Última atualização: 13/12/2017

Prólogo

“Eu ouvi o padre dizer: ‘Fale agora ou se cale para sempre’.
Há o silêncio. É a minha última chance.
Levanto-me com as mãos trêmulas, todos me olham, quatro ou cinco olhares de todos na sala.
Mas eu estou apenas olhando para você.
Eu não sou o tipo de garota que interrompe rudemente uma ocasião de véu branco.
Mas você não é o tipo de garoto que se casaria com a garota errada.
‘Não diga sim. Fuja agora!’
Não espere ou diga nenhum voto”



Introdução

A vida de sempre foi muito boa. Criada com os privilégios que o dinheiro dos pais poderiam lhe dar e com todos os mimos que poderia receber, ela estudou nos melhores colégios da cidade, sempre fez o que quis, e sempre foi cercada de amigos e popularidade. Mas apenas um deles era especial: . Se conheceram por acaso, e por acaso hoje eles se amam. De toda forma, como em todo conto de fadas da vida real, não sabe do segredo de , e não sabe do segredo do amigo – por mais que seja um sentimento mútuo.
Talvez toda essa tragédia de paixões platônicas fosse o suficiente para garantir uma boa dose de drama, mas na vida real não funciona bem assim. O melodrama se assemelha a uma bola de neve, que cresce cada vez mais: para todo o túmulto ser maior ainda, Catarina apareceu na vida dos dois. A nova namorada de .
Que de repente alega estar grávida aos vinte e dois anos de idade, e a família do garoto, das mais tradicionais, preferiu que se casasse com a menina; mesmo tão jovem.
O que ninguém sabia era que , a garota que sempre foi mais que curiosa, havia descoberto o grande segredo de Catarina. Segredo esse capaz de colocar todo o matrimônio em jogo.
E o que fazer com ele?
Contar? Espalhar para a família e desmascarar a megera? Guardar para si mesma e esquecer de vez?
É melhor respirar. Ela tem pouco tempo para fazer isso. E, antes de mais nada, ela precisa pensar muito nas consequências. Será que vale mesmo a pena acrescentar mais catástrofes ao roteiro dessa novela?



CAPÍTULO UM

TRACK: WE DON’T TALK ANYMORE

Sexta-Feira, 10 de fevereiro de 2017
Paris, França.

O convite estava abandonado no criado-mudo. O celular em mãos, enquanto as mesmas suavam de nervosismo; o que não era muito normal para mim.
Eu podia ver a neve cair levemente pela janela do hotel, forrando os carros e calçadas como um véu caído sobre o vestido da noiva.
Isso simplesmente estava me tirando do sério. Ficar ali, atravessada naquela cama trajando apenas o roupão felpudo do hotel, olhando pela janela e catalogando quantas coisas me lembravam a palavra casamento.
— Você não pode fazer isso — sibilei entredentes — Eu não posso fazer isso! — nesse momento comecei a me debater contra mim mesma.
Me recordar das cenas que vi na semana passada não me faziam bem. Faziam-me ainda mais mal, as palavras com que ele me deu a notícia mais feliz de sua vida. Era um tom irônico, mas ao mesmo tempo me arrasou totalmente por dentro.

Quarta-Feira, 04 de janeiro de 2017
São Paulo, Brasil.

, eu vou me casar. No próximo mês, com Catarina. — disse, segurando minhas mãos delicadamente — Eu vou ser pai!
Nesse momento, uma cratera parecia ter se aberto abaixo dos meus pés e eu estava caindo. Aquela notícia me atingira como um empurrão para uma vala que parecia não ter fim.
Não era possível acreditar no que ele estava me dizendo. Casar? Ser pai?!
Qual era o problema de ? Ele não poderia fazer uma dessas coisas de cada vez?
— Em... — balbuciei, enquanto tentava encontrar as palavras certas para dizer.
Parabéns? Quer um charuto? Vamos parar no próximo bar e beber para comemorar? , vou te matar, seu filho da puta? — Como?! — foi à única coisa concreta que conseguiu sair da minha boca.
— Sim — respondeu-me — eu vou me casar com a Catarina! Posso ser mais feliz que isso?! — ele parecia mesmo bem feliz me dando a notícia.
— PODE! — gritei espontaneamente.
Ahn?
— Não! — pausa — Quero dizer... não, isso é... isso é... — ache , as melhores palavras. Não magoe seu amigo; não agora — Incrivel!
— Sim! — ele riu, me abraçando forte o suficiente para tirar meus pés do chão, e começando a rodar de um lado para o outro, enquanto enchia meu rosto de beijos — Eu vou me casar com a mulher mais linda do mundo!
Hm... — murmurei, tentando desviar a bochecha dos seus beijos que me atingiam em cheio.
— Tirando você, é claro — ele se corrigiu — Ninguém é mais linda que você, finalmente me colocou no chão delicadamente, sorrindo.
Aquele sorriso... Ah! Só de pensar que a partir de agora ele será de uma outra pessoa eu... começo a pensar numa maneira menos dolorosa para morrer.
— Mas, , não acha que é muito jovem para ser... — ai, meu Deus, como eu vou dizer isso? —... pai?!
— É, eu sei — ergueu as sobrancelhas — mas... não sei eu... estou feliz. Aconteceu, foi um acidente, e agora não há mais o que fazer...
— Ah... — sorri fraco, olhando em sua direção.
Peguei minha bolsa em cima da cadeira e a coloquei sobre os ombros. Acho que se ficasse mais cinco minutos ali, olhando para seu rosto, eu desabaria em lágrimas.
— Espere, aonde vai? — Perguntou ele, segurando meu braço e me impedindo de abrir a porta.
— Preciso ir... — pausa — Esqueci que eu... eu... tenho manicure. Sabe como é...
— Quer que eu te deixe em casa? — sugeriu.
— Não, eu pego um táxi. — falei, abrindo a porta.
— Tudo bem, então... — coçou a cabeça, daquele jeito meigo com a cabeça de lado que mais me tirava do sério — Te ligo amanhã.
— Claro — falei, descendo as escadas e indo em direção ao portão. O porteiro abriu para mim, e eu sai andando.
Não pude deixar de notar os cabelos loiros oxigenados de Catarina ao descer de um táxi em frente à casa de .
Mas preferi não olhar em seu rosto. Entrei dentro do mesmo táxi, e fui para casa. Chorar e me lamentar por não ser tão corajosa quando pensei ser. Por não ter coragem de admitir tudo que sempre quis para o garoto que eu sempre quis.
E por ter recebido a notícia mais bostejada da minha vida.

Sexta-Feira, 10 de fevereiro de 2017
Paris, França.

— Merda — falei, me sentando na cama.
Olhei em volta, e acabei localizando a TV ligada em algum canal chato de filmes. Reconheci aquele filme de cara, O casamento do meu melhor amigo.
— PORRA, SERÁ QUE TUDO NESSES DOIS DIAS VÃO ME FAZER LEMBRAR DA DROGA DO CASAMENTO DO BABACA DO COM AQUELA VADIA INSUPORTÁVEL?! — gritei, jogando o telefone brutalmente em algum travesseiro espalhado pela cama.
Só espero que daqui a cinco minutos ninguém da recepção venha checar se eu estou louca ou coisa parecida.
Marchei até o banheiro, e joguei uma água fria no rosto. Precisava esfriar a cabeça, quem sabe saindo e rolando um pouco na neve feito um cachorro sarnento.
É, assim que eu me sinto hoje: um lixo. E acho que vai ser assim para sempre.
Saí do banheiro tropeçando enquanto tentava vestir uma calcinha, com tanta pressa que acabei me embolando e tendo que recomeçar tudo novamente. Vesti minha camisa de golas altas branca rapidamente, a saia de veludo com a meia-calça preta e uma bota quente. Coloquei o suéter de cashmere preto, o sobretudo e um cachecol que estavam espalhados pelo quarto bagunçado, e peguei a bolsa.
A cidade estava gelada, e por mais que eu estivesse acostumada com aquele clima devido às muitas viagens que fiz na vida, meu atual estado de espírito parecia triplicar todo aquele frio. Prendi os cabelos dentro de uma touca e em seguida marchei para fora daquele hotel.
Olhar para o fundo do corredor onde, no quarto ao lado, meu garoto poderia estar se agarrando com sua futura noiva, não era nem um pouco agradável.
Ao chegar à calçada, não pude deixar de olhar para a Torre Eiffel ao fundo, completamente iluminada por trás da neve que caia incessantemente e inebriava minha visão.
Atravessei a rua, e comecei a andar pelas quadras que me faltavam até chegar ao enxame de turistas que se espalhavam por debaixo daquela imensa estrutura de ferro.
Antes, passei em uma padaria qualquer e comprei uma caixa lotada de Macarons. Com a caixa em mãos e comendo lentamente aqueles doces, voltei a caminhar na direção da torre, até ser impedida por alguém.
Minha caixa foi parar imediatamente no chão, sem que eu tivesse a mínima chance de defesa, e restou apenas um Macaron de frutas vermelhas que eu segurava na mão.
Meu dia não poderia piorar!
— Filho de uma puta! — exclamei em português, na esperança de xingar até a última geração de alguém que nem ao menos entenderia. Ao mesmo tempo, olhei para cima, para pelo menos identificar o rosto do meliante.
e toda a sua doçura... — pude ouvir a voz de , e ele balançava sua cabeça negativamente.
Nunca diga ou pense que seu dia não pode piorar. Ele vai, infinitamente, ficar pior a cada segundo.
— Ah, oi — ri — Não vi que era você. — toda minha raiva desapareceu naquele exato momento, como se ele apagasse tudo da minha mente.
— Ótima estratégia, xingar as pessoas no seu próprio idioma. Aonde vai? — perguntou ele, abaixando-se para juntar os doces do chão.
— Eu estou indo andar e... — pausa — Esfriar a cabeça — respondi, observando-o colocar todos os Macarons de volta na caixa e levá-la até a lixeira próxima a nós.
— Por qu...
— E você? — o interrompi. Não estava nem um pouco a fim de ser indagada sobre a razão de eu estar meio mal esses dias.
— Eu estou andando, aproveitando a paisagem — retornou até mim e sorriu — E aproveitando um pouco meus últimos momentos de “solteiro”...
— Ah — sorri. Levei o último Macaron que restou em minha mão e o mastiguei lentamente.
— O que vai fazer hoje? — questionou.
passou o braço por minha cintura, e juntou meu corpo ao dele, enquanto andávamos pelas ruas da linda e romântica Paris.
O inverno fazia com que a noite chegasse mais rapidamente, mas o relógio em seu pulso marcava apenas seis e quarenta da noite.
— Nada... — respondi — Por quê?
suspirou.
— Bom, hoje... Você sabe, é minha despedida de solteiro — Ele sorriu — E eu queria passar com você.
— Ah, até parece! — ironizei — O que pretende fazer na sua “despedida” de solteiro? — ri — Logo aqui, nessa cidade? Seus padrinhos devem estar sobrevoando o Atlântico nesse exato momento...
Eu me questionei, durante um mês, o motivo de Catarina ter escolhido um casamento em Paris, sendo que as duas famílias moravam em São Paulo.
Gastar mais dinheiro e aparecer, talvez?
Até porque eles estavam bancando as passagens de todos os convidados. Por mais que se tratasse de uma cerimônia simples e reservada para poucos, pagar passagens aéreas de mais de vinte pessoas era um gasto inimaginável. Mesmo que a família de tivesse uma fortuna, eu continuava a encarar isso como um exagero desnecessário da parte de Catarina.
Usurpadora sem noção.
— Não sei... Vamos sair, beber alguns drinks, dançar sem casacos na neve, ficar doidões — ele riu — Vamos voltar aos tempos antigos...
— Antes de você se comprometer — acrescentei.
— Sim... — pausa — Antes de eu... errar. — disse ele, abaixando sua cabeça.
Segurei seu queixo e a ergui novamente.
— Ei, , não fique assim — sorri — Você ainda tem uma vida pela frente!
— Como se adiantasse algo eu querer voltar atrás — se lamentou, olhando para o nada.
— Vamos, vamos aproveitar! — falei — Sua despedida de solteiro começará agora! — ri, o soltando.
Podia notar a repentina baixa no astral de , e mesmo que eu fosse uma melhor amiga apaixonadamente frustrada, eu precisava me esforçar para vê-lo feliz.
— Sim! — Ele riu — Vamos começar por onde?
— Não sei — falei — Primeiro, vou ao hotel novamente me arrumar. Depois nós vamos sair.
— Ta... você pode passar no meu quarto. Não precisa nem bater, Catarina não estará por lá hoje. Entre e me chame, acho que vou tirar um cochilo e não estou a fim de ir atender à porta.
— Ok — sorri.
— Agora vou ir ali comprar uma coisinha e já estou voltando para o hotel.
— O resto da família já chegou?
— Sim. Mari e Pedrinho devem estar chegando agora... Mas já tem alguém encarregado por buscá-los no aeroporto. O resto só chega na madrugada.
— Ok... Tchau, .
me deu um beijo estalado na bochecha, e logo em seguida sumiu na multidão de gente que se formara perto da torre.
Atravessei as ruas correndo, e fui para o hotel novamente. A neve já estava caindo com uma velocidade maior do que antes, e eu estava com os dedos gelados. Sem querer, me esqueci das luvas.
Coloquei as mãos dentro do bolso do sobretudo e entrei no hotel novamente.



CAPÍTULO DOIS

TRACK: LATCH

Sexta-Feira, 10 de fevereiro de 2017
Paris, França.

Ao adentrar o quarto, me questionei o que estaria mais bagunçado no momento: ele, ou minha vida. O convite continuava em cima do criado-mudo, olhando para mim e me atordoando com a linda caligrafia que estampava: “ Parreira”.
Ao contrário de meus pais, eu havia ganhado um convite só para mim.
Provocação da noiva? Bom, poderia ser uma evidência. Ela não gosta de mim, e sempre fazia de tudo para me alfinetar.
Catarina Muniz vem de família de classe alta, assim como todos nós. Se envolveu com enquanto ele passava as férias de julho do ano passado em Noronha, ela morava no interior do estado e também passava férias na ilha, e então os dois começaram uma espécie de namoro por três meses, onde eles se viam algumas vezes no mês. Depois terminaram. Dois meses depois, ela apareceu na capital, alegando estar grávida de , e eles voltaram a namorar. Além disso, sua família resolveu obrigá-lo a se casar. Afinal, os dois têm vinte e dois anos e já são responsáveis. O casamento foi marcado, e há três semanas recebi o convite.
A cerimônia seria na grande, linda, romântica e exagerada Paris.
De tudo que vivi durante esses oito meses mais turbulentos da minha vida, a pior parte foi quando finalmente me apresentou à loira. Eu nunca a havia visto pessoalmente, apenas pelas fotos das férias que me mostrara. E não foi lá uma coisa muito agradável.

Quarta-Feira, 16 de dezembro de 2016
São Paulo, Brasil.

— Olá, ! — abriu a porta, sorridente — Que bom que veio! Entra... — disse ele, abrindo totalmente a porta para que eu pudesse passar.
— Oi, — sorri, dando um beijo em sua bochecha.
— Bom, quero que conheça uma pessoa, a Catarina — disse, apontando para a garota loira que vinha em sua direção com passos calmos em seu salto alto — Minha namorada.
Olhei-a de cima abaixo. Era alta, magra, pernas e braços finos e ombros pontudos. Tinha um porte físico de modelo. O rosto quadrado, os traços finos e cílios falsos. Os lábios vermelhos cobertos de batom, e os dentes perfeitamente brancos. Os cabelos loiros tingidos eram cortados curtos, na altura do queixo, com uma franja desfiada sobre os olhos.
Naquele momento, comecei a me comparar com ela.
Esqueci-me de todas as minhas leituras e palestras sobre feminismo e sororidade. Foi mais forte que eu. Eu sabia que me envergonharia daqueles pensamentos mais tarde, mas, naquele instante, eu não tinha mais controle sobre minha própria cabeça. Meus olhos verdes ganhariam sem dó de seus secos olhos castanhos. Meu rosto oval era mais bonito que o dela, com certeza. Meu corpo era muito mais bonito que o dela. Havia carne: bunda, peitos, coxas. Nunca fui magra e me orgulhava muito das minhas curvas. Já ela, era totalmente padronizada de passarela. Nossa altura era a mesma, então não havia nada a comparar. E meus cabelos, eram castanhos, longos, de cachos largos e brilhantes, muito diferentes dos seus loiros curtos e lisos.
Então, ainda imersa na minha bolha do individualismo e dos padrões estéticos, eu me perguntava apenas uma coisa: o que viu realmente nessa garota, para levá-la para a cama e fazer uma burrada dessas? Ela era bonita, tudo bem, mas faltava alguma coisa. Era sem sal. Então, o que ele viu nela, que seria melhor do que algo em mim? Simpatia?
Não, ela não me parecia nada simpática.
— Ah, oi — deu de ombros, chegando perto de mim e cruzando os finos braços.
— Olá — sorri.
— Essa é a tal , ? — perguntou.
— Sim, minha melhor amiga, a sorriu.
— Prazer — disse, franzindo o nariz e estendeu a mão a mim.
— Prazer — sorri amigavelmente, pegando em sua mão. Ela pareceu ter nojo de mim, mas não dei importância alguma para isso.
Sobre primeiras impressões, a dela não foi das melhores.
Vai ser um longo fim de vida ao lado de e seu novo acessório.

Sexta-Feira, 10 de fevereiro de 2017
Paris, França.

— Ok, você me odeia, querida Catarina? — disse, enquanto me olhava no espelho. Fingia estar conversando com ela. — FODA-SE! — gritei, me virando para a ducha e a abrindo com brutalidade.
Soltei os cabelos, e calcei os chinelos.
Entrei debaixo da ducha, e comecei a passar os dedos pelo cabelo, tirando os pequenos nós que haviam se formado. Deixei que a água quente caísse em mim como uma mão envolvendo todo meu corpo e me abraçar, me aquecendo.
? Não sei... poderia ser ele aqui, mas não era, eu estava sozinha como sempre.
De dentro da mala procurei resgatar a melhor roupa para uma despedida de solteiro com meu melhor amigo. Acabei optando pelo de sempre: meia calça quente, saia, suéter, sobretudo e cachecol. Nos pés, botas de salto, e na cabeça, preferi não usar touca. Deixei com que os cabelos caíssem em cascatas pelos ombros.
Não tive a mínima paciência para checar se havia recebido mensagens ou não no celular, apenas o joguei dentro da bolsa e saí; pelo meu relógio, estava atrasada.
Assim que cheguei à porta do quarto de , abri sem ao menos pensar. Ele havia me dado às instruções, e eu estava tranquila quanto a isso.
Mas, ao contrário do que eu esperava, acabei vendo uma cena um tanto quanto estranha.
Catarina, sua mãe e sua irmã mesquinha, em pé perto do armário. Mas Catarina estava diferente, ela estava...
USANDO UMA BARRIGA FALSA?
Não, não pode ser. Eu não posso estar vendo a cena certa.
Por que sua mãe está amarrando a provável barriga em suas costas e a irmã rindo? Por que não dá pra acreditar no que estou vendo? Por que não descobri isso antes, a tempo? Porque ela está tão feliz, às custas de outras pessoas?
POR QUE ELA CONSEGUIU MENTINDO?! Por que eu sou tão idiota de fechar a porcaria da porta e não entrar dentro desse quarto para afrontá-las?
Muitas perguntas.
Nenhuma resposta.
Nada além de joelhos tremendo e mãos suadas, enquanto me escorava na parede do corredor, tentando recuperar o fôlego. Meu coração batia forte no peito, como se quisesse rasgá-lo e atravessá-lo. Todo o frio que eu sentia, havia desaparecido por completo.
Arranquei o cachecol, e passei a mão pelos cabelos. Minhas pernas pareciam não querer se mover.
Onde estava, afinal? Porque dentro do quarto ele não estaria... Não naquela situação.
Sentei-me no chão do corredor, e puxei de dentro da bolsa o celular.
Duas novas mensagens. Uma delas, de .

, mudança de planos. Me encontre no hall, Catarina diz que precisa do nosso quarto... é melhor aceitar, ela está meio estressada com o casamento e você sabe o que uma gravidez faz com os hormônios de uma mulher. Beijo, .”

Rolei os olhos e finalmente tive forças para me levantar do chão. Ainda me lamentando por não ter feito nada e me perguntando se o que vi foi real, desci para o hall do hotel, e estava lá. As roupas trocadas, e os cabelos bagunçados. Tinha na mão um cigarro de palha, e o tragava devagar enquanto olhava para fora da grande janela de vidro aberta à sua frente. Parecia frio.
Resolvi não falar e nem comentar nada. Iria fingir que recebi adequadamente a mensagem e a li no momento certo.
Antes de me deparar com aquela cena.
Aquela cena que se repetia na minha mente.
Aproximei-me silenciosamente por trás, tampando seus olhos com as mãos.
— Adivinhe quem é e ganhará um beijo.
— Hm... Espera, eu conheço essa mão linda e macia — ele riu — E essas unhas... e essa voz. ? — retirou minhas mãos e se virou de frente para mim.
— Olá — sorri.
Dei um beijo em sua bochecha. Ele parecia ter acabado de fazer a barba, estava muito liso e cheirando a loção.
— E aí, recebeu a mensagem?
— Não, , não recebi. Eu usei minha bola de cristal para saber onde você estava, demência. — respondi, fazendo careta.
— Você e seu jeitinho de princesa me encantam — Ele riu, segurando minha mão — Vamos? — atirou o cigarro já quase acabado para o lixo, e olhou para mim.
— Vamos. Por onde iremos começar? — perguntei, segurando sua mão com força.
— Vamos andar por aí, e tomar uns drinks — ele riu, me abraçando pela cintura e saímos do hotel.
Andamos calmamente pelas calçadas de Paris, com todas aquelas cores inebriantes. A cidade Luz era mais luz que nunca. E muito mais romântica...
Paramos em um bar de um hotel, e entramos. Havia muita gente, com suas bebidas mais exóticas e suas roupas de grife.
Todos ali usavam bolsas Chanel e Fendi, calças bem ajustadas e boots extremamente chamativos. Sem falar nas maquiagens mais bem elaboradas, ou os cabelos brilhantes e bem cuidados. E as barbas bem feitas.
Não estranharia se me encontrasse com algum ator de Hollywood dentro daquele local.
Bonne nuit — disse o recepcionista do bar.
respondeu, e eu permaneci calada. O garçom nos guiou até uma mesa vazia, perto da janela de vidro.
O estofado das poltronas era macio e quente, então eu não precisava mais do casaco. O coloquei sobre a cadeira ao lado, e dobrei um pouco as mangas da blusa. também havia feito o mesmo.
Bonne nuit — disse o garçom, em francês, estendendo o cardápio para a mesa.
— Vou começar com um Kir — disse — e você, ? — Dois.
deux Kir, s'il vous plaît
Oui — respondeu o garçom, se virando e saindo do nosso campo de vista. Rapidamente ele estava de volta com nossas bebidas. As colocou sobre a mesa, e saiu novamente.
Peguei minha taça, e tomei um pouco.
— E aí, como anda a expectativa? — perguntei, sorrindo.
— Ah... péssima respondeu, os olhos baixos — Sabe, é que... depois de amanhã, nós não vamos mais poder fazer isso.
— Sei... Mas claro que vamos, , você se casar, não virar um escravo!
— Ah, pode ter certeza — ele tomou mais um gole de seu drink — Aquela mulher é o cão!
— Seu bobo, nem deve ser — falei — Pare com isso... A partir de amanhã vocês serão um casal, e um noivo não fala mal de sua esposa pelas costas...
— Fala sim, eu estou falando — afirmou — Ela é um capeta, isso sim... acredita que, desde quando ela me alegou estar grávida, até hoje não dormimos juntos?!
— Dormiram juntos quer dizer... fizeram sexo?
— É! Ela nem ao menos me deixa tirar sua roupa, ou se troca perto de mim. E ainda mais com aquelas saidinhas idiotas dela com a mãe e a irmã toda semana... Atenção para mim que é bom, nada. Mas meu cartão de crédito está sempre na bolsa dela.
Por um momento, estive certa de que sabia a razão de eles não dormirem juntos. Ou pelo menos ela não querer trocar de roupa perto...
Uma barriga falsa seria uma boa opção?
— Ah, não fique assim — disse, terminando de tomar minha bebida — Lembra de quando você me deu a notícia? Estava tão feliz...
— Ou me convencendo de que estava feliz...
— Para com isso! Você não vai ficar mal!
já havia terminado a sua, e estava a chamar o garçom.
— Não vou ficar — respondeu — Mereço coisa melhor. Ei, que tal um uísque?
— Ótimo.
pediu o uísque mais caro do bar, e logo o garçom veio com a bandeja. Nos serviu, e se retirou novamente.
Começamos a beber mais uma vez, e conversamos bastante. A garrafa havia chegado à metade uma hora e meia depois de bastante assunto rolar. E eu já sentia o drink anterior com a mistura do uísque fazer um certo efeito na minha cabeça.
E em também.
— O que acha de irmos dançar agora? — perguntou , depositando seu copo de gelo vazio sobre a mesa e se esticando na cadeira.
— Acho ótimo — falei, me levantando.
se levantou, e me segurou pela cintura, me guiando até o local onde a música eletrônica tocava.
Começamos a dançar, e esquecer de tudo.
Se algum desconhecido olhasse para , não diria que ele estava noivo nem prestes a se casar. E muito menos diria que eu era sua melhor amiga o acompanhando em um último porre de sua vida.
— Esqueci de te falar — gritou ele, em meu ouvido. Era um pouco difícil de entender o que falava, pois a música estava alta.
— O quê? — gritei de volta.
— Catarina pediu para dormir sozinha hoje no meu quarto — gargalhou alto.
— Sério?
— Sim. Coisa de noiva maluca. Vou ter de dormir em algum outro lugar!
— Meu quarto está vazio, se quiser — ri alto, tombando a cabeça para trás.
Já era um pouco impossível raciocinar o que era certo e o que era errado de se dizer à essa altura.
— Eu estava pensando em outra coisa — disse ele.
— O que pensou?
— Em ficarmos aqui nesse hotel, o que acha? — sugeriu — Vi uma vez que as suítes daqui tem TV a cabo e hidromassagem bem grande! A gente pode tomar um banho de espuma e ver séries a noite inteira enquanto pedimos serviço de quarto!
, você tem noiva...
— Ela que se foda, quero ficar com você — ele riu alto.
Minhas células gritavam e pediam por ele. E, agarrada ao último fio de sanidade, eu me segurava para não gritar um sim enorme e empolgado.
E tudo isso martelava na minha cabeça com a informação de que era errado e eu estava a poucas palavras de ficar com o homem de outra mulher.
“Foda-se, ela o roubou antes de você, . Vai lá e dorme com ele, aproveita!”, meu pensamento gritava em meus ouvidos como um diabinho de desenho animado, enquanto eu encarava a carinha de criança de , dançando com movimentos estranhos e bem irregulares.
Antes que eu percebesse ou ponderasse aquela situação, tomei fôlego suficiente para dizer:
— Então vamos! — e puxei forte seu braço.
Finalmente! riu, segurando em minha cintura novamente e me guiando até nossa mesa.
Pegamos nossos casacos e minha bolsa, e fomos em direção à recepção do hotel.
Na minha cabeça, eu começava a me convencer de que não estava fazendo nada fora do padrão aceito pela sociedade.
Apenas dentro da minha cabeça.
— La meilleure suite que vous avez — disse , num francês quase incompreensível, estendendo o cartão de crédito à recepcionista — Veles.
Ela nos olhou de cima abaixo, e pareceu notar que estávamos embriagados.
— Oui — sorriu, estendendo um cartão — 20ème étage, peut prendre cet ascenseur. Le numéro de la chambre est sur la carte — sorriu amigavelmente.
Por mais que eu fizesse aulas de francês durante toda a vida, minha embriaguez me permitiu entender apenas que o quarto ficava no vigésimo andar.
Resolvi confiar na capacidade de compreensão de .
Ele pegou o cartão do quarto e o cartão de crédito de volta e os guardou no bolso. Me puxou com pressa pelo braço, até o elevador.
Assim que entramos a porta se fechou e ele começou a subir rápido.
Disparamos a rir feito duas crianças felizes, e nos empoleiramos um no outro. Ainda bem que, por volta de meia noite, é um pouco difícil as pessoas frequentarem os elevadores; a maioria ainda está nas festas, ou está dormindo.
O elevador parou em um grande corredor, e saímos. olhou com uma certa dificuldade para seu cartão, mas conseguiu identificar os números 203.
Passou-o pela tranca da porta, e ela se abriu. soltou uma gargalhada junto a mim, e adentramos o quarto. Era gigantesco, havia uma antessala e ao fundo um quarto com uma suíte de paredes de vidro que davam vista para o quarto e uma banheira de hidromassagem.
— Ei, venha — disse , jogando o casaco na poltrona e tirando os sapatos apressadamente.
— O que vamos fazer? — perguntei, jogando o casaco ao lado do seu.
foi até o frigobar, e tirou de lá uma garrafa de champagne. Duas taças estavam sobre a bancada, e ele as colocou perto da banheira.
— Venha, vai ser divertido — ele riu.
Andei em sua direção, e observei atenta enquanto ele se atrapalhava para abrir o registro de água da banheira.
— Eu não trouxe biquíni — falei, cruzando os braços.
— E quem disse que vamos precisar disso? — ele riu novamente, arrancando com pressa sua camisa.
Olhei para seu peitoral e senti uma corrente gelada percorrer todo meu corpo. Seus braços eram grandes e fortes, e seu abdome levemente definido, como resultado das aulas de CrossFit que ele insistia em praticar.
Aquilo estava me deixando louca. Mais louca ainda com o álcool em meu sangue.
— Eu vou precisar, . Tenho mamilos, idiota, ou esqueceu que sou mulher? — falei, emburrada.
— Foda-se, eu também tenho — ele gargalhou, desabotoando a calça.
Senti-me petrificada enquanto aguardava terminar de retirar sua calça.
, você não acha que eu vá ficar nua com você, acha? — perguntei, olhando para a banheira que transbordava de espuma.
— Acho — ele sorriu, vindo até mim com as calças descendo em direção ao pé.
Impressionei-me como ele não caiu.
segurou a barra do meu suéter e começou a subi-lo. E, por mais que eu tentasse, não consegui impedi-lo.



CAPÍTULO TRÊS

TRACK: I FEEL IT COMING

Sexta-Feira, 10 de fevereiro de 2017
Paris, França.

— Quem diria que Parreira ficaria nua novamente à minha frente — disse , encostando de leve sua taça na minha.
Ele havia me convencido que seria legal entrarmos na banheira e conversarmos.
Sem roupas.
Seu melhor argumento foi: Tomamos banho juntos desde que tínhamos dois anos de idade. E isso tudo misturado a um raciocínio um pouco afetado, resultou em nós dois juntos bebendo sob a espuma. De fato, nus.
— Seu babaca — falei, tomando um gole da minha bebida.
— Se eu contar essa para o Pedro, ele não vai acreditar. Muito menos a Mari — afirmou, tombando a cabeça para trás.
— Espere até sua noiva saber dessa — soltei uma gargalhada alta.
— Ah, ela que se dane — ele riu — Sabe, , eu tenho que te contar algo... Eu estava me segurando, e acho que só consigo falar isso com você...
— Conte-me — fechei os olhos e tombei minha cabeça para trás, atenta às palavras dele.
— Eu não quero me casar. Eu não queria essa criança, e nem ao menos a Catarina pegando no meu pé. — minha espinha gelou no instante em que ele proferiu essas palavras.
— Então por que vai fazer isso? — questionei, e abri os olhos.
— Porque eu errei, , e agora já era. Você sabe que eu não amo a Catarina, nem nunca amei. E tem coisa pior: ela não gosta de você.
— Eu não gosto dela.
— Nem eu — concordou.
, então não se case! Você está virando nada mais, nada menos, que um fantoche para ela! — a bebida facilitava muito as palavras. Talvez sóbria eu não tivesse tamanha coragem para dizer aquilo tudo.
— Mas, , entenda, ela está grávida! Eu não posso simplesmente desistir de casar e largar ela com uma criança por ai...
— Você pode sim! Você não sabe o que eu vi que vai te fazer a pessoa mais feliz do mundo e larg... — parei de falar, percebendo que já havia abrido a boca demais.
Eu não iria contar agora.
Não quando estamos embriagados e eu deixo com que meus instintos falem mais alto. Algo muito pior pode acontecer caso ele saiba disso agora. Esse é o meu momento com o , e nada poderá causar nenhuma perturbação no nosso espaço.
— O quê?! — ele ergueu rapidamente a cabeça e arregalou os olhos para mim.
— Nada eu... estou blefando — ri, disfarçadamente.
— Ok, , pode me contar — ele se aproximou de mim, depositando sua taça na beirada da banheira. Seu movimento fez com que um pouco de água transbordasse para fora.
— Não é nada, ! Eu... não sei o que estou falando — balancei a cabeça.
— Sabe sim — ele me olhou sério — Ou vou ter que te obrigar a falar com cócegas? — riu.
— Não! — exclamei — Nem pense!
— Ah, penso sim — soltou uma gargalhada e se aproximou mais de mim. Parecia ter se esquecido completamente das palavras que eu quase soltei instantes atrás.
O que era bom.
— Sai, , nem vem — afastei sua mão.
— Sim, ou então me conte — ele riu — Anda, você tem três segundos... — Disse, aproximando sua mão de meu pescoço. Era o lugar que eu mais sentia cócegas, e ele sabia bem disso.
— Não, ! Sai! — gritei, o empurrando. Mas acabou sendo em vão.
Por ser muito mais forte que eu, ficou fácil para segurar meus pulsos com uma mão, e com a outra começar a fazer cócegas absurdas em mim. Meu copo já não estava mais comigo, e nós agitávamos água para todos os lados do banheiro, o alagando por completo.
Consegui soltar um braço e me levantei da banheira, esquecendo-me completamente do fato de estar sem roupas. E ele também.
— Sai, não vai fazer cócegas — ri, puxando uma toalha para me tampar e comecei a me enxugar.
— Sim, me dê isso aqui — ele riu, puxando uma ponta da toalha e enxugando os braços. Com a outra mão, me puxava.
, saia! — gritei, já saindo de dentro da água e parando em cima do tapete, com o maior cuidado possível para não escorregar.
— Vem aqui — Ele soltou uma gargalhada e veio até mim, me abraçando com força de lado.
— Me solta, por favor — ri, virando a cabeça de lado. estava parado com os braços em volta de mim e me observava atento. Seus olhos brilhavam e os cantos de sua boca se repuxavam levemente para cima num sorriso discreto e aparentemente involuntário. Ele suspirou e assentiu.
— Quero te beijar — soltou as palavras, sem parar de olhar em meus olhos — Na verdade... sempre quis te beijar...
Era um pouco difícil acreditar em sua sinceridade quando me lembrava das duas garrafas de Champagne que havíamos consumido nesse tempo em que estávamos dentro desse quarto. E sem falar nas outras bebidas que rolaram no bar.
— Eu... — arfei, tentando encontrar uma resposta.
Mas não consegui dizer nada que me tirasse daquela situação. E eu queria permanecer nela. Meu corpo fazia questão de demonstrar fraqueza.
— Eu também — falei, por fim.
, sem ao menos me deixar raciocinar algo, grudou seus lábios nos meus e me invadiu com um beijo caloroso e cheio de desejo. Passei meus braços por seu pescoço, e ele segurou minha cintura forte. A toalha já havia sido jogada no chão, e cada vez mais nos afastávamos da banheira.
Havia um alvoroço entre nós, que concretizava todo o desejo que sentimos um pelo outro, durante todo esse tempo. Nossos corpos tinham pressa em finalmente provar o toque alheio, e a tensão sexual podia ser sentida a quilômetros de distância.
Levantei uma das pernas, passando-a por seu quadril, e ele segurou firme por baixo da minha coxa, me impulsionando para seu colo. Entrelacei as pernas em suas costas, sem a mínima vontade de cessar nosso beijo. Ele caminhou com certa dificuldade até a cama, e finalmente a alcançou, e me lançou sobre a superfície macia. Elevei os braços acima da cabeça, e ele sorriu ao me encarar à sua frente, como se a vida inteira esperasse por aquela visão. Passou a mão pelos cabelos antes de se abaixar para alcançar meus lábios, e seu corpo teve o encaixe perfeito entre minhas pernas.
Eu estava em êxtase enquanto ele apartava nosso beijo e começava a percorrer seus lábios molhados por meu pescoço, meus ombros, meu colo, o vale entre meus seios. A cada toque daquela boca quente e macia, minha pele se arrepiava mais um pouco. Levei as mãos aos seus ombros e minhas unhas o arranharam involuntariamente, enquanto eu sentia seus músculos enrijecidos. Uma de suas mãos o apoiava na cama, no tempo em que a outra vasculhou minha cintura e subiu a curva das minhas costelas, indo de encontro ao meu seio. Seu toque fora suave, e levemente ele o apertou, olhando em meus olhos. Arfei com aquela sensação, e ele interpretou como um sinal verde, levando sua boca até o bico do meu peito enrijecido e ansiando por seu toque. No momento em que sua língua entrou em contato com minha pele sensível, eu senti como se fosse ao céu e voltasse. E aquela sensação se prolongou por bons minutos, até que meus gemidos se tornaram intensos, e ele cessou, como se pretendesse me torturar.
Afastando-se, percorreu os olhos por todo meu corpo.
— Você é perfeita, , cada milímetro seu — sussurrou baixo, com uma rouquidão sensual o suficiente para me fazer agarrar seu pescoço e puxá-lo de volta para mais um beijo caloroso.
Enquanto nos beijávamos, meus dedos tamborilaram por toda a extensão das suas costas, percorrendo sua dorsal e seus músculos tensionados, até encontrarem sua barriga e propositalmente pararem em seus quadris.
Ele gemeu entre o beijo no momento em que minhas mãos pararam de se movimentar sobre seu corpo. Interpretei como um alvará para prosseguir com aquilo, e em um movimento delicado, espalmei seu pênis, já completamente rígido.
E como era maravilhoso. No momento em que eu comecei a acariciá-lo, minha mente vagou pela sensação de estar com ele dentro de mim, e aquilo fez com que a minha vontade crescesse ainda mais. Eu queria sentir todas aquelas veias protuberantes dentro do meu corpo o mais rápido possível. Abri os olhos e separei nossos lábios, e finalmente notei o quão concentrado estava. Sua respiração pesava entre um gemido e outro, e os músculos dos seus braços ao redor do meu corpo o sustentando naquela posição me fizeram delirar de tesão.
Num movimento rápido, ele abrira os olhos e puxara minha mão. No momento em que demonstrou estar pronto para me provocar ainda mais, abaixando-se até minha intimidade, eu o impedi, de maneira quase dolorosa.
A única coisa que me importava naquele instante era tê-lo em mim o mais rápido possível. Mordi meu lábio, mal conseguindo raciocinar, e pareceu ter tomado as dores daquele impedimento.
Quase que impiedoso e nitidamente vingativo, ele separou minhas pernas um pouco mais, e suspirou alto. Arqueei o corpo para alcançar sua boca, e mordi delicadamente seu lábio inferior.
, eu te quero — balbuciei.
— Ainda não — ele deu um sorriso de canto, e então afundou a cabeça em meu pescoço, voltando a beijá-lo e suspirar forte próximo ao meu ouvido.
E então eu o senti. Não entrar em mim, como desejei, mas deslizar sua ereção por toda a minha região íntima.
— O que você está...
Shhh — ele me interrompeu, levando o indicador à minha boca. Não pude resistir à tentação de beijar seu dedo. Ele me sorriu malicioso — Já que você não vai me deixar passear com minha boca ali embaixo, eu vou te torturar um pouquinho...
, eu te quero agora, para com...
Shhhh — sibilou, me interrompendo novamente, e dessa vez levou uma das mãos até seu pênis, guiando-o por minha pele, que fervia de calor e pulsava a cada nova pressão que ele fazia sobre ela. Precisei resistir ao instinto de apertar minhas coxas quando ele pressionou meu clitóris.
Minha respiração estava completamente descompassada, e ele me provocava mais e mais. No momento em que percebeu o ponto exato que me fazia arquear as costas e intensificar meus gemidos, concentrou-se ali por alguns minutos, escorregando delicadamente a cabeça de seu membro. Quando finalmente abri os olhos, pude notar o quanto ele também estava em êxtase, e muito além de nossos gemidos misturados, senti todo meu corpo se contorcer, como se olhar para ele e enxergar seus olhos fechados por puro prazer fosse o gatilho necessário para que eu atingisse o meu ápice. Assim que meu gemido se tornou agudo e meu corpo se contorceu, abriu os olhos, encarando os meus. Não consegui mantê-los abertos por muito tempo, mas procurei me recuperar rápido o suficiente para continuar olhando para aquele rosto inundado de tesão.
Sem dar a chance dele pensar, eu logo tratei de segurar seu pescoço, puxando-o para mais perto.
— Você pode me foder agora? — sussurrei em seu ouvido.
— Não precisa pedir duas vezes — ele respirou fundo, e ajeitando seu corpo sobre o meu, seu membro deslizou para dentro do meu íntimo, que já se encontrava encharcado o suficiente para recebê-lo.
Ouvi então o gemido mais incrível da minha vida sair embargado pela voz de . Ele manteve-se imóvel por alguns instantes, como se precisasse de concentração para conseguir se manter naquela situação por mais tempo. Aproveitei e tomei a liberdade de movimentar lentamente meu quadril sob o seu, fazendo com que ele arfasse mais intensamente e finalmente começasse a se movimentar em mim.
Ele saia e entrava devagar, enquanto seus lábios procuravam ansiosamente pelos meus, e nosso ritmo descompassado logo parecia estar em sincronia.
Talvez fosse pelo quanto eu havia bebido, ou pela sensação de estar extasiada, mas o tempo pareceu parar. Perdi completamente a noção dos minutos que se passaram a partir dali, e a cada novo movimento, eu parecia renascer.
Estar entregue de corpo e alma ao único rapaz que eu amei durante toda a minha vida parecia surreal demais, e eu me perguntei se tudo aquilo não estava sendo um sonho. Se por algum acaso o corpo que estava sobre o meu era mesmo real, ou pura imaginação.
A única certeza que eu tinha, naqueles instantes que se seguiram, era a de que eu o amava mais do que qualquer outra coisa na vida. A cada vez que seus olhos buscavam os meus ou nossos lábios se deliciavam mutuamente, essa certeza crescia dentro de mim.
“Eu não quero ter que me separar de você.”
“Eu te amo de uma forma que nunca, em toda minha vida, vou ser capaz de amar outra pessoa”



CAPÍTULO QUATRO

TRACK: MORE THAN WORDS

Sábado, 11 de fevereiro de 2017
Paris, França.

Rolei na cama, e com uma certa preguiça, finalmente tomei coragem para abrir meus olhos.
E me deparei com última pessoa que eu esperava ver hoje.
Macedo Veles.
Passei os olhos pelo quarto mais uma vez, e percebi que não estava no meu hotel. A cama não era a mesma, muito menos a suíte.
Me sentei na cama, e só aí consegui perceber que estava sem roupas, e uma dor chatinha no corpo, como se tivesse brigado com alguém. Minha cabeça doía sem parar. Olhei para o lado, dormia de barriga para baixo, e suas costas apresentavam arranhões por toda superfície. Ergui as mãos e olhei para minhas unhas.
Não, eu não poderia ter feito isso.
Olhei para a parede de vidro que separava o banheiro do quarto, a banheira estava cheia de água, mas sem espuma alguma. Jogadas pelo quarto, nossas peças de roupas. E jogadas perto da cama, taças de Champagne.
Olhei para o lado, o relógio marcava cinco e quarenta da manhã.
— Preciso sair daqui — consegui dizer por fim, me levantando num pulo da cama.
se remexeu sob as cobertas, e virou-se para o meu lado. Mas ainda dormia um sono pesado.
Preferi não acordá-lo.
Preferi, na verdade, não pensar em razão nenhuma para acordá-lo, ou ter feito algo na noite passada.
Aos poucos minha dor de cabeça aumentava junto às lembranças que apareciam de forma gradativa. Toques, carícias, beijos, paixão.
Merda — murmurei, revoltada com toda a situação.
Catei minhas roupas pelo quarto, e me recompus. Calcei com pressa as botas, e amarrei os cabelos embaraçados em um coque alto. Lavei o rosto com a água gélida do hotel e uma boa dose de sabonete, enquanto me encarava no espelho e repetia em minha cabeça que não deveria chorar.
O dia que estava começando era o dia da minha morte. E a partir de ontem, ela havia se tornado mais dolorosa, lenta e perturbadora.
Escrevi um bilhete para em um guardanapo, e o coloquei perto de sua roupa, onde eu teria certeza que ele iria ler; em seguida, saí às pressas do quarto e o deixei dormindo.
Andei com passos largos e apressados pelas calçadas de Paris, que ainda estava escura às seis da manhã, e em algo como quinze minutos já estava entrando novamente em meu hotel.
Parei na porta do quarto, e não hesitei em olhar para a porta ao lado, reunindo a fúria que eu sentia. Estava semi-aberta, mas me segurei a ponto de não espiar ali. Entrei rápido em meu quarto e bati a porta com toda a força que consegui juntar.
A única ação que me restou naquele momento foi me jogar na cama e olhar para o teto, finalmente me permitindo chorar, me recordando dos momentos perfeitos que passei com... O cara que eu amo.
Meus olhos marejavam ao me lembrar dos momentos em que ele dizia que eu era a única, enquanto nos aninhávamos nos braços um do outro e ele colocava meu cabelo bagunçado atrás da minha orelha. Doía em meu peito me lembrar de quando ele disse que não queria, e não precisava dessa vida. Que a sua vida seria completa ao meu lado. Que ele ainda não acreditara que isso tudo era verdade, ou que ele preferisse morrer a ter de ficar longe de mim.
As lágrimas rolavam mais ainda quando as suas palavras martelavam em minha cabeça: “ foi você que eu sempre amei, . É você quem eu quero... “
, pode entrar? — alguém com voz bastante conhecida bateu à porta.
— Entra — murmurei, ainda com a cara afundada no travesseiro.
Ouvi passos, e alguém se sentou ao meu lado. Uma mão percorreu minha nuca delicadamente, e eu me senti aconchegada.
— O que houve, ? — perguntou Pedrinho.
Ergui a cabeça e o olhei. Era estranho Pedro estar acordado há essa hora, e principalmente já vestido e bem-disposto.
— O que houve? — repeti sua pergunta, afundando a cabeça novamente no travesseiro macio.
— Você sabe o que o fuso horário faz comigo... — afirmou — Mas eu quero saber o que houve com você.
— Nada.
, não negue, você está chorando — disse com uma certeza exaltante — Eu sei que acabei de chegar e ainda não te vi, mas tenho certeza que você não estava com essa cara toda borrada, todos esses dias.
— Estou mesmo — admiti — Borrada e chorando.
— Por quê?
— Porque eu sou uma idiota, Pedro — falei, erguendo a cabeça mais uma vez.
— O que você... — pausa — , não me diga que você dormiu com o essa noite...
Mordi o lábio inferior com força querendo realmente dizer “não”.
Mas creio que o meu silêncio falou por mim.
— Eu já adivinhava. Ele sumiu. Você sumiu. Você vestida assim às cinco e quinze da manhã... e se lamentando como uma criança!
— Pedro, não me faça lembrar de nada, por favor — pedi, sentindo meus olhos marejarem novamente.
Ergui meu corpo da cama, e me sentei abraçada aos joelhos. Não me importei em retirar as botas, o casaco ou desamarrar o cabelo. Por mim nada poderia ser pior mesmo...
— Já entendi — disse ele, e em seguida me envolveu em seus braços, com um abraço aconchegante.
Apoiei minha cabeça em seu peito, e chorei como um bebê mais uma vez.
Ele me confortava. Pedro era como meu segundo melhor amigo, ele sempre estava lá nas horas que eu mais precisava, para me apoiar e dizer às coisas que eu deveria ouvir. E me ajudar a me reerguer também.
— Ele disse... — funguei — ele disse que me amava.
, não fique assim.
— É tudo mentira. Eu estou o deixando partir sem tomar iniciativa nenhuma, Pedro... ele disse que me ama, e não estava mentindo — funguei mais uma vez — E você sabe o quanto eu o amo... — me derreti em lágrimas novamente.
Ele me aconchegou novamente em seus braços e me apertou.
— Eu disse para você contar... eu falei há muito tempo que você deveria dizer tudo a ele...
— Mas eu tentei!
— Agora é tarde demais. Ele tem outra vida...
— Não me lembre disso, Pedro. É tão... irreal — lamentei — Ele não pode estar fazendo isso... não comigo.
— Aceite. A sua única alternativa. Não tente se lamentar por tudo estar dando errado, você só estaria dando mais uma chance ao destino. Escreva seu próprio roteiro, mude a história da sua maneira. Mas nunca olhe para trás. E principalmente, não se arrependa em momento algum do que fez... — disse, passando levemente sua mão por meus cabelos.
Tive vontade de rir por conta das palavras que ele acabara de me dizer, como se meu amigo tivesse se transformado num livro e auto-ajuda.
Mas, de uma forma ou de outra, elas faziam muito sentido.
Senti em suas palavras uma razão para me levantar e gritar a todos o que deveria. Escreva seu próprio roteiro... Outra parte que pareceu me tocar foi “Não se arrependa em momento algum de algo que fez”. Eu não poderia me arrepender depois que gritasse a todos e desmascarasse Catarina. E isso seria feito em breve... Eu só precisava de tempo para pensar se esse era realmente o roteiro que eu queria para a minha vida.
— Obrigada — disse, erguendo a cabeça e tentei forçar um sorriso.
Ele sorriu.
— Pelo quê?
— Por me fazer acordar. — me soltei de seus braços e parei em pé à sua frente — Você é um anjo.
, o que você vai fazer? — perguntou, erguendo as sobrancelhas.
— Não se preocupe. Ninguém sairá ferido nessa história — garanto a ele — Nem ao menos corações...
— Pense bem, ok? — sorriu, se levantando — espero que fique melhor e não chore mais. Você tem de ficar linda hoje, e deixar a cobra da Catarina no chinelo, ta entendido? — ele riu.
— Claro. Hoje ela vai se decepcionar — afirmei, e ele se virou. — Aonde vai?
— Preciso comprar sapatos. Esqueci minha bolsa no aeroporto em São Paulo, e veja... não posso entrar em um casamento de All Star — riu.
— Ah, claro.
— Te pego aqui às sete em ponto, ok?
— Claro — sorri, e ele saiu do quarto.
Me levantei da cama e olhei para o convite que ainda me encarava do mesmo modo em que coloquei no dia em que eu cheguei aqui.
Ele não me intimidava mais.
— Espere, cobrinha, espere até mais tarde... — ameacei, apontando para o contive — Sua escrota.
Após finalmente tomar um banho revigorante, me deitei em minha cama e liguei a TV. Precisava dormir para colocar as ideias no lugar, e ainda faltavam onze horas para o casamento. Eu tinha tudo sob controle.

Acordei com o toque do celular, e logo reconheci a chamada de Mari.
— Alô?
, corre aqui, sério, você não pode perder, na porta do quarto do ! Agora! — disse rapidamente, e desligou o telefone.
Me levantei num pulo da cama, ainda com uma interrogação no meio da cara, e sai correndo do quarto.
Mari, Pedro e Fred estavam na porta do quarto, apenas escutando. Gritos.
— O que foi? — sussurrei.
Mari e Fred me olharam assustados. Só então percebi que estava de roupão.
Resolvi relevar.
— Acho que a bruxonilda está começando a se estressar com o marido... — comentou Pedrinho, dando uma risada abafada.
— O que tá rolando?
— Veja você mesma — Fred me puxou e colou meu ouvido na porta, assim como os deles.
Comecei a prestar atenção na conversa que acontecia calorosa do lado de dentro.
— ... Então me explica, Veles, por onde andou a noite inteira?!— Catarina gritava.
— Você disse que queria o quarto, eu arranjei outro! — gritou de volta.
— Eu procurei em todos os quartos desse hotel por você e não estava em nenhum!
— Eu não dormi aqui mesmo, você sabe disso!
— Dormiu aonde? E com qual vadia? Qual foi a puta que deu pra você, em?
— N...
— Não adianta, eu sei que você fez sexo, ! Com qual vadia? Em? E por quê
? Se você sabe que vai se casar daqui a algumas horas!
— Não vou brigar com você, e outra, ela não é uma vadia! — eles estavam aos berros. Senti meu rosto ferver ao finalmente entender que estavam falando sobre mim. E que havia admitido.
E me defendido no final.
Ah, se Catarina soubesse quem era a “vadia”...
— Meu Deus, isso tá muito feio... Fred, acho que você pode devolver seu Smoking... — comentou Mari.
— E eu acho que sei que a tem algo haver com isso... , quem era a garota da noite, em? — disse Pedro, num tom sugestivo.
Todos me encararam de bocas abertas.
Cerrei os olhos. E meu rosto que já estava vermelho, conseguiu tomar uma cor ainda mais rubra.
— Eu não tenho nada a ver com isso — dei as costas.
Pedro pigarreou e riu.
— Cale a boca, Pedro! — disse, ainda de costas.
— Não vai ouvir mais?
— Não. Não me interessa ouvir... — pausa — A vadia, me chamando de vadia. Tchau, encontro vocês as sete — Abri a porta do meu quarto e fechei com força.
Entrei no quarto, e fui em direção ao banheiro. Após um banho demorado, voltei para o armário.
Meu vestido se encontrava pendurado em um dos cabides.
Era perfeitamente lindo. Tomara que caia, azul-marinho. Longo, mas ao mesmo tempo colado. Cintura definida, e seios bem-levantados. Uma abertura até a coxa direita, e só. Não havia bordado algum, apenas a cor lisa. Por cima, algo estranho e bem felpudo, branco. Bom, minha mãe me obrigara a usar essa coisa, por conta do frio. Voltei e me sentei na cama. Encarei os móveis por alguns segundos, até decidir finalmente ir me arrumar. Como eu não fazia parte do “time” de madrinhas da noiva, precisaria me virar sozinha com a maquiagem e o cabelo. Não que fosse um problema, mas ela não me queria junto às amigas dela de forma alguma.
Liguei músicas animadas em meu computador para aumentar meu astral, e enquanto escutava e cantarolava as canções, tratei de secar meu cabelo e fazer minha maquiagem. Cerca de uma hora depois, estava calçando minha meia-calça e meus sapatos de salto, quando alguém bateu na porta do quarto.
Fui pulando até lá, ainda com um dos pés de sapato ainda na mão. Abri a porta, sorridente.
— Pois não? — perguntei.
A pessoa abriu a porta com brutalidade, invadindo meu quarto.
— Então você foi a vadia que dormiu com meu marido, não é? —questionou, cruzando seus braços.
Encarei finalmente o rosto da criatura que me afrontava, e ela parecia estar bastante nervosa.
Estranho, porque geralmente as mulheres tem seus dias de noiva no dia do casamento. O que ela ainda faz aqui faltando... duas horas?
— E-Eu não sei do que você está falando — foi o que consegui responder.
— Ah, você sabe sim! — ela sorriu, se aproximando de mim — O que você pensa que está fazendo? Jogando?
— Ei, Catarina, você está maluca?! Bêbada? Drogada? Por que eu dormiria com , sua idiota?
— Porque eu sei muito bem que você é apaixonada por ele. E também sei muito bem, que vocês saíram ontem à noite e não voltaram! E principalmente, eu sei que vadias dão pra qualquer homem que pedir!
— O problema é que a vadia aqui é você, e não eu — rebati.
Sua boca se abriu em um O perfeito, enquanto ela parecia buscar as melhores palavras para me responder.
— Não sou eu que durmo com o homem dos outros — disse solene.
— Você não tem nada para provar que eu dormi com seu marido — falei — Quero dizer, seu noivo.
— Tem a sua cara de piranha.
— O problema é que eu não dou pra todo mundo que pede como você, e não engravido depois — dei de ombros — Qual é? Não vai voltar pro seu mundinho perfeito de casamento? Você está bem feinha para ser uma noiva — provoquei, a olhando de cima a baixo e expressando todo o meu desagrado em meu rosto.
— Se liga, você está bem pior.
— Sinto muito. Eu me acho linda, mas se você não tem auto-estima, não posso fazer nada. — provoquei novamente.
— Nojenta. Ridícula, você acha que é boa e bonita, mas só acha. Se isso fosse verdade, você seria a escolhida, e não eu.
Senti meu sangue ferver. Claro que tudo que ela dizia era mentira. Se pudesse escolher, eu daria minha vida que ele escolheria a mim. Principalmente depois do que ouvi na noite anterior. E depois do que descobri, também.
Por falar em descobertas...
— Ele só te escolheu porque você finge estar carregando algo que não existe — disse, e segurei forte meu sapato para que meu cérebro não tomasse a iniciativa de enfiar a ponta do salto bem no meio de seus olhos.
— O que você quer dizer com isso? — ela se prontificou, na defensiva.
— A tinta do seu cabelo afetou seus neurônios. Sinto muito. Ah, e só uma dica, não fique estressada. Isso pode fazer mal para o bebê — sorri ironicamente, e encarei sua barriga falsa — Ah, esqueci! Espumas não sofrem dessa forma...
Fechei a porta do quarto em sua cara em seguida, e voltei para dentro. Por um lado, bufando de raiva, mas ao mesmo tempo pulando por dentro por ter tido coragem o suficiente para me debater com Catarina. Foram meses convivendo com isso preso em minha garganta.
Me joguei na cama com força, sem me importar com o cabelo ou a meia. Comecei a rir sozinha, enquanto olhava para a TV e assistia uma parte da reprise de “O casamento do meu melhor amigo”, que ironicamente insistia em se repetir durante todo esse fim de semana.
Meu celular apitou no criado-mudo, e eu voei para pegá-lo. Uma nova mensagem na caixa de entrada.
De .

“ Estou com medo. Acho que só você pode me salvar.”


Encarei a tela do celular por alguns segundos, atônita. O que ele quis dizer com isso? Ele sabe de alguma coisa?
Será que eu fui idiota o suficiente para contar tudo ontem?
Não, não pode ser...
Olhei para o relógio, e ele já marcava 17:45. Estava na hora de terminar de me arrumar.
Larguei o telefone de qualquer maneira em cima da cama, e voltei para meus sapatos. Terminei de calça-los, e vesti – com uma certa dificuldade – o vestido longo, e me olhei no espelho. Estava finalmente pronta.
Na verdade, não era preciso muita coisa para melhorar a aparência. Mesmo que eu quisesse... ontem, eu diria que hoje era o dia para me tornar um lixo. Mas, agora, eu digo que hoje é o dia para estar mais bonita do que nunca.
Me sentei no sofá, e enquanto rolava a tela do computador aleatoriamente num site de notícias, pensava em como poderia contar tudo... quem sabe um escândalo. Ou uma mensagem de celular. Ou gritar para a família ouvir no meio da igreja.
Eu precisava de um plano.



CAPÍTULO CINCO

TRACK: CRAZY

Sábado, 11 de fevereiro de 2017
Paris, França.

A pequena igreja parecia lotada com aquelas poucas dúzias de familiares e amigos reunidos. Todos vestiam suas roupas caras e de marca.
À minha frente, os outros padrinhos convidados da noiva. Atrás, nós, os amigos e padrinhos do noivo.
Mais à frente, no altar, os dois. Meu garoto... e a vadia ao seu lado. Não preciso nem dizer o quanto meu estômago revirou ao vê-lo entrar naquela igreja.
Catarina estava linda, preciso confessar. Por si própria, ela parecia ter sido recortada de alguma revista de noivas. O vestido feito especialmente para ela caia muito bem, com um longo véu que se arrastava pelo chão.
Já ele, com os mesmos cabelos bagunçados de moleque que sempre teve. O terno caíra muito bem sobre seu corpo e os sapatos italianos brilhavam com a luz dos flashes.
Mesmo em toda a sua plenitude, parecia faltar algo ali em seu rosto. Estava meio triste, deprimido. Mal sorria. Parecia não querer estar fazendo o que fazia. E, sem poder evitar, a quase todo momento ele se distraía, desviando a atenção da noiva e olhando fixamente para mim.
Eu não fazia nada além de sorrir com o canto da boca, mas era impossível não sentir o coração palpitar no peito.
O casamento se estendeu à medida que o padre falava. Haviam levado até um padre a Paris para celebrar aquele casamento.
Catarina tinha os olhos brilhando.
Bom... na minha opinião, brilhavam com as moedas da conta bancaria da família Veles, com certeza.
— ... Macedo Veles, você aceita Catarina Maria Muniz como sua legítima esposa, para amá-la e respeitá-la, por todos os dias de sua vida? — disse o Padre.
Senti meu coração disparar, e minhas mãos começaram a suar. Aquilo não era normal, nada ali estava normal.
Principalmente a vontade de falar, e o tempo que não passava de modo algum. Eu tentava me acalmar ao repetir mentalmente que em apenas alguns instantes, tudo aquilo estaria mudado. Mudado de uma forma boa. Encarei , que olhava em volta, provavelmente procurando alguma razão para dizer “não”.
Ele engoliu em seco, e disse aquelas palavras que pareceram me atingir como facas.
— Sim, aceito.
— E você, Catarina Maria Muniz, aceita Macedo Veles como seu legítimo esposo, para amá-lo e respeitá-lo, todos os dias de sua vida? — prosseguiu.
— Aceito — ela não pensou duas vezes antes de responder.
Senti meu coração bater mais forte ainda. Era o meu momento, agora.
— Se alguém nesse local é contra essa união, que fale agora ou cale-se para sempre — disse, olhando para frente.
olhou em volta mais uma vez, e eu engoli em seco.
Agora sim, era meu momento. Estava na hora de dizer tudo que queria. A hora de escrever o meu roteiro, da minha história. Hora de mudar todos os personagens principais desse melodrama e deixá-lo mais interessante.
Por mais que eu estivesse pronta, uma dúvida cresceu em mim. E um desespero também, já que ali estava eu, com alguns segundos e algumas palavras para mudar completamente muitas vidas ali presentes. E um segredo que alteraria todo o roteiro dessas vidas.
Meus joelhos tremeram e meu estômago se revirou. A adrenalina pulsava em minhas veias.
— Ent...
— Não! Eu tenho — interrompi o padre.
De repente, me senti levantando sem ao menos perceber, e pigarreei. Meu coração gelou mais ainda, e minhas pernas tremeram. Minha vontade era tirar aquela coisa branca que me protegia do frio, pois meu corpo estava quente e eu provavelmente estaria extremamente corada.
Naquele instante, em que todos me encaravam estarrecidos, quis me sentar novamente e me esconder, para fingir que nada acontecera.
Mas eu deveria continuar, já que começara... Meu coração me mandava fazer isso. Todos me encararam, e o rosto de Catarina ferveu. Seus pais, e também a família Veles, me olharam com os rostos em forma de interrogações. Pedro e Mari sorriram, e Fred mantinha um semblante de desentendido.
Me impressionei com o fato de ter conseguido olhar para tanta gente ao mesmo tempo... quando eu somente estava concentrada em uma pessoa: .
Limpei a garganta num pigarro, e repassei as palavras na minha mente.
— Eu tenho algo a dizer — olhei para Catarina. sorriu — Essa garota, não está grávida.
Um “oooh” ecoou por toda a igreja, acompanhado de todo tipo de murmúrio. — Esse garoto, não a ama. E não a merece. — olhei novamente para . Catarina ferveu mais ainda. — Ela merece estar sozinha para o resto de sua vida... porque, por alguma razão, ela interviu em um amor que já existia há muito tempo e atrapalhou duas vidas. — disse. Os olhos de brilharam na minha direção.
— Você... O que você pensa que está fazendo?! — exclamou Catarina, virando-se para mim — Você acha que pode vir aqui, no meu casamento, e sair falando qualquer besteira, qualquer coisa, se declarando para meu marido exatamente na minha frente e na frente de todos, e vai ficar tudo bem?!
— E você acha que é quem, Catarina? Você achou que iria conseguir o que com essa farsa? Amor? — rebati — Você nunca vai ser capaz de ser amada, garota. Nunca! Você apenas achou que uma vez na vida, poderia fazer uma mentira dar certo. Mas acho que na próxima, você deveria ficar quieta, e com a porta do quarto fechada.
— Você estava me espionando!
— Você deixou a porta aberta! — exclamei, já começando a me divertir com a situação — Se não quisesse que ninguém visse nada e nenhuma falsidade, deveria tomar mais cuidado!
— Não fale assim! Eu não posso sofrer isso! — exclamou — , olhe o que ela está fazendo. — fez uma careta, e de repente se curvou, colocando uma das mãos na barriga e segurando no braço de — Ai! Minha barriga, ai meu Deus, !
Soltei uma gargalhada alta o bastante para assustar todos os presentes ali na igreja.
— Ai, o que foi? — ironizei — Será que o ferro da armação da barriga espetou seu estômago? Ou sua menstruação chegou?! — ri— Oh! Você perdeu o bebê?! Meu Deus, chamem um médico, rápido, ela está perdendo muito sangue, vai ter hemorragia! Essa criança não pode morrer, é fonte de muito dinheiro! — soltei outra gargalhada, enquanto Mari, Pedro e Fred se matavam de rir perto de mim.
O resto dos presentes na igreja permaneciam calados, atentos àquele circo.
, chega de escândalos! — censurou minha mãe nervosa, se levantando do banco. A mãe e a irmã de Catarina também se levantaram — O que você está fazendo?!
—Chega nada! Eu não paro, até ela admitir que NÃO ESTÁ GRÁVIDA COISA NENHUMA! — disse alto — Vamos, Catarina, mostre para todos sua barriguinha de pano!
— Você está blefando, ! Que coisa idiota! — disse sua irmã, intrometendo-se.
— Cale a boca! — rebati — Vamos, Catarina, então dê algumas explicações... Bom, a primeira de todas e muito óbvia, é por que até hoje, você não ganhou nem um centímetro a mais de seios. — ri — A segunda, é o porque de não se trocar perto do seu marido. A terceira, é a razão de nem ao menos ter feito sexo com ele... A quarta, por que eu vi sua mãe e sua irmã lhe ajudando, ontem, a posicionar uma barriga falsa no seu corpo? E a quinta, é para o seu — pausa — Para o garoto ao seu lado: Por que você nunca percebe nada?! — disse, sentindo a pontada do outro sentido que queria para aquela frase final.
Olhei para os dois, Catarina já estava completamente acabada e vermelha. E estava sorrindo para mim, como nunca antes.
— E...Eu... — arriscou gaguejar algo.
Mas era melhor não deixá-lo fazer isso. Não agora.
— Na boa, Catarina, acho que todo mundo aqui já conseguiu perceber — pausa — Pela sua cor, e por não ter tomado nenhuma atitude decente para se defender, que você está mentindo. Sem brigas, sem ressentimentos, mas será que vai doer se você disser a verdade?! — questionei, ainda revoltada.
— Eu n...
— Catarina, diga a verdade — balbuciou , encarando-a com as sobrancelhas unidas.
— Mas, Emí...
— Mas, nada, Catarina. Me responda, por que todo esse segredo durante esses meses de preparativos? Por que você estava me escondendo algo importante?
— Na real, cara, ela tá querendo seu dinheiro — Mari se levantou do banco, revoltada.
— Gente, eu não estou mentindo! Eu... — ela se curvou — Ai, uma fincada. Ai, meu Deus, ai, meu Deus — implorou, se apoiando em com sua segunda tentativa teatral de estar sentindo dores na barriga.
— Catarina, chega! — falei, me aproximando — Eu seria louca o suficiente para rasgar esse vestidinho seu, só pra ter o prazer de mostrar a todos o que está rolando ai por baixo! — cheguei perto dos dois, e cruzei os braços.
— E eu ajudo — Mari apareceu ao meu lado.
— E eu também — Pedro também se posicionou do outro lado.
Foi como se eles lessem minha mente.
! — gritaram minha mãe, a mãe de Catarina, e a sua irmã.
— Calem a boca vocês todos! — Marcela, mãe de , se levantou, já fora de si — Será que dá pra explicar o que REALMENTE está acontecendo aqui? Isso era para ser um casamento, e acabou se tornando um barraco, sinceramente! Onde estão os modos de vocês? — jogou os braços pro ar, revoltada — Catarina, qual é o problema?! — questionou, com seu tom de desagrado.
Ela também não gostava da garota... Mas, por outro lado, me amava.
— Não tem problema nenhum, Marce!
< br> — Catarina, tem sim — interviu com sua voz firme.
Agora a história começou a ficar boa. Minha parte favorita do roteiro começa...
— Tem mesmo. Então vamos fazer o seguinte... — comecei, me aproximando e parando à frente dos dois — Acho que ninguém aqui vai se importar se você levantar seu vestido um pouco e mostrar sua barriga. Afinal, você está de calcinha e tudo mais, e ninguém quer ver nada... E aí você prova. Caso contrário, eu vou sumir pra sempre. Você termina de se casar com , eu vou embora daqui agora. Eu tenho duas passagens compradas para o Canadá, e vou um tempo por lá... Sei lá, posso tentar ficar enquanto você vai ser feliz com seu marido. Vou me esquecer dele, vou me esquecer de todos. Só volto quando o filho de vocês já tiver nascido, e prometo nunca chegar perto nem sequer de um fio de cabelo dele. — falei, olhando profundamente em seus olhos.
— É. Catarina, nesse caso, você não tem nada a perder — Mari disse, cruzando os braços.
— Exatamente. E eu vou com a — Pedro completou.
— E-Eu... — começou. A essa altura, toda a igreja já havia parado com os murmúrios e estavam a encarando na expectativa do desfecho daquele escândalo.
Eu havia conseguido encurralá-la. Finalmente.
— Você não tem nada a perder, Catarina — disse, se virando para ela após piscar para mim, e cruzou seus braços.
— Tudo bem — ela suspirou, nervosa e seu rosto ferveu de novo.
Sua mãe e sua irmã abriram a boca em surpresa, um O perfeito e pareciam extremamente desapontadas.
Afinal... O plano de herança delas iria falhar... Certo?
E elas terminariam de se afundar no meio das dívidas da família.
Apenas cruzei os braços e a olhei, enquanto ela levantava seu vestido. O padre ficou meio abobado e queria impedi-la de se despir dentro de uma igreja, mas aposto que no fundo ele estava louco para ver o circo terminar de pegar fogo. E foi o que aconteceu. Após terminar de levantar a saia de seda de seu vestido, ela revelou junto à meia-calça, uma barriga de pano presa em suas costas.
Antes de ela se virar e voltar a abaixar o vestido, um outro “ooooh” ecoou pela igreja, e uma lágrima escorreu teatralmente de seu olho.
Uma lágrima? De seu olho? Não acredito. Catarina não poderia estar chorando, essa mulher fria e que eu julgava sem coração não pode ter sentimentos. Não mesmo. suspirou.
— Então você mentiu para mim? —indagou, num tom de voz exaltado.
— Menti! Mas eu te amo, , eu te amo muito! —exclamou ela, enxugando a lágrima com o dedo. Em seguida apontou para minha direção — E você, sua intrometida! Você acabou com meu casamento! Você acabou com meus planos! Você acabou com tudo o que me restava! — gritou, andando até mim ainda com o dedo apontado.
— Primeiramente, você não o amava. Em segundo lugar, você não o merecia. Ah, e você também abaixe esse tom de voz porque eu odeio que falem mais alto que eu. E quarto, nunca, jamais, aponte esse dedo pra mim, vadia! — elevei meu tom de voz na ultima frase, a fazendo ferver debaixo da pele.
— Nunca mais me chame de vadia! — gritou mais alto que eu, e em seguida senti um estalo no rosto.
Ela havia me dado um tapa.
Um tapa bem vigoroso em minha bochecha. Precisei de alguns segundos para digerir aquilo que acabara de acontecer.
— Nunca mais encoste em mim! — gritei, perdendo minha paciência e devolvi o tapa em seu rosto.
Foi apenas um tapa, pois não era mais possível brigar com tapas ou socos, já que todos que estavam no banco da frente naquela igreja se levantaram para nos segurar na primeira agressão.
O barulho de conversas paralelas na igreja aumentou, e todos começavam a se levantar, curiosos com a situação.
— Isso acaba aqui! — disse, se virando e andou pelo corredor da igreja até a porta. Alguns convidados tentaram impedir, mas ele não deixou. Ele continuou a caminhar, sem nenhuma palavra, sem olhar para trás. Todos se entreolharam confusos. Afinal, o que fazer agora? Controlar Catarina gritando seu amor por já estavam tentando. Controlar minha mãe brigando comigo, já estava acontecendo. Controlar Marce que estava quase se matando por desgosto junto com o Senhor Veles, também outras pessoas já se encarregavam disso. Mari, Pedrinho e Fred festejavam em volta de mim e me rodavam para todos os lados, e a mãe e irmã de Catarina haviam desaparecido. Catarina foi atrás em instantes.
Não fazia a mínima ideia do que fazer ali naquele altar, agora que toda a confusão se instaurara, e as pessoas tentavam controlar a situação.
Até aparecer de novo na porta da igreja.
— O casamento acabou, mas a festa continua — falou em um tom alto. Todos se calaram, prestando atenção nele — Vamos aproveitar! — sorriu apontando para mim e me chamou com o dedo.
Fiz um sinal de espera, e ele se foi.
Todos começaram a murmurar entre si, e tomaram seus carros animados em direção ao salão de festas do hotel, onde aconteceria a recepção do casamento.
Mesmo sem os noivos, toda aquela comida e toda aquela bebida deveriam ser aproveitados.



CAPÍTULO SEIS

TRACK: RITUAL


Sábado, 11 de fevereiro de 2017
Paris, França.


Nos sentamos em uma das mesas enquanto a festa já rolava e na pista de dança os convidados se agitavam com Chris Brown, David Guetta ou seja lá o que for animado nesse mundo. Eu, Pedro, Mari e Fred, rimos e rendemos o assunto da vagabunda. Era tão intrigante falar dos outros, apontar os defeitos dela, ou simplesmente rir da sua cara de pânico e do quanto ela se deu mal.
E certamente foi divertido fazer isso. Não me arrependo em momento nenhum.
Meu drink estava esquentando em cima da mesa, e eu o tomava aos poucos, para não ficar totalmente alterada. Já havia adrenalina demais em meu corpo por ter feito esse tipo de coisa. Os outros bebiam sem parar, e não estavam nem aí.
Ouvi um pigarro, e me virei para trás. Dei de cara com a figura de um feliz, refletido na frente da luz da pista de dança. Certamente, aquilo se parecia uma cena de filme.
Mas pra falar a verdade, meu roteiro estava andando bem, e eu já havia imaginado ver meu príncipe desse jeito algum dia no filme da minha vida.
Ele estava ali.
— Será que me concede o prazer desta dança? — Ele se curvou.
Meu coração gelou.
Tem como se parecer mais com o romance perfeito de um filme?
— Ham... — balbuciei. Ele apenas segurou minha mão, e a beijou. Em seguida, me ajudou a me levantar da cadeira. Fixei meus olhos nos seus, mas tive de desviá-los assim que ele se aproximava de meu ouvido.
— Adoro quando você faz algumas mudanças em seu roteiro de última hora — sussurrou, e eu olhei para Pedro.
Com certeza foi ele quem contou essa história de roteiros... Concluí no instante em que ele piscou para mim e riu.
Suspirei, e segurei mais firme na mão de .
— Vamos dançar agora — ele segurou minha cintura e me virou, começando a me guiar até a pista de dança.
Mas ao contrário do que eu esperava, ele continuou andando, até sairmos de dentro do local. Nos fundos, havia um tipo de coreto, iluminado e cheio de flores. A música tocava baixa ali, mas era incrivelmente romântico.
Por cima e por todos os lados, estava coberto por um manto de neve branquinha. À frente, tínhamos a visão da Torre Eiffel acesa. Nada poderia ser mais perfeito.
A não ser pelo momento em que, o inteligente, resolve me carregar no meio do gelo.
, você vai cair — falei, enquanto ele passava os braços por baixo de meus joelhos e me carregava como uma noiva.
— Eu sou forte! — ele riu, se gabando.
— Mas está escorregadio aqui! — me agarrei em seu pescoço.
— Que se dane — ele soltou uma gargalhada, e começou a correr pela passagem.
E não deu outra. Uma pequena poça de água, nos fez cair em cima da neve gelada, e começamos a rir.
Cai por cima dele e nem doeu, claro, e nem estava gelado. Mas resolvi dar uma aliviada, e rolei, caindo na neve ao seu lado.
Mesmo estando a sentir meus órgãos se congelarem, permaneci ali. Encarando seu rosto, fitando seus mínimos detalhes, e sentindo nossas respirações quentes se misturarem no ar gelado.
— Eu...
— Obrigado — me interrompeu.
O encarei com as sobrancelhas erguidas e uma interrogação invisível no meio da testa. Um arrepio correu minha espinha, misturando o frio daquele manto de neve abaixo de nós, e a felicidade daquele momento.
Obrigada por ter feito algo maligno com sua vida e sua dignidade?
— ... Por me ajudar, e me fazer ver que tudo que eu precisava estava o tempo todo muito perto de mim — completou, fitando meus olhos e em seguida meus lábios com aquelas orbes castanhas e brilhantes como dois diamantes.
— O... Am... — comecei a gaguejar. riu, ele sabia que quando eu gaguejava era que estava nervosa ou simplesmente... encantada — Será que a gente poderia, pelo menos, levantar para conversarmos mais quentinhos? — perguntei. Não conseguiria mais suportar aquele frio, e a neve começava a derreter, molhando meu vestido.
riu, levantando-se, e me puxando pela mão. Adentramos o coreto, que era cercado por um vidro espesso, e lá dentro o ambiente estava aquecido e aconchegante. Ele me abraçou, ao notar que meu queixo tremia.
— Obrigada por... — engoli em seco — me fazer acreditar que... você...
— ... Que você pode ser mais especial que eu pensava — ele proferiu as palavras que eu ensaiava na cabeça.
Meus lábios formaram um sorriso instantâneo, daqueles que transmitem alguma coisa diferente. Daqueles que querem dizer “eu te amo”.
Seus olhar se abaixou até mim.
Por mais que eu tentasse, não conseguia agir... Que tormento, !
— Nós ainda não dançamos como eu pretendia — disse ele, quebrando o silêncio.
— É... — murmurei. Ele se curvou à minha frente.
— Me concede? — sorriu, estendendo a mão para mim.
Ele segurou em minha cintura delicadamente, enquanto eu passava meus braços por seu pescoço.
Parecia coisa do destino, mas a música que começava a tocar na festa e era ligada às caixas de som dali de dentro, era totalmente romântica e inspiradora. Talvez isso estivesse no roteiro, quem sabe...
— Sabe de uma coisa? — ele disse, e pigarreou.
— Hm...
— Estou me recordando. Você se lembra de uma promessa que fizemos há um tempo, quando brincávamos de casinha? — ele riu, sem graça.
— Não — e não me lembrava mesmo.
Afinal, eu brinquei de casinha até meus nove ou oito anos de idade, e depois nunca mais. Mas sempre que brincávamos, eu e nos casávamos e éramos vizinhos de Pedro e Mariana. Era divertido, mas com o tempo cada um de nós cresceu e nunca mais quis esse tipo de brincadeira.
Várias coisas se perdem da infância... Menos os amigos, claro.
— Vou te lembrar... Estávamos na minha casa. Era o casamento do Senhor e da Senhora Veles — ele riu, e eu não pude deixar de fazer isso também — Depois que se casaram, eles foram acampar...
— Hm... — falei, viajando em meus pensamentos e tentando me lembrar. Vagas lembranças passavam na minha cabeça.
— E enquanto eles estavam fingindo estarem na floresta, dentro da cabana de brincar do Pedrinho, eles deram suas mãos e começaram a brincar com as alianças falsas, daquelas que vem com chicletes...
Soltei outra risada. Aonde ele queria chegar? Me pedir em casamento?
Essa é boa. Logo agora.
— E aí?
— E aí que e conversaram...
— Hm...
— E prometeram um para o outro, que se por acaso... Quando tivessem 25 anos e nenhum deles tivesse se casado, eles se casariam. E depois, as duas crianças — pausa — Até alguns minutos antes, ingênuas — ele riu — Se beijaram. Foi um selinho infantil.
Soltei uma gargalhada, e o soltei.
Não era possível que ele se lembrava desse tipo de coisa. Nem ao menos eu me recordava disso.
— Nós não nos beijamos — rebati.
— Posso inventar essa parte? — ele riu.
— Não, você não está contando a verdade.
— Ok. Se você acha que não... vamos fazer de novo — ele riu, tirando do bolso uma caixinha.
Olhei dentro, haviam duas alianças... de chicletes.
— Você é hilário! — ri — Aonde arranjou isso?
— Eu guardei.
— Não acredito.
— Vamos lá... — ele riu, abrindo a caixinha, e tirou de dentro as duas alianças. Me entregou uma, e colocou a outra em seu dedo mindinho, porque não cabia em nenhum outro mais. E mesmo assim estava apertado.
Coloquei a minha no meu dedo anelar, meio apertadinha mas deu certo.
segurou minha mão, e eu segurei a sua.
— Repita — disse, me fitando — Eu, Veles...
Parreira — ri.
— Prometo que se aos meus vinte e cinco anos, não estiver casado...
— Prometo que se aos meus vinte e cinco anos, não estiver casada...
— Serei o marido da pessoa mais maravilhosa desse mundo:
Parreira.
— Serei a esposa da pessoa mais maravilhosa desse mundo:
Veles — repeti, e ele sorriu.
— Eu juro.
— Eu também — sorri sozinha, e ele se aproximou de mim — E como eu havia dito... depois eles se beijaram.
— Você acha que eu devo te beijar?
— Não — sorriu — Porque eu vou fazer isso por você — ele disse, e antes mesmo que eu pudesse raciocinar, seus lábios já se envolviam com os meus delicadamente.
Senti um choque percorrer todo meu corpo. Ele estava me beijando, ele estava me beijando apaixonadamente, mais uma vez. Retribui aos seu beijo, dando espaço para algo mais quente, algo com mais gosto de paixão e muito mais envolvente. O beijo que eu mais amava no mundo, o beijo que mais cativava o tempo inteiro. O beijo que eu mais desejei minha vida inteira, o melhor, do melhor e mais perfeito rapaz que possa existir na minha vida. Perdemos nosso fôlego juntos, nos esquecendo do resto do mundo, enquanto era possível se concentrar apenas em nós dois e nossos movimentos sincronizados.
O afastei para respirar, e ele sorriu. Eu também sorri automaticamente.
— Preciso dizer que... Eu te amo? — arrisquei — Ou você já percebeu?
Pra mim, aquele era o momento perfeito no meu roteiro. Quase ao fim do meu romance.
— Eu te amo. — falou.
— Eu acredito. Você foi sincero... ontem.
— Todo o tempo. Aquele foi o melhor momento da minha vida, com você — ele se aproximou, roçando seu nariz no meu como um beijo esquimó.
— Pra mim também... Você é perfeito.
— Eu sempre te amei.
— Eu também. E sempre vou te amar.
— Estou pensando... Acho que a nossa promessa não vai dar muito certo...
— Por que, ? — perguntei, e ele riu.
— Porque eu já achei a mulher da minha vida. Até lá, não estarei solteiro — ele riu.
— Hm... Eu também — sorri.
— Jura? Eu vou passar o resto do mês com a minha mulher...
— Eu também.
— Num cruzeiro de Lua de Mel pela Europa...
— Que coincidência! Eu também! — falei, fingindo estar surpresa.
Na verdade, eu estava mesmo surpresa. Teria que abrir mão do meu mês sabático no Canadá, mas iria viajar com pela Europa. Na Lua de Mel que seria dele e de Catarina.
Aquilo ali tudo estava divertido.
— Você tem algo contra eu levar alguém para minha Lua de Mel, ?
— Não, e você? Fale agora ou cale-se para sempre... — ri.
— Não, não tenho.
— É...
— E como essa pessoa da Lua de Mel se chama? — ele perguntou.
— Ah, fala você primeiro.
— Ta, a minha se chama .
— E o meu companheiro de viagem se chama .
— E eu estou convidando a para viajar comigo nesse exato momento — ele sorriu.
— Quer viajar comigo? Viver a nossa primeira Lua de Mel particular sem toda a burocracia do casamento? — ele sorriu, segurando minha mão.
— Eu... — sorri, o puxando, e o fitei por alguns instantes — Eu aceito. — respondi, com uma palavra apenas.
— Eu te amo. Te amo, te amo, te amo — sussurrou, e em seguida me afogou em mais um beijo de tirar o fôlego enquanto nos envolvíamos com o ritmo calmo da música.
A lua brilhava reluzindo sua luz através da neve que caía devagar, forrando o que restava do chão e em volta de nós. As luzes da cidade pareciam piscar mais que antes, e tudo estava mais iluminado para mim.
A cidade mais romântica do mundo estava mais romântica que nunca.
E, naquele momento, eu tinha a certeza de que tinha feito a coisa certa. De que tinha lutado com tudo que consegui para ter meu amor de volta. Que tinha conseguido escrever meu próprio roteiro, do meu próprio romance de conto de fadas.
E que eu era a personagem principal agora. E ele era meu príncipe. E não havia mais bruxas loiras, ou qualquer outra coisa que possa atrapalhar...
E como todo final clichê... Nós vivemos Felizes para sempre.
Ou até nossos vinte e cinco anos... E depois disso, alguém disse: até que a morte os separe.
E então nosso roteiro estava, com um grande FIM e um final mais que feliz para duas pessoas perdidamente apaixonadas uma pela outra.



Fim!




Nota da autora: Olá pessoal! Espero MUITO que tenham gostado dessa short fit! Eu a escrevi em 2012, e agora cinco anos depois resolvi editá-la e mandá-la para o site. Fiquei mega feliz ao concluir a edição e adicionar algumas partes legais.
Do fundo do meu coração, obrigada por lerem!
E não deixem de comentar o que acharam. Ficarei muito feliz em responder!!
Grande beijo!! <3

(Entrem no grupo do facebook para conhecerem minhas outras fics!)



Nota da beta: Gostei muito dessa fiction! Que cena restrita foi aquela, dona Thais?! Maravilhosa, arrasou, uaaaau. Ri horrores do escândalo no casamento, muito bem feito para a noiva mala, rs! Parabéns por esse trabalho, espero que você encontre mais fanfics perdidas pelo seu pc <3

Lembrando que qualquer erro nessa atualização e reclamações somente no e-mail.




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