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Finalizada em: 16/12/2020

Capítulo Único

You and I
We don't want to be like them
We can make it 'till the end
Nothing can come between
You and I
Not even the gods above
Can separate the two of us"
(One Direction — You and I)


— Como um grande adepto ao estudo da filosofia, já me deparei com os mais diversos conceitos do que é o amor e de como este é sentido por nós, seres humanos. — O rapaz, que vestia um terno risca de giz, com os cabelos sempre rebeldes falhamente remediados com gel, começava a declarar os seus votos de casamento. — A que eu mais gosto é uma parábola que Diotima, a instrutora de Sócrates, deu para o pensador. Diotima ensinou a Sócrates que o amor, Eros, era filho de Poros, Recurso, e Pénia, Pobreza, um espírito intermédio, que não é rico nem pobre, não é feio nem belo, intermediário entre os deuses e os homens — prosseguiu, olhando para a mulher amada.

A jovem estava vestida com um vestido tradicionalmente branco, todo em delicada renda, com decote ombro a ombro sobre o tomara que caia e mangas compridas com sutil transparência. estava com a aparência digna de uma princesa de um dos muitos contos de fada presentes em suas infâncias. A peça era uma versão remodelada do vestido de sua mãe, que guardara por todos os anos subsequentes ao seu próprio casamento para destiná-lo à única filha.

— Para o âmbito científico — continuou o raciocínio, observando com brilho nos olhos o sorriso bobo que despontava dos lábios da sua noiva —, o que torna o amor uma experiência interessante é a interação entre os campos cerebrais e a liberação de hormônios, que resultam em uma sensação que traz prazer — falou, pendendo a cabeça para o lado. — Bem, na maioria das vezes — concluiu levemente irônico, provocando risos dos convidados.

Na igreja, o foco era somente no rapaz. Todos pareciam bem atentos ao que o rapaz falava, sobretudo , que amava observar o quão adorável eram as expressões do homem ao discursar.

— A oxitocina e a vasopressina são os hormônios mais relacionados ao amor romântico. Ambas interagem com o sistema de recompensa dopaminérgico e podem estimular a liberação de dopamina pelo hipotálamo. Resultando, assim, em um vício: na dependência emocional e até na obsessão pelo parceiro, sobretudo na fase inicial do relacionamento. — Secou um pouco do suor que escorria por suas mãos em sua calça social, encarando os olhos marejados da mulher. — Amor, independentemente do uso de bases científicas ou filosóficas, ainda não consigo definir com exatidão o que é esse sentimento que eu sinto por ti. Para mim, que sempre gostei de trabalhar com estatísticas baseadas em extrema precisão, é até agonizante — declarou, crispando os lábios. — Todas as definições de amor, paixão e derivados, mesmo vindo de alguns dos maiores pensadores que já passaram por esse planeta, parecem ser rasas e superficiais quando eu me deparo com a avalanche de sensações que me atingem ao olhar para você, . — Respirou fundo, tentando evitar o tremor em sua voz.

A essa altura do campeonato, não sabia até quando poderia reter suas lágrimas, situação vivida em mesma intensidade por .

— Então, tentando trazer essas sensações para o campo mais físico para racionalizá-las, mesmo que minimamente, tentarei fazer uma retrospectiva das ações que nos colocaram aqui hoje. — Fez uma pausa, olhando rapidamente toda a extensão da construção sacra. — Vocês não têm mais nada para fazer hoje não, né? — falou em tom zombeteiro com os convidados, fazendo-os rir e recebendo vários maneares negativos de cabeça. — Ótimo, porque talvez esses votos demorem um pouco. — Riu, ouvindo um "seu bobo" sussurrado de sua mulher. apenas sorriu em resposta para a noiva. — Você se lembra de quando nos conhecemos? — perguntou retoricamente para a mais nova.

sabia que, tal como ele, nunca havia esquecido o momento que dera início à história de ambos.

— Meus pais haviam acabado de serem transferidos de outro estado, fato que me deixou muito chateado. Eu nunca tive uma grande facilidade em fazer amigos, então imagine o meu descontentamento ao saber que teria que começar novamente em outro lugar? — Tombou a cabeça para o lado, fazendo uma careta que julgara fofa. — Relaxem, eu perdoo vocês, beleza? — Fez graça, apontando para os pais, que estavam sentados na primeira fileira, ao lado dos pais de . — Mas, na época, não foi fácil largar Sean, meu único amigo, e a professora Nina do prézinho. Poxa, ela foi meu primeiro amor! — exclamou, colocando uma das mãos na cintura de forma dramática. A noiva e o restante dos presentes dividiam-se entre a diversão e a emoção perante os votos descontraídos do rapaz. — O único antes de você — acrescentou rapidamente, em uma piscadela.

Setembro de 1999

, venha cumprimentar uns velhos amigos, querida — a mulher na faixa dos 30 pediu, procurando pela aniversariante, que anteriormente corria pela grande casa da família, com alguns coleguinhas da escola. — Tem alguém que eu quero que você conheça.

— Oi, mamãe. — A pequena surgiu descabelada e um pouco ofegante, logo sendo puxada para os braços do pai.

— Esses são Emilly e Derek, filha. Eles são amigos de velha data da nossa família — o pai da criança tratou de apresentar, provocando um sorriso e um acenar de cabeça em resposta.

— Olha que menina linda vocês têm aí, gente! — a mulher, que há pouco era desconhecida para , exclamou. — Eu vi você quando ainda era um bebê, . Bem pequenininha assim, ó! — exagerou, fazendo um gesto com os dedos polegar e indicador para frisar o quão diminuta a criança era. — Agora tá essa moça linda aí — finalizou, fazendo a menina esconder o rostinho no pescoço do pai, envergonhada.

— É linda demais essa princesa, não é? — o pai de perguntou retoricamente, beijando toda a extensão do rosto desta e provocando cócegas devido à barba em crescimento, além de alguns gritinhos finos.

— Para, papai! — reclamou a menina, gargalhando e tentando se desvencilhar do mais velho. Em meios às suas tentativas inúteis, percebeu a presença de um sexto membro ali no local.

— Puxou à mãe, né? — Derek disse implicando com o homem, sem perceber que os mais novos se encaravam com curiosidade, provocando um rolar de olhos do patriarca dos . — Sorte a dela — prosseguiu, recebendo um soquinho da esposa como forma de repreensão pela brincadeira boba.

— Então, querida — a mãe da menina começou, ignorando as provocações dos homens. Tirando-a em seguida dos braços do pai, colocou-a no chão. — Esse é o . Ele possui a mesma idade que você, — apresentou a figura de um menino franzino, que se escondia atrás das pernas da mãe, envergonhado com a situação.

era, em sua essência, tímido. Sempre fora uma criança pouco extrovertida, porém era também muito carinhoso com aqueles que o cercavam. Preferia ficar em casa lendo algum de seus livros, gibis ou HQ's do que socializar com crianças de sua idade. Sendo diametralmente oposto a , que era conhecida por falar mais do que boca, sempre rodeada de muitos coleguinhas e que sempre cativava a todos com toda a sua simpatia e perspicácia.

— Oi — a pequena logo se adiantou. — Eu sou a , mas todo mundo me chama de . Bem, menos a mamãe quando está brava — começou a tagarelar, fazendo o menino se esconder ainda mais, assustando-se com o tanto de palavras que aquela coisinha pequena conseguia pronunciar em um curto espaço de tempo. — Então, se você não estiver bravo comigo, é pra me chamar de , viu? — Cruzou os braços, tentando fazer cara de séria. apenas assentiu, ainda desconfortável com tudo aquilo. — Eu estou fazendo cinco anos hoje, por isso essa festa aqui. Minha festa. Eu gosto de festas! Você gosta? — continuou, fazendo uma breve pausa para respirar. — Deve gos...
— Filha, calma! — A mãe da menina, juntamente aos outros adultos dispostos na sala, gargalhava com a afobação da pequena. — Por que você não vai para o quintal com o , uh? — propôs a mais velha. — Você pode apresentá-lo aos seus amigos. Ele vai começar a estudar na sua escola semana que vem. Provavelmente irá estudar na sua turma. — A mais nova apenas concordou, esperando apenas a manifestação positiva da outra criança do cômodo. Sua mãe já havia a alertado anteriormente que era feio carregar os outros por aí sem a prévia permissão deles.

— Você não quer brincar com a e com as outras crianças, filho? — perguntou Emilly, prostrando-se de joelhos para alcançar a altura do pequeno, que assentiu sem ainda muita convicção. — Prometo para você que eles são legais — assegurou, dando um pouco mais de confiança para o desconfiado .

O garotinho realmente não sabia lidar com situações em que a socialização era necessária, sobretudo com estranhos. Para assegurar-se que era seguro seguir a 'matraca ambulante' o menino buscou o olhar do pai, que também sorria em incentivo. apenas respirou fundo, decidindo, por fim, lidar com esse desafio.

— Tá bom, mamãe — respondeu, finalmente aceitando a mão que oferecia para irem em seguida em direção às portas francesas que davam para o local escolhido para sediar o aniversário.
As duas crianças andaram lado a lado até o grande jardim da família , sob o olhar atento dos adultos, que poderiam apostar que dali sairia uma grande amizade, tal como a dos mais velhos. Amizade que, mesmo após vários anos sem grande contato, permanecia tão sólida quanto era quando ainda eram jovens sem grandes responsabilidades. Com toda a atenção que direcionavam aos filhos, acabaram por ouvir um pequeno diálogo que os fez sorrir, divertidos.

É, eles seriam grandes amigos.

— Você não é de falar muito, né? — perguntou, dando uma pequena corridinha ao visualizar os seus amigos assistindo a um pequeno show que a equipe de animação contratada por seus pais fazia.
— Você é que fala demais! — exclamou o outro, balançando a cabeça em negação.
'Essa menina é estranha — pensava sozinho —, mas eu gosto de coisas estranhas.'


OFF

— Todavia, eu não imaginava que, nessa nova empreitada, eu iria encontrar você, não é mesmo? — Aproximou-se mais em direção à noiva, acariciando o rosto de com a mão que não segurava o microfone.
A moça sabia que o noivo havia preparado uma linda homenagem para o casal no grande dia deles — sendo uma atitude típica de —, mas o que estava assistindo era mais do que o seu pobre coração poderia aguentar sem grandes riscos. Ela, apesar de não ser tão sentimental assim, não poderia negar que estava realmente emocionada com o discurso. Talvez pudesse até jogá-lo no Youtube e compará-lo com o de Tom Fletcher, guitarrista de sua banda favorita. Ela realmente gostava daquele discurso.

, você em momento algum hesitou em me apresentar aos seus amigos e me incluir em tudo que era possível; desde algum jogo de futebol no que, só para constar, eu era péssimo. — Riu fraco, balançando a cabeça em negação. — Ou para brincar de boneca com você. — Riu mais uma vez antes de acrescentar: — Você gostava de dizer que eu era o "pai ideal para os seus filhos". — Fez aspas com a mão livre. — Nível Max Steel, não Ken almofadinha — brincou, trazendo uma nova leva de risos. — Talvez tenha sido isso que nos colocou aqui hoje, afinal — disse, fazendo a menina secar as lágrimas que escorriam de seu rosto.

Nesse momento, ela agradecia a todos os deuses e aos maquiadores por terem decidido pôr uma maquiagem à prova d'água. Caso contrário, possuía a plena certeza de que já estaria apta para protagonizar a série Monster High.

— Eu nunca me sentia deslocado quando estava com você, amor. Você tinha o dom de tornar tudo mais agradável para o , seja para o de 5 anos ou para o de 24. A verdade é que é tudo sobre você, minha linda. Sempre foi e sempre vai ser.

Julho de 2007

, você não vai acreditar! — a menina falava empolgada, dando alguns curtos pulinhos, em vez de passos, para entrar no quarto do menino.

— O que houve, ? — o rapaz respondeu à amiga, pausando sua partida de Call Of Duty no seu recém ganhado PS3. Havia aniversariado pouco tempo atrás, recebendo o videogame de seus pais, sendo esta a maneira que os mais velhos haviam arranjado para fazer o rapaz tirar a 'cara dos livros' e investir em outras atividades, mesmo que ainda dentro de casa.

— O Austin me chamou para sair! — exclamou em um grito fino, abraçando de surpresa e quase derrubando os óculos dele.

Austin Hastings era o garoto mais popular da Thomas Jefferson Middle School.

Bonito, inteligente e extremamente simpático era a maneira como todos gostavam de o definir. O sonho de consumo de 9 a cada 10 meninas do ensino fundamental, de acordo com as pesquisas super apuradas feitas nas paredes do banheiro feminino.
tinha aulas de matemática avançada com o menino e tinha que concordar que o cara era gente boa. Ao contrário de seus amigos, nunca havia feito piada com o jeito desengonçado de e com o fato de o rapaz ser "nerd demais". Havia, por vezes, saído em defesa de , não entendendo qual era a graça que os outros sentiam ao diminuir alguém só porque se destacava no meio acadêmico.

Esse era o objetivo da escola, não?

Mesmo sabendo da boa reputação de Hastings, não pudera evitar o gosto amargo que ficara em sua boca ao ver tão animada para um encontro com o garoto. Não sabia explicar o que estava sentindo com exatidão, mas não era algo muito agradável.

— Ei, o que aconteceu? — a moça questionou preocupada, ajoelhando-se em frente ao puff em que voltara a sentar, após absorver o baque da notícia. O garoto era usualmente quieto, mas essa atitude não era comumente explorada quando era que estava ali com ele.

— Anh… Nada, nada... — respondeu levemente atordoado, ajeitando os óculos. — O Hastings, uh? — falou sugestivamente, ignorando o azedume que sentia em sua boca, fazendo as bochechas da outra se avermelharem.

— Ai, sim! — Suspirou profundamente. — Ele é tão lindo e simpático que até me fez sentir um pouco mal por negar o convite — adicionou, surpreendendo o mais velho.

Como assim a menina negara o convite de Austin?

— Não estou entendendo. — Balançou a cabeça em negação, exteriorizando a dúvida dentro de si. — Você pareceu tão animada com a mera menção ao convite. Então por que não aceitou sair com ele?

— É que o Austin é perfeito — falou simplesmente, o que fez arquear a sobrancelha em descrença. — Perfeito até demais, sabe? — explicou, sentando-se no tapete do quarto de , ficando em frente ao menino. — Perfeição demais é chato. — Deu de ombros. — Apenas me senti lisonjeada pelo carinha mais desejado da escola sentir interesse em mim. — Fez uma pausa, lembrando de mais um detalhe: — Além de que eu não poderia perder de assistir a estreia de Harry Potter e a Ordem da Fênix com você, né? — Sorriu.

. — Balançou a cabeça incrédulo, mesmo que por dentro se encontrasse aliviado. — Eu algum dia ainda desisto de te entender — comentou, rindo fraco.

— Nah, — Estirou a língua para o melhor amigo, logo em seguida fazendo uma cara fofa. — Eu sou o quebra cabeças que você mais gosta de desvendar, cabeção.
É, ela era.


OFF

— Eu não sei explicar o momento exato no qual eu me apaixonei por você — começou com os olhos marejados, tentando disfarçar a emoção. — Desde que eu sou capaz de lembrar, você é a minha melhor amiga. Aquela a quem eu posso contar desde os meus maiores sonhos até os meus medos mais profundos. — Respirou fundo para não tremer a voz. — Não foi fácil admitir para mim mesmo, quem dirá para você, que o sentimento que deveria ser apenas amizade evoluiu para algo mais. Para amor. — Gesticulou para frisar a informação — Você sempre foi a favor do discurso de que a vida é muito curta para nos prendermos a uma só pessoa. — Sorriu, balançando a cabeça levemente. — Já eu, era o completo oposto disso. Acreditava que as pessoas eram destinadas umas às outras e que o amor era o sentimento mais puro a ser vivenciado por nós, meros mortais — declarou, encarando os olhos da mulher que amava.

se desdobrava entre encarar os olhos cristalinos do rapaz e, ao mesmo tempo, não encarar demais. A mulher sabia que não aguentaria muito mais tempo controlar suas lágrimas caso encarasse a emoção refletida nos olhos do noivo.

— Quando eu te explicava isso, você apenas ria e falava: Você tem que parar de assistir musicais e filmes da Disney, . Eles estão te deixando mais piegas do que bêbado em bar karaokê — falou fazendo uma voz incrivelmente fina para retratar a de , que respondeu com uma careta e um estirar de língua, ao que o menino somente riu fraco. — Nossos amigos e familiares gostavam de falar que nós trocamos os papéis sociais que a sociedade estabeleceu como regra para homens e mulheres. — Revirou os olhos, sorrindo em seguida, lembrando das inúmeras vezes em que seu lado mais sentimental foi alvo de conversa. — Ou melhor, que Hollywood consolidou como verdades absolutas nas vidas dos adolescentes. — Adicionou, sorrindo nostálgico. — Eu era o típico nerd romântico, que adorava ler sobre os mais diversos clichês e teorizar quando eu acharia uma mulher assim em minha vida. E você, amor... — Pegou uma de suas mãos, que estava levemente molhada de suor, relatando o seu nervosismo com o momento. — Você era a menina popular, desejada por todos os caras da escola. Alguns até da faculdade! — exclamou, revirando os olhos para a lembrança. — Quase um quarterback de um filme da Netflix — debochou em um tom ainda divertido. — Mas que não ficava com nenhum porque era boa demais para eles. Boa demais para mim — acrescentou, continuando rapidamente ao ver que a moça iria retrucar. — Então imagine a surpresa de todos ao nos verem como um casal.

Fez uma cara de chocado, com direito à mão posta em cima do peito, provocando mais risos nos expectadores. Até o padre se rendera aos sorrisos, emocionado com a história do jovem casal que ali estava.

Abril de 2011

", eu preciso falar com você. Urgente. Encontre-me em nossa árvore, no parque St. Louis, às 14h.
".
Essa havia sido a mensagem que encontrara em seu telefone ao buscá-lo em sua mochila para interrogar por sua ausência na escola naquele dia. O rapaz nunca — nunca — faltava, a não ser que fosse acometido por alguma doença.
Mas não acreditava que era o caso. Havia falado com o melhor amigo na noite anterior e, mesmo aparentando um incomum nervosismo, o garoto parecia bem.

Com o grande volume de pensamentos a incomodando, não conseguia mais se concentrar no monólogo sobre angiospermas que o professor careca e barrigudo de biologia entoava. Sinceramente, por qual motivo ela iria querer saber como plantas se reproduziam? Ou o que era floema e xilema? Ela tinha coisas mais importantes para se preocupar. A menina só conseguia pensar no que queria conversar com ela.

Será que havia feito algo errado? Algo que havia chateado o rapaz de alguma maneira?

A moça sentia um aperto no coração só de pensar que, por algum motivo, poderia sair de sua vida: não existia sem . Estavam juntos desde que se entendia por gente. Ele era o Almofadinhas do seu Pontas. O Chandler de seu Joey. Ou melhor, o Patrick de seu Bob Esponja. Eram uma dupla.

Em meio aos seus devaneios, mal pôde perceber o tocar do sinal, sinalizando o intervalo. Só acordou de seu transe ao ser cutucada por Hailey, sua melhor amiga.

— Ei, , em que mundo você está? — perguntou, ajudando a outra a arrumar o material em sua mochila. — Você adora Biologia. — Hai não entendia o porquê de a mais nova estar tão avoada durante a aula de uma de suas matérias favoritas. — Mesmo que ninguém realmente são goste de botânica...

— Eu estou apreensiva. — Suspirou, respondendo ao questionamento da amiga. — O faltou aula e me mandou uma mensagem toda enigmática — finalizou, acompanhando a amiga em direção à porta da sala. — Não sei o que pode estar acontecendo.

— Eu não entendo vocês dois, sério! — Bufou inconformada. — Ficam nesse doce de "somos só amigos", mas até as DR's de "precisamos conversar" vocês têm. — Cruzou os braços e arqueou as sobrancelhas. — Admita que você gosta do menino cérebro.
— Não viaja, Hai. — Balançou a cabeça em negação. — Eu amo o mais do que tudo, mas não desse jeito — falou sem tanta convicção assim.

A verdade era que não poderia mais assegurar que os seus sentimentos pelo garoto mais desajeitado do ensino médio estivessem limitados ao campo da amizade. Ultimamente, pegava-se encarando mais do que o normal, sempre com um sorriso bobo, ficando levemente desconcertada ao ter seu ato capturado pelos olhos astutos do rapaz.

O jeito que o rapaz mexia em seu cabelo levemente enrolado, mordia os lábios ou ainda a maneira como franzia as sobrancelhas ao se ver concentrado em algum dos muitos livros que gostava de ler encantavam mais do que era capaz de admitir.

sempre fugira de relacionamentos.

Havia ficado com uns 3 ou 4 garotos durante os seus 16 anos de vida, sempre dispensando-os quando tentavam algo a mais. Não se sentia preparada, era a sua resposta ao questionamento constante dos que os rodeavam. O único assunto "bobo" que considerava relevante em sua vida era a astrologia. O amor e as suas complicações não tinham vez na rotina da adolescente.
O máximo de romance que se permitira era ler algumas fanfics com Harry Judd, baterista de sua banda favorita.

— Nem você acredita nisso, — Hailey disse, rolando os olhos e parando em frente a um já lotado refeitório. — Você vai querer comer aqui mesmo ou vai à cantina lá de fora? — Mudou de assunto, percebendo o desconforto da amiga.

Hailey Mason conhecia como a palma de sua mão e sabia que insistir no assunto não iria levá-las para lugar algum. A tendência era fazer apenas a menina se retrair ainda mais ou deixá-la chateada.

— Eu acho que vou pra casa, Hai — falou, olhando em volta. Alguns colegas acenavam para , como um convite mudo para juntar-se a eles. — Não vou conseguir me concentrar no restante das aulas. — Suspirou, devolvendo o aceno sem tanta empolgação.

— Certo, você que sabe — a ruiva disse, puxando a amiga para um abraço. — Boa sorte com o . Me conte tudo depois. — Afastou-se para encarar os olhos da menor, em um sinal de ordem implícita. A garota adorava uma fofoca.

apenas assentiu, seguindo em direção ao estacionamento da escola. Precisava se preparar psicologicamente para a conversa que teria dentro de algumas horas.

XX

Chegando em casa, tivera que passar pelo interrogatório de sua mãe — que não havia ido trabalhar por estar se recuperando de uma virose —, uma vez que não era costumeiro a menina cabular aulas.

apenas se limitou a responder que estava um pouco enjoada — o que não era mentira — e a repentina palidez, que a acompanhava desde a mensagem de , consolidou tal explicação. Após tomar um banho e comer um pouco do yakisoba que a senhora havia pedido para o almoço, a mais nova se trancou no quarto, apenas esperando o tempo passar.

, enquanto se deitava em sua cama, repassava todos os seus passos para tentar prever o que iria conversar com . Não chegara a nenhuma conclusão plausível, contudo.
Sabia que simplesmente perguntar ao amigo não iria funcionar. , mesmo sendo um grande fã das novas tecnologias, não era adepto ao uso do celular e provavelmente só veria a mensagem da garota após o fatídico encontro. Então, para a angústia de , a solução era esperar.

Ao ver que faltavam apenas 15 minutos para o horário estabelecido pelo rapaz, a garota finalmente levantou e decidiu encarar a situação de frente.

Não havia motivos para apreensão, certo? Era só ali, o seu melhor amigo.
Melhor amigo que causava nela algumas sensações que não conseguia distinguir ou sequer lidar com quaisquer resquícios de maturidade.

Certo, precisava ser forte, era o que repetia para si mesma, em frente ao grande espelho de seu quarto antes de sair rumo ao quarto dos pais para explicar o porquê de precisar deixar a residência após perder os últimos períodos de aula. A mãe da menina sentira-se receosa ao deixá-la sair de casa devido aos acontecimentos recentes, porém, ao ouvir o nome de , o receio fora aniquilado. Confiava cegamente no rapaz alto, de cabelos desgrenhados e andar desajeitado.

Após despedir-se da senhora , andou em direção ao jardim de sua casa para pegar a sua bicicleta e pedalar até ao parque. O vento no rosto e a brisa gostosa de uma típica tarde de primavera deveriam ajudar a clarear a sua mente turbulenta.
Colocou os seus fones de ouvido e, ao som de A Little Bit Longer, dos Jonas Brothers, encaminhou-se para o encontro do rapaz.

Chegando ao local, prendeu a sua bicicleta com o cadeado de proteção no bicicletário e foi em direção à árvore que ambos os jovens consideravam "deles".
A árvore em questão era uma Sequoia-gigante, que possuía as inscrições " + = LOVE 4ever", feitas quando os amigos possuíam 10 anos, como forma de registrarem que o sentimento que ali existia seria eterno.

Desviando-se de algumas crianças e animais que ali brincavam, demasiadamente distraída, mal pôde perceber que já havia chegado ao local escolhido por , só entendendo, de facto, quando ouviu a voz do amigo.

— Você lembra quando éramos nós que corríamos feito loucos por aí? — questionou, fazendo sobressaltar-se. — Desculpe, não quis te assustar — pediu, puxando a garota para se sentar com ele na grama.

— "Nós corríamos", ? — perguntou rindo, deitando a cabeça no ombro de . — Era um sacrifício tirar a sua atenção dos livros para fazer alguma atividade que envolvesse o mínimo suor possível — zombou, cutucando as costelas do rapaz, resultando em alguns espasmos de pelas cócegas.

— Isso não era para mim. — Assentiu rindo. — Mas você sempre me convencia a fazer o que queria. Essa sua falsa carinha de inocente era o meu terror na infância.

— Era? — provocou. — Você até hoje não resiste a mim — continuou a brincadeira, observando, de relance, uma careta estranha aparecer no rosto do outro, fazendo-a franzir o cenho. A menina enrijeceu a postura, voltando a ficar apreensiva. — , o que você queria conversar com tamanha urgência? — questionou, finalmente.

— Uma vez Victor Hugo citou que "A suprema felicidade da vida é a convicção de ser amado por aquilo que você é, ou melhor, apesar daquilo que você é" — declarou, fazendo a menina desencostar o rosto de seu ombro para observá-lo frente a frente. estava, além de nervosa, curiosa com o caminhar da conversa, principalmente ao perceber que o menino não havia procurado o seu olhar, como era de praxe. — Eu demorei a entender o significado disso, sabe? — perguntou vagamente, sem realmente esperar uma resposta. — Até que um dia, após eu te falar que eu estava cansado de ser taxado de 'freak genius' por uns caras da escola, você respondeu ', você é incrível do jeitinho que você é. A culpa não é sua se a sociedade cultua os idiotas e não consegue lidar com um menino de 13 anos com um QI gigantesco. — Riu fraco — Devem estar com inveja por precisarem se esforçar para não pegar recuperação, enquanto você já possui créditos para entrar em qualquer faculdade da Ivy League' — continuou, olhando para o céu aberto que se encontrava acima deles. — Não foi o fato de você reafirmar a minha inteligência que me fizera sentir especial naquele momento, mas sim saber que você estava ali por mim, independentemente de como eu me apresentasse ao mundo. Fez-me sentir completo — disse, procurando, finalmente, o olhar da amiga. A hora era agora. — Eu me senti amado, — falou emocionado. — Amado como os personagens dos livros de romance que você tanto me zomba por gostar. — Mordeu os lábios em sinal de nervosismo, numa mania que lhe era frequente. — Nesses três anos que se passaram desde que tivemos essa conversa, não sei explicar o que, ou quando ocorreram mudanças em mim. — Puxou levemente os cabelos, desgrenhando-os mais do que o normal. — Todavia, eu não conseguia mais observá-la com os mesmos olhos.

apenas escutava tudo com extrema atenção. O revirar de seu estômago já era algo incômodo e algumas borboletas faziam uma grande bagunça dentro de si.

— Eu passei a me sentir desconfortável ao ter conhecimento de algum caso seu, mesmo que não durasse muito. Passei a notar com mais atenção o jeito que você mexe no cabelo quando está distraída, a sua mania de arquear as sobrancelhas quando defende algo que possui convicção e o jeito que enrubesce ao ser encarada por muito tempo — prosseguiu, segurando as mãos geladas da moça.

A menina se sentia levemente surpresa com o discurso de , ao mesmo tempo em que sentia um quê de representação. Parecia que, como nos exercícios escolares — que eram um bicho de sete cabeças para ela, sobretudo os de matemática —, também precisava da ajuda do melhor amigo para desvendar o que rondava seu coração nos últimos tempos.

— Eu passei a notar você, , de um jeito que não parecia ser reversível. — O tom de voz do menino parecia sofrível, refletindo o mix de sentimentos que o rondavam. — Mesmo lendo muito sobre amor, não queria acreditar que era isso que eu estava sentindo por ti. Afinal, você é a minha melhor amiga e amigos não devem ultrapassar essa linha, não é? — Suspirou sofregamente. — Mas eu não aguento mais, — declarou, finalmente tomando coragem.
fixou os olhos decididos na garota que esteve ali por ele em todos os momentos que julgara importantes em sua vida. A mulher, que juntamente com sua mãe, jurara amor até o fim de seus dias.

— Eu estou apaixonado por você, — falou rapidamente, de modo quase ininteligível. — Eu entendo totalmente caso não seja recíproco, de verdade. — Buscou enfatizar, atropelando as palavras em um notório nervosismo. — Eu só precisava falar o que está preso aqui em mim. Isso que eu estou sentindo não deve mudar a nossa relação, de jeito nenhum. Por favor, não saia da minha vida — implorou sem ter coragem de olhar nos olhos dela. — Eu posso desapaixo…

Antes que pudesse concluir a sentença, contudo, foi interrompido por um encostar de lábios suaves. O beijo fora breve, apenas o necessário para desconectar de mais uma de suas divagações comuns quando o rapaz se encontrava em pânico.

— Ei, posso falar para você o que eu acho de tudo isso? — a primogênita dos perguntou ao romper o selinho, segurando o rosto do melhor amigo com uma de suas mãos. Prosseguindo ao vê-lo assentir, levemente desconcertado e com as bochechas vermelhinhas, tais como as dela. — , acredito que tudo o que você sente é recíproco — falou, diminuindo consideravelmente a dúvida que habitava em si. , por sua vez, arregalou os olhos em surpresa. De todos os cenários que sua mente extremamente perspicaz havia calculado, aquele, definitivamente, não era o mais provável.

— Eu não conseguia entender o que estava diferente em você nos últimos tempos, ou o porquê de eu não conseguir te tirar dos meus pensamentos — falou, balançando a cabeça em negação. — Talvez você não tenha sido o único que ultrapassou a linha da amizade, little genius — disse e piscou para o outro, que já possuía um sorriso bobo nos lábios. — Eu não leio sobre o amor e fujo de relacionamentos desde a época que encenei a Branca de Neve para a escola e o moleque que fazia o príncipe disse que nós estávamos predestinados pelos astros — falou rindo, lembrando daquele episódio estranho de sua breve vida.

O menino em questão era Olivier Harrison, o primeiro admirador que tivera noção da existência e o primeiro que ela dispensara por falta de interesse.

— Então eu não sei como agir ou interpretar esse turbilhão que há dentro de mim quando olho para ti, . — Aconchegou seu corpo ao lado do de , que abriu os braços para receber a menina, dando um beijo no topo de sua cabeça. — Talvez isso não venha a dar certo, por quaisquer que sejam os motivos, mas eu estou disposta a tentar — concluiu, atraindo o olhar do rapaz para si. — Mas, independentemente do que acontecer, nós temos que prometer que não iremos deixar acabar com a nossa amizade. Não te aguentei por esse tempo todo para você sair de minha vida porque sou irresistível demais. — Lembrou de adicionar, recebendo um sorriso e um revirar de olhos em resposta.

— Então, senhorita , podemos dizer que agora você é comprometida? — questionou sem ainda acreditar. — Comprometida comigo? — perguntou ficando mais vermelho ainda ao ver o sorriso malicioso que a garota destinara a si.

— Pode apostar, pequeno — falou, finalmente colando os seus lábios em um beijo que parecera ser de extrema necessidade para ambos. — Agora você vai ter que me aguentar.


OFF

— Claro — deu de ombros —, todos já estavam acostumados a nos verem juntos por aí. Afinal, nós éramos amigos. Melhores amigos! — enfatizou. — Mas, para boa parte da escola, aposto que para alguns professores também, a grande andava com o menino apenas por, sei lá, pena? — ponderou irônico, tombando a cabeça para o lado com uma careta de falsa dúvida.
apenas sibilou um “eles eram uns babacas” em resposta.

— Sim, eles eram uns babacas. — Assentiu em concordância com a noiva. — Perdão pela palavra, padre. Não desista de nos casar, por favor — brincou com o senhor grisalho, que apenas negou rindo.

— Ufa! — agradeceu dramaticamente, provocando mais risos de todos.
nunca fora tão extrovertido quanto estava se mostrando ali. Deveria ser o efeito amplificado, afinal de contas. Apenas ela conseguia liberar o lado moleque serelepe de dentro da casca de introversão em que ele se escondia desde que se entendia por gente.

Agora ali estavam os dois, casando. Mostrando que partes opostas poderiam, sim, dar um lindo encaixe.

— Contudo, nós dois sabíamos que o que existia ali era sincero. Nós dois éramos "pra valer". Por isso estamos aqui hoje.

Junho de 2017

estava exausto.

Havia acabado de chegar de uma de suas aulas de biologia molecular de seu curso de Neurociência na Universidade em Yale e não poderia esperar para tomar um longo banho e deitar em sua cama sem estimativas para acordar.

Conciliar a graduação, as suas atividades como monitor e a construção de artigos científicos sobre a esquizofrenia e as suas complicações — no portador do transtorno e em seus familiares — não era fácil, mesmo em alguém com a brilhante mente de . O rapaz gostava de estimular suas atividades cerebrais e potencializar a sua capacidade de raciocínio e lógica, porém o cansaço físico se tornara um grande empecilho para ele nos últimos tempos.

realmente estava exausto.

tentava amenizar a situação preparando um chá verde ou encomendando comida indiana — a favorita dele — nos dias mais estressantes, mas ela não estava ali no momento. A garota tinha avisado mais cedo que ficaria mais tempo na Universidade para resolver a questão de um empréstimo de livros essenciais para a grade curricular de seu curso de Literatura Inglesa, na mesma universidade que o namorado havia sido aprovado.

, após deixar a mochila em cima de uma das cadeiras do pequeno apartamento de dois quartos, que passara a dividir com a namorada desde que se mudaram para New Haven, percebeu em sua visão periférica um pequeno caderno com vários post-its colados pela extensão da página que estava aberta, posicionado ao lado do arranjo da mesa de seis lugares.

Estranhando a posição do objeto, logo se aproximou com intenção de o examinar mais precisamente.
e eram meticulosos ao extremo, para não dizer loucos por organização, então era de se estranhar aquele caderninho ali, tão desconexo do ambiente.

Ao pegá-lo, percebeu que os post-its estavam extremamente rabiscados, o que fez o rapaz franzir o cenho em confusão. Todavia, olhando mais atentamente o conteúdo dos rabiscos, percebera que na verdade eram palavras, frases, sendo mais exato.

Reconheceu imediatamente a letra costumeiramente tremida da namorada.
Assim, intrigado com o que tinha em mãos, deslocou-se em direção ao sofá cor de caramelo de dois lugares, sentando-se em seguida para começar a analisar o que estava escrito nos pequenos papéis coloridos.

' Hey, Babe! Tudo bem com você?'
'Imagino que você deva estar muito cansado, mas será que poderia perder alguns minutinhos de descanso fazendo uma espécie de caça ao tesouro?'
'Garanto que você não irá se arrepender!'
ainda estava desnorteado em relação ao que estava acontecendo. Não sabia qual era o objetivo daquilo, mas já sorria de forma abobalhada — algo comum quando estava com — por causa da surpresa que a namorada havia preparado para ele.

'Então, você lembra da música que definimos como nossa quando éramos apenas crianças?'
'Claro, eu sei que você lembra. Não posso esquecer que o meu amor é um little genius com uma memória fantástica, né?'
' Então, quero que você vá ao local em que essa joia se esconde que dali sairão outros passos a serem seguidos, beleza?'
apenas riu, logo se levantando para fazer o que a namorada dissera.

A música em questão era 'Star Girl' dos McFly, esta que fora escolhida como do — na época — casal de amigos por misturarem, de acordo com a menina, elementos que ambos gostavam. McFly, no caso dela, e as estrelas, no caso dele. , na época, resolvera não contestar essa afirmação. Mesmo não sendo grande fã dos britânicos — preferindo um rock clássico ao chamado pop rock —, ele gostava da música em questão. Era agradável aos seus ouvidos extremamente críticos.

Após pensar por alguns segundos, lembrara-se que o exemplar da mulher do Motion in the Ocean, CD que lançara a canção Star Girl, estava guardado na gaveta do hack a alguns passos de onde estava.

Ao abrir a gaveta, logo encontrou o objeto que estava procurando. O disco, tal como o caderno, estava com vários post-its colados por sua superfície. então fechou o compartimento que havia aberto e se sentou no tapete que ali estava, parando para ler os próximos passos.

'Essa música, mesmo que escolhida meio aleatoriamente, faz eu me arrepiar sempre que a escuto, acredita? Isso porque só consigo pensar em você!'
', eu sou completamente apaixonada por você, amor!'
'Por isso, lá na cozinha tem uma outra surpresa, junto com ao próximo passo.'
'Nos vemos lá!'
O rapaz já se encontrava emocionado com o 'jogo' que a namorada propusera. Sempre fora muito romântico, chamado de piegas por muitos, então o gesto de atenção e carinho que havia destinado a ele já eram suficientes para ocasionar um leve marejar de olhos e alguns tremores nos membros inferiores. Assim pegou o pequeno CD, ligou o home theater que ali estava e o colocou no dispositivo de som para tocar. Ao começar a ouvir os acordes que davam início à segunda faixa, partiu para a apertada cozinha.

Chegando ao cômodo, viu que em cima do balcão havia uma embalagem plástica.
Chegando mais perto, pôde sentir que estava aquecida, como se guardasse algum alimento recém-preparado. Ao abrir viu que, de facto, se tratava de comida. Um Vada Pav estava ali esperando para ser ingerido. O alimento, que consistia em uma espécie de sanduíche vegetariano, era um hambúrguer de batata servido dentro de um Pav, um pãozinho especial. Era um vício para . O rapaz fazia questão de comer essa iguaria sempre que era possível. Ao retirar o sanduíche do compartimento, reparou que ali estavam localizados mais post-its, fazendo-o parar com o intuito de lê-los.

'Lindo, eu imagino o quão faminto você está, então passei no Spice Symphony e comprei esse lanchinho para ti.'
'As mentes, mesmo as mais brilhantes como a sua, precisam de uma pausa para recarregar, não?'
'Depois que terminar de comer, você pode ir em direção ao nosso closet para achar a peça mais emblemática de nosso relacionamento?'
A cabeça de trabalhava a todo vapor. O homem já imaginava o que tudo isso queria dizer. Mal podia acreditar, contudo.
era mesmo imprevisível. já começava a sentir as muitas borboletas em seu estômago e o suor frio escorrendo por seu corpo, constantemente presente em situações de nervosismo.

Quando terminou a refeição disponibilizada pela namorada, seguiu em direção ao quarto do casal para fazer o que lhe fora pedido. A peça 'emblemática' em questão era uma camisa da Juventus Football Club, de Turim, com o número 1 bordado em suas costas e o autógrafo — mais uma dedicatória — de Gianluigi Buffon na parte da frente, próxima ao emblema do clube.

havia ganhado a camisa em um sorteio feito pela própria Juve em homenagem aos 15 anos do goleiro vestindo a camisa bianconera. A mulher tratava o item com um zelo equiparado ao que destinava ao seu hamster, Hotch, que criara quando era mais nova. Fato que era quase que um exagero para . Por ter sido criado em um país que não cultuava o futebol, além de nunca ter sido adepto de esportes, o homem não entendia o porquê de tanto apego a uma simples peça de vestuário. Ao expressar seus sentimentos para a moça, quase fora acusado da mais alta blasfêmia por ela, uma vez que o sangue italiano que herdara de seus avós colocava Deus no céu e o futebol — mais precisamente a Juventus — na Terra.

Com isso em mente, entrou no closet que dividia com , logo reparando na peça preta com alguns detalhes brancos que estava colocada em um dos muitos cabides que ali ficavam. Ali, como o esperado, também mais alguns dos papeis coloridos que deram início àquela empreitada.

'Eu sei que, da mesma forma que eu zoo da sua paixão por romances, você tem o mesmo ar zombeteiro quando se trata da minha paixão por futebol.'
'O futebol de verdade, claro. Não essa porcaria com bola oval que nossos compatriotas inventaram.'
'Todavia, mesmo sem entender — o que é raro para você, meu menino gênio —, você sempre esteve ali por mim, mesmo quando eu ficava insuportável por alguma derrota de meu time.'
'Nós já registramos alguns momentos bem especiais assim, não é?'
'Eu com um bico maior que tudo e você com seu sorriso lindo e apaziguador tentando me trazer calma.'
'Você sempre foi meu norte, amor. Meu centro de paz. Nunca poderei mensurar a importância que você tem na minha vida.'
'Então, por favor, vá até a nossa foto que eu mais gosto e te juro que daqui a pouco isso vai terminar.'
O homem já não conseguia conter a emoção dentro de si.
Algumas lágrimas teimosas já escorriam pelo rosto de , fazendo-o ficar ainda mais ansioso para encontrar a namorada. Devido à pressa que instaurara dentro de si, rapidamente enxugou o rosto e rumou para o criado-mudo posicionado ao lado da cama king size do casal. Ali estava a foto a qual se referia.

Ilustrando uma com o rosto inchado devido às lágrimas após a eliminação da Vecchia Signora da UEFA Champions League pelo Bayern de Munique durante as oitavas de final e um tentando imitar a cara emburrada que refletia no rosto da mais nova.

O casal havia ido para o parque Saint Louis nesse dia para assistir ao jogo, aproveitando o fim do inverno e o desabrochar da primavera. Bem, na verdade, havia ido assistir ao jogo utilizando o seu iPad e os seus fones auriculares. havia levado seu exemplar de “O retrato de Dorian Gray”, para 'engoli-lo' enquanto isso. Quando estava perto do fim, ouviu o som de alguns soluços, percebendo, assustado, que era que o fazia. A garota realmente se sentia mal com as derrotas de seu time. Enquanto tentava consolar a menina, o casal sentiu um flash em sua direção. Olhando confusos, perceberam um jovem fotógrafo, que mirava o casal com curiosidade.

Ainda em confusão, levantou, indo em direção ao homem, querendo saber o que havia acontecido. Após trocarem algumas palavras, o artista mostrou a fotografia que tirara — que acabou agradando muito a —, fazendo-o ficar com a fotografia e pagar a importância de 5 dólares em troca da imagem.

A foto, inicialmente, era desprezada por , que achava que saíra horrorosa e não queria que ninguém a visse naquele estado. Além de que fazia a menina lembrar do fatídico dia em que foram eliminados do campeonato que não ganhavam há mais de 20 anos. Mas com o tempo aprendera a amá-la, tal como tudo que possuía envolvido.

Era inevitável, afinal. Hoje considerava o clique espontâneo uma de suas fotos mais bonitas com o rapaz, taxando-a até como a favorita. Por isso a posição de destaque no quarto.

, após admirar a linda imagem que ali estava, pegou o que pareciam ser os últimos post-its destinados a ele nessa brincadeira da namorada. Estava com o coração apertadinho e repleto de sentimentos bons.

'Chegamos à parte final desse joguinho aqui :( '
' Espero que tenha achado pelo menos um pouquinho legal.'
' Você sabe que eu não sou muito boa com coisas românticas, mas o que vale é a intenção, não é? hahah'
' Então, amor, como último pedido meu, quero que você vá ao local em que essa foto foi tirada, ok?'
' Por favor, não demora. Estou te esperando.'
' Te amo demais!'
Sem esperar muito, apenas pegou a chave de seu carro, rumando em direção à porta de seu quarto para poder, finalmente, sair do apartamento e encontrar . O rapaz não havia se preocupado em desligar o som que havia ligado minutos antes, que já havia parado de reproduzir 'Star Girl' e agora tinha a melodia de 'Walk in the sun' ressoando pelo local.

Devido à falta de paciência e crescente ansiedade, ignorou o elevador e partiu, quase que correndo, em direção às escadas. Esquecendo-se de se certificar se havia realmente trancado a porta, ia pulando os degraus com o máximo de agilidade que sua personalidade levemente sedentária permitia. Ao chegar à garagem do edifício, logo rumou em direção à vaga destinada ao casal, observando o seu Volvo Amazon P130 122S circa 1965 — presente de seu avô — estacionado.

Ao entrar no carro, ligou o som e, com a trilha de Twist & Shout dos Beatles ao fundo, dirigiu para o parque Saint Louis, não muito distante de sua casa. No caminho, as únicas coisas que conseguia pensar era em abraçar e beijar , como se não a visse há anos mesmo que fizesse apenas poucas horas. Quem geralmente apelava para atividades românticas era ele, então fazia sentindo toda a euforia que o rapaz estava sentindo pelo gesto simples, porém bonito, da garota.

Ao começar a ver as grandes árvores que sinalizavam a chegada ao parque, estacionou na primeira vaga disponível que enxergou, logo no começo do local, deixando o veículo com tamanha desatenção que quase tropeçou no batente da calçada, ocasionando alguns olhares divertidos de pessoas que passavam por ali.

Passou pelo caminho ladrilhado e arborizado, que estava bastante movimentado. Ainda afobado, acabou causando um incidente com um dos cachorros que ali brincava. O filhote de Golden Retriever, achando que queria brincar, pulou em cima do homem apoiado em suas duas patinhas, fazendo-o cair de costas na grama fofinha e receber diversas lambidas molhadas em seu rosto.

Fora tudo muito repentino.
Assim, enquanto tentava tirar o animal de cima de si — ainda desnorteado com o que estava acontecendo — e era bombardeado com as desculpas envergonhadas da dona deste, acabou ouvindo uma gargalhada estridente e bastante familiar.

Com a visão finalmente clareada, uma vez que o animal havia sido reposicionado por sua dona, percebeu que havia um braço estendido em sua direção. Aceitou a sua ajuda de prontidão para poder conseguir levantar.

Focalizando sua visão novamente após o susto, percebeu uma lhe encarando com um típico sorriso brincalhão e braços cruzados ao lado de uma mulher morena, na faixa dos 40, vestida com uma roupa esportiva. O cão também estava ali, agora encoleirado, encarando com uma feição que o rapaz julgava debochada.

— Não sabia que era tão fã de cachorros ao ponto de rolar com eles por aí, — falou rindo, puxando o garoto em direção ao local que costumavam ficar.

A dona do peludo ainda reafirmou o pedido de desculpas antes de observar os dois jovens se afastarem, recebendo maneares positivos de cabeça em resposta.

— Mais um traço dessa minha personalidade cativante. — Riu, percebendo que haviam chegado à árvore que costumavam ficar desde que se mudaram para New Haven e descobriram o parque, poucos anos antes.

Após sentarem na área sombreada, finalmente conseguiu reparar na amada. A menina vestida uma calça jeans de lavagem clara, com uma regata lilás e seu inseparável par de all star branco. Estava, como sempre, linda aos seus olhos
.
— Então... — começaram juntos, em uníssono, quase como se fosse combinado. Isso ocasionou alguns risos.

— Pode falar — sugeriu , recebendo um assentir e um sorriso nervoso em resposta.

— Ok... — A garota olhou para o céu ensolarado acima de si e prosseguiu. — Eu imaginei todo esse momento em minha cabeça e, aqui e agora, parece que tudo se dissolveu — disse rindo levemente, fazendo uma careta em seguida. apenas ouvia tudo atentamente, quase sem piscar. — Mas é isso que acontece quando estou com você, . Parece que tudo some e tudo o que eu consigo é focar em você — adicionou, ruborizando com a confissão. A garota era bastante carinhosa em suas relações interpessoais, mas sabia que era melhor com gestos do que com palavras. — Eu li em um livro recentemente — sim, Nicolas Sparks, pode me zoar, se quiser — que 'o verdadeiro amor é raro e é a única coisa que dá à vida um verdadeiro sentido' — falou, aproximando-se do rapaz para segurar em suas mãos, geladas como as suas, e encarar os seus olhos.

Ali, observando as íris do amado, percebeu, mais uma vez, que tudo que sentia era recíproco, o que lhe deu forças para continuar:

— E é isso que eu sinto por você, ursinho. Desde que nós éramos apenas amigos até o momento em que virámos um casal. Um casal que utiliza o amor, respeito e confiança como base para tudo. — Respirou fundo. — Então aqui, em frente a uma grande árvore — essa, infelizmente sem a nossa dedicatória — e utilizando uma citação de um autor famoso, tal como você fez anos atrás, eu também quero te fazer um pedido.

apoiou ambas as mãos na grama do parque para conseguir uma base de sustentação e, assim, poder ajoelhar-se em frente ao amado. A mulher tirou uma caixinha vermelha do bolso traseiro de sua calça e abriu-a, revelando um lindo anel de ouro rosa, cravejado com pequenos diamantes. A joia pertencera à bisavó do rapaz, sendo repassada por todas as mulheres da família — avó e mãe de — como forma de tradição.

, você aceita se casar comigo?

Mesmo que já esperasse o pedido desde que fora introduzido à surpresa inicial da namorada, o rapaz ainda se encontrava atônito.
Amava incondicionalmente e mal acreditava que estava ali, sendo pedido em casamento por ela.

— Claro que sim, meu amor — falou, puxando a moça para um beijo e ouvindo uma salva de palmas e alguns gritos de incentivo ao fundo. Ao soltarem-se, perceberam uma pequena aglomeração de pessoas mirando-os com emoção no olhar. Ignorando-os, prosseguiu. — Eu não mereço você, sério.

— Deixa de ser bobo, ursinho. — A outra balançou a cabeça em negação, puxando-o para um rápido selinho. — Estou me sentindo toda transgressora fazendo o pedido oficial de casamento ao invés de você — zombou com divertimento, fazendo o agora noivo rolar os olhos sorrindo. Nada poderia tirar o sorriso besta dos rostos do casal naquele dia. — Mas, para não fugirmos muito fora do convencional, será que o senhor poderia colocar o anel de noivado no meu dedo? — perguntou rindo, apontando para a joia que ficara caída ao lado do corpo do homem.

— Claro, claro... — falou, pegando o anel de dentro da pequena caixa aveludada e colocando nos dedos da amada, depositando um beijo ali. — Como você conseguiu o anel da minha avó, aliás? — questionou com curiosidade, puxando para sentar no meio de suas pernas.
— Sua mãe, ué — falou, deixando um selinho no queixo de . — Ela me ajudou com tudo — completou, cutucando de leve o nariz do noivo com a ponta da unha.

— Então... — Fez uma pequena pausa, apoiando a cabeça no ombro de . — Não querendo bancar o senhor óbvio aqui, mas nós vamos nos casar? — questionou com um sorriso aberto.

— Yeah, nós vamos nos casar!


OFF

— É isso, babe. Nossos passos, desde que éramos apenas crianças, nos trouxeram até aqui hoje. Eu te amo com todo meu coração e é com você que quero construir minha família e envelhecer anos mais tarde. Por isso… — Pegou uma das mãos da menina e a encarou com os olhos brilhantes. — Eu, , aceito você, , como minha legítima esposa e prometo amar-te e respeitar-te na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias da minha vida, até que a morte nos separe.


FIM



Nota da autora: Essa é, literalmente, a coisa mais melosa que eu já escrevi na minha vida hahahah. Mas eu amo muito esses personagens e todo mundo precisa de um pouco de açúcar, né? Se você chegou até aqui, obrigada! Essa é a única short sem fandom que eu tenho e, por isso, está guardada num lugarzinho especial do meu coração. Até a próxima!

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