intrínsecos; o rosto aclamado que brilhava por onde quer que passasse. Pelo tapete velho da sala, ela encenava monólogos dramáticos, movimentava o corpo esguio conforme a música que vinha do rádio de sua mãe lhe enchia os ouvidos, subia sobre o sofá e manipulava seus canais lacrimais como muitas atrizes experientes jamais conseguiriam. Ela tinha uma facilidade absurda de fazer lágrimas rolarem pelo seu rosto, e isso nada tinha a ver com qualquer tristeza.
Por mais que estivesse, sim, triste.
Depois que tomou banho e vestiu um pijama qualquer, decidiu preparar o jantar. Sua mãe chegaria mais tarde que o usual, o que deixava um pouco preocupada.
Enfim, suspirou aliviada ao ouvir o som familiar e caloroso da porta sendo aberta, reconhecendo a voz branda de Claire anunciar que estava em casa.
- Na cozinha! - berrou, mexendo com habilidade o molho borbulhante na panela. - Viu? Não queimei nada dessa vez. - ela comentou orgulhosa para a mãe, que reconheceu a prática que a filha estava adquirindo na cozinha. Mas isso, nem de longe, a deixava feliz.
Repudiava a ideia de ver se encaminhando para um futuro semelhante ao seu. Porque, naquele fim de mundo onde viviam, a garota teria sorte se conseguisse ser promovida a cozinheira de algum diner bem no meio do nada.
Não, de forma alguma. Claire queria muito mais para a amada filha. E estava providenciando o início desse novo caminho.
Por mais que doesse em seu coração e a mulher tivesse que se desfazer de alguns de seus maiores segredos.

As duas finalizaram o preparo do jantar com risos e diálogos dignos de mãe e filha confidentes, duas melhores amigas. Jantaram logo, e então se sentaram no sofá, dispostas a procurar por algo que prestasse na televisão que só funcionava quando estava com vontade. Ah, não era um bom dia para ela.
- , precisamos conversar. - Claire pontuou sua vontade, fazendo deixar seu chocolate quente de lado e olhar meio apreensiva para a mãe.
- Eu sei que gastei meu dinheiro todo com sapatos no brechó da Bonnie, mas entenda, mamãe... - tentou se explicar, adquirindo um biquinho que remetia à época em que ainda tinha duas maria-chiquinhas sobre a cabeça. - Você tem ideia do que ela conseguiu?! Um par de Louboutin da coleção do ano retrasado, por um preço daqueles! - a garota arregalou os olhos, tentando provar o quanto sua decisão tinha valor. Não que fosse fútil e precisasse de sapatos para viver, mas, precisava admitir, talvez fosse algum tipo de obsessão. Desde menina, ela era apaixonada por sapatos. Não podia ter os melhores, muito menos os mais cobiçados das atuais coleções mais famosas do mundo, mas se contentava com os seus. Simplesmente porque eram seus.
E ela aprendera desde muito pequena que, para conseguir o que queria, precisava primeiro valorizar o que já tinha.
- Não, minha filha, não é sobre sapatos que quero conversar com você dessa vez. - Claire garantiu risonha, negando com a cabeça ao se dar conta de como gostava mesmo de sapatos. Mesmo assim, nunca a repreendeu por isso, pois queria que a filha encontrasse felicidade em algo. Seja lá o que fosse. - Espera aqui, ok? Vou pegar a minha bolsa na cozinha.
E foi uma longa espera, que agravava cada vez mais a ansiedade e os batimentos cardíacos de uma inquieta .
Ergueu o rosto rapidamente ao ouvir os passos de Claire em retorno, percebendo que a mãe segurava uma pequena pasta azul de plástico. Claire se sentou ao lado da filha, ainda fazendo certo suspense.
- O que tem aí?! Anda, mãe, não faz mistério... - choramingou, grudando uma das mãos no ombro da mãe.
- Abra. - a mulher soltou a pasta sobre o colo da filha, desejando que, daquele momento em diante, o melhor acontecesse.
Primeiramente, retirou um pequeno pedaço de papel com alguns rabiscos na frente. Só então se deu conta de que era um detalhado endereço. Em Los Angeles.
Olhou confusa para a mãe, que sugeriu que ela continuasse a desvendar os segredos da pastinha.
Então, a garota retirou um envelope dali, o abrindo e sentindo seu organismo sair do controle ao ler as informações. Era uma passagem de avião. Também para Los Angeles.
Só de ida.
- Meu Deus! - exclamou atônita, já sentindo seu lábio inferior tremer, assim como todo o restante de seu corpo. - Isso... Isso não está... Não está acontecendo! Mamãe, eu não acredito que você...
- Você merece estar no topo do mundo, , não no fim dele. - Claire soltou de uma vez, amorosa e decidida, por mais que doesse muito permitir que um pedaço seu, o melhor deles, fosse para tão longe. Bom, não estava criando durante todos aqueles anos para ela, certo? Estava preparando sua filha para o mundo. Um mundo de oportunidades, um leque interminável de fantásticas experiências. - Eu consegui comprar essa passagem com alguns ajustes no nosso orçamento... Foi difícil, admito, mas vai valer a pena. Sei que vai! Também vou te dar dinheiro o suficiente para bancar um ou dois meses de aluguel em algum apartamento baratinho. - segurou com força a mãe gélida e trêmula da filha, que não sabia direito como se manifestar. - Você vai para Los Angeles! Finalmente tentar ser uma atriz. Anime-se, , isso está mesmo acontecendo!
não conseguiu nem mesmo sorrir.
- E deixar você aqui? - a ideia não soava nada bem aos ouvidos da garota, por mais que a euforia já estivesse dançando em volta de seu coração acelerado. - Que tipo de filha mal agradecida acha que eu sou?! Já combinamos que só vou seguir os meus sonhos quando puder levar você comigo, mamãe.
Claire negou vagarosamente com a cabeça, triste pela ilusão de .
- Eu já estou velha, esse é o meu único lugar no mundo. - a mulher apontou para o próprio chão onde pisada, jamais se permitindo sustentar grandes sonhos. Fez isso no passado e as coisas não terminaram muito bem.
- Velha?! Você só tem quarenta anos. Os quarenta são os novos vinte em Hollywood, sabia? - tentou soar bastante convincente e divertida, arrancando um riso ou dois de Claire, mas nada que criasse alguma esperança em seu peito.
- Vamos fazer assim: - estava disposta a dar aquela discussão por encerrada no minuto seguinte. - Você vai primeiro e, se tudo der certo, eu vou te encontrar lá algum dia.
olhou bem fundo nos olhos da mãe, sofrendo com algo que ecoava em sua mente e lhe fazia chegar à conclusão de que a mulher só estava mentindo para confortá-la e estimulá-la a aceitar a oferta de uma vez. Assim, tão repentinamente.
Céus, como um dia de merda como aquele poderia estar terminando de forma tão... Injustamente incrível?
- Faça suas malas, meu amor, vou pedir ao Wyatt para te deixar na rodoviária amanhã bem cedo. E não se preocupe, algo me diz que você vai se encontrar nesse lugar, mais do que em qualquer outro. Algo me diz que será o seu verdadeiro lar. O que você merece! - Claire depositou um beijo carinhoso na bochecha da filha ao pronunciar com empolgação, deixando a garota com os lábios entreabertos, olhos estupefatos e a vontade teimosa de continuar retrucando que aquilo não era possível, mas não obteve qualquer êxito na tentativa.
Então era mesmo verdade? estava indo para Los Angeles?
Seu maior sonho de vida estava ali, acenando sedutoramente para ela, disposto a levá-la para uma memorável aventura?
No entanto, a garota não tinha um paraquedas. Sabia o quanto a queda poderia ser alta.
E perigosa.


CALABASAS - LOS ANGELES, CA

" , você é a minha vida!"

Os olhos não conseguiam se desgrudar do absurdo conjunto de palavras. Apenas mais um dos milhares que brotavam em questão de segundos em suas mentions do Twitter. Ele sentiu uma irresistível vontade de jogar o iPhone contra a imensa piscina em formato de violão ao seu lado, mas sua necessidade de sempre ter algum comentário polêmico, fosse na ponta da língua ou na ponta dos dedos, falou muito mais alto.

"Não condene sua vida a esse ponto, Jenny :D"

Digitou a reply com agilidade, contando cinco segundos antes de enviá-la e torná-la pública, de conhecimento mundial. Fechou os olhos e respirou fundo, voltando a sentir o sol em sua pele, imaginando quanto tempo levaria até que algum tabloide de merda comentasse a respeito de suas palavras rudes e, de certo modo, depressivas. Não que se importasse com o que a mídia tinha a dizer, porque não era mais um ator medíocre em início de carreira que precisava implorar de joelhos por papéis miseráveis em produções ainda mais miseráveis.
era um dos grandes astros de Hollywood, no auge dos seus vinte e seis anos muito bem distribuídos nas feições ligeiramente angelicais e, ao mesmo tempo, tão intimidantes e sexies. Os braços nus exibiam algumas tatuagens - que eram totalmente escondidas por uma elaborada maquiagem em dias de gravação no set de filmagens -, e que ele nem se lembrava o motivo de ter feito, assim como grande parte das memórias acumuladas em sua mente programada para funcionar em piloto automático na maior parte do tempo.
Observou a fumaça escapar pelos lábios entreabertos segundos depois de tragar um cigarro, agradecendo a qualquer força superior que comandava o mundo por estar de férias das gravações da aclamada e premiada série Royal Secrets, que mostrava o lado podre e nada polido da realeza. Ele interpretava Príncipe Lucas, o segundo na linha de sucessão ao trono britânico. Apesar de não ser uma série adolescente e, nos quesitos cenas de sexo e conflitos pesados poder se equiparar a Game of Thrones, a maior parte dos fiéis telespectadores eram adolescentes entristecidos com a monotonia de suas vidas reais. E era um dos principais motivos disso. Um dos principais motivos que levavam a série a constantes e importantes premiações, sendo sempre a vencedora de vários prêmios. A campeã de audiência da HBO durante as sextas feiras à noite, horário em que era exibida semanalmente.
Todavia, nada disso impressionava o homem, que se lembrava de já ter se envolvido em caminhos muito mais sinuosos em Hollywood. Seu primeiro papel de algum destaque no cinema, aos dezenove anos, era polêmico; ele interpretara um soldado homossexual que lutou até a morte por seu país e pela liberdade. Isso, é claro, acabou alavancando a carreira de , garantindo assim que seu rosto nunca mais fosse esquecido.
Nos dias atuais, já com uma fortuna acumulada, ele preferia se aventurar em séries de televisão, pois estava de saco cheio de filmes e toda a demora para serem produzidos. Aquela era a segunda série em que assumia o papel principal, mas a primeira acabou sendo cancelada em sua terceira temporada, devido a escândalos envolvendo o produtor com uma das atrizes secundárias, que recebia toda a atenção e cenas mais importantes, passando até mesmo na frente da personagem principal, pelo simples fato de que ofereceria alguns boquetes rápidos ao homem.

Ah, como Hollywood era suja.

se lembrava de sua ingenuidade aos dezoito anos, quando ainda acreditava que o mundo da fama era como o paraíso, repleto de anjos. Agora, não entendia o motivo de Los Angeles ser chamada de Cidade dos Anjos, já que nunca viu nada além de demônios manipuladores e interesseiros circulando pelas ruas.
Não, ele não se considerava o mocinho no meio de tudo isso, que fique bem claro. era um exemplo vivo daquelas trágicas histórias envolvendo inocências perdidas e sonhos frustrados.
- , você tem sorte por me ter como seu assessor. - Isaac, o tal assessor, surgiu de dentro da mansão de em Calabasas, mais irritadiço que o vento em dias de tempestade. Provavelmente, já sabia que o ator tinha respondido a pobre fã de uma maneira nada agradável. - Consegui enganar aqueles idiotas e fazê-los acreditarem que a sua página do twitter foi hackeada por alguma garota psicótica de treze anos. Pode me agradecer agora.
- Vai se foder. - soltou as palavras junto com outra remessa de fumaça, com o olhar tão perdido no céu, que não sabia mais como voltar a realidade por completo.
- Eu estou prestes a quebrar a sua cara! - Isaac utilizou dos cinco anos de amizade que já tinha com para ameaçar, incrédulo com a capacidade que o amigo tinha de ser tão insensível a tudo ao seu redor. Ainda no piloto automático, se levantou da espreguiçadeira e pediu a Isaac seu iPhone emprestado. Apesar de questionar internamente seu pedido, o assessor logo entregou o telefone nas mãos do ator.
Após respirar fundo, simplesmente lançou o aparelho em direção a piscina, divertindo-se malignamente enquanto observava as pequenas ondas que se formaram pela água. Isaac pensou estar tendo alucinações muito, muito desnecessárias.
- Acho que quebrei seu iPhone, agora você tem uma desculpa de qualidade para quebrar a minha cara. - o ator deu de ombros, voltando a se largar sobre a espreguiçadeira de antes. Perder sua palidez britânica parecia algo muito mais importante do que qualquer outra coisa no mundo.
Inacreditável.
- Você é inacreditável, ! Inacreditável! - Isaac vociferava, tentando resgatar seu iPhone ensopado. - Você prometeu que seria forte por elas, que seria um exemplo para a...
- Diga mais uma palavra e está demitido! - foi curto e grosso, encarando seriamente o homem, que desistiu de se importar e de salvar seu telefone, caminhando a passos pesados e agressivos em direção a entrada da propriedade, de onde viera antes.
- Eu não tenho culpa que a sua namorada te traiu, seu babaca! Vai descontar toda essa raiva na puta que te... Ok, deixa para lá, não é a sua mãe que merece ser xingada aqui. - foi tudo que Isaac resmungou pouco antes de sumir completamente da vista de , o deixando com uma sensação ridícula de aperto no peito. E isso foi o suficiente para fazê-lo acordar para a vida e assimilar o quanto a sua realidade, atualmente, era uma bela merda.
- Obrigado pelo lembrete, seu filho da puta! - berrou revoltado, assistindo qualquer resquício de tranquilidade deixar seu corpo coberto apenas pela bermuda azul.
Todo o incidente com Maddison veio em sua mente outra vez, com cada vez mais intensidade, cada vez mais incompreensão. O orgulho de estava tão ferido que a cicatriz provavelmente nunca sumiria por completo.

Flashback

Ele estava puto. Puto como nunca esteve em toda a sua vida. Mais puto do que quando perdeu um People's Choice Awards para os estúpidos vampiros.
Durante toda a sua vida masculina, libidinosa e meio fora dos trilhos, apreciara a simples visão de duas mulheres juntas. Era louco por cenas como aquela, especialmente se estivesse no meio, em um dos diversos ménages dos quais participara desde que se tornara um ator mundialmente famoso. Os tabloides não acreditariam nas celebridades certinhas e de boa fama que já haviam passado por sua cama, tampouco nas sacanagens sexuais que estas se mostraram tão dispostas a fazer.
E uma das taras de pareceu se voltar contra o ator naquele início de madrugada em Los Angeles, quando ele decidiu deixar uma boate qualquer com seus amigos, ter uma briga usual com meia dúzia de paparazzi abusados que o cegavam com seus flashes intermináveis e voltar para a casa.
Meio bêbado, ele se recordava das luzes apagadas, mas estranhou de imediato as peças de roupa jogadas pelo chão, formando uma trilha sugestiva até as escadas, por onde o homem rapidamente subiu e, ao final da trilha, onde um sutiã de oncinha se mantinha jogado sobre o chão, havia a porta do quarto que dividia com sua namorada.
Os dois decidiram morar juntos logo no início do relacionamento, para facilitar a vida atarefada e badalada que tinham, sendo o casal protagonista de Royal Secrets.
Intrigado, desistiu de qualquer sutileza e empurrou a porta com violência, se esquecendo completamente do quanto adorava lésbicas.
Maddison, sua namorada, estava deitada sobre a cama que anteriormente gostava de dividir com ele, nua e aos beijos com outra mulher, esta igualmente nua. Seu nome era Rebecca, atriz meia boca que interpretava uma das personagens secundárias da série, uma perfeita vadia na frente das câmeras.
E, pelo visto, por trás delas também.
Por provável efeito do álcool, ele não se lembrava de muitas coisas, de quais foram suas ações seguintes.
A única certeza que tinha era a de que não tinha se juntado ao mais novo e inesperado casal de Hollywood.

- A verdade é que... - Maddison Wickham, senhorita sonhos americanos, tão queridinha da América quanto e igualmente displicente, tentava pensar em palavras adequadas para se justificar e tentar desfazer a expressão revoltada que o ex-namorado entregava sem se importar. Ela ainda estava deitada na enorme cama, apenas de calcinha e sutiã, dessa vez, observando imóvel a sua frente, exigindo por uma explicação que fizesse lá algum sentido. - Ok, desisto. - juntou as palmas das mãos, erguendo o tronco. - Nós jogamos no mesmo time, . E todas as garotas com quem você se envolveu e eu sempre dizia morrer de ciúmes... - Maddy mordeu o lábio inferior, se segurando loucamente para não rir. - Na verdade, eu queria roubá-las de você. E consegui... Duas vezes. - informou com uma pompa que fez o sangue do ator ferver ainda mais, fazendo com que ele começasse a andar de um lado para o outro do quarto que costumavam dividir.
- VOCÊ ME TRAIU COM UMA MULHER! COM UMA MULHER, MADDISON! COM A VACA DA REBECCA! - disse histérico, lançando longe a calcinha minúscula que entrara em seu caminho, imaginando que pertencia a amante de Maddison, que agora nem sabia e tampouco queria saber o paradeiro. - Você usou a minha maior paixão contra mim! VOCÊ TROCOU O MEU PÊNIS POR UMA VAGINA! - tentou encontrar algum sentido no que disse, franzindo o cenho quando percebeu que seria uma tarefa árdua. - Só falta me dizer que fingiu todos aqueles orgasmos que alegou que eu te dei...
- Ahn... Talvez. - Maddison desviou o olhar do homem, mordendo o canto do lábio e sendo prontamente desmascarada. - O problema nunca foi você, meu lindinho, acredite em mim. Acontece que eu não gosto mesmo de homens, só não queria aceitar. E agora tenho certeza absoluta disso. Me sinto livre feito uma borboleta... Lésbica.
respirou fundo, bagunçando os próprios cabelos, não sabendo se deveria ou não dizer tudo que se passava em sua mente, todos os xingamentos que deixariam Maddison paralisada e sem qualquer argumento para utilizar depois.
- Vou te relembrar todos os dias, em todas as gravações, como é bom estar com um homem. - atacou com um sorriso perverso iluminando o rosto. - Você vai sentir falta disso. De tudo isso! - apontou para si mesmo, ressaltando também o que tinha entre as pernas cobertas pelo jeans surrado.
- Por acaso você já esteve com um homem, ? - Maddy arqueou as sobrancelhas, soltando um risinho curioso com determinado trecho da frase dita pelo ex-namorado. - Como sabe que é bom estar com um?!
- Eu preciso aprender a estruturar melhor as minhas frases de impacto. - o ator resmungou para si mesmo, evitando ao máximo olhar para a mulher seminua a sua frente.
- Não seja assim, eu acho homem com homem tão sexy. - Maddison disse com a voz manhosa e um biquinho sedutor, levantando-se da cama aos poucos, encontrando certa liberdade até mesmo para se aproximar de um imóvel, que esperava ansiosamente para que ela o tocasse. Estava tão disposto a fazê-la perceber que não queria deixar de ter um homem por perto, em sua vida e dentro de sua calcinha promíscua.
- Pensei que nunca mais seria golpeado como fui daquela vez em que... - no entanto, acabou se perdendo em suas próprias vontades, caindo sentado sobre uma poltrona e revelando um lado sensível que se negava a acreditar que ainda pudesse de fato existir.
- Daquela vez em que a Lindsay deu um pé na sua bundinha sexy e foi embora para a Inglaterra. Ah, o primeiro amor e fogo nas calças adolescente de um cara... Aquilo foi pesado, . - Maddy reconheceu compreensiva, arriscando pousar uma mão sobre o ombro do homem. - Ela te quebrou, não foi?
- Anos se passaram e eu ainda não juntei todos os pedaços. - riu de sua própria desgraça, olhando fixamente para Maddison. O olhar certeiro que arrastava meio milhão de mulheres para as salas de cinema, o olhar que umedecia calcinhas e o olhar que lhe daria o mundo, caso ele quisesse tê-lo para si. - Vocês mulheres... Vocês são como sentenças! Eu me envolvo com uma e a minha sentença é passar anos sendo esse projeto amargurado de bad boy. E vamos parar de falar da Lindsay, não me obrigue a lembrar da merda que fiz há alguns meses na Inglaterra. - as reclamações foram certeiras em seu orgulho, que palpitou dolorido.
- Como eu poderia esquecer? Você ficou bêbado, abandonou as gravações e foi atrás da vadiazinha. - Maddison não escondia o quanto repudiava aquela atitude desesperada de Liam, desfazendo um riso zombeteiro assim que ele a olhou feio. - Quer saber? Vire gay e venham curtir uma balada GLS comigo! Nós teremos o poder! - Maddison encorajou, mas no fundo sabia que se tratava apenas de uma brincadeira que não deveria ter feito.
- Vai se foder, Maddy. Minha bunda não está interessada em nada disso! - garantiu com uma careta, preferindo se desvencilhar do toque da ex-namorada agora lésbica.
Como o mundo dava voltas.
- Anda, vem aqui me dar um abraço, filhotinho abandonado... - a atriz tentou propor uma trégua, abrindo os braços para recebê-lo. se limitou a respirar fundo, ainda olhando seriamente para Maddison.
- Não quero que me abrace, você me traiu. Você é uma vadia, Maddy! - soltou sem pensar, e se sentiu ainda mais indignado quando a atriz riu ao invés de demonstrar qualquer sentimento ferido. - Esse apartamento é meu, então cai fora. Isso aqui não é motel de lésbicas. E leve todas as suas calcinhas, isso aqui também não é museu erótico de ex-namoradas. - disse rude a mulher, que revirou os olhos e começou a se vestir, nada disposta a retrucar. - Ah, Maddison... - desistiu de deixar o cômodo quando se lembrou de algo importante.
- O quê?! - ela questionou, agora um pouco mal humorada por ter que voltar a morar com o pai.
- Obrigado. - o ator revelou um largo sorriso, que destacava uma sem-vergonhice impressionante.
- Pelo que, ?
- Nunca fiquei tão feliz por ser corno. Agora, como vingança, eu posso comer a pseudo-celebridade gostosa que eu quiser! - sorriu, feito o galã de Hollywood que qualquer revista feminina alegava que ele realmente era. - Quem perde é você, Anabelle. - utilizou o nome da personagem de Maddison na série, satisfeito ao assistir o sorriso dela desaparecer dos lábios em um piscar aflito de olhos.
Após verbalizar uma das maiores provas do quanto não prestava, deixou o quarto, ouvindo uma gargalhada alta e empenhada de Maddison lhe garantir que, apesar dos pesares, estava tudo bem.

Fim do flashback.

02


Everything that you've ever dreamed of, disappearing when you wake up (Night Changes - One Direction)


Não, é claro que não estava tudo bem.
Na verdade, mal conseguia se lembrar de quando podia dizer com segurança que estava tudo bem.
Mas o ator já estava acostumado a conviver com essa sensação em sua consciência e coração, que continuava a apertar com simples menções ou lembranças nebulosas de alguns fatos que assolavam a pessoa sem sentimentos e problemática que ele se dedicava a ser atualmente. Afinal de contas, o mundo da fama não aplaude bons exemplos. Ele quer caos, ele exige caos... Esse é o lamentável preço a se pegar.
Ser um ator nunca foi somente a profissão de , também era a sua realidade. Viver encenando foi a forma mais aceitável e digna que encontrou para continuar vivendo.
Desistiu de seu bronzeado e do cigarro que fumava por simples falta de algo mais saudável para fazer, adentrando sua mansão com o andar sempre despreocupado, apesar de seus passos agora estarem mais rápidos e ansiosos, porque estava prestes a rever uma grande amiga. Uma das poucas criaturas do planeta Terra que o entendia muito bem, apesar das suas condições. Não queria saber de sua carreira, nem de sua ex-namorada, de seu assessor, empresário, fãs ou qualquer polêmica que envolvesse seu nome. Tudo que queria naquele momento consistia em passar algum tempo conversando com Chanel.
O homem sorriu verdadeiramente feliz ao chegar ao outro lado escampado da propriedade e percorrer uma pequena colina coberta por relva, avistando Chanel no mesmo lugar de sempre, mastigando algo e relinchando, como se demonstrasse também estar feliz por ver o amigo se aproximar correndo feito um garotinho.
Chanel era uma égua alazão da raça Quarto de milha, que vivia em um estábulo exclusivamente seu, onde sempre foi tratada como uma rainha pelos empregados e por , é claro. Chanel era muito mais que um cavalo que decidira comprar quando observou suas contas bancárias e percebeu que elas estavam prestes a transbordar. A égua fazia parte da família, e fazia com que o ator tivesse memórias não tão agridoces da vida que costumava levar antes de se tornar famoso.
- Ei! - se aproximou sorridente, distribuindo um carinho reconfortante sobre a crina do animal, já tão acostumado a vê-lo. - Como você está? Dormiu bem? Já foi passear hoje? Ah, que bom! - ele sustentava o sorriso enquanto dialogava com Chanel, que levou seus olhos negros e brilhantes até o rosto do homem, como se soubesse pelo que ele estava passando no momento. - Não me olha assim, Chanel... É, você tem razão, não posso esconder isso. A vadia da Maddison me traiu com uma mulher. Isso mesmo, ela é lésbica. - ele abriu a porta de madeira do estábulo, proporcionando a égua um pouco de liberdade para que pudessem caminhar pelos hectares da propriedade. - Eu odeio as mulheres. - resmungou, parando de andar ao ouvir o animal relinchar novamente, não tão bem humorado dessa vez. - Epa, não me olhe assim, você é uma égua! - justificou, tentando fazer Chanel perceber que ela não fazia parte dos seres que o ator decretou odiar. - E em um sentido nada pejorativo, ok? Fique tranquila. Você provavelmente tem mais sentimentos e coração que todas as mulheres juntas. Você me entende! - encolheu os ombros ao se dar conta de como estava soando patético naquele dia. - Ótimo, minha melhor amiga nem mesmo é humana. Isso é engraçado, não é, Chanel? - questionou, olhando vidrado para a égua, como se realmente esperasse alguma resposta conclusiva. Em seguida, soltou um riso incrédulo, negando com a cabeça. - Só mesmo a minha mãe para colocar esse nome em uma égua. Chanel... - suspirou pesadamente, dando um tapinha amoroso sobre as costas do animal, de repente mais melancólico do que não se sentiu por vários, vários anos. - Eu também sinto falta dela, garota. - admitiu com o olhar perdido no jardim que se estendia colina abaixo. Oh, ótimo, seu coração latejou, como não acontecia há semanas. desenvolvera a complicadíssima capacidade de bloquear pensamentos e memórias que não lhe agradavam ou traziam alguma dor consigo. Mas, como nada é perfeito, o pseudo-super-poder funcionava muito melhor quando ele estava bêbado. - Mas as coisas estão melhores assim. - concluiu, erguendo o rosto de forma resignada, nada disposto a sucumbir àquelas fraquezas, pois era muito mais fácil e divertido não ter coração, sentimentos e alguma noção do que era realmente certo ou errado.
- ! ! PELO AMOR DE DEUS, ONDE VOCÊ ESTÁ?! TEMOS UM PROBLEMA! - Trevor, seu afobado empresário, veio correndo pelo jardim, tão vermelho e apavorado que fez acreditar que poderia explodir a qualquer momento. O ator permaneceu em silêncio, ao lado da égua, que parecia compartilhar do mesmo olhar de indiferença que seu dono sustentava para Trevor. - Lembra daquela mulher com quem você dormiu ano passado e, por pura e incompreensível burrice, filmou a coisa toda? - o homem de estatura mais baixa que a maioria dos outros gesticulava, prestes a dar um soco na cara de .
- Oh, mas é claro... - o ator concordou com um sorriso safado, tentando se recordar com clareza de tal peripécia. - O que tem ela? Está com saudade do puro sangue aqui?!
- , há um hacker ameaçando vazar a sua sex tape com essa mulher. Eu honestamente acho que ela é o hacker ou contratou algum, e quer dois milhões de dólares para não fazer isso. - Trevor perdeu o fôlego ao explicar, muito mais exaltado e receoso que o próprio protagonista da obscena filmagem.
- Já te disse, Trev, deixa a vadia vazar a porra do sexo! - deu de ombros, nem mesmo capaz de fingir alguma preocupação com o assunto.
- Você não tem noção de como isso pode afetar sua carreira, seu imbecil?! - o outro homem continuava a ralhar com seu sotaque britânico, prestes a chocar a cabeça do ator contra alguma superfície dura, quem sabe assim ele recobrasse a consciência sensata que costumava ter.
- Cara, eu fiquei totalmente pelado em alguns dos meus filmes. E beijei um homem em outro. As pessoas não ligam mais para as minhas polêmicas... - tentava acrescentar o máximo de sentido a suas palavras feitas em calmaria, ousando até mesmo rir do jeito neurótico do empresário. - Já perceberam que não sou um príncipe de verdade, só na ficção, e que eu cago, literalmente ou não, como qualquer outra pessoa. Aliás, o rosto da vagabunda nem aparece nas filmagens, a bomba vai explodir completamente para o meu lado.
- Esse é o ponto, seu pedaço de merda! - Trevor pouco se importava com seu vocabulário alterado e nada profissional, pois sabia que jamais teria coragem de demiti-lo, ao contrário das ameaças que fazia constantemente.
- Dá próxima vez eu vou contratar uma empresária mulher que seja gostosa e não fique me enchendo o saco! - disse alto, perdendo sua paciência impecável aos poucos.
- O hacker vai vazar o vídeo em dez minutos. Pensa rápido!
não precisou nem de cinco segundos para tomar uma decisão. E lá estava sua carreira na corda bamba outra vez. Ah, era divertido!
- Manda ver. - sorriu o mais largo que pôde, montando com habilidade sobre Chanel, que começou a trotar na direção contrária de Trevor. - Essa mulher já teve o meu pau em um dos buracos dela... ESSA É A ÚNICA COISA QUE CONSEGUIU OU VAI CONSEGUIR DE MIM! - vociferou quando a égua começou a se movimentar com mais rapidez para longe. gargalhou do semblante incrédulo do empresário e deu as costas, cavalgando sem culpa para qualquer lugar onde sua falta de escrúpulos fosse melhor respeitada.
Trevor concluiu, com pesar, que estava mesmo perdido. Uma das diversas estrelas de Hollywood que não demoraria muito a queimar e desaparecer.
Talvez para sempre.


ALABAMA

O clima sulista parecia ciente da mudança arrebatadora prestes a acontecer na vida de .
Os dias já muito ensolarados pela manhã deram lugar a uma temperatura duvidosa que oscilava constantemente, eriçando os poros dos braços descobertos da moça, que não tinha certeza se tinha escolhido as roupas apropriadas para aquela arriscada viagem.
Se despedira de sua mãe com lágrimas escorrendo pelo rosto, ainda tentando argumentar com ela que aquela não era a melhor escolha a se fazer. Pelo menos por enquanto. Mas Claire era teimosa e não abriria mão de ver a filha realizando seu grande sonho.
ouviu seu despertador tocar às seis da manhã, em ponto, e se escondeu embaixo das cobertas, na tola ilusão de que sua mãe se esqueceria daquele mirabolante plano e a deixaria dormir até às oito, como estava acostumada a fazer. Talvez Claire se esquecesse da insanidade que a motivou a comprar uma passagem só de ida para Los Angeles, disposta a aceitar que sua filha fosse parar do outro lado do país. Apesar de ter arrumado suas malas e, depois de muito trabalho árduo, conseguido encaixar seus sapatos dentro das poucas malas que tinha, sofrendo ao imaginá-los esmagados uns sobre os outros, havia uma parte de que não queria ir embora.
Não estava pronta para ir embora.
Tinha medo de ir embora.
O mundo do lado de fora de sua casa simples era enorme e assustador, e ela era só uma garota de vinte e dois anos que não sabia como viver sozinha. Por um instante, se sentiu feito um soldado iniciante, que teria que ir para a guerra pela primeira vez, temendo a possibilidade de não sobreviver ao seu primeiro minuto dentro de um campo de batalha.
Mas Claire não se esqueceu do combinado e deu as três rotineiras batidinhas na porta do quarto da filha, a apressando para tomar café, pois não poderia perder o ônibus que a levaria até a rodoviária, para então seguir até o principal aeroporto do Alabama, em Birmingham.
Ergueu os olhos perdidos até a estrada precária que se estendia a sua frente. Ou o ônibus estava atrasado, ou aquele era um sinal do Universo para que ela voltasse correndo para o diner de Claire.
estava sentada sobre suas duas malas empilhadas no asfalto do meio fio, batendo a sola de seu sapato contra o mesmo incontáveis vezes. Ao seu lado, um silencioso Wyatt, que não foi corajoso o suficiente para negar o pedido de Claire, que consistia em acompanhar a moça até o ponto de ônibus e esperar até que ela partisse de uma vez por todas e levasse um pedaço trincado do seu coração consigo. Queria ter forças para pedir que ficasse, mas sabia que não era justo.
Como Wyatt poderia competir com Los Angeles?!
- Me desculpa por tudo... - murmurou com certa vulnerabilidade, abraçando o próprio tronco coberto pelo vestido florido. - Você é um cara muito legal, Wyatt, eu só...
- Eu sei, . Não se preocupa com isso. - ele a interrompeu, negando com um menear tristonho, garantindo a ela que não tinha do que se desculpar. Que não era certo se desculpar por querer correr atrás dos seus sonhos e realizá-los. Wyatt, então, deu meia volta e ficou de frente para a moça ainda sentada sobre as malas, seus olhos marejados fixos nele, tornando aquela despedida ainda mais insuportável. - Vá, garota, domine o mundo! - encorajou sorridente, por mais que estivesse destruído por dentro. - Vou te assistir na televisão e pensar... Essa garota já foi minha, e eu a deixei ir embora. Que estúpido! - percebeu, respirando fundo e tentando conter a vontade louca de abraçá-la e não deixá-la ir. - Eu vou ficar bem, você vai ver.
- Sabe... - ficou de pé, se aproximando com coragem do amigo. - Los Angeles não é tão longe assim, pelo menos ela fica dentro desse mesmo planeta. - Wyatt percebeu um brilho repentino cintilar pelos olhos de , que segurou suas duas mãos e sorriu aventureira. - Venha me visitar quando puder, por favor!
Wyatt sabia que a possibilidade daquilo acontecer era muito remota, mas não deixou que tivesse conhecimento do seu pessimismo, e então imitou o sorriso dela.
- Talvez eu vá. - prometeu falsamente, sentindo o coração bater nas orelhas quando avistou, ao longe, o ônibus que levaria sua para bem longe se aproximar com velocidade.
- Ai, meu Deus! Está na hora! - se desesperou, tentando segurar as duas malas de uma vez, o que quase a fez tropeçar nos próprios pés. - Wyatt... - disse hesitante, ensaiando em sua mente o momento em que abraçaria o garoto, como um complexo script que, apesar de saber que precisava memorizar e desempenhar com talento, não se sentia nada feliz a respeito. - Obrigada por tudo. Nunca vou me esquecer de você! - prometeu chorosa, deixando-se levar pela vontade de abraçá-lo, sentindo os braços fortes de Wyatt envolverem sua cintura e pressionarem ambos os corpos, o máximo possível, já lidando com uma saudade incontestável.
O ônibus parou de frente para os dois, e então suas portas barulhentas e nem de longe novas se abriram. O motorista lançou um olhar impaciente a , que se desvencilhou rapidamente do abraço de Wyatt, recebendo a ajuda do mesmo para guardar suas malas no porta malas do ônibus, que fora aberto por um dos homens que dali de dentro saiu.
- Anda, , vai logo! Você vai perder o ônibus! - o garoto a apressou risonho, quando percebeu que ela acabaria sendo deixada para trás se continuasse imóvel sobre a estrada. - Nós vamos nos ver de novo, não se preocupe. - agora não soava mais como uma mentira.
Como um grande estímulo, atendeu ao pedido do amigo, correndo para dentro do veículo, com pressa.
Ofegante e meio desnorteada pelos movimentos bruscos das próprias pernas, ajeitou a alça da pequena bolsa amarela sobre o ombro. Respirou fundo, observando tímida e meio receosa os outros passageiros distribuídos por todos os bancos, que devolviam o olhar com nada além de indiferença. Finalmente, acomodou-se em um dos bancos do fundo, onde poderia ter liberdade para divagar loucamente e chorar o quanto sentia que precisava até que chegasse ao aeroporto.
E a partir desse momento, nada de lágrimas.
Wyatt permanecia imóvel do lado de fora, na calçada, acenando tristemente para a amiga, apesar do sorriso imutável nos lábios. Ela grudou a testa sobre o vidro do ônibus, acenando igualmente nostálgica, fechando os olhos com força ao sentir o veículo começar a se movimentar de novo.
Wyatt foi ficando para trás, assim como sua antiga vida pacata que ia se perdendo pela vegetação ao redor.
Os olhos de se mantinham fixos na paisagem característica do interior do Alabama, e sua mente fervilhava com diversos sonhos e pesadelos, ambos agora se atracando e fazendo a moça estremecer sob a própria pele.
Não tinha mais volta, ela estava indo para Los Angeles. Para realizar seu grande sonho de ser atriz.


LOS ANGELES, CALIFÓRNIA

se sentia feito uma formiguinha, no meio de milhares de outras formiguinhas que buscavam incessantemente por seu caminho de volta para a casa. Só que ela não estava voltando para a casa. Aliás, aquele lugar não tinha absolutamente nada a ver com o lugar que chamara de lar até algumas horas antes.
O Aeroporto Internacional de Los Angeles, mais conhecido por LAX, estava abarrotado, fazendo com que a garota do interior se sentisse ainda mais perdida. Ela tentava se equilibrar nos saltos, carregar as duas malas com o auxílio de um carrinho e percorria o olhar eufórico e ao mesmo tempo terrificado por todas as direções, como se um anjo guia pudesse aparecer a qualquer momento, a orientando a respeito das próximas direções a tomar.
- Não acredito que estou em Los Angeles! - comentou emocionada com uma senhora baixinha e dona de uma carranca imutável que estava a sua frente na fila. Seu estômago pouco se importava se ainda estava no Alabama ou na Califórnia, queria comida. A moça encontrou apenas uma tal de Starbucks, que nunca tinha ouvido falar em sua vida. Bom, já que arriscara tanto mudando de estado, um café com apetrechos inéditos não poderia lhe fazer mal, não é?
- Já experimentou ir para o inferno? Dizem que também é ótimo! - a mulher disse, escorrendo ironia e demonstrando estar incomodada por ter uma pirralha serelepe e vestida de forma tão colorida puxando assunto.
arregalou os olhos, surpreendendo-se com a falta de educação da senhora, que já havia dado as costas para ela.
- Oh, não, meus sapatos não combinam com o inferno, eu acho. - disse risonha, olhando para os próprios pés já meio doloridos. - Os seus, por outro lado...
Por sorte, ela logo foi atendida e pôde sair correndo para bem longe da senhora, que não gostou nada do que ouviu.
Sem rumo novamente, a moça se dispôs a sentar em uma das inúmeras cadeiras ali enfileiradas para comer tranquilamente. O gosto do frappuccino até que era bom, mas não grandes coisas, ela reconheceu ao sugá-lo pelo canudinho. Devorou o muffin em apenas três mordidas, sem deixar de contemplar maravilhada tudo que surgia ao seu redor.
As pessoas pareciam tão descoladas e independentes, tão glamourosas e rudes. se sentia um peixinho colorido fora d'água, que se encolhia sobre a cadeira e, se fosse um pouquinho mais nova, estaria chorando e pedindo por sua mamãe.
Determinada a não desistir e muito menos bancar uma medrosa babaca, ela voltou a ficar de pé. Livrou-se do lixo em uma lixeira qualquer e voltou a caminhar a esmo pelo aeroporto, degustando a bebida quente e pedindo desculpas a todas as pessoas que cruzavam seu caminho de um jeito não muito gentil.
Uma mulher chorosa de frente para uma das escadas rolantes chamou sua atenção. De longe, percebeu que ela continuava estagnada ali, olhando fixamente para as escadas, como se esperasse por algum príncipe encantado para curar seu coração machucado.
, movida pela sua curiosidade digna de uma criança, digna de uma Alice no País das Maravilhas, porém perdida em Los Angeles, se aproximou para investigar melhor, cutucando a moça de cabelos cacheados no ombro e esperando que ela se virasse.
- O que foi?! - a mulher questionou tristemente, enxugando com agilidade os olhos borrados por maquiagem.
- Tem algo errado? Precisa de alguma ajuda? - investigou receosa, motivada pela educação digna do Sul, percebendo que a moça demonstrou até que certa gratidão por ter despertado o seu interesse.
- Mas é claro que tem algo errado. O mundo está todo de cabeça para baixo! - ela berrou, andando de um lado para o outro, o que deixou meio desnorteada, limitando-se a observá-la imóvel. - Meu namorado me deu um pé na bunda! Dentro de um aeroporto! - a mulher ainda sem nome, pelo menos para , arregalou os olhos, gesticulando furiosamente enquanto ainda chorava. Era o choro mais engraçado que já tinha ouvido em sua vida. Não era nem de longe o que estava esperando ouvir assim que colocasse seus pés na Cidade dos Anjos.
- Oh... - tentou se manifestar, mas percebeu que levaria algum tempo para que conseguisse.
- Ele é burro?! Em aeroportos você faz declarações de amor e pedidos de casamento... Não termina relacionamentos! - a pobre criatura desiludida batia um dos pés contra o chão, em uma birra nada condizente com os seus prováveis vinte e poucos anos. - Bem vinda ao mundo real, seja lá quem você for.
- Meu nome é . - ela se apresentou com um sorriso incerto, estendendo a mão para a outra, que olhou da mesma para o rosto de , até que a moça decidiu romper o cumprimento proposto. - Precisa de um lencinho? - ofereceu, já abrindo o zíper de sua bolsa amarela.
- Você é tão gentil! Meu nome é Sophia... - finalmente se apresentando, Sophia aceitou de muito bom grado o lencinho que lhe ofereceu, enxugando as lágrimas e assoando o nariz, produzindo um som que fez se segurar para não rir. - Como posso retribuir? - Sophia questionou, determinada a fazer algo pela moça de olhos meio esbugalhados e estranhamente brilhantes a sua frente. Ela definitivamente não era da Califórnia.
- Bom, se você puder me dizer onde eu consigo alugar um quarto, ajudaria muito... - coçou a nuca, notando que Sophia não desgrudava os olhos do seu rosto, como se procurasse por algo impossível de ser encontrado. - Algum problema?
- Eu te conheço de algum lugar... - a morena deduziu, estreitando os olhos.
- Isso é impossível, eu venho de muito, muito longe e...
- Ai, meu Deus do céu, corre! CORRE! - Sophia exigiu aflita, puxando pelo braço, na tentativa de estimulá-la a correr.
Sem saber o que fazer, agarrou seu carrinho de malas com força e começou a correr no encalço de Sophia, temendo que pudesse se tratar de algum atentado terrorista ou um terremoto. Assistira muitos telejornais com a sua mãe, e sabia como catástrofes como aquelas poderiam acontecer a qualquer momento.
Droga, já estava com saudades de sua mãe.
Olhou ofegante para trás, fechando os olhos ao sentir um flash de câmera disparar diante de si e alguns homens de preto apertarem o passo em direção as duas. Sophia voltou a puxá-la, agora enfiando as duas em um largo corredor e logo foram parar dentro de um banheiro isolado, despistando completamente os homens estranhos e que deixaram assustada.
Seriam eles paparazzi?
grudou o corpo contra uma das paredes, sem saber como reagir diante do semblante psicopata de uma Sophia pronta para começar a gargalhar.
- O que está acontecendo?! - questionou em um murmúrio, percebendo que a outra vinha a passos cautelosos na sua direção.
- Que roupa é essa, Maddison?! - Sophia pediu inconformada, os olhos arregalados deixavam claro a surpresa por estar frente a frente com uma celebridade. - Seu personal stylist sabe que você anda usando sacos de batata decorados por crianças de cinco anos? Caramba, eu não acredito que Maddison Wickham está bem diante dos meus olhos! Como isso aconteceu?! É algum programa estranho da MTV? Cadê as câmeras? - Sophia começou a olhar ao redor, procurando pelas tais câmeras.
não fazia a mínima ideia do que estava acontecendo, e não havia compreendido metade das palavras ditas pela louca que andava em círculos eufóricos a sua frente.
Então, querendo ou não, ela teria que fazer aquela pergunta.
- Quem é Maddison? - travou os lábios em uma linha reta, assistindo Sophia cessar os passos e olhá-la abismada.
- Coitadinha, está usando drogas de novo e se perdeu no aeroporto! - a morena tentou puxá-la para um abraço em sinal de compreensão, mas conseguiu se desvencilhar e ergueu o dedo indicador, em sinal de advertência.
- Eu não... Eu não tenho a mínima ideia do que você está falando. Meu nome é e eu vim do Alabama. Não percebe o meu sotaque sulista e meio irritante?! - apontou para a própria boca, deixando Sophia cada vez mais perdida em toda aquela história.
- Espera aí... - Sophia levou as mãos até a cabeça, tentando raciocinar direito. Por sorte o banheiro feminina estava vazio. - Os paparazzi lá fora te viram e também acharam que você é a Maddison. Eu também acho que você é a Maddison... Mas você está dizendo que não é a Maddison. - a cabeça de estava prestes a dar um nó irreversível. - Então... Quem é você? - apontou o batom vermelho que antes utilizava para retocar os lábios em sua direção, exigindo por explicações bem claras.
- Já te disse, meu nome é ! - reafirmou, postando a mão sobre o peito e perdendo aos poucos a paciência impecável que costumava ter.
- E quem é ?! - Sophia pediu confusamente.
- Eu sou a ! - vociferou, prestes a dar um tapa no rosto da outra, por estar dificultando tudo.
- Ai, merda... - Sophia fechou os olhos com força, cambaleando para trás. - Tontura, tontura! Como é possível que você não seja a Maddison?! A menos que... NOSSA! - ela berrou, dando um pulinho histérico. - Acabei de ganhar a minha carreira com isso! Você é a irmã gêmea nada afortunada da Maddison, que viveu nas sombras do Sul até hoje, mas agora decidiu marcar seu espaço no mundo. Capa e principais páginas! - Sophia abriu os braços no ar, como se enxergasse a capa de uma importante revista de fofocas.
Apesar do momento glorioso da mulher, ainda não entendia porcaria nenhuma do que se passava ao seu redor.
- Essa... Essa tal de Maddison se parece comigo? - pediu incrédula, com uma sobrancelha arqueada e os braços cruzados sobre o peito.
- Minha querida, você parece o reflexo do espelho dela! Exceto pelas roupas lamentáveis, as pontas duplas e a cara lavada. Mas, sim, você e a Maddison poderiam ser irmãs gêmeas... Sou jornalista, eu posso investigar isso.
- E o que ela é? - utilizou de mais um pouquinho da sua curiosidade abundante, chocada com a descoberta de que existia mesmo um rosto igual ao seu vagando por aí.
- Garota, será que você não assiste televisão ou usa a internet?! - Sophia estava inconformada com a falta de informação da cópia de Maddison, que encolheu os ombros e contraiu os lábios em um princípio de bico tristonho.
- Não era sempre que a televisão funcionava. - explicou envergonhada, desviando o olhar de Sophia. - E o sinal de internet não chegava onde eu morava, era bem longe da cidade grande.
Sophia entreabriu os lábios, recorrendo a sua enorme bolsa roxa ao se lembrar de algo importante. Retirou seu notebook de dentro da mesma, a expondo aos olhos atordoados de .
- Isso aqui é um notebook. N-o-t-e-b-o-o-k. - disse pausadamente, soletrando enquanto apontava para o aparelho, como se falasse com um bebê ou alguém sem capacidade mental de entendê-la. rolou os olhos nas órbitas, irritando-se com tamanho absurdo.
- Caramba, eu fui criada no sul e não com homens das cavernas, Sophia! Sei muito bem que isso é um notebook! - defendeu-se, porém se aproximou da moça ao vê-la colocar o notebook sobre a bancada da pia do banheiro, digitando rapidamente alguma coisa na pesquisa do Google.
- Parece familiar? - ela sugeriu com um olhar que se aproximasse e prestasse bastante atenção. Receosa, postou os olhos na tela do notebook, e foi como se deparar com um espelho mágico, que mostrava a sua própria imagem, só que centenas de vezes melhor. Ela piscou os olhos algumas vezes, sentindo seu queixo cair. Era como estar de frente para a sua versão barbieficada. A mulher que estampava as páginas de fotos era uma atriz famosa, que atualmente brilhava no papel principal de um dos maiores sucessos da HBO, a série Royal Secrets. A mesma idade, os mesmos cílios de dar inveja a qualquer adoradora de rímel... A mesma aparência! - O nome dela é Maddison Wickham.
finalmente assimilou tudo e as coisas passaram a fazer bastante sentido. Oh, não. A realidade veio dura e a fez sentir como se um balde de água fria estivesse sendo despencado lentamente sobre a sua cabeça.
- Não posso ser uma atriz famosa em um mundo onde há outro rosto igual ao meu já sendo tão famoso assim... - apontou frustrada para o notebook, que exibia a foto de Maddison Wickham em algum photoshoot milionário, com cabelos perfeitamente encaracolados e lábios mais vermelhos que o sangue circulando com fúria pelas veias de . - Isso não pode estar acontecendo, não pode!
- Calma... Deu certo com as gêmeas Olsen, não deu? - Sophia ofereceu uma solução plausível, recebendo um olhar ainda mais desanimado de , que cogitou sinceramente a hipótese de comprar uma passagem de volta e retornar para o Alabama. Ou fazer uma cirurgia plástica que alterasse por inteiro a sua aparência.
Ok, extremo demais.


Maddison encontrou grande dificuldade para chegar até a Range Rover que a aguardava do outro lado da rua. Uma infinidade de fãs, curiosos e paparazzi surgiram no seu caminho, obrigando a mulher a cobrir a região dos olhos com óculos escuros e depois com uma das mãos. Sua cabeça ainda latejava e ela não via a hora de poder se ver livre de tamanha agitação. Ainda precisava conversar com seu pai e acertar as coisas com o homem, pois não se falavam há meses e agora ela precisava de um teto.
- Me deixem em paz! - vociferou para grande parte da multidão, que tentou puxá-la para longe do carro, na tentativa de conseguir um pouco de sua requisitada atenção. Maddison se controlou para não dar um soco no rosto do maldito paparazzi com dois metros de altura, mas, por outro lado, foi com imensa alegria que lhe mandou o dedo do meio.
Feito isso, ela finalmente conseguiu adentrar o carro, ordenando ao motorista que pisasse fundo e a tirasse daquela encrenca de uma vez por todas.
Céus, como odiava tudo aquilo. Odiava não poder pisar na rua e já ter seus passos registrados. Odiava os fãs histéricos que gritavam em seus ouvidos. Odiava ter que dar satisfações de sua vida para todos, pelo simples fato de ter se tornado uma figura pública.
Oh, se pudesse desfazer tudo aquilo... Não pensaria duas vezes. Sua maior vontade naquele momento era viajar pelo mundo, para países tão distantes que seu rosto seria visto como qualquer outro.
- Juro por Deus, eu pagaria milhões de dólares para desenvolverem uma irmã gêmea em laboratório para lidar com toda essa porcaria! - resmungou para si mesma, retirando os óculos escuros e verificando os últimos acontecimentos pelo mundo em seu celular.
Ignorou por completo a notícia de que uma sex tape com , seu ex-namorado, tinha vazado há poucos horas, descendo as páginas e procurando por algo ao seu respeito. Porque, apesar de não gostar de ter os holofotes sobre si, ela ainda se permitia se deliciar com toda a atenção que recebia, com as suas fotos circulando por aí.
Gostava de observá-las e de fingir que era outra pessoa.
Maddison logo encontrou o que procurava... Quer dizer, quase.
Era o seu rosto estampando aquela fotografia, mas ela não se lembrava de ter pisado em LAX naquele dia, tampouco de estar usando um vestido tão... Brega.
- Puta merda, puta merda, puta merda! - berrou, fazendo com que o motorista se assustasse e fizesse o veículo parar abruptamente.
Boquiaberta, Maddison analisou cada traço daquele rosto tão, tão, tão parecido com o seu. Aliás, não era parecido... Era completamente idêntico ao seu.
Ela poderia até ligar para a polícia e relatar um possível roubo... De sua aparência.
Contrariando o que qualquer outro ser humano sensato faria, Maddison sorriu largo, ideias brotando a mil por fração de segundo em sua mente.
Seria essa a sua grande chance de cair fora de Hollywood?


Continua...



Nota da autora (14/12/2015): E lá vamos nós de novo! <3 Se preparem, pois Faking It promete!

Meus contatos:
Grupo no Facebook
Ask.fm





comments powered by Disqus




Qualquer erro nessa atualização e reclamações somente no e-mail.
Para saber quando essa fic vai atualizar, acompanhe aqui.
Alguma pergunta? Faça aqui.



TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO SITE FANFIC OBSESSION.