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Capítulo 1 - O acordo


Trabalhar com gente famosa é um saco! Nunca deseje fazer isso para o resto da sua vida. Eles são exigentes, metidos e acham que são os reis e rainhas do mundo. Tá certo que, por trabalhar diretamente com eles, você ganha uma vantagem aqui e outra ali, mas nada que supere a arrogância deles. Nem todos são antipáticos, claro, mas os que são conseguem romper barreiras inimagináveis.
Não foi isso que almejei quando me formei em Publicidade. Eu me formei para desenvolver campanhas, comerciais, trailers e promoções. Não queria virar cérebro para artistas desmiolados e sem criatividade alguma. Mas, depois de três anos trabalhando em uma agência de publicidade conhecida em todo o Canadá, acabei sendo convidada para trabalhar numa multinacional dos Estados Unidos e, por fim, transferida para a área de criação e/ou publicidade pessoal. Mais especificamente na criação de “engrandecimento pessoal”. É mais ou menos quando o artista está fazendo uma campanha, propaganda ou divulgação da própria marca de roupas, calçados, maquiagens e afins, e não tem cabeça o suficiente nem para criar uma legenda de foto que não mostre o quão sem cérebro ele é. Repito: não são todos! A minha irritação começou no início da semana passada, quando disse que precisava dos meus serviços. Por recomendação de uma amiga em comum — minha melhor amiga —, ele disse que eu seria a pessoa que resolveria todos os seus problemas. E, por mim, tudo bem que ele precisasse de um anúncio que fosse mais parecido com ele, mas, do jeito exato que ele me pediu, ficaria arrogante demais.
— Mas precisa ficar a minha cara! — Era bem a oitava ou nona vez em que ele repetia a mesma frase, mesmo que eu e a agente dele perguntássemos o que era “a minha cara”.
— Só vai sair sua cara exata se você mesmo fizer o projeto! — rebati, já cansada. Era uma sexta à noite, já passavam das oito horas, e o cara me alugando ali. Metido!
— É por isso que estou te pagando… — ele disse mais baixo.
— O senhor quer seu dinheiro de volta? Eu não importo em te devolver.
— Não! — Amélie, a assessora com trinta anos de experiência e poderosíssima na indústria, disse, esfregando as têmporas. — O mostruário número dois ficou muito bom. Acho que ficou o mais parecido com seu gosto, .
— Se você diz…
era um ator renomado que fazia muitos filmes cult e peças de teatro, antes de começar alguns trabalhos como modelo, e, agora, trabalhava em séries televisivas de sucesso mundial, em que, recentemente, interpretava um professor na série, que acabava namorando a aluna. Muito adolescente para o meu gosto. Com a série chegando à sua penúltima temporada, ele resolveu investir mais na carreira de modelo, o que ele dizia amar, entretanto, precisava de um book novo para um projeto e, por isso, havia contratado meus serviços. Ficou decidido pelo modelo número dois e, em cinco dias, ele ou a agente precisariam passar e buscar o material.
— Muito obrigada por abrir esse tempinho para mim, . O é cabeça dura, e eu estou sem paciência já… — Nós sorrimos e brevemente nos despedimos.
Já estava mais que atrasada para um jantar com a minha irmã mais nova, que decidiu usar alguns dias das férias em Nova York comigo. Ela tinha apenas dezesseis anos e quase teve um ataque do coração quando uma foto minha e de havia saído na mídia. Não era nada demais. Foi num dos dias mais atarefados que tive no escritório, e Amélie me ligou, pedindo incessantemente que eu encontrasse com ele e decidisse algumas coisas do trabalho. Claro que a imprensa estava fazendo disso o mais novo brinquedinho deles. Todas as vezes em que nos encontramos, desde a semana passada, tentávamos fazer em meu escritório, mas sempre acabávamos em algum restaurante ou no local de gravação da série que ele fazia. Eu tinha que me deslocar para resolver os probleminhas que ele dizia ter no meu mostruário.
Por Deus, isso é só um book de fotos!
Cheguei a casa às nove e quarenta e dois, trazendo frango xadrez e biscoitinhos da sorte, os favoritos da minha irmã.
— Desculpe-me por demorar! — disse, assim que abri a porta do apartamento, e depositei as sacolas sobre a bancada da cozinha.
, deixa, eu já comi… — Loren soprou baixinho do sofá.
— O quê? — Aproximei-me e a vi quase dormindo. — Loren, desculpe-me. Eu, finalmente, consegui que a assessora do aprovasse um mostruário do book dele. Vou ter mais tempo agora.
— Tá tudo bem, mana… Amanhã, nós jantamos ou almoçamos juntas. — Loren levantou-se igual a um zumbi do sofá e foi até o quarto de hóspedes, onde estava ficando, e só ouvi seu corpo desabando na cama.
Já que não teria companhia para jantar, decidi por realizar os últimos ajustes no mostruário e selecionar as fotos. Não era um trabalho difícil, ainda mais ter que ficar horas e horas olhando para as fotos do . Não me leve a mal. Ele poderia ser a pessoa mais arrogante, metido e sem noção da face da Terra, mas não era por isso que ele deixava de ser um homem extremamente elegante e bonito. Com seus trinta e alguns anos, ele estava mais do que em forma. O cabelo não estava grisalho, como dos demais atores, continuava num tom escuro, contrastando perfeitamente com a pele branquinha e os olhos claros. E eu não tinha um namorado há uns bons meses. Não que isso fosse relevante. Nem se ele ou eu quiséssemos, nós não éramos pessoas que conseguiriam manter o mínimo de um relacionamento. Ele era todo grosso e mal educado, e eu, não. Ele parecia um troglodita quando as coisas não saiam do jeito que ele queria. Bastavam cinco minutos pesquisando pelas manchetes em que ele aparecia, para ler algo como “ discute com paparazzi”. Sempre os paparazzis! Todos que estavam ligados direta ou indiretamente com o meio artístico sabiam que eles eram abutres em cima da carne podre, mas não é por isso que você precisava quase atropelar um deles.
Quando olhei para o relógio da sala, já passavam das duas da manhã e, mesmo que fosse um sábado, eu não queria acordar depois das nove e ficar presa em casa com a minha irmã. Fechei o computador e apenas troquei de roupa para desfrutar de um sono calmo.
Na manhã seguinte, consegui acordar na maior calma possível, até Loren entrar correndo em meu quarto e gritando:
Vocês só podem estar juntos! — O sorriso só faltava brilhar em seu rosto.
— Loren, deixa de sonhar. Eu estou tra-ba-lhan-do para ele — disse pausadamente, para que, finalmente, ela entendesse, — Quantas vezes precisarei repetir?
, qual é! Vocês estão quase se beijando nesta foto! — Espantei-me e sentei rapidamente na cama, ao lado dela, mas quase caí. Assim que me estabilizei, ela me mostrou o celular. — Sei que a foto não é a das melhores, mas a imprensa amou esse ângulo e já disse que o namoro é sério!
— Eu nem estava falando com ele, nessa hora. — Soltei uma gargalhada, e ela semicerrou os olhos para mim. — Eu estava me despedido da Amélie, e ele meio que chegou na ignorância para ela não demorar.
— Mas…
— Loren, nós não temos nenhum interesse amoroso no outro! — disse séria, tentando mostrar que não estava brincando e nem mentindo.
— Não precisa ser interesse amoroso… O carnal já basta! — Ela deu de ombros.
— Loren Maureen ! Não vou falar de desejo carnal com você!
— O quê? — Ela sorria abertamente e ficando vermelha. — Eu tenho dezesseis anos, mas sei de algumas coisas…
— Vamos ao parque? — desconversei, e ela arregalou os olhos para mim. — Já disse: não vou falar de desejo carnal com você!
Não demoramos muito para tomar um banho e trocar de roupa. Era mais de nove e meia da manhã e decidimos por comer em algum lugar, antes de nos dirigirmos ao Central Park. Acabamos por comprar hot-dogs e sentarmos na grama para comer e conversar.
— Você acha que o Arnould vai casar, desta vez? — perguntei, não tão interessada no casamento de um primo que estava noivo há uns nove anos, no mínimo.
— Eu espero que sim, se não, a Ginna dá um belo de um pé na bunda dele! — Minha irmã nos fez rir e quase engasgar com a comida.
— Ele já desistiu de me colocar como madrinha?
— Não, né, Lou?! Ele só tem a nós duas de primas. Ninguém mandou a vovó fechar a fábrica cedo.
— Loren, por Deus, pare de falar em sexo! — Bati levemente em seu braço, fazendo-a rir ainda mais.
Conversar sobre o que estava acontecendo em Vancouver era bom, mesmo estando tão longe de casa. Às vezes, eu me sentia ambígua entre sentir saudade ou não de lá. Adorava Vancouver, mas também adorava Nova York. Sentia falta da família e de alguns amigos que havia deixado no Canadá, mas tinha alguns amigos nos Estados Unidos, que acabamos criando um vínculo muito grande. Prova disso é que nos encontrávamos quase todas as semanas, nas quartas em que saíamos cedo, e aproveitávamos um happy hour perto de casa. Ashley era minha melhor amiga. Uma amiga mais que perfeita. Morávamos não muito longe uma da outra, mesmo que ela morasse em um prédio muito mais caro e seguro que o meu. Ela era uma das atrizes que trabalhavam com na série e foi lá que ela me recomendou para ele. Quando cheguei aos Estados Unidos, ela foi uma das primeiras pessoas que já conhecia e havia trabalhado no Canadá. Ela era a exceção à regra dos artistas que se acham os reis do mundo. Ashley era simpática, gostava de encher a cara com cerveja barata e não via problema em assumir seus atos ao restante do mundo. Era sempre ela quem começava com o “hoje é quarta, vamos beber?”.
Em Vancouver, eu deixei meus pais e a Loren, além de Matthew Corsi; um amigo de infância que acabou se tornando um namorado, anos mais tarde. Nós nos amávamos à nossa maneira, mas não era nada demais. Sempre soubemos que não iríamos casar e ter filhos. A amizade sempre vinha antes de qualquer relacionamento. Hoje em dia, nós éramos apenas amigos.
Depois de tanto conversar e fofocar com Loren, Ashley me ligou e pediu que fôssemos até o apartamento dela, para uma tarde em que apenas comeríamos junk food e jogaríamos conversa fora.
— Loren, daqui a uns meses, você ficará maior que a ! — Ashley brincou, assim que entramos em seu apartamento, e nos cumprimentou.
— Eu sempre disse que a seria a menor de nós duas, mas ela nunca levou a sério minhas aulas de basquete…
— Eu não sou minúscula! E eu não iria jogar basquete só para crescer alguns centímetros.
— Pois deveria! — Ashley voltou a comentar, nos fazendo rir. — Mas não chamei vocês aqui para ficar falando de altura… Quero saber direitinho dessa sua história com o !
— Até você, Ash? — Revirei os olhos. — Você foi quem recomendou que ele viesse conversar comigo sobre o book. É só isso.
— Mas e aquelas fotos?
— Ela fica dizendo que estava falando com a Amélie… Ainda está na fase da negação. — Loren se intrometeu, sorrindo.
— Ah, entendi. — Ashley me cutucou. — Dizem que o é daqueles cafajestes que, depois que você prova, não quer saber de mais nada!
— Pelo amor de tudo que é mais sagrado, cala essa boca, Ashley! — retruquei, fazendo as duas gargalharem. — Nós não vamos mais ser alvo dessas fofoquinhas sem noção, já que meu trabalho com ele já está encerrado.
— Querem uma cerveja? — ela perguntou, assim que levantou-se do sofá, em direção à cozinha.
Assenti.
— Eu não bebo. — Loren lamentou.
Não tocamos mais naquele assunto, mas o fato de que a imprensa gostava de pegar no pé de havia intrigado Amélie, que viu uma excelente oportunidade de publicidade para ele.

Na semana seguinte, quarta-feira, Ashley ligou:
No Paul's, você vai?
— Oi para você também. Estou ótima, obrigada por perguntar!
Ela gargalhou do outro lado da linha.
Sério. Vamos? Vai um pessoal da série comigo…
— Sabe que isso não enche meus olhos.
Você pode parar de ser chata e dizer “sim” ou “não”? A Michelle vai e ela está indo embora de NY. Precisamos de hoje à noite para nos reunir! — A voz dela saia alta e estridente.
— Ashley, você já está bebendo? — Ela assentiu. — Espero que você não vá de carro.
Tudo bem, mamãe! Às dezessete, no Paul's.
E simplesmente desligou. Esse era o mal dos estadunidenses que eu tive o prazer de ter contato. Você quase não ganhava um “oi!” ou um “tchau!”. Raras eram as vezes em que Ashley me recebia ou se despedia de tal maneira assim como o pessoal do trabalho e a população, num geral.
Quando, finalmente, consegui sair do escritório, já havia várias chamadas dos meus amigos. Isso porque me atrasei alguns minutos! Imagina se cancelasse tudo e não fosse!
— Finalmente a mamacita chegou para alegrar esta roda de amigos legais! — Michelle, uma grande amiga, praticamente gritou quando coloquei meus pés dentro do conhecido bar.
Mamacita a sua cara. Pare de inventar apelidos estranhos que nunca dão certo! — rebati à minha amiga já bêbada e lhe dei um grande abraço. Não nos encontrávamos há umas duas semanas.
Passei os olhos pelas pessoas da mesa e os vi ali, me observando, olhos claros e brilhantes combinados com aquele sorrisinho cafajeste que Ashley tanto falava. me observou falar com os meus amigos e apenas levantou o copo de chope quando decidi encará-lo por uns segundos a mais. Para me provocar, Ashley fez com que sentássemos lado a lado. Estava ela à minha direita, e ele, à minha esquerda.
— Boa noite! — ele disse assim que Ashley e Joe levantaram para pedir mais uma rodada de chope para a mesa.
— Boa noite — disse meio rude. Não queria muito papo com ele.
— Não sabia que você conhecia o pessoal da série… — Ele poderia parar de me encarar daquele jeito.
— A Ash sempre traz alguém ao happy hour. Admiro-a nunca ter te chamado.
— Eu já vim com ela, mas não te vi… Acho que foi na semana retrasada.
— Ah… Bem, eu estava doente e cheia de trabalho... Não estava disposta.
— Já está melhor, então? — Estranhei seu leve interesse e deduzi que ele poderia estar quase bêbado, igual Michelle. Assenti. — Meu trabalho já está pronto?
— Sim, mas não vim aqui para falar de trabalho. Se me der licença... — Tentei me levantar e ver o porquê de minha amiga demorar tanto, mas ele segurou meu pulso.
— Não vou te morder e nem ficar puxando assunto com você. Pode ficar aqui. — Desta vez, senti o bafo de cerveja que emanou dele.
— Obrigada! — agradeci e voltei a me sentar, olhando para o outro lado.
Logo, Ashley e Joe voltaram à mesa, carregando algumas jarras de cerveja, e abasteceram os copos dos presentes ali. Começaram uma conversa sobre viagens, já que Michelle iria morar na Espanha, que achei estranha demais, já que quase todos ali estavam mais alterados que o permitido, e me desliguei um pouco deles para apenas observá-los.
— Só me tire uma dúvida… — ele disse baixinho perto do meu ouvido, me fazendo revirar os olhos e encará-lo. — Você não gosta de mim por quê?
— Eu não gosto de você? — Ele assentiu. — Eu nunca disse isso. Só não gosto quando você é mal educado, prepotente, arrogante e ignorante.
— O que é, basicamente, a maior parte do tempo… — ele completou, sorrindo, e acabei sorrindo também.
— Exatamente. — Pisquei para ele e voltei a observar o pessoal da mesa.

Na quinta-feira, pela manhã, era o dia da entrega do pedido de , mas quem apareceu para recebê-los foi um dos secretários de Amélie. Depois que o material chegou em suas mãos, ela me ligou para me elogiar incontáveis vezes e pediu desculpas pelo comportamento do ainda mais vezes:
Ele está sob estresse, sabe? São muitas cenas que ele está gravando, e tenho alguns projetos novos para ele, que os contratantes ainda estão meio com o pé atrás…
— Não tem problema, Amélie. Nós não precisamos conviver mais, e isso já serve de alívio para mim. — Fiz a senhora sorrir e desliguei.

Era final da tarde quando um número desconhecido insistia em me ligar. Recusava as chamadas feitas pelo número desde às duas da tarde, mas quando deu seis horas e me vi livre do escritório, resolvi atender:
— Alô?!
Que diabos você fez com aquelas fotos? — Era . Gritando.
— Que fotos?
As minhas. As que tiramos no estúdio e ontem no bar. — A voz dele declarava o quão sério ele estava.
— As suas fotos eu enviei para a Amélie e não sei que fotos do bar você está falando. Por quê? — perguntei, já impaciente com aquela conversa. — Onde conseguiu meu número?
Estou dizendo de fotos nossas. Eu e você. Juntos.
— Nós não temos fotos juntos! Como conseguiu meu número? — pedi mais uma vez.
A Ashley me passou — respondeu grosseiramente. — Escuta aqui, , alguém daquele estúdio de fotografia tirou fotos nossas e, ontem, no bar, também tiraram, e essa pessoa saiu espalhando aos quatro ventos e, agora, eu estou cercado na minha casa por causa desses malditos paparazzis. Ou você dá um jeito nisso, ou…
— Ou o quê? — disse, já odiando Ashley por passar meu número assim, sem a minha autorização. — Escute aqui, você, eu não sou uma irresponsável para sair divulgando fotos nossas que nem sei que existem. Eu não preciso ficar escutando suas histerias e não vou!
Desliguei na cara dele, me recusando a sequer atendê-lo nas inúmeras outras vezes que meu celular tocou. Quando consegui entrar num táxi e seguir para casa, liguei para Ashley:
— Como você apronta uma dessas comigo? — perguntei logo que ela me atendeu.
O que eu fiz desta vez, ? — Ela soava calma.
— Como assim “o que você fez desta vez”? — A raiva estava escorrendo em meu tom de voz. — Você deu meu número ao . Por que você fez isso?
Eu só dei seu número porque ele ficou o dia todo no meu pé. Aliás, vi as fotos… E você negando o namorico de vocês. Que vergonha, !
— Que diabos de fotos você e todo mundo estão falando?
Você ainda não viu? — Neguei, e ela gargalhou. — Apareceu no Instagram, mas não sei quem postou. Já viralizou.
— Argh! — grunhi e desliguei na cara dela.
Entrei em minha conta do Instagram, procurando pelas tais fotos. Por sorte ou não, logo que abri, uma conta de uma revista que eu seguia havia acabado de repostar as fotos. Elas estavam em preto e branco, comigo segurando uma câmera fotográfica, e o atrás de mim, apoiado em meu ombro e olhando para o aparelho em minhas mãos. Aquelas fotos não eram românticas e nem nada do tipo. Elas foram tiradas no mesmo dia em que nos conhecemos, quando ele não tinha sido um total idiota e imbecil comigo. No dia em que fomos ao estúdio. Onde tinham milhares de pessoas por lá. Qualquer um poderia ter tirado as fotos e divulgado ao primeiro jornalista sedento por uma fofoca. Já as outras fotos estavam coloridas e numa resolução não tão boa. Estávamos sentados bem próximos, conversando ao pé do ouvido do outro e, em algumas, ele estava sorrindo, mas não era nada demais, apesar de elas parecerem ser de um casal que se encontrou com os amigos para beber um drink ou dois.
O taxista avisou que havíamos chegado à minha rua, mas que havia uma aglomeração enorme na esquina.
Quando passei meus olhos pela rua, lá estavam os malditos paparazzis.
— Loren, você está em casa? — perguntei, assim que ela atendeu a ligação, e logo ela assentiu. — Não saia daí até eu ligar de novo, por favor.
O que aconteceu?
— Eu explico melhor daqui a pouco.
Desliguei e, logo em seguida, retornei a ligação ao número que o havia chamado mais cedo:
Agora, você me li…
— Vi as fotos. — Interrompi-o. — Mas não faço a mínima ideia de quem postou, então não venha me dizer para consertar as coisas.
Onde você está?
— Na esquina da minha rua e impedida de entrar em casa! — Massageei minha têmpora, tentando afastar o início de dor de cabeça que já começava.
Amélie pediu que você viesse até minha casa. Ela quer conversar com você. — Sua voz estava relativamente mais calma, como se ele estivesse nervoso ou com medo de alguma coisa.
Logo depois de negar muito, assenti e esperei com que ele me passasse o endereço. Ficava em um condomínio quase próximo ao prédio em que Ashley morava, mas muito mais reservado. Depois de uns vinte minutos presa no trânsito, o taxista conseguiu cortar o caminho, e cheguei o mais rápido possível a casa dele. Imaginei que chegaria numa mansão, mas parecia mais uma cabana que uma casa, de fato.

— Olha, eu não fazia ideia de que fotos você estava falando quando me ligou e, então, a Ashley me diz que várias fotos nossas estão por toda a internet. — levantou um dedo, num gesto de quem pede um minuto, pegou meu braço e me conduziu até a sala. — A Amélie quer falar com você — disse simplesmente e seguiu para fora do cômodo.
Avistei a agente dele em uma poltrona mais próxima à lareira. Ela estava sorrindo, enquanto tomava uma xícara do que parecia ser com café, e me aproximei.
— Amélie, desculpe-me. Eu sei que essas fotos podem acabar com um contrato e essas coisas todas…
— Está tudo bem, . — A senhora sorriu gentilmente e pediu, com a cabeça, que eu me sentasse. — Quem postou aquelas fotos fui eu mesma. — Ela semicerrou os olhos e entortou a boca quando percebeu meus olhos e minha boca se arregalando. — Desculpe-me.
— Co-Co… Como assim você? — Minha garganta se fechou e eu sabia que nada de bom sairia dali.
— Bem, a verdade é que eu precisava fechar duas campanhas e uma participação do … Eu vi que a imprensa estava tão em cima de vocês, e isso só veio a calhar e ajudar para que eu conseguisse fechar os contratos.
— O quê? — Minha voz saiu baixa, quase como um sussurro. Tratei de limpar a garganta e desembestei a falar: — Mas que diabos que você tem na cabeça? Acha que eu queria meu nome vinculado a essas coisas? Eu não sou famosa e nem quero ser! Eu sou uma agente de criação numa empresa e é assim que quero continuar minha vida, sem todos esses abutres em cima de mim! Eu acho bom você contornar essa história agora mesmo!
, acalme-se — a velha pedia, ainda calmamente. — Prometo que serão só por algumas semanas… Talvez, uns meses. Podemos acertar alguma coisa.
Fiquei lívida com o que ela estava falando. Ela estava me propondo um relacionamento falso só para o cara que ela agenciava ter uns lucros a mais? Poupe-me. Ela poderia conseguir o contrato que quisesse só falando que era Amélie. Ela era poderosa no meio e sabia disso, então não era preciso envolver meu nome em todo o esquema que ela estava tramando na cabeça.
— Não quero acertar nada com você! Estou tão puta da vida que sou capaz de quebrar a sua cara! — Quando percebi, já tinha falado, fazendo com que Amélie arregalasse os olhos em surpresa.
, eu queria fazer isso pelo jeito mais fácil, mas parece que você não quer ajudar…
— Do que você está falando?
— Você ainda quer trabalhar na Hazers? — Assenti, sem entender muito bem onde ela queria chegar. — Pois bem, se ainda quiser conseguir algum emprego em Nova York, eu proponho que você aceite ser a namorada do por alguns meses. É só isso.
— Você não tem poder para fazer uma coisa desse tipo!
— É claro que tenho! — Ela sorriu. — Quantas ações da Hazers você acha que eu tenho?
— Você está doida? Bebeu demais? — perguntei, incrédula pelo que ela estava me propondo.
— Sua última oportunidade é essa. O que me diz?
— Eu vou embora daqui e acho melhor você desmentir essa merda toda!

***


Um mês e meio. Foi o tempo que eu passei procurando um emprego. O tempo em que recebia olhares indiscretos, nada sutis e várias contas para pagar.
No dia seguinte à minha “reunião” com Amélie na sala da casa de , fui mandada embora. Sem quê e nem o porquê. E, por mais que o bônus pago quando me despediram tenha sido até generoso, eu precisei usar para pagar o financiamento do apartamento. Traduzindo: não sobrou lá muita coisa. Quando percebi que as palavras da bruxa da Amélie eram verdade, tratei de mandar a Loren para o Canadá. Mal tinha sobrado dinheiro suficiente para chegar ao fim do mês quando consegui um estágio. Sim, uma pessoa que trabalhava numa empresa multinacional precisou voltar a estagiar para ter um dinheiro de sobra no banco. Para, logo em seguida, ser mandada embora. Em todas as agências que fui tudo que recebia era: “Seus precedentes trabalhistas não dizem a mesma coisa que seu currículo. Não podemos contratá-la”.
Um mês e meio. Foi o tempo que durou até que eu procurasse :
— Você precisa falar com sua agente. Ela fez da minha vida um inferno. Eu não consigo uma droga de um emprego. Eu fui rejeitada em um estágio! Você tem noção do que é ser rejeitada em um estágio?
— Não, por que eu me importaria com isso? — ele disse, franzindo o cenho. — , você decidiu brigar com a Amélie, não eu.
— Mas a culpa é sua! Foi por sua causa que eu perdi meu emprego! — Passava as mãos afoitas pelo cabelo. — Você pode, por favor, pedir a Amélie parar com isso?
— Você discutiu com ela. Ela é vingativa… Não vai nem me escutar.
— Claro que ela vai. Você que paga o salário dela.
— Você veio aqui só para pedir uma ajuda? — Ele tomou um gole do que quer que estivesse em seu copo. — Por que não aceita a proposta? Só serão uns dois meses, três. Posso conseguir alguma coisa, se disser que sim.
— Eu não quero namorar você, . — Revirei os olhos. — Eu só quero voltar a trabalhar.
— Então, liga para a Amélie. Ela vai sentir um prazer enorme de falar com você!
— Ok. — Ele estava levantando-se quando ouvi minha voz sair baixa e engasgada. virou-se rapidamente, com os olhos parcialmente arregalados, e voltou a sentar na cadeira à minha frente. — Mas não pode ser por muito tempo.
— Cinco meses? — ele sugeriu.
— Você acabou de dizer três!
— Cinco meses é mais real que três! — rebateu.
— Tá. Vou conseguir meu cargo de volta? — Não tinha nenhuma carta na manga para fazer exigências.
— Quer mesmo aquele cargo? Quem sabe, diretora de criação…
— Quero o meu cargo antigo. Agente de criação. A minha diretora de criação era excelente! — Ele revirou os olhos. — … Por favor, não faça eu me arrepender de aceitar isso.
— Por que você não volta ao Canadá?
Arregalei meus olhos e levantei-me dali, sem dar qualquer resposta a ele.

Dois dias foi o tempo necessário para a bruxa-mor me devolver meu emprego. Recebi uma ligação da minha diretora de criação, pedindo que eu voltasse urgentemente ao escritório para trabalhar. Pedi incessantemente a ela e consegui voltar apenas às campanhas publicitárias. Não queria mais contato com os artistas e seus agentes. Já tinha sido corrompida ao máximo nessa história da Amélie. No dia seguinte, marcamos uma reunião, na casa do , às seis da tarde. E lá estava eu, saindo do escritório, procurando por um táxi, como se nada tivesse acontecido e minha vida tivesse voltado aos eixos.
— Oi. — disse, assim que toquei a campainha da casa dele, com um sorrisinho cafajeste nos lábios. — A Amélie disse que podemos acertar as coisas hoje e, a partir de amanhã, colocar em prática.
— Ela não vem? — perguntei meio nervosa. — Ela deveria cumprir com o que marca.
— Nós seremos o casal. Nós que vamos precisar conviver. Palavras dela.
— Sei.
— Quer alguma coisa para beber? — ele ofereceu. — Ou comer? — Neguei, e ele me chamou até a bancada da cozinha.
— Você não tem cara de quem gosta de coisas mais rústicas… — comentei meio sem pensar em dizer em voz alta.
— Você não me conhece para saber do que eu gosto ou não — disse categórico. — Única regra que ela pediu é que ninguém mais fique sabendo que isso é um acordo. — Quando abri minha boca para falar, ele cortou: — Nem sua família, amigos, e isso inclui a Ashley.
— Mas a Ashley é minha melhor amiga!
— Por isso mesmo. — Ele sentou-se ao meu lado e continuou: — Não vamos ser obrigados a ficar aparecendo todos os dias em público, o que já é um alívio, mas, aos finais de semana, a Amélie disse que “seria bom se vocês dormissem juntos”. — Ele fez aspas com os dedos.
— Não vou dormir com você! — disse com os olhos arregalados.
— Não precisamos transar e essas coisas, mas dormir um na casa do outro, afinal, namorados fazem essas coisas, não? — finalizou com mais um daqueles sorrisos sacanas. — Mas não tem problema se envolver, ou tem?
— Não vou dormir com você! — repeti, já sentindo a dor de cabeça começando.
— Tudo bem, tudo bem… Mas, às vezes, nós vamos precisar nos beijar, abraçar.
— Entendi. Sei como beijos cenográficos funcionam.
— Cenográficos? — Ele se engasgou com o líquido e começou a gargalhar. — Essa parte não precisa ser cenográfica.
… — Fechei meus olhos e apoiei a cabeça nas mãos. — Por favor. Sem envolvimento. Fechado?
— Fechado. — Ele olhou para o telefone, que tocava atrás de nós dois, em algum lugar da casa. — Acho que é a Amélie. Espera um pouquinho.
me deixou ali, na bancada da cozinha, e sumiu corredor adentro, e me vi percorrendo o ambiente com os olhos. Por fora, a casa parecia uma cabana luxuosa e, por dentro, o luxo era ainda mais presente, com as poltronas de couro negro da sala, a lareira, que, praticamente, dominava o cômodo, os eletrodomésticos brilhantes da cozinha, mas aqui e ali tinham vários porta-retratos com fotos dele e o que deduzir ser a sua família. Algumas eram em um lago, outras no que parecia ser uma fazenda, e a minoria eram fotos dele em Nova York ou Los Angeles, com alguns fãs e amigos de trabalho.
— Temos um pequeno problema… — voltou até onde estávamos e começou a falar: — Amélie acabou de me lembrar dessa festa. Eu não iria, mas parece que é o momento perfeito.
— Momento perfeito para que?
— Ah… Você sabe. Nós dois.
— Nós dois o quê? Aparecer em público? — Ele assentiu. — Mas…
— Só precisamos passar na sua casa, você toma um banho, coloca outra roupa e nós vamos.
— Festa de que?
— Episódio de número 150.
— Eu sou obrigada a ir? — Ele assentiu mais uma vez. — Posso ir com jeans?
— Contanto que você não vá pelada… — Ele sorriu, e fechei a cara, mas, no fundo, estava lutando para não cair na gargalhada, de puro nervosismo.

Depois de esperar que ele tomasse um banho e colocasse uma roupa, nada muito mais elaborado que uma calça jeans, sapatênis, camisa quadriculada e uma jaqueta por cima, fomos ao meu apartamento no carro dele. E era simplesmente incrível em como as pessoas na rua conheciam o carro. Quer dizer, não eram muitas pessoas, mas quando paramos em alguns semáforos, uns acenavam, sorriam e tiravam fotos.
— Não duvido que, em cinco minutos, essas fotos já vão estar nos sites de fofoca… — ele quebrou o silêncio no carro quando voltou a acelerar.
— Você não se importa com esse tanto de gente falando coisas sobre sua vida, sendo verdade ou não?
— Eu escolhi ser ator quando tinha uns quinze anos… Já sabia como essas coisas funcionavam, então eu tento não ligar muito para o que eles falam.
— Não sei como você aguenta… — murmurei, olhando a paisagem. Não estávamos tão longe da minha casa agora.
— Gosto da minha profissão na mesma intensidade que você parece gostar da sua. Olha só o que você teve que fazer para continuar trabalhando…
, eu não vou viver para sempre sendo sua namorada. Depois desse tempo, as pessoas me esquecem, principalmente, a Amélie, e eu vou poder continuar minha vida sossegada no meu canto.
— Acostumei com essa parte ruim da fama. Ela não me incomoda mais tanto quanto antes. Às vezes, assusta, claro, mas eu finjo que não é comigo, e pronto.
— Você fala como se fosse a Ashley — disse e sorri, lembrando-me da minha amiga. Ela ainda não havia me ligado hoje, e isso era um tanto quanto suspeito.
— Vocês se conhecem faz o maior tempão, né? — Assenti. — Como vocês se conheceram?
— Do mesmo jeito que te conheci. — Ele sorriu de lado, mas ainda vidrado no trânsito. — Não com o mesmo drama que você me arranjou… Eu fui a criadora de uma campanha enorme que teve no Canadá, e ela era a atriz do comercial. Trocamos contatos e, quando vim para cá, nós não nos desgrudamos mais.
— Entendi. — Ele me olhou com o canto dos olhos. — Vai me convidar para subir? — perguntou-me assim que dobrou na rua em que eu morava.
— Eu não tenho muita escolha, tenho?
Ele negou com um sorriso envergonhado.
Saímos rapidamente do carro até a portaria do meu prédio, nada comparado à entrada mais do que luxuosa do condomínio em que ele morava, mas tinha seu charme bucólico.
Seguimos pela escada até o primeiro andar, onde meu apartamento ficava. O prédio não tinha elevador, eram apenas três andares com dois apartamentos por nível, mas tínhamos um terraço enorme que já havia servido de “salão de festas” para o meu último aniversário.
— Você mora sozinha? — ele perguntou assim que coloquei a chave na fechadura. Assenti. — Por quê?
— Com quem mais eu iria morar? — Dei de ombros e entramos.
Não era uma pessoa rica, mas não era pobre. Conseguia me sustentar quando tinha um emprego. Emprego no qual fui contratada ainda quando morava em Vancouver.
Assim que entrava em meu apartamento, havia a sala de estar à frente, conjugada com a sala de jantar à direita e que se separava da cozinha por um balcão de mármore também à direita. Ainda na cozinha, tinha a lavanderia escondida por uma discreta porta ao lado da pia. Virando à esquerda, já na sala, havia um corredor com três portas, sendo as duas suítes e um armário no final do corredor. Não era nada enorme, até porque eu morava sozinha, mas era aconchegante e foi o que coube no meu orçamento quando me mudei. Não queria morar de aluguel, se não morreria sem conseguir comprar um lugar só meu.
— Fica à vontade — disse e segui até meu quarto para tomar um banho e me livrar da roupa na qual eu havia passado o dia todo.
Saí do banheiro, e faltavam alguns minutos para as oito da noite, hora que disse que começaria a festa, mas não precisaríamos estar lá antes das oito e meia. Não sabia muito bem o que vestir e, analisando pelo que ele estava usando, optei por um vestido leve, de alcinhas, e uma sandália alta. Ashley vivia dizendo que essas festas promovidas pela emissora eram bem informais e, pela vestimenta de meu acompanhante, não duvidei. Não tive muito tempo para secar meu cabelo e tentar fazer uma maquiagem elaborada. Não conseguia passar mais que um batom, pó compacto e rímel, mesmo que minha delicada amiga já tivesse tentado me ensinar algumas vezes. Desistia sempre nos primeiros cinco minutos, depois dos beliscões que ela dava em meu braço, por não conseguir fazer alguma coisa.
, precisamos sair em dois minutos! — Ouvi gritar da sala.
Borrifei um pouco de perfume e passei a toalha outra vez pelo meu cabelo, conseguindo com que ele ficasse com uma aparência até que bonita.
— Já estou aqui, podemos ir! — disse, já saindo no corredor e procurando por uma bolsa pequena que coubesse, ao menos, meu celular, documentos e dinheiro.
— Gostei do seu vestido, ficou bem em você. — Ele sorriu e levantou-se do sofá. — Aliás, seu celular tocou, mas estava na sua bolsa, e eu não abriria e atenderia…
— Ok. — Limitei-me a agradecer com um aceno de cabeça e voltar à procurar uma bolsa no armário do corredor, logo encontrando uma e correndo até a mesa de jantar para pegar as coisas que levaria.
Mesmo apressada, não deixei de notar alguns olhares enviesados que deixava escapar. E eu também havia notado o quão mais agradável ele ficava sem a presença da monstra que ele chamava de agente. Ele ficava mais gentil e educado até. Nada com que eu pudesse perder tempo, no momento.
Logo quando saímos, avistei alguns malditos fofoqueiros escondidos, ou, nem tanto, no canto da minha rua. Comentei com sobre os paparazzis, e ele disse que eu precisaria me acostumar com eles, até que apenas ignorasse-os, como ele fazia.
Não muito tempo depois, chegamos à tal festa, que seria realizada no estúdio, onde a maioria das cenas eram gravadas, mas o local estava abarrotado de adolescentes histéricas, prontas para ver os astros da série. Claro que os jornalistas também estavam por ali.

— Sei que vão perguntar alguma coisa, então vamos apenas sorrir e concordar com a cabeça, tudo bem? — ele pediu assim que parou o carro. — Deixa que eu falo.
— Não sou um cachorro de estimação que só sabe mexer a cabeça — retruquei.
, eles vão perguntar se estamos namorando sério e essas baboseiras. Se for abrir a boca para falar, diga algo decente e que não vá nos envergonhar — dito isso, ele saiu do carro, me deixando de queixo caído e vindo abrir a minha porta.
— Você é um puta de um mal educado! — sussurrei quando ele enlaçou minha cintura e ficou bem próximo a mim, não deixando de dar um sorrisinho de canto de boca para mim.
Assim que demos alguns passos, os flashes foram tantos que eu pensei em quando iria conseguir enxergar direito novamente. Além das diversas câmeras dos fotógrafos profissionais, havia os flashes dos fãs ali presentes e das câmeras dos jornalistas. Minhas mãos começaram a suar com a possibilidade de acabar caindo por não enxergar o chão, mas fez o grande favor de continuar segurando minha cintura e me conduzindo, aos passos de formiga, em direção aos jornalistas.
! , olha aqui! — alguns fotógrafos gritavam, sobrepondo a histeria de algumas fãs mais espalhafatosas.
Tivemos que ficar uns três minutos parados, posando para as fotos e escutando gritos e mais gritos de todos os lados.
— Eu vou fingir que estou falando algo muito legal, e você olha para mim, bem nos olhos, e sorri apaixonadamente — ele disse baixinho bem próximo ao meu ouvido.
Não ri porque ele pediu, acabei rindo do que ele havia dito, mas olhei para ele e tentei não fazer uma cara confusa. Com todos aqueles flashes, os olhos dele ficavam cada vez mais claros e brilhosos. Era um espetáculo e tanto de se ver, ainda mais assim de perto.
Muito perto.
Perto até demais.
Quando dei por mim, ele apertava minha cintura e começava a fechar os olhos e encostar os lábios no meu. Droga! Não foi um beijo e nem nada elaborado. Ele apenas encostou a boca na minha, mas parecia que estávamos anunciando o novo presidente do país, já que os flashes e gritos se intensificaram de uma forma descomunal, e ele logo separou nossos lábios para sorrir e acenar para os fotógrafos. Ele soltou minha cintura e entrelaçou os dedos nos meus. A mão dele estava extremamente quente, ou a minha estava extremamente gelada. começou a nos conduzir uns passos mais à frente, próximo de uns jornalistas já acampados ali.
— Uau, ! — A repórter soltou o ar. — Estamos felizes pelo novo casal!
— Não tão novo assim, não é? — Ele brincou, e a mulher sorriu para ele.
— Mas, agora, todos estão sabendo e é oficial! — ela disse, olhando para a câmera. — Mas, então, , como é namorar ?
Como ela sabia o meu nome?
— É normal… O é uma pessoa normal, com alguns atributos artísticos, nada mais que isso — sorri, meio sem saber o que fazer. Talvez fosse melhor deixar com que ele falasse as coisas e eu apenas acenasse com a cabeça.
— E a série? Já são cento e cinquenta episódios de puro sucesso! Como estão os preparativos para o episódio de hoje?
— Hoje, terá muito drama e muitas dúvidas serão esclarecidas! Não posso dizer nada, além disso — ele disse, sorrindo abertamente, como se estivesse contando uma piada super engraçada. — Vejo vocês depois, pessoal!
Ele deu alguns passos para trás, no intuito discreto de finalizarem as entrevistas. Posamos mais alguns segundos, agora, de mãos dadas, e entramos na grande porta do estúdio.
Soltei o ar pesadamente quando fomos encobertos pela leve escuridão da entrada. Distanciei nossas mãos e estalei os dedos, para tentar levar o nervosismo embora, nada que fosse me ajudar muito.
— Por que está nervosa? — ele murmurou quando começou a me conduzir pelo corredor. — Não fomos tão mal. E você respondeu que sou um cara normal. Adorei isso!
— Eu nem lembro o que eu disse. — Sorri, e ele me encarou, prendendo o próprio sorriso. — Não me olhe assim, eu entrei em pânico quando vi aquele tanto de luz, gente e aparelhos tecnológicos.
— Não precisa se preocupar, .
— De onde você sabe meu apelido? — O que me lembrava. — Como eles... — Apontei para a porta que havíamos entrado, indicando a jornalista. — Sabem o meu nome?
— Você está sempre com a Ashley, ela vive postando um milhão de foto de vocês. Você deve saber isso melhor que ninguém aqui.
— Ah, isso… — Dei de ombros. Minha amiga realmente postava muitas fotos nossas. Umas que eu até nem gostava.
— E eles sempre fazem uma pesquisa super rápida quando alguém famoso começa a sair com um “desconhecido”. — Ele fez aspas.
— Isso é meio assustador. Eu quase perguntei na cara dela quem tinha dito meu nome… — Quase gargalhei da cara que fez. — Mas decidi que era melhor ficar com a boca fechada.
— Então, você fez o que eu disse? — ele perguntou incrédulo.
— Não fiquei calada porque você disse. Só não queria parecer uma retardada que não falava nada com nada ali, no meio de uma entrevista.
— Tem certeza? — ele perguntou, tentando esconder o sorriso que estava se formando em seus lábios.
— Para de ser um chato! — Dei um tapa de leve em seu braço e voltamos a nos movimentar no corredor. — Aliás, me avise quando for me beijar.
— Por quê?
— Porque não quero ser surpreendida pela sua boca na minha assim. Ainda mais na frente de uma multidão feito essa!
— Eu nem cheguei a realmente te beijar… Fica feio, na entrada de uma festa, mostrar as línguas para Deus e o mundo, até porque seu pai vai acabar assistindo essas coisas — conforme ele ia dizendo, meus olhos iam se arregalando e, por"fim, ele soltOu uma gcrgalhad� pele carq que eu ha~ia feito. br> —Cala a boca, , por favor — pedi, quase como uma súplica.
— Estamos entendidos. — Ele passou os braços ao meu redor, me abraçando. — Não vou mais falar do seu pai e sexo numa mesma frase.
— Prefiro que você pare de me abraçar e pare de falar.
Ele fechou a cara e me soltou.
— Quer beber alguma coisa? — Neguei, e ele saiu caminhando e cumprimentando algumas pessoas pelo caminho, até o bar alojado do outro lado do salão.
Avistei Joe e fui até ele para conversarmos:
— Ei, , como você está? Não te vejo desde quarta…
— Pois é! Como se fizesse meses, né? Foram dois dias atrás. Guarde o seu amor pela minha pessoa debaixo da cama! — Brinquei e nós começamos a rir.
— Entendi… Só o pode ter o seu amor. — Revirei os olhos. — Não sabia que as coisas estavam tão sérias a esse ponto.
— Que ponto?
— Ah, não se faça de besta. Vocês estão pelas ruas, demonstrando amor eterno nas fotos…
— Joe, deixa de sonhar! — Revirei os olhos mais uma vez para o amigo de Ashley, o qual eu sabia que acontecia mais que apenas amizade naquele meio.
— Para de revirar esses seus olhos apaixonados para mim!
— Olhos apaixonados? — Ouvi resmungar atrás de mim. — Os seus, ?
Vi Joe se retirando sorrateiramente.
— Nem perca seu tempo, .
— Mas não fui eu que disse, não é? — Ergueu as sobrancelhas, e desviei o olhar dele.
— Que horas vamos poder ir embora? — perguntei assim que percebi não ter mais nada para fazer.
— Já quer me levar para casa?
— O quê? Claro que não! De onde você tirou isso? — Cruzei os braços na altura do peito. Não queria fazer o papel da donzela indefesa, mas estávamos num local fechado, com o ar-condicionado bem forte, e eu estava de alcinhas. Sem casaco!
— Hoje é sexta-feira, precisamos dorm… Ir à minha ou ao seu apartamento juntos — ele se corrigiu.
— Você quer realmente fazer isso? — Ele entortou os lábios, mas assentiu. — Vamos ao meu apartamento. Você pode usar o quarto de hóspedes.
— Se você diz… — ele murmurou baixinho, mas não retruquei. — Venha, vamos sentar e jantar.
— Não estou com muita fome.
— Precisamos sentar, para que a exibição comece, e nós, então, vamos embora.
Assenti e nos encaminhamos para uma mesa mais reservada em um canto.
A festa promovida pela produção tinha uma ornamentação muito bonita; toda em preto e dourado, o que deduzi serem as cores da série. Havia uns tecidos dourados e brilhantes decorando as paredes laterais do salão e, acima de nossas cabeças, foram postos cachos enormes com balões dourados e brancos. O que dava todo um charme ao lugar. Além de várias mesas de jantar postas, no canto oposto à entrada tinha um bar, que, olhando, você poderia ver todos os tipos de bebida, desde água à vodka e tequila. Decidi que não deveria deixar se aproximar muito do bar, já que ele era quem estava dirigindo.
Ao lado da mesa que nos direcionou, tinha uma mesa reservada com plaquinhas com os nomes de algumas pessoas que deduzir serem os produtores, já que era a única mesa marcada ali.
As luzes foram baixas e um feixe foi direcionado ao centro de um pequeno palco, e ali surgiram quatro pessoas, que descobri serem os produtores. Eles começaram a agradecer a todos da equipe, desde os maquiadores, “pessoal do lanche”, ao elenco; dizendo que, sem todas aquelas pessoas, a série não seria o sucesso que, de fato, era.
Logo, o episódio começou a ser exibido, e eu pude descansar um pouco. A série não era chata, mas era estranho assistir minha melhor amiga interpretando uma adolescente, e meu namorado, para todos os efeitos, interpretando um professor super educado com todos os alunos e corpo docente. não era exatamente mal educado, apenas quando queria, e isso irritava e fazia com que eu não gostasse tanto de conversar com ele.
Poderia estar ficando louca, mas, para uma pessoa que estava vestindo uma roupa com alcinhas, no caso, eu, estava ficando cada vez mais frio, principalmente, onde havíamos sentado. Pedi licença a e me dirigi ao bar. Não queria ficar bêbada e nem nada parecido. Só precisava me esquentar.
— Me veja uma vodka com suco de laranja, por favor — pedi sorridente, assim que cheguei, e me encostei na bancada do bar.
O garçom depositou meu pedido e recuou alguns passos, me dando espaço suficiente para degustar a bebida. Ela desceu queimando minha garganta, exatamente o que eu queria, já que o frio parecia se apoderar de mim a cada minuto que passava. Eu, geralmente, não tomava bebidas fortes, não gostava exatamente da sensação de queimação na minha garganta, mas acabei me aquecendo, nem que fosse psicologicamente. Assim que acabei o primeiro copo, pedi outro, prometendo mentalmente tomar um grande copo com água ou suco entre algumas doses. Coisa que não fiz de imediato.
Estava pedindo o terceiro copo de vodka com suco de laranja, quando mãos quentinhas tocaram meus ombros e a voz de surgiu em meu ouvido direito:
— Você não está pretendendo beber até se esquecer do nome, não é? — Senti o sorriso sacana, enquanto ele falava.
— Claro que não. — Já estava rindo mais fácil, mas nada com que fosse preocupar alguém. — Só estava morrendo de frio e precisava me esquentar de alguma maneira. — Pisquei para ele, sem um motivo aparente, mas aquilo também me fez rir, e voltei a olhar para frente, e escolher a próxima bebida.
— Por que não disse antes? — Escutei de novo a voz dele próxima ao meu ouvido direito e um casaco ser colocado em meus ombros.
— Você não precisava fazer isso. Sabe disso, não é? — Sorri e olhei para ele, que enlaçava minha cintura e ficava mais próximo.
— Cuido do que é meu — disse categórico.
Eu não sou sua! — disse, já mais séria. — Lembre-se disso!
Ele assentiu com a cabeça e voltou à mesa.
Voltei minha atenção ao bar e pedi mais uma dose, e comecei a prestar atenção no episódio que estavam transmitindo.
Algumas doses mais tarde, quando arrisquei olhar na direção da mesa em que deveria estar, havia uma mulher quase sentada no colo dele. Não estava com ciúme, mas não deixaria que ele agarrasse a menina ali na minha frente. Para todos os efeitos, nós éramos um casal de namorados apaixonados. Peguei meu copo pela metade e segui cambaleante em sua direção.
— Oi. — Sorri, mas não estava feliz. Percorri dos olhos de aos da garota. — Sou .
— Rita — disse simplesmente e voltou a conversar com , que nem se deu ao trabalho de nos apresentar.
Tuuuudo bem — disse baixinho e meio arrastado enquanto retirava o casaco dele do meu ombro, deixando apoiado na mesa em que deveriam estar os pratos que, àquela altura, já haviam sido retirados, e saí andando.
O ambiente ainda estava um pouco escuro, não entendo bem o porquê, já que o episódio tinha terminado há alguns minutos. Acreditei que era para deixar um clima mais legal para o after party, que, com certeza, aconteceria naquele momento. Mas, para mim, só estava dificultando a minha caminhada até o outro lado do local, já que não vi nenhuma outra saída, a não ser a porta na qual entramos. Estava quase chegando ao corredor coberto com panos dourados, quando avistei uma pessoa muito branca e quase loira original.
! — Não estava bêbada ao ponto de me esquecer da minha melhor amiga. — Você veio!
— Claro que sim! — Sorri para ela, que franziu o cenho.
— Você está tão bêbada! — Fechei os olhos e neguei com a cabeça em movimentos bem rápidos. Não deveria ter feito aquilo. Quando abri meus olhos estava tudo girando, mas fingi estar tudo normal. — Vi suas fotos com o . Quando iria me contar?
— Não queria fazer alarde… Estávamos esperando virar algo realmente sério para poder “anunciar”. — Tentei fazer aspas com os dedos, mas minha mão direita estava impossibilitada, segurando o copo.
— Sei. Bem, acho que isso é o mais certo…
— Por que não estava na sua festa?
— Estava lá dentro, nos computadores, comentando o episódio com os fãs no Twitter. Foi o máximo!
— Claro que foi! Você estava sensacional!
— Dã! — Ela brincou, revirando os olhos. — Escuta. Já está indo? — Levantei meu polegar em concordância. Nem que me dessem dinheiro, eu movimentaria minha cabeça novamente. — Tudo bem. Amanhã, podemos nos encontrar lá no seu telhado ou sair para almoçar, o que me diz?
— Ligue amanhã e só depois das dez, de preferência! — Ela gargalhou e me abraçou. — Tchau, Ash.
— Tchau, .
Deixei minha amiga para trás e entrei no corredor. Estava mais escuro que quando entramos e parecia ter muito mais panos pendurados que antes. Eu já estava tonta e cambaleante o suficiente para ter que andar e me escorar vez ou outra nas paredes.
Ainda estava tentando andar, sem quase tropeçar em meus pés, quando meu celular começou a tocar na bolsinha que levei. Ele havia me assustado e conseguido um soluço um pouco alto de mim, mas comecei a rir do meu próprio estado. Apoiei-me em uma das paredes e virei o restante do líquido de uma vez, colocando o copo no chão, bem no cantinho, para que ninguém se machucasse. Quando consegui pegar meu celular, ele parou de tocar, e bufei. Minhas mãos já estavam devolvendo-o à bolsa, quando ele tocou de novo. Pelo que conseguia ler era o Matthew.
— Meu amorzinho! — disse arrastado e sorrindo. — Quanto tempo!
! Não te acordei, não é? — Neguei. — Ah, que bom! Vi você, hoje, na televisão, e decidi te ligar.
— O que eu estava fazendo na sua televisão? — Algumas pessoas passavam ao meu lado pelo corredor; provavelmente, já estavam indo embora ou estavam apenas indo fumar.
Vi você com o seu namorado… Achei bem estranho você começar a namorar e não dizer nada.
— Ah, Matthew, pare de ser tão ciumento! — Nós sorrimos. — É tudo muito novo — limitei-me a dizer isso.
Você não me engana. A Loren chegou aqui e disse que quando aquelas outras fotos saíram, você negou até a morte.
— Bem, não posso mais negar… — Ele assentiu, e voltei a rir. As coisas estavam tão engraçadas, naquele momento. — Mas você não me ligou apenas para bancar o ex-namorado ciumento, não é?
Na verdade, sim. Só fiquei curioso com as coisas que vi e queria me certificar com você…
— Ah, meu Deus! Você está falando como se fosse o meu pai! — Nós dois desatamos a rir e senti uma mão segurar meu quadril. — Ah… É… Matthew, ligo depois. — Desliguei, sem escutar sua resposta.
— Onde você pensa que vai? — estava com o semblante mais sério que o habitual, e minha resposta natural (bêbada) era sorrir.
— Estava no telefone e, então, eu ia para casa.
— Matthew é o seu pai?
— O quê? — Minha voz saiu esganiçada e alta quando perguntei e comecei a gargalhar ao mesmo tempo. — É meu amigo. Meu pai se chama Leon.
— Entendi. Vamos embora.
— Mas eu já estava indo, você que está me interrompendo. — Guardei o celular na bolsa e tentei desencostar da parede.
— Nós vamos juntos, hoje, esqueceu?
— Ahhhh! — Dei o sorriso mais cafajeste que consegui, pisquei para ele e completei: — Entendi.
— Acho melhor nós irmos à minha casa. — Ele tentou sorrir, mas parecia uma careta. — É mais perto que a sua.
— Uau! Você é apressadinho! — Quase gargalhei, mas me contive no meio do caminho quando vi pessoas aproximando-se. Puxei-o pela lapela do casaco e disse: — Espero que não seja rápido em tudo! — Quando vi que os olhos dele se arregalaram e ele sorriu, eu não aguentei e comecei a gargalhar.
— Espero que, amanhã, você se lembre das coisas que está me falando…
— Por que não lembraria? Eu estou bêbada, não com Alzheimer.
tirou o blazer e jogou novamente sobre meus ombros, então segurou forte na minha cintura e começou a nos conduzir ao carro, estacionado próximo à entrada. Por sorte, não tinham mais jornalistas, apenas alguns paparazzis, que ainda tiraram algumas fotos. Quando chegamos ao carro, ele abriu a porta para mim e, segundos depois, apareceu ao meu lado, sorrindo.

Capítulo 2 - Le coït


(Música indicada: Partition - Beyoncé)

Ele colocou a chave na ignição e deu partida no carro, não demorando muito para que entrasse em uma avenida e acelerasse. Olhava a paisagem pela janela, mas tudo não passava de um borrão colorido demais que começou a fazer com que minha cabeça rodasse. Voltei meus olhos ao , que dirigia com atenção e, vez ou outra, abria a boca, como se quisesse falar algo. Fez isso mais algumas vezes, até que escutei minha própria voz:
— O que você quer saber?
— Ah… Nada demais. Você está em que nível de bêbada? — Ele desviou os olhos rapidamente para mim e sorriu.
— Não sei como você denomina seus níveis… — Voltei a sorrir quando ele olhou para o trânsito.
— Entendi. Você está no nível que ri de tudo o que fala e do que os outros falam — ele disse, ainda sorrindo.
— Aliás, por que quer saber se estou bêbada? — perguntei, ainda vidrada no rosto dele.
— Bêbada eu sei que você está, só não quero que vomite no meu carro.
— Acho que o que você realmente quer é me levar à sua cama — disse, antes mesmo de pensar no que estava falando e recebendo um olhar enviesado de .
— Você está mesmo louca para que eu te leve para cama — comentou, depois de algum tempo, quando entrava na rua do condomínio em que morava.
— Era para você me levar à minha casa! — Minha voz saiu mais alterada que o planejado. — Já disse que não vou dormir com você!
— Tudo bem! — Sorriu e virou em minha direção, depois de estacionar o carro em frente à garagem da casa. — Tenho um sofá confortável — ele dizia baixinho e calmamente enquanto percorria os nós dos dedos pela minha bochecha e pescoço, me acariciando. Fechei meus olhos e aproveitei o carinho, mas abri repentinamente quando ele continuou a falar: — Mas devo lembrar que meu aquecedor não funciona muito bem e pode fazer frio na sala…
— Eu… — Minha voz saiu entrecortada e precisei clarear a garganta. — Eu fico com o sofá.
— Minha cama é grande… — ele tentou contra-argumentar.
, não precisa. — Voltei a olhar para frente, sentindo que ele não tirava os olhos de mim e ainda mexia em meu cabelo.
— Você é quem sabe — ele murmurou.
— Quem era aquela garota com você? Na festa? — Senti minhas bochechas queimarem à medida que o tempo passava e ele não respondia. Resolvi olhar na direção dele. — Não fique me olhando com essa carinha. Não estou com ciúme, se é isso que você está pensando.
— Vamos entrar ou o que? — ele desconversou, rindo.
— Aqui está confortável. E você disse que vou passar frio, dormindo no seu sofá. Aqui, ao menos, está bem quentinho…
— Você está me provocando de propósito? — Ele estava a poucos centímetros de mim, seus lábios quase encostando aos meus. — Isso não se faz, .
— O que você vai fazer quanto a isso?
— Isso depende de você. Você quem disse que não vai para a cama comigo.
Era impressão minha ou estava ficando quente demais naquele ambiente fechado com um cara super gato próximo demais de mim? Minha cabeça parecia ter vontade própria quando se moveu até nossos lábios se encontrarem. Não foi um beijo. Apenas estávamos com as bocas tão próximas, que estavam se tocando. E, então, ele mexeu os lábios num riso e passou a língua nos meus. Pude sentir um leve aroma de laranja, mas não sabia se era dele ou meu.
— Quem vai beijar quem primeiro? — Fiz um barulho com a boca e fechei meus olhos por breves segundos, até ele prosseguir: — Acredito que eu.
A mão, que, antes, acariciava meu rosto, desceu até minha nuca, nos aproximando. Ele havia começado um beijo super calmo, como se tivéssemos a vida toda só para isto. Mas, logo, a outra mão dele encontrou meu braço e foi subindo, e descendo, por ele, numa carícia leve e suave que fazia minha pele arder. Quando me dei conta, minhas mãos estavam agarradas na lapela da jaqueta, trazendo-o para mais perto de mim. Em seguida, cercando seu pescoço.
— Você bebeu quantos copos de vodka?
Ele perguntou, num certo momento em que havíamos parado para respirar, mas não me dei ao trabalho de responder, já que estava quase sobre o câmbio do carro, procurando por mais contato com ele. Senti as mãos dele segurando minha coxa e me auxiliando para sentar em seu colo. Pensei duas vezes, antes de deixar que ele apertasse um pouco mais forte e me carregasse para ele. Fiquei com uma perna de cada lado de seu corpo, enquanto ele descia os beijos para meu pescoço e conseguia arrancar um suspiro alto de mim. Eu sabia que ele havia sorrido com o que havia conseguido. Eu havia dito que não iria para a cama com ele, mas estava fraquejando miseravelmente em meu plano. Talvez fosse o álcool falando. Quis acreditar nisso, enquanto, vez ou outra, eu puxava seu cabelo da nuca e o ouvia arfar contra minha pele.
As mãos dele, que, antes, estavam apertando minhas coxas e cintura, agora estavam em meu ombro e nuca. Ele empurrou devagar a alça de um dos lados do vestido e deu um beijo no lugar em que elas estavam.
— Tem certeza que não quer ir para minha cama? — Puxei o rosto dele até o meu e neguei, para logo beijá-lo um pouco afoita demais e mordendo levemente seu lábio inferior. — Você quer parar agora ou vamos continuar isto aqui no carro
Congelei meus movimentos e olhei bem fundo nos olhos dele. Para alguém que era sempre um chato e rude, ele estava sendo gentil em me perguntar o que eu queria. Não que eu fosse realmente me lembrar de tudo isso amanhã pela manhã quando o efeito do álcool passasse por completo. Provavelmente, só me lembraria de uma festa e de muita vodka.
— Já estamos aqui… — Sorri, e ele me acompanhou e voltou a me beijar; desta vez, mais selvagemente. Puxava meu cabelo em alguns momentos, enquanto eu tentava não gemer. Esperava que não passasse ninguém por ali, mas, se passasse, não iria me importar tanto assim, já que as janelas estavam fechadas e, tirando o vidro da frente, o resto era peliculado.
Fui ágil ao retirar a jaqueta dele, diante do espaço no qual estávamos, e abrir os botões da camisa que ele usava. Aproveitei para explorar o tórax e abdômen um pouco malhados, que ele exibia. As mãos dele estavam na barra do meu vestido, apertando minhas coxas e subindo cada vez mais rápido com a peça de roupa, até chegarem ao tecido da minha calcinha. Soltei o ar pesadamente, enquanto ele distribuía beijos pelo meu colo.
Na mesma velocidade que consegui abrir os botões da camisa dele, desafivelei o cinto e abri o botão da calça, conseguindo ter acesso, um tanto quanto limitado, à cueca que ele usava. Ele gemeu. Bem baixinho. E, então, ele começou uma batalha para tentar retirar minha calcinha. A posição na qual estávamos não ajudava em nada, então ele foi criativo muito rapidamente ao deslizar a peça para o lado e penetrar, sem aviso prévio, um de seus dedos em mim. Soltei um sonoro muxoxo pelo movimento dele, e ele paralisou por completo.
, você quer parar? — Ouvi a voz dele próxima ao meu ouvido e me limitei a negar com a cabeça, e enfiar uma das minhas mãos na cueca dele. — Ah! Jesus Cristo! — Escutei quando ele arfou tão baixo que eu cheguei a pensar que ele não queria que eu escutasse.
Não demorou muito para sentir uma gota de suor descer pelas minhas costas. As mãos dele tentavam se concentrar em abrir o zíper do meu vestido, mas ele parecia muito mais atraído com os movimentos que meu quadril fazia e das minhas mãos percorrendo o tórax e abdômen dele. Soltei todo o ar dos pulmões quando ele escorregou o tecido do vestido pelo meu corpo e retirou-o pela minha cabeça. Estava só com calcinha ali e não sentia um pingo de frio, apenas meu corpo ficando cada vez mais quente. voltou a beijar meu colo e apertar várias partes do meu corpo, me fazendo olhar para o lado e ver o vestido jogado no chão do lugar do carona. Mais alguns minutos foram necessários para que, com a ajuda dele, eu conseguisse descer a calça e a cueca dele até as coxas. Ainda com a calcinha no corpo, ele apenas a puxou para o lado, dando a entender que estava na hora. A hora H.
Quando percebi, já estava fazendo alguns movimentos, ainda limitada pelo espaço no qual estávamos, mas eles eram precisos e extremamente prazerosos. Não iria demorar até atingirmos um orgasmo nesta posição.

— É melhor você colocar minha camisa. — Ouvi a voz de enquanto sentava no banco do carona. Estávamos suados e cansados, mas saciados. Revirei os olhos. Ele continuou a subir a calça. — Ou você quer ficar aqui neste carro para sempre?
Meu vestido estava todo amassado no chão no qual eu estava pisando. Peguei a camisa dele de cima do painel do carro e comecei a colocá-la para me cobrir. Fechei alguns botões e procurei pela minha bolsa. Quando a vi debaixo do meu vestido, peguei os dois e saí do carro, indo em direção à entrada da casa dele. Ouvi quando ele bateu a porta do carro e veio a passos rápidos em minha direção, abrindo a porta e prontamente me deixando entrar. Caminhei em direção à já conhecida sala e depositei meu vestido, bolsa e brincos na mesa de centro. Sentei-me no sofá de couro e comecei a tirar os sapatos quando ele entrou no cômodo.
— Você quer que eu acenda a lareira? — perguntou quando chegou ao lado dela. Assenti com a cabeça e me deitei no sofá. — Na segunda porta à direita, no corredor, tem cobertor, caso você queira.
— Boa noite, — disse simplesmente e, antes de fechar de vez os olhos, o vi sair bufando da sala.

's POV

Assim que cheguei ao meu quarto, fui tirando a pouca roupa, que ainda restava em meu corpo, e me dirigi ao banheiro da suíte para tomar um banho.
O fato de ter aceitado de bom grado transar no carro não mudava o fato de que ela estava bêbada e de que, provavelmente, na manhã seguinte, ela não se lembraria de algumas coisas. Principalmente, quando perguntei mais de uma vez se ela queria que aquilo realmente acontecesse. Enquanto tomava banho, tentava pensar em alguma coisa para falar quando nos encontrássemos no dia que, em poucas horas, nasceria. Nada. parecia ser meio cabeça dura e que não gostaria de lembrar das aventuras que andamos tendo no meu carro mais cedo. A verdade é que ela parecia não ir muito com a minha cara; talvez, por causa da Amélie. Talvez, por causa das vezes em que acabei sendo um pouco rude, enquanto ela trabalhava nas minhas fotos, mas nada disso havia sido intencional. Eu estava com uma sobrecarga de trabalho, e a Amélie cada vez mais acrescentando novos projetos dos quais eu era e não era a favor ao mesmo tempo. Claro que isso não justificava quando fui grosso e nem nada, mas, se fosse uma pessoa sensata, entenderia.
Assim que deixei o banho, escovei os dentes e coloquei um conjunto de moletom, já que a noite era fria e o aquecedor da casa precisava de reparos. Fiquei pensando em como estava na sala, sabendo que ela não havia levantado para pegar um cobertor e estava praticamente pelada, vestida apenas com a minha camisa. Não querendo atrapalhá-la, deitei em minha cama e, em poucos minutos, o sono acabou me vencendo.

Despertei muito rapidamente quando escutei um barulho no corredor. Até pensei em levantar, mas a imagem de abrindo a porta do quarto, ao mesmo tempo em que arrancava o sapato do pé esquerdo, me paralisou. Ela parecia estar mais dormindo que acordada, mas começou a falar de um jeito embolado:
, por favor! Sério! Eu vou deitar na sua cama porque, lá na sua sala, eu estava congelando. — Ela conseguiu arrancar o sapato e jogá-lo pelo caminho, e sentou na cama. — Você não se importa de dividir seu espaço comigo, não é?
— Não, .
— Ótimo, porque eu estou morta de sono e, amanhã, vou estar com a maior ressaca da minha vida! — disse quando se jogou para trás na cama, batendo a cabeça na minha barriga. Emiti um sopro, e ela sentou rapidamente. — Ah, meu Deus! Desculpe-me! Eu não vi que estava perto. Desculpe-me.
— Está tudo bem, . Vamos só dormir, ok?
— Ok, ok. Você está bem mesmo? Eu acabo sendo destrambelhada, na maioria das vezes, e isso aumenta em oitenta por cento quando tomo porre. — Ela começou a gargalhar, jogando a cabeça para trás. — Não que eu já tenha ficado bêbada outras vezes, mas é que eu não sei beber direito e misturo tudo. Quando fico bêbada, eu fico destrambelhada. Já disse isso, não é? — Ela voltou a sorrir.
— Você acabou de dizer, . — Acabei rindo um pouco do jeito em que ela estava. Se não fosse engraçado, seria deprimente. — Você quer comer alguma coisa?
— Não! — Foi rápida ao dizer. — Se eu comer, vou vomitar e morrer de vergonha se isso acontecer, principalmente, na sua casa.
— Ah, não é como se eu não soubesse o que é vomitar de bêbado. — Enquanto sorri, vi que ela arregalou os olhos e tapou a boca. — O que foi?
— Mas eu sou uma dama! Você que é todo cavalo. — Ela ficou uns segundos estática, até abrir um sorriso enorme.
— Não vou deixar você dormir comigo se ficar me insultando desse jeito. — Brinquei, e ela revirou os olhos.
— Não vou dormir com você, vou dormir na sua cama. Percebe a diferença?
— A escolha é sua — disse e voltei a deitar, apoiando os braços em meu rosto, e completei: — Acho que você prefere uma coisa mais selvagem no carro. Gostei.
— Seu idiota! — Estapeou meu peitoral, mas logo se deitou ao meu lado, rindo.
Esperei que ela normalizasse a respiração, para poder olhar ao redor. Ela já estava dormindo, toda encolhida ao meu lado. Puxei o cobertor e joguei por cima de nós dois, até que ela chegou perto de mim e se agarrou em meu braço direito.

Ouvia um barulho não tão alto em algum lugar da casa. Tive um pouco de dificuldade para retirar os braços de , que ainda estavam agarrados ao meu, do jeito como havíamos dormido. O barulho se fez presente mais uma vez, agora, um pouco mais alto, devido a alguém que já havia acordado. Saí do quarto e vi a bolsa de no chão, com o celular parcialmente para fora e tocando. “Ash” brilhava na tela. Não pensei duas vezes, antes de atender:
— Diga o que você quer a essa hora da manhã.
Ah. Alô?! — Ela demorou uns segundos para continuar: — Esse é o telefone da , certo?
— Ashley, aqui é o . A está dormindo. O que foi?
? — Pude notar a surpresa na voz dela. — Não sabia que era tão sério vocês dois...
— Ash, você me acordou... Não estou acordado cem por cento para responder perguntas elaboradas nesse nível.
Eu não perguntei nada, bobinho. — Ela riu. — Pode avisar a que o Matthew ligou um milhão de vezes para ela, e ela não atendeu, então ele me ligou, porque pensou que estávamos juntas, mas eu disse que ela estava super bêbada ontem, e aí ele ficou preocupado, e...
— Eu não vou me lembrar de nada do que você disse. — Ri, e ela me acompanhou. — Quem ligou para a ?
— O Matthew. Ela sabe quem é. — Murmurei para ela continuar: — Só peça a ela para ligar para ele ou para mim. Tudo bem?
— Certo.
Não! Espera! Mande-a ligar primeiro para mim. Quero saber do babado! — ela gritou, antes de desligar na minha cara.
Ignorei a euforia de Ashley e me dirigi à cozinha, recolhendo a bolsa e um lado do sapato de pelo caminho, organizando-os na mesa de centro da sala.
Apesar do jantar na noite anterior, acordei com fome e nada mais justo que preparar um café reforçado para a madame, que ainda estava deitada no seu sono de beleza na minha cama. Ela estaria com uma ressaca horrível, então nada melhor que hidratação. Água e suco de laranja seriam bem aproveitados por ela. Torradas e geleias eu deixaria que ela mesma escolhesse quando decidisse sair do quarto.
Quando estava colocando um pouco de café em uma xícara, ela se fez presente no cômodo.
— Bom dia! — Sorri, mesmo vendo que ela não estava nos melhores momentos.
— Diga-me que você tem um bom remédio para fazer essa dor de cabeça ir embora! — Ela juntou as mãos em frente ao corpo em súplica.
— Preparei suco de laranja. E você deveria tomar bastante água. Faz bem para passar a ressaca.
— Não quero suco de laranja. Estava tomando-o ontem.
— Você estava tomando vodka.
— Com suco de laranja! Não quero agora — resmungou e sentou na banqueta. — Você pode me dar um pouco de água? — disse ao apoiar a cabeça na bancada da cozinha.
— Você quer comer? — Ela negou. — É melhor você comer... Não vi você jantando ontem.
— Não estou com fome. — Ela mexeu no cabelo e voltou a me olhar quando entreguei a água. — Sei que não deveria, mas usei uma escova de dentes que estava no banheiro do seu quarto — disse baixinho.
— Credo! — Brinquei, e ela me olhou séria. — Não quero os seus germes na minha boca!
— Ah, cala essa boca, ! Você me beijou ontem! Acha que os germes não são transmitidos dessa maneira?
— Então, você se lembra? — perguntei curioso.
— Que nós transamos? Sim, claro.
— Bom saber que você estava consciente... — Sorri, e ela tentou esconder o riso.
, para de ser idiota! Claro que eu me lembro.
— Se você não lembrasse que me agarrou, eu não ficaria surpreso.
— Mas eu não agarrei você! — Ela quase se engasgou com a água. — Eu beijei você.
— E, depois, se jogou no meu colo e começou a tirar minha roupa...
— Até parece que você não queria. — Deu de ombros, mas percebi que estava com vergonha. — Agora, eu aceito algo para comer.
— Não tente mudar de assunto — comentei e segui, até ficar posicionado atrás dela. Completei baixinho próximo ao seu ouvido: — Sei que você gostou de tirar minha roupa.
— Eu não tirei sua roupa! — ela gritou quando me viu saindo em direção ao corredor.
— Tem torrada e geleia no balcão! Sinta-se em casa! — gritei de volta.

Fim do 's POV


Enquanto saia da cozinha, o que agradeci mentalmente, fui à procura de algo para comer. Mais à frente havia torradas, geleia e suco de laranja. Afastei o líquido e comecei a comer as torradas, e, vez ou outra, tomava água.
Depois de terminar meu café da manhã, segui à procura do meu vestido, sapatos e bolsa. Lembrava-me vagamente de ter conversado com Ashley na noite passada e, se isso não tivesse passado de uma ilusão da minha cabeça, contaminada por bebida alcoólica, ela estaria um poço de ansiedade para saber o que eu estava fazendo na festa, já que eu havia negado seu convite anteriormente. Cheguei à sala e achei minha roupa toda amassada e um pouco suja sobre a mesa de centro. Não me lembrava de ter caído ou deixado cair alguma coisa que fosse manchar meu vestido. Aproveitando que e eu não estávamos num clima chato, depois de termos transado, decidi continuar com a camisa dele e perguntar sobre minha bolsa e celular.
Bati duas vezes na porta do quarto dele. Não obtive resposta. Bati mais duas vezes e escutei um “entra” abafado sair de lá.
, você sabe onde deixei meu celular? — Esperei alguns segundos, até ele aparecer na porta entreaberta do banheiro, escondendo-se atrás dela.
Ele estava molhado.
— O quê?
— Meu celular.
— Ah, sim. A Ashley te ligou, disse que um cara, que não lembro o nome, estava preocupado com você e que era para você retornar a ligação dela.
— Por que você atendeu meu celular?
— Porque estava parcialmente acordado. — Ele revirou os olhos. — Ele está lá na sala... — Fechou a porta. — Ou na cozinha! — gritou.
Voltei até a cozinha e procurei pelo aparelho, mas só o achei no sofá da sala de estar. Havia algumas chamadas não atendidas de Ashley, Loren, Matthew e Leon, mais conhecido como meu pai. Na hora, senti um nervosismo. Meu pai não era muito adepto a tecnologias, então quando recebia uma ligação do número de celular dele era porque ele estava vindo me visitar ou alguém próximo havia morrido. Resumindo as situações, ele só havia me ligado duas vezes. Por mais estranho que fosse, havia ligações da Loren, então ninguém, de fato, morreu. E ele não faltaria ao trabalho para uma visita assim, do nada.
Como a bateria estava no vermelho, decidi que só retornaria as ligações de “casa” quando chegasse à minha. Mandei mensagem para a Ashley:
“Não posso ligar! Minha bateria está acabando e não estou em casa. O que aconteceu?”
Ela não respondeu imediatamente, então tive um certo tempo para checar e responder algumas outras mensagens de trabalho e do Joe. Coisas desinteressantes para o momento.
“VOCÊ E O ADAM É SÉRIO? POR QUE ELE ATENDEU O SEU CELULAR E POR QUE VOCÊ DORMIU NA CASA DELE?”
Ela e a mania de parecer estar gritando nas mensagens.
De primeira, não soube responder sobre nós dois estarmos em um relacionamento sério. Ela era a minha melhor amiga. Não queria mentir para ela, mas e eu havíamos combinado de não contar a ninguém. Precisava conversar mais seriamente com o , antes de começar a respondê-la sobre nosso relacionamento.
“Você pode passar no meu apartamento e trazer uma muda de roupa minha à casa do ?”
“LOUISE, ME RESPONDA SOBRE SEU NAMORO!”
“Pare de mandar letras garrafais! Parece que você está gritando comigo. Podemos conversar sobre isso depois. Preciso mesmo desse seu favor.”
“Não posso, estou a caminho do estúdio. Vou gravar algumas externas. Já que não vai me responder, tchau!”
Quando a minha melhor amiga começava a me chantagear desse jeito, eu sabia que não adiantava argumentar. Ashley era um ano mais velha que eu, mas tinha mente de uma criança de cinco anos. Acabei sendo obrigada a parar de conversar com qualquer pessoa que fosse quando meu celular resolveu descarregar por completo. Sabia que teria um carregador para me emprestar, mas a única coisa que eu queria era chegar a casa, tomar um banho e passar o sábado na cama.
Sabe, nós dois podemos nos beneficiar bastante desse nosso acordo. O que acha? adentrou o cômodo, vestindo um conjunto de moletom azul escuro.
— Beneficiar em que exatamente? — Levantei-me do sofá assim que ele sentou.
— Vamos precisar fingir durante uns cinco meses... E eu não sei quanto a você, mas não me arrependo do que fizemos ontem à noite.
... — Estreitei meus olhos, o que o fez sorrir. Neguei com a cabeça e continuei: — Não sei se vai ser uma boa se ficarmos nos agarrando pelos cantos.
— E por que não?
— Nós transamos uma vez e você já se apaixonou? — Brinquei, e ele soltou uma gargalhada.
— Não me subestime, — disse, ainda rindo.
— Talvez... — Pus meu dedo indicador em riste. — Se você prometer que não vai ser todo arrogante e chato, e nem ficar pegando no meu pé, eu aceite isso. — Ele revirou os olhos. — Eu disse “talvez”.
— Entendi, soldado. — Ele brincou e me puxou pela mão, até me fazer cair sentada ao seu lado no sofá. — Vamos selar esse acordo agora ou não?
— Você quer muuuuito ficar comigo!
Ele revirou os olhos mais uma vez.
— Precisamos fechar esse acordo, antes que apareça terceiros nesse nosso relacionamento.
— Você, com ciúme, fica até mais sexy... — comentei e cheguei mais perto.
— Então eu sou sexy?
— Então você está com ciúme? — Ele sorriu, negando com a cabeça. — Aliás, não compensa ser sexy se você for um babaca... — retruquei.
— Entendi — afirmou e aproximou nossos rostos. — Você vai me beijar ou o que?

Pouco depois do almoço, ainda naquele dia, depois de tomar um banho e me aproveitar de uma muda de roupa de , observava-o, enquanto ele estava conversando no telefone. Não sabia dizer com quem.
Voltei a atenção ao televisor da sala quando me flagrou.
— O que foi? — ele perguntou quando sentou na poltrona do canto da sala. Acenei com a cabeça. — , o que foi?
— É que... — Suspirei.
— Isso é porque nós transamos de novo hoje de manhã? — Continuei olhando para a televisão, sem responder nada. — Você acha que foi errado o que nós fizemos. Entendi.
— Não. Não é isso. — Direcionei minha atenção a ele. — Acho que nós não deveríamos nos envolver.
— Mas nós não estamos nos envolvendo, só estamos facilitando nossas vidas... Qual é, ?! Não vamos poder ser vistos com mais ninguém nesses próximos meses.
— Eu sei. Você deixou isso claro. — Encarei meus dedos. — Por que não posso falar a Ashley? Ela também é sua amiga.
— É, mas não posso deixar essa história cair em mãos erradas. Você me prometeu que não iria contar nada.
— Prometi.
— Então está repensando na promessa?
— Eu não gosto de mentir para ela — resmunguei. — Não gosto de mentir para ninguém.
— Você não vai estar mentindo. — Bufei e revirei os olhos. — Tá bem. Escuta... Você não pode fingir que é um segredo meu e, por isso, não pode falar? Seu cérebro funciona melhor assim?
— Não é assim. — Levantei-me do sofá. — Não vou contar a ninguém, você tem minha palavra. Pode me levar à minha casa?
... — ele tentou argumentar, mas o deixei sozinho no cômodo quando fui atrás do meu celular.


Antes de pedir o nosso almoço, pedi o carregador dele emprestado para poder agilizar meus e-mails, responder mensagens e retornar as ligações, mas só depois de almoçar que me lembrei disso tudo. Talvez, a “sobremesa” tivesse me distraído. Resolvi ligar primeiro para Loren e ver o porquê do meu pai ter ligado.
Ela atendeu no segundo toque:
Aonde diabos você está? — ela foi logo perguntando.
— Não estou em casa. Por que o papai me ligou diversas vezes na madrugada?
Você não está sabendo? — Neguei, e ela sorriu. — Seu nome está em todos os sites de fofoca do mundo. “Nova namorada de ”. Por que você mentiu quando perguntei sobre ele no mês passado?
— É só por isso que o papai quer falar comigo?
Como assim “só por isso”? Você. Está. Namorando. Um. Ator. Famoso!
— Loren, isso não é nada demais. — Tentei diminuir o tamanho da notícia. — Nós estamos só saindo.
Nada de “só saindo”. Eu vi os vídeos e fotos de vocês se beijando e dando entrevista... Assim como o papai também viu. Por isso, ele ligou.
— Mas ele disse alguma coisa?
Relaxa! Ele só quer saber melhor desse namoro. Disse que achou estranho você não ter comentado nada antes.
— Ok. Você disse alguma coisa?
Comentei que vocês foram vistos algumas vezes no mês passado e que, talvez, estivessem ficando. Ele só quer ver se você está bem. Garanto.
— Tem certeza, Loren? — Ela afirmou. — Tudo bem. Diz que eu liguei rápido para você porque fiquei sem bateria e que, hoje à noite, ligo para ele, ok?
Ok. — Ela sorriu. — Agora, você pode responder às minhas perguntas?
— O que quer saber?
Por que não me disse antes que estavam namorando?
— Estamos namorando agora. Não queria contar antes — menti.
E por que você ficava tão chata quando eu perguntava se vocês estavam saindo?
— Porque eu não sabia se ficaria sério ou não, Loren. Isso é tudo? — Ela consentiu. — Até mais tarde!
Até!
Desliguei e suspirei alto.
Então era esse o seu medo, meu bem? perguntou quando entrou no cômodo.
— Estava escutando minha conversa, por acaso?
— Você está no meu quarto. Quem faz as perguntas aqui sou eu. — Brincou. — Quem é Loren?
— Minha irmã.
— Uau! Tenho uma cunhada! — Sorriu quando se jogou na cama. — O que ela queria?
— Eu liguei para saber o porquê do meu pai ter ligado várias vezes ontem.
— Ele ligou por quê?
— Sua culpa — retruquei.
— Minha? — Ele estreitou os olhos.
— Ele queria saber quem era esse meu namorado e por que que eu não tinha falado nada antes.
— Você não vai contar nada à sua irmã, não é? — ele perguntou, sorrindo, para amenizar a situação.
, eu já não disse que não vou dizer uma vírgula desse nosso acordo? — Ele assentiu e fez biquinho. — Pois bem, pare de me perturbar com isso. Você já pode me levar?
— Pensei em te chamar para jantar aqui...
— Eu preciso ir para casa e colocar uma roupa.
— Mas você já tomou banho e está vestida — tentou argumentar.
— Estas roupas são suas. E ainda faltam umas quatro horas para a janta.
— Você pode dormir aqui, se quiser.
— Tenho trabalho. — Levantei-me e voltei à sala.

Não demorou muito para que ele trocasse de roupa e me desse uma carona. Assim que saímos do condomínio dele, as coisas complicaram um pouco. Haviam vários paparazzis acampados na rua principal, equipados com câmeras, motocicletas e vans dispostas a nós seguirem para aonde quer que estivéssemos indo. Ouvi suspirar quando paramos em um semáforo, e um turbilhão de flashes surgiram pelas janelas laterais do carro dele. Assim que o verde brilhou, indicando que poderíamos nos mover, ele pisou fundo no acelerador e começou a entrar em diversas ruas aleatórias. Achei que tentando distrair os nossos seguidores.
Já estávamos a uns trinta minutos no carro, correndo de um lado ao outro da cidade. Estava cansada de ficar sentada.
— Você pode me deixar na esquina da minha rua bem rápido e se mandar. — Chamei sua atenção, pigarreando, antes de completar: — Eles não vão conseguir chegar na mesma hora que você por lá. Eles não sabem onde estamos indo.
— Você está vestida com meu moletom — ressaltou.
— Ah... Tem a entrada do estacionamento do meu prédio.
— Por que você não disse antes? — ele disse mais alto.
— Porque a entrada fica numa rua sem saída atrás do prédio
— Você tem uma vaga sua? — Assenti. — E tem algum problema se eu deixar meu carro estacionado lá até mais tarde?
— Claro que não.
— Então está feito. — Ele sorriu e voltou aos quarteirões próximos ao meu apartamento.
Ainda demoramos mais uns cinco ou dez minutos para que ele pudesse encontrar a entrada da rua e eu achar a chave da garagem. Não a usava com tanta frequência, pois não tinha carro. O espaço era usado para guardar algumas caixas cheias de coisas velhas e sem importância da quais eu ainda não havia me livrado. Precisei retirá-las do local para ele estacionar o carro.
Estava a meio caminho do portão quando ele me puxou e bateu o portão com força.
— O que deu em você? — perguntei, enquanto ele trancava o cadeado.
— Por que estava levando essas caixas para fora do prédio?
— Porque é lixo. Tem um container logo ao lado do portão.
— Quer ser fotografada só de moletom no seu segundo dia de namoro? — Ele brincou e voltou a empurrar as caixas para o lado do carro.
Dei de ombros.
— Quer subir? — Ele assentiu. Começamos a caminhar em direção à porta que dava acesso às escadas, mas, antes de chegar nelas, eu parei, fazendo com que ele esbarrasse em mim. — Esse era o seu plano?
— Que plano?
— Deixar seu carro aqui para eu poder te convidar para subir? — Meus olhos estavam semicerrados, mas vidrados nele.
— Talvez... — Ele sorriu, e dei um tapa no braço direito dele. — Ei! Não bata no braço em que você dorme!
— Cala a boca, . — Também sorri e voltamos a andar para a escada e o meu apartamento.
Entramos na minha casa e ele logo se apossou do sofá da sala. Era estranho tê-lo em meu apartamento. Nós não nos conhecíamos e não éramos, ao menos, colegas, o que deixava as coisas mais estranhas ainda. Sabia que ele e Ashley saiam juntos. Muitas vezes, eu também estava, mas nunca havia conversado diretamente com ele, nem estado num ambiente somente com ele. Sem contar as vezes em que fui à casa dele por insistência da velha louca da Amélie. Claro que, agora, era diferente, pois havíamos concordado com essa coisa toda de namoro, mas era um relacionamento mais falso que nota de três dólares. Era tudo estranho. Queria enchê-lo de perguntas sobre a assistente dele, se é que eu poderia chamá-la assim. Sabia que eles trabalhavam juntos desde que ele era bem mais novo. Não que ele fosse velho, mas sabia que começou cedo na carreira.
Ela era uma mulher que nasceu e cresceu em berço de ouro. Filha única e mimada pela alta sociedade, logo conquistou um império por conta dos contatos que o sobrenome dela carregava. Do meu ponto de vista, a Amélie era apenas uma patricinha cansada de ficar em casa e, por isso, ajudava os outros a subir na vida, se você tivesse algum talento que a agradasse. Talvez, por isso, eu ainda não entendesse do porquê ela precisava de mim para ajudar com os contratos que ela estava planejando para ele. Ela tinha dinheiro e diversos conhecidos em tudo que é tipo de empresa para colocar e tirar quem ela quisesse na hora que quisesse. Eu havia me metido com a loba e, só agora, havia me dado conta disso.
Ofereci uma bebida a , que apenas negou com a cabeça, mas aproveitei a oportunidade de sair da sala e fui até a cozinha para ter um tempo sozinha e ligar para algumas pessoas.
Meu pai foi o primeiro da lista. Foi uma ligação rápida e sem muito contexto. Ele só queria saber o porquê de eu não ter falado nada de namorado a eles, mas ele disse ter ficado mais tranquilo quando Loren disse que já estávamos saindo há algum tempo. Ele me pediu para pensar melhor, antes de realmente me envolver com alguém. Tarde demais.
Logo, desliguei e mandei uma mensagem para Ashley se juntar a nós dois no meu apartamento. Ela não respondeu e, então, liguei para Matthew:
Estava super preocupado com você.
— Por quê? — Sorri, mas ele resmungou do outro lado da linha. — Matthew, eu estou bem. Pare de se preocupar à toa...
Ontem, você estava bêbada, e notei pela sua voz. Quando liguei de novo, você não atendeu. É claro que eu me preocuparia com você!
— Você precisa parar de ser exagerado — comentei.
Você sabe que eu não consigo. — Ele brincou. — Como foi a ressaca hoje?
— Argh! Não me lembre. — Fiz um barulho com a boca. — O tinha umas aspirinas na casa dele, e ele me fez tomar uns bons litros de água.
, é?
— É, o meu namorado. Acho que vocês não vão se dar muito bem.
Por quê? — Ele sorriu. — Você sabe que eu sempre vejo o lado bom das pessoas.
— Deixe de ser mentiroso! — Brinquei, nos fazendo sorrir. olhou para trás, e o observei de volta. — Acho que vocês são opostos demais. O é meio que grosseiro quando quer.
, vocês brigam muito?
— O quê? — Engoli em seco. — Não. Não é assim.
Sabe que, se ele não te tratar direito, vai se ver comigo! — Tentei desviar os olhos dos de , mas ele estava me observando ininterruptamente e, vez ou outra, sorria de lado.
— Tudo bem, salvador da pátria. Preciso desligar. — Despedimos-nos e voltei a me sentar no sofá.
Olhei para o lado e vi super atento num programa qualquer que passava na televisão. Lembrei que ainda estava com a roupa dele e que ainda precisava resolver algumas coisas. Pedi para ele aguardar uns minutos, enquanto eu tomava um banho e colocava uma roupa limpa. Quando saí do banho, separei a roupa dele e meu vestido do dia anterior para lavar, e, logo quando saí do quarto, senti um cheirinho delicioso vindo da cozinha.
estava lindamente sem camisa e preparando algo no fogão da minha cozinha.
— O que você está aprontando? — Ele se assustou, mas continuou com o que estava fazendo. — Sério, , o que está fazendo?
— Quando vim aqui, ontem, você disse para eu me sentir em casa, então...
— Isso foi ontem — disse quando coloquei as roupas na máquina de lavar.
— Mas eu estava com fome e resolvi usar o freecard para hoje. Problema?
— Você é a pessoa mais abusada que eu conheço.
Ele sorriu, mas não o acompanhei, e ele parou.
— Eu iria preparar uma lasanha, para nós jantarmos lá em casa. Mas nós viemos ao seu apartamento, então eu mexi nas suas coisas e estou preparando uma lasanha.
— Não quero mais você mexendo nas minhas coisas — disse séria.
— Olha, , eu estou fazendo isso porque não quero um clima chato entre a gente. Achei que um jantar poderia facilitar a nossa convivência, mas, se você não quiser, eu posso parar de preparar.
— Não. Tudo bem. Só não mexa mais nas minhas coisas. Não gosto que invadam meu espaço. Pode ser? — Ele assentiu. — Você precisa de ajuda?
— Não achei alguns ingredientes para o molho... — Ele hesitou, mas voltou a preparar a massa na forma. — E preciso de mais tomates.
— Tenho molho pronto.
Ele bufou e revirou os olhos.
— Prefiro fazer o molho.
— Quantos tomates você vai precisar? — Ele levantou quatro dedos, e me dirigi à geladeira. — Não sabia que você cozinhava...
— Tem muita coisa minha que muita gente não sabe, principalmente, você. — Ele sorriu e me passou uma faca. — Corte os tomates em pedaços pequenos e médios. Vá intercalando. — Ele parou e olhou para a porta da geladeira. — Você tem pimentões?
— Gaveta cinza da direita na geladeira. Sinta-se à vontade. — Ele parou ao meu lado e ficou me olhando, e rindo. — Quando eu digo que você pode mexer, não tem problema.
— Você é maluca! — Ele sorriu e foi pegar o legume.
— Minha casa, minhas regras, meu bem. — Brinquei, e ele veio se juntar a mim.
— Você não está intercalando — ele disse quando prestou atenção no que eu estava fazendo. — Você só precisa cortar o tomate ao meio. Em cada metade, você intercala uma média, uma pequena.
— E a maluca sou eu...
— Minha receita, minhas regras, meu bem. — Ele tentou imitar a minha voz, mas falhou miseravelmente, nos fazendo rir logo em seguida. — Eu não sou maluco, só gosto das coisas organizadas.
— Até na comida?
Ele assentiu.
Ele levou os tomates pequenos ao fogo, com um pouco de água e alguns outros temperos que eu não identifiquei, e preparou um molho super rapidamente, e voltou a montar a lasanha. Enquanto isso, fui arrumar a mesa de jantar; poucas vezes usadas para, de fato, uma refeição. Alguns porta-pratos, talheres e uma louça florida. Precisei tirar diversos papéis, livros e o meu computador de cima para podermos ter espaço.
Assim que depositei uma pasta preta na mesa de centro, vi que se tratava do mostruário de .
— Aqui. — Coloquei a pasta na bancada da cozinha, em que ele ainda refogava alguns legumes.
— Isso seria...?
— É o seu mostruário.
— A Amélie já não tem um? — Assenti. — Não preciso de um.
— Eu estou tentando ser gentil e te dando uma amostra grátis do meu trabalho. — Consegui finalmente chamar a atenção dele.
— Você quer que eu divulgue isso? — Ele sorriu, mas não havia entendido a piada, então fiquei calada. — Divulgar seu trabalho... É isso que quer?
— O quê? — Minha boca e meus olhos se arregalaram. — , eu não quero que você divulgue nada.
— Então, por que está me dando isso assim... Do nada?
— As fotos são suas, as informações que têm aqui são suas, o material é seu. Seja educado. Aceite e agradeça.
— Ah... Ok. Obrigado! — Ele sorriu e voltou sua atenção à panela, desligando o fogo logo em seguida. — Você não tinha trabalho?
— Tenho.
— Por que não vai começando com eles, enquanto a lasanha fica pronta? Posso ficar assistindo televisão? — ele sugeriu e sentou no sofá.
— Sim.
Assim que ele sentou no sofá e ligou a televisão, peguei meu computador e loguei na conta da empresa. Aproveitei para fazer alguns ajustes em campanhas em que vinha trabalhando incansavelmente e alguns projetos novos para a campanha da empresa. Estava atenta ao que estava fazendo e não percebi quando levantou-se do sofá. Só notei que ele havia saído do meu lado, minutos depois, quando olhei para trás e o vi acendendo duas velas velhas que eu nem lembrava que existiam.
Tcharam! — Ele sorriu quando notou que eu estava prestando atenção nele.

Capítulo 3 - Vivendo de mentiras


Fiquei impressionada com a diferença que apenas duas velas podem fazer em um ambiente que, antes, era quase uma mesa de trabalho. Provavelmente, minha expressão não foi nada sutil e fez com que entendesse que eu estava um tanto quanto chocada pelo jantar que ele preparou.
— Alguma ocasião especial? — perguntei quando consegui me mover para um pouco mais perto da mesa.
— Não necessariamente. — Ele estendeu a mão em minha direção. — Vem. Não vou te morder, . — Brincou e me puxou pela mão.
— Por que as velas?
— Fica mais íntimo, não acha?
Limitei-me a concordar com um mínimo movimento de cabeça e um sorriso quase tímido.
— Você não precisava ter feito isso.
— É só um jantar, . Nada demais. — Ele puxou a cadeira para que eu me sentasse e sentou-se na cadeira à minha frente. — Acho que nós podemos marcar um destes, de vez em quando...
— Por quê? — Estava curiosa para saber o rumo daquela produção toda que ele havia inventado.
— Nós somos namorados. Precisamos nos conhecer. — Sorriu como se fosse a resposta mais óbvia já existente. — Podemos fingir que é um encontro às cegas.
— Não sabia que estávamos em um encontro — murmurei.
— Por isso, eu disse que podemos fingir. — Ele levantou-se, arrastando a cadeira para trás. — Não fique com raiva de mim, mas eu trouxe uma coisa.
— O quê?
— Eu coloquei uma garrafa de vinho no carro.
— Ok. — Semicerrou os olhos. — Por quê?
— Eu já tinha planejado o jantar. Lasanha e vinho. — Ele sorriu. — Você gosta, não?
— Não sou muito adepta a vinho, mas aceito.
— Cinco minutos e eu volto. — Dirigiu-se até a porta do apartamento e, antes de sair, voltou uns passos e pediu: — Onde você coloca a chave do apartamento?
— Você não está querendo uma cópia, não é?
— Não. — Ele estava mais sorridente que o normal. — Mas vou precisar para entrar aqui na volta.
— Ah, sim. Claro. As chaves ficam naquele vaso. — Apontei para um vaso preto, que ficava no aparador, próximo à entrada do apartamento.
Ele sorriu mais uma vez, pegou as chaves e saiu, chacoalhando-as. Levantei-me num rompante e percebi que estava respirando pesadamente, como se estivesse com falta de ar. Era estranho ter um descontraído, cavalheiro e gentil por perto. Foram pouquíssimas as vezes em que pude presenciar esse lado dele e ainda não estava totalmente acostumada com esse tipo de ação vinda dele. Acabei percebendo que, quanto mais tempo ele ficasse longe da Amélie, mais o humor dele melhorava e mais eu criava asco daquela mulher. Ela tinha o poder de estragar o ambiente só com o pronunciamento do nome. Fui até a pia e me servi com um copo com água, pegando alguns cubos de gelo no congelador e servindo a mim e ao . Afinal, ontem, eu havia tomado todas as possíveis e impossíveis, e acabado bêbada na cama dele. Não queria que hoje acontecesse algo parecido.
Pouco depois de me encontrar de volta ao meu lugar à mesa, ele abriu a porta, com um v marcando a testa, numa expressão de confusão ou raiva.
— Aconteceu algo? — perguntei assim que ele voltou a sentar.
— Ainda tem alguns fotógrafos lá fora. — Ele tomou um pouco da água que coloquei há pouco. — Você tem um abridor? — perguntou, referindo-se ao vinho.
Assenti.
Em alguns poucos minutos, nós já estávamos desfrutando da lasanha preparada por ele e alguns goles de vinho, sempre lembrando-me da água, colocada estrategicamente perto de onde estava repousando a minha mão.
Um dos primeiros assuntos que ele quis tocar era sobre a minha profissão. Vejo que você gosta muito do que faz foi a frase que fez com que a nossa conversa iniciasse. Expliquei que tem algo muito importante sobre a Publicidade, que te deixa sempre com o cérebro ligado e criativo em todos os sentidos, e que eu amava poder criar coisas que chegariam a milhões de pessoas.
— E por que exatamente você veio parar aqui nos Estados Unidos? — Ele quis saber.
— É melhor para você trabalhar em uma empresa que é reconhecida mundialmente ou uma empresa que tem fama no seu país e em alguns estados do país vizinho? — questionei-o. Era uma explicação simples e lógica que não precisava de mais palavras. — Você nasceu em Nova York? — mudei de assunto.
— Sou de Miami. — Fiquei surpresa com a novidade, e ele percebeu. — O quê? Por que a surpresa?
— Você não tem cara de quem nasceu em Miami! — Sorri e me servi de um pouco mais de vinho. — As pessoas lá são mais bronzeadas que você, ou isso é apenas um mito?
— Você perguntou onde eu nasci, não onde fui criado — ele argumentou e completou: — Quando eu tinha uns dois anos, mudamos para New Jersey.
— As pessoas de lá são conhecidas? — Levantei as sobrancelhas, questionando-o.
— O que você quer dizer com isso, ? — perguntou, sorrindo. — Só porque as pessoas de lá são honestas demais não quer dizer que são pessoas más.
— Você consegue ser rude quando é honesto demais — comentei baixinho.
— Eu prefiro ser honesto com as pessoas que ficar mentindo. — Não me contive e soltei uma gargalhada digna de filme de bruxas da Disney. — Ok. Agora, eu sei que falei besteira.
— Para quem tem o estereótipo de ser honesto demais, você está se saindo muito bem com toda essa mentira. — Brinquei e sorri, mas ele apenas manteve-se sério.
— Não foi uma escolha minha. — A resposta dele ficou alguns minutos solta no ar ao nosso redor, fazendo com que meu cérebro sentisse vontade de jogar mil e uma perguntas sobre a assessora em cima dele.
— Por que você atura aquela mulher? — Soltei a pergunta sobre Amélie, sem realmente querer que ele ouvisse.
— Ela é uma profissional excelente! — Seu tom entregava que aquele não era um assunto do qual ele gostasse. — E você? Nasceu em Vancouver?
— Sim. Nascida e criada. — Tentei voltar ao assunto: — Posso perguntar uma coisa?
— Claro. O que quiser. — Ele se serviu de mais lasanha e vinho.
— Quando a Amélie não está num ambiente de trabalho, ela continua sendo a mulher insuportável a qual ela se apresentou naquele dia na sua casa?
— Definitivamente, sim. — Ele olhou para o relógio. — Podemos mudar de assunto?
— Última. Prometo! — Sorri como uma criança que pede doce aos pais, e ele assentiu. — Você tem algum vínculo de sangue, carne, pacto com o diabo, ou algo assim, que diz que você não pode demiti-la?
Foi a vez dele de gargalhar como uma criança.
— Claro que não, — disse, revirando os olhos. — É só que ela é a minha assessora desde que eu entrei nesse mundo... Para que mudar agora? Não vale a pena o esforço.
— Ela parecia ser uma senhora muito legal quando estava trabalhando no seu material... — Ele me olhou atento. — Mas, agora, parece a madrasta da Cinderela, ditando ordens a quem cruzar o caminho dela.
— Você não foi obrigada a aceitar as chantagens dela. — Parei o garfo no caminho da boca e o fuzilei com os olhos. — O quê?
— Ela tirou meu trabalho de mim! Como você ousa dizer que não fui obrigada a nada? Você está louco?! — Respirei fundo. — Eu poderia perder meu visto, em alguns meses, se não aceitasse a droga da proposta dela. — Fiz aspas quando citei o acordo. — A Amélie não sabe jogar limpo, por isso que ninguém gosta dela. — Tudo bem. — Ele levantou as mãos em rendição. — Ela não é assim tão ruim.
— Com você.
, você falou com ela poucas vezes. Ela é uma ótima mãe para os filhos dela, os familiares e os amigos.
— Sortudos. — Revirei os olhos. — Agora, aceito mudarmos de assunto. — Calei-me.
Voltamos a jantar em um completo silêncio. parecia ofendido quando falei de Amélie, mas eu ainda não entendia o porquê.
Logo quando acabamos de comer, completamente cheios de massa, vinho e água, fomos novamente ao sofá, onde ele ficou assistindo televisão, enquanto eu trabalhava no logo de uma nova linha de cosméticos de uma atriz e cantora.
Perdi a noção do tempo, trabalhando e, quando olhei ao redor, estava dormindo e já passavam das onze da noite.
… — chamei-o baixinho. — , acorda!
— O que foi? — ele perguntou assim que acordou e sentou-se direito no sofá.
— Acho melhor você ir. Já está tarde.
— Tudo bem. — Ele olhou ao redor, procurando pela chave do carro, carteira e celular. — Você me liga?
— Para que?
— Podemos almoçar amanhã — ele sugeriu quando se dirigiu até a porta. Assenti com a cabeça. — Às doze?
— Fechado. — Ele já estava parado no corredor do prédio, esperando. — Boa noite, !
— Você não vai me acompanhar até a garagem? — Comecei a rir e neguei. — Então quem vai abrir e depois fechar o portão?
— Ah… Verdade. — Fiz beicinho. Estava cansada e só queria ir para a cama, e dormir.
Peguei o chaveiro no vaso e fechei a porta, seguindo-o escada abaixo, enquanto ele assobiava alguma música e batucava no corrimão.
Não demorou a chegarmos à garagem, ele entrar no carro, abaixar as janelas e ficar me olhando, enquanto eu acionava o botão para abrir o portão. O carro começou a se movimentar, e ele parou ao meu lado, sorrindo, e ficou me olhando como se estivesse esperando alguma coisa.
— O que foi? — Sorri encabulada. Já estava estranha toda aquela atenção vinda dele.
Mas ele não respondeu nada. Levantou os vidros e saiu do prédio, sem olhar para trás.

*


Havia acordado assustada, em decorrência de algum sonho ruim. Quando olhei no relógio já eram quinze para as nove da manhã e precisava estar na empresa às nove em ponto, para me reunir com um cliente em potencial.
Estava apenas quatro minutos atrasada, andava correndo entre as pessoas na calçada, a fim de chegar o quanto antes até a minha sala, mas quando dobrei na esquina da rua em que a empresa era localizada, uma montanha de fotógrafos se pôs na minha frente, derrubando um dos mostruários que eu carregava.
— Droga!
Um deles foi educado o suficiente para se abaixar e pegar meus papéis do chão, e me entregar.
— Você é a ?
Eu o encarei, antes de assentir.
— Olha aqui, ! — outro deles gritou. — Queremos algumas fotos!
— Para que? — Olhei para os lados, e os outros ainda estavam batendo diversas fotos minha. Revirei os olhos.
— É para a revista MagTeen. Eles pediram para marcar uma reunião com a senhora e tirar algumas fotos.
— Todos esses fotógrafos estão com você? — Ele negou com a cabeça. — Vamos conversar lá dentro. — Segurei seu pulso e fui nos livrando das pessoas, até pisar no hall de entrada da empresa.
Assim que chegamos à minha sala, pedi que ele aguardasse, enquanto eu verificava se os clientes já haviam chegado para a reunião. Falei com Shelly, e ela disse que avisaria assim que eles chegassem e que eu não precisava me preocupar.
— Então... — perguntei assim que retornei à sala. — O que você deseja?
— Antes de qualquer coisa, queria te pedir desculpa por ter te abordado daquele jeito na rua. — Ele parecia um pouco incomodado com a situação, mas não entendia o porquê. — Eu me chamo Vincent e trabalho na revista MagTeen, e gostaríamos de fazer uma pequena entrevista com você.
— Comigo? — Ele assentiu e sorriu. — Mas por quê?
— Bem, você é a namorada do . — Os olhos dele brilharam quando emitiu tal informação e, ali, fiquei sabendo que ele tinha interesse nada santo com meu namorado. — Todo mundo está querendo saber mais sobre você.
— Não me entenda mal, Vincent, mas expor a minha vida particular não é algo que me interessa.
— Mas com você namorando o , a sua vida particular vai acabar sendo invadida de qualquer jeito. — Ele fez aspas. — Desculpe-me por ser sincero.
— Não, tudo bem. — Suspirei. — Já acho super estranho vocês estarem na porta do meu trabalho. Como vocês descobrem essas coisas?
— Nós temos conhecidos de todos os lados, que nos dizem onde os artistas estão, e nós corremos para lá.
— Isso não é crime ou algo assim? — Decidi investigar. — Não seria invasão de privacidade?
— Eu realmente não sei. — Ele sorriu. — Eu só recebo uma ligação, mensagem ou aviso, me mandando ir à tal lugar e conseguir uma foto, entrevista, declaração...
— Você gosta de seguir os outros? — Ele hesitou. — Desculpe-me. Não quis ser inapropriada.
— Uau! — Ele gargalhou audivelmente e suspirou. — Você está me pedindo desculpa de verdade! — Ele suspirou mais uma vez e prosseguiu: — Eu estou aqui, perseguindo sua vida, e você me pede desculpa por perguntar sobre o meu trabalho?
— Ah... Sim? — Ele revirou os olhos e cruzou as pernas. — Olha, Vincent, eu devo falar com o antes.
— Claro. — Ele sorriu. — Tome seu tempo, fale com seu namorado e me ligue...? — Ele tirou um cartão do bolso do casaco e colocou na beirada da mesa. — Qualquer hora.
— Tudo bem. — Peguei o cartão e levantei assim como Vincent. — Obrigada! — agradeci e apertei sua mão quando chegamos à porta da sala.
— E mande um abraço a Amélie! — disse assim que deu alguns passos à frente, me deixando de queixo caído.
Sem muito tempo para processar a ideia de que Vincent conhecia Amélie, ou que ele poderia até ser um “enviado” dela, os clientes chegaram e precisei distrair a cabeça com outros problemas. Mas nunca me esquecendo completamente do assunto.
Os clientes queriam um projeto para a nova linha de shampoos e condicionadores. Eram de uma empresa conhecida mundialmente, mas estavam lançando a nova linha apenas nos Estados Unidos para fazer o “teste” da venda do produto. Então a publicidade era a chave de tudo. O trabalho era importante, um tanto quanto difícil, e o prazo era curto.
Depois que a reunião terminou, fui chamada pela minha diretora de criação para que ela me lembrasse do quão importante aqueles clientes eram e o quão importante aquilo seria para mim, tanto dentro como fora da empresa. Do jeito que ela falava, parecia que eu ganharia uma promoção ou algo do tipo. Fiquei espantada por ela ter esse tipo de conversa comigo, já que não havíamos sido avisados de nenhuma promoção.
Consegui colocar toda a minha atenção no grande projeto dos shampoos, até o meio dia, quando recebi uma ligação da Ashley para almoçarmos juntas. Tentei desconversar, mas me mandou uma mensagem, desmarcando nosso compromisso, pois tinha algumas cenas para gravar.
— Você não vai acreditar no que aconteceu hoje! — Fui logo despejando a notícia em Ashley, antes mesmo de sentar direito. — Um repórter veio até mim. Um não, alguns! E alguns paparazzis!
Go, ! — Ela sorriu.
— Não. Nada de “Go, !”. Eu não quero esse povo atrás de mim. — Chamei o garçom. — Ash, eu juro por tudo que é mais sagrado que não quero viver esta vida com o !
— Mas vocês estão juntos agora... — Ela olhava para mim, enquanto eu desviava os olhos para o garçom, que chegava à mesa. — Quero um vinho branco, por favor.
— Quero só uma água gelada. Obrigada.
— Se vocês estão juntos é porque vocês se gostam e se aceitam do jeito que são. — Ela completou assim que o garçom nos deixou: — Você e o ficam lindos juntos.
— O que você vai pedir? — Tentei mudar de assunto e passei os olhos pelo cardápio. — Acho que vou pedir uma salada mista.
... — Ela apoiou a mão direita sobre a minha para chamar minha atenção. — Por que não quer falar dele?
— Desde quando você virou um cupido do amor doido para falar sobre relacionamentos e sentimentos? — Ela revirou os olhos. — Eu só não gosto de ter essas pessoas atrás de mim só porque estamos namorando. Só porque ele é famoso e não liga de ter a vida invadida por essas pessoas não quer dizer que eu esteja de acordo. Eu não quero a minha vida exposta.
— Você já conversou com ele sobre isso? — Neguei. — Pois deveria.
— Não vou dizer ao como ele deve viver a vida dele.
— Eu não disse isso, . Só acho que, se você está tão incomodada com isso, poderia falar com ele — ela argumentou.
— E isso ajudaria como? Não vejo saída para isso.
— Ele pode conversar com a Amélie. Tenho certeza que aquela mulher tem o poder de abaixar a poeira de vocês dois na mídia.
— Como se fosse isso que a Amélie quisesse — revelei, suspirando.
— Como assim? — Ashley quis saber, mas o garçom chegou para anotar nossos pedidos.
Assim que nosso almoço chegou, fiz o máximo de esforço possível para fugir das perguntas de Ashley, mas ela estava interessada demais em saber das coisas.
Conversamos sobre como eu e o nos conhecemos e como conseguimos criar algum tipo de laço fora do trabalho. Ashley era minha melhor amiga e sabia que nem sempre eu aprovava misturar trabalho com vida pessoal.
— Nós apenas começamos a conversar — admiti, enquanto ela me olhava atenta. — Quando estamos só nós dois, a conversa flui muito naturalmente. — Nosso namoro era pura farsa, mas, nossas conversas, não, e, assim, eu não estaria mentindo completamente para a minha amiga. — Ele gosta de cozinhar, e eu amo comer... Foi fácil me conquistar. — Brinquei.
— Sua interesseira! — Nós caímos na gargalhada. — Não sabia dos dotes culinários do ... Quando ele leva alguma coisa ao set é sempre comprado em alguma confeitaria.
— No fim das contas, ele é bem fechado.
— Hoje ele estava todo sorridente. — Ela sorriu, e também sorri involuntariamente. — Chegou com donuts para todo mundo.
— Ele é uma pessoal muito legal por debaixo de toda aquela máscara.
— E o sexo? — ela perguntou, do nada. Meus olhos saltaram para fora. — Não me diga que vocês ainda não transaram, porque eu sei que é mentira!
— Ele disse alguma coisa? — Senti minhas bochechas esquentarem só por estar perguntando aquilo, mas estava curiosa.
— Olha quem está toda cheia de perguntas... — Ela sorriu, e eu revirei os olhos. — Ele não disse nada. Mas o Joe disse que vocês saíram super agarrados da festa, e eu sei que você dormiu na casa dele.
— O Joe precisa calar aquela boca dele, isso sim! — Tentei desconversar, mas minha amiga ainda me olhava esperançosa. — Eu vou apenas dizer que ele é bom, e você vai comer a sua comida. Fim de assunto!
— Ah, qual é, ... — Ela estava vermelha de tanto rir. — Preciso de mais informações sobre as coisas. Você, do nada, me aparece, namorando o cara, e não quer que eu fique curiosa?
— Tudo bem que foi do nada... — Fiz aspas e completei: — Mas não quero entrar em detalhes sobre nossa vida sexual.
— Se você diz... — Ela voltou sua atenção ao prato, soltando risadinhas.
Ashley não pôde demorar muito no almoço, pois havia fugido do estúdio para se encontrar comigo. Nas palavras dela, ela não queria falar sobre aquelas coisas pelo telefone. E ainda lamentou que não pudesse ter almoçado conosco.
Não comentei sobre o Vincent em si, preferi deixar o nome dele fora disso por ora, ao invés de jogá-lo no fogo de imediato.
Ashley era um amor de pessoa, mas não gostava desse tipo de assédio com as pessoas que estavam à sua volta. Com ela, tudo bem, já estava acostumada, mas com os amigos e familiares era outra coisa.

Assim que voltei à empresa, recebi a notícia de uma reunião de emergência com a atriz/cantora que estava lançando sua linha de maquiagem. Como eu estava à frente do projeto, precisei ficar horas enfurnada em uma sala com a mulher e dois de seus agentes.
Depois de várias paletas de cores diferentes, decidimos que o dourado e branco encabeçariam a marca Tisdale. E, assim como a atriz, os dois acompanhantes dela ficaram felizes com meu trabalho, o que resultaria em algumas propagandas a mais para mim nos próximos meses. Yay!

Já passavam das cinco da tarde quando terminei de organizar minhas pastas, mostruários e o resto do escritório todo. Pensei em ligar para casa e conversar com Loren e mamãe, mas uma ligação do Matthew me espantou. Demorei uns três toques para poder atendê-lo:
Finalmente, você atendeu! — Ouvi a voz calorosa do meu amigo e sorri involuntariamente.
— É a segunda vez que você me liga em apenas uma semana… Devo ser alguém muito importante mesmo.
Claro que é. — Senti a risada dele do outro lado da linha. — Liguei para ver como você está. Vi umas fotos suas na internet.
— Ah… Você não ligou para falar sobre isso, não é? — Ele hesitou. — Diga que não, Matthew. Eu não quero que nossas conversas girem ao redor do .
Só queria ver como você está lidando com a situação… Não está sendo um pé no saco?
— Não tenho saco… Mas, com certeza, deve ser tão chato como pegar um chute nas bolas.
Você deve gostar mesmo desse cara para aguentar essas coisas de paparazzi te seguindo. — Ele tentava amenizar a situação.
— Sim.
Enquanto Matthew contava o que tinha acontecido de novo em terras canadenses e me preparava para desligar o computador, recebi o seguinte e-mail de :

“Amélie quer que eu poste uma foto nossa ou que eu fale alguma coisa sobre nós dois nas minhas redes sociais. Achei a ideia idiota, mas ela falou que toda essa coisa vai ficar mais crível e, então, eu disse que sim.
Podemos nos encontrar hoje à noite? Quando sair daqui do estúdio.”


Droga! — exclamei quando terminei de ler o e-mail, não mais prestando atenção em nada do que meu amigo falava ao telefone.
O que foi, ? Não gostou de saber da Farrah?
— O quê? Não… Desculpa. Acabei de receber um e-mail do , e ele quer me encontrar mais tarde.
Esse seu namorado fica muito no seu pé… Deixe-o para lá e vamos continuar nossa conversa. Lembra quando nós dois namorávamos? Eu não ficava assim, no seu pé, para nós nos vermos todos os dias e nem ficava te pressionando.
Não sabia explicar se o acesso de raiva se deu ao e-mail do ou a insistência de Matthew com o assunto “namorado”, mas apenas soltei:
— Matthew, se você não está feliz por eu estar namorando o , isso não me diz respeito. Nós nos amamos e estamos juntos. Ou você aceita, ou não. Mas, se quiser continuar conversando, pare de falar dele!
… Desculpe-me. E-eu apenas achei que... Desculpa, mas não acho que ele seja a pessoa certa para você.
— Acho melhor nós conversarmos depois.
Não esperei alguma resposta do outro lado da linha e joguei o celular do outro lado da mesa, e comecei a digitar uma resposta para o e-mail do : “, eu não quero virar notícia desses tablóides exploradores da vida alheia que você tanto aparece. Eu não me importo com nada do que a Amélie diz, faz ou deixa de fazer e muito menos tenho interesse pelo que você e ela decidem sobre a SUA vida. Mas não vou ficar fazendo parte desse teatrinho fajuto e ridículo que ela está armando. Eu já disse que não quero as pessoas atrás de mim só porque elas acham que nós temos um relacionamento de verdade. Fale com a sua imaculada assessora e dê alguma desculpa esfarrapada que não vá me colocar em problemas!”.
Assim como não esperei a resposta de Matthew, também não esperei a de . Desliguei de vez o computador, peguei minha bolsa e saí do escritório, sem falar com ninguém. Imaginava que os fotógrafos, que me perseguiram pela manhã, não estariam mais lá, e eles não estavam mesmo. Pude caminhar tranquilamente de volta ao meu apartamento, sem ninguém me atrapalhar ou me olhar feio.
Depois de chegar, tomar um bom banho e comer o resto de lasanha deixada por , voltei a me concentrar na campanha publicitária da linha de shampoos e condicionadores e me perdi no tempo.
Eram oito e meia quando resolvi pedir uma pizza e, então, me dei conta de que tinha esquecido o celular no escritório. Ótimo! Não me preocupei em voltar rapidamente para buscá-lo. Sabia que estaria no mesmo lugar no dia seguinte. Procurei pelo telefone residencial e encomendei uma marguerita, minha favorita.
“Em vinte minutos, sua pizza chega senhora”, foi o que a recepcionista da pizzaria respondeu.
A campainha tocou, não muito tempo depois que finalizei a ligação para pedir meu jantar. Fiquei logo feliz por não demorar a comer.
Chegando ao hall do prédio e abrindo a porta principal, dou de cara com um vermelho.
— Quem diabos você pensa que é pra me mandar um e-mail daqueles e não me responder mais? — Ele estava bufando de raiva. — , eu não sou nenhum moleque que faz as vontades alheias. Eu faço o que quero com a minha vida!
— Primeiro... — Enumerei com meus dedos. — Você não pode chegar aqui assim, sem ser convidado. E, segundo, para de gritar comigo, que eu não tenho obrigação nenhuma de ficar ouvindo seus desaforos! — Só me dei conta de estar quase gritando quando uma senhora, minha vizinha, entrou no prédio e sorriu com cautela para nós dois, que ainda estávamos ocupando a porta do edifício.
— Nós precisamos conversar, — foi tudo o que disse, antes de pegar na minha mão e me arrastar escada acima, até meu apartamento.
— Você não tem o direito de me dizer o que fazer, . Você precisa entender isso! — disse assim que chegamos à minha porta e ele me soltou.
— Estou consciente disso, , mas, assim como você disse a Ashley, eu conversei com a Amélie sobre, e ela deu a ideia de tranquilizar as coisas e as pessoas com apenas uma simples foto.
— Que? O que a Ashley tem haver com isso?
— Você comentou com ela sobre os repórteres na porta do seu trabalho. Ela me contou, e eu achei melhor fazer algo para amenizar a ida deles até lá. — estava aparentemente mais calmo, mas ainda muito vermelho.
— Qual é o problema com seu rosto? Por que você está vermelho? — Não conseguia apenas ignorar a coloração estranha.
— Estava me maquiando para uma cena quando você me mandou aquele e-mail. E por que não atendeu seu telefone?
— Mas por que vermelho assim? — Toquei o rosto dele com o indicador, e ele afastou-se. — Desculpe.
— Vou estar em um incêndio… Quer mais alguma resposta, antes de responder as minhas? — Neguei com a cabeça. — , por que você acha que eu apenas obedeço as ideias da Amélie?
Minha campainha tocou, nos assustando, e desci com ao meu encalço para pegar e pagar pela pizza.
Descemos até a portaria e voltamos ao meu apartamento num silêncio absoluto. Estava um pouco confusa sobre o que ele tinha dito, até então. Não fazia parte do feitio da Amélie querer “acalmar as coisas” logo agora que aparecemos na frente de Deus e o mundo nos beijando. A Amélie queria publicidade, queria mais fama — tanto para o como para ela e a própria empresa —, e, consequentemente, mais dinheiro ela conseguiria dessa história toda. Não fazia sentido, ao menos, na minha cabeça, que, logo agora, ela cederia a um simples pedido dele.
estava sentado ao meu lado no sofá, ainda quieto e calado, e me deixou comer sossegada minha pizza. Não tão sossegada quanto eu queria que fosse, já que meus pensamentos estavam a mil com toda essa confusão, mas não estava demonstrando nada por fora.
Assim que terminei de comer, me levantei para colocar o prato na pia e ouvi um pesado suspiro vindo do sofá. Dava para perceber que ele queria conversar, discutir ou apenas gritar, como fez assim que chegou, mas ainda não tinha dado a oportunidade que ele estava pedindo implicitamente.
— Sabe, , eu não estou entendendo… — ele se pronunciou, após outro suspiro.
— O que exatamente você não entende?
— A Ashley veio conversar comigo, então eu achei que poderia fazer alguma coisa para ajudar. Pensei em algo, e você me vem com pedras na mão como se eu tivesse cometido algum pecado.
— Escuta, … — Foi a minha vez de suspirar. — Eu não gosto quando as pessoas querem designar o que eu tenho que fazer. Principalmente, pelas minhas costas.
— Mas eu não…
— Ainda não terminei. — Interrompi-o. — Eu não pedi a Ashley para derramar meus problemas em você. Eu não pedi para você se livrar deles. Eu não pedi para você ir correndo, contar as minhas coisas a bruxa da Amélie! Eu não iria nem comentar essa história com você! — Bufei de raiva ao me lembrar do momento em que vi o e-mail mais cedo. — Por que não veio falar comigo primeiro?
— Eu falei com a Amélie porque sabia… Eu sei que ela pode ajudar. — Ele se corrigiu. — E eu já percebi o quanto você não quer que nosso relacionamento seja tão público, por isso resolvi agir, antes de qualquer coisa.
— Olha, , eu entendo que, talvez, as suas intenções foram as melhores, mas não faça as coisas pelas minhas costas. Estamos entendidos?
— Tudo bem. Você pode me oferecer um pedaço de pizza agora? — Ele levantou-se repentinamente e sentou na bancada do balcão. — Eu não almocei ainda…
Não pude deixar de revirar os olhos. O ainda era um cara que fazia você ficar com raiva e pena, ao mesmo tempo, apenas com as expressões faciais. O que claramente era uma qualidade que qualquer ator usava para conseguir o que queria.
Assim que o servi com pizza, segui até o banheiro para procurar meus demaquilantes.
Ainda o ouvia resmungando alguma coisa com a televisão, agora, ligada. Tomei rapidamente uma ducha e, pensando positivo, separei uma toalha para que pudesse usar. Recolhi os demaquilantes e voltei à sala de estar.
— Você ainda vai voltar a gravar alguma cena esta noite? — Ele negou. — Então sente direito que eu vou tirar essa vermelhidão do seu rosto.
— Por que você está tão incomodada com a minha maquiagem?
— Porque, se você sujar o lençol da minha cama, eu quebro a sua cara!
— E eu vou… — Ele sentou-se direito e riu com o canto dos lábios. — Espera aí… Você acabou de me convidar para dormir aqui?
— Não convidei, eu supus que você dormiria aqui. Tive um dia muito estressante e cansativo e preciso relaxar. — Consegui dizer aquelas palavras, sem quase nenhuma expressão no rosto.
— E você acha que eu sou seu brinquedinho sexual? — Afirmei com a cabeça e comecei a limpar a pele dele. — Espero que você não se importe de me ver pelado pela sua casa.
— Cala a boca, !

Capítulo 4 - I'm in Miami, bitch!


(Música indicada: FUN - Pitbull feat. Chris Brown)

Diga-me que você está preparada! — Ouvi a voz inconfundível de Ashley pelo telefone. — E me diga que já está tudo pronto... Porque, em meia hora, eu passo aí e nós vamos aproveitar nossas tão merecidas férias!
— Ash... Que horas são? — perguntei sonolenta. — Eu ainda nem me levantei da cama. Na verdade, você me acordou! — resmunguei.
Então trate de levantar, tomar um banho e conferir tudo em trinta minutos, porque eu não vou demorar mais que isso. — E desligou.
Finalmente, depois de longos meses, eu havia conseguido aprovação para as minhas férias de apenas uma semana, uma coisa planejada demais por mim e pela minha melhor amiga. Aparentemente, mesmo depois de ter sido demitida e readmitida do quadro de funcionários, a minha solicitação ainda era válida.
Miami era o destino. Praias, pessoas bonitas, festas sem fim e, claro, muito sol. Coisas que nós não estávamos acostumadas, vivendo em New York e, muito menos, levando a vida que levávamos.
Não tinha dito nada ao desde a última vez que o tinha visto. Ele havia dormido no meu apartamento, depois da pequena discussão que tivemos, e acordou cedo na manhã seguinte, apenas avisando que precisava ir gravar. Não me preocupei, já que havíamos combinado de ver como as coisas andavam no nosso suposto relacionamento.
Na noite de ontem, sexta-feira, ele havia ligado e dito que trabalharia no sábado de manhã, e, por isso, não poderia “vir me visitar”. Foram as exatas palavras que ele usou, mas sem muita importância.
Depois do episódio da semana anterior, que nos fez brigarmos e discutirmos, conversamos e decidimos que apenas deixaríamos que os paparazzis nos vissem em público algumas vezes, mas que não comentaríamos nada. Por conta disso, almoçamos juntos quase todos os dias da semana e jantamos em um restaurante finíssimo na quarta. Mas, apesar da nossa decisão, não toquei no nome de Vincent, o qual eu ainda não havia decidido se confiava ou não. Ele ainda poderia ser mais um dos enviados da bruxa Amélie.
Esperei alguns minutos, ainda deitada na cama e, enfim, levantei. Olhei as horas e ainda eram quatro e vinte da manhã, mas eu precisava levantar o mais rápido possível para terminar de arrumar as minhas coisas e correr para o aeroporto.
Fui ágil ao fechar a mala quase cheia e colocá-la ao lado da porta, juntamente com a minha bolsa e meus documentos necessários. Voltei ao quarto, tomei um banho quente e logo me troquei. Quando estava tentando dar um jeito no cabelo, Ashley me mandou uma mensagem, avisando estar me esperando num táxi, já na frente do prédio em que eu morava.
— Você acha que vamos conseguir chegar e ir direto à praia? — Ashley perguntou assim que fizemos o check-in no aeroporto.
Eram apenas cinco horas da manhã, eu ainda não tinha tomado uma gota de café e o aeroporto já estava lotado, para a minha surpresa. Havíamos escolhido aquele horário para que ela pudesse passar despercebida entre os outros clientes, mas quando nos sentamos para comer alguma coisa, Ashley foi reconhecida e precisou tirar algumas fotos, mesmo com a cara ainda amarrotada de sono.
— Você não se cansa nunca? — quis saber, já que ela havia filmado na noite anterior até quase meia noite.
— Eu tomei uns energéticos no caminho da sua casa... — Ela riu. — Eu acho que dormi por umas duas horas e depois acordei mais agitada que nunca!
— Isso é possível? — Brinquei, o que a fez me mostrar a língua.
, estou falando sério! Eu já não via a hora de ir a Miami aproveitar todas aquelas festas, a areia da praia, o sol quentinho e todos aqueles gatinhos só de shorts correndo na nossa frente.
— Ash...
— Eu sei que você está com o agora, mas olhar não tira pedaço de ninguém, e ele nem vai saber. Prometo!
— Eu não estou preocupada com o que o vai achar. — Ela me olhou e abriu um sorriso. — Só iria dizer que nós vamos às festas, beber um pouco... — Ashley me olhou torto. — Sim, apenas um pouco, e vamos descansar bastante na praia!
— Desde quando você virou uma beata? Não vá me dizer que isso tudo é só por causa do seu namorado...
— Claro que não! — Rolei os olhos para o comentário da minha amiga. — Só que eu quero aproveitar esse tempo sozinha para descansar e pensar nas coisas.
— Sozinha?
— Você entendeu o que eu quis dizer. — Ela voltou a tomar o suco. — E posso saber por que você quer tanto um gatinho, se já tem o Joe?
— Eu e o Joe não temos nada! — disse, quase engasgada.
— Sei... — Rolei os olhos mais uma vez, antes de ouvir nosso voo ser chamado.

O voo duraria aproximadamente duas horas e vinte minutos. Tempo que eu usaria para dormir e descansar o máximo que pudesse. Afinal, não queria chegar a Miami e passar o dia trancada, deitada em um quarto de hotel.
Como só tinha uma semana para aproveitar, aproveitaria ao máximo, mas minha querida amiga, que estava sentada na poltrona ao meu lado, estava elétrica e não parava de falar. Ashley contou sobre um ensaio fotográfico de divulgação da nova temporada da série em que atuava, feita na semana passada. Contou sobre um novo ensaio fotográfico e uma entrevista que daria a uma revista. Contou sobre os episódios que havia gravado no dia anterior. Vez ou outra, ela pedia conselhos sobre como poderia fazer tal cena, mas como eu não era atriz, não pude ajudar em quase nada. Mesmo depois de tanta conversa, Ash ainda insistia em falar.
— Quantos energéticos você tomou? — quis saber quando ela parou para tomar um gole de água.
— Só um. — Deu de ombros — Depois, tomei café... Acho que a combinação me deixou eufórica, não é?
Concordei e sorri.

Depois de muito implorar para Ashley me deixar dormir, ela decidiu que assistiria a um filme e me deixaria em paz pelo resto da viagem.
Consegui dormir rapidamente, mas quando estava no melhor do sonho, fui acordada e avisada de que já havíamos chegado a Miami.
Todo o sono que eu sentia foi expulso do meu corpo assim que descemos da aeronave e senti o calor característico da cidade. Fiquei logo confiante de que aquelas seriam as nossas melhores férias!
Esperamos nossa bagagem e corremos para pegar um táxi, já que ninguém queria perder tempo dirigindo. Fomos fofocando e olhando para todos os lados, no caminho do aeroporto ao hotel, que tinha uma vista magnífica do mar. Já estava me imaginando indo dormir com o barulho das ondas que quebravam logo ali ao lado.
Estávamos parecendo duas caipiras na cidade grande. Principalmente, Ashley, que já esteve na cidade em outras oportunidades, não deixou de olhar cada centímetro das paisagens do caminho.
O motorista do táxi disse alguma coisa que não prestei atenção, mas logo percebi o sotaque latino. O que mais tinha em Miami eram porto-riquenhos e brasileiros. Essa era a fama. E eu e Ashley mal podíamos esperar para topar com todos eles na praia, apenas de sunga, exibindo todos aqueles músculos e um bronzeado daqueles de deixar inveja.

Como previsto, o nosso quarto tinha uma vista incrível da praia logo à frente. Não demorei a jogar as bolsas pelo chão e cama, e correr para abrir as portas da sacada. Não eram nem dez da manhã, mas o sol já estava forte.
— Esqueça o que eu disse de descansar e vamos logo à praia! — Minha voz saiu quase como um grito, enquanto eu corria para procurar o biquíni na mala e ia em direção ao banheiro para me trocar. Escutei a risada de Ashley quando bati a porta atrás de mim.

Não sei quanto tempo estávamos deitadas à beira da piscina do hotel e, vez ou outra, nós nos banhávamos de bloqueador solar para nos proteger. Ashley já havia dado alguns mergulhos e dito que a água estava gelada, tudo numa tentativa falha de me fazer entrar na piscina. Não que eu não gostasse, mas queria aproveitar para conseguir uma cor enquanto podia e, depois, me deleitaria na água gelada do oceano. Nada de piscina cheia de cloro!
— Vamos logo, ! Você não se arrependerá de entrar e nadar comigo até o outro lado da piscina, em que estão aqueles carinhas lindos que não estão falando inglês! — Minha querida amiga comentou quando se sentou numa espreguiçadeira ao meu lado, secando-se.
— Se eles não falam a nossa língua, como você pretende se comunicar com eles? — Ela pareceu pensar, diante do meu comentário. — Você precisa parar de ser assim e deixar que a sua amiga aqui pegue uma cor!
— Por acaso, você está se bronzeando para o seu namoradinho, ? — Não neguei e nem afirmei, afinal, estava me bronzeando porque eu queria e, talvez, ele fosse achar isso legal quando voltássemos. — Sua safada! Você está se bronzeando para o ! — Ashley soltou uma gargalhada alta, fazendo alguns hóspedes nos olharem.
Mais alguns minutos deitada e o calor tornou-se insuportável. Precisava me refrescar o quanto antes e nada melhor que beber alguma coisa e depois dar uma passadinha na praia.
— Que tal nós tomarmos uns sucos? — disse, chamando a atenção de Ashley.
— Ótima ideia. Vou pedir algo, enquanto você dá um mergulho. Você está precisando.
Contraí os lábios, mas ainda sorria quando vi que ela ainda esperava que fôssemos falar com os turistas que não falavam a nossa língua.
— Eu vou dar um mergulho no oceano, Ashley. Você pode ir comigo ou me esperar aqui. Não vou interromper o passeio de ninguém só porque você quer dar uns beijos na boca.
Deixei Ashley reclamando sozinha, enquanto me dirigia ao acesso que o hotel tinha para a praia, e logo já estava sorrindo com tamanha imensidão do mar e da beleza daquele lugar.
No Canadá, estávamos acostumados a um clima frio, mesmo no verão, então estar em um lugar em que eu podia sentir a areia quentinha nos meus pés e o vento morno batendo na minha pele era sempre uma festa para alguém que adorava pegar um sol.
Cheguei à beira d'água e fiquei apreciando a sensação do líquido gelado tocando meus pés. Fiquei assim por um determinado tempo, até sentir algo vibrando em minha mão.
Xinguei-me mentalmente, no mesmo segundo, por não ter deixado o celular com a minha amiga enquanto vinha à praia, mas logo me distraí quando vi o nome de brilhando na tela.
— Não diga que já está com saudade da sua querida namorada. — Brinquei assim que o atendi, mas logo fui interrompida.
Por que você nunca me avisa onde está? — Sua voz estava abafada e carregada de raiva.
— O quê? — Ele repetiu a pergunta feita há poucos segundos. — Não sabia que eu precisava da sua autorização para sair de férias, ... — ironizei, e ele bufou.
Não precisa, mas poderia ter, ao menos, avisado que não estaria em casa! — Revirei meus olhos, mesmo que ele não pudesse ver. — Pouparia-me de estar passando uma vergonha enorme aqui na porta do seu prédio.
— Por que está na porta do meu prédio? — Não consegui segurar o riso.
Porque sou um namorado atencioso e tinha preparado um dia super romântico para nós dois. — Agora, nós dois estávamos sorrindo.
— Tenho até medo do que seja a sua ideia de “romântico’’. — gargalhou do outro lado da linha. — Bem, eu estava merecendo umas férias...
Onde você está? Sei que está com a Ashley, então eu diria que em uma cidade que tenha muitas festas e bebidas.
— Dá para você parar de falar mal da minha amiga? — Sorri. — Nós estamos em Miami. O sol aqui é tão lindo!
Você deveria ter me avisado que estaria de férias esta semana. Eu teria planejado uma viagem a dois...
— Você não entendeu nada, ...
Do que você está falando?
— O que você ainda não entendeu é que eu não sou obrigada a estar te avisando onde eu estou e que nós não somos obrigados a passar vinte e quatro horas juntos. — Respirei fundo, já estressada. Quando ele fez menção de falar alguma coisa, completei: — Eu vou desligar, antes que você acabe com as minhas férias, .
Foi um tanto quanto libertador desligar e não ter que ouvir as reclamações dele. Eu não era obrigada àquilo e não seria obrigada. Nós estávamos apenas ficando, mesmo que, para os outros, nós fôssemos um casal jovem e apaixonado, mas ele sabia tanto quanto eu que trocar uns beijos e, vez ou outra, transar, não é relacionamento sério. Não havia sentimento entre nós dois e ele precisava entender isso.
Fechei a mão envolta do celular, ainda mais forte, quando o senti vibrar; provavelmente, uma mensagem dele que eu não me daria ao trabalho de ler naquele momento.
Como estava com o aparelho ali, não pude entrar muito no mar e, por isso, fui até onde a água batia em minha cintura e fiquei uns segundos ali, admirando a paisagem. Tirei algumas fotos e me dei ao luxo de aproveitar, e tirar uma selfie, que havia ficado extremamente linda com aquele fundo ensolarado.
Voltei ao hotel, e Ashley estava conversando com os gringos. Passei direto por eles, em direção às nossas espreguiçadeiras, mas pude notar o mesmo sotaque latino do taxista, mesmo que eles estivessem falando em Inglês e rindo.
Não queria atrapalhar minha amiga, mas acabei me lembrando de Joe. Fiquei ressentida por ele, mas não podia fazer nada. Eles não tinham nada assim como eu e o . E já que eu não devia nada ao , Ashley não devia nada ao Joe.
Nossos sucos já estavam à nossa espera quando cheguei até nossas coisas. Eles estavam gelados e super refrescantes como eram para ser. Fiquei observando Ashley toda solta com os gringos e fiquei feliz por vê-la feliz também. Aquelas férias começaram com o pé direito!
Pouco depois, Ashley voltou, dando pulinhos.
— O que aconteceu agora? — perguntei quando ela sentou-se ao meu lado e tomou um bom gole do seu suco.
— O que você acha de ir a um show quase particular hoje? — Ela piscou e sorriu.
Quase particular?
— É... Será em uma boate daqui, então haverá pessoas que nós não fazemos ideia de quem são, mas, depois, vai rolar um after show com os convidados dos cantores.
— Sei. — Estreitei meus olhos para ela, fazendo-a abrir um sorriso ainda maior. — Show de quem mesmo?
Pitbull. — Ashley pronunciou seu nome como se fosse até algo religioso. — E ele, em pessoa, nos convidou!
— Como assim, Ashley? — Minha voz saiu um pouco mais alta, mas nada que assustasse os outros. — O Pitbull?
— Ele mesmo! — Minha amiga bateu palmas em comemoração. — Enquanto você foi até a praia, ele desceu e foi falar com os delícias ali. — Apontou para os gringos e sorriu. — Acontece que eles fazem parte da equipe do Pitbull e me apresentaram ao cara, e, do nada, ele soltou um “por que você e sua amiga não vêm hoje à noite? Vai ser muito bom!”. — Ashley forçou a voz para sair mais grossa. — Eu não poderia negar um convite assim!
— Pelo jeito, você já decidiu que nós vamos a esse show... — comentei, rindo.
— Esse é o espírito, garota! — Jogou-se em mim, me abraçando.

Já decidido que iríamos ao show mais tarde, tratamos de almoçar e voltar ao quarto para começar os preparativos.
Ainda era bem cedo, mas havíamos dormido pouco naquela noite — ou, no caso de Ashley, que não havia dormido nada.
Estávamos almoçando no quarto, em meio a uma pequena bagunça na mesa.
Enquanto esperamos a chegada do almoço, já havíamos separado a maleta de maquiagem da Ashley e algumas outras coisas que precisaríamos mais tarde. Ainda faltava escolher o “modelito” que usaríamos, mas decidimos que precisávamos comer antes disso.
Tudo isso feito, escolhemos um vestido que havia sido separado para as festas conhecidas da cidade, mas que, agora, serviriam para o show do — quase — representante da música de Miami.
Ashley iria com um vestido azul lindo, contudo, decotado demais para mim. Eu tentei convencê-la de que aquilo estava demais para apenas um show, mas, com as suas próprias palavras, disse: “É o Pitbull, !". Não ousei mais comentar, depois daquilo.
Quando fui escolher uma roupa, peguei um short e uma camisa. Ashley me fuzilou com os olhos e, no mesmo momento, eu sabia que ela não havia aprovado minha escolha.
— O que você quer que eu vista? — disse, rindo, pois sua face estava vermelha só de olhar o que eu tinha em mãos.
— Sei que você trouxe aquele vestido vinho que te dei no seu aniversário — ela simplesmente disse e voltou ao que estava fazendo na mala. — Use com este cinto aqui. — Jogou um cinto em cima da minha cama.
Decido o que vestiríamos naquela noite, tomamos um banho e dormimos até à noite. Decisão não tão sábia, mas estávamos esgotadas da viagem e do sol, que pegamos de manhã.

Estávamos sentados na areia, e o mar tocava os nossos pés, mas, apesar do barulho forte das ondas, tudo estava calmo. Ele estava atrás de mim e brincava com o meu pescoço, beijando e fazendo carícias.
— Eu não sabia que você gostava tanto de vir à praia... — A voz de saiu baixa e clara em meu ouvido, enquanto ele apoiava o queixo em meu ombro e apertava os braços ao meu redor.
— Gosto do clima e de ficar vendo o mar, como qualquer outra pessoa.
— Melhor decisão foi ter vindo ficar contigo aqui. — Ouvi e senti seu sorriso. — Não vamos mais brigar por besteira, tudo bem?
— Não é besteira, . Eu preciso de um tempo sozinha...
— Eu sei, mas é que... — Ele respirou fundo e beijou mais uma vez um ponto atrás da minha orelha. — Eu gosto de nós dois juntos.
— Eu também gosto, mas... Não vamos confundir as coisas. Será pior quando tivermos que nos separar.
— Então não vamos! — ele disse simplesmente, e precisei virar em sua direção para levar a sério o que ele havia acabado de dizer. — Não fique com essa cara de descrente, . Acho que já provei que eu quero...
— De repente, sua voz ficou fina, e me assustei com o que falava: — Se você não acordar neste instante, eu te jogo na piscina!
Do que você está falando, ?
— Que ? — Ele me olhou e piscou rapidamente, ainda com a voz fina. — , acorda!
Meus ombros foram sacudidos e precisei abrir os olhos, quase ficando cega com a claridade.
— Você estava sonhando com o , é? — Agora, reconhecia perfeitamente a voz fina da minha amiga e, depois de uns segundos tentando acostumar meus olhos à claridade, abri-os. — O que estavam fazendo no seu sonho? — Ela estava sentada na ponta da minha cama e me olhava com curiosidade.
— Não é nada do que você está pensando, pervertida! — Sorri fraco. Queria ter continuado aquele sonho.
— Então você vai levantar essa sua bunda bronzeada da cama e vai tomar um banho — disse, levantando-se e indo abrir a porta da sacada. — Estamos um pouco atrasadas.
— Você interrompeu um sonho bom. Ele estava prestes a me dizer algo muito, muito bom! — protestei, mas estava rindo.
— Dizer o que?
— Eu não sei, Ash! Você me acordou!
— Então, já que eu estraguei seus sonhos com o seu namorado, levante-se e vá logo tomar um banho porque eu quero muito ir ao show! — Ela estava sentada e já começava a se maquiar.
Levantei-me e segui para o banheiro, pegando algumas coisas que precisaria pelo caminho.

O banho estava gelado e revigorante. Assim que deixei o banheiro, Ashley já estava quase toda pronta. Já maquiada e vestida, estava secando o cabelo.
— Não demore! Eu vou te maquiar! — Revirei os olhos e comecei a me vestir. — Seu celular apitou, enquanto você estava tomando banho.
Lembrei que quando ainda estava na praia, recebi algumas mensagens, e supus que fossem do . E, depois do sonho que havia tido com ele, estava curiosa para descobrir de quem eram as mensagens. Pulei de bruços na cama e alcancei o celular.
A primeira mensagem dizia:
“Eu sei que você não é obrigada a me dizer nada, . Você sempre deixa isso bem claro quando some do nada. Só que nós temos um compromisso contratual, se é que é assim nosso namoro, mesmo que nós não tenhamos assinado nada.”
Outra dizia:
“Você viaja sem me avisar, me deixa aqui sozinho e não me responde... O que você espera de mim? Quer dizer, você está com a Ashley aí, em Miami, e ela conhece mil e uma pessoas, e tem uns caras bem bonitos nesse meio, e você vai acabar ficando com alguém. EU SEI!!!!! Eu estou aqui, quase ficando louco!”
Logo seguida de:
“Não fique com ninguém na frente dos outros. Não quero passar por corno publicamente.”
Então era essa a sua única preocupação? A imprensa e o que ela publicaria sobre eu ter viajado sozinha? Que bando de pessoas com falta do que fazer! Não me contive de raiva quando li suas últimas mensagens. Ele parecia estar com ciúme, mas, então, demonstrou sua única preocupação. Respondi assim que respirei fundo:
“Você não tem o direito de me dizer com quem eu ando ou deixo de andar, . Isso não cabe a você e nem a ninguém! Já faz alguns anos que eu deixei de ser menor de idade e passei a responder pelos meus atos! Quanto à sua preocupação em ter fotos minhas espalhadas pela imprensa, não se preocupe! Eu não sou famosa e, muito menos, uma pessoa idiota e medíocre que nem você, que só pensa no que os outros vão achar de mim por estar bebendo em uma festa! Fique feliz em saber que eu não estou interessada nos amigos da Ashley e, caso eu venha ficar, sei fazer as coisas sem que ninguém saiba. Agora, eu espero que você pare de importunar a minha viagem e me deixe em paz!”
Quando terminei de digitar tudo o que quis, percebi Ashley sentada perto de mim, rindo.
— O quê? — Estava aborrecida com a situação e não queria que ela estivesse achando graça de mim.
— Você estava furiosa enquanto digitava...
— O tem esse efeito nas pessoas — foi o que respondi.
— Imagina o sexo de reconciliação... Uau! — Ashley se abanou com as mãos e sorriu. — Eu consigo sentir a tensão sexual daqui!
Revirei meus olhos, mas não respondi nada. Levantei-me e vesti a roupa que já havia separado. Fiz tudo muito rápido, para que ela pudesse finalmente brincar de barbie comigo e eu não precisasse ficar explicando a briga besta que estava tendo com o .

Ainda demoramos, até finalmente conseguir deixar o hotel. Ashley havia chamado um táxi e, depois de uns minutos no trânsito, chegamos a uma boate super estilosa.
As paredes eram de verde esmeralda com luzes coloridas para todos os lados e, ainda no carro, pudemos notar o quão cheia ela estava.
Ficamos uns segundos dentro do táxi, pensando se entraríamos pela frente ou por trás, visto a quantidade de pessoas. Decidimos que estávamos ali de qualquer jeito e descemos do táxi, na direção da porta de entrada da boate. Pior decisão. Logo uma chuva de flashes foi direcionada à minha amiga. Demos sorte quando alguns seguranças do lugar fizeram um cordão ao nosso redor, mas permaneci atrás dela como outra forma de proteção dos fotógrafos.
Sabia que Ashley não dava a mínima para eles e estava acostumada a ser fotografada, entrando e saindo de lugares como este com os paparazzis sempre atrás dela, mas eu não. Jamais me acostumaria com isso. Olhava para o chão e tentava enxergar onde estava pisando, até que, finalmente, entramos no prédio e me surpreendi ao notar que estava relativamente pouco habitado, visto o número de pessoas querendo entrar.
Um dos seguranças explicou que o show ainda demoraria um pouco para começar e, por enquanto, só o DJ da casa ficaria tocando, porém nós duas estávamos sendo esperadas no backstage.
Semicerrei meus olhos para ele, no mesmo momento, fazendo-o sorrir e dizer que o próprio Pitbull havia mencionado a nossa chegada. Não sei em que momento meus lábios se moldaram em um sorriso enorme. Eu ser convidada de um cantor para a sua própria festa era uma coisa inimaginável e de outro mundo. Claro que estava acostumada com a Ashley e tudo mais, mas, com ele, um cantor conhecido em todos os cantos do mundo e mais um pouco, era sim — ao menos, para mim — algo novo.

Ashley estava sorrindo normalmente enquanto o segurança, que, agora, sabíamos que se chamava Tony, nos levava até o final da pista, e ainda atravessamos alguns camarotes em direção à parte que ficava atrás do palco. Algumas pessoas ficaram olhando, enquanto éramos conduzidas até lá, mas fingi que não era com nenhuma de nós duas.
— Vocês preferem esperar aqui ou lá no camarim? — Tony perguntou por cima do som e, antes mesmo de eu conseguir abrir a boca, Ashley já estava concordando com o camarim.
Tony continuou conosco até dentro do camarim, dizendo que era comum os outros frequentadores da boate darem uma passadinha rápida na porta dos camarins e “tentar a sorte” com os famosos que ficavam ali.
— Mas isso não é proibido? — Atrevi-me a perguntar, mas o vi negando.
— Nós não podemos impedir que um cliente transite no nosso estabelecimento. Só fazemos alguma coisa quando eles entram em áreas proibidas, como os camarins, e aí, sim, nós pedimos para eles voltarem à festa.
— Quem tenta mais? — Tony e eu nos olhamos, tentando entender o que Ashley havia perguntado. — Homens ou mulheres... Que tentam entrar. Quem tenta mais?
— Por incrível que pareça, homens. — Nós sorrimos. — É bem mais comum shows de cantores, mas quando alguma cantora vem se apresentar, precisamos ficar atentos com os rapazes. — Brincou.
— Qual foi a situação mais estranha que já aconteceu? — Estava curiosa com a história toda.
Ele pareceu pensar e, então, disse:
— Uma vez, a Lady Gaga veio se apresentar aqui e, pelo que todos sabem, ela é meio doidinha. — Nós concordamos. — Então, depois do show, ela estava se trocando para poder voltar à boate, então um fã, pelo menos, disse que era, invadiu o camarim quando ela estava colocando a roupa. — Ele parou e sorriu, lembrando-se da situação. — A moça caiu feito fruta madura no chão. Desmaiou mesmo.
Eu e Ashley nos olhamos e caímos na gargalhada, no mesmo momento em que Tony concordava com a cabeça. Saber algo assim de alguém tão conhecido era, no mínimo, hilário.
Ainda estávamos nos recuperando dos risos quando alguém bateu na porta e, logo, Pitbull, em carne, osso e charme, entrou no cômodo. Não sei quem estava com a boca mais aberta: se era eu ou a Ashley.
— Olá, meninas! — Ele veio em nossa direção, nos cumprimentar. — Que bom que conseguiram vir! Será muito bom ter vocês no show de hoje!
Tentei soar o mais casual possível, enquanto ele se sentava ao meu lado. No momento, minhas mãos suaram, mas não me detive quando ele se apresentou formalmente para mim:
— Então, você trabalha com a Ashley? — Pitbull quis saber. Neguei, apenas explicando que, sim, já havíamos trabalhado juntas há uns anos, mas que, agora, eu era funcionária de uma grande agência. Ele disse conhecer Amélie, a dona da maior parte da empresa, assessora do e bruxa mor, que havia ferrado com a minha vida. Revirei os olhos com a sua declaração, o que o fez sorrir e perguntar o porquê daquilo.
Claro que eu não poderia simplesmente dizer a verdade, já que eu não era a única envolvida e nem ao menos Ashley sabia. Precisei inventar sobre ela não ir muito com a minha cara, pois estava namorando um de seus clientes, o que não era uma mentira completa.
Por mais que a conversa estivesse muito boa e fluindo muito bem, ele tinha que cumprir com o compromisso, então se despediu e disse que logo menos mandaria nos buscar para assistirmos ao show do palco mesmo.
Estávamos apenas esperando que Tony nos liberasse para subir na parte de trás do palco quando senti meu celular vibrar em minha bolsa. Num primeiro momento, eu imaginei ser mais uma das mensagens cheias de egoísmo do e, por isso, não me dei ao trabalho de verificar.
Subimos, em seguida, e começamos a realmente aproveitar aquela noite. Pitbull já estava na terceira música, e a galera parecia cada vez mais eufórica à medida que ele iniciava outra música e pedia para que todos nós fizéssemos cada vez mais barulho.
Ashley e eu estávamos sendo servidas com champanhe, rapidamente, pela equipe do próprio Pitbull. O público estava insano com as performances dele, e não era para menos, já que, quando menos esperávamos, havia um jogo de luzes combinando com a batida da música. Enquanto ele fazia alguns agradecimentos, depois de oito músicas, senti meu celular vibrando novamente e fui checar do que se tratava:
"Sei que você deve estar em alguma festa, mas o Matthew pediu para avisar que chegará a Miami amanhã para uma reunião de trabalho e queria almoçar com vocês."
Foi a primeira mensagem que havia chegado, enviada por Loren. Sorri, no mesmo momento, com a notícia. Estava com saudade de Matthew. Não nos víamos pessoalmente há, pelo menos, oito meses.
A outra mensagem dizia:
"Garota, vi fotos suas e da Ash em uma boate e, com certeza, é por isso que não me respondeu, mas não vá se esquecer do Matthew amanhã. Por favor! Eu prometi que te avisaria."
Respondi muito rapidamente que, sim, eu o encontraria amanhã para um almoço, e pedi que ela me enviasse o número dele, já imaginando que ele estivesse com um novo e, por isso, não tinha falado diretamente comigo.
Nossas taças foram preenchidas mais uma vez, antes do final da apresentação da banda. Percebi ali que estávamos bebendo rápido demais e alertei Ashley que deveríamos pegar mais leve. Ela sorriu e disse que precisávamos aproveitar o bom champanhe que estavam nos oferecendo. Sorri de volta, mas acabei convencendo-a de que nós não precisaríamos da bebida dos outros. Agradecemos ao garçom, mas pedimos, cada uma, uma cerveja, que prontamente nos foi trazida.
Pitbull terminava de cantar uma música da qual eu não conhecia e as batidas de FUN explodiram pelas caixas de som, mas ficou apenas no instrumental, até que alguém surgiu ao meu lado, endireitando um microfone preso à sua calça jeans.
E, agora, eu peço que o meu garoto suba no palco comigo... Com vocês, Chris Brown! — ele gritava, anunciando a participação de Brown, agora, já não mais ao meu lado.
Todos foram à loucura quando eles começaram a cantar a letra sexy da música. Eu e Ashley aproveitamos para dançar tudo o que sabíamos e nos era permitido. O ritmo era contagiante e, logo, todos estavam pulando e gritando.
Quando Chris começou novamente o refrão da música, apenas para que a plateia cantasse uma acapella improvisada, ele agarrou minhas mãos e me puxou em sua direção para que nós dançássemos juntos.
Não sabia que reação ter, então meu cérebro — com uma boa ajuda do álcool — resolveu que continuaria dançando normalmente e só depois se preocuparia com vergonha.
Ter ninguém menos que Chris Brown me guiando em uma dança, até que muito sensual, me deu uma confiança para, vez ou outra, rebolar mais do que eu sabia. Num dos giros que ele me guiou, vi Ashley sorrindo enquanto olhava para mim. Pitbull pareceu notar isso e a chamou para dançar com ele, o que fez com que o público todo se agitasse quando reconheceram a minha amiga. Eu jamais havia participado de uma festa assim, muito menos imaginado que dançaria colada com Chris Brown.

A música terminou, e eles nos agradeceram por participar, e saímos da vista de todos, ouvindo os gritos. Logo começaram a cantar International Love, outra parceria deles. Estava eufórica demais para prestar atenção e curtir a batida da música.
Ashley e eu saímos em direção aos banheiros que havia ali, próximo à escada, que dava acesso ao palco e, no mesmo momento em que entramos no cômodo, começamos a pular de um pé para o outro e soltar uns gritinhos histéricos.
Elogiei os passos da minha amiga e o quão linda ela estava lá em cima. Ela não deixou os elogios direcionados a mim para trás, afirmando que eu dancei como se fosse uma profissional! Claro que estávamos exagerando um pouco, devido ao álcool e ao entusiasmo de ter acabado de descer de um palco. A adrenalina parecia pulsar em minhas veias, enquanto eu lavava as mãos e tentava me refrescar, mas, logo, já estávamos de volta ao palco, agora, um pouco mais atrás da equipe, que estava trabalhando. Voltamos a dançar, cantar as letras que sabíamos e tomar mais uns drinks.
O show não demorou muito, visto que ainda teria uma festa particular mais tarde, então, quando Pitbull agradeceu a todos por comparecer, nós duas já estávamos prontas para uma segunda festa. Mas fomos pegas de surpresa quando ele disse que mudaram os planos e, agora, iríamos ao iate dele, onde nós poderíamos aproveitar até o sol nascer, sem que a polícia reclamasse do barulho.
Fiquei com o pé atrás quanto a ir ao iate, mas Ashley os conhecia de longa data e disse que não aconteceria nada de ruim. Decidi confiar nela e lá estávamos nós, em direção ao mar, num belo e luxuoso barco regado de pessoas conhecidas e muitas bebidas.
No deck superior, onde a festa rolava de fato, havia bancos cobrindo todo um lado do iate e foi lá que nos concentramos. Chris veio se sentar conosco e colocar o assunto em dia com Ashley, conhecida de outros carnavais.
Ele era uma pessoa muito simpática e fez de tudo para que tivéssemos um bom momento ali. O outro cantor estava ocupado, recepcionando os convidados e, vez ou outra, passava por nós e sorria, acenava ou parava para perguntar se estávamos bem.
A noite toda foi maravilhosa. Não poderia nem começar a descrever o quão diferente e única aquela experiência havia sido na minha vida e esperava que tivesse a oportunidade de aproveitar outras vezes.
Por volta das quatro e meia da manhã, estava cansada e não estava mais raciocinando com sabedoria, visto que queria dar um mergulho ali mesmo, mas algo em meu cérebro me proibiu, e agradeci por isso. Chamei Ashley para irmos embora, o que a fez relutar de início, mas, vendo que também já estava com o nível de álcool alto, aceitou a minha oferta.
Fomos deixadas na areia da praia em frente ao nosso hotel por uma lancha que estava estacionada no iate do Pitbull. Achei aquilo tão impossível que não parava de rir, mas, assim que chegamos à terra firme e começamos a caminhar para o hotel, vi que aquilo tudo era, sim, possível, caso você tivesse acesso a uma boa quantidade de dinheiro. Ashley ria das minhas palavras, ao tentar explicar alguns acontecimentos da noite.
— Amanhã nós vamos almoçar com o Matthew — anunciei assim que abrimos a porta do quarto, mas Ashley fez bico como se não apreciasse a ideia. — Você não precisa ir...
— Não estou com saudade do Matthew! — Ela entrava no banheiro para tirar a areia dos pés e pernas. — Achei que vocês ainda estavam sem se falar.
— Por que eu não falaria com ele?
— Pelo que ele disse quando você e o começaram a namorar. — Ashley colocou a cabeça para fora do banheiro. — Ele não estava com ciúme de vocês dois?
— Isso foi uma besteira e já passou. Não vou brigar com o Matthew por causa do . Antes de tudo isso começar, eu e o Matthew já éramos amigos! — disse convicta.
Minha amiga sorriu e voltou ao banheiro.
Pensei sobre o que Ashley disse. Estava tão feliz em poder reencontrá-lo que não me lembrei das palavras dele, mas amanhã seria um bom momento para conversarmos e colocarmos tudo em panos limpos. Depois que ela deixou o banheiro, segui para lá, tomei um banho e logo dormi, influenciada pela grande quantidade de álcool ingerida naquela noite.

Minha cabeça estava doendo e meus olhos estavam pesados. Sabia que isso era resultado da noite passada, mas não iria me julgar por estar me divertindo.
Tentei permanecer deitada, sem me mover ou abrir os olhos, mas fui interrompida pelo toque do meu celular. Tateei ao redor e, enfim, “acordei”.
Um número desconhecido me ligava e não era a primeira vez. Já havia três chamadas dele. Estava pensando em quem poderia estar me ligando quando meus olhos focaram nas horas: duas e cinquenta da tarde. Droga! Levantei-me, dando um pulo da cama e correndo para o banheiro, para fazer minhas higienes. Troquei de roupa o mais rápido que consegui e peguei o óculos escuro de Ashley na mesa, já saindo do quarto, em direção ao hall do hotel.
Retornei a ligação para o número, já sabendo se tratar de Matthew. Ele logo me atendeu e riu quando lhe contei um breve resumo da noite anterior, marcando de nos encontrar em um restaurante no fim do quarteirão. Fui direto e consegui uma mesa próxima à janela, para que pudéssemos apreciar a vista enquanto comíamos alguma coisa. Ele não demorou muito para chegar.
— Que saudade que eu estava de você! — Matthew me abraçou forte demais para alguém que acabara de acordar.
— Você esta me sufocando... — Brinquei enquanto jogava meus braços ao redor de seu pescoço. — Vem, vamos nos sentar.
Sentamo-nos, e logo uma garçonete veio nos atender. Pedimos um suco para cada um, e ela se retirou.
— O que veio fazer em Miami? — quis saber, curiosa.
— Trabalho... — Revirou os olhos e sorriu. — Você está bronzeada!
— Faço o que posso. — Sorrimos mais uma vez. Era bom estar na companhia de amigos. — Tive que passar o dia na beira da piscina, ontem, para consegui esta cor.
— Tendo uma praia como esta ao seu dispor, você ficou na piscina? — Matthew apontou para a janela, onde víamos a praia e muitas famílias brincando na areia.
— É... Eu acabei nem entrando no mar ontem porque levei o celular comigo. — Meu amigo fez uma careta confusa. — Eu saí da piscina, em direção à praia, e quando estava para entrar na água, meu celular tocou na minha mão. — Foi a minha vez de revirar os olhos e fazer com que ele tivesse um acesso de riso.
Conversamos por muito tempo, almoçamos coisas deliciosas e, por um momento, senti a nostalgia de estar com o Matthew. Ele me conhecia como ninguém. Éramos amigos desde os cinco anos, ou antes, e, desde então, não desgrudamos.
Pouco antes de pedirmos a conta, segurei em sua mão e apertei levemente, enquanto ele contava sobre uma festa. Matthew parou, no exato momento, e olhou para as nossas mãos juntas, suspirando pesadamente em seguida.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntei assim que voltei minhas mãos ao meu colo.
— Você e o ... O quão sério é o namoro de vocês?
— Ah... — Fiquei sem saber o que falar, procurando pelas palavras certas. Mentir não era o meu forte, mas estava me saindo uma atriz digna de Oscar. — Muito sério. — Sorri para amenizar as palavras que saiam da minha boca.
— Não consigo te imaginar com alguém como ele — ele confessou mais baixo e apertou os lábios numa linha tensa.
— Matt, por favor... Não vamos brigar por causa do ! Você é muito importante para mim, e eu não quero que o seja uma pedrinha no nosso caminho.
— Só não acho que vocês combinem em nada. As coisas que existem na internet sobre ele... — Matthew passou as mãos pelo cabelo. — Você não precisa estar com alguém assim.
— Eu gosto do .
— Gosta? — questionou, sabendo que gostar de alguém não era motivo de um relacionamento continuar. — Eu só estou sendo sincero com você.
— Eu sei. — Sorri. — Agradeço por isso, mas queria muito que você desse uma chance a ele. Ele também é importante para mim — menti.
Ele apenas sorriu, assentindo, e pagamos a conta, deixando o restaurante e indo caminhar na beira da praia, sentindo o vento fresco que vinha do oceano.
Voltamos a conversar sobre banalidades canadenses e sobre como estavam as coisas em Nova York, dizendo que ele estava me devendo uma visita logo menos, mesmo que eu estivesse programando as festividades de final de ano no Canadá.
Ashley me ligou, avisando que tinha novidades quando eu voltasse, e Matthew precisava ir a uma reunião, tirando um tempo apenas para que nós nos encontrássemos. Depois de nos despedirmos, ele se virou e disse:
— Você sabe que eu sempre vou te amar, , não só como amiga. — E foi embora, me deixando parada como uma estátua na areia.

Capítulo 5 - Conhecendo a concorrência


Depois de uma semana curtindo a maravilhosa cidade de Miami, na companhia de pessoas que eu amava demais, tive que voltar à realidade de Nova York e de ter que trabalhar para me sustentar. Não vou negar que, na viagem de volta, eu ficava torcendo para que o avião pegasse o rumo de Vancouver e me levasse para casa, para o conforto de estar perto dos meus pais e da Loren. Estava com mais saudade deles do que eu era capaz de admitir. Não via a hora das festividades de fim de ano começarem para que todos nós estivéssemos juntos mais uma vez.
Estava me atualizando nos trabalhos, sentada confortavelmente em minha cama, com um moletom antigo, da época da faculdade, quando minha campainha tocou.
Estranhei, olhando pela janela do quarto para ver se reconhecia alguém, mas a pessoa devia estar na porta do prédio e não na calçada. Atendi o interfone, e a voz de , dali, surgiu rouca, pedindo para subir. Devo confessar que até senti saudade dele. Liberei sua entrada e, em menos de dois minutos, ele estava entrando no meu apartamento, sabendo que minha porta estaria aberta. Ouvi seus passos na sala e o caminho do pequeno corredor até a entrada do meu quarto, onde ele ficou escorado casualmente na porta, como se fizesse aquilo todos os dias.
— O que você quer aqui, huh? — Fui a primeira a me manifestar, tentando não rir da sua pose.
— Nada. — Ele tirou o casaco e colocou sobre a cômoda, derrubando alguns objetos que estavam ali, e deitou-se ao meu lado na cama. — O que você está fazendo?
— Trabalhando. — Olhei para baixo, já que ele estava com a cabeça deitada próxima à minha coxa esquerda. — Por que sua voz está rouca?
— Tive umas cenas na chuva e acabei adoecendo — ele disse e chegou mais perto do meu corpo. assustou-se quando comecei a gargalhar. — O quê?
— Você é a única pessoa que eu conheço que fica doente com chuva de mentirinha...
Ele sorriu brevemente e deu um beijinho na minha coxa coberta pelo grosso pano do moletom.
— O que você tem? — Deixei meu laptop na mesinha de cabeceira e toquei em seu cabelo. Tinha alguma coisa errada, mas ele apenas negou com a cabeça. Fui deitando meu corpo na cama, até que ficássemos bem próximos um do outro. Ele beijou meus lábios, e notei, ali, o que estava errado. — Por que não me disse que estava com febre? — Puxei o cobertor, cobrindo nós dois. — ...
— É só febre — ele resmungou, enfiando o rosto em meu pescoço. — Vamos sair?
— Claro que não! Você está doente! — Revirei meus olhos, mesmo que ele não pudesse ver. — Você não quer ir a uma consulta com um médico? — Negou. — À farmácia? — Negou mais uma vez. Pensei por alguns segundos. — Quer que eu faça uma sopa? — Senti seu sorriso em meu pescoço e mais um beijinho depositado no mesmo lugar.
Seu braço cobriu a minha barriga, me puxando ainda mais para ele. Seu corpo todo estava quente, me deixando com calor de estar ali, daquele jeito, mas ele, provavelmente, só estava tentando se aquecer por causa da febre.
— Eu preciso levantar para poder fazer uma sopa para você, mocinho... — disse, algum tempo depois enquanto passava meus dedos pelo seu cabelo.
— Fica aqui um pouquinho. — pediu baixinho perto do meu ouvido.
Não tinha como negar um pedido daqueles.

Mais tarde, naquele dia, depois que fiz uma sopa para , ele pareceu melhorar, e a febre, diminuir. Preferi não arriscar e sair com ele daquele jeito, ainda mais com aquele tempo nublado que estava em Nova York.
Ele rejeitou todas as minhas tentativas de ir a uma consulta, disse que os sintomas logo passariam e que ele não estava assim tão mal quanto parecia, apesar de ainda estar visivelmente febril.
Antes, quando acordei e comecei a trabalhar, pensei que o dia seria proveitoso e que renderiam muitas ideias novas e ajustes nas antigas, mas, com aparecendo aqui, doente, parecendo uma criancinha, o dia passou a ser preguiçoso, com ambos enrolados um no outro e o cobertor em cima de nós, deixando tudo quentinho para que ele pudesse melhorar logo.
Dormimos a maior parte da manhã, acordando por volta das duas da tarde. Eu, morrendo de fome por não ter comido nada, e um ainda mais parecido com um bebê de tão manhoso que estava. Nunca havia levado a sério quando diziam que "Homens parecem crianças quando estão doentes. Não conseguem fazer nada sozinhos!". Ouvi muitas vezes da minha mãe quando eu ainda namorava o Matthew, sempre que ele tinha alergia a algo que comia. Na época, isso me irritava com tanta facilidade que sempre brigávamos, mas, agora, deitada, abraçada ao e sentindo a respiração quente demais dele batendo na minha nuca, só conseguia me preocupar, procurando fazer algo que o deixasse confortável e que o fizesse melhorar rápido.
— E então... — Assustei-me com sua voz próxima ao meu ouvido. Achei que ele ainda estava dormindo. — Você vai me contar o que aconteceu em Miami ou eu vou morrer com o que imaginei depois das fotos?
— Não aconteceu nada. — Sorri, sabendo que muitas fotos e vídeos, onde eu e Ashley estávamos no palco e no iate, haviam saído em diversos websites pela internet. — Nós só fomos àquele show.
— E o resto da semana? — Virei-me para que ficássemos cara a cara. — Você não fez mais nada mesmo?
— Nós fomos à praia, piscina, outras festas... Nada no mesmo nível que a primeira noite.
— Suas férias foram muito mais agitadas que a minha. — Não entendi. Até onde eu sabia, ele não estava de férias na semana passada. — Eu sempre acabo indo à casa dos meus pais, nas minhas férias e, no mês passado, não foi diferente.
— Eu iria ao Canadá, mas nós duas já estávamos há tempo planejando essa viagem. E eu amo praia!
— Eu fiquei muito puto com você — ele confessou baixinho.
Passei meus dedos pelo seu cabelo e rosto, parando em seus lábios.
— Não tinha porquê você ficar. — apertou meu dedo indicador entre seus lábios. — Nós precisávamos de um tempo longe.
— Por quê? — Agora, era ele quem mexia no meu cabelo.
Balancei minha cabeça e sorri. Nem eu sabia o porquê precisávamos ficar longe e, agora, me sentia mal por tê-lo deixado em Nova York sozinho, sem sequer responder suas mensagens ou atender suas ligações.
— Você tá com fome? — tentei trazer o assunto a lugares em que não fizessem com que eu me sentisse mal. Consegui sua atenção quando mencionei comida. Ele sorriu. — Eu ainda não comi nada...
— Aposto que você quer que eu cozinhe alguma coisa bem gostosa, não é? — ele disse, já levantando e jogando seu peso em cima de mim, beijando todos os cantos do meu rosto e pescoço.

passou o domingo inteiro no meu apartamento e, por mais que ele tenha insistido, disse que seria melhor se ele fosse à sua casa. Ao menos, pela manhã, eu não teria que acordá-lo cedo quando estivesse saindo para o trabalho.
Ele ter aparecido ontem, sem aviso prévio, foi muito bom porque não precisei passar o dia sozinha, como fazia na maioria das vezes. Precisava concordar que ter alguém como ele por perto não era nada ruim, menos quando ele estava no modo ultra arrogante, o que me deixava estressada e acabávamos brigando.

Estávamos indo muito bem como um casal, para quem, antes, não queria nada disso. Sorri com meu pensamento e terminei de pentear meu cabelo. Tinha acabado de sair do banho e estava quase pronta para voltar de vez ao trabalho; cheia de ideias para as campanhas em que estava trabalhando e, finalmente, um briefing preparado meio que no improviso para um novo projeto que fui avisada por telefone, exigência de ninguém menos que Amélie. A desgraçada que eu odiava só de pensar ou ouvir o nome.
Na sexta-feira, enquanto eu e Ashley estávamos aproveitando os últimos dias das férias, minha diretora me ligou, dizendo que eu precisava apresentar um briefing completo para a renovação da marca e comemoração dos quarenta anos da empresa da bruxa. Ela lamentou muitíssimo que eu tivesse que trabalhar nos últimos momentos do meu recesso, mas disse que era muito importante.
Sei que era outra oportunidade única que eu estava tendo. Por mais que odiasse aquela mulher, ela estava vindo a calhar para meus contatos de trabalho. Minha diretora ainda disse que Amélie pediu pessoalmente que eu fizesse o trabalho, porque “confiava no meu trabalho de olhos fechados!”, foram as palavras falsas que ela disse. No momento em que ouvi isso através do telefone, quis rir, mas me contive a apenas concordar e escutar as preferências que ela já tinha pré-estabelecido.
Não foi tão difícil quanto eu pensava. Estava tão relaxada com o descanso que consegui montar — mesmo que num computador emprestado — em, aproximadamente, cinco horas, até fechar o projeto. Sabia que precisava de ajustes, mas resolveria tudo na segunda; no caso, hoje, quando chegasse à empresa.
Depois da reunião, marcada para as nove horas, e de acertar tudo com Amélie, concluindo o trabalho e apenas esperando para que ficasse pronto, Ashley me ligou, dizendo que estava chateada de ter que voltar a acordar cedo para trabalhar. Convidei-a para que pudéssemos almoçar juntas, mas ela negou, dizendo que não teria tempo de deixar o estúdio. Completou, no fim da ligação, "eu ainda vou ter que gravar uma cena na chuva, correndo atrás do seu namorado!", e nós duas caímos na gargalhada, mas lembrei que estava doente e ficaria ainda pior se fosse gravar mais cenas debaixo de chuva, mesmo que cenográficas.
Não muito depois de falar com Ashley e já próximo do horário do almoço, liguei para , preocupada:
Oi, babe... — Sua voz saiu baixinha, não por causa da sua rouquidão.
— Você pode sair para almoçar?
Ainda não sei. Pode me ligar daqui a uns de... Quinze minutos? — Sua voz continuava baixa, mas, logo em seguida, alguém gritou“corta!”, ao fundo. — Agora, podemos conversar.
— Você estava gravando? — Sorri de puro nervosismo.
Sim, mas eu precisava estar falando ao telefone na cena, então você ajudou muito. — Ele sorriu e acabou me contagiando. — Podemos comer fast-food dentro do carro e sem que ninguém fique no nosso caminho — ele sugeriu, e eu repliquei.
— Alguém sempre está no nosso caminho, !
Isso é verdade. Ninguém mandou você ter um namorado tão bonito...
Imaginei a expressão que ele estaria fazendo enquanto dizia aquilo e sorri de novo.
— Você vem me buscar?
Ele assentiu e logo precisou desligar.

Não demorou muito para que o horário do almoço chegasse e mandasse mensagem, avisando estar me esperando no carro. Fomos direto a um drive-thru e pedimos combinações gordurosas e deliciosas.
ainda estava um pouco rouco, disse que a produtora da série o obrigou a tomar litros e litros de uma mistura caseira com mel, mas que, no final, era muito boa. Exagerado do jeito que ele era, deveria ter tomado apenas uma colherada.
Estávamos comendo no carro, parados num estacionamento próximo ao estúdio em que ele trabalhava, mas, ainda assim, em local público. Uma pessoa ou outra que estacionava próximo de nós, ou que passava pela calçada, parava, sorria e acenava para ele. Brinquei que ele deveria comprar ou alugar um carro que ninguém fosse reconhecê-lo para que nós pudéssemos sair em paz, sem ter um batalhão de pessoas e fotógrafos na nossa cola. Quando já havíamos terminado nosso almoço, lembrei-me do que Ashley havia dito sobre ter que gravar mais cenas na chuva.
— Você não pode fazer nada? — quis saber, preocupada com a saúde dele.
— Infelizmente, não. — Retorceu os lábios. — Vamos gravar essa noite a cena, então vai estar frio pra caramba também.
— E por que você não vai ao médico? Eles podem te passar um remédio para a sua febre não voltar. — , que estava olhando para frente, voltou seus olhos na minha direção e abriu o maior sorriso para mim, me fazendo sorrir também. — O que foi?
— Você aí, toda preocupada comigo...
— Claro que estou preocupada, ! — Estapeei sua coxa. — Você chegou ontem, ardendo de febre, lá em casa.
— Só mais esta semana e estou livre dessa série. — Ele piscou. — E, então, só vou trabalhar depois do Ano Novo.
— Mesmo assim. — Cruzei meus braços. — Espero que você use esse tempo para descansar e cuidar da saúde.
— Você fica muito bonitinha toda preocupada comigo, sabia? — Segurou meu queixo e chegou mais perto, mordiscando meus lábios. — Você pode levar o carro e depois passar aqui? Tenho uns planos para hoje à noite.
— Tipo o que? — Senti minhas bochechas esquentando. Por algum motivo, eu fiquei com vergonha. Ele não me respondeu, apenas ficou olhando para a minha boca e sorrindo. — Anda, , me diz o que é!
— Surpresa, babe! — foi só o que ele disse.
Como eu ficaria com o carro dele, descemos e fui à porta do motorista, sendo impedida pelo próprio , que me abraçou e se escorou no carro, dizendo que os paparazzis mereciam umas fotos de nós dois juntos. Eu tentei olhar ao redor, procurando por alguém, mas ele me impediu e começou a me beijar; vez ou outra, mordendo meus lábios e sorrindo. Meus braços estavam ao redor de seu pescoço e dei graças ao usar um salto alto naquele dia, porque, por mais curvado que estivesse, eu ainda era uma baixinha ao seu lado.
— Que horas você sai do trabalho? — perguntou, encostando nossos narizes, brincando.
Ainda estávamos abraçados.
— Às cinco, se tudo der certo.
Ele assentiu e me beijou mais uma vez, antes de dizer que estávamos atrasados.
Deixei no estúdio e voltei ao escritório. Nem em um milhão de anos, imaginei que ele deixaria o carro comigo, mas isso significava que ele confiava em mim de algum jeito. Saí do estacionamento do prédio pelo elevador e voltei a mais uma tarde de trabalho.
Era incrível o que apenas alguns dias, sem ter com o que se preocupar, fazem com você. Eu estava mais relaxada, mais criativa e, com certeza, mais feliz. Pela primeira vez desde toda essa coisa com o , nós estávamos nos dando super bem, sem discutir por besteira e parecendo gostar da companhia do outro.
Eram cinco e quarenta quando saí da última reunião. Já havia mandado mensagem, avisando ao que demoraria, só não sabia o quanto. Cheguei à minha mesa, e meu celular vibrava com uma |igação. Era minha mãe. Atendi imediatamente, morrendo de saudade até da voz dela. Nossa ligação foi basicamente para mantermos o contato mínimo que o telefone nos permitia, saber como estavam as coisas em casa, e ela queria saber como minhas férias em miami haviam sido. Não me prolonguei conversando com ela, pois precisava buscar e, então, irmos à tal surpresa dele. Mamãe disse que não podia mais esperar para conhecer o genro, e eu sorri. Ainda nem havia passado pela minha cabeça em apresentá-los.
E a surpresa do meu “namorado” consistia numa ida rápida ao supermercado e seguir direto para a sua casa, onde ele tinha planejado um cinema a dois e jantar feito por ele mesmo; não a lasanha, mas, sim, um estrogonofe, desta vez.
Enquanto preparava a comida, pediu para eu escolher os filmes. Ele tinha uma pequena coleção ali e sempre teríamos a opção de assistir alguma coisa na Netflix. Decidi por um filme que eu já havia assistido e gostado muito: Brave (ou Valente, em Português).
Ficamos conversando até que a comida estivesse pronta. E, como sempre, uma delícia. Ele disse que aprendeu muito de cozinha com a avó quando ele ia passar os verões na casa da senhora e revezava entre ir pescar ou fazer trilha com o avô, e aprender a cozinhar com a avó, mas contou que ela já havia falecido quando ele ainda era um adolescente. Tentei animá-lo, mudando de assunto e contando um pouco sobre a minha adolescência também. Quando eu e alguns amigos saímos para comemorar o meu aniversário de dezoito anos e quase fomos presos. riu e não acreditou naquilo, até que eu lhe mostrasse algumas fotos do dia em questão, postadas há muito tempo em meu Facebook.
Assim que acabamos de comer, fiz um pouco de pipoca, apenas para que não ficássemos sem nada nas mãos, e nos deitamos ali, na sala, no mesmo sofá em que, semanas atrás, eu havia tentado dormir.
— Não acredito que você escolheu um desenho.
Mesmo que estivesse deitada, abraçada a ele, sabia que havia revirado os olhos.
— Eu gosto, mas, se você quiser mudar, não tem problema.
Ele não disse nada, e nem eu. Continuamos naquela posição, até mais ou menos a metade do filme, quando começou a acariciar as minhas costas, agora, cobertas apenas por uma camisa dele. Estávamos embrulhados em um lençol grosso porque, mesmo que o aquecedor da casa já tivesse sido consertado, ainda estava um pouco frio.
Em pouco tempo, com todas as carícias e provocações vindas dele, me rendi e comecei a correspondê-lo, também acariciando seu peitoral e seus braços, até que ele me puxou para cima de seu corpo, me deixando sentada sobre as suas — e minhas — partes preferidas. Começamos a nos beijar mais rápido e, ali, percebi que estava com saudade deste lado da nossa relação.
Pouco a pouco, ele foi nos movendo, até que eu ficasse deitada no tapete felpudo que tinha ali, com ele em cima de mim, beijando e deixando mordidas por todo o meu pescoço e torso. Paramos o beijo apenas para que ele retirasse a própria camisa e, em seguida, a que eu estava vestindo. Suas mãos foram em direção às minhas pernas, apertando-as e fazendo com que eu soltasse alguns gemidos abafados perto do seu ouvido. Depois, ele se desvencilhou do short, ficando só de cueca e me deixando só de calcinha. Vez ou outra, enquanto espalhava leves mordidinhas pelo meu corpo, pressionava sua ereção em minha intimidade, ambos cobertos apenas por nossas últimas peças de roupa. Lentamente, começou a retirar a minha calcinha e acariciar um ponto muito sensível, cada vez mais forte e, quando eu estava quase no clímax, ele parou, fazendo-me soltar um muxoxo de frustração, mas logo se prontificou a tirar a cueca e me penetrar de uma vez só. Foi estranho e prazeroso ao mesmo tempo. Nunca tinha sido assim. Quase tive um orgasmo, naquele momento, mas ele permaneceu parado, até que eu me acalmasse, para, então, começar a investir mais algumas vezes, parando quando já estávamos quase lá. repetiu por mais duas vezes, até que, enfim, não se aguentou e nos levou até um orgasmo forte e demorado, fazendo-me gemer seu nome baixo e arranhar suas costas no processo.

*


Terça e quarta-feira foram os dias mais corridos da minha vida! Na terça, fechamos o projeto da atriz/cantora e já mandamos a linha Tisdale para produção. Precisei acompanhar alguns ensaios fotográficos para saber o que ficava melhor no que havia planejado e lá se foi todo o meu dia, só parando de trabalhar às nove da noite, morrendo de cansaço e dor nos pés por ter passado o dia em pé e de salto alto.
Na quarta, foi o dia em que Amélie decidiu colocar em prática todo o projeto que eu havia feito para ela e, como a festa de lançamento seria no sábado, tudo precisava ficar pronto em vinte e quatro horas, porque “as pessoas precisam receber, ao menos, uma prévia do que vai ter”, palavras dela. Então, mais uma vez, eu passei o dia fora do escritório, correndo da gráfica para o estúdio e tendo que ajudar na confecção de algumas ornamentações especiais para o grande dia.
Por volta das oito da noite, estava de volta ao estúdio, onde Amélie tirava algumas fotos para serem exibidas na apresentação. A senhora me chamou e disse que precisava de uma foto comigo, já que eu tinha sido a salvadora daquela campanha. Não queria a custo nenhum chegar mais perto dela, mas não podia simplesmente ignorá-la na frente de todos, então tiramos apenas uma foto e, em seguida, a equipe toda.
Estava procurando meu celular quando alguém aproximou-se e continuei o que estava fazendo, até que Amélie parou ao meu lado.
— Será que podemos jantar? — Não consegui responder, apenas fiquei olhando para ela. — Para comemorar...
— Comemorar o que?
— A campanha, a minha nova marca. É graças a você que ela vai finalmente sair.
— Não acho que isso seja uma boa ideia. — Não queria ter que passar nem um minuto a mais com ela.
— Sei que você não gosta de mim. O já me disse um monte de vezes o quanto você me repulsa, mas, talvez, possamos mudar isso, não acha?
— Não. — Como ela ousava achar que eu a queria como minha nova amiga ou algo parecido disso? Não queria nem ter que olhar mais para ela.
, vamos jantar. Tenho que te fazer um convite. — Ela sorriu, ajeitando a bolsa no ombro. — Além do mais, você e o estão se dando muito bem para duas pessoas que não gostaram da minha ideia. Você não tem do que reclamar, ou tem?
— Claro que sim! — Minha voz saiu esganiçada e mais alta do que eu queria, chamando atenção dos que passavam por nós duas, despedindo-se. — A começar por você tirar o meu emprego de mim! Que tipo de pessoa joga com a carreira dos outros dessa maneira?
— Tudo bem... — Amélie pescou o celular e digitou alguma coisa enquanto estávamos conversando, depois olhou para mim e sorriu. — Apenas um café, então. Tem uma loja no final da rua.

Não vou negar que foi o “encontro” mais estranho que já presenciei em toda a minha vida. Não tínhamos assunto fora do que ela me pediu. Nem coisas básicas numa conversação, como “como você está?”, nada. Eu não gostava da presença dela e percebi claramente que ela não era a minha maior fã.
Só fomos de fato conversar quando ela me convidou para a festa de aniversário da empresa dela. Neguei veemente, mas ela continuava insistindo e dizendo que o estaria lá e que seria muito bom se eu o acompanhasse. Eu disse que pensaria a respeito, mas que não era para ela me esperar. Estranhei quando ela agradeceu mais uma vez pelo meu trabalho. Era como se ela estivesse me agradecendo por alguma outra coisa que eu não fazia ideia do que poderia ser.
Quando nos despedimos, me ligou, perguntando se eu queria carona até em casa e, muito agradecida, eu aceitei. Ele ainda demorou um pouco até chegar e, finalmente, fomos ao meu apartamento.
já se sentia suficientemente em casa para perambular pelos cômodos, apenas de bermuda, enquanto eu saía do banho. Senti um cheiro absurdamente gostoso e fui até a cozinha, onde ele cortava alguns temperos.
— Você quer me engordar? — Brinquei, chamando sua atenção.
— Você quer que eu corte os meus dedos? — Franzi o cenho em dúvida. — Não se aparece só de toalha e toda molhada assim quando um cara está cozinhando...
— Idiota! – Sorrimos.
Ele lavou as mãos e veio até onde eu estava, me abraçando pela cintura.
— Você tá uma delícia assim, quase nua. — soprou no meu ouvido.
— Você também, mas vá terminar de fazer a comida, ou ela vai queimar.
Ele passeava o nariz por todo o meu pescoço.
— Não se preocupe com isso, temos tempo suficiente até tudo ficar pronto.
me abraçou e escorou-me na parede do corredor, começando a me beijar e segurar a minha coxa. Ultimamente, toda vez em que nos encontrávamos, acabávamos transando. Não era nada acertado, mas sentíamos vontade em todas as vezes e eu parecia nunca estar saciada dele, e nem ele de mim.
Ainda estávamos nos agarrando quando ouvi meu nome, e não estava vindo da boca do dele, mas de algum lugar da sala:
e Amélie são vistas conversando amigavelmente em uma confeitaria. A famosa assessora de parece aprovar a nova namorada do ator e há boatos de que elas estejam trabalhando juntas... Será que a garota está tentando entrar para o mundo dos artistas?
Ainda estávamos abraçados, mas ninguém se mexia. Eu nem conseguia respirar direito e, só então, percebi que estava prendendo a respiração, encarando o sofá da sala. estava olhando para mim, tentando analisar qual seria a minha reação; ao menos, foi o que imaginei. Enfim, nossos olhos se encontraram, os dele estavam assustados, e eu estava do mesmo jeito.
— Vocês saíram juntas? — ele soprou baixinho, como se estivesse com medo da minha reação. Assenti com a cabeça, e ele semicerrou os olhos. — Por quê?
— Eu fiz um trabalho pra ela, então quando terminamos, ela me chamou para jantar, mas claro que eu não aceitei. — Revirei os olhos. — Mas, então, nós fomos até a esquina, tomar um café, e ela me agradeceu por ter feito o trabalho em tão pouco tempo... — Ficamos alguns segundos em silêncio, até que eu completei: — E ela também me convidou para a festa da empresa.
— Você vai? — pareceu levemente incomodado, finalmente, me soltando e quase fazendo com que minha toalha caísse. Não o respondi, até porque eu ainda não havia decidido. — A Amélie chamou todas as pessoas que a empresa dela assessoria.
— Vai ter muita gente lá, então. — Ele concordou com a cabeça. — Você não quer que eu vá, ou o que?
— Não. — passou as mãos pelo cabelo. — Não é isso. Eu quero que você vá comigo, só que eu não queria ir.
Mais uma vez, assenti com a cabeça. Ele ficou estranho tão rapidamente que isso me pegou mais de surpresa que a notícia que havia escutado há pouco. Apontei para a panela quando voltou a me olhar e, enquanto ele seguia para a cozinha, voltei ao quarto para me trocar, nada mais que um moletom bem quentinho.
Jantamos no sofá, mesmo e, como sempre, a comida estava divinamente gostosa. Talvez eu precisasse de umas aulas de culinária com o . Quando fiz a proposta, ele sorriu e disse que eu teria que aprender com a avó dele, mas que, infelizmente, ela já não estava mais viva, então eu teria que ficar apenas na vontade de cozinhar bem. Quando terminamos, ficamos apenas deitados no sofá da sala, jogando conversa fora e assistindo qualquer filme que estivesse passando na televisão.

Estava morrendo de frio e não conseguia me aquecer de jeito nenhum, e, talvez, este tenha sido o motivo de eu ter acordado.
Não estava mais na sala e, sim, no quarto, com a janela parcialmente aberta e uma chuva forte caindo lá fora. Provavelmente, fosse essa a razão do meu frio, mas quando olhei para o outro lado, estava enrolado em meu cobertor como um rolinho primavera, não deixando nada para mim. Levantei-me e fui ao banheiro. Quando voltei, ele ainda estava do mesmo jeito. Olhei o relógio do celular, e ainda eram duas da manhã. Dei um sorriso só por saber que poderia dormir mais algumas boas horas. Deitei-me na cama e tentei puxar um pouco do lençol, sem acordá-lo, mas ele abriu os olhos e sorriu. Sorri de volta e, então, puxei o cobertor, e ele chegou mais perto, cobrindo nós dois, e me abraçou. Notei que ele estava bem quentinho; fiquei em dúvida se a febre havia voltado ou era apenas porque ele estava todo embrulhado antes.
Boa noite, babe — sua voz rouca de sono soprou em meu ouvido, antes de ele voltar a fechar os olhos.
— Eu perdi o sono... — disse baixinho, testando se ele estava dormindo ou apenas relaxando. Ele sorriu, e sorri de volta, sabendo que ele também não estava com sono. — Que horas nós fomos dormir?
— Não era tarde. — Enfim, abriu os olhos e ficamos nos encarando por um tempo. — Você tá tão bonita.
— Você é muito bonito, — confessei.
— Eu sei — disse convencido, brincando. Revirei os olhos, e ele sorriu. — Desculpa por ter roubado seu cobertor, mas eu estava com muito frio.
— Eu não estava, até você virar um egoísta e ter tirado o meu cobertor de mim — frisei o pronome possessivo, e ele sorriu mais uma vez. Ele deu de ombros, beijando meu ombro. — Nunca imaginaria que você fosse do tipo carinhoso.
— Você nunca pensa nada positivo de mim. — Ele piscou.
— Antes, eu achava isso... Hoje em dia, não tanto. Eu prefiro mil vezes você agora que quando te conheci.
— Às vezes, eu sou meio babaca — ele disse como se não quisesse nada, mas não me contive e comecei a gargalhar.
Ele me beijou mais uma vez no ombro, então aproximei nossos rostos e beijei seus lábios, o que ele logo entendeu para que aprofundasse o beijo. Ficamos agarrados, trocando carícias, até que ele disse que finalmente poderíamos terminar o que a notícia da televisão tinha interrompido. E, então, ficamos de um jeito que ainda não tinha acontecido. Foi estranho e bom. Muito bom.

*


Nunca, em todos os dias da minha vida — até aquele momento —, me imaginei naquela situação. Já havia ido a um conhecido spa, a um salão de beleza e agora estava na casa de , colocando o último acessório que faltava para me sentir uma mulher digna de um tapete vermelho.
A festa era black-tie, então não seria legal pegar qualquer um dos meus vestidos e pronto. Ontem, na sexta-feira, disse que tinha um presente para mim. Eu não sou a maior fã de surpresas, e isso envolve presentes, mas ele foi muito gentil em me chamar para almoçar e, lá, me entregar uma caixa enorme, guardando um vestido longo e preto que parecia ter acabado de sair de um tanque cheio de glitter de tanto que brilhava. Era de tirar o fôlego, e eu fiquei morrendo de vergonha. Ele não precisava ter me dado aquele vestido. Eu sabia que havia sido caro e não o queria gastando dinheiro com besteiras. Mas, agora, com o vestido no corpo e totalmente pronta para a festa, me sentia muito besta por ter feito birra para aceitá-lo.
não ficava atrás. Vestia um smoking preto e camisa branca, nada muito distante do clássico, mas estava simplesmente deslumbrante naqueles trajes.
Não era de se admirar que todo mundo olhava para ele quando chegamos ao local da festa. Claro que tivemos que parar por várias vezes no tapete “vermelho”, que, na verdade, era azul, cor característica da empresa que Amélie era a dona.
Logo quando estava sendo entrevistado, avistei a anfitriã mais à frente, também dando entrevistas e posando para diversas fotos. Nossos olhares se cruzaram por alguns segundos, e isso foi o suficiente para que o meu humor mudasse.
Quando dei por mim, Amélie já estava ao nosso lado, pedindo para que nós três tirássemos algumas fotos juntos e, assim que isso foi feito, ela segurou em meu pulso para que só nós duas tivéssemos algumas fotos só nossas. Eu não queria ficar ali, ao lado dela, mas sorri brevemente para não parecer rude. veio até nós e, com certeza, ele queria me salvar daquele martírio e teve seu próprio momento com a mulher, mas, diferente de mim, eles eram amigos de longos anos, e todos podiam ver aquilo pelo modo como eles sorriam. Ele percebeu que eu estava totalmente deslocada naquele lugar; rapidamente, voltou ao meu lado, dando um aceno com a mão, e nós entramos no salão.
Certo que ‘salão’ não era a definição que aquele lugar merecia. Lembrava muito mais um teatro sem os acentos, agora, com mesas de jantar. Era todo coberto de paredes luxuosas e pinturas espalhadas pelos dois lados, da entrada até o fundo que abrigava um palco grande o suficiente para estrelar grandes peças.
Eu não conhecia muito bem aquele lado da cidade — apesar de não ficar muito longe da casa de Ashley —, mas não me lembro de ter passado naquela rua e não ter reparado no prédio. Desde a escadaria na entrada, até onde tinha passado os olhos, era tudo muito bem arquitetado e luxuoso.
conhecia a maioria das pessoas presentes naquela festa, dizendo que eram clientes, amigos e a própria família de Amélie. Eu não sabia quem era a maioria das pessoas ali, só os artistas agenciados pela empresa, claro. Fui apresentada a muitos deles e fiquei surpresa quando muitos diziam saber quem eu era. Pensava que eles me conheciam por ser a “namorada” do , mas, após receber diversos elogios, percebi que eles me reconheceram pelo meu trabalho, estampado em quase todos os cantos da festa. Estava mais que orgulhosa de mim mesma!
— Os meus pais não puderam vir, eles lamentaram muito. — disse baixo assim que sentamos a uma mesa com mais dois homens.
— Seus pais? — Minha voz saiu mais baixa ainda. Não sabia nem que os pais dele tinham sido convidados.
— Sim, eles são amigos da Amélie desde muito cedo. Minha mãe morava na mesma rua da casa dela. — Até aí, eu não havia ficado nada apreensiva, mas foi só ele completar que minhas mãos gelaram: — E eles estavam ansiosos para te conhecer.
— Me conhecer? — Meus olhos estavam arregalados, e minha boca, escancarada. — Por que seus pais querem me conhecer?
, nós estamos namorando... — soprou em meu ouvido, e aquilo me fez sorrir, para, logo em seguida, murchar. — Ao menos, eles acham que isso é verdade.
— Entendi.
Não havia razão para eu ter ficado sentida com o que ele tinha dito. Aquilo era a mais pura verdade, e eu estava totalmente ciente disso, mas acabei ficando magoada. Por quê? Eu não fazia a menor ideia.
Logo fomos informados que algumas apresentações iniciariam e, assim, ficamos quietos em nossos lugares por bastante tempo.
Primeiro teve uma cantora fazendo uma bela música ambiente e a sua voz era tão calma que relaxava todos. Em seguida, vieram alguns discursos da própria Amélie, seu marido e sua filha.
Eu não fazia ideia de que ela tinha uma filha. E ela era linda!
— Ela mora em Los Angeles. — confidenciou.
Ele estava um tanto quanto nervoso, e achei aquilo estranho.
— Vocês se conhecem? — Ele assentiu. — Eu não sabia que a Amélie tinha uma filha.
— Nós nos conhecemos há muitos anos. Teve um ano em que passamos o verão juntos. — olhava para o palco e sorria do que a mulher dizia.
— Juntos? — Ele assentiu mais uma vez com a cabeça. — ? — chamei sua atenção, chamando-o pelo sobrenome. — Juntos como?
— Num acampamento de verão. Acho que eu tinha uns quinze anos.
Suspirei. Geez! Eu estava com ciúme do com a menina, e eles nem ao menos tinham alguma coisa. Sorri sozinha dos meus pensamentos.
Assim que os discursos encerraram, a apresentação com a campanha publicitária foi apresentada, sendo extremamente aplaudida por todos. Meus olhos se encheram de lágrimas, mas eu havia demorado tanto tempo no salão para ficar daquele jeito que eu não borraria nada ali com lágrimas, por mais que elas fossem de felicidade.
Estava tentando não chorar quando ouvi meu nome nos alto-falantes. estava me olhando e sorrindo, mostrando os dentes branquinhos. Apertou minha mão e levantou-se, me ajudando a andar até o palco.
— Se não fosse pela aqui, esta festa provavelmente não estaria acontecendo. — Amélie brincou, e todos sorriram. — , muito obrigada por ter conseguido montar tudo isso em tempo recorde! — Ela simplesmente me abraçou, e todos voltaram a bater palmas.
Dei um suspiro de alívio quando terminaram de bater fotos nossas no palco e voltamos aos nossos lugares, onde o jantar já começava a ser servido.

— E, então, está gostando? — sorria para mim.
Estávamos dançando uma música lenta, como muitas outras pessoas estavam fazendo.
— Eu não estou acostumada a isto. — Revirei meus olhos e sorri. — Eu nem sabia que as pessoas ainda dançavam assim em bailes como este.
— É mais normal do que você imagina.
— Atrapalho? — uma voz feminina nos interrompeu.
Quando olhei ao redor, reconheci a filha de Amélie toda sorridente para nós dois.
— Ah... Claro que não, Penny. — ficou nervoso de um minuto para outro.
— Queria conhecer você, . — Ela estendeu a mão, e eu a cumprimentei. — O seu trabalho ficou maravilhoso!
— Muito obrigada!
— Será que você se importa se eu e o dançarmos essa música?
Olhei para ele, que estava vermelho por alguma razão que eu não conhecia. Assenti e voltei à mesa em que jantamos mais cedo.
Fiquei observando os dois, enquanto dançavam. Eles, com certeza, se conheciam há muitos anos; dava para perceber pela forma como eles conversavam e sorriam um para o outro.
Uma senhora, que estava sentada ao meu lado, me cutucou e disse:
— Achei que você e o fossem um casal...
— Nós somos.
Comentário esquisito o dela.
— Ah, vocês são aqueles casais liberais? — Fiquei confusa, e ela pareceu notar, pois logo se explicou: — Na minha época, se um rapaz estava namorando com uma mocinha, ele não ficava de conversa com a ex. — Ela sorriu, e arregalei meus olhos para o que ela estava falando. — Sei que não deveria comentar, mas achei que a Penny, enfim, casaria...
— Com o ? — Não consegui ficar calada.
— Sim. Eles namoraram por muitos anos, e todos achavam que daria em casamento, mas, veja só, hoje, ele está com você!
Alguém chamou a senhora, e ela pediu licença.
Sorri brevemente para ela e voltei a olhar para e Penny.
Certo que eu já desconfiava que alguma coisa havia acontecido entre eles, mas eu jamais imaginei que eles tivessem namorado por anos. Eu não conseguia engolir aquela história e, a cada minuto em que tentava me convencer a não ficar enciumada, mais o sentimento de raiva crescia.
Olhei meu celular, atrás de algo que me fizesse esquecer aquilo, mas todas minhas tentativas foram falhas. Loren logo disse que já iria dormir, e Ashley não respondia por nada no mundo. A única salvação foi Matthew, que respondeu no mesmo minuto em que enviei uma mensagem:
“O que você está fazendo acordada a esta hora, ?”
“Estou numa festa da empresa.”
Era basicamente o que aquilo era para mim.
“Está legal?”
“Nem um pouco.”
“Ouch! Eu imagino! Hahaha!”
“Estou com saudade de você!”
"Nós nos vimos na semana passada."
“Eu sei.”
“Logo a gente se vê e mata a saudade, que tal? O aniversário da sua mãe já está chegando, de qualquer jeito.”
“Você tem razão. Vou deixar você dormir, agora, porque eu sei que está tarde. Boa noite!”
“Boa noite, !”
Pensei por alguns minutos no que poderia fazer para matar o tempo, ao invés de ficar encarando Penny e dançando, conversando e rindo. Mas não consegui pensar em nada produtivo.
Fiquei mexendo em meu celular, sem saber o que fazer, até que abri uma foto minha e do Matthew em Miami, de quando fomos almoçar. Editei muito rapidamente e postei em minha conta no Instagram.
Foi uma coisa impensada e estava torcendo para que o visse a foto e ficasse com a mesma quantidade de ciúme que eu estava sentindo naquele momento.
Pouco depois, ele voltou à mesa, sem a ex e sorrindo. Sorrindo demais.
— O que aconteceu? — Dei de ombros, sem querer responder. — E por que você está com essa cara?
— Por que não me disse que era sua ex?
— Quem? A Penny? — Ele apontou para trás, onde imaginava que a mulher ainda estava. Assenti com a cabeça. — Não achei que fosse importante.
— Era por isso que você ficava nervoso? — Ele não respondeu. — Eu percebi, ! Não sou tapada.
— O que a vovó Dina estava falando com você?
— Quem é vovó Dina?
— A senhora que estava falando com você, enquanto eu e a Penny estávamos dançando.
— Ela foi a única pessoa honesta, nesta festa, que me disse a verdade. — Ele suspirou. — Eu já vou.
— Não, . — Ele pegou em meu pulso quando me levantei. — Nós não precisamos ir embora agora.
— Eu não disse que você precisa ir comigo, . — Soltei-me de seu pulso e caminhei até a entrada do salão.
Estava procurando um táxi disponível e esperando que o viesse me encontrar e pedir desculpa, mas ele não fez isso. Demorou um pouco até que eu conseguisse um taxista bondoso o suficiente para me levar embora para casa. Estava com tanta raiva do que acabei descontando tudo na porta do apartamento, quando a fechei tão forte que o barulho devia ter acordado algum vizinho.
Assim que me sentei no sofá, tirei os sapatos e liguei a televisão para ter algum barulho que me fizesse companhia. Funguei algumas vezes, até, finalmente, deixar que o choro tomasse conta de mim. Odiava-me, naquele momento, e estava chorando de raiva do por não ter dito que eu estaria na mesma festa que a ex-namorada dele. E ela era simplesmente deslumbrante e totalmente o tipo dele. Acabei me lembrando deles juntos; conversando, sorrindo e dançando. Eles foram feitos um para o outro.
Solucei alto com o susto que tomei quando ouvi meu celular tocando. Sabia muito bem quem era.
— Oi.
, onde você está? — Sua voz estava baixa, em comparação com a música de fundo.
— Com certeza, não no mesmo lugar que você.
Por que você foi embora sem mim? — Alguém o chamou, mas não identifiquei a voz. — Como você foi embora?
— Táxi.
Você vai mesmo brigar por causa da Penny? — Não o respondi. — Bonita sua foto com o Matthew — disse o nome do meu amigo em tom de desgosto.
— Obrigada! — Conseguir descarregar todo o sarcasmo em apenas uma palavra.
Dois podem jogar esse jogo. — E desligou.

Capítulo 6 - Visitantes da West Coast


(Música indicada: Katy Perry ft. Snopp Dogg - California Girls)

Acordei com uma baita dor de cabeça, resultado das lágrimas derramadas na noite passada. Até aquele momento, eu não acreditava no que o tinha sido capaz de fazer.
Depois que ele desligou na minha cara e eu voltei a chorar baixinho no sofá de casa, chegou a notificação de que ele tinha postado uma nova foto em seu Instagram: ele e a Penny, a ex. Foi, então, que eu comecei a soluçar igual uma criança pequena quando a ela é negado alguma coisa.
Na foto, ele estava abraçando a mulher pelos ombros e eles estavam rindo, mas acompanhados de algumas pessoas que eu me lembrava de ter visto na festa.
Eu não sabia definir se estava com mais raiva dele, ou de mim, por estar chorando. Eu sabia que estava com ciúme, por mínimo que fosse o sentimento, mas estava.
Quando Ashley viu minhas mensagens e ligações não atendidas pela manhã, ela me ligou, perguntou o que tinha acontecido, e eu expliquei tudo. Ela disse que era normal ter ciúme, mas que, se eu quisesse companhia, poderíamos nos encontrar no estúdio em que ela faria uma sessão de fotos para uma marca de calças jeans.
Como, em outras vezes, eu já havia comparecido, não achei problema ir até lá e abusar da companhia da minha amiga. Ambas estávamos atoladas de trabalho quando voltamos de viagem e ainda não tínhamos tido tempo para nos encontrar.
— Não achei que você fosse mesmo vir. — Ashley me abraçou quando adentrei o camarim que ela usaria na troca das roupas.
— Eu não queria ficar sozinha em casa. — Ela sorriu em compreensão e voltou à cadeira em que estava sendo maquiada. — Você vai fazer as fotos sozinha?
— Não, tem outra modelo na campanha, mas ainda não conversamos, nem nada. Ela veio lá de Los Angeles.
— Todo mundo de Los Angeles decidiu vir a Nova York? — Brinquei, sabendo que minha amiga entenderia a piada. — Seu cabelo está mais escuro.
— Nem me fale... Preciso ir ao salão urgente!
Assim, nós ficamos conversando, até que ela tivesse que ir para frente das câmeras.
Avistei a outra modelo, e ela era linda, alta e morena. Talvez fosse um pré-requisito do contratante: ter uma modelo loira, e a outra, morena.
Elas estavam todas produzidas para a campanha, mas estranhei quando elas tiraram as camisetas que usavam e ficaram apenas com um tapa-sexo nos seios. Várias fotos foram tiradas, até que elas pudessem colocar as camisetas mais uma vez e as fotos recomeçarem.
Já tinha visto diversas campanhas da indústria da moda no mesmo modelo, mas não com o mesmo cenário.
Elas estavam em uma espécie de jaula; claro que era apenas um cenário montado exclusivamente para aquelas fotos, mas um tanto quanto atraentes.
Enquanto Ashley e a outra modelo trocavam de roupa, nos servi com uns doces que estavam disponíveis para as pessoas ali. A outra modelo veio até nós e se apresentou. Ela se chamava Beca, e aquele era seu primeiro trabalho pela agência de modelos. Não que Ashley também fosse da agência, ela tinha sido apenas convidada. Apesar de a garota ter dito que era seu primeiro trabalho, ela claramente havia nascido para aquilo; sempre segura nas poses e no “carão”.
Foram quatro figurinos diferentes e, em todos eles, eu acabei virando uma espécie de assistente da Ashley, tirando fotos e gravando pequenos vídeos para suas redes sociais.
— Você não quer almoçar com a gente, Beca? — perguntei à menina que parecia um tanto quanto perdida com o que fazia no celular.
— Na verdade, eu iria convidar vocês, só precisava falar com a moça lá da agência, mas parece que ela acabou de me dispensar. — Revirou os olhos.
— Então vamos logo, porque estou morrendo de fome. — Ash disse, nos fazendo rir.
Elas se organizaram e nós acabamos indo a um restaurante ali perto. O que acabou sendo a pior decisão que tivemos.
estava sorrindo e conversando com a Penny, e ela estava aproveitando para tocar o quanto quisesse nele.
Quando percebi, Beca e Ashley estavam caminhando em direção à mesa em que eles estavam e me vi apenas seguindo os passos delas.
Beca foi a primeira a se manifestar, cumprimentando Penny e apresentando-a a Ashley, depois a mim.
— Nós já nos conhecemos. — Penny disse, fazendo minha amiga e a modelo me olharem. — Ela trabalhou com a minha mãe.
— E você, , fazendo o que por aqui? — Ashley quis saber.
— Apenas colocando o papo em dia. — Ele nem ao menos se deu ao trabalho de olhar para mim.
— Aproveitem o almoço! — Beca disse e seguiu, andando, até outra mesa vaga.

Nós fomos logo atendidas e começamos a conversar. Por opção minha, sentei-me de costas para o lugar em que estava, mas sentia que ele me observava.
Beca era uma garota legal, de família boa, mas que não ligava para isso. Disse que quando fez dezoito anos, resolveu sair do conforto da casa dos pais para tentar o sonho de ser modelo e, só agora, aos vinte, estava podendo realizá-lo. Achei aquilo muito legal da parte dela; ter pais que lhe proporcionariam um mundo, mas que ela queria buscar o seu próprio.
— Eu nem uso o sobrenome, não por vergonha, ou nada do tipo, mas sei que, se usasse, todo mundo ligaria os pontos e me contrataria por causa da minha mãe — ela explicou.
— E qual é seu sobrenome? Talvez, eu saiba quem é a sua mãe. — Ashley perguntou curiosa.
— King.
Minha amiga e eu soltamos o ar pela boca ao reconhecer a mãe dela.
— Acho que já vi sua mãe em diversos programas de negócios... — comentei.
— Ela tem muitos investimentos. — Sorriu. — É tipo a mãe da Penny.
— Quem é a mãe da Penny? — Ashley quis saber.
— Amélie Dave — disse com um pouco de raiva, e Ash arregalou os olhos, entendendo tudo que eu havia lhe dito pelo celular mais cedo.
Acabamos de almoçar e trocamos contato, já que ela ficaria na cidade por mais dois dias e Ashley e eu gostamos da companhia da menina. Despedimo-nos e Beca foi ao hotel, enquanto nós fomos ao apartamento de Ashley.
Joe apareceu por lá e ficamos apenas deitados, assistindo a filmes e afins. Domingo jamais deixaria de ser um dia tedioso.
Fiquei incomodada quando percebi que Ashley e Joe estavam abraçados, pedindo por privacidade, e foi ali que me despedi deles, dizendo que precisava fazer algumas coisas em casa.
Chegando ao apartamento, sentei-me no sofá mais uma vez e abri o computador, ligando o Skype para falar com a Loren.
E o ? Quando vamos conhecer o senhor ? — Loren sorria ao perguntar pelo rapaz.
— Deve estar na casa dele. — Por impulso, olhei meu celular, esperando ouvir algo dele, mas não tinha nenhuma notificação.
Ih... Estão brigados?
— Acho que sim, não sei direito. — Dei de ombros.
Por que você não liga pra ele?
— Não, Loren.
Por favor... — Ela juntou as mãos, implorando. Revirei meus olhos, e ela sorriu, sabendo muito bem que eu cederia aos pedidos dela. — Chame-o para ir aí, e nós três podemos conversar.
— Não sei se ele está disponível, mocinha — disse, já discando seu número. Depois de dois toques, ele atendeu. — Oi. Tudo bem?
Sim. disse monossilábico.
— Você está ocupado? — Tentei não parecer nervosa, porque Loren estava ali, me olhando e esperando para poder “conhecer” o cunhado.
Sim. murmurou mais uma vez.
— Ele está ocupado, Loren! — disse à minha irmã, afastando o telefone. Ela soltou um “que pena”. — Então tá. Falamo-nos depois... — respondi ao .
Quem é Loren? — Escutei sua voz, antes de desligar a ligação.
Fiz sinal com o dedo para a minha irmã e deixei o computador na mesinha de centro, caminhando em direção ao quarto.
— Ela é a minha irmã e queria te conhecer.
Por quê?
— Por nada. Desculpa atrapalhar, .
Eu não estou ocupado. — Ele suspirou, e eu me vi suspirando também.
— Entendi. — Estava com vontade de chorar mais uma vez.
Que droga!
Você quer que eu vá aí? — A voz dele estava mais calma, não parecendo com raiva.
— Não precisa fazer isso, se você não quiser.
Chegarei aí em quinze minutos. — E desligou.
Voltei à sala, com uma Loren muito entusiasmada para falar com o , mas disse que não sabia se ele realmente viria, o que era verdade.
Ela me contou sobre a separação do nosso primo Arnould, e eu não consegui guardar a minha risada só para mim. Loren também sorriu, mas o que estávamos fazendo era errado, pois eles se amavam de verdade.
Assustei-me quando ouvi a campainha e dei um sorriso besta ao ouvir a voz de pelo interfone. Logo que ele subiu, já foi sentando-se no sofá, ao meu lado, e Loren só faltou chorar de tanta emoção.
estava tão sorridente que nem parecia que estávamos brigados e que ele tinha ficado o tempo todo com a Penny. Eu não conseguia desgrudar meus olhos dele, enquanto ele acenava e conversava eufórico com a minha irmã mais nova.
Loren pediu licença para atender ao telefone, e ele se virou para mim, ainda rindo.
— Sua irmã é meio louca. Gostei dela! — comentou, me olhando.
— Ela é. — Sorri de volta e olhei ao redor, esperando por Loren.
Quando ela voltou e eles engataram uma conversa sobre séries que eu não acompanhava, fui até a cozinha. Estava com um pouco de fome e achei que seria legal fazer um pouco de pipoca para o e eu. Não demorou muito até o micro-ondas terminar de espocar os milhos e voltei a me sentar ao lado dele. Um beijo em minha bochecha foi o máximo que ele fez na frente da minha irmã e pegava vez ou outra uma pipoca.
— E quando você vem visitar sua irmã? — quis saber.
Acho que a que vem pra casa, agora, em novembro. Você vem, né? — Ela me olhava esperançosa. — Sei que o papai e a mamãe estão loucos para te conhecer, .
— Será feriado aqui, nos Estados Unidos, então estarei aí no aniversário da mamãe — murmurei, revirando os olhos. Já havia combinado tudo há, pelo menos, um mês.
— Seus pais não estão aí? — perguntou, aparentemente, do nada.
Eles foram a um jantar da empresa em que meu pai trabalha. Estou sozinha em casa e morrendo de fome!
— Por que você não faz alguma coisa pra comer? — Loren me olhou e começou a rir. Ela não era tão adepta a cozinhar. — Liga para o Matthew! Ele já está em Vancouver! Chame-o para comer fora.
Ele não me responde! — Ela sorriu. — Já tentei todos os meus amigos, mas todos estão ocupados...
Loren pareceu finalmente ter recebido uma resposta de algum de seus amigos e disse que sairia para comer com uns amigos da escola, e desligou a ligação.
— Obrigada por ter vindo falar com a Loren. Ela gosta muito do seu trabalho.
— Não tem problema. — Ele sorriu, mas logo fechou a cara. — Esse Matthew que você disse para ela chamar para comer... — Maneei a cabeça para ele prosseguir: — Era o seu amigo que estava em Miami?
— Sim.
— Então ele é amigo de todos na sua família? — Assenti. — Entendi.
levantou-se e começou a andar em direção à porta de casa. Perguntei aonde ele estava indo, e ele simplesmente disse que tinha um compromisso.
Não deveria estar me sentindo mal. Eu nem sabia por que estava me sentindo mal, mas estava.
Não chorei, nem nada parecido, mas passei o restante da noite enrolada em um cobertor, assistindo a comédias românticas na Netflix. Lá pelo terceiro filme seguido que eu estava vendo, meu celular começou a apitar feito louco, com mensagens da Ashley dizendo que ela e o Joe tinham discutido bastante depois que eu os deixei sozinhos na casa dela. Chamei-a para uma “noite do pijama” e nós duas ficamos até tarde assistindo The notebook, 27 dresses, Life as we know it e muitos outros títulos com o mesmo gênero.

Na segunda-feira, eu estava quase sem nada para fazer no trabalho, já que todos os projetos para o thanksgiving já haviam sido produzido e já rodavam os televisores, internet e outros meios.
Shelly anunciou, pouco depois das dez da manhã, que Vincent havia telefonado e insistido para falar comigo, mas não me lembrava do nome. Pedi que esperasse na recepção e fui até onde ele estava.
Logo quando o avistei, lembrei-me da nossa última conversa. Ele era o repórter de uma revista adolescente que estava querendo uma entrevista minha com todas as forças.
— Olá, ! — cumprimentou-me, estendendo a mão. — Desculpe-me por vir aqui, atrapalhar seu trabalho, mas queria saber se você pensou sobre o que conversamos na última vez.
— Vincent, eu sei que esse é o seu trabalho, mas...
— É que você e o já estão juntos há quase um mês, e nós queríamos muito só fazer umas perguntinhas...
— Vocês já tentaram falar com o sobre isso? Eu não gostaria de me pronunciar sem que ele estivesse comigo. Ele é o famoso. Eu não! — frisei aquilo mais uma vez.
— Eu sei, mas é por isso que gostaríamos de falar com você. Para saber o seu lado, namorando alguém famoso feito ele. — Retorci a boca. Ele completou: — Aqui, mais um cartão para que você ligue. Estamos esperando sua ligação para falar sobre qualquer assunto. Tanto do presente, futuro e, principalmente, do passado! — Ele sorriu ao dizer aquilo, como se tivesse pensando na piada desde cedo.
Na hora, não entendi e apenas sorri, mas quando cheguei à minha mesa, liguei os pontos: eles queriam saber sobre a Penny; ela é quem estava no passado do e, agora, no presente também. Talvez eles nem tivessem parado de se falar esse tempo todo.
Deixei aquele assunto de lado e foquei no pouco que tinha para fazer naquele dia. Mais tarde, sendo distraída por mensagens da Beca, querendo que fôssemos jantar e, talvez, sair para dançar um pouco. Estranhei que ela quisesse fazer isso em plena segunda, mas lembrei que aquele seria seu último dia na cidade e disse que iria. Perguntei se ela tinha falado com a Ashley, e Beca disse que a loira havia confirmado presença.
Ainda era cedo para sair do escritório, mas estava entusiasmada para aquela noite, como se sentisse que algo de bom aconteceria. Animei-me ainda mais quando Ashley me mandou uma mensagem, dizendo que ela e Joe haviam conversado e estava tudo muito bem entre eles. Joe e Ashley eram o tipo de casal que não se desgrudava, mas que nunca se assumia, e os dois viviam muito bem assim.
Quando pude, finalmente, sair do ambiente de trabalho e focar no jantar que teria, me animei ao extremo, parando até em uma loja e comprando uma camisa nova para usar naquele dia.
Cheguei à minha casa e ainda tinha algumas horas até o horário marcado. Jantaríamos no hotel em que Beca estava hospedada e, de lá, nós iríamos decidir aonde ir para dançar.
Relaxei, tomando um banho de banheira e, depois, me arrisquei a passar maquiagem, usando um batom rosa choque e esperando que ele estivesse certinho em meus lábios. Vesti a camisa nova, colocando uma calça jeans e um salto, para que eu não ficasse tão baixinha perto das meninas, e chamei um táxi. Logo menos, a noite começaria de verdade, e eu mal podia esperar por ela.

Cheguei ao hotel por volta das oito da noite e logo encontrei Ashley e Beca no hall de entrada. O hotel em si era luxuosíssimo e muitas pessoas transitavam por ali.
Fomos direto ao restaurante e escolhemos uma mesa próxima ao palco que tinha ali, mesmo que ninguém estivesse tocando. Era um ambiente ainda mais luxuoso que a entrada do prédio; as mesas eram de madeira maciça e envernizadas, e combinavam muito bem com as cadeiras acolchoadas em vermelho-sangue. O ambiente era super aconchegante e convidativo, e tudo era muito harmônico.
— E o Joe? Está tudo bem, mesmo? — perguntei enquanto escolhíamos o que comer.
Ashley assentiu e sorriu.
— Joe é seu namorado, certo? — Beca ousou perguntar, e eu quase caí na gargalhada pela cara que a minha amiga fez.
— Não — disse simplesmente e voltou a prestar atenção no cardápio.
Beca ficou confusa e me olhou, pedindo alguma explicação.
— Eles estão juntos vinte e quatro horas por dia, mas não se assumem... — Revirei os olhos, fazendo a modelo sorrir.
Enquanto esperávamos nosso jantar, passamos a nos conhecer mais; Ashley contou sobre ter nascido e morado alguns anos em Los Angeles, e que sentia saudade dos pais, que ainda moravam lá. Beca ficou surpresa ao saber que eu era canadense e disse que nunca tinha visitado o país vizinho, mas sempre teve vontade.
Eu disse que, recentemente, eu e Ashley tínhamos ido a Miami, e logo a menina arregalou os olhos, dizendo que tinha amigas que nos viu no show e que contaram tudo a ela.
A cada momento que passávamos juntas, parecia que já nos conhecíamos há séculos. Era muito fácil conversar com Beca, e ela era engraçada com qualquer história que contasse.
Eu e Ashley pedimos uma cerveja cada, mas, como Beca ainda tinha vinte anos, não podia beber legalmente no estado de Nova York, então ficou decidido que ela seria a “motorista da rodada”, mesmo que nenhuma de nós três tivesse ido de carro até lá.
Como terminamos de jantar cedo e a conversa estava boa demais para ser interrompida, decidimos adiar algum tempo a nossa saída, indo bater um papo no quarto em que Beca estava hospedada.
Ficamos sentadas na antessala, enquanto ela foi colocar o celular para carregar, e não deixei de notar pela porta de vidro da sacada a fina chuva que começava a cair.
— Você comprou essa blusa recentemente, não foi? — Ashley me interrompeu, enquanto eu estava falando sobre o tempo.
— Sim.
— Por quê? — Ela estreitou os olhos em minha direção.
— Eu vi a blusa, gostei e comprei. — Suspirei e voltei a falar: — Não me interrompa! Essa chuva não pode atrapalhar nossos planos de hoje! — resmunguei.
— Tem certeza? — ela perguntou, e eu não entendi. — Comprou a blusa só por comprar?
— Do que você está falando, Ash?
— A blusa... Você não entra numa loja e simplesmente compra uma blusa. — Ela já estava sorrindo.
— Eu gostei! Você está super gata! — Beca adentrou o cômodo, rindo e comentando sobre o assunto que Ashley insistia em abordar.
— Obrigada, Beca! — Sorri para ela.
— Só estou dizendo... — Ashley levantou as mãos em rendição, sorrindo.
— Mudando de assunto... A Penny furou comigo de novo. — Revirou os olhos.
— Não era para ela estar com você o tempo todo? — Ash perguntou.
— Era, mas ela vai jantar com a mãe e uns parentes que estão na cidade, e pediu desculpa.
— Você a tinha convidado? — ousei perguntar. Não queria aquela mulher no nosso passeio.
— Tinha, mas ela parece estar sempre ocupada demais para fazer o trabalho dela.
Beca comentou, também, que, apesar daquele ser o primeiro trabalho do novo contrato dela com a Club Models, ouviu as pessoas dizendo que a Penny era a sócia majoritária, mas só trabalhava quando bem entendia e que só aparecia pelo prédio da empresa quando viagens precisavam ser feitas.
— Não estou falando por mal, mas ela tem uma agência de modelos respeitadíssima em quase todo o mundo, mas vive viajando às custas da mãe. — Eu e Ashley quase nos engasgamos com a cerveja quando Beca confidenciou aquilo. — Não que ela não tenha o próprio dinheiro, porque eu sei que ela tem.
— Achei que ela fizesse a mesma coisa que a Amélie — comentei.
— Ela é uma assessora, mas é dona de mais da metade da CM. Provável que a mãe dela que tenha comprado também. — Sorriu e nos fez sorrir.
Pouco depois das dez, decidimos que já estava na hora de procurar um bom lugar que nos fizesse dançar e, quem sabe, até beber mais um pouquinho; pouco mesmo, afinal, eu ainda trabalharia o restante da semana, antes do feriado da próxima terça-feira.
Beca era magra e tinha pernas longas e fabulosas que ficaram lindas em uma calça e uma bela sandália de couro preto. Ashley, por sua vez, estava mais loira e ainda mais bonita numa saia de cintura alta e um top.
Que ela não sentisse muito frio!
Assim que entramos no táxi e demos o primeiro endereço que conhecíamos, perguntamos a Beca se ela já tinha ido a alguma boate de Nova York, e ela respondeu que, das outras vezes que esteve na cidade, ainda era uma criança e nem pensava nisso; nós sorrimos e Ashley disse que a corromperíamos, e eu nada disse, já que a minha amiga não estava assim tão errada.
Ficamos na primeira boate, já conhecida nossa, e quando adentramos o lugar estava tocando 'Worth It , da Fifth Harmony em parceria com Kid Ink, o que nos fez deixar nossas bolsas e correr para a pista de dança. Não tinha como ficar parada com aquele ritmo! Em seguida, tocou uma das minhas músicas preferidas do momento: 'Focus', da Ariana Grande, e eu dançava e cantava energicamente.
Ashley foi a primeira a voltar à mesa e pedir um drink. Ela estava de férias, e as gravações da série já haviam acabado para ela, logo, poderia beber o quanto desejasse. Beca e eu voltamos, depois de dançar mais uma música que tocava no lugar.
Para uma segunda-feira, preciso confessar, havia muitas pessoas lotando a boate! Então eu estava admirada por ter que me escorar em algumas pessoas para poder chegar ao balcão e pedir dois sucos, um para mim e outro para Beca.
Tomamos nossas bebidas e conversamos mais um pouco, quando 'Sorry' tocou e nos tirou de nossos lugares para que pudéssemos dançar, e logo tocou outra música que eu não conhecia, mas que era latina e com uma batida bem forte. Avisei a Beca que estaria na mesa, caso precisasse de alguma coisa, e voltei a conversar mais um pouco com minha amiga.
Ela estava contando sobre como estava feliz que ela e o Joe estavam bem depois da discussão, quando arregalou os olhos para o que estava acontecendo atrás de mim. Quando Ashley apontou para o lugar e disse “olha isso!”, estava dançando, agarrado à Beca, ao som de 'California Gurls', música perfeita para o momento, já que ela era da Costa Oeste. As mãos dele no quadril da modelo, e as dela, ao redor de seu pescoço.
Meus olhos arderam, no mesmo momento, mas eu não choraria ali. Já estava parecendo uma criancinha que chorava por tudo, naqueles dias, e não faria isso de novo. Ele olhou para o outro lado, como se procurasse alguém, e depois olhou para onde eu estava, me reconhecendo no meio de todas aquelas pessoas, e sua expressão de surpresa foi automática.
Levantei-me de onde estava e já recolhia a bolsa e a jaqueta quando Beca e apareceram na mesa. Eles estavam suados de tanto dançar.
— Olha só quem eu encontrei! — ela disse toda sorridente.
— Oi, meninas! — e ele nos cumprimentou como se fosse uma coisa natural nos encontrarmos em boates. Ashley o respondeu, e eu fiquei calada. — A Penny está aqui em algum lugar, Beca.
Aquilo foi a gota d'água para mim. Já havia sido humilhada demais por apenas três dias seguidos. Primeiro, ele me deixa sozinha para ficar com a ex. No dia seguinte, está almoçando com a mesma mulher e, depois, está dançando todo agarrado com a Beca.
Chega!
Coloquei a jaqueta e deixei uma nota de cinquenta dólares na mesa para pagar o que havia consumido, e uma gorjeta bem alta. Ashley pegou minha mão e apertou levemente.
— Não me diga que você já está indo, ! — Beca quase gemeu de frustração, mas apenas assenti com a cabeça. — Mas é agora que a festa ficou legal! — disse, olhando para todos e parando em .
— Eu trabalho amanhã. Tenha uma boa viagem, Beca! — Tentei dar o meu melhor sorriso, mas sabia que, naquele momento, eu estava quase chorando.
Ashley levantou-se, assim que eu comecei a andar para longe deles, e me puxou, dizendo que eu não deveria fugir dali e, sim, conversar com o e resolver qualquer coisa que tivéssemos que resolver, mas parou de falar assim que viu meus olhos brilhando com as lágrimas não derramadas e, depois, olhou para o telefone, que brilhava com uma nova ligação. Minha amiga agarrou minha mão e começou a me arrastar boate a dentro, em direção ao banheiro, só parando lá dentro e atendendo ao telefone.
Ela respondeu algumas coisas sem sentido e, depois, arregalou os olhos e tapou um soluço que escaparia por sua boca. Desligou a chamada e me abraçou.
— Ash, o que foi? — Retribui seu abraço, mesmo sem saber o que estava acontecendo. — Ash?
— O Joe... — Ela estava quase chorando. — Ele está no hospital! Bateram no carro dele!
— Que hospital? — Distanciei-a de mim, mas ainda segurava em seus cotovelos para apoiá-la.
— Eu não entendi direito... Um cara foi quem me ligou e acabou de dizer. Eu tenho que ir lá!
— Nós já vamos, mas se acalma! — Apertei seus ombros, tentando passar algum conforto à minha amiga.
Ashley foi em direção à pia e jogou um pouco de água no rosto, secando-o logo em seguida e já enxugando algumas lágrimas.
Voltamos até a mesa em que Beca e conversavam animadamente e foi, só então, que notei Penny sentada ao seu lado com uma mão dele repousada em sua coxa, quase não dando para notar. Beca foi a primeira a perguntar o que aconteceu e, como Ashley não estava nas melhores condições para responder, contei brevemente o que sabia, vendo me observando e Penny sorrindo.
Eu odiava aquela mulher!
— Vocês já sabem onde ele está? — perguntou. — Estou com carro e posso levar vocês.
Eu iria negar, mas Ashley já estava concordando, e todos saímos o mais rápido possível até onde havia estacionado.
Foi um tanto quanto estranho ver entrelaçando os dedos nos meus e abrindo a porta do carona para mim. Eu não queria que ele encostasse em mim, mas não tive coragem o suficiente para dizer aquilo em voz alta.
Quando todos já estavam dentro do carro e Beca acalmava Ashley, ela ligou para o mesmo número e conseguiu o nome do hospital, então começou a dirigir mais atentamente que o normal. Acho que estávamos todos nervosos.
Foi uma longa viagem, até finalmente chegarmos, e Ashley quase se jogar do carro para chegar o quanto antes à recepção. Quase precisei correr para alcançá-la.
A funcionária do hospital disse que só poderia entrar uma pessoa para acompanhar Joe e, só depois que ele já estivesse num quarto, é que poderíamos visitá-lo.
Minha amiga não demorou um segundo para acompanhar a mulher e nos deixar para trás, num clima totalmente desconfortável para mim.
— Esse Joe... — Beca quis saber. — É o namorado dela? — Eu e concordamos com a cabeça ao mesmo tempo. — Ele está muito machucado?
— Eu não sei. O cara que ligou pra Ash só disse que ele estava sendo hospitalizado aqui. — Fui a primeira a me sentar nas cadeiras da recepção. — Só espero que ele esteja bem.
Não fiquei orgulhosa, mas usei o acidente do Joe como uma pequena desculpa para deixar algumas lágrimas caírem. Claro que eu estava preocupada com ele, mas estava sobrecarregada das encrencas do e precisava externar aquilo de alguma forma. Ele se prontificou a sentar-se ao meu lado e passar os braços pelos meus ombros, mas, gentilmente, eu os retirei dali e neguei com a cabeça.
Penny, que, até aquele momento, não tinha dito nada, quase gritou de susto quando seu celular apitou, fazendo-nos olhar para ela.
— Beca, nosso voo sai em uma hora e meia. — Ela estava desconsertada por dizer aquilo naquelas condições, mas entendi.
Elas não poderiam perder o voo por causa de pessoas que mal conheciam.
— As minhas coisas estão no hotel, está tudo arrumado... Acho que vou só esperar uma resposta da Ashley e podemos ir. — Ela tentou sorrir.
Mesmo que nos conhecêssemos há apenas poucos dias, ela estava genuinamente preocupada, e aquilo era muito legal da parte dela, mas sabia que não teríamos notícias sobre Joe e Ashley tão cedo, então tratei de dizer:
— Não sei quando vamos saber alguma coisa deles. Se você quiser, posso te informar quando eles derem notícia.
— Tem certeza? Nós nem nos despedimos.
— A Ash vai entender Beca, acredite. — Dei um sorriso forçado. Não queria que elas perdessem o voo. E, bem lá no fundo, elas perto do me preocupavam.
As despedidas foram breves e Penny tentou muito fazer com que ele fosse levá-las. Beca me olhava, enquanto eu os observava, veio até mim e pediu desculpa:
— Eu não tinha me tocado de que vocês eram o “ e ”. Desculpe-me, mesmo, . — Deu-me um abraço apertado e foi embora num táxi com a Penny.
Não queria ter que ficar ali com o , então fui até a cafeteria, buscar um chocolate quente, mas ele me seguiu na ida e na volta, como se tivesse ali para me dar um ombro amigo.
— Por que você não deixou que eu te abraçasse? — perguntou quando voltamos a nos sentar na recepção.
— Ainda estamos seguindo com o acordo? — perguntei de uma vez, ficando apreensiva com os segundos em que ele demorou a responder.
— Claro que sim, ! — disse como se estivesse ofendido, mas baixinho. Concordei com a cabeça, e ele ficou me encarando. — Isso é tudo por causa da Penny? Sério?
, é você quem precisa estar em um relacionamento, não eu. Então honre o seu compromisso e não saia com duas garotas numa mesma noite!
— Isso é mesmo por causa dela. — Bufou, revirando os olhos. — Nós somos apenas amigos.
— Você não me deve explicações...
Ele me interrompeu:
— Somos amigos, igual você e o Matthew.
— Eu já disse que você não me deve explicações! Só estou dizendo que, se eu ainda tiver que ser sua namorada, por favor, não fique com outras pessoas, porque os outros veem isso e vêm até a mim, perguntar se ainda estamos juntos.
— Quem perguntou?
— Isso não importa. — Lembrei-me do sorriso de Vincent, mas deixei aquilo de lado. Tinha outras coisas para me preocupar.
Ficamos calados, um sentado ao lado do outro, sem trocar nem que fosse um olhar.

Não me lembrava de ter pegado no sono e, muito menos, de quando me abraçou. Ele estava bem acordado e assistia a televisão, que estava ligada baixinho num suporte na parede.
Tentei me desvencilhar de seus braços, mais uma vez naquela noite, e ele finalmente notou que eu havia acordado.
— Você estava tremendo de frio, por isso te abracei. — Ele beijou o topo da minha cabeça. — Não me importo de continuar fazendo isso.
— Cadê minha jaqueta? — disse, olhando ao redor, mas aproveitando secretamente o seu abraço.
— Você não saiu do carro com jaqueta.
Estive tão nervosa para alcançar Ashley que não me lembrava sequer de ter tirado a peça de roupa.
— Que horas são?
— Três e alguma coisa, não sei direito. — Olhei para trás, na direção da porta que dava acesso às enfermarias e apartamentos. — A Ashley veio aqui mais cedo e disse que o Joe tá bem, só quebrou o braço.
— Por que não me acordou? — Eu estava com tanto sono que minha voz estava saindo enrolada.
— Ela disse que não precisava. Que era para você voltar só depois do trabalho, ou, então, na hora do almoço, mas, como o hospital fica um pouco distante, que você podia vir só à noite, mesmo.
— Em que quarto ele está?
— 416. — Ele apoiou o queixo no topo da minha cabeça. — Você já quer ir?
— Eu queria falar com a Ashley.
— Acho que ela está dormindo lá no quarto em que o Joe está, .
Ele tinha razão. Eu não precisava acordar minha amiga quando ela mesma já tinha dito que estava tudo bem e não tinha me acordado para isso.
Levantamo-nos e fomos em direção ao carro. Os braços dele ainda me cercando. Foi pura estupidez sair apenas com um cropped numa noite chuvosa.
Quando entrei no carro, vesti minha jaqueta e me senti melhor no mesmo momento em que ele começou a dirigir.
Adormeci em alguns momentos da viagem de volta, bem mais rápida que a ida por não haver trânsito àquela hora da madrugada, acordando totalmente apenas quando ele estacionou em frente ao meu prédio.
— Obrigada.
— Está me agradecendo por quê?
— Pela carona. — Mexi em meu cabelo. — Não sei se já estaria aqui ou procurando um táxi naquele lugar.
— De nada, . — Olhamo-nos por alguns momentos, antes de me despedir. Quando eu estava abrindo a porta, ele disse: — Eu fiquei muito puto quando vi aquelas fotos de você dançando e se agarrando com aquele cantor, e depois os vídeos de vocês num barco.
— Eu não estava me agarrando com ninguém, ! — Finalmente, estávamos falando daquilo. — Nós dançamos e foi só isso que aconteceu. No barco, nós só conversamos e bebemos, nada de mais. Eles estavam com várias mulheres lá, mas eu e a Ashley não fizemos nada. — Ele deu de ombros. — Ridículo foi o que você fez. Você se vingou só porque eu postei uma bendita foto. Uma foto, ! — repeti com mais sarcasmo. — Você poderia muito bem ter me dito que sua ex-namorada estaria lá, e eu não teria ido e feito papel de idiota, tendo que andar quase três malditos quarteirões, num lugar em que eu não conhecia direito, para arranjar um táxi e voltar para casa. Nós fomos àquela festa juntos!
— Mas...
Interrompi-o:
— Se você não quisesse que eu atrapalhasse sua noite com a Penny, era só ter dito alguma coisa, que eu não iria àquela droga de festa e não escutaria da avó dela que vocês tinham sido namorados. E, ontem, você almoçando com ela e, hoje, dançando com a Beca!
— A Penny é uma pessoa importante para mim, nós nos conhecemos desde sempre e estávamos só almoçando.
— Entendi, .
— E a Beca é praticamente uma adolescente, !
— Já entendi, . Tenha uma boa noite! — Ele segurou em meu braço, me impedindo de sair mais uma vez. — O que foi agora?
— Você está com ciúme ou o que?
— Ciúme besta. Isso não vai se repetir.
— Bem, eu também fiquei! Não quero passar por idiota na frente de todos.
— Eu não fiz aquilo de propósito, , diferente do que você fez. “Dois podem jogar esse jogo!” — citei suas próprias palavras.
Ele suspirou e passou as mãos pelo cabelo.
— Posso dormir aqui? — Arregalei meus olhos, diante da audácia dele. — Por favor, estou caindo de sono.
Acenei com a cabeça e saí do carro, com ele atrás de mim. Abri a porta do prédio e esperei que ele entrasse, e, então, fomos ao meu apartamento. Coloquei um cobertor na cama do quarto de hóspedes e avisei que tinha toalha limpa no banheiro de lá, caso ele precisasse. Voltei ao meu quarto e tomei um banho muito rápido. Troquei de roupa e fui até a cozinha para beber um último copo com água, para, então, dormir, mas me encontrei com vasculhando a geladeira.
— O que você quer aí?
— Estou com fome. — Revirei os olhos e fui até o armário, lhe entregando uma embalagem de Doritos. — Desculpa, .
— Não precisa pedir desculpa. Já disse que aquilo não vai se repetir.
... — me puxou pelos pulsos até ele e me abraçou, enfiando o rosto em meu pescoço. — Eu não deveria ter me vingado de você. De forma nenhuma. Desculpa, mesmo. Eu também senti ciúme.
Ele voltou a me olhar, e segurei seu rosto, aproximando nossos lábios num beijo bem simples. Ele sorriu, mas não retribuí, e ele me beijou de novo, só que com mais vontade. Separei-nos e disse que eu realmente precisava dormir, pois precisava acordar dali a três horas para trabalhar.
Saí de seu abraço e, quando estava andando para fora da cozinha, ele ainda estava escorado no balcão, me olhando. Voltei e fui puxando-o até o quarto, onde deitamos e ele me abraçou.
Antes de pegar no sono mais uma vez, senti que ele beijava meu cabelo.

Escutei meu celular apitar, mas não me dei ao trabalho de olhar. Senti se remexendo na cama para que ele mesmo pudesse ver o que estava acontecendo, pois ainda não estava me preocupando.

, é a quarta vez que eu venho te acordar! — Não sei quanto tempo havia passado desde que ouvi meu celular. — É sério, .
— O que foi?
Ele deitou-se ao meu lado e me abraçou, beijando minha nuca.
— Eu acabei de falar com sua chefe. — Sentei-me na cama com uma rapidez incrível e olhei ao redor. — Ela só ligou para dizer que você não precisa mais ir hoje.
— Que horas são?
— Duas da tarde.
— Ai, meu Deus! — Levantei-me da cama num pulo e fui ao banheiro. — Por que não me acordou antes?
— Eu tentei te acordar antes, mas, como você não fez o mínimo esforço para se levantar, inventei que você estava com cólica para a sua chefe, e ela só ligou, agora, para ver como você está e avisar que amanhã você tem uma reunião às nove e meia! — ele gritou, enquanto eu ainda estava no banheiro.
— Certeza? — gritei de volta, e ele murmurou que sim. — Podemos visitar o Joe? — pedi assim que me escorei no batente da porta.

Capítulo 7 - Oh, Canada! Our home and native land!


— Então você vai mesmo comigo? — perguntei pelo que parecia a quinta vez, e respirou fundo. — Eu não vou te obrigar a ir, . Quer dizer... Você não precisa ir.
Você quer que eu vá ou não? — Concordei. — Bem, então nós podemos comprar nossas passagens para depois das dez?
— Sim! — Estava pulando de alegria e quase gritei em meu escritório. — Ai, meu Deus! Eu amo você!
Agora, eu preciso desligar, .
Nem me despedi direito e desliguei.
Eu jamais imaginaria que o aceitaria ir ao aniversário da minha mãe em pleno feriado estadunidense. Geralmente, as pessoas que eu conhecia gostavam de se reunir com a família e amigos para celebrar o Thanksgiving diante de uma mesa cheia de comida e o tão tradicional peru. Mas ele disse que não seria problema passar dois dias longe da família para que pudesse, enfim, conhecer meus pais e, pessoalmente, a Loren.
Entendia muito bem que eu só passaria a segunda e a terça-feira com meus familiares, mas não poderia perder o aniversário da minha mãe por nada neste mundo. Ela estava chegando aos cinquenta anos, e aquela era uma data muito importante.
Voltei ao trabalho, não sem antes reservar duas poltronas no voo de NY a Vancouver, que sairia do JFK às 10h22 da manhã; teríamos quatro horas de voo em plena segunda-feira, antes do feriado.
Infelizmente, eu trabalharia na segunda e só conseguiria ser dispensada às dez da manhã. Mas isso não seria problema, já que estaria acompanhada do meu “namorado” e, depois, poderia rever minha família.
A sexta-feira passou em câmera lenta, até que eu pudesse sair do escritório e voltasse à minha casa para começar a arrumar minha mala de viagem. Não seria bem uma mala, estava mais para uma mochila abarrotada, já que o presente da minha mãe estava ali dentro e eu não poderia perdê-lo por nada neste mundo. Juntei dinheiro por um bom tempo, até encontrar o presente perfeito para lhe dar quando ela fizesse cinquenta anos, e uma joia da Cartier não era nada barata.
chegou um pouco mais tarde, trazendo uma sacola cheia de comida. Jantamos, sentados no chão da sala e assistindo a televisão. Ele estava calado, e aquilo era simplesmente estranho para alguém que falava até com a boca cheia.
— Você não vai mais poder ir? É isso? — Depois de vários suspiros que ele deu, resolvi perguntar. — É só você dizer logo ao invés de ficar aí, me olhando e suspirando.
— Não é nada disso, .
— Então o que aconteceu? — Já que ainda viajaríamos, fiquei tranquila e voltei a comer.
— Você me ama? — Parei de mastigar, no mesmo minuto, e tive uma crise de riso, me engasgando um pouco com a comida. — , respira! — batia levemente nas minhas costas e me entregava um copo com água.
— De onde você tirou isso, ? Tá maluco? — respondi, ainda rindo um pouco da sua pergunta. — É isso que estava te preocupando? — Estreitei meus olhos e o vi dar de ombros. — Por que você acha que eu te amo?
— Porque você disse. — Ele parecia uma criança quando os pais negam alguma coisa. Estava com os braços cruzados em frente ao tórax e fazendo bico.
Não me contive e o beijei rapidamente.
— Bom, duas coisas: — Enumerei com os dedos. — Um, eu não me lembro de ter dito isso; e dois, gosto de você, e isso é bem verdade, mas amar é um sentimento muito forte para duas pessoas que são totalmente diferentes e que se conhecem há tão pouco. Você não acha?
— Eu só perguntei porque você disse que me amava hoje, quando estávamos conversando sobre nossa viagem.
— Desculpa. — Dei de ombros, sorrindo e voltando a comer. Desviei o olhar para a televisão e, quando ele fez o mesmo, respirei fundo.
Eu havia mentido um pouquinho na minha resposta. Claro que eu não o amava; não ainda, pelo menos. Mas eu havia, sim, dito isso hoje, mais cedo e, na hora, eu estava tão eufórica que não reparei, até que desligasse a ligação que estávamos tendo. Se eu soubesse que isso o deixaria tão atordoado, eu não teria dito nada, mas foi algo totalmente momentâneo.
Depois de comermos e eu levar o restante das vasilhas à cozinha, voltei e me deitei com ele, à sua frente. Ele mexia no meu cabelo e, depois, nos meus braços, ou na alça da minha camiseta, beijava meus ombros e, então, parou por completo. Alguns minutos depois, só escutava ressonando baixinho em meu ouvido.
Tentei me levantar, sem acordá-lo, mas não obtive êxito, pois ele logo abriu os olhos quando eu estava calçando minhas sandálias.
— Você vai dormir aqui?
— Não, tenho uma reunião amanhã pela manhã. — Ele esfregou os olhos.
— Amanhã é sábado, .
— Eu sei — disse, já se levantando e calçando o tênis. — Mas pedi para que a entrevista fosse adiantada, já que, na segunda, nós vamos viajar.
— Que fofinho! — Passei meus braços ao redor do seu pescoço e beijei a região que consegui alcançar de seu rosto.
— Bem que você poderia dormir lá em casa... O que acha? — Ele me abraçou e beijou mais uma vez. — Por favor.
— Mas amanhã você terá reunião... — tentei argumentar.
— Eu sei. — Nossas testas estavam apoiadas uma na outra. — Por favor, ! — pediu mais uma vez, agora, baixinho.
Não consegui mais negar os pedidos do , e ele me fez arrumar uma bolsa com duas mudas de roupa.

*


Estava enrolada no edredom super macio da cama de . Havíamos dormido tarde na noite anterior, já que quando chegamos, ainda fomos assistir a alguns episódios da série que ele trabalhava. Ele tentou fazer com que eu não assistisse, dizendo estar com vergonha, mas, depois de três episódios seguidos, relaxou.
Ouvi vozes ao longe e imaginei estar sonhando, pois àquele horário não haveria ninguém em casa. Tentei voltar a dormir, mas ouvi mais uma vez as vozes e algumas risadas; estranhei e, enfim, levantei-me, indo até o banheiro e escovando os dentes, e, enquanto o fazia, ouvi mais uma risada; desta vez, reconheci ser a de e sorri involuntariamente. Talvez ele tivesse cancelado a reunião ou ainda não tivesse saído, apesar de já ser nove e meia da manhã. Terminei o que fazia e fui em direção a voz dele, que falava sobre a locação de uma cabana. Semicerrei os olhos e andei mais rápido, arrependida de ter adentrado a sala tão rapidamente.
— Bom dia, babe! — sorriu para mim, assim como mais dois homens, que estavam sentados de frente para ele. — Oh...
Eu estava morrendo de vergonha e senti minhas bochechas esquentarem, afinal, eu estava vestida apenas com uma calcinha e a camisa do me cobrindo. Quando ele caiu em si e notou meus trajes, levantou-se, mas estava paralisado, assim como eu. Os dois senhores desviaram os olhos de mim, e quase corri de volta ao quarto de .
Sentei-me na cama e segurei um travesseiro em meu rosto, como se aquilo fosse me esconder. Ouvi a porta abrindo e fechando, até que senti suas mãos sobre as minhas, tentando tirar o travesseiro dali.
... — Sua voz parecia divertida, e quis me matar com aquilo. — , olha para mim, por favor.
— Não, sai daqui! — Minha voz saia abafada. Ele tentou puxar o travesseiro mais uma vez, conseguindo, e eu me joguei para trás na cama. — Por que não me avisou que sua reunião seria aqui?
— Não achei que fosse necessário. — Ele, agora, estava deitado ao meu lado e me abraçava.
— Sai daqui, ! — murmurei mais uma vez, escutando sua risada.
— Eu só vou porque preciso terminar essa reunião. — Ele beijou meu cabelo. — Não vou demorar.
Com isso, ele me deixou sozinha no quarto, onde eu poderia me martirizar pelo que havia feito há pouco.

Antes de ele me deixar em casa, acrescentou que, além da surpresa, já estava escalado para um filme, e os homens que estavam em sua casa pela manhã eram os produtores, que marcaram a reunião para acertar algumas poucas coisas que faltavam. Claro que morri de vergonha e disse que eu jamais teria coragem de voltar a olhar nos olhos deles, mas disse que eles elogiaram a namorada que tinha.
Mais tarde, naquele mesma noite, ele ligou, dizendo que quando voltássemos de viagem, havia planejado uma surpresa para mim. E, apesar de não gostar tanto de surpresas, aceitei numa boa, aproveitando que estávamos nos dando bem.

*


— Que saudade que eu estava de você, minha filha! — Estava cercada pelos braços de minha mãe. Havíamos acabado de pousar. acompanhava tudo com curiosidade. — Eu fiz sua comida preferida!
— Não precisava, mãe. — Revirei meus olhos, ainda atenta em como se comportava.
Ele estava parado, escorado no carrinho com as nossas mochilas, e meu pai estava ao seu lado com os braços cruzados.
— Claro que precisava! Você está mais magra desde a última vez que nos vimos! — repreendeu-me e, então, se deu conta de que estávamos cercadas por Loren, papai e . — Você deve ser o , estou certa?
— Certíssima, senhora . — Ele chegou mais perto, cumprimentando minha mãe.
— Me chame de Emma, por favor. — Estreitei meus olhos para a minha mãe. Como assim “me chame de Emma”? Matthew, até poucos meses atrás, ainda a tratava como Sra. . — Esta é a Loren, mas acredito que você já a conheceu pelo computador.
— Já, sim. — ofereceu sua mão em cumprimento, mas minha irmã acabou abraçando-o e quase soltando um grito, até que eu a puxasse para o meu lado.
— Este é o meu pai Leon — apresentei os dois e os deixei conversar.
Não demoramos no aeroporto, até porque começaram a reconhecer e, logo menos, algumas fãs já estariam pedindo fotos e autógrafos.
e eu fomos sentados no banco traseiro do carro do meu pai, junto com Loren, que não parava de perguntar coisas sobre os episódios que ainda não tinham ido ao ar. Claro que ele não poderia falar nada, por mais que já tivessem acabado as filmagens, mas minha irmã só parou com as perguntas quando chegamos à nossa casa e seguimos todos para a sala.
Loren ficou sentada no chão, próxima ao sofá em que mamãe e papai se sentaram, e começaram as perguntas:
— E vocês se conheceram assim, no trabalho? — Meu pai não estava aliviando para o , mas ele estava se saindo muito bem.
— Sim! — Nós sorrimos; eu, de raiva, por me lembrar de Amélie, e ele, não sei do quê. — Depois, não consegui mais tirar as mãos dela...
Meu sorriso murchou ali mesmo e eu só queria me enterrar de vergonha pelo que ele havia acabado de dizer. Leon estava com os olhos arregalados, assim como minha mãe e Loren. Só parecia feliz com as próprias palavras.
— Pai, nós acabamos de enfrentar um voo de quatro horas... — tentei mudar de assunto. — Nós vamos deitar um pouco e, depois, descemos para comer. — Como não conseguia mais encarar meu pai, olhava aflita para minha mãe, que apenas concordou com a cabeça.

Como havia dito, e eu realmente fomos ao meu quarto. Ele ficou perambulando e olhando as fotos, e tudo que tinha espalhado pelo cômodo, enquanto eu colocava minhas coisas no armário.
— Seu quarto é tão arrumado. — Parei o que fazia e olhei para ele. — É porque lá em Nova York é tudo meio bagunçado...
— Não é nada bagunçado!
— É, sim! O seu guarda-roupa é bagunçado.
— Bem, isso faz parte da vida. — Puxei-o pelas mãos mais uma vez. — Dá para você parar de ficar olhando minhas coisas?
sentou-se na cama, enquanto eu tirava o sapato. Logo em seguida, deitou-se e me chamou para que eu me juntasse a ele. Eu disse que queria tomar um banho antes, mas ele foi muito insistente, e acabei deitando.
— Por que você disse aquilo ao meu pai? — Ele sorriu. — Ele vai te matar se você continuar falando essas coisas, sabia?
— Não vai, não. Relaxa.
Ele continuou mexendo em meu cabelo e, em pouco tempo, nós dormimos.

Acordei com uma batida na porta. Estava sozinha na cama e nenhum sinal de pelo quarto. Bateram de novo, e eu disse para que entrasse.
— A mamãe quer saber se você está doente ou alguma coisa desse tipo.
— Por quê? — Olhei-a confusa e me sentei na cama.
— Porque você não acordava nunca. — Ela sorriu. — Vem comer.
— Cadê o ?
— Ele e o papai foram ao mercado... — Loren abafou o riso assim que saiu do quarto.
Dei um pulo da cama e corri para o banheiro, apenas para escovar os dentes, e desci a escada, correndo. Queria saber se eles tinham mesmo ido ao mercado juntos, e tudo indicava que sim, então tentei relaxar e comer um pouco, afinal, quem nega a comida da mamãe?

's POV.

Não muito longe dali...

Estava calado, até o momento, e não sabia o porquê de Leon estar me ignorando e tratando mal. Certo. Ele não estava me tratando mal, apenas estava me ignorando completamente enquanto comprávamos algumas coisas que a mãe da havia pedido.
No caminho até o mercado, poucas quadras de onde eles moravam, eu havia tentado começar uma conversa, mas Leon estava no modo monossilábico, do mesmo jeito que ficava quando brigávamos. Era até engraçada a semelhança deles.
— Posso perguntar uma coisa? — Eu não consegui continuar calado. Leon não disse nada. — Bem, eu não sei o que fiz para o senhor, mas... Eu fiz alguma coisa?
Ele continuou sem responder, apenas suspirando e andando para mais longe de mim. Se ele não queria minha companhia, ele não a teria.
Enquanto ele entrou num corredor de biscoitos, fui em direção às prateleiras com salgados porque sabia que gostaria de um Doritos quando eu voltasse. Escolhi mais alguns itens e me dirigi ao caixa. Fui reconhecido pela atendente, e ela pediu uma foto, não neguei, e logo ela estava passando minhas compras e conversando comigo. Era muito simpática.
O pai de apareceu e também passou as próprias compras ali, naquele caixa. Eu o esperava apenas por educação, mas ele logo foi me empurrando do seu caminho.
— Qual é o seu problema, Leon? — perguntei não tão alto.
Não queria fazer uma cena na entrada do mercado.
— Senhor para você! — ele retrucou.
— Não vou te tratar com respeito se o senhor também não me respeitar. O senhor me conhece e, mesmo assim, fica me tratando como se eu fosse um “Zé ninguém”. Isso não se faz! — Agora estávamos parados do lado de fora do prédio, e o vento frio, acompanhado da fina chuva, faziam o frio ser congelante.
— Olha, rapaz, é o seguinte: eu não conheço você, não sei quem você é e não me importo se é um ator famoso ou um atendente neste mercado. — Apontou para o estabelecimento atrás de si. — Eu não acho que você seja a pessoa certa para a minha filha! — disse de uma vez e saiu, andando rápido para longe dali.
Jamais imaginaria ouvir aquelas palavras dele e até tentei perguntar o porquê, mas quando atravessamos a primeira esquina, ele apenas disse para deixá-lo em paz e que não precisaríamos trocar mais uma palavra, até que eu tivesse que ir embora da sua casa, o que não demoraria muito, já que eu e a viajaríamos na madrugada do outro dia.
Assim que chegamos à sua casa, , Loren e Emma estavam conversando na cozinha, onde as duas preparavam alguma coisa, e estava sentada na banqueta, comendo. Elas sorriram, e nós dois retribuímos.
— Trouxe uns salgados para você — disse baixo a , e ela sorriu mais uma vez, antes de se levantar e me beijar rapidamente.
Leon entregou os produtos que havia comprado, pegou uma cerveja na geladeira e foi à sala, sem dizer uma palavra.
— E, então, , como foram as compras? — Emma sorriu. — Tudo bem com o Sr. ?
— Tudo bem. — Não queria mentir, mas não queria preocupar ninguém, ainda mais depois de ver a cara que fazia. — Até que me reconheceram e precisei tirar uma foto.
— Isso deve encher o saco! — Loren comentou, recebendo uma cutucada da mãe. — O quê? Deve ser mesmo.
— No início, eu achava o maior barato, só que, agora, quando quero sair nem que seja para comprar leite, as pessoas ficam em cima.
— Mas isso é uma consequência de todo o seu trabalho... — Emma disse. — Não é de todo ruim, certo?
— Não. — Sorri fraco enquanto abraçava , que estava calada e não tirava os olhos de mim. — Não posso reclamar de tudo, claro. — Emma sorriu mais uma vez e voltou ao que fazia. Aproveitei e perguntei no ouvido de : — Aconteceu alguma coisa?
— Não. — Ela me beijou mais uma vez e foi colocar o prato na lavadora de louça.

Só deu tempo de tomar um banho quente e rápido, antes que o jantar fosse servido. Loren e o Sr. engataram uma conversa, que eu não me importei em prestar atenção, sobre basquete, mas sabia que ela jogava na escola. Quase todos nós estávamos comendo, conversando e nos conhecendo melhor, menos Leon, que havia tornado o clima cada vez mais frio entre nós dois.
Não queria deixar essa má impressão com meu “sogro”, mas não me esforçaria para agradar alguém que já tinha um pré-conceito formado sobre mim, e ficou, então, apenas aquele silêncio entre nós.

— Eu não sei vocês, mas já estou indo dormir! — Emma disse assim que o filme acabou. Era uma comédia romântica, e ela e só faltaram chorar. Loren e Leon já haviam ido dormir. Eles eram muito parecidos no jeito de ser. — Se precisarem de mais um cobertor, tem no armário debaixo da escada. — Ela deu um beijo rápido na testa da filha e, quando estava deixando o cômodo, falou mais baixo: — Protejam-se.
Não quis rir alto, então enfiei meu rosto no pescoço de quando não consegui segurar o riso.
— Deixa de ser idiota, ! — bateu em meu braço. Ainda estávamos sentados na mesma posição, com ela entre as minhas pernas, no chão da sala. — E não ligue para a maioria das coisas que a minha mãe fala. Ela não filtra muito o que diz.
— Eu já percebi! — Voltei a apoiar meu queixo no topo da sua cabeça, e ela olhava para a televisão. — Podemos subir e continuar assistindo a alguma coisa deitados? Ainda temos os salgados.
— Ainda bem que você lembrou! — ela disse mais alto e levantando-se rapidamente. — Estou doida, querendo Doritos.
Pegamos os pacotes de salgados e subimos para o quarto dela. Era tudo tão diferente do apartamento que nem parecia que ela havia vivido ali. sempre seria um mistério.
Ficamos deitados e abraçados, tentando espantar o frio e comendo tudo o que eu havia comprado. escolheu alguns filmes e, vez ou outra, olhava para ver se eu ainda estava acordado. Mas a verdade é que eu não conseguia tirar da cabeça as palavras que Leon disse mais cedo.
Ele estava certo em dizer que eu não era homem para sua filha. “Cara! Se ele soubesse a verdade sobre o nosso namoro...’’. Não podia negar que não concordava com o que ele havia dito porque eu achava que a maioria das suas palavras estavam certas.
Quando me dei conta, estava com uma mão dentro de uma embalagem e ressonava bem baixinho. Tirei sua mão do saco, empurrei tudo para o chão e desliguei a televisão, tentando dormir o mais rápido possível e aninhando cada vez mais em meus braços.

*


Estava saindo do banho quando bateu na porta. Ela precisava entrar para fazer suas necessidades. A noite havia sido muito fria! Saí, ainda rindo, do banheiro, e logo coloquei um moletom pesado, que foi a única peça de frio que havia eu trazido na pequena mala. Sentei-me novamente na cama, esperando minha preciosa namorada me acompanhar até o andar de baixo, não querendo ser intruso e perambular sozinho pela casa.

*


Assim que terminei de me vestir no banheiro, vi entrar, correndo e lavando o rosto na pia.
— O que foi? — quis saber.
— A maquiagem. — Ainda a olhava pelo espelho, sem entender. — Eu não sei me maquiar direito e borrei meu olho! — disse enfurecida.
— Por que não pede ajuda da Loren? — Ela olhou furiosa para mim. — Ou não...
Estávamos nos arrumando para a festa de aniversário da Emma, que já deveria estar começando, pois ouvia algumas vozes vindas do andar de baixo. Eu já estava pronto, vestindo camisa, calça, sapato. ainda estava de roupão, dizendo que tinha se arrependido de trazer apenas um macaquinho, mesmo sabendo o frio que fazia nesta época do ano.
Assim que ela saiu do banheiro, já com a maquiagem pronta — e não borrada —, lembrei-me de algo que havia trazido especialmente para ela.
— Vem aqui. — Entrelacei nossos dedos e a puxei em direção à cama, colocando uma pulseira prateada bem simples que eu havia comprado há alguns dias. — Gostou?
— Claro que sim! — Esticou o braço para que eu colocasse o acessório em seu pulso. — E combina direitinho com a minha roupa! — completou, rindo.
Então ela apenas retirou o roupão, mostrando um macaquinho todo brilhoso, mas não deixei de notar e comentar:
— Tênis? — perguntei, sorrindo, e deu a desculpa de estar aquecendo os pés.

Depois que descemos a escada e fui apresentado a alguns familiares e amigos, notei um pouco apreensiva com a chegada de alguém. Olhando para onde ela estava encarando, vi o mesmo homem da foto que ela havia postado poucos dias atrás. Tive certeza absoluta de que aquele era o “famoso” Matthew. E, depois que ele cumprimentou Emma e Leon, veio em nossa direção.
! — Ele a abraçou e beijou seu rosto. — Este deve ser o famoso ... — disse, olhando para mim.
— Sim. — Ela estava rindo e ficando toda vermelha. Esse babaca! — , este é o Matthew, aquele meu amigo...
— Prazer. — Fui cordial ao máximo e o cumprimentei.
Logo eles engataram uma conversa sobre coisas pessoais, e percebi que ele estava tentando me excluir da conversa. Pensei rápido, ao passar meus braços ao redor de , abraçando-a por trás numa clara demonstração para que ele recuasse.
A festa continuou seu ritmo, e eu não podia deixar um segundo sozinha, para ver Matthew já abraçando e falando coisas em seu ouvido.
Tudo seguiu tranquilo, até depois dos parabéns, em que Emma fez um breve agradecimento por todos estarem ali e o quão importante era este dia. Fiquei lisonjeado de estar presente nas fotos de família.
No momento seguinte ao discurso da mãe de , eu não a encontrava de maneira alguma. Ela saiu do meu lado, dizendo que tiraria algumas fotos com alguns parentes. Aproveitei para checar algumas mensagens em meu telefone, mas, assim que a procurei, não a achei em canto algum.
Depois de vários minutos e conversas com as amigas de Loren, e Matthew apareceram pela porta dos fundos. Ela não parecia muito feliz, e ele estava bufando de raiva, pelo que pude ver. Provavelmente, eles tinham discutido sobre alguma coisa, e eu ficaria mais que feliz em descobrir que era sobre mim. Pedi licença às garotas e segui , que subia os degraus da escada, até o quarto.
... — Nem terminei de chamá-la, e ela já estava me abraçando e chorando baixinho. — O que foi?
— Desculpa, ! — Limpou algumas poucas lágrimas e negou com a cabeça.
— O que foi? — repeti a pergunta.
— O Matthew... — Ela olhou ao redor, e acabei me aproximando dela. — Ele... Ele me beijou.
Aquele filho de uma puta!
Eu sabia que ele estava na festa, sondando os passos dela, mas não sabia que tentaria nada com todo mundo ali.
— Onde ele está? — perguntei, e ela assustou-se com meu tom de voz e só negou com a cabeça. — , onde ele está?
— Eu não sei. — Sua voz saia fraca, e sabia que ela estava mentindo. Eu sei disso! — Ele deve ter ido ao bar que fica no final da rua.
Sabia que me arrependeria da decisão que fiz em minha mente, mas não podia deixar aquele moleque sair ganhando e, ainda por cima, ter feito a chorar. Depois de me desvencilhar dela, saí em disparada, tentando alcançar Matthew.
Assim que deixei o interior da casa, olhei para todos os lados possíveis e vi uma breve agitação, e, ao fundo, uma música vinda do canto da rua.
Não me contive em ficar parado, de braços cruzados, depois do que havia me contado. O babaca havia beijado minha namorada e, por mais que nosso relacionamento fosse apenas uma fachada, ele sairia ganhando. Mas eu não deixaria isso acontecer!
Entrei no bar e eu estava ofegante. Não me lembrava de ter andado tão rápido até o final da rua em que havia morado. Eram, pelo menos, umas dez ou onze casas, até lá.
Sentei-me na banqueta do balcão e pedi uma cerveja. Ainda não o tinha visto por ali, mas sabia que isso não demoraria a acontecer.
Não precisei esperar nem dois minutos, até que Matthew saísse do banheiro e me visse ali, no balcão; provavelmente, sabia que eu estava esperando por ele.
Logo andou até onde eu estava e, quando ele havia chegado perto o suficiente, me virei em sua direção e dei um soco em seu rosto, único movimento que eu havia pensado em fazer desde que me contou sobre o beijo, e logo escutei um urro de dor da sua parte.
Matthew se escorou no balcão à medida que as pessoas cessaram suas conversas e passaram a nos observar.
— Você está maluco?! — o rapaz dizia, ainda segurando o queixo.
— Se eu souber que você deu em cima da mais uma vez, vou quebrar bem mais que sua cara! — Pesquei uma nota e deixei sobre o balcão, pagando a cerveja quase intocada que eu havia pedido.
Matthew gargalhou e avançou em minha direção, fazendo-nos cair no chão, e começamos a brigar para valer. Ele acabou acertando um soco nas minhas costelas, o que doeu como um inferno, mas o chutei para longe, ouvindo outro gemido de dor.
Estava me preparando para atacá-lo quando ele paralisou, olhando para a porta do bar. estava parada com as mãos cobrindo a boca.
Levantei-me o mais rápido que consegui, mesmo com as costelas doendo, e vi quando Matthew levantou-se e se apoiou numa mesa.
— Ok, rapazes. Não quero briga no meu bar! — Um homem alto e muito mais forte que nós dois apareceu detrás do balcão, começando a nos empurrar para fora do lugar.
— Imbecil. — Ouvi Matthew rindo logo quando cheguei perto de , mas aquilo foi como um impulso.
Andei em sua direção, esperando que ele começasse a correr para longe, mas ele continuou no mesmo lugar, esperando pelo meu ataque, conseguindo desviar do meu soco e me acertando mais uma vez na costela. Sorriu, achando que eu não o atacaria mais, até que consegui acertar mais um soco em seu queixo, fazendo-o cair no chão.
gritou e me puxou para longe dele, que, agora, era segurado por alguns homens que apareceram.
, pare com isso! — dizia com a voz rouca, parecendo que choraria a qualquer momento. — Deixe o Matthew para lá!
Com mais facilidade, ela conseguiu me puxar para longe do bar, já voltando em direção à sua casa.
— O que deu em você? — perguntou quando paramos a poucos metros da casa dela. — Eu só disse que o Matthew tinha me beijado porque não queria que você soubesse por terceiros e surtasse!
— E você queria que eu fizesse o que? Agradecer pela informação? — arregalou os olhos diante das minhas palavras. — Ele estava provocando desde que chegou à casa dos seus pais, e você sabe disso.
— O quê? — Sua voz saiu abafada. — Você está ficando louco? É claro que o Matthew passou dos limites, mas ele, com certeza, não fez isso intencionalmente.
Foi a minha vez de suspirar diante das palavras que ela acabava de dizer.
— Incrível que você esteja mesmo defendendo aquele idiota! — Sorri, carregado de sarcasmo. — Isso é tudo culpa sua, ! Se você não deixasse que ele chegasse tão perto, ele jamais teria te beijado, e eu não precisaria ter que bater naquele cara. Isso é tudo culpa sua! — repeti e caminhei de volta à casa, deixando-a com o queixo caído para trás.
A festa continuou acontecendo normalmente. Aparentemente, ninguém notou a saída que eu e demos, e tudo estava na mais perfeita ordem, mas não deixei de observar o olhar de repreensão vindo de Leon.
Não me importei muito com boas maneiras e segui direto para o quarto dela. Queria sair dali o mais rápido possível, mas ainda tínhamos mais quatro horas até que o voo decolasse às uma da madrugada. Tomei um banho o mais rápido que consegui e me deitei na cama; só naquele momento, lembrando e sentindo os socos que ele havia acertado nas minhas costelas.
Não conseguia dormir, sabendo que, a qualquer momento, entraria por aquela porta e estaria com raiva de mim. Sabia que não era totalmente culpa dela, mas estava estressado demais para admitir.
Pouco depois das dez, os barulhos na casa foram cessando, até que nada, além das portas dos quartos, fizessem barulho, indicando que todos já estavam indo dormir.
adentrou o cômodo, sem dizer uma palavra, e foi direto ao banheiro. Ouvi o chuveiro e, pouco depois, ela saiu de lá, indo direto ao guarda-roupa, escolhendo o que vestiria e voltando ao banheiro para se trocar.
Deitou-se ao meu lado, minutos depois. Não deixei de reparar que estava o mais longe que conseguia, sem cair da cama, e eu não conseguiria me virar para o lado oposto por causa das costelas.
Suspirei alto com uma pontada de dor, e ela virou-se para mim.
— Você quer um remédio para passar aí? — Neguei com a cabeça, e ela continuou me encarando. — Só para você saber, eu havia chamado o Matthew para conversar lá atrás e pedi para ele parar de implicar com você.
— Parece que ele não entendeu desse jeito.
— Quer saber, ? Vai se ferrar! — disse, virando-se de costas para mim e não agarrando meu braço, como fazia nas vezes em que dormíamos juntos.

Final do 's POV.

Depois de passar algum tempo deitada, sem conseguir dormir um minuto, meu celular apitou, informando que precisávamos nos arrumar e ir ao aeroporto.
Meu dia havia sido extremamente cansativo, e a briga que o havia começado só me deixou ainda mais cansada daquilo. Não via a hora de voltar ao meu apartamento e não precisar ficar perto dele por tanto tempo.
Levantamo-nos em silêncio e nos arrumamos tão rápido quanto possível. Nenhum de nós queria dar o braço a torcer, mas ele havia me culpado por “dar mole” ao Matthew e achava que eu pediria desculpa? Ele estava redondamente enganado.
Não queria fazer muito barulho e acordar a casa inteira, mas minha mãe estava na sala, e meu pai estava terminando de pegar seus pertences quando saímos do quarto.

— Queria muito que vocês pudessem ficar mais uns dias... — minha mãe disse ao me abraçar assim que nosso voo foi chamado.
— É uma pena, Emma. — estava claramente atuando. Tanto ele quanto eu não víamos o momento em que cada um iria à sua casa e não precisaríamos ficar no silêncio incômodo. — Prometemos voltar o mais breve possível.
— Tchau, pai! — Dei um abraço apertado nele, enquanto ele beijava o topo da minha cabeça. — Diga a Loren que eu ligo assim que puder.
— Ela vai entender, , e ela não precisava acordar no meio da noite apenas para te trazer ao aeroporto.
— Tchau, Sr. . — esticou a mão na direção do meu pai e fez uma cara feia, com certeza, resultado da briga de mais cedo.
Meu pai meneou com a cabeça e foi abraçar minha mãe, enquanto e eu íamos abraçados também até a sala de embarque.
Assim que saímos da vista deles, nos distanciamos e seguimos calados até nossas poltronas, esperando o avião decolar.
Pouco depois de estarmos no ar, e eu tentava dormir um pouco para não chegar totalmente cansada ao trabalho, reclamava sozinho sobre as dores que sentia. Então levantou o moletom, e pude ver, pela minha visão periférica, um grande roxo que se formava ali.
— Talvez o seu pai esteja certo em dizer que não sou o cara certo pra você — murmurou, antes de colocar os fones de ouvido e fechar os olhos.

Capítulo 8 - Teste de gravidez


Ainda era muito cedo, mas eu sabia que precisava acordar. Era a segunda vez que me chamava, e eu esperava que nós ainda não tivéssemos pousado. Morreria de vergonha, caso acontecesse.
Lutei contra a vontade de permanecer com os olhos fechados, sentada na cadeira confortável do avião, mas, assim que os abri, estava olhando atentamente para mim.
— Já vamos pousar. Você quer alguma coisa? — ele perguntou solícito, mas neguei com a cabeça e estiquei meus braços para tentar espantar a preguiça.
— Você não dormiu? — perguntei, depois de afivelar o cinto, conforme foi pedido no anúncio do início do voo.
— Não estava com muito sono... — apenas deu de ombros, e eu sabia que ainda estávamos monossilábicos por causa da catástrofe acontecida no Canadá. Mas sentia que nós não deveríamos estar conversando assim, entretanto, não fiz e nem falei nada para mudar aquilo.
Assim que descemos da aeronave, minha cabeça estava quase explodindo e eu precisava de um analgésico muito bom para me deixar boa para daqui a algumas horas. Sabia que voltar pela madrugada não era uma opção inteligente para alguém que trabalharia no dia seguinte, mas não poderia perder o aniversário da minha própria mãe.
Como pousamos às sete da manhã — horário local de Nova York —, teria apenas uma hora para tomar banho e comer alguma coisa, antes de ir ao escritório.
Ainda tivemos que esperar em uma fila, para sermos liberados e, então, esperar mais uma vez, agora, por um táxi, que nos levaria às nossas devidas residências.
Como já eram sete e quarenta quando conseguimos sair do JFK, propôs que fôssemos direto à casa dele, onde eu poderia tomar um banho e seguir dali direto para o trabalho, já que ele estava de férias.
Aceitei sua proposta, não sem antes pedir que parássemos em uma farmácia e eu pudesse comprar um medicamento para a dor de cabeça.
havia ficado no carro, para que o taxista não nos abandonasse ali, então não poderia demorar muito, mas, enquanto eu andava até o balcão de atendimento, algo me fez parar de repente e olhar as diversas marcas de tampon. Meus olhos estavam arregalados e minha mente tentava trabalhar na sua máxima capacidade, apesar da dor de cabeça, para calcular.
Só notei que estava parado ao meu lado e me encarando com certa raiva quando ele bufou.
— Por que você tinha que demorar tanto?
Só, então, percebi que ele carregava nossas mochilas.
— O que aconteceu? — Minha garganta estava seca e, com isso, minha voz saiu rouca.
— O taxista decidiu que esperar mais de cinco minutos não estava nos planos dele e me expulsou do carro. — Ele revirou os olhos e, em seguida, prestou atenção no que eu encarava há poucos segundos. — Se você precisa deles — disse, apontando para os absorventes —, apenas pegue e pague.
, e-e-eu... — gaguejava, enquanto meus olhos enchiam-se de lágrimas, e não conseguia mais pronunciar nada.
Vi-o desesperado ao meu lado e não entendendo nada do que eu tentava falar. Pediu a uma atendente para que usássemos o banheiro, e a senhora abriu gentilmente a porta do cômodo pequeno para nós dois.
Não pude ser muito crítica e sentei-me na tampa do vaso sanitário, enquanto tentava entrar com as duas mochilas nas costas. Não que nós precisássemos nos esconder de todos, mas nenhum dos dois queria ser visto naquele momento. Eu, principalmente, por chorar.
, você está me assustando. — disse, depois de colocar nossas mochilas escoradas na porta e se abaixar à minha frente. — O que aconteceu?
— Desculpa, ! Juro que não foi porque eu quis, e você também errou! — Passei as mãos pelo cabelo e tentei secar meu rosto.
— Desculpa pelo que? E no que eu errei? — Olhei em seus olhos e voltei a chorar. — Isso é pelo que aconteceu?
— O quê? — Funguei. — Não.
— Então você pode me dizer o que aconteceu e por que está chorando?
— Eu... — Respirei fundo e entrelacei meus dedos para parar de tremer. — É que estou atrasada. — ainda me olhava em confusão. — Sabe, atrasada, ? Do tipo, atrasada e...
Oh! — Ele pareceu entender, me interrompendo e olhando para as minhas mãos, próximas à minha barriga, e desconfiei que ele não encarava meus dedos. — Atrasada.
— Não queria entrar em pânico, mas... — Cobri meus olhos e voltei a chorar. Minha dor de cabeça estava ainda mais forte. — Eu preciso muito de alguma coisa para a minha cabeça.
— O quê? — Soou confuso.
Levantei-me e comecei a procurar pela minha carteira, enquanto apenas me olhava e não entendia nada. Pedi que ele chamasse a senhora que havia nos indicado o banheiro, e logo eles estavam de volta.
Pedi que ela separasse um teste de gravidez e uma cartela de remédio para dor de cabeça. Kate, como ela se apresentou, pediu para que eu esperasse alguns minutos e, neste meio tempo, empurrei para fora do banheiro e me troquei ali.
Não teria mais tempo para ir até a casa dele e voltar ao trabalho. Haveria uma reunião logo pela manhã e, como estávamos chegando a dezembro, tudo ficaria uma loucura no escritório.
bateu na porta e disse que Kate estava de volta com o que eu havia solicitado.
Precisei quase chorar de novo para que ela concordasse em aceitar o dinheiro pelos produtos ali. Não queria que mais ninguém me visse comprando um teste de gravidez e, ainda mais, com o me acompanhando.
— Você vai fazer o teste agora? Aqui? — arregalou os olhos.
— Claro que não! — Revirei os olhos. — Vamos combinar o seguinte: você vai à sua casa com a minha mochila, e eu vou direto ao trabalho. Quando eu chegar, hoje à noite, ligo para você, e aí decidimos onde nos encontrar... O que acha?
apenas assentiu com a cabeça, recolheu nossas mochilas, colocou as mãos nos bolsos e foi embora, sem sequer se despedir de mim.
Se ele ainda estava chateado pelo que havia acontecido no Canadá, continuaria. A culpa não era minha. E, se estivesse apenas em choque com a minha suspeita, bem, eu também estava, mas, ao menos, estava pensando e não parecendo tão assustada.

Consegui chegar não tão atrasada e corri para a primeira reunião que teríamos. Uma rede de lojas precisava de uma campanha para o natal.
Sério? Por que não vieram antes?
Tínhamos menos de um mês para produzir o conteúdo e começar a publicidade. Depois de duas reuniões, que acabaram por volta das três da tarde, foi que tive tempo para, então, almoçar. Já estava me sentindo fraca por passar tanto tempo sem comer, já que minha última refeição completa havia sido no jantar de aniversário da minha mãe.
Enquanto almoçava, liguei para Ash. Já tinha recebido duas mensagens dela e imaginei que Loren havia contado sobre o que aconteceu.
A ligação precisou ser rápida, pois eu ainda teria mais duas horas de trabalho pela frente e meu celular estava quase descarregando.
Pedi que ela me encontrasse em casa lá pelas oito da noite e logo desligamos.

Não consegui sair às cinco, como o planejado, e só cheguei em casa às oito e meia com o celular descarregado e com mais sono do que jamais havia sentido na vida, afinal, só havia conseguido dormir umas três horas durante o voo e fiquei exausta por tantas coisas que eu havia feito durante o dia.
Ashley estava dentro do carro, parada em frente ao prédio e com uma cara de poucos amigos, mas quando finalmente entramos em meu apartamento, eu a abracei, e ela suspirou.
— A Loren me contou. Eu sinto muito.
— Eu não estou assim por causa do ! — Tentei me convencer daquilo, e ela estreitou os olhos. — Tudo bem. Talvez o tenha sua parcela de culpa, mas estou quebrada! Não sei se consigo manter meus olhos abertos por muito tempo.
— Eu iria chegar aqui e brigar com você, porque eu estava esperando pela senhorita no frio há um bom tempo, e você não atendia o celular, mas posso fazer isso em outro dia que você esteja acordada. — Sorriu e piscou.
Pedimos uma pizza e comemos ali, no sofá da sala, enquanto eu aproveitava o carregador de celular que Ashley sempre andava na bolsa.
Quando terminei de explicar todo o acontecido, ela tentou me animar e dizer o quão bom as coisas estavam entre ela e Joe. Fiquei feliz pela minha amiga! Eles eram um exemplo de casal, por mais que não admitissem nada, mas estavam nessa há seis anos e alguns meses.
, posso ir, se você quiser dormir.
Era bem a quarta vez que Ashley dizia aquilo.
— Podemos almoçar amanhã — sugeri, não negando mais o meu cansaço.
— Amanhã eu não vou poder, pois tenho teste para um filme muito legal. — Minha amiga sorriu.
— Como sei das suas tradições, não vou perguntar o nome do filme! — Sorrimos.
Devolvi seu carregador e nos despedimos rapidamente para que ela não fosse atingida pela fina chuva que começava a cair.

Antes de me deitar na cama, ainda organizei as louças que Ashley e eu havíamos usado e tomei banho, para, enfim, desfrutar do conforto que a minha cama trazia.
Verifiquei o celular e havia algumas mensagens da Loren, da mamãe, do e do Matthew.
Estranhei a mensagem de Matthew, apesar de ele pedir para que eu o ligasse assim que não estivesse ocupada. Estava com um pouco de raiva dele. A culpa por toda a discussão com o era dele. Eu não havia pedido, em momento algum, para que ele me beijasse.
Loren apenas havia enviado um “Espero que sua viagem tenha sido boa! Amo você!". Respondi que sim, foi boa, e que já estava animada para nos encontrarmos no Natal.
havia ligado algumas vezes e, nas mensagens, pedia para que eu o respondesse que horas nós nos encontraríamos, mas eu não estava mais em condições de encontrar ninguém, até porque já passavam das dez e meia.
Ao reler a mensagem de e ficar algum tempo olhando para a foto dele, lembrei-me do teste na minha bolsa.
Por mais cansada que eu estivesse, não conseguia fechar os olhos e não me lembrar do teste ali.
Corri até a bolsa, peguei o produto e fui até o banheiro, ainda indecisa sobre fazê-lo. Minhas mãos tremeram, só em pensar no que aquilo representava. Assustei-me quando ouvi que havia chegado uma mensagem nova e rapidamente coloquei a embalagem no fundo do armário de remédios, e suspirei. Eu não podia estar grávida! Não agora!
Quando voltei a deitar e verificar o celular, era outra mensagem do :
“Você pode me responder?”
Estou indo dormir.
“Achei que você me ligaria para nós nos encontrarmos.”
Eu tive um dia muito cheio. Podemos marcar outro dia.
”Você quem sabe, .”
Não o respondi. Na verdade, eu não saberia o que responder àquilo. Ele estava com raiva e, bem, eu continuava insistindo que eu não tinha culpa alguma com toda a história do beijo. Ele, que, ao menos, pedisse desculpa por ter dito que eu havia provocado o Matthew e, por isso, tinha feito o que fez.
Acabei dormindo em meio àqueles pensamentos.

Na quinta pela manhã, enquanto estava trabalhando, recebi uma rápida ligação de Michelle, uma amiga que havia se mudado dos Estados Unidos há pouco tempo.
Michelle havia me chamado para almoçarmos juntas e colocarmos os assuntos e fofocas em dia. Aceitei, sem nem pensar duas vezes, mas, antes do almoço, ainda tinha uma reunião de pessoal com a nossa diretora de arte, o que não demoraria muito.
— Chelle! — Abracei minha amiga. — Que saudade de você!
— Você não imagina o tamanho da saudade de vocês todos me chamando de Chelle! — lamentou.
— Quero saber tudo sobre a Espanha.
— É uma maravilha sem tamanho. — Nós sorrimos.
O almoço foi agradabilíssimo! Sentia saudade dela e sabia que estava sendo difícil para ela começar uma vida nova em um novo país, mas lá, ao menos, ela estava ao lado de alguns familiares.
Assim que retornei ao escritório, finalizava um dos projetos e ajudava uma das meninas com os seus próprios trabalhos, também sendo ajudada vez ou outra.


's POV.

Era a segunda ligação da Amélie que eu ignorava. Não estava com cabeça para atendê-la. Na verdade, eu estava estressado com tudo à minha volta; principalmente, com a .
Depois da mensagem que ela enviou, dizendo que teve um dia cansativo, quase quebrei meu celular com raiva.
Não acreditava que ela estava conseguindo dormir enquanto não sabia da resposta do teste de gravidez, a não ser que ela o tivesse feito, mas não acreditei que ela esconderia o resultado de mim.
Eu adorava crianças, mas ainda era cedo. O certo é que eu já estava na casa dos trinta anos e, por mais que o “normal” fosse se casar e constituir uma família, eu não estava preparado para ter um filho, muito menos com a . Nós não estávamos apaixonados, e nem nada do tipo, para começar uma família assim.
Nós poderíamos ter esse acordo, mas não éramos um casal de verdade; ambos sabiam disso e, mesmo assim, estávamos naquela situação.
Tentei descontar tudo que sentia enquanto realizava meus exercícios físicos, mas sabia que não ajudaria muito, já que o estresse era apenas uma consequência dos eventos atuais.
Um fato: estava estressado porque estava ansioso com o resultado.
Enquanto estava preso no engarrafamento no caminho para casa, vi que não havia justificativa para estar tão nervoso. Nós dois éramos adultos e conseguiríamos lidar com uma criança em nossas vidas, mesmo que fosse algo sem planejamento algum, além de que eu não queria parecer estressado o dia inteiro.
Cheguei à minha casa e tomei um banho, apenas para sair de novo, já que teria uma reunião com um produtor e diretor de um longa.
Havia sido convidado a fazer um teste para um filme e fiquei animado com a ideia, pois pessoas bem experientes trabalhariam lá, e isso seria bom demais para a minha carreira e, consequentemente, para conhecer novas pessoas.
António Cabron era um produtor e diretor porto-riquenho que fez sucesso nos Estados Unidos pela direção de diversos filmes, a maioria deles sendo comédias românticas.
Se havia um projeto para uma adaptação de livros adolescentes e/ou jovens adultos, Cabron era o indicado para o trabalho, e ele não desapontava, sempre conseguindo grande sucesso nas bilheterias.
Apesar de seguir o clichê, como em todos os outros filmes do gênero, neste, o casal não ficaria junto no final — ou um gancho para um próximo filme ou apenas marketing.
O certo é que eu havia sido escolhido pelos produtores e estava um pouco apreensivo. Não costumava ficar nervoso, mas a oportunidade era enorme e, apesar de ter sido escolhido por encaixar nas características do personagem, ainda poderia não ser selecionado se não fosse bem no teste.
Tentando me controlar, antes de sair de casa, tomei bastante água e pratiquei alguns dos exercícios para respiraçãoo, que havia aprendido uns anos atrás. Não queria falhar no teste.
— Não esperava te ver aqui tão cedo, socio*! — António sorriu assim que entrei em seu escritório. — Como tem passado?
— Nada mal. Acabei de voltar de viagem.
— Eu também! Mas, ao menos, mi novia* resolveu vir junto. Sei que a Espanha é muito boa, mas aqui é tudo mais rápido.
— E como foi a viagem? — Atrevi-me a perguntar.
Não éramos exatamente amigos, mas não éramos totais desconhecidos.
— Michelle e eu estamos morando juntos. Só voltei aos Estados Unidos para trabalhar, e ela resolveu que precisava de uns dias de folga. A família dela quer que ela compre uma casa perto da deles.
— Oh! — Levantei as mãos e sorri. — Isso não é uma boa ideia.
— Eu é quem sei. — Deu de ombros e mexeu em seu computador. — Vamos ao que interessa?
António e eu fomos em direção a um estúdio, que ficava no mesmo prédio do escritório, mas lá tinha todo o equipamento necessário.
Quando adentramos o lugar, havia mais algumas pessoas ali; reconheci alguns maquiadores e até uns figurinistas, que trabalhavam incansavelmente em uma mesa redonda.
António explicou que eles estavam planejando algumas das peças para o filme, que começaria as filmagens depois do Ano Novo, mas que precisavam estar adiantados para cumprir o prazo final.
Seguimos até mais à frente, onde havia uma câmera. Ali eram gravados os testes de todos os atores para o filme e, quando me posicionei de frente para a câmera, tudo fluiu com perfeição.
A minha intimidade com a sensação de ser filmado era reconfortante e sabia que dali sairia uma bela filmagem, e que seria escolhido para o papel.
Quando terminamos, Cabron disse que a atriz escolhida era uma conhecida minha, a Alexis Bledel. Já havíamos contracenado em um filme e, anteriormente, em um drama. Esperava que tivéssemos a mesma química para o novo filme. Além da notícia, recebi muitos elogios dele, que disse que minhas habilidades como ator melhoraram muito e, por isso, fui uma escolha unânime entre os produtores do filme.
Deixei seu escritório/estúdio com um humor totalmente diferente de quando entrei, apesar de António ter convidado a mim e para um jantar, pois sabia que ela e Michelle — sua namorada — eram amigas. Acabei aceitando, mesmo sem saber se aceitaria o convite na atual situação que estávamos. Ela não era a minha maior fã quando discutíamos.
Não me preocupei com aquilo, no momento, e voltei para casa, atendendo ao telefone às pressas quando entrava na rua que eu morava.
, você é um maldito! — Reconheci a voz do meu amigo e, no mesmo momento, começamos a sorrir.
— Eu sou um amor, Brad! Cale essa sua boca!
Estou com as passagens e as chaves em mãos.
— Você conseguiu muito rápido. Subornou alguém? — Estacionei o carro e entrava em casa quando o ouvi sorrir de novo.
Só estou retribuindo um favor a um rapaz apaixonado...
— Eu já não disse para você calar essa boca? — Sorri um pouco.
Brad sabia de toda a história.
Não me importo se a sua namorada é de mentira, mas o que você me pediu para fazer foi bem verdade. Essa tal de é especial em alguma coisa... E eu estou louco para conhecê-la!
— Não seja você, mesmo se isso, um dia, acontecer. — Joguei-me no sofá. Estava cansado. — não parece em nada com a Penny.
A quem devemos agradecer por isso? — Sorrimos mais uma vez. Por isto éramos melhores amigos: não tínhamos frescura quanto à nossa amizade e sempre éramos honestos. — Já se resolveu com ela?
— Não vou me desculpar por algo que não fiz.
, você bateu no cara. Você não está achando que ela ainda é culpada porque um imbecil a beijou, não é?
— Eles têm um passado. — Brad ficou em silêncio. — Um passado bem longo, para falar a verdade.
Entendi. Passo na sua casa, hoje à noite, para sairmos e bebermos um pouco enquanto você me conta esse passado deles.
— Não quero falar sobre isso. — Olhei ao redor quando escutei o telefone de casa chamando. — Tem alguém ligando aqui em casa. Passa aqui umas oito horas.
Até.
Apesar de não receber muitas ligações no telefone de casa, atendi rapidamente, achando ser minha mãe, meu pai ou algum parente.
Amélie era quem ligava, e ela estava simplesmente gritando e brigando por não tê-la atendido antes. Brigamos, ainda, por causa de uns boatos que surgiram na imprensa, mas não eram simples boatos, eram relatos sobre a briga no Canadá e o porquê de eu e não sermos vistos juntos desde que voltamos à cidade.
Você não estrague esse contrato com essa garota, , ou eu juro... — Amélie se calou e respirou fundo. — Vocês não podem voltar agora, já que tiveram esses boatos sobre a briga. Vocês podem marcar na sexta-feira e apareçam o mais apaixonados que conseguirem. Você não pode estragar o plano agora, !
— Talvez tenhamos um problema pela frente. — Lembrei-me da possível gravidez, mas me contive em explicar a ela. — Mas daremos um jeito nisso.
Não quero problemas! Resolvam-se e esperaremos que vocês não me apareçam brigados mais uma vez, ou vou precisar fazer do meu jeito.
E desligou, antes que eu pudesse dizer que já estávamos fazendo do jeito dela.

*


— Não me diga que você está caidinho por essa menina, ... — Brad sorriu, enquanto eu o servia. — Aliás, se você está levando a para conhecer a tia Oli, então é sério.
— Não é nada disso! A minha mãe só está curiosa em saber como eu comecei a namorar tão rápido depois da Penny.
— E o seu pai? — Dei de ombros. Meu pai não se importava muito com quem eu estava namorando ou não. — Ele ficou surpreso quando reservei a cabana no seu nome.
— E por que mesmo você deu o meu nome?
— Seu pai é o dono do hotel. Ele estaria lá quando vocês chegassem, ... — Brad revirou os olhos e comeu mais um pouco do seu macarrão.
Estávamos em um dos restaurantes pertencentes à família de Brad e, como bons italianos, as massas eram os pratos principais.
Ainda ficamos, por bastante tempo, sentados, aproveitando a carta de vinhos do lugar, mas, assim que a noite caiu, fomos a uma casa noturna, mesmo que eu não estivesse tão a fim de sair de casa, mas Brad me convenceu de que eu precisava beber e espantar as coisas ruins que andavam acontecendo.

Fim 's POV.

Era tarde da noite e meu celular tocava incessantemente. Depois da sétima ligação ignorada, resolvi atender e escutar não só gritando, como uma música ensurdecedora ao fundo.
Não consegui entender várias palavras que ele dizia, só entendi "Estou indo aí!" e, logo em seguida, ele desligando.
Não queria que ele aparecesse na minha casa às duas da manhã de uma sexta-feira. Não queria nem que ele estivesse me ligando, se não fosse para pedir desculpa, pois eu estava estressada desde a última hora no trabalho, e ele — bêbado — não ajudaria em nada a me acalmar.
Como fiquei em dúvida se ele viria ou não, levantei-me e deixei o apartamento destrancado e a lâmpada da cozinha acesa. Ainda teria que me levantar para abrir o portão do prédio, mas deixaria o caminho mais livre, caso estivesse parcialmente acordada.
Voltei à cama e tentei voltar a dormir, mas simplesmente não conseguia. Estava ansiosa com a chegada dele e em saber qual seria o seu estado. Nunca o tinha visto porre e, sim, o contrário.
Saí da cama e fui à cozinha, faria um suco bem rápido e tentaria me acalmar enquanto assistia a televisão na sala, e, caso ele não viesse, ao menos, levei meu cobertor comigo para amenizar todo o frio que dominava Nova York nesta época do ano.
Não sei ao certo quanto tempo demorou a chegar, mas ele fez o favor de ligar para o meu telefone e não para o interfone do prédio, que, provavelmente, faria muito barulho e acordaria algum vizinho. Desci correndo e me xingando mentalmente por não estar vestida com meias, abri o portão o mais rápido que consegui e, em menos de dois minutos, já estávamos entrando em casa.
— Oi. — sorria.
A pontinha de seu nariz e suas bochechas estavam vermelhas por causa do frio.
— Oi. — Apontei para o sofá, num silencioso convite para que ele sentasse comigo, e ele o fez. — O que você veio fazer aqui?
— Eu estava aqui perto, então pensei em passar e ver como você está... — Revirei os olhos da desculpa esfarrapada que ele tentou usar e logo começamos a sorrir. — E queria pedir desculpa pelas coisas que eu disse, você sabe... — Fez um gesto incompreensível com as mãos. — Lá no Canadá.
— Eu jamais teria me oferecido ao Matthew, estando com você.
— Eu não disse que você se ofereceu ao Matthew.
— Você implicou isso quando disse que era culpa minha ele ter me beijado.
— Eu sei. — Ele se recostou no sofá e soltou o ar pela boca. — Desculpa.
— E aquilo nem foi um beijo... Eu o empurrei assim que ele chegou perto demais.
, desculpe-me. — me abraçou, e apoiei minha cabeça em seu ombro, enquanto ele beijava meu cabelo. — Você estava dormindo quando eu liguei?
— Sim, e você parecia estar bêbado, mas acho que me enganei.
— Às vezes, é ótimo ser ator! — Ele sorriu diante da minha surpresa pelas suas palavras. — Estava com um amigo e, se eu não estivesse “bêbado”, ele não me deixaria ir embora.
— Não entendi metade do que você disse, então não faz diferença. — Sorri mais uma vez.
— Eu só disse que estava com fome e precisávamos conversar, daí disse que vinha pra cá. Nada de mais.
— Você ainda está com fome? — Ele sorriu e assentiu com a cabeça. — Você come igual a um cavalo. Não sei como é todo sarado!
— Hey! — fez cara de aborrecido, mas estava na cara que queria rir. — Assim, você machuca o meu coração.
— Não tem nada pronto.
— E você não jantou? — Neguei com a cabeça. — Podemos pedir alguma coisa...
— Eu só quero voltar para a cama e dormir. Tenho que ir trabalhar em algumas horas, mas fique à vontade e não me acorde de novo.
Levantei-me enquanto dizia aquelas palavras, para, logo em seguida, me puxar, até eu cair sentada em seu colo.
— Amanhã nós precisamos conversar mais um pouco. — Beijou mais uma vez meu cabelo e meus lábios, e nos levantou, seguindo para a cozinha, e eu para o quarto.

Um pouco mais tarde, senti se deitar ao meu lado, e logo abracei seu braço, colocando uma perna sobre a dele, como em todas as outras vezes que havíamos dormido juntos.
Sentia saudade de estar assim com ele e nem mesmo havia me dado conta disso. Fiquei feliz quando ele pediu desculpa e assumiu que havia exagerado, mas ainda bem que, agora, essa história eram águas passadas e não deveríamos mais brigar por causa disso.
Assim, eu esperava.

No momento em que escutei meu despertador, me desvencilhei dos braços de e fui tomar uma ducha bem quente para me ajudar a enfrentar o frio que estava fazendo.
Enquanto me secava, encarei o armário de remédios e lembrei o que estava lá dentro.
O teste ainda estava lacrado quando o tirei do saco da farmácia. Minhas mãos tremeram, na mesma hora, e decidi que estava na hora de saber a verdade.
2 minutos...
3 minutos...
5 minutos.

Era agora ou nunca.
Li as instruções mais uma vez e olhei para a única fita rosa que apareceu no marcador. Fechei os olhos bem forte diante da notícia. Ainda esperei alguns minutos para ver se aparecia outra listra, e nada. Dei um suspiro de alívio e sorri, já saindo do banheiro.
Vesti-me enquanto tentava acordar o , mas ele parecia uma pedra e com o sono bem pesado.
Peguei o marcador com o resultado e fui até a sala, escrevendo um bilhete bem rápido e deixando embaixo da carteira dele, junto com o resultado, e saí para o trabalho:
"Não foi desta vez, campeão! 1 só listra quer dizer que deu negativo! Me ligue quando acordar! :)"

*Socio é uma gíria usada em Porto-Rico para denominar amigo/colega;
*Mi novia significa minha namorada.


Capítulo 9 - Bubbles, roadtrip e Natal!


e eu estávamos tão unidos, nas últimas semanas, que ele estava passando mais tempo em meu apartamento que na própria casa. Não que isso fosse um sonho! Acabávamos discutindo várias vezes sobre coisas pequenas do dia-a-dia, mas sempre nos resolvíamos e dormíamos juntos. Na última semana, nós não havíamos brigado uma vez. Tudo graças ao presente que me dera.
No dia anterior, ele não havia dormido em meu apartamento porque brigamos sobre ele reclamar que eu trabalhava muito. Nessa noite, ele não dormiu em casa, mas, na manhã seguinte — um sábado —, me ligou cedo, por volta das sete da manhã, e disse que tinha um presente para mim. Eu disse que não me importava e que ele não deveria tentar me comprar com presentes, porque isso era errado, e desliguei. Mais tarde, ele chegou de surpresa e pediu desculpa, disse que estava com a cabeça quente e que não deveria se meter na minha vida, e muito menos no meu trabalho.
Deixei que ele subisse, e ele apareceu com um cachorrinho branquinho, pequenino e lindo. Eu tentei ao máximo não aceitar, já que não sabia como cuidaria do animal, mas ele se comprometeu que revezaríamos os dias de cuidado, principalmente, agora que estava “de férias”.
— Como você quer chamá-lo? — perguntou baixinho, um tempo depois, quando já estávamos sentados no sofá com o filhotinho dormindo em meu colo.
— Ainda não sei... Mas acho que ele tem cara de Bubbles. — Sabia que era o nome infantil, mas, desde criança, sonhava em nomear meu cachorro assim. começou a gargalhar e acordou o cachorro. — Para de rir! Você acordou o Bubbles!
— Não consigo ficar sério quando você o chama assim. — enterrou o rosto em meu pescoço e distribuiu vários beijinhos pelo local.

Se, na semana retrasada e passada, estávamos unidos, nesta semana do Natal ficaríamos ainda mais, já que os pais dele nos convidaram para passar alguns dias e o feriado com eles.
Sabia que não era a melhor das ideias, já que a mãe dele era amiga da Amélie — mãe da Penny e ex dele. Ela poderia não gostar de mim e nem me dar uma verdadeira chance de nos conhecermos por causa disso.
e eu ainda conversamos sobre eu passar apenas dois dias lá e, depois, ir ao Canadá, mas ele disse que a surpresa que tinha planejado, antes de irmos ao aniversário da minha mãe, era justamente na época do Natal, e o convite dos pais dele só ajudariam a me convencer mais rápido a ir à Califórnia.
— Aqueles homens que tiveram a oportunidade de te ver vestida com minha camisa são meus amigos e pedi que eles alugassem um chalé no hotel do meu pai. Nós não ficaremos na casa deles por muito tempo... — argumentou.
— E por que, mesmo, você não me disse isso antes?
— Não queria estragar a surpresa. E não fique pensando que essa é a única...
— O que você está aprontando? — Estreitei meus olhos para ele. — Diz logo tudo de uma vez.
— Nós faremos uma roadtrip! — Ele quase pulou de alegria enquanto falava, só não o fez porque estava deitado na cama. — E, antes que você comece a não aceitar minha ideia, já até comprei uma casinha para o Bubbles.
— Ele não ficará preso na casinha!
— Claro que não, , é só para nós podermos fazer o check-in no hotel.
, você tem certeza disso? Daqui até a Califórnia são uns dois dias de viagem...
— Eu já verifiquei isso também. — Ele sorriu, se vangloriando de já ter planejado tudo. — Tem o Dragonfly Inn em Wyoming.
— Wyo... ! — Passei as mãos no cabelo, já nervosa. — Hoje é dia vinte. Vinte de dezembro, ! Quando você está planejando começar essa viagem, por acaso?
— Você promete que não vai ficar com raiva? — Revirei os olhos, e ele colocou o Bubbles no colo. Acho que queria se proteger. — Eu já tenho uma mala pronta no carro.
Fiquei pasma. Não imaginaria que ele já estivesse pronto para viajar sem nem ao menos me avisar que eu teria que ir junto.
Como ele já tinha dito à mãe que eu havia concordado em ir, não pude negar, e ele também tinha ido ao aniversário da minha mãe, então eu estava devendo uma.
Precisei arrumar a mala às pressas, já que viajaríamos ainda naquele domingo e ainda não tinha nem tomado café da manhã, mas, antes das dez e meia, já estávamos entrando no Holland Tunnel.
Paramos em um Starbucks, comemos bem rapidinho e voltamos à estrada.
Bubbles estava todo alegre em meu colo, olhando para a paisagem e sentindo o vento que a janela aberta nos proporcionava, mas logo adormeceu. e eu ficamos conversando, até que, quando já estava escuro, dormi.

Acordei com um vento úmido em meu rosto e logo percebi que estava começando a chover, e que estávamos no meio do nada. Para todos os lados que você olhasse, só via a estrada e plantações ao redor.
— Eu te odeio! — Foi a primeira coisa que saiu da minha boca, assim que o começou a me olhar.
— O que eu fiz?
— Eu odeio dormir em carros! Minhas costas ficarão super doloridas amanhã.
— Prometo que faço uma massagem. — Ele brincou, e escutei um latido fraco vindo do bando de trás. — Nem eu e nem o Bubbles acreditamos que você ficou dormindo o tempo que paramos para fazer coisa de homens...
— Onde você parou?
— Numa cidade pequena. Precisava abastecer o carro e desabastecer a bexiga. — Ele procurou algo com uma mão no banco onde o cachorro estava. — Aqui. Comprei doritos e coke para você não morrer de fome.
— Obrigada! — Comecei a comer ali. Não negaria que estava, sim, com fome. — Onde estamos agora? — Olhei no relógio e já eram quase nove da noite.
— Estamos chegando a Birchim.
— Eu dormi muito?
— Acho que umas duas horas, duas horas e meia, no máximo.
— E passaremos a noite onde?
— Quando parei no posto, o cara me disse sobre um motel aqui, e tenho que procurar o nome da rua que ele disse.
Ainda demoramos uns minutos para achar o motel. Bem na estrada. E me senti em Supernatural quando o Dean e o Sam param em qualquer espelunca para dormir. Mas quando entramos para fazer o check-in era tudo muito bonitinho e amarelo. Vários tons de amarelo.
Pelo menos, quando chegamos ao quarto, respirei, aliviada por ser de outra cor.

Como havia dormido nas últimas horas da viagem, não estava cansada. Aproveitei a conexão wifi do motel e acessei meus e-mails. ficou brincando com o Bubbles na cama.
Já mais tarde, tomei um banho e, quando voltei ao quarto, eles já estavam dormindo. quase abraçado ao Bubbles, que dormia no meio da cama.
Virei-me e não conseguia pegar no sono, então fiquei navegando pelo Facebook, até que encontrei o link de uma matéria que dizia que tinha ”virado papai”. Fiquei nervosa, até abrir o link e ver que apenas estavam ironizando uma foto que ele havia postado, dizendo ter um novo membro na família dele. Fui obrigada a abrir o Instagram e ver a foto do nosso cachorrinho, e ri com a legenda que ele havia colocado, principalmente, por ter colocado a culpa do nome do Bubbles em mim. Ainda escreveu na legenda que, se eu fosse escolher o nome dos nossos filhos, seriam nomes estrondosos. Olhei para o ser que estava deitado ao meu lado na cama e ri. Estava feliz pelo incidente da possível gravidez já ter passado por nós e que, agora, podíamos até brincar sobre isso.
Ficávamos mais leves e em harmonia quando as coisas ao nosso redor estavam em calmaria.

Consegui dormir por poucas horas, então, às seis e quinze da manhã, já estava sentada na mesa que havia na calçada do nosso quarto. O vento frio e o sol começando a aparecer no horizonte ajudavam a criar um clima super romântico, se eu não estivesse ali, esperando o Bubbles fazer suas necessidades.
— O que você está fazendo aqui fora? — saiu pela porta, enrolado no cobertor. — Você não está congelando?
— Não consegui dormir muito. — Ele sentou-se na outra cadeira e olhou ao redor. — O Bubbles está brincando com umas folhas. Se você quiser comer, pedi o café da manhã e podemos seguir viagem daqui a pouquinho.
— Ainda temos mais uma parada. — Semicerrei os olhos para ele. — Passaremos no Dragonfly Inn. É de um colega meu e fica no caminho. Em Wyoming.
— Por que você nunca me avisa sobre nada? — disse, me levantando, na intenção de colocar o cachorrinho na corrente e trazê-lo para dentro, mas me puxou, e sentei-me em seu colo.
— Se não, nós perderíamos a magia do namoro...
— Cala essa boca!

Assim que terminou seu banho e seu café, discutimos para ver quem dirigiria.
O certo seria que eu dirigisse, já que, ontem, ele fez uma viagem de dez horas, mas o senhor-eu-não-estou-cansado quis discutir até por isso. Acabei o convencendo e, agora, estávamos a caminho do estado do Wyoming, onde encontraríamos o amigo dele e passaríamos a noite por lá.

Depois de dezessete horas de viagem — em que só paramos para comer e descansar por meia hora —, finalmente, chegamos a Buffalo, Wyoming, e já passavam das sete e meia da noite.
Estava mental e fisicamente exausta. Precisava de um bom banho quente e uma cama. Se deixassem, dormiria dois dias seguidos.
Jantamos com o amigo — e dono do hotel. Finn e estudaram juntos por muitos anos, até que cada um foi a um canto do país por motivos óbvios.
Finn era casado, com três filhas, e era ator/modelo, com ninguém pendurado no pescoço.
A esposa dele, Adele, me mostrou a propriedade, enquanto as meninas, trigêmeas por volta dos seus oito anos, brincavam com o Bubbles.
— Aqui é lindo, Adele! — comentei, sorrindo, assim que voltamos à sala de jantar do hotel.
— Eu e o Finn sempre gostamos de calmaria e morar assim, no meio do nada, foi a melhor coisa! — Adele comentou.
— Sem contar que, aqui, ficamos um pouco longe da sua mãe! — Finn acrescentou, nos fazendo rir.
Conversamos, até que as meninas voltassem, e fomos aos nossos quartos por volta das dez da noite.
Na manhã seguinte, nos mostraram um pouco da cidade e almoçamos no melhor restaurante da região, com a comida caseira mais deliciosa que já havia provado na vida. Por causa disso, acabamos ficando umas horas a mais no lugar e, para não deixar passar em branco, deixamos registrado no Instagram a nossa passagem por lá.
Ainda visitamos a piscina e, então, tivemos que nos despedir, onde uma das meninas, Joyce, chorou por não poder ficar com o cachorro.
Nós nos despedimos e começou a dirigir as últimas dezenove horas restantes que nos separavam de um Natal em família. Mas que não era a minha família.

— Você não vai parar em lugar nenhum para dormir? — perguntei assim que a meia-noite chegou.
— Se quisermos chegar dia 23 à casa dos meus pais... Não.
— Mas você ficará cansado, . — Revirei meus olhos.
— Dorme um pouco. Quando eu ficar cansado ou com sono, eu te chamo, e você dirige.
Dito isso, não tinha muito o que fazer, então fui tentar dormir com Bubbles em meu colo.

Ainda eram umas três e meia da madrugada quando parou para abastecer o carro e trocarmos de “papel”. Ele ainda andou com o cachorro por uns minutos, mas logo voltamos ao carro e iniciei as últimas seis horas de viagem. Quando o sol começou a surgir e clarear o caminho, o nervosismo começou a tomar conta de mim e, à medida que chegávamos cada vez mais perto, mais queria fazer o retorno e voltar para casa.
Às oito e quarenta da manhã, com um desacordado, cheguei ao local que o GPS indicava. 's Hotel Fall estava escrito numa linda placa de madeira queimada. As letras amarelas com bordas brancas chamavam a atenção de quem quer que passasse pela estrada.
Estacionei o carro bem em frente à placa e respirei fundo algumas vezes. Estava prestes a levar a mentira até os pais dele e tinha aceitado tudo isso tão facilmente que nem lembrava o porquê.
Desci do veículo e andei de um lado ao outro, pensando em quais seriam minhas alternativas, caso a mãe dele não gostasse de mim. Ou pior: caso a Amélie e a Penny aparecessem para a ceia de Natal.
Olhei por sobre a placa e vi ao longe um casarão de fazenda bem tradicional. Mesmo de longe, podia notar o luxo.
Eu não pertencia àquilo e sabia muito bem disso, mas, mesmo assim, estava ali, feito uma criança, enquanto observava o local, com medo.
! — chamou, mas ainda estava sentado no banco do carona. — O que você está fazendo?
— Eu não posso fazer isso! — Passei as mãos pelo cabelo enquanto andava de volta ao carro. — Eu não posso fazer isso! Você entendeu? Eu. Não. Posso. Fazer. Isso!
— Claro que pode. Eu já disse que meus pais irão te adorar!
— Eu não sou atriz, ! Não sei mentir para os outros assim, na maior naturalidade.
— Você mente para a Ashley. Conseguirá fazer isso com meus pais.
— Eu vou embora! — Andei até o banco traseiro e tirei minha mala de lá, mas me impediu, e o Bubbles começou a latir. — Eu vou embora. Deixe-me!
— Claro que não! Nós viemos passar o Natal com os meus pais e quero mostrar onde eu cresci. Por favor, ?! — Hesitei, e isso foi tudo que ele precisou para saber que eu cederia. — Por favor! Eu prometo que não vou te deixar sozinha com ninguém!
— E, se eu quiser, posso pegar um voo e ir embora?
— E, se você realmente quiser, fizer muita questão, deixo você no aeroporto.
Apesar de tudo, confiava no e no que ele dizia, por isso decidi que ficaria sob essas condições, e ai dele se não as cumprisse!
Entramos no carro mais uma vez e dirigiu os poucos metros que nos separavam da família dele. Bubbles estava aguardando em meu colo e latia pela janela, enquanto estacionava o carro.
Assim que descemos e estávamos começando a retirar nossas malas do carro, ouvimos uns gritinhos vindos de dentro da mansão, e logo o meu cachorro fez amizade com a senhora que saiu de lá. Bubbles ficou correndo e latindo ao lado da mulher, enquanto ela vinha correndo em nossa direção. Ele era um pontinho branco ao lado dela, e eu, provavelmente, teria uma crise de riso se não estivesse tão nervosa.
— Meu bebê! — A senhora, que havia corrido, o abraçou, e imaginei que fosse sua mãe Olivia. — Que saudade de você! — Ela o beijava nas bochechas e o puxava pelos braços para alcançar a testa.
— Mãe... — revirou os olhos, vendo que eu estava rindo daquela situação. — Esta é a , minha namorada.
— Oh! — Olivia tapou a boca com as mãos e ficou vermelha enquanto engolia em seco. — Desculpe-me! Muito prazer! Eu sou a mãe do , a Olivia Brown .
— O prazer é meu, senhora . — Apertei a mão que ela ofereceu e me assustei quando o Bubbles latiu para alguém que estava atrás de nós.
— Ora se não é o próprio ... — Um senhor muito charmoso estava parado e tentava brincar com o cachorro enquanto olhava para todos nós parados. — Achei que vocês chegariam dia 24.
— Pedi ao Brad para reservar um quarto para hoje. Ele não avisou? — Ele olhou para mim e sorriu, mas estava nervoso, e eu sabia.
— Avisou, sim, só não achei que chegaria cedo. — Ele levantou-se e veio até mim. — Você deve ser a famosa ...
— Famosa? — Sorri. Sabia que gostaria dele, assim que o vi, e, agora, ele estava com uma mão estendida em minha direção enquanto segurava o meu cachorrinho na outra. — E o senhor deve ser o Hugh. — Cumprimentei-o.
Depois de conversar brevemente com os pais do e notar toda uma tensão, fiquei ainda mais nervosa, mas tentava não deixar ninguém notar, até que estivéssemos acomodados em um quarto e pudéssemos conversar.
Estava um pouco cansada, mas, depois das apresentações, tudo fugiu do meu corpo e eu não conseguia ficar parada. Até para tomar café da manhã, dei a desculpa de levar o Bubbles para passear. Observava-os de longe, enquanto brincava de jogar uns gravetos e esperava que meu cachorrinho os trouxesse de volta.
olhava, a cada minuto, em minha direção e, então, tive a ideia de ligar para o celular dele.
Tinha que livrá-lo daquela conversa.
Oi. — A voz dele saiu cabisbaixa.
— Está tudo bem aí? — Ele assentiu. — Tem certeza? Você pode falar que estou te chamando para algo muito urgente aqui.
Sério? Estou indo aí para ver, amor! — ele mentiu e olhou, sorrindo, para mim.
Ele desligou e falou muito rápido com os pais, vindo, correndo, em minha direção. Jogou-se ao meu lado no gramado, fazendo-nos cair deitados na grama. Soltei um gritinho com o impacto, fazendo com que Bubbles corresse em nossa direção e latisse para nós dois.
— Está vendo? Ele não gosta que encostem em mim!
— Meu filho, sua mãe também é minha, tudo bem? — pegou o filhote no colo e começou a brincar com ele.
Ficamos apenas deitados, ali, na grama, até que eu quase pegasse no sono.
— Vamos dormir até a hora do almoço, vem! — levantou-se com Bubbles ainda em seu colo e ofereceu a mão livre para me apoiar.
Chegamos ao chalé, e nossas malas já estavam lá. disse que seu pai tinha trazido para dentro.
Tomamos um banho rápido e deitamos para dormir. Apesar do cansaço, meu sono parecia ter evaporado. Talvez nervosa e, talvez, ansiosa. Não sabia ao certo, mas deve ter notado, já que também não dormiu e apenas ficamos abraçados, conversando coisas bestas, aqui e ali, enquanto a televisão fazia um barulho agradável ao fundo.

Acordei com o latido do Bubbles. Ele arranhava a porta e latia incessantemente. ainda estava abraçado ao meu corpo, e alguém bateu na porta.
, vocês estão acordados? — Cutuquei-o no braço, mas ele não acordou. — ?!
Dei um pulo da cama e abri uma fresta da porta.
— Ele está dormindo, senhora — disse baixinho, enquanto ela me olhava de cima abaixo.
— O almoço já está na mesa. — Bubbles cheirou os pés dela e voltou à sua casinha. Ela segurou em minha mão e me puxou para fora do quarto. — Venha! Depois, ele come alguma coisa.
Olivia foi segurando minha mão durante todo o percurso do chalé até o restaurante, onde todos estavam sentados em mesas postas juntas.
— Nós fechamos o hotel para receber os parentes e alguns amigos — explicou. — Você conhece a Amélie, não é?
Não sei quem estava mais assustada: eu ou Amélie. Nós duas concordamos com a cabeça e trocamos um aceno rápido, enquanto Olivia continuava a apresentar outros primos e amigos.
Pedi licença, antes mesmo do almoço começar a ser servido, e fui ao banheiro adjacente ao restaurante. Joguei uma água no rosto e voltei o mais rápido que consegui, sabendo que todos esperariam por mim para começar a comer.
Assim que voltei a me sentar entre Olivia e Amélie, avistei uma loira conhecida entrando no restaurante.
Era só o que me faltava!
Penny, em toda sua beleza e corpo de modelo bronzeado, com um biquíni micro, coberto apenas por um curto short jeans.
Sabia que a mãe do e a Amélie eram amigas, só não imaginava que ela e a filha estariam na ceia de Natal da família .
Louisa! — A loira me abraçou. — É Louisa, certo?
, com e. — Afastei-me mais um pouco, e Amélie ficou nos olhando.
— O que você está fazendo aqui?
me convidou para passar o Natal com ele e a família.
— Entendi... — Penny sorriu e enrolou seu cabelo nos dedos. — Você conhece minha mãe? Certo?
— Nós nos conhecemos, sim, querida. — Amélie nos interrompeu. — Almoçaremos e, depois, nós conversamos, .
Não entendi. Ela era a culpada por eu ter que passar por tudo aquilo, em primeiro lugar! Mas parecia que eu estava errada em estar ali, celebrando um feriado com a família do meu namorado, para todos os efeitos.
Amélie sempre seria uma incógnita para mim.
Por que eu?
— E os seus pais? — Hugh, pai de , perguntou e me tirou do transe.
Com isso, começamos um almoço cheio de perguntas direcionadas a mim, já que ninguém ali me conhecia. Conheci vários amigos dos pais do e um tio dele recém-separado e tentando me convencer de que ele era melhor que seu sobrinho.
Todos estavam confortáveis à mesa, menos eu, que precisava de um rosto conhecido para não parecer mais nervosa do que já estava, mas, infelizmente, as únicas pessoas que eu conhecia ali eram a Amélie e sua filha.
Assim que a sobremesa foi servida, pedi licença e disse que daria uma volta na piscina, até que o acordasse, e ele mesmo pudesse me apresentar o restante da propriedade.
Não sabia o porquê, mas senti que Amélie não estava nada feliz com minha presença na festa de fim de ano dos ’s, mas eu não podia fazer nada, já que ela era a maior culpada por eu estar naquela situação.

Estava sentada numa das mesas à beira da piscina quando alguém chegou apressado.
— Eu não sei o que você está fazendo aqui e nem o porquê de você estar aqui, mas quero que você se retire deste hotel! — Era Penny, esbanjando todo o corpo sarado e pernas de modelo no mesmo modelito curto, e sem camisa.
me convidou. — Não precisava dar nenhuma resposta a ela, mas não consegui ficar calada. — Se ele me mandar embora, eu vou.
— O que você quer com o ? É dinheiro? Fama? — Penny estava a poucos passos de distância, batendo as unhas na mesa.
— Você é a dona dele ou algo do tipo? — A loira abriu a boca, em surpresa, e negou com a cabeça. — Então deixe a gente em paz e vá cuidar da sua vida!
— S-Sua mal amada!
Quando vi, ela já havia pulado em cima de mim, nos fazendo cair da cadeira. Minhas costas bateram com força no chão e logo senti meu cabelo ser puxado. Não gritei, mas minha garganta doeu para que eu o fizesse. Minhas costas doeram automaticamente e meu couro cabeludo também.
Sua puta! — Penny gritou, assim que consegui puxar o cabelo dela e, assim, ela parasse de me arranhar.
Eu era bem menor que ela, então ficava difícil tentar me esquivar dos tapas que ela desferia em minha direção. De dez vezes que ela tentava, conseguia oito.
Por sorte do destino, agarrei o máximo de cabelo dela que consegui e puxei o mais forte que consegui, até próximo do meu joelho. Penny urrou de dor à medida que eu continuava a puxar seu cabelo — e, consequentemente, sua cabeça — para longe da minha. A loira segurou minha mão e, nesta oportunidade, dei um tapa seguro em seu rosto, que ficou vermelho no mesmo momento.
Ela revidou com um soco, ou empurrão — não sabia explicar ao certo —, em meu estômago, e soltei todo o ar que estava prendendo. Agora, já estávamos em pé e uma segurando o cabelo da outra, enquanto Penny gritava e me puxava para mais perto possível. Aproveitei que ela estava de salto e chutei sua canela — com certeza, ela ficaria roxa!. Com certeza, eu e Penny não prestamos atenção ao nosso redor, enquanto brigávamos e gritávamos com a outra, mas, depois do chute, Penny se desequilibrou e nos levou para dentro da piscina.
— Você arrancou meu couro cabeludo, sua vadia! — ela gritou.
— Você fez eu me molhar, sua imprestável! — revidei ainda mais alto.
Dei mais dois tapas no rosto dela e um soco no ombro, mas meus dedos doeram com o impacto com os ossos dela. Logo, senti alguém me agarrando por trás e nos distanciando.
estava me segurando, e seu tio, impedindo que Penny viesse mais uma vez para cima de mim.
— Largue-me! Essa vadia terá o que ela merece! — bradei, tentando me desvencilhar dos braços dele.
, o que aconteceu? — perguntou, mas ainda me arrastava para o outro lado da piscina.
— Essa filha da puta veio para cima de mim, e eu não ficaria apanhando!
Nós ainda nos encontraremos, sua vagabunda! — a loira gritou e começou a chorar, enquanto Amélie a observava da ponta da piscina.
— Nós conversaremos agora sobre isso! — disse rápido, saiu da piscina e me puxou para sair também.
Quando olhei ao redor, todos os que haviam acabado de almoçar estavam nos observando com espanto, enquanto outros tentavam prender o riso.
Fiquei morrendo de vergonha, enquanto me guiava para longe dali.

— Eu já posso perguntar o que diabos estava acontecendo naquela piscina? — perguntou assim que trancou a porta do chalé em que estávamos hospedados.
— Você trate de dar um jeito nessa sua namorada! Eu não vou ficar aguentando esses surtos de todas as mulheres com quem você dormiu, ! Não vou!
— Mas o que aconteceu?
Não disse nada. Estava de cabeça quente e tudo que eu queria era um banho quentinho para relaxar. Aproveitaria a banheira com hidromassagem super aconchegante que havia no banheiro da suíte. Olhei mais uma vez na direção dele, negando com a cabeça e indo pegar minha toalha.
Não, não, não! — veio me seguindo. — Nada de ficar calada. Pode dizer o que aconteceu agora mesmo!
— Por que não vai perguntar à sua modelo?
— Porque estou perguntando a você... E ela não é minha, .
— Que se foda! Ela acha que vocês ainda são um casal.
— E por que ela acha isso? — Revirei meus olhos e entrei na banheira de uma vez. — , quem terminou o nosso relacionamento foi ela...
— Bem, então vocês deveriam conversar, porque, obviamente, ela ainda quer muita coisa com você.
— Vocês estavam brigando por minha causa?
— Eu não estava brigando! — falei mais alto, mas bateram na porta, e me calei. Quando estava saindo do banheiro, completei baixinho: — Ela ainda te quer, pensa nisso.
me deixou sozinha no banheiro e, só então, pude relaxar e respirar aliviada.
Depois de uns minutos foi que me dei conta de como estava doendo respirar e logo imaginei se não era por causa da queda. Sabia que tinha deixado a Penny machucada, mas não havia imaginado que eu estaria tanto quanto ela.
Minhas costas começaram a doer demais, assim como meu pescoço e meus braços arderam na água quente — certeza que estava arranhada! —, e minha cabeça estava latejando de dor por causa dos puxões de cabelo.
Encerrei meu banho o mais rápido que consegui e, enquanto estava trocando de roupa, vi que estava coberta de marcas roxas pelos braços e arranhões pelo pescoço. Revirei os olhos para mim. Eu não era de brigar, muito menos por causa de homem, ainda mais homem que não era nada para mim.
não estava no quarto e nem o Bubbles. Eu ainda estava com vergonha de sair e encarar todos, mas sabia que, cedo ou tarde, teria que fazer isso, então peguei meu celular e fui para perto da entrada da propriedade.
Ligaria para a Ashley e pediria ajuda.
Como assim vocês brigaram? — Ashley estava quase gargalhando.
— Eu não estava brigando, estava me defendendo... — corrigi-a, mas, em seguida, completei: — Com direito a soco e puxão de cabelo.
Eu perdi sua briga com uma modelo por causa de um cara. Eu jamais me perdoarei por isso!
— Se você não me levar a sério, sou capaz de brigar com você também.
, não é normal brigar com ninguém assim, mas acho que ela deve ter dito coisas que te subiram à cabeça e, por isso, você atacou...
— Não. — Revirei os olhos mais uma vez e voltei a explicar sobre a briga: — Eu estava sentada, e ela chegou, dizendo que eu estava com o por causa de fama e, depois, ela já tinha me jogado no chão. — Ashley riu alto do outro lado da linha. — Agora, eu estou toda marcada e, quando respiro, dói demais.
E cadê o imprestável do ? Ele deveria te levar ao hospital!
— Não vou ao hospital por causa de uma briga besta dessa.
Ainda estava conversando com minha amiga quando vi Bubbles correr em minha direção e latir algumas vezes. aproximava-se de onde eu estava sentada, e logo encerrei a ligação.
Tive que explicar mais algumas vezes sobre a briga, e ele ficou preocupado quando viu os roxos pelo meu corpo.
ainda disse que Penny e Amélie estavam indo embora em poucos minutos, mas não se despediria delas porque queria ficar comigo.

*


O dia anterior foi basicamente eu me escondendo de tudo e de todos. Fui me deitar para dormir às seis da tarde, para não me encontrar com ninguém.
Quando chegou ao quarto, trazendo minha janta, agradeci, pois estava morta de fome.
Agora estava terminando de colocar a roupa a qual passaría a ceia de Natal.
Não queria aparecer como a coitada da história, apesar de saber, pelo meu namorado, que todos entendiam as loucuras da Penny e eu não tinha nada com isso.

Estávamos andando de mãos dadas, com o Bubbles correndo atrás de nós dois, em direção à piscina. Teríamos uma ceia a céu aberto, e a noite estava simplesmente linda.
Chegamos, e logo a mãe e o pai do vieram conversar comigo. Seu tio chegou um pouco depois e ficamos conversando, até que o jantar estivesse servido.
Era estranho estar longe da minha própria família em um feriado que era quase que obrigatório estar com seus entes.
— Abriremos os presentes agora ou depois? — perguntou animado aos demais.
Todos concordaram em deixar os pratos para trás e começaram a distribuir presentes. Até eu ganhei um lindo colar dos pais dele. Não queria fazer desfeita, mas também não queria aceitar, já que eu não tinha escolhido uma coisa muito boa. Um porta-retratos com uma foto do ainda criança que havia achado jogada pelo quarto dele. Eles foram muito simpáticos e disseram que amaram.
Tiramos fotos, comemos e bebemos até não poder mais. Por volta das três da manhã, muitos já tinham ido dormir, sobrando apenas , eu e seu tio, que pediu para tirar uma foto nossa.

Na manhã do dia 26, fomos com cinco pessoas à cachoeira, mas ficamos até antes do almoço, já que voltaríamos a New York ainda naquele dia.
Tentei convencer a ficar mais um dia, mas ele disse que Amélie havia ligado e marcado uma reunião com nós dois.
Não sabia o que ela poderia querer. Por um momento, fiquei feliz em pensar que, talvez, ela fosse acabar nosso acordo, mas, então, me senti triste por ter que acabar assim, do nada.

Capítulo 10 - Adeus!


Na manhã do dia 28, e eu chegamos a New York completamente cansados e exaustos, física e psicologicamente, depois de dois dias viajando de carro.
— Não acredito que você me convenceu a viajar de carro até a Califórnia! — Suspirei, enquanto esfregava a toalha, secando o cabelo. Sentei-me na beirada da cama, enquanto ele puxava outro travesseiro para seu lado da cama. — E, ainda por cima, me fez dirigir quase oito horas seguidas...
Mamãe, não briga com o papai! pegou Bubbles no colo e fez uma voz de criança.
— Não vai adiantar usar o Bubbles, ! — disse, enquanto estendia a toalha no banheiro e voltava ao quarto para me deitar na cama com eles. — E vê se não me acorda!
— Mas, , a Amélie disse que virá aqui, hoje, para conversarmos.
... — Virei-me em sua direção. Ele deixou o cachorrinho no chão e voltou a me encarar. — Não me acorde! — Quando ele fez menção de falar alguma coisa, completei: — Estou falando sério!
— Tudo bem! — Ele deu um beijo em meu ombro e começou a fazer um cafuné em meu cabelo.
Apesar de estar cansada, não consegui dormir de imediato; talvez pelo barulho da televisão, que ele assistia, mas nada tão incômodo assim.
Saímos, dia 26, do hotel dos pais do , com convites para uma próxima visita. O pai dele, Hugh, pareceu gostar muito de mim e foi especialmente cuidadoso comigo logo depois da briga. A mãe dele, Olivia, era muito educada, mas percebi que ela não era a minha maior fã.
Paramos em hotéis bem mais simples na volta, não tão confortáveis como quando fomos, mas sabia que ele não via a hora de chegar à sua casa e, por isso, agora estávamos na casa dele.
Não sabia se queria chegar a New York para estar em casa, por causa do clima estranho que ficou após a briga, ou pela conversa que Amélie disse que queria ter. Ele era uma incógnita quando se tratava da “relação” dele com a Penny e sua mãe.
Por volta do meio-dia, pediu desculpa por ter me acordado, mas tinha pedido um almoço reforçado para nós dois. Não briguei, nem nada, até porque estava com fome e a comida estava uma delícia.
Até tentei voltar a dormir, mas algo estava me deixando nervosa. Ele achou que era por causa da conversa, mas deixei bem claro que eu não tinha medo da Amélie e que, se fosse preciso voltar para casa, no Canadá, por falta de emprego, voltaria.
— Daqui a pouco, você abrirá um buraco no chão da minha sala, . — Era a quinta vez que ele vinha até a sala, checar como eu estava. Parei e mordi a unha. Estava tão nervosa que nem estava pensando direito. — O que você tem?
— Eu... Eu juro que não sei. — me abraçou e beijou o topo da minha cabeça, enquanto eu o abraçava. — Estou sentindo um mal estar ou nervosismo. Eu não sei explicar.
— Você quer ir ao hospital?
— Claro que não, ! — Revirei os olhos, por mais que ele não pudesse ver. — Não estou morrendo.
— Que bom... Porque a Amélie chega daqui a cinco minutos.
Bufei de raiva e o soltei, voltando a andar de um lado ao outro na sala, enquanto ele sentou-se e ligou a televisão dali. Bubbles passou, correndo, pelo corredor e latiu para a porta fechada da entrada da casa.
Em menos de cinco segundos, alguém bateu na porta.
Até o seu cachorro não gosta da Amélie. disse baixinho quando levantou-se para deixá-la entrar.
Sorri internamente quando a senhora de cabelo branco entrou na casa.

A princípio, Amélie conversava sobre coisas que eu não precisava saber: o filme que estrelaria; uma campanha de cuecas com nome francês — que eu me recusei a tentar repetir — desfilaria na semana de moda de não-sei-onde. Eu queria sair da sala e dar uma privacidade maior para que eles pudessem falar de trabalho, mas todas as vezes em que eu pensava em me levantar, Amélie me olhava torto, num pedido silencioso de que eu esperasse.
Bubbles latiu vez ou outra para ela e, por dentro, eu estava ainda mais radiante. Se até o meu cachorro não gostava dela, quem era eu para gostar? Levantei-me e fui até a cozinha. Por mais que nós duas não gostássemos uma da outra, eu ainda era uma pessoa educada ao ponto de servir, ao menos, um café.
Incrível como ela já se sente em casa... — Enquanto colocava o pó do café na cafeteira, ouvi Amélie falando baixinho para .
Eu me sinto à vontade na casa dela. O mínimo que eu poderia fazer é com que ela se sinta em casa aqui também! rebateu, e graças aos deuses que eu estava de costas para eles, porque abri o maior sorriso possível.
Vocês já dormiram juntos? — O que essa cretina tinha a ver com isso? — Pare de me olhar assim. Você sabe que eu me preocupo com você!
Nós nos entendemos muito bem. Isso responde sua pergunta? — Não ouvi o que ela respondeu, mas ele continuou: — Quase tivemos um bebê... — Ele parecia afetado com a declaração.
Não sei ao certo o que deduzi pelo tom de voz dele, mas Amélie, com certeza, estava muda!
, você pode, por favor, vir aqui? — Gelei com o pedido dela, mas o fiz. — Você sabe que a Penny era a namorada do ? — Assenti. — Pois bem, eles foram criados praticamente juntos e quando começaram a namorar foi uma alegria para nossas famílias, mas eu via que não era uma relação saudável... — Amélie olhou para e soltou o ar pesadamente. — A Penny não é de arranjar briga, e eu não sou de pedir desculpa, coisa que não estou fazendo, mas a Penny precisa ver que o está em um compromisso sério. Você me entende?
— Você está falando que só estou nesse seu joguinho porque sua filha é uma descontrolada que não aceita o fim de um relacionamento? — Sei que fui ignorante, mas eu não estava dando a mínima.
— Vocês ainda têm uns meses pela frente. Não se esqueça disso, ! — ela me alertou e voltou a olhar para ele. — Quer que eu explique ou você o faz?
Eu olhei para ele, mas suspirou e passou as mãos pelo rosto. Amélie levantou-se e murmurou um ”não a deixe no escuro”, o que não entendi e continuei a observá-la sair da casa dele.
— Do que ela estava falando? — Ele negou com a cabeça, como se não quisesse conversar sobre aquilo. — , do que a Amélie estava falando?
Agora não, ! — ele praticamente gritou, o que me pegou de surpresa.
Fiquei parada onde estava, incrédula com o surto repentino dele.
Fui ao quarto e comecei a recolher minhas coisas, que estavam espalhadas pela cama e pelo banheiro. Assim que organizei tudo, fui até a sala para pegar a chave do carro dele.
Estava na garagem, guardando minhas coisas na mochila, quando chegou correndo e visivelmente nervoso.
— Seu pai quer falar com você... — Estranhei. Meu pai não ligava, a menos que viesse me visitar ou que algum parente, ou amigo, tivesse falecido. ainda estava com o rosto vermelho e os olhos cheios de lágrimas não derramadas. Paralisei, sem saber o que fazer. Era como se eu estivesse congelada. — , seu pai está esperando você atender.

*


Estava sentada, olhando para a fila de embarque de um voo que não era o meu. estava ao meu lado, brincava com a minha mão e tentava me fazer comer alguma coisa.
Não tinha vontade de comer e muito menos fazer alguma coisa que não fosse esperar chamarem o nosso voo.
Ainda tínhamos uma hora e alguns minutos até entrar na aeronave, mas eu estava tão concentrada na fila, que o tempo estava parecendo voar.
— Você precisa comer, . — aproximou seu rosto do meu e depositou um beijinho em meu cabelo. — Por favor.
— Não estou com fome. — Tentei sorrir, mas sabia que parecia mais uma careta.
— Você está muito vermelha — ele constatou o óbvio.
Eu ainda não havia parado de chorar, por mais que, agora, as lágrimas continuassem escorrendo pelo meu rosto, sem que eu fizesse o mínimo esforço.

Horas mais tarde, estávamos eu, mamãe, papai, , Matthew e alguns amigos da Loren. Todos na recepção do hospital. Parecíamos zumbis, mas toda vez que um médico saia pelas portas, nossos olhos voavam com rapidez na direção.
Tentei falar com minha mãe quando cheguei, mas ela parecia não estar ali, pelo menos, não psicologicamente. Meu pai disse que quando eles receberam a ligação do departamento de polícia, por volta das quatro da manhã, até aquele momento, minha mãe estava assim. Ele estava tentando ser forte pelos dois, mas eu sabia que estava sofrendo como ninguém.
Nenhum pai deve ver seu filho assim!
— Vocês querem que eu busque alguma coisa na lanchonete? — estava mais prestativo que nunca, e até com meu pai, mesmo que não se dessem muito bem.
— Se você encontrar um chocolate quente... A Emma gosta em situações como esta.
assentiu e apertou minha mão, que estava entrelaçada à sua.
— Você não quer nada? — Neguei e deitei minha cabeça em seu ombro. — Eu não vou demorar. Volto em alguns minutos. — Ele depositou um beijo no topo da minha cabeça.
Olhava para todos os lados, mesmo que lentamente, e procurava encontrar a Loren em algum canto, rindo e dizendo que tudo aquilo não passava de uma brincadeira — mesmo que de muito mal gosto. Ficaria feliz em saber que minha irmãzinha estaria brincando, ao invés de estar deitada em uma cama, sendo operada porque estava com sérias fraturas e hemorragias.

Enquanto estava sendo infantil e arrumando minhas coisas para sair da casa dele, e voltar ao meu apartamento, ainda em New York, atendeu uma ligação do meu pai, que estava em prantos, avisando que a Loren havia saído com a melhor amiga e que elas sofreram um grave acidente.
Assim que pousamos, e eu viemos direto ao hospital — nenhum de nós dois trouxe mais que a carteira com os documentos —, e as notícias sobre o acidente estavam nas rádios e em todos os telejornais. No caminho até o hospital, quase voltei a chorar quando o motorista do táxi dizia que o estado das meninas era gravíssimo e o quanto ele sentia pelas famílias.
Matthew sentou-se ao meu lado e me abraçou de lado. Loren também era como uma irmã mais nova para ele e, nos últimos anos, ele tinha mais contato com ela que comigo.
Eu sinto muito, ! Você sabe o quanto eu sinto...
Abracei-o bem forte e voltei a chorar. Não queria que meus pais me vissem assim, mas não aguentava mais guardar toda aquela maré de lágrimas apenas para mim.
— Vamos dar uma volta — pedi.
Matthew e eu fomos andando até a entrada do hospital, onde várias pessoas entravam e saiam a todo minuto.
— Eu sei que é idiota perguntar como você está se sentindo neste momento.
Eu não sei... — disse baixinho.
— Mas você sabe que sempre seremos amigos, . Não importa o que aconteça.
Eu não sei começar a explicar o que estou sentindo. — Funguei, e ele me abraçou mais uma vez. — Acho que estou anestesiada e completamente em choque...
— A Loren sairá dessa! — Matthew tentava me confortar, apesar de suas palavras não soarem tão firmes.
apareceu no lobby, certamente procurando por mim. Vi que ele não gostava que o Matthew estivesse tão perto, mas, naquele momento, eu não dava a mínima para nada, além da Loren.
Matthew falava alguma coisa que eu não prestei atenção, enquanto apenas observava vir em nossa direção.
— A Ashley acabou de ligar. Está vindo no próximo voo. — avisou e ficou nos olhando. Matthew e eu ainda estávamos abraçados. — Trouxe uma água para você.
— Eu não...
— Você precisa, ao menos, tomar água — ele me interrompeu. Matthew afastou-se devagar e, no minuto seguinte, já não estava mais à nossa vista. — Por favor, .
Tomei alguns goles de água sob o olhar inquietante de .
— Nós somos apenas amigos. Ele era amigo da Loren.
É. Ele é amigo da Loren. — Meus olhos voltaram a ficar cheios de lágrimas e, mais uma vez, me senti abraçada. — Ela ficará bem!
— Eu não quero ter que enfrentar isso! — pedi, já quase rouca por conta do choro não derramado.
— Infelizmente, você terá que enfrentar isso, mas nem você e nem seus pais estão sozinhos nessa.
— Muito obrigada por estar aqui comigo!
Nossos olhos se encontraram, e ele deu um beijinho super carinhoso em meus lábios.
— A qualquer momento, babe.
Ficamos ali, abraçados, pelo que pareceu uma eternidade, mas sabia que poucos minutos haviam se passado.
Um filme começou a passar pela minha cabeça. Desde quando a mamãe havia me contado que eu teria uma irmã, o dia em que a Loren nasceu, a nossa primeira briga, que ficamos dois dias inteiros sem nem olhar na cara da outra... Estava tudo tão vivo na minha memória que doía pensar que eu não teria mais uma irmã para brigar, para conversar e cuidar. A Loren era o brilho da nossa casa desde o dia em que chegou, e eu não queria admitir que estava entre a vida e a morte naquele momento.
Voltamos até a sala de espera e vi que alguns amigos da Loren já tinham ido embora. Eles ainda eram adolescentes e, por mais que ela estivesse mal, não sairia da cirurgia tão cedo.
Minha mãe estava andando de um lado ao outro, assim como eu estava fazendo muitas horas atrás, na sala do . Meu pai conversava com Matthew. Acho que eles estavam tentando se consolar, caso a cirurgia desse errado. Fiquei enfurecida e empurrei o , que ainda me abraçava, e fui até onde eles estavam.
— Vocês querem parar com essa droga de choro? — Estava falando alto demais para uma sala de espera dentro de um hospital. Senti vários olhares em mim, mas não me importei. — A Loren sairá dessa cirurgia viva! Parem de ser negativos e façam alguma coisa útil! A Loren sairá daquela cirurgia viva!
Assim que gritei o que tinha que gritar, a porta foi aberta, e um médico, ainda com uma daquelas roupas que nós vemos em séries e filmes quando eles estão em cirurgias, caminhou calmamente até uma senhorinha que estava lá e sentou-se ao seu lado. Todos nós suspiramos ao mesmo tempo, achando que aquele era o médico que cuidava da minha irmã.
Sentei-me ao lado de Matthew, minhas pernas estavam tremendo, e eu estava suando frio. Ele segurou minhas mãos e apertou. Encostei minha cabeça em seu ombro, e ele iria começar a dizer alguma coisa, quando a porta abriu mais uma vez.
— Loren ? — Minha mãe olhou em sua direção, quase suplicando que ele dissesse que ela estava bem. — Nó-Nó-Nós fizemos tudo que estava ao nosso alcance. Eu sinto muito!
Minha mãe correu e abraçou meu pai, e eles começaram a chorar. Eu estava em choque. Não conseguia, ao menos, me mover e, quando consegui, Matthew estava chorando e me abraçando. Abracei-o de volta e não conseguia fechar os olhos, sem que a imagem da Loren viesse à minha mente.
— Eu sinto muito, . Eu sinto muito! — Matthew chorava enquanto me abraçava e afagava meu cabelo.
Nós tentamos impedir a hemorragia que ela tinha no cérebro, mas... — o médico explicava aos meus pais. — De um segundo para o outro, ela já não estava mais lá. Eu sinto muito!
Eles trocaram um olhar que dizia muito mais que um “obrigado por tentar!”, conversaram mais alguma coisa que eu não ouvi e minha mãe e meu pai apontaram na minha direção.
, eu sou o doutor George e estava operando sua irmã. — Pisquei. Era o máximo que eu conseguia fazer àquela altura. — Seus pais pediram que eu perguntasse a você sobre a doação de órgãos. Eu sei que é cedo demais para pedir algo tão grande, mas seus pais...
Eu posso vê-la antes? — Minha voz saiu rouca, arranhando minha garganta.
George assentiu.
— Você só precisa se vestir. — Estranhei, e ele deve ter notado. — Scrub in. Ela ainda está na sala de cirurgia.
Desfiz-me dos braços de Matthew e passei a seguir George automaticamente até o quinto andar do hospital. Andamos por corredores da ala cirúrgica, em completo silêncio. Lavei minhas mãos e coloquei uma roupa parecida com a que ele usava.
— Você tem certeza? — Desviei meus olhos até os dele. — Não é comum fazermos isso, quer dizer, não podemos deixar os familiares entrarem aqui, mas você está em choque, e nós gostaríamos muito que considerasse a doação de órgãos.
— Pode doá-los. — Suspirei. — Eu só quero vê-la uma última vez.
— Nem sempre isso ajuda, ... — Olhei ao redor. Talvez estivesse pedindo ajuda de qualquer um que passasse ali, para que ele me deixasse ver minha irmãzinha. — Tudo bem. Vamos.
George pegou minha mão e me conduziu até uma porta de vidro. Não vi maçanetas, então imaginei que fossem automáticas, mas logo ele apertou um grande botão vermelho, que ficava ao meu lado, mas que eu ainda não havia prestado atenção.
A porta se abriu e ficamos parados no limite dela. Todos, ali dentro, estavam nos olhando, esperando que nós entrássemos. George entrou e ficou me olhando. Deve ter percebido que meus olhos começaram a lacrimejar e estendeu a mão para que eu o seguisse mais uma vez.
Entramos na sala de cirurgia de número 04 e, lá dentro, haviam, pelo menos, umas dez pessoas.
Achei que ele fosse me deixar parada ao lado da cama, mas me conduziu até o lado de uma grande lâmpada, que ficava próxima à cabeça de Loren.
Olhei para baixo e lá estava...
Ela estava com os olhos fechados e uma expressão serena no rosto. Alguém colocou um banquinho ao meu lado e disse “pode sentar”. Fiz e não conseguia tirar os olhos do rosto de Loren.
— Ela está sendo mantida pelos aparelhos, mas pode te escutar. — George disse bem baixinho em meu ouvido e depois piscou. — Pode conversar o tempo que quiser. Eu estarei aqui, tudo bem?
Assenti com a cabeça.
Olhei ao redor mais uma vez, e todos ali estavam nos observando tão atentamente que eu não conseguia falar nada.
Olhei para George outra vez e pedi que ele chegasse perto.
— Eu posso ficar sozinha com ela? Quer dizer, você pode ficar, mas eu gostaria de conversar com ela sem que tivesse toda essa gente aqui.
O médico pediu que todos esperassem uns minutos fora da sala, mas, antes de sair, eles olharam com pena para minha irmã.
Respirei fundo algumas vezes, antes de, enfim, voltar minha atenção a ela.
Eu vou morrer de saudade sua! — Funguei e voltei a sussurrar para a minha irmã: — Na verdade, eu já estou com saudade de você... E-Eu nem acredito que deixei de vir no Natal e não te vi. Que burra que eu sou! — Ri, numa tentativa de levar o nervosismo embora. Olhei para George, que estava escorado num equipamento um pouco atrás de mim. — Você sabia que a Loren tinha uma tatuagem?
— Ah... — Ele retirou a máscara que usava e sorriu. — Não. Desculpe-me.
— Não me peça desculpa! — Acariciava o rosto da minha irmã enquanto desviava o olhar entre eles dois. — Uns meses atrás, ela foi me visitar em New York e me mostrou um coelho rosa que ela tinha tatuado em uma aposta.
Em fração de segundos, nós dois gargalhamos alto.
— Não sabia que você morava em New York.
— Moro há um tempinho já... Esta aqui quase teve um troço quando foi me visitar pela primeira vez. — Limpei umas gotas de sangue que havia em um dos machucados na testa dela. — Ela foi participar de um torneio de basquete. Jogava basquete, você sabia?
— Ela devia ser uma das boas...
— Ela não era a capitã do time, nem nada, mas jogava muito! — Concentrei-me em minha irmã e sussurrei: — Não sei se você pode me ouvir, o que espero que sim, mas só queria que você soubesse que todos nós morreremos de saudade e que nós não te esqueceremos. E eu te amo muito, muito, muito! — Por fim, dei um beijo em um roxo que havia em sua bochecha. — Ela não está sentindo dor nenhuma, não é?
— Agora? Não, nenhuma.
— Vocês podem doar os órgãos, córneas... Tudo o que for possível e salvar o maior número de vidas!
— Em nome de todos os pacientes que receberão um pedacinho da Loren, e seus familiares, eu agradeço.
— Muito obrigada por me deixar ter este momento com ela. — Olhei mais uma vez para a minha irmã. — A Loren sempre foi muito especial para mim.
— A Loren sempre será especial. Ela ainda continuará viva em suas memórias...
Sorri para George e levantei-me. Dei um beijo na testa dela e deixei a sala, com os olhares atentos do restante da equipe.

Cheguei à sala de espera e Matthew estava com a minha bolsa. Disse que havia saído para levar meus pais para casa e que ele me levaria.
Ainda assinei alguns papéis sobre a doação dos órgãos, córneas, pele... Era uma burocracia e tanta, até que vi os pais da Megan, melhor amiga da Loren. Eles também estavam assinando diversos papéis e choravam copiosamente em cima de todos eles.
Fui até eles e os abracei. Megan era apenas um ano mais velha que Loren e também jogava no time de basquete. Elas eram amigas desde os cinco anos de idade. Eles me contaram que a Megan morreu no local do acidente. Acabei chorando, mais uma vez, com os pais dela, até que resolvi sair daquele ambiente hospitalar. Ainda vi George assinando uns papéis quando saia abraçada ao Matthew.
— Você quer ir para casa? — Neguei com a cabeça. — Seu pai disse que, de lá, ele resolve as coisas com a funerária e tudo mais.
— Nos papéis que assinei, a Loren só será liberada amanhã pela manhã.
— Quero te levar a um lugar que eu geralmente ia com a Loren.
Saímos do estacionamento do hospital, que ficava um tanto quanto afastado de onde morávamos, seguimos em direção à escola que ficava a duas quadras de casa e que nós dois havíamos estudado por vários anos, e a escola que atualmente Loren estudava.
— Nós não podemos entrar aqui, Matt! — Parei assim que atravessamos o estacionamento dos professores.
— Por que não? — Ele me olhou e começou a rir. — E, além do mais, ainda é o Tyler quem faz a guarda da escola.
— Mas o Tyler é um velho! — Lembrei-me do senhorzinho que “protegia” a escola. Matthew levantou a sobrancelha e riu. — Ok. Vamos logo!
Entramos pelas portas traseiras da escola, que davam direto na quadra coberta que tínhamos. Estava tudo escuro, a não ser pela pouca claridade vinda dos janelões, mas, como já estava anoitecendo, a luminosidade era pouca.
— Eu e a Loren costumávamos vir aqui para jogar basquete, já que lá fora estava chovendo ou muito frio. — Matthew me puxou até o centro da quadra e seguiu andando até as portas que davam para os corredores da escola. — Ela dizia que precisava praticar o máximo que conseguisse.
— Ela sempre gostou muito de esportes... — comentei, agora, não mais o vendo, já que ele estava atrás da arquibancada.
— Ahá! — Escutei sua voz e, segundos depois, ele reapareceu, batendo uma bola de basquete no chão. — Escondemos esta bola para quando viéssemos aos finais de semana. — Ele me entregou a bola. — Anda, joga. Vai, !
— Você não está querendo que eu jogue basquete com você, está? — Sorri assim que ele assentiu com a cabeça. — Matt, eu não jogo.
— O que custa você tentar? — Revirou os olhos e passou por mim, roubando a bola e batendo até próximo da linha de 3 pontos. — Estou tentando fazer uma coisa para que você se sinta bem. Ajude-me.
Andei até o primeiro degrau da arquibancada, tirei o casaco e voltei correndo até onde ele estava.
Começamos a jogar. Bem, ele estava jogando, eu tentava roubar a bola e, quando conseguia, saia correndo e arremessava na cesta. Ao final, consegui acertar algumas, até que ficou escuro demais e saímos da quadra.
Já estava noite, lá pelas nove, quando entramos no carro.
— Só precisamos ir a um lugar antes... — pedi e disse a direção ao Matt.

Já bem mais tarde, Matthew parou na porta de casa. Ainda estávamos rindo das besteiras que havíamos aprontado e falado enquanto jogávamos. Saímos do carro e parei no caminho para a porta.
— Eu juro que não estou te expulsando, nem nada... É só que...
— Vocês precisam desse tempo sozinhos. Eu entendo, , não se preocupe. — Matt me abraçou e beijou o topo da minha cabeça. — Meu celular ficará a noite toda ligado, caso precise de alguma coisa.
— Muito obrigada por tudo que você fez hoje, Matt! — Abracei-o apertado mais uma vez.
Ele se despediu e só saiu com o carro quando fechei a porta da sala. Meu pai estava sentado em sua poltrona, com uma xícara de café na mão, e estava voltando da cozinha com uns salgadinhos.
— Onde você estava? — Ele colocou a comida na mesinha da sala e voltou para me abraçar. — Você não atendeu nenhuma das minhas ligações.
— Aconteceu alguma coisa? — Preocupei-me e olhei em volta.
negou e nos arrastou para a cozinha.
— Sua mãe tomou um remédio para poder dormir, e seu pai sentou-se ali, até agora, e está me contando histórias de quando você e a Loren eram crianças. Acho até que ele está gostando de mim! — Ele sorriu, tentando amenizar.
— O que há para não gostar, não é? — Sorri de volta e dei um beijo rápido nos lábios dele.
Subi para tomar um banho. Chequei minha mãe e voltei à sala. Sentei-me ao lado de no sofá e ficamos conversando, até que meu pai pareceu cansado demais e subiu. Ainda ficamos até de madrugada no sofá, assistindo televisão.

*


O padre tinha acabado de rezar há pouco e o caixão estava descendo lentamente. Eu não conseguia, de fato, chorar. As lágrimas não estavam saindo. Meu pai abraçava minha mãe, e eu olhava para a banda da escola tocando.
Era tudo muito surreal e louco. Eu estava no enterro da minha irmãzinha.
Surreal.
Ashley estava conversando com Joe e Matt, enquanto estava observando e segurando minha mão.
— Você está bem? — Já tinha perdido a conta de quantas vezes havia perguntado aquilo.
Assenti e bufei.
Minha melhor amiga me observou e me chamou para andar, enquanto todos se dispersavam ou prestavam uma última homenagem a Loren.
— Sei que o já perguntou um monte de vezes e sei que é a pergunta mais idiota a se fazer, mas você está bem?
— Eu não sei. — Dei de ombros, olhando ao redor. Vi George, o médico, próximo de alguns amigos da Loren. — Eu quero chorar, mas não consigo. Eu queria poder fazer alguma coisa para mudar tudo isso, mas sei que não há nada ao meu alcance...
— Eu sinto muito pela Loren. — Ashley me abraçou. — Ela fará uma falta danada...
— Ontem, eu fiz uma coisa idiota... — comentei e sorri logo em seguida. Minha amiga estranhou e nos afastou. — Você se lembra da tatuagem da Loren? Aquele coelho rosa?
Ela assentiu.
Levantei meu cabelo, mostrando a parte de trás da minha orelha direita.
Você fez um coelho rosa?! — Ashley quase gritou e gargalhou ao mesmo tempo.
— Eu sei que foi idiota, mas...
— Não é idiota! Você fez pela Loren… Nunca será idiota!
— Só o Matthew sabe e, agora, você... — Sorri. — E, de alguma forma, eu sei que a Loren está rindo disso.
— Eu sinto muito, mesmo! — Ashley me abraçou e rimos mais uma vez, antes de voltar aonde meus pais e os meninos estavam.
Aos poucos, as pessoas foram deixando o cemitério. Vi George, mais uma vez, deixando o lugar na companhia de uma menina da banda. Ashley, Matt, Adam e eu fomos os últimos a sair dali, rindo alto das conversas e lembranças que tínhamos com a Loren.

Capítulo 11 - O pedido de casamento


(Música indicada: Selena Gomez - Good For You)

Agradecia imensamente por ter meus melhores amigos naquele momento tão difícil. Era um peso enorme estar em casa com meus pais e sentir uma saudade cada vez mais forte.
Depois que o funeral passou, Ashley deu a ideia de ficarmos, até depois do Ano Novo, em Vancouver, como um apoio a mim e à minha família.
parecia não se importar em estar lá, para mim, e eu seria eternamente grata a ele por isso, apesar de achar que ele estava perdendo algum compromisso nos Estados Unidos.
— Hoje é dia de sair e tirar a cabeça dessa tristeza... — Estava olhando para fora do restaurante quando Ashley soltou essa. — Eu juro que só estou tentando ser a melhor amiga do mundo, mas sei que nada do que eu diga, ou faça, trará a Loren de volta.
— Você viu um cara com uma barba meio branca, ontem, no funeral? — Mudei de assunto.
— Vi vários. Acho que eram professores dela. Por quê?
— Não, não era professor. Eu acho que... — Minha amiga não prestava muita atenção ao que eu falava, visto que estava sorrindo para o telefone. — O que foi?
— O Joe disse que só iremos embora dia três. Tudo bem?
— Tudo bem.
— E o ? Ele vai quando? — Neguei, pois não sabia. — A Vee está uma fera com ele!
— Por quê? — Antes que ela me respondesse, fiz outra pergunta: — Quem é Vee?
— A produtora de Biology! E, aparentemente, o seu querido amor não gravou a última cena que ele participa.
— E por que ele não gravaria, Ash? — desdenhei.
não ficaria no Canadá por minha causa.
— Bem, ele está aqui, com você, neste momento difícil, não está? — Ela deu de ombros.

Não era o melhor momento e, muito menos, o lugar, mas, nos últimos dias, estava começando a pensar no com mais frequência e até com mais carinho. Não sabia dizer se era porque ele estava sempre presente, se estava uma pessoa mais tolerável por estar longe da Amélie. Eu não sabia de absolutamente nada, mas tinha certeza de que algo estava mudando entre nós dois.
Não queria acreditar que estava me apaixonando por ele. Eu, provavelmente, estava tentando encobrir meu luto.

Ashley e eu estávamos no centro, olhando algumas vitrines, numa falha tentativa de me alegrar. Ela já havia gastado um bom dinheiro com vários presentes para seus sobrinhos e queria que eu me animasse, por isso me arrastava para um sex-shop.
Tentei, com todas as minhas forças, impedi-la de entrar naquela loja, mas quando começou a quase gritar por mim, me vi obrigada a entrar para que ela calasse a boca.
— Vamos escolher o presente de Natal do e do Joe! — Seus olhos brilhavam, e eu só abri a boca em espanto.
— O Natal já passou! — Foi a única coisa que consegui lembrar.
— Você deu algum presente a ele? Porque eu bem fiquei sabendo do desastre que foi o seu Natal!
— Eu dei um presente aos pais dele. Eu ter ido àquela viagem já foi mais que um presente.
— Nada disso! — Ashley sorriu e me puxou para um corredor recheado de roupas.
Enquanto eu olhava as mensagens do meu celular, minha melhor amiga enchia uma cesta com coisas que eu não queria nem imaginar; vez ou outra, me puxando pela mão para cima e para baixo daquela loja.
— Qual é a cor favorita do ? — Voltei à realidade, assim que olhei ao redor, e Ashley estava com uma expressão de dúvida para diversas calcinhas. Dei de ombros. — , é só calcinha comestível... Você não vai morrer por agradar seu namorado uma vez na vida!
— Eu não sou sexy assim... — Minha amiga revirou os olhos. — Quer dizer, não sei se vou saber usar essas coisas com ele.
— E por que não saberia? Ele é o ... O mesmo idiota por quem você arranjou uma briga com a filha da Amélie.
Arregalei meus olhos enquanto via Ashley soltar uma gargalhada bem alta dentro do estabelecimento.
— Você nunca esquecerá essa história, não é? — Ela negou, ainda sorrindo, e me entregou cinco cabides com fantasias. Olhei torto para ela, o que a fez revirar os olhos. — Não gosto de fantasias.
— Ele gosta? — Neguei, porque não sabia a resposta. — Então vamos procurar algo para você usar com... — Ashley olhou as calcinhas comestíveis penduradas e pegou uma azul. — Isto aqui.
Fomos em direção aos provadores, já que Ashley experimentaria algumas fantasias. Achei aquilo tudo meio estranho. Eu não era nenhuma santa, mas não gostava muito da ideia de se fantasiar só para depois tirar tudo.
"O que você está fazendo? Me salveeee!", enviei uma mensagem para o , assim que Ashley entrou num provador. Levantei-me para buscar a bolsa da minha amiga e, quando retornei ao banco, ele já tinha respondido: "Joe, Matthew e eu viemos beber. Já disse o quanto não vou com a cara desse seu ex?"
"Você é muito chato! Deixa o Matt em paz."
"Estamos combinando de assistir a queima de fogos no píer e depois ir a uma festa. Tudo bem para você?"
“Posso pular a festa?”
"Por favor... :'("
"Talvez eu passe rapidinho por lá, mas não prometo ficar muito tempo. OK?"
"OK, babe! Vejo você mais tarde. E amanhã passaremos o Ano Novo juntos!"
— Você só pode estar de brincadeira comigo, ! — Levantei a vista, e Ashley estava vermelha de raiva. — Como você deixa aquela garota tirar foto sua?
— O quê? — Olhei ao redor, procurando alguém que estivesse tirando fotos minhas. — Que fotos?
— Acredite que, querendo ou não, as pessoas se acham no direito de tirar fotos suas só porque você está com o !
— Que droga! — Levantei-me e joguei as coisas na cestinha de compras. — Você já acabou? Porque estou indo embora!
Pagamos nossas coisas e voltamos ao hotel em que Ashley e Joe estavam hospedados, mas não demorei muito por lá, já que precisava ver como meus pais estavam.

Cheguei em casa, e meu pai estava descendo a escada com um prato com comida na mão. Ele sorriu rapidamente e disse que a mamãe finalmente tinha comido um pouquinho.
Deixei as compras em meu quarto e tomei um banho, coloquei o pijama mais confortável que eu tinha e fui ao quarto dos meus pais.
Bati na porta, e logo a voz da minha mãe pediu para que eu entrasse. Seus olhos estavam vermelhos, assim como seu rosto, e ela estava mais abatida que quando saí pela manhã.
— Oi. — Sorri para a minha mãe, assim que me deitei ao seu lado na cama. — Papai disse que a senhora comeu um pouco...
— Eu não estava com tanta fome. — Ela começou a passar as mãos pelo meu cabelo. — Você não deveria deitar com a cabeça molhada assim.
— Ah, mãe... — Revirei os olhos e sorri. — É só desta vez.
— Você sempre diz isso! — Ela sorriu também. — Você viu na televisão que nessa madrugada vai nevar?
— Não. Eu saí, hoje cedo, para ver a Ashley, e ela quis ir ao centro...
— Aquela ali não sabe segurar a carteira fechada. — Minha mãe sorriu mais uma vez e me abraçou forte.
— Mãe, posso fazer uma pergunta? — Ela me olhou e assentiu. — Como a senhora está?
— Aguentando... — ela disse, depois de uns segundos em silêncio.
— Eu sei que é muito recente, e tudo mais, mas vá conosco ao píer amanhã... Nós sempre vamos lá na virada de ano.
— Sabe, meu bem, neste ano, as coisas foram um bocado complicadas aqui... — Estranhei aquilo e me sentei para prestar mais atenção. — Eu e o Leon... Nós... Nós brigamos bastante este ano. — Ela abaixou o volume da televisão. — Nós dois conversamos muito sobre separação, mas aí você começou a namorar o , ele ficou preocupado com você... E, agora, teve o acidente.
— E por que só estou sabendo disso agora? — Cruzei meus braços na frente do peito. — Mãe, vocês deveriam ter conversado com nós duas!
— Não é mais necessário. Eu e seu pai ainda temos muito que conversar. Se chegarmos a um acordo que não seja o que você espera... Bem, você será a primeira pessoa para quem eu vou ligar.
Minha mãe me puxou e me abraçou mais uma vez. Eu não sabia que ela e meu pai estavam tendo problemas no relacionamento e, com certeza, mesmo vivendo na mesma casa, Loren também não deveria fazer ideia disso.
Ficamos deitadas até o final da tarde, quando meu pai veio avisar que meu celular estava tocando.
havia ligado, nos convidando para um jantar, só nós quatro, para que pudéssemos conversar e não ficar mofando dentro de casa. Desta vez, ele ficou hospedado no mesmo hotel que Ashley e Joe para dar uma privacidade maior aos meus pais. Por isso, nos convidou para jantar lá.
De início, meu pai relutou, mas sabia que aquilo era importante para tirar a mamãe de casa e da cama, então aceitou.

— Sabe, bem que você poderia tirar esse bico enfezado do rosto! — minha mãe reclamou. Eu dirigia o carro do meu pai, enquanto ela nos observava pelo retrovisor. — O faz a feliz. Você deveria ficar feliz com isso.
— Eu não gosto da ideia de ela namorar um atorzinho de Hollywood! — Sorri e pisquei para minha mãe pelo espelho. — A mora sozinha numa cidade grande demais, e ele deve ser mulherengo.
Alô-ooo! A ainda está no carro... — Fingi estar brava, mas meu pai logo sorriu.
— Só estou sendo sincero com você. Não confio naquele rapaz.

Assim que chegamos e entramos no restaurante do hotel, o garçom nos levou até uma mesa reservada, onde já nos esperava sorridente.
Começamos a conversar, mesmo que meu pai não desse muita atenção ao que falávamos, visto que todas as conversas incluíam .
estava se saindo muito bem, para quem não tinha intimidade com a minha família, e logo lembrei que ele era um ator. Ele fez com que o assunto Loren não ficasse pesado e, assim, eu e mamãe pudemos conversar sobre a minha irmãzinha sem que nós duas começássemos a chorar feito bebês.
— E o que você acha, Leon? — Minha mãe queria saber sobre o convite de uma visita deles à Nova York que eu havia feito há alguns minutos e ele não havia respondido.
— Vocês estão morando juntos? — meu pai soltou, do nada. Eu e nos entreolhamos e negamos. — Não estão pensando em se casar, não é? Porque vocês mal se conhecem para isso.
— Pai...
Ele estava falando alto demais, e os outros clientes já começavam a olhar.
— Eu já te disse uma vez e estou repetindo: você não é homem para a ! — disse e levantou-se, sem pedir licença, nem nada.
Minha mãe pediu desculpa e foi atrás dele.
... — Eu estava com vergonha. Meu pai jamais tivera tal atitude. Olhei para meu prato com comida quase pela metade. — Desculpa. O meu pai não... Ele nunca tinha agido assim.
... — Ele pegou minha mão e apertou, até que eu o olhasse. — Isso não é sua culpa. Não se preocupe com isso, ok?
Por mais que eu estivesse com vergonha, continuei ali com o ; talvez, para tentar amenizar as palavras que meu pai tinha dito, ou, talvez, porque eu não quisesse ir para casa e brigar com meu pai.
me chamou para subir, assim que pagamos a conta, e aceitei de bom agrado. Ainda estava cedo e a minha carona havia ido embora sem nem olhar para trás.
Ficamos apenas deitados, conversando e abraçados, para nos livrarmos das temperaturas negativas que estavam dominando Vancouver.
Atende a droga desse celular, ! — praguejei assim que o som se fez mais alto. Nem me lembrava de ter dormido. Ele apenas grunhiu e se virou de costas para mim. — , mas que droga!
Tateei a mesa de cabeceira, atrás do celular dele, e, sem nem pensar, atendi.
, finalmente! — Era uma voz de mulher. E eu conhecia aquela voz.
— O está dormindo. Quem deseja? — Tentei acordá-lo, mas ele nem se mexia.
? — Permaneci calada. Sabia muito bem a quem aquela voz pertencia. — Você pode avisar ao para ele me ligar? E que seja a primeira coisa que ele faça ao acordar!
— Ok.
Por que diabos a Amélie ligaria para ele às onze da noite? Ou às duas da manhã em Nova York?
Desliguei e me levantei. Olhei ao redor e achei um cartão-postal do hotel e uma caneta.
"Amélie quer que você retorne a ligação dela o quanto antes. Precisei ir para casa. Nos vemos amanhã! Xx ."


Cheguei em casa por volta da meia-noite e meia, já que precisei esperar pelo táxi. Meus pais já estavam dormindo àquela hora e pude transitar livremente pela casa, sem que ninguém quisesse discutir sobre o desastroso jantar.
Tomei uma ducha, voltei à sala e comecei a assistir a uma comédia romântica que passava na TNT.
Pouco depois da metade do filme, escutei um barulho vindo da escada, mas já era tarde demais para me esconder do meu pai. Ele já estava descendo o último degrau.
— Então você veio para casa...
— Pai, aquilo foi muito rude! Eu fiquei morrendo de vergonha! — Sentei-me direito no sofá, e ele adentrou o cômodo.
— Não deveria ter sido tão rude. Só acho que ele deveria saber como eu me sinto quanto a esse namoro de vocês.
— Acredite, ele sabe. — Passei as mãos no cabelo. — O entende que o senhor não goste dele e, por causa disso, ele nos chamou para jantar.
— Muita gentileza da parte dele.
Não pude deixar de notar o sarcasmo nas palavras do meu pai.
— Ele está com trabalho atrasado só para estar aqui, comigo, neste momento! Por favor, não torne tudo isso ainda mais difícil do que está sendo.

*

Estávamos a caminho do píer. Meus pais, e eu. Encontraríamos Ashley e Joe lá.
Desde cedo, e Joe estavam cheios de segredinhos e, quando perguntei, não quis dizer nada e ficou apenas rindo.
Depois da conversa que tive com meu pai pela madrugada, ele disse que tentaria um relacionamento melhor com o por minha causa. Fiquei mais que agradecida, me lembrando de que eles não precisariam se aturar por tanto tempo assim.
Quando chegamos, sentamos à mesa interna de um restaurante, já que lá fora estava 2°.
Jantamos e aproveitamos o tempo para que todos se conhecessem melhor.
Minha mãe parecia bem melhor que no dia anterior e não era apenas uma “fachada” para que parássemos de perguntar como ela estava. Ela foi a primeira a nos convencer a começar a beber um dos drinks do cardápio, um dos preferidos dela.
— Você já sabe o que o e o Joe estavam aprontando mais cedo? — Ashley sussurrou para mim enquanto estávamos na fila do banheiro.
— O não quis dizer. Ficou apenas rindo. — Revirei meus olhos.
— E vocês vão aproveitar a noite hoje? — Por um instante, não lembrei que Ashley se referia à calcinha comestível que ela me fez comprar. — Você pode comemorar que ele e o seu pai estão se dando bem...
— Já disse que não sou boa nisso, Ash! — Nós duas sorrimos e andamos com a fila.
Por ser noite de Ano Novo, o local estava lotado, mas, assim que o restaurante avisou que a contagem regressiva e a queima de fogos começaria, nos dirigimos até a grade de proteção, onde muitas pessoas e até alguns conhecidos estavam.
Uma balsa foi posicionada no meio do canal e, assim, tanto quem estivesse em Vancouver e North Vancouver poderia ver o espetáculo.
Como em todos os anos, os enfeites natalinos luminosos ainda estavam enfeitando todo o píer e os barcos na água, então era um verdadeiro deleite poder presenciar aquela festa.
Logo menos, o anúncio veio das caixas de som e a contagem regressiva começou:
10, 9...
Olhei ao redor, e todos estavam sorrindo, olhando para o mar à nossa frente, onde as luzes brilhavam e piscavam na balsa.
8, 7, 6...
Meus pais estavam abraçados e pareciam realmente felizes, e, por aquele momento, esqueci sobre a briga deles.
5, 4, 3...
me abraçou forte e deu um beijo rápido no topo da minha cabeça. Sorri para a minha amiga e a vi desviar os olhos para Joe. Todos ali estavam com os olhos brilhantes.
2, 1.
Enquanto todos gritavam saudações de “Feliz Ano Novo”, Joe se ajoelhava, de frente para Ashley, e sorria ainda mais. Meus pais estavam paralisados e, assim como eu, de queixo caído.
Independentemente de tudo que todos falam, até você, eu te amo de verdade, Ash! Eu não quero e nem consigo me imaginar ao lado de ninguém que não seja você... — Joe gritava por sobre o barulho dos fogos e das pessoas gritando. — Então nós podemos, enfim, ficar juntos?
Minha amiga estava paralisada, e as pessoas já começavam a prestar atenção ao que Joe estava fazendo, assim como outros já estavam filmando, mesmo que os fogos ainda estivessem estourando ao fundo.
Eu estava de queixo caído, olhando para e, depois, para Joe e, enfim, para Ashley. Ela estava chorando, ou quase isso, mas seus olhos estavam cheios de lágrimas. Minha amiga puxou Joe, e eles se abraçaram por um bom tempo, como se só os dois estivessem ali.

— Por que não me disse nada? — Estava indignada.
sabia de toda a armação de Joe e não me contou nenhuma vírgula do assunto.
— Ele pediu segredo, porque sabia que você falaria alguma coisa a Ashley. — Ele deu de ombros enquanto tirava o sapato e as meias. — Eu nem acredito que aqueles dois vão se casar...
— Eles nunca nem namoraram! — Sorri e tirei o casaco. — Quer dizer, nunca se assumiram, porque estar com alguém por seis anos não é fácil.
— Isso é verdade! — levantou-se da cama e foi até o banheiro.
Depois do pedido de Joe, voltamos ao restaurante e comemoramos até umas três da madrugada. Deixei meus pais em casa, peguei o presente do e fui com o carro do meu pai ao hotel.
— Agora, você pode me dizer o que diabos tem de surpresa para mim? — estava escorado na porta do banheiro, apenas de calça jeans. Todo lindo e glorioso em seu corpo melhor que muito marmanjo novinho. — , para de me olhar assim!
— Você está uma delícia hoje! — Sabia que aquilo não era a minha cara, mas eu só disse a verdade. quis gargalhar, mas apenas riu da maneira mais sexy que eu já tinha visto. Mordi meu lábio inferior para não gemer. Talvez eu tivesse bebido demais... Ou apenas estava tentando colocar a culpa em algo que não fosse eu. — Fica à vontade, logo eu volto.
Puxei-o de volta ao quarto, peguei minha bolsa e fechei a porta do banheiro atrás de mim.
Tirei toda a minha roupa e joguei uma água morna em meu corpo, limpando os resquícios de suor que se formavam pelo que estava prestes a fazer.
Alcancei a caixinha na bolsa e olhei por uns segundos para a peça.
Eu não acreditava que estava fazendo isso!

[N.A: dê o play na música!]

I'm on my 14 carats
I'm 14 carat
Doing it up like Midas, mhm
Now, you say I gotta touch
So good, so good
Make you never wanna leave
So don't, so don't



— Eu estou quase morrendo, pensando no que você está fazendo aí... — Ouvi a voz de e despertei do transe.
— Espera um segundinho! — respondi um pouco mais alto, talvez deixando claro que estava ansiosa.
Sequei meu corpo e olhei na caixa do produto que havia escolhido o sabor menta. Não sei se o gostava daquele sabor, mas talvez fosse deixar as coisas mais refrescantes entre nós dois, e era exatamente isso que eu estava almejando.

Gonna wear that dress you like, skin-tight
Do my hair up real, real nice
And syncopate my skin to your heart beating


Pesquei uma liga e amarrei o cabelo em um “rabo de cavalo” alto. Precisava deixar à mostra o lindo colar que era uma herança da minha avó materna. Devo ter demorado mais que o normal para fechar o cordão, mas, assim que o olhei pelo reflexo do espelho, sabia que valeria a pena.
Coloquei a peça de “roupa”. Tinha uma consistência estranha, ainda mais considerando que estava em uma parte um tanto quanto sensível do meu corpo.
Olhei ao redor, num impulso, procurando por alguém que fosse me julgar por usar uma daquelas calcinhas. Não havia ninguém ali, a não ser um com certeza, impaciente — no quarto.
Peguei o roupão que o hotel oferecia aos clientes e dei um nó em sua corda, e, assim, não teria como saber que eu estava quase nua debaixo do tecido.

'Cause I just wanna look good for you, good for you, uh-huh
I just wanna look good for you, good for you, uh-huh
Let me show you how proud I am to be yours
Leave this dress a mess on the floor
And still look good for you, good for you, uh-huh


Deixei o banheiro para trás e sabia que minhas bochechas estavam vermelhas. Eu as sentia ardendo.
estava sentado na beira da cama, olhando atentamente para mim, e ainda carregava aquele sorriso super sexy no rosto.
— Tenho um presente. — Minha voz estava quase rouca.
Nervosismo e ansiedade.
— E eu posso saber o que é? — Ele me olhou dos pés à cabeça. — Você me deixou super curioso.
— Primeiro, eu quero que você me prometa que não vai rir de mim. — Ele fez menção de que falaria alguma coisa, mas o interrompi: — Estou falando sério!
— Eu não vou rir de você — ele disse, depois de um tempo.
Aproximei-me a passos curtos dele. A calcinha tinha uma consistência diferente, mas esquisitamente confortável e, por um momento, quis fechar os olhos e aproveitar a sensação que ela despertava em meu corpo.
Apoiei minhas mãos em seus joelhos e sorri, antes de depositar um selinho em seus lábios. Distribuí mais alguns beijos leves, até que chegasse perto de seu ouvido, e sussurrei:
— Espero que você esteja com fome!

I'm in my marquise diamonds
I'm a marquise diamond
Could even make that Tiffany jealous, mhm
You say I give it to you hard
So bad, so bad
Make you never wanna leave
I won't, I won't



Não vi, mas sabia que ele tinha aberto um sorriso bem grande ao ouvir aquelas palavras. E talvez por isso que ele tenha agarrado meu cabelo e me puxado para um beijo totalmente diferente do que eu tinha acabado de dar nele.
Havia uma certa fúria, ansiedade, nervosismo e, principalmente, desejo. Eu podia sentir pelo jeito que ele tocava os lábios dele nos meus, em meu queixo e pescoço.

Gonna wear that dress you like, skin-tight
Do my hair up real, real nice
And syncopate my skin to how you're breathing


Ele levantou-se e ficou o mais próximo que conseguiu de mim. Aproveitei para passar meus braços pelos seus ombros e agarrar seu cabelo.
Nós mal tínhamos nos tocado e eu já estava ansiosa pelo próximo movimento que ele faria.

'Cause I just wanna look good for you, good for you, uh-huh
I just wanna look good for you, good for you, uh-huh
Let me show you how proud I am to be yours
Leave this dress a mess on the floor
And still look good for you, good for you


Ainda nos beijávamos furiosamente quando as mãos dele começaram a explorar meu corpo ainda coberto pelo roupão.
Primeiro, ele afrouxou o laço, e senti sua mão gelada em meu ombro, seguido de vários beijos que ele passou a distribuir por ali, até que alcançasse meus seios.
Gemi, não tão alto, por puro receio de que os outros nos ouvissem. Mas ele parecia ter gostado de me ouvir, já que intensificou uma mordida em meu mamilo.
Olhei para baixo, e , agora, olhava para mim. Desejo ardendo em seu olhar.
Empurrei-o até o pé da cama e, antes que eu o deitasse, ele nos virou e abriu o roupão de uma vez, fazendo com que ele caísse aos meus pés.
Seus olhos estavam brilhando tanto quanto quando estávamos vendo os fogos e, ali, eu soube que ele tinha gostado. Dei um suspiro de alívio e, em questão de segundos, estávamos deitados, nos beijando e trocando carícias.

Trust me, I can take you there
Trust me, I can take you there
Trust me, I, trust me, I, trust me, I


Estava tão empenhada para que aquele ato de “loucura” desse certo que me assustei quando senti suas mãos apertando meus seios e sua boca beijando e mordendo o caminho da minha barriga até mais embaixo. Ele depositou um beijo quando chegou ao meu umbigo, mas prosseguiu, até que chegasse à calcinha.
passou a língua no produto e sorriu.
— Eu adoro menta! — Sua voz saiu baixa e mais sexy que o normal.
Mas o que me fez gemer foi a mordida que ele deu na peça, atingindo ao máximo o meio das minhas pernas, e quando percebeu que aquilo era prazeroso para mim, deu outras mordidas, até uma última vez, e veio até a minha boca, ainda com um pedaço da calcinha. Beijou-me com mais força, e eu jamais imaginei que sentiria prazer naquilo. Enquanto ele me beijava, mordia e comia a calcinha.
abaixou a calça e voltou a me beijar, como uma distração, mas ele rapidamente me penetrou e abafamos nossos gemidos com outro beijo.

I just wanna look good for you, good for you, uh-huh
Baby let me be good to you, good to you, uh-huh
Let me show you how proud I am to be yours
Leave this dress a mess on the floor
And still look good for you, good for you, uh-huh, uh-huh, ah...
Uh-huh, uh-huh...
Trust me, I, trust me, I, trust me, I


Estávamos deitados e abraçados. Ambos saciados da transa mais pervertida que já tinha tido em toda a minha vida. E, para ser bem sincera, tinha gostado, e muito.
— Não sabia desse seu lado... — mexia em meu cabelo, enquanto eu acariciava seu queixo.
— Nem eu. — Sorrimos e, então, nossos olhares se encontraram. — Eu gostei de hoje... — confessei, não só me referindo ao sexo, como também a boa convivência dele com meu pai, minha mãe parecendo um pouco melhor e com o noivado da minha melhor amiga.
Gostei muito de hoje! sorriu e beijou o topo da minha cabeça, me abraçando mais forte e fechando os olhos.
Talvez ele estivesse cansado.

Capítulo 12 - Três meses


Ao longo do primeiro mês do ano, as coisas ficaram cada vez mais intensas entre e eu. Não um intenso ruim, mas nós dois acabamos ficando cada vez mais juntos, cada vez querendo mais o outro. Ao menos, era isso o que ele demonstrava.
Faz exatas duas semanas que a Amélie havia ligado para ele, dizendo que tinha acertado com a produtora da série e conversado com ela sobre o sumiço dele do set de filmagens. Por isso, estávamos no carro dele, a caminho do estúdio, para que ele pudesse finalizar seu trabalho, insistindo muito para que eu o acompanhasse.
— Você parece muito feliz em estar aqui — eu disse, assim que ele estacionou o carro.
Tirou a chave da ignição e sorriu para mim.
Você parece muito feliz em estar aqui — ele repetiu o que eu havia dito.
— Eu nunca te vi trabalhando. Não posso ficar curiosa? — questionei-o, mas ele só riu, deu um beijo no meu queixo e saiu do carro.
Saí logo em seguida, entrelacei nossas mãos e caminhei ao lado dele, com um sorriso enorme no rosto.
Não que eu nunca tivesse estado ali, mas era diferente chegar lá com ele, mesmo que fosse num sábado de manhã, com poucas pessoas ali.
— Aliás, você já me fotografou, então já me viu em serviço. — sussurrou, assim que entramos em um espaço cheio de cenários e algumas pessoas da produção.
— Você só pode estar brincando, né? Aquilo ali era eu trabalhando para você. Não vale!
— Se você ficar quietinha, prometo deixar você ver até minha troca de roupas... — deu o sorriso mais sacana que ele conseguiu.
Mais de duas semanas já haviam se passado, mas o “presente” de Ano Novo ainda estava fresco em nossas mentes.

Queria ir embora, ou dar uma volta, ou me deitar, ou fazer qualquer coisa que não fosse continuar em pé, atrás de uma mulher um pouco estressada com um de seus empregados. Estávamos há uns trinta minutos só naquela cena, na qual levava um tiro no alto de um prédio.
Sim, ele morreria e, enfim, poderíamos ir embora. Mas acontece que a arma que seria utilizada não estava pronta a tempo, e a Marlene, produtora e diretora do episódio, estava quase gritando para os deuses para que o rapaz chegasse com o objeto.
Já passavam das duas da tarde e ainda nem tínhamos almoçado, e, como eram várias cenas, precisei seguir para diversos cenários, camarim e maquiagem.
Todos em cantos opostos do estúdio.
— Eu posso, ao menos, beber água? — falou um pouco mais alto para que pudéssemos ouvi-lo.
— O Theo chegará a qualquer segundo. Tenha fé! — Marlene esfregou as mãos e soprou entre elas. O que já era bem a quinta vez que o fazia; provavelmente, costume.
— Mar, eu estou com fome. — Agora, reclamava igual a uma criança, mas eu concordava com ele. Também estava. — Prometo que serão dois minutos e só.
— Nada disso! — a produtora disse, séria.
Mais uns minutos, até que o senhor chegasse e pudessem, finalmente, seguir com a cena.
estava no “topo” de um prédio, mas que era um cenário com pouco mais de dois metros de altura, se escondendo de um assassino, mas que quando negasse entregar a mala cheia de provas, morreria com um tiro no coração.
Nada demais na cena, se eu não tivesse quase morrido junto ao ouvir o barulho do tiro, que ecoou por todos os cantos.
Poucos minutos depois, ele já estava descendo do cenário, com a blusa branca ensanguentada e um rastro de sangue falso na boca.
— Então… Como me saí? — perguntou, assim que entramos no seu camarim. — Vi que você quase gritou. — Ele piscou.
— Por mais falso que tenha sido o tiro, eu não gosto de armas, muito menos do barulho delas. — Sentei-me no sofá, enquanto ele tirava a camisa. — Mas você morreu muito bem! — Brinquei.
, você sabe que dia é hoje? — mudou rapidamente de assunto. Neguei com a cabeça. — Você está livre até à noite, não é?
— O que você está planejando?
— Não é nada demais… — Semicerrei os olhos, e revirou os dele. — Planejei um jantar, pelos nossos três meses de namoro…
— Não sabia que você contava quantos meses estamos juntos.
Ele sentou-se ao meu lado e puxou as minhas pernas para o seu colo.
— São três meses de tortura… — Empurrei seu braço, e ele começou a sorrir. — Vamos almoçar. Não sei se vou ter coragem para sair mais tarde.
— Tudo bem, mas é melhor você tomar um banho antes.
— Eu já vou. Acalme-se. — Ele levantou-se do sofá e tirou a calça ali, mesmo que a porta do camarim estivesse aberta.

Ainda demoramos um pouco, até sair do estúdio. Como era o último dia, agora, oficial, do por lá, rolou um pouco de champanhe e umas palavras do pessoal da produção. Mas estávamos com fome e sedentos por uma gotinha de álcool a mais que fosse; depois da taça de champanhe que havíamos tomado, ficamos com mais vontade ainda de sair para comemorar e beber todas que nos fossem possíveis.
Assim que descemos do carro dele, notei que havia uma pequena aglomeração próxima à porta do restaurante, mas jamais imaginaria que seria por nossa causa. logo quis voltar ao carro, mas o convenci de que ficaríamos bem se sentássemos na área interna.
Mesmo tentando passar despercebidos, percebemos que, mesmo a certa distância, os paparazzis fizeram a festa, tirando diversas fotos nossas. Isso sempre me assustaria e sempre me deixaria abismada com a falta de privacidade que era obrigado a aceitar por causa da profissão.
O restaurante não era o mais famoso de Nova York, muito menos o mais caro, mas era conhecido por ter frutos do mar de qualidade e uma carta de bebidas bastante extensa.
Era todo ambientado em tons de azul-marinho, vermelho e branco, como se o dono fosse um marinheiro, ou algo assim; por isso, parte do cardápio era composta por pratos de peixes e outros mariscos.
— Você já comeu lula? — perguntei, meio inquieta, e notou.
— Já... E é uma delícia! — Ele sorriu. — Por quê?
— É que eu nunca comi, então não quero pedir uma coisa que eu não goste. — Revirei os olhos. — Quero um peixe com legumes.
— Quero a lula. — sorriu e, assim que o garçom se retirou, completou: — Você precisa parar de ter medo de experimentar as coisas, .
— Só não queria te fazer passar vergonha, caso eu não gostasse. — Desviei meus olhos dele, mas senti sua mão em meu queixo.
— Você não vai fazer isso, tudo bem? — deu um beijo rapidinho em meus lábios e voltamos a assuntos banais.
Comemos, bebemos e conversamos mais que o combinado. Adorava poder conversar, sem me preocupar com a hora, mas, assim que o deu os primeiros sinais de “embriaguez”, peguei a chave de seu carro e disse que deveríamos ir à sua casa... Quem sabe, comemorar mais um pouco por lá.
Claro que ele não negou, mas disse que tinha um pequeno agrado para nós dois, antes de deixarmos o restaurante. Ganhamos — não sei, ao certo, se ele encomendou ou realmente ganhamos! — um naked cake em miniatura com as nossas iniciais no topo. Era lindo e delicioso!
Por mais falso que fosse o nosso namoro, aqueles pequenos detalhes se tornavam muito reais na minha memória.
Chegamos à casa dele e ficamos deitados, meio abraçados, meio nos beijando. Fomos interrompidos apenas por alguns telefonemas. Nada muito sério.
Acabamos dormindo e, quando acordei, estava deitava sozinha na cama, mas escutava o barulho do chuveiro e via a porta do banheiro entreaberta. Levantei-me, sem fazer barulho, não que ele pudesse me ouvir, mas não daria nenhuma chance. Ri da minha própria ideia, mas achei que seria legal, até porque eu não tinha nada preparado para aquele dia, e ele já tinha até me levado para almoçar num lugar bacana.
Tirei rapidamente a camisa do moletom cinza dele, que eu adorava usar quando ia até lá, e entrei mais rápido ainda no box do chuveiro.
— Oi! — disse, ainda rindo, mas parecia estar a par dos meus planos. — Você está acordado há muito tempo?
— Não... — Ele sorriu também e me abraçou. — Você está quente!
— Eu estava coberta até o pescoço com seu cobertor. O que você queria? — Revirei os olhos da maneira mais besta possível, o que o fez rir ainda mais e, então, depositar um beijo estalado no alto da minha cabeça.
, ainda me abraçando, nos levou para debaixo do jato de água morna, que caia, incessantemente, pelo chuveiro.
— A água está uma delícia! — comentei, assim que ele afrouxou os braços ao meu redor.
— Se fosse só a água que estivesse uma delícia... — Ele conseguiu fazer a cara mais safada e cretina dentre todas as vezes em que já tínhamos conversado.
— Ai, meu Deus! Cala essa boca, ! — Joguei meus braços ao redor do pescoço dele e, ainda debaixo d'água, o beijei. — Minha parte do presente desses nossos três meses vai ser uma transa no banho. Você aceita?
— Quem sou eu para negar qualquer coisa que venha de você? — Ele levantou as sobrancelhas e me apertou mais. Tentamos nos beijar, mas comecei a rir do que ele tinha dito e interrompi o beijo. — O que foi agora, ?
— Você é um pervertido! — disse entre gargalhadas.
— E por quê? — Ele parou embaixo d'água e molhou o cabelo. — Você foi quem entrou no meu banho, me oferecendo sexo. Ou eu ouvi errado?
— Não... — Meu riso já estava mais calmo, principalmente, quando parei para observá-lo nu e molhado na minha frente.
era tão lindo que não parecia real.
— Mas eu sou um pouco pervertido, às vezes — ele confessou quase num sussurro. — A não ser que você não goste. Afinal, que tipo de homem você gosta?
— Você é o tipo de homem que eu deveria manter distância — sussurrei de volta, sentindo meus pés me levarem para mais perto dele. — E vamos dizer que você é o meu tipo.
— Ah, é?! — ele questionou, depositando pequenos beijos em meu pescoço, até sentir o sorriso dos lábios dele em minha pele.
— O tipo arrogante, teimoso e idiota, mas que, no fundo, é totalmente o contrário. — Esqueci-me de todos os defeitos de assim que seus olhos encontram os meus. Sua mão percorreu minhas costas delicadamente, e acabei arfando. — O tipo sedutor e intenso… E, quem diria, meu namorado. — Revirei os olhos com deveras sarcasmo e brincadeira.
— Há exatos três meses! — ele completou, sério, e sua boca investiu contra a minha deliberadamente.
Cambaleei para trás e senti minhas costas pressionando a parede. Deixei um pequeno gemido escapar, enquanto beijava meu colo.
Apesar da parede do box estar numa temperatura mais baixa que a água, eu quase não percebia, já que o corpo do e o meu estavam quentes, quase que na mesma temperatura e sincronia.
Enquanto ele beijava e mordia levemente meus peitos, puxei seu cabelo e mordi meus lábios para abafar outro gemido.
Se tinha uma coisa que havia aprendido era os lugares certos para me provocar, ou até me levar ao limite, como em outras vezes já havia acontecido. Por isso, ele começava uma trilha de beijos entre meus seios e descia até minha barriga e o alto das minhas coxas, bem no centro. .
! — soltei seu nome, como um gemido, assim que ele chegou onde planejava. Parou o que fazia e me olhou. Olhamo-nos por alguns segundos, até que eu me lembrasse do porquê estava ali. — Esse é o meu presente!
Esperei-o se levantar e voltamos a nos beijar, mas, desta vez, quem se abaixava, deixando uma trilha de beijos e leves mordidas no corpo do outro era eu. Quando cheguei ao lugar que queria, dei um beijinho na cabeça do seu pênis e senti tremer sob minhas mãos e boca. Foi, então, que aproveitei e consegui prová-lo o máximo que pude.
Com movimentos, uma vez lentos e, outra vez, um pouco mais rápidos, que o faziam gemer e chamar pelo meu apelido vez ou outra, estava totalmente dominado, e eu sabia disso. Então, para coroar o nosso momento de prazer, deixei meus dentes correrem soltos por toda a sua ereção, e ele, finalmente, gozou.
Por mais que ele insistisse, depois do “meu presente”, apenas continuamos tomando banho. Ele lavou meu cabelo e, enquanto eu tirava o shampoo, fez massagem em meus ombros.
Ele sabia ser um ótimo cavalheiro quando queria.

Fomos obrigados a sair do banho quando o celular dele começou a tocar no quarto e, como ele já estava limpo, foi atendê-lo. Quando saí, ele discutia com quem quer que tivesse ligado, passava as mãos pelo cabelo molhado e andava de um lado ao outro com a toalha presa no quadril.
Estava secando meu cabelo quando o ouvi falar o nome da bruxa da Amélie. Faz uns bons dias que ela não ligava, e nós dois ficávamos em paz, longe da monstra, filha da mãe.
Já um pouco mais tarde, por volta das cinco ou seis da tarde, estava calado, deitado com a cabeça apoiada na minha perna, enquanto assistíamos a um filme na sala.
— Ah, já que vamos sair para jantar, o presente que eu ia te entregar mais cedo está na última porta do guarda-roupa — ele disse, do nada, depois que decidimos onde jantaríamos.
— E você não pode ir pegar? — Tentei brincar, mas não adiantou nada. Ele estava sério desde o telefonema de Amélie. — Eu vou me trocar.
Deixei a sala, sem uma resposta dele. Eu sabia que ele estava estressado e, se forçasse para saber o porquê, ele ficaria ainda mais puto. E, como de costume, a Amélie ganharia mais uma.

Dei um último retoque no batom e olhei pelo espelho do banheiro para dentro do quarto do . Meus olhos percorreram de um canto ao outro e me prendi ao guarda-roupa. Ele disse que, na última porta, tinha um presente para mim, e eu havia me esquecido dele completamente. Corri até ele e o abri. Uma sacola preta com laço vermelho quase caiu em cima de mim quando a puxei para fora do móvel. Sentei-me na cama, parecendo uma criança quando vai receber doces no Halloween, e fiquei de queixo caído quando identifiquei um Christian Louboutin, que estava dentro da sacola. Eu já estava calçada, mas, no mesmo minuto, tirei os sapatos e coloquei o par mais caro que já havia colocado nos pés durante toda a minha vida.
Olhei para os meus pés e estava completamente apaixonada. Não consegui parar de olhar, até que me dei conta de que estava na sala, me esperando para sairmos.
Com todo cuidado do mundo, desci da cama e andei firmemente até a sala. estava sentado na banqueta da cozinha e olhou para o corredor. Deu um rápido sorriso quando identificou os sapatos e ficou visivelmente surpreso quando me viu correr até ele.
— Muito obrigada! Muito obrigada! Muito obrigada! — Enchi-o de beijos assim que o alcancei. — Eles são lindos, maravilhosos e... Muito obrigada!
— De nada, . — Ele me abraçou de volta, não tão entusiasmado quanto eu, mas nem liguei. — Podemos ir? Já estamos um pouco atrasados para a nossa reserva.

O restaurante era lindo, e a comida era maravilhosa, mas o humor de acabou quase nos atrapalhando e nos fazendo discutir na hora da conta. Depois de tudo resolvido, ele disse que compensaria o estresse que passamos em uma boate e, então, aproveitamos.
Faz tempo que eu não sabia o que era aproveitar uma boa balada com alguém tão especial. estava realmente se esforçando, nos últimos dias. Eu só não sabia se era por ele, por nós dois ou por causa da Loren.
Toda essa confusão na minha cabeça fez com que eu quisesse ir para casa. E, com a ajuda do álcool, parecia que eu carregava um peso enorme na cabeça — pensar demais quando se está bebendo tem dessas —, por isso, fiz me deixar no meu apartamento e, mesmo sabendo que ele teria uma reunião do novo filme no dia seguinte, decidiu ficar.
— Amanhã, eu vou sair cedo daqui. Você quer que eu te acorde? — ele perguntou baixinho no meu ouvido.
Estávamos deitados na minha cama, vendo o tempo carregado do lado de fora.
— Já são quase três da manhã. Vamos só dormir... — pedi baixinho e me aninhei em seu abraço. Ele assentiu e me deu um selinho. — Boa noite, !
— Boa noite, babe!
Por mais que eu estivesse cansada, só consegui relaxar depois que a respiração de ficou bem serena, pois sabia que ele tinha dormido, mas, nem assim, dormi.
Levantei-me da cama, com o maior cuidado para que ele não acordasse, e saí em direção à cozinha; procurei algo para comer nos armários e até na geladeira, mas, na verdade, eu não estava com fome.
Sentei-me na banqueta do balcão da cozinha, apoiando a cabeça nas mãos e pensando no porquê não conseguia dormir.
Nada.
Olhei ao redor e vi minha bolsa na mesinha da sala. Sabia que meu celular estava ali dentro e fui até lá, me sentando no sofá.
Não tinha quase nada de novo, apenas uma mensagem de boa noite da minha mãe e uma de Ashley, recebida há pouco mais de quinze minutos.
”Você está tão linda na minha saia...”. Sorri e lembrei que a saia a que ela se referia foi a mesma eu que havia usado esta noite.
”Eu fico linda em qualquer roupa! Mas como você sabe que eu usei?”
”Às vezes, eu quero te bater, ! Você namora um cara famoso, agora, e sempre vão ter fotos suas na internet!” . Ela não demorou a mandar outra mensagem, desta vez, com um link: ”Todo mundo elogiou sua roupa... Ou devo dizer minha? Ahhaahah”
”OK. Sua saia! Mas esse sapato, eu ganhei hoje... Do ... E É UMA COISA LINDA!”
”Pena que seu número é menor... Mas, mudando de assunto... Podemos ir almoçar amanhã?”
"Claro! Onde?”
”Eu posso cozinhar”.
Quase gargalhei da mensagem da minha amiga, mas me lembrei de que estava dormindo.
"Você não sabe cozinhar, Ash”, lembrei e podia apostar que ela também estava rindo.
”É, eu sei... Passa amanhã aqui, em casa, e a gente escolhe. Agora, eu vou dormir, porque o Joe chegou. Bjs. Amo você!”
”Boa noite! E também amo você!”
Assim que acabei de falar com Ashley, o sono pareceu pesar, e eu me convenci a voltar à cama.

Eu já vou indo. Cuide-se! — Escutei a voz de distante, enquanto eu estava deitada em uma canga super colorida e desfrutava do sol e do calor de Miami.
Pelo que pareceram minutos depois, acordei. Claro que era apenas um sonho, e eu não estava na praia! Olhei as horas no celular e me surpreendi quando vi que já passavam das dez e meia da manhã.
Provavelmente, falou mesmo comigo, e eu o imaginei em meu sonho.
Liguei para minha amiga e acabei acordando-a, mas logo combinamos de nos encontrar no Paul's, bar/restaurante que sempre íamos para o happy-hour.
Levantei-me, tomei banho, chequei os e-mails e logo me vesti para sair.
Quando cheguei ao restaurante, notei que a última vez em que estive ali foi quando fotos minha e do “vazaram” na imprensa e disseram que éramos um casal. Sorri com a lembrança super bem-vinda.
— Por que você está toda risonha? — Ashley quis saber.
— Você se lembra da última vez em que viemos aqui?
Eu vim aqui na semana passada... — Ela sorriu, e revirei os olhos.
— Na última vez em que nós viemos aqui juntas...
Ela pareceu pensar e, quando a lembrança veio à sua mente, ela também sorriu.
— Vocês já estavam juntos naquele dia?
— Não exatamente...
Minha amiga arregalou os olhos.
— Você soube esconder direitinho!
Era sempre muito fácil perder a hora quando estava com a minha melhor amiga. Ashley era alguém de conversa fácil, divertida e abraços maravilhosos. Eu realmente tinha ganhado na loteria com ela!

Assim que nos despedimos, recebi uma ligação de um outro amigo; desta vez, Matthew insistiu, até que eu estivesse dentro de um táxi para atendê-lo.
Conversamos brevemente sobre como as coisas estavam, a volta ao trabalho; contei sobre uma possível promoção nos próximos meses, e ele ficou muito feliz. Ele disse que, agora, estava fazendo bem menos viagens pela empresa, e isso fez com que ele passasse mais tempo em casa e, finalmente, pudesse sair de vez da casa dos pais.
E eu conheci a Samantha... — ele soltou quase num sussurro.
— Que Samantha? Como assim, Matt?
Ela mora aqui no prédio. Na verdade, nós já nos conhecíamos, mas só agora nós conversamos — ele esclareceu.
— E como ela é?
Ela é incrível, ! Acho que vamos a outro encontro amanhã à noite.
— Outro encontro? — Sorri. — Matt, por que não me disse antes?
Eu não sabia muito o que falar... E eu não queria elevar as minhas esperanças, mas agora parece que vai!
— Bem, fico muito feliz por você! Eu só queria tê-la conhecido enquanto estávamos no Canadá.
Você sempre pode nos visitar... — Ele brincou.
Matthew me contou mais sobre a Samantha. Eles se conheceram, por acaso, quando Matt ainda estava assinando os papéis do aluguel do apartamento em que morava. Quase todas as vezes em que ele chegava tarde das viagens, eles se encontravam no elevador, o que achei estranho, mas ele disse que era porque ela era enfermeira e, por isso, sempre chegava bem tarde dos plantões.
Fiquei ainda mais animada ao perceber o quão empolgado meu amigo estava. E, talvez, até com um pouco de ciúme, mas nada romântico. Eu só me importava demais com a nossa amizade.

Na semana que se seguiu, não consegui que um dos meus projetos fosse aprovado e, talvez, isso fosse me custar um ponto extra na promoção. Não gostava nenhum pouco de quando isso acontecia, mas era até bem comum. Minha diretora disse que a campanha só não estava perfeita por causa do gosto dos clientes, que mudava a cada segundo.
Aproveitando a hora do almoço, consegui marcar um horário no escritório de imigração e, finalmente, pude renovar meu visto. No momento em que o fiz, lembrei que, por causa dele e do meu emprego, aceitei a proposta da Amélie. E, pela primeira vez, desde que vi o outro lado que ela assumia, que eu não estava com raiva. OK, talvez, um pouco. Mas, no fundo, estava um tanto quanto feliz em saber que, se não fosse por ela, eu não estaria com o agora.
Por falar nele, passou quase a semana toda com o Bubbles na casa dele, apesar das filmagens ainda não começarem. Ele estava tirando esse tempo livre para estudar o personagem, e eu jamais ousaria em atrapalhar, mas estava com saudade do meu filhote.
Mais um dia, mais uma reunião, mais um cliente satisfeito, mais um crédito extra com a chefe.
— Apesar daqueles clientes não terem aprovado seu projeto, acho que você vai conseguir fechar o mês com o terceiro maior número de contratos assinados! — minha diretora saudou assim que a reunião havia sido encerrada. — Estou muito orgulhosa!
— Obrigada, Stacy! — Não conseguia parar de sorrir.
— E, como você bem sabe, isso vai pesar bastante quando as promoções chegarem. E eu ouvi um passarinho falar que alguém já foi escolhido e que essa pessoinha vai ser uma das administradoras da nova sede da empresa em Vancouver... — Stacy disse, toda empolgada, enquanto piscava e deixava a sala de reuniões.
Aquilo, sim, era novidade! E, pelo jeito que ela havia dito, eu teria sido a escolhida! Fiquei me perguntando se aquilo era apenas ilusão da minha cabeça, ou ela tinha realmente me avisado de que eu seria transferida de volta para casa.
Meu coração bateu tão forte que eu achei que quem passasse ao meu redor ouviria, mas nada assim aconteceu.
Como não tinha ouvido com as palavras claras de que eu seria a escolhida, resolvi que não tocaria no assunto com meus pais, Ashley, Matt e, muito menos, . Se e/ou quando as coisas ficassem concretas, eu as resolveria.

— Como foi no escritório, hoje, babe? — quis saber.
Estávamos deitados na cama dele, com um Bubbles sonolento entre as minhas pernas.
— Foi muito bom! — Sorri só de me lembrar das palavras da minha diretora, mas resolvi mudar de assunto: — E por que o Bubbles está tão cansado? Ele, geralmente, está elétrico este horário...
— Nós saímos para correr hoje. — sorriu, mas logo que eu não o acompanhei, ele mudou a expressão. — O quê?
— Ele é um bebê ainda, ! Tem poucos meses... Não pode ficar correndo com você assim.
— Como você é dramática! — Ele fez com que eu me aconchegasse nos braços dele. — Ele é bebê, mas estava correndo mais que eu!
— Qualquer um consegue isso... Você é quem já está idoso para essas coisas. — Brinquei.
— Onde é que um cara de trinta e três anos é idoso? — Ele se fez de vítima e tentava prender o riso. — Aliás, você já olhou para mim? Não tenho nada de idoso aqui.
— Você é muito besta… — Finalmente, ele também riu. — E um senhorzinho de idade! — Brinquei, e ele caiu na gargalhada, junto comigo.
— Fique você sabendo que tudo aqui... — apontou para o próprio corpo. — Funciona melhor que num cara de vinte anos! — Ele deu seu sorriso safado de sempre e me beijou, fazendo até com que o Bubbles acordasse.

Capítulo 13 - Birthday Boy


Quando você está tendo uma semana atolada de trabalho, que, em quase todos os dias, te deixam com dor de cabeça antes de dormir, você não espera que ela acabe ficando ainda mais complicada.
Assim que fevereiro chegou ao fim, e as coisas complicaram ainda mais com as preparações para a Páscoa, a empresa começou a ferver. O Dia dos Namorados passou, sugando um pouco de cada um de nós, do departamento, mas a Páscoa era sempre mais difícil. Convencer os pais das crianças que eles mereciam ovos super coloridos e ainda com um brinde... Era algo difícil.
Mas, como dizem, não podemos dizer que uma coisa está ruim, até que ela piore. E foi isso que acabou de acontecer com minha semana.
Nada como um 29 de fevereiro em uma segunda-feira.
Assim que deixei a mesa de uma colega de trabalho, em que eu ajudava na escolha da paleta de cores, Shelly apareceu, correndo, no corredor. Seu cabelo preso num “rabo de cavalo” soltou-se assim que ela parou para respirar à minha frente.
— Ela... — Minha assistente respirou fundo. — A mãe... Está aqui.
— Shelly, a mãe de quem está aqui? — Olhei-a, confusa, enquanto ela ainda tentava recuperar o fôlego.
. — Shelly pronunciou, já mais recuperada da corrida.
— O quê? — perguntei, ainda sem acreditar no que ela me dizia. — O que ela está fazendo aqui?
Shelly deu de ombros.
— Eu a deixei esperando na sua sala, pois ela disse que era urgente!
Preocupei-me. Olivia morava do outro lado do país, na Califórnia. Talvez o estivesse doente, ou sofrido um acidente... Tentei controlar a respiração para não surtar e voltei andando, a passos apressados, com Shelly. Ela apenas elogiava a beleza da mulher.
Assim que chegamos à porta da minha sala, perguntei a Shelly se havia algo marcado para aquele horário e, quando Olivia nos viu e caminhou em nossa direção, sorrindo, minha assistente disse que minha diretora precisava conversar comigo.
— Eu não queria atrapalhar, minha querida — a senhora se desculpou —, mas imagino que nós precisamos conversar para não marcarmos nada no mesmo horário.— Olivia sorriu, e acabei assentindo, mesmo que não soubesse do que ela estava falando.
— Avise a Stacy que eu subo em uns minutos, por favor! — pedi a Shelly e entrei na minha sala com a mãe do . — Aconteceu alguma coisa, senhora ?
— Não, minha querida. De novo, desculpe-me por vir assim, sem aviso, mas a Amélia me deu o endereço e o número da sua sala para que eu pudesse vir assim que pousei.
— Não, está tudo bem. — Controlei-me ao máximo para não deixar transparecer o nojo à menção da bruxa. — E eu não sabia que a senhora estaria na cidade.
— Eu tinha que vir! — Ela sorriu mais uma vez. — Mas, para eu não ocupar mais o seu tempo, me diga que horas você marcou com o na quinta-feira.
— Quinta-feira? — Passei os olhos rapidamente pelo calendário posto na mesa e vi a data. 3 de março. — Ah... Eu não marquei nada de especial com ele.
— Não? — Olivia me olhou, confusa. — Mas ele adora comemorar o aniversário... — ela comentou baixinho, mais com ela que comigo.
— Aniversário? — Estava confusa demais. Aniversário do ? — Ah, o aniversário, claro! — menti.
— Eu nem acredito que meu menino vai fazer trinta e quatro... Parece que foi ontem que eu o mimava no colo! — Olivia disse, saudosa.
— Senhora , eu não sabia que a senhora estaria em Nova York, então só planejei um jantar entre amigos. O não me avisou nada...
— Ele não sabe que estou na cidade, bobinha. — Ela sorriu.
Shelly bateu na porta e pediu desculpa, avisando, mais uma vez, que Stacy me esperava.
— Shelly, por favor, anote o número da senhora e, se possível, o nome do hotel em que ela está hospedada. — Olhei para a mãe do . — E, depois que eu sair daqui, ligarei para a senhora. Tudo bem?
Olivia sorriu e acenou, logo depois de me dar um breve abraço digno de mães e avós.
Corri até o escritório de Stacy e achei que seria demitida ali mesmo, principalmente, quando vi Amélie lá dentro.
Cumprimentei-as como se uma delas não fosse a verdadeira bruxa de Salém e diabólica. Stacy pediu para me chamar, enquanto Amélie ainda estava na empresa, porque, como uma das donas, gostaria de conversar diretamente com a pessoa escolhida para o cargo.
No final das contas, Amélie havia entrado em consenso com Stacy, e eu tinha sido a escolhida para assumir parte da diretoria da sede de Vancouver. Eu quase chorei de tanta felicidade, mas me contive e apenas agradeci as duas.
— Como as obras ainda vão demorar um pouco, até que a empresa fique pronta, precisamos que você escolha, treine e faça a adaptação da pessoa para o seu cargo. — Pouco depois da notícia, Stacy comentou.
— Você tem um prazo mais exato de quanto tempo eu tenho?
— Não precisa se apressar, . — Amélie sorriu. Monstra! — Você terá um pouco mais de um mês, ou dois, no máximo.
— Puxa! — Soltei o ar. — É bem menos tempo do que eu esperava...
— Eu sei. — Amélie disse, simplesmente, e levantou-se. — Podemos conversar melhor em outro dia, Stacy, e nos veremos ainda nesta semana, .
— Estarei aqui para o que precisar! Qualquer dúvida, sugestão... — Stacy continuou assim que a bruxa saiu da sala.
— Obrigada, Stacy! — agradeci e também me retirei.
Saí, apressada, até o elevador, na esperança de encontrar a Amélie, mas não consegui, então desci pela escada, de volta à minha sala.
“Como eu comunicaria uma coisa dessas ao ?’’ Será que o nosso namoro aguentaria toda essa distância? Os fusos diferentes?
Quando, finalmente, sente-me de frente para o computador, com todas as informações que precisava para dar início a um dos trabalhos já para a Páscoa, respirei fundo.
Precisava escolher alguém e treiná-la para que a pessoa ficasse no meu lugar na empresa, precisava organizar um jantar de aniversário para o e ainda precisava pensar em um jeito menos impactante de dar a notícia de que eu me mudaria para Vancouver.
Tentei me concentrar ao máximo no que precisava ser feito logo de imediato: escolher alguém da equipe e, então, trazer a pessoa para que ficasse comigo vinte e quatro horas por dia durante todos os dias daquela semana.
Chamei Shelly e pedi que ela trouxesse Candice até a minha sala o mais rápido possível. A garota era inteligente, criativa e pensava mais rápido que o vento. Ela seria uma ótima pupila e me deixaria orgulhosa, como já havia feito antes.
Fiz uma rápida reunião com as duas, explicando o que aconteceria nas próximas semanas, em que nós três trabalharíamos juntas para formar uma equipe, assim como eu e Shelly já éramos.
— Muito obrigada, ! — Candice agradeceu assim que Shelly deixou a sala. — Eu achei que esse dia nem chegaria...
— Você tem talento, só que ninguém aqui sabia reconhecer isso. Fico feliz de ter sido a primeira a, realmente, ter investido em você.

Quase ao final do expediente, anotei o número e o hotel em que Olivia estava hospedada, e, assim que deixei a empresa, liguei para minha amiga:
— Você precisa me ajudar! — pedi, sem nem mesmo cumprimentar minha amiga.
O que foi? — O ambiente estava barulhento, mas, ainda assim, conseguia escutá-la.
— Na quinta, eu precisarei fazer um jantar de aniversário para o e, talvez, precise de uma ajuda para preparar o resto.
O “resto” que você diz é a decoração e essas coisas? — Assenti. — Você pode me dizer o que o gosta, ou o que você tem em mente, que eu consigo algumas coisas.
— Já disse que te amo? — Ashley riu, do outro lado da linha. — Eu vou pensar em alguma coisa e, ainda hoje, mandarei as informações.
Aye, aye, capitan! — Ela brincou e nos despedimos.
Cheguei à minha casa e fui, enfim, comer alguma coisa decente, já que não havia almoçado nada, além de uma barra de cereais. Enquanto comia, abri o laptop e procurei por fotos e matérias que falassem sobre o .
Encontrei muita coisa que não condizia com o que ele realmente era, ou não aquele de agora, mas, apesar de tudo que li, consegui pensar em bastante coisa que poderia ser de muita serventia para um aniversário.
Eu nem acreditava que ele faria trinta e quatro anos em pouquíssimos dias!
Comecei, então, a colocar as ideias no papel:

Café da manhã - Panquecas com calda de morango e chantili. Salada de frutas. Café com leite de soja, sem açúcar;
Almoço - Pedir para algum amigo dele chamá-lo para almoçar;
Noite - Macarrão com queijo, salada de batata e bolo de carne (não sei se nessa ordem).

Já havia separado o cardápio com as comidas favoritas dele. Acrescentando nachos, chips, rolinho de salsicha e outros snacks que ele também gostava.
Como não seria algo muito grande, pensei na casa dele, mesmo, então era só avisar a Ashley que a decoração poderia ser de água, mata, cachoeira e tudo que envolvesse natureza, já que ele havia sido criado durante vários anos em fazendas e, sempre que podia, visitava os pais no hotel, também na região cercada por verde, praias e quedas d'água.
Liguei para a minha amiga e pedi que ela escolhesse as decorações de acordo com o tema; disse o que teríamos para o jantar, e ela ficou ainda mais entusiasmada para estar lá e poder comer o que eu fosse preparar.
— Não se esquece de avisar o Joe... Será apenas nos quatro e a mãe do , provavelmente, o pai, mas ainda não falei com ela.
Não se preocupe, ! Estaremos lá à tarde, que é para dar tempo de organizar tudo!
— Muito obrigada, mesmo, Ash! Fico te devendo essa!
Desliguei e, enfim, respirei, aliviada. Tudo planejado. Só precisava comprar o material e deixar guardado para, na quinta pela manhã, levar tudo à casa do e dar um jeito de tirá-lo de lá.
Enquanto tomava banho, lembrei-me do amigo dele, que fez nossas reservas no hotel dos pais dele. Talvez fosse bom convidá-lo também, se ele estivesse na cidade.
Bolei um plano rapidamente, enquanto me secava, e fui abrir a porta para o aniversariante da semana.
— Oi! — Abracei-o, ouvindo o latido de Bubbles logo em seguida.
Queria não ser tão eufórica, mas estava me sentindo uma criminosa por esconder a festa dele.
— Oi! — Ele me abraçou de volta. — O que deu em você?
— Nada. Vem... Entra. Oi, meu amor! — Abracei Bubbles também, mas o soltei para que ele desse uma volta no apartamento, como gostava. Entramos e, como de costume, ficamos no sofá da sala. — Você vai trabalhar esta semana?
— Ah... Não. — estreitou os olhos e sorriu. — O que foi, ?
— Não é nada, já disse. — Olhei para a televisão, tentando conter a ansiedade. — Você não quer pedir uma pizza?
— Eu vou, primeiro, tomar um banho porque odeio fazer isso na academia.
Olhei-o bem e, só então, reparei que ele estava coberto de suor.
— Sai já do meu sofá! — Levantei-me e passei as mãos pelos braços, numa tentativa de secar. — Que nojo, ! Eu acabei de tomar banho! Eca, eca, eca!
Meu cachorrinho voltou, latindo a plenos pulmões, quando comecei a quase gritar com nojo.
— Dramática! — ele disse, revirando os olhos, enquanto se dirigia ao meu quarto, deixando as coisas que estavam em seu bolso na mesinha da sala.
Esperei até ouvir o barulho do chuveiro e, então, peguei o celular dele.
Precisava de senha. Droga!
Pensei em um milhão de coisas que poderiam ser, mas nada parecia fazer sentido.
— O que você acha que pode ser, meu amor? — Olhei para o cachorrinho, e ele colocou a língua para fora.
Pensei mais uma vez e, então, ele latiu. Uma ideia passou pela minha cabeça ao ouvir seu rosnadinho e resolvi tentar. Assim que o aparelho foi desbloqueado, uma foto deles dois juntos no hotel dos pais dele surgiu na tela.
Peguei o que precisava e deixei o celular de volta à mesinha de centro. Faria o que precisava assim que deixasse o apartamento, ou fosse à casa dele.
Estava quase deitada no sofá quando saiu do quarto, um tempo depois, e sentou-se próximo ao lugar em que meus pés estavam. Ainda abri a boca, algumas vezes, para perguntar o que ele gostaria de ganhar de presente, mas, então, lembrei que ele nunca tinha me dito a data, apesar da informação estar disponível na internet.
— Você pediu a pizza? — ele perguntou.
— O quê? — Ele repetiu a pergunta. — Não, desculpa. Esqueci.
— Está tudo bem? — Assenti com a cabeça e sorri. Precisava manter a boca fechada, caso quisesse manter a festa uma surpresa. — ...?
— O quê? — Sorri ainda mais, fazendo barulho, e ele sorriu também. Bubbles veio checar o que era. — Não é nada, eu juro!
— Vou confiar em você! — Ele semicerrou os olhos. — Que sabor de pizza você quer?
— Acho que... — Coloquei a mão no queixo, pensando.
Marguerita! — dissemos ao mesmo tempo.
Ele levantou-se e foi telefonar para a pizzaria.
Com muito esforço, tentei convencer de que ele deveria dormir na casa dele, sem sucesso, mas, ao menos, ele foi dormir cedo, e pude ficar tranquila na sala, organizando e selecionando o que deveria comprar e deixar na casa dele, sem que ele soubesse.
Estava quase finalizando a lista de compras quando verifiquei se ele estava mesmo dormindo. Deixei o papel dentro da bolsa que eu usaria no dia seguinte e me deitei.
Como já era tarde, mandei uma mensagem bem rápida para o Brad, dizendo que faríamos um jantar surpresa no aniversário do e que ele estava convidado.
— Achei que você não viria pra cama tão cedo... — ele disse assim que deixei o celular na mesinha de cabeceira.
— Achei que você estava dormindo... — Sorri e o abracei. — Eu disse que precisava trabalhar.
— Você fica das nove da manhã até às cinco da tarde no escritório e ainda vem trabalhar em casa? — questionou.
— Preciso correr com umas coisas. Nesta semana, eu não poderei ir todos os dias lá — disse, mas só depois me lembrei de que ele não deveria saber.
— Por quê? — Ele me olhou, desconfiado.
— Ah... — Pensa rápido, ! — Reunião numa sede em Philly. — Boa desculpa!
— Quando você vai?
— Acho que iremos na quarta e voltaremos na sexta. Quero te pedir para ficar com o Bubbles, aqui em casa, nesses dias... — sugeri, já querendo que ele ficasse longe da casa dele para que pudéssemos arrumar tudo sem interrupções.
— Ele não pode ficar lá em casa? — quis saber.
Meu celular apitou. Era uma mensagem do Brad, dizendo que estaria na cidade e jantaria conosco.
— Não, ! — Revirei os olhos.
Homem difícil!
Respondi ao amigo dele que havíamos marcado às seis e esperava poder, enfim, conhecê-lo.
— Aqui ele tem todas as coisinhas dele — completei.
— Lá também. — Meu celular tocou novamente. — Quem está mandando mensagem a essa hora para você?
— Você pode ficar com ele aqui, ou precisarei pedir a Ash? — desconversei e, novamente, o aparelho apitou.

”Ele vai adorar a surpresa.”

Era o que a mensagem dizia.
Voltei a olhar para , ainda sem responder com quem estava falando.
— Ok.— Ele semicerrou os olhos, mas concordou. — Você é estranha.
— Cala essa boca e vá dormir! — Sorrimos e ele beijou minha cabeça.

Na terça e na quarta, eu não imaginaria que precisaria estar em tantas reuniões diferentes. Assim que, logo cedo, na terça, foi oficializado minha promoção, os diretores de arte e os outros promovidos foram chamados para uma bateria de testes, apresentação de portfólio e o anúncio dos escolhidos que ficariam com nossos cargos em Nova York.
Já ao final do expediente, na quarta, aconteceu um rápido coquetel, assim que o planejamento havia sido concluído e a data de partida para o Canadá havia sido escolhida.
8 de abril.
Quando cheguei à minha casa, estava terminando de cozinhar um jantar para nós dois. Aproveitei o tempo que tomaria banho e trocaria de roupa para ligar rapidamente para Ash, querendo saber como estava a decoração que ela disse já ter comprado; pediu que eu não me preocupasse, pois ela estaria lá na casa dele às quatro da tarde para começar a arrumar tudo e esperar pela comida.
— Eu só vou fazer o bolo, mesmo, porque não terei tempo nenhum esta semana! — resmunguei para minha melhor amiga.
— Estou percebendo… — Ela soava triste. — Ainda precisamos conversar direito sobre essa sua promoção. Não estou gostando nada dela.
— Prometo que, amanhã, nós teremos tempo para conversar sobre isso. — Soltei o ar. Quando Ashley soubesse que eu viajaria em tão pouco tempo, seria capaz de me prender na casa dela. — Mas, agora, eu preciso tomar um banho. O preparou um jantar para nós dois.
— Que inveja de você! — Ela sorriu. — O Joe está trabalhando até mais tarde hoje…
— Prometo guardar um pouco para você! — Ela assentiu. — Mais uma vez, obrigada por esse favor, Ash! Até amanhã!
Despedimo-nos e, enfim, entrei no banheiro, não demorando muito, para que a comida não esfriasse.
havia feito lasanha, sua especialidade, o que acabou me lembrando muito da primeira vez que ele havia cozinhado para mim, logo quando ainda estávamos nos conhecendo. Ressaltei a lembrança na conversa que estávamos tendo, logo depois de comer, enquanto sentávamos no sofá, com Bubbles em meu colo. E, mais uma vez, percebi o quanto as coisas entre nós dois haviam mudado. Não parecia que estávamos juntos por causa da Amélie e, sim, porque estávamos cada vez mais nos conhecendo e gostando um do outro.
— Do que você está rindo? — perguntou, desviando minha atenção do que eu estava pensando.
— Nada... — desconversei. — Você vai ficar aqui, com o Bubbles, amanhã? Acho que vou sair cedo.
Ele assentiu.
Levantei-me com meu cachorrinho e dei um beijo bem rápido em . Saí de casa com Bubbles para que ele pudesse fazer seu passeio, e eu tivesse certo tempinho para terminar de acertar as coisas com Shelly, como eu faria para estar a par do que fosse acontecer no escritório e preparar o jantar do .

*


— Ei, dorminhoco… — chamava baixinho o aniversariante do dia. Estava ansiosa com a reação que ele teria quando me visse. — , acorda! — Ele resmungou. — Se você quiser aproveitar esta visão minha, praticamente, nua, é melhor você abrir os olhos!
Estava sendo mais difícil do que o esperado. Geralmente, era quem acordava antes, mas eu não poderia me estressar com ele naquele dia. Já tinha preparado uma salada de frutas, suco de laranja (o meu favorito), o café com leite de soja e sem açúcar dele, panquecas com calda de morango e chantili e comprado meia dúzia dos donuts favoritos dele.
Estava ansiosa com a reação que ele teria, então acabei quase derrubando a bandeja em cima da cama quando tentei chamá-lo mais uma vez e com o barulho. Fiquei um tanto quanto nervosa quando ele, enfim, acordou e viu o conjunto de lingerie branco, rendado, que eu estava vestindo. Era tão novinho que parecia um tom mais branco que o normal.
Uau! estava, aparentemente, confuso e em êxtase. Certeza que era pelo que eu estava vestindo. — Há algum motivo especial para você estar indo trabalhar com essa lingerie?
— Ah… Claro que não. — Eu não conseguia parar de sorrir. Pelo rosto dele, eu sabia que tinha gostado. — Por incrível que pareça, no início desta semana, fiquei sabendo que seria seu aniversário e, bem, eu nunca sei o que comprar para alguém como você.
Alguém como eu? — Ele se fez de ofendido, mas logo sorriu e continuou: — Então você comprou algo para você?
— Para nós dois. Tenho certeza de que você está aproveitando mais que eu, no momento. — Ele sorriu mais uma vez. Subi na cama e sentei-me em seu lado, e o abracei. — Feliz Aniversário, !
— Obrigado! — Ele me abraçou de volta e nos beijamos.
— Você quer, primeiro, comer ou abrir seu presente? — Assim que acabei de perguntar, vi o quanto aquilo soava pornográfico e dei uma gargalhada acompanhada dele.
— Eu não sei o que eu quero primeiro…
Fiz-me de ofendida, e ele voltou a sorrir. Pulei em cima dele e o agarrei.
Enquanto nos beijávamos, passava suas mãos por todo o meu corpo e, vez ou outra, me apertava, numa clara demonstração de que estava gostando do “presente”. Quando ele desceu os beijos pelo meu pescoço, puxei seu cabelo um pouco mais forte que o normal, e ele acabou gemendo.
— Eu estou num dilema muito grande se tiro ou não suas peças de roupa. — disse ao pé do ouvido, quase sem fôlego. — Você está simplesmente magnífica nelas...
Acabei sorrindo do que ele havia dito, mas, em poucos minutos, ele decidiu que não conseguiria mais esperar para tirar as peças, e logo nós já estávamos colados e começando um dia de comemoração aos 34 anos dele.
Aos poucos, ele desabotoou meu sutiã e, à medida que deixava minha pele livre, distribuía delicados beijos por todo o meu corpo. Aquele momento estava sendo mais que carnal, parecíamos um casal que sabia em que região cada toque deixaria o outro mais excitado e pedindo por mais contato.
Assim que estava completamente nua, queria tocá-lo também, por isso, retirei seu moletom e passei minhas unhas por todo o seu peitoral, pescoço e costas à medida que ele intensificava as investidas em mim, cada vez nos levando mais ao nosso orgasmo. Mas, antes que pudéssemos de vez liberar toda a quantidade de endorfina acumulada, inverti o jogo e me coloquei em cima dele, também distribuindo diversos beijos por todo o corpo dele. , já não mais aguentando se segurar, voltou à nossa posição inicial e nos colamos, até que ambos estivessem satisfeitos e necessitando de um banho.
Quando deixei a cama e fui atrás de um roupão, já havia recuperado o fôlego e acabou tomando um gole de café, mas fez cara feia, provavelmente, reclamando do líquido, que, agora, não deveria mais estar quente. Ele ainda reclamou de mais alguma coisa, mas não entendi depois que fechei a porta do banheiro e adentrei o box.
Poucos segundos depois de molhar todo o meu cabelo, adentrou o box, sorrindo e exigindo um replay do seu presente de aniversário.

— Eu preciso me arrumar para ir trabalhar, e o Bubbles precisa ir passear… — Estávamos abraçados e deitados na cama.
— Eu sei… — Ele enfiou a cabeça em meu pescoço e deu um beijo na minha nuca. — Eu adorei o meu café da manhã. Obrigado, !
— Não há de que! — Virei-me e nos beijamos mais uma vez, antes que eu, realmente, começasse a me vestir para sair.
Descemos juntos quando saí para o trabalho, e ele levava o nosso cachorrinho para um passeio pelo quarteirão. Aproveitei o caminho para enviar algumas mensagens para Ash, Joe e a mãe de , lembrando que o jantar surpresa seria às seis, mas, para Brad, agradeci, mais uma vez, que ele estivesse levando para almoçar fora. Com tudo encaminhado e correndo como o planejado, pude me concentrar na reunião que teria assim que chegasse ao escritório.
Cheguei poucos minutos atrasada, graças ao congestionamento nas ruas próximas ao prédio, mas não tão tarde a ponto de eu perder o início da reunião. E, como já previa, ficamos discutindo as melhorias a serem feitas na sede em que eu trabalhava, assim como já inaugurar a sede canadense com essas melhorias funcionando plenamente.
Apesar de ser uma reunião fechada para os diretores e gerentes, eles chamaram outras pessoas de muitas outras áreas da empresa, como se estivéssemos ali para receber um feedback positivo e levar essa experiência de volta ao Canadá, e, por mais que a sede lá não fosse ter o mesmo porte da sede de NYC, era sempre bom saber como administrar em grande escala e adequar numa menor.
Como esperado, a reunião seguiu até o meio-dia, e nos foi servido almoço ali, mas, logo em seguida, fomos dispensados e, como já havia conversado com Stacy sobre o jantar surpresa do , consegui que ela me liberasse depois do almoço, mas meu celular estaria ligado a qualquer momento que eu precisasse ser chamada na empresa, o que eu torcia para não acontecer, já que estaria cozinhando e, quem sabe, ajudando a Ashley na decoração.
Pedi que Shelly entrasse em contato comigo, assim que algum problema surgisse, ou, até mesmo, Candice, já que ela teria que assumir o meu lugar, antes de ela contatar a minha diretora. Shelly me deu carta verde para que eu pudesse sair, sem me preocupar, da empresa e, logo menos, já estava na rua, andando até o metrô, mas, antes de chegar, vi umas lojas e pensei em comprar algo para vestir naquela noite e, quem sabe, algo para o .
Olhei algumas vitrines, até achar algo que eu gostasse e me fizesse entrar na loja. Vi um vestido florido em um manequim e não pensei duas vezes para experimentá-lo. Fiquei indecisa quanto a cor. Por ser branco com rosas vermelhas, eu acabaria manchando quando fosse lavar, mas sempre poderia contar com alguma lavanderia e, enfim, resolvi que levaria. Enquanto ia ao caixa, vi um quiosque com diversos relógios e coloquei os olhos em um que o gostaria, com certeza. Enfim, tinha um presente de verdade para ele!
Assim que cheguei à casa de , comecei a cortar os temperos e organizar as louças que usaríamos naquela noite. Logo em seguida, Joe chegou, procurando por Ashley, que já estava atrasada, e, enquanto minha amiga não chegava, Joe me ajudou, até que ela chegasse e que eu fosse interrompida por uma ligação da empresa.
Deixei Joe encarregado de terminar a comida, enquanto voltava no carro dele, até o escritório, e auxiliava Candice com um cliente. Sabia que ela precisava ter punhos firmes, mas, se tratando de um cliente tão especial, voltei e a ajudei no que pude.
Estava deixando o elevador, a caminho do carro, quando meu celular começou a chamar, e o nome de Brad brilhava na tela.
— Você não disse nada do jantar, não é? — Nem o cumprimentei e ficaria uma fera se ele tivesse dito algo.
— Ah, não, só queria saber se posso ir antes… Ele me trouxe à sua casa e disse que precisa passar na dele para pegar umas roupas.
— Que pessoa estraga a própria festa surpresa? — perguntei mais a mim que ao Brad, mas ele sorriu em resposta. — Você pode segurá-lo por mais meia hora? Eu sei que já são cinco, mas precisei voltar ao escritório…
— Vou ver o que posso fazer.
Agradeci e entrei correndo no carro. Tinha muito pouco tempo, até chegar à casa dele e checar se estava tudo certo com as comidas e a decoração que pedi a Ashley.
Quanto mais rápido eu queria chegar, mais o trânsito parecia intenso e demorado, e, enquanto estacionava o carro de Joe na garagem de , o relógio marcou cinco e meia.
Brad mandou mensagem, avisando que já estava a caminho.
Entrei na sala e meu queixo foi ao chão. O cômodo estava cheio de balões verdes e marrons. Havia pelúcias de bichos espalhadas por onde a minha vista ia. Parecia que eu estava entrando em uma festa de criança, não a de um homem que estava fazendo 34 anos.
Ashley Kripke! — quase gritei, chamando pela minha amiga. — O que é isso?
— Isso o que? — Ela olhou ao redor. — Eu achei lindo! E é tão colorido…
— É lindo, mas é decoração de festa infantil, Ash! — Fui verificar o Joe na cozinha, e estava tudo pronto e com um cheiro delicioso. A campainha tocou. — Droga! Não tenho mais tempo de nada!
— Eu atendo. — Ashley se prontificou. — Você, vá se trocar!
Fiz o que ela pediu, mas com a cabeça ainda focada nas pelúcias espalhadas na sala. Não sabia o que faria depois de encarar a mãe dele. Ela, com certeza, não estaria tão paciente como estava sendo.
Pouco tempo depois, saí do quarto para avisar que o aniversariante já estava chegando com Brad, mas quase parto para a agressão quando vi Amélie e Penny conversando com Olivia e Joe. Minha amiga disse que elas haviam chegado juntas e não poderia expulsar as duas bruxas na frente da mãe do . Concordei, mesmo que eu não as quisesse ali.
Ainda tivemos uns minutos para cumprimentos, antes de Brad enviar outra mensagem de que eles estavam a poucas ruas de distância.
Corremos para apagar as luzes e nos posicionar para a grande surpresa. Poucos minutos depois, a casa em silêncio, ouvimos as vozes de Brad e de , e um latido.
Eles estavam aqui!
Surpresa!
Todos gritamos quando acendeu a lâmpada e nos revelou. Ele estava de boca aberta, olhando para todos os cantos e, logo em seguida, começou a sorrir. Parecia, enfim, ter notado a decoração de Ashley.
Ele abraçou a mãe, Amélie e Penny, para, logo em seguida, dar um abraço em Ash e Joe. Quando veio em minha direção, eu já estava com Bubbles no colo.
— Feliz Aniversário! — Abracei-o e nos beijamos rapidamente.
— Obrigado!
Por mais que a festa tivesse a presença das Dave, não me deixei abalar e as deixei de lado; com isso, o jantar e as conversas correram muito bem... Com elas sentadas do outro lado do qual eu estava.
Já na hora de abrir os presentes, Penny estava mais agitada, e todos entendemos o porquê quando abriu o embrulho. Era um scrapbook da infância e adolescência deles e do Brad, já que, praticamente, moraram juntos por vários anos. aceitou de bom grado o presente, mas todos sentimos o clima pesado depois disso. Olivia logo entregou o dela, mas nada voltou ao normal.
Passavam das dez quando Amélie e Olivia resolveram ir embora. Amélie arrastando a filha, que teria um voo de volta à Califórnia ainda naquela noite, mas a filha da bruxa mor não saiu antes de se aproveitar do abraço do e de ter dado um selinho de surpresa nele, com a desculpa de que “Nós somos quase primos, não tem problema!”. Quis esganá-la, mas Ashley me puxou para a cozinha, até que elas estivessem fora da casa.
— Você ainda está com raiva, não é? — Foi a primeira coisa que perguntou assim que os nossos amigos foram embora, deixando-nos sozinhos. — Não se preocupe com a Penny, por favor…
, eu sempre vou me preocupar com a Penny! Ela anda por aí, arranjando briga comigo, aparecendo de penetra no seu aniversário e ainda te beija… Na minha frente! — Andava de um lado ao outro no quarto.
— Você está com ciúme? — ele perguntou, sorrindo.
— E daí?
— Você fica bonitinha com ciúme! — veio tentar me abraçar, mas me desfiz dos seus braços e sentei-me na beirada da cama.
— Ah, cala essa boca, ! — Ele sentou-se ao meu lado. — Quando você vai me dizer o que realmente aconteceu com vocês?
— Isso é coisa do passado! Esquece isso, que não tem nada a ver com você!
— Se não tem nada a ver comigo, por que, naquele dia, a Amélie disse para você me dizer o que aconteceu?
— Você não precisa saber de tudo que acontece na minha vida, ! — ele disparou.
— Bem, nós somos um casal… Eu gostaria de saber, pelo menos, alguma coisa que acontece! — Levantei-me, nervosa demais para ficar parada num só lugar.
— Eu e a Penny namoramos por muitos anos... — ele começou.
— Disso, eu já sabia… — Impulsionei-o a continuar.
— Nós brigávamos muitos, nos últimos meses em que estávamos juntos, e a Penny é muito mimada e nunca aceitava o nosso fim. — Ele suspirou. — Daí, ela apareceu grávida…
Aquilo era informação nova. E eu jamais imaginaria que algo daquele porte faria parte do passado dele.
— Nós tentamos mais uma vez, mas eu não tinha certeza de que era o pai e, então, eu disse que, se ela não fizesse um teste de paternidade, eu não assumiria a criança.
! — Ele soava tão fútil, naquele momento, que eu só pensava em gritar com ele. — A criança não tem culpa de ter os pais que tem! E, outra, pai é quem cria! O quão idiota você é?
— Eu sei que não é meu filho! — ele rebateu.
— ELA TEVE O BEBÊ?
Aquilo poderia soar mais absurdo?
— Eu não sei, deu para adoção, teve, ou sei lá o que…
— Como você pode ser tão imbecil? Por que você não foi atrás dele?
— Nós terminamos de vez quando ela estava com uns quatro meses… Ficamos quase um ano inteiro sem nenhum tipo de contato e, quando ela reapareceu, já não estávamos mais os mesmos e, então, no mês seguinte, a Amélie me apresentou você e começamos a namorar, e eu me esqueci de toda a complicação que eu e a Penny tivemos, de uma vez por todas. A Amélie disse que a Penny tinha seguido com a vida dela, mas que só conseguiria fazer isso de verdade se me visse com alguém.
— A Penny não sabe que o nosso namoro é uma fachada? — Ele negou. — , você tem que falar com a Penny, encontrar o filho de vocês e… — Suspirei, enquanto ele me olhava, assustado. — E ver se vocês ainda dão certo juntos. Eu estou atrapalhando vocês dois por causa da Amélie, e isso é tão errado que você não faz ideia.
— Não há mais futuro para nós dois. Eu não sinto mais nada pela Penny. E, por incrível que pareça, ela tem um namorado…
— Mas e o filho de vocês?
— Ele não é meu filho, ! — ele quase gritou. — Mas que porra! Vê se você entende que eu não tive nenhum filho com a Penny!
— Entendi.
poderia encenar muito bem, mas ali estava ele. Ele de verdade! O garotinho rico e mimado pelos pais, que nunca era responsabilizado pelas coisas que davam errado. Ele era igual a Penny e, com certeza, se mereciam.
Comecei a recolher minhas coisas e colocar todas elas na bolsa. Nós nunca teríamos um futuro decente enquanto eu soubesse que ele abandonou o filho. E estava claro que ele ainda sentia algo pela Penny, só ele não admitia isso.
— Aonde você está indo? — Ele estava me seguindo.
… — Parei enquanto tentava colocar um moletom na bolsa. — Nós não precisamos mais fingir um relacionamento entre quatro paredes. Voltaremos àquela rotina de um jantar por semana, ou almoço.
— Do que você está falando?
— Que eu não quero mais fingir estar em um namoro. Preciso de uns dias para pensar em como eu deixei isso chegar tão longe…
— Isso é por causa do filho da Penny?
— É SEU FILHO TAMBÉM! — gritei, já que ele parecia não entender. — Se você não fosse tão cheio de você mesmo, se colocaria no lugar daquela criança, que, sabe lá que destino teve! Você vive rindo das coisas que eu digo da Penny, mas, no fundo, vocês são iguais!
Deixei a casa com Bubbles e fiquei escorada no carro dele, esperando o táxi que eu havia chamado. Em momento algum, imaginei que ele viria tentar me convencer a ficar, mas quando o táxi chegou, e ele não havia nem, ao menos, olhado através da janela, fiquei triste.
Esperava que, ao menos, ele fosse atrás do filho, sendo dele ou não, mas que ele procurasse a verdade.

*


Depois de uma semana sem notícias do , achei que ele realmente tivesse seguido meu conselho, mas quando vi na televisão que ele estava na Califórnia com os pais, sabia que ele não tinha movido um dedo sequer para encontrar o filho.
Deixei aquilo de lado e fui atender a porta, em que, provavelmente, estaria Ashley, logo num sábado pela manhã, mas, ao abrir, fiquei sem saber o que fazer quando vi Amélie em toda a sua elegância tão cedo.
Ela não se deu ao trabalho de tirar o óculos escuro, enquanto adentrava meu apartamento — sem que eu a tivesse convidado —, e já foi logo despejando suas palavras:
— Eu não sei o que deu em vocês dois para não serem vistos por uma semana e muito menos o porquê do ter voado até a Califórnia sem você. Isso não me diz respeito… — Amélie olhou ao redor e completou, antes de deixar o apartamento: — Mas, lembre-se, vocês ainda têm um acordo para cumprir até o mês que vem!

Capítulo 14 - Cinco meses


Depois da visita da Amélie, fiquei com tanta raiva que comi um pote quase todo de sorvete, mas fui distraída com uma ligação de casa. Minha mãe parecia estar melhor, disse que o papai estava bem e que a garagem ficaria livre para quando eu chegasse no mês seguinte.
Comentei que, na outra semana, eu colocaria o meu apartamento à venda, o que minha mãe não concordava, mas não teria como bancar uma hipoteca aqui e comprar uma casa quando chegasse a Vancouver. Ela disse que eu poderia ficar com eles, no meu quarto, e todos os benefícios que você só consegue quando mora com os pais, mas eu queria ter o meu espaço. Ficaria um tempo com eles, até me reestabelecer completamente na cidade, e logo compraria um apartamento mais próximo ao centro, mas não tão longe de casa, principalmente, agora, que éramos só nós três.
Falei muito rapidamente com meu pai e, assim que nos despedimos, a saudade de casa ficou tão forte que, juntando à raiva da Amélie e do , acabei chorando e terminando o pote de sorvete de uma vez.
Não lembrava como e nem quando havia pegado no sono, mas acordei com Bubbles lambendo minha mão. Peguei-o no colo e caminhei até a cozinha para deixar o pote vazio de sorvete na pia quando o telefone começou a tocar. Não queria falar com ninguém e, muito menos, ter que explicar a voz rouca de sono e choro que eu, provavelmente, estava, por isso, deixei cair na caixa postal e comecei a preparar o cachorrinho para que fôssemos passear.
Oi! É o . — A mensagem começava a ser gravada quando fechei a porta do apartamento e agradeci por não tê-lo atendido.
No meio do caminho até uma praça, recebi uma mensagem da Ashley, dizendo que precisava de companhia naquela noite, já que o Joe sairia do país para visitar os pais. Seria uma boa fazer uma noite do pijama e conversar sobre — quase — tudo com minha amiga. Queria liberar do meu sistema o peso que estava carregando nas costas, com toda a história do bebê do com a Penny, mas não entraria em detalhes demais, já que, nem mesmo o , soube me explicar.
Quando cheguei à minha casa, tentei não dar atenção à luzinha vermelha que ficava piscando no telefone, avisando que tinha mensagem. Lavei a louça, limpei o quarto, arrumei o quarto de hóspedes, arrumei a mesa de jantar, que eu usava de escritório, aspirei a sala e quase dei banho no Bubbles, mas já eram quase dez da noite e eu ainda precisava sair.
Coloquei uma muda de roupa na mochila, separei a ração do Bubbles e, enquanto guardava as coisas, apertei o play no telefone.
Oi! É o . — Ele parou de falar, mas eu ainda conseguia ouvir o barulho de água ao fundo. Um suspiro do outro lado da linha. — Estou na Califórnia por uns dias, mas, isso, você já deve ter visto em algum site… Devo voltar na terça pela manhã. Você está em casa e me ignorando, ou saiu, mesmo? — Ele estalou a língua e demorou uns dois segundos, até voltar a falar: — É um saco não saber se você está aí ou não... Mas, bem, você não me ligou durante a semana toda, e eu fiquei preocupado. Nós podemos jantar na terça? A gente precisa conversar, se acertar… Eu faço o jantar. E você pode fazer aqueles biscoitos da sua mãe, como sobremesa. Eles são deliciosos! Ligue assim que ouvir esta mensagem, ! — E desligou.
Ele queria conversar; talvez tivesse achado algumas respostas, talvez estivesse com saudade. Não retornei a ligação porque não saberia o que falar, então terminei de guardar as coisas, peguei meu cachorro e tranquei o apartamento.
poderia viver mais uns dias sem mim.
Demorei mais que o esperado até à casa de Ashley, graças a uma interdição para filmagens que acontecia na rua ao lado do prédio em que ela morava, mas logo já estava no elevador, ao encontro da minha amiga, suas cervejas e junkfood.
— Você chegou para me salvar de uma vida de solidão! — Ash era a rainha em fazer drama. Sorri para minha amiga assim que ela me deixou entrar em seu apartamento. — O Joe disse que foi visitar os pais, mas eu sinto que tem mais coisa nessa história…
— Como o que? — quis saber.
Deixei minha mochila no sofá e voltei ao balcão da cozinha, em que eu já podia ver algumas comidas.
— Aí é que está… — Ela tomou um gole da sua cerveja e me passou uma garrafa. — Eu não faço a mínima ideia, mas sinto que ele vai voltar de lá com alguma coisa a mais, e isso não me agrada em nada!
— Talvez ele traga um presente, ou os pais dele venham passar um tempo na casa dele.
— O nosso quarto de hóspedes está a maior bagunça! Se fosse isso, ele deveria ter avisado para que eu pudesse dar um jeito.
— Ah, vai ve… — Deixaria a informação passar batida se não fosse o modo que ela falou. — O JOE ESTÁ MORANDO AQUI? — Minha amiga sorriu, tomando outro gole e não respondendo minha pergunta. — Como você não me conta uma coisa dessa? Quando isso aconteceu? Eu vou te bater, Ashley Kripke!
— Ele não está morando aqui. Não oficialmente, pelo menos.
— Como assim “não oficialmente”?
Ashley me explicou que ele ainda não havia trazido todas as coisas ao apartamento dela, mas que Joe já havia quebrado o contrato de aluguel e tinha mais algumas semanas para finalizar a mudança. Minha amiga confessou estar com medo, pois sabia que morar com alguém era um grande passo e, quando o assunto era eles dois, a complicação era em dobro. Ele era uma pessoa centrada e bem pé no chão, mas Ashley era impulsiva e sempre conseguia piorar o que já estava ruim.
— Sabe, eu e o Joe estamos nessas loucuras há quase sete anos, e eu não sei como ele me aguenta. — Ashley parecia a ponto de chorar, o que, com certeza, tinha influência da quantidade de álcool. — Mas eu sempre brigava por qualquer coisa e, por isso, nós nunca tínhamos assumido nada. Eu acabava afastando o Joe e ia curtir, até não poder mais.
— Eu nunca entendi como vocês continuavam juntos, mesmo depois das suas loucuras…
, não está ajudando em nada você me culpando! — Levantei minhas mãos em rendição. Eu estava mais sóbria, mas só porque comi vários nachos. — Eu sei que vacilei com o Joe inúmeras vezes, mas quando o vi começar a se afastar… — Ela suspirou. — Acho que ele vai trazer os pais dele, então eu deveria arrumar a casa.
— Ash, você tem noção de que começou a falar uma coisa e mudou de assunto?
Ela sorriu, negando.
Peguei nossas garrafas de cerveja abandonadas na mesa de centro e as levei até a cozinha, olhei Bubbles dormindo na porta do quarto da Ashley e, enquanto colocava umas louças na pia, falei mais alto, da cozinha:
— Você quer dormir aqui ou no seu quarto?
Como não tive resposta, voltei à sala para ver minha melhor amiga dormindo agarrada a uma almofada. Deixei-a do jeito que estava e apenas coloquei uma coberta para que ela não sentisse frio. Voltei à cozinha e lavei a louça, já que não queria dormir e muito menos ficar no tédio, até que me desse sono.
Quando a segunda comédia romântica terminava, e ainda era relativamente cedo, retornei a mensagem do :
“Oi. Estou dormindo na Ashley hoje. O que você quer conversar?”
Não estava com paciência para jogar conversa fora. Queria saber o que ele tinha em mente, ou se também havia recebido uma visita da Amélie na Califórnia.
Poucos minutos depois, meu celular começou a tocar.
Oi, ! parecia estar super feliz.
— O que foi?
Ele sumia por uma semana e queria voltar como se nada tivesse acontecido?
Olha, eu sei que você quer conversar, e eu também, mas podemos não fazer isso hoje? — Ouvi umas risadas ao fundo. — Eu tenho uma surpresa e uma notícia ruim, e eu não queria ficar brigado com você…
— Aconteceu alguma coisa? — Eu poderia negar o quanto fosse, mas fiquei preocupada com o que ele disse. — Você está bem?
Estou. Não se preocupe. Eu só queria poder conversar pessoalmente sobre isso. — Algumas vozes se sobressaíram ao chamar por ele. — Eu estou num bar perto da casa da Ashley… Será que ela se importaria se eu aparecesse aí? Prometo que será rápido.
— Você terá dez minutos e nenhum segundo a mais para dizer o que tiver a dizer!
Ele sorriu e logo desligamos.
Não estava nos meus melhores trajes, já que tinha apenas vindo à casa de uma amiga, por isso, corri até o banheiro para, ao menos, tentar dar um jeito no cabelo, mas, como ele não queria saber de ficar no lugar, amarrei em um “rabo de cavalo”.
Senti-me uma estúpida por estar preocupada com a minha aparência, naquele momento. estava a caminho, possivelmente, para terminar tudo comigo e dizer que estava de volta com a Penny. Estremeci um pouco. Se o fizesse isso, provavelmente, me sentiria culpada, afinal, foi eu quem o fiz procurar pelo filho — filho este que também era da Penny. Se ele teve contato com a criança, não poderia ignorá-la para sempre.
Não percebi quanto tempo havia se passado, até receber uma mensagem do , que já estava na portaria do prédio. Peguei a carteira, o celular e a chave da Ashley, porque ela não precisaria pelos próximos dez minutos, e desci.
E lá estava esbanjando toda a sua fama, acenando e fazendo poses engraçadas para alguns paparazzis, mas, logo que me viu, entrou no hall do prédio. Ele parecia ter bebido um pouco a mais, mas ainda estava deslumbrante, como em todas as vezes em que nos encontrávamos. Abriu um sorriso e me abraçou bem forte, deixando um beijo em minha cabeça.
— Você se importa de ir até aquele barzinho da esquina? — Neguei com a cabeça, porque, na verdade, não queria ter que conversar com , sendo observada por diversos fotógrafos e mais alguns fãs, que já paravam para cumprimentá-lo e tirar uma selfie.
Ele entrelaçou os dedos nos meus e fez um rápido comentário sobre ter que enfrentar algumas fotos àquela hora, mas eu estava tão nervosa com o que conversaríamos que só respirei fundo e caminhamos até a esquina, ainda sendo seguidos por alguns paparazzis.
A princípio, queria se sentar em um restaurante chamado Iguana, com mesas na calçada, mas, como todos ficaram olhando, sugeri que seria mais “calmo” e que entrássemos no The Three Monkeys, mesmo que fosse noite de jogo e o bar estivesse lotado. Porém, como eu havia frequentado antes com minha amiga, já conhecia o ambiente. Entramos e ficamos no balcão, mesmo, pedimos uma jarra de cerveja e, assim, poderíamos ter algo com o que nos distrair, caso ficássemos calados e num clima estranho.
Pouco tempo depois de chegarmos e sermos servidos, meu celular apitou, já com uma mensagem da bruxa. Amélie até enviou um emoji com sorriso, seguido do link de uma matéria:
“O nosso casal favorito do momento não acabou! e foram flagrados de mãos dadas e caminhando apaixonadamente até um bar no famoso bairro de Hell's Kitchen, em NYC. Veja mais fotos.”
Quando percebi, parecia ter recebido a mesma mensagem, mas ele havia aberto o link e via as fotos. Um v se formou em sua testa, mas logo se desfez quando ele tomou um gole e olhou para mim.
— A Amélie é um saco quando quer… — Ele olhou rapidamente para a televisão, em que um time acabara de fazer um touchdown. — Você sabia que eu estava na Califórnia?
Assenti com a cabeça, e ele pareceu confuso.
— Ela apareceu lá em casa, me perguntando o porquê de você estar com seus pais sem avisar ninguém. Ela achou que eu sabia onde você estava. — Não fora bem isso, mas resumia e não precisava me lembrar das palavras dela. — O que você foi fazer lá?
— Precisava refrescar a cabeça. Muita coisa aconteceu no mesmo dia, e eu… Bem, precisava estar num lugar neutro para pensar no que fazer?
— Conseguiu? — Tomei um gole da cerveja, e ele apenas me olhava, confuso. — Conseguiu pensar?
— De certa forma, sim.
— O que você quer conversar comigo, ?
— Não consegui o papel no filme — ele disse de uma vez. Achava que o elenco já estava certo, e ele já até havia mencionado o início das filmagens. — Fiquei sabendo no dia do meu aniversário.
— Por que você não disse nada? Eu não teria feito um jantar e chamado todo mundo se você não estivesse bem.
— Eu não iria cancelar nada. Você fez um baita esforço para que, naquele dia, ocorresse tudo bem. Eu não queria estragar nada. — Não sabia o que falar e nem queria mudar tão rapidamente de assunto, mas queria saber o que ele havia feito enquanto estava do outro lado do país. — E aí, nós acabamos brigando… Minha mãe partiria no último voo daquele dia e me chamou para ir junto.
— Achei que tivesse ido por outro motivo. — Tentei não ser direta e o observava apenas com o canto do olho.
— Que outro motivo? Você não retornava minhas mensagens e não conversaríamos por pensamento… Estávamos de cabeça quente. Foi melhor assim. — Assenti com a cabeça. — Já posso começar com as notícias boas?
— Vá em frente. — Tomei um gole demorado da cerveja, esperando que ele dissesse o porquê estávamos ali.
— Vendi minha casa. — Agora, ele estava sorrindo. Um grande e maravilhoso sorriso. — Foi tudo muito rápido, e eu acabei de me mudar para um apartamento um pouco menor do que eu morava, mas isso não importa. Fica aqui perto, no Turtle Bay. E a vista… — suspirou, quase como naquelas cenas clichês de comédias românticas, o que me fez sorrir junto. — A vista é muito boa! O River East é duas ruas abaixo e também tem o Peter Detmold Park logo na outra rua. É muito, muito bom! Não tem garagem, mas deixei meu carro com o Brad. Eu estava precisando dar uma mudada, e a verdade é que eu já estava de olho num apartamento ali, pelo bairro, há um bom tempo.
— Parabéns pela casa nova! — Abracei-o e acabamos trocando um beijo, mas nada muito intenso, e todos deram um gritinho.
Paramos no momento, e o garçom parou à nossa frente, preparando duas doses de tequila.
— Quem se beija em dia de jogo ganha tequila! — Ele deixou as doses, sorriu e voltou a atender os outros.
Ficamos nos olhando, querendo rir e, enfim, brindamos com o shot. Ele me contou mais do apartamento e que Brad e um amigo haviam ajudado com a mudança, que ainda estava toda em caixas na sala do novo apartamento. Depois, me convidou para conhecer o lugar, mas neguei, dizendo que estava cuidando da Ashley.
Olhei no relógio, e os dez minutos já haviam passado há um bom tempo. pareceu perceber, porque ficou um tanto quanto nervoso, mas disse que tinha bebido a tarde toda durante a mudança e o assunto era sério para se falar quando se estava alcoolizado.
Andamos de volta até o prédio em que Ashley morava e nos despedimos, nos beijando mais uma vez, apenas porque ainda havia alguns fotógrafos por perto.
Assim que subi, procurei por Bubbles e por Ashley, mas os dois estavam no quarto da minha amiga, dormindo na cama dela. Sentei-me ao lado do meu cachorrinho e fiquei olhando para a televisão, que estava ligada quando cheguei, mas, um tempo depois, me distraí quando uma mensagem apitou no meu celular:
“Esqueci-me de te dizer, mas perto do apartamento há um restaurante grego, onde eu vou te levar. Boa noite, ! :)”


Ouvi barulho de vidro quebrando em algum lugar próximo e abri os olhos, mas rapidamente fechei por causa da claridade que tinha no quarto. Tentei abrir os olhos mais lentamente e, à medida que minha vista foi se acostumando com o ambiente, percebi que estava sozinha na cama e as cortinas estavam todas abertas. Quis matar Ashley, mas acabei me distraindo quando Joe saiu pela porta do banheiro. Nu.
Do jeitinho que veio ao mundo.
Sem toalha.

Com todo o seu “pacote” à mostra.
Eu me joguei de volta à cama, enquanto gritava e tentava esconder meu rosto atrás do travesseiro, e apagava a imagem perturbadora que estava cravada na minha mente, conseguindo ouvir latidos do Bubbles e o Joe gritando, chamando pela namorada.
Poucos segundos depois, ouvia Ashley rindo, e Bubbles ainda latindo. Ainda tentava me esconder e não morrer de vergonha.
— QUE PORRA, ASH?! — A voz de Joe saiu abafada, provavelmente, ele havia se fechado no banheiro.
Talvez, com tanta vergonha, como eu.
— Você pode sair da cama. Ele está no banheiro, . — Minha amiga puxou o travesseiro. — É só o Joe. Esqueci-me de avisar que você estava aqui... Desculpa!
— Ashley?! — Ela não parecia nada afetada. Àquela altura, minha cabeça já estava latejando, o que me deixaria o dia todo com dor. — Por que não me avisou que o Joe estaria aqui hoje?
— Eu não sabia que ele voltaria tão rápido… — Deu de ombros.
— Joe, desculpe-me! — gritei em direção ao banheiro, enquanto me levantava da cama.
, tudo bem… Só vamos deixar isso para trás! — ele gritou de volta.
Vi certa quantidade de vidro próximo à cabeceira da cama, que Ashley explicou ter derrubado um copo quando trazia água e um advil para mim. Agradeci, mesmo não tomando a água e nem o remédio; só recolhia minhas coisas e chamava o Bubbles, enquanto gritava — já a caminho da porta — um adeus aos dois.
Já na rua, olhei para ambos os lados e não sentia a mínima vontade de ir para casa. Prestei atenção nas bicicletas que ficavam estacionadas em frente ao prédio, que poderiam ser alugadas a qualquer instante e, então, uma ideia surgiu.
Mandei mensagem, pedindo o endereço do . Ele havia dito que, agora, morava em Turtle Bay, o que não era tão longe dali, mas andar até lá seria uma caminhada de uns trinta minutos, ou mais, e eu não estava nas melhores condições para isso. Ele logo me respondeu e, quando vi no mapa, com uns dez minutos de pedalada, eu e Bubbles estaríamos lá para ajudá-lo com a arrumação da casa nova. Não que nós estivéssemos nos melhores termos, mas achei que a ida até lá pudesse nos ajudar a conversar, sem deixar um clima estranho como o da noite passada.
Aluguei uma bicicleta com cesta, para que Bubbles ficasse o mais confortável possível, e comecei a pedalar, um tanto com medo do trânsito, mas estava indo no meu próprio tempo para pensar e até para não assustar o pobre do cachorro.
Depois de alguns semáforos verdes, peguei dois vermelhos e entrei à esquerda, na W 50th St, também movimentada, cheia de carros e pessoas para todos os lados. NYC era a cidade mais lotada que eu já havia visitado, e eu nunca entenderia o porquê de todos estarem com pressa a todo tempo.
Passei, admirando a fachada do Radio City Music Hall, deslumbrante como sempre e, mais adiante, parei uns segundos para uma foto em frente ao Rockefeller Center, sendo observada por vários pedestres e um grupo de possíveis turistas, que também tiravam foto do prédio.
Agora eram poucas ruas que me separavam de onde o estava morando. Prédios com arquitetura tipicamente nova-iorquina e cada vez mais luxuosos surgiam à medida que eu entrava no bairro. Havia vários restaurantes, alguns consulados e hotéis por ali, mas era um ambiente bem familiar, com ruas arborizadas mais estreitas que as de onde eu morava. O Maps avisou que na próxima esquina estava o meu destino e, quando olhei adiante, lá estava o River East, em toda a sua glória, refletindo o sol.
A rua em que morava não tinha saída, por isso, apoiei a bicicleta na grade e tirei Bubbles da cesta. Fiquei brincando com ele na calçada, enquanto mandava mensagem, avisando que já havia chegado e estava admirando a vista. Algum tempo depois, apareceu atrás de um caminhão branco — que, só agora, eu havia reparado ser o da mudança. Ele estava de bermuda, camiseta e descalço bem no meio da rua.
— Entendo o porquê você comprou um apartamento aqui — disse, apontando para o rio atrás de nós. — É realmente lindo!
— O parque fica ali. — Ele apontou para as árvores abaixo e à esquerda. — A entrada dele é na outra quadra, mas andar não faz mal.
— Está aberto? — pareceu confuso com a minha pergunta. — O parque está aberto?
— Sim, mas o pessoal trouxe minha cama. Eles estão carregando algumas coisas. Eu moro no último andar, então são dois andares que eles precisam subir, por isso, estou ajudando.
— Você ficou com o melhor apartamento... Aposto! — comentei, e ele sorriu.
me puxou para um abraço e, como Bubbles estava em meu colo, também foi abraçado, mas quando foi me beijar, ele começou a lamber minha bochecha, e acabamos não nos beijando.
Até então, ele parecia não ter percebido a bicicleta, mas quando me convidou para subir, eu fui em direção ao veículo, e viu que minha mochila estava na cesta, parou e me olhou, espantado, como se fosse a coisa mais absurda do mundo eu ter andado nela.
— O quê?
— Você veio pedalando da casa da Ashley até aqui? — Assenti. — Sua preguiçosa!
— Como é? Por que preguiçosa? — Fiz papel de ofendida, mas sorriu ainda mais.
— Porque não é longe daqui. Ontem à noite, eu vim andando…
— Bem, ontem, você ainda estava com o efeito da bebida... Eu estou de ressaca! — Fomos andando até o prédio. — Tenho uma boa desculpa para não andar quase dois quilômetros e meio!
— Nós quase nem bebemos e você está de ressaca… Você já foi mais forte, ! — Ele brincou.
Dei um leve tapa no braço dele e entramos em uma ampla portaria, onde um senhor sorridente nos cumprimentou, e foi até ele.
— Sr. Kevin, esta aqui é a minha namorada. A subida dela está sempre liberada. — ainda pediu que ele anotasse meu nome para que os outros porteiros não me fizessem esperar quando chegasse.
Do outro lado da bancada havia uma parede com umas caixas de correio e três portas ao lado de uma antessala muito luxuosa, com direito até a um lustre daqueles de revista de decoração. A porta da direita sinalizava a lavanderia, outra com uma placa de depósito, e a terceira, que estava aberta, mostrava várias pessoas organizando um salão de festas. entrou na que indicava o depósito, e o vi colocar a bicicleta encostada a uma grade. À nossa frente já era a escada, toda em madeira escura e muito bem polida.
Subimos dois andares — quatro lances de escada — e percebi que aquele era o único andar com apenas um apartamento. Logo, imaginei a fortuna que ele deveria ter desembolsado para ser o novo proprietário dali.
Se apenas, do corredor, já dava para ter uma noção do apartamento, quando abriu a porta, meu queixo foi ao chão. As paredes eram de tijolinhos vermelhos, e as janelas, ainda sem as cortinas, davam uma claridade incrível a todo o ambiente. O chão de madeira escura, que lembrava a escada, a vista para o rio, as janelas com assento no final da sala, e quase sem paredes que pudessem impedir a vista. Quem estivesse cozinhando, tinha uma visão privilegiada da casa toda, se não fosse por uma parede que dividia as salas de jantar e estar do corredor.
— Ali tem um quarto e um banheiro. — apontou para o corredor, onde os homens terminavam de entrar com umas caixas.
— Ainda não tem nada no seu apartamento e, mesmo assim, ele é maravilhoso! — Nós sorrimos.
Coloquei Bubbles no chão, e ele começou a cheirar tudo.
— Na última porta é a suíte com acesso ao terraço.
— Você tem o seu próprio terraço? — Ele assentiu. — Uau!

Depois do delicioso almoço encomendado do restaurante grego que ele disse querer me levar, percebi que não teríamos conversa nenhuma sobre nós dois, sobre o filho, sobre nada, além do novo papel. Dei uma desculpa qualquer para sair dali, deixando Bubbles com para que ele pudesse “reconhecer” o ambiente novo em que viveria em alguns dias da semana. Voltei pedalando até a frente do prédio de Ashley e liguei para saber como o Joe havia ficado depois do incidente pela manhã. Tive sorte de ela me convidar para subir e, assim, nós conversarmos para esquecer a nudez do seu namorado.
Joe ainda estava me olhando diferente, mesmo depois de algumas piadas e brincadeiras sobre o assunto. Estávamos procurando algo para fazer naquele final de semana tedioso, mas parecia que já havíamos ido a todos os lugares perto da casa da Ash.
— O que tem lá pelo Central Park, hoje, ? — Joe quis saber, como em quase todos os outros finais de semana que estávamos livres. — E, antes que você venha com empecilhos, dona Ashley, não creio que ninguém vá querer te perseguir num sábado à tarde!
— Já que você perguntou… — disse, contente de poder levá-los a algum atrativo próximo a casa. — Hoje, eu não sei, mas amanhã vai ter o festival de rock na Summit Rock.
— Interessante, dona … — Joe sorriu. Assim como eu, ele adorava uma oportunidade de tomar cerveja gelada e barata ao ar livre. — Conte-nos mais sobre.
— Eu não sei direito quem vai tocar, até porque será um festival pequeno, mas a Dark Paradise estará lá. — Ashley sorriu. Ela achava os meninos da banda uns lindos, não para menos, com Elijah Nash na banda. — E o som deles é muito bom!
— E tem o Elijah! — Ashley ainda estava sorrindo, mas Joe fechou a cara, com ciúme. Ela mexeu no celular e, em menos de dois minutos, começou a cantarolar: — Temos ingressos! Temos ingressos!
— Como assim “temos ingresso”? — Joe ficou mais curioso ainda. Não era segredo nenhum que Ashley e Elijah já haviam saído juntos quando eles dois estavam separados. — Ashley, você não pediu ingresso àquele carinha da banda, não é?
— Ah… — Minha amiga claramente havia falado com o guitarrista da Dark Paradise, mas não queria magoar o namorado. — Não. Eu falei com o Jimmy. Você sabe que ele sempre tem ingresso para essas coisas.
Joe pareceu acreditar, mas eu sabia que Ashley havia mentido. Não que fosse uma grande mentira, mas, se havia algo que nós duas sabíamos era que deveríamos escolher nossas batalhas num relacionamento. Era óbvio que Ash não tinha mais nenhum sentimento pelo Elijah e, com certeza, ele não sentia algo pela minha amiga. Estava estampado em todos os lugares que Elijah Nash era cara de uma noite só.
Como o festival começaria só depois das dez da manhã do domingo e, com muita insistência do Joe, dizendo que, se eu esquecesse o incidente, ele esqueceria também, dormi mais aquela noite no apartamento deles, ajudando na organização da casa e no quarto de hóspedes para os pais do Joe, que chegariam no outro final de semana para conhecerem a Ashley, e eles, assim, pudessem oficializar o namoro/noivado.
Na manhã seguinte, já estávamos no táxi, a caminho do meu apartamento, e discutíamos sobre como faríamos para nos encontrar depois que eu me mudasse de volta ao Canadá. Joe dizia que, para ele, seria mais fácil, já que a maioria dos filmes do estúdio dele eram filmados em Vancouver, mas Ashley ainda discordava e quase gritava que eu não poderia sair dos Estados Unidos.
Logo chegamos, rapidamente nos arrumamos e andamos até a Summit Rock, que, àquela hora, já estava lotada de fãs, carrinhos de comida, bebida e astros do rock. Ashley estava com o celular grudado no ouvido e falando entusiasmada com alguém, provavelmente, Elijah, e Joe estava mais que enciumado ao meu lado, batendo o pé e tudo.
Por um momento, perdemos a loira de vista e, quando a reencontramos, ela acenava feito uma groupie para que nós a seguíssemos. Fomos até onde Ashley estava, e ela nos puxou para dentro de uma tenda, que estava cheia de gente da produção, seu amigo Jimmy, alguns outros artistas, que também se apresentariam, e até Natalie Wolf, que havia reatado o namoro com o vocalista da banda de Elijah.
Em menos de dois segundos, lá estava o motivo da raiva de Joe: Elijah Nash, em toda a sua fama de cafajeste, cercado de duas morenas que pareciam estar enfeitiçadas com cada palavra que ele dizia.
— E estes são o Joe, meu noivo, e a minha melhor amiga, a . — Ash nos apresentou, e ele logo se desfez das meninas para nos cumprimentar.
— Olá! — Apertou a mão de Joe e me enterrou num abraço, o que estranhei. — E você gosta da Dark Paradise?
Acenei com a cabeça, mesmo que soubesse apenas algumas músicas.
Ouvimos uma leve discussão ao fundo, e parecia vir do camarim da banda, mas, com a porta fechada, não saberíamos quem brigava.
— Se quiser, pode ficar comigo, até que o festival acabe… — Elijah continuou no seu joguinho de sedução, mas apenas sorri, envergonhada.
— Vá com calma, Nash. Ela tem namorado! — Ashley o repreendeu, e ele retorceu a boca.
— Isso é uma pena! Faríamos um bom grupo com aquelas meninas ali. — O músico apontou para as morenas que estavam há pouco abraçadas com ele.
Não soube como responder, mas acredito que a minha expressão de pura surpresa com o que ele havia dito o reprimiu.
Elijah retorceu a boca e voltou sua atenção a Ashley.
— Muito obrigada pelos ingressos! — Ela o abraçou bem rapidamente.
— Vejo você lá no palco, babe. — Nash se despediu e voltou a abraçar as morenas, enquanto se distanciava de nós três.
Jimmy parou muito rapidamente para nos cumprimentar, mas parecia estar atolado de coisas para fazer, já que seu rádio não parava de apitar e avisar onde ele estava sendo chamado.
Ainda ficamos mais algum tempo conversando sobre o setlist do show, e a boa notícia é que seriam apresentados os grandes sucessos da banda e os mais antigos que eu conhecia estavam na lista.
A porta do camarim, de onde ouvimos a discussão, se abriu, e Natalie Wolf e Brian Carter saíram de lá, mas o que mais foi estranho é que eles saíram de mãos dadas, como se não estivessem gritando há apenas alguns minutos. Ele parecia entediado, mas Natalie sorria igual uma criança que acabou de ganhar o brinquedo favorito.
Ashley a reconheceu e a chamou; explicou que elas já haviam feito um filme quando mais novas, mas acabaram perdendo contato quando minha amiga foi morar fora do país para ser modelo.
— Eu nem acredito que te encontrei aqui, Ash! — A atriz aproximou-se, arrastando Brian com ela. — Como você está? Acho que não nos vemos há uns oito meses.
— Isso é verdade! Você só fica em Los Angeles e esquece que, em Nova York, estão as melhores pessoas… — Minha amiga brincou, fazendo Wolf sorrir e Carter revirar os olhos discretamente.
— Bem, este é o Brian Carter, vocalista da Dark Paradise. — Natalie apertou as bochechas do rapaz, que acabou sorrindo forçadamente do ato da loira.
— Este é o Joe, meu noivo, e a , minha amiga.
Cumprimentamo-nos.
Wolfe e Kripke engataram uma conversa que nem eu, Joe e, muito menos, Brian decidiram acompanhar.
— Vocês gostam dessas músicas, ou estão aqui por causa dela? — Brian perguntou mais baixo a Joe e eu, enquanto apontava para Ashley.
— Por incrível que pareça, foi eu quem sugeriu o festival — confidenciei, e eles sorriram. — Eu não sei todas as músicas da sua banda, mas gosto muito do segundo e do terceiro CD que lançaram.
— Eu me lembro mais das músicas do primeiro. — Joe admitiu. — Depois disso, eu só ouvia o que tocava na rádio porque estava tão ocupado com a série que mal conseguia acompanhar as músicas que tocavam.
Brian soltou uma gargalhada que acabou nos contagiando.
— As escolhas são boas… Mas esperem até o próximo CD. Ele terá uma música muito especial que eu escrevi. Chama-se ‘Black Hole’.
— Pode apostar que vou procurar quando eles chegarem às lojas! — prometi ao vocalista.
Quando já não tínhamos mais o que conversar, ficamos nos encarando, até que uma pessoa com camisa da banda passou, e Brian o parou, pedindo que trouxesse uma garrafa ao camarim após o show.
Eu e Joe nos entreolhamos, querendo saber de que garrafa ele estava se referindo, mas, pela expressão que Carter estava, não era água que ele estava pedindo.
Lembrei que ele havia dado uma entrevista há poucos dias, dizendo que não bebia mais, e estranhei. Talvez ele estivesse na mesma situação que eu: tendo que viver uma vida na frente das câmeras e, por trás, podia ser você mesmo.
Eles se despediram mais rápido do que pensei, e minha amiga nos puxou para a entrada do palco, e Joe foi se relembrando do quão inconveniente Elijah era, perguntando o porquê de Ashley ainda ter contato com ele, mas logo deixei de prestar atenção neles assim que a Dark Paradise tocou seus primeiros acordes e começou a agitar todos que estavam no festival.

Apesar de ser pouco mais das onze e meia da manhã, algumas pessoas já estavam com copos de cerveja nas mãos e cantavam euforicamente com a banda, que já estava tocando a sexta música, uma que eu não conhecia. Ainda tentava decidir se ficaria no palco com a Ashley, ou iria atrás de comida, como o Joe havia feito alguns minutos atrás, mas quando avistei meu amigo em uma fila de corn dogs, deixei meu lugar e fui até ele, já desejando a comida acompanhada de uma boa cerveja gelada.
Estávamos nos deliciando e conversando quando a banda chamou uma pessoa ao palco, e eles começaram um cover do clássico ’Smoke On The Water’, do Deep Purple, que fez todos os presentes, e até os que apenas estavam de passagem, soltar a voz, incluindo Joe e eu, que paramos de comer para cantar junto.
Logo depois, eles iniciaram outros acordes que poucas pessoas reconheceram e se agitaram. Eu mal podia acreditar, mas eles iniciaram um cover de ’Stairway To Heaven’, do Led Zeppelin. Poucos começaram a cantar, mas mais pessoas acompanharam e fizemos um coro só de vozes, e a performance maravilhosa de Brian no palco, de uma das músicas mais bonitas e tristes da banda!
Enquanto a Dark Paradise encerrava sua apresentação, e nos apressávamos para mais uma rodada de cerveja e corn dogs, Ashley chegou, perguntando se queríamos conhecer os outros integrantes da banda, e até aceitaríamos, se não fosse por culpa minha e do Joe de vomitar todas as coisas que havíamos comido naquela manhã. Minha amiga ficou nos culpando, durante o resto do dia, por termos comido “aquela comida mal feita” do festival, mas, ao menos, não tivemos que ir ao hospital, já que voltamos ao meu apartamento e tomamos uns antiácidos.

*


— ...E acredito que esse seu ciclo se encerrou aqui, em Nova York, para que um novo e muito melhor comece em Vancouver! — Shelly terminava de falar e erguia seu copo com café, sendo seguida de mais alguns amigos do trabalho. — Ah, e não esqueçam que iremos ao Paul's ao final do expediente para mais uma comemoração!
Aquele era meu último dia na empresa, dia 21 de março, em plena segunda-feira, às oito da manhã, e todos já se acertando para bebidas após o expediente. Não que eu fosse realizar algum trabalho naquele dia. Havia ido apenas organizar e limpar meu escritório, e me despedir de algumas pessoas que eu não veria ao final do dia.
Aquela semana havia começado com o pé direito, desde o domingo à tarde quando meu corretor havia ligado, dizendo que tinha uma boa oferta pelo apartamento, mas conversaríamos naquela tarde de segunda para assinarmos os papéis e finalizarmos a venda, além de um jantar romântico com o , no dia 24, no restaurante grego que ele tanto fazia propaganda.
Ainda não havia contado a ele sobre minha mudança, só comentado que tinha sido promovida no trabalho, e não sabia como ele reagiria quando contasse. Provavelmente, nós poderíamos nos ver aos finais de semana e, quando ele tivesse uma folga, eu poderia visitá-lo, já que, no novo cargo, eu poderia me dar ao luxo de resolver muitas coisas pelo telefone, ou até por e-mail, podendo trabalhar em casa. Tudo ficaria bem se nós nos organizássemos melhor.
Deixei o escritório, deixei as coisas em casa e peguei um táxi até o apartamento dele para que pudéssemos conversar e eu o convidasse para o Paul's naquela noite.
Quando cheguei, estava empenhado em colocar umas prateleiras na sala, mas não estava conseguindo marcar o lugar certo para que ficassem na altura desejada. Comecei a ajudá-lo e conversamos sobre os planos daquela semana — ele não deixando passar o jantar planejado e já reservado para aquela quinta-feira.
— Eu não vou esquecer, ! — Era bem a terceira vez que eu confirmava que estaria lá. — Mas você vai hoje, não é?
— O Paul's é aquele perto do seu trabalho? — ele perguntou e se afastou para ver se as prateleiras estavam no lugar certo. Assenti com a cabeça. — Acho que está muito bom!
Soltei o pedaço de madeira com cuidado, achando que poderia cair a qualquer segundo, mas estava bem seguro na parede.
— Você deveria confiar mais nas minhas habilidades manuais… — me abraçou e deixou um beijinho em meu pescoço.
— Eu achava que cairia… Nunca imaginei uma furadeira na sua mão! — Ele revirou os olhos e sorriu. Olhei para o relógio e me lembrei da entrevista dele. — Você precisa sair daqui, se não quiser se atrasar para a rádio.
— Você pode pegar o Bubbles às duas? Ele está naquela pet shop da outra rua, e eu posso encontrar com vocês no parque.
— E eu vou ficar aqui, na sua casa, até lá?
— Você tem outro lugar a ir? — Neguei com a cabeça. — Você ficava um final de semana inteiro na minha casa e, agora, quase não vem aqui... Tem algo de errado com este apartamento? — me soltou e foi até a cozinha, beber água. Dei de ombros, não sabendo o que responder. — É a quantidade de escada, não é? — perguntou, brincando.
— Cala essa boca, ! — Revirei meus olhos e andei até a janela, procurando alguma desculpa para eu não gostar do apartamento. Nada. — Eu gosto daqui...
Quando percebi, já estava de frente para mim, abaixando-se para me carregar pelos ombros e sair andando até o chuveiro do quarto dele, e, em questão de segundos, estávamos molhados da cabeça aos pés, incluindo meu celular e dinheiro, que estavam no bolso da calça.
Apesar de discutir porque ele me molhou, aproveitamos aqueles minutos juntos e, rapidamente, estávamos tirando nossas roupas e nem nos importando se molhávamos tudo ao redor. Eu nem tinha saído do país e já estava com saudade dele, e não achava outra oportunidade de demonstrar isso, se não estando com ele.
Não sei ao certo o que nos motivou a transar no chuveiro, mas estávamos tão conectados naquele momento que cheguei ao orgasmo antes do esperado e, quando também chegava lá, tive outra explosão interna, prova de que a prolactina estava funcionando muito bem em me manter excitada logo após o primeiro orgasmo.
Como não queria que se atrasasse para uma entrevista na WFPP, o empurrei para debaixo do chuveiro e disse que ele só encostaria em mim de novo depois que tomasse um banho, fosse à rádio e voltasse. Ele riu, achando que estava brincando, mas continuei séria e, enfim, nos limpamos. Quando saí do chuveiro, ele já estava deixando o quarto, dizendo que tinha algumas peças de roupa minha na gaveta do guarda-roupa.
Já um pouco mais tarde, depois de arrumar e limpar algumas bagunças da casa dele, fui buscar o Bubbles, de pelo tosado e uma gravatinha que ele já tinha começado a morder. Voltamos caminhando até o prédio e não fomos ao parque, já que meu celular estava estragado devido ao banho e eu não tinha como falar com o , além do telefone da casa dele. Quando subimos, para aproveitar o dia bonito que fazia, peguei o aparelho e fomos ao terraço, que já tinha algumas cadeiras e uma mesa. Brinquei bastante com o Bubbles, enquanto esperava por um telefonema, mas ninguém havia ligado, e já passavam das duas e meia da tarde.
Estava com fome e resolvi pedir um almoço, já que não havia comida na casa. Pedi uma pizza e, assim, quando chegasse, ainda teria o que ele comer.

Acordei com sentado de frente para mim, segurando uma caixa branca com um laço azul. Ele estava sorrindo, e Bubbles latindo para que ele lhe desse atenção. Sentei-me na cama, e ele pegou nosso cachorro para ficarmos juntos. Estava curiosa para saber o que era e chacoalhei a caixa.
— Abre logo, ! — ele disse, apressado.
Por mais curiosa que eu estivesse, tirei o laço com o maior cuidado do mundo e, antes de abrir de vez a caixa, olhei para ele, que revirava os olhos. Dentro do embrulho havia um celular igual ao que eu tinha estragado naquela manhã.
— Você não poderia ficar sem um celular… — Ele deu de ombros. — Ainda mais quando te vi dormindo abraçada com o telefone aqui de casa.
, você não precisava ter me dado um celular!
— Bem, eu ensopei o seu essa manhã... Achei que fiquei devendo. — Ele deu um beijinho em meus lábios. — Pedi para deixarem seu mesmo contato. Assim, não precisaria passar por toda aquela coisa chata de não terem o seu número.
— Muito obrigada! — Pulei em seu colo e o abracei, distribuindo vários beijinhos nele e no Bubbles, que se meteu no meio da bagunça.
Enfim, comemos e passamos a tarde conversando, e assistindo a filmes, já que só sairíamos mais tarde para beber com o pessoal do trabalho. Lembrei que ainda não tínhamos conversado sobre a minha mudança, mas pretendia fazer isso antes de sairmos de casa. Assim, não discutiríamos no meio da rua e nem chamaríamos a atenção de ninguém.

Estava conversando com Ashley no telefone quando apareceu no terraço. Já era final da tarde, e faltava eu apenas colocar um sapato para que pudéssemos ir ao Paul's, quando minha amiga ligou para avisar que não poderia mais ir, já que estava passando mal por algo que havia comido. Suspeitei, porque, até o dia anterior, ela estava super bem, mas a desejei melhoras e se, por acaso, piorasse, me chamasse que eu a levaria ao hospital. Ash estava sozinha em Nova York, naquela semana, porque Joe estava no Canadá, filmando a série e me ajudando a receber algumas das minhas coisas que pedi que ele guardasse no apartamento, já que não queria entulhar a casa dos meus pais.
— Quando você disse que gostava do apartamento, achei que estava falando de dentro e não aqui de cima — e comentou quando chegou mais perto.
— O seu apartamento é lindo. Não me leve a mal, mas você não prefere ter esta vista sem nenhuma janela atrapalhando? — falei, e ele assentiu. — … Nós temos que conversar.
— Teremos muito tempo para isso mais tarde. Já está na hora de sair, se não pegaremos um trânsito horrível.
Talvez ele estivesse certo. Conversar depois que chegássemos à sua casa, depois de uma noite agradável com amigos, fosse mais fácil de abordar o assunto. Descemos, coloquei meus sapatos e fomos a caminho do bar próximo ao meu antigo escritório.

Todos já estava lá, incluindo Shelly, que nem sempre era vista nas reuniões fora do trabalho. Apresentei a todos, mesmo que eles já o conhecessem dos filmes e séries, e logo engatamos uma conversa sobre paleta de cores e outras coisas mais detalhadas do trabalho.
Percebi que estava tentando entender a conversa e, assim que alguém dizia algo muito técnico, explicava em termos mais simples, até que ele começasse a rir e dizer que éramos workaholics por estarmos falando de trabalho na nossa folga.
Depois de várias rodadas de bebida para todos, enfim, alguém pareceu ter se lembrado do porquê estávamos ali e pediram que eu dissesse algumas palavras, antes de nos despedirmos. pareceu confuso, mas não sabia se era por causa do que estava falando ou porque ele tinha bebido demais.
Agradeci a cada um dos que foram ali, comemorar comigo, e prometi não esquecê-los, e, nem que eles se esquecessem de mim quando fossem ao Canadá, poderiam me procurar, e eu os apresentaria à cidade. Todos brindaram, e voltei a me sentar; caso contrário, cairia por causa da tontura.
— Do que você está falando? — quis saber assim que me sentei ao seu lado. — Toda essa história de “eu mostro a cidade a vocês”…
— Eu fui promovida e já te disse isso. — Senti os diferentes drinques voltando pela minha garganta, mas respirei fundo, até que eles voltassem ao meu estômago. — , podemos ir embora? Eu não estou me sentindo muito bem.
— Só me diz uma coisa: você foi promovida para voltar ao Canadá?
Não o respondi, apenas me levantei da mesa e fui até o banheiro para colocar tudo que havia bebido naquele dia e me prometer nunca mais misturar drinques coloridos numa mesma noite. Quando voltei à mesa e procurei pelo meu furioso namorado, não o achei, mas me informaram que ele fora chamar um táxi e, então, saí do estabelecimento.
Fui pega de surpresa quando me molhei quase toda. Uma chuva torrencial caía e molhava todos que estavam nas ruas e entrando nos táxis. Tive que correr até quase o meio do quarteirão quando entrei no mesmo carro que entrava.
— Por que não disse nada, ? — Ele nem disse oi, nem nada.
— Você me deixaria aqui no bar? Passando mal? — Ele não respondeu e fechou a cara. — Seu idiota!
Tirei o celular que ele havia me dado da bolsa, joguei no banco e saí do táxi, me molhando ainda mais com a chuva, que não parava e nem estiava.
Eu mal pisei na calçada, e o carro saiu em direção à rua, parando mais à frente, no semáforo vermelho. Fiquei tão furiosa que quase bati de frente em algumas pessoas que corriam para se livrar da chuva, mas continuei andando e, quando parei em frente à porta do bar, pensei em entrar e beber tudo de novo, mas continuei andando até em casa, que não era longe dali.
Sabia que pegar toda aquela chuva não seria nada bom, por isso, quando cheguei, tratei de tirar toda a minha roupa e tomar um banho bem quente, e tomar logo um antigripal para me prevenir de qualquer empecilho nos próximos dias.
Assim que me deitei na cama, me senti sozinha. Bubbles estava no apartamento do , Ashley estava em casa, doente, e muita das minhas coisas estavam a meio caminho de Vancouver àquela hora. As poucas coisas que eu levaria comigo eram as minhas roupas, alguns livros e meu computador. Os lençóis, almofadas, porta-retratos, vasos e todas as outras coisas pessoais já não estavam mais no apartamento.
Levantei-me e decidi que terminaria logo de arrumar e limpar as últimas coisas, afinal, em menos de vinte dias, eu estaria de volta ao Canadá, mas, enquanto encaixotava meus livros, pensei em adiantar minha viagem. Poderia usar o tempo extra para procurar um apartamento e, assim, não precisar ficar tanto tempo na casa dos meus pais.
Distraí-me quando meu computador apitou, e a foto de Matthew apareceu para uma vídeo-chamada. Não estava nos meus melhores trajes, mas ele já tinha me visto pior.
Oi! — Ele estava sorridente, do outro lado da câmera. — Preciso da sua ajuda, enquanto você está em NYC, mas, antes disso, eu tenho uma coisa a contar…
— Oi, Matt! O que aconteceu? — Por um momento, me preocupei, mas ele não parava de sorrir, e aquilo foi contagiante.
Você se lembra da Samantha?
— Você poderia ser mais específico?
Ah… — Ele revirou os olhos. — A hot vizinha. — E, com aquele apelido inventado por um de seus amigos, logo depois que eles ficaram mais sérios, comecei a gargalhar. —
— Desculpa! Eu não queria rir... Foi mais forte que eu! Mas, sim, me lembro da Samantha.
Bem, resumindo… Nós vamos nos casar! — Ele parecia ter ganhado na loteria, de tão feliz. — E eu sei que você vai dizer que é rápido, e tudo mais, mas eu quero muito isso. Eu sinto que é ela, sabe? O que você acha? — Quando eu não disse nada, ele prosseguiu: — É rápido. Sabia que você não aprovaria…
— Eu não iria dizer isso… Eu só não sabia que você se sentia assim... Que era algo tão forte...
, eu sempre achei que nós dois acabaríamos juntos. Na verdade, eu fiquei te esperando por muito tempo, até que eu encontrei a Sammy, e as coisas pareceram, finalmente, fazer sentido...
— Uau! Isso é bem sério! — Ele sorriu, concordando. E, se meu melhor amigo estava feliz, quem era eu para atrapalhar? — O que você precisa da big apple?
Um anel de noivado! — E, antes que eu pudesse dizer alguma coisa, ele continuou: — Não quero que você escolha e nem nada, é só para trazer… Eu encomendei e não vou poder estar aí no dia para receber, então dei seu nome de referência, e eles ligaram, mas disseram que ninguém atendeu, e eu preciso muito que você pegue o anel na sexta-feira... Por favor?!
— É claro que sim, Matt! Vocês precisam de mais alguma coisa daqui? — Ele negou. — Eu não acredito que você vai se casar… — Tentei esconder a surpresa com as minhas mãos, mas ele deu uma gargalhada.
E você será a nossa madrinha de casamento… Tudo bem, não é? — Fiquei surpresa com o pedido, já que quem, geralmente, escolhe a madrinha é a noiva, mas assenti com a cabeça. — Eu disse a Samantha que ela poderia fazer a festa do jeito que quisesse, contanto que você e o Bill pudessem ser os padrinhos. E, ah, se você falar com a Ashley, eu a queria no altar com a gente.
— A Ash vai pirar, mas, com certeza, ela vai aceitar, Matt. Quanto ao Bill… — Revirei os olhos. — Você não podia ter outro amigo, não?
Nós somos vizinhos e amigos há, pelo menos, vinte e cinco anos! Você deveria superar quando ele nos jogou na lama. — Matthew nem bem terminou de lembrar e já estávamos sorrindo. — O casamento será no final do ano. Até lá, você já deu um jeito nele. Ah, devo separar quantos convites? O seu, seus pais, o do ... Mais alguém?
— Não sei se o estará presente. — Não queria tocar no assunto, mas essas coisas precisavam de planejamento, e meu relacionamento com o estava por um triz, para garantir que estaríamos juntos até o final do ano.
Problemas no paraíso? — Dei de ombros, o que pareceu chamar ainda mais a atenção do meu amigo. — Ele não levou numa boa a sua mudança?
— Ele me deixou no meio da rua quando soube… Estávamos bebendo, e o álcool elevou o drama da situação, mas não acredito que ele fique muito mais feliz quando ficar sóbrio.
Bem, eu nunca fui o maior fã daquele cara, ainda mais agora com o que você está me dizendo. Você não deve parar ainda mais a sua vida por causa dele e, muito menos, se sentir culpada por aceitar uma promoção no trabalho!
— Não estou me sentindo culpada… Só queria que nós pudéssemos acertar as coisas, ao invés de acabar com tudo, mas conversaremos melhor, até que eu vá embora.
Espero que vocês se acertem! Por mais que eu não goste dele, sei que você o ama muito.
Terminamos a ligação e desisti de procurar por passagens que me levariam mais rápido ao Canadá, afinal, agora, tinha que escolher um presente para os noivos e pegar as alianças.
Depois daquelas palavras do meu amigo, percebi que o havia se tornado alguém muito especial na minha vida e que eu poderia estar realmente me apaixonando por ele, mas não deixaria de aproveitar as oportunidades que surgiram só por causa de alguém que nem era certo e muito menos me amava de volta.
Para o , ainda éramos um contrato, como um trabalho e, mesmo que ele, às vezes, demonstrasse um sentimento a mais, não era de hoje que ele era um bom ator.

Na manhã seguinte, tratei de comprar outro celular; desta vez, fiz questão de mudar de número e comuniquei poucas pessoas: meus pais; Matt; Ashley e o Joe; e o pessoal do trabalho, somente. Aquele era o meu dia de ficar com o Bubbles, mas não queria nem encontrar com o , mas mudar de número não adiantou de nada, já que ele ainda sabia onde eu morava e estava com o carro estacionado na frente do meu prédio quando voltei da loja.
quase pulou do carro e veio andando rápido até onde eu estava parada, quase sem crer que ele estivesse ali de verdade.
— Você esqueceu isto no táxi ontem. — Ele segurava o celular que havia me dado ontem.
— Eu não quero isso, .
, só pega o celular, e eu irei embora.
Mas senti que vi alguém nos observando e, em seguida, um flash.
Abri um sorriso, mesmo que não estivesse com vontade alguma, e me aproximei de , envolvi meus braços em seu pescoço, e ele ficou completamente parado, apenas observando atentamente cada movimento meu. Beijei-o bem rapidamente, sussurrei que estávamos sendo fotografados, voltei a sorrir quando peguei o telefone da sua mão e coloquei em seu bolso traseiro. Ainda sorrindo, completei:
— Eu não quero um telefone, . Queria conversar com você e tentar encaixar uma nova rotina ao nosso relacionamento, mas, se você não quiser fazer isso… Bem, então eu não acho que ainda tenha algum relacionamento.
— Talvez não. — Ele beijou o topo da minha cabeça e deu a volta em direção à rua, acenando e sorrindo, antes de entrar no carro.
Não quis acreditar que, mais uma vez, ele tinha escolhido ir embora ao invés de sentar e conversar. Mais uma vez, eu havia me enganado em achar que estávamos mesmo em um relacionamento e não em um contrato acordado pela Amélie.
Talvez ela nem fosse a bruxa que eu sempre dizia. Talvez ela fosse assim porque tinha que conviver com pessoas como a própria filha e o , que só prezavam o que os outros pensavam.
Quase comecei a chorar no meio da calçada, mas entrei rapidamente e me enrolei nas cobertas quentinhas da cama, numa maneira de não me afogar em sorvete e comédias românticas, como em todo término de namoro.

Mais tarde, naquele mesmo dia, liguei para o Joe, que estava no Canadá, gravando a nova temporada da série, e ele disse que minhas coisas chegariam no outro dia e que ele deixaria no depósito do apartamento dele, e que eu não deveria me preocupar com o porque ele cairia na real e viria conversar comigo. Obviamente, ele e Ashley haviam conversado, já que ela era a única que sabia sobre o término.

Dois dias na cama com a gripe mais forte que qualquer um pudesse imaginar não eram para qualquer um.
Minha amiga havia trazido alguns remédios e, mesmo assim, eu não conseguia melhorar. Garganta inflamada, febre e a moleza que só quando você está doente sente. Ash ainda passou a noite em casa, mas tinha trabalho a ser feito naquele dia.
Por volta das seis da tarde, quando, enfim, consegui me levantar para tomar um pouco de água e ficar na sala, minha campainha tocou, e ninguém menos que Amélie Dave estava, mais uma vez, na porta do meu apartamento.
— Como você sabe, estou me mudando para o Canadá. Eu não vou ficar aqui só porque o precisa de uma namorada! — desabafei, antes mesmo que ela sentasse no sofá.
— Eu não vim aqui para isso. — Surpreendi-me com o que ela disse e também me sentei. — Você conversou com ele sobre a criança, não conversou?
— Você mesma disse que eu precisava saber…
— Mas você não apenas soube, tinha que mandá-lo até a Califórnia?
— Eu não disse para ele ir até o outro lado do país, atrás da Penny! — rebati.
Nem, ao menos, sabia o porquê de estarmos tendo aquela conversa.
— A Penny não teve aquele bebê. — Aquilo era novidade. — Aborto natural. — Amélie deu de ombros, mas, pela primeira vez, ela demonstrava um sentimento; parecia triste com a lembrança de que não teria um neto.
— Ele sabe disso? — Ela negou. — E por que não contaram nada ao ?
— Por que você acha que eu fiz vocês dois namorarem? Por causa de umas fotos para a Ralph Lauren? — Ela quase sorriu. — , eu quero o longe da Penny porque eles não sabem a hora de parar. A gravidez foi mais uma prova disso.
— Mas, se eles se gostam, qual é o problema?
— Eu o conheço a vida toda e sei que ele não ama a minha filha do jeito que ela merece. E filho não é certificado de um casamento feliz! Sei disso por experiência própria! Eles gostam do que um proporciona ao outro: fama; diversão; sexo… A Penny já tem isso sozinha, e ele também, mas, para quem observa de fora, eles são tóxicos para o outro!
Não sabia o que responder e, muito menos, como pedir que ela se retirasse da minha casa. Eu havia conhecido um pouco do e sabia que ele não era todo esse poço de maldade que ela estava descrevendo.
— Bem, ao menos, com a Penny, ele é tóxico. Já vocês dois… Eu consigo ver que você foi estúpida o suficiente para cair na lábia dele. Só espero que ele não saia correndo quando souber.
— Souber do que? — De que diabos ela estava falando agora?
— Vá se trocar. Vocês têm uma reserva para hoje, não?
— Eu não vou sair! Estou quase morrendo de febre!
— Ah… Pois bem, ele virá aqui, então. Tome um banho e melhore essa cara quando ele chegar.
— Ele não virá aqui, Amélie!
Ah, minha querida... — ela caçoou, mas continuou: — É claro que ele virá. Não é só você que se apaixonou nesse namorinho de vocês…
Com isso, ela levantou-se e foi embora, sem nem, ao menos, se despedir. Mas era óbvio que ele não apareceria. havia deixado bem claro que não queria conversar, mas, para a minha surpresa, ainda naquela noite, minha campainha soou mais uma vez e, agora, era ele, trazendo Bubbles em uma mão e um saco grande na outra.
Deixei-o entrar e matei a saudade que estava sentindo do meu cachorrinho, para, só então, notar colocando a sacola na bancada da cozinha e procurando algo nas gavetas.
— Cadê os seus talheres?
— Na lavadoura. — Ele franziu o cenho ao abrir e ver poucas louças. — O que você está fazendo aqui?
— Você queria conversar, não queria? — Assenti. — Eu não sou daquelas pessoas que sabem ficar em um relacionamento à distância.
— O que custa tentar? — Ele deu de ombros. — Você não é obrigado a tentar, . Eu só achei…
— Achou o que? Que eu ficaria aqui, esperando? — Ele deu uma garfada na comida. — Esse não sou eu, .
— Entendi. — Peguei Bubbles no colo, com medo da resposta que ele me daria assim que fizesse a pergunta: — Você veio aqui por causa da Amélie?
— O quê? Claro que não. A Ashley me disse que você estava doente e precisava de comida, já que não tem mais quase nada na sua casa. — Agora, ele tomava um copo com água. Limpou a boca e encaminhou-se à porta de entrada. — Já que os nossos cinco meses de namoro acabaram, eu e a Penny estamos nos acertando…

Capítulo 15 - O final


Narrado pelo .

Faz duas semanas que eu quase não saía do apartamento. Brad vinha me visitar e sempre tentava me levar para beber, comer ou até ir a uma festa, mas eu não estava com cabeça para nada daquilo.
Uns dias atrás, fui almoçar com a Penny, nas poucas horas em que ela ficaria em Nova York, e disse precisar de um rosto amigo. Quando cheguei à minha casa, e havia uma mensagem do meu pai na secretária eletrônica, perguntando o que acontecera, estranhei. Retornei a ligação, e ele disse ter visto a com outro cara na televisão.
Corri para encontrar algo na internet, e lá estava ela, toda sorridente e abraçando Matthew, no aeroporto, e diversas outras fotos e vídeos dos dois naquele mesmo dia, entrando e saindo de várias lojas, e passeando no Central Park.
Para quem havia dito não querer fama, ela estava se mostrando uma boa atriz.
E, agora, lá estava eu, bebendo e esperando o Brad, mais uma vez, já meio porre e com raiva. A verdade é que eu tinha perdido para o Matthew, e isso era inaceitável!
Chamei um táxi e fui esperar na rua, aproveitando o sol se pondo e bolando várias coisas que eu falaria assim que chegasse ao apartamento da . Brad me interrompeu quando me chamou, e o táxi buzinou atrás dele.
— Aonde você vai, ? Achei que você estava me esperando. — Ele tentou me impedir de entrar no táxi.
— Vou pegar minhas coisas na casa da ! — Estava convencido disso, mas, pela quantidade de bebida que eu havia ingerido, sabia que as palavras tinham saído emboladas.
, não! — Ele fechou a porta do táxi com força e quase recebeu um xingamento do motorista. — Qual é, ?! Você está claramente bêbado e sabe que isso não vai acabar bem…
— Eu só vou buscar umas coisas que deixei lá. — Brad me olhava, desconfiado. — Você pode até vir comigo, se quiser.
Claro que eu não queria que ele viesse junto, porque não teria a mesma conversa com a se ele tivesse lá, mas ele pareceu concordar, e abri novamente a porta do táxi.
Como não estava no meu melhor momento, não havia pensado no trânsito, que, àquela hora, estava carregado, parando por um bom tempo a cada cinco metros que o carro andava.
Quando reconheci o posto de gasolina que ficava próximo à casa da , joguei uma nota de cinquenta dólares para o taxista e saí no meio do trânsito, com meu amigo na minha cola, praticamente, gritando que eu era um louco por ter saído daquele jeito do carro. Expliquei que perderíamos tempo no táxi, porque, em apenas duas quadras e meia, chegaríamos ao apartamento, e seguimos andando, não sem, antes, parar na conveniência do posto e comprar o maior pacote de Doritos que eu encontrei.
— Isso é para você? — Brad quis saber, mas não me dei ao trabalho de responder. — Você não gosta disso… — Dei um sorrisinho de concordância para ele. — Você vai tentar voltar com a ?
— Meu, dá para você falar baixo? — perguntei, assim que recebi o troco, arrastando-o para fora do estabelecimento.
— A não vai te aceitar de volta por causa de um pacote de salgadinhos!
— Isso é só para ela me deixar entrar! — comentei, rindo, e o puxei de volta à calçada para que continuássemos o percurso.
Mais uns minutos caminhando e tentando me manter em uma linha reta, e recebendo xingamentos de Brad, chegamos à esquina da rua em que morava. Parei por uns segundos e me senti um idiota por estar ali. A culpa de nós termos terminado era toda dela! Ninguém mandou que ela escondesse que sairia do país, afinal, éramos um casal.
Enfim, demos os últimos passos e estávamos na entrada do prédio, que, agora, eu conhecia tão bem. Brad parecia incomodado com alguma coisa e olhava para todos os lados, como se estivesse esperando alguém aparecer e nos expulsar dali.
— Você vai apertar a campainha, ou…? — por fim, ele perguntou.
Como não respondi, ele olhou para o quadro com os números dos apartamentos, com o nome dos seus respectivos donos ao lado, e apertou o que estava escrito , .
Aquela era a letra dela, e eu sabia disso por causa dos diversos bilhetes que ela já havia deixado para mim. Eu os guardava em alguma gaveta na cozinha de casa.
Como ninguém respondeu, apertei em todos os botões, um atrás do outro, e, logo em seguida, a porta foi destravada, e algumas vozes foram ouvidas do interfone, mas o que importava era que a nossa entrada já estava liberada.
Notei uma música calma vinda de algum apartamento do prédio, mas estava preocupado demais, encarando a porta e pensando no melhor conjunto de palavras possíveis que pudessem convencer a a ficar em Nova York.
Bati na porta duas vezes, antes de uma pessoa aparecer na escada e comentar que a festa estava acontecendo no terraço. Brad e eu nos olhamos e estranhamos, já que eu não havia comentado que teria uma festa naquele dia, até porque eu não sabia de nada.
Subimos até o último andar e, finalmente, conheci o terraço, que, vez ou outra, comentava ser um ótimo lugar para receber os amigos e organizar uma festa.
Era bem espaçoso e estava todo decorado com balões coloridos. Havia uma mesa cheia de vasilhas com todos os tipos de salgadinhos que você pode imaginar e um freezer, que eu imaginei estarem as bebidas.
A primeira pessoa que reconheci foi o Joe, e ele estava conversando, eufórico, com Matthew e uma menina muito loira. Eles pareceram nos reconhecer e sorriram; inclusive, a menina, que era linda.
Joe veio até nós e nos cumprimentou; parecia incerto em me ver ali, e logo Ashley apareceu para nos dar um “oi” e nos servir com duas cervejas, dizendo que traria algo para nós comermos, mas viu o pacote do salgadinho na minha mão e saiu, sorrindo.
— Do que é esta festa? — Brad perguntou a Joe, e fiquei esperando ansiosamente pela resposta.
Sabia o que aquilo significava e, quando ele, enfim, respondeu que era uma despedida para a , a ficha caiu bem pesada sobre mim. Enquanto os dois conversavam, passei a olhar para todos os lados, atrás dela, e a encontrei, sentada na escada de incêndio, não parecendo muito bem.
Caminhei devagar até lá, parando para cumprimentar algumas pessoas que eu, provavelmente, nem conhecia. Quando me apoiei ao corrimão, e ela, então, olhou para ver quem estava lá, percebi que ela estava prestes a chorar.
Uma carinha vermelha, típica de quem está segurando as lágrimas há algum tempo.
Ai, droga! — ela murmurou e abaixou a cabeça, apoiando-a no joelho. Estava toda encolhida e parecia ainda menor que já era. — O que você está fazendo aqui?
— Eu tinha vindo para conversar… Não sabia que haveria uma festa. — Ela não disse nada e nem se mexeu, por isso, continuei: — Por que não me chamou? — Sem me olhar, ela negou com a cabeça e fungou. — Por que você está chorando?
— Você não estava falando comigo, lembra? — Acenei com a cabeça, por mais que ela não pudesse ver. — Desculpe-me.
Por dias, eu estava esperando que ela me pedisse desculpa, mesmo não imaginando que isso, um dia, fosse realmente acontecer. Sabia que era orgulhosa, mas ela também sabia que deveria ter me contado que mudaria assim que soube da promoção. Naquele momento, eu sabia que nós dois nos acertaríamos e tudo voltaria ao normal.
— Eu não queria que você soubesse daquele jeito… Não tive coragem de contar antes porque tudo parecia distante e incerto demais, e eu não estragaria o que nós tínhamos por algo que nem eu estava acreditando ainda. — desembestou a falar, e aquilo significava que ela estava nervosa. — Então me desculpe por isso. — Ela fungou, limpou e levantou o rosto para me olhar, mas ainda com a cabeça apoiada no joelho. — Eu não gosto da ideia de que nós não seremos mais um casal... Isso me deixa mal... Tão mal que me dá vontade de vomitar, só de pensar! Eu acho que acabei gostando de você mais do que deveria. Sabia que o nosso tempo era limitado, e eu tentei manter a cabeça preparada para que, quando chegasse ao final, eu não saísse machucada. A Amélie deixou isso bem claro, na semana passada: fez-me lembrar de que isso tudo não passava de um contrato, e eu, burra demais, me deixei levar.
Queria interrompê-la e dizer que ela não precisaria mais se preocupar com isso, mas parecia tão concentrada em seu discurso que eu não quis atrapalhá-la:
— Bem, eu me preparei tanto, mas olha a bagunça que estou agora… — Ela sorriu, mas continuou com o semblante triste. — Eu vou sentir muito a sua falta, bem mais do que você imagina, !
Não disse nada; primeiro, porque não sabia o que falar e, segundo, porque eu falaria a coisa errada e a afastaria mais de mim.
Ela percebeu que eu estava sem reação e levantou-se, mas, antes de deixar se afastar mais, também me levantei.
— Eu só quero conversar. Será que podemos descer? — Ela demorou um pouco, mas assentiu, e eu a segui até o seu quarto, já no apartamento.
Como nenhum de nós disse alguma coisa, ela foi até o banheiro e lavou o rosto; parecia não se sentir bem e, talvez, a gripe ainda não a tivesse deixado por completo.
Queria conversar e sentia que ela também gostaria de deixar tudo em panos limpos, mas nenhum de nós estava disposto a engatar um assunto mais sério naquele momento. Eu tinha plena consciência de que havia bebido demais para dizer qualquer coisa concreta, e ela parecia entender isso.
foi até o guarda-roupa e tirou uma calça de moletom, junto com duas camisas minhas. Jogou uma para que eu pegasse e voltou ao banheiro. Enquanto apenas olhava para a camisa, ouvi o chuveiro sendo ligado e ela cantarolar alguma música que eu não conhecia.
Depois de uns quinze minutos, ela voltou ao quarto, já com o moletom, minha camisa e o cabelo preso no alto da cabeça.
— Ainda tenho algumas outras roupas que você deixou... Pode tomar um banho, se quiser! — ela disse, passou direto para a cama e deitou-se.
Fiz o que ela sugeriu e tomei um banho bem quente, troquei de roupa e sentei-me de volta à beira da cama em que eu estava a pouco.
me olhava, e eu só conseguia ver que ela estava prestes a chorar de novo, mas, antes que eu deixasse isso acontecer, deitei-me ao seu lado, deixando que ela apoiasse a cabeça em meu tórax.
Passei a mão por seu cabelo, agora, solto, e senti a mão dela brincando com a minha barba por fazer.
— Por que você disse aquilo, de sentir minha falta? — Tentei acalmá-la. — Eu estou aqui, com você, não estou?
— Sejamos honestos, . Você só está aqui porque está bêbado! Eu sei muito bem que você ainda está com raiva de mim porque estou indo embora…
— Eu não estou mais com raiva, juro para você.
— E toda aquela história de ”talvez eu me acerte com a Penny"? Aquilo era só para você fazer com que eu me sentisse mais usada ainda?
— Usada? , eu nunca achei isso de você!
— Não é o que as pessoas estão dizendo de mim por aí... — Ela acabou se encolhendo ainda mais. — Eu odeio ter a minha privacidade invadida, você sabe disso e, ainda mais, dizendo coisas como "ex-namorada de foi vista com não-sei-quem!". Eu estava com o Matthew, por Deus!
— Por quê? — Ela não entendeu, por isso, afastou-se um pouco para me olhar. — Por que você estava com ele?
— Ele é meu amigo. Nós estávamos resolvendo uns assuntos. Ninguém tem nada a ver com isso.
— Bem, eu tenho!
Agora, ela parecia estar furiosa.
, foi você mesmo quem terminou as coisas entre a gente e voltou com a filha da puta da Penny!
— E você não perdeu tempo de cair nos braços do seu precioso Matthew, não é mesmo?
— Você consegue ouvir o quão babaca está sendo? Eu não caí nos braços de ninguém.
— Até parece que ele não estava ali, ao lado, quando nós terminamos... — Bufei de raiva ao me lembrar de ver as fotos deles abraçados e caminhando alegremente pela cidade. Levantei-me da cama e calcei meus sapatos. — Claramente, foi um erro vir aqui e achar que alguma coisa havia mudado.
— Claramente! — ela repetiu, também se levantando e cruzando os braços, como se estivesse se protegendo de alguma coisa. — Eu não vou me sentir culpada, porque você se sentiu ofendido ao me ver com o meu amigo! Porque é isto o que ele é: meu amigo!
Não deixei de notar seu olhar em mim, até que eu deixasse o quarto. Ela continuou lá, e eu subi até a festa para achar Brad.
Ele estava num papo acalorado com Joe, Ashley, a loira de antes e uma outra mulher. Todos ficaram me olhando quando me aproximei e o puxei até um canto.
— O que foi agora? — meu amigo quis saber.
— Vamos embora. — Quando me preparei para sair dali, ele me puxou. — Estou falando sério. Vamos embora.
— Achei que você tinha descido para se acertar com a .
— Por quê?
— Ah... — Ele meneou a cabeça, como se a resposta fosse óbvia. — Porque foi para isso que viemos aqui...? — Ele respondeu, mas parecia tão incerto que soou como uma pergunta.
— Se você não se lembra, eu e a Penny voltamos a namorar, assim como a também já seguiu em frente. — Brad me olhou com surpresa e um pouco de pena, mas não o deixei dizer nada, pois logo completei: — Você vai comigo?
— Cara, eu acho que você deveria descer e conversar com a .
— Brad... — Não sabia como mudar de assunto. Acho que, a qualquer momento, quem choraria seria eu, mas não na frente dos outros. — Podemos, por favor, ir embora daqui?
Enfim, ele concordou e, não muito depois, deixamos a festa com um leve aceno de despedida para Joe e Ashley.
Naquele mesmo dia, depois de chegar em casa e tomar outro banho, saí com a Penny. Estávamos numa boate quando uns fãs dela pediram para que tirássemos uma foto juntos. Eu sabia que, logo menos, a foto estaria em vários sites e também sabia que a veria, por isso, ardendo de ódio, fiquei o mais próximo que consegui da Penny, passando meus braços ao redor da cintura dela.
Esperava que a ficasse com tanta raiva que me procurasse e brigasse comigo, me batesse… Qualquer coisa que a fizesse sair do seu apartamento e vir me encontrar. Talvez o ódio que eu dizia estar sentido fosse apenas saudade, mas, com a quantidade de bebida que ingeri, não confiaria em tudo que pensava ou falava.

Na manhã seguinte, acordei com um barulho estridente. Não sabia o que era, mas ouvi alguém resmungar ao meu lado. Permaneci imóvel e com os olhos fechados, lembrando-me de quem me acompanhava. Torci para Penny se levantar e ir embora, mas ela entrou no banheiro.
O barulho voltou a soar no quarto, e vi que se tratava do meu celular. Levantei-me, assim que escutei o barulho do chuveiro, e peguei o aparelho. Deixei o quarto à surdina e fui conferir as notificações — era a décima sétima ligação da Amélie, e já passavam das onze da manhã. Quando o telefone tocou de novo, eu o atendi:
Eu achei que você tinha voltado e acertado as coisas com a ! — A voz de Amélie saía alta e forte, como se estivesse gritando, do outro lado da linha. Também não se deu ao trabalho de esperar pela minha resposta: — Você me disse que não voltaria com a Penny. Que porra de fotos são aquelas? E que horas a Penny decidiu que deveria voar até NYC para encontrar com o namorado numa boate?
— Eu não sabia que ela viria até aqui! — justifiquei-me, lembrando-me de que Penny estava de férias a poucas horas de viagem de Nova York. — Nós só saímos para dançar.
É isso o que você diz? , as coisas saíram do meu controle na noite passada! Não foram os meus contatos que postaram as fotos! Foram pessoas aleatórias que acharam conveniente postar e comentar as mil e uma fotos e vídeos de vocês dois bêbados, agarrando-se no meio da porra da rua!
— Você vai pensar em algo até o final do dia! Diga que voltamos, e tudo ficará certo.
Vocês voltaram? — Havia certo grau de alarme na voz dela, quase uma preocupação.
— Você já tem mil e uma fotos nossas de ontem! — enfatizei as palavras que ela mesma havia usado a pouco. — Se nós voltamos, qual é o problema de termos nos agarrado? Não é como se eu ainda estivesse namorando a … Nossos cinco meses acabaram!
Você quer mesmo isso? Desta vez, eu não vou cobrir as falhas de vocês, ! Eu já me cansei disso!
— Amélie, eu e a Penny já somos adultos e conseguimos aguentar a pressão. — Ela não queria admitir, mas cuidava da Penny como se ela ainda fosse uma criança e odiava quando os outros jogavam isso na sua cara. — Pelo menos, desta vez, nós podemos ter um relacionamento, sem que você queira tomar todas as decisões, até porque estou namorando sua filha, não você! — Com isso, desliguei, sem esperar uma resposta.
Talvez, depois dessa, a Amélie fosse me deixar de lado, de uma vez por todas! Ainda pensei em retornar a ligação e acabar o nosso contrato de trabalho, mas seria uma decisão impensada, e eu teria muitos prejuízos, no final das contas.
Dias depois da festa de despedida da , toda a discussão com Amélie por causa do meu mais novo relacionamento, resolvi que ficaria em casa, recebendo visitas rápidas de Brad e da Penny. Respondi alguns e-mails de contratos, mas nenhuma palavra vinda direta da minha assessora, o que não costumava ser normal, já que, antes de tudo, tínhamos uma amizade por fora dos trabalhos.
Logo cedo, numa manhã de segunda-feira, fui acordado com o toque ininterrupto do meu celular e estranhei, mas, assim que atendi, era Amélie, dizendo que eu era esperado, urgentemente, no escritório para tratar de um contrato. Achei que ela estava se despedindo, o que já era um susto, mas quando cheguei lá, eu havia sido selecionado para o papel de um vilão na nova temporada de uma série que era conhecida mundialmente e, como Amélie sabia que eu gostaria da oportunidade, acabou fechando contrato com eles, sem, nem ao menos, falar comigo.
Tentando me concentrar na leitura do contrato, mas prestando atenção na conversa que Amélie tinha com os produtores da série, eu a ouvi me elogiando e dizendo que estava honrada de eles terem acreditado na sua palavra, e em como eles não se arrependeriam de ter me escolhido, sem nem, ao menos, eu ter feito uma audição. Não demoramos muito até assinar os papéis e trocar um famoso aperto de mãos.
Recebi, ainda naquele dia, o material que precisaria decorar e aprender sobre a série. Nada mais era do que o script, as passagens, o endereço do hotel e alguns outros nomes que estavam no elenco. Deveria estudar as falas e trejeitos do Dennis, meu novo personagem, mas estava um pouco preocupado, já que nunca havia interpretado um vilão. Eu não tinha cara de mal e, muito menos, me achava um, mas gostei da diferença e sabia que seria uma experiência e tanto.
Por isso, continuei não saindo de casa, até que as filmagens da nova temporada da série começassem. Ainda era segredo, mas, em menos de uma semana, começaríamos as filmagens do primeiro episódio em que eu apareceria, e a produção correria contra o tempo para começar uma divulgação pesada do novo personagem e do trailer.
Supernatural era uma série que tratava de anjos, demônios, o próprio Deus e Lúcifer. Só o nome já tinha seu peso, mas interpretar o filho de um personagem querido do público seria ainda mais desafiador. Ter como pai ninguém menos que o Rei do Inferno, com a atuação impecável do Mark A. Sheppard, era, no mínimo, um privilégio, então tratei de assistir ao máximo de episódios em que Crowley aparecia e capturei alguns movimentos que seriam herdados de pai para filho, mesmo que os dois não tenham convivido.
Um dos plot twists dessa nova temporada seria a rivalidade entre o Crowley e o Dennis, uma vez que ele não sabia da existência do filho e, por consequência, não sabia que estavam atrás dele.
Dennis entraria na série como um novo caçador, um conhecido de Bobby, que entraria em contato com os Winchester's, pedindo ajuda para solucionar um caso. Num primeiro momento, o Dennis não era um personagem fixo, dependeria muito da aceitação dele diante do público, mas estava confiante de que todo fã da história gostaria de ter um pouco mais de Bobby e Crowley, principalmente, porque o finado caçador havia ajudado e ensinado muitas coisas ao Dennis, mesmo guardando o segredo sobre seu pai.
Seria um baque e tanto a aparição do novo personagem, uma vez que Dean, Sam e Crowley desenvolveram uma certa amizade e, mesmo Dennis sabendo disso, não imaginaria que o próprio pai o ajudaria, por isso, como caçador bem treinado e com a raiva pelo abandono, queria acabar com Crowley a todo custo, mesmo que precisasse se envolver numa briga com os Winchester's.
Toda a reviravolta em torno da paternidade e briga dos dois duraria uns quatro episódios dispersos durante a temporada e, por isso, eu precisava ficar quase um mês e meio em Vancouver, ou mais, caso Dennis convencesse o público e entrasse para a série no lugar do pai.

Estava arrumando as malas quando recebi um novo endereço de hotel. A série seria gravada no Canadá, mais precisamente em Vancouver, e eu esperava muito que não me encontrasse com a em nenhum canto.
Quando cheguei ao país vizinho, fiquei muito mais tempo no hotel que perambulando pelas ruas. No primeiro dia de gravação, eu era arremessado por um demônio e acabei batendo as costas de verdade, mas não comentei nada, para o bom andamento da cena. Era um trabalho bem mais pesado estar numa série que envolvia muitos efeitos especiais, criaturas bem maiores e mais fortes, cenas de luta... Eram coisas das quais eu não estava acostumado, mas gostando muito de experimentar.
Ainda não tinha gravado nada com Jensen, Jared, Misha ou Mark, mas havíamos sido apresentados nos corredores, e minha admiração cresceu ainda mais ao notar que eles eram pessoas tão engraçadas e fáceis de se conviver.
Quando chegamos ao terceiro dia de gravação, finalmente, nos encontraríamos em cena. Dean, Sam, Castiel e Dennis se encontrariam na casa de Bobby e, como todos sentiam falta do caçador, tinham muitas falas nostálgicas, até que eles, enfim, se concentrassem no motivo da visita.
O único problema é que tivemos que gravar umas 15 vezes porque Jensen não conseguia parar de rir das brincadeiras de Mark e Misha — ator que interpretava Castiel —, mesmo que eles, nem ao menos, estivessem na cena e, por causa disso, acabamos ficando até bem tarde no estúdio.
Quando cheguei ao hotel, passavam das duas da manhã, mas, como, no outro dia, eu não gravaria nada e não estava tão cansado como deveria, não queria passar mais uma noite preso no hotel e decidi que achar um pub não seria tão difícil. Porém, ao descer, encontrei outros atores entrando e pedi uma sugestão de aonde poderia ir. Depois da indicação, o gerente fez o grande favor de chamar um táxi e, em poucos minutos, estava a caminho do lugar.
Após um pouco de trânsito, culpa de um acidente com um caminhão, cheguei a um ambiente legal, onde muitos estavam bebendo, e outros disputavam a vez nas mesas de bilhar. Sentei-me no balcão, e logo uma garrafa de cerveja foi colocada à minha frente.
Muitos dos que estavam sentados no balcão assistiam a um jogo de hockey, tradicional no país, e estavam entusiasmados demais, vibrando a cada ponto marcado.
Reconheci um dos rostos e não consegui deixar de olhar, até que ele também me reconheceu e veio até mim.
— Vejo que já está em solo canadense! — Matthew estava, claramente, bêbado. — Aposto que gostou da notícia!
— Que notícia?
Ele sorriu e sentou-se ao meu lado, mesmo que eu não o tivesse convidado.
— Você sabia que ela estava morrendo de medo de te ligar? — Ele deu um soco no ar, comemorando, assim que o time dele fez mais um ponto.
Quem estava com medo de me ligar, Matthew?
Sua expressão era de pura incredulidade e, por isso, ele revirou os olhos.
— Não é como se tivéssemos um grupo de amigos em comum, eh... — Sorriu, parecendo orgulhoso da piada feita. — É claro que eu estou falando da !
— E por que ela me ligaria?
— Você não acha que seria por causa do bebê?! — Matthew disse como se fosse a coisa mais óbvia possível.
Que bebê?
Agora, ele estava só bêbado e falando besteira, com certeza.
E, como se estivéssemos num filme, o nome da brilhou no meu telefone, chamando a atenção de nós dois; ainda tocou duas vezes, antes que Matthew xingasse para que eu atendesse logo.
— Oi! — gritei por cima do barulho do bar.
Será que podemos conversar?
— Claro! Agora?
Só se você não estiver ocupado. — Não sei se era por causa do barulho do bar, mas a voz dela parecia abafada, como quem acabou de chorar ou está engolindo o choro.
— Não estou. — Talvez fosse melhor que ela soubesse que eu estava no Canadá. — Inclusive, estou no seu país.
Ah... — Ela suspirou e hesitou por um tempo. — Então podemos nos encontrar?
— Onde você está?
Na casa dos meus pais.
— Chego aí em alguns minutos.
Apesar de apreciar o ambiente do bar, não poderia demorar a encontrar , afinal, estava bem tarde, e eu imaginava que ela estivesse bêbada. Esse seria o único motivo de ela me ligar àquela hora.
Não querendo mais perder tempo, deixei uma nota em cima do balcão e saí apressadamente do estabelecimento, sendo surpreendido pelo clima carregado. O céu estava bem vermelho, deixando claro que a chuva cairia a qualquer minuto, por isso, andei pelo quarteirão, até achar uma loja 24h e, lá de dentro, chamei um táxi para que eu não congelasse do lado de fora. Aproveitei e comprei uma bebida à base de café. Sabia que a conversa que teríamos seria longa e eu não queria parecer tão cansado quando ela me visse depois de algumas semanas.
O horário era estranho, concordo, e pareceu ainda mais chocada quando me viu parado em frente à porta da casa de seus pais, em plena madrugada de quinta para sexta-feira. Ela estava enrolada num edredom branco coberto de rosas e parecia estar bem doente, provavelmente, resultado de todas aquelas chuvas que haviam caído nos últimos dias.
Ela deveria estar com muita raiva, ou mesmo muito doente, porque, assim que me viu, começou a chorar. Nada muito dramático, mas estava com os olhos cheios de lágrimas, e algumas delas caíram pelo seu rosto.
— Oi. — Engoli em seco assim que fechou a porta atrás de si e estávamos parados na entrada da sala dela. — Por que você está chorando?
— Oi. — Ela enxugou o rosto rapidamente e sorriu. — Você quer que eu guarde o seu casaco?
— Ah... — Ela não havia respondido a minha pergunta. — Tudo bem.
Parecíamos aquelas pessoas que vão a um encontro arranjado. Eu estava receoso, e parecia que não me conhecia, ou havia sido tomada pela vergonha.
Depois de levar vários minutos apenas para colocar meu casaco no armário, ela sorriu e me chamou para a cozinha.
Ainda em silêncio, me ofereceu café, aceitei, e ela começou a preparar a bebida quente. Andou de um lado ao outro no cômodo, antes de chegar perto do fogão, deixou o cobertor na sala e voltou aos afazeres.
Enquanto esperávamos que a água fervesse, ela sentou-se ao meu lado, no banco do balcão da cozinha, e ficou brincando com os dedos.
— Você vai me dizer o que está acontecendo, ou...? — Eu não conseguia tirar os olhos dela.
Depois do choro estranho quando me viu, ela não parava de sorrir.
— Como você está? Fiquei sabendo que você conseguiu um papel novo.
— Como ficou sabendo? — Eu só tinha falado aos meus pais e ao Brad.
— Você esqueceu que eu trabalho com a Amélie, não é? — Ela deu de ombros. — Tivemos uma conversa, no início da semana passada, no coquetel de inauguração da filial daqui.
— Eu não sabia que vocês conversavam sobre mim. — Eu não sabia nem que elas ainda se falavam pessoalmente.
— Bem, eu não falei. A Amélie tocou no assunto, e eu perguntei como você estava. — Ela levantou-se e foi verificar a água. — Ela parece ser outra pessoa, agora... Parece bem mais a mulher que eu conheci antes de toda essa bagunça.
— Entendi.
— Você ainda toma café com adoçante? — mudou, repentinamente, de assunto. Concordei com a cabeça, mas logo fui pego de surpresa: — Conte-me mais sobre o seu relacionamento com a Penny, pode ser?
— Por que você quer saber disso?
— Porque eu acredito que nós podemos ter uma amizade, apesar do que aconteceu entre a gente.
— Achei que você não queria nem olhar na minha cara, depois da sua festa de despedida.
— Eu não queria! — Ela sorriu e colocou a xícara com café à minha frente. — Mas as circunstâncias mudaram, e eu quero tentar essa amizade.
— O que mudou?
— Você não respondeu a minha pergunta.
— Nem você a minha.
— Qual é, ?! Conte-me como está o namoro de vocês.
— Eu preciso mesmo? — Tomei um gole do café, e repetiu o ato. — Nós estamos bem, mesmo que ela ainda more na Califórnia e eu more do outro lado do país, ou aqui em Vancouver.
— Uau! — Ela sorriu, quase gargalhando. — Comigo você faz o maior drama, mas, quanto à Penny, você aceita numa boa? Assim é sacanagem! Mas fico feliz em saber que está tudo bem.
— E você, como estão as coisas?
me contou que, desde que voltou ao Canadá, quase não tinha tempo para mais nada, além do trabalho, e que estava usando as folgas para, de fato, descansar e procurar por um apartamento, já que a casa dos pais ficava do outro lado da cidade e precisava dirigir todos os dias.
Não queria admitir, mas estava feliz e orgulhoso dela. sabia o que queria e havia conseguido chegar ao auge da sua carreira com tão pouca idade. Não queria admitir, mas sabia que as minhas atitudes quanto à sua mudança haviam sido de um adolescente, mesmo que eu fosse uns bons anos mais velho que ela e, até nisso, ela era melhor que eu.
Ainda conversamos mais um pouco sobre o trabalho dela e, enfim, me metralhou com perguntas sobre Supernatural:
— Não me leve a mal e nem fique achando que sou fofoqueira, mas a Amélie me contou que você vai interpretar alguém relacionado com o Crowley, só que eu não estava prestando muita atenção ao que ela disse.
— Ela contou o que eu estava fazendo? — concordou com a cabeça, parecendo intrigada. — No contrato que assinei, eu não deveria contar a ninguém, então achei estranho que ela tenha dito alguma coisa.
— Mas, então, você vai contar ou não?
— Eu não posso, babe. Desculpa. — Como se ainda fosse algo comum, beijei sua têmpora e me levantei para lavar a pouca louça que havíamos usado.
pareceu ficar sem reação, mas logo estava ao meu lado, dizendo que estava tudo bem e que me acompanharia na nova série, já que era uma das favoritas dela.
Quando voltamos a nos sentar foi que me lembrei do real motivo de estar ali. Ela havia me ligado para conversar, mas eu duvidava muito que a queria saber como eu e a Penny estávamos apenas por saber.
Ela ainda estava sorrindo e fazendo piadas sobre os assuntos banais que conversávamos, mas nada parecia ser o assunto principal.
Quando olhei o relógio e vi que as quatro da manhã já se aproximava, disse que, enquanto eu estivesse na cidade, poderíamos nos encontrar para não “deixar a amizade morrer”, termo que ela mesma usou.
Ainda quis perguntar o porquê de ela ter chorado quando cheguei, mas fiquei bem mais aliviado em voltar ao hotel com ela sorrindo que com a imagem dela em lágrimas.
Enquanto esperávamos pelo meu táxi, depois de ter negado que ela fosse me deixar, sugeriu que estava saindo com alguém.
Foi um acréscimo bem rápido, quase como se ela estivesse se descuidado e deixado a informação escapar. Despedi-me, achando que ela e Matthew haviam voltado, mas lembrei-me da loira agarrada nele quando ainda estávamos em NYC e deixei aquela memória me tranquilizar.
Estava longe de admitir, mas, só de pensar em com outra pessoa, eu sentia ciúme. Não queria que ela tivesse alguém que não fosse eu, mas sabia, também, que seria egoísmo meu, já que estava namorando a Penny.
Deixei a casa de e, em pouco tempo, estava deitado na minha cama no hotel. Senti vontade de voltar para casa, passar uns dias no hotel dos meus pais e relaxar na beira da cachoeira, mas, ao invés disso, virava de um lado ao outro na cama.
Depois de um tempo sem conseguir dormir, lembrei-me da última vez em que estive no Canadá. Era ano novo, uns meses atrás, e presenciei — e fui cúmplice — o pedido de namoro/noivado de Joe e Ashley. Sorri ao me lembrar da expressão de naquela noite. Ela estava tão feliz que não conseguia ficar calada.
Lembrei-me de vários momentos que havíamos compartilhado, das coisas que ela havia me ensinado, das receitas que ela insistia em me ajudar, do Bubbles... Por mais falso que fosse o nosso relacionamento, os nossos momentos eram reais, as risadas e gargalhadas eram reais.
Notei o quanto havíamos mudado, crescido e melhorado. Um influenciava o outro para continuar a melhorar, e aquilo foi me tranquilizando. Peguei no sono ao entender o porquê ela gostaria de cultivar uma amizade. Nós éramos bons um para o outro.

No dia seguinte, Brad faria o favor de trazer o Bubbles, e aquilo me deixou esperançoso, porque teria uma oportunidade a mais de ver a , mas, enquanto ele não chegava, eu passava a maior parte do tempo no hotel, ou ensaiando minhas falas, ou na academia. Tudo porque outra coisa que foi bastante requisitada era que eu mantivesse meu peso, mas que definisse alguns músculos, já que o Dennis era um caçador muito bem de saúde, se não fosse um adepto de whisky e, vez ou outra, de cigarros.
Para mim, aquilo foi bem ruim, pois eu não fumava e nem gostava de tal hábito, mas a produção tinha uns modelos de cigarro que só soltava a fumaça. Não sabia explicar, mas, toda vez que precisava dar uma tragada em cena, sentia o gosto de bala de menta ou hortelã.
Naquele final de tarde, quando estava a caminho do estúdio, recebi uma ligação de um número desconhecido; fiquei receoso em atender, mas era apenas Mark, que interpretava meu pai, dizendo que, hoje, teríamos uma boa cena juntos, com bastante conversa pesada e até uma briga sendo apartada pelos irmãos Winchester.
Animei-me ainda mais, pois ainda não havia gravado nenhuma cena exclusiva com Mark, mas sabia que ele era um excelente ator e, às vezes, improvisava, e o resultado ficava melhor que o original.
Como de costume, ficávamos com nossos telefones em cena, geralmente, dentro dos bolsos, ou, então, escondido entre a decoração. Na cena em questão, precisaria usar para atender uma ligação de Dean, mas, pouco antes de entrar no cenário, recebi uma mensagem da Penny, dizendo que estaria no último voo daquele dia para o Canadá.
Não que eu não a quisesse aqui, mas queria usar aquele tempo fora dos Estados Unidos para acertar as coisas com a e, como eu bem sabia, elas duas não se suportavam, por isso, não me aproximaria da enquanto a Penny estivesse em solo canadense.
Fui distraído quando me chamaram para a cena e, então, precisei deixar meu celular de lado e me concentrei no que deveria fazer.
Estávamos sentados, Jared e eu, sérios e ariscos a todos os sons de carros que passavam na estrada ao lado do quarto de motel. Jensen entraria em alguns segundos, um tanto quanto relaxado devido a situação, e logo Misha surgiria num piscar de olhos. Nossas falas correram normalmente, até o momento em que Mark entrou, e seu celular berrou pelos alto-falantes: ’I want to break free’. E, então, todos nós começamos a rir, acabando, totalmente, com a seriedade que a cena exigia.
Precisamos de alguns minutos para retomar as filmagens e Mark entrar normalmente na cena. Dennis, eu, bufei e revirei os olhos, enquanto Crowley resmungava, incomodado com o meu personagem naquela reunião:
” — Se vocês acham que este pirralho deveria estar presente aqui, são vocês quem sabem, mas ele era cria do Bob, e eu nunca confiei naquele filho da mãe!
— Olha aqui, seu demônio de mer... — Dean o interrompeu, posicionando-se entre os dois homens.
— Meu nome é Crowley, Rei do Inferno. Talvez você tenha ouvido falar de mim… — Crowley zombou do caçador e sentou-se ao lado de Sammy.
— Ouvi várias coisas sobre você… — Dennis sussurrou e, aparentemente, só Crowley e Castiel pareceram ouvir.”

Gravamos não só aquela cena, como algumas outras naquele dia, e voltei ao hotel só depois de passar no aeroporto para buscar Penny. Afinal, ela tinha mesmo voado até o Canadá para ficarmos juntos naquele final de semana.

Faz poucos minutos que eu havia saído do banho e minha bela “nova” namorada estava só com lingerie no quarto, olhando para dentro da sua mala.
Não podia negar que Penny era uma mulher linda! O cabelo loiro, ondulado e a pele um pouco queimada das praias que ela gostava de frequentar deixavam a aparência dela sempre deslumbrante.
E isso, com certeza, deixava qualquer homem hipnotizado, mesmo que por alguns minutos.
Então, quando chegamos ao hotel, mal entramos no quarto e já estávamos agarrados, trocando beijos que deixariam qualquer pessoa de boca aberta. Transamos com certa urgência, quase como se estivéssemos com saudade, mas, assim que caímos, desgastados, ao lado do outro, me senti meio mal.
Não deveria, pois sabia que nós dois éramos solteiros e desimpedidos para engatar numa relação, mas fiquei receoso com o que pensaria...
Era loucura pensar assim? Provavelmente.
Jantaríamos num restaurante sugerido por Joe. Ele havia me convidado mais cedo, e eu perguntei se não teria problema a Penny se juntar a nós, e ele disse que tudo bem, porque ele sempre era muito cordial, mas sabia que haveria certa tensão. Joe e eram bons amigos.
— Você vai ficar apenas me olhando? Anda! Vá se arrumar! — Penny passou por mim e começou a se maquiar no espelho do banheiro. — Você sabe a qual restaurante iremos?
— Nunca comi lá, mas sei onde fica. É comida oriental.
— Você não gostava de comida oriental — a loira me lembrou.
Até nisso, eu havia mudado.
— Não é meu estilo favorito, mas posso comer, sem problemas. — Dei de ombros e fui me vestir.
A cada minuto que passava, eu sentia que alguma coisa daria errado naquele jantar. Pressentia que, ou haveria confusão, ou algo muito importante e sério aconteceria, e as duas opções me deixavam nervoso.
Chegamos no horário marcado, e o lugar estava bem tranquilo, mas não sem, antes de entrar, enfrentar alguns paparazzis sedentos por uma foto que fosse.
Penny queria posar para cada um deles, mas eu não tinha paciência para aquilo. Não naquela noite. Ela já estava rendendo o suficiente, para mim.
Logo avistei Joe, mas, para a minha infelicidade, vi, em sua companhia, um cabelo loiro preso num “rabo de cavalo”. Ashley Kripke, melhor amiga da , num double-date comigo e com a Penny. Que ótimo!
Quando ela notou a nossa presença, tentou transparecer tranquilidade, mas, agora, haviam três pessoas naquela mesa e que estavam nervosas.
— Ashley, esta é a Penny Dave, filha da Amélie — introduzi porque não sabia mais o que fazer.
— Nós já nos conhecemos, ... — Penny sorriu e, assim como eu, sentou-se.
— Oi, Penny! Como você está? — Kripke foi amigável, mas eu podia ver que a situação era desconfortável.
Elas engataram uma conversa sobre trivialidades, e Joe deu de ombros, como se também não soubesse o que fazer.
O garçom trouxe os cardápios e, por aquele tempo, conversamos mais tranquilos, falando de comida e das recomendações, mas, assim que ele deixou a mesa, voltamos a um silêncio constrangedor.
— Mas, então, Ashley, o que você veio fazer no Canadá? — Penny estava realmente empenhada em fazer aquele jantar fluir, e fiquei agradecido que eu não havia sido chamado à conversa.
— Vim visitar uma amiga e aproveitei para jantar com o Joe e o . — Ash engoliu em seco. — E reencontrá-la, claro.
— Alguém que eu conheça? — Penny quis saber, mas logo as nossas bebidas e entradas chegaram.
Eu respirei pesadamente. É lógico que Penny conhecia , mas isso não quer dizer que ela sabia que as duas eram amigas. Ashley olhou para Joe, depois, para mim e, então, para Penny.
— Não acho que vocês se conhecem. — Deu de ombros e bebericou o vinho.
Joe, sendo a pessoa de bom coração que tinha, limpou a garganta para chamar a nossa atenção e quis saber no que Penny trabalhava no momento.
Ela logo começou a explicar tudo o que andava fazendo profissionalmente. Sua carreira de modelo havia virado uma segunda profissão, já que ela gostou de seguir os passos da mãe.
Depois, quiseram saber da série que eu estava gravando. Pudemos respirar, aliviados, até pouco antes da sobremesa quando Ashley recebeu uma ligação. Ela olhou atentamente para a tela do celular, olhou diretamente para mim e pediu licença.
Eu sabia que era , com toda a certeza do mundo, e fiquei curioso para saber o porquê do olhar de preocupação de Ashley.
Penny também pediu licença e foi ao toalete. Joe aproveitou o tempo e pediu desculpa por não ter avisado que Ashley estaria ali.
— Joe, por favor, isso não é sua culpa, muito menos é um problema. — Ele deu um leve sorriso. — Sou eu quem deveria me desculpar por ter trazido um clima pesado ao jantar.
— Não, eu comentei com a Ashley que você poderia vir acompanhado. Ela ficou com raiva por um tempo e foi à casa da , mas quando voltou, disse que vocês dois haviam se acertado e que tentarão uma amizade, para o bem de todos. — Ele brincou com a situação, e agradeci por isso.
As duas voltaram quase ao mesmo tempo, e o término da nossa saída foi até agradável.
Mas, assim que voltamos ao hotel, lá pela meia-noite, Ashley me ligou. Ela queria me encontrar e esclarecer algumas coisas para que conseguisse dormir naquela noite.
Achei estranho, mas disse que poderíamos nos encontrar no bar do hotel e disse para a Penny subir. Mais tarde, eu também iria.
Depois de umas duas cervejas, avistei Ashley. Ela ainda estava com a mesma roupa do jantar, mas o cabelo solto e bagunçado, como se ela tivesse acabado de transar com o Joe.
Ri sozinho com o pensamento, mas quando ela sentou-se ao meu lado, na bancada, estava mais séria que o normal.
— Eu conversei com a , hoje, à tarde. — Não me cumprimentou, nem nada, só despejou a frase, esperando que eu entendesse.
— E...?
— Eu conversei com a , hoje, à tarde, sobre vocês.
— O Joe me disse, Ashley. — Dei de ombros.
Não sabia o porquê ela estava tão séria quanto à minha amizade com a .
— Como você pôde aceitar uma coisa dessas? — Agora, a loira estava indignada. — Ela não precisava passar por isso, !
— Mas ela aceitou numa boa... Inclusive, foi ela quem propôs!
— Você está ficando louco?! Seu chantagista de uma figa!
— Do que você está falando? — Com certeza, os assuntos não eram os mesmos.
— Estou falado de um acordo ridículo e egoísta que você e a Amélie jogaram para cima dela! — Ashley disse um pouco mais alto, mas respirou fundo e continuou num tom mais contido: — Você sabe o quanto o emprego da é importante para ela, sabia que o visto dela venceria e, mesmo assim, a chantageou?
— Ela não deveria ter contado nada disso! — Semicerrei os olhos.
Aquilo era um segredo que ninguém precisava saber, muito menos a Ashley.
— Meu Deus, ! O que tem de errado com você e com aquela mulher?
Não soube responder. Pensando bem, Ashley estava certa. Não foi correto manipular a situação, mas não me arrependia do tempo que passei com a . Mesmo que o início tivesse sido uma bagunça sem fim, tivemos bons momentos juntos, e eu, provavelmente, faria tudo de novo.
A loira revirou os olhos, diante do meu silêncio, levantou-se e me deixou plantado sozinho no bar do hotel.
Queria ligar para , mas sabia que, se eu fizesse isso, Penny teria um colapso nervoso, então decidi que entraria em contato no outro dia quando eu já estivesse mais certo do que dizer.
Estava com raiva, mas não sabia se era porque a havia contado sobre o acordo a Ashley, ou de mim, por ter deixado a Amélie ir tão longe, como se ela estivesse no controle da minha vida.
Deixei aquilo de lado. Não adiantaria de nada procurar soluções e justificativas, de cabeça quente, por isso, encerrei minha noite com um belo banho gelado e uma longa conversa sobre a Califórnia com a Penny.
Ela queria que eu voltasse para lá, talvez, até para o apartamento dela, mas sabia que isso seria precipitado demais, então disse que meu futuro ainda estava incerto por causa da série e do apartamento novo que havia deixado em NYC.

No outro dia, depois de deixar Penny no aeroporto, gravar diversas cenas e iniciar aulas de tiro – que seriam úteis para o Dennis —, liguei para . Por um minuto, achei que ela não me atenderia, mas quando estava prestes a desistir, ouvi sua voz:
Olá, ! — Ela parecia respirar com dificuldade.
— Oi! Como você está?
Para falar a verdade, um pouco ocupada…
— Eu posso ligar mais tarde, se você quiser. — Olhei o relógio em meu pulso, e já passavam das dez da noite, e eu teria gravação às três da manhã.
Ah, eu até tentaria ficar acordada, mas, hoje, o dia foi bem pesado! deu de ombros. — Mas me diga o que você deseja.
— Tem certeza de que não estou atrapalhando?
Não, é que eu passei o dia fazendo mudança. Consegui um apartamento pertinho do escritório! — Lá estava o tom eufórico dela.
Sorri ao me lembrar de como ela ficava quando tinha boas notícias.
— Eu poderia passar aí e te ajudar, o que você acha? — Ela hesitou, mas eu sabia como convencê-la: — Posso levar pizza e um vinho.
Você sabe como iludir uma garota! — Ela brincou, mas tinha um quê a mais na sua afirmação. — Mandarei o endereço por mensagem.
— Vou logo pedir a sua marguerita! — Ouvi sua risada do outro lado da linha e nos despedimos.
Seria uma noite e tanto, podia prever, e eu estaria bem cansado para a gravação daquela madrugada, mas o que eu gostaria de conversar com ela teria que ser pessoalmente e não perderia aquela oportunidade de vê-la.

Não muito depois, lá estava eu, parado em frente ao BC Stamp Works, dentro de um táxi, segurando uma caixa de pizza, uma garrafa de vinho e nervoso demais para sair do carro.
Respirei fundo e desci quando vi em pé, olhando para os lados, provavelmente, me procurando. Quando ela me viu, sorriu, mas logo revirou os olhos e negou, em descrença.
— Não acredito que você trouxe o vinho!
— Eu disse que traria… Você sabe que cai bem com a pizza! — justifiquei-me.
Subimos em seguida. Havia caixas para todos os lados, um sofá e uma torradeira na mesinha da sala.
— Você se mudou hoje?
Ela afirmou com a cabeça, enquanto olhava para dentro de uma caixa, provavelmente, procurando copos.
— Eu já estava de olho nessa varanda desde que começamos a trabalhar. Vi a placa de venda e me arrisquei.
— Bem, parece ser um bom apartamento.
— E é! — Ela voltou ao sofá com um copo e dois pratos. — Tem dois quartos, cozinha, banheiro, sala e, claro, a varanda! — Abrimos a caixa de pizza e ela pegou um pedaço. — Você quer comer lá fora? Tem umas flores lindas e uma mesa bem confortável!
Assenti. Fomos até a varanda, que era cheia de pequenas flores, como havia dito, mas ela não havia mencionado nada sobre um homem, sem camisa, que mexia na janela.
— Ah, , este é o Mark Sloan. Você se lembra dele?
— Não. — É claro que eu me lembrava. Ele era médico e operou a Loren quando ela morreu naquele acidente de carro. — Muito prazer.
— Igualmente. — Ele sorriu e olhou para , que segurava sua pizza e a garrafa do vinho que eu havia trazido.
— Você quer? — Ela ofereceu a minha bebida a ele.
Revirei os olhos e me distanciei, de volta à mesa.
Quando entrou para pegar um copo para Mark, fui atrás dela.
— Que diabos esse homem está fazendo aqui? — tentei falar o mais baixo possível, mas, ainda assim, Mark poderia nos escutar.
— Ele veio me ajudar. — Ela deu de ombros.
— E ele precisava estar sem camisa?
Ela semicerrou os olhos com a minha pergunta e, depois, soltou o ar.
— Achei que nós tínhamos seguido em frente,
— O qu… — O que eu estava fazendo? É óbvio que ela não esperaria por mim! Eu estava com a Penny! Não tinha que cobrar nada da . — Ele é um cara legal?
— Sim. — De um minuto ao outro, parecíamos estranhos. Ela nem olhava na minha direção. — O que você quer conversar?
— Por que você contou a Ashley sobre o acordo que nós fizemos?
— Ela precisava saber de toda a história e, para falar a verdade, eu estava cansada de manter aquilo tudo só para mim. — Ela sentou-se na bancada da cozinha. — Mas não se preocupe, ela não vai dizer nada.
— Tudo bem. — Precisava ir embora dali o mais rápido possível. Estava me sentindo um intruso na vida de quem, há poucas semanas, fazia quase parte da minha família. — Eu vou indo... Falamo-nos outro dia.
— Mas você acabou de chegar,
— Eu tenho gravação em algumas horas. Desculpe-me. — Dei um abraço demorado em e beijei o topo de sua cabeça, antes de descer a escada com a maior raiva do mundo.
Naquele momento, a minha ficha caiu, e estava mais que claro que eu havia me envolvido mais que fisicamente com ela.

Alguns meses depois…

“Vocês não estão enganados! Nós temos provas! e sua ex-namorada, , serão papais!”
Penny jogou o controle da televisão para o outro lado da sala e gritou a plenos pulmões. Não estava nem se importando se receberia mais uma reclamação de barulho.
A modelo estava com tanta raiva que mal conseguia digitar os números do telefone da mãe. Ela queria saber a fundo sobre toda aquela história, e ninguém melhor que Amélia Dave para saber de tudo, mas a mulher não a atenderia pelas próximas duas horas, já que estava num voo até Vancouver justamente para ter uma conversa com sobre a mais nova paternidade.
Talvez aquela notícia, que, agora, exibia uma foto dos dois e da, já aparente, barriga de , explicasse o porquê de ele estar distante há semanas e terminar o namoro deles há poucos dias.

Fim



Nota da autora: (30/09/2017) Não queria ser emotiva, mas eu sou uma chorona e escreverei textão… Primeiro: Quero agradecer a cada um/uma que leu, comentou e recomendou. Sem vocês, Five Months of Love não seria absolutamente nada, sem tirar e nem por. Eu sou absurdamente grata a cada uma de vocês. Jamais imaginei que alguém, além de poucos amigos com quem compartilhei a ideia, gostariam e demonstrariam tanto afeto por algo que saiu da minha cabeça. É coisa de autora se sentir insegura, ou só eu? Eu não tenho palavras para descrever o tamanho da minha gratidão e, mais uma vez, obrigada! Essa história surgiu de uma simples ideia, lá quando ainda lia OFR, criei amizade com a Karol, autora da fic, e conversávamos bastante sobre o tema porque ambas amamos relacionamentos por contrato nas fics. Kah, obrigada pela inspiração… E e espero que tu tenha gostado do que escrevi aqui, porque tudo meio que começou contigo. Segundo: Eloísa eu não sei como te agradecer por todas as ajudas, raivas, correções, ideias, madrugadas e perturbações que te fiz passar. Tu és uma amiga que eu valorizo muito e espero que o sentimento seja recíproco, porque a gente se entende e se ama s2 Terceiro: Renata, assim como a Elo, tu foste a segunda pessoa que eu confidenciei essa história e tens sido uma ajuda imensurável desde o início dessa jornada. Tudo o que conversamos, todas as dicas, as conversas… Nada será esquecido! Amo você, princesa! Quarto: Ray, minha beta maravilhosa, obrigada pela paciência comigo! Tu és foda! Quinto, mas não menos importante (vocês não imaginavam esse final, né?): Sim!!!!!! Nós teremos uma segunda parte de Five Months of Love, que já tem nome e algumas coisas prontas no meu computador! Queria dizer que ela está sendo escrita com ainda mais carinho do que a primeira temporada. Mas quero pedir um bocado de calma nesse momento, porque as coisas estão o dobro de complicadas por aqui, mas já deixo avisado que eu tô sempre escrevendo e encaixando outras partes, me inspirando e bolando ideias mirabolantes para o desenvolver da história. Serão mais quinze capítulos, começando com uma versão do ponto de vista de desse capítulo narrado pelo , mas, antes disso, estou com vários projetos que eu não sei como darei conta de tudo ao mesmo tempo e nem do que virá em seguida, porque é sério, eu não faço ideia do que postar primeiro para vocês! Espero, logo menos, estar de volta, ok?! Por enquanto, vamos manter contato pelo grupo e quem sabe assim decidiremos o que é melhor para todo mundo. Um beijo no coração de cada um/uma. A gratidão é imensa!




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