Capítulo Único
10 de fevereiro
Naquele dia, Olivia acordou atrasada e saiu desesperada para o trabalho, não teve tempo nem de se arrumar minimamente. Pegou uma fruta qualquer na geladeira para comer no caminho e correu para conseguir pegar o metrô e não chegar tão atrasada no trabalho. Se o dia continuasse da forma que começou, ele não seria nada bom.
A cafeteria estava um pouco mais cheia que o normal, mas, fora isso, nada incomum. Ela deixou Amber cuidando da loja enquanto ela ia comprar algo para comer e depois voltar para loja e aproveitar seus minutos de descanso colocando sua leitura em dia. Faltando uns 15 minutos para o seu horário de almoço acabar, Amber a chamou até o caixa. As duas eram colegas de trabalho há um bom tempo, mas não haviam criado muita intimidade, o que deixava Liv um tanto quanto receosa sobre o motivo de estar sendo chamada pela mesma.
– Isso acabou de chegar para você. – Amber falou enquanto a entregava uma caixa de chocolates.
– Obrigada! – a garota sorriu em agradecimento enquanto pensava em quem poderia ter mandado aquilo. Ela não tinha nenhum namorado e, até onde sabia, não tinha admirador secreto também.
Liv abriu a embalagem e se deparou com uma caixa de chocolates acompanhada de um bilhete: “Já a vi apreciando chocolates antes, espero que esses sejam do seu agrado e que eles adocem o seu dia. Com carinho, A.” Ainda que Olivia revirasse em sua mente, ela não fazia ideia de quem poderia ser, e aquilo iria matá-la de curiosidade pelos próximos dias.
11 de fevereiro
O horário de almoço passou e nenhuma outra surpresa chegou para Olivia, e nem o rapaz apareceu para se identificar. Aquilo a estava matando por dentro, mas na loja não havia ninguém realmente próximo com quem ela pudesse falar isso, sua amiga estava de férias e só voltaria na semana seguinte. Todos os sábados eram tumultuados, mas naquele específico as coisas estavam ainda mais corridas. Liv precisou sair para fazer uma reunião com os fornecedores e mal teve tempo de pensar sobre os chocolates.
Quando estava quase na hora de fechar, Olivia conseguiu voltar à loja e, como no dia anterior, Amber a entregou um pacote. Como estava na hora de ir embora, ela preferiu guardá-lo na bolsa e, na paz da sua casa, ver o que tinha para aquele dia.
Parecia que, devido a sua curiosidade, tudo deu errado. Ela perdeu o metrô e teve que esperar pelo próximo, começou a cair uma chuva inesperada em Washington e tudo a atrasava para saber o que haviam mandado para ela dessa vez. Chegando em sua casa, ela precisou tomar um banho e um chocolate quente para não correr o risco de gripar, para só então ter paz e sentar para abrir o embrulho.
Olivia abriu o pacote de qualquer forma, estava muito ansiosa e seus olhos brilharam quando viram o conteúdo, um livro edição especial da Jane Austen. Liv sentia que estava nas nuvens e, quando abriu o livro, ela encontrou uma dedicatória: “Dá última vez em que a vi, você estava lendo Orgulho e Preconceito, então achei que nada mais justo do que te dar uma edição especial de algo que você estava apreciando tanto. Com carinho, A”.
12 de fevereiro
Naquela manhã, Liv acordou ansiosa, ela estava amando seus presentes e mal podia esperar para descobrir quem parecia a conhecer tão bem. A garota não lembrava de quando foi a última vez em que ela tinha acordado tão feliz como naqueles últimos dias. Visto que havia acordado cedo, ela teve tempo de lanchar direito e até se arrumou um pouco mais, na esperança de encontrar quem a mandava os presentes.
Assim que chegou à cafeteria, já havia um presente lá, dessa vez era uma embalagem de uma loja de doces próxima de onde ela trabalhava. Quando ela abriu o embrulho, ela se encantou pelo homem que a mandava aquelas coisas, era simplesmente um cupcake fofíssimo. O cupcake que ela recebeu lembrava um buquê de flores, em cima dele tinha o chantilly e três pequenas rosas, e era simplesmente a coisa mais encantadora que ela já havia visto. Ainda que morrendo de dó, ela comeu o cupcake e sabia que precisaria ir até aquela loja comprar vários outros, era simplesmente divino.
Ao acabar de apreciar aquela gostosura, ela viu, no fundo da caixa, o bilhete. E, dessa vez, estava escrito apenas: “Um passarinho me contou que não gosta de flores, espero que goste dessas. Com carinho, A”.
A curiosidade estava acabando com ela, mas, independente disso, Liv passou o resto do dia com um bom humor que ninguém, além de si, conseguia compreender. Estava extasiada pelos pequenos gestos e, ao mesmo tempo, se perguntava quem havia contado para ele que ela não gostava de flores.
13 de fevereiro
Na segunda, Liv só trabalharia até o meio dia e ela estava torcendo para que ele soubesse disso e que seu presente chegasse antes de ela ir embora. Ela seguiu sua rotina normal, organizou as coisas e serviu os clientes, sempre com um sorriso no rosto. Ela não sabia, mas naquele dia Andre Burakovsky esteve ali, e, ainda que ela não fizesse ideia, ele a observava trabalhar e se encantava mais ainda pela garota que sempre sorria para todos, parecia que com ela não tinha um dia ruim. Ele aproveitou que ela estava distraída e deixou ali mesmo na mesa o presente daquele dia.
Quando algumas mesas começaram a esvaziar, Liv foi começar a limpeza e encontrou em cima de uma delas o presente daquele dia. Ela tentou ao máximo se esforçar para lembrar quem estava naquela mesma, mas não conseguiu. Aproveitando o tempo que tinha, ela se sentou ali mesmo e abriu o presente. Dessa vez, continha uma pulseira com diversos pingentes e todos tinham relação com algo que ela gostava. E, como todas as outras vezes, ele havia sido atencioso como sempre e a deixado um bilhete: “Essas são apenas algumas das coisas que me fazem lembrar você e alguns dos motivos pelos quais apenas estar na sua presença é o suficiente para alegrar o meu dia. Com carinho, A”.
Olivia não perdeu tempo e colocou a pulseira, e apreciou os pequenos pingentes colocados ali. E, sorrindo como se tivesse ganho na loteria, ela encerrou seu turno e foi para sua casa. Enquanto isso, do outro lado da cidade, Burkie se perguntava se a garota estava gostando dos presentes ou se ela o achava um idiota. O rapaz não era só mais um rostinho bonito na NHL. Era um sueco que, em seus primeiros anos, se sentia perdido ali, mas que hoje havia encontrado no time uma família. Mas talvez observando o relacionamento dos amigos, principalmente o de Carlson e Gina – que haviam praticamente o adotado como um segundo filho –, Andre sentiu que sentia falta de algo assim para si mesmo. Ele não diria que amava Liv, mas, quando a viu pela primeira vez, ele sentiu algo diferente e sabia que precisava ao menos tentar algo. A proximidade do dia dos namorados e o apoio dos amigos fizeram com que ele tomasse uma atitude.
14 de fevereiro
O tão esperado dia dos namorados havia chegado, mas para Liv isso não queria dizer muita coisa. Como ela não tinha um namorado, a única coisa que isso significava era que ela ficaria com o último turno e teria de fechar o café. Graças a isso, ela acordou mais tarde e aproveitou o resto do dia para poder arrumar o seu apartamento enquanto não dava o horário de ir trabalhar.
Chegando ao café, Liv encontrou Sophie ainda por lá. Sua amiga estava quase encerrando seu turno para poder comemorar com o namorado. No dia anterior, ela havia contado à Sophie sobre os presentes que estava recebendo e como estava curiosa para saber quem os mandava, mas já tinha cinco dias e a pessoa ainda não havia dito nada. Tudo o que Sophie fez foi pedir para ela ter calma, que, na hora certa, a pessoa falaria. Mal sabia ela que quem havia contado as pequenas coisas sobre Liv a Andre era a Sophie, que conhecia Liv com a palma das suas mãos, já que as duas haviam se tornado amigas praticamente instantaneamente. Elas se conheceram logo que Liv começou a trabalhar ali e Sophie era sua monitora. Ao contrário do que ela esperava, Sophie teve toda a paciência do mundo com sua falta de coordenação e, sem que sequer notasse, as duas já trocavam confidências.
Havia coisas que o rapaz mesmo havia notado em todas as suas visitas, mas, quando decidiu fazer algo, ele pensou em pedir ajuda a quem parecia mais próxima de Olivia, e foi assim que ele descobriu sobre as flores.
Depois do que pareciam horas que Liv estava ali, os poucos clientes que apareceram enfim estavam indo embora, mas um rapaz permanecia ali, quieto e comendo seu lanche com toda calma do mundo. Olivia estava cansada e doida para ir para casa e o rapaz não ia embora. Andre estava nervoso, não sabia como chegar até Olivia, ele devia simplesmente entregar o presente ou deveria dizer algo antes? Estava tentando se manter calmo, mas isso parecia impossível.
Já haviam se passado uns 15 minutos desde a hora que Liv deveria fechar o café, ela já estava cansada de esperar que o rapaz fosse embora por vontade própria, então ela saiu de trás do balcão e foi até ele.
– Boa noite, eu tenho que fechar aqui. – ela disse enquanto tombava a cabeça para um lado e dava um sorriso sem graça para o rapaz.
– Oh, sim, me desculpa. Eu não queria te atrasar. – Andre falou enquanto mexia nervosamente os dedos. – Só queria te entregar algo. – disse enquanto retirava uma pequena caixa de uma sacola e a estendia em direção à garota.
– Ahn, obrigada. – Liv disse enquanto colocava uma mecha de cabelo atrás da orelha e sentava-se de frente para o rapaz para abrir o embrulho. Dentro da caixa, ela encontrou um pequeno urso de pelúcia, alguns chocolates e um cordão com uma cúpula de vidro e uma rosa dentro, assim como aparece em A Bela e a Fera. E ela não sabia, mas Andre já havia perguntado à Sophie e sabia que aquele era o seu filme preferido da Disney. E, ainda que ele estivesse em sua frente, o bilhete estava lá: “Espero que não esteja me achando um doido, mas sua amiga Sophie tem me ajudado, dando dicas de coisas que você gosta. Com carinho, Andre”.
Olivia sorriu enquanto lia o bilhete e enfim criou coragem de olhar para o rapaz à sua frente, ele parecia estar tão sem graça quanto ela. Mas ela precisava dar um jeito de contar a ele que havia amado todos os presentes e que, a cada dia que passava, ficava ansiosa por mais e para conhecer quem os mandava.
– Você deve ser Andre, não é? – perguntou Liv, finalmente encarando o rapaz, que apenas assentiu. – Eu gostei dos presentes, de todos eles. Muito obrigada. – Liv sorriu timidamente para Andre. – São todos lindos e muito bem pensados. Agora entendo como soube que não gosto de flores.
– Eu fiquei com medo de errar muito em seus gostos, e digamos que Sophie percebeu que eu vinha aqui e ficava encantado com sua simples presença. – Burkie disse e ficou vermelho assim que percebeu que deve ter parecido atrevido demais.
Olivia sorriu, da forma fofa que ele estava falando, de como ele parecia desconcertado só de falar com ela. E, naquele momento, ela sorriu para ele e torceu para que aquilo entre os dois se tornasse algo maior.
– O que você acha de sairmos daqui? Podemos ir andando por aí, conversando e nos conhecendo melhor. – Olivia disse e sorriu abertamente para o rapaz, enquanto estendia a mão para ele e o puxava porta afora.
Andre esperou que ela fechasse o café pacientemente e tudo o que ele conseguia pensar era que aquele era o melhor dia dos namorados que ele já havia tido. E, naquele momento, ambos desejaram que pudessem passar vários outros juntos. Com esse pensamento em mente, saíram dali e foram andar por Washington enquanto se conheciam verdadeiramente.