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Finalizada

Capítulo 1


"Desembarque no portão 2."
Inferno, aquilo ali se chamava inferno. Por quê? Eu mal conseguia ver o chão com tanta gente, aquele povo não conhecia a lei "dois corpos não ocupam o mesmo lugar"? Parecia um saco de pancadas, ou um imã que atraia todo mundo. Já estava imaginando tirar meu casaco e me deparar com meu braço roxo de tanto empurra, empurra, que já sofri assim que cheguei. Só não estava tão estressada, pois meus fones de ouvido estavam encaixadinhos em meus ouvidos tocando The Beatles. Firmei minhas mãos na alça das malas me deparando com um banco totalmente vazio, perfeito para esperar minha carona. Mal acreditava que estava na Califórnia, essa viagem seria perfeita se:
1- Isso fosse uma viagem com passagem de volta.
2- Se eu tivesse ótima companhia.
E o mais importante.
3- Se não tivesse que aturar minha linda irmã que tem tudo aos seus pés.
Ela teve sorte por namorar o Erick, e eu a sorte de passar quatro anos longe dela, quer dizer, não totalmente quatro anos, porque nos longos feriados ou quando a mesma não estava agravando, ela aproveitava o descanso e ia nos visitar, mas ainda continuava ótimo, afinal de contas, não precisava mais ouvir suas reclamações diárias. O pai do Erick era dono de uma agencia conhecida lá em Vancouver, quando ele conheceu , logo se encantou. Disse que ela tinha tudo para ser ótima modelo, atriz e muito mais. Minha irmã nem hesitou, no inicio meus pais estavam meio receosos, mas depois de tanta insistência da parte dela, e de conversas com os pais do Erick, eles acabaram dando uma chance, e que ultimamente tinha dado muito certo.
já saiu em diversas revistas, comerciais de TV e hoje faz parte do elenco de Midnight Games, uma famosa série de televisão.
Minha irmã se tornou a queridinha da família (algo que ela perdeu quando eu nasci), mas acabou reconquistando por causa da fama, mas também, nem ligo. Não gosto de chamar atenção e muito menos ser o centro das atenções. Fama para mim era algo que nem fedia e nem cheirava, mas preferia manter distância. Sempre quando aparecia algum jornalista em nossa casa, me escondia. Creio que eles nem deveriam saber da minha existência.
Só estava ali por causa da bendita conversa que meu pai teve com minha mãe. Sinceramente, argumentos como: "elas precisam passar mais tempo juntas para se entenderem" ou "para que algum móvel saia inteiro desta casa quando a vier nos visitar, ela precisa passar uns tempos lá", NÃO ERAM VALIDOS!
Não era minha culpa se quando ia nos visitar acabávamos quebrando algum móvel! Ela tinha o dom da provocação, um forte dom!
Da última vez, acabei jogando um abajur nela. Não era paga para ter paciência!
Eu tinha 20 anos e ela 24, quais as probabilidades de nos acertarmos? 0%.
Enquanto a música tocava, aproveitei o momento para descansar, jogando minha cabeça para trás e recebendo aquele ar condicionado geladinho no corpo.
Vancouver já estava fazendo falta.
– Desatenta como sempre, não muda mesmo, né, ? – um corpo parou bem em minha frente, tirando meus fones. A olhei dos pés a cabeça, analisando toda sua vestimenta rosa com um casaco de pelo por cima. Céus, ela não estava com calor? Urgh, patricinha como sempre.
– Perua como sempre, né, ? – levantei-me na tentativa de ficar a sua altura, mas esqueci do quanto minha irmã fica alta com aqueles saltos que até servia como arma. Se alguém tentasse agredi-la, certamente iria parar no hospital com uma broca na nuca.
– Nossa, maninha, achei que estivesse com saudades. – falou manhosa, se fazendo de coitadinha. Revirei os olhos, cruzando os braços. E que o drama comece!
– Em primeiro lugar, se você acha que eu estou dando pulinhos de alegria por estar aqui, você está muito enganada. – riu, debochando. – Segundo, eu super aceito se dermos meia volta para comprar uma passagem para o Canadá para mim. Nossos pais nem precisam saber. – a única coisa que a mesma fez foi pôr aqueles óculos de sol, que mais pareciam um olho de abelha, ajeitar sua mínima saia, e sair saguão à fora, como se fosse aquelas madames de filmes. Calma, , só eram alguns meses, somente meses. Voltei a pegar minhas malas, indo em sua direção até a saída.
– Pela primeira vez na vida eu concordo contigo, mas não estou a fim de ouvir reclamações vinda dos nossos pais, porque já foi entediante ouvir o discurso de nossa mãe sobre o quão será bom ter você aqui. – ela disse, parando em frente a um carro que logo supus ser dela. Carro não, carrão. Porque nem se eu trabalhasse vinte e quatro horas na venda do senhor Mculen, eu conseguiria dinheiro para ter aquilo. Talvez vendendo meu rim...
– Você não foi à única. – falei, parando ao seu lado, enquanto sentia seu leve incomodo.
– É o seguinte, você me ajuda e eu te ajudo. Tenho um texto enorme para gravar para a próxima cena e nem sei por que estou te explicando isso, mas o fato é que você ficará lá em casa sem mim, ou seja, seja educada, não faça nada.
– Se acha que vou incendiar sua casa, infelizmente isso ficará somente nos meus sonhos, porém pretendo dormir assim que chegar para ver se tudo isso não passa de um pesadelo. – abri a porta do passageiro, recebendo um vento mais frio do que estava lá no aeroporto. Cruzes, entendi agora o motivo daquele casaco peludo. Tudo era revestido do mais puro couro. Jurava somente ter visto algo como aquilo nas revistas de automóveis que meu pai tanto insistia em comprar. Se houvesse pelo menos um banheiro, eu diria que aquele carro seria uma ótima moradia. Os bacos super confortáveis e havia até uma mini TV.
O percurso foi um total incomodo... Para ela, pois meus fones me fizeram uma ótima companhia enquanto admirava a paisagem. Estava encantada com a Califórnia, principalmente com Los Angeles. Durante o percurso fui observando cada lugar para visitar, já que não teria a presença da para me levar aos locais. A única coisa que não gostei muito foi quando a perguntei em relação ao transporte, aquela cidade era boa para quem tivesse carro, coisa que nem sonhava em ter.
Quando chegamos em sua casa, que seria minha por algum tempo, pude perceber o quanto ela ganhava bem, e MUITO bem!
Aquilo, como sempre, era a cara dela, cheia de enfeites e frufrus. O sofá era coberto de uma mistura de veludo com pelos (sinto que se eu sentasse ali, teria sequências de espirros), as cortinas eram estampadas, mas de cores claras e finas, mal dava para perceber os detalhes. A cozinha era enorme, e bem típica de americana. Olá, fartura! A melhor parte foi saber que o jardim era colado com uma praia.
Até que me agradou um pouco aquele local, já que era a única parte da casa que não tinha tanta coisa. Agradeci quando um de seus empregados pegou minhas malas e me dirigiu até meu novo quarto. Simples, arrumado, e com uma aparência extremamente limpa. Pelo menos algo bom.
Já se passavam das oito da noite. Primeiro dia na Califórnia e o que eu fiz? Porra nenhuma. Minha tarde se resumiu a ficar de bobeira naquele cômodo, que fiquei surpresa em saber que minha mãe havia obrigado ela a liberar, pois a mesma queria que eu dormisse no sofá! Se aquele troço que ela chama de móvel amanhecesse sem aqueles malditos pelos, não seria minha culpa. Minhas coisas já estavam arrumadas, como se eu morasse ali há anos. Aproveitando aquela vista maravilhosa da praia, resolvi adiantar um dos livros de minha lista, mas foi quase impossível depois que ela chegou. Primeiro, porque parecia que a perua havia trazido alguém, pois o tanto de coisas que caíram no chão foi incontável. Segundo que o quarto dela era ao lado do meu, então o barulho foi mais intenso e assustador. Se eu não conhecesse minha irmã, jurava que ela estaria em um ataque de raivas ou a casa estava sendo assaltada.
Foi a partir dai que senti falta da calmaria que tive pela tarde. Por que havia reclamado tanto? Ah, sim, o tédio, porque pelo amor de Jah, tédio na Califórnia não deveria existir. Botei minha cara para fora do quarto observando o corredor, tudo escuro e sem um pé de gente. Fui caminhando até a escada e percebi que a luz da cozinha estava acesa. A silhueta de uma mulher apareceu na sombra no chão, provavelmente deveria ser ela. Dei meia volta e fui em seu quarto, queria saber qual o boy da vez que ela estava se atracando. Comecei a rir em minha mente ao perceber quem era o tal.
– Ainda continua sendo o número décimo quinto? Ou já pulou de colocação para o vigésimo, ? – me encostei na porta, o observando. Logo ele desviou sua atenção, que estava na TV, para mim.
– Ah, é você. – falou sem animo quando percebeu que se tratava da minha pessoa. – Quando sua irmã me disse que uma pessoa da família iria passar uns tempos aqui, pensei que fosse aquela sua outra irmã gata, mas logo percebi que era você pelo tom da informação dela. – cruzei os braços, revirando os olhos e o encarando.
Sabe aquela pessoa que acha que vale mais do que um diamante, e que ultrapassa os limites da ilusão? Ou aquela pessoa que se acha o pó da pior bactéria. Ou melhor, aquela pessoa que só de ouvir o nome, seu estômago já embrulha. Senhoras e senhores, apresento-lhes Brendford . Ator, modelo e nas horas vagas um canalha que dava em cima das irmãs de suas namoradas. Ainda tentava entender para onde ia os pesos da consciência dele e outra, como minha irmã foi se relacionar com um ser deste tipo? Só porque era desejado por milhares de mulheres? Quer dizer, milhares vírgula, porque eu até ia com sua cara, até o dia em que ele acompanhou em uma de suas visitas mensais, anuais, sei lá, e tentou me beijar a força.
Beijar a força, nem se importando se eu tinha namorado, era casada ou coisa do tipo. Era claro que estava solteira, como sempre, mas que direito ele tinha para fazer aquilo?
Regra número um: NUNCA, jamais, me force a fazer alguma coisa, ou caso ao contrário, você receberia um golpe de karaté, misturado com luta livre: uma joelhada na barriga e um murro na cara. Não tapa, mas sim, murro de quebrar os lindos dentes. Sorte dele que só ficou com parte da bochecha roxa e inventou a história de que foi picado por algum inseto.
Consequência disso: Sou a primeira e única (até aquele momento) da lista de "mulheres que me recusaram" do , ou seja, ele me odiava.
– Dê em cima da Pam que você leva do noivo dela um soco na cara. Mas para você não tem problema, né? Já que ama ficar com marcas roxas no rosto. – ele riu, sarcasticamente, elevando seus braços até sua cabeça e os dobrando, fazendo de apoio na cabeceira. – Nossa, já se passaram dois anos e você ainda continua na magoa comigo? Supera, gato.
– Por que está aqui mesmo? Seus pais não aguentaram mais a sua chatice e a deportaram? – não contive a risada. Pessoas que não superavam eram tão engraçadas.
– Como um simples "não" muda as pessoas, né? Desculpa se meus lábios não quiseram os seus.
– Mas sei que sua consciência pesou, e hoje se arrepende. – um sorriso malicioso se formava em sua face. Afê, uma vez idiota, sempre idiota.
– Uhum, e hoje sou completamente apaixonada por você, chuchu. – falei com minha voz melosa. – Sabe de uma, você e minha irmã se merecem. Chatice com idiotice formam um belo casal, só tenho pena do filho de vocês, espero que não nasça com a mesma doença dos pais.
– Tendo um pai como eu, impossível não nascer perfeito.
– Além de idiota, é iludido. Não sei se sou risada, ou tenho pena. – balancei minha cabeça negativamente e me retirei do quarto, encontrando minha irmã no corredor, com uma cara nada agradável, como sempre!

~**~

Sorte que Vancouver e Califórnia tinham o mesmo fuso horário, porque se não, eu estava completamente acabada. Mas mesmo assim acabei acordando mais cedo do que eu pensava. Quando olhei no relógio, eram cinco e meia da manhã. Sim, cinco e meia. Fiquei rolando, me virando na cama, mas nada do sono vir (maldita insônia). Já se passavam das seis quando finalmente levantei. Com lentos passos, cheguei ao corredor e não ouvi nenhum barulho.
Será que estava com o idiota do Brendford?
Logo ignorei o que provavelmente eles fizeram. Quando cheguei na sala de jantar, meus queixos caíram da tamanha perfeição de café da manhã que se encontrava na mesa. Uma mulher baixinha, meio fortinha e até bonita, por sinal, ainda terminava de arrumar a mesa.
– Você deve ser a irmã mais nova da senhorita , correto? – sua delicadeza e calmaria com as palavras me encantaram.
– Sim. – ainda estava incrédula com tamanha perfeição de comida que existia ali. Por um lado, achava desperdício de tanta comida, já que só morava ali, por outro lado, achei fantástico toda manhã ser recebida com um banquete como aquele.
Logo minha barriga começou a roncar alto. Que mico, senhor.
– Pode se sentar, minha jovem. Creio que sua irmã ainda não acordou, mas acho que não tem problema se você adiantar. – ela finalizou com um sorriso, e eu retribui.
– Obrigada.
– Se a senhorita precisar de alguma coisa, pode me chamar.
– Uma dúvida, todas as manhãs você prepara isso?
– Nem sempre, só quando a senhorita manda.
Para tudo. Primeiro a minha irmã me recebe com quase sete pedras na mão, e agora me vem com café da manhã como de hotel? Será que tinha veneno naquilo? Se tivesse veneno ou não, o que eu sabia era que iria aproveitar muito daquela fartura. Comecei a por algumas coisas em meu prato. Bolo, pães...
– Nem me espera, irmãzinha. – ela apareceu ao meu lado, já arrumada, com um sorriso dos contos da Disney.
– Minha barriga falou mais alto. – respondi, voltando a pegar as coisas que se encontravam na mesa. – Vai sair?
– Para ter tudo isso, é necessário trabalho, e de nada pelo café da manhã que mandei preparar especialmente para você. – ela sorriu. A olhei com desconfiança, parando de encher meu prato. Rum, tinha caroço naquele angu. Quando ela agia assim, significa que queria algo de mim.
– Tudo bem, , o que você quer?
– Eu? Nada? Será que eu não posso fazer algo em especial para ti?
– Você só faz algo especial para mim quando quer algo. Posso ter passado um tempinho longe de você, mas sei que não mudou nada. Desembucha. – ela bufou, sentando-se na cadeira a minha frente.
– Nessa semana haverá uma festa de confraternização feita por uma das melhores empresas de cosméticos, a Carlott. Necessito ser a próxima modelo de lá, então, nada melhor do que ser elogiada por alguém da própria família, né? – mau pressentimento chegando.
– Espera, você quer que eu vá e fale com os representantes, ou sei lá o que, sobre você? – ela começou a rir, e muito, me deixando totalmente confusa.
– Não, idiota. Eles nem te ouviriam. Quem é você no mundo da fama? Por favor! – e eu pensando que algum raio tivesse caído em cima dela ou alguma luz, e tivesse a mudado. – Posso continuar? – assenti – Antes dessas festas começaram, passamos pelo tapete vermelho, lá é onde a imprensa se concentra para tirar fotos, fazer pequenas entrevistas e muitas vezes, se tiverem sorte, presenciar um mico. Eu irei te apresentar ao mundo, e provavelmente algum entrevistador irá fazer algumas perguntas de mim para você, e é ai que você entra.
Será que se eu saísse na rua, alguém me adotaria? Ou sei lá, fazia alguma boa ação e liberaria um quarto, sofá ou um porão para que eu ficasse até conseguir dinheiro e comprar uma passagem de volta para casa.
– Se você falar bem de mim – ela continuou – Passará boa impressão, ou seja, eles virão até a mim, entendeu?
– Qual o nome da tiazinha que trabalha aqui? – perguntei, apoiando meus cotovelos sobre a mesa.
- Lena, por quê? – ela me perguntou, arqueando uma de suas sobrancelhas e franzindo a testa.
– LENA, LENA! – comecei a gritar – Traz um remédio de semancol para minha irmã, por favor, pois acho que a noite com o não fez bem não. – ela bufou. Cruzou as pernas e os braços, e começou a me encarar, mostrando sua face de insatisfação.
– Para, ! Sabia que não poderia contar com você. Eu fiz isso tudo para vo...
– Para a proposta, e não para mim. – a interrompi, jogando a mais pura verdade. Primeiro era o agrado e depois o ataque.
– Foda-se para quem foi! Você poderia cooperar!
– Se você conseguir isso, vai trabalhar mais? Ou seja, ficará menos em casa, correto?
– Claro né, idiota. – casa vazia, sem perturbação em meus ouvidos, silêncio... Um ambiente somente para mim... Ou seja, um sonho que havia criado quando cheguei ali. Bem, não gostava dos holofotes, mas se fosse para conseguir essas bênçãos...
– Eu aceito. – logo vi um sorriso se estampar em seu rosto.
– Obrigada, obrigada! – ela começou a apertar minhas bochechas, como nossa tia Suzi costumava fazer quando éramos crianças. Eu odiava aquilo.

~**~

– Não acredito que ainda está com ele. Vocês parecem um casal ioiô, separa e volta, separa e volta. – aquelas alças das sacolas certamente iriam deixar uma bela marca em meus braços, certamente no dia seguinte não iria conseguir mexer direito eles.
Depois do ataque que recebi no café da manhã, – por algum milagre – me chamou para ir ao shopping para fazer umas compras, quer dizer, para ela fazer umas compras e eu ser seu carrinho humano, porque o máximo que eu estava fazendo era segurar aquelas sacolas.
– Ai, , não me estressa agora não, ok?
– Eu só estou falando uma verdade, se não gostou, tapa os ouvidos.
– Se eu não gostei, você não deve falar nada, e para sua informação, desde que eu e ele voltamos de Vancouver, tivemos uma briga e ficamos um bom tempo sem nos ver.
– E foi ai que você aproveitou, e subiu sua listinha de atores, cantores e modelos na qual você ficou, certo? – se esse país não tivesse uma lei rigorosa em relação a assassinato, certamente cairia morta no chão com o olhar que recebi de . – Só estou falando a verdade, novamente.
– Por que você não cala sua boca? Será mais útil assim. E para sua informação, eu e ele voltamos tem pouco tempo.
– O quê? Um ano?
– Seis meses! E eu o amo. Então agora que já encheu minha paciência, será que pelo menos você poderia ficar calada? – voltou a caminhar, enquanto a trouxa se matava para carregar aquele tanto de coisas desnecessárias.
– Então se o ama tanto, por que você não chama o seu Romeu para carregar essas tralhas aqui?
– Pensei que quisesse vir comigo fazer umas comprinhas? – disse com sua cara mais cínica.
– Se fosse para EU também fazer compras... – dei ênfase, mas logo percebi que ela nem deu atenção. Por que meus pais não me mandaram para a casa da Pam? Preferiria cuidar dos meus sobrinhos do que passar mais tempo com a madame Cruella de Vil.
– Já fiz muito por, . Mandei que preparassem um café da manhã especial para você...
– Para a sua ideia... – a interrompi.
– E ainda mandei que preparassem um vestido exclusivamente para você, maninha.
– Por causa da sua ideia... – novamente recebi mais outro olhar matador.

~**~

3 horas, exatamente três horas andando feito uma barata tonta naquele shopping, segurando enormes sacolas, ouvindo as indecisões de cores dos sapatos e nem se quer a outra pagou um lanche para mim. Não sei por que me dei ao luxo de ajudá-la, poderia ter a deixado se virando sozinha, mas não queria correr o risco de receber uma ligação de minha mãe falando o quanto eu sou egoísta por não ter ajudado minha irmã e blá blá blá, que eu poderia ter feito uma boa ação e blá blá blá... Vai que ela resolve estender meu tempo aqui? Iria ser o inferno. Quanto mais rápido eu me acertasse com o ser Cruella de Vil, mais rápido voltaria para casa.
– Finalmente. – gritei, jogando as sacolas no pé do sofá e me esparramando nele. – Necessito de água.
– Levante e pegue. – minha irmã disse, indo em direção à cozinha. Oh bichinha egoísta.
– Deveriam te chamar de bicho preguiça, mas seria uma ofensa a eles, já que os coitadinhos fazem alguma coisa, e você não. – uma voz ecoou da escada. Não acreditava que aquele cara estava aqui. Meu Deus, tão rico e não tem casa?
– E deveriam te chamar de jumento, mas ai estaria ofendendo os ofendendo, já que você é pior do que o nome que os chamam. – continuei jogada no sofá, enquanto dava a volta e sentava ao meu lado.
– Quanto amor por mim. – ele sussurrou em meus ouvidos, alisando suavemente minhas coxas.
– Sentimento errado, meu amor. – empurrei sua cabeça que se encontrava encostada em meus ombros, e com um tapa, afastei suas mãos de minhas pernas.
– Não sei por que você implica tanto com meu docinho, . – docinho? – Meu chuchuzinho é tão carinhoso comigo. – chuchuzinho? – Acho que é recalque porque tenho o melhor namorado do mundo, que ainda é modelo e ator, enquanto você ainda continua na seca, né meu bebê? – chama a ambulância que meu estômago embrulhou de tanta repulsa que senti ao presenciar aquela cena.
– Minha princesinha, te amo tanto. – ele a respondeu na mesma altura. Porra, eles só podiam estar querendo provocar uma bela diabete em mim!
Não aguentava mais tudo aquilo, era muito açúcar para minha mente, muitas palavras fofas e bregas para um ser. Peguei a única sacola que me pertencia – sim, a queridinha permitiu que eu comprasse algumas roupas, mas as lojas eram tão caras, que nem se eu rodasse bolsinha na orla iria conseguir pagar um cinto daquele lugar, então depois de muita insistência, ela acabou pagando uma blusa para mim – e fui para o meu quarto.
Quando dizem que em uma viagem seu quarto era como se fosse sua casa, eles não estavam mentindo. Ali era o único local que eu poderia ter a total privacidade e fazer o que bem entender. Liguei o ar-condicionado no mínimo, esfriando parcialmente o cômodo. Fechei totalmente as cortinas, ligando a TV em um canal de filme e me jogando completamente na cama.
– Como sabia que eu amava locais escuros? – tomei um susto ao ouvir a voz daquela peste. – Sabia que esse é um dos meus quartos favoritos?
– Legal, e sabia que existe uma coisa chamada "bater na porta antes de entrar"? Mas parece que você não tem a capacidade de lembrar disso, né? – virei-me em sua direção, enquanto o mesmo fechava a porta. – Não precisa fechar a porta.
– Está come medo, meu sonho? – e lá vinha ele com a porra do apelido. Ele pensava que eu era quem? ? Para responder do mesmo modo? Meu sonho, isso soava tão gay.
– Está na hora de sair do armário, querido.
– Por causa do apelido?
- Não só pelo apelido, e sim por você, completo.
– Ah, meu sonho... – já estava me estressando com esse meu sonho.
– Para de me chamar de meu sonho! – elevei o tom de voz, levantando-me da cama e indo em sua direção, na intenção de tirá-lo dali o mais rápido possível. – Não sou sonho de ninguém, muito menos sou vendida em padaria colega, isso já está se tornando irritante.
– Para mim, você é meu sonho. – suas mãos envolveram minha cintura. – E sempre será. – com um sussurro, e beijos no pescoço, senti suas mãos escorregarem parando em minha bunda. Sendo assim, minha mão acabou parando em seu rosto. Opa.
– AI! – exclamou. – Está maluca, garota? – começou a alisar o rosto. Aquilo com toda certeza deixaria marcas.
– Isso se chama remédio para mãos bobas. Você não muda mesmo, né? E gostei do seu teatrinho lá em baixo com minha irmã. Minha princesinha. – o imitei. – Só ela mesmo para cair em suas armações. – ele deu um sorriso singelo.
– Todos me amam, . Não tenho culpa se nasci irresistível, encantador, galanteador...
– Iludido... – o interrompi.
– Amor reprimido. – balançou sua cabeça negativamente. – É muito estressante ficar com esse mimimi com sua irmã, mas fazer o que, né? Temos que ter reputação.
– Só por causa de uma premiação? De uma série? Poupe-me. Para que forçar algo que não existe?
– Você não conhece o nosso mundo. Tudo é necessário para se ter uma bela reputação.
– Não conheço, e nem pretendo conhecer. A fama deveria ser algo inexistente, muda à cabeça das pessoas. – riu baixo.
– Então pretende fazer o que da vida, meu sonho? – Brendford se jogou em minha cama, fitando o teto.
– Cara, me chame de meu sonho mais uma vez que seu outro lado do rosto irá sentir o gosto do meu punho.
– Ih, fala logo, garota!
NEDSC. – NEDSC, o quê? – olhou-me confuso.
– Não.É.Da.Sua.Conta – eu disse pausadamente, finalizando com um sorriso.
– Não sei por que perco meu tempo com você.
– Isso mesmo, não perca, não. – abri a porta do quarto, apontando para fora. Lentamente ele veio caminhando, como se fizesse do possível para me deixar irritada. – Agora sai antes que minha irmã pense que estávamos fazendo certas coisas.
– Hum, pensamentos exóticos. Até que de santinha você não tem nada. – revirei os olhos, minha paciência já tinha ido para o espaço.
– Tchau! – o empurrei corredor à fora.



Capítulo 2



- ! ! – Ouvi um barulho de porta fechando fortemente, dei um pulo da cama, quase caindo no chão. Minha visão estava ainda embaçada, mas pude perceber pela cor de sua vestimenta de dormir que se tratava da , parada ao lado da minha cama. Olhei para o meu relógio que marcavam cinco e meia da manhã. Cinco e meia! Sério?
- Se você fizer isso de novo, eu não irei me responsabilizar pelos meus atos e, sinceramente, eu espero de todo o coração e de toda a paciência matinal que se encontra em meu ser, que o seu assunto seja de muita importância.
- Cadê aquela blusa brilhante que comprei ontem na loja? – O que? Em plena cinco e meia da manhã, este ser que eu chamo de irmã, invade meu quarto, aos gritos para saber de uma fucking blusa? Respira , respira. Seus pais não terão dinheiro para pagar nenhuma fiança.
- Você não comprou nenhuma blusa brilhante. Você disse que não havia gostado dela e deixou lá na loja.
- Sério? E porque você não comprou?
- Porque eu não tenho 200 dólares para dá em uma misera blusa! E eu não acredito que você me acordou cinco e meia da madrugada para falar de uma blusa que você não comprou! Que assunto mais banal! E por que está acordada a está hora?
- Eu lembrei da blusa e vim te perguntar. Se você está estressada, ai já não é da minha conta. – Ela falou com calma. Neste momento, eu estava estraçalhando, acabando com ela em meus pensamentos. Joguei pedra na cruz para ter que suportar isso. – E também, acordar cedo faz bem para pele, maninha. Não quero chegar aos 30 com uma pele de 50, como provavelmente será a sua. – Eu estou pagando pelos meus pecados...
- Ok, . – Tentei manter a calma. – Mais alguma coisa? Porque meu sonho estava bem melhor do que a minha realidade.
- Acho que não. – Ela começou a caminhar em direção a porta, amém, amém! – Ah. – Ela virou-se para mim. – Mais tarde temos Spa. Não quero chegar ao evento com você desta maneira. Veja o que eu estou fazendo por ti, maninha. – Ela deveria ganhar o Oscar “melhor cara de pau do ano”.
- Não é por mim e sim pela porcaria do acordo, e agora sai do meu quarto que eu quero dormir, caralho. – Joguei uma de minhas pantufas em sua direção, mas acabou pegando na porta, já que a mesma a usou para se defender, fechando-a rapidamente. Meu dia vai ser cheio!

~**~



- Berry! – deu um de seus gritinhos ao ver o rapaz. – Finalmente voltou de viagem! – E assim se cumprimentaram com beijinhos.
- Querida, quanta saudade da tua pessoa. – Ele falou, analisando-a dos pés a cabeça. O tal de Barry era magro, mas não tanto, pois pelo braço dava para perceber que tinha alguns músculos. Seu cabelo era castanho claro, com alguns fios loiros. Ele usava uma calça, sapatos e blusa social, complementando com um colete, que também dava um ar de social. E onde estamos? Em uma espécie de Spa. O local era enorme e cheirava a luxo. O salão principal era uma espécie de sala colonial, dourado era o que mais tinha ali, as flores vermelhas, brancas e amarelas pelos jarros davam um pouco de cor ao ambiente.
Depois que a me acordou, não consegui mais pegar no sono. Revirei-me centenas de vezes na cama e nada do sono vir, então o máximo que eu podia fazer era descer e comer alguma coisa, já que minha barriga começava a dá sinais de fome. Quando cheguei á cozinha, minha irmã já estava toda arrumada e surtou ao me ver de pijama (eu havia dito a ela que iria voltar a dormir), mas mesmo assim aleguei que iria tomar meu café da manhã na santa paciência (pelo menos isso ela deixou), não sei como consegui ficar pronta em meia hora, e assim viemos para cá.
- E quem é essa? – Ele tornou a falar, tirando-me dos meus pensamentos.
- Minha irmã, . , esse é Barry, o responsável pela minha beleza extra nos eventos.
- Prazer. – Estiquei a mão em forma de cumprimento, porém ele acabou me puxando para aquele breve dois beijinhos.
- Finalmente pude conhece-la. A já falou de ti uma vez. – Forcei um sorriso.
Enquanto a foi fazer a primeira coisa da sua lista de beleza, fiquei vendo o catálogo de serviços do Spa. Massagem ao vinho branco, esfoliação de chocolate, banho em pétalas vermelhas... Meu Deus.
- A sua irmã preparou algo para ti. – O tal de Barry apareceu ao meu lado, fazendo-me tomar um susto. – Acompanhe-me. – Ele deu um breve sorriso. A fazer algo para mim? Isso é algum tipo de brincadeira ou estou em um universo paralelo?
Barry me levou a uma espécie de quarto onde havia roupões, toalhas, um local para guardar minhas coisas e incrivelmente um biquíni, na qual o Spa fornecia. A primeira parada foi uma massagem com creme de baunilha, seguido de acupuntura. Eu achava que aquelas agulhas machucavam ao em vez de relaxar, mas minha ideia mudou totalmente quando seus benefícios começaram a agir em meu corpo. Aquilo era maravilhoso!
Logo depois, fui para uma espécie de hidromassagem, onde lá encontrei a quase dormindo na banheira. Ao perceber minha presença, ela logo se ajeitou, dando espaço para eu sentar. Aquela água estava maravilhosa, não tão quente, mas nem tão fria, na medida certa, e eu achava que água não havia ponto certo. O frescor dos sais era maravilhoso, uma mistura de lavanda, com um toque bem pequeno de menta. Ao lado tinha um pote com chocolates, algumas frutas e guloseimas.
- Gostando? – Minha irmã perguntou-me.
- Até que sim, mas porque está fazendo tudo isso e me incluindo?
- Tenho que estar relaxada para hoje á noite. Aqueles flashes em minha cara, multidões querendo autógrafos e repórteres loucos por fofocas...
- Como se você não gostasse. – Ela arqueou uma de suas sobrancelhas.
- Só relaxe, . – Ela encostou seu pescoço na borda da hidro, entrando em um estado de relaxamento. Por mais que ela tivesse preparado aquilo para mim também, eu ainda permanecia com meus dois pés atrás. A é imprevisível, ela faz de tudo para conseguir o que quer.

Assim que chegamos em casa, mal reconheci o lugar. Havia maquiadores, cabelereiros e produtores ocupando toda a sala... Fiquei estagnada observando tudo aquilo. Era muito para só uma noite, a realmente abusa do seu dinheiro e da fama. Parecia que alguém iria se casar. Ela conversava com uma mulher, que aparentemente estava muito bem vestida, creio que seja sua empresária. Então as acompanhei até uma parte da sala onde tinha dois espelhos grandes, e umas mesas com maquiagens e algumas revistas em cima. Minha irmã havia preparado tudo para mim, desde a maquiagem até meus sapatos. Ok, eu estava com medo, pois meus gostos sempre foram diferentes do dela, eu sempre gostei de coisas mais simples, já ela, do “brilho”.
Em cada mesa, havia uma revista com uns modelos de maquiagens e cabelos e com os nossos respectivos nomes.
- Eu não vou usar isso. – Falei para mim mesma ao ver meu penteado. Era um coque, com alguns acessórios brilhantes, parecia uma colmeia!
Percebi que havia se afastado para falar com alguém, aproveitei o momento e comecei a folhear para ver se havia algum penteado mais a minha cara. Bingo! Coloquei a revista de volta á mesa, só que agora com o estilo de cabelo que eu havia gostado. Aproveitei também para checar o vestido e os sapatos. Ela não havia mudado o vestido (ainda bem), porém os sapatos ela havia trocado para uns maiores, não iria me dar o luxo de tomar minha primeira queda ao vivo em meu primeiro evento. Vasculhei alguns em seu closet e achei um mais baixo, ela ia surtar, mas foda-se.

A festa já tinha começado, passar pelo tapete vermelho foi um pouco estressante, eram muitos flashes, muitas câmeras para poucos olhos. Os repórteres, então, nem se fala, quando minha irmã apareceu, pareciam um rebanho de famintos por fofocas. Meus pés já estavam começando a doer, rezava para que ela saísse dali o mais rápido possível, para que eu pudesse sentar.
O grande salão estava cheio, algumas pessoas já se divertiam na pista de dança, outras preferiram ficar sentadas conversando civilizadamente. Alguns passeavam pelo grande salão luxuoso, inclusive o .
- Olha só quem apareceu. – Ele disse, vindo em nossa direção.
- Amor. – Minha irmã deu-lhe um selinho.
- Sr. Burtton já veio falar com você?
- Ainda não, vim mais apresentável possível, ele tem que me escolher. Minha carreira iria para o auge sendo a modelo principal. – Ela falava enquanto se pendurava no pescoço dele.
- Relaxa, você consegue tudo. Soube que sua filha veio também, ótima oportunidade de virar amiga dela. Altos papos, saídas... Ai aproveita e me apresenta também, quanto mais gente conhecer, melhor. – ficou boquiaberta.
- Ginna Burtton?! Preciso conhecer essa menina! – Ela saiu em disparada ao centro do salão.
- , não te vi ai. – Ele disse com a cara mais sínica do mundo.
- Então você está precisando de óculos.
- Não, minha visão está ótima, só sua presença que não me faz falta.
- Nossa, falou o cara que estava me comendo com os olhos ontem.
- , ... Meus olhares não significam nada.
- Jura?! Porque agora a pouco significou que você está querendo algo com essa tal de Ginna. – Ele balançou a cabeça negativamente.
- Não. Pensou errado mais uma vez, mas... – Ele se aproximou colando sua boca em meus ouvidos. – Se estiver com ciúmes, acho que posso dar um jeito em você lá no banheiro.
- Não me compare as suas putas que dão para você até no meio da rua. – O empurrei. – E ainda por cima namorando a . Ela é cega por ainda namorar você.

Já haviam se passado duas horas e a única companhia que tinha no momento era de um Martini, que eu acabara de pedir. Prometi que não iria beber, mas precisava relaxar minha mente depois da conversa com Sr. Burtton. me apresentou a ele, um simpático senhor que fazia questão de sair com mais de cinco anéis em cada dedo, e como no “acordo”, falei bem dela, do quanto ela era encantadora, esforçada em seu trabalho e no amor que tinha por aquilo. Agora estou aqui, sozinha, já que a Maria frufru está com algumas amigas e eu não entendo porra nenhuma do que falam, são muitos zeros em uma só conversa.
Peguei aquele copo de Martine e tomei um grande gole. Argh, desceu rasgando com tudo.
- Vai com calma, colega, não sabe o efeito disso depois do segundo copo. – Uma jovem morena parou ao meu lado.
- E quem se importa? Só quero sair daqui. – Falei, apoiando um dos meus cotovelos na bancada.
- As maiores revistas de fofocas mundiais?
- Desculpa, mas não sou do seu mundo. Ninguém aqui me conhece.
- Mas a , meu irmão e a Ginna, sim.
- Seu irmão? – Perguntei curiosa.
- . – O tem uma irmã? Fiquei surpresa com a notícia.
- Você é irmã dele? Você? – Ela assentiu com a cabeça.
- Por quê?
- Você parece ser muito legal para ser irmã daquilo.
- Ai meu Deus, ele não te retornou no dia seguinte?
- O que? Você acha que eu e ele... Não! – Neguei. – Eu não fui para cama com ele, quer dizer, ele tentou, há uns dois anos, mas creio que sou a primeira da lista de negações dele.
- Então você é a famosa pessoa que deixou meu irmão puto da vida...
- Espero ter sido a primeira. – Ri.
-Prazer, , mas fique a vontade para me chamar de .
- Prazer, , mas deixo você me chamar de . – Rimos. – Fiz muito estrago na vida de seu irmão?
- Sim, mas creio que não é o momento para falarmos disso, e acho melhor se afastar disso também. – Ela falava do Martini. – Então, o que faz da vida?
- Estudava administração, mas tive que parar para vir para cá.
- Por quê?
- Meus pais acham que passar mais tempo com a irá trazer a paz que um dia tivemos, e você?
- Sou produtora. Estou trabalhando com o Senhor Burtton no momento.
- . – A Ginna veio até nós. – Meu pai avisou que não precisa ficar depois da festa, que amanhã acertava tudo sobre a escolha.
- Sem problemas. – Ela sorriu. – Gin, conhece a , né?
- Ah sim, meu pai nos apresentou. Irmã da , né? – Assenti sorrindo.
Por incrível que pareça, depois que a apareceu ali, a festa começou a ter mais um pouco de graça. Ginna ficou conversando um pouco conosco, mas logo tinha que ficar saindo, já que precisava falar com alguns empresários e o pessoal da imprensa. Quando deu três da manhã, resolveu ir embora, alegando que sua meta ali já estava concluída. Estava sonhando com minha cama, e espero do fundo do meu coração que ninguém resolva me acordar cedo ou aos gritos.
Joguei meus sapatos no canto do quarto e capotei na cama. Nada como uma boa noite de sono pós-festa. Meus olhos começavam a se fechar, quando senti meu celular vibrar em baixo de mim. Puta merda, em plena três da manhã? Sério?

“COMO ASSIM VOCÊ PASSOU A NOITE TODA CONVERSANDO COM GINNA BURTTON?”

Era um número desconhecido. Na curiosidade, respondi.

“E você, quem é?”

! ME DIZ, COMO VOCÊ CONSEGUIU ESTÁ PROEZA TÃO FACILMENTE?”

Ah, só podia ser.

“Primeiro, ela é um ser humano, conversa como gente e tivemos papo, ao contrário de você, que só tem merda na cabeça. Segundo, pede a sua irmã.”

“Como se eu não tivesse pedido.”

“Ela sabe das suas merdas, bem sábia ela. Agora me dá licença que eu tenho que ir dormir.”

“Espera, me passa o número dela?”

“Não! Sorry, se vire com toda sua ‘beleza’, se é que tem alguma.”

“Por favor, ...”

“Olha a intimidade... Caralho, eu quero dormir! Eu já disse que NÃO! N-Ã-O. Sabia que estava interessado nela.”

“Como se nenhum homem estivesse. Ela é gata, gostosa, tem cara de ser boa em tudo... Se é que me entende.”

“Não sou menina de ouvir esses papos. E ah, a mídia iria amar uma pequena gafe no relacionamento de e !”

“Você não faria isso...”

“Não sabe com quem está se metendo. Tchau.”

, por favor!”

“CARALHO, EU JÁ DISSE QUE NÃO! Aplica inteligência na leitura! Tchau.”

E como disse, eu estou pagando pelos meus pecados!
~**~


O despertador tocou ás 9:25. Merda, tinha esquecido-me de tirar a porcaria do alarme. Ainda sentia o cansaço da noite anterior, provavelmente passarei o dia na cama, paralisada, sem fazer porra nenhuma. Estava decidida, se não fosse pela fome que me atacara. Meu quarto estava frio, escuro, já que não havia aberto as cortinas, e a cama deliciosa, tudo se resumia a uma enorme preguiça. Talvez a Lena possa trazer algo para mim. Peguei o telefone em cima da escrivaninha e disquei o código da cozinha. Chamou, chamou, chamou e nada. Tornei a ligar novamente e nada.
Com muita dificuldade, sendo grande parte dela a preguiça, calcei a primeira pantufa que vi na frente e desci as escadas, ainda com o sono me dominando. Não havia ninguém na sala, muito menos na cozinha. Peguei uma tigela, coloquei uma enorme quantidade de cereais e leite, pronto, aquilo me sustentaria pelo resto do dia.
A campainha tocou. descia as escadas correndo, anunciando que abriria a porta. Ótimo, assim não me preocuparia em nenhum carteiro me ver com pijama de cachorrinho e pantufas rosa com uma cara de coelho.
- Que honra tê-lo aqui. – Minha irmã disse, dando passagem á alguém que imediatamente identifiquei como senhor Burtton e parte de sua equipe. Tentei correr para a escada sem que ninguém me notasse, mas minha tentativa foi em vão.
- , poderia esperar só um minuto? – Ele disse, parado na sala. Porque ele tinha que me parar bem na hora que estava com uma colher na boca cheia de leite e cereal? – Sua presença é de muita importância para nós. – Olhei para minha irmã, que fazia sinais para que eu obedecesse. Assenti ainda com a colher na boca.
- Muito obrigada pela presença de vocês na noite anterior, realmente foi uma festa e tanta! – Ele ainda permanecia em pé. – Como sabem, ou espero que saibam, estou atrás da modelo que será responsável pela próxima linha de cosméticos da Carlott. – se animava a cada palavra. É, acho que minha atuação ontem a noite vai gerar mais acréscimos de zeros em sua conta, uma elevação em sua carreira e a gratidão da por mim, ou seja, poderei voltar para casa!
- Vi diversos sorrisos e feições que me chamaram bastante atenção. – Continuou. – Mas teve um que realmente se destacou. – Continuei comendo meu cereal enquanto ele falava. – . – Olhei assustada para ele, enquanto minha boca escorria leite por conta da grande quantidade de cereal que se encontrava nela. Vi o enorme sorriso da se desmanchar e seu olhar desesperado vindo em minha direção. – Quer ser a próxima modelo da Carlott?



Capítulo 3


- ÁGUA! EU QUERO MAIS ÁGUA! – Ela gritava, enquanto Lena trazia mais outro copo d’água. No total, já foram mais de cinco copos que havia tomado. Eu estava encostada na porta que dava ligação da sala para o jardim, um pouco mais afastada dela. Minha cabeça se permanecia baixa, enquanto eu a alisava com um ar de preocupação, tentando achar uma solução... Mas não havia. É destino, seu jogo em minha vida está começando a fazer efeito.
- Ela vai ter uma hiper-hidratação. – se aproximou.
- No máximo, ela vai vomitar toda água que ela consumiu por excesso. – Suspirei.
- Isso é possível?
- Olha só quantos copos ela já tomou!
- LENA, MINHA ÁGUA! – Ela tornava a gritar com aquela voz fina.
- Mas o que ocorreu exatamente aqui? Porque a única coisa que eu recebi foi sua mensagem de S.O.S, que, por sinal, me surpreendi por ter me mandado uma mensagem.
- Bem...

Flashback ON
- Quer ser a próxima modelo da Carlott? – Ele dizia, com um enorme sorriso no rosto. Toda atenção estava voltada para mim. E ele faz essa pergunta bem no momento que estou com um bolo de cereal e leite em minha boca!
Pedi um minuto e sai em disparada para a cozinha, tentando mastigar o mais rápido possível, mas acabei engolindo tudo aquilo, que desceu feito uma pedra em meu estômago. E agora? O que faço? Se eu aceitar, a me mata, não poderei voltar para o Canadá tão cedo, e, ainda por cima, entrarei neste mundo insignificante da fama (ou não, né? Afinal, há muitas modelos e atrizes que nem são reconhecidas). Por outro lado, se eu não aceitar, Sr. Burtton pode dar a louca aqui, nunca se sabe como são esses empresários.
havia me dito uma vez que uma tal de Megan Paul rejeitou a oferta dele, e, no outro dia, ele fez com que a imprensa soubesse do ocorrido, mas em favor a ele, ou seja, ele criou um monte de barbaridades sobre ela. Disse que a mesma tinha o tratado super mal, que era mal educada e que era só mais uma que não tinha futuro.
Tudo bem que a diferença ente nós é que eu sou uma “quem?” da vida, e ela na época era atriz/modelo, mas não estava a fim de ter mentiras sobre minha pessoa. Vai que com isso eu não consiga mais entrar em alguma faculdade, ou até mesmo apareça haters?! Ok, estou exagerando, mas nunca se sabe o que ele pode fazer, né!
Enchi meus pulmões de ar, e voltei á sala onde ainda parecia não ter digerido aquilo, e o senhor Burtton estava conversando com uma de suas assistentes.
- Você está bem, minha jovem? – Ele me perguntou.
- Estou sim, obrigada. Só o nervosismo que me pegou de surpresa, afinal, não é todo dia que recebemos propostas como essa. – Dei um breve sorriso falso. Até que para atuar eu estava indo bem, porque se fosse por mim, um não seria dito ali imediatamente.
- Ah sim. – Ele riu. – Mas então, qual sua decisão? – Senti firmeza em suas palavras. Parecia que ele tentava empurrar um “sim” para mim.
- Eu não sei. – Falei no automático. só faltava morrer com a resposta que eu dei, ela estava completamente incrédula, já que se fosse ela, “sim”, “claro”, e “com toda certeza”, seriam dito ali. – A proposta é bem tentadora, Sr. Burtton, mas eu não sou experiente com isso. Eu só sou uma típica jovem de Vancouver que veio passar alguns meses com sua irmã. Não sei se valeria muito a pena. – Ok, me preparando para o surto dele. Você escolheu o não sei, , você escolheu algo que é mais chegado para o não do que sim, então, hora de sofrer as consequências.
- Tudo bem. – Olhei confusa. – Eu entendo sua falta de experiência, mas estamos dispostos a lhe dar toda ajuda possível. Vamos fazer o seguinte, – ele falava calmo. – Vou te dá três dias para pensar, passado o prazo, eu retorno, caso você decida hoje, ou antes do prazo, entre em contato comigo. – Sua assistente me deu um cartão.

Flashback OFF

- Wow, posso lhe dizer, com toda a minha sinceridade, o que eu acho disso? – Afirmei com a cabeça. – Se fodeu! – Ele começou a rir alto. Sabe o que isso se chama? Idiotice aguda, sem remédios e sem cura.
- Mas que merda, até em uma situação crítica você tem que agir com idiotice?! – Me afastei dele, mas ele insistia em vir atrás de mim.
- Ah, qual foi, meu sonho, estou tentando te animar! E outra, não sabe que irmã mais nova tende a ser mais gata e gostosa do que as outras? Você foi a escolhida, baby, e realmente, eu não discordo de nada, porém, sua irmã mais velha tem um corpo, digamos, mais tentador. – Lancei meu olhar de reprovação.
- Primeiro, da sua boca só sai merda, ou seja, não ajuda. Segundo, me chame de meu sonho mais uma vez, que seu dentista terá um trabalho a mais nos seus dentes. Terceiro, para de falar da minha irmã, caralho, já disse que ela tem noivo, e jamais irá querer alguém do seu nível. Ela tem classe, você não!
- Eu tenho dinheiro, o noivo dela provavelmente não.
- Ele é dono da Mix Show, a boate mais famosa da Alemanha.
- Mix Show? – arregalou os olhos. – Cara, eu amo aquela boate! As melhores mulheres se encontram lá! Meu Deus, aquilo deveria se chamar Mix Paraiso! – Revirei os olhos.
- E você desejando a mulher dele? Tsc, tsc, não cairia muito bem na sua ficha lá não. – Ironizei.
- O que eu falo aqui, permanece aqui.
- Ou não. Ok, , eu não estou com cabeça para discutir isso, só quero saber o que irei fazer agora e, sinceramente, você não está ajudando em porra nenhuma!
- Nossa, grosseria tem limites. – Ele falou, parecendo que tinha sido afetado por minhas palavras.
– E paciência também, e a minha está zerada hoje! – Respirei fundo, muito fundo, porque sinceramente eu precisava de 100% de paciência.
Resolvi ir até , que aparentemente havia se acalmado mais. Parte de mim falava para dar meia volta e ir para meu quarto, mas outra parte me mandava ir até ela.
- ... – Sentei-me ao seu lado. – Olha...
- O que você quer? – Perguntou com frieza.
- Saber se...
- Se eu estou bem? Se eu estou bem, ? Acha que eu estou bem?! – Seu tom aumentava a cada momento. Sabia que ela iria surtar, sempre foi assim. Ela guardava a raiva que estava sentindo, e depois surtava, e em um desses momentos, algo lá em casa era quebrado. Era para eu ter ido para o meu quarto, relaxar, e pensar em como dispensar da maneira correta aquela proposta, mas não, eu tinha que mexer com fogo bem agora.
- , eu não tenho culpa. Eu fiz tudo o que você pediu.
- O que você disse a Ginna, hein?
- O que? Não disse nada. Fiz tudo o que você pediu.
- Claro que disse! Deixa de ser sínica, garota! – Ela levantou, parando em minha frente. – Você passou quase a noite inteira conversando com ela! Claro que disse algo.
- Eu não disse! – Gritei. – Porque eu diria? Para pegar seu lugar? Para que? Se o máximo que eu quero é sair daqui e voltar para Vancouver!
- Você sempre quis tudo o que era meu, ! – Ela gritou.
- Você que sempre quis! Você! Sempre dava um jeito de ficar com os garotos que eu gostava, sempre dava um jeito de pegar a melhor coisa para você!
- Não acredito que...
- , calma... – se intrometeu.
- Calma uma porra, . – Ela o respondeu. – O que você vai falar para ele?
- Eu não sei! Não sei, . Só me deixa em paz. – Pisando fortemente, subi as escadas e me tranquei em meu quarto.

Atende, atende...

- ?
- ! Que surpresa! Como está? Teve ressaca?
- Pois é, não, não...
- O que houve? Sua voz está meio...
- Fraca? Acabada? Desculpa te ligar, é que sinceramente não tenho ninguém aqui e se eu ligar para meus pais, é capaz deles virem para cá e se estressarem mais ainda. – Estava me segurando para não desabar no choro.
- Ei, calma... Me explica direito o que houve. – Ouvi vários barulhos por trás da linha.
- Você está ocupada?
- Não, estou em horário de descanso. Tenho vinte minutos.
- Ok, serei breve. Senhor Burtton veio aqui.
- Ah, então creio que a conseguiu a vaga, né?
- Não. Eu consegui.
- Você?! – Pelo tom de voz, ela estava surpresa e sorrindo.
- Você está sorrindo?
- Desculpa, mas estou.
- Não! Não sorri! , sério, eu não vou aceitar! A quase teve uma hiper-hidratação ao beber mais de cinco copos d’água, e outra, ela está me acusando de que eu falei algo para a Ginna, para que ela fizesse a cabeça do pai dela para me escolher... – Falava rapidamente.
- , ! me interrompeu. – Ei, calma. Eu estava na hora em que o senhor Burtton estava escolhendo. Olha, a Ginna disse que se encantou por ti, assim como o Claus.
- Claus?
- Claus Burtton. Melhor? Continuando. Ela te achou meiga, simpática, e disse que isso era ideal para essa campanha na Charlott, sem falar que beleza você tem de sobra. Só que jamais iria pensar que ele fosse te chamar, afinal, essas campanhas normalmente são feitas por profissionais do ramo.
- Ele disse que me preparava... Mas a tem tudo isso, quer dizer, eu acho... Muitas pessoas chegam a falar que somos quase gêmeas! – Nessa hora estava andando de um lado para o outro no meu quarto. (Oh mania)
- Sim, e é, porém a não demonstra tanto esses aspectos como você. É seu natural... E o que chamou mais a atenção no senhor Burtton em relação a você, foi seu sorriso.
- Mas...
- Nada de mas. , oportunidades como essa são únicas! É a Charlott, baby! Meus pêsames para a , mas você foi a escolhida. Pensa com calma, analisa e tenta algo novo Ele jamais chamou alguém inexperiente. – Suspirei. – Tenho que desligar. Ah, hoje á noite, terei uma festa de inauguração de um bar super famoso de um amigo. Quer ir?
- Não sei... Não estou muito em clima de festa.
- Se anima, gata, qualquer coisa, manda-me uma mensagem, tudo bem? Ah, o ainda está ai?
- Tudo bem. O imprestável para conselhos? Como não estaria, né...
- Do que está reclamando? Você mesmo o chamou, pelo o que ele me disse. – Merda, eu esqueci deste detalhe. Mas foi caso de emergência, sei lá, vai que ele saberia acalmar a fera! – Avisa a ele que é para vir ás cinco.
- Ué, porque você não liga para ele?
- Porque o horário que eu iria fazer isso, eu reservei para aconselhar uma futura amiga sabe... – Bufei.
- Se a cada problema que eu tiver e precisar de ajuda, eu for pedir a sua pessoa, e você pedir algo em troca, vou á procura de outra futura amiga.
- Deixa de coisa. – Ela riu. – Não esquece, não quero voltar de táxi para casa. Boa sorte ai, e relaxa! Beijos.
- Ok, beijos.

Ótimo, tenho uma fera incontrolável lá em baixo, um cara que só dá conselhos de merda e uma futura amiga que apoia o meu “sim”. Novamente, eu ainda aceito o raio em minha cabeça!
Poderia ligar para meus pais, e pedir um conselho, mas minha mãe iria começar o discurso de como é bom seguir novos rumos, que oportunidades como essas só aparecem uma vez na vida e blá, blá, blá. Não quero meter meus pais nessa situação, resolverei por mim mesma, mas ainda não sei como.

~***~


Pela tarde, as coisas se acalmaram mais. A havia parado com o drama, o tinha ido embora xingando, porque sua irmã havia mandado ele ir pegá-la (que, pelo que eu entendi, hoje era seu dia de folga no set, assim como o da ), e eu estava ainda trancada em meu quarto. Vai que se eu saísse e a me atacasse com um de seus sapatos finos? Ela pode ser minha irmã, mas meu medo por ela ainda existe, e principalmente quando está rodeada de sapatos finos.
Minha barriga começou a roncar. Ah, novidade... Abri a porta do quarto cautelosamente, olhando para os lados e com um mini travesseiro na mão (quem é meu mini travesseiro comparado ao salto da minha irmã?). Seu quarto ainda permanecia fechado, ótimo. Desci e encontrei Lena preparando algum tipo de torta.
Morango, por favor!
Peguei um copo de suco de abacaxi, com uma fatia de bolo e me dirigi á sala. Tomei um gole da bebida enquanto colocava o prato de bolo em cima da mesa de centro.
- Olha quem saiu do esconderijo. – Tomei um susto, que automaticamente me fez engasgar com o suco. Enquanto eu morria com o líquido caindo no local errado em meu corpo, apenas me olhava. Oh bichinha ruim!
- Puta merda, . – Disse entre tosses. – Vai me matar a base de susto?!
- Poderia, ai é bom que você saia logo do meu caminho. – A olhei assustada. – Não sou de fazer isso, mas não direi que estou satisfeita.
- Ok, você tem que entender que eu não tenho culpa disso. Você sabe o quanto odeio o seu mundinho insignificante.
- Era para ser meu, . Meu!
- E eu digo novamente, eu não vou aceitar essa porra! Ai depois você vai lá e se resolve com o senhor Button.
- Burtton!
- Tanto faz!
- Errar o nome de chefe é como pedir demissão. Ai meu Deus, que fracasso você!
- , chega! Eu não estou aqui para criar mais briga, meu proposito é criar uma paz entre nós, se é que ela um dia irá existir, para que eu volte urgentemente para casa!
- E o meu é te mandar logo para lá!
- Pronto, estamos de acordo com minha volta, mas sua chatice sobre esse assunto já está passando dos limites.
- Foda-se! Eu quero aquela campanha! – Argh, é como se eu estivesse conversando com um robô, que só repete, e repete, mas acho que até um robô entenderia! Peguei minha comida e novamente subi para meu único local de paz.

“Que horas devo está pronta? Xoxo.”

“Opa, terei companhia noturna hoje! Ás oito passo ai. Xx

“Agradeça a doce chatice de minha irmã. Vestimenta?”

“Olha, um ponto positivo nela, palmas!! Nada tão chique, mas nada tão casual. Você tem bom gosto, aposto que vai arrasar.”

“Ajudou muito hein! Me viro aqui. Fui!”


~***~


Não tinha a mínima ideia de como ir vestida a uma inauguração de um bar em Los Angeles! Peguei um vestido rodado, jaqueta de couro e um coturno com salto. Ótimo! Quando deu oito horas, recebi uma mensagem de avisando que já havia chegado. Avisei a que iria sair e ai começou o questionário. “Para onde vai?”, “Como assim você vai sair e eu não?”, “Quem vai com você?”, agora ela dá uma de irmã preocupada! Ah, foda-se, só avisei que iria sair com uma amiga que havia vindo para cá, se eu falasse que iria a uma inauguração de algo, ela surtaria novamente.
- Nossa, achei que tivesse desistido. – falou assim que entrei no carro.
- Minha irmã e suas mil e umas perguntas. Meus ouvidos precisam de música boa, e meus olhos de ótimas visões hoje á noite.
- A noite é uma criança, baby!


A festa já havia começado, e sinceramente, estava muito lotado! havia me dito que aquele lugar era antigo e era uma das melhores casas noturnas de L.A, e que para entrar, tinha que ligar uns cinco dias antes para por o nome da lista. Ela conhecia o dono, era um amigo de faculdade. Ele ganhou o L.A Rouge do pai e resolveu reformar para dar um ar mais atualizado.
Além de atualizar o local, atualizou também os preços das bebidas, tinha umas que valiam mais do que uma parte do meu corpo.
- Já decidiu se vai aceitar? – Nos encostamo-nos à mesa do bar, pedindo uma batida de frutas.
- O meu “não” ainda continua em vigor. Isso não é para mim. – Virei-me, encarando o restante do local. – Olha só essas pessoas, muito chique, muito luxo, e olha para mim? Muito simples. Não me encaixo com isso.
- Com o tempo se acostuma, . Oportunidades como essas só ocorrem uma vez na vida. – Ela falou, dando-me a bebida que acabara de chegar.
- Credo, parece minha mãe falando!
- Tenho que agir como uma, né. – Rimos.
- Ué, vai me dizer que você tem quarenta anos?! – Brinquei.
- Não avança minha idade, querida! Vinte dois, com muito orgulho.
- Dois anos mais velha, nem vem querendo bancar a mãe. – Rimos.
- Voltando ao assunto, pensa direito. Será muito bom pra ti. – Assenti e brindamos.
Não nego, homens californianos são superiores aos que tinham lá em Vancouver. Passava cada um que meu Deus, breve não responderia pelos meus atos! Porém, acabei engasgando ao ver uma pessoa.
- PUTA MERDA! – Falei, colocando a mão na boca e tossindo, fazendo virar-se rapidamente para mim. – Josh Hunter! (n/a: Eu ia colocar o Josh Hutcherson, tenho um forte crush por ele, mas vai que alguém lê com ele? :P )
- Ah, o Josh? Grande coisa, .
- Grande coisa? GRANDE COISA? , sabe o que é você babar completamente no cinema quando ele fez aquele último filme?
- Desculpa, mas babar pelo Josh é meio estranho para mim. Já trabalhei com ele, somos amigos. Ele é bonito... Mas passo.
- PASSA? – Gritava a cada palavra que ela dizia. Como assim dispensar Josh Hunter?
- , se você gritar novamente, eu juro que jogo minha deliciosa batida de frutas em você! – Abaixei minha cabeça, voltando a beber e o encarando. – Vou chamar ele. – O que?
- Oi? Está maluca! Não!
- Qual é, , você está babando pelo cara, e aproveita que ele está solteiro. – Ela piscou. – EI, JOSH! – Ele olhou em nossa direção, acenou, caminhou até nós.
-Bleu! Quanto tempo. – Ela o abraçou fortemente, e eu só encarava minha bebida.
- Nossa, ainda lembra desse apelido, meio antigo, não?
- Ah, te reencontrando tudo fica novo. – Ele riu... E que risada gostosa.
- Tão engraçado! Essa é minha amiga , que também é uma grande fã sua.
- Que linda, muito prazer. – Ele me abraçou. Puts, ele me chamou de linda, já posso morrer em paz! O perfume dele, meu Deus, cadê o oxigênio com este cheiro?
- Então, novidades? – perguntou, atraindo a atenção dele. Poxa, estava gostando daquele abraço!
- Tirei uns meses de folga, só trabalho cansa também.
- Imagino... – Falei automaticamente.
- Você trabalha, ? – Ele me perguntou sorrindo. A carne é fraca meu Jah!
- Ainda não, mas provavelmente irá, se deixar de ser tão mané e aceitar a proposta do senhor Burtton. – Lancei um olhar de reprovação a . Primeiro por responder em meu lugar, e segundo por ter falado da proposta.
- Eu não deixaria passar essa, ! – Ele respondeu novamente com aquele sorriso. Puta que pariu, homem, eu não aguento!
- Josh! – Uma voz surgiu da minha lateral se aproximando. Ótimo, era só o que me faltava.
- , cara, que surpresa você aqui. – Porque não estou surpresa deles se conhecerem?
- Já vi que conheceu meu sonho, a . – Seria um atentado se eu atacasse uma garrafa de vodka naquele imbecil? Ou melhor, se eu quebrasse cada dente daquela boca?
- Claro, foi a primeira pessoa que me chamou a atenção. – É oficial, está morta! Eu estava sorrindo, mas não queria deixar escapar aquele sorriso largo que me fazia parecer idiota.
- Hum... Mas, vamos marcar de fazer alguma coisa. As velhas festas... – foi mudando de assunto. Oh merda, deixa ele me elogiar mais!
- Claro! Bons tempos... Vou ver se acho um amigo meu aqui, até depois. – Ele saiu.
- Bleu? Sério? – Perguntei para .
- Na época eu tinha cabelo azul, e estava fissurada por francês! Errar é humano. – Ela levantou as mãos em forma de rendição.
- Preciso que me leve a esse encontro. – Falei para , que me olhou com uma feição assustado.
- Não!
- Por favor, , afinal, não é todo dia que isso acontece. – Falei apontando para o local que Josh seguiu.
- Cadê a menina do “seu mundinho é repugnante”? – Imitação da minha pessoa, zero!
- Por tudo que é mais sagrado, nunca mais tente me imitar. Sério, !
- Agora é ? Não! Não vou te levar. Acorda para a vida. – Olhei para , que só fazia rir da minha situação. Desgraçada! – E se me derem licença, vou pegar mais uma bebida, e ver se acho alguém melhor para passar minha noite. – Bufei, imprestável.
- Dá um jeito no seu irmão.
- Fala com a , ela que é o par romântico dele.

~***~


Já haviam se passado duas horas. Eu e ainda continuávamos conversando, e a festa rolava a solta. havia me ligado umas cinco vezes, mas o máximo que fiz foi ignorar. Ela havia acabado com meu dia, não iria dá o gostinho de acabar com minha noite, mas, por incrível que pareça, mesmo sem ela ali, suas ações ainda faziam efeito em mim.
Duas garotas se aproximaram, olhei para na tentativa de ver se ela conhecia, mas a mesma negou.
- Você é a Irmã da , né? – A loira perguntou. Magra, alta, cabelos longos e lisos, aparentemente modelo.
- Sim. – Respondi desconfiada. – Como sabe?
- Ela me mandou umas fotos suas... Nossa, deve estar sendo um barra para ela pelo o que você fez. – Olhei novamente desconfiada para , que tomou uma postura séria.
- E o que eu fiz para ela?
- Burlar a escolha na campanha da Charlott? – Falou como se aquilo fosse óbvio. – Nossa, além de ladra, se faz de fingida. Onde esse mundo vai parar! – Levantei-me do banco que havia na mesa, ficando frente a frente com ela.
- Ladra? Roubar? Amores, tem certeza de que ela contou a verdade para vocês?
- E porque ela mentiria? – A ruiva deu a voz.
- Porque a faz de tudo por algo. – me defendeu.
- Bem, sou amiga dela há séculos, e o máximo que ela fez foi me ligar aos prantos contando o que houve, enquanto isso você está aqui, se divertindo como se não houvesse o amanhã. – Nem tive tempo de falar, e aqueles duas saíram rebolando, quase quebrando o quadril. Como elas me acharam aqui? Eu não sei, provavelmente o deve ter avisado a minha irmã.
Mais uma vez havia armado para mim. Minha raiva já estava no limite. Paciência? Mal tinha ali, estava abaixo de zero. Não acredito que depois de anos, ela ainda tenha a cara de pau de armar para mim, sendo que nem culpa eu tinha. Eu não iria aceitar aquela proposta, essa era minha decisão, mas já vi que minha maninha está a fim de jogar um pouco. Peguei meu celular, e disquei o número que se encontrava em minha agenda.
- Senhor Burtton? É quem fala. Quando é que eu começo? – Sorri vitoriosa. Se ela quer brincar, que seja no meu jogo! Que os jogos comecem, maninha!



Capítulo 4


Já se passava das quatro da manhã quando cheguei em casa. já estava no seu décimo sono de beleza e, ao contrário dela, eu me preocupo com seu sono (se ela sem sono já é um porre, imagine com), resolvi deixar o nosso “assunto” para mais tarde, e também, estava tão cansada que a única coisa que vinha em minha mente era cama! Quando o relógio despertou ás onze da manhã, com dificuldade levantei da cama.
Que raios eu pus para tocar ás onze?
Fui á cozinha e o máximo que peguei foi uma mera maçã.
- já acordou, Lena? – Perguntei, enquanto ela preparava o almoço.
- Já, e pediu para que ninguém a incomodasse. – Respondeu calmamente. Ah, agora ela não quer incomodo, mas ontem, quando contou para as amiguinhas, não pensou no quanto estava me incomodando. Foda-se, não será hoje que irei obedecer a suas palavras.
Subi calmamente as escadas dando uma mordida em minha maçã, fui em direção ao seu quarto, e abri a porta, deparando-me com a mesma deitada em sua cama assistindo a um filme qualquer.
- Será que não tenho mais privacidade nesta casa? – Ela respondeu furiosa. Eu até estava mais calma, já que o ocorrido foi ontem, mas o modo sínico que ela age, fez com que toda a minha raiva voltasse. Calmamente fechei a porta, e cruzei os braços.
- Você não pensou em privacidade quando contou pro seu rebanho de fofoqueiras sobre a proposta!
- Minha casa, minhas regras, minha privacidade! Não foi você que comprou isso aqui, merece ter mais respeito diante do meu lar. Opa, respeito e educação são o que você menos tem. – Juro, se não fosse pela distância que eu estava dela, eu acabava agora mesmo com ela. Argh, que raiva!
- E você não tem um pingo de inteligência e maturidade para lidar com certos problemas. Sério? Chegar para suas amigas, ou sei lá que porra elas são, e dizer que eu burlei a escolha da campanha? Qual a necessidade disso?
- Eu só falei a verdade. – Puta merda, cadê a inteligência dessa garota? Sério que ela é minha irmã?
- QUE VERDADE?! – Gritei. – EU NEM SABIA DE NADA, EU NEM ESTAVA NA LISTA, ELE NEM ME CONHECIA!
- NÃO GRITA COMIGO!
- VOCÊ ESTÁ ME FORÇANDO A FAZER ISSO! – Minha respiração já começava a ficar ofegante de tanta raiva que estava sentindo. – Eu nem tinha dado a resposta a ele. Eu pensei muito durante esse tempo, e estava vendo um modo de pedir a ele para que você fosse no meu lugar. Mas, depois de ontem, percebi que o máximo que você faz é pensar somente em você, é ver somente seu lado e a sua verdade. Durante esses anos, eu tentava tirar toda a culpa de você, de tudo o que ocorria. Me sentia culpada por, como você diz, ter sido “o centro das atenções” da família, mas agora eu cansei!
- E o que você decidiu? – Ela levantou da cama, arrebitando o nariz.
- Eu aceitei, e você foi a causa por eu ter aceitado. Na verdade, obrigada por ter falado com suas vaquinhas sobre isso, deu uma bela força para eu aceitar. Acho que vai ser legal trabalhar neste ramo. – Ela simplesmente paralisou. Continuava me encarando de um modo raivoso, mas não falava nada, e tudo o que eu fazia era provocar ela. Que merda! Não minto, eu estava me tremendo de medo por dentro, porque quando a se vinga, é uma vingança sem round dois, mas como já comecei, não poderia parar.
Caminhei em direção á porta, mas antes de sair, me virei.
- Ah, e outra. – Continuei. – Se é assim que você quer brincar, tudo bem, entrarei no seu jogo. Boa sorte. – Fechei com força a porta. Minutos depois, pude ouvir seus gritos e algo quebrar. Descanse em paz objeto quebrado.

Eu estava com medo, com muito medo, se eu não tivesse total controle com minha bexiga, provavelmente já estaria em uma situação nada agradável. Já haviam se passado duas horas, e nada dela descer. Ótimo, agora além de morar em uma casa com uma pessoa que tem uma coleção de saltos ultrafinos, agora terei que conviver com uma pessoa que tem saltos ultrafinos e que quer acabar comigo!
Que viagem mais perfeita! Sério, o raio pode cair agora, creio que será melhor do que aturar ela.
Minutos depois, ela desceu, totalmente arrumada. Passou pela sala, e nem olhou para minha cara. Só ouvi o baque da porta. Provavelmente ela iria para o estúdio gravar, ou sair com as outras lá.
Senti meu celular vibrar. Era uma mensagem.

“Hey, hey, nova modelo da Charlott. Seja bem-vinda! Adivinha quem irá te ajudar nesta nova fase da sua vida? Se pensou na diva , parabéns, você está apta a ser vidente!”

“Nossa, , eu mal começo um trabalho e você já quer me arrumar outro? Calma ae, né!”

“É bom que ganha mais! Amanhã, no meu escritório, ás seis da manhã! Te passo o endereço por e-mail.”

“O QUÊ? Seis? Querida, isso tudo é saudades, ou vontade de ver minha cara inchada de sono?”

“Nem um, nem outro, isso se chama trabalho! Agora tenho que ir, depois quero saber o que aconteceu com sua irmã, pois o modo que ela falou com o , não foi nada sútil. Espero que você permaneça inteira até amanhã. Beijos.”

“Eu também espero, ficarei longe dos sapatos dela, e dela. Beijos.”


~***~

Cinco da manhã, e como minha cara estava? Inchada, horrível, poderiam me confundir até com alguma personagem de um filme de terror. Resolvi não passar muita maquiagem, só um rímel, lápis, e um gloss. Assim que entrei no prédio (E que prédio! Era muito sofisticado) encontrei , que me esperava na recepção. Subimos até o quinto andar, onde ficava sua sala. Não era muito pequeno, mas também não muito grande, porém confortável. A vista era linda, dava para ver grande parte da cidade.
- Então, , você não começará a sessão de fotos hoje, pois precisamos treinar você um pouco, e passar algumas regras para ti. – sentou-se em sua cadeira, e apontou para que eu sentasse no sofá.
- Regras?
- Regras. – Sorriu. – Achou que vida de modelo é fácil? Mas antes, preciso que assine o contrato. Uma vez com sua assinatura ai, não poderá voltar atrás. – É agora, vou ou não vou? Muitas coisas passaram em minha mente no momento, mas a que mais se fixou foram as artimanhas de . Peguei o papel de sua mão e assinei. ... Olha lá onde você se meteu! – Muito bem. – Continuou. – Como é o inicio e você não tem tanta experiência e estrutura, nos prontificamos de organizar seus horários. – Ok, eu estava ficando assustada. – Você terá academia todos os dias, por duas horas, com um personal trainer, em seguida pode escolher yoga ou alguma arte marcial. Eu optaria por yoga, já que relaxa um pouco, e você vai precisar, e muito.

Duas horas? Vou precisar? E muito? Onde foi que eu me meti?

- Isso será pela manhã, já que seu corpo acorda com mais energia. – Ou não. Demoro quase uma hora só para levantar da cama. –Pela tarde, precisarei de você aqui para lhe explicar o processo de uma campanha, e como agir diante das câmeras. Apresentar você aos fotógrafos, cabelereiros, maquiadores, e ao seu parceiro.
- Opa, como assim, parceiro?
- Outro modelo que irá tirar fotos contigo. Em campanhas, gostamos de por um casal, pois representa tanto o lado masculino como o feminino.
- Mas eu pensei que a Charlott só fosse feminino.
- Também tem seu lado masculino, . Temos fragrâncias para homens, e está na lista dos mais vendidos mundialmente. – Ok, só espero realmente que seja um cara top, de cair os queixos.
- E quem será? – Perguntei curiosa.
- Ainda não sabemos. Iremos resolver isso amanhã. Agora, vamos falar da sua alimentação.
- Bem, minha alimentação é boa... Não passo fome, eu como praticamente tudo...
- Terá que diminuir.
- O QUÊ? – Ok, podem mudar o meu cabelo, minha roupa, mas não mexam no meu modo de alimentar. Comida é coisa séria! – Terei que comer somente folha? Viver a base de grãos? Daqui a pouco vão me mandar para um galinheiro!
- Menos drama, e mais aceitação. – Ela riu. – Você é modelo agora, sua alimentação influência em sua pele, seu cabelo e até no seu humor.
- Pizza me faz bem, chocolate ao leite me acalma e uma bela torta de morango completa meu dia! Meu camarim pode ter tudo isso. – Sorri, encostando-me no sofá.
- Não. – Meu sorriso se desmanchou. – Só podemos por isso no cardápio depois de conhecermos seu corpo, e quando sua condição física estiver boa. Tudo bem que você tem aquela cara de “come tudo e não engorda”, mas teremos que fazer algumas mudanças. – Bufei.
- Mas a come quase o mundo!
- Ela é veterana, você não. Já mandei sua lista de alimentos para a Lena. Refeições somente três vezes ao dia nesses primeiros meses.
- Três vezes? Gente, por favor né, eu vou sumir assim! E como conhece a Lena?
- Eu que indiquei Lena a sua irmã. – Sorriu vitoriosa, enquanto arrumava papeis em cima de sua mesa. Legal, agora a Lena também está do lado dela, era só o que me faltava.

Depois daquele bate-papo todo, e de ouvir muitas e muitas explicações da , ela me pediu para que fossemos até a academia, para que eu já me acostumasse com o local, até porque, eu nunca havia malhado uma vez se quer em minha vida. Conversamos com alguns treinadores, olhei alguns aparelhos, que eu não entendi porra nenhuma para que serviam, para mim tinham a mesma função: lenhar com nosso corpo. Conheci o local, e os serviços que eles ofereciam. Logo depois, voltamos ao seu escritório. Ela havia esquecido as chaves de casa. Quando chegamos, me surpreendi pela presença do ali.
- Veio me ver? – perguntou sorridente enquanto nos aproximávamos dele.
- Não. – Ele respondeu, colocando as mãos nos bolsos, e dando um sorriso.
- Ah, vá se foder! – Ele riu com a resposta dela. – Qual seu propósito aqui?
- Reunião... , soube que será a nova modelo daqui. Meus parabéns, mas toma cuidado. O que vem fácil vai fácil e, principalmente, quando há injustiça nela. – Ah não, lá vem! Já basta o rebanho me acusar de algo que não fiz, e agora o imprestável também?!
- Qual a história que ela inventou? – Suspirei.
- Você burlou. Convenceu Ginna a te escolher. – Ele disse calmamente.
- precisa melhorar nas mentiras. – Minha cabeça já estava quase estourando de tanta dor. Eu não aguentava mais! Vou começar um trabalho sendo conhecida como a menina do “burlo”. Que ótimo!
- Eu sei. – Ele respondeu rapidamente. – Não acreditei no que ela disse, mas sei que você pode ser capaz de fazer isso, afinal, tal irmã mais velha, tal irmã mais nova. – Minha boca abriu e fechou umas duas vezes. Em um pulo, o agarrei pela gola de sua camisa polo azul marinho, o levantando um pouco, coisa que não deu muito certo, pois eu era um pouco menor do que ele, mas conseguir por um pouco de medo, pois sua feição mostrava isso.
- Pode me chamar de qualquer coisa, mas a partir de hoje, jamais me compare a ela, ouviu? Ou se não, seus lindos dentes branquinhos, virarão parte de minha coleção. – O soltei.
- Nossa, que revoltada. Ao em vez de por medo, me faz rir. Tem que melhorar nas ameaças, meu sonho.
- Jura? Então acho que isso é um convite para arrancar seus dentes, né?
- Se for na minha cama...
- ! – Agora foi á vez de dar a palavra. Ele não se importou.
- Não vou perder mais meu tempo aqui, tenho que encontrar com uma ruivinha que... Meu Deus! – E assim, ele desceu por um elevador, e eu e por outro. Se eu entrasse na mesma cabine que ele, não me responsabilizaria pelos meus atos contra a sua face.
Quando sairmos do prédio, pedi para me deixar em um shopping mais próximo, não queria ir para casa e ter que aturar a madame dramática. Ela hesitou um pouco, ficava falando que eu iria ultrapassar os limites da comida, já que seria meu último dia livre da dieta. Não sou um monstro que come tudo o que vê pela frente, mas também ela estava certa, eu iria abusar um pouco, afinal, adeus lanches suculentos, adeus tortas de morango! Eu ainda quero saber como irei suportar tudo isso!

~***~


Juro que tinha fechado as cortinas antes de dormir. Essa claridade em meu rosto, a luz solar quente em minha pele, queimando logo pela manhã. Porra, estou cansada! Não durmo direito já tem dois dias com medo de que minha irmã possa me atacar com seus saltos. Me revirei um pouco, colocando o travesseiro na minha cara, quando fui surpreendida por um apito, que me fez sentar rapidamente na cama, colocando a mão em meu coração. Ok, ainda continua batendo.
Uma silhueta de uma mulher apareceu em minha frente. Alta, loira, com músculos. Usava um boné, e uma roupa de malhar. Em uma de suas mãos segurava uma prancheta, enquanto na outra, o maldito apito.
- Quem é você? – Perguntei, ainda com minha voz rouca e coçando meu olho para enxergá-la melhor.
- Marissa Cloe, conhecida como sua personal trainer. – O QUÊ? A me prometeu que seria um homem, e de preferência muito gato, e não uma monstra malhada.
- Sério? E que horas são? – Perguntei ainda grogue de sono. Sim, eu estava e com muito sono.
- Seis da manhã. – Puta que pariu, o que tem de tão especial as seis da manhã? Os raios de sol possuem uma vitamina melhor que te faz viver para sempre? Ou a hora interfere também no humor?!
- Legal, às dez me acorde. – Voltei a deitar na cama, mas fui surpreendida quando a montra me puxou pelos pés, fazendo-me parar no chão.
- A foi bem clara comigo, nada de moleza com a senhorita. Agora vai para o banheiro, veste uma roupa de malhar, que temos três quilômetros de corrida, vinte abdominais, e quinze flexões. – Estava estagnada, assustada com o modo firme que ela falou. Rapidamente me levantei e fui correndo para o banheiro me trocar. Mas antes, quem a deixou invadir meu cômodo?
- Pois bem. – Ela tornava a falar quando chegamos à cozinha. – Este aqui é seu café da manhã. – Olhei para a mesa enquanto prendia meu cabelo em um rabo de cavalo. Pão integral, suco verde e uma banana. Sério? Isso não alimenta nem um quarto do meu estômago.
- Cadê o resto da comida? E que suco é esse? – Perguntei inocentemente.
- Isso é sua comida, e esse suco é uma batida de hortelã, abacaxi e algumas folhas verdes. Agora trate de comer logo, mastigando calmamente para não ter uma indigestão. Em dez minutos quero você pronta para nossas atividades. – Ok, senhora monstra.
Como sobreviverei a este mundo? Sério, cadê o maldito raio em minha cabeça? Será que a ideia de alguma família me adotar ainda vale? Mas tem o maldito contrato. Mas, e se eu mudar de identidade, fingir que sou mendiga, pedir para ser adotada, conseguir algum dinheiro e voltar para o Canadá? Mas eles provavelmente me achariam. Que merda, não tenho saída.
Cheirei de leve o suco, e aquele cheiro forte de folhas inalou pelo meu nariz, fazendo com que eu espirrasse. Como vou tomar isso?
Cloe estava na sala, me encarando com uma cara de “tome isso agora, ou será pior”. Tampei o meu nariz, e virei de vez a bebida. Folhas fortes!

~***~


- Por favor, pausa, pausa. – Supliquei, parando no meio do caminho e me apoiando em meus joelhos.
- Só caminhamos meio quilômetro e você já está assim? – Meio quilômetro? Jurava que já tínhamos caminhado mais de dez!
- Eu não aguento isso, é muita coisa, eu desisto.
- Pena que essa opção não está no contrato, agora vamos. – Oh, bichinha sem coração. Voltei a correr com aquela sensação de desmaio. O sol estava quente, eu estava um poço de suor. Um carro veio em minha direção, parando devagar.
- Quer carona, ? – Era . Usava um óculos escuro, e pelo frescor que saiu do carro, o ar-condicionado estava no máximo. Daria tudo para ter aquele ar em meu corpo.
- Sim, por favor. – Falei ofegante.
- Ah, que pena. Andar de carro não está nos planos, deixa para outra hora. – Maldito. – Está com sede? – Ele falava com uma garrafa de água em mãos.
- Sim. – Sinto que vou me arrepender por ter o respondido.
- Opa, só tenho esse pouquinho, seria uma pena se... – E ele bebeu. Toda água que restava naquela garrafa. Maldito, ridículo, canalha, puto!
- Sai daqui, imbecil. – Voltei a correr, e ele foi me seguindo com o carro ao meu lado.
- Se eu fosse você, adiantaria os passos. Acho que sua amiga ali não está nada feliz com seu andamento. Que triste, , sendo inútil até em exercícios físicos. – Riu.
- SAI DAQUI, PORRA! – Ele acelerou o carro, provavelmente rindo da minha situação. Tal irmã, tal namorado, ambos imprestáveis.

Depois de uma hora e meia de caminhada, paramos em um parque próximo. Sombra, água, vento, preciso disso urgentemente. Percebi que havia uma ligação em meu celular da . Retornei.

- Surprise, surprise! – Ela disse animada. – Acabei de receber uma mensagem do meu querido amigo Leon, um dos organizadores da campanha. Senhor Burtton já escolheu seu parceiro!
- Jura? – Falei tentando recuperar o fôlego. Normalmente são atores, cantores, modelos de alta classe, e muito gato. Pensa ai, em um ensaio fotográfico com Brad Pitt, ou um Timberlake da vida... – Fala quem é o “hot”.
- Está morrendo, filha?
- Quanta ironia, né? Você manda uma bruta montes invadir meu quarto, e me expulsar da minha cama, me fazer correr por dois quilômetros, e ainda me pergunta se eu estou morrendo? – Ela riu. – Você me paga, mas antes, me fala quem é o hot.
- Se você considera meu irmão “hot”, então tenho que te levar a um oftalmologista.
- Como assim? – Comecei a rir nervosamente. Não, me diz que não é isso que estou pensando...
- foi escolhido. – E assim, minha viagem ficava a cada dia mais “emocionante”.



Capítulo 5


Respira, respira, respira... Ai! Até respirar tá incomodando, meu Deus, eu não mereço isso. Eu não sinto minhas pernas, meus braços, malmente meus dedos dos pés. Até mexer o dedão está doendo! Meus músculos estão latejando de tanta dor, meus ossos nem se fala, parece que fui pisoteada pela e seus sapatos. Minha cabeça ainda estava quente, nem o banho gelado que aquela brutamontes me obrigou a tomar serviu para esfriá-la. O que será de mim nesses próximos meses? Já tinha mais de uma hora que estava ali, deitada em minha cama, fitando o teto branco. Estava completamente estirada. Minha barriga dava indícios de fome, mas nem isso foi capaz de me fazer levantar desta cama.
Ok, eu preciso fugir desta prisão, ou acabarei em um manicômio aos 20 anos. Sei que a iria surtar, mas foda-se, eu pedi um gostoso musculado, e não uma monstra quase parente do Hulk. Mas se bem que eu não estou tendo dinheiro nem para pegar um táxi, imagina um avião de volta para o Canadá? Ainda tem o fato de meus pais me quererem de volta, porque o acordo foi que eu só voltaria se a paz reinasse entre mim e , coisa que está longe de acontecer, pelo andar da carruagem. Ainda tem o fato do contrato, que caso eu quebre, terei que arcar com vinte mil dólares. Nem rodando bolsinha na esquina eu iria conseguir isso! Na verdade, não iria conseguir nada, duvido que alguém iria querer uma pessoa com os ossos prestes a esfarelar, o máximo que iria conseguir é chamar atenção daqueles velhos que assobiam quando vê qualquer par de bunda na rua. Isso se chama falta de atividade na cama! Mas ai eu poderia pedir para a Annie ou a Kristin me acomodarem em suas casas, mas ai é o problema: a Annie está no Japão em um curso e a Kristin está cuidando do filho. Ah, eu poderia ser babá do filho dela... Se bem que eu iria me estressar mais ainda com aqueles choros e birras. Deixa pra lá.
Um toque, dois toques... Tateei sobre a cama até encontrar meu celular.
- Alô? – Falei, desanimada.
- Konnichiwa, genki desu ka?* - A pessoa do outro lado da linha falou rapidamente. Mas que porra é essa?
- O quê? – Falei, levantando-me e recebendo como recompensa uma dor mais intensa em minhas costas. Merda, eu ainda estou frágil!
- Konnichiwa, genki desu ka?! – Falou novamente, porém mais devagar e, mesmo assim, não estava entendendo porra nenhuma.
- Você vai ficar nessa pela tarde toda e eu ainda não irei entender nada. – Já estava perdendo a paciência. Podem me chamar de estressada, irritadinha, o que for, mas eu não estou em um belo estado para aturar isso!
- Nossa, quanta brutalidade. – Era a Annie. – Califórnia está te mudando.
- Ou algo chamada . – Voltei a deitar novamente. – Annie... – E foi ai que me toquei. – ANNIE! – Exclamei e levantei-me brutalmente, sentindo novamente aquela dor.
- EU!
- POR FAVOR, POR TUDO QUE É MAIS SAGRADO, ME TIRA DESTE LOCAL QUE EU CHAMO DE CASA, OU MELHOR, DE SENZALA, SÓ QUE CHEIA DE FRUFRU! ME LEVA PRO JAPÃO MESMO EU NÃO SABENDO NADA. EU ME VIRO! EXISTE MIMICA, SINAIS, SEI LÁ, ELES ENTENDEM. EU NÃO SUPORTO PEIXE CRU, OU ARROZ DOCE, MAS PARA SOBREVIVER, EU COMO ATÉ FRANGO CRU! – Só ouvia os risos dela.
- , calma, . – Respirei fundo. – Primeiro, aqui não tem somente peixe cru ou arroz doce não. A culinária é bem diversificada, ok? – Tinha me esquecido que ela simplesmente AMA o Japão, e que qualquer coisinha, ela vinha com mil pedras. – Segundo, menina do céu, pensei que a Califórnia fosse um local divino, fiquei até com inveja quando me disse que iria para ai, mas não sabia que você acabaria tendo mais outro parafuso a menos.
- Eu nem sei quantos parafusos eu tenho mais. – Ela riu novamente.
- Irei rezar pela sua alma. Mas se quiser, pode vir, é bem legal aqui, agora terá que aguentar horas e horas de voo e comprar sua passagem. – E como sempre, tinha que ter dinheiro no meio.
- Argh. – Reclamei. – Amor, se eu tivesse dinheiro, eu estaria indo para o Canadá, e estou nem ai se meus pais não me aceitassem de volta. Poderia morar aonde for, menos aqui.
- Pensei que já estivesse rica, pelo que vi no noticiário. Ah, meus parabéns, estou me sentindo honrada por ter uma melhor amiga modelo agora e, principalmente, da Carlott! Já sabe, quando ficar em frente às câmeras, fale de mim e do quanto minhas roupas são magnificas, e outra, se encontrar algum ator gato, passa meu número. Ou melhor, me manda o convite de algum evento, a minha pessoa será mais importante do que meras palavras.
- Já acabou com os sonhos? – Ela soltou um "afê" como resposta. – Eu me arrependi de ter aceitado está proposta. Não estou vendo benefícios nisso. Ok, tirando a parte de conhecer gatos né, que só tive a chance de conhecer um, nem nisso a sorte está do meu lado! Mas a está puta da vida comigo, isso só diminui as chances de voltar logo para casa.
- Ah, amiga, é o que falam né: se você tem talento e confiança, as pessoas te chamam de arrogante. Ou de vaca. – Não pude conter o riso. Uma das coisas que mais sentia falta era das “frases” da Annie. Já passei por cada uma, por isso que eu e a Kris evitávamos qualquer tipo de conversa com desconhecidos quando se tinha uma Annie por perto.
- Isso soa tão estranho. – E assim continuei, falando de como minha vida deu uma bela virada e de como estou tendo que sobreviver a tudo isso.
Quando desliguei o celular, já passavam-se do meio dia. Se eu não descer, é capaz daquela brutamontes vir e me arrastar até a cozinha pelos pés, sem ter piedade da minha cara na escada. Abri a porta do quarto e um cheiro delicioso tomou conta dele. Era maravilhoso! Tinha um toque de gordura, de calorias, de comida boa.
Desci rapidamente, deparando-me com uma bela lasanha na mesa, e com apreciando a bela massa. Minha tarde pode começar bem melhor! Assim que peguei o primeiro pedaço, senti um pano batendo fortemente em minha mão e, no impulso, soltei a colher. Mas que diacho!
- Está querendo perder todo o esforço de hoje? – De onde aquela mulher apareceu?
- Marissa, eu só estou pegando o meu almoço. Você disse que entre meio dia e uma da tarde era o tempo ideal para uma refeição.
- Não essa refeição. Está achando que pode comer esta gordura toda?
- Mas eu não engordo! – Choraminguei.
- Não é questão de engordar e sim, recuperar energias!
- Ok, senhora nutricionista. O que eu vou comer, então? Porque ainda não aprendi a me alimentar através dos raios solares. Não aprendi a realizar a fotossíntese. – Indaguei. A única coisa que eu recebi foi um pequeno sorriso, o que fez uma tensão percorrer pela minha coluna. Coisa boa era o que não vinha. A mesma voltou para a cozinha. ainda comia sua lasanha, enquanto ria baixo da situação. Uma vez peste, sempre peste. Minutos depois, a monstra voltou com um prato e o colocou em minha frente. Mas o que?
Batata, brócolis, cenoura, uma colher de feijão, arroz, uma fatia de frango e...
- O que é isso? – Apontei para algo marrom bem claro, quase um amarelo bem clarinho.
- Grãos de bico. – Sorriu. A meta é fazer com que eu suma, ou recompor minhas energias?
- E para beber? Não me diga que é água.
- Não, uma batida de folhas verdes, com um toque de abacaxi. Infringi as regras e coloquei o abacaxi só para dá um gostinho a mais. – Nossa, que pecado! Colocou uma rodela de abacaxi no suco. Gente, essa mulher precisa ser presa e levar anos na cadeia por ter feito isso! Me poupe!
só fazia rir. Respira, , respira, é só por um mês, e logo você terá toda a grana do mundo e se mudará deste inferno.

Fui praticamente arrastada pela para vir com ela no estúdio de filmagens. Pelo jeito, ela ainda pensa que irei por fogo naquela mansão barbie. Não iria gastar meu tempo fazendo isso né, por isso que só mantenho essa ideia em meus sonhos. Lena teria que sair hoje e só voltaria no dia seguinte, pois teria que resolver algumas coisas. Então, com o medo a flor da pele, ela me trouxe a este lugar... Estranho.
Eram muitas pessoas, elas caminhavam de um lado para o outro. Carros, cenários, câmeras... Se eu trabalhasse aqui, com toda certeza iria pedir um mapa.
Adentramos a um local que por fora tinha a aparência de um galpão (mais arrumado). Paredes amarelas, portas revestidas de metal, que refletiam a nossa imagem de tão polido que estava. O número 11 estava estampado de preto acima da porta, provavelmente deve ser o set dela. Dentro, algumas portas nas laterais do corredor chamavam um pouco a atenção, por causa da sua forte cor na tonalidade vermelha, e, no final, dava para ver uma extensa sala, com enormes estruturas metálicas, luzes e alguns móveis.
- Ok, você irá ficar aqui. – Ela me direcionou a porta número 5. Era uma espécie de camarim. Roupas penduradas em uma arara, abaixo contendo alguns sapatos. Todos tinham seu nome. Um enorme sofá de veludo branco se encontrava ao lado das roupas. Do outro lado, umas três penteadeiras tomam o espaço encostadas na parede, com fortes luzes dando um efeito cinematográfico. Ao fundo, outra porta, provavelmente era o banheiro e, do lado da porta de entrada, não muito perto, tinha um carrinho cheio de comidas e bebidas. Cupcakes, doces, salgados, frutas, era muita mordomia. Não pude evitar, estava encantada com tudo aquilo. Normalmente, eu só via pela TV ou em algum filme, pensava que nem eram essas coisas todas, achava que o povo incrementava demais só para atrair a atenção do público, mas realmente minha perspectiva estava errada. Só tinha um pequeno problema. Ou a sente falta da neve do Canadá, ou o ar-condicionado está com defeito, porque o frio que fazia ali não era de suportar por muito tempo.
- Por favor, não toque em nada, não quebre nada e não fale com ninguém. – Ela continuava.
- Eu não tenho sete anos, sei o que devo e não devo fazer. Vai logo fazer seu trabalho e finge que eu nem existo.
- Esse é um dos meus desejos, mas é uma pena que gênios de uma lâmpada mágica não existam, né? – Acho que alguém anda assistindo muito os contos de fadas da Disney. Revirei os olhos e sentei-me no sofá, colocando alguma música para tocar no celular.

Por quanto tempo teria que ficar ali? Creio que já haviam se passado duas horas e nada da madame retornar. Para quem disse “será rápido”, esse rápido está demorando uma eternidade, e sem falar que a cada momento esse ar condicionado só faz gelar mais. Alguém poderia desligar? Alguém? Alguém? Não? Ok né. O barulho da maçaneta me chamou a atenção e logo vi entrando com uma feição nada agradável.
- Você me prometeu e agora diz isso?! – Ele ainda não tinha percebido que eu estava ali. – Já é o que? A quarta vez que você desmarca algo?! Foda-se se sua amiga te chamou para a chácara dela em sei lá que porra, sabe quantas garotas sonham em ir a uma festa deste estilo comigo? – Opa, o mundo de fantasias de alguém está desmoronando... – O Josh me liberou mais um convite por sua causa! – Epa, eu ouvi Josh? Tirei rapidamente meus fones para ouvir melhor a conversa. Esse menino é cego ou se faz de um, porque para não me vê aqui, deitada neste sofá... Se bem que ele estava de costas para mim. – Não, não vou levar ela! E a vai estar resolvendo algumas coisas da série. O QUÊ? VOCÊ NÃO SERIA CAPAZ... Alô? ALÔ! – Ele desligou, e quando se virou, deu para perceber que havia tomado um susto com minha presença ali. – QUE SUSTO, PORRA! O que você tá fazendo aqui? – Colocou sua mão em seu coração.
- Olá, querido, minha frase do dia é: não tente resolver seu problema de vista com óculos, e sim com cirurgia. Seu caso é tão extremo por não ter me visto aqui, que nem sei se a cirurgia vai fazer algum efeito. Talvez nascer de novo seja a melhor opção.
- Nossa, morri de rir. Não enche, .
- Parece que o mundo cor de rosa de está indo por água abaixo. Nem as mulheres mais te aguentam.
- Virou vidente agora, para tentar adivinhar sobre minha vida amorosa? – Sentei-me, enquanto ele pegava uma água no carrinho.
- Olha, até que sua irmã me sugeriu está profissão, mas não tenho paciência para isso. Joga uma água, por favor.
- Você tem braços, pernas, cabeça, e olha, uma mente também, eu acho. Então você é super apta a levar e vir aqui e pegar sua água. – Ignorante, grosso, nem para pegar uma água serve.
- Agora já sei por que as mulheres te querem longe, sua parte boa, se é que você tem, deve estar em 1%, enquanto a parte ridícula ocupa 99%. – Falei, enquanto pegava a água.
- Nem no meu camarim eu tenho sossego, estou pagando pelos meus pecados. – Se jogou onde eu estava sentada.
- É, seu problema de vista é serio mesmo, nem sabe aonde é o camarim. Não quer adotar um labrador para te guiar não?
- Risos, risos e risos! E você não quer comprar uma cola para passar nesses lábios para calar a boca, não? – Fechei a cara. – Que merda. – É, ele realmente estava puto da vida. Sentei em uma cadeira próxima a penteadeira. Nos cinco minutos que se passaram, só ouvia os suspiros do .
- Querido, está com falta de ar? Está passando mal? Porque não é normal ter sucessivos suspiros em cinco minutos.
- Não, eu estou bem. – Falou desanimado. Dei os ombros e voltei a minha atenção ao meu celular. Porém, a praga voltou a suspirar. É, ele está em naqueles casos de “preciso desabafar urgentemente”.
- Tudo bem, você venceu. Me fala logo o que você tem. – Cruzei os braços e me virei em sua direção.
- Acha mesmo que quero desabafar com você? – Me olhou com uma cara de nojo.
- Você sabe que ninguém irá te ouvir... Aproveite, não é todo dia que tem a mim como ouvinte. – Ele revirou os olhos, e sentou-se como gente no sofá.
- Lembra daquela ruiva que te falei no dia que encontrei você e minha irmã no elevador? – Afirmei. – Então, eu tenho saído com ela, mas ultimamente ela só tem desmarcado. Ai o Josh, no dia da abertura do bar, tinha me chamado para a festa dele, no final de semana, e eu queria levar muito ela, só que a peste desmarcou, falando que uma amiga de não sei de onde a chamou para a chácara dela, porque iria ter uma pool party.
- E agora você tem um convite sobrando?
- Não. Eu não tenho uma acompanhante. Sabe o que é chegar de mãos vazias em uma festa assim?
- Significa que você está livre para pegar qualquer uma?
- Não! Quer dizer, mais ou menos, mas é sempre bom chegar acompanhado.
- Então devolve o convite a ele. – Sentei-me ao seu lado.
- Não dá. Porque quando ele me deu o convite, mencionou para quem seria destinado aquele convite. – Sua voz estava completamente sem ânimo.
- Para a ?
- Não, para você! - Dei um pulo do sofá. Ele arregalou os olhos, provavelmente do susto que eu deveria ter dado. Ele havia me convidado, me convidado! Um famoso me convidou para uma festa! Ok, não deveria estar surtando, mas poxa, não era qualquer famoso e sim ele. – Por favor, por tudo que é mais sagrado, não dê aqueles surtos de fãs que saem correndo, pulando, cambaleando e gritando “Ah!! Socorro, como eu amo ele! É ele! Eu amo muito, muito ele.” – Eu não já tinha pedido para que ele parasse de vez de tentar imitar uma voz de garota? Soava tão gay.
- Primeiro, não imita mais voz de garotas, você é ator, mas, querido, isso não é bem lá seu talento. E segundo, eu tenho classe ok?! Sei me controlar. – Ele começou a me encarar. Eu estava me segurando para não gritar, mas a emoção foi mais forte e comecei a sacudi-lo e gritar ali mesmo que eu havia sido convidada.
- Quem disse que irei te levar a esta festa? – Rapidamente tirou minhas mãos sobre seus ombros, e se levantou. – A ruivinha gostosa pode até não ir, mas não se iluda achando que eu irei te levar. – O QUE? Como assim? Desde quando ele tem posse sobre o meu convite?
- Pelo que eu saiba, o convite é meu.
- E pelo que eu saiba, o convite está na minha mão e você não faz a mínima ideia do local da festa. Ou seja, ponto para mim.
- O que? Virou jogo agora? Deixa de ser ignorante uma vez. Você provavelmente tem outro convite, pode chamar qualquer piranha. – Ele revirou os olhos.
- Não! O outro convite está destinado a . Esquece isso, . Maldita hora que fui falar isso para você!
- Mas porque não quer me levar? – E foi ai que um pensamento veio em minha mente. – Vem cá, quando é que você vai parar de dar corno em minha irmã? Seja mais fiel! Pare de deixar a menina com chifres, se bem que ela merece, mas mesmo assim, da um pouco de dó.
- É por isso que não te levo! Você, suas palavras e suas ideias, e outra, eu nem sei mais o que tenho com a .
- Ih, o paraíso está se acabando. É impotência no ato? – Seu olhar sério veio em minha direção.
- Esquece a porra do convite agora, ok? – Caminhou em passos fortes até a porta, mas acabei o agarrando pelo braço (que, por sinal, eram até malhadinhos).
- Por favor, eu fico calada durante a festa, eu não dou nem um piu. Se quiser, eu nem fico do seu lado lá. Por favor, ...

* "Konnichiwa, genki desu ka" = "Olá, tudo bem?", em Japonês



Capítulo 6




Não são vinte, trinta e muito menos quarenta minutos, mas sim UMA HORA E MEIA! Uma hora e meia, dentro de um carro, debaixo de um sol escaldante, vivendo a base do ar-condicionado de um automóvel que nem é lá essas coisas. E fazendo o que? Esperando a senhorita-madame-. É o que? Vai se casar? Vai a uma festa no castelo da rainha? Encontrar o presidente? NÃO! É só uma pool party. Pool party. E o necessário é uma roupa de banho, óculos de sol e pronto! Mas não, tal irmã, tal irmã, e foda-se, falo mesmo!
- Merda, ... – Daqui a pouco só iria ver sangue escorrer do volante do carro, de tanto que bati a cabeça ali, esperando aquele ser. – É só uma festa... – Já era a décima vez que ligava para ela. Na segunda tentativa, ela atendeu e disse que já estava descendo, mas isso foi há uma hora! Se eu ligasse para o telefone de casa, provavelmente iria querer tirar satisfações de onde estaríamos indo, e porque iriamos sair, e assim começaria uma leve discussão, quer dizer, barraco. Porque, com aquela ali não há nem conversa, nem bate boca, e sim um belo e enorme barraco. Jamais me compare a minha irmã, para que comparações, se uma é a cópia da outra!
- Perdão a demora. – Ela adentrou no banco trás do carro.
- Finalmente né, filha. Cadê o vestido de casamento?
- Que vestido? – Perguntou a mesma, desorientada.
- De casamento, né? Porque, pela tradição, noivas que costumam demorar tanto. – Ela revirou os olhos. – E outra, por algum acaso sou seu motorista ou taxista, para você ir ai atrás?
- Me poupe, . Eu quero espaço, gosto de vir aqui, posso?
- Não! Tenho cara de taxista? Motorista particular? Bora, passa para frente. – Ela deu os ombros.
- Pior que tem. Deixa de ser chato e arranca logo esse carro, que eu quero aproveitar cada minuto dessa festa.
- Ah, se a senhorita quisesse mesmo aproveitar, já deveria estar pronta há quase duas horas, quando eu lhe informei o horário que iria sair.
- Você disse dez horas!
- Nove, . Na mensagem, eu escrevi nove horas em ponto!
- Dez! Você está realmente precisando de um óculos e, de brinde, uma nova memória. – Ela me atrasa, ela erra a hora e agora tira sarro de mim? Ah, veremos. Tirei meu celular com dificuldade do bolso, já que eu estava no banco do motorista, e com meu corpo virado para trás para ver a madame, peguei meu celular e abri na mensagem.
- Nove. E se isso não for um nove, então temos que ir relatar este erro ao carinha que criou os números. – Ela pegou o celular, analisando-o, e logo fez uma careta. Uepa, vitória do , minha gente!
- Ok, eu me confundi, tá? Preciso me ajoelhar aos seus pés para pedir perdão, ó vossa majestade? – Falou num tom dramático.
- Hoje não, só de saber que estou certo e você admitiu isso, já é uma grande vitória para mim. – Ela revirou os olhos, cruzando os braços.
- Nem fique se achando o pó da bactéria. Eu atrasei, também, porque tinha achado minha blusa cafona, ai fui e mudei. – Percebi sua vestimenta. Short jeans não tão curto, uma blusa amarela de pano leve, com algumas rendas no busto, uma sandália fechada, óculos de sol e uma bolsa. PORRA, se isso demorou duas horas, imagino quando for se casar, vai ser praticamente um dia. Tadinho do marido, dos convidados. Vou o aconselhar a colocar no convite “Caros amigos. Por modo de segurança, cheguem á igreja quando a senhorita estiver virando a esquina. Não se preocupem, mandarei uma mensagem a todos. Grato, o azarento que se casará com ela.” Comecei a rir.
- Algum problema? – Perguntou, ainda com a cara fechada.
- Sim, você ainda não está aqui, do meu ladinho, porque, como já disse, não sou seu motorista particular. – Cerrou os dentes. Com raiva, saiu do seu assento e veio para o do carona, fechando a porta fortemente. Dei um breve sorriso da vitória, fazendo com que a mesma suspirasse fortemente, tentando encontrar a paciência. É, o dia será longo...

Em meia hora já estávamos em frente á mansão. Tive que aturar o caminho todo a senhora -Não-Cantora- cantando diversas músicas do seu celular. Se parte da minha audição não estiver funcionando, aquela garota me deverá uma cirurgia.
- Vamos ás regras. – Falei antes que ela saísse. A mesma me olhou confusa. – Está achando que vou te deixar ai solta nessa festa? Se você fizer qualquer coisinha, o responsável serei eu, então, nem faça essa cara de “me poupe”. – E ela fez. – Vamos lá. Nada de ficar surtando, dando pulinhos e gritinhos de garotinha caso veja algum famoso, quer dizer, quando ver os famosos. Nada de ficar se jogando para cima das pessoas. Não atacar de vez a comida. Nada de ficar bêbada, ou seja, nada de pagar mico!
- Terminou, papai ? Porque, se você não sabe, eu tenho vinte anos e sei muito bem cuidar da ponta do meu nariz. – Assim que falou, ela abriu a porta e saiu. Mereço.
- Tenha classe.
- Coisa que tenho mais do que você. – Adentramos a grande casa, que, por sinal, já estava cheia. Algumas pessoas curtiam o som que vinha da sala, outras petiscavam algumas comidas, que estava na enorme mesa, e outras se encontravam no jardim, na enorme piscina.
- Josh! – Falei assim que o vi. Sorridente, ele veio em nossa direção, cumprimentando e em seguida eu.
- E ai! Demorou, hein?
- Pois é, tive uns probleminhas. – Olhei rápido para , que na hora fechou a cara. - Ah, a não pode vir. Parece que ocorreu um problema no trabalho dela, mas agradeceu o convite.
- Ah, sim, que pena, cara. Nunca mais tive uma boa conversa com ela. Amanhã ligo para ela. Bem, divirtam-se, qualquer coisa, é só chamar. – E assim ele saiu. A cara de foi impagável quando percebeu que ele nem deu a mínima para ela.
- Pensou que o bonitão ia estava morrendo de amores por você? – Zombei. – Que pena,, ilusões podem mexer com as ideias.
- Não me enche, . Não sabia que, além de ator, você havia virado mago da leitura mental, e, por sinal, errou feio. Por favor, né. – Pude sentir sua irritação. Não sei por que, mas adoro quando ela está assim. Não sei se a deixa mais sexy, ou se é pelo fato da minha vingança, por conta do que ela me fez no passado. Quando percebi, já estava na área da piscina. Ok, , ela já é grandinha, e provavelmente deve se virar. Vai curtir, você está precisando de uma boa companhia. Peguei um drink, que um dos garçons servia, e fiquei dali mesmo procurando a próxima vítima do gostoso . De longe avisto a Mellany. Ela era uma antiga colega minha de cena. Há alguns meses, havia se mudado para a Espanha, onde atuou em um filme. Nunca namoramos, só nos pegamos, mas havíamos parado depois que comecei a namorar . Aproveitei que a mesma estava sozinha e me aproximei.
- Mel? – A chamei.
- ! Que surpresa! – A mesma me cumprimentou com dois beijinhos no rosto. Poderia ter guardado os dois beijos e me dado somente um, na boca...
- Nossa, pode ter sido meses, mas você mudou! Está morena! – Ela riu.
- Pois é. Tive que mudar para o filme, mas me apeguei tanto a cor que decidi deixar como está mesmo. E você, andou malhando muito, hein? – Ela alisava meu braço. Nossa, somente o toque me arrepiava.
- Estava precisando. – Ficamos conversando por um bom tempo, até sua amiga vir e nos interromper. Aproveitei o momento para dar uma checada em . Ela ainda estava na área da piscina, de papo com uma mulher. Pelo menos é uma mulher. Pela cara, parecia ainda sóbria. Que continue assim pelo resto da festa.
Voltei para onde Mel estava, mas agora sem a amiga dela.
- Perdão pela interrupção. Coisa de mulher. – Ela riu. Sorri de volta, fingindo que entendo essa “coisa de mulher”, que, no fundo, não entendo porra nenhuma. Só sei que mulher é um tanto sentimental, chata em certos momentos, indecisa com as roupas que usa, e por ai vai...

Já havia se passado mais ou menos duas horas de festa. Meu papo com a Mel fluía calmamente. Muito fluido de conversa, e menos de beijo. Porém, quando íamos selar nossos lábios, uma figura não tão alta se projeta do meu lado.
- , quero ir embora. – estava parada ao meu lado, com seus braços cruzados e uma cara não tão boa. Quer dizer, com sua cara diária.
- Mas eu não.
- Mas eu quero. Você me deixa em casa e depois volta.
- Nem pensar! Não vou gastar gasolina á toa. Vai dar umas voltas por ai, cair na piscina, fazer alguma amizade.
- Deixa de ser mesquinho. Você é rico, tem dinheiro para por o tanto de gasolina que quiser.
- Não sabia que tinha uma namorada! – Mellany deu a voz, fazendo-me engasgar com minha própria saliva.
- O que? Namorada? Dela? – Comecei a rir.
- No dia que eu for namorada dele, por favor, me interne. Porque, sinceramente, eu estarei sem meus neurônios, para fazer uma caridade dessas. – Ela falou estressada. – E você. – Apontou para mim. – Vê se não demora. Não estou a fim de sair daqui meia noite. – E lá se foi, em direção ao jardim.
A noite já anunciava sua chegada. Mal vi o tempo passar, e também, mal vi a . Eu jurava que depois do que ela disse, ela viria novamente a mim para pedir para ir embora. Acho que finalmente ela se tocou que ali era uma festa e que festa não se tem todo dia. Havia ficado sozinho um pouco com Mel, e depois fomos de encontro a um grupo de amigos, que fazia um bom tempo que não os via. A conversa fluía normalmente, e sempre animados. Por incrível que pareça, bebi pouco. Normalmente, eu sempre acabava em uma cama, sem mulher, já que não estava a fim de sair na primeira matéria de alguma revista, alegando que eu estava traindo , e sem me lembrar de nada. Mas hoje o álcool não me fez muita falta. Estava tão entretido na conversa, que mal percebi que outra amiga da Mel se aproximou. O que mais me chamou a atenção não foi ela, e sim o que ela falava.
- Sério, a garota conseguiu a atenção dos cinco, e estão lá com altos papos. Agora, eu acho que ela não está sóbria não. – Gargalhou.
- O sangue dela deve ser fraco. – Falou Mel, rindo. – Mas quem é?
- Não lembro o nome dela direito. Mas ela não é muito conhecida. É a primeira vez que a vejo aqui. – Foi ai que me toquei. Poderia ser ela, ou não poderia ser. Ela é nova aqui? Sim. Mas poderia ter outras pessoas novas aqui. E, também, cinco caras? A é mais tapada do que minha tia Cecilia. A mulher só foi se casar depois dos quarenta, e com um cara vinte anos mais velho que ela. Fui abrindo espaço na multidão até o jardim. Olhava de um lado, de outro e nada dela. Até que uma gargalhada me chamou a atenção. Virei de costas e a vi, entre um grupo de cinco homens, conversando e rindo como se não houvesse amanhã. E, pelos olhares dos seres, eles não queriam somente um bom papo. Outras intensões se escondiam em seus olhares.
- , vamos. – Me intrometi, puxando-a. Recebi diversos xingamentos dos rapazes pelo meu ato. Ah, que se foda todo mundo.
- Me solta, . – Ela puxou seu braço rapidamente. – Não quero ir. Quero ficar aqui, com meus novos amigos. – Apoiou-se em um dos caras, que passou rapidamente suas mãos entre a cintura dela, puxando-a para mais perto. A criança mal se aguenta em pé, e ainda quer ficar?
- Aham, amigos. Sei muito dessa amizade. Mas temos que ir, você mesmo pediu para ir. – A puxei novamente, livrando-a do tal “amigo”.
- Já disse que não quero ir, porra! – O hálito de álcool dela me deu uma leve tontura. Nossa, é assim que eu fico? Tenho que me lembrar de dá uns créditos a , por sempre me ajudar nesses momentos.
- Não me force a te carregar no meio desse povo! – Ameacei.
- Olha aqui, quem você pensa que é? – Apontou seu dedo em minha direção. Quer dizer, acho que foi para mim, porque ele balançava de um lado para o outro, assim como sua cabeça, seu corpo...
- Eu, sou a pessoa que não deveria ter te trazido aqui. – Comecei a puxar fortemente, tentando ignorar seus gritos e tapas em meus braços. Coloquei-a no banco do carona, dando um nó no seu cinto de segurança, para que ela não fugisse. Se bem que, com a coordenação motora dela neste momento, acho que ela nem acharia o local para destravar o cinto. Dei partida no carro e segui caminho.
- , para onde nós vamos agora? Tem outra festa? – Olhei-a assustado. Ela ainda quer festa? Tenho uma leve impressão de que essa foi a primeira, e a última, pool party dela.
- Não, eu vou te deixar em casa.
- Não quero ver a . – . Merda! O que ela vai pensar quando eu entregar a irmã dela assim? Que eu quase a deixei em um coma alcoólico? Se bem que o assunto que ela vai querer retratar não será o estado da , e sim o motivo de termos saído juntos. Não posso deixá-la lá. Terei que levá-la para casa. Mas ai tem a , que provavelmente vai surtar ao ver este ser assim. Vai falar que isso não são modos de uma futura modelo agir, que está fora das regras, que eu sou maluco, louco por deixá-la beber tanto, e não estou nem um pouco a fim de ouvir seus blá, blá blá. Mas não a outro lugar para ir. Terei que dar um jeito. Abri o portão da garagem, e estacionei o carro. Sai do mesmo e me dirigi ao lado do carona, abrindo a porta para a madame sair.
- , levanta. – Ela havia apagado. Por um momento, achei que ela havia morrido, mas depois percebi que saia um pouco de vento de suas narinas. – Ah, sério que terei que te carregar? – Tentei deixa-la de pé, mas a única coisa que ela fez foi ir direto para o chão. E mesmo assim ela não acordou. Sono pesado, cruzes! Está pior do que meu tio... Argh, tenho que parar de comparar ela com minha família. Coloquei-a nos ombros, ela pode ser um pouco magra, mas osso pesa! Fui caminhando devagar para meu quarto, na tentativa de não acordar . Ela teria que dormir lá, pois se eu a deixasse no quarto de hóspedes, era capaz de, pela manhã, , por algum motivo (porque sempre é assim, quando você não quer que a pessoa veja algo, ou vá a um lugar que ela não costuma frequentar, ela SEMPRE acaba indo), pode ir ao quarto e encontrar sua linda miss sunshine apagada, com cheiro de cachaça, resultando em um belo surto. O plano é simples, deixo a miss no meu quarto, fecho a porta. Como minha irmã sempre acorda cedo para trabalhar, não irá entrar no meu quarto, e assim que ela sair, dou um jeito na bêbada. Subi as escadas (não preciso mencionar que quase levei uma queda, porque a senhorita miss sunshine resolveu se mexer), abri a porta do meu quarto e a coloquei em minha cama. É,, o sofá me espera.

Acordei com um barulho vindo da escada. Num pulo pensei que a havia acordado, mas percebi que era somente minha irmã, descendo com uma roupa informal. Ok, cadê sua roupa de trabalho? Você tem que ir trabalhar!
- ? Porque está aqui? Não deveria estar no seu quarto?
- Eu cheguei cansado ontem, ai acabei capotando aqui mesmo. – Falei meio tenso.
- Mas ontem eu ouvi uns passos lá em cima.
- Você está ouvindo coisas, . Está assistindo muito filme de suspense?
- Não! E não estou ouvindo coisas, eu juro que te ouvi subindo as escadas. – Para de me contestar, caramba! Não tenho mais argumentos!
- , não se engane, acho melhor dar um tempo nesses filmes. – Ela me olhava com um ar de desconfiança, mas logo se convenceu que era coisa dela. Ufa! Alívio imediato. – Porque está vestida assim? Cadê sua roupa do trabalho?
- , você bebeu muito ontem, né?
- Não, por incrível que pareça, eu quase nem trisquei na bebida, por causa de... – Me calei, ao perceber a burrada que iria falar.
- De... – Ela pedia uma continuação.
- Mellany. Mellany, não sei se você lembra dela. Ela voltou da Espanha.
- Mellany? E porque ela não deixou? Pelo amor de Deus, não me diga que está saindo com ela. , você sabe que não suporto ela, porque...
- Porque ela copiou seu vestido naquela premiação, e alegou em uma entrevista que você havia copiado ela e blá, blá, blá. Sim, é ela mesma, e não, não estou saindo com ela. O papo estava tão bom que me esqueci da bebida.
- MEU DEUS! – Ela gritou. – Você se esquecendo de beber por causa de uma garota só pode significar uma coisa.
- O que? – Que eu estava de olho em uma garota que nunca, jamais, foi a uma festa, e que parece que tem sangue fraco para bebidas?
- Você está apaixonado! E pela nojenta! – Não pude deixar de rir. Eu realmente queria contar toda a verdade, mas, se eu contasse, iria ser pior.
- Não! Eu só queria me testar, tudo bem? Agora, me conta porque não está vestida para o trabalho.
- Porque hoje é domingo, e dia de domingo eu não trabalho? – Me perguntou, parecendo como se fosse óbvio, o que, na verdade, era. Idiota, como pude esquecer isso? E como iria tirar de lá sem que ela saiba?
- Ah, sim... E você, digamos... Vai ficar em casa o dia todo?
- Não sei... – Caminhou em direção á cozinha. A segui até lá, encostando-me ao balcão. – Talvez eu vá visitar a . Aproveitar essa folga e prepará-la mais para a campanha. – Ah, sim. Preparar uma pessoa que estará em uma super-ressaca.
- E você vai q-que horas? – Senti minha voz falhar.
- Talvez agora. Está nervoso?
- Eu? Por que estaria?
- Porque esse batuque com os pés está me dando nos nervos. – Olhei para baixo e percebi que estava batendo os pés no chão.
- Ah, é que ele estava dormente. Bem, antes... Poderia passar no mercado e comprar algumas coisas para mim? – Tinha que distrair ela, até eu despachar a .
- Não pode ser mais tarde?
- Não. Vou pegar a lista. – Sai correndo em disparada para a sala, a procura de um papel e caneta. Logo os avistei em cima de uma bancada e comecei a escrever alimentos aleatórios. E uns até difíceis de se achar em supermercado. Voltei novamente á cozinha, entregando-a o papel. – Você vai, compra, volta, e depois pode ir à casa da .
- É muita coisa! , não vou poder comprar tudo isso.
- Por favor... – Fiz a famosa carinha de cachorro que caiu da mudança.
- Tá, tá, para! Eu compro. Mas nunca mais faça essa cara de novo. – Bingo! Quando ouvi o barulho da porta se fechar, subi correndo em direção ao meu quarto. Eu tinha que acordar a ressaquenta, dar um jeito de tirar a ressaca dela, levá-la em casa e voltar antes que a voltasse.



Capítulo 7


- Cento e dezenove, cento e vinte – aquela voz, que passei a repugnar há alguns dias, falou. Marissa.
- Se, a cada dia que passar, você aumentar o número de abdominais, creio que, em um mês, já poderei participar daqueles concursos estranhos de mulheres malhadas – apoiei meu braço no chão, colocando minha barriga para baixo, na tentativa de me levantar. Mas meu abdômen não estava colaborando muito. Também né, depois de sofrer por causa de cento e vinte abdominais e ainda sessenta flexões, que músculo de uma garota ex-sedentária aguentaria? Antes mesmo de fazer força para me levantar, Marissa me girou com os pés, fazendo com que eu deitasse novamente, porém, com seus grandes e asquerosos pés, envolvidos por uma meia que não sabia se era cinza, marrom ou verde, em cima de mim.
- Se a cada movimento você reclama, sou obrigada a aumentar o número de exercícios. Mas semana que vem você se livrará de mim, já que entrará na academia – falou, finalmente tirando aquilo de cima de mim.
- Será melhor – disse, levantando-me. Seu riso fez com que eu me assustasse. Será que ela é a prova de que bruxas existem? Claro que existem, afinal, é uma. – Por que o riso?
- Só lhe digo uma coisa: boa sorte. Hoje peço para que a lhe informe sobre o horário de amanhã – pegou sua enorme bolsa da Nike e saiu. Amém. Mas hoje começa o treinamento, ou seja, verei o insuportável do . Aonde fui me meter?

- Quinze minutos atrasada – me avisava, ao adentrar em sua sala.
- Desculpa se sua amiguinha malhadona quase arrancou minha barriga fora. Daqui a pouco, ela vai querer que eu malhe meu útero, para quando eu engravidar, ele não sofrer tanto.
- Ela deveria malhar sua mente, porque, quando sua inteligência voltasse, você não sofreria tanto – oh meu pai. Aturar está voz, em plena segunda-feira, é pior do que suportar a monstra.
- Boa tarde também, – respondi.
- Tarde, porque de boa ainda não estou vendo nada.
- Também não desejei trabalhar ao seu lado, queridinho, mas, se você manter essa sua boca fechada, as coisas terminarão mais rápido, e será muito melhor.
- Digo o mesmo a você, sunshine – o fuzilei com os olhos. Se, a cada momento que esse garoto fosse insuportável, eu ganhasse algum dinheiro, nem que fossem míseros centavos, eu já estaria rica e longe daqui, mas, como milagres como esse não existem, a minha paciência sofre.
- Dou graças da Deus por vocês não serem casados – disse , levantando-se e indo a uma gaveta, pegando uns papéis. Fiz uma cara de nojo. Nem em meus pesadelos isso ocorreria. – Tudo bem, casal, vamos ao que interessa – suspirei fundo. – Nessa semana, as coisas começam a ter mais seriedade. Nessa nova etapa, a Carlott está entrando no momento primavera, e nada melhor do que se associar a flora e a fauna. Na quinta, ocorrerá o ensaio fotográfico, na semana que vem, já começamos o comercial, assim que finalizarmos tudo, vocês irão marcar presença na inauguração da nossa nova loja, sendo amigos, e depois finalizaremos tudo. Coisa básica, não?
- Creio que sim – falei. – Mas o tipo da roupa, como será? Porque a Carlott vai de exuberantes vestidos, a micro biquíni.
- Essa nova linha será de lingerie a roupas sociais – ela disse, naturalmente.
- Lan o que? – perguntei, assustada – Se você acha que irei ficar de lingerie na frente desse ser aqui – apontei pro . – A senhorita está muito enganada.
- Você não só ficará de frente para ele, como você irá tocá-lo e fazer algumas poses sensuais... – olhei mais assustada ainda para ela. Como é que é? – Estava no contrato, . Já foi. Não chore pelo leite derramado, amore.
- Pois é, sunshine, não chore pelo leite derramado, e veja pelo lado bom, você terá a chance de me tocar. Sonho de muitas garotas – mais esnobe que isso, impossível.
- Queridinho, se uma dessas garotas chegasse aqui, eu nem pensaria duas vezes em dar esse cargo a elas. Melhor tocar em um sapo do que em você – ele revirou os olhos. Ele está achando que é quem? Pelo amor de Deus, né? Deus grego que não é.
- Por favor, jamais se casem – suplicou.

Infelizmente, os dias se passaram em uma velocidade incrível, trazendo uma quinta-feira chuvosa. O clima bem que avisava como seria meu dia. Opaco e sem cor, só de pensar que teria que encarar aquele traste. Porém, agradeci mentalmente pela sessão de foto ser pela manhã (um dia sem a aberração musculosa). Meu corpo agradecia imensamente. Cheguei dez minutos antes, para não ter que ouvir falar “está um minuto atrasada”, “está um segundo atrasa”, e, também, causar boa impressão é sempre bom. Encontrei uma agitada assim que adentrei ao estúdio, me levando rapidamente a um camarim não tão grande. Só havia um espelho, algumas roupas nas araras e um sofá marfim.
- Ainda bem que chegou mais cedo, pelo menos você – falou, me entregando uma roupa. – Veste isso logo, e vamos agilizar sua maquiagem – primeira roupa: um vestido floral longo. Menos mal. Assim que sai, chegou. Adeus sossego.
- ! – gritou. – Onde estava? Marcamos sete da manhã e não sete e cinco! – eu disse que ela surta por pequenos minutos.
- Calma, relaxe, respire. A me pediu para que eu levasse um bolo natural de sei lá do quê. Só fui achá-lo a quase dez quarteirões da minha casa.
- Quem essa menina pensa que é? – surtou novamente.
- Minha namorada? Você que me meteu nessa, nem me culpe. Temos que ser um casal “feliz”.
- Ok, ok, vai se vestir enquanto levo a para a maquiagem.
- Tudo bem. Gostei do decote, meu sonho – ele disse quando passou por mim. Respira...
Após colocar quase dois quilos de maquiagem em minha face, me dirigi a sala onde as fotos seriam tiradas. Ralph, o fotógrafo, nos explicou ( estava ao meu lado, e infelizmente não posso negar, ele estava muito lindo. Ou melhor, muito gato, gostoso... Parei.) como funcionaria tudo aquilo. Seria algo natural. Alguns abraços, feições, olhares... Eu posso suportar. Houve várias trocas de roupas, e felizmente para uns, e infelizmente para mim, chegou àquela peça minúscula, que eu abominei durante esses dias. É claro que ficou toda hora me encarando, ou melhor, me comendo com os olhos. Não sei como ele conseguiu essa fama de melhor ator, o mesmo nem consegue disfarçar seus olhares. A cada pedido que Ralph fazia, eu dava um olhar fuzilador para . Eram muito sensuais e, sinceramente, eu era muito tapada. Minha felicidade total chegou quando o expediente acabou. Ô alegria.
- , meus parabéns – Ralph falou enquanto vestia um roupão. – Pelo visto, as fotos ficaram incríveis. Vai ser difícil de escolher, tenho pena de quem irá fazer isso.
- Que, no caso, será eu – se aproximou. – Você leva jeito, gata – ela me cutucou com o cotovelo. O máximo que disse foi “obrigada”. Nessas situações, bate um constrangimento, porque, é claro, em minha mente eu estava “Eu tinha que arrasar, né?”, mas se eu falasse isso, iriam me achar meio metida (não sou igual a minha irmã), então, o máximo que poderia falar é um obrigada, juntamente com um sorriso.

Assim que cheguei em casa, encontrei uma emburrada, com raiva e com aquele maldito salto nos pés. É agora que minha morte ocorria.
- Como foi hoje, maninha? – me perguntou, em um tom sarcástico.
- Bem – a respondi, indo em direção á escada.
Queria sair dali o mais rápido possível. Por parte, eu tinha pena dela, afinal, era algo que significava muito para ela (eu acho) essa campanha, por outro, supreendentemente, eu me sintia bem por experimentar algo novo em minha vida.
- Está com medo de mim? – ela perguntou. Parei no segundo degrau e virei.
- Medo? Por que estaria? – senti minha voz falhar.
- Ah, sei lá, né – ela levantou-se do sofá e se aproximou. – Meus parabéns. – estranhei. Ela, me elogiando? – Agora, eu só te digo uma coisa. Eu aceitei que você fizesse essa campanha, já fiz muitas, então, porque não deixar minha maninha experimentar um pouco, não é? Mas, se você se intrometer novamente em algo que é meu, não me responsabilizarei pelos meus atos! – rugiu.
- E, pela última vez, eu não pedi tudo isso. Você que me colocou nessa, ao me forçar a ir naquele bendito evento.
- Porque eu queria acabar de vez com sua estadia aqui! Se nossos pais olhassem uma foto nossa, nos divertindo como amiguinhas, provavelmente iriam ver que estava tudo bem entre nós e assim poderiam diminuir a sua estadia aqui! Mas não, minha linda irmã tinha que, novamente, estragar tudo, aceitando algo que eu sempre quis!
- Ninguém mandou você ficar falando mentiras para o seu rebanho de vacas, que você chama de amigas! Falasse coisas genuínas e não mentiras! Por que me odeia tanto? – neste momento, já estava gritando. Ela não disse nada. Encarou-me por um minuto e logo percebi seus olhos brilhando demais. Ela estava prestes a chorar. Girou o calcanhar e foi em direção á cozinha, sumindo no meu campo de visão. Suspirei. Precisava de um banho. Mal adentrei no box e percebi uma mensagem em meu celular. Como ninguém é de ferro e a curiosidade fala mais alto, me enrolei na toalha e fui checar.

“Poderia me encontrar no Píer? Xx .”
O que ele queria comigo?

“Pra...? Xx ."

“Só saberá se for... Não tenha medo, , não te atacarei, nem nada.”

“Tudo bem... Só vou terminar meu banho e já estou a caminho.”

“Se precisar de ajuda no banho, é só chamar...”.

“Idiota. Tchau”


Com as mãos enfiadas nos bolsos do longo casaco, e meus pés aquecidos pelas curtas botas, que pegavam uma pequena parte da minha calça jeans, fui a sua procura naquele movimentado local. Até que, para uma noite de quinta, o píer estava bem movimentado. Algumas crianças brincavam em umas tendas de jogos, outras imploravam aos seus pais para que comprassem aquela bomba de açúcar, chamada algodão doce. Alguns casais se deliciavam da brisa trazida pelo mar. Logo o avistei, perto de uma lanchonete bem frequentada ali.
- Pensei que não fosse vir – ele falou assim que me viu. Longo casaco preto, calça jeans escura e um sapato não muito social. pode ser insuportável, e muito imaturo, mas, em termo de estilo, maturidade seria seu segundo nome.
- Cumpro com minhas palavras, não? – cruzei os braços na altura dos bustos, na intenção de me aquecer mais. – O que quer comigo? – ele somente indicou com a cabeça para que entrássemos na lanchonete. Terceira mesa, ao lado da janela. Uma garçonete chegou para anotar nossos pedidos. Café e Donuts para , e um leve chá de camomila para mim. Depois disso, puro silêncio. O que? Ele me trouxe aqui para ficar encarando a movimentação do píer pela janela? Quando eu ia mencionar algo, ele falou.
- Você não contou a sobre a festa, não é? – seu olhar foi tão sincero, que um peso veio em minha consciência. Sim, eu havia contado a ela.
- Ela sabe que fomos lá.
- Eu sei, mas não estou perguntando exatamente isso. Você não contou a ela que encheu a cara, não é?
- Não – que minhas mentiras não me arrume uma bela confusão, amém.
- Ótimo – logo nossos pedidos chegaram. Agradeci a garçonete, que logo se retirou. – Eu contei a ela que você havia dormido lá por receio ao que poderia falar – assenti.
- Por que está se preocupando tanto com isso? – dei uma leve assoprada no meu chá, e tomei um gole. Era maravilhoso.
- Eu não sei por que irei te contar isso, mas eu e a éramos muito próximos um do outro. Até que um dia conheci a Eileen Greene.
- Aquela socialite que tem cara de buldogue?
- Não precisa lembrar deste detalhe. Se arrependimento matasse, já estaria em decomposição na terra – falou, segurando a xícara em sua mão e levando até a boca. – Mas sim, eu a chamo de “praga em minha vida”. Depois que a conheci, eu e brigávamos por minuto. Minha irmã a odiava, e com muita razão, mas, na época, eu não conseguia enxergar a verdadeira e manipuladora Eileen. Ela era tão gentil, que praticamente não havia defeitos. Eu estava no início da carreira, não tinha tanto dinheiro, mas tudo o que a Greene pedia, eu fazia. Ia de pequenas ações a valiosas joias. A me alertava, implorava para que eu terminasse com ela, me pedia para não ir aos locais que ela me levava. Mas eu sempre fazia o oposto, então minha irmã simplesmente perdeu a confiança em mim. Só depois que terminei com a Eileen que voltamos a ser como éramos antes, e por isso que namoro sua irmã.
- Para mostrar ao mundo que você esqueceu sua ex e que está vivendo em um conto de fadas com minha irmã?
- Bem, não sei se vivo um conto de fadas com a . Mas também, somos os principais em uma série e os fãs adoram. O fato é que, eu não quero perder a confiança da novamente, e, se ela souber que eu não a controlei na bebida, ela vai ficar uma fera comigo.
- Mas eu não sou criança, . Eu sei me virar sozinha – fechei minhas mãos em um punho. Já estava cansada de todos me tratarem feito criança. Não pode comer isso, não pode fazer aquilo, cuidado com isso e aquilo. riu sarcasticamente.
- É tão adulta que quase entrou em coma alcóolico na primeira festa. Parabéns pelo seu controle, sunshine – a conversa estava tão boa, mas ele tinha que por esse apelidos. – Você ainda não conhece seu novo mundo, . Há restrições, caso queira manter uma boa imagem, e sei perfeitamente que agora, você necessita manter – o encarei. – O que a está tentando fazer é poupar sua imagem. Ser vista saindo ás quedas de uma festa? – balançou a cabeça lentamente. – Não é um bom sinal. A imprensa ama isso.
- Mas ninguém me conhece.
- Ainda – tornou a tomar seu café, que, pelo momento, creio que já estava em uma temperatura ambiente. – Irão conhecer, e tudo irá mudar.
- Eu não pretendo seguir essa carreira, . Depois disso, pretendo voltar para Vancouver – novamente, ele soltou aquele riso sarcástico. Tornei a me concentrar no meu chá e, infelizmente, em suas palavras “Tudo irá mudar”. Mas não vai mesmo!
Depois que essa campanha terminar, irei pegar meu dinheiro e voltar para o Canadá. Meus pais terão que aceitar o fato de que eu e somos opostas, e que não existirá uma paz, até a mesma por maturidade naquela caixa de ossos que ela chama de cabeça.
Já estava prestes a chamar um táxi (porque o homem aqui não é cavalheiro, pelo visto), mas se aproximou. Isso! Ele vira me oferecer uma carona, e terei grana pelo resto da semana.
- Não conte a , tudo bem? – assenti. Ficamos encarando um ao outro por alguns segundos. Na verdade, estava esperando ele me perguntar se eu queria carona, mas a única coisa que ele fez foi dá uma piscada e ir em direção ao carro. Ah, ótimo. Ele me chama pra sair, me tira de casa, nem ao menos me busca em casa, não paga o meu chá. Agora, além de ter perdido meu taxi, terei que gastar meu dinheiro. É, o cavalheirismo dos homens atualmente está nota dez! Tenho pena das mulheres futuramente.

Por que eu tinha mesmo colocado um toque de despertador tão barulhento? Tateei sobre meu criado mudo a procura do meu celular, e percebi que não era o bendito despertador e sim, uma chamada. Com meus olhos quase fechando novamente, consegui apertar o botão para atender.
- Alô... – disse com a voz falha.
- Bom dia, flor do dia! e seu humor matinal. Argh, como ela conseguia?
- Dia. – respondi – Como consegue ser feliz em plena... – olhei com dificuldade para o relógio, que se encontrava preso na parede ao lado. – Cinco e cinquenta da manhã? Você disse que eu poderia dormir mais um pouco hoje.
- Eu sei, sunshine – Ah, esse apelido não. - Mas é que preciso te contar uma novidade, então, poderia vir mais cedo?
- Primeiro: nada de sunshine. Se falar novamente essa porra de nome, juro com todas as minhas forças matinais...
- Que são praticamente zeradas – ela me interrompeu, rindo.
- Deixa eu terminar! Que eu arranco isso que você chama de cabelo, com minhas próprias mãos.
- Nossa, que medo. Vou passar a usar touca só por causa de sua ameaça – debochou. – Estou te esperando, amore mio.
- , sem apelidos, por favor! Sério, não posso ir mais tarde, não? Minha cama está tão... dormível.
- Bem, ou é você vir hoje aqui cedo, ou encarar a sua melhor amiga, Marissa...
- Minha cama pode me esperar até a noite – disse rapidamente. – Mande alguém vir me buscar. Seu irmão-não-cavalheiro me deixou pobre ontem.
- Ui, saindo com o ás escuras? Eu pedi para serem amigos, e não amantes – ela riu.
- , lembre-se que eu não tenho paciência matinal, e, em menos de algumas horas, iremos nos encontrar, então...
- Ok, tô indo, adios.


- No contrato não diz que é proibido acordar sua linda modelo antes do horário, não? – adentrei em sua sala.
- Mal começou a carreira e já está se achando? Imagino quando for a top das tops.
- Não existirá top das tops, . Após isso tudo acabar, eu pretendo voltar ao Canadá – disse, sentando-me no sofá.
- E vai me deixar? Que ingrata!
- Avião existe para matar saudade – soltei um pequeno riso.
- E bom senso existe para aproveitar oportunidades! Desencana, , todos te adoraram ontem, disse que você leva muito jeito. Se eu fosse você, estaria honrada e com um sorriso de uma ponta a outra – ela tirou seu olhar do computador e voltou-se para mim. – Vai dizer que não gostou de ontem?
- Se não fosse pelo não cavalheiro do seu irmão...
- Que até saíram ontem á noite. Para onde vocês foram, hein? Sou sua amiga, me deve informações!
- Isso tudo é ciúmes? – ri. – Ele só me chamou para pedir algo em relação a – não poderia falar a ela o real motivo. Já me sentia mal por ele ter sido franco comigo, e eu ter mentido para ele, alegando que não havia dito nada a . Não podia dedurá-lo novamente.
- Ah, a data de namoro deles está perto. Deve ser por isso – obrigada data de namoro. Seja qual dia for. – Mas sim, consegui algo muito bom para você. Algo que irá mudar sua vida! – ela falava animadamente. Tenho medo dessa animação toda. – Ontem, quando sai daqui, fui com o Ralph até a empresa mostrar ao senhor Burtton as fotos, e encontrei nada menos que Paul Rocher.
- Aquele diretor que dirige a série Dancing with the Night? – ela assentiu.
- Ele viu suas fotos e a elogiou, e, como não sou besta nem nada, comecei a falar sobre você, sobre sua vida e quem era – continue tendo medo. – Então, depois de algumas horas conversando, que resultou em um Ralph impaciente, ele disse que você seria muito bem vinda em sua série – arregalei os olhos.
- Como assim, bem vinda? , eu não sou atriz. As únicas peças que fiz foram na escola, e eu sempre era a que tinha menos fala! – me levantei.
- Calma ai, nervosinha. Bem que o disse sobre você ser nervosa – revirei os olhos. – Você tem uma audição marcada para terça que vem, após a gravação do comercial – ela estendeu alguns papéis, que, pelo que parecia, eram roteiros. Tomei-os de sua mão e comecei analisá-los. – São poucas cenas, e você só será uma nova amiga da personagem principal. Tenta, por favor... – ela suplicava. Respirei fundo e disse a encarando.
- Eu irei – ótimo, eu quero fugir deste mundo em que eles vivem, mas esse mundo me quer nele. E o pior, eu iria sim, tentar essa audição. Iria tentar o papel da personagem Sarah. Em umas das melhores séries do país. Na série rival de Midnight Games, na qual e eram os protagonistas.



Capítulo 8



Seis horas, quinze minutos e sei lá quantos segundos. Esse é um horário onde as pessoas normalmente estão no seu décimo sono, ou até mesmo estão acordando e reclamando mentalmente por estarem despertando naquele horário.
Bem, eu, infelizmente, não me encaixo com essas pessoas, pois meu trabalho exige agora que eu acorde em plena quatro e meia, repito, quatro e meia da manhã para gravar um comercial. Sabe, existem tantos outros horários que não te deixam com profundas olheiras, olhos pesados e um sono que te deixa mais grogue do que dez copos de tequilas de vez.
Acham que estar acordando cedo o torna mais profissional? Bem, não sei, mas sei que quero essa filosofia longe de mim!
Estava esparramada no enorme braço do confortável sofá. Minhas mãos estavam para fora, e quase já estava pegando no sono. Quem passasse por ali, provavelmente, acharia que eu era desleixada, que não tem responsabilidade com nada.
Não me importo!
Ninguém mandou me acordarem no horário em que eu deveria estar recuperando minhas energias!
Mas foi como falaram, “quanto mais cedo começar, mais cedo terminará”.
Ótimo, eu estou aqui, esperando o momento em que irão me liberar, para que eu possa ir correndo direto para minha cama, e só sair de lá quando realmente precisarem de mim! Mas tenho que lembrar que meu responsável parceiro está uma hora atrasado!
- ! - entrou no local, me despertando bruscamente. Levantei atordoada, tentando encontrá-la. – Nossa, você está péssima!
- Não me diga. – ironizei, voltando ao meu estado inicial, me debruçando no braço do sofá novamente.
- Nossa, esse local está escuro. – ascendeu as malditas luzes. Malditas, malditas. Dei um gemido de reprovação, enquanto sentia meus olhos arderem.
- Desliga, desliga! – a mesma me obedeceu. – Quero ir pra casa. – choraminguei enquanto afundava minha cara em uma almofada.
- Ninguém mandou ficar até tarde fazendo sei lá o que.
- Eu estava gravando as benditas falas para audição, na qual você me colocou! – minha voz saía abafada.
- Estudasse mais cedo, baby.
- Ah, claro, porque tenho todo tempo do mundo, né? Por que não tenho uma irmã que fica reclamando a cada cinco minutos que não consegue achar uma porra de sapato que combine com a roupa dela. Que fica te olhando como se fosse te matar a qualquer momento. Por que você não tem que aturar seus pais ligando a cada uma hora para ver se você ainda está viva. Não tem que aturar aquela brutamonte, vulgo personal quebra ossos, em seu pé de ouvido de madrugada...
- Seis da manhã não é madrugada, .
- Para mim é, ok? – rebati. – Eu só quero dormir! Será que é pedir muito?
- Tudo bem, senhorita “ocupada”. Não tenho culpa se você assinou aquele contrato por pura raiva de sua irmã. – revirei os olhos. Maldita mania de agir sem pensar. - Mas ontem você não teve aula com a Marissa, pois eu precisei dela logo pela manhã...
- Eu pedi aos céus que te abençoasse por isso. – a interrompi.
- Sobrou tempo, . O que estava fazendo? – mesmo com a cara enfiada na almofada, eu sabia que ela me encarava.
- Eu estava ocupada, ok? Já disse a minha rotina. – ocupada assistindo o lindo do Mark Clavor dando um show no The X Factor. Ele merece muita audiência.
Ouvi seu longo suspiro.
- Tudo bem. – ouvi seus passos. – Vou ver se o dá sinal de vida. Aproveite este curto, ou longo tempo. – ouvi a porta se fechar, e novamente o silêncio voltou para mim. Sono, ai vou eu!
- Cheguei, amores! – aquela voz irritante ecoou na sala, enquanto ligava aquela maldita luz. Levantei bruscamente, novamente, o encarando com uma cara feia. – Cruzes! – deu um grito fino, colocando uma das mãos no peito. Se não fosse por minha revolta matinal, eu falaria algo desta situação. – Sua cara está horrível! Já ouviu falar em maquiagem e uma coisa chamada “dormir a noite”?
- E você, já ouviu falar em algo chamado, seja pontual? – ele arqueou umas de suas sobrancelhas. – Infelizmente, éramos para estar aqui ás cinco e meia da manhã, mas tivemos que atrasar tudo porque o senhor não é pontual na porra do horário! Eu poderia estar dormindo agora! – sim, eu estava puta da vida. Sim, eu estava pirada com aquele homem, e sim, eu estava com muito sono misturado com um mau humor matinal.
- Quer um copo de suco de maracujá? Quer dizer, um copo não, uma jarra, né? Para curar esse mau humor e dá uma relaxada. – ele se aproximou. - Você acha mesmo que eu iria acordar quatro da manhã para vir aqui? Todos sabem que eu só chego uma hora depois, sunshine, e se você não sabia, meus pêsames.
Sínico, canalha, ridículo, ator metidinho de Hollywood! Não sei como ele é ainda cogitado pelas empresas para trabalhar.
- Mas eu acordei, porra! – a este momento eu já estava praticamente gritando. – Por que você não me avisou? Quer dizer, por que ninguém me avisou?
-Porque você não é importante?! E já disse, meus pêsames! Quer que eu chore por você? - minhas mãos começaram a coçar. Eu queria fazer a mesma coisa que fiz com ele, quando o mesmo me agarrou anos atrás.
- E outra, . – Ele continuou. – Como eu te avisaria?
- Do mesmo modo que você faz quando quer algo de mim?! – arqueei uma sobrancelha.
- Gastar meus créditos para avisar a você sobre as minhas regras? Só rindo mesmo. – eu já estava massageando minhas têmporas. Alguém me segura para eu não deixar minhas cinco digitais na cara deste menino! – Ah, você não contou a daquele assunto, não é?
- Não. – me levantei. – Mas sabe, você sendo assim, arrogante, irritante comigo, só me faz ter mais vontade de falar a ela. – não sou de chantagem, mas aquele menino está pedindo isso.
- Usando chantagem, ? – ele riu. Não era para ele rir. – Sabe, estive pensando... A maior culpa nesta situação foi sua, afinal, você infringiu as regras do contrato. Se contar a ela, o sermão cairá para você. – se não é que já caiu, né? Ouvir aquele reclamatório de e ainda por cima com uma ressaca foi bem marcante.
- Mas quem foi que me levou a um lugar desconhecido? – rebati.
- Você foi convidada, eu apenas te levei.
- Você já conhecia aquelas pessoas, eu não.
- Não parecia, afinal, fez amiguinhos bem rápido, não? - ele pegou uma bebida no frigobar que havia na sala. Revirei os olhos. - Ainda acha que eu te salvei daqueles brutamontes, que só estavam interessados na sua parte de baixo.
- Foda-se, . Posso muito bem me fazer de santa e inocente na frente de .
- Olha só, alguém aqui está revelando o seu outro lado... O lado da vida. – tomou um gole da bebida. - Até que para uma pirralha, você é bem esperta, pena que é fraca no álcool. – riu.
- Abaixa a bola, colega. Cinco anos de diferença não é muita coisa.
- Em termos de experiência, pode ser muita coisa. – disse em um tom malicioso. Fui andando calmamente em sua direção, parando poucos centímetros dele.
- E quem disse que não sou experiente, ? – sussurrei em seu ouvido enquanto minhas unhas arranhavam livremente seu tórax coberto pela camisa. Seu olhar assustado fitou meus olhos. Afastei-me, e fui em direção a porta.
- . – ele me chamou. Respirei fundo e me virei.
- O que é, peste?
- Só lembre da conversa no restaurante. – girei a maçaneta e fechei fortemente.

A gravação do comercial, de acordo com os produtores, havia sido um sucesso. Infelizmente, pelo atraso de um ser, acabamos as filmagens perto do meio dia. Só tive tempo de almoçar bem rápido e vir correndo para o estúdio, na qual iria ocorrer a audição para á serie.
Se eu estava nervosa? Claro! Sempre admirei o trabalho de atriz, mas nunca pensei seriamente em seguir este rumo. As únicas aulas que tive de atuação foram na escola, e que não são lá essas coisas.
Na verdade, nem sei por que estava aceitando tudo o que me proporcionava. Não deveria ter aceitado fazer a audição, e principalmente em uma serie rival a da minha irmã. Quando ela descobrir, tenho que ter a certeza de que possuo seguro de vida. Só espero que ela esteja longe daqueles saltos agulhas, vulgo instrumento mortal.
Adentrei a portaria em largos passos. Não estava atrasada, mas queria mostrar pontualidade. A sala ficava no quarto andar. Enquanto o elevador subia, fiquei pensando se deveria realmente fazer aquilo. Eu poderia muito bem dar meia volta e inventar que estava doente, ou simplesmente sumir por hoje. Mas ai , com toda certeza, agendaria outra audição.
Ou, eu poderia ir até lá e informar que estava desistindo. Bem, é claro que eu iria ouvir cada esporro, já que ter uma chance para entrar neste elenco é considerar que você ganhou na loteria.
Uma das séries mais assistidas mundialmente, em um dos melhores canais. Quem não queria? Eu.
Ok, . Você é uma péssima atriz, não leva jeito para isso e nunca levou. Seu único papel importante e que você teve mais fala, foi quando você fez o papel de um gato que toda hora ficava miando.
Eles não irão te escolher.
Fui em direção á secretária, onde uma mulher, através do computador, anunciou minha chegada para alguém. Peguei uma ficha em sua mão e me dirigi a sala de espera. Não havia muitas pessoas lá, porém, devo citar que todos eram atores que eu conhecia.
É aquele momento em que você é fã, você quer um autógrafo, quer tirar uma foto e chegar para suas amigas “chupa, otárias, eu tenho foto com o nosso ídolo”, mas tem que agir normalmente, pois estamos ali pela mesma causa.
Se controla, . Você já ficou frente a frente com outros famosos e agiu super bem.
Mas agora eu estou em uma sala fechada com eles.
Respira, foca no papel, foca nas falas.
Não demorou muito para eu ser chamada. Haviam três pessoas sentadas nas cadeiras, com seus cotovelos apoiados sobre a mesa e um monte de papel em suas mãos. Um era o diretor da série – o reconheci das entrevistas –, a outra parecia ser mais uma ajudante, e o outro não sei quem era, porém uma cadeira estava vazia. Dois câmeras manuseavam as gravações, e haviam pelo menos três pessoas na parte da iluminação. Parei em frente a eles, e olhei o papel em minhas mãos... O que eu faço? Fui tirada de meus rápidos pensamentos quando outra porta, que havia na sala, foi aberta, exibindo uma figura muito, mas muito conhecida.
Alto, cabelos castanhos super arrumados, com leve caimento. Olhos verdes e encantadores, um porte físico de cair o queixo, o sorriso mais branco do que a cor branca (isso existe?). Aquilo sim pode ser chamado de Deus Grego. Aquilo ali era Petter Mccullen, conhecido como o queridinho espanhol.
Ótimo, além do nervosismo, além de me apresentar para um monte de pessoas, terei que fazer uma péssima audição em frente a um dos caras mais desejados deste mundo.
- Boa tarde, senhorita... . – o diretor falou. – Aqui consta que a senhorita vai fazer o papel de Sarah Fields, correto? – assenti.
- Boa sorte. – Petter falou. Ok, cara, você me dando boa sorte, com esse sotaque que só Deus sabe o efeito que causa em mim, não ajuda!

Pelo incrível que pareça, tudo ocorreu bem rápido. Algumas perguntas, algumas falas ditas, atuação e pronto! O anuncio do elenco ocorreria na festa de aniversário do canal, que aconteceria no domingo.
não me poupou. Me encheu de perguntas em relação ao comercial, a maioria eram relacionadas ao , uma vez que ela não sabia nada em relação a audição de mais cedo.
Ela era namorada daquele traste, pra que perguntas relacionadas a ele? Parecia aquelas meninas de colegiais, que quando se apaixonava por um garoto queria saber tudo sobre ele.
Quando me livrei dela, tive que aturar ao telefone, contando sobre como seria domingo, o tipo de roupa que deveria usar, me ameaçando caso eu tenha feito alguma coisa de errado mais cedo e avisando que semana que vem meu terror começava: academia.
Pelo menos terei outro instrutor.
Finalmente os meus três dias favoritos haviam chegado, quer dizer, dois dias, pois domingo é considerado aquele dia onde o tédio reina, ou a depressão pós final de semana. Mas ao contrário dos outros domingos, eu havia algo para fazer. Festa do WOT, canal dono de Midnight Games, Dancing with the Night e outros. Todo o elenco de cada série estaria lá, ou seja, atores gatos!
Essa seria a segunda festa que eu iria com (tive que inventar que havia me mandado um convite. É claro, óbvio que minha linda irmã surtou quando soube que eu iria também. Pelo menos não houve nenhum móvel quebrado). Ao contrário dos preparativos da última festa, essa não teve spa, não teve eu como carregadora de sacola, e muito menos ganhei um vestido novo.
resolveu chamar o rebanho, vulgo amigas, para acompanhá-la nesta dura batalha de relaxamento pré-festa, enquanto eu passava a minha manhã – e pretendia passar á tarde – esparramada no sofá, com um pote de sorvete, enquanto assistia The X Factor.
Mas logo percebi que meus planos não iriam a frente no momento em que a campainha tocou. Lena foi imediatamente abrir a porta, dando de cara com . Ótimo, mais trabalhos por vir! Mereço um pequeno descanso, não?
- ! Quem te liberou sorvete? E ainda de chocolate! – além de não ter descanso, terei que ouvir novamente as reclamações de .
Nesse tempo, ela havia se tornado uma grande, e única, amiga que eu conhecia aqui. Tudo bem que ás vezes Ginna me ligava (coisa que até me surpreendia, já que sou uma zé ninguém neste ramo).
- Um pote de sorvete não irá me fazer ganhar dez quilos de vez, . – falei, pegando mais uma colher de sorvete e colocando na boca. – E sai da frente, que daqui a pouco meu gato, Clavor, vai cantar.
Com uma feição irritada, a mesma se posicionou em minha frente, pegando o controle e desligando a TV.
- Ei! Eu estava assistindo! – reclamei.
- Ei! Eu estou aqui, no meu dia de folga, tentando te deixar um luxo para domingo! – me imitou. – Levanta essa bunda dai, e sobe agora. Temos uma prova de vestidos.
- Por que você não me avisou antes? – falei, ainda com o pote de sorvete em mãos, pegando mais outra colher.
- Eu te avisei, mas acho que a senhorita, ás vezes, prefere viver no século passado e esquecer de que celular existe! – olhei para o sofá, e lá estava ele, quase afundando no sofá. Por isso que senti um desconforto quando me sentei...
- Desculpa. – falei com a boca cheia. Imediatamente, ela retirou o pote de sorvete e ordenou que Lena jogasse fora qualquer tipo de sorvete e comidas que estavam fora do meu cardápio.
- Wow, isso é desperdício! – falei desesperada.
- Ou você fecha essa sua linda boquinha e segue as regras, ou dê adeus aos seus belos quitutes.
- Eu já estou cansada de comer folhas, grãos e folhas! Sinto-me um herbívoro! – segui seus passos até a cozinha. – Daqui a pouco vão falar que folha também não pode e terei que me alimentar de luz solar!
- Nossa, que drama. Lena, acha que ela se sairia bem em alguma audição, para algum filme dramático? – Lena afirmou com a cabeça, dando um pequeno riso. – , relaxa, ok? Semana que vêm você já está liberada disso.
- Claro, até porque eu estarei na academia, né? Sofrendo, pior do que eu sofro com a brutamonte.
- Não chama a Marissa assim...
- Ah, eu chamo. E como chamo, porque aquela mulher não tem piedade de mim. Ela vê minha morte, minha fadiga no momento, e a única coisa que ela faz é dar risada e gritar “Não pare, não pare!”.
- Meus pêsames. – debochou. – Ela só está fazendo o trabalho dela, .
- O trabalho de me matar? Porque aquilo ali é pior do que uma sala de tortura! – ela riu. - Qual a necessidade disso tudo? – cruzei os braços, recebendo um suspiro.
- Te deixar preparada para a sua futura maratona. – um sorriso se formou em seus lábios. Senti uma tremedeira em minhas pernas por dois motivos: primeiro, não gostava de quando ela dava esses sorrisos indecifráveis. Segundo, ela disse as palavras “futura maratona” e, com toda certeza, sinto que irei me ferrar, e muito, nessa maldita escolha que fiz.



Capítulo 9


- , não estou conseguindo respirar – falei, tentando recuperar o ar que aquele vestido me fez perder.
- Está muito apertado? – ela me analisava da cabeça aos pés, com uma de suas mãos alisando o queixo e a outra posicionada abaixo dos seus seios.
- Magina! Estou falando isso porque fiquei emocionada com a beleza deste vestido – joguei meu sarcasmo, que a fez revirar os olhos.
- Próximo! – ela estralou os dedos e, em seguida, um rapaz alto, de ótima aparência, vestido com um maravilhoso terno, apareceu. Tenho pena dele, pois o dia está muito calor e somente aquele ar-condicionado da loja não está dando conta do recado.
havia me puxado para um atelier de uma amiga – que, por sinal, faz ótimos vestidos – mas acho que a mesma esqueceu de informar as minhas medidas, já que todos os vestidos, praticamente, ficaram apertados demais ou folgados demais, que nem um simples ajuste daria conta do recado. Já era o sétimo vestido que experimentava, era tanto brilho, tanta joia, tanta coisa, que já estava me dando aquele leve dor de cabeça. Entrei no provador tirando aquele vestido e sentindo meus pulmões agradecerem por os libertarem. Aquela sensação de estar respirando finalmente voltou.
- Para tudo - ouvi a voz de Tracy, amiga da . Coloquei minha cabeça para fora do provador, observando a mesma carregar uma enorme caixa. – Este é o seu vestido – ótimo, já era o que? A oitava vez que eu a ouvia falar isso? Cautelosamente, ela abriu a caixa, tirando um belo vestido azul royal, de mangas longas e rendadas, com leves pedrarias no busto e uma fenda na perna direita. Assim que vesti, pude perceber o quanto o pano era confortável e macio. Praticamente estava tocando nas nuvens com aquele tecido.
- É esse! – gritou. – Finalmente, senhor! – agradeci mentalmente por Tracy ter trazido aquela peça, não estava aguentando mais ficar naquele tira e bota de vestidos. Pelo o que eu assistia na TV, achava que experimentar roupas e vestidos para uma premiação era mil e umas maravilhas, mas deve ser, quando a estilista tem suas medidas!
Assim que saímos do ateliê, paramos em uma sorveteria, para que pudesse me explicar calmamente como seria no dia.
- Você lembra como foi o seu primeiro evento? – ela me perguntou enquanto comia mais um pouco do seu sorvete de menta com chocolate.
- E como esquecer? – disse, com desgosto. – Flashes, falas, pessoas, estresses...
- Não será muito diferente, querida. Não sei se irá te acompanhar no tapete vermelho, quer dizer, vocês vão chegar juntas, mas não significa que vão passar pelo tapete juntas – a olhei assustada. Nem que me pagassem mil dólares, nem que me dessem uma passagem de avião para o Canadá, eu passaria sozinha naquele tapete vermelho! – Nem me olhe com essa cara, você não terá sua irmã para sempre.
- Mas eu sou nova nisso!
- Se acostuma, tudo tem sua primeira vez – ela disse, dando mais outra colherada no sorvete.
- Mas eu tenho você – sorri, pensando na minha ideia. Ela teria que ir comigo.
- Nem vem que eu vou passar por aquele tapete. já fez de tudo para que eu o acompanhasse e eu não aceitava. Não será agora que irei aceitar.
- Mas eu não sou o . Sou uma pobre menina ingênua, que tem medo dos holofotes e pode ter uma crise de nervosismo, caso esteja ali sozinha.
- Nossa, coitadinha dessa menina. Nem parece que armou uma para cima do meu irmão – ela apertava minhas bochechas com força. – Sério, ... Eu não vou passar por ali. Me desculpa.
- Por quê?
- Eu não gosto daquela atenção toda em cima de mim!
- Mas você estará comigo! Provavelmente, a atenção estará para mim, já que acabei de finalizar uma campanha e blá, blá, blá.
- Não, !
- Por favor... – choraminguei. – Faz isso por mim – fiz aquela famosa carinha de cachorro que caiu da mudança. Sua feição ainda estava séria, porém percebi que ela já estava se tocando com aquilo.
- Tá, para! Não faz essa cara mais não, por favor – ela fez um sinal com as mãos para que eu parasse. Dei meu belo sorriso vitorioso. – Vou ver o que faço.

A noite já dava sinal que estava chegando. Aquele maravilhoso pôr-do-sol, com cores alaranjadas, rosadas e um leve tom de azul estava me encantando. Tão lindo, tão belo, tão perfeito naquele filme.
Do lado de fora, a chuva caía sem piedade. Até tomei um susto, já que pela manhã estava um maravilhoso sol, porém pela tarde o tempo mudou drasticamente. O bom disso tudo era que eu estava em casa, sozinha, com um belo filme na TV, uma bela xícara de chá de maçã com canela, alguns biscoitos e o melhor, sem por perto.
Vestida com um pijama floral, uma regata bem simples e minhas pantufas de gato, ajeitei-me no sofá, pegando minha xícara e tomando mais um gole daquele maravilhoso chá.
Ouvi o barulho de um trinco de porta e logo vi uma encharcada, acompanhada do seu “fiel” escudeiro, .
É, felicidade de pobre dura pouco. Estava me corroendo por dentro para não dar uma bela risada histérica ao ver o estado de minha irmã. Parecia um gato persa molhado. Seu casaco de pele, com alguns tons alaranjados, estava água pura. Era possível ver o rastro que ela havia deixado desde a porta até a sala, onde eu estava.
- Aproveitou a chuva para tomar logo seu banho, ? Não sabia que estava querendo economizar água – falei, a observando, prendendo meu riso.
- Nossa, . Por que você não vai mesmo para um programa de comédia? Ah, já sei, porque você é sem graça! – falou sem paciência.
- Melhor ser sem graça do que estressada. Olha, estresse dá rugas, viu. Cuidado para não chegar a um ponto onde nem a maquiagem irá resolver – a mesma mantinha seus olhos fechados e contando, através dos dedos, até dez. – Acho melhor você mudar de professor de Yoga, porque esse dai não está fazendo um bom trabalho – rebati. Sei que tinha que calar minha boca, mas minhas palavras saiam involuntariamente. E, sinceramente, aquela cena era impagável.
- E você deveria comprar uma forte cola, para ver se fecha de vez sua matraca – se intrometeu.
- E ninguém te chamou na conversa, querido. Educação mandou lembranças, ah, mas eu esqueci, você nunca teve.
- Não perde tempo com essa dai não, disse, indo em direção á escada. – Vou tomar um banho e já desço para a gente sair, ok? – ela voltou e deu um selinho nele. Poderia não ter visto isso, né? Logo, a fera molhada voltou ao seu rumo e subiu as escadas, enquanto o outro se sentou ao meu lado.
- Quer uma toalha, querido? – perguntei.
- Meu estado já diz tudo – disse, apontando para si mesmo. Nessa fração de segundos, parei para analisá-lo. Sua blusa branca estava completamente molhada, colada em seu corpo e mostrando aquele belo resultado de anos de academia. O cabelo bagunçado, com alguns fios em sua face. Era possível enxergar as gotículas contornando seu rosto simétrico e pingando o sofá.
- Elas ficam bem ali – apontei para a porta do banheiro. – Você tem pernas, logo, pode ir lá, não é? – ele revirou os olhos e foi em direção ao local que indiquei. não é um cara que, aparentemente, é de se “jogar fora”. Ele é bonito (e como é), mas suas atitudes o tornam insuportável e, é claro, tira quase cinquenta por cento da beleza.
Na época que me apresentou a ele, eu senti uma certa atração, afinal, já tinha o assistido diversas vezes em vários filmes e séries. Mas não poderia seguir em frente com esse fascínio, já que o mesmo era namorado de minha irmã. Não poderia fazer as mesmas coisas que ela fazia comigo, quando eu estava com algum garoto – que, no caso, era ficar se insinuando para os garotos. Não poderia me rebaixar ao nível dela. Então, eu evitava ao máximo falar com . Passava horas e horas em meu quarto, só para não vê-lo, mas ai, um maldito dia, eu estava voltando da padaria, passando pela praça, quando senti alguém me puxar bruscamente para trás de uma árvore. Pronto, pensei que minha morte ocorreria ali mesmo, que iria ser assaltada, que iriam me sequestrar. Já estava prestes a gritar, mas logo percebi que era o . Senti meu corpo congelando por partes, minhas pernas mal se mexiam. Só de ter aquele par de olhos conectados com os meus, minha mente parou por alguns segundos. Maldito seja meu corpo atraído por ele. Vi em câmera lenta ele se aproximando de mim, e se aproximando, aproximando... Foi ai que voltei a realidade.
Primeiro: achei muita sacanagem dele tentar me beijar, afinal, ele estava com minha irmã e isso era uma falta de lealdade. Poderia muito bem dar o troco na , mas foi como havia dito, não iria me rebaixar ao nível dela e, também, eles já tinham uma certa "faminha", vai que algum paparazzi capturava aquilo? Seria conhecida mundialmente como “a irmã traiçoeira”.
Coloquei minha mão em seu peitoral, na intenção de afastá-lo e acabei virando meu rosto, mas ai o que ele fez? Virou minha cara com força e avançou completamente em mim.

Aviso: ninguém, NINGUÉM, ninguém, me força a nada. Nem mesmo ele.

Sem pensar duas vezes, dei um chute em sua barriga, um murro na cara e sai correndo dali. Não queria encontrá-lo nunca mais em minha vida, e rezava para que terminasse logo esse namoro, para nunca mais vê-lo novamente.
teve sorte de não ter ficado com nenhum hematoma em sua face, porém cresceu uma raiva dentro dele e em mim. A admiração que eu tinha, parte da atração, tudo havia se transformado em raiva. Machismo de merda!
O fato é que eu ainda o acho bonito, mas a raiva ainda permanece em mim, juntamente com a indignação, por não ter nem recebido nenhum pedido de desculpas.
- Vai para a festa com quem? – voltou com uma toalha em mãos, secando o cabelo. Se tinha uma coisa que eu amava nos homens, era o cabelo molhado. Puta merda, parece que a água dá aquele toque a mais.
- Talvez com a – falei, tomando minha atenção para a TV.
- ? – me perguntou, incrédulo. – Duvido – soltou uma leve risada. – Eu sempre a chamei para me acompanhar, mas ela sempre negava. Então, é melhor você ter em mente que irá para lá sozinha.
- Como disse mais cedo para sua irmã, eu não sou você.
- Ainda bem, odiaria me ver com uma índole tão chata e arrogante – contei até dez para não deixar uma marca em sua cara. Desliguei a TV, me levantando na intenção de ir para meu quarto, mas o mesmo acabou me puxando pela mão, fazendo-me ficar frente a frente com ele. – Mas, se quiser, eu posso te acompanhar depois que deixar a dentro do evento – a mão que estava livre, uma vez que a outra ainda estava segurando meu pulso, acariciava meu rosto levemente. Ele usa hidratante para ter um toque tão macio assim?
- Não estou a fim de ser vista como amante de ninguém, e acho que você está querendo ter uma bela lembrança do ocorrido na praça, não é?
- Para de ser tão marrenta – agora ele sussurrava em meus ouvidos, enquanto sua mão afagava em meus cabelos, perto da nuca. Maldito sejam meus pelos, que se arrepiaram.
Acorda, !
Puxei minha mão com força e subi até meu quarto, pisando fortemente contra o piso.

Homens com seus ternos e gravatas de diversas cores, mulheres esbanjando a beleza e a riqueza através dos vestidos. Os fotógrafos mal tiravam seus olhos da tela de suas câmeras. Vozes, entrevistas, risadas e uma prestes a surtar. Vontade imensa de sair dali gritando, parar o primeiro táxi, com destino a qualquer lugar desconhecido.
Meu dia, hoje, pode se dizer que foi bem tranquilo. Acordei em um horário razoável, chegou lá em casa com sua equipe de preparação, por volta das três da tarde – já que o evento iniciava ás sete da noite –, , graças ao bom Deus, não se arrumou em casa, ou seja, meu dia estava indo de acordo com os planos... Bem, estavam. Quando eram, mais ou menos, umas cinco horas, foi para sua casa se arrumar, afinal, ela estava super atrasada. E foi ás seis e meia que meu pesadelo começou.
Apenas uma mensagem fez com que todo meu humor, a minha felicidade, o entusiasmo que eu tinha para aquela festa, se transformasse em ódio, revolta e indignação.
Eu teria que passar por aquele longo tapete vermelho com e a outra ao meu lado.
Se eu estava com raiva da ? Sim.
Se eu estava com uma puta vontade de esganar ela? Claro!
Se ela iria me ouvir, até seus ouvidos explodirem? Com toda certeza.
Tentei mostrar o mais belo sorriso que tinha diante das câmeras, mas é impossível quando a sensação de segurar vela bate em sua porta. e não se desgrudavam. As mãos dele estavam por volta de sua cintura, seus olhares pareciam conectados por um longo tempo. Beijos, caricias, sussurros no ouvido, coisas típicas de casais Hollywoodianos.
E ali estava , suportando tudo aquilo. É claro que tive que me afastar alguns metros, afinal, ser conhecida como “mulher castiçal” não está nos meus planos. Respirei fundo e encarei todos aquelas lentes, com seus potentes flashes, que nem um óculos de sol seria capaz de repelir a intensidade daquela luz.
Minhas bochechas já começavam a dar sinais de dormência, por conta do meu largo – e forçado – sorriso. Meus pensamentos só focavam no momento em que eu passaria pela porta e todo esse sofrimento acabasse.
Ia andando aos poucos e sempre mantendo a distância do casalzinho. Já estava perto, bem perto, só alguns metros, quando Lola Pouzir, uma repórter muito conhecida, me parou.
Merda. Merda. Merda!
Entrevista, não!
- E ela está aqui, senhoras e senhores, o novo rosto da Charlott e a garota que está tendo a grande sorte de trabalhar ao lado dele, um dos homens mais desejados de Hollywood, – queria muito informar a ela que a palavra “sorte” não deveria existir naquela frase. Poderia ser muito bem substituída por azar, má sorte... Coisas desse gênero.
- Olá – acenei para câmera, sorrindo, sem mostrar os dentes, mas tentando ser o mais simpática possível.
- Então, , eu sei que não é um momento certo para se falar isso, mas como está sendo trabalhar ao lado do seu futuro cunhado? – ela perguntou, aproximando o microfone de minha boca.
Está sendo horrível, nada agradável, muito estressante e a única coisa que quero fazer é conseguir o maldito dinheiro e voltar para o Canadá, mesmo sabendo que meus pais iriam pirar. Pena que certos pensamentos só devem ficar mantidos em sua mente.
- Está sendo muito gratificante – forcei simpatia. – é um homem super encantador... – e arrogante, que tem a capacidade de esgotar toda a minha paciência em segundos. Fãs, seu ídolo não é quem vocês pensam. Pensei, novamente. Como eu desejava falar aquilo! – E muito divertido. É uma nova experiência trabalhar ao lado do meu futuro cunhado.
- Então parece que a não tem ciúmes dessa amizade, não é? – ai meu Deus, eu tentando ser rápida e curta, e essa mulher me enchendo de perguntas? Cadê um segurança para me tirar daqui?
- Ela não tem motivos para ter ciúmes. é um grande amigo e eu torço muito por eles.
- Estava observando agora e, garota, seu vestido é um arraso! – ela já mudou de assunto? Como assim, produção?
- Ah, obrigada – continuei sorrindo. Em seguida, ela fez um movimento giratório com os dedos. Ah, não. Ela não estava me pedindo para girar, né? Onde eu fui me meter? Dei uma rápida girada, enquanto ela aplaudia com o microfone em mãos.
- Por favor, depois me passa o número de quem produziu esta maravilha, fiquei sem palavras! – começamos a rir e imediatamente ela se despediu. GLÓRIA! Nada contra ela, pois adorava seu programa, mas estava sem paciência alguma para aturar questionários, principalmente em relação a minha irmã e seu “homem dos sonhos”.
O alívio chegou quando finalmente adentrei ao local do evento. Logo na entrada, uma enorme escultura de gelo, contendo o nome do canal, dava as boas vindas. No grande salão, o que dava cores as paredes, eram as luzes de diversos tons, presas no teto. Verde, rosa, roxo, uma mesclagem perfeita de diversas cores. Uma enorme mesa, coberta por um pano de estampa indiana, sustentavam os enormes pratos de vidro, contendo as comidas. Logo, senti meu estômago roncar. Era alimento de tudo quanto é tipo e de vários lugares. Uma cascata de chocolate me chamou mais atenção.
Um DJ estava disponível perto da pista de dança, que se encontrava mais ao fundo. Parte do centro estava ocupado por mesas e cadeiras. Foram colocados alguns sofás e poltronas em alguns cantos.
Meu olhar varreu completamente por aquele salão, a procura de uma pessoa. Sim, a pessoa cujos ouvidos irão doer de tanto me ouvir reclamar.
- – falei simpaticamente, esbanjando um sorriso forçado. A mesma se encontrava em uma mesa, juntamente com Ginna.
- ... – me respondeu com um sorriso amarelado.
- , quanto tempo! – Ginna falou animadamente, vindo me abraçar em seguida. – Como mudou! Está encantadora!
- Obrigada – Minha amiga, vulgo traidora, respondeu, esbanjando seu sorriso vitorioso por ter feito um belo trabalho.
- Digo o mesmo a ti! – falei. A mesma sorriu, voltando a se sentar. – Ginna, poderia me emprestar a só por um segundo?
- Claro, vou aproveitar o momento e ver se encontro meu pai por ai, não sumam – ela disse, se retirando e chamando a atenção de quase todos, com aquele vestido cor creme esvoaçante, coberto por cristais. Respirei fundo e encarei a outra.
- Sério? Me por junto com e ? Está querendo o que? Apoiar a causa “ castiçal”?
- Desculpa, amiga. Mas eu não iria conseguir passar por ali, sério. E também, o Ralph veio comigo, então de um jeito ou de outro, você estaria meio que sozinha nessa.
- Ah, que ótimo, até minha melhor amiga namorando e eu não.
- O tempo corre, baby. E não estamos namorando, ok? – ela deu um gole em sua bebida, e retornou a falar. – Você não queria vir só, então forcei aceitar essa proposta.
- Proposta na qual nem valeu a pena. Os dois praticamente se esqueceram da minha existência, e tive que vir até aqui sozinha! E ainda fui parada por aquela apresentadora, Lola Pouzir.
- Lola Pouzir? – me perguntou surpresa. – Mentira! Me conta tudo! O que ela te perguntou? E o que você respondeu?
- Basicamente sobre o casal, que deveria ter me acompanhado, e eu respondi que eram incompetentes, que eu odiava todos e tudo – seu olhar agora se encontrava aterrorizado. – Brincadeira, eu falei que tínhamos uma relação boa e por ai vai – sua mão pousou no centro dos seus seios e um suspiro de alivio foi ouvido. – Mas nunca mais ouse a fazer isso, entendido?
- Tudo bem, chefinha. Agora, vá se divertir e nada de bebida alcoólica. Ainda não anunciaram os próximos atores para a série e caso você seja escolhida, não quero te ver caindo aos pedaços em cima do palco – revirei os olhos e fui até a mesa de quitutes. Era tanta comida que eu mal sabia por onde começar.
- Opa, se eu fosse você, não me esbaldaria tanto nas comidas. Elas engordam, e não sei se minha irmã iria gostar de ver está cena – uma voz soou atrás de mim, fazendo-me virar rapidamente.
- Jura? Pensei que fizessem bem á saúde, mas sabe de uma? Foda-se – dei uma mordida no salgado que estava em minhas mãos.
- Fala que a irmã é puro estresse, mas a mesma não consegue manter a calma nem por alguns segundos – negou levemente com a cabeça. – Triste realidade.
- Porque não se preocupa com sua vida e me deixa em paz, hein?
- Só estou querendo te ajudar, meu sonho – e já vem com a porra do apelido. Puta que pariu, será que nunca terei sossego na vida? A música no salão havia parado. Um homem, muito bem vestido, estava parado perto do microfone, segurando um envelope branco. A atenção de todos se virou para o palco, quando quatro atores de Dancing with the Night, incluindo Petter Mccullen, se dirigiram até lá. Pude sentir o desconforto de quando Mccullen apareceu.
- Senhoras e senhores – o homem começou a falar. – Primeiramente, agradecemos imensamente a presença de todos vocês aqui. Além de estarmos comemorando o aniversário da emissora WOT, estaremos recebendo de braços abertos os novos atores e atrizes, que farão parte do elenco de Dancing With The Night.
- Tenho pena da pessoa que interpretará a Sarah. Quem iria querer ser o par romântico de Petter? Patético – disse.
- Inveja – cantarolei, recebendo um olhar de reprovação do mesmo. O apresentador começou a anunciar os nomes. Eram quatro novas pessoas para o elenco. Dois homens e duas mulheres.
– Ninguém se importa com esse novo elenco. Me poupe, nem sei porque vim a este lugar.
- Porque sua série faz parte da emissora? - fiz uma pergunta meio óbvia.
- Tanto faz, mas voltando ao nosso assunto – ele se aproximou mais ao meu lado. – Sabe, , quem tanto comete erros, no final, não consegue muita coisa neste mundo em que tanto abomina. Talvez a senhorita esteja certa, isso não é para você - contei novamente até dez para não marcar o rosto daquele garoto, mas minha contagem foi logo interrompida por uma voz que soava por todo o salão.
- E para o papel de Sarah Fields... – uma forte luz parou em cima em mim. Por favor, me digam que nenhum fotógrafo havia capturado este momento. Minha cara de surpresa não é uma das melhores, mas ai a última frase do infeliz do veio em minha mente. Com um sorriso vitorioso no rosto, virei-me em sua direção, o encarando, e disse:
- Concordo plenamente com você, . Mas pena que meus erros estão começando a me dar muito neste mundo em que tanto abomino – pisquei para o mesmo, que se encontrava perplexo. Girei os calcanhares e me dirigi até o palco, com os aplausos invadindo minha mente e um sorriso encantador a minha espera.



Capítulo 10


Aplausos, aplausos e mais aplausos. Era uma nova sensação. A menina que costumava sempre ficar na plateia, aplaudindo, agora recebe aplausos. O momento tanto me distraiu que mal senti aquela leve timidez. Assim que subi, me posicionei ao lado de Petter. Seu olhar ainda estava sobre mim, enfeitado pelo sorriso em seu rosto, com aqueles dentes perfeitamente brancos e covinhas de matar qualquer uma. Tornei a olhar para frente, observando ainda a multidão que aclamava. Minha mente estava presa aquele momento, mas meus olhos estavam à procura de uma pessoa em meio a tantos. Percorri o olhar por todo o local à procura de . Desejava ver sua reação diante do ocorrido. Será que um sorriso estaria estampado em seu rosto? Ou teria que ver aqueles olhos queimando de raiva?
Minha tentativa à última vez que a vi, já que havia tirado toda a minha atenção com aquela conversa tosca.
, isso!
Tornei minha busca agora sobre ele. O encontrei no mesmo lugar, com um semblante não muito agradável, quer dizer, ele nunca foi agradável. Suas sobrancelhas estavam cerradas e seu olhar diretamente sobre mim. Seus braços estavam cruzados abaixo do seu peitoral e seu corpo em uma postura firme, como se a qualquer momento ele chegaria a mim e me desse uma bela bronca, como um pai faz com seu filho pequeno. Não me importei muito, afinal, quem era ele na fila do pão? Provavelmente aquela pessoa que iria tentar comprar fiado.
Voltei a minha concentração para , mas novamente não a encontrei.
aplaudia como se o orgulho tomasse conta dela. Como se fosse sua pequena filha, que havia acabado de ganhar o primeiro lugar na feira de ciências. Se ela continuasse aplaudindo assim, com tanta força, em breve suas mãos se fundiriam.
Sinto que coisa boa não vem.
Mal percebi quando o apresentador disse suas últimas falas. Todos novamente aplaudiram, e os atores, que há minutos atrás estavam em cima do palco, se dirigiam tranquilamente a seus respectivos lugares para curtir mais à festa.
Sem perder de vista, tentei seguir o caminho que ia até ele, mas meus planos foram interrompidos assim que pisei o pé no último degrau, uma mão extremamente macia tocou meu ombro direito. Imediatamente me virei para ver quem seria o bendito que acabara com meus planos, mas mal tive tempo de raciocinar quando aqueles pares de olhos, que há poucos momentos me fitava, estavam novamente sobre mim.
- , certo? – Petter me perguntou sorrindo. Seu sotaque espanhol era como uma bela melodia para meus ouvidos. Seu cabelo estava perfeitamente alinhado, com um extra brilho por conta do gel, ou sei lá o que ele usa. Sua gravata vermelha de cetim dava um destaque em seu terno cinza.
Foco, , foco.
- Sim, . – sorri encantada. Só espero não estar com cara de menininha apaixonada. Seria ridículo. Com um gesto delicado, ele estendeu sua mão em um cumprimento.
- Lembro-me de você na audição. – ele se lembrava de mim! Um Deus grego se lembrava da minha pessoa! Não pira, respira, segue a linha. – Sua atuação foi uma das melhores que já presenciei... Ah, claro que foi, afinal, olha onde você está! – ele continuou sorrindo. Homem, a carne é fraca. Sorrisos não ajudam a fortalecer. – Creio que nas aulas de teatro a senhorita ganhava os melhores papeis.
- Se ser uma árvore for grande importância, ou imitar um gato ganhe pontos extras, acho que sim. – falei ainda sorrindo. Claro que estava sorrindo e, se dependesse de mim, sorriria pelo resto da vida depois desta conversa.
- Modelo, bela atriz e ainda com um bom humor. Acho que me dei bem com meu par romântico. – não, querido. Eu que me dei super bem com meu par romântico. Você será, provavelmente, a causa dos meus erros de gravações.
- Assim digo o mesmo.
- Bem, nos encontramos por ai então. Divirta-se na festa e meus parabéns. – ele pegou minha mão direita e depositou um leve beijo sobre ela. É hoje que eu não lavo as mãos. Sacudi a cabeça quando percebi que estava parada feito uma retardada olhando Petter sumir pela multidão. Girei meu corpo em direção a , que ainda se encontrava no mesmo lugar, na mesma posição, só que agora com um copo em mãos.
- Cadê ? – perguntei quando me aproximei.
- O que ele queria com você? – ele perguntou ríspido.
- Cadê ? – repeti minhas palavras, aumentando o tom. Além de insuportável, é surdo também.
- O. Que. Ele. Queria. Com. Você? – tornou a perguntar entre pausas.
- Não. É. Da. Sua. Conta! – rebati. – Me responde primeiro, cadê minha irmã?
- Não. É. Da. Sua. Conta, o que ela faz ou deixa de fazer, sunshine. Agora, me responde.
- Como é possível ter uma conversa normal com uma pessoa como você? Inacreditável! – falei irritada. Aquele menino com certeza ganhava o prêmio de “pessoa mais irritante do ano”. Virei-me na intensão de ir à mesa de comida, mas me puxou pelo braço, fazendo com que eu ficasse mais próximo a ele.
- Eu só vou te falar uma coisa. Tome muito cuidado com o Petter, ele não é o cara que você pensa que é. Ele não é o príncipe, que chega em um cavalo branco. Há segredos guardados e planos naquela mente espanhola.
- Inveja é feio, ! – me soltei dos seus braços. Logo o mesmo começou a rir.
- Inveja? Arruma outra, . Olhe para mim e olhe para ele. Posso não ter esse sangue latino ou sei lá o que seja, mas consigo muita coisa melhor do que ele.
- Tipo? – cruzei meus braços, erguendo uma de minhas sobrancelhas. Mais uma risadinha ridícula vinda da parte dele foi solta. Ele fazia leves movimentos de negação com a cabeça enquanto tapava sua boca com uma de suas mãos, parecendo que não acreditara no que iria acabar de falar.
- Um contrato de campanhas por ano ao seu lado, zinha. – segurou levemente meu queixo, fazendo com que os nossos olhares se encontrassem. Agora percebi o quanto os olhos dele eram simetricamente iguais, aquilo dava mais um charme e... O que é que eu estou pensando? Retirei, com um tapa, suas mãos sobre meu rosto, saindo daquele maldito transe. – E sobre , eu não sei. A perdi de vista quando parei aqui para conversar contigo. Tinha a intensão de procurá-la quando acabasse de falar com você, mas imprevistos acontecem.
- Não está preocupado com ela?
- Sou namorado dela e não babá. – ele tomou um gole da bebida. – Não me diga que você está?!
- Um pouco, talvez. – uma rajada de vento frio bateu em meu corpo. Provavelmente algum funcionário deve ter colocado o ar condicionado para moverem as palhetas. Abracei meu próprio corpo na tentativa de me aquecer enquanto olhava ao redor para encontrar um lugar aparentemente quente.
- Frio? – me perguntou.
- Um pouco.
- Quer meu terno? – olhei assustada para ele. Como assim ele estava sendo gentil comigo? – Nossa, sou tão malvado assim?
- Porque a pergunta?
- Sua cara quando ofereci o terno disse tudo. – tornou novamente a beber.
- Só estranhei, mas muito obrigada, eu recuso. – iria dizer algo, mas sua feição logo mudou para uma de raiva e seu olhar estava parado atrás de mim.
– Mccullen. – disse sem animo.
- . – Petter respondeu no mesmo tom.
- Interessante vir a um evento tão importante desacompanhado. Suas mulheres perceberam o quanto você é impotente e o largou? - ele riu.
- Quanta graça, tem certeza de que está seguindo a carreira certa? Há circos que aceitam palhaços sem graça. – ambos estavam se encarando com certa raiva. Pude sentir que a qualquer momento socos iriam rolar por ali. – Analisando melhor, o senhor também está desacompanhado. Sua gata o deixou? Ou percebeu o quão patético você é? – não acredito que Petter estava realmente batendo boca com o ! O encanto está acabando. Resolvi interferir antes que aquilo virasse o centro das atenções.
-Queria falar comigo, Petter? – foquei minha atenção nele.
- Havia me esquecido de lhe perguntar algo. Amanhã à noite, a senhorita estará livre? Poderíamos ir a um restaurante, para nos conhecermos melhor, afinal, nossos personagens tem uma relação muito boa, então é sempre bom que os atores também tenham. – pude ouvir os resmungos baixos de . Dai-me paciência.
- Claro, seria um prazer! – sorri.
- Ótimo, perguntarei ao Gary se ele ainda tem sua ficha e pegarei seu número. Mando uma mensagem para acertar o horário.
- Estarei esperando. – falei.
- Será uma noite e tanto. – ele falou depositando um beijo em meu rosto. – Passar bem, .
- Desejo o contrário a você, Mccullen. – Petter jogou um sorriso irônico e saiu. Olhei para com uma cara de desgosto.
- Educação mandou lembranças!
- E disfarce também. Estava quase indo pegar uma toalha para secar sua baba. – rangi os dentes.
- Não vou perder meu tempo com você! Vou atrás de .
- Só lembre o que eu te disse há pouco tempo. – ouvi sua voz ao fundo, mas não dei importância.
Encontrei perto da porta principal. Seu vestido verde brilhante dava um belo realce sobre seus cabelos. Para quem não queria se destacar, destaque estava sendo seu nome. Ginna a acompanhava, assim como Ralph.
- Olha só quem resolveu aparecer, à estrela da noite. – brincou.
- Mais brilhante do que seu vestido, impossível. – todos riram, menos à mesma.
- Arrasou, . – Ginna disse. – Um grande passo em sua carreira, breve estará nos cinemas.
- Não penso muito nisso, Ginna. – falei. – O que mais desejo é voltar para casa.
- Você fala isso agora, , mas quando perceber o que esse trabalho irá lhe proporcionar, vai querer morar aqui para sempre. – Ralph disse. – Falando em morar aqui, você não conhece muita coisa, né?
- Não muito. não me leva a muitos lugares, quer dizer, somente ao shopping, para me fazer de carrinho de compras.
- Poderíamos marcar uma saída, seria bom por o papo em dia. – disse Gina sutilmente. – E também, como nova moradora, é de muita importância conhecer os lugares.
- E os becos para fugir dos paparazzi’s. – Ralph completou com humor.
- Creio que serão úteis para minhas fugas quando não estiver de bom humor. – falei rindo. Um garçom passou no momento e peguei uma bebida azulada com uma laranja e limão em sua borda, complementando com uma cereja em seu centro.
- Blue Hawaii. – Ginna disse, me chamando à atenção. – Esse coquetel é um arraso! – Tomei um gole sentindo aquele frescor, misturado com um forte álcool descendo em minha garganta. Simplesmente incrível!
- Somente hoje, . – falou levantando sua taça, que continha um líquido alaranjado. – Um brinde a minha vitória por tornar está criança em uma estrela de Hollywood! – se ela estava bêbada ou não, não tenho certeza, mas aposto que em seu estômago já passou mais de dez tipos de bebidas. Brindamos e logo em seguida tomamos o papo, até eu me lembrar do outro motivo que tinha vindo aqui.
- , você viu por ai? – perguntei um pouco mais perto do seu ouvido, já que a música agora estava mais alta.
- Não me lembro bem o momento, mas a vi saindo feito um touro em uma tourada pela porta principal. Até tentei saber o que ela tinha, mas só recebi um “sai da minha frente, porra”. – ela disse entre risos e tomando mais um gole da bebida. – Sua irmã precisa de terapia, porque não é normal essa raiva dela toda não. Elatemqueserumadama! – com certeza já não estava em um dos seus melhores momentos. Sua última frase saiu como se eu estivesse ouvindo um rap do Eminem. Não entendi absolutamente nada!
- É, acho que isso aqui não irá lhe ajudar muito. – retirei o copo de suas mãos, recebendo lindos xingamentos dela. Aproveitei que um garçom passava pelo momento e mandei que ele levasse à bebida para o mais longe possível dela. – Ralph, acho que à festa para já acabou. Poderia avisar ao que está na hora dela ir?
- E como você vai voltar para casa? – ele me perguntou.
- Dou meus pulos. O importante é esta menina chegar em casa o mais rápido possível e tomar um belo banho frio, de preferência com muito gelo.
- Faz o seguinte, eu a levo para casa e você volta com o , beleza? – não! Não está beleza! Eram nesses momentos que eu necessitava aprender a dirigir, mas acabe lembrando que eu ainda não tinha muito dinheiro para ostentar nesta cidade desconhecida. Mal sei o caminho até o supermercado!
- Eu vejo se Ginna me leva.
- Desculpa, , mas nem de carro estou. E também, só sairei daqui quando não tiver um pé de gente. – suspirei derrotada. Ou pagaria um táxi, quer dizer, se eu achasse um a esta hora da noite, ou teria que ver um jeito do me levar em casa. Maldito seja à irmã que tenho.
Ralph já se dirigia até a saída, com praticamente em seus braços. Amanhã, com toda certeza, irei a casa dela ensinar bons modos em festa. Revanche!
Esperei por mais algumas horas conversando com Ginna e logo depois fui à procura de . Espero que ele ainda esteja na festa, afinal, à última vez que o vi foi quando a má educação dele deu a voz. O centro do local ainda estava entupido de gente. Atrizes e atores se requebravam ao som de I Want You To Know, da Selena Gomez feat Zedd. Realmente, essa música tinha algum poder que controlava o corpo das pessoas, até eu que não curto muito dançar – vulgo não saber dançar – estava andando e jogando o corpo de um lado para o outro no ritmo da música. Passei ao lado da aglomeração, chegando a uma parte onde havia algumas mesas e cadeiras. Encontrei sentado em uma delas com uma ruiva do lado.
Porque não estou nada surpresa com isso?
Tenho que me lembrar de contar a quantidade de chifres que deve ter na testa, creio que nem deve existir mais espaço para mais um. Me aproximei, parando ao lado dele, e senti seu olhar se fixando em mim.
- Petter te deixou? – debochou.
- Não estava com ele, idiota. Mas vejo que você está bem acompanhado. – forcei um sorriso olhando para a garota ruiva. Sinto que já havia visto esta garota em algum lugar... Alta, ruiva, corpo violão, um batom cor cereja na boca. Em seus olhos, um traço tão longo do delineador chamava atenção, delimitando o espaço de onde a sombra deveria parar. O vestido até que não estava desapropriado. Longo, com uma mistura de brilho e renda em um tom branco, realçando mais seu bronzeado.
- Lembra de Mellany, ? – ele apontou para a garota, que deu um grande sorriso.
- Sim, daquela festa, certo? – ele assentiu.
- É bom te ver novamente, . – Mellany falou. Jurava que ela era morena. – fala... – antes da mesma terminar a frase, a interrompeu.
- Opa, o que você quer comigo, querida? – seu nervosismo era perceptível. Enchi meus pulmões de ar e, por alguns segundos, pensei rapidamente o que falar. Pedir carona a ele era um tanto desconfortável.
- Sua irmã não passou muito bem e Ralph teve que levá-la em casa. tomou chá de sumiço, porque até agora nada dela. Sua irmã disse que a viu saindo, mas no estado em que ela estava, não sabia se era verdade ou ilusão da bebida, logo, só sobrou você para me levar em casa. – disparei a falar. Mellany ainda tentava digerir tudo o que eu havia acabado de falar, não perca tempo, querida, não é da sua conta. Já revirou os olhos e deu um longo suspiro.
- Tudo bem, né. – estava estranhando toda a bondade vindo dele. Primeiro o terno e agora à carona. Será que o abduziram e trocaram por um homem? - Mas não ache que irei sair daqui agora. Se vire para fazer algo. Quando eu tiver indo, te mando uma mensagem. – é, não o abduziram não. Revirei os olhos e sai do local batendo fortemente aqueles saltos no chão.

Minha cabeça estava sobre meus braços cruzados em cima da mesa. Uma posição um tanto desconfortável, mas eu precisava pelo menos deitar minha cabeça em algum lugar. Help, dos Beatles, tocava ao fundo. Cantarolava algumas partes com o objetivo de me distrair daquele tédio.
Uma lembrança do meu avô cantando esta música me veio à cabeça. Agradecia mentalmente por ele ter me influenciado a ter bom gosto. Junto com as lembranças, a saudade da minha terra acompanhava.
O frio de Vancouver era algo que, por incrível que pareça, eu sentia falta. Dos momentos que ia ao parque com meu melhor amigo e primo, , que hoje nem ao menos me liga. Costumávamos sentar em baixo da enorme árvore que se encontrava no parque. A sombra que ela proporcionava nos verões era perfeita para uma boa leitura, acompanhado de belas rosquinhas, que o mesmo sabia fazer. Não sei do porque que ele não me liga mais. Sinto tanta falta dele, assim como as meninas, Annie e Kristin. Mas ambas estão longe agora. Mensagens não matam saudades. Me sentia só neste país, mesmo tendo ao meu lado e às vezes Ginna, mas era tudo tão estranho.
Conhecer novas pessoas e conviver com elas era estranho, não há aquela velha intimidade.
Entre meus devaneios, senti uma mão pousar sobre meu ombro e me sacudir um pouco. Levantei meu olhar pesado de sono, me deparando com uma figura de terno e gravata, com os cabelos impecavelmente alinhados.
- Pensei que tivesse morrido, já estava quase indo comprar os fogos de artifícios para comemorar. – falou com um leve humor. E ainda ter que aguentar essas piadinhas e, principalmente, este menino. Onde foi que eu errei?
- Meus pêsames por não realizar este belo sonho. – falei com ironia e uma voz arrastada pelo cansaço.
- Você está bem? – ele me perguntou em um tom realmente preocupado. Ok, isso já estava me assustando! Cadê o ódio recíproco?
- É só o cansaço. – retirei suas mãos dos meus ombros e levantei. Ele deu de ombros. – A festa já acabou para você?
- Já. – deu um largo sorriso.
- Acho que minha irmã ganhou mais outro chifre. – falei enquanto o seguia até à saída.
- Você fala como se somente eu ficasse com alguém.
- Mas é verdade, nunca vi ficar com nenhum outro homem a não ser você. O relacionamento de vocês é estranho.
- Já foi um conto de fadas, mas ainda a amo.
- Amando e traindo. Que forma de amor, hein? – ele acionou o alarme do carro e ambos entramos. – Uma ruivinha hoje, uma loira amanhã...
- E você no futuro. – lancei meu olhar assustado para o mesmo, que só fazia rir da situação. – Eu não fiquei com Mellany hoje, se é o que você quer saber, sunshine.
- Vá sonhando, ! E pelo que eu me lembre, não havia lhe perguntado se ficou ou não com ela.
- Uma ruivinha... – ele falou com uma voz afetada. Necessito lembrar que as imitações dele vão de mal a pior?
Não falei mais nada. Só queria chegar em casa, tomar um banho, apagar na cama e, se possível, acordar no Canadá, com minha velha e pacata vida. Observava as luzes que iluminavam a rua. Já se passavam das três da manhã, e era incrível o fato de ter pessoas ainda transitando a esta hora na cidade. A maioria eram jovens. Provavelmente devem estar voltando de festas ou porque simplesmente amam à noite, como eu. Só não passo à madrugada acordada, porque meu sono é sagrado.
Parado em um sinal vermelho, minha mente relembrou da frase que disse quando perguntei de . Ela havia saído da festa feito um touro enraivado por algum motivo e parte da minha consciência dizia que era por minha causa. Eu era a causadora dos problemas dela. Um arrepio se estendeu pelo meu corpo só de imaginar que, em minutos, eu estaria olhando para sua face e ouvindo tudo o que ela tinha em mente. O medo, juntamente com uma grande curiosidade, permanecia intacto em minha mente. O que ela iria fazer?
Novamente, outro arrepio.
Alisei meus braços para que os pelos voltassem ao normal, mas acabei chamando à atenção do meu “motorista”.
- Frio? – ele perguntou, abaixando o ar condicionado do carro.
- Quem dera que fosse. – falei olhando pela janela.
- Algum problema?
- Sua namorada. – o olhei. Sua atenção, que há poucos minutos estava no sinal, agora estava sobre mim. Somente as luzes dos postes iluminava seu rosto. – Ou sei lá o que sejam.
- Medo dela? – ele retornou sua atenção para o sinal, que ficou verde.
- Não sei o que ela é capaz de fazer. disse que ela não havia saído com uma boa cara e, para à mesma perder uma festa de alto estilo, somente algo realmente sério.
- E para você, o que poderia ter causado essa reação nela? – ele falava calmamente. Estava me surpreendendo por sua atitude. sendo gentil? Isso deveria ser o efeito das bebidas.
- Talvez sobre minha aprovação na série?
- Ah, a série. – falou com desgosto. – Sério mesmo que você vai fazer?
- E qual o problema? – perguntei com os olhos semicerrados.
- Nada.
Percebi que já estávamos chegando a minha casa, ou melhor, na casa da minha irmã. Uma curiosidade repentina veio em minha cabeça. Por que não suportava Petter? Estava em um dilema para ver se perguntava ou não. O que menos queria agora era uma discussão com este ser. Já começava a sentir os efeitos colaterais das bebidas. Uma leve dor de cabeça começava a se iniciar, mas minha teimosia falava mais alto e, sem pensar duas vezes, falei a maldita frase.
- , por que você e o Petter não se dão bem? – seu olhar agora estava focando em um ponto imaginário no horizonte. Parecia que seu corpo estava em um transe, ou provavelmente ele deveria estar em um flashback. Me aproximei mais dele, tirando o cinto de segurança e colocando minhas duas mãos em frente a sua face. Bati duas palmas e senti suas mãos segurarem as minhas, abaixando-as lentamente.
- Não precisava fazer isso. – falou com os dentes cerrados e seu semblante raivoso.
- Você não me deu escolhas e ainda não me deu a resposta. – ainda o encarava.
- Por que não pergunta a ele? Afinal, vocês agora irão se ver todo santo dia. Pega intimidade com ele e pergunta! – joguei meu corpo um pouco para trás, me assustando com o modo que ele me respondeu. – Agora, vaza que já chegamos. – mal percebi que já estávamos parados em frente ao grande portão. Abri a porta do carro dando uma última olhada nele, que ainda me encarava, e fechei. Recuei um pouco e o observei arrancar com o carro em alta velocidade. Ai como esse menino se acha, por algum acaso está em alguma corrida de fórmula 1 para sair deste jeito? Grosso! Pensei.
Observei ainda por fora a enorme casa que se encontrava em minha frente. A bela lua cheia clareava algumas partes do jardim. Estranhei um pouco as luzes totalmente apagadas. Será que estaria programando a minha morte? Ou simplesmente estava dormindo?
Novamente senti outro arrepio.
Holy shit, novamente isso? Estava mesmo com medo da minha irmã? Procurei em minha bolsa o controle do portão e acionei, o vendo se abrir lentamente.
Isso, atrasa mais a minha morte.
Em pequenos passos fui chegando até à porta. Cuidadosamente, girei à maçaneta, me surpreendendo por ela está destrancada. Tentei fazer o mínimo de barulho possível ao fechá-la. Me agachei, na intensão de retirar meus saltos, mas no momento em que iria fazer isso, a luz da sala se acendeu, me dando um susto.
- Meu Deus, . Não precisava me assustar assim. – falei com minha mão direita sobre meu peito.
- Não é preciso retirar seus saltos, maninha. – ela falou ignorando meu comentário anterior.
- É que eles estão acabando com meus pés. – tentei não demonstrar nervosismo, mas sua pose, com as mãos cruzadas sobre seu peitoral, estava deixando minhas pernas trêmulas, ou melhor, meu corpo todo. Ela ainda estava vestida como a encontrei na festa e com aqueles saltos enormes de dar medo.
- Não se preocupe, você irá ainda usá-los esta noite. – sua voz estava um tanto misteriosa, o que me fazia sentir mais medo ainda. Um pequeno sorriso na lateral surgiu em sua face. Oh Jah, é hoje que o bicho vai pegar.
- , olha, eu sei que...
- Não fala nada, ! Quem vai falar aqui sou eu! – me interrompeu com seu tom de voz um pouco elevado. Encolhi um pouco e calei minha boca. – Por que você não me avisou da proposta?
- Foi tudo em cima da...
- EU MANDEI VOCÊ CALAR A BOCA! – agora sim ela gritou. Seus olhos ardiam de raiva.
- Mas você me fez uma pergunta. – rebati.
- Cala a boca, !
- Mas... – ela suspendeu seu dedo indicador.
- Você não pode fazer aquela merda de série, não pode! Isso é traição, você sabe o quanto eu não suporto aquela... Argh! Você simplesmente está dificultando as coisas! Por que você faz isso? – não a respondi. – Me responda, coisa!
- Você pediu para eu não responder!
- Mas agora eu quero uma resposta! – mas que bipolaridade da porra!
- Mas não foi minha culpa!
- Ah, como sempre não é culpa da majestade. Então, é de quem? – ela começou a andar de um lado para o outro.
- Das estrelas? – ela me olhou com deboche.
- Está tirando sarro com minha cara? – ela parou, me encarando. Talvez...
- Me poupe, .
- Cala a boca. – estava me estressando com tudo aquilo. Quem ela pensa que é? Quem é ela na fila do pão? Ela não tem direito de mandar na minha vida, muito menos nas minhas escolhas. Ela nunca se importou comigo, sempre era Pam que fazia quase tudo por mim. Ela me esqueceu quando se mudou, pegava quase todos os garotos que eu gostava, fazia da minha vida um típico inferno e agora que oportunidades batem a minha porta, eu tenho que dispensar? Tenho que me encolher e sentir medo dela? De jeito nenhum!
- MAS EU NÃO VOU CALAR! – gritei sentindo minha garganta arranhar. A mesma se assustou um pouco e eu pigarreei. – Olha, me ofereceu o papel e eu não fazia ideia que ela iria fazer isso. Eu não pedi, e você mesmo sabe que o meu desejo é voltar para o Canadá. Só que enquanto eu estava livre, você não moveu nem um palito para comprar outra passagem de volta. Eu me virava lá em casa, foda-se o castigo, eu não estava suportando aqui, mas ai, quando as coisas começam a caminhar, mesmo não do meu gosto, você deseja que eu pare? Quem é você para falar isso, ? – ela continuou calada, ainda me olhando. Ótimo, agora minha garganta estava lenhada. Ela foi em direção à escada e voltou com algumas malas.
- Ou você recusa esse maldito papel e fica aqui, ou você aceita e sai da minha casa. – ela disse confiante, colocando às malas entre nós. O quê? Isso era possível? Parei por um minuto, analisando toda a situação. O modo como ela estava, o meu modo... Tudo aquilo estava se tornando a mais pura loucura.
- O quê? – perguntei assustada. – , para onde eu vou?!
- Se vira! Não vou me lenhar por sua causa. Você quer roubar tudo o que é meu e já estou farta disso. A escolha é sua.
- Isso é a loucura. Vo-você não deve estar bem. Foi à bebida? Está de ressaca?
- , eu não estou brincando! – ela gritou novamente.
- Nem eu. – falei no mesmo tom. – Acha mesmo que estou brincando aqui? Não! Eu não tenho para onde ir e não posso recusar!
- Você deve recusar esse maldito pedido, ! – falou alto. – Você não pode fazer isso comigo! Sou sua irmã! Você não vai aceitar isso, pronto. Decidido.
- O quê? Nada disso! Eu sei muito bem o que fazer da minha vida, e nesse momento. – cravei minhas mãos nas malas com força. – Eu vou aceitar esse papel, e mudar minha vida. – sua expressão mudou totalmente. A mesma começou a soltar uns gritos. Meu único medo ali era se ela pegasse aqueles saltos e tacassem sobre mim, por este motivo, recuei um pouco. Recolhi tudo o que havia ali e fui caminhando em direção à porta.
- Se você não mudar de ideia agora, eu vou...
- Vai o quê? – vire-me para encará-la. Senti uma leve luta em seus pensamentos. Se ela me contava ou não.
- Eu vou contar aos nossos pais sobre o acampamento. – meu coração parou um minuto. Minhas pernas ficaram rígidas e trêmulas. Me apoiei na porta para não ter uma queda ali mesmo. Ela estava me ameaçando com aquele detestável verão, voltando ao passado e trazendo aquele maldito terror até a mim. Não, não, não posso me lembrar. As cenas insistiam em voltar para minha mente, mas eu fazia o possível para não lembrar. estava tornando novamente minha vida em um inferno e era isso que ela gostava. Minha pior inimiga tinha se tornado minha irmã. Meus olhos começaram a marejar. Estava em uma luta interna contra meus pensamentos e minhas lágrimas. Não poderia demonstrar fraqueza, não posso dar esse gostinho a , jamais. Não posso viver do passado. Olhei mais uma vez em direção a sua face, onde uma expressão de vitória estava nítida.
- Conte, irmã. Minha vida já está virada ao avesso mesmo. Isso só será cinco por cento de tudo o que estou passando. – girei meu corpo em direção à porta e sai puxando às malas, tentando me equilibrar, ainda, naquele salto.
Não estava acreditando nisso, mas infelizmente minha realidade veio à tona quando ouvi o baque da porta se fechando. Será que eu realmente havia feito à coisa certa?



Capítulo 11


O céu dava indícios de que uma forte chuva cairia a qualquer momento. O forte vento que soprava em minha direção dava a sensação de a qualquer momento aquelas enormes árvores cairiam sobre o chão. A corrente fria batia em meu corpo, arrepiando-me por inteira. Não havia ninguém na rua.
Caminhava puxando minhas enormes malas em direção a um único local que conhecia e com toda certeza teria ajuda. Meus pés já latejavam de tanta dor, minhas mãos estavam gélidas. Não consegui segurar minhas lágrimas, provavelmente já estava parecendo um cosplay de um panda azul royal.
Eis que a chuva chega.
Ótimo, momento filme de drama. A mocinha na rua, com os olhos jorrando lágrimas, a chuva a molhando por completa e uma mente turbulenta. Eu sentia falta de casa, do meu conforto, daquilo chamado lar. Das faladeiras de minha mãe, das piadas sem graça do meu pai, das tardes no parque com , da minha leitura a noite acompanhada do meu gato persa Gaston, das visitas de Pam, sentia falta de tudo. Nunca me senti em casa estando aqui, era tudo muito estranho, um novo mundo, um novo ar, um novo ambiente. Não queria culpar meus pais pelo que estava passando, muito menos . Ela só tentou me ajudar. Minha raiva era por , que me fez aceitar a proposta indiretamente.
Ela era a culpada disso tudo e sempre foi, se aquelas meninas de seu rebanho não tivessem jogado na minha cara que eu, euzinha, havia burlado para conseguir o trabalho, jamais sentiria o ódio que me impulsionou a ligar para o senhor Burtton, aceitando a sua proposta.
Mas, por parte, sentia-me culpada por ter deixado o estresse guiar minhas decisões.
Não tinha noção do tempo, mas percebi que em breve o sol nasceria. Ótimo, quem passasse por ali iria pensar que sou uma sem-teto bem vestida. Apressei os passos e depois de um tempo cheguei ao meu destino. Sorte que sua casa não era tão longe da minha, quer dizer, da minha irmã. Apenas cinco quadras.
Encarei o grande portão de madeira eletrônico e pensei com que cara iria pedir aquele favor.
A que situação eu cheguei!
Apertei o botão no interfone, desejando que pelo menos alguém estivesse acordado. Não estava mais suportando aquela ventania e os pingos de chuva gélidos sobre meu corpo.
Mas nada ocorreu.
Nenhuma voz, nenhuma respiração do outro lado. Tornei a apertar novamente, mas agora por um bom tempo. Assim que tirei o dedo do botão, uma voz surgiu perguntando quem era. Apenas disse um “Oi” e o portão foi aberto às pressas. Peguei tudo o que me restava ali e adentrei.
- ? – me perguntou assustada. – O que deu em você? Sair a esta hora da noite nesse temporal? Meu Deus, você está encharcada! – ela dava seus surtos, enquanto eu ainda permanecia na chuva. – não te deixou em casa? Ah, meu mato esse...
- , não. Ele me deixou em casa. Será que eu poderia entrar? – ela se tocou na minha situação, dando espaço para eu passar.
- O que houve? Por que essas malas? Está tentando fugir? – me repreendeu.
- Não, só preciso de um pequeno favor seu.
- E qual seria?
- Me arrumar um local para eu ficar. – seu semblante demonstrava a mais pura confusão.
- Você não estava morando com sua irmã?
- Falou certo, estava. Cheguei em casa e teve um ataque. Me ameaçou, e ainda me fez escolher: ou aceitar o papel e sair de casa, ou recusar e continuar lá. Bem, pela minha vinda aqui, creio que você já sabe a minha escolha. – com um olhar de pena, ela me abraçou, mesmo eu estando completamente encharcada.
- Você pode ficar aqui. – um sorriso sincero brotou sobre sua face.
- Obrigada.
- Quem é, ? – uma voz sonolenta ecoou sobre a escada, e um apenas de calçam moletom surgiu no inicio dela. Meu Deus, desde quando ele tinha aquele corpo? – Olha só, não sabia que havia aderido à moda sustentável e aproveitado a chuva, . Mas te aconselharia a por pelo menos um biquíni. Vestidos de festa são feitos para eventos. – ele permanecia apoiado sobre o corrimão, mostrando o seu sorriso mais debochador, como sempre. Revirei os olhos e respirei fundo para não perder meu controle. – E outra, não tem relógio em casa, não? Isso não são horas para uma visita, sunshine. Se estava com saudades, era só ligar. – aquele menino já está me tirando do sério.
- , para de ser infantil. – deu a voz. – Ela não aderiu a nada. vai passar a morar com a gente por uns tempos. – prontamente, a cara sínica que havia em seu rosto passou para uma feição totalmente desesperada.
- Como é que é? – ele desceu correndo. Nem para tropeçar e cair. Oh cena boa de ver. – Não, não, não, não, não... – parecia uma criança de cinco anos. – , como assim morar aqui? Ela não tem casa, não? vai...
- Ela não vai fazer nada. – ela o interrompeu. – é a grande causadora disso tudo.
- A grande causadora e a futura solucionadora. – ele foi correndo pegar o telefone. – Vou ligar agora para ela e resolver isso.
- Tá maluco? – tomou o telefone de suas mãos. – Qual o problema dela ficar aqui?
- O problema é que... – ele olhava para mim e para ela. – Ela. Aqui. Tipo. Argh. – cobriu seu rosto com suas mãos, logo após passando pelos seus cabelos. – A casa também é minha e eu decido aqui.
- Para com isso, . Olha o estado dela. – apontou para mim. Comecei a me tremer um pouco por conta da corrente de ar que circulava por ali. – Amanhã conversamos. , pode ficar com o quarto de hospedes. vai te ajudar a levar as coisas para lá pra cima, enquanto preparo um chá para ti. – ele arqueou uma de suas sobrancelhas.
- Vou o quê? Desde quando aqui virou hotel e eu virei um empregado? – o repreendeu com o olhar. Havia esquecido totalmente que o traste do morava aqui também. Sem relutar, ele pegou algumas malas e me direcionou até o quarto. Aquela casa era enorme. Tudo muito arrumado e bem elegante. O quarto nem se fala, conforto era o que mais havia.
- Aqui tem um banheiro, toalhas, tudo. gosta de deixar já arrumado, caso ocorra um imprevisto. – ele falava, enquanto colocava minhas coisas perto do enorme guarda roupas. Agradeci, e o mesmo se dirigiu até a saída.
Tv, banheiro, cama macia e grande. Não poderei ficar aqui por muito tempo, mas será um ótimo lugar até eu acertar minha vida. Olhei o sol amanhecendo pela janela e acabei me dando conta de que estava perto da porta, me encarando de um modo que me fez estremecer da cabeça aos pés.
- Algum problema? – perguntei, ainda com minhas mãos em meus braços, tentando me aquecer um pouco. Meus cabelos provavelmente deveriam estar bagunçados e caídos sobre minha testa.
- Nada. – ele saiu de um possível transe e fechou a porta. Suspirei.
Tudo havia se complicado de um modo extremamente assustador. Uma hora eu tinha casa, conforto e família próxima, e agora tenho um bom trabalho, boas chances, porém sem casa, sem rumo. Sozinha em uma cidade desconhecida.
Tirei meu sapato, meu vestido – que mais parecia um bolo de pano encharcado – e fui tomar um banho. Como era maravilhoso sentir a temperatura boa d’água sobre meu corpo. Ao retornar para o cômodo, encontrei uma xícara de chá em cima da bancada com alguns mini-biscoitos e uma mensagem em meu celular.

“Deixei o chá em cima da bancada e acrescentei alguns biscoitos. Não te esperei, pois achei que estava cansada e merecia um pouco de descanso, afinal, andar cinco quadras, com salto, na chuva e aquele tanto de mala, cansa! Haha. Mais tarde conversamos melhor. Cancelei a academia hoje (eu sei que está comemorando internamente.) Xx ”.

Enquanto estava me deliciando com aquele divino lanche, um barulho no corredor me chamou atenção. As luzes estavam apagadas, porém em dos cômodos, através da fresta inferior da porta, havia uma claridade. Aproximei-me devagar, encostando minha orelha na porta. Sei que é errado, mas a curiosidade falou mais alto.
- Ela não pode ficar aqui! – uma voz masculina falava vigorosamente. Logo associei a , claro!
- E por que ela não pode ficar? Para de ser egoísta, dá um tempo nessa rixa ridícula!
- Não é egoísmo, é que... Argh, você vai estragar tudo! – como assim estragar tudo? O que ele estava... Mal terminei meus pensamentos, quando ouvi passos se aproximando. Merda, me perdi na conversa. Olhei para todos os locais possíveis naquele corredor e vi a única pilastra, que se encontrava quase colada à parede, como minha salvação. Antes mesmo de sair feito um touro do local e ir para sala, consegui me encaixar naquele pequeno espaço. Soltei um ar de alivio e fui para o “meu” quarto.

Acordei duas vezes quando já estava quase de manhã, porém na segunda vez tive a impressão de estar sendo observada, mas como o sono estava mais intenso, resolvi ignorar completamente e voltar a aproveitar aquele frio do ar condicionado, juntamente com aquela cama feita pelos Deus.
Novamente a sensação voltou, fazendo-me despertar de vez e virar preguiçosamente para o lado oposto. Assim que abri meus olhos, dei um impulso para trás, caindo totalmente de costas no chão.
- Porra, todo mundo resolveu que minha morte será por sustos? – um sério se encontrava parado de braços cruzados ao lado de minha cama. Me pergunto por quanto tempo ele estava ali. Será que...
- O que veio fazer aqui? – ele falou, interrompendo completamente meus pensamentos.
- Acho que sua namorada que te deve explicações. – sentei na cama, ainda o encarando.
- Para que gastar telefone se tenho alguém bem em minha frente que pode me responder isso? – ele falava afinco. Não estava entendo o porquê daquilo tudo. Primeiro foi seu convite inesperado para me encontrar no píer, depois sua gentileza em me oferecer o terno na festa, ai do nada ele fica me encarando e se perde nos pensamentos, agora estava me observando dormir e quase me mata de susto, e ainda por cima faz essas perguntas se achando o advogado da vida? Ou esse menino está com problemas, ou ele sofre seriamente de bipolaridade.
- Não estou entendendo isso. – levantei, parando em sua frente, enquanto cruzava os braços. Seu olhar percorreu por todo meu corpo, fazendo-me lembrar que eu estava apenas com um short curto e uma regata rosa. Ótimo, vergonha alheia chegando. – . – chamei sua atenção.
- Eu só quero saber o que ocorreu lá. – agora ele me olhava diretamente em meus olhos.
- Sua namorada não gostou do que ocorreu na festa e acabou surtando, disse que ou era o papel ou era minha moradia lá.
- E você aceitou o papel, certo? – perguntou desconfortável.
- Sim, não posso dar esse... – parei ao me lembrar a quem estava contando minhas ideias. poderia muito bem contar tudo isso para , o que a faria sentir mais ódio de mim. – E ai pensei que poderia me ajudar.
- Entendi... – seu olhar estava muito fixo nos meus, intercalando para a parte inferior do meu rosto, que logo supus de ser minha boca. Sua lenta aproximação me fez recuar um pouco, mas ele não parava. A cada momento o sentia mais próximo de mim, com seu olhar ainda estático.
- ... . – o chamava para acabar com aquele transe, mas nada. Ele continuava se aproximando. Não tive escolha, em segundos, senti minha mão arder com tapa que dei em seu rosto.
- Por que você fez isso? – ele gritou com uma das mãos na parte direita do rosto.
- Você não me deu escolhas. Estava estranho, se aproximando e... – ouvi o baque da porta se fechar e novamente estava ali sozinha. Ele havia saído sem me dar nenhuma explicação. E depois falam que as mulheres que são difíceis.

~***~


- Bom dia, flor do dia. Quer dizer, bom meio dia. – fui recebida por assim que adentrei a cozinha. Ter um bom dia de ? Só quando ela queria algo de mim.
- Bom meio dia para você, zitcha. – apoiei meu braço ao seu lado na bancada, enquanto ela cortava alguns legumes. – Não foi trabalhar hoje?
- Não, avisei a Ginna do ocorrido, porém pedi para que não avisasse a ninguém. Então ela me liberou, disse que inventaria alguma desculpa para o pai e que quando pudesse viria aqui te ver. Espero que não tenha problema.
- Não tem não. Cedo ou tarde ela iria acabar descobrindo mesmo. – suspirei. – Só será lindo para os tabloides descobrir que a grande sensação do momento, , expulsou sua irmã mais nova por motivos infantis. E descobrir que a sem teto veio bater na porta do namorado da irmã.
- Isso dava para ser uma bela novela mexicana, só faltava você ter alguma relação com o . – ela disse, rindo. Benzei-me ali mesmo, o que a fez gargalhar alto. – Eles não vão descobrir, vamos dá um jeito nisso e também, você nem é tão conhecida assim.
- Ah, magina. Só tenho meu rosto estampado em algumas revistas de moda, outdoors, em uma das maiores lojas de vestimentas, ao lado do meu futuro ou não cunhado, que é uma sensação teen. Ah, tenho que te lembrar das nossas posições nas fotos? As pessoas nem vão me reconhecer.
- Quer ser comparada a uma Jennifer Lawrence da vida? Pois bem. – ela tornou a cortar as verduras, enquanto eu devorava alguns biscoitos, que a mesma havia deixado sobre a bancada. – Dormiu bem?
- Feito um anjo. Dormi bem e acordei mal. – ela me olhou de um jeito questionador.
- Por quê? Caiu da cama?
- Digamos que sim, até porque é super normal acordar com um cara irritado te encarando. Oh, melhor jeito de se despertar, seu coração já acorda no ritmo.
- Como assim? Que cara?
- , né! Até onde eu sei, ele é o único homem desta casa, a não ser que tenha um irmão gêmeo e que tenha a mesma chatice dele. – peguei mais outro biscoito, nossa, aquilo era muito bom. – Ele não tem, certo? – perguntei preocupada.
- Não, claro que não! Mas por que ele estava lá?
- Sei lá, só um especialista para analisar a cabeça do seu irmão. – deu de ombros. – Mas ele começou a me questionar sobre o que ocorreu.
- E você contou?
- Tive que contar, né? Homens... Depois falam que as mulheres são as mais curiosas.
- Ou complicadas. – rimos. – Bem, você não irá tomar tanto susto assim hoje, pois o mesmo saiu já tem mais de duas horas e só volta à noite. Adoro quando começam as gravações.
- Ainda bem. Acho que ele e estão de complô para me matarem através do susto. – ela gargalhou alto. – Sério, amiga. Não é normal isso não, meu coração não aguenta tanta pressão.
- Só você mesmo, . Bem, sinta-se em casa, só não devore de vez meus biscoitos proteicos. – ela semicerrou os olhos em minha direção, fazendo-me soltar um dos biscoitos rapidamente sobre a bancada.
- Então termina logo esse almoço, serviçal.
- Me chame assim novamente, que você terá que se acostumar com a moradia da ponte.

Algo que realmente me surpreendeu em foi a capacidade de cozinhar tão bem. O macarrão com legumes estava divino. Não consegui ficar sem repetir mais uns dois pratos. Ao fim, a ajudei com algumas coisas em casa, já que a moça que trabalhava lá havia saído de férias. Aproveitando esse momento também, expliquei a ela detalhadamente o que tinha ocorrido na noite passada. nem ao menos se quer havia ligado, e o que mais me preocupava seria a reação dos meus pais ao saber disso. me aconselhou a contar, porém meus pais já estavam tão estressados em relação a mim e que, se eu contasse, provavelmente surtariam. Resolvi deixar quieto por um tempo e também ver aonde essa mentira de minha irmã iria chegar, afinal, a culpada é ela.
Estava deitada naquele macio sofá sem plumas (graças ao bom Deus, aquela casa era normal), assistindo Teen Wolf, um dos meus vícios. Aqueles atores, meu Senhor das séries, porque não posso contracenar com nenhum deles?
Um saco de pipoca doce se encontrava ao meu lado e na bancada um belo copo de suco de morango com abacaxi – especialidade da chef .
- , estou indo ali ao mercado, quer ir comigo? – avisou, ajeitando a bolsa em seus ombros e ficando próxima a porta.
- Não, obrigada, vou ficar por aqui mesmo. – sorri, a olhando por trás do sofá.
- Tudo bem, aproveite mesmo seu último dia de liberdade alimentar, amanhã começa a rotina. – senti um arrepio em minha espinha. Só de lembrar que no dia seguinte teria academia, minhas pernas já fraquejavam. Voltar a comer aqueles alimentos estranhos e verdes... Argh. Mandei um beleza, elevando meu dedão da mão e a mesma saiu. Era tão estranho ficar em uma casa enorme e sozinha. Na verdade, era tão estranho o modo em que minha vida deu uma virada.
Em um dia, estava lá no Canadá, vivendo minha vida pacata, passando minhas férias na fazendo do meu avô e só vendo e Pam poucas vezes ao ano, e agora, estou morando na casa de uma amiga que conheci nem tem muito tempo, minha irmã havia se tornado uma neurótica, e para fechar com chave de ouro, estava escalada para fazer uma série. Por um lado, tudo isso me soaria bem. Fama, algo que nunca desejei em minha vida, quer dizer, é claro que invejava aquelas modelos e atrizes fabulosas, vivendo em suas mansões e ganhando dinheiro fácil. Comigo poderia ser assim. Até que não era uma má ideia, porém ainda preferia voltar a minha antiga vida.
Voltei minha atenção para a TV. Paz e sossego, quanto tempo mesmo não tinha isso? Ah, sim, desde que cheguei à Califórnia. Na verdade, já tem um tempinho que cheguei e mal conheço a cidade. Nem consegui visitar a calçada da fama, ou o letreiro. Precisava organizar minha vida, mas antes, eu precisava curtir aquele momento sagrado.
Ouvi a maçaneta girar, me assustando um pouco. deve ter esquecido algo, mas, para minha infelicidade, não era ela e sim o .
Adeus sossego, adeus momento que jamais terei. Tentei não prestar muita atenção no que ele fazia, posso ainda relaxar mesmo com esta criança abençoada em casa, é só fingir que não tem ninguém ali.
Bem, eu tentei, mas seus vultos da sala para a cozinha e da cozinha para a sala já estavam sendo um pouco irritantes. Logo depois o mesmo subiu. E que permaneça lá, amém! Peguei o cobertor e me cobri mais, aproveitando aquela prazerosa tarde fria. O episódio já estava no fim quando ouvi meu celular vibrar. Resmunguei para mim mesma. Sempre que estava disposta a assistir algo, alguém tinha que interromper. Visualizei a tela do meu celular encontrando um número desconhecido. Estranho.
- Alô? – atendi, forçando uma voz diferente. Tinha essa mania bem estranha, afinal, sei lá quem era, vai que clonariam minha voz e...
- ? – ouvi uma voz masculina do outro lado, porém um pouco conhecida. – É o Petter.
- Ah, oi Petter! – respondi, surpresa.
- Sua voz estava estranha.
- Minha voz? – pigarreei. – Ah, é que com esse tempo a garganta ataca, sabe como é, né? – não ia contar a ele minha estranha mania. – Mas e ai, o que manda?
- Queria saber se está tudo certo para hoje à noite. – hoje à noite? Mas o que tinha... Ai meu santo Cristinho, Petter havia me chamado para sair hoje! Que burra você é, ! Mas também, com tanta coisa ocorrendo, mal lembrei disso. E agora, qual será a desculpa? Não posso falar a ele do ocorrido.
- Ah, hoje à noite... – enrolei. Olhei para a janela e percebi que já começava a escurecer. Não teria muito tempo para me arrumar, ou teria? Voltei meu olhar para a TV e logo em seguida para a cozinha, tomando um pequeno susto ao ver , sem camisa (está de brincadeira, né?), debruçado no balcão com uma lata de cerveja em mãos, me encarando com um sorriso cínico. Suspirei fundo e disse: - Um momento, Petter. – tapei a parte do microfone do celular e me virei em direção a .
- Perdeu alguma coisa aqui, ? – o mesmo tomou outro gole de sua bebida, e com o mesmo sorriso no rosto, saiu de minha vista. – Perdão, é que...
- Ouvi você falar ? – questionou.
- Sim. – respondi, tentando não demonstrar nervosismo. – Ele vive aqui em casa por causa de minha irmã, ai estava procurando algo na cozinha e perguntei o que era, mas ele me ignorou, como sempre. – menti. – Mas então, acho que teremos que marcar outro dia, Petter. Ontem foi bem puxado para mim e hoje ainda tive que acordar cedo.
- Imaginei isso antes de te ligar. – pude ouvir sua baixa risada na linha, o que me fez sorrir automaticamente.
- Oh, que lindo, ela está sorrindo também. – disse, encostado na pilastra da sala. Revirei os olhos e sai em direção ao jardim. Cadê a privacidade?
- Podemos marcar outro dia então? – falei, caminhando em meio aquele enorme jardim.
- Claro! Pelo menos amanhã vamos nos ver na reunião de elenco?
- Com toda certeza. Não posso dar para trás no primeiro dia de trabalho. – ri.
- Ótimo, então nos vemos amanhã, zita. – sua última fala soou perfeitamente com seu sotaque espanhol. Como aquele homem continuava ainda solteiro? – Besos!
- Besos! – tentei o imitar, mas não soou sexy quanto ele. Assim que desligamos, a curiosidade de explorar mais aquele jardim veio à tona. Não estava afim mesmo de encarar o traste do , então, por que não? Era tão grande e bem cuidado. Uma fonte com uma estatua de peixe se encontrava próximo ao muro e no centro, com algumas flores rosa ao seu redor. Ao lado, algumas árvores se encontravam espalhadas, dando uma boa sombra. Os postes brancos que se encontravam ali iluminavam bem o local, dando um belo contraste com algumas luzes de LED coloridas, que estavam espalhadas pelo gramado. Mas algo me intrigou no lado direito, perto de uma das árvores. Era uma grande casinha de cachorro, bem arrumada por sinal, com alguns detalhes brancos e feito do concreto. O que tinha ali? Eles nunca me falaram de nenhum animal aqui.
Me aproximei aos poucos, forçando um pouco a visão, já que as luzes naquele espaço ainda não haviam sido acendidas. Um enorme par de olhos meio avermelhado apareceu, me assustando um pouco e fazendo com que eu recuasse. A cada passo para trás, os olhos de aproximavam na escuridão. Apressei um pouco meus passos, e então pude perceber as doze enormes patas que apareceram em minha frente. Lentamente fui levantando meu olhar, vendo enormes silhuetas peludas se formarem em minha frente e quando me dei conta, havia três Dobermans me encarando, deixando seus dentes à mostra e emitindo um som nada agradável.
Sem pensar duas vezes, trabalhei minhas pernas e sai em disparada para a varanda da casa, olhando para trás e os vendo vir em minha direção.
Pronto, era meu fim.
Antes mesmo de chegar a parte alta, esbarrei-me em algo de mais ou menos do meu tamanho. Senti suas mãos firmes em minha cintura antes mesmo de cairmos na grama. Por sorte, acabei caindo por cima da pessoa e rolando um pouco, parando com a cara na grama.
Capim não tinha lá um cheiro bom, nem gosto.
Levantei meu tronco, apoiando minhas mãos no chão e olhando em direção aonde eu havia acabado de vir. Os três cães estavam parados, um do lado do outro e um pouco distantes de mim, o que me fez aliviar um pouco.
- Ai. – ouvi um gemido ao meu lado. se levantava devagar, ainda trajando uma calça moletom, com seu peitoral à mostra, sujo de grama. Então foi nele que havia me esbarrado? – Sissy, Jack, Snow. – ele falou com autoridade, chamando a atenção dos cães. – Voltem, agora. – os três animais caminharam calmamente em direção ao local que haviam saído. – Você está bem? – ele se virou para mim, estendendo sua mão.
- Sim. – respondi, aceitando sua mão para me levantar.
- Deveria ter cuidado da próxima vez. – falou, saindo calmamente em direção à porta.
- Como eu ia saber que você criava três monstros?
- Não são monstros, são cachorros e bem dóceis, porém odeiam pessoas que vão os bisbilhotar, conversando com namoradinho.
- Eu não fui bisbilhotar porra nenhuma. – ele arqueou as sobrancelhas, me olhando com um semblante questionador. – Ok, só fui ver o que tinha ali, tudo bem? E isso não é bisbilhotar...
- Então é o quê? Fazer uma visita para três cachorros? Ou verificar se algum dessas árvores te levaria ao País das Maravilhas? Me poupe, . – ele tornou a andar, e eu seguir seus passos.
- Sério, não dá para conversar com você e outra, não estava conversando com namoradinho nenhum!
- Ai Petter, esqueci do nosso encontro de hoje, será que poderíamos ir outro dia? Aproveitamos e passamos em algum motel para você me fazer de besta como as outras. – disse com uma voz afetada, provavelmente tentando imitar a minha. Saí de um lugar totalmente estressante para vir a outro pior ainda! Dai-me a santa e poderosa paciência. Ele não tinha direito de falar isso, muito menos citar essas coisas. Senti minhas unhas cravarem na palma de minha mão e logo percebi que haviam se formado em um punho. Estava prestes a quebrar a cara daquele garoto todinha.
- Eu não vou discutir com você, só porque está de ciuminho. – arrebitei o nariz e passei por ele, entrando em seguida em casa.
- Ciuminho? Eu? – riu debochado. – Conta outra, !
- Ah, não? Primeiro você é totalmente cavalheiro comigo na festa, depois vem com aquele papo furado em relação ao Petter, entra em um transe e quase me beija, e agora fica de olho na minha conversa. Foi atrás de mim para bisbilhotar o que estava falando. Ah, sem falar nessa sua péssima e falsa imitação da minha pessoa! Acho que aquele amor que sentia por mim está voltando, hein? Ou nunca deixou de existir. – ao contrário do que pensei, sua feição agora se encontrava mais séria do que nunca. Aquele que sempre tirava sarro de mim estava quase me matando com os olhos.
- Ai meu Deus. Saio por algumas horas e quando volto encontro os dois com grama e terra da cabeça aos pés? O que ocorreu aqui? – a voz de ecoou pela sala, tirando um pouco meu foco da pessoa, que permanecia ainda com aquele semblante para mim.
- Pergunta para sua amiguinha bisbilhoteira aqui. Para mim, já deu. – girou os calcanhares, e em fortes passos, foi em direção a escada, bagunçando seu cabelo na tentativa de que a grama saísse.
- ? – me chamou.
- Longa história, depois te conto. – fiz menção de subir. Eu precisava de um belo banho, porém a mesma segurou um dos meus pulsos.
- Antes quero informar que amanhã de manhã, após a academia, você e terão uma reunião com o senhor Burtton. – ótimo, mais outro momento que teria aturar o traste.
- Amanhã tenho a reunião de elenco da série.
- Eu sei. Conversei com o Paul e ele disse que poderia mudar o horário. Não se preocupe, te acompanharei. – assenti com a cabeça, voltando ao meu rumo. Adeus final de semana e olá nova etapa da minha vida.



Capítulo 12


- Quarenta e nove... Cinquenta! – esparramei-me completamente sobre o chão gelado, absorvendo todo aquele frescor. Como eu desejava estar no polo norte.
– Descanso de dois minutos, depois mais uma sequência de cinquenta abdominais, e ai você vai para a esteira. – Marissa falava, cronometrando o tempo no relógio. E eu pensando que iria me livrar desta monstra que, a cada dia, ficava mais forte do que nunca. Não sei como tem roupa que caiba nela, de tanto músculo que a mesma tem, eu que não quero ficar assim. Deixa minha barriguinha sexy de fast food aqui.
- DOIS MINUTOS?! – gritei. – Você acha que eu sou o quê? É a primeira vez que entro em uma academia! – com seu sorriso debochado, a mesma se aproximou do meu rosto, fazendo com que eu recuasse um pouco assustada.
- Eu não ligo! Só estou fazendo o meu trabalho. – o trabalho de me matar, isso sim! – Agora vê se para de reclamar, ou se não, mando você finalizar com mais trinta abdominais. – se afastou e saiu rebolando, com aquele sorriso debochado. Urgh, que vontade de atacar aquela mulher com um dos saltos de . Não sei se acabo com ela primeiro ou com Meg, por me iludir. Ainda tinha fé de que um dia um Deus Grego da academia virasse meu instrutor. Soltei um pouco o cabelo, sacudindo-o e seguindo em direção a minha garrafa d’água, que se encontrava em uma mesa próxima. Bebi quase todo o conteúdo, enquanto checava meu celular. Nenhuma ligação ou mensagem. Ótimo.
- Bora, princesinha do Canadá, não tenho o dia todo. – ouvi a voz de Marissa ecoar pelo salão, o que me fez revirar instantaneamente os olhos e soltar um longo suspiro.
Minha mente se dividia em afastar meu sono e manter meu corpo vivo com os exercícios. Nunca pensei que “horário razoável” para seria quatro e meia da manhã.
Quando deu seis horas, comemorei internamente por ter acabado. Peguei minha bolsa e saí dali o mais rápido possível, sem ao menos avisar a Marissa.
Que se foda, eu não ligo!
O mesmo carro que me trouxe ainda continuava me esperando. Agradeci pela bondade do motorista por abrir a porta, e seguimos em direção ao meu novo lar.
Seis da manhã, eu poderia muito bem estar acordando agora.
Inveja dos que estão aproveitando muito bem suas camas.
Por sorte, Meg havia me dado uma copia das chaves da casa.
assistia a um jogo qualquer na TV, tomando em uma pequena xícara algo que supus ser café, pelo cheiro delicioso que se alastrou na casa. Fechei com cautela a porta, sem chamar sua atenção. Coloquei as chaves de volta em minha bolsa e fiz menção se subir, mas sua voz me fez parar ainda no pé da escada.
- Não tenho tempo e muito menos paciência para aturar demoras. Temos que estar lá as sete, então vê se adianta logo. – ele ainda mantinha sua concentração na TV enquanto levava a xícara até a boca.
- E por que você está aqui? Não preciso de guia turístico para me guiar nesta cidade.
- Não estou fazendo isso por você e sim pela minha irmã. Ela me pediu, então deixa de ser arrogante e vá adiantar seu lado. – respirei fundo, tentando manter a minha calma para não acabar de vez com esse garoto. Seu olhar agora estava sobre mim. Um leve movimento de negação foi feita com a cabeça enquanto retornava sua atenção para o jogo.
a cada dia ficava mais estranho.
Subi apressadamente, jogando todas as minhas coisas na cama e me deparando com um look extremamente novo para mim perdurado na porta do armário. Logo associei a Meg, ela que tinha a terrível mania de escolher as roupas que eu usaria em alguma reunião. Corri até o banheiro, tomando uma bela ducha fria, que fez toda a tensão da academia sumir. Fiz uma trança lateral em meu cabelo e peguei o conjunto de roupa. Uma blusa de manga um pouco longa, de um pano totalmente leve e fresco, com um decote em V, calça jeans e um salto não tão alto. Olhei para o relógio, que marcava seis e quarenta. Passei um rápido perfume, ajeitei meus olhos com um lápis de olho e desci.
- Pronto, senhor. Demorei? – nem se quer teve o trabalho de olhar para mim. Dali da cozinha, de costas viradas, ele seguiu em direção à porta, pegando um casaco jeans em cima do sofá. O acompanhei até seu carro, entramos e seguimos caminho até o local da reunião.
O elevador não demorou muito para chegar, assim que adentramos, ele apertou o botão para o décimo andar. Não gostava muito de locais quase nos últimos andares, tinha uma pequena fobia por lugares fechados, meus pés começavam a bater em um ritmo acelerado no piso. E, para piorar minha situação, estava me sentindo desconfortável com os olhares repentinos do meu colega de campanha. Para passar o tempo, comecei a chegar meu visual no espelho, porém senti um baque e o elevador parou. Ótimo, era só o que me faltava.
Olhei para trás e percebi que o motivo do ocorrido não foi nenhum problema com a cabine, e sim por ter apertado o botão para parar.
- Você reclama que não quer chegar atrasado, mas para o elevador! Garoto, você tem sérios problemas. – cruzei os braços.
- me perguntou hoje sobre você. – suas mãos estavam no bolso de sua calça jeans branca, e seu olhar se encontrava para o teto.
- O quê? Ela? – perguntei atônita. – O que ela perguntou?
- Se eu sabia onde você estava, se já estava ciente do ocorrido entre vocês...
- E o que você disse?
- Eu não sabia o que falar, e não estou nem um pouco a fim de me meter nessa confusão, então neguei, e perguntei o que havia acontecido, só que ela não me respondeu, inventou uma desculpa qualquer e desligou o telefone. – ele apertou novamente o botão e o elevador voltou a funcionar. – Não estou falando isso porque me preocupo com você, só achei que deveria saber.
- Obrigada. – sussurrei. A porta logo se abriu e ele saiu em disparada até a sala.
- Finalmente. – Meg esperava na porta do elevador. Seguimos até a uma porta de vidro, passando pelo enorme e luxuoso salão. Nem com o que eu ganharia seria capaz de montar um espaço como aquele. A enorme mesa de vidro com alguns executivos se localizava no centro. O local era iluminado por um esplêndido lustre de cristais. Alguns homens conversavam, outros tomavam café admirando a bela vista que tinham da janela. E que vista!
- May! – a voz de Ginna me fez despertar das minhas observações mentais. Fui recebida por um forte e consolador abraço. Já imaginava o que seria. – Meg me contou do que ocorreu. – sussurrou. – Olha, seu salário ainda sai esse mês, não sei quais suas prioridades, porém o valor dá para pagar uma boa casa perto de Malibu. – Malibu? Só sendo milionário para conseguir um imóvel lá!
- Obrigada, Ginna. Mas acho que Malibu está fora de cogitação por agora, e também estou conseguindo conviver com as manias de .
- Eu ouvi isso! – ouvi sua repreensão, fazendo com que Ginna e eu gargalhássemos. Quando senhor Burtton adentrou a sala, todos se sentaram nos seus respectivos lugares. Fui observando os nomes que se encontravam em cima da mesa na procura do meu. Ótimo, ao lado de , que lindo!
- Obrigada a todos que puderam comparecer hoje. – Ginna iniciou. – Meu pai e eu gostaríamos de parabenizar pela campanha. Conseguimos arrecadar quinze por cento a mais do que pensávamos. – aplausos e mais aplausos. – Com isso, um dos nossos colaborados na Europa estará inaugurando uma de suas lojas essa semana, e nos pediu encarecidamente para ter a presença dos nossos modelos. – arregalei os olhos por um momento. Europa?!
- Onde, na Europa, será a inauguração? – perguntou.
- Viena, vocês embarcam depois de amanhã e passarão três dias lá.
- Ginna, isso irá interferir nas gravações da série na qual participo? – perguntei, ouvindo a risada abafada e cínica de . Paciência, Macy, paciência.
- Entraremos em contato com os produtores, avisando do ocorrido. – respondeu.
Depois de mais ou menos uma hora, ouvindo como seria o evento, do quanto à empresa recardou... Fomos liberados. Estava em cima da hora para chegar ao estúdio de reunião da série.
É tanto compromisso que em breve minha mente explode de tanta coisa para lembrar. Quando cheguei ao local, faltavam apenas cinco minutos para às onze. Meg e eu saímos em disparada para o prédio e, novamente, outro elevador no décimo andar.
Todo o elenco principal já estava reunido em uma sala, com seus respectivos roteiros em mãos, lendo.
A pior parte de chegar tarde são os olhares que recebe. A única cadeira vaga era ao lado do Petter, que por sinal tinha meu nome em um papel.
- Ei, pensei que não viesse mais. – ele me recebeu, sorrindo.
- Trânsito, reuniões... Minha nova vida está começando bem agitada. – ele riu.
- Só espero que tenha um tempo para mim. – senti minhas bochechas corarem. Maldito sejam as pessoas que me fazem ficar envergonhada. – Estamos apenas lendo os roteiros, e breve vamos discutir sobre a cena, ai depois disso posso te levar para conhecer os sets, camarins, a equipe geral...
- Seria ótimo! – sorri, abrindo o papel que se encontrava em minha frente. Comecei a folhear primeiro, reparando no tanto de falas que tinha. Céus, como darei conta disso tudo? Gravar mínimas falas é uma coisa, agora quase um texto?
Não posso negar que o pessoal foi bem receptivo. O elenco principal era formado por cinco pessoas, incluindo Petter e eu. Assim que acabamos, descemos e fomos com um carrinho até alguns locais de gravação. Não passaríamos tanto tempo em um set fechado, as maiorias das cenas eram em cenários ao ar livre, porém com muita ação, e é nessa parte em que os dublês entram.

- Você vai se acostumar rápido, e lembre-se, assim que chegar, vá para o camarim. – estávamos andando em um dos corredores. Seu braço estava em volta do meu pescoço. Sua fragrância era extremamente boa, e o tornava a cada momento mais sedutor. Por que perfume masculino tem que ser tão bom? Tudo estava perfeito. Tinha uma viagem marcada para a Europa, uma série que já era sucesso internacional, um parceiro extremamente gato... E agora um parado em nossa frente para estragar a magia do dia. Ah, lembrei que o set dele ficava próximo ao nosso.
- Nem começaram as gravações e já estão no love? Isso que eu chamo de boa atuação, não é, Petter? – um sorriso cínico brotou de seus lábios enquanto mordia a maçã.
- Já te avisei que o Comedy Central está perdendo um humorista nato? – Petter respondeu.
- Já. Sempre te disse que suas atuações com as mulheres são as melhores, muitas vezes é até humorístico o modo como você as ilude. – ele rebateu. - , se não tem felicidade própria, não estraga a das pessoas. – falei, e ele deu de ombros.
- Tadinha, será mais outra da lista. – ele disse, negando com a cabeça. – Como é o roteiro mesmo, Petter? Conhece a menina, chama para sair... Já ocorreu isso contigo, May? – aquele garoto estava para provocações hoje, quer dizer, ele sempre está. A minha vontade era de dar um tapa em sua cara, por que não faço isso mesmo?
- Isso já não é da sua conta. – falei.
- Na verdade, já sim, vamos sair hoje à noite. – Petter disse com confiança, me abraçando forte pela cintura. – Estamos nos conhecendo melhor, . Porém, o que pode ou não ocorrer conosco, isso já não te pertence. – segurando em suas mãos, Petter me puxou corredor a fora. Por que, senhor, eu tenho que ter tantos pesos em minha vida?! Dois pesos exatamente iguais, que ainda por cima tem um relacionamento. Sinceramente, eu deveria ter sido uma pessoa insensível e totalmente ingrata no passado! Joga sal grosso pra ver se espanta os males!

~***~


Fechei o zíper do meu vestido, olhando-me no espelho novamente. Não tinha a mínima ideia aonde Petter iria me levar, isso fez com que eu experimentasse mais de dez pares de roupas, até me aquietar com um vestido mais solto e um casaco jeans preto, que havia ganhado de minha avó.
É por essas e outras que eu acabava odiando surpresas, principalmente quando se tratava de lugares. O que custava me contar logo, para eu ir correndo ao Google pesquisar sobre o local e que tipos de pessoas frequentavam ali? Não desejava passar vergonha, vai que seria em um local extremamente chique e eu acabasse indo como uma caipira? Ou se fosse um local simples e minhas roupas estivessem mais para um Oscar? Oscar é exagero, mas nunca se sabe.
Meg já havia se estressado e me mandado ir tomar naquele local umas dez vezes, por causa da minha indecisão.
TPM é foda!
A campainha tocou.
Ok, últimas checadas.
Maquiagem, ok.
Roupa, ok.
Cabelo... É, dá para o gasto.
Acessórios, ok.
Sapatos...
Puts, esqueci os sapatos!
Isso, Macy, acabe indo descalça mesmo para pensarem que é uma necessitada de calçados! Ouvi a voz de Petter ecoar no corredor, vindo da sala. Meu coração acelerou imediatamente, não quero o fazer esperar. Vasculhei em minhas coisas até achar um salto não muito alto.
Perdão, mas não sou para usar aqueles arranha-céus que ela chama de sapato.
- Perdão a demora. – falei, me aproximando dele, recebendo um abraço.
- Não precisa se preocupar, dizem que quando a mulher demora, é porque a ocasião é especial. – sorriu. Dei uma risada singela, entrelaçando meu braço no seu. - Isso, Petter. Leva logo antes que ela resolva trocar de roupa novamente. – Meg deu a voz, o fazendo gargalhar e me deixando totalmente corada. Lancei um olhar matador para a mesma, que riu.

Durante o percurso, Petter me fez diversas perguntas sobre mim. Não pude deixar de questionar algumas coisas sobre ele. Não sei qual a tamanha coragem que surgiu para perguntar em relação à rixa com .
- Ah, querida, isso são assuntos de longas datas. Tenho certeza de que irá te dar sono. – riu, prestando ainda a atenção no transito. – Porém. uma coisa eu te digo, tem uma incrível capacidade de mentir. Então nem vou lhe dar o favor de mandar ir perguntar a ele dos ocorridos.
- Mas então por que você não me conta?
- Porque não quero estragar nossa noite com esse assunto. – sorriu, olhando rapidamente para mim. Estacionamos rente a calçada e um homem bem vestido abriu a porta para mim. O agradeci, e logo ele seguiu em direção a Petter, que entregou as chaves do carro. Logo deduzir ser um manobrista. Olhei a enorme fachada rustica nomeado de The Little Door.
- Gosta de comida mediterrânea? – ouvi seu sussurro espanhol em meus ouvidos, arrepiando-me completamente.
- Tudo tem sua primeira vez. – pisquei e entramos. Sentamos em um espaço totalmente arejado, com um teto de vidro coberto por algumas raízes de plantas. Me sentia em meio a uma floresta, tendo apenas uma vela no centro na mesa como iluminação. Petter pediu um vinho e em seguida olhou para mim. Aprovei sua ideia com um sorriso e votei a olhar o cardápio.
- Sabe, quando te vi na audição, primeiro fiquei encantado com sua beleza, e logo depois com seu talento e confiança.
- Obrigada pelo elogio, mas, sinceramente, não sei de onde saiu tanta confiança.
- Nunca fez mesmo nenhum tipo de teatro?
- Só na escola, mas nenhum papel significativo.
- Nossa. Não aceitamos muitos atores com pouca coisa no currículo, mas você conseguiu impressionar mesmo a todos.
- Talvez tenha sido sorte. – coloquei o cardápio sobre a mesa.
- Ou talento. – sua mão se aproximou lentamente da minha, fazendo caricias. – É, acho que fico com a minha opção. – novamente ele exalou aquele sorriso com dentes extremamente brancos.
Quando o vinho chegou, brindamos pela série e principalmente pela nossa parceria nela.
Conversas, vinhos e comidas, parte da minha noite foi resumida a isso. Estava evitando ao máximo beber mais uma taça, não gostaria de ficar bêbeda em um restaurante daquele porte, mas acho que uma pessoa não se importou muito com isso quando interrompeu o meu jantar.
- E agora, senhoras e senhores, é a hora onde a mocinha beija o mocinho e vivem felizes para sempre! Pena, que o para sempre não existe! – com um tapa extremamente forte na mesa, começava a chamar a atenção de alguns casais. Mas que porra ele estava fazendo ali? E como ele descobriu que estaríamos aqui?
- Não era para você estar com neste exato momento? – perguntei, em um tom baixo.
- Era? – perguntou confuso.
- Era! – aumentei o tom. – Na verdade, não era para você estar aqui! Liga para sua namorada e dá o fora.
- Eu faço da minha vida o que bem entender!
- É, , sabemos disso, porém neste estado, era para você estar em casa ou em outro local, tendo sua namorada para te suportar. – Petter disse, e o repreendi com um olhar. Pelo amor de todos os Santos, não queria que ambos começassem uma discussão ali.
- Se está incomodado, se retire. – falou, um pouco embolado.
- Você que deve se retirar, e, por favor, de imediato, as pessoas estão olhando, não estou afim de ser capa de revista de fofoca. – falei, tirando suas mãos de cima da mesa.
- Você não quer ser atriz, sunshine? – ele se aproximou dos meus ouvidos. – Terá que conviver com olhares e atenções. Na verdade, é o que você mais ama, né? Atenções! – com os braços totalmente abertos, ele começou a falar alto.
- Porque você não se importou em me dar um belo chute no parque quando te conheci, não é? Chamando a atenção de todos que estavam ali e deixando-me totalmente desamparado! – que merda ele havia bebido? – Mas eu lembro, ! Eu lembro que, quando te conheci, percebia seus belos olhos para mim, me desejando totalmente! Ou quando você foi parar lá em...
- JÁ CHEGA, ! – levantei bruscamente da cadeira. Estava no meu limite, eu havia bebido uma boa quantidade de vinho, e sinceramente, ele não cooperou em nada para me deixar calma. Peguei minha taça, que ainda continha um pouco do líquido, e derramei nele, o calando imediatamente. Sem pensar duas vezes, senti o molho do macarrão que estava em meu prato na minha face. Olhei para baixo e vi a massa deslizando sobre meu vestido. Ah não, ele não havia feito isso.
Creio que se eu estivesse “normal”, minhas atitudes seriam muito bem repensadas, porém eu havia bebido, e o álcool em minhas veias foi um dos responsáveis pelos meus atos, que no dia seguinte tinha a certeza de que um enorme arrependimento cairia sobre mim.
Peguei a torta que Petter estava comendo, e quando fiz menção de jogar, algo me interrompeu.
- Olha só o nível que você chegou, sunshine. – segurava fortemente em meus pulsos.
Sabe quando finalmente você cai em si e vê a burrada que fez? A última coisa que fiz foi deixar uma bela marca de minha mão no rosto dele, jogar a torta em sua face, pegar minha bolsa e sair correndo, sem olhar na cara de ninguém, muito menos de Petter.

~***~


– Barraco no restaurante! Sério?! – Meg gritava. – Pior, agiram feito duas crianças e jogaram comida um no outro! No The Little Door, o restaurante bem mais falado da cidade! Vocês estão malucos?! Querem acabar com a porra da reputação de vocês? – seu olhar transmitia a total fúria, sentia que a qualquer momento ela poderia avançar sobre nós e nos estapear até a morte.
- Ninguém me... – tentei falar, mas acabei sendo interrompida.
- Não te conhece? ! Já foi informado em todos os sites de fofocas que você é a nova atriz de uma das séries bem mais falada do país! Você é irmã da queridinha da América e ainda por cima está em uma campanha com um dos astros teen bem mais conhecido mundialmente! COMO ASSIM NÃO TE CONHECEM?! – jamais havia visto aquele ódio dela. Suas mãos passeavam loucamente em seus cabelos e seus pés não paravam nenhum segundo. O seu andar descompassado já estava me dando agonia. mantinha uma de suas mãos no rosto, tentando tirar parte do glacê.
- Meg, logo isso vai ser esquecido. – ele falou na mais pura calma. Agora ele estava pacato!
- Esquecido? Logo isso vai estar nos jornais, revistas, na TV, no mundo inteiro! – ela pegou o celular. – Sabe como será minha noite? Subornando diversos tabloides para não publicar a merda que fizeram! – permanecemos em silêncio. – , vou acabar te colocando em uma aula de Yoga, para controlar esses seus ataques, e , ficar bêbado por ciúmes? Você me disse que iria ver !
- Eu não estou com a porra do ciúmes. – ele rebateu. – E sim, eu fui, só que depois resolvi ir a um bar, não posso?
- Não! – berrou. – Chega, eu vou dormir, amanhã vejo como ajeitar isso, se é que tem solução. E vê se não se matam, pelo amor de Deus! – com suas mãos em forma de punho esmagando o pobre do celular, ela subiu as escadas, fazendo um estrondoso barulho quando fechou a porta.
Estava começando a ficar enjoada com o cheiro forte de macarrão misturado ao meu perfume.
foi até sua pequena adega, que ficava na sala, retirando uma garrafa de vinho e enchendo até a boca da taça. Sentou-se no sofá e bebeu de vez.
- Não acha que já bebeu demais, não?
- Não acha que já se meteu demais em minha vida, não? – novamente ele encheu a taça e tomou mais outro gole.
- Você que se meteu na minha, garoto! O idiota aqui foi você.
- Foda-se.
- Foda-se? Você acaba com um dia especial para mim, me envergonha na frente de milhares de pessoas e depois fala “foda-se”?
- Dia especial, hum? – ouvi aquela risada sarcástica. – E para fechar a noite seria o que, uma ida para a cama dele? Ouvindo aquele sotaque ridículo espanhol te...
- Cala a boca. – rangi.
- E se eu não calar? – se aproximou, desafiando-me. Ergui minha mão direita, mostrando-o a palma dela. - Faça-me o favor, . Você só sabe dar tapas na cara? Que golpe baixo! – gargalhou. Queria gritar, chorar, fugir, a merda que fosse, na verdade, meu desejo era acabar de vez com ele, mas no fundo sabia que sua mente estava puro álcool.
- Agora vejo que Petter...
- FODA-SE PETTER! – ele gritou, me assustando um pouco e deixando a taça sobre a mesa com força. – VOCÊ SÓ SABE FALAR DELE, COMO SE FOSSE UM PRÍNCIPE! NA PRIMEIRA CHANCE JÁ SAIU EM UM JANTAR ROMÂNTICO, E PARA FECHAR A NOITE, UMA IDA A CASA DELE! VOCÊ MAL O CONHECE!
- VOCÊ É MALUCO OU SE FAZ DE UM? ALI NUNCA FOI UM JANTAR ROMÂNTICO, APENAS UMA SAÍDA PARA NOS CONHECERMOS MELHOR!
- VELAS, SUSSURROS, RESTAURANTE CARO, FAÇA-ME O FAVOR, SE ISSO NÃO FOR UM ENCONTRO, ESTOU TENDO QUE MUDAR MEUS HÁBITOS DE CONQUISTAR UMA MULHER!
- QUE BOM QUE TIROU A SUA PRÓPRIA CONCLUSÃO, E QUER SABER DE UMA? NÃO TE DEVO SATISFAÇÕES! – girei os calcanhares e fui em direção à escada, porém antes mesmo de chegar nela, senti algo prender meu braço, impedindo-me de caminhar. No mesmo momento, com um impulso, meu corpo virou para trás, colando com o dele, fazendo com que nossas respirações ficassem bem próximas. A mão livre estava firme em minha cintura, e seu olhar cansado parado em minha boca.
Não sei se foi a boa quantidade de vinho ou o êxtase de seu forte perfume madeirado, mas em mim, não existam mais forças para me soltar dele. Estava o esperando jogar na minha cara as mesmas palavras que já estava cansada de ouvir, mas, para minha surpresa, a única coisa que senti foi seus lábios quentes nos meus, com o gosto forte do vinho e um doce diferente do glacê.
Era como se algo me impulsionasse a beijá-lo mais, não posso negar que seu beijo era um dos mais viciantes que havia sentido. Enrosquei meus braços sujos de molho em seu pescoço.
Nosso beijo se intensificava a cada momento, ainda sentia o forte cheiro do seu perfume misturado com o vinho.
Céus, o que eu estava fazendo?!
As mãos, que antes estavam acariciando seu cabelo, agora estavam sobre seu peitoral, na tentativa de afastá-lo. Assim que consegui, olhei incrédula para sua face, que agora continha um pouco de batom vermelho nos lábios. O mesmo parecia estar em um estado de choque, ou sei lá o que. Em um piscar de olhos, o vi subindo rapidamente as escadas e logo em seguida um baque de porta.
O que havia ocorrido aqui?

~***~


A cena ainda não saia da minha cabeça. Nem sei se consegui dormir ou não, mas sentia meus olhos pesados, por sorte não havia ficado de ressaca. Eu precisava de uma satisfação.
Levantei-me rapidamente da cama e segui corredor a fora. A porta estava encostada. Com os braços cruzados, parei em sua frente enquanto ele dormia. O encarei por alguns minutos, até perceber seu olhar assustado em mim, o despertando imediatamente, e quase caindo da cama.
- Porra, isso são modos de acordar uma pessoa? – colocou sua mão direita sobre seu peito, acalmando a respiração.
- Por que você fez aquilo noite passada? – fui direto ao ponto. Estava nem ai se quase o fiz morrer do caroção, queria saber a verdade, depois disso ele poderia partir.
- Aquilo o quê? – perguntou atônito. - Ah, vai dizer que o bonitinho teve um problema de amnesia agora!
- , olha, se eu realmente soubesse, te falaria, mas não faço a mínima ideia do que esteja falando.
- Por que você me beijou?
- Então não foi um sonho?
- Está mais para um pesadelo!
- Vai dizer que não gostou?
- Eu... – abri e fechei diversas vezes a boca, enquanto ele me olhava maliciosamente. Sério, palavras? Cadê vocês nesse momento? – Não! Foi errado, é como se eu traísse minha irmã e...
- Uma irmã que ficou com todos os seus ex, ou atuais... – sentou-se na cama, abraçando seus joelhos. Soltei um forte suspiro. Ele estava certo, já fez coisa pior, mas isso não era motivo do ocorrido ontem. – Olha, estávamos bêbados ontem à noite, então...
- Você né, porque eu...
- Estava também! Se não estivesse, nem chegar perto da sua boca eu conseguiria, de tanto tapa que eu receberia, a não ser que...
- Que o quê? – perguntei rapidamente. Ele gargalhou, olhando para a janela, e balançando a cabeça. – Que eu o quê, infeliz?
- Que você permitiu, sunshine. – finalizou com um sorriso.
- O quê? Eu não permiti nada! – deu de ombros. – Ninguém pode saber do ocorrido de ontem, ok?
- Pode deixar, mas antes... – ele se levantou, parando em minha frente, muito próximo, por sinal. – Corte suas unhas, para não acabar deixando novamente marcas em meu pescoço. – apontou para o local, que continha alguns traços roxos. Eu fiz isso? Olhei para minhas unhas e realmente, elas estavam enormes. Quando olhai para a frente, ele não estava mais ali. – Ah, . – parou em frente à porta do banheiro. – Sabia que Viena é considerada a irmã mais jovem de Paris? Um belo local romântico, não acha? – revirei os olhos, saindo do quarto e fechando à porta fortemente. Cheguei à ponta da escada, e reparei que Meg andava de um lado para o outro, falando ao telefone. Reclamações, ai vamos nós.
- Ok, obrigada! – desligou. – Agradeçam aos céus pela sorte que tiveram! – ela disse. – Consegui ligar para dono do restaurante e ele me confirmou de que não havia nenhum paparazzi lá, e que caso alguém venha a perguntar, irão desmentir o ocorrido.
- Fácil, não? – falei, colocando um pouco de suco no copo, e me encostando à bancada que dava para à cozinha.
- Fácil? , isso me custou vinte mil dólares! – engasguei-me um pouco com a quantia dita. Wow, não sabia que subornos saiam tão caros. – Da próxima vez que isso ocorrer, irei deixar vocês dois resolveram! - Por favor, não me traga mais problemas. – suspirei. Em seguida, ouvimos um barulho estrondoso vir da ponta de entrada, como se alguém estivesse a esmurrando. Logo entrou feito uma maníaca atrás de sua vítima. Graças à parede que cobria um pouco a porta da sala de jantar, tive tempo de me jogar atrás do balcão que ligava a cozinha.
- Cadê ele?! – ordenava.
- Provavelmente tomando banho. – Meg disse, calma. – Algum problema, senhora?
- Não me venha com senhora! – disse ríspida. – Como assim ele vai para Viena com sem noção da minha irmã? Desde quando Viena recebe pessoas sem classe?
- Trabalhos. Ambos são modelos da mesma campanha. – Meg mantinha sua calma.
- Tô nem ai! Já percebeu o quanto ambos estão sempre juntos agora? E a minha imagem? Como fica?
- , por que ao em vez de se preocupar tanto com sua irmã, e depender do para sua imagem, você não se preocupa com si mesma? – cheguei a ponta do balcão tentando ver o que estava ocorrendo, mas logo recuei, quando olhou rapidamente para a cozinha.
- Eu não dependo de ninguém! Se não sabe, eu sou namorada dele, então tenho direitos de acompanhá-los.
- Disse certo, é namorada, e não cão de guarda! – rosnou. Segurei o riso. Por que não havia conhecido antes?
- Eu preciso de água. – ouvi seus passos se aproximando. Pronto, agora é a hora da minha morte, porém sem sustos e sim por um salto agulha de um tamanho incalculável. - Não! – Meg gritou. – A geladeira está quebrada... Por que você não senta aqui, enquanto meu irmão não desce? Eu pego para você. – me aliviei com suas palavras. Assim que adentrou a cozinha, a puxei para baixo.
- Tira ela daqui. – sussurrei.
- Como?
- Sei lá, se vira! Manda logo seu irmão descer!
- Nem sei o que está fazendo lá em cima! Mas darei um jeito. – logo ela saiu, levando consigo um copo d’água.
- ? O que faz aqui? – ouvi a voz de . Isso, expulsa ela daqui. Encostei-me novamente na ponta do balcão para ver. Minha irmã estava sentada no sofá e em sua frente, ajeitando a gola da camisa Pollo. estava um pouco mais próxima da cozinha, o que me passou um pouco de segurança.
- Viena? Com a idiota da minha irmã? Sério?!
- , é trabalho. Infelizmente ela foi chamada, não posso fazer nada. – infelizmente? O idiota me beija e ainda diz infelizmente?!
- Pode sim! Eu posso ir com vocês!
- Não! Isso iria atrasar mais a série. – ele se aproximou dela. – É melhor você ficar aqui, só serão alguns dias.
- Quantos dias? E quando vocês viajam?
- Amanhã pela...
- Hoje à noite. – o interrompeu, e arregalei os olhos. Hoje? – Desculpa, , mas tivemos que antecipar a ida de vocês para que cheguem na hora prevista.
- Tudo bem. – ele disse. – Então...
- Olha aqui, . – se levantou, ficando cara a cara com ele, e apontando o dedo em sua direção. – Eu não quero ser taxada como chifrada ou traída!
- com medo da irmã? Cadê a segurança? – falou com sarcasmo.
- Vindo de você, não existe! – ouvi o baque dos seus saltos no chão. Céus, pra que andar com uma arma mortal nos pés? – Se eu souber de algo, faço da vida de vocês um inferno! – mais do que já faz? Impossível! – Falando nisso, cadê ela, hein? Queria visitá-la. – sua voz expressava um pouco de nervosismo.
- A expulsou e agora quer dar de uma irmã preocupada? Me poupe, ! – disse, cruzando os braços.
- Só quero resolver algumas coisas com ela, não posso? – questionou.
- Não! Agora, se me der licença, tenho que terminar umas coisas. Vazem, os dois!
- Antes vou pegar uma maça para ir comendo. – ele disse, vindo em direção a cozinha. Assim que ele adentrou, seu olhar veio parar em mim, e com uma risada debochada de sempre, seguiu em direção ao cesto de frutas, pegando o que queria e saindo. Quando ouvi a porta se fechar, levantei-me imediatamente.
- O que ela quer comigo? – perguntei.
- Não sei, mas acho que é algo importante.



Capítulo 13


- Cause baby, now we've got bad blood, you know it used to be mad love – mantinha meus olhos ainda fechados, porém com uma pequena parte da minha consciência ainda acordada, tentava descobrir de onde vinha aquela canção. – So take a look what you've done, cause baby now we've got bad blood, HEY! – em sua última palavra, me despertei rapidamente com meu coração palpitando do pequeno susto que havia tomado. Girei meu corpo para o lado oposto, vendo se animar com a música que estava ouvindo. Sua mão estava posicionada perto da boca, como se segurasse um microfone enquanto a outra fazia leves movimentos no ar. O encarei por alguns segundo até o mesmo perceber o meu olhar para si. Juro que ainda tento descobrir a masculinidade neste garoto. – Que foi? – perguntou-me, retirando seus fones de ouvido e me olhando com um semblante questionador.
- Nada, só estou vendo sua animação toda cantando Bad Blood. – respondi. – Então, o nome dela já entrou para sua lista ou está difícil?
- Não sou obrigado a lhe dar nenhuma resposta, mas em todo caso, eu ainda não tive uma chance com ela. – respondeu, colocando novamente os fones.
- Ah, claro. Ela é uma das minhas, é só ver sua cara que já sai correndo.
- A diferença é que você está na minha lista, sunshine, ela não. Ou já se esqueceu do nosso beijo?
- Realmente, havia esquecido, mas sempre há pessoas que fazem de tudo para o pesadelo voltar na mente, não é? – questionei, virando-me para o outro lado.
As vantagens de viajar em primeira classe são: assentos super confortáveis, que permitem reclinar quase virando uma cama; a comida, que é de ótima qualidade; os filmes; e, o melhor, entre minha poltrona e a de é possível acionar uma mini divisória, que no momento estava desativada. – Ei, o chamei. Fecha a cortina da janelinha, por favor.
- Estou apreciando a vista, não está vendo?
- Você estava se sentindo a Taylor Swift e não apreciando a vista.
- Mas agora estou. – tornou a olhar pela janela. Argh, mas irritante, impossível. Esse é um dos motivos na qual odeio sentar próxima ao corredor. É um trânsito de aeromoças infelizes, parece que um Brad Pitt da vida está em algum lugar neste avião, porque toda hora uma passa do meu lado. A outra é que não se pode mais dormir tranquilamente, já que seu companheiro nem cavalheiro é!
- , eu estou querendo dormir! Será que poderia voltar para seu show particular e fechar a porra da cortina?!
- Foda-se, já é de manhã.
- Eu tenho a liberdade de dormir a hora que quiser, beleza?
- Se está te incomodando tanto, vira para o outro lado e dorme. Ah, mas esqueci do quanto você ama ver minha imagem ao acordar.
- Claro, para me lembrar do quanto idiota você é. – liguei a mini TV que tinha no encosto da poltrona da frente. – Pelo amor de Deus, quando iremos chegar? Não aguento mais dividir o mesmo ambiente que você. – ele deu de ombros. Notei que ainda estávamos passando pela Alemanha, ótimo, pelo menos agora são poucas horas. Quando a aeromoça deu o comando para que voltássemos as nossas posições, pois o avião iria pousar, comemorei internamente. Viva, terra firme! Tivemos que ser escoltados por alguns seguranças até outra área de saída, já que nos informaram que o saguão estava lotado de fans, provavelmente sonhando em ver o . Enquanto umas sonham em estar do lado dele, eu sonho em me afastar. Porém nossa tentativa foi em vão, quando um grupo histérico de fãs nos avistaram. No momento, a única coisa que pensei foi em correr quando vi aquela multidão se aproximar, mas logo uma barreira de seguranças se formou em nossa volta. As meninas tentavam a qualquer custo ultrapassar aqueles homens enormes.
- Greg, deixa comigo, acho que tenho tempo para uns autógrafos, não? – disse, se aproximando e pegando um bloco de notas de uma fã, que começou a chorar no momento. Abraços, fotos, autógrafos enquanto ele fazia tudo isso, fiquei imaginando se comigo um dia ocorreria isso. Não que eu desejasse, como disse, jamais suportei a fama e não quero ser daqueles artistas que mal pisam o pé do lado de fora e já te mais de mil flashes voltado sobre você, ou uma manada enorme de fãs te impedindo de ir a algum lugar. Elas choravam, gritavam, se tremiam toda quando se aproximava, meu Deus, que amor.
No mesmo instante, senti duas cutucadas em meu braço, fazendo-me virar rapidamente.
- Elas querem falar contigo. – o segurança mais magro falou. Olhei sobre seus ombros e vi um mini grupinho de cinco garotas apertando contra si um bloco de notas, e algumas com uma câmera em mãos. Aproximei-me devagar, enquanto percebia o brilho nos seus olhares.
- Pois não? – tentei ser a mais simpática possível.
- Você é , certo? – a loirinha perguntou. Assenti com a cabeça. – Podemos ter seu autógrafo? Somos fãs de Dancing with the Night e estamos ansiosas para te ver atuando ao lado de Petter. – ouvi os suspiros tomarem conta daquela conversa quando ela citou Petter. Ainda não estava acreditando que aquelas cinco meninas queriam meu autógrafo!
- Claro. – pedi o bloquinho que estava em suas mãos, e escrevi meu nome com um pequeno recado. Não sabia como dar autógrafo, mal tinha criado um. – E obrigada pelo apoio, prometo não decepcionar vocês. – sorri.
- Espero, e toma cuidado, porque o Petter é nosso, mesmo que façam um belo casal. – a morena falou, me fazendo rir e corar um pouco.
- Pode deixar, avisarei ao Petter sobre a prioridade. – elas riram. Assim que acabei de assinar malucamente os blocos e tirar algumas fotos, percebi que já havia terminado sua sessão e se encontrava me olhando discretamente enquanto mexia no celular. – Podemos ir? – o perguntei. Seguimos em direção à saída, afastando algumas fãs que queriam de algum modo algo mais daquele ser.
- Mal começa a série e já tem pessoas te querendo com o Petter? – ele perguntou cinicamente.
- O que posso fazer se realmente combinamos? – o questionei.
- Parabéns? Só se lembre do que te disse em relação a ele. – adentramos no carro e seguimos rumo ao hotel, sem ao menos dizer uma palavra durante o trajeto. A equipe havia alugado o quarto andar daquele maravilhoso hotel, por sorte cada um tinha seu devido quarto. Me joguei na cama, sentindo aquela maciez do colchão, belo sonhos ai vou eu! Mal tive tempo de aproveitar aquele momento quando senti meu celular vibrar.

“Sabe a inveja? Então, estou sentindo isso nesse exato momento por não estar ai. Maldita seja essa reunião! Curta Viena por mim, cuide do meu irmão e, pelo amor de Deus, não se matem! Transportar corpo de um país para o outro custa caro! Beijos, .”


Curta Viena por mim. Realmente, eu estava em Viena, sem ao meu lado, com um quarto maravilhoso e totalmente pago pela equipe, poderia fazer o que bem entender. Até que vida de famosa não é tão mal, quer dizer, vida de quase famosa.

Não o tempo que dormir, provavelmente um cochilo de uma hora ou meia hora. O relógio marcava duas da tarde. Meu Deus, havia perdido a hora do almoço, mas aquela cama estava tão boa, que passar do horário valeu a pena. Espreguicei-me, rolando mais na cama e sentindo aquela maciez do colchão. Eu precisava de um desses em meu quarto. Pena que só pude apreciar tudo aquilo por pouco tempo, até alguém bater na porta. Não acredito, porque logo em momentos especiais as pessoas insistem em interromper. Levantei-me totalmente indisposta, indo em direção a bendita porta.
- Já vai. – gritei ao ouvir novamente as batidas. E ainda tem que ser apressado. – Pois nã... Ah, é você. – meu animo só piorou quando percebi se tratava de . – O que você quer?
- Nossa, venho aqui te chamar para almoçar e é assim que me responde? – perguntou, fingindo ter se ofendido.
- Posso almoçar com o pessoal.
- Se eles não tivessem almoçado...
- Você não foi? – cruzei os braços, encarando-o.
- Acho que tivemos a mesma ideia de aproveitar mais a cama. – sorriu, erguendo as sobrancelhas. – Qual é, . Não entendo essa repulsa toda de ir almoçar comigo.
- Não é repulsa, é que... – travei. Não sabia o que era, simplesmente não conseguia me ver saindo de boas com ele, temos um histórico de ódio, sem amor.
- É o que? – sorriu mais ainda, sem mostrar os dentes. – Você não consegue ficar muito tempo perto de mim, Sunshine? – ele se aproximava lentamente. – Acho que aquele beijo deve ter despertado algo em você, não acha?
- Não! – falei com firmeza. – E eu aceito ir almoçar com você.

Não andamos muito até acharmos um restaurante mais próximo. De acordo com , foi um risco não termos optado por um táxi, mas qual é, estamos em Viena, um local tão calmo e tranquilo, tínhamos que andar por lá, quer dizer, eu tinha. O restaurante ficava em uma esquina para a principal. O local era bem aconchegante e simples.
- Duas taças de vinho, por favor. – pediu ao garçom, o que me fez olhá-lo por cima dos óculos escuros.
- Duas taças? Quer ficar bêbado novamente e dar vexame? Porque se for isso, me avisa.
- Qual a parte do esquece esse dia você não compreendeu? – falou impaciente. – E uma taça é para você.
- E se eu não quiser vinho?
- Ai você estará sendo chata e irritante, coisa que você já é. – respirei fundo, contando novamente até dez. Soltei o ar dos pulmões, pegando novamente o cardápio e deixando um silêncio entre nós. – Sabe... Estive pensando. – agora terei que bancar a psicóloga. – Ainda dá tempo de desistir disso tudo e voltar a sua vida pacata em Vancouver. Com seus pais, sua faculdade de sei lá do que...
- Por que pensou nisso?
- Você não terá capacidade de suportar a fama, . É muita pressão, é muito escândalo. Uma hora irão te subornar, te impor a fazer coisas que não deseja.
- Como você não desejou namorar minha irmã? – ele se recostou na cadeira, alisando levemente seu queixo. – Eu sei o que fazer da minha vida, ok? E não irei desistir, vou provar a que posso fazer isso. Já chega de ser inferior a ela.
- Você está fazendo isso por você, por ou porque não quer desapontar seu novo amor?
- Os três, quem sabe... – debrucei-me sobre a mesa, o encarando mais de perto. – Por que se incomoda tanto com o Petter? O que ocorreu para esse ódio reciproco?
- Pergunta a ele, Sunshine. Se o mauricinho tem a capacidade de lhe dar as mil maravilhas, terá a capacidade de lhe dar uma resposta. – voltei à posição normal. Ele não iria falar, não ia mesmo. A não ser que estivesse fora de si, ou bêbado.

Finalmente o dia da inauguração havia chegado. Estava ansiosa por participar de algo tão novo e sem minha irmã por perto. Meu quarto havia se tornado o maior caos depois das onze. Havia sapatos espalhados, roupas pelo chão, pratos de comida por todo lado, tudo isso porque os maquiadores, cabeleireiro e estilista resolveram vir tudo na mesma hora e antes do almoço me arrumar, já que o evento iniciava às três da tarde. Nunca tinha visto meu olho tão marcado quanto estava, o preto esfumado junto com um azul escuro fizeram uma ótima combinação. Era raro usar batom vermelho, mas esse me caiu super bem. Meu cabelo estava totalmente solto e ondulado, e a roupa, céus, jamais conseguiria ter algo daquele tipo. É claro que tive que vestir algo da coleção, por sorte não seria aqueles longos e calorentos vestidos. O lançamento seria algo totalmente casual, quer dizer, chique para mim e casual para quem está acostumado a lidar com tudo aquilo.
- , o carro já chegou. – Rony, um dos maquiadores, me avisou. – Está na hora de mostrar esse brilho ao mundo, baby.
- Não exagera. – ri. – Fama não é meu forte. – agradeci imensamente pelo trabalho fabuloso que todos fizeram. Acabei encontrando no elevador. Sua postura estava completamente diferente, mal o reconheci. Jurava que se não o conhecesse tão bem, acharia que era um homem de negócios. Seguimos em silêncio até o carro, onde ele educadamente abriu a porta para mim. Estranhei o fato dessa gentileza toda. Será que havia algum paparazzi por perto?
A rua principal, onde ficava a loja, teve que ser fechada para suportar o tanto de repórteres que havia lá. Os organizadores haviam montado, no pequeno beco ao lado, uma pequena tenda para ser a nossa passagem até a frente do local.
- Ok, quando o senhor Lawton terminar de falar, vocês entram. – Suzie, uma das organizadoras, falava. – Acenem, sorriam, cumprimentem o senhor Lawton. O resto vocês já sabem. – assentimos. Ok, , respira. É só sorrir e acenar, sorrir e acenar, nada de ruim pode ocorrer.
- Nervosa? – perguntou.
- Não. – menti, estralando os dedos. – Não deve ser difícil encarar uma multidão com câmeras te filmando a cada segundo, registrando cada momento e muitos implorando para que algo constrangedor ocorra. - Antes mesmo de responder, Suzie nos indicou que estava perto da hora. Ajeitei a postura e assim que ouvimos o dono terminar sua frase, saímos do local, recebendo mais flashes em nossa cara e gritos histéricos de alguns fãs de . Caminhamos até Paul, como Suzie sugeriu, os cumprimentamos e paramos ao seu lado. Um carinha entregou um microfone para cada.
- Queria agradecer a presença de vocês aqui. Dois modelos super talentosos, é difícil de encontrar um espaço na agenda. – Paul disse. Ah, bem difícil mesmo, tenho uma agenda bem apertada para assistir séries e filmes.
- Obrigado ao senhor por nos convidar. e eu estamos felizes por presenciar esse momento. – ele olhou para mim, estampando um sorriso.
- É algo novo para mim, mas esperamos que gostem do resultado. – falei no automático. Nos aproximamos do laço e Paul entregou a a tesoura.
- Vem. – ele me chamou.
- Só tem uma tesoura, você corta. – sussurrei. Rapidamente ele puxou minha mão, a posicionando por cima da sua e me olhando pelo canto do olho. Ai meu Deus, que nenhum paparazzi resolva inventar algo entre nós, amém. Cortamos o laço e os aplausos aumentaram. Logo um garçom veio com três taças de champanhe, nos entregamos para fazer o brinde.
A loja estava deslumbrante e havia fotos nossas para todo lado. Vendo assim, me senti meio envergonhada por estar tão exposta e principalmente com nelas. Nunca pensei em ser modelo, odiava tirar fotos. Era uma luta para minha mãe fazer um álbum de fotografia da família. Foram praticamente três horas atendendo alguns fãs de , entrevistadores, posando para fotos e sorrindo, sempre sorrindo.
Meus pés já estavam latejando de tanta dor, saltos são uma praga para as mulheres, nos matamos para estar elegantes enquanto os homens usam roupas totalmente confortáveis e sapatos que os permitem ficarem sustentados no chão.
Queria muito tirá-los, já começava a imaginar o alívio ao sentir o chão gélido, mas infelizmente aquilo ficaria só pela vontade, ainda tínhamos uma festa para ir e sabe lá que horas terminaria.
O lugar não ficava muito longe, era um pequeno e luxuoso pub, que ficava a poucos quilômetros do nosso hotel. Não conhecia praticamente ninguém, quer dizer, não conhecia ninguém mesmo, somente e olhe lá. Já estava fazendo planos para a noite com a minha solidão. Subimos até uma área vip, onde não estava tão lotada quanto à pista. O bom era que não precisaríamos descer para pegar bebida, havia um bar disponível naquele andar.
Assim que cheguei, o primeiro lugar que tratei de ir foi até o sofá. Estiquei minhas pernas, me sentindo um pouco do alivio.
- Dor? – perguntou.
- É o que mais sinto. Não vai curtir a festa? Pegar garotas, chifrar minha irmã?
- E você? Não vai fazer sua despedida de solteira antes de aceitar o pedido de Petter? – ele disse, cruzando os braços e me lançando um olhar desafiador.
- Por que se incomoda tanto comigo e ele?
- Desde quando isso virou um jogo de perguntas? – já estava me estressando. Por que ele não fala logo o que queria? Dói menos do que dar voltas e voltas. Sei que não tinha haver com o que ocorreu entre eles, mas a curiosidade falava mais alto. Eles não se viam tanto, quer dizer, eu acho. Mas nunca soube de um projeto em que ambos estavam. Sempre participaram de séries separadas, e que, por sinal, rivais, mas isso não era motivo para ter tanto ódio. não ia dar o braço a torcer, principalmente Petter. Porém entre eles o mais fácil de deixar escapar algo seria...
- , quer alguma bebida? – perguntei finalizando com um sorriso. Ele me encarou assustado, claro que olharia, só espero que ele não perceba a minha arte manha.
- Não estou afim. – respondeu desconfiado. Ok, preciso convencê-lo. Ele tem que ficar mais alegrinho.
- Ah, qual é. Prometo não te perguntar mais nada sobre esse assunto, só quero curtir essa noite diferente para mim. – ele semicerrou os olhos, cruzando os braços.
- Por que essa boa vontade agora?
- Lembrei-me de algumas coisas que você já fez para mim. – levantei-me, indo em sua direção. – Nada melhor do que retribuir, né? – apoiei minhas mãos em seus ombros, dando uma leve massagem. Aproximei meus lábios de seus ouvidos e disse em um leve sussurro. – Volto já.
Acho que a curiosidade estava tendo um efeito de puro álcool em mim. Céus, sério mesmo que havia feito isso? Quando me aproximei, acabei lembrando que não falava nem alemão e nenhuma outra língua local. Merda! Maldita hora que o tradutor não estava aqui e... Isso, tradutor! Peguei meu celular e digitei. Acenei para o barman, que veio de imediato.
- Duas Sex on the Beach, por favor. – apertei o play. O rapaz riu. Aquilo era constrangedor.
- Não precisa disso, eu sei falar sua língua. – fiquei aliviada com aquela informação.
- Pelo menos alguém. – rimos.
- Vou fazer seu pedido. – falou, dando uma piscada. Eu hein. Apoiei meus cotovelos sobre a mesa, ficando de frente para o salão. O local estava bem agitado, a música tocava super alta e as luzes não paravam a nenhum momento. Por mais que eu tenha passado por alguns momentos desagradáveis, até que essa nova vida estava me agradando.
Festas, pessoas novas, viagens e, o melhor de tudo é que não pagamos nada. É, estava começando a gostar. Voltei meu olhar para o balcão, onde o carinha preparava a bebida de acordo com o ritmo da música.
- Ah, qual é, só isso de Vodka?
- É o que a bebida manda, gata. – ele me respondeu, fazendo o malabarismo com o copo.
- Bem, sempre aprendi que não devemos seguir a receita ao pé da letra. – debrucei-me sobre o balcão. – Acho que você deveria seguir meu conselho, a bebida fica bem melhor fora do padrão. Eu sei que você quer me ouvir, então para não complicar para o seu lado, só ponha em um.
- Que esse seja o nosso segredo.
- E será. – piquei, voltando minha atenção para o salão.
– Aqui está, linda moça. – o garçom falou.
- Muito obrigada...
- Chad.
- Chad! Você me verá muito aqui, e use o nosso segredo em todas as minhas bebidas. – as peguei, e fiz menção de sair.
- Pera, não sei seu nome. – ele falou. O olhei por cima dos ombros.
- Pode me chamar de . – respirei fundo e segui meu caminho. Ainda estava atônita do que eu havia feito e, pior, do que iria fazer. Eu precisava fazer isso. – Aqui está. – entreguei o copo a , que pegou, inseguro.
- Obrigado.
- De nada. – e assim foram. Uma bebida, duas bebidas... Eu precisava deixa-lo naquele estado alegre, onde as palavras sairiam facilmente. Não sei quantas bebidas havia levado até ele, mas já começava a ver alguns efeitos. Ok, eu tinha que continuar com aquilo. – Então, . Você não gosta muito do Petter, né?
- Eu não gosto dele, eu o odeio, e muito. – suas palavras saiam um pouco arrastadas.
- Por quê? Ele parece ser tão legal.
- Porque é muito legal rou... – ele parou.
- Rou...? – insisti, mas ele não respondeu. Seu olhar estava parado em um ponto no ar. Já estava com medo. Será que a bebida fez mal a ele? – , ! – o sacudi, mas nada. Ele ainda continuava parado. Já estava me preparando para chamar alguém, quando uma risada forte me fez virar rapidamente. Sua mão estava na barriga, enquanto ele continuava a rir. – Qual é a graça?
- Que graça? – ergueu-se, recuperando o folego.
- Você é maluco? , o que deu em você? – voltou a rir, só que dessa vez menos do que a última. Eu precisava levá-lo para o hotel. Pior que não havia nem , nem Ginna para me ajudar nesta situação. Céus, como faz para recuperar um bêbado? – Ok, , vamos para o hotel.
- Não, eu quero ficar, quero beijar, a começar por você. – suas mãos passeavam levemente em meu rosto. As tirei rapidamente dali, mas ele insistia. O que eu tinha feito? Estou em um país totalmente diferente do meu, onde não entendo porra nenhuma se que se falam. Já sei! – Não sai dai. – ordenei. Caminhei apressadamente entre a multidão até chegar ao bar. – Chad! – o chamei.
- Olha, não posso te dar mais outra bebida, você pode entrar em um coma alcóolico. – como é que eu explicaria a ele?
- Bem, acho que não serei eu quem ficará nessa situação.
- O que você fez? – perguntou assustado.
- Só venha comigo. – Chad me acompanhou onde estava, por sinal, jogado no sofá, enquanto ria de algo inexistente.
- Aquelas bebidas não foram para você, né? – ele perguntou. Neguei com a cabeça baixa. – Você sabe que homens não precisam ser dopados para...
- O quê? Não! Não pense nisso, por favor. Eu e ele somos completamente diferentes. – supliquei.
- E por qual motivo você o deixou assim?
- Longa história. – choraminguei. – Poderia me ajudar a tirá-lo daqui, chamar um taxi, sei lá. Não sei lidar com isso. – ele me olhava desconfiado. – Prometo que não sou a vilã da história.
- Tudo bem. – suspirou pesado. – Pega as coisas dele e vamos lá pra fora, o barulho aqui não vai ajudar na ligação. – com em seus ombros, gritando para que o soltasse, caminhamos até a saída. Chad pediu um taxi, e fomos informados que em poucos minutos ele chegaria. Colocamos sentado em um banco enquanto esperávamos o carro.
- Nossa, nem sei como te agradecer.
- Bem, se você me explicasse o motivo disso tudo, já seria bom.
- Eu só queria saber uma informação dele e a única maneira que vi foi deixa-lo assim, mas acho que ele é muito bom em guardar segredos. – Chad começou a rir. – Eu sei, é bem humilhante.
- Não é humilhante e sim engraçado. Mas seja lá o que for, aconselho a não contar nada disso a ele amanhã, a ressaca muda o humor. – assenti. Se arrependimento matasse...
- Ei, você é daqui?
- Não. Nasci em Londres, mas me mudei para cá três anos atrás, e vocês?
- Somos de Los Angeles, quer dizer, sou de Vancouver, mas estou passando um tempo com minha irmã. – como dito, o táxi não demorou. havia adormecido, o que me preocupou mais, já que não aguentava seu peso para levá-lo até o quarto. Chad o colocou estirado no banco de trás. – Obrigada, e, se possível, pode fazer mais um favor para mim? – ele assentiu. – Se você encontrar umas pessoas desesperadas atrás de alguém, por favor não diga nada do que ocorreu.
- Pode deixar. – o agradeci novamente e seguimos caminho até o hotel. Até que foi fácil acordá-lo, mas difícil foi colocá-lo no caminho até o quarto. Não queria perder minha paciência, ainda teria que aprender de última hora a cuidar de um bêbado. Por sorte, um dos seguranças me ajudou. Ao chegarmos ao quarto, ele me aconselhou a colocá-lo debaixo do chuveiro. Se eu fizesse isso, iria dormir molhado. Nem que me pagassem que eu iria trocar a roupa dele!
Ele estava esparramado no colchão, e aquilo já estava me dando nojo. Não acredito que terei que fazer isso. Perdão olhos pela cena que terão que ver. O puxei com dificuldade até a ducha. O coloquei encostado na parede enquanto ligava o chuveiro. Quando finalmente girei a torneira e a água começou a cair em sua cabeça, um par de mãos se fixou em minha cintura, me puxando completamente para dentro do chuveiro.
- , seu desgraçado! – gritei.
- Banho duplo, Sunshine? – ele falou, me encarando diretamente nos olhos. – Acho que alguém quer mesmo esquecer Petter, né?
- Seu filho de uma...
- Epa, olha os modos. – falou, rindo.
- Me solta, infeliz. – comecei a bater em seu braço até ele me soltar. Fechei o registro rapidamente, mas era tarde, eu estava completamente molhada. – Não acredito que você não ficou bêbado.
- Bem, não estou cem por cento sóbrio, mas ainda dá para o gasto. – rangi os dentes. – Me dopar para saber de um assunto? , pensei que você fosse mais culta.
- Você não me deu escolhas! O que eu poderia fazer?
- Não insistir? Esse assunto não te pertence.
- Claro que sim, eu... Eu...
- Você o quê? É namorada dele? – poderia não ser da minha conta, mas eu estava envolvida indiretamente com Petter.
- Não, mas...
- Sério que você não vai me ouvir? – perguntou, jogando uma risada sarcástica. – Eu não acredito.
- Se você me contar, eu posso mudar de ideia.
- Tudo bem, eu conto. – olhei rapidamente para ele, surpresa. – Petter e eu íamos ser parceiros em uma série, na verdade, na minha primeira série. Ele já era experiente, e nisso eu confiei nele para me ajudar. Dois dias antes das gravações, ele me convenceu a ir a uma pub. Um dos locais mais badalados de toda Los Angeles. Eu estava animado, era como uma comemoração. Bem, para ele, que iria conseguir o papel e se ver livre de mim. Ele, de certo modo, conseguiu me dopar, fiquei praticamente um dia com terríveis dores de cabeça, enjoos... Enfim, não tive condições de ir ao primeiro dia de ensaio, o diretor era muito rígido e, no fim, fui expulso. Até que descobri que o motivo disso tudo foi que a namorada dele havia traído ele comigo, e o cara resolveu descontar em mim. – minha cabeça estava processando cada informação recebida. Não conseguia imaginar Petter fazendo isso. De jeito nenhum, ele era um amor de pessoa, cavalheiro, romântico...
- Eu não acredito.
- O quê? , não, eu não acredito! Você quase me dopa, me deixa um lixo para saber disso e agora me diz que não acredita? – a sua indignação era quase visível. Eu tentava acreditar, mas algo dizia que aquilo não era a verdade. – Olha, eu sei que posso ser um desgraçado às vezes com você, mas não estou mentindo. Pergunte a , pode perguntar a ela. – e mais uma vez uma ilusão amorosa.
- Aqui não é lugar para se resolver isso, eu fiz uma burrada em fazer isso contigo. – fui andando para trás, até chegar encostar-me a parede. Eu só queria dormir e esquecer disso tudo. O que estava ocorrendo comigo? – Eu não sei em quem confiar, não sei mais o que é tudo isso.
- Você tem que cofiar em mim. – ele se aproximava. – Petter não é um cara ideal para você. – sua mão direita encostou suavemente em minha bochecha molhada. Senti minhas pernas bambolearem e aquela sensação estranha voltar. Não tinha forças para fugir. se aproximava mais e mais, era como se eu já soubesse o que iria ocorrer e aceitasse tudo aquilo. Seus lábios molhados alcançaram os meus, envolvi meus braços sobre seu pescoço enquanto ele me puxava mais para si. O beijo se aprofundava mais e mais, quando paramos, por pura falta de fôlego, ele começou a beijar levemente meu pescoço. A cada toque sentia um frio na barriga, e uma vontade enorme de levar aquilo a outro nível.
- E quem é o ideal para mim? – perguntei enquanto recebia seus beijos. E ele sussurrou.
- Eu.


Capítulo 14


- Não, eu não fiz isso, não fiz, diz que não fiz. – colocava todas as roupas amontoadas na mala, sem ao menos dobrá-las. Minha cabeça estava tão atordoada que mal conseguia pensar direito. Só queria ir para casa, a minha casa bem longe da minha irmã e viver em meu quarto para sempre.
- Você fez, . Quer dizer, nós fizemos. – o outro disse, encostado na janela, observando meu desespero.
- Não! Nós não fizemos nada! – ordenei, tentando fugir da realidade. – Isso não deveria ter ocorrido, jamais ocorrerá novamente. Eu nem sei como estou conseguindo falar com você depois disso! – bati a mão fortemente na cama. Seu suspiro fundo me chamou a atenção, desviando meu olhar para ele. Jogou sua cabeça para trás, fitando o teto. Olhei para a mesma direção vendo se havia algo ali, mas logo percebi que ele estava pensando. Idiota, ! Por tudo! Graças ao bom Deus eles anteciparam a nossa volta.
- Você está falando comigo, porque eu vim falar com você. Até por que, não foi eu que saí desesperadamente do meu quarto.
- Você queria que eu fizesse o quê, pelo amor de Deus?! – elevei a voz, desesperadamente. – Que eu olhasse para sua cara e falasse “bom dia, meu bebê”?
- Sim? Mas sem o bebê. – disse como se fosse óbvio, olhando para mim.
- Não! , pelo amor de Deus, é o seguinte. – fechei fortemente a mala. – Eu não sou uma da vida que passa uma noite com o namorado da irmã e no outro dia acha que está tudo bem! – gritei nas últimas frases. – Jamais fiz isso! Eu não sou ela!
- Tudo tem sua primeira vez. – semicerrei os olhos, lançando lhe um olhar furioso. – Ah, qual é. Sua irmã já fez coisas piores e inúmeras vezes. É só falar que estávamos bêbados.
- Não! Eu não vou falar para ela. Ninguém pode saber disso, entendeu? Ninguém! Céus, se ela souber... Já vejo aquela ponta de salto enfiada em meu coração e minha lápide escrita “aqui jaz uma pessoa morta por um sapato”.
- Meu Deus, quanto drama. Acho que se sairá bem nessa série. – ele disse, fazendo pouco caso. Não sei como esse menino não estava com peso na consciência. Quer dizer, se ele tinha uma, né? Porque aposto que de tanto trair minha irmã, a consciência dele nem funciona mais. Pressionei mais a mala, tentando fechar, mas nem sequer o zíper andava. Argh, que ódio.
- Seja útil uma vez na vida e feche essa mala aqui para mim, por favor! – choraminguei. Que dor de cabeça dos infernos! Demonstrando nenhum ânimo, ele veio quase rastejando os pés e com algum milagre, conseguiu fechar a mala. – Obrigada, agora dá o fora daqui, tenho que terminar de arrumar as coisas. – não sei o havia dado nele, mas antes mesmo de sair, ele segurou meus pulsos e deu um leve beijo em mim. Com minha reação, acabei lhe acertando um tapa no rosto.
- Ai! Está maluca? – perguntou, massageando o local.
- Eu que te pergunto! Qual a parte do “não pode ocorrer isso novamente” você não entendeu?
- A parte onde um beijo se encaixa ai.
- Sai, agora! – apontei para a porta, onde o mesmo rapidamente e resmungando saiu.
Graças ao bom sono eu consegui dormir quase a viagem toda. Quando chegamos ao aeroporto, às três da tarde, nos esperava na ala de desembarque. Por sorte, eu estava ainda morando com eles, então não veria por um bom tempo, eu esperava. Chegamos em casa e a primeira coisa que fiz foi me trancar no quarto com a desculpa de que o fuso horário havia me detonado, mas minha tranquilidade não demorou muito até descobrir que eu teria que ir gravar uma cena de última hora. Com toda certeza, no final do mês já estaria completamente parecendo um zumbi. gie) acabou me deixando lá, para minha infelicidade, encontrei Petter logo de cara, que me recebeu com um sorriso e um beijo no canto da boca. Não que eu não gostasse dele, até porque ele era um amor de pessoa, mas estava com um grande peso na consciência pelo fato de já termos saído juntos e, sinceramente, eu estava criando algum sentimento por ele.
- Olha só quem voltou de viagem! Pensei que fosse passar mais dias lá. – ele disse me abraçando de lado, enquanto caminhávamos.
- Eu também, mas acho que já descobri a causa da minha volta mais cedo.
- Também fiquei surpreso com essa filmagem de última hora, mas vida de ator é assim, nunca sabemos o que pode ocorrer.
- Bom saber disso.
Gravar foi algo totalmente diferente para mim. Eram tantas câmeras, tantas pessoas olhando que a insegurança bateu um pouco, até porque estava contracenando com Petter. A série era um drama que relatava a história de uma menina que sonhava em entrar para uma das melhores escolas de dança, porém como ela não tinha muita condição de vida, ela e seu melhor amigo, que no caso é Petter que interpreta, faziam de tudo para conseguir dinheiro para realizar o sonho dela. Minha personagem era uma intercâmbista que acaba conhecendo a principal durante a aula de dança e se interessa pela história dela, passando a ajudá-la.
Finalizamos as gravações por volta de onze da noite. Petter acabou me deixando em casa. A volta foi quase um sofrimento, me senti em um questionário de emprego com tantas perguntas que ele havia feito. Finalmente cama.
No dia seguinte, tinha cancelado minha academia, o que foi um grande alivio para mim, pois meu corpo precisava de descanso, porém nem isso foi capaz de me fazer dormir até tarde, pois quando deu exatamente sete da manhã, ouvi uns estrondos na casa e gritos me chamando.
, a voz era dela.
Pronto, ela descobriu. Minha vida estava acabada, ela veio com a tropa de saltos para perfurar meu corpo. Pior, ela descobriu que eu estava aqui.
Corri apressadamente, ainda grogue de sono, até as escadas, tentando esconder o medo que estava. se encontrava ao seu lado, olhando-a totalmente assustada e avisando-a que eu não estava aqui. Mas por sua insistência, acabei aparecendo no inicio da escada.
- ! – ela gritou, mas por incrível que pareça, senti um certo alívio em sua fala.
- Como me achou aqui? – questionei, descendo as escadas. Minhas pernas começaram a fraquejar e uma tremedeira interna tomou parte de mim. Não sabia qual força existiu em minha pessoa para que eu conversasse com ela tão naturalmente depois de tudo que havia feito.
- Não foi difícil, afinal a única pessoa que você conhece neste país é este ser aqui. – apontou para , que abriu a boca em forma de protesto, mas não teve o tempo necessário para falar, já que falou em seguida. – Você precisa voltar para lá. – como é que é? Ela quer que eu volte?
- O quê? Depois de tudo que você fez, por tudo o que passei, você chega na minha cara e diz que eu preciso voltar? E se eu não quiser? – protestei, cruzando os braços e elevando o peitoral.
- Vou reformular minha frase. Você tem que voltar para lá, é uma ordem, quase uma necessidade! – suspirei. Pelo seu modo de fala, realmente ela estava desesperada. A todo instante ela tentava estralar seus dedos, dando-me uma agonia terrível.
- E por que eu preciso? – ela pegou ar para falar. Senti que vinha bomba.
- Nossos pais ligaram ontem querendo falar com você, por sorte você estava viajando, o que serviu como uma bela desculpa. Esse mês era para eles virem nos visitar, mas teve alguns imprevistos, então está vindo e em hipótese alguma eles podem saber que você não está morando mais comigo. – um sorriso logo se estampou em meu rosto ao saber que meu primo, quase irmão, estava vindo para cá. A falta que eu tinha dele era enorme!
- Mas não foi você que estava nem aí se estava me expulsando de casa ou não?
- Bem, na hora eu estava estressada e não pensei nas consequências. Se eles descobrirem isso, é capaz deles passarem uma eternidade aqui, ou pior, se mudarem para cá! – choramingou – Por favor, .
- , eu não sei. Depois de tudo o que você fez... – deixei a frase morrer.
- , entenda. Você nunca mais voltará para o Canadá. Adeus vida que você tinha. – merda, ela tinha razão, mas sinceramente, queria aproveitar mais do seu desespero.
- Não sei... Até que estou gostando dessa nova vida. E seria bom ter nossos pais aqui. Olha só, a família toda na mesma cidade, tendo uma nova vida.
- Não, . Por favor... – choramingou. Poderia querer mais um pouco de sua humilhação, mas eu não sou minha irmã.
- Tá, tudo bem. – disse, demonstrando insatisfação. – Mas o seguinte. Prometa que deixará a minha vida em paz. – ordenei, a fazendo assentir.
me ajudou a arrumar minhas coisas. Acabei deixando algumas roupas caso de última hora eu decidisse voltar. O bom disso tudo era que eu não teria que ver todo dia, ou seja, não precisaria lembrar da merda que havia feito na noite. Pelo que havia dito, chegaria pela noite, então dava para pelo menos melhorarmos na atuação de irmãs de bem com a vida. Passamos a tarde toda criando momentos que jamais existiu, como assim que eu cheguei aqui tivemos uma pequena briga, mas que logo depois acabamos vendo nossos erros e graças a ela eu tenho esse novo emprego, que um jeito ou de outro foi verdade, ela foi a causa por eu ter conseguido, mas de um modo bem estressante.
Às sete da noite, fomos pegar no aeroporto. Estava tão ansiosa por sua chegada que meu estômago começou a embrulhar. Alguns fãs, como sempre, pararam para tirar fotos e pegar autógrafos, por minha surpresa, alguns vieram até a mim.
Depois que o grupo se afastou, caminhamos até a sala de desembarque esperando por . Ao longe, o reconheceu, mas eu não. Ele havia mudado, e muito. O longo cabelo deu espaço a um corte mais baixo e com um leve topete. Seu corpo magro estava repleto de músculos. O sorriso continuava o mesmo, mas o estilo havia mudado completamente.
- ! – gritei, o abraçando fortemente em seguida.
- Sistah. – ele disse, retribuindo. Ah, que saudade daquele garoto.
- zinho. – disse, o abraçando, porém com menos intensidade. – Nossa, como está diferente, acho que alguém andou malhando. – alisou cautelosamente seus braços. Se ele não fosse primo dela, jurava que a mesma estava flertando com ele, mas nos dias de hoje, quem são primos em relação ao amor?
- Então, finalmente se acertaram? – ele perguntou quando chegamos ao carro.
- Claro. – e eu falamos no mesmo momento, olhando-nos em seguida.
- Temos curtido bastante esses dias, não é, ?
- E como temos... – respondi, recebendo seu olhar reprovador. – Finalmente percebemos que brigar era uma besteira, que as coisas podem ser resolvidas na base da conversa e que é bem desnecessário chegar a casos extremos.
- Concordo, maninha. Aprendemos também que é errado encher o saco uma da outra e principalmente roubar o que é dela. – disse. Aquilo foi uma indireta para mim?
- Ah, e também aprendemos saber diferenciar oportunidades e sabotagens. – rebati, a encarando.
- Claro, sempre soubemos disso. E aprende...
- Meninas! – gritou. – Já entendi, vocês aprenderam muita coisa, e ainda tem que aprender mais. – revirei os olhos. Ela disse que deixaria minha vida em paz, ela estava entregando nosso jogo. Péssima jogadora.
Dei graças a Deus quando chegamos em casa. Ajudei com as malas, já que a outra prontamente foi em direção a casa, e o ajudei a pôr as coisas em seu quarto.
- Tem certeza que você e estão bem? Seus pais vivem se questionando isso.
- Claro que estamos. – menti. – É um modo de brincar nosso, sabe. Irmãs... Voltando aos bons tempos.
- E vocês tiveram bons tempos? – não. Quer dizer, claro que tivemos, mas não lembro de muitos. Abafa o caso.
- Bem, acho que você deve estar cansado, né? Vou te deixar dormir, tudo bem? Boa noite. – saí antes mesmo de dar um tempo para ele responder. Aquilo não poderia se repetir.
Saí à procura de por toda a casa e a encontrei na sala, esparramada no sofá. A chamei várias vezes, porém a mesma se fez de surda, ou ela era uma. Peguei o controle que estava ao seu lado, e desliguei a TV, fazendo-a dar um pulo do sofá.
- Por que você fez isso? – ela questionou, se aproximando.
- Por que você fez aquilo? – a perguntei, escondendo o controle atrás de mim. – Você mesma diz para que sejamos discretas e no carro começa a jogar indiretas?
- Você que começou, .
- Eu só falei a verdade, não foi nenhuma indireta! – rebati.
– Então saiba falar de um modo claro! E se for assim, por que continuou no jogo?
– Não ia deixar barato.
- Ah, claro, você nunca deixa nada barato. Rouba meu trabalho, minha fama, participa de uma série rival à minha, e só falta o quê? Pegar meu namorado? – engoli seco. Esquece isso, . Esquece...
- Nunca teria nada com . Não existe amor entre nós e sim o mais puro ódio.
- Isso é música para meus ouvidos, agora me passa a porra do controle. – ela avançou, jogando seu corpo contra o meu, fazendo com que caíssemos.
- Sai de cima de mim, sua baleia peruada. – a empurrava com uma das mãos, enquanto a outra estava estendida para que ela não pegasse o controle.
- Me dê o controle, ladra de sucesso. – ela se esticava mais. Meu Deus, osso pesa. Com a mão que a afastava, comecei a empurrar seu rosto. Parecíamos duas crianças brigando por um brinquedo, isso me fez ter uma bela nostalgia das nossas brigas. Em um momento, senti alguém puxar o controle de minhas mãos, nos chamando atenção.
- É assim que vocês querem passar paz a esta casa? – era Lena. Sua pose com as mãos na cintura lembrou nossa mãe. – Pelo amor de Deus, olha só o tamanho de vocês.
- , sai de cima de mim! – gritei. Puxei com força todo o ar quando ela finalmente havia saído de cima de mim.
- Já estou vendo os pais de vocês se mudando para esta cidade.
- Não fala isso, Lena. Nem brincando. – disse, se recuperando.
- Por mim tudo bem. Minha vida já está um caos mesmo. – eu disse, me retirando em seguida.

Era tão estranho quando acordávamos em um lugar totalmente diferente. Já havia me acostumado com o quarto na casa de . Olhei para o relógio que marcavam nove da manhã. Menos mal, para uma pessoa que acorda cinco.
Espreguicei-me e joguei meus pés para fora da cama, calçando minhas pantufas. Amarrei meu cabelo em um mero rabo de cavalo e fui para o quarto de , na intenção de acordá-lo, mas para minha surpresa, seu quarto estava vazio e a cama arrumada. Ele havia acordado cedo?
Quando cheguei no pé da escada, ouvi algumas risadas. Desci correndo as escadas, como fazia quando era pequena, na intenção de me jogar em cima do meu primo, porém acabei parando no meio do caminho quando vi uma pessoa não tão ilustre.
- Bom dia, . – ele sorriu de lado, analisando-me rapidamente com seu olhar. Havia esquecido que tinha dormido com um velho vestido, que por sinal, estava um pouco curto.
- Bom dia, . – forcei um sorriso. – Veio buscar ?
- Na verdade, não. Soube da chegada do seu primo e vim fazer uma visita. Algum problema?
- Não, claro que não. – respirei fundo e sentei-me em uma das cadeiras da mesa do café da manhã. – Cadê minha irmã?
- Caminhada matinal. – respondeu. – Não me impressiona ver fazendo exercícios físicos. Ela sempre teve uma admiração pelo corpo perfeito.
- E eu por comida. – falei para mim mesma, porém em uma altura que aparentemente eles ouviram. Não consegui comer direito por causa do incomodo que estava sentindo com as olhadas discretas de . Pelo amor de Deus, aquele menino queria confusão. Quase engoli o toda a comida. Quando terminava de engolir o ultimo pedaço do pão, a campainha tocou. Rapidamente me levantei, para sair daquela situação constrangedora, mas creio que o destino estava brincando comigo quando Petter apareceu na porta. Puta merda.
- Petter! – disse assustada. – O quê está fazendo aqui?
- Vim entregar seu script. Você acabou esquecendo ontem no set. – ergueu a papelada em mãos.
- Ah, obrigada. – disse super sem graça, por conta da situação. E agora, mando entrar ou não? – Quer entrar?
- Tudo bem. – e que os jogos de ira comecem. Quando cheguei a sala, o encontro de olhares foi instantâneo. e Petter se encaravam como dois cães prestes a brigar por um território. Eu devo ter feito algo terrível no meu passado, só podia.
- Petter, esse é , meu primo. esse é Petter, meu... – fiquei procurando a palavra certa, enquanto me olhava atentamente. – Amigo de elenco.
- Prazer, Petter. Senta aí, cara. – e sua atitude amorzinha com as pessoas. Por quê?
- Fico te devendo uma, cara. Só vim trazer uma papelada para . – Petter disse. – Foi bom te rever, .
- Digo o mesmo. – ele respondeu, seco. Acompanhei Petter até a porta, recebendo como despedida um beijo no rosto, o que me fez sorrir no momento.
Foi um peso a menos quando chegou. Aproveitei o momento para dar um passeio com e matar a saudade. Acabamos parando no píer de Santa Mônica. Debruçados no corrimão, admirando a vista da praia e tomando milk-shake. A saudade que tinha de momentos como esse era enorme. Me sentia totalmente livre ao lado de .
- Vocês tiveram algo, não foi? – ele me perguntou de repente, tomando mais um gole do seu milk-shake.
- Quem?
- Você e . – quase cuspi todo o milk-shake que estava em minha boca.
- O quê? Por que teria algo com ele?
- Eu vi os olhares, . Vi como ele ficou quando aquele cara chegou, vi como você ficou também.
- Eu só fiquei tensa, porque nem Petter e nem se suportam. Estava com medo de começar uma briga ali.
- E o motivo seria você?
- ! – o repreendi. – Petter e eu somos amigos. e eu somos inimigos. Você sabe da história, não tem motivos para me julgar.
- Não estou te julgando, . Te conheço muito bem a ponto de descobrir mentiras na sua fala.
- Mas eu não estou mentindo, ok? – fechei a cara, tomando mais um gole do milk-shake. Odiava mentir para meu primo, mas aquilo, infelizmente, não poderia contar a ninguém. Logo um silêncio constrangedor entre nós se instalou. Que legal, no momento em que deveríamos estar curtindo, acabamos deixando um clima chato nos atingir.
- , você sabe que não vou te julgar. – ele quebrou o silêncio.
- , por favor.
- , por favor digo eu. Achava que contávamos as coisas um para o outro, e que não haveria mentiras entre nós, mas acho que me enganei, não foi?
- Não é isso, é que...
- É o quê? – suspirei pesadamente.
- Só foi uma noite. – olhei para baixo, fitando meus dedos gélidos por conta da bebida. Não queria nem imaginar sua reação. Por mais que fosse um amor, ele odiava qualquer tipo de injustiça. – Eu juro que não queria trair minha irmã, não queria me tornar ela, porém estávamos só nó dois, ele insistiu tanto e sei lá, aconteceu sabe. – disse rapidamente, embolando várias partes da história. – Eu não queria. Me sinto uma da vida.
– Olha, você sabe o que eu penso sobre traições, e de um modo ou de outro, você realmente agiu como sua irmã. – nossa, não precisava jogar na cara algo que já sabia. – Mas você pode inverter as coisas.
– Como?
– Contando a ela.
– Não! Ela vai me matar.
. – ele se virou para mim. – Uma coisa que sua irmã nunca fez foi admitir algo. Quando erramos com alguém e contamos do erro a essa pessoa, às vezes acaba em uma situação não tão pior quanto se ela descobrisse sozinha. Quando contamos, mostramos a pessoa que percebemos nosso erro e que estamos mal por aquilo e de um modo, queremos um perdão. Quando acabamos não contando, por mais que não queiramos magoar, a pessoa acaba pensando que você não contou por motivos de ter gostado ou não reparado no seu erro. – ele suspirou. – Uma vez, minha ex-namorada tinha me pedido para que eu não fosse à uma festa, mas acabei indo escondido porque a galera toda estava indo. No outro dia a consciência bateu, e acabei contando a ela. Eu juro a você que esperava uns bons esporros dela, mas ao contrário do que pensei, a gente acabou conversando e nos acertando no final. Ela se chateou, mas eu demonstrei que eu posso sim ver meus erros e tentar acertá-los.
– Mas isso vai de pessoa para pessoa, . nunca foi do tipo de ser humano de ouvir.
– Mas é isso que falta em vocês. Você tem que mostrar a ela que quer mudar essa situação. Esse foi seu propósito aqui.
– Você ouviu, não foi?
– Sim, e não me surpreendi nem um pouco. Seus pais podem ter acreditado, mas eu não. – suspirei.
– Você vai contar a eles? – perguntei, olhando o horizonte.
– Não. Mas você terá que contar a sua irmã sobre o ocorrido.



Capítulo 15


Se eu tivesse alguma lâmpada mágica que realizassem três desejos como em Aladin, desejaria ter mais tempo com meu primo. Além de me entender perfeitamente, ele sabia perfeitamente como melhorar meu humor, independente da situação que estivesse passando. Nosso passeio foi um dos melhores que já tive até hoje, quer dizer, não visitei muitos lugares desde que cheguei à famosa Califórnia, mas pude tirar o atraso de turista com . Sinceramente, a memória do meu celular estava abarrotada de fotos, foram tantos momentos que mal percebi quando anoiteceu. Estávamos voltando para casa, tomando sorvete e ouvindo Coldplay nas alturas. Cantávamos, fazíamos caretas, voltamos completamente ao passado quando em nossas viagens costumávamos pôr nosso CD favorito e cantar até não sobrar voz. Enquanto ele estacionava rente ao meio fio, percebi que o carro de estava a estacionado a nossa frente, algo totalmente normal, se não fosse pelo fato dele estar encostado, de braços cruzados e batendo freneticamente seus pés no chão. Assim que nos viu, desencostou rapidamente passando as mãos no cabelo.
- Por que está aqui fora? – perguntei, saindo do carro e fechando a porta em seguida. Ele suspirou pesadamente. Rum, tem algo de errado nessa história. – Algum problema? – me aproximei, com logo atrás de mim.
- Finalmente. – ele disse, com um certo nervosismo. – Vem, vamos embora. – segurou em meus pulsos e começou a me puxar em direção ao seu carro.
- O quê? – desvencilhei-me de sua mão, parando em seguida. O que tem de errado com esse garoto? – Por que eu tenho que ir com você? , o quê você aprontou? – suas mãos a todo momento estavam em seus cabelos, bagunçando-o mais ainda.
- , não dificulta as coisas, só vem comigo. Por favor! – ele implorava, com uma voz extremamente firme. Sinceramente, sofria de sérios problemas mentais. Ainda não conseguia entender aquela ceninha toda.
- Por que ela teria que ir com você? – agora foi a vez de falar. Continuamos o encarando até o mesmo fechar os olhos e passar as mãos pelas pálpebras aparentemente cansadas.
- Só não entra lá, por favor. – apontou para a casa da minha irmã. Estranhei o fato do seu pedido. Por que não poderia entrar na minha “própria” casa? Arqueei as sobrancelhas, expressando confusão em minha face. – Depois te explico, agora vem. – novamente ele me puxou.
- Não! – ordenei, retirando meu pulso de sua mão. – Você está bêbado? Fumou alguma coisa? Ai meu Deus, você fez os dois?
- O quê? Não! – ele disse, aparentemente revoltado. – Para de ser teimosa, e vem logo.
- Já disse que não, porra! – me exaltei. Qual a parte do “não” que ele não estava entendendo? – Você deve estar bêbado, só pode. Olha, vou ligar para e pedir para vir te buscar, não estou nas mínimas condições de... – em segundos, o aparelho que estava em minhas mãos, se encontrava no chão. – MEU CELULAR! Não acredito que você jogou no chão! , deixa de ser infantil, se isso quebrar, você terá que me dar um novo, ou melhor, me dar um iPhone 6 e do mais caro que tiver na loja!
- Porra, ! Para de pensar na porcaria do celular e me escuta uma vez! Eu não estou bêbado, não fumei nada, estou sóbrio e perdendo meu tempo tentando salvar sua vida. – salvar o quê?
- Salvar minha vida? – comecei a rir sarcasticamente. – Desde quando você virou um Superman da vida? Ou melhor, Homem Aranha. Não me diga que você solta teias?! – comecei a rir, mas ao contrário do que pensei, sua feição continuava séria, sem nenhum traço de sorrisos ou risada. – Faça-me o favor, ! – girei os calcanhares, indo em direção a casa, puxando pelo pulso. Pelo amor de Deus, salvar de quê? Será que ele havia contado algo para ? Ai dele se tiver, eu quebro aqueles dentes brancos com uma só porrada.
- O quê ele quis dizer com salvar sua vida? – me perguntou quando nos aproximamos da porta de entrada.
- É isso que quero saber. – girei a maçaneta, e abri com cuidado. A sala estava silenciosa, com as luzes acesas e tudo em seu devido lugar. Entrei e fez o mesmo, fechando a porta, porém algo me fez parar. estava parada no meio da sala, segurando em uma de suas mãos um salto aparentemente fino e debaixo dos seus braços um notebook, que aparentemente era meu. Sua testa franzida e seu olhar cerrado em minha direção deu a ideia de que feliz ela não estava e nem triste, algo mais para revoltada ou com vontade de matar alguém.
Mal tive tempo de falar, e só vi um objeto voar em minha direção, por sorte, consegui esquivar. Olhei incrédula para a mesma e logo percebi que um de seus saltos que estava em sua mão, havia sumido. Olhei para trás e o vi ali, jogado. Ela havia arremessado aquele troço em mim!
- Você pirou de vez? – gritei, vendo sua feição ficar mais fechada ainda. Sem falar nada, ela rumou o outro, que passou de raspão em meu rosto. – ! – chamei sua atenção, mas agora, ela estava com um vaso em mãos. Puta que pariu, era hoje que eu não saía viva dali. acabou me puxando quando ela arremessou, meu coração estava acelerado demais para tentar manter o controle.
- ! – gritou, em um tom extremamente alto, o que me fez até sentir um pouco de medo.
- Você... – ela apontou para mim. – Está estragando a minha vida! – gritou, na última palavra. – Você é um inferno na minha vida, você é algo que eu nunca desejava ter conhecido! – ela continuava. Por mais que tivessemos uma relação complicada, ela jamais havia dito isso para mim. – Se faz de santa? – riu, sarcasticamente. – Mas é o diabo em pessoa! – ela deu um passo em minha direção, cambaleando em seguida. Céus, ela estava bêbada? Mal tive tempo de terminar meus pensamentos, quando a vi vindo em minha direção, me derrubando completamente no chão e começando a me estapear. Consegui colocar a mão sobre o rosto, para amenizar o efeito, mas tinha a certeza de que belas marcas ficaram ali. Em poucos segundos ela foi retirada em cima de mim, e um par de mãos me levantou, me abraçado de lado. Olhei para minha frente e vi minha irmã, lutando contra os braços de . Mas... Virei meu rosto rapidamente e vi que se encontrava ali, me abraçando pelos ombros enquanto olhava incredulamente a cena de .
- Ah, chegou quem eu queria para a festa continuar! – gritou. – ME SOLTA, FRED! – ele a soltou.
- O quê está havendo aqui? – perguntei.
- Ah, a princesinha não sabe? – ela ironizou. – Deixa seu novo affair contar então. Vai, , conta a ela! – me afastei de , esperando sua resposta. No momento, ele suspirou, levando sua mão na nuca, demonstrando um desconforto. – CONTA LOGO!
- VOU CONTAR, PORRA! – ele gritou, nervoso. – Ela descobriu do que aconteceu com a gente naquela noite. – arregalei os olhos, colocando a mão na boca. Como ela havia descoberto? – Havia um paparazzi disfarçado em nosso hotel, e ele percebeu como nós chegamos e a sua demora de sair do meu quarto, que por sinal, foi no outro dia. Quando você saiu, apressada, ele estava no corredor, não sei onde, mas acabou tirando uma foto sua saindo de lá e em pouco tempo a noticia já estava nos sites.
- Não, isso não pode ser. – falei. – Não havia ninguém...
- Ah, então quer dizer que ocorreu? – perguntou, se aproximando.
- Não, quer dizer, sim, mas...
- Mas nada! – falou, severamente. – Você rouba minha campanha, entra em uma série rival a minha, consegue fama e agora rouba meu namorado? – ela gritava. – , SABE COMO SEREI RECONHECIDA AGORA? COMO CORNA!
- Uma hora você se acostuma. Você sempre fazia isso comigo, agora parece que o jogo virou, não é mesmo, queridinha? – ela avançou para mim, porém a conteve.
- Engraçado que você sempre falava que nunca queria ser igual a mim, e agora, olhe onde estamos.
- A única diferença, , era que eu não tive intenção, foi o momento, mas você... Rá, você sempre quis o que era meu, sempre! Sabe por quê? Porque você tinha inveja. – ela deu um grito extremamente fino. Ok, era melhor eu parar com isso.
- Você esqueceu de uma coisinha, irmãzinha. Quem fez a ação foi você e estamos em Hollywood, ou seja, eles acreditam no que querem, eles fazem o que querem então se prepare para ser a vilã dessa história. – engoli seco. Ela tinha razão. Na maioria dos casos de traição de famosos, a culpa sempre caía para quem traia, e a traidora, ou seja, era eu. Tudo o que sempre detestei, sempre desejei longe de mim iria acontecer. Aquele olhar de vitória de , estava sendo meu pesadelo. Não conseguia pensar mais em nada, minha cabeça latejava, meu rosto doía. Em um ato impulsivo, corri em direção a porta, para o jardim.
Jamais havia visto minha irmã daquele jeito, muito menos com aquela agressividade toda. Era completamente meu fim e ainda tentava entender de onde havia saído aquela foto. Na verdade, como ele havia conseguido entrar ali. Maldito seja os paparazzis! Diminui os passos quando percebi minha pequena distância do local. As lágrimas caiam sem piedade e a dor no meu coração com saudade da minha antiga terra era imensa. Deveria ter realmente enfrentado meus pais e não ter vindo, que burra eu fui!
- ! – ouvi uma voz ofegante me chamar. Ah, só me faltava essa. – Você está...
- Bem? – virei-me para ele, com a cara completamente encharcada de choro.- Você acha que eu estou bem? – elevei a voz. – Claro que estou, né? Afinal, é super normal ter que ir para um país totalmente estranho, conviver com sua irmã que praticamente te odeia, aceitar propostas sem ao menos pensar nas consequências e ainda ter que aturar essas merdas de paparazzis para infernizar minha vida! – falava entre soluços e choro.
- Eu te disse que...
- Que não ia ser fácil? É, por incrível que pareça eu lembro, ! Lembro do seu deboche, lembro das suas implicâncias, e principalmente das suas insistências! Agora olha onde estamos? Quer dizer, você está bem, né? Afinal ela te ama e com certeza vai te perdoar, porque o amor é cego! Mas comigo, sabe o que vai acontecer? Uma má impressão na minha família, o ódio dela eternamente e minha vida sendo perturbada por ela mais do que já acontecia! E ainda esse inferno da mídia vai começar a querer saber mais, minha imagem vai ser totalmente destruída. – simplesmente não conseguia parar de chorar, só de pensar como seria minha vida daqui pra frente batia um medo, angustia, vontade de sumir e esquecer tudo isso. Trocar de nome, pais, e quem sabe de mente. Como arrependimento dói! – Só quero voltar para casa e esquecer tudo isso... – senti um par de braços envolver minha cintura e me puxar. Suas mãos alisavam minhas costas, e por eu ser menor do que ele, acabei afundando meu rosto em seu peitoral, enquanto as lágrimas tornavam a cair.
- Mas eu não quero esquecer. – ele disse, em um sussurro. – Tudo isso é minha culpa, eu sei, mas foi porque eu agi errado. Mas está errada com essas atitudes. – levantei meu olhar para ele, com um semblante questionador. – , o fato é que, eu e não estamos mais juntos tem um tempinho. – franzi o cenho. Como assim eles não estavam mais juntos? – Boa parte do nosso relacionamento foi pura atuação. – me afastei, o encarando.
- Como assim, atuação? – perguntei, incrédula.
- Lembra naquele dia em que saiu feito um touro daquela festa? – assenti. – Ela não chegou a te ver em cima do palco sendo escalada para o elenco. Naquela noite, eu decidi terminar com ela e acabar de vez essa palhaçada. – levantei minha mão e ouvi o estralo em seu rosto. – ! – o tapa que havia dado deixou uma leve vermelhidão em seu rosto. Não contive a raiva e comecei a estapeá-lo. Como assim ele não estava namorando mais minha irmã? Aquele imprestável me deixou com um peso enorme na consciência, me fez ficar com dores de cabeça e agora diz que estava solteiro! – Para! – ele gritou, segurando meus pulsos. – Pra que tudo isso?
- Você me deixou com um peso enorme na consciência. Eu me senti a pessoa mais suja deste mundo e agora você diz que já havia terminado com ela e tudo que fizeram foi ceninha?
- E o quê você tem a ver com isso? Pelo que eu saiba a minha relação era com .
- TUDO! Eu poderia estar com a consciência tranquila, poderia ter me sentido menos suja!
- Suja por causa de uma noite comigo? Faça-me o favor, ! Sua irmã já fez coisas piores. Vê se ela saiu correndo, chorando, desesperada e ainda com peso na consciência? Não.
- Você está me zombando?
- Só estou falando a verdade. Você age como se aquela noite fosse um pesadelo.
- E foi!
- Sério? Porque aquelas marcas nas minhas costas dizem o contrário, e ah, não foi você mesmo que gemia meu nome?
- Não precisa me lembrar, ok? Não estava bêbada.
- Outro fato de que você mesma quis! – argh, já estava a ponto de matar aquele garoto.
- Como você consegue não ter o mínimo de peso na consciência? – virei-me pro lado oposto e comecei a andar em direção ao caminho que eu pretendia fazer antes dele ter me parado, porém suas mãos novamente foram mais rápidas, me impedindo de continuar.
- Já disse, eu e ela não tínhamos nada e não temos! – falou em um tom elevado. Seu suspiro pesado foi a prova de que ele realmente já estava cansado de me explicar aquele assunto. – Olha, você tem que entender uma coisa, nesse mundo de fama, para conseguir o estrelato, você está sujeita a fazer qualquer coisa. E um relacionamento falso para promover série, filmes ou até mesmo a imagem dos atores, é como achar uma pedra no chão. É fácil de se achar.
- Por que você não me disse isso antes, seu imprestável?
- Porque eu não podia e nem posso, na verdade. Mas contando antes ou agora, que diferença faz?
- Faz muita! Eu poderia ter... – deixei a frase morrer antes que eu falasse alguma merda.
- Poderia o quê? – ele perguntou, se aproximando, pousando suas mãos em minha cintura. Merda, desde quando ele era tão cheiroso?
- Poderia...
- Continua. – suas mãos apertaram fortemente minha cintura, e me puxaram mais para si.
- Poderia ter facilitado às coisas e... – a única coisa que conseguia encarar naquele momento eram seus lábios se aproximando dos meus. Minha respiração começou a ficar ofegante, não sei se era por causa da minha corrida, por causa da situação ou pelo simples fato dele estar perto demais. Em segundos, ele acabou com o espaço. Suas mãos prendiam fortemente em minha cintura, enquanto as minhas acariciavam seus fios de cabelo. A força que ele fazia para colar nossos corpos era tão intensa que foi inevitável soltar alguns gemidos. simplesmente era meu terrível pesadelo, minha pior confusão, ele havia se tornado no meu pior dilema. Não conseguia lutar contra o desejo de tê-lo mais perto, de tê-lo novamente como naquela noite, já estava na cara que ele conseguiu quebrar a chave dos meus sentimentos que eu sentia por ele. Meu corpo estava entregue a ele naquele beijo. Fomos parando aos poucos, até finalizarmos com leves selinhos. Sua testa estava colada à minha e nossas respirações totalmente ofegantes.
- Precisamos conversar. – sussurrei, o vendo assentir com a cabeça.



Capítulo 16


Se eu pudesse realizar um pedido, desejaria que tudo fosse apenas um pesadelo e que eu acordasse em minha cama, na minha casa, na minha cidade. Pena que a realidade era mais assustadora do quê um simples pesadelo e certas coisas me mostraram que não era um sonho.
Já passava da meia noite e uma bela chuva resolveu cair para tornar aquele dia mais tenebroso. O barulho dos trovões misturado com a claridade dos raios fazia com que eu tomasse susto a cada minuto. e eu decidimos ir para sua casa. O local estava silencioso e escuro. Por conta do horário, provavelmente estaria em seu décimo sono. A única luz presente era a da cozinha que refletia no chão da sala. Estava sentada com um cobertor em meus ombros fitando o nada. Ainda tentava digerir tudo o que havia acontecido e imaginava o que estava por vir. O barulho dos seus passos me chamou a atenção e logo me estendeu uma caneca com um chá de camomila. Cautelosamente ele sentou ao meu lado, deixando sua xícara em cima da mesa de centro com sua feição séria e um olhar transparecendo um pequeno temor, provavelmente por causa da nossa conversa.
- O que exatamente você quer conversar? – ele me perguntou, ajeitando-se no sofá e olhando para mim.
- Sobre tudo.
- Tudo é algo bem expansivo, não acha?
- Por isso mesmo que quero falar sobre isso.
- Tudo bem. – suspirou, apoiando seu antebraço no joelho e entrelaçando suas mãos. – Por onde quer começar?
- No dia em que você e se conheceram. – ele me lançou um olhar confuso.
- Por que quer saber disso?
- Não complica a situação, só fala...
- Ok. Havia mais ou menos duas semanas que eu tinha terminado com Eileen. Estava no início da minha carreira e graças a ela consegui a audição para Midnight Games. Não minto que ela ficou bem puta quando descobriu que eu havia conseguido o papel, afinal, eu que havia terminado com ela. Na festa de elenco da série, não tive a oportunidade de conversar direito com sua irmã, porém quando as gravações começaram, acabamos nos aproximando mais, até porque éramos um par romântico lá. Não sei se foi o momento ou algo nela que me chamou a atenção, até que em uma das festas acabamos ficando. A partir daí, começamos a sair mais, a frequentar a casa um do outro e quando vimos, a mídia já estava especulando um possível romance fora das telas. Resolvemos assumir logo.
- Ela era legal com você? Digo, durante seu relacionamento... ou ela dava esses ataques ridículos?
- Ela era seu oposto comigo. Amorosa, carinhosa, me sentia especial ao lado dela. O único defeito era o modo patricinha de ser, mas acabei acreditando que aquilo era uma fase, afinal, ela estava ganhando muito dinheiro e quando temos uma quantia acima do que imaginamos ganhar, queremos usufruir de tudo.
- E como você a tratava? – estava me sentindo uma idiota lhe fazendo tantas perguntas, mas era necessário para chegar aonde queria. Mesmo sem olhar para ele, sentia seu pequeno desconforto ao relembrar de certas memórias. Nas suas curtas palavras, sabia que ele desejava resumir tudo aquilo e acabar de vez com aquela conversa. Peguei a xícara e tomei um pouco do chá, que esfriava lentamente.
- Chocolates, flores, passeis, viagens, joias... Tentava a agradar o máximo possível. até falava que eu era o cãozinho dela. – dei uma breve risada. poderia ser a peste que for, mas uma de suas qualidade ou defeitos era querer agradar sempre, seja diretamente ou indiretamente as pessoas nas quais ele se importa. Comigo foi bem... indireto.
- E quando você passou a ser... assim? – engoli seco.
- Assim como? – eu continuava olhando para a xícara em minhas mãos, mas conseguia sentir seu olhar ainda fixo sobre mim.
- Pegador, galinha... – ao contrário do que pensei, ele não riu. Olhei de relance o vendo suspirar, e passar as mãos na testa.
- Quando se ganha fama, dinheiro, atenção, você se sente o dono do mundo. Pode fazer qualquer merda, mas você sabe que irá conseguir driblar tudo isso e manter sua imagem em dia. Eu tinha fãs, muitas fãs. Meus empresários me mostravam que eu tinha tudo e que podia fazer de tudo. De inicio, eu não aceitava, recusava propostas do tipo; sair com tal modelo, visitar tal modelo na casa dela para todos acharem que eu havia terminado com e depois voltar para ela, alegando que nosso amor era inacabável. Só que foi como eu te disse, quando você ganha fama e dinheiro, você se sente o rei do mundo. A mídia e meus empresários começaram a me mostrar isso, como se fosse algo normal e o que aconteceu é que eu realmente me senti poderoso. Comecei a ir em festas, bares, ficar com ouras pessoas, fazia o mesmo e nosso amor acabou se tornando algo de Marketing. Éramos manipulados.
- Eu sinto muito.
- Não sinta. – ele deu um pequeno sorriso sem mostrar os dentes. – Eu mereci e como mereci! E ainda mereço tudo isso. Fui estúpido por permitir que manipulassem minha imagem, a minha vida. Fui estupido com você naquele dia. Só que... – ele deu uma pausa. – No dia em que te conheci, eu te achei tão linda. Sei lá, algo me chamou a atenção em você. Seu jeito maduro, mas ao mesmo tempo brincalhona, sua beleza... não sei. Achei que realmente poderia pelo menos ficar contigo, mas aí descobri que provavelmente você era faixa preta em karatê ou sei lá qual arte marcial e acabou deixando um hematoma na minha barriga. – a cena passou como um flashback em minha mente e não consegui prender o riso. – Nossa, fiquei muito puto da vida, porque você foi a primeira garota a dizer “não” para mim. Quando contei da história para , ela só faltou morrer de rir, aquilo me fez criar mais um ódio e, como você e sua irmã não se dão tão bem, acho que isso não ajudou muito a diminuir minha raiva. Aí veio o dia em que descobri que alguma parente de estava vindo passar uns meses com ela e quando vi que era você, o ódio meio que se misturou com os sentimentos que despertaram em mim na primeira vez que te vi. Só que você, com boa memória, lembrava de tudo, então não me permiti abrir nenhuma brecha de amizade contigo, mas não minto ao dizer que sempre me preocupei com você. Quando soube que teríamos que trabalhar juntos, parte de mim estava feliz, outra parte preocupada, porque não queria que passasse por tudo que passei, então resolvi te convidar para ir ao píer e para minha surpresa, você aceitou. Sei lá, com o tempo de convivência fui percebendo que você tinha suas próprias ideias, era firme nas palavras e não era como a maioria das garotas de Hollywood. Isso me fez perceber na tamanha burrada que estava fazendo em minha vida. Você começou a sair com Petter, isso teve um grande efeito em mim. – ele disse, meio sem jeito, deixando com que algumas palavras saíssem com gaguejo. – E quando disse que você iria morar com a gente por um tempo, só faltei morrer. – riu. Não sei se ele realmente estava assim ou era impressão minha, mas seu nervosismo começava a aumentar. – Não queria te ter por perto.
- Por quê? – tomei coragem e o olhei. Seu olhar ainda estava preso a algo no horizonte e suas mãos brincavam uma com a outra. Mas por um momento, ele virou em minha direção. Seu olhar já transparecia o quão difícil estava sendo para ele falar tudo aquilo. Não queria forçar mais a barra, mas desejava saber o que tanto passava por sua mente.
- Porque eu sabia que cedo ou tarde iria acabar me apaixonando por você e, em algum momento, a sua pessoa conseguiria fazer com que eu me declarasse, como estou fazendo agora. – abri a boca diversas vezes, mas não conseguia dizer nada. Nenhuma palavra, nenhum som, somente minha mente tentando ligar tudo aquilo. – Então descobri que é... eu te amo. – um aceleramento em meu coração fez com que um calor desconhecido se espalhasse em mim. Ele disse que me amava? Ao mesmo tempo que não sabia como respirar, pensava no que falar. Pior do receber esse impacto das palavras, era saber como reagir a tudo isso. Não era do tipo de garota romântica e nunca fui, isso era um defeito terrível que normalmente afastavam os garotos de mim, mas não podia deixa-lo em um vácuo terrível ou simplesmente mentir falando “eu sei”. Não sou nenhuma Katniss da vida para tratar o garoto como um Gale. Ele havia deixado o orgulho de lado e finalmente deu um passo a frente nessa situação. O pior era que já tinha feito muito por mim e nada do que justo do que ser realmente franca com ele. Por um momento, o barulho da chuva era o único som que passava pelos meus ouvidos, porém a respiração pesada e nervosa de foi o que me fez realmente tomar coragem para falar.
- ... – suspirei. – Eu não quero me sentir uma traidora, eu não quero ser uma da vida. Eu não nego que já te achei encantador assim que te conheci e fiquei feliz pela minha irmã, mas aquela atitude no passado acabou com todo o príncipe encantado que havia idealizado em você. Porém é aquela coisa, atitudes valem mais do que um pedido de desculpas. Nesses meses que estive aqui, suas atitudes me demonstraram uma tentativa de perdão. A conversa no píer, a gentileza de me levar em casa, me oferecer o jaleco... Sempre que eu precisava, indiretamente ou diretamente, você estava lá para me ajudar. Você poderia muito bem ter me dedurado para a quando eu fiquei bêbada ou ter inventado alguma história para sobre nossa primeira vez. – depositei uma das minhas mãos em seu rosto, alisando carinhosamente, sentindo o pequeno atrito entre nossas peles. – Se eu falar que não sinto nada por você, mereceria um Oscar de melhor atuação. – soltamos um riso abafado. – Mas por favor, eu não quero ser como minha irmã.
- Mas você não é sua irmã, nunca foi. – abri a boca para falar, porém ele continuou. – Entenda. Já tem mais de dias, semanas que eu não estou com ela. Na verdade, nossa relação já estava fraca há meses, porém ninguém tomou a iniciativa de pôr um ponto final disso.
- Mas...
- Mas nada, . – ele disse com a voz mais rígida. – Só confia em mim, por favor. – aos poucos, senti sua respiração mais próxima e meus olhos começaram a fitar sua boca. Seu hálito de menta era como uma droga para minha mente, o desejo de sentir novamente seus lábios nos meus era mais forte do que minha sanidade. Minhas mãos que estavam em sua face escorregaram para seus ombros, o puxando para mais perto e assim, acabando com aquele maldito espaço. Enquanto a euforia me atingia e o nosso beijo se aprofundava a cada instante, suas mãos foram o calmante perfeito em meus cabelos para que por um momento eu sentisse uma leve calmaria. O movimento suave e delicado em meus cabelos me surpreenderam por tamanha gentileza que ele possuía por trás daquela máscara toda que Hollywood construiu nele. O beijo dele possuía alguma nicotina ou cafeína que se tornava um vicio para mim a gosto. Delicadamente fomos deitando no sofá, ele por cima, enquanto minhas mãos exploravam a superfície dos seus ombros. Quando seus lábios tocaram a extremidade do meu pescoço, foi impossível não soltar um gemido satisfatório, algo desejando por mais. Sim, eu desejava. Seu olhar novamente foi de encontro ao meu e assim iniciamos mais outro beijo intenso, que foi cortado com o susto da luz da sala acesa.
- É só a gata capotar na cama que os ratos fazem a festa. – apareceu no pé da escada, trajando seu roupão rosa claro e calçando as velhas pantufas de coelho. – E eu pensando que o ódio de vocês fosse algo para casos de família. Já estava até contratando algum psicólogo. – ela disse, descendo lentamente as escadas com seus olhos inchados pelo sono. Ajeitei-me no sofá, assim como , que tentava tirar a vermelhidão em seus lábios por conta do meu batom. – Mas é como dizem, por trás de tanto ódio, há sempre o amor.
- Bem... – tentei falar, mas ela me interrompeu. Qual era a desse povo que amava me interromper?
- Não precisa se explicar, . Amanhã teremos nosso papinho. – ela deu uma piscadela, indo em direção à cozinha. – Terminem isso em algum quarto, por favor!
Ri em relação ao seu comentário e meu riso só piorou ao ver a tamanha dificuldade que estava para tirar o batom de seus lábios.
- Já disse que ele é vinte e quatro horas? – o avisei. Seu desespero transparecia em seu olhar. Tentava segurar o riso, mas era impossível.
- Ah, não, ! Por que você não me avisou antes?
- E você iria me ouvir? – questionei. Ele parou, pensou um pouco e negou com a cabeça. – Viu, agora vem. – estendi a mão. – Vou te ajudar a tirar isso.
- Ou piorar. – gritou . Voltar a dormir ninguém queria! Subimos até seu quarto e assim que entramos, ele fechou a porta.
- Você não vai me ajudar, né? – perguntou, se aproximando.
- Eu só vou piorar mesmo. – sorri, envolvendo meus braços em sua nuca e ficando na ponta do pé.
- Altura mandou lembranças para você. – ele disse, rindo.
- Idiota. – dei um tapa na parte de trás da sua cabeça. Sorrindo, selamos nossos lábios e iniciamos um beijo. foi me direcionando sem interromper nosso beijo até um local que pela maciez, era a cama. Nosso beijo foi se intensificando, a força dos nossos corpos, a vontade de continuar, tudo era crescente. Os arrepios causados pelo beijo em meu pescoço era coisa de outro mundo, era uma necessidade extrema de ir além. Meu corpo estava em puro êxtase com cada movimento que fazia. Quando seus olhos fitaram novamente o meu, com um sorriso nos lábios, ele voltou a me beijar. Tirei com dificuldade sua camisa, assim como ele fez com a minha. Seu toque no pé da minha barriga me causavam calafrios internos aumentando o desejo de tê-lo. Minhas unhas arranhavam levemente suas costas nuas, só esperava que ele não tivesse intensão de ir a praia ou piscina. Suas mãos passeavam livremente pela silhueta do meu corpo, causando mais ânsia em mim. Demos continuidade a uma noite onde acabei me entregando sem medo, uma noite onde a bebida não era a culpada da vez, uma noite em que me fez esquecer completamente que existiam problemas em minha cabeça.

A manhã chegou que nem percebi. Percebi que o braço de estava por cima da minha barriga. Céus, como consegui respirar durante o resto da madrugada com esse peso em mim? Cautelosamente, retirei e segui em direção ao banheiro. Tomei uma ducha relaxante tentando esquecer por um momento que meus problemas só estavam começando. Temia pelo que poderia ocorrer, não iria deixar barato e, para piorar minha situação, mal sabia qual era sua próxima carta nesse terrível jogo. Desliguei o chuveiro me enrolando na toalha e seguindo em direção ao espelho do banheiro. Ao contrário do que pensava, não acordei com meus olhos inchados pelo choro. conseguiu reverter toda a situação, dando-me uma calmaria por algumas horas. Vesti-me e voltei ao quarto. Ele dormia ainda tranquilamente esparramado pelo colchão. Depositei um beijo em sua testa e segui em direção à cozinha. Estranhei tamanha tranquilidade na casa para aquele horário. Eram nove e meia da manhã. Ou já havia saído para trabalhar, ou estava se deliciando em seus sonhos. Abri a porta da cozinha, cantarolando Ink do Coldplay, mas minha serenidade foi para o ar quando avistei uma silhueta encostada na bancada, bem próximo à porta.
- Qual a graça de me darem susto? É o quê? Virou brincadeira? – perguntei, tentando me acalmar.
- Precisamos conversar. – ela disse, em um tom sério. – Senta aí. – apontou para uma cadeira próxima a mim. Puxei com cautela e sentei, como pedido. estendeu uma xícara e a preencheu com café. Tomei um gole o sentindo o gosto forte desder pela minha garganta. – Então... – ela começou. – POR QUE NÃO ME CONTARAM QUE ESTAVAM NAMORANDO? – assustei-me com seu tom de voz. Se eu tivesse com café na boca, provavelmente já teria cuspido tudo.
- O quê? , não estamos namorando!
- Ah, sei... e eu sou a Madonna. Por favor, né! Já é a segunda vez que vocês vão pra cama! É o quê? Amizade colorida? Amizade com benefícios? Ou a bebida que foi a culpada novamente? – comecei a rir, com seu tamanho desespero. – , para de rir, sua vaca!
- Não estamos namorando. Simplesmente está rolando e sei lá.
- Tá rolando, sei... Por isso que ele terminou com , só pode.
- Você sabia que eles não estavam mais juntos? – ela assentiu com a cabeça. – Por que sempre sou a última a saber das coisas?
- Sou irmã dele, é obrigação eu saber das coisas!
- E eu sou... – calei-me ao perceber que não tinha complemento para a frase.
- Opa, completa com namorada, vai. – ela insistiu, arqueando uma sobrancelha em forma de desafio, e tomando mais um gole do café.
- Já disse, não sou. – tomei mais um pouco da bebida. Conversamos mais um pouco, até entrar no local. Que não tenha aquele momento constrangedor, que não tenha...
- Bom dia. – ele disse, meio apreensivo, depositando um beijo em minha testa e na bochecha de . Nunca tinha visto esse lado tão romântico dele.
- Bom dia. – falei, baixo. – Algum problema?
- Muitos. – ele respondeu, se apoiando na bancada.
- Como... – questionou.
- Já viram nossos novos seguranças? – ele disse, com sarcasmo. Corri para a janela e abri um pouco a cortina. Foi só por um pouco da minha cara no vidro, que senti os flashes em meus olhos. Puta merda, tinha centenas, milhares de paparazzis lá fora, todos com seus estoques de câmeras.
- Como eles souberam que... – perguntou.
- . – e eu dissemos ao mesmo tempo.
- E tem mais. – ele me entregou seu celular.

“Traição em família: Após usufruir da fama da irmã e entrar na série rival, é apontada como a causadora do término entre e . De acordo com informações, o casal teria passado a noite juntos. Será que ainda existe salvação nessa relação de irmãs?”


Capítulo 17


“O que era fictício, pode ter virado realidade. A vida não está fácil nem mesmo para uma das estrelas de Hollywood! Após sua irmã se ingressar na carreira artística, parece que está perdendo seu posto para a irmã mais nova. De acordo com informações, e podem estar saindo às escuras. Há rumores de que ela esteja a um bom tempo frequentando constantemente a casa dele... Será que está sabendo dessa história?”

Enquanto a mulher falava na TV, algumas imagens minha, de e de eram mostradas. Tanto no tapete vermelho, como em eventos, na campanha e até mesmo no dia-a-dia quando estávamos saindo das reuniões. Porém, todas em situações onde estava bem mais próximo a mim, não beijando ou coisa do tipo, mas andando lado a lado, almoçando juntos em Viena... Ah, pelo amor de Deus, não podia mais sair entre amigos e já especulavam tudo! Na época nem estávamos juntos, imagine se sem querer eu tropeçasse e ele me amparasse? “ e foram vistos aos amassos no meio da rua em Viena”, essa seria a manchete. O fato era que a mídia controlava, e muito. Era só você sair com alguém que estivesse no auge e puf, você do nada aparecia grávida, armando o golpe do baú ou sendo tachada como amante pelas manchetes. Não existia amizade, não existiam melhores amigos, para eles, o que existe era namorada, ficante, amante, noiva... Cansava! Era por essas e outras que sempre pedi aos Céus para que me deixasse longe desse “mundo”, mas como eu era a famosa pessoa que pagava a língua e tinha uma irmã com uma alma vingadora...
- Filme, desenho ou até mesmo um documentário sobre a vida marinha seria mais interessante do que isso. – disse, sentando-se ao meu lado.
- Eu sei, mas tenho que saber o que esse povo está falando de mim. – era aquela coisa, não deveríamos dar bola ao que falavam de nós, porém era impossível não sentir um pingo de curiosidade para ver o que estavam especulando. Eu estava assim. Passei a manhã inteira procurando fontes de informações que falassem sobre a minha pessoa, achei poucos, mas achei, e todos, por incrível que pareça, estavam falando a mesma coisa e tudo isso devo a minha linda irmã.
- Pra que perder tempo vendo isso? Já não sabe que eles acreditam no que querem? É perda de tempo ficar procurando mentiras. Ok, quase mentiras.
- Eu, sei... Mas bate aquela famosa curiosidade para saber do que estão falando sobre você. É inevitável! Argh, odeio fama, odeio celebridades, odeio essa minha vida. – joguei o controle na mesa de centro, me encostando mais no sofá e cruzando os braços. Todos meus planos de ser uma pessoa “who” da vida foram jogados no ralo. Sempre fui contra minha irmã ter ingressado na carreira artística, sempre falava do quanto aquilo iria mudar nossas vidas, mas não, ninguém quis me ouvir, só que a vida dos meus pais e de Pam continuam as mesmas, já a minha, teve que mudar. Por que, senhor? Por quê? Deveria ter fugido quando meus pais falaram que eu viria pra cá. Já estava satisfeita com minha vida pacata de estudante, sobrevivendo somente com cinco mil seguidores no Twitter e das pessoas lembrando de mim como uma irmã qualquer de .
- ... – falou, tirando-me dos meus pensamentos. Olhei para ele com uma feição emburrada e o vi passando seus braços pelas minhas costas, puxando-me mais para perto de si. – Infelizmente é sua nova vida e, outra, tudo passa. Acha que será sempre assim? Uma hora vamos ser esquecidos pela mídia quando eles encontrarem outra pessoa para infernizar a vida.
– Você fala isso como se fosse tão natural. Não quero esperar por muito tempo, só quero acabar com tudo isso, agora! – sua boca abriu e fechou no mesmo instante, porém logo apareceu na sala, sentando-se no braço do sofá.
– Ok, têm mais de dez paparazzis lá fora e estão acabando com minha pobre cerejeira. Se eles não saírem de lá em cinco minutos, vou soltar os cachorros. – ri em meio ao seu comentário. – , desculpa falar, mas sua irmã é uma naja! Tudo bem que às vezes me estresso demais com o e tenho pensamentos psicopatas para acabar com ele. – ele arregalou os olhos, olhando assustado para ela. – Sabe que eu te amo, mas é você passa dos limites. Enfim, falei com senhor Burtton e ele disse que iria fazer algo a respeito, mas que por agora, vocês vão ter que dar um jeito. tem um público bom e tinha muitas pessoas que gostavam dele com ela, ou seja, você se torna odiada, .
– Obrigada pela sua sinceridade, vou lembrar da próxima vez de sair com um escudo na mão, vai que sei lá, né?!
– Isso é uma ótima ideia! – ela disse, e revirei os olhos. – Continuando. Temos duas opções: Ou vocês assumem essa porra logo e contam a verdade, ou inventam que esses encontros foram para projetos futuros com a empresa do Senhor Burtton e passo a ideia para ele ou arruma um boy, vulgo Petter. – deu um pulo do sofá, gritando em seguida.
– O quê? – deu um pulo do sofá. – Por que esse cara?
– Eles já saíram, ele está solteiro e trabalham na mesma série. Se eles saíssem, soaria como algo mais natural e real.
– Não quero envolver o Petter nisso. – falei, chamando a atenção deles. Realmente não queria. – Acho que é melhor falarmos de uma vez o que está ocorrendo e se eu for odiada, problema. Não pretendo mesmo continuar com essa carreira. Terminando o contrato, volto pro Canadá.
– Mas você sabe que não será mais vista como antigamente, né? – me lembrou deste detalhe. Ótimo, obrigada, .
– Fazer o que, né? – já estava cansada, com a cabeça latejando de tudo aquilo. se levantou, caminhando em direção a janela, pelo visto, tinha começado a chover e os paparazzis desistiram de esperar.
– Posso marcar uma entrevista com vocês no programa Good Morning America. – a voz de me chamou atenção.
– Não, provavelmente faria algo para desmentir tudo o que falássemos.
– E se fomos falar com ela? – deu a voz. Não, não, não, era a última coisa que eu desejaria que ocorresse.
– Não, por favor. Se eu ver a cara dela, juro que rasgo em pedacinhos com minhas próprias unhas.
, acho que ele tem razão. Vamos primeiro tentar falar com ela, tentar resolver isso com ela, se caso não der certo, partimos para outra opção.
Eles não entendiam, realmente não entendiam. não era daquelas pessoas que parava para te ouvir, te entender e resolver as coisas. Seu desejo de estar sempre mais a frente, falava muito mais alto do que seu raciocínio, a sensação de falar com um poste era a mesma de conversar com ela. Você gastaria sua saliva, sua paciência, seu tempo para no final a mesma chegar com um simples “Legal, mas não me importo”. No Canadá, uma das coisas que sempre evitava era brigar com ela, eu poderia ser a certa da vez, ter toda razão, mas sabia que minha irmã não me daria ouvidos. Era a vida quando se tinha irmãos, você podia ter a chance de ter ótimos companheiros ao seu lado ou ótimos inimigos.
– Tudo bem, vamos lá.
(...)

O quão estranho era chegar naquela mansão e não se ver mais ali? Era um pouco. Minhas mãos tremiam e meu coração já estava prestes sair pela boca. Não estava com medo, jamais. Meu nervosismo era em relação a encará-la novamente, olhar nos olhos da pessoa que era da minha mesma família e por um motivo besta me odiava. Talvez não por um motivo besta, mas pelo que ela era. Seu gênio forte e obsessivo, seus anseios caros e egoístas. Meus pais não tiveram culpa por ela ser assim. Pam e eu fomos criadas da mesma forma e éramos completamente diferentes dela. Ela tinha sorte de não ter passado por tudo isso.
Só queria voltar pro Canadá, era meu único desejo e não entendia porque não se realizava logo. E não teria problema para mim e . Assim como ele já cansou de ir lá com minha irmã, ele poderia muito bem pegar um avião sempre que estivesse livre e passar uns dias lá.
– Pronta? – ele me encarou, tirando os óculos escuros da face. Sua feição não era uma das melhores. Estava bem expressivo em seu rosto o cansaço desse assunto. Ele queria paz, e jamais conseguia enxergar esse seu lado. Sempre o vi como uma cópia de minha irmã, mas pro lado da perturbação. Quando você passa a conviver mais com a pessoa, todos os erros que ele tinha, passam a ter um significado. era totalmente inconveniente e arrogante comigo, porque não soube se expressar da melhor forma quando me conheceu. Eu não era uma pessoa totalmente aberta, era muito fechada e era praticamente como um campo minado tentar me conquistar. Você tinha que fazer tudo certinho e um passo em falso, todas as conquistas iam por água baixo. Mas depois de tanta coisa, ainda me surpreendia com seu modo protetor em relação a mim. Joguei o corpo em sua direção, colocando uma de minhas mãos em sua fase e depositando um beijo demorado em seus lábios. Era tão estranho ver seu “inimigo” de longas datas se tornando alguém que seu coração desejava.
– Pronta. – me afastei vendo um sorriso confiante em seu rosto. Saímos do carro e caminhamos lentamente até o enorme portão. Por sorte não havia ninguém na rua, ou seja, sem paparazzis, e era o que eu mais esperava. Encarei a frente da casa e logo ouvi o botão do interfone ser acionado por . Torcia para que Lena atendesse, só assim, creio eu, que entraríamos lá. Mas ninguém se prontificou a abrir, sendo assim, a única opção foi usar as chaves reservas que ainda tinha e, por sorte, não havia trocado as fechaduras. Passamos pelo jardim até chegar à porta. Dei um pesado suspiro, como se ali, eu me desprendesse de qualquer medo e inspirava coragem de enfrentar um robô que não iria entender nada do que eu falasse.
A sala estava vazia e os móveis impecáveis no mesmo lugar. Tudo estava exatamente como no dia que havia saído dali. Um barulho na cozinha me chamou a atenção e logo caminhei até lá, me deparando com Lena de costas, cantarolando alguma música qualquer e preparando uma de suas comidas de dar água na boca. Meus passos não foram tão silenciosos como pensei, a mulher que antes estava virada de costas para mim, me encarava com um sorriso abertamente nos lábios. Me senti melhor ainda em saber que não havia feito a cabeça dela.
, que bom te ver! – ela disse, me dando um abraço super apertado. A apertei com mais força.
– Também é bom te ver, Lena.
– Como você entrou aqui?
– Apertei a campainha, mas ninguém abriu, então ainda tinha as chaves e acabamos “invadindo”. Desculpa. – sorri meio sem jeito.
– Não tem problema, sou tão cabeça avoada que às vezes nem a ouço tocar. Mas então quer dizer que vocês estão juntos mesmo? – seu olhar intercalava em mim e em , que estava um pouco atrás de mim. Olhei meio sem jeito para ele, que retribuiu com um sorriso e falei.
– Digamos que sim, com toda essa confusão está sendo complicado pensar direito.
– É, tenho visto as fofocas dos famosos. – ela riu.
– Quem não viu, né? Mas minha irmã está ai?
– Ela saiu desde cedo, mas não sei se está tão animada em te ver.
– Bem, esse sentimento é reciproco, então. Tem problema se eu esperar? – Lena estava desconfortável com aquela situação. Minha irmã deveria ter dito algo a ela como se proibisse a minha entrada naquela casa. Temia também por Lena, afinal, ela não tem nada a ver com a história. – Sei que ela não quer me ver, mas...
– Eu realmente não queria te ver, mas você me persegue por todos os cantos. – e sua voz me interrompeu. Aquela voz com um pingo de ironia e total confiança. Virei-me rapidamente, encarando aquele molde de Barbie falsificada, com vestimentas totalmente rosa e um salto preto, alto e fino. – O que está fazendo aqui? E ainda trouxe ele? – apontou com desgosto pra .
– Temos que, infelizmente, conversar.
– Não temos nada, . Desde o momento em que você veio parar nesta cidade, minha vida se tornou um caos.
– Olha, pensamos iguais.
– Não ouse a falar isso, porque não sou como você, ladra de namorados.
... – insinuou alguma fala, mas ela logo o interrompeu.
– Cala a boca, que não estou falando com você.
, tenha educação uma vez na vida! – falei.
– E você pare de ficar querendo o que é meu!
– Céus, eu não queria estar aqui, não queria ter vindo para cá! Nossos pais me forçaram!
– E você tinha que se intrometer no meu trabalho?
– Eu não me intrometi em nada, infelizmente a vida jogou comigo e aqui estou. Se fosse outra pessoa, outra irmã, ela se apoiariam, mas você só olha pro seu umbigo. – ela apontou o dedo para mim, como se insinuasse que iria falar algo, mas logo a impedi. – Você vai me ouvir agora. Já estou farta e cansada dos seus jogos comigo. Somos uma família, irmãs! Querendo ou não, tínhamos que nos apoiar nessa, eu te apoiava! Sempre assistia suas séries, filmes, entrevistas, tudo! Mesmo tendo tantas desavenças, eu assistia. Mas nunca falei com você, porque você nunca me deu liberdade, você sempre me humilhava para se sentir bem! Não tenho culpa de estar aqui, eu não peguei seu emprego, seu namorado ou qualquer coisa que seja. Não somos da mesma série, não fizemos a mesma campanha, eu tentei não aceitar a campanha por sua causa, mas o que você fez? Mandou seu rebanho me provocar, e eu não aceito provocações. Se tudo está ocorrendo desse jeito, a culpa é sua! E outra, quem não sabe que você e estavam em crise? Mas não foi isso que me fez ficar com ele. Sabe o que foi? Quando você quer algo, você vai atrás disso e sempre consegue, mas com ele você nem ligou, ou seja, você não sente mais nada pro ele, . Esquece o que a mídia diz, o que vai dizer, vai cuidar da sua vida e carreira e para de querer fama! Você nunca mais foi nos visitar lá e sempre quando ia, ficava mil horas no telefone ou esbanjando sua coleção de verão de tal marca. Isso não é viver! Fama não é nada, mídia também. Se você quer respeito nesse seu mundo e parar de ser controlada, você tem que ter personalidade e isso, você perdeu há muito tempo. – pela primeira vez na vida, havia visto minha irmã calada. Absolutamente calada, olhando fixamente para mim com uma feição totalmente séria.
Se eu deveria me preocupar? Sim.
Lena e olhavam atentamente, assim como eu. Mas ela não falou nada, simplesmente continuava olhando para mim. Impulsivamente, peguei no pulso de e o puxei até a porta. Sabe lá o que poderia acontecer.
(...)
– Acho que ela ficou chocada. – disse, enquanto entrávamos em sua casa.
– Não acho, ela não é de se arrepender ou coisa e tal.
– Mas o que você disse, jamais alguém tinha dito antes a ela.
– Mais outro motivo para eu me arrepender de ter falado.
Tudo ainda parecia um filme, ou até mesmo um sonho. Ainda não tinha caído a ficha de que havia falado tanta coisa para ela, mas um certo alivio me preenchia e por incrível que parecia, eu me sentia bem. Só queria tomar um banho e descansar, mas meus planos se interromperam quando me deparei com um ser em minha frente. Alguém que realmente me fazia bem e sempre me fez.
! – gritei, correndo em sua direção e me jogando. – Meu Deus, você sumiu!
– Eu sempre estive aqui. – ele riu.
– Achei que estivesse na casa de .
– Eu estava, mas com tudo isso acontecendo, resolvi sair de lá para dar mais privacidade a ela e deixar a poeira abaixar.
– E onde está agora?
– Ele alugou uma casa pequena no centro. – disse, se aproximando.
– E não havia conseguido se não fosse por ela. – ele apontou para , que sorriu. – E também consegui um emprego, graças a ela também.
– De nada. – deu uma piscadela. Ai tinha...
– E do que está trabalhando? – perguntei.
– Ele é meu ajudante. Falei com senhor Burtton sobre ele, e disse que precisava realmente de um ajudante. A minha antiga não fazia absolutamente nada, então, por que não dar uma chance? – e eu arqueamos uma das sobrancelhas e a olhamos curiosamente. Mas quando eu ia me pronunciar sobre o assunto, ela me interrompeu. – Mês que vem temos um evento de premiação. , você foi chamada para entregar um dos prêmios.
– Eu? – questionei. Eu havia sido chamada? Como assim? – Mas nem sou tão conhecida.
– Bem, com tudo o que está acontecendo, você está sendo. E é melhor não recusar, não gastei meu tempo à toa!
– Ela não irá, não é? – passou um de seus braços pela minha cintura, me abraçando de lado. O olhar de não foi um dos mais agradáveis, e acabei o repreendendo por isso, mas ele não ligou. Ainda tinha que resolver essa intriga entre ambos, mas meu foco no momento, seria um bom banho. – Parabéns. – ele sussurrou, depositando um beijo delicado em minha bochecha.
– Obrigada. – silabei. – Bem, mais alguma coisa? – olhou para , e ele a encarou de volta. Não eram olhares apaixonados ou coisa do tipo, eram olhares de que me escondiam alguma coisa. – Vocês...
– Sua irmã estará no evento. – disse.
– Nós estamos saindo. – e completou no mesmo momento, me deixando de queixo caído.


Capítulo 18


– Vamos lá... Não, não, agarra essa bola, agarre... NÃO! Ah, esse jogo está me roubando! , você já... ? – ouvi me chamar, mas minha mente estava focada em outro lugar, ou em outra coisa, com certeza em duas pessoas que estavam saindo e que nem mesmo me contaram antes. – MACY!
– O quê?! – virei meu olhar para ele, que me olhava um pouco encucado com minha última fala. logo levantou-se do sofá, parando em minha frente.
– Se você continuar assim, vai acabar fazendo um buraco no chão, e ficar perdida em outro mundo de tanto que você está dispersa desse. O que aconteceu?
– Você não está meio... sei lá, em relação a e o ? – ele arqueou a sobrancelha como se fosse extremamente estranho.
– Posso não ter lá uma boa relação com seu primo, mas creio que ele deva ser legal, e também precisa de alguém, a vida dela é só trabalho e mais trabalho.
– Anw, que fofo. – pus uma de minhas mãos em seu rosto. – Nem parece aquela pessoa que vivia me infernizando. – ele rolou os olhos e comecei a rir. – Como eles não nos contaram antes? Digo... Eu sou amiga da sua irmã, não sou? E é meu melhor amigo, meu primo!
– Acho que do mesmo modo que não contamos a eles sobre a gente logo no inicio, eles tem todo o direito de esconder. – arqueei uma sobrancelha em meio ao seu comentário.
– Desde quando você possui uma mente que raciocina?
– Porra, fico com medo do que realmente pensa sobre mim. Não sou idiota, ok?
– Mas agia como um, comigo. – senti seus braços envolverem lentamente minha cintura, e seu rosto se aproximar mais do meu. Envolvi seu pescoço com meus braços e alisei sua nuca.
– Bem, isso era no passado... Hoje, vivemos outra realidade. – seus lábios se aproximaram dos meus, e iniciamos um beijo tipicamente calmo, um beijo que me confortava, por incrível que parecesse. Quando nos separamos, tornei a encará-lo, mas sua feição já dizia por si só que ele sabia que eu não estava totalmente bem. – Ok, desembucha, madame. – soltei um forte suspiro, desviando um pouco do seu olhar.
– É muita coisa ocorrendo ao mesmo instante. Um dia, sou uma jovem garota canadense, vivendo uma vida pacata com uma irmã celebridade. No outro, já me vejo rodeada de paparazzi, sendo escalada para série e apresentações, descobrindo um lado totalmente novo e estranho em mim. Jamais pensei que tivesse um lado artístico.
– Também não, você era muito... Sem sal. – o olhei incrédula com seu comentário, e ele riu.
– Ridículo! – dei um tapa em seu braço, o fazendo rir mais ainda.
– Seus tapas costumavam doer mais. – revirei os olhos, e ele me puxou mais para si. – Mas, sim, o que mais te preocupa?
?! – falei meio obvio para ele.
– Por quê?
– Você tem ideia do quão sem noção é a mente da minha irmã? Ela é...
– Estranha? Patricinha demais? , o que você acha que ela pode fazer? Te sequestrar, te pôr dentro de um caixote e despachar para bem longe? – torci o lábio e só com esse pequeno movimento, foi capaz dele entender o que eu realmente queria falar. – Sério que você acha?
, é porque realmente você não conhece ela. – saí do aconchego dos seus braços e caminhei até o sofá, sentando-me em seguida. – Quando eu tinha doze anos, ela me trancou no seleiro na fazenda de nossa avó só para ter a atenção toda do . Ela gostava dele, só que ele não era muito fã dela. Mas eu só tinha doze anos! Se não fosse pela Pam ter ouvido meus berros, eu teria que comer feno para saciar minha fome! Você consegue me entender? Do-ze anos!
– Quando eu tinha essa idade, vivia aprontando com a também.
– Você já chegou a trancá-la em um seleiro? – ele fez uma feição pensativa e logo torceu os lábios, negando a cabeça em seguida.
– Mas a gente nem morou na cidade grande, porém, eu já cheguei a trocar a pasta de avelã dela por pasta de amendoim sendo que ela tem alergia. – se aproximou e sentou-se ao meu lado. – Eu tinha treze, catorze anos. Nunca fiquei tão apavorado em minha vida.
– Por que você a viu passar mal?
– Não, porque eu jurava que ia ser preso. Meu pai disse que iriam me mandar para uma base militar onde eu teria que viver até meus dezoito anos preso, sem televisão, computador, videogame... Eu surtei.
– E sua irmã?! – perguntei assustada. – Você não ficou assustado em vê-la tendo um ataque?
– Não foi nada de mais, ela apenas começou a se coçar, seu rosto ficou inchado, suas mãos também... Nossa, parecia que ela havia tomado umas ferroadas de abelhas, sabe, cada uma enorme que...
!
– O quê? Estou brincando, relaxa. – ele começou a rir. Oh, ódio que eu tinha quando ele tentava tornar algo sério em brincadeira. – Eu fiquei realmente assustado por conta da reação que ela teve. ficou uma semana no hospital, depois disso nunca mais troquei a comida dela, sem falar que eu sempre checava antes se era pasta de amendoim. Meus pais me fizeram cuidar dela até sua melhora. Foi complicado, mas sobrevivi, e ela me perdoou.
– Pelo menos isso, né. Porque se fosse eu...
– Esse é o mau. – ele disse, e fiquei sem entender onde ele queria chegar. – Você e não se dão bem, porque uma quer ser superior a outra. Por que Pam não se mete nisso e tem uma boa relação com ambas? Porque ela não se importa se perdeu ou ganhou, e vida de irmão é assim. É estressante, às vezes você se sente como se fosse o odiado da família, mas tudo isso é normal. Temos que saber relevar certas coisas e aprender a conversar porque eles são nossa família. Eu não me vejo sem a . Ela cuida de mim, ela é uma ótima companhia, ela cuida do meu trabalho. Se ela levasse a sério tudo o que eu já fiz para ela nessa vida, e eu levasse a sério também, seriamos como dois países em guerra e sem tratado de paz. E acho que é isso que você deveria fazer com , apaziguar as coisas.
– Mas por que tem que ser justo eu?
– Porque você pensa mais do que ela. Você é mais maleável, já sua irmã tem a cabeça mais dura do que uma pedra. – a campainha tocou antes mesmo de eu ter formulado uma resposta. se levantou e foi atender, e eu fiquei com aquele maldito pensamento em minha mente.
Por um lado, ele estava certo. sempre teve uma cabeça dura e sempre quis que as coisas fossem do jeito dela, sendo assim, era impossível debater ou tentar mudar seus pensamentos. Quanto mais eu falasse, mais ela se acharia certa, e mais ela trinaria suas patadas em mim, então não era a melhor maneira de resolver tudo aquilo.
(...)
Não havia dormido bem durante a noite. Senti tanta inveja do por ele ter conseguido dormir tão bem, enquanto eu fiquei admirando o teto do quarto. Como sempre, levantei às cinco da manhã bem indisposta. havia me mandado uma mensagem avisando que passaria a noite no apartamento do . Relacionamento rápido desses dois... Às seis, e eu fomos para o set de gravações.
Fazíamos parte do mesmo estúdio, mas o set de gravações dele era em uma ala e o meu em outra, o que era até bom, já que não tinha chances de encontrar com minha irmã, já ele...
Por incrível que parecia, eu estava conseguindo me virar bem como atriz, havia contratado um professor para melhorar ainda mais minhas atuações, era até divertido, mas cansativo, principalmente quando perdia noites para gravar uma cena.
Em meio a tudo que ocorreu, o pessoal não havia mudado comigo, o que me deixava feliz e mais confortável. Não iria conseguir trabalhar em um local onde eu tivesse olhares atravessados.
Cheguei ao meu camarim e logo soltei um suspiro deixando minha bolsa no sofá. A roupa da minha cena já estava pendurada na arara. Mais um dia e mais uma cena para se concluir. Além disso, eu estava gravando minhas falas para a premiação, na qual fui convocada para entregar o prêmio de melhor atriz. Eu não havia entrado na lista dos selecionados, já que era nova nesse ramo, mas minha irmã estava.
Tratei de me aprontar logo, enquanto a maquiadora Ruth me maquiava, tentava repassar o roteiro. Assim que ela acabou, fui às pressas para gravar. Enquanto andava apressadamente em meio ao corredor, acabei me esbarrando em alguém.
– Olha só quem resolveu aparecer... – Petter disse com suas mãos em meus braços, impedindo-me de cair. – É só começar a namorar que já se afasta dos amigos?
– Parece que as noticias correm rápido na cidade, hein? – me ajeitei, afastando-me um pouco e tentando evitar um certo contato visual.
– Estamos em Los Angeles, notícias são o que mais temos por aqui. – ele disse. – Algum problema?
– O quê? Não, nenhum. – o olhei. – Me desculpe pelo sumiço, é que tantas coisas ocorreram nesse meio tempo que mal tive tempo para me coçar. – ele riu. Colocando uma de suas mãos em meu ombro, começamos a andar em direção ao cenário.
– É, eu soube de algumas coisas, mas você está bem?
– Confusa, mas estou tentando ficar bem.
– Essa é a que eu conheço. – Petter falou em um tom divertido, me fazendo rir.
~***~
– Sarah, eu juro que não queria ter feito aquilo, mas foi preciso... – e se ganhasse o prêmio? Como eu iria entregar a ela? – Sarah? – será que ela me abraçaria ou me deixaria no vácuo?
... – ouvi a voz baixa de Petter próxima a mim, e logo percebi seu rosto muito próximo ao meu, fazendo com que eu tomasse um pequeno susto e recuasse.
– CORTA! – a voz do diretor soou alta e foi o suficiente para que eu voltasse à realidade. – Vamos dar um tempo, e , para de pensar na vida e foca na cena!
, tem certeza de que você está bem? Já é a quarta cena que você sai de orbita.
– Desculpa, Petter. É muita coisa processando em minha mente.
– O que realmente está te incomodando? – ele cruzou os braços, me fitando sério. – Porque, pelo visto, não estou vendo você seguindo em frente, como havia dito.
– A minha situação com . Eu já estou farta dessa briguinha, dessa rixa que ela tem por mim, mas ela não entende. Sem falar que na premiação, eu que irei entregar o prêmio de melhor atriz e ela foi indicada. E se na hora ela ganhar e me deixar na mão? Não for cordial e educada? Me tratar como, sei lá...
, ... Você pensa demais. Você pensa muito no que pode acontecer. Ainda tem alguns dias antes da premiação, quem sabe se daqui até lá as coisas não melhorem?
– Melhorar? Melhorar não se encaixa em nosso vocabulário, tudo só piora.
– Olha, respira e foque em uma coisa de cada vez. – senti suas mãos tocarem minhas bochechas, colocando um pedaço do meu cabelo para trás da minha orelha. – Tudo acontece em seu devido tempo.
– Assim espero, Petter.
– E olha, sei que seu namorado não vai lá muito com minha cara, mas espero que isso não seja motivo para não termos uma amizade.
– Claro que não será! Jamais. Você me ajudou bastante e sempre serei grata a você.


Capítulo 19


– O destino embaralha... Argh! Novamente. O destino embaralha as cartas e... Argh! Pra quê essas falas?
– Para tornar tudo mais sofisticado, mais do que já é. – disse digitando no celular, enquanto duas mulheres e um homem ajeitavam meu cabelo e meu vestido. – Não acredito que ainda não gravou, ! A premiação é daqui a pouco!
– Eu sei! – aumentei a voz, já estava irritada. – Só que essa semana eu tive mais de dez páginas para ler! Sem falar daquele comercial que parece mais uma enciclopédia. Olha, se não fizer sucesso, não será minha culpa.
– Eu te arrumo trabalho e você ainda reclama? Tudo bem, me aguarde, assim que chegar em casa, organize logo suas coisas para morar debaixo da ponte.
– Você está me expulsando da sua casa? – me fiz de afetada e ela revirou os olhos. – Como posso ter uma amiga assim? Pra que inimigos, se existe Brendford como pessoa?
– Drama, puro drama... Trate logo de gravar isso.
– Vou ser sincera, mais sincera do que já sou. Esse falatório todo deixa a premiação mais chata, sabia? Eu odiava ter que ouvir os artistas com aqueles textos filosóficos. E outra, aquele suspense, pra que isso? Fala logo quem ganhou e pronto! – suspirou e caminhou calmamente em minha direção, me olhando com aquele olhar sereno de uma pessoa que prontamente iria calar minha boca.
– Se fosse assim, os eventos durariam menos de uma hora, não teria graça.
– Teria graça para quem estivesse assistindo, sem falar das apresentações de cantores e banda que tem, era só aumentar isso.
– Não tenho nada a ver com isso, reclame com os organizadores, agora vamos antes que a gente perca o horário.
– Vocês já estão... Uau! – disse entrando no quarto, dando um pequeno infarto de susto em sua irmã, que rolou os olhos e caminhou até ele.
– Eu já estou pronta, só sua namorada que está ai reclamando pelos cotovelos. Preciso ver com a organização quando entrará. – ela passou reto por ele e abriu a porta, saindo em seguida, reclamando de algo que nem mesmo eu havia entendido. semicerrou os olhos e voltou seu olhar em mim como se questionasse o que ela havia dito. Dei de ombros, claro. Se ele, que estava perto não havia ouvido, imagine eu.
Seu cabelo estava penteado para trás e sua gravata dourada dava um destaque a mais em sua combinação de terno. Elegante, eu diria.
– Se não soubesse o número do seu camarim, juro que não te reconheceria. – ele estendeu sua mão para mim e a segurei, me levantando em seguida e envolvendo seu pescoço. Com cautela, dei um leve selinho nele para que o batom não borrasse e nem marcasse em seus lábios.
– Não digo o mesmo a você, pois você tem a mesma cara de sempre. – sua feição demonstrou um puro desagrado e eu ri com a situação. – Uou, pra quê tanto perfume assim? Vai acabar sufocando um. – ele revirou os olhos e se afastou.
– Nossa, que namorada eu tenho. Venho com mil elogios e só recebo crítica.
– Primeiro que: desde quando eu sou sua namorada? Não vi nenhum pedido oficial desde...
– Pensei que fosse daquelas pessoas anti-romantismo.
– Eu sou anti-romantismo água com açúcar. Mas um pedido do tipo com chocolate ou qualquer comida, eu aceitava. Se ajoelhando, falando algo, sabe... – ele coçou a nuca. Certamente estava nervoso com algo, provavelmente a premiação. – Incomodado com algo? – caminhei até o outro lado da pequena sala, indo em direção a minha bolsa. Pelo horário, só faltavam dez minutos para que tudo começasse. Teríamos que estar no tapete vermelho em quinze minutos. Eu entraria com , já que a mídia já tinha noção de tudo o que aconteceu. Claro, depois do desabafo ridículo da minha irmã no Twitter, todos já deveriam saber que ela estava solteira. Porém, o mais curioso era que ela não havia insinuado algo como “minha irmã roubou meu namorado”, que seria bem típico da cara dela. Foi algo como “terminei com ele e a vida segue”. Me sentia mal por ela, me sentia mal por aquele relacionamento com , por mais que eu o amasse. Queria me explicar com e quem sabe, me resolver com ela, mas a mesma não colaborava, o que me deixava na mão e sem jeito de olhar em sua face. Meus pais já estavam sabendo e ouvir o “depois nós conversamos melhor” de minha mãe não me deixou muito feliz, muito menos calma.
– Não, só estou pensando se eu continuo com esse relacionamento depois disso ou aproveito essa festa e sumo.
! – o repreendi e ele se aproximou, envolvendo suas mãos em minha cintura e me puxando para mais perto.
– ‘Tô brincando. – e sua segurada em minha cintura se desenvolveu para um abraço. Aconcheguei meu queixo em seu ombro e o senti me apertar mais ainda em seu abraço. Sua respiração em meu pescoço começou a me deixar arrepiada. Ficamos assim por alguns segundos até ele sussurrar em meu ouvido.
– Só para não fugir um pouco do clichê, mas você aceita ser minha namorada? – eu ri com aquela situação. Tive que soltar um pequeno riso abafado, mas logo após, acabei afastando meu rosto e o encarei. Soltei uma mistura de sorriso e riso e ele me olhava com um semblante confuso.
– Só não te beijo aqui agora, porque não quero dar trabalho ao maquiador, mas... Acho que um sim já vale, só porque você tentou algo.
(...)

Era como se eu nunca tivesse apresentado nada ou nunca tivesse em frente às câmeras falando algo. Minhas mãos estavam trêmulas e meus pés agoniados. Durante a passagem pelo tapete vermelho, muitos jornalistas me questionaram sobre meu relacionamento com minha irmã. Não aguentava ouvir mais aquilo, então a única coisa que respondia era “bem”, “tudo normal”. Não havia visto ainda, e quando perguntei a se ele havia a visto, o mesmo respondeu que não. e meu primo chegaram logo após e sentaram na mesma mesa que nós. Bandas, cantores e cantoras se apresentando, atores apresentando as categorias até que chegou a minha vez.
“Quando anunciar seu nome, você vai andando cautelosamente até o microfone, acena um pouco e, quando os aplausos acabarem, você começa a falar. Lembre-se de que não poderá ultrapassar o tempo. Não precisa falar rápido, mas também não precisa falar devagar. Assim que a apresentação das pessoas indicadas acabarem, você torna a falar. Dê um suspense de alguns segundos e fale. Não esqueça de sorrir e pegar o prêmio na mão da assistente. Abrace a pessoa para parecer mais amigável e dê um passo para trás. Saia somente depois que o ganhador sair.”
Era muita informação para um único só momento, somente segui o que me pediram. Respirei fundo e segui caminho em meu vestido verde longo, solto, com um colar em meu colo. Cheguei acenando e com o envelope em minha mão livre. Quando os aplausos cessaram, esbanjei meu melhor sorriso.
- O destino embaralha as cartas e nós as jogamos. Mas não significa que não temos controle do que realmente desejamos. As pessoas indicadas demonstraram no decorrer do tempo que desejo e destino podem trabalhar lado a lado. Vamos às indicações de melhor atriz da temporada. – a única coisa ruim, ou melhor, uma das coisas ruins, era que você tinha que ficar olhando para frente enquanto passava a apresentação na tela. Aproveitei para procurar e a encontrei um pouco no canto, sentada ao lado de algumas amigas e amigos. Seu olhar estava diretamente para mim e ao contrário do que pensava, ela estava séria. Estava esperando um sorriso maligno ou vitorioso. Quando ouvi a última fala da tela, retornei mais próxima ao microfone. – E a vencedora da categoria de melhor atriz é... – congelei ao ler o nome. Não saberia como ela iria reagir e muito menos eu. – .
Minha irmã logo demonstrou uma feição surpresa e entre abraços e parabéns, ela veio caminhando até o palco. Recuei um pouco e uma das assistentes me entregou o prêmio. subiu em um vestido vermelho extremamente luxuoso e brilhante, com seus olhos em uma sombra preta esfumada. Abraçava ou não? Desejava parabéns ou não? Ela poderia me deixar no vácuo, eu não sabia realmente o que fazer. Deixei-me agir por impulso e me aproximei. Seus braços estavam erguidos como se fosse pegar o prêmio, mas fui totalmente surpreendida por seu abraço. Se eu fosse contar há quanto tempo eu não a abraçava daquele jeito, me perderia em números. Deixei escapulir um ‘parabéns’ e a mesma respondeu um ‘obrigado’ em sussurro, esbanjando seu melhor sorriso. Entreguei seu prêmio e ela foi em direção ao microfone.
– Surpresa deveria ser meu segundo nome. – ela disse rindo. – Eu nem sei o quê falar, mas quero agradecer a todos que votaram por mim, aos meus fãs, meus pais, a Deus, por me permitirem esse momento. Sou feliz no que faço e quero continuar até não poder mais. Esse prêmio é muito especial para mim, ainda é mais especial por ter sido entregue por minha irmã, que está seguindo meus passos. Esse prêmio é nosso, é de todos que vem me ajudando e apoiando. – ela se virou rapidamente ainda sorrindo para mim. – Obrigada!
Entre aplausos, nós saímos abraçadas do palco. Assim que chegamos ao backstage, ela se soltou quando sua empresária se aproximou. Aquilo tudo havia sido encenação, com certeza foi. Ela não iria falar comigo e eu não poderia ser besta ao ponto de imaginar isso. Não iria a esperar, dei meia volta e segui caminho pelo lado contrário até sair dali, mas fui impedida por uma voz familiar.
, podemos conversar? – eu estava sonhando. Com certeza estava, porque não acreditava que aquilo havia saído da boca de . Eu a encarei e franzi o cenho. Como assim, depois de tudo, ela queria conversar?
– Eu poderia fazer a mesma coisa que você fez comigo, sair simplesmente, mas como não sou você. – “ainda bem”. Pensei. – Eu irei.
Seguimos até uma sala nos fundos em um pequeno camarim improvisado. Ela fechou a porta atrás de nós e se aproximou. Tratei de cruzar logo os braços e a encarei.
esteve essa semana lá em casa. – quase me engasguei com minha própria saliva ao ouvir aquilo. O que aquele garoto queria lá? – De primeira, fechei a porta na cara dele, mas ele insistiu. Se eu não o atendesse, ficaria sem campainha e não estava mais aguentando aquele barulho. O deixei entrar e ele foi bem direto. Ele me explicou tudo, explicou os sentimentos dele, o que estava acontecendo... Tudo. E isso me fez chegar a uma conclusão que não conseguia enxergar. Estava me deixando levar pelo orgulho. Nós não tínhamos um relacionamento nos últimos anos, meses, tudo o que tivemos se tornou muito fútil por conta da mídia. Ele me explicou sobre vocês e me pediu para que eu te desse uma chance. Eu não sei o que aquele garoto fez, mas fiquei com isso na cabeça durante a semana toda. também esteve em contato comigo, enfim, sua tropa esteve e... – ela suspirou fundo. Realmente aquilo estava sendo difícil para ela, porque não era todo dia que resolvia ouvir alguém e pedir uma desculpa não desculpa. – Não acredito que vou falar isso, mas fui um pouco injusta contigo. – um pouco? Ela havia entendido realmente a essência da conversa?
– Um pouco? ...
, não precisa falar. Seus amigos e seu novo namorado já falaram por você.
– Eu me sinto mal por estar...
– Não sinta. Só siga sua vida e eu seguirei a minha. Vamos ver o que o tempo reserva para nós, é o melhor. – meu queixo deveria estar no chão, porque jamais, em toda minha vida, pensaria que minha irmã fosse agir daquela maneira. Eu estava seriamente pensando se aquela pessoa não era nenhum dublê ou coisa parecida. E minhas ideias se tornaram mais fortes depois que ela me abraçou forte e saiu, me deixando com uma cara de nada.


Capítulo 20 - Epílogo


– Você é idiota ou se faz de um? – esbravejei com um peso chamado malas em minhas mãos.
– A culpa não foi minha em adiar as passagens, eu te disse que sair pela manhã era melhor. – ele disse correndo um pouco mais à minha frente, enquanto os outros seguranças tentavam nos alcançar em meio a um aeroporto quase lotado e cheio de fãs. Queria poder falar com eles, mas ou era eles ou minha candidatura no comitê de interpretação. Depois eu postaria uma nota nas redes sociais, só esperava que eles fossem me entender.
– Eu queria passar mais tempo com minha família, ok? Não foi eu que ficou quase uma hora procurando o bendito relógio que você havia colocado na minha bolsa!
– E eu ia lá lembrar que eu havia colocado lá?
– O relógio é seu!
Por sorte, conseguimos entrar no avião faltando apenas dois minutos. Só consegui me acalmar quando sentei na poltrona macia da primeira classe. Um mix de lembranças me veio à cabeça, lembrando da minha primeira vez indo à L.A. Classe econômica, pessoas indesejáveis do meu lado, e um desejo enorme de sair daquele avião e desistir de tudo. Se eu tivesse desistido, talvez minha vida não estivesse como estava naquele momento. Com certeza não estaria com , com certeza meu primo não estaria com , e com muita certeza eu não teria melhorado minha situação com . E quando imaginei que o destino estava brincando com minha vida de uma maneira drástica, percebi que ele só estava ajeitando as coisas e me dando novas oportunidades na vida.


Fim



Nota da autora: OOk, vamos lá, não sou muito boa com palavras, mas vou tentar. Gof foi minha primeira história interativa, e eu só tenho a agradecer muito a Deus e a vocês pelo carinho IMENSO que eu tive e a história teve. Obrigada por todos os comentários que me fizeram rir, chorar, ficar ansiosa para escrever mais e mais. Eu me divertia muuuuuuuito escrevendo ela, e isso ficará marcada para sempre, sempre mesmo! Eu tenho um carinho tão grande com essa história e vocês tornaram isso muito mais especial para mim! Graças a ela, tive coragem de continuar escrevendo e imaginando outras histórias e graças a vocês, eu tive e tenho o apoio e a vontade de escrever muito mais. Eu nem sei o que falar, só sei que todos os momentos, desde a ansiedade de ver o primeiro comentário, de ficar abrindo a página a cada cinco minutos para ver o que vocês acharam, tudo mesmo, ficará guardado em meu coração. E queria agradecer muito a minhas amigas que sempre me apoiaram (vocês sabem quem são, se eu for falar, vai ser uma listona HAHAH) e as pessoas que indicam também. E um super obrigado a Mars, minha antiga beta que teve um carinho enorme comigo e com a história e a maravilhosa Bela que pegou para betar e tem um cuidado maravilhoso com GOF, sem falar dos maravilhosos conselhos que recebi. Então é isso, obrigada mais uma vez por tudo, mas não se preocupem que tem muitas histórias ainda para vir. Estou com American Boy em andamento, e em breve terá mais outra que postarei no meu grupo de histórias. Se quiserem falar comigo, minha ask está lá para receber vocês <3
PS: Uma vez me questionaram se a Selena Gomez era a atriz que interpreta a PP (me sentindo aqui diretora de filme AHAHA) e sim, sempre imaginei ela sendo a PP <3

Contatos: Ask, Grupo do Face

Outras histórias:
American Boy – Outros/Em Andamento
Last Kisses - Outros/Finalizada (Shortfic)
08.Happily, com Berrie - Ficstape Midnight Memories, One Direction/Finalizada.
01. Heart Attack - Ficstape DEMI, Demi Lovato/Finalizada.
05. Two Pieces - Ficstape DEMI, Demi Lovato/Finalizada.
10. Give Your Heart a Break - Ficstape Unbroken, Demi Lovato/Finalizada.
15. Ours — Ficstape Speak Now, Taylor Swift/Finalizada.
08. Fifteen — Ficstape Fearless, Taylor Swift/Finalizada.
05. Love Bug — Ficstape A Little Bit Longer, Jonas Brothers/Finalizada.
06. My Dilemma 2.0 - Ficstape For You, Selena Gomez/Finalizada.




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