Última atualização: 09/08/2020

I

A casa era maior do que ela havia imaginado.
Claro que, a essa altura, ela já deveria ter se acostumado, morando na casa há mais de um mês. Mesmo assim, todos os dias, ainda se impressionava com o tamanho do local.
Não que sua casa no Brasil fosse modesta; era uma casa relativamente grande. Mas a casa da família O'donnell parecia muito maior. Talvez fosse porque tinha quartos demais, ou talvez porque era uma casa em Londres e isso ainda a impressionava.
Ela ainda coçava os olhos enquanto andava lentamente pelo corredor, o estômago retorcendo de fome. Mas, antes de ir até a cozinha, precisava cumprir seu ritual matinal.
Lenta e cuidadosamente, abriu a porta do quarto de Liam, encontrando o garoto ainda dormindo profundamente, abraçado a sua pelúcia de girafa. Ela sorriu doce, reprimindo a vontade de ir até o cama de Liam e beijar sua bochecha rosada. Em pouco mais de um mês morando naquela casa e cuidando do garoto, já tinha se afeiçoado a ele de uma maneira que sequer achava ser possível.
Após fechar a porta tão cuidadosamente quanto havia aberto, desceu as escada murmurando uma música antiga, que ela provavelmente só conhecia por causa do pai. Assim que chegou na cozinha, encontrou um delicioso cheiro de torradas, e Charlie tranquilamente comendo e olhando a tela do próprio celular.
— Bom dia, Charlie — a voz dela soava realmente animada. — Cadê a Rachel e o Lewis?
— Bom dia, — Charlie não desviou o olhar da tela. Estava tudo bem, ele não fazia por mal, já estava se acostumando. — Ela precisou sair correndo por causa de uma matéria de última hora, provavelmente vai passar o dia fora. Mas fica tranquila, eu vou ficar com o Liam.
— Você sabe que eu amo cuidar do Liam, Charlie — riu baixo enquanto se sentava à mesa e começava a preparar o próprio café da manhã com os ingredientes que Charlie havia espalhado ali.
— Eu sei, mas ele dá trabalho e hoje é sua folga. Vai curtir um pouco, menina.
— E o Lewis? Ainda dormindo? — falar de boca cheia era uma prática horrível mas mesmo assim ela estava fazendo aquilo. Péssima.
— Até parece — os olhos do mais velho reviraram antes de ele finalmente parar de olhar para o celular e encarar . — Acordou em um pulo, mal tomou café da manhã e já saiu correndo pra casa dos Holland pra jogar vídeo game com o Paddy.
balançou a cabeça enquanto mastigava. Paddy era o melhor amigo de Lewis, os dois praticamente inseparáveis. Iam e voltavam da escola juntos, faziam os deveres juntos, saíam juntos, jogavam vídeo game juntos. Praticamente viviam juntos. Era realmente bonitinho de ver.
— Você tem curso hoje, não tem? — a pergunta de Charlie a tirou de seu temporário devaneio.
— Sim — ela tentou não parecer animada demais, o que era quase impossível. — O dia inteiro, como sempre.
— Quer que eu te leve e te busque?
— Não precisa, obrigada — todos os sábados Charlie oferecia, mas sempre negava.
Mesmo quando morava no Brasil, gostava de caminhar. Odiava pegar transporte público, claro, mas caminhar era revigorante. E o local do curso não era tão longe, entre vinte e trinta minutos de caminhada. Quer dizer, não era pouca caminhada, mas também não era nada insuportável. E aquela região era bonita, realmente bonita. Cheia de árvores. A caminhada ficava agradável.
O local do curso também era muito bonito, uma casa um pouco antiga e bem cuidada. Excelente locação para um curso de fotografia.
Todos da turma já estavam reunidos quando ela chegou, faltando apenas a professora. Uma garota de traços asiáticos e cabelo azul sorriu para enquanto ela se aproximava. Ava Ayumi Nakayama era a pessoa preferida de naquele grupo porque ela sempre tinha uma piada sarcástica na ponta da língua.
— Pronta para mais um lindo dia de fotos de plantas? — a animação de Ayumi era quase contagiante. Aquele comentário poderia parecer sarcástico, mas a garota realmente amava fotografar a natureza.
— Sempre — a cumprimentou com um rápido beijo no rosto, algo que Ayumi havia estranhado no começo com agora já estava até acostumada.
Não demorou para que a professora chegasse e, para a alegria de , aquele dia de curso enfim iniciasse.
Os sábados eram o dia preferido de . Quando decidiu fazer aquele programa de Au Pair, a escolha da Inglaterra pareceu a mais óbvia, uma vez que sempre teve interesse por conhecer a Europa. Demorou mais ou menos dois meses para que finalmente encontrasse a família O'donnell, e honestamente ela não poderia estar mais feliz. Charlie e Rachel eram um casal maravilhoso, claramente apaixonados e, mesmo que a vida obviamente não fosse perfeita, eles eram o mais próximo que já havia conhecido de casal de comercial de margarina.
Tinha Lewis, um garoto de 15 anos que… Bom, era um garoto de 15 anos. Parte da turbulência geralmente vinha dele, mas no geral até mesmo Lewis era tranquilo. Mesmo que o trabalho de não fosse cuidar do adolescente, vez ou outra ela se pegava ajudando com matérias escolares das quais ela ainda se lembrava, ou que a faculdade tinha ajudado.
E, claro, Liam. O garoto de dois anos era a criança mais doce que já havia visto em toda sua vida. Claro que às vezes fazia bagunça, manha ou até mesmo desobedecia, mas nada que não fosse controlável. Os momentos divertidos sempre ganhavam dos pequenos momentos de pirraça.
Então, no geral, a vida com os O'donnell era realmente maravilhosa. E mesmo assim, os sábados ainda eram perfeitos porque ela ficava o dia inteiro em seu curso de fotografia, e aquilo sempre fazia seu dia melhorar em cem por cento.
havia trancado a faculdade de Química no ano anterior porque… algo não parecia certo. E desde então se sentia um pouco perdida. Mas, já em sua primeira semana, Rachel lhe contou sobre um novo curso que iria começar, e ela decidiu tentar a sorte.
E a sorte tinha sorrido para ela.
Era como se, com a fotografia, ela estivesse se descobrindo novamente. No começo, nas primeiras aulas, ela teve que usar os equipamentos do próprio curso porque não tinha equipamento próprio. Mas depois, Charlie e Rachel a presentearam com uma câmera profissional antiga de Rachel e, mesmo que ela ainda precisasse comprar lentes, ela já se sentia quase que uma profissional.
Durante todo o dia, aprendeu mais sobre luz, angulação, foco, aprofundando cada vez mais seus conhecimentos. Quando a tarde caiu e já estava na hora de ir embora, ela se sentia revigorada, como se tivesse cumprido bem seu trabalho.
, quer ir almoçar no Olive Grove amanhã? — Ayumi perguntou enquanto as duas começavam a caminhar de volta para casa.
— Pode ser — concordou com um sorriso. — Aquela sopa deles é incrível.
— Sopa não é comida, .
— Você ‘tá errada — as duas riram antes de se despedir, virando para lados opostos da rua.
A caminhada de volta era tão agradável quanto da ida, e em pouco menos de meia hora ela já estava novamente em casa - a casa O'donnell, que era também sua por um ano inteiro - e gritando para anunciar sua chegada, como em qualquer filme ou série ruim.
, corre aqui por favor — uma voz também gritada a respondeu, vindo do andar de cima da casa.
colocou a própria chave no porta-chaves e subiu as escadas o mais rápido que conseguiu. Ao chegar no topo, chamou novamente por Charlie, encontrando-o no banheiro da suíte do casal. Pedindo licença e acreditando com todas as suas forças que Charlie nunca a colocaria em uma situação complicada, entrou no banheiro.
Charlie estava agachado de frente para banheira, usando apenas a calça. Dentro da banheira, parecendo completamente feliz, estava Liam, rodeado por inúmeros brinquedos flutuantes, vez ou outra jogando água para todo lado. Rindo, se aproximou mais, vendo Liam sorrir em sua direção.
— Já tá tomando banho, garotão? — ela também se ajoelhou em frente à banheira, vendo o garoto rir e concordar.
— Fala pra porque você tá tomando banho, Liam — a clara reprovação no tom de voz de Charlie com certeza não era um bom indicativo.
— Eu joguei comida — Liam parecia não ter vergonha alguma.
Naquele momento tudo que queria era rir, mas sabia que essa atitude não iria ensinar ao garoto o correto, então fez um enorme esforço para manter a expressão neutra e estreitou os olhos para a criança, tentando parecer reprovadora o bastante.
— É muito feio brincar com comida, Liam.
— Desculpa, — Liam parou de rir, fazendo uma carinha triste. Depois olhou para Charlie: — Desculpa, papai.
Nenhum dos dois resistiu àquele momento, abrindo um sorriso e aceitando as desculpas da criança. Logo Liam já estava voltando a se divertir na banheira, jogando água pra todo lado e brincando com seus patinhos de borracha.
, você pode me fazer um super favor? — Charlie esperou acenar confirmando antes de de continuar: — Daqui a pouco a Rachel vai voltar pra casa e vai trazer comida daquele restaurante que ela ama. Enquanto eu termino de arrumar o Liam, você consegue dar um pulinho nos Holland e pedir pro Lewis vir pra casa jantar?
— Claro — bagunçou os poucos fios de cabelo de Liam antes de se levantar e sair do banheiro, deixando pai e filho aproveitarem mais daquele momento.
Ela gostava dos Holland. Tinha sido apresentada a eles logo em sua primeira semana, principalmente por culpa de Lewis - apesar dos pais Holland e pais O’donnell parecerem realmente ótimos amigos -, e já tinha se dado bem com os gêmeos Harry e Sam logo de cara. Talvez fossem por conta das idades próximas ou pelos gostos semelhantes, mas demorou pouquíssimo tempo para que eles já conversassem como se fossem velhos conhecidos.
Em questão de segundos já estava atravessando a rua e tocando a campainha da casa da frente, deixando a cabeça voar para séries de televisão enquanto esperava até a porta ser aberta por um sorridente Sam.
— Você chegou na hora perfeita — o sorriso do rapaz era contagiante, mesmo que ela não fizesse ideia de qual era o motivo. — Eu 'tô fazendo torta holandesa, vem cá.
Logo ela já estava seguindo Sam para dentro da casa, parando apenas na sala onde Lewis e Paddy estavam sentados no sofá, totalmente concentrados na televisão onde o PlayStation estava conectado.
— Lewis, quando chegar o próximo checkpoint pode salvar o jogo porque vamos embora — ela sabia que tinha soado um pouco autoritária mas assim era a vida.
— Ah, , só mais um pouquinho — Lewis parecia chateado.
— Eu não faço as regras, Lewis — tentou não rir. — Sua mãe tá chegando com o jantar, ela vai ficar puta da vida se você não estiver lá, e nenhum de nós precisa disso. Aproveita pra chegar em um save enquanto eu checo o que o Sam tá aprontando na cozinha.
chegou na cozinha a tempo de ver Sam revirar olhos enquanto mexia uma panela no fogão. Sorrindo, ela chegou mais perto do rapaz, sentindo um delicioso cheiro de chocolate que aos poucos ganhava mais espaço no cômodo.
— Você vai me dar um pedaço da torta? — ela olhou para a panela, achando incrível como cada mexida de Sam parecia totalmente precisa.
— Na verdade eu já estou fazendo duas. Os O'donnell nunca me perdoariam se eu não desse um pouco pra eles.
— Eu 'tô só imaginando a bagunça que o Liam vai fazer comendo isso — balançou a cabeça. A imagem mental era completamente adorável, mesmo que fosse seguida de horas de limpeza.
— Deixa eu te perguntar uma coisa — Sam falou casualmente. — Você tem planos pra mais tarde?
— Não — quer dizer, ficar deitada assistindo Netflix provavelmente não encaixava como um grande plano.
— O Tuwaine vai fazer uma reunião de amigos na casa dele. Vai todo mundo aqui de casa — franziu as sobrancelhas para aquela frase. — Menos meus pais e o Paddy, óbvio.
— Ou seja, vai só você e o Harry.
— E o Tom — ela sempre esquecia que eles tinham um irmão mais velho famoso. — Enfim… Quer ir também?
— Eu não quero atrapalhar — ela balançou os ombros, não se sentindo confortável em discordar daquela frase.
Ela queria sair com Sam, Harry e o resto dos amigos deles. Desde a primeira semana dela, os gêmeos tinham sido completamente simpáticos, ela não tinha do que reclamar. De certa forma, eles tinham ajudado-a a se sentir acolhida naquele novo país. Mas mesmo que eles se dessem realmente bem, ela sentia que eles ainda não tinham tanta intimidade a ponto de se meter na vida deles dessa maneira.
— Não vai atrapalhar, eles vão gostar de ter gente nova no rolê — chegou a abrir a boca para contestar, mas Sam rapidamente a cortou: — Vai sim, vamos sair daqui umas sete.
— Sam… — ela pegou o próprio celular, checando a hora. — Isso é daqui quarenta minutos.
— Então sugiro que você vá se arrumar logo. Daqui a pouco a gente te busca.
Repetindo diversos palavrões mentalmente, nem se despediu de Sam. Apenas voltou para sala e praticamente obrigou Lewis a sair da frente do video game, enfim levando-o para casa, mesmo que o garoto estivesse com a expressão totalmente amarrada.
Ela mal cumprimentou Rachel, que aparentemente havia acabado de chegar. apenas avisou que não participaria do jantar porque sairia com os gêmeos - o que era bom, dava aos O'donnell um tempo a sós em família. Em seguida correu para o próprio quarto, tirando a própria roupa e indo para o pequeno banheiro para tomar um rápido banho.
Enquanto corria para ficar pronta, ela xingava Sam mentalmente por tê-la convidado tão em cima da hora, apesar de estar bastante feliz por simplesmente ter sido convidada. Era bom que essa "reunião" fosse bem divertida.



II

Às sete em ponto a campainha da casa O’donnell tocou. tentou terminar de passar o batom o mais rápido possível sem fazer muita bagunça. Mal checou a própria imagem no espelho antes de pegar a bolsa e descer quase correndo, se despedindo rapidamente da família O'donnell, que agora estava reunida à mesa, jantando.
Sam a cumprimentou com um sorriso, fazendo sinal para que ela o seguisse até o carro, que já estava parado em frente à casa dos Holland. Quando entraram no carro, Harry estava na cadeira do motorista, um sorriso enorme para cumprimentá-la. Após os três se ajeitarem no carro, Harry finalmente falou:
— Quer dizer então que o Sam conseguiu te arrastar — não era uma questão, Harry estava apenas constatando o óbvio.
— Bom, não é como se eu tivesse muitos planos para um sábado a noite, né — ela balançou os ombros, também rindo.
— Vai ser tranquilo, só uma reunião de amigos. O Tom ‘tava nos Estados Unidos há um tempinho pra gravar, como ele voltou essa semana, vamos comemorar — Sam, que estava no banco do carona, se virou, ainda sorrindo, os cabelos um pouco mais longos quase caindo sobre seus olhos.
— E aí você me chama para ser a intrometida no rolê, entendi — ela estreitou os olhos para o gêmeo, que apenas riu e também balançou os ombros.
— O pessoal ama gente nova no grupo. Depois de tantos anos das mesmas caras, é sempre bom inovar as amizades — Harry falou.
A caminho era realmente rápido, mal dando vinte minutos. Eles desceram do carro conversando e rindo, caminhando até a entrada da casa e tocando a campainha. Se prestasse muita atenção, conseguiria ouvir uma música baixa vinda da casa, nada alto para que não parecesse realmente que se tratava de uma festa. O que, pelo visto, eles queriam deixar claro que não era.
A porta foi aberta por um rapaz gigantesco, de pele escura e sorriso divertido. Se já não estivesse rindo por causa dos gêmeos, ela com certeza começaria a rir agora. Ela não sabia quem era aquele rapaz, mas ele com certeza parecia ser super divertido, e sendo a pessoa extrovertida que era, já estava anima por conhecê-lo.
— Finalmente vocês chegaram! — o rapaz puxou primeiro Harry para um abraço de urso, ignorando completamente todas as reclamações do gêmeo. — Eu só perdoo porque trouxeram uma pessoa nova.
— Tuwaine! — Sam tentava de todo jeito desviar do amigo, que tinha soltado Harry e agora tentava agarrá-lo. — Essa é a , ela tá de Au Pair na casa dos O’donnell e às vezes tem que ir em casa arrancar o Lewis de lá.
— Para de fugir, Sam! — Tuwaine finalmente conseguiu agarrar Sam, abraçando o rapaz com força e também ignorando suas reclamações. Apenas após soltar Sam, Tuwaine encarou , mantendo o sorriso. — Eu ainda não vou te agarrar assim, mas saiba que é só uma questão de tempo.
— Não perco por esperar.
— Venham, entrem, fiquem à vontade. O irmão de vocês, o Harrison e a Olivia já estão acabando com todas as comidas e bebidas, acelerem! — Tuwaine entrou na casa, deixando o trabalho de fechar a porta para os recém chegados.
A casa era relativamente menor que a dos O'donnell e dos Holland, mas ainda parecia ser grande o bastante. Em apenas três cômodos eles já estavam na porta dos fundos, saindo em um agradável jardim com iluminação parcial e cheiro de grama recém cortada. Algumas pessoas riam e conversavam, parando apenas quando eles fecharam a porta da casa.
— Então vocês decidiram aparecer, finalmente — um rapaz moreno, extremamente parecido com Dominic, levantou as sobrancelhas para os gêmeos.
Não tinha como negar, aquele era Tom, o irmão mais velho. O gene que parecia correr na família Holland era óbvio demais, não tinha como ser confundido. sabia que Tom era famoso, muito famoso. Mesmo que ela não fosse fã de heróis, ela ainda sabia quem era o Homem-Aranha e a importância que ele tinha na Terra. Ter uma pessoa tão famosa ali, na sua frente, deveria ser intimidador. Mas ele tinha um rosto tão característico dos Holland que ela acabava se sentindo levemente confortável.
Ao lado, em espreguiçadeiras, estavam duas pessoas que não conhecia. Um deles era uma rapaz loiro, de olhos claros e ridiculamente lindo, provavelmente a pessoa mais linda daquele local. Ao lado dele estava uma garota igualmente loira, de cabelos longos e sorriso simpático.
— Uma garota! — a loira falou antes de se levantar e praticamente voar na direção de , a agarrando com uma força descomunal. — Finalmente mais uma garota nesse grupo pra me salvar desse bando de homem chato depois que a Elysia me abandonou!
riu, retribuindo o abraço da garota com a mesma intensidade, vendo Sam revirar os olhos. Aquela sim era uma excelente maneira de ser recepcionada em um grupo onde ela não conhecia praticamente ninguém. Ouviu uma risada parecendo irônica ao fundo, mas não conseguiu ver quem havia rido.
— A Elysia só foi viajar, gente — Sam revirou os olhos, mas foi praticamente ignorado pelo resto do grupo.
— Você vai assustar a menina nova, Olivia — o menino loiro falou enquanto Olivia soltava , ainda ficando de pé ao seu lado.
— Tá tudo bem, calor humano é sempre bom — torceu para ter soado engraçada, o que pareceu dar certo, já que todos ali acabaram rindo. — Eu sou a , sou babá do Liam e de vez em quando do Lewis também.
— Eu sou a Olivia — a garota loira segurou sua mão e a guiou até uma das espreguiçadeiras que tinha ali, deixando mais perto de todos. — O outro loiro ali é o Harrison e o Tom você já deve conhecer.
encarou Tom por um segundo, vendo-o sorrir para ela. Sorriu de volta, torcendo para parecer simpática o bastante.
— Pior que não — respondeu enquanto sentava no local que Olivia havia indicado. — Ele não estava nenhuma das vezes que fui nos Holland.
— Eu não moro lá. E eu sou famoso, então… — Tom balançou os ombros.
franziu as sobrancelhas, sentindo que Tom havia soado levemente babaca. Não sabia se era apenas coisa da sua cabeça, mas parecia que, com aquela frase, Tom queria parecer superior a todos os outros. Como se ser famoso o tornasse alguém melhor que todos eles.
Mas com certeza era coisa de sua cabeça, então apenas sorriu.
— Bom, se um dia você visitar seus pais, o Sam fez uma torta holandesa deliciosa — ela balançou os ombros e Tom ergueu as sobrancelhas enquanto Harry dava uma risadinha.
Ah não. Ela tinha soado provocativa. Merda! Ela odiava quando fazia isso sem querer. As reações pareciam as mais diversas. Harry e Harrison riam, Tuwaine e Sam pareciam chocados e Olivia estava perdida entre olhar para e para Tom.
— Pode deixar, quando eu visitar meus pais, vou fazer questão de comer a torta que meu irmão fez. Aliás, sinta-se convidada para se juntar a nós, já que você conhece minha família tão bem assim.
Se havia uma maneira de se começar mal um relacionamento, era aquela. Era óbvio que Tom já não gostava de , e ela não iria mentir dizendo que tinha sentimentos positivos em relação ao rapaz. Harrison, que tinha levantado em algum momento que sequer tinha percebido, estendeu uma long neck para ela, que agradeceu baixo antes de dar um longo gole.
— Enfim… Conta um pouco mais sobre você pra nós, — Harrison sentou no mesmo lugar que estava antes, claramente fazer um grande esforço para tentar deixar o clima mais leve.
— Não tem muita coisa interessante, para ser sincera — ela balançou os ombros antes de dar um longo gole em sua bebida. — Eu sou do Brasil, vim fazer Au Pair por um ano e cuido do Liam.
— E você pode beber e cuidar de uma criança? — Tom perguntou.
Poderia ter sido inocente. Uma simples curiosidade. Mas sentiu o tom do rapaz. Ele não estava tentando só achar assunto. Ele estava provocando e, pior que isso, claramente duvidando de seu profissionalismo. Naquele momento ela oficialmente já odiava o irmão mais velho dos gêmeos.
— Hoje é minha folga, então eu posso fazer o que eu quiser. Não que seja da sua conta, claro — o sorriso dela era obviamente forçado e qualquer um ali sabia disso. Assim como o dele.
Ainda que estivesse olhando atentamente para Tom, conseguia sentir o restante das pessoas se olhando preocupadas. A tensão agora estava óbvia, nenhuma tentativa de esconder o que estava acontecendo ali. Era idiota, era infantil, mas mesmo assim… Era aquilo. Ela não tinha ido com a cara de Tom, Tom não tinha ido com a cara dela. E assim seria, era mais fácil apenas aceitar.
Talvez as pessoas demorassem um pouco mais para aceitar aquilo e ela não poderia culpá-los por isso. Ela era a novata, a menina de fora. Era ela se metendo em um novo grupo, para o qual ela havia sido convidada apenas para uma reunião - e, pelo andar da carruagem não seria convidada novamente tão cedo.
Bom, existiam coisas piores na vida.
! O Tuwaine te mostrou a casa? — Olivia praticamente pulou da espreguiçadeira, atraindo a atenção das pessoas ali, o que quase fez um suspiro de alívio escapar dos lábios da brasileira.
— Não, ainda não.
— Ótimo — em questão de segundos a mão de Olivia já estava cobrindo a de , começando a guiá-la pela casa. — Vem, deixa que eu mesma mostro tudo!
Tão logo elas estavam na casa, já longe dos rapazes do grupo, Olivia parou e encarou . Os braços da loira foram cruzados, e não sabia dizer ao certo como agir a partir dali. Era óbvio que Olivia iria lhe dar um sermão. Quem pensava que era para falar daquele jeito com Tom e o seu grupinho de amigos? Ela era uma estranha que, honestamente? Nem àquele país pertencia, quem dirá àquele grupo.
— Você e o Tom claramente começaram com o pé esquerdo — e mesmo assim a voz de Olivia parecia… simpática.
— Eu não diria isso — tinha necessidade de mentir? Não tinha. Mas mesmo assim ela estava mentindo como a idiota que era. — Só…
— O Tom pode ser complicado — os ombros de Olivia balançaram enquanto ela voltava a caminhar pela casa, levando até a sala e se jogando em um confortável sofá, fazendo sinal para que a Brasileira fizesse o mesmo. — Especialmente quando ele está com todos os amigos.
— Não foi nada demais, só comentários com o timing errado.
— Sério? Porque parecia que ele estava falando que você não é profissional e um pouco folgada, e que você estava falando que era intrometido e não se importava muito com a família.
E era exatamente isso.
Olivia era mais analítica do que parecia, e o rosto de que começava a esquentar com certeza não esconderia o quanto ela sabia que outra garota estava completamente certa. e Tom definitivamente tinham apenas trocado farpas atrás de farpas.
— Eu não fui com a cara dele — finalmente admitiu, esperando o olhar de ódio que Olivia com certeza lançaria.
Mas tudo que a inglesa fez foi começar a rir.
— Como eu disse, o Tom, no meio dos amigos, pode ser um problema. Mas… Você se acostuma e, quando se dá conta, está gostando dele mais do que deveria — de novo os ombros de Olivia balançaram, e sabia que tinha algo ali, alguma história não contada. Mas ela não tentaria descobrir. Pelo menos não ainda. Era cedo demais.
Não demorou muito e as duas voltaram para o grupinho, e logo foi recebida por uma brincadeira leve vinda dos gêmeos, o que deixou seu coração um pouco mais leve. Ela poderia não gostar do Holland mais velho, mas com certeza gostava dos gêmeos e não queria perder a amizade com os dois por pouca coisa.
Durante a noite eles riram, brincaram, se conheceram melhor, contaram histórias sobre o passado, sobre a vida, sonhos futuros… E Tom e sequer olharam um para o outro. E ela sabia que isso não passava despercebido pelo restante do grupo, todo mundo com certeza estava notando a maneira como eles realmente se esforçavam para não dirigir a palavra um ao outro, ou para sequer trocar um olhar.
A noite já estava virando madrugada quando Sam anunciou que precisava ir embora e, mesmo sob protestos dos irmãos e amigos, o gêmeo não se deixou vencer. aproveitou para também se despedir, mesmo sob os pedidos quase chorosos de Olivia, que repetia “eu não aguento mais os meninos”.
Na volta, sentou no banco do carona, já que Harry iria ficar e ir embora com Tom e Harrison mais tarde - ou talvez apenas no dia seguinte, ela não tinha como saber. Ela afivelou o cinto e observou em silêncio enquanto Sam dava partida no automóvel - e agora entendia porque ele não tinha aceitado nenhuma bebida alcoólica. Alguém precisava dirigir, afinal.
— Então… — quem puxou o assunto foi Sam. — O que achou do pessoal?
— Legal — ela não queria falar que o irmão dele era um saco, ao menos não logo de cara. — O pessoal foi bem divertido. O Tuwaine é absurdamente engraçado, e o Harrison é um fofo e consegue deixar o Harry mais divertido ainda, o que eu achava impossível. E a Olivia, ela é feita de amor ou o quê?
— Algo assim — Sam ria, o que era um alívio. — Mas então… Você odiou o Tom, né?
E ali estava.
— Odiar é uma palavra muito forte.
— Ele também não gostou muito de você — Sam falou calmamente.
Ok, também não tinha gostado de Tom. Aquilo não iria deixá-la brava. Não mesmo. Por que ela ficaria? Tom era chato, de qualquer jeito. Ela podia viver com o fato de que ele não gostava dela. Não fazia diferença.
— Ótimo — ela cruzou os braços e, ok, aquela atitude era o completo oposto do que ela deveria ter feito. Idiota.
— Isso vai ser divertido — Sam riu e tentou não bufar.
Ela tinha completa certeza que Sam estava totalmente errado.



III

Naquela noite, dormiu como um bebê.
Acordou com batidas altas e repetitivas na porta. Coçou os olhos e se levantou devagar, tentando se manter acordada o bastante para não tropeçar nos próprios pés enquanto se arrastava até a porta. Do outro lado, encontrou Lewis com cara de poucos amigos, algo realmente comum aos quinze anos, ela não iria culpá-lo.
— Minha mãe perguntou se você vai querer almoçar — a voz combinava com a expressão de mau humor.
— Almoçar? — aquilo não fazia sentido.
Ou os O’donnell estavam almoçando muito cedo, ou…
correu até a mesa de cabeceira, pegando o celular vendo as duas únicas informações que importavam: já era quase meio-dia e ela tinha seis ligações perdidas de Ayumi. Ela apenas avisou a Lewis que não iria almoçar com eles, praticamente fechando a porta na cara do garoto enquanto corria para tirar a roupa e tentar se arrumar o mais rápido possível.
Porra — ela xingou quando desequilibrou e caiu por cima do celular, puxando debaixo de si mesma com alguma dificuldade e retornando a ligação para a amiga, esperando dois toques até ouvir o “alô” do outro lado da linha. — Não me mata.
— Vaca.
— Eu já ‘tô terminando de me arrumar e ‘tô saindo, prometo — não era nada fácil colocar a calça e falar no telefone ao mesmo tempo, estava fazendo um senhor esforço.
— Eu juro que você inventar de vir andando, ...
— Eu vou de Uber! Sério, vinte minutos e eu já chego! — a resposta de Ayumi foi apenas um sussurro antes de desligar.
se sentiu obrigada a prender os cabelos em um rabo de cavalo alto. Ela não teria tempo de tomar banho, o que por si só era extremamente incômodo já que ela odiava sair de casa sem tomar banho, e se tentasse pentear o cabelo, ficaria ali para sempre. E não adiantaria muita coisa, honestamente.
Mal falou com Charlie e Rachel antes de sair de casa, avisando rapidamente que almoçaria fora mas voltaria a noite para cuidar de Liam e dar um pouco de paz ao casal. Apenas ao chegar nos degraus do lado de fora novamente pegou o celular, abrindo o aplicativo do Uber e odiando o fato que gastaria para uma corrida que iria realmente durar pouco tempo.
? — uma voz conhecida despertou sua atenção.
Do outro lado da rua, Sam sorria para ela, os olhos escondidos por um óculos escuro que protegia do sol que estava realmente bastante fraco. Ela sorriu, clicando para pedir o carro e correndo até o portão, finalmente atravessando e cumprimentando Sam com um rápido abraço.
— Vai passear? — ele perguntou animado.
— Vou almoçar com a Ayumi no Olive Grove.
— Sério? Eu amo esse lugar, a torta de limão deles é a melhor sobremesa que eu já comi em toda minha vida — era incrível como Sam parecia muito mais animado quando estava falando de comida. — Vai a pé?
— Acabei de pedir o Uber, que está a… — ela checou o horário, fazendo careta logo em seguida. — Oito minutos de distância. Perfeito.
— Cancela aí, eu te levo lá.
— Não quero atrapalhar — ela balançou a cabeça negando.
— Eu ‘tô indo pro Tuwaine de novo, te dou carona. Cancela logo antes que cobrem a taxa, menina!
apenas riu e cancelou o pedido de corrida, aceitando a carona de Sam e entrando em seu carro. Pelo segundo dia seguido. Aquilo iria se tornar algum tipo de hábito? Não seria o pior hábito de mundo de se ter, era apenas um pouco… Inesperado. Ainda assim, quanto mais amigos ela fizesse na Inglaterra, melhor. Sendo a pessoa sociável que sempre tinha sido, não era acostumada a ter poucas “opções” de amigos com quem sair em fins de semana, por exemplo.
— Então, não quer ir pro Tuwaine hoje? — Sam falou, tirando de seus pensamentos, Ela franziu as sobrancelhas, um pouco perdida. Pelo que se recordava, não havia sido convidada a visitar Tuwaine em nenhum momento. — Aposto que o Tom está louco pra te ver de novo.
Ah sim, a provocação. É claro que aquilo não seria simplesmente esquecido. Não tinha sido exatamente uma cena linda ou agradável de se presenciar, duas pessoas que mal se conheciam sendo um tanto quanto idiotas uma com a outra, ela tinha que admitir isso. Agora precisava aceitar que aquilo seria sempre lembrado.
— Ha-ha. Vai ficar fazendo gracinha agora, Holland? — ela estreitou os olhos para Sam, que começou a rir.
— É engraçado, você não pode negar.
— O que, seu irmão ser um mala é divertido agora? — ela estava totalmente exagerando e iria negar esse fato por toda a eternidade.
tinha uma lista de defeitos enorme, com o tempo tinha aprendido a enxergar e reconhecer cada um deles. Teimosia era um eles. Ela dificilmente dava o braço a torcer, mesmo quando estava errada; sempre fazia absolutamente tudo a seu alcance para encontrar pelo menos um ponto mínimo em que estava certa, e então se abraçava a esse único ponto com sua vida.
Ela não se sentia orgulhosa de admitir, mas a verdade era que ela gostava de sair por cima em todas as situações.
— Vocês dois foram bem malas — e Sam estava certo, no fundo de seu coração ela sabia.
Mas ela também gostava de justificar em sua própria cabeça que só tinha sido mala porque Tom era babaca, e gente babaca merecia ser tratada com babaquice. E ela realmente não queria continuar aquele assunto com o irmão do chato em questão, então ficou realmente feliz ao ver o restaurante se aproximando, e o carro começar a parar. Realmente, se não tivesse dormido demais e se atrasado, com certeza teria ido andando.
— Tanto faz — foi assim que ela acabou o assunto, desafivelando o cinto enquanto Sam ia parando o carro. — Obrigada pela carona.
— Coma bastante torta de limão por mim! — ela conseguiu ouvi-lo gritar enquanto saía do carro e finalmente entrava no local.
Não foi difícil achar uma garota de cabelo azul no meio do restaurante, que estava relativamente cheio. caminhou até a mesa de Ayumi e sentou, abrindo um gigantesco sorriso. Que foi retribuído pela amiga com uma careta feia.
— Eu ‘tô só dez minutos atrasada, Ayumi. Me respeita — revirou os olhos e abriu o cardápio, começando a ler os pratos especiais daquele dia.
O que ela mais gostava sobre o Olive Grove era que, mesmo que ele tivesse um menu de opções comuns, ele também sempre tinha um menu variado, que mudava diariamente. Era a maior graça do restaurante, algo que ela nunca tinha visto antes e achava a coisa mais genial do mundo inteiro.
— Eu sei, mas eu gosto de incomodar — a garota riu, também folheando o próprio menu.
— Aparentemente você não é a única — já decidida, fechou o menu e bufou. Certo, não era o tipo de humor que ela deveria ter em um almoço com a amiga.
— ‘Tá, vamos pedir e você me explica o que foi isso — Ayumi também fechou o menu e elas chamaram o garçom, fazendo o pedido rapidamente. Assim que o garçom saiu levando os menus, Ayumi voltou a encarar . — Conta.
— Não é nada demais. Ontem eu conheci o irmão mais velho dos gêmeos e a gente não se deu muito bem, só isso — balançou os ombros, tentando fazer pouco caso e de alguma maneira dizer que aquilo não importava realmente.
— O irmão dos gêmeos? Ele é famoso, não é?
— Sim, o que só o torna mais prepotente e insuportável — ok, não sabia de onde tinha saído tanto ódio. Tinha sido um pouquinho exagerado.
— Prepotente e insuportável? — a maneira como Ayumi repetiu suas palavras só provava o quanto tinha sido exagerada. — Não ‘tá meio cedo pra falar isso? Você conheceu o cara literalmente ontem.
— Eu não quero falar do Tom, Ava — acabou chamando a amiga pelo nome inglês, agradecendo por ela não se importar. — Não nos demos bem e é isso. Vamos mudar de assunto, por favor.
— Certo… Eu comecei a assistir a série que você indicou. Community.
— Sério? — os olhos de brilharam instantaneamente. Aquilo sim era um assunto legal de ficar conversando por horas e horas. — E o que achou? Por favor, me fala que você ama o Abed!
— E tem como não? — a maneira como Ayumi também levava aquele assunto a sério chegava a provocar arrepios de emoção em . — O Abed e a Annie são os verdadeiros amores da minha vida. E eu realmente queria que o Pierce só morresse.
— Eles também. Todo mundo. Mas logo você descobre que o Pierce é muito importante na história.
No fim elas passaram o almoço inteiro falando de séries e filmes, porque era o assunto mais comum entre elas. E simplesmente amava demais aqueles momentos. Estar com Ayumi era quase como estar com seus amigos do Brasil. Ela se sentia quase em casa podendo falar sobre absolutamente qualquer assunto com alguém que a entendia tão bem.
Quando foram pagar a conta, acabou tendo uma ideia. Pediu um pedaço de torta de limão para viagem e sorriu, orgulhosa de si mesma, enquanto saía do restaurante com Ayumi. A garota apenas encarou o pacote na mão de e sorriu. Já estava acostumando sobre como a brasileira poderia ser um tanto… emocionada.
Como o restaurante não era realmente longe, decidiu voltar caminhando para casa. Foram vinte ótimos minutos de caminhada, durante os quais ela torceu com todo seu coração para que torta resistisse firme e forte. Talvez aquela não tivesse sido sua ideia mais genial, mas não era exatamente conhecida por sua genialidade, então deixaria passar esse erro pessoal.
Quando chegou ao local já familiar, foi direto para a porta da casa dos Holland, tocando a campainha e aguardando com um sorriso no rosto… que morreu assim que a porta foi aberta pelo mais velho dos filhos.
— Boa tarde, vizinha — o sorriso de Tom era horrível, ela odiava o sorriso dele. E ela tinha motivo sim!
— O Sam está? — ela não iria perder tempo retribuindo o cumprimento. Aquele cara nem morava ali, o que estava fazendo na casa dos pais?
— Ele saiu. Quer deixar recado? — Tom apoiou o braço na batente da porta de um jeito tão ridiculamente clichê que não conseguiu conter a maneira como seus olhos acabaram revirando.
— Entrega isso pra ele. Fala que é presente — ela estendeu o pacote onde a torta de limão estava (intacta, por favor!) embrulhada.
— Claro — ainda com aquele sorriso irritante, Tom pegou o pacote, antes de franzir as sobrancelhas para . — Você ‘tá ciente que o Sam tem namorada, né?
Ah, não — ela carregou o máximo de ironia que conseguia e, dado que ela uma pessoa conhecida por não ser exatamente adorável, era uma quantidade realmente grande. — Não acredito que não vou conquistar o coração do seu irmãozinho com minha incrível torta de limão. Meu mundo caiu.
— Relaxa, você nunca conquistaria o Sam. Ou o Harry. Ou ninguém aqui.
Tom era oficialmente o mais insuportável de todos os Holland e, se não gostasse tanto de Sam (como amigo), ela pegaria aquela torta e enfiaria goela abaixo daquele prepotente idiota.
— Decidiu fingir que se importa e visitar a família, Holland? — ela inclinou a cabeça e piscou de uma maneira inocente. — Foi pra isso que o Sam foi te buscar, né?
— Não que seja da sua conta… Qual é seu nome mesmo? Marta? Miriam? — Tom voltou a sorrir, mas dessa vez era possível sentir o ódio através do gesto.
. .
— ele parou de sorrir. — Mas hoje é noite de nos reunirmos para jogar. E eu sei que você ama minha família, mas não, você não está convidada. Pode deixar, eu falo pro Sam que você mandou um presente pra ele.
E assim, simples assim, ele bateu a porta na cara de , a deixando do lado de fora. Ela respirou fundo, sabendo que gritar ou ameaçar ou abrir a porta a força não faria absolutamente bem algum naquele momento. E ela ainda tinha um pouco de dignidade intacta em seu corpo, então iria fazer a única coisa que poderia: engolir o orgulho e voltar para a casa dos O’donnell. Ela ainda teria que cuidar de Liam pelo resto do dia para que Charlie e Rachel pudesse ter um pouco de paz.
Alguém tinha que ter.
Porque, enquanto voltava, deixava que a garota de onze anos na quinta série levasse a melhor e lhe dissesse que as coisas não iriam ficar desse jeito. Ela não iria deixar Tom Holland pisar em seu orgulho daquela maneira.



IV

— Liam, não! — correu a sala inteira até alcançar Liam, que estava do outro lado tentando escalar a estante da televisão. — Não pode! — ela conseguiu segurar o garoto antes que ele alcançasse a televisão de sessenta polegadas e lhe causasse um horrível trauma psicológico e financeiro.
Segurando o garoto no colo, que apenas ria, caminhou até a cozinha, deixando Liam em sua própria cadeira, preso, e dando a ele um de seus brinquedos, que no geral deixavam o garoto quieto por tempo o bastante para ela encontrasse outro modo de deixá-lo quieto por mais tempo, e assim por diante.
— Você tem que parar de tentar escalar as coisas da casa, Liam — ela falava enquanto ia até o fogão, pegava a comida que Charlie tinha deixado pronta e colocava para esquentar. — Eu sei que você ‘tá nessa fase de descobrir mais sobre o mundo, mas isso pode causar acidentes, sabe? Pra nós dois.
Com um suspiro, pegou uma vasilha menor na geladeira, destampando e colocando no microondas por exatamente um minuto e meio. Nos fins de semana ela saía, passeava, via os amigos. Mas seu dia a dia era aquilo. Sentar e cuidar de um garotinho de quase três anos e impedi-lo de se matar enquanto a mãe passava o dia inteiro trabalhando com jornal criminal e o pai administrava uma empresa financeira.
Yey.
O microondas apitou, avisando que o minuto já havia passado e estava na hora de, finalmente, alimentar a criança. Ela puxou a própria cadeira para perto dele e sorriu, torcendo para que aquele dia fosse um dos fáceis. Mexeu a colher na estranha papa que Charlie sempre deixava preparada para Liam, pegando um pouco, e levando na direção da criança.
— Hora da comida, Liam! Abre a boquinha!
E Liam desviou o rosto, se recusando a comer.
Ok, aquele seria um dos dias difíceis.
— Vamos lá, não faz isso. Come pelo menos um pouquinho — ela pediu, mas Liam ainda parecia irredutível. — Liam, você tem que comer agora. Se você comer, eu deixo você beber um pouco de suco. Que tal?
E não que ela realmente esperasse que ele entendesse tudo o que ela estava falando, mas a promessa de recompensa pareceu despertar a atenção de Liam. Ele fez um movimento que, no futuro, talvez fosse franzir as sobrancelhas. Mas agora parecia apenas adoravelmente desconfiado.
— Suco — Liam repetiu. Certo, ela sabia que ele amava suco de uva e era feio chantagear a criança desse jeito, mas ela tinha que fazê-lo comer.
— Só se você comer o almoço — ela sorriu e estendeu novamente a colher na direção de Liam, vendo-o abrir a boca e aceitar o alimento, finalmente.
Ela acabou conseguindo fazer com que o garoto comesse toda a refeição e aceitou que aquele não tinha realmente sido um dos dias difíceis. Não era um dos dias maravilhosos em que Liam simplesmente comia sem nenhum trabalho, mas nem chegava perto de quando o garoto simplesmente se recusava a comer e começava a chorar e gritar por todo o tempo em que ficasse ao lado dele segurando a vasilha de comida.
Como prometido, ela encheu metade de sua mamadeira com o suco de uva orgânico horrível que aparentemente todos os O’donnell achavam a coisa mais deliciosa do mundo. Deixou Liam beber todo o conteúdo - ridiculamente rápido - enquanto ela mesma almoçava.
Geralmente, depois do almoço, não demorava muito até que Liam acabasse pegando no sono e ela ficasse livre para assistir alguma série em paz. se sentou em frente à televisão, deixando Liam dormir em seu cercadinho, silencioso. Com o notebook no colo, começou a pesquisar por novas lentes para sua câmera, ficando levemente triste ao perceber que não conseguiria atualiza-la tão cedo.
O dia pareceu voar e logo Liam já estava novamente acordado e brincando com seus ursinhos. A porta foi aberta no horário de sempre, e a voz de sempre anunciou a mensagem de sempre:
, cheguei! Tem comida? — Lewis jogou a mochila no sofá, indo até o irmão mais novo e o pegando no colo, fazendo cócegas na criança que começava a gargalhar.
— Tem comida na geladeira, seu pai deixou pronto. É só colocar no microondas — respondeu, vendo o garoto colocar o irmão novamente no tapete.
— Tem comida pro Paddy também? Ele vai ficar aqui hoje — Lewis apontou para o rapaz parado atrás dele, que não tinha percebido que também tinha entrado na casa. Ela se esforçou muito para não pensar o que essa falta de atenção dizia sobre ela.
— Eu já comi, então tudo o que tem aí vocês podem dividir entre vocês, acho que o Charlie vai cozinhar mais quando chegar — ela balançou os ombros, voltando a prestar atenção no notebook e nas lentes das câmeras.
Enquanto Lewis ia para a cozinha, observou pela visão periférica Paddy começar a ficar mais à vontade na casa. Era bem esperado que ele se sentisse assim, visto que ia para a casa dos O’donnell com alguma frequência. Quando dizia que Lewis e Paddy eram melhores amigos, na verdade ela queria dizer que os dois eram como unha e carne.
— Meu irmão tinha uma dessa — Paddy olhava diretamente para a câmera de , que estava em cima da mesa de centro para que ela pudesse ficar o tempo todo comparando o modelo do aparelho, se era realmente compatível com a lente que ela estava procurando. — Na verdade acho que ainda tem.
— Qual irmão? — não sabia exatamente porque tinha feito aquela questão. Não fazia muita diferença.
— O Harry. Ele trabalha com isso — Paddy pediu licença e pegou a câmera, analisando rapidamente e logo a colocando novamente na mesa. — É, igualzinha. Mas ele comprou uma melhor, então nem usa mais ela direito.
Era assim que queria estar.
Mas iria aceitar que aquela câmera era realmente boa e tinha sido um presente incrível de Rachel. Além disso, ela precisava de dinheiro para comprar lentes. Por que raios tudo tinha que ser sempre tão caro?! Tinham falado que na Europa aquelas coisas eram mais baratas, não tinham? Ou ela tinha sonhado?
Não seria a primeira brasileira a se iludir sobre uma vida melhor no exterior.
— O Harry trabalha com isso faz tempo? — não precisava realmente continuar o assunto, mas não iria matá-la ser legal com Paddy enquanto Lewis terminava de esquentar comida para os dois.
— Um pouco. Nossa mãe é fotógrafa, então ele sempre teve interesse. Daí o Tom ficou super famoso, ele aproveitou pra começar a fazer o nome dele, principalmente com edição e tal… Mas ele é ótimo com isso. Ele sempre comprou um monte de coisa pra turbinar as câmeras e deixar tudo mais bonito.
Hum.
Aí estava um pensamento interessante, prestes a gerar esperanças demais em .
— E ele ainda tem as coisas da câmera igual a minha?
— Com certeza, ele é muito cuidadoso — Paddy não parecia ter entendido as intenções de . Mas tudo bem, ele não precisava.
— O Harry está em casa, Paddy?
— Acho que sim, não sei. Não fui em casa. O Sam ‘tá, com certeza. Como a Elysia ‘tá viajando, ele sempre fica em casa. Ou com o Harry — o menino franziu as sobrancelhas, parecendo confuso consigo mesmo. — Na verdade eu não tenho ideia.
Ela apenas riu e disse que estava tudo bem. Agora ela precisava esperar mais duas ou três horas que Charlie estaria em casa e ela poderia ir até a casa dos Holland torcer para ter sorte o bastante para que Harry estivesse em casa.
As três horas passaram devagar demais. se dividia entre mexer no notebook e impedir Liam de tentar se matar escalando alguma parte da casa - mas ficava relativamente mais fácil quando Lewis estava e ajudava um pouco a segurar o irmão. Os dois adolescentes, em compensação, praticamente não olhavam para nada além do vídeo-game. Mas tudo bem, era para isso que eles estavam ali. E era paga para ser babá do Liam, não do Lewis, portanto não falava absolutamente nada sobre possível dever de casa.
Quando Charlie finalmente chegou, quase pulou de alegria. Claro, esperou o homem ficar mais acomodado, tomar um banho, se deitar no sofá com Liam por cima dele, tentando empurrar um monte de brinquedos em sua direção. Por mais que ela e o garoto se dessem bem, ela sabia que nunca substituiria a felicidade dele em estar com os pais.
— Ei, Charlie… Teria problema se eu desse um pulinho na casa dos Holland? — ela se sentia sem graça em fazer aquela pergunta, porque significava que Charlie teria que ficar com Liam por alguns minutos, e certo, era o filho dele, mas o trabalho dela. De certa forma, fazia-a sentir-se um pouco anti profissional. — Eu juro que vai ser super rápido.
— Você não precisa nem me pedir essas coisas, — Charlie riu quando Liam passou um carrinho pelo rosto dele, de sua testa até seu queixo, fazendo “vruuum” com a boca. — Vai lá, eu quero aproveitar um pouco o filho que me dá atenção, sabe, já que eu tenho outro que finge que eu nem existo.
Ah pronto! — Lewis respondeu ainda com os olhos grudados na televisão enquanto Paddy apenas ria. — Também vou ficar sentado em você, aposto que você vai amar.
— Você já foi mais fofo que isso, Lewis — Charlie revirou os olhos, voltando a brincar com Liam e deixar Lewis e Paddy jogando vídeo-game em paz.
Rindo, pegou a câmera e saiu quase correndo, para então realmente correr para atravessar a rua. Tocou a campainha dos Holland se sentindo mais ansiosa que nunca, e quase gritou de felicidade ao ver que quem abriu a porta foi o próprio Harry.
— Oi, — ele cumprimentou com um sorriso. — O Sam ‘tá lá dentro, quer que eu chame?
Ela franziu as sobrancelhas. Sério isso?
— Não, eu vim falar com você mesmo — por que todo mundo sempre achava que ela queria falar com o Sam?
— Não brinca — Harry piscou algumas vezes, parecendo curioso. — Claro, diga!
— O Paddy disse que você tem uma dessa? Ou tinha, pelo menos — ela estendeu a câmera para Harry.
Parecendo agora entender do que se tratava, Harry balançou a cabeça e pegou o aparelho, analisando rapidamente, com um cuidado e precisão de manuseio que sabia não ser qualquer pessoa que conseguia. E ela ainda não conseguia tão bem assim, mas já começava a admirar o rapaz.
— Foi uma das primeiras que eu tive — ele sorriu, devolvendo-a para . — Minha mãe me deu quando eu comecei a me interessar por isso.
— Você ainda usa? O Paddy falou que você tem uma melhor, né? — ela estava parecendo muito desesperada? Por favor, que ela não estivesse parecendo desesperada.
— Quase nunca, o Tom me deu uma mais atual. Por quê?
— Então… — ela sorriu amarelo e Harry estreitou os olhos. — Você tem alguma lente ou periférico parados? Que você poderia me vender um pouco mais em conta? Ou alugar?
Ela ainda sorria amarelo, um dos sorrisos mais sem graça que tinha dado sua vida inteira. Harry inclinou a cabeça, sorrindo, parecendo achar completamente divertida a maneira como estava prestes a implodir.
— Tenho vários que não servem na câmera nova, posso te dar sim — ele finalmente sorriu, e ela quase teve um ataque do coração.
— Não precisa dar, eu compro! Eu super compro! — se ele cobrasse mais barato que os sites, claro.
— Eu não uso. Você pelo menos vai usar — Harry balançou os ombros. — Eu não sabia que você era fotógrafa.
— É recente. Eu faço um cursos nos sábados — estava tentando desesperadamente não morrer de vergonha. Harry iria dar as lentes! — Mas ‘tô gostando da coisa, pensando seriamente em me profissionalizar.
— Interessante… Porque eu tive uma ideia — e, de repente, o sorriso de Harry parecia quase maldoso. — Eu vou precisar tirar umas fotos e gravar uns vídeos do meu irmão porque ele é uma anta com redes sociais. Quer vir junto, também tirar umas fotos?
Ela nem precisava perguntar de qual irmão ele estava falando. Era óbvio que era de Tom. Porque Harry tinha aquele sorriso. E porque ninguém mais seria tão fresco a ponto de precisar de um fotógrafo profissional só para fotos postadas no Instagram. Ou Twitter, ela não o acompanhava para saber qual rede social ele acessava.
— Acho melhor não — nem iria fingir dessa vez.
— Eu sei que vocês não se gostaram, mas pensa na oportunidade incrível que vai ser se você realmente for virar profissional — Harry tinha um ponto importante. — Quer dizer, você vai ter no seu portfólio fotos do Tom Holland, um ator mundial. Atenção você com certeza vai conseguir.
Ela odiava que Harry estivesse tão certo.
— Seu irmão vai querer me matar.
— Eu não deixo — ok, dessa vez ela tinha certeza que o sorriso de Harry estava completamente maldoso. — Então, vamos? Domingo agora.
— Certo… Mas não deixa ele me matar!
— Prometo — Harry piscou, antes de pedir para ela aguardar enquanto ele pegava as lentes e demais periféricos que daria para ela.
Lá dentro de seu coração, estava ansiosa. Ela estava prestes a ter uma oportunidade única na vida. Só esperava que no fim não acabasse matando seu modelo. Ou sendo morta por ele.



V

Foi a primeira vez desde que tinha chegado na Inglaterra e começado seu curso de fotografia que tinha sentimentos conflitantes sobre o final de semana. Por um lado, tudo o que mais queria era que sábado chegasse logo, ela tivesse folga e fosse para o maravilhoso curso. Por outro, no domingo ela iria com Harry tirar fotos do irmão dele.
Existia uma voz dentro da cabeça de que parecia muito a de sua mãe e repetia que cavalo dado não se olha os dentes. O problema era que o cavalo em questão era muito propenso a coices, e ela sempre tentaria encontrar uma maneira de revidar.
Mas, tentando não focar nisso, durante o restante da semana tudo o que fez foi cuidar de Liam da melhor forma possível. Não tinha sido uma semana fácil. Liam estava especialmente enjoado, o que também deixava um pouco enjoada e menos paciente - e sim, era completamente possível.
No sábado, quando saiu em sua caminhada até o curso, tentava se manter calma, dizer a si mesma que estava tudo bem, que tudo iria ficar bem. Mas, assim que chegou, apenas a maneira que Ayumi a cumprimentou já deixava claro que a cara não estava exatamente agradável. Mas, por bem ou mal, a amiga não fez nenhum comentário naquele momento, e agradeceu por toda a eternidade.
Aquele seria mais um dia de prática, e eles tinham sido divididos em diferentes grupos para caminhar pela vizinhança e fotografar principalmente arquitetura. Quanto mais prédios, construções e cimento tivesse nas fotos, melhor. juntou-se à Ayumi e elas começaram a andar e fotografar quase tudo que viam pela frente.
Diferente da amiga, que já tinha se encontrado na fotografia da natureza, ainda não tinha encontrado seu “chamado”. Ela gostava da maioria das coisas que faziam, mas julgava que o motivo era por gostar de fotografia no geral. Não sabia se seu forte seria arquitetura, ensaios fotográficos, natureza… Quer dizer, ela pelo menos experimentaria cada um deles, claro. No domingo, por exemplo, descobriria como era fazer um ensaio com uma verdadeira celebridade.
Que ela odiava.
— Eu não queria falar nada, mas você não parece de ótimo humor hoje — Ayumi falou através da lente, apontando a câmera para um ponto distante de onde estava.
— Eu sei, é só que… — ela suspirou, sentindo-se consternada. Odiava ser o tipo de garota que falava de homem, mas ao mesmo tempo amava reclamar, então honestamente ela estava vivendo um enorme impasse. — O Harry me chamou para participar do ensaio ou sei lá que ele vai fazer com o irmão dele amanhã.
— Não que eu não preste muita atenção no que você fala, mas minha memória realmente não é ótima — Ayumi tirou mais uma foto antes parar completamente e suspirar, finalmente encarando , que a essa altura tinha desistido de fotografar. — Harry é quem mesmo?
— Holland. O gêmeo do Sam. Amanhã vamos fotografar o Tom.
— Ah — ela pareceu enfim entender — O famoso? Que você não gosta?
— Ele mesmo — soltou um alto suspiro antes de voltar a fotografar. — Eu não quero parecer ingrata, mas-
— Já ‘tá parecendo — Ayumi a cortou, usando um tom de voz de quem sentia extrema preguiça. — Odeie ele o quanto quiser, ele é famoso, vai ser uma puta adição pro seu portfólio se um dia você quiser levar esse negócio de fotografia realmente a sério.
— Eu sei, por isso aceitei — tentou não soar infantil, mas naquele momento era um pouco impossível. Ela sabia que parecia um pouco com uma criança de quem tinham tirado algum doce. Ou algo que ela realmente quisesse muito no momento. — Mas ainda tenho receio de como vai ser. Você nunca viu, mas… A gente realmente não se dá bem.
— Certo, mas vocês não são duas criancinhas brigando na escolinha — a maneira como Ayumi usava as palavras poderia ser descrita como no mínimo cruel. — Vocês são adultos e podem ser profissionais por algumas horas. Ou eu me enganei?
não respondeu. Ela tinha odiado aquele momento com todas as suas forças porque Ayumi estava sendo sensata. E não queria sensatez, queria alguém para ajudá-la a falar mal de alguém que ela não conhecia e sentir pena de todo o seu problema de primeiro mundo. Mas não, Ayumi tinha que pegar todas as verdades e jogar em sua cara, como se ela não soubesse nada aquilo.
Porque sabia. Sabia que aquela briga poderia ter sido resolvida com cinco, dez minutos de conversa. Mas para isso ela teria que dar o primeiro passo, porque Tom era claramente uma planta, e seu orgulho nunca, nunca permitiria que ela tomasse a atitude. Não era apenas uma questão de teimosia, era uma questão de princípios. Ela sabia que não estava totalmente errada nessa história e isso era o bastante.
Se ela simplesmente se rendesse e fosse a primeira a pedir desculpas, ela iria apenas reforçar o estereótipo que ele com certeza tinha de ser o cara supremo do grupo, com quem nada de ruim nunca acontecia porque ninguém ousava desafiar o cara rico e famoso. E ela não deixaria isso acontecer.
Pelo menos não se dependesse de seu orgulho.
— Eu posso ser profissional — foi o que murmurou, mesmo sabendo que Ayumi não conseguiria ouvir, já que tinha ido para o outro lado da rua tirar mais fotos.
A parte mais sensata de dizia que ela estava exagerando, forçando, sendo desnecessária. Mas, como tinha feito em absolutamente todos os momentos de sua vida, iria ignorar praticamente tudo o que sua sensatez dizia e continuar odiando Tom Holland.
Mas no domingo ela seria completamente profissional.
Aquilo era uma promessa.

~*~

No domingo ela acordou relativamente cedo, mais cedo do que estava acostumada. Adoraria mentir e dizer que era apenas um ato de saúde ou horários controlados, mas a verdade é que ela tinha dormido muito mal.
Durante toda a noite tinha antecipado todas as desgraças que poderiam acontecer naquele dia caso ela não fosse profissional o bastante. E, claro, ela iria contar apenas consigo mesma. Não confiaria em Tom para fazer o mesmo, então de certa forma precisava estar preparada para todos o cenários possíveis. era o tipo de pessoa que gostava de ter um roteiro pronto na própria cabeça para cada pequena situação que pudesse ocorrer, e ainda ficava brava se as pessoas não seguissem seu roteiro secreto e pessoal.
Depois do almoço, que dessa vez foi com a família O’donnell completa - e ela quem deu a comida para Liam e cuidou dele enquanto Rachel ajudava Charlie a cozinhar -, se arrumou, pegando todos os equipamentos e se arrumando para sair, pronta para encarar o dia sem reclamar demais.
— Vai fotografar? — Rachel perguntou animada quando passou por ela na sala. Liam dormia no colo da mãe parecendo totalmente em paz.
Por conta do trabalho como fotógrafa forense, muitas vezes Rachel não conseguia ficar em casa por muito tempo, geralmente sendo chamada às pressas. Mas, sempre que podia, a mulher ficava em casa com os filhos, e nessas oportunidades, Liam grudava nela como um bebê coala, não soltando a mãe por absolutamente nada nesse mundo.
— Sim! — sorriu, animada. Era legal que estivesse rodeada de tantas pessoas artísticas por ali. Mesmo que as fotos que Rachel tirava não fossem exatamente agradáveis de ficar olhando. — O Harry vai fazer umas fotos do irmão dele e me chamou para ajudar, para eu poder ir treinando.
— Ele vai tirar fotos do Tom? — Rachel esperou que confirmasse antes de abrir um sorriso e continuar: — O Tom é uma graça. Vivia vindo aqui em casa antes de virar super famoso e não ter tempo mais pra ninguém.
não iria negar e falar que ele definitivamente não era uma graça, ao menos não com ela, mas Rachel não precisava saber disso. Apenas se despediu da mulher e foi até a casa dos Holland, tocando a campainha e sendo atendida pelo patriarca da família, que a cumprimentou com um enorme sorriso.
— Veio roubar o Harry?
— Boa tarde, Dom — ela manteve o sorriso cordial. Até que gostava de Dominic, ele era divertido. — Ele me prometeu fotos, não pude recusar.
— Mas ela tentou — Harry apareceu atrás do pai, desviando para poder passar pela porta e finalmente sair de casa.
— Você vai dormir no seu irmão? — Dominic continuava sorrindo, encarando o filho.
— Talvez. Vamos ver como as coisas acontecem — Harry balançou os ombros, se virando para e sorrindo antes de fazer um sinal para que ela o seguisse.
Ela, por sua vez, apenas acenou em despedida para Dominic, que acenou de volta enquanto gritava para o filho tentar fingir que tinha juízo. apenas seguiu enquanto Harry começava a caminhar tranquilamente.
— Ansiosa? — ele perguntou.
— Bastante — e por mil motivos, mas ela não precisava completar a frase. — Você… avisou que eu vou?
— Claro — Harry riu e a encarou pelo canto do olho. — Vai que eu só chego lá com você e ele acaba te atacando? Nunca se sabe…
— Idiota — ela riu e deu um empurrão leve em Harry, que apenas acompanhou sua risada.
Tom morava ridiculamente perto da casa dos pais, então em menos de dez minutos eles já estavam na casa, que incrivelmente parecia ter o dobro do tamanho da casa dos O’donnell. não tinha ideia do que uma pessoa que morava sozinha poderia fazer em uma casa tão grande mas também não perguntaria. Certamente não era de sua conta. Harry não tocou a campainha, apenas tirou uma chave do bolso e abriu a porta, convidando a entrar.
Enquanto eles caminhavam pela casa de Tom, ela tinha que tomar um tempo para apreciar o quanto o local era realmente magnífico. Ela tinha certeza que Tom não era o responsável pela decoração, não iria acreditar facilmente que ele entendia tão bem assim de arquitetura e design de interiores.
— Finalmente! — Tom surgiu de algum cômodo, cumprimentou Harry com um abraço e ignorou completamente a existência de . Ela não poderia culpá-lo; se a situação fosse inversa, faria exatamente a mesma coisa.
— Pronto para criar vergonha na cara e alimentar sua rede social e seus fãs? — Harry sorriu irônico para o irmão, que apenas revirou os olhos.
— Eu lá tenho escolha? Só preciso trocar de roupa — Tom cruzou os braços, parecendo subitamente sem graça. — Você… tem alguma ideia de qual roupa eu deveria colocar?
— Não? — Harry franziu as sobrancelhas. — Eu não sou figurinista.
Parecendo fazer um gigantesco esforço, Tom virou o rosto e encarou . Ela se sentiu na obrigação de encarar de volta com a mesma intensidade, como se o desafiasse a falar qualquer coisa. E, com apenas uma troca de olhares, eles provavam que eram as criancinhas briguentas na escolinha como Ayumi havia dito.
— Você tem alguma noção de moda?
— Por quê? Por que eu sou mulher? — ela também cruzou os braços, vendo os olhos de Tom revirarem tanto que ficaram quase totalmente brancos.
— Porque você é literalmente a única outra pessoa nessa sala.
Bom, ele tinha um ponto. E iria admitir - mesmo que apenas internamente - que ela tinha atacado-o por absolutamente motivo nenhum, de maneira exageradamente agressiva e… Ela estava errada. Mas nunca diria em voz alta e nunca deixaria que Tom soubesse que ela se sentia levemente culpada pela maneira rude como havia tratado-o.
— Onde estão suas roupas? — ela desviou o olhar enquanto perguntava porque não queria ver como Tom reagiria à sua falta de desculpas.
Enquanto ela seguia Tom e Harry até o que deveria provavelmente ser o quarto do rapaz, pensava como sua noção de moda masculina não era exatamente apurada o bastante. Mas, em compensação, ela sabia dizer quando uma pessoa parecia bonita, então iria apostar todas as suas fichas em sua capacidade de chutar uma roupa que ficasse bem no Holland mais velho.
— O closet fica ali — Tom apontou para uma porta de correr no canto, e óbvio que ele tinha um closet. Apenas pobres tinham guarda-roupa.
deixou seu equipamento na gigantesca cama de Tom e foi até o closet que tinha sido apontado. Para sua sorte, ele tinha excelente gosto para roupas, mesmo que a maioria fosse levemente básica. Ou a pessoa que comprava suas roupas tinha, pelo menos. Pegar algumas peças e combinar acabou sendo incrivelmente fácil, e logo elas estavam espalhadas pela cama de Tom.
— Eu sugiro esses. Não sei quantas fotos vamos tirar e quantas vezes você vai precisar se trocar, mas… É isso — ela apenas balançou os ombros, tentando fingir que não dava muita importância e não estava totalmente nervosa.
— Certo — Tom balançou a cabeça, concordando.
Olha só pra nós dois, sendo totalmente profissionais, sem nenhuma-, interrompeu a própria linha de pensamento quando Tom foi até uma das combinações de roupa e começou a se despir, pronto para se trocar ali mesmo, na frente dela e de Harry. Assim que viu que Tom tinha jogado a camisa do outro lado do quarto e agora começava a abrir o botão da calça jeans, virou de costas.
Enquanto ouvia Harry murmurar qualquer coisa, ela sentia o rosto queimar completamente, não acreditando o quão narcisista Tom podia ser. E ela não iria comentar sobre como o corpo dele era incrível e perfeitamente malhado, os músculos completamente no lugar certo. Não que ela tivesse super prestado atenção a esse fato, claro que não.
— Pronto, podemos tirar as fotos — a voz de Tom a fez virar novamente, vendo-o já vestido e provando que poderia até não ser nenhuma expert em moda mas definitivamente sabia o que era uma pessoa bonita.
Não que ela achasse Tom bonito.
Longe disso.
Eles voltaram para a sala, onde Harry começou a assumir o controle e arrumar o cenário, ligar algumas iluminações - que aparentemente era do Harry mas sempre ficavam na casa de Tom -, e aos poucos o local parecia ainda mais bonito que antes. tomou um tempo para admirar a maneira como o Harry trabalhava e todos os seus equipamentos. Ela sabia que era mais velha que os gêmeos (mesmo que fosse apenas um ano), mas ela com certeza queria ser como Harry quando crescesse.
Depois Harry foi até ela e começou a realmente orientá-la em como tirar algumas fotos, ângulo, ajustar o foco da câmera, melhores lentes para utilizar e o motivo. Sempre que tiravam novas fotos, Harry checava as de e opinava no que poderia ser feito para melhorar a fotografia, e pedia para que ela fizesse o mesmo com as imagens dele. Por conta disso, eles estavam levando muito mais tempo do que deveria para fazer algumas fotos simples, mas Tom não reclamava nem fazia comentários chatos em nenhum momento, e ela meio que se sentia grata por isso.
Após muitas fotos, Harry pediu para que eles fossem para o quintal, tirar algumas fotos no jardim e perto da piscina. Levaram todo o material necessário e logo começavam a tirar mais fotos de Tom. Mas, dessa vez, Harry decidiu parar antes do que esperava.
— A iluminação natural não ‘tá te ajudando, Tom — Harry abriu um sorriso brincalhão. — A gente vai ter que passar um pouco de maquiagem em você.
E, vendo as fotos, era obrigada a concordar. A luz natural não estava destacando as partes certas do rosto de Tom, um problema que com certeza seria facilmente resolvido com um pouco da maquiagem certa.
— Eu não sei passar maquiagem, Harry.
— Eu também não — o sorriso de harry virou na direção de . — Você sabe?
Ela revirou os olhos e concordou. Ela poderia até não entender tão bem assim de moda, mas horas e horas de tutoriais na internet tinham ensinado-a muito a respeito de maquiagem, pincéis, tipos de rosto e tudo o mais. Enquanto Tom ia pegar sua maquiagem - porque obviamente ele tinha que ter um pouco de maquiagem em casa -, se virou para Harry, cruzando os braços.
— Por que eu tenho a sensação de que você me trouxe para fazer coisas que você não faria se tivesse vindo sozinho, Harry?
— Eu nunca faria isso, — a inocência na voz do garoto era tão, tão falsa que tinha certeza que estava completamente certa.
Quando Tom voltou com as maquiagens, Harry pediu licença enquanto voltava para dentro da casa para “fazer alguns ajustes na câmera”, o que era totalmente desnecessário, mas tinha desistido de confiar no rapaz. A essa altura já tinha aceitado que, se ela e Tom realmente se matassem, Harry faria absolutamente nada para interferir.
pediu para que Tom se sentasse em uma das cadeiras da agradável mesinha que tinha lá. Apoiou todo o material que Tom lhe entregou na mesa e, após uma pequena inveja por ver o quanto as maquiagens que ele tinha eram milhares de vezes melhores que as dela, pegou um pincel kabuki, passando no pó, sabendo que não precisaria fazer nada muito completo no rosto de Tom.
— Tenta não furar meu olho, por favor — ele fechou os olhos enquanto ela começava a cuidadosamente espalhar o pó pelo rosto dele.
— Você tem que ficar feliz por eu não te sufocar, isso sim — ela praticamente murmurou, odiando aquele momento com todas as suas forças e se imaginando enfiando o pincel pela garganta do rapaz.
— Dependendo de como você fizer isso, eu aceito — a brincadeira de Tom fez congelar totalmente. Ele não tinha realmente insinuado… Tinha?
— Você não trabalha pra Disney? — foi só o que ela conseguiu dizer, ainda se sentindo levemente chocada pelo que ele tinha falado. Ele não tinha que pelo menos fingir que era um amor de pessoa?
— Não nesse momento em específico — os olhos dele abriram abruptamente, parecendo curioso, enquanto ela criava coragem para voltar a maquiá-lo. — Como você me sufocaria com um pincel?
— Você não quer saber — ela trocou o pincel, se sentindo um pouco mais recuperada do choque.
— Não seja cruel, vizinha — ele riu, voltando a fechar os olhos deixando fazer seu trabalho. Bom, não realmente seu trabalho. Apenas naquele momento.
— Você sabe que eu não sou sua vizinha, né?
— É vizinha dos meus pais. Achei que você amasse os Holland — e lá estava a ironia. Mais algumas frases e o profissionalismo de morreria ali mesmo.
— Aparentemente existe um completamente insuportável — ela terminou o pouco que maquiagem que tinha usado nele, mas que com certeza faria diferença sob a iluminação.
Tom abriu novamente os olhos, o sorriso irônico nos lábios. E nada bom poderia sair dali.
— Eu não te culpo. Também nunca imaginei que um dia conheceria um O’donnell tão sem graça.
— Eu não sou uma O’donnell — ela respirou fundo, tentando ao máximo não fazer nada do que se arrependeria logo em seguida. E obviamente sufocar Tom tinha se tornado completamente fora de cogitação.
— Que sorte a deles.
piscou na direção de Tom, vendo-o sustentar o sorriso ridículo. Sem falar mais nada, virou-se e entrou novamente na casa, indo até Harry e parando na frente dele, cruzando os braços com força na frente do peito.
— Você disse que ia impedir seu irmão de me matar, mas existe uma enorme probabilidade de que eu acabe matando ele.
— Por favor, não. Você não tem noção da dor de cabeça que isso renderia — Harry apenas riu antes de pegar uma bolsa de lente e passar o braço pelos ombros de , voltando para o quintal com ela.
e Tom não trocaram mais nenhuma palavra durante o restante do dia, com exceção do estritamente necessário para as fotos, como pedidos dela para que ele chegasse um pouco mais para a direita e semelhantes. Quando a noite caiu e eles finalmente pararam com as fotos, Harry perguntou se não queria ficar um pouco mais e pedir uma pizza com eles.
Imaginando o desconforto que seria para todos e, sendo confirmada pela cara de Tom quando Harry fez a pergunta, apenas negou e pegou as coisas, caminhando rapidamente de volta para casa. E aquele dia tinha lhe ensinado duas coisas muito importantes. A primeira era que ela realmente gostava muito de fotografia, e fotografar uma pessoa tinha sido o tipo mais divertido até agora. A segunda era que ela realmente nunca conseguiria sentir nada além de ódio por Tom Holland.



VI

Das coisas não tão normais que aconteciam em sua vida, acordar em plena quinta-feira, às sete da manhã, com uma ligação de Ayumi, não era uma delas por dois principais motivos: Ayumi nunca acordava tão cedo, e ela ligava apenas em casos extremos. Como todo bom jovem da geração z, a amiga também detestava ligar, apesar de não ter problema nenhum em mandar vinte áudios de mais de três minutos cada se necessário.
— Ayumi? — sabia que sua voz soava preocupada, mas não podia evitar. Situações incomuns acabavam provocando reações incomuns. — O que aconteceu?
… — a fungada alta do outro lado da linha deixava claro que Ayumi estava chorando. — Eu terminei Community.
precisou se segurar para não bufar alto, mas não evitou revirar os olhos para aquilo. Sete da manhã. Era o horário que muitas vezes acordava, mesmo que Liam acordasse bem mais tarde. Pelo menos assim ela conseguia tomar café da manhã com Charlie, Rachel e Lewis, ter um pouco de interação um pouco mais adulta antes de passar o resto do dia com uma criança. Mas ela ainda achava sete da manhã muito cedo.
— É sério isso, Ava? Você 'ta me ligando às sete da madrugada, chorando, por que terminou uma série?
, eu estou devastada! — incrivelmente a voz de Ayumi realmente soava séria e, absurdo ou não, realmente acreditava que ela estava devastada.
— Tá — foi tudo que a garota conseguiu responder. — O que exatamente você quer que eu faça?
— Não sei! Você poderia ser legal comigo, só pra variar um pouco.
— Eu sempre sou legal com você — riu um pouco antes de finalmente levantar da própria cama, começando a se arrumar para o dia que já estava começando. — Mas tudo bem, eu entendo sua dor. Eu sofri quando acabou.
— Eu queria que o Troy tivesse voltado pra despedida. , eu não sei mais como seguir minha vida.
— Na verdade é a sua vez de me indicar uma série. Acredite ou não, cuidar do Liam me dá tempo de assistir várias coisas — com um pequeno bocejo, colocou o celular no viva voz e começou a se trocar.
— Não existe série melhor que- eu tô no viva voz? Eu tô me ouvindo.
— Eu preciso me arrumar pra tomar café da manhã. Ei, tive uma ideia — terminou de colocar a blusa e pegou o celular novamente, tirando o viva voz antes que amiga acabasse reclamando. — Sábado, depois do curso, que tal irmos ao cinema?
— Quero. Assistir o que?
— O que estiver em cartaz. Daí choramos juntas que, apesar de totalmente sensato, é triste que o Jeff e a Annie não tenham ficado juntos no final.
Durante os próximos dias, teve algo para esperar ansiosamente, além da própria aula. Até porque aquele sábado foi o menos divertido de todos. Todos os alunos se reuniram na classe, em frente aos computadores, para as aulas de tratamento de imagens. Ela entendia que era uma aula super importante, mas com certeza ainda era a mais sem graça de todas.
Quando conectou a câmera ao computador, percebeu que ainda não tinha descarregado as fotos de Tom para o próprio notebook e todas permaneciam ali. Ela franziu as sobrancelhas. Bom, ela precisava tratar as fotos de qualquer jeito, certo? A dicas do professor eram genéricas, para funcionar com todos os tipos de imagem, e querendo ou não, ela tinha ótimos fotos de um bom modelo.
Acabou escolhendo uma das fotos tiradas ao ar livre, a colocando no editor de imagens e começando a fazer cada uma das edições que o professor estava ensinando. Era um pouco desconfortável porque toda hora precisava dar algum zoom, especialmente no rosto de Tom, e editar os pequenos, mínimos detalhes de sua pele. Agora já estava na metade da edição, mas ela não conseguia deixar de reparar em cada mínimo aspecto de seu rosto e corpo.
Desconfortável.
— Essa aí é uma das fotos que você tirou do menino famoso? — Ayumi, que estava no computador ao lado do dela, encarou a tela enquanto ela tirava uma pequena mancha do rosto do rapaz.
— Sim, eu percebi que ainda não descarreguei as fotos no notebook e tô aproveitando — ela tentou balançar os ombros e fazer pouco caso, torcendo para que a amiga não percebesse como ela realmente se sentia.
— Essa foto está ótima. Deixa eu ver as outras?
Ignorando o trabalho que tinha para fazer, abriu a pasta da câmera começou a passar todas as fotos, vendo Ayumi levantar as sobrancelhas e balançar a cabeça afirmativamente para muitas, o que a deixava um pouco mais feliz, para ser sincera. Era bom ver que a amiga parecia estar achando seu trabalho bom o bastante.
— Ficaram ótimas — Ayumi falou após mostrar a última imagem. — Ele é um ótimo modelo. Vocês tentaram se matar?
— Eu queria, mas fui totalmente profissional — ela balançou os ombros e mostrou que estava totalmente plena, o que era mentira.
— Duvido — foi o que Ayumi disse rindo antes de voltar a prestar atenção nas próprias edições.
Ao fim daquele dia de aula, estava realmente orgulhosa de si mesma. Com as edições, os ajustes finais, as fotos tinham ficado realmente bonitas. Se Tom não fosse um enorme babaca, talvez até mesmo enviasse para ele. Mas não aconteceria, claro.
Ela e Ayumi se dirigiram para um dos cinemas da cidade, comprando um combo pequeno que dividiram entre elas. O filme que passava era um inglês que nunca nem tinha ouvido falar. Era engraçado pensar que aquilo era o equivalente a filme nacional ali, e como parecia totalmente inapropriado chamar daquela maneira.
Mesmo assim era um filme legal, divertido. Elas conseguiram dar algumas risadas e até mesmo chorar um pouquinho. Quando saíram e decidiram ir a um shopping próximo para poder jantar, a noite já tinha caído e as luzes da cidade estavam acesas. tinha chegado no começo de fevereiro no país, portando estava ali há quase três meses, e mesmo assim ainda achava tudo realmente belo. Era como se estivesse olhando para uma das muitas fotos que via pela internet, mas pessoalmente tudo era ainda mais bonito. Claro que ela também tinha tendência a achar absolutamente qualquer cidade nova bonita, então talvez não quisesse dizer tanto assim, mas ela não se prenderia a esse pequeno detalhe.
Como uma escolha totalmente adulta e madura, e Ayumi optaram por comer em um Burger King - que era um pouco diferente dos que tinha ido no Brasil mas ainda lhe dava um pouco de familiaridade. Assim que sentaram e estavam prestes a começar a comer, ouviu alguém chamar seu nome. Isso era algo realmente inesperado porque o número de pessoas que ela conhecia na Inglaterra não era muito grande. Mas, assim que se virou na direção da voz, reconheceu o rosto de Olivia na mesma hora.
— Ei! — abriu um enorme sorriso enquanto limpava a mão no guardanapo, para então se levantar e cumprimentar a loira com um apertado abraço. — Quanto tempo!
— Nem me fala — Olivia retribuiu o abraço com tanta força quanto , e abriu um enorme sorriso para Ayumi, a cumprimentando e vendo a garota acenar de volta com um sorriso tímido. Diferente de e Olivia, Ayumi era tímida. — Você nunca mais voltou, né?
— Bom… — apenas balançou os ombros enquanto se sentava novamente. — Ayumi, essa é Olivia, conheci ela quando o Sam me levou na casa do Tuwaine. Olivia, essa é a Ayumi, ela é do meu curso de fotografia e a pessoa que eu mais encho o saco nessa Inglaterra.
— Prazer — Olivia acenou novamente. — Que legal te encontrar aqui! Depois daquele dia, achei que nunca mais fosse te ver.
— Que exagero.
— Não, é verdade. O Harrison até achou que você tinha odiado todo mundo, mas o Harry explicou que na verdade você só odiou o Tom mesmo.
— Ah, então você viu a briguinha em primeira mão? — Ayumi pareceu interessada, se metendo no assunto como se sua timidez não existisse. — A falou que o Tom é insuportável.
— Ele realmente não gostou dela — os ombros de Olivia balançaram, fazendo pouco caso do desgosto do rapaz. — Mas ela também não foi nenhuma flor com ele, então é meio que compreensível. Dos dois lados.
— Eu imagino. A é bastante boa em ser teimosa. E cabeça dura.
— E o Tom claramente pegou ela pra Cristo — Olivia encarou . — Mas sabem o que eles dizem.
— Não — se sentia perdida ali. As duas estavam tendo uma conversa sobre ela, na frente dela, e apenas agora pareciam ter lembrando sobre sua existência.
— O ódio acaba virando amor.
E então riu.
Realmente riu. Começou a gargalhar no meio do shopping, como se não estivesse em um local público. Mas não conseguia se conter. Aquilo era simplesmente hilário. A mínima possibilidade de ela sentir por Tom qualquer coisa que não fosse asco era risível, não tinha como reagir de outra maneira.
— Nunca — foi o que ela conseguiu falar após as risadas.
— Mas vocês alossexuais são exatamente assim — foi a vez de Ayumi balançar os ombros. — Ficam de richa, criam tensão sexual, ao invés de conversar e resolver como gente, vocês transam pra não precisar expor sentimentos. É tipo… padrão.
— Ela não mentiu — Olivia apontou para Ayumi, concordando. — É só uma questão de tempo até acontecer.
— Vocês são péssimas — revirou os olhos e deu um longo gole em seu refrigerante. — Será que a gente pode não falar de macho?
— Você entendeu errado, . Não estamos falando de macho. Estamos rindo de você — Olivia levantou a mão e recebeu um high five de Ayumi.
Era isso. tinha cavado a própria cova apresentando aquelas duas. Agora teria que lidar com as consequências de suas próprias ações.
— Mas e você, Olivia — Ayumi encarou a loira, aparecendo mudar totalmente o foco de sua atenção. — Conhece o futuro amor da vida da há quanto tempo?
— Bem mais que dez anos, com certeza. Parei de contar por aí — ela balançou os ombros e sorriu. — Nossas famílias são amigas, a gente meio que cresceu juntos. E isso inclui o Harrison e o Tuwaine. Eu fiquei um pouco afastada deles depois que eu e o Tom “terminamos”, mas nos resolvemos e agora está tudo bem.
— Você e o Tom namoraram? — coragem, acrescentou mentalmente.
— Não exatamente. A gente começou a ficar e virou aquela coisa meio amigos com benefícios. E, como todas as pessoas do mundo deveriam saber, isso nunca dá certo. Chegou um momento que ou a gente realmente namorava ou terminava. E ele preferiu terminar — a maneira como Olivia balançou os ombros deixava claro que ela realmente não tinha ressentimentos daquilo.
— Você tem alguma dica pra dar pra , pra ajudar a conquistar o Tom? — Ayumi nem tentou segurar a risada.
— Vai se foder — acabou rindo enquanto jogava uma batatinha frita na direção da amiga.
As três ficaram mais tempo do que pretendiam conversando, e se sentiu realmente feliz. Logo toda a timidez que Ayumi tinha desaparecido, e ela e Olivia estavam realmente se dando bem. Isso fazia com que se lembrasse de suas amigas no Brasil e sentisse um apertinho no coração por conta da saudade, mas era simplesmente maravilhoso fazer novas amizades. Mesmo que as duas amigas em questão estivessem se aproximando às custas de piadas da própria .
Como já estava realmente tarde, elas logo tiveram que ir embora. Olivia deu carona para as duas, deixando primeiro Ayumi na porta de sua casa para em seguida fazer o mesmo com . Após agradecer e se despedir com um abraço, abriu a porta com cuidado. Charlie e Rachel estavam deitados no mesmo sofá, abraçados, assistindo algum filme.
— Licença — ela falou enquanto entrava a pendurava a própria chave.
— Oi, — Rachel sorriu sem se mexer, ainda confortavelmente deitada contra o marido. — Já comeu? Tem comida na geladeira.
— Já comi sim, obrigada. O Liam já dormiu? — ela esperou os dois confirmarem antes de fazer mais uma pergunta: — E o Lewis?
— Vai dormir no Paddy — foi Charlie quem respondeu, franzindo as sobrancelhas na direção de . — Você já vai deitar?
— Vou tomar um banho antes de dormir. Por que? Aconteceu alguma coisa?
— Não aconteceu, relaxa. Na verdade eu queria te pedir um favor, — Charlie se moveu um pouco, obrigando Rachel a mudar a posição. — Combinei com o Don de ir amanhã jogar golfe com ele e os meninos. Sei que normalmente você não trabalha o período completo no domingo, mas queria levar o Liam para poder passear um pouco, e como a Rachel vai ter que ir na redação, queria perguntar se você não poderia ir também no golfe para me ajudar a ficar de olho no Liam. A gente paga hora extra.
— Claro que eu vou, Charlie, não precisa nem se preocupar com isso — ela sorriu. Não tinha muito o que fazer naquele domingo, claro que não iria dizer não para a família que tinha a acolhido tanto. E que pagaria hora extra, no caso.
— Eu falei que você tava preocupado a toa. A é um anjo na nossa vida — o sorriso de Rachel deixou completamente sem graça.
— Muito obrigado, , de verdade — Charlie realmente parecia aliviado, o que era um pouco engraçado. — Vamos amanhã por volta das 9h, tudo bem?
— Estarei acordada.
deu boa noite para o casal e finalmente subiu para seu quarto, tomando um rápido banho antes de colocar o celular para despertar e se deitar. Aquele tinha sido um dia realmente maravilhoso e ela sentia que, naquele momento, absolutamente nada seria capaz de estragar seu humor.



VII

Golfe parecia ser o esporte mais chato do mundo.
não era exatamente fã de esportes, e não conhecia a maioria deles, mas sabia mais ou menos como golfe funcionava e, absolutamente todas as vezes que tinha visto aquele esporte ser praticado, tinha parecido a coisa mais chata do mundo inteiro. Então ela não estava muito animada para aquele dia, mas pelo menos iria ganhar hora extra.
O dia estava um pouco cinza, apesar da previsão do tempo não dar possibilidade de chuva, então tentou arrumar Liam de uma maneira bastante confortável, de forma que ele estivesse fresco para o caso de mormaço ou que com apenas um casaquinho pudesse deixá-lo suficientemente aquecido. Arrumou a bolsa do garoto com tudo o que precisava: remédios, casaco, pano, sua girafa de pelúcia favorita e um par de sapatos porque, por algum motivo, ele sempre perdia um pé de sapato. Quando desceu, Liam em seu colo com a maior cara de sono do mundo, encontrou Charlie terminando de fazer a comida da criança, colocando-a na marmita e entregando para , que apenas guardou na enorme bolsa.
— Pronta para um dia de muito esporte?
— Claro — ela riu, internamente ainda pensando como golfe parecia ser extremamente entediante.
Assim que saíram de casa, encontraram os Holland do outro lado, arrumando as coisas no próprio carro para poderem partir. Harry, Tom, Domic e Harrison, que parecia não se importar muito com o fato de não ser realmente um Holland, logo atravessaram a rua para ajudar Charlie a arrumar as coisas enquanto apenas assistia com Liam em seu colo.
— Você também vai jogar golfe? — Harry perguntou enquanto se aproximava com Harrison ao seu lado.
— Vou só cuidar desse bonitão aqui — ela mexeu a cabeça na direção de Liam, que aos poucos parecia mais acordado e logo ficaria agitado, querendo ir para o chão explorar absolutamente tudo ao seu redor.
— Animado para hoje, Liam? Vai destruir a gente? — Harrison sorriu e segurou a mão do garoto, que deu um sorriso tímido de volta. — Esse é o espírito!
— E o Sam? — ela perguntou como quem não quer nada, visto que o gêmeo não parecia em lugar nenhum por perto.
— A Elysia voltou de viagem, então… Você vai vê-lo com uma frequência muito menor a partir de agora. Confia em mim.
Sem mais delongas, os grupos se separaram em seus respectivos carros. prendeu Liam na cadeira de criança e se sentou no banco do passageiro, sentindo-se um pouco mais animada quando Charlie ligou o rádio e os três começaram a acompanhar a música pop que tocava. Ao menos Charlie e cantavam, Liam apenas balbuciava e se mexia de um lado para o outro, definitivamente acordado.
O local era longe, o que era meio esperado. Precisava de um campo grande, com muito verde, muito espaço, então não tinha exatamente como ser na região central de Londres. Mas era um lugar realmente bonito, o campo parecia perfeitamente verde e bem cuidado, como se ninguém nunca pisasse ali. tinha alguma certeza de que não deveria ser fácil mantê-lo daquele jeito, então admirava quem quer que fosse o responsável.
Assim que desceram do carro, Liam pareceu completamente elétrico, tentando de toda maneira sair correndo.
— Nem pensa! — o segurou, ouvindo-o balbuciar reclamações sem sentido.
Ela não podia culpá-lo por querer correr por aí, mas o local era grande, ele podia realmente apenas sumir. Sabia que, por isso, precisava usar a mochila coleira. Era péssimo porque ela sentia que estava tratando o garoto como um animal que precisava de coleira, mas naquele momento… Liam realmente precisava. Ela não podia impedi-lo de correr por aí e ser uma criança, mas também não podia correr o risco de perdê-lo.
E se Charlie e Rachel estavam satisfeitos com isso, quem era ela para fazer alguma coisa, né?
— Eu achei que nunca mais fosse te ver — Harrison parou ao lado dela após um tempo, balançando os ombros.
Já fazia quase uma hora que eles estavam ali, todos - com exceção de - revezando para poder jogar. E, assim como ela tinha imaginado desde início, golfe era realmente um esporte extremamente chato, especialmente de ficar assistindo. A maior diversão que ela tinha era quando Liam pedia para ela brincar um pouco com ele, e visto que o garoto tinha apenas dois anos de idade, aquilo queria dizer muito.
Como eles precisavam revezar, sempre que alguém tinha que esperar, ia conversar com um pouco com . Ela ficava grata, já que isso a fazia se sentir um pouco mais incluída naquele dia, não apenas sendo a babá do filho de um dos jogadores.
— A Olivia falou isso mesmo — abriu um simpático sorriso enquanto sentia Liam acertar a girafa de pelúcia várias vezes na perna dela porque, aparentemente, a girafa estava escalando. — Eu não odiei todos vocês, relaxa.
— Então faça o favor de aparecer mais vezes nos rolês — o sorriso de Harrison era simpático e deixava levemente sem graça. — Até porque fiquei sabendo que esses dias você foi lá em casa e nem falou um oizinho.
franziu as sobrancelhas, se sentindo confusa.
— Eu não fui na sua casa.
— Eu moro com o Tom — aquilo explicava tudo. — Você foi lá tirar umas fotos dele e não tirou nenhuma minha? Poxa.
— Acredite, eu preferia mil vezes ter tirado foto sua — ela realmente tentou não revirar os olhos, mas acabou falhando, e o gesto não passou despercebido por Harrison, que apenas começou a rir um pouco mais. — Enfim, eu não te vi por lá, perdão.
— Eu tinha saído, só queria encher um pouco o saco — ele balançou os ombros, acenando para Harry que tinha se virado e chamado-o para voltar a jogar, já que aparentemente estava na vez dele novamente. Ou seja lá como golfe funcionava, não iria pensar muito sobre isso. — Mas pode aparecer mais vezes, você vai ser muito bem vinda.
— Por você.
— O Tom tá longe de ser esse cara mau que você pensa, — Harrison suspirou, parecendo um pouco cansado e fazendo se sentir um pouco mal. — Se vocês conversarem, só um pouquinho, talvez vocês se entendam.
— Quem sabe um dia — nem acreditou nela mesma.
Harrison levantou apenas uma sobrancelha - um pouco mal, ele não conseguia fazer isso muito bem -, e pediu licença enquanto voltava para o jogo com Charlie e os Holland. voltou a prestar atenção em Liam, que ainda brincava com a girafa como se nada mais importasse. A essa altura o garoto já tinha desistido de fingir que o campo verde era interessante.
Mais algumas horas se passaram em que se dividia entre mexer no celular, mandar mensagens para Ayumi e Olivia - porque elas já estavam naquele ponto da vida de criarem um grupo juntas, aparentemente -, e impedir Liam de se matar comendo as coisas que encontrava no chão, até finalmente os jogadores decidirem que era hora de almoçar.
Todos se reuniram em um restaurante que tinha por ali mesmo, e que provavelmente era caro demais, mas era Charlie quem estava pagando naquele dia, então tudo o que ela faria seria ficar quieta e aceitar o almoço que estava recebendo. Depois de tentar fazer Liam comer pelo menos um pouco, claro.
— Eu tô achando engraçado que o Tom errou todas hoje — no meio de tanta conversa, Dominic tirava uns minutos para rir do próprio filho e ser acompanhado pelo restante da mesa.
— Eu diria que ele está um pouco distraído — Harrison riu e recebeu um high five de Harry, e pela maneira como eles não foram tão acompanhados, provavelmente era alguma piada interna dos dois.
— Eu só estou cansado, não dormi direito a noite — Tom revirou os olhos, sem encarar ninguém diretamente. — Se eu tivesse dormido bem, acabaria com todos vocês fácil.
fingiu não prestar atenção na conversa, mantendo o foco entre dar comida a Liam e comer, o que não era fácil. Ela amava cuidar da criança, realmente amava. Em muitos momentos daquele intercâmbio, era a satisfação de ver Liam feliz e saber que ela tinha uma parcela de responsabilidade nisso que deixava seu dia melhor. Mas dava tanto, tanto trabalho que ela não conseguia imaginar ter um filho próprio.
Aos poucos todos terminavam de comer, alguns se levantando, indo sentar em um local um pouco mais confortável, aproveitando aquele momento e o fraco sol para relaxar. Ainda estavam no meio da primavera, então o clima estava bastante agradável a maior parte do tempo, mesmo que não fosse exatamente a preferência de , que tanto amava calor.
— Charlie a chamou. — Vai descansar um pouco. Eu fico com o Liam nas próximas horas.
— Tem certeza? Eu não ligo de continuar com ele — ela balançou os ombros. Geralmente após o almoço, Liam ficava meio molenga e acabava dormindo, então aquela seria uma hora de paz de qualquer jeito.
— Tenho, vai lá esticar um pouco as pernas, ou deitar, ou ler um livro. O que você preferir — Charlie riu enquanto agradecia e saía dali.
Ela caminhou um pouco pelo campo, não demorando muito para encontrar Harrison, Harry e Tom em um canto, parecendo jogar a bolinha de golfe um para o outro como se fosse uma bola de tamanho normal. Ela franziu as sobrancelhas, vendo como os três pareciam estar se divertindo, e decidiu não interferir. Apenas sentou na grama a alguns metros dali, observando-os por alguns minutos antes de pegar o próprio celular e abrir o aplicativo do Kindle, pronta para continuar a leitura de um livro de romance jovem e mediano que ela estava simplesmente amando.
Vez ou outra ela lançava um olhar rápido na direção dos três, apenas para constatar que eles ainda estavam se divertindo. Ela sentia um pouco de falta disso. Quando estava no Brasil, praticamente todo fim de semana estava saindo com os amigos, nem que fosse apenas para o parque da cidade fazer piquenique. Era um pouco agridoce ver pessoas tão perto de si tendo o mesmo comportamento que ela costumava ter e não fazer parte.
Para tentar se sentir um pouco menos isolada, ela apenas voltou a prestar atenção no livro, que estava entrando em uma das partes mais idiotas de todas, porque romance adolescente nunca era realmente bom, e mesmo assim tinha algo que a fazia focar totalmente a atenção e ler mais e mais. Isso, claro, se ela não fosse acertada por uma bolinha de golfe e tivesse a atenção desviada.
pegou a bolinha e levantou o olhar, vendo Tom revirar os olhos enquanto Harry e Harrison pareciam rir sem parar. Aos poucos o rapaz caminhou em direção a ela, parando apenas quando já estava em sua frente, tampando a visão que ela tinha dos outros dois que aguardavam a poucos metros dali.
— Desculpa. Pode devolver? — Tom apontou para a bolinha que ainda estava na mão dela.
— Uau, você é pior nesse esporte do que eu imaginei que seria — não conteve a ironia dentro de si. Ela não entendia o que a levava a falar esse tipo de coisa para as pessoas. Custava tanto assim agir como uma pessoa normal?
— Eu sou ótimo nisso — Tom pegou a bolinha que ela estendeu, estreitando os olhos. — Só estou meio fora de forma hoje.
— Clássica desculpa de quem é ruim — por isso eles não conversavam. Não dava para apenas conversar como pessoas normais. Tinha que ter uma provocação.
— E você? Não deveria estar focada no seu… trabalho? — parecia que Tom tinha falado a palavra trabalho com um certo desprezo, o que a deixava especialmente irritada.
— Acredite ou não, o Charlie quer ficar um pouco com o filho. E não precisava falar com desprezo. Eu não tenho vergonha do meu trabalho.
— Não deveria — Tom balançou os ombros, parecendo realmente sincero em relação àquilo. Talvez tivesse apenas interpretado errado. — Quer dizer, se você não tem vergonha de falar, com certeza não deveria ter vergonha de ter um emprego.
E lá estava.
Ela começava com uma provocação idiota, ele piorava, ela piorava, e tudo ia por água abaixo. Ela não tinha idade para agir daquele jeito, e mesmo assim agia. Era ridículo.
— Eu sou babá de criança, Tom — ela piscou de maneira falsa e inocente. — Falar da maneira mais simples possível é meu dia a dia. Eu me esforço para que seu cérebro limitado consiga me entender.
Isso é você se esforçando? — a bolinha girava entre os dedos Tom. Ele falava com naturalidade, como quem estivesse comentando o tempo. — Eu tenho um pouco de pena.
— Eu tenho uma teoria.
— Eu não estou interessado.
— Eu não perguntei se você estava — o sorriso irônico de conseguiu arrancar um suspiro consternado de Tom. — Eu acho que você tem uma necessidade insana de me provocar.
— Você acha? — dessa vez ele levantou as sobrancelhas e sorriu, parecendo se divertir. Como se a teoria de fosse tão absurdamente ridículo que ele precisava rir para externalizar a única reação possível.
— Acho que você estava tão acostumado a ter tudo na sua vida porque você é um homem, rico, branco e famoso, que quando chega alguém que não tá disposto a lidar com seu narcisismo, você tenta fingir que quem não tem interesse é você — ficou surpresa consigo mesma ao perceber o quanto soava confiante, muito mais do que ela realmente se sentia. Mas falar mal de homem branco era fácil. — Você só está triste porque eu não sou uma das suas cadelinhas.
— É, , você acertou — ela nunca tinha ouvido Tom ser tão irônico. Também nunca tinha ouvido-o chamá-la por seu primeiro nome. — Tudo que eu queria era te conquistar e ainda estou devastado porque não consegui te colocar de quatro na minha cama.
— Que porra vocês dois estão falando?! — Harrison tinha se aproximado dos dois e eles sequer tinham notado.
olhou para Harrison e abriu a boca para falar algo, tentar explicar a situação, mas simplesmente não sabia como lidar. Ela e Tom nunca tinham realmente discutido na frente de ninguém com exceção do dia em que se conheceram. E agora Harrison tinha ouvido algo que poderia ser bem comprometedor e completamente fora de contexto. Por isso, com a boca aberta, ela virou a cabeça e novamente encarou Tom, vendo que ele também olhava para o amigo, parecendo tão chocado quanto ela.
E, assim que Tom se virou para ela e eles viram as próprias expressões de choque como se fossem espelhos, os dois desataram a rir. Harrison ainda os encarava como se eles fossem malucos, mas eles simplesmente não conseguiam parar de rir porque aquela situação como um todo era totalmente ridícula.
— Nada, Haz. Só pegando a bola com a — Tom balançou os ombros após conseguir parar de rir, o que demorou mais do que deveria. — Vamos voltar?
— Quer jogar também, ? — Harrison parecia agora decidido a ignorar o que tinha ouvido, provavelmente para o bem da própria sanidade.
Antes de responder, encarou Tom, como se quisesse ter certeza de que ele não tentaria impedir o próprio amigo de fazer o convite. Mas Tom apenas balançou os ombros e sorriu, como se não fizesse diferença.
— Obrigada, Harrison, mas vou continuar lendo meu livro. Divirtam-se! — ela sorriu, vendo os dois amigos se afastando e voltando a brincar.
Por um minuto ela considerou que talvez, apenas talvez, um dia ela e Tom pudessem não brigar tanto. Mas dentro de seu coração ainda sentia que aquele provavelmente era um sonho distante.



VIII

A única palavra para descrever a semana de era: péssima.
Liam tinha ficado doente aquela semana, sentindo cólicas todo o tempo, então ele estava especialmente enjoado, chorão e manhoso. Isso acabou resultando em dias extremamente estressantes, já que precisava se desdobrar em vinte para atender cada pequeno choro do garoto.
Mais ou menos no meio da semana, quarta ou quinta, ela não tinha muita certeza, recebeu uma ligação da mãe para falar que um tio dela, um de seus preferidos, tinha sofrido um acidente e estava internado. Sua mãe até tentou acalmá-la, falando que, de acordo com os médicos, ele iria se recuperar. Não era como se isso a deixasse tranquila, de qualquer jeito.
Isso já tornava tudo um pouco mais difícil.
E na sexta-feira, como se não bastasse, ela viu nos stories de seus amigos brasileiros que eles tinham ido em sua balada predileta, e estavam se divertindo horrores, e nem sequer lembraram dela. Nem para uma marcação de “estamos aqui, pensamos em você!”
E claro que, quando ela entendia o quanto aquele pensamento era horrível e ela era uma péssima pessoa por querer que os amigos focassem nela mesmo quando ela estava a um continente de distância, se sentia ainda pior. Porque ela lembrava o quanto podia ser completamente egoísta e como estava sentida por ver os amigos se divertindo sem ela, mesmo sabendo que, naquele momento, era impossível que ela estivesse junto.
Então, no geral, era uma péssima semana porque ela estava tentando lidar com mais do que conseguia, e seu cansaço físico e mental estavam maiores do que ela estava acostumada. Porque, assim como todas as pessoas do mundo, existia um nível de cansaço que ela sabia manejar e continuar seguindo a vida. Era normal, era ser adulto. Mas naquela semana em específico parecia que tudo estava funcionando para deixá-la no pior estado.
Então, naquele sábado, ela não se sentiu nada animada para a aula de fotografia, e apenas esse fato já deveria dizer o quanto ela não estava realmente se sentindo muito bem.
praticamente se arrastou pela cama, transformando até o simples ato de tomar banho em puro sofrimento. Depois ela continuou se arrastando até o local do curso, desejando de todo coração que aquela semana acabasse logo e ela pudesse acreditar que a próxima seria muito melhor.
— Bom dia — Ayumi a cumprimentou com um caloroso sorriso, que rapidamente se desfez enquanto ela franzia as sobrancelhas. — Você está bem?
— Só um pouco cansada, nada demais — balançou os ombros. Uma verdade sobre ela era o quanto ela absurdamente boa em nunca falar o que estava realmente sentindo.
— Certeza? — mesmo assim Ayumi ainda parecia um pouco desconfiada.
— Absoluta.
— Certo… — não parecendo nada convencida, Ayumi cruzou o braço no de , meio puxando a garota enquanto elas caminhavam. — Então… Você vai no rolê da Olivia?
— Rolê da Olivia?
— Ela mandou mensagem no grupo. Dá uma olhadinha lá.
mal tinha checado as mensagens pela manhã, o que no geral fazia parte de seu ritual matinal. Ela quase nunca saía de casa sem conferir cada uma das notificações que tinham chegado durante a madrugada. Mas naquela manhã em específico tudo o que ela queria era tentar se desligar um pouco.
Enquanto ela e Ayumi sentavam em seus respectivos computadores, pegou o próprio celular e abriu o grupo que Olivia tinha criado com as três. Entre as mensagens não lidas, logo encontrou a qual Ayumi se referia: "Vou juntar o pessoal lá em casa a noite. Por favor, vão também! Eu busco vocês na porta do curso", finalizando com um emoji de coração.
A semana pareceu voltar como um tapa na cara de . Ela estava triste e exausta, e tudo o que mais queria era ir para casa, se enrolar embaixo de sua coberta e dormir até o corpo doer de tanto tempo deitada. Mas, ao mesmo tempo, ela se sentia completamente incapaz de recusar. Então, mesmo que não estivesse tão bem assim, acabou apenas digitando "Festaaaa!!!" com um emoji animado no final.
Foi necessária muita força de vontade para que ela não dormisse na aula. Era mais um dia majoritariamente teórico e chato, e se perguntava se alguém realmente perceberia se ela acabasse dormindo só um pouquinho. Constantemente também se pegava checando as mensagens da mãe, apenas tentando confirmar se não tinha nenhuma atualização sobre o estado de saúde de seu tio.
Mas, como esperado, ela acabou não tendo retorno. Ao menos durante a aula Ayumi sempre arrumava uma maneira de cutucá-la e fazer alguma piada, conseguindo arrancar alguns sorrisos de . Pelo menos isso permanecia, ela ainda podia contar com a amiga para fazer-lhe sorrir mesmo quando as coisas não estavam em nada felizes.
No fim da tarde, quando a aula finalmente acabou, Ayumi e encontraram Olivia esperando as duas em frente ao carro, que estava estacionado do outro lado da rua. Era uma cena um pouco engraçada, porque Olivia estava sentada no próprio capô, as pernas cruzadas e um pirulito na boca. Parecia uma cena de filme.
— Finalmente! — a loira falou assim que elas atravessaram a rua, correndo para puxar Ayumi e para um abraço, apertando as duas ao mesmo tempo. — Estão prontas? Juro que vai ser divertido!
se sentou no banco do carona e Ayumi no banco de trás. Olivia não perdeu tempo, ligando o rádio alto enquanto começava a dirigir. As três cantaram quase gritando, uma pequena onda de ânimo consumindo . Talvez ela ainda conseguisse se animar um pouco. Talvez aquele dia ainda lhe rendesse uma cabeça um pouco mais tranquila. Talvez.
Assim que chegaram, Olivia as levou direto para a sala, onde Harry, Harrison, Tuwaine e Tom estavam conversando alto e rindo.
— Agora a festa pode começar de verdade! — foi o que Olivia quase gritou, correndo para a cozinha e deixando e Ayumi ali, paradas, olhando para os rapazes.
— Então… Essa é a Ayumi. Ela faz fotografia comigo — riu sem graça, tendo que apresentar a amiga para um grupo de pessoas que nem mesmo ela conhecia tão bem assim. Se ao menos Sam estivesse ali, ela se sentiria um pouco mais confortável.
— Outra fotógrafa — Harry sorriu, acenando para elas.
— Eu não sei o que acontece, mas eu to rodeado de fotógrafos — Tom franziu as sobrancelhas. — Acho que vou largar a vida de ator e virar fotógrafo também.
— Nem você acredita nisso — Harrison revirou os olhos, rindo.
— Eu duvido muito que você vai deixar de ser um mimado riquinho metido a importante pra virar… qualquer outra coisa — Tuwaine arrancou risada de todos, e Tom apenas revirou os olhos.
— Obrigado por fazer minha caveira pra menina nova, Tuwaine — Tom repreendeu o amigo, que continuava rindo.
— Ela é amiga da , Tom. Essa menina já deve te achar o maior chato de todo o universo — Harry balançou os ombros e sentiu o rosto esquentar instantaneamente.
Ela abriu a boca para tentar retrucar, mesmo sem fazer a menor ideia do que poderia falar naquele momento. Antes mesmo que pudesse falar qualquer coisa, o olhar de Tom a encontrou, as sobrancelhas levantadas. E definitivamente não conseguiu falar mais nada. Apenas desviou o olhar e encarou Ayumi, que agora sorria abertamente.
— Vocês não tem ideia — a garota falou, divertida. E logo todos estavam ali apenas rindo de Tom e , que permaneciam completamente quietos.
Não demorou para que Olivia aparece com um engradado de cerveja e vários petiscos, gritando para que eles a ajudassem a carregar tudo para a sala. Em poucos minutos a mesa de centro já estava cheia de garrafas, com salgados caídos por todo lado. Harry tinha ligado uma caixa de som, e uma música alta e agitada tocava. Todos riam e conversavam alto, contando várias histórias, se conhecendo melhor.
— Mas é sério! — Ayumi com álcool era algo totalmente novo para e ela estava simplesmente adorando. — Eu juro que não foi minha intenção. O negócio só… Pegou fogo.
— Eu ‘tô me sentindo normal depois dessa história, e olha que eu sou a pessoa que literalmente fez uma pessoa que não gostava pegar suspensão por absolutamente nada — Olivia literalmente chorava de rir.
— Vocês são pessoas horríveis, eu tô me sentindo uma santa aqui — riu e balançou a cabeça, dando um pequeno gole em sua cerveja.
— Mentira que você nunca fez nada horrível na escola.
— Nunca.
— Não pode ser.
Juro juradinho. Eu nunca aprontei na escola.
— Vamos brincar de “eu nunca”! — Ayumi praticamente pulou, rindo de si mesma logo em seguida. — Vamos, vai. A gente se conhece melhor.
revirou os olhos e balançou os ombros. Era uma brincadeira clichê, mas poderia ser engraçada naquela situação, quando ela não conhecia tão bem assim as pessoas que brincariam com ela. Seria uma boa maneira de se conhecerem mais e contarem mais histórias sobre suas vidas.
— Eu começo! — Harry levantou a mão. — Eu nunca passei mal de tanto beber.
Todos da roda beberam, com exceção de Ayumi e Harry. encarou a amiga, que apenas sorriu e balançou os ombros.
— Minha vez — Olivia sorriu. — Eu nunca fiz depilação brasileira.
— Você… Isso foi proposital! — revirou os olhos enquanto era a única da roda a beber.
— O que exatamente é depilação brasileira? — Harrison inclinou a cabeça com um sorriso pequeno nos lábios, como se ele soubesse a resposta mas quisesse que passasse toda essa vergonha.
— Esquece isso. Eu vou então — quase bufou. — Eu nunca realizei um fetiche estranho.
Tom, Olivia, Harrison e Tuwaine beberam. abriu a boca, surpresa. Esperava um pouco menos, mas até fazia sentido. Um pouco.
— Certo, minha vez — Tuwaine abriu um sorriso quase maléfico. — Eu nunca senti tesão por uma pessoa que eu supostamente odeio.
estreitou os olhos, sentindo-se desconfiada em relação àquela pergunta. E a maneira como apenas os garotos da roda tinham começado a rir, apesar de Olivia e Ayumi manterem um pequeno sorriso no rosto, apenas a fazia pensar que ela estava certa em desconfiar. Mesmo assim ninguém na roda bebeu.
— Você ouviu a declaração do Tuwaine, Tom? Bebe aí — Harry cutucou o irmão, arrancando ainda mais risadas dos outros rapazes.
— Por que eu faria isso? Seria mentir — os olhos de Tom pareciam lançar navalhas na direção dos amigos, que por sua vez com certeza não davam a mínima. Aparentemente o importante era rir de Tom.
estava prestes a fazer um comentário sarcástico quando sentiu seu celular vibrar. Ela viu a notificação do número da mãe. Ignorando os rapazes, que ainda se provocavam, ela abriu o celular e leu rapidamente a mensagem: “Desculpa não ter respondido, filha. Seu tio precisou passar por uma cirurgia de emergência, mas já está tudo bem, não se preocupe. Estou no hospital com ele.”
Era óbvio que iria se preocupar.
Aquela simples mensagem foi o bastante para trazer todos os sentimentos horríveis de volta à tona. As brincadeiras com os amigos de repente pareceram distantes, as risadas parecendo sem vida. Ou talvez fosse apenas ela, o álcool e sua imensa vontade de chorar. E que vergonha seria começar a chorar ali, absolutamente do nada.
— Olivia, posso pegar um pouco de água na cozinha? — falou absolutamente do nada, interrompendo qualquer que fosse o assunto.
— Sim, quer que eu vá com você? Está tudo bem? — a loira parecia preocupada, e se esforçou para não encarar o restante do grupo. Não queria saber como eles estavam encarando-a.
— ‘Tá sim, relaxa. Só estou com sede — ela levantou, pegando o celular e começando a caminhar para cozinha. — Podem continuar sem mim, já volto.
Ela não olhou para trás, praticamente correndo até a cozinha, apenas querendo sumir da vista de todos. se apoiou contra a ilha do centro, tentando respirar fundo e se impedir de chorar. Rapidamente digitou uma mensagem para a mãe, perguntando mais sobre a situação do tio, mas os tracinhos não ficaram azuis. Aquilo era uma merda.
Todos os sentimentos de antes estavam de volta, o cansaço, a preocupação, sentimento de não pertencimento, insegurança, cada coisa que tinha tornado sua semana tão ruim, e ainda potencializados pelo pouco álcool que ela havia ingerido. Ela não deveria ter aceitado o convite de Olivia; era óbvio que em algum momento aquilo aconteceria, com ela não tinha pensado nisso antes?
— Você não precisava ter saído daquele jeito, sabe? — uma voz literalmente fez com que pulasse, dando alguns passos para trás por conta do susto. Enquanto levava a mão ao próprio peito, tentando se acalmar, ela viu Tom revirar os olhos. — Foi só uma brincadeira.
— Não foi por isso — ela balançou a cabeça, tentando clarear a mente. Então a brincadeira tinha sido sobre ela?
— Não precisa fingir. Todo mundo já sabe que você não gosta de mim, eu não gosto de você, yada-yada.
— Eu já falei, Tom, não foi por isso já começava a perder a paciência. Será que ela não poderia não chorar sozinha? Em paz?
— E eu já falei, foi brincadeira, ignora e volta pra-
— Puta que pariu! — ela finalmente perdeu a paciência, cortando-o e subindo apenas um pouco sua voz. Sua semana já tinha sido exaustiva, mas Tom parecia deixá-la ainda mais cansada. — Alguma vez na sua vida você tentou enxergar o mundo por uma perspectiva que não fosse a do seu umbigo?
— Como é? — Tom cruzou os braços e levantou as sobrancelhas.
— Eu falei duas vezes que não foi por sua causa que eu saí de lá! — era um esforço grande não gritar, mas não queria que suas vozes chegassem nos amigos na sala, então estava realmente tentando se controlar. — Não foi a brincadeira! O mundo não gira ao seu redor, Holland! O universo não é sobre você! A vida ainda acontece quando o incrível Tom Holland não está lá!
— Então que porra foi essa?
— Eu ‘tô cansada! — os olhos assustados de Tom e um leve gosto salgado fizeram perceber que ela tinha começado a chorar. As lágrimas que ela tinha segurado por tantos dias finalmente venceram. — Eu trabalhei quase o triplo do normal essa semana, mal dormi porque o Liam mal dormiu, meu tio sofreu um acidente e passou por uma segunda cirurgia hoje, e meus amigos do Brasil foram pra minha balada preferida e nem me marcaram para falar um “queríamos você aqui, . E eu sei que eu ‘tô sendo egoísta sobre isso, porque eles não têm obrigação nenhuma de fazer essas coisas mas- eu só queria- ser importante- vai ver foi por isso eles não marcaram- eu sou egoísta demais pra ser uma boa amiga.
No fim de seu monólogo, já estava começando a soluçar. Era isso. Ela estava tendo um breakdown na cozinha de Olivia. Na frente de Tom. Quando eles estavam praticamente tendo uma festa. Ela não conseguia nem começar a conceber o quanto Lima podia ser completamente ridícula.
— Eu sinto muito — foi a única coisa que Tom falou e, quando percebeu, ele estava abraçando-a.
Aquilo era novidade.
Era diferente.
Ela não tentou se fingir de durona. Apenas se entregou ao abraço, se permitindo chorar contra o ombro de Tom, que estava apenas parado, a segurando e oferecendo um apoio silencioso. se enterrou nos braços dele, aos poucos começando a se acalmar, demorando alguns minutos para finalmente parar de chorar e se afastar levemente.
— Obrigada — foi só o que ela falou, sem saber como desenvolver mais do que aquilo.
O ombro de Tom tinha uma mancha úmida no ombro, o que deixava com um pouco de vergonha. Ela passou as mãos pelas bochechas, tentando secar um pouco das lágrimas que ainda tinham sobrado.
— Por que você veio pra cá se você não está muito bem? — a pergunta de Tom poderia parecer um pouco babaca, mas ela sabia que ele estava sendo sincero. Era quase como se ele estivesse preocupado com ela.
— Eu pensei que talvez fosse me animar. E… Eu não queria ser uma amiga ruim para mais pessoas — apenas depois que terminou a frase, percebeu o quão patética ela tinha soado. Honestamente, naquele momento ela com certeza estava digna de pena.
Por alguns segundos, Tom ficou em completo silêncio.
— Você deveria descansar. Eu te levo pra sua casa — foi a resposta dele.
— Não precisa. Eu já vou melhorar e já volto pra sala.
— Eu bebi muito pouco, se é essa sua preocupação. Eu nem cheguei na metade da cerveja — ele balançou os ombros. — Você mesma disse que está cansada. Sério, , eu te levo. A gente nem fala pro resto do pessoal porque você está indo embora. Só… descansa.
— Eles são te encher o saco depois.
— Eu lido com eles — Tom deu um sorriso pequeno. — Vamos?
acabou concordando porque não tinha outra opção. Ela precisava descansar, o corpo e a mente, e não conseguiria se passasse o resto da noite, e provavelmente uma parte da madrugada, bebendo. Provavelmente com mais álcool os sentimentos ficariam ainda piores.
— Eu ‘tô com muita cara de choro? — ela sussurrou enquanto eles caminhavam até a sala para que Tom pegasse a carteira e chave do carro.
— Sim — ele sorriu enquanto ela bufava e eles chegavam na sala, atraindo a atenção de absolutamente todo mundo.
? — a voz de Ayumi soou preocupada e perdida. — O que aconteceu?
— Nada — ela mentiu mesmo sabendo que seu rosto a entregava. — Eu ‘tô bem.
— Eu vou levar a pra casa dela, volto daqui a pouco — Tom colocou a carteira no bolso e girou a chave no indicador, como se aquele fosse apenas um momento casual.
— Eu posso ir também — Ayumi já começava a se levantar e pegar suas coisas, mas fez um gesto para que ela parasse. — Tem certeza?
— Absoluta. Continua bebendo, ainda tem muitas revelações pra sair no “eu nunca” — conseguiu fazer a piada, dando uma risada sem graça. — Eu vou te mandando mensagem.
— Por favor — mesmo assim Ayumi se levantou, indo até e lhe dando um forte abraço, sussurrando para que apenas ela ouvisse: — Se precisar eu não ligo de matar o famosinho aí.
Retribuindo o abraço com força, apenas riu, começando a se sentir cada vez mais calma e leve. Após soltar Ayumi, despediu-se do restante do grupo, seguindo Tom em silêncio até o carro. Eles entraram e logo Tom estava dirigindo, em completo silêncio.
— Obrigada por isso — praticamente sussurrou.
— Eu não sou tão ruim quanto você pensa. Só um pouco — ele riu.
— Eu sei. É só que…
— Não precisa explicar. Sério. Eu sou a pessoa que te entende nesse quesito.
Os dois voltaram a ficar em silêncio pelo restante do caminho. Apenas quando o carro parou em frente a casa dos O’donnell, percebeu o quanto ela se sentia aliviada por saber que iria descansar. Realmente descansar.
— Obrigada de novo — ela repetiu enquanto desafivelava o cinto de segurança.
— De nada. Ah, e só pra você saber… Você provavelmente não é uma amiga ruim. E seu tio vai ficar bem. E fala pro Liam que eu vou dar uma girafa nova e maior ainda pra ele — Tom piscou e ela apenas riu enquanto fechava a porta do carro.
ouviu o carro dando partida enquanto ela destrancava a porta. A casa estava silenciosa. Pelo horário, chutava que os O’donnell tivessem saído, ainda não estava tarde o bastante para que todos eles estivessem na cama. Liam estava consideravelmente melhor, talvez eles tivessem apenas ido comemorar, aproveitar o tempo em família. Era o melhor.
Não demorou nem um minuto para que apagasse totalmente após se deitar. E, incrivelmente, aquela foi a primeira noite da semana em que ela dormiu bem e teve sonhos maravilhosos. Como se tudo novamente estivesse bem.



IX

30 de maio era o melhor dia de todos. No mundo. Por exatamente vinte e dois anos teve essa certeza. 30 de maio era quando ela ganhava presente, bolos, abraços, festas, surpresas e tudo o que há de bom. Não tinha como não amar o próprio aniversário.
E, certo, seu aniversário tinha caído em um sábado, bem em dia de curso. E obviamente ela não iria faltar porque era o curso de fotografia, mas ela iria duplamente animada porque, diferente de duas semanas atrás, ela estava feliz. Seu tio estava recuperado, quase totalmente. Seus amigos tinham mandado mensagem, Liam tinha se comportado. E, caso ainda não estivesse claro o bastante, era seu aniversário. Vinte e dois anos causando alegria na vida de absolutamente todas as pessoas, ela tinha certeza disso.
— Feliz aniversário! — Ayumi pulou em assim que a viu. Talvez devesse estar surpresa pela reação da amiga, mas na verdade estava apenas reparando que o cabelo de Ayumi, antes totalmente azul, agora estava metade roxo, metade azul turquesa.
— Seu cabelo ficou lindo! — foi a única coisa que ela conseguiu soltar, até mesmo esquecendo de agradecer os parabéns.
— Eu tinha que ficar linda pra gente sair pra comemorar seu aniversário — Ayumi balançou os ombros enquanto, para a surpresa de , começava a andar para o lado oposto do prédio do curso.
— Ayumi? Pra onde você tá indo?
— Como assim, ? É seu aniversário! Não vamos pra aula, vamos comemorar — Ayumi revirou os olhos porque aquilo era óbvio, aparentemente.
— Mas… A aula…
— Nem vem, — uma terceira voz surgiu de absolutamente lugar nenhum, e de repente Olivia estava do lado delas, provavelmente vinda de um buraco no meio da terra, porque realmente não tinha visto a loira chegar. — A gente vai sair e comemorar seu aniversário sim, nem que pra isso a gente tenha que te arrastar.
— Que bom que eu tenho tanta voz assim, visto que é meu aniversário — ela não resistiu e acabou rindo.
— Que bom que você entendeu.
Foi dessa maneira que acabou não indo para o curso, e uma parte um pouco nerd e levemente viciada em fotografia ficou todo o tempo se perguntando o que estava perdendo da matéria e como faria para recuperar no futuro. Mas, ao mesmo tempo, não podia deixar de se sentir grata pelas amigas que estavam levando-a para um dia cheio de felicidade e parabéns.
E o dia foi muito melhor do que sequer imaginava que poderia ser.
Ayumi e Olivia a levaram por absolutamente todos os pontos turísticos de Londres, algo que ela ainda não tinha tido tempo de fazer. E a cada novo local que visitavam, tinha vontade de matar as amigas quando alguma falava “nossa, sabe que eu nunca vim aqui?”. Mas ao mesmo tempo não podia culpá-las; sabia que viver em uma cidade com pontos turísticos era um atestado de praticamente nunca visitá-los.
Elas almoçaram em um restaurante incrível, e que com certeza não condizia com as roupas que estava usando, mas ela era a aniversariante então tudo estava certo, ninguém poderia falar nada.
— Olivia, você sabia que, por dentro, a ‘tá surtando? — Ayumi sorriu delicada enquanto elas comiam a maravilhosa refeição.
— Eu ‘tô o que? — piscou confusa.
— Eu sei que você tá pensando na matéria que tá perdendo por não ter ido por curso hoje.
— Nerd — Olivia riu.
— Eu odeio vocês — murmurou enquanto colocava uma grande quantidade de comida na boca, mastigando mais rápido do que deveria.
— Você acha que ela quer enganar a gente ou a si mesma? — as três riram do comentário de Ayumi e seguiram o almoço conversando sobre tudo e nada, como esperado.
O restante da tarde foi simplesmente perfeito, e se perguntava se em algum momento de sua vida tinha se divertido e rido tanto quanto naquelas horas. Ela se sentia realmente grata por ter apresentado Ayumi e Olivia, e por tê-las em suas vida durante aqueles meses em que ficaria na Inglaterra. Elas transformavam seus dias em momentos mais felizes.
Apenas quando a noite já estava caindo o trio retornou para a casa, e dessa vez foi a primeira a ser deixada. Mesmo que não tivesse recebido um presente físico das amigas, ela sentia que a presença delas naquele dia tinha sido a melhor parte de todas, então tinha apenas a agradecer.
— Obrigada pelo dia, meninas — ela sorriu, encarando as amigas. — Foi incrível, mesmo.
— Você não vai convidar a gente pra entrar e comer bolo? — Ayumi abriu a boca parecendo chocada. — Que maldade, !
— Não tem bolo.
— Então vamos entrar e comprar um, . Só faltou bolo pro dia ficar perfeito — Olivia balançou os ombros, como se aquele assunto não fosse realmente importante.
— Vocês sabem que a casa não é minha, né? É dos O’donnell.
— Ele não são monstros que não deixam você trazer duas amigas pra casa no dia do seu aniversário. São?
Certo, elas tinham um ponto.
apenas balançou os ombros e desceu do carro com as amigas, torcendo com todas as suas forças para que os O’donnell realmente não achassem que ela estava abusando da hospitalidade deles. Abriu a porta com cuidado, sentindo-se um pouco envergonhada.
E foi recebida por vários gritos de “surpresa!”
piscou várias vezes, o queixo caindo completamente. Gritando e desejando feliz aniversário estavam Charlie, Rachel, Liam, Lewis, Paddy, os gêmeos Holland, Harrison, os pais Holland e até mesmo o próprio Tom. Atrás dela, Olivia e Ayumi também gritavam animadas, claramente sendo parte de toda a armação.
Enquanto as pessoas iam até ela e a abraçavam, tudo o que conseguia fazer era repetir “obrigada” sem parar e chorar. Ela não conseguia acreditar que aquelas pessoas tinham lembrado dela com tanto carinho e tirado um tempo de seus dias para poder fazer algo para ela, que estava ali na vida deles há tão pouco tempo, apenas três meses, talvez um pouco mais.
— … E a nossa família nunca vai conseguir agradecer tudo o que você faz por nós, — Rachel dizia enquanto a apertava no abraço, fazendo chorar ainda mais.
— É literalmente meu trabalho — brincou, terminando de ser agarrada pelos O’donnell, mesmo que Lewis estivesse um pouco tímido e no fim fosse mais sobre ela agarrando Liam do que o contrário.
Depois, foi até os Holland-pais, agradecendo por eles serem sempre tão legais com ela, e eles agradeciam por ela indiretamente ajudar a cuidar de Paddy de vez em quando. Depois, com um sorriso mais brincalhão, ela finalmente se dirigiu para os amigos, que olhavam para ela rindo feito bobos.
— Eu não creio que vocês aprontaram isso — ela revirou os olhos, que ainda estavam levemente úmidos por todo o choro.
— Coisa da Ayumi e da Olivia, culpa elas — Harrison balançou os ombros, apontando para as garotas, que ainda sorriam como se tivessem sido totalmente geniais.
— Mas você amou, a gente sabe — Sam balançou os ombros e não perdeu tempo, correndo para abraçá-lo.
Sam tinha sido o primeiro Holland a falar com ela em sua primeira semana, quando ela foi buscar Lewis na casa deles. E desde então ele tinha sido a pessoa mais próxima dela… Até poucas semanas atrás, quando tinha sumido. Claro que tinha mais amigos e não se sentia realmente sozinha - a menos que estivesse passando por um momento ruim -, mas ela sentia uma pequena conexão com o rapaz e tinha sentido sua falta.
— Para de sumir — foi o que ela falou quando o soltou.
— Desculpa. Mas eu fiz o seu bolo! Considere meu presente — ele riu, apontando para o lindo bolo de chocolate, muito chocolate, que estava na mesa.
— E falando em presente… Nós também temos alguns presentes para você, sabe. Se você largar o Sam e lembrar que nós também existimos e tal… — Harry pareceu se esforçar no drama, fazendo todo mundo rir.
— Não precisava de presente, gente…
— É, todo mundo fala isso, mas todo mundo ama ganhar presente. É assim mesmo que funciona, fez certinho.
Aos poucos seus amigos foram entregando alguns pacotes com os melhores presentes que já tinha ganhado em toda sua vida. Não que os que ela tinha ganhado dos amigos no Brasil não fossem bons, mas ela não conhecia tantas pessoas que tinha o poder aquisitivo tão grande quanto o dos ingleses, então… era esperado. E ela não podia deixar de apreciar o fato de que eles tinham se dado o trabalho de ao menos comprar algo para ela.
Depois de todos os presentes entregues, eles cantaram parabéns - era sempre a pior e mais humilhante parte de qualquer aniversário, aquilo não mudava em nenhuma parte do mundo - e finalmente comeram o bolo, que era mais delicioso do que sequer imaginava ser possível. Sam era realmente um excelente cozinheiro e ela ficava muito feliz em saber que ele seguiria aquela profissão porque o resto do mundo precisava provar sua comida.
Depois, aos poucos, as pessoas começaram a dispersar, alguns indo embora logo - Tom, claro -, outros conversando e rindo entre os amigos mais próximos, fazendo piadas. Até mesmo Liam estava acordado até mais tarde, sendo segurado por Nikki enquanto ela e Rachel riam o tempo todo. Parecia quase uma reunião super família e aquilo tornava tudo ainda melhor.
pediu licença aos amigos quando o telefone tocou, saindo da casa e ficando nas escadas da entrada, atendendo e vendo do outro lado os amigos brasileiros sorrindo em uma vídeo chamada coletiva.
— Parabéns! — Roberta, sua amiga mais antiga, foi a primeira a gritar. — Achou que a gente tinha esquecido do seu aniversário, né?
— Isso nem passou pela minha cabeça — riu, vendo as quatro carinhas que ela mais amava na vida. Como ela morria de saudade daqueles idiotas…
— Aposto que a já estava com amigos novos na Inglaterra e nem lembra mais da nossa existência.
— Mentiroso — ela mostrou a língua. — Eu sempre lembro de vocês.
— Mas tá cheia de amiguinhos novos, né — Débora estreitou os olhos.
— Eles são legais!
— Sabia!
Eles conversaram por mais um tempo, não por muito porque acabou contando sobre a festa surpresa, então eles sabiam que não poderiam segurá-la por muito tempo. Encerraram a chamada dez minutos depois, o coração de ficando um pouquinho mais aquecido. Ela também aproveitou aquele momento do lado de fora para checar outras mensagens de parabéns que tinha recebido, principalmente no grupo da família, e responder todas com um agradecimento genérico, como acontecia absolutamente todo ano.
Hey — uma voz cortou o silêncio da noite, chamando sua atenção. Ao virar ela se deparou com Tom.
— Oi — ela falou enquanto bloqueava o celular e o guardava no bolso. — Achei que você já tivesse ido embora.
— Desculpa decepcionar, só fui buscar seu presente, tinha esquecido em casa — ele balançou os ombros e estendeu um pacote maior do que ela esperava. Vindo de Tom, imaginava que ganharia um par de meias.
— Não decepcionou — ela murmurou enquanto abria o presente e se deparava com uma câmera nova.
Não uma câmera que ela usaria em suas aulas de fotografia, mas uma polaroid. E não qualquer uma, a polaroid original, uma das que sabia ser super caras, do tipo que ela tinha usado uma vez no curso de fotografia apenas porque a professora queria ensinar sobre tipos de câmera. O queixo dela caiu enquanto ela começava a analisar o novo presente, vendo que Tom também já tinha comprado um pequeno estoque de filme instantâneo.
— Você gosta de fotografia, né? — Tom parecia ansioso ao encará-la. — Achei que você pudesse gostar disso, o Harry disse que você iria amar. Se você já tiver uma, tem como trocar também.
— Tom, isso… — ela ainda estava boquiaberta. Rapidamente colocou o filme na câmera, como tinha aprendido no curso, e a apontou para Tom, batendo uma rápida foto e vendo a impressão começar.
— Oi? — Tom riu enquanto pegava a imagem e via que estava escura demais, mal dava para ver quem era na fotografia. — Isso é um sinal positivo? Você gostou do presente?
— Eu amei! — ela riu e correu até Tom, jogando os braços ao redor dele, mas rapidamente se afastando. — Isso deve ter sido caro, Tom. Não precisava mesmo.
— Não foi caro, relaxa — ah é, ele era muito rico. Ela quase esquecia disso. Tom pegou a foto da mão dela, rindo e balançando a cabeça negativamente antes de devolvê-la. — Depois tira uma foto melhor de mim, se não as pessoas vão achar que você é uma fotógrafa horrível.
— O modelo não ajudou — ela balançou os ombros enquanto guardava a câmera na caixinha novamente, mas um pequeno sorriso insistia em continuar em seu rosto.
— Não sei do que você está falando, eu sou lindo.
— Iludido.
— Ok, acabou o presente, devolve a câmera — os dois acabaram rindo juntos, ficando em silêncio logo depois, sem saber muito bem o que falar.
— Você… Quer entrar? De novo. Ainda tem bolo.
— Claro — ele apenas balançou os ombros e os dois novamente entraram na casa dos O’donnell.
Demorou muito pouco para que gastasse mais filmes do que deveria, tirando fotos de todos os presentes na reunião, já imaginando o maravilhoso mural que faria com suas polaroids.
Aquele tinha sido um dos melhores aniversários de sua vida.



X

— Nem vem, — Lewis revirou os olhos. — Essa blusa é sem graça, eu falei isso pra minha mãe quando ela comprou.
— Essa blusa é linda, você que tem um gosto horrível — estreitou os olhos para o garoto, reprovando a atitude. — Além do que, você precisa dar uma variada. Você usa a mesma blusa de Mário sempre, é chato.
— Por que ela é ótima, é uma piada!
— Você é a piada aqui — murmurou. — Se você não ia me ouvir de qualquer jeito, pra que pediu minha opinião?
— Por que eu estava em dúvida e você estava passando, ué — Lewis balançou os ombros enquanto vestia a mesma camisa de Mário de sempre, que fazia a clássica piada de “grow up and get a life” usando os cogumelos do jogo.
A mesma piada que via desde que ela tinha 15 anos.
— Parabéns, Lewis, você parece exatamente igual a todos os dias.
— Uma pessoa pode ter uma roupa preferida, sabia? — o menino se sentou na cama e começou a amarrar o cadarço do tênis.
— No seu caso, pode ser que essa blusa saia sozinha andando atrás de você. Ela já sabe ir e voltar da casa do Paddy, você sabe disso, né? — ela riu e cruzou os braços, apenas observando enquanto o rapaz terminava de amarrar o cadarço e finalmente se levantava, parecendo pronto.
— Primeiro que você falou igualzinho minha mãe, e você sabe o que isso quer dizer. Você tá falando que nem velho, — Lewis também acabou rindo, saindo do quarto junto com e descendo as escadas. — Segundo que hoje o almoço vai ser na casa do Tom, não do Paddy, então é bom que eu esteja usando a blusa. Ela poderia acabar se perdendo.
— Palhaço — acabou rindo, cutucando o ombro de Lewis e indo até Liam, que estava sentado no sofá parecendo concentradíssimo em sua mamadeira de suco, apesar de manter firme o abraço em sua girafa de pelúcia. — E aí, animado pro almoço nos Holland?
— Sobremesa! — Liam abriu um sorriso com dentes tortos, que eram honestamente adoráveis e que torcia para que não continuasse assim dali alguns anos.
— Você nem almoçou ainda, menino, contém essa formiguinha — Rachel apareceu na sala, Charlie ao seu lado. — Todo mundo pronto? — a mulher encarou o filho mais velho e estreitou os olhos. — De novo essa blusa, Lewis? Não sei pra que eu ainda compro roupa pra você se você só usa a mesma camisa sempre.
— O que tá acontecendo? Hoje é o dia oficial de criticar a camisa do Lewis e eu não fiquei sabendo? — o adolescente cruzou os braços enquanto todos eles saíam da casa, caminhando calmamente até a casa de Tom.
Não era a primeira vez que os O’donnell e os Holland almoçavam juntos em um domingo, tinha acontecido na primeira semana de na Inglaterra, quando ela ainda não conhecia muito bem absolutamente ninguém. E mesmo que tivesse sido completamente estranho para ela, não tinha deixado de notar como as família se davam muito bem.
Parecia aquela coisa bem brasileira de quando você nasce e cresce na mesma casa, do mesmo bairro, com os mesmos vizinhos a vida inteira e todo mundo se vê crescer. E sua mãe vira amiga da vizinha, e seu pai vira amigo do marido da vizinha, e você brinca com os filhos da vizinha e vira amigo deles também. não sabia se os O’donnell e os Holland se conheciam há muitos anos ou se tudo tinha realmente começado com Paddy e Lewis, mas ela não se importava, apenas gostava da companhia de todos.
Dessa vez o almoço seria na casa de Tom porque, além de ela ser maior, Tom tinha passado os últimos dez dias nos Estados Unidos, e pelo que tinha entendido da explicação de Charlie, o rapaz estava de volta para ficar um bom tempo na Inglaterra, e tinha decidido comemorar o fato fazendo um super almoço em família e, não entendia porque, convidado os O’donnell para se juntarem.
— Você trouxe o Bubby! — Tom se referiu à girafa de pelúcia preferida da criança e riu assim que Liam soltou a mão de e correu em sua direção, pulando em seu colo. Liam ria alto enquanto Tom o levantava no colo e o girava no ar. — E cadê o Timmy, heim?
— A falou que ele tinha que ficar em casa — Liam enrolava um pouco as palavras, mas falava bebê o bastante para entender perfeitamente, e Tom também não pareceu ter dificuldade em entender, já que levantou as sobrancelhas na direção de , parecendo curioso.
— O Timmy é maior que o Liam, Tom. Ele nunca conseguiria trazer o seu presente — ela balançou os ombros enquanto Liam descia do colo de Tom e segurava a mão do rapaz, andando com ele para dentro da casa.
Os outros Holland já estavam reunidos, e Sam e Nikki pareciam focados em fazer o almoço, picando legumes, carnes e... não reconhecia os temperos que eles usavam. Ela sorriu, prendendo os cachos em um alto rabo de cavalo e indo até a cozinha, cumprimentando Nikki e parando ao lado de Sam.
— Que bom que você está cozinhando. Eu estava com saudade de comer sua comida — ela sorriu enquanto Sam aproximava apenas o rosto, dando um rápido beijo em sua bochecha.
— Para de drama, eu fiz o seu bolo de aniversário — Sam riu, logo voltando a prestar atenção na cozinha. Pelo canto do olho, viu Charlie se aproximar de Nikki e cumprimentá-la antes de também começar a ajudar com a preparação da comida.
— Já passou duas semanas, Sam. Eu preciso ser alimentada constantemente.
— Quer ajudar a cozinhar então, ? — as sobrancelhas de Sam levantaram e ele revirou os olhos quando balançou a cabeça, negando veemente. — Então sem reclamar. E sai daqui que você tá atrapalhando.
Eles riram enquanto ela se afastava, indo para a sala. Paddy e Lewis já pareciam animados, jogando videogame na enorme televisão da sala. Em um canto, Dominic e Rachel pareciam conversar animadamente enquanto Liam ficava sentado no colo da mãe, brincando com sua girafa de pelúcia e falando coisas sem sentido, meio tentando participar da conversa, meio criando uma história para Bubby. E em outro canto, cada um com uma long neck em mãos e rindo, estavam Tom, Harrison e Harry. Foi do último grupo que decidiu se aproximar.
— Fala a verdade, Harrison — ela falou enquanto parava ao lado do loiro, atraindo a atenção dos três ali. — Você é um Holland perdido.
— Os Holland e os O’donnell precisam trazer os adotados, né — Harrison balançou os ombros e os três riram. — Sem contar que essa é minha casa também, então…
— Eu deveria te cobrar aluguel — Tom estreitou os olhos com um pequeno sorriso.
— Você é bonzinho demais pra isso.
— O Tom? Bonzinho? — a voz de soou completamente incrédula. Quer dizer, eles não esperavam realmente que ela fosse acreditar naquilo, né? — Desde quando?
— Desde sempre — foi o próprio Tom quem respondeu. — Só não sou com você.
— Sinta-se privilegiada, — Harry riu e revirou os olhos. — O Tom não é um “cara mau” com muitas pessoas por aí.
— Tudo bem, às vezes “caras maus” — ela fez aspas com os dedos. — deixam as coisas mais excitantes.
só se deu conta do que tinha falado quando Harrison e Harry explodiram em risadas e Tom levantou as sobrancelhas, deixando um enorme sorriso percorrer de uma ponta à outra de seus lábios.
— Caras maus te excitam, ? — Tom ainda sorria. — Me conta mais.
— Não foi isso que eu falei — não sabia onde enfiar a maldita cara. De repente ajudar Sam na cozinha parecia uma excelente ideia.
— Foi o que todo mundo entendeu, sinto muito — Harry ajudou a piorar a desgraça de . Porque humilhação nunca era o bastante.
— Tá, tanto faz — ela revirou os olhos e bufou. — Eu vou… ver se a Rachel precisa de ajuda com o Liam.
Ela não voltou a conversar com os três por um bom tempo, se sentindo mais envergonhada do que jamais havia sentido. Às vezes precisava tirar um tempo para apreciar como, nos momentos mais inoportunos, não existia o mínimo de filtro entre sua mente e sua boca. E ela sempre acabava passando vergonha por falar mais besteira do que deveria. Vinte e dois anos nas costas a ela ainda não tinha aprendido a controlar a própria fala.
Ao menos o restante do almoço foi tranquilo, ou tão tranquilo quanto tantas pessoas reunidas em uma única casa conseguia ser. Como sempre, acabou mais focada em ajudar a cuidar de Liam, então acabava ficando mais afastada da maioria das conversas, deixando Liam criar um mundo fantasioso em que Bubby era a girafa governante e a princesa protegida por todos. Quer dizer, ela não reclamaria de ser uma princesa.
O céu já estava escuro e Liam já parecia cansado, quase dormindo sentado, quando os O’donnell decidiram que era hora de finalmente ir embora, mesmo que Lewis e Paddy insistissem que só faltava mais uma missão para terminarem a fase - a mesma conversa de sempre. Nenhum dos pais parecia disposto a acreditar naquela história, então eles apenas desligaram o videogame, combinando de jogar no próximo fim de semana. até gostava de jogar algumas coisas, mas realmente não conseguia entender como aqueles dois nunca saíam da frente do videogame.
Após chegarem em casa, se ofereceu para colocar Liam na cama, deixando que Rachel e Charlie pudessem ter ao menos um pouquinho de tempo a sós.
, cadê o Bubby? — Liam perguntou enquanto o cobria e colocava Timmy ao seu lado.
Tom realmente tinha cumprido sua promessa e dado uma enorme girafa de pelúcia para Liam, quase maior que o próprio garoto, e que tinha sido carinhosamente nomeada de Timmy por causa de um desenho que Liam amava.
— Será que ficou lá embaixo? — ela olhou rapidamente ao redor, sem conseguir encontrar a girafa preferida de Liam. — Espera um minutinho, vou pegar.
Ela desceu as escadas correndo e começou a revirar toda a sala, procurando pela girafa em cada canto, mas sem obter nenhum sucesso. Suspirando, ela subiu as escadas novamente, encontrando Liam sentado na cama, esperando-a com os olhinhos ansiosos.
— Não consegui encontrar o Bubby, Liam. Acho que ele ficou na casa do Tom — ela fez uma cara de triste, vendo os olhos da criança marejarem na mesma hora.
— Eu quero o Bubby! — as lágrimas já começavam a descer pelo rosto de Liam.
apenas suspirou, a realização do que deveria fazer a enchendo de preguiça.
— Eu vou buscar o Bubby na casa do Tom se você me prometer que vai esperar aqui quietinho, tudo bem? Você promete? — ela esperou Liam balançar a cabeça, concordando, antes de sair do quarto do garoto e deixar a luz mais fraca, encostando a porta.
pegou a chave da casa e saiu, andando tão rápido que praticamente estava correndo, parando apenas quando chegou na porta da casa de Tom e tocou a campainha, tentando conter a respiração que estava um pouco acelerada. Ela esperou durante bons minutos, precisando tocar a campainha uma segunda vez para que a porta finalmente fosse aberta e Tom a encarasse com as sobrancelhas franzidas.
— Você viu se o Liam esqueceu o Bubby por aqui?
— Não vi — ele piscou algumas vezes. — Mas entra aí, vamos procurar.
Os dois começaram a procurar por todos os lugares que as pessoas tinham acessado durante o dia, que basicamente eram sala, cozinha e principalmente o quintal, que era realmente grande e comportava todos com espaço. ainda revirava a sala quando ouviu a voz de Tom vinda do quintal:
, encontrei!
Um suspiro aliviado escapou de seus lábios enquanto ela corria para o lado de fora e encontrava Tom próximo à borda da piscina com a girafa de pelúcia em mãos. Ela pegou Bubby, torcendo para que agora Liam conseguisse dormir e, consequentemente, ela também.
— Onde ele tava? — perguntou.
— Caído aqui na borda. Talvez o Liam estivesse tentando matar o Bubby afogado para ter uma desculpa para ficar só com o Timmy. Nunca se sabe.
— Primeiro que o Liam não é um psicopata — ela estreitou os olhos enquanto Tom sorria. — Segundo que, se ele tiver armado isso e mesmo assim tiver feito manha pra eu vir buscar essa girafa na sua casa no meio da noite, eu vou defenestrar aquela criança assim que eu chegar.
As sobrancelhas de Tom levantaram, parecendo impressionado.
— Uau, você usa palavras difíceis da língua inglesa.
— Não é difícil impressionar em inglês — ela balançou os ombros. — Língua fácil, sabe como é.
— Sério? Se você não me falasse eu nunca perceberia.
— Cala a boca — ela revirou os olhos e espalmou a mão no peito dele, o empurrando.
Talvez aquele gesto tivesse pegado Tom de surpresa, ou talvez tivesse empurrado com mais força do que deveria, mas o resultado foi que Tom perdeu o equilíbrio e, em um piscar de olhos, ele estava totalmente submerso, demorando alguns segundos para aparecer novamente na superfície da piscina. A boca de abriu em choque porque ela realmente não esperava que aquilo fosse acontecer.
— Porra, ! — Tom xingou, jogando o cabelo molhado para trás e indo até a borda, fazendo força para subir, jogando água para todo lado e obrigando a dar um passo para trás. — Pra que isso?
— Não era minha intenção — ela tentava não reparar demais em como a camisa dele agora estava totalmente grudada em seu corpo e como aquilo não deveria mexer com ela. — Mas você mereceu.
— Mereci? — as sobrancelhas dele levantaram e ele deu um passo em sua direção, fazendo com que ela automaticamente desse um passo para trás. — Eu acho que você também merece.
— Você não pode fazer isso! — desespero tomou conta de enquanto ela recuava, dando um passo para trás a cada novo passo que Tom dava pra frente. — Eu to com o Bubby no braço, e vou ter que voltar andando! A pé! Isso seria inumano!
As costas de finalmente acertaram a parede da casa, pouquíssimos centímetros ao lado da porta dos fundos. Tom estava em sua frente, parecendo realmente bravo e tudo o que ela pensava era que, sim, ele a jogaria na piscina apenas para se vingar.
— Isso soa como um problema seu — Tom balançou os ombros, perto demais para que tentasse fugir sem que ele a segurasse.
— Tom, não faz isso. Sério. Por favor. Eu não posso voltar pra casa toda molhada — e aquela definitivamente não era uma boa escolha de palavras, soube por causa do sorriso sem-vergonha que Tom abriu.
— Tem certeza? — ele aproximou os rostos dos dois e tentou fugir, mas sua cabeça apenas bateu contra a parede. — Nem um pouquinho molhada?
Então Tom balançou a cabeça com força, jogando a água de seus cabelos para todo lado, molhando todo rosto de e começando a rir enquanto ela bufava e ele se afastava. Odiando completamente aquele momento, passou a mão pelo rosto, tentando secar os respingos.
— Realmente maduro, Tom.
— Eu poderia te jogar na piscina, mas eu sou um cara bonzinho, lembra? — Tom ainda sorria daquele jeito detestável e começava a tirar a blusa desabotoar a calça.
— Você vai ficar pelado, menino? — ela rapidamente se virou, ficando de costas para ele. — Qual é o seu problema?!
— Não, eu vou entrar na casa pingando água pra todo lado — a voz de Tom estava carregada de ironia. — Relaxa, puritana, tem uma toalha aqui. Pode virar.
acabou virando, vendo que Tom usava a toalha para secar os cabelos e agora usava apenas a cueca boxer. Ele rapidamente secou o cabelo, enrolando a toalha ao redor da cintura e abrindo os braços.
— Satisfeita?
— Serve — ela balançou os ombros, tentando parecer indiferente. — Eu preciso ir, o Liam está esperando o Bubby.
— Pena. Nem deu tempo de ser o “cara mau” com você hoje — Tom sorria enquanto entrava na casa, sendo seguido de perto por .
— Achei que você fosse bonzinho.
— Eu sou — Tom abriu a porta, dando espaço para que finalmente saísse de sua casa. — Mas eu não ligo de te ajudar a satisfazer seu kink.
— Você é ridículo — ela revirou os olhos e simplesmente saiu, sem sequer olhar para trás ou falar mais nenhuma palavra.
Ao chegar em casa, subiu direto para o quarto de Liam, encontrando o garoto dormindo profundamente, abraçado a Timmy. Ela revirou os olhos e sorriu enquanto ia até ele e colocava Bubby ao seu lado, o cobrindo melhor e saindo do quarto. Depois foi para o próprio quarto, torcendo para que dormisse logo e tivesse uma noite totalmente sem sonhos.



XI

No geral as semanas de eram bastante rotineiras. As maiores emoções sempre aconteciam aos fins de semana, quando ela conseguia sair de casa e encontrar os amigos. Eram os dias que realmente algo acontecia e lhe davam alguma história pra contar.
Por isso, naquela quinta, ela ficou surpresa ao ouvir um barulho alto seguido de palavrões vindos da sala.
Como usual daquele horário, Liam estava dormindo e Lewis estava na escola, Charlie e Rachel estavam no trabalho, apenas estava no local, então aquele barulho na sala não fazia sentido. Mesmo assim, como única adulta da casa, ela sabia que tinha uma obrigação moral de ir ver o que estava acontecendo (e no fundo também sabia que, idiota do jeito que era, seria a primeira a morrer em qualquer filme de terror).
— Puta que pariu, filho da puta! — foram as exatas palavras que receberam tão logo ela chegou na sala.
A ideia de estar vivendo um possível filme de terror foi desfeita assim que viu Lewis ajoelhado no chão da sala, parecendo pegar pedaços de alguma louça que tinha sido quebrada. Pela cor e pela falta que fazia na estante, logo percebeu de tratar de uma estátua de urso bastante feia que Rachel deixava ali porque tinha sido um presente de alguém legal, aparentemente.
— Lewis? — perguntou enquanto se aproximava. — O que aconteceu?
— Eu quebrei a porra do urso horrível da minha mãe, não tá vendo? — a resposta malcriada do adolescente despertou uma atenção especial em .
Não que Lewis fosse um anjo, ele tinha quinze anos, era normal que vez ou outra ele acabasse sendo um pouco chato demais, mas ele nunca tinha sido tão grosso assim. Nem com nem com ninguém, pelo que ela se lembrava.
— Eu tô vendo — ela não ia ser tão grossa quanto Lewis, mas também não iria ajudar o garoto a pegar os cacos como tinha cogitado fazer. — Você não deveria estar na escola?
— Deveria.
Silêncio.
— E não está por que…?
— Porque eu vim embora — Lewis finalmente terminou de pegar os cacos, juntando em uma sacola e jogando no lixo, ainda soltando alguns palavrões no meio do caminho.
suspirou, sabendo que aquilo não estava nem perto da sua rotina, de seus dias praticamente sempre iguais. Em seus meses ali, nunca tinha visto Lewis sequer matar aula ou deixar de fazer os deveres. Ele podia ser a pessoa mais viciada em videogame que já tinha visto na vida, mas ele sempre cumpria com as obrigações, o que era realmente legal de ver.
E, novamente: ele nunca era tão grosso assim.
— Ok, Lewis, o que aconteceu? — cruzou os braços e estreitou os olhos para o garoto.
— Nada.
— Nada? — ela não estava convencida. — Você matou aula, está falando mais palavrões em cinco minutos do que eu falo em um mês inteiro… Aconteceu alguma coisa, é óbvio.
— Não foi nada, — agora Lewis tentava fisicamente sair da conversa, subindo as escadas para o próprio quarto.
E claro que, teimosa como era, decidiu seguir o garoto.
— Se não foi nada, com certeza foi alguma coisa. Você usou uma dupla negativa — por um minuto ela realmente acreditou que estava apenas sendo engraçada, mas a maneira como Lewis apenas parou de caminhar e a olhou parecendo muito bravo já deixou claro que tinha errado feio na escolha de palavras.
— Não. Foi. Nada.
— Lewis… — ela tentou ser mais doce, mostrando que estava realmente ficando preocupada com a maneira que ele estava agindo. — Você não tá agindo normal. É óbvio que aconteceu alguma coisa.
— Não é da sua conta.
— Não precisa ser babaca. Eu só quero ajudar.
— Eu não quero sua ajuda — Lewis estava claramente irritado. — Para de se meter na minha vida. Você não é minha mãe nem meu pai, é só a babá do meu irmão.
Foi com essas palavras que Lewis deu as costas para , bateu a porta do próprio quarto com força e a deixou sozinha do corredor, onde ela ficou um bom tempo parada, em completo silêncio, os olhos presos em absolutamente ponto nenhum.
Demorou mais do que deveria para que finalmente saísse dali e fosse para o próprio quarto, deitar na cama e encarar o teto, pensando nas palavras de Lewis e como elas tinham doído tanto, muito mais do que deveriam.
Apesar de Lewis ter sido desnecessariamente grosso, ela não podia negar que ele tinha falado apenas a verdade. Naqueles meses na Inglaterra, convivendo tanto com os O’donnell, se tornando parte da rotina da família, até mesmo se envolvendo nos momentos de lazer, ficava fácil esquecer que era só a babá.
No fim do dia, ela ainda era a pessoa responsável por cuidar de Liam, a estrangeira, a menina que tinha saído de seus país de terceiro mundo para tentar algo diferente na Europa, como absolutamente todos os brasileiros que ela conheciam queriam fazer. E que iria embora em pouco tempo, voltar para seu país e sua vida, sendo substituída por alguma outra intercambista tentando a sorte. Ela sempre seria a que morava com os O’donnell.
se odiava por ter esquecido disso durante um tempo. Por ter-se deixado levar pelos bons momentos, quase familiares, e esquecido quem realmente era. E ter sido lembrada de seu lugar por Lewis, daquele jeito tão duro, era realmente doloroso. Seu coração estava doendo naquele momento e ela se sentia um pouco boba por ter deixado aquilo a afetar tanto. Até porque, sabia que Lewis estava passando por um momento complicado e que provavelmente não queria realmente machucá-la.
Apenas quando a campainha tocou que criou coragem de levantar. Enquanto caminhava até a porta, pensava que estava com sorte que Liam ainda estivesse dormindo, porque ela realmente não se sentia mentalmente bem para se dedicar à criança.
— Oi, — Paddy deu um sorriso tímido quando ela abriu a porta. Ele ainda usava o uniforme da escola, a mochila nas costas. — O Lewis tá aí?
— Ele tá no quarto dele — fez um sinal para que ele entrasse na casa. — Mas já aviso que ele não está de bom humor.
— Eu sei — Paddy fez uma careta triste. — Por isso vim.
— Paddy, você sabe o que aconteceu com ele? Por que ele chegou cedo da escola?
— Sei.
ficou esperando alguns segundos, mas o garoto não falou mais nada.
— Você pode me contar? — ela finalmente pediu, mesmo já sabendo qual seria a resposta.
— Acho melhor não. É coisa do Lewis. Só vim conversar um pouco com ele. Posso subir?
— Fica à vontade — se sentindo derrotada, se jogou no sofá da sala, desistindo de tentar descobrir o que tinha acontecido com o adolescente. Se ele não queria falar, tudo bem, ela iria respeitar. Era o que deveria ter feito desde o início, para ser sincera.
Não demorou muito para que Liam acordasse e consumisse o resto do dia de . Pelo menos ela tinha algo a mais no que pensar, sem precisar ficar se preocupando muito com Lewis. Sem contar que agora Paddy estava ali, e ela sabia por experiência própria que ter o melhor amigo por perto em momentos complicados era a melhor coisa de todas.
Os O’donnell-pais já tinham chegado em casa quando a campainha tocou novamente. se ofereceu para abrir a porta, deixando que os dois brincassem um pouco com Liam. Ela não sabia ao certo se eles já tinham falado com Lewis, mas não iria se meter mais naquela história. Tinha prometido isso a si mesma.
— Oi — sorriu para Harry, que estava do outro lado da porta.
— Olá. Vim lembrar o Paddy de que ele tem casa — Harry riu. — Mandei mensagem, ele disse que já tava vindo embora, mas isso foi uma hora atrás…
— Eles estão no quarto do Lewis. Quer subir?
— Claro — Harry balançou os ombros e entrou na casa. Acenou um rápido “oi” para o O’donnell e subiu as escadas, seguindo . Logo eles já estavam batendo na porta.
— Vai se mudar pra cá? — Harry falou ao abrir a porta, vendo os dois garotos sentados em frente ao computador, jogando. Como absolutamente sempre.
— Eu falei que eu tava indo embora — Paddy revirou os olhos sem se mover um centímetro da cadeira.
— Fala isso pra sua mãe.
— Tá bom, tá bom… — Paddy levantou e pegou a mochila, que estava no pé da cama. — Você vai pra aula manhã?
— Vou — Lewis sorriu. — A suspensão foi só pelo resto de hoje, amanhã volto ao normal.
As sobrancelhas de ergueram quando ela ouviu a palavra “suspensão”, e ela praticamente começou a se coçar de curiosidade, milhares de teorias se formando em sua cabeça sobre o que tinha acontecido que tivesse Lewis a ser suspenso pelo resto do dia.
Ela mal deu atenção a Paddy e Harry, que logo já estavam indo embora, despedindo-se dos dois na porta e logo a fechando. Enquanto subia para o próprio quarto, se tentava lembrar a si mesma que ela não tinha o direito de se meter na vida de Lewis. Ao mesmo tempo, sabia que suspensão podia ser algo grave, e sentia que Charlie e Rachel precisavam saber o que tinha acontecido.
Não que ela fosse contar, claro. Era uma decisão de Lewis.
, pode vir aqui rapidinho? — apenas a cabeça de Lewis aparecia na porta. Ela balançou a cabeça, confirmando e indo até o quarto do menino.
Lewis estava novamente sentado na frente do computador, o jogo pausado em sua tela. não sabia muito bem o que fazer, então foi até a cama dele e se sentou na ponta. Esperou que o garoto levantasse, fechasse a porta e voltasse para a cadeira. Ficaram em silêncio por alguns segundos até Lewis finalmente tomar coragem para dizer:
— Então… desculpa.
E aquele dia não cansava de a surpreender.
— Desculpa?
— Pelo jeito que eu falei com você quando cheguei em casa. Você queria ajudar e eu fui grosso. O Paddy falou que eu fui babaca.
Abençoado seja Paddy Holland.
— Tudo bem. Eu também não deveria me meter na sua vida. Só fiquei preocupada, você tava agindo estranho.
— Eu sei.
— E… você foi suspenso, Lewis? — ela realmente se esforçou para não soar acusadora.
— Fui — o menino suspirou, parecendo finalmente se dar por vencido. — Eu bati em um menino da minha turma e fui suspenso pelo resto do dia.
— Você bateu em um menino?! — se sentia completamente chocada. Ela nunca imaginaria que Lewis pudesse ser violento. — Por quê?! — tinha que ter uma explicação.
— Ele tava sendo idiota comigo porque eu… gosto de meninos — a frase foi dita quase em um sussurro, mas conseguiu ouvir perfeitamente.
A boca dela abriu em choque, ela não conseguia evitar. Muita coisa tinha acontecido, muita informação tinha sido passada e ela simplesmente não sabia como reagir. Era um daqueles momentos para os quais você treina sua vida inteira mas, quando chega na hora, parece que você nunca treinou e você simplesmente trava. estava travada.
? — Lewis parecia preocupado. — Fala alguma coisa.
— Ele estava sendo homofóbico com você? — foi a única coisa que ela conseguiu falar.
— Sim.
— Então ele mereceu apanhar — a fala dela arrancou uma pequena risada de Lewis. — Eu sinto muito que você esteja passando por isso, Lewis. Você é muito novo para ter que lidar com essas coisas.
— Eu não acho que tenha uma idade em que esteja tudo bem lidar com isso — a maneira como Lewis falou parecia tão adulta que sentiu vergonha de que sua fala pudesse ser interpretada daquela maneira. — No geral as pessoas não ligam, mas esse menino gosta de provocar qualquer pessoa. Ele é um escroto.
— Você bateu muito nele?
— Queria ter batido mais — os dois acabaram rindo.
— Seus pais sabem, Lewis? — esperou o garoto negar com um aceno antes de perguntar: — Alguém mais sabe?
— O Paddy foi o primeiro a saber. Tem bastante gente da minha turma que sabe. Mas… Acho que ainda não to pronto pra contar pros meus pais.
— E sobre a suspensão?
— Eu vou inventar que foi briga boba da escola, é fácil fazer eles comprarem a ideia.
— Sim, mas… um dia eles vão precisar saber — fez uma careta triste, vendo-a ser espelhada na expressão de Lewis.
— Eu tenho medo de eles me odiarem.
abriu a boca em choque. Em nenhum mundo conseguia imaginar Rachel e Charlie odiando o próprio filho. Parecia simplesmente não fazer o menor sentido com o contexto. Os O’donnell eram a perfeita família de comercial de manteiga. E talvez esse fosse o medo de Lewis. Eles eram perfeitos demais.
— Bom, o Paddy não te odiou, né? — ela viu os lábios do adolescente abrirem em um pequeno sorriso, tímido. — Então. Seus pais não vão te odiar. E se odiarem… é um problema deles. Você não vai ficar sozinho. Você tem o Paddy. E eu.
— Obrigado, . E… não conta a verdade pros meus pais ainda. Por favor. Nem… Nem pro Sam, ou o Harry, ou o Tom. Você é amiga deles, né?
— Dos gêmeos, sim — ela não sabia dizer o que ela e Tom eram. Não diria que era amiga, mas… Não diria mais que era aquela coisa só de ódio entre eles. Era complicado. — Pode deixar, não vou contar pra mais ninguém. Quer um abraço? — ela se levantou e abriu os braços, vendo Lewis fazer uma careta.
— Não, valeu.
— Tarde demais. Vou abraçar — ela riu, prendendo o garoto em um abraço e ouvindo-o começar a rir, sentindo-se um pouco mais parte da família.



XII

— Não! — Liam gritou e estufou as bochechas, virando o rosto para direção oposta a que segurava a colher com a comida que ela tinha feito.
— Por favor, Liam — quase chorou enquanto implorava para o garoto comer pelo menos um pouco, mas ele ainda parecia irredutível.
— Não adianta, , ele não vai comer — Lewis revirou os olhos, digitando rapidamente no próprio celular, sequer se dando o trabalho de encarar e Liam.
— Mas ele precisa comer!
— A culpa é sua por ter falado pro meu pai que ele não precisava se preocupar em deixar a comida do Liam pronta.
bufou, sabendo que Lewis falava apenas a verdade.
Era sexta-feira, a desde o dia anterior, Rachel e Charlie tinham saído em uma viagem romântica para comemorar os dezenove anos de casados, e tinha prometido que ela iria cuidar super bem de Lewis e Liam, que tudo daria completamente certo. Mas ela tinha esquecido o pequeno detalhe que era uma cozinheira horrível, e agora Liam simplesmente se recusava a comer a comida, e Lewis começava a se alimentar de pão e hambúrguer, ou o que quer que ele decidisse colocar no meio.
Os pais chegariam apenas no domingo pela manhã, o que significava que ainda tinha o resto da sexta e o sábado para se sentir péssima por não saber fazer coisas básicas. Que dizer, ela cozinhava o básico, o bastante para sobreviver morando sozinha. Mas sua comida não era ótima, e claramente Liam achava a pior coisa do mundo.
— Por favor, Liam, come só um pouco — ela não aguentava mais implorar para a criança. — Se você comer, você ganha chocolate!
— Não! — Liam gritou e bateu a mão na colher, derrubando comida pra todo lado.
— Desnecessário! — ela brigou com o menino, desistindo completamente. — Quer saber? Não come então. Uma hora você vai ficar com fome.
colocou o prato sobre a pia enquanto Liam cruzava os braços e fazia bico, completamente bravo. Ela respirou fundo e encarou Lewis, que ainda parecia obcecado com a tela do próprio celular.
— O que eu faço, Lewis?
— Cozinha melhor.
— Para de ser idiota — ela jogou o pano de prato na cabeça do adolescente, que apenas riu e colocou em cima da mesa da cozinha. — Eu não sou boa com isso, eu não sou o Sam que-
A ideia praticamente estalou na cabeça de . Se sentindo ansiosa, ela correu para pegar o próprio celular, clicando rapidamente no contato de Sam e esperando três toques até que ouvisse o “alô” do outro lado.
— Sam! — ela estava mais perto de chorar de desespero do que gostaria de admitir. — Quanto você cobra pra cozinhar pra mim?
— Eu… espera, quê? — Sam parecia completamente confuso.
— Eu não sei cozinhar. Nada. E o Liam não come a minha comida por nada, e eu não posso deixar o menino morrer de fome até domingo — ela soltou tudo de uma vez, mal se dando tempo de respirar.
— Você não tem ideia do quanto eu estou confuso, .
— Vem aqui e me ajuda a fazer algo que o Liam vai comer, por favor. Eu dou um jeito de pagar, eu prometo. Eu to desesperada, Sam — pelo canto do olho, olhou para Liam, que parecia ainda emburrado e agora começava a provocar Lewis.
— Tá bom, estou indo aí te salvar.
O suspiro aliviado não foi contido quando ela desligou o celular, imaginando que agora todos os seus problemas acabariam. Pelo menos todos os problemas imediatos.
— Para com isso, Liam! — Lewis brigou com a criança, que agora jogava qualquer coisa que conseguia alcançar no irmão mais velho enquanto gritava várias coisas sem sentido. — , dá um jeito no meu irmão!
— O irmão é teu, eu heim.
— A babá é você!
— O Sam tá vindo aqui ajudar a fazer uma comida decente pra ele. Quem sabe assim ele acalma um pouco — foi na direção de Liam, segurando o braço dele com delicadeza e recebendo um careta feia. — O Sam vai vir aqui ajudar a fazer uma comida gostosa pra você, Liam. Não é legal?
Liam apenas ficou emburrado de novo e oficialmente desistiu. Enquanto não comesse algo decente, aquela criança com certeza não ficaria feliz. De jeito nenhum. Então, quando a campainha tocou, praticamente saltitou até a porta, sentindo-se a pessoa mais feliz do mundo ao ver Sam sorrir para ela do outro lado. E Harry. E Tom.
— Trouxe os dois pra cuidarem do Liam enquanta a gente cozinha — Sam disse antes de estalar um beijo na bochecha de e entrar, indo direto para a cozinha sem nem pedir permissão.
— Valeu — ela falou enquanto abraçava Harry e abria um sorriso simpático para Tom.
— Ei, garotão! — Tom foi até Liam, que ainda estava de cara fechada. — Fiquei sabendo que não estão te alimentando direito nessa casa, é verdade?
— Calúnia! — reclamou enquanto Tom se ajoelhava de frente para a cadeira que Liam estava, dando uma rápida piscadela para ela.
— A gente trouxe um pouco de comida pra você — Harry pegou um saco de um salgadinho que não conhecia, mas sabia que Liam simplesmente amava.
Os olhos do garoto brilharam, e logo ele estava seguindo Harry e Tom para a sala, e não perdeu tempo em expulsar Lewis dali - não que o adolescente ligasse, provavelmente só queria uma desculpa boa para ir para o próprio quarto. Logo apenas e Sam estavam na cozinha, e o gêmeo já começava a mexer em todos os armários e geladeira, procurando ingredientes para poder começar a cozinhar.
— Isso foi o que você fez? — Sam olhou a panela, pegando um colher e colocando a comida de na boca. Menos de segundo depois, fez uma careta e pareceu realmente fazer força para engolir. — Já ouviu falar de sal, ? Alho? Cebola? Qualquer tipo de tempero que não faça a comida ficar horrível?
— Não me humilha, Sam. Eu coloquei sal.
— Um grão não adianta — ele ria enquanto começava a reunir alguns ingredientes na mesa. — Vamos de algo simples. Vou te ensinar a fazer bangers and mash.
nunca tinha sequer ouvido falar daquilo - pelo menos não por nome. Mas enquanto Sam explicava o que estava fazendo e a ensinava, ela logo percebeu que se tratava de um dos pratos que Charlie fazia com alguma frequência. Purê de batata, linguiça, molho gravy e ervilhas. Não era realmente complicado e, se seguisse as orientações de Sam, ela conseguiria reproduzir o prato sem maiores problemas.
— Você sabe que você salvou a minha vida, né? — ela sorriu enquanto esperava o molho terminar de ferver para poder jogar no purê. — Eu não sei o que seria de mim sem você.
— Você ia ter que lidar com uma criança desesperada — Sam sorriu enquanto mexia o molho e logo apagava o fogo. Em um pequeno prato, ele tinha arrumado a comida de Liam, já deixando a linguiça cortada em pequenos pedaços. — Você acha que vai conseguir reproduzir bangers and mash depois?
— Não parece tão difícil… — ela franziu as sobrancelhas, levemente preocupada. Arroz também não era difícil e mesmo assim ela conseguia errar. Tudo era possível.
Sam apenas pediu para que ela fosse buscar Liam na sala. Chegando no local, ela se deparou com Liam rabiscando o braço de Tom, e não tinha ideia de onde ele tinha tirado uma caneta, mas aparentemente ele estava seguindo algumas orientações de Harry para fazer desenhos e Tom era seu papel.
— Ei, Liam, o Sam preparou uma comida super gostosa! E se você comer tudinho, eu ainda vou ter dar aquele chocolate. Que tal? — ela sorriu, vendo os olhos da criança brilharem.
— Chocolate! — ele pulou, segurando a mão de Tom e de Harry e puxando os dois para a cozinha.
Ela os seguiu, rindo da situação que era bastante adorável, vendo Liam se sentar na cadeira de sempre e Sam colocar o prato de comida em sua frente, entregando a colher para a criança. Liam não demorou para pegar uma quantidade relativamente grande de purê e ervilhas e colocar na própria boca, mastigando e engolindo rápido demais, pegando mais e mais colheradas.
— Vai devagar, Liam! — franziu as sobrancelhas. — Assim você vai acabar engasgando!
— Pelo menos agora ele tá comendo — Harry sentou em uma das cadeiras. — Mais um dia em que os Holland salvam .
— Não vou nem fingir que é mentira.
Depois que Liam comeu o prato inteiro, repetiu e comeu o chocolate, parecia que estava com ainda mais energia. O garoto tentou convencer todos a voltarem para a sala e brincar ainda mais, mas usou a desculpa de que tinha que limpar a cozinha - o que era verdade - e acabou deixando o trabalho de entreter a criança para os Holland.
Enquanto guardava a sobra da comida - Sam tinha cozinhado o bastante para que eles almoçassem a mesma coisa no dia seguinte -, se sentia um pouco aliviada. O humor de Liam estava muito melhor, ela poderia descansar melhor aquela noite. Talvez até pedir uma pizza para os três, Lewis com certeza iria amar, e Liam não reclamaria, ela sabia. E era só uma noite de pizza, seria bom.
Quando voltou para sala, após deixar toda a cozinha limpa, encontrou Liam dormindo no colo de Tom. Era normal que ele sempre dormisse após comer, e agitado do jeito que estava, ele com certeza tinha entrado em um sono profundo. Harry e Sam estavam sentados no outro sofá, conversando alguma coisa em voz baixa. Ela se aproximou de Tom, sussurrando:
— Me passa o Liam, vou levar pro quarto dele.
— Eu levo — Tom começou a ajeitar melhor o garoto no colo, levantando-se com um pouco de dificuldade. — Só… me guia, por favor.
Os dois subiram as escadas, tentando impedir Tom de tropeçar em algum degrau e acabar caindo, consequentemente derrubando Liam. Logo eles já estavam no quarto da criança, e Tom o deitou delicadamente na cama, sorrindo para Timmy, que estava sempre na cama do menino, se afastando enquanto o cobria. Apenas após deixarem o quarto e fecharem a porta, parou no corredor e sorriu.
— Muito obrigada por hoje. Vocês me salvaram muito.
— E você não matou uma criança de fome — a resposta de Tom fez com que ela revirasse os olhos. — Mas… não te julgo. Eu também não sou muito fã de cozinha. Quem faz a maioria das comidas em casa é o Haz.
— Eu não sabia que você era bom com crianças — não podia deixar de comentar, afinal, durante aquelas horas Tom tinha entretido Liam, e o garoto parecia realmente gostar dele. Não tinha como negar.
— Eu gosto bastante de criança, e eu conheço a Rachel e o Charlie há anos, eu vi o Liam na barriga dela — o sorriso de Tom era simplesmente adorável. — Eu gosto do menino.
— Então você consegue gostar de alguém.
— Eu gosto de muitas pessoas, — ele levantou as sobrancelhas. — Você só não deu sorte.
— Eu acho que você está mentindo — ela levantou levemente o queixo, querendo parecer um pouco superior. A altura dos dois não era tão diferente, talvez no máximo cinco centímetros de diferença, mas mesmo assim ela ainda se sentia menor. — Você ‘tá começando a gostar de mim.
— O que eu sinto por você é outra coisa — a maneira como Tom e encarou era sugestiva até demais.
— Você ‘tá realmente dando em cima de mim, Tom? — estreitou os olhos, não fazendo ideia de como se sentia em relação àquele momento.
— Depende. Tá funcionando? — Tom sorriu e balançou os ombros, como se aquilo não tivesse importância. Por que era tão difícil entender aquele rapaz? — Quando a Rachel e o Charlie voltam?
— Domingo de manhã. Por quê?
— Domingo a noite vamos em uma balada, comemorar meu aniversário. Você está convidada.
— Seu aniversário é domingo?
— Foi dia primeiro de junho, na verdade — Tom riu e o queixo de caiu totalmente. — Que foi?
— Foi depois do meu! — quase gritou, mas Tom logo fez “shh” , lembrando que ela ainda estava no corredor em frente ao quarto em que Liam dormia. — Um dia depois! Faz um mês, Tom!
— Sim, parte quatro da comemoração. Então, você vai?
— Claro — ela balançou a cabeça e começou a andar para as escadas novamente. — Eu vou ter que te dar um presente. O que você quer?
— Você vai querer manter isso com classificação indicativa livre ou eu posso pedir o que quiser pra você? — o tom na voz do rapaz fez revirar os olhos e lhe dar uma forte cotovelada.
— Esquece, não vai ter presente.
Depois que chegaram na sala, não demorou muito para que os Holland se despedissem e se sentasse no sofá, fechando os olhos e se sentindo um pouco em paz e, ao mesmo tempo, completamente ansiosa pelo que o domingo lhe traria.



XIII

>— E se eles reclamarem de eu também ir? — Ayumi murmurou, ajeitando melhor o penteado que tinha feito no cabelo.
— Sem drama — respondeu, se olhando no espelho e reprovando a própria roupa. Nada do que ela vestia parecia adequado. — Eu avisei o Sam que você também vai e eles amaram. Todo mundo gostou de você, desde o “eu nunca”. Que, aliás, até hoje eu não sei o que aconteceu depois que eu fui embora.
— Nada demais — Ayumi parou ao lado de , em frente ao espelho, e a brasileira não podia deixar de comparar as duas. era alguns bons centímetros mais alta, a pele vários tons mais escura, o cabelo enorme e cacheado, muito mais cheio de volume. — A gente só ficou se perguntando o que raios aconteceu para você e o Tom estarem agindo civilizados, mas pela sua cara...
— Acho que nem o Tom seria babaca com alguém chorando de soluçar, né? — finalmente desistiu, aceitando que aquela ainda era sua melhor roupa e ela teria que fazer funcionar. E torcendo para que eles não fossem para um lugar chique demais.
— Se ele fosse, eu ia bater na cara dele.
Não muito depois, ela recebeu uma mensagem de Harry, avisando que eles estavam prontos para sair. segurou a mão de Ayumi, praticamente a puxando para fora da casa, encontrando os Holland e Harrison as esperando do lado de fora, todos parecendo animados e tão bem vestidos que ela se sentia um pouco envergonhada.
— Ayumi, você deveria usar seu cabelo assim com mais frequência, ficou incrível — Harrison deu um sorriso simpático para a garota, e riu ao perceber como o rosto da amiga tinha ficado completamente vermelho.
— Obrigada.
— Então, vamos nos dividir em dois Uber? — Harry pegou o próprio celular, já abrindo o aplicativo.
— Ninguém vai dirigir hoje?
— Todo mundo quer beber, então… segurança primeiro!
Logo eles estavam se separando em dois Uber e indo para o local que Tom havia indicado. A viagem foi relativamente rápida; em pouco tempo eles já estavam parando em um enorme prédio escuro de esquina, onde a palavra “Luxe” estava escrita em dourado. não era nenhuma expert em baladas londrinas, mas ela sabia que nada que viesse com a palavra luxe estampada seria monetariamente acessível.
— Hã… É aqui que nós vamos? — ela perguntou sem graça enquanto todos se reuniam a Tuwaine e Olivia, que já aguardavam do lado de fora.
— Por que você parece preocupada? — Harry franziu as sobrancelhas.
— Nada, eu… Nada — sorriu amarelo. — Vamos.
Ela engoliu em seco enquanto todos começavam a caminhar para a entrada, se perguntando de quantas coisas ela teria que abrir mão naquele mês para que seu salário durasse mais tempo. Provavelmente mais do que ela gostaria.
— Relaxa — a voz de Tom soou baixa próxima a seu ouvido enquanto eles andavam. — Eu já reservei uma mesa na área VIP, você vai gastar menos do que imagina.
Ela sorriu grata, vendo Tom devolver um sorriso simpático a balançar os ombros. Logo ele estava saindo de perto dela e indo até o segurança. Enquanto aguardavam a entrada ser liberada, ainda se sentia um pouco estranha. Querendo ou não, ela se sentia um pouco deslocada em um lugar aparentemente tão luxuoso.
O interior do clube fazia jus ao nome Luxe. Tudo era absolutamente lindo, luzes neon tornando a decoração moderna e divertida. O grupo foi direcionado para uma área em um mezanino, onde uma mesa já os aguardava com algumas garrafas e vários copos, sofás e pufes espalhados para que eles tivessem mais conforto. sorriu sozinha e lembrou de um antigo meme brasileiro sobre uma bebida que pisca, sentindo-se a própria Rainha do Camarote.
— Vamos começar brindando! — Olivia foi até a garrafa, a abrindo com facilidade e enchendo os copos. — A uma incrível noite entre amigos!
O grupo brindou e logo estava provando o champanhe mais doce e caro que já tinha experimentado em toda sua vida. Não tinha a ver com aqueles espumantes que tomava nas festas de réveillon com os amigos. não tinha ideia de quanto aquela garrafa custava, mas como tudo naquele local, o objeto gritava caro.
Pouco tempo após terminarem a primeira garrafa, uma segunda foi levada para a mesa juntos com vários shots de alguma bebida que ela não conhecia. E então, garrafas atrás de garrafas, shots atrás de shots, em pouco tempo todos estavam rindo mais, contando mais piadas, se abraçando mais, muito mais soltos e à vontade uns com os outros.
Logo o grupo estava na pista VIP, dançando, curtindo, bebendo mais. As luzes eram estonteantes e a fumaça da máquina tinha aquele cheiro de… fumaça de máquina de balada, horrível. odiava, mas não se importava. Tudo estava mais divertido, as luzes mais coloridas e brilhantes. O efeito álcool deixava tudo mais bonito e divertido.
— Tá curtindo? — Tom se jogou no sofá da área VIP ao lado dela. Depois estendeu uma garrafa de água para ela. — Quer?
tinha dado uma pequena pausa de tanta dança. Pular de um lado para o outro era bastante cansativo, ela precisava respirar um pouco, se hidratar, então não pensou muito antes de aceitar a oferta do rapaz.
— Obrigada — ela soltou um suspiro após um longo gole. — Pelo convite e pela água. Eu tô me divertindo bastante.
— Ótimo — Tom praticamente sussurrou, ficam em silêncio logo depois.
Ela o encarou, vendo que ele parecia a estudar. não tinha muita certeza do que falar naquele momento, e ela não sabia muito bem o que pensar da maneira como Tom a olhava. Parecia intenso demais para seu próprio bem. Era quase como se ele estivesse esperando por algo.
— Por que você tá me olhando assim? — ela franziu as sobrancelhas, dando mais um rápido gole em sua água, ainda se sentindo levemente desidratada.
— É bom te olhar — Tom balançou os ombros. — Faz bem olhar pessoas bonitas.
Ninguém tinha preparado para aquele momento.
— Eu sou bonita, agora?
— Sempre foi.
Ah tá — ela revirou os olhos. — E você percebeu isso enquanto ficava me provocando? Fazendo comentários desnecessários?
— Ou respondendo aos seus.
— De onde saiu isso de você dar em cima de mim, Tom?
— Faz um tempo que eu dou em cima de você, — Tom deu um sorriso maroto. — Você pode ser até irritante em muitos momentos, mas eu não sou cego.
Tom tinha a incrível capacidade de ofender ao tentar fazer um elogio. Ela nem sequer sabia que isso era tão possível.
— O que você realmente quer, Tom?
— Você — ele se ajeitou no sofá ficando mais próximo dela. — Se quiser, eu ainda posso descrever tudo o que eu quero fazer com você.
— Nem em sonho — se forçou a não se afastar porque, em sua cabeça, acabaria demonstrando ter sido afetada. E não importava se seu coração estava batendo rápido, se ela estava um pouco mais tonta, se a mão dela tinha começado a suar; ela não tinha sido afetada pela proximidade repentina de Tom, nem por suas palavras recheadas de tantas intenções. não estava afetada por Tom Holland.
— Pena — ele abriu ainda mais o sorriso, aproximando-se ainda mais, chegando perto do ouvido dela apenas para sussurrar: — Você não tem ideia do que está fazendo nós dois perdermos.
Sustentando o sorriso idiota, sem-vergonha, Tom levantou do sofá e voltou para a pista de dança, onde a maioria do grupo permanecia dançando, pulando e cantando junto com a música alta. se sentia idiota por estar com a expressão fechada, olhando feio enquanto ele começava a dançar com a Ayumi, e detestando a maneira como os dois dançavam ridiculamente bem.
A parte que mais odiava daquela história toda era como, no fim, ela tinha sido afetada.
Usando as palavras do próprio Tom, realmente o achava irritante, mas ela certamente não era cega. E mesmo que o rapaz não fosse um Harrison no quesito beleza, Tom continuava sendo muito bonito. Ela já tinha visto-o vezes o bastante, de ângulos o suficiente para poder dizer com certeza que se sentia fisicamente atraída por ele.
E honestamente? estava bêbada, Tom tinha sido bem claro sobre suas intenções, sobre o que queria, e naquele momento, com as luzes da balada brilhando coloridas, a fumaça deixando tudo meio embaçado, a música fazendo todos dançarem de maneira mais sensual, teve certeza que ela também queria.
Tudo o que precisava era de um empurrão.
Por isso abriu no celular o grupo com os amigos brasileiros, digitando rapidamente uma mensagem de texto.

[] Eu quero fazer uma coisa mas não sei se devo. Me ajudem.

[Débora] É uma coisa que vai te meter em problema legal? Ou te deportar de volta pro Brasil?
[] Não.

[Roberta] Vai fazer mal pra alguém?
[] Não…

[Pedro] Mais importante: você vai aproveitar?
[] Provavelmente sim…

[Gabriel] Então para de perder tempo com a gente e faz logo!


Rindo, guardou novamente o celular no bolso da calça e se levantou, indo até a roda onde os amigos agora dançavam e cantavam alto uma música que ela não conhecia muito bem. Assim que chegou, cutucou o ombro de Tom, fazendo-o se virar em sua direção. Ela percebeu que, com aquele salto, eles ficavam praticamente da mesma altura, o que era ótimo. Iria tornar tudo mais fácil.
Sem pensar demais nem se dar tempo de desistir, puxou Tom para si e o beijou.
Ao redor conseguiu ouvir os gritos dos amigos, risadas, brincadeiras, até mesmo algumas comemorações. Ela não se importou o bastante a ponto de parar o que estava fazendo para poder brigar com eles, principalmente porque Tom correspondeu ao beijo instantaneamente, a segurando firmemente contra seu corpo.
Era como qualquer beijo bêbado: tinha gosto de álcool e parecia quente. Ou talvez fosse o ambiente. Ou como se sentia no geral. Era um bom beijo, de alguém que parecia saber o que estava fazendo. Daquele exato tipo que gostava e que beijaria tantas outras vezes que pudesse.
— Eu sabia que você não ia resistir — Tom sorriu ao se afastar, passando a língua pelos próprios lábios rapidamente.
— Sabe qual é a melhor parte de te beijar, Tom? — piscou inocente. — Pelo menos assim você cala a boca.
Ela mal conseguiu finalizar a frase, sendo novamente puxada pelo rapaz para outro beijo, totalmente envolvida pelos braços dele, sentindo os músculos firmes contra seu corpo a puxando para mais perto, impossivelmente perto.
chutava que, se não fosse pelos amigos, eles não tinham separado tão cedo. Mas logo o restante do grupo estava fazendo as mais famosas piadas sobre arrumarem um quarto e coisas do gênero, então talvez fosse melhor parar por ali, por enquanto. Eles se afastaram, voltando para a roda como se nada tivesse acontecido, dançando e conversando normalmente.
O local estava ridiculamente quente e sentia que estava começando a fica sóbria, o que ela certamente não queria para aquela noite, então pediu licença aos amigos e foi para o bar. Claro, como parte da área VIP, eles tinham serviço na mesa, não precisavam entrar na fila para pegar uma bebida, mas mais do que uma cerveja, também queria uma desculpa.
— Eu te odeio, — Olivia se aproximou dela na fila, parando ao seu lado.
O estômago de revirou e de repente ela sentiu uma incrível vontade de vomitar. Virando-se para Olivia, viu a garota parecendo realmente brava. Claro. Olivia era ex de Tom. E sequer tinha pensado antes de simplesmente beijar o rapaz na frente de todo mundo. Tinha uma regra sobre não poder ficar com ex de amiga, não tinha?
— Pois eu te amo — Ayumi surgiu do seu outro lado, com um enorme sorriso. Agora as coisas estavam ficando um pouco confusas.
— Ama?
— Por que ela é trouxa — Olivia revirou os olhos.
— Não liga, a Olivia só tá brava porque perdeu a aposta — Ayumi ainda sorria abertamente. — Tá toda triste porque vai ter que me pagar cinquenta euros.
— Você podia ter esperado só mais uma semaninha antes de ficar com o Tom — novamente Olivia revirou os olhos. — Eu só queria cinquenta euros.
abriu um sorriso aliviado. Então Olivia não estava brava com ela por ter ficado com Tom, apenas por ter perdido uma aposta.
— Espera, vocês apostaram isso?
— Claro que apostamos — dessa vez Olivia sorriu. — Que vocês iam ficar era óbvio. A aposta era sobre quando.
— Ridículas — ela riu e pediu uma das bebidas de nome engraçado para o barman.
— Mas e aí, curtiu? — Ayumi perguntou como quem não quer nada.
— Claro que ela curtiu, o Tom beija bem — a resposta de Olivia fez levantar as sobrancelhas.
— Sem comentários.
As duas continuaram rindo e provocando , mas ela apenas fingiu que não era com ela. Quando elas voltaram para a área VIP, encontraram o restante do grupo espalhado por lá, todos parecendo descansar um pouco de toda dança, conversando e rindo despreocupadamente. Os olhos dela encontraram de Tom e seu rosto ficou um pouco mais quente.
Ninguém fez piadinhas ou comentários bobos quando ela tomou a decisão de se sentar ao lado dele, nem quando ele passou o braço ao redor da cintura dela e a puxou para perto, beijando rapidamente seu lábios antes de voltar a conversar com o grupo como se aquilo fosse totalmente normal.
Apesar de que… Naquela noite, seria.
E ela iria aproveitar, sem se importar com o que poderia vir de consequência.



Continua...




Nota da autora: (09/08/2020) Continuando att aqui pelas duas únicas pessoas que leem, obg pelos comentários <3


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