CAPÍTULOS: [Prólogo] [1]





Frost






Prólogo


Toronto, dezembro, 2015.


O frio escaldante fazia com que todos na St. Clare Avenue permanecessem dentro de suas residências. A rua estava vazia, exceto por uma garota que caminhava sem rumo entre os flocos de neve.
Tudo estava escuro, exceto pelas luzes da decoração de natal espalhadas ao longo da avenida, e a garota, , levemente alcoolizada, transitava pelo local com a necessidade se sentir o ar gélido sobre sua pele.
No canto esquerdo da avenida, alguns metros atrás da garota, uma fumaça, outrora branca, começava a ganhar o formato de um garoto de cabelos cinzas e olhos azuis.



Capítulo 1 - The Light Behind Your Eyes


“Se eu pudesse estar com você esta noite, eu cantaria até você dormir”.
Levantei da cama em um segundo, procurando quem havia dito isso.
De algumas semanas para cá, comecei a enlouquecer. Sempre que estou sozinha escuto vozes, e nunca vejo nada de anormal. Objetos próximos a mim congelam sem nenhum motivo aparente e costumo sentir menos frio do que o normal, o que gerou uma recente busca por situações mais gélidas, uma necessidade de sentir o frio.
Estava levemente alcoolizada após voltar de uma festa de final de ano com os amigos da família – mais um dos milhões de compromissos sociais que sou obrigada a acompanhar – que, por minha sorte, havia mais destilados do que o habitual.
As coisas deixaram de fazer sentido há algum tempo, a minha motivação evaporou fazia alguns meses e, para conseguir levantar da cama e fazer algo, era obrigada a visitar o Dr. Borric – meu psiquiatra - toda semana. Os remédios até que faziam efeito, visto que conseguia colocar um sorriso no rosto e acalmar minha mãe.
Na realidade, ninguém se preocupava com nada, e apenas viver, na mediocridade, não bastava mais para mim. Creio que crescer e começar a pensar em minha própria vida começou a me trazer frustrações, e graças a essas contestações a caixa de Paroxetina não me abandona mais.
Ignorei todos os medicamentos que o psiquiatra me prescreveu e tomei as doses que passavam próximas a mim, e já em casa, essa decisão fazia com que minha cabeça pesasse um pouco mais que o habitual.
Saí assustada de meus devaneios ao observar uma fumaça branca invadindo o meu quarto. Abaixei a cabeça e passei as mãos sobre meus olhos, voltei a observar em direção à porta e a fumaça ganhava forma, era possível observar olhos através dela. Corri para o interruptor e acendi as luzes do quarto. Não havia nada, tudo estava em seu devido lugar, a temperatura estava muito mais baixa do que deveria, e todos os pelos do meu corpo se arrepiaram devido à mudança repentina no termômetro.
Aumentei o aquecedor, desci até a adega e voltei para o quarto carregando comigo uma garrafa de vinho tinto, já aberta. Sentei próximo à janela, e permaneci imóvel observando a neve fora de casa, alternando entre o modo estático e os goles na bebida doce.
Com a situação, o aperto no peito voltou, encolhi minhas pernas próximas ao meu corpo abraçando-as e deixando as lágrimas rolarem, afinal, estava sozinha, ou pelo menos era o que eu achava...
Tendo a impressão de ver um vulto atrás de mim, e me assusto com uma mão em meu ombro. Viro meu corpo por completo para o lado oposto a janela, e observo dois olhos, antes vistos através da fumaça e agora estavam bem nítidos, locados em um garoto um pouco mais alto do que eu, com os cabelos cinza e bagunçados.
Ele se aproxima de mim sem dizer nenhuma palavra, e o meu choro cessa no mesmo instante. Suas mãos geladas se encostam em meus braços, e a dor que existia momentos atrás dá lugar a uma euforia crescente misturada a um medo paralisador.
Ele dá mais um passo, seu rosto se aproxima do meu e ele me abraça em um abraço apertado e eu me entrego à insanidade do momento, o abraçando também. Sinto a sua pele álgida em contato com a minha, ardente, como se eu me encontrasse em estado febril.
A sensação era que o mundo havia parado por alguns instantes, me afastei um pouco de seu corpo e observei o seu rosto. Seus olhos azuis fitavam o meu como se buscassem algum tipo de reação em mim, sua pele era extremamente branca, quase albina, e seus lábios eram roxeados. Sua beleza era incontestável, e apesar de sua aparência mórbida, estar ali, em sua frente, transmitia a mim a sensação de segurança e bem-estar.
“Me desculpe por isso, mas não consigo mais suportar te ver assim.” – ele sussurrou no mesmo instante que voltou a se aproximar de mim, segurando o meu rosto próximo ao dele. Aproximou seus lábios dos meus e me beijou. Apesar da aparência rígida, seu beijo era suave e macio e aos poucos foi se intensificando. O envolvi em um abraço, passando minha mão por sua nuca e o puxando para mais próximo de mim, eu precisava daquilo, tinha necessidade daquele beijo. O frenesi do momento deixava o meu corpo em ebulição, e desejei mais do que havia desejado qualquer coisa no mundo, que aquele momento se estendesse por uma eternidade.
Ele me puxava para mais próximo dele com urgência, e nossos corpos estavam quase em momento de se fundir, me pegou no colo e me encostou na escrivaninha de meu quarto enquanto eu cruzava minhas pernas por sua cintura, ele passava as mãos pelo meu cabelo, próximo a nuca, os puxando devagar enquanto descia o beijo para o meu pescoço, fazendo com que cada centímetro do meu corpo arrepiasse. Em nenhum outro momento o frio havia feito eu me sentir tão quente.
Meu corpo abrandeceu e tudo a minha volta começou a escurecer.

Abro os olhos, no relógio está marcado nove horas da manhã. A claridade fraca do inverno já entra através da janela de meu quarto. Levanto da cama com a cabeça doendo, observo ao redor e tudo se encontra em seu devido lugar: nada de garrafa de vinho, nada de fumaça, e nenhum garoto albino, apenas a caixa de Paroxetina em cima da mesa, acompanhada de um copo d’água. O choro voltara junto com a sensação de vazio. Voltei a deitar na cama, abracei o edredom e permaneci imóvel olhando pela janela até o final do dia.



Continua...



Nota da autora: (04.12.2016) Sem nota.




comments powered by Disqus




Qualquer erro nessa atualização são apenas meus, portanto para avisos e reclamações somente no e-mail.
Para saber quando a fic vai atualizar, acompanhe aqui.



TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO SITE FANFIC OBSESSION.