Capítulo Único
Acordei no susto, desesperada.
A droga do celular não despertou no meu horário. Digo, provavelmente chegou a tocar, porém minha hibernação não me permitiu escutar o som irritante que me tirava do estado sublime de inconsciência.
Eu amo dormir, arrisco dizer que é a única coisa que sei fazer com extrema perfeição.
Tá, não é difícil ser boa numa atividade que se resume a deitar ou se encostar em algo e simplesmente fechar os olhos, eu sei. Talvez seja esse o motivo por trás de eu ser tão boa e amar tanto fazer isso: a praticidade. Não tem ninguém me avaliando quando faço isso, não há um critério de competição com outras pessoas. Não sinto nenhuma cobrança quando estou jogada em minha cama, abraçada num travesseiro de corpo enquanto babo no outro abaixo da minha cabeça.
Sim, levo tanto a sério que comprei um travesseiro para a região abaixo do meu pescoço.
Na verdade, era muito mais que um conforto para minha coluna, também servia de amparo para meu estado emocional. Não era nada fácil estar solteira por tanto tempo, ainda mais quando meu maior costume era dormir agarrada como um bicho preguiça numa árvore no dito cujo. Não sentia falta dele em si, só do corpo dele abaixo do meu durante a noite. Depois de dois anos, não poderia dizer que restaram sentimentos além da indiferença após um término tão complicado.
Mas deixando essa turbulência passada de lado, eu estava tentando passar por outra pior e muito mais torturante.
Afinal de contas, a falta de ter um corpo ao meu lado na cama já tinha sido resolvida e apesar de ter me incomodado um pouco, não era nada que eu e minha habilidade incrível de cair no sono não conseguíamos superar. O meu mais novo problema não me deixava ter a opção de comprar algo para resolvê-lo, eu não podia sequer contar a alguém sem que morresse de vergonha antes.
O que talvez resolveria, já que a questão que me atormentava ultimamente não me deixava dormir direito e quem sabe morta eu não poderia ter um sono digno?
Eterno? Sim, mas digno e duradouro. Era tudo o que eu precisava.
Meu problema tinha nome, sobrenome, olhos verdes e um cargo. Uma droga de cargo!
Era o meu chefe.
E não, não era qualquer chefe, porque meu trabalho não era qualquer trabalho.
Eu simplesmente trabalhava num dos restaurantes mais caros de Londres. E, claro, manter um alto padrão de sabor e ter as melhores avaliações dos críticos mais renomados apenas subia a régua de excelência que era exigida para nós funcionários. Ah, e se tinha uma coisa que sabia fazer, era exigir e se certificar de que nada estivesse fora do lugar. Nenhum prato sairia salgado demais, doce demais, quente demais, frio demais com a cozinha sob o comando dele.
A questão era que, além de um tirano filho da mãe, ele também era um puta de um gostoso.
Tudo bem, poderia ser meu daddy issues me sabotando em minhas relações com os homens à minha volta, até porque , assim como meu pai, parecia muito ser alguém emocionalmente indisponível.
No caso de , fisicamente também. Ele só parecia chegar perto para gritar, mesmo sem muita necessidade aparente, e mesmo a cozinha sendo um ambiente extremamente barulhento e caótico, eu e meus colegas achávamos um exagero. Mas, por amor ao nosso trabalho, nenhum de nós parecia corajoso o suficiente para dar aquele feedback a ele.
Trabalhávamos juntos ali há dois anos, sim, desde a época do meu término turbulento. Acho que até mesmo nisso tinha um certo envolvimento. Vê-lo todos os dias ali tão de perto, mas ao mesmo tempo tão distante, não tinha me ajudado muito a superar tudo o que meu ex me disse em nossa última discussão.
Passar ao lado dele, sentir seu perfume discreto ou descobrir suas tatuagens uma a uma dependendo da camiseta que ele usava tinha sido difícil, era agoniante ver seus olhos intensos e não poder encará-lo por muito tempo sem levar uma bronca por estar parada em meio à correria; ver seu pescoço repleto de veias devido aos seus gritos de ordem e não desejar chupá-lo e enchê-lo de beijos. Como o idiota do Brian tinha me dito quando terminamos, nenhum outro cara iria me querer caso terminássemos. E tratando-se do meu chefe, ele infelizmente estava coberto de razão.
Não somente pelo conjunto da obra e pelo fato de ele mal olhar para mim enquanto corria para lá e para cá pela cozinha, mas também por parecer não ter uma vida amorosa. Aquele rumor tinha sido levantado após Brendon, um dos cozinheiros, ter teorizado que parecia não transar nunca, porque ele sempre aparentava não estar de bom humor. Eu discordava, afinal, tinha entrado num celibato que parecia que duraria uma eternidade e nem por isso era rabugenta feito . Mas apesar de minha experiência tragicamente pessoal, Brandon até que poderia ter razão. nunca faltava no trabalho, entrava primeiro, saía por último, tinha uma relação de anos com o dono do restaurante e parecia se cobrar muito para não desapontá-lo.
Mas aí é que a teoria fazia muito sentido: a única pessoa que parecia ter intimidade com era o Sr. Schwimmer, que, até onde nós sabíamos, o conhecia desde criança. Fora ele, nunca soubemos de ninguém ligado à vida pessoal do nosso chef, ninguém, nem a mãe, se ele tinha um pai, irmãos ou sequer uma namorada. Também pudera, ele vivia dia e noite enfurnado naquele restaurante.
Houveram ocasiões em que foi convidado a nos presentear com sua presença, por mais irônico que isso possa soar vindo dos meus colegas de cozinha. O último convite foi de Erick, o maître, que chamou todos nós para sair para beber e comemorar seu aniversário. Os caras chegaram a fazer uma aposta sobre como seria o comportamento de num ambiente descontraído, já que nunca o vimos fora do restaurante, porém ele frustrou a todos nós quando não apareceu na noite marcada. Ele nunca ia a lugar nenhum.
Jessica e eu tínhamos a impressão de que na verdade ele não gostava de nenhum de nós e devia sentir prazer ao nos comandar daquele jeito mais... impiedoso. Já alguns funcionários que trabalhavam ali há mais tempo não se atreviam a sequer abrir a boca para falar um “a” de e diziam coisas maravilhosas sobre ele. Talvez ele realmente fosse alguém muito sociável, ou pelo menos era com qualquer um menos nós.
Apesar das nossas trocentas teorias sobre e sua vida pessoal, a grande verdade era que não sabíamos de nada. E estava tudo bem para mim não saber, eu estava muito satisfeita em apenas tê-lo diante de mim, sendo delicioso e sem nenhuma interação significativa.
Estava, até ele começar a aparecer em meus sonhos.
E quando digo aparecer, não é tendo-o interagindo comigo de uma forma diferente do que acontecia na realidade, bem que eu queria poder fazer algo com ele pelo menos dentro do meu subconsciente, mas não, o que vinha acontecendo há quase um mês era uma sucessão de sessões de tortura dentro da minha cabeça.
O jeito como chegava em meus sonhos era uma experiência completamente frustrante para mim, porque do mesmo jeito com que ele vinha de repente, chegando pelas portas brancas da cozinha e se direcionava até mim, eu acordava subitamente, sem nunca saber o que tinha a me dizer após andar tão decidido até onde quer que eu estivesse. O trabalho não era o único cenário para sonhos como aqueles, já o tive vindo me encontrar em parques de diversão e até mesmo na escola em que estudei no fim do meu ensino médio. Não importava onde, eu nunca tive sequer o vislumbre de tê-lo me tocando ou falando comigo em nenhum deles.
Sempre acordava puta da vida, com uma sensação péssima de impotência, querendo poder virar para o lado e conseguir retomar o mesmo instante para poder descobrir o que vinha depois, ou simplesmente poder ter uma versão diferente do homem frio e profissional com que trabalhava todos os dias.
— Bom dia, flor do dia. — Jennifer cantarolou atrás de mim, carregando as panelas enormes que usaríamos naquele dia.
Apoiada no balcão de aço central com a mão no queixo, suspirei ajeitando o chapéu branco sobre minha cabeça. Ainda era começo de dia, tínhamos uma tarde caótica e uma noite mil vezes pior pela frente. Ao que parecia, um desembargador famoso iria levar alguns convidados para jantar no La Saveur, as reservas foram feitas com antecedência, nada poderia estar fora do lugar para recebê-los, somente saber que eles iriam nos visitar foi capaz de deixar todos nós de cabelos em pé.
Até porque estaria ainda mais puto da vida, e pior, daquela vez teria um motivo.
— Bom dia pra quem? — Murmurei desanimada, não evitando um bocejo, tão intenso que meus olhos se encheram de lágrimas. Eu realmente queria chorar, mais que isso, queria poder dormir nem que fosse por apenas dez minutinhos.
— Não dormiu de novo? — Jess veio atrás, também trazendo as panelas brilhantes, recém-ariadas.
— Não. — Choraminguei, levando as mãos ao rosto. — São esses malditos sonhos, eu não aguento mais...
— Continua sem conseguir dar pro cara? — Kevin encostou-se na bancada paralela. O encarei feio por cima do ombro. Acho que aquela já era uma boa resposta.
Se eu tivesse sonhado transando com , eu com certeza não estaria com aquela cara péssima. Muito pelo contrário, estaria sorrindo à toa.
— Não, Kev, eu acordei de novo antes de sequer chegar perto dele.
— Sabe que isso é psicológico, né? — Lá vinha Jennifer, com seus estudos na área de psicologia parados em 2015, quando ela achou que queria ser psicóloga antes de mudar de ideia e largar a faculdade para fazer algo relacionado à gastronomia.
Parecia a Barbie profissões, eu ansiava para saber qual seria sua próxima ocupação dos sonhos.
— Só se for uma resposta traumática dela para evitar ouvir os gritos dele enquanto dorme. — Não consegui segurar o risinho que me escapou com a palhaçada dele.
— É sério, Freud explica. — A encarei de sobrancelha arqueada.
Sabia quem era Freud, óbvio, só não sabia ao certo sobre o que ele teorizava. E com a suspeita de ele ter algo a ver com os sonhos que vinham me infernizando, sinceramente tinha medo de descobrir.
— Ele fala algo sobre desejos recalcados, que nada mais são que desejos que ficam no nosso subconsciente, coisas que temos vergonha de falar em voz alta ou que não queremos que os outros saibam. — Franzi a testa. Infelizmente eu falhei miseravelmente naquela coisa de manter segredos dos meus colegas.
Não era uma grande novidade no trabalho o quanto eu babava em , todo mundo sabia, mas eu não me preocupava com o risco de aquilo chegar até ele porque aparentemente nenhum de nós tinha abertura para conversar com nada além do necessário. Eu já tinha virado motivo de chacota, não somente por ser algo como uma paixão platônica impossível, mas também por eu ainda conseguir ter tesão naquele brutamontes rude.
— E aí entramos na teoria que ele tem chamada “Teoria dos sonhos”, que é o seu caso minha cara, . — Enlaçou meu pescoço com o braço, apoiando-se em mim. — Você sonha com o , mas reprime o desejo de dar pra ele porque sua consciência sabe que é impossível, mas seu subconsciente não sabe, por isso cria situações propícias em sonhos para que você tenha a chance de realizar suas fantasias.
— Mas eu nem ao menos tenho tempo de falar com ele! Como meu subconsciente sabe que quero transar com ele? — Quase choraminguei. Para mim, não fazia sentido algum.
— Amiga, você tem que entender que Freud era um puta de um tarado, via sexo em tudo. — Kevin riu sacana, certamente se identificou com o velho. — E também é o , né? Para você ele é o sexo em pessoa, mesmo que você não admita isso, está aqui, dentro da sua cabeça. — Cutucou minha têmpora com a ponta do dedo. — Desejo recalcado, lembra? E é por isso que você acorda sempre que ele chega perto de falar com você, sua moral relaciona ele a sexo e censura, fazendo você acordar.
Então quer dizer que meu próprio subconsciente estava me negando uma experiência erótica com o homem mais gostoso desse planeta? Porque ele me odiava tanto?
— Porra, nem em sonho eu vou conseguir dar pra esse homem? — Brandei, visivelmente indignada. — Como faço para driblar minha moral?
— Bom, acho que se você deixar de pensar que transar com o seu chefe é errado, ela para de ser uma estraga prazeres. Literalmente. — Prendeu o riso, arrancando risadas de Jessica e Kevin.
Me juntei a eles rindo da minha própria desgraça, afinal de contas, eu achava impossível que algum dia mudaria meu conceito de certo ou errado quando o assunto eram posições hierárquicas. Mesmo que minha imaginação pudesse facilmente projetar eu e em centenas de outros tipos de posições, ainda não me parecia certo ou possível. Principalmente quando meu chefe sempre deixava bem claro que nossa relação era estritamente profissional e nada mais do que isso.
— O que está acontecendo aqui? — Dei um pulo de susto ao ver o objeto dos meus desejos mais recalcados da vida parado na porta, alternando seus olhos frios e intimidantes em cada um de nós.
Desejei estar num dos meus sonhos, quem sabe assim ele não desapareceria? Ou talvez não houvesse a mínima possibilidade de ele ter ouvido uma frase sequer do que foi dito ali antes de percebermos sua presença.
— Temos muito trabalho a fazer hoje, não se esqueçam que o Sr. Johnson fez reservas para esta noite. — E ele nos deixou esquecer? Falando, ou melhor, berrando a semana inteira em nossos ouvidos? — Quero tudo impecável, andem, ao trabalho!
Brandon se juntou a Kevin e Jessica no transporte do restante das panelas, facas e utensílios da área de higienização de louças para os fogões. Já eu e Jennifer tivemos um pequeno delay em relação aos demais, tentando ler na expressão dele se havia algo que comprovasse que ele ouviu ou não meus planos frustrados de dar para ele.
Mas não havia nada além da ruga que se formava entre suas sobrancelhas na expressão dura que sempre carregava por aí.
Achei melhor que também saíssemos da frente dele e acabamos por ir parar na dispensa, para pesar os ingredientes que usaríamos mais tarde.
Tremendo igual vara verde, soltei o braço da loira. Jenny estava pálida feito papel enquanto eu levava a mão ao peito sentindo o coração bater frenético.
— S-Será que ele ouviu? — Encostei-me na parede ao lado da porta, tentando me recuperar.
— Acho que...
— Srta. Pattinson e ? — Esbugalhei tanto os olhos, que foi um milagre eles não terem saído rolando por aí.
Tropecei saindo de onde estava e me juntei à minha amiga diante de .
— Apenas um toque nas duas, tomem cuidado com o que conversam com seus colegas em meio ao expediente. — Minha alma deixou o corpo e acho que não voltaria tão cedo. — Este é um ambiente de trabalho, portanto, alguns assuntos não são... apropriados. — Sua voz estava suave, quase irreconhecível. Arrisco dizer que nunca a ouvi soando tão amena como daquela vez.
Não poderia descrever sua expressão facial, já que, numa tentativa falha de me autopreservar, escolhi manter meus olhos no chão ao invés de em seu rosto.
— Tudo bem, Chef . Perdão, não vai mais se repetir.
— Assim espero. — Saiu com a mesma rapidez e discrição com que entrou.
Pelo menos ele tinha esperado nos pegar a sós para dar aquela bronca, e não feito na frente dos outros. O que não era muito eficaz, porque eles saberiam de qualquer jeito. Contávamos tudo um para o outro ali, inclusive coisas que não tinham a ver com o trabalho, como na vez que Kev broxou com a última namorada que teve.
— Meu Deus! — Sussurrei com medo de que ele ainda estivesse por perto. — Que vergonha, meu Deus! — Levei a mão à boca sentindo meu rosto em brasa, queimando de vergonha.
Não era nem pela bronca em si, não, com aquilo já estávamos acostumados. Era por agora saber da minha vontade de dar para ele!
— Está vendo? Ficou todo estressadinho nos ouvindo colocar ele e sexo na mesma frase... Brandon tem razão, não deve saber o que é isso há anos para ser tão mal-humorado assim.
— Cale a boca! — Praguejei baixinho ao contrário dela. Olhei para a porta à espera de mais uma entrada triunfal dele, e daquela vez eu supunha que iria nos demitir.
Empurrei para Jeniffer um saco de batatas enorme e fui xingada por cada uma delas que eram descascadas na base do ódio. Ela odiava fazer aquilo, porém muito mais que um castigo meu, aquele foi um jeito que encontrei de fazê-la me esculhambar ao invés de corrermos o risco de tê-la falando mal de e ele escutar e nos mandar para o olho da rua.
***
O dia que se passou arrastando diante dos meus olhos, não poderia ter sido pior. Com o passar das horas, meu sono aumentava, fazendo-me andar para lá e para cá, parecendo um zumbi. Mas tudo aquilo foi apenas um prelúdio da desgraça que viria perto do anoitecer.
A tensão era sentida no ar, misturava-se com o cheiro dos pratos preparados durante o horário de almoço, quando era de praxe que a correria se intensificasse. estava visivelmente nervoso demais, queria impressionar o tal desembargador mais do que qualquer outro cliente.
Infelizmente já tinha ficado claro para mim que aquele definitivamente não era o meu dia de sorte. Foi decidido entre nós que dividiríamos as tarefas de um jeito diferenciado naquela noite devido à importância da reserva feita. Como eu já era habituada com sobremesas, acabei pegando essa parte para cuidar pessoalmente, para que tudo saísse como o planejado.
O tal desembargador tinha reservado um jantar conosco para receber colegas vindos do Brasil, aparentemente também deixou claro o cunho profissional do encontro, que seria muito mais formal que uma simples refeição em grupo, e sim uma reunião de suma importância para os negócios que regia. Saber que estava nas nossas mãos fazer todo aquele amontoado de palavras difíceis dar certo me dava dor de barriga, porém lamentavelmente nem o nervosismo foi capaz de me tirar o sono que eu estava desde que tirei uma rápida soneca na minha pausa de almoço mais cedo.
Claro que essa receita toda deu muito errado no fim das contas.
Ele tinha que ter marcado aquele jantar justo aquele dia?
Na hora de finalizar o Crème Brulée maravilhoso que estava preparando no meu canto da cozinha sozinha, aconteceu um pequeno acidente com o maçarico e para evitar de me queimar, quase todas as sobremesas prontinhas para servir foram ao chão. Chorei enquanto tentava limpar aquela bagunça junto de Jessica e Kevin, que me lembraram que não daria mais tempo de servir outro, a menos que eu tivesse mais uma hora para preparar tudo novamente.
Com medo de perder meu emprego, decidi servir outra sobremesa, sabendo que continuava correndo o mesmo risco de ir para a rua do mesmo jeito. Montei os pratos do melhor jeito que pude, sentindo o cheiro maravilhoso da torta de maçã, minha especialidade, e implorando aos céus que aquilo, por um milagre, me salvasse do desemprego. Quando viu os carrinhos deixando a cozinha com uma sobremesa fora do planejamento feito com o cliente, seu olhar furioso se cruzou com o meu no mesmo instante. Eu, que o tinha evitado o dia inteirinho, talvez não escapasse de levar outra bronca dele.
E o pior de tudo era que eu mereci, nas duas vezes.
foi requisitado à mesa e como o chef responsável pela cozinha, ele foi até lá, fazendo-nos trocar olhares tensos porta adentro. Murchei ainda mais minha postura, já prevendo que sobraria para mim mais uma vez. O que me consolava (se é que daria para encontrar algum consolo ali) era saber que eu iria me ferrar sozinha e não levaria nenhum dos meus amigos comigo.
O alívio foi geral quando o restaurante fechou as portas. Como sempre, nós da cozinha fomos os últimos a sair, porém eu ainda teria que colocar as louças sujas na máquina para estarem limpas na manhã seguinte, tínhamos uma escala e aquele era meu dia.
— Deixe isso para amanhã, . — Jeniffer desdenhou, já sem uniforme e com a mochila pendurada no ombro. — Vamos aproveitar a carona do Kevin!
— Não, amiga. Sério, podem ir. — Segurei ao máximo meu bocejo de exaustão. Não queria deixar nada para o dia seguinte, não queria dar repertório para o esculacho do meu desejo recalcado.
— Não me diga que vai pegar o ônibus...
— Não vou, vou chamar um Uber quando acabar, prometo. — Mandei beijos para os dois remanescentes, que caíram fora na hora, deixando-me sozinha ali.
Suspirei, empilhando os pratos e pronta para carregá-los até a máquina do outro lado da cozinha quando de repente ouvi um barulho. Atenta, apoiei a louça caríssima de volta na mesa, preferindo a morte a ter que pagá-las caso as derrubasse no chão. Meu sono até passou de tão tensa que fiquei.
— . — Era para eu ter respirado aliviada ao ver um rosto conhecido ao invés de um ladrão ou algo do tipo.
Mas meu estado de nervos não se alterou nem um pouco.
— Sim, Chef .
— Deixe a louça para amanhã, venha até o escritório. Precisamos ter uma conversa. — Engoli a seco, assentindo e sentindo minhas forças indo embora.
O que diabos eu iria fazer com minhas contas caso fosse mandada embora? Céus, e Bruce? Ficaria sem sua ração premium e voltaria a ser tratado como o vira-lata que sempre foi, mas nunca aceitou que era? E o aluguel? Será que meus pais me aceitariam de volta na casa deles, pelo menos por um tempo?
Se é que eu iria arrumar outro emprego tão cedo, com o ódio que devia estar de mim naquele momento, acho que eu nem teria coragem de pedir uma carta de recomendação.
Nem mesmo a barraquinha de sorvete da praça me contrataria com os xingamentos que ele colocaria nela.
Trêmula, o segui quando me certifiquei de que os pratos estavam seguros de cair e que tinha limpado o suor que de repente me surgiu na testa, de tão próxima de surtar que ele tinha me deixado.
— Com licença. — Murmurei entrando na sala impecavelmente organizada e limpa. já estava em sua costumeira cadeira atrás de sua mesa repleta de papéis. Evitei olhar para eles, sabendo que minha rescisão estava ali no meio. — E então, o que precisava falar comigo?
Não sabia se aquela pose de sonsa era uma boa estratégia, mas estava nervosa demais para pensar em outra coisa.
— Sente-se, por favor. — Indicou a cadeira à minha frente.
Teria um discurso de eliminação, que nem reality show? Fiz o que me foi mandado como sempre, disfarçando o suor de minhas mãos nas calças do meu uniforme branco.
— Queria falar sobre o jantar do Sr. Johnson. — Segurei minha expressão facial para não esboçar a vontade de chorar de raiva de mim mesma. — O que aconteceu hoje? Aquela sobremesa aleatória... Onde foi parar o Crème Brulée que estava estabelecido no menu que o cliente escolheu?
também estava se esforçando, acho que fora da cozinha ele tentava deixar de lado sua face do mal e evitava gritar ou demonstrar que estava bravo. Porém ainda estávamos dentro do restaurante, e ele parecia precisar me dar mais aquela bronca, se não iria literalmente explodir pelos ares como num daqueles filmes paspalhões. Tenho certeza disso.
— Eu preparei o Crème Brulée, digo, um tempo antes da hora de servir a sobremesa eu já tinha todos os ramekins prontos. Mas na hora de usar o maçarico quase me queimei e... Acabei derrubando tudo no chão.
A vontade de sumir apenas aumentava. Desviei os olhos de seu rosto sério para poder contar meu relato de tanta vergonha que fiquei.
Diante do silêncio dele, me forcei a continuar a me explicar mesmo assim. Mas a cada palavra dita eu me arrependia mais de ter recomeçado a falar.
— Como estava em cima da hora, já não teria mais tempo para recomeçar, e eu precisava servir uma sobremesa, então tive que improvisar uma torta de maçã. — Arregalei os olhos quando notei que fiz uma péssima escolha de palavras. — Desculpa, não quis dizer que me senti na liberdade de improvisar um pedido feito pelo próprio cliente, não foi minha intenção...
Suava frio e sentia minha garganta secar cada vez mais.
— Sei o que significa trabalhar aqui, que muitos queriam estar em nossos lugares e que poucos têm essa oportunidade. Não pretendo deixar esse tipo de erro acontecer novamente, eu... — Na beira de uma crise de choro ridícula, respirei fundo, vendo que já estava me embananando diante dele de novo. — Sei que isso não justifica, mas não tenho dormido muito bem e essa privação de sono talvez tenha contribuído para o desastre de hoje. Eu realmente sinto muito.
Eu não poderia ter cometido aquele erro ridículo justo num dia tão importante. Jamais me perdoaria por ter agido feito uma criança na cozinha, aquele era o meu trabalho e eu o levava muito a sério.
Depois de falar tudo em voz alta, longe da compreensão que meus amigos tiveram comigo, só consegui pensar que talvez não poderia querer que me perdoasse pelo meu deslize, se nem eu mesma pude fazê-lo.
— Espera um pouco, isso tem a ver com a conversa de mais cedo na cozinha?
Pisquei rapidamente. Sério que de todo aquele meu monólogo digno de clímax de um filme, só tinha prestado atenção naquele detalhe?
E por que justo aquele detalhe? Ele não poderia só brigar comigo por ser uma desastrada como qualquer chefe normal faria?
— Aquilo foi apenas uma teoria estúpida, minha insônia não tem nada a ver com você. — Ri nervosa, sentindo meu rosto esquentar.
Não parecia tão estúpida quando se sabia de todos os detalhes daquela história, na verdade0 tudo parecia se encaixar muito bem. Mas, claro, não sabia e nem precisava ficar sabendo daquilo.
— Eu sou o único com quem não consegue sonhar? — A ruguinha entre as sobrancelhas em sua expressão confusa me fez suspirar internamente.
Para que queria saber se eu sonhava com outros caras? Ou pior, se eu sonhava transando?
Jessica estava redondamente enganada, talvez gostasse sim de falar de sexo. Só ainda não compreendia porque escolheu justo eu e muito menos aonde ele queria chegar com aquele papinho disfarçado de curiosidade.
— Me desculpe, mas acho que não é um assunto apropriado para ser discutido dentro do ambiente de trabalho. — Quase sorri ao dizer aquelas palavras. riu fraco, assentindo com a cabeça ao perceber o que eu tinha feito.
O observei sorrindo sem sequer piscar, era uma cena tão inédita que merecia uma atenção maior. Além de um raro momento, era também um belíssimo sorriso aberto, adornado por duas covinhas afundando-se em cada lado de sua bochecha que ganhou um tom um pouco avermelhado.
Eu tinha mesmo deixado sem graça?
— Olhe no relógio, , o expediente já acabou faz tempo, e quanto ao seu uniforme... — Deixou no ar, o sorrisinho intacto substituiu suas palavras bem na parte que realmente importava.
Sem ela, eu permanecia com a incógnita em minha cabeça e não conseguia interpretar bem o que ele estava fazendo comigo naquele momento.
Estaria brincando de flertar comigo só para alimentar o próprio ego após descobrir da minha queda por ele?
Mesmo com aquela suspeita ou paranoia, não pude controlar o frio na barriga que me atingiu instantaneamente. Nos imaginei sem aqueles uniformes brancos e tive que me forçar a voltar à realidade.
— Bom, se não quiser falar sobre isso, tudo bem, te chamei aqui para entender o que houve e também para te dizer que, apesar de tudo, você teve muita sorte hoje. — Franzi o cenho. Aquele foi o dia mais azarado da minha vida, do que diabos ele estava falando? Tudo deu errado desde o momento em que pisei os pés para fora da minha cama. — O desembargador adorou sua torta, a esposa dele mais ainda, disse que sua receita a lembrou a que a avó preparava para ela na infância.
Levei a mão ao peito, sentindo-o acelerado. Primeiro, surpresa por aquele plot twist completamente inesperado, e também emocionada, pois foi minha avó quem me ensinou aquela receita.
se levantou da cadeira, dando a volta na mesa sem que eu o percebesse, piscava rapidamente a fim de dissipar as lágrimas que surgiram em minha linha d’água. Ser chorona era terrível mesmo, eu sentia vontade de chorar independente se as coisas dessem certo ou não.
— O desembargador inclusive insistiu para que eu lhe desse uma gorjeta pela boa memória proporcionada à esposa esta noite. — Arregalei os olhos ao ver a mão de pousar-se sobre a mesa e deixar um envelope.
Meu Deus, te pedi para não ficar desempregada e o Senhor me destes mais dinheiro?
— N-Não posso aceitar. — Gaguejei ainda embasbacada. As coisas nunca deram tão certo depois de dar tudo tão errado. Tanto que eu nem sabia como reagir!
Era contra a política da empresa receber mais dinheiro que o acordado na conta final do cliente. Vista como suborno, a prática de aceitar valores por fora era proibida até mesmo para os garçons e manobristas.
Era um teste para aí sim me demitir com justa causa caso eu aceitasse? Me encolhi sobre a cadeira, eu tinha dois anos de empresa, sair com uma mão na frente e outra atrás não estava em meus planos!
— Ele insistiu e eu também insisto, . — Só ao ouvir sua voz rouca tão próxima do meu ouvido me dei conta da pouca distância entre nós.
Encarei seu rosto de pertinho, sentindo-me hipnotizada por seus olhos verdes com alguns pontos azuis que me olhavam de volta, arrepiando-me dos pés à cabeça. O nariz grande e reto, a boca rosada entreaberta... Por que ele tinha que ser tão atraente? Me diz? Já não bastava a voz rouca e deliciosa, os braços fortes e o fato de ele parecer uma geladeira inox de duas portas de tão enorme que era, ainda assim precisava ter um rosto bonito daqueles?
E naquela distância mínima, era muito mais atraente, gostoso e...
Meu pai eterno, o que eu estava fazendo?
Desviei meus olhos de volta para o envelope. Era muito mais seguro fazê-lo, fora que minha mãe sempre me disse que eu tinha que manter meu foco no dinheiro e não em homens. Apesar de ser tão difícil fazê-lo tendo seu perfume amadeirado invadindo minhas narinas e molhando minha calcinha sem que sequer se movesse direito, eu tinha que ouvi-la, ao menos uma vez na vida.
— Você é uma ótima funcionária. Não estaria na minha equipe se não fosse tão boa no que faz. — Manteve a maldita mão grande sobre o envelope e permaneceu inclinado em minha direção, deixando-me tonta de tanto que eu prendia minha respiração para evitar de sentir seu cheiro bom e não cair em tentação.
“Eu queria ser boa o suficiente para estar na sua cama.”
Arregalei os olhos com meus pensamentos depravados. OK que eu tinha delírios ainda piores ao observá-lo na cozinha no dia a dia. Mas nunca esteve tão perto de mim, não sabia se estava conseguindo disfarçar o quão quente aquela sala estava parecendo para mim naquele instante.
— Tudo bem, já que insiste. — Tentei rir para disfarçar meu estado caótico. Peguei o envelope, tomando o máximo de cuidado para não tocar sua mão.
Sim, eu estava agindo como se pudesse me passar lepra ou algo do tipo. Em minha defesa, mesmo com aquele meu movimento, permaneceu de pé muito perto de mim, eu estava nervosa e torcendo para não estar tremendo por fora tanto quando estava por dentro.
— Você só precisa dar um jeito nesse seu problema... — Aquele assunto de novo. Engoli a seco, fechando o zíper da mochila que deixei no chão ao lado da cadeira. — Posso tentar te ajudar com essa questão da insônia, se... você quiser.
Levantei a cabeça ainda inclinada sobre minha bolsa.
O que ele quis dizer com aquilo? Me ajudar... Realizando meus desejos recalcados?
Fiz o que qualquer uma faria no meu lugar:
— E-Eu quero ir embora. — Levantei-me bruscamente, desorientada. Que papo estranho era aquele?
Aquela brincadeira tinha passado dos limites e não era nem um pouco engraçada. Onde já se viu, brincar com o tesão alheio? E se eu estivesse ovulando? iria deitar a cabeça no travesseiro tranquilamente sabendo que atiçaria uma mulher subindo pelas paredes e depois não lhe daria o que ela queria?
arqueou as sobrancelhas perto demais, já que ele não deu sequer um passo para trás. Ajeitei meu cabelo desgrenhado pelo meu movimento brusco.
Não foi aquela a pergunta feita. Aliás, foi uma pergunta? Parecia mais um convite. Mas não, ele não faria aquilo, ou faria? Meu senhor, será que eu enlouqueci de vez?
— D-Digo, eu preciso ir, está ficando tarde e eu moro meio longe. — Tomei impulso e me espremi num cantinho entre ele e a cadeira onde eu pude passar sem esbarrar em seu corpo grande e cheiroso.
— Claro, foi apenas uma sugestão. — Fui em direção à porta feito um foguete, fingindo ignorar o que me foi dito, como se fosse possível fazê-lo. — Você parecia tão tensa nos últimos dias...
Espera um pouco. Ele andava reparando em mim? Como eu nunca reparei reparando em mim?
— Mas se não quiser minha ajuda, tudo bem. Acho que nos vemos amanhã então.
Ele voltou a oferecer “ajuda”. OK, não era coisa da minha cabeça, muito menos uma brincadeira, por mais bizarro que fosse tudo aquilo.
Minha mão parou no meio do trajeto que fazia em direção à fechadura redonda e reluzente. Por um momento, me senti um pouco tonta, como se tivesse me esquecido de voltar a puxar o ar após soltá-lo no susto que tomei ao interpretar a intenção de ao me fazer uma proposta daquelas.
Respirei fundo daquela vez, enchendo os pulmões de ar e me preparando para tomar aquela decisão, que apesar de parecer extremamente óbvia, ainda soava como uma peça me sendo pregada. Como mesmo tinha acabado de me dizer, nos veríamos no dia seguinte, e naquele momento eu teria que decidir e entre duas opções:
Opção 1: Abrir a porta e ir embora, tendo que olhar para ele no dia seguinte e nos próximos que viriam, me arrependendo a cada segundo que passaria sabendo que pedi uma oportunidade daquelas com o homem dos meus sonhos.
Literalmente.
Opção 2: ...
Não parecia existir outra opção.
Quando dei por mim, já girava a chave da porta, voltando a puxar o ar exageradamente antes de virar o rosto na direção de , já prevendo que iria perder o fôlego quando o visse vindo até mim com aquele olhar decidido que apesar de parecer estranho, era extremamente familiar para mim.
Recuei ridiculamente, batendo as costas na madeira escura. Tive medo de acordar e me encontrar sozinha na minha cama, molhada em suor ao constatar que aquele tinha sido o sonho mais vívido que já tive na vida. Molhada também entre as pernas, sabendo que por mais crível que aquele sonho pudesse ter sido, eu ainda não teria a chance de senti-lo deslizar para dentro de mim.
— C-Como pretende me ajudar? — Me impressionei com a minha capacidade de conseguir formular uma frase numa situação crítica como aquela.
— Te dando o que você quer e o que sua mente tanto censura. — Suspirei em puro e genuíno alívio quando sua mão grande me tocou o quadril e ambos permanecemos parados no mesmo lugar.
Esforcei-me para permanecer de olhos abertos, temendo que em apenas uma piscada eu perdesse tudo aquilo de uma vez só. Ao invés de me puxar em sua direção, me empurrou apenas para poder avançar ainda mais para perto, prensando-me contra a porta antes de finalmente tomar minha boca pra si.
— Te mostrando que não é errado sentir desejo. — Murmurou contra meus lábios, deslizando as mãos grandes em seu toque firme pelo meu corpo.
Ainda era demais para mim nos ver naquela situação sem pensar que estávamos num sonho, quero dizer, aquele parado diante de mim, com as mãos em mim, me pegando daquele jeito, sua voz tão mansa e olhar desejoso... Não se parecia nada com a realidade.
— Não quando é recíproco. — Ofeguei tendo sua boca quente me beijando a linha da mandíbula.
— Espera, o quê? — Mesmo que fosse um ato totalmente involuntário, o afastei pelos ombros com muito custo.
Tinha demorado tanto para tê-lo daquela forma. Para falar a verdade, nunca esperei que o teria de jeito algum, mas agora que tinha, precisava parar aquela loucura para tirar a limpo o que ouvia. Porque, porra, aquilo sim era uma surpresa e das grandes.
riu baixinho, provavelmente pela indignação estampada em meu rosto. Prendi a respiração quando ele pousou a mão na porta, prendendo-me ali mais uma vez. Não entendia ao certo aquela tara de me prensar contra as coisas, só tinha certeza dos efeitos que aqueles gestos causavam dentro de mim e de que, apesar de bom, não era necessário, eu não iria a lugar algum.
— Sei que sou um tirano como chef. — Deslizou o nariz longo pelo meu rosto. — Mas não há um dia desde que te contratei que meus olhos não passem por toda a cozinha em busca do seu rosto. — Olhei em seus olhos engolindo a seco. De todas as coisas que já ouvi sair de sua boca, aquela com certeza foi a mais inacreditável que já ouvi.
Tipo, eu não fazia ideia que aquilo acontecia e estava incrédula com a possibilidade de ter me observando sem que eu percebesse! Que horas ele costumava me olhar? Quando eu estava montando pratos concentrada em colocar glacê nos pontos certos dos bolos? Porque se fosse, provavelmente me via fazendo caretas horríveis e colocando a língua para o lado toda vez que evitava distrações.
Péssimo.
— Sempre que experimento suas sobremesas, me pergunto se o seu gosto é tão doce quanto o delas. — Retiro o que disse antes, aquela sim foi uma frase impactante. Foi de zero a mil muito rápido.
— E-Eu pensava que não gostava de mim. — Disse trêmula. Àquela altura, eu tinha entendido o conceito de precisar estar encostada numa porta, estava até agradecida, precisava daquilo e não sabia. Sentia que minhas pernas cederiam a qualquer momento.
— Admito que pego um pouco pesado na cozinha. — Seu sorrisinho prepotente me fez pulsar entre as pernas. — Pareço não gostar porque não poderia demonstrar que gosto, e gosto muito. — Sorri nervosa contra sua boca, que se chocava com a minha a cada frase dita.
Parte de mim desejava que ele se calasse e passasse a fazer logo o que queria comigo, mas a outra metade queria ouvi-lo revelar tudo o que nunca disse em voz alta e também jamais passou pela minha cabeça.
— Prometo pegar leve com você essa noite. Ser menos exigente e mandão. — Quase não me foquei no que ele disse, suas mãos deslizaram para minha bunda assim que fui liberta de onde estava presa minutos atrás.
Pisquei rapidamente, assimilando. Minha resposta foi um não veemente, antes de ser beijada novamente. Eu não queria que ele pegasse leve coisíssima nenhuma. Só eu sabia o tanto de tesão aquele homem bravo e seus gritos me causaram naqueles dois anos trabalhando juntos. Sempre achei que aquela energia toda poderia estar sendo melhor gasta transando, mas nunca pude externar tal sugestão.
Bom, não podia antes, né?
— Não, por favor. — Suspirei pegando seu queixo, tomando sua boca e invadindo-a com minha língua. riu enquanto vagávamos pelo escritório, às cegas e completamente ofegantes.
— OK. Você pediu por isso. — Sorri abobalhada. Eu finalmente soube pedir o que eu queria há tanto tempo.
Fui separada de seu peito quando, sem perceber, fui guiada até a mesa que estava há muitos passos de distância da porta. Era louco pensar que, aos beijos, o trajeto pareceu dois míseros passos. Estava sendo tudo tão rápido que mal nos dávamos conta daquilo. E apesar da minha urgência em estarmos nus em qualquer canto daquela sala, eu ainda queria prolongar aquele momento o máximo possível e gravar cada segundo dele.
Já tinha passado da fase de negação, de acreditar que finalmente estava milagrosamente sonhando com , da negação já tinha pulado direto para a aceitação. Sabia que poderia ser algo de apenas uma noite e por isso não queria que pegasse leve, queria que ele me desse tudo de si porque sabia que talvez nunca mais teria algo parecido.
Apesar de ter dito que era recíproco e estar me deixando louca com aqueles beijos lentos, cheios de mãos bobas, ele continuava sendo o emocionalmente distante e uma incógnita, o que não me fazia esperar muito dele além de uma foda maravilhosa.
Suas mãos ágeis me agarraram pelos quadris e fui colocada sentada sobre o móvel aparentemente resistente, a madeira poderia ser boa, mas não sabia se queria colocá-la a prova. Empurrei um pouco os papéis que estavam por ali, além de alguns enfeites que pudessem quebrar durante a ação que estava por vir.
se encaixou entre minhas pernas, que se abriam instintivamente para qualquer coisa que ele fazia, como se tivesse alguma espécie de senha ou um reconhecimento facial, não sei, mas de qualquer forma, estava mais que nítido como eu estava entregue a ele.
— Olhe o que faz comigo. — Pegou minha mão, levando-a até o volume de sua calça.
Ele continuaria a me chamar pelo sobrenome, como fazia na cozinha. Me deleitei pensando em como eu adoraria aquela noite. Era exatamente tudo o que eu queria ter sonhado, só que melhor, era a realidade.
Mordi o lábio tentando esconder o sorriso safado que escapou sem que eu conseguisse conter. Passei os dedos sobre o tecido marcado pelo seu pau, observando-o suspirar com o simples contato superficial.
— Nunca pensei que um dia iria te tocar assim... — Levantei o rosto, encarnando-o séria, ainda movendo minha mão sobre o contorno de sua calça estufada.
— Nem eu. — Sorriu, afastando meus cabelos. — Mas depois do que ouvi na cozinha hoje... — Senti o rosto esquentar em vergonha. corria os dedos pelos botões do blazer do meu uniforme, abrindo-o vagarosamente. — Pensei nisso o dia inteiro, pensei em você, em nós dois juntos, matando nossas vontades.
Ele empurrou a peça branca pelos meus ombros e o deslizou pelos braços até ir parar em algum canto do chão. Meus pelos se eriçaram quando se inclinou, fazendo uma trilha de beijos pelo meu ombro à medida que puxava a regata que eu ainda vestia para cima. O ajudei erguendo os braços, sentindo-me em desvantagem por estar sendo despida enquanto permanecia com todas as peças no corpo.
Antes que eu pudesse protestar contra aquilo, sua mão grande me calou ao se enterrar em meus cabelos próximos da nuca, puxando-os e causando uma ardência deliciosa no meu couro cabeludo, para logo depois tirar o elástico que prendia os fios no alto de um rabo de cavalo, libertando meus cabelos e deixando-os livres para caírem pelos meus ombros e colo.
Prendi a respiração quando ele se inclinou, tirando-os do caminho para me beijar o pescoço com os lábios quentes recém-umedecidos, ora roçando o nariz grande por minha pele, ora chupando e me dando a certeza de que ficaria marcada pelos próximos dias.
Talvez fosse bom deixar marcas, só assim eu acreditaria que foi real quando acordasse no dia seguinte.
Lá ia e seus dedos largos de novo, passeando por meu tronco, indo da minha cintura à linha da minha coluna, dedilhando cada vértebra como se meus ossos fossem parte de alguma palavra escrita em braile e ele quisesse decifrar o que tinha escrito ali. parecia querer gravar cada detalhe de mim em memória, a forma como me tocava, beijava e até olhava para mim, eu pude senti-lo atento a todos os meus detalhes.
— Nada disso. — O afastei com muitíssimo custo quando vi que ele queria abrir o fecho do meu sutiã. — Chegou a minha vez. — Deslizei as mãos pelo peito ainda coberto pela camiseta branca. — Tira. — Indiquei o tecido com o queixo fazendo-o rir da forma autoritária com que falei.
fez sinal de rendição, como se tivesse sido coagido a fazê-lo, mas seu teatro não prendeu minha atenção por muito tempo, logo meus olhos se focaram em um local específico, apenas nele: aquele abdômen malhado.
Que era delicioso eu nunca tive dúvidas, mas nem minha imaginação fértil foi capaz de me preparar para aquela visão do paraíso que era seu tronco nu. Me vi maravilhada e ansiosa para tocar sua pele, arranhar os gominhos tímidos que ele tinha e beijar cada centímetro do seu peitoral. As tatuagens eram apenas um bônus, eu já tinha decorado todos os desenhos do seus braços e lembrava da minha curiosidade para saber se ele tinha algo a mais debaixo das roupas.
A borboleta era perfeita, tão milimetricamente centralizada naquele corpo gostoso que até pareceu que tinha nascido com ela. Ela se movia conforme ele respirava, deixando-me hipnotizada só de olhar para ela por pouco tempo. Mais embaixo havia um par de ramos, que sumiam no cós de suas calças, fazendo-me desviar o olhar quando percebi para onde estava olhando por tempo demais para passar despercebida por e seus olhos penetrantes.
— Gosta do que vê? — Soltei um risinho, ele sabia que sim. Mas mesmo que nem sonhasse da minha queda por ele, acho que não era muito difícil de adivinhar visto que eu devia estar babando. — Você pode tocar se quiser.
Avancei minha mão em sua direção, sorrindo que nem idiota. me imitou, chegando mais perto, pegando-me pelo pulso e direcionando ambas as mãos pelo próprio peito e barriga. Que delícia.
— É muito melhor do que eu imaginava. — Confidenciei sem fôlego.
OK, eu poderia pensar que talvez estivesse supervalorizando agindo como se olhasse para a oitava maravilha do mundo recém-descoberta, mas o meu desejo por ele era tanto, que mesmo externando minhas reações a seu corpo cada vez mais despido diante de mim, eu ainda não conseguiria traduzir o tesão que estava sentindo em palavras.
— Falando em imaginação... — Seus dedos voltaram a deslizar por minhas costas à procura do fecho do sutiã escuro que eu usava. Sorri tímida, daquela vez deixando-o fazer o que tanto queria. — Tenho sonhado com isso há algum tempo. — Sussurrou ao pé do ouvido enquanto as alças caíam em lentidão dos meus ombros até os antebraços.
mal esperou a peça terminar de passar pelos pulsos, já os agarrou ao mesmo tempo, enchendo ambas as mãos grandes com meus seios. Seu olhar faiscou à medida em que ele, mais uma vez, reparava em meus detalhes, desde minha pinta próxima ao mamilo até o fato de estarem rijos, denunciando meu estado quase febril ao ter suas mãos me tocando daquele jeito.
— Sabe o que seria divino uma hora dessas? — Não consegui pensar em nada além da visão que estava tendo diante de mim. — Te lambuzar de buttercream e chupar você todinha.
Solucei de prazer quando meu chef se inclinou ansioso, abocanhando um deles com vontade, fazendo-me tombar o corpo um pouco para trás de tão desmontada que fiquei com sua língua circundando minha auréola enquanto sua outra mão fazia maravilhas ao massagear o outro seio, que não ficou sem ser apreciado, já que fez questão de chupá-lo com a mesma volúpia do primeiro agraciado por aquela boca rosada.
— Não seria maravilhoso? — Voltou a subir os lábios pelo meu colo e pescoço.
Ofegava sem me recordar do que ele tinha dito antes de literalmente cair de boca nos meus peitos. Aqueles lábios molhados e quentes, céus, eu sentia que iria desfalecer a qualquer momento ali, bem na frente dele.
Mas mesmo inconscientemente, assenti ainda sem palavras. Não importava, qualquer coisa que ele quisesse fazer comigo ali seria maravilhoso.
— Não seria, ? — Seus dedos largos me agarraram uma das coxas, despertei do meu transe encarando os olhos verdes e o olhar duro que me deixava louca de tesão.
— S-Sim. — O aperto continuou, sorri safada ao entender o que queria de mim. — Sim, chef.
Ele se deu por satisfeito ao assentir com a cabeça, mantendo aquele contato visual desconcertante comigo. Minha coxa foi liberada, fazendo-me imaginar o rastro que aquele contato iria deixar para trás no dia seguinte. Mordi o lábio inferior quando suas mãos foram até o cós da minha calça, voltou a se inclinar para beijar meu corpo, só que daquela vez desceu a boca até minha barriga.
Eu já revirava os olhos de prazer, apenas prevendo onde ele e sua língua deliciosa chegariam a seguir.
Porém, como num passe de mágica, uma lembrancinha do início do dia me veio à cabeça, fazendo-me parar suas mãos onde estavam.
— Espera! — Completamente descabelada, ofeguei diante de seu rosto confuso. — É que... eu não planejei que ia transar hoje. N-na verdade, já faz algum tempo que não faço isso...
Evitei olhar em seu rosto, era vergonhoso demais. Porém não pude evitá-lo por muito tempo, inclinou a cabeça para frente, chamando minha atenção, quando vi, o tinha encostando a testa na minha. Ele riu baixinho, ainda estávamos imóveis com ambas as mãos travadas no cós das minhas calças.
— Eu estou com a calcinha errada. — Resumi, me sentindo idiota pela riqueza de detalhes que usei ao invés de simplesmente dizer aquilo.
não precisava saber que eu estava com teias de aranha e subindo pelas paredes antes de me foder.
— OK. — Riu mais uma vez, desencostando-se devagar, ainda mantendo os olhos nos meus. — Eu vou fechar os olhos enquanto tiro sua roupa. — Assenti veemente, sentindo o rosto queimar. — Mas saiba que é uma pena ser privado de uma cena dessa.
Encolhi os ombros envergonhada, mesmo não tendo acordado quando me tocou pela primeira vez naquela noite, às vezes me pegava com medo de que nada daquilo fosse real. Porque era tudo bom demais para ser.
Ele cumpriu o prometido, deixando-me aliviada ao saber que não olharia para a cara dele nos próximos dias sabendo que tinha me visto de calcinha bege com gatinhos estampados.
Me derreti quando ele abriu os olhos e voltou a beijar meu corpo já desnudo, passando os lábios recém-umedecidos por minha barriga e indo além. Quando beijou demoradamente abaixo do meu umbigo, quase tive um ataque cardíaco.
Sabia que poderia descartar meus exames marcados para os próximos meses, porque se eu não morresse naquela noite, não morreria mais. Ao menos não do coração.
enfiou o rosto entre minhas pernas trêmulas, provando do meu gosto e arrepiando-me dos pés à cabeça. Tive que me apoiar na mesa pra evitar cair para trás quando sua língua me tocou o clítoris devagarinho, ele parecia querer apreciar cada segundo ali, ou simplesmente me enlouquecer completamente.
— Doce... Molhadinha... — Beijou minha intimidade com delicadeza, encarei seus olhos e gemi manhosa, se deleitou com o estado que tinha me deixado. E pelo som de sua risadinha, ele parecia estar apenas começando. — Você é deliciosa.
voltou me chupar majestosamente bem, me despertando dúvidas sobre sua veracidade. Porque ele não parecia ter vindo na minha linhagem de meros mortais e sim descendido dos deuses do Olimpo, não tinha sido parido e sim esculpido a mão pelo mais cruel escultor existente, como poderia existir um só homem daqueles para tantas mulheres que queriam dar para ele? Não era justo!
Joguei a cabeça para trás, já não suportando assistir aquela cena, meu corpo não me permitiria manter o controle se eu continuasse a assisti-lo do jeito que sempre sonhei em vê-lo: com a cara enterrada no meio de minhas pernas.
Puxava seus cabelos macios à medida em que sentia o calor me consumir aos poucos, rebolava desgovernada contra aquela boca quente e habilidosa, queimava por dentro e suava por fora, já podia sentir o ápice vir ao meu encontro e aproveitava o êxtase que me tomava enquanto ele não chegava.
Mas de repente, tudo parou.
— O-O que...
— Levante-se. — Encarei embasbacada sua mão estendida para mim.
Ora mas o que era aquilo? Uma espécie de brincadeira de mau gosto? Por que ele não me demitiu de uma vez?
Sem resposta, pegou-me pelo braço, colocando-me de pé. Se é que eu ficaria daquele jeito por muito tempo, de pernas bambas e louca, completamente louca para gozar.
Lembrei-me do motivo de ter ficado tanto tempo sem sexo: antes dele, sempre tinha uma humilhação a ser vivida.
— De costas para mim. — Franzi o cenho.
— M-Mas...
— Foi uma ordem, , de costas. Agora. — Virei-me ainda confusa e puta da vida. — Mãos na mesa.
Obedeci mais uma vez, processando as informações direito e voltando a sentir o fogo de antes. Ri em meio à respiração falha. Ouvir desabotoar as calças e descer o zíper pareceu uma eternidade, ainda sentia o prazer tomar meu corpo, mas queria ter suas mãos em mim quando chegasse lá. Me recusava a gozar naquela noite se não fosse pelas mãos dele. Por isso, permaneci parada onde estava, ansiando para o que quer que ele estivesse planejando.
Sorri satisfeita quando seu calor me alcançou por trás, meu chef me tocou o quadril com firmeza, quase me desmontando inteira com o ato. Recebi um beijo no ombro antes que ele pudesse encaixar o rosto na curva do meu pescoço. Não segurei um ronronar quando passou uma das mãos pela minha bunda, apertando com força antes de desferir um tapa estalado.
— Disse que não queria que eu pegasse leve. — Cuspiu na própria mão, umedecendo minha entrada logo depois. Tive que fazer uma força tremenda para me manter firme, de pé. — Agora empina essa bunda pra mim e lide com as consequências. — Sua voz rouca sussurrando no pé do meu ouvido foi uma distração para o que viria a seguir.
Gritei quando ele me invadiu sem muita cerimônia, entendi o motivo de estar com as mãos apoiadas na mesa quando fui para frente com o tranco. A cabecinha entrou e logo depois sua extensão, causando uma ardência momentânea. Arfei, fechando as mãos em punho, eu até sentia que deveria agradecê-lo porque, apesar de tudo, ele não tinha colocado tudo. Algo me dizia que ao menos ainda não.
passou a meter firme e rápido, agarrando meus quadris e não me dando muito tempo para aproveitar a delícia que estava sendo ser fodida pelo homem dos meus sonhos.
Aquilo deveria ser crime, e inafiançável.
Como se estivesse lendo meus pensamentos pecaminosos, diminuiu a velocidade, daquela vez invadindo-me por completo, deixando-me sentir cada centímetro entrando e saindo. Sentia sua testa molhada em suor encostar-se em meu ombro, ouvia seus gemidos abafados pelo barulho dos nossos corpos se chocando, agora com menos furor que no início.
— Quero que na próxima vez que for dormir pense nessa noite. — colou os lábios em meu ouvido novamente enquanto ainda me fodia devagarzinho. Eu gemia baixinho, tentando assimilar o que sua voz gostosa me dizia. — Do modo como te toquei, da minha língua te chupando e de como eu te fodi. — Sua mão grande deslizou por entre minhas pernas e passou a dedilhar minha buceta e estimular meu clítoris.
Eu jurava que estava começando a ver estrelas.
— Quero que sonhe só comigo, quero ser o único homem a ocupar seus sonhos. — Eu já arfava, sentindo o ápice vir, segurava-me sobre a mesa para não ceder ao chão. — Me ouviu bem, ?
Assenti repetidas vezes, impossibilitada de formular uma frase sequer devido ao nível de êxtase que tomava meu corpo.
Mas antes que eu pudesse gozar, mais uma vez, tirou as mãos de mim. Frustrada, fui tirada de perto da mesa que já não estava mais no lugar inicial dela. Sem forças para protestar ou xingá-lo por não me deixar gozar em paz, fui deitada no sofá que havia ali.
— Eu sei, eu sei... — riu, o desgraçado filho da puta riu da minha cara no meu momento de maior fragilidade.
Seus lábios tomaram os meus e permaneceu de pé para se livrar das calças que o vestiam do calcanhar para baixo. Encarei seu membro repleto de veias desejando fazer milhões de coisas com ele, e quando me vi hipnotizada, fui dispersa com a chegada de novamente no sofá escuro de couro.
— Vou te deixar gozar, eu prometo. — Mordeu o lábio voltando a mover os dedos sobre meu clítoris, beijando minha boca devagarinho, enroscando a língua contra a minha sem a mínima pressa possível.
— P-Por favor... — Supliquei vendo-o morder o lábio desejoso.
— Você é tão linda. — Sussurrou, me cobrindo com seu corpo grande. — E é a nova funcionária do mês. — Mesmo em estado febril consegui rir daquele comentário idiota.
passou a brincar comigo novamente, esfregando a cabecinha e pincelando minha entrada que àquela altura do campeonato já pulsava em desejo. Acho que de pura piedade, ele resolveu finalmente deslizar para dentro de mim novamente, e daquela vez fiz questão de assisti-lo até que nossos quadris se encontrassem.
Evitei até mesmo piscar, qualquer frame perdido ali seria um desperdício, o modo como deu tudo de si inclinado sobre meu corpo, metendo fundo e me deixando louca a cada segundo que passei debaixo daquele conjunto de músculos envoltos de sua pele quente e tatuada... Céus, cheguei a questionar minha sanidade, de tão delirante que foi tudo aquilo.
Passava os dedos por aquele abdômen desenhado e não me lembrava de ter visto tantos músculos nem quando estudava anatomia na escola.
— Isso mesmo, goza pra mim. — Eu, como a boa funcionária que era, obedeci prontamente àquela ordem suspirada em meio aos gemidos deliciosos dele.
Senti meu corpo atingir o ápice da temperatura e mesmo exausta ainda poderia apostar que faria tudo com ele de novo e de novo quantas vezes fossem necessárias, e nem cobraria pelas horas extras estando onde estávamos durante a noite toda. Tremi dos pés à cabeça, tendo espasmos por todos os cantos e sucumbindo ao formigamento que me atingiu. Gemia, sussurrava, soluçava contra seus lábios enquanto tive seus olhos vidrados nos meus o tempo todo.
Quando infelizmente saiu de dentro de mim, o vi se levantar do sofá e permaneci deitada, sem forças para continuar. Sei que disse que poderia dar para ele a noite toda, mas eu acho que precisaria de um descanso de uns 10 minutos para dar uma trégua ao meu pobre coraçãozinho.
— , ainda não acabei com você. — Olha, eu discordava, ele tinha sim acabado comigo.
Abri os olhos que nem percebi que tinha fechado, e ainda ofegante, encarei seu rosto sério (não sem antes passar os olhos por todo o resto).
— Venha aqui, de joelhos. — Ressuscitei imediatamente, levantando-me. Afinal de contas, já dizia o ditado: um boquete e um copo d’água não se negava a ninguém.
Lhe sorri safada após passar a língua em toda sua extensão antes de abocanhá-lo de uma vez, não consegui colocar tudo, então passei a chupar o que podia contando com sua compreensão, claro. Mas como eu mesma tinha decidido no início, não iria pegar leve comigo, então ele logo passou a forçar-se garganta a dentro. Não poderia dizer nunca que me arrependia de ter escolhido tudo aquilo com emoção, estava realizando tudo o que pedi mentalmente ao Papai Noel no natal passado.
Só de ter o deleite de poder olhar para e ver sua expressão retorcida em puro tesão... Queria poder gravar tudo aquilo, principalmente as baixarias que ele pronunciou enquanto explodiu de prazer em minha boca, com os dedos enroscados em meus cachos à medida em que seu gosto me enchia a boca e sujava meu rosto.
Eu nunca mais iria lavar ele, inclusive.
Ri daquele pensamento ao tentar disfarçar o meu faniquito digno de uma adolescente. Meu chefe me puxou pela mão, fazendo-me dar conta de que tinha sido feita de boneca por ele o tempo todo e não tinha um “a” para reclamar daquilo justamente por ser ele o responsável por me conduzir.
Nos deitamos no sofá, quer dizer, o que deu para deitar, já que as pernas de ficaram um pouco para fora devido a sua altura. Eu fiquei confortável ao realizar meu sonho de deitar minha cabeça nos dois travesseiros da NASA, mais conhecidos como os peitões que ele devia malhar muito na academia.
Ai, ai... tudo tãao bom para ser verdade que até me permiti fechar os olhos, voluntariamente daquela vez, já não sentindo mais medo de acordar em casa e sozinha. Até porque sendo sonho ou não, eu tinha conseguido dar para ele. Sentia que minha missão de vida tinha acabado de ser cumprida e estava radiante.
— Ei, nada de dormir. — A ponta do meu nariz foi levemente apertada pelo seu indicador e polegar.
Abri os olhos e me esforcei para mantê-los daquele jeito, com muito custo levantei o rosto para encará-lo. sorria sereno, pude sentir uma de suas mãos circundar meu quadril.
— Desculpa, é que você me deixou um pouco cansada. — Se me cansasse daquele jeito todos os dias estava ótimo, mas pelo bem do meu emprego censurei meu pensamento.
— Tudo bem, você trabalhou duro hoje. — Acariciou minha bunda. Ri da cara de cafajeste que ele fez, provocando sua risada.
Era surreal vê-lo sorrir daquele jeito! Antes, eu podia jurar que ele não devia ter todos os dentes na boca, já que não os via com frequência por conta da carranca que exibia para cima e para baixo na cozinha.
Aproveitei toda aquela simpatia influenciada pela brisa que só um pós-sexo de qualidade pode nos dar e apoiei-me em seu peito, preparada pra tirar a dúvida de uma vez por todas.
— , posso te fazer uma pergunta? — Ele me fitou com seus olhos verdes, uma sobrancelha se arqueou e eu comprimi os lábios com a possibilidade de uma negativa.
— Você acabou de fazer. — Revirei os olhos. — Não revire esses olhos para mim. — Ri gostosamente, vendo seu sorrisinho crescente ocupando seu rosto. — Vá em frente, pergunte.
— Por que não gosta de nós? — Antes que ele pudesse abrir a boca para responder, me adiantei. — Tá, já me disse que, na verdade, gosta de mim. — Coloquei uma mecha para trás da minha orelha teatralmente.
Era tão gostoso falar aquilo em voz alta, meu estômago se revirou até. De um jeito bom, é claro.
— Mas me refiro aos outros, digo, você nunca participa de nada conosco, te convidamos para o amigo secreto de fim de ano e você nem apareceu.
Para mim, era difícil imaginar alguém que pudesse não gostar dos meus amigos. Eu sabia que era absurdo para mim porque eles estavam na minha bolha, mas mesmo se não estivessem, eu trabalhava ao lado deles há dois anos, eram boas pessoas, a gente sempre se ajudou e se respeitou muito. Eu amava cada um deles e sempre me senti ofendida pela forma com que nos ignorava.
O achava extremamente gostoso, mas também não era cega! Notava possíveis falhas em seu caráter vez ou outra.
— Primeiro que eu odeio amigo secreto. — Hasteou o indicador fazendo-me dar o braço a torcer, eu também não era lá muito fã, participava para fazer parte da tradição mesmo. — Mas sobre todos os outros convites, eu confesso que não sou a pessoa mais sociável do mundo, não sei se conseguiria me enturmar bem no meio de vocês, não com a fama que tenho.
Comprimi os lábios, forçando-me a ficar calada. Não era porque eu tinha literalmente dormido com o “inimigo” que iria dedurar tudo o que falávamos mal dele pelas costas. Até porque, como podemos ver com o episódio dos sonhos de mais cedo, parecia estar bem a par do que fofocávamos em grupo pela cozinha.
— Nós somos fofoqueiros mas somos legais, eu juro. — riu, negando com a cabeça. — Acho que você poderia ao menos tentar. Se quiser posso fazer a ponte e inventar algo para que possamos te chamar... que tal?
Meu chef suspirou, remexendo-se no sofá e saindo debaixo de mim. Estranhei o movimento, mas também conclui triste que provavelmente teríamos que ir embora. Tínhamos transado ali, em pleno escritório do restaurante, mas agora dormir também já seria demais.
— Tarde demais. — Selou nossos lábios se levantando.
— Como assim, tarde demais? — Observei triste a cena de recolhendo as roupas no chão.
Poxa ele não poderia ficar ali, nu, só mais um pouquinho na minha frente? Já que eu não podia tirar uma foto, bem que poderia deixar que eu gravasse seus detalhes na memória ao menos.
— Vou embora, , recebi uma proposta de emprego num restaurante em Paris, e aceitei.
Não sabia dizer se tinha conseguido segurar minha expressão de choque corretamente, mas de uma coisa eu tinha certeza, a forma como meus olhos lacrimejaram foi ridícula. Tanto que até fiz questão de disfarçar piscando com rapidez, fazendo-as se dissiparem para que não escorressem pelo meu rosto.
Eu não iria chorar porque ele ia embora na frente dele, né? Seria demais até mesmo para mim.
iria embora justo agora que consegui realizar meu sonho de transar com ele? Iria me privar de tê-lo daquela forma outra vez? Não somente daquela forma, mas de todas as outras?
Não queria ter outro chef, era exigente, mas era incrível no que fazia, não conseguia me imaginar indo trabalhar sem ouvir um grito sequer dele, sem me sentir uma adolescente ansiosa e nervosa para ver o carinha que eu gostava mesmo que de longe.
— Vista-se, vou te deixar em casa. — Murmurou após passar a camiseta pela cabeça. Me dispersei do meu luto de futura viúva para me levantar também.
Tinha que me vestir e seguir com a vida como se nada tivesse acontecido. Não tinha certeza se iria contar aos outros o que tínhamos feito ali naquela noite. Bom, agora que iria embora talvez eu pudesse contar depois, quando ele estivesse lá em Paris.
Céus, o homem dos meus sonhos, o único homem possível para mim, tão longe... Eu precisava chorar, e iria ser imediatamente, quando eu estivesse escondida no banco de trás do Uber.
— Não prec...
— Não foi uma pergunta. — Respirei fundo ainda subindo minhas calças. Meu choro teria que ser adiado.
Naquela altura, eu já nem me preocupava com minha calcinha horrorosa. se esqueceria dela no momento em que pisasse em Paris e a primeira francesa desse em cima dele.
— Não posso te deixar sair sozinha por aí uma hora dessas. — Ajeitou meus cabelos desgrenhados para fora de camiseta branca.
Num passe de mágica, voltei a me derreter por ele, pensando que tinha pesado completamente o clima falando de sua ida. Poxa, eu iria dormir tão bem aquela noite sem saber daquilo... A ignorância realmente é uma dádiva.
separou os lábios dos meus indo até a mesa para ajeitar os papéis que bagunçamos, além de colocá-la de volta em seu lugar de sempre. Peguei minha mochila e fomos juntos até a porta, saí na frente, porém fui interceptada antes mesmo de colocar o pé para fora da sala.
— Vamos pela cozinha. — Virei o rosto e quase sussurrei de volta. Tá que estávamos fazendo algo errado, mas não tinha ninguém ali para nos ouvir falar em volume normal.
Até porque com o show que acabamos de dar no escritório, se tivesse alguém ali, com certeza estaríamos ferrados.
— Sei onde está o ponto cego da câmera de lá. — Assenti sem contrariá-lo. Eu não sabia nem onde elas ficavam localizadas, quem dirá se tinha como fugir delas.
Nos esgueiramos próximos aos balcões e conseguimos deixar o restaurante pela saída de emergência que nos levaria até a rua ao lado do restaurante. Não pude deixar de notar nossas mãos entrelaçadas enquanto íamos rápido pela rua deserta em direção ao carro preto estacionado mais à frente.
Em pensar que se ele não fosse embora eu poderia tentar investir num relacionamento... Bruce iria adorar mijar nas rodas daquele carrão dele...
— Como sabe o ponto cego da câmera? — Olhei de canto de olho, desconfiada. riu baixinho, terminando de colocar o cinto de segurança.
— Eu vejo as câmeras da cozinha diariamente. Como acha que sei quando vocês estão enrolando ou fofocando?
— Eu sabia! Você sempre chega na hora certa! — Sempre mesmo, Kevin até o chamava de alma penada, porque ele realmente parecia um fantasma pegando a gente no pulo e nos dando sustos.
— Vão ficar aliviados quando eu for embora.
— Ah, não fala isso... — Lamentei, murchando um pouquinho. Eu iria sentir a falta dele, principalmente depois daquela noite.
— Eu sei que vão, como disse, sei da minha fama. — Encarei o para-brisa enquanto trafegávamos pela avenida principal quase vazia. Eu não poderia discordar, mas também não queria que ele saísse se sentindo daquela forma. — Espero que você possa me visitar em Paris em breve, ou quem sabe trabalhar por lá também.
Soltei um riso desacreditado, era meu sonho. E ao contrário do que eu tinha acabado de realizar com naquela noite, aquele em específico sim poderia ser considerado impossível. Eu precisaria de muita sorte para chegar até Paris, sabia do meu esforço, mas ele quase nunca é o suficiente para poder nos fazer realizar sonhos como aquele.
— Imagina só, eu, em Paris. — Ri novamente, não desdenhando, mas me imaginando tentando falar francês, trabalhando em restaurantes que jamais imaginei sequer pisar os pés... Ah, quase suspirei ao me encostar no banco macio do carro de .
— Por que não? Você faz sobremesas maravilhosas. Salvou o dia hoje. — Sorri tímida, baixando a cabeça para esconder o rubor em meu rosto.
— Depois de quase ter ferrado com tudo.
— Ainda assim. Você tem potencial, . — Sua mão alcançou a minha e deixou um afago.
Senti meu coração se encolher dentro do peito. Era muito triste viver e ouvir tudo aquilo e não poder criar nem sequer um pouquinho de expectativa. Eu nem sabia como iria lidar com tudo aquilo quando o dia amanhecesse.
Quis que aquela noite durasse pra sempre.
Como meu estoque de boa sorte já tinha sido todo gasto com aquela transa, reconheci o começo da minha rua à medida em que dirigia por ela devagar. Tive a impressão de estarmos abaixo da velocidade o caminho todo. Mesmo sabendo que não deveria, imaginei se ele também não queria prolongar o máximo que pudesse nosso tempo juntos.
Mas como eu disse, sem mais golpes de sorte. estacionou na frente da casa que indiquei a ele.
— Bom, espero ter ajudado no lance da insônia. — Ri desafivelando o cinto de segurança.
Ri em puro desespero, deixando bem claro. Acho que tê-lo daquela forma pode ter até piorado minha situação.
Agora eu perderia noites de sono pensando no que mais poderíamos fazer juntos, e não mais com a ausência do que nunca chegamos a fazer antes daquela noite.
— Obrigada, . — Não era pela carona que eu estava agradecendo.
Era engraçado eu estar agradecendo por ele ter me comido. Mas eu realmente sentia que devia agradecê-lo por ter feito tudo aquilo tão bem.
Suspirei toda molenga, lembrando-me de tudo vividamente ao ser puxada pela nuca para um beijo. Era pra ser um, mas nos enrolamos em vários com direito a sua língua enroscada na minha e algumas mãos bobas aqui e ali. Eu tinha certeza de que se ele ficasse, poderíamos passar mais tempo juntos, e sem roupas de preferência.
— Quer subir? — Tentei usar minha voz mais sedutora naquela investida. Quem não arrisca não petisca, não é mesmo?
riu contra meus lábios, mordendo minha boca após desgrudar a dele da minha.
— Não posso. — Fiz um biquinho, atraindo mais um beijo rápido. — Amanhã tenho que estar cedo no restaurante. — Qual era a vantagem de ser chefe senão chegar atrasado quando queria? Ele já iria embora mesmo! — Queria muito, mas não posso.
— Tudo bem. — Respirei fundo, preparando-me psicologicamente para descer do carro e sair daquela atmosfera deliciosa que envolvia aquele par de mãos enormes em mim e seu perfume gostoso ao alcance do meu nariz a qualquer hora que eu quisesse senti-lo. — Até amanhã, então. — O beijei novamente, forçando-me a abrir a porta e ir embora.
Entrei em casa e me joguei na cama após me livrar dos sapatos e da mochila que carregava. Dormi a noite todinha, estava cansada e do melhor jeito possível. Não me lembrava de ter sonhado nada enquanto estive imersa no sono, porém permaneceria viva a esperança de ir dormir todas as noites e encontrá-lo em meus sonhos, e poder fazer tudo o que ainda queria fazer com ele na cozinha do restaurante ou em qualquer lugar aleatório que meu subconsciente maluco nos levasse.
A droga do celular não despertou no meu horário. Digo, provavelmente chegou a tocar, porém minha hibernação não me permitiu escutar o som irritante que me tirava do estado sublime de inconsciência.
Eu amo dormir, arrisco dizer que é a única coisa que sei fazer com extrema perfeição.
Tá, não é difícil ser boa numa atividade que se resume a deitar ou se encostar em algo e simplesmente fechar os olhos, eu sei. Talvez seja esse o motivo por trás de eu ser tão boa e amar tanto fazer isso: a praticidade. Não tem ninguém me avaliando quando faço isso, não há um critério de competição com outras pessoas. Não sinto nenhuma cobrança quando estou jogada em minha cama, abraçada num travesseiro de corpo enquanto babo no outro abaixo da minha cabeça.
Sim, levo tanto a sério que comprei um travesseiro para a região abaixo do meu pescoço.
Na verdade, era muito mais que um conforto para minha coluna, também servia de amparo para meu estado emocional. Não era nada fácil estar solteira por tanto tempo, ainda mais quando meu maior costume era dormir agarrada como um bicho preguiça numa árvore no dito cujo. Não sentia falta dele em si, só do corpo dele abaixo do meu durante a noite. Depois de dois anos, não poderia dizer que restaram sentimentos além da indiferença após um término tão complicado.
Mas deixando essa turbulência passada de lado, eu estava tentando passar por outra pior e muito mais torturante.
Afinal de contas, a falta de ter um corpo ao meu lado na cama já tinha sido resolvida e apesar de ter me incomodado um pouco, não era nada que eu e minha habilidade incrível de cair no sono não conseguíamos superar. O meu mais novo problema não me deixava ter a opção de comprar algo para resolvê-lo, eu não podia sequer contar a alguém sem que morresse de vergonha antes.
O que talvez resolveria, já que a questão que me atormentava ultimamente não me deixava dormir direito e quem sabe morta eu não poderia ter um sono digno?
Eterno? Sim, mas digno e duradouro. Era tudo o que eu precisava.
Meu problema tinha nome, sobrenome, olhos verdes e um cargo. Uma droga de cargo!
Era o meu chefe.
E não, não era qualquer chefe, porque meu trabalho não era qualquer trabalho.
Eu simplesmente trabalhava num dos restaurantes mais caros de Londres. E, claro, manter um alto padrão de sabor e ter as melhores avaliações dos críticos mais renomados apenas subia a régua de excelência que era exigida para nós funcionários. Ah, e se tinha uma coisa que sabia fazer, era exigir e se certificar de que nada estivesse fora do lugar. Nenhum prato sairia salgado demais, doce demais, quente demais, frio demais com a cozinha sob o comando dele.
A questão era que, além de um tirano filho da mãe, ele também era um puta de um gostoso.
Tudo bem, poderia ser meu daddy issues me sabotando em minhas relações com os homens à minha volta, até porque , assim como meu pai, parecia muito ser alguém emocionalmente indisponível.
No caso de , fisicamente também. Ele só parecia chegar perto para gritar, mesmo sem muita necessidade aparente, e mesmo a cozinha sendo um ambiente extremamente barulhento e caótico, eu e meus colegas achávamos um exagero. Mas, por amor ao nosso trabalho, nenhum de nós parecia corajoso o suficiente para dar aquele feedback a ele.
Trabalhávamos juntos ali há dois anos, sim, desde a época do meu término turbulento. Acho que até mesmo nisso tinha um certo envolvimento. Vê-lo todos os dias ali tão de perto, mas ao mesmo tempo tão distante, não tinha me ajudado muito a superar tudo o que meu ex me disse em nossa última discussão.
Passar ao lado dele, sentir seu perfume discreto ou descobrir suas tatuagens uma a uma dependendo da camiseta que ele usava tinha sido difícil, era agoniante ver seus olhos intensos e não poder encará-lo por muito tempo sem levar uma bronca por estar parada em meio à correria; ver seu pescoço repleto de veias devido aos seus gritos de ordem e não desejar chupá-lo e enchê-lo de beijos. Como o idiota do Brian tinha me dito quando terminamos, nenhum outro cara iria me querer caso terminássemos. E tratando-se do meu chefe, ele infelizmente estava coberto de razão.
Não somente pelo conjunto da obra e pelo fato de ele mal olhar para mim enquanto corria para lá e para cá pela cozinha, mas também por parecer não ter uma vida amorosa. Aquele rumor tinha sido levantado após Brendon, um dos cozinheiros, ter teorizado que parecia não transar nunca, porque ele sempre aparentava não estar de bom humor. Eu discordava, afinal, tinha entrado num celibato que parecia que duraria uma eternidade e nem por isso era rabugenta feito . Mas apesar de minha experiência tragicamente pessoal, Brandon até que poderia ter razão. nunca faltava no trabalho, entrava primeiro, saía por último, tinha uma relação de anos com o dono do restaurante e parecia se cobrar muito para não desapontá-lo.
Mas aí é que a teoria fazia muito sentido: a única pessoa que parecia ter intimidade com era o Sr. Schwimmer, que, até onde nós sabíamos, o conhecia desde criança. Fora ele, nunca soubemos de ninguém ligado à vida pessoal do nosso chef, ninguém, nem a mãe, se ele tinha um pai, irmãos ou sequer uma namorada. Também pudera, ele vivia dia e noite enfurnado naquele restaurante.
Houveram ocasiões em que foi convidado a nos presentear com sua presença, por mais irônico que isso possa soar vindo dos meus colegas de cozinha. O último convite foi de Erick, o maître, que chamou todos nós para sair para beber e comemorar seu aniversário. Os caras chegaram a fazer uma aposta sobre como seria o comportamento de num ambiente descontraído, já que nunca o vimos fora do restaurante, porém ele frustrou a todos nós quando não apareceu na noite marcada. Ele nunca ia a lugar nenhum.
Jessica e eu tínhamos a impressão de que na verdade ele não gostava de nenhum de nós e devia sentir prazer ao nos comandar daquele jeito mais... impiedoso. Já alguns funcionários que trabalhavam ali há mais tempo não se atreviam a sequer abrir a boca para falar um “a” de e diziam coisas maravilhosas sobre ele. Talvez ele realmente fosse alguém muito sociável, ou pelo menos era com qualquer um menos nós.
Apesar das nossas trocentas teorias sobre e sua vida pessoal, a grande verdade era que não sabíamos de nada. E estava tudo bem para mim não saber, eu estava muito satisfeita em apenas tê-lo diante de mim, sendo delicioso e sem nenhuma interação significativa.
Estava, até ele começar a aparecer em meus sonhos.
E quando digo aparecer, não é tendo-o interagindo comigo de uma forma diferente do que acontecia na realidade, bem que eu queria poder fazer algo com ele pelo menos dentro do meu subconsciente, mas não, o que vinha acontecendo há quase um mês era uma sucessão de sessões de tortura dentro da minha cabeça.
O jeito como chegava em meus sonhos era uma experiência completamente frustrante para mim, porque do mesmo jeito com que ele vinha de repente, chegando pelas portas brancas da cozinha e se direcionava até mim, eu acordava subitamente, sem nunca saber o que tinha a me dizer após andar tão decidido até onde quer que eu estivesse. O trabalho não era o único cenário para sonhos como aqueles, já o tive vindo me encontrar em parques de diversão e até mesmo na escola em que estudei no fim do meu ensino médio. Não importava onde, eu nunca tive sequer o vislumbre de tê-lo me tocando ou falando comigo em nenhum deles.
Sempre acordava puta da vida, com uma sensação péssima de impotência, querendo poder virar para o lado e conseguir retomar o mesmo instante para poder descobrir o que vinha depois, ou simplesmente poder ter uma versão diferente do homem frio e profissional com que trabalhava todos os dias.
— Bom dia, flor do dia. — Jennifer cantarolou atrás de mim, carregando as panelas enormes que usaríamos naquele dia.
Apoiada no balcão de aço central com a mão no queixo, suspirei ajeitando o chapéu branco sobre minha cabeça. Ainda era começo de dia, tínhamos uma tarde caótica e uma noite mil vezes pior pela frente. Ao que parecia, um desembargador famoso iria levar alguns convidados para jantar no La Saveur, as reservas foram feitas com antecedência, nada poderia estar fora do lugar para recebê-los, somente saber que eles iriam nos visitar foi capaz de deixar todos nós de cabelos em pé.
Até porque estaria ainda mais puto da vida, e pior, daquela vez teria um motivo.
— Bom dia pra quem? — Murmurei desanimada, não evitando um bocejo, tão intenso que meus olhos se encheram de lágrimas. Eu realmente queria chorar, mais que isso, queria poder dormir nem que fosse por apenas dez minutinhos.
— Não dormiu de novo? — Jess veio atrás, também trazendo as panelas brilhantes, recém-ariadas.
— Não. — Choraminguei, levando as mãos ao rosto. — São esses malditos sonhos, eu não aguento mais...
— Continua sem conseguir dar pro cara? — Kevin encostou-se na bancada paralela. O encarei feio por cima do ombro. Acho que aquela já era uma boa resposta.
Se eu tivesse sonhado transando com , eu com certeza não estaria com aquela cara péssima. Muito pelo contrário, estaria sorrindo à toa.
— Não, Kev, eu acordei de novo antes de sequer chegar perto dele.
— Sabe que isso é psicológico, né? — Lá vinha Jennifer, com seus estudos na área de psicologia parados em 2015, quando ela achou que queria ser psicóloga antes de mudar de ideia e largar a faculdade para fazer algo relacionado à gastronomia.
Parecia a Barbie profissões, eu ansiava para saber qual seria sua próxima ocupação dos sonhos.
— Só se for uma resposta traumática dela para evitar ouvir os gritos dele enquanto dorme. — Não consegui segurar o risinho que me escapou com a palhaçada dele.
— É sério, Freud explica. — A encarei de sobrancelha arqueada.
Sabia quem era Freud, óbvio, só não sabia ao certo sobre o que ele teorizava. E com a suspeita de ele ter algo a ver com os sonhos que vinham me infernizando, sinceramente tinha medo de descobrir.
— Ele fala algo sobre desejos recalcados, que nada mais são que desejos que ficam no nosso subconsciente, coisas que temos vergonha de falar em voz alta ou que não queremos que os outros saibam. — Franzi a testa. Infelizmente eu falhei miseravelmente naquela coisa de manter segredos dos meus colegas.
Não era uma grande novidade no trabalho o quanto eu babava em , todo mundo sabia, mas eu não me preocupava com o risco de aquilo chegar até ele porque aparentemente nenhum de nós tinha abertura para conversar com nada além do necessário. Eu já tinha virado motivo de chacota, não somente por ser algo como uma paixão platônica impossível, mas também por eu ainda conseguir ter tesão naquele brutamontes rude.
— E aí entramos na teoria que ele tem chamada “Teoria dos sonhos”, que é o seu caso minha cara, . — Enlaçou meu pescoço com o braço, apoiando-se em mim. — Você sonha com o , mas reprime o desejo de dar pra ele porque sua consciência sabe que é impossível, mas seu subconsciente não sabe, por isso cria situações propícias em sonhos para que você tenha a chance de realizar suas fantasias.
— Mas eu nem ao menos tenho tempo de falar com ele! Como meu subconsciente sabe que quero transar com ele? — Quase choraminguei. Para mim, não fazia sentido algum.
— Amiga, você tem que entender que Freud era um puta de um tarado, via sexo em tudo. — Kevin riu sacana, certamente se identificou com o velho. — E também é o , né? Para você ele é o sexo em pessoa, mesmo que você não admita isso, está aqui, dentro da sua cabeça. — Cutucou minha têmpora com a ponta do dedo. — Desejo recalcado, lembra? E é por isso que você acorda sempre que ele chega perto de falar com você, sua moral relaciona ele a sexo e censura, fazendo você acordar.
Então quer dizer que meu próprio subconsciente estava me negando uma experiência erótica com o homem mais gostoso desse planeta? Porque ele me odiava tanto?
— Porra, nem em sonho eu vou conseguir dar pra esse homem? — Brandei, visivelmente indignada. — Como faço para driblar minha moral?
— Bom, acho que se você deixar de pensar que transar com o seu chefe é errado, ela para de ser uma estraga prazeres. Literalmente. — Prendeu o riso, arrancando risadas de Jessica e Kevin.
Me juntei a eles rindo da minha própria desgraça, afinal de contas, eu achava impossível que algum dia mudaria meu conceito de certo ou errado quando o assunto eram posições hierárquicas. Mesmo que minha imaginação pudesse facilmente projetar eu e em centenas de outros tipos de posições, ainda não me parecia certo ou possível. Principalmente quando meu chefe sempre deixava bem claro que nossa relação era estritamente profissional e nada mais do que isso.
— O que está acontecendo aqui? — Dei um pulo de susto ao ver o objeto dos meus desejos mais recalcados da vida parado na porta, alternando seus olhos frios e intimidantes em cada um de nós.
Desejei estar num dos meus sonhos, quem sabe assim ele não desapareceria? Ou talvez não houvesse a mínima possibilidade de ele ter ouvido uma frase sequer do que foi dito ali antes de percebermos sua presença.
— Temos muito trabalho a fazer hoje, não se esqueçam que o Sr. Johnson fez reservas para esta noite. — E ele nos deixou esquecer? Falando, ou melhor, berrando a semana inteira em nossos ouvidos? — Quero tudo impecável, andem, ao trabalho!
Brandon se juntou a Kevin e Jessica no transporte do restante das panelas, facas e utensílios da área de higienização de louças para os fogões. Já eu e Jennifer tivemos um pequeno delay em relação aos demais, tentando ler na expressão dele se havia algo que comprovasse que ele ouviu ou não meus planos frustrados de dar para ele.
Mas não havia nada além da ruga que se formava entre suas sobrancelhas na expressão dura que sempre carregava por aí.
Achei melhor que também saíssemos da frente dele e acabamos por ir parar na dispensa, para pesar os ingredientes que usaríamos mais tarde.
Tremendo igual vara verde, soltei o braço da loira. Jenny estava pálida feito papel enquanto eu levava a mão ao peito sentindo o coração bater frenético.
— S-Será que ele ouviu? — Encostei-me na parede ao lado da porta, tentando me recuperar.
— Acho que...
— Srta. Pattinson e ? — Esbugalhei tanto os olhos, que foi um milagre eles não terem saído rolando por aí.
Tropecei saindo de onde estava e me juntei à minha amiga diante de .
— Apenas um toque nas duas, tomem cuidado com o que conversam com seus colegas em meio ao expediente. — Minha alma deixou o corpo e acho que não voltaria tão cedo. — Este é um ambiente de trabalho, portanto, alguns assuntos não são... apropriados. — Sua voz estava suave, quase irreconhecível. Arrisco dizer que nunca a ouvi soando tão amena como daquela vez.
Não poderia descrever sua expressão facial, já que, numa tentativa falha de me autopreservar, escolhi manter meus olhos no chão ao invés de em seu rosto.
— Tudo bem, Chef . Perdão, não vai mais se repetir.
— Assim espero. — Saiu com a mesma rapidez e discrição com que entrou.
Pelo menos ele tinha esperado nos pegar a sós para dar aquela bronca, e não feito na frente dos outros. O que não era muito eficaz, porque eles saberiam de qualquer jeito. Contávamos tudo um para o outro ali, inclusive coisas que não tinham a ver com o trabalho, como na vez que Kev broxou com a última namorada que teve.
— Meu Deus! — Sussurrei com medo de que ele ainda estivesse por perto. — Que vergonha, meu Deus! — Levei a mão à boca sentindo meu rosto em brasa, queimando de vergonha.
Não era nem pela bronca em si, não, com aquilo já estávamos acostumados. Era por agora saber da minha vontade de dar para ele!
— Está vendo? Ficou todo estressadinho nos ouvindo colocar ele e sexo na mesma frase... Brandon tem razão, não deve saber o que é isso há anos para ser tão mal-humorado assim.
— Cale a boca! — Praguejei baixinho ao contrário dela. Olhei para a porta à espera de mais uma entrada triunfal dele, e daquela vez eu supunha que iria nos demitir.
Empurrei para Jeniffer um saco de batatas enorme e fui xingada por cada uma delas que eram descascadas na base do ódio. Ela odiava fazer aquilo, porém muito mais que um castigo meu, aquele foi um jeito que encontrei de fazê-la me esculhambar ao invés de corrermos o risco de tê-la falando mal de e ele escutar e nos mandar para o olho da rua.
O dia que se passou arrastando diante dos meus olhos, não poderia ter sido pior. Com o passar das horas, meu sono aumentava, fazendo-me andar para lá e para cá, parecendo um zumbi. Mas tudo aquilo foi apenas um prelúdio da desgraça que viria perto do anoitecer.
A tensão era sentida no ar, misturava-se com o cheiro dos pratos preparados durante o horário de almoço, quando era de praxe que a correria se intensificasse. estava visivelmente nervoso demais, queria impressionar o tal desembargador mais do que qualquer outro cliente.
Infelizmente já tinha ficado claro para mim que aquele definitivamente não era o meu dia de sorte. Foi decidido entre nós que dividiríamos as tarefas de um jeito diferenciado naquela noite devido à importância da reserva feita. Como eu já era habituada com sobremesas, acabei pegando essa parte para cuidar pessoalmente, para que tudo saísse como o planejado.
O tal desembargador tinha reservado um jantar conosco para receber colegas vindos do Brasil, aparentemente também deixou claro o cunho profissional do encontro, que seria muito mais formal que uma simples refeição em grupo, e sim uma reunião de suma importância para os negócios que regia. Saber que estava nas nossas mãos fazer todo aquele amontoado de palavras difíceis dar certo me dava dor de barriga, porém lamentavelmente nem o nervosismo foi capaz de me tirar o sono que eu estava desde que tirei uma rápida soneca na minha pausa de almoço mais cedo.
Claro que essa receita toda deu muito errado no fim das contas.
Ele tinha que ter marcado aquele jantar justo aquele dia?
Na hora de finalizar o Crème Brulée maravilhoso que estava preparando no meu canto da cozinha sozinha, aconteceu um pequeno acidente com o maçarico e para evitar de me queimar, quase todas as sobremesas prontinhas para servir foram ao chão. Chorei enquanto tentava limpar aquela bagunça junto de Jessica e Kevin, que me lembraram que não daria mais tempo de servir outro, a menos que eu tivesse mais uma hora para preparar tudo novamente.
Com medo de perder meu emprego, decidi servir outra sobremesa, sabendo que continuava correndo o mesmo risco de ir para a rua do mesmo jeito. Montei os pratos do melhor jeito que pude, sentindo o cheiro maravilhoso da torta de maçã, minha especialidade, e implorando aos céus que aquilo, por um milagre, me salvasse do desemprego. Quando viu os carrinhos deixando a cozinha com uma sobremesa fora do planejamento feito com o cliente, seu olhar furioso se cruzou com o meu no mesmo instante. Eu, que o tinha evitado o dia inteirinho, talvez não escapasse de levar outra bronca dele.
E o pior de tudo era que eu mereci, nas duas vezes.
foi requisitado à mesa e como o chef responsável pela cozinha, ele foi até lá, fazendo-nos trocar olhares tensos porta adentro. Murchei ainda mais minha postura, já prevendo que sobraria para mim mais uma vez. O que me consolava (se é que daria para encontrar algum consolo ali) era saber que eu iria me ferrar sozinha e não levaria nenhum dos meus amigos comigo.
O alívio foi geral quando o restaurante fechou as portas. Como sempre, nós da cozinha fomos os últimos a sair, porém eu ainda teria que colocar as louças sujas na máquina para estarem limpas na manhã seguinte, tínhamos uma escala e aquele era meu dia.
— Deixe isso para amanhã, . — Jeniffer desdenhou, já sem uniforme e com a mochila pendurada no ombro. — Vamos aproveitar a carona do Kevin!
— Não, amiga. Sério, podem ir. — Segurei ao máximo meu bocejo de exaustão. Não queria deixar nada para o dia seguinte, não queria dar repertório para o esculacho do meu desejo recalcado.
— Não me diga que vai pegar o ônibus...
— Não vou, vou chamar um Uber quando acabar, prometo. — Mandei beijos para os dois remanescentes, que caíram fora na hora, deixando-me sozinha ali.
Suspirei, empilhando os pratos e pronta para carregá-los até a máquina do outro lado da cozinha quando de repente ouvi um barulho. Atenta, apoiei a louça caríssima de volta na mesa, preferindo a morte a ter que pagá-las caso as derrubasse no chão. Meu sono até passou de tão tensa que fiquei.
— . — Era para eu ter respirado aliviada ao ver um rosto conhecido ao invés de um ladrão ou algo do tipo.
Mas meu estado de nervos não se alterou nem um pouco.
— Sim, Chef .
— Deixe a louça para amanhã, venha até o escritório. Precisamos ter uma conversa. — Engoli a seco, assentindo e sentindo minhas forças indo embora.
O que diabos eu iria fazer com minhas contas caso fosse mandada embora? Céus, e Bruce? Ficaria sem sua ração premium e voltaria a ser tratado como o vira-lata que sempre foi, mas nunca aceitou que era? E o aluguel? Será que meus pais me aceitariam de volta na casa deles, pelo menos por um tempo?
Se é que eu iria arrumar outro emprego tão cedo, com o ódio que devia estar de mim naquele momento, acho que eu nem teria coragem de pedir uma carta de recomendação.
Nem mesmo a barraquinha de sorvete da praça me contrataria com os xingamentos que ele colocaria nela.
Trêmula, o segui quando me certifiquei de que os pratos estavam seguros de cair e que tinha limpado o suor que de repente me surgiu na testa, de tão próxima de surtar que ele tinha me deixado.
— Com licença. — Murmurei entrando na sala impecavelmente organizada e limpa. já estava em sua costumeira cadeira atrás de sua mesa repleta de papéis. Evitei olhar para eles, sabendo que minha rescisão estava ali no meio. — E então, o que precisava falar comigo?
Não sabia se aquela pose de sonsa era uma boa estratégia, mas estava nervosa demais para pensar em outra coisa.
— Sente-se, por favor. — Indicou a cadeira à minha frente.
Teria um discurso de eliminação, que nem reality show? Fiz o que me foi mandado como sempre, disfarçando o suor de minhas mãos nas calças do meu uniforme branco.
— Queria falar sobre o jantar do Sr. Johnson. — Segurei minha expressão facial para não esboçar a vontade de chorar de raiva de mim mesma. — O que aconteceu hoje? Aquela sobremesa aleatória... Onde foi parar o Crème Brulée que estava estabelecido no menu que o cliente escolheu?
também estava se esforçando, acho que fora da cozinha ele tentava deixar de lado sua face do mal e evitava gritar ou demonstrar que estava bravo. Porém ainda estávamos dentro do restaurante, e ele parecia precisar me dar mais aquela bronca, se não iria literalmente explodir pelos ares como num daqueles filmes paspalhões. Tenho certeza disso.
— Eu preparei o Crème Brulée, digo, um tempo antes da hora de servir a sobremesa eu já tinha todos os ramekins prontos. Mas na hora de usar o maçarico quase me queimei e... Acabei derrubando tudo no chão.
A vontade de sumir apenas aumentava. Desviei os olhos de seu rosto sério para poder contar meu relato de tanta vergonha que fiquei.
Diante do silêncio dele, me forcei a continuar a me explicar mesmo assim. Mas a cada palavra dita eu me arrependia mais de ter recomeçado a falar.
— Como estava em cima da hora, já não teria mais tempo para recomeçar, e eu precisava servir uma sobremesa, então tive que improvisar uma torta de maçã. — Arregalei os olhos quando notei que fiz uma péssima escolha de palavras. — Desculpa, não quis dizer que me senti na liberdade de improvisar um pedido feito pelo próprio cliente, não foi minha intenção...
Suava frio e sentia minha garganta secar cada vez mais.
— Sei o que significa trabalhar aqui, que muitos queriam estar em nossos lugares e que poucos têm essa oportunidade. Não pretendo deixar esse tipo de erro acontecer novamente, eu... — Na beira de uma crise de choro ridícula, respirei fundo, vendo que já estava me embananando diante dele de novo. — Sei que isso não justifica, mas não tenho dormido muito bem e essa privação de sono talvez tenha contribuído para o desastre de hoje. Eu realmente sinto muito.
Eu não poderia ter cometido aquele erro ridículo justo num dia tão importante. Jamais me perdoaria por ter agido feito uma criança na cozinha, aquele era o meu trabalho e eu o levava muito a sério.
Depois de falar tudo em voz alta, longe da compreensão que meus amigos tiveram comigo, só consegui pensar que talvez não poderia querer que me perdoasse pelo meu deslize, se nem eu mesma pude fazê-lo.
— Espera um pouco, isso tem a ver com a conversa de mais cedo na cozinha?
Pisquei rapidamente. Sério que de todo aquele meu monólogo digno de clímax de um filme, só tinha prestado atenção naquele detalhe?
E por que justo aquele detalhe? Ele não poderia só brigar comigo por ser uma desastrada como qualquer chefe normal faria?
— Aquilo foi apenas uma teoria estúpida, minha insônia não tem nada a ver com você. — Ri nervosa, sentindo meu rosto esquentar.
Não parecia tão estúpida quando se sabia de todos os detalhes daquela história, na verdade0 tudo parecia se encaixar muito bem. Mas, claro, não sabia e nem precisava ficar sabendo daquilo.
— Eu sou o único com quem não consegue sonhar? — A ruguinha entre as sobrancelhas em sua expressão confusa me fez suspirar internamente.
Para que queria saber se eu sonhava com outros caras? Ou pior, se eu sonhava transando?
Jessica estava redondamente enganada, talvez gostasse sim de falar de sexo. Só ainda não compreendia porque escolheu justo eu e muito menos aonde ele queria chegar com aquele papinho disfarçado de curiosidade.
— Me desculpe, mas acho que não é um assunto apropriado para ser discutido dentro do ambiente de trabalho. — Quase sorri ao dizer aquelas palavras. riu fraco, assentindo com a cabeça ao perceber o que eu tinha feito.
O observei sorrindo sem sequer piscar, era uma cena tão inédita que merecia uma atenção maior. Além de um raro momento, era também um belíssimo sorriso aberto, adornado por duas covinhas afundando-se em cada lado de sua bochecha que ganhou um tom um pouco avermelhado.
Eu tinha mesmo deixado sem graça?
— Olhe no relógio, , o expediente já acabou faz tempo, e quanto ao seu uniforme... — Deixou no ar, o sorrisinho intacto substituiu suas palavras bem na parte que realmente importava.
Sem ela, eu permanecia com a incógnita em minha cabeça e não conseguia interpretar bem o que ele estava fazendo comigo naquele momento.
Estaria brincando de flertar comigo só para alimentar o próprio ego após descobrir da minha queda por ele?
Mesmo com aquela suspeita ou paranoia, não pude controlar o frio na barriga que me atingiu instantaneamente. Nos imaginei sem aqueles uniformes brancos e tive que me forçar a voltar à realidade.
— Bom, se não quiser falar sobre isso, tudo bem, te chamei aqui para entender o que houve e também para te dizer que, apesar de tudo, você teve muita sorte hoje. — Franzi o cenho. Aquele foi o dia mais azarado da minha vida, do que diabos ele estava falando? Tudo deu errado desde o momento em que pisei os pés para fora da minha cama. — O desembargador adorou sua torta, a esposa dele mais ainda, disse que sua receita a lembrou a que a avó preparava para ela na infância.
Levei a mão ao peito, sentindo-o acelerado. Primeiro, surpresa por aquele plot twist completamente inesperado, e também emocionada, pois foi minha avó quem me ensinou aquela receita.
se levantou da cadeira, dando a volta na mesa sem que eu o percebesse, piscava rapidamente a fim de dissipar as lágrimas que surgiram em minha linha d’água. Ser chorona era terrível mesmo, eu sentia vontade de chorar independente se as coisas dessem certo ou não.
— O desembargador inclusive insistiu para que eu lhe desse uma gorjeta pela boa memória proporcionada à esposa esta noite. — Arregalei os olhos ao ver a mão de pousar-se sobre a mesa e deixar um envelope.
Meu Deus, te pedi para não ficar desempregada e o Senhor me destes mais dinheiro?
— N-Não posso aceitar. — Gaguejei ainda embasbacada. As coisas nunca deram tão certo depois de dar tudo tão errado. Tanto que eu nem sabia como reagir!
Era contra a política da empresa receber mais dinheiro que o acordado na conta final do cliente. Vista como suborno, a prática de aceitar valores por fora era proibida até mesmo para os garçons e manobristas.
Era um teste para aí sim me demitir com justa causa caso eu aceitasse? Me encolhi sobre a cadeira, eu tinha dois anos de empresa, sair com uma mão na frente e outra atrás não estava em meus planos!
— Ele insistiu e eu também insisto, . — Só ao ouvir sua voz rouca tão próxima do meu ouvido me dei conta da pouca distância entre nós.
Encarei seu rosto de pertinho, sentindo-me hipnotizada por seus olhos verdes com alguns pontos azuis que me olhavam de volta, arrepiando-me dos pés à cabeça. O nariz grande e reto, a boca rosada entreaberta... Por que ele tinha que ser tão atraente? Me diz? Já não bastava a voz rouca e deliciosa, os braços fortes e o fato de ele parecer uma geladeira inox de duas portas de tão enorme que era, ainda assim precisava ter um rosto bonito daqueles?
E naquela distância mínima, era muito mais atraente, gostoso e...
Meu pai eterno, o que eu estava fazendo?
Desviei meus olhos de volta para o envelope. Era muito mais seguro fazê-lo, fora que minha mãe sempre me disse que eu tinha que manter meu foco no dinheiro e não em homens. Apesar de ser tão difícil fazê-lo tendo seu perfume amadeirado invadindo minhas narinas e molhando minha calcinha sem que sequer se movesse direito, eu tinha que ouvi-la, ao menos uma vez na vida.
— Você é uma ótima funcionária. Não estaria na minha equipe se não fosse tão boa no que faz. — Manteve a maldita mão grande sobre o envelope e permaneceu inclinado em minha direção, deixando-me tonta de tanto que eu prendia minha respiração para evitar de sentir seu cheiro bom e não cair em tentação.
“Eu queria ser boa o suficiente para estar na sua cama.”
Arregalei os olhos com meus pensamentos depravados. OK que eu tinha delírios ainda piores ao observá-lo na cozinha no dia a dia. Mas nunca esteve tão perto de mim, não sabia se estava conseguindo disfarçar o quão quente aquela sala estava parecendo para mim naquele instante.
— Tudo bem, já que insiste. — Tentei rir para disfarçar meu estado caótico. Peguei o envelope, tomando o máximo de cuidado para não tocar sua mão.
Sim, eu estava agindo como se pudesse me passar lepra ou algo do tipo. Em minha defesa, mesmo com aquele meu movimento, permaneceu de pé muito perto de mim, eu estava nervosa e torcendo para não estar tremendo por fora tanto quando estava por dentro.
— Você só precisa dar um jeito nesse seu problema... — Aquele assunto de novo. Engoli a seco, fechando o zíper da mochila que deixei no chão ao lado da cadeira. — Posso tentar te ajudar com essa questão da insônia, se... você quiser.
Levantei a cabeça ainda inclinada sobre minha bolsa.
O que ele quis dizer com aquilo? Me ajudar... Realizando meus desejos recalcados?
Fiz o que qualquer uma faria no meu lugar:
— E-Eu quero ir embora. — Levantei-me bruscamente, desorientada. Que papo estranho era aquele?
Aquela brincadeira tinha passado dos limites e não era nem um pouco engraçada. Onde já se viu, brincar com o tesão alheio? E se eu estivesse ovulando? iria deitar a cabeça no travesseiro tranquilamente sabendo que atiçaria uma mulher subindo pelas paredes e depois não lhe daria o que ela queria?
arqueou as sobrancelhas perto demais, já que ele não deu sequer um passo para trás. Ajeitei meu cabelo desgrenhado pelo meu movimento brusco.
Não foi aquela a pergunta feita. Aliás, foi uma pergunta? Parecia mais um convite. Mas não, ele não faria aquilo, ou faria? Meu senhor, será que eu enlouqueci de vez?
— D-Digo, eu preciso ir, está ficando tarde e eu moro meio longe. — Tomei impulso e me espremi num cantinho entre ele e a cadeira onde eu pude passar sem esbarrar em seu corpo grande e cheiroso.
— Claro, foi apenas uma sugestão. — Fui em direção à porta feito um foguete, fingindo ignorar o que me foi dito, como se fosse possível fazê-lo. — Você parecia tão tensa nos últimos dias...
Espera um pouco. Ele andava reparando em mim? Como eu nunca reparei reparando em mim?
— Mas se não quiser minha ajuda, tudo bem. Acho que nos vemos amanhã então.
Ele voltou a oferecer “ajuda”. OK, não era coisa da minha cabeça, muito menos uma brincadeira, por mais bizarro que fosse tudo aquilo.
Minha mão parou no meio do trajeto que fazia em direção à fechadura redonda e reluzente. Por um momento, me senti um pouco tonta, como se tivesse me esquecido de voltar a puxar o ar após soltá-lo no susto que tomei ao interpretar a intenção de ao me fazer uma proposta daquelas.
Respirei fundo daquela vez, enchendo os pulmões de ar e me preparando para tomar aquela decisão, que apesar de parecer extremamente óbvia, ainda soava como uma peça me sendo pregada. Como mesmo tinha acabado de me dizer, nos veríamos no dia seguinte, e naquele momento eu teria que decidir e entre duas opções:
Opção 1: Abrir a porta e ir embora, tendo que olhar para ele no dia seguinte e nos próximos que viriam, me arrependendo a cada segundo que passaria sabendo que pedi uma oportunidade daquelas com o homem dos meus sonhos.
Literalmente.
Opção 2: ...
Não parecia existir outra opção.
Quando dei por mim, já girava a chave da porta, voltando a puxar o ar exageradamente antes de virar o rosto na direção de , já prevendo que iria perder o fôlego quando o visse vindo até mim com aquele olhar decidido que apesar de parecer estranho, era extremamente familiar para mim.
Recuei ridiculamente, batendo as costas na madeira escura. Tive medo de acordar e me encontrar sozinha na minha cama, molhada em suor ao constatar que aquele tinha sido o sonho mais vívido que já tive na vida. Molhada também entre as pernas, sabendo que por mais crível que aquele sonho pudesse ter sido, eu ainda não teria a chance de senti-lo deslizar para dentro de mim.
— C-Como pretende me ajudar? — Me impressionei com a minha capacidade de conseguir formular uma frase numa situação crítica como aquela.
— Te dando o que você quer e o que sua mente tanto censura. — Suspirei em puro e genuíno alívio quando sua mão grande me tocou o quadril e ambos permanecemos parados no mesmo lugar.
Esforcei-me para permanecer de olhos abertos, temendo que em apenas uma piscada eu perdesse tudo aquilo de uma vez só. Ao invés de me puxar em sua direção, me empurrou apenas para poder avançar ainda mais para perto, prensando-me contra a porta antes de finalmente tomar minha boca pra si.
— Te mostrando que não é errado sentir desejo. — Murmurou contra meus lábios, deslizando as mãos grandes em seu toque firme pelo meu corpo.
Ainda era demais para mim nos ver naquela situação sem pensar que estávamos num sonho, quero dizer, aquele parado diante de mim, com as mãos em mim, me pegando daquele jeito, sua voz tão mansa e olhar desejoso... Não se parecia nada com a realidade.
— Não quando é recíproco. — Ofeguei tendo sua boca quente me beijando a linha da mandíbula.
— Espera, o quê? — Mesmo que fosse um ato totalmente involuntário, o afastei pelos ombros com muito custo.
Tinha demorado tanto para tê-lo daquela forma. Para falar a verdade, nunca esperei que o teria de jeito algum, mas agora que tinha, precisava parar aquela loucura para tirar a limpo o que ouvia. Porque, porra, aquilo sim era uma surpresa e das grandes.
riu baixinho, provavelmente pela indignação estampada em meu rosto. Prendi a respiração quando ele pousou a mão na porta, prendendo-me ali mais uma vez. Não entendia ao certo aquela tara de me prensar contra as coisas, só tinha certeza dos efeitos que aqueles gestos causavam dentro de mim e de que, apesar de bom, não era necessário, eu não iria a lugar algum.
— Sei que sou um tirano como chef. — Deslizou o nariz longo pelo meu rosto. — Mas não há um dia desde que te contratei que meus olhos não passem por toda a cozinha em busca do seu rosto. — Olhei em seus olhos engolindo a seco. De todas as coisas que já ouvi sair de sua boca, aquela com certeza foi a mais inacreditável que já ouvi.
Tipo, eu não fazia ideia que aquilo acontecia e estava incrédula com a possibilidade de ter me observando sem que eu percebesse! Que horas ele costumava me olhar? Quando eu estava montando pratos concentrada em colocar glacê nos pontos certos dos bolos? Porque se fosse, provavelmente me via fazendo caretas horríveis e colocando a língua para o lado toda vez que evitava distrações.
Péssimo.
— Sempre que experimento suas sobremesas, me pergunto se o seu gosto é tão doce quanto o delas. — Retiro o que disse antes, aquela sim foi uma frase impactante. Foi de zero a mil muito rápido.
— E-Eu pensava que não gostava de mim. — Disse trêmula. Àquela altura, eu tinha entendido o conceito de precisar estar encostada numa porta, estava até agradecida, precisava daquilo e não sabia. Sentia que minhas pernas cederiam a qualquer momento.
— Admito que pego um pouco pesado na cozinha. — Seu sorrisinho prepotente me fez pulsar entre as pernas. — Pareço não gostar porque não poderia demonstrar que gosto, e gosto muito. — Sorri nervosa contra sua boca, que se chocava com a minha a cada frase dita.
Parte de mim desejava que ele se calasse e passasse a fazer logo o que queria comigo, mas a outra metade queria ouvi-lo revelar tudo o que nunca disse em voz alta e também jamais passou pela minha cabeça.
— Prometo pegar leve com você essa noite. Ser menos exigente e mandão. — Quase não me foquei no que ele disse, suas mãos deslizaram para minha bunda assim que fui liberta de onde estava presa minutos atrás.
Pisquei rapidamente, assimilando. Minha resposta foi um não veemente, antes de ser beijada novamente. Eu não queria que ele pegasse leve coisíssima nenhuma. Só eu sabia o tanto de tesão aquele homem bravo e seus gritos me causaram naqueles dois anos trabalhando juntos. Sempre achei que aquela energia toda poderia estar sendo melhor gasta transando, mas nunca pude externar tal sugestão.
Bom, não podia antes, né?
— Não, por favor. — Suspirei pegando seu queixo, tomando sua boca e invadindo-a com minha língua. riu enquanto vagávamos pelo escritório, às cegas e completamente ofegantes.
— OK. Você pediu por isso. — Sorri abobalhada. Eu finalmente soube pedir o que eu queria há tanto tempo.
Fui separada de seu peito quando, sem perceber, fui guiada até a mesa que estava há muitos passos de distância da porta. Era louco pensar que, aos beijos, o trajeto pareceu dois míseros passos. Estava sendo tudo tão rápido que mal nos dávamos conta daquilo. E apesar da minha urgência em estarmos nus em qualquer canto daquela sala, eu ainda queria prolongar aquele momento o máximo possível e gravar cada segundo dele.
Já tinha passado da fase de negação, de acreditar que finalmente estava milagrosamente sonhando com , da negação já tinha pulado direto para a aceitação. Sabia que poderia ser algo de apenas uma noite e por isso não queria que pegasse leve, queria que ele me desse tudo de si porque sabia que talvez nunca mais teria algo parecido.
Apesar de ter dito que era recíproco e estar me deixando louca com aqueles beijos lentos, cheios de mãos bobas, ele continuava sendo o emocionalmente distante e uma incógnita, o que não me fazia esperar muito dele além de uma foda maravilhosa.
Suas mãos ágeis me agarraram pelos quadris e fui colocada sentada sobre o móvel aparentemente resistente, a madeira poderia ser boa, mas não sabia se queria colocá-la a prova. Empurrei um pouco os papéis que estavam por ali, além de alguns enfeites que pudessem quebrar durante a ação que estava por vir.
se encaixou entre minhas pernas, que se abriam instintivamente para qualquer coisa que ele fazia, como se tivesse alguma espécie de senha ou um reconhecimento facial, não sei, mas de qualquer forma, estava mais que nítido como eu estava entregue a ele.
— Olhe o que faz comigo. — Pegou minha mão, levando-a até o volume de sua calça.
Ele continuaria a me chamar pelo sobrenome, como fazia na cozinha. Me deleitei pensando em como eu adoraria aquela noite. Era exatamente tudo o que eu queria ter sonhado, só que melhor, era a realidade.
Mordi o lábio tentando esconder o sorriso safado que escapou sem que eu conseguisse conter. Passei os dedos sobre o tecido marcado pelo seu pau, observando-o suspirar com o simples contato superficial.
— Nunca pensei que um dia iria te tocar assim... — Levantei o rosto, encarnando-o séria, ainda movendo minha mão sobre o contorno de sua calça estufada.
— Nem eu. — Sorriu, afastando meus cabelos. — Mas depois do que ouvi na cozinha hoje... — Senti o rosto esquentar em vergonha. corria os dedos pelos botões do blazer do meu uniforme, abrindo-o vagarosamente. — Pensei nisso o dia inteiro, pensei em você, em nós dois juntos, matando nossas vontades.
Ele empurrou a peça branca pelos meus ombros e o deslizou pelos braços até ir parar em algum canto do chão. Meus pelos se eriçaram quando se inclinou, fazendo uma trilha de beijos pelo meu ombro à medida que puxava a regata que eu ainda vestia para cima. O ajudei erguendo os braços, sentindo-me em desvantagem por estar sendo despida enquanto permanecia com todas as peças no corpo.
Antes que eu pudesse protestar contra aquilo, sua mão grande me calou ao se enterrar em meus cabelos próximos da nuca, puxando-os e causando uma ardência deliciosa no meu couro cabeludo, para logo depois tirar o elástico que prendia os fios no alto de um rabo de cavalo, libertando meus cabelos e deixando-os livres para caírem pelos meus ombros e colo.
Prendi a respiração quando ele se inclinou, tirando-os do caminho para me beijar o pescoço com os lábios quentes recém-umedecidos, ora roçando o nariz grande por minha pele, ora chupando e me dando a certeza de que ficaria marcada pelos próximos dias.
Talvez fosse bom deixar marcas, só assim eu acreditaria que foi real quando acordasse no dia seguinte.
Lá ia e seus dedos largos de novo, passeando por meu tronco, indo da minha cintura à linha da minha coluna, dedilhando cada vértebra como se meus ossos fossem parte de alguma palavra escrita em braile e ele quisesse decifrar o que tinha escrito ali. parecia querer gravar cada detalhe de mim em memória, a forma como me tocava, beijava e até olhava para mim, eu pude senti-lo atento a todos os meus detalhes.
— Nada disso. — O afastei com muitíssimo custo quando vi que ele queria abrir o fecho do meu sutiã. — Chegou a minha vez. — Deslizei as mãos pelo peito ainda coberto pela camiseta branca. — Tira. — Indiquei o tecido com o queixo fazendo-o rir da forma autoritária com que falei.
fez sinal de rendição, como se tivesse sido coagido a fazê-lo, mas seu teatro não prendeu minha atenção por muito tempo, logo meus olhos se focaram em um local específico, apenas nele: aquele abdômen malhado.
Que era delicioso eu nunca tive dúvidas, mas nem minha imaginação fértil foi capaz de me preparar para aquela visão do paraíso que era seu tronco nu. Me vi maravilhada e ansiosa para tocar sua pele, arranhar os gominhos tímidos que ele tinha e beijar cada centímetro do seu peitoral. As tatuagens eram apenas um bônus, eu já tinha decorado todos os desenhos do seus braços e lembrava da minha curiosidade para saber se ele tinha algo a mais debaixo das roupas.
A borboleta era perfeita, tão milimetricamente centralizada naquele corpo gostoso que até pareceu que tinha nascido com ela. Ela se movia conforme ele respirava, deixando-me hipnotizada só de olhar para ela por pouco tempo. Mais embaixo havia um par de ramos, que sumiam no cós de suas calças, fazendo-me desviar o olhar quando percebi para onde estava olhando por tempo demais para passar despercebida por e seus olhos penetrantes.
— Gosta do que vê? — Soltei um risinho, ele sabia que sim. Mas mesmo que nem sonhasse da minha queda por ele, acho que não era muito difícil de adivinhar visto que eu devia estar babando. — Você pode tocar se quiser.
Avancei minha mão em sua direção, sorrindo que nem idiota. me imitou, chegando mais perto, pegando-me pelo pulso e direcionando ambas as mãos pelo próprio peito e barriga. Que delícia.
— É muito melhor do que eu imaginava. — Confidenciei sem fôlego.
OK, eu poderia pensar que talvez estivesse supervalorizando agindo como se olhasse para a oitava maravilha do mundo recém-descoberta, mas o meu desejo por ele era tanto, que mesmo externando minhas reações a seu corpo cada vez mais despido diante de mim, eu ainda não conseguiria traduzir o tesão que estava sentindo em palavras.
— Falando em imaginação... — Seus dedos voltaram a deslizar por minhas costas à procura do fecho do sutiã escuro que eu usava. Sorri tímida, daquela vez deixando-o fazer o que tanto queria. — Tenho sonhado com isso há algum tempo. — Sussurrou ao pé do ouvido enquanto as alças caíam em lentidão dos meus ombros até os antebraços.
mal esperou a peça terminar de passar pelos pulsos, já os agarrou ao mesmo tempo, enchendo ambas as mãos grandes com meus seios. Seu olhar faiscou à medida em que ele, mais uma vez, reparava em meus detalhes, desde minha pinta próxima ao mamilo até o fato de estarem rijos, denunciando meu estado quase febril ao ter suas mãos me tocando daquele jeito.
— Sabe o que seria divino uma hora dessas? — Não consegui pensar em nada além da visão que estava tendo diante de mim. — Te lambuzar de buttercream e chupar você todinha.
Solucei de prazer quando meu chef se inclinou ansioso, abocanhando um deles com vontade, fazendo-me tombar o corpo um pouco para trás de tão desmontada que fiquei com sua língua circundando minha auréola enquanto sua outra mão fazia maravilhas ao massagear o outro seio, que não ficou sem ser apreciado, já que fez questão de chupá-lo com a mesma volúpia do primeiro agraciado por aquela boca rosada.
— Não seria maravilhoso? — Voltou a subir os lábios pelo meu colo e pescoço.
Ofegava sem me recordar do que ele tinha dito antes de literalmente cair de boca nos meus peitos. Aqueles lábios molhados e quentes, céus, eu sentia que iria desfalecer a qualquer momento ali, bem na frente dele.
Mas mesmo inconscientemente, assenti ainda sem palavras. Não importava, qualquer coisa que ele quisesse fazer comigo ali seria maravilhoso.
— Não seria, ? — Seus dedos largos me agarraram uma das coxas, despertei do meu transe encarando os olhos verdes e o olhar duro que me deixava louca de tesão.
— S-Sim. — O aperto continuou, sorri safada ao entender o que queria de mim. — Sim, chef.
Ele se deu por satisfeito ao assentir com a cabeça, mantendo aquele contato visual desconcertante comigo. Minha coxa foi liberada, fazendo-me imaginar o rastro que aquele contato iria deixar para trás no dia seguinte. Mordi o lábio inferior quando suas mãos foram até o cós da minha calça, voltou a se inclinar para beijar meu corpo, só que daquela vez desceu a boca até minha barriga.
Eu já revirava os olhos de prazer, apenas prevendo onde ele e sua língua deliciosa chegariam a seguir.
Porém, como num passe de mágica, uma lembrancinha do início do dia me veio à cabeça, fazendo-me parar suas mãos onde estavam.
— Espera! — Completamente descabelada, ofeguei diante de seu rosto confuso. — É que... eu não planejei que ia transar hoje. N-na verdade, já faz algum tempo que não faço isso...
Evitei olhar em seu rosto, era vergonhoso demais. Porém não pude evitá-lo por muito tempo, inclinou a cabeça para frente, chamando minha atenção, quando vi, o tinha encostando a testa na minha. Ele riu baixinho, ainda estávamos imóveis com ambas as mãos travadas no cós das minhas calças.
— Eu estou com a calcinha errada. — Resumi, me sentindo idiota pela riqueza de detalhes que usei ao invés de simplesmente dizer aquilo.
não precisava saber que eu estava com teias de aranha e subindo pelas paredes antes de me foder.
— OK. — Riu mais uma vez, desencostando-se devagar, ainda mantendo os olhos nos meus. — Eu vou fechar os olhos enquanto tiro sua roupa. — Assenti veemente, sentindo o rosto queimar. — Mas saiba que é uma pena ser privado de uma cena dessa.
Encolhi os ombros envergonhada, mesmo não tendo acordado quando me tocou pela primeira vez naquela noite, às vezes me pegava com medo de que nada daquilo fosse real. Porque era tudo bom demais para ser.
Ele cumpriu o prometido, deixando-me aliviada ao saber que não olharia para a cara dele nos próximos dias sabendo que tinha me visto de calcinha bege com gatinhos estampados.
Me derreti quando ele abriu os olhos e voltou a beijar meu corpo já desnudo, passando os lábios recém-umedecidos por minha barriga e indo além. Quando beijou demoradamente abaixo do meu umbigo, quase tive um ataque cardíaco.
Sabia que poderia descartar meus exames marcados para os próximos meses, porque se eu não morresse naquela noite, não morreria mais. Ao menos não do coração.
enfiou o rosto entre minhas pernas trêmulas, provando do meu gosto e arrepiando-me dos pés à cabeça. Tive que me apoiar na mesa pra evitar cair para trás quando sua língua me tocou o clítoris devagarinho, ele parecia querer apreciar cada segundo ali, ou simplesmente me enlouquecer completamente.
— Doce... Molhadinha... — Beijou minha intimidade com delicadeza, encarei seus olhos e gemi manhosa, se deleitou com o estado que tinha me deixado. E pelo som de sua risadinha, ele parecia estar apenas começando. — Você é deliciosa.
voltou me chupar majestosamente bem, me despertando dúvidas sobre sua veracidade. Porque ele não parecia ter vindo na minha linhagem de meros mortais e sim descendido dos deuses do Olimpo, não tinha sido parido e sim esculpido a mão pelo mais cruel escultor existente, como poderia existir um só homem daqueles para tantas mulheres que queriam dar para ele? Não era justo!
Joguei a cabeça para trás, já não suportando assistir aquela cena, meu corpo não me permitiria manter o controle se eu continuasse a assisti-lo do jeito que sempre sonhei em vê-lo: com a cara enterrada no meio de minhas pernas.
Puxava seus cabelos macios à medida em que sentia o calor me consumir aos poucos, rebolava desgovernada contra aquela boca quente e habilidosa, queimava por dentro e suava por fora, já podia sentir o ápice vir ao meu encontro e aproveitava o êxtase que me tomava enquanto ele não chegava.
Mas de repente, tudo parou.
— O-O que...
— Levante-se. — Encarei embasbacada sua mão estendida para mim.
Ora mas o que era aquilo? Uma espécie de brincadeira de mau gosto? Por que ele não me demitiu de uma vez?
Sem resposta, pegou-me pelo braço, colocando-me de pé. Se é que eu ficaria daquele jeito por muito tempo, de pernas bambas e louca, completamente louca para gozar.
Lembrei-me do motivo de ter ficado tanto tempo sem sexo: antes dele, sempre tinha uma humilhação a ser vivida.
— De costas para mim. — Franzi o cenho.
— M-Mas...
— Foi uma ordem, , de costas. Agora. — Virei-me ainda confusa e puta da vida. — Mãos na mesa.
Obedeci mais uma vez, processando as informações direito e voltando a sentir o fogo de antes. Ri em meio à respiração falha. Ouvir desabotoar as calças e descer o zíper pareceu uma eternidade, ainda sentia o prazer tomar meu corpo, mas queria ter suas mãos em mim quando chegasse lá. Me recusava a gozar naquela noite se não fosse pelas mãos dele. Por isso, permaneci parada onde estava, ansiando para o que quer que ele estivesse planejando.
Sorri satisfeita quando seu calor me alcançou por trás, meu chef me tocou o quadril com firmeza, quase me desmontando inteira com o ato. Recebi um beijo no ombro antes que ele pudesse encaixar o rosto na curva do meu pescoço. Não segurei um ronronar quando passou uma das mãos pela minha bunda, apertando com força antes de desferir um tapa estalado.
— Disse que não queria que eu pegasse leve. — Cuspiu na própria mão, umedecendo minha entrada logo depois. Tive que fazer uma força tremenda para me manter firme, de pé. — Agora empina essa bunda pra mim e lide com as consequências. — Sua voz rouca sussurrando no pé do meu ouvido foi uma distração para o que viria a seguir.
Gritei quando ele me invadiu sem muita cerimônia, entendi o motivo de estar com as mãos apoiadas na mesa quando fui para frente com o tranco. A cabecinha entrou e logo depois sua extensão, causando uma ardência momentânea. Arfei, fechando as mãos em punho, eu até sentia que deveria agradecê-lo porque, apesar de tudo, ele não tinha colocado tudo. Algo me dizia que ao menos ainda não.
passou a meter firme e rápido, agarrando meus quadris e não me dando muito tempo para aproveitar a delícia que estava sendo ser fodida pelo homem dos meus sonhos.
Aquilo deveria ser crime, e inafiançável.
Como se estivesse lendo meus pensamentos pecaminosos, diminuiu a velocidade, daquela vez invadindo-me por completo, deixando-me sentir cada centímetro entrando e saindo. Sentia sua testa molhada em suor encostar-se em meu ombro, ouvia seus gemidos abafados pelo barulho dos nossos corpos se chocando, agora com menos furor que no início.
— Quero que na próxima vez que for dormir pense nessa noite. — colou os lábios em meu ouvido novamente enquanto ainda me fodia devagarzinho. Eu gemia baixinho, tentando assimilar o que sua voz gostosa me dizia. — Do modo como te toquei, da minha língua te chupando e de como eu te fodi. — Sua mão grande deslizou por entre minhas pernas e passou a dedilhar minha buceta e estimular meu clítoris.
Eu jurava que estava começando a ver estrelas.
— Quero que sonhe só comigo, quero ser o único homem a ocupar seus sonhos. — Eu já arfava, sentindo o ápice vir, segurava-me sobre a mesa para não ceder ao chão. — Me ouviu bem, ?
Assenti repetidas vezes, impossibilitada de formular uma frase sequer devido ao nível de êxtase que tomava meu corpo.
Mas antes que eu pudesse gozar, mais uma vez, tirou as mãos de mim. Frustrada, fui tirada de perto da mesa que já não estava mais no lugar inicial dela. Sem forças para protestar ou xingá-lo por não me deixar gozar em paz, fui deitada no sofá que havia ali.
— Eu sei, eu sei... — riu, o desgraçado filho da puta riu da minha cara no meu momento de maior fragilidade.
Seus lábios tomaram os meus e permaneceu de pé para se livrar das calças que o vestiam do calcanhar para baixo. Encarei seu membro repleto de veias desejando fazer milhões de coisas com ele, e quando me vi hipnotizada, fui dispersa com a chegada de novamente no sofá escuro de couro.
— Vou te deixar gozar, eu prometo. — Mordeu o lábio voltando a mover os dedos sobre meu clítoris, beijando minha boca devagarinho, enroscando a língua contra a minha sem a mínima pressa possível.
— P-Por favor... — Supliquei vendo-o morder o lábio desejoso.
— Você é tão linda. — Sussurrou, me cobrindo com seu corpo grande. — E é a nova funcionária do mês. — Mesmo em estado febril consegui rir daquele comentário idiota.
passou a brincar comigo novamente, esfregando a cabecinha e pincelando minha entrada que àquela altura do campeonato já pulsava em desejo. Acho que de pura piedade, ele resolveu finalmente deslizar para dentro de mim novamente, e daquela vez fiz questão de assisti-lo até que nossos quadris se encontrassem.
Evitei até mesmo piscar, qualquer frame perdido ali seria um desperdício, o modo como deu tudo de si inclinado sobre meu corpo, metendo fundo e me deixando louca a cada segundo que passei debaixo daquele conjunto de músculos envoltos de sua pele quente e tatuada... Céus, cheguei a questionar minha sanidade, de tão delirante que foi tudo aquilo.
Passava os dedos por aquele abdômen desenhado e não me lembrava de ter visto tantos músculos nem quando estudava anatomia na escola.
— Isso mesmo, goza pra mim. — Eu, como a boa funcionária que era, obedeci prontamente àquela ordem suspirada em meio aos gemidos deliciosos dele.
Senti meu corpo atingir o ápice da temperatura e mesmo exausta ainda poderia apostar que faria tudo com ele de novo e de novo quantas vezes fossem necessárias, e nem cobraria pelas horas extras estando onde estávamos durante a noite toda. Tremi dos pés à cabeça, tendo espasmos por todos os cantos e sucumbindo ao formigamento que me atingiu. Gemia, sussurrava, soluçava contra seus lábios enquanto tive seus olhos vidrados nos meus o tempo todo.
Quando infelizmente saiu de dentro de mim, o vi se levantar do sofá e permaneci deitada, sem forças para continuar. Sei que disse que poderia dar para ele a noite toda, mas eu acho que precisaria de um descanso de uns 10 minutos para dar uma trégua ao meu pobre coraçãozinho.
— , ainda não acabei com você. — Olha, eu discordava, ele tinha sim acabado comigo.
Abri os olhos que nem percebi que tinha fechado, e ainda ofegante, encarei seu rosto sério (não sem antes passar os olhos por todo o resto).
— Venha aqui, de joelhos. — Ressuscitei imediatamente, levantando-me. Afinal de contas, já dizia o ditado: um boquete e um copo d’água não se negava a ninguém.
Lhe sorri safada após passar a língua em toda sua extensão antes de abocanhá-lo de uma vez, não consegui colocar tudo, então passei a chupar o que podia contando com sua compreensão, claro. Mas como eu mesma tinha decidido no início, não iria pegar leve comigo, então ele logo passou a forçar-se garganta a dentro. Não poderia dizer nunca que me arrependia de ter escolhido tudo aquilo com emoção, estava realizando tudo o que pedi mentalmente ao Papai Noel no natal passado.
Só de ter o deleite de poder olhar para e ver sua expressão retorcida em puro tesão... Queria poder gravar tudo aquilo, principalmente as baixarias que ele pronunciou enquanto explodiu de prazer em minha boca, com os dedos enroscados em meus cachos à medida em que seu gosto me enchia a boca e sujava meu rosto.
Eu nunca mais iria lavar ele, inclusive.
Ri daquele pensamento ao tentar disfarçar o meu faniquito digno de uma adolescente. Meu chefe me puxou pela mão, fazendo-me dar conta de que tinha sido feita de boneca por ele o tempo todo e não tinha um “a” para reclamar daquilo justamente por ser ele o responsável por me conduzir.
Nos deitamos no sofá, quer dizer, o que deu para deitar, já que as pernas de ficaram um pouco para fora devido a sua altura. Eu fiquei confortável ao realizar meu sonho de deitar minha cabeça nos dois travesseiros da NASA, mais conhecidos como os peitões que ele devia malhar muito na academia.
Ai, ai... tudo tãao bom para ser verdade que até me permiti fechar os olhos, voluntariamente daquela vez, já não sentindo mais medo de acordar em casa e sozinha. Até porque sendo sonho ou não, eu tinha conseguido dar para ele. Sentia que minha missão de vida tinha acabado de ser cumprida e estava radiante.
— Ei, nada de dormir. — A ponta do meu nariz foi levemente apertada pelo seu indicador e polegar.
Abri os olhos e me esforcei para mantê-los daquele jeito, com muito custo levantei o rosto para encará-lo. sorria sereno, pude sentir uma de suas mãos circundar meu quadril.
— Desculpa, é que você me deixou um pouco cansada. — Se me cansasse daquele jeito todos os dias estava ótimo, mas pelo bem do meu emprego censurei meu pensamento.
— Tudo bem, você trabalhou duro hoje. — Acariciou minha bunda. Ri da cara de cafajeste que ele fez, provocando sua risada.
Era surreal vê-lo sorrir daquele jeito! Antes, eu podia jurar que ele não devia ter todos os dentes na boca, já que não os via com frequência por conta da carranca que exibia para cima e para baixo na cozinha.
Aproveitei toda aquela simpatia influenciada pela brisa que só um pós-sexo de qualidade pode nos dar e apoiei-me em seu peito, preparada pra tirar a dúvida de uma vez por todas.
— , posso te fazer uma pergunta? — Ele me fitou com seus olhos verdes, uma sobrancelha se arqueou e eu comprimi os lábios com a possibilidade de uma negativa.
— Você acabou de fazer. — Revirei os olhos. — Não revire esses olhos para mim. — Ri gostosamente, vendo seu sorrisinho crescente ocupando seu rosto. — Vá em frente, pergunte.
— Por que não gosta de nós? — Antes que ele pudesse abrir a boca para responder, me adiantei. — Tá, já me disse que, na verdade, gosta de mim. — Coloquei uma mecha para trás da minha orelha teatralmente.
Era tão gostoso falar aquilo em voz alta, meu estômago se revirou até. De um jeito bom, é claro.
— Mas me refiro aos outros, digo, você nunca participa de nada conosco, te convidamos para o amigo secreto de fim de ano e você nem apareceu.
Para mim, era difícil imaginar alguém que pudesse não gostar dos meus amigos. Eu sabia que era absurdo para mim porque eles estavam na minha bolha, mas mesmo se não estivessem, eu trabalhava ao lado deles há dois anos, eram boas pessoas, a gente sempre se ajudou e se respeitou muito. Eu amava cada um deles e sempre me senti ofendida pela forma com que nos ignorava.
O achava extremamente gostoso, mas também não era cega! Notava possíveis falhas em seu caráter vez ou outra.
— Primeiro que eu odeio amigo secreto. — Hasteou o indicador fazendo-me dar o braço a torcer, eu também não era lá muito fã, participava para fazer parte da tradição mesmo. — Mas sobre todos os outros convites, eu confesso que não sou a pessoa mais sociável do mundo, não sei se conseguiria me enturmar bem no meio de vocês, não com a fama que tenho.
Comprimi os lábios, forçando-me a ficar calada. Não era porque eu tinha literalmente dormido com o “inimigo” que iria dedurar tudo o que falávamos mal dele pelas costas. Até porque, como podemos ver com o episódio dos sonhos de mais cedo, parecia estar bem a par do que fofocávamos em grupo pela cozinha.
— Nós somos fofoqueiros mas somos legais, eu juro. — riu, negando com a cabeça. — Acho que você poderia ao menos tentar. Se quiser posso fazer a ponte e inventar algo para que possamos te chamar... que tal?
Meu chef suspirou, remexendo-se no sofá e saindo debaixo de mim. Estranhei o movimento, mas também conclui triste que provavelmente teríamos que ir embora. Tínhamos transado ali, em pleno escritório do restaurante, mas agora dormir também já seria demais.
— Tarde demais. — Selou nossos lábios se levantando.
— Como assim, tarde demais? — Observei triste a cena de recolhendo as roupas no chão.
Poxa ele não poderia ficar ali, nu, só mais um pouquinho na minha frente? Já que eu não podia tirar uma foto, bem que poderia deixar que eu gravasse seus detalhes na memória ao menos.
— Vou embora, , recebi uma proposta de emprego num restaurante em Paris, e aceitei.
Não sabia dizer se tinha conseguido segurar minha expressão de choque corretamente, mas de uma coisa eu tinha certeza, a forma como meus olhos lacrimejaram foi ridícula. Tanto que até fiz questão de disfarçar piscando com rapidez, fazendo-as se dissiparem para que não escorressem pelo meu rosto.
Eu não iria chorar porque ele ia embora na frente dele, né? Seria demais até mesmo para mim.
iria embora justo agora que consegui realizar meu sonho de transar com ele? Iria me privar de tê-lo daquela forma outra vez? Não somente daquela forma, mas de todas as outras?
Não queria ter outro chef, era exigente, mas era incrível no que fazia, não conseguia me imaginar indo trabalhar sem ouvir um grito sequer dele, sem me sentir uma adolescente ansiosa e nervosa para ver o carinha que eu gostava mesmo que de longe.
— Vista-se, vou te deixar em casa. — Murmurou após passar a camiseta pela cabeça. Me dispersei do meu luto de futura viúva para me levantar também.
Tinha que me vestir e seguir com a vida como se nada tivesse acontecido. Não tinha certeza se iria contar aos outros o que tínhamos feito ali naquela noite. Bom, agora que iria embora talvez eu pudesse contar depois, quando ele estivesse lá em Paris.
Céus, o homem dos meus sonhos, o único homem possível para mim, tão longe... Eu precisava chorar, e iria ser imediatamente, quando eu estivesse escondida no banco de trás do Uber.
— Não prec...
— Não foi uma pergunta. — Respirei fundo ainda subindo minhas calças. Meu choro teria que ser adiado.
Naquela altura, eu já nem me preocupava com minha calcinha horrorosa. se esqueceria dela no momento em que pisasse em Paris e a primeira francesa desse em cima dele.
— Não posso te deixar sair sozinha por aí uma hora dessas. — Ajeitou meus cabelos desgrenhados para fora de camiseta branca.
Num passe de mágica, voltei a me derreter por ele, pensando que tinha pesado completamente o clima falando de sua ida. Poxa, eu iria dormir tão bem aquela noite sem saber daquilo... A ignorância realmente é uma dádiva.
separou os lábios dos meus indo até a mesa para ajeitar os papéis que bagunçamos, além de colocá-la de volta em seu lugar de sempre. Peguei minha mochila e fomos juntos até a porta, saí na frente, porém fui interceptada antes mesmo de colocar o pé para fora da sala.
— Vamos pela cozinha. — Virei o rosto e quase sussurrei de volta. Tá que estávamos fazendo algo errado, mas não tinha ninguém ali para nos ouvir falar em volume normal.
Até porque com o show que acabamos de dar no escritório, se tivesse alguém ali, com certeza estaríamos ferrados.
— Sei onde está o ponto cego da câmera de lá. — Assenti sem contrariá-lo. Eu não sabia nem onde elas ficavam localizadas, quem dirá se tinha como fugir delas.
Nos esgueiramos próximos aos balcões e conseguimos deixar o restaurante pela saída de emergência que nos levaria até a rua ao lado do restaurante. Não pude deixar de notar nossas mãos entrelaçadas enquanto íamos rápido pela rua deserta em direção ao carro preto estacionado mais à frente.
Em pensar que se ele não fosse embora eu poderia tentar investir num relacionamento... Bruce iria adorar mijar nas rodas daquele carrão dele...
— Como sabe o ponto cego da câmera? — Olhei de canto de olho, desconfiada. riu baixinho, terminando de colocar o cinto de segurança.
— Eu vejo as câmeras da cozinha diariamente. Como acha que sei quando vocês estão enrolando ou fofocando?
— Eu sabia! Você sempre chega na hora certa! — Sempre mesmo, Kevin até o chamava de alma penada, porque ele realmente parecia um fantasma pegando a gente no pulo e nos dando sustos.
— Vão ficar aliviados quando eu for embora.
— Ah, não fala isso... — Lamentei, murchando um pouquinho. Eu iria sentir a falta dele, principalmente depois daquela noite.
— Eu sei que vão, como disse, sei da minha fama. — Encarei o para-brisa enquanto trafegávamos pela avenida principal quase vazia. Eu não poderia discordar, mas também não queria que ele saísse se sentindo daquela forma. — Espero que você possa me visitar em Paris em breve, ou quem sabe trabalhar por lá também.
Soltei um riso desacreditado, era meu sonho. E ao contrário do que eu tinha acabado de realizar com naquela noite, aquele em específico sim poderia ser considerado impossível. Eu precisaria de muita sorte para chegar até Paris, sabia do meu esforço, mas ele quase nunca é o suficiente para poder nos fazer realizar sonhos como aquele.
— Imagina só, eu, em Paris. — Ri novamente, não desdenhando, mas me imaginando tentando falar francês, trabalhando em restaurantes que jamais imaginei sequer pisar os pés... Ah, quase suspirei ao me encostar no banco macio do carro de .
— Por que não? Você faz sobremesas maravilhosas. Salvou o dia hoje. — Sorri tímida, baixando a cabeça para esconder o rubor em meu rosto.
— Depois de quase ter ferrado com tudo.
— Ainda assim. Você tem potencial, . — Sua mão alcançou a minha e deixou um afago.
Senti meu coração se encolher dentro do peito. Era muito triste viver e ouvir tudo aquilo e não poder criar nem sequer um pouquinho de expectativa. Eu nem sabia como iria lidar com tudo aquilo quando o dia amanhecesse.
Quis que aquela noite durasse pra sempre.
Como meu estoque de boa sorte já tinha sido todo gasto com aquela transa, reconheci o começo da minha rua à medida em que dirigia por ela devagar. Tive a impressão de estarmos abaixo da velocidade o caminho todo. Mesmo sabendo que não deveria, imaginei se ele também não queria prolongar o máximo que pudesse nosso tempo juntos.
Mas como eu disse, sem mais golpes de sorte. estacionou na frente da casa que indiquei a ele.
— Bom, espero ter ajudado no lance da insônia. — Ri desafivelando o cinto de segurança.
Ri em puro desespero, deixando bem claro. Acho que tê-lo daquela forma pode ter até piorado minha situação.
Agora eu perderia noites de sono pensando no que mais poderíamos fazer juntos, e não mais com a ausência do que nunca chegamos a fazer antes daquela noite.
— Obrigada, . — Não era pela carona que eu estava agradecendo.
Era engraçado eu estar agradecendo por ele ter me comido. Mas eu realmente sentia que devia agradecê-lo por ter feito tudo aquilo tão bem.
Suspirei toda molenga, lembrando-me de tudo vividamente ao ser puxada pela nuca para um beijo. Era pra ser um, mas nos enrolamos em vários com direito a sua língua enroscada na minha e algumas mãos bobas aqui e ali. Eu tinha certeza de que se ele ficasse, poderíamos passar mais tempo juntos, e sem roupas de preferência.
— Quer subir? — Tentei usar minha voz mais sedutora naquela investida. Quem não arrisca não petisca, não é mesmo?
riu contra meus lábios, mordendo minha boca após desgrudar a dele da minha.
— Não posso. — Fiz um biquinho, atraindo mais um beijo rápido. — Amanhã tenho que estar cedo no restaurante. — Qual era a vantagem de ser chefe senão chegar atrasado quando queria? Ele já iria embora mesmo! — Queria muito, mas não posso.
— Tudo bem. — Respirei fundo, preparando-me psicologicamente para descer do carro e sair daquela atmosfera deliciosa que envolvia aquele par de mãos enormes em mim e seu perfume gostoso ao alcance do meu nariz a qualquer hora que eu quisesse senti-lo. — Até amanhã, então. — O beijei novamente, forçando-me a abrir a porta e ir embora.
Entrei em casa e me joguei na cama após me livrar dos sapatos e da mochila que carregava. Dormi a noite todinha, estava cansada e do melhor jeito possível. Não me lembrava de ter sonhado nada enquanto estive imersa no sono, porém permaneceria viva a esperança de ir dormir todas as noites e encontrá-lo em meus sonhos, e poder fazer tudo o que ainda queria fazer com ele na cozinha do restaurante ou em qualquer lugar aleatório que meu subconsciente maluco nos levasse.
FIM.
Nota da autora: Sim, eu curto escrever histórias de um capítulo só onde os pps não ficam juntos no final. Esse é um dos meus traços tóxicos hihihi mas que tal um remember em Paris pra esses dois? Huuum, já tenho ideias que só Deus sabe quando vão ser escritas... quem sabe um dia, vocês gostariam?
Amei escrever essa história, adoro escrever coisas idiotas que passam pela minha cabeça e meus amigos riem quando eu digo em voz alta. Espero que tenha sido tão divertido pra vocês quanto foi pra mim escrevê-la. Ah, um agradecimento especial para Hels e a Paloma (que provavelmente não vai ler isso kkkk mas só pra deixar registrado) pelo triplex alugado na minha cabeça com essa teoria maluca que no fim gerou algum entretenimento. Sigo com fé e torcendo para que um dia possa sonhar com Harry Styles, torçam por mim vocês também, pleeease? É isso, beijos e até a próxima!
Nota da beta: Agora só resta esperar pelo remember desse casal que é 🔥
Bem, o Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.
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Amei escrever essa história, adoro escrever coisas idiotas que passam pela minha cabeça e meus amigos riem quando eu digo em voz alta. Espero que tenha sido tão divertido pra vocês quanto foi pra mim escrevê-la. Ah, um agradecimento especial para Hels e a Paloma (que provavelmente não vai ler isso kkkk mas só pra deixar registrado) pelo triplex alugado na minha cabeça com essa teoria maluca que no fim gerou algum entretenimento. Sigo com fé e torcendo para que um dia possa sonhar com Harry Styles, torçam por mim vocês também, pleeease? É isso, beijos e até a próxima!
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