Finalizada em: 03/07/2023

Capítulo Um - Um novo começo.

Encarava aqueles diversos panfletos dispostos num mural colorido e me perguntava o quão estúpidos e eu havíamos sido. Claro que eu não saberia dizer exatamente quando, mas só de estar ali, pensava em algumas oportunidades que aquilo poderia ter acontecido.
– Sra. O'Callahan, dirija-se ao consultório 2. Sra. O'Callahan, dirija-se ao consultório 2. – Todas as chamadas eram feitas duas vezes, até que alguém se levantava e seguia para onde estava sendo chamada.
A cada nome anunciado e cada mulher que se levantava, meu coração parecia pular dentro do peito. A qualquer momento o meu nome romperia pelos alto-falantes e eu me tornaria uma nova pessoa.

Algumas semanas antes…

Sabia que algo estava errado desde o dia que pisei de volta no Canadá, mas achava que era apenas saudade e um pouco de álcool a mais que consumi na festa de despedida, mas depois de uma semana apreensiva, trabalho novo e o estresse de encontrar uma casa, não era normal que eu ainda me sentisse de ressaca todos os dias.
Num lampejo de consciência, no meio da madrugada, levantei correndo da cama até o banheiro e vomitei todo o jantar delicioso que minha mãe havia preparado. Lavei meu rosto e vomitei mais uma vez, agora de nervosismo.
Quando já me sentia um pouco melhor, peguei o celular e abri o aplicativo do calendário menstrual e lá estava, mais de um mês sem qualquer notificação
Achei que fosse vomitar mais uma vez, mas me deitei na cama e respirei incontáveis vezes até ouvir o despertador tocando, me lembrando que aquele era mais um dia de correria e trabalho a ser feito.

***

Aquele foi o período mais longo que eu consegui ser capaz de esperar por uma resposta, mas quando, finalmente, saí do escritório caçando alguma loja que estivesse aberta, me encontrava parada olhando todos os tipos diferentes de teste de gravidez.
Na outra vez que suspeitei, estava comigo no meio da farmácia em Nova York, estava atrasada para o trabalho e chorando de medo. Agora estava suando frio, me tremendo toda e sozinha. Aquilo não poderia estar acontecendo!
Vi um rapaz se aproximando, ele estava vestido com um uniforme azul, da loja, e se ofereceu para ajudar. Perguntou se era a primeira vez que eu comprava algo assim, e quando não respondi, ele sacou uma máquina para verificar o preço dos produtos.
– Hoje é seu dia de sorte, esse aqui está em promoção. – Ele sorriu um tanto nervoso.
Desviava o olhar dele para os produtos. Joguei cinco pacotes dentro da cesta que carregava uma garrafa de água e amendoim.
– A senhora precisa de mais alguma coisa? – Ele foi simpático o suficiente para me oferecer companhia até o caixa quando eu apenas assenti com a cabeça. Ele me deixou passar na frente de dois clientes e pediu à funcionária para me atender rapidamente.
Eu não conseguia pronunciar nada, talvez com medo de abrir a boca e começar a chorar no meio da loja e na frente de um monte de estranhos.
Agradeci com um breve sorriso e andei bem rápido de volta ao carro do meu pai. Respirei fundo, diversas vezes antes de abrir o pacote de amendoim e devorá-los bem rapidamente, derrubando alguns no banco de passageiros. Quando me senti enjoada o suficiente, apoiei a cabeça no volante e comecei a chorar bem baixinho.
Enquanto tentava cessar o choro, peguei meu celular e abri o contato de . Queria que ele estivesse ali, mas não queria dizer nada pelo telefone. E do jeito que eu o conhecia, se ele desconfiasse que eu estava chorando, seria capaz de entrar no primeiro voo para Vancouver. Ao menos era isso que eu imaginava antes do nosso término. Agora, olhando o contato do no telefone, eu não tinha mais tanta certeza.
Resolvi não ligar. Ainda não tinha uma resposta de nenhum médico ou teste, mas eu sabia que daria positivo. Algo dentro de mim brilhava com letras maiúsculas, VOCÊ ESTÁ GRÁVIDA!
Quando percebi, estava ligando para Ashley e chorando copiosamente durante a nossa conversa. Ela não conseguia entender nada do que eu estava falando, por isso, tive que respirar fundo algumas vezes antes de voltar a falar.
– Eu preciso falar com você e é algo muito sério e importante! – Minha amiga concordou do outro lado da linha. – Mas não pode ser por telefone e muito menos por mensagem de texto.
– Eu não posso estar em Vancouver até sábado. Estou gravando a semana toda. – Ela lamentou e eu funguei. – , você está me assustando.
– Desculpa. Eu não queria parecer uma idiota chorona e nem te preocupar. Eu estou bem! – Tentei me controlar. – Eu sei que eu estou chorando igual a uma criancinha, mas eu estou bem. Só preciso conversar pessoalmente com um amigo e desabafar enquanto me desfaço em lágrimas.
– Por mais que eu esteja louca para saber o que aconteceu, vou ter que dizer isso... – Ela respirou fundo. – Já falou com o Matthew?
– Não conversei com ninguém. Eu estou dentro do carro, na frente de um mercado enquanto todo mundo passa olhando para mim.
– Você está brincando? – Ashley começou a gargalhar. – Queria ver toda descomposta após término com ! Imagine as matérias…
– Quem precisa de inimigos quando se tem amigos como você? – Ela continuava rindo, até que me contagiasse e eu também estivesse. – Tudo bem, seria bem engraçado, mas não queria aparecer toda horrorosa em um monte de fotos, chorando por causa disso!
– Eu sei, me desculpe.
Logo tivemos que nos despedir. Ashley estava atarefada com as gravações e eu não queria deixá-la ainda mais preocupada. Disse mais uma vez que estava bem e ela pareceu ficar mais aliviada.
Fui para casa com a cabeça pesada e o rosto inchado do choro, mas decidi que antes de tudo, precisaria ter uma confirmação para conversar com Matthew e esperar pela vinda da Ashley à Vancouver.
Ao estacionar o carro na garagem, enrolei para organizar as minhas coisas e entrar. Meus pais estariam jantando, e, com certeza, gostariam da minha presença na mesa, mas não estava com fome e muito menos com cabeça para engatar uma conversa.
Minha mãe me cumprimentou quando passei pela porta. Ella colocava uma panela na mesa e sorria enquanto ouvia o que meu pai contava sobre o seu dia.
– Você vem jantar agora? – Meu pai quis saber assim que pisei no primeiro degrau. – Sua mãe fez mac&cheese.
Voltei de onde estava.
– Estão tramando alguma coisa? – Não era comum que minha mãe fizesse tal receita. Ela era sagrada quando Loren ou eu estávamos doentes, ou quando ela queria nos convencer a fazer algo que não gostaríamos (como as aulas de sapateado durante as férias de verão).
– Claro que não, querida! – Minha mãe estava sorrindo, como a muito eu não via. – Vá deixar as suas coisas no quarto, lave as mãos e desça para comer.
– Eu também não sei o que está acontecendo. – Meu pai comentou baixinho.
Semicerrei os olhos para os dois e eles soltaram uma gargalhada. Aquilo era, no mínimo estranho, mas assenti com a cabeça e fui lentamente de volta à escada para subir.
Depois de toda a água que bebi, aproveitei para fazer alguns testes de gravidez que havia comprado. Não esperaria, como fiz da outra vez. A situação havia mudado, e se estivesse errada e desse negativo, seria melhor assim.
Fiz o que tinha que ser feito e deixei os testes dentro da pia do banheiro. Esperar aqueles minutos seriam uma tortura, mas era obrigada. No entanto, não pude mais ficar encarando os produtos na pia na tentativa de fazer o tempo passar mais rápido. Meus pais me chamaram de novo e ainda tentei dizer que precisaria de mais algum tempo, mas minha mãe foi tão insistente, que só revirei os olhos e desci.
Os dois me esperavam pacientemente. Seu Leon com a maior expressão de desconfiado do mundo todo, enquanto minha mãe revirava os olhos para algum comentário anteriormente feito.
No meio do jantar, Emma começou a puxar assunto. Primeiro quis saber como tinha sido meu dia, como estavam as coisas na empresa, se eu precisaria viajar muito pelos próximos meses.
– Por que você não diz logo o porquê de estarmos aqui, Emma? – Meu pai, muito sutil, perguntou.
– Eu não posso querer uma refeição em família? – Minha mãe deu de ombros.
– Mãe, mas você fez macarrão com queijo… – Comentei e meu pai concordou com a cabeça, já que estava com a boca cheia.
– E a não está doente, nem nada! – Completou, quando terminou de mastigar. – Isso quer dizer que você está prestes a dizer algo que nós temos que fazer, mesmo que nós não gostemos nada da ideia!
– AH! – Minha mãe bateu com as mãos na mesa e se levantou. – Vocês são dois estraga prazeres! – Ela começou a andar de um lado para outro da sala de jantar. – Hoje me chamaram na escola da Loren… Me ofereceram uma vaga de professora substituta de inglês.
– Isso é excelente, mãe! – Uau! Aquilo sim era novidade.
– E o que mais? – Nós duas olhamos para o meu pai, estranhando a pergunta dele. – Eu sei que tem um mas aí…
– E eles vão fazer alguns eventos para arrecadar dinheiro para a reforma da quadra de basquete. A reinauguração seria no dia do aniversário da Loren, por isso pensaram em dar o nome dela para o lugar.
Meu pai levantou da mesa bruscamente e se trancou em seu escritório. Eu e minha mãe ficamos sem reação. Não sabia o que fazer ou dizer. Óbvio que fiquei feliz pela oportunidade, mas sabia que envolveria um assunto triste para todos nós, principalmente com minha mãe tendo que frequentar a escola todos os dias.
Emma também deixou a sala de jantar e subiu as escadas. Ouvi a porta do quarto batendo bem forte e sabia que aquela conversa resultaria em uma briga pelos próximos dias.
Já que nenhum dos dois voltaria para finalizar o jantar, retirei as panelas e os pratos. Ao menos quando tentasse chamá-los para uma conversa a mesa estaria limpa. Logo terminei com a louça e pude, finalmente, sair correndo para o banheiro. Precisava daqueles resultados.
Teste 1: Positivo.
Teste 2: Positivo.
Teste 3: Positivo.
E, finalmente, o teste 4: Positivo.
Achei que ficaria mais chocada, ou em pânico, ou até choraria de felicidade. Mas não. Minha primeira ação ao ver um resultado positivo foi parar na frente do espelho e levantar a minha camisa.
Virei de um lado para o outro e não tinha nada de diferente no meu corpo. Ao menos, não visualmente. Fiquei por incontáveis minutos apenas olhando para minha barriga e imaginando como eu ficaria quando a gravidez avançasse. Talvez fosse bom, mas ainda estava apreensiva em como reagiria com a novidade.
Sabia que o certo era ligar imediatamente para ele, mas já estava tarde e eu precisava de um tempo para digerir a notícia. Puxa! Eu seria mãe.
Era diferente pensar sobre o assunto. Gravidez não estava nos meus planos, muito menos antes dos trinta. Queria ter uma carreira sólida quando tivesse um filho e pudesse proporcionar uma boa vida para eles, assim como meus pais me ofereceram.
Ao lembrar dos meus pais, comecei a rir. Eles se derreteriam por um netinho ou uma netinha. Já podia ver meu pai levando o bebê aos jogos de hockey e minha mãe ensinando as receitas da família.
Talvez não fosse uma coisa tão ruim assim. Talvez tudo desse certo e e eu pudéssemos ser pais bacanas, mas retorci a boca ao lembrar que a minha criança teria que conviver com a Penny e possivelmente chamá-la de madrasta... Ew!

***

– Repito: senhorita , favor dirigir-se ao consultório 3. Senhorita , dirigir-se ao consultório 3.



Capítulo Dois - A consulta.

Levantei num pulo da cadeira. Não ouvi meu nome ser chamado nenhuma outra vez, mas pela urgência na voz saída do alto-falante, imaginei que não era a primeira vez que era chamada.
Ainda demorei a achar o consultório de número 3, mas assim que entrei pela porta, fiquei ansiosa e comecei a tremer. O nervosismo me consumia e eu mal podia esperar para encher a médica com perguntas.
Apesar de ter me preparado para a consulta, como geralmente fazia em apresentações, Erika, a ginecologista/obstetra que havia escolhido, esclareceu todas as dúvidas, mitos e lendas sem que eu precisasse perguntar. Tive que explicar o porquê de ter demorado algumas semanas para aparecer no hospital e ela brigou por ter me concentrado mais no trabalho do que na gravidez. Erika me receitou algumas vitaminas, mas no geral, estávamos saudáveis. Depois de marcar o retorno e estipular uma data para o nascimento, ela me entregou uma roupa branca de hospital e apontou para uma porta no canto do consultório.
– Quero que você vista essa roupa e se deite ali na maca. – Mesmo sem entender, concordei com a cabeça. – Você quer uma água ou um suco?
Aceitei a água e entrei no banheiro assim que ela deixou o consultório. Estranhei a roupa, mas vesti mesmo assim.
– Preparada para ver o seu bebê? – Estava saindo do banheiro quando Erika me perguntou e quase caí ao sentar na maca.
Erika me certificou de que aquilo não machucaria ninguém, então fiquei um pouco mais aliviada em fazer o exame.
Não entendia nada do que ela apontava no monitor, mas teve um brilho que chamou a minha atenção. Não era bem um brilho, estava mais para um ponto branco, um pouco maior do que as outras coisas e eu não conseguia tirar os meus olhos dele.
– Você está me ouvindo? – A médica me chamou, e assenti com a cabeça. – Este aqui é o seu bebê! Parabéns!
Ela apontava justamente para o pontinho do qual meus olhos ficaram tão vidrados. Aquilo era uma coisa de outro mundo! Como um pontinho tão pequenino era o meu bebê?
Senti algumas lágrimas caírem e aceitei quando ela perguntou se queria uma cópia da imagem, e aquilo me deu uma ideia genial para surpreender o .
Não era porque não estávamos mais juntos que eu deixei de me importar com ele. Seria um choque a paternidade, mas queria que fosse um momento especial para ele, assim como estava sendo para mim.
Depois que cheguei em casa e me tranquilizei um pouco mais, me sentei na cama e fiquei observando a “foto” do pontinho por um tempo longo demais. A verdade é que eu estava curtindo aquele momento e sabia que depois que fizesse aquela ligação, tudo mudaria drasticamente.
Não sabia bem como anunciar a gravidez, mas tinha uma ideia de amenizar o impacto, tanto para o , como para os meus pais.
E seria ainda mais difícil depois que eles soubessem que eu também já havia me interessado por uma casa próxima ao trabalho. Minha mãe surtaria, mas sabia que ela estaria ao meu lado.

***

Depois das três semanas mais exaustivas que tive em toda a minha vida – e sempre adiar a ligação para o meu ex-namorado sobre o nosso pontinho –, consegui fazer a mudança de quase todos os meus pertences para a casa nova, e Ezra havia se mostrado um sério partido ao me ajudar em cada detalhe, me levado para jantar e até me levado flores na noite anterior. Talvez nós pudéssemos ser o casal fofo que eu achava que éramos.
Além de um possível novo interesse amoroso, Ashley também apareceu numa tarde para que pudéssemos conversar. Falamos de tudo e mais um pouco, indo desde o contrato do meu relacionamento com o , até a situação que me encontrava. Ela foi a segunda pessoa que soube da minha gravidez, logo depois do Matthew e, como meu amigo, prometeu que estaria comigo em toda aquela nova fase, incluindo algumas brincadeiras dignas de Ashley Kripke! Mas também me repreendeu por ter aceitado toda a chantagem da Amélie e por um momento, achei que ela tiraria satisfações pessoalmente com os dois, mas a convenci do contrário, afinal, agora nós estávamos em panos limpos e seguindo em frente.
Depois de toda a conversa séria, passamos tanto tempo jogando conversa fora, que deu tempo de ela e Ezra se conhecerem pessoalmente e ela me lembrou de que, se fôssemos ter um relacionamento, ele precisava saber da gravidez.
Na sexta daquela semana, depois de algumas conversas amigáveis com o , ele havia combinado de me ajudar com a arrumação de algumas coisas, fazendo uma visita e trazendo uma pizza para que pudéssemos conversar.
Fiquei nervosa só de pensar em vê-lo novamente, ainda mais com Ezra em casa. Talvez fosse uma bobagem da minha cabeça, mas para mim, ainda estava tudo muito recente... o término, a briga, a reconciliação.
— Não acredito que você trouxe o vinho! – Disse assim que o vi descer do táxi.
— Eu disse que traria… Você sabe que cai bem com a pizza! — Ele deu de ombros. Parecia envergonhado com alguma coisa enquanto olhava ao redor.
O convidei para subir e me arrependi de não ter tirado a bagunça do meio do caminho.
— Você se mudou hoje? – Mesmo em meio a mil e uma caixas e uma carinha de sono, continuava o homem mais bonito que eu já tinha conhecido, mas deixei aquele pensamento de lado e o respondi.
Afirmei com a cabeça, já que aquele era o primeiro dia que eu dormiria na minha casa nova.
— Eu já estava de olho nessa varanda desde que começamos a trabalhar. Vi a placa de venda e me arrisquei.
— Bem, parece ser um bom apartamento.
— E é! — Sorri ao lembrar da alegria em ver a placa de venda. — Tem dois quartos, cozinha, banheiro, sala e, claro, a varanda! — Não me ressenti em abrir a caixa da pizza e pegar uma fatia. Estava com fome e aquela era a minha pizza favorita, como ele bem sabia. — Você quer comer lá fora? Tem umas flores lindas e uma mesa bem confortável!
Ele aceitou e fomos para a área externa. Uma varanda não tão grande, e nem tão pequena. Era o meu lugar favorito no apartamento todo!
Percebi que não tirava os olhos de Ezra, que convenientemente, estava sem camisa, lindo e endireitando a minha janela.
— Ah, , este é o Ezra Stevens. Você se lembra dele?
— Não. — Ele respondeu seco. Mas como ele não lembrava? Passamos horas e horas dentro do hospital com ele quando a Loren faleceu. — Muito prazer. – Eles se cumprimentaram.
— Igualmente. — Ele sorriu e olhou para mim.
— Você quer? — Ofereci o meu vinho ao Ezra. Não sabia se estava autorizada a beber, então achei melhor que não.
Notei revirando os olhos e recuar alguns passos.
Deixei os dois na varanda e voltei para pegar um copo de suco para mim, mas me seguiu até a cozinha.
— Que diabos esse homem está fazendo aqui? — Ele disse de uma vez, e mesmo que falando baixo, notei que estava furioso.
— Ele veio me ajudar. — Dei de ombros.
— E ele precisava estar sem camisa?
Semicerrei os olhos com a pergunta dele e depois, soltei o ar.
— Achei que nós tínhamos seguido em frente,
— O qu… — Ele parecia prestes a iniciar uma discussão, mas respirou fundo e apenas perguntou se ele era um cara legal.
— Sim. — De um minuto ao outro, parecíamos estranhos. Ele nem olhava na minha direção. — O que você quer conversar?
— Por que você contou a Ashley sobre o acordo que nós fizemos?
— Ela precisava saber de toda a história e, para falar a verdade, eu estava cansada de manter aquilo tudo só para mim. — Sentei-me na bancada da cozinha. — Mas não se preocupe, ela não vai dizer nada.
— Tudo bem. — De um minuto para o outro, ele se distanciou. Olhou ao redor e negou algumas vezes com a cabeça.. — Eu vou indo... Nos falamos outro dia?
— Mas você acabou de chegar, ...
— Eu tenho gravação em algumas horas. Desculpe-me. — Ele me deu um abraço demorado e beijou o topo da minha cabeça, antes de descer a escada.
No dia da primeira ultrassonografia do Pontinho, saindo do hospital, avistei Ezra Stevens, médico que cuidou da Loren. Não sabia se o cumprimentava ou não, mas quando ele notou que o encarava, veio até mim.
– Conheço você. – Ele sorriu e só então reparei que ele não estava de jaleco branco. – Não conheço?
– Sim, você cuidou da minha irmã no ano passado. – Ele pareceu se lembrar e seu sorriso se desfez.
– Sinto muito! – Ele ofereceu conforto.
– Obrigada! – Como provavelmente não lembraria do meu nome, decidi me apresentar novamente. – Me chamo .
– Ezra Stevens. – Nos cumprimentamos. – Loren , lembrei o nome da sua irmã. Ela foi uma guerreira, acredite.
– É, eu sei. – Não queria deixar que a conversa fosse toda sobre a morte da Loren, por isso desconversei. – Então, você trabalha aqui nesse hospital também?
– Só aqui, fui transferido de lá. – Ele passou a mão nos cabelos e por um momento parecia cansado.
– Estou te ocupando, não é? Você parece que acabou de sair de um plantão… – Sorri, em desculpa.
– Não, tudo bem. Mas se você não se importar, poderíamos tomar um café, o que acha?
– Você tem certeza disso? Não quer ir para casa e dormir? – Ele negou e caminhamos para o estacionamento. – Vamos, conheço um café muito bom ao final do quarteirão.
Não estava muito com cabeça para um café, mas ele conseguiu amenizar o turbilhão de coisas que se passavam pela minha cabeça, então caminhamos conversando e nos conhecendo, e o clima agradável permaneceu durante todo o café. Ele me contou que era de Toronto, não de Vancouver, que tinha uma filha de quatro anos chamada Florence, que tinha duas irmãs e mais um monte de trivialidades. Contei um pouco de mim, que acabara de voltar ao Canadá.
Passamos tanto tempo conversando, que quando notamos, já passava das seis e meia da tarde e ele se ofereceu para me levar até em casa, e por mais que eu tentasse negar, ele insistiu muito e só nos despedimos assim que ele estacionou na garagem dos meus pais, não sem antes trocarmos contato.
Assim que cheguei, jantei o que minha mãe tinha separado para mim, já que eles já haviam comido, e me contive ao máximo para não contar nada, já que ainda não sabia como o faria.
Depois que comi, tomei banho e me deitei com o computador ligado em meu colo, recebi uma chamada de vídeo de Ashley, e por mais que eu quisesse contar pessoalmente a grande notícia, eu precisava compartilhar algumas coisas com minha melhor amiga, mesmo que em poucos dias ela estivesse em solo canadense, afinal, seria mãe e em breve me mudaria.
– E então nós saímos para tomar um café… – Contava sobre o encontro que tive com Ezra e minha amiga não parava de rir. – Mas tenho algo sério para anunciar.
– O quê, vocês vão casar, morar juntos e ser aqueles casais chatos de tão perfeitos? – Enquanto minha amiga continuava brincando, revirei a bolsa atrás da “foto” do pontinho. – O que você está fazendo? Não consigo te ver.
– Estava pegando o que quero te mostrar, se acalme. – Me sentei novamente e ditei algumas regras. – Você não pode, em hipótese alguma contar isso para alguém, eu estou falando sério Ashley! E nem gritar, se não vai me deixar surda.
– Diz logo o que é… – Minha amiga revirou os olhos.
Coloquei a foto em frente a câmera do computador e posicionei o melhor que pude para que ela pudesse entender, mas sabia que não seria a melhor forma de fazer isso.
– Eu não estou entendendo nada… você está com câncer? Ai meu Deus, é isso? !
– Não, não estou com câncer! – Acabei caindo na gargalhada. – Graças a Deus não é isso.
– E o que é então? Porque parece que um tumor está marcado com esse círculo verde…
– Esse ponto branco que você acabou de chamar de tumor, é o meu bebê! Ele que está marcado com uma linha verde. – Sorri de leve à medida que a face da minha melhor amiga ficava ainda mais pálida e boquiaberta e antes que eu percebesse, ela já estava gritando e pulando do outro lado da tela do computador.



Capítulo Três - Casa nova.

Na manhã seguinte, logo cedo quando cheguei a agência, recebi uma ligação da minha mãe, dizendo que já estava na escola e que ministraria sua primeira aula em alguns minutos. Estava entusiasmada com a oportunidade e não parava de dizer o quanto queria que Loren estivesse lá para vê-la, e era por isso que meu pai não havia gostado e nada da ideia. Ele sabia que a minha mãe se empolgaria com a experiência pelo motivo errado, não por ser professora novamente, mas por achar que Loren um dia estaria de volta, e isso jamais aconteceria.
Aquilo me deixou apreensiva pelo resto do dia. Não queria contradizer minha mãe nas coisas que ela decidia para sua vida, mas concordava em partes com meu pai, que ela aceitando aquela proposta seria mais sofrimento do que alegria em voltar a lecionar.
Depois de falar com minha mãe, liguei para Ashley, e ela, como minha melhor amiga, conseguiu que eu não pensasse na parte triste de minha mãe voltar a lecionar achando que aquilo traria minha irmã de volta. Ash, para me distrair, perguntou inúmeras curiosidades sobre o médico, se era romântico, beijava bem, carinhoso… diversas perguntas pessoais, e a maioria eu ainda nem sabia a resposta. Tudo aconteceu no dia anterior, a nossa conversa, nosso “encontro”, que fiquei me perguntando se estava fazendo certo em sair com alguém depois de tão pouco tempo solteira, mas Ashley me convenceu de que eu não deveria me preocupar com isso, já que estava de volta com Penny.
– Okay, eu não deveria ter dito isso, nessas palavras… mas é a verdade, ! – Ela pediu desculpa.
– Não, está tudo bem. Eu sei que nós não temos mais nada, mas ainda sou uma idiota em me preocupar com ele. – Revirei os olhos.
– Você não é idiota! – Foi a vez da loira revirar os olhos. – Eu nem ia tocar no assunto, mas já sabe como vai contar a notícia para o papai do ano?
– Tenho uma ideia, nada muito elaborado, porque nós não estamos nos falando muito, ele grava nos horários mais loucos que você possa imaginar.
– Ele está no Canadá. – Comentou e ouvi uma batida na porta do meu escritório.
– Ash, preciso ir, conversamos depois?
– Você pode ter quantos encontros quiser com o dr. Sexy, mas não pode evitar o outro assunto! – Ela disse rindo e nos despedimos.
Algumas semanas depois e já na casa nova…
No dia seguinte à visita de , fiquei ressentida em não compartilhar a notícia com quem mais importava, o pai do meu pontinho! Já tinha uma ideia de como faria o anúncio para que ele não ficasse tão chocado e mesmo assim não o fiz por receio e pela presença de Ezra. Aquele era um momento só meu e do , e iria preservar a surpresa para quando estivéssemos sozinhos.
Seria um tanto quanto difícil, no entanto, pois precisava viajar para Hamilton na segunda-feira e ficaria lá durante quatro dias, ordens da empresa. Não que eu estivesse reclamando, eu amava meu trabalho e principalmente participar de congressos e palestrar para diversos públicos interessados, mas com um segredo daqueles, uns enjoos que intensificaram com os remédios prescritos e com todo o estresse que uma mudança exigia, não consegui me concentrar o quanto queria.
No entanto, preparei minha palestra com a ajuda da equipe que trabalhava e todos estavam certos de que seria um grande sucesso. Mas então, recebi a notícia de que ninguém menos que Amélie Dave estaria presente no evento, e mesmo não querendo admitir, ela ainda assombrava os meus sonhos.
– Você acha que a Amélie vai querer falar alguma coisa? – Julie chamou a atenção da mesa. – Porque se ela falar, nem que sejam cinco minutos, precisamos adicionar no cronograma.
Por mais que Julie fosse viciada em cronogramas, ela não estava errada. Tínhamos uma quantidade precisa de tempo e qualquer mudança não seria aceita no dia do painel.
– Eu nem tenho o telefone dela, se não, poderíamos ligar e checar… – Nina também se pronunciou e lembrei que eu tinha o número do celular pessoal da Amélie. – E não é como se fôssemos conseguir uma resposta concreta do escritório dela ainda hoje!
– Precisamos dessa resposta até que horas? – Quis saber, tinha uma ideia em mente e talvez eles não desconfiassem de como consegui o número.
– Se possível, até às cinco, mas se for depois do nosso horário aqui, eu dou um jeito de encaixar e enviar ainda essa noite para a central do evento. – Julie disse já se levantando, afinal, aquela reunião precisava ser rápida. – Me avise quando conseguir.
– Achei que você teria o número dela. – Nina comentou assim que ficamos sozinhas na sala. A olhei com desconfiança. – Eu via uma matéria ou outra falando do seu relacionamento com o filho dela…
– O não é filho da Amélie. – e Graças a Deus por isso! Agradeci mentalmente. – As famílias são amigas há anos, mas não tive um contato muito grande com a parte dos Dave.
– Sei. – Nina semicerrou os olhos como quem não acredita, mas resolveu mudar de assunto. – Temos que marcar uma visita com o pessoal da Kleinfeld Bridal, o mostruário deles já está pronto. Peço para a Carol trazer para você?
Assenti e a vi deixar o escritório. Como eu havia esquecido o trabalho da Kleinfeld? A loja era a maior referência em vestido de noivas em toda a América do Norte! Aquela era mais uma preocupação na minha lista, mas, deveria deixar aquelas coisas de lado para começar o que estava prestes a fazer!
Aproveitei que o horário de almoço estava chegando e ignorei a comida que havia levado para o trabalho. Precisava passar em casa, pegar uma coisa importantíssima e tentar me encontrar com o . Por isso, liguei, mas ele não atendia de jeito nenhum. Provavelmente estava gravando alguma cena ou ocupado com suas outras atividades. Não queria acreditar que não conseguiria falar com ele antes de viajar.
Mesmo sem a certeza de que me encontraria com , continuei com meu plano e cheguei em casa rapidamente. Não poderia simplesmente ignorar uma refeição, por isso, enquanto escrevia um breve e-mail de trabalho, almocei.
Já estava quase saindo de casa quando meu celular tocou na bolsa. Era ele!
– Oi! – Não consegui deixar a euforia de lado.
– Oi, ! – Ele falou baixinho. – Está tudo bem? – A verdade é que depois do incidente na minha casa, nós ainda não tínhamos conversado direito, só umas mensagens aleatórias e quase sem importância.
– Está sim. Você está ocupado? – Ele negou. – Será que podemos nos encontrar para um almoço?
– Não sei se vai dar tempo… estou no estúdio.
– Ah, claro! – Revirei os olhos para a minha ideia idiota de pensar que ele estaria desocupado. – Eu queria te pedir um favor…
– Pode falar. – Expliquei que precisava entrar em contato com a Amélie, mas menti que não tinha mais o número pessoal dela. – É muito urgente?
– Precisaria da resposta dela até hoje à noite, tem como você me ajudar? – Ele disse que sim. Ligaria para ela assim que eu desligasse e pediria para ela entrar em contato comigo. – Posso pedir mais uma coisa?
– Hmmm, tudo bem.
– Será que podemos nos encontrar na sexta? – Propus.
– Aconteceu alguma coisa? – Ele parecia preocupado.
– Não exatamente… tenho uma surpresa para você! – Parecia uma adolescente eufórica ao encontrar seu ídolo.
! Por que você não diz logo?
– Porque assim eu não vou conseguir ver a sua reação! – Ouvi um suspiro do outro lado da linha, seguido de uma risada. – Por favor?
– Tudo bem, babe. Nos encontramos na sexta, às oito? – Assenti e nos despedimos.
Agora era só esperar a resposta da Amélie, terminar de planejar a surpresa para o e me concentrar na viagem a trabalho que estava chegando.
A felicidade estava tomando conta de cada pedacinho do meu corpo, achava até que os hormônios, causados pelo pontinho estavam deixando tudo mais intenso, mas a palestra que dei em frente de muitos publicitários e estudantes da área, havia sido aplaudida de pé, principalmente pela participação mais do que especial da dona da empresa, Amélie Dave.
Não foi bem uma surpresa, já que quando nos falamos ao telefone, ela insistiu em voar até solo canadense e falar uns minutos, mas também disse que precisávamos conversar.

***

– Você sabia que a Penny está de volta a vida de modelo? – Estávamos num café, próximo do lugar que o evento havia ocorrido e Amélie sussurrou para que só eu ouvisse. Ela abriu um sorriso e continuou. – E não está mais morando em Nova York, o que é um alívio!
– Que bom! – Sorri de lado. Não conseguia entender por que ela estava confidenciando comigo tal fato, ou qualquer assunto, nunca fomos chegadas a ponto de conversar sobre trivialidades.
Quando todos já começavam a se despedir para seguir para o hotel, a senhora Dave pediu que ficássemos mais um pouco, para então conversarmos melhor. Que diabos ela ainda queria conversar?
– Você já conversou com o , suponho? – Sem mais, nem menos, Amélie iniciou nossa conversa.
– Sobre o quê? – Estava curiosa, queria saber por que ela estava parecendo tão curiosa sobre minha vida pessoal e contando tanto sobre a própria.
– Não se faça de besta, ! – Ela revirou os olhos e completou sussurrando – Sobre o bebê, é claro…
Fiquei estática. Não tinha contado nem mesmo para o e ela sabia, mas como? Logo Amélie sorriu diante do meu espanto. Talvez ela só suspeitasse e a minha reação tivesse entregado tudo.
– Pois bem, acredito que ele vai ficar muito feliz com a novidade, e vocês serão bons pais, tenho certeza. – E com mais um gole do café, ela terminou. – Espero que nesse novo momento da sua vida, você não me culpe pelo que fiz. Foi uma medida desesperada de tentar afastar a Penny do . Eles não foram feitos um para o outro, pelo contrário, nunca deveriam ter se envolvido.
– Eu tenho certeza de que em algum momento eu já disse algo parecido, mas você não pode se meter na vida pessoal dos outros, Amélie! Isso é absurdo! Se eles querem ficar juntos, é uma decisão exclusiva deles.
– Você está iniciando a sua experiência como mãe, sei que vai me entender mais para frente. – Amélie suspirou. – De qualquer jeito, desejo felicidade para você e sua nova família.
Nos despedimos, mas permaneci no café, ainda meio sem entender o porquê de ela ainda estar tão interessada na nossa vida. A dele eu até entendia, afinal ela ainda o assessorava, mas era muita intromissão para o meu gosto.



Capítulo Quatro - A chegada do Bubbles.

Ainda durante a viagem, consegui planejar e já colocar em prática a surpresa para o pai do meu pontinho. Esperava que ele ficasse feliz como Amélia havia dito, porém, não é como se as coisas andassem às mil maravilhas entre nós, principalmente depois da visita dele ao meu apartamento, mas pressentia que seriam águas passadas assim que ele soubesse.
Me sentia um tanto culpada por não contar assim que descobri a gravidez, mas sabia que se tivesse feito quando ainda não estávamos nos falando, seria uma confusão, pois ele estaria de cabeça quente e eu também. E não queria brigar com o , pelo contrário, mesmo antes de voltar a Vancouver queria permanecer no relacionamento, mas se não fosse da vontade dos dois, era melhor cada um no seu canto, mesmo que agora ele também estivesse morando no Canadá por causa da série.
Chegando ao apartamento, separei todos os materiais que precisaria para a surpresa: fitinhas coloridas, balões e diversas fotos da minha ultrassonografia impressas. Mas ainda faltava algo, mesmo que eu não soubesse dizer exatamente o quê.
Mais tarde naquele dia, Ashley ligou e trouxe notícias de que ela e Bubbles finalmente chegariam em solo canadense naquela noite. Estava morrendo de saudade do meu cachorrinho, mas até que estivesse na minha casa e totalmente adaptada à nova rotina, preferi que ele ficasse com minha amiga nos Estados Unidos.
– E quando você vai tomar vergonha na cara e contar do bebê para o ? – Ela quis saber.
– Quando você chegar aqui, te explico direitinho. Não passa dessa semana.
– Os anjos estão cantando Aleluia. – Ashley brincou e nós rimos. – Mas sério, por que não contou antes?
– Não sei… acho que estava com medo da reação dele.
– Agora não está mais?
– Não. – Suspirei. – Se ele não quiser nada com a vida do filho, como uma vez eu achei, vou me afastar de vez e seguir em frente. Sei que posso contar com meus pais quando precisar de algo, então o estaria livre para viver bem longe de nós dois.
– Você tem certeza disso? Não quer que o bebê tenha um pai presente?
– Eu não posso forçar o a nada. Claro que se ele quiser se envolver em tudo, vou adorar que meu filho cresça com o nosso apoio e ensinamento, mas se ele resolver ser presente e depois sumir, eu prefiro que ele nem tente nada.
– Você parece estar bem decidida quanto a isso.
– Não posso mais ser egoísta e pensar só em mim. Quero livrar meu bebê de todo e qualquer drama possível, principalmente quando souberem dele…
– Quem souber? – Minha amiga perguntou.
– A imprensa. – Dei de ombros. – Eu lembro quando comecei a sair com o . Não quero que meu Pontinho passe por isso!
Não muito depois da nossa conversa, chamaram o voo de Ashley e tivemos que desligar. Nem acreditava que em algumas horas, encontraria Bubbles. Mas antes disso, tive um encontro com Ezra. Apesar de não oficializarmos nada, sempre que possível saíamos para jantar ou tomar um café. Tudo dependia muito dos horários que ele não estivesse de plantão.
Aproveitei que não precisava ir ao escritório naquela tarde e decidi ir ao salão. Precisava de um corte de cabelo e se desse tempo, até pintaria as unhas. Era um dia especial e eu queria me sentir ainda mais bonita! Mas como dizem: está tudo bom demais para ser verdade.
Logo que sentei na cadeira para cortar o cabelo, precisou cancelar nossa conversa naquela noite, pois faria uma gravação externa e só voltaria depois do almoço do dia seguinte. Depois foi a vez de Ezra cancelar nosso café, já que estava ajudando numa cirurgia e não tinha hora para sair do hospital.
Mesmo com todos os compromissos desmarcados, continuei no salão para o que já havia planejado, afinal, estava precisando de cabelos mais curtos. E querendo ou não, ainda receberia a visita da minha amiga e do meu cachorrinho!
Mais tarde, já de cabelo devidamente cortado e unhas pintadas num rosa bem clarinho, estava pronta para os compromissos, uma pena que eles tivessem sido cancelados.
Já que estava com o tempo livre, aproveitei para ler documentos e colocar o trabalho perdido em dia. Sempre achei que fosse mais fácil do que parecia ser, mas comandar uma agência de comunicação era muito mais burocrática do que criativa, de fato.
Quando ainda estava em Nova York, meu cérebro criava peças mesmo que nem precisasse, estava em constante exercício, mas agora eu só auxiliava, aprovava ou reprovava as peças dos publicitários da Hazers de Vancouver. O trabalho era muito mais administrativo do que publicitário. Não estava reclamando, amava que eu tivesse tamanha responsabilidade, mas às vezes sentia falta de me reunir diretamente com os clientes e pensar na campanha que melhor atendesse as necessidades deles.
No geral, estava feliz de ser reconhecida pelo meu trabalho a ponto de comandar uma sede da empresa. Essa responsabilidade concedida a mim não tinha preço! Mas com a nova responsabilidade colocada em meu colo, comecei a pensar em como seria se o negócio fosse inteirinho meu, que as peças publicitárias fossem assinadas com o meu nome ou até da minha própria agência. Talvez estivesse sonhando alto demais, principalmente com tanta coisa acontecendo.
Já naquela noite, Ashley chegou com Bubbles. A festa foi garantida e cheia de beijinhos e abraços no meu cachorrinho. Não o via há pelo menos um mês e meio, quando me mudei para o Canadá.
Depois Joe se juntou a nós. Conseguiu fugir mais cedo do estúdio e chegou trazendo pizza para a janta. Não saberia como retribuir a ajuda que eles haviam me dado durante o tempo que morei nos Estado Unidos e mesmo agora, morando no Canadá.
Por mais que quisesse, eles tinham compromisso na outra manhã e acabamos nos despedindo mais cedo do que o combinado, mas, pelo menos, não ficaria sozinha, principalmente porque estava enjoando a pizza.
Achei que essa fase da gravidez não me atingiria, mas estava completamente errada. Um tempo depois que meus amigos haviam ido embora, coloquei tudo que havia comido para fora. Parecia que de uma hora para outra, tudo e todos os cheiros e sabores faziam meu estômago se contorcer.
Me deitei na cama e Bubbles me acompanhou. Parecia saber que não estava bem e só queria me fazer companhia. Estava fazendo carinho no meu cachorrinho, agradecendo mentalmente por ele me entender e estar ali comigo, quando meu celular tocou e o nome de brilhava na tela.
– Alô!
– Que bom que ainda está acordada! – Ele sorriu. – Está em casa? – parecia entusiasmado.
– Estou, por quê?
– Estou aqui embaixo…
– Aqui embaixo do quê?
, aqui na porta do seu apartamento. Vim te ver e você me contar a novidade que tinha falado.
Desliguei sem nem mesmo responder e dei um pulo da cama. Tudo rodou e a vista escureceu, mas sai correndo pela casa e desci as escadas. estava com um casaco azul enorme e os cabelos respingados pela chuva fina que caia.
– Eu posso entrar, ou..? – sorriu, desconcertado.
Dei passagem para ele e fechei a porta. Quando nos olhamos novamente, não sabia explicar, mas meus olhos se encheram de lágrimas e o abracei. Talvez fosse saudade ou apenas os hormônios resolveram tirar o dia para brincar comigo.
, o que aconteceu? – não estava chorando muito, mas as poucas lágrimas que ainda teimavam em escapar, deixaram assustado. – Ei, ei, vem cá.
Nos abraçamos novamente e mesmo que ele estivesse um pouco molhado, aquilo simplesmente não importava. Subimos de mãos dadas e fomos até o quarto, Bubbles reconheceu e fez uma festa enorme.
– Preciso te dizer que estou feliz com essa surpresa!
– Também estou mais feliz com o Bubbles aqui com a gente, mas não é isso que eu queria te dizer.
– E o que é? – estava desconfiado. – É algo ruim? Por isso que estava chorando? – neguei com a cabeça. – , o que aconteceu?
Cheguei perto dele e desabotoei o casaco, ainda molhado.
– Você vai acabar pegando um resfriado, . – deixei a roupa pendurada atrás da porta da sala e voltei até o pé da cama, onde ele estava sentado, me observando.
Não pensei muito, porque se fizesse isso, desistiria do que estava prestes a fazer. Balancei a cabeça e me aproximei ainda mais dele e o beijei. Não no rosto e muito menos um selinho, mas um beijo quente, daqueles que a vontade se espalha para o resto do corpo todo.
me abraçou e sentei em seu colo. Nos beijávamos com ainda mais vontade e saudade até que a minha camisa fosse a primeira peça de roupa a cair no chão. sabia onde e como me tocar, me beijar e me abraçar. Nós tínhamos sintonia e muita química, isso era indiscutível.
Ele murmurou alguma coisa, mas o deitei na cama e voltei a beijá-lo, dessa vez com ainda mais vontade. gemeu, um belo sinal de que não gostaria de parar. Tirei sua camisa e a joguei onde a minha também repousava e abri os botões da calça que ele usava e passei a mão por cima do volume, apertando um pouquinho. Ali, foi o momento que percebeu que eu não voltaria atrás e sorriu carinhosamente e logo me abraçou, puxando o sutiã tão forte que o fecho arrebentou.
Ele beijou meu pescoço e logo começou a descer, deixando beijos desde o pé do ouvido até o bico dos meus seios, que já estavam rijos em aprovação. Suas mãos apertaram minhas nádegas e pressionou seu membro nas minhas partes. Foi minha vez de gemer, mais alto do que estava habituada.
Invertemos nossas posições para que ele pudesse continuar a trilha de beijos pelo meu corpo, mas voltou e sussurrou em meu ouvido:
– Senti sua falta.
Distribuiu novos beijos pelo meu pescoço e seios e desceu pelo meu abdômen até chegar no short. Enquanto desabotoava a peça, continuou beijando minha barriga, e em pouco tempo já estava se deitando em cima de mim para que estivéssemos numa só sintonia, no vai e vem dos corpos em puro prazer.
Uns minutos depois de nós dois chegarmos ao nosso limite, estávamos deitados, abraçados e fazia carinho em meu cabelo. Talvez aquele fosse o momento certo, e mesmo se não fosse, ele precisava saber de tudo.
– Preciso te mostrar uma coisa. – me afastei um pouco e peguei o envelope com a foto da ultrassonografia da gaveta da mesa de cabeceira, mas antes de entregar para ele, continuei. – Não sei o que você vai achar disso.



Capítulo Cinco - Segredo revelado.

pegou o envelope e sorriu para mim. Pedi que abrisse logo, porque os movimentos dele pareciam estar em câmera lenta, mas sabia que era apenas meu nervosismo.
Ele estava com o cenho franzido e virou a foto de cabeça para baixo algumas vezes antes de olhar para mim. A expressão dele era uma mistura de confusão e medo. Voltou com os olhos para a foto e parecia tentar entender ou ler alguma coisa.
– Essa data que está aqui, está certa? – balancei a cabeça, afirmando. – Então isso quer dizer que… uau! É isso mesmo que eu estou pensando?
– Nós vamos ter um bebê. Um bebê de verdade.
– Puta merda! – ele não tirava os olhos da ultrassonografia e então começou a sorrir. Deitou de volta na cama, me puxando para ele, me mostrando o exame. – , me desculpa, mas eu não sei onde tem um bebê aqui.
Nós dois gargalhamos tanto que ele já estava sem ar e eu com os olhos cheios de água. O beijei no canto da boca e comecei a explicar o exame.
– A médica disse que eu estou com quase três meses.
– Então… três meses atrás era – ele contou nos dedos, dizendo em voz alta os meses – era março.
– Eu sei.
– Nós não nos falamos direito depois do dia 3, e nem transamos. – sorriu de novo. – Belo presente de aniversário!
– É… o que você acha disso tudo?
– Eu acho que a ficha ainda não caiu direito para responder isso. – repousou a mão em meu ventre. – Ainda não acredito que fizemos um bebê e ele está aqui. – agora, fazia carinho onde antes a mão estava. – Você está bem?
– Não muito. – ele me olhou em confusão. – Hoje eu passei muito mal, enjoando mesmo! E estava nervosa para te contar do Pontinho.
– Pontinho?
– É como eu o reconheci, no exame… – dei de ombros.
me apertou mais no abraço e beijou o topo da minha cabeça. Ficamos deitados e abraçados enquanto ele ainda fazia carinho em todo o meu ventre e vez ou outra me olhava, sorria e depositava um beijinho nos meus lábios. Mas uns minutos depois, se afastou um pouco para me olhar e perguntou baixinho:
– Por que demorou tanto para me contar, babe?
Sabia o que responder, mas não conseguia dizer a verdade. Talvez até ficasse magoado, e eu não queria isso.
– Estava esperando um momento que estivéssemos a sós e com tempo para conversar. – menti.
– Quando você descobriu?
– Um pouco depois que voltei para o Canadá.
– Você está feliz com todas essas mudanças?
– Na verdade eu só estava preocupada com a sua reação. – sorriu com a minha resposta. – Estou falando sério!
– Não tinha motivo de preocupação. Por que isso, ? Não é como se isso nunca passasse pela minha cabeça.
– Como assim?
– Sei que nosso namoro foi curto e que não começou nos melhores termos… – se referia ao acordo que precisou fazer com a Amélie, o que me fez revirar os olhos. – Mas depois de um tempo as coisas se acertaram e a gente estava tão bem.
– E você estava pronto para continuar? Eu lembro muito bem que você não queria que eu saísse dos Estados Unidos.
– Aquilo foi uma besteira. – enterrou o rosto em meus cabelos, ainda estávamos abraçados. – Me desculpe, .
Ficamos em silêncio por um tempo, até que ele se afastou um pouco e eu me virei para ficar de frente para ele.
– E as coisas na sua vida? Trabalho? Pessoas?
Então foi que a ficha caiu. Havíamos acabado de transar e eu estava num início de relacionamento com outra pessoa. Isso estava errado, mesmo que não tivesse todos aqueles sentimentos por Ezra, estava absurdamente errado!
... – respirei fundo e me sentei na cama. – Eu não sei como vamos fazer daqui para frente, mas... – eu não sabia o que dizer.
– Vocês ainda estão juntos? – não tive coragem de olhar na direção dele, por isso me levantei e puxei uma camisa do armário. – Você só precisa responder que sim ou não. É bem simples.
– Estamos.
– Ele sabe do bebê? – estava nervoso, se levantou e começou a se vestir.
– Não. – Ele soltou o ar, aliviado.
– Bem, acho bom que vocês conversem o quanto antes, porque a partir de agora eu vou estar sempre por perto. – ele beijou o topo da minha cabeça, afagou Bubbles e começou a sair do quarto.
– Não, espera! – me levantei e fui atrás dele. – Não quero que você vá embora assim.
– Assim como? – franziu o cenho.
– Eu sei que você está com raiva, ! Não quero brigar de novo. – suspirei. – O que nós fizemos aqui… não foi certo. Não quero fazer isso, ele é uma pessoa bacana e eu acho que devo dar essa chance.
– Você gosta dele? – demorei um pouco, mas fiz que sim com a cabeça. – De verdade?
… – revirei os olhos. – Eu amo você! Se é que ainda não percebeu.
Os lábios de formaram um sorriso pequeno e envergonhado. Acho que ele não estava pronto para escutar aquilo, e para falar a verdade, nem eu estava, mas pareceu o momento certo.
Ele chegou perto e me abraçou. Não sabia mensurar o quanto sentia saudade dele, dos abraços e até das vezes que a gente só ficava deitado um ao lado do outro. Ainda era meio difícil de aceitar que a gente tivesse começado um relacionamento de maneira tão errada, mas agora eu não tinha mais raiva da Amélie. Claro que jamais entenderia o lado dela, mas, no fundo, estava feliz que ela nos colocou juntos por um momento e que desse relacionamento falso, algo real cresceu dentro de nós dois.
Assim que deixamos de nos abraçar, fizemos o que fazíamos de melhor, assistir filmes e comer pizza. E o melhor, era que não tinha mais nenhum peso nos ombros, ou medo de que alguém descobrisse e ele soubesse do Pontinho por outra pessoa. Agora nós poderíamos desfrutar de todas as novidades juntos, e sabia que estaria ao meu lado quando precisasse.
Só não queria que certas pessoas voltassem a interferir nas nossas vidas.
Pouco antes da meia-noite, perguntou se mais alguém sabia, disse apenas a Ashley e Amélie. Ele ficou surpreso e perguntou o porquê, então disse que havia contado para Ashley na noite que descobri, mas que a Amélie deveria ter algum sentido de aranha.
Depois nós começamos a pensar em nomes e ele fez questão de procurar o significado de cada um até que eu já estivesse bocejando, mais do que dando ideias, até tocar num assunto do qual eu ainda não tinha pensado a fundo: contar para os meus e os pais dele.
– Como você ainda não tinha pensado nisso? – ele perguntou, rindo.
– Bem, eu estava mais interessada que você soubesse logo sobre o Pontinho e aí nós podemos decidir como fazer essas coisas.
– O seu pai me odeia, você sabe disso, não é?
– Ele não te odeia, ! – revirei os olhos e ele sorriu nervoso.
– Quando souber que eu engravidei a filha… – soltou o ar fortemente pelos lábios. – Aí é que me mata de vez.
– Você é muito exagerado! Meu pai vai ficar calado por um tempo, mas vai gostar da notícia.
não acreditou muito no que eu falava, revirou os olhos várias vezes quando perguntei se poderíamos fazer isso logo naquela semana e acabou não respondendo mais às minhas perguntas.
Estávamos quase dormindo, ainda com a televisão ligada e a mão de fazendo carinho em minha barriga, quando escutei a voz dele sussurrada próximo ao meu ouvido:
– Só para que não fique nenhuma dúvida no ar, também amo você, babe.
Meu corpo estremeceu e uma onda de felicidade me fez sorrir, mesmo que estivesse quase dormindo. Sabia que não era necessário responder aquelas palavras de , por isso, coloquei minha mão em cima da dele e dormimos de mãos dadas, fazendo carinho no Pontinho.
Na manhã seguinte eu tinha duas missões: abrir o jogo com Ezra e planejar como contaríamos do Pontinho para os meus pais. E para deixar a minha cabeça ainda mais “pesada”, me sentia culpada pela traição à Ezra. Mesmo que nós nunca tivéssemos oficializado nada, sentia que devia explicações a ele.
Mas antes de qualquer problema, precisava trabalhar e resolver os mil e um problemas que havia naquela semana. Primeiro, um cliente havia voltado com o projeto, depois, uma funcionária havia entrado de licença maternidade, Amélia decidiu ficar aquela semana supervisionando a agência de Vancouver, o que me deixava trabalhando diretamente com ela, inclusive no mesmo escritório, me deixando nervosa em diversos momentos.
Ao final do dia pude finalmente respirar aliviada quando vi me esperando na frente do prédio. Mas a primeira coisa que ele quis saber era se eu tive uma ideia de como contar aos meus pais, e a verdade é que eu não tinha tido tempo de pensar nisso naquele dia, com tantas coisas relacionadas ao trabalho acontecendo.
– Se você não se importar, eu tenho uma ideia e um pedido. – confessou assim que deu partida no carro.
– Vá em frente com essas ideias…
– Podemos fazer um jantar para os seus pais e contar a novidade. E quando eu digo fazer um jantar, nós podemos pedir alguma comida que eles gostem muito porque eu ficaria nervoso demais para cozinhar. – Nós caímos na gargalhada. – O que você acha?
– Acho uma boa ideia. – entrou no estacionamento de um restaurante. – Vamos jantar fora?
– Sabe a ideia que acabamos de concordar que era boa? – Ele estacionou e desligou o carro. – Encomendei umas comidas desse restaurante.
– Você quer fazer isso hoje à noite?
– Tem uns dias que eu vi seu pai saindo desse restaurante com um saco de comida, então imaginei que ele gosta daqui, o que me renderia alguns pontos, antes dele querer me matar…
... ele não vai fazer nada! Já te disse isso.
– Sei que disse, só quero me precaver.
– Então já que você já tem tudo pronto para hoje à noite, qual a proposta que tem para me fazer?
– Isso é só depois, babe.
Ele saiu do carro e foi correndo até o restaurante. Minha tarefa era ligar para os meus pais e verificar se eles estavam em casa. Feito isso, pedi que eles esperassem, que eu levaria o jantar, uma companhia e uma notícia. Minha mãe pareceu nervosa e o meu pai, eufórico.
Assim que terminei a ligação, recebi uma mensagem de Ezra, perguntando se poderíamos nos encontrar naquela noite. Por uns segundos, não soube o que responder, e quando abriu a porta do carro para entrar, bloqueei o celular e decidi que responderia depois. Não gostava da ideia de mentir ou enganar Ezra, mas no outro dia nós nos encontraríamos e resolveríamos tudo.
Estávamos quase chegando na casa dos meus pais, quando decidi acrescentar uma surpresa especial para aquele jantar. Pedi que parasse no Walmart, pois queria comprar algo para aquela noite.
Saímos do carro e sentimos os primeiros pingos da chuva que começava a cair, mas logo estávamos aproveitando do aquecedor da loja e percorrendo os corredores até a sessão de roupas de bebê.
– Sei que podemos achar algo aqui que tenha a palavra “vovó e vovô”... o que acha de mais essa ideia?
concordou e procuramos mais alguns minutos, até achar a menor roupinha que eu já tinha visto na minha vida. Tinha uma estampa de um bebê sorrindo com a frase “eu posso tudo na casa do vovô e da vovó!”
Compramos a roupinha e seguimos os poucos minutos restantes até a casa dos meus pais. Saímos rápido do carro e paramos na porta de entrada. Não sabia quem estava mais nervoso, eu ou , mas ele logo tocou a campainha e respirou fundo.
– Vai dar tudo certo! – Suspirou, antes da minha mãe abrir a porta e sorrir para nós.
– Trouxemos comida! – falou alto demais, indicando nervosismo.
Meu pai, com a cara fechada, notou o nome do restaurante nas sacolas e pareceu surpreso, mas não por muito tempo. Veio me abraçar e acabou sussurrando em meu ouvido “achei que esse cara tinha ficado nos Estados Unidos...”, sorri para ele, sem responder e pedi que fôssemos para a mesa de jantar.
Colocamos a comida na mesa e percebi que tinham muitas coisas gostosas e logo começamos a beliscar, mas meus pais ainda olhavam curiosos, tentando entender o que estava fazendo ali. Ele, por outro lado, parecia menos nervoso, mas achei que estava apenas sendo um bom ator.
– Como vocês estão? – comecei a conversar, queria deixar o clima amigável entre meu pai e .
– Um pouco curiosa com esse jantar. – Minha mãe sorriu, parecia preocupada.
– Quero saber o que ele está fazendo aqui, de novo. – meu pai falou, rude. – Achei que vocês tinham terminado.
– Pai... – suspirei. – Você poderia ser mais amistoso com o , pelo menos uma vez?
– Eu só esta... – Meu pai foi interrompido pelo , que despejou a frase assim, sem mais nem menos.
– A está grávida!
Olhei petrificada para e depois para os meus pais, que estavam paralisados e boquiabertos. Lembrei da roupinha que estava na minha bolsa e a tirei de lá, estendendo na frente deles em cima da mesa. Meus pais ainda estavam calados, mas assim que leram as palavras da roupa, minha mãe começou a chorar e meu pai, ainda que em choque, sorriu.
– Eu nem acredito nisso, minha filha! – Minha mãe correu para me abraçar e beijar o topo da minha cabeça.
– Você é o pai? – Ouvi meu pai perguntando para o .
– Sim, senhor. – Eles estavam conversando, enquanto minha mãe me esmagava de abraços e beijos.
– Meus parabéns! – Eles se deram as mãos e logo meu pai veio até mim. – Precisamos conversar direitinho sobre esse bebê, dona .
Ele me abraçou e disse que estava feliz, mas só eu pude ouvir, já que minha mãe agora estava abraçando e chorando no ombro de .



Capítulo Seis - Desastres acontecem.

O que era para ser mais uma manhã comum e tediosa no trabalho, a agência estava um caos. A onda de gripe havia chegado e pegado com força alguns funcionários, deixando os outros sobrecarregados, sem saber como dar conta de tudo.
Acabei precisando me encontrar com alguns clientes assim que saísse da reunião com os investidores principais daquela franquia da Hazers. Amélia gostava de estar presente nessas reuniões, mas havia voltado para casa há poucos dias e me deixou encarregada desse encontro, por isso teria de fazer um relatório bem detalhado sobre o que ocorreria. Mais trabalho para mim.
E depois de todo o estresse do dia cansativo (mas onde tudo foi resolvido), precisava passar no trabalho do meu pai, pegar o carro, fazer compras e preparar um jantar em comemoração ao primeiro dia de volta ao trabalho da minha mãe. Por mais que a ideia dela estar em um ambiente em que a cada dois passos se lembraria da Loren, era algo que deixava a mim e meu pai estressados.
Não queríamos que ela caísse numa depressão ainda maior, apenas que ela se sentisse bem em voltar a lecionar, coisa que ela amava. Tentei me despreocupar com isso naquele instante, afinal, em algumas horas eu estaria com ela e saberia como havia sido essa volta à escola de Loren.
Mesmo com o caos do início da manhã, consegui sair no horário previsto e já estava esperando o ônibus até o trabalho de meu pai. Ainda não sabia se ele conseguiria sair mais cedo e me acompanhar até o supermercado, mas era provável que não, e como a chuva havia ganhado a companhia de uma neve fina, mas persistente, talvez precisasse voltar para buscá-lo.
– Não posso demorar muito aqui fora, veio pouca gente hoje. – Meu pai deu um beijo rápido no topo da minha cabeça.
– Igual lá na agência. – Comentei.
– E como está o bebê? – Seu Leon ficou feliz, o que era difícil de ver em dias chuvosos.
– Está tudo bem. – Sorri. Meu pai seria um avô muito babão. – Você quer que eu venha te buscar mais tarde? Talvez depois do supermercado.
– Vou ver se o Julian me dá uma carona, qualquer coisa eu ligo.
Meu pai me entregou as chaves do carro, me deu outro beijo e pediu que eu tivesse cuidado com a estrada. Agradeci e logo que entrei no veículo, liguei o aquecedor. De jeito nenhum eu podia adoecer àquela altura do campeonato.
A chuva começou a enfraquecer, dando espaço para que a neve ficasse mais rígida com o passar das horas, talvez fosse melhor que eu passasse a noite na casa dos meus pais. Como o supermercado ficava perto do meu apartamento, passei lá e encontrei Bubbles deitado, todo encolhido no sofá. Arrumei uma bolsa com os brinquedos e as vasilhas de água e ração do meu cachorrinho, afinal, não poderia deixá-lo sozinho em casa quando eu só voltaria no outro dia.
Com as compras no porta-malas, a mochila de Bubbles no banco de trás e ele preso com o cinto no banco do carona, liguei para meu pai, para confirmar se ele teria uma carona até em casa. Nada feito! Mas nada que um pouco mais de atenção não nos levasse em segurança até meu pai. O trânsito começava a ficar um pouco mais movimentado, todos saindo de seus trabalhos, estudos e voltando para casa. Seria mais uma semana normal na cidade de Vancouver, se não fosse mais um azar no meu dia.
Eu estava esperando o semáforo abrir para que eu pudesse continuar dirigindo até o trabalho do meu pai, faltavam algumas quadras e pronto, estaria lá. Mas um motorista bêbado, que usava o celular enquanto dirigia, atravessou o semáforo vermelho e bateu em cheio, bem no meio do carro do meu pai, jogando Bubbles contra a porta do carona enquanto eu me batia no volante, caixa de marcha, era pressionada pelo cinto de segurança e ganhava um banho de vidro quebrado.
Foi tudo muito rápido. Tão rápido que quando me dei conta, alguém já estava ao meu lado, pedindo que eu ficasse calma que ela estava ligando para a ambulância. Fiquei parada, praticamente imóvel, porque sempre vejo que essa é a melhor coisa a se fazer quando se sofre um acidente, apenas mexi o braço para ver como Bubbles estava. Assustado, claro! E parecia ter batido o corpo, porque gemeu quando tentei fazer carinho.
– Moça, você pode, por favor, ligar para qualquer hospital veterinário? Eu acho que meu cachorro se bateu. – Não tirei as mãos de Bubbles, mas precisei entregar a minha bolsa para que ela enxergasse ele deitado no banco ao meu lado.
Ela fez que sim com a cabeça e pediu que eu aguardasse um pouco mais, que o resgate já estava chegando. Olhei para o meu lado esquerdo e vi que o motorista do carro grudado à minha porta estava desacordado. Que bom que o resgate estava chegando! Só me dei conta de que desmaiei, porque quando acordei, estava deitada dentro de uma ambulância, sendo atendida e ouvindo o barulho da sirene.

***

Algumas horas depois, tudo estava bem. Havia sofrido escoriações por causa do vidro quebrado, meu pescoço estava com uma marca bem vermelha do cinto, meu braço esquerdo dolorido por causa do baque e minha cabeça doía, porém, depois que avisei estar grávida, fizeram vários outros exames para verificar como o bebê estava.
Meu pai, que estava há poucas quadras do local do acidente foi o primeiro a chegar, disse que minha mãe estava a caminho e assim que ela chegasse, ele iria atrás da mulher que foi acompanhar Bubbles.
– Você nos deu um susto e tanto… – meu pai respirou aliviado quando o médico saiu depois de responder as mil e uma perguntas que fizemos.
– Você deveria ver o outro cara. – disse brincando, o que o fez rir, mas logo ficou sério. – O que foi?
– Ele estava alcoolizado e mexendo no celular. Irresponsável ao nível máximo!
– Papai, eu já estou bem, o Bubbles está bem, já passou.
– Isso me traz memórias de quando a Loren… – ele parou de falar e me olhou com os olhos vermelhos.
Não falamos mais. Entendia que um acidente de carro já havia trazido outro trauma para a minha família.
Uma enfermeira entrou, me entregou minha bolsa e alguns pertences que foram retirados do carro, pois a perícia já havia terminado com o carro e agora ele estava com o pessoal do seguro. Logo peguei meu celular e pensei se ligava ou mandava uma mensagem para o . Vendo minha indecisão, meu pai se prontificou:
– Eu liguei para ele, espero que não tenha problema. – neguei com a cabeça. – Ele foi buscar a sua mãe e já devem estar chegando.
Perguntei como ela estava e meu pai deu de ombros, fazendo uma cara de poucos amigos. Obviamente que minha mãe não estaria bem, afinal, não muitos meses atrás, havia perdido uma filha para um acidente de carro.
A mesma enfermeira entrou novamente, dessa vez para ajustar o soro que estava conectado ao meu braço. Também disse que o médico voltaria para conversar em alguns minutos. Provavelmente receitaria algum remédio para as dores.
! – minha mãe irrompeu no quarto quando eu estava quase dormindo. Me abraçou tão forte que senti meu corpo todo doer.
– Emma, você vai esmagar a menina, pelo amor de Deus! – meu pai disse rindo, mas estava visualmente aliviado.
– Me desculpe, minha filha. Não me contive! – minha mãe também sorriu, mesmo que os olhos estivessem cheios de lágrimas não derramadas.
Observei , parado perto da porta. Meus pais continuavam conversando, eu apenas assentia com a cabeça, pois não conseguia tirar meus olhos dele. sorriu, parecia estressado. Respirou fundo, revirou os olhos e pediu licença para os meus pais. Se aproximou de mim e beijou o topo da minha cabeça. Sentou na beirada da cama e perguntou como eu estava.
– Quando o efeito do remédio passar, o meu corpo todo vai estar dolorido. – Sorrimos juntos.
Meu pai saiu de mansinho do quarto com minha mãe.
– Você me deu um baita susto. – me abraçou com cuidado. – Como você está, de verdade?
– O remédio ajuda muito, mas ainda sinto um pouco de dor.
– E o bebê?
– Até agora está tudo bem. Estou esperando o médico.
Minha mãe voltou ao quarto com o médico e ele explicou que eu teria dores por alguns dias, mas que estava receitando um remédio pra que eu tomasse apenas quando sentisse algum incômodo, me deu dicas de como limpar os machucados causados pelo vidro, mas, acima de tudo, que eu repousasse durante aquela semana e voltasse para uma avaliação antes de voltar ao trabalho.
Aquilo seria um desafio, mas precisava mesmo daquele período de descanso para me recuperar totalmente e os roxos sumissem do meu corpo também. A última coisa que o médico disse foi um tanto quanto chata para mim: teria de passar a noite no hospital! Era apenas uma medida de precaução, mas eu estava preocupada com Bubbles, queria logo vê-lo.
Minha mãe disse para eu descansar e saiu do quarto com , talvez eles fossem comer alguma coisa e eu realmente estava com sono e cansada, então aproveitei para tentar dormir.
Ouvi batidas na porta, olhei ao redor e o quarto estava um pouco escuro. Bateram de novo e pedi que entrassem.
– Como você está? – Ezra entrou devagar, talvez pensando que eu estivesse dormindo. Dei um sorriso fraco em resposta, mas ele prosseguiu, mudando de assunto. – Conversei com o seu médico, ele disse que vai mantê-la em observação pela noite, mas acha desnecessário que você fique presa aqui... – Brincou.
Eu não tinha coragem de dizer uma palavra sequer. Ele sentou na beirada da cama e olhou concentrado o pager do hospital.
– Tenho alguns minutos até a próxima cirurgia. Estava preocupado com vocês. – Ele repousou a mão em minha barriga. Era incrível como ela já estava bem mais aparente do que a última vez que havia ido ao médico. – Como é que estão as coisas aí dentro, camarada? A Florence vai gostar de um amiguinho para brincar… – Sussurrou ao se aproximar. – Por que não me contou que estava grávida?
– Eu descobri há poucos dias…
– Que bom que vocês estão bem!
Senti algumas lágrimas querendo escapar dos meus olhos, mas as enxuguei com o lençol. Observando a interação que Ezra tinha com o bebê era maravilhoso, mas sabia que eu deveria ser verdadeira com ele.
– Ezra... – Ele voltou sua atenção para mim. A expressão preocupada, provavelmente porque estava chorando. – Eu sinto muito!
– Sente mu-Ah… – Ele suspirou e disse depois de um certo tempo. – Não sei por que ainda estou surpreso… – Ele sorriu de leve, mas com tristeza. – Eu também sinto muito que você tenha escolhido ficar com ele. Juro que tento entender, juro, mas não entendo.
– Você é a melhor pessoa que eu conheço. É simpático, carismático, engraçado e carinhoso... você tem muitas coisas boas para oferecer e, com certeza, é a melhor opção para qualquer um.
– Mas quem você ama não sou eu… – Ele disse baixo.
– A gente não tem controle sobre essas coisas. – Confessei.
– E mesmo assim você vai ficar com o . – Ezra levantou da cama, já se encaminhando para a porta do quarto. – Eu só espero que ele não te machuque de novo, porque eu não estarei perto se isso acontecer. – Com o beep do pager ele apenas fechou a porta quando saiu do quarto.
Não consegui dormir depois que Ezra foi embora. Fiquei me sentindo mal porque ele era uma boa pessoa e eu não deveria ter esperado tanto tempo para conversar com ele. Só esperava que ele e não se encontrassem pelos corredores.
Não sei quanto tempo se passou até ouvir outra batida na porta, mas, dessa vez, minha mãe entrou no quarto sem esperar minha resposta. Ela carregava uma bandeja com meu jantar e uma cara triste.
– Aconteceu alguma coisa? – quis saber.
– Tenho uma notícia não muito boa… – ela respirou fundo antes de continuar. – O foi até a clínica para onde a mulher levou o Bubbles.
– E?
– Ele precisou ir junto com o seu pai, porque parece que a mulher ficou lá para o atendimento dele e quando ele foi liberado, ela o levou embora com ela.
– Ela levou o Bubbles embora? – minha mãe afirmou com a cabeça.



Capítulo Sete - Jantar de noivado.

Acordei na manhã seguinte com algumas dores, mas o pior mesmo era não saber onde o Bubbles estava. Tinha conseguido dormir poucas horas e meu corpo estava exausto com tudo que tinha acontecido, mas só dormiria bem quando o encontrasse. Minha mãe trouxe meu café da manhã e disse que meu pai e estavam na delegacia, tentando acesso às câmeras das ruas para descobrir a placa do carro da mulher. Achava tudo muito como uma cena de um filme de investigação criminal, mas não queria saber, só queria meu cachorro de volta.
, se você não se acalmar eles não vão deixar que você saia do hospital. – Minha mãe, que estava lendo uma revista, comentou.
– Por que eles não me deixariam ir embora?
– Se a sua pressão não baixar, eles vão querer ficar monitorando para ver se o bebê está bem. – Ela deu de ombros, como se já tivesse dito aquilo muitas outras vezes.
Fechei a cara com raiva. Não queria mais ficar no hospital, mas como estava presa àquela situação no momento, me lembrei de algumas pendências que precisavam ser resolvidas. Não queria fazer a ligação na frente da minha mãe, mas não pediria que ela me deixasse sozinha, porque ela não o faria.
Esperei até o horário que o almoço era servido e ela fosse até a cantina do hospital para comer alguma coisa. Empurrei a bandeja para o lado e peguei meu celular e procurei o nome de Amélie em meus contatos. Esperava que ela continuasse com o número que eu tinha salvado. Chamou, chamou e só no quinto toque, quando estava para desistir, ela atendeu:
– Olá, boa tarde. – não era a voz dela do outro lado da linha.
– Esse número é da Amélie Dave?
– Quem gostaria de falar?
, trabalho para ela aqui em Vancouver. – a voz me pediu para esperar e assim o fiz até ouvir Amélie. – Olá, tudo bem sim, e com você?
– Tudo muito tranquilo. A que devo a honra da sua ligação?
– Preciso tirar uma dúvida com você e depois preciso de um pequeno favor.
– Ora, ora… são muitas exigências. – ouvi ela sorrir. – Do que precisa?
– Quando conversamos no café, na palestra que você veio até o Canadá, você quis saber se o já sabia sobre o bebê. – respirei fundo. – Como sabia que eu estava grávida?
– Foi uma dedução… você estava com cara de grávida. Eu realmente não sei explicar.
– Você não acha isso estranho? Quero dizer, eu não dei nenhum sinal, nem mesmo no trabalho sobre isso.
– Como lhe disse, eu não sei explicar. – alguém chamou-a e ela pediu que esperassem. – No que mais posso ajudá-la?
– Você poderia me passar o número da Olivia?
– Olivia Brown? – afirmei. – Para quê?
– Quero contar para ela sobre o bebê, afinal, ela e o Hugh serão avós.
– Tenho certeza de que eles ficarão felizes com a notícia. Assim que sair da reunião lhe passo o contato dela por e-mail.
– Obrigada, Amélie. – estava quase para desligar quando ela continuou.
– Parabéns pelo bebê!
– Obrigada, de verdade.
Apesar de todo o drama que a senhora Dave me fez passar no último ano, começava a sentir um apreço por ela. Não pelas coisas que ela armou que fizeram a minha vida chegar onde estava, mas se não fosse por toda a história do meu namoro falso com o , jamais estaríamos felizes à espera do nosso Pontinho.
Pouco depois minha mãe entrou no quarto com cara de poucos amigos e dizendo que meu pai não gostaria de saber que o teria um filho comigo enquanto namorava outra mulher. Sem entender nada do que ela falava, afinal, eles não se ligavam nas notícias de famosos, minha mãe me entregou um jornal local com uma foto de e Penny na capa.
Respirei fundo e procurei a matéria dentro do caderno de entretenimento. Lá dizia que “apesar da grande distância entre os dois, a namorada de continua voando até o país para ficar perto do amado”.
– Quando o seu pai souber disso…
– Não fale nada para ele. Deixa que eu conto.
Tentei ao máximo não demonstrar a minha raiva. Não queria fazer um papel de besta na frente da minha mãe. E como o ousava em estar com a Penny depois de tudo que vivemos nos últimos dias?
Mandei mensagem para ele, pedindo que viesse ao hospital, pois queria conversar sobre a foto que havia acabado de ver no jornal, mas precisava ser pessoalmente. Não tive resposta, o que me deixou ainda mais estressada. Esperava que ele tivesse tendo a mesma conversa que tive com Ezra, e que depois desse tempo separados, nós dois pudéssemos focar na nossa família em formação.
– A Ashley e o Joe estão esperando o horário de visitas para falar com você. – minha mãe falou, me tirando dos meus pensamentos. – O Matthew passou aqui quando estava almoçando, muito rápido.
– Por que ele não veio aqui comigo?
– Porque ele estava no horário de almoço e não podia demorar, mas pediu para te dar um beijo e disse que te ligaria hoje à noite.
Mesmo que Matt pudesse estar muito ocupado, mandei mensagem perguntando como ele estava, poucos minutos depois ele disse que queria saber como eu estava, pois ele tinha ficado sabendo do acidente, mas que meu pai o havia tranquilizado. Também perguntou se eu conseguiria participar do jantar de noivado dele e da Samantha que estava marcado para a noite seguinte.
Seria uma honra participar desse momento na vida do meu amigo, ainda mais porque eu seria madrinha do casamento e ainda teria a companhia de outros amigos, como a Ashley e o Joe, que também eram convidados para o grande dia. Disse a Matthew que assim que o médico aparecesse eu perguntaria quando a minha alta sairia e confirmaria ou não a minha presença no jantar.
Naquela tarde, Ashley e Joe vieram me visitar. Ele contou sobre o início das gravações do novo trabalho e estava bem animado com o que estava fazendo, mas não podia dar muitos detalhes, já Ashley estava um pouco cabisbaixa e quieta.
– Mas você está bem mesmo? – ela quis saber, preocupada.
– Está sim, o médico disse que talvez eu saia mais tarde.
– Fiquei sabendo da louca que roubou o Bubbles…
– Eu quero acabar com essa mulher, sinceramente. Só espero que ele esteja bem.
Conversamos até o horário de visitas acabar e logo os dois foram embora e eu e minha mãe ficamos ansiosas pelo retorno do médico, pois só dependia dele me liberar para ir para casa naquela tarde.
Pouco depois das seis da tarde fui liberada, avisei ao Matt que iria ao jantar, mesmo que não fosse demorar muito. Meu pai havia conseguido a placa do carro da mulher que roubou o Bubbles, mas agora era a vez da polícia agir, já que o boletim de ocorrência havia sido feito, meu medo é que ela tivesse vendido o meu cachorro ou sumido do mapa com ele.
Aproveitei que Amélie me repassou o contato de Olivia, mãe de e escrevi uma mensagem para ela. Não contaria da novidade por mensagem de texto, mas me identifiquei e perguntei se ela e Hugh estariam dispostos para uma videochamada, mesmo que a minha vontade fosse de contar pessoalmente sobre o pontinho.
Quando já se aproximavam das dez da noite, me ligou, perguntou onde eu estava, pois tinha ido ao meu apartamento e ninguém respondia a campainha. Avisei que passaria aquela noite na casa dos meus pais e pedi que ele viesse conversar pessoalmente, mesmo que já fosse tarde e eu estivesse morrendo de sono.
Não muito depois chegou todo feliz, mas logo estranhou quando não deixei que ele me beijasse, afinal, naquela mesma manhã ele havia se encontrado com Penny, sua namorada, como dizia no jornal.
– Aconteceu alguma coisa? – ele perguntou quando entramos na sala de estar.
– Por que não me disse que ainda estava namorando com a Penny? – ele me olhou, confuso.
– Minha mãe me mostrou uma foto sua com ela hoje de manhã. Você não sabe como eu fiquei com vergonha.
– Nós não estamos mais namorando!
– Então vocês não estavam juntos hoje de manhã?
– Bem, isso sim, mas não é o que você está pensando.
… – respirei fundo e soltei o ar pesado pela boca. – Eu não quero esse drama da Penny agora. Não mereço isso.
– Engraçado, porque até onde sei, você também está com outra pessoa… ou estou imaginando que você e aquele médico estão namorando?
– Primeiro que nós nunca namoramos, nós estávamos nos conhecendo melhor. – me levantei do sofá e comecei a andar de um lado para o outro da sala. – E segundo que mesmo que eu e o Ezra não tivéssemos nenhum relacionamento oficial, tudo isso acabou ontem, quando fui idiota o suficiente e disse que eu preferia ficar com você, poque sou uma burra que acabou se apaixonando pelo idiota que você é, !
– Não acredito que você está com ciúmes da Penny, por favor,
– Até onde sei, ela é sua namorada, então sim, estou com ciúmes! – cruzei os braços na frente do corpo. – Eu sei que vocês estavam num relacionamento quando voltei para o Canadá, mas não sabia que você ainda namorava com aquela mulher!
… – ele respirou fundo, chegou perto de mim e me abraçou. – Eu me encontrei com a Penny hoje.
– Seu safado! – me afastei e voltei a andar de um lado ao outro da sala. – Cachorro!
– Me encontrei para dizer que não queria mais nada com ela.
… se você estiver mentindo para mim eu quebro a sua cara!
– Uau! – ele sorriu. – Você está mesmo brava.
– Claro que eu estou!
– Que tal a gente deixar essa história para lá? Aí a gente pode ir dormir…
– Não, você não vai dormir aqui hoje! – ele perguntou a razão daquilo. – Porque eu estou com raiva de você.
, por favor?
– Está bem, mas não venha me agarrar no meio da noite. – deixei ele na sala e subi bufando para o quarto.
Pouco depois de mim ele entrou no quarto, um pouco desconfiado, mas eu estava apenas deitada na cama, mexendo no celular, verificando se a mãe dele havia me respondido, mas até aquele momento, nada.
Comentei com , enquanto ele tirava a roupa para deitar, que havia mandado mensagem para Olivia. Ele me olhou receoso e perguntou se tinha contado da gravidez. Disse que não, porque jamais faria isso sozinha e nem por mensagem de texto.
– Você tem alguma ideia de como podemos contar sobre o bebê para eles? – ele me perguntou assim que deitou na cama.
– Não exatamente… quem sabe por uma videochamada. – sugeri.
– É, tem essa opção.
– Você não parece contente com isso.
– Eu queria contar para eles pessoalmente.
Fiquei triste, pois sabia que não conseguiria sair do trabalho para ir até a Califórnia dar as boas notícias para Olivia e Hugh, pois sabia que eles ficariam superanimados com a chegada de um netinho ou uma netinha, principalmente a mãe dele, que era um amor de pessoa e muito carinhosa. Já Hugh, certeza que deixaria o tipo “durão” de lado e também se derreteria pelo Pontinho.
– Vamos dormir, amanhã a gente pensa em algo melhor.
– É, você tem razão.
Me deitei ao seu lado e ele me abraçou no famoso estilo “conchinha”. Quando já estava quase caindo no sono, ele sussurrou que eu não precisava ficar com ciúmes da Penny, porque ela já não fazia mais parte das nossas vidas e por mais que eu estivesse enciumada só de pensar nos dois juntos, ele tinha razão.

Assim que acordei na manhã seguinte, percebi que não teria de ir trabalhar, o atestado do médico era de três dias, o que coincidia com o fim de semana e assim conseguiria participar do jantar de noivado de Matthew e Samantha. Também passaria na delegacia para saber se já haviam encontrado a mulher que roubou o Bubbles.
Logo que o horário do almoço chegou, liguei para o meu amigo, pois queria confirmar se tinha algum problema de levar o para o jantar dele naquela noite. Ele disse que não haveria problema, já que seria no apartamento dele e ele ainda me avisou que Ashley e Joe prometeram que fariam de tudo para ir, caso Joe não tivesse nenhuma gravação naquela noite.
– Mesmo que o Joe não vá, acho que a Ashley vai… – comentei.
– Não sei bem, ela disse que está um pouco doente.
– Sério, ela não me disse nada ontem quando foi me ver, estava meio para baixo, mas não sabia que estava adoecendo.
– Na verdade, eu acho que ela pegou algum resfriado por causa da mudança de clima.
– Espero que ela esteja bem, vou já ligar para ela.
– Ei, , você tem certeza que está recuperada o suficiente para vir hoje, não é?
– Tenho sim, não se preocupe que estaremos aí!
Quando eu e saímos da casa dos meus pais a caminho da delegacia, ele me disse que pediu para a Amélie, ainda sua assessora, desmentir a história que ele e Penny estavam juntos para a imprensa e dizer que eram apenas amigos e que ela tinha vindo nos visitar no Canadá.
Achei um pouco estranho a ex-namorada visitar a atual, mas disse que se ele achava isso certo, tudo bem por mim, só não queria a doida da Penny fazendo intriga perto de mim. E pensei que se a mãe dela fosse tomar conta de espalhar a notícia, nessas horas ela já estaria em casa vendo a notícia na televisão e surtando ao saber que e eu estávamos juntos.
Já na delegacia e esquecendo que a Penny existia, eu e conversamos com o delegado, que garantiu tomar as medidas necessárias para que eu recuperasse o meu cachorro, no entanto, precisava de um documento judicial para abordar a mulher e vasculhar a casa dela atrás de Bubbles. Acabamos saindo de lá sem esperanças de achar o nosso cachorrinho, mas disse que precisávamos manter o pensamento positivo de que logo o encontraríamos.
Por mais “pra baixo” que estivéssemos, eu e nos comprometemos de ir ao jantar de Matt e quando o horário marcado chegou, já estávamos a caminho do apartamento do meu amigo. Queria que os dois se dessem bem, por isso, fiz questão de “apresentar” novamente para o Matthew. Eles se cumprimentaram e disse algo para ele que eu não consegui escutar.
Samantha estava com um vestido branco, rendado e os cabelos cobertos por uma tiara com véu. Ela também usava uma faixa escrito “noiva”, logo trouxe uma faixa a Matthew e o obrigou a usar, e mesmo retorcendo o rosto, colocou exibido a faixa. Avistei alguns conhecidos e os pais dos noivos.
Eram poucas pessoas, algo bem intimista e aconchegante mesmo. Não tinha muita decoração “de casamento”, apenas os artesanatos feitos pela mãe de Samantha. Tudo estava perfeito, traduzindo bem o estilo dos dois e eu esperava que eles fossem muito felizes.
O jantar estava uma delícia, como era de se esperar e antes que todos começassem a comer, Matthew agradeceu por todos estarmos ali celebrando o início de mais um caminho, mas que agora ele faria junto da Samantha. Assim que ele sentou de volta, me levantei, mesmo sem querer interromper os planos dele, mas precisava falar algumas palavrinhas para os dois.
– Eu não vou me demorar, prometo! – respirei fundo e levantei meu copo de suco para o brinde. – Samantha, eu conheço o Matt desde que nós éramos praticamente crianças. Ele gosta de comédias românticas, é carinhoso, dá ótimos conselhos, topa qualquer missão e é um amigo inigualável. Eu tenho certeza de que você está se casando com alguém que você vai amar cada dia mais. Felicidade aos noivos!
Todos ergueram suas taças e brindaram comigo. Matt sorriu e piscou para mim, em agradecimento e sua noite murmurou um muito obrigada, mas então me lembrei de algo que não poderia deixar passar e levantei rapidamente, chamando a atenção de todos:
– Ah, claro, ele tem um péssimo gosto musical, ninguém é perfeito, não é? – me sentei e todos caíram na gargalhada, inclusive , que agora colocava uma das mãos sobre a minha coxa.



Capítulo Oito - Menina ou menino?

Com o passar dos dias e sem notícias do Bubbles, eu não conseguia me concentrar nem em meu trabalho. Estava pensando, inclusive, em pedir alguns dias de férias para tentar colocar a vida nos trilhos e achar o meu cachorrinho.
continuava gravando e os diretores estavam cogitando mantê-lo na série por mais episódios do que o acordado anteriormente, com isso, ele poderia ficar mais tempo no Canadá comigo. Ele estava cheio de segredos e ligações sussurradas, mas não estava com ciúme, pois ele olhava para mim enquanto as atendia e começava a sorrir.
– Você não vai me dizer mesmo do que está rindo? – perguntei quando ele encerrou a ligação. – Eu acho que é muita crueldade você me deixar curiosa.
– Fique tranquila que logo, logo você descobre do que se trata.
Não gostava de todo aquele mistério, mas sabia que tinha a ver com o Pontinho, então fiquei calada, mesmo morrendo de curiosidade. Continuamos conversando durante o caminho até o meu trabalho enquanto ele dirigia. Nos despedimos e fui enfrentar mais um dia presa no escritório enquanto ele ia a caminho do estúdio onde gravaria naquele dia.
A primeira reunião era com o nosso cliente mais fiel da agência de Nova York e faria a inauguração da nova loja em solo canadense. Como já conhecia os representantes e eles conheciam o meu trabalho, agradeceram pelo trabalho rápido que havíamos feito, afinal adiar a inauguração da loja seria um prejuízo para eles.
Continuei no escritório e até almocei por lá, de tarde recebi a ligação de uma agência de publicidade que havia estagiado enquanto ainda estava na faculdade. Os diretores não eram mais os mesmos, mas pelo que a pessoa me falou no telefone, o meu nome ainda era famoso pelos corredores de lá. Eles queriam conversar pessoalmente, mas não tinha como atendê-los em cima da hora, então marcamos para a tarde seguinte, quando saísse do escritório.
Quando saí da Hazers, passei na delegacia para saber sobre o Bubbles e o delegado informou que a mulher era conhecida em alguns condados canadenses justamente pelo roubo de animais. Eles não sabiam o que ela fazia com os cachorros e gatos, mas me tranquilizaram e disseram que ela estava sendo procurada.
Não muito contente, deixei a delegacia e fui para casa. Só de ver as coisas de Bubbles espalhadas pela casa, me fazia pensar em como o meu cachorrinho estava e eu esperava que tudo desse certo no final.
chegou e disse que no dia seguinte teria uma surpresa para mim. Imaginei que tinha a ver com a ligação de manhã, mas não o forçaria a falar nada até o outro dia, afinal, seriam algumas horas de curiosidade que eu conseguiria aguentar. Aproveitei que estávamos falando sobre surpresas e avisei que na sexta-feira eu tinha um ultrassom marcada e, se tudo desse certo, conseguiríamos ver o sexo do bebê.
– Mas já? – ele perguntou, assustado.
– Eu completei quatro meses de gravidez esses dias, então a médica disse que a gente pode tentar, mas que vai depender do bebê.
ficou ansioso, assim como eu estava, mas ele demonstrou também certa preocupação, não sabia dizer por que, mas não insisti na questão. Jantamos e esquecemos de problemas maiores, sentamos no sofá e conseguimos assistir uns episódios da série que ele estava gravando. Estava esperando com muita felicidade por quando o veria na estreia da temporada que estava preparando. Ele falava ansioso todas as vezes que chegava do estúdio.
Mas como estávamos cansados, logo fomos para a cama. Já na manhã seguinte, ele saiu antes mesmo do sol aparecer, mas deixou recado de que jantaríamos em um restaurante no centro, pois ele entregaria a surpresa que vinha planejando.
Passei o dia ansiosa com o jantar que quase esqueci do compromisso que havia marcado com a antiga agência que trabalhei, não deixei que isso atrapalhasse no meu desempenho e continuei focada no que precisava fazer, por isso consegui sair um pouco antes do meu horário normal e segui em direção ao café. Quando cheguei me deparei com antigos colegas de trabalho, inclusive o dono da agência, Erik Falcon. Os cumprimentei e antes que a reunião começasse mesmo, pedimos nossos cafés.
– Você não sabe a felicidade que é vê-la de volta em solo canadense. – Erik sorriu.
– Eu fiquei surpresa que você tenha entrado em contato. Estou curiosa para saber do que se trata essa reunião.
– Senhorita , nós estamos aqui para assuntos oficiais da Falcon Comunicação. – a mulher que havia se apresentado como Felicia disse bem séria.
– Como você sabe, não gosto de perder tempo. – Erik começou. – Eu estou ficando velho, não estou doente, graças a Deus, mas não quero que a agência morra quando eu também partir, por isso quero saber do seu interesse em ser minha sócia. Cinquenta por cento.
Não sabia o que responder. Na verdade, minha boca abriu várias vezes para iniciar uma frase, mas meu cérebro não conseguia pensar em nada. Fiquei honrada com o convite, mas não sabia se teria condições de virar sócia de uma empresa como aquela. Certo que em comparação com a Hazers aquilo era um negócio pequeno, mas em Vancouver a maioria das peças e comerciais do governo eram feitas com a Falcon e eles sempre tiveram contratos longos com outras prefeituras, o que garantia certa estabilidade se tratando de retorno financeiro.
Quando me dei conta de que estava há vários segundos sem responder, respirei fundo antes de encher os dois com perguntas de como e porque aquilo daria certo. Felicia começou a explicar algumas questões mais legais, e pelo jeito que falava, imaginei que fosse advogada de Erik. Ele, quando pediu licença e começou a explicar os porquês, disse que confiava e acompanhava o meu trabalho desde que havia estagiado na agência. Disse que além dos contratos governamentais estendidos por mais dez anos, começou a prestar serviços para uma editora de livros, então eles estavam com a capacidade de clientes preenchidas, mas, se, caso eu quisesse fazer parte, poderia atender clientes “por fora” sem algum problema.
– Você já pensou na Falcon & Comunicação? – ele finalizou seu discurso com essa pergunta.
– Na verdade eu ainda nem sei se isso é possível financeiramente. Não tenho mais tanto dinheiro guardado, eu acabei de comprar uma casa…
– Bem, essas coisas mais legais a Felicia pode falar com você, explicar melhor e responder as perguntas que eu não vou saber. – ele a olhou e sorriu. – Mas não descarte a ideia de primeira, por favor.
– Eu vou pensar. – Erik me entregou um cartão com o número pessoal dele. – Prometo.
Eles se levantaram e recebi um abraço do meu antigo chefe quando nos despedimos. Eu continuei em pé até vê-lo entrar em um carro e então me sentei, sem saber como reagir a tudo. Milhões de perguntas surgiram na minha cabeça: Será que isso daria certo? Será que eu me endividaria se entrasse na sociedade? Quanto retorno eu teria de imediato para não ficar no vermelho?
Eram muitas questões e eu precisava pensar calmamente em todas as respostas, mas não naquele momento. Por sorte, meu celular apitou com a chegada de uma mensagem do perguntando onde eu estava. Não me dei conta de como havíamos demorado na conversa e estava quase atrasada para o nosso jantar. Chamei um táxi e fui direto para o restaurante, mas com a cabeça ainda nas nuvens.
Assim que avistei na mesa do restaurante, parei e fiquei chocada com o que via. Aquele dia não cansava de me surpreender, pois além da proposta de Erik, a surpresa de era Olivia e Hugh me olhando sorridentes e acenando.
– Com essa você não esperava, aposto. – comentou quando chegou perto. Entrelaçou nossas mãos e me guiou até a mesa. – Pois bem, acho que a surpresa que eu tinha para vocês está bem aparente...
A mãe de me abraçou e começou a chorar com o maior sorriso que eu já tinha visto. Hugh me abraçou também, mais comedido, mas, ainda assim, muito feliz.
Eu, por outro lado, ainda não entendia muito bem o que estava acontecendo, e só fui me dar conta quando Olivia parou com a mão em frente à minha barriga, sorrindo, quase que pedindo autorização para encostar em mim. Só então entendi que a gravidez não era mais segredo para eles, aliás, como seria, se a cada dia minha barriga parecia ainda maior?
– Por que vocês não contaram antes? – Olivia perguntou enquanto limpava as lágrimas e eu me sentava.
– Nós não queríamos fazer isso pelo telefone. – comentei. – Mas não sabia que vocês vinham para o Canadá.
– A gente não tinha planos para isso agora, mas o disse que era importante. – Hugh deu de ombros e tomou um bom gole do vinho.
Conversamos sobre toda a descoberta da gravidez, sem contar o drama do nosso término, mesmo que Olivia quisesse saber por que estava com Penny enquanto eu me mudava para o Canadá.
Hugh pediu desculpa pela intromissão da esposa e disse que eles não precisavam saber dos detalhes, contanto que tudo estivesse bem entre nós dois e o bebê. Agradeci mentalmente pelo que ele havia feito, pois até aquele dia eu não sabia o motivo de ter voltado com Penny.
Por mais que os fossem boas pessoas, não contei sobre o relacionamento breve que tive com Ezra. Não que eu quisesse esconder alguma coisa, mas não acrescentaria em nada àquela conversa, e no fundo eu achei que um dos dois desconfiaria se era realmente o pai do Pontinho.
– Vocês vão ficar até quando na cidade? Gostaria que conhecessem os meus pais, se não tiver problema.
ficou surpreso, pois provavelmente não tinha pensado no encontro, mas logo sorriu com a resposta positiva dos pais. Quando estávamos saindo do restaurante, perguntei se eles gostariam de participar do exame de ultrassom que estava marcado para duas horas antes do voo deles. Olivia quase sugeriu que eles mudassem a data do voo, mas como Hugh e confirmaram que daria tempo, ela desistiu da ideia.

***

Depois de alguns dias pensando na proposta de Erik, resolvi deixar aquilo de lado por enquanto, pois em alguns minutos o jantar na casa dos meus pais começaria e seríamos todos uma família. Os pais de estavam animados para conhecer Leon e Emma, e pedi incessantemente que meu pai fosse cordial, pois aquilo era importante para mim.
Chegamos na casa dos meus pais e tudo estava indo muito bem, Hugh parecia um pouco estressado com algo, mas esperava que aquilo passasse logo. Olivia e minha mãe se deram bem de primeira e logo já faziam mil e um planos para quando o bebê nascesse, nossos pais entraram na conversa e logo alguns nomes começaram a ser sugeridos.
– Nós ainda nem sabemos se vai ser uma menina… – lembrou a todos.
– Mas se for vocês podem colocar o nome que estamos sugerindo. – minha mãe sorriu tentando nos convencer.
– Vai ser menina. – meu pai apenas falou e todos olhamos para ele. – Eu não sei o porquê, mas na nossa família só nasce mulher. – disse fazendo todos rirem.

***

Naquela manhã eu chegaria bem mais tarde no trabalho, pois eu, meus pais, , Olivia e Hugh estávamos na sala de espera do consultório de Erika, minha médica. Quando nos viu começou a rir, sabendo que todos estavam muito ansiosos com aquele exame.
Antes mesmo que todos entrassem na sala ela já foi explicando que apesar de eu já estar com os quatro meses completos, nem sempre dava para identificar o sexo do bebê e que já tinha visto nenéns tão teimosos que só conseguiu saber o sexo no dia em que nasceram.
Meu pai voltou a afirmar que seria uma menina, não dando motivos para Erika sobre tal afirmação, então mesmo que ela não conseguisse ver nada pelo exame, ele já sabia que teria uma netinha.
– Você parece bem confiante. – a médica brincou com meu pai enquanto passava o gel em meu ventre. – Mas primeiro vamos ver se está tudo bem e ouvir o coraçãozinho, pode ser?
– Você pode tentar me enrolar o quanto quiser, mas estou dizendo que será uma garota. – ele voltou a sorrir quando escutou o coração do nosso pontinho.
Erika ainda explicou algumas coisas sobre peso e tamanho do bebê enquanto estávamos hipnotizados pelo barulho do coração, até que a médica começou a sorrir e apontou para a tela.
– Se vocês fizeram alguma aposta com o seu Leon, podem pagar agora, pois é uma menininha!



Capítulo Nove - Mudanças.

Foi preciso uma insistência muito grande de e Hugh para que Olivia não desistisse de voltar para a Califórnia, afinal, eles tinham que cuidar do hotel, mas quando a mãe de soube que teria uma netinha, chorou muito e queria fazer uma boa festança para comemorar a notícia.
Outra coisa que precisamos convencê-la era de não falar para ninguém sobre a minha gravidez, pois ainda não sabíamos como faríamos tal anúncio e eu ainda não tinha certeza que queria tanta atenção nesse momento.
Em situações parecidas eu recorria a Ashley, pois como ela estava desde criança na frente das câmeras, precisava saber como enfrentar aquela situação. Minha amiga recomendou que nós dois esperássemos o máximo, principalmente porque eu estava com dúvidas sobre a exposição da bebê.
, por outro lado, queria fazer igual a mãe e contar para todo o mundo, mas como sabia das minhas preocupações, não o fez imediatamente. Conversamos por horas, dias… até chegarmos na conclusão de que deixar tudo quieto era a melhor solução.
No entanto, tudo foi por água abaixo quando Amélie resolveu bancar a empresária e assessora toda poderosa. Aproveitou que o primeiro episódio de ganhou diversos elogios do público e chamou a atenção de anunciantes, até para a série, e mandou que uns paparazzis seguissem e eu.
Por sorte o fotógrafo o conhecia e o alertou, assim precisou ligar para Amélie e mandá-la acabar com aquilo ou ele quebraria o contrato com ela, sem se importar com multa rescisória.
Depois que ele chegou, conversamos ainda mais sobre o anúncio da gravidez. Ainda não era algo que eu queria, mas como alguns paparazzis souberam do pedido de Amélie e poderiam vender as fotos mesmo assim, me convenceu de anunciarmos nas redes sociais dele.
– Se você preferir, pode fechar suas redes sociais para apenas amigos verem. – ele sugeriu. – Mas isso vai implicar que seus trabalhos não sejam tão vistos.
– Por que a Amélie tinha que fazer isso… qual o problema dessa mulher? Achei que ela já tinha desistido de nos importunar. – me deitei e fechei os braços na frente do corpo. – Mas se for para você fazer as coisas pelas costas dela, eu aprovo. – ele se deitou ao meu lado e sorriu também.
– Vamos fazer assim, sua conta pessoal você fecha e cria uma nova apenas para trabalho, o que me diz?
Muitas coisas haviam acontecido desde a sugestão de sobre as minhas redes sociais. Na primeira semana eu havia apenas privado minha conta no Instagram e estava sem tempo para administrar ainda uma conta comercial.
Por mais que quisesse ganhar novos clientes, tomei a decisão certa em manter as coisas privadas, assim foi mais fácil que meu pedido de demissão não chegasse aos tabloides, foi menos conturbado quando assinei o contrato de sociedade com, a agora, Falcon & Comunicação.
Foram algumas semanas de negociação, tempo que eu também usei para treinar quem ficaria em meu lugar na Hazers e me desviar de todos os paparazzis que sondavam o e eu em Vancouver. Quando as primeiras fotos com o meu “baby bump” saíram nos sites ficou quase que impossível até de ir ao mercado sem que eu me sentisse perseguida, por isso ele postou uma foto oficializando a gravidez e pedindo que respeitassem o nosso momento.
Ashley me ligou em plena madrugada contando que Penny havia praticamente surtado ao saber da novidade, inclusive dizendo que havia sido traída, mas não ligamos, já que sabíamos que não era nada disso e nosso relacionamento, apesar de ser de mentirinha logo no início, nós dois sempre nos respeitamos.
Não demos nenhuma declaração sobre a fala da Penny, porque não queríamos entrar no joguinho dela e tivemos um pouquinho de paz por uns tempos.
Mas como nem tudo era de todo mal, logo usei a repentina “fama” para achar a ladra que levou Bubbles embora e agora ele estava em casa, muito bem cuidado enquanto ela estava presa.
A família só não estava completa pois ainda tínhamos dois meses até que nossa filha nascesse. Tempo suficiente até para que nos mudássemos, já que estávamos fincando, de vez, nossas raízes no Canadá.
Foi um passo bem grande para nós dois, mas e eu decidimos comprar uma casa. Não era como se nunca tivéssemos pensado nisso, mas o apartamento ficaria muito pequeno para nós dois, Bubbles e nossa bebê que estava a caminho.
Demoramos um pouco até escolher um lar. Eu queria algo com um estilo e ele queria com outro, até que enfim decidimos por uma linda casa de três quartos no mesmo bairro que meus pais moravam, e como os antigos donos estavam remodelando para vender, ganhamos um desconto e compramos no meio da obra, para que também pudéssemos escolher todos os detalhes que se encaixassem nos nossos estilos.
Depois de um tempo considerável de obra e muitas visitas às lojas de móveis e materiais de construção, já estávamos finalizando os últimos retoques, já que os construtores terminariam naquela semana, para que os pintores pudessem trabalhar.
Estávamos com um pouco de medo da obra se prolongar por causa das chuvas que não paravam de cair há dias, principalmente porque os pais de compraram meu antigo apartamento para ficar mais próximo da bebê quando ela nascesse, então nós ainda estávamos no apartamento e cuidando de toda a papelada para quando eles viessem, mas o estresse da obra acabou deixando nós dois um pouco abalados.
Olhei ao redor, vi muitas caixas espalhadas e o andando de um lado a outro com suas falas, ensaiando as entonações que precisaria fazer naquela cena. Ele teria que sair no meio da madrugada para gravar, mas fazia questão de me acompanhar no jantar quase todos os dias.
– Se você não parar de me olhar eu não vou mais me concentrar. – ele brincou vindo em minha direção.
– Eu só estava vendo que temos muitas caixas para lacrar, só isso. – dei de ombros.
– Já disse para você deixar essas coisas de lado… eu vou gravar essa madrugada e então estarei de férias por quase quatro meses. Vai dar tudo certo! – me abraçou e acariciou a minha barriga. – Nossa casa já está quase pronta, só estão dando uns retoques na pintura e logo, logo vamos chegar lá, bem no meio do verão e aproveitar a piscina.
– Ainda não entendi essa necessidade pela piscina que você tem. Nós moramos em Vancouver, aqui chove a toda hora ou está muito frio, exemplo disso foi o atraso na pintura por causa da chuva que não parava. – acabei rindo.
– Eu fiz questão de pagar um pouco a mais por aquela casa justamente porque a piscina fica em um cômodo que tem aquecedor e aquelas portas enormes que dão direto para o quintal. Eu sou da Califórnia, preciso de água. – ele gargalhou.
– Bem, está caindo uma boa chuva agora, é só abrir a porta e se molhar. – foi a minha vez de gargalhar e receber uma careta de .
– Sei que você não queria gastar tanto com a casa agora, principalmente com a bebê chegando, mas aquela casa é perfeita para a nossa família, . – ele deu de ombros. – E conseguimos o desconto da obra, fique tranquila.
Continuei observando enquanto ele voltava a se concentrar em suas falas. Nem percebi o tamanho do sorriso que abri ao lembrar das palavras dele: é perfeita para a nossa família!
Era pedir demais para alguém me beliscar? Aquilo parecia ser um sonho bem distante da realidade, mas realmente estava acontecendo.
Mesmo embalando muitos outros itens da cozinha naquela noite, ainda participei de uma última reunião antes de tomar um bom banho de banheira. Os últimos detalhes da Falcon & Comunicação estavam quase todos definidos para o grande anúncio de sociedade e a minha ansiedade acabava não me deixando dormir a noite quase que toda.
Vi sair por volta das duas da manhã, mas sabia que não nos veríamos por dois dias, já que eu faria uma viagem até Ottawa para assinar os papéis oficiais da empresa, já que Erik havia se mudado recentemente para lá, aproveitar a fazenda que ele havia comprado e reformado em uma cabana de luxo, bem ao seu estilo.
A viagem de negócios foi bem mais divertida e proveitosa do que esperava, já que me hospedei na fazenda de Erik, conheci alguns familiares seus e fizemos diversos contatos publicitários na área Ottawa e Toronto, inclusive fomos entrevistados em duas rádios e na televisão, já que a Falcon Comunicação antes da nossa sociedade era muito famosa por já prestar diversos serviços governamentais.
Minha primeira intenção era de abrir filiais desse lado do país, pois agora um dos donos morava no local para participar das reuniões mais sérias de fechamento de contrato. No geral, as coisas estavam ficando boas nas nossas vidas, se não fosse a imprensa sempre querendo dificultar isso.
Por vezes achei que tudo era invenção da Amélie, mas não tinham mais razões para ela querer tanta mídia assim em cima da minha gravidez. Cogitei até a possibilidade da Penny pagar alguém para conseguir fotos nossas e espalhar pelos cantos e continuarmos sendo perseguidos, mas o disse que isso era muita loucura, até para a Penny.
Depois de voltar para Vancouver e finalmente nos mudarmos para a casa nova, ficamos presos em casa para terminar logo toda a nova arrumação. Nesse período, meus pais vieram nos ajudar, até porque os sete meses de gestação estavam consumindo mais do que eu gostaria de admitir do meu corpo. Matthew, sua noiva Samantha, Ashley e Joe vinham quase todos os finais de semana, principalmente Joe, que morava a alguns bairros de distância.
Na última visita que Ashley fez passamos tanto tempo conversando e aproveitando a piscina aquecida que esquecemos de outros compromissos. Foi muito bom estar na companhia da minha melhor amiga e desabafar sobre tudo um pouco. Ela, nervosa demais por causa do casamento do Matthew que seria na sexta-feira daquela semana.
– Mas qual a razão de todo esse nervosismo? – perguntei enquanto começava a sair da piscina.
– Eu não faço ideia. – ela sorriu para disfarçar o nervosismo. – Tenho medo que o Joe faça alguma besteira no meio do casamento do Matt.
– Que besteira, exatamente?
– Você conhece o Joe, . É bem capaz dele querer usar o mesmo padre e já nos casarmos ali mesmo no meio da festa dos outros!
– Pastor. – comentei.
– O quê? – minha amiga me olhou, confusa.
– A Samantha é evangélica, eles se casarão com um pastor, não um padre.
– De tudo o que falei é isso que chamou a sua atenção? – minha amiga parou até de fazer carinho no Bubbles de tão indignada que ficou.
– Desculpe. – sorri. – Mas não acho que ele vá fazer nada do tipo, Ash. O Joe não roubaria a cena bem no meio do casamento alheio.
– Eu espero mesmo que você esteja certa!
Aquele final de semana seria cheio de eventos importantes. Primeiro o casamento do meu melhor amigo na sexta-feira, a festa oficial de lançamento da Falcon & Comunicação seria no sábado e no domingo os pais do chegariam para arrumarem o novo apartamento deles.
Como esperado, o grande dia havia chegado e eu não poderia me sentir pior. Por mais feliz que eu estivesse em fazer parte do casamento de alguém tão importante, meus pés e minha coluna estavam me matando de dor desde o dia anterior. Aproveitei que as madrinhas e padrinhos estavam se arrumando em um spa e em vez de estar no salão com todos, agendei uma massagem que me ajudasse a controlar a dor que fazia com cada passo que eu dava.
havia ficado preocupado demais quando liguei, chorando, dizendo que não conseguiria andar até o altar. Ele foi até o spa e sugeriu que finalizasse a massagem e voltássemos para casa, indo para o local da cerimônia apenas quando fosse o momento certo. Não queria perder o casamento de Matt, mas era o certo a se fazer.
A massagem foi tão relaxante que dormi e só fui acordada por quando já precisávamos sair da sala para ir embora e chegando em casa dormi mais um bocado. Às quatro da tarde, apenas uma hora para o início do casamento, apareceu no quarto com uma bandeja cheia de guloseimas.
– Não fique com raiva por não ter te acordado antes, mas já falei com o Matthew e ele disse para a gente chegar por lá só uns cinco minutos adiantados.
– Você tem certeza? – ele concordou com a cabeça.
– Trouxe esse lanchinho porque você precisa comer antes da surpresa que tenho para você… – ele disse, sorrindo e o olhei, desconfiada. – Acredita no que estou dizendo que vai dar tudo certo.
Bubbles apareceu no quarto com a maior cara de sono e foi se deitar em sua caminha.
– Bem, parece que esse quarto aqui tem algum sedativo poderoso no ar, porque até uns cinco minutos atrás ele não estava com sono… – ele gargalhou falando do nosso cachorro.
A outra surpresa da qual havia organizado, era que uma das maquiadoras do spa, que veio até em casa para me ajudar com o cabelo e maquiagem.
Aquilo foi tão bem pensado que eu fiquei com vontade até de chorar de tão agradecida, mas como tínhamos pouco mais do que quarenta minutos para nos aprontarmos e chegar ao local do casamento, me concentrei em ser o mais ágil que conseguisse.
As dores já não estavam tão absurdas como antes, por isso foi mais fácil entrar no vestido e ficar parada enquanto a profissional me deixava ainda mais bonita com a produção dela.
Conseguimos bater recorde e ainda chegamos alguns minutos antes do esperado. Matthew estava tão nervoso que suas mãos estavam suando frio, mas comecei a conversar e tentar acalmá-lo o máximo que conseguisse, mas assim que a organizadora abriu a sala que estávamos, ele ficou pálido e com cara de choro. Pedi que ele respirasse fundo algumas vezes e fomos nos preparar para a entrada dos noivos e padrinhos.
Matthew entrou com os pais e em seguida eu e os outros padrinhos, incluindo uma Ashley muito vermelha de vergonha, entramos e nos posicionamos ao lado dele. Todos estranharam que duas mulheres estavam do lado do noivo, mas sorrimos e continuamos esperando pela entrada triunfal que Samantha fez. Ela estava absolutamente deslumbrante e com um véu cheio de gotinhas brilhosas que combinavam com o enfeite de cabelo que usava.
Assim como todos os casamentos que já havia ido ou até os dos filmes e séries que via, chorei feito uma bebê. Esperava não ter arruinado tanto a maquiagem, mas assim que a cerimônia acabou e os convidados se dirigiam para a recepção, os padrinhos, madrinhas e noivos davam os últimos retoques para uma pequena sessão de fotos. Não queria, mas fui a que deu mais trabalho para posar, pois as dores voltaram e eu não via a hora de tirar o salto alto e sentar para tentar descansar os pés.
Como nada se prolongou, fomos até o local da recepção e assim que avistei , ele estava com os meus pais e Joe em uma mesa próxima a pista de dança. Eu e Ashley nos unimos a eles e começamos a aproveitar o resto do casamento. Eu, já sem meus sapatos e recebendo uma gostosa massagem nos pés, pois os colocou em seu colo e me ofereceu o agrado.
– E então, o que achou do casamento? – perguntou baixinho para que apenas eu ouvisse.
– Eu queria não ter chorado tanto… – sorri ao lembrar que eu e Ashley tínhamos gastado quase uma caixa de lenços só na cerimônia.
– Queria ver a sua cara quando for no nosso casamento. – comentou como quem não quisesse nada, beijou rapidamente meus lábios e voltou a prestar atenção na conversa que meu pai e Joe haviam pedido a opinião dele.
Aquilo me pegou de surpresa, mas dessa vez sentia algo bom sobre o assunto e não mais um arrepio na espinha ao pensar em algo ainda mais sério com . Sorri feito uma boba o restante da recepção e agradecendo imensamente por participar daquele momento com meus amigos.
Tentei não parecer nervosa desde a noite anterior com o comentário que fez no casamento do Matthew, mas talvez eu precisasse falar com alguém sobre, por isso, quando Ashley chegou no sábado para nos arrumarmos para a inauguração da agência, passamos horas conversando sobre o que esses nossos homens estavam pensando tanto em casamento.
Ash e Joe eu entendia, pois estavam juntos há anos e todos sabiam que logo eles casariam e seriam ainda mais perfeitos um para o outro, mas eu e o não tínhamos nem um ano de namoro sério e ele falava algo como “nosso casamento”. Minha amiga gargalhou quando eu disse estar nervosa.
– Mas não é como se vocês não tivessem bons momentos juntos. Mesmo que não estejam namorando há meio século, mas vocês se amam e logo terão um bebê. Se isso não for sério…
– É, nisso você tem razão. – Ash deu de ombros. – Eu só não sabia que o estava pensando em casar.
, presta bem atenção no que vou falar: não importa se vocês estão juntos há dez dias ou dez anos, se for a pessoa certa para você, se ele te faz feliz, se ele te ama o tanto que você o ama, fique com essa pessoa!
– Desde quando você é tão amorosa assim? – caímos na gargalhada e ela revirou os olhos. – Mas enfim, obrigada por me ouvir hoje.
– Hoje é seu dia, o mínimo que poderia fazer é te ouvir. Tá nervosa com a festa de hoje à noite?
E assim ficamos mais horas conversando até o momento de nos vestirmos e sairmos para a inauguração da agência. Não esperava ver tanta gente, mesmo que a maioria dos convidados tivesse confirmado presença, afinal, a neve fraca ainda caia às vezes.
Recebemos grandes nomes naquela noite. O prefeito, governador e até uma representante do escritório do Primeiro-Ministro compareceu, por isso, a imprensa também estava em peso, mas agradeci mentalmente, diversas vezes, por eles não terem me cercado com perguntas sobre a gravidez e o .
Meus pais, Ash, Joe e Matthew e Samantha adiaram a lua de mel por um dia e também vieram prestigiar. chegou um pouco depois do início, pois estava gravando, mas logo que me viu abriu um sorriso e não saiu mais do meu lado a noite toda, sempre me oferecendo algo para beber ou comer. Erik passou por nós tão feliz que eu jamais havia visto um sorriso tão grande em seu rosto. Ele recebeu mais alguns convidados e voltou com eles para onde estávamos.
– Gostaria que conhecesse meu companheiro há mais de doze anos, . – um senhor simpático e bem alto nos cumprimentou.
– Miguel Ortega, prazer.
Nos cumprimentamos mais uma vez e conversamos por uns minutos antes de Erik e eu sermos chamados para um breve discurso. Ele pediu que eu falasse antes e disse o quão honrada estava em fazer sociedade com alguém que eu admirava tanto e que me ajudou tanto no início da minha carreira.
Quando Erik nos encantou com seu lindo discurso e desejo de muito sucesso para o que estávamos preparando, Miguel chegou mais perto e lhe entregou uma taça de champanhe e assim que levantamos as taças para o brinde, avistei os pais de na entrada, acompanhados de ninguém menos do que Amélie Dave.



Capítulo Dez - 38 semanas e quatro dias.

A festa de lançamento com a presença de Amélie foi um pouco estranha. Nem eu e nem Erik havíamos convidado-a, mas também não fomos grosseiros para pedir que a colocassem para fora. Depois de um belo discurso de Erik e algumas poucas palavras minhas, ela se aproximou de nós dois e nos deu parabéns pela sociedade.
– Quebrarei uma regra minha e vou fazer um elogio de uma funcionária minha a você, Erik. - ela comentou em certo momento. - parece fraca, mas aguenta muita coisa e sabe de muita coisa. Você fez a escolha certa! – Ela sorriu para Erik.
Ex-funcionária. – Foi o que ele comentou e sorriu também. – agora é minha parceira e uma das suas principais concorrentes em solo canadense!
Agradeci ao elogio e tentei desconversar, mas Erik continuou dizendo que comigo na agência poderíamos conseguir mais clientes comerciais e não somente os governamentais, o que fez Amélie dar um sorriso não muito agradável, mas não disse nada e nos deu licença.
Não demos muita importância para o que ela havia dito, pelo menos não a princípio, mas depois fiquei pensando o quão difícil seria para Amélie admitir que uma ex-funcionária dela, agora era sua concorrente.

***

Ao passar dos dias, precisava gravar a nova temporada de Supernatural e sempre saia de casa antes mesmo de amanhecer, quando voltava, já era no final da tarde. Inclusive, conversas estavam acontecendo nos bastidores que precisariam levar as filmagens para outra área do condado, um ambiente mais rural e mais calmo. A intenção é que toda a equipe de filmagens ficassem alguns meses por lá.
Quando me contou, fiquei um pouco preocupada, pois a nossa bebê estava para nascer e queria que ele estivesse presente nesse dia tão especial, mas conversamos e alguns sacrifícios teriam de acontecer. Inicialmente eu faria uma viagem de carro de algumas horas até o novo local de gravação, bem nas montanhas e com muita neve, mas com o nascimento se aproximando cada dia mais, o melhor seria ficar em casa e esperar por nossa menina.
Quando conseguiu uma semana de folga das gravações ele ficou em casa o tempo inteiro comigo, até me ajudando com as reuniões que fazia pelo computador e com novas ideias para os clientes, mas o que me deixava nervosa eram os constantes comentários do tipo “quando vamos oficializar nossa relação?”. Fiquei um pouco assustada. Não conseguia entender o porquê de toda aquela pressa. E todos os dias, mesmo quando não estávamos juntos, ele perguntava ou sugeria algo parecido.
– Nós não precisamos fazer uma festa enorme igual ao Matthew e a Sam fizeram… eu prefiro que a gente vá ao cartório e depois venha para casa comer pizza. – ele entrou no meu escritório falando.
– Do que você tá falando, ?
– Eu queria me casar com você antes da bebê nascer.
… – respirei fundo. – Eu estou trabalhando.
– Então você não quer casar comigo, é isso?
– Eu não disse isso, , só não quero fazer nada correndo. A gente precisa pensar direito nessas coisas.
– Você me ama? – Ele quis saber. – Porque eu amo você, e se você me ama, não vejo problema algum em casarmos.
– Claro que eu amo você, mas…
– O quê?
– Queria que a bebê estivesse presente no casamento. – dei de ombros.
– Bem, não sei se você tem se olhado no espelho, mas ela, com certeza, estará presente. – ele repousou a mão na minha barriga enorme de final de gravidez e riu.
– Ha, ha, você é muito engraçadinho! – ele sorriu ainda mais. – Eu digo presente mesmo, podendo desfrutar da festa e tudo mais.
– Posso propor algo então? – afirmei com a cabeça. – Eu queria me casar com você antes dela nascer porque acho bacana quando os pais já são casados… quando eu nasci meus pais não pensavam em se casar, mas um tempo depois, quando eu já tinha uns dez anos, eles casaram e sempre gostei de ouvir eles falando em “meu marido, minha esposa”. Queria que nossa filha tivesse essa experiência desde pequena. É besta, eu sei, mas é algo que sempre sonhei… – ele deu de ombros.
– Não é besta, é bonitinho. – eu sorri e ele também.
– E eu talvez tenha conversado com os seus pais sobre isso e eles estão super de acordo…
!?!?!? Como assim?
– Eu pedi a sua mão para o seu pai.
– Mas quem tem que aceitar sou eu! Você quer que eu peça a sua mão para os seus pais também? – nós caímos na gargalhada.
– Eles estão na cidade…
– Que horas são? – me respondeu que passavam das nove da noite. – Amanhã de manhã, pode deixar.
– E o Bubbles pode levar as alianças até o altar…
– Mas você quer casar na igreja? Eu jamais esperei isso de você.
– Achei que você gostaria de algo assim e falasse que não queria apenas para não parecer.
– Eu não sei se os meus pés me deixariam chegar ao altar do jeito que estão… – nós dois olhamos para os meus pés inchados.
– É, talvez tenha que ser uma igreja bem pequena para você não ficar com preguiça. – ele brincou, me fazendo gargalhar.
– Se eu dissesse que sim, nesse momento… – ele sentou no chão ao meu lado para prestar atenção e fez carinho no Bubbles. – O que precisaríamos para casar?
Ficamos conversando sobre uma possível cerimônia de casamento e até esqueci que precisava continuar trabalhando. As horas foram passando e logo o fim do dia chegou. Jantamos na casa dos meus pais, com os pais do de companhia. Acabamos nos tornando uma família bem “comum”, se é que poderia considerar o alguém comum, afinal, ele estava cada dia mais em alta por causa da série e também pelas campanhas que fazia por fora.
Na manhã seguinte despertei antes de todos e comecei a colocar em prática o pedido que tinha feito no dia anterior. Eu sabia que a nossa filha estava chegando e se não fizéssemos logo, tão cedo não conseguiríamos oficializar a nossa união.
Separei uma roupa que ainda conseguia entrar, coloquei uma gravata no Bubbles e escolhi uma camisa para o . Ele poderia ir de jeans, se preferisse. Quando estava terminando de me maquiar, ele se levantou e veio até o escritório, todo confuso.
– Liguei para um cartório. Se você estiver falando sério sobre tudo isso, podemos nos casar em menos de cinco horas.
– Isso é sério? – ele passou as mãos no rosto, incrédulo. – Não brinca comigo, !
– Por que você acha que eu estou toda pronta? – sorri e terminei de passar um batom.
– Me dá trinta minutos e me espera na porta de casa.
Enquanto ele ia se arrumar, coloquei a gravatinha em Bubbles e confirmei com meus pais e os pais de sobre a nossa loucura. Eles não acharam a ideia mais genial do mundo, mas entendiam a nossa pressa.
Ashley não estava na cidade e Matthew estava no serviço. Eu não tinha pensado direito nesses detalhes, mas combinamos que faríamos uma comemoração quando todos pudessem, afinal, meus amigos queriam me ver bem e feliz. Queria muito a presença deles no meu casamento, mas só iríamos a um cartório no centro da cidade.
Ao menos foi isso que pensei.

***

Nós não estávamos acreditando que aquilo estava realmente acontecendo. Ouvi o rindo nervoso e meu pai acalmando minha mãe, que dava pulinhos de felicidade atrás de mim.
Nossos planos mudaram quando estávamos esperando o nosso horário no cartório. Bubbles estava em meu colo e todos opinavam de onde poderíamos jantar, sendo uma família de papel passado, até que senti um incômodo e depois esse incômodo foi ficando cada vez mais intenso até que quando chamaram nossos nomes e levantei para a sala de casamentos do cartório, minha bolsa estourou.
A juíza nos olhou de olhos esbugalhados e começou a rir, vindo nos acudir como podia. Eu só lembrava de ver a mãe do pegando o Bubbles do meu colo e em menos de trinta minutos, já estávamos no carro a caminho do hospital.
– Você tá bem? – ouvi a voz de , bem baixinha, perto do meu ouvido. Como não conseguia responder, apenas afirmei com a cabeça. – Nós vamos ficar bem.
Agora estávamos eu e em um quarto do Hospital Central de Vancouver. As enfermeiras vinham a cada vinte ou trinta minutos acompanhadas da minha médica e saiam nos deixando mais tranquilos, dizendo que a dilatação estava acontecendo como o planejado e ao ouvir “acho que nas próximas duas horas teremos uma linda bebezinha conosco” da médica, me deixou um tanto quanto apavorada.
Por causa de como as coisas aconteciam, meus pais e os pais de haviam ido para a nossa casa, arrumar uma mala para mim e para a nossa bebê, organizar as coisas para os próximos dias e nos ajudar como conseguiam.
No retorno da médica, já estava pronta para começar a empurrar. Estava com dor e morrendo de medo, afinal, estávamos só nós dois ali, sem absolutamente nada preparado para a chegada da nossa filha.
Respirei fundo. Empurrei.
Respirei fundo e empurrei novamente. segurava uma das minhas mãos e com a outra apertava de leve meu ombro.
– Respire e conte até dez, , é agora que você vai conhecer a sua bebê.
Fiz o que a Dra. Erika me orientou e quando menos esperei, ouvi um choro forte e alto. Estava tão em transe com os acontecimentos que eu havia esquecido da dor, do desconforto, dos problemas e de tudo, eu só conseguia me concentrar no choro do meu Pontinho.
apertou novamente meu ombro e beijou a minha testa. Andou até onde nossa bebê estava sendo limpa e voltou alguns segundos depois com ela nos braços enquanto a médica e sua equipe faziam seu trabalho.
Parecíamos inebriados pelo rostinho dela, pelo pouco cabelo que tinha, por todos os detalhes que havíamos criado juntos.
A médica deu outras orientações, mas naquele momento, nem , nem eu conseguíamos entender nada. Depois de um tempo curtindo nossa bebê, nossos pais também chegaram para completar aquele momento.
– Conheçam a nossa Loren Rose. – disse baixinho enquanto colocava a nossa filha nos braços da minha mãe, que começou a chorar imediatamente.
Decidimos homenagear a minha irmã e dar o segundo nome de Olivia, mãe do , para a nossa pequena. Eram mulheres fortes, inspiradoras e que amávamos incondicionalmente.
E ali eu me vi em um momento quase tão perfeito a ponto de ser triste. Nossas famílias conhecendo a sua próxima geração, fruto de um amor bem diferente dos habituais, mas único.





Fim.



Nota da autora: Eu, particularmente, não acredito que chegamos ao fim dessa história. Foram muitos altos e baixos que vocês nem podem imaginar. Sonhos realizados, frustrações e de tudo um pouco aconteceram nesse tempo que estive afastada da escrita.
Não sei se esse final é como vocês queriam, mas foi o que meu coração conseguiu traduzir para o papel. Acho que a partir de agora cada pessoa que ler essa fanfic vai poder ter sua própria imaginação dos próximos capítulos da vida desses pps.
Naty, você é impagável. Jamais vou conseguir agradecer pela parceria de todos esses anos.
Às leitoras, eu fico honrada em saber que vocês não desistiram do que invento. Apesar de não saber como agradecer, muito obrigada por tudo.



Nota da beta: Não poderia ter melhor desfecho para essa história incrível, Scar, fiquei tão feliz pelo Pontinho ser uma menininha fofa, o nome dela. O Adam sendo um homão com a Lou, tudo impecável como o esperado. Eu amei, amei e amei. Fico muito feliz por ter participado dessa história, conte sempre comigo.
Amo nossa parceria e agradeço imensamente por tanto, sua linda! Sucesso, necessito de mais histórias suas, sua escrita é envolvente.


Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.

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