Geminiana

Postada em: 12/05/2020

Capítulo Único

Você alguma vez já olhou no espelho e perguntou qual era o propósito de tudo isso? Você se pegou vendo fotos antigas e indagou como tudo teve que acabar daquele jeito? Você já bebeu tanto só para tentar esquecer um fato ou uma pessoa? Você já olhou para o passado e viu o quanto foi feliz e que sabia disso? Ou, sei lá, achou que deveria ter gastado mais tempo com certas pessoas e menos com o trabalho, faculdade ou qualquer outra obrigação? Bem, digo tudo isso porque, obviamente, passei por todas essas coisas e não tenho vergonha de dizer.
Apesar de todos os sorrisos, de todas as vezes que eu tento seguir com o rumo normal da vida, sigo com a sensação de que poderia ter feito diferente, de ter falado menos, agido mais, de ter sido mais racional ou de simplesmente fugir quando fosse necessário… ah, e como foi!
Apesar de toda essa explosão de sentimento que carrego no meu peito em chamas, sempre achei que pertencia a mim mesma, que não era de ninguém e que nem um dia seria de alguém. Eu nunca pertenci à minha família, nem nunca correspondi às expectativas dela, sempre fui o tipo de pessoa que não sabe onde se encaixar e sempre eu ouço alguém brincar sobre como eu fui parar ali naquele clã familia e, na verdade, nem eu mesmo sei. Via as minhas primas com seus namorados, suas felicidades rápidas e passageiras, depois as vi com seus respectivos maridos e filhinhos cantando parabéns-pra-você em festas infantis. Mesmo sonhando com isso, sempre me senti muito deslocada com essa vida cotidiana, católica, fiel e cheia de regras – sem espaço para criatividade, para festas, para novas experiências.
Eu sempre quis ter uma família pelo simples fato de não se encaixar na minha, mas nunca havia pensado que este molde a mim não pertencia. Eu jamais viveria assim e jamais me veria daquele jeito.
Em contraposição às minhas primas e amigas, nunca namorei. Sempre fui muito mais focada nos estudos, de qualquer tipo, ou na minha vida profissional. Para falar a verdade, sempre fui romântica, mas um tanto sínica e sarcástica. Nunca tive dificuldade de me apaixonar, porém, o medo de me machucar era o maior do que a vontade e a capacidade de simplesmente confiar em alguém. Mas a verdade é que apesar de todo o esforço para não me machucar, mesmo com todas as forças voltadas às vidas acadêmica e profissional, o sistema entra em pane. Algum algoritmo não funciona direito e entra em crise. Durante toda a minha vida eu tentei ser estável e centrada, por isso muitos me chamavam de inteligente, alguém que sabe usar a cabeça para aproveitar o que a vida tem para dar, mas novamente digo, eu nunca fui uma pessoa que correspondeu às expectativas de alguém. Acreditei que sabia demais da vida para não cair em tentação, mas foi a soberba que me fez perder o que eu mais gostava em mim: o poder da minha mente.
- Você não se cansa de ler tanto sempre? - ele me perguntava enquanto passava o dedo sob os meus exemplares novos.
- Espero que não reclame para os outros professores, . - sorri para ele ao ver como ele me olhava tentando estabelecer uma comunicação comigo, de novo, um flerte. era gentil, possuía um sorriso com dentes alinhados que faziam a gente rir de volta.
- Ah, sim. Eles reclamariam também por ver um rosto tão lindo atrás de um punhado de páginas.
- Acho que alguém está de bom humor, não é?
- Tenho uma mulher linda ao meu lado, professora. - seu sorriso era malicioso, ele me olhava de cima e abaixo. - Eu adoraria dizer certas coisas, mas não estou a fim de assustá-la.
- Está dizendo que sou uma fracote, senhor ?
- É que meus gostos são peculiares, . Você com certeza não entenderia.
Ele me pôs a rir, francamente, tive de rolar os olhos contra o seu flerte. Mas como sempre, tinha de ter seus olhos sempre fixos no meu rosto enquanto eu gargalhava de como ele foi cafona em sua citação desgastante.
- Citar 50 tons de cinza não é algo admirável ou, no mínimo, aceitável.
- Então quer dizer que não gosta de homens supostamente sensuais, ricos e dominadores?
- Ninguém gosta de homens supostamente sensuais, ricos e dominadores. - eu respondi caindo novamente em sua isca, na qual eu era facilmente fisgada todos os dias.
- Vai continuar lendo este livro?
- É Tolkien, . Nada pode ser melhor do que isso.
Ele pousou os dedos quentes sob a minha mão e eu me contraí na cadeira enquanto tentava disfarçar o quão envergonhada estava por querer sair com o pai de um dos meus melhores e mais aplicados aluno da segunda série A. Eu sei, é estúpido, idiota, estou sendo uma verdadeira otária. É eticamente errado flertar com o pai de um aluno, ainda mais quando é casado, mas é encantador. Eu o conheço já há algum tempo. Começou a frequentar a escola desde que matriculou o filho, era um dos poucos pais que vinham frequentemente às reuniões de pai e sempre tinha perguntas a fazer sobre como melhorar o desempenho de seu filho. Na primeira reunião, me chamou para jantar com ele, sorriu para mim e disse que adoraria aprender a soletrar novamente apenas para me ver. Eu recusei. Na verdade, acho que ele sempre esteve interessado em mim e não na educação de Leon.
As outras professoras falavam sobre ele, como andava elegante, como era charmoso, como adorava se gabar dos filhos, como era carinhoso com as crianças e de que estava mais presente do que nunca, apesar da crise no casamento. E, então, um dia antes do ano letivo acabar, Leon adiou as férias e foi junto com seu irmão mais velho para a casa do avó. Na hora da divulgação da lista de aprovados e repetentes, foi o primeiro pai a chegar na sala de professores e eu era a única de plantão. Depois de parabenizá-lo pelo sucesso do filho, ele me chamou para ir viajar com ele para a rota dos vinhedos. E eu, mais uma vez, disse que não.
No dia da volta dos alunos, do recomeço escolar de mais um ano letivo, eu descobri que seria a professora de Leon novamente. Encontrei ainda no portão, depois de ter estacionado o carro e sua bela esposa ter saído com a echarpe de seda esvoaçante dentro de um táxi, como num filme de romance dos anos 50.
- Você gosta de comida mexicana? - ele me perguntou, olhando de soslaio, tentando não chamar tanta atenção.
- Como Leon e Luka passaram as férias?
- Eles viajaram para Itália com . Estive trabalhando o tempo todo, mas ficaram bem ao lado da mão. - Ele disse um pouco envergonhado. - Respondi a sua pergunta, responde a minha, vai.
- Hm, eu gosto, sim. - respondi olhando para baixo, como se estivesse morrendo de vergonha por chamar a atenção dos outros pais e alunos...e eu estava. - Que pena que não pôde ficar ao lado dos seus filhos. Sabe a participação dos pais é muito importante no momento de lazer e descanso. As outras professoras...
- Vão vir aqui e me julgar por ser um homem de negócios e não ter passado tempo com minha esposa e filhos?
-...
- Ou elas verão que eu tento ser um pai maravilhoso e que acompanha o desenvolvimento dos meus filhos dia a dia.
- Acho que elas vão preferir que você fique calado antes de sair por aí se esnobando.
Depois de mais alguns dias, na primeira exposição de artes da segunda série, novamente foi o primeiro pai a chegar no encontro. Enquanto eu me virava para sair em direção ao corredor, perguntar se outra professora poderia trocar de sala comigo, ele me chamou e não havia como fingir que eu não tivesse escutado.
- , você quer sair comigo depois da semana de provas?
Abro meus parênteses, devo admitir, é um homem pra lá de charmoso e bem-humorado, sempre gostei de homens que me fizessem rir. Não sou casada, não tenho namorado e nem um ex. Mal tenho companhia, não conheço muitas pessoas interessantes e a única amizade que compartilho é a de um gato velhinho e faminto que adotei nos tempos de faculdade.
- Podemos ver.
- Acho que subimos de nível. - ele disse bastante satisfeito com a minha resposta.
E então veio a semana de provas. Leon, como sempre um menino estudioso, passou com facilidade nesse desafio e eu o cumprimentei pela nota dez. me ligou e marcamos o encontro num restaurante mexicano perto da minha casa, na terça-feira, que era meu único dia de folga da escola. Eu me vesti com tanta cautela como se estivesse a caminho de um jantar com modelos da Victoria’s Secret ou para a casa das Kardashian, algo do gênero. Sempre fui muito insegura, sobretudo com o meu corpo, então não sabia de que forma poderia cobri-lo. Muitas vezes enquanto me arrumava, enquanto delineava os meus olhos, olhei para o celular e pensei em desmarcar o encontro. Qual é, sair com um homem casado, com um pai de aluno, isto parecia errado em mil formas, mas não o fiz. Sabe se lá Deus por qual motivo não desisti.
Mas o horário do jantar chegou. Ele era muito gentil e à moda antiga, puxou a cadeira do restaurante e deu-me a vez de fazer o pedido primeiro. Nos demos tão bem, pois ele era charmoso, engraçado, gentil.
No final do encontro não tentou forçar a barra, nem muito menos me chamar para o seu carro. Não deu o perdido de se enfiar no meu apartamento. Ele simplesmente me acompanhou até o caminho do estacionamento e se despediu com um suave beijo no rosto, deixando-me com seu perfume em meu corpo.
- Acho que poderíamos sair de novo. O que acha?
- Acho válido. Comida japonesa, pode ser?
Ele aceitou e não reclamou da minha escolha. Desta vez comemos num restaurante do centro da cidade e fiquei muito mais tranquila por já ter conhecido um pouquinho de quem era ele e como agia. Na outra terça-feira já estávamos com o hashi nas mãos.
- Comida japonesa para mim é a melhor. - disse enquanto saboreava um sashimi de salmão.
- É a minha favorita também. - ele dizia com uma carranca, claramente estranhando o sabor do peixe cru.
- Você é um péssimo mentiroso.
- Eu sei. - gargalhamos enquanto ele pedia ao garçom para trazer qualquer prato cozido e só se ajeitou com uma porção de yakissoba.
Nenhuma cartomante, astróloga ou mãe de santo poderia me avisar sobre o quão rápido eu me apaixonaria pelo jeito dele. Nunca havia experimentado nada do tipo, nem nos tempos do ensino médio e muito menos na faculdade. Esse tipo de paixão que chega arrombando a sua porta, colocando todos em risco e dando uma voadora em seu peito. Eu simplesmente não sabia onde estava entrando e muito menos fazia ideia como isso se desenvolveria.
- O que você gosta de fazer no seu tempo livre?
- Eu estudo, eu leio.
- Isso é sério? - ele perguntou rindo enquanto fitava a minha boca sem perder a concentração de olhar para ela.
- É um velho costume.
- E isso você aprendeu com quem? - ele perguntou interessado. Eu gostava de como ele queria saber sobre cada pedacinho da minha vida.
- Com a minha mãe. Ela costumava ler para mim todas as noites antes de dormir. Quando ela morreu, eu decidi que faria isso pelo resto da minha vida.
Ele passou andando de leve, sem fazer barulho com o arrastar dos pés, e as mãos ocupadas com as sacolas cheias de yakissoba e sashimi. Ele deixou a comida em cima da minha mesa e logo meu gato, um siamês de nome Gandalf, pulou para ver o que era.
- Eu adoraria conhecer a sua mãe.
- Ela não iria com a sua cara. Ela nunca gostou de pessoas soberbas ou engraçadinhas. - falei com ironia até ver os seus dentes abrirem em seus lábios bem desenhados. - Ela era uma mulher muito séria.
- Ah é? As mães das minhas namoradas sempre gostaram de mim. Eu não posso evitar ser tão popular.
- Ah, . - falei rindo da sua citação de um filme de patricinhas. - Não acredito em você.
- As suas colegas de trabalho me adoram.
- É o seu lado mulherengo. - falei, já estava tomada completamente por seus olhos a fitar o meu rosto.
Ele se levantou e levou as mãos aos bolsos e eu fingi não vê-lo, abaixei os meus olhos enquanto via Gandalf brincar com o meu pé. Num momento de dúvida, elevei as minhas mãos ao rosto de tanta vergonha por aquela cena, a de ter um homem casado na minha casa. De nada adiantou, se aproximou e tirou as minhas mãos do meu próprio rosto.
- Nem você resistiu a mim. - ele falou com certo orgulho.
- Você me ganhou pelo cansaço. - disse vomitando as palavras, já um pouco sem saber o que fazer.
- Não foi bem assim que aconteceu.
- E o que foi então?
beijou o meu rosto e isto foi o suficiente para me causar arrepios. Ele acabou dizendo que havia conhecido a mulher mais linda de sua vida e que depois de tanta rejeição, ela finalmente havia dito um "sim", que o fazia sorrir todas as vezes em que pensava nela.
Eu queria ser beijada por ele. Eu estava sedenta por . Desejava o contato de seu corpo no meu, que suas mãos encontrassem a minha cintura, que elas puxassem meu cabelo e que seus lábios dominassem os meus. Mais beijo, mais amor, mais desejo, mais é melhor. Queria tudo, queria ele. E ele me queria também. Ele me quis desde o começo e agora me tinha de alma e coração.
Estávamos agora no meu quarto. Os olhos de se encontraram no meu, a sua voz a chamar meu nome era imersa no desejo e em bons sentimentos. Aproximei-me dele com as mãos ágeis a deslizar por seu tórax e finalmente recebia o seu beijo quente, de alguém que havia desejado tanto explorar a minha boca e eu com a mesma luxúria devolvia-lhe com a minha língua a invadir a sua boca de maneira provocante e pedindo cada vez por mais daquilo. Naquele momento não se conteve e soltou uma pequena risada singela e franca, além de um sorriso encantador e que me deixava mais e mais sedento por tê-lo. Ele permanecia de olhos fechados e eu pensava em qual imagem tinha em mente. Apesar de estar receoso, o corpo de respondia bem às minhas investidas. Seus beijos quentes incentivaram-me a aumentar o ritmo e agora o tinha totalmente entregue em minhas mãos.
Era estranho pensar que estava feliz. E eu estava muito. me mostrou que eu estava perdendo uma importante parte da vida por um medo de se machucar, de me entregar alguém e se apaixonar. Aprendi com ele que talvez a felicidade possa ser compartilhada a dois. Nós começamos a sair mais vezes e chegamos ao que alguém pode chamar de namoro. Não teve um pedido formal ou algo do gênero, apenas começamos a nos ver mais frequentemente. Cada vez mais deixamos de nos preocupar com a sua família ou sua esposa, ele passou a me dar presentes e sempre escrevia um bilhetinho dizendo que logo em breve nos veríamos. Eu me acostumei àquela rotina de ter alguém para se preocupar e que se preocupava comigo também. Eu nunca fui de fazer planos, mas os meus planos são não fazer planos enquanto tenho ao meu lado. Eu finalmente havia encontrado para me amar e dessa vez era recíproco.
Gostava de vê-lo dormir e de vê-lo acordar ao meu lado. Eu me sentia feliz, estranhamento feliz. Gostava de ficar delirando, de ficar na noite transando e quando não o via, poderia jurar que até a minha cama tinha saudade dele. A minha vida passou a ser vivida para nós dois. Em nenhum dia ele supôs que se separaria de e eu nunca nem toquei no assunto. Não queria ter escândalos enquanto minha vida ia a mil maravilhas. Ele queria me agradar e fazia isso constantemente. atendia todos os meus pedidos. No meio de um passeio no centro da cidade, vimos uma feira de adoção e logo tivemos a ideia de adotar um "irmãozinho" para Gandalf.
- Menino ou menina? - ele perguntou a minha preferência e por um momento eu imaginei que poderia ser uma situação totalmente diferente. Minha mente divagou para um suposto momento onde eu estaria grávida e ele perguntaria se eu queria ter um menino ou uma menina.
- Não tenho preferências.
- Bom, nem eu.
E Gandalf ganhou um irmão. Na verdade, adotamos uma fêmea, uma linda gatinha que batizamos de Galadriel, por eu ser muito fã da saga do Senhor dos Anéis. Com mais de um ano juntos, pensei em me mudar para um apartamento próximo do escritório de , que ficava no centro da cidade, muito mais caro do que o meu aluguel do subúrbio, bem… já dizia Jaime Lannister que são coisas que fazemos por amor.
- Eu sabia que isso seria mais do que uma quedinha. - ele falou enquanto jogava as caixas da mudança no pequeno elevador do prédio novo. - E eu também sabia que você me achava lindo.
- Calado. - eu ri e neguei com a cabeça, mas era verdade que eu o achava lindo, atraente e engraçado. Pensava que ele era o meu homem, a minha cara metade.
- Bom, pelo menos agora eu tenho uma professora em casa. Posso aprender coisas novas.
- Não achei que você precisava aprender algo. - falei maliciosamente olhando em seus olhos.
- Está dizendo que sou bom no que faço?
Foi o suficiente para nos beijarmos intensamente no elevador ao ponto de sermos julgados pelo porteiro, que nos olhava friamente, todas as vezes que cruzávamos na entrada do prédio. Meu novo apartamento possuía dois quartos, um para nós e o outro para os gatinhos. E bem, não pude esconder a vontade que estava entalada na garganta em dizer que sonhava em formar uma família ao lado dele.
- Você poderia ao menos cuidar melhor da sua saúde. - disse uma vez à tardinha enquanto ele fritava bacon e ovos.
- Vou tentar comer bem para que possamos ver os nossos netos.
- Não sabia que a gente teria filhos. - fiquei encantada com as fantasias dele.
- Três meninas. - ele falou enquanto virava para me ver, deixando a frigideira de lado. - Duas são parecidas com você e a terceira pode ser feia como eu.
- , você é maluco. - falei rindo enquanto ele gargalhava com aquela ideia de jerico. - Acho que eu gostaria que uma delas tivesse seus olhos.
- Pode dizer que me ama.
- Eu não falei nada. - dei uma leve resmungada, mas ele não tinha dúvidas que eu o amava. Nem nunca poderia ter.
- , você me ama, eu sei.
Eu não disse que ele sabia? Mas como todos os casais do mundo, a nossa vida não era perfeita. Brigávamos por coisas idiotas, vivíamos sob o risco de sermos descobertos, nossos gatos nos causavam muita preocupação e descobrimos que era alérgico a eles. Nada era perfeito entre nós dois, mas tudo bem, era isso que fazia o nosso relacionamento funcionar. Eu não queria um comercial de margarina para a minha vida. Éramos imperfeitos, eu gostava disso.
- E se eu me separasse de ? - ele perguntou um dia enquanto eu ainda nua me enrolava no lençol.
- O quê?
- Você entendeu o que eu disse.
Apesar de estar acordava, eu me sentia anestesiada. Percebi que havia esperado demais por aquele frase e que me amava de verdade. Aquilo era a melhor coisa que eu poderia ouvir em anos, mas logo minha cabeça se encheu de preocupações e eu logo me senti culpada por saber que o divórcio poderia ser um trauma para Luka e Leon, que eram crianças lindas e inocentes e não tinham nada a ver com essa história. chorou, ele que sempre vivia com um sorriso no rosto e uma piada pronta. Ele chorou quando disse que queria ficar ao meu lado.
- Eu amo você.
- Eu amo você também.
Sei que você deve estar pensando que desde então a nossa vida deu certo, que e eu conseguimos virar a chave para finalmente termos nossa vida a dois de maneira sólida e correta. Eu nunca me planejei para o fim daquele relacionamento. Eu, que nem pensava em ter um relacionamento, agora não me poderia imaginar como seria viver sem ele ao meu lado. Não tenho mais nada do passado, assim como o sorriso dele, seu perfume, seus olhos brilhantes e seus belos dentes brancos que formavam o sorriso mais lindo que já existiu na Terra, o que automaticamente me faz lembrar como este conjunto de dentes costumava me deixar feliz quando ele gargalhava e isso me faz pensar que meus dias desde então têm sido frios e solitários, sem suas mãos quentes para me aquecer, sem sua risada para preencher o ar e meu coração.
- recebeu uma proposta de trabalho nos Estados Unidos.
- Nossa. - falei sem entender o que ele queria dizer com isso, afinal, nunca falávamos de sua esposa.
- Nos mudamos para Chicago em duas semanas.
- O quê? - gritei desesperada, sem entender nada.
- Se, pelo menos, você pudesse vir comigo...
- Se você for, eu não vou atrás. - falei ríspida controlando as minhas lágrimas.
E aquelas foram as nossas últimas palavras. Nunca imaginei que um dia eu o perderia. Sonhamos com a felicidade e fomos felizes por tão pouco. Depois de todos esses anos eu ainda sou capaz de lembrar do cheiro de , de sua maneira mansa de falar, do seu sorriso… Sinto falta de suas fantasias, de seus carinhos, beijos, do seu desejo e do meu desejo. Eu o amei como jamais poderia voltar a fazer. Se eu tivesse uma máquina do tempo, eu faria tudo exatamente igual, apesar da tragédia que foi ele não me querer mais. A gente aprende com os anos, isso é fato, mas eu parecia não ter aprendido nada ao longo destes dois anos e meio ao lado de . Se ao menos eu pudesse entender o porquê dele ter ido embora quando já havia mencionado a vontade do divórcio. Eu daria motivo de sobras para ele ficar, mas infelizmente esta história já teve um ponto final.




Fim.



Nota da autora: Sem nota.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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