Capítulo Único
A primeira coisa que ouviu, ao acordar, foi o som dos pássaros do lado de fora. Por um segundo ela pensou em virar para o outro lado e voltar a dormir, mas alguma coisa a incomodou. Foi então que ela percebeu que outro som deveria tê-la acordado: o som do despertador.
Talvez eu tenha acordado antes do horário, pensou.
Mas é claro que o universo não seria tão gentil com ela, é claro que não. Prova disso foi o susto que levou ao olhar a tela do celular e se dar conta de que o despertador não só já havia tocado, mas que ela também tinha o desligado e continuado a dormir.
O problema nisso tudo? Bem, ela estava atrasada.
Muito atrasada, acrescentou.
jogou as cobertas para o lado e pulou da cama. Tropeçou nos próprio chinelos e quase foi para o chão, mas estava sem tempo para tombos. Tirou a camisola e correu para o banheiro, mas ao ver a hora novamente, acabou desistindo de tomar um banho.
— Merda!
Jogou uma água gelada no rosto e correu para o guarda-roupa. Sem tempo para escolher um look bacana, precisou vestir o mesmo vestido que havia usado ontem. Calçou o primeiro salto alto preto que encontrou debaixo da cama e prendeu o cabelo em um rabo de cavalo no alto da cabeça.
— Por favor, por favor… Que aquele maldito shampoo anticaspas esteja surtindo efeito.
Toda aquela correria tinha um motivo: a audiência que ela iria participar naquela manhã. Quer dizer, era uma excelente advogada trabalhista, mas entendia um total de zero coisas quando o assunto era processos de família. E era exatamente por este motivo que ela havia passado a noite toda em claro estudando o caso e tentando aprender como funcionava uma audiência de processo de família.
Já com a bolsa em uma mão e o celular na outra, correu para fora, tentando não torcer o tornozelo em cima do salto alto. Ao fechar a porta, contudo, percebeu que não tinha as chaves nas mãos.
— Fala sério!
Voltou para dentro de casa buscou a chave em cima do balcão da cozinha e finalmente conseguiu trancar sua porta. Já no corredor, viu a porta do elevador se fechando e gritou para segurarem-na aberta. Seu vizinho mal educado, contudo, não moveu um dedo para ajudar .
— Maldito vizinho chato!
Olhou novamente no relógio e as horas fizeram com que ela soltasse um gritinho. Correu para as escadas e passou a descer cada um dos degraus dos quatro andares, afinal, ela não tinha tempo a perder.
Quando estava no último degrau, abriu o aplicativo do celular e passou a pedir por um táxi. Sua internet, contudo, não estava funcionando nadinha naquela manhã.
— Será que conseguir chegar a tempo na audiência é pedir demais? — ela perguntou olhando para cima.
Sem ter outra alternativa, e precisando cumprir o seu horário, não viu outra alternativa que não fosse andar mais dois quarteirões, onde havia um ponto fixo de táxis.
— Em quanto tempo você consegue me levar ao fórum estadual? — e sem dar tempo para o motorista lhe responder, ela completou: — Te pago uma grana extra se você pisar fundo e chegar em dez minutos.
Quando finalmente chegou ao fórum e encontrou a sala onde ocorreria a audiência, recebeu a notícia que mais lhe pareceu um grande banho de água fria:
— Doutora, a audiência terá que ser redesignada, já que a outra parte não pôde comparecer. E mesmo desejando, do fundo do seu coração, xingar cada servidor que estava ali na sala, xingar o próprio juiz que falara com ela, e xingar também os céus por terem sido tão sacanas com ela naquela manhã, ela apenas respondeu:
— Certo… Hm… A outra parte foi citada, não é? Então, ok. Então eu quero… — mexeu em algumas anotações suas até encontrar as palavras que estava procurando. — Eu quero que seja aplicada a multa de 2% sobre o valor da causa pelo não comparecimento injustificado.
Por um momento ela temeu estar falando besteira, mas o juiz acatou o seu pedido sem questionar.
Satisfeita consigo mesma, ela seguiu para fora da sala, tendo seu cliente em seu encalço, nenhum um pouco feliz com o resultado da audiência, e muitíssimo nervoso por não conseguir resolver seu problema naquele dia.
— Lamento que Pietro não possa ter vindo hoje. Tenho certeza de que ele estaria tão furioso quanto eu. — o cliente comentou.
Bem, também desejava que seu sócio estivesse ali naquele dia.
— Mas eu entendo a sua ausência, quer dizer, uma cirurgia no joelho demanda repouso, não é? Além disso, o rapaz é muito jovem para parar de jogar futebol, não é mesmo?
concordou com o comentário do cliente e deu uma risadinha no final. Despediu-se dele e se sentou em um banquinho próximo da saída. Cansada e descabelada, ela colocou a bolsa do seu lado e sacou o celular, mandando uma mensagem para Pietro:
“Nunca mais peça para eu te substituir em uma audiência”.
Não esperou por uma resposta. Simplesmente jogou o celular dentro da bolsa e passou os dedos pelos cabelos, tentando arrumar os fios.
Uma pessoa sentou do seu lado, parecendo nem mesmo notar que já havia alguém sentado no banco. Isso porque o rapaz estava falando ao celular, e não se preocupou, nem um pouquinho, em manter o tom de voz baixo. Quer dizer, não é que quisesse prestar atenção no que o estranho falava, era apenas inevitável.
— Nada, cara… Foi bem rápido até. A gente assinou os papéis e ela nem olhou na minha cara.
tentou resistir, mas precisou dar uma olhadinha no estranho ao seu lado.
— E você não sabe da maior. — ele disse soltando uma risada irônica. — No final ela ainda disse que não queria que as coisas terminassem assim.
O estranho ouviu alguma coisa do outro lado da linha, no que respondeu:
— Eu apenas respondi que não havia outro jeito das coisas terminarem, que esse sempre foi o único jeito. Quer dizer, era meio óbvio que nós iríamos vir parar aqui mais cedo ou mais tarde. — suspirou. — Pelo menos é uma preocupação a menos. Agora posso me dedicar somente ao novo trabalho, e eu ainda não sei como vou fazer isso.
— Cara… É a sua grande chance… Finalmente a Netflix está olhando… Roteiristas… Conhecidos… Ganhar pouco… se pegou inclinando o corpo para o lado, esperando ouvir melhor o que o amigo do estranho falava do outro lado. Infelizmente ela não pôde ouvir muito.
— Eu sei, man, eu sei! Essa é a minha chance para me livrar das emissoras de televisão e finalmente ganhar dinheiro de verdade com o meu trabalho. — o estranho falou animado. — Mas você sabe, o que eles estão me pedindo…
Dessa vez, mesmo inclinando o corpo e apurando a audição, não conseguiu ouvir nadinha do que o amigo do estranho falava. E quando se deu conta de estava se esforçando para ouvir a conversa de uma pessoa que ela não conhecia, recriminou-se, voltando a sentar reta. Pegou o celular, mas sem uma resposta de Pietro, sua atenção foi chamada, novamente, para o que o estranho falava.
— Não vem com esse papo de que comédias românticas adolescentes são as coisas mais fáceis que existem e que tem muito material para eu me inspirar, porque é exatamente isso que torna tudo muitíssimo mais difícil. Quer dizer, existe muita coisa pronta, e você sabe a minha opinião sobre isso… Todos esses filmes clichês, essas séries água com açúcar… São todas iguais e são todas uma merda. Não quero que o meu trabalho seja uma cópia de tudo o que já foi feito.
E então, como se não tivesse nada de mais interessante para fazer, se pegou concordando com o ponto de vista do estranho. Não que ela não aprovasse filmes de comédia romântica, longe disso — até mesmo porque, reservava os seus domingos à noite para assistir qualquer coisa clichê que envolvesse estranhos que se odiavam e então passavam a se amar. Mas ela super entendia o sentimento do estranho em não querer ser só mais um nome dentre tantos outros.
— Até porque não quero ser conhecido por ser mais um dos caras que faz um filme sobre o tão conhecido amor verdadeiro, o qual, você bem sabe, e eu também, não existe e nem nunca existiu.
O estranho ficou um segundo em silêncio, ouvindo o que o amigo do outro lado falava. E esse um segundo foi o suficiente para não conseguir controlar a sua expressão desacreditada pelo que escutara.
— Você conhece a minha opinião, cara. O amor, para mim, é apenas algo em que as pessoas escolhem acreditar e usam como desculpa para transar com outras pessoas.
Se antes estava conseguindo disfarçar bem a sua curiosidade, naquele momento ela teve certeza de que havia sido descoberta. Isso porque foi inevitável a reação de abrir a boca, tamanha surpresa que ela estava.
Fala sério… Esse cara não pode estar falando sério…
O estranho riu do que o amigo dissera do outro lado, e quase pôde entender o motivo da risada:
— … Por isso que você… Roteiros de investigação policial… Morte… Todo final…
— Mas é porque isso é a vida real. — ele respondeu ainda rindo. — Pessoas morrem, não se apaixonam. Eu escrevo a realidade.
O estranho ainda respondeu mais alguns comentários feitos pelo amigo e deu outras risadas. E quando ele desligou o celular, — que já nem tentava não olhar diretamente para ele — jogou a cabeça para trás, na tentativa de fingir que estava tirando um cochilo. Seu plano mal elaborado teria funcionário se ela não tivesse batido a cabeça na parede com força, e nem tivesse reclamado da dor.
E foi nesse exato momento, que o estranho percebeu a presença dela.
Estava tão entretido na conversa que estava tendo com Chris, que nem percebeu a moça ao seu lado. A moça em questão tinha a testa franzida e passava uma das mãos atrás da cabeça. Sua expressão parecia cansada, e ela mantinha os olhos no chão, aparentemente ignorando a presença dele.
Ele então viu a bolsa da moça em cima do banco, e viu a pasta e o livro que ela carregava consigo. Deduziu, então, de que se tratava de uma advogada.
— Manhã difícil? — ele perguntou simpático.
quase levou um susto ao perceber que o estranho se dirigia a ela.
— Você nem imagina. — ela disse com uma risadinha no fim.
Foi a vez dele rir irônico.
— Pior que a minha não foi, pode ter certeza. — ele respondeu levantando os papéis do divórcio, que ainda carregava nas mãos.
poderia simplesmente ter dado um sorriso sem dentes e encerrar a conversa ali mesmo, mas o que ela realmente fez foi:
— Hm… Problemas no trabalho?
Ainda bem que curiosidade não é crime, senão eu sairia daqui algemada, pensou. O estranho estreitou os olhos, desconfiado pela pergunta, mas então logo emendou:
— Sou advogada trabalhista. Estou acostumada a ver clientes insatisfeitos no fórum.
E como se a explicação dela fosse perfeitamente convincente, o estranho respondeu:
— Sim, sim, também estou com problemas no trabalho, mas nada desse tipo. — mostrou os papéis de novo. Ele pareceu refletir por alguns segundos antes de decidir se contaria àquela advogada algo pessoal seu ou não.
— Acabei de assinar os papéis do divórcio.
Ele ainda fez uma careta, como se lamentasse o ocorrido, mas a verdade é que ele não lamentava. Ele apenas… Apenas não queria estar ali. Ao mesmo tempo, contudo, estava satisfeito de que a dor de cabeça, finalmente, havia acabado.
— Sinto muito.
— Eu não sinto. — ele disse rindo irônico.
— Porque você não acredita no amor…
Era para aquela frase ser dita somente em pensamento. Mas quando o estranho olhou para com a boca entreaberta, a mulher percebeu que o que era para ter sido o seu pensamento, acabou sendo uma sentença condenatória, na qual ela confessava que sim, ela estava prestando atenção na conversa que o estranho havia tido com o seu amigo.
E apesar de o estranho ter erguido a sobrancelha surpreso, ele não pareceu ofendido, pelo contrário. Soltou outra risada, dessa vez parecendo ver graça na situação toda e comentou:
— É exatamente isso. Mas não me interprete mal, eu acredito no amor. Meu cachorro, por exemplo, me ama, principalmente quando eu coloco ração no pote dele. Mas fora o amor entre humanos e animais, não, eu não acredito que haja amor verdadeiro.
não tentou esconder o seu espanto dessa vez. Já que o estranho — que ela ainda não fazia ideia de como se chamava — estava dizendo aqueles absurdos para ela, não encontrou motivos para disfarçar a surpresa por ouvir tamanha bobagem.
— Como pode dizer isso quando você mesmo já foi casado? — ela perguntou o que passava pela sua cabeça desde que ouvira, pela primeira vez, o rapaz dizer que o amor não existia. Ele riu de novo, dessa vez achando graça na pergunta dela, como se já estivesse acostumado a responder àquele questionamento.
— E veja onde isso me trouxe. — apontou para o ambiente em volta. — Várias noites mal dormidas, brigas diárias e um acordo de divórcio assinado na frente do juiz.
, então, sentiu-se mal por ter feito a pergunta. Quer dizer, caramba, o cara havia acabado de terminar o casamento com quem deveria ter sido o amor da sua vida, e ela estava ali, lhe fazendo perguntas sobre o seu casamento falido.
Péssima maneira de conversar com estranhos, .
— Sinto muito.
— Já disse que não precisa, até porque eu prefiro assim.
Aquele era o momento em que deveria lhe desejar um bom dia, levantar-se e pedir por um táxi para ir para casa. Mas não. Novamente, controlada pela sua língua solta e pela curiosidade acima dos níveis tidos como normais, a mulher se viu o questionando como ele poderia preferir as coisas assim.
— Quer dizer, você não sente falta de estar apaixonado?
O estranho pareceu pensar por um instante.
— Não.
— Você não sente falta de ter alguém do seu lado todos os dias, dizendo que te ama e fazendo coisas para te agradar?
— Também não. — respondeu, dessa vez sem precisar pensar no assunto.
É claro que não tinha o costume de ter conversas sobre a filosofia do amor com estranhos, no fórum, que acabaram de se divorciar. Mas era mais forte que ela.
— Sinto falta do sexo diário e do bom humor pós-sexo. — ele disse rindo. — Mas fora isso, não sinto falta de nada.
A careta de foi pela forma com que o estranho falou. Quer dizer, fala sério! Quem fala de sexo com uma estranha que acabou de conhecer?
— Então você acha que tudo se resume a sexo? — as bochechas coradas foram involuntárias. E a pergunta foi impensada, espontânea.
— Sim, basicamente. — respondeu simplesmente. — Você sabe, isso é a essência humana. não tinha se dado conta antes, mas ambos haviam se acomodado um de frente para o outro, como se o assunto estivesse sendo muitíssimo interessante. Mas o assunto não estava sendo muitíssimo interessante, pelo menos não para . Para ela, aquela conversa estava sendo muitíssimo estranha.
— Você só pode estar brincando.
— Não estou.Veja bem, biologicamente falando, nós precisamos perpetuar a espécie humana. Então estamos sempre à procura de um parceiro ou parceira que tenha bons genes e que sejam fortes o bastante para carregar a nossa carga genética para o futuro.
Apesar de o estranho ter falado com toda a seriedade do mundo, só conseguiu rir daquilo.
— Então você está me falando que você nunca se apaixonou?
— Eu nunca disse isso. — e diante do enorme ponto de interrogação do rosto de , ele explicou. — Eu já namorei e até mesmo me casei, como você pôde perceber. E sim, foram bons momento. Mas o amor, que você e as outras pessoas tanto falam, é apenas uma criação. Um nome dado à euforia que toma conta das pessoas no início de um relacionamento.
— Por causa do sexo. — ela completou ironicamente e, sem surpresa nenhuma, ele confirmou. — E o que você me diz das pessoas que se casam virgens?
Ele não titubeou antes de responder.
— Loucas, completamente malucas. Nunca conheci nenhuma.
começou a rir, mesmo não achando graça do que ele falava. A verdade é que a mulher ria por estar surpresa demais com tudo o que estava ouvindo. Nunca tinha conhecido uma pessoa tão descrente no amor como ele. Sendo sincera consigo mesma, ela nem mesmo imaginava que poderiam existir pessoas assim.
Balançando a cabeça em sinal de negação e certa de que a conversa ali havia chego ao final — afinal de contas, o que mais de absurdo que aquele cara poderia ter para dizer? — ela pegou o celular, pronta para chamar um táxi para ir embora e se levantou.
Mal teve tempo de se despedir, contudo. O estranho estava de pé, ao lado dela, e passou a caminhar calmamente, lado a lado, como se fossem velhos conhecidos.
— Mas e você? — ele perguntou tranquilo, como se apenas iniciasse outro ponto de conversa. — Qual a sua ideia do amor?
abriu a boca para responder a ele, mas o estranho a interrompeu.
— Não, espera! Deixe-me adivinhar. — ele disse com a mão levantada.
rolou os olhos, e continuou a sua caminhada até à saída.
— Pela cara que você fez enquanto eu falava a minha teoria, eu posso presumir que você é do tipo que acredita no amor acima de qualquer coisa, mesmo já tendo quebrado a cara várias e várias vezes. Acertei?
O estranho não usou tom de deboche, mas isso não fez com que se irritasse menos. Pelo contrário. A mulher, que já estava irritada por ter passado a noite em claro estudando um caso que ela nem se lembrava de ter estudado na faculdade; que tinha acordado cedíssimo — e mesmo assim conseguiu se atrasar — para uma audiência que nem mesmo aconteceu, ficou ainda mais irritada com o comentário do estranho.
Quer dizer, quem era ele para presumir que ela já havia se decepcionado várias vezes? Porque o maior motivo da sua irritação era a veracidade da presunção dele. Porque sim, aquilo era a mais pura verdade.
já havia sido pedida em namoro nove vezes, e já tomou a iniciativa de iniciar um namoro outras três vezes. Nenhum dos seus relacionamentos durou muito tempo. Alguns não passaram do primeiro mês, mas isso apenas lhe serviu de prova para a sua teoria de que o amor verdadeiro ainda não havia lhe aparecido.
— Você deve se achar muito inteligente para supor algo assim de uma pessoa que mal conhece.
Não, ela não tinha nenhum pingo de humor na voz. E o estranho havia notado isso. Especialmente quando o barulho dos saltos de ficaram mais altos e mais rápidos.
— Olha, me desculpe se te ofendi. — ele disse correndo até a alcançar e parar na sua frente. — Hoje está sendo um dia difícil. A culpa não é sua por eu estar ferrado no trabalho e a minha esposa ter me dado um pé na bunda.
Sem conseguir conter o bico de irritação, soltou acidamente:
— Se você não a amava, já que não acredita no amor, não deveria achar ruim levar um pé na bunda.
não pensou que poderia estar sendo maldosa, nem mesmo pensou que esse não era o tipo de comentário que se fazia para um cara que tinha acabado de conhecer. Mas o estranho, surpreendentemente, não achou o comentário dela ofensivo. E prova disso foi o sorrisinho de lado que ele deu:
— Touché.
Satisfeita em ter tido a palavra final naquela conversa — ou, pelo menos, ela achava que a conversa havia chego ao final — checou o celular à procura de um táxi. Como de manhã, contudo, seus dados móveis não estavam com sinal suficiente para usar o aplicativo, o que a fez xingar o universo por estar fazendo com que ela gastasse tanto dinheiro aquele dia com os táxis convencionais.
Ela então bufou e guardou o aparelho na bolsa. Olhou em volta e viu que ao final da rua havia um ponto de táxi, ainda que não tivesse nenhum carro estacionado ali no momento.
Não acredito que além de pagar mais caro, vou precisar esperar mais tempo, lamentou.
Mas ela não tinha outra escolha. Se quisesse chegar logo em casa, e se colocar embaixo do conforto da água quente do seu chuveiro, ela teria que esperar a boa vontade de algum motorista passar por ali.
E foi naquele momento que o universo resolveu dar o seu golpe final: uma chuva torrencial, forte e que não dava a menor chance nem mesmo para quem carregava uma sombrinha consigo.
E não tinha uma sobrinha consigo.
— Bem, acho que já vou indo. Sabe como é, preciso começar a trabalhar no roteiro de um filme de ficção. — o estranho disse irônico.
E sem se importar com a chuva, caminhou calmamente até o carro que havia acabado de parar próximo de onde eles estavam.
não teve tempo de responder a ele.
Tampouco teve tempo de pensar direito no que faria a seguir.
Ela estava irritada, com sono e ainda mais irritada. Estava com frio e, definitivamente, não tinha dinheiro e nem saco para esperar por outro táxi.
sabia muito bem que uma mulher irritada jamais deveria tomar decisões precipitadas. Ou impensadas. Ou qualquer tipo de decisão. Mas, naquele momento, foi exatamente o que ela fez.
Se em um instante ela estava se escondendo da chuva, no segundo seguinte ela corria debaixo dela. Correu até o carro parado no semáforo, abriu a porta traseira e, sem perguntar se poderia entrar, ela o fez.
não saberia dizer quem ficou mais surpreso com a invasão, o motorista — que parecia prestes a chamar a polícia a qualquer momento — ou o estranho que, além de surpreso, tinha uma sombra de divertimento nos lábios.
— O que você pensa que…
— Como alguém do mundo artístico pode duvidar do amor verdadeiro? — ela perguntou assim, do nada, como se não tivesse acabado de invadir um carro em movimento.
O estranho não respondeu à pergunta dela, ele só sabia piscar confuso. O motorista, por outro lado, estava completamente perdido. Do lado de fora, era possível ouvir as buzinas dos outros carros, reclamando que o sinal estava aberto, mas que o carro em que estavam não se movia.
— Moço, pode seguir reto até o final da avenida, e então virar à esquerda. Quando o senhor chegar à pracinha, eu explico como chegar na minha casa. — ela disse.
O motorista, entretanto, apenas continuou olhando para trás, mudando a atenção do estranho para a louca que havia acabado de invadir o seu carro. No seu olhar era clara a pergunta “o que eu devo fazer agora?”.
Ainda confuso, mas já dando sinais de um sorriso divertido, o estranho disse ao motorista para seguir as coordenadas que aquela mulher maluca havia dado. E somente quando o táxi começou a se mover, foi que ele voltou a atenção para , a qual sustentava um olhar firme — e talvez até mesmo um pouco assustador.
— E então? — ela insistiu.
O estranho então deixou o sorriso aparecer. Sorriso este um tanto quanto impressionado, afinal, não era todo dia que ele conhecia uma advogada no fórum, conversava sobre amor e sexo, e então era obrigado a dividir uma corrida de táxi com ela.
— Você escreve histórias, cria vidas, cria sentimentos…
— Exato! — ele respondeu. — Eu invento um sentimento inexistente e os atores o interpretam muito bem, pois o amor é exatamente isso: obra do criacionismo.
— Você não pode estar falando sério!
Mas ele estava. O estranho nunca falara tão sério em toda a sua vida. E isso era o que mais deixava desacreditada, assim como o motorista, que passou a prestar atenção da conversa que ocorria no banco de trás. O motorista, em questão, quase se sentiu mal por ter que atrapalhar aquela discussão acalorada.
— Com licença… Você disse para virar à esquerda?
— Isso, até chegar na praça central. — ela respondeu rapidamente.
E como se nunca tivessem sido interrompidos, o estranho voltou a falar:
— Olha, eu não a culpo por querer acreditar em algo que não existe. Quer dizer, veja a quantidade de filmes, livros e novelas que tratam desse assunto. Nós crescemos e somos condicionados a acreditar que existe um alguém especial, a tal pessoa certa… A famosa “tampa da nossa panela”. Mas a real é que isso não existe.
estava pronta para argumentar o quão ridículo era o que o estranho falava, quando ela sentiu a freada e o lamento do motorista.
— Oh-oh.
— O que houve? — perguntou preocupada.
E foi então que, pela janela, ela viu.
— Mas que merda!
As ruas estavam completamente alagadas. Os carros, parados em cima das calçadas, enquanto as pessoas tentavam se esconder embaixo das marquises das lojas.
— Não vai dar para passar por aqui não, moça. — o taxista falou.
— Não brinca! — ela reclamou, se com o taxista ou com o universo (que ainda parecia querer tirar uma onda com a cara dela), ela não saberia dizer.
— Tenta dar a volta e pegar sentido leste, moço, por favor. Acredito que o meu bairro não deva estar alagado dessa forma.
Sem contestar, o taxista seguiu as orientações do estranho.
E enquanto o carro seguia pelas ruas completamente congestionadas, percebeu que, até o momento, não havia perguntado o nome do cara com quem dividia o táxi.
O quão errado é isso?
— Hey. — ela chamou a sua atenção, enquanto o estranho contemplava a chuva bater na janela. — Qual o seu nome?
O estranho começou a formar um sorriso tímido de lado, que acabou se tornando um largo sorriso. E então ele começou a rir, como se tivesse contado a melhor das piadas.
— O quê?
— Você ficou meia hora discutindo comigo, e então invadiu o meu táxi. E só agora se lembrou de que nunca perguntou quem eu sou?
Ele continuou rindo, especialmente quando sentiu as bochechas corarem.
— Sou . — ele disse por fim. E estendendo a mão para ela, completou. — Muito prazer.
Ainda com as bochechas coradas, a mulher apertou a mão dele e se apresentou.
— Me chamo . E mesmo acreditando que você tem uma concepção completamente equivocada sobre o amor, também digo que é um prazer te conhecer, . Especialmente porque você aceitou dividir a corrida comigo.
— Não é como se você tivesse me dado muitas opções, não é? — ele perguntou irônico. E ainda que tivesse estreitado os olhos e feito uma cara de ofendida, no fundo, ela sabia que ele estava apenas brincando.
Os recém-conhecidos — que já não eram mais estranhos — não trocaram mais nenhuma palavra entre si. , por outro lado, dava instruções ao taxista, ensinando-o a chegar na sua casa. De fato, no bairro de , apesar de também estar chovendo, não tinha nenhuma rua alagada.
E quando o carro parou, e pagou pela corrida, ele não pôde se despedir da sua nova colega. Isso porque já o esperava do lado de fora do táxi, embaixo de uma árvore, tentando fugir da chuva. Quando olhou para ela e ficou boquiaberto com o fato da mulher ter descido antes dele, ela apenas o chamou com a mão, indicando que ele deveria ser mais rápido.
— Vamos logo, , está chovendo muito!
Aquilo era mesmo inacreditável!
— O que pensa que está fazendo? — ele perguntou meio gritando por conta do barulho da chuva caindo, indo se esconder embaixo da árvore, junto de .
— Como assim? Estou esperando você abrir logo a porta, claro! Nós precisamos nos esconder dessa chuva. — ela respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
E ainda não acreditando no quão abusada aquela mulher era — quer dizer, primeiro passou vários e vários minutos o questionando quanto à sua falta de convicção na existência do amor, e então invadiu o seu táxi… E agora queria se esconder na sua casa também? — ele apenas conseguiu reagir rindo.
correu até o portão e girou a chave duas vezes. Entrou e segurou o portão aberto, à espera de . Ela, por outro lado, deu passos rápido até onde estava, mas parou na entrada.
— Você não é algum tipo de psicopata que atrai as mulheres para a sua casa para depois matá-las, não é?
jogou a cabeça para trás, rindo. Aquela garota era impressionante!
— Acho que é um pouco tarde para você se preocupar com isso, não é?
pareceu pensar um pouco sobre o assunto, e então, quando a chuva apertou, e as gotas ficaram mais grossas e começaram a machucar a pele, ela correu para dentro, decidindo que iria se preocupar mais tarde com o seu possível assassinato.
Ela seguiu até a parte de dentro da casa, e bateu os pés com força no tapete, como se isso fosse o bastante para secar o seu corpo molhado.
— Vou buscar uma toalha para você.
Ela agradeceu e adentrou mais um pouco do espaço, mas sem avançar muito, pois seu cabelo ainda pingava.
De onde estava, podia ver a sala de estar e parte do corredor. O chão estava cheio de livros empilhados e caixas abarrotadas de roupas, encostadas nas paredes. Alguns quadros, em cima das prateleiras, estavam virados para baixo, e — e sua infinita curiosidade — estava prestes a espiar algumas das fotos escondidas, quando voltou.
— Pode se secar no banheiro. Primeira porta à direita. — ele apontou para o corredor. agradeceu e seguiu as orientações dele, parando na porta do banheiro quando ele a chamou de volta.
— Ah, espera! Esqueci de uma coisa.
Ele foi até uma das caixas junto à parede e revirou o seu conteúdo, deixando uma ou outra peça de roupa cair no chão. Foi até onde o esperava e lhe entregou uma calça de moletom e uma camiseta de FRIENDS. Diante do olhar questionador da mulher, deu de ombros e disse simplesmente:
— Ela tinha bom gosto.
Não foi preciso outras palavras para que entendesse quem era ela. Além disso, o fato de todas aquelas roupas estarem entulhadas dentro de caixas, jogadas de qualquer jeito pela sala, fazia muito mais sentido agora.
, então, entrou no banheiro e passou a tirar a própria roupa para vestir as roupas da ex-esposa de . Não demorou muito lá dentro, afinal, não havia nada para ser observado. Já de volta à sala, voltou a reparar na bagunça que aquela casa estava. não parecia nenhum pouco incomodado com as coisas fora de lugar, mas correu para ajeitar uma poltrona para que pudesse se sentar. Jogou uma almofada em cima do sofá da frente e colocou alguma coisa, que a mulher não pôde identificar, dentro de uma das caixas espalhadas.
— Ela ficou de mandar alguém vir buscar as coisas ainda hoje, mas com essa chuva… — deixou a frase no ar.
A garota nada respondeu, mas apenas balançou a cabeça em sinal de concordância.
Apesar de defender a ideia de que o amor verdadeiro não existia, ele não conseguia esconder a tristeza no olhar ao empurrar as caixas cheias de roupas e utensílios para dentro de um quarto qualquer.
— Pronto. Agora já podemos andar sem correr o risco de trombarmos com alguma coisa. soltou uma risada.
— Não sei se isso é bem verdade. — e então girou, uma volta de trezentos e sessenta graus, com a mão estendida para frente. — Isso aqui ainda está uma bagunça tremenda. deixou o queixo cair.
— Eu deixo você invadir o meu táxi e então deixo você se abrigar na minha casa e é assim que você retribui?
sentiu as bochechas corarem, mas não deixou de rir da brincadeira dele — porque sim, apesar de ele estar falando coisas verdadeira, ele havia usado um tom de piada.
— Ainda estou me perguntando se foi uma boa ideia entrar. Quer dizer, quem me garante que você não vai me assassinar enquanto tomo café?
juntou as duas mãos na frente do corpo e ergueu uma só sobrancelhas.
— Não se preocupe com isso, afinal, você não está tomando café.
sorriu frente à resposta dele e colocou ambas as mãos na cintura.
— Então acho que você deve me mostrar o caminho da cozinha, Sr. Não-Acredito-No-Amor. deixou o queixo cair, e então ergueu ambas as sobrancelhas, surpreso, novamente, com a ousadia daquela mulher. Quer dizer, quem é que cria aquele tipo de intimidade tão rápido com uma pessoa que, até há alguns minutos, nem mesmo sabia o nome?
— À sua direita. — ele respondeu.
E como se estivesse perfeitamente confortável, girou os calcanhares e seguiu para onde ele apontava ser a cozinha, ainda com as bochechas meio coradas, e se perguntando de onde tinha vindo aquela confiança toda. não era do tipo confiante, que conversava com rapazes desconhecidos como se os conhecesse a vida inteira, especialmente quando ela, de fato, não sabia absolutamente nada sobre eles.
Mas conhecia . Minimamente, pelo menos.
Sabia que ele não acreditava no amor, mas mesmo assim havia se apaixonado e se casado. E que por conta da sua falta de fé, estava tendo problemas em começar o seu novo trabalho. O qual, inclusive, deixou bastante interessada sobre.
— Me fale sobre o seu trabalho. — ela pediu, enquanto sentava em uma cadeira.
foi para perto do fogão, abriu um dos armários, e separou o pó de café. Colocou água para ferver, e então sentou-se do lado de .
— O que quer saber?
— Tudo. — ela deu de ombros. — Eu não faço ideia de quem você seja, e mesmo assim estou sentada na sua cozinha, obrigando você a fazer café para mim e me questionando porque você tem um maço de cigarros em cima da pia. Isso não é muito higiênico, não é?
correu para onde o maço de cigarros, praticamente cheio, estava. Ele nem se surpreendeu com o comentário de . Quer dizer, em qualquer outro momento, estaria incomodado em ter uma estranha na sua casa, de favor, e que ficasse reparando na bagunça dele ou nos seu hábitos ruins. Mas ele não estava incomodado com as observações de . Pelo contrário. Contrariando toda a razão dele, se sentia muitíssimo à vontade com ela tomando o seu espaço particular e lhe fazendo perguntas pessoais.
Vai entender.
— Isso aqui é um velho hábito que não estou disposto a voltar a ter. — e para provar o que disse, jogou o maço no lixo. Voltou a se sentar do lado dela, e então perguntou: — O que você quer saber sobre o meu trabalho?
— Quero saber se você é famoso, por exemplo. — e isso fez rir. — Se ganha muito dinheiro escrevendo histórias e se já conheceu atores famosos. — e então sentou na ponta da cadeira, ficando mais próxima a ele. — Você já trabalhou com o Caio Castro? Eu acho o Caio Castro muito gato.
riu alto, jogando a cabeça para trás, enquanto suspirava pelo sua crush em atores famosos.
se levantou para colocar a água no café, e então passou a contar para ela que não, ele não conhecia o Caio Castro.
— Mas já trabalhei com o Bruno Gagliasso.
— O quê?! Mentira! — ela se surpreendeu.
— Pois é. — disse rindo. — Não sei quem irão escalar para esse novo filme que estou escrevendo, ou deveria escrever…
pensou por um instante no que ele dizia, e voltou a falar, como se estivesse conversando com um amigo de longa data.
— Você já se sentiu ansioso por conversar com alguém?
riu.
— Claro que já.
— Com alguma menina, de quem você gostava muito e queria passar uma boa impressão? Ele deu de ombros.
— Sim.
— Você já criou cenários na sua mente, de como um diálogo deveria acontecer, mas, na hora, aconteceu tudo ao contrário?
riu debochado, dessa vez.
— Com certeza.
— E já sentiu o coração bater tão rápido, mas tão rápido, que parecia que iria sair pulando do seu peito?
apertou os lábios em uma linha reta. Ele tinha a resposta para aquela pergunta na ponta da língua, e sabia onde queria chegar com aquelas perguntas.
— Já.
— Já sentiu o estômago revirar de ansiedade e nervosismo, apenas por não saber o que uma garota pensava sobre você?
Ele assentiu com a cabeça, sem proferir nenhuma palavra.
— Já imaginou cenários felizes ao lado de uma pessoa com quem você queria passar o resto da vida junto?
Dessa vez riu irônico.
— Já, e veja onde esses pensamentos me levaram: a uma sala no fórum, assinando os papéis do divórcio.
pensou por um instante antes de continuar.
— Mas, quando vocês se casaram, você não esperava que fossem se divorciar um dia. — não foi uma pergunta.
— Eu sabia que existiam grandes chances disso acontecer. — ele respondeu.
— Você sabia que existia a possibilidade disso ocorrer. Porque sempre existe a possibilidade de um relacionamento chegar ao fim. Mas você não esperava por isso. Certo?
tirou alguns segundos para pensar nas palavras dela.
— Certo.
, então, levou a garrafa de café e duas xícaras para a mesa e voltou a se sentar de frente para .
— Então você já amou.
Aquilo não havia sido uma pergunta. E mesmo se fosse, não teria uma resposta.
— Tanto faz. — deu de ombros, rindo sem jeito por ter ficado sem palavras.
, por outro lado, parecia bastante satisfeita em deixá-lo pensativo, como se estivesse curtindo uma vitória particular.
Depois do café, chegou a cogitar a possibilidade de pedir algo para comerem, mas a chuva ainda era forte demais do lado de fora, e então eles chegaram à conclusão de que dificilmente algum restaurante mandaria um motoboy fazer entregas naquele dia.
se ofereceu para cozinhar alguma coisa, já que era a “visita” da casa.
— Acho que você está mais para “invasora”, mas podemos continuar com a idéia de “visita”. — ele brincou.
E, novamente, como se fossem melhores amigos há tempos, jogou uma almofada nele, demonstrando uma intimidade que não existia entre eles.
garantiu que iria cozinhar algo para eles, enquanto deveria ficar na sala, assistindo televisão, ou fazendo qualquer outra coisa que visitas fizessem.
A mulher, então, começou a olhar todos os livros que tinha espalhados pela casa, e acabou encontrando uma coleção de DVDs. Imaginou que a coleção deveria pertencer à sua ex-esposa, já que a maioria dos filmes eram de romances, dramas e comédias românticas. pensou em pedir para que ele colocasse algum daqueles filmes, mas não encontrou coragem para isso. Quer dizer, tudo bem que ela estava usando roupas de uma desconhecida que havia acabado de pedir o divórcio para o cara que estava cozinhando para ela, mas pensou que assistir aos DVDs dela fosse demais.
Passou, então, a mexer no celular e ler as mensagens atrasadas. Alguns clientes queriam tirar dúvidas, e outros queriam marcar um horário “com urgência”.
— Eles sempre têm urgência… — comentou para si.
continuou lendo algumas mensagens e e-mails até que as palavras começaram a embaralhar. Sua visão ficou turva e sua seus olhos começaram a piscar com mais frequência. E, então, de uma hora para outra, acordou assustada com um barulho vindo do lado de fora.
Levantou-se depressa, ainda meio sonolenta e cambaleando, com fraqueza nas pernas, e perguntando-se onde estava. Seus questionamentos, contudo, duraram menos de um minuto. Ao ver os livros espalhados sobre a mesa e as várias caixas com pertences femininos, lembrou-se de , o qual, inclusive, estava olhando pela janela com tom preocupado.
— O que houve? — perguntou com a voz rouca.
Caramba, havia dormido por quanto tempo? O tempo lá fora já estava escuro, e não apenas escuro por conta das nuvens de chuva. Será que ela havia dormido a tarde toda na casa de um estranho?
— Para alguém que estava preocupada em estar entrando no cativeiro de um assassino, você acabou dormindo bem relaxada, não é? — ele disse para provocar. — Estava até roncando. com certeza estava tentando provocá-la. Porque não roncava. Nunquinha. Nem uma só vez. Ou, pelo menos, era o que ela achava.
— Eu não ronco. — se defendeu.
— Se te faz feliz continuar acreditando nisso, vá em frente. — ele respondeu com uma risadinha no final.
fez uma careta, mas não contestou de novo.
— O que houve?
— Caiu uma árvore e agora toda a rua está interditada.
— Fala sério!
empurrou da janela para que pudesse ter uma visão melhor da rua.
— Caramba, como eu vou embora agora? — ela se perguntou.
A resposta era bastante clara, contudo. Ela não teria como ir embora. Mas não iria dizer isso em voz alta. Quer dizer, é quem teria que convidá-la, certo?
A mulher, então, olhou para o lado, onde ainda encarava a rua à sua frente.
Pela primeira vez, desde que o encontrara no fórum, falando ao celular, reparou nele de verdade, de verdade mesmo. Quer dizer, como ela não havia prestado atenção nele antes? Nos cabelos perfeitamente penteados para trás, nos olhos claros — Caramba, como eu não tinha visto esses olhos antes?! — no sorriso perfeito…
Espera aí, sorriso perfeito?
precisou chacoalhar a cabeça para afastar os pensamentos que estavam começando a se formar ali.
— Ah, acho que você vai precisar passar a noite por aqui. — ele comentou despretensiosamente, como se convidar pessoas estranhas para passarem a noite na sua casa fosse a coisa mais normal do mundo.
estava pensando em uma resposta para dar a ele quando outro barulho chamou a sua atenção. O novo som, contudo, tinha vindo de dentro da casa. Mais precisamente, do estômago dela.
a encarou com humor.
já nem se deu ao trabalho de ficar envergonhada.
— Estou com fome. — declarou.
tombou a cabeça para o lado, nada surpreso com a declaração de — quer dizer, para uma pessoa que havia invadido o seu táxi e se alojado na sua casa, falar que estava com fome não era nada.
pediu para que o acompanhasse até a cozinha, enquanto ele preparava algo para jantarem — já que ela havia dormido e perdido o delicioso sanduíche que ele fizera para o almoço.
não contestou. Especialmente porque, enquanto observava cozinhar, ela teve a chance de conhecê-lo um pouco mais — e também observá-lo um pouco mais.
Para uma pessoa que acreditava que o amor era uma invenção social, se mostrou bastante surpreendente ao comentar que seus pais estão junto há quase cinquenta anos.
— Eles foram os primeiros namorados um do outro e nunca mais se separaram.
— Fala sério! Isso é tão romântico!
Também surpreendeu quando disse que era um cara bastante caseiro, e que gostava de cozinhar em casa, especialmente porque passava grande parte do seu tempo na frente do computador.
— Assistindo filmes de romance? — ela provocou.
— Escrevendo roteiros de filmes de ação. — ele respondeu.
Quando acordou naquela manhã, toda atrasada e estabanada, não podia nem mesmo imaginar que o seu dia iria terminar assim: com um jantar à luz de velas — porque a energia havia acabado, em determinado momento — , na casa de um homem que ela mal conhecia, mas que mesmo assim havia passado pouco mais de uma hora cozinhando para ela.
— Se essa situação toda que vivemos hoje não der um bom roteiro de comédia romântica, eu não sei o que mais poderia dar.
não tinha como discordar daquilo. Nas últimas horas ele havia passado por mais situações inusitadas do que já passara em toda a sua vida.
— Verdade, isso daria uma boa história, se não fosse por um pequeno detalhe.
— E qual é?
— Nos filmes, o casal sempre acaba junto do final.
estava bebendo suco quando ele falou a última frase e acabou de engasgando, precisando tossir algumas vezes para se recuperar.
Aquilo era uma indireta?
— Hm… Mas nós estamos juntos. — ela comentou com uma risadinha no final, tentando quebrar a tensão em que ela ficou.
— Ah, você entendeu o que eu quis dizer.
Sim, ela havia entendido. Muito bem, inclusive.
E enquanto ela havia ficado tensa e com as bochechas coradas, , por outro lado, parecia muitíssimo confortável com a fala dele. Ele parecia, até mesmo, achar graça da timidez repentina de .
— Hm… Pena que você não acredita no amor, não é mesmo, ? — ela disse com uma calma que não sabia de onde tinha vindo. Porque aquela era ela provocando ele.
Diferentemente de , contudo, não ficou com as bochechas coradas, mas logo perdeu o sorriso divertido que mantinha nos lábios.
— Cuidado… Quem ouvir você falar assim vai pensar que você está se apaixonando por mim… E, bem, o ato de se apaixonar também é uma criação social, não é?
Mas de onde estavam vindo aquelas merdas?!
ficou surpreso, mais uma vez, com a ousadia dela.
tinha várias condutas ousadas, e isso encantava de uma forma… Peculiar. era peculiar. E isso era encantador.
— Ah, relaxa. Não existe essa tal coisa de amor… Você sabe. — ele respondeu dando de ombros, mesmo que, ao final da sua frase, ele já estivesse começando a sentir um friozinho na barriga e um calorzinho no peito por conta das batidas mais rápidas do coração.
, você é tão estranha… O que está fazendo comigo?
E para essa pergunta, contudo, ele não tinha uma resposta. Mais do que isso, ele imaginava que nunca teria uma resposta.
📚
DOIS ANOS DEPOIS
— O roteirista do filme, , acabou de chegar e nós vamos tentar uma entrevista exclusiva com ele. — a repórter falou para a câmera.
Ela pediu licença para algumas pessoas, empurrou outras e recebeu reclamação de mais algumas, mas não se importou. Conseguiu ficar na linha de frente dos jornalistas e puxou o cameraman para o seu lado.
— Filme a entrada dele, vai!
O garoto, na hora, arrumou o foco da câmera e passou a gravar a entrada de no tapete vermelho. Filmou o rapaz parando para dar algumas entrevistas aos primeiros jornalistas, e ficou tenso por perceber que a assessoria de imprensa do autor o estava apressando.
, contudo, foi muito simpático com todo mundo e continuou respondendo às perguntas, ainda que cada jornalista tivesse um limite de três perguntas e dois minutos de entrevista. Luna, a jornalista, não gostava de ser apressada, mas apreciava um bom desafio.
E se para provar o seu valor o seu profissionalismo ela tivesse que entrevista , um dos maiores nomes da Netflix, da atualidade, em apenas dois minutos, ela o faria.
— ! ! — ela gritou por cima dos outros jornalistas quando percebeu que começara a se despedir de todos.
— Apenas uma pergunta, , por favor!
O autor olhou para trás, para onde sua assessora o esperava com a cara meio fechada. Pediu a ela mais um minutinho, e correu para onde Luna estava quase pulando sem sair do lugar, excitada demais. Cutucou o cameraman com o braço e sussurrou para ele:
— Pelo amor de deus, foca direito essa câmera porque essa é a oportunidade da minha vida!
E então, quando chegou até ela, Luna colocou um largo sorriso nos lábios e passou a falar com ele:
— , parabéns pelo grande sucesso do filme!
— Obrigado…
— Você conseguiu conquistar a crítica. Como se sente a respeito disso?
— Hm… Me sinto muitíssimo feliz. Quer dizer, esse é o primeiro filme de comédia romântica que eu escrevi, e não podia ficar mais orgulhoso do resultado.
— É verdade que você levou somente uma noite na frente do computador para escrever todo o roteiro?
riu daquilo.
— É verdade que eu tive uma… Forte inspiração para escrever esse filme, mas precisei de várias noites acordado para conseguir escrever essa história.
Luna ficou satisfeita com a resposta longa dele, e já emendou outra pergunta.
— Você era conhecido por escrever filmes de ação e investigação policial. O que o fez mudar o estilo de escrita?
deu um risadinha.
— Digamos que o pagamento oferecido pela Netflix foi um bom incentivo para a minha mudança de estilo.
Luna riu exageradamente, e quando percebeu que se preparava para se despedir, emendou outra pergunta:
— O filme foi muito aclamado não apenas por ser uma linda história de amor, mas também pelo fato de terem surgido boatos de que ele é inspirado em uma história real. O que você pode nos falar sobre isso?
— Hm… — foi chamado novamente por sua assessora, a qual informou que ele deveria se apressar para tirar a foto oficial com todo o elenco antes de exibirem o filme pela primeira vez, afinal, naquele dia estaria ocorrendo a pré-estreia oficial. — Hm… Apenas posso dizer que se trata de uma história de amor que teve um início um tanto quanto incomum. Espero que todos se divirtam assistindo. Obrigado pelo apoio.
E sem esperar por uma resposta, ele saiu correndo para onde o restante da equipe o esperava. E enquanto posava para uma foto com todo o elenco e o restante da equipe que participou da produção do filme — e também uma foto somente com a sua companheira — os jornalistas se apressavam para seguir para onde seria exibido o filme pela primeira vez, oficialmente — a pré-exibição, apenas para a crítica especializada, não contava.
Antes de finalizar a entrevista, contudo, Luna fez um comentário final — o qual ela esperava que ficasse bom na edição final:
— E vocês acabaram de acompanhar a entrevista com , roteirista de várias mini-séries, novelas e filmes, autor de Dê Uma Chance Ao Amor, a nova comédia romântica da Netflix, e que conta a história de um autor que tem como próximo trabalho escrever uma comédia romântica voltada para o público adolescente, mas que não acredita no amor. Mas isso isso quando ele conhece uma advogada frustrada que já namorou mais de dez pessoas ao longo da vida, e ainda assim acredita que exista o amor verdadeiro.
E então, com um último sorriso para a câmera, ela finalizou:
— Ficou curioso para saber como termina essa história? Então não perca a estreia de Dê Uma Chance Ao Amor, que estreia, oficialmente, dia 13 de março, na Netflix. Eu sou Luna Camargo, e falo diretamente do Canal Jovem.
Talvez eu tenha acordado antes do horário, pensou.
Mas é claro que o universo não seria tão gentil com ela, é claro que não. Prova disso foi o susto que levou ao olhar a tela do celular e se dar conta de que o despertador não só já havia tocado, mas que ela também tinha o desligado e continuado a dormir.
O problema nisso tudo? Bem, ela estava atrasada.
Muito atrasada, acrescentou.
jogou as cobertas para o lado e pulou da cama. Tropeçou nos próprio chinelos e quase foi para o chão, mas estava sem tempo para tombos. Tirou a camisola e correu para o banheiro, mas ao ver a hora novamente, acabou desistindo de tomar um banho.
— Merda!
Jogou uma água gelada no rosto e correu para o guarda-roupa. Sem tempo para escolher um look bacana, precisou vestir o mesmo vestido que havia usado ontem. Calçou o primeiro salto alto preto que encontrou debaixo da cama e prendeu o cabelo em um rabo de cavalo no alto da cabeça.
— Por favor, por favor… Que aquele maldito shampoo anticaspas esteja surtindo efeito.
Toda aquela correria tinha um motivo: a audiência que ela iria participar naquela manhã. Quer dizer, era uma excelente advogada trabalhista, mas entendia um total de zero coisas quando o assunto era processos de família. E era exatamente por este motivo que ela havia passado a noite toda em claro estudando o caso e tentando aprender como funcionava uma audiência de processo de família.
Já com a bolsa em uma mão e o celular na outra, correu para fora, tentando não torcer o tornozelo em cima do salto alto. Ao fechar a porta, contudo, percebeu que não tinha as chaves nas mãos.
— Fala sério!
Voltou para dentro de casa buscou a chave em cima do balcão da cozinha e finalmente conseguiu trancar sua porta. Já no corredor, viu a porta do elevador se fechando e gritou para segurarem-na aberta. Seu vizinho mal educado, contudo, não moveu um dedo para ajudar .
— Maldito vizinho chato!
Olhou novamente no relógio e as horas fizeram com que ela soltasse um gritinho. Correu para as escadas e passou a descer cada um dos degraus dos quatro andares, afinal, ela não tinha tempo a perder.
Quando estava no último degrau, abriu o aplicativo do celular e passou a pedir por um táxi. Sua internet, contudo, não estava funcionando nadinha naquela manhã.
— Será que conseguir chegar a tempo na audiência é pedir demais? — ela perguntou olhando para cima.
Sem ter outra alternativa, e precisando cumprir o seu horário, não viu outra alternativa que não fosse andar mais dois quarteirões, onde havia um ponto fixo de táxis.
— Em quanto tempo você consegue me levar ao fórum estadual? — e sem dar tempo para o motorista lhe responder, ela completou: — Te pago uma grana extra se você pisar fundo e chegar em dez minutos.
Quando finalmente chegou ao fórum e encontrou a sala onde ocorreria a audiência, recebeu a notícia que mais lhe pareceu um grande banho de água fria:
— Doutora, a audiência terá que ser redesignada, já que a outra parte não pôde comparecer. E mesmo desejando, do fundo do seu coração, xingar cada servidor que estava ali na sala, xingar o próprio juiz que falara com ela, e xingar também os céus por terem sido tão sacanas com ela naquela manhã, ela apenas respondeu:
— Certo… Hm… A outra parte foi citada, não é? Então, ok. Então eu quero… — mexeu em algumas anotações suas até encontrar as palavras que estava procurando. — Eu quero que seja aplicada a multa de 2% sobre o valor da causa pelo não comparecimento injustificado.
Por um momento ela temeu estar falando besteira, mas o juiz acatou o seu pedido sem questionar.
Satisfeita consigo mesma, ela seguiu para fora da sala, tendo seu cliente em seu encalço, nenhum um pouco feliz com o resultado da audiência, e muitíssimo nervoso por não conseguir resolver seu problema naquele dia.
— Lamento que Pietro não possa ter vindo hoje. Tenho certeza de que ele estaria tão furioso quanto eu. — o cliente comentou.
Bem, também desejava que seu sócio estivesse ali naquele dia.
— Mas eu entendo a sua ausência, quer dizer, uma cirurgia no joelho demanda repouso, não é? Além disso, o rapaz é muito jovem para parar de jogar futebol, não é mesmo?
concordou com o comentário do cliente e deu uma risadinha no final. Despediu-se dele e se sentou em um banquinho próximo da saída. Cansada e descabelada, ela colocou a bolsa do seu lado e sacou o celular, mandando uma mensagem para Pietro:
“Nunca mais peça para eu te substituir em uma audiência”.
Não esperou por uma resposta. Simplesmente jogou o celular dentro da bolsa e passou os dedos pelos cabelos, tentando arrumar os fios.
Uma pessoa sentou do seu lado, parecendo nem mesmo notar que já havia alguém sentado no banco. Isso porque o rapaz estava falando ao celular, e não se preocupou, nem um pouquinho, em manter o tom de voz baixo. Quer dizer, não é que quisesse prestar atenção no que o estranho falava, era apenas inevitável.
— Nada, cara… Foi bem rápido até. A gente assinou os papéis e ela nem olhou na minha cara.
tentou resistir, mas precisou dar uma olhadinha no estranho ao seu lado.
— E você não sabe da maior. — ele disse soltando uma risada irônica. — No final ela ainda disse que não queria que as coisas terminassem assim.
O estranho ouviu alguma coisa do outro lado da linha, no que respondeu:
— Eu apenas respondi que não havia outro jeito das coisas terminarem, que esse sempre foi o único jeito. Quer dizer, era meio óbvio que nós iríamos vir parar aqui mais cedo ou mais tarde. — suspirou. — Pelo menos é uma preocupação a menos. Agora posso me dedicar somente ao novo trabalho, e eu ainda não sei como vou fazer isso.
— Cara… É a sua grande chance… Finalmente a Netflix está olhando… Roteiristas… Conhecidos… Ganhar pouco… se pegou inclinando o corpo para o lado, esperando ouvir melhor o que o amigo do estranho falava do outro lado. Infelizmente ela não pôde ouvir muito.
— Eu sei, man, eu sei! Essa é a minha chance para me livrar das emissoras de televisão e finalmente ganhar dinheiro de verdade com o meu trabalho. — o estranho falou animado. — Mas você sabe, o que eles estão me pedindo…
Dessa vez, mesmo inclinando o corpo e apurando a audição, não conseguiu ouvir nadinha do que o amigo do estranho falava. E quando se deu conta de estava se esforçando para ouvir a conversa de uma pessoa que ela não conhecia, recriminou-se, voltando a sentar reta. Pegou o celular, mas sem uma resposta de Pietro, sua atenção foi chamada, novamente, para o que o estranho falava.
— Não vem com esse papo de que comédias românticas adolescentes são as coisas mais fáceis que existem e que tem muito material para eu me inspirar, porque é exatamente isso que torna tudo muitíssimo mais difícil. Quer dizer, existe muita coisa pronta, e você sabe a minha opinião sobre isso… Todos esses filmes clichês, essas séries água com açúcar… São todas iguais e são todas uma merda. Não quero que o meu trabalho seja uma cópia de tudo o que já foi feito.
E então, como se não tivesse nada de mais interessante para fazer, se pegou concordando com o ponto de vista do estranho. Não que ela não aprovasse filmes de comédia romântica, longe disso — até mesmo porque, reservava os seus domingos à noite para assistir qualquer coisa clichê que envolvesse estranhos que se odiavam e então passavam a se amar. Mas ela super entendia o sentimento do estranho em não querer ser só mais um nome dentre tantos outros.
— Até porque não quero ser conhecido por ser mais um dos caras que faz um filme sobre o tão conhecido amor verdadeiro, o qual, você bem sabe, e eu também, não existe e nem nunca existiu.
O estranho ficou um segundo em silêncio, ouvindo o que o amigo do outro lado falava. E esse um segundo foi o suficiente para não conseguir controlar a sua expressão desacreditada pelo que escutara.
— Você conhece a minha opinião, cara. O amor, para mim, é apenas algo em que as pessoas escolhem acreditar e usam como desculpa para transar com outras pessoas.
Se antes estava conseguindo disfarçar bem a sua curiosidade, naquele momento ela teve certeza de que havia sido descoberta. Isso porque foi inevitável a reação de abrir a boca, tamanha surpresa que ela estava.
Fala sério… Esse cara não pode estar falando sério…
O estranho riu do que o amigo dissera do outro lado, e quase pôde entender o motivo da risada:
— … Por isso que você… Roteiros de investigação policial… Morte… Todo final…
— Mas é porque isso é a vida real. — ele respondeu ainda rindo. — Pessoas morrem, não se apaixonam. Eu escrevo a realidade.
O estranho ainda respondeu mais alguns comentários feitos pelo amigo e deu outras risadas. E quando ele desligou o celular, — que já nem tentava não olhar diretamente para ele — jogou a cabeça para trás, na tentativa de fingir que estava tirando um cochilo. Seu plano mal elaborado teria funcionário se ela não tivesse batido a cabeça na parede com força, e nem tivesse reclamado da dor.
E foi nesse exato momento, que o estranho percebeu a presença dela.
Estava tão entretido na conversa que estava tendo com Chris, que nem percebeu a moça ao seu lado. A moça em questão tinha a testa franzida e passava uma das mãos atrás da cabeça. Sua expressão parecia cansada, e ela mantinha os olhos no chão, aparentemente ignorando a presença dele.
Ele então viu a bolsa da moça em cima do banco, e viu a pasta e o livro que ela carregava consigo. Deduziu, então, de que se tratava de uma advogada.
— Manhã difícil? — ele perguntou simpático.
quase levou um susto ao perceber que o estranho se dirigia a ela.
— Você nem imagina. — ela disse com uma risadinha no fim.
Foi a vez dele rir irônico.
— Pior que a minha não foi, pode ter certeza. — ele respondeu levantando os papéis do divórcio, que ainda carregava nas mãos.
poderia simplesmente ter dado um sorriso sem dentes e encerrar a conversa ali mesmo, mas o que ela realmente fez foi:
— Hm… Problemas no trabalho?
Ainda bem que curiosidade não é crime, senão eu sairia daqui algemada, pensou. O estranho estreitou os olhos, desconfiado pela pergunta, mas então logo emendou:
— Sou advogada trabalhista. Estou acostumada a ver clientes insatisfeitos no fórum.
E como se a explicação dela fosse perfeitamente convincente, o estranho respondeu:
— Sim, sim, também estou com problemas no trabalho, mas nada desse tipo. — mostrou os papéis de novo. Ele pareceu refletir por alguns segundos antes de decidir se contaria àquela advogada algo pessoal seu ou não.
— Acabei de assinar os papéis do divórcio.
Ele ainda fez uma careta, como se lamentasse o ocorrido, mas a verdade é que ele não lamentava. Ele apenas… Apenas não queria estar ali. Ao mesmo tempo, contudo, estava satisfeito de que a dor de cabeça, finalmente, havia acabado.
— Sinto muito.
— Eu não sinto. — ele disse rindo irônico.
— Porque você não acredita no amor…
Era para aquela frase ser dita somente em pensamento. Mas quando o estranho olhou para com a boca entreaberta, a mulher percebeu que o que era para ter sido o seu pensamento, acabou sendo uma sentença condenatória, na qual ela confessava que sim, ela estava prestando atenção na conversa que o estranho havia tido com o seu amigo.
E apesar de o estranho ter erguido a sobrancelha surpreso, ele não pareceu ofendido, pelo contrário. Soltou outra risada, dessa vez parecendo ver graça na situação toda e comentou:
— É exatamente isso. Mas não me interprete mal, eu acredito no amor. Meu cachorro, por exemplo, me ama, principalmente quando eu coloco ração no pote dele. Mas fora o amor entre humanos e animais, não, eu não acredito que haja amor verdadeiro.
não tentou esconder o seu espanto dessa vez. Já que o estranho — que ela ainda não fazia ideia de como se chamava — estava dizendo aqueles absurdos para ela, não encontrou motivos para disfarçar a surpresa por ouvir tamanha bobagem.
— Como pode dizer isso quando você mesmo já foi casado? — ela perguntou o que passava pela sua cabeça desde que ouvira, pela primeira vez, o rapaz dizer que o amor não existia. Ele riu de novo, dessa vez achando graça na pergunta dela, como se já estivesse acostumado a responder àquele questionamento.
— E veja onde isso me trouxe. — apontou para o ambiente em volta. — Várias noites mal dormidas, brigas diárias e um acordo de divórcio assinado na frente do juiz.
, então, sentiu-se mal por ter feito a pergunta. Quer dizer, caramba, o cara havia acabado de terminar o casamento com quem deveria ter sido o amor da sua vida, e ela estava ali, lhe fazendo perguntas sobre o seu casamento falido.
Péssima maneira de conversar com estranhos, .
— Sinto muito.
— Já disse que não precisa, até porque eu prefiro assim.
Aquele era o momento em que deveria lhe desejar um bom dia, levantar-se e pedir por um táxi para ir para casa. Mas não. Novamente, controlada pela sua língua solta e pela curiosidade acima dos níveis tidos como normais, a mulher se viu o questionando como ele poderia preferir as coisas assim.
— Quer dizer, você não sente falta de estar apaixonado?
O estranho pareceu pensar por um instante.
— Não.
— Você não sente falta de ter alguém do seu lado todos os dias, dizendo que te ama e fazendo coisas para te agradar?
— Também não. — respondeu, dessa vez sem precisar pensar no assunto.
É claro que não tinha o costume de ter conversas sobre a filosofia do amor com estranhos, no fórum, que acabaram de se divorciar. Mas era mais forte que ela.
— Sinto falta do sexo diário e do bom humor pós-sexo. — ele disse rindo. — Mas fora isso, não sinto falta de nada.
A careta de foi pela forma com que o estranho falou. Quer dizer, fala sério! Quem fala de sexo com uma estranha que acabou de conhecer?
— Então você acha que tudo se resume a sexo? — as bochechas coradas foram involuntárias. E a pergunta foi impensada, espontânea.
— Sim, basicamente. — respondeu simplesmente. — Você sabe, isso é a essência humana. não tinha se dado conta antes, mas ambos haviam se acomodado um de frente para o outro, como se o assunto estivesse sendo muitíssimo interessante. Mas o assunto não estava sendo muitíssimo interessante, pelo menos não para . Para ela, aquela conversa estava sendo muitíssimo estranha.
— Você só pode estar brincando.
— Não estou.Veja bem, biologicamente falando, nós precisamos perpetuar a espécie humana. Então estamos sempre à procura de um parceiro ou parceira que tenha bons genes e que sejam fortes o bastante para carregar a nossa carga genética para o futuro.
Apesar de o estranho ter falado com toda a seriedade do mundo, só conseguiu rir daquilo.
— Então você está me falando que você nunca se apaixonou?
— Eu nunca disse isso. — e diante do enorme ponto de interrogação do rosto de , ele explicou. — Eu já namorei e até mesmo me casei, como você pôde perceber. E sim, foram bons momento. Mas o amor, que você e as outras pessoas tanto falam, é apenas uma criação. Um nome dado à euforia que toma conta das pessoas no início de um relacionamento.
— Por causa do sexo. — ela completou ironicamente e, sem surpresa nenhuma, ele confirmou. — E o que você me diz das pessoas que se casam virgens?
Ele não titubeou antes de responder.
— Loucas, completamente malucas. Nunca conheci nenhuma.
começou a rir, mesmo não achando graça do que ele falava. A verdade é que a mulher ria por estar surpresa demais com tudo o que estava ouvindo. Nunca tinha conhecido uma pessoa tão descrente no amor como ele. Sendo sincera consigo mesma, ela nem mesmo imaginava que poderiam existir pessoas assim.
Balançando a cabeça em sinal de negação e certa de que a conversa ali havia chego ao final — afinal de contas, o que mais de absurdo que aquele cara poderia ter para dizer? — ela pegou o celular, pronta para chamar um táxi para ir embora e se levantou.
Mal teve tempo de se despedir, contudo. O estranho estava de pé, ao lado dela, e passou a caminhar calmamente, lado a lado, como se fossem velhos conhecidos.
— Mas e você? — ele perguntou tranquilo, como se apenas iniciasse outro ponto de conversa. — Qual a sua ideia do amor?
abriu a boca para responder a ele, mas o estranho a interrompeu.
— Não, espera! Deixe-me adivinhar. — ele disse com a mão levantada.
rolou os olhos, e continuou a sua caminhada até à saída.
— Pela cara que você fez enquanto eu falava a minha teoria, eu posso presumir que você é do tipo que acredita no amor acima de qualquer coisa, mesmo já tendo quebrado a cara várias e várias vezes. Acertei?
O estranho não usou tom de deboche, mas isso não fez com que se irritasse menos. Pelo contrário. A mulher, que já estava irritada por ter passado a noite em claro estudando um caso que ela nem se lembrava de ter estudado na faculdade; que tinha acordado cedíssimo — e mesmo assim conseguiu se atrasar — para uma audiência que nem mesmo aconteceu, ficou ainda mais irritada com o comentário do estranho.
Quer dizer, quem era ele para presumir que ela já havia se decepcionado várias vezes? Porque o maior motivo da sua irritação era a veracidade da presunção dele. Porque sim, aquilo era a mais pura verdade.
já havia sido pedida em namoro nove vezes, e já tomou a iniciativa de iniciar um namoro outras três vezes. Nenhum dos seus relacionamentos durou muito tempo. Alguns não passaram do primeiro mês, mas isso apenas lhe serviu de prova para a sua teoria de que o amor verdadeiro ainda não havia lhe aparecido.
— Você deve se achar muito inteligente para supor algo assim de uma pessoa que mal conhece.
Não, ela não tinha nenhum pingo de humor na voz. E o estranho havia notado isso. Especialmente quando o barulho dos saltos de ficaram mais altos e mais rápidos.
— Olha, me desculpe se te ofendi. — ele disse correndo até a alcançar e parar na sua frente. — Hoje está sendo um dia difícil. A culpa não é sua por eu estar ferrado no trabalho e a minha esposa ter me dado um pé na bunda.
Sem conseguir conter o bico de irritação, soltou acidamente:
— Se você não a amava, já que não acredita no amor, não deveria achar ruim levar um pé na bunda.
não pensou que poderia estar sendo maldosa, nem mesmo pensou que esse não era o tipo de comentário que se fazia para um cara que tinha acabado de conhecer. Mas o estranho, surpreendentemente, não achou o comentário dela ofensivo. E prova disso foi o sorrisinho de lado que ele deu:
— Touché.
Satisfeita em ter tido a palavra final naquela conversa — ou, pelo menos, ela achava que a conversa havia chego ao final — checou o celular à procura de um táxi. Como de manhã, contudo, seus dados móveis não estavam com sinal suficiente para usar o aplicativo, o que a fez xingar o universo por estar fazendo com que ela gastasse tanto dinheiro aquele dia com os táxis convencionais.
Ela então bufou e guardou o aparelho na bolsa. Olhou em volta e viu que ao final da rua havia um ponto de táxi, ainda que não tivesse nenhum carro estacionado ali no momento.
Não acredito que além de pagar mais caro, vou precisar esperar mais tempo, lamentou.
Mas ela não tinha outra escolha. Se quisesse chegar logo em casa, e se colocar embaixo do conforto da água quente do seu chuveiro, ela teria que esperar a boa vontade de algum motorista passar por ali.
E foi naquele momento que o universo resolveu dar o seu golpe final: uma chuva torrencial, forte e que não dava a menor chance nem mesmo para quem carregava uma sombrinha consigo.
E não tinha uma sobrinha consigo.
— Bem, acho que já vou indo. Sabe como é, preciso começar a trabalhar no roteiro de um filme de ficção. — o estranho disse irônico.
E sem se importar com a chuva, caminhou calmamente até o carro que havia acabado de parar próximo de onde eles estavam.
não teve tempo de responder a ele.
Tampouco teve tempo de pensar direito no que faria a seguir.
Ela estava irritada, com sono e ainda mais irritada. Estava com frio e, definitivamente, não tinha dinheiro e nem saco para esperar por outro táxi.
sabia muito bem que uma mulher irritada jamais deveria tomar decisões precipitadas. Ou impensadas. Ou qualquer tipo de decisão. Mas, naquele momento, foi exatamente o que ela fez.
Se em um instante ela estava se escondendo da chuva, no segundo seguinte ela corria debaixo dela. Correu até o carro parado no semáforo, abriu a porta traseira e, sem perguntar se poderia entrar, ela o fez.
não saberia dizer quem ficou mais surpreso com a invasão, o motorista — que parecia prestes a chamar a polícia a qualquer momento — ou o estranho que, além de surpreso, tinha uma sombra de divertimento nos lábios.
— O que você pensa que…
— Como alguém do mundo artístico pode duvidar do amor verdadeiro? — ela perguntou assim, do nada, como se não tivesse acabado de invadir um carro em movimento.
O estranho não respondeu à pergunta dela, ele só sabia piscar confuso. O motorista, por outro lado, estava completamente perdido. Do lado de fora, era possível ouvir as buzinas dos outros carros, reclamando que o sinal estava aberto, mas que o carro em que estavam não se movia.
— Moço, pode seguir reto até o final da avenida, e então virar à esquerda. Quando o senhor chegar à pracinha, eu explico como chegar na minha casa. — ela disse.
O motorista, entretanto, apenas continuou olhando para trás, mudando a atenção do estranho para a louca que havia acabado de invadir o seu carro. No seu olhar era clara a pergunta “o que eu devo fazer agora?”.
Ainda confuso, mas já dando sinais de um sorriso divertido, o estranho disse ao motorista para seguir as coordenadas que aquela mulher maluca havia dado. E somente quando o táxi começou a se mover, foi que ele voltou a atenção para , a qual sustentava um olhar firme — e talvez até mesmo um pouco assustador.
— E então? — ela insistiu.
O estranho então deixou o sorriso aparecer. Sorriso este um tanto quanto impressionado, afinal, não era todo dia que ele conhecia uma advogada no fórum, conversava sobre amor e sexo, e então era obrigado a dividir uma corrida de táxi com ela.
— Você escreve histórias, cria vidas, cria sentimentos…
— Exato! — ele respondeu. — Eu invento um sentimento inexistente e os atores o interpretam muito bem, pois o amor é exatamente isso: obra do criacionismo.
— Você não pode estar falando sério!
Mas ele estava. O estranho nunca falara tão sério em toda a sua vida. E isso era o que mais deixava desacreditada, assim como o motorista, que passou a prestar atenção da conversa que ocorria no banco de trás. O motorista, em questão, quase se sentiu mal por ter que atrapalhar aquela discussão acalorada.
— Com licença… Você disse para virar à esquerda?
— Isso, até chegar na praça central. — ela respondeu rapidamente.
E como se nunca tivessem sido interrompidos, o estranho voltou a falar:
— Olha, eu não a culpo por querer acreditar em algo que não existe. Quer dizer, veja a quantidade de filmes, livros e novelas que tratam desse assunto. Nós crescemos e somos condicionados a acreditar que existe um alguém especial, a tal pessoa certa… A famosa “tampa da nossa panela”. Mas a real é que isso não existe.
estava pronta para argumentar o quão ridículo era o que o estranho falava, quando ela sentiu a freada e o lamento do motorista.
— Oh-oh.
— O que houve? — perguntou preocupada.
E foi então que, pela janela, ela viu.
— Mas que merda!
As ruas estavam completamente alagadas. Os carros, parados em cima das calçadas, enquanto as pessoas tentavam se esconder embaixo das marquises das lojas.
— Não vai dar para passar por aqui não, moça. — o taxista falou.
— Não brinca! — ela reclamou, se com o taxista ou com o universo (que ainda parecia querer tirar uma onda com a cara dela), ela não saberia dizer.
— Tenta dar a volta e pegar sentido leste, moço, por favor. Acredito que o meu bairro não deva estar alagado dessa forma.
Sem contestar, o taxista seguiu as orientações do estranho.
E enquanto o carro seguia pelas ruas completamente congestionadas, percebeu que, até o momento, não havia perguntado o nome do cara com quem dividia o táxi.
O quão errado é isso?
— Hey. — ela chamou a sua atenção, enquanto o estranho contemplava a chuva bater na janela. — Qual o seu nome?
O estranho começou a formar um sorriso tímido de lado, que acabou se tornando um largo sorriso. E então ele começou a rir, como se tivesse contado a melhor das piadas.
— O quê?
— Você ficou meia hora discutindo comigo, e então invadiu o meu táxi. E só agora se lembrou de que nunca perguntou quem eu sou?
Ele continuou rindo, especialmente quando sentiu as bochechas corarem.
— Sou . — ele disse por fim. E estendendo a mão para ela, completou. — Muito prazer.
Ainda com as bochechas coradas, a mulher apertou a mão dele e se apresentou.
— Me chamo . E mesmo acreditando que você tem uma concepção completamente equivocada sobre o amor, também digo que é um prazer te conhecer, . Especialmente porque você aceitou dividir a corrida comigo.
— Não é como se você tivesse me dado muitas opções, não é? — ele perguntou irônico. E ainda que tivesse estreitado os olhos e feito uma cara de ofendida, no fundo, ela sabia que ele estava apenas brincando.
Os recém-conhecidos — que já não eram mais estranhos — não trocaram mais nenhuma palavra entre si. , por outro lado, dava instruções ao taxista, ensinando-o a chegar na sua casa. De fato, no bairro de , apesar de também estar chovendo, não tinha nenhuma rua alagada.
E quando o carro parou, e pagou pela corrida, ele não pôde se despedir da sua nova colega. Isso porque já o esperava do lado de fora do táxi, embaixo de uma árvore, tentando fugir da chuva. Quando olhou para ela e ficou boquiaberto com o fato da mulher ter descido antes dele, ela apenas o chamou com a mão, indicando que ele deveria ser mais rápido.
— Vamos logo, , está chovendo muito!
Aquilo era mesmo inacreditável!
— O que pensa que está fazendo? — ele perguntou meio gritando por conta do barulho da chuva caindo, indo se esconder embaixo da árvore, junto de .
— Como assim? Estou esperando você abrir logo a porta, claro! Nós precisamos nos esconder dessa chuva. — ela respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
E ainda não acreditando no quão abusada aquela mulher era — quer dizer, primeiro passou vários e vários minutos o questionando quanto à sua falta de convicção na existência do amor, e então invadiu o seu táxi… E agora queria se esconder na sua casa também? — ele apenas conseguiu reagir rindo.
correu até o portão e girou a chave duas vezes. Entrou e segurou o portão aberto, à espera de . Ela, por outro lado, deu passos rápido até onde estava, mas parou na entrada.
— Você não é algum tipo de psicopata que atrai as mulheres para a sua casa para depois matá-las, não é?
jogou a cabeça para trás, rindo. Aquela garota era impressionante!
— Acho que é um pouco tarde para você se preocupar com isso, não é?
pareceu pensar um pouco sobre o assunto, e então, quando a chuva apertou, e as gotas ficaram mais grossas e começaram a machucar a pele, ela correu para dentro, decidindo que iria se preocupar mais tarde com o seu possível assassinato.
Ela seguiu até a parte de dentro da casa, e bateu os pés com força no tapete, como se isso fosse o bastante para secar o seu corpo molhado.
— Vou buscar uma toalha para você.
Ela agradeceu e adentrou mais um pouco do espaço, mas sem avançar muito, pois seu cabelo ainda pingava.
De onde estava, podia ver a sala de estar e parte do corredor. O chão estava cheio de livros empilhados e caixas abarrotadas de roupas, encostadas nas paredes. Alguns quadros, em cima das prateleiras, estavam virados para baixo, e — e sua infinita curiosidade — estava prestes a espiar algumas das fotos escondidas, quando voltou.
— Pode se secar no banheiro. Primeira porta à direita. — ele apontou para o corredor. agradeceu e seguiu as orientações dele, parando na porta do banheiro quando ele a chamou de volta.
— Ah, espera! Esqueci de uma coisa.
Ele foi até uma das caixas junto à parede e revirou o seu conteúdo, deixando uma ou outra peça de roupa cair no chão. Foi até onde o esperava e lhe entregou uma calça de moletom e uma camiseta de FRIENDS. Diante do olhar questionador da mulher, deu de ombros e disse simplesmente:
— Ela tinha bom gosto.
Não foi preciso outras palavras para que entendesse quem era ela. Além disso, o fato de todas aquelas roupas estarem entulhadas dentro de caixas, jogadas de qualquer jeito pela sala, fazia muito mais sentido agora.
, então, entrou no banheiro e passou a tirar a própria roupa para vestir as roupas da ex-esposa de . Não demorou muito lá dentro, afinal, não havia nada para ser observado. Já de volta à sala, voltou a reparar na bagunça que aquela casa estava. não parecia nenhum pouco incomodado com as coisas fora de lugar, mas correu para ajeitar uma poltrona para que pudesse se sentar. Jogou uma almofada em cima do sofá da frente e colocou alguma coisa, que a mulher não pôde identificar, dentro de uma das caixas espalhadas.
— Ela ficou de mandar alguém vir buscar as coisas ainda hoje, mas com essa chuva… — deixou a frase no ar.
A garota nada respondeu, mas apenas balançou a cabeça em sinal de concordância.
Apesar de defender a ideia de que o amor verdadeiro não existia, ele não conseguia esconder a tristeza no olhar ao empurrar as caixas cheias de roupas e utensílios para dentro de um quarto qualquer.
— Pronto. Agora já podemos andar sem correr o risco de trombarmos com alguma coisa. soltou uma risada.
— Não sei se isso é bem verdade. — e então girou, uma volta de trezentos e sessenta graus, com a mão estendida para frente. — Isso aqui ainda está uma bagunça tremenda. deixou o queixo cair.
— Eu deixo você invadir o meu táxi e então deixo você se abrigar na minha casa e é assim que você retribui?
sentiu as bochechas corarem, mas não deixou de rir da brincadeira dele — porque sim, apesar de ele estar falando coisas verdadeira, ele havia usado um tom de piada.
— Ainda estou me perguntando se foi uma boa ideia entrar. Quer dizer, quem me garante que você não vai me assassinar enquanto tomo café?
juntou as duas mãos na frente do corpo e ergueu uma só sobrancelhas.
— Não se preocupe com isso, afinal, você não está tomando café.
sorriu frente à resposta dele e colocou ambas as mãos na cintura.
— Então acho que você deve me mostrar o caminho da cozinha, Sr. Não-Acredito-No-Amor. deixou o queixo cair, e então ergueu ambas as sobrancelhas, surpreso, novamente, com a ousadia daquela mulher. Quer dizer, quem é que cria aquele tipo de intimidade tão rápido com uma pessoa que, até há alguns minutos, nem mesmo sabia o nome?
— À sua direita. — ele respondeu.
E como se estivesse perfeitamente confortável, girou os calcanhares e seguiu para onde ele apontava ser a cozinha, ainda com as bochechas meio coradas, e se perguntando de onde tinha vindo aquela confiança toda. não era do tipo confiante, que conversava com rapazes desconhecidos como se os conhecesse a vida inteira, especialmente quando ela, de fato, não sabia absolutamente nada sobre eles.
Mas conhecia . Minimamente, pelo menos.
Sabia que ele não acreditava no amor, mas mesmo assim havia se apaixonado e se casado. E que por conta da sua falta de fé, estava tendo problemas em começar o seu novo trabalho. O qual, inclusive, deixou bastante interessada sobre.
— Me fale sobre o seu trabalho. — ela pediu, enquanto sentava em uma cadeira.
foi para perto do fogão, abriu um dos armários, e separou o pó de café. Colocou água para ferver, e então sentou-se do lado de .
— O que quer saber?
— Tudo. — ela deu de ombros. — Eu não faço ideia de quem você seja, e mesmo assim estou sentada na sua cozinha, obrigando você a fazer café para mim e me questionando porque você tem um maço de cigarros em cima da pia. Isso não é muito higiênico, não é?
correu para onde o maço de cigarros, praticamente cheio, estava. Ele nem se surpreendeu com o comentário de . Quer dizer, em qualquer outro momento, estaria incomodado em ter uma estranha na sua casa, de favor, e que ficasse reparando na bagunça dele ou nos seu hábitos ruins. Mas ele não estava incomodado com as observações de . Pelo contrário. Contrariando toda a razão dele, se sentia muitíssimo à vontade com ela tomando o seu espaço particular e lhe fazendo perguntas pessoais.
Vai entender.
— Isso aqui é um velho hábito que não estou disposto a voltar a ter. — e para provar o que disse, jogou o maço no lixo. Voltou a se sentar do lado dela, e então perguntou: — O que você quer saber sobre o meu trabalho?
— Quero saber se você é famoso, por exemplo. — e isso fez rir. — Se ganha muito dinheiro escrevendo histórias e se já conheceu atores famosos. — e então sentou na ponta da cadeira, ficando mais próxima a ele. — Você já trabalhou com o Caio Castro? Eu acho o Caio Castro muito gato.
riu alto, jogando a cabeça para trás, enquanto suspirava pelo sua crush em atores famosos.
se levantou para colocar a água no café, e então passou a contar para ela que não, ele não conhecia o Caio Castro.
— Mas já trabalhei com o Bruno Gagliasso.
— O quê?! Mentira! — ela se surpreendeu.
— Pois é. — disse rindo. — Não sei quem irão escalar para esse novo filme que estou escrevendo, ou deveria escrever…
pensou por um instante no que ele dizia, e voltou a falar, como se estivesse conversando com um amigo de longa data.
— Você já se sentiu ansioso por conversar com alguém?
riu.
— Claro que já.
— Com alguma menina, de quem você gostava muito e queria passar uma boa impressão? Ele deu de ombros.
— Sim.
— Você já criou cenários na sua mente, de como um diálogo deveria acontecer, mas, na hora, aconteceu tudo ao contrário?
riu debochado, dessa vez.
— Com certeza.
— E já sentiu o coração bater tão rápido, mas tão rápido, que parecia que iria sair pulando do seu peito?
apertou os lábios em uma linha reta. Ele tinha a resposta para aquela pergunta na ponta da língua, e sabia onde queria chegar com aquelas perguntas.
— Já.
— Já sentiu o estômago revirar de ansiedade e nervosismo, apenas por não saber o que uma garota pensava sobre você?
Ele assentiu com a cabeça, sem proferir nenhuma palavra.
— Já imaginou cenários felizes ao lado de uma pessoa com quem você queria passar o resto da vida junto?
Dessa vez riu irônico.
— Já, e veja onde esses pensamentos me levaram: a uma sala no fórum, assinando os papéis do divórcio.
pensou por um instante antes de continuar.
— Mas, quando vocês se casaram, você não esperava que fossem se divorciar um dia. — não foi uma pergunta.
— Eu sabia que existiam grandes chances disso acontecer. — ele respondeu.
— Você sabia que existia a possibilidade disso ocorrer. Porque sempre existe a possibilidade de um relacionamento chegar ao fim. Mas você não esperava por isso. Certo?
tirou alguns segundos para pensar nas palavras dela.
— Certo.
, então, levou a garrafa de café e duas xícaras para a mesa e voltou a se sentar de frente para .
— Então você já amou.
Aquilo não havia sido uma pergunta. E mesmo se fosse, não teria uma resposta.
— Tanto faz. — deu de ombros, rindo sem jeito por ter ficado sem palavras.
, por outro lado, parecia bastante satisfeita em deixá-lo pensativo, como se estivesse curtindo uma vitória particular.
Depois do café, chegou a cogitar a possibilidade de pedir algo para comerem, mas a chuva ainda era forte demais do lado de fora, e então eles chegaram à conclusão de que dificilmente algum restaurante mandaria um motoboy fazer entregas naquele dia.
se ofereceu para cozinhar alguma coisa, já que era a “visita” da casa.
— Acho que você está mais para “invasora”, mas podemos continuar com a idéia de “visita”. — ele brincou.
E, novamente, como se fossem melhores amigos há tempos, jogou uma almofada nele, demonstrando uma intimidade que não existia entre eles.
garantiu que iria cozinhar algo para eles, enquanto deveria ficar na sala, assistindo televisão, ou fazendo qualquer outra coisa que visitas fizessem.
A mulher, então, começou a olhar todos os livros que tinha espalhados pela casa, e acabou encontrando uma coleção de DVDs. Imaginou que a coleção deveria pertencer à sua ex-esposa, já que a maioria dos filmes eram de romances, dramas e comédias românticas. pensou em pedir para que ele colocasse algum daqueles filmes, mas não encontrou coragem para isso. Quer dizer, tudo bem que ela estava usando roupas de uma desconhecida que havia acabado de pedir o divórcio para o cara que estava cozinhando para ela, mas pensou que assistir aos DVDs dela fosse demais.
Passou, então, a mexer no celular e ler as mensagens atrasadas. Alguns clientes queriam tirar dúvidas, e outros queriam marcar um horário “com urgência”.
— Eles sempre têm urgência… — comentou para si.
continuou lendo algumas mensagens e e-mails até que as palavras começaram a embaralhar. Sua visão ficou turva e sua seus olhos começaram a piscar com mais frequência. E, então, de uma hora para outra, acordou assustada com um barulho vindo do lado de fora.
Levantou-se depressa, ainda meio sonolenta e cambaleando, com fraqueza nas pernas, e perguntando-se onde estava. Seus questionamentos, contudo, duraram menos de um minuto. Ao ver os livros espalhados sobre a mesa e as várias caixas com pertences femininos, lembrou-se de , o qual, inclusive, estava olhando pela janela com tom preocupado.
— O que houve? — perguntou com a voz rouca.
Caramba, havia dormido por quanto tempo? O tempo lá fora já estava escuro, e não apenas escuro por conta das nuvens de chuva. Será que ela havia dormido a tarde toda na casa de um estranho?
— Para alguém que estava preocupada em estar entrando no cativeiro de um assassino, você acabou dormindo bem relaxada, não é? — ele disse para provocar. — Estava até roncando. com certeza estava tentando provocá-la. Porque não roncava. Nunquinha. Nem uma só vez. Ou, pelo menos, era o que ela achava.
— Eu não ronco. — se defendeu.
— Se te faz feliz continuar acreditando nisso, vá em frente. — ele respondeu com uma risadinha no final.
fez uma careta, mas não contestou de novo.
— O que houve?
— Caiu uma árvore e agora toda a rua está interditada.
— Fala sério!
empurrou da janela para que pudesse ter uma visão melhor da rua.
— Caramba, como eu vou embora agora? — ela se perguntou.
A resposta era bastante clara, contudo. Ela não teria como ir embora. Mas não iria dizer isso em voz alta. Quer dizer, é quem teria que convidá-la, certo?
A mulher, então, olhou para o lado, onde ainda encarava a rua à sua frente.
Pela primeira vez, desde que o encontrara no fórum, falando ao celular, reparou nele de verdade, de verdade mesmo. Quer dizer, como ela não havia prestado atenção nele antes? Nos cabelos perfeitamente penteados para trás, nos olhos claros — Caramba, como eu não tinha visto esses olhos antes?! — no sorriso perfeito…
Espera aí, sorriso perfeito?
precisou chacoalhar a cabeça para afastar os pensamentos que estavam começando a se formar ali.
— Ah, acho que você vai precisar passar a noite por aqui. — ele comentou despretensiosamente, como se convidar pessoas estranhas para passarem a noite na sua casa fosse a coisa mais normal do mundo.
estava pensando em uma resposta para dar a ele quando outro barulho chamou a sua atenção. O novo som, contudo, tinha vindo de dentro da casa. Mais precisamente, do estômago dela.
a encarou com humor.
já nem se deu ao trabalho de ficar envergonhada.
— Estou com fome. — declarou.
tombou a cabeça para o lado, nada surpreso com a declaração de — quer dizer, para uma pessoa que havia invadido o seu táxi e se alojado na sua casa, falar que estava com fome não era nada.
pediu para que o acompanhasse até a cozinha, enquanto ele preparava algo para jantarem — já que ela havia dormido e perdido o delicioso sanduíche que ele fizera para o almoço.
não contestou. Especialmente porque, enquanto observava cozinhar, ela teve a chance de conhecê-lo um pouco mais — e também observá-lo um pouco mais.
Para uma pessoa que acreditava que o amor era uma invenção social, se mostrou bastante surpreendente ao comentar que seus pais estão junto há quase cinquenta anos.
— Eles foram os primeiros namorados um do outro e nunca mais se separaram.
— Fala sério! Isso é tão romântico!
Também surpreendeu quando disse que era um cara bastante caseiro, e que gostava de cozinhar em casa, especialmente porque passava grande parte do seu tempo na frente do computador.
— Assistindo filmes de romance? — ela provocou.
— Escrevendo roteiros de filmes de ação. — ele respondeu.
Quando acordou naquela manhã, toda atrasada e estabanada, não podia nem mesmo imaginar que o seu dia iria terminar assim: com um jantar à luz de velas — porque a energia havia acabado, em determinado momento — , na casa de um homem que ela mal conhecia, mas que mesmo assim havia passado pouco mais de uma hora cozinhando para ela.
— Se essa situação toda que vivemos hoje não der um bom roteiro de comédia romântica, eu não sei o que mais poderia dar.
não tinha como discordar daquilo. Nas últimas horas ele havia passado por mais situações inusitadas do que já passara em toda a sua vida.
— Verdade, isso daria uma boa história, se não fosse por um pequeno detalhe.
— E qual é?
— Nos filmes, o casal sempre acaba junto do final.
estava bebendo suco quando ele falou a última frase e acabou de engasgando, precisando tossir algumas vezes para se recuperar.
Aquilo era uma indireta?
— Hm… Mas nós estamos juntos. — ela comentou com uma risadinha no final, tentando quebrar a tensão em que ela ficou.
— Ah, você entendeu o que eu quis dizer.
Sim, ela havia entendido. Muito bem, inclusive.
E enquanto ela havia ficado tensa e com as bochechas coradas, , por outro lado, parecia muitíssimo confortável com a fala dele. Ele parecia, até mesmo, achar graça da timidez repentina de .
— Hm… Pena que você não acredita no amor, não é mesmo, ? — ela disse com uma calma que não sabia de onde tinha vindo. Porque aquela era ela provocando ele.
Diferentemente de , contudo, não ficou com as bochechas coradas, mas logo perdeu o sorriso divertido que mantinha nos lábios.
— Cuidado… Quem ouvir você falar assim vai pensar que você está se apaixonando por mim… E, bem, o ato de se apaixonar também é uma criação social, não é?
Mas de onde estavam vindo aquelas merdas?!
ficou surpreso, mais uma vez, com a ousadia dela.
tinha várias condutas ousadas, e isso encantava de uma forma… Peculiar. era peculiar. E isso era encantador.
— Ah, relaxa. Não existe essa tal coisa de amor… Você sabe. — ele respondeu dando de ombros, mesmo que, ao final da sua frase, ele já estivesse começando a sentir um friozinho na barriga e um calorzinho no peito por conta das batidas mais rápidas do coração.
, você é tão estranha… O que está fazendo comigo?
E para essa pergunta, contudo, ele não tinha uma resposta. Mais do que isso, ele imaginava que nunca teria uma resposta.
📚
— O roteirista do filme, , acabou de chegar e nós vamos tentar uma entrevista exclusiva com ele. — a repórter falou para a câmera.
Ela pediu licença para algumas pessoas, empurrou outras e recebeu reclamação de mais algumas, mas não se importou. Conseguiu ficar na linha de frente dos jornalistas e puxou o cameraman para o seu lado.
— Filme a entrada dele, vai!
O garoto, na hora, arrumou o foco da câmera e passou a gravar a entrada de no tapete vermelho. Filmou o rapaz parando para dar algumas entrevistas aos primeiros jornalistas, e ficou tenso por perceber que a assessoria de imprensa do autor o estava apressando.
, contudo, foi muito simpático com todo mundo e continuou respondendo às perguntas, ainda que cada jornalista tivesse um limite de três perguntas e dois minutos de entrevista. Luna, a jornalista, não gostava de ser apressada, mas apreciava um bom desafio.
E se para provar o seu valor o seu profissionalismo ela tivesse que entrevista , um dos maiores nomes da Netflix, da atualidade, em apenas dois minutos, ela o faria.
— ! ! — ela gritou por cima dos outros jornalistas quando percebeu que começara a se despedir de todos.
— Apenas uma pergunta, , por favor!
O autor olhou para trás, para onde sua assessora o esperava com a cara meio fechada. Pediu a ela mais um minutinho, e correu para onde Luna estava quase pulando sem sair do lugar, excitada demais. Cutucou o cameraman com o braço e sussurrou para ele:
— Pelo amor de deus, foca direito essa câmera porque essa é a oportunidade da minha vida!
E então, quando chegou até ela, Luna colocou um largo sorriso nos lábios e passou a falar com ele:
— , parabéns pelo grande sucesso do filme!
— Obrigado…
— Você conseguiu conquistar a crítica. Como se sente a respeito disso?
— Hm… Me sinto muitíssimo feliz. Quer dizer, esse é o primeiro filme de comédia romântica que eu escrevi, e não podia ficar mais orgulhoso do resultado.
— É verdade que você levou somente uma noite na frente do computador para escrever todo o roteiro?
riu daquilo.
— É verdade que eu tive uma… Forte inspiração para escrever esse filme, mas precisei de várias noites acordado para conseguir escrever essa história.
Luna ficou satisfeita com a resposta longa dele, e já emendou outra pergunta.
— Você era conhecido por escrever filmes de ação e investigação policial. O que o fez mudar o estilo de escrita?
deu um risadinha.
— Digamos que o pagamento oferecido pela Netflix foi um bom incentivo para a minha mudança de estilo.
Luna riu exageradamente, e quando percebeu que se preparava para se despedir, emendou outra pergunta:
— O filme foi muito aclamado não apenas por ser uma linda história de amor, mas também pelo fato de terem surgido boatos de que ele é inspirado em uma história real. O que você pode nos falar sobre isso?
— Hm… — foi chamado novamente por sua assessora, a qual informou que ele deveria se apressar para tirar a foto oficial com todo o elenco antes de exibirem o filme pela primeira vez, afinal, naquele dia estaria ocorrendo a pré-estreia oficial. — Hm… Apenas posso dizer que se trata de uma história de amor que teve um início um tanto quanto incomum. Espero que todos se divirtam assistindo. Obrigado pelo apoio.
E sem esperar por uma resposta, ele saiu correndo para onde o restante da equipe o esperava. E enquanto posava para uma foto com todo o elenco e o restante da equipe que participou da produção do filme — e também uma foto somente com a sua companheira — os jornalistas se apressavam para seguir para onde seria exibido o filme pela primeira vez, oficialmente — a pré-exibição, apenas para a crítica especializada, não contava.
Antes de finalizar a entrevista, contudo, Luna fez um comentário final — o qual ela esperava que ficasse bom na edição final:
— E vocês acabaram de acompanhar a entrevista com , roteirista de várias mini-séries, novelas e filmes, autor de Dê Uma Chance Ao Amor, a nova comédia romântica da Netflix, e que conta a história de um autor que tem como próximo trabalho escrever uma comédia romântica voltada para o público adolescente, mas que não acredita no amor. Mas isso isso quando ele conhece uma advogada frustrada que já namorou mais de dez pessoas ao longo da vida, e ainda assim acredita que exista o amor verdadeiro.
E então, com um último sorriso para a câmera, ela finalizou:
— Ficou curioso para saber como termina essa história? Então não perca a estreia de Dê Uma Chance Ao Amor, que estreia, oficialmente, dia 13 de março, na Netflix. Eu sou Luna Camargo, e falo diretamente do Canal Jovem.
Fim.
Nota da autora: Quem não ama uma boa comédia romântica, não é mesmo, gente? HAHA Espero que tenham gostado da fanfic, assim como eu amei escrevê-la. ❤️
Deixem um comentário cheio de amor, e recomendem a fanfic para todas as suas amigas que também são lindas e perfeitas ❤️
Beijos de luz
Angel
Outras Fanfics:
Longfic:
Ainda Lembro de Você ● It’s Always Been You
Shortfics:
21 Months ● Accidentally in Love I ● Accidentally in Love II ● Ainda Lembro de Nós ● Babá Temporária ● Beautifuly Delicious ● Because of the War ● Café com Chocolate ● Elemental ● O Amor da Minha Vida ● O Conto da Sereia ● O Garoto do Metrô ● Reencontro de Natal ● Refrigerante de Cereja ● Rumor ● She Was Pretty ● Sorry Sorry ● Suddenly Love I ● Suddenly Love II ● Welcome to a new word ● When We Met
Ficstapes:
02. Cool ● 05. Paradise ● 06. Every Road ● 07. Face ● 10. What If I ● 12. Epilogue: Young Forever ● 15. Does Your Mother Know
MVs:
MV: Change ● MV: Run & Run ● MV: Hola Hola
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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